Detectores de Radiação
Detectores de Radiação
Propriedades de um detector
Para que um dispositivo seja classificado como um detector apropriado é necessário que, além
de ser adequado para a medição do mensurando, apresente nas suas sequências de medição
algumas características, tais como:
Monitor de radiação
É um detector construído e adaptado para radiações e finalidades específicas e deve
apresentar as seguintes propriedades, regidas por normas da IEC 731 ou ISO 4037-1:
Dosímetro
É um monitor que mede uma grandeza radiológica ou operacional, mas, com resultados
relacionados ao corpo inteiro, órgão ou tecido humano.
Sistema de Calibração
Um sistema de calibração é um conjunto de detectores e unidades de processamento que
permite medir uma grandeza radiológica de modo absoluto ou relativo e deve cumprir as
seguintes exigências:
- fator de calibração rastreado aos sistemas absolutos e ao Bureau International de
Poids et Mesures (BIPM);
- aprovação em testes de qualidade (comparações interlaboratoriais, protocolos e sistemas já
consagrados internacionalmente);
- incertezas bem estabelecidas e pequenas;
- resultados, rastreados ao BIPM, e acompanhados de certificados registrados; -
fatores de influência sob controle;
- fatores de interferência conhecidos;
- integrar os sistemas de um laboratório de calibração.
Gamagrafia
De forma semelhante à utilizada para raio X diagnóstico, feixes de raios são usados para
avaliação de estruturas na construção civil, na siderurgia e metalurgia. A radiação é mais
absorvida na matéria mais densa e com mais alto Z e permite verificar a existência de bolhas e
falhas no interior de grandes estruturas metálicas e de concreto, sem a necessidade de
destruí-las. Normalmente são utilizadas fontes de 60Co, de 137Cs e de 192Ir. Podem ser
utilizados também aparelhos de raios X de alta energia (acima de 400 keV).
O mecanismo da termoluminescência
O volume sensível de um material termoluminescente consiste de uma massa pequena (de
aproximadamente 1 a 100 mg) de um material cristalino dielétrico contendo ativadores
convenientes.
Esses ativadores que podem estar presentes em quantidades extremamente pequenas (da
ordem de traço, por exemplo), criam dois tipos de imperfeições na rede cristalina: armadilhas
para elétrons, que capturam e aprisionam os portadores de carga e centros de luminescência.
A radiação ionizante, ao interagir com os elétrons, cede energia aos mesmos, que são
aprisionados pelas armadilhas.
Para alguns materiais as armadilhas resistem bem à temperatura ambiente por períodos de
tempo relativamente longos (maiores que 30 dias, por exemplo), ou seja, só liberam os
elétrons e emitem luz após um tratamento térmico de algumas centenas de graus Celsius.
Como o sinal luminoso pode ser proporcional à radiação incidente, esses materiais são
bastante convenientes para serem utilizados como dosímetros, principalmente pela sua
característica de reutilização antes de apresentarem fadiga expressiva.
Detectores a Gás
Os detectores a gás constituem os tipos mais tradicionais e difundidos. Foram utilizados
desde as experiências iniciais com a radiação ionizante. A interação das radiações com os
gases provoca principalmente excitação e ionização dos seus átomos:
Na ionização, são formados pares elétron-íon que dependem de características dos gases
utilizados e da radiação ionizante. A coleta dos elétrons e dos íons positivos formados no volume
sensível do detector, é feita por meio de campos elétricos e dispositivos apropriados, e serve
como uma medida da radiação incidente no detector.
Quando uma radiação interage com um gás, ionizando-o, os elétrons arrancados pertencem
normalmente às últimas camadas, com energias de ligação da ordem de 10 a 20 eV. Como nem
toda interação resulta em ionização e o elétron atingido nem sempre pertence à última camada,
o valor da energia média para formação de um par de íons (W) em um gás varia em torno de 20
a 45 eV para os gases mais utilizados.
Nos detectores a gás, a carga gerada pelos pares de íons é coletada por meio do campo
elétrico criado de forma conveniente por um circuito elétrico.
A carga, ao atingir o eletrodo, produz uma variação na carga do circuito, que pode ser
detectada e transformada em um sinal elétrico.
