Martim Gonçalves de Ataíde
Martim Gonçalves de Ataíde (c. 1350 - Castela, c. 1392) foi um fidalgo e militar português do século XIV, figura destacada do reinado de D. Fernando I e partidário de Castela na crise de 1383 - 85.
Martim Gonçalves de Ataíde | |
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Alcaide-mor de Chaves | |
Armas do chefe da linhagem dos Ataídes (Livro do Armeiro-mor, de 1509) | |
Nascimento | c. 1350 |
Reino de Portugal | |
Morte | c. 1392 |
Reino de Castela | |
Cônjuge | D. Mécia Vasques Coutinho |
Pai | Gil Martins de Ataíde, senhor da honra e torre de Ataíde |
Mãe | Teresa Vasques de Resende |
Ocupação | Fidalgo, Militar |
Filho(s) | D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, 1.º Conde de Atouguia
Vasco Fernandes de Ataíde, governador da Casa do Infante Dom Henrique |
Biografia
editarNasceu em data desconhecida, provavelmente cerca de 1350; filho de Gil Martins de Ataíde e de Teresa Vasques de Resende e bisneto de Gonçalo Viegas de Ataíde, que no ano de 1290 (Inquirições de D. Dinis) era senhor da honra e torre de Ataíde, no antigo julgado de Santa Cruz de Riba Tâmega (atual concelho de Amarante).[1]
Foi Rico-Homem do reinado de D. Fernando I, senhor de Ataíde e também de Gouveia (do Tâmega), Brunhais e Água Revez, por carta régia de 11.08.1377.[2]
Partidário de Leonor Teles
editarSendo muito próximo da rainha Leonor Teles, foi com o conde de Andeiro a Castela em 1382, para tratar do enlace da Infanta D. Beatriz com o rei de Castela João I. O seu casamento com Mécia Vasques Coutinho foi também estimulado por Leonor Teles, tendo Martim Gonçalves recebido, nessa ocasião, a estrategicamente importante alcaidaria-mor do Castelo de Chaves.
Nos finais do ano de 1383 começaram as hostilidades entre o mestre de Avis e o monarca castelhano. Como apoiador de Leonor Teles, Martim Gonçalves acompanhou a rainha a Alenquer, tendo sido por esta encarregado de defender a vila. Seguidamente, ao ser combinado um encontro entre a rainha e o rei de Castela, Ataíde começou por se manifestar contra o mesmo, por considerar que haveria o risco de que D. Leonor acabasse por ser presa pelo genro, com o objetivo de o monarca castelhano obter para ele o juramento das terras que se haviam pronunciado por D. Leonor. Mas depois mudou de opinião e acompanhou a rainha no encontro, em janeiro de 1384. Nessa ocasião, em que beijou a mão do rei de Castela, recebeu a confirmação da alcaidaria de Chaves e o encargo de defender o castelo e toda a região de Trás-os-Montes.[3]
Alcaide-mor de Chaves
editarDepois de tomar posse do castelo, Martim Gonçalves conduziu forças militares, unidas às do arcebispo de Santiago, para sitiar a cidade do Porto, em maio de 1384,[3] mas a operação não teve sucesso e, na sequência, regressou a Chaves.[4]
Mesmo depois das vitórias do mestre de Avis nas batalhas contra Castela, Ataíde recusou-se a entregar o castelo de Chaves. D. João I decidiu assim sitiar a praça logo que teve a confirmação dos apoios de Martim Vasques da Cunha e de Gonçalo Vasques Coutinho (cunhado de Martim Gonçalves). O cerco de Chaves iniciou-se em Janeiro de 1386, depois de Ataíde se ter novamente recusado a abandonar a cidade, desprezando a promessa de mercês por parte de D. João I. O condestável D. Nuno Álvares Pereira veio também a Chaves para participar no cerco.
Com as notícias sobre o iminente desembarque do duque de Lancaster em Castela (aliado de D. João I e com pretensões ao trono de Castela) e da chegada dos reforços de D. Nuno Álvares Pereira, Ataíde resolveu oferecer a rendição de Chaves, mas somente após um período de quarenta dias. D. João I receava que o monarca castelhano viesse pessoalmente em auxílio de Martim Gonçalves (Juan I estava em Valladolid e com boas condições para intervir, pois tinha solicitado o apoio da França e do antipapa Clemente VII), pelo que aceitou a proposta[5], recebendo como refém um dos filhos do Alcaide-mór[6]. O parentesco da esposa de Ataíde com Gonçalo Vasques Coutinho, um dos principais apoiadores de D. João I em 1383 - 85, também terá inclinado o rei português a fazer o acordo com o Alcaide. Mécia Vasques Coutinho e os seus filhos estavam acompanhando o marido durante o cerco, e já anteriormente, em atenção ao seu parentesco e por provável intercessão de Gonçalo Vasques Coutinho, D. João I concedera-lhe o privilégio de um cântaro de água por dia[7].
