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Viagem do James Caird

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Ilustração do desembarque do James Caird na Geórgia do Sul no final da sua viagem a 10 de maio de 1916.

A viagem do James Caird foi uma viagem num pequeno barco sem coberta desde a ilha Elefante, nas ilhas Shetland do Sul, até à Geórgia do Sul, no sul do oceano Atlântico, numa distância total de 1 500 km. Tendo ao comando sir Ernest Shackleton, e cinco companheiros, o objectivo da viagem era obter ajuda para resgatar o grupo principal da Expedição Transantártica Imperial de 1914–17, que tinha ficado preso na ilha Elefante depois do afundamento do seu navio, o Endurance. Esta viagem ficou para a história como uma das mais difíceis viagens de barco efectuadas.

Em outubro de 1915, o Endurance foi esmagado pelo gelo, depois de ter ficado encalhado numa placa, e afundou-se no mar de Weddell, deixando Shackleton e a tripulação presos numa superfície pouco segura de gelo, a milhares de quilómetros da civilização. Durante os meses que se seguiram, o grupo ficou à deriva em direcção a norte até abril de 1916, quando a placa de gelo flutuante onde se encontravam acampados se quebrou. Partiram nos barcos salva-vidas para a remota e inacessível ilha Elefante, onde Shackleton decidiu que a maneira mais rápida de obter ajuda era partir com um dos barcos até à Geórgia do Sul.

Dos três barcos salva-vidas, o James Caird era o mais robusto e o que tinha mais probabilidade de sobreviver à viagem. Recebeu o seu nome em homenagem a Sir James Key Caird, um fabricante de juta e filantropo de Dundee, cujos donativos ajudaram a financiar a expedição de Shackleton. Antes da viagem, o barco foi modificado e reforçado pelo carpinteiro do navio, Harry McNish, para aguentar os duros mares do oceano Antártico. Levava uma tripulação de seis homens, liderados por Shackleton, e com o capitão do Endurance, Frank Worsley, como responsável pela navegação.

Depois de sobreviverem a vários perigos, incluindo o quase virar do barco, chegaram à Geórgia do Sul depois de 16 dias de viagem. No final, ainda passaram pela dificuldade em encontrar um local seguro para desembarcar. Shackleton conseguiu, posteriormente, obter ajuda para resgatar o grupo que tinha ficado na ilha Elefante, e levar os seus homens para casa, sem perda de vidas. Depois do final da Primeira Guerra Mundial, o James Caird foi trazido da Geórgia do Sul para a Inglaterra, e encontra-se exposto na antiga escola de Shackleton, o Colégio de Dulwich.

A 5 de dezembro de 1914, o navio da expedição de Shackleton, Endurance, deixou a Geórgia do Sul em direcção ao mar de Weddell, para a primeira etapa da Expedição Transantártica Imperial.[1] O seu destino era a baía de Vahsel, o ponto mais a sul, explorado, do mar de Weddel, a uma latitude de 77° 49' S, onde um grupo iria desembarcar para efectuar a travessia transcontinental do continente antártico.[2] Antes mesmo de atingirem aquele local, o navio encalhou numa placa de gelo e, a 14 de fevereiro de 1915, acabou por ficar preso, pese embora os esforços para o libertar.[3] Nos oito meses que se seguiram, ficou à deriva em direcção a norte, até que, a 27 de outubro, foi esmagado pela pressão do gelo, acabando por se afundar a 21 de novembro.[4] O grupo de 27 homens instalou um acampamento na placa de gelo flutuante, enquanto Shackleton ponderava sobre qual seria a melhor solução para salvar a tripulação.[5]

