Independência linear

termo matemático
(Redirecionado de Linearmente independentes)

Em álgebra linear, um conjunto de vectores diz-se linearmente independente se nenhum dos seus elementos for combinação linear dos outros.[1]

Definição formal

editar

Um subconjunto   de um espaço vectorial   diz-se linearmente dependente se existe um subconjunto finito   de   e escalares   não todos nulos, tais que   O subconjunto   diz-se linearmente independente se para qualquer subconjunto finito   de   se tem   [2][3]

Nestas situações, diz-se também que os vectores do subconjunto   são linearmente dependentes (LD) ou linearmente independentes (LI), respectivamente. Com base nessa definição não é difícil de concluir que um subconjunto   é linearmente dependente se, e somente se, pelo menos um dos vetores do conjunto é combinação linear dos demais.[4]

Algoritmos de verificação

editar

Independência linear em conjuntos de vectores

editar

Suponhamos que   é um conjunto de vectores de  , em que   e

     

Ainda, fixemos as constantes  , tais que

 

Por definição, se   for a única possibilidade para que a equação anterior seja verdadeira, então os vectores   serão linearmente independentes. Por outro lado, se qualquer uma das constantes admitir um valor diferente de zero, então o conjunto de vectores será linearmente dependente.[5]

Observe que podemos reescrever a equação

 

como

 

Efetuando as multiplicações, teríamos

 

que também poderia ser representada como segue

 

Assim, temos uma equação matricial da forma  , em que

    e  

Observe que a solução trivial ( ) é válida. Porém, é preciso descobrir se tal solução é única.[5] Para isso, podemos resolver o sistema por meio de operações elementares nas linhas da matriz aumentada

 

Logo, o conjunto de vectores será linearmente independente, caso o sistema linear tenha unicamente a solução trivial (todas as constantes valendo  ), ou seja, se o sistema for classificado como possível e determinado (SPD). Porém, se houverem infinitas soluções, de modo que o sistema seja classificado como possível e indeterminado (SPI), então o conjunto de vectores será linearmente dependente.[1][6]

Sendo assim, em  , é possível descobrir se um conjunto de vectores é linearmente independente ou não por meio da resolução de um sistema homogêneo.[7]

Independência linear em colunas de matrizes

editar

A partir de uma matriz  , pode-se verificar se suas colunas são linearmente independentes. Uma forma de realizar esta verificação, é por meio de uma equação da forma

 

a qual representa um sistema homogêneo na forma matricial, de modo que podemos definir se existem soluções não triviais para  . Se houverem vectores não nulos para   satisfazendo a equação  , então segue que as colunas de   são linearmente dependentes. Porém, caso a única solução seja  , então segue que as colunas de   são linearmente independentes.[8]

Casos especiais

editar

Em alguns casos, não é necessário utilizar os algoritmos citados anteriormente, pois apenas analisando os vectores do conjunto é possível classificá-lo como linearmente dependente. Vejamos alguns casos citados a seguir.

Vector nulo

editar

Qualquer conjunto de vectores que contenha o vector nulo será linearmente dependente,[9] mesmo que tal conjunto seja unitário, isto é, mesmo que tenha apenas um vector.[8]

Por exemplo, suponha que  ,   e   sejam vectores não nulos de   e que  ,  ,   e   sejam constantes reais. Ainda, seja   o vector nulo de  , de modo que

 

Observe que fixando  , podemos variar   sem alterar o resultado da combinação, ou seja, as soluções para o sistema são infinitas. Generalizando esse raciocínio para uma quantidade arbitrária de vetores podemos concluir que qualquer conjunto de vectores que contenha o vector nulo é um conjunto linearmente dependente.[9]

Vectores múltiplos

editar

Conjuntos de vectores que contenham dois ou mais vectores múltiplos escalares entre si são conjuntos linearmente dependentes.[10] Isso decorre do fato de que, se existe algum vector do conjunto que é múltiplo de outro vector, então ele pode ser expresso como combinação linear dos demais vectores.[6]

Por exemplo, sejam   e  , com    e  . Note que  , ou seja,   e   são múltiplos e, portanto, temos a possível combinação linear  . Logo, o conjunto   é linearmente dependente.

