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Mecânica Dos Solos e Geotecnia

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Engenharia

eGeotecnia
Princípios Fundamentais

FREDERICO C. BARBOSA
(ORGANIZADOR)
I
E
M
LU
VO
Frederico Celestino Barbosa
(organizador)

Engenharia e geotecnia: princípios fundamentais

1ª ed.

Piracanjuba
Editora Conhecimento Livre
2019
Copyright© 2019 por Editora Conhecimento Livre

1ª ed.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Barbosa, Frederico Celestino


B238a Engenharia e Geotecnia: princípios fundamentais. / Frederico
Celestino Barbosa. – Piracanjuba-GO: Editora Conhecimento
Livre, 2019.
600 f.: il.
DOI: 10.29327/510420
ISBN: 978-65-80226-27-6
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia

1. Engenharia Civil L. 2. Geotecnia. 3. Geoprocessamento L. 4.


Estruturas 5. Infraestrutura. 6. Concreto I. Barbosa, Frederico
Celestino. I. Título.
CDU: 624

https://doi.org/10.29327/510420
O conteúdo dos artigos são de responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores.
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Sumário
CAPÍTULO 1 ...................................................................................................................................................................... 5

ESTUDO DA CAPACIDADE DE SUPORTE DA ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS PARA PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA .....................................................5

CAPÍTULO 2 .................................................................................................................................................................... 20

ESTRUTURAS RAMIFICADAS COMO SOLUÇÃO ALTERNATIVA PARA FUNDAÇÕES ...................................................................................20

CAPÍTULO 3 .................................................................................................................................................................... 39

DIMENSIONAMENTO DE CONSOLO CURTO DE CONCRETO ARMADO E COMPARAÇÃO DO LIMITE DIMENSIONAL ESTABELECIDO POR NORMA COM
RESULTADOS OBTIDOS POR MÉTODO COMPUTACIONAL................................................................................................................... 39

CAPÍTULO 4 .................................................................................................................................................................... 58

MAXIMIZAÇÃO DA ÁREA DE SUPERFÍCIE EM SISTEMAS RAMIFICADOS .................................................................................................58

CAPÍTULO 5 .................................................................................................................................................................... 73

OBTENÇÃO DE PARÂMETROS GEOTÉCNICOS DE SOLO RESIDUAL DO VALE DO RIBEIRA/SP POR MEIO DE RETROANÁLISE DE RUPTURA ...........73

CAPÍTULO 6 .................................................................................................................................................................... 91

CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA-GEOTÉCNICADE MACIÇOS ROCHOSOS MARGINAIS À BR-262 ............................................................... 91

CAPÍTULO 7 .................................................................................................................................................................. 107

EXECUÇÃO DE ESTABILIZAÇÃO DE ENCOSTA COM CONCEITO SUSTENTÁVEL NA CIDADE DO SALVADOR - BA, FAZENDO USO DA TÉCNICA DE SOLO
GRAMPEADO COM FACE VERDE. ...............................................................................................................................................107

CAPÍTULO 8 .................................................................................................................................................................. 118

COMPORTAMENTO MECÂNICO DE MISTURAS COM RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO DE CONCRETO, CAL VIRGEM E HIDRATADA E SOLO
TROPICAL ............................................................................................................................................................................118

CAPÍTULO 9 .................................................................................................................................................................. 129

UTILIZAÇÃO DO PENETRÔMETRO DINÂMICO PARA ESTIMATIVA DA TENSÃO ADMISSÍVEL DO SOLO DE CASCAVEL-PR, EM FUNÇÃO DO TEOR DE
UMIDADE............................................................................................................................................................................129

CAPÍTULO 10 ................................................................................................................................................................ 145

ESTUDO DO EFEITO ESCALA PARA A DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA IN SITU DA CAMADA DE CARVÃO IRAPUÁ NA
JAZIDA CARBONÍFERA SUL-CATARINENSE .......................................................................................................................145

CAPÍTULO 11 ................................................................................................................................................................ 188

1
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

ESTUDO DA CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA DO COMPÓSITO SOLO - CCA..........................................................................................188

CAPÍTULO 12 ................................................................................................................................................................ 205

ANÁLISE DE ESTABILIDADE EM ASSENTAMENTO PRECÁRIO NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA – ES ..................................................................205

CAPÍTULO 13 ................................................................................................................................................................ 222

AVALIAÇÃO DA ERODIBILIDADE DE MISTURAS SOLO – RCC PARA CAMADA DE COBERTURA E PROTEÇÃO DE TALUDES 222

CAPÍTULO 14 ................................................................................................................................................................ 240

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA SUCÇÃO MATRICIAL NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES DE UM SOLO SILTOSO ESTABILIZADO COM CAL ......240

CAPÍTULO 15 ................................................................................................................................................................ 258

ASPECTOS ESTRUTURAIS DE MUROS DE FLEXÃO REFORÇADOS COM GEOGRELHA ..............................................................................258

CAPÍTULO 16 ................................................................................................................................................................ 274

A INFLUÊNCIA DOS REFORÇOS POR GEOGRELHA SOBRE A VIDA DE SERVIÇO DE LASTROS FERROVIÁRIOS DE ALTO TRÁFEGO E CARGA ELEVADA.
.........................................................................................................................................................................................274

CAPÍTULO 17 ................................................................................................................................................................ 286

AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE SOLO TÍPICO DE MANAUS/AM ADITIVADO COM RESÍDUOS POLIMÉRICOS ...................286

CAPÍTULO 18 ................................................................................................................................................................ 301

CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICO DOS MATERIAIS INCONSOLIDADOS DO MUNICÍPIO DE NATAL – RN: SUSCETIBIDADE E RISCO POTENCIAL DE
DESLIZAMENTOS E INUNDAÇÕES ..............................................................................................................................................301

CAPÍTULO 19 ................................................................................................................................................................ 316

ANÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA DA ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS TROPICAIS COM UTILIZAÇÃO DE FINOS DE PEDREIRA ..............................316

CAPÍTULO 20 ................................................................................................................................................................ 330

PROPOSTA METODOLÓGICA DE ANÁLISE DE DADOS PARA UTILIZAÇÃO EM SISTEMAS DE MÚLTIPLOS POÇOS, FUNDAMENTADA NO RAIO DE
INFLUÊNCIA .........................................................................................................................................................................330

CAPÍTULO 21 ................................................................................................................................................................ 344

ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDE DE ÁREA DE RISCO NO BAIXO ROGER EM JOÃO PESSOA/PB ..............................344

CAPÍTULO 22 ................................................................................................................................................................ 358

AVALIAÇÃO DE BARREIRA CAPILAR COM GEOTÊXTIL ASSOCIADO ....................................................................................................358

CAPITULO 23 ................................................................................................................................................................ 376

DURABILIDADE DE GEOTÊXTEIS POR INTEMPERISMO ACELERADO: INFLUÊNCIA DOS FATORES DE DEGRADAÇÃO ...............................376

CAPÍTULO 24 ................................................................................................................................................................ 389

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS DE COMPRESSIBILIDADE DE MISTURAS SOLO-CAL ..........................................................389

2
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

CAPÍTULO 25 ................................................................................................................................................................ 401

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE FIBRAS NATURAIS E FIBRAS SINTÉTICAS EMPREGADAS COMO REFORÇO DE LATOSSOLOS..........................401

CAPÍTULO 26 ................................................................................................................................................................ 413

SINERGISMO DE DEGRADAÇÃO EM GEOTÊXTEIS: ENSAIOS LABORATORIAIS SOB FLUÊNCIA À TRAÇÃO, TEMPERATURA E INCIDÊNCIA DE
RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA ......................................................................................................................................................413

CAPÍTULO 27 ................................................................................................................................................................ 425

VALIDAÇÃO E ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DE ALGORITMO DE INTEGRAÇÃO IMPLEX VIA TÉCNICA DE ELEMENTOS FINITOS COM O MODELO
ELASTO- PLÁSTICO DE DRUKER-PRAGER ....................................................................................................................................425

CAPÍTULO 28 ................................................................................................................................................................ 445

PREVISÃO DE CAPACIDADE DE CARGA DE UMA FUNDAÇÃO EM ESTACA HÉLICE CONTÍNUA APOIADA SOBRE SOLO MOLE:
UM ESTUDO DE CASO ......................................................................................................................................................445

CAPÍTULO 29 ................................................................................................................................................................ 461

DEGRADAÇÃO DE GEOTÊXTEIS DE POLIPROPILENO EXPOSTOS ÀINTEMPÉRIES................................................................................461

CAPÍTULO 30 ................................................................................................................................................................ 475

SOIL SURVEY: METODOLOGIA INOVADORA, NO BRASIL, ADOTADA PELA CTR-RIO, PARA CONTROLE DE QUALIDADE DA INSTALAÇÃO DE
GEOMEMBRANAS .................................................................................................................................................................475

CAPÍTULO 31 ................................................................................................................................................................ 485

ANÁLISE DE RECALQUES MONITORADOS EM CAMPO DE DOIS EDIFÍCIOS COM FUNDAÇÕES EM MACIÇO ROCHOSO DA CIDADE DE CARUARU-PE
.........................................................................................................................................................................................485

CAPÍTULO 32 ................................................................................................................................................................ 500

ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA E REOLÓGICA DE REJEITO GRANULAR E LAMA DEPOSITADA EM BARRAGEM DE REJEITOS DE
MINERAÇÃO DE CARVÃO........................................................................................................................................................500

CAPÍTULO 33 ................................................................................................................................................................ 513

ANÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA DA ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS TROPICAIS COM UTILIZAÇÃO DE FINOS DE PEDREIRA ..............................513

CAPÍTULO 34 ................................................................................................................................................................ 527

MONITORAMENTO CONTÍNUO EM AMBIENTES SUBTERRÂNEOS.....................................................................................................527

CAPÍTULO 35 ................................................................................................................................................................ 541

EXECUÇÃO DE ESTABILIZAÇÃO DE ENCOSTA COM CONCEITO SUSTENTÁVEL NA CIDADE DO SALVADOR-BA, FAZENDO USO DA TÉCNICA DE SOLO
GRAMPEADO COM FACE VERDE. ...............................................................................................................................................541

CAPÍTULO 36 ................................................................................................................................................................ 552

PREVENÇÃO DE EROSÃO COSTEIRA POR MEIO DE CONTENÇÃO POR ENROCAMENTO: ESTUDO DE CASO NA PRAIA DO MEIO EM NATAL/RN .552

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

CAPÍTULO 37 ................................................................................................................................................................ 569

CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA DA ENCOSTA “ALTO DE SANTA TEREZA” EM RECIFE / PE ..................................................569

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 1

ESTUDO DA CAPACIDADE DE SUPORTE DA


ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS PARA
PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA

Haikel Buganem Busgaib Gonçalves (UFC)


José Breno Ferreira Quariguasi (UFC)
Francisco Heber Lacerda de Oliveira (UFC)
Marcos Fábio Porto de Aguiar (UFC)

Resumo: Dada a importância da pavimentação rodoviária nas atividades necessárias da sociedade e


diante de um cenário não muito distante em que será preciso encontrar materiais que possam viabilizar
as obras viárias, este artigo tem como objetivo analisar a utilização de fibras de polipropileno, cal
hidratada e cimento Portland, misturados aos solos, em obras rodoviárias. Para tanto, foi coletado um
solo na Região Metropolitana de Fortaleza e, em seguida foram realizados ensaios de laboratório, tais
como compactação e Índice de Suporte Califórnia, e, assim, fazer comparações entre as diferentes
misturas de materiais e o solo in natura de caráter areno-argiloso. Percebeu-se que as misturas de solo,
fibras e cimento apresentaram os melhores aumentos de capacidade de suporte; já as amostras com
cal foram melhores quanto a estabilização da expansão volumétrica. Porém, todas as misturas
analisadas proporcionaram alguma melhoria ao solo estudado.

Palavras-chave: Pavimentação, Solo, Fibras, Cal, Cimento.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A pavimentação rodoviária é um elemento importante quando se trata da infraestrutura de


transportes. Desde a civilização egípcia, segundo Saunier (1936, apud Bernucci et al., 2008), tem-se
registros do uso da pavimentação para o transporte de cargas. Porém, foi atribuída ao Império Romano
a arte maior do planejamento e construção viária, com um sistema robusto construído com elevado
nível de critério técnico. De acordo com Hagen (1955, apud Bernucci et al., 2008), os romanos
exploraram a pavimentação para fins militares, facilitando o deslocamento das tropas para manter e
ampliar seu território.

Atualmente, a população mundial enfrenta dificuldades para encontrar formas sustentáveis de


executar as suas construções. Para poder aproveitar melhor as áreas de ocupação disponíveis ou por
motivos econômicos, surge a necessidade de reforçar solos com baixa capacidade de suporte.

O reforço pode ser entendido como uma melhoria das características do solo por meio de processos
físicos ou químicos. Essas técnicas podem ser aplicadas com a adição de cimento Portland, de materiais
geossintéticos, tais como as fibras de poli tereftalato de etileno, sisal e polipropileno, além das raspas
de pneus e de aditivos (químicos e orgânicos).

A aplicação da fibra de polipropileno é amplamente estudada em concretos estruturais. Segundo


Dobbin Junior e Rocha (2011), essas fibras demonstraram-se eficazes em proporcionar aos concretos,
mesmo após o aparecimento das primeiras fissuras e ruptura, uma capacidade de resistir ao
carregamento deformando-se e mantendo a sua capacidade de suporte. Tal feito é essencial para um
acréscimo de segurança em estruturas de concreto como pontes, túneis e edificações em geral.

Já a adição de cimento ao solo é um método definido pelo Departamento Nacional de Infraestrutura


de Transportes (DNIT, 2006) como um estabilizante químico, tornando-o menos sensível aos efeitos da
água e diminuindo a sua plasticidade.

Para Rosa (2009), a cal é um dos estabilizantes de maior utilização e abundância, bem como o mais
econômico usado para estabilização de solos, com aplicação em pavimentação e aterros. A sua
eficiência foi comprovada através de vários estudos sobre a utilização da cal no melhoramento de solo
para pavimentação, apresentando bons resultados em relação a sua capacidade de suporte e na
redução de recalques.

Diante do exposto, este artigo tem como objetivo analisar a influência na capacidade de suporte de
misturas de um solo misturado com fibras de polipropileno, cal hidratada e cimento Portland como
reforço em um solo para uso em camadas de pavimentação rodoviária. Para tanto, utilizou-se como

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

comparativo pesquisa iniciadas por Lima Neto (2016) e, assim, realizar análises entre solo in natura,
solo com fibra, solo com fibra e cal e solo com fibra e cimento.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O reforço de solos com fibras é uma técnica há muito conhecida e empregada pelo homem. As
muralhas da Mesopotâmia (1400 a.C.), existentes ainda hoje, foram construídas empregando-se
camadas intercaladas de solo e mantas de raízes. Indícios do emprego desta técnica também são
encontrados em partes da Grande Muralha da China e em estradas construídas pelos Incas, no Peru,
através do emprego de lã de lhama como reforço. Uma das aplicações que mais se aproxima de um
geossintético dos dias atuais foi a utilização de mantas de algodão pelo Departamento de Estradas da
Carolina do Sul – EUA, em 1926, como reforço de camadas asfálticas em pavimentos (PALMEIRA, 1992).

Segundo Casagrande (2001), a compreensão do mecanismo de interação matriz-reforço e da parcela


de contribuição de cada uma das fases no comportamento do material compósito como um todo é
fundamental para a definição do tipo e da quantidade de fibra a ser empregado. Esta definição
dependerá fundamentalmente das características da matriz a ser reforçada e das características
desejadas do material compósito resultante.

McGown et al. (1978) procurando compreender a interação entre solo e fibra, estabeleceu uma
analogia entre o elemento de reforço de solo e uma estaca cravada, Figura 1. Em sistemas de estacas
pode-se existir estacas comprimidas ou tracionadas, dependendo das forças externas aplicadas a estas.
As estacas, por sua vez, induzem deformações ao solo.

Figura 1. Comparação de estaca com elemento de reforço de solo. (McGown et al., 1978)

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Neste tópico estão descritos os materiais e os métodos utilizados nesta pesquisa.

3.1 SOLO UTILIZADO

O solo analisado foi recolhido de uma jazida localizada próxima da Av. Eta Gavião, em Itaitinga, na
Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), estado do Ceará. Também pode ser localizado através das
coordenadas 3º 52’ 43” S / 38º 32’ 20” O. A extração do material foi feita com aproximadamente três
metros de profundidade, sendo retirados cerca de 400 kg de solo. A amostra possui uma coloração
variegada com predominância do vermelho, além da presença de torrões e pedregulhos.

O ensaio de granulometria foi feito conforme a ABNT (1984a). Já os ensaios de Limites de Liquidez e
Plasticidade foram realizados de acordo com a ABNT (1984b; 1984c). Estes ensaios foram realizados
para fazer a classificação do solo pelo Transportation Research Board (TRB), que resultou em A-2-4, ou
seja, um solo arenoso com presença de pedregulhos. A Figura 2 e a Tabela 1 apresentam o resumo
granulométrico do ensaio realizado.

Figura 2. Resultado do ensaio de granulometria por peneiramento.

Tabela 1. Resumo granulométrico do solo.

Pedregulho >2,00mm) 38,06%


Areia Grossa (2,00-0,42mm) 11,25%
Areia Fina (0,42-0,075mm) 20,81%
Silte, Argila (<0,075mm) 29,88%
Total 100,00%

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

O solo apresentou um Limite de Liquidez (LL) de 31,5%, Limite de Plasticidade (LP) de 23,77% e Índice
de Plasticidade (IP) de 7,73%.

O ensaio de Compactação foi realizado conforme a ABNT (1986), com energia intermediária (26 golpes
por camada). Com isso, foi possível a elaboração da curva de compactação, em que se encontrou uma
umidade ótima do solo de 14,5% e o peso específico aparente seco máximo de 1,980 gf/cm³, conforme
demonstrado na Figura 3.

Figura 3. Curva de compactação solo in natura.

(a)
O ensaio de Índice de Suporte Califórnia (ISC) ou (California Bearing Ratio CBR), tem como finalidade
conhecer a capacidade de suporte do solo e sua expansão volumétrica. O ensaio foi realizado conforme
a norma DNER 049/94, em que se deve compactar uma amostra de solo utilizando a umidade ótima,
encontrada no ensaio de compactação. Foram feitos três corpos de prova para o solo in natura, cujos
resultados são apresentados na Tabela 2. Ressalta-se que o valor de 31% foi desconsiderado, uma vez
que é muito divergente dos demais e o mesmo pode estar associado a erros durante a execução do
ensaio.

Tabela 2 Resultados de ISC para o solo in natura

CP ISC (%) Expansão (%)


1 19 0,24
2 21 0,25
3 31 0,21

9
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3.2 FIBRA DE POLIPROPILENO

Foram utilizadas fibras de polipropileno de comprimento de 24 mm e diâmetro de 18 um em seção


circular, apresentando área de superfície específica de 244 m²/kg. Alguns dados adicionais de
propriedades físicas e mecânicas estão presentes na Tabela 3.

Tabela 3. Características da fibra (Maccaferri, 2008).

Propriedades Físicas
Diâmetro 8 µm
Seção circular
Comprimento 24 mm
Alongamento 80%
Matéria-prima polipropileno
Peso Específico 0,91 g/cm³
Propriedades Mecânicas
Temperatura de fusão 160 °C
Temperatura de
365 °C
ignição
Resistência á tração 300 MPa
Módulo de Young 3000 MPa

3.3 CAL HIDRATADA

Nesta pesquisa utilizou-se a cal hidratada do tipo CH-I. A escolha deveu-se por ser considerada a de
maior pureza (92,5%) e qualidade. Este material possui uma densidade de 2,7 g/cm³, umidade inferior
ou igual a 2,0% e densidade aparente de 0,55 a 0,65 g/cm³, segundo Carbomil (2016).

Para a dosagem da cal foi utilizada como referência os estudos de Lopes Júnior (2007). Utilizou-se a
quantidade mínima de cal, de 1,0%, para modificação de solos considerados pedregulho argiloso bem
graduado, conforme a Tabela 4.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 4. Dosagem da cal (Lopes Júnior, 2007).

Teor de cal (%)


Tipo de solo
Para modificação
Pedra finamente britada 2a4
Pedregulho argiloso
1a3
bem graduado
Areias Não recomendado
Argila arenosa Não recomendado
Argila siltosa 1a3
Argilas 1a3
Solos orgânicos Não recomendado

3.4 CIMENTO PORTLAND

Devido à sua capacidade de adquirir propriedades de resistência e deformabilidade favoráveis em curto


espaço de tempo, optou-se pelo uso do cimento Portland de alta resistência inicial (ARI) Tipo CP V ARI
RS.

Essa propriedade do cimento foi importante para que se pudesse verificar algum possível aumento na
capacidade de suporte do compósito, já que o ensaio de ISC leva quatro dias para ser realizado,
enquanto os cimentos de forma geral demoram cerca de 28 dias para adquirir a sua resistência máxima.
Como é mostrado na Figura 4, o CP V consegue obter maiores resistências à compressão que os demais
cimentos após 3 ou 4 dias de seu preparo.

Figura 4. Evolução de resistência à compressão dos tipos de cimento Portland.

A porcentagem de cimento analisada neste trabalho é equivalente a 2% da massa seca da amostra de


solo. Essa porcentagem foi escolhida pois, segundo DNIT (2006), as porcentagens entre 2% e 4%

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

garantem que a camada seja considerada como flexível, denominando, assim, o compósito como solo
adicionado de cimento.

3.5 MÉTODOS

Nesta pesquisa foram realizados ensaios de Compactação e de Índice de Suporte Califórnia em um


determinado solo adicionado de 1,0% e 2,0% de fibra de polipropileno e 1,0% de cal, também foram
realizados ensaios com solo-cimento, teor de 2,0%, e com fibra de polipropileno nos teores de 0,5% e
1,0% mais 2,0% de cimento. Ressalta-se que as fibras de polipropileno foram distribuídas de forma
aleatória nos corpos de prova. Com os resultados, foram feitas análises comparativas com solo in
natura e solo adicionado de 0,5%, 1,0% e 2,0% de fibra, dados obtidos de pesquisa de Lima Neto (2016).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste tópico estão descritos os resultados e as discussões sobre a pesquisa.

4.1 SOLO E FIBRAS DE POLIPROPILENO

De acordo com os resultados obtidos por Lima Neto (2016), quando adicionado fibra ao solo houve um
aumento considerável da resistência em relação ao solo in natura. É importante salientar que o valor
de ISC de 31% para o solo in natura foi descartado por ser muito divergente dos demais, para tanto
considerou-se o ISC de 21%. Conforme mostrado na Tabela 5.

Tabela 5. Resumo do ensaio de ISC para solo e fibra.

Teor de fibra (%) ISC (%) Expansão (%)


0,0 21 0,24
0,5 29 0,23
31 0,05
1,0
31 0,08
33 0,32
2,0
36 0,28

4.2 SOLO, FIBRAS DE POLIPROPILENO E CAL HIDRATADA

Os resultados dos ensaios de compactação realizados com fibras apresentaram pouca diferença
quando comparado ao solo in natura, como mostrado na Tabela 6. No entanto, percebe-se uma
pequena tendência de diminuição no peso específico aparente seco máximo e na umidade ótima à

12
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

medida que aumenta-se o teor de fibra. Porém, para efeitos comparativos, optou-se pelo mesmo
método adotado por Lima Neto (2016) em que foi considerado os resultados de compactação do solo
in natura para a realização do ensaio de ISC.

Tabela 6. Resumo do ensaio de compactação.

Peso Específico Aparente


Teor de fibra (%) Umidade Ótima (%)
Seco Máximo (gf/cm³)
Solo in natura 1,98 14,5
Solo + 0,5% de fibra 1,93 14,2
Solo + 1,0% de fibra 1,90 13,2
1,909 17,3
Solo + 1,0% de cal
1,887 16,7

Vale ressaltar, também, que foram utilizados dois modos de homogeneização nas pesquisas de Lima
Neto (2016), em que no primeiro modo adicionava-se fibra ao solo e depois se homogeneizava com
água, já no segundo modo, o solo era misturado com água e em seguida homogeneizado com fibra. De
acordo com os resultados encontrados, o segundo modo de homogeneização demonstrou ser mais
eficiente. Portanto, esta pesquisa foi executada utilizando o segundo modo de homogeneização.

Para os ensaios de ISC com a mistura de solo, fibra e cal, em que foram utilizados primeiramente 1,0%
de fibra e 1,0% de cal, os resultados apresentaram aumento de resistência se comparado ao solo in
natura, porém houve uma pequena redução na resistência se comparado à mistura solo e 1,0% de
fibra. Para a mistura solo, fibra e cal utilizando as porcentagens de 2,0% de fibra e 1,0% de cal os
resultados apresentados foram melhores, uma vez que houve aumento de resistência em comparação
ao solo in natura e à mistura solo e 2,0% de fibra. A expansão volumétrica dos ensaios realizados com
solo, fibra e cal foi menor do que em relação ao solo in natura. A mistura solo e fibra apresentou
aumento de expansão quando se aumentou o teor de fibra de 1,0% para 2,0%, mas não há aumento
de expansão quando se adicionou cal à mistura. A Tabela 7 expressa os resultados do ISC obtido com
solo, fibra e cal, foram feitos 3 corpos de prova para as duas misturas.

13
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 7. Resumo do ensaio de ISC para a mistura solo, fibra e cal

Teor de fibra e cal ISC (%) Expansão (%)


28 0,11
1,0% fibra + 1,0% cal 61 0,12
27 0,11
40 0,12
2,0% fibra + 1,0% cal 42 0,12
46 0,13

O valor de ISC igual a 61% foi descartado por ser muito divergente dos demais, portanto pode estar
associado a erros na execução do ensaio. De acordo com os resultados, pode-se perceber que a cal
reagiu melhor na presença de um teor maior de fibra.

4.3 SOLO, FIBRAS DE POLIPROPILENO E CIMENTO PORTLAND


Devido ao cimento tratar-se de um material granular, espera-se uma alteração nos parâmetros de
compactação da amostra. O solo melhorado com cimento possui uma umidade ótima de 14%,
adquirindo um peso específico aparente seco de aproximadamente 2,05g/cm³.

Em seguida foram realizados os ensaios de ISC, conforme exposto na Tabela 8 e na Figura 5.

Tabela 8. Resultados dos ensaios de ISC para Solo, cimento e fibra.

Cimento Fibra ISC (%) Expansão (%)


2,0% 0,0% 116 0,26
2,0% 0,5% 120 0,25
2,0% 1,0% 147 0,29

Figura 5. Corpo de prova com cimento e fibra.

14
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A Figura 6 mostra um comparativo entre as curvas de compactação obtidas através dos ensaios
realizados com solo in natura, solo misturado com cal e solo com cimento.

Figura 6. Comparativo entre as curvas de compactação.

Percebe-se que o solo in natura apresentou a maior variação em seu peso específico aparente seco
quando adicionado água, se comparado às demais misturas. Contudo, o solo misturado ao cimento foi
o corpo de prova que apresentou o maior peso específico aparente seco dentre as misturas analisadas.
Já o solo misturado de cal apresentou a maior variação de umidade dentre os materiais estudados.

A Figura 7 mostra a relação entre a tensão e o deslocamento provenientes dos resultados de ISC,
fazendo um comparativo entre o solo in natura, o solo com fibra, o solo com fibra e cal e o solo com
fibra e cimento. Percebe-se que as misturas adicionadas de cimento apresentaram tensão
significativamente mais elevada do que os demais materiais, principalmente quando analisado o corpo
de prova ensaiado com 2,0% de cimento e 1,0% de fibra de polipropileno. Contudo, verifica-se que
todos os materiais estudados proporcionaram aumento de resistência ao solo in natura, pois as
misturas com solo e fibra e, também, as misturas com solo, fibra e cal apresentaram aumento de
capacidade de suporte. Os corpos de provas analisados com a cal apresentaram comportamento de
tensão x deslocamento semelhante aos demais, com exceção dos materiais com cimento, porém com
uma resistência um pouco superior ao solo adicionado de fibra e significativamente melhor ao solo in
natura.

15
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 7. Relação Tensão (kg/cm²) x Deslocamento (mm)

Analisando os resultados quanto à expansão volumétrica, percebe-se que a cal proporcionou certa
estabilização, pois houve um aumento da expansão quando se observa os corpos de prova com 1,0% e
2,0% de fibra, e esse comportamento não foi observado quando se adicionou cal, embora, inicialmente,
a mistura de solo, fibra e cal tenha sido um pouco superior ao solo com fibra. As misturas com cimento,
em geral, apresentaram expansões superiores aos demais corpos analisados, com exceção do material
solo com 2,0% de fibra, que foi o material com maior expansão observada. A Figura 8 expressa o
comparativo dos dados analisados.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

5. CONCLUSÕES

As misturas analisadas trouxeram benefícios ao solo estudado, principalmente quanto ao aumento da


capacidade de suporte proporcionado pelo cimento Portland e pela fibra. Contudo, apesar da cal
hidratada e a fibra não melhorarem a resistência tanto quanto as misturas com cimento, elas ainda
propiciaram uma resistência superior ao solo in natura, assim como, também, estabilizou a expansão
volumétrica.

Destaca-se que a cal apresentou resultados mais satisfatórios quando adicionado de mais fibras, (2,0%),
do que a quantidade inicial de 1,0%. Haja vista que seu ISC aumentou significativamente. Porém,
salienta-se que apenas os corpos de prova com cimento atingiram o Índice de Suporte Califórnia
superiores a 100%.

0,40%

0,30%

0,20%

0,10%

0,00%
1,0% de 1,0% de 2,0% de 2,0% de 2,0% de 2,0% de 2,0% de
FIBRA FIBRA + FIBRA FIBRA + CIMENTO CIMENTO CIMENTO
1,0% de 1,0% de + 0,5% de + 1,0% de
CAL CAL FIBRA FIBRA

Figura 8. Comparativo da expansão volumétrica entre as misturas.

17
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

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Atterberg. Rio de Janeiro.

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comportamento de um solo reforçado com fibras de polipropileno visando o uso como base de
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Índice de Suporte Califórnia utilizando amostras não trabalhadas. Rio de Janeiro.

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de Janeiro.

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Graduação em Engenharia Civil, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 147 p.

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Aplicações de Geossintéticos em Geotecnia. Geossintéticos 92. Brasília, p.1-12.

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198 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 2

ESTRUTURAS RAMIFICADAS COMO SOLUÇÃO


ALTERNATIVA PARA FUNDAÇÕES

Lucas Teotônio de Souza (UFRJ)


Illa Beghine Soncin (UFRJ)
Marcelo Miranda Barros (UFRJ)

Resumo: Sabendo que sistemas ramificados são onipresentes na natureza e que abrigam diversos
padrões de otimização, no presente trabalho propõe-se um modelo de estrutura ramificada como
solução alternativa para fundações. O objetivo consiste em verificar o comportamento dos modelos
geométricos propostos, baseados em árvores auto similares, frente a um modelo padrão. São
analisadas a capacidade de carga das fundações, os recalques e tensões no solo e na estrutura. As
simulações foram conduzidas no programa PLAXIS, baseado no método dos elementos finitos. Na
análise, são criados estágios de carregamento aplicados verticalmente no topo das fundações, sendo
incrementados até que a simulação acuse o rompimento do solo. Os resultados mostram que as
estruturas ramificadas apresentam significativo aumento da capacidade de carga, diminuição dos
recalques e menor solicitação do solo adjacente em profundidade.

Palavras-chave: Fundações, estruturas ramificadas, elementos finitos, otimização, auto-similaridade.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

Os elementos de fundação são de fundamental importância para a segurança e o desempenho de


estruturas em geral, uma vez que são responsáveis por transferir os esforços da superestrutura ao
terreno (Velloso e Lopes, 2010). Em um projeto de fundações, além dos requisitos de resistência e
durabilidade, a otimização dos recursos empregados é uma das premissas básicas para a concepção do
mesmo. Em função do tipo de obra e características do substrato onde está será implantada, faz-se a
escolha da solução de fundação mais adequada.

Sistemas ramificados são onipresentes na natureza, sendo evidenciado em árvores, pulmões, sistemas
cardiovasculares, etc (Harris, T.E., 2002) (Fleury, V. et al. 2001). Isto posto, o presente trabalho aborda
a comparação entre duas estruturas de fundação ramificadas e uma fundação por estaca de mesmo
volume.

A geometria proposta é composta de elementos de diferentes tamanhos organizados


hierarquicamente, unidos de maneira que o elemento maior sustenta os elementos menores, que são
maiores que outros e os sustentam. Quando todas as ordens vizinhas se relacionam da mesma maneira,
estas são denominadas auto-similares (Barros e Bevilacqua, 2015). Isto é, os parâmetros de
crescimento/decrescimento são constantes para todas as ordens. Essas proporções ditam o tamanho
e o diâmetro de cada ramo filho em relação ao seu pai, bem como a quantidade de filhos de cada pai
(Souza e Barros, 2016).

Sabendo que a natureza abriga padrões de ramificação com diversas ordens e que estes são otimizados,
são concebidas duas estruturas ramificadas: com duas e três ordens. Assim, compara-se a capacidade
de carga, recalques e tensões dos três modelos avaliados neste estudo.

2. MODELO GEOMÉTRICO

2.1 DEFINIÇÕES

O padrão de ramificação proposto é baseado em árvores auto-similares, tal como definido em Souza e
Barros (2016). Em resumo, o modelo é governado pelos seguintes parâmetros geométricos: quantidade
de filhos b de cada ramo pai, proporções de comprimento 𝜆 e de diâmetro d entre os ramos pai e filho,
que são válidas por toda a extensão. Estas são as proporções de ramificação, comprimento e diâmetro,
nessa ordem. Ressalta-se que, se 𝜆 é igual a d, diz-se que o sistema possui similaridade geométrica
entre os elementos, isto é, embora os elementos de ordens diferentes possuam tamanhos diferentes,
estes manterão o mesmo formato em todas as ordens.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Uma estrutura particular é definida determinando-se o número de ordens n do sistema. No presente


trabalho, n assume os valores 1, 2 e 3, caracterizando as situações sem ramificação, com duas e três
ordens k, respectivamente. Sem perda de generalidade, admite-se que o diâmetro do primeiro
elemento de ambas as estruturas seja igual ao da estaca de fundação (doravante modelo padrão), 𝑑0,
fig. 1.

Figura 1. Exemplos padrão e ramificados com b = 2.

Como a premissa básica é conceber estruturas ramificadas com o mesmo volume do modelo padrão, o
comprimento do progenitor, 𝜆0, é dado por (Souza e Barros, 2016):

1
 n 1  γ  k 
λ 0  L     (1)
 k 0  d²  

onde L é o comprimento do modelo padrão e 𝛾 = b/ 𝜆. Os comprimentos e diâmetros das demais


ordens são obtidos pelas equações 2 e 3.

λ k 1  λ k /λ (2)

d k 1  d k /d (3)

2.2 ESTRUTURAS ANALISADAS

O modelo padrão escolhido possui dimensões L e 𝑑0 respectivamente iguais a 4,0 m e 0,4 m.


Naturalmente, para definir uma estrutura ramificada específica, é necessário informar o ângulo de
ramificação, ou seja, a inclinação de cada ramo filho em relação ao seu pai. Assim, este ângulo foi
adotado como 30º para todas as ordens. Obedecendo a condição de volume constante, foram adotados
os parâmetros que governam o sistema e definidas as dimensões das estruturas com uma ramificação,
tab. 1, e duas ramificações, tab. 2. Ressalta-se que foi obedecida a condição de resistência mecânica,
dada por 𝜆0 ≠ 0 (Souza e Barros, 2016), e similaridade geométrica.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 1. Parâmetros do sistema e dimensões dos elementos para estrutura com uma ramificação.

Parâmetros Dimensões
b 2 Ordem - k Comp. (m) Diam. (m)
λ=d 1,26 0 2,00 0,40
n 2 1 1,59 0,32

Tabela 2. Parâmetros do sistema e dimensões dos elementos para estrutura com duas ramificações.

Parâmetros Dimensões
b 2 Ordem - k Comp. (m) Diam. (m)
λ 1,26 0 1,33 0,40
d 1,26 1 1,06 0,32
n 3 2 0,84 0,25

Para facilitar a visualização, as dimensões das estruturas são apresentadas na fig. 2. Nota-se que à
medida que a quantidade de ramificações cresce, diminui-se o alcance, ou seja, a profundidade atingida
pelas fundações é menor. Além disso, nas regiões de ramificação é colocado um patamar de 15 cm para
evitar a concentração de tensões.

Figura 2. Dimensões dos modelos de fundação.

3. MODELAGEM DAS ESTRUTURAS

Os mecanismos de falha, a capacidade de carga e os recalques em fundações possuem considerável


complexidade. A análise numérica envolvendo o Método dos Elementos Finitos (MEF) oferece a
possibilidade de prever esses comportamentos, trabalhando inclusive na interação solo-estrutura (Lee
et al, 2002). Assim, utilizou-se o software PLAXIS 2D versão 8 para a modelagem das fundações e
obtenção dos resultados de interesse.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3.1 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS CONSTITUINTES

Como o objetivo da presente análise reside na comparação entre as respostas dos modelos concebidos,
foi adotada uma única camada de solo argiloso da biblioteca do PLAXIS, a saber o “Lesson 2 – Clay”, em
condição não drenada, tab. 3. O modelo constitutivo do solo adotado é o elastoplástico com critério de
falha de Mohr-Coulomb, por ser amplamente utilizado em conjunto com o método dos elementos
finitos em engenharia geotécnica, devido à sua simplicidade e suficiente precisão.

Tabela 3. Propriedades do solo

Parâmetro Valor assumido

Eref , Eoed (kN/m²) 1,000E+04 ; 1,605E+04

Gref (kN/m²) 3003,7

γunsat , γsat (kN/m³) 16,00 ; 18,00

Cref (kN/m²) 5,000

∅(°) , υ 25,00 ; 0,35

O material das estruturas de fundação é o concreto armado, com modelo constitutivo do tipo linear
elástico, tab. 4. É selecionada a condição drenada, devido à baixa permeabilidade deste em relação ao
solo em seu entorno.

Tabela 4. Propriedades do concreto armado

Parâmetro Valor assumido

Eref (kN/m²) 2,00E+07

Gref (kN/m²) 8,33E+06

γunsat , γsat (kN/m³) 25,00 ; 25,00

υ 0,20

3.2 CONTATO SOLO-FUNDAÇÃO

O comportamento do contato na interface solo-estrutura inclui mecanismos de transferência de carga,


tanto na direção normal como tangencial. A força normal é transferida apenas quando a fundação e o
solo estão sob a ação de uma força, caso contrário, é nula. O comportamento tangente pode variar de

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

contato áspero, com nenhum deslizamento relativo entre o solo e a fundação, para contato liso, onde
pode ocorrer deslizamento relativo entre os materiais.

O contato entre estes dois casos ideais, é considerado pelo modelo de atrito de Mohr-Coulomb
construído no PLAXIS. Para representar a interação na interface, é prescrito o coeficiente de atrito, μ = tg
∅, e um parâmetro Rinter = 0,70, representando 70 % do coeficiente de atrito solo-solo.

3.3 MODELO NUMÉRICO

A análise realizada ocorre em domínio bidimensional, com as dimensões iguais a 15D em largura e (L +
7,5D) em profundidade, em que D e L são, respectivamente, o diâmetro e o comprimento do modelo
padrão, cujos valores são 0,40 m e 4,00 m. Esses tamanhos foram tomados visando reduzir o efeito de
fronteira em resultado numérico, ou seja, a interferência nos valores oriunda de pequenas dimensões
do solo. As condições de contorno nas fronteiras do solo permitem o deslizamento relativo na vertical
(paredes laterais) e consideram engaste na base.

A malha considerada nos modelos em questão utiliza elementos triangulares para a delimitação dos
pontos de análise, sendo selecionada a opção muito fina, para que seja empregado o máximo
refinamento permitido, visando maior precisão nas respostas. Além disso, foi definida uma região de
interação positiva e negativa no contato solo-estrutura, a fim de se permitir o deslizamento relativo.

Os modelos geométricos foram inseridos por meio das coordenadas dos pontos que delimitam o
domínio de solo e as estruturas. As figuras 3, 4 e 5 apresentam os modelos estudados com as malhas
empregadas na análise.

Figura 3. Malha do modelo padrão.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 4. Malha do modelo de fundação com uma ramificação.

Figura 5. Malha do modelo de fundação com duas ramificações.

3.4 ESTÁGIOS DE CARREGAMENTO E PONTOS MONITORADOS

Para a determinação da carga de suporte foram criados estágios de carregamento, visando aumento
gradativo da carga atuante. O primeiro deles é denominado “fase inicial”, correspondente à análise de
deslocamentos, tensões e deformações dependentes apenas do peso próprio, levando em
consideração a posição do nível de água (N.A.). Neste trabalho, o N.A. é considerado coincidente com
a superfície do terreno.

Nas fases posteriores foram inseridos carregamentos distribuídos no topo da estrutura. A carga
aplicada foi incrementada gradativamente até que a simulação acusasse o rompimento do solo. Feito
isso, foi reajustado o acréscimo de carga para 5 kPa entre a fase de ruptura e a imediatamente anterior,
obtendo-se assim uma precisão de 5 kPa para o valor do carregamento que deflagrou o término da
análise e determinou a capacidade de suporte. Logo, no presente trabalho, a capacidade de suporte é
a carga que, se somados 5 kPa a ela, a simulação irá acusar a ruptura generalizada do solo.

26
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Sob a ação da carga de suporte, foram monitorados os deslocamentos no topo das estruturas (ponto
A) e as tensões no solo (𝜎1, 𝜎3 e 𝜏máx) imediatamente abaixo da fundação (ponto B), figs. 3 a fig. 5. O
objetivo é traçar as curvas carga vs deslocamento vertical, importante para o projeto de fundações, e
verificar a evolução das tensões principais em um ponto da região de ruptura do solo. As tensões 𝜎1 e
𝜎3 são valores de output do programa, enquanto a máxima tensão cisalhante é 𝜏máx = (𝜎1 - 𝜎3)/2,
obtida pelo Círculo de Mohr.

4. RESULTADOS
Após a definição da geometria, atribuição dos materiais, inserção das condições de contorno do
problema e determinada a posição do nível d’água, em uma etapa preliminar (que antecede a
simulação propriamente dita), são geradas as por opressões e tensões efetivas do modelo. Estas são
calculadas considerando-se a ação da gravidade, dada por g = 9,81 m/s², e o peso específico da água,
igual a 10 kN/m³. Feito isso, inicia-se a análise com base nas cargas externas.

4.1 MODELO PADRÃO

O carregamento foi aplicado à estrutura de forma gradativa, como descrito na seção 3.4, até que o
programa acusasse a ruptura do solo. Utilizando-se a margem de precisão de 5 kN/m², conclui-se que
a capacidade de suporte para o modelo em análise é de 280 kN/m², provocando um deslocamento
vertical da fundação de 15,88 mm para baixo. A fig. 6 apresenta os deslocamentos totais do modelo.

Figura 6. Deslocamentos totais: carga de 280 kN/m².

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

As tensões geradas no conjunto solo-estrutura após a aplicação do carregamento são apresentadas na


fig. 7. A tensão total máxima obtida é -196,45 kPa, ocorrendo na porção de solo imediatamente abaixo
da fundação, evidenciando que a ruptura do conjunto se deu no solo.

Figura 7. Tensões totais: carga de 280 kN/m²

A opção “curves” do PLAXIS possibilita monitorar a evolução dos deslocamentos e tensões dos pontos
selecionados, itens 3.3 e 3.4. Assim, para a carga de suporte, 280 kN/m², a fig. 8 apresenta o gráfico do
deslocamento no topo do modelo padrão vs passos de carregamento. As tensões principais no solo
abaixo da fundação em função do aumento de carga são mostradas na fig. 9.

Figura 8. Deslocamento total no topo do modelo padrão vs passo de carregamento: carga de 280 kN/m².

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 9. Tensões principais no solo abaixo do modelo padrão: carga de 280 kN/m².

4.2 ESTRUTURA COM UMA RAMIFICAÇÃO

Inicialmente, a estrutura é carregada com 280 kPa, carga que levou o modelo padrão à ruptura.
Observa-se que a estrutura ramificada não só suporta a carga em questão, como também apresenta
uma redução considerável no deslocamento total máximo do conjunto (3,41 mm), evidenciando uma
vantagem do modelo do ponto de vista de recalques, fig. 10.

Figura 10. Deslocamentos totais da estrutura com uma ramificação: carga de 280 kN/m².

Com relação às tensões que solicitam o conjunto solo-estrutura, é possível observar que a tensão
máxima atuante é de 1280,0 kPa, ocorrendo na estrutura de fundação, ao contrário do modelo padrão.
As máximas tensões no solo são da ordem de – 200,00 kPa, fig. 11.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 11. Tensões totais na estrutura com uma ramificação: carga de 280 kN/m².

Em seguida, aumenta-se gradativamente a carga aplicada à estrutura, até que esta seja levada a
ruptura. Obtém-se uma capacidade de suporte de 695,00 kN/m², cerca de 2,5 vezes superior à do
modelo padrão de mesmo volume. Para este valor de carga, os deslocamentos totais são apresentados
na fig. 12, sendo o valor máximo igual a 25,73 mm.

Figura 12. Deslocamentos totais da estrutura com uma ramificação: carga de 695 kN/m².

As tensões atuantes no sistema evidenciam que novamente o ponto de maior solicitação localiza-se na
estrutura, com 4420,0 kPa. Este valor ocorre em um ponto de concentração de tensões, oriundo da
própria geometria da fundação e da natureza da solicitação. As regiões do solo abaixo da fundação
apresentam tensões inferiores a -800,00 kPa, fig. 13.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 13. Tensões totais na estrutura com uma ramificação: carga de 695 kN/m².

Novamente, para a carga suportada neste caso, 695 kN/m², é apresentada a evolução dos
deslocamentos no topo em função do passo de carga, fig. 14 e as tensões principais no solo adjacente
à fundação (ponto B), fig.15.

Figura 14. Deslocamento total no topo da fundação com uma ramificação: carga de 695 kN/m².

Figura 15. Tensões principais no solo abaixo da fundação com uma ramificação: carga de 695 kN/m².

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4.3 ESTRUTURA COM DUAS RAMIFICAÇÕES

Inicia-se o carregamento aplicando-se à estrutura a carga de ruptura do modelo padrão (280 kN/m²).
Ao fim do processamento do programa, nota-se que novamente a carga é suportada pela estrutura
ramificada, e, dessa vez, observa-se uma redução ainda maior no deslocamento sofrido pela mesma
para 1,53 mm – fig. 16, dando indícios de que quanto mais ramificada é a estrutura, maior será a
eficiência no que tange a redução de recalques. Para este caso, a tensão total máxima na estrutura é
de 907,83 kPa e no solo abaixo da fundação é cerca de -200,0 kPa, fig. 17.

Figura 16. Deslocamentos totais da estrutura com duas ramificações: carga de 280 kN/m².

Figura 17. Tensões totais na estrutura com duas ramificações: carga de 280 kN/m².

A seguir, aplica-se a carga de suporte do modelo de ramificação com n = 2, com o objetivo de verificar
a ocorrência de aumento da capacidade de suporte aumentando-se a ramificação. A estrutura resiste
ao carregamento aplicado, e o deslocamento da fundação é reduzido quando comparado ao modelo
anterior, para 7,23 mm, fig. 18. A tensão total máxima na estrutura é de 3640 kPa e no solo – da ordem
de -400 kPa, fig. 19.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 18. Deslocamentos totais na estrutura com duas ramificações: carga de 695 kN/m².

Figura 19. Tensões totais na estrutura com duas ramificações: carga de 695 kN/m².

Prosseguindo com os acréscimos de carregamento, observa-se uma carga de suporte de 810 kN/m²,
cerca de 2,9 vezes maior que a do modelo padrão e 1,2 vezes superior à carga de ruptura do modelo
de ramificação com n = 2. O resultado observado pode ser um indício de que há um número ótimo de
ramificações, a partir do qual o aumento de n não será vantajoso, pois o aumento da capacidade de
suporte com relação ao modelo ramificado anterior poderá não ser significativo.

Os deslocamentos totais são apresentados na fig. 20, sendo 14,86 mm para o topo da fundação. A
distribuição de tensões, fig. 21, mostra que a tensão total máxima verificada na fundação avaliada é de
5700 kPa e no solo é inferior a -1000 kPa.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 20. Deslocamentos totais na estrutura com duas ramificações: carga de 810 kN/m².

Figura 21. Tensões totais na estrutura com duas ramificações: carga de 810 kN/m².

Para o carregamento de suporte desta estrutura, 810 kN/m², o recalque em função do passo de
carregamento é mostrado na fig. 22 e as tensões principais no solo abaixo da fundação são
apresentadas na fig. 23.

Figura 22. Deslocamento total no topo da fundação com duas ramificações: carga de 810 kN/m².

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 23. Tensões principais no solo abaixo da fundação com duas ramificações: carga de 810 kN/m².

4.4 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS

Para melhor visualização do comportamento dos modelos, os resultados são resumidos nas tabelas 5
a 8. Primeiramente relaciona-se a capacidade de suporte e os deslocamentos de cada modelo. Na
sequência, são avaliadas as tensões no solo (𝜎1 no ponto B) e na estrutura, para as cargas de 280, 695
e 810 kN/m², bem como o deslocamento máximo no topo (ponto A). O traço (-) nas células indica que
o respectivo modelo não suporta àquela carga aplicada.

Tabela 5. Carga de suporte e deslocamento total no topo das fundações

Carga de Suporte Desloc. no topo


Fundação
(kN/m²) (mm)

Mod. padrão 280,00 -15,88

Uma ramif. 695,00 -25,73

Duas ramif. 810,00 -14,86

Tabela 6. Deslocamentos no topo das fundações e tensões no solo e na estrutura: carga de 280 kN/m²

Carga: 280 kN/m²

Tipo de Tensão máx.


Desloc. Tensão estr.
Fundação no solo
Topo (mm) (kN/m²)
(kN/m²)

Mod. padrão -15,88 -207,07 -160,00

Uma ramif. -3,41 -107,10 1280,00

Duas ramif. -1,53 -101,97 907,00

Tabela 7. Deslocamentos no topo das fundações e tensões no solo e na estrutura: carga de 695 kN/m²

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Carga: 695 kN/m²


Tipo de Tensão máx.
Fundação Desloc. Tensão estr.
no solo
Topo (mm) (kN/m²)
(kN/m²)

Mod. padrão - - -
Uma ramif. -25,73 -166,11 4420
Duas ramif. -7,23 -154,74 3640

Tabela 8. Deslocamentos no topo das fundações e tensões no solo e na estrutura: carga de 810 kN/m²

Carga: 810 kN/m²


Tipo de Desloc. Tensão máx.
Fundação Tensão estr.
Topo no solo
(kN/m²)
(mm) (kN/m²)

Mod. padrão - - -
Uma ramif. - - -
Duas ramif. -14,86 -170,74 5700

Note-se que para os 3 modelos a máxima tensão de cisalhamento torna-se constante mesmo com o
aumento de carga. Isso acontece devido ao fato das tensões principais 𝜎1 e 𝜎3 diminuírem sempre na
mesma proporção, fato que necessita ser melhor compreendido. Para um mesmo valor de carga, as
tensões no solo são menores com o aumento da quantidade de ramificações da estrutura de fundação.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

5. CONCLUSÕES

O modelo de estrutura ramificada proposto é eficiente quanto aos parâmetros e condições estudados.
A partir de um determinado volume de material, é possível conceber estruturas de fundação com
capacidade de carga quase 3 vezes maior que a do modelo padrão.

Escolhidos os parâmetros geométricos do sistema e o ramificando apenas uma vez, a capacidade de


carga é 2,48 vezes maior. Ao ramificar duas vezes esse valor aumenta para 2,90. Logo, há indícios da
existência de um número ótimo de ramificações em relação à carga de suporte.

Sob a ação de uma mesma carga, o modelo ramificado confere grande redução dos recalques no topo
das fundações. Para o estudo, aumentando-se a quantidade de ordens, diminui-se cada vez mais os
deslocamentos. De maneira similar, a máxima tensão no solo abaixo da fundação é reduzida com o
acréscimo de ramificações. Em compensação, a estrutura é mais solicitada que no modelo padrão –
sem ramificação.

Uma série de análises podem ser feitas com relação às estruturas de fundação ramificadas, tais como:
verificação da influência do ângulo de ramificação, avaliação de carregamentos combinados, variação
do volume inicial, alternância de parâmetros geométricos do sistema, dentre outros. Além disso, há a
necessidade de verificar o efeito da variação do número e tipo de camadas do solo.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) pela concessão das bolsas de Iniciação
Científica que protagonizaram a obtenção dos resultados aqui discorridos e à Fundação de Amparo à
Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) por oportunizar a participação no XIX Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (COBRAMSEG).

37
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

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superficiais, fundações profundas, Vol. Único, Oficina de textos, São Paulo, SP, 568 p.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 3

DIMENSIONAMENTO DE CONSOLO CURTO DE


CONCRETO ARMADO E COMPARAÇÃO DO
LIMITE DIMENSIONAL ESTABELECIDO POR
NORMA COM RESULTADOS OBTIDOS POR
MÉTODO COMPUTACIONAL
Hugo Medeiros de Oliveira (UFRJ)
Lucas Teotônio de Souza (UFRJ)
Jackson Souza Corrêa (UFJF)

Resumo: Consolos de concreto armado são elementos estruturais amplamente utilizados na


construção civil, presentes em estruturas pré-moldadas e pré-fabricadas, nas ligações viga-pilar e viga-
viga. Devido às descontinuidades estática e geométrica, as tensões na região do consolo estão
perturbadas, o que leva a um dimensionamento não convencional, sendo necessária a utilização de
outros métodos para o cálculo deste tipo de estrutura. A NBR 6118/2014 recomenda e prescreve o
Modelo de Bielas e Tirantes para o cálculo do consolo curto, assim como de outras regiões chamadas
especiais. O procedimento consiste em representações discretas dos campos de tensões de um
elemento estrutural. As tensões principais de compressão são representadas pelas bielas, as tensões
principais de tração são representadas por tirantes e as regiões onde se cruzam dois ou mais campos
de tensões são denominados nós. O presente trabalho estuda o funcionamento dos consolos, com
enfoque nos consolos curtos. Realiza-se uma comparação entre o limite dimensional estabelecido por
norma e as distribuições de tensões obtidas por software que utiliza o Método de Elementos Finitos.
São apresentados também, alguns métodos disponíveis na literatura para o dimensionamento dos
consolos curtos e, por fim, mostra-se resultados de exemplos práticos calculados por um aplicativo em
linguagem Visual Basic desenvolvido a partir dos métodos expostos.

Palavras-chave: Consolo, biela, tirante

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

Consolos de concreto armado são elementos estruturais amplamente utilizados na engenharia civil em
estruturas pré-fabricadas e pré-moldadas. Presentes, principalmente, nas ligações de vigas em pilares
e de vigas em vigas, o estudo de seu comportamento se torna importante, uma vez que o mesmo
contribui diretamente para o comportamento da estrutura, sendo responsável pela transmissão e
distribuição dos esforços na mesma.

Assim como outros elementos estruturais, tais como viga parede e dente gerber, os consolos são
regiões de descontinuidade ou especiais. Ou seja, são zonas que apresentam tensões cisalhantes
significativas e cuja deformação da seção transversal não mais se desenvolve de maneira linear. Nessas
regiões, conhecidas com D, ocorrem grandes perturbações de tensões, que vão se estabilizando à
medida que se afastam do ponto de ocorrência (SOUZA, 2004). As descontinuidades podem ser de
natureza geométrica, estática ou generalizada (dada pela cominação destas), conforme apresentadas,
respectivamente, na

Figura a), b) e c). Note-se que os consolos estão enquadrados na categoria de descontinuidades
generalizadas.

Figura 1 – Elementos estruturais com descontinuidade: a) geométrica, b) estática e c) generalizada (adaptado


da ABNT NBR 6118 (2014))

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

O presente trabalho, aborda o Modelo de Bielas e Tirantes (MBT) para o dimensionamento de consolos
curtos, uma vez que não podem ser empregados os métodos seccionais. O MBT teve origem no início
do século XX, a partir dos estudos de Ritter e Mörsch, que desenvolveram a “Clássica Analogia de
Treliça”, correlacionando uma viga fissurada a uma treliça. No método, o campo de tensões em um
elemento estrutural é dado por representações discretas. As tensões principais de compressão são
representadas pelas bielas, as tensões principais de tração são representadas por tirantes e as regiões
onde se cruzam dois ou mais campos de tensões são os chamados nós. O modelo pode ser adotado
pelo fluxo de tensões internas existentes utilizando o processo de caminhamento das cargas, a partir
das análises das tensões elásticas.

Diversos modelos podem ser aceitáveis, desde que atendam as condições de equilíbrio e respeitem as
orientações da teoria da elasticidade. Porém, os melhores modelos serão aqueles nas quais as linhas
de fluxo possuam os menores comprimentos e as disposições dos tirantes permitam uma prática
execução das armaduras no canteiro de obra. Modelos que substituam tirantes por bielas serão
preferíveis, já que as últimas são mais rígidas (FILHO, 1996).

Com o modelo de bielas e tirantes definido, é possível determinar então, os esforços axiais atuantes
em cada direção. Com esses esforços, faz-se a verificação da resistência das bielas e dos nós e o cálculo
da armadura necessária em cada tirante. Além da armadura calculada para os tirantes, recomenda-se
utilizar uma armadura de costura, para controle das fissuras. Essa armadura proporciona maior
ductilidade ao elemento estrutural, controlando as fissuras e permitindo uma redistribuição das
tensões internas (SILVA e GIONGO, 2000).

Figura 2 – Modelo de bielas e tirantes para uma viga parede: (a) a estrutura e suas cargas; (b) o fluxo de forças
no interior da estrutura; (c) o modelo de bielas e tirantes (FILHO (1996))

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2. METODOLOGIA

O presente trabalho busca avaliar o uso do Método de Bielas e Tirante para o dimensionamento de
consolos curtos e verificar o comportamento dos mesmos a partir de um software fundamentado no
Método de Elementos Finitos. Inicialmente são estudados exemplos de consolos, modelados no
programa SAP2000 versão 19, que, a partir de uma análise elástica, irá gerar o traçado das trajetórias
de tensões internas no concreto. Com esses resultados, será possível avaliar os limites dimensionais
estabelecidos na norma brasileira NBR 6118/2014 para consolo curto. Serão apresentados, ainda,
roteiros de cálculos seguindo as especificações determinadas pelas normas brasileiras e por alguns
autores. Os exemplos serão dimensionados com auxílio de um aplicativo de cálculo de consolos curtos
desenvolvido para este fim.

3. CONSOLOS DE CONCRETO ARMADO

Como supracitado, consolos são elementos estruturais com descontinuidade generalizada. É uma das
formas de ligação de vigas em pilares e de viga em vigas mais utilizadas, sendo, portanto, uma ótima
solução para realizar as ligações entre os elementos estruturais, função a qual é considerada uma das
principais preocupações quando se faz o uso de pré-fabricados (MENEZES; DEBS, 2009).

Geometricamente, os consolos são vigas em balanço de pequeno comprimento. Segundo a NBR


6118/2014, para efeitos de dimensionamento, os elementos de consolo podem ser classificados por
meio da relação entre a distância do ponto de aplicação da carga à face do apoio (ac) e sua altura útil
(d),

Figura , em:

- Curto se 0,5 d ≤ ac ≤ d;

- Muito curto se ac < 0,5 d;

- No caso em que ac > d, deve ser tratado como viga em balanço e não consolo.

Em termos de concepção geométrica, consolos podem assumir a forma retangular ou trapezoidal. A


forma trapezoidal é permitida, uma vez que existe uma região inerte na extremidade inferior do
elemento, isto é, que não contribui com a resistência da estrutura. A utilização do consolo com seção
retangular é desejável quando há uma aplicação de carga ao longo da altura. A seção trapezoidal tem
a vantagem de ser mais econômica, uma vez que se reduz o consumo de concreto, porém a execução
das formas para seções retangulares geralmente é bem mais simples. A NBR 9062/2017 determina que
a altura da face externa livre do consolo (h1) não deve ser menor que metade da altura da borda

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

engastada (h), subtraindo o afastamento do aparelho de apoio da borda externa (a2), isto é, h1 ≥ h/2 –
a 2,

Figura .

Figura 3 – Exemplo de consolo com seção trapezoidal (adaptado de SILVA (1991))

O Método de Bielas e Tirantes é indicado para dimensionamento de consolos curtos, não sendo
indicado para consolos muito curtos devido à ausência de compatibilidade demonstrada em ensaios
(SILVA e GIONGO, 2000). Para consolos muito curtos a NBR 6118/2014 indica a utilização da Teoria
Cisalhamento-Atrito, não discutida neste trabalho.

De forma simplificada, o modelo resistente utilizado para o consolo curto, pode ser representado por
um tirante na extremidade superior e uma biela comprimida inclinada, como mostra a

Figura . Definido o modelo utilizado, conhecendo-se a carga que será aplicada, a geometria do consolo
e da placa de apoio, deve-se então verificar a resistência da biela comprimida e das regiões nodais e
calcular a armadura necessária para o tirante e demais armaduras construtivas. O dimensionamento
deve ser feito de forma que a ruptura se dê pelo escoamento do aço. Para isso, deve-se limitar a taxa
de armadura por um limite superior. A verificação da biela e dos nós deve garantir que a ruptura frágil
esteja afastada.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. COMPARAÇÃO DOS LIMITES DIMENSIONAIS ESTABELECIDOS POR NORMA COM O FLUXO DE


TENSÕES NOS CONSOLOS CURTOS

4.1 MODELOS ANALISADOS

O estudo visa comparar, qualitativamente, o fluxo de tensões no interior das estruturas utilizadas como
exemplo. Para isso, foram modelados quatro elementos de consolo no programa SAP2000, cada qual
com um valor diferente de relação “ac/d”. Na modelagem são utilizados elementos de área do tipo
Shell, empregados na discretização de membranas, placas e cascas no plano e no espaço. No processo,
manteve-se fixo o valor da altura útil, alterando a distância do ponto de aplicação da carga à face do
apoio. Dos exemplos analisados, dois estão dentro do limite dimensional estabelecido por norma para
consolos curtos e dois para vigas em balanço.

Todos os modelos possuem largura (bw) e altura (h) iguais a 50 cm e serão solicitados pela mesma carga
(Fd), cujo valor de cálculo é 560 kN. Considera-se ainda, uma carga horizontal (Hd) igual a 16% da carga
vertical, baseando na sugestão da NBR 9062/2017 para o emprego de aparelhos de apoio de
elastômero. A placa de apoio é, portanto, de elastômero, com dimensões iguais a 20x40x1 cm (a3 = 20
cm). O concreto empregado possui fck igual a 40 MPa. O esquema geral dos modelos é mostrado na
Figura e a tabela 1 apresenta os valores de geometria adotados em cada exemplo.

Figura 4 – Esquema geral dos consolos utilizados como exemplo (AUTOR (2018))

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 1: Geometria das estruturas modeladas

Modelos Tipo l (cm) d (cm) ac (cm) a/d a2 (cm)


1 Consolo Curto 55 45,5 36,6 0,8 8,4
2 Consolo Curto 65 45,5 45,5 1,0 9,6
3 Viga Balanço 75 45,5 54,9 1,2 10,1
4 Viga Balanço 90 45,5 68,6 1,5 12,5

4.2 RESULTADOS DA ANÁLISE DE TENSÕES

Por meio da modelagem em elementos finitos, buscou-se a representação das trajetórias de tensões
internas nas estruturas, como forma de avaliar o comportamento dos mesmos próximos ao limite
dimensional estabelecido pela NBR 6118/2014 para consolos curtos. Os resultados obtidos para os
modelos de 1 a 4 estão apresentados, respectivamente, nas figuras 5 a 8. Os gráficos mostram as
tensões máximas e mínimas em suas direções principais.

Figura 5 – Distribuição de tensões (em kN/m²) na estrutura do modelo 1 – a/d = 0,8 (AUTOR (2018))

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 5 – Distribuição de tensões (em kN/m²) na estrutura do modelo 2 – a/d = 1,0 (AUTOR (2018))

Figura 5 – Distribuição de tensões (em kN/m²) na estrutura do modelo 3 – a/d = 1,2 (AUTOR (2018))

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 5 – Distribuição de tensões (em kN/m²) na estrutura do modelo 4 – a/d = 1,5 (AUTOR (2018))

Analisando o gráfico de tensões mínimas do modelo 1, Figura , é notória a formação da biela


comprimida, já esperada para um elemento de consolo com relação a/d < 1. No gráfico de tensões
máximas, aparece no bordo superior uma região tracionada, evidenciando o local onde serão alocados
os tirantes. Portanto, é possível visualizar a aplicabilidade do MEF para determinação do modelo de
bielas e tirantes. Destaca-se ainda, a não ocorrência de tensões na extremidade inferior direita do
consolo analisado, confirmando a presença de uma zona inerte nesta região, justificando a utilização
de uma seção trapezoidal para este tipo de estrutura.

No modelo 2, Figura , onde a relação a/d = 1, ainda ocorre um caminhamento das cargas de compressão
para o bordo inferior, porém menos marcante que no modelo anterior. A medida que a relação “a/d”
aumenta, a biela formada vai desaparecendo, como ocorre nos modelos 3 (a/d = 1,2) e 4 (a/d = 1,5),
figuras 7 e 8 respectivamente, evidenciando, nestes casos, o comportamento de viga em balanço com
tensões de compressão no bordo inferior e de tração no bordo superior. Portanto, o limite estabelecido
pela norma para consolo curto é confirmado nas análises de fluxo de tensão aqui realizadas. As
diferenças entre os métodos empregados para estruturas de consolo e viga em balanço são ainda
avaliadas na seção 5, comparando-se as áreas de armadura necessária nos tirantes.

5 MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO DE CONSOLOS CURTOS E APLICAÇÕES EM EXEMPLOS

5.1 MODELO APRESENTADO EM SANTOS E STUCHI

Para o dimensionamento de consolos curtos baseado no modelo proposto em Santos e Stuchi (2013),
a análise é feita considerando-o desacoplado do apoio (pilar/viga). O modelo constitui-se de um tirante

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

na parte superior e uma biela inclinada que está equilibrada na base do consolo, como mostra a Figura
. Para simplificar, a altura da placa de apoio foi desconsiderada nos cálculos.

Figura 9 – Modelo de bielas e tirantes para consolo curto (adaptado de SANTOS E STUCHI (2013))

Considerando que o nó “A” irá resistir até a tensão solicitante, ou seja, tensão aplicada igual a
resistência:

Fd (Equação 1)
a1 
b  f cd1
onde b é a largura do consolo, e fcd1 é a resistência do nó.

Para utilização desta consideração, Reineck (2005) propõe uma verificação da capacidade de rotação
do consolo similar ao apresentado na NBR 6118/2014, adotando valor limite de x/d igual a 0,4.

Portanto, conhecendo o valor de a1, é possível obter o valor de y a partir da relação:

y a (Equação 2)
cotg θ  
a1 y
d
2
A largura da biela é obtida a partir da dimensão da placa de apoio (a3) e a força atuando na mesma
depende da carga vertical. A tensão na biela é, portanto, calculada a partir da equação:

Fbiela Fd (Equação 3)
 biela  
a biela  b a 3  sen 2 θ  b
A força atuante no tirante, que será utilizada no dimensionamento da armadura é determinada por:

T1d  Fd  cotg θ  H d (Equação 4)

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Ressalta-se que esse modelo proposto por Santos e Stucchi é válido para valores de “a/z” entre 0,4 e
2.

5.2 MODELO DE HAGBERG

Hagberg (1983) também sugere algumas expressões para determinação das cargas atuantes, da
espessura e inclinação da biela para consolos curtos, neste trabalho são apresentados para estruturas
sujeitas a cargas verticais e horizontais. Dentre as diferenças em relação ao modelo anterior, está a
consideração da interação consolo-apoio, aparecendo duas bielas adicionais,

Figura . Além disso, a altura da placa de apoio (t) é considerada na determinação da largura da biela
inclinada (bmax).

Figura 10 – Modelo de bielas e tirantes para consolo curto (adaptado de SILVA E GIONGO (2000))

As cargas na biela e no tirante são obtidas a partir do equilíbrio de forças, como mostrado na

Figura . A inclinação e largura da biela podem ser obtidas pelas equações 5 e 6, onde t é a espessura da
placa de apoio:

a3 (Equação 5)
a  (h  d)  (H d /Fd )
tg β máx  2
d
a  (Equação 6)
b máx  2   3  t  tg θ   cos β máx
 2 

5.3 RECOMENDAÇÕES DA NBR 9062/2017

A NBR 9062/2017 propõe o modelo de bielas e tirantes para o dimensionamento de consolos curtos. A
norma define os limites para disposições construtivas e solicitações dos materiais (concreto e aço).
Algumas dessas indicações serão aqui apresentadas:

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

 Armadura no tirante:

 a  F H (Equação 7)
A stir   0,1  c   d  d
 d  f yd f yd

 Armadura de costura:

Essa armadura é obrigatória e deve ser distribuída até 2/3 da altura útil, a partir do tirante, com valor
mínimo igual:

(Equação 8)
 As  A 
   cos t  0,4   st 
 s   d 
 Armadura transversal:

Para consolos curtos e muito curtos sujeitos a cargas indiretas, se for construtivamente necessário, a
armadura transversal pode ser adotada como a mínima estabelecida na NBR 6118/2014, indicada para
uma viga de mesma largura e altura no empastamento igual à do consolo.

Um modelo de detalhamento para consolos curtos, recomendado pela NBR6118/2014, está


apresentado na

Figura .

 Disposições construtivas:

 O tirante deve ser localizado no quinto da altura do consolo junto à borda tracionada;

 As dimensões do aparelho de apoio e sua disposição deve ser dada de maneira a permitir que
o tirante abrace a biela;

 Consideração de força horizontal quando não há o impedimento ao movimento nessa direção


(valores recomendados pela norma em função do material da placa de apoio);

 O espaçamento vertical da armadura de costura não deve ser maior 10 cm ou a distância de


aplicação da carga à face do apoio (ac).

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 11 – Disposição construtiva para consolo curto – planta e corte (ABNT NBR 6118, 2014)

5.4 DIMENSIONAMENTO DE CONSOLOS CURTOS PELOS MODELOS APRESENTADOS

Nesta seção é apresentado o dimensionamento dos quatro modelos dispostos na seção 4. Apesar de
dois deles serem classificados, segundo os limites da NBR 6118/2014, como viga em balanço, serão
calculados como consolos curtos de forma a se comparar a taxa de armadura final obtida pelo método
de bielas e tirante e pelo método seccional. O dimensionamento será realizado com o auxílio de um
aplicativo denominado MBTCC v 1.0 (Método de Bielas e Tirantes para Consolo Curto versão 1.0)
desenvolvido durante este trabalho.

O programa possibilita o dimensionamento de acordo com as duas formulações apresentadas


anteriormente. A interface do programa é mostrada na Figura 12 e Figura 13 com os resultados para o
modelo 1. Além do cálculo da taxa de armadura no tirante, de costura e de estribos (caso seja utilizado)
o programa realiza a verificação de esmagamento das bielas comprimidas e dos nós, de acordo com o
método selecionado, para as regiões mais solicitadas. Os casos onde não ocorre esmagamento o
programa retorna ao usuário a mensagem “resiste”, senão, “não resiste”. Essa verificação é realizada

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

conforme limites definidos pela norma brasileira NBR 6118/2014, que sugere os seguintes valores para
a resistência das bielas e nós:

 fcd1 = 0,85 αv2 fcd, para bielas prismáticas e nós atuam apenas forças de compressão;

 fcd2 = 0,60 αv2 fcd, para bielas atravessadas por mais de um tirante e nós onde as cargas de tração
atuam em duas ou todas as direções;

 fcd3 = 0,72 αv2 fcd, para bielas atravessadas por um único tirante e nós que atuam cargas de
tração em apenas uma direção;

onde αv2 = (1 − fck / 250) e fcd = fck/ɣc.

Os dados de entrada, como geometria, materiais e cargas são inseridos na caixa inicial, onde também
será escolhido o modelo de cálculo. No programa, a espessura da placa de apoio é tomada igual a 1
cm. Após a escolha, abre-se uma caixa secundária onde são apresentadas as verificações das bielas e
nós, armadura necessária do tirante, de costura e vertical, verificação do comprimento de ancoragem
do tirante e opções de detalhamento. Os resultados do dimensionamento dos quatro modelos são
apresentados na Tabela 2.

Figura 12 – Aba inicial do programa MBTCC utilizada para inserir dados de entrada com valores do modelo 1
(AUTOR (2018))

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Figura 13 – Aba secundária do programa MBTCC utilizada para o detalhamento do modelo 1 (AUTOR (2018))

Tabela 2: Geometria das estruturas modeladas

As,tir (cm²) Verificações das bielas


Modelos a/d
Santos e Stuchi Hagberg Santos e Stuchi Hagberg
1 0,8 14,09 15,47 Resistem Resistem
2 1,0 14,66 15,91 Resistem Não Resiste
3 1,2 20,13 20,66 Não resiste Não Resiste
4 1,5 24,94 24,54 Não resiste Não Resiste

A partir dos valores obtidos, plotou-se o gráfico “As (tirantes) x ‘a/d’” para comparar as respostas em
cada método,

Figura . Além disso, calculou-se a armadura do tirante recomendada pela NBR 9062/2017 para consolos
curtos e por método seccional para viga em balanço.

Percebe-se que apesar das diferenças entre os modelos baseados no MBT, os valores de armadura
encontrados para o tirante não se distanciaram muito, ficando ambos acima da armadura
recomendada pela NBR 9062/2017, para consolos curtos. A armadura necessária encontrada pelo
método seccional é maior que a armadura calculada pelo MBT.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 14 – Comparativo entre armaduras no tirante

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

6 CONCLUSÕES

Neste trabalho foi estudado o comportamento dos consolos de concreto armado, com enfoque nos
consolos curtos. O intuito era avaliar o uso do Método de Bielas e Tirantes para o dimensionamento
dos consolos curtos e verificar o funcionamento dos mesmos com auxílio de uma ferramenta
computacional fundamentada no Método dos Elementos Finitos, com o qual foi possível observar a
distribuição das tensões em seu interior, via análise elástica. Os resultados mostram que, para consolos
curtos, existe a formação de uma biela inclinada, confirmando os modelos adotados na literatura. À
medida que a relação “a/d” aumenta, a biela não mais se caracteriza, havendo uma uniformização das
tensões no interior da estrutura, mostrando que os limites estabelecidos por norma para consolos
curtos estão coerentes com os resultados apresentados pelo programa.

O dimensionamento dos consolos utilizando o programa MBTCC permite que seja verificada a
resistência da biela e dos nós e determinada a área de aço do tirante, fornecendo especificações de seu
detalhamento e ancoragem. As armaduras calculadas para os quatro modelos apresentados ficaram
próximas e acima da recomendada pela NBR 9062/2017. Já a armadura encontrada pelo método
seccional ficou acima das armaduras calculadas pelo MBT, o que, de certa forma, traz certa segurança
ao projetista, caso não seja utilizado recomendações da norma para consolos com a/d < 1. Porém, o
fato de se utilizar uma armadura superior à necessária no tirante aliada a não verificação da biela
comprimida pode ser um grande risco. Como já foi dito, procura-se sempre que a ruptura do consolo
se dê no tirante, evitando a ruptura por esmagamento do concreto que geralmente ocorre de forma
abrupta, ou seja, sem aviso prévio.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

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bielas e tirantes - parte ii: prescrições normativas, detalhamento e aplicações. Téchne, SÃo Paulo,
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SILVA, R. C. Concreto armado:aplicações de modelos de bielas e tirantes. 1991. 202 f. Tese (Mestrado)
- Curso de Engenharia Civil, Engenharia de Estruturas, Universidade de São Paulo, São Carlos, 1991.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

SILVA, R. C.; GIONGO, J. S. Modelos de bielas e tirantes aplicados a estruturas de concreto armado. São
Carlos: Eesc-usp, 2000. 189 p

SOUZA, R. A. Concreto estrutural: análise e dimensionamento de elementos com


descontinuidades. 2004. 379 f. Tese (Doutorado) - Curso de Engenharia Civil, Departamento de
Engenharia de Estruturas e Fundações, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo,
2004.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 4

MAXIMIZAÇÃO DA ÁREA DE SUPERFÍCIE EM


SISTEMAS RAMIFICADOS

Lucas Teotônio de Souza (UFJF)


Marcelo Miranda Barros (UFJF)

Resumo: Na natureza os sistemas ramificados são extremamente abundantes, presentes por exemplo,
no sistema cardiovascular animal, pulmão, redes fluviais, descargas elétricas e plantas. O objetivo deste
trabalho é estudar a maximização de áreas superficiais em sistemas ramificados. O modelo geométrico
adotado é baseado em árvores auto-similares, ou seja, são definidas por parâmetros evolutivos
constantes e bem definidos. Essas proporções ditam o tamanho e o diâmetro de cada ramo filho em
relação ao seu pai, bem como a quantidade de filhos de cada pai. A eficiência é definida como a razão
entre a área superficial total de uma árvore e a área de superfície de um cilindro com mesmo volume.
Essa terminologia se justifica pelo vasto conjunto de aplicações associados à área superficial, como por
exemplo, transferência de calor, trocas gasosas, ancoragem etc. Mostra-se a condição para a
maximização da área de superfície total, assumindo que o comprimento do progenitor não pode tender
a zero quando a quantidade de ordens aumenta. Se, além de otimizar a área de superfície total, o
sistema apresentar semelhança geométrica entre os elementos, este satisfaz o princípio fisiológico de
trabalho mínimo, conhecido como lei de Murray.

Palavras-chave: otimização, árvores, lei de Murray, similaridade.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

Sistemas ramificados são onipresentes na natureza (Randié, M., 1975), (Fleury, V. et al. 2001),
(Thompson, 1917), (Harris, T.E., 2002), sendo que alguns apresentam grandes áreas de superfície
(Morris, C.E. e Homann, U., 2001), tais como o pulmão (Hasleton, P.S., 1972) e o sistema cardiovascular
(Murray, C. D., 1926) em animais. Neste trabalho apresenta-se o problema da maximização de área de
superfície em sistemas ramificados por meio de um modelo simples para os elementos, seguindo leis
exponenciais, características de sistemas naturais.

Maximizar área de superfície significa maximizar a troca com o meio, num problema físico. Isto é, num
sistema físico aberto há troca de algo com o meio. Seja calor, vibração, fluidos, substâncias, carga
elétrica.

O problema consiste em maximizar a área de superfície (Honda, H., 1978) utilizando um volume fixo. O
modelo geométrico é composto por cilindros de diferentes comprimentos e diâmetros de forma a
compor uma estrutura com significação prática e tecnológica, além de conceitual. A geometria de
árvore proposta é composta de elementos de diferentes tamanhos organizados hierarquicamente,
unidos de maneira que o elemento maior sustenta elementos menores, que são maiores que outros e
os sustentam. Quando todas as ordens vizinhas se relacionam da mesma maneira serão denominadas
auto-similares (Barros e Bevilacqua, 2015). Isto é, os parâmetros de crescimento/decrescimento são
constantes para todas as ordens. Essas proporções ditam o tamanho e o diâmetro de cada ramo filho
em relação ao seu pai, bem como a quantidade de filhos de cada pai.

A eficiência é definida como a razão entre a área superficial total de uma árvore e a área de superfície
de um cilindro com mesmo volume. Essa terminologia se justifica pelo vasto conjunto de aplicações
associados à área superficial, como por exemplo, transferência de calor, trocas gasosas, ancoragem etc.

2. ÁRVORES AUTO-SIMILARES

Árvores auto-similares são definidas por três parâmetros geométricos que as governam: quantidade
de filhos b de cada ramo pai, proporções de comprimento 𝜆 e diâmetro dentre os ramos pai e filho,
que são válidas por toda a extensão. A fim de definir uma árvore particular, é necessário definir ainda
o passo evolutivo, isto é, a quantidade de ordens n. Assim, cada ordem k é composta de elementos
característicos cilíndricos onde:

1. O elemento progenitor tem comprimento 𝜆0 e diâmetro 𝑑0 .

59
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2. Cada elemento da ordem k divide-se em b elementos na ordem k+1, isto é, 𝑏 = 𝑁𝑘+1 /𝑁𝑘 , em
que 𝑁𝑘 é o número de elementos pertencentes à ordem k, assim 𝑁𝑘 = 𝑏 𝑘 .

3. A relação entre o comprimento dos elementos de ordens sucessivas é 𝜆 = 𝜆𝑘 /𝜆𝑘+1 , e entre o


diâmetro de ordens sucessivas é 𝑑 = 𝑑𝑘 /𝑑𝑘+1 .

As propriedades do sistema b, λ, d serão chamadas, respectivamente, de proporções de ramificação,


comprimento e diâmetro. Note-se que a auto-similaridade está presente nas três propriedades, uma
vez que as proporções são constantes para todos os k’s. Assim, todos os pais têm a mesma quantidade
de filhos e as razões de comprimento e diâmetro são sempre as mesmas em todas as ramificações.
Uma característica que pode estar presente em uma árvore é a similaridade geométrica de seus
elementos, isto é, seus elementos têm a mesma forma embora tenham tamanhos diferentes. A
similaridade geométrica é obtida quando λ=d. A Figura 1 mostra um exemplo de árvore auto-similar.

Figura 1. Exemplo de árvore auto-similar em 2D.

2.1 VOLUME DAS ÁRVORES

O volume total de uma estrutura ramificada auto-semelhante com tronco de comprimento 𝜆0 ,


diâmetro 𝑑0 e composto de n ordens é dado pela soma dos volumes de seus elementos em todas as
ordens, i.e.:
𝑛−1
𝜋 2
𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = ∑ 𝑁𝑘 𝑑 𝜆
4 𝑘 𝑘
𝑘=0

Considere um cilindro de referência com volume:


𝜋 2
𝑉̅ = 𝑑̅ 𝐿̅
4
onde𝐿̅ e 𝑑̅são o diâmetro e o comprimento do cilindro de referência. Vamos supor que o diâmetro do
cilindro de referência e do progenitor são iguais, isto é, 𝑑̅ = 𝑑0, sem perda de generalidade.

60
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Ao definir o mesmo volume para o cilindro único e o sistema ramificado, o comprimento do progenitor
é obtido por:

𝑛−1 −1
𝛾 𝑘
𝜆0 = 𝐿̅ [∑ ( 2 ) ] , (1)
𝑑
𝑘=0

Onde𝜸 = 𝒃/𝝀. Assim, se 𝒅 ≤ √𝜸, então 𝝀𝟎 → 𝟎 à medida que n aumenta. Estamos interessados em
um comprimento finito para o progenitor com o aumento de n e, portanto, consideramos que 𝒅 > √𝜸.
O parâmetro γ é definido pela razão entre o fator multiplicativo e o fator de tamanhos. Quando 𝜸 > 𝟏
o comprimento total em cada ordem aumenta gerando uma possibilidade de preencher mais o espaço
enquanto que quando 𝜸 < 𝟏 o comprimento total na ordem decresce com k. Vale observar que o
parâmetro γ tem relação com a dimensão fractal do sistema ramificado, dada por 𝑫 = 𝐥𝐨𝐠 𝒃 / 𝐥𝐨𝐠 𝝀,
isto é, 𝑫 = 𝟏 equivale a 𝜸 = 𝟏; 𝑫 > 𝟏equivale a 𝜸 > 𝟏; 𝑫 < 𝟏 equivale 𝜸 < 𝟏.

2.2 ÁREA DE SUPERFÍCIE DAS ÁRVORES

A área de superfície total de uma árvore é dada pela soma das áreas de superfície dos elementos de
todas as ordens, dada por:
𝑛−1

𝑆 = ∑ 𝑁𝑘 𝜋𝑑𝑘 𝜆𝑘 .
𝑘=0

A área de superfície do cilindro de referência é a seguinte: 𝑆̅ = 𝜋𝑑̅ 𝐿̅.Assim, a razão entre a área
superficial total de uma estrutura ramificada e a área de superfície do cilindro de referência,
considerando-se o mesmo volume total, i.e. Eq. (1), é:

𝛾 𝑘
𝑆 ∑𝑛−1
𝑘=0 (𝑑 )
𝑒= = , (2)
𝑆̅ ∑𝑛−1 𝛾 𝑘
(
𝑘=0 𝑑 2 )

denominada eficiência. Pode-se mostrar (ver Apêndice) que a eficiência pode ser escrita na forma:

𝛾 𝛾 𝑛
( 2) − 1 ( ) − 1
𝑒 = [ 𝑑𝛾 ][ 𝑑 𝑛 ], (3)
( ) − 1 ( 𝛾2 ) − 1
𝑑 𝑑
A eficiência relaciona a área de superfície de uma estrutura ramificada, com a área de superfície de um
cilindro com mesmo volume. Então, se 𝑑̅ = 𝑑0, a eficiência depende dos parâmetros do sistema 𝑏, 𝜆, 𝑑
e o parâmetro de evolução n.

61
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2.2.1 MAXIMIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA E D ÓTIMO

A Figura 2 mostra os gráficos das áreas superficiais relativas, isto é, a sua eficiência, dependendo da
proporção dos diâmetros para diferentes valores de γ, que correspondem a gráficos de mesma cor, e
diferentes evoluções n. O gráfico mostra um problema de otimização, ou seja, para um dado 𝛾 = 𝑏/𝜆
e um dado n há um d ótimo que maximiza a eficiência. Os valores mais altos das eficiências estão
associados a valores mais altos de γ, para um mesmo n. Note-se que quanto mais evoluída for a árvore,
i.e. maior n, mais eficiente ela será para um mesmo γ.

Figura 2. Eficiência vs proporção de diâmetro.

O d ótimo que maximiza a eficiência é obtido pela derivada parcial da Eq.(2), que conduz à equação:
𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1
𝛾 𝑘 𝛾 𝑘 𝛾 𝑘 𝛾 𝑘
𝐸(𝑑, 𝑛) = 2 [∑ 𝑘 ( 2 ) ] [∑ ( ) ] − [∑ 𝑘 ( ) ] [∑ ( 2 ) ] = 0
𝑑 𝑑 𝑑 𝑑
𝑘=1 𝑘=0 𝑘=1 𝑘=0

No apêndice é mostrado que a proporção do diâmetro ótimo quando a árvore evolui indefinidamente,

definida por 𝑑𝑜𝑝𝑡 = lim 𝑑𝑜𝑝𝑡 (𝛾, 𝑛), depende de γda seguinte forma:
𝑛→∞

quando𝛾 > 1,


𝑑𝑜𝑝𝑡 = √𝛾, (4)

equando 𝛾 < 1 < 𝑑,


𝑑𝑜𝑝𝑡 = 1 + √1 − 𝛾, (5)

A Figura 3 ilustra o fato de que as raízes de 𝐸(𝑑, 𝑛)se aproximam de √𝛾 quando 𝑛 → ∞.

62
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 3. Raízes de 𝐸(𝑑, 𝑛) quando𝑛 → ∞ para𝛾 = 4.


Embora 𝑑𝑜𝑝𝑡 seja obtido pelas expressões (4) e (5), os valores de 𝑑𝑜𝑝𝑡 para sistemas finitos são mais
importantes em aplicações. A Figura 4, resultado das raízes de 𝐸(𝑑, 𝑛) obtidas numericamente, mostra
os valores de 𝑑𝑜𝑝𝑡 × 𝑛 para 𝛾 = 2, 4, 8, Fig 4.a. Note-se que os valores de 𝑑𝑜𝑝𝑡 para pequenos valores

de n são significativamente mais elevados do que 𝑑𝑜𝑝𝑡 . Por exemplo, considere𝛾 = 2 e𝑛 = 3 que leva

a𝑑𝑜𝑝𝑡 ≈ 2,2, enquanto 𝑑𝑜𝑝𝑡 ≈ 1,4. Note-se ainda, que o 𝑑𝑜𝑝𝑡 para o caso finito está sempre acima
∞ ∞
do𝑑𝑜𝑝𝑡 = √𝛾, quando 𝛾 > 1. Para 𝛾 < 1 < 𝑑, tem-se𝑑𝑜𝑝𝑡 = 1 + √1 − 𝛾, conforme é ilustrado na Fig.
4.b, para 𝛾 = 0,125 ; 0,25 ; 0,5.

(a) b)

Figura 4. 𝑑𝑜𝑝𝑡 × 𝑛 e 𝑑𝑜𝑝𝑡 , para os casos 𝛾 > 𝑑 > √𝛾 > 1 (a) e 𝛾 < 1 < 𝑑 (b).

2.2.2 MAXIMIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA COM N

1 𝜆𝑑2 −𝑏
A partir da Eq. (2) vê-se que, se 𝑑 > 𝛾 a eficiência é limitada, dada por 𝑒 = 𝑑 ( 𝜆𝑑−𝑏 ), tal como ilustra

a Fig. 5. Os parâmetros utilizados são: 𝑛 = 100, 𝛾 = 1.33e 𝑑 = 1.4, Fig. 5.a; 𝑛 = 100, 𝛾 = 1.33 e𝑑 =
1.26, Fig. 5.b.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

(a) (b)
Figura 5. Eficiência ao longo da evolução é limitada quando 𝑑 > 𝛾 (a), aumenta indefinidamente quando 𝑑 < 𝛾
(b).

Note-se que a condição ótima para a proporção diâmetro dada pela Eq. (3), isto é, 𝑑 = √𝛾, preenche a
condição de crescimento exponencial da eficiência com a evolução 𝑛. Portanto, a fim de gerar
elementos de comprimentos finitos (𝑑 > √𝛾) e aumentar sem limite a eficiência (𝑑 < 𝛾) chega-se ao
intervalo de interesse para o parâmetro 𝑑:√𝛾 < 𝑑 < 𝛾.

Observa-se que, quando 𝑑 < √𝛾 a eficiência aumenta muito mais rapidamente do que quando √𝛾 <
𝑑 < 𝛾, uma vez que o denominador da Eq. (2) converge, mas consideraremos o caso 𝑑 > √𝛾 para que
𝜆0 seja finito quando 𝑛 → ∞, ver Fig. 6.

Figura 6. Relação da eficiência com a variação do 𝑑.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3. CONCLUSÕES

O presente trabalho mostrou que é possível gerar uma infinidade de estruturas ramificadas com apenas
quatro parâmetros, a saber, 𝑏, 𝜆, 𝑑e 𝑛. A área de superfície destas estruturas ramificadas auto-
semelhantes pode ser maximizada através da escolha adequada dos parâmetros que as regem. Ou seja,
este consiste em um problema de otimização, em que para 𝑏, 𝜆 e 𝑛 dados, é possível encontrar a
proporção de diâmetros 𝑑 que maximiza a área superficial do sistema. Além disso, existe um intervalo
em que 𝑑𝑜𝑝𝑡 estará, qual seja,√𝛾 < 𝑑𝑜𝑝𝑡 < 𝛾.

Os sistemas finitos (que possuem pequenos valores de 𝑛) são mais importantes em aplicações e para

estes, os valores de 𝑑𝑜𝑝𝑡 são significativamente mais elevados do que 𝑑𝑜𝑝𝑡 . Note-se que, por exemplo,
para 𝑛 = 10 é possível obter eficiência relativa superior a 100, Fig. 2. Vale observar que o parâmetro
𝛾 = 𝑏/𝜆 corresponde à dimensão fractal 𝐷 = log 𝑏 / log 𝜆 de sistemas auto-similares. O caso 0 < 𝛾 <
1 corresponde ao caso 0 < 𝐷 < 1, enquanto que o caso 𝛾 > 1 corresponde ao caso 𝐷 > 1. Note-se
que o caso 𝐷 = 3 corresponde ao caso 𝜆 = 𝑏1/3 . Assim, se o sistema é geometricamente similar (𝜆 =
𝑑) então 𝐷 = 3 corresponde à lei de Murray. Quando o sistema possui similaridade geométrica (𝜆 =

𝑑), então 𝑑𝑜𝑝𝑡 = 𝑏1/3 , que corresponde à chamada lei de Murray presente no sistema cardiovascular
humano (Murray, 1926). Murray, que seguiu o caminho de Hess (Hess, W.R., 1917) minimizou o volume
e a área de superfície locais e verificou que a relação pai-filhos segue um mesmo padrão em toda a
árvore.

Dentre as possíveis aplicações do presente estudo sobre áreas de superfície em sistemas ramificados
visualiza-se problemas de ancoragem, trocadores de calor, fluidos e descargas elétricas.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) pela concessão da bolsa de Iniciação
Científica que protagonizou a obtenção dos resultados aqui discorridos e à Fundação de Amparo à
Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) por oportunizar a participação no XII Simpósio de Mecânica
Computacional (SIMMEC).

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

NOMENCLATURA

B quantidade de filhos de cada ramo pai


d proporção de diâmetro entre os ramos pai e filho
𝒏quantidade de ordens da estrutura ramificada

k ordem específica da evolução

d0diâmetro do progenitor

𝑆̅área de superfície do cilindro de referência

𝑉̅ volume do cilindro de referência

𝐷 Dimensão fractal

E(d,n) derivada parcial da equação e em relação ad



𝑑𝑜𝑝𝑡 diâmetro ótimo quando a árvore evolui indefinidamente

Vtotal volume total de uma estrutura ramificada auto-semelhante

Nk número de elementos pertencentes à ordem k

S área de superfície total de uma árvore


𝑆
𝑒eficiência, dada por 𝑆̅

𝑒∞ valor da eficiência quando 𝑑 > 𝛾

Letras gregas

λ proporção de comprimento entre os ramos pai e filho

λ0comprimento do progenitor
𝑏
γ razão entre b e λ, dado por 𝛾 = 𝜆

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

Barros, M.M., Bevilacqua, L., “Elastic fractal trees: a correspondence among geometry, stress, resilience
and material quantity”, Journal of the Brazilian Society of Mechanical Sciences and Engineering, Vol.
37, No. 5, pp. 1479-1483, 2015.

Fleury, V., Gouyet, J.F., Leonetti, M., “Branching in Nature: dynamics and morphogenesis of branching
structures fromcell to river networks”, Springer, 2001.Harris, T.E., “The Theory of Branching Processes”,
Courier Corporation, 2002.

Hasleton, P.S., “The internal surface area of the adult human lung”, Journal of Anatomy, Vol. 112, No.
3, pp. 391- 400, 1972.

Hess, W.R., “Über die periphereregulierung der blutzirkulation”, AusdemphysiologischenInstitpt der


UniversitãtZiirich.1917.

Honda, H., “Tree Branch Angle”, Science, Vol. 199, pp. 888-890, 1978.

Morris, C.E., Homann, U., “Cell Surface Area Regulation and Membrane Tension”, Journal of Membrane
Biology, Vol. 179, pp. 79–102, 2001.

Murray, C. D., “The physiological principle of minimum work: I. the vascular system and the cost of
blood”, Proc. Natl. Acad. Sci. USA, Vol. 12, pp. 207-214, 1926.

Randié, M., “On Characterization of Molecular Branching”, Journal of the American Chemical Society,
Vol. 99, No. 23, pp. 6609-6615, 1975.

Thompson, D’A. W., “On Growth and Form”, Cambridge University Press, 1917.

67
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

APÊNDICE

𝛾 𝑘 −1 𝜋 2
1) Prova de que 𝜆0 = 𝐿̅ [∑𝑛−1 𝑛−1 ̅ 𝜋 ̅2 ̅
𝑘=0 (𝑑2 ) ] : Temos que 𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = ∑𝑘=0 𝑁𝑘 4 𝑑𝑘 𝜆𝑘 e 𝑉 = 4 𝑑 𝐿.

𝑑 𝜆
Além disso, 𝑁𝑘 = 𝑏 𝑘 ; 𝑑 −𝑘 = 𝑑𝑘 ; 𝜆−𝑘 = 𝜆𝑘 . Onde λ0 e d0 são, respectivamente, comprimento e
0 0

diâmetro do progenitor. Fazendo 𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑉̅ :

𝑛−1 𝑛−1 2 𝑛−1


𝜋 2 𝜋 2 𝑑𝑘 2 𝜆𝑘 𝑑̅ 𝐿̅ 𝑑0 2 𝐿̅
̅ ̅ 𝑘 𝑘 −2𝑘 −𝑘
∑ 𝑁𝑘 𝑑𝑘 𝜆𝑘 = 𝑑 𝐿 ⇒ ∑ 𝑏 ( ) ( ) = ( ) ( ) ⇒ ∑ 𝑏 𝑑 𝜆 = ( ) ( )⇒
4 4 𝑑0 𝜆0 𝑑0 𝜆0 𝑑0 𝜆0
𝑘=0 𝑘=0 𝑘=0

𝑛−1 −1
𝛾 𝑘
𝜆0 = 𝐿̅ [∑ ( 2 ) ] .
𝑑
𝑘=0

𝛾 𝑘 𝛾 𝛾 𝑛
𝑆 ∑𝑛−1
𝑘=0 ( ) ( 2 )−1 ( ) −1
𝑑 𝑑 𝑑
2) Prova de que 𝑒 = = 𝛾 𝑘
=[ 𝛾 ][ 𝛾 𝑛
]:
𝑆̅ ∑𝑛−1 ( )−1 ( 2 ) −1
𝑘=0 (𝑑2 ) 𝑑 𝑑

𝑎 𝑘 𝑎 𝑎 2 𝑎 𝑛−1
Dada a soma 𝑆𝑛−1 = ∑𝑛−1
𝑘=0 (𝑥 ) = 1 + 𝑥 + (𝑥 ) + ⋯ + (𝑥 ) , efetuando algumas manipulações,

temos:

𝑛−1
𝑎 𝑎 𝑘 𝑎 𝑎 2 𝑎 3 𝑎 𝑛
𝑆𝑛−1 = ∑ ( ) = + ( ) + ( ) + ⋯ + ( )
𝑥 𝑥 𝑥 𝑥 𝑥 𝑥
𝑘=0

𝑎 𝑎 𝑛 𝑎 𝑎 𝑛 𝑥−𝑎 𝑎 𝑛
𝑆𝑛−1 − 𝑆𝑛−1 = 1 − ( ) ⇒ 𝑆𝑛−1 (1 − ) = 1 − ( ) ⇒ 𝑆𝑛−1 ( )=1−( )
𝑥 𝑥 𝑥 𝑥 𝑥 𝑥

𝑥−𝑎 𝑎 𝑛 𝑥 𝑎 𝑛
𝑆𝑛−1 = ( ) (1 − (𝑥 ) ) ⇒ 𝑆𝑛−1 = (𝑎−𝑥) ((𝑥 ) − 1), aplicando para o caso da eficiência:
𝑥

𝑛−1
𝛾 𝑘 𝑑 1 𝛾 𝑛
𝑛𝑢𝑚 = ∑ ( ) = ( ) (𝛾 𝑛 − 1) = (𝛾 ) (( ) − 1)
𝑑 𝛾−𝑑 −1 𝑑
𝑘=0 𝑑

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

𝑛−1
𝛾 𝑘 𝑑2 𝛾 𝑛 1 𝛾 𝑛
𝑑𝑒𝑛 = ∑ ( 2 ) = ( ) (( ) − 1) = ( 𝛾 ) (( ) − 1) ⇒
𝑑 𝛾 − 𝑑2 𝑑2 ( 2) − 1 𝑑2
𝑘=0 𝑑
𝛾 𝛾 𝑛
𝑛𝑢𝑚 1 ( 2) − 1 ( ) −1
𝑒= = (𝛾 )( 𝑑 )( 𝑑 𝑛 )⇒
𝑑𝑒𝑛 −1 1 𝛾
𝑑 ( ) − 1
𝑑2

𝛾 𝛾 𝑛
( 2 )−1 ( ) −1
𝑑 𝑑
𝑒=[ 𝛾 ][ 𝛾 𝑛
].
( )−1 ( 2 ) −1
𝑑 𝑑

𝑛−1 𝛾 𝑘
𝜕𝑒 𝜕 ∑𝑘=0 (𝑑) 𝛾 𝑘 𝛾 𝑘
3) Prova de que = 𝜕𝑑 𝛾 𝑘
= 𝐸(𝑑, 𝑛) = 2 [∑𝑛−1 𝑛−1
𝑘=1 𝑘 (𝑑2 ) ] [∑𝑘=0 (𝑑 ) ] −
𝜕𝑑 ∑𝑛−1
𝑘=0 (𝑑2 )

𝛾 𝑘 𝛾 𝑘
[∑𝑛−1 𝑛−1
𝑘=1 𝑘 (𝑑 ) ] [∑𝑘=0 (𝑑2 ) ] = 0

𝑓(𝑥) ′ 𝑔(𝑥)𝑓(𝑥)′ −𝑓(𝑥)𝑔(𝑥)′


A regra do quociente da derivada nos diz que (𝑔(𝑥)) = [𝑔(𝑥)]2
, portanto:

𝛾 𝑘 𝛾 𝑘 𝜕 𝛾 𝑘 𝛾 𝑘 𝜕 𝛾 𝑘
𝑛−1
𝜕 ∑𝑘=0 (𝑑) [∑𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1
𝑘=0 (𝑑2 ) ]𝜕𝑑[∑𝑘=0 (𝑑) ]−[∑𝑘=0 (𝑑) ]𝜕𝑑[∑𝑘=0 (𝑑2 ) ]
= 2 . Como estamos igualando a derivada a 0, a
𝜕𝑑 ∑𝑛−1( 𝛾 )𝑘 𝛾 𝑘
𝑘=0 𝑑2 [∑𝑛−1
𝑘=0 (𝑑2 ) ]

𝛾 𝑘 2
fim de se obter o poto de máximo, o denominador irá desaparecer, pois [∑𝑛−1
𝑘=0 (𝑑2 ) ] × 0 = 0. Logo:

𝛾 𝑘 𝜕 𝛾 𝑘 𝛾 𝑘 𝜕 𝛾 𝑘
[∑𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1
𝑘=0 (𝑑2 ) ] 𝜕𝑑 [∑𝑘=0 (𝑑 ) ] − [∑𝑘=0 (𝑑 ) ] 𝜕𝑑 [∑𝑘=0 (𝑑2 ) ] = 0. (6)

Calculando as derivadas separadamente:


𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1
𝜕 𝛾 𝑘
= [∑ ( ) ] = ∑ 𝛾 𝑘 𝑑−𝑘 = ∑ −𝑘 𝛾 𝑘 𝑑 −𝑘−1
𝜕𝑑 𝑑
𝑘=0 𝑘=0 𝑘=0

𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1


−𝑘 𝛾 𝑘 1 𝑘 𝛾𝑘 1 𝛾 𝑘
=∑ 𝑘 = − ∑ 𝑘 = − ∑𝑘( ) .
𝑑 𝑑 𝑑 𝑑 𝑑 𝑑
𝑘=0 𝑘=0 𝑘=0

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais
𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1
𝜕 𝛾 𝑘
= [∑ ( 2 ) ] = ∑ 𝛾 𝑘 𝑑 −2𝑘 = ∑ −2𝑘 𝛾 𝑘 𝑑 −2𝑘−1
𝜕𝑑 𝑑
𝑘=0 𝑘=0 𝑘=0
𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1
−2𝑘 𝛾 𝑘 2 𝑘 𝛾𝑘 2 𝛾 𝑘
= ∑ 2𝑘 = − ∑ 2𝑘 = − ∑ 𝑘 ( 2 ) .
𝑑 𝑑 𝑑 𝑑 𝑑 𝑑
𝑘=0 𝑘=0 𝑘=0

Substituindo os resultados na equação Eq. (6):

𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1


𝛾 𝑘 1 𝛾 𝑘 𝛾 𝑘 2 𝛾 𝑘
[∑ ( 2 ) ] [− ∑ 𝑘 ( ) ] − [∑ ( ) ] [− ∑ 𝑘 ( 2 ) ] = 0 ⇒
𝑑 𝑑 𝑑 𝑑 𝑑 𝑑
𝑘=0 𝑘=0 𝑘=0 𝑘=0

𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1


1 𝛾 𝑘 𝛾 𝑘 2 𝛾 𝑘 𝛾 𝑘
− [∑ ( ) ] [∑ 𝑘 ( ) ] − (− ) [∑ ( ) ] [∑ 𝑘 ( 2 ) ] = 0 ⇒
𝑑 𝑑 𝑑 𝑑 𝑑 𝑑
𝑘=0 𝑘=0 𝑘=0 𝑘=0

𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1 𝑛−1


𝛾 𝑘 𝛾 𝑘 𝛾 𝑘 𝛾 𝑘
𝐸(𝑑, 𝑛) = 2 [∑ 𝑘 ( 2 ) ] [∑ ( ) ] − [∑ 𝑘 ( ) ] [∑ ( 2 ) ] = 0
𝑑 𝑑 𝑑 𝑑
𝑘=1 𝑘=0 𝑘=1 𝑘=0


4. Prova de que 𝑑𝑜𝑝𝑡 = √𝛾 : Caso em que 𝛾 > 1 e √𝛾 < 𝑑 < 𝛾

1 𝛾 𝛾
Supondo 𝛾, 𝑑 > 0, 𝑑 ∈ 𝑅.Da desigualdade 𝑑 > √𝛾 obtemos𝑑 < 𝑑2 < 1, portanto |𝑑2 < 1|e assim

temos:


𝛾 𝒌
∑( )
𝑑2
𝒌=𝟎
1
= 𝛾 (7)
1−
𝑑2

Tomando 𝑛1 ∈ ℵ suficientemente grande, então:


𝑛1
𝛾 𝑘
∑( )
𝑑2
𝑘=0
1
≈ 𝛾 (8)
1−
𝑑2

70
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

𝛾 𝑘
𝑆 ∑𝑛−1
𝑘=0 ( )
𝑑
A partir da equação da eficiência = = 𝛾 𝑘
, para o referido 𝑛1 :
𝑆̅ ∑𝑛−1
𝑘=0 (𝑑2 )

𝑛 −1 𝛾 𝑘
1 ( )
∑𝑘=0
𝑑 𝛾 𝑛1 −1 𝛾 𝑘 𝑛1 −1 𝛾 𝑘
𝑛1 −1 𝛾𝑘+1
𝑒≈ 1 = (1 − 𝑑2 ) ∑𝑘=0 (𝑑) = ∑𝑘=0 (𝑑) − ∑𝑘=0 .
𝛾 𝑑𝑘+2
1− 2
𝑑

O ponto de maior eficiência, é dado quando 𝑒′ = 0, ou seja:

𝑛1 −1 𝑛1 −1 ′ 𝑛1 −1 𝑛1 −1
𝑘+1
𝛾 𝛾 𝑘 𝛾𝑘 𝛾 𝑘+1
( ∑ ( ) − ∑ 𝑘+2 ) = 0 ⇒ ∑ −𝑘 𝑘+1 + (𝑘 + 2) ∑ 𝑘+3 = 0 ⇒
𝑑 𝑑 𝑑 𝑑
𝑘=0 𝑘=0 𝑘=0 𝑘=0

𝑛1 −1
𝛾 𝑘 𝑘 𝛾
∑ ( ) (− + (𝑘 + 2) 3 ) = 0.
𝑑 𝑑 𝑑
𝑘=0

𝛾 𝑘 𝛾 𝑘+2 𝑘+2
Como > 0 temos que:𝑑 = (𝑘 + 2) 𝑑3 ⇒ 𝑑 2 = ( ) 𝛾 ⇒ 𝑑 = √( ) 𝛾. Portanto, para um 𝑛2
𝑑 𝑘 𝑘


suficientemente grande temos: 𝑑 ≈ √𝛾 ⇔ 𝑑𝑜𝑝𝑡 = √𝛾. (9)

Tomando 𝑛0 = 𝑚á𝑥{𝑛1 , 𝑛2 },satisfazemos as Eq. (8) e Eq. (9).