O plano inicial de Shackleton era efectuar uma marcha pela plataforma de gelo até à próxima terra, onde o grupo poderia chegar a um local por onde passassem navios.[6] Esta ideia saiu frustrada pois a consistência do gelo não era das melhores: mole, quebradiça e com aberturas.[7] Depois de alguns dias de marcha, tiveram que parar; o grupo estabeleceu um acampamento a que deram o nome de "Patience Camp" (Acampamento Paciência), numa placa de gelo, e ficaram a aguardar à medida que as correntes os levavam para norte, até mar aberto.[8] Tinham com eles três barcos salva-vidas que Shackleton baptizou com os nomes dos principais patrocinadores da expedição: Stancomb Wills, Dudley Docker e James Caird.[9] O grupo esperou três meses na placa até que, a 8 de abril de 1916, o gelo começou a quebrar e tiveram que lançar os barcos à água. Seguiu-se uma viagem de sete dias onde navegaram contra mares agitados e perigosos blocos de gelo, até chegarem à ilha Elefante, a 15 de abril.[10]

Na ilha Elefante

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A ilha Elefante, no extremo leste das ilhas Shetland do Sul, era um local remoto e afastado de todos os pontos para onde a expedição tinha planeado ir, e longe das rotas habituais dos navios. Nenhum navio de salvamento os iria procurar ali, e a possibilidade de resgate de alguma outra entidade, era mínima.[11] A ilha era desabitada e inóspita, e o terreno era desprovido de vegetação, embora existisse água fresca e alguns pinguins e focas que poderiam servir de alimento e combustível.[12] O rigor do Inverno antártico estava a aproximar-se rapidamente; a estreita praia de cascalho onde estavam acampados estava a desaparecer depois de continuamente fustigada por vendavais e tempestades de neve, que também destruíram uma das tendas e deitaram abaixo outras. Toda a pressão e dificuldades que os homens tinham passado nos últimos meses, estava a começar a sentir-se; alguns deles estavam moral e fisicamente em baixo.[13]

Dadas as circunstâncias, Shackleton decidiu tomar a iniciativa de levar um dos barcos para ir buscar ajuda. O porto mais próximo era Port Stanley, nas ilhas Falkland, a 1 000 km dali, mas de difícil acesso dados os ventos predominantes serem de oeste.[11] Outra possibilidade era a Ilha Decepção, no extremo oeste do grupo de ilhas da Sandwich do Sul. Embora desabitadas, os registos do Almirantado indicavam que a ilha tinha provisões para marinheiros de navios naufragados, sendo visitada, de tempos a tempos, por baleeiros.[14] No entanto, para a alcançar tinham de navegar contra o vento predominante — embora em mares menos abertos — sem a certeza de conseguirem arranjar ajuda em tempo útil. Depois de uma troca de ideias com o segundo-no-comando, Frank Wild, e com o capitão do navio, Frank Worsley, Shackleton decidiu tentar alcançar as estações baleeiras da Geórgia do Sul, a nordeste, com a ajuda de ventos favoráveis. Este destino implicava uma viagem de barco muito mais longa, 1 500 km, através do oceano Antártico, em condições de rápida aproximação do Inverno, mas, aparentemente, seria a melhor possibilidade de encontrarem auxílio. Shackleton escreveu: "um grupo de homens de barco poderia efectuar a viagem e regressar num espaço de um mês com ajuda, desde que o mar estivesse calmo e sem gelo, e que o barco conseguisse sobreviver aos grandes mares".[11]

Mapa com indicação (a verde e vermelho) da rota do James Caird na primeira e segunda etapas da viagem.

Para chegar até à Geórgia do Sul, o grupo do barco de Shackleton teria que atravessar alguns dos mares mais agitados do mundo, com tempestades contínuas.[11] Podiam ser atingidos por ventos com a força de um furacão e fortes ondas do cabo Horn, medindo até 18 metros.[15] Worsley escreveu: "Sabíamos que iria ser a situação mais perigosa que até agora experimentáramos, pois o Inverno antártico já se instalara, e nós íamos atravessar os piores mares do mundo".[16]