Essa carga corresponde a uma corrente, que pode ser medida utilizando-se eletrômetros. O
modo de operação que mede a corrente média gerada em um intervalo de tempo é denominado
modo de operação tipo corrente.
Outra forma de operar o detector é registrar o sinal gerado pela radiação, criando um pulso
referente à variação de potencial correspondente.
Esse modo é denominado modo de operação tipo pulso. Nesse caso, o número de pares de íons
gerados e coletados corresponde também à intensidade (ou amplitude) do pulso gerado para o
detector.
Apesar disso, a corrente coletada é muito baixa, normalmente da ordem de 10A a 12A e
precisam ser utilizados amplificadores para o sinal poder ser convenientemente processado. As
câmaras de ionização trabalham normalmente no modo corrente e se convenientemente
construídas, utilizando o ar como elemento gasoso, são capazes de medir diretamente a
grandeza exposição. Alguns tipos de detectores especiais funcionam dentro do modo de
câmara de ionização. Entre eles podem ser citados:
Câmara de ionização “free air”: consiste de uma estrutura convenientemente montada e aberta de
forma que a interação com radiação é medida diretamente no ar, ou seja, o volume sensível do
detector é menor que o do recipiente em que está contido. A camada de ar entre o volume
sensível e as paredes da câmara faz com que o volume sensível não sofra influência da interação
da radiação com as paredes.
Assim, o fio de quartzo vai se aproximando do eletrodo de carga de mesmo sinal e, pela lente,
observa-se a leitura da exposição ou dose absorvida.
Câmara de ionização portátil: é uma câmara de ionização a ar ou gás sob pressão, destinada a
medições de taxas de exposição, taxa de dose e dose acumulada, para radiações X e gama e,
às vezes, beta. É construída de material de baixo Z ou tecido-equivalente.
Câmara de ionização tipo poço: a câmara de ionização é montada de forma que a fonte
radioativa a ser medida possa ser introduzida no “poço” criando uma condição de eficiência de
praticamente 100 %. É muito utilizada na medição de atividade de fontes radioativas. xemplo:
curiômetro.
Câmara de extrapolação: câmara montada com distância entre eletrodos variável, permite a
medição de valores diferentes de volume ionizado sendo utilizada para o cálculo de dose
absorvida para radiações de baixa energia (fótons e elétrons), utilizando a técnica de
extrapolação.
Detectores proporcionais
Os detectores proporcionais foram introduzidos no início dos anos 40. Operam quase
sempre no modo pulso e se baseiam no fenômeno de multiplicação de íons no gás para
amplificar o número de íons originais criados pela radiação incidente.
Os pulsos originados são muitas vezes maiores que aqueles das câmaras de ionização e, por
esse motivo, os detectores proporcionais são muito convenientes para as medições de
radiação onde o número de pares de íons é muito pequeno para permitir uma operação
satisfatória de uma câmara de ionização. Dessa forma, uma das aplicações importantes de
detectores proporcionais é na detecção e espectroscopia de raios X, elétrons de baixa energia
e radiação alfa.
Detectores Geiger-Müller
Para cada partícula que interage com o volume sensível do detector, é criado um número da
ordem de 109 a 1010 pares de íons. Assim, a amplitude do pulso de saída formado no detector
é da ordem de volt, o que permitir simplificar a construção do detector, eliminando a
necessidade de um pré-amplificador.
Detectores à Cintilação
A utilização de materiais cintiladores para detecção de radiação é muito antiga - o sulfeto de
zinco já era usado nas primeiras experiências com partículas - e continua sendo uma das
técnicas mais úteis para detecção e espectroscopia de radiações.
Algumas das características ideais de um bom material cintilador são:
- que transforme toda energia cinética da radiação incidente ou dos produtos da interação em luz
detectável;
- que a luz produzida seja proporcional à energia depositada;
- que seja transparente ao comprimento de onda da luz visível que produz; - que tenha boa
qualidade ótica, com índice de refração próximo ao do vidro (aprox. 1,5); - que seja
disponível em peças suficientemente grandes para servir para construção de detectores;
- que seja facilmente moldável e/ou usinável para construir geometrias adequadas de
detectores.
