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Relatório de Estágio - Farmácia Azevedo

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

i
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

Relatório de Estágio Profissionalizante

Farmácia Azevedo

Janeiro a abril de 2015

Ana Carolina Correia Costa

Orientadora: Dra. Maria Isabel do Vale

____________________________________

Tutor FFUP: Prof.ª Doutora Beatriz Quinaz

____________________________________

Julho de 2015

I
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Eu, Ana Carolina Correia Costa, abaixo assinado, nº 201200050, aluna do Mestrado
Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade do
Porto, declaro ter atuado com absoluta integridade na elaboração deste documento.

Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (ato pelo qual um indivíduo,
mesmo por omissão, assume a autoria de um determinado trabalho intelectual ou partes
dele). Mais declaro que todas as frases que retirei de trabalhos anteriores pertencentes a
outros autores foram referenciadas ou redigidas com novas palavras, tendo neste caso
colocado a citação da fonte bibliográfica.

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, ____ de julho de 2015.

Assinatura: ______________________________________

II
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

AGRADECIMENTOS

Concluída esta etapa da minha formação académica, não podia deixar de


agradecer às pessoas que de alguma forma marcaram estes cinco anos.

Em primeiro lugar, quero agradecer a toda a equipa da Farmácia Azevedo, por me


terem acolhido de forma tão carinhosa e familiar, por todo o conhecimento que me
transmitiram e por todos os momentos bem passados. Um muito obrigado à Dra. Ana, Dra.
Cláudia, Dr. Ivo, Dra. Raquel, Dra. Margarida, Sr. Henrique, Sr. Felisberto e D. Maria José
por me terem acompanhado nesta experiência. Um agradecimento especial à Dra. Isabel
pela simpatia e pelo interesse mostrado no meu trabalho e no meu enriquecimento a nível
profissional.

Não posso deixar de agradecer a todos os Professores da FFUP e do Departamento


de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, que me marcaram de uma forma ou
outra.

Aos meus pais, irmãs e irmãos, que sempre foram uma inspiração e sem eles teria
sido impossível chegar a este ponto.

Um agradecimento aos meus amigos, aos de sempre e aos que surgiram neste
percurso, foram essenciais e sem vós não teria sido o mesmo.

Ao Artem, por todo o apoio e por me fazer acreditar nas minhas capacidades nos
momentos mais difíceis.

III
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

RESUMO

Este relatório destina-se à descrição das atividades desenvolvidas durante o


estágio curricular do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas. O estágio, a última
unidade curricular deste mestrado integrado, tem como objetivo pôr em prática os
conhecimentos teóricos adquiridos durante o curso, bem como a aquisição de novos
conhecimentos de natureza prática e que permitam ao estudante adquirir competências
para o exercício da profissão farmacêutica, junto de profissionais experientes.
Inicialmente são abordadas as tarefas que realizei ao longo dos quatro meses de
estágio, bem como informações acerca do funcionamento das farmácias comunitárias. São
referidas diversas áreas, como a gestão, a dispensa de medicamentos e respetivo
aconselhamento, com que tive oportunidade de contatar e aprofundar conhecimentos.
Quanto aos casos de estudo desenvolvidos na segunda parte do relatório, abordei
uma série de temas direcionados à população em geral, nomeadamente Infeções urinárias,
Secura Ocular e Halitoses. Estes trabalhos foram uma mais-valia para complementar a
minha formação, facilitar o aconselhamento por parte dos profissionais da Farmácia
Azevedo e, ainda, esclarecer os utentes.
Assim, o seguinte relatório traduz quatro meses de constante aprendizagem e
progresso a nível profissional.

IV
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

ÍNDICE

LISTA DE ABREVIATURAS .......................................................................................... VIII


ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS.................................................................................. IX
ÍNDICE DE ANEXOS ........................................................................................................ X
PARTE I. Descrição das atividades desenvolvidas no estágio .......................................... 1
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1
2. FARMÁCIA AZEVEDO ...................................................................................... 2
2.1. Localização e horário de funcionamento ............................................................. 2
2.2. Espaço físico e funcional .................................................................................... 2
2.2.1. Espaço exterior ............................................................................................ 2
2.2.2. Espaço interior ............................................................................................. 3
2.2.2.1. Back Office ............................................................................................ 3
2.2.2.2.Front office .............................................................................................. 4
2.3. Recursos Humanos ............................................................................................ 4
3. SISTEMA INFORMÁTICO ................................................................................. 5
4. GESTÃO DA FARMÁCIA ................................................................................... 6
4.1. Gestão de stock .................................................................................................. 6
4.2. Encomendas ....................................................................................................... 6
4.3. Receção e verificação ......................................................................................... 7
4.4. Armazenamento ................................................................................................. 8
4.5. Controlo do prazo de validade e verificação física de stocks .............................. 9
4.6. Devolução ........................................................................................................... 9
5. DISPENSA DE MEDICAMENTOS ...................................................................... 9
5.1. Medicamentos sujeitos a receita médica............................................................10
5.1.1. A receita médica..........................................................................................11
5.1.2. Comparticipação de medicamentos.............................................................12
5.1.3. Medicamentos genéricos .............................................................................13
5.1.4. Faturação de receituário ..............................................................................13
5.1.5. Medicamentos sujeitos a legislação especial: Psicotrópicos e
estupefacientes .....................................................................................................14
5.2. Medicamentos não sujeitos a receita médica .....................................................15
6. DISPENSA DE OUTROS PRODUTOS FARMACÊUTICOS ................................ 15
6.1. Produtos cosméticos e de higiene corporal (PCHC) ..........................................15
6.2. Produtos homeopáticos e fitoterapêuticos .........................................................16

V
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

6.3. Suplementos Alimentares ..................................................................................16


6.4. Produtos de Puericultura....................................................................................17
6.5. Medicamentos e Produtos de uso Veterinário ....................................................17
6.6. Medicamentos manipulados ..............................................................................17
6.7. Dispositivos médicos .........................................................................................18
7. SERVIÇOS E CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS NA FARMÁCIA ............... 18
7.1. Medição da pressão arterial ...............................................................................19
7.2. Determinação da glicémia..................................................................................19
7.3. Determinação do perfil lipídico: colesterol total, triglicerídeos, LDLc, HDLc .......19
7.4. Determinação do ácido úrico e Hemoglobina no sangue ...................................20
7.5. Peso corporal, altura e índice de massa corporal...............................................20
7.6. Teste cutâneo/capilar .........................................................................................20
7.7. Análise à urina ...................................................................................................20
7.8. Administração de vacinas e medicamentos injetáveis ........................................20
7.9. VALORMED.......................................................................................................20
8. ATIVIDADES COMPLEMENTARES ................................................................. 21
PARTE II. Casos de Estudo desenvolvidos no âmbito da atividade farmacêutica .. 22
1. INFEÇÕES URINÁRIAS .................................................................................. 22
1.1. Definição e classificação ....................................................................................22
1.2. Epidemiologia ....................................................................................................23
1.3. Etiopatogenia .....................................................................................................23
1.4. Fatores de Risco ................................................................................................23
1.5. Mecanismos naturais de defesa.........................................................................24
1.6. Sinais e Sintomas ..............................................................................................25
1.7. Diagnóstico e tratamento ...................................................................................25
1.8. Cuidados de prevenção .....................................................................................26
1.9. Produtos de venda livre para as ITU ..................................................................26
1.10. Análise à urina - Os testes na farmácia............................................................29
1.11. Conclusão do caso de estudo ..........................................................................32
2. SECURA OCULAR .......................................................................................... 32
2.1. Definição ............................................................................................................32
2.2. Constituição e função da lágrima natural ...........................................................33
2.3. Sintomas............................................................................................................33
2.4. Fatores de risco .................................................................................................33

VI
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

2.5. Diagnóstico e Tratamento ..................................................................................34


2.5.1. Lágrimas artificias .......................................................................................35
2.5.2. Outros tratamentos ......................................................................................36
2.6. Conselhos de prevenção ...................................................................................36
2.7. Conclusão do caso de estudo ............................................................................37
3. HALITOSE ...................................................................................................... 38
3.1. Definição ............................................................................................................38
3.2. Etiologia .............................................................................................................38
3.3. Diagnóstico, Prevenção, Tratamento .................................................................39
3.3.1. Conselho Básico de Higiene Oral ................................................................39
3.4. Inquérito.............................................................................................................40
3.4.1. Objetivos .....................................................................................................40
3.4.2. Metodologias ...............................................................................................40
3.4.3. Resultados ..................................................................................................40
3.4.4. Conclusão ...................................................................................................42
3.5. Conclusão do caso de estudo ............................................................................43
PARTE III. CONCLUSÃO .................................................................................... 44
PARTE IV. REFERÊNCIAS ................................................................................. 45
PARTE V. ANEXOS ............................................................................................ 52

VII
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

LISTA DE ABREVIATURAS

BPF Boas Práticas de Farmácia


ANF Associação Nacional de Farmácias
CVS Compostos Sulfurados Voláteis
DL Decreto-Lei
DCI Denominação Comum Internacional
DT Diretora Técnica
DM Dispositivo Médico
DDR Dose Diária Recomendada
INFARMED Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P.
ITU Infeções do Trato Urinário
MG Medicamento Genérico
MNSRM Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica
MSRM Medicamentos Sujeitos a Receita Médica
OTC Over-the-counter
PV Prazo de Validade
PA Pressão Arterial
PACs Proantocianidinas
PCHC Produto de Cosmética e Higiene Corporal
SNS Serviço Nacional de Saúde
SA Suplemento Alimentar

VIII
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS

Figura 1 – Fachada da Farmácia ..................................................................................... 2

Figura 3 – Entrada da Farmácia ....................................................................................... 4

Figura 2 – Gabinete de atendimento ................................................................................ 4

Figura 4 – Espaço reservado a laboratório......................................................................17

Figura 5 – Distribuição dos resultados, em percentagem à questão 1: Já sofreu de


Halitose? e à questão 2: A halitose pode estar associada a? ..........................................40

Figura 6 – Distribuição dos resultados das respostas dadas pelas pessoas que afirmaram
já ter tido pelo menos um episódio de halitose - questões 3, 4 e 5, respetivamente. .......41

Figura 7 – Distribuição dos resultados acerca da aquisição de produtos para o mau


hálito. ...............................................................................................................................41

Figura 8 – Resultados à pergunta “recorreria ao seu farmacêutico para resolver


problemas relacionados com o mau hálito?" ....................................................................41

Figura 9 – Distribuição de respostas à questão sobre os produtos utilizados na sua


higiene oral ......................................................................................................................41

Figura 10 – Resultado das respostas à questão sobre o local onde adquirem os produtos
para a higiene oral ...........................................................................................................42

Figura 11 - Motivos pelos quais os utentes adquirem ou não os produtos na farmácia ...42

Tabela 1 – Composição dos produtos destinados à prevenção de ITU disponíveis na


Farmácia Azevedo ...........................................................................................................27

IX
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

ÍNDICE DE ANEXOS

Anexo I - Cronograma das atividades realizadas ao longo do estágio curricular. ............52

Anexo II - Cartão de divulgação dos serviços prestados pela Farmácia Azevedo ...........54

Anexo III - Resumo da formação: Bioactivo® ................................................................. 55

Anexo IV - Resumo da formação: Vendas cruzadas e novos medicamentos disponíveis


para os animais . .............................................................................................................57

Anexo V - Folheto informativo: Risco Cardiovascular .....................................................59

Anexo VI - Folheto informativo: Infeções Urinárias .........................................................60

Anexo VII - Folheto informativo: Secura Ocular...............................................................61

Anexo VIII - Folheto informativo: Halitose .......................................................................62

Anexo IX - Inquérito sobre o tema “Halitose e Hábitos de Higiene oral” ..........................63

X
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

PARTE I. Descrição das atividades desenvolvidas no estágio

1. INTRODUÇÃO

A farmácia comunitária, dado o acesso fácil e gratuito para o utente, é um componente


indispensável no Sistema de Saúde, sendo a primeira porta de entrada neste serviço. É
um espaço que se caracteriza pela prestação de cuidados de saúde de elevada
diferenciação técnico-científica, que tenta servir a comunidade sempre com a maior
qualidade, que elege a farmácia como local de primeira escolha para resolução dos seus
problemas de saúde.
As farmácias portuguesas prestam serviços de intervenção farmacêutica de âmbito
muito diversificado e de diferentes graus de complexidade, de acordo com as necessidades
dos doentes e da população que servem, prestando serviços essenciais associados à
dispensa de um medicamento ou outro produto de saúde, medições de parâmetros,
promoção da saúde, proteção ambiental e redução do desperdício com o objetivo de
promoção da saúde e prevenção da doença1.
O farmacêutico de oficina é o profissional de saúde que está mais próximo da
população, assumindo uma posição cada vez mais relevante na comunidade, além de ser
um profissional com competências técnico-científicas, é um agente de relações humanas,
estando na maioria das vezes muito próximo das circunstâncias sociais, económicas e
familiares dos utentes, mantendo um contato mais pessoal e direto com o utente2.
A unidade curricular de Estágio inserido no plano de estudos do Mestrado Integrado
em Ciências Farmacêuticas promove o primeiro contato com a realidade profissional,
proporcionando uma oportunidade de consolidação dos conhecimentos teóricos,
adquiridos ao longo do curso, e que novas valências técnicas e deontológicas sejam
adquiridas, para além de conferir ainda a oportunidade de conhecer o funcionamento de
uma farmácia, de desenvolver a capacidade de trabalhar em equipa e a consciencialização
da importância de um conhecimento atual e polivalente, dotando o futuro farmacêutico de
ferramentas técnicas e científicas para promover a saúde pública.
O presente relatório visa descrever de forma clara e sucinta todas as vertentes com
que tive contato durante o estágio na Farmácia Azevedo nos meses de Janeiro, Fevereiro,
Março e Abril de 2015.

1
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

2. FARMÁCIA AZEVEDO
A Farmácia Azevedo existe desde novembro de 1945 e desde abril de 1983 mantém-
se sob a propriedade e direção técnica da Dra. Maria Isabel
Frias do Vale (Figura 1). A Farmácia Azevedo conta com
uma equipa de profissionais qualificados e um grande
número de clientes fidelizados. Neste espaço não se vendem
apenas medicamentos, mas também outros produtos e
serviços relacionados com a saúde e o bem-estar.
Figura 1 – Fachada da Farmácia

2.1. Localização e horário de funcionamento


A Farmácia Azevedo localiza-se na Rua Joaquim Pinto, 62 na freguesia da Senhora da
Hora, pertencente ao concelho de Matosinhos. Esta é uma área com alguns espaços
comerciais, residenciais e de serviços médicos. O acesso à Farmácia Azevedo está
facilitado pela sua proximidade a paragens de transportes públicos como autocarros e
metro. A maioria dos clientes já são habituais, de longa data. São habitantes locais, de
todas as idades, mas especialmente idosos, que visitam a farmácia várias vezes por mês.
A Farmácia Azevedo está aberta ao público de segunda a sexta-feira, das 8h30 às
19h30, fechando para almoço entre as 13h00 e as 14h00, e aos sábados das 8h30 às
13h30.
O meu estágio foi realizado durante o horário da manhã e da tarde de 7 de janeiro a 30
de abril de 2015. Durante os quatro meses de estágio tive oportunidade de presenciar as
diferentes atividades e movimentações que se verificam nas diferentes horas do dia.

2.2. Espaço físico e funcional


Quer a nível do espaço exterior, como a nível do espaço interior, as instalações
obedecem às Boas Práticas de Farmácia (BPF), de acordo com o Decreto-Lei (DL) n.º
307/2007 de 31 de agosto, que estabelece o regime jurídico das farmácias de oficina3,4.

2.2.1. Espaço exterior


A fachada da farmácia está devidamente identificada com a cruz verde, iluminada
sempre que a farmácia se encontra aberta, o nome da farmácia e a identificação da diretora
técnica (DT). Possui uma montra, que é alterada periodicamente, destinada à publicidade
de produtos dermocosméticos ou medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM),
bem como promoções vigentes e alusões a festividades. Junto à entrada, encontra-se a
informação referente ao horário de funcionamento e às farmácias de serviço. O acesso ao
interior da farmácia faz-se através de uma porta de vidro, que se encontra aberta durante

2
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

grande parte do horário de funcionamento, exceto quando, para manutenção de


temperatura dentro dos limites exigidos, é ligado o sistema de ar condicionado.

2.2.2. Espaço interior


De acordo com o disposto no DL n.º 171/2012, de 1 de agosto, e de modo a garantir
que os utentes dispõem da comodidade e privacidade inerentes a um atendimento de
qualidade e que os medicamentos são armazenados e preparados de forma adequada, as
farmácias devem dispor, no mínimo, de cinco divisões, sendo elas a sala de atendimento
ao público, o gabinete de atendimento personalizado, armazém, laboratório e instalações
sanitárias5.
A Farmácia Azevedo é dividida em duas áreas principais, front office e back office.
Todas estas áreas garantem um ambiente adequado à prestação de cuidados de
saúde, estando de acordo com as BPF e com a Legislação Portuguesa.

2.2.2.1. Back Office


A área de back office inclui a zona de armazenamento dos medicamentos, o gabinete
da direção técnica, a zona de receção de encomendas, o laboratório destinado à
preparação de manipulados e instalações sanitárias.
Existe um computador destinado à receção de encomendas bem como à gestão de
reservas e outras tarefas de back office e ainda é o local para consulta na internet de
alguma informação necessária para o aconselhamento ou consulta dos websites dos
fornecedores, que fornecem informações como a disponibilidade de produtos, guias de
remessa, fazer encomendas de produtos com código interno, entre outras aplicações.
O laboratório destina-se principalmente à reconstituição de preparações
extemporâneas, à preparação de manipulados e reembalagem para venda a granel.
A zona de armazenamento de medicamentos é constituída por quatro áreas: uma
destas áreas compreende produtos não genéricos: comprimidos/cápsulas, colírios,
injetáveis e soluções orais, auriculares e outras de pequeno volume. Outra área
corresponde ao armazenamento de comprimidos/cápsulas genéricos e todo o tipo de
pomadas/cremes. Noutro local estão os xaropes, soluções cutâneas e pós (saquetas),
incluindo as ampolas e as suspensões orais e saquetas de antibióticos. Os medicamentos
psicotrópicos e estupefacientes são armazenados também no back office em local próprio
de acesso restrito, à parte dos restantes fármacos.
No armazém estão todos os produtos em excesso que não têm lugar no front office ou
nas respetivas gavetas/prateleiras e é onde existe um frigorífico para conservar aqueles
que necessitam de estar a temperaturas inferiores à temperatura ambiente (2 a 8ºC).

3
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Em todas as secções, os medicamentos encontram-se ordenados por ordem alfabética


do nome comercial ou da denominação comum internacional (DCI), no caso dos
medicamentos genéricos, e por ordem de dosagem.

2.2.2.2. Front office


Na área front office encontra-se a zona de atendimento ao público e um gabinete de
atendimento personalizado (Figura 2). A zona de atendimento ao público incluí um balcão
com três postos de atendimento, munidos com três computadores no total. No front office
estão expostos todos os produtos de venda livre, estando o espaço de entrada na farmácia
circundado com dermocosméticos (Figura 3) e um medidor de pressão arterial (PA)
automático acoplado a uma balança automática. Os MNSRM, conhecidos por OTCs (over-
the-counter) estão colocados atrás do balcão sendo dispensados por aconselhamento
farmacêutico, tal como os suplementos alimentares (SA), produtos naturais, fitoterápicos e
homeopáticos, produtos para cuidados dos bebés e uma estante exclusiva para produtos
de uso veterinário.

Figura 2 – Gabinete de atendimento Figura 3 – Entrada da Farmácia

A Farmácia Azevedo presta vários serviços aos seus clientes, dispondo de um gabinete
de atendimento personalizado para tal. Neste local é efetuada a avaliação dos diferentes
parâmetros bioquímicos, que serão abordados com mais detalhe ao longo do relatório,
administração de vacinas, testes de gravidez, entre outros. Neste gabinete também são
realizadas consultas de nutrição e podologia.

2.3. Recursos Humanos


A equipa técnica da Farmácia Azevedo engloba, de momento, nove profissionais, com
diferentes funções, indispensáveis ao bom funcionamento da farmácia.
 Dra. Maria Isabel Lopes Frias O. do Vale - Diretora Técnica
 Dra. Cláudia Vieira – Farmacêutica Adjunta

4
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

 Dra. Ana Mendonça – Farmacêutica Adjunta


 Dra. Raquel Castro – Técnica de Farmácia
 Dr. Ivo Pires – Técnico de Farmácia
 Sr. Henrique Frias – Técnico Auxiliar de Farmácia
 Sr. Felisberto Prada – Técnico Auxiliar de Farmácia
 Fernando Machado do Vale – Gestor administrativo
 Dra. Margarida Correia – Farmacêutica estagiária
No meu estágio convivi com toda a equipa que mantém uma atmosfera profissional e
acessível, assegurando um ambiente de trabalho mais descontraído.

3. SISTEMA INFORMÁTICO
O sistema informático usado na Farmácia Azevedo é o Sifarma2000®, desenvolvido
pela Glintt®. É uma aplicação concebida para a realização de vendas, nas várias
componentes: venda normal, suspensa e/ou a crédito, apoio em termos de fichas técnicas
dos produtos, indicações e contraindicações e algum apoio a nível de gestão financeira.
Ou seja, concluídas as vendas, é feita a atualização de stocks, geração de encomendas,
faturação às entidades e registo de valores pagos pelos utentes que aparecerá como valor
recebido em caixa6.
Quanto à gestão de encomendas, o Sifarma2000® possibilita a análise e aprovação da
proposta gerada pelo sistema, o seu envio a fornecedores, processar a sua receção,
gestão de bónus de fornecedores, devoluções a fornecedores e a sua regularização por
crédito ou produto, com a correspondente atualização de stocks6.
Relativamente à faturação, este sistema organiza automaticamente as receitas em
lotes de 30, fazendo a sua gestão e permitindo a emissão de verbetes de identificação de
cada lote, o resumo mensal dos lotes (por organismo) e a respetiva fatura, da qual é
enviada uma cópia para a Associação Nacional de Farmácias (ANF) 6.
O sistema informático é usado também na realização de inventários, verificação de
produtos sem consumo, prazos de validade, contagem física, recolha de quebras,
estatísticas de vendas, entre outras funcionalidades indispensáveis para uma eficaz gestão
das farmácias6.
Durante o meu período de estágio, utilizei esta ferramenta para os mais diversos fins,
tais como a realização e receção de encomendas, gestão de stocks, atendimento ao
utente, atualização de preços, consulta do histórico de vendas e de informação técnica e
científica de medicamentos, gestão de devoluções, entre outros.