5. Prova de que 𝑑𝑜𝑝𝑡 = 1 + √1 − 𝛾 :Para 𝛾 < 1 < 𝑑,

1
𝛾 𝛾
1− 1 − 2 1 𝑑2 − 𝛾
𝑒≈ 𝑑 = 𝑑
1 𝛾 = 𝑑(𝑑 −𝛾 )⇒
𝛾 1 −
𝑑
1− 2
𝑑


−𝛾𝑑2 + 2𝛾𝑑 − 𝛾 2
𝑒 = = 0 ⇒ 𝑑 2 − 2𝑑 + 𝛾 = 0 ⇒
(𝑑 − 𝛾)2 𝑑2


𝑑𝑜𝑝𝑡 = 1 + √1 − 𝛾.

𝛾 𝛾 𝑛
1 𝑑2 −𝛾 ( 2 )−1 ( ) −1
𝑑 𝑑
6. Prova de que 𝑒∞ = 𝑑 ( 𝑑−𝛾 ): Temos que 𝑒 = [ 𝛾 ][ 𝛾 𝑛
]⇒
( )−1 ( 2 ) −1
𝑑 𝑑

71
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais
𝛾 𝛾 𝑛
( 2 ) − 1 ( ) −1
lim {[ 𝑑𝛾 ][ 𝑑 𝑛 ]}
𝑛→∞
( ) − 1 ( 𝛾2 ) − 1
𝑑 𝑑
𝛾 𝛾 𝑛 𝛾 𝛾 𝑛
( 2) − 1 ( ) −1 ( 2) − 1 ( ) −1
= [ 𝑑𝛾 ] lim [ 𝑑 𝑛 ] = [ 𝑑𝛾 ] lim [ 𝑑
𝑛 1 ]⇒
𝛾
( ) − 1 𝑛→∞ ( 2 ) − 1 𝛾
( ) − 1 𝑛→∞ ( ) ( 𝑛 ) − 1
𝑑 𝑑 𝑑 𝑑 𝑑

𝛾 𝑛 1
Como 𝑑 > 𝛾, temos que lim (𝑑) = 0 e lim = 0, portanto:
𝑛→∞ 𝑛→∞ 𝑑𝑛

𝛾 𝛾 𝑛 𝛾 𝑏 𝑏 − 𝜆𝑑 2
( 2 ) − 1 ( ) − 1 ( 2 ) − 1 (−1) ( 2 ) − 1 2
[ 𝑑𝛾 ] lim [ 𝑑 ] = [ 𝑑𝛾 ] = [ 𝜆𝑑 ] = 𝜆𝑑
𝑛
( ) − 1 𝑛→∞ (𝛾 ) ( 1𝑛 ) − 1 ( ) − 1 (−1) 𝑏
( )−1
𝑏 − 𝜆𝑑
𝑑 𝑑 𝑑 𝑑 𝜆𝑑 𝜆𝑑

𝑏 − 𝜆𝑑2 𝑏 − 𝜆𝑑
= =
𝜆𝑑2 𝜆𝑑

1 𝜆𝑑2 − 𝑏
= ( )⇒
𝑑 𝜆𝑑 − 𝑏

1 𝑑2 − 𝛾
𝑒∞ = ( ).
𝑑 𝑑−𝛾

NOTA DE RESPONSABILIDADE

Os autores são os únicos responsáveis pelo material reproduzido nesse artigo.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 5

OBTENÇÃO DE PARÂMETROS GEOTÉCNICOS DE


SOLO RESIDUAL DO VALE DO RIBEIRA/SP POR
MEIO DE RETROANÁLISE DE RUPTURA

Pedro Hespanha Almeida (PUC Minas)


Luciene Oliveira Menezes (PUC Minas)
Alexandre Augusto Vergani (Intercement Brasil S.A)

Resumo: Apresenta-se a retro análise de uma ruptura circular de talude em solo residual de micaxisto,
em área de mineração. Propõe-se uma metodologia ampliada, onde além do retro análise dos
parâmetros geotécnicos no Slide, o diagnóstico do mecanismo de ruptura foi avaliado por meio de
vistorias de campo, levantamento topográfico, pesquisa de dados existentes, análises químicas e
mineralógicas, e realização de ensaios de granulometria e limites de consistência. Os resultados
mostraram que o solo é um Silte areno-argiloso de baixa plasticidade, com minerais de caulinita,
quartzo e mica. Os parâmetros geotécnicos obtidos foram φ’ = 32º e c’ = 12,94 kPa. A coesão divergiu
da bibliografia, o que pode ser explicado pelas características do solo local. O resultado deste trabalho
ressalta o valor do acompanhamento geotécnico em atividades de mineração, permitindo conhecer as
causas de eventos de ruptura que podem colaborar com a previsão e prevenção de eventos
semelhantes no futuro, além de atender ao solicitado na NR 22.14, a respeito do monitoramento e
controle geotécnico dos taludes de mineração a céu aberto.

Palavras-chave: solos residuais, análise de estabilidade, retro análise, análise mineralógica, caracterização de
solos.

73
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

O local investigado neste trabalho é uma mina de extração de argila para produção de cimento,
localizada em Cajati, no Vale do Ribeira, região sul do estado de São Paulo. A mina, já exaurida e
encerrada, foi lavrada pelo método a céu aberto, com corte e escavação de bancadas em meia-encosta.
Na configuração final, foram deixadas 4 bancadas em solo, com altura média de 10 metros cada e
bermas de até 5 metros de largura.

O minério lavrado na mina (chamado de argila por convenção), consiste num solo residual de micaxisto,
onde são visíveis algumas estruturas reliquiares de foliação da rocha, bem como cristais de minerais
componentes, como quartzo e mica.

Os indícios de ruptura na primeira bancada surgiram na forma de trincas, detectadas em outubro de


2016. No mês seguinte, após uma semana de chuvas intensas, observou-se a ruptura total da bancada,
em formato aproximadamente circular, onde o material desceu gerando um degrau visível na berma.

Os estudos realizados envolveram levantamento topográfico da área antes e após a ruptura, geração
de um modelo digital do terreno em 3 dimensões, coleta de amostras deformadas, realização de
ensaios de massa específica dos sólidos, granulometria completa, limites de liquidez, plasticidade e
contração, análises instrumentais de FRX (fluorescência de raios-x) e DRX (difração de raios-x) e,
finalmente, retro análises buscando-se obter os parâmetros geotécnicos de coesão (c) e de ângulo de
atrito (φ) do solo.

A maioria dos solos, afirma FERNANDES (2011), sofre ruptura de acordo com o critério de Mohr-
Coulomb. Por esse critério, a ruptura ocorre por uma combinação entre a tensão normal σ e a tensão
cisalhante τ, aplicadas no solo. A relação entre ambas as tensões se define graficamente por uma curva,
a chamada envoltória de Mohr-Coulomb (DAS, 2014). Para simplificação, essa envoltória pode ser
suficientemente aproximada por uma reta.

A equação (1) mostra a relação matemática linear que define esse critério de ruptura:

τf = c + σ tan(φ) (1)

Nessa equação, φ é o chamado ângulo de atrito e c é a coesão do solo. Ambos são chamados de
parâmetros geotécnicos, que definem graficamente o comportamento da reta no critério de ruptura.

A obtenção dos parâmetros geotécnicos locais é uma etapa pela qual passa todo projeto de
estabilização de taludes em solo. Para os estudos preliminares, é comum utilizar-se de parâmetros de
referência encontrados na bibliografia, ou dos obtidos experimentalmente em locais próximos ao do

74
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

estudo. Já para etapas de maior detalhamento, é importante que se conheça os parâmetros


geotécnicos diretamente por meio de ensaios, ou indiretamente por correlações coerentes com outras
propriedades do solo.

De acordo com GOMES e BARROS (2005), a técnica da retroanálise é um dos meios de maior praticidade
e menor custo para se obter uma estimativa dos parâmetros geotécnicos de um solo que já sofreu
ruptura. A técnica se baseia no princípio de que quando um talude se rompe, seu Fator de Segurança
(FS) tem valor igual à unidade (1,00). De forma resumida, o FS consiste na razão entre as forças ou
momentos resistentes no solo e as forças ou momentos atuantes, ou seja, a partir do momento em que
essa razão é igual a 1,00, considera-se que a ruptura ocorre.

Conhecendo-se a geometria do talude antes e após a ruptura é possível simular a situação de ruptura
iminente, quando o FS se igualou a 1,00, e estimar o par de parâmetros c e φ com razoável precisão.

Por se tratar da utilização de um modelo matemático que sempre dará um resultado, condizente ou
não com a realidade, a retroanálise deve estar associada a informações adicionais, como a origem e
formação do solo, a granulometria e plasticidade, a mineralogia, e as condições geomorfológicas,
hidrológicas e antrópicas que podem condicionar e deflagrar a ruptura. Como reiteram DUARTE,
LADEIRA e GOMES (2004), não é possível realizar uma avaliação geotécnica completa de solos residuais
sem a contribuição dos dados químicos em correspondência com os dados mineralógicos. Com uma
metodologia mais ampliada de análise é possível realizar o diagnóstico do mecanismo de ruptura e seus
condicionantes de forma mais assertiva.

Uma das informações de caracterização do solo que pode auxiliar na retroanálise, e que foi relevante
para este estudo, é a sua propensão a formar trincas quando perde umidade. As trincas podem se
preencher de água em períodos chuvosos e saturar o solo ao seu redor, favorecendo a ocorrência de
rupturas. Scheidig apud MURTHY (2002) definiu o grau de contração (Gc) a partir de resultados do
limite de contração do solo, para avaliar a propensão a formar trincas de um solo em barragens de
aterro ou taludes de corte.

Outro ponto de interesse com esse trabalho é reforçar o cumprimento da NR 22 (Norma


Regulamentadora 22), editada pelo Ministério do Trabalho, a qual cita em seu subitem 22.14
(Estabilidade dos Maciços) que as empresas devem “monitorar e controlar as bancadas e taludes de
minas a céu aberto” e “verificar o impacto sobre a estabilidade de áreas anteriormente lavradas”. Isso
posto, o trabalho apresentado neste artigo se enquadraria, também, como atendimento à NR 22.

75
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Finalmente, espera-se com esse estudo utilizar as informações geradas pela ruptura do solo para
melhorar o conhecimento de seus parâmetros geotécnicos e mecanismo de ruptura e permitir a
utilização dos mesmos nos projetos de retaludamento e recuperação ambiental na área.

2. INVESTIGAÇÕES E DIAGNÓSTICO

2.1 VISTORIA DE CAMPO E COLETA DE AMOSTRAS

O local da ruptura foi monitorado em três momentos. O primeira foi em outubro de 2016, quando os
indícios de trinca na primeira bancada (entre as cotas 32 e 42) apareceram. Depois, em novembro do
mesmo ano, após fortes chuvas, quando foi constatada a ruptura e movimentação de massa, fez-se
nova vistoria. Nessa ocasião, a área já estava isolada e com acesso bloqueado, para fins de segurança.
Finalmente, em maio de 2017, foi feita uma terceira visita, para levantamento topográfico e coleta de
amostras deformadas do solo. As Figuras 1, 2 e 3 mostram o registro feito nas vistorias de campo.

Figura 1. Trincas observadas na berma, em outubro de 2016.

A ruptura, de formato aproximadamente circular, apresentava em planta um comprimento de 23


metros no maior eixo. O desnível na berma após o deslocamento da massa foi de 55 centímetros.
Quanto à geometria do talude rompido, o mesmo possuía uma altura de aproximadamente 9,50
metros, ângulo de face de 33 graus com a horizontal, e a berma cortada pela ruptura possuía 5 metros
de largura. Essas informações tomadas em campo depois foram confirmadas na medição topográfica
em maio de 2017.

76
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 2. Área após a ruptura, registro de novembro de 2016. Detalhe para a berma interrompida e o desnível
gerado.

A coleta de amostras deformadas do material rompido ocorreu na terceira vistoria, buscando-se


amostrar toda a extensão da área, num total de 5 kg de solo recolhido em sacos plásticos lacrados para
preservar a umidade natural.

Figura 3. Situação final após ruptura e deslocamento da massa, em maio de 2017.

Também na terceira vistoria, buscou-se fazer o reconhecimento de propriedades do solo para posterior
classificação do mesmo dentro do software RocData. A face intacta do solo na superfície de ruptura
resistiu à pressão feita com a unha, mas foi cortada por um canivete, situando sua resistência à
compressão num patamar inferior. Algumas estruturas remanescentes da rocha foram reconhecidas
em campo, indicando tratar-se de um solo residual, e essas estruturas, provavelmente foliações,
apresentaram um mergulho subvertical. Todos esses dados foram registrados para posterior entrada
no software.

2.2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E DADOS EXISTENTES

Nessa etapa do estudo, os dados disponíveis da descrição do ambiente geológico regional e local onde
o talude se insere foram levantados, bem como as informações geotécnicas preliminares que pudessem
ser úteis para um maior entendimento do maciço rompido.

77
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2.2.1 GEOLOGIA GERAL E REGIONAL

A região que abrange o município de Cajati foi mapeada em escala 1:100.000 na Folha Eldorado Paulista
(SG.22-X-B-VI), publicada pela CPRM (Serviço Geológico Brasileiro).

Regionalmente, a área estudada se insere no domínio das unidades litoestratigráficas Formação Turvo-
Cajati e Formação Pariquera - Açu (retirado de FALEIROS e PAVAN, 2013).

A Formação Turvo-Cajati, datada do Neoproterozóico, serve de encaixante para as rochas da Suíte


Intrusiva Jacupiranga, originadas do magmatismo de idade mesozóica, portanto mais recentes na
cronologia. As rochas da Formação Turvo-Cajati são de médio a alto grau de metamorfismo.
Predominam os micaxistos, quartzo-xistos, metassiltitos e filitos como as rochas mais representativas
dessa unidade, intercalados com metassedimentos arenosos e carbonáticos. Sobreposta a essa
formação, estão os lamitos, arenitos e paraconglomerados da Formação Pariquera-Açu, datados do
Cenozóico, que são mineralogicamente imaturos e também formam intercalações com os micaxistos,
preenchendo canais em contatos erosivos.

Localmente, o local da ruptura consistia num pequeno morro com base na cota 30 e topo na cota 60, o
qual foi lavrado pelo método a céu aberto, preservando a meia encosta. O solo existente nos taludes
da mina é um solo residual das rochas metamórficas da Formação Turvo-Cajati, informação que foi
confirmada pelas estruturas reliquiares (foliações) reconhecidas em campo, e pelos fragmentos de
rocha e minerais preservados na base da encosta lavrada, certamente já próximos do final do horizonte
de alteração. Foram identificados quartzo e mica, corroborando a informação obtida em nível regional.

2.2.2 LEVANTAMENTO DE DADOS GEOTÉCNICOS PRELIMINARES

Com esse levantamento, a ideia foi obter parâmetros geotécnicos de referência para uso na etapa
inicial de retro análise, e dessa forma limitar a pesquisa a um par de parâmetros que fosse coerente
com os observados para o tipo de solo estudado. Os parâmetros descritos a seguir, com suas
respectivas formas de obtenção, estão listados na Tabela 1.

Foram empreendidas visitas a órgãos administrativos de Cajati em busca de informações de sondagens


simples com ensaio SPT (standard penetration test) realizadas para obras públicas próximas à mina, ou
no mínimo em solos do mesmo domínio geológico. Também foram consultadas empresas mineradoras
e de engenharia da região, para tentativas de obtenção de dados de sondagem ou mesmo de
parâmetros geotécnicos já determinados em estudos dessas empresas.

78
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Relativamente às sondagens com SPT, foi localizado um relatório contendo furos feitos em argila a uma
distância de 2,70 km da ruptura estudada, em unidade litoestratigráfica compatível, e na área urbana
de Cajati. Dentre as sondagens obtidas, essa foi a que mais se aproximou dos critérios desejados,
portanto a partir de seus índices de resistência à penetração (N do SPT médio de 30), os parâmetros c’
e φ’ foram estimados com uso de equações de correlação em planilha eletrônica.

Nos contatos com empresas da região, foram obtidos parâmetros geotécnicos de um solo chamado
“saprolito de xisto” cuja descrição de cor, textura e peso específico se aproximam do solo estudado.
Para manter a confidencialidade, a empresa não disponibilizou seus estudos para que se verificasse a
forma de obtenção destes parâmetros.

Numa terceira frente de investigação, os dados coletados nas vistorias de campo (a citar: textura e
resistência à compressão) foram inseridos no RocData, o qual retorna com parâmetros geotécnicos
médios de acordo com seu banco de dados.

A Tabela 1 resume as fontes consultadas e os parâmetros obtidos:

Tabela 1. Parâmetros geotécnicos preliminares.

Fonte γ (kN/m³) c' (kPa) φ' (°)

Correlação com N do SPT


17,5 46,0 36,0
de furo próximo.

Fornecido por empresa de


19,0 50,0 28,0
engenharia local.

Informações de campo
17,5 26,0 33,3
inseridas no RocData.

Onde:

γ = peso específico in situ

c’ = coesão efetiva

φ’ = ângulo de atrito efetivo

Desta primeira avaliação, percebeu-se proximidade dos valores estimados de peso específico e do
ângulo de atrito. Para a coesão, o valor obtido no RocData foi discrepante em relação aos dois
primeiros. Seguindo o método sugerido em GOMES e BARROS (2005), decidiu-se adotar o valor médio
de 32º para o ângulo de atrito efetivo, como representativo da média do solo e coerente com os dados

79
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

obtidos em três fontes de diferentes graus de confiabilidade. Portanto, o parâmetro de coesão c’ ficou
por determinar por meio da retroanálise.

2.3 LEVANTAMENTO TOPOGRÁFICO E GERAÇÃO DO MODELO DIGITAL DO TERRENO (MDT)

A determinação das condições de contorno do solo no momento da ruptura é essencial para a aplicação
do método do retro análise. Dentre essas condições, envolve conhecer a geometria do talude antes e
após a ruptura.

O levantamento topográfico da mina foi elaborado no datum horizontal SIRGAS 2000, quadrícula 22 S,
e datado
N de antes da ruptura. Em maio de 2017 foi realizado um cadastramento da ruptura e de seu
entorno, o que permitiu gerar modelos digitais do terreno (MDT) e seções verticais, apresentados,
respectivamente, nas Figuras 4 e 5. N

Figura 4. MDT da mina obtido a partir do levantamento topográfico de maio de 2017. A ruptura está destacada
no círculo amarelo.

De posse das seções, foi possível confirmar as medidas de campo da geometria do talude, e também a
altura do desnível gerado pelo movimento de massa após a ruptura. Das duas seções foi selecionada
uma, passando pelo meio do semicírculo desenhado pela ruptura, como representativa do talude, para
modelagem no software Slide.

80
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 5. Seção crítica da ruptura, com indicação das grandezas geométricas. As hachuras indicam o
movimento de massa e acumulação no pé da bancada.

2.4 ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO EM LABORATÓRIO

A massa de amostra deformada foi separada em alíquotas para realização de diversos ensaios para
caracterização do solo.

A partir de um peneiramento inicial em 2 mm, foram separadas a fração passante e a retida. A fração
passante era composta predominantemente por argilominerais, mica (reconhecida pela análise táctil
e visual) e areia de quartzo. A fração retida exibiu fragmentos de quartzo, mica e de um mineral friável
de cor preta, que não foi identificado nessa etapa.

Figura 6. Amostra peneirada. Material passante em 2 mm (acima) e retido em 2 mm (abaixo).

81
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 7. Fragmentos minerais de cor preta, não identificados visualmente, retidos em 2 mm.

Foram realizados os ensaios: granulometria por peneiramento e sedimentação; teor de umidade


natural; densidade real dos grãos; e limites de Atterberg (contração, plasticidade e liquidez).

Uma fração homogênea do solo foi encaminhada para análises de fluorescência (FRX) e de difração
(DRX), para obtenção de sua composição química e mineralógica.

A Tabela 2 e a Tabela 3 a seguir apresentam os principais resultados obtidos nos ensaios de


caracterização do solo.

Tabela 2. Granulometria do solo por peneiramento e sedimentação

Classificação % Diâmetro da Partícula

Argila 12,4 φ < 0,002 mm

Silte 66,5 0,002 mm < φ < 0,06 mm

Areia Fina 17,4 0,06 mm < φ < 0,2 mm

Areia Média 1,6 0,2 mm < φ < 0,6 mm

Areia Grossa 0,5 0,6 mm < φ < 2,0 mm

Pedreg. Fino 0,8 2,0 mm < φ < 6,0 mm

Pedreg. Médio 0,8 6,0 mm < φ < 20,0 mm

Acumulado 100,0 -

Com os resultados da granulometria, o solo estudado se enquadra como um silte areno-argiloso.

82
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 3. Resultados dos ensaios de caracterização.

Ensaio Resultado Unidade

Teor de Umidade Natural 25,46 %

Densidade Real dos Grãos 2,735 g/cm³

Limite de Contração (LC) 36,95 %

Limite de Plasticidade (LP) 35,36 %

Limite de Liquidez (LL) 41,80 %

Índice de Plasticidade 6,44 %

O teor de umidade natural é alto, o que é característico do solo tropical da região e do regime constante
de chuvas.

Quanto aos limites de Atterberg, observou-se uma possível anomalia, em que o limite de contração
(LC) foi maior que o limite de plasticidade (LP). Os ensaios foram repetidos para verificação e os
resultados se mantiveram. Considerou-se que o solo estudado possui um LC alto e muito próximo ao
LP. Na prática, isso significa que o solo permanece no estado sólido sem alterar o seu volume até um
valor alto de umidade, que é o LC (transição do estado sólido para semi-sólido). Após este valor,
aumentando a umidade em valor baixíssimo ou nulo, pois LC é considerado igual ao LP, entra-se no
estado plástico com umidade igual ao LP. Logo em seguida, com acréscimo de 6,44% de umidade, já
alcança-se o estado líquido.

Esse valor de 6,44% corresponde ao índice de plasticidade (IP) do solo, dado pela diferença entre o
limite de liquidez (LL) e o limite de plasticidade (LP), e é indicativo de um solo de baixa plasticidade
(DAS, 2014). A caulinita é do grupo dos argilominerais mais comuns em solos, seguido do grupo das
ilitas e montmorilonitas. Segundo MITCHELL (1976), dentre esses três grupos, a caulinita apresenta
menores valores de IP, e maiores valores de LC. O valor de IP obtido é um indicativo de predominância
de minerais cauliníticos, bem como de minerais micáceos não ativos.

Usando a metodologia proposta por Scheidig apud MURTHY (2002), os dados experimentais foram
usados para calcular o grau de contração (Gc) do solo, de acordo com a equação (2):

Gc(%) = 100 x (V1-V2) (2)

V1

83
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

onde: V1 corresponde ao volume da cápsula do ensaio de determinação do LC, e V2 é o volume do solo


após a secagem no final do mesmo ensaio. Scheidig propôs os valores mostrados na Tabela 4 para
classificar a qualidade dos solos quanto à formação de trincas, de acordo com o Gc:

Tabela 4. Classificação do solo de acordo com o grau de contração (Gc). Adaptado de Scheidig apud MURTHY
(2002).

Gc (%) Qualidade do Solo

<5 Bom

5 a 10 Regular

10 a 15 Pobre

> 15 Péssimo

O Gc obtido para o solo foi de 40,5%, indicando tratar-se de um material de péssima qualidade, muito
propenso a formar trincas na secagem. A situação é agravada quando a superfície do solo se encontra
desprovida de cobertura vegetal, natural ou não, o que era o caso do talude de mineração estudado.

Quanto às análises instrumentais de FRX e DRX, os resultados fornecidos estão dispostos na Tabela 5 e
na Tabela 6 a seguir:

Tabela 5. Composição química da amostra, determinada por FRX.

Óxido % na amostra

SiO2 64,00

Al2O3 14,90

Fe2O3 6,08

CaO 0,03

MgO 0,36

MnO 5,11

K2O 0,71

Minoritários 1,58

Perda ao Fogo 7,02

84
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 6. Composição mineralógica da amostra, determinada por DRX.

Mineral Fórmula % massa

Caulinita Al2Si2O5(OH) 43,9

Quartzo SiO2 42,0

Mica (muscovita) KAl2Si3AlO10(OH,F)2 12,0

Talco Mg6(Si8O20)(OH)4 1,2

Pirocroita Mn(OH)2 1,0

Segundo LAMBE e WHITMAN (1976), as substâncias inorgânicas na porção argila do solo pode ser
divididas em argilominerais e minerais não-argílicos. Dentre os principais argilominerais pode citar a
caulinita, a ilita e a montmorilonita. Já dos minerais não argílicos cita-se hidróxidos de Fe e Al, quartzo,
micas, feldspatos, calcita e dolomita. A análise por DRX confirmou a predominância da caulinita
como principal argilomineral, corroborando o indício dado pelos limites de Atterberg. O quartzo e a
mica foram identificados previamente nas vistorias de campo e confirmados nessa análise, e também
colaboram para o resultado de IP baixo e LC alto. O mineral da Figura 7 foi identificado como a pirocroíta
(hidróxido de manganês), pouco representativo em massa, porém com contribuição significativa para
o teor de Mn do solo.

2.5 MODELAMENTO EM SOFTWARE E REALIZAÇÃO DE RETROANÁLISES

Nessa etapa, considerou-se todos os dados reunidos sobre o solo e a ruptura para modelamento da
seção de análise no Slide. A geometria original do talude foi dada pelo levantamento topográfico. A
superfície de ruptura seguiu os 55 cm iniciais, visíveis em campo e medidos pela topografia, e o restante
foi interpretado seguindo a forma esperada para uma ruptura circular.

A posição do N.A. foi um problema de mais difícil determinação, pois não se dispunha de
instrumentação na mina (indicadores de nível d’água ou piezômetros). Diante dessa indisponibilidade,
baseou-se nas medidas de campo e informações da documentação técnica disponível. O nível de base
regional foi medido na cota 30, o que o situaria um pouco abaixo do piso da mina, sendo esse inclusive
o motivo da cessação da atividade mineira, para não interceptar o nível d’água. Na vistoria de campo,
no mesmo talude e a 15 metros da ruptura, foi constatada uma surgência de água no talude, a uma
altura de 1 metro. Essas informações foram inseridas no ábaco de Sharp (Hoek apud GOMES e BARROS,
2005) e retornaram a posição do N.A. correspondente a cerca de 2/3 ou 66% da altura do talude.

85
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Essa posição do N.A. interno ao talude foi considerada adequada para o nível de informação disponível.
Alternativas de talude mais seco foram desconsideradas devido às evidências da presença de água no
solo.

Os parâmetros de resistência do solo foram fixados em 32º para o ângulo de atrito efetivo (φ’) e 18,0
kN/m³ para o peso específico (γ), condizentes com a média dos valores encontrados no levantamento
preliminar. O valor da coesão efetiva c’ foi definido inicialmente como 5,0 kPa e deixado como variável
para ser determinado pela retroanálise.

No primeiro cenário, foi incluída no modelo uma trinca de tração coincidente com os 55 cm visíveis da
superfície de ruptura, com mergulho subvertical, e acima do N.A., ou seja, seca. A inclusão dessa trinca
se baseou tanto nas observações de campo quanto no fato de o solo apresentar um grau de contração
péssimo, portanto muito propenso a trincar.

Também foi construído um segundo cenário para análise, afim de investigar a hipótese de a ruptura ter
ocorrido durante as fortes chuvas do período. Nessa situação, as trincas podem ter sido preenchidas
de água e saturado o solo até ao nível da berma, levando-o ao limite de liquidez, onde a resistência ao
cisalhamento torna-se muito pequena. Neste modelo, a trinca de tração foi saturada e subiu-se o N.A.
para 100% do talude. Essa hipótese se sustentou também nos problemas de drenagem superficial
identificados durante as vistorias de campo.

A Figura 8 mostra o exemplo da seção modelada para o segundo cenário, pronta para realização dos
cálculos.

Figura 8. Seção analisada no Slide, com a posição adotada do N.A. em azul (100% do talude), e o perfil
interpretado da superfície de ruptura em vermelho.

86
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

O método utilizado nas duas análises de estabilidade foi o de equilíbrio-limite, pela fórmula de
Morgenstern-Price.

A Figura 9 ilustra o resultado gráfico obtido no segundo cenário, com um Fator de Segurança inferior a
1,00. Assumindo-se que pelo equilíbrio-limite a ruptura ocorre quando FS = 1,00, o exercício na
retroanálise foi buscar qual valor de coesão, para as demais condições e parâmetros fixados, resultaria
no FS unitário.

1,00

Figura 9. Resultado gráfico da retroanálise realizada pelo método de Morgenstern-Price.

3. RESULTADOS

3.1 PARÂMETROS GEOTÉCNICOS OBTIDOS POR RETROANÁLISE

Para os dois cenários considerados foi usado o recurso da análise de sensibilidade do Slide, para
encontrar a qual valor de coesão corresponderia o FS igual a 1,00. A Tabela 6 relaciona os parâmetros
obtidos.

Tabela 7. Parâmetros geotécnicos obtidos na retroanálise.

Altura do N.A. Tipo de Trinca φ' (º) c' (kPa)

66% do talude Seca 32,00 6,70

100% do talude Saturada 32,00 12,94

Verifica-se que para o cenário do talude saturado em 66% e com a trinca de tração seca, o valor do
parâmetro de coesão foi de 6,70 kPa. Já para o cenário considerando o talude temporariamente

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

inundado pelo efeito das grandes chuvas e saturação das trincas (N.A. na altura da berma), o valor de
coesão obtido por retroanálise passa para 12,94 kPa.

3.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS

O valor obtido para coesão do solo por retroanálise, considerando a presença de trincas e o N.A. em
66% da altura do talude, foi de 6,70 kPa, como visto no item 3.1. Assumindo a hipótese que as trincas
previamente formadas na berma foram inundadas durante as chuvas, e que isso causou a saturação do
solo ao redor das mesmas, produzindo o efeito de uma elevação temporária do N.A., o valor de coesão
do solo obtido por retroanálise passa para 12,94 kPa.

Na comparação com os valores de referência obtidos nas fontes consultadas (listados na Tabela 1) a
coesão encontrada por retroanálise foi muito inferior na análise com saturação em 66% da altura do
talude e a trinca seca. O valor encontrado para a situação com trinca e talude saturados se aproxima
mais dos valores referenciais, embora ainda consideravelmente abaixo.

Considerando que o segundo cenário reflete melhor as condições de campo no momento da ruptura,
pode-se adotar a coesão efetiva de 12,94 kPa como o parâmetro retroanalisado. E dentre os
parâmetros obtidos na pesquisa bibliográfica, a coesão de 26 kPa pelo RocData é a mais provável de
estar próximo do real, pois o valor de 46 kPa foi obtido por correlação com ensaios SPT distantes do
local, e o valor de 50 kPa “saprolito de xisto” é duvidoso, pois não foi possível consultar o material
original para conhecer por que meios foi determinado.

Mesmo com essas considerações, ainda é uma diferença considerável a coesão retroanalisada de 12,94
kPa e coesão de referência 26 kPa. Esta diferença pode ser explicada por ser o material em estudo um
solo residual jovem, evidenciado pela presença de minerais primários como quartzo e micas, e pela
granulometria predominante de silte, o que sugere uma coesão menor que solos residuais de micaxisto
mais evoluídos e argilosos. A estimativa da coesão pelo RocData não considera informações de
mineralogia, granulometria e comportamento do solo quanto à contração e plasticidade, fatores que
podem colaborar para uma menor resistência do solo, demonstrada na retroanálise como sendo a
coesão mais baixa do material em relação às referências bibliográficas.

88
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. CONCLUSÕES

O par de parâmetros geotécnicos obtidos por retroanálise foi: φ’ = 32º e c’ = 12,94 kPa. Os resultados
obtidos possibilitaram a realização de um diagnóstico geológico-geotécnico mais amplo, considerando
a influência da geometria, da granulometria, da plasticidade e da mineralogia do solo na retroanálise
do talude rompido. Espera-se contribuir com a previsão de rupturas na área em estudo, bem como na
proposição de soluções de recuperação ambiental da área.

A partir do conhecimento da baixa plasticidade do solo devido aos minerais presentes no mesmo, do
alto potencial de geração de trincas evidenciado pelo elevado Gc, e pela coesão mais baixa que o
mesmo apresenta em comparação com solos próximos similares e até em relação à metodologia de
obtenção de parâmetros do RocData, sugere-se que após o retaludamento, seja feita a instalação de
drenagem superficial e cobertura vegetal nos taludes para minimizar a susceptibilidade à
escorregamentos.

Este artigo reforça o cumprimento da Norma NR 22, que em seu item 22.14 regulamenta que as
empresas devem monitorar e controlar seus taludes de minas a céu aberto, e ressalta a importância do
acompanhamento geotécnico em atividades de mineração para o diagnóstico geológico e geotécnico
de rupturas, de forma mais abrangente, que permita prever rupturas de taludes, e atuar
antecipadamente para evitar estes eventos danosos.

AGRADECIMENTOS

Aos professores da especialização em geotecnia da PUC Minas pelas sugestões e orientação


proporcionadas. Aos engenheiros Edgar Chujo e Felipe Baêta pelo apoio na pesquisa de dados
preliminares da região estudada.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

Brasil - Ministério do Trabalho e Emprego (2016). Norma Regulamentadora 22 – Segurança e Saúde


Ocupacional na Mineração.Disponível em: <http://trabalho.gov.br/images//Documentos/SST/NR/NR-
22-atualizada-2016.pdf>. Acesso em: 12 de março de 2018.

Das, B.M. e Sobhan, K. (2014). Fundamentos de engenharia geotécnica. Tradução da 8ª edição norte-
americana. Cengage Learning, São Paulo, 612 p.

Duarte, I.M.R, Ladeira F.L., Gomes C.F. (2004). Influência das propriedades químicas e mineralógicas
no comportamento geotécnico de dois solos residuais graníticos. Sociedade Portuguesa de Geotecnia.
Universidade de Aveiro. vol. 1, p.229–238.

Faleiros, F.M. e Pavan, M. (2013). Geologia e Recursos Minerais da Folha Eldorado Paulista SG.22-X-B-
VI, estado de São Paulo, Escala 1:100.000. CPRM, São Paulo, 128 p.

Fernandes, M.M. (2011). Mecânica dos Solos – Conceitos e Princípios Fundamentais. 2ª edição. FEUP
Edições, Porto, Portugal, 463 p.

Gomes, C.L.R. e Barros, P.L.A. (2005). Metodologia para obtenção dos parâmetros de resistência ao
cisalhamento do solo através de retroanálise de escorregamentos ocorridos. IV COBRAE, ABMS,
Salvador, p.213-226.

Lambe, T.W. e Whitman, R.V. (1976). Mecanica de Suelos. Instituto Tecnológico de Massuchusetts -
Editoral Limusa, México, 582 p.

Mitchell, J.K. (1976). Fundamentals of Soil Behavior. John Wiley, Michigan, EUA, 422 p.

Murthy, V.N.S. (2002). Geotechnical Engineering – Principles and Practices of Soil Mechanics and
Foundation Engineering. 1ª edição. CRC Press, EUA, 1056 p.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 6

CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA-
GEOTÉCNICADE MACIÇOS ROCHOSOS
MARGINAIS À BR-262

Allan Erlikhman Medeiros Santos (UFOP)


Milene Sabino Lana (UFOP)
Denise de Fátima Santos da Silva (UFOP)
Larissa Regina Costa Silveira (UFOP)
Otávio Pataro Generoso Sales (UFOP)
Tatiana Barreto dos Santos (UFOP)
Resumo: O transporte rodoviário é responsável no Brasil por grande parte dos fluxos de bens e pessoas,
fomentando a economia e mobilidade no Brasil que apresenta extensões continentais. Neste contexto
estudos relacionados à caracterização geológica-geotécnica de maciços em margens de rodovias
podem contribuir para a segurança social e econômica em escalas locais e regionais. O trabalho
apresenta a caracterização geológica-geotécnica do trecho compreendido entre os quilômetros 356 e
406 da rodovia BR-262, localizada no estado de Minas Gerais, passando pelos municípios de Betim,
Juatuba, Florestal e Pará de Minas. Dentre as justificativas para a escolha do trecho em estudo destaca-
se a importância deste trecho para a região, devido ao tráfego de pessoas e bens, sendo uma alternativa
de conexão da região metropolitana de Belo Horizonte com o restante do Estado. A partir dos
resultados da caracterização geológico-geotécnica foi possível avaliar as condições dos maciços
rochosos que estão nas margens do trecho estudado e construir uma proposta de priorização em casos
de intervenção para obras de estabilização.

Palavras-chave: Caracterização geotécnica, caracterização geológica, classificações geomecânicas,


taludes de rodovia, rodovia BR262.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. NTRODUÇÃO

Responsável por cerca de 60% dos fluxos de bens e pessoas, o transporte rodoviário, teve o seu
crescimento da frota de motocicletas, utilitários e automóveis, impulsionado por políticas de incentivo
à indústria automobilística, com a concessão de crédito e isenções tributárias (Alves, 2014; MTPAC &
EPL, 2016). As rodovias, por se tratarem de obras lineares de grande extensão, cortam diferentes sítios
geológicos com maciços rochosos em diferentes condições, sendo necessário por muitas vezes a
construção de taludes de corte, escavados em maciços rochosos e/ou solo. Neste contexto estudos
relacionados à caracterização geológica- geotécnica de maciços em margens de rodovias podem
contribuir para a segurança social e econômica em escalas locais e regionais.

Inserida nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, a rodovia BR-262
pode ser considerada uma rodovia estratégica para escoamento de bens e passageiros, fomentando a
economia e mobilidade no Brasil. Por se tratar de alternativa de conexão entre a região metropolitana
de Belo Horizonte e as grandes regiões do Centro-Oeste Mineiro e Triângulo Mineiro, dois taludes
rochosos da rodovia BR-262 foram escolhidos para caracterização geológica-geotécnica. Os taludes
selecionados estão localizados nos quilômetros 356 e 406, de coordenadas UTM 0580906/7790545 e
0536200/7800220 e nas cidades de Betim e Pará de Minas, respectivamente (Figura 1). O Talude de
Pará de Minas está apresentado na Figura 2.

Figura 1. Localização dos taludes nos trechos Km 356 e Km 406 da BR-262.

92
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 2. Talude de Pará de Minas.

Os taludes analisados são compostos por gnaisses inseridos dentro do Complexo Divinópolis e do
Complexo Belo Horizonte. Para a caracterização geológica-geotécnica foram levantados dados relativos
à geologia do local e os parâmetros geotécnicos para a classificação geomecânica dos maciços
estudados.

Os objetivos da presente pesquisa foi de caracterizar geotécnicamente os taludes apresentados, a partir


da realização de trabalhos de campo, vistorias nos taludes, levantamento de dados, realização de
classificações geomecânicas e análises de probabilidades de ruptura. Assim, foram levantados os
parâmetros necessários para a definição das famílias de descontinuidades presentes no maciço rochoso
e parâmetros relacionados ao Rock Mass Rating (RMR) proposto por Bieniawski (1976, 1989), tais como
resistência da rocha intacta, Rock Quality Designation (RQD), espaçamento, condições das
descontinuidades e condição de fluxo de água. Importante salientar que os levantamentos de campo
foram realizados na mesma época, com intuito de evitar interpretações equivocadas em relação a
problemas de fluxo.

2. METODOLOGIA

A metodologia da presente pesquisa foi baseada em três etapas: seleção das áreas a serem estudadas,
levantamento de campo e processamento dos dados com intuito de caracterizar, sob o ponto de vista
geológico- geotécnico, os taludes rochosos dos trechos 356 Km e 406 Km da rodovia BR-262.

Os taludes estudados foram selecionados devido à importância nacional deste trecho, que apresenta
tráfego intenso de pessoas e bens. Além disso, esta rodovia é alternativa de conexão não só da região
metropolitana de Belo Horizonte ao Triângulo Mineiro, mas também é uma rodovia que interliga o
estado do Espírito Santo ao Mato Grosso do Sul.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Nas etapas de levantamento de campo e processamento dos dados, primeiramente foram identificados
e caracterizados os litotipos de rochas presentes no talude. Para a caracterização geológico-geotécnica
dos maciços rochosos estudados, determinou-se o RQD dos maciços rochosos por meio da relação
proposta por Palmström (1974), Equação 1. Para determinação do contador volumétrico de juntas (Jv),
idealizado por Palmström em 1974, foram utilizados os espaçamentos médios das famílias de
descontinuidades (Si) por meio da Equação 2, como proposto por Palmström (1982).

RQD = 115 - 3,3Jv (1)

Jv = ∑ 1/Si (2)

A resistência da rocha intacta foi determinada a partir do teste do martelo de geólogo, conforme as
recomendações propostas pela ISRM (International Society for Rock Mechanics). As determinações do
RMR foram realizadas de acordo com Bieniawski (1976, 1989), utilizando os parâmetros de resistência
da rocha intacta, RQD, espaçamento, condições das descontinuidades e condição de fluxo de água.

Para determinação das probabilidades de ruptura foram realizadas as análises cinemáticas no software
da Rocscience, Dips, versão 6.0. Foram realizadas a análise de probabilidades de ruptura planar, ruptura
em cunha e tombamento de blocos, rupturas verificadas em campo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para a caracterização geológico-geotécnica do trecho compreendido entre os quilômetros 356 e 406


da rodovia BR-262, foram selecionados dois taludes em maciços rochosos marginais a rodovia,
localizados nas cidades de Pará de Minas e Betim. Dentre os taludes estudados, destaca-se a setorização
do talude localizado em Pará de Minas devido à heterogeneidade de suas características, tais como
grau de alteração, fraturamento do maciço, dimensões e condições de fluxo de água no maciço. Assim,
o talude de Pará de Minas foi dividido em dois setores, Setores 1 e 2.

O talude de Betim (Km 356), possui 10 metros de altura, 100 metros de extensão. e está inserido no
Complexo Belo Horizonte. Este maciço é constituído de gnaisse de coloração acinzentada, com
bandamento gnáissico milimétrico a centimétrico. Este maciço é cortado por diques leucocráticos e
possui porções migmatizadas.

Já o talude localizado na cidade de Pará de Minas (Km 406), apresenta 12 metros de altura, 405 metros
de extensão e está inserido no Complexo Divinópolis. Este talude é constituído de gnaisses

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

milonitizados, com presença de diques de coloração rosa, compostos de feldspato potássico de


espessura métrica.

Foram levantadas as atitudes das descontinuidades presentes nos maciços rochosos em estudo. Em
ambos maciços rochosos foram identificadas 2 famílias de descontinuidades, denominadas Família 1 e
Família 2. As Figuras 3 e 4 mostram as atitudes médias das famílias de descontinuidades presentes nos
taludes Pará de Minas e Betim, respectivamente. A Tabela 1 apresenta os valores das atitudes médias
das famílias de descontinuidades presentes nos taludes estudados.

Figura 3 –Famílias de descontinuidades presentes no Talude de Pará de Minas.

Figura 4 –Famílias de descontinuidades presentes no talude de Betim.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 3.1– Atitude média das famílias de descontinuidades.

Taludes Famílias Atitude média

Talude de Pará de Minas Família 1 18/013

Família 2 88/021

Talude de Betim Família 1 77/082

Família 2 23/153

A determinação do RQD nos maciços rochosos estudados foi realizada por meio da relação proposta
por Palmström (1982). Os espaçamentos médios estão apresentados na Tabela 3.2. A Tabela 3.3
apresenta os resultados do Contador Volumétrico de juntas (JV) e do RQD.

Tabela 3.2 – Espaçamento médio das descontinuidades.

Espaçamento Médio (metros)


Talude
Família 1 Família 2
Setor 1 0,76 0,55
Pará de Minas
Setor 2 0,12 0,17
Betim 0,20 0,20

Tabela 3.3 –JV e RQD medidos nos taludes.

Talude Contador RQD


Volumétrico
Setor 1 3,11 100
Pará de Minas
Setor 2 14,21 68
Betim 10 82

A partir dos resultados apresentados na Tabela 3.3 é possível aplicar as classificações propostas por
Deere et al. (1967) e Palmström (1996), baseadas nos valores de RQD e JV, respectivamente. A
classificação de Deere et al (1967) descreve a qualidade do maciço rochoso por meio do RQD. A
classificação de Palmström (1996) descreve o grau de fraturamento do maciço rochoso com base nos
valores de JV.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

A Tabela 3.4 apresenta o resultado da classificação do grau de fraturamento do maciço rochoso


segundo Palmström (1996). A Tabela 3.5 apresenta o resultado da classificação da qualidade do maciço
rochoso segundo Deere et al. (1967).

Tabela 3.4 – Determinação do grau de fraturamento de acordo com Palmström (1996).

Talude (Jv) Grau de fraturamento

Setor 1 3,11 Moderadamente


Descontinuo
Pará de Minas
Setor 2 14,21 Muito descontinuo
alto a
Betim 10,00 Moderadamente
descontinuo

Tabela 3.5 – Determinação da qualidade da rocha de acordo com Deere et al. (1967).

Talude RQD Qualidade da rocha


Setor 1 100 Excelente
Pará de Minas
Setor 2 68 Razoável
Betim 82 Boa

Observando as classificações apresentadas nas tabelas 3,4 e Tabela 3,5 verifica-se que a setorização do
Talude de Pará de Minas é justificada para a presente pesquisa, uma vez que o maciço apresenta
diferente grau de fraturamento e variabilidade considerável no valor de RQD. Esta variabilidade pode
influenciar na determinação e aplicação das classificações geomecânicas do maciço.

As classificações geomecânicas dos maciços rochosos foram realizadas com base na determinação do
RMR. Para o Talude de Betim o resultado do RMR foi de 63, assim o maciço rochoso é classificado como
Classe II, rocha razoável. A Tabela 3.6 apresenta o valor de cada parâmetro na classificação
geomecânica do maciço para o RMR.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 3.6 – Classificação RMR do Talude de Betim

Talude de Betim

Parâmetros Características observadas Peso


Resistencia da rocha intacta 100+250 MPa 12
RQD 82 17
Espaçamento 200 milímetros 10
Persistência de 10-20 metros 1
Abertura de 5 milímetros 1
Rugosidade Moderada 3
Condição das descontinuidades
Alteração Moderada 3
Preenchimento Inexistente 6
Molha 10
Condição da Água
do
RMR 63
Classificação no RMR Classe II

As Tabelas 3.7 e 3.8 apresentam as determinações do RMR para os setores do Talude de Pará de Minas.
O Setor 1 apresentou valor de RMR de 89, Classe I e o Setor 2 apresentou valor de RMR de 71, Classe
II.

Tabela 3.7 – Classificação RMR do Setor 1, Talude Pará de Minas

Talude Pará de Minas Setor 1


Parâmetro Características observadas Peso
Resistencia da rocha intacta Maior que 250 MPa 15
RQD 100 20
Entre 0,6 a 2 metros 15
Espaçamento
Persistência entre 1 a 3 metros 4
Abertura menor que 1 mm 5
Rugosidade moderada 3
Condição das descontinuidades
Alteração inexistente 6
Preenchimento inexistente 6
Condição de água Seco 15
RMR 89
Classificação no RMR Classe l

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 3.8 – Classificação RMR do Setor 2, Talude Pará de Minas

Talude Pará de Minas Setor 2


Parâmetro Características observadas Peso
Resistencia da rocha intacta Maior que 250 MPa 15
RQD 68 13
Entre 60 a 200 metros 8
Espaçamento
Persistência menor que 1 metro 6
Abertura entre 1 a 5 metro 1
Rugosidade moderada 3
Condição das descontinuidades
Alteração alta 6
Preenchimento inexistente 6
Condição de água Úmido 6
RMR 71
Classificação no RMR Classe ll

Observando as Tabelas 3.7 e 3.8 é possível interpretar que os paramentos que influenciam
significamente na diferença do RMR entre os Setores 1 e 2 de Talude de Pará de Minas foram os valores
dos paramentos RQD, espaçamento e presença de água no maciço rochoso. A Figura 5 apresenta os
valores atribuídos a cada parâmetro do RMR dos dois setores, com intuito de evidenciar a diferença
nos valores dos parâmetros considerados influentes na classificação geomecânica dos setores.

Figura 5 – Comparação dos valores dos pesos na classificação RMR do Talude de Pará de Minas.

A Figura 6 apresenta os valores para os todos os taludes estudados para a comparação do


comportamento dos parâmetros.

99
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 6 – Comparação dos valores dos pesos na classificação RMR dos taludes estudados.

A partir da Figura 6 é possível observar que embora o maciço do Talude de Betim apresente maiores
valores de RQD e Espaçamento que o maciço do Setor 2, o maciço do Talude de Betim apresenta baixos
valores em parâmetros como Resistência da rocha, Persistência, Abertura, Rugosidade e Alteração nas
descontinuidades, o que direcionou um valor de RMR mais baixo do que o RMR encontrado no Setor
2.

Assim, os valores de RMR encontrados para os Taludes de Betim, e Pará de Minas, Setor 1 e 2, foram
de 63, 89 e 71, respectivamente. A Figura 7 apresenta os resultados do RMR.

Figura 7 – Resultado final dos valores de RMR para os maciços estudados.

100
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

As análises cinemáticas para os tipos de rupturas visualizados em campo nos taludes dePará de Minas
e Betim, foram realizadas, ruptura planar, em cunha e tombamento de blocos. As Figuras 8 a 10,
apresentam as análises cinemáticas para o talude de Pará de Minas.

Figura 8 – Análise cinemática para ruptura planar, talude Pará de Minas.

Figura 9 – Análise cinemática para ruptura em cunha, talude Pará de Minas.

101
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 10 – Análise cinemática para tombamento de blocos, talude Pará de Minas.

A análise cinemática do Talude de Pará de Minas apresentou probabilidade total de ruptura planar em
cerca 10%, ruptura em cunha com cerca de 21%, e tombamento de blocos com cerca de 35%. Em campo
foi possível visualizar a formação dos três tipos de ruptura analisados.

As Figuras 11 a 13 apresentam as análises cinemática do talude de Betim, para os tipos de ruptura


planar, ruptura em cunha e tombamento de blocos, respectivamente. Os três tipos de ruptura foram
observados em campo.

Figura 11 – Análise cinemática para ruptura planar, talude de Betim.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 12 – Análise cinemática para ruptura em cunha, talude de Betim.

Figura 13 – Análise cinemática para tombamento de bloco, talude de Betim.

A análise cinemática do Talude de Betim apresentou probabilidade total de ruptura planar em cerca
14%, ruptura em cunha com cerca de 27%, e tombamento de blocos com cerca de 48%.

Os resultados das análises cinemáticas para ambos os taludes foram semelhantes, o que indica um
controle da geologia estrutural na região. As maiores probabilidades de ruptura verificada foram para
o tombamento de blocos, seguido das rupturas em cunha e planar. As maiores probabilidades foram
registradas para o talude de Betim.

103
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Em relação as probabilidades de ruptura são importantes ressaltar os valores para a ruptura por
tombamentos de blocos em ambos os taludes estudados. Nota-se ainda a visualização em campo de
blocos de rocha soltos no talude e nas proximidades do talude. A Figura 14 mostra a formação de blocos
nas bases do talude de Pará de Minas.

Figura 14 – Formação de blocos, talude de Pará de Minas.

Com intuito de verificar a hierarquização dos taludes para futuras intervenções foram avaliados os dois
resultados da presente pesquisa, a classificação geomecânica e as probabilidades de ruptura. Assim, o
talude de Betim é o talude mais indicado para priorização de obras de contenção e monitoramento,
uma vez que apresentou RMR de 63 com as maiores probabilidades de ruptura. Em relação aos setores
do talude de Pará de Minas, o Setor 2 apresentou menor RMR que o Setor 1, para uma mesma
probabilidade de ruptura, logo o Setor 1 apresenta maior necessidade de intervenção.

A Tabela 3.9 sumariza a discussão em relação à proposta de priorização dos taludes estudados.

Tabela 3.9 – Proposta de priorização dos taludes estudados

Talude Prioridade
Talude de Betim 1º
Setor 1, Talude de Pará de Minas 2ª
Setor 2, Talude de Pará de Minas 3ª

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

CONCLUSÕES

A caracterização geológico-geotécnica de maciços rochosos não é tarefa simples. A complexidade e


subjetividade dos métodos vigentes motivam pesquisas desde a década de

70. Neste ponto, estudos geológico-geotécnicos constituem um conjunto de ferramentas básicas para
a determinação da qualidade de um maciço rochoso.

A presente pesquisa apresenta um estudo preliminar para caracterização de taludes marginais a


Rodovia BR262, especificamente entre os quilômetros 356 e 406. Assim, foram estudados dois taludes,
sendo eles o Talude de Betim e o Talude de Pará de Minas. Devido à heterogeneidade das
características presentes no Talude de Pará de Minas foi necessário realizar a setorização deste em dois
setores, sendo eles os Setores 1 e 2.

Dos taludes estudados, o Setor 1 do Talude de Pará de Minas apresentou melhor classificação, com
valor de RMR de 89 (Classe I), o setor apresentou grau de fraturamento moderado com RQD atingindo
valor de 100. Ainda no mesmo talude o Setor 2, apresentou comportamento diferente, com RMR de
71, o setor foi classificado como Classe II. A observação do comportamento dos parâmetros permitiu
considerar que está variabilidade foi devido a variáveis como o RQD, Espaçamento e Condição de Fluxo
de Água no maciço.

O Talude de Betim foi classificado como Classe II, com RMR de 63, apresentando menor RMR dentre os
taludes estudados. A verificação dos valores dos parâmetros em comparação aos demais taludes
permitiu considerar que este valor foi devido aos baixos valores em parâmetros como Resistência,
Persistência, Abertura, Rugosidade e Alteração.

A proposta de priorização foi construída com base nos resultados das classificações geomecânicas e as
probabilidades de ruptura obtidas. Assim, a proposta de priorização dos taludes, o talude de Betim foi
o talude mais indicado para priorização de obras de contenção e monitoramento, seguido do Setor 2 e
o Setor 1 do Talude de Pará de Minas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio da UFOP, CAPES, FAPEMIG e CNPq no desenvolvimento deste trabalho,
pelo suporte financeiro.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

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Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil e Empresas de Planejamento e Logística S.A. (2016)
Anuário Estatístico de Transportes 2010 – 2016.
Disponível em:http://www.transportes.gov.br/images/2017/Sum%C3%A1rio_Executivo_AET_-
_2010_-_2016.pdf.

106
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 7

EXECUÇÃO DE ESTABILIZAÇÃO DE ENCOSTA


COM CONCEITO SUSTENTÁVEL NA CIDADE DO
SALVADOR - BA, FAZENDO USO DA TÉCNICA DE
SOLO GRAMPEADO COM FACE VERDE.

Márcio dos Santos Brito (Concreta Tecnologia em Engenharia Ltda)


Danilo Bastos Barbosa (Concreta Tecnologia em Engenharia Ltda)
Ronaldo Ramos de Oliveira (Maccferri do Brasil)
Rogério Santos Menezes (IFBA)

Resumo: A busca de técnicas sustentáveis, na engenharia atual, vem ganhando espaço e se tornando
algo necessário e essencial no que concerne à qualidade e desempenho construtivo. Pensamento que
vem se difundindo também nas obras geotécnicas, de estabilização de encostas. Assim, foi escolhida a
obra denominada de “Meta 08 - Creche Heroínas do Lar”, localizada no bairro do Parque São
Bartolomeu, em Salvador - Ba, para realizar o estudo de caso acerca do método executivo de solo
grampeado com face verde executado no local, apresentando diferencial pela substituição do concreto,
por um revestimento vegetal com aplicação de um sistema de tela metálica de dupla torção,
geocomposto e biomassa. O sistema de ancoragem possibilita uma melhor versatilidade de adaptação
em taludes com inclinações variadas para melhor conformação na face. O objetivo do trabalho é
mostrar as vantagens da concepção de execução dos serviços, se comparado com outras soluções
comumente utilizadas para estabilização de talude.

Palavras-chave: Estabilização de Encostas, Solo Grampeado com Face Verde, Geocomposto, Sistema
de Fixação com Porca Olhal, Malha Hexagonal de Dupla Torção, Sustentabilidade.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A busca de técnicas sustentáveis ligadas a geotecnia ocupa, no cenário atual, um fator importante que
pode resultar em ações de grande relevância na modificação e contribuição do meio ambiente, com
novas concepções de sistemas construtivos, solucionando problemas técnicos e sociais.

Soluções como substituição de solo grampeado, comumente utilizado, com face de concreto, por um
revestimento de face verde, proporcionam um melhor conforto térmico, preservação ambiental na
área de intervenção e velocidade de execução das atividades. Damos ênfase neste artigo aos aspectos
de fixação e de revestimento de face, que possibilitaram um plano de ataque mais rápido dos serviços
inerentes ao sistema de contenção.

O sistema de estabilização concebido é composto por uma rede metálica de alta resistência,
solidarizada à cabeça dos grampos através de placas de travamento e porcas, sendo utilizados como
grampos de ancoragem, barras de aço CA-50 mm Ø 20 mm. O revestimento de face empregado é
composto por uma tela de alta resistência com geocomposto associado com biomassa, para
recuperação da flora.

A intervenção dessa encosta na Cidade do Salvador-Ba tornou-se necessária, em função de


escorregamentos recentes, conforme pode-se observar na Figura 1, e por conta da instabilidade
comprovada por fatores de segurança inferiores FS=1,5, preconizado pela Norma Brasileira de
Estabilidade de Encostas (NBR 11.682). Dessa maneira, considerou-se a área como Nível de Segurança
contra a vida humana, como sendo de alto risco, por conta da existência da Creche As Heroínas do Lar,
com trânsito intenso de pessoas a jusante do talude, e considerando como Nível de Segurança contra
danos materiais e ambientais, como sendo de médio risco, devido ao valor moderado das construções
lá existentes.

Figura 1. Cicatrizes de ruptura no trecho inferior do talude.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Para elaboração do presente trabalho, foi necessária uma revisão bibliográfica sobre solo grampeado
verde, geocomposto, biomassa, estabilização de encostas e sobre o local de estudo que foi escolhido.
Contou-se também com a necessidade de pesquisas ao PDE (Plano Diretor de Encostas) elaborado
entre 2002 e 2003, bem como visitas para acompanhamento das atividades e consulta dos projetos e
especificações.

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

A área de risco para implantação da obra de contenção e estabilização está situada no Parque São
Bartolomeu, próximo à Rua Jaqueline e à Avenida Afrânio Peixoto (popularmente conhecida como
Avenida Suburbana), região de transição entre o embasamento cristalino e a bacia sedimentar do
recôncavo, na zona de influência da Falha de Salvador (Figura 2).

O talude está inserido na poligonal de uma APA (Área de Proteção Ambiental) - APA Bacia do Cobre /
São Bartolomeu, fundo da Creche Heroínas do Lar. Este possui área aproximada de 2.500,0 m², com
altura variando entre 16 e 42 metros e com inclinações entre 50° e 90°. O talude encontra-se com densa
vegetação natural em toda sua área abrigando muitas espécies de vegetais, tendo um grande papel
como reserva da biosfera da Mata Atlântica. Possuem também trechos com cicatrizes de rupturas
recentes, com materiais depositados a jusante do talude, e alguns pontos com paredes subverticais
(taludes negativos). Os solos locais são fruto do intemperismo da rocha granulítica. É possível observar
em campo a presença de descontinuidades reliquiares herdadas da rocha matriz, basicamente fraturas
subverticais e inclinadas, que condicionam a ocorrencia de pequenas rupturas superficiais.

As litologias da área da obra, presentes no Mapa Geológico Regional do Plano Diretor de Encostas,
evoluem para solos residuais silto-argilosos a areno-siltosos de cor acinzentada a marrom claro, com
índice de plasticidade em torno de 14,0% e limite de liquidez de aproximadamente 42,9%. O peso
específico natural varia entre 15,0 e 18,0 kN/m3, enquanto que no estado saturado esses valores
oscilam entre 21,3 e 22,5 kN/m3. Já com relacao a resistência ao cisalhamento do solo no estado
saturado, os valores de coesão variam entre 8,2 e 40,8 kN/m2, e os valores do ângulo de atrito interno
variam na faixa de 28,3° a 33,0°.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 2. Localização da área de risco na Creche As Heroinas do Lar, obtida no Google Earth.

3. SOLO GRAMPEADO VERDE

A Engenharia Geotécnica atualmente dispõe de diversos tipos de sistema de contenções para a


estabilização de encostas. Uma das soluções que vem ganhando muita importância baseada nos
conceitos da sustentabilidade, é a técnica do Solo Grampeado Verde, conhecido também como Solo
Grampeado Ecológico.

Essa técnica permite intervenções rápidas, com menor custo e alta flexibilidade de execução. Consiste
em um reforço obtido através da inclusão de chumbadores resistentes à flexão composta, tendo como
objetivo principal, o mecanismo estabilizador a restrição às deformações da massa de solo.

Após a execução dos serviços preliminares que consistem na limpeza e regularização do talude, inicia-
se o serviço de execução e instalação dos chumbadores. Esta etapa consiste na execução da perfuração
do solo, que após a instalação do reforço metálico (barra de aço CA50, Ø 20 mm), é executado o serviço
de bainha e injeção, com o preenchimento do furo com calda de cimento fator água / cimento 0,5 (em
peso) favorecendo o bulbo de ancoragem do sistema. Tal detalhe desta etapa é apresentado na Figura
3.

Resumidamente, o processo construtivo pode ser dividido em: regularização do solo, perfuração e
instalação dos chumbadores, execução da bainha e injeção, aplicação da biomassa / hidrossemeadura,
instalação da tela de alta resistência com geocomposto, fixação de placas e porcas, e por fim um
sistema de drenagem pluvial. A simulação do projeto escolhido em programa computacional, com a
apresentação do mínimo fator de segurança frente à ruptura circular, verificou um Fator de Segurança
no valor de 1.51, atendendo aos requisitos exigidos pela NBR 11.682 para este tipo de área (≥ 1.50).

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Resultando no dimensionamento de chumbadores (barra de aço CA50, Ø 20 mm) com comprimento


de 4,0 a 8,0 m e espaçamento de 1,5 m, tanto na vertical quanto na horizontal.

Figura 3. Detalhe construtivo do sistema de ancoragem do Solo Grampeado Verde.


Fonte: Projeto Executivo Meta 8 – Creche Heroínas do Lar, Salvador-Ba.

4. SISTEMA DE FIXAÇÃO

O sistema de fixação utilizado entre os chumbadores e a malha de alta resistência com geocomposto
da face, teve como diferencial a utilização de porcas olhais, placas de ancoragem de aço 12 x 12 cm,
barra roscada de aço galvanizado CA-50 e porcas sextavadas. O conjunto, além de proporcionar a
transferência das cargas atuantes na malha de alta resistência para os chumbadores, possibilita uma
melhor versatilidade de adaptação do sistema ao talude com inclinações variadas, permitindo uma
melhor conformação na face. O detalhe construtivo do sistema pode ser visto nas Figuras 4 e 5.

Figura 4. Detalhe do sistema de fixação. Fonte: Projeto Executivo Meta 8 – Creche Heroínas do Lar,
Salvador- Ba.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 5. Detalhe do chumbador, porca olhal, barra roscada e mangueira de injeção.


Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

5. BIOMASSA

Por se tratar de uma região onde o crescimento da vegetação é propício devido à umidade, chuvas
regulares e condições do solo, a solução proposta para associação do sistema de face do solo
grampeado foi a Biomassa. Este sistema foi preferível em detrimento da hidrossemeadura, por
possibilitar uma melhor garantia de germinação e consequente recuperação da flora. Trata-se de um
mix de sementes (leguminosas e gramíneas), associado com fertilizantes, mulch e fibras longas
trituradas (fibra de côco, bagaço de cana, palha de milho ou colmo de plantas), que ficam aderidos à
superfície do solo através de um fixador da mistura.

O fixador possui a finalidade de manter as sementes e o fertilizante no local aplicado, livre de


carreamentos provocados pelas chuvas. Esse material, além de fixar, promove uma maior resistência
superficial ao solo, funcionando como um agregador de partículas, que auxilia na estruturação e
redução da erosão, mesmo antes da vegetação desenvolver-se.

A solução adotada procedeu com o preparo do solo, com a correção de irregularidades de pequenas
extensões e com posterior serviço de coveamento, isto é, abertura de pequenas covas bem próximas
entre si e com profundidade suficiente para reter todos os insumos aplicados. Tal etapa executiva pode
ser visualizada na Figura 6.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 6. Execução de Coveamento.

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

Os insumos foram aplicados utilizando jateamento por via aquosa, pulverizando uniformemente sobre
a superfície previamente preparada, conforme pode ser visualizado na Figura 7. Durante o processo de
jateamento, alguns cuidados devem ser tomados, como por exemplo, dirigir o jato para a superfície a
ser revestida de modo a recobrir toda área, procurando desenvolver a operação o mais uniforme
possível e, proceder a aplicação das partes mais altas para partes mais baixas, evitando o
escorregamento ou acúmulo da mistura.

Figura 7. Aplicação de Biomassa por via aquosa.


Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

6. PROTEÇÃO DE FACE

Como proteção de face do talude, auxiliando no controle de erosão, foi aplicada uma geomanta flexível,
tridimensional, que apresenta mais de 90% de vazios, fabricada a partir de filamentos grossos de

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

polipropileno, fundidos nos pontos de contato e um reforço metálico, confeccionado com malha
hexagonal de dupla torção de alta resistência.

O sistema duplo torção impede o seu desenrolamento nos casos onde houver quebras dos arames ou
danos acidentais durante o uso. Além disso, o mesmo conta com cabos de aço de 8.0 mm de diâmetro
dispostos longitudinalmente a cada 100,0 cm, que auxilia na efetividade da transferência de cargas,
possibilitando um aumento na segurança, capacidade na absorção dos esforços e durabilidade da
malha, obtendo ganhos para o sistema como um todo.

A associação entre tela de alta resistência, geocomposto e vegetação, conforme indicação da Figura 8,
permite que esses elementos trabalhem juntos, conferindo uma solução característica de elevada
capacidade antierosiva, causada pelas chuvas, e uma boa resistência à tração. Tal associação, com o
desenvolvimento da vegetação e consequente aumento das raízes estimula um maior reforço do
paramento.

Figura 8. Efeito de enraizamento da vegetação na geomanta.


Fonte: Sobral et all (2011).

Na Figura 9 pode-se observar a instalação na obra deste sistema descrito. Nota-se que a instalação da
tela se dá após o serviço de biomasssa já executado.

Figura 9. Instalação do Geocomposto no talude.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

7. CONCEPÇÃO DO SISTEMA DE DRENAGEM PLUVIAL

Por se tratar de um solo grampeado verde, foi considerado somente o sistema de drenagem de águas
pluviais a jusante do talude. A água superficial da face, neste caso, não traz problemas para a
contenção, o revestimento de face possibilita a infiltração da água no solo, e a associação da tela de
geocomposto com a aplicação da biomassa impede possível processo erosivo. Em virtude disso, sistema
de drenagem foi executado com construções de canaletas retangulares em concreto na parte baixa da
encosta, interligadas através de caixas de passagem e tubulação, conduzindo o deflúvio até a rede de
drenagem pluvial existente no logradouro, como visualizado nas Figuras 10 e 11.

Figura 10. Sistema de drenagem a jusante da encosta.


Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

Figura 11. Sistema de drenagem pluvial com muro armado a jusante da encosta.
Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização da técnica de Solo Grampeado Verde na estabilização de encostas apresenta vantagens


para a geotecnia ambiental, permitindo uma maior integração da obra com o meio ambiente. Como
pontos fortes desta solução, podem ser citados: o custo-benefício positivo em relação a outros
métodos comumente utilizados, visto que tal solução apresentou-se economicamente mais viável, e a
mitigação do impacto ambiental e visual, contribuindo para uma face completamente verde ao final da
obra, o que não seria possível com o revestimento de face em concreto.

Além disso, o sistema de fixação, associado com o sistema de revestimento de face (tela com malha
hexagonal de dupla torção, geocomposto e a biomassa), propiciam o crescimento da vegetação e
evitam possíveis focos erosivos no talude, permitindo um grau de rigidez ao paramento frontal.

Na Figura 12 é apresentado o talude com o sistema de estabilização já finalizado. Além da questão


estética, tal solução apresentou-se em acordo com os pilares da sustentabilidade: social, econômico e
ambiental, atendendo, com isto, as expectativas dos usuários.

Vale ressaltar, que, a sustentabilidade precisa de planejamento, acompanhamento e avaliação de


resultados, pois seus três pilares devem estar alinhados com os objetivos da empresa, não podendo ser
definidos com base em ações pontuais ou simplesmente compensatórias.

Figura 12. Situação após intervenção.


Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem as empresas Concreta Tecnologia em Engenharia Ltda. e a Maccaferri do Brasil,


pelas informações disponibilizadas.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 11682: Estabilidade de encostas - Elaboração. Rio de
Janeiro, 2009.

Concreta Tecnologia em Engenharia Ltda e Ecla Engenheiros Consultores Ltda. (2017). Projeto
Executivo Meta 8 – Creche Heroínas do Lar, Salvador-Ba.

Conder. Relatório de Anteprojeto da Encosta Meta 08 – Creche As Heroínas do Lar. 2016.

Maysa, S.P.F(COBRAMSEG 2016) Estabilização da Antiga Pedreira Limoeiro Através de Sol Grampeado
em Salvador / Ba. Artigo publicado no COBRAMSEG 2016 –– 19-22 outubro, Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil.

GOOGLE, INC. Google Maps. Disponível em: https://www.google.com.br/maps/. Acesso em: fevereiro
de 2018.

Plano Diretor de Encostas – PDE (2004) GEOHIDRO/SEMIN- Secretaria Municipal Do Saneamento,


Habitação E Infraestrutura Urbana, Salvador.

Sobral, M.L.de V.; Silva, M.F.de L.; Ferreti, B.C.de P.; Lima.L.de Leilo.; Junior, S.de P. REVESTIMENTO
FLEXÍVEL COM GEOMANTA REFORÇADA PARA SOLO GRAMPEADO EM TALUDES DE ANGRA DOS REIS.
Angra dos Reis / RJ / Brasil (2016).

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 8

COMPORTAMENTO MECÂNICO DE MISTURAS


COM RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO
DE CONCRETO, CAL VIRGEM E HIDRATADA E
SOLO TROPICAL

Livia Fujii (Universidade de Brasília)


José Camapum de Carvalho (Universidade de Brasília)

Resumo: Estudos utilizando materiais recicláveis em pavimento têm ganhado maior importância, uma
vez que o volume de material primário é cada vez menor. Foi utilizado resíduo de construção e
demolição de concreto de uma obra de demolição de Brasília, para que o mesmo tenha destinação
sustentável e adequada, além de diminuir a utilização de material convencional. Foi utilizado solo
tropical coletado no Campus Experimental da Geotecnia da UnB e também cal virgem e hidratada,
fornecidas pela Belocal (representada pela Reforsolo Engenharia). Com esses materiais, formaram- se
amostras de misturas e de solo in natura. Nesta pesquisa, apresentaremos resultados e análises de
ensaios de Mini MCV, perda de massa por imersão, porosimetria e superfície específica e triaxial cíclico.
No geral, comparando-se os resultados das amostras de misturas e de solo in natura, conclui-se que a
utilização, tanto do resíduo de concreto, como das cais virgem e hidratada, foram benéficas nesta
pesquisa.

Palavras-chave: resíduo de construção e demolição, cal virgem, cal hidratada, solo tropical,
pavimentação, reutilização, reciclagem.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A geração de resíduos sólidos urbanos tem causado uma problemática notória devido à sua deposição
irregular e não sustentável.

Por outro lado, o volume de jazidas a serem utilizadas em camadas estruturais de pavimentos é cada
vez mais escasso.

Assim, estudos utilizando materiais recicláveis na construção civil têm ganhado maior importância em
rodovias. Um exemplo é a utilização do resíduo de construção e demolição (RCD) em camadas
estruturais de pavimentos, in natura ou misturado a solo e aditivos.

Nesta pesquisa utilizou-se RCD de concreto, solo tropical e cal virgem e hidratada.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A construção civil é considerada a principal geradora de resíduos na economia brasileira (FREITAS,


2009).

As problemáticas causadas pela deposição irregular do RCD levaram o Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA) a estabelecer a Resolução N° 307/2002, em que responsabiliza os agentes
causadores a uma destinação adequada aos resíduos.

Assim, a reutilização dos resíduos de construção e demolição em camadas de pavimento é uma forma
de dar uma destinação sustentável aos materiais, além de diminuir a utilização de material
convencional, cada vez mais escasso.

Foram realizadas diversas pesquisas utilizando esse material em camadas estruturais do pavimento. Os
pontos mais importantes são quanto a maior absorção de água (Mendes et al 2004), e quanto às
misturas contendo RCD apresentarem comportamento resiliente e maiores valores de CBR (Silva et al
2011).

Experiências da mistura de RCD com solos tropicais demonstram o bom desempenho das amostras
trabalhadas, como a pesquisa de Cavalcante et al (2006), em que se verificou que amostras com 67%
de solo tropical e 33% de resíduo, e outra mistura com 50% de solo e 50% de resíduo em peso,
indicaram um aumento expressivo no valor do CBR, comparando com amostras de solo puro.

Também verifica-se em pesquisas realizadas anteriormente, melhoria mecânica quando há


estabilização dos solos utilizando cal. Na pesquisa realizada por Filho et al (2005), verifica-se que a

119
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

adição de 4% de cal CH-I em amostras areno argilosas, aumentou o CBR de 42% (in natura) para 121%
(mistura).

3. MATERIAIS E MÉTODOS

O RCD de concreto foi coletado em uma obra de demolição da Brasília Demolições, situada na Estrada
Parque Indústria e Abastecimento em Brasília. Na coleta do RCD (Figura 1), notou-se que o mesmo já
havia se degradado pelo processo de demolição.

Figura 1. Coleta do RCD.

Após a coleta, o RCD foi submetido ao processo de britagem. Foi utilizado um britador de mandíbulas,
no Departamento de Geociências da UnB. Apenas com a utilização do britador, grande parte do RCD foi
quebrado em grãos finos, conforme ilustra a Figura 2.

Figura 2. Britagem do RCD.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

O solo tropical, representativo dos solos típicos da região do Distrito Federal, foi coletado no campus
experimental do Programa de Pós-Graduação em Geotecnia da Universidade de Brasília, conforme
ilustra a Figura 3. Tentou-se manter a umidade natural, mantendo o material fechado em câmara
úmida.

Figura 3. Coleta do solo.

As cais virgem e hidratada foram fornecidas pela Belocal, representada pela Reforsolo Engenharia
(Figura 4).

Figura 4. Cal virgem à esquerda e à direita a cal hidratada.

As amostras foram preparadas segundo a norma DNER-ME 041/94: Solos – preparação de amostras
para ensaios de caracterização, porém não foram submetidas à secagem prévia, a fim de que se tivesse
melhor caracterização comparada com a situação de campo.

O RCD sofreu um processo de separação de maneira que foi utilizado apenas o material passante na
peneira #4, visto que a presença de grãos maiores podem diminuir a representatividade dos ensaios
mini compactados. A ação predominante de finos é positiva devido à sua ação cimentante.

A pesquisa objetivou comparar o comportamento do solo com as misturas de 2/3 de solo + 1/3 de RCD,
2/3 de solo + 1/3 de RCD + 4% do peso total de cal virgem e mistura de 2/3 de solo + 1/3 de RCD + 4%
do peso total de cal hidratada.

121
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Para cada grupo de amostras, foram realizados os seguintes ensaios:

 Mini MCV: DNER-ME 258/94 – Solos compactados em equipamento miniatura

 – Mini MCV;

 Perda de massa por imersão: DNER-ME 256/94: Solos compactados em equipamento miniatura
– determinação da perda de massa por imersão;

 Porosimetria e superfície específica: software NovaWin;

 Triaxial cíclico: AASHTO T 307/99.

4. RESULTADOS E ANÁLISES

Para o ensaio de Mini MCV, as amostras foram trabalhadas na umidade ótima. O solo foi compactado
com umidade de 19,3%, o solo + RCD com umidade igual a 17,2%, o solo + RCD + cal virgem com
umidade igual a 16,4% e o solo + RCD + cal hidratada com umidade igual a 16,5%. Para as quatro
amostras, o ensaio parou aos 16 golpes.

O resultado do ensaio de Mini MCV é apresentado na Figura 5.

Figura 5. Ensaio de Mini MCV.

Verifica-se comportamento semelhante das amostras contendo o resíduo, sendo semelhante para as
misturas que contém cal virgem e hidratada. A presença da brita aumentou a massa específica aparente
seca do solo devido à sua maior densidade.

Os pontos de inflexão das curvas dos diferentes materiais se alinharam segundo uma mesma tendência,
porém com número de golpes (energia) e massa específica aparente seca distintos.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

A maior inclinação do segundo trecho das curvas obtidas para as misturas do solo com + RCD com e
sem a presença de cal apontam para maior perda de sucção com o aumento do grau de saturação
fazendo com que diminua a resistência das misturas e a compactação se torne mais efetiva.

Realizado o ensaio de Mini MCV, as amostras foram imersas em água para verificar o comportamento
relativo à perda de massa quando em imersão Figura 6.

Figura 6. Ensaio de Perda de massa por imersão. À esquerda do solo; direita da mistura solo+RCD.

Poucos segundos após a imersão, a amostra contendo somente solo começou a “desmanchar”. Poucos
minutos depois, toda amostra estava “desmanchada” e as demais amostras se mantiveram intactas,
conforme demonstra a Figura 6. A presença do RCD e do RCD mais as cais proporcionaram estabilidade
estrutural às misturas. Na prática, a presença de água em uma camada do solo puro, poderia gerar
graves defeitos no pavimento, como afundamento e valores altos de trilhos de roda. O RCD sobressai-
se assim com um material estabilizante do solo estudado.

Os ensaios de porosimetria e diâmetro dos grãos estão mostrados na Tabela 1.

Tabela 1. Resultados do ensaio de porosimetria e diâmetro dos grãos.

Pelos resultados, tem-se que a porosidade é maior para as amostras secas em estufa a 105ºC e
submetidas a vácuo, comparando-se aos obtidos com as amostras secas ao ar, como esperado, uma
vez que a água ocupa espaços vazios entre os grãos. Considerando que o solo e o RCD foram misturados
na proporção de duas partes em peso de solo para uma de RCD verifica-se que tanto o RCD como as

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

cais podem te proporcionado algum efeito aglutinador elevando ligeiramente o volume de microporos
esperado. Nota-se que a adição de RCD e cais diminuíram o volume de vazios em relação ao solo puro,
pelo poder aglutinante.

Os resultados de superfície específica estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Resultados de superfície específica.

Assim como a porosimetria, a superfície específica foi superior para as amostras secas quando
comparada aos resultados obtidos para os materiais na umidade natural, quando da coleta. O solo puro
seco teve a maior superfície específica, devido à sua maior porcentagem de finos. A mistura de solo
com RCD teve aumentada a superfície específica quando da adição tanto da cal virgem como da cal
hidratada sendo o aumento maior no caso da cal hidratada. Esses resultados apontam para a ação
desagregadora da cal sobre o solo. Ressalta-se que quanto maior a superfície especifica, maior a ação
de forças elétricas. Os resultados de superfície específica do solo apontam para a influência da presença
de gibsita que tem superfície específica variando de 1 a 100 m²/g.

Verifica-se ainda (Figura 7) que o grau de saturação das misturas na umidade ótima da energia Proctor
intermediário foi maior quanto maior a superfície específica, conforme esperado, uma vez que, quando
maior a superfície especifica, maior a superfície de contato nas interações com a água.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 7. Superfície específica x grau de saturação.

Do ensaio de resiliência, verificou-se estreita relação entre o Módulo resiliente obtido no ensaio triaxial
cíclico e o Modelo Universal para todas as amostras analisadas, conforme Figura 8. Verifica-se que para
as misturas, obteve-se valores equivalentes de resiliência ao 1 dia de cura, comparado com as demais
curas, o que demonstra que a ação cimentante do RCD e dos cais foi rápida ou pouco significativa caso
em que as alterações de comportamento verificadas nos demais ensaios teria sido função
predominantemente de trocas catiônicas. A presença do material granular (RCD) também contribuiu
para o aumento do módulo resiliente.

Figura 8. Sobreposição das comparações de modelos de resiliência das amostras.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tem-se também que o melhor comportamento resiliente foi o da mistura com cal virgem,
provavelmente devido à sua maior sucção, uma vez que a cal virgem no contato com a água sofre
hidratação consumindo água do sistema.

126
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

5. CONCLUSÃO

De um modo geral, conclui-se da melhora do solo quando misturado ao resíduo de construção e


demolição e às cais virgem e hidratada. Assim, a utilização desses produtos é benéfica em camadas
estruturais do pavimento.

Para o ensaio de Mini MCV, as amostras foram compactadas na umidade ótima. Verifica-se comportamento
semelhante das amostras contendo o resíduo, sendo semelhante para as misturas que contém cal
virgem e hidratada.

Observou-se que, após a imersão dos corpos de prova submetidos a ensaio de Mini MCV, a amostra
contendo apenas solo começou a desmanchar em poucos minutos, o que não ocorreu com as misturas.
Portanto, o RCD sobressaiu-se como um material estabilizante do solo.

Para o ensaio de porosidade, utilizou-se amostras secas ao ar e secas no equipamento a 105°C. Os


resultados de porosidade foram maiores para amostras secas no equipamento do que para amostras
secas ao ar. O solo apresentou maior superfície específica que as misturas devido à maior porcentagem
de finos. Os resultados apontaram para ação agregadora da cal sobre o solo, uma vez que se obteve
menores volumes de vazios.

Do ensaio de resiliência obteve-se estreita relação do módulo resiliente obtido do ensaio triaxial cíclico
e o modelo universal para todas as amostras analisadas. Para as misturas, obteve-se valores
equivalentes com relação às suas respectivas curas de 1, 7, 14 e 28 dias, o que demonstra que a ação
cimentante do RCD e das cais foi rápida. A presença do RCD contribuiu na melhoria do comportamento
resiliente. A mistura contendo cal virgem apresentou melhores comportamentos.

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos ao Programa de Pós-Graduação em Geotecnia da Universidade de Brasília, ao Instituto


de Geociências da Universidade de Brasília, à BeloCal e à Reforsolo Engenharia. À Capes, pelo apoio
financeiro.

127
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Cavalcante et al (2006). Estudos para aproveitamento de resíduos de cerâmica vermelha de Sergipe na


pavimentação rodoviária, 37ª Reunião de Pavimentação, Goiânia, GO, Brasil.

DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E RODAGENS DNER-ME 258/94: Solos compactados em


equipamento miniatura – Mini Mcv DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E RODAGENS DNER-ME
256/94: Solos compactados em equipamento miniatura – determinação da perda de massa por
imersão.

FREITAS, I. M. (2009). Os resíduos de construção civil no município de Araraquara/SP. Dissertação de


Mestrado. Centro Universitário de Araraquara – UNIARA. Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.

MENDES, T. M., MORALES, G., CARBONARI, G. Study on arc’s aggregate utlization recycled of concrete.
Conference on the use of recycled materials in building and structures. Barcelona, Espanha 2004.

SILVA, M.G.B., SILVA, B.T.A., BARROSO, S.H.A (2008). Um primeiro estudo dos resíduos de
construção e demolição da construção civil para aplicação em camadas de pavimentos na cidade de
Fortaleza. 15ª Reunião de Pavimentação Urbana. Salvador, Bahia.

128
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 9

UTILIZAÇÃO DO PENETRÔMETRO DINÂMICO


PARA ESTIMATIVA DA TENSÃO ADMISSÍVEL DO
SOLO DE CASCAVEL-PR, EM FUNÇÃO DO TEOR
DE UMIDADE.

Claudino Schmitt Neto (Centro Universitário Assis Gurgacz)


Maycon André de Almeida (Centro Universitário Assis Gurgacz)

Resumo: A boa execução de uma fundação é totalmente dependente da correta determinação dos
parâmetros do solo, neste contexto, o Cone de Penetração Dinâmica (CPD) vem se apresentando como
uma alternativa rápida e eficiente esse tipo de situação. O solo de Cascavel/PR é composto por argila
com elevada porosidade, e edificações construídas sobre este tipo de solo estão sujeitas a recalques
pelo adensamento de suas camadas. O objetivo deste trabalho foi estimar a tensão admissível do solo
com o CPD em diferentes pontos do Campo Experimental de Engenharia Geotécnica do Centro
Universitário Assis Gurgacz de Cascavel, considerando a variação da umidade nos ensaios. Os
resultados obtidos mostraram que os valores de resistência de ponta dos ensaios variam de acordo
com a umidade, pois quanto mais úmido o solo, menor é sua tensão admissível, além disso foi possível
determinar uma correlação satisfatória para a tensão admissível do solo, quando comparado à dados
de provas de carga realizadas no mesmo local.

Palavras-chave: Penetração Dinâmica, Ensaio de Placa, Umidade.

129
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

Na engenharia civil, a geotecnia é a área onde se aplicam os conceitos e teorias fundamentais da


geologia e da mecânica dos solos à problemas práticos cotidianos, que vão desde a identificação e a
caracterização dos maciços, até o entendimento da interação solo-estrutura de fundações. Com o uso
da tecnologia, o engenheiro geotécnico controla a grandeza das cargas que serão aplicadas nas
fundações, como explica Maciel Filho (1997).

As fundações são elementos estruturais que tem por função transmitir as cargas da estrutura ao
terreno onde ela se apoia (Velloso e Lopes, 2010). Antes de definir o tipo de fundação a ser utilizada na
obra, é necessário realizar o reconhecimento do solo com ensaios específicos in loco. Através dessas
análises o engenheiro responsável irá definir qual o tipo de fundação é mais adequado para o terreno
em questão, levando em consideração a segurança, desempenho e economia.

No dimensionamento de fundações existem diferentes métodos para se estimar a tensão admissível


do solo, como provas de carga, métodos teóricos e estimativas através de sondagem SPT, além de
outros ensaios de campo com equipamentos como penetrometros e o dilatômetro de Marchetti. O
cone de penetração estática (CPE) mede continuamente a reação do solo durante a penetração
contínua de uma ponta cônica, medindo a resistência de ponta e o atrito lateral. Já o cone de
penetração dinâmica (CPD) mede o índice de penetração através da queda de um martelo por uma
haste que crava a ponta cônica do equipamento no solo. De acordo com Bondarik (1967, apud Tsuha,
2003), as propriedades geotécnicas do solo, analisadas pelo penetrômetro, são baseadas na resistência
à penetração apresentada pelo solo.

A cidade de Cascavel está situada na região Oeste do Paraná e, por estar em uma região de clima
tropical, possui um solo laterítico composto basicamente por argila com elevada porosidade. Segundo
Cardoso et al. (2003), as edificações nessas regiões estão sujeitas a recalques pelo adensamento de
suas camadas de solo, devido à colapsibilidade do mesmo. Este tipo de solo, quando inundado,
apresenta grande deformação e perda de resistência, o que pode causar o deslocamento da fundação
e, consequentemente, o aparecimento de trincas e rachaduras na edificação.

Com base no preposto, o artigo tem como objetivo estabelecer uma relação entre a tensão admissível
do solo, determinada através de provas de carga em placa, e as taxas de penetração obtidas pelo Cone
de Penetração Dinamica (CPD), considerando a variação de umidade do solo do Campo Experimental
de Engenharia do Centro Universitário Assis Gurgacz (CEEF), em Cascavel/PR

130
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 CONE DE PENETRAÇÃO DINÂMICA - CPD

O Cone de Penetração Dinâmica (CPD) é composto por uma haste de 20 mm de diâmetro, que contém
em sua extremidade uma ponta cônica de aço temperado de 30º ou 60º de ângulo de inclinação, e
possui largura ligeiramente superior à da haste, o que assegura que a resistência à penetração seja
exercida apenas pelo cone. A execução do ensaio é realizada puncionando a haste com o cone para
dentro do solo através da queda livre de um martelo de 8 kg de massa, corrediço, que é guiado pela
haste e cai de uma altura de 575 mm (Figura 1).

A penetração do cone é medida por uma régua graduada que permanece apoiada à superfície e paralela
à haste do equipamento.

Para operar o CPD são necessárias duas pessoas: uma para segurar o equipamento e manusear o
martelo, enquanto outra realiza a leitura da penetração do solo, que é verificada pela régua graduada.

Figura 1. Esquema do Equipamento CPD

O primeiro golpe é desconsiderado por ser o momento da cravação do equipamento ao solo. A curva
CPD obtida representa o número de golpes para se alcançar uma dada profundidade. Segundo Guedes
(2008), o índice de penetração CPD é obtido pela Equação 1, que relaciona a penetração total obtida
pelo número de golpes (mm).

𝑃𝑒𝑛𝑒𝑡𝑟𝑎çã𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 (𝑚𝑚)


𝐶𝑃𝐷 = (1)
𝑁˚ 𝑑𝑒 𝐺𝑜𝑙𝑝𝑒𝑠

131
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

De acordo com Silva Júnior (2006), o CPD possui algumas limitações, entre elas a grande variabilidade
dos resultados, principalmente em caso de análise de materiais granulares.

2.2 RESISTÊNCIA À PENETRAÇÃO DO CONE DE PENETRAÇÃO DINÂMICA

Tsuha (2003) propõe a expressão para a conversão dos parâmetros de números de golpes em valores
de tensão. A resistência de ponta do cone (qp) é obtida pela Equação 2, que segue os mesmos princípios
das expressões dinâmicas aplicadas às estacas pré-moldadas.

𝑀1 𝑀.𝑎.𝐻
𝑞𝑝 = [ ]. (2)
𝑀1 +𝑀2 𝐴.𝑒

Onde:

qp = Tensão de ponta (kPa);

M1 = Massa do martelo do aparelho (8 Kg);

M2 = Massa total das composições das hastes do aparelho, cabeça de bater e hastes guias (4 Kg);

a = Aceleração da gravidade (10 m/s²);

H = Altura de queda do martelo (575 mm)

A = Seção transversal do cone (490,87 mm²);

e = Penetração média por golpe (mm).

2.3 PESQUISAS REALIZADAS NO CAMPO EXPERIMENTAL DA FAG

Vieira et al. (2017) realizaram 6 provas de carga em placa, sendo 3 em condições naturais de umidade
e 3 em condições de pré-inundação por 24 horas, no solo superficial do Campo Experimental de
Engenharia do Centro Universitário Assis Gurgacz (CEEF), a uma profundidade de 1 m.

Para a realização das provas de carga inundadas foram utilizadas as mesmas valas escavadas para
realização das provas de carga nas condições naturais.

Na Figura 2 são apresentadas as curvas “tensão x deformação” dos 6 ensaios realizados, sendo 3 sob
condições naturais de umidade (PCN) e 3 sob condições de solo pré-inundado por 24 horas (PCI).

132
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tensão (kPa)

0 10 20 30 40 50 60 70 80
0

10

20

30

40

50
Deformação (mm)

60

70 PCN1 PCN2 PCN3


PCI1 PCI2 PCI3

Figura 2. Provas de carga sobre placa realizadas no CEEF

Segundo os autores, comparando os ensaios com e sem inundação preliminar do solo, verificou-se que
este solo sofreu uma redução na tensão de ruptura média de 30%, resultado esse já esperado pelos
autores, conforme apontado por Branco et al. (2016), já que no solo de Londrina/PR houve uma
redução de quase 60% da mesma tensão.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO SOLO LOCAL

A caracterização do solo do CEEF foi realizada por Zen (2016). Segundo a autora, a classificação do solo,
conforme especificado na NBR 7181 (2016) e de acordo com a curva granulométrica, é de uma argila
silto arenosa. Em relação ao sistema unificado (SUCS), foi classificado como solo argiloso muito
compressível (CH), e pelo sistema rodoviário (T.R.B.) como A-7-6, correspondendo a argila siltosa
medianamente plástica, classificada com regular a mau para utilização como subleito.

Na Tabela 1, observam-se os valores médios dos principais índices físicos determinados para as
camadas de solo identificadas no CEEF.

133
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 1. Índices físicos do solo do CEEF

CAMADA 1 CAMADA 2
ÍNDICES FÍSICOS
1 a 9 metros 10 a 15 metros
w (%) 34 53
wL (%) 53 59
wP (%) 38 42
IP (%) 15 17
γd (KN/m³) 12 12
γs (KN/m³) 27 27
Argila (%) 70 56
Silte (%) 25 35
Areia (%) 5 9
Muito mole a
Consistência Rija a dura
média
Índice de vazios (e) 1,2 1,5
Fonte: Zen (2016)

Onde: w (teor de umidade), wL (limite de liquidez), wp (limite de plasticidade), IP (indice de


plasticidade), γd (peso especifico seco) e γs (peso especifico dos grãos).

Os valores médios obtidos nos resultados evidenciam que o solo da CEEF possui 70% de argila, o que
caracteriza um solo que armazena muita água e possui pouca permeabilidade. Trata-se de um solo que,
quando com elevado teor de umidade, pode apresentar variações em sua capacidade de carga, fato
este comprovado por Vieira et al. (2017) ao realizar provas de carga em placa sobre o mesmo com
inundação prévia.

Considerou-se o perfil geotécnico médio obtido através de 3 ensaios a percussão do tipo SPT, o qual
representa o subsolo do CEEF, e é apresentado na Tabela 2. Durante os referidos ensaios, o lençol
freático variou entre as profundidades de 12 e 15 metros.

134
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 2. SPT realizado no CEEF

Cota Nspt
Descrição do Subsolo
(m) Médio
1 1,7
2 1,7
3 2,5
4 2,8
Argila Siltosa Marron
5 4,1 Avermelhada Muito Mole a
Média
6 7,8
7 6,4
8 5,6
9 10,0
10 11,9 Argila Siltosa Marron
Avermelhada Rija
11 12,6
12 16,6 Argila Siltosa Marron
Avermelhada Rija a Dura
13 27,0
Percolações Brancas
14 31,3
15 Limite da sondagem
Fonte: Zen (2016)

3.2 REALIZAÇÃO DE ENSAIOS CPD

Os ensaios com o CPD foram conduzidos entre outubro de 2016 e janeiro de 2017, e foram realizados
em 3 cavas abertas no CEEF, em Cascavel-PR. Cada uma das cavas possuía uma profundidade de 1
metro, e foram realizados, em média, 4 ensaios CPD por cava, sempre nos cantos. A Figura 3, mostra
ilustradamente os pontos de ensaios nas cavas (unidades em metros).

O CPD utilizado foi do tipo Penetrômetro Sul Africano, com uma altura total de equipamento de 2
metros e 12 kg de peso, contendo em sua extremidade uma ponta cônica com ângulo de 30º e um
martelo de 8 kg responsável pela cravação da haste no solo.

135
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 3. Disposição dos Ensaios na Cava.

Para operar o CPD, como de padrão, foram necessárias duas pessoas, uma para segurar o equipamento
e outra para manusear o martelo e fazer anotações. A chapa era nivelada e apoiada no chão, de forma
que a barra principal que recebe os golpes penetrasse no solo verticalmente. A Figura 4 ilustra a
realização do ensaio com penetrômetro.

Figura 4. Realização dos Ensaios

O ensaio foi realizado na seguinte sequência: posicionamento e nivelamento do equipamento;


execução do primeiro golpe com o martelo, à ser desconsiderado; marcação da posição das hastes para
posterior verificação da penetração; execução de nove golpes com o martelo; conferência e anotação
do valor da penetração obtida.

A penetração foi verificada com uma fita métrica, utilizando como referência a guia de fixada na base
do equipamento. Após o primeiro golpe, com o auxílio de um giz, foi marcado o primeiro nível, e após
os 9 golpes do martelo sobre a haste, foi medida a distância entre o primeiro nível e a chapa guia.

A fim de verificar a influência do aumento de umidade na penetração do CPD, as cavas foram pré-
umedecidas por 24 horas utilizando mangueira, e no momento da realização dos ensaios foi coletada
uma amostra de solo para determinação da umidade.

136
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

O procedimento do ensaio de umidade seguiu as recomendações da NBR 6457/16, que consiste em


conduzir as amostras de solo para a balança para determinação da massa natural e em seguida
determinação da massa seca, após secagem em estufa por 24 horas a uma temperatura entre 100ºC e
105ºC.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 RESULTADOS DOS ENSAIOS CPD

Na Tabela 3 são apresentadas as taxas de penetração para os 9 golpes finais, e o teor de umidade para
cada ensaio CPD realizado nas cavas.

Tabela 3. Taxas de penetração e teor de umidade dos ensaios CPD realizados em cada cava

Ensaios da Cava 1
Penetração (mm/golpe) Teor de Umidade
Ensaio 1 58,11 45,59 %
Ensaio 2 48,64 39,61 %
Ensaio 3 55,92 43,77 %
Ensaio 4 47,42 39,39 %
Ensaio 5 100,42 79,83 %
Ensaio 6 45,86 35,32 %
Ensaios da Cava 2
Penetração (mm/golpe) Teor de Umidade
Ensaio 1 53,36 41,00 %
Ensaio 2 55,06 43,27 %
Ensaio 3 54,83 40,48 %
Ensaio 4 58,72 46,44 %
Ensaio 5 24,80 16,07 %
Ensaio 6 30,00 17,15 %
Ensaios da Cava 3
Penetração (mm/golpe) Teor de Umidade
Ensaio 1 56,67 43,75 %
Ensaio 2 47,44 37,38 %
Ensaio 3 47,75 38,20 %
Ensaio 4 46,36 35,89 %
Ensaio 5 47,14 37,28 %
Ensaio 6 80,37 57,37 %

137
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Na Figura 5 são apresentados os índices de penetração do cone, considerando a variação de umidade


registrada em cada caso. É possível verificar taxas crescentes de penetração conforme ocorre o
aumento de umidade do solo, como já verificado em Tsuha (2003) e Melo Filho (2007).

120

Taxa de Penetração (mm/golpe)


100

80

60

40

20

0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Teor de Umidade (%)

Figura 5. Relação taxa penetração x Teor de Umidade

Obtem-se por regressão linear a Equação 3, que relaciona as duas variáveis, sendo verificado um
coeficiente de determinação (R²) de 0,96.
𝑚𝑚
𝐶𝑃𝐷 (𝑔𝑜𝑙𝑝𝑒) = 1,17. 𝑤 + 5,43 (3)

Através da equação apresentada é possível determinar a umidade do solo aproximada, através do


índice CPD determinado em campo, para a profundidade de 1 metro.

Com os índices do CPD determinados, foram calculadas as tensões de ruptura de ponta (q p) para cada
ensaio. Na Figura 6 é apresentada a relação entre a tensão de ruptura determinada pelo penetrômetro
(qp) e o teor de umidade registrado in loco.

2500
Tensão ruptura do solo - qp (kPa)

2000

1500

1000

500

0
10 20 30 40 50 60 70 80 90
Teor de Umidade (%)

Figura 6. Resultado de ensaios CPD

138
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Através de regressão linear, foi determinada a Equação 4 para a estimativa da tensão de ruptura do
solo através de sua umidade, considerando a aplicação da Equação 2. O coeficiente de determinação
(R²) verificado foi de 0,86.

𝑞𝑝 (𝑘𝑃𝑎) = −25,65. 𝑤 + 2315,2 (4)

4.2 COMPARAÇÃO COM ENSAIOS DE PLACA

Os resultados obtidos nos ensaios de penetração foram comparados com provas de carga realizadas
por Vieira et al. (2017), em placa circular de 80 cm de diâmetro, realizadas no Campo Experimental de
Engenharia do Centro Academico Assis Gurgacz (CEEF), a uma profundidade de 1 metro.

Na Tabela 4 estão representados os valores de resultados da prova de carga de solo em condição


natural (PCN) e com o solo pré-inundado (PCI). Utilizando o critério de Van der Veen (1953), Vieira et
al. (2017) determinaram as capacidades de carga de todas as provas de carga, considerando uma
deformação de 25 mm. Já as tensões admissíveis foram determinadas através da aplicação de um fator
de segurança igual a 2,0 sobre o valor da tensão de ruptura.

Tabela 4. Resultados Prova de Carga (Vieira et al, 2017)

ρ σult σadm Umidade


PC
(mm) (kPa) (kPa) (%)
PCN1 53,10 55,22 27,61 39,89
1
PCI1 46,82 46,35 23,17 -
PCN2 57,14 66,24 33,12 36,92
2
PCI2 50,00 38,11 19,05 -
PCN3 58,82 50,21 25,10 37,46
3
PCI3 50,00 36,84 18,42 -

Foram utilizados 2 métodos para previsão da ruptura convencional para interpretar as curvas tensão x
deformação: Van der Veen (1953) e a tensão correspondente ao recalque de D/30, em que D é o
diâmetro da placa (80 cm). A Tabela 5 apresenta as capacidades de carga do solo determinadas pelos
2 critérios acima, e as tensões de ruptura (qp) determinadas pelo CPD para uma mesma umidade (w).

139
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 5. Capacidade de carga (r) em ensaios de placa e pela estimativa pelo CPD (qp), em funçao de uma
mesma umidade

σult σult qp w
(V.D.V) (D/30) (CPD) (%)
kPa kPa kPa
PCN1 55,22 56,40 622 40
PCN2 66,24 67,50 622 37
PCN3 50,21 51,48 1317 37
PCI2 38,11 35,43 1325 80
PCI3 36,84 37,47 1317 80

Com os valores apresentados construiu-se a Figura 7, relacionando para um mesmo nível de umidade
os valores de tensão de ruptura (qp) e a capacidade de carga (r) do solo.

80
Capacidade de Carga - r (kPa)

70
60
50
40
30
20
10
0
400 600 800 1000 1200 1400
Van der Veen (1953) D/30 Tensão Penetrômetro - qp (kPa)

Figura 7. Relação entre capacidade de carga (σr) e a tensão do penetrometro (qp), para mesmo nível de
umidade.

Observando-se a existência de razoável linearidade entre os pontos relativos a um mesmo critério,


determinou-se uma regressão linear para cada critério de ruptura convencional.

Para as duas situações, o intervalo válido de análise é de uma tensão de ruptura (qp) de 600 a 1300 kPa,
para que seja possível utilizar os modelos apresentados à seguir.

A correlação entre as duas variáveis, considerando extrapolação da tensão de ruptura através do


método de Van der Veen (1953), apresentou um coeficiente de determinação R² de 0,77, e a relação
entre as tensões demonstrada na Equação 5.

𝜎𝑟 (𝑘𝑃𝑎) = 0,0282. 𝑞𝑝 (5)

140
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Já a extrapolação da tensão de ruptura, através do critério D/30, possibilitou desenvolver uma


correlação entre as duas variáveis, com um coeficiente de determinação R² de 0,82, dado pela Equação
6.

𝜎𝑟 (𝑘𝑃𝑎) = 0,0317. 𝑞𝑝 (6)

Realizando a análise estatística das duas equações, verifica-se que ambas apresentam valores-p
inferiores a 0,05. O valor-p é definido como a probabilidade de se observar um valor da estatística de
teste maior ou igual ao encontrado, e valores inferiores a 0,05. Ferreira e Patino (2015) indicam que
quando não há nenhuma diferença, um valor tão extremo para a estatística de teste é esperado em
menos de 5% das vezes. Considerando o exposto, comprova-se que o modelo é válido para prever a
tensão de ruptura do solo.

As duas equações podem ser representadas pela Equação 7, considerando a média dos dois métodos,
e é aplicável em um intervalo de tensões de ponta (qp), obtido pelo penetrômetro, de 600 kPa à 2.200
kPa.

