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Parametrização de Curvas

1) O documento discute a parametrização de curvas no espaço tridimensional, representando-as como funções do parâmetro t. 2) Uma curva parametrizada é definida como uma função contínua X:I→R3, onde X(t)=(x(t),y(t),z(t)) descreve a posição no espaço. 3) O vetor tangente em cada ponto é dado pela derivada de X em relação a t, X'(t)=(x'(t),y'(t),z'(t)).

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Parametrização de Curvas

1) O documento discute a parametrização de curvas no espaço tridimensional, representando-as como funções do parâmetro t. 2) Uma curva parametrizada é definida como uma função contínua X:I→R3, onde X(t)=(x(t),y(t),z(t)) descreve a posição no espaço. 3) O vetor tangente em cada ponto é dado pela derivada de X em relação a t, X'(t)=(x'(t),y'(t),z'(t)).

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Geometria Analítica e Vetorial - Daniel Miranda, Rafael Grisi, Sinuê Lodovici

8 C URVA S

8.1 parametrização de curvas


No Capítulo 3 estudamos as equações de uma reta no espaço e vimos que tal entidade
geométrica pode ser representada pelas equações paramétricas:


 x = a + v1 t

r: y = b + v2 t (8.1)


z = c + v3 t

onde S0 = ( a, b, c) é um ponto da reta r e v = (v1 , v2 , v3 ) é um vetor paralelo a r.


z

X(t) = (x(t),y(t),z(t))

Figure 8.1: Curva Parametrizada

Nesse ponto, observamos que a reta representada pelas equações 8.1 pode ser inter-
pretada como a trajetória no espaço E3 descrita por um corpo em movimento retilíneo
uniforme com posição inicial S0 e velocidade v. Assim, as equações 8.1 são meramente a
representação em coordenadas da clássica equação da física:

S(t) = S0 + vt

na qual S(t) = ( x(t), y(t), z(t)) descreve a posição do corpo em questão no instante de
tempo t.

199
Geometria Analítica e Vetorial - Daniel Miranda, Rafael Grisi, Sinuê Lodovici

Um dos objetivos desse capítulo será o de representar outras curvas no espaço de modo
semelhante, isto é, imaginando um corpo que se move livremente pelo espaço e descrevendo
a posição X (t) = ( x(t), y(t), z(t)) desse corpo no instante t, onde agora x, y e z são funções
(não necessariamente lineares) de R em R (ver Figura 8.1).
Nesse intuito, podemos então definir:

Definição 8.1 Uma curva parametrizada no espaço com parâmetro t é função contínua,
no qual I = ( a, b) é um intervalo da reta real.

De modo análogo podemos definir uma curva no plano como uma função contínua X :
I → R2 .
Usualmente pedimos uma certa regularidade para as funções x(t), y(t) e z(t), pedimos
tenham derivadas de toda ordem (para que seja possível definir um vetor velocidade, um
vetor aceleração, etc...).
Observamos que no caso de uma curva qualquer o vetor velocidade que era constante
nas equações da reta agora é um vetor tangente a curva que varia com o parâmetro t.

Definição 8.2 Dado uma curva X : I → R3 , X (t) = ( x(t), y(t), z(t)) com x(t), y(t) e
z(t) diferenciáveis, então o vetor tangente é dado pela derivada

X ′ (t) = ( x′ (t), y′ (t), z′ (t))

da função X em relação a t.

O processo de descrever uma curva geométrica como uma função X : I → R3 é con-


hecido como parametrização.

Exemplo 8.3 A equação mais simples para uma parábola

y = x2

pode ser (trivialmente) transformada em uma parametrização utilizando um parâmetro


livre t, e estabelecendo

x = t, y = t2 para − ∞ < t < ∞

Exemplo 8.4 Parametrize o círculo de raio 2 em R2 e descreva seu vetor tangente.

