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A Multidisciplinaridade para o Progresso

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Editora chefe

Profª Drª Antonella Carvalho de Oliveira


Editora executiva
Natalia Oliveira
Assistente editorial
Flávia Roberta Barão
Bibliotecária 2023 by Atena Editora
Janaina Ramos Copyright © Atena Editora
Projeto gráfico Copyright do texto © 2023 Os autores
Camila Alves de Cremo Copyright da edição © 2023 Atena
Luiza Alves Batista Editora
Imagens da capa Direitos para esta edição cedidos à
iStock Atena Editora pelos autores.
Edição de arte Open access publication by Atena
Luiza Alves Batista Editora

Todo o conteúdo deste livro está licenciado sob uma Licença


de Atribuição Creative Commons. Atribuição-Não-Comercial-
NãoDerivativos 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0).

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responsabilidade exclusiva dos autores, inclusive não representam necessariamente
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desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-
la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.

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membros do Conselho Editorial desta Editora, tendo sido aprovados para a publicação
com base em critérios de neutralidade e imparcialidade acadêmica.

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do processo de publicação, evitando plágio, dados ou resultados fraudulentos e
impedindo que interesses financeiros comprometam os padrões éticos da publicação.
Situações suspeitas de má conduta científica serão investigadas sob o mais alto
padrão de rigor acadêmico e ético.

Conselho Editorial
Ciências Agrárias e Multidisciplinar
Prof. Dr. Alexandre Igor Azevedo Pereira – Instituto Federal Goiano
Profª Drª Amanda Vasconcelos Guimarães – Universidade Federal de Lavras
Profª Drª Andrezza Miguel da Silva – Universidade do Estado de Mato Grosso
Prof. Dr. Arinaldo Pereira da Silva – Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará
Prof. Dr. Antonio Pasqualetto – Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Profª Drª Carla Cristina Bauermann Brasil – Universidade Federal de Santa Maria
Prof. Dr. Cleberton Correia Santos – Universidade Federal da Grande Dourados
Profª Drª Diocléa Almeida Seabra Silva – Universidade Federal Rural da Amazônia
Prof. Dr. Écio Souza Diniz – Universidade Federal de Viçosa
Prof. Dr. Edevaldo de Castro Monteiro – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Prof. Dr. Fábio Steiner – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Prof. Dr. Fágner Cavalcante Patrocínio dos Santos – Universidade Federal do Ceará
Profª Drª Girlene Santos de Souza – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Prof. Dr. Guilherme Renato Gomes – Universidade Norte do Paraná
Prof. Dr. Jael Soares Batista – Universidade Federal Rural do Semi-Árido
Prof. Dr. Jayme Augusto Peres – Universidade Estadual do Centro-Oeste
Prof. Dr. Júlio César Ribeiro – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Profª Drª Lina Raquel Santos Araújo – Universidade Estadual do Ceará
Prof. Dr. Pedro Manuel Villa – Universidade Federal de Viçosa
Profª Drª Raissa Rachel Salustriano da Silva Matos – Universidade Federal do
Maranhão
Prof. Dr. Renato Jaqueto Goes – Universidade Federal de Goiás
Prof. Dr. Ronilson Freitas de Souza – Universidade do Estado do Pará
Profª Drª Talita de Santos Matos – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Prof. Dr. Tiago da Silva Teófilo – Universidade Federal Rural do Semi-Árido
Prof. Dr. Valdemar Antonio Paffaro Junior – Universidade Federal de Alfenas
A multidisciplinaridade para o progresso da ciência

Diagramação: Camila Alves de Cremo


Correção: Yaiddy Paola Martinez
Indexação: Amanda Kelly da Costa Veiga
Revisão: Os autores
Organizadores: Clécio Danilo Dias da Silva
Brayan Paiva Cavalcante
Daniele Bezerra dos Santos

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M961 A multidisciplinaridade para o progresso da ciência /


Organizadores Clécio Danilo Dias da Silva, Brayan
Paiva Cavalcante, Daniele Bezerra dos Santos. – Ponta
Grossa - PR: Atena, 2023.

Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-258-1240-3
DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.403232203

1. Ciência. I. Silva, Clécio Danilo Dias da (Organizador).


II. Cavalcante, Brayan Paiva (Organizador). III. Santos,
Daniele Bezerra dos (Organizadora). IV. Título.
CDD 500
Elaborado por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166

Atena Editora
Ponta Grossa – Paraná – Brasil
Telefone: +55 (42) 3323-5493
www.atenaeditora.com.br
contato@atenaeditora.com.br
DECLARAÇÃO DOS AUTORES

Os autores desta obra: 1. Atestam não possuir qualquer interesse comercial que
constitua um conflito de interesses em relação ao artigo científico publicado; 2.
Declaram que participaram ativamente da construção dos respectivos manuscritos,
preferencialmente na: a) Concepção do estudo, e/ou aquisição de dados, e/ou análise
e interpretação de dados; b) Elaboração do artigo ou revisão com vistas a tornar o
material intelectualmente relevante; c) Aprovação final do manuscrito para
submissão.; 3. Certificam que os artigos científicos publicados estão completamente
isentos de dados e/ou resultados fraudulentos; 4. Confirmam a citação e a referência
correta de todos os dados e de interpretações de dados de outras pesquisas; 5.
Reconhecem terem informado todas as fontes de financiamento recebidas para a
consecução da pesquisa; 6. Autorizam a edição da obra, que incluem os registros de
ficha catalográfica, ISBN, DOI e demais indexadores, projeto visual e criação de capa,
diagramação de miolo, assim como lançamento e divulgação da mesma conforme
critérios da Atena Editora.
DECLARAÇÃO DA EDITORA

A Atena Editora declara, para os devidos fins de direito, que: 1. A presente publicação
constitui apenas transferência temporária dos direitos autorais, direito sobre a
publicação, inclusive não constitui responsabilidade solidária na criação dos
manuscritos publicados, nos termos previstos na Lei sobre direitos autorais (Lei
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exclusivos de divulgação da obra, desde que com o devido reconhecimento de autoria
e edição e sem qualquer finalidade comercial; 3. Todos os e-book são open access,
desta forma não os comercializa em seu site, sites parceiros, plataformas de e-
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de direitos autorais aos autores; 4. Todos os membros do conselho editorial são
doutores e vinculados a instituições de ensino superior públicas, conforme
recomendação da CAPES para obtenção do Qualis livro; 5. Não cede, comercializa ou
autoriza a utilização dos nomes e e-mails dos autores, bem como nenhum outro dado
dos mesmos, para qualquer finalidade que não o escopo da divulgação desta obra.
O termo “Ciência” deriva do latim “Scientia”, um substantivo equivalente
a “saber” e “conhecimento”. A Ciência compreende a aquisição sistemática de
conhecimentos com a finalidade de melhoria da qualidade de vida, intelectual ou
material dentro da sociedade. O seu objetivo é explicar, descrever e prever os
fenômenos a partir do desenvolvimento de procedimentos metodológicos que
possam ser constantemente verificados e reproduzidos. Assim, o conhecimento
científico é um produto resultante da investigação científica e este nasce não
apenas da necessidade de encontrar soluções para problemas de ordem prática
da vida diária, mas do desejo de fornecer explicações que possam ser testadas
e criticadas através de provas empíricas e da discussão.
Sabe-se que o avanço e desenvolvimento da Ciência estão abalizados em
aspectos imprescindíveis como a fundamentação teórico-prática e colaboração
entre pesquisadores/cientistas das diversas áreas do conhecimento (humanas,
sociais, exatas, naturais, etc.) e consequentemente na multidisciplinaridade,
as quais consistem na associação de disciplinas que convergem para
APRESENTAÇÃO

uma realização comum, mas sem que cada disciplina tenha que modificar
significativamente a sua própria visão das coisas e dos próprios métodos. Assim,
toda realização teórica que põe em prática saberes diversos corresponde de fato
a um empreendimento pluridisciplinar.
Diante desse contexto, o E-book “A multidisciplinaridade para o
progresso da Ciência” abrange 16 capítulos que envolvem diferentes áreas do
conhecimento, com pesquisas teóricas e práticas nas áreas Ciências biológicas
e da Saúde, Ciências humanas, sociais e aplicadas, bem como, Ciências exatas
e da terra. De modo geral, destacamos a importância da Antena Editora pela
excelente qualidade de editoração e divulgação de pesquisas oriundas de
diversas universidades do Brasil, as quais são fundamentais para a socialização
e construção da Ciência. Agradecemos aos autores pelas contribuições que
tornaram essa edição possível, e juntos, convidamos os leitores para desfrutarem
dessa obra.

Clécio Danilo Dias da Silva


Brayan Paiva Cavalcante
Daniele Bezerra dos Santos
CAPÍTULO 1 ............................................................................. 1
AQUISIÇÃO DE DADOS E MONITORAMENTO REMOTO
Danielle Magalhães Fontenele
Marcos Marinovic Doro
https://doi.org/10.22533/at.ed.4032322031

CAPÍTULO 2 ........................................................................... 10
CONSERVAÇÃO DE NASCENTES E SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS
NAS SERRAS DA JACOBINA: ALERTAS AMBIENTAIS PARA A PORÇÃO
SETENTRIONAL DA CHAPADA DIAMANTINA
Vladimir de Sales Nunes
Gabriel Luiz Celante da Silva
Nataline Silva Araújo
Bruno Cezar Silva
Maria Auxiliadora Tavares da Paixão
Yariadner Costa Brito Spinelli
René Geraldo Cordeiro Silva Junior
Timna da Paixão Fagundes Pereira
Caio Carvalho Novais de Moraes
Silvio Herlandro Galvão de Araújo Sobrinho
Luis Américo de Souza Amorim Marques
SUMÁRIO

Mirele Silva Moreira


Estenio Magno Pereira e Silva
Angélica Barbosa Jericó
Benoit Jean Bernard Jahyny
Lúcia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira
https://doi.org/10.22533/at.ed.4032322032

CAPÍTULO 3 ...........................................................................29
GLIFOSATO PROMOVE ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS E BIOQUÍMICAS
EM ABELHAS Apis mellifera LEPELETIER
Hadja Lorena Rangel Uchôa Cavalcanti de Menezes Costa
Hilton Nobre da Costa
Júlio Cézar dos Santos Nascimento
Renata Valéria Regis de Sousa Gomes
https://doi.org/10.22533/at.ed.4032322033

CAPÍTULO 4 ........................................................................... 41
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DOS PRINCIPAIS ENDOPARASITAS
GASTROINTESTINAIS EM FELINOS NO BRASIL
Maria Eduarda de Souza Silva
Williana Bezerra Oliveira Pessôa
Gabriela Machado Ferreira
Leonardo Sousa Pinheiro
Dayane da Silva Pereira
João Victor de Souza Moreira
Kailane França Carvalho
Maria do Socorro Vieira dos Santos
https://doi.org/10.22533/at.ed.4032322034

CAPÍTULO 5 ...........................................................................53
CANDIDA ALBICANS: AGENTE ETIOLÓGICO DA ENDOCARDITE INFECCIOSA
FÚNGICA
Renata Duarte Batista
Andréa Soares Montenegro
Bruna de Souza Buarque
Cibele Lopes de Santana Ramalho
Donato da Silva Braz Júnior
Douglas Silva Barros
Elayne Ramos
João Alberto Soares Bezerra
Marlon Chaves Cavalcanti
Roberto Bezerra Silva
Sara Assunção
Thiago Santos Tavares
https://doi.org/10.22533/at.ed.4032322035

CAPÍTULO 6 ...........................................................................62
SUMÁRIO

HIV EM IDOSOS - UMA REVISÃO NA LITERATURA


Thiago Leite dos Santos
Paulo Ricardo Arantes
https://doi.org/10.22533/at.ed.4032322036

CAPÍTULO 7 ...........................................................................70
OBESIDADE INFANTIL NO BRASIL: DA PREVENÇÃO AO TRATAMENTO
Adriana da Silva Esquiavan
Adelcio Machado dos Santos
https://doi.org/10.22533/at.ed.4032322037

CAPÍTULO 8 ...........................................................................84
PERFIL SOCIOECONÔMICO, EDUCACIONAL E DE CONHECIMENTO EM
SEGURANÇA DOS ALIMENTOS POR MANIPULADORES DE ALIMENTOS DE
HOSPITAL DE REFERÊNCIA EM FORTALEZA- CE
Leandro Soares Damasceno
Armênia Uchôa de Mesquita
Fabíola Camurça Janebro Damasceno
Angela Nirlene Monteiro Vieira Melo
Eudóxia Sousa de Alencar
Cíntia Gonçalves Nascimento Costa Cordeiro
https://doi.org/10.22533/at.ed.4032322038

CAPÍTULO 9 ...........................................................................92
COMPETÊNCIAS DO ENFERMEIRO DURANTE O ACOLHIMENTO ÀS
VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA E A RELAÇÃO COM PERDAS DE EVIDÊNCIAS EM
PRONTO SOCORRO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Ana Rita Marques Bertollini
Adriana Alves de Moura Augusto
Solange Nogueira Marchezin
Ana Maria Leodoro
Margareth Cristina de Almeida Gomes
Rafael Braga Esteves
https://doi.org/10.22533/at.ed.4032322039

CAPÍTULO 10........................................................................ 105


ASSOCIAÇÃO ENTRE A PRÁTICA DO BALLET CLÁSSICO E A OCORRÊNCIA
DE DOR E ALTERAÇÕES POSTURAIS EM ALUNOS DE UMA ESCOLA
PRIVADA DO RECIFE: ESTUDO SECCIONAL
Meyrian Luana Teles de Souza Luz Soares
Bruna Victória Firmino Sarinho
Deborah Evellynn da Costa Lima Silva
https://doi.org/10.22533/at.ed.40323220310

CAPÍTULO 11 .........................................................................118
PREDIÇÃO POR ANÁLISE IN SILICO DA CONSEQUÊNCIA DE MUTAÇÃO
MISSENSE NO GENE IGF2 HUMANO
SUMÁRIO

Karla Roberta Lemos Maul de Souza Costa


Paula Ferdinanda Conceição de Mascena Diniz Maia
Arthur Felipe Ferreira de Freitas
Maria de Mascena Diniz Maia
https://doi.org/10.22533/at.ed.40323220311

CAPÍTULO 12........................................................................ 125


FRESAMENTO FRONTAL DO AÇO ABNT 1045 COM APLICAÇÃO MQF DO
ÓLEO REFINADO VEGETAL DE BABAÇÚ
Antônio Santos Araújo Júnior
Mauro Araújo Medeiros
Jean Robert Pereira Rodrigues
Waldemir dos Passos Martins
Valter Alves de Meneses
Álisson Rocha Machado
Tiago do Espírito Santo Baldez Neves (In memoriam)
https://doi.org/10.22533/at.ed.403232203120

CAPÍTULO 13........................................................................ 136


CONSTRUÇÃO DE UM ESPECTROFOTÔMETRO DE ABSORÇÃO ATÔMICA
MANUAL PARA O ENSINO DE QUÍMICA INSTRUMENTAL
Sharise Beatriz Roberto Berton
Milena do Prado Ferreira
Jomar Berton Junior
https://doi.org/10.22533/at.ed.40323220313
CAPÍTULO 14.........................................................................141
O ENSINO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA, EM TRILHAS INTEPRETATIVAS,
COM ENFOQUE NA BOTÂNICA NOS ANOS FINAIS
Jurandy das Chagas Lima
Denílson Elias Lima Silva
https://doi.org/10.22533/at.ed.40323220314

CAPÍTULO 15........................................................................ 149


PACTO INTERGERACIONAL NAS RELAÇÕES PREVIDENCIÁRIAS COMO
POSITIVAÇÃO DO PRINCÍPIO DA FRATERNIDADE
Andressa Munaro Alves
Ricardo Scott Hood de Miranda
https://doi.org/10.22533/at.ed.40323220315

CAPÍTULO 16........................................................................ 159


EMBI+BR COMO FERRAMENTA DE APOIO A DECISÃO DE INVESTIMENTO:
MODELAGEM E PREVISÃO
Daiane Rodrigues dos Santos
Tuany Esthefany Barcellos de Carvalho Silva
Tiago Costa Ribeiro
SUMÁRIO

https://doi.org/10.22533/at.ed.40323220316

SOBRE OS ORGANIZADORES ...................................................171

ÍNDICE REMISSIVO ................................................................ 172


CAPÍTULO 1

AQUISIÇÃO DE DADOS E MONITORAMENTO


REMOTO

Data de aceite: 01/03/2023

Danielle Magalhães Fontenele as variáveis de um ambiente industrial, e um


Instituto Federal de Educação, Ciência e computador servidor conectado uma rede
Tecnologia de São Paulo (IFSP). Cubatão, internet para permitir a visualização dos
São Paulo, Brasil dados via WEB. Os resultados preliminares
deste estudo indicaram algumas vantagens
Marcos Marinovic Doro
do método adotado, destacando-se o baixo
Dr. Eng.
custo do sistema de aquisição de dados
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de São Paulo (IFSP). Cubatão, pela utilização do microcontrolador Arduino
São Paulo, Brasil e a rapidez e facilidade de implantação
proporcionada pelo pacote de ferramentas
disponíveis no software Labview.
PALAVRAS-CHAVE: Labview, Arduino,
RESUMO: O monitoramento remoto permite CLP, WEB, Monitoramento Remoto.
realizar ações corretivas e avaliativas de
modo fácil e de rápida decisão por parte ABSTRACT: Remote monitoring allows
dos funcionários, além de visar à economia corrective and evaluative actions in an easy
do processo evitando erros. O presente and fast decision by the employees, as well
trabalho apresenta um sistema que visa as aiming at saving the process avoiding
o monitoramento de dados via internet errors. The present work presents a system
proveniente de sensores e transdutores that aims at the monitoring of data via the
utilizados em processos industriais, a fim Internet from sensors and transducers
de monitorar variações de processo. A used in industrial processes, in order to
metodologia prevê a utilização do software monitor process variations. The project
Labview como tela de supervisão e provides for the use of Labview software as
aplicações WEB e distintos sistemas para a supervisory screen and WEB applications
aquisição e leitura dos dados, tais como: and different systems for acquisition and
microcontrolador Arduino, Controlador reading of sensor data, in particular Arduino
Lógico Programável e placa de aquisição microcontroller, Programmable Logic
de dados. Nesse projeto são utilizados Controller and data acquisition board. In this
diferentes tipos de sensores, a fim de simular project different types of sensors are used in

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 1 1


order to simulate the variables of an industrial environment, and a server computer connected
to an internet network to allow the visualization of the data via WEB. The preliminary results of
this study indicated some advantages by using the adopted platform, highlighting the low cost
of the data acquisition system by the use of the Arduino microcontroller and the speed and
ease of deployment provided by the toolkit available in the Labview software.
KEYWORDS: Labview, Arduino, PLC, WEB, Remote Monitoring.