𝜎𝑟 (𝑘𝑃𝑎) = 𝛼. 𝑞𝑝 , com α = 0,03 ± 0,002 (7)

Considerando o valor de α de 0,03 e utilizando a Equação 4, pode-se correlacionar a capacidade de


carga diretamente com a umidade através da Equação 8.

𝜎𝑟 (𝑘𝑃𝑎) = −0,77. 𝑤 + 69,46 (8)

Vale ressaltar, no entanto, que ao se utilizar as correlações determinadas acima, deve-se atentar para
os dados relativos ao equipamento, como massa total das composições das hastes e altura de queda
de martelo.

As correlações determinadas neste artigo são válidas para solos superficiais, argilosos, lateríticos e
colapsíveis típicos da região de Cascavel/PR, podendo causar grandes dispersões quando aplicadas em
outros tipos de solos.

141
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

5. CONCLUSÕES

O principal objetivo da presente pesquisa foi estimar a tensão admissível do solo e determinar uma
correlação entre os ensaios de cone de penetração dinâmica e as provas de carga diretas em placa já
realizados na CEEF, na profundidade de 1 metro.

Na realização dos ensaios, foi necessária a realização de no mínimo 4 ensaios penetrométricos por cava,
com intervalos de dias para uma variação de teor de umidade, visto que a incidência solar no local
influenciou na umidade das cavas.

Os valores de resistência de ponta dos ensaios variaram de acordo com a umidade, de 622 kPa, para a
maior umidade encontrada (79,83%), até 2.200 kPa, para o menor valor de teor de umidade encontrado
(16,07%) na profundidade de 1m. Analisando os dados obtidos, observou-se que quanto mais úmido o
solo, menor é sua tensão admissível, fato este já verificado por Tsuha (2003).

As correlações determinadas entre as tensões de ponta do penetrômetro (CPD) e a capacidade de carga


última, obtida através de provas de carga em placa, resultaram em equações que apresentam uma
validade estatística confiável, através do teste do valor-p, e que levam em consideração variações na
umidade do solo.

Entretanto, é necessária muita cautela ao utilizar essas equações, devendo o usuário verificar e ajustar
as tensões de ruptura obtidas pelo penetrômetro caso as medidas do mesmo não sejam iguais às
informadas no Capítulo 2 deste artigo. Recomenda-se também a realização de mais ensaios para
confirmação dos resultados, além da análise complementar da sucção do solo, visto que trata-se de um
solo não saturado.

142
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

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144
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 10

ESTUDO DO EFEITO ESCALA PARA A


DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA IN SITU DA
CAMADA DE CARVÃO IRAPUÁ NA JAZIDA
CARBONÍFERA SUL-CATARINENSE

Clovis Gonzatti (UFRGS)


Luiz Zorzi (CIENTEC)
Ivone Maria Agostini (CIENTEC)
João Alberto Fiorentini (CIENTEC)

Resumo: No início da década de 1990, a CIENTEC - Fundação de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio
Grande do Sul desenvolveu estudo pioneiro no País, relacionado à mineração simultânea de camadas
múltiplas de carvão. Uma das atividades contemplou estudos detalhados de caracterização
geomecânica dos materiais presentes na camada de carvão Irapuá, em explotação na Mina A-Sangão,
localizada nas proximidades da cidade de Criciúma-SC, dentro da Jazida Carbonífera Sul-Catarinense.

O objetivo dos ensaios em laboratório foi a definição da resistência à compressão uniaxial da camada
Irapuá e estabelecer uma primeira aproximação, para o valor da resistência característica desta
camada, uma vez que o conhecimento existente baseava-se exclusivamente na experiência prática da
mineração ao longo dos anos.

Amostras de grande porte do carvão da camada foram coletadas, utilizando técnicas especiais para a
manutenção da integridade do material, e um conjunto de 56 ensaios de compressão uniaxial em
corpos-de-prova cúbicos, com a dimensão do lado variando entre 4,5cm e 31cm, foi realizado em
laboratório. Adicionalmente, amostras cilíndricas de testemunhos de sondagens com diâmetro NX
foram utilizadas para ensaios de tração indireta, compressão uniaxial e triaxial, com o objetivo de

145
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

determinar a envoltória de ruptura d rocha intacta. O mapeamento geotécnico na camada Irapuá em


outras duas minas (Morozini Norte e Santa Augusta Norte) serviu de base para a definição do padrão
estrutural dessa camada.

Neste trabalho são descritas as técnicas experimentais utilizadas nos ensaios, bem como apresentados
os resultados obtidos de resistência à compressão uniaxial e das constantes elásticas. Ao mesmo
tempo, são discutidos aspectos importantes na realização desse tipo de estudo, destacando-se o efeito
escala para a camada carbonosa em consideração e a estimativa de valores da resistência in situ para
a camada Irapuá com base em ensaios de laboratório. Finalmente, são apresentadas as estimativas de
resistência in situ para a camada de carvão Irapuá a partir da aplicação do critério de ruptura de Hoek-
Brown associado ao índice GSI - Geological Strength Index.

Palavras-Chave: Efeito escala, ensaios de laboratório, resistência in situ, mapeamento geotécnico,


carvão, Irapuá.

146
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A quase totalidade da produção científica, do que ainda se considera a arte de dimensionar pilares em
minas de carvão, originou-se nos EUA e na África do Sul, países onde a lavra de carvão em subsolo, pelo
método de câmara e pilares, superava os 90% do total produzido até o início da década de 1990.

Dos dois parâmetros necessários para a análise do nível de segurança de um pilar - resistência e carga
- o primeiro é o que tem merecido a parte mais significativa da atenção dos inúmeros pesquisadores
que se dedicaram ao assunto, ficando o segundo, para fins práticos, basicamente restrito à aplicação
da teoria da área tributária.

A resistência do pilar, definida pela carga máxima suportada por unidade de área, é dependente de
pelo menos três elementos básicos:

- do efeito escala;

- do efeito forma;

- das propriedades da rocha que forma o pilar e das rochas encaixantes.

No âmbito do Comitê de Estudos do Efeito Escala em Mecânica de Rochas da ISRM - International


Society for Rock Mechanics, tem sido observado, experimentalmente, que um conjunto de amostras
com diferentes tamanhos provenientes de um mesmo universo apresenta distribuições estatísticas
com diferentes parâmetros (média, desvio padrão, por exemplo) para uma mesma propriedade da
rocha. Adicionalmente, um conjunto de amostras de uma mesma rocha ou de um mesmo maciço
rochoso, quando submetida a carregamento em condições similares, apresenta características não
constantes, mas dependentes da dimensão da amostra. Essa variação é denominada de efeito escala
(CUNHA, 1990 e 1992). Esse tipo de comportamento, na prática, é muito discutido quando se trata da
determinação da resistência à compressão uniaxial de materiais rochosos e tem sido objeto de
discussões há mais de um século.

Em síntese, o efeito escala implica valores de resistência mais elevados para amostras submetidas a
ensaio nas dimensões de laboratório, quando comparados com a dos pilares reais. Esta elevação de
resistência é atribuída à menor presença de superfícies de fraqueza nas amostras usadas em estudos
laboratoriais, tendo em vista que as pequenas dimensões utilizadas não representam integralmente o
maciço que lhes deu origem.

Em se tratando de rochas carbonosas, a definição da resistência característica da camada de carvão é


de fundamental importância, uma vez que é a própria rocha que irá compor as estruturas de

147
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

sustentação (pilares) das escavações de onde o minério é extraído. Nesse tipo de rocha essa tarefa é
complexa, uma vez que o efeito escala parece ser ainda mais pronunciado que em outros materiais,
devido às características formacionais do carvão, traduzidas pela presença de estruturas geológicas de
pequeno até grande portes, como as clivagens (cleats), planos de acamamento, fraturas, falhas e
inclusões de materiais diferentes do carvão.

Diferentes técnicas para a estimativa da resistência característica da camada de carvão in situ podem
ser empregadas. Merecem destaque os seguintes aspectos dentre as técnicas mais conhecidas:

- a técnica de ensaios em laboratório com pequenas amostras está entre as menos custosas do ponto
de vista econômico, porém, com limitações devido à baixa representatividade das variações
litológicas e das características estruturais do maciço rochoso. Quando o acesso à camada de carvão
é possível, utilizar amostras de maior porte que as obtidas através de sondagens é o mais desejável
e tende a ajudar sensivelmente no entendimento do comportamento mecânico da rocha para
estimar com razoável segurança a resistência in situ;

- uma técnica direta é a realização de ensaios in situ em grandes amostras, porém, possui como
inconvenientes dificuldades de acesso, problemas operacionais e os altos custos de execução dos
ensaios;

- outra técnica muito empregada é a observacional, baseando-se na experiência prática da


mineração. Essa técnica, no entanto, se vale de situações não desejáveis na mineração, que é a
ocorrência de casos de ruptura dos pilares de sustentação das escavações. As maiores dificuldades
residem na escasses de casos para a análise, associado ao fato de que nem sempre é possível
determinar com segurança e fidelidade as condições em que ocorreu o colapso, o que limita
sensivelmente as conclusões obtidas a respeito da resistência do maciço quando da ruptura;

- em se tratando de rochas carbonosas, técnicas empíricas, como o uso de classificações


geomecânicas, vem ganhando certa atenção nos últimos anos. Essas técnicas, de um lado possuem
como atrativo a incorporação de um número de fatores maior do que a simples determinação da
resistência à compressão uniaxial da rocha intacta. Parecem, no entanto, carecer de um número
maior de experiências capazes de justificar a sua aplicação, diante das demandas por informações
cada vez mais precisas.

Na década de 1960, DENKHAUS (1962), fazendo uma revisão crítica do conhecimento sobre a
resistência de pilares de minas de carvão definiu duas escolas de pensamento para abordagem da
resistência de pilares de carvão: a baseada em ensaios de grande porte in situ e a escola centrada na

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

realização de ensaios em laboratório. Segundo o autor, ensaios em grande escala eram, sem dúvida, a
maneira mais direta de determinar a resistência de um maciço rochoso, porém, a mais custosa.

Independentemente da escola de pensamento escolhida pelos diferentes pesquisadores no mundo ao


longo do tempo, tanto o processo de amostragem como a preparação dos espécimens para a realização
dos ensaios são fatores que contribuem sensivelmente para o sucesso de qualquer estudo, visando à
determinação das propriedades mecânicas de maciços rochosos.

O uso da técnica de ensaios em laboratório, com amostras de porte variável, tem sido feito por
inúmeros pesquisadores no mundo inteiro, ao longo de mais de 100 anos de pesquisas realizadas. No
que tange ao carvão mineral, estudos vêm sendo realizados desde aproximadamente 1875 (HOLLAND,
1964). Utilizando antracitos e carvões betuminosos dos EUA. DANIELS & MOORE (1907) estão entre os
primeiros estudiosos do assunto a observar que a resistência de corpos-de-prova cúbicos diminui à
medida que a sua dimensão aumenta, além de alertar para outros fatores intervenientes na resistência,
como a geometria do corpo-de-prova, o grau de sanidade da rocha, a presença de descontinuidades, a
existência de camadas de estéril no meio do carvão e a direção de aplicação da carga em relação à
orientação dos planos de estratificação da rocha. Ainda nos EUA, RICE (1929) e LAVALL & HOLLAND
(1937) observaram nos carvões do Illinois, Pennsylvania e da West Virginia o mesmo tipo de
comportamento, ou seja, o decréscimo da resistência em função do aumento da dimensão de corpos-
de-prova cúbicos. STEART (1954), com base em ensaios de laboratório em pequenas amostras e através
de observações em subsolo, e GADDY (1956), estudando, individualmente, várias camadas de carvão
americanas, concluiram que o comportamento da resistência é inversamente proporcional ao tamanho
da amostra. Sugeriram a seguinte função genérica para explicar esse comportamento:

k
C 
D
onde: c = resistência a compressão uniaxial de um corpo-de-prova cúbico;

k = constante dependente das características físicas de cada camada de carvão;

D = dimensão do corpo-de-prova cúbico ensaiado;

 = coeficiente correspondente ao efeito escala para a camada de carvão estudada.

Segundo esses autores, os resultados obtidos sugerem que  = 0,5 representa razoavelmente o
comportamento médio desse fator para as diferentes camadas estudadas.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Sobre carvões Ingleses, EVANS & POMEROY (1958) e EVANS et. al. (1961a, b e c) realizaram uma grande
quantidade de ensaios de compressão uniaxial, utilizando corpos-de-prova cúbicos, com o lado da base
variando entre 0,3cm e 5,4cm e prismáticos, com os lados da base variando entre 1,3cm e 5cm e a
altura entre 1,3cm e 5,4cm. Foram estudados dois carvões com características diferentes: - o da camada
Barnsley Hards, relativamente uniforme e - o da camada Deep Duffryn, bastante friável e com planos
de fraqueza bem definidos. As principais constatações dizem respeito ao decréscimo da resistência
média em função do aumento do tamanho da amostra (efeito escala). No entanto, o aspecto mais
importante parece estar associado à grande variabilidade da resistência do carvão em corpos-de-prova
de uma mesma dimensão. Esse fato, em especial, levou os autores a concluir que a resistência do
carvão não deve ser descrita por um valor absoluto, mas em termos estatísticos. Algumas críticas a essa
pesquisa foram anotadas por HUSTRULID (1976) e BARON (1983). Para o primeiro, as dimensões
reduzidas de parte dos corpos-de-prova utilizados (da ordem de 0,3cm) tornam a execução do trabalho
muito difícil e, por conseqüência, os resultados questionáveis. Para o segundo, essas pequenas
dimensões (<<2,5cm) possuem somente sentido do ponto de vista acadêmico, e não prático. Essa
crítica se aplica ainda mais aos estudos de MILLARD et. al. (1955) que chegaram a trabalhar com corpos-
de-prova de dimensões microscópicas.

BIENIAWSKI (1968b), por seu lado, reporta um extenso estudo realizado na África do Sul, com amostras
da camada de carvão Witbank. Esse autor foi um dos primeiros a estudar o efeito escala na resistência
à compressão uniaxial no carvão a partir de ensaios em corpos-de-prova cúbicos, com dimensões
compreendidas numa larga faixa de tamanhos - entre 2cm até 2m - sendo todos os ensaios realizados
com a infra-estrutura montada em subsolo. Para ele, o decréscimo da resistência em função do
aumento do tamanho dos corpos-de-prova está associado à maior probabilidade de existirem mais
descontinuidades nos corpos-de-prova maiores do que nos de menor dimensão.

No Brasil, os primeiros estudos com carvão utilizando técnicas científicas vêm do início da década de
1980, com destaque para os trabalhos em laboratório e in situ desenvolvidos pelo IPT - Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, no carvão da camada I1F (MIDÉA et. al., 1985), e pela
CIENTEC - Fundação de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul (CIENTEC, 1990). Os
estudos da CIENTEC, em cerca de 1300 corpos-de-prova, abrangeram as mais importantes camadas de
carvão em explotação em subsolo à época ou com potencial futuro. Este trabalho foi pioneiro para a
definição da resistência in situ das camadas de carvão I1F (jazida de Charqueadas, no Rio Grande do Sul)
e Barro Branco (Jazida Sul-Catarinense), além de servir como base para a proposição de uma

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

metodologia de dimensionamento de pilares aplicada às condições dos jazimentos do Sul do Brasil


(ZORZI et al., 1991).

Uma vez definida a técnica de ensaios em laboratório como o caminho a ser adotado para a estimativa
da resistência in situ, a representatividade das amostras em relação a um determinado maciço rochoso
é fator preponderante para a aplicação dos resultados no dimensionamento das estruturas
subterrâneas. A princípio não existe um tamanho máximo, único, de amostra capaz de representar um
determinado maciço, tendo em vista a sua heterogeneidade e a presença variável de estruturas
diversas. Geralmente o tamanho ideal (teórico) esbarra na limitada capacidade operacional dos
equipamentos disponíveis tanto para a extração como para a realização dos ensaios em laboratório.

Amostras de dimensões maiores tendem a sofrer danos mais facilmente e, associado ao fato de
normalmente contemplarem maior número de descontinuidades, apresentam menor resistência que
amostras de menor porte (BARTON 1990). Parte da queda da resistência, nesse caso, pode ser
relacionada à menor qualidade da amostra de grande porte, devido aos danos impostos durante sua
extração. CUNHA (1990 e 1992) sugere que há uma tendência em amostrar os materiais de zonas de
pior qualidade ou de zonas que sejam mais facilmente acessíveis. Esses aspectos tendem a condicionar
a qualidade da amostra, distanciando-a da representatividade desejável do maciço rochoso.

Uma discussão qualitativa dos aspectos pertinentes à representatividade da amostra para contemplar
o efeito escala em laboratório é apresentada por GOMES (1993), cujo modelo esquemático do efeito
escala em função do tamanho da amostra é apresentado na Figura 1. Para o autor, o fato de resultarem
valores de resistência em pequenas amostras muito baixos (área hachurada na figura) e próximos da
condição de ensaios in situ (Vi), significa que essas amostras já incorporaram aqueles fatores que
tendem a reduzir a resistência nas grandes amostras. Como primeiro passo para definir a
representatividade da amostra, o autor sugere que os corpos-de-prova ensaiados sejam descritos
abordando-se os aspectos mais relevantes (heterogeneidade, morfologia, reologia, composição), bem
como sejam analisados criteriosamente aqueles resultados presentes na área hachurada da Figura 1
(menor resistência).

151
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 1 - Variação das propriedades da rocha com o aumento da dimensão da amostra - efeito escala teórico
(GOMES, 1993).

Levando em conta as características composicionais e estruturais do carvão, TRUEMAN & MEDHURST


(1994) propuseram uma idealização de maciço rochoso para representar a transição entre uma
amostra de rocha intacta de carvão (sem descontinuidades) e a condição in situ, em função do aumento
do tamanho da amostra, como ilustra a Figura 2.

Figura 2 - Diagrama idealizado da transição entre uma amostra intacta e outra representativa da condição in
situ do carvão (TRUEMAN & MEDHURST, 1994).

Uma vez definidos os locais de amostragem, a dimensão mínima da amostra e a quantidade de


amostras necessárias, a técnica de extração passa a ser de fundamental importância, tendo em vista
que dela dependerá muito a qualidade dos materiais que serão levadas ao laboratório. Várias
experiências têm mostrado as enormes dificuldades para a execução do trabalho de separação das
amostras do maciço rochoso.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Independentemente das limitações impostas pela técnica de ensaiar os materiais rochosos em


laboratório, os ganhos decorrentes da utilização desse expediente parecem inegáveis, ainda que a
técnica de laboratório não seja a única, nem a definitiva maneira de se obter informações sobre as
características mecânicas de um maciço rochoso.

Uma outra alternativa para a estimativa da resistência in situ da camada de carvão Irapuá é a utilização
do sistema de caracterização de maciços rochosos GSI - Geological Strength Index, proposto por HOEK
(1994) e HOEK et al. (1995). No início da década de 1980, HOEK & BROWN (1980a, 1980b) propuseram
um critério de ruptura empírico para a rocha intacta e maciços rochosos fraturados, baseado em
ensaios de laboratório e na experiência observacional do comportamento mecânico de maciços
rochosos, especialmente de rochas duras. A envoltória de resistência expressa em termos de tensões
principais (1 e 3) possui 3 parâmetros, os quais representam a resistência da rocha intacta, ci e as
características estruturais da rocha ou do maciço rochoso, m e s. Os parâmetros m e s são
aproximadamente análogos aos parâmetros ângulo de atrito interno,  e coesão, c do critério de
ruptura de Mohr-Coulomb, respectivamente. Trata-se de um dos critérios de ruptura que melhor tem
explicado o comportamento dos materiais rochosos a partir da estimativa dos parâmetros m e s que
representam as características do maciço rochoso. Inicialmente proposto com base na experiência em
maciços de rochas duras, o seu emprego em maciços de rochas brandas, especialmente, de rochas
carbonosas, ainda é pouco frequente.

Refinamentos foram implementados nesse critério de ruptura ao longo das últimas duas décadas
(HOEK, 1983 e 1990; UCAR, 1986; BROWN & HOEK, 1988; LONDE, 1988; HOEK & BROWN, 1988; WOOD
1991; HOEK et al. 1992). Somente em 1994 e nos anos seguintes, as primeiras estimativas para o
parâmetro m de rochas sedimentares orgânicas, ainda que para a rocha intacta, foram apresentadas
(HOEK, 1994; HOEK et al., 1995; HOEK & BROWN, 1997). Mais importante, no entanto, foi a
apresentação de uma versão mais geral para o critério de ruptura e o índice GSI (HOEK et al., 2002). A
proposição desse índice buscou suprir as limitações impostas pelas simplificações assumidas
inicialmente e pelos métodos utilizados na estimativa das constantes m e s do maciço rochoso,
especialmente para maciços muito pobres (elevado grau de fraturamento). O índice GSI expressa a
quantificação do grau de compartimentação do maciço e as características dos planos das
descontinuidades físicas. Na prática, esse índice desempenha o papel antes realizado pelas
classificações geomecânicas tradicionais de Bieniawski e de Barton. Até então, essas classificações
eram empregadas para a estimativa dos parâmetros in situ m e s. O sistema GSI de classificação,
associado ao critério de ruptura de Hoek-Brown, possibilita a definição da envoltória de ruptura do

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

maciço rochoso. Em linhas gerais, essa metodologia permite a transposição da resistência de


laboratório para as diferentes condições geológico-estruturais dos maciços rochosos.

No que tange a rochas carbonosas, BIENIAWSKI & BAUER (1982) foram os primeiros autores a
considerar o emprego do critério de Hoek-Brown para a estimativa da resistência in situ de camadas de
carvão. Esses autores calcularam os valores médios de m (entre 4 e 27 aproximadamente) para carvões
de oito regiões dos EUA. Essa grande variabilidade foi discutida por HOEK & BROWN (1982), sendo
sugerido que as amostras de carvão ensaiadas não necessariamente seriam de rocha intacta. Esses
problemas não são raros, especialmente se considerarmos as dificuldades associadas à recuperação e
manutenção da qualidade de amostras de carvão, entre o período de extração e o seu uso para a
realização de ensaios em laboratório. Outro fator limitante pode estar associado ao comportamento
anisotrópico das rochas sedimentares carbonosas, não previsto pelo critério. Na Austrália, MEDHURST
& BROWN (1996) estimaram valores de m entre 19,4 e 2,6 para o carvão da camada Moura DU, a partir
de ensaios em corpos de prova com dimensões variando entre 60mm e 300mm. Enquanto m = 19,4 é
representativo da rocha intacta, m = 2,6 foi o valor estimado para o maciço rochoso.

Nos tópicos a seguir são apresentados os resultados dos estudos realizados para a estimativa da
resistência in situ da camada de carvão Irapuá da mina A-Sangão, localizada na Jazida Sul-Catarinense
no Sul do Brasil. São descritos os trabalhos pioneiros realizados pela CIENTEC em 1996 (CIENTEC, 1996)
e os estudos realizados por GONZATTI (2007). Esses estudos permitiram a estimativa da resistência in
situ a partir de duas técnicas distintas, sendo uma com o emprego de ensaios em amostras de
diferentes dimensões (observação do efeito escala) e outra a partir da utilização do sistema GSI,
baseado em ensaios em pequenas amostras e mapeamento geotécnico do maciço rochoso.

2. GEOLOGIA DA ÁREA ESTUDADA

Geograficamente, a Mina A - Sangão está situada dentro da Jazida Carbonífera Sul-Catarinense (Figura
3), que é parte integrante da Borda Leste da Bacia do Paraná. Esta bacia, que no Brasil se estende por
vários outros estados, possui idade Devoniana para os seus depósitos sedimentares mais antigos e tem
características de evolução de uma bacia intracratônica.

Dentro da seqüência estratigráfica, as litologias carbonosas estão vinculadas às unidades denominadas


Grupo Itararé (mais basal) e Guatá, com idades entre o Carbonífero Superior e Permiano Superior. Mas
é na unidade Guatá que se encontram as camadas de carvão mais espessas, de melhor qualidade e em
explotação.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Das sete camadas de carvão individualizadas no estado de Santa Catarina, três tem importância
econômica mais expressiva: as camadas Barro Branco, Irapuá e Bonito (Figura 4).

O condicionamento estrutural encontrado em toda a bacia do Paraná é representado por falhas


normais, com planos subverticais. Estas falhas tem distribuição irregular e são responsáveis pela
compartimentação das jazidas em blocos. Raramente ocorrem falhas de empurrão, com pequeno
rejeito. É freqüente a presença de "slickensides" causados por compactação diferencial dos
sedimentos. Sistemas de fraturas podem acompanhar as falhas, formando sistemas conjugados, sendo
preenchidas ou não por diques de diabásio. As dobras verificadas em algumas camadas de carvão estão
associadas a falhas "drag folds". Raramente, porém, são encontradas dobras causadas por campos de
tensões compressivos.

Estratigraficamente, a camada Irapuá se encontra abaixo da camada Barro Branco. A espessura da


cobertura, tomando como referência o teto da camada Barro Branco, varia entre 95m e 145m,
aumentando para coberturas de maior espessura à medida que a camada se aproxima dos derrames
da formação Serra Geral. O intervalo de estéril intercamadas varia entre 12 e 16m, com espessura
média de 13m.

Figura 3 - Mapa geológico do Sul do Brasil. Números I a XIII indicam jazidas carboníferas no Brasil (Adaptado de
CIENTEC, 1990).

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 4 - Perfil estratigráfico típico da formação Rio Bonito. No detalhe, a direita, perfil típico da camada de
carvão Irapuá na Mina A-Sangão (adaptado de COSTA, 2000 e CIENTEC, 1996).

A camada Irapuá é de ocorrência restrita e apresenta em planta uma forma de cordão, composto por
segmentos isolados, sem uma continuidade aparente. Em perfil, mostra um formato de calha de fundo
achatado, onde a camada se adelgaça para um dos flancos. Em alguns locais, da mina esta forma fica
bem marcada pelas mudanças no mergulho dos planos de piso ou teto da camada de carvão, chegando
a 10o de mergulho, com variações de espessura de mais de 1m. Seus contatos com os arenitos do piso
e do teto são bruscos, formando planos de partição bem definidos. Esta forma de calha está associada
à possível deposição da turfa em paleocanais. A área de lavra onde se desenvolveu o presente estudo,
está localizada num destes segmentos de paleocanal. A espessura média no trecho lavrado é de 1,77m,
podendo chegar em alguns pontos localizados a 2,60m. No detalhe da Figura 4 pode ser visto um perfil
típico da camada de carvão na área de estudo.

A descrição litológica do pacote mais próximo da camada de carvão indica que o piso da camada Irapuá
é constituído por arenito médio à grosso, com matéria carbonosa associada, mantendo-se uniforme
em toda a extensão do jazimento. O intervalo intercamadas (teto da camada Irapuá e piso da camada
Barro Branco) é também formado na maior parte por arenitos de granulação fina à grossa e composição
quartzosa. Estes arenitos apresentam, por vezes, uma laminação ondulada à lenticular, dada pela
presença de material síltico argiloso intercalado e que, quando localizado junto ao teto da camada de
carvão, favorece sua instabilidade.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3. AMOSTRAGEM, PREPARAÇÃO E ENSAIOS DOS CORPOS-DE-PROVA

As amostras para ensaio foram coletadas durante a execução da lavra da camada Irapuá. Com o auxílio
de uma cortadeira universal, blocos com até 0,4m3 de volume (blocos de aproximadamente 0,7m x
0,7m x 0,7m) foram separados do maciço através de cortes verticais e horizontais sucessivos,
procurando-se abranger todo o perfil da camada de carvão. A Figura 5 mostra os contornos da camada
Irapuá minerada à época da realização do estudo, na Mina A-Sangão. Imediatamente após sua
extração, as amostras foram cobertas por uma fina camada de parafina, para proteção da rocha contra
a variação de umidade e ação dos agentes intempéricos. Os blocos foram transportados sobre colchões
de serragem para minimizar os danos devido ao choque durante o percurso entre a mina e o
laboratório.

Figura 5 - Contornos das áreas de lavra na Mina A-Sangão, nas camadas de carvão Barro Branco (superior) e
Irapuá (inferior) (CIENTEC, 1996).

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3.1 PREPARAÇÃO DOS CORPOS-DE-PROVA CÚBICOS

A preparação dos espécimens cúbicos com os diferentes tamanhos foi feita com o uso de serras
diamantadas de grande porte, como mostra a Foto 1, sendo utilizadas serras menores para o corte final
e acabamento dos corpos-de-prova. No total foram preparados 56 corpos-de-prova com a forma
cúbica, com a dimensão do lado (L) variando entre 4,6cm a 31,4cm, nas quantidades conforme pode
ser visto no Quadro 1. Na Foto 2 são apresentados corpos-de-prova nas diferentes faixas de tamanho,
antes da ruptura.

3.2 EXECUÇÃO DOS ENSAIOS DE COMPRESSÃO UNIAXIAL

Com o intuito de prover informações adicionais para ajudar na definição do efeito escala na resistência
do carvão, os corpos-de-prova foram previamente submetidos a uma minuciosa descrição das suas
características estruturais, através do mapeamento das descontinuidades e inclusões de natureza não
carbonosa, visíveis nas suas faces. Adicionalmente foram determinadas a massa específica aparente e
a velocidade de propagação de ondas ultrassônicas na direção perpendicular aos planos de
estratificação do carvão, utilizando métodos específicos para cada ensaio preconizados pela ISRM. As
determinações da velocidade ultrassônica foram feitas utilizando um equipamento Mk.V PUNDIT, com
transdutores de 1MHz, 200kHz e 54kHz.

Foto 1 - Serra com disco de corte de 1,0m de diâmetro, utilizada para a redução do tamanho das amostras de
carvão em laboratório (CIENTEC, 1996).

158
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Quadro 1 - Dimensões e quantidades de corpos-de-prova cúbicos preparados para ensaio.

Faixa de Tamanho dos Quantidade Preparada Tamanho Médio do Desvio Padrão do


Corpos-de-Prova em Cada Faixa de Lado do Cubo Lado
Tamanho
(cm) (cm) (cm)

4,6 - 7,3 17 5,5 0,8

8,1 - 10,5 16 10,0 0,6

14,7 - 15,6 13 15,1 0,3

19,6 - 20,6 6 20,1 0,4

24,6 - 25,6 2 25,1 0,7

31,1 - 31,4 2 31,3 0,2

L = 15cm
L = 20cm L = 25cm

Foto 2 - Corpos-de-prova cúbicos nas faixas de tamanho maiores utilizados para o estudo do efeito escala na
resistência do carvão da camada Irapuá (CIENTEC, 1996).

A ruptura dos corpos-de-prova foi realizada utilizando-se uma prensa com capacidade de carga de
100kN, para os corpos-de-prova de menor dimensão, e um pórtico de reação equipado com um
conjunto macaco/bomba hidráulicos, com capacidade de carga de 2MN para os corpos-de-prova
maiores, como visto na Foto 3.

A resistência à compressão uniaxial foi determinada aplicando-se a carga no corpo-de-prova na direção


perpendicular aos planos de estratificação da camada de carvão, seguindo as recomendações da ISRM
para essa modalidade de ensaio. Normalmente, a velocidade de carregamento utilizada resultou numa
taxa de tensão da ordem de 0,7MPa/s.

159
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Medições de deformabilidade foram realizadas em 4 corpos-de-prova cúbicos e em 3 cilíndricos, estes


últimos extraídos das mesmas amostras utilizadas para a preparação dos cubos. Um sistema de
medição de deformações constituído de células strain gages de 120Ohms (faixa de medição igual a
20mm) e um conjunto caixa balanceadora/strainmeter KYOWA foi utilizado em todos os ensaios para
medir as deformações axiais (na direção perpendicular aos planos de estratificação) e transversais (na
direção paralela). Leituras das deformações foram feitas em intervalos de carga de 2kN. Nos dois cubos
com 31cm de lado, um sistema adicional utilizando um relógio comparador com sensibilidade de
0,001mm foi empregado para a determinação das deformações axiais. Nesses ensaios, dois pinos
separados entre si de 180mm a 187mm, dependendo do corpo-de-prova, foram solidarizados ao carvão
ao longo de uma linha vertical (na mesma direção do carregamento) no meio de uma das faces laterais.
As deformações foram determinadas em intervalos de carga de aproximadamente 44kN.

Foto 3 - Pórtico de reação utilizado para a ruptura dos corpos-de-prova de maior porte - Detalhe de espécie em
cúbico com lado igual a 31,1cm, instrumentado para a medição de deformações (CIENTEC, 1996).

4. RESULTADOS OBTIDOS

A síntese dos resultados relativos aos índices físicos (massa específica aparente, MEA e velocidade
ultrassônica, VP pode ser vista nos Quadros 2 e 3. Já os resultados de resistência à compressão uniaxial,

160
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

c são apresentados no Quadro 4. No Quadro 5 podem ser vistos valores médios de módulo de Young,
E determinados a partir de 7 ensaios, 3 dos quais sobre corpos-de-prova cilíndricos e 4 sobre cubos
com dimensões entre 20 e 31cm. Os valores apresentados correspondem ao módulo secante na tensão
equivalente à 80% da tensão de ruptura.

As Figuras 6, 7 e 8 mostram graficamente através de diagramas de caixas a variabilidade tanto dos


índices físicos como da resistência, individualizados por faixa de tamanho de corpo-de-prova, em
termos de mediana e quartis. O significado desse tipo de representação pode ser visto na Figura 9.

A Figura 10 mostra curvas típicas registradas nos ensaios em cilindros e em cubos, com diferentes
dimensões, e utilizando diferentes sistemas de medição das deformações. Na Figura 11, por sua vez, é
possível observar um leve efeito escala nas determinações do módulo.

Quadro 2 - Síntese dos resultados da massa específica aparente por faixa de tamanho dos corpos-de-prova
cúbicos.

Tamanho Médio Quantidade de Massa Específica Aparente, MEA Coeficiente de


do Lado do Cubo Corpos-de- Variação#
(g/cm3)
Prova
(cm) (%)
Média Desvio Padrão

5,5 17 1,62 0,14 8

10,0 16 1,57 0,11 7

15,1 13 1,60 0,05 3

20,1 6 1,67 0,08 5

25,1 2 1,67 0,01 -

31,3 2 1,67 0,03 -

# Média/Desvio Padrão.

161
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Quadro 3 - Síntese dos resultados da velocidade de propagação da onda ultrassônica por faixa de tamanho dos
corpos-de-prova cúbicos.

Tamanho Médio Quantidade de Velocidade de Propagação da Onda Coeficiente de


do Lado do Cubo Corpos-de- Ultrassônica Longitudinal, VP Variação
Prova
(cm) (km/s) (%)

Média Desvio Padrão

5,5 15 2,34 0,34 15

10,0 16 1,89 0,26 14

15,1 13 1,88 0,30 16

20,1 6 1,80 0,21 12

25,1 2 1,54 0,18 -

31,3 2 1,58 0,01 -

Quadro 4 - Síntese dos resultados de resistência à compressão uniaxial por faixa de tamanho dos corpos-de-
prova cúbicos.

Tamanho Médio Quantidade de Resistência à Compressão Uniaxial, c Coeficiente de


do Lado do Cubo Corpos-de- Variação
(MPa)
Prova
(cm) (%)
Média Desvio Padrão

5,5 17 20,73 5,16 25

10,0 16 16,52 4,49 27

15,1 13 14,00 3,39 24

20,1 6 12,68 2,70 21

25,1 2 10,59 2,57 -

31,3 2 9,46 0,06 -

162
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Quadro 5 - Resultados médios de deformabilidade obtidos em corpos-de-prova cilíndricos e cúbicos de carvão


da camada Irapuá.

Dimensão do
Corpo-de-Prova Quantidade de Módulo de Young, E#
Observações
(geometria) Corpos-de-Prova (GPa)
(cm)

Medição das deformações com o uso de


5,4 (cilíndrico) 3 6,17
strain gages de 20mm de comprimento.

Medição das deformações com o uso de


22 (cúbico) 2 4,92
strain gages de 20mm de comprimento.

Medição das deformações com o uso de


31 (cúbico) 2 4,63 strain gages de 20mm de comprimento e
com relógio comparador.

# Módulo secante determinado no nível 80% da tensão ruptura.

2,2
Máximo
2,1
Mínimo
75%
2,0
Massa Específica Aparente (g/cm)
3

25%

1,9 Mediana
Espúrio
1,8

1,7

1,6

1,5

1,4

1,3
5,5 10 15,1 20,1 25,1 31,3
Tamanho Médio do Lado do Cubo (cm)

Figura 6 - Efeito do tamanho do corpo-de-prova na massa específica aparente.

163
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3,5

Velocidade de Propapagação da Onda Ultra-Sônica (km/s)


Máximo

3,0 Mínimo
75%

25%
2,5
Mediana
Espúrio
2,0

1,5

1,0

0,5

0,0
5,5 10 15,1 20,1 25,1 31,3
Tamanho Médio do Lado do Cubo (cm)

Figura 7 - Efeito do tamanho do corpo-de-prova na velocidade de propagação da onda ultrassônica longitudinal


perpendicular aos planos de estratificação.

35
Máximo

30 Mínimo
Resistência à Compressão Uniaxial (MPa)

75%

25%
25
Mediana
Espúrio
20

15

10

0
5,5 10 15,1 20,1 25,1 31,3
Tamanho Médio do Lado do Cubo (cm)

Figura 8 - Efeito do tamanho do corpo-de-prova na resistência à compressão uniaxial.

164
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

MÁXIMO

< 1,5 DIQ

Quartil Superior, 75%

DIQ - Distância Interquartil


Mediana

Quartil Inferior, 25%

< 1,5 DIQ

MÍNIMO

Os valores extremos que ultrapassam os limites das linhas


verticais, 1,5 x DIQ, são representados individualmente

Figura 9 - Ilustração da representação estatística através de diagramas de caixa.

12
CPs cilíndricos, D = 5,4cm - Faixa de medição: 20mm

CPs cúbicos, L = 24,6cm - Faixa de medição: 20mm


10 CPs cúbicos, L = 31cm - Faixa de medição: 20mm

8
Tensão Axial (MPa)

0
0 0.0002 0.0004 0.0006 0.0008 0.001 0.0012 0.0014 0.0016 0.0018 0.002
Deformação Específica Axial

Figura 10 - Curvas "tensão x deformação" típicas determinadas em corpos-de-prova de diferentes dimensões


no carvão da camada Irapuá.

165
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais
Camada de carvão IRAPUÁ - Efeito escala na determinação do Módulo de Young secante 80%.

10

7 E (GPa) = 7.8437*L(cm)-0.152

Módulo de Young (GPa)


6
R² = 0.5095

0
0 5 10 15 20 25 30 35
Dimensão do Corpo-de-Prova (cm)

Figura 11 - Efeito do tamanho do corpo-de-prova no módulo de Young secante 80%.

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1 VARIABILIDADE

Quanto à variabilidade, a observação dos coeficientes de variação, que melhor sintetizam a


variabilidade, constantes nos Quadros 2, 3 e 4, mostra que:

- quanto a composição o material ensaiado é relativamente homogêneo, uma vez que o coeficiente
de variação da massa específica aparente se situa entre 3 a 8%;

- já a variabilidade da relação entre a resistência à compressão uniaxial e a velocidade ultrassônica


independe do tamanho dos corpos-de-prova. A variabilidade do parâmetro resistência, entre 21%
a 27%, é mais elevada que aquela da velocidade ultrassônica (de 12% a 16%).

5.2 CORRELAÇÕES E ANÁLISES DE REGRESSÃO

O Quadro 6 apresenta-se a correlação linear existente entre as variáveis: resistência à compressão


uniaxial (c), velocidade de propagação da onda ultrassônica longitudinal (VP), massa específica
aparente (MEA) e dimensão do lado (L) dos corpos-de-prova cúbicos ensaiados. Observa-se que são
significativas as correlações entre as variáveis c x L, c x VP e VP x L.

166
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Quadro 6 - Matriz de correlação das variáveis estudadas, apresentando o coeficiente de correlação,


(quantidade de ensaios) e nível de significância.

c L VP

(MPa) (cm) (km/s)

L -.60 - -

(cm) (56) - -

0,00 - -

VP 0,47 - 0,57 -

(km/s) (54) (54) -

0,00 0,00 -

MEA -0,62 0,16 0,00

(g/cm3) (56) (56) (54)

0,65 0,25 0,00

O estudo de regressão simples entre as duplas de variáveis que apresentaram correlação significativa
resultou nas seguintes equações:

 c (MPa)  37,86 * L(cm) 0,38 (1)

VP (km / s)  2,984  0,423* ln L(cm) (2)

 c (MPa)  8,87 *VP (km / s) 0,834 (3)

Nas Figuras 12, 13, 14 e 15 estão plotados os valores observados nos ensaios, as curvas dos modelos
de regressão e o intervalo de confiança da média e de um valor individual para o limite de confiança de
95%. Sob a representação gráfica dos modelos estão apresentados os principais parâmetros envolvidos
na análise estatística da adequação de um modelo de regressão.

Ainda que os coeficientes de determinação, r2, mostrem que a variabilidade explicada pelos modelos
seja inferior a 50%, em todos os casos, o teste F, para análise de variância, e os testes t, para verificação
do coeficiente de correlação e da hipótese de nulidade dos coeficientes ao nível de significância de
0,05%, indicam que os modelos são úteis para explicar os dados.

167
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Observa-se nas Figuras 12 e 13 que à medida que aumenta o tamanho do corpo-de-prova ensaiado
diminuem a resistência à compressão e a velocidade ultrassônica. O efeito escala que se manifesta
devido a imperfeições na estrutura do corpo-de-prova repercute tanto na resistência à compressão
como na velocidade ultrassônica, como era de se esperar.

Este efeito mútuo aparece com maior intensidade quando se multiplicam os valores observados de
resistência e velocidade entre si e se faz uma regressão em função da dimensão do cubo. Na Figura 14
está representada a curva de regressão e as análises estatísticas. Há um incremento no coeficiente de
correlação passando de 0,64 para 0,72. O modelo passa a explicar 51% da variabilidade total.

b
Modelo: c = a * L
Parâmetro Coeficiente Desvio Padrão Valor T Nível de Significância

a 37,8606 0,1475 24,6289 0

b -0,3777 0,0610 -6,1886 8,4E-8


Coeficiente de Correlação = -0,6441
Coeficiente de Determinação = 41,49%
Análise de Variância

Origem Soma dos Graus de F Nível de Significância


Quadrados Liberdade

Modelo 2,3161 1 38,30 0

Erro 3,2655 54 - -

Figura 12 - Efeito escala da resistência à compressão uniaxial.

168
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Modelo: VP = a + b * ln L

Parâmetro Coeficiente Desvio Padrão Valor T Nivel de Significância

a 2,9824 0,1785 16,7107 0

b -0,4226 0,0732 -5,7694 4,4E-7

Coeficiente de Correlação = -0,6247


Coeficiente de Determinação = 39,03%

Análise de Variância

Parâmetro Coeficiente Desvio Padrão Valor T Nivel de Significância

a 2,9824 0,1785 16,7107 0

b -0,4226 0,0732 -5,7694 4,4E-7

Figura 13 - Efeito escala da velocidade de propagação da onda ultrassônica.

169
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

b
Modelo: c * VP = a * L

Parâmetro Coeficiente Desvio Padrão Valor T Nível de Significância

A 120,66 0,1910 25,0889 0

B -0,5849 0,0784 -7,4605 9,1E-10

Coeficiente de Correlação = -0,7190

Coeficiente de Determinação = 51,70

Análise de Variância

Origem Soma dos Graus de Liberdade F Nível de Significância


Quadrados

Modelo 5,3445 1 55,6592 0

Erro 4,9932 52 - -

Figura 14 - Efeito escala da resistência à compressão uniaxial multiplicada pela velocidade de propagação da
onda ultrassônica.

170
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

b
Modelo: c = a * VP

Parâmetro Coeficiente Desvio Padrão Valor T Nível de Significância

a 8,8696 0,1475 15,2777 0

b 0,8344 0,2069 4,0327 1,8E-4

Coeficiente de Correlação =0,4881

Coeficiente de Determinação =23,8%

Análise de Variância

Origem Soma dos Graus de Liberdade F Nível de Significância


Quadrados

Modelo 1,2873 1 16,26 0,00018

Erro 4,1161 52 - -

Figura 15 - Regressão entre resistência à compressão uniaxial e velocidade de propagação da ultrassônica.

5.2.1 PROPOSIÇÃO DO MODELO

Conforme discutido inicialmente, o efeito escala na resistência de corpos-de-prova de carvão tem sido
estudado desde o final do século 19 por um grande número de pesquisadores, em diferentes países do
mundo, cada qual investigando carvões cujas características nem sempre são semelhantes entre si.

Esses vários autores, em última análise, buscaram através da realização de ensaios em laboratório com
corpos-de-prova cúbicos de diferentes dimensões, definir com maior clareza a lei que explicava o

171
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

comportamento da resistência do carvão em função do aumento da dimensão da amostra, ou seja, o


efeito escala nas diferentes camadas de carvão. O Quadro 7 apresenta uma síntese dos resultados
obtidos em uma grande quantidade de pesquisas realizadas por diferentes autores sobre os materiais
carbonosos, os quais obedecem à lei proposta por STEART (1954) e GADDY (1956).

Quadro 7 - Valores do expoente "" na função do efeito escala obtidos para diferentes camadas de carvão no
mundo.

Denominação da Camada de Carvão Valor de "" na Função Referencia


Estudada k
C  
D
Llanderbie (Inglaterra) 0,44 MILLARD et. al. (1955).
Betteshanger (Inglaterra) 0,47
Langwith (Inglaterra) 0,53
Pittsburgh (USA) 0,53 GADDY (1956).
Clintwood (USA) 0,46
Pocahontas No 4 (USA) 0,42
Harlan (USA) 0,55
Marker (USA) 0,49
Pocahontas No 3 (USA) 0,21 SKELLY et. al. (1977).
Deep Duffryn (Inglaterra) 0,32 EVANS & POMEROY (1958), EVANS et. al. (1961a).
Barnsley Hards (Inglaterra) 0,17
Witbank (África do Sul) 0,39 BIENIAWSKI & VAN HEERDEN (1975).
# 0,50 FAIRHURST (1973).
## 0,50 HUSTRULID (1976).
# Resistência teórica baseada no conceito do balanço de energia, derivada para a ruptura à tração.
## Baseado nos resultados obtidos por Bieniawski na África do Sul.

De outra parte, o comportamento preconizado por esses autores e tantos outros ao longo do tempo,
não ocorre indefinidamente, ou seja, existe um tamanho de amostra a partir do qual a resistência se
torna constante ou varia muito pouco. Esse limite, denominado de "tamanho crítico", corresponde à
dimensão a partir da qual, para efeitos práticos, a resistência do carvão permanece constante. A
determinação dessa dimensão foi um dos grandes avanços para efeitos de projeto. Várias sugestões
foram propostas por diferentes pesquisadores, conforme podem ser visto no Quadro 8.

Na camada Irapuá, o estudo de regressão, com os dados experimentais, apresentou os valores de


k=37,9 e =0,38, conforme apresentados na equação (1) para a análise estatística apresentada na
Figura 12. Fixando-se o valor de  em 0,5 obtém-se k=50,27. As duas curvas, juntamente com os

172
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

resultados dos ensaios em laboratório, são apresentadas na Figura 16. As linhas verticais pontilhadas,
traçadas a partir do eixo das absissas, sinalizam dois dos tamanhos críticos mais recomendados.
Passando da primeira dimensão (90cm) para a segunda (150cm), registra-se uma redução da resistência
de 23%, no caso de =0,5, e, de 17%, no caso =0,38.

Nos estudos realizados pela CIENTEC para estabelecer o Método de Dimensionamento de Pilares
(CIENTEC, 1990) foram realizados ensaios em quatro camadas de carvão: Barro Branco, I, Chico Lomã e
I1F. A investigação do efeito escala produziu valores de  variando de 0,06, praticamente inexistente,
até 0,23. Optou-se pela utilização do =0,5 por produzir resultados mais conservadores. Exceção foi a
camada Barro Branco cujo modelo recomendado é:

0 , 023* Lcrít
 cm  0,712  1601* e (5)

onde: cm = resistência à compressão uniaxial in situ de um pilar cúbico de lado L;

Lcrít = dimensão crítica do lado do pilar cúbico.

A Figura 17 mostra as curvas adotadas para as camadas Barro Branco (SC) e I1F (RS), os resultados de
ensaios in situ executados em grandes blocos nessas camadas e a curva referente à camada Irapuá,
adotando-se =0,5.

Quadro 8 - Valores sugeridos para o tamanho crítico para a estimativa da resistência in situ de camadas de
carvão.

Tamanho Crítico para a


Estimativa da
Resistência In Situ do Base de Informações para a Proposição Referência
Carvão
(m)
Ensaios em laboratório e in situ em corpos-
1,6 de-prova com o lado variando entre 5,4cm e GADDY (1956).
163cm.
Ensaios em laboratório com corpos-de-
prova cilíndricos com diâmetro entre 2,5cm
1,5 a 1,8 SKELLY et. al. (1977).
e 30,5cm e ensaios in situ em pilares na
escala real com 18,9m de lado.
1,6 Análise de dados da literatura. BARON (1983), BARON & YANG (1992).
Ensaios em laboratório e in situ em corpos-
BIENIAWSKI (1968a, 1968b, 1968c, 1969,
1,5 de-prova com o lado variando entre 2,5cm
1981), BIENIAWSKI & VAN HEERDEN (1975).
e 200m.
0,9 a 1,0 Análise de dados da literatura. BIENIAWSKI (1982, 1983, 1984).
0,9 Análise de dados da literatura. HUSTRULID (1976).

173
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais
Modelos analíticos utilizados para expressar o efeito escala na resistência do
carvão da camada Irapuá.

Resistência à Compressão Uniaxial (MPa)


35

30

25

20

15

10
cm (MPa)= 37,86 * L(cm)-0,38

5
cm (MPa)= 50,27 * L(cm)-0,5
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160
Dimensão do Corpo de Prova Cúbico (cm)

Figura 16 - Variação do efeito escala considerando diferentes modelos.

35 Camada Irapuá

Camada I1F
30
Ensaios In Situ - I1F
Resistência à Compressão Uniaxial (MPa)

Camada Barro Branco


25
Ensaios In Situ - Barro Branco

20

15

10

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160
Tamanho do Lado do Cubo (cm)

Figura 17 - Comparação do efeito escala da camada Irapuá com outras camadas de carvão brasileiras.

O método de WILSON (1983) adota, como resistência in situ da rocha, o valor da resistência
determinada em laboratório dividido por um fator de redução que varia em função do tipo litológico e
do grau de fraturamento presente no maciço. No caso do carvão ele recomenda um fator de redução
de 5.

As diferentes estimativas para o valor da resistência in situ do carvão da camada Irapuá estão
sintetizados no Quadro 9. Para a camada de carvão Irapuá, objeto de estudo em análise, sugere-se

174
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

adotar a equação b) do Quadro 9, com um tamanho crítico de 90cm, resultando um valor de 5,30MPa
para a resistência in situ.

Quadro 9 - Resistência à compressão in situ estimada para a camada de carvão Irapuá considerando diferentes
modelos e tamanhos críticos.

Resistência à Compressão Uniaxial


Método no Tamanho Crítico
Lcrít = 90cm Lcrít = 150cm
0 , 38
a)  cm  37,86 * L 6,85MPa 5,64MPa

0 , 5
b)  cm  50,27 * L 5,30MPa 4,10MPa

c) Segundo WILSON (1983) 4,15MPa

6. ESTIMATIVA DA RESISTÊNCIA IN SITU DA CAMADA DE CARVÃO IRAPUÁ UTILIZANDO O


CRITÉRIO DE HOEK-BROWN

Os procedimentos de cálculo utilizados neste trabalho seguem a versão do critério de Hoek-Brown


proposta por HOEK et al. (2002). Os cálculos dos diferentes parâmetros das envoltórias representativas
da rocha intacta e do maciço rochoso, assim como a estimativa da resistência e deformabilidade in situ
da camada de carvão, foram feitos com o auxílio do programa RocLab, versão 1.032.

A estimativa da resistência à compressão uniaxial in situ, cm´ é feita a partir do cálculo dos parâmetros
c´ e ´ equivalentes do critério de ruptura de Mohr-Coulomb do maciço rochoso. Esses parâmetros são
determinados para a faixa de tensões confinantes, 3´ entre a resistência à tração, t e um quarto da
resistência à compressão uniaxial da rocha intacta (t<3´<0,25*ci). A expressão utilizada para o
cálculo de cm´ é a seguinte:

2 * c´* cos´ (6)


 cm ' 
1  sen´

Já o módulo de deformabilidade do maciço rochoso, Em é expresso por:

 D   ci (( GSI 10 ) / 40 )
E m  1   * *10
 2  100 (7)

Onde D = fator de dano na periferia da escavação.

175
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Para a determinação da envoltória de resistência da rocha intacta do carvão da camada Irapuá, foram
realizados ensaios de compressão diametral, uniaxial e triaxial em amostras cilíndricas. As amostras
foram coletadas através de sondagens rotativas verticais, utilizando barrilete duplo móvel no diâmetro
NX. O processo de preparação e acabamento dos corpos de prova, assim como a execução dos ensaios
obedeceu aos procedimentos sugeridos pela ISRM, específicos para cada modalidade de ensaio.

Os ensaios de compressão uniaxial e compressão triaxial foram realizados num sistema de carga com
capacidade de carga de 2MN. Em ambas as modalidades de ensaios a aplicação da tensão principal
maior foi feita perpendicularmente aos planos de estratificação do carvão. Uma câmara triaxial de Hoek
foi utilizada nos ensaios triaxiais. O procedimento de ensaio foi o de multi-estágios. Os ensaios de
compressão diametral foram realizados numa prensa Losenhausen com capacidade de carga de 100kN.
A resistência à tração foi determinada paralelamente aos planos de estratificação do carvão.

As informações provenientes de mapeamentos geotécnicos do maciço rochoso realizados nas Minas


Santa Augusta Norte na cidade de Criciúma, próxima da Mina A-Sangão, e na Mina Morozini Norte em
Treviso, serviram de base para a estimativa do índice GSI para a camada Irapuá (GONZATTI, 2007). Os
valores estimados situam-se na faixa entre 60 e 75, conforme indicado na Figura 18, e o fator
perturbação do maciço, D = 0.

Os resultados de 30 ensaios utilizados para a determinação da envoltória de resistência do carvão são


apresentados em termos de tensões principais na Figura 19, juntamente com as envoltórias de ruptura
de acordo com o critério de Hoek-Brown para a rocha intacta e maciço rochoso (envoltórias para o GSI
= 60 e 75). Os parâmetros do critério de Hoek-Brown relativos ao maciço rochoso são apresentados no
Quadro 10.

Quadro 10 - Resistência in situ (cm) da camada de carvão Irapuá na Mina A-Sangão estimada segundo o
critério de ruptura de Hoek-Brown (HOEK et al., 2002).

c' ' Em cm’


GSI mb s a
(MPa) (o) (GPa) (MPa)

60 2,75 0,012 0,503 1,05 34,6 2,89 4,00

65 3,29 0,021 0,502 1,14 36,1 3,51 4,50

70 3,93 0,036 0,501 1,26 37,5 4,07 5,10

75 4,69 0,062 0,501 1,40 38,9 4,54 5,86

176
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

GSI = Geological Strength Index; mb, s e a = constantes do critério de ruptura de Hoek-Brown para o maciço rochoso; c' e
-Coulomb, estimados para o maciço rochoso
na faixa de tensões confinantes definida por (t<3‘<0,25*ci); Em e cm’ = módulo de deformabilidade e resistência à
compressão uniaxial do maciço rochoso, respectivamente.

Figura 18 - Faixa de variação do GSI estimada para o maciço rochoso da camada de carvão Irapuá da Mina A-
Sangão (adaptado de MARINOS & HOEK, 2001).

6.1 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os parâmetros ci e mi da envoltória de ruptura de Hoek-Brown obtidos para o carvão da camada Irapuá
parecem de acordo com aqueles observados na literatura para diferentes carvões ou sugeridos para
esse tipo de material rochoso, como visto no Quadro 11.

Embora valores para comparação ainda sejam escassos, nota-se que os parâmetros encontrados para
a camada de carvão Irapuá situam-se na faixa intermediária a inferior dos valores observados em outros
carvões. Por outro lado, as estimativas para a resistência in situ da camada de carvão Irapuá, conforme
Quadro 10, mostram-se um pouco inferiores aos valores previstos a partir da definição da lei do efeito

177
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

escala, utilizando corpos de prova cúbicos com dimensões entre 5cm e 30cm. Esse fato leva a crer que
as estimativas do índice GSI abaixo de 70 são conservadoras.

120
Resultados de ensaios de laboratório
110 Envoltória de ruptura para a rocha intacta
Envoltória de ruptura do maciço rochoso - GSI = 75
100 Envoltória de ruptura do maciço rochoso - GSI = 60

90
GSI = 75
80
1 (MPa)

70 GSI = 60
60

50

40

30

20

10

0
-5 0 5 10 15 20 25 30 35

3 (MPa)

Parâmetros da envoltória de ruptura da rocha intacta: ci = 17,23MPa; mi = 11,5; s = 1; a =


0,5

Figura 19 - Resultados de ensaios de compressão diametral (12 ensaios), uniaxial (12 ensaios) e triaxial multi-
estágio (6 ensaios) e envoltórias de ruptura para o carvão da camada Irapuá na Mina A-Sangão.

Quadro 11 - Síntese dos valores de c, mi e mb do critério de Hoek-Brown para diferentes camadas de carvão
no mundo.

i
Camada de Carvão - País mi mb Referência
(MPa)
Irapuá - Mina A-Sangão - Brasil 17,23 11,5 2,7 - 4,7 -
Bonito - Mina Fontanela - Brasil 30,86 8,9 1,1 - 1,8- GONZATTI (2007).
MEDHURST & BROWN
DU - Mina Moura - Austrália 32,70 19,4 2,6
(1996).
Diversas camadas de 8 regiões dos EUA 13,39 - 33,51 3,8 - 27,4 - BIENIAWSKI & BAUER (1982)
Faixa de variação sugerida pelos autores do
- 8 - 21 - HOEK & BROWN (1997)
critério de ruptura de Hoek-Brown

178
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Mesmo com as limitações observadas neste trabalho e as próprias limitações para o uso do critério de
ruptura de Hoek-Brown apontadas por MARINOS et al. (2005), o uso dessa técnica para a previsão ou
estimativa da resistência in situ de camadas de carvão pode ser uma ferramenta bastante útil. Os
argumentos para o seu emprego em conjunto com outras técnicas, como a que busca definir a lei do
efeito escala apresentada nos itens anteriores deste trabalho, são vários.

De um lado, esta técnica requer uma quantidade de trabalho reduzida para a determinação da
envoltória de ruptura da rocha intacta, associado ao fato de se basear em ensaios mecânicos
padronizados, numa quantidade reduzida de amostras. De outra parte, a incorporação de informações
relativas ao padrão estrutural do maciço rochoso requer o mapeamento criterioso das características
estruturais do maciço. Esses elementos, pó sua vez, permitem estimativas mais realistas da resistência
in situ para as condições presentes nos jazimentos de carvão, à medida que podem ser consideradas as
variações estruturais presentes na diferentes áreas de lavra na mina. De certa forma, a observação de
diferentes padrões estruturais corrobora a tese de que não existe um único valor para a constante
característica da camada de carvão, salvo se o jazimento for homogêneo estruturalmente, o que é
improvável considerando as grandes áreas abrangidas pelas bacias carboníferas.

179
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

7. CONCLUSÕES

Os estados realizados in situ e em laboratorio para a estimativa da resistencia in situ da camada de


carvão Irapuá, na Jazida Carbonífera Sul-Catarinense no Sul do Brasil, evidenciaram dificultades de
natureza diversa para a determinação de um valor representativo para a camada. O emprego de
diferentes técnicas para a estimativa da resistência in situ do carvão levou a resultados semelhantes,
ainda que com abordagens e procedimentos distintos.

A técnica baseada em ensaios em laboratório sobre corpos de prova cúbicos de diferentes dimensões
se mostrou muito útil e estatisticamente consistente, não obstante as enormes dificuldades para a
extração, manutenção da qualidade e preparação das amostras, necessidade de compabilização das
dimensões das amostras com os equipmentos disponíveis em laboratório, variabilidade dos resultados
e impossibilidade de representação dos diferentes padrões geológico-estruturais existentes na jazida.
Ainda assim, os resultados obtidos permitem estimar, para a área abrangida pela amostragem (cerca
de 2km2), valores de cm’ entre 5,0 e 5,5MPa. Embora a técnica de ensaios em amostras com diferentes
dimensões seja muito trabalhosa e se mostre fora de uso atualmente, não parece razoável desprezá-la
como alterantiva para estimar a resistência in situ, em especial na fase inicial de operação de uma nova
mina em camadas de carvão pouco conhecidas mecânica e estruturalmente.

Por sua vez, o uso do sistema GSI - Geological Strength Index de Hoek-Brown para a estimativa de
parâmetros mecânicos do maciço rochoso, considerando as características geológico-estruturais da
camada de carvão na área de estudo, sugerem valores para cm’ entre 4,0 e 6,0MPa, aproximadamente.
A aplicação do sistema GSI deve ser considerada para jazidas de carvão, tendo em vista a sua maior
praticidade, além de incorporar as características geológico-estruturais diversas, normalmente
encontradas durante o avanço da lavra numa mina de carvão. O seu uso, no entanto, exige um
acompanhamento criterioso por parte da geologia de engenharia das variações geológico-estruturais
da camada de carvão, sob pena de serem obtidos resultados irreais. Na prática, o sucesso da aplicação
dessa técnica depende essencialmente da qualidade das amostras para a caracterização da rocha
intacta e do trabalho de mapeamento estrutural do maciço. Sondagens em avanço nas frentes de lavra,
procedimento muito utilizados pelas minas de carvão, podem ser muito úteis para uma primeira
aproximação da qualidade do maciço. Em última análise, a geração e o aproveitamento das
informações geológico-estruturais do maciço depende da constante interação entre engenheiros de
minas, responsáveis pelo dimensionamento dos pilares, e geólogos de engenharia, encarregados de
prover as informações sobre o padrão geológico-estrutural da camada de carvão nas frentes de lavra.

180
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Finalmente, à medida que se constata que é praticamente impossível determinar um valor único para
representar a resistencia in situ de uma camada de carvão, mesmo de uma área relativamente
pequena, não parece fora de propósito afirmar que a resistência da camada deve apresentar variações
dentro da jazida, tendo em vista as diferentes características geológico-estruturais frequentemente
observadas nesse tipo de jazimento. Assim, a abordagem das classificações geomecânica tradicionais
(RMR e Q-System, por exemplo) ou do sistema GSI de Hoek-Brown, que leva em conta a resistência da
rocha intacta e as características estruturais do maciço rochoso, deve ser considerada como alternativa
para a aplicação de correções às estimativas iniciais feitas para a resistência is situ de determinada
camada de carvão. Os resultados alcançados com o emprego da técnica de Hoek-Brown, neste trabalho,
mostraram que, uma vez balizada por alguma outra técnica ou experiência, pode se constituir numa
boa alternativa para a estimativa da resistencia in situ, à medida que o desenvolvimento da lavra atinge
novas áreas da jazida com condicionantes geológico-estruturais diferentes daquelas presentes na fase
inicial de operação da mina.

181
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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187
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 11

ESTUDO DA CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA DO


COMPÓSITO SOLO - CCA

Simone Minuzzo (Unioeste-Amperé)


Camila Daiane Cancelier (Unioeste-Santa Izabel do Oeste)
Decio Lopes Cardoso (Unioeste-Cascavel)
Guilherme Ireneu Venson (Unioeste-Cascavel)
Gabriel Orquizas Mattielo Pedroso (Unioeste-Cascavel)
Simone Tolomeotti Beal (Unioeste-Cascavel)

Resumo: O solo é constituído por vazios, preenchidos por ar ou água. Dependendo das condições
hidráulicas, a água presente no solo pode estar em equilíbrio hidrostático, ou percolar livremente. A
movimentação da água no solo gera instabilidade do maciço terroso, tornando regiões de solos muito
permeáveis inadequadas para a construção. Uma solução ao problema é fazer a composição do solo
com outro material, que melhore suas propriedades, formando assim um compósito. A sílica, por
exemplo, é usada como condicionador, em vários materiais utilizados na construção civil, também
pode ter um bom desempenho quando adicionada ao solo, em relação à diminuição da condutividade
hidráulica. A sílica pode ser encontrada nas cinzas das cascas de arroz, resíduo da indústria de
beneficiamento do arroz. O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência da adição de CCA (Cinza da
Casca de Arroz) ao solo na diminuição condutividade hidráulica. Os materiais utilizados no trabalho
foram o Latossolo Vermelho distroférrico da região Oeste do Paraná, a cinza da casca de arroz e a
geomembrana. Foram realizados ensaios de caracterização do solo e da CCA. Também foram
conduzidos ensaios especiais. Corpos de Prova de solo e de solo – CCA foram moldados, logo após

188
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

foram deixados saturar em água. Sequencialmente foram levados à prensa de compressão triaxial e
submetidos a ensaios de condutividade hidráulica com carga variável. Por fim, foi realizada uma
sistematização e análise dos resultados. A CCA apresentou efeito positivo no solo em relação a sua
permeabilidade, o solo acrescido pela cinza, compactado com a densidade máxima do solo puro
obteve uma redução de 85% do coeficiente de condutividade hidráulica. Já o solo acrescido por CCA,
compactado com a densidade máxima do compósito, obteve uma redução em relação ao solo natural
de 89,17%. Ambas as reduções são significativas. Entretanto se comparado com o coeficiente solo -
geomembrana que provoca uma redução de 100%, a CCA não é tão eficiente quanto. Mas ainda a CCA
pode tornar-se uma alternativa na substituição de materiais nobres e caros.

Palavras-chave: Solo, Casca de Arroz, Condutividade Hidráulica.

189
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A elevada condutividade hidráulica do solo é um fator complicador para obras de engenharia, devido à
instabilidade, causada por esta propriedade ao maciço terroso. A estabilidade do solo para a
implantação de obras de engenharia é fundamental, principalmente para obras que utilizam o próprio
maciço como elemento construtivo, como barragens, aterros sanitários e estradas.

Nos dias de hoje, é possível tornar solos impróprios para a construção em uma base para fundação
resistente e segura, através de recursos como, ligantes e reatores químicos. Esses métodos
convencionais para o tratamento do solo acarretam em vários problemas: a quantidade de ligante deve
ser grande; são poluentes orgânicos; em se tratando dos reatores, não funcionam da mesma maneira
em diferentes tipos de solo, portanto nem sempre são eficientes a pesquisa realizada neste trabalho é
fundamentada na busca por um novo material para o tratamento de solos sem estabilidade, material
este que sane as falhas dos produtos usados atualmente.

Hoje em dia a indústria de materiais da construção civil vem empregando a CCA (Cinza da Casca de
Arroz) em elementos como argamassas, concretos, tijolos, placas cerâmicas, conseguindo como isso a
redução do emprego de materiais nobres. A sílica presente nesta cinza promove um ganho de
resistência mecânica aos elementos em que é empregada. Pensando nisso é que se optou pela
utilização deste material residual da indústria de beneficiamento de arroz, para a realização de uma
pesquisa fundamentada na constituição de um compósito, solo – CCA, com a subsequente realização
de experimentos com diferentes dosagens do resíduo. Tendo como objetivo avaliar o desempenho do
compósito no que tange a redução da condutividade hidráulica do solo.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Os solos grossos possuem forças de superfície baixas, pois há vazios consideráveis entre as partículas
sólidas. Esses vazios podem estar preenchidos por ar ou água. (BUENO e VILAR,1984). Durante a
movimentação da água no solo, ocorre um atrito viscoso que desencadeia em transferência de energia
da água para as partículas sólidas gerando forças de percolação, estas forças interferem muito na
construção civil (CAPUTO, 2002). A força de percolação influencia na instabilidade de barragens, cortes
e aterros e na escavação de areia. Também é responsável pelo fenômeno da areia movediça (BUENO e
VILAR, 1984).

190
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

De acordo com a norma ASTM D3878-95, dois ou mais materiais insolúveis entre si formam uma
substância denominada de compósito. Na engenharia esta combinação serve para produzir um
material útil com propriedades especiais.

Uma fase contínua, denominada de matriz reforçada com aditivos condicionadores é que compõe um
compósito. A matriz preenche os vazios do compósito gerando estrutura ao mesmo, já os aditivos
condicionadores reforçam propriedades mecânicas e químicas (FILHO, 2001 apud KAMINSKI,2008).

Engenheiros e outros profissionais da área estão empregando cada vez mais compósitos em obras, uma
vez que esta junção de materiais pode gerar um material que atenda às necessidades de mercado
(KAMINSKI, 2008).

Cerca de 15% do peso da cinza da casca de arroz é carbono, quando realizado um aquecimento de
forma a eliminar este carbono residual pode ser obtido até 95% de sílica, com área superficial específica
de 10m²/g e partículas com aproximadamente 20 um, tornando a CCA um agregado mais eficiente
(FOLETTO et.al.,2005).

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 MATERIAIS

O solo utilizado é procedente do campus da Unioeste - Cascavel. Típico no centro sul do Terceiro
Planalto Paranaense (MINEROPAR, 1998). O solo é classificado pedologicamente como Latossolo
Vermelho distroférrico (EMBRAPA, 1999), geotecnicamente é classificado como A7. Classificado ainda
como CH pelo U.S.C.S. (ASTM Test Designation D-2487). Este solo é bem drenado, originado da
decomposição do basalto, contém teores elevados de hematita (Fe2O3), possui forte atração
magnética, se fragmenta com facilidade, quando úmido possui densidade aparente baixa 0,92 a 1,15
g/cm³, porosidade elevada entre 60% a 69% e bastante resistente a erosão laminar.

A cinza que foi utilizada é industrializada e fornecida pela empresa Tecno sul.

Atualmente a indústria de materiais da construção civil vem empregando a CCA (Cinza da Casca de
Arroz) em elementos como argamassas, concretos, tijolos, placas cerâmicas, conseguindo como isso a
redução do emprego de materiais nobres. A sílica presente nesta cinza promove um ganho de
resistência mecânica aos elementos em que é empregada. Pensando nisso é que se optou pela
utilização deste material residual da indústria de beneficiamento de arroz, para a realização de uma
pesquisa fundamentada na constituição de um compósito, solo – CCA, com a subsequente realização

191
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

de experimentos com diferentes dosagens do resíduo. Tendo como objetivo avaliar o desempenho do
compósito no que tange a redução da condutividade hidráulica do solo.

3.1.1 MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no Laboratório de Geotecnia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná,


Unioeste, campus Cascavel.

O solo foi coletado no campus da Unioeste, Cascavel, posteriormente foi seco ao ar e depois de seco
passou por peneiramento na malha 4,8 mm (peneira N. 5 da ABNT), obtendo-se a Terra Fina Seca ao
Ar (TFSA).

Foram realizados Ensaios de Caracterização: Análise Granulométrica do solo e da CCA; Massa Específica
(𝜸); Massa específica dos Sólidos (𝜸 s); Limite de Consistência LL e LP do Solo.

Também foram realizados Ensaios Especiais: Ensaio de Compactação; Série de Floculação; Confecção
dos Corpos de Prova; Saturação dos Corpos de Prova e Ensaio de condutividade hidráulica na célula da
prensa de compressão triaxial.

O ensaio de compactação foi realizado com energia normal de Proctor, a metodologia foi seguida de
acordo com a ABNT NBR 7182 (1986), para definição do teor ótimo de umidade e da massa específica
seca máxima, com os quais foram confeccionados os corpos de prova para os ensaios de condutividade
hidráulica.

Foi conduzida a série para o compósito solo mais CCA, para 10 dosagens, com teores de resíduo
variando de 0%, 2,5%, 5%, 7,5%, 10%, 12,5%, 15%, 20%, 25%, 30%, em provetas de 250 ml. O método
que foi empregado é o mesmo utilizado na COPPE/UFRJ (MACEDO, 2004 apud KAMINSKI, 2008) que
consiste em:

- Usar cerca de sete provetas de 250 mml, marcadas, para garantir uma porcentagem de reforço;

- Colocar em cada proveta 20g de solo, seco ao ar, passante na peneira nº 10;

- Devem ser adicionadas nas provetas as quantidades de reforço em porcentagens por massa
seca de solo;

- Agitar as provetas para misturar solo e reforço ainda secos;

- Adicionar 50 ml de água destilada e agitar as provetas até a homogeneização completa;

- Completar 100 ml e deixar em repouso absoluto até o dia seguinte;

192
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

- No dia seguinte com auxílio de um bastão de metal agitar a mistura até ficar homogênea;

- Depois de duas horas no mínimo fazer a leitura do volume;

- No terceiro dia, agitar as provetas novamente com o bastão metálico e fazer a leitura após no
mínimo duas horas;

- A operação deve ser repetida todos os dias até obter leituras constantes ou decrescentes.

- Montar uma tabela com as percentagens de reforço, e as leituras de volume referentes a cada
dia. A partir daí foi calcular a variação volumétrica percentual do sedimento solo-reforço, em
relação à variação do solo puro, para todos os teores de reforço, para o cálculo escolher o maior
volume obtido para cada teor;

- Plotar um gráfico relacionando volume de sedimento em relação à dosagem do compósito. O


ponto máximo de variação volumétrica é interpretado como o teor mínimo de reforço
necessário para a estabilização físico-química do solo.

Foram moldados corpos-de-prova no aparelho mini MCV (Moinsture Condition Value) com 50mm de
diâmetro e 100mm de altura. Foram criadas três réplicas para cada dosagem. Os moldes foram feitos
com teor ótimo de umidade, que foi determinado pelo ensaio de compactação, com energia que
forneceu a massa específica seca máxima (PEIXOTO, et. al., 1986 apud KAMINKI, 2008).

À medida que os corpos de prova ficaram prontos, sua base foi envolta por papel filtro e perflex, fixado
por uma borracha (“O” ring), após este preparo, foram deixados saturar até constância de peso, cerca
de 24:00 horas. Após a saturação foram submetidos, ao ensaio de condutividade hidráulica, na prensa
de compressão triaxial.

Cada corpo de prova foi colocado na célula da prensa de compressão triaxial (Figura 1) e foram
executados os ensaios de condutividade hidráulica.

O aparelho utilizado, esquema da figura 1, possui uma câmara cilíndrica, translúcida acoplada sobre
um disco de metal, por uma bucha e um pistão. Esta câmera possui um pedestal onde deve ser colocada
a amostra do solo previamente envolvida por uma membrana de borracha impermeável, fixada por
elástico, com finalidade de vedar a amostra do topo à base, evitando assim o contato da água com a
câmara. Na base da amostra deve ser colocada uma placa porosa, conectada por tubulação à saída da
câmara (TERZAGHI et. al., 1996 apud LUCAS, 2010).

Com a amostra acoplada, a câmara é hermeticamente fechada e preenchida por água, a qual distribui
tensões confinantes a todas as direções da amostra, desencadeando em um estado hidrostático de

193
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

tensões. A água percolará pelo solo e será direcionada a uma bureta, para leitura de seu volume.
Através da variação volumétrica e da vazão, pode ser empregada a equação 1 para a obtenção do
coeficiente de condutividade hidráulica (PINTO, 2000 apud LUCAS,2010).

aL h1
K = 2.0303 log10
At h2 (1)

Onde:

k = condutividade hidráulica (m.s-¹)

A = área da seção transversal do corpo de prova do solo (m²)

a = área da seção transversal da bureta (m²)

t = duração da coleta de água (s)

h 1= diferença de carga inicial (m)

h 2= diferença de carga final (m)

L= comprimento da amostra (m)

Figura 1. Câmara compressão triaxial (VARGAS 1981, apud LUCAS, 2010)

194
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. RESULTADOS

4.1 ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO

De acordo com o ensaio de granulometria o solo foi classificado com 57% argila, 29% silte e 14% areia.
A massa especifica do solo é de 16,61 KN.m-³. A massa específica dos sólidos do solo é de 29,48 KN.m-
³. O limite de plasticidade ótimo do solo é dado quando o teor de umidade do mesmo é de 31,35%. O
limite de liquidez foi determinado como o teor de umidade correspondente a 25 golpes, onde o mesmo
deu 65,7%.

De acordo com ensaio de granulometria a CCA foi classificada como 63% silte, 35% areia e 02% argila.
A massa específica média da CCA foi fornecida pela indústria que refinou a mesma, o valor de tal massa
específica é 8,90 KN.m-³. A massa específica dos sólidos para a CCA é 21,40 KN.m-³, determinada pelo
ensaio de picnômetro.

A massa específica do compósito 18,26 KN.m-³.

4.1.1 ENSAIOS ESPECIAIS

Compactação: Através do ensaio de compactação foram plotados os gráficos (Fig. 2) e (Fig. 3), as quais
apresentam as curvas de compactação, o ponto máximo de cada curva representa a densidade máxima
(γ máxima) em relação a umidade ótima (Wótima) para o compósito e para o solo:

Figura 2. curva de compactação na energia normal de proctor para o solo.

195
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 3. curva de compactação na energia normal de proctor para o compósito solo mais CCA

Através da análise da curva de compactação do solo obtemos a massa específica seca máxima de 13,43
KN.m-³, ponto máximo do gráfico, o teor ótimo de umidade deve ser de 33,40%.

Através da análise da curva de compactação do compósito obtemos a massa específica seca máxima
de 13,55 KN.m-³, ponto máximo do gráfico. Esta massa específica é considerada a ótima para a
confecção dos corpos de prova do compósito, e para atingi-la o teor ótimo de umidade deve ser de
34,18%.

Floculação: Com a montagem da Série de Floculação, através dos volumes de sedimentos máximos de
cada dosagem, volume máximo na proveta (Vmáx), massa seca (Ms), obteve-se a variação volumétrica
dos sedimentos, como pode ser observado na (tabela 1):

Tabela 1. Volume Normalizado de Sedimentos Máximos da Dosagem.

Dose Vmáx Vmáx/Ms


Ms [g]
[%] [cm³] [cm³/g]
0,00 28,00 15,41 1,82
2,50 29,00 15,80 1,84
5,00 3100 16,18 1,92
7,50 32,00 16,57 1,93
10,00 37,50 16,95 2,21
12,50 38,00 17,34 2,19
15,00 39,00 17,72 2,2
20,00 48,00 18,49 2,6
25,00 52,00 19,26 2,7
30,00 40,00 20,04 2,00

196
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Como as dosagens de CCA no solo variam de 0% a 30%, haverá um aumento de matéria dentro da
proveta, mas para a precisão do ensaio precisa-se normalizar o volume para todas as provetas,
normalização esta que foi obtida pela relação volume de sedimentos pela massa seca.

Com os valores do quociente da relação supracitada em função da dosagem, foi plotada a curva de
floculação apresentada (Fig. 4):

Figura 4. Curva de Floculação

A curva V1 é referente ao volume do primeiro dia de leitura, V4 ao volume do quarto dia de leitura e
V8 ao volume do oitavo dia. Através da análise da curva é possível perceber a estabilização do volume
de sedimentos a partir do quarto dia, devido à sobreposição de V4 e V8. O ponto máximo da curva,
20%, é interpretado como o ponto de dosagem ótima, pois a máxima variação volumétrica corresponde
ao teor mínimo de reforço para tornar o solo estável.

Índice de Vazios: O valor médio para o índice de vazios (e) dos corpos de prova é 1,17 referente a um
desvio padrão de 0,028, com porosidade em média (n) de 53,88% referente a um desvio padrão de
0,614. Através de uma análise estatística, percebe-se que os desvios padrão tanto do índice de vazios
quanto da porosidade são baixos, para tanto o índice de compactação em todos os corpos de prova foi
praticamente o mesmo. Tal índice refere-se à máxima massa específica seca obtida no ensaio de
compactação.

Condutividade Hidráulica: A seguir serão apresentados os resultados dos ensaios de condutividade


hidráulica. Adotou-se como critério de estabilização do experimento a constância nos valores de vazão
(Q) calculados durante o ensaio. À medida que iam sendo obtidas as leituras, as mesmas eram lançadas
no gráfico vazão (Q) versus tempo (t) e quando a curva se tornava horizontal, encerrava-se o
experimento e calculava-se o valor do coeficiente de condutividade hidráulica (k) através da equação 1

197
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

(Eq.1). Estão apresentados os dados coletados e gráficos plotados apenas para uma das réplicas de solo
puro e para uma das réplicas de solo-CCA na densidade máxima do compósito, para as demais réplicas
apenas serão apresentados os valores finais do coeficiente de condutividade hidráulica.

A seguir serão apresentados os valores da leitura do volume (V) em função do tempo (t), os gráficos de
variação volumétrica (∆V) em função do tempo (t), vazão (Q) em função do tempo (t) para um dos três
corpos de prova com dosagem 0% CCA, os valores demonstrados foram obtidos através do Ensaio de
Condutividade Hidráulica do Solo.

Na (tabela 2) podem ser verificados os dados do ensaio de condutividade hidráulica para a primeira
réplica de solo (SR1):

Tabela 2: Dados Ensaio SR1

t V ∆V Q
[s] [cm³] [cm³] [cm³/s]
0,00 40,50 0,00 1,82X10-1
60,00 29,60 10,90 6,50X10-2
120,00 25,70 14,80 1,67X10-2
240,00 23,70 16,80 5,00X10-3
480,00 22,50 18,00 3,45X10-3
900,00 21,050 19,45 2,50X10-3
1800,00 18,80 21,7 1,83X10-3
3600,00 15,50 25,00 1,39X10-3
7200,00 10,50 30,00 1,24X10-3
14400,00 1,60 38,90 1,24X10-3

Nas (Fig. 5) e (Fig. 6) encontram-se as curvas de variação volumétrica e vazão para a primeira réplica
de solo puro:

198
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Ensaio Solo R1

Curva ∆V - t

Figura 5. Variação Volumétrica SR1.

Ensaio Solo

R1

Curva Q - t

Figura 6. Vazão SR1.

O coeficiente de condutividade hidráulica do solo para a primeira réplica, com dosagem 0% de CCA é
igual a 1,33X10-6 m.s-¹.

A seguir serão apresentados os valores das leituras do volume (V) em função do tempo (t), os valores
variação volumétrica (∆V) em função do tempo e vazão (Q) em função do tempo para um dos três
corpos de prova do compósito Solo-CCA com 20% de CCA que foram confeccionados com densidade
máxima do compósito, fornecida pelo ensaio de compactação.

Na (tabela 3) estão apresentados os valores do ensaio de condutividade hidráulica para a primeira


réplica solo mais CCA (CCAR1):

199
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 3: Dados Ensaio CCAR1

t V ∆V Q
[s] [cm³] [cm³] [cm³/s]
1,00 40,60 0
30,00 40,50 0,10 3,45X10-3
60,00 40,45 0,15 1,67X10-3
120,00 40,4 0,20 8,33X10-4
240,00 40,35 0,25 4,17X10-4
480,00 40,30 0,30 2,08X10-4
900,00 40,20 0,40 2,38X10-4
1800,00 39,90 0,70 3,33X10-4
3600,00 39,35 1,25 3,06X10-4
7200,00 38,00 2,60 3,75X10-4
14400,00 35,30 5,30 3,75X10-4

Na (Fig. 7) e (Fig. 8) encontram-se as curvas de variação volumétrica e vazão para a primeira réplica do
compósito solo mais CCA:

Figura 7: Variação Volumétrica CCAR1

200
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 8: Vazão CCAR1

O coeficiente de condutividade hidráulica do solo para a primeira réplica com densidade máxima do
compósito, com dosagem 20% de CCA é igual a 5,72X10-8 m.s-¹.

4.1.1.1EFEITO CAUSADO PELA ADIÇÃO DA CINZA DE CASCA DE ARROZ AO SOLO

Na tabela 4 constam os valores dos coeficientes de condutividade hidráulica médio do solo, do


compósito na densidade máxima do solo e na densidade máxima do compósito e também do solo com
a geomembrana:

Tabela 4: Efeito da CCA

Ensaio k kmed S
(m/s) (m/s)
SR1 1,33X10-6
SR2 2,23X10-6 1,418X10-6 7,75X10-7
SR3 6,92X10-7
CCAR1 5,60X10-8
CCAR2 2,49X10-7 2,130X10-7 1,42X10-7
CCAR3 3,34X10-7
CCAR11 5,72X10-8
CCAR21 1,44X10-7 1,538X10-7 1,01X10-7
CCAR31 2,95X10-7
GEOR1 0
GEOR2 0 0 0
GEOR3 0

201
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Em relação à curva de compactação a CCA adicionada ao solo provocou um aumento de 0,9% na massa
específica seca máxima e um aumento de 2,10% na umidade ótima.

A CCA apresentou efeito positivo no solo em relação a sua permeabilidade, o solo acrescido pela cinza,
compactado com a densidade máxima do solo puro obteve uma redução de 85% do coeficiente de
condutividade hidráulica. Já o solo acrescido por CCA, compactado com a densidade máxima do
compósito, obteve uma redução em relação ao solo natural de 89,17%. Ambas as reduções são
significativas. Entretanto se comparado com o coeficiente solo-geomembrana que provoca uma
redução de 100%, a CCA não é tão eficiente quanto.

202
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

5. CONCLUSÕES

A preocupação com a preservação do meio ambiente tange a busca por alternativas renováveis, que
sejam tecnicamente viáveis para a indústria.

Atualmente os recursos utilizados para a impermeabilização do solo, partem de materiais não


renováveis, e muitas vezes inviáveis economicamente, devido às áreas que necessitam de tal
tratamento serem largamente extensas, como é o caso de aterros sanitários e estradas.

Através da pesquisa realizada constatou-se que a CCA residual, do processo de beneficiamento de


arroz, quando adicionada ao solo forma um compósito significativamente menos permeável que o solo
natural chegando a diminuir 89,17% da condutividade hidráulica do mesmo, além de provocar um
aumento de 0,9% na massa específica seca máxima. Portanto a CCA pode tornar-se uma alternativa na
substituição de materiais nobres e caros, em sistemas de contenção de contaminantes. Além do que
esta prática pode reduzir o passivo ambiental que a CCA representa para a indústria de beneficiamento
de arroz.

AGRADECIMENTOS

A todos os pesquisadores que se empenham na busca de alternativas sustentáveis para a construção


civil.

203
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7182: Solo – Ensaio de Compactação. Rio de Janeiro,
1986.

American Society for Testing and Materials. D1242-95 a: Standard Test Methods for Resistance of
Plastic to Abrasion. Philadelphia, 1996.

Bueno, B.S.; Vilar, O.M., Mecânica dos Solos. VOL I, São Carlos 1984.

Caputo, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 2ª Ed. Volume 1, Livros Técnicos e Científicos Editora
S.A. Rio de Janeiro 2002.

Caputo, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 2ª Ed. Volume 2, Livros Técnicos e Científicos Editora
S.A. Rio de Janeiro 2002.

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaria (1999) Sistema brasileiro de classificação de


solo. Rio de Janeiro: Centro Nacional de Pesquisa de Solos, 1999.

Kaminski T. B.(2008) Desempenho mecânico de compósito formado por solo e cinza de casca de arroz.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) - Universidade Estadual do Oeste do
Paraná.

Lucas J. F. R. (2010) Obtenção da curva de retenção da água do solo pela câmara de compressão triaxial
e pelo papel filtro. Trabalho de Pós-Graduação (Mestrado em Engenharia Agrícola) - Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel.

Mineropar – Minerais do Paraná S.A. (1998) Mineração na geração de emprego e renda –


oportunidades de negócio com mineração. Curitiba: SERT.

American Society for Testing and Materials. d1242-95 a (1986) Standard Test Methods for Resistance
of Plastic to Abrasion. Philadelphia.

Foletto, E. L.; Hoffmann, R.; Hoffmann, R. S.; Jahn, S. L.; Portugal, JR. U. L. (2005) Aplicabilidade das
cinzas da casca de arroz. Química nova Vol. 28 São Paulo, acesso em:08/05/2012,disponível em
:http://www.scielo.br/pdf/%0D/qn/v28n6/26837.pdf

204
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 12

ANÁLISE DE ESTABILIDADE EM
ASSENTAMENTO PRECÁRIO NO MUNICÍPIO DE
VITÓRIA – ES

Jaime Mesquita de Souza (UFOP)


Frederico Garcia Sobreira (UFOP)
Lúcio Flávio de Souza Villar (UFMG)

Resumo: O morro São Benedito está localizado na porção centro leste da Ilha de Vitória e está ocupado
na sua parte baixa e plana como também nas suas vertentes. Esta área apresenta predisponência a
escorregamentos devido principalmente à saturação do solo por água servida e pluvial e a configuração
geomorfológica, que concentra a água no local que ocorreu o escorregamento relatado neste artigo,
juntamente com alterações da geometria da encosta gerando horizonte de aterro sobreposto a solo
coluvial. A determinação do fator de segurança para o talude do morro São Benedito após o
escorregamento foi realizada através do método equilíbrio limite. São analisadas as condições de
ruptura em solo na umidade higroscópica e saturada, com os parâmetros obtidos através do ensaio de
cisalhamento direto. Para a realização das análises de estabilidade foi escolhido o método de
Morgenstern e Price (1965). Quando comparados os valores dos fatores de segurança determinados
através da condição higroscópica e saturada, a condição higroscópica apresenta resultados muito
superiores a condição saturada. De acordo com o método sugerido pela NBR 11682, este estudo
estabeleceu que as condições atuais do talude da vertente sul exigem um fator de segurança mínimo
de 1,3. O menor fator de segurança alcançado, ou seja, 1,6 com parâmetros geotécnicos obtidos no
ensaio de cisalhamento direto na condição saturada satisfaz o preconizado em norma.

Palavras-chave: Colúvio, aterro, análise de estabilidade, Vitória, Espírito Santo.

205
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A ocupação do morro São Benedito remonta a década de 60 através de moradores oriundos do interior
da Bahia e de Minas Gerais. A parte baixa é urbanizada com vias formais e com moradias, na sua ampla
maioria, construídas em alvenaria. À medida que se segue em direção a cotas mais elevadas do bairro,
a urbanização se torna incipiente, culminando em acessos somente para pedestres através de becos
sem calçamento, com moradias de madeira e alvenaria de má qualidade.

Geologicamente, o morro São Benedito está inserido na Suíte Espírito Santo (Machado Filho et al,
1983), ocorrendo sob forma circular e ligeiramente alongado, com o seu eixo longitudinal orientado na
direção nordeste.

A vertente sul do bairro, foco deste estudo, apresenta a sua encosta côncava, com rocha aflorante no
topo e no sopé. A meia encosta é composta por solo de origem residual, coluvial e aterro lançado. O
flanco oeste limita o trecho de encosta através de maciço rochoso, enquanto o flanco leste é composto
por solo. Este mesmo trecho de encosta apresenta desnível entre o topo da encosta e o sopé de 33 m
e inclinação variando entre 25° próximo a crista e 45° em meia encosta. A área destacada na figura
1 está inserida numa Área de Interesse Ambiental (AIA), onde na teoria é proibida qualquer construção
e modificação antrópica, tal como escavações para construção de moradias.

Figura 1. Visão geral do bairro São Benedito. Em destaque, área de estudo. Fonte: PMV/Secretaria de
Fazenda/2007 modificado.

O trecho de encosta a montante do Beco São Cosme e Damião, local da análise de estabilidade neste
artigo, foi palco de dois escorregamentos ocorridos no ano de 2005 (figuras 2, 3 e 4).

206
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 2. Visão frontal da vertente sul do morro São Benedito. Em destaque, as duas cicatrizes de
escorregamentos ocorridos no ano de 2005. Fonte: Projeto MAPENCO.

Figura 3. Visão lateral da cicatriz do escorregamento ocorrido no ano de 2005. Fonte: Projeto MAPENCO.

Figura 4. Visão de montante para jusante da cicatrize de escorregamento ocorrido no ano de 2005. Fonte:
Projeto MAPENCO.

207
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Após estes escorregamentos, não foram observadas novas feições de instabilidade na encosta. As
cicatrizes geradas nos escorregamentos ocorridos em 2005 já não se destacam tanto na encosta devido
ao crescimento de vegetação e o lançamento de aterro, oriundo de escavações para assentamento de
moradias e para melhoria das condições de acessibilidade dos moradores. Nas imediações da encosta
não existem obras de contenção, para o disciplinamento das águas pluviais ou acessos formais.

2. MÉTODO

2.1 CRITÉRIO PARA SELEÇÃO E LOCAÇÃO DAS INVESTIGAÇÕES E ENSAIOS GEOTÉCNICOS

Os ensaios, juntamente com as investigações geotécnicas, têm como objetivo principal fornecer a
caracterização e as relações entre as unidades geológico-geotécnicas. Os ensaios de laboratório fazem
parte do refinamento e ratificação das informações obtidas no campo e foram obtidos através do
estudo realizado por Souza (2012). Os ensaios e as infestações geotécnicas executados para estudo do
escorregamento foram: sondagem mista, sondagem a trado, densidade in situ – cilindro cravação,
análise granulométrica, massa específica real dos grãos, limites de Atterberg e cisalhamento direto.

A definição dos locais para a realização dos ensaios de campo teve como objetivo a extração do máximo
de informações das áreas afetadas e não afetadas pelos movimentos de massa. A locação das
sondagens mistas obedeceu a posição geográfica das cicatrizes e também a extração de informações
da parte do talude que não foi mobilizada no movimento da massa.

No talude do morro São Benedito foram determinados dois locais para execução das sondagens mistas
(SM1 e SM2) e ambas sondagens foram executadas na crista do talude, no local de um dos
escorregamentos e vizinho a este, ou seja, num local não afetado pelo movimento de massa. A locação
destas sondagens, distantes 40 m, apresentou os horizontes na crista do talude e determinou a
resistência à penetração do solo na área afetada e não afetada pelo escorregamento.

Através da sondagem a trado foram coletadas as amostras deformadas nas profundidades


especificadas. A definição das camadas a serem coletadas foi baseada na mudança de resistência (N),
e no reconhecimento do material retirado no amostrador (através da sua granulometria e tonalidade).
A descrição dos horizontes a partir da sondagem a trado também serviu para refinar o conhecimento
sobre as unidades geológico- geotécnicas.

A coleta de amostras indeformadas foi condicionada pelas sondagens, que estabeleceram as unidades
geológico- geotécnicas ou o horizonte passível de ser mobilizado no escorregamento.

208
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

A determinação dos parâmetros de resistência através do ensaio de cisalhamento direto, foram


realizados à partir das amostras indeformadas. A coleta dos blocos indeformados, de forma
aproximadamente cúbica com 40 cm de aresta, foi realizada em poço de inspeção (PI) de 1,20 m de
lado. Ao longo do processo de escavação dos poços, também foi realizada a definição da densidade do
material in situ, através do método do cilindro de cravação.

O ensaio de granulometria foi realizado com e sem a utilização do defloculante. A realização da análise
granulométrica sem a presença de defloculante tem por objetivo reproduzir as características originais
do solo in situ, quanto a sua distribuição granulométrica.

A execução do ensaio de cisalhamento direto na umidade higroscópica e saturada obteve os


parâmetros de resistência (coesão e ângulo de atrito) nas condições extremas de estabilidade, ou seja,
na umidade natural e em condições de saturação próximo a 100%.

2.2 ANÁLISES DE ESTABILIDADE

A determinação do fator de segurança foi realizada através do programa Slope/W da Geo- Slope
International. Para determinação do atual fator de segurança, através do método do equilíbrio limite,
foram determinados os seguintes parâmetros geotécnicos: ângulo de atrito, coesão e o peso específico
in situ do material mobilizado, juntamente com a geometria dos taludes. São analisadas as condições
de ruptura em solo na umidade higroscópica e saturada, com os parâmetros obtidos através do ensaio
de cisalhamento direto.

O método Morgenstern e Price (1965) é adotado para as análises de estabilidade neste artigo devido a
sua precisão e consideração de forças entre fatias, tanto normal como de cisalhamento (GEOSTUDIO,
2008). Para cada análise de estabilidade são definidas as cinco superfícies de rupturas que apresentam
os menores fatores de segurança, com o objetivo de comparar as similaridades e/ou discrepâncias
visualizadas, permitindo assim um detalhamento maior da acurácia do fator de segurança e da
superfície de ruptura gerada.

2.3 DETERMINAÇÃO DO FATOR DE SEGURANÇA

Para determinação do fator de segurança mínimo é utilizada como referência a NBR11682 que versa
sobre a Estabilidade de Encostas e “prescreve os requisitos exigíveis para o estudo e controle da
estabilidade de encostas e de taludes resultantes de cortes e aterros realizados em encostas” (ABNT,
2009). A norma estabelece o fator de segurança mínimo através da possibilidade de perdas de vidas

209
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

humanas e de danos materiais e ambientais. O critério estabelece um nível baixo, médio ou alto para
cada uma das análises.

O trecho de encosta onde se encontra o talude a ser analisado no morro São Benedito é enquadrado
como “Áreas e edificações com movimentação e permanência restrita de pessoas”. Justifica-se a
escolha do critério, por se tratar de área residencial e habitada, porém, com número reduzido de
habitações (três no total e todas as montante) e ausência de tráfego de carros, somente raros
pedestres. O nível médio é atribuído para o talude analisado, em termos de segurança desejado contra
a perda de vidas humanas.

Para o enquadramento do morro São Benedito considera-se o valor reduzido das edificações próximas
à encosta, que são constituídas de moradias de madeira ou alvenaria mal-acabada e construídas
precariamente. Desta maneira, o talude é enquadrado no nível baixo. A atribuição do nível médio e
baixo para perda de vidas humanas e danos materiais ambientais, respectivamente, para o bairro São
Benedito determina em 1,3 o fator de segurança mínimo.

Cabe ressaltar, que o valor mínimo do fator de segurança atribuído com base na NBR 11682 deve ser
válido para a pior situação de estabilidade, ou seja, para presença de NA e/ou na condição saturada.

3. RESULTADOS

Na sondagem SM2, nos primeiros 8,68 m, os resultados apresentam a mesma variação de material do
ponto SM1, ou seja, aterro composto por argila arenosa. É notada a diferença no valor de N, superior
no perfil SM2 (variando entre 22 e 26 golpes). Os dois primeiros metros de alteração de rocha,
alcançado com 8,68 m de perfuração, tiveram N superior a 28 golpes, chegando a 30/10, com 11 m
(figura 5).

210
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 5. Perfil transversal da crista do talude entre as sondagens mistas.

A rocha que compõe a base da encosta é de natureza granítica e está dentro do contexto geológico da
Suíte Espírito Santo. A rocha sã apresenta um alto índice de recuperação, superior a 95% que, aliado
ao RQD de 100%, em ambas as sondagens, indica um maciço com raras descontinuidades. As cotas
iniciais e finais do aterro e colúvio são apresentados na tabela 1. A partir da execução das sondagens
a trado foram retiradas as amostras deformadas para realização da análise granulométrica e dos
ensaios de limites e massa específica dos grãos. Juntamente com a execução da sondagem a trado,
foram realizadas as retiradas de amostras indeformadas em poços de inspeção e realizada a
amostragem para determinação do peso específico in situ, através da cravação de cilindro. A retirada
das amostras deformadas e indeformadas ocorreram nos mesmos pontos das sondagens SM1 e SM2.
Para a retirada dos 4 blocos indeformados, foram abertos poços de inspeção no mesmo ponto de
realização da sondagem SM2 (figuras 6 e 7). A figura 8 apresenta o perfil de aterro no ponto de

sondagem SM1 sobreposto ao colúvio.

A análise granulométrica realizada nas duas amostras do furo SM1, sem defloculante, apresenta
diferenças na sua classificação. Em ambas as amostras ocorrem um acréscimo da fração de finos de
15,26 e 10,24%, quando comparada com o ensaio com defloculante.

(tabelas 2 e 3).

Os valores de IP de ambas as amostras sinalizam para materiais altamente plásticos, segundo a


classificação descrita na tabela 4. Os valores dos pesos específicos in situ e seco apresentam
similaridade e o teor de umidade teve um acréscimo de 35% no nível mais profundo.

211
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Nas duas amostras retiradas do furo SM2, os horizontes apresentam a mesma classificação quanto à
granulometria, no ensaio sem defloculante (areia siltosa com pedregulho) e no ensaio com
defloculante (argila areno-siltosa com pedregulho). No resultado do ensaio granulométrico destaca-se
a presença da fração Silte três vezes superior mais profundo no horizonte superficial em relação ao
horizonte mais profundo, ou seja, 27 e 8%, respectivamente.

Os valores de IP do material que representa o nível mais profundo é 30% superior ao nível superficial.
Os valores relativos aos pesos específicos e a umidade não apresentaram grande variação entre os
níveis.

Os valores de permeabilidade obtidos através do método de carga variável são apresentados na tabela
5.

212
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 1. Cotas iniciais e finais das unidades Geológico- Geotécnicas baseadas na sondagem SM2.

Unidade Geológico- Classificação Cota (m)


granulométrica
Geotécnica Inicial Final

Aterro com Argila areno- siltosa com 132,41 130,76


presença de lixo pedregulho

Aterro lançado Argila areno- siltosa com


pedregulho
130,76 129,46

Aterro composto de
areia (camada)
- 129,46 127,96

Argila areno- siltosa com


pedregulho
Colúvio 127,96 127,06

Figura 6. Localização das sondagens mistas executadas


no bairro São Benedito.
Fonte: PMV/Secretaria de Fazenda (2007) /modificado.

213
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 7. Retirada de bloco indeformada do horizonte composto por aterro lançado.

Figura 8. Em destaque, lente de areia que separa o aterro, com 2,95 m de espessura, do Colúvio.

214
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 2. Resultados das análises granulométricas sem defloculante.

Local Argila Silte Areia Pedregulho

topo 0 24,50 65,50 10,00


SM1 base 12,00 15,90 59,90 12,20

topo 0 27,00 67,20 5,80


SM2
base 0 8,00 86,00 6

Tabela 3. Resultados das análises granulométricas com defloculante.

Local Argila Silte Areia Pedregulho

topo 26,10 13,61 50,27 9,97


SM1 base 25,82 12,32 49,23 12,63

topo 42,93 10,36 40,96 5,75


SM2
base 45,26 5,36 43,58 5,79

Tabela 4. Resultados das analises de limites, peso específico in situ e unidade.

Local Argila Silte Areia Pedregulho

topo 26,10 13,61 50,27 9,97


SM1 base 25,82 12,32 49,23 12,63

topo 42,93 10,36 40,96 5,75


SM2
base 45,26 5,36 43,58 5,79

Tabela 5. Valores da permeabilidade através do ensaio de carga variável.

Unidade Geológica- Permeabilidade


Geotécnica (m/s)
Aterro 1,96 x 10-5
Colúvio 2,14 x 10-5

215
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

As amostras apresentaram a permeabilidade de solo arenoso, conforme classificação da tabela 6.

Tabela 6. Valores típicos do coeficiente de permeabilidade, segundo Pinto (2000).

Tipo de solo k (m/s)

Argilas < 10-9


Siltes 10-6 a 10-9
Areias argilosas 10-7
Areias finas 10-5
Areias média 10-4
Areias grossas 10-3

Os resultados do ensaio de permeabilidade em carga variável, oriundos de amostras indeformadas,


apresentaram características de solos arenosos finos para ambas as amostras, quando se associa o
valor do coeficiente de permeabilidade a uma fração granulométrica. O valor de permeabilidade
praticamente igual para aterro e para solo coluvionar aponta para um solo com estrutura argilosa
floculada, permitindo assim a rápida passagem de água entre os interstícios, similar a um solo com
características arenosas. Para o aterro, o alto índice de vazios também é gerado pelo material lançado
e pela heterogeneidade das suas partículas, podendo incluir lixo orgânico e inorgânico.

Para realização do ensaio de cisalhamento direto todas as 2 amostras indeformadas (aterro e colúvio)
foram submetidas às condições de umidade higroscópica e saturação, perfazendo um total de 4
ensaios.

A tabela 7 apresenta os valores da coesão e ângulo de atrito das amostras analisadas. É possível notar
que os valores da coesão apresentam decréscimo, em condição saturada, variando entre 89 e 91%, em
relação à condição higroscópica. O ângulo de atrito na condição higroscópica supera em mais de 26%
os valores na condição saturada.

Ainda na condição higroscópica, ou seja, na melhor condição de estabilidade, a coesão do aterro e do


colúvio são 59,0 e 93,5 kPa, respectivamente. O valor substancialmente mais elevado da coesão no
colúvio pode mostrar a diferença na formação destas unidades geológico-geotécnicas (aterro lançado
e colúvio) através de uma melhor estruturação do colúvio e a eventual presença de constituintes não
terrosos no aterro, ou seja, lixo.

216
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 7. Síntese das informações sobre os resultados dos ensaios de cisalhamento direto nas condições
higroscópicas (H) e saturadas (S).

Unidade Geológica- Coesão (kpa) Atrito (0)


Geotécnica H S H S
Aterro 59,0 6,3 43,2 26,9
Colúvio 93,5 8,1 41,9 31,2

Os parâmetros geotécnicos oriundos do ensaio de resistência ao cisalhamento mostram que em


condições saturadas, o aterro e o Colúvio apresentam comportamento similar.

4. ANÁLISE DE ESTABILIDADE

A análise de estabilidade será resumida na determinação do fator de segurança nas condições atuais,
juntamente com a apresentação dos condicionantes dos movimentos de massa ocorridos no morro São
Benedito.

A determinação do fator de segurança é pautada nas condições extremas de estabilidade, ou seja, na


condição higroscópica e na saturada, servindo como base os dados oriundos do ensaio de cisalhamento
direto.

Os escorregamentos ocorridos em 2005 não apresentaram uma profunda cicatriz de ruptura. Durante
levantamento de campo na época do escorregamento, estimou-se esta superfície em 2 m de
profundidade na crista do talude. É possível notar duas cicatrizes entre os dois pontos de sondagem.

