Teo Rico
Teo Rico
Revisão Textual:
Mateus Gonçalves Santos
Refração Objetiva – Ceratometria
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Apresentar os princípios ópticos, estrutura, tipos e ajustes do ceratometro;
• Conhecer as miras ceratométricas, operação e medida; anotação;
• Conhecer a lei de javal e interpretação.
UNIDADE Refração Objetiva – Ceratometria
Figura 1
Fonte: Pixabay
Opticum: Em uma tradução literal para português: “O olho como ele é: um fundamento óptico”.
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Ainda no século XX, com o advento do estudo das anomalias corneanas, foram
incorporados ao disco de Plácido sistemas de registro em fotografia, cujo avanço tecno-
lógico permitiu um registro e segmento de casos de patologias corneais. Nos anos 1980
do século passado, com o advento da tecnologia informática, a análise de córnea ficou
ainda mais precisa com a topografia de córnea computadorizada.
Figura 2
Fonte: Pixabay
Importante!
Por meio da topografia corneana somos capazes de estudar a córnea em diversos níveis:
podemos analisá-la de forma central com o ceratômetro, e de forma global, com os to-
pógrafos computadorizados.
O Funcionamento do Ceratômetro
O funcionamento do ceratômetro é muito simples. Ele foi projetado para medir o
tamanho da imagem formada por reflexão de um objeto de tamanho conhecido. Nesse
caso, a córnea atua como um espelho convexo. Dessa forma, uma vez que sabemos o
tamanho do objeto conhecido, as miras e a distância do foco, é relativamente simples
medir a curvatura da córnea por meio do cálculo do raio da superfície óptica.
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UNIDADE Refração Objetiva – Ceratometria
η1 − η2
D=
r
Logo, se a curvatura média da córnea é de 8 milímetros, quanto seria seu poder re-
frativo (curvatura anterior) em dioptrias?
η1 − η2
D=
r
1 − 1,3375
D=
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D = 42 dioptrias
Figura 3
Fonte: Adaptada de FURLAN et al., 2009
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uma imagem virtual no interior da córnea, de extensão h’. A parte da lente não coberta
pelo prisma produz uma imagem sem desvios, ainda que a parte da lente que está cober-
ta pelo prisma produza uma imagem desviada em direção à sua base. Como o prisma
produz um desvio angular constante da imagem, a mudança lateral dela será proporcio-
nal à distância entre o prisma e a imagem, de modo que um deslizamento longitudinal
(axial) do prisma irá produzir uma mudança transversal da imagem formada através dela.
Esse modo indireto de medida tem como vantagem fundamental que não é afetado
por pequenos movimentos do objeto, pois ante a tais movimentos as duas imagens finais
se deslocam sozinhas entre si. Podemos destacar que o ceratômetro está apropriada-
mente calibrado para que a leitura do raio de curvatura da córnea seja realizada direta-
mente em uma escala graduada. A calibração leva em conta a duplicação, o tamanho
das miras, o aumento do microscópio e todos os elementos controláveis que influenciam
na medida.
Importante!
Resumindo, os elementos de um ceratômetro serão:
• As miras: que são elementos que definem os extremos do objeto que é empregado
na medida;
• O microscópio: partindo das imagens virtuais das miras, formam uma imagem
real que permite sua medida;
• Sistema de duplicação: duplica a imagem real para facilitar sua medida na pre-
sença de pequenos movimentos oculares e melhora a medida dos astigmatismos.
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UNIDADE Refração Objetiva – Ceratometria
• A zona corneana a ser explorada pode variar de acordo com o raio de curvatura.
Por exemplo, com o equipamento igual, podemos medir em 2,8 mm quando o raio
corneano é de 7 mm, e em 3,5 mm se o raio é de 9,1 mm. Tais variações podem
alterar a medida de +/– 0,25D até +/– 0,93D para calcular sua potência.
Ceratômetros
Nesta subunidade, você aprenderá as características, o funcionamento e como reali-
zar as medidas para a realização da topografia corneana.