5
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

4. GESTÃO DA FARMÁCIA
4.1. Gestão de stock
Uma gestão eficiente de stocks é imprescindível para o correto funcionamento da
farmácia. Constitui um fator fulcral não só para a viabilidade financeira da farmácia, como
também para a satisfação do utente. O stock excessivo é desaconselhado pois implica um
avultado esforço financeiro, levando a uma maior tendência para a perda de rotatividade
de produtos, maior número de produtos com prazo de validade expirado e disponibilização
de maior espaço na farmácia. Contudo, o stock também não deve ser demasiado baixo ao
ponto de não cobrir a procura e as necessidades do utente, comprometendo assim o
serviço prestado pela farmácia.
Critérios como o tipo de prescrição, a época do ano e a relevância dada pelos media a
determinados produtos devem ser tidos em conta na concretização de encomendas. É
essencial um conhecimento profundo da saída dos produtos, da procura de cada um e dos
custos associados a fim de estipular um stock mínimo e um stock máximo para cada
produto de modo a tentar evitar ruturas de stock e impedir a retenção de produtos.
As condições de negociação e as margens de lucro para a farmácia são fatores que
também são tidos em conta na gestão de stocks. Assim, e através do Sifarma2000®, esta
tarefa encontra-se bastante facilitada, pois possibilita a consulta do histórico de vendas de
forma gráfica e a definição de quantidades máximas e mínimas dos produtos, gerando
diária e automaticamente encomendas para fornecedores pré-estabelecidos.
Durante o meu estágio senti que esta área era abordada com grande atenção e
responsabilidade por forma a procurar e manter o equilíbrio indispensável a uma gestão de
sucesso.

4.2. Encomendas
A aquisição de medicamentos e outros produtos de saúde pode ser feita de duas
formas: através de distribuidores grossistas, que funcionam como intermediários entre a
farmácia e os laboratórios, e/ou diretamente aos laboratórios de indústria farmacêutica. A
escolha dos distribuidores é feita através de uma análise criteriosa de diversos parâmetros,
entre os quais a rapidez e eficácia na entrega, a qualidade do serviço prestado, as
facilidades de pagamento, a possibilidade de devoluções e a bonificação de produtos. No
entanto, torna-se necessário recorrer a mais do que um armazenista em simultâneo, de
modo a ter acesso aos produtos em falta no menor tempo possível e beneficiar das
melhores ofertas em termos financeiros. Assim, a Farmácia Azevedo trabalha com três
distribuidores diários, sendo o principal a PLURAL (Cooperativa Farmacêutica, Crl), mas
também a COOPROFAR (Cooperativa dos Proprietários de Farmácia) e Alliance
Healthcare.

6
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

As encomendas são normalmente efetuadas através do sistema informático da


farmácia, o Sifarma2000®, ou via telefone. A encomenda diária é feita através do
Sifarma2000®, sendo mais rápida e segura, pois evita o erro de identificação dos produtos
e é baseada no stock mínimo de cada produto. Outras encomendas ao longo do dia podem
ser feitas pelo Sifarma2000. Estes são considerados produtos extra, sendo esta
designação atribuída a produtos de baixa rotatividade cujo stock é normalmente baixo na
farmácia ou quando algum cliente procura um produto que a farmácia encomenda mas não
tem interesse em manter em stock. Para assegurar que as encomendas via sistema
informático são recebidas na integridade, é possível consultar a caixa de correio eletrónico
que indica se vai faltar algum produto, se este está disponível noutro armazém ou se está
esgotado. O Sifarma2000® possui também uma funcionalidade que permite executar
encomendas instantâneas diretamente ao fornecedor Alliance Healthcare, através da
plataforma B2B.
Outra possibilidade de aquisição de produtos é diretamente ao laboratório produtor,
normalmente através de vendedores ou delegados comerciais. Esta modalidade encontra-
se associada, principalmente, a produtos de dermofarmácia e cosmética e MNSRM que
são encomendados em elevadas quantidades, sendo que a sua principal vantagem traduz-
se nos descontos e bonificações.
Durante o meu estágio tive oportunidade de observar a realização das encomendas
diárias o que me permitiu compreender a forma como é possível alcançar o equilíbrio de
stock anteriormente mencionado, os stocks mínimos e máximos estabelecidos e a média
mensal e anual de saída de cada produto. Quando iniciei o atendimento ao balcão fiz
diversas consultas de stock no fornecedor e encomendas de produtos extra.

4.3. Receção e verificação


O processo de receção e verificação de encomendas faz parte da realidade diária da
farmácia comunitária e requer responsabilidade e atenção para evitar erros na atualização
do stock com a consequente perturbação no atendimento e na gestão de stocks.
A receção e verificação de encomendas permitem verificar se existe concordância entre
os produtos pedidos e enviados e quais os prazos de validade (PV) de cada produto,
contribuindo assim para a gestão interna da farmácia.
Cada encomenda é acompanhada de uma fatura com as seguintes informações:
identificação do fornecedor e da farmácia; número da encomenda e da fatura; data de
encomenda; designação individual de cada produto; quantidades encomendadas e
quantidades enviadas; preço de venda à farmácia; taxa de imposto sobre o valor
acrescentado (IVA); preço de venda ao público (PVP); descontos e bonificações e total da
fatura.

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

A verificação da encomenda inicia-se após comparação da fatura com os produtos


entregues. Utiliza-se o Sifarma2000® para rececionar os produtos e atualizar o stock,
inserindo os produtos no menu de entrada de encomenda por leitura ótica ou inserção
manual dos códigos de barras dos produtos. Durante este processo é necessário verificar
a integridade da embalagem, código identificativo, nome, forma farmacêutica e dosagem,
preço de venda à farmácia, PVP, PV (deve ser registado no sistema o prazo mais baixo),
número de unidades pedidas e enviadas, percentagem de comparticipação e taxa de IVA.
Esta foi a primeira tarefa que desempenhei no meu estágio, que me permitiu a
familiarização com o sistema informático, com os nomes comerciais dos medicamentos e
com os locais de armazenamento dos mesmos.
A verificação do PVP dos produtos de venda livre está sujeita a um critério especial. O
cálculo do PVP é feito a partir do preço de venda à farmácia, da taxa de IVA e da margem
de lucro a aplicar.
Os produtos de conservação a baixas temperaturas devem ser primeiramente
verificados e armazenados de forma a garantir a sua estabilidade e qualidade.
A conferência termina com a verificação do número total de unidades recebidas e do valor
total faturado. É então gerado o documento comprovativo de entrega de encomenda que
é verificado e a fatura e/ou guia de remessa são arquivadas. Finalizado todo este processo
é importante guardar as faturas enviadas por cada fornecedor para envio posterior para a
empresa de contabilidade com quem a farmácia trabalha e proceder ao armazenamento
de todos os produtos. Caso seja necessário, há ainda etiquetagem com os preços de venda
ao público dos produtos de venda livre.

4.4. Armazenamento
O armazenamento deve permitir o fácil acesso aos medicamentos para que o
atendimento aos clientes seja rápido e eficaz.
Assim, após a verificação da encomenda procede-se à armazenagem dos produtos,
dando prioridade aos produtos de frio que são prontamente colocados no frigorífico.
Todos os produtos são armazenados por prazo de PV segundo a regra “first expired,
first out” em que as embalagens com prazo mais antigo são selecionadas para serem
dispensadas em primeiro lugar. A regra “first in, first out” também é válida, neste caso para
produtos que não tenham PV impresso na embalagem.
Devem ser cumpridas as condições de conservação estabelecidas em termos de
temperatura, luminosidade e humidade. A temperatura e a humidade são registadas por
sensores calibrados, localizados no front office, back office e frigorífico, cujos dados são
verificados, recolhidos, analisados e arquivados mensalmente.

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Durante o meu estágio, o processo de armazenamento contribuiu para um melhor


conhecimento dos produtos existentes e do método de organização da Farmácia Azevedo.

4.5. Controlo do prazo de validade e verificação física de stocks


O controlo do PV é indispensável para garantir a qualidade dos produtos dispensados
pela farmácia.
Para minimizar as perdas da farmácia, é feito o controlo dos PV todos os meses. É
emitida uma listagem dos produtos cujo PV expira nos seguintes três meses pelo Sifarma
200®0, sendo essa informação confirmada manualmente.
Eu tive oportunidade de realizar o controlo dos prazos de validade durante a receção
de encomendas e concomitantemente fiz verificação e contagem física de stock em que
são colocados de parte vários produtos com o prazo de validade a terminar.

4.6. Devolução
A devolução de produtos é efetuada quando estes estão caducados, quando não estão
aptos a ser dispensados devido a alterações nas suas características, quando se
encontram fora do mercado, foram pedidos por engano, entre outras razões.
Eu efetuei algumas devoluções de produtos ao fornecedor, os quais na sua maioria
apresentavam a embalagem danificada.
Em caso de devolução é necessário elaborar uma nota de devolução que será entregue
(em duplicado), juntamente com o produto a devolver, ao estafeta que entrega a
encomenda seguinte. Quando o pedido de devolução é aceite, o fornecedor/laboratório
procede à emissão de uma nota de crédito ou à troca do produto.

5. DISPENSA DE MEDICAMENTOS
A dispensa do medicamento é a principal ação realizada pela farmácia comunitária
destinada ao bem-estar e qualidade de vida do utente. No ato da dispensa o farmacêutico
tem um papel importante, devendo garantir o esclarecimento de possíveis dúvidas sobre a
administração dos medicamentos e detetar possíveis interações medicamentosas ou
reações adversas7.
De acordo com o DL n.º 176/2006 de 30 de Agosto, os medicamentos de uso humano
são classificados quanto à dispensa ao público em medicamentos sujeitos a receita médica
(MSRM) e MNSRM7,8.
O farmacêutico tem a função de dispensar ao utente toda a informação necessária
acerca da posologia, duração do tratamento, modo de administração e possíveis reações
adversas. Assim, durante a dispensa de medicamentos cabe ao farmacêutico interagir com
o utente para compreender se o tratamento prescrito na receita médica está de acordo com

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

os sintomas demonstrados. Caso não seja possível fazer uma interpretação objetiva da
prescrição, o farmacêutico deve contatar o médico a alertar para possíveis lapsos na
prescrição7.
O aconselhamento farmacêutico ao utente poderá levar à dispensa de um MNSRM, ou
de outro produto ou acessório e à informação de medidas não farmacológicas com o
objetivo de resolução de um transtorno minor ou da melhoria da eficácia da farmacoterapia
já em curso. Assim, são colocadas as questões necessárias ao utente de forma a reunir
todos os dados indispensáveis para prosseguir com a indicação, ou no caso de o transtorno
ser mais complexo, aconselhar a ida ao médico.
Durante o estágio na Farmácia Azevedo pude prestar, sob supervisão, o
aconselhamento adequado. Esta prática de dispensa de medicamentos foi essencial para
a minha aprendizagem. Quanto à dispensa de MSRM aprendi a avaliar a receita médica
cedida pelo utente, a selecionar os medicamentos correspondentes à prescrição médica,
informar qual a posologia a adotar e indicar quais os riscos associados e alguns cuidados
especiais. Na dispensa de MNSRM fui desenvolvendo a capacidade de avaliação dos
sintomas e de aconselhamento de produtos, incluindo as áreas dos suplementos
alimentares e dermocosmética.

5.1. Medicamentos sujeitos a receita médica


Entende-se por MSRM todo aquele que apenas deve ser dispensado mediante a
apresentação de prescrição médica válida7.

De acordo, com o DL 176/2006, de 30 de agosto, estão sujeitos a receita médica todos


os medicamentos que preencham uma das seguintes condições7:

 Possam constituir um risco direto ou indireto para a saúde do utente, quando utilizados
sem vigilância médica ou quando utilizados frequentemente e em quantidades
consideráveis para fins distintos daquele a que se destinam;
 Contenham substâncias cujas atividade ou reações adversas necessitem de avaliação
aprofundada;
 Sejam administradas por via parentérica.

É a procura de MSRM que leva a maior percentagem da população às farmácias,


constituindo assim grande parte da faturação da farmácia. Uma grande parte dos
atendimentos que realizei incluía produtos deste tipo.

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

5.1.1. A receita médica


A dispensa de medicamentos, incluindo medicamentos manipulados, medicamentos
estupefacientes e psicotrópicos, produtos para o autocontrolo da diabetes mellitus, ou
outros, tem de ser feita no modelo de receita médica aprovado pelo Despacho 15700/2012,
de 30 de Novembro, na sua redação atual9.
O modelo de receita médica atual é usado em hospitais, centros de saúde e em
unidades de saúde privadas para a prescrição de medicamentos a comparticipar pelo
Serviço Nacional de Saúde (SNS) e outros subsistemas de saúde8.
A prescrição médica deve ser efetuada por via informática, podendo ser feita
manualmente nos seguintes casos de falência informática; inadaptação do prescritor;
prescrição no domicílio; até 40 receitas por mês.
A prescrição deve ainda incluir, obrigatoriamente, a DCI do princípio ativo. A
denominação comercial ou o nome do titular da autorização de introdução no mercado
(AIM) pode ser incluída, excecionalmente, no caso de haver justificação técnica, a qual se
traduz nas seguintes exceções:
- Exceção a): Medicamento com margem ou índice terapêutico estreito;
- Exceção b): Intolerância ou reação adversa prévia;
- Exceção c): Continuação do tratamento superior a 28 dias.
No que diz respeito às exceções a) e b), o medicamento dispensado tem que ser,
obrigatoriamente, o que consta na receita. Quando é referida a exceção c) o utente pode
optar por medicamentos equivalentes com um PVP igual ou inferior ao que foi prescrito.
Existem ainda receitas que se diferenciam em termos de siglas, receitas estas onde
podem vir prescritos medicamentos ou outros produtos de saúde. Assim, as receitas
podem ser caracterizadas pelas seguintes siglas:
 RN – receitas que englobam medicamentos usados em tratamentos prolongados.
Normalmente apresentam três vias, para facilitar o acesso do utente à medicação.
 RE – receitas que englobam medicamentos com características especiais. Os
medicamentos constantes nestas receitas podem ser aqueles que, segundo a legislação
vigente, contenham na sua composição estupefacientes ou psicotrópicos; medicamentos
que possam ser usados para fins ilegais; medicamentos que possam conduzir a
dependência e a habituação, quando usados inapropriadamente; e medicamentos que
necessitem de uma maior precaução na utilização, quer por terem sido introduzidos
recentemente no mercado, quer por possuírem propriedades específicas.
 MM – receitas que dizem respeito a medicamentos manipulados.
 MDB – receita de produtos para o autocontrolo da diabetes mellitus.

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

 OUT – receita que se destina a Produtos de Cosmética e Higiene Corporal (PCHC),


MNSRM, entre outros.
No meu estágio aprendi a interpretar a receita médica eletrónica de forma a
proceder à dispensa dos medicamentos de forma correta, segura e eficaz. Ao analisar uma
receita é obrigatório verificar o número da receita, a identificação do médico prescritor, os
dados do utente, a identificação dos medicamentos, a posologia e duração do tratamento,
comparticipações especiais, o número de embalagens, a data de prescrição e a assinatura
do médico prescritor. Deparei-me inúmeras vezes com receitas manuais, que ainda são
aceites, se devidamente justificadas. Estas receitas devem apresentar a identificação do
médico prescritor e o local de prescrição, dados do utente, identificação dos medicamentos,
comparticipações especiais, data da prescrição, ausência de rasuras ou caligrafias
diferentes8,9.
A receita eletrónica pode ser renovável facilitando a prescrição a doentes que
requerem tratamentos prolongados. A validade da receita renovável é de 6 meses sendo
esta composta por um original e duas vias autocopiáveis8.
Cada receita médica pode conter no máximo quatro embalagens prescritas, até
quatro medicamentos distintos. Por cada medicamento podem ser prescritas até duas
embalagens. Nos casos em que o medicamento se apresenta sob uma unidade de forma
farmacêutica na dosagem média usual para uma administração podem ser prescritas até
quatro embalagens iguais em cada receita8,9.
A receita médica é prescrita pela indicação da DCI, seguida da dosagem, forma
farmacêutica, apresentação e tamanho da embalagem e posologia. Aquando da ausência
de medicamento genérico (MG) comparticipado ou na existência de original de marca ou
por pré-justificação técnica do prescritor, é possível incluir a denominação comercial do
medicamento, por marca ou indicação do nome do titular de introdução no mercado9.
Os dispositivos médicos de controlo da glicémia (agulhas, seringas e lancetas) são
prescritos em receitas faturadas por um organismo específico, não podendo incluir outros
medicamentos8,9.

5.1.2. Comparticipação de medicamentos


A comparticipação de medicamentos funciona com base num sistema de escalões em
que o Estado paga uma determinada parte do preço do medicamento, estando o escalão
de comparticipação de cada medicamento predefinido e dependente da sua classificação
farmacoterapêutica. O Ministério da Saúde estabeleceu um sistema de preços de
referência que é aplicado a medicamentos comparticipados pelo SNS para os quais já
existam MG10.

12
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Para além do SNS existem várias entidades comparticipantes, cujas percentagens de


comparticipação variam em função da entidade. Os utentes podem ainda obter uma
comparticipação em complementaridade quando são beneficiários, em simultâneo, de um
sistema e um subsistema de saúde. Tive oportunidade de dispensar várias receitas
abrangidas por estes subsistemas, como por exemplo pelo SAMS (Serviços de Assistência
Médico Social), Multicare e Sãavida. Para efeitos de comparticipação em
complementaridade, a receita tem de ser fotocopiada e o beneficiário tem que apresentar
o cartão do subsistema de que beneficia10,11.
Para além da comparticipação através do regime geral, há situações em que se justifica
a criação de um regime especial de comparticipação, como no caso dos pensionistas, em
tratamentos de determinadas patologias legisladas ou em grupos especiais de doentes10,11.

5.1.3. Medicamentos genéricos


Um MG é definido pelo Estatuto do Medicamento como “medicamento com a mesma
composição qualitativa e quantitativa em substâncias ativas, a mesma forma farmacêutica
e cuja bioequivalência com o medicamento de referência haja sido demonstrada por
estudos de biodisponibilidade apropriados”7.
A comercialização de medicamentos genéricos, a preços significativamente mais
baixos do que os fixados para os similares de marca, revela-se num evidente benefício não
só para os utentes, que os podem adquirir com mais facilidade, mas também para o SNS,
na medida em que diminui os encargos na sua comparticipação9.
Durante o meu estágio dispensei um número significativo de MG quando a prescrição
se apresentava descrita por DCI da substância ativa ou pelo nome genérico, sendo que
nesta situação eu deveria informar o utente da existência de um MG de menor preço.
Apesar destes serem mais baratos, deparei-me com muitas situações em que o utente
preferia o medicamento original, pois os MG são ainda alvo de insegurança e desconfiança
por parte dos utentes que questionam se estes são realmente eficazes.

5.1.4. Faturação de receituário


De acordo com o plano de comparticipação, aquando da dispensa do MSRM são
atribuídos um número, um lote e uma série à receita. Estas são depois agrupadas em lotes
de 30 receitas para se proceder à sua faturação. Todos os meses, estas receitas são
enviadas para o Centro de Conferência de Faturas, no caso da entidade responsável ser
o SNS, ou para a ANF no caso de se tratar de outros organismos. Esta, por sua vez, envia
o receituário para os respetivos organismos. Previamente, todas as receitas são conferidas
para evitar erros e, consequentemente, a devolução das mesmas.

13
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

No caso de algum erro ser detetado, este deve ser corrigido, sendo, por vezes,
necessário contatar com o doente, ou, até mesmo, com o médico prescritor.
O Sifarma2000® é crucial na faturação dos lotes no final de cada mês, pois permite a
sua gestão e a emissão de um Verbete de Identificação de cada lote, ao qual é anexado.
Neste documento devem constar dados relativos à identificação da farmácia, identificação
do organismo a que corresponde o lote, assim como o número de receitas que contém, e,
ainda, as importâncias totais do lote relativas ao valor de PVP, ao valor pago pelos utentes
e ao valor a pagar relativo à comparticipação do organismo12.
Durante o meu estágio, participei na conferência e correção de receitas, na sua
organização para o seu envio para as entidades responsáveis.

5.1.5. Medicamentos sujeitos a legislação especial: Psicotrópicos e


estupefacientes
A dispensa de substâncias psicotrópicas e estupefacientes é regida de uma forma mais
rigorosa que a dos restantes medicamentos, com o objetivo de manter um controlo
apertado destas substâncias e, assim, evitar o seu consumo excessivo ou ilícito13.
Na Farmácia Azevedo observei e aprendi todo o circuito destes medicamentos desde
a sua aquisição à dispensa, conforme está legislado pelo DL n.º 15/93, de 22 de Janeiro.
A aquisição destes medicamentos é feita da mesma forma que os restantes produtos,
contudo, os fornecedores devem enviar regularmente durante o mês, ou no início do mês
seguinte, os documentos designados por "Requisição de Estupefacientes e Psicotrópicos
Receita Especial" os quais são verificados, carimbados e assinados pelo diretor técnico,
que se identifica com o seu número de inscrição na Ordem dos Farmacêuticos. O original
desta requisição fica na farmácia e é devolvido o duplicado ao respetivo fornecedor13.
Ao dispensar medicamentos psicotrópicos e estupefacientes o Sifarma2000®
obriga ao preenchimento de um quadro com os dados do médico prescritor, do doente e
do adquirente. Finalizada a venda, é emitido o documento de psicotrópicos, que é anexado
ao duplicado da receita que deve ser arquivado na Farmácia por um período de três anos.
Todas as entradas e saídas destes fármacos devem ser registadas sendo enviadas todos
os meses para o INFARMED13.
Na Farmácia Azevedo tive oportunidade de dispensar alguns destes medicamentos e
realizar os procedimentos descritos anteriormente, com supervisão de um farmacêutico.

