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Anatomia Artistica Inside

Este documento fornece um resumo de um livro sobre anatomia artística. Ele discute o gênero do écorché no Renascimento e como ele se desenvolveu como um objeto de estudo em si. Também aborda a abordagem morfológica em oposição à anatomia médica e como simplificar as formas musculares sob a pele.

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Anatomia Artistica Inside

Este documento fornece um resumo de um livro sobre anatomia artística. Ele discute o gênero do écorché no Renascimento e como ele se desenvolveu como um objeto de estudo em si. Também aborda a abordagem morfológica em oposição à anatomia médica e como simplificar as formas musculares sob a pele.

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ANATOMIA ARTÍSTICA

MICHEL LAURICELLA
SUMÁRIO

5 APRESENTAÇÃO

7 INTRODUÇÃO

31 CABEÇA & PESCOÇO

53 TRONCO

79 RAÍZES DO BRAÇO

137 MEMBRO SUPERIOR

195 MEMBRO INFERIOR

257 VISÕES DE CONJUNTO


Jean-Antoine Houdon, L’ Écorché
(1792), Galeria Huguier,
Escola Nacional Superior de
Belas Artes de Paris.

Este livro foi concebido na Fabrica114, local Também gostaria de lembrar o nome de
que se dedica ao ensino da morfologia e outro professor do Belas Artes de Paris,
se inscreve na tradição da École nationale Paul Richer (1849-1933), cujo livro Nouvelle
supérieure des beaux-arts de Paris, con- anatomie artistique (três volumes publica-
forme transmitida por François Fontaine, dos entre 1906 e 1921) continua sendo uma
Jean-François Debord e Philippe Comar, referência. Suas obras, livros e esculturas
hoje responsável pelo departamento de ocupavam um lugar fundamental nas co-
morfologia da ENSBA de Paris. Essas três leções da escola, às quais tínhamos a sorte
personalidades de talentos complementa- de ter livre acesso. Eu o citarei várias vezes
res expuseram sucessivamente suas visões ao longo deste livro.
do corpo a uma geração de estudantes Por fim, gostaria de prestar homenagem
– da qual faço parte. Entre abordagens ao magnífico écorché em bronze de Jean-
técnicas e mecânicas ou mais expressivas Antoine Houdon (1741-1828). Sua presença
e artísticas, tivemos a possibilidade de en- fantástica despertou não poucas vocações.
contrar nosso próprio caminho. Agradeço
a eles por isso, sinceramente.

4 Anatomia artística
INTRODUÇÃO
“Esses esqueletos ou écorchés espantam porque se comportam como os vivos.”
Roger Caillois, Au cœur du fantastique, Gallimard, Paris, 1965.

André Vésale (1514-1564) e Jan Steven Van Bernhard Siegfried Albinus (1697-1770) e Jan
Calcar (1499-1546), A Epítome, 1543. Wandelaar (1690-1759), Tabulae Sceleti et
Musculorum Corporis Humani (1747).
O écorché: um gênero considerado o marco inicial de uma longa
Desde o Renascimento, os artistas partici- tradição que se estende até os dias de hoje.
pam da composição de obras de anatomia O cuidado na representação dos écorchés,
dirigidas a apreciadores de arte e médicos. concebidos num primeiro momento como
Leonardo da Vinci (1452-1519) deixou ina- simples estudos anatômicos, confere-lhes
cabado um tratado desse tipo,2 por isso La uma existência própria, faz deles um ob-
Fabrica,3 de Andreas Vesalius (1514-1564), é jeto em si, um gênero como o nu ou a
2
Leonardo da Vinci teria concebido, com base em autópsias paisagem. Esse gênero também tem sua
e dissecações feitas no hospital de Roma, um Tratado de ana-
tomia que nunca foi realizado [N.T.].
história, seus códigos e convenções, com
3
De Humani Corporis Fabrica, Da organização do corpo os quais é possível trabalhar e se expressar.
humano [N.T.].

7
Jacques Fabien Gautier d’Agoty (1716-1785),
Miologia completa em cores e tamanho natural (1746)
(rebatizado de “Anjo anatômico” pelos surrealistas

Esses improváveis personagens despidos anatômico que predomina sob a pele coin-
de suas peles, verdadeiros barqueiros en- cidir com os contornos do desenho. Assim,
tre a vida e a morte, fascinam. Sua forte a espessura da pele não é levada em conta
dimensão fantástica não escapou aos e, dependendo das regiões do corpo e das
surrealistas. características morfológicas do modelo, o
contorno pode ser escolhido entre marcos
A morfologia ósseos, musculares ou adiposos.
Em 1890, Paul Richer preferiu o termo
“morfologia” ao de “anatomia” para desig- Atribuiremos à gordura, de fato, uma im-
nar uma abordagem mais sintética e artís- portância equivalente à dos ossos e mús-
tica, menos fragmentada e médica. culos, tratando de delimitar suas formas
A intenção “morfo” consiste, portanto, em de maneira o menos arbitrária possível,
reter da anatomia somente os elementos pois ao contrário dos outros dois, ela se
que determinam as formas (simplifican- expande sob a pele e não tem limites defi-
do e reunindo certos grupos musculares, nidos. Para ficar mais fácil desenhá-la, pro-
quando necessário) e em fazer o elemento porei alguns esquemas.