200
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y
X ′ ( t)
b X ( t)
2 sen t

t
b 2
O 2 cos t x

Solução: Para parametrizar o círculo utilizaremos como parâmetro o angulo t. Com essa
escolha temos as coordenadas de um ponto P : ( x, y) pode ser descritas utilizando que
x = 2 cos t e que y = 2 sen t. Para descrevermos todos os pontos o ângulo t deve variar em
[0, 2π ].
Assim, a curva plana X : [0, 2π ] → R2 dada por X (t) = (2 cos t, 2 sen t) descreve um
círculo de raio 2 em R2 .
Finalmente, o vetor tangente de X no instante t pode ser calculado derivando a parametriza-
ção X (t) = (2 cos t, 2 sen t) e é dado por X ′ (t) = (−2 sen t, 2 cos t).


Observação 8.5 Uma curva X : [ a, b] → R2 , como por exemplo a curva descrita no Exem-
plo 8.1, para a qual o ponto inicial é igual ao ponto final X ( a) = X (b) é denominada curva
fechada.

2.0

1.5

z
1.0

1.0

0.5
0.5
y
-1.0
-0.5 0.0
0.0
0.0
-0.5x 0.5

1.0
-1.0

Figure 8.2: Hélice

201
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Exemplo 8.6 Descreva a curva espacial cuja parametrização é X (t) = (cos t, sen t, t/10).

Solução: Para descrevermos a curva começamos observando que a projeção da curva X (t)
no plano x, y é dada por X ′ (t) = (cos t, sen t) e consequentemente é um ponto do círculo
de raio unitário. Logo a curva está contida no cilindro x2 + y2 = 1.
Na direção z a curva se move com velocidade constante.
Assim, a curva espacial X (t) = (cos t, sen t, t/10) descreve uma hélice contida no cilin-

dro x2 + y2 = 1. Tal curva caminha na direção de z para completar uma volta em torno
10
do cilindro. Observe a figura ao lado. 

Exemplo 8.7[Gráfico de Função] O gráfico de uma função f : R ⊃ D → R diferenciável

é uma curva em R2 . Tal curva pode ser representada pelas equações paramétricas X (t) =
(t, f (t)). Observe que o vetor velocidade de tal curva é dado por X ′ (t) = (1, f ′ (t)).
Na figura 8.3 apresentamos a curva (t, sen t) dada pelo gráfico da função sen x em R2 ,
cujo vetor velocidade no tempo t é (1, cos t).
1.0

0.5

2 4 6 8 10 12

-0.5

-1.0

Figure 8.3: Gráfico de sen x

x
-4 -2 2 4

-1

-2

-3

-4

Figure 8.4: Curva não injetora

Exemplo 8.8 A curva X (t) = (t3 − 4t, t2 − 4) é uma curva parametrizada não injetora (ver

Figura 8.4), pois X (2) = X (−2) = (0, 0). Esse exemplo mostra que que nem toda curva do
plano pode ser descrita como gráfico de uma função.

202
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Observação 8.9 Uma curva parametrizada injetora (sem auto-intersecções) é dita ser uma
curva simples

y
1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

x
-1.0 -0.5 0.5 1.0

Figure 8.5: Curva diferenciável com “bico”

Exemplo 8.10 Observamos, por fim, um fato que pode parecer a princípio contradizer

nossa intuição de diferenciabilidade propiciada pelo estudo de funções reais e seus gráficos
em cursos de cálculo diferenciável. Uma curva parametrizada pode ser diferenciável e ter
“bicos” ou “arestas” desde que o vetor velocidade se anule nesses pontos. Observe a curva
X (t) = (t3 , t2 ) cujo vetor velocidade existe para todo t e é dado por X ′ (t) = (3t2 , 2t).

Observação 8.11 Uma curva parametrizada diferenciável X (t) tal que X ′ (t) 6= 0 para todo
t é dita ser uma curva regular.
Pode-se mostrar que curvas regulares não admitem “bicos”.