5.2. Medicamentos não sujeitos a receita médica


Segundo o Estatuto do Medicamento, MNSRM são aqueles a que as especificações
previstas para os MSRM não se aplicam7. Uma vez que não necessitam de prescrição

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médica. Os MNSRM são maioritariamente utilizados no alívio de sintomas menores,


estando por isso associados ao ato de aconselhamento farmacêutico e automedicação.
Apesar de não serem sujeitos a receita médica, como qualquer medicamento, estes
medicamentos não são desprovidos de contraindicações, interações e efeitos adversos.
Esta foi uma das áreas que achei mais desafiante durante o estágio, tendo evoluído as
minhas competências à medida das sucessivas situações de indicação farmacêutica.
Deparei-me com diferentes casos, uns em que o utente não administrava corretamente
a forma farmacêutica e outros em que muitas vezes o utente não apresentava sintomas
mas tomava determinado medicamento porque alguém conhecido o aconselhou ou
simplesmente porque o viu publicitado pelos media.
Assim, o farmacêutico tem o papel de garantir uma utilização racional dos MNSRM,
devendo para isso prestar toda a informação necessária para que isso aconteça, devendo
intervir de forma ativa na promoção do uso racional e seguro da medicação.

6. DISPENSA DE OUTROS PRODUTOS FARMACÊUTICOS

6.1. Produtos cosméticos e de higiene corporal


De acordo com o DL n.º 198/2008, de 24 de Setembro, um PCHC é definido como
“qualquer substância ou preparação destinada a ser posta em contato com as diversas
partes superficiais do corpo humano, ou com os dentes e as mucosas bucais, com a
finalidade de, exclusiva ou principalmente, os limpar, perfumar, modificar o seu aspeto,
proteger, manter em bom estado ou de corrigir os odores corporais”14-16.
A Farmácia Azevedo tem uma ampla gama de produtos cosméticos expostos na zona
front office acessíveis a todos os clientes, sendo as marcas principais a Avène®, Uriage®,
Lierac®, Phyto®, Klorane®, Caudalie®, entre outras.
Numa sociedade em que a higiene e apresentação são cada vez mais valorizadas, a
procura deste tipo de produtos tem vindo a aumentar. Durante o meu estágio tive
oportunidade de aconselhar produtos cosméticos a vários utentes que procuravam
principalmente produtos de limpeza e hidratação facial, produtos de higiene, anti-
envelhecimento, protetores solares, entre outros.
Também recebi formação de algumas marcas, como Avène®, Uriage®, Elgydium®,
entre outras, que me ajudaram a conhecer melhor as potencialidades de cada uma delas,
facilitando e melhorando a minha prestação na hora do aconselhamento.

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

6.2. Produtos homeopáticos e fitoterapêuticos


Os produtos homeopáticos são obtidos a partir de substâncias extremamente diluídas
que atuam estimulando a capacidade individual de se curar.
A fitoterapia é um método de tratamento que tem por base o uso de plantas medicinais,
com propriedades curativas e preventivas. Assim, os produtos fitoterápicos são
constituídos por plantas ou parte delas com propriedades terapêuticas e podem ser
encontrados sob a forma de comprimidos, cápsulas e chás17-19. Um exemplo deste tipo de
formulações, mais frequentemente utilizadas, são as que contêm valeriana e diversos tipos
de infusões.

6.3. Suplementos Alimentares


Os SA são definidos como os géneros alimentícios que se destinam a complementar e
ou suplementar o regime alimentar normal. Apresentam-se sob a forma de produtos pré-
embalados e possuem uma forma de apresentação doseada20.
Constituem fontes concentradas de determinadas substâncias nutrientes ou outras com
efeito nutricional ou fisiológico, mas não devem ser utilizados como substitutos de um
regime alimentar variado porque embora contenham nutrientes em quantidades
concentradas não conseguem fornecer todos os ingredientes que o organismo necessita
para o seu correto funcionamento21.
Tal como para todos os alimentos, os suplementos alimentares de acordo com o DL n.º
560/99 de 18 de dezembro., e o DL n.º 136/2003 de 28 de junho, não podem atribuir-se
propriedades profiláticas, de tratamento ou cura de doenças, nem fazer referência a essas
propriedades, ao contrário dos medicamentos. Podem conter um leque bastante variado
de substâncias nutrientes e outros ingredientes, designadamente vitaminas, minerais,
aminoácidos, ácidos gordos essenciais, fibras e várias plantas e extratos de ervas21.
O farmacêutico deve aconselhar o utente a seguir a dose diária recomendada (DDR) e
informar que o objetivo da suplementação alimentar não é o de substituir um estilo de vida
saudável, mas sim o de cobrir alguma necessidade específica e individual não preenchida
pela alimentação diária, como por exemplo, nos idosos que poderão ter necessidade de
reforçar a ingestão de vitamina D, cálcio, ácido fólico, etc.
Tive oportunidade de dispensar, durante o meu estágio, alguns multivitamínicos,
ómegas, antioxidantes, dietéticos, entre outros.

6.4. Produtos de puericultura


Os artigos de puericultura são produtos que se destinam a facilitar o relaxamento,
higiene, alimentação e a sucção das crianças. Estando, portanto, incluídos neste tipo de

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

produtos, acessórios como chupetas, mordedores, tetinas, biberões, fraldas, escovas de


dentes e outros22.
Atrás do balcão há um espaço para estes produtos, onde os pais podem encontrar não
só PCHCS como cremes hidratantes, gel-de-banho, cremes de muda de fraldas, champôs,
água-de-colónia de marcas como Uriage®, Klorane e Isdin®, e também diversos artigos
da marca Chicco® (vaporizadores, redes umbilicais, discos absorventes), entre outros.

6.5. Medicamentos e Produtos de uso Veterinário


Um produto de uso veterinário pode ser definido como toda preparação farmacêutica
que se destina a ser aplicada nos animais, para prevenção ou tratamento de doenças e
dos seus sintomas e para correção ou modificação de funções orgânicas. Existem três
classificações para os medicamentos de uso veterinário, sendo elas de uso exclusivo por
veterinários, sujeitos e não sujeitos a receita médica23.
Constatei que os produtos e medicamentos de uso veterinário têm um movimento
considerável na farmácia.
A farmácia deve manter em arquivo, durante cinco anos, as receitas de todos os
medicamentos veterinários sujeitos a receita médica23.
Os produtos veterinários mais procurados na Farmácia Azevedo incluem
desparasitantes internos e externos, principalmente para animais de companhia,
anticoncecionais e produtos de higiene. Este tipo de medicamentos também tinha um local
reservado, atrás do balcão. Tive a oportunidade de aprender muito sobre estes produtos e
assistir a uma formação específica sobre este tipo de produtos. Também tive oportunidade
de fazer aconselhamento nesta área, com supervisão farmacêutica.

6.6. Medicamentos manipulados


Um medicamento manipulado é qualquer fórmula magistral ou preparado oficinal
preparado e dispensado sob a responsabilidade de um
farmacêutico. A manipulação de medicamentos permite
um ajuste terapêutico ao perfil patológico individual do
doente, sendo uma área bastante importante na prática
farmacêutica24.Nesta farmácia, aquando de uma
prescrição e disponibilidade de matéria-prima, são
preparados alguns medicamentos manipulados e para tal
existe um espaço reservado (laboratório) com todas as
matérias-primas e material necessário para a sua
realização, segundo as boas práticas a observar na
Figura 4 – Espaço reservado a
preparação de medicamentos manipulados (Figura 4). laboratório

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

No início do meu estágio tive oportunidade de colaborar na preparação de uma pomada


hidrófila com ácido salicílico a 2%. No entanto, pude observar que as prescrições de MM
são pouco frequentes.
O seu PVP é calculado com base no valor dos honorários de preparação, valor dos
materiais de embalagem e das matérias-primas, de acordo com uma fórmula indicada na
legislação em vigor. A Ficha de Preparação é preenchida e impresso o rótulo. Após a
preparação é feito o acondicionamento e imediatamente colado o rótulo e etiqueta com
indicações, precauções na utilização e nome do médico prescritor.

6.7. Dispositivos médicos


Dispositivo médico (DM) é um instrumento, aparelho, equipamento, material ou artigo
cujo principal efeito pretendido no corpo humano não seja alcançado por meios
farmacológicos, imunológicos ou metabólicos. Um DM pode ser usado em seres humanos
para fins de diagnóstico, prevenção, controlo ou atenuação de uma doença, lesão ou
deficiência, estudo, substituição ou alteração da anatomia ou de um processo fisiológico e
controlo da conceção25.
Enquanto estagiária, dispensei diversos dispositivos médicos, entre os quais material
ortopédico como joelhos e meias elásticas, seringas, artigos de penso e dispositivos de
autodiagnóstico, como testes de gravidez e equipamento para medição de glicemia.

7. SERVIÇOS E CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS NA FARMÁCIA


Devido ao crescente interesse da população pelo seu estado de saúde e à proximidade
e acessibilidade das farmácias a determinação de parâmetros bioquímicos e fisiológicos é
um serviço bastante requisitado.

7.1. Medição da pressão arterial


Na Farmácia Azevedo utiliza-se um medidor de tensão automático. A farmácia dispõe
ainda de um medidor manual com esfigmomanómetro, que é usado para verificar
resultados considerados anormais, ou quando as pessoas têm preferência por esta
medição, que é feita por um Farmacêutico. Para garantir que o resultado obtido seja fiável
o farmacêutico deve assegurar-se de que o utente está sentado confortavelmente, tranquilo
e repousado durante 5 a 10 minutos antes, que não consumiu estimulantes nem fumou na
meia hora antecedente e que o braço de encontra despido de roupa apertada, apoiado e
posicionado à altura do peito.
Dos utentes a que tive oportunidade de auxiliar na medição da Pressão Arterial (PA)
no medidor automático, alguns eram hipertensos e outros apresentavam a PA abaixo do

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

normal. Em caso de valores fora dos intervalos de referência, procurava, em conversa com
o utente, saber quais os hábitos que deveria mudar de modo a adotar um estilo de vida
mais saudável e incentivá-lo à adesão ou à continuidade da terapêutica ou remeter para o
médico.

7.2. Determinação da glicémia


Durante o meu estágio efetuei a medição da glicémia dos utentes por punção capilar,
um método rápido, simples e fiável. Os valores de glicémia ideal num adulto em jejum é de
70-100mg/dL, pós-pandrial ≤ 200 mg/dL e ocasional ≤ 140 mg/dL.

7.3. Determinação do perfil lipídico: colesterol total, triglicerídeos, LDLc, HDLc


A determinação dos valores de colesterol total, de triglicerídeos, colesterol LDL e
colesterol HDL, é realizada por punção capilar, utilizando-se um aparelho de leitura, o
Callegari CR3000® e cuvetes contendo reagentes específicos para cada um dos
parâmetros. Após a mistura com os reagentes enzimáticos, gera-se uma cor na qual é lida
a absorvância através de um fotómetro que utiliza radiação monocromática no
comprimento de onda de 505 nm, sendo esta Abs automaticamente convertida em valores
de concentração, com base numa curva de calibração armazenada no processador do
equipamento. Todos os testes feitos neste aparelho têm por base a Reação de Trinder,
que gera um composto de cor avermelhada, mais ou menos intensa, com absorção neste
comprimento de onda26.
O LDL é calculado segundo a fórmula de Friedwald. Os triglicerídeos devem ser
avaliados após um jejum de 8-12h, não sendo este obrigatório na medição do Colesterol.
Um elevado teor em colesterol no sangue (>190 mg/dL) é um alerta para uma possível
avaliação laboratorial completa, pois pode levar ao desenvolvimento de doenças
cardiovasculares.

7.4. Determinação do ácido úrico e Hemoglobina no sangue


Estes são outros parâmetros que podem ser avaliados, e que são solicitados. O
princípio do teste é semelhante ao do perfil lipídico, sendo utilizado um método enzimático
e respetiva leitura espectrofotométrica. Assim, as pessoas que sofrem de doenças como
gota ou anemia podem conhecer o seu estado de saúde facilmente.

7.5. Peso corporal, altura e índice de massa corporal


Na Farmácia Azevedo a medição do peso corporal, altura e índice de massa corporal
pode ser feita numa balança automática. Também, uma vez por semana, há consultas de
nutrição em que uma profissional especializada em Nutrição faz o aconselhamento de uma

19
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

alimentação saudável e alguns suplementos nutricionais que ajudam a conseguir o peso


ideal mais precocemente.

7.6. Teste cutâneo/capilar


Os clientes podem fazer este teste, utilizando um aparelho que avalia na pele a
hidratação, a oleosidade, a elasticidade e o tom de pele, permitindo conhecer a tipologia
cutânea. É uma forma de auxiliar no aconselhamento de PCHC, personalizando as
escolhas.

7.7. Análise à urina


Este é mais um serviço que a farmácia dispõe, e que é muito solicitado. Pela
importância que tem, este tópico será abordado com mais detalhe na Parte II do presente
relatório.

7.8. Administração de vacinas e medicamentos injetáveis


A administração de vacinas e medicamentos injetáveis só pode ser praticada por
farmacêuticos com formação específica. São administradas apenas vacinas não incluídas
no Plano Nacional de Vacinação, oferecendo aos utentes um serviço com segurança e
qualidade.

7.9. VALORMED
A VALORMED é uma sociedade que se responsabiliza pela gestão dos resíduos de
embalagens de medicamentos inutilizáveis. Os medicamentos e produtos farmacêuticos
são depositados em contentores localizados na farmácia, que quando cheios são enviados
à VALORMED que assume a responsabilidade da eliminação dos resíduos de forma
segura, para prevenção de danos ambientais.

8. Atividades Complementares
Além das atividades que constituem o quotidiano da farmácia, no meu estágio tive ainda
a oportunidade de participar em outras atividades (Anexo I).
No início do estágio, e por sugestão dos colegas, achei que seria útil a Farmácia
Azevedo ter uma forma de divulgação dos serviços prestados, que fosse facilmente
acessível. Assim, elaborei cartões com esta informação (Anexo II), que indicavam também
os horários disponíveis para a realização dos serviços e consultas de nutrição e podologia,
e também com os contactos da farmácia. Esta solução revelou-se muito útil e de fácil
consulta pelos clientes que precisavam de aceder a estas informações.

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

O farmacêutico deve manter-se constantemente atualizado e informado a nível


científico. Assim sendo, participei em várias formações, quer na farmácia, quer fora desta,
de modo a conhecer e prestar um melhor aconselhamento sobre diversos pro- dutos à
venda na farmácia (Anexo I). Destas formações, e por sugestão da DT, elaborei resumos
que me foram muito úteis para relembrar o que tinha aprendido nas formações, e para os
colegas que os utilizaram como complemento nos aconselhamentos prestados (Anexo III
e IV).
No dia mundial da saúde, foi feita uma campanha de promoção da saúde, e foi
oferecido um rastreio nutricional gratuito, medida a TA e feita a determinação de glicémia,
de forma a sensibilizar a população para a importância de promover a sua saúde. Assim,
e tendo em conta que era o mês da saúde (abril), achei pertinente colaborar nesta
atividade, elaborando um panfleto sobre o risco cardiovascular (Anexo V).
Também colaborei com o Grupo de investigação da Faculdade de Farmácia da
Universidade do Porto - Farma|inove no estudo “Prevalência e Caracterização de Doentes
Idosos Polimedicados da Zona Norte de Portugal”. O estudo faz parte do projeto
"PREVENIR É O MELHOR REMÉDIO" e centra-se no uso do medicamento enquanto
preocupação de Saúde Pública, devido à sua importância terapêutica, económica e social,
promovendo o seu uso racional. Fiz inquéritos com o objetivo de recolher dados acerca da
medicação que os idosos tomavam, a quantidade, quais os medicamentos e a adesão à
terapêutica. Este contacto foi positivo para mim, pela simpatia com que se disponibilizavam
para responder aos inquéritos, e ainda permitiu-me detetar algumas posologias que não
eram as recomendadas, alertando e reencaminhando para o médico prescritor.
Todos os outros trabalhos desenvolvidos tiveram como objetivo o de constituírem uma
mais-valia para a farmácia e encontram-se desenvolvidos na Parte II deste relatório.

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

PARTE II. Casos de Estudo desenvolvidos no âmbito da atividade farmacêutica

1. INFEÇÕES URINÁRIAS
O farmacêutico assume hoje um papel de enorme importância ao nível dos
cuidados de saúde primários, pois é o primeiro contacto do doente com os serviços de
saúde. O acesso é fácil, rápido e económico. Uma das situações relativamente à qual é
consultado com relativa frequência é pelos sintomas associados a infeções do trato urinário
ou infeções urinárias (ITU). Impõe-se nestes casos a prestação de conselhos em termos
de profilaxia, higiene, participação no diagnóstico/ monitorização e, eventualmente,
remissão para uma consulta médica.
Tendo verificado a grande quantidade de medicamentos que eram prescritos para
tratar as ITU, pude concluir sobre a relevância destas infeções na comunidade e daí que a
farmácia tenha também sentido a necessidade de dispor de um equipamento que permita
ao farmacêutico fazer uma primeira abordagem da situação e por consequência dispor de
dados quali e quantitativos que sirvam de sustentação aos seus aconselhamentos.
Pelo exposto, achei que o desenvolvimento deste tema seria oportuno para o
contexto da Farmácia Azevedo e podia contribuir para melhorar o atendimento ao balcão
dos utentes que solicitam o teste, ou aumentar o conhecimento dos que têm dúvidas acerca
deste tema. Assim, elaborei um panfleto (Anexo VI) com o objetivo de informar a população
e divulgar as formas a farmácia e o farmacêutico podem ajudar.

1.1. Definição e classificação


Considera-se ITU, a presença de microrganismos uropatogénicos em qualquer parte
do sistema urinário (bexiga, ureteres, rins ou uretra), resultado da sua invasão e
multiplicação, o que origina inflamação nos locais onde se aloja. As ITU são causadas
essencialmente por bactérias, mas também podem ser causadas por fungos, vírus ou
parasitas27,28.
A infeção urinária é classificada tradicionalmente de acordo com o local da infeção
e o nível de gravidade28. De acordo com o local de infeção, esta pode ser ITU inferior, ou
baixa, que envolve a bexiga (cistite), uretra (uretrite) ou próstata (prostatite) ou ITU
superior, ou alta, que abrange os ureteres ou o parênquima renal (pielonefrite)28.
De acordo com o grau de severidade, são consideradas não complicadas quando
ocorrem em pacientes saudáveis cujo trato urinário apresenta estrutura e função normal,
ou ITU complicada quando está associada a anormalidades anatómicas, funcionais ou
metabólicas do trato urinário.
Quanto à frequência, a ITU pode ser recorrente, sendo aquela que ocorre mais de
três vezes por ano ou com uma frequência de dois ou mais episódios em seis meses,

22
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

podendo ser classificada em ITU recidivante ou reinfeção. A distinção é feita pela altura em
que se manifesta, sendo que a ITU recidivante ocorre nas primeiras 2 semanas após o final
da antibioterapia, sendo o agente etiológico o mesmo da infeção inicial. As causas podem
ser várias, tal como ser resultado de insuficiência do tratamento inicial, que pode-se dever
a antibioterapia inadequada, resistência antibiótica ou incumprimento da terapia prescrita.
A reinfeção aparece mais tarde, após 2 semanas do final do tratamento da ITU inicial, num
doente que se encontrava curado, sendo o agente etiológico diferente da ITU anterior27.
Torna-se importante a distinção, pelo que um utente que se apresente com sintomas
de infeção urinária frequentes, deve ser encaminhado para o médico, de forma a fazer as
análises necessárias e um tratamento adequado.

1.2. Epidemiologia
A infeção do trato urinário é a terceira infeção mais comum no homem ficando somente
atrás apenas das infeções respiratórias e gastrointestinais, sendo as infeções bacterianas
mais frequentes nos cuidados primários31. A prevalência é alta no sexo feminino. Estudos
apontam que uma em cada cinco mulheres tem uma infeção urinária em algum momento
das suas vidas. O número de recidivas nas mulheres é significativo, variando entre 0,3 a
7,6 episódios por ano32.

1.3. Etiopatogenia
Os microrganismos podem chegar ao aparelho urinário por via hematogénea, linfática
ou ascendente. Apenas uma pequena parte de episódios tem etiologia externa, ou seja,
causado dos microrganismos ambientais. A via ascendente é a mais comum, sendo a zona
urogenital colonizada por principalmente bactérias, provenientes do cólon. Isto pode-se
inferir tendo em conta que os microrganismos mais frequentes são Enterobacteriaceae
como a Escherichia coli (E. coli) (70% a 90%), Proteus mirabilis (10%) ou Klebsiella sp.
(6%). Bactérias gram-positivas também são comuns como Staphylococcus saprophyticus
(4%) e Enterococcus sp. (2%)33,34.

1.4. Fatores de Risco


Existem diversos fatores que se consideram predisponentes à ocorrência de
infeções urinárias, sendo eles: a estase urinária, a gravidez, malformações congénitas e
doenças metabólicas como diabetes mellitus, a obstrução urinária, os hábitos de higiene
inadequados, a inserção de objetos estranhos, as doenças neurológicas, doenças
sexualmente transmissíveis, urolitíase, refluxo vesico-ureteral, transplante renal e
imunossupressão29, 31, 35.

23
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

A maior incidência é no sexo feminino, especialmente em mulheres jovens, nas


quais, além das causas anatómicas, como a maior proximidade da uretra feminina com o
ânus e o facto de ser uma uretra muito mais curta do que a masculina, existem outros
fatores que aumentam o risco, como: o grau de atividade sexual, atraso na micção pós-
coito, história de ITU recente, promiscuidade sexual, uso de diafragmas, espermicidas, uso
de antibióticos que alteram a flora vaginal e história de ITU na infância31.
Nas mulheres pós-menopausa os fatores fisiológicos e mecânicos que afetam o
esvaziamento da bexiga também são fatores de risco, incluindo incontinência urinária,
vaginite atrófica, má higiene perineal e história de ITU recorrentes antes da menopausa29.
No sexo masculino, as ITUs não são tão comuns devido à presença de fatores
protetores, tal como a considerável distância entre o ânus e o meato urinário, o maior
comprimento da uretra e a atividade antibacteriana do fluido prostático33. As crianças,
principalmente as do sexo masculino e com menos de um ano de idade, também
apresentam uma elevada prevalência de infeção a nível renal, principalmente devido ao
refluxo vesico-ureteral 31,36.

1.5. Mecanismos naturais de defesa


1Com exceção da uretra distal, o trato urinário mantêm-se estéril devido às defesas do
hospedeiro contra a colonização bacteriana e de outros microrganismos. Isto é possível
pelas propriedades da urina e por ação do sistema imunitário inato, sendo estes os
mecanismos de defesa que o hospedeiro apresenta. O fluxo da urina é um dos mais
importantes mecanismos de defesa contra a proliferação das bactérias que invadem as
vias urinárias; a urina normal possui propriedades antibacterianas tais como a alta
osmolaridade, a elevada concentração de ureia e de ácidos orgânicos, e o pH ácido. Outro
mecanismo de defesa na mulher reside na flora vaginal, constituída por Lactobacilus, que
formam uma barreira que impede a colonização pelos microrganismos uropatogénicos. A
proteína de Tamm-Horsfall, uma glicoproteína produzida pelos rins, dificulta a aderência
bacteriana. Também os mecanismos com ação antimicrobiana de mucopolissacarídeos,
imunoglobulinas (Ig) IgA e IgG, lactoferrina, lipocalina, neutrófilos, citocinas e péptidos
antimicrobianos produzidos pelo organismo têm ação contra os microrganismos
patogénicos36,37.