Eficiência de cintilação
A válvula fotomultiplicadora
O iodeto de sódio ativado com o tálio - NaI(Tl) - é um dos materiais mais utilizados, pelas suas
características de resposta à radiação, pela facilidade de obtenção do cristal em peças grandes
e de se obter o cristal “dopado” com tálio.
Além de sua capacidade de produção de luz visível, o NaI(Tl) responde linearmente para um
grande intervalo de energia para elétrons e raios . O iodeto de sódio é um material altamente
higroscópico, e para evitar sua deterioração pela umidade, é encapsulado, normalmente com
alumínio.
Gama-Câmara
Consiste de um grande cristal de iodeto de sódio dopado com tálio (NaI(Tl)) que detecta os
raios gama emitidos no decaimento dos radioisótopos administrados ao paciente. O cristal tem
eficiência relativamente elevada para a absorção de radiação gama.
A energia do raios gama absorvidos provoca excitações na rede cristalina que volta ao
equilíbrio emitindo luz visível.
A luz visível, por sua vez, é detectada por algumas dezenas de tubos fotomultiplicadores ou
diodos sensíveis à luz que, acoplados a uma eletrônica dedicada, identificam a posição de
incidência do raio gama e a sua energia, enviando estas informações ao computador que monta
a imagem.
Fazendo-se a aquisição de dados para diferentes ângulos da câmara com relação ao eixo do
paciente é possível fazer uma tomografia conhecida como tomografia por emissão de fótons
(SPECT - single photon emission computed tomography).
O iodeto de césio ativado com tálio ou com sódio [CsI(Tl) e CsI(Na)] é outro material bastante
utilizado como detector de cintilação. Sua principal qualidade em relação ao iodeto de sódio é
seu maior coeficiente de absorção em relação à radiação gama, permitindo a construção de
detectores mais compactos. Além disso, tem grande resistência a choques e a vibrações, em
função de ser pouco quebradiço.
Outra característica do BGO é ser um cintilador inorgânico puro, isto é, não necessita de um
ativador para promover o processo de cintilação. Isso ocorre porque a luminescência está
associada à transição ótica do Bi3+. Comparado ao iodeto de sódio, tem, além disso, boas
propriedades mecânicas e de resistência à umidade.
O sulfeto de zinco ativado - ZnS(Ag) - é um dos cintiladores inorgânicos mais antigos. Tem alta
eficiência de cintilação, comparável à do NaI(Tl), mas só é disponível como pó policristalino,
sendo seu uso limitado a telas finas, por ser opaco à luz, utilizadas principalmente para
partículas e íons pesados.
As telas de sulfeto de zinco foram utilizadas por Rutherford em suas experiências clássicas
sobre a estrutura da matéria.
Cintiladores plásticos
Utilizando cintiladores líquidos que podem ser polimerizados é possível produzir soluções
cintiladoras sólidas. Um exemplo é o monômero de estireno no qual é dissolvido um cintilador
orgânico apropriado. Os plásticos tornaram-se uma forma extremamente útil de cintiladores
orgânicos, uma vez que podem ser facilmente moldados e fabricados. O preço baixo e facilidade
de fabricação, tornaram sua escolha praticamente exclusiva quando se necessita de cintiladores
sólidos
de grande volume.
Uma solução cintiladora, ou coquetel de cintilação, é constituído por duas ou mais substâncias
que possuem a função de produzir fótons, com comprimentos de onda adequados à máxima
sensibilização do tubo fotomultiplicador utilizado, e ao mesmo tempo servir de suporte de fonte
para a amostra radioativa que se deseja medir.
Soluções cintiladoras comerciais Instagel e Aquasol
ermitem adicionar dissoluções orgânicas e inorgânicas, com incorporação de até 20% de fase
aquosa Hisafe e Ultima Gold Permitem manter a homogeneidade com a incorporação de até 25%
de fase aquosa, proporciona maior eficiência de contagem que os dois anteriores e utiliza o
Diisopropil-Naftaleno como solvente.
Detectores Utilizando Materiais Semicondutores
Em materiais cristalinos, pode-se dizer, de forma simplificada, que há três bandas de energia em
relação a condutividade de elétrons: a banda de valência, de energia mais baixa, onde os
elétrons normalmente se encontram em um material não excitado; a banda de condução, por
onde os elétrons normalmente migram, e uma banda proibida, que é uma região onde os
elétrons não são permitidos estar.