Exemplo 8.12

A cicloide, uma curva clássica estudada por Galileu (entre outros), consiste na curva
traçada por um ponto fixado numa circunferência que rola ao longo de uma reta (ver
b b b

Figura ??).

b
R

Figure 8.6: Ciclóide

203
b b b

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b
C
A b
t

b b
B
O rt x

Figure 8.7: Ciclóide parametrizada

A ciclóide está ligada, por exemplo, ao problema da braquistócrona, que descreve uma
curva ligando dois pontos A e B, com B localizado a uma altura menor que A, e que tem
a propriedade de ser a trajetória (“rampa”) capaz de minimizar o tempo para um corpo ir
de A à B quando este está submetido apenas à gravidade.
Além disso, a ciclóide (invertida) também é solução do problema da tautócrona que trata
de uma curva onde não importa onde uma partícula seja colocada, ela leva o mesmo tempo
para deslizar até o fundo.
Obtenha as equações paramétricas da ciclóide passando pela origem O do sistema de
coordenadas e obtida a partir de um círculo de raio r “rolando” sobre o eixo x.
Solução: Seja t o parâmetro que representa o ângulo de rotação do círculo. Quando o
círculo girar de um ângulo t teremos que a distância percorrida ao longo do eixo será o
comprimento do setor circular entre A e B (ver Figura 8.7), ou seja rt. Dessa forma é fácil
concluir que as coordenadas de A são:
(
x = rt − r sen t
y = r − r cos t

Logo a equação que representa tal curva é dada por X (t) = (r(t − sen t), r(1 − cos t)).


8.2 curvas em coordenadas polares


Coordenadas polares são muito úteis quando trabalhamos com curvas com algum tipo
de simetria em relação à origem do sistema de coordenadas. Observe isso nos próximos
exemplos.

204
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-2 -1 1 2

-1

-2

Figure 8.8: Círculo de raio 2

Exemplo 8.13 Um círculo de raio 2 como na figura ao lado, como sabemos, pode ser

representado num sistema cartesiano pela equação x2 + y2 = 4. Note que, em coordenadas


polares, o mesmo lugar geométrico pode ser representado pela equação r = 2.
Olhando o círculo como curva parametrizada, em coordenadas cartesianas podemos
representá-lo pela equação X (t) = (2 cos t, 2 sen t) para t ∈ [0, 2π ]. Em coordenadas po-
lares teríamos o seguinte:

r = 4 cos 2 2
 t + 4 sen t=2
4 sen t
θ = arctg = t.
4 cos t

Logo, a mesma equação, em coordenadas polares ficaria X (t) = (2, t) COM t ∈ [0, 2π ].

20

10

-30 -20 -10 10 20 30

-10

-20

-30

Figure 8.9: Espiral

Exemplo 8.14 Observe a espiral que é o lugar geométrico dado equação r = 2θ (θ ≥ 0)

205
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em coordenadas polares. No mesmo sistema de coordenadas poderíamos parametrizar tal


curva com X (t) = (2t, t) para t ≥ 0. Em coordenadas cartesianas, no entanto, teríamos:

x = r cos θ = 2t cos t
y = r sen θ = 2t sen t

Donde obteríamos X (t) = (2t cos t, 2t sen t) para t ≥ 0.


Observe, no entanto, que apesar de podermos representar o lugar geométrico de tal
curva por r = 2θ (θ ≥ 0), é difícil representá-la no sistema cartesiano como uma equação
envolvendo x e y apenas.
Poderíamos pensar em escrever:
q y
x2 + y2 = 2 arctg ,
x
 π π
mas como a curva tem pontos com x = 0 e a função arctg tem imagem em − , , tal
h π 2 2
equação descreveria apenas o trecho de r = 2θ para θ ∈ 0, .
2
Melhor seria escrever:
p !
x 2 + y2 y
tg = ,
2 x

que descreve toda espiral exceto os pontos onde x = 0. Mesmo assim, tal equação é evi-
dentemente mais complexa que r = 2θ.
Mais alguns exemplos de curvas classicamente representadas em coordenas polares estão
descritos abaixo. Tente verificar e comparar nesses exemplos as equações nos sistemas
cartesiano e polar.