Número de vectores

editar

Em um espaço vectorial de dimensão finita, se o número de vectores do conjunto a ser verificado for superior à dimensão do espaço vetorial, então o conjunto será linearmente dependente. Assim, um conjunto com   vectores em   é linearmente dependente se  .[9]

De fato, seja   uma matriz de ordem  , com   e  . Note que a equação

 

é equivalente a um sistema de   equações e   incógnitas. Como  , haverá um número superior de variáveis do que equações e, portanto, o sistema linear homogêneo terá infinitas soluções. Deste modo, a equação   admite solução não trivial, caracterizando as colunas de   como linearmente dependentes. Logo, os vectores   são linearmente dependentes.[9]

Determinante

editar

Quando o número de vectores de um subconjunto de   for igual ao número de componentes de cada vector ( ), é possível utilizar o determinante para definir se o conjunto de vectores é linearmente dependente ou não. [4]

Para realizar uma verificação a partir de um determinante, basta utilizar cada vector do conjunto como sendo uma coluna (ou linha) de uma matriz   e, em seguida, calcular seu determinante. Se o resultado for igual a  , então o conjunto de vectores será linearmente dependente. Por outro lado, caso o determinante seja diferente de  , então o conjunto será linearmente independente. O conceito pode ser estendido para o caso de independência linear de colunas de matrizes quadradas.[11]

Caracterizações de independência linear

editar

Fixe  . Então, são equivalentes:[12]

  •   é linearmente independente.
  • O conjunto   é um gerador minimal para  . Ou seja, se  , então  
  • Sempre que   são distintos e  , então  
  • Toda combinação linear de elementos de   é única, no sentido de que se   são distintos, então
 

implica que  

  • Toda combinação linear de elementos de   é única, no sentido de que se
 

e

 

com todos os   distintos entre si, todos os   distintos entre si, e com todos os   e   não nulos, então  , e os índices de   e   podem ser rearranjados de modo que

 

Propriedades

editar
  • Se   for uma base de um espaço vectorial   e   for um conjunto de vectores em  , tal que  , então o conjunto   é linearmente dependente.[7]

De fato, como o conjunto   forma uma base para o espaço vectorial  , segue que os vectores de   são linearmente independentes.[13] Ainda, o número de vectores do conjunto   é igual à dimensão de  . Logo, se   é um conjunto do espaço vectorial  , sendo que o número de vectores de   é maior que o número de vectores de  , segue que o número de vectores do conjunto   será maior que a dimensão de  , de modo que tal conjunto será linearmente dependente.[9]

  • Seja   um conjunto de dois ou mais vectores. Dizemos que   é linearmente dependente se, e somente se, pelo menos um dos vectores de   for combinação linear dos demais.[14]

Demonstração:

Vamos mostrar que se pelo menos um dos vectores de   for combinação linear dos demais vectores, então   é linearmente dependente.

De fato, se   for uma combinação linear dos outros vectores de  , então podemos reordenar os vectores do conjunto, escrevendo   como

 

em que   são constantes que tornam a equação anterior válida. Perceba que é possível subtrair   em ambos os lados da equação

 

e assim

 

ou seja,

 

Como a equação anterior admite uma constante não nula, ou seja, como a equação

 

possui uma solução não trivial, segue pela definição que o conjunto   é linearmente dependente.

Agora, vamos verificar que se   é linearmente dependente, então pelo menos um dos vectores de   será combinação linear dos demais.

Caso  , então a equação

 

admite como solução   e, portanto, ao menos um dos vectores de   pode ser representado como combinação linear dos demais.