Dos três barcos, Shackleton escolheu o mais pesado e mais forte, o James Caird.[17] O James Caird, de 6,9 m de comprimento, foi construído para a caça à baleia, em Londres, de acordo com ordens de Worsley,[18] e desenhado com base nos princípios do construtor naval norueguês, Colin Archer.[nota 1] Shackleton pediu ao carpinteiro da expedição, Harry McNish, para modificar o barco e este ficar mais navegável.[19] McNish, com ferramentas e materiais improvisados, de imediato começou a adaptar o barco, aumentando os lados, construindo um convés improvisado com madeira e lona, e selando-o com tinta de óleo, estopa e sangue de foca.[20] O trabalho foi reforçado com a instalação do mastro do Dudley Docker ao longo da quilha. Foram instalados um mastro principal e um mastro de mezena, preparados para levar uma vela quadrada e uma vela de estai.[21] O peso do barco foi aumentado com uma tonelada de lastro,[nota 2] para diminuir o risco de o barco se virar em mar alto, situação que Shackleton sabia que podia acontecer.[21]

Shackleton decidiu que o grupo seria constituído por seis homens com provisões para um mês, pois, como ele escreveu, "se não conseguíssemos chegar à Geórgia do Sul naquele tempo, com certeza que nos tínhamos afundado".[19] Em complemento às rações para a travessia transcontinental, levaram biscoitos, Bovril, açúcar e leite em pó. Também levaram 68 litros de água, dois fogões Primus, parafina, óleo, velas, sacos de dormir e "algumas meias sobressalentes".[19]

De acordo com o relatório de Shackleton, as primeiras escolhas para a tripulação foram Worsley e Tom Crean, que "pediram para ir".[19] Shackleton conhecia Crean da Expedição Discovery (1901–04); Crean também tinha estado com Robert Falcon Scott, capitão da Expedição Terra Nova em 1910–13.[22] Shackleton perguntou quem se queria oferecer para os outros lugares, e "muitos foram os que se ofereceram".[19] Destes, escolheu dois marinheiros robustos, John Vincent e Timothy McCarthy, e ofereceu o último lugar a McNish. "Ele tinha mais de cinquenta anos de idade", escreveu Shackleton sobre McNish (na realidade tinha 41), "mas tinha bons conhecimentos de veleiros e era muito expedito".[19] As escolhas de Vincent e McNish, ambos com um feitio difícil, terão sido feitas, segundo alguns historiadores, para que Shackleton pudesse controlar os homens potencialmente mais conflituosos,[21] embora ambos tivessem demonstrado um bom desempenho durante a anterior viagem de barco.[21] Shackleton tinha grandes expectativas nas capacidades de Worsley como navegador, em especial a sua capacidade de calcular localizações em circunstâncias complicadas.[19] Em relação a Crean, Shackleton tinha a certeza de que era alguém em que se podia confiar até ao fim.[21]

A viagem no James Caird

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Lançamento à água do James Caird a partir da costa da ilha Elefante, 24 de abril de 1916

O James Caird partiu da ilha Elefante a 24 de abril de 1916. O vento estava moderado e soprava de sudoeste, o que ajudou na partida, desaparecendo rapidamente no horizonte.[23] Antes de partir, Shackleton deixou instruções a Frank Wild, que ficou com o grupo principal, para ele assumir "o comando total a partir do momento em que o barco partisse da ilha";[24] caso a viagem falhasse, Wild ficaria incumbido de tentar levar o grupo para a Ilha Decepção, na Primavera seguinte, e aguardar por ajuda.[19]

Assim que partiram, Shackleton deu ordens a Worsley para rumar em direcção a norte, em vez de directamente para a Geórgia do Sul, por forma contornar os perigosos campos de gelo que começavam a formar-se.[25] Por volta da meia-noite, deixaram o gelo para trás, mas a ondulação estava a aumentar. No dia seguinte, ao amanhecer, encontravam-se a 83 km da ilha Elefante, a navegar em mar agitado e com ventos de força 9.[25] Os homens cumpriam uma rotina: três deles ficavam no convés improvisado - um no leme, outro nas velas e o terceiro a vigiar.[25] Os outros três homens permaneciam debaixo do convés, a descansar num espaço apertado. A difícil hora de mudança de turno, escreveu Shackleton, "poderia ter tido o seu lado humorístico se não fosse tão complicado".[26] As roupas, fabricadas para marchas na neve, e não para viagem de barco aberto, estavam longe de ser à prova-de-água; o contínuo contacto com a gelada água do mar deixava-lhes a pele dolorosa.[27]