INTRODUÇÃO
No atual contexto globalizado das indústrias, faz-se necessário o desenvolvimento
de uma ferramenta para o monitoramento e acompanhamento remoto da produção à
distância, de forma que dados produtivos e de processos possam ser observados em
tempo real de qualquer parte do mundo através da rede mundial de computadores.
De acordo com Villarim (2016), uma das preocupações das empresas atualmente
é de melhorarem e aumentarem suas produções visando assim maior lucratividade
e eficiência, pois se algo no processo não for realizado de forma eficiente, a empresa
não obtém sucesso no mercado com seus produtos. A procura por novas soluções é o
ponto inicial para a conquista do mercado para aquela empresa. O acesso remoto por
sua vez é uma tecnologia que permite que um computador consiga acessar uma variável
no computador servidor (aquisição) por meio de outro computador cliente (monitoramento
remoto). Isto traz uma série de benefícios para a manutenção e operação dos processos,
máquinas e equipamentos industriais.
Segundo Garcia et al. (2003) a aquisição de dados é uma atividade essencial para
qualquer tipo de tecnologia. O principal objetivo de um sistema para aquisição de dados é
apresentar valores das variáveis ou de parâmetros de certos equipamentos ao cliente ou
operador. A automação e o monitoramento remoto permitem economizar energia, redução
de espaço físico, organização da sala de servidores, além da segurança de seus dados e
a redução do tempo de resposta (SOARES; MATOS, 2013)
Desta forma, nas indústrias, agricultura e na biomedicina, observa-se o constante
crescimento de tecnologias para a aquisição de dados e monitoramento remoto através
de plataformas online como aplicativos para sistema Android, o aplicativo Cayemes
e o aplicativo da National Instruments conhecido como Data Dashboards, permitindo a
comunicação do software e o monitoramento de variáveis. Mesmo os produtores mais
tradicionais estão automatizando seus processos considerando ganhos de produção,
economia de recursos e melhoria da qualidade do produto final.
Assim sendo, o objetivo desse trabalho é a implementação de um sistema capaz
de realizar o monitoramento e aquisição de dados através de sensores ou transdutores e
disponibilizá-los remotamente em tempo real.
O trabalho proposto visa a comunicação entre o software Labview e diferentes
plataformas de aquisição de dados de processo. As plataformas de aquisição realizam a

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 1 2


leitura dos dados provenientes de sensores como os de temperatura, umidade, pressão,
vazão, entre outros, enquanto que o software Labview fornece acesso a uma ampla
variedade de tecnologias para criar aplicativos distribuídos.

REVISÃO DA LITERATURA
Conforme Souza (2005), tecnologias que utilizam sistemas mecânicos,
eletromecânicos e computacionais para o controle de processo podem ser definidas como
automação. Os processos automatizados permitem utilizar técnicas através do uso de
controladores e algoritmos de controle, para armazenagem de informação e assim calcular
o valor desejado para as informações armazenadas, e se for necessário tomar alguma
ação corretiva para o processo. Na figura 1 podem-se observar os diferentes níveis dos
principais elementos de representação da automação que vai desde o nível de processos
físicos até o nível de gerência.

Figura 1 - Automação Industrial em níveis (Adaptado de Souza, 2005)

Para um sistema industrial, uma das grandes vantagens é a possível utilização de


controladores e dispositivos digitais como smartphones, entre outros, com capacidade
de processamento autônoma de uma forma geral juntamente com o uso computadores
para o monitoramento de varáveis. Possibilitando assim, uma intercomunicabilidade entre
todos os elementos de automação, criando um sistema de comunicação em rede, onde os
equipamentos podem trocar informações de dados entre si.
No nível de processos físicos existem diferentes plataformas de aquisição de
dados de processo, em destaque: os microcontroladores, com por exemplo o Arduino,
os Controladores Lógicos Programáveis (CLP´s) e as placas de aquisição de dados. O
Arduino é uma plataforma open source de computação, cujo seu objetivo é disponibilizar
um kit completo com regulamentadores de fonte e circuitos adicionais sobre uma única
placa. A finalidade do Arduino é oferecer, sem restrições referentes à informação sobre seu
funcionamento e construção, uma plataforma pronta para o desenvolvimento de protótipos

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 1 3


por um custo e tempo menor, em comparação ao que seria gasto para o desenvolvimento
exclusivo de um projeto. A placa de aquisição de dados, por sua vez, é um dispositivo
de entradas e saídas multifuncionais, contendo entradas e saídas analógicas e digitais,
oferecendo funções básicas de aquisição de dados para aplicações de data logging,
medições e experimentos. Por fim, o CLP é um equipamento eletrônico digital com hardware
e software compatíveis com as aplicações industriais. Este equipamento é bastante flexível
e possibilita interface com outros dispositivos da fábrica.
O software Labview (Laboratory Virtual Instruments Engineering Workbench)
da NI (National Instruments) é uma linguagem de programação gráfica que permite a
simplificação e a integração do hardware para que o programador possa rapidamente
adquirir e visualizar conjuntos de dados a partir de qualquer dispositivo de entrada e saída,
podendo ser da NI ou de outros fornecedores de microcontroladores e CLP´s (Controladores
Lógico Programáveis). Através dos seus recursos pode-se montar projetos para medições
e automação. O mesmo fornece acesso a uma ampla variedade de tecnologias para criar
aplicativos distribuídos. A variável compartilhada (shared variable) é um importante passo
em frente a simplificação da programação necessária para tais aplicações.
O aplicativo Data Dashboard permite criar ambientes de monitoramento portátil e
customizados, por meio de aplicações realizadas no software da Labview. O aplicativo permite
criar telas de monitoramento para exibir valores de variáveis compartilhadas publicadas na
rede conhecido como (network-published variables) e indicadores implementado no serviço
de WEB do Labview como, por exemplo: tabelas, medidores e caixas de texto. A aquisição
dos dados pode ser feita através de tablets e smartphones para sistemas Android e IOS.
Na figura 2, pode-se observar uma lógica no software Labview para comunicação com
o aplicativo ao se compartilhar a variável DDVarible2 com o software Data DashBoard.
No aplicativo Data DashBoard na shared variable insere-se o número do IP, permitindo a
comunicação entre o aplicativo e o software.

Figura 3 – Lógica de Comunicação Web no Labview

As ferramentas do software Labview na categoria Web Server, permitem


configurações para o acesso remoto ao painel frontal do supervisório, o recurso Web
Publish Tool permite disponibilizar o layout de página HTML para transmitir na internet.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 1 4


Utilizando essa ferramenta e possível realizar alterações, tais como, configurações de
título, cabeçalho e rodapé da página na internet, escolha do nome do arquivo em HTML,
disponibilização de um endereço URL para acesso, entre outros. O software permite
gerenciamento do acesso de usuários que possam acessar o painel frontal, delimitando
assim o número de IP e o nome de usuário para conexão.

MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho visa integrar distintos sistemas de aquisição de dados,
dispostos em diferentes locais de monitoramento, disponibilizando estes dados numa única
plataforma de monitoramento remoto via browser de internet, permitindo a visualização do
painel frontal em outras redes de computadores. A figura 3 ilustra as principais partes que
compõe o sistema proposto.

Figura 3 – Sistema de aquisição e monitoramento remoto

De acordo com a figura 3, os microcontroladores, os CLP´s e a placas de aquisição


realizam a leitura dos dados provenientes dos sensores e enviam para um computador com
o software Labview instalado, a fim de monitorá-los com recursos próprios do software e
enviá-los para plataformas de monitoramento online ou WEB.
Na primeira fase da pesquisa, desenvolveu-se a comunicação serial entre o software
Labview e o microcontrolador Arduino, a leitura de sensores e desenvolvimento de tela
gráfica no software Labview para visualização dos dados. Na segunda fase realizou-se a
implementação da ferramenta Web Publish Tool do software Labview, a fim de direcionar
a tela do supervisório para uma página HTML, permitindo o monitoramento remoto em

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 1 5


tempo real. Futuramente, pretende-se agregar outras formas de aquisição, como a placa
de aquisição de dados e o CLP.
A comunicação serial entre o Arduino e o software Labview foi realizada com a
instalação do driver NI-VISA da National Instruments (Figura 4). Com essa configuração
tornou-se possível enviar e receber dados dos sensores envolvidos.

Figura 4 – Bloco de Comunicação Visa. (National Instruments)

Através do módulo NI-VISA, pode-se exemplificar uma lógica de funcionamento


para acender um LED utilizando o Labview e o Arduino (Figura 5). Um case structure é
responsável por ligar o LED e um outro é responsável por desligar. Adicionalmente, uma
lógica em linguagem C foi inserida no Arduino, pois esta será responsável por enviar uma
string ao Labview.

Figura 5 - Lógica de acionamento do LED. Adaptado de BARRETO (2012)

No software Labview através da função Web Server torna-se possível disponibilizar


o painel frontal do sistema na internet. Enquanto que na função Browser access configura-
se os números de IPs para acesso do computador servidor e para acesso de outros
computadores. Nas figuras 6a e 6b são apresentadas as telas do Labview exemplificando
estas configurações.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 1 6


Figura 6a - Configuração para disponibilização Figura 6b - Configuração para acesso

Após a realização dos códigos de programação e configurações no software


Labview efetuou-se o monitoramento remoto dos dados. Na figura 7, pode-se observar
a visualização do Painel Frontal do sistema em um browser de internet, esse painel tem
uma atualização das informações a cada 2 segundos, conforme configuração. Outros
computadores que estiverem na mesma rede podem visualizar as informações de forma
remota e em tempo real.

Figura 16 – Visualização do Painel Frontal no browser da internet

A tela do Painel Frontal também pode ser monitorada através da plataforma mobile
no navegador padrão de acesso, sendo apenas necessário o endereço de disponibilização
e do acesso à internet.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 1 7


RESULTADOS
Nesta primeira fase dessa pesquisa foi desenvolvida a comunicação entre o software
Labview e o microcontrolador Arduino. Implementou-se uma lógica em linguagem C no
Arduino para a leitura dos sensores e uma interface gráfica no software LabView para a
visualização dos dados. Além disso, realizou-se um estudo sobre variável shared variable
do software Labview para disponibilização dos dados em uma plataforma WEB.
Os resultados deste estudo indicaram algumas vantagens pelo uso da plataforma
adotada, destacando-se o baixo custo do sistema de aquisição de dados pela utilização
do microcontrolador Arduino e a rapidez e facilidade de implantação proporcionada pelo
pacote de ferramentas disponíveis no software Labview.
Nesta segunda fase do projeto foi desenvolvido um estudo sobre compartilhamento
com a internet utilizando o próprio software Labview e um computador funcionando como
servidor central e a disponibilização dos dados via rede Wi-Fi e acesso local. Neste caso,
aponta para o software Labview como uma solução viável e que permite visualização
remota da tela principal por outros computadores e potencias clientes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O monitoramento dos dados de processo de forma online e acessível em qualquer
lugar é uma necessidade que muitas empresas estão buscando atualmente. O presente
trabalho apresenta um sistema baseado no software Labview integrado com diferentes
plataformas de aquisição para a realização desta tarefa. Estudos preliminares apontam a
plataforma utilizada como uma solução viável, na qual torna o ambiente de programação
extremamente poderoso e versátil para os mais diversos tipos de processos industriais.
O estudo atual limitou-se na comunicação do microcontrolador Arduino e com
software Labview. Como ações futuras, pretende-se integrar outros tipos de equipamentos
para coleta de informações, como a placa de aquisição de dados e o Controlador Lógico
Programável.

REFERÊNCIAS
BARRETO J., Camilo de Lellis. Controlando Arduino pelo Labview - Comunicação RS-232 (Serial
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projetos de servidores para permitir o crescimento inteligente das organizações a baixos
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processos de elevação artificial de petróleo. 2005. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/jspui/
handle/123456789/15444. Acesso em: 19 mar. 2017.

VILLARIM, A. W. R. Desenvolvimento de sistema supervisório para dispositivos


computacionais portáteis. 2016. Disponível em: http://www.cear.ufpb.br/arquivos/cgee/TCC/
TCC_-_ANDRÉA_WILLA_RODRIGUES_VILLARIM.pdf. Acesso em: 26 fev. 2017.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 1 9


CAPÍTULO 2

CONSERVAÇÃO DE NASCENTES E SERVIÇOS


ECOSSISTÊMICOS NAS SERRAS DA JACOBINA:
ALERTAS AMBIENTAIS PARA A PORÇÃO
SETENTRIONAL DA CHAPADA DIAMANTINA
Data de aceite: 01/03/2023

Vladimir de Sales Nunes Yariadner Costa Brito Spinelli


Universidade Federal do Vale do São Universidade Federal do Vale do São
Francisco, Colegiado de Ciências Francisco, Colegiado de Ecologia
Biológicas Senhor do Bonfim - Bahia
Petrolina - Pernambuco http://lattes.cnpq.br/9432813151588512
http://lattes.cnpq.br/5402984414492448
René Geraldo Cordeiro Silva Junior
Gabriel Luiz Celante da Silva Universidade Federal do Vale do São
Universidade Federal do Vale do São Francisco, Colegiado de Medicina
Francisco, Colegiado de Ciências Biológicas Veterinária
Petrolina - Pernambuco Petrolina - Pernambuco
http://lattes.cnpq.br/2525439695550107 http://lattes.cnpq.br/8656930418282981

Nataline Silva Araújo Timna da Paixão Fagundes Pereira


Universidade Federal do Vale do São Universidade Federal do Vale do São
Francisco, Programa de Pós-Graduação Francisco, Programa de Pós-Graduação
em Ciência Animal em Extensão Rural, Bolsista da FAPESB
Petrolina - Pernambuco Juazeiro - Bahia
http://lattes.cnpq.br/2596308003615785 http://lattes.cnpq.br/8890788910340249

Bruno Cezar Silva Caio Carvalho Novais de Moraes


Universidade Federal do Vale do Universidade Federal do Vale do São
São Francisco, Docente do Mestrado Francisco, Colegiado de Ciências
Profissional em Administração Pública em Biológicas
Rede Nacional Petrolina - Pernambuco
Juazeiro - Bahia http://lattes.cnpq.br/3836019233735212
http://lattes.cnpq.br/5363755032857016
Silvio Herlandro Galvão de Araújo
Maria Auxiliadora Tavares da Paixão Sobrinho
Espaço Plural, Universidade Federal do Universidade Federal do Vale do São
Vale do São Francisco Francisco, Colegiado de Ciências Biológicas
Juazeiro - Bahia Petrolina - Pernambuco
http://lattes.cnpq.br/3262671339367592 http://lattes.cnpq.br/2068334799864924

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 10


Luis Américo de Souza Amorim Marques
Universidade Federal do Vale do São Francisco,
Colegiado de Ciências Biológicas
Petrolina - Pernambuco
http://lattes.cnpq.br/0224775546790583

Mirele Silva Moreira


Universidade Federal do Vale do São Francisco,
Colegiado de Ciências Biológicas
Petrolina - Pernambuco
http://lattes.cnpq.br/9745259649449292

Estenio Magno Pereira e Silva


Universidade Federal do Vale do São Francisco,
Colegiado de Ciências Biológicas
Petrolina - Pernambuco
http://lattes.cnpq.br/2776514143186342

Angélica Barbosa Jericó


Universidade Federal do Vale do São Francisco,
Colegiado de Ciências Biológicas
Petrolina - Pernambuco
http://lattes.cnpq.br/3008930175287315

Benoit Jean Bernard Jahyny


Universidade Federal do Vale do São Francisco,
Colegiado de Ciências Biológicas
Petrolina - Pernambuco
http://lattes.cnpq.br/5231240365823088

Lúcia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira


Universidade Federal do Vale do São Francisco,
Doutorado Profissional em Agroecologia e
Desenvolvimento Territorial
Juazeiro - Bahia
http://lattes.cnpq.br/9814539262982598

RESUMO: O cenário ambiental do mundo atual é crítico mas, como nunca, também
particularmente animador em vista ao crescente número de pesquisas e a publicização
desses estudos, principalmente em referência a áreas antes negligenciadas, como a(s)
Caatinga(s) do nordeste brasileiro. Nesta região, um local de bastante interesse e grande
potencial de biodiversidade é a Chapada Diamantina, segmento setentrional da Cadeia
do Espinhaço, uma das maiores formações montanhosas do Brasil. Nesse contexto, este
trabalho objetiva abordar fatores como a definição, delimitação, esforços de conservação e
serviços ecossistêmicos na Chapada Diamantina, em especial no seu trecho de 200 km entre
os municípios baianos de Miguel Calmon e Jaguarari, as Serras Jacobinas. Selecionamos

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 11


ainda um trecho específico dessas serras, a Serra da Fumaça, entre os municípios de
Pindobaçu e Antônio Gonçalves, para exemplificar a ilustração desses fatores, os riscos
ambientais existentes e propor medidas para a conservação dessas áreas. Esperamos
com este trabalho contribuir para um melhor entendimento acerca da importância dessa
região tanto para a comunidade científica quanto para agentes públicos, setor privado e as
populações tradicionais que historicamente habitam as montanhas do sertão baiano.
PALAVRAS-CHAVE: Semiárido; Caatinga; Serra da Fumaça; Serras da Jacobina.