1.6. Sinais e Sintomas


Os principais sintomas que a infeção urinária provoca são a disúria (dificuldade
miccional), polaquiúria (urinar muitas vezes, mas em pequena quantidade), urgência
miccional, noctúria (necessidade de urinar à noite), ardor ao urinar, hematúria, alterações
na cor e no cheiro, dor na parte inferior do abdómen (desconforto pélvico), calafrios, dor

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

lombar, náuseas e vómitos. Na cistite a febre é rara e geralmente abaixo dos 38ºC. As
infeções urinárias altas apresentam sintomas como febre e calafrios, lombalgia e mal-estar
geral por vezes acompanhado de náuseas e vómitos. A intensidade e prevalência de
sintomas poderão variar entre os indivíduos28,31.

Assim, é importante fazer uma anamnese a um doente que apareça com queixas de
sintomas de infeção urinária. Esta consiste em questionar o utente sobre os sintomas,
como: o que sente, qual a severidade e quando começaram os sintomas. Algumas
perguntas poderão ser: Tem dificuldade para começar a urinar? Tem de fazer força com o
abdómen para começar a urinar? Quando termina de urinar parece que a bexiga ainda não
esvaziou por completo? Sente ardor ao urinar? Tem sangue na urina ou alteração de cor?
A urina tem cheiro desagradável? Tem febre ou dores?38.
Deve ser também papel do farmacêutico formular algumas questões sobre os hábitos
diários de higiene, alimentação e saúde em geral. Costuma beber muita água? Com que
periodicidade urina? Após a micção limpa-se com papel? Em que direção o faz, de frente
para trás ou ao contrário? É sexualmente ativa (o)?

1.7. Diagnóstico e tratamento


Com base nos sintomas, habitualmente leves e não associados a complicações, é
feita uma decisão terapêutica pelo médico. Esta geralmente é empírica, ou seja, não são
feitos testes para determinar a etiologia da infeção, o tratamento mais adequado ou a
duração correta do mesmo39.
As infeções urinárias diagnosticam-se através da história clínica que o doente
fornece e associando exames como as tiras de teste. Em todos os casos, o mais benéfico
para o utente e para o sistema de saúde, seria realizar uma urocultura, que tem por objetivo
identificar do ponto de vista microbiológico, o agente infecioso, e o teste de sensibilidade
aos antibióticos, de forma a selecionar o tratamento mais adequado, devendo ser
comprovada a cura com urocultura pós antibioterapia39. Existem guidelines para o
tratamento empírico de ITU, mas essas muitas vezes não são seguidas40.
Assim sendo, é importante relembrar os utentes da importância de refazer um teste
após antibioterapia, para verificar se os sinais de ITU desapareceram, não apenas os
sintomas, pois pode permanecer bacteriúria assintomática, responsável pelas ITU
recorrentes39.

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

1.8. Cuidados de prevenção


Existem formas de prevenir as ITU, que passam por cuidados de higiene, hidratação
adequada, entre outros41,42:
 Beber pelo menos 1,5 litros de água por dia;
 A higiene íntima, da vulva e da região perianal, deve ser efetuada da frente para trás
para prevenir a passagem de bactérias do ânus para a vagina;
 Urinar em intervalos regulares e sempre que sentir necessidade;
 Antes da atividade sexual a área genital deve estar limpa e é aconselhável urinar e
lavar depois de terminar;
 Evitar a obstipação;
 Tomar duches em vez de banhos;
 Usar roupa interior de algodão e evitar vestuário muito apertado;
 Manter a roupa interior seca e evitar locais húmidos (piscinas, jacuzzis, etc) ;
 Evitar os sprays e as soluções de higiene vaginal fortes ou perfumadas pois podem
irritar a uretra;
 Ter em atenção se a dieta que está a fazer é a adequada, ou considerar a utilização
de suplementos alimentares;
 Evitar substâncias que possam irritar a bexiga, como cafeína, álcool, alimentos
picantes, bebidas com gás e tabaco;
 Evitar bebidas açucaradas ou alimentos gordurosos e preferir alimentos ricos em
antioxidantes: frutos vermelhos, laranjas, vegetais, etc;
 Considerar a utilização de suplementos alimentares com efeito preventivo de ITUs.

Estas medidas carecem de suporte científico, no entanto são regras básicas que devem
ser seguidas, tendo em conta os fatores de risco, a etiopatogenia da infeção e os fatores
protetores do hospedeiro. São os conselhos gerais dados à população pelos profissionais
de saúde e estão incluídos também em guidelines28.

1.9. Produtos de venda livre para as ITU

Existem vários produtos de venda livre que podem ajudar a prevenir ou a reduzir a
gravidade da infeção urinária baixa. São SA ou DM. Os disponíveis na farmácia durante o
estágio, encontram-se representados na Tabela 1:

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Tabela 1 – Composição dos produtos destinados à prevenção de ITU disponíveis na Farmácia Azevedo

Produto Tipo Composição por unidade Posologia

Monurelle® Vaccinium macrocarpon - 120 mg (36 1 comprimido à

(Zambon) DM mg proantocianidinas (PAC)) noite, mínimo 1


Vitamina C - 60 mg mês
Vaccinium macrocarpon - 60 mg (18 1 saqueta 12/12h
Prevecist® mg em proantocianidinas) (antes do
SA
(Rega Farma) Lactoferrina - 10 mg pequeno almoço
Fruto-oligossacáridos - 1000 mg e do jantar)
Hibiscus sabdariffa - 200 mg (flores
Uricare® contendo pelo menos 50% de 1 a 2 cápsulas ao
SA
(TheraLab) polifenóis) dia
Vitamina C - 80 mg

Estes produtos têm como indicações gerais: Prevenir a ocorrência de cistite,


inibindo a adesão de bactérias. Nos indivíduos com tendência para infeções urinárias de
repetição, poderá ajudar a manter a saúde urinária, reduzindo o risco de novos episódios
de infeções urinárias recorrentes. Não são antibióticos, não têm como indicação tratar
infeções urinárias em curso. Contudo, poderá ser tomado concomitantemente com a
terapêutica antibiótica prescrita pelo médico com o objetivo de reforçar as defesas e ajudar
a criar um ecossistema urinário menos favorável a recidivas43-45.
De forma a poder dar um aconselhamento adequado e ter poder de seleção
aquando da venda destes produtos, é necessário conhecer os seus ingredientes e as suas
potenciais propriedades:

Vaccinium macrocarpon (Arando americano, mais conhecido por Cranberry)


O extrato de Cranberry é rico em PACs. Está mostrado que estes flavonóides
possuem a capacidade de impedir a adesão de bactérias patogénicas às mucosas do trato
urinário. Como algumas bactérias, possuem na superfície celular flagelos e fímbrias,
necessárias para a colonização durante o processo infecioso, como E. coli, a sua
capacidade de proliferação e o risco de desenvolvimento de ITUs está limitada46,47.
As moléculas anti-adesivas PAC do tipo A, que constituem 94,5% das PACs
presentes no arando, têm capacidade de provocar nas fímbrias uma alteração da sua
configuração e posterior retração. Este é o mecanismo de ação para o qual existe hoje em
dia concordância e evidência científica47,48. No entanto, para que isto ocorra, é necessário
ingerir no mínimo 36 mg PACs por dia, o que corresponde à quantidade doseada dos
suplementos em estudo, e estima-se que o seu tempo de semivida seja cerca de 12h49.

27
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Assume-se que também possa usado como coadjuvante na terapêutica


antibacteriana com a vantagem de não ocasionar o aparecimento de resistência48.
Vários estudos comparativos foram feitos, sendo que na maior parte não há um
benefício do uso de arando na prevenção e tratamento de ITUs. No entanto grande parte
desses estudos são feitos com o sumo de cranberry, e não formas doseadas, como os SA.
Em contrapartida, em alguns parece haver efeito significativo na prevenção das ITU
recorrentes, pelo que, em guias terapêuticos recentes, como o da Associação Europeia de
Urologia, o extrato de cranberry é recomendado como alternativa terapêutica em ITUs
recorrentes não complicadas28.

Hibiscus sabdariffa (Hibisco)


O hibisco tem na sua composição antocianinas, flavonoides (quercetina) e ácido
clorogénico50. Possui ação anti-inflamatória e diurética51,52. No entanto, estudos no sentido
de prevenção de ITU são escassos.

Vitamina C
Acidifica a urina, o que a torna menos favorável para o crescimento bacteriano, e
reforça o sistema imunitário53. No entanto, os estudos são contraditórios, e acredita-se que
a quantidade necessária de Vitamina C (ou sumo de arando) para acidificar a urina seriam
doses não toleráveis e alguns autores acreditam que a acidificação da urina não tem um
papel importante na prevenção de ITU47. Não obstante, noutro estudo, foi mostrado que a
toma de 100 mg de ácido ascórbico é capaz de prevenir ITU na gravidez54.

Lactoferrina
A lactoferrina é uma glicoproteína que transporta o ferro. É libertada pelos
neutrófilos durante um processo inflamatório. Esta tem ação antimicrobiana tanto por
quelatar o ferro, que é essencial para o crescimento das bactérias, ou pela destabilização
das membranas bacterianas. Para além disso, modula o processo inflamatório ao prevenir
a libertação de citocinas dos monócitos e regular a proliferação e diferenciação das células
imunitárias. Esta capacidade está relacionada com a possibilidade de se ligar a
lipopolissacarídeos (endotoxina) com muita afinidade, evitando a sua ligação a um recetor
na superfície do monócito. Em estudos in vitro e em animais, a lactoferrina exibiu atividade
significante contra E. coli, P. mirabilis, S. aureus, C. albicans, entre outros
patogéneos55,56,57.

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Fruto-oligossacáridos
Os Fruto-oligossacáridos (FOS) são cadeias complexas de açúcares, não
metabolizados pelo organismo humano e não calóricos, que possuem efeito pré-biótico.
Ou seja, estimula o crescimento seletivo das bactérias benéficas do cólon. A presença de
maior número de bifidobactérias no intestino torna o ambiente intestinal pouco propício ao
desenvolvimento de estirpes patogénicas (incluindo E. coli). Desta forma, os fruto-
oligossacáridos promovem a redução do número de microrganismos com potencial para
contaminação uretral58,59.

Em relação a estes suplementos, apesar de existirem estudos sobre a eficácia dos seus
componentes, ainda fica muito por se saber, uma vez que não estão a ser feitos estudos
controlados e randomizados. Para além disso, seria necessário saber qual a dose eficaz
para cada suplemento. No entanto, uma vez que o seu efeito é benéfico num número de
casos significativo, pode ser uma boa estratégia de auxiliar um utente com ITU recorrentes,
podendo ainda serem associados à terapêutica antibiótica prescrita pelo médico. É
necessário reforçar a mensagem de que estes suplementos não têm a indicação de tratar
ITUs, para isso deverá procurar-se uma consulta médica.

1.10. Análise à urina - Os testes na farmácia

Point-of-care testing (POCT) consiste na possibilidade de fazer um teste fora do


laboratório, que produza um resultado rápido e fiável, de forma a ajudar no diagnóstico de
doenças, deteção ou monitorização. Este deve ser possível fazer no local onde o cuidado
de saúde é prestado, próximo do paciente, podendo ser no consultório, na farmácia ou em
casa60.
O objetivo dos POCT é facilitar o diagnóstico de forma rápida, a toma de decisões
de tratamento e a monitorização do tratamento instituído, de forma a aumentar a qualidade
de vida do paciente, diminuindo a morbilidade e a mortalidade61.
Os testes rápidos na farmácia, são hoje uma mais-valia tanto para as farmácias quanto
para os doentes, pois permitem:
 A vigilância de doenças comuns como hipercolesterolémia, diabetes mellitus, ácido
úrico elevado, doenças do trato urinário, etc.
 Diminuir o número de doenças com elevada taxa de morbilidade/mortalidade.
 Reduzir custos no sistema nacional de saúde.
 Fidelizar o doente à farmácia e conseguir com que haja um maior acompanhamento
do mesmo.

29
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

A análise à urina permite o diagnóstico e monitorização de doenças renais, doenças do


trato urinário, doenças metabólicas e doenças sistémicas.
É um método não invasivo, tem baixo custo e é rápido e fácil de realizar61.
Quando o utente entrega a amostra na farmácia, após ter recebido as instruções de
como fazer a recolha da urina, deve-se fazer uma análise macroscópica da mesma, tendo
em atenção as características organoléticas:

Cor e Turvação
Alterações na cor “normal” da urina são frequentemente causadas por fármacos e
seus metabolitos. Uma turvação branca pode ser devido a piúria em ITU por bactérias ou
fungos, mas também outras situações, como precipitação de fosfatos em urina alcalina,
lípidos na urina na presença de síndrome nefrítico ou contaminação com pomadas ou ainda
proteinúria grave. Hematúria é reconhecida pela presença de turvação castanha-
avermelhada com sedimento da mesma cor62.
É necessário verificar sempre a cor e turvação da amostra, pois qualquer cor que
não seja amarelo pode ser indicativo de patologias, contaminação da amostra, utilização
de alguns fármacos, ou outras situações.

Odor
A urina pode apresentar odores diferentes, que podem ter significância clinica, por
exemplo, um odor frutado ou de acetona na presença de cetonúria (sinal de possível
acidose metabólica), álcool na presença de intoxicação e em ITUs causada por bactérias
com capacidade de degradar a ureia, o odor poderá ser de amónia62.

Estas perceções podem ser subjetivas, não sendo fator de existência ou


prognóstico de ITU, tornando-se necessário uma análise mais completa e fiável, como uma
análise dos diferentes parâmetros bioquímicos da urina.
Na farmácia Azevedo, utiliza-se um aparelho da Roche, o Urisys® 1100 e tiras de
teste Combur10Test®. O Urisys® 1100 é um aparelho de análise compacto, semi-
quantitativo, muito fácil de usar para avaliação de tiras-teste de urina individuais. Permite
uma leitura rápida (o ciclo de medição leva apenas 70 segundos) e proporciona uma
confiança que deriva do uso de tiras-teste de elevada qualidade.
A leitura automática apresenta vantagem, pois não está sujeita aos fatores
variáveis da avaliação visual, como a iluminação e a capacidade individual dos técnicos
para fazerem coincidir as cores, falhas na duração correta do teste e erros no registo do
resultado63. Está demostrado que as tiras-teste dão um resultado fiável, com elevada
sensibilidade64.

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

As tiras-teste possibilitam a análise a vários parâmetros: Densidade; pH;


Leucócitos; Nitritos; Proteínas; Glucose; Corpos cetónicos; Urobilinogénio; Bilirrubina;
Eritrócitos; Hemoglobina.
Alguns parâmetros são indicativos de uma infeção urinária em curso (sintomática
ou assintomática), tais como62, 64, 65:
pH: Pode ser um indicador da presença de ITU. Normalmente a urina é
discretamente ácida (pH 5,0 ou 6,0). Urina alcalina pode ser resultado de exposição à
temperatura ambiente por mais de 2h ou pode sugerir infeção urinária. Pode-se
recomendar a ingestão de alimentos ou suplementos que acidifiquem a urina, auxiliando o
organismo a combater a ITU se existir.
Leucócitos: A presença de leucócitos na urina em número significativo está
relacionada, mais comumente, com infeção urinária. Outros processos inflamatórios do
trato genito-urinário podem levar ao aumento de leucócitos sem a presença de bacteriúria.
Nitritos: A pesquisa de nitritos é bastante útil na deteção de bacteriúria
assintomática, pois indica a presença de bactérias na urina que são capazes de converter
nitrato em nitrito. Estas bactérias são, principalmente, bactérias gram-negativo como E.
coli, Proteus sp., Klebsiella sp., Citrobacter sp., Samonella sp., além de algumas estirpes
de Pseudomonas sp., de Staphylococcus sp. e Enterococcus sp.
Eritrócitos/Hemoglobina: A presença de sangue na urina pode ser confirmada
através da deteção na urina de hemácias íntegras (hematúria) ou de hemoglobina livre
(hemoglobinúria). A hematúria resulta de sangramento em qualquer ponto do trato urinário,
podendo ser devido doenças renais, infeção, tumor, trauma, cálculos, distúrbios
hemorrágicos ou uso de anticoagulantes. A hemoglobinúria pode resultar de hemólise
intravascular, no trato urinário ou na amostra de urina após a colheita.
Proteínas: A deteção de proteínas é o achado isolado mais sugestivo de doença
renal. Proteinúria pode ocorrer por aumento da permeabilidade glomerular ou devido a
desordens tubulares. Pode ocorrer na pielonefrite, entre muitas outras doenças do foro
renal, e não só. É um parâmetro importante, e deve-se reencaminhar para o médico se
houver um resultado positivo.

Avalia também outros parâmetros que não estão associados diretamente à


presença de ITU, como a densidade, glucose, corpos cetónicos, urobilinogénio, e
bilirrubina. Assim, o aparelho permite não só auxiliar no diagnóstico da infeção urinária,
mas também a verificação rápida de doenças renais e do trato genitourinário, assim como
a monitorização da diabetes mellitus (glucose, cetonas), doenças hepáticas, doenças
hepáticas e doenças hemolíticas (urobilinogénio, bilirrubina) 63.

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

1.11. Conclusão do caso de estudo

As ITU serão sempre uma realidade frequente nas farmácias, cabendo a quem está
atrás do balcão transmitir conhecimento sobre esta doença e dar resposta, dentro do
possível, aos pedidos de ajuda dos clientes. O folheto informativo elaborado foi bem
recebido tanto pelos colegas da farmácia, como pelos utentes, sendo muito compensador
do meu trabalho. Com o desenvolvimento deste tema, e com a pesquisa que fiz, apendi
muito para além dos conhecimentos que já tinha, e foi útil no estágio, da mesma maneira
que será útil no futuro. O folheto foi importante para veicular informação relativa a esta
patologia e tornou-se uma ferramenta útil de trabalho na farmácia Azevedo, tanto para
informar os utentes, ao mesmo tempo que promove os serviços da farmácia e os produtos
que tem ao dispor para prevenir as ITU, que podem ainda ser do seu desconhecimento.

2. SECURA OCULAR
Os problemas oftalmológicos são cada vez mais frequentes nos dias que correm.
As novas tecnologias, as exigências do dia-a-dia, o stress, a poluição afetam esse órgão
que, por ser tão vulnerável, deve ser tratado cuidadosamente e com aconselhamento
profissional.
Escolhi desenvolver este tema pois as queixas com os olhos, em especial, a secura
ocular, é uma realidade frequente na farmácia e é preciso estar apto a interpretar a
descrição dos sintomas do utente para prestar o aconselhamento mais adequado. De
forma a expor este conhecimento, achei oportuno elaborar um folheto com informação
acessível, clara e resumida sobre o tema e com conselhos de prevenção desta patologia,
para ser distribuído aos balcões da Farmácia Azevedo (Anexo VII).

2.1. Definição
A Secura ocular, Síndrome do Olho Seco ou, simplesmente, Olho Seco, é uma
desordem do filme lacrimal que ocorre quando há uma deficiência na quantidade ou na
qualidade da lágrima natural66,67.
É uma doença com prevalência marcada. Vários estudos internacionais estimam
uma prevalência entre 15 e 58%, apesar dos resultados nos estudos não serem
comparáveis68.

2.2. Constituição e função da lágrima natural


A lágrima natural é essencial para uma boa visão, saúde do olho e conforto pois
garantem a nutrição e a hidratação da superfície ocular e previnem a ocorrência de lesões

32
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

dos tecidos oculares. A lágrima fornece à córnea os fatores de crescimento, vitaminas e


neuropeptídeos que são essenciais para a proliferação deste epitélio67.
A lágrima é constituída por 3 camadas: aquosa, mucina e lipídica. Quem sofre de
olho seco tem uma deficiência em pelo menos uma dessas camadas67.
 Camada lipídica: camada mais externa que retarda a evaporação da lágrima,
permitindo um efeito mais duradouro. A perturbação nesta camada é a causa de secura
ocular em 80% das pessoas que sofrem desta condição.
 Camada aquosa: representa a maior parte da lágrima e é constituída por minerais,
vitaminas, proteínas, fatores antimicrobianos que nutrem e protegem a córnea. A secura
ocular pode ocorrer devido a um desequilíbrio desta composição ou devido a uma produção
deficiente das lágrimas pelas glândulas lacrimais.
 Camada mucina: permite que a película da lágrima adira ao epitélio para que a
lágrima se mantenha e se espalhe sobre a superfície do olho.
De um modo geral, poder-se-á dizer que a secura ocular terá origem em67:
- Distúrbios oftalmológicos, que afetam a produção da camada externa (oleosa) do filme
lacrimal;
- Fatores ambientais, que favorecem a evaporação da lágrima;
- Doenças crónicas, que levam a uma diminuição da produção da secreção lacrimal.

2.3. Sintomas
Tendo em conta as diferentes origens da perturbação, dão origem a sintomas que são
fáceis de detetar, como: ardência e prurido, sensação de areia nos olhos, pálpebras
pesadas, olhos cansados, olhos vermelhos e lacrimejantes, visão manchada,
hipersensibilidade à luz e/ou a lentes de contacto e/ou a cosméticos e pálpebras
inflamadas. Estes podem aparecer isoladamente ou em combinação, consoante a
gravidade da situação, podendo também ocorrer em outras patologias oftalmológicas,
sendo importante a sua distinção66,68.

