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Fichamento Kilomba

O documento resume trechos de um livro que discute o racismo cotidiano através de episódios narrados por mulheres negras. A autora argumenta que escrever sobre suas próprias experiências é um ato de descolonização e resistência, que permite que ela se torne o sujeito e não mais o objeto da narrativa. Ela também critica a ideia de que grupos oprimidos não podem falar por si mesmos e questiona a neutralidade dos espaços acadêmicos.

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Laércio Soares
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Fichamento Kilomba

O documento resume trechos de um livro que discute o racismo cotidiano através de episódios narrados por mulheres negras. A autora argumenta que escrever sobre suas próprias experiências é um ato de descolonização e resistência, que permite que ela se torne o sujeito e não mais o objeto da narrativa. Ela também critica a ideia de que grupos oprimidos não podem falar por si mesmos e questiona a neutralidade dos espaços acadêmicos.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM LETRAS


DISCIPLINA: TÓPICOS EM ESTUDO CULTURAIS
PROFESSOR(A): DRA. MARGARETH TORRES DE ALENCAR COSTA
PÓS-GRADUANDAS: IEDA SOUSA DA CUNHA (UESPI)
NÁGILA ALVES DA SILVA (UESPI)

FICHAMENTO

KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: Episódios de Racismo cotidiano.


Tradução: Jess Oliveira. Porto Alegre-RS: Cobogó, 2020.