CONSERVATION OF SPRINGS AND ECOSYSTEM SERVICES IN THE


SERRAS DA JACOBINA MOUNTAINS: ENVIRONMENTAL ALERTS FOR THE
NORTHERNMOST PORTION OF THE CHAPADA DIAMANTINA
ABSTRACT: The current environmental scenario on a worldwide level is critical but, as
never before, also particularly encouraging in view of the growing number of studies and
their disclosure, especially regarding previously neglected areas such as the Caatinga(s) of
northeastern Brazil. In this region, the Chapada Diamantina plateau stands out as a place of
great interest and significant potential for biodiversity, corresponding the northern segment of
the Espinhaço Range, one of the largest mountain formations in Brazil. From this perspective,
this manuscript aims to address factors such as the definition, delimitation, conservation
efforts, and ecosystem services in the Chapada Diamantina, especially in its 200 km stretch
between the municipalities of Miguel Calmon and Jaguarari, the Serras Jacobinas mountains.
We also selected a specific section of these mountains, the Serra da Fumaça, between the
municipalities of Pindobaçu and Antônio Gonçalves, to exemplify the illustration of these
factors, the existing environmental risks, and propose measures for the conservation of these
areas. We hope with this study to contribute to a better understanding of the importance of
this region, both for the scientific community and for public agents, the private sector, and the
traditional populations that historically inhabit the mountains of the sertões of Bahia.
KEYWORDS: Semiarid; Caatinga; Serra da Fumaça; Serras da Jacobina.

1 | INTRODUÇÃO
Entende-se por desenvolvimento sustentável o conjunto de esforços no sentido de
atender as necessidades e demandas do presente sem comprometer aquelas das gerações
futuras (RAMADOSS; MOLI, 2011). No cenário global em que a biodiversidade está sob
constante risco e grave declínio e os recursos naturais estão sob crescente pressão em
virtude do aumento das populações humanas, princípios como desenvolvimento sustentável,
conservação da biodiversidade e proteção ambiental adquirem urgente e crucial relevância
para a manutenção de condições de vida dignas no planeta, sem agressões e intervenções
desnecessárias ao meio ambiente ou exacerbada exploração de serviços ecossistêmicos
(CLÉMENÇON, 2021).
O Brasil, especialmente em suas áreas de Cerrado e Mata Atlântica, é um dos
hotspots de biodiversidade mundiais, localidades tanto biologicamente ricas quanto
altamente ameaçadas (MYERS et al., 2000). Contudo, o número de espécies ameaçadas de

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 12


extinção ao redor do planeta supera consideravelmente os atuais esforços de conservação
em marcha em face aos escassos recursos disponíveis para esse propósito, o que ressalta
sobremaneira a importância de adotar estratégias na tomada de decisões para priorizar
ações que melhor potencializem o capital investido para medidas de proteção ambiental
(MYERS et al., 2000; CLÉMENÇON, 2021).
A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da International Union for Conservation of
Nature (IUCN) figura, para o Brasil, 16.351 espécies ameaçadas de extinção entre plantas,
fungos e animais, com 448 destas estando criticamente ameaçadas, 900 ameaçadas e
908 vulneráveis (IUCN, 2023). Nesse contexto, apesar de não figurar na lista dos hotspots
de biodiversidade mundiais, a(s) Caatinga(s) do nordeste brasileiro, o maior segmento de
florestas e bosques tropicais sazonalmente secos no planeta, corresponde também a uma
das mais biodiversas regiões semiáridas do mundo (ARAUJO et al., 2022), tendo sido
historicamente negligenciada e frequentemente cientificamente subestimada, razão pela
qual muitas das espécies ameaçadas compiladas pela IUCN correspondem a registros
nesta região fitogeográfica do Brasil.
Como abordaremos a seguir, a Caatinga (ou Caatingas) está longe de corresponder
às enviesadas e históricas descrições a si atribuídas, retratando-lhe como um árido deserto
ou uma região pobre de pouca diversidade biológica. Pelo contrário, a complexidade
da Caatinga em suas diferentes manifestações, em suas variadas escalas, em sua
abundante e exótica biodiversidade e em suas discrepantes características morfoclimáticas
testemunham que muito há para se descobrir e qualquer consenso está muito longe de
ser atingido. Mesmo com a devastação histórica que continuamente lhe fere de morte e
em que pesem os insuficientes investimentos para sua justa proteção e conhecimento, as
Caatingas resistem, cada vez mais ocupando o espaço de destaque que lhe é merecido por
direito nos anais do conhecimento humano.
Esperamos, portanto, com este manuscrito, contribuir singelamente para o
conhecimento de um pequeno segmento dessa região e, nesse sentido, fortalecer os
esforços de muitos outros pesquisadores e pesquisadoras para a conservação dos
domínios da Caatinga.

2 | AS VÁRIAS CAATINGAS, SUAS CARACTERÍSTICAS E CONFLITOS


DEFINITÓRIOS
O termo “Caatinga” remete quase que instintivamente ao que corresponde às
florestas e bosques tropicais sazonalmente secos (da sigla em inglês SDTFW - Seasonally
Dry Tropical Forest and Woodland) (ou Caatinga stricto sensu) da porção semi-árida do
nordeste brasileiro, com dimensões que ultrapassam 800.000 km2 em áreas sob um regime
pluviométrico irregular, altas taxas de evapotranspiração, altas temperaturas e baixa
umidade (NIMER, 1989; PENNINGTON et al., 2009; QUEIROZ et al., 2017).

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 13


Essa suposta homogeneidade (o termo “Caatinga” vem da língua Tupi e significa
“floresta branca”, em referência ao aspecto esbranquiçado da vegetação sem folhas durante
a estação seca), contudo, não se sustenta em face da grande variedade de manifestações
fitogeográficas observáveis dentro dos limites da Caatinga, e Bernardes (1999) relata que
tão notória é a variação da paisagem vegetal característica do interior do nordeste do Brasil
que se torna mais apropriado referir-se a “Caatingas”, no plural, em vez do seu termo no
singular.
Um histórico das nomenclaturas acessórias atribuídas à Caatinga no sentido de
lhe prover definição consta no trabalho de Lima et al. (2023), onde os autores reportam
o uso histórico de termos tais como zona (SAMPAIO, 1938), domínio (ANDRADE-LIMA,
1981), núcleo (PRADO, 2000), província (FERNANDES, 2006) e região (QUEIROZ; 2006;
QUEIROZ et al., 2017). Velloso et al. (2002), por sua vez, classificaram a Caatinga como
bioma, o qual subdividiram em oito ecorregiões. Contudo, o trabalho de Moro et al. (2016)
incluiu a Caatinga como um Domínio Fitogeográfico dentro do bioma global de Formações
Tropicais Sazonalmente Secas (SDTFWs), sendo esta uma definição bem aceita no meio
científico.
Essa problemática definitória está, em parte, relacionada ao que se convenciona
ser ou não ser Caatinga. Um exemplo disso salta aos olhos ao se analisar a região da
Chapada Diamantina, no estado da Bahia. Esta região mostra um acentuado gradiente
de elevação que proporciona condições climáticas totalmente diferentes em suas partes
altas comparadas ao seu entorno predominantemente semiárido e de baixas altitudes. A
consequência dessa discrepância se reflete na composição da vegetação, que mostra um
mosaico de diferentes formações que incluem as formações sazonalmente secas típicas da
Caatinga, além de enclaves de Cerrado e Floresta Atlântica (BRASIL, 2007).
Nesse sentido, há uma calorosa discussão recente sobre se biomas distintos
incluídos na região da Caatinga fazem ou não parte da mesma unidade, i.e., se enclaves de
Floresta Atlântica e Cerrado encontrados em áreas altas localizadas em meio a vizinhanças
semi-áridas deveriam ou não ser considerados como Caatinga. Enquanto Araujo et al.
(2022) defendem que a região da Caatinga se comporta como um sistema de biotas
diversas e contíguas que interagem e se interrelacionam apesar de diferentes paisagens,
tais como florestas tropicais, savanas, campos rupestres e STDFWs, Lima et al. (2023)
rejeitam esse pressuposto argumentando que os enclaves de outros biomas na Caatinga
são altamente fragmentados, geralmente restritos ao topo de montanhas e não cobrem
grandes áreas, afirmando ainda que as interações de biotas adjacentes não justificam o
agrupamento destas em uma mesma unidade.
Essa discussão deverá durar ainda algum tempo e muitos estudos importantes têm
sido gerados para embasar os diferentes pontos de vista, estudos esses valiosíssimos para
um melhor entendimento da(s) Caatinga(s) do nordeste brasileiro. É nesse cenário que
apresentamos este manuscrito, que, por sua vez, abordará alguns aspectos importantes

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 14


de um pequeno trecho da Chapada Diamantina no coração da Bahia. Se essas áreas são
Caatinga(s) ou não, deixamos o julgamento para o consenso do tempo e o embasamento
provido por futuros trabalhos.

3 | A CHAPADA DIAMANTINA E AS SERRAS DA JACOBINA


Apesar da falta de um consenso sólido que estabeleça de maneira unânime onde
inicia e onde finda a Chapada Diamantina, este é, de maneira sucinta, o nome atribuído à
porção baiana (e setentrional) da Cadeia do Espinhaço, formação com mais de 1000 km
também referida como cordilheira ou planalto por Saadi (1995), que também classifica a
formação como um segmento de “terras altas de direção geral norte-sul e convexidade
orientada para oeste”.
Kamino et al. (2008) definem a Cadeia do Espinhaço como a segunda maior formação
montanhosa do Brasil, estendendo-se de Ouro Branco - MG até Jacobina - BA. Contudo,
o recente trabalho de Nunes et al. (2022) propõe o limite setentrional da formação ao
menos no município baiano de Jaguarari, cerca de 130 km ao norte da definição proposta
pelos primeiros autores, com base na continuidade da formação montanhosa que segue
na direção norte partindo de Jacobina. Esta proposição é também corroborada por Mendes
e Silva (2021). A largura da formação do Espinhaço varia entre 50 e 100 km e a altitude
entre 700 e 1.100 m, podendo, contudo, alcançar até 2000 m nos segmentos da Chapada
Diamantina (GIULIETTI et al., 1987; KAMINO et al., 2008).
A Chapada Diamantina, por sua vez, representa, como dito anteriormente, a porção
baiana da Cadeia do Espinhaço, estando por sua vez dividida em várias serras, sendo
a mais setentrional destas as Serras da Jacobina (SOUSA; BAUTISTA; JARDIM, 2013;
MARQUES; BARRETO; MENDES, 2021), região também chamada de “Piemonte da
Chapada” . Dessa forma, pode-se dizer que as Serras da Jacobina constituem o limite norte
da Chapada Diamantina e, por conseguinte, da Cadeia do Espinhaço.
“Jacobina” refere-se ao município baiano homônimo, reconhecido por sua intensa
e histórica atividade de mineração na Chapada Diamantina. O termo, contudo, tem raízes
etimológicas longevas. Em vez de, quase instintivamente, supostamente fazer referência ao
“Clube dos Jacobinos”, movimento político durante a Revolução Francesa, no século XVIII,
Vieira Filho (2006) relata que existiam, na região, muitos indígenas da etnia Payayá, sendo
o mais influente destes um cacique chamado Jacó cuja companheira chamava-se Bina. Da
nomenclatura das “terras de Jacó e Bina” teria advindo o termo modificado “Jacobina”. Esta
explicação etimológica é pelo menos mais acertada do que a origem francesa do termo
visto que documentos do século XVII já se referiam à região como “Freguesia de Santo
Antônio de Jacobina” (VIEIRA FILHO, 2006).
Às Serras da Jacobina, dessa forma, denominam-se todas as montanhas em uma
única formação que se estende tanto ao norte quanto ao sul do município de Jacobina por

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 15


cerca de 200 km, tendo como limite sul o município de Miguel Calmon e como limite norte
o município de Jaguarari (MENDES; SILVA, 2021; NUNES et al., 2022). Este segmento
possui larguras que variam de 15 a 25 km, altitudes de até 1300 m, e apresenta diversos
pontos de extração de minério, especialmente ouro (MILESI et al., 2002). Nesse contexto,
em face da extensão desse trecho setentrional da Chapada Diamantina e da explicação
etimológica provida no parágrafo anterior, os autores deste trabalho sugerem uma nova
nomenclatura para este segmento, que poderia chamar-se “Serras Jacobinas”, aos nossos
olhos fazendo mais justiça ao lendário casal indígena dos quais provém o nome da região.
Portanto, adotaremos doravante tal nomenclatura neste manuscrito. Um mapa detalhando
a região pode ser visto na Figura 1.