2.4. Fatores de risco68, 69 :


 Sexo – As mulheres são mais afetadas do que os homens.
 Idade - A produção de lágrima reduz com a idade, principalmente nas mulheres
após a menopausa, sendo a prevalência superior nos idosos.
 Doenças - Existem várias doenças que podem provocar ou acentuar os sintomas
de olho seco, como: blefarite, alergias, artrite reumatóide, lúpus eritematoso sistémico,
rosácea, síndrome de Sjögren, síndrome de Stevens-Johnson, linfoma, sarcoidose,
viroses, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, paralisia facial, doença de Parkinson,
alterações hormonais, carência grave de vitamina A e o alcoolismo e tabagismo. A

33
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

síndrome de Sjögren é uma doença inflamatória crónica que ocorre principalmente em


mulheres entre os 40 e 60 anos e que envolve os órgãos que contêm epitélio secretor,
ocorrendo infiltração de células inflamatórias, atrofia e fibrose das glândulas lacrimais e
salivares, diminuindo acentuadamente a produção da porção aquosa da lágrima e da
saliva70.
 Medicamentos - Alguns fármacos diminuem a produção lacrimal, como os
diuréticos, anti-histamínicos, antidepressivos, hipnóticos, antiglaucomatosos,
vasoconstritores, corticosteroides, hormonas, antiarrítmicos, isotretinoína, atropina,
betabloqueadores e alguns conservantes utilizados colírios.
 Uso de lentes de contacto pode muitas vezes levar à secura ocular através do
distúrbio da camada lipídica do olho, resultando no aumento de evaporação de lágrimas;
 Procedimentos como a radioterapia, quimioterapia, cirurgia das pálpebras ou a
cirurgia refrativa (para corrigir miopia ou hipermetropia);
 Condições ambientais - Existem também fatores ambientais que agravam os
sintomas, nomeadamente, o vento, viajar de avião, a exposição ao ar condicionado, o calor,
o contacto com agentes alergénios ou frequentar ambientes com o ar poluído;
 Fixação do olhar - Para a lágrima desempenhar todas as suas funções é necessário
pestanejar frequentemente e de forma completa (fechar as pálpebras de modo a que a
pálpebra superior toque na inferior e abrir) de forma a espalhar a lágrima por toda a
superfície ocular. Quando são feitos esforços visuais prolongados como ler, estar ao
computador ou ver televisão, pestanejamos com menor frequência71.

2.5. Diagnóstico e Tratamento


O diagnóstico deve ser feito por um especialista para descobrir o que pode estar a
causar a secura do olho. Posto isto, poderá indicar o tratamento adequado a cada
indivíduo. Não obstante, na farmácia também se pode dar solução, nos casos ligeiros, de
forma a dar alívio e prevenir consequências graves66,73.
O tratamento do olho seco é essencial para melhorar a visão e minimizar os
sintomas e lesões da superfície ocular externa. A condição de olho seco pode ser crónica
e não completamente curável pelo que as complicações a longo prazo, para além da maior
propensão para desenvolver conjuntivites, podem ir desde a infamação da córnea
(queratite), a úlceras, dores agudas e até perda de visão74.
As lágrimas artificiais são o tratamento mais utilizado e eficaz, independentemente
da causa do olho seco. O objetivo é aumentar a humidade da superfície ocular e melhorar
a lubrificação75.
Nos casos ligeiros podem ainda ser recomendadas máscaras (dispositivo médico)
com efeito frio/calor que podem melhorar o conforto dos olhos, e ainda compressas de

34
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

limpeza (como as Blephaclean®), que devem se recomendadas para a higiene das


pálpebras sensíveis66.

2.5.1. Lágrimas artificias


A utilização de lágrimas artificiais é o tratamento primário para o olho seco. Estas
estão disponíveis sem receita médica e, por serem lubrificantes, proporcionam o alívio dos
sintomas. Se utilizar lágrimas artificiais mais frequentemente do que a cada 3 horas, deverá
escolher um produto sem conservantes, como o cloreto de benzalcónio, que podem ser
responsáveis pelo agravamento ou aparecimento de secura ocular68. Algumas formulações
não possuem conservantes ou estes neutralizam-se em contato com o olho e deverão ser
eleitos para uso prolongado.
Existem vários tipos de lágrimas artificiais. Estas podem estar sob a forma de gotas,
que são os lubrificantes mais usados, pois são fáceis de aplicar e semelhantes à lágrima
natural; sob a forma de gel, que apresenta maior retenção no olho, contudo, pode provocar
embaçamento momentâneo da visão; ou pomadas lubrificantes que contêm menor
quantidade de água e um componente gorduroso pelo que embaciam muito a visão,
reservado para os casos mais severos.
Os produtos que têm maior saída na Farmácia Azevedo e a sua composição são:
 Carboximetilcelulose sódica (Carmelose) - Celluvisc® (1%, unidose) Optive®,
Optive fusion® (+ Hialuronato de sódio), Refresh tears® (0,5%). Recomendado em
casos de deficiência aquosa. Esperar 15 minutos antes de colocar lentes de contato.
 Carbómero 974P - Lacryvisc®, Siccafluid®. Alta viscosidade, tende a embaciar a
visão.
 Hidroxipropilmetilcelulose (Hipromelose) - Artelac®, Hidrocil MD®, Tears
Naturale®. Em casos de deficiência aquosa. A nitidez da visão poderá ficar diminuída
temporariamente após aplicação.
 Hialuronato de sódio - Hyal-Drop Rebalance® (0,15%+ PEG 8000 0,5%); Hyabak
hipotónico (0,15%;proteção UV s/ conservante); Hyal-Drop Advanced® (0,24%).
Compatível como uso de lentes de contato.
 Trealose - Thealoz® 3%. Compatível como uso de lentes de contato.
 PEG 400 - Systane ultra®. Compatível como uso de lentes de contato.
É importante observar no frasco do colírio a data de validade, e anotar a data de
abertura, sendo que prazos de validade após abertura são geralmente curtos, e diferem
muito de produto para produto. Lavar as mãos antes de usar e, na instilação, evitar tocar
no olho com a ponta da gota do colírio.
Ter em atenção que apenas alguns são compatíveis com lentes de contacto, sendo
que outros é necessário esperar 15 minutos após a instilação para as colocar. Na

35
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

dispensação de colírios com alguma viscosidade, alertar que podem perturbar a visão,
devendo o utente evitar conduzir. Alguns colírios têm ainda proteção ultravioleta, que pode
ter interesse. Se os olhos secos não melhorarem com tratamentos convencionais, os
doentes devem ser encaminhados para um médico.

2.5.2. Outros tratamentos


Nos casos moderados a severos, a consulta médica é obrigatória, pois a indicação
dos tratamentos já é fora do âmbito de ação do farmacêutico. Estes incluem gotas oculares
de prescrição, com anti-inflamatórios, como os corticoides e ciclosporina. Estas gotas
aumentam a capacidade fisiológica de produzir lágrimas e utilizam-se quando a secura
ocular está associada a processos inflamatórios76.
Outras formas de tratamento, em casos de secura ocular severa, são a oclusão
pontual (temporária ou permanente) ou a cirurgia (irreversível). No caso da síndrome de
Sjögren são tratados com medicamentos específicos tomados por via oral.
Alguns estudos apontam o benefício de uma alimentação rica em ácidos gordos
ómega 3 (ω-3) ao notarem que a deficiência nestes ácidos gordos essenciais causa o
aumento da evaporação da lágrima, ao reduzir a função da glândula meibomiana e a
secreção lipídica. Uma recomendação que pode ser feita aos utentes que se queixem de
olho seco é a utilização de um suplemento alimentar deste tipo ou a ingestão de alimentos
ricos em ω-3, como o bacalhau, salmão, lula, camarão, atum, sardinha, óleo de linhaça77,78.

2.6. Conselhos de Prevenção


A prevenção, para além do uso de colírios lubrificantes, passa por evitar, se possível, os
fatores de risco e melhorar o ambiente que o rodeia, adotando comportamentos, como79:
 Usar óculos de sol durante a exposição ao sol e ao vento;
 Manter-se hidratado: beber água, de preferência, mais de 1,5 L por dia;
 Evitar locais de elevado nível de poluição e/ou a exposição a outros fatores
alérgicos, ao fumo do tabaco, aerossóis ou produtos irritantes. O uso de óculos de sol pode,
também neste caso, servir de barreira protetora;
 Evitar sempre que possível o ar condicionado, ventiladores ou secadores de cabelo;
 No carro evitar o ar condicionado e a ventilação dirigida para os olhos e conduzir
de janelas fechadas para evitar o vento e a poluição;
 Evitar as projeções de água sobre os olhos (duche, piscinas, etc);
 Controlar a humidade do ar e, se necessário, utilizar um humificador em locais com
humidade ambiente baixa;
O uso de computadores comporta riscos particulares, devendo para minorar esses riscos:

36
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

 Não permanecer longos períodos em frente ao computador ou outros aparelhos


eletrónicos;
 Se precisar de utilizar esses aparelhos por muitas horas, fazer pequenas pausas;
 Colocar o ecrã do computador de modo a que o ângulo de visão seja de cima para
baixo, fazendo com que a abertura da pálpebras será menor, estando o olho menos
exposto;
 Pestanejar de forma regular;
 Regular a luminosidade: não trabalhar ou ler no escuro;

2.6. Conclusão do caso de estudo


O olho seco é uma doença crónica que afeta muitas pessoas. Em muitos casos
pode ser controlada facilmente, como a instilação de colírios ou adoção de medidas
preventivas. Ao balcão da farmácia é importante diferenciar um quadro de secura ocular
ligeira de outras patologias que podem colocar em risco a integridade ocular e é imperativo,
em caso de dúvida ou persistência dos sintomas, reencaminhar para o médico. Uma vez
que grande parte da população que visita a Farmácia Azevedo é idosa, e que estes
problemas acentuam-se nesta faixa etária, foi muito oportuno o desenvolvimento deste
tema, principalmente para os cuidadores destas pessoas, que tinham algumas dúvidas.
O desenvolvimento deste tema contribuiu também para a minha formação. Ao
desenvolvê-lo adquiri gosto por esta área e aprendi coisas muito interessantes e
importantes para a minha prática profissional. Aos colegas da farmácia consegui dar a
conhecer mais sobre este tema e ficou um folheto que é, sem dúvida, uma ferramenta útil
no aconselhamento ao balcão, importante para a promoção da saúde da população, ao
eliminar o desconhecimento sobre esta patologia. O folheto foi muito bem recebido pelos
utentes, e creio que os fará ganhar consciência sobre a importância do tratamento desta
doença, e não se inibirem de ir à farmácia solicitar ajuda.

3. HALITOSE
O mau hálito ou halitose é ainda um assunto pouco discutido nos dias que correm.
O meu objetivo ao desenvolver este tema é chamar à atenção da população para este
problema, de forma a entenderem que não deve haver tabus, mas sim uma eficaz deteção
do problema, adoção de medidas preventivas e tratamento e que em muitos casos esta
situação incómoda tem uma solução fácil ou, por outro lado, pode ser indicativa de
problemas de saúde mais graves, merecendo particular atenção.
Para tal, e de forma a expor este tema e de poder ter um contacto mais próximo
com os utentes, elaborei um folheto informativo sobre o tema (Anexo VIII) e realizei um

37
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

inquérito sobre o conhecimento e experiência pessoal dos utentes com a halitose e aspetos
relacionados com a sua higiene oral (Anexo IX).

3.1. Definição
Halitose ou mau hálito corresponde à exalação de odores desagradáveis oriundos
da cavidade oral80. É o 3º motivo de visitas ao dentista, estando apenas atrás das cáries e
doença periodontal81.
É uma condição desagradável que causa restrições sociais. Estudos mostram que
existe uma elevada prevalência de halitose moderada, que ronda os 15-30% da população,
enquanto os casos mais severos estão restringidos a cerca de 5% da população81.

3.2. Etiologia
Estudos mostram que em mais de 80% dos casos a origem da halitose é dentro da
cavidade oral e inclui reservatórios bacterianos, como o dorso da língua, gengivas,
próteses e espaços periodontais onde bactérias anaeróbias degradam aminoácidos
contendo enxofre para produzir os compostos sulfurados voláteis (CVS), principalmente
sulfito de hidrogénio (H2S) e metilmercaptano (CH3SH), compostos esses responsáveis
pelo mau odor. O reservatório no dorso da língua é considerado a mais importante fonte
de CVS e pode-se detetar ao observar uma fina camada branca sobre a língua81,82.
Assim, as principais causas de halitose estão associadas a higiene oral deficiente:
lavagens diárias insuficientes ou não feitas de forma correta, má higiene da prótese ou
fixação da mesma - e também a patologias da cavidade oral: aftas, cáries, gengivites,
periodontites são também das principais causas da halitose de origem bucal81.
No entanto, existem outras causas, também frequentes, tais como: patologias do
foro ORL, como constipações, amigdalite, sinusite; problemas gastrointestinais, como a
gastrite, azia, refluxo gastroesofágico e o jejum prolongado; boca seca, em casos de baixa
produção de saliva, dormir e respirar pela boca e ar condicionado; problemas hepáticos ou
renais, diabetes mellitus, o consumo de alguns medicamentos ou ainda por stress83.
Pode também haver halitose temporária, devido à ingestão de alimentos como alho
ou cebola, ou bebidas alcoólicas, comidas condimentadas, entre outros. O tabaco também
é um fator importante, para além do mau odor, também seca a mucosa oral81.
Quem tem mau hálito pode sentir-se envergonhado, inibido de falar em público e
muitas vezes é difícil a própria pessoa ter a perceção de que existe essa alteração no
hálito, pois o olfato tente a habituar-se aos odores corporais constantes. Este problema
pode tornar-se numa limitação social e afetiva84.

38
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

3.3. Diagnóstico, Prevenção e Tratamento80,85


O diagnóstico padrão é a avaliação organolética. É muito importante identificar a
causa da halitose para poder eficazmente combatê-la. Não obstante, uma boa higiene oral,
a limpeza regular do dorso da língua e o uso de fio dental são o primeiro passo para
prevenir problemas de halitose. Assim, recomenda-se:
 Comer a cada três horas entre as principais refeições;
 Beber pelo menos 1,5L de água diariamente;
 Evitar ingerir em excesso alimentos muito condimentados, alho, cebola, álcool, café
e tabaco;
 Se sentir a boca seca, recorrer a substitutos de saliva;
 Se utiliza prótese dentária deve fixá-la bem e lavá-la com produtos adequados;
 Ir regularmente ao dentista, pelo menos 2 vezes ao ano;
 Utilizar produtos que neutralizem os CVS.
Quando estas estratégias não têm resultado, é necessário remeter para o médico.

3.3.1. Conselho básico de Higiene Oral


Como fazer a higiene da cavidade oral?
- Escovar os dentes e a língua pelo menos 3 vezes por dia, após as principais refeições,
durante 2 a 3 minutos;
- Usar uma escova de tamanho adequado e substitui-la a escova a cada 3 ou 4 meses;
- Utilizar diariamente fita ou fio dentário, preferencialmente antes da escovagem;
- Escolher um dentífrico e solução para bochechar com flúor, para prevenir a placa
bacteriana e cáries. Tentar evitar soluções “desinfetantes” pois podem diminuir o número
de bactérias benéficas na boca;
- Utilizar raspador de língua após a escovagem.

3.4. Inquérito
3.4.1. Objetivos
O inquérito elaborado (Anexo IX) tinha como objetivos:
 Compreender o que os utentes sabem acerca da halitose, se já tiveram e o que fizeram
de forma a resolver o problema;
 Compreender se, à vista dos utentes, o farmacêutico pode ser uma ferramenta
essencial para resolver estas situações;
 Interagir com a população, falando sobre um tema pouco habitual e fornecer o folheto
informativo para mais esclarecimentos;

39
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

 Apresentar os produtos para tratar a halitose, cuja movimentação na farmácia era


baixa.

3.4.2. Metodologias
Foi realizado a 57 indivíduos que visitaram a farmácia, entre os dias 26 e 28 de
abril, dos quais 41 eram do sexo feminino e 16 do sexo masculino, com idades
compreendidas entre os 18 e os 78 anos de idade.

3.4.3. Resultados

A primeira questão pretendia averiguar se os utentes alguma vez tinham tido mau
hálito (Figura 5). A resposta foi maioritariamente negativa, o que contraria os dados
epidemiológicos. A segunda questão permitia a seleção de várias respostas, que foi o mais
verificado. Os inquiridos identificaram múltiplas causas possíveis para o mau hálito (Figura
5), sendo os fracos hábitos de higiene oral a resposta mais comum. Contundo, algumas
pessoas também associaram a outras condições: 8 pessoas associaram a problemas no
estômago ou aparelho digestivo, e ainda a problemas no fígado (1), sinusite (1), medicação
(2) e tabaco (2). Reparei que algumas pessoas fumadoras não identificaram esta causa.

Já sofreu de mau hálito? Quais são as causas do mau


hálito?
Sim Não
43 41
35 32
Número de utentes

37%
Higiene oral Cáries ou Alimentos Outras
63%
outras Doenças
doenças na
boca

Figura 5 Figura 5 – Distribuição dos resultados, em percentagem à questão 1: Já sofreu de Halitose?


(esquerda) e à questão 2: A halitose pode estar associada a quê? (direita)

Dos 21 indivíduos que afirmaram ter tido pelo menos um episódio de halitose, ou
de terem sido alertados para isso, apenas 13 afirmaram ter procurado ajuda para corrigir a
situação. Estes procuraram principalmente o médico (dentista ou outro) para resolver o
problema, conseguindo, na maior parte dos casos, resolver o problema (Figura 6).

40
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Conseguiu resolver o
problema?

Sim Não NS/NR

8%
8%

84%

Figura 6 – Distribuição dos resultados das respostas dadas pelas pessoas que afirmaram já ter tido pelo menos um
episódio de halitose - questões 3, 4 e 5, respetivamente

Posto isto, foi questionado se já tinham Adquiriu algum produto


específico para halitose?
utilizado algum produto específico para o mau
Sim Não NS/NR
hálito (Figura 7). A maioria respondeu que
não. No entanto parece-me que a questão 2%
17%
gerou dúvidas, pois algumas pessoas
consideravam medicação e escova e pasta de
dentes como produtos específicos para o mau 81%

hálito.
Figura 7 – Distribuição dos resultados acerca da
aquisição de produtos para o mau hálito

Recorreria ao seu
farmacêutico? De seguida, foi questionado se, caso algum dia tivessem um
Sim Não NS/NR problema relacionado com o mau hálito, procurariam o
farmacêutico para ajuda e aconselhamento (Figura 8). A
5%
resposta foi maioritariamente positiva, no entanto, houve
40% 55%
muitas respostas negativas.

Figura 8 – Respostas à pergunta


“recorreria ao seu farmacêutico para
resolver problemas relacionados com
o mau hálito?

41
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Na questão acerca dos produtos


Produtos utilizados para a
utilizados na higiene oral, todos os que higiene oral diária
54
responderam, afirmaram utilizar escova

Número de utentes
39
e pasta dentífrica, sendo muito
24
frequente também o uso de colutório
7 5 3
(Figura 9). Reparei que em alguns
casos havia desconhecimento sobre o
que era um escovilhão e um raspador
de língua, tendo sido uma oportunidade
de explicação.
Figura 9 – Distribuição de respostas à questão sobre os
produtos utilizados na sua higiene oral

Acerca dos locais onde habitualmente adquire os


Adquire os produtos
na farmácia? produtos (ainda que pouco frequentemente) a maioria

Sim Não não compra ou nunca comprou na farmácia (Figura 10).


Os motivos são vários, encontram-se resumidos nos
gráficos seguintes. O motivo mais saliente para a compra
47% 53%
destes produtos fora da farmácia é o preço e a
conveniência (Figura 11).
Figura 10 – Resultado das respostas à
questão sobre o local onde adquirem
os produtos para a higiene oral

Adquire na farmácia Não adquire na farmácia


Confiança
Preço elevado em relação a outras superfícies
Proximidade/Conveniência comerciais
É mais conveniente/habitual comprar em
Por indicação médica supermercados
Produto que necessita só existe em Outros
farmácia
Qualidade superior

Pelo conselho

Sim, mas é indiferente

Figura 11 - Motivos pelos quais os utentes adquirem ou não os produtos na farmácia

42
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

3.4.4. Conclusão
A meu ver, os objetivos foram cumpridos. Posso concluir que a população tem
conhecimento sobre o que é a halitose, e a maior parte consegue identificar as causas.
Algumas pessoas não recorreram a ajuda para solucionar o problema, e a maioria procura
o médico, tanto dentista como outro, não vendo o farmacêutico como primeira escolha para
obter ajuda. No entanto, e tendo em conta o caso hipotético de virem a sofrer de halitose,
a maior parte recorreria ao Farmacêutico. Quanto aos produtos utilizados para a higiene
oral, a maior parte das pessoas limita-se à escova e pasta de dentes, o que pode ser um
fator de risco para ter mau hálito e cáries ou outras doenças na cavidade oral. Muitas
pessoas não adquirem os produtos para a higiene oral na farmácia essencialmente devido
ao preço e também ao hábito de comprarem ao mesmo tempo que fazem as suas compras
regulares em superfícies comerciais. Seria importante mostrar às pessoas que, na
farmácia, o preço pode não ser tão elevado comparativamente às marcas de supermercado
e que pode ter uma qualidade superior. A isto acresce o facto de na farmácia receberem
os aconselhamentos personalizados dos farmacêuticos.

3.5. Conclusão do caso de estudo


O farmacêutico tem um papel essencial, no sentido de educar a população nas
várias áreas da saúde. Sobre este tema, creio que os utentes ficaram sensibilizados para
a sua relevância e como podem prevenir. Para a farmácia, o folheto serve tanto como meio
de transmissão de informação sobre este tema e como forma de apresentar os produtos
que existem para combater o mau hálito, que eram do desconhecimento de muitos.
Os inquéritos contribuíram para o meu crescimento profissional, pois através deles
tive a oportunidade de dialogar com os utentes, de os aconselhar e mostrar que o
farmacêutico tem competências que o podem ajudar a encontrar solução para qualquer
problema relacionado com a sua saúde. Os inquéritos foram bem recebidos pelos utentes,
que se disponibilizaram com simpatia a responder e permitiram ainda abordar dúvidas que
os utentes tinham sobre este tema, sendo muito positivo.