Ceratômetro Javal-Schiotz
O primeiro equipamento que vamos estudar é o ceratômetro Javal-Schiotz. Ele é um
instrumento de duas medidas, que possibilita não somente uma medida central, mas
periférica, facilitando a análise de um possível astigmatismo irregular.
Caraterísticas
Este modelo de ceratômetro apresenta um design considerado vanguarda, todavia,
ainda é vigente no mercado. Sua simplicidade e fácil compreensão o tornam apropriado
para introduzir as características principais dos ceratômetros.
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O princípio de funcionamento desse equipamento encontra-se na Figura 5.
Arco Graduado
Mira 1 Ocular do
Prisma de microscópio
Wollaston
Córnea
Eixo óptico
No plano focal da ocular, podemos encontrar o retículo focal, que é um fino filamento
ou uma cruz que sobrepõe a imagem das miras. Atrás da objetiva, está o dispositivo de
duplicação. No caso desse instrumento, é um prisma de Wollaston, que separa simetri-
camente o eixo das duas imagens resultantes.
O conjunto formado pelo prisma de Wollaston e o arco que suporta as miras giram
ao redor do eixo óptico para poder alinhar-se com os meridianos principais. Cada um
dos dois meridianos principais será medido separadamente, pois esse é um ceratômetro
de duas posições.
Uma das características mais distintivas do ceratômetro Javal é a forma das miras,
como podemos observar na Figura 6. Uma das miras tem uma forma retangular, en-
quanto a outra é escalonada.
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UNIDADE Refração Objetiva – Ceratometria
A separação necessária das miras no momento de realizar uma medida ocorre como a
Figura acima demonstra. Dessa forma, com a linha guia contínua e as miras se tocando,
mas não se sobrepondo, podemos encontrar o poder de curvatura do meridiano analisa-
do. Se as miras forem verdes e vermelhas, em caso de sobreposição, tal zona apresentará
uma cor branco-amarelada, o que facilita muito a localização da posição de medida.
As miras centrais devem ser as únicas observadas para a realização da medida. Pode-
mos notar que, sob condições de mensuração, as medidas estão ligadas entre si, como
a Figura apresentou. Devido a essa disposição, se as miras estão em coincidência, ou
seja, tocando uma a outra, sem sobreposição, em um meridiano e mudarmos a outro
meridiano de maior potência, o tamanho de cada conjunto de miras se reduzirá. Caso
a duplicação seja mantida, acabará ocorrendo uma sobreposição das imagens centrais.
A magnitude da sobreposição fornece uma medida orientativa do astigmatismo, visto
que as escalas das miras correspondem aproximadamente 1 dioptria.
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Procedimento de Medida
Tal qual todos os procedimentos optométricos, a mensuração no ceratômetro do tipo
Javal é realizado de forma sistemática. Esse procedimento é relativamente fácil de ser
realizado, e quanto mais treino, mais acurado fica.
Ajuste da Ocular
O procedimento de medida tem início no ajuste prévio do foco da ocular do micros-
cópio para a eventual ametropia do observador. O ajuste da ocular deve ser feito sem a
presença do paciente. A ocular geralmente vem acompanhada de uma escala graduada
em dioptrias, o que ajuda o examinador a ajustá-la.
A função do ajuste da ocular é fazer com que o observador tenha foco e veja nítido sem
utilizar a acomodação. Esse ajuste é considerado crítico e deve ser realizado com máxima
precisão. Para isso, devemos começar com o máximo poder hipermetrópico e ir variando
o foco lentamente até encontrar a primeira posição em que a mira se torna nítida. Dessa
forma, garantiremos que o observador não acomodará ao realizar a medida. Se o proce-
dimento não for feito corretamente, uma medida com a calibração fora da necessidade do
observador acarretaria em uma tomada errada de medidas.
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UNIDADE Refração Objetiva – Ceratometria
a)
b)
c)
Nesse ponto, o alinhamento das miras garantirá que encontramos um dos meridianos
principais, cuja orientação é dada após giro de cabeça. A coincidência das miras permite
o uso da calibração do instrumento para a obtenção do raio de curvatura ou potência
dos valores do primeiro meridiano principal.
