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Eutanasia Cavalo PDF

O documento avalia a eficácia do uso de lidocaína intratecal associada à anestesia prévia com tiopental sódico como método de eutanásia em cavalos. Vinte e dois cavalos receberam doses diferentes de tiopental e lidocaína de acordo com seu grau de consciência e condição clínica. O tempo para parada cardíaca não foi influenciado pela condição clínica ou doença, mas foi menor com volumes maiores de lidocaína. A técnica mostrou-se eficaz na eutanásia de

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O documento avalia a eficácia do uso de lidocaína intratecal associada à anestesia prévia com tiopental sódico como método de eutanásia em cavalos. Vinte e dois cavalos receberam doses diferentes de tiopental e lidocaína de acordo com seu grau de consciência e condição clínica. O tempo para parada cardíaca não foi influenciado pela condição clínica ou doença, mas foi menor com volumes maiores de lidocaína. A técnica mostrou-se eficaz na eutanásia de

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ARS VETERINARIA, Jaboticabal, SP, v.27, n.1, 011-016, 2011.

ISSN 2175-0106

UTILIZAÇÃO DE LIDOCAÍNA 2% POR VIA INTRATECAL ASSOCIADO


À ANESTESIA PRÉVIA COM TIOPENTAL SÓDICO COMO
MÉTODO DE EUTANÁSIA EM EQUINOS
USE OF LIDOCAINE HYDROCHLORIDE 2% INTRATHECALLY ASSOCIATED WITH
PRIOR ANESTHESIA WITH THIOPENTAL AS A METHOD OF EUTHANASIA IN HORSES

L. A. AMARAL1*, V. RABASSA1, M. MARCHIORI1, M. G. MEIRELLES1,


M. AMADO2, C. E. W. NOGUEIRA1

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência da utilização de lidocaína por via intratecal, associada à anestesia
prévia com thiopental sódico endovenoso, como método de eutanásia em eqüinos com diferentes graus de consciência e
condição clínica. Foi utilizada a rotina clinica do HCV-UFPel, onde foram avaliados 22 eqüinos os quais apresentavam
indicação de eutanásia. Foi realizado exame clínico geral e específico, classificando a condição clínica e grau de
consciência, numa escala de 1 a 3. Foi monitorado o tempo para ocorrência de parada cardíaca e a ocorrência de reações
durante o período trans-eutanásia. O tempo para parada cardíaca não foi influenciado pela classificação clínica, tipo de
doença ou dose do tiopental sódico. Foi observado que quanto maior o volume de lidocaína utilizada por via intratecal,
menor é o tempo para parada cardíaca (p<0,05). A análise histopatológica do sistema nervoso central pós-eutanásia
demonstrou que a técnica não causou lesões macro e microscópicas. Assim, a utilização da lidocaína via intratecal
associada a pré anestesia com tiopental sódico, mostrou-se eficaz na eutanásia de eqüinos, proporcionando uma
inconsciência rápida, com discretas reações e insensibilidade, além de não causar lesões ao sistema nervoso central.

PALAVRAS-CHAVE: Cloridrato de lidocaína. Equinos. Eutanásia. Intratecal.

SUMMARY

The aim of this study was to evaluate the efficiency of intrathecal lidocaine associated to previous anesthesia with
intravenous sodium thiopental as a method of euthanasia in horses with different degrees of awareness and clinical
condition. Twenty two horses that entered the HCV-UFPel and were sent to euthanasia after clinical evaluation were
used in the study. General clinical examination and specific exam were performed, classifying the clinical condition and
level of consciousness on a scale of 1 to 3. The occurrence of cardiac arrest and other reactions during the euthanasia
was monitored. The moment of cardiac arrest was not influenced by the clinical condition, the disease or dose of
sodium thiopental. It was observed that the higher the volume of intrathecal lidocaine, the lesser the time for cardiac
arrest (p<0.05). The post-euthanasia histopathological analysis of the central nervous system indicates that this
technique did not cause macro and microscopic injuries to the tissue. Thus, the use of intrathecal lidocaine associated
with thiopental sodic pre anesthesia was effective in equine euthanasia, providing a rapid unconsciousness, with mild
reactions and insensitivity, without causing central nervous system injuries.