Essencialmente, o horizonte mobilizado foi o aterro. Não foram observadas evidências de mobilização
de horizontes do colúvio, solo saprolítico ou saprólito, como também não foi exposto o maciço rochoso.

Foi notada a presença de trinca de tração no acesso entre as sondagens. A trinca não se apresenta
profunda e a princípio somente está presente no aterro lançado.

O perfil côncavo da encosta a montante do acesso atingido por escorregamento, sugere a convergência
de água pluvial para a crista do escorregamento. Portanto, a saturação do terreno onde ocorreu o
escorregamento pode ter a contribuição da dinâmica de escoamento de água pluvial da encosta a
montante.

217
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Outro fator que deve ser considerado nesta análise é o elevado índice de vazios do aterro, oriundo da
falta de adensamento deste material, que propicia a percolação e saturação de água neste horizonte.
A intervenção antrópica no acesso, através da instalação de manilhas para condução do esgoto pode
ter contribuído para a saturação do terreno. Desta maneira, o encaixe entre as manilhas estaria
prejudicado devido ao recalque do solo, mostrando um forte indício de movimentação e causando o
rompimento, proporcionando o vazamento de água servida no solo.

A análise de estabilidade foi determinada considerando-se somente as unidades geológico-geotécnicas


aterro e colúvio. A medida de impor a análise de estabilidade uma ruptura localizada somente no aterro
e no colúvio é substanciada por dois motivos: a falta de ensaios para determinar a resistência das
unidades solo saprolítico e saprólito e a não mobilização de nenhuma das duas unidades supracitadas
no escorregamento ocorrido em 2005.

Na ausência de dados relativos ao ângulo de atrito e coesão do solo saprolítico e saprólito, ambos foram
considerados como bedrock na análise de estabilidade. São determinadas as cinco superfícies de
ruptura que mais se aproximam da otimizada, e o menor valor do FS é apresentado na tabela 8.

Tabela 8. Resultados da determinação de fator de segurança com base nos ensaios de cisalhamento direto nas
condições higroscópicas (H) e saturadas (S) pelo método Morgenstern e Price (1965).

Ensaio Condição Fator de segurança


Cisalhamento H 6,3
Direto S 1,6

Para ambas as unidades geológico- geotécnicas, são marcantes o decréscimo do valor da coesão e o
imediato reflexo no fator de segurança entre a condição higroscópica e saturada. Na condição
higroscópica e saturada, para os dados provenientes do ensaio de cisalhamento direto, se observa uma
brusca redução no fator de segurança de 74,92%.

A perda de coesão também é refletida na profundidade atingida pela superfície de ruptura

6 e 3 m, para a condição higroscópica e saturada, respectivamente. Foi observada, através dos


parâmetros obtidos no ensaio de cisalhamento direto na umidade higroscópica, uma superfície de
ruptura mais profunda em valores de coesão mais elevados. Quando se compara a mobilização do
aterro e colúvio, constata-se que na condição saturada estes horizontes foram os menos mobilizados.

218
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Devido à ausência do NA, determinada pela sondagem mista, não foi testada a presença de água no
interior do talude.

De acordo com o método estabelecido pela NBR 11682, as condições atuais do talude exigem um fator
de segurança mínimo de 1,3. O menor valor de fator de segurança obtido, ou seja 1,6, satisfaz o
preconizado em norma.

O elevado valor do fator de segurança na condição higroscópica mostra que apesar de todas as
modificações antrópicas ocorridas, o material se mostra estável, devido, principalmente a condição de
coesão, oriunda da sucção desenvolvida pela condição de não saturação.

Os valores de RQD e de recuperação na sondagem rotativa no morro São Benedito indicam que pode
haver acumulação de água no contato rocha/saprólito, devido aos altos valores encontrados para
ambos, tornando quase nula a infiltração de água através das descontinuidades. Caso o saprólito se
apresente permeável e susceptível a perda de coesão pode, neste contato, criar-se uma superfície de
ruptura. A não execução de ensaios de resistência no horizonte relativo ao solo saprolítico e ao saprólito
impuseram uma análise de estabilidade com determinação de superfície de ruptura que não atingisse
estas duas unidades geológico-geotécnicas. A superfície de ruptura, imposta nesta análise de
estabilidade, foi determinada através de levantamento de campo na época do escorregamento (figuras
9 e 10).

6,3

Figura 9. Superfícies de ruptura obtidas através dos parâmetros geotécnicos da condição higroscópica.

219
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1,6

Figura 10. Superfícies de ruptura obtidas através dos parâmetros geotécnicos da condição saturada.

Em linhas gerais, foi confirmado pela análise de estabilidade que o escorregamento que venha mobilizar
o aterro e o colúvio apresenta fator de segurança que garante as condições de estabilidade no talude
analisado. O elevado valor do fator de segurança em condições higroscópicas obtido através do ensaio
de cisalhamento direto prova a determinante atuação da água no processo de instabilização.

O valor do fator de segurança determinado neste estudo também corrobora que uma atuação eficaz na
urbanização, principalmente no disciplinamento das águas pluviais, determina condições seguras para
implantação de moradias, mesmo na presença de aterros lançados. Porém, por se tratar de área não
urbanizada e com alterções antrópicas constantes, o fator de segurança pode decrescer e tornar a área
com risco para os moradores em decorrência da ausência de disciplinamento da ocupação e
urbanização. Cabe destacar, que a atuação da municipalidade na urbanização de assentamentos
precários diminuiu drasticamente os escorregamentos e comprova a eficácia deste tipo de intervenção.

AGRADECIMENTOS

Ao Engenheiro Juscelino Alves dos Santos, da Secretaria de Obras da Prefeitura Municipal de Vitória,
pela execução das sondagens.
A Joseanny Gomes Poltronieri Pereira, da Secretaria de Fazenda da Prefeitura Municipal de Vitória pela
disponibilização das ortofotos e o levantamento topográfico da área de estudo.
A CAPES pela concessão da bolsa para realização deste estudo.
Ao revisor pelas valorosas sugestões para melhoria deste artigo.

220
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2009). NBR 11682. Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro,
RJ. 39p.

Geostudio. (2008). Stability Modeling with SLOPE/W 2007 Version. An Engineering Methodology.
Fourth Edition, November, 2008.

Machado Filho, L., Ribeiro, M.W., Gonzales, S.R., Schemini, C.A., Santo Neto, A., Palmeira, R.C.B., Pires,
J.L., Teixeira, W., Castro, H.E. Geologia. In: Projeto RADAMBRASIL, Folhas SF-23/24 - Rio de
Janeiro/Vitória. Rio de Janeiro: Ministério das Minas e Energia, 1983. v.32, p. 29-304.

Morgenstern, N. R. e Price, V. E. (1965). The Analysis of the Stability of General Slip Surfaces,
Géotechnique, v.15, march, p.79-93.

Souza, J.M. (2012). Abordagem qualitativa e quantitativa de encostas urbanas aplicada a dois taludes
no município de Vitória. Dissertação (Mestrado em Geotecnia) – Núcleo de Geotecnia, Universidade
Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 214 p.

221
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 13

AVALIAÇÃO DA ERODIBILIDADE DE MISTURAS


SOLO – RCC PARA CAMADA DE COBERTURA E
PROTEÇÃO DE TALUDES

Ana Luiza Caovila KAiber (Universidade do Estado de Mato Grosso)


Eduardo Rosendo Lucena (Universidade do Estado de Mato Grosso)
Ana Elza Dalla Rosa (Universidade do Estado de Mato Grosso)
Raul Tadeu Lobato Ferreira (Universidade do Estado de Mato Grosso)
Flávio Alessandro Crispim (Universidade do Estado de Mato Grosso)
Augusto Romanini (Universidade do Estado de Mato Grosso)

Resumo: Este trabalho avaliou o efeito da erodibilidade de um solo da região de Sinop - MT para
aplicação em camadas de cobertura e proteção de taludes através do ensaio de Inderbitzen. Visando
reduzir a erodibilidade do solo, foi proposta a adição de RCC (Resíduo da Construção Civil) ao solo. As
amostras ensaiadas foram as de solo puro (M01), solo com adição de 25% de RCC (M02) e solo com
adição de 50% de RCC (M03). O estudo foi realizado com amostras compactadas no teor de umidade
ótimo (wot) e na Energia Proctor Normal. Parte das amostras não foram submetidas à imersão e parte
foram submetidas à imersão parcial e total, com o objetivo de simular três situações distintas que
podem ocorrer em campo. Foi construído o equipamento para a execução do ensaio de Inderbitzen,
que avalia em laboratório. O aparelho foi confeccionado utilizando placas de acrílico de 0,5 cm de
espessura, que foram cortadas e coladas na montagem no equipamento. Foi possível verificar também
que a adição do resíduo acarretou no aumento da erodibilidade das amostras, caracterizando um

222
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

comportamento erodível principalmente na condição de imersão total. Portanto, a aplicação do RCC


para o solo ensaiado foi considerada inadequada.

PALAVRAS-CHAVE: Erodibilidade, Inderbitzen, Solo-RCC.

223
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A execução de corte e aterros acarreta, na maioria dos casos, o surgimento de taludes. Esses taludes
estão sujeitos a ações externas e internas que afetam a sua estabilidade (GEORIO, 2000).

Um dos agentes que afetam em seu comportamento é a água. A ação da água pode atuar tanto
aumentando as por opressões, com a elevação do lençol freático, quanto causando erosões na camada
superficial do aterro, devido à precipitação. Da camada de proteção, espera-se que ela seja resistente
às solicitações que são impostas pela ação da água no âmbito externo, conhecida popularmente como
erosão. Esta erosão pode tornar o aterro instável ou até mesmo levá-lo a ruptura (GERSCOVICH, 2012).

Esta camada superficial pode ser constituída pelo mesmo material que compõe o aterro/corte ou ser
confeccionada. Esta camada pode ser natural (vegetação) ou artificial (concreto ou geossintético).
Outra alternativa é a utilização de estruturas mistas, que podem ser constituídas de materiais naturais
e artificiais, como geossintético e grama, ou mistura de solo com outros materiais (GEORIO, 2000).

A criação de mistura de solo com outros materiais tem se apresentado interessante, pois na maioria
dos casos tem-se um material com qualidades que o solo natural não tinha. Esse processo de
estabilização já foi estudado com diversos aditivos em dois solos da região de Sinop – MT. Uma das
misturas que se têm mostrado interessante é a adição de Resíduos de Construção Civil (RCC) em solos
visando alterar as suas características.

A mistura solo – resíduo de construção civil é interessante pois propõe a reutilização de um material
que ainda pode ter um valor agregado e que é gerado constantemente. Analogamente a esse processo,
existe uma preocupação ambiental que se caracteriza pela grande quantidade de resíduo produzido,
pela falta de um local adequado para a disposição do mesmo e pelo grande volume que é ocupado na
sua disposição.

O processo erosivo é muito complexo, possuindo diversos fatores condicionantes. Conciani (2008)
avaliou e dividiu esses fatores em: granulometria, limites de liquidez e plasticidade, sucção, forma da
encosta, pedologia, permeabilidade, cobertura, ação antrópica e compactação. Todos esses fatores
influenciam no processo erosivo de um solo, porém, do ponto de vista geotécnico, apenas alguns deles
possuem maior relevância

A granulometria influi diretamente nos processos erosivos, sendo assim, uma das propriedades mais
estudadas. Conciani (2008) afirma que solos como siltes e areias finas e com pouca quantidade de
argila são os mais suscetíveis a erosão. Isso se dá, basicamente, pela ausência de coesão na resistência

224
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

ao cisalhamento destes solos. Solos de características argilosas e siltosas têm valores de coesão
maiores e, portanto, são mais resistentes à erosão.

A sucção, segundo Conciani (2008), é um valor de poro-pressão negativa decorrente da insuficiência


de água para saturar o solo. Em outras palavras, é a energia que um elemento poroso exerce para
absorver água do solo. Quanto maior a sucção de um solo, maior a sua resistência ao cisalhamento.
Apesar de mais resistentes, esses solos são os mais suscetíveis a erosão, pois a entrada de água em
sua estrutura faz com que ocorra uma perda de resistência de forma abrupta.

No meio geotécnico a erodibilidade é avaliada por meio de métodos empíricos, como o método da
USLE (Equação Universal de Perda de Solo) e ensaios de laboratório, tais como ensaios de
caracterização física (granulometria e índices de consistência), desagregação por imersão, pin hole e o
de Inderbitizen.

Existem diversos ensaios para se determinar a erodibilidade de um solo. Todos eles visam identificar
características do solo e proporcionam informações para o entendimento destas características. Os
resultados destes ensaios, permitem propor soluções viáveis e de cunho sustentável para problemas
que envolvem a erodibilidade do solo e os processos erosivos.

O ensaio de Inderbitzen, desenvolvido em 1961, constitui-se de um aparelho simples que simula, em


laboratório, as condições em que a erosão ocorre em campo e que avalia a erodibilidade através do
escoamento superficial, inclinação e teor de umidade da compactação da amostra. Esse aparelho foi
inicialmente constituído de uma rampa em que uma amostra de solo é colocada sob a mesma e, na
parte superior, existe um reservatório que escoa a água por toda a superfície da rampa.

Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a perda de massa de um solo puro típico da região e
também de misturas com adição de RCC através de ensaios com o equipamento de Inderbitzen.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 MATERIAIS

Os materiais utilizados foram um solo local e o resíduo de construção civil, além do equipamento de
Inderbitizen.

225
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2.1.1 SOLO

O solo utilizado neste trabalho é comumente conhecido como “amarelo”, e foi coletado em um trecho
de uma estrada vicinal do município de Sinop, MT, em um ponto situado a cerca de 500 metros do eixo
da rodovia MT – 423, nas coordenadas geográficas 11°45'29.3"S 55°22'31.9"W.

A coleta foi feita no segundo semestre do ano de 2014, a uma profundidade entre 0,60 e 1,00 m. Após
a coleta, o material foi levado ao Laboratório de Engenharia Civil da UNEMAT. O solo foi seco ao ar,
peneirado na peneira de 4,8 mm (nº 4) e armazenado em tambores metálicos.

O solo é de cor amarela e apresenta classificação AASHTO – TRB como A-6(7) e comportamento silte
argiloso, na metodologia MCT o mesmo classificação LA’ - LG’ (comportamento laterítico)

2.1.2 RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

Os resíduos de construção civil foram coletados em obras do município de Sinop. Os resíduos foram
britados de forma mecânica, utilizando um britador disponibilizado por uma empresa local. O RCC
triturado é composto basicamente de sobras de argamassa e blocos cerâmicos. A escolha da faixa
granulométrica seguirá a utilizada por Alves e Benatti (2015), ou seja, a fração areia, o intervalo
utilizado é do passante na peneira nº 10 (2,00 mm) até o retido na peneira nº 200 (0,076 mm) conforme
a ABNT (1984c).

2.1.3 EQUIPAMENTO DE INDERBITZEN

Para o ensaio de Inderbitzen, o aparelho utilizado seguiu a proposta de IDE (2009), conforme a figura
1

Figura 1. Aparelho de Inderbitzen. Itens: A:Suporte para mangueira de alimentação; B: Molde padrão; C: Base
com angulação ajustável; D: Rampa do aparelho; E: Placa de regulagem de vazão e altura da lâmina de água; F:
Suporte para o molde.
Fonte: Os autores, 2017.

D
C 226
F
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

O aparelho da Figura foi confeccionado utilizando placas de acrílico de 0,5 cm de espessura, cortadas
e coladas para formar a rampa e o canal de escoamento. As paredes da rampa têm altura de 5,0 cm,
assim como a placa de regulagem de vazão e a altura da lâmina de água. A rampa tem dimensões de
60,00 cm x 20,00 cm. O centro da amostra está localizado a 36,50 cm do início do fluxo.

O recorte para o encaixe da amostra possui diâmetro externo de 11,00 cm, uma vez que o molde possui
diâmetro interno de 10,00 cm e altura de 5,00 cm.

A vazão foi medida por uma estrutura auxiliar com registro e rotâmetro, conforme a Figura 2.

Figura 2. Rotâmetro utilizado para controlar a vazão durante o ensaio.

Fonte: Os autores,2017

2.2 MÉTODOS

2.1.1 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS

Com o solo e o RCC foram confeccionadas 3 misturas, denominadas M01, M02 E M03. A Mistura M01
é composta apenas de solo, a Mistura M02 possui 75% Solo e 25% RCC e a Mistura M03 é composta
por 50% Solo e 50% RCC. Todas as adições foram feitas em função da massa seca do solo.

As misturas M01, M02, M03 e o RCC, respectivamente e, posteriormente, foram caracterizadas, através
dos ensaios de determinação do limite de liquidez (ABNT, 1984a), determinação do limite de

227
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

plasticidade (ABNT,1984b) e análise granulométrica (ABNT, 1984c). Os parâmetros de compactação


utilizados foram obtidos por Alves e Benatti (2015) utilizando a Energia Proctor Normal.

2.1.2 ENSAIO DE INDERBITZEN

Para estas misturas, além dos ensaios realizados no item 2.1.1, foram conduzidos os Ensaios de
Inderbitzen. As amostras foram compactadas no teor de umidade ótimo obtido através do ensaio de
compactação.

Foram confeccionadas 27 amostras, para cada mistura foram compactadas um total de 9 amostras que
foram separadas em três casos: caso A, caso B e caso C. As 3 amostras que não foram submetidas a
imersão correspondem ao caso A, as 3 amostras que foram submetidas a imersão parcial são analisadas
no caso B e as outras 3 que foram submetidas a imersão total, são o caso C.

A imersão parcial ocorreu de maneira com que o corpo de prova ficasse imerso até a metade da sua
altura pelo tempo de 15 minutos. No processo de imersão total, a água cobriu totalmente o corpo de
prova, também pelo tempo de 15 minutos.

O solo e as misturas foram moldados em um molde padrão, conforme a Figura 3.

Figura 3.Corpo de prova compactado.


Fonte: Os autores, 2017.

Após este processo deu-se início aos ensaios de erodibilidade, por meio dos ensaios de Inderbitizen.

2.1.3 ENSAIO DE INDERBITZEN

Para o ensaio de Inderbitzen Normal, a amostra foi colocada próxima ao fundo. O fluxo de água foi
ligado e a amostra ficou disposta de uma maneira que a sua superfície permaneça no mesmo nível em
que a rampa. A altura da lâmina de água foi obtida em função da vazão estabelecida no momento do

228
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

ensaio. Esta altura também pode ser obtida por meio da Equação 1, onde h é altura da lâmina de água,
Q é a vazão, v é a velocidade do fluxo e L a largura da rampa.

Q
h= (1)
v L

Por se tratar da primeira avaliação, optou-se por realizar o ensaio utilizando a inclinação de 20º
proposta por Freire (2001) e utilizada por Grando (2011). A inclinação da rampa pode ser ajustada
diretamente no equipamento.

A vazão escolhida foi fixada em 50 mL/s, conforme proposto por Ide (2009) e corresponde a uma
precipitação de 28 mm em 30 minutos no município de Bauru - SP, porém a escolha da mesma vazão
se justifica pelo fato de diversos autores a utilizarem e ainda ser a vazão que proporciona o melhor
desempenho do equipamento.

O ensaio foi baseado no proposto por Campos (2014), onde cada amostra foi submetida um fluxo de
água por cerca de 30 minutos e o material erodido foi coletado nos intervalos decorridos de 1, 5, 10,
15 e 30 minutos, sem pausa durante as coletas. O material coletado foi armazenado em recipientes
limpos e secos, onde foram separados o solo da água em um conjunto de peneiras de malhas nº 50
(0,297 mm) nº 100 (0,150 mm), e nº 200 (0,074 mm) e posteriormente secos em estufa e pesados.

Na Figura 4 é apresentado um ensaio em andamento no equipamento.

.
Figura 4. Ensaio de Inderbitizen em andamento.

Fonte: Os autores, 2017.

229
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Com os resultados da etapa anterior, foi medida a perda em peso de solo seco erodido com relação a
área da amostra e o tempo de fluxo, obtendo-se assim, gráficos expressos em perda acumulada de solo
(g/cm²) por tempo (minutos).

Segundo Conciani (2008), o fator de erodibilidade K é obtido pela equação 2:

Ms
K=
A tS (2)

Onde:
K = Fator de erodibilidade;
𝑀𝑠 = Massa de solo seco perdido no ensaio (g);
t = Tempo de ensaio (minutos);
A = Área da amostra (cm²);
S = Tensão hidráulica cisalhante atuando na amostra (Pa).

O cálculo da tensão hidráulica cisalhante (S) da amostra, calculada por meio da Equação 3:

S =  w  H  cos (3)

Onde:
S = Tensão hidráulica cisalhante atuando na amostra;
𝛾𝑤 = Peso específico da água;
H = Altura da lâmina d’agua atuando sobre a amostra;
α = Ângulo de inclinação da calha (em relação à horizontal).
Segundo Bastos (1999), solos mais erodíveis apresentam valores de K na condição de umidade natural
superiores a 0,1 g/cm²/min/Pa e solos mais resistentes a erosão apresentam valores inferiores a 0,001
g/cm²/min/Pa, conforme ilustra a Tabela 3.

Tabela 3. Índices de erodibilidade segundo o parâmetro K.

Índice de Erodibilidade Valores de K

Baixa Erodibilidade K<0,1

Média Erodibilidade 0,1<K<10

Alta Erodibilidade K>10

Fonte: Adaptado de Bastos, 1999.

230
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os valores obtidos através dos ensaios são apresentados a seguir.

3.1 ENSAIOS PRELIMINARES

Foram realizados também ensaios de granulometria e de limites de consistência (LL e LP) para o solo
puro e para cada uma das misturas. A caracterização geotécnica para as três misturas analisadas é
apresentada pela Tabela 4.

Tabela 4. Caracterização geotécnica das misturas.


Mistura

AG (%)

AM (%)

AF (%)

S+A (%)*

LL (%)

LP (%)

IP (%)
M01 7 37 17 39 38 25 13

M02 10 39 21 30 30 20 9

M03 18 36 18 28 24 NP -

RCC 21 53 12 14 NL NP -

Nota: * Classificação segundo a ABNT (1995): areia grossa - AG (0,60 ≤ ϕ < 2,00 mm), areia média – AM
(0,20 ≤ ϕ < 0,60 mm), areia fina - AF (0,06 ≤ ϕ < 0,20 mm) e silte + argila - S+A (ϕ ≤ 0,074 mm). Limite de liquidez – LL,
Limite de plasticidade – LP, Índice de plasticidade – IP. Não líquido – NL, Não plástico – NP. Fonte: Os autores, 2017.

3.2 ENSAIO DE INDERBITZEN

Os ensaios realizados no aparelho de Inderbitzen, simulam em laboratório as condições de


saturamento do solo após uma chuva, onde a água deixa de infiltrar e passa a correr como um
escoamento laminar pela superfície do solo, caso retratado no caso A.

Repetiu-se a mesma forma de análise quanto aos outros tipos de processos em que as misturas foram
submetidas.

Observa-se na Figura que o solo sem adição de RCC (M01) tem o melhor comportamento na situação
sem imersão. Nesta situação a M02 e a M03 apresentam perdas de massa por tempo de ensaio
semelhantes. Neste caso, percebe-se que a perda de massa se acentua com o decorrer do ensaio.

231
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

15

14

13

12

11

Perda de massa (g)


10

0
1 5 10 15 30
M01 0,6384 1,0771 1,3758 1,5432 1,8742
M02 3,0108 3,9193 4,4756 5,0218 5,6643
M03 3,1541 4,4639 5,0242 5,4213 6,3162
Tempo (minutos)

M01 M02 M03

Figura 5. Caso A - Sem Imersão.

Fonte: os autores,2017

Na Figura, observa-se que quando submetidas a imersão parcial, caso B, a mistura M02 tem o melhor
comportamento no primeiro minuto, em relação as outras duas misturas. Este foi um dos casos em que
ocorreu a menor perda de massa acumulada, frente as situações de sem imersão e imersão total.

total.

232
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

15

14

13

12

11

Perda de massa (g)


10

0
1 5 10 15 30
M01 1,1368 1,4997 1,6716 1,7764 2,4324
M02 0,5913 0,7172 0,8376 0,9417 1,2818
M03 1,0226 1,2270 1,3467 1,5440 2,0267
Tempo (minutos)
M01 M02 M03

Figura 6. Caso B - Imersão Parcial.

Fonte: os autores,2018

Na situação de imersão total (Figura ), assim como no ensaio modificado ocorre uma perda acentuada
no início do ensaio para a mistura M03, caracterizando um comportamento irregular que se reduz no
decorrer do ensaio, sendo este o caso mais crítico observado. A situação da mistura M01 apresenta
uma estabilidade, enquanto a mistura M02 apresenta a menor perda de massa inicialmente, porém
ocorre um crescimento de perda de massa com o passar do tempo de ensaio, ultrapassando a perda
máxima observada na mistura M01.

233
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

15

14

13

12

11

Perda de massa (g)


10

0
1 5 10 15 30
M01 4,7081 5,0155 5,2253 5,4695 6,0399
M02 2,7764 3,9123 4,6279 5,0909 6,4489
M03 7,7725 10,275511,001712,381914,5006
Tempo (minutos)
M01 M02 M03

Figura 7. Caso C - Imersão Total.

Fonte: os autores,2018

Na Figura é apresentada uma análise da perda de massa acumulada para as três misturas nas três
situações em que foram expostas. Ao se analisar a perda de massa acumulada, percebe-se que os casos
em que se adicionou RCC, houve um aumento da erodibilidade, nos casos de imersão total e sem
imersão. Para o caso de imersão parcial, percebe-se ume perda inferior, acredita-se que isto é
decorrente do caso de maior influência da sucção no solo e misturas.

234
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

15

14,50
14
M01 M02 M03
13

12

11

Perda de massa total (g) 10

6,45
6
6,32

6,04
5,66

3
1,28
2,43

2
2,03
1,87

0
Caso A Caso B Caso C

Figura 8. Análise geral dos três casos.

Fonte: os autores,2018

Na Figura pode ser observado através dos resultados do coeficiente K, que representa o índice de
erodibilidade do solo. Assim como no ensaio anterior, esse resultado indica que o RCC adicionado é
lavado primeiro do que as partículas do solo.

235
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

100,000

Alta
erodibilidade
10,000

Média

K(g/cm² xmin xPa)


erodibilidade
1,000

0,100

Baixa
0,010 erodibilidade

0,001
M01 - Sem Imersão
M01 - Imersão Parcial
M01 - Imersão Total
M02 - Sem Imersão
M02 - Imersão Parcial
M02 - Imersão Total
M03 - Sem Imersão
M03 - Imersão Parcial
M03- Imersão Total

Figura 9. Análise do coeficiente K.

Fonte: Os autores, 2017.

A Tabela 5 apresenta a análise dos valores médios do coeficiente de erodibilidade. Percebe-se que as
misturas que utilizam RCC (M02 e M03) apresentam um comportamento pior do que a mistura sem a
adição do RCC (M01), em quase todos os casos.

Tabela 5. Valores médios de K (g/cm² × min × Pa)


Erodibilidade

Erodibilidade

Erodibilidade
Mistura

Caso A

Caso B

Caso C

M01 0.06 Baixa 0.07 Baixa 0.18 Média

M02 0.17 Média 0.04 Baixa 0.19 Média

M03 0.19 Média 0.06 Baixa 0.43 Média

Fonte: Os autores, 2017.

236
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados coletados nos ensaios indicam que a adição de RCC neste tipo de solo não melhora o
comportamento do material no que se refere à perda de massa frente à ação da água. A adição de RCC
com o intuito de reduzir a erodibilidade do solo também foi estudada por Dias (2014) em um solo
diferente, e também não se apresentou vantajosa.

Sendo assim, a adição de RCC para reduzir a erodibilidade de camada de coberturas e proteção de
taludes, não é viável. Uma vez que mesmo que em algumas análises mostre-se que a perda de massa
é reduzida e/ou estabilizada no decorrer do tempo, a perda de massa acumulada é muito maior do que
sem adição, o que pode acarretar aspectos negativos aos taludes (perda de estabilidade) e também ao
meio ambiente (aceleração do assoreamento de corpos hídricos).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a UNEMAT, a FACET – Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas e o Curso de


Engenharia Civil – Campus de Sinop, pelo suporte oferecido.

237
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

ALVES, W. G. O. BENATTI, J.C.B. Viabilidade técnica da utilização do RCC (Fração areia) como agente
estabilizador para um solo de Sinop-MT. Trabalho de conclusão de curso, Engenharia Civil. Universidade
do Estado de Mato Grosso - UNEMAT. Sinop, 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT).


_______NBR 6459: Solo - determinação do limite de liquidez. Rio de Janeiro, RJ, 1984a. 6 p.
______ NBR 7180: Solo - determinação do limite de plasticidade. Rio de Janeiro, RJ, 1984b. 3 p.
______ NBR 7181: Solo - análise granulométrica. Rio de Janeiro, RJ, 1984c. 13 p.
______ NBR 7182: Solo - ensaio de compactação. Rio de Janeiro, RJ, 1986. 10 p.

BASTOS, C. A. B. Estudo Geotécnico sobre a erodibilidade de solos residuais não saturados. Tese de
Doutorado (Doutorado em Engenharia Civil) pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. 303 p. 1999.

CAMPOS, C. J. M de. Avaliação da Erodibilidade pelo método Indrbitzen em solo não saturado da região
de Bauru – SP. Dissertação de mestrado (mestrado em Engenharia Civil e Ambiental) pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. 154 p. Bauru – SP. 2014.

CONCIANI, W. Processos Erosivos: conceitos e ações de controle. Cuiabá: CEFET – MT, 2008.

DIAS, M. C. C. Viabilidade do uso de solo tropical e resíduo de construção civil em sistemas de cobertura
de aterro sanitário. 2014. 114 f. Dissertação (Mestrado em Geotecnia, Estruturas e Construção Civil) -
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2014.

FREIRE, E. P. Ensaio Inderbitzen modificado: um novo modelo para avaliação do grau de erodibilidade
do solo. Anais, VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão, Goiânia, 8 p. 2001.

GEORIO. Manual técnico de encostas. Fundação Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro,
RJ, Brasil. 2000

GEORSCOVICH, D. M. S. Estabilidade de Taludes. São Paulo, Oficina de Textos,166p, 2012.

GRANDO, A. Monitoramento e modelagem hidrossedimentológica em uma microbacia hidrográfica


experimental. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Engenharia Civil). Universidade Federal de Santa
Catarina. 175p. Florianópolis, SC. 2011.

238
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

IDE, D, M. Investigação geotécnica e estudo de um processo erosivo causado por ocupação urbana.
Dissertação de Mestrado (Mestrado em Geotecnia). Universidade de São Paulo, São Carlos – SP,2009.

INDERBITZEN, A. P. L. An erosion test for soils. Material Research. Standards, Philadelphia. P 553-554.
1961.

KAIBER, A. L. C; ROMANINI, A. Avaliação da erodibilidade de misturas SOLO – RCC para camada de


cobertura e proteção de taludes. Artigo de conclusão de curso (Engenharia Civil). UNEMAT –
Universidade do estado de Mato Grosso. 10p. Sinop – MT. 2017.

239
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 14

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA SUCÇÃO


MATRICIAL NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO
SIMPLES DE UM SOLO SILTOSO ESTABILIZADO
COM CAL

Amanda Dalla Rosa Johann (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)


Marcele Dorneles Bravo (Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis)
Nilo Cesar Consoli (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
António Joaquim Pereira Viana da Fonseca (Faculdade de Engenharia da Universidade do
Porto)

Resumo: Ensaios de resistência à compressão simples são comumente utilizados para verificar a
efetividade da estabilização de solos com cal. Na realização deste ensaio a amostra de solo-cal
encontra-se na condição não-saturada, onde espera-se que um determinado nível de sucção esteja
presente. As medidas de sucção neste trabalho têm o objetivo de verificar qual sua magnitude e se esta
apresenta variação significativa entre as amostras. Para atingir os objetivos da pesquisa foram
realizados ensaios de resistência à compressão simples (qu) e ensaios de sucção matricial (Su) em
amostras com diferentes teores de cal, diferentes porosidades, diferentes teores de umidade e
diferentes tempos de cura. A partir dos resultados obtidos pode-se verificar que a Su tende a aumentar
à medida que diminui o índice de vazios. Além disso, os corpos-de-prova não apresentaram grandes
variações em relação a Su, que não passa de 15% da qu em todas as amostras ensaiadas.

Palavras-chave: solo-cal, resistência à compressão simples, sucção matricial.

240
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A cal é utilizada na estabilização de solos desde a antiguidade, com aplicação principalmente em


pavimentações e aterros, melhorando as características do solo, que por ser um material complexo e
muito variável nem sempre satisfaz as necessidades da obra a ser realizada.

Os solos tratados com cal exibem um comportamento mecânico complexo, influenciado por diversos
fatores (quantidade de cal adicionada, porosidade da mistura, teor de umidade e tempo de cura). Neste
contexto, ensaios de resistência à compressão simples têm sido utilizados na maioria dos programas
experimentais relatados na literatura (Consoli et al., 2017; Consoli et al., 2011; Viana da Fonseca et al.,
2009; Consoli et al., 2009; Rios et al., 2017, Dalla Rosa, 2009; Silvani, 2013; Guedes, 2013) quando se
deseja verificar a efetividade da estabilização com cal ou acessar aspectos relativos à importância de
fatores influentes sobre a resistência de solos melhorados. Uma das razões para tal é a sua simples e
rápida execução. Além disso possui baixo custo, é confiável e é amplamente difundido no meio técnico.
Contudo, as amostras de solo-cal quando submetidas a este tipo de ensaio estão no seu teor de
umidade de moldagem, encontrando-se na condição não-saturada. Sendo assim, espera-se que um
determinado nível de sucção esteja presente.

De acordo com Cruz (2001), em geral, os solos compactados próximos ao teor ótimo de umidade
apresentam grau de saturação variando entre 70% e 90%, com valores de sucção compreendidos entre
0 kPa e 1000 kPa. O autor também apresenta medidas de sucção de treze solos residuais lateríticos
compactados, para os quais encontrou valores de sucção variando de 30 kPa até 250 kPa. Da mesma
forma, Marinho e Silva (2001) citam que a maioria dos solos compactados apresentam, no teor ótimo
de umidade, sucções variando de 50 kPa a 300 kPa.

Dalla Rosa (2009) ao estudar misturas solo- cinza-cal encontrou valores de sucção de no máximo 820
kPa. Para a realização das medidas de sucção as amostras foram imersas em água, as quais atingiram
grau de saturação, em média, de 70%.

Silvani (2013) ao estudar uma areia estabilizada com cal e cinza volante encontrou valores de sucção
variando de 2 kPa a 12 kPa. Guedes (2013) ao estudar um solo-cimento reforçado com fibras encontrou
valores de sucção de no máximo 297 kPa. Os dois autores também realizaram as medidas de sucção
matricial após a imersão das amostras, que atingiram grau de saturação, em média de 87%.

Neste contexto, as medidas de sucção matricial neste trabalho têm o objetivo de verificar qual sua
magnitude sobre a resistência à compressão simples das amostras solo-cal e se esta apresenta variação
significativa entre as amostras.

241
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

2.1 MATERIAIS

O material denominado “caulim” utilizado nesta pesquisa é comercialmente conhecido como caulim
rosa, originário do município de Pântano Grande-RS.

A partir da análise da curva granulométrica percebe-se que 100% do material passa na peneira 200
(0,075 mm), e que essa percentagem passante se distribui entre as frações silte e argila: 22% de argila
(< 0,002 mm) e 78% de silte (0,002 a 0,075 mm). O limite de liquidez (38%) é baixo, considerando a
média apresentada pelas argilas. O índice de plasticidade (4%) indica um solo fracamente plástico (1 <
IP < 5). Portanto, o caulim rosa, de acordo com o SUCS (Sistema Unificado de Classificação de Solos)
(ASTM D 2487, 1993), é classificado como um silte de baixa plasticidade.

A cal utilizada no trabalho é uma cal hidratada dolomítica, comercialmente chamada de “Primor Extra”,
produzida em Caçapava do Sul – RS, com massa específica real dos grãos igual a 2,49 g/cm3.

A água utilizada para a moldagem dos corpos-de-prova é a água potável proveniente da rede de
abastecimento pública. Já para os ensaios de caracterização utilizou-se água destilada quando
especificada pela respectiva norma.

2.2 MÉTODOS

2.2.1 MOLDAGEM E CURA DOS CORPOS DE PROVA

Para os ensaios de resistência à compressão simples e sucção matricial, foram moldados corpos de
prova cilíndricos de 50mm de diâmetro e 10mm de altura. Após a pesagem dos materiais, o solo e a cal
foram misturados até a mistura adquirir uma consistência uniforme. Após esse processo, a água então
era adicionada, continuando o processo de mistura até que a homogeneidade fosse obtida.

Após o processo de mistura do material suficiente para um corpo de prova, a mistura foi armazenada
em um recipiente fechado para evitar perdas de umidade antes da compactação. Duas pequenas
porções da mistura eram retiradas, para determinação da umidade ().

O corpo de prova era compactado estaticamente, em 3 camadas, em um molde de ferro fundido, de


modo que cada corpo de prova atingisse o seu peso específico aparente seco (d) desejado. Após o
processo de moldagem, o corpo de prova foi imediatamente extraído do molde, e seu peso, diâmetro
e altura medidos com precisão de cerca de 0,01 g e 0,1 mm. Os corpos de prova foram então, colocados
dentro de sacos plásticos, para evitar variações significativas do teor de umidade. Além disso, eles

242
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

foram curados por 28, 90 e 360 dias em uma câmara úmida com 23º±2º C e umidade relativa do ar
acima de 95%.

Os corpos de prova que foram considerados aptos para os ensaios respeitaram as seguintes tolerâncias:

 d: dentro de ± 1% do valor alvo;

 : dentro de ± 0,5% do valor alvo;

 Dimensões: diâmetro de ± 0,5 mm e altura de ± 1mm em relação ao valor alvo.

2.2.2 ENSAIOS DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES

Após a cura em câmara úmida as amostras foram submersas em um tanque com água por 24 horas
para saturação, e assim minimizar a sucção, antes da realização dos ensaios de qu. A temperatura da
água foi mantida a 23±2ºC.

Para a realização dos ensaios de 28 e 360 dias foi utilizada uma prensa automática (LEGG/ENVIRONGEO
– UFRGS) com capacidade máxima de 100 kN, além de anéis dinamométricos calibrados com
capacidade de 10 kN e 50 kN e resolução de 0,005 kN (0,5 kgf) e 0,023 kN (2,3 kgf), respectivamente.
Para os ensaios de 90 dias foi utilizada a prensa automática do LABGEO– FEUP, que consiste em uma
prensa automática com capacidade máxima de 100 kN equipada com células de carga de 5, 10, 20, 25
e 100 kN. A taxa de deslocamento adotado foi de 1,14 mm por minuto. O procedimento dos ensaios de
resistência à compressão simples seguira a norma americana ASTM D 5102/96.

2.2.3 ENSAIOS DE SUCÇÃO MATRICIAL

Em sua umidade de moldagem todos os corpos de prova estão em um estado insaturado, e um certo
nível de sucção pode estar presente. As medições de sucção foram realizadas com o objetivo de
verificar a sua magnitude e verificar se houve variação significativa entre os corpos de prova de
diferentes porosidades e diferentes quantidades de cal.

A sucção medida foi a matricial, ou seja, a que decorre das forças de capilaridade no interior do corpo
de prova. Ela foi medida usando a técnica do papel filtro. O papel filtro utilizado foi o Whatman No 42.
As equações de calibração utilizadas para este papel filtro foram as apresentadas por Chandler et al.
(1992).

Segundo Bicalho (2015) o método do papel filtro é o mais simples dos métodos disponíveis para estimar
a sucção do solo e pode ser utilizado em uma ampla faixa de sucção (30 kPa a 30000 kPa). O método

243
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

estima indiretamente a sucção do solo, através da determinação da umidade do papel filtro em


equilíbrio hidráulico com o solo.

2.2.4 PROGRAMA DE ENSAIOS DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES E SUCÇÃO MATRICIAL

As percentagens de cal (Ca = 3, 5, 7 e 9%, sendo Ca a massa de cal em relação a massa seca de solo)
foram definidas a partir de outras pesquisas para posteriores comparações, e estão de acordo com a
experiência brasileira e internacional com solo-cal. O programa de ensaios de qu teve como objetivo
avaliar a influência das variáveis: quantidade de cal (Ca), umidade () e porosidade () sobre a qu.

Para que seja possível a mensuração da influência de uma variável isoladamente é necessária que as
outras variáveis sejam mantidas constantes. Para isto foi elaborado o programa de ensaios conforme
apresenta a Figura 1. Observa-se que os pontos de moldagem foram posicionados em três linhas
verticais (pontos: A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7, A8 e A9), denominadas linhas “A”, com três diferentes
teores de umidade (17, 20 e 23%) e diferentes pesos específicos aparentes secos.

Cada ponto da linha “A” foi moldado com 4 diferentes percentagens de cal (3, 5, 7 e 9%) e as amostras
foram curadas durante 28, 90 e 360 dias.

Figura 1. Programa de ensaios de resistência à compressão simples e de sucção matricial.

244
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3. RESULTADOS E ANÁLISES

3.1 ENSAIOS DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES

3.1.1 AMOSTRAS COM 17% DE UMIDADE

Os resultados dos ensaios de resistênica à compressão simples para as misturas com 17% e 28 dias de
cura são apresentados na Figura 2, que apresenta resultados considerando os pesos específicos
aparentes secos de 1,4 g/cm³, 1,5 g/cm³ e 1,6 g/cm³, e percentagens de cal de 3%, 5%, 7% e 9%.

Figura 2. Variação da resistência à compressão simples (qu) com a quantidade de cal para 17% de umidade aos
28 dias de cura

Os corpos de prova com 90 e 360 dias de cura apresentam as mesmas tendências (Figuras 3 e 4,
respectivamente).

Pode-se observar que a quantidade de cal tem efeito significativo sobre a resistência à compressão
simples do material para os corpos-de-prova ensaiados, que aumenta linearmente com o aumento da
quantidade de cal. Além disso, a resistência à compressão simples aumenta com o aumento do peso
específico aparente seco e com o aumento do tempo de cura.

245
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 3. Variação da resistência à compressão simples (qu) com a quantidade de cal para 17% de umidade aos
90 dias de cura

Figura 4. Variação da resistência à compressão simples (qu) com a quantidade de cal para 17% de umidade aos
360 dias de cura

3.1.2 AMOSTRAS COM 20% DE UMIDADE

Os resultados dos ensaios de resistênica à compressão simples para as misturas com 20% e 28 dias de
cura são apresentados na Figura 5, que apresenta resultados considerando os pesos específicos
aparentes secos de 1,4 g/cm³, 1,5 g/cm³ e 1,6 g/cm³, e percentagens de cal de 3%, 5%, 7% e 9%. Os
corpos de prova com 90 e 360 dias de cura apresentam as mesmas tendências (Figuras 6 e 7,
respectivamente).

246
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 5. Variação da resistência à compressão simples (qu) com a quantidade de cal para 20% de umidade aos
28 dias de cura

9000
d = 1,40 g/cm3 : q u = 350,2Ca - 443,5 (R2 = 0,95)
8000  d = 1,50 g/cm3 : q u = 508,8Ca - 402,7 (R2 = 0,95)
7000 d = 1,60 g/cm3 : q u = 729,7Ca - 428,4 (R2 = 0,92)

6000
5000
qu (kPa)

4000
3000
2000
1000
0
2 3 4 5 6 7 8 9 10
Ca (% )

Figura 6. Variação da resistência à compressão simples (qu) com a quantidade de cal para 20% de umidade aos
90 dias de cura

Pode-se observar que a quantidade de cal tem efeito significativo sobre a resistência à compressão
simples do material para os corpos-de-prova ensaiados, que aumenta linearmente com o aumento da
quantidade de cal. Além disso, a resistência à compressão simples aumenta com o aumento do peso
específico aparente seco e com o aumento do tempo de cura.

247
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 7. Variação da resistência à compressão simples (qu) com a quantidade de cal para 23% de umidade aos
360 dias de cura

3.1.3 AMOSTRAS COM 23% DE UMIDADE

Os resultados dos ensaios de resistênica à compressão simples para as misturas com 23% e 28 dias de
cura são apresentados na Figura 8, que apresenta resultados considerando os pesos específicos
aparentes secos de 1,4 g/cm³, 1,5 g/cm³ e 1,6 g/cm³, e percentagens de cal de 3%, 5%, 7% e 9%. Os
corpos de prova com 90 e 360 dias de cura apresentam as mesmas tendências (Figuras 9 e 10,
respectivamente).

Figura 8. Variação da resistência à compressão simples (qu) com a quantidade de cal para 20% de umidade aos
28 dias de cura

Pode-se observar que a quantidade de cal tem efeito significativo sobre a resistência à compressão
simples do material para os corpos-de-prova ensaiados, que aumenta linearmente com o aumento da

248
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

quantidade de cal. Além disso, a resistência à compressão simples aumenta com o aumento do peso
específico aparente seco e com o aumento do tempo de cura.

Figura 9. Variação da resistência à compressão simples (qu) com a quantidade de cal para 20% de umidade aos
90 dias de cura

Figura 10. Variação da resistência à compressão simples (qu) com a quantidade de cal para 23% de umidade
aos 360 dias de cura

3.2 ENSAIOS DE SUCÇÃO MATRICIAL

3.2.1 AMOSTRAS COM 17% DE UMIDADE

Verificou-se que o grau de saturação de moldagem das amostras com 28 dias de cura variou, em média,
de 45% até 71%. Após a imersão por 24 horas, os corpos-de-prova de menor índice de vazios
absorveram menor quantidade de água, como era de se esperar. Entretanto, o grau de saturação
obtido após a imersão apresentou pequena variação em relação ao índice de vazios, girando em torno

249
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

de 75% para todos os corpos-de-prova. O valor médio obtido para a sucção matricial de todos os
corpos-de-prova da linha “A” das amostras com 17% de umidade e 28, 90 e 360 dias de cura ficou em
122 kPa.

A Figura 11 apresenta a tendência e a relação existente entre a medida de sucção matricial e o índice
de vazios. Apesar da dispersão dos pontos pode-se verificar que a sucção matricial tende a aumentar à
medida que diminui o índice de vazios, para qualquer tempo de cura estudado.

Figura 11 – Relação entre medidas de sucção matricial e índice de vazios nas amostras de caulim-cal com 17%
de umidade ensaiadas com 28, 90 e 360 dias de cura

Na Figura 12 é apresentada a variação da resistência à compressão simples pela relação entre a sucção
e a resistência à compressão simples (em porcentagem). Nota-se que a influência da sucção varia de 1
a 9% da resistência à compressão simples nos corpos-de-prova ensaiados com 28, 90 e 360 dias de
cura.

Nota-se também, na Figura 12 que a influência da sucção não passa de 10% da resistência à compressão
simples em todos os corpos-de-prova ensaiados. Assim, observa-se que os corpos-de-prova não
apresentaram grandes variações em relação a sucção.

250
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 12 – Influência da sucção nos valores de resistência à compressão simples das amostras de caulim-cal
com 17% de umidade ensaiadas 28, 90 e 360 dias de cura

3.2.2 AMOSTRAS COM 20% DE UMIDADE

Verificou-se que o grau de saturação de moldagem das amostras com 28, 90 e 360 dias de cura variou,
em média, de 53% até 83%. Após a imersão por 24 horas, os corpos-de-prova de menor índice de vazios
absorveram menor quantidade de água, como era de se esperar. Entretanto, o grau de saturação
obtido após a imersão apresentou pequena variação em relação ao índice de vazios, girando em torno
de 78% para todos os corpos-de-prova. O valor médio obtido para a sucção matricial de todos os
corpos-de-prova da linha “A” das amostras com 20% de umidade e 28, 90 e 360 dias de cura ficou em
129 kPa.

A Figura 13 apresenta a tendência e a relação existente entre a medida de sucção matricial e o índice
de vazios. Apesar da dispersão dos pontos pode-se verificar que a sucção matricial tende a aumentar à
medida que diminui o índice de vazios, para qualquer tempo de cura estudado.

Na Figura 14 é apresentada a variação da resistência à compressão simples pela relação entre a sucção
e a resistência à compressão simples (em porcentagem). Nota-se que a influência da sucção varia de 1
a 14% da resistência à compressão simples nos corpos-de-prova ensaiados com 28, 90 e 360 dias de
cura.

251
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 13 – Relação entre medidas de sucção matricial e índice de vazios nas amostras de caulim-cal com 20%
de umidade ensaiadas com 28, 90 e 360 dias de cura

Nota-se também, na Figura 14 que a influência da sucção não passa de 10% da resistência à compressão
simples em mais de 83% dos corpos-de-prova ensaiados. Entretanto, para os outros corpos-de-prova
ensaiados a sucção não passa de 14% da sua resistência à compressão simples. Assim, observa-se que
os corpos-de-prova não apresentaram grandes variações em relação a sucção.

Figura 14 – Influência da sucção nos valores de resistência à compressão simples das amostras de caulim-cal
com 20% de umidade ensaiadas 28, 90 e 360 dias de cura

3.2.3 AMOSTRAS COM 23% DE UMIDADE

Verificou-se que o grau de saturação de moldagem das amostras com 28, 90 e 360 dias de cura variou,
em média, de 64% até 95%. Após a imersão por 24 horas, os corpos-de-prova de menor índice de vazios
absorveram menor quantidade de água, como era de se esperar. Entretanto, o grau de saturação
obtido após a imersão apresentou pequena variação em relação ao índice de vazios, girando em torno
de 81% para todos os corpos-de-prova. O valor médio obtido para a sucção matricial de todos os

252
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

corpos-de-prova da linha “A” das amostras com 20% de umidade e 28, 90 e 360 dias de cura ficou em
122 kPa.

A Figura 15 apresenta a tendência e a relação existente entre a medida de sucção matricial e o índice
de vazios. Apesar da dispersão dos pontos pode-se verificar que a sucção matricial tende a aumentar à
medida que diminui o índice de vazios (e consequente menor grau de saturação), para qualquer tempo
de cura estudado. Esta mesma tendência foi observada por Dalla Rosa (2009).

Lira (2015) também identificou esta tendência ao estudar um solo areno argiloso compactado no peso
específico aparente seco máximo e em três graus de saturação diferentes (condição saturada, condição
na umidade ótima, condição seca). Em que a sucção matricial foi maior para as amostras com menor
grau de saturação.

Figura 15 – Relação entre medidas de sucção matricial e índice de vazios nas amostras de caulim-cal com 23%
de umidade ensaiadas com 28, 90 e 360 dias de cura

Na Figura 16 é apresentada a variação da resistência à compressão simples pela relação entre a sucção
e a resistência à compressão simples (em porcentagem). Nota-se que a influência da sucção varia de 1
a 15% da resistência à compressão simples nos corpos-de-prova ensaiados com 28, 90 e 360 dias de
cura.

Nota-se também, na Figura 16 que a influência da sucção não passa de 10% da resistência à compressão
simples em mais de 88% dos corpos-de-prova ensaiados. Assim, observa-se que os corpos-de-prova
não apresentaram grandes variações em relação a sucção.

Dalla Rosa (2009) também identificou que após a imersão das amostras de solo-cinza-cal a sucção
matricial não passou de 16% da resistência à compressaõ simples. Guedes (2013) identificou que após
a imersão das amostras de solo-cimento-fibra a sucção matricial não passou de 10% dos valores de

253
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

resistência à compressão simples e tração diametral. Silvani (2013), que estudou uma areia estabilizada
com cal e cinza volante, relata que após a imersão das amostras a sução matricial não passou de 1% da
resistência à compressão simples.

Figura 16 – Influência da sucção nos valores de resistência à compressão simples das amostras de caulim-cal
com 23% de umidade ensaiadas 28, 90 e 360 dias de cura

254
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. CONCLUSÕES

A partir dos dados apresentados neste trabalho, as seguintes conclusões podem ser evidenciadas:

 Quanto maior a quantidade de cal (Ca), maior o peso específico aparente seco e maior o tempo de
cura, maior a resistência à compressão simples (qu) das misturas solo-cal estudadas.

 Analisando-se os resultados de sucção matricial pode-se perceber que a mesma tende a aumentar
à medida que diminui o índice de vazios das amostras.

 Contudo, observou-se que mesmo assim a influência da sucção matricial não passou de 15% da
resistência à compressão simples dos corpos-de-prova ensaiados, para todos os tempos de cura e
teores de umidade estudados. Este fenômeno se deve ao fato de que ao mesmo tempo que a
diminuição do índice de vazios (e consequente menor grau de saturação) proporciona um aumento
da sucção matricial também proporciona um aumento da resistência à compressão simples da
amostra. Mesmo fato observado por Dalla Rosa (2009). E também por Lira (2015), em que valores
maiores de sucção também indicaram maiores valores de índice de suporte de Califórnia (ISC) para
um solo compactado em diferentes graus de saturação.

 Além disso, observa-se que o processo de imersão dos corpos-de-prova por 24 horas se mostrou
satisfatório no aumento e uniformização do grau de saturação das amostras, diminuindo a
variabilidade da sucção matricial no solo-cal estudado.

AGRADECIMENTOS

Os autores demonstram agradecimento ao suporte financeiro da CAPES e do CNPq.

255
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

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Consoli, N.C.; Saldanha, R. B.; Mallmann, J.E.C.; Paula, T.M.; Hoch, B.Z. (2017). Enhancement of strength
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Guedes, Saul Barbosa. (2013). Estudo do Desempenho Mecânico de um Solo-Cimento Microreforçado


com Fibras Sintéticas para Uso como Revestimento Primário em Estradas não Pavimentadas, Tese de
Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco,
Recife, 515 p.

256
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

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257
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 15

ASPECTOS ESTRUTURAIS DE MUROS DE FLEXÃO


REFORÇADOS COM GEOGRELHA

Alan Rizzato Espessato (Universidade Estadual de Maringá)


Sérgio Trajano Franco Moreiras (Universidade Estadual de Maringá)
Carlos Alberto C. Brant (Universidade Estadual de Maringá)

Resumo: A estrutura de contenção usualmente adotada em Umuarama-PR é o Muro de Flexão do tipo


“grelha”, cuja estrutura é composta por vigas e pilares em concreto armado e fechamento de alvenaria.
Para resistir aos esforços de tração, faz-se necessário a construção de um reforço (mão francesa),
porém a execução desse reforço é complexa, sendo esse reforço, uma fonte de problemas construtivos
e patologias. O objetivo desse trabalho foi dimensionar um Muro de Flexão do tipo “grelha”,
substituindo o reforço em mão francesa por reforços com geogrelhas. Para auxiliar o
dimensionamento, utilizou-se o software Robot Structural 2018 para obtenção dos diagramas de
esforços internos e deformações. O dimensionamento das geogrelhas foi realizado através do método
de Ehrlich e Mitchell (1994 apud). Como solução, adotou-se 3 camadas de geogrelhas ligadas nas vigas
intermediárias e de base da estrutura. Concluiu-se que as geogrelhas podem ser utilizadas como
reforço para esse tipo de estrutura.

Palavras-chave: Estruturas de contenção; Solo reforçado; Modelagem numérica; Robot Structural.

258
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

Na última década o Brasil vivenciou um período de grande ascensão econômica, principalmente entre
os anos de 2007 e 2014.

Nesse período o governo federal lançou o programa “minha casa minha vida”, programa esse que
facilitou o acesso ao crédito para pessoas de baixa renda, estimulando a compra da casa própria e que
consequentemente ajudou a fomentar ainda mais o mercado da construção civil, desencadeando um
processo que ficou conhecido como “boom da construção civil”.

Em virtude desse aquecimento e elevada demanda de novas construções, o mercado imobiliário


acabou sendo inflacionado. Segundo Bassi (2016), os lotes que antes costumavam ter dimensões de 15
x 20 metros passaram a ser divididos, ficando com uma largura entre 6 a 7 metros por 20 a 25 metros
de profundidade, tornando necessário o aproveitamento máximo do lote para construção da
edificação.

A topografia da região de Umuarama-PR é ondulada, necessitando muitas vezes da construção de


estrutura de arrimo para estabilização do maciço de terra. Devido ao reduzido tamanho dos terrenos,
essas estruturas são de concreto armado (flexão), pois ocupam pouco espaço no terreno em
comparação com o muro de gravidade.

Na região de Umuarama, a estrutura de contenção usualmente adotada é o Muro de Flexão do tipo


“grelha”. Sua estrutura é composta por vigas e pilares em concreto armado e fechamento de alvenaria.
Para resistir aos esforços de tração provenientes do empuxo de terra, faz-se necessário a construção
de um dispositivo de reforço. O elemento de reforço tipicamente utilizado é a mão francesa, que
consiste em uma viga inclinada ligando o tardoz do muro a estrutura de fundação.

Esses muros geralmente são executados de maneira empírica baseado na experiência de construtores
da região, ou seja, sem um estudo prévio sobre as características do solo, levantamento de cargas e
análise de estabilidade do maciço, comprometendo assim a relação SEGURANÇA x ECONOMIA.

Devido a geometria do reforço e sua inclinação, a execução desse dispositivo é complexa, sendo a
principal fonte de problemas construtivos, que surgem devido à dificuldade do posicionamento das
armaduras e fôrmas. Esses problemas executivos podem gerar trincas e posteriormente causar
patologias (corrosão da armadura, infiltração). Fato esse que pode afetar o desempenho do reforço e
consequentemente o desempenho do muro, sendo que, o mau funcionamento desse dispositivo pode
levar a deformações excessivas na face do muro comprometendo a segurança.

259
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Uma vertente que vêm ganhando espaço na geotecnia, especialmente em obras de contenção, é a
técnica de solo reforçado. Essa técnica tem como principal característica, realizar a união de dois
materiais com características mecânicas distintas: o solo, que se bem compactado, apresenta boa
resistência a compressão e ao cisalhamento, e o geossíntético que apresenta elevada resistência a
tração. A utilização dessa técnica é justificada por suas vantagens, dentre as quais podemos citar: rápida
e fácil execução, não necessita de mão de obra especializada e geralmente tem custo inferior as
soluções tradicionais.

A técnica de solo reforçado surgiu com o objetivo de substituir as estruturas de contenção tradicionais
(muros de arrimo), na literatura tem-se pouca informação da associação da técnica de solo reforçado
com muro de arrimo. Devido à dificuldade de execução do reforço em mão francesa, esse trabalho
estudou a associação das duas técnicas (Solo reforçado e muro de flexão), com objetivo de substituir o
reforço em mão francesa. Nessa situação as geogrelhas (reforço do solo) atuam como reforço do muro,
responsáveis por absorver os esforços de tração em excesso que surgem no muro devido ao empuxo
de terra.

2. METODOLOGIA

2.1 MATERIAIS

2.1.1 GEOGRELHA

Para o dimensionamento do reforço foram adotas geogrelhas da linha Fortrac® MP. Essas geogrelhas
são feitas de filamento de Poliálcool vinílico (PVA) de alta tenaciadade e baixa fluência. A tensão
admissível na geogrelha deve ser minorada através dos fatores de redução, por questões de segurança.
Os modelos de geogrelha utilizados foram: Fortrac MP – J1100 e Fortrac MP – J1600.

As especificações técnicas, assim como os fatores de redução dessas geogrelhas, foram obtidas
através do catálogo do fabricante.

2.1.2 SOLO

Para o dimensionamento do reforço em geogrelha, foi necessário obter os parâmetros do solo de


Umuarama – PR. Dessa forma, foram realizados ensaios de análise granulométrica e compactação
proctor normal do solo.

260
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

O ensaio de análise granulométrica foi realizado de acordo com a NBR 7181/1984. O solo apresentou
a seguinte distribuição granulométrica, areia 76,36%, silte 2,36% e argila 21,29%. A Figura 1 ilustra a
curva de distribuição granulométrica do solo.

Figura 1. Curva Granulométrica.

Dessa forma o solo foi classificado como uma areia argilosa. Também foi realizado o ensaio de
compactação proctor normal, conforme a NBR 7182/1986. A Figura 2 mostra a curva de compactação
do solo.

Figura 2. Curva de Compactação.

Os parâmetros de compactação teor de umidade ótima e peso específico máximo seco atingiram os
seguintes valores, 10,80% e 1,980 (g/cm³), respectivamente. A partir desses dados, foi possível
estabelecer os parâmetros do modelo hiperbólico proposto por Duncan (1980). De acordo com Ehrlich
e Becker (2009), os parâmetros adotados para esse solo estão dispostos na Tabela 1.

Tabela 1. Parâmetros do solo.

γ c' Φ k ku Rf n
(kN/m³) (kN/m²)
(°)
19 0 30 225 450 0,8 0,40

261
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Onde: γ – Peso específico do solo (kN/m³); c’ – coesão (kN/m²); Φ' – Ângulo de atrito interno do solo
(°); K – é o módulo do modelo hiperbólico de Duncan et al. (1980) para carregamento; Ku – é o módulo
do modelo hiperbólico de Duncan et al. (1980) para descarregamento; Rf – coeficiente de ruptura;

n – é o expoente dos módulos do modelo hiperbólico de Duncan et al. (1980).

2.2 DIMENSIONAMENTO

2.2.1 ESTRUTURA DO MURO

Para dar início a modelagem foi necessário realizar um pré-dimensionamento dos elementos de
concreto do muro. Tanto as vigas quanto os pilares foram lançados com seções transversais de 20x20
cm. Conforme a Figura 3, os vãos entre pilares possuem 1,8 m e 0,80 m entre as vigas. Para a fundação
do muro foram adotadas estacas com 30 cm de diâmetro e 5 m de profundidade.

Figura 3. Pré dimensionamento dos elementos.

2.2.2 MODELAGEM COMPUTACIONAL

Com intuito de obter as deformações e diagramas de esforços internos dos elementos do muro, foi
realizado a modelagem computacional com auxílio do software Robot Structural Analysis 2018. A
Tabela 2 indica os dados de entrada relativo ao concreto, conforme a NBR 6118/2014.

Tabela 2. Parâmetros do solo.

Propriedades do Concreto – 6118/2014


fck E ν γc
20 25044 0,2 25

Onde: fck – Resistência característica do concreto (Mpa); E – Módulo de elasticidade longitudinal


(Mpa); ν – Poisson; γc – Peso específico do concreto (kN/m³).

262
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Para representar o solo optou-se pelo modelo de Winkler, no qual o solo pode ser representado por
uma série de molas. Para estipular os valores dos coeficientes das molas, foi utilizado os parâmetros
indicados por Alonso (1989), adotando-se o espaçamento de 1 m entre as molas e estaca de 30 cm os
valores Kmola (coeficiente de rigidez da mola) são expressos na Tabela 4.

Tabela 3. Parâmetros de rigidez do solo.

Compacidade Profundidade ηh Kmola


da areia z (m) (kN/m³) (kN/m)
1 2600 780
Areia fofa
2 2600 1560
Areia 3 8000 7200
medianamente
4 8000 9600
compacta

Para o cálculo das pressões exercidas pelo maciço de terra sobre a estrutura, utilizou-se a teoria de
Rankinie para o caso ativo de tensões e terrapleno horizontal. A Figura 4 ilustra a modelagem do muro.

Figura 4. Modelo Computacional do Muro.

2.2.3 ANÁLISE DE DEFORMAÇÃO E REFORÇO ESTRUTURAL

Após o lançamento da estrutura, carregamentos atuantes e condições de vinculação foi avaliado a


necessidade de reforçar a estrutura, sendo esta avaliação realizada através da análise da deformação
da estrutura. Segundo a NBR 6118/2014, pelo estado limite de utilização, os elementos de concreto
armado devem ter uma deformação limitada a L/250, onde L é o comprimento do elemento. Para o
modelo, foi então estabelecido que a deformação máxima permitida é H/250, ou 0,4% H onde H é a
altura do muro.

Posteriormente ao processamento de dados, foi verificado a necessidade de reforçar a estrutura. Nesse


caso, adotou-se camadas de geogrelhas como reforço para o muro de flexão. A Figura 5 ilustra o
funcionamento das geogrelhas como reforço.

263
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 5. Camadas de Geogrelha.

Com empuxo atuando sobre o muro, a estrutura tende a deformar-se, nesse momento as geogrelhas
são ativadas, sendo que o seu funcionamento se assemelha a um tirante. O sistema é basicamente
atrativo, portanto, a compactação é um aspecto fundamental para o bom desempenho dessa estrutura.

Através do modelo computacional foram lançadas forças contrárias ao empuxo de terra. Essas forças
representam a mobilização de tração nas geogrelhas necessária para limitar a deformação da estrutura.
Após obter o valor dessas forças, foi utilizado o método de Ehrlich e Mitchell (1994) para o
dimensionamento das camadas de geogrelhas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 MURO DE FLEXÃO TIPO “GRELHA” SEM REFORÇO ESTRUTURAL

Primeiramente foi simulado um modelo contendo apenas a estrutura de vigas, pilares e fundação, não
havendo presença de elementos de reforço. A NBR 6118/2014 recomenda que seja verificado o Estado
Limite de Serviço (ELS), através da combinação quase permanente de ações. Não havendo presença de
ações variáveis, a combinação foi realizada com as ações do peso próprio mais o empuxo do solo,
ambos com fator igual a 1,0.

Para essa situação, o muro apresentou uma deformação máxima de 13,4 cm, deformação essa que
ocorreu no ponto médio da viga localizada no topo do muro.

Em relação a altura do muro, essa deformação equivale a 3,38%, portanto acima do limite estabelecido
de 0,4% H. Sendo assim, foi necessário reforçar a estrutura.

264
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3.2 MURO DE FLEXÃO TIPO “GRELHA” COM REFORÇO ESTRUTURAL

Conforme visto anteriormente, somente a estrutura do muro sem a presença de elementos de reforço,
não foi suficiente para limitar as deformações causadas pelo maciço de terra, sendo necessário,
portanto, reforçar a estrutura.

Como solução de reforço, optou-se por fixar 3 camadas de geogrelhas ligadas nas vigas do muro. Para
o dimensionamento do reforço, é necessário conhecer a carga de tração atuante sobre o mesmo, essa
carga de tração é responsável por absorver parte dos empuxos de terra, limitando a deformação do
muro.

Com objetivo de representar as geogrelhas, foram lançadas cargas uniformemente distribuídas ao


longo das vigas, no sentido contrário ao empuxo de terra. Essas cargas representam a tração necessária
mobilizada nas camadas de geogrelhas para restringir a deformação.

Para determinar o valor dessas cargas, foram realizadas algumas simulações. Com a intenção de limitar
a deformação do muro, foram criados diversos apoios do 2º gênero ao longo das vigas.

Dessa forma, os deslocamentos foram limitados, consequentemente surgiram forças de reação nesses
apoios. Todavia, mesmo que de maneira simplificada, essas forças pontuais foram convertidas em
forças distribuídas equivalentes, distribuídas ao longo das vigas.

Assim sendo, obteve-se as cargas de tração necessária em cada camada de geogrelhas, para que a
deformação do muro seja limitada. Os valores das cargas estão indicados na Tabela 5.

Tabela 4. Parâmetros do solo.

Camada Tnec (kN/m)


1 10
2 12
3 10

3.3 DIMENSIONAMENTO DAS GEOGRELHAS

Inicialmente foi realizado o cálculo da resistência a tração admissível para uma vida útil de projeto de
60 anos. Através dos fatores de segurança, foram minoradas as resistências nominais. Sendo que os
valores das trações admissíveis obtidos foram 28,93 kN/m para J1100 e 42,48 kN/m para J1600.

Como a face do muro apresenta elevada rigidez, admitiu-se que o paramento em concreto armado é
capaz de fornecer a estabilidade externa para o maciço, sendo então dispensadas essas análises. Para

265
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

verificação da estabilidade interna, por representar uma situação mais realista, foi utilizado o método
de Ehrlich e Mitchell (1994), que se baseia nas condições de serviço, portanto foi adotada uma
sobrecarga de compactação de 60 kN/m².

Através das equações analíticas desenvolvidas por Ehrlich e Mitchell (1994), e com auxílio de planilha
eletrônica, realizou-se os cálculos para definição dos comprimentos e tração máxima em cada camada
de reforço. A Tabela 6 indica os resultados desses cálculos.

Tabela 5. Dimensionamento das geogrelhas.

Z Lr J Tadm Tmax
Camada FS
(m) (m) (kN/m) (kN/m) (kN/m)
1 3,20 3,0 1100 28,93 13,21 2,19
2 2,10 3,0 1100 28,93 18,06 1,60
3 1,10 3,5 1600 42,48 28,23 1,51

Onde: Z – Altura de solo acima da camada; Lr – Comprimento do reforço; J – Módulo de rigidez


longitudinal; Tadm – Tensão admissível; Tmax – Tensão máxima atuante em cada camada; FS – Fator de
Segurança (Tadm/Tmax).

Ainda complementando a análise de estabilidade interna, foi verificado a resistência ao arrancamento


dos reforços (Pr), em função dos comprimentos de embutimento (Le). Os resultados dessa análise estão
expressos na Tabela 7.

Tabela 6. Verificação da resistência ao arrancamento.

Z Le Pr Tmax
Camada FS
(m) (m) (kN/m) (kN/m)
1 3,20 3,0 192,88 13,21 14,60
2 2,10 2,4 92,19 18,06 5,11
3 1,10 2,3 44,66 28,23 1,58

Nesse caso o fator de segurança é expresso pela razão entre Pr e Tmax.

A Tabela 8 mostra um comparativo entre a carga de tração necessária, obtida através da modelagem
numérica e a carga de tração máxima mobilizada em cada camada, calculada através do método de
Ehrlich e Mitchell (1994).

266
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 7. Comparativo entre Tnec e Tmax.

Camada Tnec (kN/m) Tmax (kN/m)


1 10 13,21
2 12 18,06
3 10 28,23

Através dos cálculos, foi observado que as camadas de geogrelhas são capazes de fornecer a resistência
à tração necessária para limitar as deformações. Tanto para análise de tração máxima dos reforços,
quanto para análise de arrancamento, Ehrlich e Becker (2009) recomendam um fator de segurança
mínimo de 1,5. Esse fator de segurança foi atendido em todas camadas para as duas análises, portanto
pode-se considerar os reforços dimensionados capazes de suportar as solicitações.

3.4 ASPECTOS ESTRUTURAIS

Através da modelagem foi possível obter os diagramas de esforços internos de todos elementos do
muro, esse trabalho não teve, porém, o objetivo realizar o cálculo das armaduras dos elementos de
concreto armado, limitando-se então apenas para análise de deformações e esforços internos. A seguir
serão apresentados os resultados mais relevantes dessa análise.

Os diagramas de esforços internos apresentados a seguir, são exibidos com relação aos eixos locais
dos elementos, a Figura 6 ilustra o sistema de coordenadas local de cada elemento, e a direção do
carregamento devido ao empuxo de terra.

Figura 6. Coordenadas locais; (a) Estacas e Pilares; (b) Vigas.

Os eixos dos pilares/estacas, foram numerados de 1 a 6, da esquerda para direita. Para vigas, no
entanto, a numeração foi realizada de acordo com as cotas, sendo a cota 0 relativo a viga da base, e a
cota 3,20 m referente a viga do topo.

267
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Analisando as vigas, o diagrama de momento fletor (Mz), apresentou comportamento


aproximadamente parabólico com valor máximo de 32,23 kN.m. Outro fato observado é que na região
central da viga o elemento está sujeito a flexão pura. Nas demais regiões surgiram esforços de torção
(Mx) e esforços cortantes (Fy). A Tabela 9 indica os valores máximos desses esforços.

Tabela 8. Esforços internos nas vigas.

Viga / Cota (m) Fy (kN) Mz (kN.m) Mx (kN.m)


0 (base) 8,45 21,68 17,98
1,10 18,54 29,86 15,37
2,10 19,36 34,47 8,88
3,20 17,58 40,29 4,93

Para os pilares, foi observado que em sua base existem esforços internos de momento fletor (Mz),
indicando que ocorre a transmissão de esforços de momento para o topo das estacas de fundação.

Conforme a Tabela 10, cabe salientar que devido a simetria da estrutura, a distribuição de esforços
também se deu de forma simétrica.

Tabela 9. Esforços internos nos pilares.

Pilar / Eixo Fy (kN) Mz (kN.m) Mx (kN.m)


1e6 38,83 31,13 13,70
2e5 17,05 14,45 12,75
3e4 30,68 23,52 4,52

Um ponto interessante nessa análise é que na prática costuma-se chamar de pilar o elemento de
concreto armado orientado na direção vertical. Conforme a NBR 6118/2014, os pilares são definidos
como: “elementos lineares de eixo usualmente dispostos na vertical, em que as forças normais de
compressão são preponderantes”. Porém os esforços preponderantes nesses elementos do muro são
devido a flexão. Segundo a norma citada acima, as vigas são definidas como: “elementos lineares em
que a flexão é preponderante”. Sendo assim, esses elementos devem ser dimensionados como vigas.

Também foram analisados os esforços internos nas estacas, esses elementos estão sujeitos a
carregamentos transversais no topo. Os valores dos esforços internos das estacas estão dispostos na
Tabela 11.

268
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 10. Esforços internos nas estacas.

Estaca / Eixo Fy (kN) Mz (kN.m)


1e6 5,29 10,72
2e5 36,59 51,94
3e4 53,93 79,58

Conforme citado anteriormente, para fundação do muro foram adotadas estacas com 30 cm de
diâmetro e 5 m de profundidade. Rossi (2017) mostrou em seu trabalho, através do método de Aoki e
Velloso, que para o solo de Umuarama-PR uma estaca com diâmetro de 32 cm e 5 m de profundidade
é possível de oferecer uma resistência lateral de 69,70 kN.

Através da modelagem foi possível obter os diagramas de esforços internos e a estaca mais solicitada
à compressão apresentou uma força de 11,26 kN. Por simplificação do modelo não foram feitas
verificações de capacidade de carga e com base no trabalho de Rossi (2017) assumiu-se que a fundação
fornece resistência suficiente para o muro de flexão tipo grelha.

3.5 ARRANJO FINAL DO MURO DE FLEXÃO TIPO “GRELHA” REFORÇADO COM GEOGRELHAS.

Alguns detalhes construtivos são importantes para o bom desempenho do sistema, sendo o primeiro
deles a drenagem. Vertematti (2004) recomenda que a estrutura reforçada, sempre que possível, deve
estar livre da presença de águas freáticas. Portanto deve-se tomar um cuidado especial com a
drenagem do sistema.

Outro fator importante é a rigidez da face. Pedroso (2000) relata a influência da rigidez da face em
estruturas com solos reforçados, destacando que a face rígida contribui para o confinamento do solo e
absorve os empuxos em sua superfície, reduzindo o deslocamento do maciço. Apesar de vários autores
comprovarem a influência da rigidez da face nesse tipo de estrutura, os métodos de dimensionamento
convencionais não levam em consideração a contribuição dessa rigidez.

Com base nesses detalhes e seguindo as recomendações de Ehrlich e Becker (2009) e Vertematti
(2004). A Figura 7 apresenta o arranjo final da estrutura de contenção.

269
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 7. Arranjo final da estrutura.

A Tabela 12 indica as especificações de cada camada de goegrelha.

Tabela 11. Especificações de cada camada.

Cota Geogrelha Comprimento


Camada de
Fortrac® MP
reforço (m) Lr (m)
1 0,00 J1100 3
2 1,10 J1100 3
3 2,10 J1600 3,5

270
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3. CONCLUSÕES

Através desse trabalho foi possível concluir que as geogrelhas podem ser utilizadas como reforço
estrutural do muro de flexão com seção tipo “grelha”. Utilizando-se o método de Ehrlich e Mitchell
(1994), foi possível definir os espaçamentos e tração máxima em cada camada.

Para limitar da deformação excessiva do muro, adotou-se 3 camadas de geogrelhas ligadas nas vigas
intermediárias e de base da estrutura. Essa solução se mostrou eficiente, capaz de limitar a deformação
e absorver os empuxos de terra.

A modelagem computacional mostrou-se uma ferramenta poderosa para auxiliar as projetistas


estruturais a entender melhor o comportamento e esforços atuantes na estrutura. A partir dos esforços
internos da estrutura, o projetista pode realizar o dimensionamento das armaduras conforme a NBR
6118/2014. Nessa análise foi observado que os esforços preponderantes nas vigas e pilares são devido
a flexão, porém em alguns elementos surgiram esforços de torção. Na prática, de forma geral os
esforços de torção são desconsiderados. Dessa forma recomenda-se que para um melhor
dimensionamento estrutural do muro deve ser feito uma análise crítica sobre a influência da torção
nessas vigas.

Por fim, além de alcançar os objetivos propostos, o trabalho abriu espaço para futuras pesquisas em
torno da utilização de geossintéticos como elementos de reforço para estruturas de contenção.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Universidade Estadual de Maringá, especialmente ao campus regional de Umuarama-


PR - DTC, pelo incentivo e contribuição dada ao longo dessa pesquisa.

271
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICA. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto –
Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICA. NBR 7181: Solo – Análise Granulométrica. Rio
de Janeiro, 1984.

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICA. NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação. Rio
de Janeiro, 2016.

ALONSO, Urbano Rodriguez. Dimensionamento de fundações profundas. São Paulo: Edgard Blucher,
1989.

AUTODESK. Robot Structural Analysis 2018.


Disponível em: <https://www.autodesk.com/education/free-software/robot-structural-analysis-
professional>.

BASSI, N. M. Metodologia de cálculo de muro de arrimo na região de Umuarama. 2016. 83 f. TCC


(Graduação) - Curso de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Maringá, Umuarama - Pr, 2016.

CINTRA, J. C; AOKI, N. Carga Admissível em Fundações Profundas. São Paulo: EESC USP - Projeto Reenge,
1999.

CINTRA, José Carlos A.; AOKI, Nelson. Fundações por estacas: projeto geotécnico. São Paulo: Oficina de
Textos, 2010.

EHRLICH, M.; BECKER, L. Muros e Taludes de Solo Reforçado: projeto e execução. São Paulo: Oficina de
Textos, 2009.

EHRLICH, M.; MITCHELL, J. K. Working Stress Design Method for Reinforced Soil Walls. Journal of
Geotechnical Engineering, v. 120, n. 4, p.625-645, abr. 1994.

MITCHEL, V. e VILLET, W. Reinforcement of earth slopes and embankments. National Cooperative


Highway Research Program Report n.290, 162 p. 1987

PEDROSO, Emerson Oliveira. Estruturas de Contenção Reforçadas com Geossíntéticos. 2000. 90 f.


Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil, Eesc/usp, São Carlos, 2000

272
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

ROSSI, M. L. Modelagem numérica de muros de flexão na região de Umuarama. 2017. 83 f. TCC


(Graduação) - Curso de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Maringá, Umuarama, 2017.

VERMATTI, José Carlos. Manual Brasileiro de Geossintéticos. São Paulo: Blucher, 2009.

273
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 16

A INFLUÊNCIA DOS REFORÇOS POR


GEOGRELHA SOBRE A VIDA DE SERVIÇO DE
LASTROS FERROVIÁRIOS DE ALTO TRÁFEGO E
CARGA ELEVADA.

Luiz Gustavo Paulo Oran (ITA-Instituto Tecnológico de Aeronáutica)


Delma de Mattos Vidal (ITA-Instituto Tecnológico de Aeronáutica)

Resumo: A necessidade de construir e manter vias férreas que possibilitem a passagem de trens de
minério com elevadas cargas por eixo e velocidade de tráfego exige explorar jazidas produtoras de
lastro de excelente qualidade, capazes de fornecer volumes crescentes de material. O trabalho
apresenta resultados de ensaios com material de lastro que não atende as especificações, reforçado
com geogrelha, a fim de avaliar a possibilidade de utilização deste tipo de material. A passagem de
trens de carga elevada e velocidade de 70km/h foi simulada por um atuador hidráulico. Foram avaliados
corpos de prova reforçados com geogrelhas tecidas aplicadas em duas cotas distintas. A utilização de
geogrelha com adequada abertura de malha implicou em aumento significativo do tempo de vida de
serviço do lastro e consequente redução do consumo de matéria-prima.

Palavras-chaves: Lastro, Geogrelha, Confinamento, Atuador Hidráulico, Vida de Serviço, Carga Cíclica.

274
1. INTRODUÇÃO

Entre os aspectos mais estudados atualmente acerca do desempenho de ferrovias, o lastro ocupa
papel central. O particulado, comumente chamado de brita 3, é o mais usualmente utilizado nessa
aplicação. Dentre as nove recomendações das características físicas e mecânicas citadas pela DNIT-
ISF-212:2015, a abrasão Los Angeles Máxima para essa aplicação não deve ultrapassar 30% e a
proporção máxima de partículas não cúbicas deve ser de 15%.

Tais propriedades são encontradas em britas de lastro de alta qualidade, mais caras e de difícil
obtenção em decorrência do esgotamento das jazidas desse padrão de material. As cargas cíclicas
decorrentes do tipo de carregamento aplicado pelas composições ferroviárias causam efeitos
distintos das formulações de cargas estáticas utilizadas nos modelos matemáticos e analíticos em
estudos e projetos de vias permanentes assentados em teorias clássicas de elasticidade.

A movimentação constante das partículas entre si aumenta o desgaste por abrasão e assim a geração
de finos cresce em paralelo à quebra de partículas. Conforme esse percentual aumenta, a resistência
ao cisalhamento da estrutura do lastro é reduzida e os recalques laterais e longitudinais ao longo da
via têm sua incidência acelerada. A quebra das partículas altera a granulometria do lastro e o módulo
resiliente é afetado. Esse fato acelera o desgaste do material rodante e da própria ferrovia.

A opção de utilização de materiais menos nos nobres de lastro para aplicação na superestrutura de
ferrovias reduz ainda mais o tempo de vida de serviço. Outro fator importante é a magnitude da
relação carga/eixo no trem. Quanto maior essa razão no carregamento cíclico, maior a degradação
do particulado. A alternância entre tensão máxima aplicada sob o eixo do trem e a tensão residual
resultante após a passagem do eixo tem maior interveniência sobre a degradação do lastro
decorrente da máxima tensão aplicada que da amplitude entre ambas as tensões. Em outras
palavras, o efeito causado pela tensão máxima é mais significativo que o devido à diferença entre
tensão máxima e tensão residual. Associada a esses aspectos, a velocidade com que a composição
passa na via impõe a frequência do carregamento e seu efeito na degradação é maior quanto maior
for a velocidade.

Para trens com vagões GDT, típicos da Estrada de Ferro Carajás (EFC) da VALE, mineradora e
produtora de minério ferro, é frequente considerar carregamento de 37,5 toneladas/eixo, a uma
velocidade média de 70 km/h. Essas características de aplicação de carga cíclica exigem
manutenções com intervalos mais reduzidos entre si.

275
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

A avaliação do estado de conservação das linhas são realizados pela medida do abatimento vertical
da via ou pelo grau de contaminação por finos no lastro. No primeiro caso, Magalhães et al. (2009)
afirmam que nivelamentos com levantes de 2,5 cm, por exemplo, correspondem a uma reposição
de 3,5% do volume total do perfil do lastro para a Estrada de Ferro Vitória-Minas da VALE. Em relação
à contaminação por finos, esses autores indicam que o teor de finos (endógenos e exógenos) até
40% não comprometem a elasticidade e a drenagem, com formação de laqueados que reduzem a
vida de serviço da via. As consequências dessas intervenções, além dos custos diretos envolvidos,
são as paradas de fluxo necessárias para o serviço e o consumo elevado de brita utilizada para os
levantes de nivelamentos e os desguarnecimentos. Esse maior consumo de material, gerado pelas
características dos vagões e das cargas transportadas, impõe acréscimo na extração de matéria-
prima e na produção de brita para

lastro.

Os impactos ambientais que disso decorrem têm relação com os grandes volumes de solo
escavado. Resultam em desmatamento, destruição de espécies vegetais e animais das matas,
erosão superficial e possíveis erosões profundas ocasionadas pela alteração de regimes hídricos.

Investigações que resultem em aumento da vida de serviço de lastros ferroviários têm reflexo direto
nas perspectivas ambiental e econômica da logística ferroviária. Neste artigo apresentamos
resultados obtidos por meio de simulações satisfatoriamente realísticas. Para tanto, foi utilizado um
atuador hidráulico do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE/ASA-E) da sub-divisão de Ensaios
Estruturais do DCTA, em São José dos Campos.

O carregamento cíclico foi aplicado sobre amostra de brita da Pedreira Jambeiro/ SERVENG, cujas
características físicas e mecânicas não atendiam de forma plena e satisfatória à recomendação do
DNIT- ISF-212:2015. Os índices avaliados do material foram a resistência à abrasão Los Angeles,
massa específica aparente e o percentual máximo de partículas não cúbicas. Essa escolha foi
resultado da avaliação das propriedades mais relevantes em um ensaio controlado feito em
laboratório, sem exposição a intempéries.

A massa específica aparente medida atendeu à recomendação. A residência ao desgaste e o


percentual máximo de partículas não cúbicas ficaram aquém do requerido no documento.

Os resultados obtidos nos ensaios realizados no atuador hidráulico foram feitos em duas situações
específicas: i) sem reforço e ii) com reforço por geogrelha de poliéster tecida. O reforço foi aplicado

276
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

no interior do corpo de prova do lastro e não na camada subjacente, já que a base do corpo-de-
prova estava apoiada em uma chapa metálica sobre piso de concreto.

O número de ciclos aplicados foi de 200.000, pois a partir de 20.000 ciclos, o padrão de
comportamento do lastro sob carregamento cíclico já está caracterizado, com o grau de abatimento
já bem estabelecido.

As análises foram realizadas por meio de comparação direta entre o abatimento medido e
quantidade de finos gerados pelos corpos de prova. Dessa maneira, por esses indicadores, pode-se
estimar os ganhos esperados no tempo de vida de serviço do lastro após a aplicação de reforço com
a geogrelha utilizada e a redução no consumo de matéria-prima de lastro.

2. SUPERESTRUTURA DA FERROVIA

2.1 LASTRO CONVENCIONAL

Composta por elementos estruturais, a via permanente pode ser entendida como uma grade
constituída pelos componentes longitudinais (trilhos), fixos aos dormentes (componentes
transversais) por meio de elementos de fixação de trilhos, apoiada em um meio elástico composto
por lastro, sub-lastro, plataforma da via (ou outro meio elástico). Por isso pode ser tratada como
uma viga contínua sobre apoio elástico e aparelhos especiais de via (NABAIS 2014).

Segundo Magalhães et al. (2009), a superestrutura ferroviária se caracteriza por um conjunto de


quatro elementos heterogêneos (trilhos, dormentes, fixação e lastro) - embora alguns autores
incluam o sub-lastro como quinto componente da superestrutura - cuja interação ocorre para suprir
de forma adequada as condições de suporte, pista de rolamento e guia para o material rodante que
sobre ela trafega.

Por essa razão, o chamado sub-lastro é considerado integrante da camada superior da infraestrutura
por protagonizar importante papel no desempenho da ferrovia. Entretanto, não faz parte da
abordagem deste trabalho, cujo ponto focal está nas características do lastro com e sem reforço por
geogrelha, assentado em base de características rígidas, para análise do lastro em si e dos fatores
intervenientes em configurações com reforços.

2.2 ALTURA DO LASTRO

Um parâmetro importante é a altura mínima do lastro, cuja dimensão afeta diretamente o


espaçamento das cargas, o grau de vibração da composição e o conforto dos passageiros. Assim, a

277
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

engenharia ferroviária buscou classificá-lo por sua espessura. O DNIT- ISF-212:2015 sugere a
subdivisão feita em três classes conforme as alturas mínimas abaixo, igualmente para aterros quanto
para cortes em materiais de primeira categoria, bem como em cortes em rochas devidamente
rebaixados:

a) Classe I (Grande Porte) - 40 cm;

b) Classe II (Médio Porte) - 30 cm;

c) Classe III (Pequeno Porte) - 25 cm.

O particulado deve possuir um grau de confinamento mínimo para que sua estrutura se mantenha
adequada à sua finalidade. Assim, para os ombros do lastro, as diretrizes são tomadas da AREMA
(America Railway Engineering and Maintenance - of- Way Association). Ela estabelece que
a largura do ombro não deve ultrapassar 12”, isto é, 30,48 cm.

Para a Instrução DNIT-ISF-212:2015, o talude não deve ter inclinação menor que 1:1,5 (altura-base)
e devem ser observadas as dimensões mínimas de ombro de lastro:

a) Classe I - 30 cm;

b) Classe II - 20 cm;

c) Classe III - 15 cm.

No caso de trilhos TLSs (trilhos longos soldados), o ombro do lastro deve ter no mínimo 30 cm
independentemente da classe.

2.3 LASTRO COM REFORÇO CONVENCIONAL

A aplicação de reforços com geossintéticos é utilizada há décadas na engenharia ferroviária. O


geotêxtil é utilizado na função reforço na camada subjacente, exatamente na interface lastro/sub-
lastro e na função separador e filtro para evitar bombeamento de finos. Como revestimento do perfil
do lastro, o geotêxtil age na função filtro para evitar a contaminação e colmatação por finos
provenientes das cargas de minério de ferro e carvão, a ponto de reduzir sua capacidade de
drenagem e sua residência ao cisalhamento.

Geogrelhas igualmente são utilizadas na função reforço. Aplicados na interface lastro/ sub-lastro,
esses geossintéticos melhoram as características de resistência ao cisalhamento do sub-lastro ou
mesmo da plataforma da via permanente e também aumentam o grau de imbricamento das
partículas.

278
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2.4 LASTRO COM REFORÇO NÃO CONVENCIONAL

2.4.1 REFORÇO EM ENSAIOS DE CISALHAMENTO DIRETO

Para melhor desempenho no imbricamento, estudos de Brown et al. (2007) indicaram que a relação
entre a abertura das geogrelhas e o diâmetro nominal do lastro deve estar sob uma razão entre 1,2
e 1,6.

Em ensaios de cisalhamento direto, Cook e Horvat (2014) e Horvat e Klompmaker (2014), verificaram
existir uma zona de influência cujo desempenho seria diretamente influenciado pela rigidez dos nós
e a taxa de fluência dos elementos constituintes das geogrelhas. Essa zona segue por cerca de 2
dezenas de centímetros acima e abaixo do ponto de aplicação do reforço.

2.4.2 EFEITOS DE TENSÃO CONFINANTE EM LASTRO SOB CARGA CÍCLICA

A interveniência da tensão confinante foi melhor detalhada por outros pesquisadores. Uma
significativa caracterização do grau de confinamento como fator interveniente sobre o índice de
quebra do lastro em ensaios triaxiais foi dada por Lackenby et al. (2007) e Indraratna et al. (2005).
Ao tratarem do comportamento de degradação do lastro sob cargas cíclicas apresentaram-no
conforme três zonas:

DUDZ (σ’3 < 30 kPa), ODZ (30 kPa < σ’3 <

75 kPa), CSDZ (σ’3 > 75 kPa) e o conceito de BBI (índice de quebra de lastro).

DUDZ (Dilatant unstable degradation zone): Amostras submetidas a σ’3 baixo, com aumento da
dilatação volumétrica devido à rápida e significativa deformação radial e axial sofrem considerável
dilatação e ampla quebra no início do carregamento associada à deformação axial e à taxa de
dilatação máximas.

ODZ (Optimun degradation zone): A faixa σ’3 é diretamente influenciada pela magnitude aplicada na
máxima tensão desviatória (qmax, cyc). Esses autores defendem que um menor acréscimo em σ’3
causaria distribuição ótima de tensão de contato interno, gerando reduzidas concentração de tensão
e de tração com consequente menor quebra de partículas. De outro lado, acréscimos em σ’3
causariam menor deformação axial.

CSDZ (Compressive stable degradation zone): Nesse caso, afirmam que a dilatação e o movimento
das partículas é consideravelmente supresso. O motivo seria a elevada tensão confinante. Em

279
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

síntese, a mobilidade reduzida e a elevada tensão dos pontos de contato são as diferenças mais
significativas entre ODZ e CSDZ. Como consequência, o abatimento é menor, porém há maior quebra
de partículas na estrutura.

3. REFORÇO DENTRO DO CORPO DO LASTRO

A ideia de aplicação de reforço dentro do corpo do lastro e submetido a carregamento cíclico em


escala natural levou em consideração a hipótese da existência de uma zona de influência em torno
do ponto de aplicação e a influência da tensão confinante sobre a degradação do lastro submetido
também a cargas cíclicas. A abrasão Los Angeles do Corpo de Prova do lastro atingiu 35% e o
percentual de partículas não cúbicas acima de 30%.

As propriedades índice e funcionais da geogrelha como resistência ao funcionamento, rigidez dos


nós, rigidez dos elementos singulares e abertura da malha influenciam diretamente sua
capacidade de confinamento do particulado. Foi selecionada para reforço a geogrelha bidirecional -
FORTRAC 8080 70T - de poliéster tecida, cuja abertura de 70 mm em ambas as direções atende à
proporção entre 1,2 e 1,6 para a razão abertura da malha/diâmetro nominal do agregado para
melhor resultado de eficiência no confinamento, como mostra a Figura 1.

Figura 1. Geogrelha e Lastro

280
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Para a avaliar o grau de influência do reforço confinante sobre o lastro, as cotas de aplicação
escolhida foram a 10 centímetros e a 20 centímetros da base, para o corpo de prova de lastro com
30 centímetros de altura. Esses corpos de prova foram construídos de maneira a maximizar a
influência do reforço. Suas características geométricas são de tronco de pirâmide, com base
inferiores e superiores quadrangulares (115 x 115 cm e 25 x 25 cm), respectivamente, conforme
Figura 2. Maiores detalhes sobre a montagem, procedimento e resultados destes ensaios estão
indicados em Oran e Vidal (2018).

Sapata Metálica

Figura 2. Corpos de prova reforçados no atuador hidráulico (dimensões em centímetros). Adaptado de Oran
e Vidal (2018).

Figura 3. Atuador Hidráulico

281
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

O número de ciclos aplicados nesse carregamento foi de 200.000. No corpo de prova sem reforço,
o abatimento chegou a 4,3 cm. No reforço R1 foi de 1,7 cm e no reforço R2 foi de 2,6 cm, sob mesmas
condições de geometria e carregamento no ensaio. A estrutura de ensaio com atuador hidráulico
está ilustrada na Figura 3. Nestas condições, a geração de finos foi diferente para cada situação
descrita, conforme ilustrado na Tabela 1.

Tabela 1. Massa de Finos gerada com 200.000 ciclos.

Solo Finos (g)


Sem Reforço 2.698
Reforço 1 694
Reforço 2 1.228

O abatimento vertical foi significativamente distinto conforme os reforços foram alterados para as
mesmas condições de carregamento cíclico, por 200.000 ciclos, como mostrado na Tabela 2.

Tabela 2. Abatimentos Verticais dos Corpos de Prova

Reforço Batimento (mm)


Sem Reforço 43
Reforço 1 17
Reforço 2 26

4. LEVANTES DE NIVELAMENTO

Considerando composições formadas por 330 vagões do tipo GDT, carregados com 150 toneladas
cada, 200.000 ciclos correspondem a

151 trens nessas características, cada trem transportando 49.500 toneladas por viagem. Desse
modo, 200.000 ciclos correspondem a 50.000 vagões de carga ou 7.500.000 toneladas de minério
de ferro transportadas. Estima-se que a Estrada de Ferro Carajás transporte 120.000.000 de
toneladas de carga por ano. Equivalente a 3.200.000 ciclos de carga por 892 km de extensão.

Com as proporções assinaladas, conforme Magalhães et al. (2009), cada 2,5 cm de abatimento no
perfil da via, corresponde a 3,5% de perda de volume total de material. A Tabela 3 compara os
percentuais de volumes de brita consumidas em cada situação de reforço para estas características
de carregamento.

282
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 3. Volume de brita total no perfil para reposição com levante de nivelamento.

Reforço % Volume de brita Estimativa de


levantes
Sem Reforço 5,30 1,5
Reforço 1 1,14 0,3
Reforço 2 3,35 1,0

283
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

5. CONCLUSÕES

A utilização de reforço com geogrelha resultou em economia de 5 vezes quando posta na cota 20
cm a partir da base e economia de 1,5 vezes quanto posta na cota a 10 centímetros da base. Tal
resultado implica que mesmo com materiais de característica desfavoráveis para aplicação em
lastros ferroviários, a presença de reforços adequadamente interpostos e dimensionados,
pode proporcionar ganhos reais no tempo de vida de serviço dos lastros e por conseguinte, menos
paradas de intervenção e menores volumes de extração de materiais para reposição nos levantes e
desguarnecimentos.

Outras propriedades como rigidez dos nós, espessura e rigidez dos elementos da geogrelha possuem
interveniência sobre os resultados do desempenho do lastro e do geossintético. O módulo de
Resiliência é influenciado diretamente por esses parâmetros.

Fatores de redução para essas propriedades estão sendo avaliados para quantidades de ciclos mais
elevados. Todos esses estão sendo investigados e tratados estatisticamente.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao IAE - Instituto de Aeronáutica e Espaço, sub-divisão de Ensaios Estruturais ASA-E


do DCTA em São José dos Campos.

284
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

Brown, S. F.; Kwan, J.; Thom, N. H. (2007) Identifying the key parameters that influence geogrid
reinforcement of railway ballast. Geotextiles and Geomembranes, v. 25, n. 6, p. 326–335.

Cook, Jonathan. e Horvat, Ferenc. (2014) Assessment of Particle of confinement within a


mechanically stabilized layer, IGS, DGGT, Berlin.

DNIT-ISF-212. Projeto de Superestrutura da via permanente - Lastro e Sublastro, DNIT, 2015. Horvat,
F. e Klompmaker, J. (2014) Investigation of Confinement Effect by Using the Multi-Level Shear Box
Test.

Indraratna, B.; Lackenby, J.; Christie, D. (2005) Effect of confining pressure on the degradation of
ballast under cyclic loading. Géotechnique, v. 55, n. 4, p. 325–328.

Lackenby, J., Indraratna, B. e McDowell, G. (2007) The Role of Confining Pressure on Cyclic Triaxial
Behavior of Ballast. Géotechnique, Institution of Civil Engineer, UK, v. 55, n. 4 p. 325-328.

Magalhães, P. C. B., Duval Filho, E., Silva, M. W P. (2009) Via Permanente - Módulo VIII. São Luís:
VALER - Educação VALE.

Oran, L. G. P e Vidal, D. M. Interveniência de Reforço em Lastro Ferroviário sob Carga de Alto Tráfego,
Revista Geotecnia, Lisboa, no 145 – março/marzo/ march 2019 – pp. 29-41 http://doi.org/10.24849/
j.geot.2019.145.03 – © 2019 Sociedade Portuguesa de Geotecnia.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 17

AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO
MECÂNICO DE SOLO TÍPICO DE MANAUS/AM
ADITIVADO COM RESÍDUOS POLIMÉRICOS

Brendo Wesley Souza de Azevedo (Universidade Federal do Amazonas)


Juliano Rodrigues Spínola (Universidade Federal do Amazonas)
Cláudia Ávila Barbosa (Universidade Federal do Amazonas)
Consuelo Alves da Frota (Universidade Federal do Amazonas)

Resumo: O desenvolvimento urbano, segundo uma diretriz efetiva, que busque minimizar de forma
correta os impactos ambientais, torna-se constantemente necessário, tal como a busca de soluções
ao descarte de resíduos. Dentro desse contexto, a Engenharia Civil recorre cada vez mais ao
aproveitamento de materiais descartáveis para minorar a exploração dos recursos naturais. Em especial, no
caso da Geotecnia, por exemplo, o melhoramento do solo como material de construção. O presente
estudo aborda o comportamento mecânico de um solo típico de Manaus-AM aditivado com
subprodutos oriundos da reciclagem de rejeitos plásticos, provenientes das indústrias do Distrito
Industrial de Manaus. O solo natural e a composição solo + 2% resíduo polimérico, avaliaram-se
quanto ao comportamento mecânico pelos ensaios de Resistência à Compressão Simples (RCS) e
Resistência à Tração (RT) por Compressão Diametral, nas idades de 3 e 7 dias de cura. Constatou-se,
notadamente, para a formulação alternativa, relativo ao solo natural, um aumento significativo igual
a 126,3% da resistência à compressão simples, bem como um ganho de 41% da resistência à tração.
Portanto, comprovando-se uma alternativa técnica-ambiental à construção de subcamadas de
pavimentos regionais.

PALAVRAS-CHAVE: estabilização; resíduo polimérico; resistência à compressão simples; resistência à tração.

286
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1.INTRODUÇÃO

A evolução das cidades, com o concomitante desenvolvimento das áreas urbanas, tem contribuído
substancialmente para o crescimento dos impactos ambientais. No espaço urbano, determinados
aspectos culturais, como o consumo de produtos industrializados, apontam o potencial de
transformação do ambiente. Sendo assim, os costumes e hábitos relacionados a produção de
resíduos, devido ao exacerbado consumo, são grandes responsáveis por alterações ambientais
(MUCELIN; BELLIN, 2008 apud IZZO; NAGALLI, 2013). Por conseguinte, surge o paradigma do
desenvolvimento sustentável e a gestão ambiental que oportuniza a procura de alternativas viáveis
para utilização de sobras e resíduos da produção industrial de forma a amenizar os passivos
ambientais (MEIRELES, 2016).

Neste contexto, sendo o solo um dos elementos fundamentais para o desempenho das técnicas
utilizadas em Engenharia Civil, contempla-se dentro do campo da Geotecnia, a possibilidade da
transformação de resíduos ambientais em material de construção. Destaca-se, em particular, o
tratamento de solos com baixa capacidade de suporte mediante técnicas de estabilização, que
apresenta-se como alternativa para utilização de subprodutos, tendo em vista a potencial
contribuição para o aprimoramento das propriedades mecânicas desses materiais naturais.

Em Manaus – AM, segundo dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus, foram geradas
819 mil toneladas de resíduos no ano de 2013, dos quais, aproximadamente, 94 mil toneladas eram
de materiais plásticos (SUFRAMA, 2014 apud MEIRELES, 2016). Nesta conjuntura, salienta-se o
trabalho executado por recicladoras, regularmente fiscalizadas pelo Instituto de Proteção Ambiental
do Amazonas (IPAAM), que gerenciam e tratam os referidos subprodutos originários do Distrito
Industrial de Manaus.

Com base no exposto, o estudo em pauta investigou o efeito da inserção de um estabilizante não-
convencional, proveniente do Distrito Industrial de Manaus, em solo típico da região, comumente
utilizado em bases de pavimentos. Tal material é constituído por resíduos poliméricos micronizados
resultantes da reciclagem de plásticos, predominantemente formado de policloreto de vinila (PVC).
Analisar-se-á o comportamento mecânico quanto à compressão simples e a tração por compressão
diametral.

287
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 MATERIAIS

2.1.1 SOLO

Coletou-se o solo na Av. Grande Circular, localizada no bairro Tarumã, em Manaus, e nas
coordenadas geográficas 3° 3'2.95"S e 60° 4'1.15"O. Armazenou-se esse material em sacos de 50kg,
sendo guardados no depósito de materiais do Grupo de Pesquisa em Geotecnia (GEOTEC/UFAM). As
amostras para ensaios, após secagem prévia, foram preparadas de acordo com as recomendações
da NBR 6457/16.

2.1.2 RESÍDUO POLIMÉRICO

Subproduto da reciclagem de rejeitos plásticos procedente das indústrias do Distrito Industrial de


Manaus, o resíduo polimérico foi doado ao Grupo GEOTEC pela recicladora Coplast Resíduos
Plásticos, instalada na cidade de Manaus/AM, Avenida dos Oitis, Distrito Industrial. O material é
composto pelo polímero policloreto de vinila (PVC), sendo obtido logo após o ciclo de operações
referentes ao tratamento de resíduos sólidos da empresa. Acondicionaram-se as amostras em saco
plástico para o envio ao Laboratório de Solos do GEOTEC. Caracterizou-se o material como
totalmente passante na peneira de abertura 0,60mm, correspondente a faixa granulométrica de silte
(NBR 6502/1995), para realização dos ensaios de compactação e comportamento mecânico.

Figura 1: Materiais: solo natural (à esquerda) e resíduo polimérico (à direita).

288
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2.2 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA

Realizaram-se os ensaios de consistência, a fim de se determinar a plasticidade do solo e da


composição solo-2%resíduo. O limite de liquidez seguiu as prescrições da NBR 6459/2016 e o limite
de plasticidade acompanhou a norma NBR 7180/2016. Observa-se que a porcentagem de resíduo
adicionada baseou-se no total de massa seca do solo. Consoante a análise granulométrica, conduziu-
se de acordo com a NBR 7181/2016. O ensaio de compactação, por sua vez, realizou-se na energia
de compactação do Proctor modificado, em conformidade com a NBR 7182/16.

2.3 COMPORTAMENTO MECÂNICO

Fundamentado nos parâmetros de compactação, produziram-se as amostras cilíndricas com o solo


natural e a formulação alternativa. Confeccionaram-se três corpos de prova para cada composição
e tempo de cura, totalizando vinte e quatro CP's.

Após a moldagem as amostras permaneciam na estufa durante 24h, sob temperatura de 60 ºC


(Figura 2a). Após esse periodo mantinham-se a temperatura ambiente por 3 e 7 dias. Terminado
esse processo, executavam-se os testes mecânicos de resistência à compressão simples (Figura 2b)
e resistência à tração por compressão diametral (Figura 2c) na Prensa Universal de Ensaio (UTM/IPC
Global).