INTRODUÇÃO:
- Escrever este livro foi de fato, uma forma de transformar, pois aqui eu não sou a “Outra”,
mas sim eu própria. Não sou o objeto, mas o sujeito. (p. 27)
- Eu sou quem descreve minha própria história e não quem é descrita. Escrever, portanto,
surge como um ato político. Enquanto eu escrevo, eu me torno a narradora e a escritora da
minha própria realidade, a autora e a autoridade na minha própria história. Nesse sentido,
eu me torno a oposição absoluta do que o projeto colonial predeterminou. (p. 28)
- Escrever é um ato de descolonização no qual quem escreve se opõe a posições coloniais
tornando-se a/o escritora/escritor “validada/o” e “legitimada/o e, ao reinventar a si mesma/o,
nomeia uma realidade que fora erroneamente ou sequer fora nomeada. (p. 28)
- Este livro representa esse desejo duplo: o de se opor àquele lugar de “Outridade” e o de
inventar a nós mesmos de (modo) novo. (p. 28)
- Este livro pode ser entendido como uma forma de “tornar-se sujeito” porque nesses
escritos procuro exprimir a realidade psicológica do racismo cotidiano como me foi dito por
mulheres negras, baseada em nossos relatos subjetivos, auto-percepções e narrativas
biográficas – na forma de episódios. (p. 29)
1. A MÁSCARA
- Quero falar sobre a máscara do silenciamento. Tal máscara foi uma peça muito concreta,
um instrumento real que se tornou parte do projeto colonial europeu por mais de trezentos
anos. Ela era composta por um pedaço de metal colocado no interior da boca do sujeito
negro, instalado entre a língua e o maxilar e fixado por detrás da cabeça por duas cordas,
uma em torno do queixo e a outra em torno do nariz e da testa. Oficialmente, a máscara era
usada pelos senhores brancos para evitar que africanas/os escravizadas/os comessem
cana-de-açúcar ou cacau enquanto trabalhavam nas plantações, mas sua principal função
era implementar um senso de mudez e de medo, visto que a boca era um lugar de
silenciamento e de tortura. Neste sentido, a máscara representa o colonialismo como um
todo. Ela simboliza políticas sádicas de conquista e dominação e seus regimes brutais de
silenciamento das/os chamadas/os “Outras/os” (p. 33)
- No âmbito do racismo, a boca se torna o órgão da opressão por excelência, representando
o que as/os brancas/os querem – e precisam – controlar e, consequentemente o órgão que,
historicamente, tem sido severamente censurado. (p. 33-34)
- No mundo conceitual branco, o sujeito negro é identificado como o objeto “ruim”,
incorporando os aspectos que a sociedade branca tem reprimido e transformando em tabu,
isto é, agressividade e sexualidade. Por conseguinte, acabamos por coincidir com a
ameaça, o perigo, o violento, o excitante e também o sujo, mas desejável – permitindo à
branquitude olhar para si como moralmente ideal, decente, civilizada e majestosamente
generosa, em controle total e livre da inquietude que sua história causa. (p. 37)
- Dentro dessa infeliz dinâmica, o sujeito negro torna-se não apenas a/o “Outra/o” – o
diferente, em relação ao qual o “eu” da pessoa branca é medido –, mas também “Outridade”
– a personificação de aspectos repressores do “eu” do sujeito branco. Em outras palavras,
nós nos tornamos a representação mental daquilo com o que o sujeito branco não quer se
parecer. (p.37-38)
2. Quem pode falar?
- A ideia de uma subalterna que não pode falar, como explica Patrícia Hill Collins (2000),
encontra primeiro a ideologia colonial que argumenta que grupos subordinados se
identificam de modo incondicional com os poderosos e não têm uma interpretação
independente válida de sua própria opressão – e, portanto, não podem falar. Em segundo
lugar, a ideia de uma subalterna silenciosa pode também implicar a alegação colonial de
que grupos subalternos são menos humanos do que seus opressores e são, por isso,
menos capazes de falar em seus próprios nomes. Ambas afirmações veem os colonizados
como incapazes de falar, e nossos discursos como insatisfatórios e inadequados e, nesse
sentido, silenciosos. Elas também vão ao encontro da sugestão comum de que grupos
oprimidos carecem de motivação para o ativismo político por conta de uma consciência falha
ou insuficiente de sua própria subordinação. (p. 48)
- Fazer essas perguntas é importante porque o centro ao qual me refiro aqui, isto é, o centro
acadêmico, não é um local neutro. Ele é um espaço branco onde o privilégio de fala tem
sido negado para as pessoas negras. Historicamente, esse é um espaço onde temos estado
sem voz e onde acadêmicas/os brancas/os têm desenvolvido discursos teóricos que
formalmente nos construíram como a/o “Outras/os” inferior, colocando africanas/os em
subordinação absoluta ao sujeito branco. Nesse espaço temos sido descritas/os,
classificadas/os, desumanizadas/os, primitivizadas/os, brutalizadas/os, mortas/os. Esse não
é um espaço neutro. (p. 50-51)
- De ambos os modos, somos capturadas/os em uma ordem violenta colonial. Nesse
sentido, a academia não é um espaço neutro nem tampouco simplesmente um espaço de
conhecimento e sabedoria, de ciência e erudição, é também um espaço de v-i-o-l-ê-n-c-i-a.
(p. 51)
- Devido ao racismo, pessoas negras experienciam uma realidade diferente das brancas e,
portanto, questionamos, interpretamos e avaliamos essa realidade de maneira diferente. Os
temas, paradigmas e metodologias utilizados para explicar tais realidades podem diferir dos
temas, paradigmas e metodologias das/os dominantes. Essa “diferença”, no entanto, é
distorcida do que conta como conhecimento válido. (p. 54)
- A margem é tanto um local de repressão quanto um local de resistência (hooks, 1990).
Ambos os locais estão sempre presentes porque onde há opressão, há resistência. Em
outras palavras, a opressão forma as condições de resistência. (p. 67)
- Um profundo niilismo e a destruição nos invadiriam se considerássemos a margem apenas