KEY-WORDS: Lidocaine chloridrate. Equine. Euthanasia. Intrathecal.

1
Universidade Federal de Pelotas – UFPel – Faculdade de Medicina Veterinária – Departamento de Clínicas Veterinária. * João
Oliveira, 170. Rio Grande – Rio Grande do Sul – Brasil. ZIP: 96216-000. e-mail: lo1amaral@hotmail.com
2

11
Submetido: 29/04/2010 Aceito: 11/04/2011
INTRODUÇÃO A fim de caracterizar a condição clínica do animal,
foram avaliadas a atitude, consciência, freqüência
A relação homem e animal é cada vez mais cardíaca (FC), tempo de preenchimento capilar (TPC),
próxima, colocando em evidência as questões ligadas coloração da mucosa oral e palpebral e temperatura
ao bem-estar animal. No âmbito veterinário, o bem corporal (T°). Desta forma os animais foram
estar animal é extremamente valorizado e métodos que classificados como: Grau 1, animais sem alterações ou
minimizem o sofrimento dos mesmos devem ser alterações discretas de parâmetros clínicos gerais e
utilizados na rotina. respondendo ativamente a estímulos externos; Grau 2,
A eutanásia, quando necessária, deve oferecer ao animais com alterações moderadas de parâmetros
animal uma morte humanitária, através de uma clínicos e respondendo discretamente a estímulos
inconsciência rápida, sem evidência de dor ou agonia, externos; Grau 3, animais com alterações graves dos
com a utilização de métodos que contenham drogas parâmetros clínicos e não responsivos a estímulos. Na
anestésicas em dose suficiente para produzir analgesia Tabela 1 estão expostos os parâmetros de avaliação
e perda da consciência, seguida de parada utilizados para a classificação em graus.
cardiorrespiratória e morte (ANDRADE, 2002). As doses de tiopental sódico foram calculadas de
Segundo a Resolução N°714 de 2002 do Conselho acordo com o grau de consciência dos animais sendo
Federal de Medicina Veterinária (CFMV, 2002), a suficientes e necessárias para produzir plano anestésico
eutanásia pode ser realizada utilizando meios físicos ou homogêneo e a insensibilização. Grupos 1, 2 e 3,
químicos. usaram doses de 9 mg/kg, 6 mg/kg e 3 mg/kg, de
O tiopental sódico é um anestésico tiobarbiturato tiopental sódico , respectivamente.
injetável, utilizado em protocolos de eutanásia. Os Com o animal em decúbito lateral era posicionada
barbitúricos são responsáveis pela depressão do sua cabeça em um ângulo de 90º em relação ao
sistema nervoso central (SNC), deprimindo córtex, pescoço, sendo desta forma puncionado o forame
tálamo e bulbo, atingindo dessa forma, o centro magno entre o occipital e o atlas, no espaço intratecal,
respiratório, as áreas vasomotoras e sensoriais com um cateter 14G ou uma agulha de 40x16 mm.
(MASSONE, 2003), sendo utilizados para indução ou A dose de lidocaína utilizada variou de acordo com
complementação do protocolo de eutanásia devido a uma escala de peso. Os animais com peso entre 400-
sua rápida ação e por não provocar excitação 600 kg receberam 40 mL de lidocaína (800 mg); com
(OLIVEIRA et al., 2002). peso entre 399 - 200 kg receberam 30 mL de lidocaína
O cloridrato de lidocaína, um anestésico local, (600 mg); com peso entre 199 – 70 kg receberam 20
também pode ser utilizado em protocolos eutanásicos, mL de lidocaína (400 mg); e peso abaixo de 70 kg
uma vez que é responsável pelo bloqueio da geração e receberam 10 mL de lidocaína (200 mg). O líquor era
condução de impulsos nervosos (ANDRADE, 2002). retirado na mesma quantidade de lidocaína que seria
Com isto, quando utilizado pela via intratecal bloqueia infundida, para que fosse administrada com o auxilio
os impulsos dos centros cardiorrespiratórios de uma seringa de 20 mL.
deprimindo-os, tendo como consequência apnéia e No momento trans-eutanásia foi avaliado o tempo
parada do miocárdio. A vantagem da utilização deste de parada cardíaca e também foi observada a presença
fármaco pela via intratecal inclui o rápido início do de eventuais reações como movimentos de pedaleio e
bloqueio motor e sensorial, com previsível eficácia contrações clônico-tônicas, além de outras atitudes que
(SCHNEIDER et al., 1993). pudessem ser manifestadas no momento da eutanásia.
O objetivo deste trabalho foi avaliar na rotina Durante a aplicação desse método, serviam como
hospitalar, a eficiência da utilização de lidocaína observadores três graduandos em medicina veterinária,
intratecal associada a anestesia previa com tiopental de forma a avaliar o impacto que a aplicação desse
sódico como método de eutanásia em eqüinos com protocolo poderia causar nas pessoas que o
diferentes graus de consciência e condição clínica. observavam.
Após a eutanásia os animais foram encaminhados
MATERIAL E MÉTODOS para a necropsia no Departamento de Patologia da
Universidade Federal de Pelotas, sendo que uma
A coleta de dados foi conduzida no Hospital de porção medular era analisada histopatologicamente
Clinicas Veterinárias da Universidade Federal de para que fosse feita uma avaliação dos possíveis danos
Pelotas (HCV-UFPel), Pelotas/RS, onde foram causados no SNC.
atendidos 22 eqüinos, sem raça definida (SRD), Para análise estatística dos dados foi utilizado o
machos e fêmeas, com peso médio de 300 Kg (70-480 programa Statistix (2003), sendo geradas estatísticas
kg), os quais apresentavam comprometimento clinico descritivas e análise de variância com comparação
irreversível que justificava eutanásia. Estes animais entre médias de acordo com o Teste de Tukey HSD
passaram por um exame clínico geral e específico e (p<0,05), para comparação entre as variáveis
foram classificados de acordo com os padrões clínicos analisadas. Também foi realizada análise de regressão
e grau de consciência, servindo estas informações simples, para avaliação da relação entre tempo de
como parâmetros para avaliação da eficiência do parada cardíaca e doses de tiopental e lidocaína
método de eutanásia. A realização deste estudo foi utilizadas.
aprovada pela Comissão de Ética em Experimentação
Animal (CEEA) da UFPel (protocolo 033/07).