Figura 1. Mapa das Serras Jacobinas. A cadeia de montanhas principal, ao longo da qual se localizam
a maior parte dos itens descritos neste trabalho, marcados com formas geométricas na legenda, é o
segmento contínuo marcado em vermelho mais à direita.
Fonte: preparado pelos autores.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 16


Dadas as maiores elevações dessa região em relação ao seu entorno semiárido, as
Serras Jacobinas possuem, de maneira geral, menores temperaturas, maiores umidades e
maiores taxas de precipitação, que chegam a 1200 mm ao ano (NEGREIROS, 2021). Essas
condições formam ilhas de umidade geralmente encontradas em regiões elevadas afetadas
pelo efeito orográfico, seguindo o padrão geral da Chapada Diamantina (QUEIROZ et al.,
2017; SANTOS NETO et al., 2022).
Nesse sentido, este conjunto de características conferem à região uma composição
fitogeográfica diversificada, sendo constituída por um mosaico de diferentes formações que
incluem as florestas e bosques tropicais sazonalmente secos típicos da Caatinga stricto
sensu, ambientes de Cerrado, Mata Atlântica e campos rupestres e de altitude (BRASIL,
2007; NEGREIROS, 2021).
Sem dúvidas, a água é um dos recursos naturais mais importantes e críticos das
Serras Jacobinas. Negreiros (2021), na obra “Ecocídio das Montanhas do Sertão”, ressalta
o papel crucial das águas que drenam dessas montanhas para a bacia do rio Itapicuru
através de três sub-bacias: a do Rio Itapicuru ao norte, a do Rio Itapicuru-Açu ao centro, e a
do Rio Itapicuru Mirim ao sul, sendo a segunda a maior delas. Conjuntamente, essas bacias
contribuem para o abastecimento de cerca de um milhão de pessoas, com dezenas de
barragens abastecidas pelos cursos d’água que descem da montanha e favorecidas pelas
precipitações volumosas e constantes e pelo clima ameno da região (NEGREIROS, 2021).
Além do uso direto para o consumo e abastecimento, o volume abundante de água
também forma inúmeras cachoeiras nas Serras Jacobinas, favorecendo atividades turísticas
que, contudo, carecem de maior atenção do poder público no sentido de regulamentação
de acesso e uso, convertendo-se muitas vezes em problemas logísticos e ambientais em
virtude da falta estruturas de acesso, sinalização e controle (NEGREIROS, 2021; NUNES
et al., 2022).
Alia-se ao descontrole do uso das serras a intensa e muitas vezes predatória
atividade de mineração, com boa parte das jazidas encontrando-se próximas a nascentes
e cursos d’água (CONCEIÇÃO, 2021). O garimpo é uma atividade histórica nas Serras
Jacobinas, estando majoritariamente concentrado, na região, na cidade que confere o
nome a essas serras. Jesus (2005) relata que a exploração principalmente aurífera na
região ocorreu e ocorre em “surtos”, a exemplo dos anos 1930-40, dos anos 1950-60,
dos anos 1980-90, e novamente a partir de 2004. Contudo, é necessário salientar que
as informações frequentemente disponíveis sobre mineração fazem referência a áreas de
garimpo conspícuas e/ou legalizadas, verdadeiramente escondendo um amplo espectro
atividades mineratórias não-regulamentadas e potencialmente ilegais que ocorrem de
maneira obscura ao longo dos remotos vales das Serras Jacobinas, conforme relatado por
NUNES et al. (2022) (ver item 5 deste manuscrito).
Finalmente, um outro significativo problema que tem assombrado a região em
tempos recentes se refere à acentuada expansão de parques eólicos na região, que

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 17


se aproveitam da abundância de ventos nos cumes das serras e, em seu processo de
instalação, causam enorme devastação principalmente através do desmatamento e
abertura de estradas, comprometendo a estabilidade de encostas e o abastecimento de
aquíferos através da destruição das matas subúmidas nessas áreas (CONCEIÇÃO, 2021).
A exploração eólica nas Serras Jacobinas é amparada no argumento da crise energética
e no apelo pela expansão de energias renováveis, escondendo, contudo, a devastação
causada nos territórios onde os parques eólicos são instalados através da expropriação de
comunidades e redução da biodiversidade (MENDES; SILVA, 2021).

4 | SERRA DA FUMAÇA E SUAS NASCENTES: UM RICO E NEGLIGENCIADO


TRECHO DAS SERRAS JACOBINAS
Serra da Fumaça é o nome atribuído a um segmento determinado de maneira
mais ou menos arbitrária entre os municípios baianos de Pindobaçu e Antônio Gonçalves
(NUNES et al., 2022). O recente trabalho de Santos et al. (2022) afirma que a Serra da
Fumaça se estende de Pindobaçu a Senhor do Bonfim. Contudo, nós discordamos dessa
afirmação visto que as formações conjuntas que definem o que é conhecido como Serra da
Fumaça assumem características totalmente diferentes para mais ao norte dos limites do
município de Antônio Gonçalves.
Além disso, julgamos ser muito mais pertinente uma definição da Serra da Fumaça
com base no território que compreende as áreas de drenagem do rio homônimo que desce
desta montanha, o rio Fumaça (que drena para o sul), visto que os outros rios que nascem
nessa região, a exemplo do rio Aipim, represado no município de Antônio Gonçalves,
drenam para o norte, descaracterizando por completo uma definição da Serra da Fumaça
tão extensa quanto até Senhor do Bonfim (NUNES et al., 2022). Um estudo específico
nesta temática está já em andamento e será publicado por nós em breve.
O cerne de toda a riqueza em biodiversidade e recursos naturais da Serra da Fumaça
reside em suas águas. Portanto, abordaremos principalmente esse aspecto neste item,
deixando para o próximo item deste manuscrito os aspectos relacionados à conservação
da área e seus serviços ecossistêmicos.
Como afirmamos previamente neste manuscrito, Velloso et al. (2002) dividiram
a Caatinga em oito ecorregiões, a mais elevada destas sendo o “Complexo Chapada
Diamantina”, que, de acordo com os autores, mostra um relevo altamente irregular, com
encostas íngremes e vales estreitos e profundos. Contudo, em que pesem estas afirmações,
a própria natureza etimológica do termo “Chapada” Diamantina não permite esquecer de
que estamos nos referindo, essencialmente, a um altiplano. Este cenário é facilmente
verificável na Serra da Fumaça, em que todos os cenários anteriores são claramente
visíveis. Neste local, enquanto as áreas turísticas se concentram essencialmente ao longo
dos cursos d’água dentro de vales, as áreas altiplanas são mais remotas e em geral longe
do alcance de transeuntes eventuais. Na Figura 2 é possível observar a distribuição dessas

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 18


áreas e outros pontos de interesse na Serra da Fumaça.

Figura 2. Mapa da Serra da Fumaça. O polígono branco com margens vermelhas identifica toda a
bacia hidrográfica do rio Fumaça. O polígono vermelho identifica as áreas utilizadas por turistas. O
polígono amarelo identifica áreas de planalto. Com exceção da estrela vermelha, os outros símbolos
representam a localização das principais cachoeiras.
Fonte: preparado pelos autores.

De acordo com Rizzini (1997), áreas de planalto podem apresentar solos de


profundidade moderada e conter aquíferos em sua estrutura. Nesse sentido, os planaltos
da Serra da Fumaça são áreas favoráveis a tais reservatórios e contêm um grande número
de nascentes que emergem de toda a região (CARVALHO; RIOS; SANTOS, 2013; NUNES
et al., 2022).
Nascentes são pontos de origem de praticamente todo curso d’água, se formando
quando um aquífero se preenche de água ao ponto de extravasar seu conteúdo para a

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 19


superfície, variando em tamanho desde pontos intermitentes até grandes lagoas perenes
(USGS, 2022). Faria (1997) propôs seis diferentes tipos de nascentes, classificadas com
base em sua localização, tipo de vazão e duração, sendo estas definidas como fixas,
móveis, difusas, pseudo-nascentes, primárias e secundárias.
Na Serra da Fumaça há, como mencionado previamente, um rio de significância
regional, o rio Fumaça, que é um afluente do rio Itapicuru-Açu, por sua vez um afluente
do rio Itapicuru. As principais nascentes do rio Fumaça foram determinadas com precisão
no recente trabalho publicado por NUNES et al. (2022), que definiram que o referido curso
d’água conta com nascentes principais de dois tipos: uma nascente fixa, na qual a água
brota de um local específico do subsolo, e nascentes difusas, nas quais a água exfiltra
do subsolo ao longo de uma área maior encharcada onde não é possível determinar
com exatidão o local de exfiltração. Outras nascentes secundárias do Rio Fumaça foram
propostas por Carvalho, Rios e Santos (2013).
A bonança hídrica da Serra da Fumaça, tornada possível pelos diversos cursos
d’água que compõem a bacia do rio Fumaça, formam, em diversos trechos, belas e
altas cachoeiras que atraem um grande número de turistas em várias épocas do ano.
As principais cachoeiras da Serra da Fumaça são o Poço das Estrelas (ou Cachoeira da
Fumaça), Véu de Noiva (ou Olho de Deus), Sete Quedas, Ventadouro e Cachoeira da
Onça, a mais remota das cinco e raramente visitada por turistas (VALE, 2005; SANTOS et
al., 2022). Contudo, durante os períodos de chuva, outras cachoeiras, temporárias, podem
surgir em locais inusitados, durando tanto quanto dure o aumento na precipitação.
Por sua vez, favorecidas pelas condições hídricas, as manchas verdes de Floresta
Atlântica nas proximidades dos cursos d’água e as áreas de Cerrado que cobrem os altiplanos
da região formam verdadeiros santuários de biodiversidade, atestados seja pelos vários
estudos disponíveis que, frequentemente, resultam em novos registros (ALMEIDA; IZABEL;
GUSMÃO, 2011; ALMEIDA; BARBOSA; GUSMÃO, 2012; SOUSA; BAUTISTA; JARDIM,
2013; LIMA; ZACCA, 2014; GANDARA; ROQUE, 2020), novas espécies (ALMEIDA, 2010;
ALMEIDA; GUSMÃO, 2014; ALMEIDA; MILLER; GUSMÃO, 2014; ALMEIDA et al., 2015;
CONCEIÇÃO et al., 2016) ou outros resultados de interesse científico (NUNES et al., 2021;
SANTOS et al., 2022), seja por estudos incipientes e registros fotográficos independentes
que atestam o grande e pouco explorado potencial da área.
Mesmo assim, se considerarmos, como mencionado anteriormente, que a Serra
da Fumaça é um enclave de diferentes manifestações fitogeográficas, exibindo, em
dimensões notavelmente restritas, características de Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica
e mostrando um elevado potencial de biodiversidade, é preocupante notar que há apenas
algumas poucas dezenas de estudos disponíveis na literatura que fazem referência essas
montanhas, sendo ainda menos os estudos conduzidos especificamente nesta região.
Enquanto isso, infelizmente, a devastação ambiental, principalmente aquela ausente dos
registros oficiais, avança a toque de caixa.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 20


5 | CONSERVAÇÃO E SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS NA SERRA DA FUMAÇA:
POTENCIAIS E RISCOS NO USO DOS RECURSOS NATURAIS
Quando falamos em conservação invocamos, necessariamente, a busca pelo
equilíbrio entre as demandas do desenvolvimento humano e econômico e a necessidade
de proteger a diversidade biológica e os recursos naturais (CAO et al., 2021). Em tempos
modernos, contudo, os desafios que envolvem os aspectos relacionados à conservação são
cada vez maiores e mais complexos que as abordagens convencionais em face a uma série
de fatores, incluindo o incessante aumento da população mundial, a pressão por abertura
de novas áreas agricultáveis, a expansão de empreendimentos comerciais que requerem
intervenções drásticas como supressão vegetal e a crescente conscientização acerca da
necessidade de se investir em desenvolvimento sustentável (JAHUN et al., 2015).
Há cada vez mais demanda, portanto, de conciliar esforços de proteção ao meio
ambiente em áreas com marcante atividade humana e atuação por vezes conflitante dos
setores público e privado, naturalizando a discussão sobre conservação na rotina da
tomada de decisões a nível pessoal, comunitário, empresarial e governamental (DAILY;
MATSON, 2008).
Essa discussão é de extrema relevância para que se possa efetivar um manejo
sustentável dos serviços ecossistêmicos, especialmente em áreas cujo potencial de
biodiversidade é muitas vezes sub-explorado ou insuficientemente conhecido mas onde há
intenso uso dos recursos naturais, como é o caso das Serras Jacobinas e principalmente
da Serra da Fumaça. Esses serviços (ecossistêmicos) correspondem, seguindo a definição
de Daily (2003), às condições e processos através dos quais os ecossistemas naturais
e as espécies que os compõem mantêm a biodiversidade e provêm recursos e funções
vitais, objetivas e subjetivas, à existência humana. Já Constanta et al. (1997) e MA (2005)
apresentam definições que se aproximam, relacionando os serviços ecossistêmicos aos
benefícios diretos e indiretos que as populações humanas obtêm dos ecossistemas.
A Lei 14.119 de 13 de janeiro de 2021, que institui a Política Nacional de Pagamento
por Serviços Ambientais, sumariza os serviços ecossistêmicos em quatro modalidades:
a) serviços de provisão, que fornecem bens ou produtos ambientais utilizados pelo ser
humano para consumo ou comercialização (e.g.: água, alimentos, madeira); b) serviços
de suporte, que mantêm a perenidade da vida na Terra (e.g.: ciclagem de nutrientes, a
decomposição de resíduos, polinização, dispersão de sementes); c) serviços de regulação,
que mantêm a estabilidade dos processos ecossistêmicos (e.g.: sequestro de carbono,
purificação do ar, manutenção do equilíbrio do ciclo hidrológico); e d) serviços culturais,
sendo aqueles os que constituem benefícios não-materiais providos pelos ecossistemas
(e.g.: recreação, turismo, identidade cultural) (BRASIL, 2021).
Analisando esta classificação, podemos, para os propósitos deste manuscrito, dividir
artificialmente os serviços ecossistêmicos listados por Brasil (2021) em duas categorias: a)

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 21


uso direto e b) uso indireto, com a primeira englobando os serviços de provisão e culturais,
sobre os quais haveria uma utilização direta, com extração de lucro sobre a sua exploração,
e a segunda categoria abarcando os serviços de suporte e regulação, de utilização indireta
e sendo responsáveis, de certa maneira, pela existência, continuidade e manutenção dos
dois primeiros. Sobre a exploração dos serviços de uso direto resultam, nesse sentido,
consequências sobre os serviços de uso indireto, com tais consequências comprometendo
ou fortalecendo de volta os serviços de uso direto, o que ressalta sua interdependência
e a necessidade de manutenção de um equilíbrio entre as duas categorias de serviços
ecossistêmicos.
O mapeamento dos serviços ecossistêmicos é uma abordagem relativamente
recente que busca destacar relações espaciais entre as características de um dado
ambiente e sua contribuição para o bem-estar humano, sendo especialmente útil para
entender e quantificar a oferta e demanda dos serviços e apoiar a tomada de decisões
e a adoção de políticas (BROWN; FAGERHOLM, 2015). Buscaremos a seguir sumarizar
alguns dos serviços ecossistêmicos da região de interesse deste manuscrito, a Serra da
Fumaça, sem, contudo, realizar um mapeamento destes, o que, todavia, poderia e deveria
ser buscado em futuros estudos.
Importante aqui diferenciar o serviço ecossistêmico, ou seja, o produto/benefício
obtido, do uso que é feito dele. Vale também ressaltar que um mesmo recurso (e.g.:
água) pode ser utilizado como mais de um tipo de serviço ecossistêmico (e.g.: consumo e
recreação). Nesse sentido, é possível verificar na Serra da Fumaça a utilização da água
para consumo humano, consumo animal, irrigação agrícola (com mangueiras instaladas
desde o topo da serra para captar água próximo às nascentes), banho e como elemento
atrativo do turismo nas várias cachoeiras presentes no local (VALE, 2005).
Outros usos relacionados aos serviços ecossistêmicos de provisão na Serra
da Fumaça já reportados na literatura incluem extração de madeira para construção e
acendimento de fogueiras, a extração mineral (garimpo) não regulamentada próximo a
áreas de nascente, a alimentação do gado nos pastos naturais (causando uma série de
problemas, como contaminação de cursos d’água e compactação do solo) e a caça ilegal
de animais silvestres para consumo e venda (LOPES, 2010; NUNES et al., 2022), além
de usos ainda não documentados mas relatados por moradores das proximidades como a
venda ilegal de plantas extraídas da localidade.
O uso turístico e recreativo dos serviços ecossistêmicos culturais na Serra da
Fumaça, por sua vez, contrasta flagrantemente com o aspecto relacionado à identidade
cultural das populações locais. Os estudos disponíveis sobre a região alertam há já quase
duas décadas para os prejuízos causados pelo turismo predatório, com o intenso fluxo de
pessoas nessas montanhas, atraídas pelas exuberantes paisagens naturais, resultando em
acúmulo de lixo, desmatamento, queimadas, invasão de propriedades privadas, violência
e contaminação das águas (VALE, 2005; CARVALHO; RIOS; SANTOS, 2013; NUNES et

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 22


al., 2022).
Contrariamente, o que se observa por parte das comunidades que vivem na base
da montanha, a exemplo das comunidades dos povoados de Lutanda e Fumaça, áreas
quilombolas do município de Pindobaçu, Bahia, é uma tentativa resiliente de manter um
constante e contínuo cuidado com a Serra da Fumaça, suas matas e cachoeiras, ao tempo
em que convivem com a pouca e insuficiente presença do poder público e a exploração
crescente por parte de empresas de mineração e a aproximação de complexos de energia
eólica. Esse cenário apresenta um grave potencial de ameaça aos esforços de conservação
na região visto que, na falta de oportunidades e da presença do poder público para tomar
medidas que garantam o desenvolvimento local aliado à proteção ambiental, as ofertas
de grupos privados, frequentemente orientadas ao lucro exacerbado em detrimento da
proteção ambiental, podem parecer demasiada e compreensivelmente tentadoras.

