0% acharam este documento útil (0 voto)
319 visualizações8 páginas

O Nome Das Coisas: Sophia de Mello Breyner Andresen

O documento descreve a poética de Sophia de Mello Breyner Andresen através de dois parágrafos. No primeiro parágrafo, explica que Sophia via a poesia como uma liberdade disciplinada que emerge de forma paradoxal, como um domínio dos deuses e dos homens. No segundo parágrafo, diz que cada grande poeta cria sua própria poesia e maneira de fazer poesia, e que Sophia parecia seguir a eufonia das palavras.

Enviado por

luistbf
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
319 visualizações8 páginas

O Nome Das Coisas: Sophia de Mello Breyner Andresen

O documento descreve a poética de Sophia de Mello Breyner Andresen através de dois parágrafos. No primeiro parágrafo, explica que Sophia via a poesia como uma liberdade disciplinada que emerge de forma paradoxal, como um domínio dos deuses e dos homens. No segundo parágrafo, diz que cada grande poeta cria sua própria poesia e maneira de fazer poesia, e que Sophia parecia seguir a eufonia das palavras.

Enviado por

luistbf
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 8

Sophia de Mello Breyner Andresen

o nome das coisas

prefácio de
Fernando Cabral Martins

ASSÍRIO & ALVIM


Sophia de Mello Breyner Andresen fotografada por João Cutileiro
O NOME POESIA

1. A ideia mais persistente nas poéticas ocidentais é


a de que um texto tem vida própria, e que aparece feito,
por assim dizer, na cabeça do autor. Tudo o que este tem
de fazer é partir da primeira frase, daquela que lhe apare‑
ceu vinda do nada. E, depois, desdobar esse fio. O texto
surge inteiro e mais ou menos puro, como um minério. Há
uma arte poética de Sophia que o diz deste modo: «Deixar
que o poema se diga por si, sem intervenção minha (ou
sem intervenção que eu veja), como quem segue um dita‑
do (que ora é mais nítido, ora mais confuso), é a minha
maneira de escrever»1. Esta poética da inspiração não é, no
entanto, a replicação romântica da emotividade transbor‑
dante. Nem é uma poética coerente com o automatismo
surrealista. É um pouco mais complexa.
Num poema deste livro, chamado «Liberdade», pala‑
vra que liga ao debate da democracia (estamos em 1975)
a questão poética, pode ler­‑se que «O poema é / A liberda‑
de». Pode mesmo pensar­‑se que a liberdade é a matéria de
que a vida é feita, que é o outro nome da energia vital. De
todo o modo, no caso da poesia, a liberdade não corres‑
ponde (tal como em política) a um exercício de espontanei‑

1
Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética (2010), 3.ª ed., Lisboa, Assírio
& Alvim, 2015.

11
dade sem limites, que desconecte a descriminação racional.
Lê­‑se a seguir: «Um poema não se programa / Porém a dis‑
ciplina / — Sílaba a sílaba — / O acompanha». Trata­‑se de
disciplinar a liberdade? Eis o que conduz a uma conclusão
paradoxal: «Sílaba por sílaba / O poema emerge / — Como
se os deuses o dessem / O fazemos».
Esta ideia de uma dádiva dos deuses que coincide com o
trabalho do texto é como uma síntese de todas as poéticas.
Sophia integra o paradoxo no cerne do seu entendimento.
E faz uma afirmação de síntese que só a célebre frase de
Píndaro, «A raça dos deuses e dos homens é uma só», justifi‑
ca. O poeta escutador e o poeta fingidor tornam­‑se um e o
mesmo.

2. Cada grande poeta coloca a questão da poesia, e


responde­ ‑lhe porque, precisamente, a coloca. Cada grande
poeta cria a sua poesia, reformula aquilo a que se chama poe‑
sia, faz poesia de outra maneira. Cinatti cria uma imagem
que logo ganha uma energia inesperada, cintilante. Nemésio
parece situar­‑se no interior das palavras, caminhar no fio da
linguagem, e a sua arte é a de contar o que se vê nessa gruta
em cujas paredes se desenha o mundo. Cesário faz pequenos
vídeos quase­‑narrativos com uma banda sonora sumptuosa.
Sá­‑Carneiro compõe imagens onde antes havia apenas uma
poeira de palavras lidas, e faz com que essas imagens pareçam
ganhar vida própria, sangue a correr, textura quase táctil.
Quanto a Sophia, ela parece, primeiro, que segue a
eufonia das palavras, a regularidade do seu enquadramento

12
GRÉCIA 72

De novo os Persas recuarão para os confins do seu império


Afundados em distância confundidos com o vento
De novo o dia será liso sobre a orla do mar
Nada encobrirá a pura manhã da imanência

40
SOROR MARIANA — BEJA

Cortaram os trigos. Agora


A minha solidão vê-se melhor

41
COMO O RUMOR

Como o rumor do mar dentro de um búzio


O divino sussurra no universo
Algo emerge: primordial projecto

42
SUA BELEZA

Sua beleza é total


Tem a nítida esquadria de um Mantegna
Porém como um Picasso de repente
Desloca o visual

Seu torso lembra o respirar da vela


Seu corpo é solar e frontal
Sua beleza à força de ser bela
Promete mais do que prazer
Promete um mundo mais inteiro e mais real
Como pátria do ser

43

Você também pode gostar

pFad - Phonifier reborn

Pfad - The Proxy pFad of © 2024 Garber Painting. All rights reserved.

Note: This service is not intended for secure transactions such as banking, social media, email, or purchasing. Use at your own risk. We assume no liability whatsoever for broken pages.


Alternative Proxies:

Alternative Proxy

pFad Proxy

pFad v3 Proxy

pFad v4 Proxy