43
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Parte III. CONCLUSÃO

O estágio curricular é essencial na medida em que permite um primeiro contato com


a vida profissional de um farmacêutico. Após a conclusão do meu estágio, posso afirmar
que estes quatro meses foram bastante importantes para a consolidação de
conhecimentos adquiridos ao longo do curso e para a aquisição de novos saberes. No
entanto, fica a certeza de que ainda há muito mais para aprender com esta profissão.
O estágio em farmácia comunitária fez-me desenvolver a habilidade de conversar
com as pessoas, aprender a utilizar uma linguagem acessível, escutar os seus problemas
e tentar solucioná-los, o que para mim é algo muito importante num farmacêutico. Aprendi
a importância de questionar as pessoas, quando solicitavam OTCs ou outros produtos,
podendo indicar produtos mais adequados à sua situação e que cuidados ter.
Os casos de estudo que desenvolvi durante o estágio permitiram-me desenvolver
a atitude interventiva do farmacêutico na sociedade. Assim, creio que atingi os objetivos
propostos, pois desenvolvi temas muito importantes que permanecem ainda no
desconhecimento de muitos. Toda a informação que por vezes não é possível ser
transmitida ao balcão sobre Infeções urinárias, passou a ficar disponível num formato
simples e linguagem acessível, através do folheto. Sobre a secura ocular, um problema tão
comum ao balcão da farmácia, os utentes ficaram com informação desde as causas à
prevenção e tratamento. Com o inquérito sobre as halitoses, creio que consegui mostrar
às pessoas que é normal as pessoas terem mau hálito em alguma fase das suas vidas, e
que podem e devem recorrer ao seu farmacêutico quando tiverem este problema. Ficaram
ainda com informações úteis sobre o tema e conselhos para preveni-lo. De um modo geral,
pude notar que os utentes mostraram-se satisfeitos com os folhetos elaborados, e acredito
que foram temas muito relevantes para o contexto da Farmácia Azevedo.
Entendi que o desconhecimento por parte dos utentes não deverá ser uma barreira
para a prevenção de possíveis problemas de saúde, mas sim um motivo para uma relação
mais próxima entre estes e o farmacêutico. Em suma, foi uma experiência bastante positiva
e serviu para enriquecer as minhas competências pessoais e profissionais, manter
presente a importância da formação individual contínua e também enriquecer a minha
capacidade de trabalhar em grupo. Senti que, de facto, um farmacêutico em Farmácia
Comunitária pode ter um papel muito importante e que é muito valorizado pelos clientes,
sendo isto o que mais me surpreendeu e fez-me gostar desta área de atuação do
farmacêutico. Nada disto seria possível sem a competência e dedicação de toda a equipa
da Farmácia Azevedo.

44
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

PARTE IV. REFERÊNCIAS

1. ANF: Farmácia em Portugal. Acessível em: http://www.anf.pt/. [acedido em 3 de maio


de 2015].
2. Ordem dos Farmacêuticos: “Linhas de Orientação - Indicação Farmacêutica”, 2006.
Acessível em: http://ofporto.org/upload/documentos/354791-Ind_Farmaceutica.pdf.
[acedido em 3 de maio de 2015].
3. Ordem dos Farmacêuticos: Boas Práticas Farmacêuticas para a Farmácia
Comunitária, 3ª Edição. Acessível em:
http://www.ordemfarmaceuticos.pt/xFiles/scContentDeployer_pt/docs/Doc3082.pdf.
[acedido em 3 de maio de 2015].
4. Ministério da Saúde. Decreto-Lei n.º 307/2007, de 31 de Agosto, Regime Jurídico das
Farmácias de Oficina. Diário da República, 1.ª série, n.º 168.
5. Ministério da Saúde. Decreto-Lei n.º 171/2012, de 1 de agosto. Diário da República, 1ª
Série, n.º 148.
6. “Análise da Aplicação Informática: Sifarma”, Documento adaptado de trabalho
realizado por Pedro Ivo Mota, 2004. Acessível em
http://www3.dsi.uminho.pt/jac/documentos/exemploanaliseati.pdf. [acedido em 5 de
maio de 2015].
7. INFARMED: Decreto-Lei n.º 176/2006, de 30 de agosto: Regime jurídico dos
medicamentos de uso humano.
8. INFARMED: Classificação quanto à dispensa de medicamentos. Acessível em:
http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_USO_HUM
ANO/PRESCRICAO_DISPENSA_E_UTILIZACAO/CLASSIFICACAO_QUANTO_A_D
ISPENSA. [acedido em 5 de maio de 2015].
9. INFARMED: Normas relativas à dispensa de medicamentos e produtos de saúde.
Acessível em:
http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_USO_HUM
ANO/PRESCRICAO_DISPENSA_E_UTILIZACAO/Normas_dispensa.pdf. [acedido
em 15 de maio de 2015].
10. Ministério da Saúde: Legislação - Medicamentos, Comparticipações e Farmácias.
Acessível em: http://www.sg.min-
saude.pt/sg/conteudos/legisaude/legis+medicamentos.htm. [acedido em 15 de maio
de 2015].
11. Portal da saúde: Comparticipação de medicamentos. Acessível em:
http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/informacoes+uteis/medicamentos/comp
articipacaomedicamentos.htm. [acedido em 15 de maio de 2015].

45
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

12. Administração Central Do Sistema de Saúde: Manual de Relacionamento das


Farmácias com o Centro de Conferência de Faturas do SNS, 2012. Acessível em:
https://www.ccf.minsaude.pt/portal/page/portal/estrutura/documentacaoPublica/Manu
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[acedido em 16 de maio de 2015].
13. INFARMED – Gabinete Jurídico e Contencioso: Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de
Janeiro: Regime jurídico do tráfico e consumo de estupefacientes e psicotrópicos.
14. INFARMED: Produtos Cosméticos. Acessível em:
http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/COSMETICOS. [acedido em 22
de maio de 2015].
15. INFARMED – Gabinete Jurídico e Contencioso: Decreto-Lei n.º189/2008 de 24 de
setembro. Regime jurídico dos produtos cosméticos e de higiene corporal.
16. Jornal Oficial da União Europeia: regulamento (CE) n.º 1223/2009 do parlamento
europeu e do conselho de 30 de novembro de 2009 relativo aos produtos cosméticos.
17. INFARMED: Medicamentos Homeopáticos e à Base de Plantas. Acessível em:
http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/PUBLICACOES/TEMATICOS/S
AIBA_MAIS_SOBRE/SAIBA_MAIS_ARQUIVO/15_Homeapaticos_Base_Plantas.pdf.
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18. INFARMED: Produtos Farmacêuticos Homeopáticos. Acessível em:
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EUTICOS_HOMEOPATICOS. [acedido em 30 de maio de 2015].
19. INFARMED - Gabinete Jurídico e Contencioso: Decreto-Lei n.º94/95, de 9 de maio -
Regime jurídico da introdução no mercado, do fabrico, da comercialização, da
rotulagem e da publicidade dos produtos homeopáticos para uso humano.
20. Diário da República: Decreto-Lei n.º 136/2003 de 28 de Junho. Suplementos
alimentares. 1.ª série, nº147.
21. DGAV: Suplementos alimentares. Acessível em: http://www.dgv.min-
agricultura.pt/portal/page/portal/DGV/genericos?generico=5904430&cboui=5904430.
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22. Diário da República: Decreto-Lei n.º10/2007, de 18 janeiro - Artigos de puericultura.
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23. Diário da República: Decreto-Lei n.º148/2008, de 29 de julho, Medicamentos
Veterinários. 1.ª série, nº145.
24. Ministério da saúde: Portaria n.º594/2004, de 2 de junho: Boas práticas a observar na
preparação de medicamentos manipulados em farmácia de oficina e hospitalar.

46
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

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27. Associação Portuguesa de Urologia: Cistite não complicada na mulher. Guia de Prática
Clínica. Acessível em: http://www.apurologia.pt/pdfs/Guia-cistite.pdf. [acedido em 1 de
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28. Grabe M, Bartoletti R, Johansen TE, Cai T, Çek M, KÖves B, et al. (2015) Guidelines
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urinary tract: the association of urologic and sexual symptoms with common illnesses.
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http://www.angelini.pt/wps/wcm/connect/pt/home/areas-terapeuticas/Saude-
Visual/Patologia/Olho-seco#b33786d1-bf07-4df5-8f7b-ee71d97a0154. [acedido em
20 de março de 2015].
71. APLO: Olho Seco. Acessível em:
http://www.aplo.pt/Sa%C3%BAdeVisual/PatologiasOculares/OlhoSeco.aspx. [acedido
em 20 de março de 2015].
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http://www.manualmerck.net/?id=77&cn=775. [acedido em 20 de março de 2015].
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http://perso.numericable.fr/keratos/portugues/secura-ocular-consequencias.htm.
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75. AJMC: Management of dry eye. Acessível em:
http://www.ajmc.com/publications/supplement/2008/2008-04-vol14-n3Suppl/Apr08-
3142pS088-S101/. [acedido em 20 de março de 2015].
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treatment in computer vision syndrome related dry eye. Contact Lens Anterior Eye.
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trial of ómega-3 fatty acids in dry eye syndrome. International Journal of
Ophthalmology; 6: 811-816.

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Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

79. Keratos: Secura ocular – conselhos. Acessível em:


http://perso.numericable.fr/keratos/portugues/secura-ocular-conselhos.htm. [acedido
em 20 de março de 2015].
80. Scully C, Greenman J (2000). Halitosis (breath odor). Periodontology; 48: 66–75
81. Calil CM, Tarzia O, Marcondes FK (2006). What causes bad breath? Revista de
Odontologia da UNESP; 35 (3): 185-190.
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clinical management. Brazilian Oral Research; 25(5):466-71
83. Campisi G, Musciotto A, Di Fede O, Di Marco, V, Craxì A (2011). Halitosis: could it be
more than mere bad breath. Internal and Emergency Medicine; 6: 315–319.
84. McKeown L (2003). Social relations and breath odor. International Journal of Dental
Hygiene; 1: 213-217.
85. Colgate: Como controlar o mau hálito. Acessível em:
http://www.colgate.pt/app/CP/PT/OC/Information/Popular-Topics/Bad-
Breath/article/Keys-to-Controlling-Bad-Breath.cvsp. [acedido em 20 de abril de 2015]

51
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

PARTE V. ANEXOS
Anexo I: Cronograma das atividades realizadas ao longo do estágio curricular.

Janeiro
Receção, conferência de encomendas e etiquetagem.
Receção e gestão de reservas.
Formação Pharma Nord: Bioactivo®.
Elaboração do resumo da formação dos produtos da gama Bioactivo®.
Elaboração do cartão de divulgação dos serviços prestados pela Farmácia Azevedo.

Fevereiro
Elucidação sobre os testes bioquímicos e realização dos mesmos aos utentes.
Formação Avène®.
Formação Ducray®.
Formação Uriage® – Curso geral.
Formação “Novidades Pierre Fabre”.
Formação Espaço Animal: Vendas cruzadas e novos medicamentos disponíveis para os
animais.
Elaboração do resumo da Formação Espaço Animal.
Formação grupo Gameiros: “Ortóteses: A intervenção do farmacêutico em lesões músculo-
esqueléticas”.
Formação Pierre Fabre Santé: Drill®, Pedi relax®, Pré-butix®, Percutalfa®, Naturactive®,
Oral Care (Elgydium®, Arthrodont®).

Março
Esclarecimentos sobre o sistema informático utilizado no ato da dispensação.
Início do ato de dispensação.
Formação na farmácia: Vicks®, Oral-B®, Kukident®.
Formação GSK: Saúde gengival.
Formação na farmácia: Juzo®.
Formação na farmácia: Sumo Detox® (Theralab).
Elaboração do folheto informativo “Infeções urinárias”.
Elaboração do folheto informativo “Secura Ocular”.

52
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Abril
Início da conferência de receituário.
Controlo dos prazos de validade.
Realização dos inquéritos “Estudo da Prevalência e Caracterização de Doentes Idosos
Polimedicados da Zona Norte de Portugal” do grupo de investigação Farma|inove.
Formação Boiron® – medicamentos homeopáticos.
Formação Solares Avène®
Elaboração do folheto “Risco Cardiovascular”
Realização do inquérito sobre Halitose.
Elaboração do folheto informativo “Halitose”.

53
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Anexo II: Cartão de divulgação dos serviços prestados pela Farmácia Azevedo (Frente e
verso).

54
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Anexo III: Resumo da formação Bioactivo®.

55
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

56
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Anexo IV: Resumo da formação: Vendas cruzadas e novos medicamentos disponíveis


para os animais.

57
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

58
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Anexo V: Folheto informativo: Risco Cardiovascular.

59
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Anexo VI: Folheto informativo: Infeções urinárias.

60
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Anexo VII: Folheto informativo: Secura Ocular.

61
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Anexo VIII: Folheto informativo: Halitose.

62
Relatório de Estágio | Farmácia Azevedo

Anexo IX: Inquérito sobre o tema “Halitose e Hábitos de Higiene oral”.

63
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

I
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

Relatório de Estágio Profissionalizante

Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E.

Maio e junho de 2015

Ana Carolina Correia Costa

Orientadora: Doutora Marília João Rocha

______________________________

Julho de 2015

I
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Eu, Ana Carolina Correia Costa, abaixo assinado, nº 201200050, aluno do Mestrado
Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto,
declaro ter atuado com absoluta integridade na elaboração deste documento.

Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (ato pelo qual um indivíduo,
mesmo por omissão, assume a autoria de um determinado trabalho intelectual ou partes
dele). Mais declaro que todas as frases que retirei de trabalhos anteriores pertencentes a
outros autores foram referenciadas ou redigidas com novas palavras, tendo neste caso
colocado a citação da fonte bibliográfica.

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, ____ de julho de 2015

Assinatura: _______________________________________

II
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

AGRADECIMENTOS

Quero deixar um agradecimento a toda a equipa dos Serviços Farmacêuticos do


CHUC, em especial para os farmacêuticos com quem interagi nestes dois meses, pela forma
como me acolheram, pela simpatia e disponibilidade e com quem aprendi muito.

Um agradecimento especial à Doutora Marília, pela excelente coordenação do


estágio e pela simpatia e prontidão a resolver qualquer situação.

À Comissão de Estágios da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, pela


oportunidade de realização de estágio em farmácia hospitalar, que é sempre uma
experiência enriquecedora para a minha formação académica.

III
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

RESUMO

O hospital é uma instituição bastante complexa. Os Serviços Farmacêuticos


Hospitalares constituem uma estrutura importante dos cuidados de saúde dispensados em
meio hospitalar. São responsáveis por um conjunto de atividades farmacêuticas, exercidas
em organismos hospitalares ou serviços a eles ligados.
A atuação do farmacêutico hospitalar é muito abrangente. Ele é o profissional
responsável por todo o fluxo do medicamento dentro da unidade de saúde, assegurando a
eficácia, a qualidade e a segurança dos medicamentos, bem como a redução de custos. É
parte integrante nas equipas de cuidados de saúde e promove ações de investigação
científica e de ensino.
O estágio em Farmácia Hospitalar, realizado nos Serviços Farmacêuticos do Centro
Hospitalar e Universitário de Coimbra, nos meses de maio e junho, permitiu conhecer a
importância do trabalho desenvolvido pelos farmacêuticos hospitalares.
Este relatório pretende mostrar a estrutura e metodologia dos Serviços
Farmacêuticos Hospitalares do CHUC, assim como as competências técnico-científicas do
farmacêutico, integrado principalmente nos dois setores que tive a oportunidade de
contactar: a farmacotecnia e os circuitos de distribuição.
Esta experiência permite concluir que o farmacêutico hospitalar, enquanto
especialista e gestor da terapêutica medicamentosa, destaca-se como uma mais-valia em
todo o circuito do medicamento providenciado pelas instituições hospitalares, cumprindo
cada vez mais com as exigências que lhe são propostas.

IV
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

ÍNDICE
ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS……………………………………………………………..…VII
LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................................... VIII
INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 1
1. Organização E Gestão Do Centro Hospitalar E Universitário De Coimbra, E.P.E. E Dos
Serviços Farmacêuticos.......................................................................................................... 2
1.1. CHUC .............................................................................................................................. 2
1.2. Serviços Farmacêuticos ................................................................................................... 2
1.2.1. Estrutura física dos SF .............................................................................................. 3
1.2.2. Recursos Humanos ................................................................................................... 3
1.2.3. Sistema informático ................................................................................................... 3
2. Setor De Farmacotecnia ..................................................................................................... 4
2.1. Unidade de preparação de medicamentos não estéreis................................................... 4
2.2. Unidade de misturas intravenosas (UMIV) ....................................................................... 5
2.2.1.Nutrição parentérica ................................................................................................... 6
2.2.2. Registro de atividade: UMIV ...................................................................................... 6
2.3. Unidade de preparação de citotóxicos ............................................................................. 7
2.3.1. Quimioterapia ............................................................................................................ 7
2.3.2. Ambulatório ............................................................................................................... 8
2.4. Radiofarmácia .................................................................................................................. 8
2.5. Hospital Pediátrico ......................................................................................................... 10
2.5.1. Manipulados em Pediatria – não estéreis ................................................................ 11
2.5.2. Quimioterapia .......................................................................................................... 11
2.5.3. Nutrição parentérica ................................................................................................ 11
2.6. Registro de atividade: área de Farmacotecnia ............................................................... 11
3. Setor De Distribuição - Hospital Pediátrico ....................................................................... 12
3.1. Doentes em regime de Internamento ............................................................................. 12
3.1.1. Distribuição Tradicional ........................................................................................... 13
3.1.2. Distribuição por níveis ............................................................................................. 13
3.1.3. Distribuição por dose unitária .................................................................................. 14
3.2. Medicamentos sujeitos a controlo especial .................................................................... 15
3.2.1. Medicamentos Estupefacientes e Psicotrópicos (MEP) ........................................... 15
3.2.2. Hemoderivados ....................................................................................................... 16
3.2.3. Gases medicinais .................................................................................................... 17
3.3. Doentes em regime de Ambulatório ............................................................................... 18

V
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

3.4. Registro de atividade: área da Distribuição .................................................................... 18


4. Outras atividades desenvolvidas....................................................................................... 20
CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 21
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 22
ANEXOS............................................................................................................................... 24

VI
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS

Figura 1 – CFALV para a preparação de radiofármacos ...................................................... 10

Figura 2 – Pyxis®................................................................................................................. 14

Figura 3 – “Megadosis”: Armazém de reposição dos Pyxis® ............................................... 14

Figura 4 – Módulo de cassetes ............................................................................................ 14

Tabela 1 – Registo de alguns medicamentos preparados aquando do meu estágio no setor


de farmacotecnia na UMIV...................................................................................................... 6

Tabela 2 – Registo de alguns radiofármacos preparados aquando do meu estágio no setor


de farmacotecnia no subsetor Radiofarmácia. ...................................................................... 10

Tabela 3 – Registo de alguns manipulados preparados aquando do meu estágio no setor de


farmacotecnia do HP. ........................................................................................................... 12

Tabela 4 – Registo de alguns medicamentos dispensados aquando do meu estágio no setor


de distribuição do HP. ........................................................................................................... 19

VII
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

LISTA DE ABREVIATURAS

AO Assistentes Operacionais
AT Assistentes Técnicos
CFLH Câmara de Fluxo de ar Laminar Horizontal
CFALV Câmara de Fluxo de ar Laminar Vertical
CHUC Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
DL Decreto-lei
FH Farmacêutico Hospitalar
FU Fluorouracilo
FF Forma Farmacêutica
GHAF Gestão Hospitalar de Armazém e Farmácia
HUC Hospitais da Universidade de Coimbra
HD Hospital de Dia
HP Hospital Pediátrico
HSC Hospital Sobral Cid
INFARMED Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P.
MM Medicamento Manipulado
MEP Medicamentos Estupefacientes e Psicotrópicos
NPT Nutrição Parentérica
SC Serviço Clínico
SF Serviços Farmacêuticos
SGICM Sistema de Gestão Integrado do Circuito do Medicamento
SI Sistema Informático
TF Técnico de Farmácia
UMIV Unidade de Misturas Intravenosas
UPC Unidade de Preparação de Citotóxicos

VIII
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

INTRODUÇÃO

A elaboração deste relatório surge no âmbito da unidade curricular de Estágio,


realizado em Farmácia Hospitalar (FH), integrado no plano de estudos do curso de Mestrado
Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
que foi realizado nos Serviços Farmacêuticos (SF) do CHUC e decorreu nos meses de maio
e junho de 2015.
O Hospital é um estabelecimento de saúde, de diferentes níveis de diferenciação,
constituído por meios tecnológicos e humanos, cujo objetivo principal é a prestação de
cuidados de saúde durante 24 horas por dia1.
Os Serviços Farmacêuticos Hospitalares são o serviço que, nos hospitais, assegura a
terapêutica medicamentosa aos doentes, garantindo a qualidade, eficácia e segurança dos
medicamentos, integrando as equipas de cuidados de saúde e promovendo ações de
investigação científica e de ensino1.
Relativamente ao desenvolvimento deste relatório, está dividido em três capítulos. O
primeiro capítulo faz referência ao Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e à
organização dos Serviços Farmacêuticos; o segundo e terceiro capítulo descrevem as
atividades realizadas nos setores que tive oportunidade de acompanhar, respetivamente o
setor de Farmacotecnia e Distribuição.

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Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

1. ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO CENTRO HOSPITALAR E UNIVERSITÁRIO DE


COIMBRA, E.P.E. E DOS SERVIÇOS FARMACÊUTICOS

1.1. Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E.


O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. (CHUC), criado a partir do
Decreto-Lei nº30/2011, de 2 de março, resulta da fusão dos Hospitais da Universidade de
Coimbra (HUC), do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra (CHPC) e do Centro
Hospitalar de Coimbra (CHC), sendo que o centro hospitalar criado, sucede às unidades de
saúde que lhe deram origem, em todos os direitos e obrigações2.
O CHUC dá fundamentalmente cobertura à população da região Centro do país,
constituindo também uma referência nacional e internacional. O CHUC tem como missão a
prestação de cuidados de saúde de elevada qualidade e diferenciação, num contexto de
formação, ensino, investigação, conhecimento científico e inovação 2.
De acordo com o Artigo 91.º do Regulamento Interno do CHUC, a atividade dos serviços
de ação médica, de apoio à prestação de cuidados e de apoio à gestão e logística, poderá
ser desenvolvida em instalações físicas distintas, designadas por polos ou extensões
hospitalares. Neste âmbito o CHUC é composto pelos seguintes polos: Pólo Hospitais da
Universidade de Coimbra (HUC), Pólo Hospital Geral, Pólo Hospital Pediátrico (HP), Pólo
Maternidade Bissaya Barreto, Pólo Maternidade Daniel de Matos e Pólo Hospital Sobral Cid
(HSC) 3. Uma vez que a reorganização do CHUC é relativamente recente, os hospitais ainda
estão a atravessar um período de mudanças e reorganizações de serviços.