uma marca de ruína ou de ausência de fala, em vez de um lugar de possibilidade. Stuart
Hall, por exemplo, diz que quando ele escreve, escreve contra. Escrever contra significa
falar contra o silêncio e a marginalidade criados pelo racismo. Essa é uma metáfora que
ilustra a luta das pessoas colonizadas para acessar a representação dentro de regimes
brancos dominantes. Escreve-se contra no sentido de se opor bell hooks, entretanto,
argumenta que se opor ou ser “contra” não é suficiente. (p. 68)
3. DIZENDO O INDIZÍVEL
- As vítimas reais do racismo, no entanto, são rapidamente esquecidas. Esse desrespeito,
ou melhor, essa omissão, espelha a desimportância dos negros como sujeitos políticos,
sociais e individuais na política europeia. (p. 72)
- Nós nos tornamos visíveis através do olhar e do vocabulário do sujeito branco que nos
descreve: não são nossas palavras nem nossas vozes subjetivas impressas nas páginas da
revista, mas sim o que representamos fantasmagoricamente para a nação branca e seus
verdadeiros nacionais. (p. 73)
- De modo ideal, uma pessoa alcança o status completo de sujeito quando ela, em seu
contexto social, é reconhecida em todos os três diferentes níveis e quando se identifica e se
considera reconhecida como tal. O termo sujeito, contudo, especifica a relação de um
indivíduo com sua sociedade; e não se refere a um conceito substancial, mas sim a um
conceito relacional. Ter o status de sujeito significa que, por um lado, indivíduos podem se
encontrar e se apresentar em esferas diferentes de intersubjetividade e realidades sociais, e
por outro lado, podem participar em suas sociedades, isto é, podem determinar os tópicos e
anunciar os temas e agendas das sociedades em que vivem. Em outras palavras, elas/eles
podem ver seus interesses individuais e coletivos reconhecidos, validados e representados
oficialmente na sociedade – o status absoluto de sujeito. O racismo, no entanto, viola cada
uma dessas esferas, pois pessoas negras e Pessoas de Cor não veem seus interesse
políticos, sociais e individuais como parte de uma agenda comum. (p. 74-75)
- Definindo o racismo: No racismo estão presentes, de modo simultâneo, três
características: a primeira é a construção de/da diferença. A pessoa é vista como “diferente”
devido a sua origem racial e/ou pertença religiosa. Aqui, temos de perguntar: quem é
“diferente” de quem? É o sujeito negro “diferente” do sujeito branco ou o contrário, é o
branco “diferente” do negro? Só se torna “diferente” porque se “difere” de um grupo que tem
o poder de se definir como norma – a norma branca.
- Racismo estrutural: O racismo é revelado em um nível estrutural, pois pessoas negras e
People of Color estão excluídas da maioria das estruturas sociais e políticas. Estruturas
oficiais operam de uma maneira que privilegia manifestadamente seus sujeitos brancos,
colocando membros de outros grupos racializados em uma desvantagem visível, fora das
estruturas dominantes. Isso é chamado de racismo estrutural. (p. 77)
- Racismo institucional Como o termo “instituição” implica, o racismo institucional enfatiza
que o racismo não é apenas um fenômeno ideológico, mas também institucionalizado. O
termo se refere a um padrão de tratamento desigual nas operações cotidianas tais como em
sistemas e agendas educativas, mercados de trabalho, justiça criminal, etc. O racismo
institucional opera de tal forma que coloca os sujeitos brancos em clara vantagem em
relação a outros grupos racializados. (p. 77)
- Racismo cotidiano O racismo cotidiano refere-se a todo vocabulário, discursos, imagens,
gestos, ações e olhares que colocam o sujeito negro e as Pessoas de Cor não só como
“Outra/o” – a diferença contra a qual o sujeito branco é medido – mas também como
Outridade, isto é, como a personificação dos aspectos reprimidos na sociedade branca. (p.
78)
4. RACISMO GENDERIZADO
- Racismo cotidiano O racismo cotidiano refere-se a todo vocabulário, discursos, imagens,
gestos, ações e olhares que colocam o sujeito negro e as Pessoas de Cor não só como
“Outra/o” – a diferença contra a qual o sujeito branco é medido – mas também como
Outridade, isto é, como a personificação dos aspectos reprimidos na sociedade branca. (p.
96)
- Definindo o racismo genderizado Mulheres negras têm sido, portanto, incluídas em
diversos discursos que mal interpretam nossa própria realidade: um debate sobre racismo
no qual o sujeito é o homem negro; um discurso genderizado no qual o sujeito é a mulher
branca; e um discurso de classe no qual “raça” não tem nem lugar. Nós ocupamos um lugar
muito crítico dentro da teoria. (p. 97)
- Pode-se argumentar que, como processos, o racismo e o sexismo são semelhantes, pois
ambos constroem ideologicamente o senso comum através da referência às diferenças
“naturais” e “biológicas”. No entanto, não podemos entender de modo mecânico o gênero e
a opressão racial como paralelos porque ambos afetam e posicionam grupos de pessoas de
forma diferente e, no caso das mulheres negras, eles se entrelaçam. (p. 99)
- A luta antirracista não é parte das preocupações das feministas ocidentais, principalmente
porque suas precursoras brancas não foram e não são confrontadas com a violência racista,
mas “somente” com a opressão de gênero. (p. 102)
- O gênero tornou-se, assim, o único foco de suas teorias. Feministas brancas têm estado
particularmente interessadas na genitália e na sexualidade de mulheres negras – em
questões referentes à mutilação genital ou à maternidade, por exemplo. Esse quadro se
explica, por um lado, porque suas experiências com a opressão como mulheres são focadas
na violência sexual e, por outro lado, devido a fantasias coloniais acerca da participação no
controle da genitália, corpos e sexualidade de mulheres negras. (p. 102)
5. POLÍTICAS ESPACIAIS