1 2 3 4

-1

-2

Figure 8.10: Cardioide

Exemplo 8.15 O cardióide, descrito em coordenadas polares pela equação r = a(1 + cos t),

206
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onde a é um número real positivo, tem em coordenadas cartesianas equação ( x2 + y2 −


ax)2 = a2 ( x2 + y2 ).
A sua representação paramétrica que em coordenadas polares assumiria a forma X (t) =
( a(1 + cos t), t) para t ∈ [0, 2π ] tem no sistema cartesiano a forma:
 
1 − t2 t
X (t) = 2a , 4a .
( 1 + t2 ) 2 ( 1 + t2 ) 2

2 4 6 8

-1

-2

-3

Figure 8.11: Elipse de eixos 10 e 6

Exemplo 8.16 A elipse ao lado com eixo maior 10, eixo menor 6 e com um dos focos na

origem pode ser representada em coordenadas polares pela equação:

9
r= .
5 − 4 cos t
Num sistema cartesiano tal curva seria descrita por:

( x − 4) 2 y2
+ = 1.
25 9

8.3 coordenadas esféricas e cilindrícas


Durante o século XV, quando a Europa vivenciava o período das grandes navegações, os
navegadores, que sabiam caminhar sobre um globo aproximadamente esférico, começaram
a usar um sistema de localização na Terra formado pela latitude e longitude de um ponto.
Nesse sistema a Terra fica dividida por paralelos, círculos centrados no eixo de rotação
da Terra e localizados em planos perpendiculares a este mesmo eixo, e meridianos, círcu-
los com centro localizado no centro do globo terrestre passando pelos pólos norte e sul
(determinados pela intersecção do eixo de rotação do planeta com o globo).

207
Geometria Analítica e Vetorial - Daniel Miranda, Rafael Grisi, Sinuê Lodovici

Figure 8.12: Latitude e Logitude

Como podemos observar na Figura 8.12, podemos localizar um ponto na Terra pela sua
latitude, que mede o ângulo (entre −90o e 90o ) com vértice no centro da Terra formado
entre o ponto e a linha do Equador, e pela sua longitude, que mede o ângulo (entre −180o
e 180o ) entre o ponto e o meridiano de Greenwich, tido desde 1884 como o meridiano de
referência para navegação.

Figure 8.13: Coordenadas Esféricas

O sistema de coordenadas esférico, de grande utilidade em problemas com simetrias


em relação a origem do espaço, é semelhante ao sistema de latitudes e longitudes usado
em navegação. A única diferença é que para localizar um ponto qualquer do espaço é
necessária, além dos dois ângulos, a distância do ponto a origem do espaço. Observe que
para localizar uma estrela qualquer no universo poderíamos dar a distância da mesma à
Terra e a latitude e longitude do ponto onde aquela estrela estará exatamente em cima de
nós.

208
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Para definir um sistema de coordenadas esférico precisamos escolher um ponto de origem


O e duas direções ortogonais, conhecidas como zênite e referência do azimute.
No caso do exemplo descrito acima o zênite é dado pela direção do eixo de rotação da
Terra e a referência de azimute é dada pela reta que liga o centro da Terra ao meridiano
de Greenwich.
As coordenadas esféricas (r, phi, θ ) de um ponto P são então dadas por:

 raio ou distância radial r que é a distância (Euclideana) entre O e P;

 ângulo polar ou colatitude φ dado pelo ângulo (entre 0 e π) entre o zênite e a direção
do segmento OP;

 azimute ou longitude θ, ângulo (entre 0 e 2π) entre a referência de azimute e a


−→
projeção ortogonal de OP sobre um plano ortogonal ao zênite (plano de referência).

Notamos que no exemplo dado pelos paralelos e meridianos da Terra, o ângulo de longi-
tude é igual ao azimute θ, mas o ângulo dado pela latitude de um dado ponto é o ângulo
complementar ao ângulo polar φ.
Note que no sistema de coordenadas esférico os pontos localizados sobre o zênite podem
ser representados por mais de uma tripla (r, φ, θ ). De fato para tais pontos (com φ = 0 ou
φ = π) o ângulo θ não importa.
Observando a Figura 8.14 concluímos facilmente que as coordenadas esféricas se rela-
cionam com as coordenadas cartesianas segundo as seguintes equações:

Figure 8.14: Sphere Spirals de M.C. Escher

x = r sen φ cos θ
y = r sen φ sen θ
z = r cos φ

209
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e
p
r= x 2 + y2 + z2 !
p
x 2 + y2
φ = arctg
z
y
θ = arctg
x
Tente verificar isso.