12
Tabela 1 – Parâmetros utilizados para classificação clínica e grau de consciência dos eqüinos pré-eutanásia.
Classificação TPC (seg.) Mucosas Temperatura Retal (°C) Consciência
Grau 1 1-3 Róseas 37,0 - 38,5 Alerta
Grau 2 4-5 Congestas 36,0 - 40,0 Apático
Grau 3 >5 Cianóticas < 36,0 Comatoso

RESULTADOS Quanto maior a quantidade de lidocaína utilizada


por via intratecal, menor foi o tempo para parada
Quanto à indução anestésica com tiopental sódico, cardíaca (p<0,05), conforme observado na Figura 1. O
esta mostrou ser eficiente na contenção química e tempo médio para a parada cardíaca relacionado ao
insensibilização do animal, confirmando a relação volume de lidocaína utilizado está demonstrado na
entre o grau de consciência e a dose necessária para a Tabela 2.
obtenção de um plano anestésico homogêneo e O tempo para parada cardíaca não foi influenciado
insensibilização. Após a indução anestésica ficou pela classificação clínica, tipo de doença e dose de
facilitada a punção intratecal e a administração de tiopental (Tabela 3)
lidocaína, no entanto este procedimento exige Em seis (27,3%) dos 22 animais utilizados, foram
treinamento do veterinário que irá executá-lo. observadas discretas contrações clônico-tônicas e
Os animais foram agrupados quanto à doença movimentos de pedaleio durante o período que
apresentada, sendo que 22,7% (n=5) apresentaram precedeu a parada cardiorespiratória, variando entre 5 e
alterações metabólicas crônicas, 31,8% (n=7) com 8 segundos, contudo, através do testemunho dos
doenças crônicas irreversíveis, 31,8% (n=7) observadores, o protocolo foi bem aceito para quem o
apresentando fraturas em membros e 13,6% (n=3) com acompanhava. Ainda, alguns animais apresentaram um
alterações do sistema nervoso. Na Tabela 2, estão período de apnéia transitória após a administração do
apresentadas as doses de tiopental sódico e doses tiopental.
médias de lidocaína, utilizadas nos animais com os Através da avaliação histopatológica pôde-se
diferentes diagnósticos clínicos, bem como o tempo perceber a ausência de lesões macroscópicas e
médio para parada cardíaca (p>0,05). microscópicas nas porções do SNC analisadas.