- Enquanto formas antigas de racismo apelavam para “raças biológicas”, e para a ideia de
“superioridade” versus “inferioridade” – e a exclusão daquelas/es que eram “inferiores” –, as
novas formas de racismo raramente fazem referência à “inferioridade racial”. Em vez disso,
falam de “diferença cultural” ou de “religiões” e suas incompatibilidades com a cultura
nacional. O racismo, portanto, mudou seu vocabulário. Nos movemos do conceito de
“biologia” para o conceito de “cultura”, e da ideia de “hierarquia” para a ideia de “diferença”
(p. 112-113)
- Nos racismos contemporâneos não há lugar para a “diferença”. Aqueles e aquelas que são
“diferentes” permanecem perpetuamente incompatíveis com a nação; elas e eles nunca
podem pertencer, de fato, pois são irreconciliavelmente Ausländer. (p. 113)
- À primeira vista, a ideia de superioridade não parece estar implícita nos novos racismos,
apenas o pensamento inofensivo de que “nós não temos nada contra elas e eles, mas
aquelas/es ‘diferentes’ têm seus próprios países para viver, e, portanto, devem retornar” pois
“a presença delas/es é um distúrbio para a integridade nacional”. O racismo é então
explicado em termos de “territorialidade”, supondo uma característica quase natural. (p. 113)
6. POLÍTICAS DO CABELO
- Historicamente, o cabelo único das pessoas negras foi desvalorizado como o mais visível
estigma da negritude e usado para justificar a subordinação de africanas e africanos (Banks,
2000; Byrd e Tharps, 2001; Mercer, 1994). (p. 127)
- Mais do que a cor de pele, o cabelo tornou-se a mais poderosa marca de servidão durante
o período de escravização. Uma vez escravizadas/os, a cor da pele de africanas/os passou
a ser tolerada pelos senhores brancos, mas o cabelo não, que acabou se tornando um
símbolo de “primitividade”, desordem, inferioridade e não-civilização. (p. 127)
- O cabelo africano foi então classificado como “cabelo ruim”. Ao mesmo tempo, negras e
negros foram pressionadas/os a alisar o “cabelo ruim” com produtos químicos apropriados,
desenvolvidos por indústrias europeias. Essas eram formas de controle e apagamento dos
chamados “sinais repulsivos” da negritude. (p. 127)
- Nesse contexto, o cabelo tornou-se o instrumento mais importante da consciência política
entre africanas/os e africanas/os da diáspora. Dreadlocks, rasta, cabelos crespos ou “black”
e penteados africanos transmitem uma mensagem política de fortalecimento racial e um
protesto contra a opressão racial. Eles são políticos e moldam as posições de mulheres
negras em relação a “raça”, gênero e beleza. (p. 127)
- As mulheres negras alisam seus cabelos... porque quando você está com seu cabelo
natural as pessoas te xingam.” Mas esse processo de ter de fabricar sinais de branquitude,
tais como cabelos alisados, e encontrar padrões brancos de beleza, a fim de evitar a
humilhação pública, é bastante violento. (p. 128)
7. POLÍTICAS SEXUAIS