Exemplo 8.17 Curva Loxodrómica:

Problemas com simetria esférica em geral tem uma representação mais simples em co-
ordenadas esféricas. Observe a curva desenhada por M.C. Escher em sua obra “Sphere
Spirals”. Tal curva é conhecida como curva loxodrómica e é a curva que cruza os meridi-
anos sempre com o mesmo ângulo. Tal curva é representada por uma linha reta na projeção
de Mercator (ver Wikipedia), isto é, se m é a inclinação da reta e t0 é o instante onde a curva
cruza o Equador, na projeção de Mercator teríamos:

x ( t) = t
y ( t ) = m ( t − t0 )

Olhando para a curva numa esfera de raio 1 teríamos em coordenadas esféricas:

r ( t) = 1
θ ( t) = t
π
φ(t) = arcsin(tanh(m(t − t0 ))) +
2
Em coordenadas cartesianas, no entanto, tal curva seria representada pelas equações:
cos t
x ( t) =
cosh(m(t − t0 )
sen t
y( t) =
cosh(m(t − t0 )
z(t) = tanh(m(t − t0 ))

Observe que nos sistema cartesiano é difícil a primeira vista até mesmo saber que a curva
se encontra numa esfera, fato que no sistema esférico é imediato.
O sistema de coordenadas cilíndrico é, simplificadamente, o sistema de coordenadas polar
do plano euclideano complementado com uma terceira coordenada para descrever a altura
z do ponto em relação ao plano Oxy. Para definir as coordenadas cilíndricas de um ponto
é necessária a escolha de um ponto de origem O, eixo Oz para marcar a altura e uma
referência de azimute no plano perpendicular a Oz pela origem (plano de referência). As
coordenadas (r, θ, z) do ponto P são definidas por:

210
Geometria Analítica e Vetorial - Daniel Miranda, Rafael Grisi, Sinuê Lodovici

Figure 8.15: Coordenadas Cilíndricas

 distância radial dada pela distância euclideana de P ao eixo Oz;


−→
 azimute θ, ângulo entre a referência de azimute e a projeção de OP sobre o plano de
referência;

 altura z que é a distância de P ao plano de referência.

As coordenadas cilíndricas e cartesianas se relacionam de forma muito parecida com a a


relação entre coordenadas polares e cartesianas:

x = r cos θ
y = r sen θ
z=z
e, inversamente:
p
r= x2 +y
2
y
θ = arctg
x
z=z

Exemplo 8.18 Hélice:

Voltemos ao Exemplo 8.1 que descrevia uma hélice que em coordenadas cartesianas pos-
suia equação X (t) = (cos t, sen t, t/10). Em coordenadas cilíndricas as equações paramétri-
cas se simplificariam a:

X (t) = (1, t, t/10).

Estude isso.

211
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8.4 comprimento de uma curva


Provavelmente em cursos de física você já se deparou com a fórmula:

∆s = v∆t

que indica a distância percorrida ∆s por um corpo que se move durante um período de
tempo ∆t com velocidade constante v (onde v é igual ao comprimento do vetor velocidade
v).
Como poderíamos generalizar o cálculo da distância percorrida para um corpo que se
move com velocidade não constante entre os instantes t0 e t ao longo de uma curva
parametrizada X (t) = ( x(t), y(t))?
Algo que talvez também já seja familiar a você é que tal fórmula se generaliza por:
Z t
∆s = v(t)dt,
t0

onde v(t) = kv(t)k.