8 Anatomia artística
sacr

fe

ro

fib

tib

bras de pele (comissura interdigital) e o limitam sob a pele – no alto, o início das
plano chanfrado entre os dedos. As linhas duas asas da bacia e, em baixo, o início da
da mão são dobras de flexão do polegar fenda interglútea.
(as chamadas linhas “da vida e do desti-
no”) e dos dedos (linhas “do coração e da O fêmur (fe), na altura da articulação do
cabeça”). quadril quando não encoberto por uma
camada de gordura, se desenha sob a
Membro inferior pele. Esse osso reaparece no joelho, atrás
Marcos ósseos da rótula (ro), pequeno osso móvel cober-
A bacia é visível pelo topo e pelas extremi- to pelo tendão do quadríceps. Nesse pon-
dades de suas asas sob a cintura. Ela mar- to, percebe-se claramente a tíbia (tib), que
ca a fronteira entre o tronco e o membro permanece subcutânea até o tornozelo
inferior. Os sexos são desenhados sob o (maléolo interno). A fíbula (fib) é percep-
púbis coberto pela gordura da região e por tível apenas por suas duas extremidades e
pelos púbicos. Nas costas, o sacro (sacr) é também participa no desenho do tornoze-
cercado por três marcos ósseos que o de- lo (maléolo externo).

22 Anatomia artística
31

32

Para bem compreender o pé, é impor- alto na borda interna (lado do maléolo
tante conhecer sua estrutura óssea. Ele mais alto), gira progressivamente até a
deve ser concebido como um arco natu- borda externa (maléolo baixo).
ral. Verdadeiro amortecedor, seu papel é
suportar choques e o peso do corpo. O Assim, em geral se distingue uma parte
arco plantar expressa essa dinâmica em- dinâmica (arco interno associado ao mús-
baixo do pé, como se sabe, mas também culo abdutor e ao dedo mais forte) e uma
no dorso (não levaremos em conta o arco parte estática (os três últimos metatarsos
externo). O pé é convexo, portanto, e a não e dedos correspondentes).
ser que se esteja diante de um pé chato,
convém respeitar a forma do tornozelo até Formas musculares
as cabeças dos metatarsos. A asa da bacia oferece uma ampla super-
fície de inserção para o glúteo médio (31),
A essa visão esquemática é preciso jus- às vezes chamado de “deltoide da bacia”.
tapor outra: o esqueleto do pé como um O glúteo máximo (32) o prolonga até o
todo tem uma forma helicoidal. O pé, mais sacro. Existem várias versões anatômicas

23
33

dessa região. Prefiro enfatizar a parte prin- cujo comprimento depende justamente
cipal desse músculo, que se prende direta- da espessura do tecido adiposo.
mente ao primeiro terço do fêmur, entre o
quadríceps (33) e os isquiotibiais (34). O quadríceps, como o nome indica, é
constituído por quatro feixes musculares
O erro mais comum consiste em confun- que se unem num único tendão, que de-
dir músculos e gordura na região glútea. pois de envolver a rótula se insere na tíbia.
O desenho das nádegas depende da gor- Desses diferentes feixes, manteremos ape-
dura. É difícil avaliar a proporção muscular, nas os três principais. O quarto, profundo,
mas é possível estimá-la baseando-se em não pode ser visto. Enquanto os dois fei-
outras partes do corpo. De todo modo, pa- xes laterais partem do fêmur, que impõe
rece-me mais interessante tentar simplifi- ao músculo sua direção, o feixe central se
car e sintetizar as formas adiposas. Sem a prende à bacia e se une aos outros na tíbia.
gordura, o músculo glúteo máximo toma-
ria o caminho entre o sacro e o fêmur mais
direto, não teríamos a fenda interglútea,

