O faxinal é um sistema camponês tradicional de produção animal e agrícola encontrado no sul do Brasil, especialmente no estado do Paraná; é caracterizado pelo uso comum da terra para produção animal coletiva através de criadouros comunitários, produção agrícola para consumo e comercialização e de extrativismo florestal de baixo impacto.[1] Estima-se que as comunidades de faxinais remontam há dois a três séculos.

Histórico

editar

Formas comunitárias de exploração de terras são encontradas em partes da Ásia, África e Europa. Exemplos como os baldios em Portugal e os montes em mano común na Galícia (Espanha) mostram que a tradição remonta a muitos séculos e presume-se que este sistema possa ter originado com os povos Celtas.

Há muitas hipóteses não confirmadas sobre a origem dos faxinais, mas sabe-se que o sistema faxinal existente no Paraná é fortemente influenciado e preservado por descendentes de imigrantes de origem eslava, principalmente polaca e ucraniana, que chegaram ao estado no final do século XIX.

Características

editar

De acordo com a pesquisadora Mayra Lafoz Bertussi, "Os povos de faxinais se vêem e são classificados hoje como povos tradicionais cuja característica preponderante é o uso comum da terra e dos recursos florestais e hídricos disponibilizados na forma dos denominados “criadouros comunitários”".[2]

A organização dos faxinais é flexível e pode ser divida em 4 categorias:

  • Faxinal com demarcação das propriedades e a criação compartilhada da pastagem disponível.
  • Faxinal com cerca formada por 4 fios de arame para bloquear a passagem de animais de grande porte para proteger algum tipo de cultura específica.
  • Faxinal com cerca de vêdo compostas de muitos fios de arame impedindo a passagem até de animais de pequeno porte.
  • Faxinal onde os animais são criados em total confinamento.

O faxinal é um sistema de uso sustentável dos recursos naturais que gera atividade econômica para a região característico pela preservação ambiental e vida em comunidade.

Atualidade

editar

Apesar da resistência dos faxinalenses, os sistemas faxinais estão caindo em desuso por diversas razões. Devido a divisão de terra dos herdeiros e ao êxodo rural, o sistema faxinal foi gradualmente perdendo o seu caráter coletivo. Muitos passaram a produzir culturas individuais ou venderam suas terras. Outra grande ameaça ao sistema é a expansão de monoculturas como eucalipto, pínus, milho e soja que causam desmatamento florestal, contaminação das águas e esgotamento de recursos hídricos.

De acordo com o professor de sociologia Emanuel Menim, "Há décadas que o modelo da agricultura convencional e a mercantilização das terras avançam gradualmente sobre os territórios faxinalenses, principalmente por meio das empresas do agronegócio. Há também outro antagonista: o chacareiro. Na ótica dos faxinalenses, chacareiros são pessoas que procuram um pedaço de terra e a encontra em meio aos faxinais, seja para o lazer e ou descanso, seja para empreender alguma forma de produção econômica, mas estes não compreendem o modo de vida faxinalense e por isto cercam suas terras diminuindo o território do faxinal, diminuindo a área de reprodução social e econômica do povo tradicional."[3]

O decreto estadual Nº 3.446/97 aprovado em 25 de junho de 1997 reconheceu a existência dos faxinais como um sistema de produção camponês tradicional, característico da região Centro-Sul do Paraná.[1] Durante esta época, eram reconhecidos ao menos 152 comunidades.

Hoje em dia estima-se que há cerca de 40 faxinais no estado do Paraná. Prudentópolis/PR é a cidade com a maior concentração de faxinais sendo preservada pelos descendentes ucranianos que imigraram para a região no final do século XIX.

Referências

  1. a b Paraná. (25 jul. 1997). Decreto Estadual Nº 3.446/97. Sistema de Informações Ambientais. Curitiba: CELEPAR. Consultado em 10 de fevereiro de 2019.
  2. Bertussi, Mayra Lafoz. (2009). Faxinais: um olhar sobre a territorialidade, reciprocidade e identidade étnica. In: Almeida, A. W. B.; Souza, R. M. Terras de Faxinais. Manaus: UEA. p. 150–166. Consultado em 10 de fevereiro de 2019.
  3. Menim, Emanuel. (2014). Faxinalenses: identidade étnica e política e a luta pelo reconhecimento social. (Dissertação). Curitiba: UFPR. 166 f. Consultado em 10 de fevereiro de 2019.

Bibliografia

editar

Ligações externas

editar

Ver também

editar
pFad - Phonifier reborn

Pfad - The Proxy pFad of © 2024 Garber Painting. All rights reserved.

Note: This service is not intended for secure transactions such as banking, social media, email, or purchasing. Use at your own risk. We assume no liability whatsoever for broken pages.


Alternative Proxies:

Alternative Proxy

pFad Proxy

pFad v3 Proxy

pFad v4 Proxy