Café Nice
Café Nice foi um café-bar da cidade do Rio de Janeiro que, na primeira metade do século XX, reunia a boemia carioca e foi palco de muitos acontecimentos no meio artístico e, por isto, objeto de várias referências culturais. Estava situado na Avenida Rio Branco, número 174.
Café Nice | |
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Tipo | bar |
Geografia | |
Localização | Rio de Janeiro - Brasil |
Tendo seu auge nas décadas de 1930 e 1940, com intensa frequência de artistas, dentre os quais se destacavam Noel Rosa, Wilson Batista, entre outros, [1] ou mesmo jornalistas como Mário Filho que, nas páginas do jornal O Globo, publicava uma seção de entrevistas com jogadores de futebol e torcedores — o "cafezinho com os entrevistados" — onde no Café Nice este se encontrava com os principais nomes do meio futebolístico carioca.[2]
De instalações simples, foi assim definido por Mário Lago: “O Café Nice, como café, era umas mesas. Mas havia um espírito do Café Nice”; nele cantores de sucesso como Francisco Alves procuravam pelos autores de novas composições.[3] Era considerado o "Quartel General do Samba".[4]
Histórico
editarFundado em 18 de agosto de 1928, o estabelecimento seguia o processo de reurbanização da então capital brasileira, feita a seguir os moldes parisienses, o que influenciou no nome e estilo francês do "Nice".[5]
Tinha uma localização privilegiada na Avenida Rio Branco, no centro da cidade, o que lhe favoreceu a frequência; naquela região a lei obrigava que os frequentadores trajassem vestimentas formais, então mesmo os mais simples clientes trajavam terno e gravata, uma vez que a maioria deles era de homens.[5] Sobre ele registrou Osmar Frazão: “Em frente ao Café Nice ficava o Cinema Parisiense. Foi o primeiro a ser instalado na Rio Branco, em 1907. Ao lado ficava o Cineac Trianon. Nesse trecho ainda tinha a Rádio Clube do Brasil e o Theatro Municipal mais à frente. Então, era um ponto de encontro maravilhoso, que teve uma representatividade muito grande na história do Rio de Janeiro, para a boemia e o lazer”.[5]
Apesar disto, o estabelecimento fechou na metade da década de 1950.[5]
Espaço físico
editarO Nice possuía três ambientes: no exterior, composto por mesas e cadeiras de vime; já a parte de dentro era formada por dois ambientes distintos: um mais seleto para os clientes que tomariam chás ou bebidas finas, e lanches, e uma outra mais simples onde se tomava café com leite e pão na manteiga, bebidas baratas e o café propriamente.[5]
Wilson Batista, que daria ao seu livro de memórias jamais terminado o título de "Café Nice", assim o descreveu: "modesto café de cinco portas, com cadeiras e mesinhas de vime do lado de fora, com cocos verdes no chão e ao seu redor, que todos nós do rádio tivemos nossos primeiros sonhos".[6]
Referências artísticas
editar“Lá do Café Nice ai, que saudade me dá
O Café Nice era um pedaço do céu
Num canto batucava João de Barro
Lamartine e Pixinguinha, Almirante e Noel”
— Memórias do Café Nice, Milton Carlos e Isolda
"Café Nice" foi título do "samba-homenagem" de Arnô Provenzano e Otolindo Lopes, gravado em 1954 por Risadinha.[4]
Tamanha era a presença ali de compositores que estes tomavam cuidado para não terem suas ideias roubadas, onde se dizia que "as paredes do Café Nice têm ouvidos".[5] É citado na música "Rio Antigo" que tem letra de Chico Anysio e gravado pela cantora Alcione em seu disco de 1979, Gostoso Veneno.[7]
No filme Noel - Poeta da Vila (2006), o diretor Ricardo van Steen recriou diversas cenas nas quais se pode ter uma ideia da forma como as músicas eram compostas e executadas e do comportamento dos músicos no “Café Nice – lugar de intensa frequência de músicos nos anos 30-40”.[1]
Bibliografia
editar- Memórias do Café Nice: subterrâneos da música popular e da vida boêmia do Rio de Janeiro - Nestor de Holanda, Conquista, 1969. 301 pág.
Referências
- ↑ a b Lucas André Gasparotto (2011). «De "rapaz folgado" a "malandro-sambista-profissional": a apropriação da malandragem em sambas de Wilson Batista e Noel Rosa» (PDF). Uergs. Consultado em 1 de junho de 2017. Cópia arquivada em 2 de junho de 2017
- ↑ Fernanda Ribeiro Haag (2014). «Mario Filho e O negro no futebol brasileiro: uma análise histórica sobre a produção do livro» (PDF). Esporte e Sociedade ano 9, n 23, março. Consultado em 1 de junho de 2017. Cópia arquivada em 2 de junho de 2017
- ↑ Vicente Saul Moreira dos Santos (2010). «Memórias da cidade do Rio de Janeiro através de vozes da música brasileira» (PDF). História Oral - Anais, 2. Consultado em 1 de junho de 2017. Cópia arquivada em 2 de junho de 2017
- ↑ a b «Roteiro Informativo». Carioca (991): 35. 2 de outubro de 1954.
Disponível no acervo digital da Biblioteca Nacional (necessita pesquisa)
- ↑ a b c d e f Bernardo Argento (6 de fevereiro de 2015). «Uma noite no Café Nice». O Dia. Consultado em 2 de junho de 2017. Cópia arquivada em 2 de junho de 2017
- ↑ Luís Pimentel (19 de setembro de 2012). «Café Nice, o livro que não foi editado: que pena». Revista Música Brasileira. Consultado em 3 de junho de 2017. Cópia arquivada em 3 de junho de 2017
- ↑ Leonardo Pereira de Oliveira (2018). «Cancioneiro carioca: 39 cançoes sobre a cidade do Rio de Janeiro (1934 - 2015)». UFS. Consultado em 7 de setembro de 2023. Cópia arquivada em 7 de setembro de 2023.
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