1.2. Serviços Farmacêuticos


Os Serviços Farmacêuticos (SF) são a entidade responsável pelo controlo do circuito do
medicamento constituindo uma estrutura importante dos cuidados de saúde prestados em
meio hospitalar. As suas atividades estão centradas nas necessidades de todos os doentes
do CHUC, contribuindo, para a utilização segura, eficaz, eficiente e tendo em consideração a
relação qualidade/preço de medicamentos e outros produtos farmacêuticos.
Assim, “são funções dos SF: 3
 Organizar os processos de trabalho e gerir os recursos humanos de forma a prosseguir
os objetivos definidos na prestação de cuidados farmacêuticos;
 Gerir o medicamento, nas vertentes da utilização clínica e da gestão económica, de
forma a garantir a segurança, eficácia e eficiência da sua utilização;

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Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

 Garantir o cumprimento do plano terapêutico, no que respeita à necessidade em


medicamentos, a todos os doentes do hospital, em regime de internamento e de
ambulatório, neste caso, sempre que a legislação o determinar;
 Promover os programas de formação contínua da sua equipa de trabalho, assim como
os projetos e programas da área da qualidade, orientados para a certificação dos
diferentes sectores dos SF;
 Colaborar nas atividades de investigação e ensino, no âmbito da sua área específica.”

1.2.1. Estrutura física dos SF


Os SF sofreram também reestruturações, sendo o objetivo principal a centralização das
atividades, desde o aprovisionamento, à distribuição e farmacotecnia. No entanto, alguns
hospitais ainda mantêm estes serviços, mais ou menos desenvolvidos. Os SF do HUC
funcionam 24 horas por dia, todos os dias do ano e são o polo principal. O HP possui SF
desenvolvidos, no entanto o aprovisionamento está dependente do polo central.

1.2.2. Recursos Humanos


Os SF dos Hospitais da Universidade de Coimbra são compostos por uma vasta equipa,
composta por Farmacêuticos (FH), Técnicos de Farmácia (TF), Assistentes Técnicos (AT) e
Assistentes Operacionais (AO).
Aos Farmacêuticos compete, entre outros, a validação dos pedidos realizados pelos
diversos serviços do hospital; a realização do perfil farmacoterapêutico de cada doente de
acordo com a prescrição médica, a dispensa de medicamentos em ambulatório; dispensa de
estupefacientes e psicotrópicos, realização de encomendas, supervisionar a preparação de
medicamentos e elaborar as fichas de preparação.
Aos TF compete a parte do circuito do medicamento: receção, armazenamento,
distribuição e preparação de formulações oficinais e magistrais, assim como a preparação de
antineoplásicos e de nutrição parentérica.
Os AT compete a atividade relacionada com toda a documentação e os AO são
responsáveis pela entrega e recolha das cassetes da dose unitária e dos carros de reposição
por níveis e da distribuição tradicional e auxílio aos FH e TF nas diversas atividades.

1.2.3. Sistema informático


O CHUC possui vários sistemas informáticos (SI) em linha, que permitem a gestão dos
vários hospitais. Os SI que utilizei são o SGICM (Sistema de Gestão Integrado do Circuito do
Medicamento) e o GHAF (Gestão Hospitalar de Armazém e Farmácia), que permitem, com o

3
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

nome indica, a gestão de todo o circuito do medicamento e também da parte clínica


(prescrições, etc).

2. SETOR DE FARMACOTECNIA
Farmacotecnia é uma área que engloba todos os métodos inerentes à manipulação de
substâncias farmacológicas com vista a melhorar a dispensa de medicamentos, como
adaptação da formulação e da dosagem ao doente. Estas preparações são reguladas pelos
Decretos-Lei nº 95/2004, de 22 de Abril que “Regula a prescrição e a preparação de
medicamentos manipulados” e pela Portaria n.º 594/2004 de 2 de Junho, que define as
“Boas Práticas a Observar na Preparação de Medicamentos Manipulados em Farmácia de
Oficina e Hospitalar”4,5.
Nos SF do CHUC a farmacotecnia abrange diversas áreas, colmatando diversas
limitações dos produtos colocados no mercado pela indústria farmacêutica. Dá resposta a
estas necessidades através da preparação de medicamentos específicos e adaptados a
cada doente, no que diz respeito à sua patologia, idade e caraterísticas fisiológicas.
A preparação de medicamentos manipulados (MM) nos SF destina-se essencialmente a:
 Doentes específicos (fórmulas pediátricas, por ex.);
 Preparações estéreis;
 Preparação de medicamentos Citostáticos;
 Nutrição Parentérica e Misturas Intravenosas.
O meu estágio neste sector realizou-se durante o mês de maio e foi dividido nas quatro
semanas pelos diferentes subsetores desta unidade. Sendo que na primeira semana
participei no setor de farmacotecnia do HP, na segunda semana estive na UMIV/preparações
não estéreis, na terceira semana na UPC e na última semana na unidade de radiofarmácia.

2.1. Unidade de preparação de medicamentos não estéreis


Localizado no edifício HUC, a unidade é constituída por duas áreas separadas de
manipulação, uma para preparações de “uso interno” e outra para preparações de “uso
externo”.
A preparação de manipulados ocorre na sequência de uma prescrição médica ou na
sequência de um pedido por um serviço clínico, conseguindo personalizar a terapêutica de
doentes específicos ou suprimir algumas falhas a nível industrial ou ainda reduzir custos. A
prescrição/pedido é recebida e validada por um Farmacêutico. De seguida é emitida a guia
de produção e o respetivo rótulo de acordo com a ficha técnica do manipulado em questão.

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Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

Para cada medicamento manipulado é elaborada uma guia de produção onde é registada
toda a informação acerca do medicamento manipulado, com a designação atribuída à
preparação a efetuar e respetiva concentração, a data de preparação, composição
qualitativa e quantitativa, dosagem, forma farmacêutica, número de unidades a preparar,
técnica de preparação, material de embalagem e exemplar do rótulo de identificação, bem
como informações que garantem a rastreabilidade do produto final e a sua qualidade, tal
como lote, origem e prazo de validade das matérias-primas e prazo de utilização do MM,
condições de conservação, número de lote atribuído e identificação do operador e
supervisor.
O rótulo deve conter o número de lote atribuído, composição qualitativa e quantitativa,
forma farmacêutica e via de administração, data de preparação, prazo de validade e
condições de conservação.
Nas áreas de manipulação todos os profissionais devem usar túnica e calça fornecidas
pelo hospital. Aquando da manipulação estes devem utilizar equipamento de proteção
individual (touca, máscara, luvas e quando necessário bata), lavar as mãos e trocar de luvas
entre cada preparação.
Durante o estágio nesta unidade elaborei várias guias de produção e rótulos.

2.2. Unidade de misturas intravenosas (UMIV)


A UMIV, localizada nos SF do HUC possui duas salas de manipulação e uma sala de
individualização/validação. Aquando da entrada nas salas de manipulação os profissionais
devem equipar-se com equipamento de proteção individual adequado, como, protetores de
sapatos, touca, máscara, bata descartável e luvas. Uma das salas está equipada com uma
Câmara de Fluxo de Ar Laminar Horizontal (CFALH), sujeita a pressão do ar positiva, a
segunda sala com uma Câmara de Fluxo de Ar Laminar Vertical (CFALV), sujeita a pressão
negativa. Estão separadas por uma antecâmara contígua que mantém-se a pressão
intermédia, em relação à das salas.
Na sala em que se encontra a CFALH são realizadas as preparações de colírios,
nutrições parentéricas e outras misturas intravenosas (IV), como antifúngicos, Infliximab,
entre outros. Na sala onde se encontra a CFALV realiza-se a preparação de medicamentos
citotóxicos (sobretudo durante o fim de semana e feriados) e outras preparações que
envolvam maior risco para o operador, como a preparação de soro autólogo ou de
medicamentos teratogénicos (ganciclovir).

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Na sala de validação, todas as prescrições são validadas por um Farmacêutico, de


acordo com a história farmacoterapêutica do doente e as suas características fisiológicas.

2.2.1. Nutrição parentérica


A Nutrição parentérica (NPT) consiste no fornecimento de nutrientes (lípidos, proteínas,
glúcidos, oligoelementos e vitaminas) através da via endovenosa, sempre que a nutrição
entérica não é possível, ou em situações em que esta não é suficiente6.
A definição das necessidades energéticas diárias totais depende do estado nutricional do
doente. Esta avaliação é feita com base no peso, na altura, em índices fisiológicos e
bioquímicos. As formulações de NP podem ser adquiridas comercialmente, sob a forma de
bolsas para aditivação, ou serem preparadas de raiz. Os serviços que mais requisitavam
estas preparações são Serviço de Medicina Intensiva (SMI) e a Unidade de Cuidados
Intensivos ao Recém-nascido (UCIRN), para além de situações em regime de ambulatório
(Síndrome do Intestino Curto).
A NP pode ser administrada tanto por cateter central como periférico, e por essa razão
possui características especiais, como esterilidade, ausência de pirogénios e osmolaridade e
densidade adequadas a cada via de administração6. Cada bolsa terá um volume diferente,
de acordo com as necessidades do doente, o que determina o seu aporte calórico total.
Diariamente é feita uma colheita de uma amostra de uma bolsa para avaliação
microbiológica, de forma a avaliar a esterilidade da manipulação.

2.2.2. Registro de atividade: UMIV


Na Tabela 1 encontram-se registados exemplos de medicamentos preparados nesta
unidade.

Tabela 1 – Registo de alguns medicamentos preparados aquando do meu estágio no setor de


farmacotecnia na UMIV.
Nome da Número de Lote, Validade e Nº Unidades
Indicação
Preparação Componentes Conservação Preparadas
Tratamento artrite
reumatoide, doença
Infliximab (IV) 2 Val: 24h a 2- 8ºC 1 unidade
de Crohn, colite
ulcerosa, etc.
Tratamento L: 93/15
Soro Autólogo
alterações severas 2 Val: 6 meses a - 20ºC 30 unidades
(Colírio)
da superfície ocular 24 horas a 2 - 8ºC
Val: 24 horas à
Nutrição PT UCIRN 14 temperatura ambiente 5 seringas
Val: 24h à
Nutrição PT SMI 7 temperatura ambiente 1 bolsa

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2.3. Unidade de preparação de citotóxicos


A Unidade de Preparação de Citotóxicos (UPC) está situada no edifício de São Jerónimo,
pertencente ao Polo HUC onde se localizam os hospitais de dia de oncologia. Aqui é
produzida a quimioterapia de segunda a sexta-feira.

2.3.1. Quimioterapia
Os protocolos terapêuticos de quimioterapia são administrados normalmente em
ciclos de tratamento, com intervalos regulares, permitindo que os tecidos mais sensíveis,
como a medula óssea, possam recuperar dos efeitos tóxicos destes compostos, que
exploram a associação de fármacos, com o intuito de combater a heterogeneidade e a
resistência das células neoplásicas7. Para muitos tipos de tumores existem já combinações
estabelecidas e adequadamente validadas que são normalmente conhecidas por siglas
constituídas pela primeira letra do nome comercial ou do nome genérico. Uma vez que estes
fármacos interferem diretamente com a qualidade de vida do doente, os protocolos são
também constituídos por pré e pós-medicação de forma a combater os efeitos adversos,
como por exemplo, os fármacos antieméticos.
Todas as preparações são identificadas por um rótulo que para além dos dados do
doente, fornece informação quanto ao citotóxico e reconstituinte/solução de diluição,
estabilidade, temperatura de armazenamento e via de administração.
A UPC é constituída por quatro salas: sala de validação da prescrição médica;
antecâmara onde é armazenado todo o material a utilizar; sala de individualização, onde são
armazenados os medicamentos, agulhas e seringas e onde se realiza a individualização dos
fármacos a utilizar; sala de manipulação, constituída por duas CFALV de classe II, tipo B2.
Estas salas possuem uma unidade que assegura que o ar introduzido nas salas seja
condicionado e que exista uma pressão positiva na antecâmara e uma pressão negativa na
sala de manipulação.
Após a prescrição médica e confirmação que o doente poderá realizar o ciclo
quimioterápico, o farmacêutico realiza a validação do ciclo de quimioterapia com base no
historial farmacoterapêutico do doente. São impressos os mapas terapêuticos e respetivos
rótulos (de forma a identificar os fármacos\protocolos a preparar). Estes contêm toda a
informação do doente (nome, número do processo, idade, parâmetros fisiológicos (altura,
peso, superfície corporal) e diagnóstico do utente, nome do médico prescritor, serviço clínico,
entre outros), assim como a composição qualitativa e quantitativa da preparação (informação

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do ciclo a realizar, dia e identificação do protocolo, nome do medicamento, dose e volume


final da preparação).
Na sala de individualização é realizada a individualização do material e fármacos a
utilizar por protocolo e por doente, que é confirmada por um farmacêutico, procedendo à
entrada do material pelo transfere para a sala de manipulação. Na sala de individualização é
registado todo o material que dá entrada para a sala de manipulação, incluindo quantidade
utilizada, lote e prazo de validade, garantindo, além de um controlo do material utilizado, que
apenas entrará o material necessário.
No final da preparação existe nova validação por parte do farmacêutico antes do
transporte e administração ao doente.
Alguns dos protocolos realizados com muita frequência são:
 FOLFOX: 5-fluorouracilo (5-FU) bólus + infusor, folinato de cálcio e oxaliplatina -
Cancro colo-rectal.
 FOLFIRI: 5-FU - bólus + infusor, folinato de cálcio e irinotecano - Cancro colo-rectal.
 R-CHOP: Rituximab, ciclofosfamida, vincristina e doxorrubicina – Linfoma não
Hodgkin.
 FEC: 5-FU, epirrubicina e ciclofosfamida – cancro da mama.

2.3.2. Ambulatório
Esta unidade possui ainda uma farmácia de ambulatório, que cede quimioterapia ou
medicamentos adjuvantes para complementar a quimioterapia realizada no HD ou que é de
uso oral, passível de ser feita em casa.
As prescrições são feitas pelo SGICM, validadas pelo farmacêutico que tem em conta a
data do último levantamento e a data da próxima consulta, de forma a dar apenas a
medicação necessária, até ao limite de 30 dias, podendo fornecer até ao máximo de 45, em
casos excecionais, segundo as normas do CHUC.
Aqui são dados conselhos de conservação dos medicamentos, posologia, o que fazer se
tiver efeitos adversos e reforçar a importância do uso responsável do medicamento.

2.4. Radiofarmácia
A Radiofarmácia é uma vertente da Farmácia Hospitalar que é responsável pela gestão,
manipulação, preparação, dispensa e controlo dos produtos radiofarmacêuticos. Está
integrada no serviço de Medicina Nuclear, no HUC, e a manipulação é feita por um FH e um
físico.

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Um Radiofármaco é uma preparação radiofarmacêutica que contém um ou mais


radionuclídeos e uma substância química, sendo que existem radiofármacos para
diagnóstico e radiofármacos para terapêutica. A substância química é responsável pelas
propriedades farmacocinéticas, incluindo a distribuição a um órgão ou tecido específico8.
O radionuclídeo emite uma radiação que ao ser captada por um detetor exterior ao
organismo, torna possível a visualização de processos funcionais ou moleculares, permitindo
o diagnóstico de uma variedade de patologias.
Estes medicamentos são administrados, sobretudo por via intravenosa, em pequenas
quantidades.
Os radiofármacos podem existir sob diversos tipos de apresentação:
 radiofármacos prontos a usar - “kits quentes”
 radiofármacos obtidos a partir de produtos semi-preparados - “kits frios”
Os radiofármacos preparados na radiofarmácia, são preparações extemporâneas, em
que a radiomarcação corresponde à incorporação do radionuclídeo na substância química
através reações de oxidação/redução e complexação8.
O Tecnécio (99mTc) é o radionúcleo mais utilizado em diagnóstico na Medicina
Nuclear, principalmente devido ao seu período de semidesintegração físico de 6,02 h e ao
facto de decair por emissão de radiação gama com uma energia ideal que condicionam
favoravelmente a penetração tecidular e a boa aquisição de imagens cintigráficas, resultando
numa baixa dose de radiação absorvida pelo doente8. Algumas preparações feitas utilizando
este radionúcleo estão descritas na Tabela 2.
Existem ainda os radiofármacos com iodo, o iodeto (123I) e (131I) de sódio, usados
para cintigrafia da tiroide e em terapêutica (131I), sendo este administrado por via oral,
havendo salas próprias isoladas para o doente ficar instalado na duração do tratamento,
conforme o decaimento radioativo do 131I de forma a garantir a segurança da população e
ambiente.
O radiofármaco mais utilizado nas imagens de tomografia de emissão de positrões
(PET) é o Flúor (18F)-Flurodesoxiglicose que contém o radionuclídeo Flúor (18F). Trata-se
de um análogo da glicose, utilizado sobretudo em oncologia. Este caracteriza-se por um
muito curto período de semivida física, pelo que a sua síntese é feita um local próximo do
local onde vai ser feito o exame.
Em ambos os casos a atividade pretendida na solução final de um radiofármaco
depende do exame a ser feito e do número de doentes programados.

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Na manipulação destes fármacos é necessário ter


em conta três regras: manipular no menor tempo
possível, aumentar a distância ao operador, utilizando
pinças e outros instrumentos e evitar ao máximo o
contato, utilizando luvas, CFALV revestida com chumbo
(Figura 1), proteções com chumbo para as seringas e
Figura 1 – CFALV para a preparação de
ampolas. radiofármacos
Nestes medicamentos torna-se muito importante o controlo de qualidade, de forma
garantir bons resultados na obtenção de imagens. Assim, o controlo de qualidade dos
geradores de 99mTc é feito cada vez que se utiliza um gerador novo e semanalmente.
Também se faz o controlo das preparações realizadas, através de cromatografia em camada
fina, avaliação da atividade e pH.

Tabela 2 – Registo de alguns radiofármacos preparados aquando do meu estágio no setor de


farmacotecnia no subsetor Radiofarmácia.
Lote, Validade
Nome da Número de Técnica de Nº Unidades
Indicação e
Preparação Componentes controlo Preparadas
Conservação
Detetar Pureza
99mTcNanocoll
Administrar de 1 unidade
gânglio 2 radioquímica,
imediato 47,9 mCi/3 mL
sentinela ITLC, pH
Funcioname Pureza
99mTcMyoview
Administrar de 1 unidade
nto do 2 radioquímica,
imediato 532 mCi/10 mL
coração ITLC, pH
Pureza
99mTcHMDP
Visualização Administrar de 1 unidade
2 radioquímica,
do esqueleto imediato 271 mCi/7 mL
ITLC, pH
Pureza
99mTcMAG3
Anatomia e Administrar de 1 unidade
2 radioquímica,
função renal imediato 65,3 mCi/6 mL
ITLC, pH
Legenda: ITLC – Instant Thin Layer Chromatography; mCi – miliCuries.

2.5. Hospital Pediátrico


O HP tem um sector de farmacotecnia, autossustentável para o hospital, com algumas
exceções. Aqui produzem-se formas farmacêuticas (FF) não estéreis, de uso interno ou
externo, quimioterapia e NPT.
Está dividido em três secções: uma sala corresponde às manipulações de formulações
não estéreis, outra de preparação de citotóxicos, com a respetiva antecâmara e sala de

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individualização; ainda outra sala corresponde à preparação de NPT, com a respetiva


antecâmara e sala de individualização.

2.5.1. Manipulados em Pediatria – não estéreis


Neste hospital torna-se muito relevante a existência de um sector de farmacotecnia, pois
são vários os pedidos de MM aos SF. Isto é fácil de perceber uma vez que falamos de um
hospital que trata exclusivamente de crianças (0 aos 18 anos) e muitos medicamentos não
existem nas FF e doses adequadas para esta faixa etária, ou são utilizados medicamentos
diferentes dos aprovados para os adultos.
Os pedidos chegam através do setor de Distribuição, e é emitido um guia de produção,
rótulo e identificação do doente quando são medicamentos para um doente específico.

2.5.2. Quimioterapia
O HP tem uma sala de preparação de citostáticos, onde são produzidos medicamentos
para o hospital de dia de oncologia. As prescrições são enviadas em papel para os SF,
seguidas de uma validação pela farmacêutica e eventual contacto com os médicos, em caso
alterações de protocolos ou dosagens e confirmação da manutenção de algumas
prescrições programadas. O farmacêutico avalia qual o medicamento que vai utilizar para os
protocolos e como vai ser reconstituído, os volumes, etc. De seguida a farmacêutica emite os
rótulos, que têm a indicação dos medicamentos, dosagens e volumes.

2.5.3. Nutrição parentérica


Ainda neste setor são produzidas várias formas de nutrição parentérica, adaptadas a
cada doente. As prescrições são manuais, segue-se uma verificação pela FH dos vários
componentes das bolsas de nutrição prescritos e o volume prescrito, tendo em conta a
idade, o peso da criança e condição fisiológica. É emitido um guia de produção, por ordem
dos nutrientes a adicionar e o respetivo volume.

2.6. Registro de atividade: área de Farmacotecnia

Na Tabela 3 é possível ver algumas das preparações não estéreis em que participei ou
observei efetuar durante o meu estágio neste setor.

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Tabela 3 – Registo de alguns manipulados preparados aquando do meu estágio no setor de


farmacotecnia do HP.
Nome da Número de Lote, Validade e Nº Unidades
Indicação
Preparação Componentes Conservação Preparadas
Nistatina Prevenção e L: 562
composta tratamento de 3 Val: 15 dias 4 unidades
Conservar no frigorífico
Suspensão oral mucosite oral (2 a 8ºC)
Citrato de cafeína Tratamento da L: 606,
20 mg/mL apneia da 3 Val: 30 dias 1 unidade
Conservar no frigorífico
Solução oral prematuridade (2 a 8ºC)
Etambutol L: 594
Tratamento da Val: 30 dias
100mg/mL 2 1 unidade
tuberculose Conservar à
Suspensão oral temperatura ambiente
Prevenção e L: 603
Aminofilina Val: 30 dias
tratamento da 2 15 unidades
60 mg papéis Conservar em local
asma, etc. seco e fresco

3. SETOR DE DISTRIBUIÇÃO - HOSPITAL PEDIÁTRICO


A Distribuição de Medicamentos é a face mais visível da atividade farmacêutica em
ambiente hospitalar. Sendo um processo fundamental no circuito do medicamento que tem
como objetivo principal a disponibilização ao doente da terapêutica correta, na quantidade e
dosagem corretas e de acordo com a prescrição médica proposta permitindo alcançar uma
utilização segura, eficaz e racional do medicamento e ainda minimizar os custos da
medicação1.
O meu estágio no setor de distribuição realizou-se no Hospital Pediátrico de Coimbra,
durante o mês de junho. Aqui coexistem diversas formas de distribuição de medicamentos,
realizada em colaboração com os vários serviços do hospital.
Este espaço pode ser dividido em duas áreas, uma área onde se preparam os
diversos tipos de distribuição: distribuição por dose unitária, distribuição por níveis e
distribuição tradicional e área de Ambulatório que corresponde a um gabinete na entrada dos
SF do HP.