Figura 2: a) Corpos de prova na estufa a 60 ºC após moldagem, solo natural (à esquerda) e composição solo-
2% de resíduo (à direita); b) Ensaio de resistência à compressão simples; c) Ensaio de resistência à tração
por compressão diametral.

289
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA

Na Figura 3 tem-se a curva de distribuição granulométrica, que mostra o solo natural com 43% de
silte, 28% de argila, 27,28% de areia e 1,5% de pedregulho, estabelecendo-se, portanto, sua
nomenclatura como silte argilo-arenoso. Para o peso específico dos grãos, estimou-se o valor de 2,85
kN/m³ com base no trabalho de LIMA (2017). Conforme DAS (2014), esse índice físico para solos
argilosos e siltosos pode variar entre 2,6 e 2,9 kN/m³. Alusivo aos Limites de Atterberg, estes
apontaram 31% e 25% concernentes ao limite de liquidez e de plasticidade, respectivamente. Por
conseguinte, obteve-se para o índice de plasticidade (IP) o valor igual a 6%. A cabo dessas
informações, o solo enquadrou-se como A-4 e ML, pelas orientações da AASHTO e especificações do
Sistema Unificado de Classificação de Solos (SUCS), respectivamente (DAS, 2014).

Figura 3: Curva granulométrica do solo natural.

Com relação aos limites de consistência para a composição solo-2%resíduo, a partir da Tabela 1 e
Figura 4, confirmam-se pequenas variações ocasionadas no solo natural pela adição do polímero.
Nota-se, à vista disso, discreto aumento no limite de liquidez e plasticidade, portanto, no índice de
plasticidade, significando dizer que a plasticidade do solo permaneceu praticamente inalterada.

Tabela 1. Parâmetros de Consistência.

Composição LL (%) LP (%) IP (%)

Solo Natural 31 25 6

Solo-2%Resíduo 34 26 8

290
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 4: Curva de fluidez do solo natural e composição.

Na Figura 5 apresentam-se os resultados concernentes aos ensaios de compactação do solo natural


e mistura solo-2%resíduo. Certifica-se um diminuto aumento no valor da umidade ótima igual a
7,29%, passando de 13,45 para 14,43% após a adição do estabilizante. Por outro lado, assinala-se
que a massa específica aparente seca máxima da composição, relativa ao solo “in natura”, manteve-
se praticamente a mesma.

Figura 5: Curvas de compactação do solo natural e formulação alternativa.

3.2 COMPORTAMENTO MECÂNICO

3.2.1 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES

Executou-se o experimento às idades de 3 e 7 dias a partir da confecção dos corpos de prova,


mantendo-os em estufa a 60°C durante 24h para cura. Na sequência os CP’s foram deixados ao
ambiente por 3 e 7 dias. A Tabela 2 expõe os valores médios da resistência à compressão simples do
solo natural e formulação solo-2%resíduo. Calculou-se a RCS com base na NBR 12770/1992, pela
equação 1.

291
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

(1)

F – Carga de ruptura;

A – Área média da seção transversal do corpo de prova.

Tabela 2. Valores da Resistência à Compressão Simples (médias).

Composição RCS (MPa)


3 dias 7 dias
Solo Natural 0,422 0,782

Solo-2%Resíduo 0,955 0,943

Solo Natural (PATRICIO, 2015) - 0,350

Solo-2,2%Polímero (PATRICIO, - 1,200


2015)

Solo Natural (MACHADO et al.,


- 0,260
2016)

Solo-2%Polímero (MACHADO et
al., 2016) - 0,300

À luz da Tabela 2, constata-se que o desempenho mecânico do solo natural variou de 0,36 MPa entre
3 e 7 dias de cura, enquanto para a mistura, os valores se mantiveram relativamente estáveis na
ordem de 0,90 MPa. Confrontando-se tais resultados, entre o solo natural e solo-2%resíduo, registra-
se uma variação de 0,533 e 0,161 MPa, alusivo às amostras curadas por 3 e 7 dias, respectivamente.

Na literatura, encontram-se trabalhos como o de PATRICIO (2015), que estudou 4 solos sob efeito
da incorporação de um polímero acrílico industrial, em diferentes concentrações, para 7 e 28 dias
de cura. Entre os resultados, destaca-se os alcançados para o silte altamente plástico e a areia fina
com silte não plástico, cujo valor consta na Tabela 2, estabilizados com 2,2% do aditivo, cuja
resistência à compressão simples atingiu valores da ordem de 0,50 e 1,20 MPa, respectivamente,
para 7 dias de cura. Os valores apontados por MACHADO et al. (2016), por sua vez, são da ordem de
0,26 MPa para o solo natural e 0,30 MPa para a mistura com 2% de polímero.

292
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Sublinha-se que, para o teste de RCS, em ambas as idades, os corpo de prova da composição solo-
2%resíduo, mostraram, após rompimento, comportamento similar, ou seja, uma ruptura brusca
(Figura 6a). Consoante a formulação alternativa, evidencia-se na Figura 7, linhas de deformação mais
suaves.

Figura 6: Corpos de prova após ruptura, ensaio de resistência à compressão simples. a) Solo Natural; b)
Composição solo-2%resíduo.

Levando-se em consideração o tempo do experimento até a ruptura, as amostras de solo natural


correspondentes a 3 dias, suportaram, em média, menores cargas de compressão, respeitante às de
7 dias, perdurando por mais tempo sob maiores cargas. Pode ser visualizado, na média do
comportamento, pelos gráficos da Figura 7. Por outro lado, a adição do resíduo elevou o tempo de
ensaio, haja vista o aumento de resistência, caracterizando maior capacidade de carga, permitindo,
desse modo, os corpos de prova suportarem maior deformabilidade. Em suma, pertinente aos
resultados, tem-se: a) incremento de resistência de cerca de 85% atinente à idade de 3 e 7 dias dos
CP’s do solo natural; b) aumento de 126,3% nos valores da RCS quando do acréscimo do
estabilizante, referente à ruptura de 3 dias do solo natural; c) ganho de resistência, na proporção de
20,6%, concernente ao solo natural e composição alternativa, para 3 e 7 dias; d) uma tendência de
estabilização dos valores da RCS, na ordem de 0,90 MPa, das misturas com o subproduto, para
ambas as idades.

Em se tratando de resistência à compressão simples do solo, sabe-se que tal parâmetro é decorrente
da ação coesiva entre as partículas, significando dizer que o resíduo polimérico aderiu às partículas
do solo, implicando em uma microestrutura de comportamento coesivo (INGLES e METCALF, 1972).

293
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 7: Força Axial x Tempo e Deformação x Tempo para as composições e solo natural, ensaio de
resistência à compressão simples.

3.2.2 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO POR COMPRESSÃO DIAMETRAL

Realizou-se o ensaio de RT, às idades de 3 e 7 dias, mantendo-se os corpos de prova em estufa a


60°C, durante 24h para secagem rápida. Encontram-se organizados na Tabela 3, os valores médios
da resistência à tração concernentes as amostras pesquisadas, calculados à luz da norma DNER – ME
138/94, pela expressão 2.

2×F
RT = (2)
π×D×H

F – Carga de ruptura;

D – Diâmetro do corpo de prova;

H – Altura do corpo de prova.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 3. Resistência à tração por compressão diametral (médias).

Composição RT (MPa)
3 dias 7 dias
Solo Natural 0,083 0,086

Solo-2%Resíduo 0,117 0,117

Solo Natural (PATRICIO, 2015) - 0,110

Solo-2,2%Polímero (PATRICIO, - 0,180


2015)

Solo Natural (MACHADO et al.,


- 0,050
2016)

Solo-2%Polímero (MACHADO et
al., 2016) - 0,062

Registra-se, pela Tabela 3, que o desempenho mecânico do solo natural não apresentou variação
expressiva, permanecendo na ordem de 0,080 MPa. Comportamento semelhante demonstrou a
composição alternativa, com resultados em torno de 0,110 MPa. De outra parte, comparando-se os
valores determinados para as amostras do solo natural frente à composição solo-2%resíduo, curadas
por 3 e 7 dias, expressam variação de 0,034 e 0,031 MPa, respectivamente.

Analisando-se os resultados presentes na Tabela 3, observa-se variação de 0,070 MPa nos resultados
apresentados por PATRICIO (2015), alcançando acréscimo de 63,6% da RT, após incorporação do
aditivo ao solo estudado, e 0,012 MPa nos valores do mesmo parâmetro relativos à formulação
alternativa pesquisada por MACHADO et al. (2016), representando aumento de 24%, após 7 dias de
cura. Quando confrontados com os resultados do presente estudo, constata-se que apenas PATRICIO
(2015) conseguiu resultados mais expressivos, superando o aumento de 36% em relação à mistura
com o resíduo polimérico estudado após 7 dias de cura. Nesse sentido, as diferenças entre os
resultados podem ser atribuídas ao tipo de solo pesquisado, bem como os materiais utilizados para
estabilização.

295
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 8: Rompimento de corpo de prova submetido ao ensaio de Resistência à Tração por compressão
diametral.

Durante a execução do experimento por compressão diametral, percebe-se um comportamento de


ruptura similar do conjunto dos corpos de prova testados, para ambas as idades. Entretanto, o
tempo de ensaio até o estágio de ruptura variou entre 6 e 9s. Sob outra perspectiva, as amostras da
composição correspondente a 7 dias, suportam as maiores solicitações em um tempo médio
superior às demais formulações, conforme revelam as curvas médias da Figura 9. Ressalta-se que a
mistura solo-2%resíduo, para as idades de 3 e 7 dias, apresentaram desempenho análogo, quando
se analisa comportamento tensão e deformação. Em síntese, assinala-se: a) discreto incremento da
RT de cerca de 3,6%, respeitante à idade de 3 e 7 dias para os CP’s do solo natural; b) aumento de
41% nos valores de resistência pelo acréscimo do estabilizante com rompimento aos 3 dias, frente
ao solo natural; c) ganho de RT da formulação alternativa, na proporção de 36%, relativo ao solo
natural, equivalente à 7 dias de cura; d) assim como no teste de compressão simples, quando se
confrontam os resultados referentes à adição do resíduo para ambas as idades, percebe-se uma
tendência de estabilização dos valores da RT na ordem de 0,110 MPa.

296
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 9: Força axial x Tempo e Deformação x Tempo, ensaio de resistência à tração por compressão
diametral.

297
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4.CONCLUSÃO

A avaliação do acréscimo de 2% de resíduo polimérico micronizado, como estabilizante, ao solo


siltoso típico da camada superficial de Manaus (AM), mostrou-se satisfatória. Houve melhora na
resistência da mistura atinente ao solo “in natura”, notadamente, o aumento de 126,3% da RCS para
3 dias de cura, bem como os ganhos da RT que atingiram até 41%, respeitante às idades de cura
consideradas neste estudo. Isto posto, constatou-se a eficácia do uso desse subproduto como
melhorador do desempenho mecânico de solo típico de Manaus-AM, além de uma alternativa viável
para o descarte deste passivo ambiental.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Engª Joelma Barros e à Coplast-AM Resíduos Plásticos pela doação do
resíduo polimérico.

298
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 12770-1992, Solo coesivo: Determinação da
resistência à compressão não confinada, (1992).

ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 6459-2016, Solo: Determinação do Limite de
Liquidez, (2016).
ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 6502-1984, Rochas e Solos, (1995).

ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 6508-1984, Grãos de solo que passam na
peneira de 4,8mm: Determinação da massa específica, (1984).

ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 7180-2016, Solo: Determinação do limite de
plasticidade, (2016).

ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 7181-2016, Solo: Análise granulométrica,
(2016).

ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 7182-2016, Solo: Ensaio de compactação,
(2016).

DAS, B. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 2a. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014.

DNER – ME 138/94: Pavimentos flexíveis – Misturas betuminosas – Determinação da resistência à


tração por compressão diametral – Método de ensaio, (2009).

Ingles, O.G; Metcalf, J.B. Soil Stabilization - Principles and Practice. Butterworths Pty. Limited.
Melbourne, Australia, 1972.

Izzo, R. L. S.; Nagalli, A. O desafio da Geotecnia frente às questões ambientais. Criciúma: Geosul,
2013. Disponível em: https://< www.abms.com.br >. Acesso em: 13. fevereiro.2018.

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Construção de Pavimentos Flexíveis. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
Ciência e Engenharia de Materiais – Universidade Federal do Amazonas, Manaus, Amazonas, 2014.

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polimérica a um solo argilo-arenoso com vistas à estabilização química de materiais para
pavimentos. In: Matéria (Rio de Janeiro), vol. 22 nº 3 – Rio de Janeiro, Aug 10, 2017

299
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Meireles, V. K. A. Gestão e Tratamento dos Resíduos Plásticos produzidos pelo Polo Industrial de
Manaus: Tecnologias e Sustentabilidade. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia – Universidade Federal do Amazonas,
Manaus, Amazonas, 2016.

Nogueira, L. D. et al. Avaliação do Comportamento Geotécnico de Solos Provenientes de Áreas de


Floresta no Amazonas Misturados com Cimento Portland e RoadCem. In: 44ª RAPv – Reunião Anual
de Pavimentação e 18º ENACOR – Encontro Nacional de Conservação Rodoviária, Foz do Iguaçu,
2015.

Patricio, J. D; Estudo de Solos Modificados por Adição de Polímeros para Uso em Pavimentos
Rodoviários. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental
– Universidade de Campina Grande, Campina Grande, Paraíba, 2015.

300
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 18
CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICO DOS
MATERIAIS INCONSOLIDADOS DO MUNICÍPIO
DE NATAL – RN: SUSCETIBIDADE E RISCO
POTENCIAL DE DESLIZAMENTOS E
INUNDAÇÕES

Melquisedec Medeiros Moreira (MCTIC-INOPE-CRN)


Newton Moreira de Souza (MCTIC-INOPE-CRN)
Kátia Alves Arraes (MCTIC-INOPE-CRN)

Resumo: A presente pesquisa consiste de uma caracterização geotécnica das unidades geológicas
em escala 1:25.000 de uma área costeira de aproximadamente 62km2, compreendendo parte do
Município de Natal-RN. O mesmo foi desenvolvido a partir dos procedimentos e premissas do
Manual para o Zoneamento de Susceptibilidade de Perigo e Risco do Comitê Técnico Internacional
para Deslizamentos (JTC-1). No que diz respeito aos aspectos geológicos, a área objeto de estudo
constitui-se de nove unidades, sendo oito aflorantes e uma de idade mesozóica. Na elaboração da
Carta Geotécnica, se constata que boa parte da área apresenta Risco Potencial a Inundações médio
e alto. Quanto mais próxima da superfície do terreno está à superfície freática, tanto maior é o Risco
Potencial a Inundações. Usando o Sistema de Aeronave Remotamente Pilotada (DRONE), será
possível gerar imagens georreferenciadas e ortorretificadas da cidade, além de permitir que o
processo de mapeamento seja exercitado e acompanhado em sua plenitude.

Palavras-chave: Caracterização Geotécnica, Cartografia Digital, JTC-1, Deslizamentos, Inundações.

301
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

Há vários enfoques para se chegar a um mapeamento de riscos de escorregamentos. Cada país, e,


dentro de cada país, cada grupo, adota metodologias semelhantes, mas com detalhes que as
diferenciam, dando produtos às vezes bastante diferentes. Foi com o intuito de padronizar uma
metodologia que pudesse ser adotada universalmente que o Comitê Técnico Unificado de
Escorregamentos de Terra e Taludes de Engenharia (JTC1 – “Joint Technical Committee 1 –
Landslides and Engineered Slopes”, da ISSMGE, IAEG e ISRM) decidiu firmar um documento, com o
consenso de especialistas das três entidades internacionais – de Mecânica dos Solos, de Geologia
de Engenharia e de Mecânica das Rochas -, que definisse os passos a serem tomados em um
Mapeamento de Risco. Desta forma, elaborou-se um “Manual para o zoneamento de
susceptibilidade de perigo e risco de deslizamento para o planejamento de uso do solo”, Fell et al.
(2008), que foi publicado em um número especial da revista Engineering Geology juntamente com
vários outros artigos nesta mesma temática. Esse texto foi traduzido e publicado no Brasil pela
CPRM/ABGE/ABMS, Macedo e Bressani (2013).

A presente pesquisa está sendo desenvolvida a partir dos procedimentos e premissas deste Manual
para o Zoneamento de Susceptibilidade de Perigo e Risco do Comitê Técnico Internacional para
Deslizamentos (JTC-1) inseridos no programa “Construindo Nosso Mapa Municipal Visto do Espaço”,
realizado pelo grupo de Geoprocessamento do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações
e Comunicações)/ INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ) /CRN (Centro Regional do
Nordeste), podendo ser consultado no link: http://geopro.crn.inpe.br/resumo3.htm (Projeto Mapas
Municipais Geoambientais). Nesta linha de trabalho, procura-se integrar estudos relacionados às
alterações geomorfológicas, provocadas pelas diferentes formas de ocupação do relevo,
configurando-se na formação de depósitos tecnogênicos.

2. METODOLOGIA DE TRABALHO

A execução deste estudo consistiu de uma caracterização geológico-geotécnica e de um


reconhecimento das águas subterrâneas, em escala de semi-detalhe 1:25.000, de uma área costeira
de aproximadamente 62 km2, compreendendo parte do Município de Natal-RN, cujo objetivo
principal foi a elaboração de mapas e cartas visando um melhor entendimento e o fornecimento de
subsídios para a gestão ambiental.

A execução do trabalho compreendeu cinco etapas descritas a seguir:

302
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

A) Levantamento e aquisição de informações pré-existentes e produtos de sensoriamento remoto -


Consistiu no levantamento de informações disponíveis da área a ser estudada, abrangendo as folhas
planialtimétricas na escala 1:10.000 que foram utilizadas como bases cartográficas, aquisição das
fotografias aéreas em escala 1:8.000, perfis de sondagens SPT, perfis litológicos de poços de
captação de água subterrânea (cedidos por uma empresa pública e por uma privada), além de
inúmeros trabalhos e artigos que englobam a geologia, geografia, geotecnia e recursos hídricos da
região.

B) Fotointerpretação e estudo de perfis de poços e de sondagens geotécnicas - Consistiu na


interpretação de 88 fotografias aéreas datadas de 1978 em escala 1:8.000, com a confecção dos
mapas seguintes: drenagem, lineamentos de relevo e zonas homólogas; e no estudo de 111
relatórios referentes a serviços geotécnicos para obras de construção civil, que perfaz um total de
433 perfis de sondagens SPT cedidos pela empresa privada, onde foram delimitados diferentes
horizontes geológicos e suas espessuras.

Interpretou-se, da mesma forma, 89 perfis de poços de captação de águas subterrâneas, sendo 69


perfis cedidos pela empresa pública e 20 cedidos pela empresa privada, assim como 74 sondagens
geotécnicas (compreendendo 25 relatórios referentes a serviços geotécnicos para obras de
construção civil) que atingiram o nível d´água, executados junto a empresa privada, onde foram
delimitados os diferentes horizontes geológicos, suas espessuras e nível d’água, para um melhor
conhecimento do comportamento das unidades geológicas e hidrogeológicas em sub-superfície.

A localização dos poços tubulares e sondagens geotécnicas, que atingiram o nível d´água, com
latitudes/longitudes e altitudes efetivou-se a partir de bases planialtimétricas na escala 1:2.000. Essa
localização teve como finalidade obter informações sobre a distribuição espacial desses dados na
área estudada, bem como ter subsídios para definir a cota da boca do poço ou sondagem, que serviu
para obtenção da cota do nível d’água.

C) Trabalhos de Campo - Compreendeu a descrição detalhada de diversos locais ao longo da área,


objetivando as definições das unidades litológicas, suas relações de contato e atributos
estratigráficos/ geomorfológicos/ estruturais, como também aspectos do uso e cobertura do solo,
cadastro de fontes potenciais de poluição dos recursos hídricos, lagoas de águas pluviais e pontos
de inundação; envolvendo ainda medição de juntas, falhas, determinação das espessuras dos
materiais, registro fotográfico, coleta de amostras, perfis e croquis esquemáticos, e, por último, a
definição de pontos de ensaios de campo.

303
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Acompanhou-se a execução de sondagens geotécnicas e perfuração de poços tubulares construídos


pela empresa privada, que serviram para coleta “in loco” de importantes informações pertinentes
ao tipo litológico, projeto técnico-construtivo de poço e parâmetros hidrogeológicos.

D) Ensaios de laboratório e campo - Compreendeu os ensaios de caracterização, realizados em


amostras coletadas na área de estudo, consistindo de granulometria por peneiramento e
sedimentação, limite de liquidez, limite de plasticidade e densidade real dos grãos; e ensaios de
campo (infiltração/permeabilidade em solos).

E) Confecção de mapas e cartas e elaboração do texto final - Nesta etapa utilizou-se o SPRING
(Sistema de Processamento de Informações Georeferenciadas), desenvolvido pelo INPE (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais), com funções de processamento de imagens, análise espacial e
modelagem numérica de terreno, e consulta a bancos de dados espaciais, Câmara et al. (1996); com
a edição em seguida, para a elaboração do layout final em Arcview, que permite a criação de cartas
de alta qualidade gráfica.

A espacialização dos dados de cota do nível d’água (poços tubulares e sondagens geotécnicas) por
ocasião de sua análise, foi realizada em ambiente de geoprocessamento com técnicas de redes de
triângulos irregulares (TIN) e, quando possível, por geoestatística.

2.1 ÁREA DE ESTUDO PROPOSTO

A área objeto da presente pesquisa consiste de aproximadamente 62 km2, constituindo um polígono


(Figuras 1 e 2), cujos extremos são limitados pelo retângulo envolvente com latitudes 9.350.071km
N e 9.360.429km N e longitudes 250.821km E e 259.214km E. Os acessos aos principais afloramentos
são principalmente pela rodovia denominada “Via Costeira”.

Figura 1. Mapa de Localização do Município de Natal-RN.

304
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 2. Localização aproximada da área de estudo destacada no retângulo.

2.2 GEOLOGIA REGIONAL

A área de mapeamento está inserida na faixa sedimentar costeira oriental do Estado do Rio Grande
do Norte, no contexto da sub-bacia Natal, pertencente à Bacia Pernambuco-Paraíba e Potiguar,
Barbosa (2004) (Figura 3). Na região adjacente à área de estudo, o embasamento cristalino é
constituído por três terrenos distintos denominados, de norte a sul, de Terreno São José do
Campestre, Terreno Alto Pajeú e Terreno Alto Moxotó, Santos (1996). Esses terrenos são delimitados
por grandes lineamentos e zonas de cisalhamento com direção predominantemente leste-oeste.
Provavelmente, essas estruturas estendem-se sob a Formação Barreiras e sob os sedimentos
cretáceos e paleogênicos das Bacias Pernambuco-Paraíba e Potiguar, adentrando pela margem
continental adjacente.

2.3 GEOLOGIA LOCAL

No que diz respeito aos aspectos geológicos, a área objeto de estudo constitui-se de nove unidades,
sendo oito aflorantes e uma de idade mesozoica, detectada apenas em perfis de poços de captação
de águas subterrâneas, representada por arenitos calcíferos e calcários, correlatos à Formação
Guamaré da Bacia Potiguar. A unidade aflorante mais antiga consiste dos sedimentos da Formação
Barreiras, seguido dos sedimentos da Formação Potengi e “Beachrocks”. Completando a
estratigrafia da área (Tabela 1), têm-se os sedimentos de mangues e aluvionares, as areias de dunas
descaracterizadas, dunas fixas e móveis, e os sedimentos praiais; este último juntamente com os
“beach-rocks” não são mapeáveis na escala do presente estudo (Figura 4).

305
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 3 – Localização das Bacias Sedimentares Costeiras Pernambuco-Paraíba e Potiguar e sua divisão em
sub-bacias. Modificado de Barbosa (2004).

Tabela 1. Coluna estratigráfica proposta para a área mapeada. Modificada (Duarte, 1995).

A Formação Potengi, na região de Natal, caracteriza-se por uma fácies arenítica, de granulometria
mal selecionada, de cor avermelhada, e caracteriza-se por apresentar materiais residuais com pouca
argila devido à lixiviação intensa, Moreira (1996).

Os sedimentos de mangues são encontrados ao longo da planície de inundação do rio Potengi e


consistem de areias finas argilosas e localmente argilas de cor cinza clara; observa-se ainda a
presença de grande quantidade de bioclastos recentes.

306
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 4. Mapa de Materiais Inconsolidados.

As dunas descaracterizadas compreendem áreas testemunhos de antigas dunas, que foram


parcialmente destruídas por atividades de terraplenagem com fins de ocupação urbana.

As dunas fixas são depósitos eólicos com cobertura vegetal, distribuindo-se numa faixa paralela ao
litoral, apresentando direção predominante SE-NW.

As dunas móveis, compreendem os depósitos provenientes da ação eólica nos sedimentos praiais,
caracterizados por areias quartzosas bem selecionadas, brancas, amareladas a cremes, localmente
acinzentada a marrom (devido à matéria orgânica).

3. CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DOS MATERIAIS INCONSOLIDADOS DO MUNICÍPIO DE


NATAL – RN

No contexto da área estudada, a Formação Barreiras é caracterizada pela diversidade em tipos


litológicos, os quais foram agrupados em três tipos de materiais residuais, que foram mapeados ao
longo do perfil estratigráfico, resultando desta forma uma variabilidade de produtos de alteração:
os residuais da fácies arenosa (RB1), residuais da fácies areno-conglomerática (RB2) e residuais da
fácies areno-argilosa (RB3), onde a fácies ferruginosa compreende rochas sãs sem alteração.

Os residuais da fácies arenosa (RB1) compreendem solos arenosos, de granulometria média e


coloração variada (predomina o branco), com grãos essencialmente quartzosos. Realizou-se ensaios
de caracterização em uma amostra deste material, cujo resultado é apresentado na Tabela 2.

Os residuais da fácies areno-conglomerática (RB2) compreendem solos arenosos, de granulometria


predominantemente fina e coloração variegada, com concreções ferruginosas de tamanhos variados
desde granulometria média até seixos.

307
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

A análise granulométrica executada em 2 amostras deste material apresentara valores mostrados


na Tabela 3.

Tabela 2 - Características físicas dos materiais residuais da fácies arenosa (RB1) da Formação Barreiras.

% Silte % % % % Limite Limite Índice Densid


+ Areia Areia Areia Pedre de de de ade
argila fina média grossa gulho plasti- liquide plastic
real
cidade z(%) idade
dos
(%) (%)
grãos
(g/cm
3)
< 0.075 - 0.42 - 2.0 - > 4.8
0.075 0.42 2.0 4.8 mm
mm mm mm mm
1 11 76 11 1 NP NL

Tabela 3 - Características físicas dos materiais residuais da fácies areno-conglomerática (RB2) da Formação
Barreiras.

% Silte % % % % Limite Limite Índice Densid


+ Areia Areia Areia Pedre de de de ade
argila fina média grossa gulho plastic liquide plastic real
idade z(%) idade dos
(%) (%) grãos
(g/cm
3)
< 0.075 - 0.42 - 2.0 - > 4.8
0.075 0.42 2.0 4.8 mm
mm mm mm mm
1 e 50 15 e 58 e 20 e 3 6 e 17 NP NL 2,65
16 14

Os residuais da fácies areno-argilosa (RB3) consistem de um solo areno-argiloso a argilo-arenoso de


coloração esbranquiçada, gradando para amarelada até acinzentada a marrom no topo, com
grânulos e seixos essencialmente de quartzo distribuídos aleatoriamente.

A composição granulométrica obtida em 5 ensaios apresentou variações que são apresentadas na


Tabela 4.

308
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 4 - Características físicas dos materiais residuais da fácies areno-argilosa (RB3) da Formação
Barreiras.

% Silte % % % % Limite Limite Índice Densid


+ Areia Areia Areia Pedre de de de ade
argila fina média grossa gulho plasti- liquide plastic
real
cidade z(%) idade
dos
(%) (%)
grãos
(g/cm
3)
< 0.075 - 0.42 - 2.0 - > 4.8
0.075 0.42 2.0 4.8 mm
mm mm mm mm
6 a 19 39 a 21 a 0 a 12 0 a 6 NP*, 5 a 23 6 e 2,61 a
59 40 14 e 15** 2,66
20

(*) Valor obtido em três amostras


(**) Valores obtidos em duas amostras
A Formação Potengi compreendem areias finas a médias quartzosas com grânulos de quartzo e
minerais pesados, onde feldspatos são raros, a coloração é avermelhada a amarelada e creme
passando a acinzentada a marrom em direção ao topo, onde se apresentam com pouca quantidade
de finos. Segundo Duarte (1995), o ambiente de deposição desta Formação seria um sistema fluvial,
onde se identifica planície de inundação para a fácies arenítica, que pode ter recebido contribuições
eólicas, devido ao aumento da fração de areia média a fina em direção ao topo, além do fato de que
essa formação só é observada próxima ao litoral.

A análise granulométrica executada em 13 amostras desse material apresentou a variação mostrada


na Tabela 5.

Tabela 5- Características físicas dos materiais residuais da Formação Potengi.

% Silte + % Areia % Areia % Areia % Limite Limite de Índice Densida


argila fina média grossa Pedregu de liquidez( de de real
lho plasticid %) plasticid dos
ade (%) ade (%) grãos
(g/cm3)
< 0.075 - 0.42 - 2.0 - 4.8 > 4.8
0.075m 0.42 mm 2.0 mm mm mm
m
1 a 28 52 a 93 3 a 28 0a1 0a2 NP, 17* NL**, 15 7*** 2,65 a
a 26 2,66

(*) Valor obtido em uma das amostras


(**) Valores obtidos em cinco amostras
(***) Valor obtido em uma das amostras

309
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Sob os sedimentos de mangues verificou-se a ocorrência de sedimentos aluvionares de coloração


acinzentado a esbranquiçado, de granulometria areia fina a média. Realizou-se ensaios de
caracterização em uma amostra deste material, cujo resultado é apresentado na Tabela 6.

Tabela 6 - Características granulométricas dos sedimentos aluvionares.

% Silte + % Areia fina % Areia % Areia %


Argila média grossa Pedregulho
< 0.075mm 0.075 - 0.42 0.42 - 2.0 2.0 - 4.8 mm > 4.8 mm
mm mm
1 89 10 0 0

As dunas descaracterizadas são caracterizadas por areias finas a médias amareladas, cremes,
avermelhadas, localmente acinzentadas a marrom, quartzosas, com minerais máficos.

A composição granulométrica obtida em 5 ensaios apresentou variações que são apresentadas na


Tabela 7.

Tabela 7 - Características granulométricas das Dunas Descaracterizadas.

% Silte + % Areia fina % Areia % Areia %


Argila média grossa Pedregulho
< 0.075mm 0.075 - 0.42 0.42 - 2.0 2.0 - 4.8 mm > 4.8 mm
mm mm
0a2 80 a 87 13 a 18 0 0

As dunas fixas consistem de areias quartzosas de coloração amarelada e branca com boa seleção
granulométrica entre areia média e fina.

A análise granulométrica executada em 2 amostras deste material apresentaram valores mostrados


na Tabela 8.

Tabela 8 - Características granulométricas das Dunas Fixas.

% Silte + % Areia fina % Areia % Areia %


Argila média grossa Pedregulho
< 0.075mm 0.075 - 0.42 0.42 - 2.0 2.0 - 4.8 mm > 4.8 mm
mm mm
0a1 99 a 100 0 0 0

As dunas móveis apresentam granulometria média a fina, sendo evidenciado que localmente e
superficialmente ocorrem grãos de tamanho de areia grossa e grânulos.

310
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

A análise granulométrica executada em 2 amostras deste material apresentaram valores mostrados


na Tabela 9.

Tabela 9 - Características granulométricas das Dunas Móveis

% Silte + % Areia fina % Areia % Areia %


Argila média grossa Pedregulho
< 0.075mm 0.075 - 0.42 0.42 - 2.0 2.0 - 4.8 mm > 4.8 mm
mm mm
0a1 69 a 96 4 a 30 0 0

4. ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E CARTA DE SUSCETIBILIDADE E RISCO POTENCIAL A


DESLIZAMENTOS E INUNDAÇÕES

No Município de Natal existem três (03) sistemas aquíferos, Moreira (2002), assim distribuídos, da
base para o topo: o primeiro formado por arenitos com cimento carbonático (“arenitos calcíferos”),
geralmente compactos, que constituem o Aquífero Infra-Barreiras; o segundo, constituído por
clásticos continentais, com granulometria e cores variáveis pertencentes à Formação Barreiras,
caracterizando o Aquífero Barreiras e, por fim, uma sequência arenosa pertencente à Formação
Potengi sendo capeada por areias quartzosas, de granulometria fina e de origem eólica (Dunas) que
formam o Aquífero Dunas-Potengi.

Na elaboração da Carta Geotécnica de Suscetibilidade e Risco Potencial, onde neste último se


caracteriza a susceptibilidade juntamente com a vulnerabilidade pela presença do elemento em
risco seja em termos de vidas humanas e infraestruturas (Figura 5). Note-se que para a elaboração
de carta de risco é necessária à análise integrada dos processos do meio físico com aspectos de uso
e ocupação do solo. E o risco só existe onde há ocupação do solo, o termo potencial foi associado ao
termo risco pelo fato da avaliação de risco ter sido qualitativa e não quantitativa como estabelecido
pelo JTC-1. Desta forma avaliaram-se: tipo de material inconsolidado, características do substrato
geológico, características geomorfológicas, profundidade do nível d´água do aquífero Dunas-Potengi
e Barreiras, existência de habitações precárias, presença de esgotos domésticos, estrutura de
drenagem de águas pluviais e Carta de Declividade, onde se constata que boa parte da área de Natal
apresenta Risco Potencial a Inundações médio e alto.

Destacam-se com menor Risco Potencial a Movimentos de Massa o setor leste (depósitos de dunas
fixas – “Baixo Risco Potencial”) (Figura 5), correspondendo aos depósitos de dunas fixas que se

311
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

encontram recobertos naturalmente por vegetação, chegando a atingirem cerca de 120m de


altitude.

Na área “Alto Risco Potencial a Movimentos de Massa”, correspondente às dunas descaracterizadas


ocupadas por Habitações Precárias, que distribuem-se numa faixa paralela ao litoral na Região de
Mãe Luiza, apresentam declividades em termos percentuais variando de 3 a 8% e maior que 20%
(Figuras 6a e 6b).

Figura 5. Carta Geotécnica de Suscetibilidade e Risco Potencial a Deslizamentos e Inundações. Notar Área 1,
que corresponde à localização da Figura 6a e 6b, e a área 2, que corresponde à localização da Figura 6c.

Destacam-se com menor Risco Potencial a Inundações, o Setor Sudoeste (San Vale – “Médio a Baixo
Risco Potencial”).

No geral o Risco Potencial a Inundações nas áreas de tabuleiros (“Médio Risco Potencial”), com
espessuras da zona não saturada da ordem de 8 a 15 metros (Figura 5), aumenta no sentido das
Dunas Descaracterizadas (“Médio a Alto Risco Potencial”).

312
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 6. Precipitação anômala de chuvas (13/06/2014). (a) Estragos provocados pela chuva em Mãe Luiza.
(b) Fluxo de lama e detritos bloqueando a Av. Via Costeira. Classe Alto Risco Potencial a Movimentos
Gravitacionais de Massa. (c) Inundações no entorno do Arena das Dunas, (estádio multiuso que recebeu
quatro partidas da Copa do Mundo FIFA de 2014, com arquitetura inspirada nas dunas do Rio Grande do
Norte). Classe Médio a Alto Risco Potencial a Inundações.

Nas depressões, cujas cotas são inferiores a 30 metros, as espessuras da zona não saturada são da
ordem de 3 a 8 metros. Quanto mais próxima da superfície do terreno está à superfície freática,
tanto maior é o Risco Potencial a Inundações.

313
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

5. CONCLUSÕES

A unidade aflorante mais antiga consiste dos sedimentos terciários/quaternários da Formação


Barreiras, seguidos dos sedimentos quaternários da Formação Potengi, “beach-rocks”, dunas fixas,
dunas descaracterizadas, sedimentos aluvionares e de mangues, praiais e dunas móveis. Na área
foram definidos dois sistemas de aquíferos: Dunas-Potengi (Livre) e Barreiras, sob condições de
semi-confinamento.

Durante ou após a estação chuvosa, as dunas mostram-se saturadas em água, com exposição da
superfície piezométrica da unidade aquífera Dunas-Potengi na forma de lagoas, podendo causar
inundações. Sugere-se a infiltração das águas pluviais nos próprios lotes, possibilitando a redução
de vazões de pico a valores compatíveis com os encontrados antes da urbanização, para que as
consequências da urbanização não sejam transportadas para jusante, sendo realizado seu controle
na fonte.

Os resultados apresentados na Carta Geotécnica de Suscetibilidade e Risco Potencial a


Deslizamentos e Inundações sintetiza um suporte técnico para o planejamento das ações
governamentais de controle e proteção da população e infraestruturas urbanas e dos recursos
naturais.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao INPE-CRN (MCTIC) e Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).


Agradecemos também, pela dedicação dos diversos profissionais da iniciativa pública e privada, que
direta ou indiretamente auxiliaram na materialização dos resultados ora alcançados.

314
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

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Gramame e Maria Farinha, NE do Brasil. Dissertação Mestrado, Centro de Tecnologia e Geociências,
UFPE, Recife.

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and GIS by object-oriented data modeling. Computers & Graphics, v.20, n.3, p.395-403.

Duarte, M. I. de M. (1995) Mapeamento Geológico e Geofísico do Litoral Leste do RN: Grande Natal
(Área 1). Rel. Grad, UFRN-DG. (Inédito). Fell, R., Corominas, J., Bonnard, C., Cascini, L., Leroi, E. &
Savage, B. (2008) Guidelines for landslide susceptibility, hazard and risk zoning for land use planning.
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Macedo, E. S. De, Bressani, L. A. (Coords.) (2013) Diretrizes para o zoneamento da suscetibilidade,


perigo e risco de deslizamentos para planejamento do uso do solo. São Paulo: ABGE, 88 p.

Moreira, M. M. (1996) Mapeamento Geotécnico do Município de Natal-RN e Áreas Adjacentes,


Dissertação de Mestrado, Publicação G.DM-028A/96, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Universidade de Brasília, Brasília-DF. 148p.

Moreira, M.M. (2002) Mapeamento Geotécnico e Reconhecimento dos Recursos Hídricos e do


Saneamento da Área Urbana do Município de Natal- RN: Subsídios para o Plano Diretor, Tese de
Doutorado, Publicação G.TD-11A/2002, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
Universidade de Brasília, Brasília, DF, 282 p.

Santos, E. J. (1996) Ensaio preliminar sobre terrenos e tectônica acrescionária na Província


Borborema, In: SBG, Con. Bras. Geol., 39, Salvador, Anais, 6:47- 50.

315
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 19

ANÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA DA


ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS TROPICAIS COM
UTILIZAÇÃO DE FINOS DE PEDREIRA

Eduardo Delfino Botacim (Multivix)


Lucas Mageski Bergamaschi (Multivix)
Ligia Abreu Martins (Multivix)
Guilherme Ventorim Ferrão (Multivix)
Luiz Daniel Miranda de Oliveira (Multivix)

Resumo: Na execução de obras rodoviárias geotécnicas, percebe-se que a necessidade de recursos


naturais com alta resistência e baixa expansão se faz cada vez mais presente. No entanto, jazidas
com solos que atendam tais requisitos por sua vez estão cada vez mais escassas. Neste contexto,
pode-se aliar esta necessidade a um problema sofrido pela indústria de rochas ornamentais no
estado do Espírito Santo, à qual durante a extração gera de 30% a 40% de resíduos que não possuem
destinação adequada. Neste âmbito, o presente artigo consiste na caracterização e estudo de
resistência à compressão por meio do ensaio de California Bearing Ratio (CBR) de misturas solo –
granito com percentual de 0%, 15%, 25% e 35%. A adição de resíduo resultou no aumento da
capacidade mecânica do solo. Analisando a utilização de tais misturas para a execução de sub-bases,
percebe-se que a adição entre 18% e 28% de resíduos atinge valores superiores a 20% de CBR
exigidos na norma DNIT 139/2010 ES.

Palavras-chave: Resistência, Sub-base, Finos de pedreira, CBR, Expansão

316
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A crescente preocupação da sociedade com a degradação do meio ambiente e o que isto irá
acarretar às gerações futuras tem conduzido a técnicas de reduzir, reaproveitar e reciclar. No setor
de rochas ornamentais no ano 2009, segundo a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais -
CPRM (2013) cerca de um milhão e cinquenta mil metros cúbicos de rocha foram extraídos, desse
percentual entre 30% e 40% são resíduos, sendo que, de acordo com o Serviço Brasileiro de
Respostas Técnicas - SBRT (2006), isto vem acarretando grandes impactos ambientais,
principalmente devido ao fato de não possuírem uma destinação correta e adequada.

A utilização de resíduos para a estabilização de solos pode ser uma alternativa escolhida para o
melhoramento de algumas de suas características naturais. O resíduo produzido por industrias de
mineração, normalmente não possui uma destinação adequada, de acordo com Silveira (2010) esses
resíduos são depositados na forma de pilhas ou barragens com baixo controle geotécnico,
comprometendo a qualidade técnica destas estruturas devido ao grande volume de resíduos
gerados.

Segundo Fujimura et al. (1996), são considerados finos de pedreira os materiais de granulometria
inferior a 4,8 milímetros (mm), derivados dos processos de perfuração, detonação e britagem de
rochas.

Apesar de todo processo de beneficiamento de rochas ornamentais gerar finos de pedreira, Petrucci
(1975) considera que os melhores finos de britagem são os que provêm de granitos e rochas com
grande proporção de sílica. Visto que o material pulverulento que geralmente é trazido com os grãos
provoca um consumo maior de água, visto que a sílica não possui características expansivas e de
absorção.

Neste processo exploratório, Mendes (1999) identifica os tipos de impactos ambientais associados
à exploração de pedreiras devido à geração de finos, como: poluição atmosférica, alterações no
regime hidrológico, assoreamento em cursos d’água, ocupações indevidas de áreas, ruídos,
vibrações e consumo excessivo de água. Corroborado por Taveira (1997), que por sua vez relaciona
a dimensão dos impactos ambientais ocasionados por uma atividade de mineração, às
características sociais e ambientais do meio, ao tamanho do empreendimento, às propriedades e
localização da jazida e as tecnologias e tratamentos realizados.

Realizar o reaproveitamento desses resíduos em obras de construção civil, traz uma possibilidade de
um direcionamento mais eficaz para esse subproduto da indústria de rochas ornamentais. Batista

317
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

(1976) enfatiza que no ramo rodoviário ou aeroportuário, a técnica de estabilizar um solo está
intrinsecamente correlacionada com os métodos de tratamento adotados aos quais os solos são
submetidos (sem aditivos ou com eles), de modo que se tenham os subleitos, sub-bases e bases e
ocasionalmente os revestimentos, capazes de suportar as cargas do tráfego normalmente aplicadas
sobre o pavimento.

De acordo com Batalione (2007) o comportamento laterítico desperta os maiores interesses na


engenharia de pavimentação por possuírem comportamento que viabilizam o seu uso na produção
de camadas de pavimento. Vargas (1994) reporta que a importância dos solos tropicais como
material de construção rodoviária no Brasil foi reconhecida no final da década de 30, quando da
criação da seção de solos e fundação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT).

O DNER (1981) exige que para a execução de sub-base um CBR maior que 20% e expansão e retração
de até 1%, contudo Osinubi (1998) encontrou valores de CBR para solos lateríticos de 8 a 13% para
o solo em estado natural. Com isso é necessário realizar uma estabilização tornando-o utilizável para
esse fim. Neste âmbito, Silveira (2010) propõe utilizar os resíduos finos associados a materiais
naturais (solo), a fim de melhorar as propriedades do mesmo e transformar o material sem valor
econômico em um material ambientalmente viável em aplicações geotécnicas.

Neste contexto, Silveira (2010) ensaiou amostras de um solo com coloração avermelhada e grande
parte de finos. A granulometria do solo foi de típica de silte-arenoso e dos resíduos foi de areno-
siltosa. Os resíduos utilizados foram colhidos em duas pedreiras diferentes, ambas compostas por
granito e micaxisto. As análises constituíam três amostras de solo, uma com o solo em seu estado
natural e duas com a mistura solo e pó de pedra. As proporções foram 10%, 15% e 20% de resíduos
em relação ao peso de solo natural. As amostras com adições de 10% e 15%, forneceram valores de
CBR superiores a 20%.

Nos estudos de Batalione (2007) foram coletados três tipos de solo: sendo o primeiro caracterizado
tátil e visualmente como sendo um cascalho de quartzo com frações de silte e argila, o segundo foi
identificado como argilo-arenoso com plasticidade menor em relação ao primeiro e a terceira de um
solo de cor avermelhada, composto por argila. As proporções de resíduo nas misturas foram de
15%, 25% e 35%. As amostras com adição de 15% e 25%, respectivas aos dois primeiros tipos de solo,
forneceram valores de ISC superiores a 20%.

Sendo assim, ambas as pesquisas os compostos que trouxeram os valores de CBR superiores a 20%,
tornaram a mistura capaz de ser utilizada em sub-bases de acordo com a norma ES 301 (DNER, 1997)

318
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

No entanto, faz-se necessária a análise diferenciada para cada tipo de rocha proveniente de cada
tipo de pedreira, visto que por ser um material anisotrópico e heterogêneo as rochas apresentam
uma variação extensa de propriedades, dentre elas resistência, em uma mesma classificação de
origem.

Segundo Nogami e Villibor (1983) os métodos estudados para solos de rodovia utilizados nos países
em desenvolvimento tem origem em países desenvolvidos os quais apresentam climas frios e
temperados. Sendo eles baseados nas propriedades-índice de solos e para análise completa o CBR.

Os mesmos autores em Nogami e Villibor (1995) afirmam que estes métodos possuem limitações
devido ao fato de não levarem em consideração as peculiaridades dos solos em regiões tropicais,
tais como solos lateríticos e saprolíticos.

Fatores como esses fazem com que frequentemente os solos destas regiões tropicais sejam
utilizados de forma inadequada compromentendo o desempenho da obra rodoviária interligada.

Mesmo com estas intercorrências, diante deste cenário, pretende-se investigar o comportamento
mecânico de misturas solo – granito por meio do ensaio de CBR para utilização como base de
rodovia. Visto que nas normas rodoviárias brasileiras este é o método utilizado. Com isso deseja-se
avaliar consequentemente o efeito da adição de granito no que diz respeito à melhoria das
propriedades mecânicas do solo estudado e analisar o percentual de aditivo ideal para a função
desejada.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 MATERIAIS

O solo estudado foi coletado em uma jazida localizada no município de Venda Nova do Imigrante,
apresentado em seu estado natural uma cor avermelhada com cristais de quartzo em sua
composição. Este matérial possuia a finalidade de camada superficial de estrada de terra na região.
Tal escolha deveu-se aos problemas vistos nestas áreas pela falta de resistência do material. As
amostras foram acondicionadas em sacos plásticos e transportadas até o laboratório de mecânica
dos solos da faculdade Multivix Vitória.

O resíduo foi coletado em lavras de mineração de granito em Cachoeiro de Itapemirim, tendo como
caracteristicas uma cor acinzentada, granulometria inferior a 4.8mm e com muitos finos em sua

319
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

composição. Tal resíduo não possui destinação adequada para seu descarte. Tanto os resíduos
quanto o solo estão representados nas Figuras 1.

(a) (b)

Figura 1. (a) amostra de solo (b) amostra do resíduo

Foram utilizadas misturas solos – granito com teores previamente estabelecidos a partir de análise
de estudos anteriores de melhoramento de estradas com materiais similares, de 0%, 15%, 25% e
35% de aditivo. Para isso o solo foi previamente misturado e quarteado antes da adição do granito.

2.2 MÉTODOS

Os ensaios foram separados em duas etapas. Na primeira etapa foram realizados os ensaios de
caracterização das misturas de solo e do resíduo e na segunda os ensaios de expansão e California
Bearing Ratio (CBR).

2.2.1 CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS DE SOLO

Para a caracterização do solo em estado puro e das misturas, foram utilizados os métodos previstos
nas seguintes normas: ensaio granulométrico (NBR 7181/16), massa específica do resíduo (9775/87),
limite de liquidez (NBR 6459/16), limite de plasticidade (NBR 7180/16) e para o ensaio de
compactação foi utilizado material com reuso e energia referente ao Proctor Normal (NBR 7182/16).

2.2.2 EXPANSÃO E CALIFORNIA BEARING RATIO (ISC)

O ensaio, descrito na NBR 9895/16, foi executado com energia de compactação do Proctor Normal,
massa específica seca máxima e umidade ótima.

320
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para uma melhor interpretação dos resultados, serão utilizadas as seguintes nomenclaturas: S0, S15,
S25, S35 e RP para determinar o solo puro; mistura com adição de 15% de resíduo; mistura com 25%
de resíduo; mistura com 35% de resíduo; e resíduo de pedreira, na respectiva ordem.

3.1 CARACTERIZAÇÃO

Com a realização dos ensaios granulométricos, o solo natural teve sua classificação de acordo com
o Sistema Unificado de Classificação (SUCS), como sendo uma areia siltosa (SM) com um percentual
de 76,84% de areia em sua composição. O resíduo de pedreira também teve sua classificação como
sendo uma areia siltosa (SM), com 95,66% de sua massa sendo composta por areia. Todas as
porcentagens de misturas também foram classificadas como sendo areno-siltosas.

Os valores correspondentes as granulometrias do solo, resíduos e das misturas se encontram na


Tabela 1 e os gráficos representados na Figura 2 e 3.

Tabela 1. Análise granulométrica das misturas e do resíduo

Fração Granulométrica S0 S15 S25 S35 RP


Pedra (%) 8,1 6,0 9,3 5,2 0
Pedregulho (%) 14,3 18,4 16,7 15,3 0
Areia grossa (%) 17,1 20,5 21,7 18,8 18,7
Areia média (%) 29,7 27,9 25,2 31,6 37,9
Areia fina (%) 30,1 26,9 25,6 27,7 39,0
Finos (%) 0,7 0,3 1,4 1,4 4,3

100

80
Porcentagem que passa (%)

60
S0
40
RP

20

0
0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos grãos (mm)
Figura 2. Curvas granulométricas solo puro e resíduo

321
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

100

80

Porcentagem que passa


60 0

15
40
25

20 35

0
0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos grãos (mm)
Figura 3. Curvas granulométricas misturas

Percebe-se que com a adição do resíduo, não houve nenhuma mudança significativa na
granulometria natural do solo, visto que ambos os materiais já possuem naturalmente uma curva
granulométrica semelhante. Sendo notável apenas uma suavização na curva, onde houve um
acréscimo no teor de areia grossa em todas as porções, contudo na mistura com S35, ocorreu
também um aumento considerável nas porções de areia fina e média provenientes do resíduo.

Para a classificação do solo foram realizados os limites de Atterberg, seus valores assim como índice
de grupo e classificação do solo, estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Limite de consistência, índice de grupo e classificações

Síntese dos resultados S0 S15 S25 S35 RP


LL (%) 26,58 24,18 21,16 10,36 NL
LP (%) NP NP NP NP NP
IP (%) - - - - -
IG 0 0 0 0 0
SUCS SM SM SM SM SM
AASHTO A-3 A-3 A-3 A-3 A-3

Dados os valores dos limites de Atterberg, pode-se perceber uma redução do limite de liquidez com
o aumento da adição de resíduo no solo. Isto pode ser explicado pelo fato que o pó de pedra é
composto quase que totalmente por silte, com características não coesivas e de baixa absorção de
água. Quanto ao limite de plasticidade, todas as porções se mostraram não plásticas,
consequentemente as amostras não possuem Índices de Plasticidade.

Com os valores obtidos no ensaio granulométrico, é visível que tanto nas misturas e quanto no
resíduo, mais de 51% da massa passou pela peneira 40 e menos de 10% passou pela peneira 200,

322
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

por essa razão seus Índices de Grupo foram determinados como sendo 0, sua classificação foi de um
solo A-3, de acordo com AASHTO (1986).

Os valores de massa específica máxima seca e umidade ótima serão utilizados para a moldagem dos
corpos de prova para a execução do ensaio de CBR estão apresentados na Tabela 3. As curvas de
compactação estão presentes na Figura 4.

Tabela 3. Parâmetros de Compactação

Parâmetros S0 S15 S25 S35


Massa específica seca máxima (g/cm³) 2,06 2,05 2,04 2,02
Umidade Ótima (%) 9,7 9,8 10,45 10,1

Figura 4. Curvas de Compactação

Para as curvas de compactação, pode-se perceber um decréscimo na massa específica seca máxima
com o aumento do aditivo em todas as misturas. Quanto a umidade ótima, houve um aumento do
índice até a amostra S25, seguido por uma redução na amostra S35, dado pelo fato de que os finos
do solo foram substituídos quase que totalmente por pó de pedra, que por sua vez, não possui
características de absorção de água.

3.2 EXPANSÃO E CALIFORNIA BEARING RATIO

Para a realização dos ensaios, os corpos de prova foram moldados utilizando valores de massa
específica seca máxima e umidade ótima obtidos no ensaio de curva de compactação.

Analisou-se que tanto o solo puro quanto as misturas não apresentaram valores de expansão. Logo
após, os corpos de prova foram retirados do tanque e levados à prensa hidráulica, para a medição
do valor de CBR, seguindo os métodos previstos na norma DNIT 172/2016 – ME.

323
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Quanto aos valores de expansão do solo, os resultados obtidos condisseram com o esperado para
solos tropicais lateríticos, com granulação areno-siltosa. Os valores referentes aos parâmetros de
moldagem, CBR e expansão, estão presentes na Tabela 4 e no gráfico na Figura 5 estão
representados os pontos relativos aos teores de resíduos com seus respectivos valores de CBR.

Tabela 4. Condições de moldagem e resultado de CBR

CBR
Amostra wmold (%) wmold-wót (%) d (g/cm³) GC (%) Exp. (%)
(%)
S0 9,77 0,07 2,06 98 10 0
S15 9,81 0,01 2,05 98 18 0
S25 10,53 0,08 2,04 99 23 0
S35 10,18 0,08 2,02 98 10,9 0

25%

20%
Valores de CBR (%)

15%

10%

5%
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%
Percentual de de aditivo (%)

Figura 5. Relação CBR x Percentual de Aditivo

Com o gráfico representando os valores de CBR em relação aos percentuais de aditivos no solo,
percebe-se um aumento até a resistência logo após 5% de adição, crescendo de forma acentuada
até a mistura S25, nesta tendo atingido o CBR de 23%. Esse ganho pode ser justificado pela
diminuição dos vazios da mistura, que fazem com que sua granulometria natural passe a ter uma
correção, aproximando-a de uma distribuição bem graduada, ocasionando assim um ganho de
resistência enquanto os finos do pó de pedra possam cobrir os espaços livres presentes no solo.

Contudo ao passar dessa porcentagem de adição, a resistência do solo começa a cair de forma
rápida, como é visto na mistura S35. Evidencia-se o fato de que a partir de uma porcentagem de
adição, o solo passa a não apresentar mais ganhos de resistência, podendo este fator estar
relacionado ao aumento acentuado de finos. Portanto por haver altas concentrações de resíduos, o
comportamento da amostra passa a ser coordenado pelas características intrínsecas ao pó de pedra,

324
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

como: granulometria mal distribuída, alto índice de vazios, sem plasticidade e sem coesão,
constituindo a perda de resistência.

Tendo como base o comportamento da linha de tendência, o solo apresenta um nível de CBR acima
de 20%, no intervalo em que a adição de resíduos fica aproximadamente de 18% a 28%. Tal fato
proporciona a possibilidade de utilizá-lo com menos aditivos e atingir os mesmos níveis exigidos na
norma DNIT 139/2010 – ES para a execução de sub-bases, onde o solo deve apresentar o valor de
CBR igual ou superior a 20% e expansão igual ou menor que 1%.

325
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. CONCLUSÃO

Por meio deste estudo analisa-se que adições de pó de pedra aumentaram a porcentagem de areia
no solo, tornando a granulometria do solo melhor distribuída até a amostra S25, já na amostra S35,
o solo apresentou uma quantidade de areia elevada e praticamente sem argila, transformando-o em
um material com baixa coesão e granulometria mal distribuída. As características não plásticas e a
expansão nula, devem-se à falta ou baixo percentual de argila, que é responsável pela coesão e boa
parte da absorção de água do solo.

É visível que os valores de massa específica seca máxima diminuíram, e por consequência houve o
aumento dos índices de vazios em todas as misturas, tal fato diz respeito ao pó de pedra ter uma
massa específica elevada e uma curva granulométrica mal graduada, dando origem a falhas de
granulação no solo, principalmente na amostra S35. Consequentemente os valores de umidade
ótima aumentaram juntamente com o teor de resíduo até a amostra S25, e na amostra S35 começou
a cair, dado que o resíduo substituiu quase que totalmente os finos do solo, entretanto por ser um
material que não retém muita umidade, a queda do valor foi condizente com o esperado.

Por conseguinte, o fato das misturas evidenciarem um comportamento não expansivo, ocorreu de
acordo com o esperando, considerando que a quantidade de material passante na peneira 200, foi
inferior a 2% e desse percentual a grande maioria foi de silte proveniente do pó de pedra, um
material não plástico e de baixa absorção de água.

Ao analisar o comportamento relacionado a resistência do solo, a amostra S25 apresentou os


melhores resultados de CBR, com o valor de 23%, contudo de acordo com a linha de tendência, a
mistura está contida em um intervalo de adições de 18% à 28%, no qual esses percentuais de
resíduos, apresentaram valos de CBR iguais ou superiores a 20%, o que faz com que amostras com
índices mais próximos dos valores mais baixos de adições dentro dessa faixa, se tornem mais
atraentes no âmbito econômico e prático. No entanto, todo intervalo proporcionou misturas de
solos aptas a serem utilizadas como camada de sub-base de acordo com a norma DNIT 139/2010 –
ES.

Tal resultado corroborou com as pesquisas de Batalione (2007) e Silveira (2010) que encontraram
resultados positivos de melhora de resistência mecânica de solos com a adição de finos. Ambos os
autores, obtiveram resultados coerentes aos do presente artigo. Batalione (2007) ensaiou misturas
que apresentaram granulometrias de solos argilo-arenosos, areno-siltosos e pedregulho-siltosos,
com massa específica de aproximadamente 27 kN/m³, sem expansão e com CBR máximo de 28%

326
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

obtido nas misturas areno-siltosas com 25% e 35% de adição. Silveira (2010) ensaiou um solo argilo
arenoso, com massa específica variando entre 17 kN/m³ e 18 kN/m³, com 0,25% de expansão e com
CBR máximo de 24% obtido em uma mistura com 10% de resíduo.

Percebe-se que por se tratarem de solos parecidos, os resultados do presente artigo apresentaram
valores de massa específica, porcentagem de mistura e valor de CBR máximo próximos aos obtidos
por Silveira (2010), contudo, quanto à expansão, o solo estudado possui maior quantidade de areia
e silte, o que fez que se comportasse de maneira não-expansiva.

Tornar um solo natural com 10% de CBR, em uma mistura com 23% de CBR, adicionando apenas um
resíduo que não possui nenhuma aplicação e por consequência, contém baixo valor agregado,
mostra que um solo de baixa resistência, presente em grande escala na região de Venda Nova do
Imigrante, pode ser transformado em um material capaz de ser implementado em camadas de
rodovias.

Vale-se ressaltar a necessidade de se realizar os ensaios utilizando resíduos de outros tipos de rochas
ou outros tipos de granito para poder validar a utilização do método. Também seria de grande valia
a análise deste material em outros métodos de ensaio de resistência para rodovia como o MCT. Além
disto é importante analisar a viabilidade econômica da aplicação da mistura solo resíduo em um
pavimento comparando-o com os materiais tradicionalmente utilizados. Por fim, sabendo que as
obras geotécnicas podem apresentar algumas divergências em campo da escala laboratorial é
necessário executar um pavimento experimental com a mistura de melhor desempenho e monitorar
o seu desempenho com o passar do tempo.

327
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

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329
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

CAPÍTULO 20

PROPOSTA METODOLÓGICA DE ANÁLISE DE


DADOS PARA UTILIZAÇÃO EM SISTEMAS DE
MÚLTIPLOS POÇOS, FUNDAMENTADA NO
RAIO DE INFLUÊNCIA

Liliane Ferreira da Silva (Universidade de Brasília)


Tania Matamoros Sevilla (Universidade de Brasília)
Maria Paula Susunaga (Universidade de Brasília)
André Luís Brasil Cavalcante (Universidade de Brasília)

Resumo: A gestão do uso da água subterrânea é um grande desafio e enorme responsabilidade para
os órgãos ambientais atualmente. Responsáveis pelas autorizações e outorgas de direito de uso da
água, esses órgãos estabelecem os estudos necessários à análise dos processos que solicitam o uso
da água para diversos fins. Entretanto, por diversas vezes os dados apresentados não são
conclusivos e carecem de interpretação e tratamento para subsidiar uma investigação segura e a
tomada de decisão pelo gestor. Nesse sentido, esse trabalho vem discutir uma metodologia para
auxiliar o órgão de meio ambiente a aproveitar ao máximo a documentação técnica entregue pelos
requerentes. Com base num estudo de caso no estado do Rio de Janeiro, a partir dos dados
entregues por um usuário de recursos hídricos subterrâneos ao Instituto Estadual do Ambiente
(INEA). Essa proposta trata da determinação dos raios de influência para aquíferos sedimentares
livres e em sistemas de múltiplos poços, numa determinada área, visando estabelecer a
interferência entre eles. Dessa forma é possível otimizar a avaliação dessas informações se criar
cenários distintos, para propor soluções que equacionem a necessidade pelo recurso hídrico e os

330
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

conflitos de uso, exercendo assim a gestão desses recursos a fim de garantir que estejam disponíveis
e em condições adequadas pelas gerações futuras.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão de aquíferos, Modelagem matemática, Outorga.

331
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

Um dos maiores desafios para os órgãos ambientais estaduais é fazer a gestão do uso da água.
Quando se trata do recurso hídrico subterrâneo, esse desafio aumenta. São diversos tipos de
usuários, desde aqueles cuja finalidade é para consumo humano, até aqueles grandes consumidores
que usam a água com finalidade industrial, tais como cervejarias, indústrias químicas, dentre outros.
Além disso, impactando ainda mais os aquíferos, a grande maioria das captações de água é irregular
e desconhecida pelas autoridades competentes. São diversos poços construídos e operados sem o
consentimento do órgão ambiental, impossibilitando qualquer tentativa de gestão do mesmo, o que
demonstra a urgência na criação de alternativas para solucionar esse problema.

No Rio de Janeiro, especificamente, quando se trata de outorgas pelo direito de uso da água, vários
estudos são pré-requisitos a análise dos processos, todavia, nem sempre os dados são bem
aproveitados, no intuito de auxiliar a gestão. Por vezes, não são conclusivos, necessitam de
complementações e essas deficiências acarretam uma análise mais demorada, postergando a
finalização do processo no órgão ambiental. Tudo isso prejudica, tanto o empreendedor (a outorga
precede o licenciamento), quanto à agilidade do órgão em questão.

Nesse artigo, apresenta-se uma metodologia para melhor aproveitar esses estudos, abordando um
caso específico como primeira sugestão. Também, abre-se a discussão sobre a necessidade de criar
alternativas para tornar os estudos mais objetivos, de acordo com a hidrogeologia local específica
para cada tipo de aquífero explorado.

2. OBJETIVO

O objetivo desse artigo é propor melhorias na análise dos dados de testes de interferências entre
poços para captação de água. Através de um estudo de caso, com um teste de interferência entre
três poços, realizado no município de São Gonçalo, Rio de Janeiro, e utilizando ferramentas
matemáticas, buscou-se avaliar os parâmetros encontrados de modo a verificar a influência real
entre esses poços. Através disso será possível sugerir uma complementação dos estudos que hoje
são exigidos pelo órgão ambiental, no âmbito da outorga pelo uso da água, de modo a auxiliar o
exercício da gestão dos recursos hídricos subterrâneos.

332
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3. LOCALIZAÇÃO

A área de estudo situa-se na Avenida São Gonçalo, bairro Bom Vista, São Gonçalo, no estado do Rio
de Janeiro (Figura 1). Os dados analisados nesse artigo pertencem ao Instituto Estadual do Ambiente
(INEA/RJ). Eles foram apresentados como parte dos estudos necessários a análise de processo de
outorga pelo uso da água.

Figura 1. Localização da Área de Estudo.

4. CENÁRIO DAS OUTORGAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Outorga é o ato administrativo mediante o qual o poder público outorgante (União, Estado ou
Distrito Federal) faculta ao outorgado (requerente) o direito de uso de recurso hídrico, por prazo
determinado, nos termos e nas condições expressas no respectivo ato administrativo. A outorga do
direito de uso dos recursos hídricos é um dos instrumentos de gestão desse recurso natural,
previsto na Lei 3.239, de 2 de agosto de 1.999. Tem como principal objetivo gerenciar o controle
quantitativo do uso da água e o direito de acesso a ela. Refere-se a um volume maior ou igual a 5 m³
de água subterrânea explorada por dia.

Dentre as finalidades de uso da água requeridas, entre 2009 e 2012, outros usos é a que representa
o maior percentual. Isso se dá por que essa finalidade é mais generalista, corresponde, por exemplo,
a limpeza em geral, paisagismo, recreação, lavagem de veículos. O uso industrial, que tem aplicações
diversas, como a fabricação de um produto onde a água é matéria prima (exemplo indústrias de
bebidas), ou o uso da água para resfriar equipamentos, manteve-se em torno de 40% das emissões
de outorga. O grande aumento foi observado no consumo humano, passou de 1% em 2009 a 18%
em 2012. Isso pode ser resultado do aumento da fiscalização, principalmente com as parcerias entre

333
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

o INEA e as concessionárias de abastecimento público, identificando os usuários irregulares e


orientando para que pudessem se regularizar (Figura 2). Outro fator pode ser a migração de usuários
que pleiteavam obtenção de licença para minerar água mineral. Com os trâmites mais longos no

Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), muitos mudaram de foco, passando a


solicitar a outorga com finalidade de água adicionada de sais.

Figura 2. Distribuição das Finalidades do Uso da Água para Outorgas Emitidas pelo INEA entre 2009 e 2012.

Para novos usuários, o procedimento começa com o pedido de autorização para perfurar um poço.
Aqueles que já possuem pontos de extração entram diretamente com o pedido de outorga, a fim de
regularizar-se.

A documentação técnica exigida é composta por estudos que visam caracterizar


hidrogeologicamente o aquífero, e a sua capacidade de fornecimento de água. É preciso lembrar
que, num período de 24 horas, o poço deve ser bombeado certa quantidade de tempo, e o período
em repouso deve ser suficiente para que o aquífero recupere o nível estático anterior ao
bombeamento. Essa análise técnica faz parte do trabalho de gestão dos aquíferos, cujo objetivo é
evitar o bombeamento excessivo, que acarretaria numa exploração predatória dos recursos hídricos.

Além da preocupação com a vazão, as análises químicas da água ajudam na caracterização físico-
química dos aquíferos, permitem correlações com os litotipos e avaliação da qualidade da água, de
acordo com a finalidade exigida. É importante ressaltar que, o órgão ambiental não outorga

334
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

qualidade, mas sim quantidade de água, entretanto, existe corresponsabilidade e, no caso de


finalidades como consumo e higiene humana, que requerem um padrão de potabilidade da água, se
for detectada a presença de contaminantes acima dos limites estabelecidos pela Portaria 2.914 do
Ministério da Saúde, é questionado ao usuário qual medida deverá ser tomada para tornar a água
potável.

Quando o usuário possui mais de um poço num mesmo empreendimento, e esses se encontrem num
raio de, até, 100 m, captando volume superior a 5.000 litros por dia, além de realizar os testes de
bombeamento, é exigido apresentar testes de interferência. Nesse artigo será apresentado o
resultado do teste de interferência, onde todos os poços foram bombeados e monitorados ao
mesmo tempo.

5. HIDROGEOLOGIA

De acordo com o Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro (Ecologus 2006), o estado do é
constituído, predominantemente por rochas cristalinas. Por esta razão, os aquíferos fissurais
ocupam cerca de 80% do território. Os outros 20% correspondem aos sistemas aquíferos
sedimentares (porosos). Os aquíferos fissurais se estendem desde o sul até a região norte do Estado,
formados pelas descontinuidades (fraturas e falhas) que ocorrem nos maciços rochosos. Já os
aquíferos porosos encontram-se nos sedimentos, depósitos aluviais e marinhos, distribuídos nas
principais bacias do estado (Campos, Macacu e Resende) e nas planícies aluviais e litorâneas.

A área de estudo está na Região Hidrográfica

RH-V, baía de Guanabara. A geologia local corresponde aos sedimentos fluviais costeiros, na sua
maioria areias grossas, médias e finas mal selecionadas, apresentando minerais de quartzo,
feldspato e máficos, geralmente com matriz argilosa a síltica, exibindo cores creme- amareladas,
padrão característico de cordões litorâneos e de leque fluvial costeiro.

O sistema aquífero em questão é sedimentar e livre, formado por sedimentos inconsolidados, com
nível estático médio em torno de 2,77 metros abaixo da cota topográfica do local onde os poços
estão instalados.

O teste de interferência foi realizado em abril de 2012, com todos os poços sendo bombeados em
conjunto, e aferidos os níveis dinâmicos em cada poço.

335
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

6. METODOLOGIA PARA DETERMINAÇÃO DOS RAIOS DE INFLEÊNCIA

Apesar de menos abundantes que os aquíferos fissurais, optou-se por trabalhar com aquíferos
sedimentares livres, dada a maior facilidade para o tratamento dos dados, como também a
abundância de trabalhos sobre esse tema.

Para um melhor aproveitamento informação dada pelos testes de interferência apresentados nesse
estudo, propôs-se analisá-los informação dada pelos testes de interferência apresentados nesse
estudo, propôs-se analisá-los para um sistema de múltiplos poços, obtendo-se o raio de influência
de cada poço e observando suas interações com os poços vizinhos.

Inicialmente determina-se os níveis estáticos (potencial inicial 0), através de aferição do nível da
água no poço, com o sistema aqüífero em repouso, e ao final dos testes de bombeamento consegue-
se obter os níveis dinâmicos (potencial final  ), a permeabilidade e a vazão de bombeamento Q na
qual os poços estabilizam ao final do teste. Essa será a vazão sustentável outorgada ao requente.
Mediante a localização das coordenadas dos poços é possível georreferenciar esses dados, utilizando
o software ArcGIS 9.3 (ESRI, 2006), além disso, pode-se obter plantas de locação dos poços, por meio
do software AutoCad (2010).

6.1 MODELO MÚLTIPLOS POÇOS

A escolha do modelo é fundamentada no tipo de aquífero analisado e no regime de bombeamento.


Nesse caso, trata-se de um aquífero livre com um regime de bombeamento onde, k é a
condutividade hidráulica e φ é a estacionário e o aquífero homogêneo, o fluxo bidimensional é
regido pela equação diferencial parcial:

onde  é o potencial hidráulico.

Devido ao fato dessa equação, ser homogênea e linear, o princípio de superposições se aplica. O
princípio estabelece que, se três funções diferentes 1, 2 e 3 são soluções da equação de Laplace
(Eq. 1), então a função:

  x, y   c11  x, y   c2  2  x, y   c3 3  x, y 

336
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Assim sendo, admitindo-se a solução individualizada para cada um dos poços, pode- se reescrever a
Eq. (2) na forma:

onde, Q1, Q2 e Q3 são as vazões de bombeamento, e r1 a distância entre os poços 1 e 2, r2 a distância


entre os poços 2 e 3 e r3 a distância entre os poços 1 e 3.

Quando a distância entre os poços se aproxima do valor do raio de influência, o potencial hidráulico
iguala-se ao potencial hidráulico inicial (estático), ou seja:

Portanto, pode-se reescrever a Eq. (3), na forma:

No caso de aquíferos não- confinados, o potencial hidráulico é dado por:

Na hipótese de se considerar fluxo carga hidráulica. De onde segue que,

Isolando-se o raio de influencia R, na Eq. (7), obtém-se:

7. ESTUDO DE CASO

O caso de estudo consiste em um sistema de três poços localizados em São Gonçalo no estado do
Rio de Janeiro. Os poços têm 0.15 m (6”) de diâmetro, e estão localizadas no Datum WGS-84,
segundo as coordenadas geográficas apresentadas na Tabela 1. As distâncias entre os poços são
apresentadas na Tabela 2.

337
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 1. Localização dos Poços

Poço Coordenadas
Poço 1 22° 49’ 1,32” S
43° 4’ 17,64” W
22° 49’ 00,66” S
Poço 2 43° 4’ 17,68” W
22° 48’ 58,96” S
Poço 3 43° 4’ 18,46” W

Tabela 2. Distâncias entre poços

Poços Distância (m)


r1a2 20.1
r2a3 57.3
r3a1 76.2

Esses poços localizam-se em um aquífero sedimentar livre, com bombeamento em regime


permanente. Os resultados dos ensaios de bombeamento encontram-se na Tabela 3.

Tabela 3. Resultados do Bombeamento

Po ço Profun Vazão Nível Nível Permea


didade (m3/h) estático dinâmi bilidade
(m) (m) co (m) (cm/s)
1 28 4,311 2,73 6,28 103
2 40 1,335 3,58 24,85 103

3 30 1,508 2,39 25,80 103

Considerando-se os dados do sistema de poços apresentados na Tabela 2, e programando-se a Eq.


(8), no software Maple 13 é possível estimar os raios de influência de cada um dos poços em relação
ao outro. Para os cálculos.

considerou-se que o coeficiente de permeabilidade do aquífero fosse 10 -3 cm/s (Feitosa & Filho,
2000).

Transcreveram-se os dados obtidos para cada poço, a partir da Tabela 3, e pôde-se calcular o raio de
influência de cada um dos poços, através da equação Eq. (8). Os raios de influência obtidos foram:

338
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 4. Raios de influência calculados.

Poço Raio de influencia (m)

P1 31,91
P2 24,82

P3 24,22

Para visualizar a distribuição espacial dos raios de influencia, os poços foram plotados, assim como
também os raios de influência, de acordo com a figura 3 abaixo.

Figura 3. Raios de influência.

Após obterem-se os raios, calcularam-se os rebaixamentos em cada ponto, utilizando a equação:

Com base nesses dados, criaram-se os gráficos de rebaixamento versus os raios de influência para
cada poço, cujos resultados encontram-se representadas a seguir nas Figuras 4,5, 6, e 7:

Figura 4. Rebaixamento do Poço 1 versus a distância ao longo do raio de influência.

339
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 5. Rebaixamento do Poço 2 versus a distância ao longo do raio de influência.

Figura 6. Rebaixamento do Poço 3 versus a distância ao longo do raio de influência.

Figura 7. Rebaixamento dos três poços versus a distância ao longo do raio de influência correspondente.

340
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Esses resultados nos permitiram visualizar o comportamento hidrodinâmico do aqüífero, dado o


bombeamento analisado (vide Tabela 3). As Figuras 8 e 9 mostram, em perfil, o estágio final do
bombeamento, quando o nível da água estabiliza para a vazão solicitada e o comportamento dos
cones de rebaixamento.

Figura 8. Visão em perfil dos poços 1 e 2 no estágio final de bombeamento.

Figura 9. Visão em perfil dos poços 1, 2 e 3 no estágio final de bombeamento.


A Figura 8 retrata o que foi constatado na análise dos resultados (Figura 3), os poços 1 e 2 têm interferência
e concorrem pelo mesmo recurso hídrico, fazendo com que esses dois poços tenham menor
aproveitamento.
A Figura 9 apresenta uma visão em perfil dos três poços. Nela pode observar que o poço 3 não têm
interferência com os demais. Os cones de rebaixamento terminam na altura do nível estático inicial,
antes de haver qualquer bombeamento, quando o aqüífero estava em repouso.

341
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

8. CONCLUSÕES

O ponto de interferência de maior raio de influência foi o poço 1, que influencia notadamente no
poço 2. Dessa forma, a vazão explorada é comprometida, à medida que ambos estão competindo
pelo mesmo recurso hídrico. Outra evidência apontada pelos resultados é o risco de bombeamento
predatório, com o poço 1 e 2 retirando uma vazão que não é sustentável para o aquífero. Com base
nesses dados podem- se propor alternativas de uso, tais como diminuição da vazão explorada,
rodízio do uso dos poços ou até indeferimento do processo, se essa for a melhor opção, do ponto
de vista do uso sustentável desses recursos.

O uso dessa metodologia é específico para aquíferos sedimentares livres e se mostrou bastante
eficaz, para esse caso. Esse trabalho é um primeiro passo rumo à elaboração de metodologias que
atendam os tipos de aquífero do estado do Rio de Janeiro. Sugere-se que o INEA adote essa
metodologia como parte das análises dos dados, que já são produzidas pelos geólogos que realizam
os estudos hidrogeológicos, para serem entregue como parte da interpretação dos testes que
compõem a parte técnica do processo. Dessa forma será possível avaliar melhor a interferência entre
poços de um mesmo empreendimento. Além disso, quando houver um banco de dados que
disponibilize todos os pontos de interferência outorgados, poderá ser analisada a interferência de
um poço novo nos poços da vizinhança, e assim avaliar a vazão adequada, de modo a não impactar
negativamente os recursos hídricos subterrâneos.

Como vimos, aquíferos sedimentares correspondem a 20% de todos os aquíferos do estado do Rio
de Janeiro, de modo que fica o desafio de criar uma metodologia para aquíferos fissurais. Mesmo
com as peculiaridades dos sistemas fraturados, é importante desenvolver metodologias que possam
ser aplicadas a qualquer caso, visto que o órgão ambiental precisa fornecer a orientação para os
usuários, mostrando como devem ser elaborados os estudos necessários a análise dos processos de
outorga.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de expressar seus agradecimentos ao CNPq, CAPES e Universidade de Brasília


pelo suporte dado durante esta pesquisa.

342
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

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Lei estadual 3.239/99. Institui a política estadual de Recursos Hídricos; cria o sistema estadual de
gerenciamento de recursos hídricos; regulamenta a Constituição Estadual, em seu artigo 261,
parágrafo 1º, inciso VII; e dá outras providências.

Portaria 2.914 do Ministério da Saúde, de 12 de dezembro de 2011. Dispõe sobre os procedimentos


de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de
potabilidade.

343
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 21

ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDE DE


ÁREA DE RISCO NO BAIXO ROGER EM JOÃO
PESSOA/PB

Jailane de Melo Souza (Universidade Federal de Paraíba)


Fábio Lopes Soares (Universidade Federal de Paraíba)

Resumo: A ocupação desordenada ligada à moradia no Brasil é uma problemática de ordem


socioeconômica e ambiental. Como consequência de tal situação observa-se os mais variados tipos
de assentamento urbano, de maneira irregular, situados em áreas de preservação que ocasionam
riscos de acidente a população local. O foco da pesquisa fixa-se em examinar e avaliar as condições
apresentadas em taludes da região do Baixo Roger da cidade de João Pessoa-PB que apresenta
problemas com instabilidade. Para isso, utilizou o auxílio do mapeamento de área que foi detalhado
segundo os procedimentos sugerido pelo Ministério das Cidades. De posse da classificação quanto
ao risco geotécnico das áreas analisadas e dos dados da caracterização física obtida através de coleta
de amostras deformadas, fez-se uma análise da estabilidade do talude da região em estudo, por
meio do método determinístico de Bishop. Por fim, obteve-se resultados de análise de estabilidade,
com a utilização do programa SLOPEW, que mostra a importância referente à relação da variação da
umidade e sua influência na parcela da coesão na resistência ao cisalhamento do solo.

Palavras-chave: Áreas de risco, mapeamento, estabilidade de taludes, João Pessoa.

344
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1.INTRODUÇÃO

As ocupações irregulares são fatores preponderantes para a deflagração de movimentos de massa.


Os movimentos de massa podem ocorrer naturalmente ou por execução de cortes e aterros. A
deflagração do movimento é ocasionada por meio do aumento dos esforços atuantes ou da redução
da resistência dos componentes dos materiais.

Ciente de sua responsabilidade na promoção do desenvolvimento urbano, o Ministério das Cidades


tem apoiado, dentre outros, os municípios mais atingidos por deslizamentos de encostas, visto que
apresentam maior registro de vítimas, embora as inundações causem maiores danos materiais. A
atuação tem se voltado principalmente para as ações de planejamento e de capacitação técnica para
que as equipes técnicas tenham condições de, a partir do reconhecimento e dimensão do problema,
montar um sistema municipal de gerenciamento de riscos, articulado e integrado com as políticas
de habitação, saneamento e defesa civil (BRASIL, 2007).

A fim de minimizar a vulnerabilidade e o risco de ocorrência de novos acidentes, faz-se necessário


uma solução de forma a eliminar ou minimizar riscos de deslizamentos. Diante disto, o Ministério
das Cidades propôs o gerenciamento das áreas de riscos por meio de mapeamento de risco, com
medidas preventivas e/ou corretivas.

Perante esta realidade, a presente artigo busca analisar a estabilidade de um talude situado no
bairro do baixo Roger na cidade de João Pessoa - PB, local que apresenta áreas propensas a riscos
geológico-geotécnicos. Frente a esta situação, esta análise servirá como auxílio para o
desenvolvimento de uma solução para eliminar/mitigar a instabilidade do local, modelado a atender
as especificações e necessidade que se enquadre nas possíveis alternativas para realidade local, de
forma a garantir a segurança da população de forma eficaz e econômica.

1. METODOLOGIA

2.1 ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo está situada no bairro do Roger, que é subdividido em alto e baixo Roger, dois
núcleos que apresentam disparidades devido à ocupação desordenada da população pobre e de
baixa renda na extremidade baixa do bairro.

345
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Segundo o censo demográfico do IBGE do ano 2010, o Roger possui uma população residente de
10.381 habitantes, sendo estes 4.979 homens e 5.402 mulheres, com 2.874 domicílios
particularmente ocupados com uma proporção média de 3,5 habitantes por domicílio.

O bairro dispõe de uma topografia acidentada e infraestrutura básica como água, drenagem, esgoto,
pavimentação, rede elétrica, iluminação pública, além de agregar três referencias na cidade,
destacados pelo parque Arruda Câmara, popularmente conhecido como “Bica”, o antigo “Lixão do
Roger” desativado em 1997 e a maior penitenciária da cidade, popularmente conhecida como
presídio do Roger (Fósculo da Nóbrega).

As fáceis do relevo predominante na cidade de João Pessoa, de acordo com Nascimento (2009), são
os Baixos Planaltos Costeiros com forte presença de Tabuleiros. Os Tabuleiros são feições
morfológicas que possuem relevo suavemente ondulado a ondulado, que atinge altitudes
aproximadas ou inferiores a 100 metros, avançando na direção leste originando as falésias ativas e
inativas, moldados sobre os sedimentos do Grupo Barreiras, a qual possui estrutura constituída por
sedimentos em consolidação de granulometria variada e material que apresenta cores e formas
variadas, com mistura de areias e argilas.

2.2 ANÁLISE DE RISCOS

Para o desenvolvimento do estudo foi realizadas análise física para o reconhecimento e identificação
das áreas de riscos da região por meio de visitas técnicas, com o reconhecimento prévio de
problemas através de entrevista informal com a população local e investigação “in situ”.

A correta delimitação da área deu-se por consulta a imagens de satélite usando o aplicativo Google
Earth e mapa classificatório dos riscos desenvolvido por equipes da Universidade de Federal da
Paraíba (UFPB) segundo o modelo de divisão de riscos sugerida pelo Ministérios das Cidades,
conforme Figura 1 e Quadro 1.

346
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 1. Mapeamento das áreas de risco do Baixo Roger. Fonte: Neto, 2013.

Legenda

- Risco Baixo

- Risco Médio

- Risco Alto

- Risco Muito Alto

347
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Quadro 1 – Caracterização das áreas de risco do Baixo Roger

Fonte: Neto, 2013.

2.3 COLETA DE DADOS

Para identificação do solo, foram coletadas amostras do talude, conforme a norma NBR 6457 (ABNT,
1986), para realização de investigações laboratoriais.

Os ensaios de laboratório compreenderam em caracterização física documentados pelos ensaios de


análise granulométrica, conforme a NBR 7181 (ABNT, 1984), de compactação segundo a NBR 7182
(ABNT, 1986) e teor de umidade por meio da norma DNER – ME 52 - 64/94 – método do “Speedy”,
que juntos definem a natureza do material.

Devido a indisponibilidade para realização do ensaio de cisalhamento, foi feita a análise de


estabilidade do talude utilizando os parâmetros de resistência (coesão e ângulo de atrito)
referenciados no estudo de Gusmão Filho et al. (1997), por possuir dados do solo característico da
Formação Barreira.

348
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2.4 ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDE

O método de análise de estabilidade de talude aqui empregado foi o de Bishop que utiliza uma
metodologia analítica bidimensional para verificação de estabilidade de um talude, que consiste na
aplicação de subdividir o talude em fatias assumindo que a base da fatia é linear baseiada na idéia
de se analisar separadamente as fatias do solo. Posteriormente, efetua-se o equilíbrio de forças em
cada fatia, assumindo que as tensões normais na base das fatias são oriundas do próprio peso do
solo da fatia e desenvolve o cálculo do conjunto por meio da a equação de equilíbrio de momentos.

Para o refinamento dos dados, obteve-se a determinação do fator de segurança com o auxílio do
programa SLOPE/W versão 2012 da GEOSTUDIO que possui aplicação dos métodos de Ordinary,
Bishop, Spencer e Jambu.

A partir da análise probabilística, definiu-se a superfície de ruptura mais desfavorável. Identificou-se


o fator de segurança mínimo recomendado para os níveis de segurança contra danos materiais e
ambientais e níveis de segurança contra perda de vidas humanas, sugeridas pela norma da ABNT
11682, conforme os Quadro 2, 3 e 4.

Quadro 2 - Níveis de segurança desejados contra danos a vidas humanas

Fonte: ABNT NBR – 11682/2009.

Quadro 3 - Níveis de segurança desejados contra danos materiais e ambientais

349
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Fonte: ABNT NBR – 11682/2009.

Quadro 4 - Fatores de segurança mínimos para deslizamentos

Fonte: ABNT NBR – 11682/2009.

3. ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.1 MAPEAMENTO DE RISCOS

O diagnóstico mais detalhado da situação de risco da área em estudo, representada na Figura 1 como
área 2, foi classificado conforme o padrão do manual “Mapeamento de riscos em encostas e
margens de rio”.

350
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

A Figura 2 mostra a vulnerabilidade e a alta susceptibilidade de escorregamento devido a cortes realizados


por pessoas sem orientação.

Figura 2 - Corte irregular do talude.

O talude da Figura 3 foi utilizado como referência para a elaboração de ensaios de caracterização.
Houve a constatação de residências com aproximadamente de um metro e meio de distância do
topo do talude, bem como a detecção de lançamento inadequado de águas servidas e presença de
fossa séptica, construída por moradores, gerando uma contribuição hídrica constante para esse
talude, visto pela Figura 4 e 5.

Informações obtidas através de entrevistas informais com moradores serviram como referência para
o correto diagnóstico da configuração do talude, configuração esta que sempre é alterada devido a
pequenos deslizamentos frequentes.

Figura 3 - Vista frontal do talude.

351
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 4 - Descarte inadequado de águas servidas.

Figura 5 - Fossa séptica no topo do talude.

3.2 ENSAIOS LABORATORIAIS

O resultado da análise realizada nas amostras pode ser visto no Quadro 5.

Quadro 5 – Resumo da granulometria

352
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Característico da Formação Barreira, o solo estudado se compõe de sedimentos não consolidados e


apresenta-se constituído por sedimentos com alternância de camadas de forma desordenada. A
amostra coletada possui predominância de areia grossa, de cor vermelha-clara e amarela,
apresentando em sua granulometria, 48,3 % de areia de areia grossa, 22,6% de areia fina, 0,9% de
pedregulho e 28,2% de silte e argila.

Os parâmetros de resistência do solo retirados do registro de ensaios de cisalhamento direto do


trabalho de Gusmão Filho et al. (1997), são definidos por meio da variação da umidade do solo (que
pertence a Formação Barreira) como: solo não saturado, solo não completamente saturado e o solo
completamente saturado.

O Quadro 6 representa os valores de coesão e ângulo de atrito, com suas respectivas médias.

Quadro 6 - Média da coesão e ângulo de atrito

3.3 ANÁLISE DA ESTABILIDADE DO TALUDE

Com a geometria do talude, a caracterização do solo e a estimativa dos parâmetros de resistência,


realizou-se o a análise de estabilidade do talude que possui uma altura de 7 metros, vegetação de
grande porte no topo e ângulo de inclinação próximo aos 90º.

Utilizando o programa SLOPE/W versão 2012 da GEOSTUDIO, que divide o talude em 30 fatias, pode-
se fazer uma análise da estabilidade do talude por meio do método de Bishop com uma malha de 49
centros de verificação do fator de segurança, como se pode observar nas Figuras 10, 11 e 12.

353
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 10 - Perfil de ruptura e definição do fator de segurança (FS) para o solo natural.

Figura 11 - Perfil de ruptura e definição do fator de segurança (FS) para o solo parcialmente saturado

Figura 12 - Perfil de ruptura e definição do fator de segurança para o solo saturado.

As Figuras mostram as várias curvas de rupturas possíveis, com a ilustração detalhada para o centro
de menor fator de segurança e curvas de situações mais críticas.

Observa-se um decréscimo do fator de segurança à medida que a saturação vai crescendo, o que se
faz devido à variação dos valores de coesão, que diminui significativamente quando o solo recebe

354
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

água, caso este não identificado no ângulo de atrito que apresentou pequena variação em
comparação com a coesão.

De acordo com os critérios adotados na ABNT da norma NBR 11682, conforme os Quadros 2 e 3 da
metodologia, que considera parâmetros visando cobrir as incertezas naturais das diversas etapas de
dimensionamento, classifica o grau de segurança para o talude como sendo de risco médio, com isso
os fatores de segurança indicados no quadro 4 define um FS mínimo de 1,4, mas devido a incerteza
dos parâmetros geotécnicos, a norma preconiza que o FS mínimo deve ser majorado em 10%, ou
seja, o FS mínimo para o talude em questão deve ser de 1,54.

A comparação dos valores encontrados no estudo com o definido pela norma identifica que apenas
o solo natural enquadra-se em um nível de segurança quanto aos danos a vidas humanas como
também de materiais e meio ambiente, já para o solo parcialmente saturado e saturado, o talude
apresenta certa instabilidade, em que necessitar de um projeto com obras de estabilização viável
para a área, de forma a manejar adequadamente as águas que incidem no talude.

355
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. CONCLUSÃO

O desenvolvimento deste trabalho revela as características dos riscos geotécnicos em que a


comunidade do Baixo Roger está inserida, caso identificado através dos assentamentos inadequados
em encostas, bem como o lançamento de águas servidas, presença de vegetação de grande porte e
acúmulo de lixo no topo do talude.

Esta realidade colabora para a instabilidade da encosta, ou seja, são fatores preponderantes para
deflagração de movimentos de massa.

Os estudos realizados em encostas tornam-se cada vez mais importantes, uma vez que há
necessidade de conhecer a realidade dessas áreas para que, a partir daí, possa desenvolver a
mitigação dos processos geomorfológicos e hidrológicos sobre encostas, principalmente em áreas
densamente ocupadas, caso verificado no Baixo Roger, onde os riscos de perda de vidas humanas e
de bens materiais aumentam cada vez mais com o passar dos anos.

A análise de estabilidade de talude é imprescindível para se ter um maior conhecimento da variação


dos parâmetros de resistência do solo, ou seja, para poder se obter valores representativos da
vulnerabilidade dessas encostas a presença de águas e uso do solo pelo homem.

Por fim, verifica-se a necessidade de execução de alternativas possíveis para estabilização da


encosta, de modo que se adeque a realidade local, seja por meio de execução de projetos de
estabilização que forneça índices de confiabilidade para a região ou pela relocação das famílias que
se encontrem em alto risco com a fiscalização sistemática impedindo a ocupação dessas áreas.

Logo é necessária a realização de debates com os moradores da comunidade, buscando tirar dúvidas
sobre os riscos na região e sobre os possíveis projetos executados na comunidade com suas
funcionalidades e forma de manutenção, tendo em vista a prevenção e diminuição dos riscos nessas
áreas.

AGRADECIMENTOS

A Rosinaldo José, Rodrigo Massao, Sérgio Ricardo e João Dantas pela ajuda e apoio no
desenvolvimento desta pesquisa.

356
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

Associação brasileira de normas técnicas. NBR 11682: Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro, 2009.

Brasil. Ministério das Cidades / Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT. Mapeamento de Riscos em
Encostas e Margem de Rios. Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e Agostinho
TadashiOgura, organizadores – Brasília: Ministério das Cidades; Instituto de Pesquisas Tecnológicas
– IPT, ISBN 978-85-60133-81-9, 176 p., 2007.

Gusmão Filho, J.A.; Ferreira, S.R.M. e Amorim Jr, W.M. (1997). Escorregamentos em Morros Urbanos
dorecife: O caso do Boleiro. In: 2nd PanamericanSymposiumonLandslides, Rio de Janeiro, ABMS.
Anais, Vol.2.

IBGE. (2013). Censo demográfico 2010. Brasil: IBGE. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso
em: 17 de janeiro de 2014.

Nascimento, Maria Odete Teixeira do. Riscos de deslizamentos e inundações e condições de moradia
em aglomerados subnormais na bacia do rio Sanhauá: avaliação e análise integrada. Dissertação de
Mestrado UFPB 2009.

Neto, Genival Gomes Barboza. Proposta de estabilização para áreas de alto risco mapeadas no Baixo
Roger. João Pessoa, 2013. 54 p.

357
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 22

AVALIAÇÃO DE BARREIRA CAPILAR COM


GEOTÊXTIL ASSOCIADO

Raul Fernando Polisseni (Universidade Federal de Minas Gerais)


Maria das Graças Gardoni Almeida (Universidade Federal de Minas Gerais)
Lúcio Flávio de Souza Villar (Universidade Federal de Minas Gerais)

Resumo: O estudo da avaliação de barreiras capilares, potencializadas por emprego de geotêxtis não
tecidos (GTNs), é representado nesse trabalho a partir das analise em laboratório de modelos de
barreiras monitoradas, aferindo sucção, temperatura e teor de unidade. As curvas de retenção de
água (CCRAs), para os geotêxtis não tecidos, foram determinadas pelos dados de coluna suspensa
instrumentação das barreiras. As curvas de retenção dos geotêxtis foram similares, com elevada
histerese e com condições residuais mostrando esses materiais uma forte propriedade hidrofóbica.
As barreiras capilares comportaram-se de forma similar retendo maior volume de água na porção
mediana da camada capilar.

Palavras-chaves: Barreira Capilar, Cobertura Evapotranspirativa, Curva Característica de retenção


de Água, Ensaio de Coluna Suspensa, Geotecnia Sucção.

358
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

Cobertura Evapotranspirativa (ET), em particular barreiras capilares, são utilizadas em climas onde
a evaporação supera a precipitação, controlando total ou parcialmente o fluxo de água e gás em
resíduos sólidos, resíduos e rejeitos de mineração (ZORNBERG et al. 2010; ZHANG et al., 2016). A
construção de barreiras capilares associadas a um geotêxtil não tecido (GTN) melhora o desempenho
de retenção da barreira (PICKLES; ZORNBERG, 2012; ZORNBERG et al. 2016, DE LIMA et al. 2017).

Ensaios laboratoriais e de campo permitem a avaliação de sistemas envolvendo barreiras capilares,


o que viabiliza a concepção de novos projetos e maior entendimento das propriedades hidráulica
dos seus constituintes. Quando em laboratório trajetórias de secagem e umedecimento devem ser
realizadas para uma melhor simulação de situações reais de chuva e estiagem.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO

A evapotranspiração, precipitação, fluxo superficial, retenção de umidade, drenagem lateral e


percolação basal são fatores que devem ser analisados no projeto de uma cobertura final, quanto
menor a percolação basal, nesse tipo de cobertura, melhor é o seu desempenho. As coberturas de
disposição finais, bem projetadas, devem absorver recalques diferencias e na existência de gás,
controlar o seu fluxo, sem prejudicar seu desempenho. Elas podem ser resistivas ou
evapotranspirativas (ETs), (DE LIMA et al., 2015). As coberturas resistivas reduzem o seu
desempenho com o tempo, pois ressecam e erodem, enquanto as coberturas evapotranspirativas
tendem a um melhor desempenho, este associado ao desenvolvimento de cobertura vegetal
(AMORIM, 2008). A redução da percolação basal nas coberturas resistivas se deve a materiais de
baixa permeabilidade, que induzem um maior “run off” em detrimento a infiltração. As coberturas
ETs priorizam a retenção de umidade em uma de suas camadas, e o clima e a vegetação ajudam no
controle da percolação basal (DE LIMA et al., 2015).

Geralmente as coberturas resistivas são compostas por camada para controle de erosão sobrepondo
a camada de baixa permeabilidade que pode ou não estar assentada sobre uma camada de fundação
(AMORIM, 2008). As coberturas ETs podem ser monolíticas, barreiras capilares ou barreiras
anisotrópicas. As coberturas monolíticas são formadas por camada de solo fino assentada em uma
fundação sobrepondo o resíduo. As barreiras capilares têm a porção superior de solo fino (silte,
argila entre outros) sobre material de comportamento hidráulico similar a solo granular (areia,
pedregulho, geotêxtil não tecido entre outros). As barreiras anisotrópicas assemelham-se as

359
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

barreiras capilares, todavia com acréscimo de uma camada drenante entre a camada de cobertura
vegetal e o solo fino (ZORNBERG; MCCARTNEY, 2007), Figura .

Figura 1 – a) Cobertura monolítica. b) Barreira capilar. c) Barreira anisotrópica.

Adaptado (Zornberg; McCartney, 2007).

Kish (1959 apud De Lima et al., 2017) foi o percursor na observação do fenômeno de barreira capilar
e uso desta barreira para controle de fluxo de água.

Heibaum (2010) dividiu as barreiras capilares em duas porções, camada capilar (capillary layer) e
bloco capilar (capillary block), a primeira composta por material fino que retém a água e a segunda
camada composta por material granular que obstrui a passagem de água. A diferença do tamanho
dos poros das camadas é o que proporciona a retenção de água ou o retardo da percolação na sua
interface (O'KANE; BARBOUR, 2003; OLIVEIRA; MARINHO, 2007; AMORIM, 2008; PICKLES;
ZORNBERG, 2012; ZORNBERG et al., 2016). A retenção hídrica é influenciada pelo tamanho das
partículas ou fibras; o índice de vazios; o grau de saturação; a composição das partículas ou fibras; o
arranjo estrutural; viscosidade; densidade e concentração do fluido percolante entre outros.

A descrição hidrodinâmica da água em um solo se dá pela CCRA, que relaciona energia de retenção
da água e o teor de umidade, Barreto et al. (2012). No GTN sua CCRA relata a capacidade de
armazenamento ou variação de volume de água em seus poros influenciados por variação de
pressão capilar, De Lima et al. (2014). Conforme a norma ASTM D 6836 – 02 (2008), curvas de
retenção são utilizadas para caracterização hidrológica, da resistência ao cisalhamento e
compressibilidade em solos não saturados, tal como complementam estudos hidrodinâmicos e
auxiliam a estimativa de condutividade hidráulica não saturada para condutividade hidráulica

360
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

saturada conhecida. Gitirana Jr. et al. (2015) cita ensaios de colunas monitoradas como uma forma
de obtenção da CCRA em solo.

O ensaio de coluna suspensa é adequado para valores baixos de sucção entre 0 e 70 kPa e na
determinação de CCRA de materiais de drenagem quase imediata. Pesquisadores adaptaram o
ensaio de coluna suspensa para GTNs (STORMONT et al., 1997; MCCARTNEY et al., 2008; DE LIMA,
2014; ZORNBERG et al., 2016).

3. MATERIAL E METODOLOGIA

Foram confeccionadas, em laboratório duas barreiras capilares compostas por solo residual e
geotêxteis não tecidos, em primeiro uso, de diferentes composições, gramaturas e assentados sobre
pedregulho fino. As avaliações das barreiras capilares deram-se pela aquisição de dados de umidade,
sucção e temperatura a partir da instrumentação das barreiras em indução de trajetórias de
secagem e umedecimento. Os geotêxteis foram escolhidos para assegurar um bom desempenho da
barreira capilar.

As curvas características dos GTNs foram determinadas pelo ensaio de coluna suspensa conforme
realizado desde 1997 por Stormont et al., e foram ajustadas conforme o modelo proposto por
Fredlund e Xing (1994).

As barreiras capilares tiveram como camada capilar o solo residual deformado do Complexo Belo
Horizonte, representado por ortognaisses, amostrados em Sabará, região metropolitana de Belo
Horizonte.

O solo foi devidamente caracterizado no Laboratório de Geotecnia (LabGeo) da Universidade Federal


de Minas Gerais – UFMG – de acordo com as metodologias propostas pelas normas vigentes. Na
Tabela estão representados os resultados dos ensaios de caracterização da amostra deformada de
solo.

A análise granulométrica, do solo residual de Sabará, foi realizada por peneiramento e


sedimentação (com uso de defloculante) e é expressa na

Figura . O solo segundo o Sistema Unificado de Classificação do Solo – SUCS – trata-se de uma areia
siltosa (SM).

361
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 1 – Caracterização do solo residual.

Teor de umidade gravimétrico natural (%) 12,7


Teor de umidade gravimétrico higroscópico (%) 1,0 – 2,0
Massa específica dos grãos (g/cm3) 2,59
Limite de liquidez (%) 31,8
Limite de plasticidade (%) 22,0
Índice de plasticidade (%) 9,8
M. específica aparente seca máxima (g/cm3) (Proctor normal) 1,8
Umidade ótima (%) (Proctor normal) 15
Permeabilidade (cm/s) (saturada) 4.4 x 10-7

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Figura 2 – Esboço da curva granulométrica com uso de defloculante (% passante x diâmetro dos grãos
“mm”).

Como camada drenante e de suporte da barreira capilar foi utilizado o “pedrisco” composto por 97%
de material que é retido na peneira de 2,0 mm e 100% passante na peneira 4,8 mm, sendo um
pedregulho fino. Para proteção de impacto da água e desenvolvimento de fluxos preferenciais,
assentou-se sobre a camada capilar uma camada de brita zero.

Uma barreira capilar foi associada ao GTN preto de poliéster (GTB) com gramatura de 137 g/m2 C.
V. 10,8 % e espessura 1,27 mm C. V. 11,4 %. A outra com GTN branco de polipropileno (GTA) com
gramatura de 259 g/m2 C. V. 4,70 % e espessura 2,07 mm C. V. 4,3 %. A mostra propriedade hidráulica
do GTA e GTB, ensaiadas conforme normas vigentes.

362
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 2 – Propriedade hidráulica do GTA e do GTB.

Propriedade hidráulica GTA GTB


T. Abertura Apar. (mm)
0.23 0.23
ASTM 4751

Permeabilidade normal (cm/s)


0.23 0.44
ASTM 4491 / ABNT NBR 15223

Permissividade*
(s-1) 1.11 3.46
ASTM 4491 / ABNT NBR 15223

Os ensaios de colunas de umedecimento e secagem monitoradas simularam em laboratório as


barreiras capilares que ocorrem na natureza, para tal, uma coluna de PVC cilíndrica de 12 mm de
espessura, 250 mm de diâmetro interno e 415 mm de altura, monitorada com sensores de umidade,
temperatura e sucção, foi montada. 7,650 kg de pedrisco foram o suficiente para a camada de
drenagem e suporte, a camada capilar precisou de 19,000 kg de solo residual homogeneizado com
a adição de água suficiente para aproximar da condição ótima. Da base para o topo assentou-se; o
pedrisco, o geotêxtil e o solo de Sabará compactado com energia Proctor normal em seis camadas e
brita zero. Um reservatório de água sobre a coluna propiciou o gotejamento de água no ensaio,
Figura . O monitoramento do ensaio inicia-se com a trajetória de umedecimento seguido da
trajetória de secagem, que foi acelerada pela incidência de calor proporcionado por duas lâmpadas
halógenas, a todo o momento o peso da coluna foi monitorado.

Figura 3 – Composição da barreira capilar.

363
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

A disposição dos orifícios para inserção dos sensores para monitoramento da coluna de
umedecimento e secagem é representado na Figura . O ensaio de umedecimento da barreira capilar
montado é mostrado na Figura .

As barreiras capilares associadas aos GTNs foram montadas e após 24 horas instrumentadas e
hidratada com 1,200 litros de água em gotas.

A etapa de secagem da barreira associada ao GTA em seus primeiros 30 minutos iniciou em


condições climáticas locais e depois foi acelerada com utilização de uma lâmpada halógena e após
186,67 horas recebeu a contribuição calorífica de mais uma lâmpada halógena. A etapa de secagem
da barreira associada ao GTB foi acelerada por duas lâmpadas halógenas, logo que se observou o
término da infiltração. Esse ensaio foi repetido com a camada capilar desidratada.

Figura 4 – Croqui da vista frontal da coluna de umedecimento / secagem indicando os locais de inserção dos
sensores e o orifício drenante.

As curvas características para os GTNs foram obtidas pelo ensaio de coluna suspensa adaptado para
o geotêxtil não tecido, contemplando as trajetórias de secagem e de umedecimento. O aparato foi
montado em um painel Wille Geothekinik, reservatório móvel, funil de Büchner Prolab de 125 ml,
placa porosa, escala feita em papel milimetrado e água destilada, ultrafiltrada e esterilizada. A
continuidade hidráulica entre o GTN e a pedra porosa foi garantida pela aplicação de uma carga
constante sobre o conjunto, esta responsável por uma pressão aproximada de 0,92 kPa sobre o GTB

364
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

e 0,91 kPa sobre o GTA. O reservatório e o funil foram tampados com papel filme permitindo
pequena comunicação com o meio externo, Figura .