Tabela 2 - Tempo médio para parada cardíaca, de acordo com a dose de cloridrato de lidocaína 2%, em equinos
submetidos a protocolo de eutanásia.
Volume de lidocaína Número de animais Tempo médio para parada cardíaca (min.)
10 ml (200 mg) 1 6,7ab
20 ml (400 mg) 5 10,3a
30 ml (600 mg) 12 4,4b
40 ml (800 mg) 4 4,2b
Valores com letras diferentes diferem estatisticamente (p<0,05).

Tabela 3 - Grau de consciência, dose de tiopental sódico, volume médio de cloridrato de lidocaína (2%) e tempo médio
para parada cardíaca em eqüinos submetidos a protocolo de eutanásia, relacionando a diferentes diagnósticos clínicos.
Dose de Tempo médio para
Grau de Volume médio de
Diagnóstico clínico n Tiopental parada cardíaca
consciência lidocaína (ml)
(mg/kg) (min.)
Alterações metabólicas
crônicas e alterações do 8 3 3 30 4,4
sistema nervoso
Doenças crônicas
7 2 6 25 6,7
irreversíveis

Fraturas 7 1 9 27 6,1

13
Regressão linear
Y = 9,68 – 7,47E-03*Lidocaína
Tempo (minutos)

Dose de lidocaína (mg)


Figura 1 - Relação entre a dose de Cloridrato de Lidocaína (mg) administrada via intratecal e o tempo (minutos) para
parada cardíaca em eqüinos submetidos a eutanásia