3.1. Doentes em regime de Internamento


A escolha de um ou mais sistemas de distribuição prende-se com as necessidades
de cada serviço, tentando sempre a melhoria da eficácia e segurança do sistema de

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distribuição. Assim, passo a descrever os diferentes tipos de distribuição que é realizada no


HP. De notar que o aprovisionamento é feito a partir do Polo HUC, sendo que as
encomendas são feitas semanalmente, à segunda e terça-feira, de forma a ser entregue na
quarta, para além de pedidos urgentes que possam surgir.

3.1.1. Distribuição Tradicional


A distribuição tradicional refere-se ao sistema de distribuição de medicamentos pelos SF,
mediante requisição informática efetuada pelo enfermeiro chefe, a fim de repor o stock
estabelecido. No HP este tipo de distribuição realiza-se apenas no serviço de Bloco
operatório, onde ainda não foi instalado o sistema por Pyxis®.
Também na distribuição tradicional estão incluídas requisições extraordinárias e/ou
urgentes realizadas pelos serviços, sempre que estes assim o necessitem (para
medicamentos que não constem do stock daquele serviço ou porque o stock de determinado
medicamento terminou), como acontece nas consultas externas.
Este tipo de distribuição tem muitas desvantagens, como o menor controlo da prescrição
individual, acumulação desnecessária de medicamentos nas enfermarias, um menor controlo
de prazos de validades e consequentemente maiores custos associados.

3.1.2. Distribuição por níveis


A distribuição por níveis consiste na criação de um stock nivelado, de acordo com o
consumo e necessidades de cada serviço, a acordar entre os SF e o serviço em questão.
Nos SF os medicamentos são repostos de acordo com o respetivo nível e verificada a
integridade do medicamento e o seu prazo de validade.
É feita distribuição semiautomática através do sistema Pyxis® (Figura 2). No HP este
equipamento está presente em vários serviços, na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) e
Serviço de Urgência. O seu mecanismo de funcionamento, interligado por uma unidade
básica de controlo (consola), possibilita a consulta do stock, dos prazos de validade dos
fármacos armazenados, bem como realizar algumas alterações a nível informático, tudo a
partir do sistema informático GHAF que está conectado.
Para a reposição do stock é gerado um perfil de stock pré-definido constante no GHAF,
onde posteriormente se realizam as alterações necessárias de acordo com o stock ainda
existente em cada cassete. Este sistema está conectado a um armazém que efetua uma
saída de medicamentos semiautomática (Figura 3).

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Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

Figura 2 - Pyxis® Figura 3 – “Megadosis”: Armazém de reposição dos


Pyxis®
Este controlo de stocks e prazos de validade permite também aos SF avaliar o
enquadramento do stock pré-definido com as necessidades do serviço, ajudando a gestão
racional dos produtos.
Diariamente é efetuada uma análise ao stock, sendo reposto o stock dos medicamentos em
falta. Às segundas, quartas e sextas, o stock é reposto ao stock
máximo.
Outros serviços cuja distribuição é feita por níveis, mas não têm
os Pyxis® são os serviços de Medicina, Oncologia, Cirurgia e
Ortopedia. Aqui são usados sistemas com cassetes (Figura 4).
Fora do horário estabelecido com os serviços, podem ser
fornecidos os pedidos de medicação urgente que são requisitados
via informática e entregues ao serviço que o requisitou.
Figura 4 – Módulo de
cassetes

3.1.3. Distribuição por dose unitária


A distribuição por dose unitária é de grande importância em FH, permitindo: aumentar
a segurança no circuito do medicamento, conhecer melhor o perfil farmacoterapêutico dos
doentes de forma a diminuir os erros e os riscos de interações, racionalizar a terapêutica,
reduzir o tempo e trabalho dedicado pelo pessoal de enfermagem aos aspetos de gestão
relacionados com os medicamentos e maior controlo de custos1. Este tipo de distribuição
permite a dispensa da terapêutica por 24 horas, em gaveta individualizada, por doente/cama.
A prescrição por dose unitária que tive a oportunidade de observar, era efetuada a
partir do Hospital Pediátrico para o Hospital Sobral Cid, em que as prescrições feitas pelos
médicos eram enviadas por correio eletrónico, seguindo-se uma validação pela FH

14
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

responsável e dispensada pelos TF e AO. Durante a validação é necessário ter em atenção


alguns erros frequentes, como, duplicações de doses, frequências ou vias de administração
incorretas ou interações medicamentosas.
A medicação é preparada em cassetes, por serviço, identificadas com o nome do
mesmo, nome e número do processo do doente e número de cama.
Durante o dia, os médicos podem fazer alterações na prescrição. Estas alterações
vão sendo atualizadas/validadas por um farmacêutico, e a informação transmitida aos
técnicos que preparam a medicação. Se os módulos de dose unitária ainda se encontrarem
na farmácia são realizadas as alterações, caso os módulos já tenham sido enviados para o
serviço, a distribuição é garantida por um stock pré-estabelecido nos diversos pavilhões do
hospital, que é resposto mediante o registo por um enfermeiro da movimentação desse
stock.
O transporte até ao respetivo serviço do HSC é realizado pelos AO dos SF, de
segunda a sexta-feira, às 15h, salvo pedidos urgentes.

3.2. Medicamentos sujeitos a controlo especial


Devido às suas características, alguns medicamentos estão sujeitos a uma legislação
especial, como é o caso dos citotóxicos e imunossupresores, dos hemoderivados e dos
estupefacientes e psicotrópicos. Esta exigência prende-se com o facto de estes
medicamentos estarem associados a efeitos adversos marcados e poderem ser usados para
fins não terapêuticos. Estes medicamentos assim como os gases medicinais são distribuídos
por circuitos especiais e regulados por legislação própria.

3.2.1. Medicamentos Estupefacientes e Psicotrópicos (MEP)


Atuando os MEP diretamente a nível do Sistema Nervoso Central, estes fármacos
apresentam alguns riscos, podendo induzir dependência física e psíquica. Devido à sua
estreita margem terapêutica, o risco de sobredosagem também é elevado. Assim os MEP
são medicamentos sujeitos a legislação especial, sendo regidos pelo DL nº 15/93 de 22 de
janeiro, que estabelece o “Regime jurídico do tráfico e consumo de estupefacientes e
psicotrópicos”, pela Lei nº 45/96 de 22 de janeiro, pelo Decreto Regulamentar nº 61/94 de 3
de setembro e, por fim, pela Portaria nº 981/98 de 8 de junho, sobre “Execução das medidas
de controlo de estupefacientes e psicotrópicos”9-12.
Para prevenir o seu uso incorreto, foram instituídas normas que visam um controlo
rigoroso, desde a encomenda, ao transporte, dispensa e administração. Todos os

15
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

movimentos efetuados nos Serviços Clínicos (SC) são efetuados num livro de requisições,
correspondente ao Anexo X da Portaria nº 981/98, de 8 de junho.
As auditorias internas que são feitas ao stock assumem particular relevância neste caso.
A contagem do stock dos MEP da farmácia é feita periodicamente por um FH. Cada entrada
ou saída destes medicamentos é registada em mapas de controlo que são arquivados,
garantindo que todos os dados ficam guardados, caso haja erros no sistema informático.
Para além de os MEP serem armazenados num cofre na farmácia, em cada serviço
existe também um cofre cujo stock é previamente definido entre SF e equipa de
enfermagem, reposto mediante requisição. Este fornecimento é efetuado mediante a
apresentação do respetivo impresso, devidamente preenchido e assinado pelo diretor do
serviço ou substituto legal. Cada requisição apenas pode conter uma única substância ativa,
sem rasuras, na qual o enfermeiro deve colocar a identificação dos doentes a quem foram
administrados os referidos medicamentos (nome e número do processo), o medicamento, a
dosagem, o lote, a data da administração e o enfermeiro responsável pela administração. No
momento da reposição o FH atesta a conformidade dos registos efetuados e assina a
requisição, sendo assim reposta a quantidade que foi utilizada.
O anexo X é constituído por original e duplicado. O original é arquivado nos SF e o
duplicado é arquivado no SC. Os consumos dos MEP são imputados ao serviço,
salvaguardando o registo exato do que está presente nos diferentes serviços. No original o
FH regista, posteriormente, um número de saída interno após imputação dos medicamentos.
Apesar de morosos estes procedimentos garantem uma maior segurança e controlo na
promoção do bom uso do medicamento.
Ao longo do estágio tive a possibilidade de participar em todo o circuito dos MEP,
nomeadamente no controlo do stock e preparação dos medicamentos para posterior entrega
nos SC, diretamente ou através de um enfermeiro.

3.2.2. Hemoderivados
Este grupo engloba todas as substâncias derivadas do sangue ou plasma humano, estão
sujeitas a um elevado risco de contaminação e pelas suas características à consequente
transmissão de doenças infeciosas. Assim, impõe-se a este tipo de produtos um controlo
apertado que é determinado por legislação específica e adequada13.
Por forma a garantir o controlo, antes do seu fornecimento, os hemoderivados são
submetidos a estudos por lote pelo INFARMED que emite o Certificado de Autorização de
Utilização do Lote de Fabrico (CAUL)14.

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Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

A receção destas substâncias deve ser acompanhada pela guia de remessa, pelo CAUL
e pelo relatório de análise microbiológica e físico-química do produto.
Atualmente o registo das movimentações de produtos hemoderivados está sujeito ao
Despacho Conjunto nº 1051/2000, de 14 de setembro, que criou o modelo nº 1804 da
Imprensa Nacional da Casa da Moeda com o intuito de uniformizar o registo destas
informações num documento constituído por um original destinado aos SF e um duplicado a
arquivar no processo de cada doente14. O fornecimento de medicamentos hemoderivados é
apenas efetuado através do impresso supracitado.
Quando uma requisição chega aos SF, o FH verifica o correto preenchimento dos
quadros A e B. Em seguida o FH preenche o quadro C para o qual precisa de consultar o
CAUL. Por fim, é feito o registo informático de saída do medicamento hemoderivado por
doente.
A requisição do hemoderivado é composta por duas vias – “via serviço” e “via farmácia” –
sendo que a “via serviço” é destacada e entregue juntamente com a medicação para ser
arquivada no respetivo serviço, a “via farmácia” é arquivada com um exemplar do registo de
consumos nos SF.
O registo destes medicamentos é fundamental, uma vez que funciona como uma
metodologia adequada à investigação de eventual relação de causalidade entre a
administração terapêutica destes medicamentos e a deteção de doença transmissível pelo
sangue. Tudo isto faz com que seja um circuito com rastreabilidade, que permite, se existir
um problema após administração, que consigamos saber qual o lote que o causou, sendo o
exemplar arquivado durante 25 anos.
Durante o estágio, tive a oportunidade de proceder ao preenchimento da requisições e
preparação da medicação para ser levada para os serviços.

3.2.3. Gases medicinais


Segundo o DL nº 176/2006, de 30 de agosto, gases medicinais são “gases ou a mistura
de gases, liquefeitos ou não, destinados a entrar em contacto direto com o organismo
humano e que desenvolvam uma atividade apropriada a um medicamento, designadamente
pela sua utilização em terapias de inalação, anestesia, diagnóstico in vivo ou para conservar
ou transportar órgãos, tecidos ou células destinados a transplantes, sempre que estejam em
contacto com estes”15.
A distribuição de gases medicinais em garrafa aos serviços é efetuada mediante um
pedido informático único, sendo feito o fornecimento por troca com o serviço.

17
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

É da responsabilidade do FH assegurar a conformidade de todo o circuito dos gases


medicinais, bem como garantir a qualidade e segurança dos mesmos.

3.3. Doentes em regime de Ambulatório


A distribuição de medicamentos em ambulatório é realizada pelos Farmacêuticos aos
utentes externos desde que possuam determinada patologia incluída na lista de patologias
especiais sujeitas a comparticipação total dos medicamentos em farmácia hospitalar. Os
medicamentos legalmente autorizados estão regulamentados por Diploma, publicados em
Diário da República sendo que cada diploma se refere a determinada patologia e engloba
todos os medicamentos específicos para essa patologia16,17. A dispensa de medicamentos é
disponibilizada para o período de um mês.
A distribuição em regime de ambulatório é realizada mediante uma prescrição
médica, que é trazida impressa por quem vem levantar os medicamentos ou enviada pelos
serviços para a Farmácia. É efetuada a confirmação da sua validade por um FH, seguindo-
se da dispensa e assinatura pela pessoa que vem levantar, de forma a comprovar que
recebeu a medicação.
Ao longo do tratamento, o FH tenta perceber se há de facto adesão à terapêutica, se
tem verificado efeitos adversos e se a prescrição está adequada, de forma a conseguir
realizar um acompanhamento ao doente.
Uma vez que todos os doentes que passaram pela farmácia já faziam a medicação há
algum tempo, o FH apenas se disponibilizava a tirar dúvidas e alertava para a forma de
conservação. No final da dispensa, o FH procede à saída informática da medicação
dispensada por doente no GHAF.
No meu estágio, para além de ter procedido à dispensa de medicamentos, com
supervisão, tive a oportunidade de aprender sobre as diferentes patologias legisladas e qual
a medicação utilizada e aspetos relacionados com esta (doses, posologia, duração da
terapêutica, etc).

3.4. Registro de atividade: área da Distribuição


Na Tabela 4 estão descritos alguns exemplos de medicamentos que dispensei tanto em
regime de internamento como de ambulatório durante o meu estágio neste setor18-20.

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Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

Tabela 4 – Registo de alguns medicamentos dispensados aquando do meu estágio no setor de


distribuição do HP.

Medicamento Tacrolímus Revatio® (Pfizer) Vimizim® (BioMarin)


Grupo Medicamentos usados
Imunomoduladores Enzimas
farmacoterapêutico na disfunção erétil
Profilaxia ou tratamento
Tratamento de doentes Tratamento da
da rejeição do
pediátricos com idade mucopolissacaridose,
Indicações transplante alogénico de
compreendida entre 1 e tipo IVA (Síndrome de
aprovadas fígado ou rim em
17 anos com hipertensão Morquio A) em doentes
doentes adultos e
arterial pulmonar de todas as idades.
pediátricos.
Monitorização dos níveis
sanguíneos, do Monitorização em
prolongamento do doentes sob terapêutica
Condições
intervalo QT, da função concomitante com Sujeito a monitorização
especiais de
renal e hepática e outros indutores potentes do adicional – notificar
monitorização do
efeitos secundários, CYP3A4(carbamazepina, reações adversas
seu uso
substâncias que alterem fenitoína, fenobarbital,
o metabolismo do rifampicina, etc)
CYP3A4.
Anemia,
Febre, dores nas
trombocitopenia,
extremidades, infeção
leucopenia, cefaleias,
das vias respiratórias Dor de cabeça,
Reações adversas tremores, hipertensão,
superiores, ereção náuseas, vómitos,
mais frequentes diabetes mellitus,
aumentada, náuseas, febre
hipercaliémia, insónia,
diarreia, rinorreia
náuseas, diarreia,
pneumonia, rinite.
disfunção renal, febre.
Com substâncias
Poucos estudos, no
inibidoras ou indutoras
Interações mais entanto precaução com
do CYP3A4. Aumenta Não há estudos
frequentes indutores da CYP3A4,
risco de fármacos com
como o bosentanto, etc.
potencial nefrotóxico.
Vigiar se tem febre, não Cumprir a posologia
Informação
falhar nenhuma toma, prescrita, não se
pertinente a dar ao
em caso de efeitos automedicar, caso tenha -------
doente de
adversos ir logo ao efeitos adversos ir ao
ambulatório
médico médico
Tipo de
Ambulatório, Distribuição Dose unitária,
distribuição a que Ambulatório
por níveis mediante requisição
está sujeito
Medicamento órfão, Uso compassivo,
Observações Várias dosagens e FF
Sildenafil 20 mg Medicamento órfão

19
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

4. Atividades Complementares

Para além do meu envolvimento nestes setores, também participei noutras atividade.
Apresentei um resumo da minha passagem pelo setor de farmacotecnia aos colegas
estagiários que não tiveram a oportunidade de passar no mesmo setores que eu e vice-versa
(Anexo I). Também participei em reuniões nos SF onde eram abordados temas sobre o
funcionamento dos setores e outras apresentações. Tive ainda a oportunidade de participar
no 5º Curso de Medicamentos Manipulados em Pediatria pela APFH, que foi muito útil para
compreender a importância deste tema, aprender novas fórmulas e como resolver problemas
relacionados com a preparação dos medicamentos, para além de ficar com um bom registo
de bibliografia que poderei consultar no futuro.
Também foi sugerido fazer um resumo de dois medicamentos, ou associações, para
fazer um dossier no ambulatório e facilitar a dispensa, sendo que fiquei encarregue de fazer
sobre o Efavirenz e associações (Anexo II).

20
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

CONCLUSÃO

Durante o estágio tive a oportunidade de participar diariamente nas diferentes atividades


desenvolvidas pelo FH, o que me permitiu uma visão real da sua participação no circuito do
medicamento.
A dimensão que o medicamento adquire atualmente no contexto médico, faz emergir a
necessidade da presença de um farmacêutico nas equipas pluridisciplinares de saúde. O FH
cumpre cada vez mais com as exigências que lhe são propostas, demonstrando o seu valor
no meio hospitalar.
É também importante destacar o papel do FH como membro de uma equipa
multidisciplinar empenhada na prestação de cuidados de saúde de qualidade, assumindo
sempre uma postura de aprendizagem e ensinamento, originando uma melhoria dos serviços
prestados. É um profissional polivalente, multifacetado, com capacidade de intervenção em
várias áreas o que o torna imprescindível, apesar de a sua intervenção não ser sempre
visível.
O período de estágio realizado nos SF do CHUC foi muito gratificante, contribuindo para
o meu crescimento tanto a nível profissional como pessoal. Com suporte numa equipa
organizada e competente, o estágio curricular permitiu uma consolidação de conceitos já
adquiridos e aprendizagem de outros, tal como a aquisição de competências que serão úteis
no desempenho da profissão farmacêutica, concluindo este ciclo.

21
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

REFERÊNCIAS
1. Ministério da Saúde: Manual da Farmácia Hospitalar, 2005. Acessível em:
http://ofporto.org/upload/documentos/880325-manual-de-Farm.-Hosp.pdf. [acedido em
20 de junho de 2015].
2. Conselho de Administração, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E:.
Relatório de Contas 2013. Acessível em: http://www.chuc.min-
saude.pt/media/relatorios_contas/Relatorio_e_Contas_2013_CHUC.pdf. [acedido em 20
de junho de 2015].
3. CHUC: Regulamento Interno do CHUC, E.P.E. Coimbra, 2012. Acessível em:
http://www.chuc.min-
saude.pt/media/download_gallery/Regulamento_Interno_CHUC_EPE_Homologado_AR
SC_20_12__2012_PB.pdf. [acedido em 20 de junho de 2015].
4. Ministério da Saúde. Decreto-Lei nº 95/2004, de 22 de abril. Diário da República, 1ª
Série A, nº 95;
5. Ministério da Saúde. Portaria nº 594/2004, de 2 de junho. Diário da República,1ª Série B,
nº 129;
6. INFARMED: Nutrição Parentérica. Acessível em: https://www.infarmed.pt/formulário/
navegacao.php?paiid=197. [acedido em 20 de junho de 2015].
7. Cancer research UK: Why plan chemotherapy. Acessível em:
http://www.cancerresearchuk.org/about-cancer/cancers-in-general/treatment/
chemotherapy/plan/why-plan-chemotherapy. [acedido em 20 de junho de 2015].
8. INFARMED: Formulário Hospitalar Nacional de Medicamentos – Meios de diagnóstico.
Acessível em: http://www.infarmed.pt/formulario/frames.php?fich=prefacio. [acedido em
20 de junho de 2015]
9. INFARMED - Gabinete Jurídico e Contencioso. Decreto-Lei nº 15/93 de 22 de janeiro.
Legislação Farmacêutica Compilada;
10. INFARMED - Gabinete Jurídico e Contencioso. Lei nº 45/96 de 22 de janeiro. Legislação
Farmacêutica Compilada;
11. INFARMED - Gabinete Jurídico e Contencioso. Decreto Regulamentar nº 61/94 de 3 de
setembro. Legislação Farmacêutica Compilada;
12. Presidência do Conselho de Ministros e Ministério da Saúde. Portaria nº 981/98 de 8 de
junho. Diário da República, 2ª Série, nº 216;
13. Ministério da Saúde. Despacho nº 11291/97, de 27 de outubro. Diário da República, 2ª
Série, n.º 267;

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Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

14. Ministérios da Defesa Nacional e da Saúde. Despacho conjunto nº 1051/2000, de 14 de


setembro. Diário da República, 2ª Série, nº 251;
15. Ministério da Saúde. Decreto-Lei nº 176/2006, de 30 de agosto. Diário da República, 1ª
Série, nº 167.
16. INFARMED. Dispensa exclusiva em Farmácia Hospitalar. Acessível em:
http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_USO_HUMAN
O/AVALIACAO_ECONOMICA_E_COMPARTICIPACAO/MEDICAMENTOS_USO_AMB
ULATORIO/MEDICAMENTOS_COMPARTICIPADOS/Dispensa_exclusiva_em_Farmaci
a_Hospitalar. [acedido em 20 de junho de 2015].
17. INFARMED: Circular Normativa 01/CD/2012 de 30/11/2012 - Procedimentos de
cedência de medicamentos no ambulatório hospitalar;
18. EMA: RCM Modigraf. Acessível em:
http://www.ema.europa.eu/docs/pt_PT/document_library/EPAR_-_Product_Information/
human/000954/WC500030470.pdf. [acedido em 20 de junho de 2015]
19. EMA: RCM Revatio. Acessível em:
http://www.ema.europa.eu/docs/pt_PT/document_library/EPAR_-_Product_Information/
human/000638/WC500055840.pdf. [acedido em 20 de junho de 2015]
20. EMA: RCM Vimizim. Acessível em:
http://www.ema.europa.eu/docs/pt_PT/document_library/EPAR_-_Product_Information
/human/002779/WC500169239.pdf. [acedido em 20 de junho de 2015]

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Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

ANEXOS

Anexo I: Apresentação das atividades desenvolvidas no setor de Farmacotecnia

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Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar – CHUC, E.P.E.

Anexo II: Ficha resumo do Efavirenz e associação

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