Figura 5 – Coluna de umedecimento / secagem monitorada, reservatório de água e balança.

Figura 6 – Ensaio de coluna suspensa montado no LabGeo UFMG e em detalhe o funil de Büchner.

4. RESULTADOS

A barreira capilar associada ao GTA teve as primeiras aferições do teor de umidade depois de
aproximados 30 min da instalação dos sensores de umidade. O acréscimo de água começou a ser
notório 1,16 horas do início da infiltração para o topo da camada capilar, o que ocorreu em 2,00 e
3,66 horas para o meio e base. Maior teor de umidade volumétrico (0,34) no topo foram entre 16,80

365
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

a 20,50 horas do início do ensaio, (0,32) entre 30,50 horas e 36,00 horas para o meio da camada
capilar e (0,31) no intervalo de 22,50 a 26,30 horas para a base. Ao longo do quarto e oitavo dia de
ensaio os teores de umidade pela barreira seguiram uma mesma tendência, alterada, após esse
intervalo, apenas no topo da camada capilar com a incidência de calor de mais uma lâmpada
halógena.

A barreira associada ao GTB também teve as primeiras aferições do teor de umidade após
aproximados 30 min da instalação dos sensores de umidade. Apenas após 0,66 horas de ensaio, a
variação do teor de umidade volumétrico no topo já era notável e seu maior registro (0,33) que
ocorreu entre o intervalo 47,33 e 50,00 horas de ensaio, seguido de um decréscimo na umidade de
cerca de 7,5% e esta se manteve praticamente constante com pequena redução do teor de umidade
até 93,67 horas de ensaio quando o teor de umidade voltou a subir. Em 101,33 horas, foi perceptível
a trajetória de secagem. A porção média da barreira iniciou já bastante úmida, com valores
capturados próximo aos valores máximos correspondentes ao intervalo de 15,17 a 17,83 horas,
seguido por uma trajetória de secagem que foi acelerada pelo par de lâmpadas halógenas ativadas
a 94,50 horas do ensaio. Elevação do teor de umidade na base teve registro às 3,33 horas do início
do ensaio. No sexto dia em diante, o topo e o meio da barreira tem uma tendência similar de variação
do teor de umidade. Essa barreira foi desidratada além da condição inicial e novo ensaio foi iniciado,
quando se adicionou, em gotas, 2 l de água ao sistema, sendo que lâmpadas halógenas foram
acionadas após 172,00 horas de ensaio. O sensor do topo aferiu o acréscimo do teor de umidade em
0,66 horas de ensaio com aumento expressivo até 19,67 horas quando o crescimento foi mais
brando. O maior teor de umidade volumétrico atingido foi entre 104,50 e 173,33 horas de ensaio,
registrando 29,2 % contra os 33,2% do primeiro umedecimento. O início da trajetória de secagem
foi observado em 183,33 horas sendo que as lâmpadas halógenas foram acionadas após 171,83
horas do início do ensaio. Um terceiro umedecimento com mais 2 l de água foi efetuado. As curvas
apresentaram comportamento similares com valores decrescente do teor de umidade do topo para
a base da barreira em um mesmo momento e, ao iniciar a trajetória de secagem as variações de teor
de umidade se tornaram mais abruptas com a profundidade da camada capilar. Decorrido sete dias
do terceiro umedecimento, o sensor basal não forneceu mais respostas,

Figura e

Figura .

366
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

15
15

Tempo (Dias)
Topo Topo

Tempo (Dias)
10 10
Meio Meio
5 5 Base
Base

0 0
0,20 0,30 0,20 0,40 0,60 0,80
Teor de umidade volumétrico Teor de umidade volumétrico

Figura 7 – Teor de umidade volumétrico da barreira associada ao GTA (superior) e o GTB (inferior).

12 Topo
20
10 Meio

Tempo (Dias)
Tempo (Dias)

15 8 Base
Topo 6
10
4
Meio
5 2
Base 0
0 0,18 0,23 0,28
0,15 0,65
Teor de umidade volumétrico Teor de umidade volumétrico
(b)

Figura 8– Teor de umidade volumétrico da barreira associada ao GTB (superior) e terceira umedecimento
(inferior).

O sensor de umidade inserido no pedrisco não proporcionou interação satisfatória, sendo os seus
dados descartados.

Os sensores de sucção só aferiram medidas de sucção entre 10 a 239 kPa, o que permitiu uma
avaliação qualitativa da retenção de água na barreira capilar. A barreira capilar composta com GTA
teve, em seu topo e base semelhante retenção de água, com histerese mais pronunciada no topo.
Em 71 kPa para o topo e 49 kPa para a base ocorreu uma inversão na histerese, fato não observado
na porção media da barreira que apresentou padrão único de histerese, Figura .

367
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

0,36

Teor de umidade
0,34 Molhagem superior

volumétrico
0,32 Secagem superior

0,30 Molhagem média

0,28 Secagem média

0,26 Molhagem inferior

0,24 Secagem inferior

10 100
Log Sucção matricial (kPa)

Figura 9 – Retenção de água na barreira capilar associada ao GTA.

A avaliação da retenção de água ao longo da barreira associada ao GTB, descartou aos valores
registrados do teor de umidade na porção basal que estavam discrepantes. A porção superior e
média apresentaram histerese. A histerese do topo pode ser dividida em duas partes, valores iguais
e inferiores a 14 kPa onde a histerese inverte, fato não observado na porção média,

Figura .

0,34
Teor de umidade

Molhagem superior
volumétrico

0,32
0,30 Secagem superior

0,28 Molhagem média

0,26
Secagem média
10 100
Log Sucção matricial (kPa)
(c)

Figura 10 – Retenção de água na barreira capilar associada ao GTB, considerando apenas o monitoramento
do topo e do meio da camada capilar.

No segundo ensaio de barreira associado ao GTB (desidratado), a porção superior e média


apresentaram histerese. A porção média apresenta inversão na histerese, entre 103 e 108 kPa, fato
não observado na porção média, Figura . No terceiro umedecimento a retenção água na porção
superior atingiu menores valores de sucção, seguida da porção média, até desidratarem em valores
de sucção baixa, Figura .

368
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

0,32
Molhagem superior
0,30

Teor de umidade volumétrico


0,28 Secagem superior

0,26 Molhagem média

0,24 Secagem média

0,22
0,20
10 100
Log Sucção matricial (kPa)

Figura 11 – Retenção de água na barreira capilar associada ao GTB desidratado, segundo ensaio, apenas
monitoramento do topo e do meio da camada capilar.

0,31 Molhagem Superior

0,29
Teor de umidade

0,27
volumétrico

Molhagem Média
0,25
0,23
0,21 Molhagem Inferior

0,19
0,17
0 100 200 300
Log Sucção matricial (kPa)

Figura 12 – Retenção de água na barreira capilar associada ao GTB, terceiro umedecimento.

Através de termopares, as porções inferiores, média e superiores da barreira capilar também foram
monitoradas. Variações de temperatura foram atribuídas à amplitude térmica diária e ao calor
gerado e incidido por lâmpadas halógenas.

Em ensaios de coluna suspensa curvas característica dos GTNs foram traçadas e apresentaram
similaridades. O ensaio foi realizado em temperaturas variando de 22 a 25 °C, para o GTB e de 24 a
26 °C para o GTA. Ao término dos ensaios as amostras foram submetidas a temperaturas de 105 °C
por 48 horas sendo pesadas em seguida com resolução de 0,01g, os pesos aferidos se igualaram aos
pesos inicias antes do início do ensaio da coluna suspensa. A sução de entrada de ar, graficamente
determinada, corresponde 0,9 kPa para o GTA e 0,8 kPa para o GTB. A condição residual difere para
cada GTN, sendo valores maior ou igual a 2,0 kPa para GTA e maior ou igual a 2,5 kPa para o GTB.
Na trajetória de umedecimento, a sucção de entrada de água (𝜓𝑎𝑔 ) ocorreram em 0,05 kPa para GTA
e 0,1 kPa para o GTB. Quando a sucção é nula, a amostra atinge valores de teor de umidade

369
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

volumétrico próximo aos de saturação. As CCRAS dos GTNs ajustadas e seus parâmetros de ajuste
estão representados na, sendo que as CCRAs ajustadas são mostradas na Figura e Figura .

Tabela 3 – Parâmetros de ajuste das CCRAs dos GTN.

GTA GTB

𝑎 ≅
≅ 1,0
(secagem) 1,1

m ≅
≅ 0,922
(secagem) 1,344

n ≅
≅ 15,007
(secagem) 12,532

𝑎
0,02 0
(umedecimento)

m ≅
0,00
(umedecimento) 0,828

n ≅
Indeterminado
(umedecimento) 13,211

CCRA AJUSTADA GTB


Teor de umidade volumétrico

Trajetória de secagem ajustada

Trajetória de molhagem

0,8
0,6
0,4
0,2
0
1,0E-02 1,0E+00 1,0E+02 1,0E+04 1,0E+06
Log sucção matricila (kPa)

Figura 13 – CCRA do GTB.

370
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

CCRA ajustada GTA

Teor de umidade volumétrico


Trajetória de secagem ajustada
Trajetória de molhagem

0,8
0,6
0,4
0,2
0
1,0E-02 1,0E+00 1,0E+02 1,0E+04 1,0E+06
Log sucção matricial (kPa)

Figura 14 – CCRA do GTA.

5. DISCUSSÃO

Algumas observações são pertinentes m busca de entendimento mais amplo do comportamento


hidráulico de coberturas do tipo barreira capilar associada ao GTN:

 Em todos os ensaios de umedecimento a condição de saturação e consequente rompimento da


barreira capilar foram contemplados, o que pode ser verificado quer pela presença de água no
pedrisco da coluna quer pela formulação (Equação 1). Quantidade necessária de água (∆ℎ𝑤 ) à
saturação completa de uma coluna de água com teor de umidade volumétrica inicial (𝜃0 ),

∆hw
Equação (1)
= (n − θ0 ) ht

n, é a porosidade.

 O ensaio de coluna suspensa mostra-se adequado para estudos de comportamento de materiais


e fronteiras hidráulicas limítrofes entre a saturação e não saturação. A CCRA é semelhante para
os dois GTNs ensaiados.

 Barreira capilar com início do umedecimento em teor de umidade superior a umidade ótima é
de difícil avaliação comportamental (Zornberg et al., 2016). O primeiro ensaio que utilizou o GTB
possuiu essa característica, e por isso, foi repetido, só que em condições iniciais menos
hidratadas. Um terceiro ciclo de umedecimento foi efetuado para confirmar a repetitividade
qualitativa do ensaio.

371
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

 A trajetória de secagem é mais comum pela sua facilidade de execução (Sousa, 2006), porém, a
avaliação das trajetórias de umedecimento é importante, pois nessas trajetórias podem ser
identificadas condições críticas de obras civis auxiliando, por exemplo, a previsão do rompimento
hidráulico da barreira capilar onde a entrada de água do GTNs governará essa quebra capilar.

 A condição residual não foi visualizada nas CCRA dos GTNs, sendo que ambos retornaram a
condição de saturação em sucção zero, na trajetória de umedecimento, fato associado à
configuração geométrica das fibras e elevada porosidade do material e sua hidrofobia.

 Mudanças em pequenas percentagens do padrão de dados de sucção e umidade, na barreira


capilar, podem estar relacionadas à interação do aparelho com o meio e a efeitos termoelétricos
com o de Peltier-Seebeck ou geométricos, como o efeito Inkbottle.

 O conhecimento climático e o nível inicial de hidratação são importantes na concepção de


projetos de coberturas ETs do tipo barreira capilar, pois materiais com teores de umidade
gravimétricos diferentes, em início de hidratação, podem apresentar comportamento histérico
completamente oposto retendo e liberando água de formas distintas e podendo até ocorrer
inversão na histerese.

 Os sensores de sucção utilizados não se mostraram aptos para baixas e altas sucções, inferiores
a 10 kPa e superiores a 280 kPa.

372
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

6. CONCLUSÃO

Os ensaios realizados no laboratório permitiram simular e avaliar situações reais e algumas


condicionantes de projetos que contemplam barreiras capilares, as barreiras retiveram água de
forma parecida, independente do GTN associado. As CCRAs dos GTNs determinadas em laboratório
mostraram-se útil, e com valores de entrada de ar próximos a valores já determinados por outros
pesquisadores. A compreensão do comportamento hidráulico dos GTNs e sua associação com as
barreiras capilares podem auxiliar a estudos futuros e desenvolvimento de novas tecnologias.

373
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

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375
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capitulo 23

DURABILIDADE DE GEOTÊXTEIS POR


INTEMPERISMO ACELERADO: INFLUÊNCIA
DOS FATORES DE DEGRADAÇÃO

Mag Geisielly Alves Guimarães (CEFET-MG)


Thais Ribeiro Melki (CEFET-MG)
Rodrigo Lucas da Silva Souza (CEFET-MG)
Denise de Carvalho Urashima (CEFET-MG)

Resumo: Geossintéticos são materiais poliméricos em que ao menos um de seus componentes é


constituído de polímero sintético ou natural. Tais materiais têm sido empregados nas últimas
décadas em distintas aplicações de engenharia, o qual tem demandado o estudo da durabilidade
quando em contato com fatores do meio que possam culminar em sua degradação prematura. O
artigo apresenta uma análise do comportamento de durabilidade por intemperismo acelerado em
laboratório a partir da exposição de geotêxteis tecidos de polipropileno a diferentes ciclos climáticos,
de modo a ponderar a atuação dos elementos climáticos nos distintos mecanismos de degradação.
Os resultados apontaram em perdas de resistência mecânica principalmente nas condições de
ensaio com condensação. O presente trabalho almejou agregar informações aos estudos de
durabilidade por ação de fatores de intemperismo acelerado, considerando a real existência de
distintas condições climáticas em aplicações de campo de geotêxteis.

Palavras-chave: Geotêxtil, durabilidade, degradação acelerada, intemperismo.

376
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A durabilidade dos geossintéticos face aos agentes de degradação é um importante aspecto a ser
considerado para a análise de sua vida de serviço e adequação ao projeto. Devido à crescente
utilização destes materiais em situações de maior agressividade em obras geotécnicas e de proteção
ambiental, torna-se relevante a avaliação da sua durabilidade quando expostos a meios degradantes
(LOPES e LOPES, 2010).

A aplicação dos geossintéticos em distintas obras de engenharia melhoram a estabilidade e a


integridade em longo prazo de uma estrutura de solo, possuindo vantagens técnicas, ecológicas e
econômicas por necessitar de menor manipulação e transporte de recursos naturais. Com mais de
50 anos de utilização bem-sucedida, os geossintéticos estão bem estabelecidos em muitas
aplicações na Engenharia Civil. Atualmente, existe uma grande variedade de materiais e produtos
no mercado, e o número de diferentes usos para eles cresce continuamente (GREENWOOD,
SCHROEDER e VOSKAMP, 2012).

Durante o seu tempo de serviço, os geossintéticos podem estar sujeitos à ação de vários agentes de
degradação físicos, químicos e biológicos. É um consenso na literatura que a exposição de materiais
poliméricos a radiação solar, principalmente a parcela referente ao ultravioleta (UV), é uma das
principais causas de degradação destes materiais, sendo esta situação agravada pela temperatura
devido a radiação solar, presença de umidade, choque térmico ocasionado por chuvas, e demais
elementos climáticos específicos do local de exposição, dando origem a cisões da cadeia polimérica
(KOERNER, HSUAN e KOERNER, 1998; SHUKLA e YIN, 2006).

A energia da radiação ultravioleta induz a rupturas de ligações químicas em materiais poliméricos,


com ocorrência de reações oxidativas autocatalíticas denominadas de fotodegradação (ou foto-
oxidação), que são caracterizadas por quebras de ligações covalentes, na cadeia principal ou lateral,
originando espécies altamente reativas denominadas de radicais livres (DE PAOLI, 2008; SUITS e
HSUAN, 2003).

Uma exposição prolongada a esses mecanismos de degradação pode resultar em impactos negativos
nas propriedades dos geossintéticos, tendo potencial de reduzir consideravelmente a sua vida de
serviço (CARNEIRO, 2009). Cita-se, por exemplo, a aplicação de geotêxteis em obras costeiras, tais
como proteção de margens e quebra-mar, a construção de ilhas artificiais sendo estas estruturas de
proteção, bem como o seu uso em sistemas fechados para aplicações de desaguamento e
confinamento de resíduos e rejeitos produzidos em diversos processos industriais. Nestas

377
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

aplicações, os geotêxteis são suscetíveis a degradação por elementos ambientais (principalmente


radiação ultravioleta), degradação química e efeitos por danos de instalação, carregamentos cíclicos
e fluência à tração a longo prazo (GREENWOOD, SCHROEDER e VOSKAMP, 2012; GUIMARÃES et
al., 2017; HSIEN,WANG e CHIU, 2006; LAWSON, 2008; SARSBY, 2007; SHUKLA e YIN, 2006).

Nos últimos anos, a análise da durabilidade dos geossintéticos tem sido reportada pela comunidade
científica, projetistas e fabricantes como um importante aspecto a ser ponderado a estes materiais.
O maior domínio sobre os fatores que influenciam os processos de degradação, bem como o
emprego de ferramentas estatísticas para a ponderação da degradação são aspectos importantes
para garantir aplicações de longo prazo com segurança e qualidade.

Além disso, torna-se igualmente necessário conhecer o comportamento dos elementos climáticos
do local em que os geossintéticos serão empregados principalmente em situações de exposição
prolongadas. No caso do Brasil, foi publicado no ano de 2001, com uma última publicação em 2017,
um Atlas Brasileiro de Energia Solar (PEREIRA et al., 2017), que contém um levantamento da
distribuição da energia solar no território brasileiro a partir de dados climatológicos coletados
durante 10 anos. A partir desta publicação, é possível verificar a presença de macrorregiões que
apresentam radiação solar global (kWh/m2) semelhantes e outras regiões com radiação solar global
com níveis inferiores e superiores à média anual. Portanto, o levantamento da radiação solar global
incidente no local onde os geossintéticos serão aplicados de forma exposta deve fazer parte do
escopo do estudo de durabilidade as intempéries de campo.

Nesta temática, o artigo apresenta uma análise do comportamento de durabilidade por


intemperismo acelerado em laboratório a partir da exposição de geotêxteis a diferentes ciclos
climáticos, de modo a ponderar a atuação dos elementos climáticos nos distintos mecanismos de
degradação.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 GEOTÊXTEIS UTILIZADOS

Para o desenvolvimento da pesquisa, foi utilizado dois geotêxteis tecidos de laminetes com matriz
polimérica de polipropileno, os quais serão reportados como GT1 e GT2. A Tabela 1 sumariza os
parâmetros de caracterização física e mecânica destes geotêxteis.

378
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 1. Caracterização dos geotêxteis ensaiados.

Propriedades GT1(4) GT2(4)


Massa por unidade 273 g/m2 270 g/m2
área(1) (1,3%) (0,9%)
Espessura 0,96 mm 0,86 mm

nominal(2) (4,8%) (2,3%)

Resistência à tração 58,6 kN/m 57,5 kN/m

nominal(3) (2,2%) (2,7%)

Observações: (1)NBR ISO 9864 (2013), (2)NBR ISO 9863-1 (2013), (3)
ASTM D5035 (2011), (4)
Entre
parêntesis os respectivos coeficientes de variação.

Ressalta-se que a caracterização mecânica por resistência à tração nominal foi realizada a partir da
norma ASTM D 5035 (2011), que preconiza ensaios com corpos-de-prova de geotêxteis com largura
de 50 mm, distância entre garras de 75 mm e velocidade de tracionamento de 300 mm/min. A
escolha de ensaios de resistência à tração por faixa estreita foi tomada, bem como a opção pela
norma ASTM D 5035 (2011), em função das dimensões do suporte de amostras da câmara de
intemperismo acelerado, que comportam corpos-de-prova com dimensões máximas de 75 mm x
150 mm.

2.2 ENSAIOS DE INTEMPERISMO ACELERADO

Os geotêxteis foram submetidos a ensaios de intemperismo acelerado em laboratório, sendo


expostos a ciclos de Radiação UVA, chuva e condensação. Para a simulação desses mecanismos de
degradação foi utilizado uma câmara de intemperismo acelerado apresentada na Figura 1.

Figura 1. Câmara de intemperismo acelerado.

379
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

A câmara de envelhecimento utilizada possui compartimentos para exposição dos corpos-de-prova,


quatro lâmpadas UVA 340nm para simulação da radiação ultravioleta, bicos aspersores para o ciclo
de spray de água, bem como sistema de aquecimento de água para simulação de condensação

Figura 2. Detalhes da câmara de intemperismo acelerado.

Para a realização dos ensaios, os corpos-de- prova foram cortados com dimensão de 350mm x 70mm
e colocados dobrados, dois a dois, em suportes (Figura 3).

Figura 3. Fixação dos corpos-de-prova nos suportes para ensaios de intemperismo acelerado.

Os geotêxteis foram submetidos a dois diferentes condições de envelhecimento, denominados


tratamentos, sendo eles adaptações da norma EN 12224 (2000) conforme detalhes indicados na
Tabela 2.

380
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 2. Tratamentos utilizados na degradação dos geotêxteis

Número
Tratamentos Normas repetições de ciclos

1º EN 12224 (2000) 72
EN 12224 (2000) +
2º condensação (ASTM G 154, 72
2016)

Conforme é mostrado na Tabela 2, cada ciclo foi repetido 72 vezes, de modo que ao fim dos dois
primeiros tratamentos foram obtidos 50 MJ/m² para intensidade total de radiação UV,

equivalente a um mês de exposição no sul da Europa, conforme exposto na norma ISO TS 13434
(2008). A Tabela 3 detalha as condições de degradação por intemperismo.

Tabela 3. Condições de degradação por intemperismo acelerado.

Tempo do ciclo
Radiação UVA /

Condensação
Tratamento

Irradiância

Chuva

1º(1) 5hs (50°C) 1h --- 6h 00min


0,76 W/m² (25°C)

2º(2) 5hs (50°C) 1h 1h 7h 00min


0,76 W/m² (25°C) (50°C)

Observações: (1)Seguiu-se as condições da norma EN 12224 (2000), que especifica irradiância de 0,76 W/m² a 50ºC e
incidência total de 50 MJ/m2 (Tabela 2), e choque térmico com spray de água a 25ºC durante 1 hora; (2)Incorporação de
1 hora do evento de condensação a 50ºC na condição do 1º Tratamento. Na norma ASTM G
154 (2016) apresentam-se propostas de ciclos de intemperismo acelerado contendo o evento da condensação a
temperatura de 50ºC. Para efeitos desta pesquisa, adotou-se tempo de condensação de 1h.

O valor da irradiância de 0,76 W/m2 ou 0,076 mW/cm2 foi controlado com o auxílio de um
radiômetro (Figura 4).

381
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 4. Radiômetro utilizado para controle da irradiância

Após a exposição aos fatores de degradação simulados em laboratório, os corpos-de-prova foram


submetidos ao ensaio de tração por faixa estreita de acordo com a norma ASTM D 5035 (2011),
seguindo os mesmos procedimentos adotados na caracterização mecânica.

2.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS

Os dados obtidos nos ensaios foram submetidos a um tratamento estatístico por intervalos de
confiança de 95% pela distribuição t de Student. Esta distribuição estatística foi adotada, uma vez
que os materiais em estudo se comportam segundo uma distribuição Normal. Além disso, por não
se conhecer o desvio padrão populacional e por se trabalhar com amostragens n < 30 (TRIOLA, 2008).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Tabela 4 apresenta uma sumarização dos resultados de resistência à tração retida, bem como dos
percentuais de perdas de resistência.

Analisando a Tabela 4 foi possível constatar que todas as condições de envelhecimento geraram
perdas de resistência nos geotêxteis GT1 e GT2, sendo que as maiores ocorreram com os
tratamentos que contemplaram o ciclo de condensação. Para o GT1, obteve-se perda de 3,2% e o
GT2 com perda total de 8,2%.

Para uma melhor inferência a respeito dos resultados, a Figura 5 apresenta os resultados tratados
em termos de intervalos de confiança, considerando um nível de confiança de 95%.

382
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 4. Resultados de resistência à tração dos geotêxteis após ciclos de intemperismo acelerado.

Resistência àPerda resistência


tração retida mecânica (%)*
Geotêxtil Tratamento
(kN/m)*
01 57,5 1,9
GT1 (3,8%)
02 56,7 3,2
(2,1%)
GT2 01 56,5 1,7
(4,0%)
02 52,8 8,2
(4,6%)

Observação: *Entre parêntesis os respectivos coeficientes de variação.

a.Intervalos de confiança – GT1

b.Intervalos de confiança – GT2

Figura 5. Tratamento estatístico dos resultados por intervalos de confiança.

O geotêxtil GT1 apresenta intervalo de confiança correspondente ao material intacto entre 57,7 <
58,6 < 59,5 kN/m. Para o GT2, obteve-se 56,4 < 57,5 < 58,5 kN/m. Tomando os intervalos
supracitados, verificam-se a ocorrência de deslocamentos das faixa de intervalos correspondentes
aos ensaios de intemperismo acelerado à esquerda das faixas dos respectivos intervalos intactos.
Este comportamento foi mais acentuado para os tratamentos que incluiram o efeito da condensação
(1 h à temperatura de 50ºC).

383
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Deste modo, afirma-se com nível de confiança de 95% que os geotêxteis GT1 e GT2 sofreram
degradação em função da exposição por exposição a intemperismo acelerado, com a atuação da
condensação.

384
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

5. COMENTÁRIOS FINAIS

Com a análise dos dados obtidos, foi possível verificar a perda de resistência dos geotêxteis pela
exposição aos agentes de degradação considerados. Tanto para o GT1 quanto GT2, a maior perda
de resistência ocorreu no tratamento em que o material foi exposto a condensação, de modo mais
evidente para o GT2.

Esta pesquisa preliminar evidenciou a necessidade de se ponderar acerca de cada produto para uma
certa condição de exposição, que tende a se aproximar ao máximo das condições de campo os quais
estarão submetidos. Além disso, mesmo para ensaios do 1º Tratamento, que considera a condição
básica da norma EN 12224 (2000), que corresponde a exposição total de 50MJ/m2 com intercalações
de choques térmicos com spray de água, evidencia-se a importância do correto armazenamento dos
geossintéticos na fábrica e em campo preliminarmente a sua utilização, bem como da necessidade
de se cobrir tais materiais em aplicações nos quais não forem especificados para uso exposto ao
intemperismo.

Assim sendo, ressalta-se a importância de se respeitar os prazos estabelecidos pela norma ISO TS
13434 (2008) para tempos máximos de exposição após a instalação em função do percentual de
perda de resistência e da sua aplicação o qual foi especificado, principalmente se a resistência ao
longo prazo for a propriedade mais relevante. Contudo, tais prazos máximos também deverão ser
considerados a partir do estabelecimento da data de início da instalação em campo, uma vez que
em cada época do ano ocorre oscilações das incidências de radiação solar, ou seja, do ultravioleta,
bem como da temperatura de exposição, de maiores índices de precipitação e efeitos de
condensação e orvalho distintos.

O presente trabalho foi promissor no sentido de agregar informações aos estudos de durabilidade
por ação de fatores de intemperismo acelerado, considerando a real existência de distintas
condições climáticas em aplicações de campo de geotêxteis.

Por último, reitera-se a importância da continuidade desta pesquisa, com o intuito de melhor
compreender o comportamento de tais materiais considerando maiores níveis de radiação UV para
análise da influência deste agente no envelhecimento do material, bem como o estudo de outras
matrizes poliméricas, visto que cada polímero se comporta de maneira diferente.

385
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) e a


Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo apoio financeiro. A
Huesker pelo apoio e fornecimento do geotêxtil para a realização dos ensaios.

386
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

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ensaio para determinação da massa por unidade de área de geotêxteis e produtos correlatos. Rio de
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Determinação da espessura a pressões especificadas. Parte 1: Camada única. Rio de Janeiro.

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International, Pennsylvania.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

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Triola, M.F. (2008). Introdução à Estatística. 10º edição.Rio de Janeiro: LTC.

388
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

CAPÍTULO 24

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS DE
COMPRESSIBILIDADE DE MISTURAS SOLO-CAL

Gissele Souza Rocha (Universidade Federal de Viçosa)


Gustavo Diniz da Corte (Universidade Federal de Minas Gerais)
Heraldo Nunes Pitanga (Universidade Federal de Viçosa)
Taciano Oliveira da Silva (Universidade Federal de Viçosa)

Resumo: Aborda-se, no presente artigo, a compressibilidade de misturas solo-cal submetidas a


ensaios de adensamento com velocidade controlada de deformação (CRD). Os ensaios de
adensamento foram realizados sobre corpos de prova, compactados na energia Proctor Normal, de
um solo residual maduro da Zona da Mata Norte de Minas Gerais e de misturas deste solo com cal
nos teores de 1, 2, 3 e 4% de aglomerante, curados na temperatura de 22,8 oC e nos períodos de
cura de 7, 28, 90 e 180 dias. Com os incrementos do teor de cal e do período de cura, constatou-se
experimentalmente que as tensões de pré-adensamento sofreram aumento e que os índices de
vazios iniciais e os coeficientes de compressão e de recompressão diminuíram. Para as
particularidades da pesquisa, estes resultados indicam que a adição de cal e o aumento no período
de cura resultam em aumentos na rigidez e diminuições na compressibilidade do solo,
comportamentos geotécnicos que estão relacionados com o desenvolvimento das reações
pozolânicas nas misturas solo-cal.

Palavras chave: Compressibilidade, Estabilização Química, Solo-cal.

389
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

Via de regra, no âmbito da engenharia de solos, utilizam-se misturas solo-cal quando não se dispõe
de um material ou de uma combinação de materiais com as características de resistência,
compressibilidade e permeabilidade adequadas ao projeto geotécnico em análise. A estabilização
de solo com cal é comumente empregada na construção de estradas, sendo geralmente utilizada
quando do emprego desse solo em camadas de base ou de sub-base de pavimentos (INGLES &
METCALF, 1972; LIMA, 1981; CONSOLI, 2001).

No que se refere particularmente à compressibilidade, há poucos estudos dirigidos às misturas solo-


cal, principalmente em pesquisas com solos brasileiros, podendo-se referir, dentre outros, aos
trabalhos de Rajasekaran e Rao (2002), o qual trata da compressibilidade de uma argila marinha
estabilizada com cal, de De Brito Galvão et al. (2004), relacionado aos parâmetros de compactação
de solos estabilizados com cal, de Rao e Shivananda (2005), pertinente à compressibilidade de uma
mistura argila-cal, e de Singh et al. (2008), que estudaram a influência da cal nos parâmetros de
consolidação de solos da Índia.

Rajasekaran e Rao (2002), ao estudarem a compressibilidade de uma argila marinha estabilizada com
cal, relatam uma redução de 1/2 para 1/3 na compressibilidade do sistema solo-cal dentro de 30 a
45 dias de tratamento, assim como destacam a formação de vários compostos de cimentação
devidos às reações solo-cal, com melhoria das características mecânicas do solo com o tempo. Como
consequência, os resultados encorajam a aplicação de técnicas de injeção de cal visando à melhoria
do comportamento de engenharia de depósitos argilosos marinhos moles, porém os autores alertam
que é preciso ser cauteloso na aplicação da técnica solo-cal para a estabilização geotécnica de argilas
marinhas que contêm sulfato de sódio em sua composição mineralógica.

Em sua pesquisa, De Brito Galvão et al. (2004) enfatizaram os parâmetros de compactação de solos
estabilizados com cal ao investigarem o efeito da cal hidratada sobre a compressibilidade de dois
solos residuais brasileiros, a saber, um solo saprolítico e um laterítico. Os resultados obtidos por
esses autores mostraram uma melhoria substancial na compressibilidade dos solos com a adição de
4% de cal. Além disso, verificou-se que o tratamento com a cal mostrou-se eficaz quanto à
diminuição do potencial de colapso dos dois solos investigados, quando compactados em
densidades mais baixas do que a densidade seca máxima.

390
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Rao e Shivananda (2005), ao investigarem a compressibilidade de uma mistura argila-cal, concluem


que a estabilização com a cal provoca a formação de ligações de cimentação entre os colóides da
argila, o que aumenta sua resistência mecânica e reduz a sua compressibilidade.

Kassin e Clarke (1999) utilizaram o ensaio de adensamento CRD em uma argila caulinítica estabilizada
com cal para verificar a eventual alteração das suas características de compressibilidade. Os autores
utilizaram também o ensaio de adensamento convencional para fins comparativos e para verificar a
eficácia do equipamento por eles utilizado. Os resultados mostraram que a adição de cal e o tempo
de cura resultaram no aumento da rigidez das amostras, constatando-se, também, a similaridade
dos mesmos, ainda que determinados por métodos de ensaios diferentes.

Nesse contexto e considerando a necessidade de ampliação do banco de dados nacionais sobre o


tema, este artigo visa caracterizar a compressibilidade de misturas solo-cal submetidas a ensaios de
adensamento com velocidade controlada de deformação (CRD), em um solo residual maduro da
Zona da Mata Norte de Minas Gerais, através da variação dos parâmetros teor de cal e período de
cura.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 SOLO E ESTABILIZANTE QUÍMICO

O solo utilizado na pesquisa é um residual maduro de gnaisse, pedagogicamente classificado como


Latossolo Vermelho-Amarelo, apresentando horizonte B latossólico de tonalidade avermelhada,
aspecto poroso e granulometria argilo-areno-siltosa. A amostra deste solo foi coletada no horizonte
B de um talude de corte localizado no Alto dos Barbados, Campus Viçosa da Universidade Federal
de Viçosa (UFV), Minas Gerais, no ponto de coordenadas geográficas de posição 20o 45’ 11,1” de
latitude Sul e 42o 51’ 31,2” de longitude Oeste de Greenwich. As características geotécnicas deste
solo são apresentadas na Tabela 1.

391
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 1. Caracterização geotécnica do solo investigado

Propriedades Valores Referências


Argila (%) 71 ABNT, 2016a
Silte (%) 11 ABNT, 2016a
Areia (%) 18 ABNT, 2016a
LL (%) 82 ABNT, 2016b
LP (%) 44 ABNT, 2016c
IP (%) 38
ρs (g/cm³) 2,74 ABNT, 1984d
wot (%) 31,45 ABNT, 2016d
γd max(kN/m³) 13,72 ABNT, 2016d

LL: Limite de liquidez; LP: Limite de plasticidade; IP: Índice de plasticidade; ρs: massa específica dos grãos; wot: teor de
umidade ótimo; γd max: peso específico aparente seco máximo.

A cal hidratada utilizada apresenta as seguintes características principais: cor branca, textura
extremamente fina, inodora, pulverulenta e reatividade, em especial, com a fração argila do solo em
presença de água. Trata-se de uma cal do tipo CH-III, fabricada pela Indústria de Calcinação S.A.
(ICAL) sob a designação de Super cal e comercializada na cidade de Viçosa, Minas Gerais, Brasil.

2.2 ENSAIO DE ADENSAMENTO CRD

O ensaio de adensamento com velocidade controlada de deformação (CRD) foi realizado de acordo
com as recomendações da ASTM (2012). No presente estudo, utilizou-se este ensaio em substituição
ao ensaio de adensamento tradicional por se tratar de uma técnica mais apurada e que possibilita a
sua realização em tempo menor, adequando-se satisfatoriamente à necessidade de se analisar a
influência do período de cura na compressibilidade das misturas solo-cal.

A principal incerteza relativa ao ensaio consistiu na definição da velocidade a ser adotada, de


particular influência nos resultados obtidos. Nesta pesquisa, a velocidade adotada foi de 0,025
opressão
e ser inferior a
30%, para garantir a uniformidade da tensão vertical efetiva ao longo do corpo de prova.

Os corpos de prova das misturas solo-cal, com diâmetro de 6,35 cm e área de seção transversal
correspondente a 31,67 cm2, foram obtidos a partir de amostras compactadas na energia do ensaio
Proctor Normal (ABNT, 2016d) e posteriormente moldados no anel de adensamento. Para a sua

392
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

confecção, utilizaram-se os teores de 1, 2, 3 e 4% de cal com relação à massa de solo seco,


submetidos aos períodos de cura de 7, 28, 90 e 180 dias.

As quantidades de cal utilizadas nas misturas foram calculadas em relação à massa seca do solo e as
quantidades de água em relação à soma das massas de solo seco e cal. Para o início da compactação
dos corpos de prova, esperou-se o período de uma hora após a homogeneização da mistura solo-
cal-água, a fim de promover a ocorrência das reações de troca catiônica entre o solo e a cal.

A duração de cada ensaio de adensamento foi de aproximadamente 27 horas, sendo 24 horas


destinadas à saturação do corpo de prova e 3 horas à execução do ensaio. Além destes, foi realizado
o ensaio de adensamento na amostra de solo sem adição de cal, que ocorreu com duração
aproximada de 4 horas após sua saturação.

Após moldados, os corpos de prova foram medidos com paquímetro de 0,01 mm de resolução e
pesados com balança de 0,01 gde exatidão. Foram mensuradas as grandezas massa e altura e
determinado o teor de umidade, de forma a se determinar os índices físicos antes da saturação.
Procedeu-se com a aplicação de uma contrapressão de 100 kPa na realização dos ensaios, necessária
à completa saturação dos corpos de prova.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os corpos de provas para a realização do ensaio de adensamento CRD foram compactados na


energia Proctor Normal, com teor de umidade ótima de 31,45% e peso específico aparente seco
máximo de 13,72 kN/m3, e posteriormente moldados no anel de adensamento. Na Figura 1,
apresentam-se os resultados dos ensaios de adensamento CRD, na forma de curvas de variação do
índice de va
solo no estado natural (SN) e para as misturas solo-cal, considerando-se, respectivamente, as
influências dos teores de cal de 1, 2, 3 e 4% (Figuras 1a à 1d) e dos períodos de cura de 7, 28, 90 e
180 dias (Figuras 1e à 1h).

393
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 1. Índice de vazios em função da tensão vertical efetiva do solo e das misturas solo-cal.

Como se pode observar na Figura 1, as curvas de variação do índice de vazios com a tensão vertical
efetiva deslocam-se para a direita no eixo das abscissas (eixo das tensões) para aumentos no teor
de cal e no período de cura, comportamento este que se acentua com o aumento do nível de tensão
vertical efetiva. Isto pode ser constatado, por exemplo, através da análise visual da distância entre
as curvas correspondentes ao solo natural e às misturas, para o teor de cal de 4% (Figura 1d) e o
período de cura de 180 dias (Figura 1h). Notam-se, também, nestes deslocamentos, quedas na

394
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

variação da tensão vertical efetiva para uma mesma taxa de variação do índice de vazios. Tal fato
pode ser explicado através do desenvolvimento de reações pozolânicas, responsáveis pelo aumento
da rigidez e, consequentemente, pela diminuição da compressibilidade das misturas solo-cal, que
são diretamente dependentes do teor de cal e do período de cura das misturas.

A mistura solo-cal no teor de 1% de cal apresenta comportamento diferenciado quando comparado


ao das demais misturas em relação aos parâmetros obtidos no ensaio de adensamento CRD. Por
exemplo, para tensões verticais efetivas elevadas, na Figura 1a, tem-se a curva correspondente ao
período de 7 dias de cura evidenciando um comportamento menos rígido do que aquele do solo
natural. Por se tratar de um teor de cal relativamente pequeno, podem ocorrer locais preferenciais
de acúmulo de cal nas amostras no momento da homogeneização da mistura solo-cal para a
confecção dos corpos de prova a serem ensaiados, o que pode refletir na resposta mecânica
diferenciada desta mistura. Este comportamento pode ser observado, por exemplo, nas curvas
correspondentes ao teor de 1% de cal (Figura 1a), em que a curva correspondente a 180 dias de cura
deveria estar mais à direita no eixo das abscissas, com variação de intervalo menor de tensão vertical
efetiva.

A Tabela 2 traz os resultados dos parâmetros índice de vazios inicial, coeficiente de compressão,
coeficiente de recompressão e tensão de pré-adensamento, respectivamente, eo, Cc, Cr e ’vm,
provenientes das curvas obtidas no ensaio CRD que foram apresentadas na Figura 1. Os valores da
tensão de pré-adensamento, em kPa, foram estimados pelo método de Casagrande (1936). Os
valores dos índices de compressão e de recompressão foram obtidos através das declividades das
curvas e versus log ’v, localizados na posição entre 103 e 2x103 kPa no eixo das abscissas.

Na Tabela 2, observa-se que as tensões de pré-adensamento aumentam e os índices de vazios iniciais


e os coeficientes de compressão e de recompressão diminuem com os aumentos do teor de cal e do
período de cura. Estes resultados indicam que a adição de cal e o aumento no período de cura das
misturas resultam em aumentos na rigidez e diminuições na compressibilidade, os quais estão
relacionados com o desenvolvimento de reações pozolânicas.

395
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 2. Parâmetros obtidos das curvas de adensamento derivadas dos ensaios CRD.

Teor de Período de
e0 Cc Cr σ’vm (kPa)
cal (%) cura (dias)

7 0,80 0,274 0,152 251,67


28 0,80 0,266 0,148 348,21
1
90 0,76 0,250 0,142 379,21
180 0,70 0,232 0,136 392,73
7 0,79 0,270 0,151 331,61
28 0,79 0,264 0,147 360,71
2
90 0,72 0,244 0,142 455,82
180 0,72 0,242 0,140 485,82
7 0,78 0,262 0,147 566,99
28 0,77 0,242 0,137 636,78
3
90 0,75 0,223 0,127 672,07
180 0,71 0,216 0,126 693,55
7 0,79 0,203 0,113 596,78
28 0,78 0,196 0,110 659,58
4
90 0,74 0,188 0,108 837,39
180 0,74 0,163 0,094 859,09
Solo Natural 0,76 0,284 0,161 250,66

Em relação à variação da tensão de pré-adensamento das misturas solo-cal em função do


incremento do teor de cal, para a curva correspondente ao período de cura de 180 dias, no teor de
4% de cal, observa-se que ocorreu o aumento mais expressivo na tensão de pré-adensamento, de
aproximadamente 243% em relação ao solo natural (SN), embora em valor próximo do que se
observou para o período de 90 dias.

Esta constatação pode ser um indicativo de que, entre 90 e 180 dias, houve um decréscimo
significativo na taxa de ganho de resistência mecânica devido ao desenvolvimento de reações
pozolânicas ou pode representar uma limitação deste método de ensaio para a análise da
compressibilidade de materiais cimentados. Adicionalmente, deve ser feita referência ao ganho
expressivo no valor da tensão de pré-adensamento entre os teores de cal de 1 e 4%, no período de
cura de 7 dias, quando se observou aumento de 137%.

Através dos resultados apresentados na Tabela 2, percebe-se que Cc e Cr estão diretamente


relacionados entre si. Com a diminuição dos vazios da amostra, devido ao desenvolvimento de

396
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

reações pozolânicas ao longo dos períodos de cura e intensificadas pelos crescentes teores de cal,
houve aumento na resistência mecânica e redução na compressibilidade das misturas.

397
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. CONCLUSÕES

Considerando-se a resposta sob adensamento do solo e das misturas solo-cal investigados, a análise
dos resultados do presente estudo levou às seguintes conclusões:

 devido à adição de cal e aos crescentes períodos de cura nas misturas solo-cal, as tensões de
pré-adensamento aumentaram e os índices de vazios iniciais e os coeficientes de compressão
e de recompressão diminuíram;

 o ensaio de adensamento CRD proporcionou o conhecimento dos parâmetros de


compressibilidade do solo e das misturas solo-cal de maneira mais rápida e eficiente,
explicitando que, com os incrementos do teor de cal e do período de cura, as amostras se
apresentaram mais rígidas e, portanto, menos compressíveis.

398
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

5. REFERÊNCIAS

American Society for Testing and Materials. ASTM D4186. Standard test method for one-dimensional
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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

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400
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 25

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE FIBRAS


NATURAIS E FIBRAS SINTÉTICAS EMPREGADAS
COMO REFORÇO DE LATOSSOLOS

Luís Felipe dos Santos Ribeiro (Instituto Federal de Goiás)


André Augusto Nobrega Dantas (Instituto Federal de Goiás)
Thiago Augusto Mendes (Instituto Federal de Goiás)

Resumo: O emprego de fibras naturais e sintéticas como reforço estrutural de solos é uma técnica
que tem evoluído constantemente ao longo dos últimos anos. Alguns exemplos de aplicabilidade
para essa técnica são obras de aterro para pavimentação, reforço de taludes, dentre outras. Uma
vez que as fibras proporcionam ganhos de resistência a tração, melhores propriedades físicas como
maior Índice de Suporte Califórnia (ISC) devido a característica da fibra de se comportar bem quando
sujeita a aplicação de carga e aos deslocamentos provenientes da aplicação. Em determinadas
percentagens se tem a redução da umidade ótima e a redução de expansibilidade ao se comparar
aos solos naturais. Assim sendo, o presente trabalho apresenta um estudo comparativo entre a
utilização de fibras naturais, Sisal e Pena de galinha e fibras sintéticas, Polipropileno, para reforços
de latossolos. Desta forma, por meio dos resultados obtidos, concluiu-se que as fibras proporcionam
ganhos de até 30% de ISC, para os naturais, e 15% para as sintéticas. Todavia, a umidade ótima sofre
uma leve redução em baixas porcentagens, mas aumenta à medida que se adicionam maiores
quantidades de fibras naturais, isso se explica pela higroscopicidade das mesmas. Quanto às fibras
sintéticas, nota-se variações muito pequenas na umidade ótima não passando de 1%. Ao se tratar
da expansibilidade são notadas reduções para a adição de fibras, mas, por serem valores muito

401
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

pequenos, podem ser desprezados, tais melhoras tornam evidente a eficácia da técnica como
evidente a eficácia da técnica como reforço de latossolos.

Palavras-chave: Reforço de Latossolos, Melhoramento de Solos, Fibras Sintéticas, Fibras Naturais.

402
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

O reforço de solos com fibras naturais é uma técnica conhecida e utilizada pela humanidade a
bastante tempo. Indícios do emprego desta técnica também são encontrados em partes da Grande
Muralha da China e em estradas construídas pelos Incas, no Peru, empregando lã de lhama como
reforço (Palmeira, 1992).

O reforço pode ser entendido como uma melhoria das características do solo por meio de
processos físicos ou químicos. Diversas técnicas podem ser empregadas com o intuito de aprimorar
as características dos solos, como o uso de geossintéticos como geogrelhas, geotêxteis e
geomembranas. Outra técnica já consolidada, porém, em constante avanço, é a adição de fibras
naturais a solos de modo a otimizar o comportamento do mesmo. Exemplos de fibras naturais são:
Sisal, Pena de Galinha, Folha e Casca de Coqueiro, Folha e Bagaço de Cana-de-Açúcar e Bambu. As
fibras naturais possuem diversas vantagens quanto a sua utilização no Brasil, pois há grande
abundância de matéria prima o que resulta em baixo custo da aplicação desta técnica. Outra
vantagem quanto ao uso de fibras naturais é a possibilidade de modificá-las com agentes químicos,
como há casos de fibras de Sisal tratadas com impermeabilizantes de modo que reduza a capacidade
de absorção das fibras e se tenha um maior controle da umidade ótima do fibrossolo resultante.
Dessa forma, as mesmas se tornam mais propícias para a utilização sem que haja a degradação do
meio onde está sendo aplicada.

As fibras sintéticas possuem características de grande importância para a sua aplicação como
reforço de solos alguns exemplos de fibras sintéticas com grande empregabilidade são: Fibras de
politereftalato de etileno (PET), polipropileno, raspas de pneus, etc.

Segundo Casagrande (2006), as fibras de polipropileno possuem uma grande flexibilidade e


tenacidade em função de sua composição. Em conjunto dessas qualidades, as mesmas também
possuem grande resistência ao ataque de diversas substâncias químicas e aos álcalis.

Segundo Vendruscolo (2003), o melhoramento das propriedades dos solos reforçados com fibras
sintéticas depende de algumas variáveis, tais como: comprimento, teor, resistência, módulo de
elasticidade, rugosidade e orientação do reforço.

A evolução da técnica de reforço de solos por meio da adição de fibras passa por inúmeros avanços
e cada dia se sabe mais sobre tal. Trindade et al., 2004, Donato, 2004 e Casagrande et al., 2002, são
autores que contribuem diretamente nesta evolução. Como resultado de tais estudos, pode-se
observar grande melhorias nos fibrossolos desenvolvidos. Aumento do ISC, redução da umidade

403
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

ótima, redução da expansibilidade, ganho de resistência mecânica são alguns exemplos. Portanto, é
notório a eficiência do melhoramento de solos com a adição das fibras.

Sobre uma visão sustentável e as tendências mundiais ao se pensar em conservação ambiental,


pode-se observar o papel da técnica de reforço estrutural com fibras, tanto naturais quanto
sintéticas, como uma forma de reciclagem de certos compostos amplamente produzidos no Brasil:
PET’s, Penas de Galinhas, Borrachas de Pneu. Assim sendo, pode-se então concluir que essa técnica
é colaborativas ao se tratar de sustentabilidade e conservação ambiental.

Considerando as diversas possibilidades apresentadas nesta pesquisa de fibras naturais e sintéticas


que podem ser utilizadas como reforço de solos e as diferentes possibilidades já citadas quanto ao
uso das mesmas. Esse estudo visa compreender e comparar diferentes tipos de fibras quando
empregadas como reforço de latossolos.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia utilizada para a realização deste trabalho consistiu em levantar artigos científicos que
abordam o uso fibras naturais como reforço de solos e também levantar trabalhos que abordam o
uso de fibras sintéticas como reforço de solos. Após o levantamento dos mesmos, leitura e
compreensão, foram realizados os estudos comparativos, por meio de gráficos e observações, entre
3 tipos de fibras, sendo elas: Pena de Galinha, Sisal e Polipropileno. Finalizou-se com a classificação
dos solos devido às suas novas propriedades e também analisou-se as aplicabilidades dos materiais
resultantes após o incremento das fibras.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A seguir serão apresentadas as características mais relevantes referentes às fibras naturais e as fibras
sintéticas estudadas nesta pesquisa através dos ensaios de ISC, Limite de Liquidez, Limite de
Plasticidade. As fibras foram adicionadas a diferentes tipos de solos localizados no Distrito Federal,
Ouro Preto e Ceará.

404
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3.1 FIBRAS NATURAIS

3.1.1 FIBRA DE PENA DE GALINHA

Os dados apresentados na tabela 1 representam os valores obtidos com os ensaios para


determinação das propriedades antes e depois da adição de penas de galinha a um solo da
Universidade de Brasília, com o propósito de compreender as alterações sofridas pelo mesmo.

Tabela 1. Valores de parâmetros de solo laterítico de Brasília.

Propriedades Valor

Limite de Liquidez 48 %

Limite de Plasticidade 31 %

Índice de Plasticidade 17 %

Umidade Ótima 28,3%

Após descobrir os valores para as propriedades preliminares do solo sem a adição das fibras, foram
adicionadas diferentes percentagens, em massa, de fibras ao solo, resultando assim em diferentes
amostras. A figura 1 representa as variações de Umidade Ótima e Massa Específica Seca do solo
ensaiado. Esta a redução da umidade ótima e da massa específica seca. Após ultrapassar 0,75 % de
fibras no solo a umidade ótima começa a aumentar, dessa forma, não se torna interessante obter os
valores de umidade ótima para teores acima de 0,75%.

30
28,3
27,00
26,1
25 26,00

20

15 14,6
13,9

10
0% 0,50% 0,75%

ϒs(kN/m³) Ho(%)

Figura 1. Variação da Umidade ótima, ISC e Massa específica seca do solo com adição de penas de galinha.

405
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3.1.2 FIBRA DE SISAL

Os dados para o solo utilizado para estudar as fibras de sisal estão presentes tabela 2. Eles
representam os valores obtidos com os ensaios para determinação das propriedades antes e depois
da adição das fibras de penas de galinha a um solo da Universidade Federal de Ouro Preto, com o
propósito de compreender a alterações sofridas pelo mesmo.

Tabela 2. Valores de parâmetros de solo laterítico de Ouro Preto.

Propriedades Valor

Limite de Liquidez 30,4 %

Limite de Plasticidade 18,5 %

Índice de Plasticidade 11,6 %

Umidade Ótima 18,3 %

Ainda sobre o viés da adição de fibras naturais, seguem os dados adquiridos para a análise da adição
de fibras de Sisal a solos lateríticos:

A figura 2 mostra as alterações na umidade ótima e na massa específica aparente seca em relação
ao teor de fibra adicionado. Observa-se que para o caso das fibras de Sisal a umidade ótima aumenta
resultando em uma diferença com as fibras de galinha, pois a adição da mesma resulta na redução
da umidade ótima, mesmo que em pequena escala. Tal diferença se dá devido à higroscopicidade
das fibras de Sisal, tal propriedade pode ser tratada por meio de produtos impermeabilizantes,
sendo este objeto de estudo em pesquisas futuras.

21 20,6
20,5
20 20
19,6
19,5
19,0 19,5
19 19,0
18,4 18,6
18,5
18,5
18,3
18
- 0,25% 0,5% 0,75% 1%

Ho (%) ϒs(kN/m³)

Figura 2. Variação de Umidade ótima e Massa específica seca do solo com adição de fibras de Sisal.

406
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Outro ponto observado é o ganho de resistência mecânica do solo reforçado. A figura 3 denota o
aumento considerável de Índice de Suporte Califórnia na qual cada fibra proporciona para os solos
adicionados. Tal aumento se explica pelo principio dos compositos na qual a características das fibras
de resistir bem a flexão é compartilhada com o solo proporcionando o ganho de flexão do mesmo.

49
42
39
32
29
18,7 18,7
19
12,3
9 10
25% 50% 100%
ISC(%) (Penas) ISC(%) (Sisal)

Figura 3. Ganho de ISC sofrido pelos solos quando adicionado fibras de pena de galinha e fibras de Sisal.

3.2 FIBRAS SINTÉTICAS

3.2.1 FIBRAS DE POLIPROPILENO

Para o solo presente na região do Ceará, utilizado para testar as melhorias proporcionadas pelas
fibras de polipropileno, foram realizados ensaios para determinar das suas propriedades antes de se
adicionar as fibras. Seguem os valores obtidos:

Tabela 3. Valores de parâmetros de solo laterítico de Brasília.

Propriedades Valor

Limite de Liquidez 31,50 %

Limite de Plasticidade 23,77 %

Índice de Plasticidade 7,73 %

Umidade Ótima 14,02 %

Ao se analisar a adição de fibras de polipropileno, pode-se notar que não há tanta variação ao se
tratar da umidade ótima da amostra ensaiada. Entretanto, para a linha que representa o aumento
do ISC pode-se notar um grande aumento. Isso novamente se deve a característica de
higroscopicidade da fibra, que nesse caso é baixa, não influenciando gravemente nos valores de

407
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

umidade ótima. Quanto a expansibilidade, é notório que há uma variação considerável, portanto, é
observável que determinadas percentagem possuem baixo grau de expansão, ou seja, essas são
recomendadas para serem usadas em obras geotécnicas.

16 14,02 13,57 14,3 40


13,52 13,52
14 35
12 36 30
10 30,8 31,3 25
29,1
8 20
6 19,1 15
4 2,4 2,6 2,8 10
2 0,5 0,5 5
0 0
0% 0,50% 1% 1,50% 2%

Ho Expansibilidade x 10 ISC

Figura 4. Variações de Umidade ótima, Massa específica seca e expansibilidade do solo quando adicionado
fibras de polipropileno.

Para o estudo abordado, o solo ensaiado é característico do estado do Ceará, e considerando os


teores de fibras ensaiados, o valor ótimo para a adição das fibras está em torno dos 0,5%.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. CONCLUSÕES

O incremento de fibras naturais é eficiente em diversos pontos: Baixo custo quando se comparado
com os ganhos de resistência mecânica, tração e cisalhamento, e melhorias proporcionados.
Possibilidade de tratamento das fibras sem que haja danos ao meio ambiente e sustentabilidade.
Para o estudo na qual foi adicionado fibras de pena de galinha como reforço estrutural de latossolos
houve um ganho de considerável de resistência à tração, representado pelo aumento do ISC, que
chegou a 32%. Todavia houve o aumento da umidade ótima a partir do momento em que o teor de
fibras ultrapassou 0,5%, fenômeno explicado também pela higroscopicidade da fibra. Este
influenciará em todos os casos onde se tem fibras naturais, entretanto, pode se cogitar um
tratamento de impermeabilização das fibras antes de usá-las. Ao se tratar de expansibilidade os
valores não possuem relevância, pois os mesmos encontram-se dentro dos valores estabelecidos
segundo a classificação presente no manual do DNIT (2006) para camadas de pavimentos.

Ao se considerar os resultados obtidos para os casos na qual se incrementou fibras naturais, pode-
se observar que o incremento de fibras naturais e sintéticas resultou no ganho de ISC, implicando na
possibilidade de se utilizar os fibrossolos resultantes como camada de sub-base de pavimentação.

O aumento da umidade ótima consignado ao ganho de resistência mecânica, tendo em vista que as
fibras se comportam bem ao incremento de carga, sem que se altere o seu comportamento ao se
tratar de expansão. Já o aumento de umidade ótima se explica pela higroscopicidade das fibras.

Ao se pensar nas alterações sofridas pelo solo quando se adicionado fibras de polipropileno, é
notório o ganho de ISC, todavia para esse material não houve grande aumento na umidade ótima,
fator também explicado pela higroscopicidade da fibra, que nesse caso, é muito baixa. Para esse
caso, foi observado que o teor ótimo, em massa, de fibras de polipropileno é de 0,5%, pois há um
ganho significante de ISC, porém se tem uma redução da umidade ótima e o valor da expansibilidade
é tão baixo a ponto de ser desprezado. Nessa situação, o solo reforçado com fibras de polipropileno
se torna viável como material de sub-base de pavimento, tendo em vista a tabela do DNER que
recomenda solos com ISC maior ou igual a 20 % e expansibilidade menor que 1% para tal camada.
Solos com baixa expansibilidade são recomendáveis para utilização em taludes.

Os resultados obtidos e apresentados nos artigos se mostraram eficazes mostrando o potencial das
fibras como reforço de solos. As fibras sintéticas merecem uma melhor atenção devido a
higroscopicidade das mesmas. Já as sintéticas, merecem atenção, pois as mesmas são grandes
poluidoras do meio ambiente, sendo assim, usá-las como reforço estrutural é uma forma muito

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

sustentável de se reutilizar as mesmas tendo em vista que as mesmas também são eficazes ao se
pensar em usá-las como reforço. A grande diferença até então entre as fibras sintéticas e naturais,
está na forma em que elas influenciam na umidade ótima, pois para as fibras vegetais se tem grandes
variações, porém para as fibras sintéticas não se tem o mesmo fenômeno.

Como sugestão para próximos estudos, pode-se pensar em formas de se aprimorar a questão da
higroscopicidade das fibras vegetais.

410
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

5. BIBLIOGRAFIA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6459: solo – determinação do limite de


liquidez. Rio de Janeiro, 1984.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6502: Rochas e solos. Rio de Janeiro, 1995.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6508: Grãos de solos que passam na peneira
de 4,8mm – Determinação da massa específica. Rio de Janeiro, 1984.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7181: solo – análise granulométrica. Rio de
Janeiro, 1984.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7182: solo – ensaio de compactação. Rio de
Janeiro, 1986.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9895: Solo – Índice de Suporte Califórnia. Rio
de Janeiro, 1987.

AYALA, RJ Llanque; DE CARVALHO, J. Camapum; HERNÁNDEZ, Ana Laura Martínez. Melhoria de Solos
com Fibras Naturais–Penas de Frango. 2016. Inovação e Tecnológica. Disponível em: Acesso em: 19
out. 2016.

CASAGRANDE, M.D.T.; Consoli, N.C. (2002). Estudo do comportamento de um solo residual areno-
siltoso reforçado com fibras de polipropileno, Solos e Rochas: Revista Latino-Americana de
Geotecnia, Vol. 25, n.3, p. 223-230.

CASAGRANDE, M. D. T., Coop, M. R.; Consoli, N. C. (2006). The behavior of a fiber-reinforced


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132, p. 1505- 1508.

CLAUMANN,C.D.S; Comportamento de solos siltosos quando reforçados com fibras e melhorados


com aditivos químicos e orgânicos. Curitiba, 2007. Dissertação(Mestrado em Engenharia) – UFPR..
Geossintéticos 92... Brasília, p.1-12, 1992.

DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. Manual de pavimentação. 3.


ed. Rio de Janeiro: [s.n.], 2006.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

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para materiais geotécnicos. Solos e Rochas, v. 27, n. 2, p. 161-176.

NOGAMI, J. S.; VILLIBOR, D. F. Os Solos Tropicais Lateríticos e Saprolíticos e a Pavimentação. In: 18ª

PALMEIRA,E. M. Geossintéticos: tipos e evolução nos últimos anos. In: SEMINÁRIO SOBRE
APLICAÇÕES DE GEOSSINTÉTICOS EM GEOTECNIA.

TRINDADE, T. P.; LASBIK, I.; LIMA, D. C.; SILVA, C. H. C.; BARBOSA, P. S. A. Latossolo vermelho –
amarelo reforçado com fibras de polipropileno de distribuição aleatória: estudo em laboratório.
Minas
Gerais, p.6 ,2004.

VENDRUSCOLO, M.A. (2003). Comportamento de ensaios de placa em camadas de solo melhoradas


com cimento e fibras de polipropileno. Porto Alegre, Tese (Doutorado em Engenharia) - Programa
de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFRGS, 224.

412
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 26

SINERGISMO DE DEGRADAÇÃO EM
GEOTÊXTEIS: ENSAIOS LABORATORIAIS SOB
FLUÊNCIA À TRAÇÃO, TEMPERATURA E
INCIDÊNCIA DE RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA

Denise de Carvalho Urashima (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais)


Plínio Marcos Lemos Silva (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais)
Mag Geisielly Alves Guimarães (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais)
Carlos Alberto Carvalho Castro (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais)

Resumo: Geotêxteis são produtos poliméricos empregados na engenharia civil e sua eficácia está
ligada entre outros fatores a sua capacidade de manter propriedades funcionais durante o tempo
de vida de serviço. O artigo traz resultados sobre o comportamento de geotêxteis tecidos de
polipropileno em ensaios de degradação acelerada em laboratório por incidência de radiação
ultravioleta (UV-A), temperatura e fluência. Amostras dos geotêxteis tecido de polipropileno foram
expostas a 360 MJ/m2 de radiação UV-A e em dois níveis de temperatura (30 e 70ºC), as perdas de
resistência à tração foram de 4,20% para 30ºC e 6,4% para 70ºC. Após ensaios de fluência com 15%
da carga de resistência à tração média, em condições térmicas idênticas as supracitadas, para análise
de sinergia, as perdas foram de 5,8% e 17,9%, respectivamente. Os resultados dos ensaios
demostram a relevância da temperatura na aceleração da degradação mecânica por fluência.

Palavras-chave: Degradação. fluência, sinergia, vida de serviço.

413
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

Os geotêxteis são materiais produzidos a partir de matriz polimérica, possuindo uma larga aplicação
em projetos geotécnicos e de proteção ambiental (ISO 10318, 2015).

A vida útil dos geotêxteis pode variar muito, visto que estes materiais podem exercer distintas
funções dentro da engenharia civil. Dado a relevância das consequências que a ocorrência de falhas
pode gerar, é importante estudar e prever a durabilidade dos mesmos em situações características
(ISO TS 13434, 2008).

A durabilidade dos geotêxteis, assim como quaisquer outros tipos de geossintéticos, depende de
vários fatores, mas, principalmente, do tipo polimérico, da função específica a ser desempenhada,
bem como do meio ambiente a que estes materiais serão expostos ao longo do tempo. Estudos
laboratoriais ou de campo têm sido realizados nos últimos anos, porém este assunto ainda necessita
de estudos complementares, tendo em vista a heterogeneidade do comportamento das cadeias
poliméricas frente aos diversos agentes de degradação e como se dá o seu envelhecimento ao longo
do tempo (SARSBY, 2007; ASTM D 5819, 2018 e ISO TS 13434, 2008).

É um consenso na literatura que certos comprimentos de onda dentro do espectro da energia de


radiação (particularmente a radiação ultravioleta-UV presente no espectro solar) são nocivos aos
materiais poliméricos. Assim, no emprego dos geotêxteis em funções onde há a possibilidade de
exposição a componente UV, é necessário considerar a probabilidade do acontecimento de
degradação, pois a radiação estimula a foto-oxidação, o que promove a cisão das cadeias
moleculares e o desencadeamento de reações por radicais livres. Se tal processo ocorre, as cadeias
moleculares degradam, resultando numa redução substancial da resistência mecânica (SUITS e
HSUAN, 2003).

A fluência à tração é um fator importante aser ponderado na concepção e desempenho de algumas


estruturas, tais como estruturas de contenção, aterros sobre solo mole, reforços de fundação,
sistemas de desaguamento e retenção de rejeitos, aplicação em obras costeiras, tais como proteção
de margens e quebra-mar, construção de ilhas artificiais sendo estas estruturas de proteção, entre
outras aplicações, onde os geotêxteis são submetidos a tensões de tração elevadas por longos
períodos de tempo (GREENWOOD, SCHROEDER e VOSKAMP, 2012; GUIMARÃES et al., 2017;
HSIEN,WANG e CHIU, 2006; LAWSON, 2008; SARSBY, 2007; SHUKLA e YIN, 2006).

Assim sendo, considerando a importância da análise do desempenho dos geotêxteis ao longo de sua
vida de serviço, bem como as dificuldades encontradas para realizar esta previsão, o presente artigo

414
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

apresenta resultados laboratoriais da avaliação ensaios de degradação por incidência de radiação


ultravioleta UV-A e ensaios de fluência à tração, com carga equivalente a 15% da carga à tração média
do material intacto, acelerado por temperatura e incidência de UV-A, simultaneamente para análise
da sinergia dos efeitos destes fatores sobre a durabilidade de geotêxteis tecido de polipropileno.

Por conseguinte, os referidos resultados se deram por meio da submissão do geotêxtil em estudo
sob ensaios de fluência, considerando dois distintos níveis de temperaturas e um nível de radiação
UV-A, avaliando os dados obtidos por meio de ferramentas estatísticas, as quais foram empregadas
para compreender as distintas relações estresse-resposta.

As análises das variáveis respostas, obtidas dos ensaios de resistência à tração antes e após o
sinergismo de degradação foram possíveis devido ao equipamento projetado e construído. Com isso,
favoreceu os ensaios acelerados de fluência à tração, por temperatura e incidência de UV-A
verificando a sua eficácia para a predição da vida de serviço dos geotêxteis e produtos correlatos.
Isso colaborou para ensaios mais curtos do que em campo, contribuindo para o estado da arte em
relação à durabilidade dos geossintéticos.

2. CONCEITUAÇÕES

2.1 ENSAIOS DE TRAÇÃO

A resistência à tração de um geotêxtil se refere à carga máxima suportada pelo mesmo, em uma
velocidade constante, até o rompimento de suas tramas.

Basicamente existem normatizados dois tipos de ensaios de resistência à tração para determinar a
resistência à tração de geotêxteis e correlatos: faixa larga (largura de 200 mm) e faixa estreita
(largura de 50 mm). Ressalta-se que, dependendo da norma empregada, numa mesma largura a
distância entre garras pode variar e, portanto, a velocidade de ensaio também, para que possa haver
compatibilidade de resultados (ISO 10319, 2015; ASTM 5035, 2011; ISO EN 13934-1, 2013).

2.2 ENSAIOS DE FLUÊNCIA À TRAÇÃO NÃO CONFINADA

Fluência é um termo referente ao comportamento elasto-viscoplástico de corpos quando esses são


submetidos a carregamento constante por longos períodos. Quanto maior a carga aplicada menor o
tempo até a ruptura do mesmo. Porém, alguns fatores podem ter influência sobre esse processo,
tais como o tipo de material constituinte do corpo, a temperatura, umidade e a incidência de

415
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

radiação ultravioleta (COSTA, 1999; DEN HOEDT, 1986; FRANÇA, BUENO e ZORNBERG, 2011;
SAWICKI e KAZIMIEROWICZ- FRANKOWSKA, 1998).

Quando colocado sobre fluência, os geotêxteis evidenciam até três fases distintas denominadas de
fluência primária, secundária e terciária. Em função do tipo de polímero empregado na fabricação
do geotêxtil, é possível que uma dessas fases não fique evidente e ocorra a predominância de outro
estágio (COSTA, 1999).

Ensaios de fluência à tração podem ser realizados segundo as normas NBR 15226 (2005) e ASTM D
5262 (2012), queespecificam níveis de cargas, intervalos de tempo para verificação de deformações
sob fluência, dentre outras informações.

A realização de ensaios de fluência à tração em laboratório é de grande relevância técnica, tendo


em vista a avaliação do comportamento destes materiais sob carregamentos em termos de
resistência à tração e deformações, além da obtenção de fatores de redução parciais a serem
aplicados em projeto (FRANÇA, BUENO E ZORNBERG, 2011).

Também, a partir da definição do tempo de vida de serviço, é possível realizar uma previsão de qual
seria a carga que ocasionaria uma ruptura sob fluência de geossintéticos em aplicações em obras
geotécnicas e ambientais (COSTANZI et al., 2003).

2.3 DEGRADAÇÃO DE GEOSSINTÉTICOS

A degradação de um geossintético resulta de mudanças fundamentais do polímero constituinte de


sua matriz, podendo comprometer a sua vida de serviço. Vários são os agentes degradantes, tais
como intempéries, substâncias químicas, esforços mecânicos, entre outros, que tem como
consequência o envelhecimento prematuro destes materiais (ISO TS 13434, 2008).

Este artigo tem como foco principal apresentar a degradação por ação isolada e conjunta da radiação
ultravioleta (UV-A) e temperatura, uns dos principais agentes de degradação por intempéries, e da
ação do esforço mecânico por fluência à tração.

A energia da radiação ultravioleta induz a rupturas de ligações químicas em materiais poliméricos,


com ocorrência de reações oxidativas auto catalíticas denominadas de fotodegradação (ou foto-
oxidação), que são caracterizadas por quebras de ligações covalentes, na cadeia principal ou lateral,
originando espécies altamente reativas denominadas de radicais livres (KOERNER, HSUAN e
KOERNER., 1998; SUITS e HSUAN, 2003).

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

O efeito da temperatura, por exemplo, pode afetar o comportamento mecânico dos geotêxteis ou
correlatos empregados como reforço de solos, visto que a temperatura do solo só passa a ser
constante para grandes profundidades (mais de 10 m), o seu valor em profundidades menores é
então igual à temperatura atmosférica média (SEGRESTIN e JAILLOUX, 1988). E no caso de solos
reforçados que empregam faceamento a variação de temperatura é ainda maior, pois além de
combinar o efeito da radiação solar na profundidade, ainda existe um acréscimo de temperatura nas
proximidades do faceamento do muro de contenção onde as cargas no reforço são altas e sofrem
maior efeito da fluência, durante toda a vida de serviço (MURRAY, FARRRAR, 1988).

Cargas mais elevadas em última análise podem conduzir à ruptura por fluência à tração
(GREENWOOD, SCHROEDER e VOSKAMP,

2012). Quanto maior a carga aplicada, mais curto o tempo de ruptura. Assim, a carga de concepção
também irá limitar o tempo de vida de serviço do geotêxtil. Ressalta-se ainda que a fluência à tração
é mais acentuada em polietileno (PE) e polipropileno (PP) do que em poliéster (Tereftalato de
polietileno (PET)). Como os polímeros são materiais visco elásticos, taxas de deformação e
temperatura são importantes fatores a serem considerados nos ensaios para análise da vida de
serviço de materiais constituídos por matriz polimérica (CARNEIRO, 2009 e FRANÇA, 2012).

3. METODOLOGIA

3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O desenvolvimento da pesquisa reuniu projeto e execução dos pórticos de fluência com possibilidade
de realizar ensaios acelerados com distintos níveis de temperatura, bem como possibilidade de
incidência de distintos níveis de radiação UV-A.

Posteriormente a execução dos pórticos de fluência, foram realizados ensaios para caracterização
mecânica por resistência à tração (ASTM D 5035, 2011) do geotêxteil tecido de polipropileno intacto
empregado na pesquisa. A referida norma preconiza o emprego de corpos de prova com 50 mm de
largura e fixados a uma distância entre garras, superior e inferior, de 75 mm e tracionados com uma
velocidade de 300mm/min.

A sequência metodológica empregada no desenvolvimento da pesquisa é ilustrada na Figura 1.

417
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Os ensaios de resistência à tração também foram realizados conforme preconiza a norma ASTM 5035
(2011) no sentido de avaliar a degradação sofrida pelo geotêxtil submetidos aos ensaios de fluência
em laboratório e campo, quando comparados resultados de ensaios à tração de geotêxteis de
amostras intactas.

Para realização dos ensaios de tração do material em estudo foi empregado uma Máquina Universal
para Ensaio de Tração e Compressão a Figura 2 demonstra a fixação de uma amostra de geotêxtil,
na Máquina Universal.

Figura 1. Fluxograma da pesquisa.

Figura 2. Fixação de amostra na Máquina Universal.

418
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3.2 ENSAIO DE SINERGIA DE DEGRADAÇÃO POR RADIAÇÃO UV-A, TEMPERATURA E FLUÊNCIA


À TRAÇÃO.

Todas as situações simuladas foram feitas em duplicidade, a fim de ter réplica dos resultados,
viabilizando a análise dos erros estatísticos envolvidos no experimento.

Foram simuladas em laboratório as seguintes situações de degradação:

 Incidência de radiação UVA (irradiância de UVA para 0,230 W/m2/n.m) + aquecimento à


temperatura média de 30ºC.

 Incidência de radiação UVA (irradiância de UVA para 0,230 W/m2/n.m) + aquecimento à


temperatura média de 70ºC.

Ressalta-se que nesta primeira etapa as amostras não foram submetidas à fluência.

Posteriormente, para realização dos ensaios de fluência, as amostras foram submetidas as seguintes
situações:

 Fluência à tração (com 15% de carga) + incidência de radiação UVA (irradiância de UVA para
0,230 W/m2/n.m) à temperatura média de 30ºC;

 Fluência à tração (com 15% de carga) + incidência de radiação UVA (irradiância de UVA para
0,230 W/m2/n.m) + aquecimento à temperatura média de 70ºC.

Os ensaios foram realizados durante trinta e cinco dias. Neste período, a radiação ultravioleta UV
incidida total sobre cada uma das amostras em todas as situações simuladas foi de 360 MJ/m2 de
radiação UVA.

A Figura 3 apresenta o pórtico empregado na pesquisa, aberto, visto que o mesmo foi revestido
com madeira nas laterais e topo para manter a temperatura e prover somente as amostras com
radiação UVA.

Ressalta-se ainda que os pórticos possuíam portas frontais para que as medições e
acompanhamento do comportamento das amostras durante os ensaios.

419
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 3. Pórtico de simulação de degradação, com as portas frontais abertas.

3.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Depois de transcorridos os testes, os resultados de resistência à tração foram analisados e


comparados com os parâmetros do material intacto a partir da ponderação estatística por intervalos
de confiança (IC).

Em termos conceituais, o IC é um dos elementos mais importantes da inferência estatística, pois é a


partir deste em conjunto com um estudo amostral que se torna possível estimar, com uma confiança
elevada, qual é a faixa de valores que tem certa probabilidade de conter no seu interior o verdadeiro
valor do parâmetro populacional em análise (MONTGOMERY, 2008).

Para tanto, é necessário associar ao IC um nível de confiança, que é a probabilidade 1 -  que o


intervalo de confiança realmente contém o parâmetro populacional, supondo que o processo de
estimação seja repetido um grande número de vezes. Segundo Triola (2008), o nível de confiança
mais comum de escolha é de 95% (com  = 0,05).

Os intervalos de confiança foram obtidos a partir da distribuição t de Student, pois os geotêxteis em


estudo se comportam segundo distribuição Norma, por se utilizar amostragens n < 30 e por não se
ter conhecimento acerda do desvio padrão populacional (TRIOLA, 2008).

420
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. RESULTADOS

4.1 CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DO GEOTÊXTIL INTACTO

A Figura 4 mostra resultados do ensaio de resistência à tração do geotêxtil intacto tanto no sentido
transversal quanto longitudinal de fabricação, em termos de intervalo de confiança.

Figura 4: Intervalo de confiança, com nível de confiança de 95%, para resistência tração no sentido
longitudinal e transversal.

Analisando o resultado, no sentido longitudinal a amostra apresentou uma menor variabilidade dos
resultados de resistência à tração, quando comparado com o sentido transversal. Os cortes das
amostras para os ensaios foram realizados no sentido longitudinal de fabricação.

4.2 ENSAIOS DE DEGRADAÇÃO SOB EFEITO DE INCIDÊNCIA DE UV-A E TEMPERATURA.

A Figura 5 apresenta resultados de resistência à tração das amostras quanto submetidas às seguintes
condições de ensaio em termos de intervalo de confinça:

 360 MJ/m2 de radiação UV-A + aquecimento à temperatura média de 30ºC;

 360 MJ/m2 de radiação UV-A + aquecimento à temperatura média de 70ºC.

Figura 5: Intervalo de confiança, com nível de confiança de 95%, das resistências à tração para amostras
degradas por UV-A e temperaturas em relação a amostra intacta.

421
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

A partir da Figura 5, verifica-se que os resultados em termos de percentuais de perda, em relação ao


geotêxtil intacto, foram de 4,2% para a condição de 360 MJ/m2 de radiação UV- A à temperatura de
30ºC. Já para a temperatura de 70ºC, o percentual de perda total atingido foi de 6,4%.

4.3 ENSAIOS DE DEGRADAÇÃO SOB EFEITO DE INCIDÊNCIA DE UV-A, TEMPERATURA E


FLUÊNCIA.

A Figura 6 apresenta resultados de resistência à tração das amostras quanto submetidas às seguintes
condições de ensaio em termos de intervalo de confinça:

 360 MJ/m2 de radiação UV-A + aquecimento à temperatura média de 30ºC + fluência com
15% da carga;

 360 MJ/m2 de radiação UV-A + aquecimento à temperatura média de 70ºC + fluência com
15% da carga.

Figura 6: Intervalo de confiança, com nível de confiança de 95%, das resistências à tração para amostras
degradas por UV-A, temperaturas e fluência relação a amostra intacta.

Nos ensaios de fluência com 15% da carga, considerando as condições térmicas e de incidência de
radiação UV-A supracitadas, para análise de sinergia, as perdas foram de 5,8% (temperatura de 30ºC)
e de 17,9% (temperatura de 70ºC).

422
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na análise da Figura 5, observou-se degradação do geotêxtil quando submetido somente a radiação


UV-A + temperatura (30 ºC e 70ºC) com o resultado médio das ambas as réplicas, por meio do
deslocamento do intervalo de confiança para a esquerda.

Analisando-se os intervalos de confiança (IC) obtidos para cada uma das condições de ensaio (Figuras
5 e 6), verifica-se que todos se deslocaram para a esquerda do intervalo referente ao geotêxtil intacto
(58,0 < 59,4 < 60,8 kN/m), sendo maior o afastamento observado para ensaio de fluência à carga de
15% + radiação UV + temperatura (70ºC).

É importante atentar que, mesmo para a condição de ensaio em que parte do IC ficou dentro da faixa
compreendida aos valores de referência do geotêxtil intacto, o valor médio está deslocado à
esquerda do IC para o geotêxtil de referência. Portanto, afirma-se com 95% de confiança que o
geotêxtil tecido de polipropileno sofreu degradação acelerada quando submetido a fluência,
radiação UV e temperatura.

Os resultados apontam para a influência significativa da temperatura como fator de aceleração dos
processos de degradação em situações em que os geotêxteis fiquem expostos a temperaturas
elevadas, visto que para temperatura de 70ºC o valor médio de perda de resistência foi de 17,9%
com a ação da fluência.

Os pórticos desenvolvidos na pesquisa mostram-se promissores para avaliar o desempenho de


submetidos à fluência à tração não confinada como temperaturas elevadas e incidência de radiação
ultravioleta (UVA) simultaneamente ou de forma isolada em situações controladas em laboratório,
os quais são fatores que podem ocasionar a degradação destes materiais nas distintas aplicações de
engenharia.

Por último, a pesquisa realizada vem para contribuir no estado da arte em relação à durabilidade
dos geossintéticos, uma vez que este assunto tem sido cada vez mais reportada por projetistas e
pesquisadores.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A Fundação de Amparo


à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG). A empresa HUESKER Ltda, pelo fornecimento de materiais
para o desenvolvimento da pesquisa. Ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais
(CEFET-MG) ao apoio para realização da pesquisa.

423
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15226. (2005). Geossintéticos –


Determinação do comportamento em deformação e na ruptura, por fluência sob tração não
confinada. Rio de Janeiro.

ASTM D 5035 (2011). Standard Test Method for Breaking Force and Elongation of Textile Fabrics
(Strip Method), American Society for Testing and Materials, West Conshohocken, Pennsylvania, USA.

ASTM D 5262 (2012). Standard Test Method for Evaluating the Unconfined Tension Creep and Creep
Rupture Behavior of Geosynthetics, American Society for Testing and Materials, West
Conshohocken, Pennsylvania, USA.

ASTM D 5819 (2018). Standard Guide for Selecting Test Methods for Experimental Evaluation of
Geosynthetic Durability, American Society for Testing and Materials, West Conshohocken,
Pennsylvania, USA.

Carneiro, J.R.C. (2009). Durabilidade de Materiais Geossintéticos em Estruturas de Carácter


Ambiental - A Importância da Incorporação de Aditivos Químicos. Tese de Doutorado, Faculdade de
Engenharia, FEUP, Universidade do Porto, Portugal, 602 p. (in Portuguese).

COSTA, C. M. L. (1999). Fluência de Geotêxteis. Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo


(USP). São Carlos, 97 p.

424
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 27

VALIDAÇÃO E ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DE


ALGORITMO DE INTEGRAÇÃO IMPLEX VIA
TÉCNICA DE ELEMENTOS FINITOS COM O
MODELO ELASTO- PLÁSTICO DE DRUKER-
PRAGER
Nayara Torres Belfort Acioli Magalhães (Universidade Federal de Pernambuco)
Leonardo José do Nascimento Guimarães (Universidade Federal de Pernambuco)
Igor Fernandes Gomes (Universidade Federal de Pernambuco)
Leila Brunet de Sá Beserra (Universidade Federal de Pernambuco)
Jonathan da Cunha Teixeira (Universidade Federal de Pernambuco)

Resumo: Nesse artigo foi modelado numericamente o ensaio mecânico de expansão de cavidade
cilíndrica de um geomaterial através do programa in-house em elementos finitos, CODE-BRIGHT com
o critério de Druker-Prager e um algoritmo de integração de tensões mista implícita-explícita
(IMPLEX). Esse algoritmo atualiza o multiplicador plástico do passo de tempo atual em função das
relações constitutivas do passo de tempo anterior, ganhando eficiência computacional. Nesse artigo
foi validado e avaliado o algoritmo quanto à sensibilidade ao incremento de tempo e ao fator de
tolerância associado a esse incremento através de um ensaio de expansão de cavidade, no qual foi
observado a conformidade entre a solução numérica e a solução analítica com cerca de 1% de erro
relativo para um incremento de tempo da ordem de 1E-06s, que deve ser verificado para problemas
de diferentes estados de tensões e diferentes materiais.

Palavras-chave: IMPLEX. Elementos finitos. Expansão de Cavidade. Elastoplasticidade. Druker-


Prager.

425
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A preocupação com a resistência dos solos é fundamental no trabalho diário da geotecnia e sabe-se
que os geomateriais possuem um comportamento mecânico complexo no que tange às tensões
limites. Nesse âmbito, modelos que simulem o critério de ruptura do material são idealizados para
prever o estado de tensões no estado limite do material. (Sun xiang et. al. 2016, ZHU Jun-gao et. al.
2012)

Druker-Prager é um modelo tridimensional que permite encontrar uma estimativa do tensor de


tensões para um solo em seu estado limite de resistência com relativa simplicidade (M. Hjiaj et. al.,
2003). O critério de ruptura desse modelo é avaliado admitindo que o plano de cisalhamento se
comporta linearmente dependente da tensão normal aplicada no material. (Alejano & Bobet, 2012)

O critério de Druker-Prager é uma generalização do critério de Mohr Coulomb para solos no qual
suaviza as singularidades do modelo de Mohr Coulomb. Num espaço tridimensional de tensões o
crítério de Mohr Coulomb descreve uma pirâmide de base hexaédrica irregurar e o de Druker-Prager
um cone, quando das tensões principais te a relação s'1 ∨ s‘2 ∨ s‘3, o critério de Druker-Prager
tende a superestimar a tensão de ruptura do material, enquanto Mohr Coulomb tende a subestimar.
Porém, quando s'1 > s‘2 = s‘3 ou quando duas tensões principais são iguais, o estado de tensões
para o critério de Mohr Coulomb e para o de Druker-Prager são coincidentes.

Segundo Alejane & Bobet (2012), considerações estatísticas mostram que o critério de Druker-Prager
fornece uma imprecisão quanto à previsão da resistência do material superestimando certas vezes
o valor da tensão principal s'1 na falha. Ainda assim, a vantagem desse modelo é a sua simplicidade,
quando comparado com outros modelos de plasticidade como Mohr Coulomb, Cap Model, entre
outros.

Foi também validado e verificado um algoritmo de integração de tensões implícito-explícito (IMPLEX)


no qual atualiza o multiplicador plástico do passo de tempo atual em função das relações
constitutivas do passo de tempo anterior, ganhando eficiência computacional.

A validação e verificação do algoritmo IMPLEX foi realizada através de um cenário da simulação de


um ensaio de Expansão de Cavidade o qual foi idealizada pela sua vasta utilização na geotecnia com
ensaios pressiométrico e penetração de cone.

426
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Nesse contexto foi verificada a estabilidade do algoritmo IMPLEX frente ao algoritmo de integração
implícita usual com diferentes ordens de grandeza para incrementos do passo de tempo (d_time) e
para incrementos do fator de tolerância (F_tol).

A verificação do desempenho e funcionalidade do algoritmo está apresentada através do tempo


total de processamento em CPU (CPUTIME) e do número de interações (NUMPASS).

As relações constitutivas estão apresentadas a partir de gráficos e são descritas também as variações
de parâmetros como porosidade, deslocamentos e estado de tensões.

Nesse estudo foi dado ênfase ao comportamento plástico dos materiais, para assim avaliar o
comportamento do material com critério de plastificação de Druker-Prager.

2. MÉTODOS NUMÉRICOS

O modelo numérico utilizado nesse artigo está implementado no programa CODE_BRIGHT,


desenvolvido inicialmente por Olivella et. al. (1995) com aplicação a problemas de resíduos nucleares
relacionados a rochas salinas.

Nóbrega (2008) estendeu a aplicação do CODE_BRIGHT a modelagens de barreiras de proteção


ambiental, transporte de solutos, aterros, escavações, pavimentação, solos colapsíveis e expansivos
e barragens de terra.

Beserra (2010) implementou algoritmos de integração implícita de modelos constitutivos elasto-


plásticos aplicados a problemas acoplados hidromecânicos em meios porosos. A autora tomou como
referência o algoritmo descrito por Souza Neto et. al. (2008) e Oliver et. al. (2008).

Beserra (2015) desenvolveu uma metodologia referente à modelagem em elementos finitos para o
problema de faturamento hidráulico em formações rochosas.

Nessa pesquisa o modelo de plasticidade de Druker-Prager foi validado para modelagem mecânica
em elementos finitos implementada por Beserra (2015) no CODE_BRIGHT.

427
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2.1 ALGORITMO DE INTEGRAÇÃO IMPLÍCITA- EXPLÍCITA (IMPLEX) PARA O MODELO DE


DRUKER-PRAGER

Foi proposto por Oliver et. al. (2008) um algoritmo que simplifica o algoritmo de integração implícita
reduzindo a não linearidade do algoritmo de retorno e estimando um multiplicador plástico a partir
dos dados de tensões, deformações e variáveis de história do passo de tempo anterior.

Assim o algoritmo se tornou mais simples, sem calcular as derivadas do multiplicador a cada passo
de tempo. Esse algoritmo apresenta oscilações, que os próprios autores mostram que podem ser
controladas com passos de tempo reduzidos.

Bezerra (2010) modificou o algoritmo proposto por Oliver et. A. (2008) fazendo uma extrapolação
do multiplicador plástico do passo de tempo atual escalonado pelos incrementos de tempo dos
passos atual e anterior, propondo o cálculo da estimativa do multiplicador plástico a partir da
projeção das deformações totais do tempo anterior:

tn1 
ε *
 ε (1)
t
n1 n n

Estimando, com a projeção das deformações totais, um estado de tensões trial:

(2)
n1  σ n D : ε n1
σtrial* e *

Tendo, portanto, no estado de plastificação do material a função de fluência trial:

2 trial*
f trial*  S n1  ptrial*
n1 c (3)
2

No presente artigo foi realizada uma seção com algoritmo de integração explícita, na qual a função
de fluência é projetada a partir do passo de tempo anterior, no qual as componentes das tensões
desviadora e média já convergiram.

2 trial* (4)
f trial*
 S n  ptrial*
n  c
2

428
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Apesar do ganho de eficiência computacional, esse algoritmo permite que o erro seja acumulado a
cada passo de tempo. Para controlar o erro associado foi realizada a condição de que caso haja a
violação da superfície de fluência, obtêm-se o multiplicador plástico para o passo de tempo atual.

Os demais cálculos do algoritmo são iguais aos da integração implícita.

Com a simplificação da implementação do IMPLEX o tensor elasto-plástico é definido por:

1
    1  S  S
  
n1

D   De
(5)
 
1
ep
  I  1  1  
 2 S  3  S S  
   

429
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

E, análoga à integração implícita, se 


n1
= 0, retorna-se a matriz elástica.

Algoritmo implícito Backward-Euler

Dados de Entrada -
p n
σ ; ε ; ε ;ε ;  n n n1
n
E, ,c,,
Módulo volumétrico E (6)
K
3(1  2)
Módulo Cisalhante E
G (76)
2(1 )
n1 
* t (8)
  
ε n1 n εn
t
Estima-se o multiplicador trial* e * (7)
σ  σ  D : ε
plástico
n1 n n1

trial* 2 trial* trial*


f  S  p  c (8)
n n
2
trial*
f (9)
 n1 
(G  K )
trial e (10)
σ  σ  D : ε
Estado trial definitivo n1 n n1
2 trial
f trial  S ptrial  c (11)
n1 n1
2
(14)
Se f trial  0
Então → Passo Elástico:
(15)
σ trial
σ
n1 n1 (16)

Verificação do p
ε  0
Passo se Senão → Passo Elastoplástico
Elástico ou (17)
 n1 f trial
Plástico  
(G  K )
 (18)
 p g
ε   n1
 (19)
σ

σ  σ trial  Dep : ε p
n1 n1



S trial (20)
Se   n1
Verificação de 2
Então
tensão no (21)
 c
vértice  
 n1 

 (22)
 p ep 1
ε  D  : (  )
 n1 n

Fim

430
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2.2 ALGORITMO DE CONTROLE DO PASSO DE TEMPO

Esse algoritmo apresenta sensibilidade ao incremento do passo de tempo, então, foi implementado
um artifício chamado de fator de tolerância (Eq. 21).

Esse impede que o modelo não viole a superfície de fluência, de forma que, como as deformações e
o multiplicador plástico são calculados em função do passo de tempo anterior, o fator força a
redução no passo de tempo, de forma que retorne ao cone de plastificação e não viole a superfície
de plastificação.

Algoritmo Implementado

Dados de -
dtimemin, F_tol
entrada

Se

Condição de f > 0, g > 0 e dtime > dtimemin

consistência Então:

1 + 𝐹_𝑡𝑜𝑙 (23)
Fator =
1+𝑓
𝑑𝑡𝑖𝑚𝑒 = 𝑑𝑡𝑖𝑚𝑒 ∗ 𝐹𝑎𝑡𝑜𝑟 (24)

Fim.

3. VALIDAÇÃO E APLICAÇÃO DE ALGORITMO IMPLEX

Neste artigo foi realizada a simulação numérica do ensaio de expansão de cavidade que foi realizada
empregando o algoritmo de integração implícita e implícita-explícita (IMPLEX) com o critério de
plastificação de Druker-Prager.

Está apresentado a seguir a análise de expansão de cavidade com deformação plana através do
modelo de plasticidade perfeita e associada. A geometria foi gerada com um quarto da cavidade,
com as devidas condições de contorno,

431
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 1.A malha, Figura 2, de elementos finitos foi composta de elementos quadriláteros com 4
pontos de Gauss em cada elemento num total de 451 nós e 400 elementos.

Figura 1 – Condições de contorno para Cavidade Cilíndrica. (Gomes, 2006)

Figura 2 – Malha de Elementos Finitos.

Foram adotados os parâmetros de módulo de elasticidade (E), coesão (c), ângulo de atrito (∅),
dilatância (y), coeficiente de Poisson (ν), relação geométrica entre o raio interno e o raio externo
(b/a) e pressão inicial (po) para o elemento 18, ilustrado na Tabela 1.

Tabela 1 – Propriedades do Material.

E (MPa) c (MPa) ∅=y ν b/a po(MPa)

100 0,1 30º 0,30 2 0

Gomes (2006) realizou a modelagem desse ensaio via critério de Mohr Coulomb e empregando um
algorítmo de integração explícita de tensões tipo Runge-Kutta- Dormand-Price e comparou a sua
solução de pressão de colapso com a solução analítica apresentada por Yu (1992), Eq. 25. O autor
também obteve um valor de pressão máxima de aproximadamente p/c = 1,032, pela solução
analítica seria aproximadamente p/c = 1,017, existindo um erro relativo de 1,5%.

432
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais
 1
 
p Y   1po  b    po (255)
    1 
c c 1   a  c

 
Onde:

2c cos (266)
Y 
1 sen
 
  tan 2 45   (2727)
 
 2 
Comparado os resultados desse artigo com a solução analítica, a pressão máxima para o modelo
implícito foi de p/c = 1,022 com erro relativo de 0,49%, e para o modelo IMPLEX com incremento de
tempo de 1E-05s foi de p/c = 1,028, com erro relativo de 1,12%, Figura 3.

E comparando com os resultados obtidos por Gomes (2006) foi observado um erro relativo de
aproximadamente 0,4%.

Nesse gráfico o modelo implícito e o IMPLEX perdem a convergência no ponto de parada.

Diante desse resultado verifica-se que o algoritmo de integração implícita e IMPLEX apresentam
uma aproximação satisfatória em relação à solução analítica.

Avaliando as Figuras 4 e 5 observa-se que os modelos possuem comportamentos semelhantes, com


distribuição de porosidade, deformação plástica e tensões radialmente distribuídas, aumentando
com a proximidade ao interior da cavidade, onde se aplica a pressão interna.

Figura 3 – Relação Carga x Deslocamento.

433
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 4 – Porosidade, Tensões Cisalhantes e Deformação Plástica do Modelo com Integração Implícita.

Figura 5 – Porosidade, Tensões Cisalhantes e Deformação Plástica do Modelo com Integração IMPLEX.

4.1.1 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DO IMPLEX AO INCREMENTO DE TEMPO

Para avaliar a sensibilidade do algoritmo foram realizadas comparações entre as formulações


implícita e IMPLEX com passos de tempo variando de 0,01s, 0,1s até 1s.

São apresentados a seguir resultados que demonstram a evolução do passo de tempo da


modelagem, a envoltória de Druker-Prager, a evolução da tensão desviadora com a deformação, e
a evolução das tensões verticais com o tempo.

Na Figura 6 o algoritmo se mostra sensível ao aumento passo de tempo para o mesmo valor de
tolerância (F_tol) de 0,02.

Assim como as tensões, as deformações e a função de fluência são atualizadas a partir dos valores
de tensão e deformação do passo de tempo anterior e a solução do algoritmo do IMPLEX resolve o
sistema com erro acumulado.

Em função desse erro acumulado, quanto maior for o incremento de tempo, maior o erro associado
e mais o estado de tensões se afasta da envoltória de ruptura.

434
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Na Envoltória de Druker-Prager, Figura 7, fica evidente que o modelo Implícito é coerente com o
estado de tensões da envoltória de plastificação do material, pois a cada passo de tempo são
realizados cálculos com as variáveis do passo de tempo atual. Já no modelo IMPLEX o material passa
a exibir um estado de tensões que viola significativamente a envoltória, o que é esperado para os
incrementos de tempo utilizados. Isso pode ser observado também na Figura 8 e na Figura 9.

Em todos os gráficos de tensões observa-se que o salto no campo das tensões é maior quanto maior
for o incremento de tempo, porém, com a existência do controle do passo de tempo, o estado de
tensões é forçado a retornar ao comportamento de plastificação admissível.

Figura 6 - Evolução do Passo de Tempo.

Figura 7 – Envoltória de Druker-Prager.

435
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 8 – Tensão x Deformação.

Figura 9 – Tensão Desviadora x Tempo.

4.1.2 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DO IMPLEX AO FATOR DE TOLERÂNCIA

O fator de tolerância controla o estado de tensões à medida que reduz o incremento de tempo,
Figura 10, e consequentemente o erro associado ao salto no campo das tensões. Fez-se necessário,
por tanto, avaliar a sensibilidade do algoritmo a esse fator e para isso foram realizadas análises com
tolerâncias (F_tol) distintas para dois valores de incremento de tempo, 1E-02s e 1E-00s.

A primeira análise foi para o dtime de 1E- 00s. Na Figura 111 está o comparativo entre as soluções
do IMPLEX com diversas tolerâncias diferentes e a solução analítica.

Ainda na Figura 101, comparando com a solução analítica, observa-se que a solução se encontra
com erro aproximado de 60% para a tolerância de 1E-05, de 61% para a tolerância de 1E-04, e de
62% para a solução com a tolerância de 1E-03.

436
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

À medida em que o algoritmo permite uma violação da superfície de ruptura as tensões atingem
valores mais altos, Figura 12, de modo que fica claro uma falsa resistência superior à tensão máxima
da solução analítica.

Está claro que, quanto maior a tolerância, mais as tensões atingem valores maiores sem reduzir o
incremento de tempo, e, conforme a Figura 13, mais a envoltória de ruptura é violada. Quanto menor
essa tolerância, F_tol = 2.0E-05, fica claro que a solução segue a trajetória de tensões de forma
coerente.

Semelhante aos resultados para o incremento de tempo de 1E-00s, para o incremento de tempo de
1E-02s pode-se observar que o comportamento do estado de tensões é semelhante ao anterior,
porém, por haver nessa modelagem um incremento de tempo 100 vezes menor, as tensões evoluem
a patamares inferiores, como esperado.

Figura 10 – Dtime x Tempo, dtime = 1E-00s.

Figura 11 – Força x Deformação, dtime = 1E-00s

437
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 12 – Tensão Desviadora x Tempo, dtime = 1E- 00s.

Figura 13 – Envoltória de Druker-Prager, dtime = 1E-00s

Na Figura 14, comparando com a solução analítica, observa-se que a solução se encontra com erro
aproximado de 10% para o resultado com a tolerância de 1E-05, 10,2% para a tolerância de 1E-04,
e com erro de 11% para a solução com a tolerância de 1E-03.

Na Figura 15 pode-se notar que o incremento de tempo reduz para o tempo de análise aproximado
a 54 segundos para as tolerâncias inferiores a 1E-02, mostrando uma correlação entre a tolerância
e o incremento de tempo inicial.

Na Figura 16 pode ser observado que a tensão máxima desviadora é a mesma para todas as
tolerâncias avaliadas, diferentemente do comportamento com incremento de tempo maior visto
anteriormente. No momento que a tensão desviadora atinge o máximo, o estado de tensões atinge

438
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

a envoltória de ruptura e esse é o momento que a superfície de fluência é violada e o algoritmo


força o retorno.

E seguindo esse raciocínio, por fim, na Figura 17, pode-se observar que quanto maior a tolerância
mais o estado de tensões viola a envoltória de ruptura.

Observa-se, também, que existe um padrão de comportamento das tensões com a variação da
tolerância pois, para um dtime 100 vezes menor, a trajetória se mantém próxima à solução até a
tolerância de 2E-03, para valores maiores de tolerância a trajetória viola a superfície de ruptura com
erros grosseiros se comparados a esses.

Figura 14 – Força x Deformação, dtime = 1E-02s.

Figura 15 – Evolução do Incremento de Tempo com o Tempo para dtime de 1E-02s.

439
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 16– Evolução do Estado de Tensão Desviadora com dtime de 1E-02s.

Figura 17 –Envoltória de Druker-Prager com dtime de 1E-02s.

Na Tabela 2 está o comparativo dos erros absolutos (abs.) e relativos (rel.), em relação à envoltória
de ruptura, obtidos para um valor de tensão média de -0,1 MPa para o dtime de 1E- 00 segundos e
na Tabela 3 para uma tensão média de -0,05 MPa e dtime de 1E-02 segundos. Nas Tabelas 4 e 5 pode
ser observado a análise quanto ao desempenho computacional do algoritmo IMPLEX.

Observa-se que a maior a eficiência da modelagem se dá em F_tol = 2E-03, já que para valores
menores do que esse o valor da solução se encontra a mesma e também por ser a tolerância que
possui menor número de iterações e menor tempo de máquina entre as tolerâncias (2E-03, 2E-04 e
2E-05) que tiveram a melhor solução para a modelagem.

440
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 2 – Erros obtidos na Envoltória de Druker-Prager para o dtime 1E-00s.

F_tol 2,00E-01 2,00E-02 1,00E-02 2,00E-03 2,00E-04 2,00E-05


Valor Abs. (MPa) 0,03 0,28 0,3 0,32 0,32 0,33
Erro Abs. (MPa) 0,46 0,21 0,19 0,17 0,17 0,16
Erro Rel. 4,2 1,67 1,48 1,3 1,26 1,24

Tabela 3 – Erros obtidos na Envoltória de Druker-Prager para o dtime 1E-02s.

F_tol 2,00E-01 2,00E-02 1,00E-02 2,00E-03 2,00E-04 2,00E-05


Valor Abs(MPa) 0,015 0,015 0,022 0,034 0,038 0,039
Erro Abs (MPa) 0,134 0,135 0,128 0,115 0,112 0,11
Erro Rel. 0,33 0,33 0,26 0,14 0,1 0,09

Tabela 4 – Eficiência do Algoritmo para o dtime 1E-00s.

F_tol 2,00E-01 2,00E-02 1,00E-02 2,00E-03 2,00E-04 2,00E-05


CPUTIME 16,11 11,09 21,37 24,26 25,97 26,69
NTITER 169 192 204 242 284 296
TIME 77 77 77 77 77 77

Tabela 5 – Eficiência do Algoritmo para o dtime 1E-02s.

F_tol 2,00E-01 2,00E-02 1,00E-02 2,00E-03 2,00E-04 2,00E-05


CPUTIME 354,54 361,74 451,56 527,144 583,04 654,73
NTITER 5.403 5.403 5.403 5.439 5.606 8.171
TIME 54 54 54 54 54 54

441
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. CONCLUSÃO

Foi realizada a validação do algoritmo de integração implícita-explícita (IMPLEX) para o cálculo das
equações constitutivas do modelo elasto-plástico segundo o critério de ruptura de Drucker-Prager
no programa de elementos finitos, in house, CODE-BRIGHT para ser utilizado na descontinuidade
embebida.

Foi comparada a solução numérica com a solução analítica do algoritmo através da modelagem do
caso clássico de expansão de cavidade no qual foi verificada a solução numérica com cerca de 1%
de erro relativo à solução analítica. A eficiência do algoritmo através do Número Total de Iterações
(NTITER) e do Tempo Total de processamento em CPU requerido pelos esquemas de integração
(CPU Time) foi verificada para valores de incremento de tempo de 1E-00s, 1E- 01s, 1E-02s e para
valores fator de tolerância de 2E-01, 2E-02, 1E-02, 2E-03, 2E-04 e 2E-05 ao fim do processo total da
análise.

Constatou-se que quanto menor o incremento de tempo e o fator de tolerância, mais próxima a
resposta do algoritmo IMPLEX fica da solução analítica, mas existem valores ótimos de incremento
de tempo de 1E-03 e de tolerância de 2E-03, sendo mutáveis de acordo com o cenário avaliado.

Com isso concluiu-se que o algoritmo é estável e eficiente para a modelagem de problemas elasto-
plástico com o modelo de Druker-Prager.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Laboratório de Métodos Computacionais e Geomecânica (LMCG), à Universidade


Federal de Pernambuco (UFPE) e à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de
Pernambuco (FACEPE) pelo apoio e pelos recursos fornecidos durante a pesquisa.