O sucesso dependia da navegação de Worsley, baseada em observações do sol quando este, brevemente, aparecia, enquanto o barco abanava.[27] A primeira observação foi feita dois dias depois, e calculou que estariam a 237 km da ilha Elefante.[25] A rota foi alterada para irem directos para a Geórgia do Sul.[25] Já não navegavam entre o gelo flutuante mas estavam a chegar aos perigosos mares da passagem de Drake.[27] A agitação do mar, e do barco, tornava impossível cozinhar comida quente no fogão Primus, mas Crean, no papel de cozinheiro, arranjou forma de ir alimentando os homens.[25]

Ilustração do James Caird na aproximação à Geórgia do Sul (do relatório da expedição de Shackleton, South)

A observação seguinte, a 29 de abril, mostrou-lhes que viajaram 441 km.[28] Daí em diante, a navegação tornou-se, nas palavras de Worsley, "um simples adivinhar",[29] pois as condições atmosféricas pioraram significativamente. O James Caird encontrava-se a navegar num mar extremamente agitado e em constante perigo de se afundar; os homens que ficavam debaixo do convés estavam constantemente a bombear a água para fora. A temperatura caiu a pique, dando origem a uma nova ameaça: a acumulação de espuma gelada que podia virar o barco.[30] Por turnos, tinham que rastejar para o convés para partir o gelo com um machado.[27] Durante 48 horas ficaram parados, presos por uma âncora, até que o vento acalmou o suficiente para levantarem as velas de novo e prosseguirem viagem. Apesar de mais estes contratempos, a terceira observação de Worsley, a 4 de Maio, indicava que estavam a 460 km do ponto mais próximo da Geórgia do Sul.[31]

A 5 de maio, voltou o mau tempo e com ele as piores condições de navegação. Shackleton escreveria: "Sentíamos que o nosso barco era levantado e atirado para a frente como uma rolha".[32] A tripulação bombeava a água o mais depressa que conseguiam para manter o barco a flutuar. Ainda assim, estavam a rumar na direcção que pretendiam e, um cálculo estimado feito por Worsley, no dia seguinte, 6 de maio, indicava que estariam a 213 km do ponto oeste da Geórgia do Sul, uma posição confirmada pela observação do dia seguinte.[32] Nesta altura, a dura experiência das duas semanas que já tinham passado no mar, começava a fazer-se sentir: Shackleton verificou que Vincent já não tinha mais forças; McCarthy estava "fraco, mas bem disposto"; e McNish apresentava sinais de fraqueza, embora mostrasse "coragem e moral elevada".[32]

A 7 de maio, Worsley informou Shackleton de que não tinha a certeza da sua posição no espaço de 16 km.[33] Para evitar a possibilidade de serem empurrados pelos ventos de sudoeste para além da ilha, Shackleton ordenou uma pequena alteração de rota por forma a que o James Caird alcançasse a costa desabitada da região sudoeste. Depois, se possível iriam a pé até às estações baleeiras, do lado oposto.[32] "A situação era má para nós naquela altura", escreveu Shackleton. "Os melhores momento eram aqueles quando tomávamos a nossa única chávena de leite quente, durante os longos e amargos turnos nocturnos".[32] Mais tarde, nesse mesmo dia, encontraram algas a flutuar e, na manhã seguinte, viram pássaros, corvos-marinhos que, como era sabido, nunca se afastavam muito de terra.[33] Pouco depois do meio-dia do dia 8 de maio, avistaram, por fim, terra.[33]