Uma vez que encontramos o meridiano principal mais próximo ao plano horizontal,
giramos a cabeça do ceratômetro em 90º. Podem ser encontradas agora três situações,
conforme a Figura 9 apresenta.
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a) b) c)
Figura 9 – Coincidência das miras verticais do ceratômetro
Fonte: Adaptado de FURLAN et al., 2009
Na primeira, as miras seguem em coincidência, como a Figura 9 “a”. Isso indica que
a potência do segundo meridiano principal é igual à do primeiro. Essa coincidência de
potência apenas será produzida se a córnea for esférica. As outras duas possibilidades
aparecem quando as miras estão separadas entre si ou que se sobrepõe, como as Figuras
“b” e “c”, respectivamente.
Em qualquer dos dois casos, procederemos para mudar a separação entre as miras
até conseguir de novo a coincidência. A leitura dos valores nos meridianos completa a
medida ceratométrica da córnea.
Esse método não substitui a medida exata por meio da escala do ceratômetro, mas
serve como uma ajuda para comprovar se o astigmatismo é contra ou a favor da regra,
reduzindo a possibilidade de erros.
Uma possibilidade que ocorre com pouca frequência é aquela em que, ao girarmos
a cabeça em 90º, perdemos o alinhamento. Nesse caso, o meridiano perpendicular ao
primeiro não é um meridiano principal. Assim, nos deparamos com um astigmatismo
irregular, com meridianos principais não perpendiculares entre si. Nesse caso, girare-
mos a cabeça até encontrarmos, se é possível, o alinhamento das fendas das miras mais
próximas. Deveremos anotar o ângulo e a potência desse meridiano, além da observa-
ção de que se trata de um astigmatismo irregular.
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UNIDADE Refração Objetiva – Ceratometria
Com essa teoria, aliada com os materiais presentes no AVA, em especial o “Guia passo a
passo da ceratometria Javal”, treine a ceratometria com seu colega de turma e fique bom
nesse que é um dos principais procedimentos optométricos!
Ceratômetro Helmholtz
Popularmente conhecido como BL, ou Bausch & Lomb, devido à empresa que mais
o fabricou, o ceratômetro do tipo Helmholtz apresenta algumas características que tor-
nam seu uso mais fácil em relação ao Javal.
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Oftalmômetro desenvolvido por Helmholtz (1851), primeiro modelo de instrumento capaz
de medir a superfície da córnea. Disponível em: https://bit.ly/2YowPeA
Características
Objetiva do Prismas de Ocular do
microscópio desvio microscópio
Imagem (independentes)
(virtual) da mira
Córnea
Imagens
Diafragma (reais) da mira
Mira
3
1 2
4
Tal qual o ceratômetro Javal, o Helmholtz foi projetado sobre um microscópio que gira
sobre um eixo de rotação. A frente do instrumento é uma placa opaca, onde se encontra
um furo central diante da objetiva do microscópio e, rodeado a ela, encontra-se a mira do
ceratômetro, que, nesse caso, é diferente do Javal, apresentando um tamanho fixo.
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UNIDADE Refração Objetiva – Ceratometria
Uma lâmpada por detrás da mira envia a luz através dela para formar a imagem virtual
na córnea do paciente. A mira, neste caso, tem forma circular, com duas cruzes e dois
segmentos horizontais na parte exterior dos círculos. Esses símbolos são as marcas de re-
ferência para o alinhamento e a coincidência. A separação entre as marcas de referência
é fixa, pois o ceratômetro é baseado em um sistema de duplicação variável. O sistema
empregado é o de prismas deslizáveis ao longo do eixo do aparelho.
Esse dispositivo permite chegar à coincidência das marcas de referências nos dois
meridianos sem a necessidade de girar a cabeça do aparelho entre um e outro. Para
alinhar qualquer um dos meridianos principais com as direções do desdobramento, coin-
cidentes com as marcas de referência, todo o canhão gira com relação ao eixo óptico.