6 | PROPOSTAS PARA O PRESENTE E FUTURO DA PORÇÃO SETENTRIONAL


DAS SERRAS JACOBINAS
A Lei 9.985, de 18 de julho de 2000, instituiu o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza e estabeleceu normas para a criação, implantação e gestão
das unidades de conservação. De acordo com essa lei, as unidades de conservação são
espaços territoriais e seus recursos ambientais com características naturais relevantes,
objetivos de conservação, limites definidos, e sob regime especial de administração
(BRASIL, 2000).
Essa lei dividiu as unidades de conservação em dois grandes grupos: a) unidades
de proteção integral (Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento
Natural e Refúgio de Vida Silvestre) e b) unidades de uso sustentável (Área de Proteção
Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista,
Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do
Patrimònio Natural). O objetivo das primeiras é a preservação da natureza, sendo admitido
apenas o uso indireto dos recursos naturais, enquanto as unidades de conservação sob
a segunda classificação têm por objetivo compatibilizar a conservação da natureza com o
uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais (BRASIL, 2000).
Nesse sentido, existem já algumas propostas relacionadas a medidas protetivas
para as Serras Jacobinas e para a Serra da Fumaça especificamente. Uma das mais
estruturadas é a proposta relatada por Negreiros (2021) que visa a criação de uma Área
de Proteção Ambiental (APA) entre os municípios de Miguel Calmon e Jaguarari, já em
tramitação na Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA) do Estado da Bahia, a APA
Nascentes do Itapicuru.
Essa APA totalizaria cerca de 380.000 hectares e abarcaria 11 municípios baianos
(Jaguarari, Senhor do Bonfim, Campo Formoso, Antônio Gonçalves, Pindobaçu, Mirangaba,
Saúde, Caém, Jacobina, Miguel Calmon e Morro do Chapéu). O desafio mais significativo

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 23


relacionado à gestão desta APA é conciliar a extração mineral, geração eólica, atividades
agropecuárias e turismo com a conservação dos ambientes naturais responsáveis pela
manutenção dos serviços ecossistêmicos encontrados nas serras ao tempo que se mantém
o modo de vida das comunidades locais (NEGREIROS, 2021).
Outra proposta de unidade de conservação, desta vez especificamente para a
Serra da Fumaça, foi proposta por Nunes et al. (2022) em estudo sobre as nascentes do
rio Fumaça, cujos autores integram também o presente trabalho. Além disso, os autores
alertam ainda para a necessidade de medidas imediatas e independentes de processos
mais longos e complexos como a criação de unidades de conservação, a exemplo da
instituição de Áreas de Preservação Permanente (APPs) no entorno das áreas de nascente
identificadas no trabalho, todas sob interferência de atividades humanas como garimpo e
pecuária (NUNES et al., 2022).
Por fim, é válido ressaltar que o ônus da proposição, efetivação e fiscalização
de medidas de conservação não pode recair exclusivamente sobre o meio acadêmico,
frequentemente desprovido dos recursos e contatos necessários para que importantes
alertas ambientais se tornem realidade. Pelo contrário, esse esforço precisa ser coletivo,
atacando a problemática em múltiplas frentes, sempre sob o prisma de que, quanto mais
cedo as medidas corretas forem tomadas, menor será a chance de que medidas drásticas
sejam necessárias.

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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 2 28


CAPÍTULO 3

GLIFOSATO PROMOVE ALTERAÇÕES


COMPORTAMENTAIS E BIOQUÍMICAS EM
ABELHAS Apis mellifera LEPELETIER

Data de submissão: 30/12/2022 Data de aceite: 01/03/2023

Hadja Lorena Rangel Uchôa Cavalcanti estas são responsáveis por um terço da
de Menezes Costa polinização dos vegetais cultivados no
Universidade Federal Rural de mundo. A investigação visou as alterações
Pernambuco, Departamento de Zootecnia comportamentais e bioquímicas resultantes
Recife, Pernambuco da exposição das abelhas africanizadas à
https://orcid.org/0000-0002-1952-5187
ingestão do ingrediente ativo glifosato. A
Hilton Nobre da Costa investigação foi conduzida no Laboratório
Universidade Federal Rural de de Genética Animal e Melhoramento de
Pernambuco, Departamento de Morfologia Abelhas do Departamento de Zootecnia da
e Fisiologia Animal Universidade Federal Rural de Pernambuco
Recife, Pernambuco (DZ/UFRPE), e foi dividida em duas fases:
https://orcid.org/0000-0002-3485-3162 1 - Bioensaio preliminar com tempo de
exposição de 6 h; e 2 - Bioensaio com
Júlio Cézar dos Santos Nascimento
24h de exposição. As experiências foram
Universidade Federal Rural de
Pernambuco, Departamento de Zootecnia realizadas em triplicata, utilizando 90
Recife, Pernambuco abelhas operárias nas duas fases. Durante
https://orcid.org/0000-0003-3107-5876 a execução dos experimentos, as abelhas
foram mantidas num ambiente climatizado
Renata Valéria Regis de Sousa Gomes com uma temperatura média de 23,9±0,8°C
Universidade Federal Rural de e umidade de 50%, distribuídas em três
Pernambuco, Departamento de Zootecnia tratamentos, formando os seguintes grupos:
Recife, Pernambuco
T1 (controle) - 1:1 60-g de sacarose e 60 mL
https://orcid.org/0000-0002-2357-9989
de água destilada, T2 (960-μL glifosato) e T3
(1. 920-μL glifosato) adicionados ao xarope
de 120 mL (1:1 60-g de sacarose e 60 mL
RESUMO: O uso de pesticidas, como de água destilada). O comportamento das
o glifosato, para o manejo de pragas e abelhas foi observado a cada 30 minutos.
ervas daninhas vem aumentando. Isto As análises bioquímicas foram lípidos,
tem tido um impacto nos polinizadores, açúcar total, glicogênio e proteínas. Foram
especialmente nas abelhas, uma vez que observadas alterações no comportamento

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 3 29


das abelhas após 2h de exposição, com tratamentos T2 e T3 mostrando desorientação e
letargia, estatisticamente diferentes de T1. As primeiras mortes ocorreram nos tratamentos T2
e T3, nas primeiras 6h da experiência. Observou-se uma redução nos valores de glicogênio
e açúcar total nos tratamentos com inclusão de glifosato, o que difere significativamente do
controle. Os valores das proteínas e dos lípidos não mostraram diferenças estatisticamente
significativas. Concluiu-se que a ingestão de glifosato provoca alterações comportamentais e
bioquímicas nas abelhas melíferas.
PALAVRAS-CHAVE: Abelhas desorientadas, agrotóxico, herbicida, moléculas nutricionais,
nutrição.

GLYPHOSATE PROMOTES BEHAVIORAL AND BIOCHEMICAL CHANGES IN


Apis mellifera LEPELETIER BEES
ABSTRACT: The use of pesticides, such as glyphosate, for pest and weed management is
increasing. This has had an impact on pollinators, especially bees, since they are responsible
for a third of the pollination of the world’s cultivated vegetables. The research aimed at the
behavioral and biochemical changes resulting from the ingestion exposure of Africanized
honey bees to the active ingredient glyphosate. The research was conducted in the
Laboratory of Animal Genetics and Bee Improvement of the Department of Animal Husbandry,
Federal Rural University of Pernambuco (DZ/UFRPE), and was divided into two stages: 1 -
Preliminary bioassay with exposure time of 6 h; and 2 - Bioassay with 24 h of exposure. The
experiments were performed in triplicate, using 90 worker bees in the two stages. During
the execution of the experiments, the bees were kept in a climate-controlled environment
with a mean temperature of 23.9±0.8°C and humidity of 50%, distributed in three treatments,
forming the following groups: T1 (control) - 1:1 60-g sucrose and 60 mL of distilled water,
T2 (960-μL glyphosate) and T3 (1. 920-μL glyphosate) added to 120-mL syrup (1:1 60-g
sucrose and 60 mL of distilled water). The behavior of the bees was observed every 30 min.
Biochemical analyses were lipids, total sugar, glycogen and protein. Changes in bee behavior
were observed after 2h of exposure, with treatments T2 and T3 showing disorientation and
lethargy, statistically different from T1. The first deaths occurred in treatments T2 and T3 in
the first 6 h of the experiment. We observed a reduction in glycogen and total sugar values
in the treatments with glyphosate inclusion, differing significantly from the control. The values
of proteins and lipids showed no statistically significant difference. It was concluded that the
ingestion of glyphosate causes behavioral changes and biochemical in honey bees.
KEY-WORDS: Disoriented bees, agrochemical, herbicide, nutritional molecules, nutrition.

1 | INTRODUÇÃO
As abelhas são responsáveis por cerca de um terço da produção mundial de
alimentos, sendo consideradas, entre os polinizadores, os mais importantes (FAO, 2022).
Em sistemas agrícolas, esses insetos estão intimamente ligados na polinização de muitas
espécies cultiváveis e, consequentemente, mais suscetíveis à contaminação por pesticidas
comumente usados nas lavouras. Entre todas as espécies de abelhas afetadas pela
exposição, a Apis mellifera Lepeletier, também conhecida como africanizada, se destaca,

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 3 30


pois possui perfil generalista na busca de recursos (MOUGA, 2005).
Por ser um importante polinizador em ambientes não perturbados, essa espécie
se tornou um modelo experimental na avaliação de impacto ambiental de pesticidas. Os
problemas do uso de agroquímicos estão amplamente divulgados, e são comprovados
ter efeitos adversos no comportamento (BALBUENA et al., 2015, FARINA et al., 2019,
DELKASH-ROUDSARI, 2020), imunidade e microbiota intestinal (CASTELLI et al., 2021),
reprodução (HOOPMAN et al., 2018), desenvolvimento (WU et al., 2011), dentre outros.
Entre os pesticidas, o glifosato é o mais usado no mundo e prevalece nos principais
produtos utilizados em monoculturas como o milho, soja e cana-de-açúcar (PIGNATI et al.,
2017). Apesar de ser reconhecido como um produto de baixa toxicidade, há evidências
de impacto pela sua utilização no meio ambiente (GOMES, 2017). Sendo assim, a
presente pesquisa avaliou os efeitos promovidos pela ingestão do herbicida glifosato no
comportamento de desorientação, letargia e morte, como também no perfil de bioquímico de
moléculas como proteínas, lipídios, glicogênio e açúcar em abelhas operárias A. mellifera.

2 | MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa foi conduzida no Laboratório de Genética Animal e Melhoramento de
Abelhas do Departamento de Zootecnia (DZ) e no Laboratório de Fisiologia de Insetos do
Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal (DMFA) da Universidade Federal Rural de
Pernambuco (UFRPE, Recife, Brasil).

2.1 Coleta das abelhas


As abelhas operárias foram coletadas do apiário experimental do DZ da UFRPE
em recipientes plásticos e transferidas para as gaiolas de observação no Laboratório de
Genética Animal e Melhoramento de Abelhas.

2.2 Bioensaios
A metodologia utilizada foi de Costa et al. (2013) com adaptações. Durante a
montagem dos bioensaios, as abelhas foram mantidas em ambiente climatizado com
temperatura média de 23,9±0,8 °C e umidade de 50%. A contaminação foi via ingestão.
Os insetos foram transferidos para um tubo de Policloreto de vinila (PVC) de 15 cm de
diâmetro por 10 cm de altura, apoiados sob um prato Vasart para vaso redondo e tampados
com tecido tipo voil. No interior dos tubos PVC, foi oferecido xarope em uma placa de Petri
de 90x15mm forradas com tela de Nylon, perfazendo os seguintes grupos: T1 (Controle)
1:1 60 g de sacarose e 60 mL de água destilada; T2: 960 μL de glifosato adicionado a 120
mL de xarope (1:1 60 g de sacarose e 60 mL de água destilada); e T3: 1.920 μL de glifosato
adicionado a 120 mL de xarope (1:1 60 g de sacarose e 60 mL de água destilada). O tempo
de exposição foi de 6 horas e 24 horas, perfazendo as etapas 1 e 2, respectivamente.
Os experimentos foram realizados em triplicata, totalizando a utilização de 90 abelhas

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 3 31


operárias.

2.3 Pesticida comercial


O produto comercial utilizado foi o herbicida Roundup® (445 g/L i.a. glifosato,
Monsanto do Brasil LTDA – São Paulo/SP). Foi utilizada a menor dose de rotulagem indicada
pelo fabricante, onde para cada 100 mL de xarope utilizou-se 1.600 μL do produto, sendo
o T2 50% da dose mínima recomendada e o T3 100% da dose. As abelhas permaneceram
com recipiente de água nas gaiolas durante a primeira hora e meia do experimento, após
esse período a água foi retirada.

2.4 Análises comportamentais


Os dados comportamentais foram registrados a cada 30 minutos. Os parâmetros
avaliados foram: i) Abelhas ativas (abelhas com comportamento natural, se movendo
rapidamente); ii) abelhas paradas (não apresentavam movimento por curtos períodos);
iii) abelhas desorientadas (voavam em padrões anormais, confusa, caindo do topo
frequentemente ou não conseguindo chegar ao topo da arena); iv) abelhas letárgicas
(pouca movimentação que permaneciam paradas por longos períodos, e/ou com contrações
involuntárias); v) abelhas ingerindo alimento (sobre a plataforma de alimentação; vi) abelhas
mortas (nenhuma reação a estímulos, sem vida).

2.5 Ensaios Bioquímicos


Para extração e quantificação das proteínas solúveis totais, lipídeo, açúcar total
e glicogênio, foi utilizada uma abelha em cada amostra para cada tratamento, sendo
obtidas 5 repetições. O preparo das amostras (controle e tratamentos) se deu com abelhas
imobilizadas a uma temperatura de 4° C e macerados em 1,0 µL do tampão fosfato de sódio
(pH 7,4 e 0,1 M). O macerado foi retirado com um pipetador automático e armazenado
em um microtúbulo devidamente etiquetado. Todo procedimento foi efetuado em baixa
temperatura para evitar a oxidação das amostras. Após esta etapa ocorreu o preparo das
amostras e para isso cada grupo de amostras foi centrifugada por 3 minutos a 3000 rpm.
Após a centrifugação, foi separado 100 µL de cada amostra para análise das proteínas
solúveis totais e 200 µL para as análises de lipídio, açúcar total e glicogênio.

2.6 Extração e quantificação de proteínas totais


As proteínas solúveis totais foram determinadas a partir do método de Bradford
(1976). Os 100 µL de cada amostra de macerado foram transferidos para tubos de vidro
de centrifugação, adicionando o corante Bradford (0,01% de Comissie Blue G-250; 8,5%
de ácido fosfórico e 4,7% de etanol) até alcançar o volume de 5 mL. Os tubos foram então
homogeneizados em agitador tipo vórtex e em seguida permaneceram em repouso por 2
minutos. Posteriormente, foi feita a leitura em espectrofotômetro UV visível/190-1000 nm

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 3 32


Biospectro SP-220 em comprimento de onda de 595 nm. A unidade de leitura utilizada foi
µg/mL.

2.7 Extração e quantificação de lipídios, glicogênio e açúcar


O conteúdo do lipídio, açúcar total e glicogênio foram avaliados utilizando o método
de Van Handel (1985a, b), onde 200 μL do macerado homogeneizado foi acrescido 200 μL
de sulfato de sódio e 800 μL de metanol e clorofórmio (proporção 1:1) e depois centrifugado
a 3000 rpm durante 3 minutos. O precipitado foi usado para a análise de glicogênio e o
sobrenadante foi transferido para um tubo de ensaio onde foram separados os lipídios e
o açucares. Os lipídios foram analisados espectrofotometricamente usando o método de
ácido fosfórico-vanilina, enquanto o açúcar total e glicogênio pelo método ácido sulfúrico-
antrona. Posteriormente, foi realizada a leitura em espectrofotômetro UV visível/190-
1000nm Biospectro SP-220 em comprimento de onda de 625 nm. A unidade de leitura
usada foi µg/mL.

2.8 Análises estatísticas


O delineamento experimental foi inteiramente casualizado. Os dados
comportamentais e das variáveis bioquímicas foram analisados por meio da estatística
descritiva e da análise de variância, verificando-se a diferença mínima significativa entre os
tratamentos pelo teste de Tukey (P<0,05). A análise discriminante multivariada foi utilizada
com o objetivo de discriminar e alocar os diferentes grupos de tratamentos. Os dados foram
analisados pelo software estatístico R Core Team (2018).

3 | RESULTADOS

3.1 Etapa 1
No tempo de avaliação de 6 horas, observou-se comportamento de desorientação
após 2 horas de exposição no tratamento T2 (4,53±4,25) e T3 (3,46±4,53) e comportamento
letárgico após 2h30min, T2 (5,53±5,07) e T3 (6,46±6,38), apresentando estatisticamente
diferenças significativas em relação ao tratamento T1 (controle), no qual as abelhas se
mantiveram ativas durante todo o experimento (Tab. 1, Fig. 4).