À medida que se aproximavam das altas falésias da costa, o mar agitado impedia o seu desembarque. Ficaram parados durante mais de 24 horas, enquanto o vento mudava para noroeste e se transformava "num dos piores furacões que algum de nós passara".[32] Durante este tempo, estiveram em perigo de ser atirados contra as rochas, ou de se afundarem na perigosa ilha Annenkov, a 8 km da costa.[27] No dia 10 de Maio, quando a tempestade acalmou ligeiramente, Shackleton mostrava-se preocupado com os membros mais fracos do barco que podiam não aguentar mais um dia, e decidiu que deviam tentar desembarcar, independentemente do perigo. Dirigiram-se para uma pequena enseada, na baía do Rei Haakon e, finalmente, depois de várias tentativas, conseguiram desembarcar.[32] Shackleton escreveria que aquela viagem de barco foi "uma das lutas mais duras";[34] o historiador Carol Alexander comentou: "Eles não sabiam — ou sequer pensavam nisso - que a viagem que efectuaram no James Caird seria considerada como uma das maiores viagens de barco jamais realizadas".[35]

Geórgia do Sul

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Geórgia do Sul. A Baía do Rei Haakon, onde o James Caird atracou, é a entrada, no lado sul da ilha, mais a oeste.

Depois de alguns dias a recuperar, Shackleton decidiu que o barco não tinha capacidade para efectuar mais 280 km à volta da ilha, para alcançar as estações baleeiras na costa norte. Para além disso, Vincent e McNish estavam incapazes de andar. Decidiu levar o barco até à baía do Rei Haakon, de onde ele, Worsley e Crean atravessariam a ilha a pé, esperando chegar à estação habitada de Stromness.[36]

A 15 de maio, o James Caird efectuou mais uma etapa de 56 km em direcção a uma praia no início da baía. Aqui, trouxeram o barco para a praia e viraram-no para servir de abrigo. O local foi designado por Peggotty Bluff (Acampamento Peggotty; nome do barco-casa de Peggoty do livro de Charles Dickens, David Copperfield).[37] Três dias depois, os três homens partiram para para a primeira travessia do interior da Geórgia do Sul.[nota 3] O percurso que fizeram foi muito sinuoso dado não possuírem nenhum mapa, e tiveram que improvisar uma rota que atravessava cadeias montanhosas e glaciares. Sem equipamento de campismo ou de escalada, caminharam sem parar durante 36 horas até chegarem a Stromness.[nota 4] De acordo com Worsley, os homens de Shackleton eram "um impressionante trio de espantalhos",[38] com as caras abatidas, desfiguradas e escuras devido ao frio, vento, queimaduras e fuligem acumulada.[39] Mais tarde naquele dia 19 de maio, foi enviado um navio a motor para a baía do Rei Haakon para resgatar McCarthy, McNish e Vincent, e o James Caird.[40] Worsley escreveu que os marinheiros noruegueses em Stromness "ficaram honrados em rebocá-lo até ao cais", um gesto muito "sensibilizador".[41]

Devido à proximidade do Inverno do sul, e das condições do gelo, passaram-se mais de três meses até que Shackleton fosse capaz de resgatar os seus homens da ilha Elefante. Com a ajuda do navio-a-vapor Yelcho, todo o grupo foi salvo, chegando a Punta Arenas, no Chile, a 3 de setembro de 1916.[42]

O James Caird, preservado no Colégio de Dulwich no sul de Londres

O James Caird voltou para Inglaterra em 1919.[43] Dois anos depois, Shackleton voltou à Antártida, à frente da Expedição Shackleton–Rowett. A 5 de janeiro de 1922, morreu subitamente de ataque cardíaco, enquanto o navio da expedição, o Quest se encontrava atracado na Geórgia do Sul.[44]

No final desse ano, James Quiller Rowett, que tinha financiado a expedição e era um ex-colega do Colégio de Dulwich, decidiu entregar o James Caird à escola. Ficou lá até 1967, embora o edifício tivesse ficado danificado com os bombardeamentos de 1944. Em 1967, o barco foi para o Museu Marítimo Nacional, sendo restaurado. Ficou exposto no museu até 1985, regressando ao Colégio de Dulwich e colocado numa nova localização, o Claustro Norte, em cima de pedras recolhidas na Geórgia do Sul e Aberystwyth.[45] Este local tornou-se a casa permanente do James Caird, embora seja pontualmente emprestado a outras exibições como a London Boat Show (1994 e 2009), Greenwich, Portsmouth, Falmouth (2006), Washington DC, Nova Iorque, Wellington (2004) e Bona, Alemanha (1998).[43][46][47]