DISCUSSÃO descrito por Boelter & Magalhães (1987) e justificado


pelo fato de que este fármaco produz depressão bulbar.
O método testado demonstrou ser uma técnica de Os animais classificados como Grau 1 necessitaram
eutanásia eficiente na rotina clínico hospitalar e que se de maiores doses de tiopental do que aqueles
adéqua as normas presentes na Resolução nº 714, de classificados como Grau 2 e 3 . Isto porque animais
2002, do Conselho Federal de Medicina Veterinária. clinicamente comprometidos, apresentando baixo grau
A utilização do tiopental como anestésico em doses de consciência, necessitam de menores doses deste
dependentes do grau de consciência dos animais anestésico para promover inconsciência (ANDRADE,
permitiu um estado de inconsciência desejável, 2002, GONZÁLEZ & SILVA, 2006).
proporcionando ao animal uma morte sem sofrimento, Após a utilização do tiopental pode-se perceber que
uma vez que teve rápida ação de indução, não a manipulação do espaço intratecal foi facilitada. A
ocasionando excitação. Isto pode se justificar devido às aplicação do anestésico local, cloridrato de lidocaína,
propriedades deste fármaco, como alta nessa via de administração difunde-se através da dura-
lipossolubilidade e a grande disponibilidade da droga máter, líquido céfalo-raquidiano e medula espinhal,
no sangue, uma vez que, 72 a 86% do fármaco liga-se a conforme descreveram Johnson, (2000) e Rocha et al.,
proteínas plasmáticas, fazendo com que a (2002) que observaram absorção vascular da droga e
hipoproteinemia aumente a disponibilidade da droga ligação com os receptores protéicos localizados nos
livre. Ainda, o grau de ligação à proteína está canais de sódio da membrana nervosa na medula e
diretamente relacionada ao pH arterial, sendo que encéfalo.
quanto menor o pH, menos ligação protéica haverá e, O cloridrato de lidocaína intratecal apresenta como
portanto, mais barbitúrico ativo estará disponível para vantagem o rápido início do bloqueio motor e
produzir anestesia geral. Assim, a acidose metabólica, sensorial, com previsível eficácia (SCHNEIDER et al.,
a uremia e a hipoalbuminemia aumentam a 1993). No entanto, a lidocaína, quando administrada no
disponibilidade do fármaco no SNC, ocasionando líquido cefalorraquidiano, produz uma neurotoxicidade
maior depressão e prolongamento da ação cujos efeitos são dose, concentração e tempo
(ANDRADE, 2002). Isto pôde ser observado neste dependentes (KROIN et al., 1986). Dessa forma
estudo, onde animais com alterações metabólicas podem-se justificar os resultados obtidos neste estudo,
crônicas necessitaram de menores níveis de tiopental o qual demonstra que quanto maior a quantidade de
do que aqueles eutanasiados por apresentarem fraturas. lidocaína utilizada por via intratecal, menor é o tempo
Como descrito por González & Silva (2006) a para parada cardíaca.
concentração de albumina é afetada pelo As doses de lidocaína estipuladas foram baseadas
funcionamento hepático, a disponibilidade de proteína no conceito descrito por Getty (1986), que sugere uma
na dieta, equilíbrio eletrolítico e por perda de proteínas relação positiva entre o diâmetro medular e o tamanho
em algumas doenças. de cada animal. Desta forma os volumes de 10 a 40ml
A apnéia transitória observada em alguns animais é utilizados diferiram para cada escala de peso. No
atribuída à utilização do tiopental sódio, efeito este já entanto, neste estudo o tempo para parada cardíaca foi
proporcional ao volume de lidocaína injetado.