442
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

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álcali- agregado. Tese de Doutorado: Programa de Pós- Graduação de Engenharia Civil, Universidade
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444
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 28

PREVISÃO DE CAPACIDADE DE CARGA DE UMA


FUNDAÇÃO EM ESTACA HÉLICE CONTÍNUA
APOIADA SOBRE SOLO MOLE: UM ESTUDO DE
CASO

Kelly Oliveira Dias (Universidade Federal de Sergipe)


Erinaldo Hilário Cavalcante (Universidade Federal de Sergipe)
Victor Carlos Santos Barbosa (Universidade Federal de Sergipe)
Osvaldo de Freitas Neto (Universidade Federal de Sergipe)
Carlos Rezende Cardoso Júnior (Universidade Federal de Sergipe)
Filadelfo Araújo Prata Júnior (Procuradoria da República em Sergipe)

Resumo: Este artigo apresenta uma análise de um projeto de fundações profundas, em estacas do
tipo hélice contínua monitorada, a ser executadas em perfil geotécnico estratificado, com presença
de solos moles e alagadiços. Trata-se de um estudo de caso do projeto de fundações da nova sede
da Procuradoria do Ministério Público Federal na cidade de Aracaju, estado de Sergipe. O estudo foi
realizado com base nos documentos fornecidos pelo Ministério Público, o qual disponibilizou
sondagens, atas de reuniões, plantas do projeto, memoriais descritivos, entre outros, o que
propiciou uma análise fundamentada desde o projeto concebido inicialmente até a avaliação dos
problemas de caráter executivo. A análise baseou-se na comparação entre os resultados obtidos da
aplicação de seis métodos de previsão da capacidade de carga dos elementos de fundação, em que
se constatou grande variabilidade nos valores obtidos, havendo, entretanto, somente um método
que satisfez à capacidade de carga necessária para suportar a solicitação advinda da superestrutura,

445
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

com os dados do dimensionamento dos elementos estruturais adotados para as fundações em


análise.

Palavras-chave: Fundações, Hélice Contínua, Capacidade de Carga.

446
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A atual complexidade das obras de engenharia civil tem-se recorrido a técnicas construtivas cada vez
mais econômicas, seguras e eficazes em tempo hábil, situação que é reflexo de um mercado
consumidor cada vez maior e mais exigente. Neste cenário, a engenharia de fundações vem
evoluindo pela busca de soluções tecnicamente viáveis, com elevada produtividade e que garantam
bom desempenho da fundação em qualquer tipo de solo.

Sabe-se que o elevado crescimento das cidades tem induzido ao uso intensivo dos espaços urbanos,
tanto pela iniciativa pública quanto pelo setor privado, áreas que muitas vezes são oriundas de
mangues ou outros terrenos alagadiços, em geral, de solos compressíveis e/ou com baixa resistência.
Qualquer fundação apoiada em solos moles deve ser projetada com precauções adicionais, de forma
que a magnitude dos recalques decorrentes estejam dentro dos limites aceitáveis para a obra.
Como esses solos são, quase sempre, heterogêneos, na maioria dos casos é necessário se projetar
com fundação profunda para se atingir camadas que suportem suficientemente a solicitação da
superestrutura.

O crescente uso de estacas tipo hélice contínua em Aracaju, cidade litorânea com muitas áreas de
solos compressíveis, motivou a realização deste trabalho, focado no estudo de caso desse tipo de
estaca instalada em perfil geotécnico altamente variegado, com presença de solo mole, a obra das
fundações da nova sede da Procuradoria da República em Sergipe. Para isso, foram levantados dados
como as características estruturais da obra e do subsolo, os memoriais de cálculo do projeto,
relatórios técnicos e outros documentos considerados pertinentes à análise.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO

2.1 ESTACAS HÉLICE CONTÍNUA MONITORADA

As estacas do tipo hélice contínua são estacas de substituição, moldadas “in loco”, executadas
mediante operação de um trado contínuo helicoidal.

Essas estacas, introduzidas no Brasil desde 1987 (PENNA et al., 1999), têm apresentado ampla
utilização e divulgação no segmento da construção civil nos últimos anos. Observou-se aumento do
seu uso principalmente em grandes centros urbanos, devido às vantagens e facilidades que seu
processo construtivo oferece, como: alta produtividade e ausência de ruído ou vibrações nas
edificações vizinhas.

447
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2.2 CAPACIDADE DE CARGA

Em projetos de fundações é necessário determinar a capacidade de carga dos seus elementos, sendo
prática comum entre projetistas adotar métodos semi-empíricos desenvolvidos para este fim.

Existem vários métodos de cálculo que podem estimar a carga última de profundações profundas.
No caso particular da estaca hélice contínua, podem ser utilizados alguns métodos gerais, que se
aplicam a vários tipos de estacas, em que se destacam os métodos descritos por Aoki e Velloso
(1975), Décourt & Quaresma (1978), Velloso (1981) e Teixeira (1996). Existem também outros
métodos de capacidade de carga específicos para estacas hélice contínua dispostos na literatura,
como o método de Antunes e Cabral (1996) e o método de Alonso (1996).

3. ESTUDO DE CASO

3.1 DESCRIÇÃO DO OBJETO DE REFERÊNCIA

O projeto de fundação objeto deste artigo foi o concebido para a edificação da nova sede da
Procuradoria da República no Estado de Sergipe (PRSE), situada na capital Aracaju. O
empreendimento analisado é composto por uma torre de 11 (onze) pavimentos, cuja solução
estrutural adotada foi do tipo concreto armado convencional. O prédio foi concebido com 92 pilares
com cargas variando entre 35,0 kN (P83) e 9.670,0 kN (P49), perfazendo uma carga total de
251.760,0 kN, com tensão média aplicada no terreno da ordem de 100 kN/m 2. As cargas dos pilares
são transferidas ao solo através de 71 blocos de fundação apoiados em elementos estruturais do
tipo estaca hélice contínua.

Para o reconhecimento do subsolo da área em estudo, foram realizados oito furos de sondagem SPT,
com profundidades variando entre 34,45 m e 49,96 m. O terreno de implantação está localizado
numa região formada por areias fofas e solos moles, alagadiços, com origem em manguezais,
encontrados entre as cotas +0,28 e +0,46. O nível d’água é superficial, situando-se entre 0,38 m (SP-
07) e 1,18 m (SP-05A), suscetível a pequenas alterações em função do regime das marés.

A análise das sondagens revela um terreno bastante heterogêneo e de difícil caracterização. Os


dados de cinco, dos oito boletins de sondagem foram compilados para conceber o perfil do subsolo
(Figura 1), buscando-se destacar sua estratigrafia.

448
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

É conveniente destacar o perfil estratigráfico da sondagem SP-05A, uma vez que este foi o perfil
geotécnico utilizado como base para o dimensionamento das fundações.

Figura 1 - Perfil de sondagem SPT do subsolo da obra.

O furo SP-05 foi interrompido aos 36,45 m devido à fuga d’água, ocorrendo o mesmo com o furo
deslocado SP-05A, interrompido aos 35,45 m. Por esse motivo, este último foi considerado o perfil
de sondagem SPT mais desfavorável pelo projetista, razão pela qual o mesmo foi adotado nas
análises contidas neste trabalho.

3.2 PROJETO DE FUNDAÇÃO OBJETO DESTE ESTUDO

Com base nos dados da investigação geotécnica e nas elevadas cargas provenientes da estrutura, o
projetista adotou fundação profunda como solução, usando estacas do tipo Hélice Contínua
Monitorada (HCM).

O projeto de fundações foi concebido com 241 estacas, de diâmetros variando entre 30 cm e 120
cm, e comprimentos variando entre 18 m e 27 m. Um total de 71 blocos foram dimensionados para
fazer a ligação das estacas à superestrutura.

3.2.1 CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO

Para este trabalho foram avaliadas as estacas que compõem dois blocos de fundação adjacentes: o
bloco B1, projetado para transmitir os esforços dos pilares P31+P32+P48+P49+P64+P65; e bloco B2,

449
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

dimensionado para receber os pilares P46+P47. A opção pela análise destes blocos está baseada no
fato que se trata de estruturas de fundação com dimensões muito diferentes e relativamente
próximos. Além disso, sobre estes já havia uma análise de previsão de recalques e distorção angular
feita por outro profissional da engenharia de fundações.

O bloco B1 é composto por 24 estacas de 120 cm de diâmetro e 27 m de comprimento, com uma


carga total de 50.450,0 kN, sendo o maior bloco de fundação do projeto, com 10,40 m de largura e
16,40 m de comprimento. Por outro lado, o bloco B2, transfere uma carga total de 6.610,0 kN a 4
estacas de 90 cm de diâmetro e 27 m de profundidade cada.

A previsão da capacidade de carga das estacas do projeto foi realizada empregando-se o método de
Décourt-Quaresma (1978), com base na sondagem SP-05A. O projetista considerou uma carga de
trabalho de 2300 kN para cada estaca do bloco B1. Segundo seu memorial de cálculo, as estacas com
120 cm de diâmetro só apresentavam essa capacidade aos 27 m de profundidade.

Cabe destacar que a parcela da resistência de ponta das estacas foi desprezada pelo projetista. Logo,
considerou-se, neste caso, que os esforços axiais de compressão serão resistidos somente pelo
atrito lateral no fuste das estacas, sendo estas classificadas como estacas flutuantes. Essa
consideração é sustentada pelo fato da ponta da estaca não atingir uma camada de solo com
resistência significativa.

A mesma consideração é feita para os outros blocos da fundação. As estacas do bloco, assim como
as estacas de 120 cm de diâmetro, também estão a uma profundidade de 27 m, e são classificadas
como estacas flutuantes.

Destaca-se ainda, que a análise inicial do projetista especificou que as estacas deveriam ser armadas
ao longo de todo o seu comprimento, no caso dos blocos B1 e B2, ou seja, ao longo dos 27 m de
extensão, do topo à ponta, o que sugere ser desnecessário.

Quanto às previsões dos recalques total e diferencial, estas foram feitas, segundo o projetista das
fundações contratado inicialmente, com o uso de um programa computacional que considera a
interação solo- estrutura, aplicando o método dos elementos finitos. Entretanto, estes autores não
localizaram nenhum memorial de cálculo que expusesse os detalhes dos resultados apresentados.

3.2.2 BREVE HISTÓRICO DESSE PROJETO DE FUNDAÇÃO

Após a licitação do empreendimento, alguns questionamentos foram levantados pela empresa


construtora, quanto à exequibilidade das fundações e a estabilidade estrutural da edificação. Um

450
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

engenheiro civil (geotécnico) experiente, que presta consultoria na área de fundações, foi
contratado pela construtora para analisar o projeto, e apresentar suas considerações sobre a
viabilidade técnica de execução, as quais são relatadas a seguir.

Primeiramente, a solução em estaca hélice com diâmetro de 120 cm, comprimento de até 27 m, e
armação em todo o comprimento da estaca foi considerada inadequada para essa obra por razões
de execução, das particularidades geotécnicas locais e da estabilidade estrutural.

Foi também contestada a opção da escolha de estacas com diâmetro de 120 cm, em virtude da
carência de equipamentos na região nordeste com capacidade para execução de HCM com esse
porte. Destacou-se ainda, a impossibilidade para se introduzir a armadura por toda a extensão da
estaca, tendo-se em vista as dificuldades impostas pelo processo.

Foi enfatizado que o comprimento da armação não se justificava em virtude do carregamento do


prédio, e os esforços de flexão em estacas desse tipo de estrutura são desprezíveis a partir de
profundidades na faixa de 6 m a 9 m, existindo prédios em Aracaju mais altos e mais esbeltos que
esse, também com estacas hélice contínua, porém, armadas somente no trecho superior.

Foi discutido também que as grandes variações das propriedades geotécnicas do terreno, tanto em
planta quanto em profundidade, dificultariam o critério de paralisação das estacas. Havendo
inclusive, casos de estacas com ponta em solo argiloso mole, com repercussão nos recalques,
inclusive ao longo do tempo.

O consultor da Construtora realizou também uma avaliação complementar, fazendo a previsão dos
recalques dos blocos B1 e B2, da fundação projetada, empregando os métodos de Aoki-Lopes (1975)
e da NBR 6122 (2010).

No método de Aoki-Lopes (1975) admitiu-se estacas tipo flutuantes com comprimento de 16

m. Já no método da NBR 6122 (2010) admitiu- se que toda a carga do bloco seria transferida a 18 m
de profundidade (1/3 do comprimento das estacas a partir da ponta). O relatório de sondagem
utilizado foi SPT-05, e os resultados obtidos foram os seguintes:

I. O recalque absoluto calculado para o bloco B1 varia de 79 mm a 66 mm dependendo do


método. Para o bloco B2, o recalque absoluto calculado pelo Método de Aoki- Lopes (1975)
foi igual a 12 mm.

451
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

II. O recalque diferencial calculado entre os pilares P47 e P48 foi igual a 67 mm e a distorção
angular foi igual a 1/108, sendo este valor maior que o limite tolerável para o aparecimento
de danos estéticos e estruturais em estruturas aporticadas de concreto armado.

Diante deste cenário de resultados e questionamentos, foi colocada em evidência que o projeto
poderia não atender ao critério de deformações toleráveis, ensejando a possibilidade da ocorrência
de patologias intoleráveis à edificação. Para eliminar tal possibilidade, foi sugerido que o
comprimento das estacas fosse aumentado até ser encontrada a camada de calcário, que no local
está entre 42 m e 48 m de profundidade.

Devido à grande repercussão quanto à estabilidade estrutural do projeto, reuniões aconteceram


entre os envolvidos para discutir tecnicamente os questionamentos levantados. Nelas foi atestada
a impossibilidade de se executar estacas com o comprimento das armaduras tão longas, além de ser
este um aspecto considerado desnecessário para se atingir o bom desempenho da estaca. O
projetista reavaliou a situação e modificou o comprimento das ferragens para 16 m de profundidade.
Entretanto, ficou ainda a possibilidade de, caso ainda existissem dificuldades de inserção, seria
permitida uma profundidade mínima de 12 m da armadura.

Em relação às discussões técnicas sobre os recalques, o projetista manteve sua posição,


argumentando que todos os cálculos relativos à avaliação da segurança do conjunto
superestrutura/fundação atendem aos requisitos das normas brasileiras, e que os resultados estão
dentro dos limites aceitáveis. Além disso, foi relatado que os questionamentos divergentes com
relação à avaliação dos recalques absolutos e diferenciais apresentados pela construtora, ocorrem
porque os parâmetros adotados nas previsões foram os das situações mais desfavoráveis, enquanto
que o projetista adota parâmetros medianos e leva em consideração a interação do conjunto
superestrutura/fundação, o que, de acordo com aquele projetista, dessa forma, os dados são mais
abrangentes.

Diante dessa conjuntura, ficou determinado que a construtora seguisse o projeto, visto que, apesar
dos questionamentos, o projetista se recusou a atender a solicitação de aumentar o comprimento
da estaca ou utilizar outra solução para a fundação, como por exemplo, estacas metálicas, solução
também sugerida pela consultoria. O projetista continuou, portanto, contra-argumentando que o
projeto foi analisado e o mesmo atende aos requisitos técnicos e segurança das normas brasileiras.

452
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste item serão apresentados e analisados os resultados das previsões da capacidade de carga e
recalque dos blocos B1 e B2. Entretanto, devido à indisponibilidade de resultados de prova de carga,
visto que ela ainda não foi realizada, não foi possível se fazer comparações entre as previsões, os
dados de projeto e a verificação de desempenho em campo.

4.1 ESTIMATIVAS DA CAPACIDADE DE CARGA

As previsões da capacidade de carga foram realizadas utilizando seis diferentes métodos de cálculo
semi-empíricos: i) Aoki & Veloso (1975); ii) Décourt & Quaresma (1978); iii) Velloso (1981); iv)
Teixeira (1996); v) Alonso (1996) e vi) Antunes & Cabral (1996).

Os parâmetros do solo foram baseados na sondagem SP-05A, adotada como referência, cujo perfil
geotécnico foi dividido em 7 camadas de solo, conforme discriminado e mostrado na Tabela 1.

Tabela 1. Perfil geotécnico da sondagem SP-05A dividido em 7 camadas.

CAMADA COTA TIPO DE CONSISTÊNCIA /


SOLO COMPACIDADE
1 até 2 m Areia siltosa Pouco compacta

2 2a4m Argila Muito mole


3 4 a 13 m Areia siltosa Fofa a medianamente
compacta
4 13 a 17 m Areia Medianamente
compacta a compacta
5 17 a 19 m Areia Fofa a pouco
siltosa compacta
6 19 a 26 m Argila Mole a média
siltosa
7 26 a 36 m Argila Média
siltosa

Conforme frisado, o bloco B1 possui uma carga solicitante de 50.540 kN. Dividindo-se essa carga
pelo número total de estacas que compõe o bloco, tem-se uma carga de trabalho de 2.100 kN para
cada estaca isoladamente. De acordo com os dados constantes do projeto, as estacas de 120 cm de
diâmetro apresentam resistência teórica suficiente aos 27 m de profundidade. Levando-se em
consideração esse fato, a capacidade de carga das estacas para o bloco foi recalculada para esse

453
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

comprimento, de forma a certificar a profundidade escolhida. Os valores obtidos nesse retro


análise estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Resultados dos métodos para estacas de 120 cm.

MÉTODO DE CÁLCULO CARGA LATERAL CARGA DE PONTA


(kN) (kN)

Velloso (1981) 4137 462


Aoki-Velloso (1975) 2427 871
Décourt-Quaresma (1978) 2952 599

Teixeira (1996) 3031 746


Alonso (1996) 3082 749
Antunes e Cabral (1996) 2780 792
MÉDIA 3068,2 703,2
DESVIO PADRÃO 574,7 147,7
COEFICIENTE DE VARIAÇÃO 0,19 0,21

Apesar das estacas terem sido consideradas flutuantes, nota-se pelos resultados mostrados na
Tabela 2, que a carga de ponta apresenta significância em comparação à carga total resistida pelo
sistema solo-estaca, com o equivalente a cerca de 23% da resistência lateral. Além disso, são
observados coeficientes de variação medianamente significativos, de 19% para a carga lateral, a 21%
para a carga de ponta, refletindo a heterogeneidade do solo e da variabilidade dos resultados
apresentados pelos métodos.

Para avaliar a hipótese do projetista, também desconsiderou-se a parcela da ponta nesta pesquisa,
considerando que toda a carga total da estaca seria absorvida pelo fuste. Aplicando-se um fator de
segurança igual a 2,0, estabelecido pela NBR 6122 (2010), obteve-se as cargas de trabalho conforme
mostrado na Tabela 3.

454
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 3. Cargas de trabalho das estacas de 120 cm de diâmetro

MÉTODO DE CÁLCULO CARGA CARGA DE


LATERAL (kN) TRABALHO (kN)
Velloso (1981) 4137 2069
Aoki-Velloso (1975) 2427 1214
Décourt-Quaresma 2952 1476
(1978)
Teixeira (1996) 3031 1516
Alonso (1996) 3082 1541
Antunes e Cabral (1996) 2780 1390
MÉDIA 3068,2 1534,1
DESVIO PADRÃO 574,7 287,4
COEF. VARIAÇÃO 0,19 0,19

Analisando-se os dados da Tabela 3, verifica-se que nenhum método garante que a solicitação em
cada estaca (2.100 kN) seja inferior à carga de trabalho prevista. Nesta estimativa, o método
tradicional de Velloso (1981) foi o que mais se aproximou da carga solicitante, tendo uma diferença
para menos igual a 31 kN em relação à carga solicitante. Aumentando-se o comprimento da estaca
para 28 m, o método de Velloso (1981) apresentaria uma carga de trabalho igual a 2139,5 kN,
indicando que para essa profundidade não haveria ruptura do sistema solo-estaca, de forma que o
fator limitante seria a carga estrutural.

Quanto aos demais métodos empregados neste trabalho, os valores de capacidade de carga obtidos
indicaram que os comprimentos das estacas deveriam ser ainda maiores. Com base na sondagem
SP-05A se pode avaliar a capacidade de carga das estacas até à profundidade igual a 35,45 m.
Entretanto, para esse comprimento, as cargas de trabalho obtidas seriam ainda inferiores à carga de
solicitação, tornando necessária a utilização de sondagens adicionais com a finalidade de se analisar
a cota de parada para os demais métodos.

O método de Décourt-Quaresma (1978), em particular, foi o empregado pelo projetista e merece


uma atenção maior. Conforme mostrado anteriormente, o projetista previu carga de trabalho
suficiente aos 27 m de profundidade. Isso ocorreu porque o mesmo utilizou os fatores de segurança
recomendados pelos autores do método, que neste caso são fatores de segurança diferenciados
para as parcelas de resistência de ponta (F.S.= 4) e de atrito lateral (F.S.= 1,3). Por resultar num fator
de segurança menos conservador para a resistência lateral do que o da norma NBR 6122 (2010), a
previsão conduziu ao valor carga de solicitação da estaca. Vale ressaltar que se optou por utilizar o

455
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

fator de segurança global da norma brasileira neste trabalho (FS = 2,0), para que os resultados dos
seis métodos de previsão utilizados neste trabalho fossem comparados sob o mesmo valor do fator
de segurança.

Visando um conhecimento mais realista do comportamento das estacas que foram determinados a
partir do método de Décourt- Quaresma (1978), os valores das cargas de trabalho lateral e de ponta
estimadas a cada metro da estaca, utilizando-se o fator de segurança recomendado pelos autores
dos métodos estão mostrados nas Figuras 2 e 3, respectivamente. Da Figura 2, observa-se que a
carga de ponta entre os 14 m e 17 m de profundidade apresenta valores consideravelmente
elevados. A camada de solo referente a esse intervalo foi identificada como areia fina de
compacidade média, e apresenta os maiores valores de NSPT na sondagem (NSPT da ordem de 34,
a 15 m de profundidade), o que justifica o maior valor da carga de ponta atingida com esse
comprimento.

Quanto à carga mobilizada pelo atrito lateral observa-se da Figura 2. Perfil de carga de ponta das
estacas de diâmetro igual a 120 cm obtidas com o emprego do método de Décourt-Quaresma (1978),
utilizando o fator de segurança recomendado pelo método. que a estaca apresenta carga lateral (de
trabalho) suficiente aos 26 m de profundidade (2203,8 kN) para suportar a carga solicitante,
podendo ser esta, a cota de parada da estaca.

Figura 2. Perfil de carga de ponta das estacas de diâmetro igual a 120 cm obtidas com o emprego do
método de Décourt-Quaresma (1978), utilizando o fator de segurança recomendado pelo método.

456
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 3. Perfil de carga de trabalho por atrito lateral das estacas de diâmetro igual a 120 cm obtidas com o
emprego do método de Décourt-Quaresma (1978), utilizando o fator de segurança recomendado pelo
método.

Por outro lado, as estacas do bloco B2 precisariam trabalhar com carga de trabalho mínima de 1660
kN cada estaca, com 90 cm de diâmetro. Usando-se os mesmos métodos de previsão aplicados às
estacas do bloco B1, foram obtidos para as estacas do bloco B2 os valores mostrados na Tabela 4.

Tabela 4. Resultados dos métodos para estacas de 90 m.

MÉTODO DE CÁLCULO CARGA CARGA


LATERAL (kN)ADMISSÍVEL (kN)

Velloso (1981) 3103 1552


Aoki-Velloso (1975) 1821 911
Décourt-Quaresma (1978) 2214 1107
Teixeira (1996) 2273 1137
Alonso (1996) 2312 1156
Antunes e Cabral (1996) 2085 1043
MÉDIA 2301,3 1150,7
DESVIO PADRÃO 431,0 215,5
COEF. VARIAÇÃO 0,19 0,19

457
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Análogo ao caso das estacas de 120 cm de diâmetro nota-se que, novamente, o método de Velloso
(1981) foi o que apresentou o melhor resultado, quando comparados os métodos entre si, para
estaca de 27 m de comprimento. Entretanto, ele não atinge o valor da carga solicitante. Não foi
possível também identificar a cota de parada para os outros métodos devido à limitação da
profundidade da sondagem escolhida. Vale ressaltar ainda que o coeficiente de variação manteve-
se em 19% para as cargas lateral e admissível, representando uma variação mediana dos dados.

A análise das parcelas de resistência lateral e de ponta a cada metro de estaca pelo método de
Décourt-Quaresma (1978) utilizando os fatores de segurança recomendados pelos autores, indica
que as estacas apresentam carga lateral de trabalho suficiente a partir dos 27 m de profundidade,
corroborando a escolha do projetista pelo critério de parada a essa profundidade. Quanto à carga
de ponta, observou-se comportamento semelhante ao obtido para as estacas de 120 cm de
diâmetro.

458
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

5. CONCLUSÕES

Este trabalho apresentou resultados de uma análise de projeto de fundações em estacas do tipo
hélice contínua monitorada apoiadas em perfil geotécnico com presença de solo de baixa
resistência, incluindo areias fofas e argilas moles. Trata-se de um estudo de caso do projeto de
fundações da nova sede da Procuradoria do Ministério Público Federal na cidade de Aracaju, Estado
de Sergipe. O estudo foi realizado com base nos documentos fornecidos pelo Ministério Público, o
qual disponibilizou sondagens, atas de reuniões, plantas do projeto, memoriais descritivos, entre
outros.

As análises dos resultados das previsões de capacidade de carga possibilitaram detectar uma grande
variabilidade nos valores obtidos com a aplicação dos seis métodos escolhidos. O método tradicional
de Velloso (1981) foi o que apresentou os melhores resultados quando aplicado à previsão da
capacidade de carga das estacas de 90 cm e 120 cm de diâmetros. Entretanto, nenhum dos métodos
previu a capacidade de carga necessária para suportar a solicitação advinda da superestrutura,
considerando estacas com 27 metros de comprimento.

No tocante à análise dos resultados obtidos com a aplicação do método de Décourt- Quaresma
(1978), observou-se que ao utilizar o fator de segurança recomendado pelos autores (F.S = 1,3 para
a resistência lateral) foi possível atingir carga admissível suficiente para resistir à carga solicitante,
tomando-se como referência os 27 m de profundidade das estacas dos blocos B1 e B2. Isso se deveu
ao fato de que os autores do método sugeriram coeficientes de segurança menos conservadores do
que aquele presente na norma NBR 6122 (2010), isto é F.S. = 2.

459
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alonso, U. R. Estacas hélice contínua com monitoração eletrônica – Previsão da capacidade de carga
através do ensaio SPT-T. In: SEFE, 3., 1996, São Paulo. Anais... 1996b. V. 2, p.141-151.

Antunes, W. R.; Cabral, D. A. Capacidade de Carga de estacas hélice contínua. In: SEFE, 3., 1996, São
Paulo. Anais... São Paulo, 1996. V. 2, p. 105-109.

Aoki, N.; Velloso, D.A. (1975). An approximate method to estimate the bearing capacity of piles. V
Panamerican Conference on Soil Mechanics and Foundation Engineering, Bueno Aires, Argentina.

Décourt, L. & Quaresma Filho, A.R. Capacidade de carga de estacas a partir de valores de SPT. In: VI
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, 6., 1978, Rio de Janeiro.
Anais... Rio de Janeiro, 1978. v. 1. P. 45-54.

Penna, A.S.D.; Caputo, A.N.; Maia, M.C.; Palermo, G.; Gotlieb, M.; Paraíso, S.C.; Alonso, U.R. A estaca
hélice-contínua – a experiência atual. 1ª ed. São Paulo: FALCONI, F. F. & MARZIONNA, J. D. (Ed).
ABMS/ABEF/IE, 1999.

Teixeira, A.H. Projeto e Execução de Fundações. In: Seminário de Fundações Especiais e Geotecnia –
SEFE III, 1996. Anais... São Paulo: ABMS, 1996, v.1.

Velloso, P. P. C. Estacas em solo: dados para a estimativa do comprimento, Ciclo de Palestras sobre
Estacas Escavadas, Clube de Engenharia, Rio de Janeiro, 1981.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 29

DEGRADAÇÃO DE GEOTÊXTEIS DE
POLIPROPILENO EXPOSTOS À INTEMPÉRIES

Beatriz Mydori Carvalho Urashima (Universidade Federal de Lavras)


Denise de Carvalho Urashima (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais)
Mag Geisielly Alves Guimarães (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais)

Resumo: Para o emprego adequado dos geossintéticos deve-se conhecer as variáveis que
influenciam na sua durabilidade, inclusive a dinâmica atmosférica a que ficarão expostos. O artigo
apresenta resultados da degradação de dois tipos de geotêxteis tecidos de polipropileno, G1 e G2,
submetidos ao intemperismo de campo. A degradação foi avaliada por meio da resistência à tração
antes e após exposição em duas distintas estações climáticas (verão e outono de 2017), bem como
o efeito acumulativo da ação do período equivalente às duas estações em estudo, com os
parâmetros meteorológicos monitorados. No verão foi avaliada uma radiação UV-A de 136 MJ/m2 e
no outono 70 MJ/m2. As perdas de resistência à tração para G2 por período foram: 13% no verão e
8% no outono. As amostras expostas no período total perderam 20% da resistência à tração. Os
resultados isolados e com acúmulo de feitos foram promissores, considerando as variabilidades
envolvidas.

Palavras-chave: Durabilidade, degradação, intemperismo, resistência.

461
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

Distintos fatores podem afetar o comportamento de materiais poliméricos, pela alteração tanto de
suas características moleculares (massa molar, ramificações, reticulações, taticidade, entre outras)
como também de suas características físicas (cristalinidade, orientação molecular, tensões internas,
entre outras). Estas alterações podem levar a degradação do material e mesmo a sua falha
prematura (HANSEN, 2002).

Geossintéticos são materiais poliméricos empregados na engenharia civil em projetos geotécnicos e


de proteção ambiental, com distintas funções, tais como: drenagem, filtração, barreiras de fluxo,
controle de erosões superficiais, entre outras.

A durabilidade dos geossintéticos durante seu tempo de serviço é essencial para o bom desempenho
destes. A durabilidade pode ser compreendida como a capacidade do material de manter suas
propriedades funcionais durante o seu tempo de vida de serviço requerido no projeto. Neste
contexto, a durabilidade engloba a ocorrência de mudanças a nível micro e macroestrutural dos
geossintéticos. O primeiro envolve mudanças nas moléculas dos polímeros, constituintes básicos dos
geossintéticos, e o segundo abrange alterações em suas propriedades físicas e mecânicas. (ASTM D
5819, 2018; GREENWOOD, SCHROEDER e VOSKAMP, 2012).

A durabilidade dos geossintéticos depende de vários fatores, mas, principalmente, do ambiente a


que estes materiais serão expostos ao longo do tempo. Ressalta-se que a não observância destes
fatores degradantes pode gerar a ocorrência de falhas ou mesmo colapso das obras que empregam
geossintéticos, sendo relevante o estudo da durabilidade dos mesmos em distintas situações (ISO
TS 13434, 2008).

A exposição dos geossintéticos a radiação solar, principalmente a parcela referente ao ultravioleta


(UV), é uma das principais causas de degradação dos mesmos, sendo esta situação agravada pela
temperatura, presença de umidade, choque térmico ocasionado por chuvas e demais elementos
climáticos específicos do local de exposição, dando origem a cisões das cadeias poliméricas
(KOERNER, HSUAN e KOERNER, 1998).

A ponderação da degradação de geossintéticos por intempéries e, consequentemente de sua


durabilidade, pode ser realizada mediante exposição destes materiais aos elementos climáticos de
campo ou ensaios acelerados em laboratório. Ensaios de intemperismo de campo visam avaliar o
comportamento dos materiais quando expostos às condições climáticas de um determinado local,
visto que nem todas as intempéries são passíveis de serem simuladas em laboratório. Contudo, tem-

462
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

se como desvantagem um maior período de ensaio (FECHINE, SANTOS e RABELLO, 2006; SHUKLA e
YIN, 2006;

LEECH, 2010).

Considerando a importância da durabilidade na estimativa da vida de serviço de um geossintético,


bem como as dificuldades ainda encontradas para realizar esta previsão, o presente artigo avalia a
degradação em campo de geotêxteis tecido de polipropileno, com dois distintos níveis de proteção
contra radiação ultravioleta (UV).

Os geotêxteis foram submetidos às situações de intempéries, em ensaios de campo, avaliando os


resultados obtidos por meio de ferramentas estatísticas.

As variáveis respostas tomadas para análise foram resultados de ensaios de tração antes e após os
períodos de exposição.

2. DEGRADAÇÃO DE POLIPROPILENO

Poliolefinas, que correspondem a maior parcela de polímeros virgens utilizados na manufatura de


geossintéticos, incluindo o polipropileno, possuem baixa resistência a ataques de agentes externos
que promovem a redução da sua vida de serviço. Assim sendo, podem sofrer dois tipos de
degradação, por processo termo- oxidativo ou por foto-oxidação (AGNELLI e CHINELATTO, 1992).

A foto-oxidação ou fotodegradação é induzida pela absorção de radiação UV com comprimentos de


ondas menores que 250nm, o que ocasiona reações oxidativas autocatalíticas, as quais são
caracterizadas pela quebra de ligações covalentes, na cadeia principal ou lateral, originando espécies
altamente reativas denominadas de radicais livres (SUITS e HSUAN, 2003; MONTAGNA e SANTANA,
2012).

Os carbonos terciários, presentes nas cadeias poliméricas do polipropileno, requerem uma menor
energia na dissociação da ligação carbono-hidrogênio para formação de radicais livres, se comparado
aos carbonos primários e secundários, já que o carbono terciário possui três carbonos adjacentes
capazes de distribuir a nuvem eletrônica mais facilmente, tornando este um ponto muito reativo.
Por esse motivo este polímero é tão suscetível à degradação pela radiação UV (KOERNER, 2005; ISO
TS 13434, 2008).

No polipropileno são aplicados aditivos como estabilizantes térmicos, negro de fumo (carbon black)
e antioxidantes, com o objetivo de reduzir a degradação por raios UV e aumentar a durabilidade e a

463
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

resistência. Porém, a concentração e a combinação desses devem ser avaliadas levando em


consideração os mecanismos de degradação do polímero em questão, sua forma de processamento,
as dimensões da peça e as condições de uso da mesma, visto que, geralmente, o aditivo se
transforma em outro composto químico depois de ser consumido e sofrem mudanças devido ao
processo de estabilização. Além disso, altas concentrações podem produzir pró-degradantes, assim
como mostra a Figura 1 (MOL, 2014; DE PAOLI, 2008).

Figura 1. Esquema da variação do efeito do aditivo em função da sua concentração. (Adaptado de DE PAOLI,
2008).

Os aditivos estabilizantes reduzem ou retardam a degradação pela radiação UV, visto que todos os
polímeros sofrem este processo de degradação iniciado pela luz. Os tipos mais comuns destes
aditivos são os UV screeners, que absorvem ou refletem a radiação ultravioleta, fornecendo
opacidade ao polímero como o negro de fumo (carbon black). Os mesmos, quando combinados com
outros aditivos químicos, como as HALS (hindered amine light stabilisers), fornecem melhor
desempenho contra a degradação pela ação da radiação ultravioleta (CARNEIRO, 2009; ISO TS
13434, 2008).

3. METODOLOGIA

A metodologia do presente artigo abordou ensaios de avaliação do comportamento e,


consequentemente, da durabilidade de geotêxteis tecido de polipropileno com maior percentual de
aditivo de proteção contra radiação UV do tipo HALS, o qual é denominado nesta pesquisa de G1, e
com menor percentual, denominado de G2.

Os geotêxteis foram fabricados para fins de pesquisas, ainda em andamento, sendo que o percentual
de aditivo do tipo HALS no G1 é o dobro do percentual no G2 e ambos os percentuais foram menores
que 1%.

464
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

As análises foram realizadas por meio de ensaios de exposição de campo, ensaios de tração e análise
estatística dos dados.

3.1 ENSAIOS DE EXPOSIÇÃO EM CAMPO

Para a realização dos ensaios de exposição em campo foi necessário cortar amostras com dimensões
superficiais de (110 x 450) mm.

Os geotêxteis do tipo G1 e G2 cortados com as dimensões superficiais especificadas foram colocados


em exposição no campo.

Para a realização deste ensaio foram utilizados pórticos de aço galvanizado com armaduras que
permitissem a livre circulação do ar e, consequentemente, a exposição aos efeitos do tempo em
ambos os lados do material polimérico.

Os pórticos, localizados no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET MG,
Varginha (Latitude: 21° 33’ 05’’ S, Longitude: 45° 25’49’’ W, Altitude: 916m acima do nível do mar),
possuíam inclinação de 22°, estavam voltados para o Norte, garantindo assim que houvesse a maior
exposição possível à radiação solar, e se encontravam onde não existiam elementos que
provocariam sombra, interferindo nos resultados. A Figura 2 apresenta os pórticos já com os
geotêxteis fixados (ISO 877-1, 2009; ISO 877-2, 2009).

Figura 2. Pórticos para ensaios de exposição em campo.

A primeira etapa teve inicio no dia 21 de dezembro de 2016, ou seja, no ínicio do verão. No dia 21
de março de 2017 (fim do verão/início do outono), uma das amostras de geotêxtil tecido de
polipropileno do tipo G1 foi retirada, assim como uma do tipo G2.

Ao fim do outono/início do inverno o mesmo procedimento foi realizado. Desta maneira, no final da
exposição foram obtidas amostras expostas aos fatores climáticos do verão e do outono

465
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

individualmente, assim como de forma acumulativa (verão + outono), para análise de perda de
resistência.

Destas amostras foram retirados corpos de prova para a realização dos ensaios de resistência à
tração, cujos resultados comparados com os resultados dos ensaios de tração dos geotêxteis em
estudos intactos demonstraram a degradação sofrida.

3.2DINÂMICA ATMOSFÉRICA

A dinâmica atmosférica foi avaliada por meio dos dados meteorológicos dos períodos de exposição,
obtidos por meio do site do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET (Latitude: 21,566513° S,
Longitude: 45,404300° W,

Altitude: 950m acima do nível do mar), sendo os principais parâmetros a radiação solar total do local
e a precipitação, já que esses são os principais agentes responsáveis na degradação dos materiais
poliméricos.

Foi feito um embasamento em normas como a EN 13362 (2013), a EN 12224 (2000), a ISSO TS 13434
(2008) e autores como Greenwood, Schroeder e Voskamp (2012) para estimativa da radiação UV do
local de exposição, adotando-se na pesquisa um valor médio de 7,5% para a radiação UV local em
relação à radiação global.

3.3 ENSAIOS DE RESISTÊNCIA À TRAÇÃO DO TIPO “STRIP TESTS”

Os ensaios de tração para determinar a resistência nesta pesquisa foram realizados conforme
preconiza a Norma ASTM D 5035 (2011), os corpos de prova ensaiados possuiam 50 mm de largura,
sendo os mesmos fixados a uma distância de 75 mm entre as garras, e tracionados com uma
velocidade de 300mm/min. A Figura 3 ilustra um corpo de prova a ser ensaiado, conforme diretrizes
preconizadas na norma ASTM D 5035 (2011).

Os ensaios foram realizados em uma Máquina Universal para Ensaios de Tração e


Compressão, a Figura 4 ilustra o equipamento empregado.

466
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Os ensaios foram realizados na direção longitudinal de fabricação devido ao fato dos resultados
obtidos apresentarem menor coeficiente de variação se comparado com a direção transversal, para
este tipo de geotêxtil.

Figura 3. Fixação do corpo de prova na Máquina Universal.

Figura 4. Equipamento utilizado para realização dos ensaios de tração.

467
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Depois de transcorridos os ensaios de tração tanto dos geotêxteis intactos, bem como, dos corpos
de provas, após os períodos pré-estabelecidos de degradação em campo, os resultados foram
avaliados a partir da ponderação estatística por meio de intervalos de confiança (IC).

Em termos conceituais, o IC é um dos elementos mais importantes da inferência estatística, pois é a


partir deste, em conjunto com um estudo amostral, que se torna possível estimar, dentro de um
nível de confiança pré- estabelecido, qual é a faixa de valores que tem certa probabilidade de conter
no seu interior o verdadeiro valor do parâmetro populacional em análise (MONTGOMERY, 2008).

Para tanto, é necessário associar ao IC um nível de confiança, que é a probabilidade 1 - α que o


intervalo de confiança realmente contém o parâmetro populacional, supondo que o processo de
estimação seja repetido um grande número de vezes. O nível de confiança mais comum de escolha
é de 95% (com α = 0,05), pois resulta em um bom equilíbrio entre precisão (conforme refletido na
largura do intervalo de confiança) e confiabilidade (conforme expresso pelo nível de confiança).

Para cada situação de ensaio pós- degradação, utilizou-se oito corpos de prova no ensaio de
resistência à tração do tipo “Strip Tests” (ASTM D 5035, 2011), com o intuito de se obter valores
médios e os respectivos coeficientes de variação, bem como para a construção dos IC segundo
distribuição t de Student. Esta quantidade de corpos de prova foi dimensionada a partir da
variabilidade inerente dos dados de caracterização mecânica do geotêxtil tecido de polipropileno.

4. RESULTADOS

Para a análise da degradação do geotêxtil exposto, primeiramente foi necessário realizar a


caracterização do material não degradado, sendo essa efetivada pelo ensaio mecânico de
resistência à tração faixa estreita (ASTM D 5035, 2011).

Assim sendo, foram ensaiados dez corpos de prova de ambos os tipos de geotêxtil, G1 e G2, na
direção longitudinal. Os resultados obtidos e o comportamento dos materiais empregados na
pesquisa estão apresentados nos gráficos da Figura 5 e Figura 6.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 5. Gráfico representativo dos resultados obtidos na caracterização longitudinal do geotêxtil G1 não
degradado.

Figura 6. Gráfico representativo dos resultados obtidos na caracterização longitudinal do geotêxtil G2 não
degradado.

Para fazer a análise da degração foi preciso avaliar a dinâmica atmosférica do período em estudo.
Assim sendo, a Tabela 1 apresenta os valores, obtidos por meio do site do INMET, de radiação local
e precipitação no verão e outono, do ano de 2017. A Figura 7 apresenta o gráfico da dinâmica
atmosférica relativo às estações verão e outono do ano de 2017.

Posteriormente, as amostras expostas às estações verão e outono foram ensaiadas, bem como do
período de exposição verão + outono. Os resultados obtidos são apresentados na Figura 8 e 9, nas
quais se comparam os intervalos de confiança, com nível de confiança de 95%, dos geotêxteis
intactos e expostos.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 1. Valores de radiação local e de precipitação para

as estações do ano de 2017.

Radiação UV Precipitação (mm)


Estimada
Estação do ano
(MJ/m²)
Verão 136 342,40
Outono 70 165,40

Figura 7. Dinâmica atmosférica das estações verão e outono do ano de 2017.

Figura 8. Geotêxtil G1: Intervalos de confiança de resistência à tração (KN/m) do geotêxtil intacto e
degradado nos períodos pesquisados.

Verifica-se a ocorrência da degradação por intemperismo em ambos os geotêxteis G1 e G2, uma vez
que os intervalos de confiança se deslocaram à esquerda dos respectivos intervalos para os
geotêxteis intactos.

470
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 9. Geotêxtil G2: Intervalos de confiança de resistência à tração (KN/m) do geotêxtil intacto e
degradado nos períodos pesquisados.

Devido a maior incidência de radiação UV no verão, ocorreu um maior gradiente de degradação para
esta estação climática.

As perdas de resistência à tração por período para G1 foram: 29% no verão e 7,5% no outono. As
amostras expostas no período total perderam 28,6% da resistência à tração. Para G2, as perdas
obtidas foram: 13% no verão e 8% no outono e 20% de perda de resistência à tração para o período
total.

471
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

5. COMENTÁRIOS FINAIS

A manutenção das propriedades de materiais poliméricos frente a sua exposição a fatores que
podem levar a sua degradação prematura precisa ser avaliada no desenvolvimento de projetos,
viabilizando a eficácia e sucesso da obra.

Os geossintéticos são materiais constituídos por matrizes poliméricas, com distintas aplicações
dentro de obras geotécnicas ou ambientais, podendo ficar expostos e, consequentemente, sofrer
degradação por ação de intempéries.

Assim sendo, para o emprego adequado dos geossintéticos deve-se: conhecer as variáveis que
influenciam na degradação ao longo da vida de serviço; compreender de que forma esses agentes
degradadores afetam a estrutura do material estudado em cada realidade climática; e compreender
como as propriedades mais relevantes do material em estudo são afetadas.

Foi possível verificar uma maior degradação para a estação climática do verão se comparado a
estação do outono, devido a maior incidência de radiação UV em ambos os geotêxtis ensaiados.
Deste modo, o comportamento de longo prazo de geossintéticos usados em situações expostas às
intempéries podem ser diretamente influenciados pelo início estabelecido para a instalação e uso
de tais materiais em campo.

Além disso, é importante se atentar para as condições de armazenagem dos geossintéticos antes de
sua utilização (tanto em fábrica quanto na obra), obedecendo-se as condições estabelecidas em
norma (ISO TS 13434, 2008), principalmente para o emprego em situações nas quais os
geossintéticos forem dimensionados para uso enterrados ao solo.

Destaca-se a relevância do emprego de ferramentas estatísticas, como construção de intervalos de


confiança (IC), para a compreensão da relação estresse-resposta, dado a variabilidade inerente dos
dados, mas sempre dentro de um intervalo de confiança.

AGRADECIMENTOS

A empresa HUESKERLtda, pela fabricação e fornecimento de materiais específicos para o


desenvolvimento da pesquisa. A Universidade Federal de Lavras pelo suporte financeiro e ao Centro
Federal de Educação Tecnológico de Minas Gerais pelo suporte para a pesquisa laboratorial.

472
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

Agnelli, J.AM. e Chinelatto, M. A. (1992). Degradação de Polipropileno: Aspectos Teóricos e Recentes


Avanços em sua Estabilização, Polímeros: Ciência e Tecnologia, ABPol, Vol. jul/set-92, p. 27-31.

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM D 5035 (2011) Standard
Test Method for Breaking Force and Elongation of Textile Fabrics (Strip Method), ASTM
International, Pennsylvania, 2011.

ASTM D 5819 (2018) Standard Guide for Selecting Test Methods for Experimental Evaluation of
Geosynthetic Durability, ASTM International, Pennsylvania.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 10318 (2013) Geossintéticos


— Termos e definições, Rio de Janeiro, 2013. Carneiro, J.R.C. (2009). Durabilidade de Materiais
Geossintéticos em Estruturas de Carácter Ambiental - A Importância da Incorporação de Aditivos
Químicos, Tese de Doutorado, Universidade do Porto, 602 p.

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Paulo, São Paulo, BR, 221 p.

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473
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

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Switzerland..

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p. 111-122.

474
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 30

SOIL SURVEY: METODOLOGIA INOVADORA,


NO BRASIL, ADOTADA PELA CTR-RIO, PARA
CONTROLE DE QUALIDADE DA INSTALAÇÃO
DE GEOMEMBRANAS

Priscila Mendes Zidan (Evolui Consultoria Ambiental)


Luiz Paulo Achcar Frigo (Evolui Consultoria Ambiental)

Resumo: A metodologia de Soil Survey, utilizada para a inspeção de geomembranas, mostra-se


muito adequada para minimizar os riscos de iniciar a disposição de resíduos em uma camada de
impermeabilização danificada. Estudos Canadenses indicam que a densidade de danos por hectare
de geomembranas instalada está em média entre 4-22 furos. O Controle de Qualidade utilizado nos
aterros brasileiros não inclui, porém, esta metodologia ou similar. Tal fato pode não apresentar
consequências perceptíveis no momento, mas que sejam verificadas a longo prazo. O Aterro
Sanitário da CTR-Rio, adotou esta metodologia de monitoramento e os resultados encontrados, após
4 anos de operação, indicaram densidades de furos variando entre 0,5 e 8 danos/hectare, para cerca
de 310.000 m2 de área inspecionada. Todos os danos identificados puderam ser reparados antes no
início da disposição dos resíduos.

Palavras-chave: Danos na geomembrana, controle de qualidade, inspeção, impermeabilização,


aterro sanitário.

475
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A partir do estabelecimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (1), no Brasil, em agosto de


2010, foi definido o prazo para o encerramento de todos os lixões no país. Apesar de esta meta ter
sido recentemente prorrogada (2), um número expressivo de lixões foi encerrado, dando lugar a
implantação de aterros sanitários licenciados.

Apesar de a normatização que estabelece os padrões para licenciamento de aterros (3, 4) não definir
a implantação de geomembrana em sua base, este requisito tornou-se exigência mínima pelos
órgãos ambientais.

Considerando que a geomembrana é utilizada como o principal agente impermeabilizante que irá
impedir a contaminação do solo e das águas subterrâneas, a verificação de sua integridade após a
instalação e antes da disposição dos resíduos torna-se fundamental.

Atualmente, no Brasil, o método de Controle de Qualidade da instalação da geomembrana mais


utilizado é a inspeção da solda (costura).

Este método, porém, inspeciona apenas um pequeno percentual em área da geomembrana


instalada, não identificando possíveis danos causados por outras origens que não a solda.

Além disso, esse teste não inspeciona a geomembrana após a implantação do solo de cobertura,
etapa onde ocorre a maioria dos danos, devido a utilização que equipamentos pesados na
construção do liner e aplicação efetiva de carga sobre a geomembra.

O Resultado de estudos estatísticos desenvolvidos no Canadá (5), a partir do dados de


monitoramento dos vazamentos em geomembranas, em 89 projetos ao longo de 10 anos (2.652.000
m2 de área), identificou que:

• A densidade de danos encontrados nas geomembranas instaladas varia, em média entre 4 e


22 danos por hectare. Esta variação depende do nível de controle de qualidade adotado na
instalação da geomembrana.

• 73% dos danos causados ocorreram durante a aplicação do solo de cobertura sobre a
geomembrana; 24% ocorreu durante a instalação da geomembrana e somente 2% dos danos
ocorreram após a fase de implantação.

476
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

• Ao contrário do que o consenso atual reconhece, a maior parte dos danos não ocorre devido
a procedimentos inadequados de solda

A norma ASTM D7007 (Standard Practices for Electrical Methods for Locating Leaks in
Geomembranes Covered with Water or Earthen Materials) (6), estabelece metodologia adequada e
muito difundida fora do Brasil, para controle de qualidade da geomembrana após a aplicação da
camada de cobertura: o Soil Survey e o Water Survey (pesquisa em geomembranas cobertas por solo
e água, respectivamente).

Tratam-se dos métodos elétricos para a inspeção de geomembranas cobertas (com solo ou água,
por exemplo). O princípio deste método é a aplicação de uma diferença de potencial através do
material plástico para identificar se há alguma passagem de corrente, o que caracterizará que existe
dano. Com o uso do método, consegue-se localizá-lo e promover o reparo antes da aplicação dos
resíduos (9).

Os métodos elétricos para inspeção de geomembranas são requisito obrigatório para aterros
sanitários em alguns locais nos estados dos Estados Unidos, como é o caso de dos Estados de Nova
Jersey e Texas (8).

No Brasil, a metodologia do Soil Survey já foi incluída como controle de qualidade da implantação
do aterro sanitário da CTR-Rio, em Seropédica.

A adoção de tal prática representa uma segurança relevante para o órgão ambiental, para o
empreendedor responsável pela operação do aterro, para as indústrias que dispõem seus resíduos
nos aterros.do artigo.

2. METODOLOGIA

O aterro sanitário estudado possui quatro camadas de impermeabilização: 0,50 m de argila


compactada, geocomposto bentônico (GCL), manta de 1,5 mm de PEAD (Polietileno de Alta
Densidade) e, outra manta, do mesmo material, com 2 mm de espessura. O espaçamento entre as
mantas é feito pela aplicação de uma camada drenante, constituída por 20 cm de areia e tubos de
PEAD perfurado, os chamados drenos testemunhos e 15 cm de argila (logo abaixo da manta de 2
mm). A primeira camada de geomembrana, a de 2 mm de espessura, é ainda recoberta por uma
camada de 0,50 m de solo compactado, a qual é chamada de selo mecânico.

477
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

No caso de qualquer vazamento de chorume pela primeira geomembrana (a mais próxima da


camada de resíduos), o chorume irá escoar pela camada drenante, sendo coletado através do dreno
testemunho (tubos de PEAD).

Na camada de 15 cm de argila, estão implantados eletrodos que são utilizados para o


monitoramento de vazamentos na geomembrana após o início da disposição dos resíduos. Estes
eletrodos, porém, não são utilizados para a realização da metodologia do Soil Survey.

O presente estudo avaliou os resultados das inspeções por Soil Survey, desenvolvidas na primeira
camada de geomembrana, ou seja, na de 2,0 mm de espessura e que fica logo abaixo do selo
mecânico e representa a primeira barreira de impermeabilização que poderá ter contato com o lixo
e chorume da célula.

Em virtude da complexidade do planejamento associados às atividades de operação e implantação


do Aterro Sanitário da CTR-Rio, as células de resíduos foram nomeadas conforme uma codificação
específica, a qual chamaremos genericamente por células de A à G.

As áreas referentes à cada uma das células implantadas e testadas pela metodologia do Soil Survey,
seguem apresentadas na fig. 1 abaixo.

Os resultados do presente estudo referem-se às pesquisas realizadas em aproximadamente 31


hectares de células implantadas.

3. FIGURAS E TABELAS

As figuras e tabelas deverão ser nítidas e inseridas no texto, junto à sua primeira referência, nunca
excedendo as margens da página. As legendas das figuras são inseridas abaixo da ilustração. As
legendas das tabelas são inseridas acima das mesmas.

Figura 1. Identificação e dimensão das células implantadas que foram submetidas ao monitoramento do Soil Survey.

478
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

A metodologia do Soil Survey consiste na aplicação de uma tensão elétrica através da geomembrana.
Essa tensão elétrica irá produzir um campo elétrico uniformemente distribuído quando não existem
furos na geomembrana. Caso existam furos, esses são detectados e localizados através da
identificação de anomalias no campo elétrico, causado pela fuga de corrente através desses furos.
Essas anomalias do campo elétrico são identificadas através das medições realizadas em toda área
de implantação da manta, em pontos pré-definidos pelo localizados na geomembrana.

Durante a inspeção, utiliza-se uma fonte de tensão ligada a dois eletrodos. O eletrodo fonte é
instalado no solo sobre a geomembrana e o eletrodo de retorno será instalado no solo abaixo da
geomembrana. A fonte de tensão irá gerar, através do eletrodo fonte, um campo elétrico no solo de
cobertura. Caso haja furo na geomembrana haverá fuga de corrente elétrica no sentido do eletrodo
de retorno localizado sob a geomembrana.

O monitoramento de toda a área é realizado a partir da definição de uma malha, através da qual são
feitas as medições de campo. O espaçamento da malha utilizado foi de 3 m e as medições foram
feitas a cada 1,5 m. Os dados de campo foram coletados nos medidores portáveis e, depois
transferidos para o software que realiza a interpolação dos dados e permite sua avaliação para a
localização dos danos.

Figura 2. Diagrama esquemático que traduz o embasamento do método do Soil Survey.

479
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 3. Técnico realizando as medições em campo, referentes ao Soil Survey.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir dos resultados obtidos no monitoramento das células em estudo, calcularam-se as


densidades de danos por hectares em cada caso. Estabeleceu-se, também, uma classificação para os
danos encontrados, comparando os mesmos com resultados já divulgados em literatura. Os dados
consolidados seguem apresentados nos gráficos a seguir:

Figura 4. Densidade de danos encontrados em cada uma das células inspecionadas pelo Soil Survey no CTR-
Rio.

De acordo com a Fig. 4, a densidade de danos foi menor nas áreas A a E, tendo estes resultados
ficado abaixo da média de danos por hectare encontrados nos estudos disponíveis na literatura (5).

Já os resultados do monitoramento das área F e G, apesar de maiores do que as anteriores, ficaram


dentro da média dos projetos estudados (5).

480
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 5. Classificação e percentual de ocorrência dos principais danos encontrados na geomembrana das
áreas inspecionadas pelo Soil Survey.

Em relação aos tipos de danos encontrados, os cortes e punções são os que se apresentam em maior
frequência, sendo seguidos por cortes irregulares, depois falha na solda da emenda e, por fim, danos
por máquinas.

A comparação dos tipos de danos encontrados na CTR-Rio e os disponíveis na literatura, segue


apresentada na Fig. 6, a seguir

Figura 6. Frequência de ocorrência dos diferentes tipos de danos encontrados nas pesquisas de Soil Survey
da CTR-Rio, comparados com aquela identificada na literatura(5)

Nota-se, a partir dos dados acima que, existe grande similaridade em relação `a frequência de danos
por punção e corte linear na CTR-Rio e nos demais projetos estudados (5). Já os cortes irregulares
foram mais frequentes na CTR-Rio e as falhas de solda, em muito menor frequência dos que as
encontradas nos projetos estudados anteriormente.

As fig. 7 e 8, a seguir, apresentam imagens de danos que foram identificados ao longo do


monitoramento de Soil Survey, nas células da CTR-Rio. A Fig. 7 representa um dano por punção de
rocha e na Fig. 8, tem-se um dano em solda de emenda entre as geomembranas.

481
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 7. Dano causado `a geomembrana durante a instalação.

Figura 8. Falha identificada na solda da emenda entre as geomembranas.

482
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. CONCLUSÕES

O controle de qualidade realizado através do método do Soil Survey, se mostrou eficiente em


identificar danos causados na geomembrana durante sua instalação e cobertura.

Os resultados do monitoramento da primeira camada de geomembrana do aterro sanitário da CTR-


Rio encontram-se compatíveis com os padrões disponíveis na literatura, no que se refere aos tipos
de danos. Identificaram-se, porém, melhores resultados médios em relação `a densidade de danos
por hectare, em relação aos projetos estudados na literatura. Tal fato deve estar associado ao
controle de qualidade que vem sendo adotado nas atividades de implantação da geomembrana
neste aterro.

Em virtude da realização do monitoramento do Soil Survey, na primeira camada, a CTR-Rio teve a


oportunidade de reparar 53 danos no total, distribuídos em torno de 31 hectares, e evitar futuros
vazamentos para a camada drenante e posteriores camadas de impermeabilização.

Os dados obtidos demonstram que são reais e, inerentes `as atividades de implantação, as
possibilidades de ocorrência de danos nas geomembranas de PEAD usadas para a impermeabilização
de aterros. Por este motivo é que este tipo de monitoramento deveria ser adotado, pelos aterros
brasileiros, `a exemplo da CTR Rio, como modelo de inspeção para o controle de qualidade da
instalação.

Tal prática, já bastante difundida fora do Brasil, representa uma inovação no país com relação ao
controle de qualidade de geomembranas e ação de minimização de riscos ambientais, inerente às
atividades de disposição final de resíduos.

483
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

Lei 12.305/2012: Política Nacional de Resíduos Sólidos Lei 425/2014.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS: NBR 13896 (1987): Aterros de resíduos não
perigosos - critérios para projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro, Brasil.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 8419 (1984): Apresentação de projetos de


aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos - procedimento. Rio de Janeiro, Brasil.

Forget et al (2005). Lessons Learned from 10 years of leak detection surveys on geomembranes.
Quebec, Canada.

ASTM D7007-09 (2009) – Standard Practice for Electrical Methods for Locating Leaks in
Geomembranes Covered with Water or Earth Materials

ASTM D6747-02 (2002) - Standard Practices for Electrical Methods for Locating Leaks in
Geomembranes Covered with Water or Earthen Materials.

Thiel, R.; Darilek, G.T.; Laine, D.L. (2003) Cutting Holes for testing vs. testing for holes. GFR Magazine,
June/July 2003.

Laine, D.L.; Darilek, G.T. (1993). Locating Leaks in Geomembrane Liners of Landfills Covered with a
Protective Soil. Geosynthetics 93 – Vancouver, Canada – 1403-1412.

Relatórios de Soil Survey, disponibilizados pela CTR-Rio.

484
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 31

ANÁLISE DE RECALQUES MONITORADOS EM


CAMPO DE DOIS EDIFÍCIOS COM FUNDAÇÕES
EM MACIÇO ROCHOSO DA CIDADE DE
CARUARU-PE

Yago Ryan Pinheiro dos Santos (Universidade Federal de Pernambuco)


Maria Isabela Marques da Cunha Vieira Bello (Universidade Federal de Pernambuco)
Alexandre Duarte Gusmão (Universidade de Pernambuco)

Resumo: Este trabalho apresenta um caso de obra de dois edifícios (torres A e B) em concreto
armado, com fundações superficiais em maciço rochoso localizados na cidade de Caruaru-PE, e que
tiveram seus recalques monitorados em 6 estágios de sua obra, até a sua conclusão. Através da
instalação de pinos de monitoramento engastados em seus pilares e de instrumentação apropriada,
foram feitas as leituras desses valores. Registrou-se recalques absolutos máximos de 19 mm para a
torre A e de 12,15 mm para a torre B, além de valores de 12,4 mm de recalques diferenciais na torre
A e de 7,6 mm para a torre B. Evidenciou-se que, apesar do empreendimento estar assente em
maciço rochoso, os valores medidos foram significativos, mostrando a importância do
monitoramento de recalques de uma obra, cuja prática deve ser considerada nos projetos de
fundações de edifícios, independentemente do terreno que suportará os esforços da estrutura.

Palavras-chave: Instrumentação de Campo, Recalques, Maciço Rochoso.

485
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

O termo Recalque refere-se ao deslocamento vertical, para baixo, sofrido pelos elementos discretos
da fundação devido à deformação sofrida pelo maciço de solos ou de rochas. Segundo Antoniazzi
(2011), os valores dos recalques seriam praticamente uniformes caso os elementos de fundação
tivessem as mesmas dimensões e o subsolo fosse homogêneo, o que não ocorre na prática, visto
que o solo apresenta uma grande variabilidade e os elementos de fundação, além dos tamanhos
diversos, estão também submetidos à diferentes carregamentos que chegam até eles pelos pilares
da superestrutura.

Diante da grande variabilidade dos elementos de fundação e do terreno, o desempenho do sistema


de fundação pode ser verificado, dentre outras práticas, através do controle e monitoramento de
recalques.

É reconhecível a manifestação dos recalques (principalmente os diferenciais) nas edificações, por


meio do aparecimento de patologias nos seus elementos estruturais, como fissuras e rachaduras;
diante disto, o acompanhamento ou o controle de recalques é necessário para a identificação precisa
do comportamento real das fundações (MILITITISKY, CONSOLI E SCHNAID, 2008).

A prática de acompanhamento de recalques por meio de instrumentação de campo é usual, sendo


retratada por diversos autores, a serem citados Gusmão (1990), Gonçalves (2004), Danziger et al.
(2005), Russo Neto (2005), Mota (2009), Savaris, Hallak e Maia (2011), Santos (2016) e Rosa (2016).

No seu item sobre o desempenho de fundações, a NBR 6122 (2010) relata que o monitoramento de
recalques é obrigatório nos seguintes casos:

 Estruturas nas quais a carga variável é significativa em relação à carga total, tais como silos e
reservatórios;

 Estruturas com mais de 60 m de altura do térreo até a laje de cobertura do último piso
habitável;

 Relação altura/largura (menor dimensão) superior a quatro;

 Fundações ou estruturas não convencionais.

Ainda segundo a NBR 6122 (2010), o programa de monitoramento, incluído no projeto de fundações,
deve conter informações como a referência de nível indeslocável a ser utilizada, as características
dos aparelhos de medida e a frequência e período em que serão realizadas as leituras dos recalques.

486
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tal procedimento, que segue uma instalação de controle segundo a NBR 9061 (1995), utiliza um nível
óptico de precisão que é interligado a um marco de referência (bench mark), além de uma mira em
chapa de invar com escala graduada que é apoiada em pinos metálicos de extremidade esférica e
que são engastados nos pilares da edificação, podendo ser fixos ou removíveis. Russo Neto (2005)
esquematiza, em seu trabalho, o monitoramento de recalques e seus elementos, como pode ser
visto na Figura 1. Russo Neto (2005) recomenda ainda que as leituras sejam feitas, sempre que
possível, pelo mesmo operador, tanto do nível, como o da mira, verificando sempre se a base da
mira está limpa e que, seja feita a instalação de mais de uma referência de nível no local, de modo a
contemplar a aferição de eventuais deslocamentos e a propiciar um elemento de reserva contra
eventuais acidentes de obra.

Figura 1. Esquematização do procedimento para monitoramento de recalques (RUSSO NETO, 2005).

Milititsky, Consoli e Schnaid (2008) apontam que os pontos de medição dos recalques devem ser
escolhidos de modo a facilitar as leituras e fornecer os dados necessários ao acompanhamento do
problema suscitado. Afirmam ainda que a periodicidade das medidas está relacionada com os efeitos
a serem acompanhados, podendo ser diárias em casos especiais ou situações de risco, semanais em
casos de escavações e execução de tirantes, mensais ou bimensais em casos de monitoramento de
rotina e semestrais ou anuais quando os efeitos a serem verificados são de longo prazo.

Tendo em vista a importância do assunto, o presente trabalho mostra a prática de monitoramento


de recalques em edificações, através de um caso de obra de um empreendimento residencial
composto por duas torres com fundações superficiais em maciço rochoso, localizadas na cidade de
Caruaru, Pernambuco.

2. APRESENTAÇÃO DO CASO DE OBRA

O caso de obra a ser analisado neste trabalho trata-se de um empreendimento residencial composto
por dois edifícios em concreto armado, localizados na Av. Adjar da Silva Casé, Bairro Indianópolis, no

487
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

município de Caruaru- PE. As torres, intituladas “A” e “B”, possuem, respectivamente, 32 e 35


pavimentos tipo, além de ambas possuírem pavimento térreo com 2 níveis, 2 pavimentos de
mezanino (onde localiza-se o estacionamento para os veículos dos moradores), pavimento de
cobertura e ático reservatório superior).

Por se localizar na região do Planalto da Borborema, Caruaru apresenta um terreno com


características resistentes, tendo a predominância de rochas pouco a muito fraturadas. Após a
campanha de investigação de subsolo na área de estudo, que consistiu na execução de 14 furos de
sondagens do tipo mista (8 furos na área da torre A e 6 furos na área da torre B), constatou-se a
presença de um subsolo composto por uma camada superficial fina de solo arenoso pedregulhoso,
seguido por uma camada de rocha alterada (área da torre A) e por aterro arenoso (área da torre B);
finalmente, até a profundidade investigada (em média 10 m em relação ao nível do terreno), foi
encontrado uma camada de rocha metamórfica alterada (cataclasito), com valores de RQD (rocky
quality designation) predominantemente maiores que 80%, e ausência de nível d’água.

Devido às características do terreno, o projeto de fundações do empreendimento consistiu em


sapatas isoladas e associadas, com bases assentes em cotas diferentes. As Figuras 2 e 3 mostram,
respectivamente, o perfil geotécnico representativo e a projeção das sapatas da área da torre A,
com a localização dos furos de sondagem executados; as Figuras 4 e 5 mostram,
respectivamente, o perfil geotécnico representativo e a projeção das sapatas da área da torre B, com
a localização dos furos de sondagem executados na área.

Figura 2. Perfil geotécnico representativo do terreno da torre A.

488
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 3. Projeção das sapatas da torre A

Figura 4. Perfil geotécnico representativo do terreno da torre B e localização dos furos de sondagem
executados na área.

489
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 5. Projeção das sapatas da torre B e localização dos furos de sondagem executados na área

Durante a execução da obra, foram monitorados, de acordo com as recomendações previstas pelas
NBR 6122 (2010), os recalques sofridos pela estrutura por meio de instrumentação de campo. O
procedimento consistiu na instalação de pinos de monitoramento nos 22 pilares da torre A (PA01–
PA22), e nos 18 pilares da torre B (PB01 – PB18), localizados no pavimento térreo, onde, por meio
de um nível óptico, foram registrados os valores dos recalques parciais. As leituras foram realizadas
em 6 diferentes estágios da obra, onde a primeira leitura foi realizada no momento em que foram
instalados os pinos e a última leitura realizada após a conclusão da obra. As Tabelas 1 e 2 mostram,
respectivamente, os diferentes estágios em que a obra das torres A e B se encontravam no momento
das leituras de recalques.

Tabela 1. Estágios da obra da torre A.

Nº da Data da Dias Estágio de obra Torre


leitura Leitura transc. “A”
1 14/11/13 0 Laje do pav. térreo
concluída
2 06/08/14 265 Laje do 25º pav. tipo
concluída
3 04/11/14 355 Laje do ático concluída
4 28/04/15 530 Alvenaria interna do 32º
pav. tipo concluída
5 23/10/15 708 Instalação de esquadrias
no 17º pav. tipo
6 04/07/16 963 Obra concluída

490
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 2. Estágios da Obra da torre B

Nº da Data da Dias Estágio de obra Torre


leitura Leitura transc. “B”
1 14/11/13 0 Laje do pav. térreo
concluída
2 06/08/14 265 Laje do 29º pav. tipo
concluída
3 04/11/14 355 Laje do ático concluída
4 28/04/15 530 Revestimento interno do
25º pav. tipo concluído
5 23/10/15 708 Instalação de esquadrias
no 17º pav. tipo
6 04/07/16 963 Obra concluída

3. ANÁLISES E DISCUSSÕES

A Tabela 3 mostra os valores, em milímetros, dos recalques absolutos parciais medidos nos pilares
da torre A, nos 6 diferentes estágios de obra mencionados.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 3. Recalques absolutos parciais da torre A.

Recalques (mm)
Leituras
Pilar 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª
PA01 0.00 0.61 1.22 3.61 3.20 -
PA02 0.00 1.81 -0.14 4.94 4.44 -
PA03 0.00 2.28 0.59 6.04 5.59 -
PA04 0.00 3.29 1.78 7.74 7.51 -
PA05 0.00 1.59 -1.55 4.62 4.21 -
PA06 0.00 2.76 1.04 7.11 7.09 -
PA07 0.00 3.21 1.83 8.04 7.68 -
PA08 0.00 3.51 2.57 9.13 9.42 -
PA09 0.00 3.94 2.92 9.22 9.27 -
PA10 0.00 4.12 3.32 9.59 10.64 -
PA11 0.00 2.42 3.09 5.23 5.27 -
PA12 0.00 2.63 0.77 6.58 6.33 -
PA13 0.00 3.26 5.44 8.12 - -
PA14 0.00 3.70 5.96 8.88 - -
PA15 0.00 4.51 6.88 9.66 - -
PA16 0.00 5.02 7.43 10.90 11.89 13.38
PA17 0.00 1.72 2.51 7.11 - -
PA18 0.00 3.32 5.25 7.54 - -
PA19 0.00 5.79 8.76 11.44 - -
PA20 0.00 9.84 14.48 18.37 - -
PA21 0.00 8.28 11.95 15.33 17.38 18.99
PA22 0.00 2.32 3.73 6.09 6.03 6.52

Nota-se que alguns recalques da 5ª leitura e os recalques da 6ª leitura não foram registrados, devido
ao fato de que os pinos de monitoramento foram removidos pelos operadores da obra sem a
autorização do responsável pelas leituras; pode-se ainda observar possíveis erros no registro desses
valores de recalques dos pilares PA02 e PA05 durante a 3ª leitura.

O recalque absoluto máximo final foi registrado no pilar PA21, com o valor de 18,99 mm; já o
recalque diferencial máximo final foi registrado entre os pilares PA21 e PA22, com o valor de 12,47
mm.

A Tabela 4 mostra os valores, em milímetros, dos recalques absolutos parciais medidos nos pilares
da torre B, nos 6 diferentes estágios de obra mencionados.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 4. Recalques absolutos parciais da torre B.

Recalques (mm)
Leituras
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª
Pilar

PB01 0.00 1.84 1.80 3.87 3.92 -


PB02 0.00 4.60 4.50 6.93 - -
PB03 0.00 5.90 6.98 9.90 11.02 -
PB04 0.00 6.51 7.18 9.91 11.11 -
PB05 0.00 4.23 2.93 5.97 - -
PB06 0.00 3.15 3.57 6.45 6.91 -
PB07 0.00 4.17 4.43 6.81 7.39 -
PB08 0.00 4.90 5.27 7.57 8.10 -
PB09 0.00 4.17 3.80 6.01 - -
PB10 0.00 3.31 3.40 5.64 7.72 -
PB11 0.00 6.27 7.10 9.69 10.50 12.15
PB12 0.00 3.02 3.74 5.45 5.65 -
PB13 0.00 3.34 3.97 6.35 6.35 -
PB14 0.00 2.61 2.50 5.02 5.41 6.18
PB15 0.00 1.68 1.75 - 4.63 -
PB16 0.00 2.13 1.92 4.29 4.45 4.51
PB17 0.00 2.92 3.50 5.48 6.66 6.62
0.00 2.37 2.30 4.11 4.91 5.01
PB18

Da mesma forma que ocorreu na torre A, observa-se que alguns recalques da 5ª leitura e os
recalques da 6ª leitura da torre B não foram registrados, pelos mesmos motivos já mencionados
anteriormente.

O recalque absoluto máximo final foi observado no pilar PB11, com o valor de 12,15 mm; já o
recalque diferencial máximo final foi registrado entre os pilares PB11 e PB16, com o valor de 7,64
mm.

A Tabela 5 mostra o resumo dos principais valores de recalques registrados durante o


monitoramento.

Tabela 5. Informações sobre os recalques observados.

493
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Os valores dos recalques diferenciais ficaram abaixo dos limites propostos por Bjerrum (1963) para
as ditorções angulares (razão entre o recalque diferencial e a distância entre os centros das sapatas
onde foi registrado o recalque diferencial) para o aparecimento de problemas em elementos
estruturais, que é de 1/150.

A Tabela 6 registra os valores dos recalques médios obtidos pela média entre os valores registrados
para cada leitura das torres A e B, além da média de recalques considerando as duas torres juntas.

Tabela 6. Recalques médios observados.

Observa-se que, em relação ao recalque médio da torre A, o maior valor é notado na 6ª leitura (12,96
mm); já na torre B, o maior recalque médio pode ser observado na 5ª leitura (6,98 mm).
Considerando as duas torres juntas, o maior recalque médio é observado na 6ª leitura, com o valor
de 9,93 mm.

A Tabela 7 mostra os recalques médios observados nos pilares centrais e de extremidade da torre A;
a Figura 6 representa a relação entre os recalques médios registrados nos pilares centrais e de
extremidade da torre A em função dos dias transcorridos do monitoramento.

Tabela 7. Recalques médios dos pilares centrais e de extremidade - Torre A.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 6. Recalques médios dos pilares centrais e de extremidade – Torre A.

A Tabela 8 mostra os recalques médios observados nos pilares centrais e de extremidade da torre B;
a Figura 7 representa a relação entre os recalques médios registrados nos pilares centrais e de
extremidade da torre B em função dos dias transcorridos do monitoramento.

Tabela 8. Recalques médios dos pilares centrais e de extremidade - Torre B.

Figura 7. Recalques médios dos pilares centrais e de extremidade – Torre B.

495
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

É possível observar através das figuras 6 e 7 que os recalque médios obtidos nos pilares centrais
são sempre maiores que os recalques nos pilares de extremidade em ambas as torres; pode-se
dizer que isto ocorre devido ao fato de que os pilares centrais transmitem maiores esforços ao
terreno se comparados com os de extremidade, gerando assim, maiores recalques. Pode-se
mencionar ainda que, para as edificações analisadas, não ocorreu a estabilização de seus
recalques até o fim do período de tempo em que foi realizado o monitoramento, provavelmente
pelo fato de que, analisando seus últimos estágios da obra, ainda havia um aumento considerável
de carregamento na estrutura, contribuindo, assim, para o aumento de seus recalques.

A Tabela 9 apresenta os valores das velocidades parciais da evolução dos recalques médios em
função dos dias transcorridos do monitoramento realizado nas torres A e B; a Figura 8 apresenta o
gráfico das velocidades parciais dos recalques médios em função do tempo transcorrido do
monitoramento.

Tabela 9. Velocidades parciais dos recalques médios.

Figura 8. Velocidades parciais dos recalques médios.

As velocidades parciais dos recalques médios de ambas as torres apresentaram uma certa variação
nos intervalos de tempo observados. As mesmas apresentaram valores abaixo do valor limite de

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

velocidade permitido para fundações superficiais e profundas em edificações em construção, que,


segundo Alonso (1991), é de 200 m/dia.

4. CONCLUSÕES

O monitoramento de recalques por meio de instrumentação de campo mostrou-se, neste trabalho,


essencial para analisar o comportamento da estrutura e do terreno de suporte das edificações
citadas. Foi possível observar, para este caso de obra, a evolução de recalques com valores
significativos, apesar de sua estrutura estar assente em subsolo rochoso com valores de RQD
predominantemente maiores que 80%. Embora tenham apresentado valores de recalques
diferenciais na ordem de 12 mm para a área da torre A e de 7 mm para a área da torre B, tais
números não apresentam riscos e danos nos elementos estruturais das edificações, segundo os
limites estabelecidos por Bjerrum (1963); além disso, considerando a velocidade dos recalques
absolutos médios, os valores obidos apresentaram-se bem abaixo dos limites determinados por
Alonso (1991) para fundações de edifícios em fase de construção. A prática de monitoramento de
recalques é, portanto, essencial para avaliar o desempenho e a segurança de construções, e deve ser
considerada em projetos de fundações independentemente das características do terreno que dará
suporte aos seus esforços.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

ABNT. (1995). NBR 9061: Segurança de escavações a céu aberto, Rio de Janeiro, 31 p.

ABNT. (2010). NBR 6122: Projeto e execução de fundações, Rio de Janeiro, 91 p.

Alonso, U. R. (1991). Previsão e Controle das Fundações. São Paulo: Edgard Blucher, 156p.

Antoniazzi, J. P. (2011). Interação solo-estrutura de edificações com fundações superficiais. 139 f.


Dissertação (Mestrado em engenharia civil e ambiental), Universidade Federal de Santa Maria, Santa
Maria.

Bjerrum, L. (1963). Interaction between structure and soil. Proceedings... European CSMFE,
Wiesbaden, Vol. 2, pp. 135-137.

Danziger, B. R., Carvalho, E. M. L., Costa, R. V., Danziger, F. A. B. (2005). Estudo de caso de obra com
análise da interação solo estrutura. Revista de Engenharia Civil, n. 23, p. 43-54.

Gonçalves, J. C. (2004). Avaliação da influência dos recalques das fundações na variação de cargas
dos pilares de um edifício. 141 f. Dissertação (Mestrado em engenharia civil) - COPPE, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

Gusmão, A. D. (1990). Estudo da interação solo-estrutura e sua influência em recalques de


edificações. 189 f. Dissertação (Mestrado em engenharia civil) - COPPE, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro.

Milititisky, J., Consoli, N. C., Schnaid, F. (2008). Patologia das fundações. São Paulo, ed. Oficina de
Textos, 207 p.

Mota, M. M. C. (2009). Interação solo-estrutura em edifícios com fundação profunda: método


numérico e resultados observados no campo. 222 f. Tese (Doutorado em engenharia de estruturas)
– Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.

Rosa, L. M. P. (2016) Interação solo-estrutura: Análise contemplando a consideração da fluência do


concreto.

203 f. Tese (Doutorado em engenharia civil), Universidade Federal Fluminense, Niterói.

498
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Russo Neto, L. (2005). Interpretação de deformação e recalque na fase de montagem de estrutura


de concreto com fundação em estaca cravada. 310 f. Tese (doutorado em geotecnia) – Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.

Santos, M. J. A. P. (2016). Interação solo x estrutura: análise de um caso de obra com


acompanhamento dos recalques desde o início da construção. 139 f. Dissertaçã (Mestrado em
engenharia civil), Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Savaris, G., Hallak, P. H.

Maia, P. C. A. (2011) Understanding the mechanism of static soil-structure interaction – A case study.
Soils and Rocks, ABMS, vol. 34, n. 3, p. 195-206.

499
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 32

ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA E


REOLÓGICA DE REJEITO GRANULAR E LAMA
DEPOSITADA EM BARRAGEM DE REJEITOS DE
MINERAÇÃO DE CARVÃO
Christiane Ribeiro Müller (UNESC)
Jair Carlos Koppe (UFRGS)
Flávia Cauduro (UNESC)

Resumo: A mineração, especialmente do carvão, foi o eixo central para o progresso da tecnologia
industrial. Atualmente, em torno de 40% da geração de energia mundial está relacionada com a
mineração de carvão. Os rejeitos da mineração de carvão, comumente chamados rejeitos piritosos
mesmo não apresentando alto teor de pirita, são constituídos de material ácido que causa efeitos
nocivos ao meio ambiente e, por isso, são depositados nas barragens de rejeitos. Apesar dos
benefícios relacionados com a disposição de rejeitos da mineração, as barragens apresentam
potenciais riscos já que acumulam grandes volumes de materiais. Neste contexto, a pesquisa vem
de encontro com as necessidades impostas pela legislação ao buscar dados sobre os materiais
depositados em uma barragem de rejeitos. Isto posto, o objetivo principal da pesquisa é a
determinação das características geotécnicas do rejeito granular armazenado na barragem e,
também, a determinação da viscosidade da lama (rejeito de granulometria fina) armazenada. O
presente artigo é parte integrante de um estudo motivado pela ausência de modelos específicos
para barragens de rejeitos que busca definir uma metodologia específica para simulações de
rupturas de uma barragem de rejeitos de carvão.

Palavras-chave: Barragem, Rejeitos, Carvão, Geotecnia, Reologia.

500
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A mineração, ação ou efeito de minerar, em tempos modernos se trata de uma atividade cara e
complexa em virtude das etapas necessárias até que ocorra a concentração do minério. Tal
atividade, mesmo que possua a melhor e maior rentabilidade possível, apresenta, ao longo de seus
processos, a geração de resíduos, os quais são classificados de estéreis ou rejeitos. De acordo com
Boscov (2008, p. 13) “os estéreis são gerados pelas atividades de lavra que buscam alcançar o
minério como, por exemplo, o decapeamento, enquanto que os rejeitos são resíduos resultantes
dos processos de beneficiamento para a concentração do minério desejado”.

A mineração, especialmente do carvão, foi o eixo central para o progresso da tecnologia industrial.
O carvão, rocha sedimentar originada a partir da decomposição de matéria orgânica, se trata de um
combustível fóssil utilizado tanto para gerar energia elétrica em usinas termoelétricas quanto como
matéria-prima para produzir aço nas siderúrgicas. Atualmente, em torno de 40% da geração de
energia mundial está relacionada com a mineração de carvão. De acordo com Rubio (1988, p.16) “o
beneficiamento de carvão representa um exemplo clássico de relações interligadas entre
processamento de um recurso mineral, energia e impacto ambiental”.

No processo de extração e beneficiamento do carvão são geradas quantidades elevadas de estéreis


e rejeitos em virtude das baixas relações estéril-minério, já que o carvão no sul do Brasil é
considerado de baixa qualidade. Os rejeitos da mineração de carvão, comumente chamados rejeitos
piritosos, mesmo não apresentando alto teor de pirita, são constituídos de material ácido que causa
efeitos nocivos ao meio ambiente e, por isso, são depositados nas barragens de rejeitos.

Barragens de rejeito são estruturas construídas para disposição de de rejeitos nas bacias formadas
à montante. As barragens evitam que o material depositado escoe diretamente para os cursos de
águas superficiais. Conforme Portaria n° 70.389 do DNPM, “barragens de mineração são aquelas
com atividades de direito minerário, construídas em cota superior às da topografia do terreno e
utilizadas para contenção, acúmulo, decantação ou descarga de rejeitos, contendo, ou não, captação
de água associada”. Como barragem de mineração ativa fica entendido, de acordo com a mesma
portaria, aquela que esteja em operação, ou seja, “recebendo rejeitos e/ou sedimentos oriundos da
atividade de mineração”. Vale ressaltar que órgão DNPM, Departamento Nacional de Produção
Mineral, foi extinto no final do ano de 2017, sendo substituído pela Agência Nacional de Mineração
(ANM).

501
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Mesmo que a probabilidade de ruptura de uma barragem seja relativamente baixa, a ocorrência de
um rompimento pode causar um dano catastrófico e um tanto irreversível. Desta forma, apesar dos
benefícios relacionados com a disposição de rejeitos da mineração, as barragens apresentam
potenciais riscos já que acumulam grandes volumes de materiais. Conforme Oliveira (2016), o risco
das barragens está relacionado ao armazenamento de energia potencial. No caso de rompimento, a
energia potencial armazenada se transforma, devido ao movimento, em energia cinética.

A energia cinética, também conhecida como energia de movimento, possui influência direta na
propagação da onda de cheia. A propagação da onda de cheia, se relaciona com as vazões, com a
velocidade de escoamento e com a viscosidade do material, além do tipo de material, rejeito de
carvão no caso deste estudo. Tais fatos estão diretamente ligados com o máximo espalhamento do
material no caso de um rompimento.

Considerando o contexto acima descrito, esta pesquisa vem de encontro com as necessidades
impostas pela legislação ao buscar dados informativos sobre os materiais depositados na barragem.
Isto posto, o objetivo principal deste trabalho é a determinação das características geotécnicas do
rejeito granular armazenado na barragem e, também, a determinação da viscosidade da lama
(rejeito de granulometria fina) armazenado no mesmo local.

A pesquisa entende que, para a simulação dos cenários de ruptura hipotética de uma barragem de
rejeitos de mineração, dados a respeito da viscosidade do fluido serão considerados como de
extrema importância, já que o rejeito armazenado é considerado como um fluido não newtoniano.
Atualmente as modelagens são facilitadas a partir de softwares que retratam com alta precisão os
dados físicos reais.

Deste modo, o presente artigo é parte integrante de um estudo motivado pela ausência de modelos
específicos para barragens de rejeitos tanto no âmbito nacional quanto internacional, cujo objetivo
principal como um todo busca definir uma metodologia específica para uma análise de ruptura de
uma barragem de rejeitos de carvão.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Barragens de rejeitos são consideradas grandes obras da engenharia geotécnica. Relacionando esse
tipo de barragens com a ciência mecânica dos solos, é possível afirmar que nestas, os rejeitos
granulares são entendidos como o “solo” enquanto que a lama seria a “água”. Desta forma, existe

502
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

uma perda de resistência mecânica ao longo da vida útil das barragens, uma vez que os alteamentos
são realizados com o próprio rejeito granular para aumento da capacidade do reservatório.

A Figura 1 apresenta o fluxograma de processos desenvolvido para o atendimento do objetivo


proposto neste artigo. O desenvolvimento da pesquisa contemplou a caracterização do material em
termos geotécnico e reológico.

Definição da barragem em
estudo

Coleta de amostras de rejeito


granular

Coleta de amostras de lama

físicas e mecânicas do rejeito


granular

Determinação da reologia da lama

Figura 1. Fluxograma de processos.

O material granular coletado na barragem foi armazenado em sacos plásticos devidamente


identificados. Foi encaminhado ao Laboratório de Mecânica dos Solos da Universidade do Extremo
Sul Catarinense (UNESC) para realização da sequência de ensaios proposta. Inicialmente, em
laboratório, o material foi encaminhado à estufa, onde permaneceu por um período entre 24 e 48
horas, conforme a umidade presente, etapa de preparação das amostras. De posse do material já
seco, os ensaios foram realizados.

Já com relação à caracterização reológica, esta envolve a análise do rejeito produzido na usina de
beneficiamento e descartado na forma de lama. Para esta pesquisa, a lama é composta por rejeito
de granulometria fina oriundo do processo de beneficiamento de carvão e foi coletada na saída da
tubulação que desagua o rejeito na barragem. O material, armazenado em uma bombona plástica
higienizada, foi encaminhado ao Laboratório de Materiais Poliméricos (LaPol) da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para realização do ensaio de viscosidade. Para a determinação

503
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

da viscosidade foi utilizado o reômetro Brookfield LV DV-E. A utilização do equipamento do tipo LV


foi decorrente do aspecto “líquido” da amostra.

Vale salientar que os ensaios de caracterização descritos foram executados de acordo com suas
normas específicas previstas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), de acordo com
a Tabela 1.

Tabela 1: Normas Técnicas (ABNT)

Norma Descrição
Amostras de solo – Preparação para
6457/2016 ensaio de compactação e ensaio de
caracterização
7181/2016 Análise Granulométrica
6459/2016 Limite de Liquidez
7180/2016 Limite de Plasticidade
7182/2016 Ensaio de Compactação

3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1 ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DO REJEITO GRANULAR

A caracterização geotécnica do rejeito granular foi iniciada com a amostragem, em quatro pontos,
na praia de rejeitos da barragem, motivada pela diversificação de partículas observadas no local,
conforme numeração apresentada na Figura 2. Os resultados serão apresentados conforme a
localização dos pontos de coleta.

Figura 2. Localização dos pontos de coleta de amostras de rejeito granular.

504
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3.1.1 GRANULOMETRIA SIMPLES, ÍNDICES FÍSICOS E DE CONSISTÊNCIA

Ao coletar quatro pontos, a expectativa era de que existisse um decréscimo no tamanho das
partículas entre os pontos coletados, ou seja, o ponto 1 deve possuir maior granulometria e o 4,
menor. Referente a questões geológicas, uma vez que o carvão, rocha sedimentar biogênica, é
formado a partir de sedimentos de origem biológica responsáveis pela formação de depósitos de
óleo, gás e carvão. Durante o processamento mineral, o material extraído é beneficiado e passa por
processos de cominuição, fazendo com que suas partículas fiquem, ainda menores. Como, ao longo
do processo, água é adicionada, existe, de certa forma, um elemento facilitador para o transporte
das partículas, uma vez que a água atua como lubrificante.

Os resultados referentes aos ensaios de granulometria simples conforme ABNT NBR 7181:2016
estão apresentados na Figura 3. Nas curvas fica evidenciada a variabilidade nos tamanhos das
partículas ao longo dos pontos de coleta. É possível observar que a presença de partículas com de
menor tamanho ocorrem, como esperado, no ponto de coleta 4. Isto se dá devido aos movimentos
que auxiliam no transporte do material fino, uma vez que as partículas maiores são mais pesadas e,
por isso, tendem a apresentar menor energia para transporte.

Figura 3. Curvas de determinação granulométrica.

A Tabela 2 apresenta um quadro comparativo com relação aos tamanhos das partículas presente
nos pontos de coleta 1 a 4 de rejeitos granulares. A faixa de tamanho das frações presentes segue o
proposto na norma, exceto para os finos, uma vez que estes foram classificados como o passante na
peneira de número 200.

505
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 2. Quadro comparativo referente às frações constituintes correspondentes às porcentagens retidas


para as amostras 1 a 4.

Partículas % retida – rejeitos granulares


Fração Faixa de Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4
tamanho
Pedregulh o 4.8mm a 1.03 4.20 0.84 0.27
7.6cm
Areia 2mm a 32.70 60.70 26.98 4.06
grossa 4.8mm
Areia média 0.42mm a 49.74 20.41 38.00 6.65
2mm
Areia 0.05mm 10.27 4.60 9.69 5.58
fina a
0.075m
m
Silte + menor 6.26 10.09 24.49 83.44
Argila que
(finos) 0.075m
m

Conforme abordado anteriormente, fica evidenciada a presença de maior quantidade de finos no


ponto de coleta 4. Ainda, o quadro resumo permite observar que os valores com relação aos finos
tiveram variação crescente entre os pontos 1 e 4, ou seja, menor quantidade de finos está presente
no ponto 1, equivalente a 6.26%, enquanto a maior quantidade no ponto 4, 83.44% da massa total.

Ainda, ao observar o quadro resumo, é possível perceber que a variação na presença de finos é
bastante alta ao comparar o ponto 4 com os demais. Tal situação impacta diretamente na
determinação dos índices de consistência, uma vez que os valores de finos obtidos nos pontos 1, 2
e 3 são inferiores a 35%, ou seja, a predominância é de material intermediário, dificultando, com
isso, características relacionadas a plasticidade.

Com base nos resultados descritos acima, comprovado pela fração de finos nos resultados
apresentados, as amostras referentes aos pontos de coleta 1, 2 e 3 se mostraram pouco coesas, não
possibilitando a realização dos ensaios de limite de liquidez (LL) e limite de plasticidade (LP). O
material, considerado de composição predominantemente de partículas intermediárias, não
apresentou plasticidade suficiente para realização dos ensaios.

Com relação ao ponto de coleta 4, devido a sua composição predominante de finos, com,
aproximadamente, 83% de material passante na peneira n° 200, os ensaios para determinação de LL
e LP foram realizados e apresentaram valores de 40.11% e 25.05%, respectivamente.

506
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3.1.2 CLASSIFICAÇÃO DAS AMOSTRAS DE REJEITOS GRANULARES

Apesar das limitações impostas na coleta de alguns parâmetros das curvas de granulometria e nos
limites de consistência, as classificações SUCS e HRB foram realizadas para as quatro amostras. Os
resultados estão apresentados nas Tabelas 3 e 4, respectivamente.

Com base na totalidade dos parâmetros necessários, somente as amostras coletadas nos pontos 1 e
2 foram classificadas. Ambas as amostras, devido a quantidade de material passante na peneira n°
200 entre 5 e 12%, apresentam classificação com nomes duplos, envolvendo as duas classes.

Deste modo, a classificação SUCS resultou em um material denominado “areia mal graduada siltosa”
para a amostra 1 e em “areia bem graduada siltosa” para a amostra 2.

Tabela 3: Resultados para classificação SUCS dos rejeitos granulares

Parâmetro Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4

% passante 6.26 10.09 24.49 83.44


peneira n° 200
% retida 0 0 0 0
peneira n° 4
D10 (%) 0.15 0.07 - NP
D30 (%) 0.30 0.50 0.18 NP
D60 (%) 0.50 1.20 0.45 NP
LL (%) NP NP NP 40.11
LP (%) NP NP NP 25.05
IP (%) NP NP NP 15.06
CC 1.20 2.98 - -
CNU 3.33 17.14 - -
Classificação SUCS SP-SM SW- SM - -

Com relação a classificação HRB, em virtude da ausência de LL, LP e, consequentemente, IP, além
das porcentagens passantes na peneira n° 200, inferior a 35% e na peneira n° 10, superior a 50%,
resultou em um mesmo tipo de material para as amostras dos pontos 1, 2 e 3, na classe A-2.

Quanto ao material coletado no ponto 4, como a porcentagem passante na peneira n° 200 é superior
a 35%, este constitui o grupo de material de granulometria fina. Com base nos dados de LL, 40.11%
e IP, 15.06, o material foi classificado com A-7-6.

507
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 4: Resultados para classificação HRB dos rejeitos granulares

Parâmetro Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4

% passante 98.97 95.80 99.16 99.74


peneira n° 10
% passante 44.58 25.13 56.29 94.33
peneira n° 40
% passante 6.26 10.09 24.49 83.44
peneira n° 200
LL (%) NP NP NP 40.11
LP (%) NP NP NP 25.05
IP (%) NP NP NP 15.06
Classificação HRB A-2-4 A-2-4 A-2-4 A-7-6

3.1.3 ENSAIO NORMAL DE COMPACTAÇÃO

O ensaio normal de compactação (Proctor Normal) foi realizado conforme ABNT NBR 7182:2016. A
Tabela 5 apresenta um quadro resumo para melhor leitura dos resultados principais, peso específico
seco e umidade ótima, para cada ponto. Na tabela é possível verificar que, a medida que avançamos
para o ponto 4, o material necessita maior umidade. Esta condição é justificada pela maior
quantidade de partículas finas presentes na amostra coletada no ponto 4, decorrente do transporte
dos sedimentos mais leves. Com isso, é notável uma tendência de comportamento entre os pontos
1 e 2, uma vez que sua classificação, anteriormente apresentada, pertence à mesma classe. Já com
relação aos pontos 3 e 4, a medida que aumenta a quantidade de finos, existe uma necessidade de
aumento de umidade, fazendo com que os valores referentes às densidades secas sejam menores
do que os obtidos para os pontos 1 e 2.

Tabela 5: Quadro comparativo dos resultados de compactação para os quatro pontos de rejeito granular

Parâmetro Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4

Peso específico 1.470 1.465 1.440 1.240


seco (g/cm³)
Umidade ótima 18.04 16.50 22.01 28.00
(%)

3.2 ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO REOLÓGICA DA LAMA

A caracterização reológica envolve a análise do rejeito da usina de beneficiamento, descartado na


forma de lama. Neste caso, é composta por material de granulometria fina oriundo do

508
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

beneficiamento de carvão e foi coletada na saída da tubulação que deságua o rejeito na barragem,
apresentado na Figura 3.

Figura 4. Localização do ponto de deságue do rejeito fino (lama), na barragem.

A Tabela 6, apresenta os resultados obtidos ao longo do ensaio. Foram realizadas três leituras após
a estabilização dos dados, visando a confiabilidade dos resultados obtidos. Para a realização do
ensaio foi definida a velocidade de giro do spindle como 100 rpm e, também, verificada a
temperatura no local, de 25.2°C.

Tabela 6: Resultados do ensaio de caracterização reológica para determinação da viscosidade da lama.

Ensaio Viscosidade (cP) Torque (%)

1 7.20 11.80
2 7.32 12.00
3 7.14 11.90
Média 7.22 11.90

Em termos de resultado final foi utilizada a média dos dados obtidos. Desta forma, 7.22 cP foi
considerada a viscosidade dinâmica final a um torque de 11.9%, lembrando que 1 cP equivale a 1
mPa.s no SI. Sabendo que a viscosidade dinâmica da água, a 25°C, é de 0.89 mPa.s, ao comparar os
resultados é notável a diferença existente quanto ao escoamento entre a água e o rejeito, uma vez
que o rejeito se mostrou, aproximadamente, oito vezes mais viscoso apesar de seu aspecto “líquido”.

509
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa vem de encontro com as necessidades impostas pela legislação ao buscar dados iniciais
e fundamentais com relação a caracterização geotécnica e reológica de materiais depositados em
uma barragem de rejeitos. Tais dados são úteis no caso de modelagem de cenário de ruptura da
barragem já que, atualmente as modelagens são facilitadas a partir de softwares que retratam com
alta precisão os dados físicos reais.

O desenvolvimento da pesquisa contemplou a caracterização do material em termos geotécnico e


reológico. Tais dados serão, futuramente, utilizados na modelagem dos cenários de ruptura da
barragem, a partir da utilização de softwares específicos, seguindo a legislação vigente.

Para o desenvolvimento do trabalho foram realizadas coletas de material granular em quatro pontos
da barragem de rejeitos em estudo, além da coleta em um ponto da lama depositada diretamente
na barragem via tubulação. O entendimento sobre o tipo de material armazenado na barragem,
tanto o rejeito granular quanto a lama, é considerado fundamental, uma vez que as barragens
sofrem processos de alteamentos que estão diretamente relacionados com sua capacidade de
armazenamento.

Vale salientar, ainda, que o dado a respeito da viscosidade será utilizado para a modelagem, pois o
conhecimento a respeito da velocidade de escoamento permite que as previsões sobre zonas
potencialmente afetadas pela ruptura da barragem sejam aprimoradas no detalhamento de
questões ao longo do plano de segurança.

Tão importantes quanto os materiais de construção das barragens, estão os materiais de fundação
e/ou a própria geologia quando favorável para se comportar como fundação. Assim, está
apresentada a conexão existente entre as barragens de rejeitos e a mecânica dos solos, promovendo
e favorecendo um estudo dos solos e dos enrocamentos das barragens, dados fundamentais para a
garantia de segurança das grandes obras.

O presente artigo é parte integrante de um estudo motivado pela ausência de modelos específicos
para barragens de rejeitos que busca definir uma metodologia específica para simulações de
rupturas de uma barragem de rejeitos de carvão. Com isso, os resultados obtidos na caracterização
do material servirão como base para a modelagem do mapa de inundação para tal barragem,
conforme legislação de segurança atualmente em vigor no país.

510
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

AGRADECIMENTOS

 Curso de Engenharia Civil e Laboratório de Mecânica dos Solos da Universidade do Extremo


Sul Catarinense – UNESC;
 Laboratório de Pesquisa e Planejamento Mineiro da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul – LPM/UFRGS;
 Laboratório de Polímeros da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – LaPol/UFRGS.

511
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

Agência Nacional de Mineração. Portaria nº 70.389, de 17 de maio de 2017. Cria o Cadastro Nacional
de Barragens de Mineração, o Sistema Integrado de Gestão em Segurança de Barragens de
Mineração e estabelece a periodicidade de execução ou atualização, a qualificação dos responsáveis
técnicos, o conteúdo mínimo e o nível de detalhamento do Plano de Segurança da Barragem, das
Inspeções de Segurança Regular e Especial, da Revisão Periódica de Segurança de Barragem e do
Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração, conforme art. 8°, 9°, 10, 11 e 12 da Lei
n° 12.334 de 20 de setembro de 2010, que estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens
- PNSB. DNPM, 2017. Disponível em: < http://www.anm.gov.br/portaria- dnpm-n-70389-de-17-de-
maio-de-2017-seguranca-de- barragens/view >. Acesso em 10 de janeiro de 2018.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. Amostra de solo – Preparação para ensaios de


compactação e ensaios de caracterização: NBR 6457. Rio de Janeiro: ABNT, 2016.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. Análise granulométrica método de ensaio: NBR 7181. Rio
de Janeiro: ABNT, 2016.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. Determinação do Limite de Liquidez: NBR 6459. Rio de
Janeiro: ABNT, 2016.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. Determinação do Limite de Plasticidade:


NBR 7180. Rio de Janeiro: ABNT, 2016.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. Ensaio de Compactação: NBR 7182. Rio de Janeiro: ABNT,
2016.

Boscov, M.E. Geotecnia ambiental. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.

Cruz, P.T. 100 Barragens Brasileiras – Casos históricos, materiais de construção e projeto. 2 ed. São
Paulo: Oficina de Textos, 1996.

Oliveira, A.M. Mapeamento de áreas suscetíveis a inundação por rompimento de barragem em


ambiente semiárido. Tese de doutorado. 2016, 143p. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2016.

Pinto, C.S. Curso básico de mecânica dos solos. São Paulo: Oficina de texto, 2001.

Rubio, Jorge. Carvão mineral. Porto Alegre, Nova Linha Artes Gráficas, 1988. V.1: Caracterização e
beneficiamento.

512
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 33

ANÁLISE DA VIABILIDADE TÉCNICA DA


ESTABILIZAÇÃO DE SOLOS TROPICAIS COM
UTILIZAÇÃO DE FINOS DE PEDREIRA

Eduardo Delfino Botacim (Multivix)


Lucas Mageski Bergamaschi (Multivix)
Ligia Abreu Martins (Multivix)
Guilherme Ventorim Ferrão (Multivix)
Luiz Daniel Miranda de Oliveira (Multivix)

Resumo: Na execução de obras rodoviárias geotécnicas, percebe-se que a necessidade de recursos


naturais com alta resistência e baixa expansão se faz cada vez mais presente. No entanto, jazidas
com solos que atendam tais requisitos por sua vez estão cada vez mais escassas. Neste contexto,
pode-se aliar esta necessidade a um problema sofrido pela indústria de rochas ornamentais no
estado do Espírito Santo, à qual durante a extração gera de 30% a 40% de resíduos que não possuem
destinação adequada. Neste âmbito, o presente artigo consiste na caracterização e estudo de
resistência à compressão por meio do ensaio de California Bearing Ratio (CBR) de misturas solo –
granito com percentual de 0%, 15%, 25% e 35%. A adição de resíduo resultou no aumento da
capacidade mecânica do solo. Analisando a utilização de tais misturas para a execução de sub-bases,
percebe-se que a adição entre 18% e 28% de resíduos atinge valores superiores a 20% de CBR
exigidos na norma DNIT 139/2010 ES.

Palavras-chave: Resistência, Sub-base, Finos de pedreira, CBR, Expansão

513
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A crescente preocupação da sociedade com a degradação do meio ambiente e o que isto irá
acarretar às gerações futuras tem conduzido a técnicas de reduzir, reaproveitar e reciclar. No setor
de rochas ornamentais no ano 2009, segundo a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais -
CPRM (2013) cerca de um milhão e cinquenta mil metros cúbicos de rocha foram extraídos, desse
percentual entre 30% e 40% são resíduos, sendo que, de acordo com o Serviço Brasileiro de
Respostas Técnicas - SBRT (2006), isto vem acarretando grandes impactos ambientais,
principalmente devido ao fato de não possuírem uma destinação correta e adequada.

A utilização de resíduos para a estabilização de solos pode ser uma alternativa escolhida para o
melhoramento de algumas de suas características naturais. O resíduo produzido por industrias de
mineração, normalmente não possui uma destinação adequada, de acordo com Silveira (2010) esses
resíduos são depositados na forma de pilhas ou barragens com baixo controle geotécnico,
comprometendo a qualidade técnica destas estruturas devido ao grande volume de resíduos
gerados.

Segundo Fujimura et al. (1996), são considerados finos de pedreira os materiais de granulometria
inferior a 4,8 milímetros (mm), derivados dos processos de perfuração, detonação e britagem de
rochas.

Apesar de todo processo de beneficiamento de rochas ornamentais gerar finos de pedreira, Petrucci
(1975) considera que os melhores finos de britagem são os que provêm de granitos e rochas com
grande proporção de sílica. Visto que o material pulverulento que geralmente é trazido com os grãos
provoca um consumo maior de água, visto que a sílica não possui características expansivas e de
absorção.

Neste processo exploratório, Mendes (1999) identifica os tipos de impactos ambientais associados
à exploração de pedreiras devido à geração de finos, como: poluição atmosférica, alterações no
regime hidrológico, assoreamento em cursos d’água, ocupações indevidas de áreas, ruídos,
vibrações e consumo excessivo de água. Corroborado por Taveira (1997), que por sua vez relaciona
a dimensão dos impactos ambientais ocasionados por uma atividade de mineração, às
características sociais e ambientais do meio, ao tamanho do empreendimento, às propriedades e
localização da jazida e as tecnologias e tratamentos realizados.

Realizar o reaproveitamento desses resíduos em obras de construção civil, traz uma possibilidade de
um direcionamento mais eficaz para esse subproduto da indústria de rochas ornamentais. Batista

514
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

(1976) enfatiza que no ramo rodoviário ou aeroportuário, a técnica de estabilizar um solo está
intrinsecamente correlacionada com os métodos de tratamento adotados aos quais os solos são
submetidos (sem aditivos ou com eles), de modo que se tenham os subleitos, sub-bases e bases e
ocasionalmente os revestimentos, capazes de suportar as cargas do tráfego normalmente aplicadas
sobre o pavimento.