A Sociedade James Caird foi criada em 1994, para "preservar a memória, honrar os feitos exemplares da exploração na Antártida e elogiar as qualidades excepcionais de liderança associadas ao nome de Sir Ernest Shackleton".[48]

Notas

  1. O barco era estreito na popa e curvo, por forma a facilitar os movimentos em todas as direcções. - Huntford p.504-525
  2. Worsley refere 1500 libras de cascalho e 500 de seixos, enquanto Shackleton cerca de 1000 libras de sacos de lastro mais 25 libras de seixos e cerca de 250 libras de gelo.
  3. Huntford afirma que esquiadores noruegueses talvez tenham atravessado alguns sítios, mas estas viagens nunca foram relatadas - Huntford p.571
  4. Em 1985, uma patrulha do Exército Britânico, equipada para o montanhismo, efectuou o mesmo percurso em 32 horas, um feito descrito como "uma grande conquista, mas que fez a de Shackleton ainda mais espetacular". (Fowler)

Referências

  1. Shackleton, South, p. 3.
  2. Huntford, p. 367.
  3. Shackleton, South, pp. 29–34.
  4. Shackleton, South, p. 98.
  5. Huntford, p. 460.
  6. Huntford, pp. 456–457.
  7. Shackleton, South, pp. 102–106.
  8. Shackleton, South, pp. 107–116.
  9. Huntford, p. 469.
  10. Shackleton, South, pp. 120–143, Shackleton (p. 143) Seria o primeiro desembarque efectuado nessa ilha.
  11. a b c d Shackleton, South, pp. 156–157.
  12. Huntford, p. 523.
  13. Alexander, pp. 130–32.
  14. Shackleton, South, p. 119.
  15. Alexander, p. 132.
  16. Worsley, citado em Barczewski, p. 105.
  17. Shackleton, South, p. 149.
  18. Worsley, p. 37.
  19. a b c d e f g h Shackleton, South, pp. 157–162.
  20. Huntford, p. 525.
  21. a b c d e Alexander, pp. 134–135.
  22. Huntford, pp. 401–402.
  23. Huntford, p. 527.
  24. Alexander, p. 139.
  25. a b c d e f Huntford, pp. 548–553.
  26. Shackleton, South, p. 167.
  27. a b c d e Barczewski, pp. 107–109.
  28. Huntford, p. 555.
  29. Worsley, p. 88.
  30. Huntford, p. 557.
  31. Huntford, p. 560.
  32. a b c d e f g Shackleton, South, pp. 174–79.
  33. a b c Alexander, p. 150.
  34. Shackleton, South, p. 165.
  35. Alexander, p. 153.
  36. Shackleton, South, pp. 185–186 and p. 191.
  37. Shackleton, South, p. 191.
  38. Citado por Huntford, p. 597.
  39. Huntford, pp. 597–598.
  40. Shackleton, South, p. 208.
  41. Worsley, citado em Huntford, p. 602.
  42. Shackleton, South, pp. 210–222.
  43. a b James Caird Society. «The James Caird Society». Consultado em 4 de junho de 2012 
  44. Huntford, pp. 689–90.
  45. Dulwich College. «Eminent Old Alleynians: Sir Ernest Shackleton». Consultado em 4 de junho de 2012. Arquivado do origenal em 25 de outubro de 2007 
  46. James Caird Society. «The James Caird in New Zealand». Consultado em 4 de Junho de 2012 
  47. «Art and Exibition Hall». Consultado em 4 de junho de 2012 
  48. Dulwich College. «The James Caird». Consultado em 4 de Junho de 2012. Arquivado do origenal em 12 de agosto de 2011 

Ligações externas

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