Ativa Desorientada Letárgica

T1 15,00±0,00a 0,00±0,00b 0,00±0,00b

T2 4,92± 7,04b 4,53±4,25a 5,53±5,07a

T3 5,00±7,07b 3,46±4,53a 6,46±6,38a

*Letras iguais na mesma coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey 5%.
Tabela 1 - Médias e desvio padrão do comportamento das abelhas com 6 horas de exposição aos
tratamentos: T1 (controle), T2 e T3.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 3 33


Figura 4 - Análise do comportamento das abelhas com 6 horas de exposição aos tratamentos: T1
(controle) - 1:1 60 g de sacarose e 60 mL de água destilada; T2: 960 µL de glifosato adicionado a 120
mL de xarope (1:1 60 g de sacarose e 60 mL de água destilada); T3: 1.920 µL de glifosato adicionado
a 120 mL de xarope (1:1 60 g de sacarose e 60 mL de água destilada). Os dados comportamentais e
das variáveis bioquímicas foram analisados por meio da estatística descritiva e da análise de variância,
verificando-se a diferença mínima significativa entre os tratamentos pelo teste de Tukey (P<0,05)

3.2 Etapa 2
Avaliando-se os resultados quanto ao comportamento das abelhas, verificou-se que
as primeiras mortes (Figura 5) foram nos tratamentos T2 e T3 nas 6 primeiras horas do
início do experimento, com a taxa de mortalidade de 0,5% no T1, 1,2% no T2 e 2,7% no T3.
Observa-se também uma maior frequência de abelhas ingerindo alimentos nos tratamentos
T2 e T3 (Tabela 2).

Figura 5- A esquerda: abelha morta; No centro: abelhas sobre a plataforma de alimentação.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 3 34


Horário Ativa Parada Desorientada Letárgica Ing. Alim. Morta

T1

0h-6h 68 27 - - 5 -

6h-12h 18,3 81,7 - - - -

12h-18h 10 86,7 - - 3,3 -

18h-24h 34,3 52 - - 13,2 0,5

T2

0h-6h 35 7,8 10 13,9 33,3 -

6h-12h 2,4 - 8,3 56,5 31,5 1,2

12h-18h - 5,8 85,9 8,3 -

18h-24h 2,4 - 13 72,8 11,8 -

T3

0h-6h 34,9 7,2 3,6 21,1 32,1 1,2

6h-12h 6,4 - 0,6 63,5 29,5 -

12h-18h 2,6 - 5,8 89,1 2,6 -

18h-24h 5,3 - 22,4 56,3 13,2 2,7

Tabela 2 - Frequência relativa média do comportamento das abelhas durante o período de 6, 12, 18 e
24 horas de exposição para ingestão dos tratamentos: T1 (controle), T2 e T3.

3.3 Bioquímica
Avaliando-se os resultados das análises bioquímicas verificou-se que houve
diferença estatística significativa no perfil bioquímico do glicogênio, onde as médias dos
tratamentos T2 e T3 foram inferiores ao tratamento controle T1 (Tabela 3). Na análise do
açúcar verificou-se que o T1 foi superior e diferiu estatisticamente de T2 e T3, e T2 diferiu
estatisticamente de T3. Os demais tratamentos não apresentaram diferenças estatísticas
significativas.

Proteína Glicogênio Açúcar Lipídio

T1 54.88±19.55a 1877.13±55.05a 1509.13±115.09a 19.57±15.29a

T2 75.62±22.48a 1666.75±100.80b 890.50±46.80b 54.14±38.89a

T3 75.03±5.74a 1649.38±104.69b 574.62±40.28c 58.71±46.67a

*Letras iguais na mesma coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey 5%.
Tabela 3 – Médias e desvio padrão do perfil bioquímico das abelhas por tratamento após 24 horas de
ingestão.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 3 35


Por meio da análise discriminante foi possível verificar a classificação e alocação
dos grupos por tratamentos bem distintos (Figura 6). Em azul o T1, em vermelho o T2 e em
verde o T3, todos eles bem agrupados de maneira distinta.

Figura 6 - Análise discriminante do perfil bioquímico dos tratamentos T1 (controle) - 1:1 60 g de


sacarose e 60 mL de água destilada; T2: 960 µL de glifosato adicionado a 120 mL de xarope (1:1 60 g
de sacarose e 60 mL de água destilada); T3: 1.920 µL de glifosato adicionado a 120 mL de xarope (1:1
60 g de sacarose e 60 mL de água destilada) com 24h de experimento.

4 | DISCUSSÃO
No Brasil é crescente a taxa de mortandade em massa de abelhas, sendo que
estudos vem demonstrando que essas ocorrências não estão associadas a patógenos ou a
parasitas (PIRES et al., 2016). Uma das principais causas são em decorrência dos efeitos
dos agrotóxicos. O Brasil lidera a lista global de perdas de abelhas na América do Sul, além
disso, análises toxicológicas em amostras de abelhas vivas e mortas detectaram múltiplas
contaminações por agrotóxicos (CASTILHOS et al., 2019).
Além dos efeitos letais, os agrotóxicos também podem causar efeitos subletais, seja
no comportamento, na fisiologia, bioquímica, imunidade, reprodução, dentre outros. Dentre
todos esses produtos registrados, o glifosato se destaca por seu amplo espectro de ação e
poder acumulativo e toxicológico em humanos e animais (BAI & OGBOURNE, 2016).
A desorientação e letargia, observadas neste estudo, aumenta a preocupação
por esse herbicida ser amplamente utilizado no Brasil e seu princípio ativo está presente

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 3 36


na formulação de muitos outros herbicidas (IBAMA, 2019). O uso intensivo dessas
substâncias sintéticas em áreas agrícolas, tem demonstrado alterações na atividade de
voo das abelhas, e consequentemente diminuição potencial na capacidade dos serviços de
polinização (KENNA et al., 2019). Stanley e Raine (2016), sugerem que o comportamento
de forrageamento em flores pode ser alterado pela exposição subletal a níveis de pesticidas
em campo. Além do comportamento, a exposição a doses subletais também pode alterar
a termorregulação, afetando a atividade de forrageamento e uma variedade de tarefas na
colmeia, provavelmente levando a consequências negativas no nível da colônia (TOSI et
al., 2016). Assim, é evidente que isso tem implicações para o sucesso e a sobrevivência
das colônias.
Os níveis reduzidos de glicogênio e açúcares totais demonstram efeitos bioquímicos.
Mesmo não havendo diminuição de glicogênio diretamente proporcional ao aumento
da dose de glifosato, o agrotóxico ocasiona alterações nos níveis dessa molécula. Já o
açúcar total, diminuiu proporcionalmente ao aumento da dose. Provavelmente, existem
lesões celulares importantes no trato intestinal devido a ingestão do pesticida, isso teria
ocasionado um trade-off, ou seja, um desequilibrio entre desintoxicação e reparação de
células, culminando no desbalanço homeostático fisiológico e bioquímico (SILVA, 2017).
Para conseguir reestabelecer a homeostase, o organismo dispende de energia que vem
das reservas de glicogênio, que são quebradas em moléculas de glicose e/ou convertidas
em trealose para alimentar os tecidos, levando assim a uma diminuição tanto nos níveis de
glicogênio analisado quanto nos valores de açúcares totais.
Os resultados desta pesquisa são semelhantes ao encontrados na literatura. Nath
(2003), avaliando o potencial tóxico de organofosforados de grau comercial no bicho-
da-seda (Bombyx mori), registrou reduções significativas nas reservas de glicogênio no
corpo gorduroso desses insetos. Costa et al. (2021), também observaram isso no besouro
Anthonomus grandis exposto aos pitretroides lambda-cialotrina e beta-ciflutrina. Neste
mesmo besouro exposto a pimetrozina, ocorreu depleção apenas nas taxas de glicogênio,
pois o açúcar total aumentou (CUNHA et al. 2015).
O glicogênio e os açúcares totais fazem parte do grupo dos carboidratos (CHAPMAN,
1998), essa classe de biomoléculas, junto com a classe de lipídios, é uma das principais
reservas energéticas presentes no organismo dos insetos. O glicogênio armazenado
na musculatura alar é uma fonte imediata de energia, principalmente para atender as
necessidades do voo. Já o armazenado no corpo gorduroso é convertido em trealose
(C12H22O11), um dos principais açúcares presentes no corpo dos insetos, para liberação na
hemolinfa afim de atender as necessidades do organismo (CHAPMAN, 1998; KLOWDEN,
2007). Portanto, alterações nos níveis dessa molécula podem resultar em consequências
drásticas para a sobrevivência das colônias. As taxas de proteínas e lipídios mantiveram-se
inalteradas frente ao glifosato neste estudo, talvez porque o tempo de exposição não tenha
sido suficiente. Além disso, se faz necessário investigar os danos celulares no intestino para

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 3 37


melhor compreensão destes efeitos, carecendo de pesquisas futuras mais aprofundadas.
Reduções de moléculas nutricionais podem ser um grande problema para o sucesso
reprodutivo, pois a gametogênese e a formação de ovos demanda níveis adequados. Além
disso, a imunidade e capacidade de desintoxicação de agrotóxicos depende também de
taxas equilibradas dessas moléculas (KLOWDEN 2007, GULLAN & CRANSTON 2012,
CHAPMAN 1998).

5 | CONCLUSÃO
A ingestão do glifosato, nas doses usadas e nos tempos avaliados, ocasiona
alterações comportamentais e modificações nos parâmetros bioquímicos das abelhas
africanizadas.

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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 3 39


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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 3 40


CAPÍTULO 4

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DOS PRINCIPAIS


ENDOPARASITAS GASTROINTESTINAIS EM
FELINOS NO BRASIL

Data de submissão: 07/02/2023 Data de aceite: 01/03/2023

Maria Eduarda de Souza Silva Kailane França Carvalho


Universidade Federal do Cariri Universidade Federal do Cariri
Crato – Ceará Crato – Ceará
https://orcid.org/0000-0001-9185-649 https://orcid.org/0000-0001-9738-5231

Williana Bezerra Oliveira Pessôa Maria do Socorro Vieira dos Santos


Universidade Federal do Cariri Universidade Federal do Cariri
Crato – Ceará Crato – Ceará
https://orcid.org/0000-0003-4987-7156 https://orcid.org/0000-0001-9920-2494

Gabriela Machado Ferreira


Universidade Federal do Cariri
Crato – Ceará RESUMO: As parasitoses gastrintestinais
https://orcid.org/0000-0002-9875-0613 causadas por helmintos e protozoários em
Leonardo Sousa Pinheiro felinos, possuem a necessidade de estudo
epidemiológico devido à grande gama
Universidade Federal do Cariri
Crato – Ceará de potencial zoonótico. Foi realizado um
https://orcid.org/0000-0002-9649-0889 estudo descritivo através da literatura online
no banco de dados da PUBMED, BVS-
Dayane da Silva Pereira VET, PubVet, Periódico Capes e Google
Universidade Federal do Cariri Acadêmico. Os helmintos gastrintestinais
Crato – Ceará de felinos foram considerados um grande
https://orcid.org/0000-0002-7170-7404
problema em todo o mundo, com uma
João Victor de Souza Moreira extensa variação de parasitas intestinais
Universidade Federal do Cariri relatadas, em destaque às áreas tropicais
Crato – Ceará brasileiras. Acerca dos principais
https://orcid.org/0000-0002-6525-9561 endoparasitos gastrintestinais transmitidos
pelos felinos, destacam-se: Ancylostoma
spp., Toxocara spp., Giardia spp. e o
Toxoplasma spp. O gênero Ancylostoma
spp. tem sido o parasita mais amplamente

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 4 41


relatado no Brasil, revelando a maior soroprevalência. O gênero Toxocara spp. são os
parasitos ascarídeos que apresentam uma maior amplitude e intensidade parasitária, quando
associados com gatos de companhia, o principal agente de infecção é o Toxocara cati. A
Giardia spp. são protozoários piriformes responsáveis pelo quadro de giardíase, sendo
considerados um dos elementares grupos de parasitos intestinais de humanos e animais
associado à ocorrência de diarreia. Além disso, o Toxoplasma spp. foi descrito como o
protozoário intracelular que tem os felinos, e substancialmente os gatos domésticos, como
essenciais no ciclo de vida. Logo, os aspectos epidemiológicos evidenciam os felídeos como
hospedeiros cruciais para a perpetuação do ciclo de vida desses parasitas, sendo necessário
mais estudos que proporcionem um maior controle da propagação dessas doenças.
PALAVRAS-CHAVE: Felinos, Endoparasitas, Gastrointestinais, Zoonoses, Epidemiologia.

EPIDEMIOLOGICAL ASPECTS OF THE MAIN GASTROINTESTINAL


ENDOPARASITES IN FELINES IN BRAZIL
ABSTRACT: Gastrointestinal parasites caused by helminths and protozoa in felines require
an epidemiological study due to the wide range of zoonotic potential. A descriptive study
was carried out through the online literature in the database of PUBMED, BVS-VET, PubVet,
Periódico Capes and Google Scholar. Feline gastrointestinal helminths were considered a
major problem worldwide, with an extensive variation of intestinal parasites reported, especially
in Brazilian tropical areas. Regarding the main gastrointestinal endoparasites transmitted by
cats, the following stand out: Ancylostoma spp., Toxocara spp., Giardia spp. and Toxoplasma
spp. The genus Ancylostoma spp. has been the most widely reported parasite in Brazil,
revealing the highest seroprevalence. The genus Toxocara spp. are the ascarid parasites that
present a greater amplitude and parasitic intensity, when associated with companion cats,
the main agent of infection is Toxocara cati. Giardia spp. are piriform protozoa responsible for
giardiasis, being considered one of the elementary groups of intestinal parasites of humans
and animals associated with the occurrence of diarrhea. Furthermore, Toxoplasma spp. was
described as the intracellular protozoan that has felines, and substantially domestic cats, as
essential in the life cycle. Therefore, epidemiological aspects show felids as crucial hosts for
the perpetuation of the life cycle of these parasites, requiring further studies to provide greater
control of the spread of these diseases.
KEYWORDS: Feline, Endoparasites, Gastrointestinal, Zoonosis, Epidemiology.

1 | INTRODUÇÃO
Os endoparasitos têm a capacidade de causar enfermidades com alto índice de
morbidade e mortalidade. Animais assintomáticos, podem apresentar uma elevada carga
parasitária sem ser diagnosticado (BITTENCOURT e GROSS, 2018). As doenças parasitarias
do trato gastrintestinal causadas por helmintos e protozoários, ganham gradativamente mais
a atenção de pesquisadores e cientistas, estando entre as enfermidades endoparasitárias
mais comuns entre animais de companhia (QUADROS et al., 2021).
Quadros et al. (2021) relataram que em felinos, os parasitos gastrintestinais têm
grande relevância pela capacidade de esporulação para a espécie e pela contribuição

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 4 42


no ciclo de transmissão de parasitos para humanos. Consoante a esse estudo, Ferraz
et al. (2022) relataram que dentre as enfermidades que acometem os felinos com maior
frequência, ressaltam-se as parasitoses do trato gastrointestinal (DIB et al., 2018).
Dada a proximidade entre felinos e humanos, o conhecimento da prevalência
regional de endoparasitas em gatos domésticos têm grandes implicações para a saúde
única (RAMOS et al., 2020). Portanto, esse trabalho teve como finalidade realizar um
levantamento bibliográfico sobre os aspectos epidemiológicos dos principais endoparasitas
gastrointestinais que podem acometer felinos no Brasil.

2 | METODOLOGIA
Foi realizado um estudo descritivo através da literatura online, delimitando-se o
período de publicação entre os anos 2012-2022 no banco de dados do Public Medline
(PUBMED), Biblioteca Virtual em Saúde Medicina Veterinária e Zootecnia (BVS-VET),
Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia (PubVet), Periódico Capes e Google
Acadêmico.
Na pesquisa, foram utilizados os descritores “parasitas”, “felino”, “endoparasitas”,
“epidemiologia” e “gastrointestinais”. No cruzamento das palavras, foi utilizada a expressão
booleana AND (inserção de duas palavras). Os seguintes critérios de inclusão foram
adotados: (a) artigos publicados nos idiomas inglês, espanhol ou português; (b) artigos
completos e disponíveis free na íntegra; (c) abordavam o tema central da pesquisa, com
enfoque em animais. Como critérios de exclusão foram excluídas revisões de literatura e
aqueles que não abordavam o objeto de estudo da pesquisa.
A análise foi utilizada usando os filtros para título, resumo e assunto. Cada artigo
do banco de dados foi lido na íntegra e suas informações foram dispostas em uma
planilha, incluindo ano de publicação, autores, bases de dados, amostra, desenho de
estudo e revista ou jornal no qual foi publicado. Os dados foram compilados no programa
computacional Microsoft Office Word e as informações analisadas correlacionando os
parâmetros estudados. A metodologia de síntese dos dados foi realizada por meio de uma
análise descritiva dos estudos selecionados, sendo o produto da análise apresentado de
forma dissertativa e gráfica.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os helmintos gastrintestinais de felinos foram considerados um grande problema
em todo o mundo, com uma extensa variação de endoparasitas gastrointestinais
relatadas (GRESSLER et al., 2016), em destaque às áreas tropicais brasileiras (SILVA,
2016). Geralmente esses parasitas não evidenciam sinais clínicos a não ser que ocorra
uma infecção maciça no animal ou que este esteja com o sistema imunológico deficiente
(FERRAZ et al., 2021).