- Piadas racistas reforçam a superioridade branca e a ideia de que pessoas negras


deveriam permanecer em posições subordinadas – no “buraco”. Elas expressam a
relutância branca em renunciar à ideologia racista (p. 136)
- Durante a escravização, as mulheres negras foram sexualmente exploradas para
criar filhas/os. Em seu ensaio Sexismo e a Experiência das Mulheres Negras
Escravizadas, bell hooks (1981) escreve sobre como em anúncios de venda de
escravizadas/os, mulheres africanas eram descritas por sua capacidade de procriação.
(p. 141)
- Durante o colonialismo, seu trabalho foi usado para nutrir e prover a casa branca,
enquanto seus corpos foram usados como mamadouros, nos quais as crianças
brancas sugavam o leite. Existem imagens muito imponentes de negritude e
maternidade. (p. 142)

8. POLÍTICAS DA PELE
-Fobia racial e recompensa - Incapacidade de ver a cor negra, por isso, há a negação e
invisibilização do visível pela pessoa branca, criando um processo de recompensa em relação
a pessoa negra ao afirmar que a pessoa negra não é negra, causando a fobia racial. (P. 145)
-Negra e mulata - Ao usar a palavra mulato no lugar da palavra negra, há uma negatividade
relacionada ao tom de pele mais escuro, a pessoa passa a ser considerada nem branca e nem
negra, ocupando a posição de subcategoria nem um nem outro. (P. 149)
-Deturpação e identificação - A deturpação surge através da não aceitação de ser negra pelo
fato da negritude ser apresentada e colocada como algo negativo. A identificação tem duas
dimensões diferentes: uma dimensão transitiva, no sentido de se “identificar alguém” e uma
dimensão reflexiva, no sentido de “identificar-se com alguém” (Laplanche e Pontalis, 1988, .
05p-6). (P.153)

9.A PALAVRA N. E O TRAUMA


- Trauma – O trauma se desenvolve por episódios de racismo cotidiano atrelados ao presente e
passado colonial.(P.155)
- Inveja e desejo pelo sujeito negro – A inveja e o desejo pelo corpo negro não surge por
admiração, mas por considerar o corpo negro como diferente, exótico e primitivo. (P.158)
- A dor – O racismo causa dor física e psicológica, uma vez que, a dor infligida ao corpo é a
expressão da ferida interior causada pela violência da palavra lançada pelo racista. (P.162)
- Teatro – A situação teatral ocorre por conta das três personagens e das três funções que
tornam o racismo possível: primeiro, a atriz que performa o racismo; segundo, o sujeito negro
que se torna objeto da agressão racista; e, finalmente, o consenso da plateia branca, que
observa a performance.(P.163)
- Triangulação – É um episódio de racismo composto por três personagens: a pessoa branca
que ofende; a pessoa negra destacada e discriminada, a ofendida e as pessoas brancas que
observam o racismo e silenciam. (P.163)

10. SEGREGAÇÃO E CONTÁGIO RACIAL


- Segregação racial – Negro de um lado e brancos do outro. Áreas negras segregadas
representam lugares com os quais pessoas brancas não se importam, ou não ousam ir, e dos
quais mantêm uma distância corpórea específica. (P.167)
- Contágio racial - A necessidade de regular a distância física de pessoas negras e de definir
as áreas que elas mesmas podem usar, revela uma dimensão muito importante do racismo
cotidiano relacionada a fantasias de contágio racial. (P.167)
- Fronteiras e hostilidade – Remente ao isolamento que é delegado ao sujeito negro em todas
as camadas sociais. A constelação na qual pessoas negras são colocadas em posição solitária
é uma configuração resultante da segregação e, portanto, uma expressão do racismo; o

isolamento de negras e negros é uma estratégia para reassegurar a supremacia branca.