Porém, se  , então como   é linearmente dependente, existem constantes  , não todas nulas que satisfazem

 

Suponha que   seja o maior índice para o qual  . Observe que se   e  , teríamos um resultado inválido, pois   seria impossível. Logo   e, assim,

 

 

 

 

ou ainda,

 

o que comprova que ao menos um vector do conjunto pode ser escrito como combinação linear dos demais.[15]

Exemplos

editar
 
Os vectores   e   são linearmente dependentes (são paralelos); os vectores   e   são linearmente independentes (formam uma base para o plano   da imagem); os vectores   e   são linearmente independentes (formam uma base para um espaço vetorial de três dimensões)
  • O conjunto vazio é linearmente independente.[16]
  • Um conjunto unitário cujo único elemento não é o vector nulo, é linearmente independente.[17]
  • Dois vectores de um plano são linearmente dependentes se e só se um for múltiplo do outro (isto é, se são colineares).[14]
  • Em  :
    • O conjunto {(1,0,0),(0,1,0),(0,0,1)} é linearmente independente.[7]
    • O conjunto {(1,0,0),(1,1,0),(1,1,1)} é linearmente independente.[6]
    • Qualquer subconjunto de   com mais de três vectores é linearmente dependente.[9]
    • Três vectores não nulos e não colineares são linearmente dependentes se estiverem contidos em um mesmo plano.[18]
    • Três vectores são linearmente dependentes se, e somente se, o determinante da matriz em que cada vector está disposto em uma linha (ou coluna) for igual a zero.

Referências

editar
  1. a b «3.1 Dependência e independência linear». REAMAT. 14 de novembro de 2018 
  2. Noble & Daniel, 1986, p. 89
  3. Callioli, Domingues & Costa, 1990, p. 67–68
  4. a b ANTON, Howard; RORRES, Chris (2001). Álgebra linear com aplicações. Porto Alegre: Bookman 
  5. a b LAY, David C. (2013). Álgebra linear e suas aplicações 4 ed. Rio de Janeiro: LTC. p. 45. ISBN 9788521622093 
  6. a b c Viegas, Gustavo (19 de maio de 2017). «Conjuntos LI ou LD». Toda a Matemática 
  7. a b c Oliveira, Samuel Rocha de; Maia Jr., Adolfo (23 de março de 2015). «Geometria Analítica e Álgebra Linear - Aula 17 - Independência linear. Base e dimensão». UNIVESP 
  8. a b LAY, David C. (2013). Álgebra linear e suas aplicações 4 ed. Rio de Janeiro: LTC. p. 46. ISBN 9788521622093 
  9. a b c d e f LAY, David C. (2013). Álgebra linear e suas aplicações 4 ed. Rio de Janeiro: LTC. p. 48. ISBN 9788521622093 
  10. LAY, David C. (2013). Álgebra Linear e suas aplicações 4 ed. Rio de Janeiro: LTC. pp. 46–47. ISBN 9788521622093 
  11. «Apontamentos Álgebra Linear: 3 – Determinantes» (PDF). Nova School of Business and Economics 
  12. CALDAS, André (2018). Introdução a Álgebra Linear com álgebra e geometria. [S.l.: s.n.] pp. 144–145 
  13. Viegas, Gustavo (23 de maio de 2017). «Base de um espaço vetorial». Toda a Matemática 
  14. a b LAY, David C. (2013). Álgebra linear e suas aplicações 4 ed. Rio de Janeiro: LTC. p. 47. ISBN 9788521622093 
  15. LAY, David C. (2013). Álgebra linear e suas aplicações 4 ed. Rio de Janeiro: LTC. pp. 48–49. ISBN 9788521622093 
  16. Callioli, Domingues & Costa, 1990, p. 68
  17. Callioli, Domingues & Costa, 1990, p. 74
  18. «Álgebra Linear: Introdução a independência linear.». Khan Academy em Português. 6 de novembro de 2014 

Bibliografia

editar
  • Callioli, Carlos A.; Hygino H. Domingues; Roberto C. F. Costa (1990). Álgebra Linear e Aplicações 6 ed. São Paulo: Atual. ISBN 9788570562975 
  • Noble, Ben; James W. Daniel (1986). Álgebra Linear Aplicada. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil. ISBN 9788570540225 

Ver também

editar
Outros projetos Wikimedia também contêm material sobre este tema:
  Livros e manuais no Wikilivros
pFad - Phonifier reborn

Pfad - The Proxy pFad of © 2024 Garber Painting. All rights reserved.

Note: This service is not intended for secure transactions such as banking, social media, email, or purchasing. Use at your own risk. We assume no liability whatsoever for broken pages.


Alternative Proxies:

Alternative Proxy

pFad Proxy

pFad v3 Proxy

pFad v4 Proxy