24 Anatomia artística
36

37

34

O tensor da fáscia lata (36) é um músculo funcionar juntos, contendo a coxa antes de
que tem um modo de inserção particu- chegar ao joelho embaixo da articulação,
lar. Aqui também, deve-se optar. Convém como para reforçá-la de lado a lado. A dis-
lembrar que o quadríceps, como todos os posição dos dois lembra as rédeas de um
músculos, é envolvido por uma membrana arreio que tivesse o freio nos joelhos.
fibrosa que o contém, que lhe dá forma,
acompanhando suas fibras em profun- Proponho uma versão simplificada dos is-
didade até o esqueleto. Essa membrana quiotibiais. Reduza esses músculos a dois
(fáscia ou aponeurose) desce pela perna longos fusos que, a partir do ísquio (ponta
envolvendo, ao passar, o joelho. O tensor da extremidade inferior da bacia), descem
em contração (flexão da coxa) ou em ten- e se afastam para deixar passar entre eles
são (apoio sobre uma das pernas) tende o gastrocnêmio medial e lateral (39 e 40),
a tensionar a fáscia e dar-lhe a forma de atrás do joelho. Com a perna dobrada, os
uma longa fita, que pode ser desenha- isquiotibiais (34) terminam em dois lon-
da ao lado do quadríceps e do joelho. O gos tendões de cada lado da cavidade
tensor da fáscia e o sartório (37) parecem poplítea.

25
35

34

39 40

A versão simplificada dos adutores (35) que a camada adiposa diminui da raiz até
consiste em considerar apenas os feixes as extremidades dos membros.
mais potentes e em confundi-los sob a
mesma denominação. Esses músculos O conjunto muscular gastrocnêmios e só-
quase sempre estão cobertos por uma leo (38) forma um tríceps. Seu tendão em
espessa camada de gordura que começa comum é o famoso tendão de Aquiles, que
no alto das coxas e se torna mais fina ao se integra ao calcanhar (calcâneo), poten-
descer. te alavanca. Na parte frontal da perna, os
extensores (42) lembram os do antebra-
Encontramos um ponto adiposo simétri- ço: os feixes partem do exterior e descem
co do outro lado da coxa, sob a articula- para se inserir no dorso do pé (no outro
ção do quadril, tipicamente feminino. Se caso, da mão).
compararmos os dois membros, inferior e
superior, esse ponto adiposo lembra aque-
le que fica atrás da ponta do deltoide. De
modo geral, é possível dizer, simplificando,

26 Anatomia artística
42

38

44

O pé, concebido como um arco em que pele e o plano chanfrado entre os dedos,
esqueleto seria a armação, precisa ser pelas mesmas razões.
submetido à protensão de uma corda
muscular. O abdutor (44) do dedão de- Similitudes entre braços e pernas
sempenha esse papel. Podemos comparar o esqueleto dos
membros superiores e inferiores humanos.
A construção do pé é perceptível pela Em certas linhagens animais, essa com-
pegada deixada no solo. Essa pegada, no paração pode ser estendida às cinturas
entanto, pode nos induzir ao erro em re- escapular (escápula, clavícula) e pélvica
lação à maior ou menor dinâmica de um (bacia), mas no âmbito desta obra isso não
pé, pois o arco plantar pode estar coberto será necessário.
pela gordura da região. Essa gordura lem- Nos dois membros, inferior e superior, te-
bra a da mão e também contribui para a mos um único osso no primeiro segmento:
função amortecedora do pé, agindo como úmero e fêmur. Depois, temos dois ossos
um verdadeiro colchão sob os ossos. no segundo segmento: rádio/ulna e tíbia/
Encontramos, como na mão, as dobras da fíbula. A seguir, vêm os pequenos ossos do

27
punho que poderiam corresponder aos do É a justaposição por pares de ossos, rádio/
tornozelo. Por fim, cinco dedos na mão e ulna e tíbia/fíbula, que permite isso.
no pé, com o mesmo número de falanges
nas extremidades, sendo uma a menos no A disposição mais simples é a que encon-
polegar e no dedão. tramos no membro inferior (tíbia e fíbula
sempre paralelos), como se “a natureza
Vimos que os músculos que acionam a tivesse fabricado”, a partir de uma dis-
mão e o pé se prendem acima das articu- posição semelhante no antebraço, a pos-
lações do punho e do tornozelo, e repou- sibilidade de cruzar e descruzar os dois
sam nos pares de ossos do antebraço e da ossos a fim de aumentar as possibilidades
perna. A complexidade das extremidades, de movimentação das mãos (pronação/
principalmente o número de dedos (e, supinação).
aqui, a anatomia comparada entre dife-
rentes espécies de mamíferos é rica em
informações), parece determinar e tornar
necessária a ampliação (no mesmo plano
da mão ou do pé) das zonas de inserção.

28 Anatomia artística
PRANCHAS
30 Anatomia artística

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