Durante esse período de 40 dias, foi visitá-lo um escudeiro seu amigo, que estava do lado das forças sitiantes e Martim Gonçalves teve com ele este diálogo: "que faz lá esse vosso Mestre (de Avis)?" e tendo-lhe o escudeiro retorquido "não sei o que faz, mas parece-me que fez 'pirolas' para vos colocar daqui para fora pela força", retorquiu o Alcaide-mór: "o demo que lhe agradeça essa física".[6]
Exílio em Castela
editarDepois de obter a autorização do monarca castelhano, que lhe agradeceu os serviços e lhe prometeu mercês em Castela, Martim Gonçalves de Ataíde entregou finalmente a praça em finais de abril de 1386, depois de cerca de 4 meses de cerco[6]. Partiu logo para Castela (dias antes de entregar as chaves, havia enviado sua esposa e seus filhos para Monterey), sendo os seus bens confiscados e entregues a Gonçalo Vasques Coutinho, com exceção de Chaves, que passou para a posse de Nuno Álvares Pereira e subsequentemente, por essa via, para a casa de Bragança.
Martim Gonçalves de Ataíde ainda estava vivo em 1392, quando matou um português com uma lança, em Villalobos, durante a incursão portuguesa em Castela, nesse ano.[8]
Casamento e descendência
editarDo seu casamento com Mécia Vasques Coutinho (c. 1360 - depois de 1415), irmã do vencedor de Trancoso, Gonçalo Vasques Coutinho, teve Martim Gonçalves de Ataíde os seguintes filhos:[9]
- Álvaro Gonçalves de Ataíde (f. fevereiro 1452), 1.º conde de Atouguia, casado com D. Guiomar de Castro, filha de D. Pedro de Castro, senhor do Cadaval; foi o progenitor dos demais condes de Atouguia (título extinto em 1759), dos condes da Castanheira (carta régia de 01.05.1532), dos condes de Castro Daire (20.06.1625) e ainda - por linha de descendência feminina - dos condes de Alva (13.01.1729), dos senhores, depois condes de Povolide [10](08.01.1709) e de Pontével (carta de 15.04.1662), dos senhores das honras de Ataíde e de Barbosa (carta régia de confirmação do senhorio em 29.05.1543)[11] e outros.
- Vasco Fernandes de Ataíde, vedor da casa do infante D. Henrique, que morreu na tomada de Ceuta, em 1415, sendo o único fidalgo português que perdeu a vida nessa batalha.
- D. Isabel de Ataíde, 1.ª mulher de D. Fernando de Castro, senhor do paúl do Boquilobo, com geração.
- D. Helena de Ataíde, casou com Pedro Vaz da Cunha, 2.º senhor de Angeja e Pinheiro, com geração.
- D. Felipa de Ataíde, dama da rainha D. Filipa de Lencastre com 1.200 libras de moradia, casou antes de 3 de março de 1400[12] com Gonçalo Anes de Sousa, 3.º senhor de Mortágua, com geração.
- D. Catarina de Ataíde, dama da mesma rainha, teve igual moradia na sua casa.
Referências
editar- ↑ Freire, Anselmo Braamcamp (1921). Brasões da Sala de Sintra, Livro Primeiro. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 80. Consultado em 12 de outubro de 2019
- ↑ Campos, Nuno Luís de Vila-Santa Braga (2013). A Casa de Atouguia, os Últimos Avis e o Império. Dinâmicas entrecruzadas na carreira de D. Luís de Ataíde (1516-1581). Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. p. 36. Consultado em 12 de outubro de 2019
- ↑ a b Freire, Anselmo Braamcamp, op. cit., p. 77
- ↑ Campos, Nuno, op. cit., p.37
- ↑ Lopes, Fernão (1990). Crónica de D. João I. 2 volumes, introdução de Humberto Baquero Moreno e prefácio de António Sérgio. Barcelos: Livraria Civilização. pp. vol. II, cap. LXV
- ↑ a b c Freire, Anselmo Braamcamp, op. cit., p. 79
- ↑ Lopes, Fernão, op. cit, vol. II, cap. LXIII
- ↑ Campos, Nuno, op. cit. p. 38
- ↑ Freire, Anselmo Braamcamp, op. cit., p.84
- ↑ Arquivo Nacional Torre do Tombo, Casa de Povolide: https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4162272
- ↑ Arquivo Municipal de Penafiel, ms. C-16, p. 2v e 3
- ↑ «Manuel Abranches de Soveral - Origem dos Souza ditos do Prado». www.soveral.info. Consultado em 12 de novembro de 2019