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 4 43


A prevalência dos endoparasitos gastrintestinais em felinos e sua variação
epidemiológica, depende da região geográfica em que se encontram, da assistência
veterinária na área, da estação do ano e da população de gatos estudada a depender
do seu habitat (QUADROS et al., 2021). No que tange aos principais endoparasitos
gastrintestinais, que acometem felinos, destacam-se: Ancylostoma spp., Toxocara spp. e
Giardia spp. (FERRAZ et al., 2021). Todavia, outras endoparasitoses já foram relatadas em
igual ou maior importância, tal qual o Toxoplasma gondii (FREITAS et al., 2022).

3.1 Ancylostoma sp.


Ancylostoma sp. é o agente etiológico fomentador da Larva migrans cutânea e seu
contágio se dá pelas vias transplacentária, lactogênica, oral e, principalmente, a percutânea
(SARMENTO et al., 2021). A fêmea põe de maneira contínua de 7.700 a 28.000 ovos, que
após a eliminação se houver oxigenação, umidade suficiente e uma temperatura adequada
de 23 a 30°C, prosseguem com sua evolução no bolo fecal, mudam até o estágio L3 e
migram para fora contaminando o solo (BITTENCOURT e GROSS, 2018).
Quadros et al. (2022), relataram uma maior prevalência de Ancylostoma spp.
(89,13% de soroprevalência no verão e 69,23% de soroprevalência no inverno) em
amostras de areia coletadas na praia de Mar Grosso em Laguna, Santa Catarina. Em
São Paulo, um estudo epidemiológico com 100 amostras fecais coletadas de animais
domésticos atendidos no HOVET-Unimes, revelou 15 felinos soropositivos para infecção
por endoparasitas gastrointestinais, destes, a prevalência para Ancylostoma sp. foi a maior
(20% de soroprevalência) (LIMA et al., 2021).
Bittencourt e Gross (2018) e Ferreira, Ribeiro e Pinto et al. (2020), relataram 80%
de soroprevalência para Ancylostoma sp. a partir da coleta de fezes em felinos domésticos
domiciliados, em Cascavel-PA e em felinos domésticos errantes e domiciliados, em
Santa Cruz-BA, respectivamente. Ramos et al. (2020) em estudo realizado com felinos
domésticos de abrigo e domiciliados, constataram na cidade do Rio de Janeiro-RJ, uma
soroprevalência mais baixa (25%) para Ancylostoma, todavia, o aparecimento do parasito
ainda foi considerado o maior dentre os outros ovos de vermes encontrados no exame
coprológico. A Tabela 1 apresenta um levantamento da distribuição do gênero Ancylostoma
spp. em diferentes habitats.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 4 44


Habitat Amostragem Soroprevalência Estado Autor / Ano
(%)
Domiciliados e de 191 5 (2,60) RS Pivoto et al., 2013
Abrigo1
Domiciliados2 113 76 (67,2) PE Monteiro et al., 2016
Domiciliados2 13 10 (76,92) MA Da Silva et al., 2017
Domiciliados 2
2 1 (50,0) PR Bittencourt e Gross, 2018
Vida Livre6 45 11 (24,4) SC Wrublewski; Kusma e
Teixeira., 2018
Semidomiciliados4 11 1 (9,09) PB Brandão et al., 2019
Domiciliados 2
5 4 (80,0) BA Ferreira; Ribeiro e Pinto et
al., 2020
Domiciliados2 56 3 (5,36) RS Marques; Menetrier e Meyer
et al., 2020
Domiciliados e de 199 58 (29,14) RJ Ramos et al., 2020
Abrigo1
De Abrigo3 19 16 (84,21) RO Almeida et al., 2021
De Abrigo3 20 2 (10,0) MG De Paula et al., 2021
Domiciliado2 6 3 (50,00) SP Lima et al., 2021
Errantes5 73 13 (17,8) SC Quadros et al., 2021
Vida livre6 6 3 (50,0) PR Silva et al., 2021
1
Felinos Domésticos Domiciliados e de Abrigo; Felinos Domésticos Domiciliados; 3 Felinos Domésticos
2

de Abrigo; 4 Felinos Domésticos Semi domiciliados; 5 Felinos Domésticos Errantes; 6 Felinos Silvestres
de Vida Livre.
Tabela 1. Soroprevalência de amostras fecais do gênero Ancylostoma spp. em felinos no Brasil.
Fonte: Autores

Ré et al. (2022) evidenciaram ainda, que interações indesejáveis entre animais


domésticos e animais silvestres são mais comuns hoje em dia. Em concordância Vieira et
al. (2018) registraram a frequencia do Ancylostoma sp. em um Gato-do-Mato (Leopardus
tigrinus) encontrado morto por atropelamento em Cambará-PR, concomitantemente à
achado do mesmo parasita em amostras de fezes coletadas de dois felinos domésticos
(Felis catus) domiciliados em uma propriedade rural próxima a mata onde o animal silvestre
foi morto.

3.2 Toxocara spp.


Bittencourt e Gross (2018) reportaram que o gênero Toxocara spp. são parasitas
ascarídeos típicos, causadores da toxocaríase. O complexo ciclo parasitário de Toxocara
spp. que possui transmissão por vias orais, transmamária e por um hospedeiro paratênico,
confere ao gênero uma maior frequência de infecção (DE PAULA et al., 2021). Os ovos desse
gênero se desenvolvem abaixo da superfície em solos argilosos, que retêm a umidade por
ação das chuvas, isso ocorre devido ao fato destes se manterem viáveis e protegidos da
radiação solar, contribuindo para a infecção de pessoas e animais (QUADROS et al., 2021).

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 4 45


Ao que tange à Toxocaríase Felina, o principal agente de contagio é o Toxocara cati,
frequentemente associado com gatos de companhia (SARMENTO et al., 2021). A via de
transmissão transplacentária é inexistente para o ciclo do T. cati, em felinos, diferentemente
da transmissão em cães (DE PAULA et al., 2021). Ainda assim, o período de maior
ocorrência desta parasitose em gatos domésticos se dá logo após o nascimento, devido
à eliminação das larvas através do leite materno de fêmeas infectadas, mesmo aquelas
tratadas recentemente com anti-helmíntico apresentando contagem de ovos negativa nas
fezes (FERRAZ et al., 2021).
Quadros et al. (2021) constataram que 97 gatos errantes, capturados pelo Centro de
Controle de Zoonoses de Lages - SC, apresentaram o Toxocara cati com maior prevalência,
amplitude e intensidade parasitária, tendo em vista que 50,51% das amostras fecais foram
positivas para a nematódeo. Esse valor é condizente com os estudos de De Paula et al.
(2021), que verificaram a existência de Toxocara sp. com uma prevalência de 50% nas
análises de fezes provenientes de felinos abrigados em um canil municipal na região da
Zona da Mata Mineira. A Tabela 2 mostra um levantamento da distribuição do gênero
Toxocara spp. em diferentes habitats.

Soroprevalência
Habitat Amostragem Estado Autor / Ano
(%)
Domiciliados e de
191 36 (18,8) RS Pivoto et al., 2013
Abrigo1
Domiciliados2 113 46 (40,7) Monteiro et al., 2016

Domiciliados2 13 2 (15,38) MA Da Silva et al., 2017

Domiciliados2 2 1 (50,0) PR Bittencourt e Gross, 2018


Wrublewski; Kusma e
Vida Livre6 45 7 (15,5) SC
Teixeira., 2018
Semidomiciliados4 11 2 (18,1) PB Brandão et al., 2019
Marques; Menetrier e Meyer
Domiciliados2 56 17 (30,35) RS
et al., 2020
Domiciliados e de
199 33 (16,58) RJ Ramos et al., 2020
Abrigo1
De abrigo3 20 9 (45,0) MG De Paula et al., 2021

Errantes5 73 31 (42,4) SC Quadros et al., 2021

Vida livre6 6 6 (50,0) PR Silva et al., 2021


1
Felinos Domésticos Domiciliados e de Abrigo; Felinos Domésticos Domiciliados; 3 Felinos Domésticos
2

de Abrigo; 4 Felinos Domésticos Semi domiciliados; 5 Felinos Domésticos Errantes; 6 Felinos Silvestres
de Vida Livre
Tabela 2. Soroprevalência de amostras fecais do gênero Toxocara spp. em felinos no Brasil.
Fonte: Autores

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 4 46


Ramos et al. (2020) descreveram que a transmissão de Toxocara spp. em
ambientes silvestres geralmente acontece por hospedeiros paratênicos, e isso pode estar
relacionado à aproximação desses animais às áreas urbanas ou mesmo à invasão de
animais domésticos no ambiente silvestre. Explorando a expressão do gênero Toxocara em
ambientes de vida livre, Quadros et al. (2022) relataram a contaminação por T. cati em sete
felinos silvestres adultos, sendo estes, três Puma concolor, dois Leopardus tigrinus, e dois
Puma yagouaroundi. Todos os espécimes foram encontrados mortos por atropelamentos
em rodovias federais e estaduais da serra catarinense e posteriormente levados para
o Laboratório de Zoologia e Parasitologia da Universidade do Planalto Catarinense
(UNIPLAC), que realizou durante a necropsia, coleta dos conteúdos estomacais e intestinais
para análise, possibilitando a identificação de ao todo, 197 espécimes de T. cati.

3.3 Giardia spp.


A Giardia spp. são protozoários que infectam o intestino delgado de cães e
gatos, responsáveis pelo quadro de giardíase, geralmente apresentando-se de forma
assintomática. Morfologicamente, na forma trofozoíta são parasitas piriformes, binucleados
e flagelados (NICOLA, CRUZ e TORRES, 2017).
Os trofozoítos aderidos ao intestino delgado, se multiplicam por fissão binária, e
àqueles não aderidos, avançam para o intestino grosso, onde retornam à forma de cisto
infeccioso, favorecidos pela ação de sais biliares (ALKMIM et al., 2021). A Giardia spp. na
forma de cisto, sobrevive fora do hospedeiro por períodos prolongados, em ambientes frios
e úmidos (NICOLA, CRUZ e TORRES, 2017).
A giardíase é uma zoonose que apresenta alta prevalência nos países em
desenvolvimento, cerca de 20% a 30%, podendo chegar a 100% em áreas endêmicas,
onde possui elevado índice de transmissão (FERRAZ et al., 2019). Em felinos, Lima et
al. (2021) estabeleceram que a prevalência mundial de giardíase é de aproximadamente
12,0%. Animais selvagens são tidos como reservatórios potenciais (Nicola, Cruz e Torres,
2017), ainda que a contaminação do hospedeiro ocorra primordialmente através da
ingestão tanto de alimentos crus e mal cozidos, quanto de água, que contenham a forma
cística do protozoário, sendo esta última a principal fonte de transmissão deste (ALKMIM
et al., 2021).
Em felinos, na sua fase inicial, grande parte das doenças parasitárias podem não
ter manifestações clínicas, sendo este um dos fatores pelo qual são negligenciados pela
saúde pública (FERRAZ et al., 2019). A disseminação da Giardia spp. se apresenta como
fator variável correspondente à região analisada, às condições de higiene, juntamente com
a prática de atenuação de parasitas por veterinários, criadores e tutores (LIMA et al., 2021).
Apesar de apresentar menor prevalência em relação às outras parasitoses gastrointestinais
em felinos, deve-se levar em consideração sua veiculação hídrica e potencial zoonótico,
fatores relevantes à saúde pública (BRANDÃO et al., 2019). A Tabela 3 mostra um

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 4 47


levantamento da distribuição do gênero Giardia spp. em diferentes habitats.

Habitat Amostragem Soroprevalência Estado Autor


(%)
Domiciliados e de 191 8 (4,20) RS Pivoto et al., 2013
Abrigo1
Domiciliados2 13 1 (7,69) MA Da Silva et al., 2017
Semidomiciliados 3
11 1 (9,09) PB Brandão et al., 2019
Domiciliados2 56 15 (26,8) RS Marques; Menetrier e
Meyer et al., 2020
Domiciliados2 6 2 (33,3) SP Lima et al., 2021
1
Felinos Domésticos Domiciliados e de Abrigo; Felinos Domésticos Domiciliados; 3Felinos Domésticos
2

Semi domiciliados;
Tabela 3. Soroprevalência de amostras fecais do gênero Giardia spp. em felinos no Brasil.
Fonte: Autores

Ferraz et al. (2022) observaram a forma infectante da Giardia spp. em 15,0% de


amostras fecais coletadas de materiais arenosos, presente em praças de recreação, em
estudo realizado em Pelotas-RS. Brandão et al. (2019) relataram uma soroprevalência de
5% de Giardia spp. em 20 amostras de fezes de felinos domésticos domiciliados, na Paraíba.
Em Pelotas-RS, Ferraz et al. (2019) relataram ainda uma soroprevalência de 35,3% de
Giardia spp., mediante coleta de amostra fecal de felinos domésticos domiciliados, recebido
em Laboratório de Doenças Parasitárias. A subnotificação da Giardia spp. está relacionada
ao diagnóstico desafiador da doença, pela capacidade deste parasita gastrointestinal em
excretar de forma intermitente e por períodos indefinidos os cistos nas fezes (MARQUES,
MENETRIER e MEYER, 2020).

3.4 Toxoplasma spp.


Pereira et al. (2018) descreveram o Toxoplasma gondii como o protozoário
intracelular que tem os felinos, e principalmente os gatos domésticos, como os únicos
hospedeiros definitivos capazes de eliminar os oocistos durante o ciclo de vida. Quanto
aos aspectos morfológicos, os taquizoítos, presentes na forma aguda da doença, possuem
formato de “arco ou meia-lua”. O modo mais comum de infecção pelo parasita é a ingestão
de oocistos esporulados eliminados pelas fezes após a reprodução sexuada dos parasitas
no trato gastrointestinal dos gatos (FREITAS et al., 2022).
Em seu estudo, Magalhães et al. (2017), relataram um total de 29,07% (25/86) de
soroprevalência de anticorpos anti-T. gondii em felídeos da região do Parque Estadual da
Serra da Tiririca, destacando a prevalência da infecção por T. gondii em gatos domésticos,
que variou conforme o estilo de vida do animal, e gatos selvagens, com hábito alimentar
estritamente carnívoro, tendo assim uma maior prevalência associada a ingestão de cistos

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 4 48


com bradizoítos. Pereira et al. (2018) confirmaram que a positividade do Toxoplasma
gondii está estreitamente relacionada ao modo de vida dos animais, com uma maior
soroprevalência para gatos domiciliados (24,5%) em relação à gatos errantes (18%),
revelando uma intensa associação das condições bióticas, abióticas e socioeconômicas
específicas de cada local. A Tabela 4 mostra um levantamento da distribuição do gênero
Toxoplasma spp. em diferentes habitats.

Habitat Amostragem Soroprevalência (%) Estado Autor


Domiciliados1 171 48 (28,07) PR Andrade et al. 2015
Semi domiciliados2 86 25 (29,07) RJ Freitas et al., 2022
1
Felinos Domésticos Domiciliados; 2Felinos Domésticos Semi domiciliados;
Tabela 4. Soroprevalência de amostras de sangue do gênero Toxoplasma spp. em felinos no Brasil.
Fonte: Autores

Há uma forte relação entre a alta prevalência de anticorpos IgG anti-T. gondii
em gatos de estimação (71,26%) e ferais (54,74%) visto que impacta na prevalência da
doença em outros animais de produção e em humanos, pois os felinos, especialmente
os silvestres, circulam por uma vasta área territorial e se alimentam de aves e roedores
silvestres, perpetuando o ciclo de vida do T. gondii (MAGALHÃES et al., 2017).

4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A alta prevalência de parasitas do trato gastrointestinal em felinos é evidente,
sobretudo àquelas do gênero Ancylostoma spp., Toxocara spp., Giardia spp. e Toxoplasma
spp. Apesar de grande parte dessas endoparasitoses zoonóticas se manifestarem de forma
assintomática nos felinos, sua distribuição é elevada no Brasil, atuando diretamente no
setor da saúde única. Nesse contexto, os aspectos epidemiológicos ratificam os felídeos
como hospedeiros cruciais para a perpetuação do ciclo de vida desses parasitas, sendo
necessário mais estudos que delimitam um maior controle da propagação dessas doenças.