Quando a largura é muito grande (maior que 5 eV) os elétrons têm pouca possibilidade de
alcançar a banda de condução e, portanto, o material oferece grande resistência a passagem
de corrente; nesse caso o material é um isolante. Quando a largura da banda é muito pequena,
até mesmo a agitação térmica à temperatura ambiente faz com que os elétrons tenham energia
para chegar na banda de condução, e nesse caso o material é um condutor.
Em alguns casos, a energia da banda proibida não é nem tão grande, nem tão pequena (é, por
exemplo, da ordem de 1 eV), mas, em determinadas circunstâncias pode-se fazer com que os
elétrons alcancem a banda de condução e que o material se comporte como condutor; são
materiais semi-condutores.
Detectores de diodos de silício
Os detectores de diodo de silício constituem o principal tipo de detector utilizado para partículas
carregadas pesadas, como prótons, alfas e fragmentos de fissão. As principais vantagens dos
detectores de diodo de silício são a resolução excepcional, a boa estabilidade, o excelente
tempo de coleta de carga, a possibilidade de janelas extremamente finas e a simplicidade de
operação. Os detectores de diodo de silício são normalmente de tamanho pequeno, da ordem
de 1 a 5 cm2 de área.
Detectores de germânio
Os detectores de germânio dopado com lítio - Ge(Li) - foram largamente utilizados, por sua
resolução na espectroscopia gama, mas têm sido rapidamente substituídos, principalmente por
causa das dificuldades operacionais, exigindo que sejam mantidos em refrigeração à temperatura
do nitrogênio líquido (770 K), mesmo quando não estão em funcionamento, para evitar danos em
suas estrutura com a migração do lítio no material.
Os substitutos preferidos têm sidos os detectores de germânio de alta pureza - HPGe - também
denominados de germânio hiperpuros ou de germânio intrínseco, que só necessitam de
refrigeração quando em operação, podendo se manter na temperatura ambiente pelo período
de muitos dias sem danos ou alterações em suas condições.
Os detectores de germânio para espectroscopia gama são construídos geralmente na
geometria cilíndrica ou coaxial, o que permite se obter volumes maiores, necessários para
espectrometria gama.
Uma das utilizações do silício é na construção dos detectores de barreira de superfície que são
caracterizados pela camada morta muito fina e são utilizados principalmente para a detecção
de partículas α e β.
São detectores formados pela junção de duas superfícies, uma tipo n e outra tipo p.
Normalmente os detectores de barreira de superfície são constituídos de uma pastilha fina de
Si de alta pureza do tipo n (excesso de elétrons), sobre a qual é depositada uma camada fina
de ouro.
Uma desvantagem do detector é sua sensibilidade à luz, mas como normalmente ele é utilizado
dentro de uma câmara à vácuo, para evitar a interação das partículas com o ar, isto elimina esse
problema.
Detectores de silício-lítio
Os detectores de silício dopados com lítio - Si(Li) - são pouco recomendáveis para o uso em
espectrometria gama, em função do baixo número atômico do silício (Z =14), quando
comparado com o germânio. No entanto, essa característica os torna convenientes para a
espectrometria de raios X de baixa energia e para detecção e espectrometria de elétrons.
Ao contrário do que ocorre com os detectores Ge (Li), a mobilidade do lítio no silício não é tão
alta, fazendo com que possa passar algum tempo à temperatura ambiente, embora seja
indispensável a refrigeração com nitrogênio quando em operação.
A refrigeração ajuda também a melhorar a relação sinal-ruído, uma vez que aumenta a
resistividade e a mobilidade de cargas no condutor. Detectores de telureto de cádmio
O telureto de cádmio (CdTe) combina pesos atômicos relativamente altos (48 e 52) com uma
banda de energia suficientemente grande para permitir operar à temperatura ambiente.
Para energias típicas de raios , a probabilidade de absorção fotoelétrica por unidade de caminho
percorrido é da ordem de 4 a 5 vezes maior que no germânio e 100 vezes maior que no silício.
Normalmente este detector tem grande utilidade para situações em que se deseja grande
eficiência de detecção para raios de alta energia por unidade de volume.
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