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Verso

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Poema "Preságio", de Fernando Pessoa
O verso é cada linha formada por um modo de escrita descontínuo.

Um verso é uma linha de texto que, possuindo um determinado ritmo verbal, agrupa-se com outras para compor um poema. Um conjunto de versos é chamado de estrofe, e, geralmente, os versos que a compõem compartilham traços fonéticos e prosódicos entre si, como aliterações, assonâncias, rimas e isossilabismo. Por extensão, o termo verso é empregado também para se referir ao texto em verso, em oposição à prosa ou texto em prosa.[1][2]


Segundo Olavo Bilac e Guimarães Passos, "compreende-se por verso - ou metro - o ajuntamento de palavras, ou ainda uma só palavra, com pausas obrigadas e determinado número de sílabas, redundando em música".[3]

Para se compor um verso, é preciso fazer um ritmo verbal, que se alcança pela alternância de sílabas fortes e fracas, sendo que a força das sílabas pode ser definida tanto pela duração (sílabas longas e breves) quanto pela intensidade (sílabas tônicas - acento primário ou secundário[4] - e átonas). As sílabas são organizadas em pés métricos, que são grupos silábicos marcados por uma sílaba forte. Há quatro tipos de pés métricos: o iambo, formado por uma sílaba fraca e outra forte (amor); o troqueu, formado por uma forte e outra fraca (noite); o troqueu, formado por uma forte e duas fracas (quero-te); e o anapesto, formado por duas fracas e uma forte (coração).[5]

Na língua portuguesa, as sílabas do verso, chamadas de sílabas métricas, são contadas considerando-se os processos fonéticos comuns da fala, como a elisão e a crase, sendo que a contagem silábica termina na última tônica. Assim, o verso "Vou-me embora pra Pasárgada", de Manuel Bandeira, possui sete sílabas métricas e um ritmo trocaico:

1 2 3 4 5 6 7 - -
Vou me em bo ra pra Pa sár ga da

O verso nasceu com a música. Para se criar textos que pudessem ser cantados ao longo da composição musical, os compositores começaram a compor versos. Cada sílaba métrica é tratada como uma nota musical e cantada segundo a melodia da música.

Pintura de Francisco Petrarca
Francisco Petrarca foi um dos principais poetas da literatura ocidental.

Com o tempo, os versos começaram a ser também recitados, isto é, sem acompanhamento musical, dependendo apenas do ritmo verbal para provocar a musicalidade. Já encontram-se exemplares em diversos salmos bíblicos e odes horacianas. Mas foi somente com o Renascimento que os versos estritamente literários se consolidaram em nossa cultura, mais especificamente com o movimento dolce stil novo, com poetas como Francisco Petrarca e Dante Alighieri.[6]

Tipos de verso

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Desenho de Manuel Said Ali
Manuel Said Ali, autor do livro "Versificação portuguesa".

Além das células métricas, os versos podem ser classificados em agudos, graves e esdrúxulos. Um verso agudo é aquele em que a última palavra é oxítona; o verso grave é aquele em que a última palavra é paroxítona; e o verso esdrúxulo é aquele em que a última palavra é proparoxítona. Os termos também podem ser utilizados, na poética, para designar palavras oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, respectivamente.[7]

A variação entre versos agudos, graves e esdrúxulos pode gerar muitos efeitos rítmicos. Segundo Said Ali:

A terminação em sílaba átona dá-nos impressão de um movimento rítmico perfeito, que suavemente descai e acaba no ponto onde deve. Sentimo-nos, pelo contrário, como que forçados a uma parada súbita, antes do tempo próprio, quando chegamos ao fim de algum verso agudo interposto entre os graves.[8]

Justamente por causa disso, os versos agudos são muito utilizados para demarcar porções textuais em um poema. Nos versos abaixo, de Casimiro de Abreu:

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais;
Que amor! que sonhos! que flores!
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais.

O poeta faz uso desse efeito para dividir a estrofe em duas porções: a primeira falando da sua saudade, e a segunda descrevendo a sua infância, cada uma com quatro versos heptassílabos.

Referências

  1. «Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de verso». Dicionário Caldas Aulete. Consultado em 14 de outubro de 2023 
  2. MOISÉS, Massaud (2012). A criação literária: poesia e prosa. São Paulo: Cultrix. p. 75. ISBN 978-85-316-1181-0 
  3. BILAC, Olavo Brás Martins dos Guimarães; PASSOS, Sebastião Cícero dos Guimarães (1905). Tratado de versificação. Rio de Janeiro: Francisco Alves. p. 34 
  4. PROENÇA, Cavalcanti (1955). Ritmo e poesia. [S.l.]: Organização Simões. pp. 12–13 
  5. BARBOSA, Plínio A (2019). Prosódia. [S.l.]: Parábola. ISBN 978-8579341632 
  6. CARPEAUX, Otto Maria (2012). A Idade Média por Carpeaux. Rio de Janeiro: LeYa. pp. 122–125. ISBN 978-85-8044-526-8 
  7. «O fenômeno da tônica secundária em palavras de quatro ou mais sílabas». comofazerumpoema. Consultado em 14 de outubro de 2023 
  8. ALI, M. Said (2006). Versificação portuguesa. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. p. 19. ISBN 85-314-0498-3 
  • BILAC, Olavo Brás Martins dos Guimarães; PASSOS, Sebastião Cícero dos Guimarães (1905). Tratado de versificação. Rio de Janeiro: Francisco Alves.
  • PROENÇA, Cavalcanti (1955). Ritmo e poesia. [S.I.]: Organização Simões.
  • ALI, M. Said (2006). Versificação portuguesa. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. ISBN 85-314-0498-3.


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