Se, ao contrário, a imagem aérea está desfocada, cada uma das aberturas dará lugar
a uma imagem ligeiramente deslocada na direção da abertura, dando como resultado
uma imagem duplicada. Para assegurar um foco correto, é necessário apenas ajustar
a posição do ceratômetro até conseguir que desapareça a imagem dupla. Todavia, não
devemos confundir o deslocamento da imagem com a duplicação da medida.
Nessa Figura, podemos assumir que o foco não está correto. Cada uma das imagens
corresponde a cada abertura no diafragma (a imagem da esquerda corresponde à abertura
1, a superior à 2 e os vértices 3 e 4). Uma vez que conseguimos focar o instrumento, apenas
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observamos três imagens, aparecendo sobrepostas duas das quatro imagens originais, como
a Figura 13 “b”.
Procedimento de Medida
Começamos o processo igual ao ceratômetro Javal, ajustando a ocular. Podemos
fazer sem a presença do paciente e o objetivo é fazer com que o examinador veja nitida-
mente e sem empregar a acomodação o retículo. O retículo no Helmholtz geralmente é
uma cruz na circunferência central, como a Figura demonstra.
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UNIDADE Refração Objetiva – Ceratometria
A única opção, nesse caso, é utilizar o instrumento como se fosse de duas posições,
usando apenas a medida horizontal.
A ceratometria é uma técnica de medida objetiva da córnea. Todavia ela não serve
apenas para refração. Quer saber outros usos? Acesse o conteúdo “Outras técnicas e
usos da ceratometria” presente no AVA e conheça mais.
Regra de Javal
Convencionalmente, dividimos o astigmatismo refrativo total, At, de um olho em dois
componentes: o astigmatismo corneano, Ac, pois a córnea é a primeira lente do aparelho
óptico e a mais poderosa; e o astigmatismo residual, Ar, que engloba cristalino e os demais
meios refrativos. Uma equação simples para descrever o astigmatismo pode ser escrita:
A=
t Ac + Ar
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Devido à predominância do astigmatismo corneano no astigmatismo total, podemos
dizer então que o astigmatismo corneano é suficiente para se ter uma boa estimativa do
astigmatismo total do olho. O astigmatismo residual provém os demais meios refrativos
do olho, em especial o cristalino, especialmente por sua descentralização e inclinação
em relação ao eixo visual. Estatisticamente, o astigmatismo interno é bastante similar
na maior parte da população, sendo seu valor médio de 0,50 (–0,50 DC x 90 ou +0,50
DC x 180). Todavia, é importante salientar que esse valor não é exato, então cremos no
valor aproximado do astigmatismo residual de +/– 0,50.
At =1, 25 Ac − 0,50 DC × 90
Ac − 0,50 DC × 90
At =
Em Síntese
Nesta Unidade, aprendemos um pouco sobre o que é o ceratômetro, um dos principais dis-
positivos de refração objetiva. Com ele, podemos analisar a córnea, sua dioptria e estimar um
erro refrativo. Temos dois aparelhos: o Javal e o Helmholtz, que apresentam certa diferença e
especificidades. Por meio da lei de Javal, conseguimos estimar um valor aproximado de astig-
matismo do paciente.
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UNIDADE Refração Objetiva – Ceratometria
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Refração prática
DUKE-ELDER, S. Refração prática. 10. ed. Rio de Janeiro, RJ: Rio Med, 1997.
306 p.
Prática em optometria preventiva
SILVA, N. M. da. Prática em optometria preventiva. Lages, SC: Norte, 2000. 181 p.
Óptica e refração ocular
URAS, R. Óptica e refração ocular. São Paulo, SP: Cultura Médica, 2000. 180 p.
(Coleção Manuais Básico CBO).
Semiologia básica em oftalmologia
MOREIRA, C. A. Semiologia básica em oftalmologia. 3. ed. Rio de Janeiro:
Cultura Médica: Guanabara Koogan, 2013.
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Referências
ALVES, M. R. Refratometria ocular e a arte da prescrição médica. 3. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara-Koogan, 2013.
CARLSON, N. Clinical procedures for ocular examination. 4. ed. New York: McGraw-
-Hill Education, 2015.
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