De acordo com Batalione (2007) o comportamento laterítico desperta os maiores interesses na


engenharia de pavimentação por possuírem comportamento que viabilizam o seu uso na produção
de camadas de pavimento. Vargas (1994) reporta que a importância dos solos tropicais como
material de construção rodoviária no Brasil foi reconhecida no final da década de 30, quando da
criação da seção de solos e fundação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT).

O DNER (1981) exige que para a execução de sub-base um CBR maior que 20% e expansão e retração
de até 1%, contudo Osinubi (1998) encontrou valores de CBR para solos lateríticos de 8 a 13% para
o solo em estado natural. Com isso é necessário realizar uma estabilização tornando-o utilizável para
esse fim. Neste âmbito, Silveira (2010) propõe utilizar os resíduos finos associados a materiais
naturais (solo), a fim de melhorar as propriedades do mesmo e transformar o material sem valor
econômico em um material ambientalmente viável em aplicações geotécnicas.

Neste contexto, Silveira (2010) ensaiou amostras de um solo com coloração avermelhada e grande
parte de finos. A granulometria do solo foi de típica de silte-arenoso e dos resíduos foi de areno-
siltosa. Os resíduos utilizados foram colhidos em duas pedreiras diferentes, ambas compostas por
granito e micaxisto. As análises constituíam três amostras de solo, uma com o solo em seu estado
natural e duas com a mistura solo e pó de pedra. As proporções foram 10%, 15% e 20% de resíduos
em relação ao peso de solo natural. As amostras com adições de 10% e 15%, forneceram valores de
CBR superiores a 20%.

Nos estudos de Batalione (2007) foram coletados três tipos de solo: sendo o primeiro caracterizado
tátil e visualmente como sendo um cascalho de quartzo com frações de silte e argila, o segundo foi
identificado como argilo-arenoso com plasticidade menor em relação ao primeiro e a terceira de um
solo de cor avermelhada, composto por argila. As proporções de resíduo nas misturas foram de
15%, 25% e 35%. As amostras com adição de 15% e 25%, respectivas aos dois primeiros tipos de solo,
forneceram valores de ISC superiores a 20%.

Sendo assim, ambas as pesquisas os compostos que trouxeram os valores de CBR superiores a 20%,
tornaram a mistura capaz de ser utilizada em sub-bases de acordo com a norma ES 301 (DNER, 1997)

515
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

No entanto, faz-se necessária a análise diferenciada para cada tipo de rocha proveniente de cada
tipo de pedreira, visto que por ser um material anisotrópico e heterogêneo as rochas apresentam
uma variação extensa de propriedades, dentre elas resistência, em uma mesma classificação de
origem.

Segundo Nogami e Villibor (1983) os métodos estudados para solos de rodovia utilizados nos países
em desenvolvimento tem origem em países desenvolvidos os quais apresentam climas frios e
temperados. Sendo eles baseados nas propriedades-índice de solos e para análise completa o CBR.

Os mesmos autores em Nogami e Villibor (1995) afirmam que estes métodos possuem limitações
devido ao fato de não levarem em consideração as peculiaridades dos solos em regiões tropicais,
tais como solos lateríticos e saprolíticos.

Fatores como esses fazem com que frequentemente os solos destas regiões tropicais sejam
utilizados de forma inadequada compromentendo o desempenho da obra rodoviária interligada.

Mesmo com estas intercorrências, diante deste cenário, pretende-se investigar o comportamento
mecânico de misturas solo – granito por meio do ensaio de CBR para utilização como base de
rodovia. Visto que nas normas rodoviárias brasileiras este é o método utilizado. Com isso deseja-se
avaliar consequentemente o efeito da adição de granito no que diz respeito à melhoria das
propriedades mecânicas do solo estudado e analisar o percentual de aditivo ideal para a função
desejada.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 MATERIAIS

O solo estudado foi coletado em uma jazida localizada no município de Venda Nova do Imigrante,
apresentado em seu estado natural uma cor avermelhada com cristais de quartzo em sua
composição. Este matérial possuia a finalidade de camada superficial de estrada de terra na região.
Tal escolha deveu-se aos problemas vistos nestas áreas pela falta de resistência do material. As
amostras foram acondicionadas em sacos plásticos e transportadas até o laboratório de mecânica
dos solos da faculdade Multivix Vitória.

O resíduo foi coletado em lavras de mineração de granito em Cachoeiro de Itapemirim, tendo como
caracteristicas uma cor acinzentada, granulometria inferior a 4.8mm e com muitos finos em sua

516
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

composição. Tal resíduo não possui destinação adequada para seu descarte. Tanto os resíduos
quanto o solo estão representados nas Figuras 1.

(a) (b)

Figura 1. (a) amostra de solo (b) amostra do resíduo

Foram utilizadas misturas solo – granito com teores previamente estabelecidos a partir de análise
de estudos anteriores de melhoramento de estradas com materiais similares, de 0%, 15%, 25% e
35% de aditivo. Para isso o solo foi previamente misturado e quarteado antes da adição do granito.

2.2 MÉTODOS

Os ensaios foram separados em duas etapas. Na primeira etapa foram realizados os ensaios de
caracterização das misturas de solo e do resíduo e na segunda os ensaios de expansão e California
Bearing Ratio (CBR).

2.2.1 CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS DE SOLO

Para a caracterização do solo em estado puro e das misturas, foram utilizados os métodos previstos
nas seguintes normas: ensaio granulométrico (NBR 7181/16), massa específica do resíduo
(9775/87), limite de liquidez (NBR 6459/16), limite de plasticidade (NBR 7180/16) e para o ensaio
de compactação foi utilizado material com reuso e energia referente ao Proctor Normal (NBR
7182/16).

2.2.2 EXPANSÃO E CALIFORNIA BEARING RATIO (ISC)

O ensaio, descrito na NBR 9895/16, foi executado com energia de compactação do Proctor Normal,
massa específica seca máxima e umidade ótima.

517
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para uma melhor interpretação dos resultados, serão utilizadas as seguintes nomenclaturas: S0, S15,
S25, S35 e RP para determinar o solo puro; mistura com adição de 15% de resíduo; mistura com 25%
de resíduo; mistura com 35% de resíduo; e resíduo de pedreira, na respectiva ordem.

3.1 CARACTERIZAÇÃO

Com a realização dos ensaios granulométricos, o solo natural teve sua classificação de acordo com
o Sistema Unificado de Classificação (SUCS), como sendo uma areia siltosa (SM) com um percentual
de 76,84% de areia em sua composição. O resíduo de pedreira também teve sua classificação como
sendo uma areia siltosa (SM), com 95,66% de sua massa sendo composta por areia. Todas as
porcentagens de misturas também foram classificadas como sendo areno-siltosas.

Os valores correspondentes as granulometrias do solo, resíduos e das misturas se encontram na


Tabela 1 e os gráficos representados na Figura 2 e 3.

Tabela 1. Análise granulométrica das misturas e do resíduo

Fração Granulométrica S0 S15 S25 S35 RP


Pedra (%) 8,1 6,0 9,3 5,2 0
Pedregulho (%) 14,3 18,4 16,7 15,3 0
Areia grossa (%) 17,1 20,5 21,7 18,8 18,7
Areia média (%) 29,7 27,9 25,2 31,6 37,9
Areia fina (%) 30,1 26,9 25,6 27,7 39,0
Finos (%) 0,7 0,3 1,4 1,4 4,3

100

80
Porcentagem que passa (%)

60
S0
40
RP

20

0
0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos grãos (mm)
Figura 2. Curvas granulométricas solo puro e resíduo

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

100

80

Porcentagem que passa


60 0

15
40
25

20 35

0
0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro dos grãos (mm)
Figura 3. Curvas granulométricas misturas

Percebe-se que com a adição do resíduo, não houve nenhuma mudança significativa na
granulometria natural do solo, visto que ambos os materiais já possuem naturalmente uma curva
granulométrica semelhante. Sendo notável apenas uma suavização na curva, onde houve um
acréscimo no teor de areia grossa em todas as porções, contudo na mistura com S35, ocorreu
também um aumento considerável nas porções de areia fina e média provenientes do resíduo.

Para a classificação do solo foram realizados os limites de Atterberg, seus valores assim como índice
de grupo e classificação do solo, estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Limite de consistência, índice de grupo e classificações

Síntese dos resultados S0 S15 S25 S35 RP


LL (%) 26,58 24,18 21,16 10,36 NL
LP (%) NP NP NP NP NP
IP (%) - - - - -
IG 0 0 0 0 0
SUCS SM SM SM SM SM
AASHTO A-3 A-3 A-3 A-3 A-3

Dados os valores dos limites de Atterberg, pode-se perceber uma redução do limite de liquidez com
o aumento da adição de resíduo no solo. Isto pode ser explicado pelo fato que o pó de pedra é
composto quase que totalmente por silte, com características não coesivas e de baixa absorção de
água. Quanto ao limite de plasticidade, todas as porções se mostraram não plásticas,
consequentemente as amostras não possuem Índices de Plasticidade.

Com os valores obtidos no ensaio granulométrico, é visível que tanto nas misturas e quanto no
resíduo, mais de 51% da massa passou pela peneira 40 e menos de 10% passou pela peneira 200,

519
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

por essa razão seus Índices de Grupo foram determinados como sendo 0, sua classificação foi de um
solo A-3, de acordo com AASHTO (1986).

Os valores de massa específica máxima seca e umidade ótima serão utilizados para a moldagem dos
corpos de prova para a execução do ensaio de CBR estão apresentados na Tabela 3. As curvas de
compactação estão presentes na Figura 4.

Tabela 3. Parâmetros de Compactação

Parâmetros S0 S15 S25 S35


Massa específica seca máxima (g/cm³) 2,06 2,05 2,04 2,02
Umidade Ótima (%) 9,7 9,8 10,45 10,1

Figura 4. Curvas de Compactação

Para as curvas de compactação, pode-se perceber um decréscimo na massa específica seca máxima
com o aumento do aditivo em todas as misturas. Quanto a umidade ótima, houve um aumento do
índice até a amostra S25, seguido por uma redução na amostra S35, dado pelo fato de que os finos
do solo foram substituídos quase que totalmente por pó de pedra, que por sua vez, não possui
características de absorção de água.

3.2 EXPANSÃO E CALIFORNIA BEARING RATIO

Para a realização dos ensaios, os corpos de prova foram moldados utilizando valores de massa
específica seca máxima e umidade ótima obtidos no ensaio de curva de compactação.

Analisou-se que tanto o solo puro quanto as misturas não apresentaram valores de expansão. Logo
após, os corpos de prova foram retirados do tanque e levados à prensa hidráulica, para a medição
do valor de CBR, seguindo os métodos previstos na norma DNIT 172/2016 – ME.

520
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Quanto aos valores de expansão do solo, os resultados obtidos condisseram com o esperado para
solos tropicais lateríticos, com granulação areno-siltosa. Os valores referentes aos parâmetros de
moldagem, CBR e expansão, estão presentes na Tabela 4 e no gráfico na Figura 5 estão
representados os pontos relativos aos teores de resíduos com seus respectivos valores de CBR.

Tabela 4. Condições de moldagem e resultado de CBR

CBR
Amostra wmold (%) wmold-wót (%) d (g/cm³) GC (%) Exp. (%)
(%)
S0 9,77 0,07 2,06 98 10 0
S15 9,81 0,01 2,05 98 18 0
S25 10,53 0,08 2,04 99 23 0
S35 10,18 0,08 2,02 98 10,9 0

25%

20%
Valores de CBR (%)

15%

10%

5%
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%
Percentual de de aditivo (%)

Figura 5. Relação CBR x Percentual de Aditivo

Com o gráfico representando os valores de CBR em relação aos percentuais de aditivos no solo,
percebe-se um aumento até a resistência logo após 5% de adição, crescendo de forma acentuada
até a mistura S25, nesta tendo atingido o CBR de 23%. Esse ganho pode ser justificado pela
diminuição dos vazios da mistura, que fazem com que sua granulometria natural passe a ter uma
correção, aproximando-a de uma distribuição bem graduada, ocasionando assim um ganho de
resistência enquanto os finos do pó de pedra possam cobrir os espaços livres presentes no solo.

Contudo ao passar dessa porcentagem de adição, a resistência do solo começa a cair de forma
rápida, como é visto na mistura S35. Evidencia-se o fato de que a partir de uma porcentagem de
adição, o solo passa a não apresentar mais ganhos de resistência, podendo este fator estar
relacionado ao aumento acentuado de finos. Portanto por haver altas concentrações de resíduos, o
comportamento da amostra passa a ser coordenado pelas características intrínsecas ao pó de pedra,
como: granulometria mal distribuída, alto índice de vazios, sem plasticidade e sem coesão,
constituindo a perda de resistência.

521
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tendo como base o comportamento da linha de tendência, o solo apresenta um nível de CBR acima
de 20%, no intervalo em que a adição de resíduos fica aproximadamente de 18% a 28%. Tal fato
proporciona a possibilidade de utilizá-lo com menos aditivos e atingir os mesmos níveis exigidos na
norma DNIT 139/2010 – ES para a execução de sub-bases, onde o solo deve apresentar o valor de
CBR igual ou superior a 20% e expansão igual ou menor que 1%.

522
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. CONCLUSÃO

Por meio deste estudo analisa-se que adições de pó de pedra aumentaram a porcentagem de areia
no solo, tornando a granulometria do solo melhor distribuída até a amostra S25, já na amostra S35,
o solo apresentou uma quantidade de areia elevada e praticamente sem argila, transformando-o em
um material com baixa coesão e granulometria mal distribuída. As características não plásticas e a
expansão nula, devem-se à falta ou baixo percentual de argila, que é responsável pela coesão e boa
parte da absorção de água do solo.

É visível que os valores de massa específica seca máxima diminuíram, e por consequência houve o
aumento dos índices de vazios em todas as misturas, tal fato diz respeito ao pó de pedra ter uma
massa específica elevada e uma curva granulométrica mal graduada, dando origem a falhas de
granulação no solo, principalmente na amostra S35. Consequentemente os valores de umidade
ótima aumentaram juntamente com o teor de resíduo até a amostra S25, e na amostra S35 começou
a cair, dado que o resíduo substituiu quase que totalmente os finos do solo, entretanto por ser um
material que não retém muita umidade, a queda do valor foi condizente com o esperado.

Por conseguinte, o fato das misturas evidenciarem um comportamento não expansivo, ocorreu de
acordo com o esperando, considerando que a quantidade de material passante na peneira 200, foi
inferior a 2% e desse percentual a grande maioria foi de silte proveniente do pó de pedra, um
material não plástico e de baixa absorção de água.

Ao analisar o comportamento relacionado a resistência do solo, a amostra S25 apresentou os


melhores resultados de CBR, com o valor de 23%, contudo de acordo com a linha de tendência, a
mistura está contida em um intervalo de adições de 18% à 28%, no qual esses percentuais de
resíduos, apresentaram valos de CBR iguais ou superiores a 20%, o que faz com que amostras com
índices mais próximos dos valores mais baixos de adições dentro dessa faixa, se tornem mais
atraentes no âmbito econômico e prático. No entanto, todo intervalo proporcionou misturas de
solos aptas a serem utilizadas como camada de sub-base de acordo com a norma DNIT 139/2010 –
ES.

Tal resultado corroborou com as pesquisas de Batalione (2007) e Silveira (2010) que encontraram
resultados positivos de melhora de resistência mecânica de solos com a adição de finos. Ambos os
autores, obtiveram resultados coerentes aos do presente artigo. Batalione (2007) ensaiou misturas
que apresentaram granulometrias de solos argilo-arenosos, areno-siltosos e pedregulho-siltosos,
com massa específica de aproximadamente 27 kN/m³, sem expansão e com CBR máximo de 28%

523
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

obtido nas misturas areno-siltosas com 25% e 35% de adição. Silveira (2010) ensaiou um solo argilo
arenoso, com massa específica variando entre 17 kN/m³ e 18 kN/m³, com 0,25% de expansão e com
CBR máximo de 24% obtido em uma mistura com 10% de resíduo.

Percebe-se que por se tratarem de solos parecidos, os resultados do presente artigo apresentaram
valores de massa específica, porcentagem de mistura e valor de CBR máximo próximos aos obtidos
por Silveira (2010), contudo, quanto à expansão, o solo estudado possui maior quantidade de areia
e silte, o que fez que se comportasse de maneira não-expansiva.

Tornar um solo natural com 10% de CBR, em uma mistura com 23% de CBR, adicionando apenas um
resíduo que não possui nenhuma aplicação e por consequência, contém baixo valor agregado,
mostra que um solo de baixa resistência, presente em grande escala na região de Venda Nova do
Imigrante, pode ser transformado em um material capaz de ser implementado em camadas de
rodovias.

Vale-se ressaltar a necessidade de se realizar os ensaios utilizando resíduos de outros tipos de rochas
ou outros tipos de granito para poder validar a utilização do método. Também seria de grande valia
a análise deste material em outros métodos de ensaio de resistência para rodovia como o MCT. Além
disto é importante analisar a viabilidade econômica da aplicação da mistura solo resíduo em um
pavimento comparando-o com os materiais tradicionalmente utilizados. Por fim, sabendo que as
obras geotécnicas podem apresentar algumas divergências em campo da escala laboratorial é
necessário executar um pavimento experimental com a mistura de melhor desempenho e monitorar
o seu desempenho com o passar do tempo.

524
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

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pavements structures. Washington, D.C., 1986.

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Rio de Janeiro, 2016.
_ Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7181: Solo - Análise granulométrica. Rio de Janeiro,
2016.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7182: Solo – Ensaio de Compactação. Rio de Janeiro,
2016.
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Índice Califórnia utilizando amostras não trabalhadas – Método de ensaio. Brasília, DF.

Departamento Nacional de Estrada de Rodagem. (1981) Método de Projeto de Pavimentos Flexíveis.


Rio de Janeiro, RJ.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

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estabilizada granulometricamente. Rio de Janeiro, RJ.

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Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.

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pedreira para utilização em pavimentos rodoviários. Dissertação de Mestrado. Departamento de
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de São Paulo USP, SP, p. 147-180.

526
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 34

MONITORAMENTO CONTÍNUO EM
AMBIENTES SUBTERRÂNEOS

Alexandre Assunção Gontijo (MecRoc Engenharia)


Antônio Rafael da Silva Filho (AERON)
Francisco Ribeiro Fonseca Reis (AERON)
Igor Machado Malaquias (AERON)
Paula de Mello Martins (MecRoc Engenharia)
Romero Cesar Gomes (UFOP-NUGEO)

Resumo: Esse trabalho visa apresentar uma nova metodologia para a medição de convergência em
ambientes subterrâneos dentre os quais cavernas, minas subterrâneas e túneis. A
metodologia apresentada é baseada na utilização de um sensor ótico de distância conectado a um
sistema de aquisição de dados de forma a permitir o monitoramento da convergência em tempo
real sem a necessidade de intervenção humana. Esta metodologia está sendo implementada a um
novo equipamento, o Sistema de Monitoramento de Dinâmica de Rocha (SMDR). Serão
apresentados os resultados dos testes realizados para validação da mitologia em locais onde o SMDR
foi testado, bem como, uma comparação com o método convencional, que na qual foi possível
observar que esta metodologia possibilita caracterizar de forma detalhada as movimentações
ocorridas pontualmente na galeria.

Palavras-chave: Mina subterrânea, Convergência, Cavernas, Dinâmica de Rocha, túneis.

527
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

Conhecer e entender geotecnicamente os ambientes subterrâneos tem sido um grande desafio


mundial. Subdividido em escavações (túneis e minerações) e em cavernas, estes ambientes
requerem estudos e análises distintas.

Em túneis, a necessidade de construí-los se torna fundamental para otimizar os espaços urbanos e


rodoviários, enquanto que nas minerações, o foco é reduzir passivos ambientais e buscar minerais
que se tornam mais escassos na superfície, propiciando um desenvolvimento de atividades
subterrâneas com profundidades consideráveis.

Nas escavações, garantir a estabilidade requer uma investigação geomecânica detalhada sobre o
maciço rochoso (contínuo/descontínuo), desde qualidade, resistência mecânica das rochas, direção
das tensões, performance do desmonte, tipo de fortificação, definição de estruturas geotécnicas e
o monitoramento geomecanico das aberturas/vãos.

Em relação às cavernas naturais, existe pouca informação disponível na literatura sobre análise de
estabilidade, e um dos principais modos de acompanhar e controlar quaisquer danos ocorridos
devido às operações mineiras nas proximidades é a utilização de sismógrafos de engenharia,
realizando o controle de influências sismográficas proveniente do desmonte de rocha.

Desde 15 de junho de 1990, minerações com operações nas proximidades de cavernas naturais
devem seguir a Portaria do IBAMA Nº 887, ou seja, são proibidos desmatamentos, queimadas, uso
de solo e subsolo ou ações de quaisquer natureza que coloquem em risco as cavidades naturais
subterrâneas e sua área de influência, a qual compreenda os recursos ambientais, superficiais e
subterrâneos, dos quais dependam sua integridade física ou seu equilíbrio ecológico.

A área de influência de uma cavidade natural subterrânea é definida por estudos técnicos
específicos, obedecendo às peculiaridades e características de cada caso. O raio de influência deverá
ser identificado a partir da projeção em superfície do desenvolvimento linear da cavidade
considerada, ao qual será somado um entorno adicional de proteção de, no mínimo, 250 (duzentos
e cinqüenta) metros.

Com o objetivo de se ampliar e facilitar o monitoramento em ambientes subterrâneos, é proposta


uma nova metodologia baseada na aquisição contínua de sinais de sensores instalados na cavidade.

Neste trabalho será apresentada a metodologia para monitoramento das cavidades, o


desenvolvimento de um sistema para tal e resultados de testes em campo deste sistema.

528
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2. OBJETIVO

Neste trabalho será detalhada a nova metodologia para a medição de convergência baseada em
sensores óticos conectados a um sistema de aquisição de dados contínuo, com armazenamento local
das informações e possibilidade de envio remoto.

Serão apresentados resultados obtidos em testes realizados com o sistema desenvolvido, a saber,
SMDR (Sistema de Monitoramento de Dinâmica de Rocha), em escavações subterrâneas, utilizando
processos tradicionais para validação/comparação dos resultados, e em cavernas naturais, assim
como discutir as vantagens de um monitoramento contínuo perante técnicas convencionais.

O sistema foi testado na Mina Cuiabá, de propriedade da AngloGold Ashanti Córrego do Sítio
Mineração, localizada na cidade de Sabará – MG, e em uma caverna natural nas proximidades de
uma operação de Mina da VALE no Quadrilátero Ferrífero; onde neste trabalho serão apresentados
os resultados destes testes, além de uma interpretação dos dados.

3. SISTEMAS DE MONITORAMENTO CONVENCIONAIS

Em escavações subterrâneas em maciço rochoso, alguns desafios especiais são comuns de se


enfrentar. Afim de compreender questões envolvidas no processo de concepção de monitoramento,
que é a principal ferramenta de controle para avaliar a estabilidade das galerias e/ou realces na fase
de construção e serviço, é importante ressaltar a necessidade de investigar e conhecer
detalhadamente o maciço rochoso, principalmente, no entorno da escavação.

Devido a não existir Norma ABNT para monitoramento de escavações subterrâneas, é recomendado
seguir a ASTM D 4403 (Standard Practice for Extensometers Used in Rock); e mesmo, apesar desta
validar vários métodos de monitoramento, enfatizaremos duas metodologias principais de medição
e monitoramento de deslocamento em escavações subterrâneas, que são os deslocamentos da
superfície da galeria, e os deslocamentos internos que ocorrem no maciço rochoso. A seguir será
descrito brevemente cada um desses sistemas:

3.1 DESLOCAMENTO DA SUPERFÍCIE DA ESCAVAÇÃO

O principal método de se medir o deslocamento na superfície da galeria é utilizando tecnicas de


convergência, que consiste em um sistema de monitoramento pontual do qual podemos realizar
leituras sistemáticas ao longo da seção de uma escavação para monitorar a deformação desta

529
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

(abertura ou fechamento). As medidas são realizadas, com equipamentos analógicos ou digitais, com
uma periodicidade de leituras pre-definida, sendo que o valor lido é comparado ao longo dos dias.

3.2 DESLOCAMENTO INTERNO NO MACIÇO ROCHOSO

Diversos equipamentos são utilizados para verificar a variação dos deslocamentos internos no
maciço rochoso, sendo que os mais populares são os extensômetros. O princípio de funcionamento
desses equipamentos, podem variar de acordo com cada fabricante, porém, para um simples
entendimento, consiste em ancorar dentro de um furo no maciço uma haste que seja capaz de
mensurar, por meios de potenciômetros o deslocamento. Utilizados para se monitorar os diversos
níveis de deslocamento em várias profundidades no maciço rochoso; variados extensômetros estão
disponíveis, com materiais diferentes de hastes, de tipos e/ou número de ancoragens distintas, além
de possibilitar leituras mecânicas e automáticas.

4. O SMDR

Acompanhando a evolução tecnológica, e atendendo as necessidades de monitoramento


geomecânica em ambientes subterrâneos, foi desenvolvido o SMDR. Valendo da sua alta capacidade
de processamento e armazenamento, é possível coletar dados de forma contínua e automática, com
possibilidade de coleta remota de dados para facilitar e agilizar a operação. Sendo que a natureza
dos dados coletados dependem apenas da escolha dos sensores conectados ao sistema, por
exemplo, sensor de vibração, sensores de distância, umidade e temperatura.

Sensor Ótico de DIstância

Central de
Sensor de Vibração
Processamento

Sensor de Condição Ambiente


Umidade + Temperatura

Figura 01. Esquema de funcionamento do SMDR

Um sistema eletrônico central é responsável pelo processamento e armazenamento dos sinais de


todos os sensores. Essa central é própria e desenvolvida exclusivamente para o SMDR.

530
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

O SMDR, no presente trabalho, foi configurado para a instrumentação geomecânica, de


deslocamento da superfície, e das condições climáticas (umidade e temperatura) nos ambientes
subterrâneos.

A convergência local é avaliada através de sensores eletrônicos óticos capazes de mensurar uma
determinada distância, (até 99 m) com alta precisão (0,03 mm), e uma alta taxa de aquisição sendo
tomadas várias medidas ao longo de um dia. Esse valor de distância pode então ser avaliado ao longo
do tempo para verificar se existe qualquer pequeno deslocamento, ou movimentação entre
laterais/tetos de uma escavação subterrânea ou um conduto de uma caverna.

Um sensor de temperatura e umidade registra as condições climáticas no local de sua instalação.


Apesar de não ser um parâmetro geomecânico, monitorar o ambiente de trabalho dos operadores,
é uma informação relevante para Saúde e Segurança, enquanto que em cavernas naturais, tais
informações são essenciais para estudos bioespeleológico do interior da caverna, utilizado para
definir o grau de relevância da mesma, por esse motivo optou-se por incluir esses sensores no
sistema de monitoramento proposto.

Os dados coletados são armazenados em uma memória interna do sistema, e podem ser
descarregados frequentemente através de um computador, ou quando se desejar o sistema pode
ser conectado a uma central através de um sistema de rádios, enviando informações em tempo real
sobre as grandezas medidas.

5. ENSAIOS DE CAMPO

5.1 MINERAÇÃO SUBTERRÂNEA

Com o objetivo de validar a metodologia proposta foram realizados testes na Mina Cuiabá,
AngloGold Ashanti, em uma galeria, que tem como dimensão 5,5 x 5,5 m, (drive) sobrejacente à área
da lavra no nível 09, à 670 m de profundidade, conforme ilustra a Figura 2, com dimensões de 5,5 x
5,5 m.

531
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 02. Localizacao da instalação do SMDR

De maneira simplificada, a sequência litológica presente na região das atividades compreendem de


Sericita Clorita Xisto no Hanging Wall, BIF`s (Banded Iron Formation) como minério e Xisto
Carbonoso no Foot wall; e de acordo com o mergulho e potência do corpo de minério o método de
lavra definido foi corte e enchimento (cut and fill), porém em suas etapas finais, foram desenvolvidas
galerias sobrejacentes (drives) no contato do minério com o Foot Wall, para a realização de
perfuração longa.

Detonações do realce, associados com a curvatura da Galeria (drive), permitiram que ambas
escavações se aproximassem, chegando a uma distância mínima vertical de 1,6 m, conforme Figura
3.

Figura 03. Pilar entre Realce e galeria onde foi instalado o SMDR

Para a validação dos resultados do sensor de distância ótico conectado ao SMDR, a AngloGold
instalou 03 seções de convergência espaçadas de aproximadamente 2m, conforme Figura 04.

532
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 04. Local de instalação do SMDR juntamente com 03 seçoes convencionais utilizadas pela Mina

Sendo que as leituras de convergênciometria da AngloGold eram realizadas periódicamente através


de convergenciômetros analógicos medidos através da utilização de fios invar, por possuírem uma
propriedade de baixo coeficiente de dilatação térmica.

5.2 RESULTADOS

Serão apresentados os resultados obtidos com o SMDR durante o período em que o mesmo ficou
instalado na Mina Cuiabá. A Figura 5 apresenta uma comparação entre os dados não tratados
obtidos pelo SMDR e as medições realizadas, convencionalmente, pela equipe da Anglo Gold na
seção mais próxima do local de instalação do sensor ótico.

Figura 5. Dados de variação do deslocamento

Primeiramente observa-se que os pontos medidos pela equipe da AngloGold estão coerentes com
os medidos pelo SMDR e indicam uma tendência de fechamento da galeria monitorada.

Também é possível observar que a quantidade de pontos medidos manualmente é muito inferior à
quantidade medida pelo SMDR como mostrado na Tabela 1, devido que, operacionalmente, é

533
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

necessário um desprendimento de equipe para a realização das leituras, fato esse que dificulta uma
sequência intensa de dados.

Tabela 1. Comparação da Taxa de Aquisição do SMDR e da medição da AngloGold.

Tipo de Medição Taxa de Aquisição Média

(pontos/dia)

SMDR 46000

Medição Manual 0.1

A maior capacidade de aquisição de dados do equipamento proposto permite uma melhor


caracterização do comportamento da escavação. Por exemplo, na medição manual não se observa
o pico de deslocamento entre os dias 16/01 e 26/01. Também há um deslocamento acentuado de
1.5 mm de amplitude entre os dias 07/02 e 26/02 que necessita de 19 dias para ser percebido devido
à ausência de medições no período.

A partir do dia 07/02, iniciou-se um trânsito constante de equipamentos pesados (caminhões e


carregadeiras) próximo ao SMDR.

E é possível notar que após este dia os dados do SMDR se tornam mais ruidosos devido à presença
de máquinas em operação e detonações nas proximidades com um raio mínimo de 30 m.

Como a convergência medirá deslocamentos de superfície, acredita-se que pequenas amplitudes de


vibrações, detonações e trânsito de equipamentos pesados possam movimentar levemente tais
blocos, já discretizados da qual instalamos as seções de leituras. Por esta razão, chama-se a atenção
para a qualidade de instalação das seções, conforme recomenda a ASTM D 4403. A Figura H mostra
deslocamentos de até 1,4 mm devido a estas operações citadas.

Para facilitar a análise de convergência da galeria o sistema permite também gerar os dados
eliminando ruidos presentes no sinal como mostrado na Figura 6.

534
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 6. Dados Filtrados do Deslocamento da Seção

A Tabela 2 apresenta o erro relativo da medição do SMDR em relação aos dados obtidos pela
AngloGold.

Tabela 2. Erro Relativo dos dados do SMDR em relação aos fornecidos pela Anglo Gold.

Dia Erro Deslocamento Deslocamento


Relativo SMDR
AngloGold
[%] [mm]
[mm]
24/01 2.7 -0.292 -0.30
30/01 -4.3 0.354 0.37
07/02 3.9 -0.173 -0.18

Para os dados disponíveis, o erro relativo dos dados do SMDR em relação aos da AngloGold são
inferiores a 4.3%.

Como dados adicionais, são apresentados na figura 7 os dados de temperatura da galeria durante o
período do ensaio e na figura 8 os dados de umidade relativa.

27
Temperatura [ C ]

26.5
o

26

25.5

25
26/01 31/01 05/02 10/02
Data

Figura 7. Dados de temperatura da Seção

535
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

105

Umidade Relativa [%]


102.5

100

97.5

95
26/01 31/01 05/02 10/02
Data

Figura 8. Dados umidade da Seção

Considerando a Figura 6 verifica-se que o aumento da temperatura coincide com o início das
atividades no local, onde o trânsito de máquinas e pessoas promoveu a elevação da temperatura
em, aproximadamente, 1ºC, o que não ultrapassa as temperaturas máximas recomendadas pela NR-
22. Esta informação é importante para caracterizar a qualidade do ambiente de trabalho.

Em relação a umidade verifica-se que a mesma se manteve constante em todo período, Figura 8.

6. CAVERNAS NATURAIS

De acordo com Belo de Oliveira (2011), o grande número de cavernas descobertas em rochas
ferríferas, está associado ao novo regramento jurídico para a espeleologia no Brasil, ou seja, devido
ao crescimento e desenvolvimento mineral no Brasil, esforços foram direcionados à indústria
mineral para a prospecção espeleológica e estudos de relevância, visando atender a legislação em
vigor e diminuir os riscos e impactos económicos das suas atividades.

Reservas Minerais de milhões de toneladas de minério de ferro estão se tornando recursos


bloqueados, devido a cavernas naturais localizadas no sequenciamento programado da operação
mineira.

Resumidamente, a maioria das cavernas em rochas ferríferas/canga hospedam-se em coberturas


cenozóicas, e são constituídas por sedimentos fluviais e lacustres. Estão sempre situadas próximas à
superfície, o que justifica a frequência de clarabóias, e tem dimensões médias de 26 m de projeção
horizontal e 2 m de desnível, normalmente com tetos baixos.

Atualmente, tais cavernas naturais que fazem parte do sequenciamento do empreendimento


mineiro, são monitoradas constantemente, nos momentos de detonação por sismógrafos de
engenharia; porém, apenas parâmetros de vibração são colectados por sismógrafos de 03 eixos

536
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

medindo danos ocorridos no interior da caverna. A Norma para avaliação dos limites de Velocidades
de Partículas e Aceleração específica para cavernas naturais inexiste no Brasil, entretanto vem sendo
utilizado parâmetros de comparação com os da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas,
NBR 9653/2005 destinado a avaliações de vibrações geradas por detonações com explosivos em
minerações próximas a áreas urbanas.

Considerando que monitoramentos internos em cavernas naturais é um tema atual e novo no meio
geotécnico, testes com o SMDR foi realizado em uma caverna nas proximidades de uma Mina da
VALE em caráter experimental, buscando avaliar e analisar de forma contínua as informações de
deslocamento (convergência e divergência).

6.1. RESULTADOS

A Figura 9 ilustra o mapa da caverna e o local onde foi realizado a instrumentação utilizando o SMDR.

Figura 9. mapa da caverna e o local onde foi realizado a instrumentação utilizando o SMD

O SMDR permaneceu em funcionamento internamente na Caverna e os resultados sobre a


convergenciometria são apresentados na Figura 10.

537
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1705
1704
1703
1702

Distancia [mm]
1701

1700
1699
1698
1697

1696
17/12 18/12 19/12 20/12 21/12
Dia do Mês

Figura 10. Resultados sobre a convergenciometria em caverna natural

Podemos interpretar que não ocorreu nenhum deslocamento no conduto instalado, considerando
que o equipamento esteve coletando informações durante 4 dias.

538
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

7. CONCLUSÕES

A importância crescente do monitoramento permanente das obras geotécnicas em geral, justifica-


se pelo primado da sua segurança e pelas garantias de proteção ambiental, e explica necessidade de
esforços de investigação (Tsesarsky & Hatzor, 2006).

Este trabalho apresentou uma nova abordagem para a medição de convergência de ambientes
subterrâneos, tais como em escavações e em cavernas naturais. Esta nova forma de medição foi
implementada por um equipamento de monitoramento de dinâmica de rochas, o SMDR, e testado
em uma galeria da Mina Cuiabá da AngloGold durante 24 dias e os resultados comparados com o
método convencional de medição da Empresa.

Os resultados dos testes apresentaram um erro relativo entre as medições do SMDR e o método
atual máximo de 4.3% e a mesma tendência da curva que mostra uma retração da galeria.

Adicionalmente, os resultados obtidos com a nova abordagem permitem uma taxa de aquisição
muito superior a atual permitindo caracterizar de forma detalhada a evolução da galeria sem perder
variações importantes. No teste, a taxa do SMDR foi de 46000 pontos por dia ao passo que o da
medição manual foi de 0.1 pontos por dia.

Por último, a vantagem sobre segurança, pois os dados obtidos não necessitam de uma equipe de
medição para realizar as leituras uma vez que essas são armazenadas no sistema, ou seja, minimiza
a intervenção humana na atividade de convergenciometria. Basta uma pessoa periodicamente para
descarregar os dados ou mesmo um sistema de monitoramento “online” para a coleta das
informações.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem às empresas AngloGold Ashanti, VALE e Ideagora pelo apoio, disponibilização
de pessoal e local para instação e testes dos equipamentos.
Em especial, agradecemos o apoio e ensinamentos de: Paulo Fillipo ; Rodolfo Renó ; Reuber Cota ;
Felipe Pereira ; Cristiano Nogueira ; Maurílio de Freitas ; Iuri Brandi ; Ramon Araujo ; Márcio Mansur
; Fernando Frigo, e Gilberto Hashimoto.

539
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

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VLACHOPOULOS, N. IMPROVED LONGITUDINAL DISPLACEMENT PROFILES FOR CONVERGENCE CONFINEMENT ANALYSIS OF


DEEP TUNNELS – 2009

540
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 35

EXECUÇÃO DE ESTABILIZAÇÃO DE ENCOSTA


COM CONCEITO SUSTENTÁVEL NA CIDADE DO
SALVADOR-BA, FAZENDO USO DA TÉCNICA DE
SOLO GRAMPEADO COM FACE VERDE.

Márcio dos Santos Brito (Concreta Tecnologia em Engenharia Ltda)


Danilo Bastos Barbosa (Concreta Tecnologia em Engenharia Ltda)
Ronaldo Ramos de Oliveira (Maccferri de Brasil)
Rogério Santos Menezes (IFBA)

Resumo: A busca de técnicas sustentáveis, na engenharia atual, vem ganhando espaço e se tornando
algo necessário e essencial no que concerne à qualidade e desempenho construtivo. Pensamento
que vem se difundindo também nas obras geotécnicas, de estabilização de encostas. Assim, foi
escolhida a obra denominada de “Meta 08 - Creche Heroínas do Lar”, localizada no bairro do Parque
São Bartolomeu, em Salvador-Ba, para realizar o estudo de caso acerca do método executivo de solo
grampeado com face verde executado no local, apresentando diferencial pela substituição do
concreto, por um revestimento vegetal com aplicação de um sistema de tela metálica de dupla
torção, geocomposto e biomassa. O sistema de ancoragem possibilita uma melhor versatilidade de
adaptação em taludes com inclinações variadas para melhor conformação na face. O objetivo do
trabalho é mostrar as vantagens da concepção de execução dos serviços, se comparado com outras
soluções comumente utilizadas para estabilização de talude.

Palavras-chave: Estabilização de Encostas, Solo Grampeado com Face Verde, Geocomposto, Sistema
de Fixação com Porca Olhal, Malha Hexagonal de Dupla Torção, Sustentabilidade.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

A busca de técnicas sustentáveis ligadas a geotecnia ocupa, no cenário atual, um fator importante
que pode resultar em ações de grande relevância na modificação e contribuição do meio ambiente,
com novas concepções de sistemas construtivos, solucionando problemas técnicos e sociais.

Soluções como substituição de solo grampeado, comumente utilizado, com face de concreto, por
um revestimento de face verde, proporcionam um melhor conforto térmico, preservação ambiental
na área de intervenção e velocidade de execução das atividades. Damos ênfase neste artigo aos
aspectos de fixação e de revestimento de face, que possibilitaram um plano de ataque mais rápido
dos serviços inerentes ao sistema de contenção.

O sistema de estabilização concebido é composto por uma rede metálica de alta resistência,
solidarizada à cabeça dos grampos através de placas de travamento e porcas, sendo utilizados como
grampos de ancoragem, barras de aço CA-50 mm Ø 20 mm. O revestimento de face empregado é
composto por uma tela de alta resistência com geocomposto associado com biomassa, para
recuperação da flora.

A intervenção dessa encosta na Cidade do Salvador-Ba tornou-se necessária, em função de


escorregamentos recentes, conforme pode-se observar na Figura 1, e por conta da instabilidade
comprovada por fatores de segurança inferiores FS=1,5 , preconizado pela Norma Brasileira de
Estabilidade de Encostas (NBR 11.682). Dessa maneira, considerou-se a área como Nível de
Segurança contra a vida humana, como sendo de alto risco, por conta da existência da Creche As
Heroínas do Lar, com trânsito intenso de pessoas a jusante do talude, e considerando como Nível de
Segurança contra danos materiais e ambientais, como sendo de médio risco, devido ao valor
moderado das construções lá existentes.

Figura 1. Cicatrizes de ruptura no trecho inferior do talude.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Para elaboração do presente trabalho, foi necessária uma revisão bibliográfica sobre solo
grampeado verde, geocomposto, biomassa, estabilização de encostas e sobre o local de estudo que
foi escolhido. Contou-se também com a necessidade de pesquisas ao PDE (Plano Diretor de Encostas)
elaborado entre 2002 e 2003, bem como visitas para acompanhamento das atividades e consulta
dos projetos e especificações.

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

A área de risco para implantação da obra de contenção e estabilização está situada no Parque São
Bartolomeu, próximo à Rua Jaqueline e à Avenida Afrânio Peixoto (popularmente conhecida como
Avenida Suburbana), região de transição entre o embasamento cristalino e a bacia sedimentar do
recôncavo, na zona de influência da Falha de Salvador (Figura 2).

O talude está inserido na poligonal de uma APA (Área de Proteção Ambiental) - APA Bacia do Cobre
/ São Bartolomeu, fundo da Creche Heroínas do Lar. Este possui área aproximada de 2.500,0 m²,
com altura variando entre 16 e 42 metros e com inclinações entre 50° e 90°. O talude encontra-se
com densa vegetação natural em toda sua área abrigando muitas espécies de vegetais, tendo um
grande papel como reserva da biosfera da Mata Atlântica. Possuem também trechos com cicatrizes
de rupturas recentes, com materiais depositados a jusante do talude, e alguns pontos com paredes
subverticais (taludes negativos). Os solos locais são fruto do intemperismo da rocha granulítica. É
possível observar em campo a presença de descontinuidades reliquíares herdadas da rocha matriz,
basicamente fraturas subverticais e inclinadas, que condicionam a ocorrencia de pequenas rupturas
superficiais.

As litologias da área da obra, presentes no Mapa Geológico Regional do Plano Diretor de Encostas,
evoluem para solos residuais silto-argilosos a areno-siltosos de cor acinzentada a marrom claro, com
indíce de plasticidade em torno de 14,0% e limite de liquidez de aproximadamente 42,9%. O peso
específico natural varia entre 15,0 e 18,0 kN/m3, enquanto que no estado saturado esses valores
oscilam entre 21,3 e 22,5 kN/m3. Já com relacao a resistência ao cisalhamento do solo no estado
saturado, os valores de coesão variam entre 8,2 e 40,8 kN/m2, e os valores do ângulo de atrito
interno variam na faixa de 28,3° a 33,0°.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 2. Localização da área de risco na Creche As Heroínas do Lar, obtida no Google Earth.

3. SOLO GRAMPEADO VERDE

A Engenharia Geotécnica atualmente dispõe de diversos tipos de sistema de contenções para a


estabilização de encostas. Uma das soluções que vem ganhando muita importância baseada nos
conceitos da sustentabilidade, é a técnica do Solo Grampeado Verde, conhecido também como Solo
Grampeado Ecológico.

Essa técnica permite intervenções rápidas, com menor custo e alta flexibilidade de execução.
Consiste em um reforço obtido através da inclusão de chumbadores resistentes à flexão composta,
tendo como objetivo principal, o mecanismo estabilizador a restrição às deformações da massa de
solo.

Após a execução dos serviços preliminares que consistem na limpeza e regularização do talude,
inicia-se o serviço de execução e instalação dos chumbadores. Esta etapa consiste na execução da
perfuração do solo, que após a instalação do reforço metálico (barra de aço CA50, Ø 20 mm), é
executado o serviço de bainha e injeção, com o preenchimento do furo com calda de cimento fator
água / cimento 0,5 (em peso) favorecendo o bulbo de ancoragem do sistema. Tal detalhe desta etapa
é apresentado na Figura 3.

Resumidamente, o processo construtivo pode ser dividido em: regularização do solo, perfuração e
instalação dos chumbadores, execução da bainha e injeção, aplicação da biomassa/
hidrossemeadura, instalação da tela de alta resistência com geocomposto, fixação de placas e
porcas, e por fim um sistema de drenagem pluvial. A simulação do projeto escolhido em programa
computacional, com a apresentação do mínimo fator de segurança frente à ruptura circular,
verificou um Fator de Segurança no valor de 1.51, atendendo aos requisitos exigidos pela NBR 11.682

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

para este tipo de área (≥ 1.50). Resultando no dimensionamento de chumbadores (barra de aço
CA50, Ø 20 mm) com comprimento de 4,0 a 8,0 m e espaçamento de 1,5 m, tanto na vertical quanto
na horizontal.

Figura 3. Detalhe construtivo do sistema de ancoragem do Solo Grampeado Verde. Fonte: Projeto Executivo
Meta 8 – Creche Heroínas do Lar, Salvador-Ba.

4. SISTEMA DE FIXAÇÃO

O sistema de fixação utilizado entre os chumbadores e a malha de alta resistência com geocomposto
da face, teve como diferencial a utilização de porcas olhais, placas de ancoragem de aço 12 x 12 cm,
barra roscada de aço galvanizado CA-50 e porcas sextavadas. O conjunto, além de proporcionar a
transferência das cargas atuantes na malha de alta resistência para os chumbadores, possibilita uma
melhor versatilidade de adaptação do sistema ao talude com inclinações variadas, permitindo uma
melhor conformação na face. O detalhe construtivo do sistema pode ser visto nas Figuras 4 e 5.

Figura 4. Detalhe do sistema de fixação. Fonte: Projeto Executivo Meta 8 – Creche Heroínas do Lar,
Salvador-Ba.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 5. Detalhe do chumbador, porca olhal, barra roscada e mangueira de injeção. Fonte: Elaborado pelos
autores (2018).

5. BIOMASSA

Por se tratar de uma região onde o crescimento da vegetação é propício devido à umidade, chuvas
regulares e condições do solo, a solução proposta para associação do sistema de face do solo
grampeado foi a Biomassa. Este ssistema foi preferível em detrimento da hidrossemeadura, por
possibilitar uma melhor garantia de germinação e consequente recuperação da flora. Trata-se de
um mix de sementes (leguminosas e gramíneas), associado com fertilizantes, mulch e fibras longas
trituradas (fibra de côco, bagaço de cana, palha de milho ou colmo de plantas), que ficam aderidos à
superfície do solo através de um fixador da mistura.

O fixador possui a finalidade de manter as sementes e o fertilizante no local aplicado, livre de


carreamentos provocados pelas chuvas. Esse material, além de fixar, promove uma maior resistência
superficial ao solo, funcionando como um agregador de partículas, que auxilia na estruturação e
redução da erosão, mesmo antes da vegetação desenvolver-se.

A solução adotada procedeu com o preparo do solo, com a correção de irregularidades de pequenas
extensões e com posterior serviço de coveamento, isto é, abertura de pequenas covas bem próximas
entre si e com profundidade suficiente para reter todos os insumos aplicados. Tal etapa executiva
pode ser visualizada na Figura 6.

546
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 6. Execução de Coveamento. Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

Os insumos foram aplicados utilizando jateamento por via aquosa, pulverizando uniformemente
sobre a superfície previamente preparada, conforme pode ser visualizado na Figura 7. Durante o
processo de jateamento, alguns cuidados devem ser tomados, como por exemplo, dirigir o jato para
a superfície a ser revestida de modo a recobrir toda área, procurando desenvolver a operação o mais
uniforme possível e, proceder a aplicação das partes mais altas para partes mais baixas, evitando o
escorregamento ou acúmulo da mistura.

Figura 7. Aplicação de Biomassa por via aquosa. Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

6. PROTEÇÃO DE FACE

Como proteção de face do talude, auxiliando no controle de erosão, foi aplicada uma geomanta
flexível, tridimensional, que apresenta mais de 90% de vazios, fabricada a partir de filamentos
grossos de polipropileno, fundidos nos pontos de contato e um reforço metálico, confeccionado com
malha hexagonal de dupla torção de alta resistência.

547
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

O sistema duplo torção impede o seu desenrolamento nos casos onde houver quebras dos arames
ou danos acidentais durante o uso. Além disso, o mesmo conta com cabos de aço de 8.0 mm de
diâmetro dispostos longitudinalmente a cada 100,0 cm, que auxilia na efetividade da transferência
de cargas, possibilitando um aumento na segurança, capacidade na absorção dos esforços e
durabilidade da malha, obtendo ganhos para o sistema como um todo.

A associação entre tela de alta resistência, geocomposto e vegetação, conforme indicação da Figura
8, permite que esses elementos trabalhem juntos, conferindo uma solução característica de elevada
capacidade antierosiva, causada pelas chuvas, e uma boa resistência à tração. Tal associação, com o
desenvolvimento da vegetação e consequente aumento das raízes estimula um maior reforço do
paramento.

Figura 8. Efeito de enraizamento da vegetação na geomanta. Fonte: Sobral et all (2011).

Na Figura 9 pode-se observar a instalação na obra deste sistema descrito. Nota-se que a instalação
da tela se dá após o serviço de biomasssa já executado.

Figura 9. Instalação do Geocomposto no talude. Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

7. CONCEPÇÃO DO SISTEMA DE DRENAGEM PLUVIAL

Por se tratar de um solo grampeado verde, foi considerado somente o sistema de drenagem de
águas pluviais a jusante do talude. A água superficial da face, neste caso, não traz problemas para a
contenção, o revestimento de face possibilita a infiltração da água no solo, e a associação da tela de
geocomposto com a aplicação da biomassa impede possível processo erosivo. Em virtude disso,
sistema de drenagem foi executado com construções de canaletas retangulares em concreto na
parte baixa da encosta, interligadas através de caixas de passagem e tubulação, conduzindo o
deflúvio até a rede de drenagem pluvial existente no logradouro, como visualizado nas Figuras 10 e
11.

Figura 10. Sistema de drenagem a jusante da encosta. Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

Figura 11. Sistema de drenagem pluvial com muro armado a jusante da encosta. Fonte: Elaborado pelos
autores (2018).

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização da técnica de Solo Grampeado Verde na estabilização de encostas apresenta vantagens


para a geotecnia ambiental, permitindo uma maior integração da obra com o meio ambiente. Como
pontos fortes desta solução, podem ser citados: o custo-benefício positivo em relação a outros
métodos comumente utilizados, visto que tal solução apresentou-se economicamente mais viável,
e a mitigação do impacto ambiental e visual, contribuindo para uma face completamente verde ao
final da obra, o que não seria possível com o revestimento de face em concreto.

Além disso, o sistema de fixação, associado com o sistema de revestimento de face (tela com malha
hexagonal de dupla torção, geocomposto e a biomassa), propiciam o crescimento da vegetação e
evitam possíveis focos erosivos no talude, permitindo um grau de rigidez ao paramento frontal.

Na Figura 12 é apresentado o talude com o sistema de estabilização já finalizado. Além da questão


estética, tal solução apresentou-se em acordo com os pilares da sustentabilidade: social, econômico
e ambiental, atendendo, com isto, as expectativas dos usuários.

Vale ressaltar, que, a sustentabilidade precisa de planejamento, acompanhamento e avaliação de


resultados, pois seus três pilares devem estar alinhados com os objetivos da empresa, não podendo
ser definidos com base em ações pontuais ou simplesmente compensatórias.

Figura 12. Situação após intervenção. Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem as empresas Concreta Tecnologia em Engenharia Ltda. e a Maccaferri do


Brasil, pelas informações disponibilizadas.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 11682: Estabilidade de encostas - Elaboração. Rio de
Janeiro, 2009.

Concreta Tecnologia em Engenharia Ltda e Ecla Engenheiros Consultores Ltda. (2017). Projeto
Executivo Meta 8 – Creche Heroínas do Lar, Salvador-Ba.

Conder. Relatório de Anteprojeto da Encosta Meta 08 – Creche As Heroínas do Lar. 2016.

Maysa, S.P.F(COBRAMSEG 2016) Estabilização da Antiga Pedreira Limoeiro Através de Sol


Grampeado em Salvador / Ba. Artigo publicado no COBRAMSEG 2016 –– 19-22 Outubro, Belo
Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

GOOGLE, INC. Google Maps. Disponível em: https://www.google.com.br/maps/. Acesso em:


fevereiro de 2018.

Plano Diretor de Encostas – PDE (2004) GEOHIDRO/SEMIN- Secretaria Municipal Do Saneamento,


Habitação E Infra Estrutura Urbana, Salvador.

Sobral, M.L.de V.; Silva, M.F.de L.; Ferreti, B.C.de P.; Lima.L.de Leilo.; Junior, S.de P. REVESTIMENTO
FLEXÍVEL COM GEOMANTA REFORÇADA PARA SOLO GRAMPEADO EM TALUDES DE ANGRA DOS REIS.
Angra dos Reis / RJ / Brasil (2016).

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 36

PREVENÇÃO DE EROSÃO COSTEIRA POR MEIO


DE CONTENÇÃO POR ENROCAMENTO:
ESTUDO DE CASO NA PRAIA DO MEIO EM
NATAL/RN
Bruma Morganna Mendonça de Souza (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
Rafaella Fonseca da Costa (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
José Edson de Almeida Júnior (Caixa Econômica Federal)
Andre Augusto Nobrega Dantas (Instituto Federal de Goiás e Universidade de Brasília)
Eduardo Marques Vieira Pereira (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
Weber Anselmo dos Ramos Souza (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
Sansara Félix Pereira (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
Lucas Fonseca Fernandes (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)

Resumo: Dada a importância na economia local que as zonas costeiras representam, é fundamental
a manutenção dos ambientes costeiros para assegurar seu pleno funcionamento. A Praia do Meio,
região de estudo localizada no município de Natal/RN, sofre do fenômeno de erosão costeira. Ainda
que obras de reestruturação tenham sido concluídas em 2014, incidentes de desabamento já
ocorreram e a infraestrutura da orla encontra-se ameaçada pelo avanço do mar; assim, a solução de
proteção costeira adotada foi o enrocamento aderente. O presente trabalho tem como objetivo a
avaliação do método adotado na Praia do Meio, comparado a outras alternativas de proteção da
Engenharia Costeira. A escolha do enrocamento foi coerente com o caráter emergencial da obra e
com as condições do local, porém a adoção de outras soluções definitivas faz-se necessária.

Palavras-chave: Erosão Costeira, Obra Costeira, Enrocamento Aderente.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

Segundo a Lei nº 6950, de 20 de agosto de 1996, define-se zona costeira como o espaço geográfico
onde ocorre a interação do ar, do mar e da terra, bem como a interrelação do meio físico com as
atividades socioeconômicas exercidas pelo homem naquele local.

Bird (2008) apresenta que mais da metade da população mundial vive em regiões costeiras. No
Brasil, mais de 25% da população brasileira reside em municípios localizados na zona costeira (IBGE,
2010). Souza (2009) e Nunes (2011) apresentam que as pressões socioeconômicas ao longo da faixa
de costa no país acabam por culminar em um intenso e acelerado processo de urbanização,
resultante da importância econômica atribuída às praias para a economia das cidades litorâneas.
Desta forma, empreendimentos como hotéis, condomínios, pousadas e restaurantes ocupam o meio
de forma desordenada e promovem o desequilíbrio do meio ambiente. Muehe (2005) explica que
construções mal posicionadas bloqueiam o livre trânsito de sedimentos ao longo da costa e
intensificam a erosão costeira no local. Segundo a Prefeitura Municipal do Natal (PMN, 2015), este
fenômeno é caracterizado pela perda de terra ao longo da linha de costa.

A ação da erosão costeira pode ser intensa, comprometendo a estabilidade das construções
próximas, a exemplo de calçadões e quiosques, e gerando prejuízos ao comércio e turismo locais.
Como solução, estruturas de proteção costeira têm sido adotadas em pontos estratégicos para
manter a integridade ambiental e preservar o patrimônio cultural. Estas defesas podem ser
executadas através de diversas técnicas, que variam desde soluções simples, como a utilização de
pneus e de sacos de areia, até a construção de estruturas como muros, enrocamentos e espigões.
Muehe (2005), no entanto, ressalta que a adoção indevida de uma estrutura pode ampliar e
propagar o efeito de erosão na costa.

Portanto, é de extrema importância que as soluções de engenharia adotadas com o objetivo de


conter e minimizar os impactos dos processos erosivos sejam adequadas à realidade do local para
evitar que os problemas, já existentes, sejam agravados. Este artigo objetiva a análise de estratégias
estruturais e não-estruturais de proteção costeira, de modo a realizar um estudo de caso avaliando
a solução adotada em enrocamento aderente Praia do Meio, em Natal/RN. Esta obra partiu de
iniciativa da Prefeitura Municipal, com o objetivo principal de conter o avanço do mar, de estabilizar
a linha de costa e de permitir a recuperação dos calçadões e mobiliários urbanos danificados pela
erosão (NATAL, 2015).

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho foi realizado por meio de revisão bibliográfica de publicações, relacionadas à temática
de erosão costeira e de suas soluções de engenharia, existentes na literatura. Além disto, a análise
do estudo de caso foi baseada no projeto básico e no memorial descritivo da obra de recuperação
da orla marítima da Praia do Meio, melhor apresentada a seguir.

2.1 ÁREA DE ESTUDO

A Praia do Meio, situada em bairro de mesmo nome (Figura 1), está localizada na Zona Leste da
cidade do Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte. A população residente na área de estudo
é estimada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB, 2016) em 5.333
habitantes.

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo. Fonte: SEMURB (2007).

Devido ao seu potencial turístico, trata-se de um bairro de grande importância econômica para a
cidade, em que a maior parte de seus empreendimentos comerciais, a exemplo de quiosques e
restaurantes, existem em virtude da presença do mar. As obras de reestruturação e de requalificação
da orla marítima (Figura 2) tiveram início no ano de 2000, com custos estimados em R$ 7,5 milhões.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

O projeto contemplava tanto a retirada de barracas para a instalação de quiosques como o


paisagismo dos canteiros (SEMURB, 2008).

Figura 2. Urbanização da Praia do Meio. Fonte: SEMURB (2008).

Geomorfologicamente, a área de estudo está inserida no litoral oriental do Rio Grande do Norte;
este litoral é caracterizado pela presença de praias arenosas, campos dunares, planícies estuarinas
e depósitos sedimentares da Formação Barreiras (BARRETO et al., 2004; VITAL et al., 2006). Também
são observados trechos com a presença de linhas de arenitos de praia (beachrocks) descontínuos e
aproximadamente paralelos à linha da costa. Tais linhas de arenitos se comportam como barreiras
naturais, modificando o padrão de arrebentação das ondas e fornecendo uma proteção adicional à
linha de praia (VITAL et al., 2006).

O processo de erosão costeira na Praia do Meio tem ocorrido de modo intenso e contínuo, de
maneira que os danos já eram visíveis, um mês após a entrega da última obra de reurbanização, em
2014. Além da frequente necessidade de reformas na área, a erosão costeira foi agravada de modo
a comprometer a segurança dos pedestres: em setembro de 2016, a Prefeitura do Natal chegou a
decretar estado de emergência devido ao risco de desabamento de um trecho de 450 metros da
orla, (TRIBUNA DO NORTE, 2016). Segundo Nunes (2011), este mesmo problema, apresentado na
Figura 3, já havia ocorrido anteriormente, em 2008.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 3. Situação Crítica do Calçadão na Praia do Meio. Fonte: Adriano Abreu/Tribuna do Norte (2016).

3. PROCESSO DE EROSÃO COSTEIRA

Lockhart e Morang (2002) defendem que o processo de erosão costeira consiste em uma resposta
natural a fenômenos hídricos e eólicos na costa, e deve ser considerado um problema apenas
quando o desenvolvimento humano encontra-se em risco. Tem-se, como principal decorrência, a
alteração no balanço de sedimentos, que pode resultar tanto no recuo da linha de costa
(retrogradação) quanto no seu avanço (progradação). Altos custos sociais, ambientais e econômicos
são tidos como consequência em virtude da erosão costeira em zonas de alta densidade
demográfica, providas de infraestrutura urbana, industrial e turística (ALFREDINI; ARASAKI, 2009).

Koerner, Oliveira e Gonçalves (2013) caracterizam este processo, sob o ponto de vista do
planejamento e da gestão, como o conflito no uso do espaço da linha de costa móvel, por meio da
oposição entre o meio ambiente e a ocupação antrópica do litoral. Isto significa que, enquanto a
natureza age de modo a adaptar-se a processos naturais (tempestades, balanço de nível de
sedimentos e elevação do nível do mar), o ser humano atua na tentativa de fixação da linha de costa
no intuito de proteger o patrimônio construído que é ameaçado pela erosão.

Souza (2009) destaca que, como resultado da erosão costeira, a sociedade enfrenta adversidades
que envolvem a perda do valor imobiliário de habitações costeiras, a perda do valor paisagístico da
praia, o comprometimento do potencial turístico da região e os gastos com a recuperação de praias
e com a reconstrução da orla marítima.

Vital et al. (2006) relatam que, no estado do Rio Grande do Norte, as principais causas e elementos
da erosão costeira, como agentes modificadores, são: a dinâmica da circulação costeira, a evolução
holocêntrica da planície costeira, o suprimento sedimentar ineficiente, a construção de estruturas
de concreto perpendiculares à linha de costa na zona de praia e fatores tectônicos.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. MEDIDAS DE PROTEÇÃO COSTEIRA

Alfredini e Arasaki (2009) expõem que as obras litorâneas de defesa são intervenções estruturais
que apresentam as funções de agir no balanço do transporte sólido, no favorecimento da
estabilização ou da ampliação da linha de costa e na defesa dela contra a erosão. Não existem
soluções e regras absolutas para o problema da erosão costeira, uma vez que a costa apresenta
caráter dinâmico e de alta diversidade; tal heterogeneidade exige, portanto, que sejam consideradas
uma variedade de soluções quando se analisa uma área específica (BASCO, 2008). Souza (2009),
Alfredini e Arasaki (2009) explicitam que projetos de obras litorâneas de defesa apresentam
requisitos básicos que envolvem aspectos econômicos e ambientais, além de procurar a menor
influência possível nas áreas adjacentes. Obras mal planejadas ou executadas podem agravar o
quadro de erosão na área ou em suas adjacências, a exemplo dos espigões construídos na Praia de
Areia Preta em Natal/RN (Figura 4), que estão impedindo que sedimentos sejam transportados para
as praias adjacentes, de modo a intensificar a erosão costeira nestas áreas (NUNES, 2011; PMN,
2015).

Figura 4. Espigão na Praia Areia Preta em Natal/RN. Fonte: Leide Silva/Nunes (2011).

Dessa forma, para a análise da intervenção mais adequada, faz-se necessário um estudo prévio dos
tipos de obras de defesa costeira que podem ser executadas. Assim, a fim de se definir um critério
destinado a cada tipo de solução, é de grande importância o conhecimento da função de cada uma,
além do seu campo de aplicação e de suas limitações. As medidas de proteção da engenharia
costeira são classificadas como estruturais ou não-estruturais.

4.1 MEDIDAS NÃO-ESTRUTURAIS

A adoção de medidas não-estruturais pode tanto implicar no emprego de intervenções físicas no


litoral, como último recurso, quanto pode ser aliada a técnicas construtivas de proteção costeira,

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

para melhores e mais duradouros resultados. São medidas que priorizam o estabelecimento de
condições de contorno mais favoráveis e apresentam resultados efetivos a longo prazo, uma vez que
envolvem o planejamento de aspectos físicos, urbanísticos e de defesa do litoral quanto ao seu uso
e ocupação (ALFREDINI; ARASAKI, 2009).

Para isto, planos de gerenciamento costeiro, instituídos pelas Leis nº 7.661 (16 de maio de 1988) e
6.950 (20 de agosto de 1996) podem ser seguidos. Alfredini e Arasaki (2009) explicitam, ainda, que
a conservação dos litorais pode ser alcançada por meio da delimitação de uma faixa de conservação
em que não sejam construídas edificações, assim como por meio da limitação das atividades de
extração e de mineração em áreas adjacentes. Além disso, pode ser priorizado o desenvolvimento
urbano em áreas relativamente distantes da orla marítima, uma vez que gabaritos muito altos de
edificações podem afetar a circulação eólica e, por conseguinte, na dinâmica de transporte de
sedimentos na praia.

4.2 MEDIDAS ESTRUTURAIS

As medidas estruturais de proteção contra o processo da erosão costeira atuam no balanço e no


transporte de sólidos, favorecendo a estabilização ou a ampliação da linha de costa e envolvem a
intervenção física direta no litoral (CECCARELLI, 2009). As intervenções estruturais, segundo Alfredini
e Arasaki (2009), podem ser classificadas, quanto à sua localização em relação à linha de costa, em:
obras longitudinais aderentes (paredões construídos na interface terra-mar); obras transversais
(espigões); obras longitudinais não aderentes (quebra-mares isolados); alimentação artificial da
praia; diques; e fixação das dunas de areia. Estas soluções podem ser utilizadas de modo isolado ou
conjugado, a depender da demanda do local de estudo.

4.2.1 OBRAS LONGITUDINAIS ADERENTES

De acordo com Alfredini e Arasaki (2009), as obras longitudinais aderentes são projetadas e
executadas com o intuito de fixar o limite da praia em costas não protegidas adequadamente por
praia natural. Consistem geralmente em medidas emergenciais para prevenir o recuo da praia em
zonas afetadas de forma severa pelo mar, de modo a proteger passeios, estradas e edificações
localizadas próximas ao perfil de praia natural (KAMPHUIS, 2000; BASCO, 2008; CECCARELLI, 2009).
No entanto, de acordo com Alfredini e Arasaki (2009), podem ser de caráter definitivo quando se
deseja “manter a costa em posição avançada com relação a áreas vizinhas, como no caso de avenidas
beira-mar”.

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Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Estas obras podem ser construídas em: estruturas de concreto, de asfalto, de geossintéticos,
paredes de estacas-prancha ou enrocamento; objetivam a redução da ação das ondas e, no caso
dos blocos de enrocamento, atuam por meio da absorção da energia nas faces e espaços vazios
(COELHO, 2005). O material é colocado ao longo da face de uma praia, de encostas ou dunas, e a
estrutura apresenta três componentes principais: a camada de armadura estável (manto
resistente), a camada de filtro, ou underlayer, e o pé de talude, fundação que oferece estabilidade
à estrutura (FERNANDES, 2017). A Figura 5 apresenta a obra de enrocamento aderente realizada na
Praia do Meio, área de estudo.

Figura 5. Obra de Enrocamento Aderente na Praia do Meio em Natal/RN, em execução (2017). Fonte:
Própria.

As funções destas construções envolvem a redução do efeito da erosão costeira por meio da
resistência à ação de ondas, da contenção de aterros ou de praias artificiais e do impedimento de
inundações em eventos meteorológicos mais intensos (ALFREDINI; ARASAKI, 2009). Uma
característica a respeito das obras aderentes é que seu impacto no transporte de sedimentos ao
longo da costa é pequeno (KAMPHUIS, 2000).

4.2.2 ESPIGÕES

Alfredini e Arasaki (2009) e Sousa (2011) definem os espigões como estruturas transversais
enraizadas, empregadas de modo isolado ou em conjunto (quando a zona a ser protegida é extensa),
que agem diretamente sobre o transporte de sedimentos ao longo da faixa litorânea. Objetivam,
além da interceptação de sedimentos, a estabilização e o alargamento da praia, e não são indicadas
em áreas cujo transporte sedimentar ocorra de modo pouco intenso devido ao risco de
intensificação da erosão costeira. Os espigões são construídos na maioria dos casos através do uso
de enrocamento, com a vantagem de serem flexíveis e adaptáveis às acomodações do terreno.

559
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Também podem ser constituídos por sacos preenchidos com argamassa ou concreto, ou ainda com
estacas-prancha preenchidas com concreto ou agregados (CECCARELLI, 2009; SOUSA, 2011). Os
espigões são frequentemente utilizados em conjunto com outras obras; as mais comuns são as obras
longitudinais aderentes e as de alimentação artificial de areia. Tratam-se de intervenções mistas,
adotadas em zonas muito críticas ou com o intuito de reduzir os impactos negativos e minorar custos
associados a cada intervenção de forma isolada (COELHO, 2005).

4.2.3 QUEBRA-MARES DESTACADOS DA COSTA

Os quebra-mares destacados são estruturas desligadas da linha de costa e, com isso, são
implantadas em áreas mais profundas que os espigões (ALFREDINI; ARASAKI, 2009). Pereira (2008)
afirma que estas estruturas costumam ser aplicadas em condições de agitação média ou calma e
podem ser projetadas como modelos submersos ou emersos, paralelas ou enviesadas em relação à
linha de costa.

Os quebra-mares destacados exigem grande volume de material, o que pode conduzir a custos
elevados. Além disso, sua aplicação pode ser inviabilizada pela dificuldade de execução dos
trabalhos de construção civil. Caso a obra seja executada em condições de elevada agitação ou em
fundos móveis, fazem-se necessárias fundações muito extensas para evitar as infra-escavações, isto
é, cavidades causadas em virtude da corrente marítima (PEREIRA, 2008).

De acordo com Alfredini e Arasaki (2009), quebra-mares destacados consistem numa possível opção
para áreas sem apreciável transporte litorâneo, e são, frequentemente, constituídas por estruturas
segmentadas com vãos que objetivam a renovação da água a fim de garantir sua balneabilidade.
Estas estruturas não impedem a ação das ondas incidentes, e são consideradas como uma barreira
às ondas para a dissipação da sua energia, uma vez que tendem à acumulação de material na sombra
das obras, formando uma saliência chamada tômbolo (CECCARELLI, 2009; SOUSA, 2011).

Figura 6. Quebra-mar destacado. Fonte: Fernandes (2017).

560
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4.2.4 DIQUES

Segundo Burchart e Hughes (2011), os diques (Figura 7) consistem em estruturas comumente


aplicadas em áreas baixas a fim de obter proteção contra inundações. Normalmente, são
constituídos por montes de areia e argila, com uma suave inclinação para o mar, de modo a reduzir
o acúmulo de ondas bem como seu efeito de erosão.

Sua superfície pode ser composta por areia com camada de terra e grama em áreas sem problema
de erosão; quando a área é sujeita a atividades erosivas, utilizam-se revestimentos mais resistentes,
a exemplo de asfalto pedra e de peças de concreto (ALFREDINI; ARASAKI, 2009; BURCHART;
HUGHES, 2011).

Figura 7. Dique arenoso. Fonte: Diogo (2004).

4.2.5 ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL DA PRAIA

O método de alimentação artificial da praia é tido como o suprimento de areia com material obtido
de áreas de empréstimo, e permite que ocorra a ampliação e a estabilização da praia, de modo a
repor o deficit existente no balanço sedimentar. Embora seja uma solução simples, apresenta
limitações acerca de disponibilidade e de custos do material de empréstimo, além de existir a
possibilidade da ocorrência de erosão a sotamar quando o sistema de transposição de areias é
interrompido (ALFREDINI; ARASAKI, 2009).

Segundo Alfredini e Arasaki (2009), este sistema não requer obras fixas e estranhas ao ambiente
natural, e pode ser realizada por meio de engordamento, com areia de empréstimo, ou de
transposição de areias por obstáculos ao transporte litorâneo, como embocaduras e molhes. Por
consistir em uma intervenção de caráter flexível e por ser adaptada à hidrodinâmica praial, esta
solução apresenta importante vantagem técnica (CECCARELLI, 2009).

561
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4.2.6 FIXAÇÃO DAS DUNAS DE AREIA

Alfredini e Arasaki (2009) afirmam que as dunas fixadas consistem em soluções vantajosas de defesa
dos terrenos costeiros, uma vez que são barreiras contra as inundações das marés meteorológicas.
Dessa forma, funcionam como obstáculo ao vento, de modo a reter a areia no pós-praia como
estoque sedimentar para reposição.

Coelho (2005) expõe que uma duna artificial com um núcleo estrutural em enrocamento ou em
blocos de concreto pode funcionar como uma barreira ou como um revestimento longitudinal.

A colocação de vegetação natural (Figura 8) também pode consistir em um mecanismo de fixação


de dunas, uma vez que suas raízes contribuem na estabilização do sistema.

Figura 8. Plantação de vegetação para a fixação de dunas. Fonte: Coelho (2005).

5. DISCUSSÃO

A escolha da estratégia mais adequada de proteção costeira, em uma área específica, não pode ser
efetuada sem estudos preliminares acerca de características locais como a topografia, as condições
climáticas, o tipo de solo e a dinâmica marítima. O método de melhor aplicabilidade deve ser
adotado ao considerar a magnitude do problema e os impactos que têm sido causados ao meio
ambiente e à sociedade, além de ser de alta relevância a análise crítica de obras de mesmo porte
realizadas nas proximidades ou em condições similares às da área de estudo. Segundo Souza (2009),
os conhecimentos técnico-científicos a respeito da erosão costeira não têm sido aplicados nas
políticas de planejamento e ordenamento territorial. Tal prática pode fazer com que a obra implique
em um resultado inverso do desejado, isto é, acelerando o processo erosivo ou, ainda, transferindo-
o para outros pontos da costa.

562
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

A erosão costeira na Praia do Meio, além de gerar prejuízos financeiros por exigir frequentes
intervenções de revitalização da estrutura da praia, consiste também em perigo para a população
local e turistas. Desta forma, a situação crítica da praia exigiu uma solução de caráter emergencial;
isto é, que apresentasse resultados satisfatórios a curto prazo. Assim, uma vez que as obras
longitudinais aderentes consistem em soluções emergenciais e eficazes em garantir o recuo da linha
de costa e sua proteção, o enrocamento aderente foi a alternativa adotada para proteção da costa
da Praia do Meio.

A obra foi projetada em dois segmentos, que são separados por uma área estável, de 450 metros
de extensão, que é protegida por uma linha de arenitos praiais e não apresenta indícios de processos
erosivos. O Trecho 1 é localizado no setor norte da praia e apresenta 650 metros de comprimento,
enquanto que o Trecho 2 apresenta 572 metros. A seção transversal adotada é apresentada na
Figura 9, e representa também o modelo adotado para o enrocamento realizado na Praia de Ponta
Negra, também localizada no município do Natal/RN. Nota-se que o elemento projetado apresenta
o formato de um talude voltado para a praia, e é composto por uma estrutura interna constituída
de blocos rochosos e por uma estrutura externa dotada de maciço de areia, de elemento filtrante e
de proteção mecânica por geotêxtil (PMN, 2015).

Aliado a isto, a opção pelo enrocamento aderente foi fortalecida pelo êxito obtido com a
implantação desta solução na Praia de Ponta Negra: além de permitir que a linha de costa fosse
estabilizada, as obras de urbanização executadas na área foram preservadas e a energia das ondas
incidentes foi reduzida de modo significativo (PMN, 2015). O enrocamento executado nesta praia
foi adotado como solução inicial e, a posteriori, foi realizado um estudo a respeito da realização do
procedimento de alimentação artificial da praia, com o objetivo de obter resultados mais
duradouros.

Figura 9. Seção transversal do enrocamento adotado. Fonte: Adaptado de PMN (2015).

563
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Portanto, é importante destacar que, embora o enrocamento aderente seja capaz de proteger a
zona costeira em situações emergenciais, este método não pode ser considerado uma solução
definitiva. A eficiência da proteção costeira, quando analisada tanto a curto como a longo prazo,
pode ser potencializada por meio da atuação em conjunto com outros métodos preventivos de
erosão. Uma vez que não apresentam caráter de solução emergencial, medidas não-estruturais
poderiam ser tomadas como parte do conjunto de soluções para o problema da erosão costeira na
Praia do Meio.

Ceccarelli (2009) defende, ainda, que os estudos de viabilidade de projetos costeiros de estabilização
da linha de costa devem incluir não apenas os métodos de execução, mas também seguir planos de
gerenciamento costeiro para resultados duradouros. Dessa forma, é essencial que haja
planejamento e gerenciamento, de modo integrado, descentralizado e participativo, dos recursos
naturais da zona costeira (RIO GRANDE DO NORTE, 1996).

564
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

7. CONCLUSÕES

Neste trabalho, foi feito um estudo de caso a respeito da escolha do enrocamento aderente como a
alternativa de proteção costeira, utilizada no controle da erosão na Praia do Meio em Natal/RN.

Os efeitos da erosão costeira na área de estudo mostram-se cada vez mais evidentes, de modo que
se optou, inicialmente, por uma obra longitudinal aderente, a qual é caracterizada por implicar em
resultados rápidos de prevenção de danos causados por processos erosivos. Assim, diante do
cenário emergencial da Praia do Meio, a escolha pelo enrocamento aderente mostrou-se vantajosa.
Entretanto, o controle da erosão por esta alternativa não é permanente, de modo que devem ser
realizados estudos a fim de identificar um método que possa ser empregado de modo simultâneo
com o enrocamento aderente, para maior durabilidade das estruturas litorâneas.

Além disso, posto que a solução do enrocamento é eficaz para a proteção da área após a linha em
que é posicionado, as soluções complementares a este método devem atuar de modo a prevenir o
processo de erosão na linha de costa, uma vez que este influencia diretamente no depósito de
sedimentos. Portanto, a opção pelo método de alimentação artificial da praia poderia atuar como
solução complementar eficaz para o enrocamento projetado e executado.

Destaca-se, ainda, que para evitar o acontecimento de medidas emergenciais como o ocorrido na
Praia do meio, é necessário que o poder público invista em medidas de gestão costeira. Estas, na
medida em que protegem a zona costeira, previnem a erosão, de modo a economizar o emprego
de futuros recursos públicos, tanto de reparos de infraestrutura, quanto de obras costeiras para
contenção da erosão. Assim, ressalta-se também a relevância de serviços de manutenção periódicos
de modo a firmar a estabilidade das soluções empregadas.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Prefeitura do Natal por autorizar a consulta do projeto básico da obra do


enrocamento na Praia do Meio, em Natal/RN, para a realização deste trabalho.

565
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

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TRIBUNA DO NORTE (Rio Grande do Norte). Prefeitura decreta estado de emergência na orla da Praia
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Disponível em: <http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/prefeitura-decreta-estado-de-emerga-
ncia-na-orla-da-praia-do-meio-por-90-dias/359027>. Acesso em: 17 abr. 2018.

568
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Capítulo 37

CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICO-GEOTÉCNICA
DA ENCOSTA “ALTO DE SANTA TEREZA” EM
RECIFE / PE

Roberto Quental Coutinho (UFPE)


Tahyara Barbalho Fontoura (IFRN)
Felipe Oliveira Tenório da Silva (UFPE)
Danisete Pereira de Souza Neto (UFPE)
Amabelli Nunes dos Santos (UFPE)
Monalyssa Caroline Lira da Silva Ramos (UFPE)
Bruno Pereira Fernandes de Castro (UFPE)

Resumo: Este estudo contempla a caracterização geológico-geotécnica de uma encosta de Recife


localizada na Avenida Chagas Ferreira – bairro de Passarinho. A investigação de campo foi composta
por 5 furos de sondagem à percussão (SPT). O mapeamento geológico foi realizado com a equipe de
Geologia do GEGEP – Grupo de Engenharia Geotécnica de Encostas, Planícies e Desastres. A
caracterização geotécnica foi realizada através de uma campanha de ensaios, dentre eles, ensaios
de caracterização (granulometria, sedimentação, LL, LP, densidade real dos grãos), ensaios para
obtenção dos parâmetros de resistência – cisalhamento direto e ensaios para obtenção do
coeficiente de permeabilidade (Triflex). A formação geológica do solo da encosta caracteriza-se por
ser de Formação Barreiras, apresentando em sua maior parte areia com grãos de quartzo prismáticos
e esféricos, sub-angulosos a angulosos. As sondagens realizadas mostraram que o solo no topo da

569
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

encosta tem baixa resistência até uns 7m de profundidade. Os parâmetros geotécnicos encontrados
estão de acordo com os dados da literatura.

Palavras-chave: Caracterização Geológico-Geotécnica, Formação Barreiras, Alto de Santa Tereza.

570
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

1. INTRODUÇÃO

As cidades são lugares onde as pessoas devem e podem unir-se, trabalharem juntas e trocar ideias
de forma produtiva, segura e confortável. Contudo, nas grandes metrópoles brasileiras há uma
segregação sócio econômica e a população de baixa renda foi sendo empurrada para locais mais
afastados da cidade, formando periferias. A cidade do Recife é um exemplo disso.

A ausência de um planejamento urbanístico específico para a cidade do Recife condenou a


população residente nas periferias a viverem problemas de deslizamento de terra, alagamentos de
comunidades ribeirinhas, entre outras situações. Devido ao aumento da incidência de movimentos
de massa em encostas durante o período de chuvas, verifica-se a importância de analisar e entender
o comportamento dos solos das encostas vulneráveis.

A cidade de Recife está localizada abaixo do nível do mar e, quando chove, esse processo torna-se
mais preocupante devido ao elevado nível d’água. Em maio de 2016 choveu 235 mm em apenas 12
h e a Defesa Civil registrou 97 deslizamentos.

1.1 ÁREA DE ESTUDO

Este estudo contempla a análise da estabilidade sobre duas condições do solo de uma importante
encosta de Recife localizada na Avenida Chagas Ferreira – bairro de Nova Descoberta. Esta área já
foi vítima de deslizamento no ano de 2000 e cerca de 100 famílias ficaram desabrigadas após
perderem suas casas. A encosta tem aproximadamente 56 m de altura e 414 m de comprimento
(acompanhamento a Av. Chagas Ferreira).

Esse é um trabalho parcial de uma pesquisa de doutorado que contempla o estudo das
características geológico-geotécnicas e instrumentação da encosta citada.

A encosta tem como nome “Alto de Santa Teresa, as coordenadas geográficas do local são:
Longitude: 287887.00 E / Latitude: 9116055.00 S. A Figura 1 mostra a localização exata da encosta.

De acordo com as curvas de nível encontradas no levantamento topográfico realizado pela Prefeitura
de Recife em 2013, a encosta apresenta altitude máxima de 78m e mínima de 23m. Os arquivos
foram obtidos com a Defesa Civil do Município de Recife e trabalhados no Programa ArcGis com a
ajuda da equipe de mapeamento cartográfico do GEGEP – Grupo de Engenharia Geotécnica de
Encostas, Planícies e Desastres. A Figura 2 apresenta uma imagem detalhada da encosta.

571
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 1. Localização da encosta estudada. (Coutinho et al, 2017)

Encosta
Estudada

Figura 2. Detalhe da encosta estudada. (Coutinho et al, 2017)

1.2 GEOLOGIA REGIONAL

A Formação Barreiras trata-se de uma das unidades mais extensas observadas ao longo da costa
brasileira, se estendendo desde o Estado do Rio de Janeiro até o Estado do Amapá (Suguio e
Nogueira, 1999), recobrindo depósitos sedimentares mesozóicos de diversas bacias costeiras. Os
sedimentos quaternários costeiros no Brasil se desenvolvem sobrejacentes à referida unidade. Deve
salientar o elevado crescimento demográfico que tem ocorrido no litoral do Brasil tendo por
substrato a Formação Barreiras.

O aproveitamento de águas subterrâneas armazenadas na Formação Barreiras vem exigindo


pesquisas mais detalhadas sobre essa unidade, porém o baixo custo desse bem mineral ainda não é
suficiente para alavancar consideravelmente o volume de estudos. O alto grau de intemperismo das
rochas da Formação Barreiras e a ausência de informações paleontológicas dificulta a formulação de
modelos paleoambinentais (Rosseti 2006).

572
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

As rochas designadas de “Barreiras” foram posicionadas na categoria de formação por Mabesoone


et al. (1991). Alheiros et al. (1988) e Alheiros e Lima Filho (1991) realizaram mapeamentos geológicos
na região entre o Rio Grande do Norte e Pernambuco e observaram a Formação Barreiras se
apresentando na forma de arenitos conglomeráticos com seixos de quartzo, intercalações de blocos
de argila e estratificações cruzada tabular. Observou-se ainda em direção ao topo, separados por
uma camada de argila, tem-se sequências de arenitos de médios a grossos de cor creme com
estratificações plano-paralelas e pequenas intercalações de argila e silte. Estes mesmos autores
concluíram que as rochas sedimentares da Formação Barreiras teriam sido depositadas em um
ambiente fluvial entrelaçado associado a leques aluviais e a depósitos litorâneos.

2. METODOLOGIA DAS ATIVIDADES DE CAMPO E LABORATÓRIO

A investigação geotécnica envolve o conhecimento da natureza e comportamento de todos os


fatores relacionados a uma área e as condições ambientais que podem influenciar ou ser
influenciada pelo projeto. Portanto, a proposta básica de uma investigação geotécnica adequada é
fornecer informações primordiais para permitir a tomada de decisões durante as fases de avaliação,
projeto e construção (Coutinho e Severo, 2009).

O reconhecimento geológico local foi a primeira etapa da investigação de campo. Observou-se que
o solo é de Formação Barreiras, apresentando em sua maior parte areia com grãos de quartzo
prismáticos e esféricos, sub-angulosos a angulosos.

Para a caracterização geotécnica realizaram-se ensaios de campo e laboratório. A investigação de


campo foi composta por cinco furos de sondagem à percussão (SPT), e retirada de 4 amostras
indeformadas do tipo bloco. A campanha de ensaios de laboratório realizada foi: caracterização física
das amostras (Limite de Atterberg, Análise Granulométrica e Peso Específico dos Grãos), Ensaio de
Permeabilidade (Tri-Flex II) e Cisalhamento Direto na condição natural e inundado.

As amostras indeformadas coletadas na área em estudo foram ensaiadas no Laboratório de Solos e


Instrumentação da Universidade Federal de Pernambuco.

2.1 CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA

O mapeamento geológico foi realizado com a equipe de Geologia do GEGEP. Neste trabalho, a
encosta foi percorrida a pé e escolhidos alguns pontos (22) considerados interessantes, de acordo

573
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

com seu aspecto mineralógico observado a olho nu. A Figura 3 mostra os pontos escolhidos para
análise mineralógica e geológica.

2.2 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA DE CAMPO

Foram realizados 5 furos de sondagem de simples reconhecimento com medidas de NSPT a cada
metro. As sondagens seguiram as recomendações da NBR 6484/2001.

As sondagens foram divididas ao longo de um perfil que vai da base até o topo da encosta. Foram
realizados 5 pontos de sondagem nas alturas: Ponto 4 - 23 m, Ponto 3 - 51 m, Ponto 2 - 67 m e Ponto
1 - 78 m e Ponto 5 – 62m. Os pontos 1, 2, 3 e 4 foram realizados numa face da encosta, e o ponto 5
na outra face. A Figura 4 mostra os pontos de sondagem.

Figura 3. Pontos onde foram realizados o mapeamento geológico. (Coutinho et al, 2017)

As sondagens foram feitas pela empresa ENSOLO. A profundidade de sondagem dos pontos foi de
20,1 m para o ponto 1; de 20,45 m para o ponto 2; 16,26 m para o ponto 3, 18,23 m para o ponto 4
e 19 m para o ponto 5.

574
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 4. Pontos de Sondagem.

As amostras indeformadas e as amostras amolgadas representativas foram coletadas em 2 locais


diferentes ao longo do perfil estudado. Após a escavação foram retiradas as amostras, onde dois
blocos foram coletados na profundidade de 0,90 metros e dois blocos na profundidade de 1,90
metros, apresentando forma cúbica com dimensões 0,30x0,30x0,30 m. Para cada profundidade
retirou-se uma amostra amolgada com peso de aproximadamente 10 kg. As amostras foram
retiradas de acordo com a NBR 9604/16 (ABNT, 2016). A localização da coleta de amostras está
representada na Figura 5 pelos quadrados rosas.

Figura 5. Localização dos Blocos

2.3 CAMPANHA DE LABORATÓRIO

A composição granulométrica e os limites de consistência foram realizados em todas as amostras


coletadas, segundo procedimentos previstos nas normas técnicas brasileiras (NBR 6457/16–
Preparação de Amostras; NBR 7181/16 – Análise Granulométrica; NBR 13602/96 – Avaliação de

575
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

dispersividade de solos argilosos pelo ensaio sedimentométrico comparativo; NBR 6508/84 –


Determinação de Massa Específica; NBR 6459/84 – Determinação do Limite de Liquidez; NBR
7180/88 – Determinação do limite de Plasticidade).

Os ensaios edométricos duplos foram realizados de modo a avaliar a compressibilidade do material.


Foram utilizados pares de amostras indeformada, sendo uma ensaiada na condição de umidade
natural e outra amostra na condição inundada.

Os parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo foram obtidos em amostras indeformadas na


condição de umidade natural e na condição inundada através do ensaio de cisalhamento direto. As
tensões utilizadas foram de 25, 50, 100 e 200 kPa. Foram utilizados corpos de prova com seção
transversal quadrada de 10,16cm de lado (4") e 4 cm de altura.

Os coeficientes de permeabilidade para as amostras indeformadas foram obtidos através do ensaio


de condutividade, o qual utilizou o permeâmetro “TRI-Flex II”. A principal característica deste
equipamento é a de permitir a simulação do ensaio de permeabilidade sob diferentes pressões
(confinante, base e topo). No primeiro momento do ensaio aplica-se tensões confinante, base e topo
para efetuar a saturação do corpo de prova, por último aplica-se novas tensões e mede-se o tempo
necessário para que 5 ml de água percole da base para o topo ou do topo para base (Tabela 5). Para
a realização dos ensaios moldaram-se 2 corpos de prova com altura (10,0 cm e 12,7 cm) e diâmetro
(10 cm).

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 ATIVIDADES DE CAMPO

Através do mapeamento geológico realizado na região trabalhada foi possível identificar duas fácies
sedimentares distintas para as rochas da Formação Barreiras: fácies de leques aluviais e fácies de
canais fluviais/planícies de inundação. A primeira fácies se apresenta na forma de sedimentos
conglomeráticos constituídos por seixos centimétricos de quartzo envoltos numa matriz arenosa
grossa. Tais níveis ocorrem geralmente intercalados com camadas arenosas; nota-se nessas camadas
a ausência de estruturas sedimentares. Além dos seixos podem ocorrer também blocos
centimétricos de concreções ferruginosas e também blocos de argila. Essas características indicam
que sua formação ocorreu por processos de fluxos de detritos de alta energia em um ambiente de
leques aluviais.

576
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

A Figura 6 apresenta a imagem detalhada dos pontos 2 e 3. A Figura 7 mostra detalhe do ponto 6 e
concreção de óxido de ferro (ponto 18) e cristal de quartzo (ponto 3).

(a) (b)
Figura 6. Detalhes de pontos do mapeamento geológico. (a) Ponto 2. (b) Ponto 3.

(a)

(c) (b)

Figura 7. Detalhes de pontos do mapeamento geológico. (a) Ponto 6. (b) Concreção de óxido de
ferro (c) Cristal de quartzo.

Ainda acerca da fácies canais fluviais/planícies de inundação foram encontradas camadas de argila
maciça geralmente com uma textura mosqueada. A presença de rochas arenosas aponta um
ambiente deposicional de canais fluviais e a presença de camadas argilosas indicam a presença de
planícies de inundação adjacentes aos canais fluviais onde por ocasião do transbordamento desses
canais houve a deposição de materiais finos.

As sondagens realizadas mostraram que o solo no topo da encosta tem baixa resistência até uns 10m
de profundidade com NSPT em torno de 8. Os furos ao longo da encosta apresentaram-se um pouco
mais resistentes com NSPT entre 15 e 20. Percebeu-se a predominância de solo arenoso e o nível

577
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

d’água foi encontrado a 2m de profundidade no pé da encosta. A Figura 8 apresenta o perfil de


sondagem. A Figura 9 mostra os resultados de NSPT a cada metro para cada vertical de sondagem
realizada.

3.2 ATIVIDADES DE LABORATÓRIO

Todas as amostras apresentaram textura fina, de acordo com a composição granulométrica


apresentada na Tabela 1. A fração argila foi de 30 % para o solo do bloco 2 e 32 % para o solo do
bloco 3. De forma análoga, a fração silte foi de 12% e 9% (Tabela 1). O material do bloco 3 se
diferencia do bloco 2 por apresentar maior quantidade de pedregulho. Essas características foram
observadas no ensaio de permeabilidade Tri-Flex II. Estes materiais tiveram suas curvas
granulométricas (Figura 10) determinadas no Laboratório de Solos e Instrumentação da UFPE.

A Tabela 2 (apresenta a classificação dos solos de acordo com Sistema Universal de Classificação de
Solos (SUCS) e os Limites de Atteberg. Observa-se que todas amostras são do tipo silte ou argila de
baixa plasticidade.

Tabela 1. Composição granulométrica (NBR 6457/16, NBR 7181/16 e NBR 13602/96)

Amostra Bloco 2 Bloco 3


Prof. (m) 0,90 1,25
Pedreg. (%) 3 11
Areia Grossa (%) 15 12
Areia Med. (%) 29 16
Areia Fina (%) 11 20
Silte (%) 12 9
Argila (%) 30 32

Tabela 2. Limite de Atteberg (NBR 6459/84 e NBR 7180/88) e classificação dos solos pelo SUCS

Amos. Prof. (m) LL(%) LP(%) IP(%) SUCS


BL-2 0,90 47 29 18 SC
BL-3 1,25 34 25 10 SC

578
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 8. Perfil de Sondagem.

Figura 9. Resultados de NSPT a cada metro para as verticais de sondagem realizadas.

579
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

100
90
80
70

(%) que passa


60
50
Bloco 3
40
Bloco 2
30
20
10
0
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000

Diâmetro dos grãos (mm)

Figura 10. Curvas Granulométricas

Os valores encontrados para o coeficiente de permeabilidade de laboratório do solo em estudo, cuja


formação geológica é Formação Barreiras, apresentaram classificação de areia muito fina, de acordo
com Schnaid et al., 2004; Coutinho e Silva, 2006 (Tabela 3).

A Tabela 4 apresenta os resultados dos parâmetros de resistência ao cisalhamento obtidos no ensaio


de cisalhamento direto. Observa-se que, para o bloco 2, a coesão do material inundado (10,53 kPa) é
quase 4 vezes menor do que o material na umidade natural (37,60 kPa) devido ao efeito da sucção
matricial. Para o bloco 3, a coesão do material é igual a 0, enquanto que na condição natural é igual
23,55.

Tabela 3. Parâmetro de permeabilidade de laboratório para o solo em estudo (BL-02 e 03)

Amostras Profundidade (m) K1 (cm/s)


BL-2 0,90 2,653x10-4
BL-3 1,25 1,156x10-3

Os ângulos de atrito na condição natural e inundada para o bloco 2 foram aproximadamente iguais,
sendo o ângulo na condição natural levemente maior. Os ângulos de atrito, para o bloco 3
apresentaram-se com valores bem elevados. Isto deve-se a presença de grande quantidade de
pedregulhos na amostra (Figura 11). Os ângulos de atrito referentes a condição residual apresentaram-
se iguais para os solos dos blocos 2 e 3.

580
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Apresentam-se nas Figuras 12 e 14 as curvas de tensão cisalhante x deformação horizontal para os


corpos de prova submetidos ao ensaio na condição de umidade natural (BL-02 e BL-03). Nas Figuras 13
e 15 estão as envoltórias de resistência na condição de umidade natural, inundado e residual (BL-02 e
BL-03).

Tabela 4. Parâmetros de resistência

Bloco 2 Bloco 3
Condição
 (°) c (kPa)  (°) c (kPa)
Natural 35,37 37,60 55,93 23,55
Inundada 34,40 10,53 40,48 0,00
Residual 28,78 0,00 28,78 0,00

Figura 11. Pedregulhos presentes no solo do BL-03

Para o bloco 2, as tensões de pico obtidas foram maiores que para o bloco 3. Por isso, as envoltórias
de resistência do bloco 3 apresentaram maior inclinação que para o bloco 2. Isso é explicado
novamente pela quantidade de pedregulhos.

581
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Figura 12. Curva de tensão cisalhante x deformação horizontal – umidade natural (BL-02)

Natural Inundada
180
160
Tensão Cisalhante (kPa)

140
120
100
80
60
40
20
0
0 100 200 300
Tensão Normal (kPa)

Figura 13. Envoltórias de Resistência (BL-02)

Figura 14. Curva de tensão cisalhante x deformação horizontal – umidade natural (BL-03)

582
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Natural Inundada Residual


220
200

Tensão Cisalhante (kPa)


180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
0 100 200 300
Tensão Normal (kPa)

Figura 15. Envoltórias de Resistência (BL-03)

3.3 RELAÇÃO COM OUTROS SOLOS DE FORMAÇÃO BARREIRAS DA REGIÃO

O solo em estudo, proveniente de Formação Barreiras, apresentaram uma textura semelhante às dos
solos de Formação Barreiras da RMR – PE e da Ponta do Pirambu – RN (Tabela 5). do solo em estudo
(Tabela 3). A fração argila variou entre 30-32 %, o silte 9-12 % e areia 48-55%.

Os solos de Formação Barreiras da região apresentaram classificação de acordo com a SUCS variando
de areia siltosa (SM), argila de baixa plasticidade (CL) a areia argilosa (SC) (Tabela 6). Os valores de LL
e IP apresentados na Tabela 2 referentes ao solo da encosta estudada, estão dentro do intervalo de
valores encontrados para os solos da região como é apresentado na Tabela 6. A classificação do solo
segundo o SUCS também é compatível com os resultados para solos de Formação Barreiras de regiões
próximas.

Tabela 5. Composição Granulométrica de solos provenientes da Formação Barreiras na RMR - Pernambuco e


RN.

Ref. Local Ped Are Sil Arg


Presente Estudo PE 3-11 48-55 9-12 30-32
Coutinho et al. (2006) PE 0-2 55-87 3-15 8-30
Lima (2002) PE 0 39 3 58
Bandeira (2003) PE 0-8 40-57 8-31 20-48
Lafayette (2006) PE 0-2 66-94 1-7 5-39
Santana (2006) PE 2-6 65-67 4-13 17-20
Silva (2007) PE 0-8 57-68 8-12 20-28
Severo et al. RN
0-28 46-65 6-14 13-32
(2011)

583
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 6. Limites de Atteberg e classificação (SUCS) dos solos referentes a Formação Barreiras na RMR -
Pernambuco e RN.

Ref. Local LL LP IP SUCS


Presente Estudo PE 34-47 25-29 10-18 SM
Coutinho et al. (2006) PE 29-34 14-23 11-15 SC-SM
Lima (2002) PE 42 36 16 CL
Bandeira (2003) PE 45-49 24-35 14-19 SC
Lafayette (2006) PE 20-32 7-28 4-13 SC-SM
Santana (2006) PE 24-29 12-22 7-12 SC
Silva (2007) PE 32-42 20-28 12-14 SC
Severo et al. RN
22-27 16-18 5-11 SM-SC
(2011)

Os valores encontrados para o coeficiente de permeabilidade de campo “K1” (Tabela 7), apresentaram
classificação variando entre areia muito fina, areia siltosa e silte. Estes resultados são compatíveis com
os resultados encontrados para o solo em estudo.

Tabela 7. Permeabilidade de solos provenientes da Formação Barreiras na RMR - Pernambuco e RN.

Ref. Local K1 (m/s)


Presente Estudo PE 2,653x10-6 - 1,156x10-5
Lima (2002) PE 1,24x10-5 a 6,4310-7
Lafayette (2000) PE 7,6x10-5
Lafayette (2006) PE 2,78 a 5,23x10-6
Santana (2006) PE 1,89 a 2,12x10-5
Silva et. al (2005) PE 1,2x10-6 a 4,8x10-7
Silva (2007) PE 1,2 a 4,8x10-6
Severo et al.
RN 6,5x10-5 a 1,5x10-8
(2005)

584
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Tabela 8. Parâmetros de resistência de solos provenientes da Formação Barreiras na RMR - Pernambuco e RN.

Natural Inundado
Ref.
C (kPa)  (kPa) C (kPa)  (kPa)
Presente Estudo -PE 23-38 35 - 56 0-10 34-40
Gusmão Filho et
- - 20-50 20-24
al. (1986) - PE
Bandeira et al.
- - 12 29
(2004) - PE
Coutinho et al.
(1999; 2006) 13 31 0 30
Santos (2001) - PE
Lafayette (2000) - PE - - 7-13 24-26
Lima (2002) - PE 28 31 10 32
Lafayette et al.
33-56 33-36 1,5-1,8 33-35
(2003; 2005) - PE
Silva (2005) - PE 43-46 31-45 0-3,7 31-35
Silva (2007) - PE 41-47 31-34 0-3,7 31-34
Meira (2008) - PE 1-4,2 28-34 0,4-3,5 23-26
Severo et al.
116-192 27-32 23-54 26-30
(2006) - RN

Observa-se que o valor do parâmetro de coesão (C) na condição natural, referente ao solo em estudo
(Tabela 4), encontra-se dentro do intervalo de 23-38 kPa para os solos cuja formação geológica é
Formação Barreiras (Tabela 8). Para a condição inundada o valor de C está foi igual a 0, assim como
para vários solos de Formação Barreiras das regiões próximas. Verifica-se que o valor do ângulo de
atrito (ɸ) do solo em estudo nas condições natural e inundado encontra-se entre o intervalo de 34-
56º. Nas referências analisadas este ângulo variou de 27-45°. Percebe-se que o valor de ângulo de
atrito de 56° para o solo em estudo encontra-se fora do intervalo para os solos de regiões próximas
devido a presença de pedregulhos.

585
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

4. CONCLUSÕES

As sondagens realizadas mostraram que o solo no topo da encosta tem baixa resistência até uns 10m
de profundidade com NSPT em torno de 8. Os furos ao longo da encosta apresentaram-se um pouco
mais resistentes com NSPT entre 15 e 20.

A permeabilidade do solo em estudo medida em campo variou entre 2,653x10-4 e 1,156x10-3 cm/s,
apresentando característica de areia muito fina.

Observa-se que os valores dos parâmetros de resistência (coesão, C e ângulo de atrito, ) apresentam-
se dentro dos intervalos propostos por estudos em solos de Formação Barreiras de regiões próximas.
A única exceção é ângulo de atrito de 56°, para o BL-03 na condição natural, devido a presença de
pedregulhos.

Os resultados dos parâmetros geológicos-geotécnicos apresentados e discutidos no presente trabalho


serão utilizados na análise da estabilidade da encosta localizada no bairro de Passarinho, na fase do
desenvolvimento da tese.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq e ao grupo de pesquisa GEGEP/UFPE pelo suporte financeiro para a
realização da pesquisa.

586
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

REFERÊNCIAS

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peneira de abertura 4,8 mm – Determinação da massa específica, da massa específica aparente seca e
da absorção de água. Rio de Janeiro. Brasil. 10 p.

Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. (2016b). NBR 6459: Solo – Determinação do limite
de liquidez. Rio de Janeiro. Brasil. 5 p.

Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. (2016c). NBR 7180: Solo – Determinação do limite
de plasticidade. Rio de Janeiro. Brasil. 3 p.

Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. (2016d). NBR 7181: Solo – Análise granulométrica.
Rio de Janeiro. Brasil. 12 p.

Alheiros, M. M.; Lima Filho, M. F. A.; Monteiro, F.A.J.; Oliveira Filho, J. S. (1998) Sistemas deposicionais
na Formação Barreiras do Nordeste Oriental. In: Congresso Brasileiro de Geologia, 35, 1988, Belém
(PA). Anais. SBG, v.2: 735-760.

Alheiros, M. M.; Lima Filho, M. F. (1991) A Formação Barreiras. Revisão geológica da Faixa Sedimentar
Costeira de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Estudos Geológicos (Série B Estudos e
Pesquisas), v. 10, p. 77-88.

Coutinho, R. Q.; Severo, R. N. F. Conferência Investigação Geotécnica para projeto de estabilidade de


encostas. 5ªConferência Brasileira de Estabilidade de Encostas, COBRAE, São Paulo, 55p.

Lima, A. F. (2002). Comportamento Geomecânico e Análise de Estabilidade de uma Encosta da


Formação Barreiras na Área Urbana da Cidade do Recife. Dissertação de Mestrado. UFPE. CTG.
Engenharia Civil, Recife-PE.

Mabesoone, J. M. (Coord.). (1991) Revisão geológica da faixa sedimentar costeira de Pernambuco,


Paraíba e parte do Rio Grande do Norte. Estudos Geológicos (Série B, Estudos e Pesquisas), v. 10, 252
p..

Rossetti, D. F. (2006) Deformação Rúptil em Depósitos da Formação Barreiras na Porção Leste da Bacia
Potiguar. Revista do Instituto de Geociências – USP, Geol. USP Série. Científica., São Paulo, v. 6, n. 2, p.
51-59.

587
Engenharia e Geotecnia: Princípios Fundamentais

Silva, M. M. (2007) Estudo geológico - geotécnico de uma encosta com problemas de instabilidade no
município de Camaragibe. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental Universidade Federal de Pernambuco, 436 p.

Suguio, K.; Nogueira, A. C. R. (199) Revisão crítica dos conhecimentos geológicos sobre a Formação (ou
Grupo?) Barreiras do Neógeno e o seu possível significado como testemunho de alguns eventos
eológicos mundiais. Geociências, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 439-460.

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