Inspirados por essas equações, definimos o comprimento de uma curva X : I → R3
parametrizada por X (t) = ( x(t), y(t), z(t)) no tempo t a partir do ponto t0 por:
Z t
s( t) = kX ′ (t)kdt
t0

ou de modo mais explícito:


Z tq
s( t) = ( x′ (t))2 + (y′ (t))2 + (z′ (t))2 dt
t0

Figure 8.16: Comprimento de uma curva

Intuitivamente a fórmula acima admite a seguinte interpretação. Dividamos o intervalo


[t0 , t] em partes de modo que t0 < t1 < t2 < · · · < tn+1 = t. O comprimento do segmento
de reta que liga X (ti ) à X (ti+1 ), obtido pelo Teorema de Pitágoras, é dado por:
q
∆si = (∆xi )2 + (∆yi )2 + (∆zi )2 ,

onde ∆xi = ( x(ti+1 ) − x(ti )), ∆yi = (y(ti+1 ) − y(ti )) e ∆zi = (z(ti+1 ) − z(ti )). Assim o
comprimento ∆s da curva parametrizada X (t) de t0 à t é dado aproximadamente por:
n
∆s ≈ ∑ ∆si .
i=0

212
Geometria Analítica e Vetorial - Daniel Miranda, Rafael Grisi, Sinuê Lodovici

Ver Figura 8.16.


Mas, se ∆t= (ti+1 − ti ) temos:
v
u 
u 2  2  2 !
∆x ∆z ∆z
∆si = t i
+ i
+ i
(∆ti )2 =
∆ti ∆ti ∆ti
q 
x 2 y 2 z 2
= (vi ) + (vi ) + (vi ) ∆ti ,
     
∆xi y ∆yi ∆zi
onde vix= , vi = z
e vi = . Aumentando a partição e diminuindo os
∆ti ∆ti ∆ti
intervalos [ti , ti+1 ] temos que no limite a expressão
n q 
x y 2 z
∆s ≈ ∑ 2 2
(vi ) + (vi ) + (vi ) ∆ti
i=0

torna-se
Z tq
s( t) = ( x′ (t))2 + (y′ (t))2 + (z′ (t))2 dt
t0

Exemplo 8.19 Qual o comprimento do círculo de raio 1?

Solução: O círculo de raio 1 pode ser representado como uma curva parametrizada por
X (t) = (cos t, sen t). Para obtermos o comprimento do círculo integramos a norma do
vetor velocidade X ′ (t) = (− sen t, cos t):
Z 2π p Z 2π
s(2π ) = sen2 t + cos2 tdt = 1dt = 2π.
0 0

Exemplo 8.20 Qual o comprimento da hélice dada por X (t) = (cos t, sen t, t/10) entre os

instantes 0 e 4π?
Solução: O vetor velocidade da curva é dado por X ′ (t) = (− sen t, cos t, 1/10). Logo:

s
Z 4π  2 Z 4π r √
1 101 4π 101
s(4π ) = sen2 t + cos2 t + dt = dt =
0 10 0 100 10

213
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8.5 regiões planas limitadas por curvas


Frequentemente em problemas de física e engenharia precisamos encontrar áreas de regiões
do plano limitadas por curvas planas. Não é raro, também, problemas que envolvem den-
sidades (de massa, por exemplo) variáveis numa placa plana, sobre a qual estamos inter-
essados em entidades como o peso ou centro de massa. Para lidar com tais problemas
utilizam-se ferramentas desenvolvidas em cálculo integral, um tema que vai muito além
do escopo deste livro. No presente momento não nos é necessário entender quais são e
como podemos utilizar tais ferramentas. No entanto a descrição de regiões do plano limi-
tadas por curvas é um tema de grande interesse para a geometria analítica. Temas este que
trataremos a seguir.
Um modo interessante de descrevermos regiões limitas por curvas é nos utilizarmos de
coordenadas cartesianas e “escanearmos” a região analisando a intersecção da região com
retas verticais, ou seja, retas do tipo x = k, onde k é uma constante real.

y
b

O A
b b

Figure 8.17: Região limitada por 3 retas

Exemplo 8.21 Imagine que queiramos descrever a região interna ao triângulo representado

na Figura 8.17, isto é a área limitada pelos pontos O = (0, 0), A = (2, 0) e B = (1, 2).
Podemos descrevê-la analisando a intersecção das retas de equação x = k, para k ∈ [0, 2],

→ 1
com o triângulo. Como a reta OB tem equação y = x, veríamos que para um dado x
2
1
fixado os pontos do triângulo teriam a coordenada y no intervalo [0, x]. Simbolicamente
2
representaríamos a área do triângulo por:

Z x =2 Z y = 1 x
A△OAB = 2 dydx
x =0 y =0

214
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y
b
A

b
B

b
E

O b b b

Figure 8.18: Região limitada por 3 retas

Exemplo 8.22 Considere agora o triângulo △OAB limitado pelos pontos O = (0, 0), B =

(4, 2) e C = (2, 4) (Figura 8.18). Nesse caso, x deve variar no intervalo [0, 4] para cobrir
todo o triângulo. No entanto, quando x pertence ao intervalo [0, 2] a coordenada y fica
←→ ← →
limitada pelas retas OB e OA, e quando x está no intervalo [2, 4] a coordenada y fica
←→ ← →
limitada por OB e AB. Assim sendo, para simplificar a descrição da região “escaneada”
por retas verticais, descrevemos a área do triângulo △OAB como a soma dos triângulos
△OAE e △ EAB.
Descrevendo o triângulo △OAE temos então que, para x entre 0 e 2, os pontos do
←→ ← → 1
triângulo ficam entre as retas OB e OA, de equações y = x e y = 2x, respectivamente.
2
1 1
Logo, para x ∈ [0, 2] devemos ter x ≤ y ≤ 2x, ou seja, y ∈ [ x, 2x]. Simbolicamente:
2 2

Z x =2 Z y=2x
A△OAE = 1 dydx.
x =0 y= x
2
Para o triângulo △ EAB teríamos x variando entre 2 e 4. Nesse caso, os pontos do triân-

→ ← → 1
gulo ficam entre as retas OB e AB, de equações y = x e y = − x + 6, respectivamente.
2
1 1
Logo, para x ∈ [2, 4] devemos ter x ≤ y ≤ − x + 6, ou seja, y ∈ [ k, −k + 6]. O que
2 2
simbolicamente ficaria:

Z x =4 Z y=− x +6
A△ EAB = 1 dydx.
x =2 y= x
2

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Geometria Analítica e Vetorial - Daniel Miranda, Rafael Grisi, Sinuê Lodovici

Finalmente, a área do triângulo △OAB seria representada por:

A△OAB = A△OAE + A△ EAB =


Z x =2 Z y=2x Z x =4 Z y=− x +6
= 1 dydx + 1 dydx.
x =0 y= x x =2 y= x
2 2

r=2
b b b

A O B x

Figure 8.19: Setor circular

Exemplo 8.23 Considere agora a região do plano acima do eixo Ox e limitada pelo círculo

de equação x2 + y2 = 4 (Figura 8.19). Podemos descrevê-la variando x no intervalo [−2, 2]



e, para cada x fixado, fazer y percorrer o intervalo de 0 (reta y = 0) até y = 4 − x2 (parte
da curva x2 + y2 = 4 sobre o eixo Ox). Desse modo, a área seria simbolicamente indicada
por:
Z x = 2 Z y = √4 − x 2
A AOB = dydx.
x =−2 y =0

Exemplo 8.24 Suponha agora que queiramos descrever a região do plano acima do eixo

Ox e limitada pelos círculos centrados em 0 = (0, 0) e de raios 1 e 2 (Figura 8.20). Nova-


mente, podemos descrevê-la variando x no intervalo [−2, 2]. Mas agora, para x ∈ [−2, −1]

e x ∈ [1, 2], y fica entre a reta y = 0 e a curva y = 4 − x2 e, para x ∈ [−1, 1], y está lim-
√ √
itado pelas curvas y = 1 − x2 e y = 4 − x2 . Desse modo, a área seria simbolicamente
indicada por:
Z x =−1 Z y=√4− x2 Z x =1 Z y=√4− x2 Z x = 2 Z y = √4 − x 2
ACGHA = dydx + √ dydx + dydx.
x =−2 y =0 x =−1 y= 1− x2 x =1 y =0