14
Um dos fatores que pode influenciar o tempo de custo-benefício do protocolo e também minimizando as
ocorrência da parada cardíaca são os níveis de cálcio reações colaterais.
no liquor. Segundo Rocha et al. (2002), a lidocaína
combina-se com o receptor protéico localizado no CONCLUSÕES
canal de sódio da membrana nervosa. Compostos que
possuem maior afinidade se ligam mais firmemente aos A utilização da lidocaína via intratecal associada a
sítios receptores, permanecem no canal por um período pré anestesia com tiopental sódico, mostrou-se eficaz
de tempo maior e apresentam bloqueio de condução na eutanásia de eqüinos na rotina clinico hospitalar. O
mais longo. Alguns autores acreditam que o efeito protocolo de eutanásia proporcionou uma
sobre o fluxo de sódio seja mediado via interação inconsciência rápida, com discretas reações e
cálcio – anestésico local (ROCHA et al., 2002). insensibilidade, além de não conferir lesões ao sistema
Aumentando ou reduzindo a concentração de íon cálcio nervoso central.
ao redor do nervo pode antagonizar ou potencializar o
bloqueio analgésico, respectivamente, o que sugere REFERÊNCIAS
uma competição entre anestésico local e cálcio ligado a
membrana (STOETTING, 1987). Dessa forma ANDRADE, S. F. Manual de Terapêutica
podemos acreditar em uma possível relação entre os Veterinária. 2° ed. São Paulo: Roca, 2002, 365-376p.
níveis de cálcio sérico e o tempo para morte dos BOELTER, R.; MAGALHÂES, H.M. Elementos de
animais, no entanto essa hipótese requer mais estudos. Terapêutica Veterinária. 2.ed. Porto Alegre: Sulina,
As reações comportamentais dos eqüinos 1987, 164 p.
observadas durante a execução do protocolo poderiam
estar relacionadas com a estimulação do SNC pela CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA
agulha (JOHNSON, 2000). Porém, durante o VETERINÁRIA. RESOLUÇÃO 714, de 20 de
experimento, tais informações não foram confirmadas, JUNHO de 2002. Disponível em: www.cfmv.com.br.
uma vez que não houve penetração medular pela Acessado em 01 de setembro de 2007.
agulha, informação esta confirmada por necropsia.
Outra possibilidade pode estar relacionada a dose de GETTY, R. Anatomia dos Animais Domésticos. 5.ed.
tiopental, fazendo com que o paciente permaneça um Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1986, 2048 p.
período prolongado no Estágio II de Guedel, GONZÁLEZ, F. H. D.; SILVA, S. C. Introdução a
denominado de fase de excitação ou delírio, tendo bioquímica clinica veterinária. 2.ed. Porto Alegre:
como conseqüência o aumento do tônus muscular e UFRGS, 2006, 260 p.
episódios de excitação devido a inibição de vias
retículo-espinhais ou pela liberação paradoxal de um HODGSON, P. S., NEAL, J. M., POLLOCK, J. E.,
neurotransmissor excitatório (BOELTER & LIU, S. S. The Neurotoxicity of Drugs Given
MAGALHÃES, 1987). Intrathecally (Spinal). Anesthesia & Analgesia, v.
As reações manifestadas por alguns animais 88, p. 797, 1999.
submetidos ao protocolo também podem estar
relacionadas à toxicidade da lidocaína administrada no JOHNSON, M. E. Potential neurotoxicity of spinal
líquido cefalorraquidiano estando diretamente anesthesia with lidocaine. Mayo Clinic Proceedings,
relacionada com a velocidade de absorção e lesão no v. 75, p. 921-32, 2000.
tecido. Os efeitos tóxicos da lidocaína quando
aplicados em concentrações de 2,5% a 5% incluem: KROIN, J. S.; PENN, R. D., LEVY, F. E., KERNS, J.
convulsões, movimentos de pedaleio, excitação e M. Effect of repetitive lidocaine infusion on peripheral
atordoamento (HODGSON et. al., 1999). nerve. Experimental Neurology, v. 94, p. 166-173,
A utilização de lidocaína intratecal pode causar 1986.
alterações na permeabilidade perineural, edema no
nervo fascicular e aumento da pressão no fluido MASSONE, M. Anestesiologia Veterinária:
cefalorraquidiano, contribuindo para a disfunção da farmacologia e técnicas. 5.ed. Rio de Janeiro,
fibra nervosa e, finalmente, ocasionando danos Guanabara Koogan, 2008, 571 p.
neurotóxicos, embora os mecanismos que levariam a
tais lesões neuronais não sejam totalmente conhecidos MYERS, R. R., KALICHMAN, M. W., REISNER, L.
(MYERS et al., 1986). Porém, no protocolo utilizado S., POWELL, H. C. Neurotoxicity of local anesthetics:
não foram observadas lesões macroscópicas ou altered perineural permeability, edema, and nerve fiber
microscópicas no exame pos morten, após a injury. Anesthesia & Analgesia, v. 64, p. 29-35, 1986.
administração do fármaco no espaço intratecal, não
interferindo na avaliação das alterações do SNC, no OLIVEIRA, H. P., ALVES, G. E. S., REZENDE, C.
entanto necessita-se de estudos com maior numero de M. F. Eutanásia em Medicina Veterinária. Escola de
animais para que se ratifique este dado Veterinária UFMG. Minas Gerais. 2002. Disponível
Este estudo demonstrou que a via de administração em: http://www.ufmg.br/coep/eutanasia.pdf. Acesso
intratecal é eficaz, visto que a quantidade do fármaco em 27 de janeiro de 2008.
foi reduzida, principalmente quando se faz um paralelo
com outras vias parenterais, favorecendo desta forma o ROCHA, A. P. C., LEMONICA, L., BARROS, G. A.
M. Uso de medicação por via subaracnóidea no

15
tratamento da dor crônica. Revista Brasileira de subarachnoid anesthesia with 5% lidocaine.
Anestesiologia, v. 52, p. 628-643, 2002. Anesthesia & Analgesia, v. 76, p. 1154-1157, 1993.

SCHNEIDER, M., ETTLIN, T., KAUFMANN, M. STOETTING, R. K. Local Anesthetic. 2. ed, London:
Transient neurologic toxicity after hyperbaric Lippincott Company, 1987, p. 148-168.

16

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