(P.169)
11. PERFORMANDO NEGRITUDE
- Performando perfeição e representando a “raça” – Para se tornar “aceitável” entre os brancos
e ao ser classificado como um indivíduo sem intelecto e sem capacidade, o sujeito negro
busca por uma perfeição que é imposta pelo racista, para assim, ser incluído em determinado
âmbito e ser incluída/o sempre significa representar as/os excluídas/os. E é por isso que,
geralmente, nos é forçado o papel de representantes da “raça”. Acabamos representando todos
os outros. (P.173)
- Vindo para a Alemanha - Com a escravização há o apagamento das histórias, das famílias,
dos ancestrais e das raízes das nações-mães dos escravizados, com isso, “houve uma fratura,
uma ruptura, que deliberadamente a separou de partes de sua história: De onde fomos
trazidas/os? Quem somos nós? Quais nomes? Quais idiomas? Devido ao fato de essas
informações terem sido apagadas, essas são perguntas que permanecerão sem respostas.
(P.180)
- Confissões racistas e agressão – O desmerecimento em relação ao negro de forma indireta
mesmo que o interlocutor seja negro e independente do cargo e da posição que ele ocupe.
“Essa forma de expressar o racismo em relação a pessoas negras é alienante porque a pessoa
está sendo insultada sem ser objeto direto do insulto. Não é a segunda, mas a terceira pessoa
que está sendo usada; não é “você”, mas “eles”, mesmo que ambos coincidam e se tornem
um”.(P. 182)

12. SUICÍDIO
- Racismo, isolamento e suicídio – Nesse caso, o suicídio acontece pela solidão e pelos
ataques racistas cotidianos. “O suicídio é quase a visualização, a performance da condição do
sujeito negro em uma sociedade branca: na qual o sujeito negro é invisível. Essa invisibilidade
é performada através da realização do suicídio”. (P.188)
- A “mulher negra superforte” e o sofrimento silencioso – Por ter sido usado como
reprodutora e como nutriz no período escravagista, dentre outros fatores, a mulher negra
herdou o adjetivo de “negra superforte”, que não sente dor e que não precisa de ajuda nunca,
porque sua força e coragem supera sempre a mulher branca, uma visão racista, desse modo, a
mulher negra fica enclausurada no próprio sofrimento e silêncio. (P. 192)

19. 13. CURA E TRANSFORMAÇÃO


- Objetos colonias e a transformação dos espaços – Bonecos e bonecas de cor negra
decorando casas e locais habitados por pessoas brancas, “tais figuras negras surgiram como
personificações das/os próprias/os escravizadas/os, que não mais existiam. Como bonecos decorativos,
eles ocuparam o “lugar exato” que as/os africanas/os escravizadas/os uma vez ocuparam”. (P.198)
- Descolonizando o eu e o processo de desalienação – Ao descolonizar o eu, a pessoa negra
inicia um processo de desalienação e passa a entender que “o racismo não é um problema
pessoal, mas um problema branco estrutural e institucional que pessoas negras experienciam.
Esse é um acontecimento comum para negras e negros quando abordamos a questão do
racismo: intimidação por um lado, patologização individual por outro. Ambas controlam
mecanismos que impedem que o sujeito branco ouça verdades desconfortáveis, que, se
levadas a sério, arruinariam seu poder”.(P.202)
- Reunindo os fragmentos do colonialismo - A troca de saudações pode ser vista, então, como
um ritual coletivo destinado a reparar esse desmembramento traumático, reunindo aquelas/es
que foram separadas/os à força, e está principalmente ligada à reparação do trauma colonial e
não necessariamente à experiência do racismo e seu isolamento. (P.206)
- Mama Africa e reparação traumática –A reparação acontece do encontro e no encontro entre
os negros, que passam a se reconhecer um num outro. “A terminologia de “irmã” e “irmão”
recria um senso de unidade, ilustrando o continente africano como uma família mutilada e
as/os descendentes daquela família mutilada que, como consequência de ter sido dilacerada,
inevitavelmente reconhecem umas/uns às/aos “outras/os” como parentes, toda vez que elas/es
se encontram. Tal reconhecimento está inscrito na linguagem e na própria saudação como
uma tentativa evidente de trabalhar o trauma colonial da separação. É um momento de
reunificação e uma forma de juntar os fragmentos de uma experiência distorcida”. (P.210)
14. DESCOLONIZANDO O EU
- Descolonização refere-se ao desfazer do colonialismo. Politicamente, o termo descreve a
conquista da autonomia por parte daquelas/es que foram colonizadas/os e, portanto, envolve a
realização da independência e da autonomia. (P.213)

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