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b b b b b

C G O H A x

Figure 8.20: Meio anel

Alternativamente, poderíamos descrever a mesma área subtraindo a área entre o eixo Ox


e o círculo de raio 1 da área entre Ox e o círculo de raio 2, ou seja:
Z x =2 Z y=√4− x2 Z x = 1 Z y = √1 − x 2
ACGHA = dydx − dydx.
x =−2 y =0 x =−1 y =0

Quando as regiões a serem descritas têm certa simetria circular como nos Exemplos 8.5
e 8.5, um modo interessante de descrever as áreas é através do uso de coordenadas polares.
Podemos descrever uma dada região variando a coordenada θ e olhando para a intersecção
da região com a semi-reta de equação θ = k (em coordenadas polares).
Assim a área do Exemplo 8.5 poderia ser representada variando θ no intervalo [0, π ] e,
fazendo, para cada θ fixado, r percorrer o intervalo [0, 2]. Simbolicamente representaríamos
isso por:
Z θ = π Z r =2
A AOB = rdrdθ.
θ =0 r =0

Observação 8.25 Em coordenadas cartesianas usualmente escrevemos dydx na descrição da


área motivados pelo fato de que a área de um retângulo de base ∆x e altura ∆y é ∆y∆x.
Em coordenadas polares escrevemos rdrdθ ao invés de apenas drdθ, pois a área de um setor
circular definido por um dado ∆θ e com raio variando entre r e r + ∆r é aproximadamente
dada por r∆r∆θ se ∆r é pequeno.
Mais detalhes podem ser encontrados em referências clássicas de cálculo.

A região do Exemplo 8.5, por sua vez, poderia ser representada variando θ no inter-
valo [0, π ] e, fazendo, para cada θ fixado, r percorrer o intervalo [1, 2]. Simbolicamente
representaríamos isso por:
Z θ = π Z r =2
A AOB = rdrdθ.
θ =0 r =1

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1 2 3 4

-1

-2

Figure 8.21: Cardioide

Exemplo 8.26 Imagine que queiramos usar coordenadas polares para descrever a região

do plano limitada pelo cardióide de equação r = 1 + cos θ. Para isso, fazemos θ variar no
intervalo [0, 2π ] e, para cada θ fixado, fazemos r variar entre 0 e 1 + cos θ. Assim tal região
seria descrita por:
Z θ =2π Z r =1+cos θ
A= rdrdθ.
θ =0 r =0

Exercícios
Ex. 5.1 — Esboce as regiões descritas abaixo:
R2R3
a) 1 −1 dydx
R 1 R 2x
b) 0 0 dydx
R1R2
c) 0 2x dydx
R2R1
d) 0 1 y dxdy
2
R 2 R log x
e) 1 0 dydx
R 3 R √9 − x 2
f) −3 −√9− x2 dydx
R 3 R √9 − x 2
g) 0 0 dydx
q
R2 R 2
1− x4
h) −2 0 dydx

Ex. 5.2 — Descreva as regiões abaixo de dois modos diferentes usando a notação para
coordenadas cartesianas descrita acima:
a) Região limitada pelos eixos coordenados Ox e Oy e a reta y + 2x = 4

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b) Região limitada pelas parábolas x = y2 − 1 e x = 2y2 + 3.


x2 y2
c) Região dentro da elipse 9 + 4 = 1.
d) Região acima do eixo Ox à direita do eixo Oy e entre os círculos x2 + y2 = 4 e
x2 + y2 = 9.
e) Região limitada da figura abaixo:

Ex. 5.3 — Inverta a notação de (??) para (??) ou (??) para (??) nos itens do Exercício 5.1.

Ex. 5.4 — Esboce as regiões descritas abaixo usando coordenadas polares:


R 2π R 2
a) 0 0 rdrdθ.
R 2π R 2
b) 0 1 rdrdθ.
R π R2
c) 02 0 rdrdθ.

Ex. 5.5 — Use coordenadas polares para descrever as regiões abaixo:


a) Anel centrado na origem de raio interno 2 e raio externo 4
b) Parte do anel centrado na origem de raio interno 1 e raio externo 2, localizada no
primeiro quadrante.
c) Parte do anel centrado na origem de raio interno 1 e raio externo 2, localizada no
primeiro quadrante, entre o eixo Oy e a reta y = x.

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