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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 4 49


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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 4 51


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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 4 52


CAPÍTULO 5

CANDIDA ALBICANS: AGENTE ETIOLÓGICO DA


ENDOCARDITE INFECCIOSA FÚNGICA

Data de submissão: 03/02/2023 Data de aceite: 01/03/2023

Renata Duarte Batista Elayne Ramos


Graduando em Enfermagem Residente em Hematologia e Hemoterapia
Recife, Pernambuco – UPE
https://orcid.org/0000-0002-5115-2907 Recife, Pernambuco
https://orcid.org/0000-0002-4422-9662
Andréa Soares Montenegro
Fisioterapeuta João Alberto Soares Bezerra
Recife, Pernambuco Enfermeiro
https://orcid.org/0000-0001-8498-6097 Recife, Pernambuco
https://orcid.org/0000-0001-8890-0051
Bruna de Souza Buarque
Doutoranda pelo Programa Associado de Marlon Chaves Cavalcanti
Pós-graduação em enfermagem (UPE/ Mestrando em Terapia Intensiva
UEPB) Recife, Pernambuco
Recife, Pernambuco https://orcid.org/0000-0002-8754-4945
https://orcid.org/0000-0001-7863-9953
Roberto Bezerra Silva
Cibele Lopes de Santana Ramalho Doutor em Terapia intensiva, Enfermeiro
Mestre em Ciências da Saúde-UFPE Recife, Pernambuco
Recife, Pernambuco https://orcid.org/0000-0002-3528-3069
https://orcid.org/0000-0002-5506-3442
Sara Assunção
Donato da Silva Braz Júnior Especialista em Oncologia pelo Hospital
Especialização em Terapia Intensiva, do Câncer de Pernambuco – HCP
Fisioterapeuta Recife, Pernambuco
Olinda, Pernambuco https://orcid.org/0000-0002-6882-8360
https://orcid.org/0000-0002-4964-710X
Thiago Santos Tavares
Douglas Silva Barros Graduando em Enfermagem
Graduando em Odontologia Recife, Pernambuco
Recife, Pernambuco https://orcid.org/0000-0002-8818-1090
https://orcid.org/0000-0002-0222-0088

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 5 53


RESUMO: A endocardite é uma patologia que acomete as valvas ou o revestimento
endotelial cardíaco com a formação de vegetações infectadas, compostas de plaquetas
e fibrina que podem causar lesão tecidual do endocárdio e outras complicações como
embolismo, complicações neurológicas e infartos pelo deslocamento do coágulo, é
classificada de acordo com quadro clínico em aguda e subaguda. A Candida é uma levedura
encontrada na microbiota humana e que pode se tornar patogênica adquirindo mecanismo
de virulência como adesão, invasão e produção de toxinas, como também resistência
a azólicos, anfontericina B e fluconazol, sendo documentado o aumento da incidência de
infecções hospitalares pela levedura. O objetivo do presente artigo é analisar a visibilidade da
Endocardite Infecciosa Fúngica causada pela Candida albicans patologia de baixa incidência
comparada a bacteriana, porém de alta mortalidade que geralmente acomete pacientes
submetidos a cirurgia cardíaca e viciados em drogas endovenosas. Através de uma revisão
integrativa foi produzido um artigo de revisão após pesquisas realizadas em plataformas
como Bibliomed, Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS) e Revistas Acadêmicas, ocorrendo no mês de outubro com uma delimitação temporal
de 2003- 2022, foram localizados 97 artigos e destes 14 permanecerem após critérios de
inclusão e exclusão, sendo incluídos aqueles em idioma português e inglês que abordasse
o tema de forma direta com riqueza de informações. Foi feito o levantamento de dados nos
artigos identificados relacionados ao tema trazendo entre si a relevância da endocardite
fúngica e Candida albicans, sua incidência, dificuldades encontradas no seu diagnóstico e
tratamento, principais complicações. Portando, é indispensável o aumento das produções
científicas, medidas profiláticas mais rigorosas que foquem na assepsia do ambiente,
instrumentos e mãos dos profissionais, atenção redobrada a pacientes em pós-operatório de
cirurgias cardíacas, histórico de Endocardite Infecciosa (EI) e usuário de drogas intravenosas
com compartilhamento de agulhas.
PALAVRAS-CHAVE: Candida; Infecção; Farmacorresistência; Lesão cardíaca; Endotélio.

CANDIDA ALBICANS: ETIOLOGICAL AGENT OF FUNGAL INFECTIOUS


ENDOCARDITIS
ABSTRACT: Endocarditis is a pathology that affects the valves or the cardiac endothelial
lining with the formation of infected vegetation, composed of platelets and fibrin that can cause
tissue damage to the endocardium and other complications such as embolism, neurological
complications and infarcts due to the displacement of the clot, is classified according to the
clinical picture in acute and subacute. Candida is a yeast found in the human microbiota
and that can become pathogenic by acquiring virulence mechanisms such as adhesion,
invasion and toxin production, as well as resistance to azoles, amfontericin B and fluconazole,
with an increased incidence of nosocomial infections by the yeast being documented. The
objective of this article is to analyze the visibility of Fungal Infective Endocarditis caused by
Candida albicans, a pathology with a low incidence compared to the bacterial one, but with
a high mortality rate that usually affects patients undergoing cardiac surgery and addicted
to intravenous drugs. Through an integrative review, a review article was produced after
research carried out on platforms such as Bibliomed, Scientific Electronic Library Online
(SciELO), Virtual Health Library (BVS) and Academic Journals, occurring in the month of

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 5 54


October with a temporal delimitation of 2003- 2022, 97 articles were located and of these 14
remained after inclusion and exclusion criteria, including those in Portuguese and English
that addressed the topic directly with a wealth of information. Data collection was carried
out in the identified articles related to the subject, bringing together the relevance of fungal
endocarditis and Candida albicans, its incidence, difficulties encountered in its diagnosis and
treatment, main complications. Therefore, it is essential to increase scientific production, more
rigorous prophylactic measures that focus on the asepsis of the environment, instruments and
professionals’ hands, increased attention to patients in the postoperative period of cardiac
surgeries, history of Infectious Endocarditis (IE) and drug users intravenous injections with
needle sharing.
KEYWORDS: Cândida; Infection; Pharmacoresistance; Heart injury; Endothelium.

1 | INTRODUÇÃO
A endocardite infecciosa (EI) é classificada como uma infecção microbiana de
uma valva cardíaca ou do endocárdio mural com formação de vegetações infectadas,
sua patogênese depende da sua capacidade invasiva e da virulência do microrganismo
infectante, sendo este microrganismo uma bactéria ou um fungo. EI fúngica é uma
manifestação rara de infecções disseminadas secundárias a fungos capazes de invadir os
tecidos profundos e causar complicações, classificada em aguda e subaguda de acordo
com seu quadro clínico (KARCHMER, 1993).
“A endocardite fúngica pode ser fatal e é rara, ocasionada principalmente
pelas espécies Candida e Aspergillus, sendo a febre e sopros cardíacos alterados as
manifestações mais comuns” (YUAN, 2016 “tradução nossa”)3. O Aspergilus é localizado
em pacientes receptores de próteses valvares e valvas biológicas humanas, a Candida spp
acomete indivíduos usuários de drogas endovenosas e submetidos a cirurgias cardíacas
(KARCHMER, 1993)
O aumento das infecções hospitalares (IH) por Candida principalmente nas
Unidades de Terapia Intensiva (UTI), em pacientes sob fatores de risco, vem se tornando
uma questão de relevância pública. Estudos vem revelando o aumento da prevalência de
IH por Candida albicans e Candida não-albicans (BAPTISTA et al.., 2020).
Estudos recentemente publicados pela ICE, EURO-ENDO e registro GAMES na
Espanha afirmam que a sua incidência aumenta com a idade e acomete mais indivíduos do
sexo masculino (SOUSA; PINTO, 2022).
Esta transição de microrganismos comensais para patogênicos ocorre por alterações
nos mecanismos de defesa do hospedeiro ou o comprometimento de barreiras anatômicas,
mudanças fisiológicas características da infância e envelhecimento ou associadas a
doenças degenerativas, neoplásicas, imunodeficiências congênitas ou adquiridas e
imunodepressão induzida por atos médicos (DIGNANI, 2003 apud VIANI, 2008).
Apresenta elevada taxa de mortalidade sendo em alguns casos consolidado seu
diagnóstico apenas post mortem por análise histológica da vegetação, visto que seu quadro

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 5 55


clínico não é patognomônico. No caso da infecção por Candida ssp, o diagnóstico não é
diferencial entre uma candidemia e uma endocardite fúngica causada por ele. Consolidou-
se que a base do seu tratamento se apoia na intervenção cirúrgica como a substituição
da valva quando necessário, combinada com terapia antifúngica (YUAN, 2016 “tradução
nossa”; KARCHMER, 1993; RIBEIRO et al.., 2012)
O objetivo do presente artigo busca analisar a visibilidade a Endocardite Infecciosa
Fúngica causada pela Candida albicans patologia de baixa incidência comparada a
bacteriana, porém de alta mortalidade que geralmente acomete pacientes submetidos a
cirurgia cardíaca e viciados em drogas endovenosas.

2 | MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia empregada foi uma revisão integrativa em que o foco desse estudo
foi analisar a Endocardite Infecciosa Fúngica causada pela Candida albicans. Na produção
da pesquisa foram levantados questionamentos em relação a mortalidade, etiologia,
frequência e fisiopatologia da doença infecciosa.
Posteriormente delimitação dos artigos para a elaboração da revisão literária, foram
acrescentados artigos de estudo quantitativo, estes pesquisados em plataformas como
Google Acadêmico, SciELO e Revistas Acadêmicas, com ano de publicação entre 2008-
2021. Portanto, totalizando 14 artigos dos 97 encontrados nas plataformas e revistas, com
objetivo de enriquecimento de dados.
Os critérios de inclusão foram idioma em português e inglês, temática abordada de
forma direta com riqueza de informações e conteúdo exposto de forma clara. Os critérios de
exclusão foram idiomas diferentes do português e inglês, pouco explicativos e informativos,
sem informações sobre seu autor e origem de produção. Durante o levantamento dos
estudos foram utilizados descritores selecionados como: endocardite fúngica, Candida ssp
e infecções hospitalares.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram identificados 97 artigos relacionados ao tema e atendendo aos critérios de
elegibilidade, localizando 14 artigos sobre endocardite fúngica e Candida albicans que se
encaixavam na proposta estabelecida e nos critérios de inclusão e exclusão, sendo assim
de relevância para produção da revisão literária. De acordo com os 14 artigos selecionados,
4 tem foco quantitativo e investigativo e 10 se dividem entrem artigo de revisão, artigo
original, capítulo de livro e relato de caso.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 5 56


Quadro 01: artigos com abordagem quantitativa selecionados para a revisão literária.

Os estudos analisados entre 2008 a 2021 apresentam temática direcionada a


endocardite infecciosa com abordagem quantitativa, qualitativa, descritiva, observacional

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 5 57


e comparativa. Os dados expostos pelos autores mostram a relevância dos casos de EI
fúngica originada pela Candida albicans que geralmente não recebe destaque apropriado
visto sua raridade.
Viani (2008) levanta a importância da investigação da resistência a antifúngicos das
cepas de Candida spp encontradas em pacientes, bem como em ambientes hospitalares.
O aumento da resistência a Anfotericina B pela Candida albicans resulta de alterações na
composição da membrana plasmática fúngica como aumento de esfingolipídeos e mutação
do gene ERG3, que diminui afinidade de ligação da Anfotericina B. Mutações no gene
ERG11 estão associadas com resistência aos azólicos e mutações no gene ERG3 ao
Fluconazol (VIEIRA; SANTOS, 2015).
A C. albicans na sua forma invasiva possui traços de virulência que são essenciais
para causar infecções oportunistas como capacidade de se filamentar e trocar seu
morfotipo, invadir tecidos com enzimas do tipo proteases e fosfolipases e aderir a superfícies
e mucosas com as adesinas envolvidas na formação de biofilme (PAPPAS, et al. 2018
“tradução nossa “).
Francischetto et al. (2014) afirma que a válvula aórtica e a mitral são as mais
lesionadas em quadros de EI- ACS (associada aos cuidados a saúde) de grande incidência
acometendo a população mais jovem. As complicações cardíacas podem ser resultantes
de uma infecção fúngica em virtude de suas vegetações, podendo obstruir e lesionar as
valvas aórtica ou mitral (KARCHMER, 1993).
A embolização pelo deslocamento da vegetação localizada ecocardiograficamente,
leva a oclusão de artérias dos membros superiores e inferiores, alterações neurológicas e
insuficiência cardíaca (RIBEIRO et al. 2012).
Silva et al. (2020) situa, de acordo com os dados coletados, os fungos como 3º
agente etiológico mais comum da EI, sendo a cândida de maior frequência. Entretanto,
endocardite fúngica possui maior incidência em complicações de pós-operatórios de troca
válvulas e em usuários de drogas ilícitas intravenosas. Dificilmente endocardite é localizada
como complicação isolada de uma infecção sanguínea (candidemia) em um paciente que
não foi realizado cirurgia cardíaca (COLOMBO; GUIMARÃES, 2003).
O aumento das IH por fungos como a C. albicans devem ser notificadas como
medida de acompanhamento e prevenção, utilizando também de medidas de assepsia
e protocolos básicos hospitalares de higiene pessoais e manejo adequado dos pacientes
encontrados em fatores de risco (BAPTISTA et al.., 2020)
Melo et al. (2021) analisa a mortalidade da endocardite na região nordeste, concluindo
que os mais acometidos são homens pardos e de idade mais avançada. Na população
brasileira, os indivíduos de idade mais avançada principalmente com comorbidade prévia
apresentam maiores riscos de infecção endocárdica (SOBREIRO DI, et al., 2019).
O exame de imagem é o mais indicado para diagnóstico de EI, sendo o ecocardiograma
transensofágico menos invasivo e mais específico para detectar vegetações, também

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 5 58


deve ser recolhido amostras de sangue periférico para hemocultura. (ARANDA, 2012).
Um diagnóstico para endocardite fúngica deve ser estabelecido por meio de uma série de
condições e evidências em razão do seu quadro subjetivo, como vegetações localizadas
ecocardiograficamente, distúrbios valvares, indícios de candidíase invasiva e embolismo
(KARCHRMER, 1993).
Nos casos de EI por Candida é recomendo substituição valvar acompanhada a
terapia com antifúngicos como Anfotericina B lipossómica associada ou não a fluconazol ou
a equinocandina. A terapia antifúngica deve ser administrada por tempo relativo ao quadro
clínico do paciente (RIBEIRO et al. 2012).

4 | CONCLUSÃO
Avaliou-se neste presente estudo que a incidência de casos por endocardite
infecciosa fúngica apesar de rara, é geralmente fatal oferecendo risco e preocupação
constante aos pacientes submetidos a procedimentos invasivos, usuários de drogas e que
possuem histórico prévio, sendo o seu diagnóstico limitado a muitos evidência para ser
consolidado totalmente. Diante disso, o trabalho teve como objetivo analisar a visibilidade
da Endocardite Infecciosa Fúngica causada pela Candida albicans, fungo que está cada
vez mais relacionada a IH.
Observou-se que a visibilidade da EI de etiologia fúngica é relativamente baixa
comparada a bacteriana que possui maiores produções científicas no meio acadêmico,
portanto se faz necessário mais estudos que tenham como foco principal trazer maior
relevância a enfermidade que possui alto índice de mortalidade.
A partir de diversas pesquisas em plataformas acadêmicas vários estudos foram
encontrados, porém apenas 14 oferecem o conteúdo necessário a proposta do estudo,
atendendo aos critérios de exclusão e inclusão.
Conforme os estudos, foi constatado baixa quantidade de informações, falta de
avanço em diagnósticos mais específicos e precoces para detecção da doença infecciosa
por Candida ssp. Sendo um dos grandes desafios encontrados o controle das infecções
após procedimentos baseado na higiene e assepsia correta de instrumentos médicos,
ambiente e mãos dos profissionais que realizam o manejo dos pacientes.
Este estudo é de grande importância pois se trata de uma enfermidade que quando
finalmente é diagnosticada já se encontra em gravidade avançada levando a óbito,
precisando ser mais investigada por ter um impacto muito grande na saúde de pacientes
em fatores de risco para IH. Portanto, maiores pesquisas, formas de diagnóstico e manejo
devem ser aprimoradas com a finalidade de melhorar a assistência e tratamento a esses
pacientes.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 5 59


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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 5 60


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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 5 61


CAPÍTULO 6

HIV EM IDOSOS - UMA REVISÃO NA LITERATURA

Data de submissão: 17/02/2023 Data de aceite: 01/03/2023

Thiago Leite dos Santos organismo vulnerável a infecções e doenças


FMU oportunistas. Embora o HIV tenha sido
São Paulo - SP uma epidemia que afetou principalmente
Orcid: 0000-0001-8476-6158 jovens adultos na década de 1980 e 1990,
a população idosa também está em risco
Paulo Ricardo Arantes
de contrair a doença. O envelhecimento
FMU
da população e a melhora do tratamento
São Paulo - SP
Orcid: 0000-0001-6449-7923 antirretroviral aumentaram a expectativa
de vida das pessoas com HIV, o que levou
a um aumento na prevalência do HIV na
terceira idade. O HIV na terceira idade é
RESUMO: O processo de envelhecimento é uma questão emergente que exigirá uma
multifatorial em relação a patologias e forma resposta global, incluindo a colaboração
ativa de vida e nem sempre a idade pode entre os profissionais de saúde,
ser um indicador confiável associado a taxa pesquisadores e formuladores de políticas
de declínio ou do colapso fisiológico do de saúde. O envelhecimento da população
corpo, servindo apenas como um indicador e o aumento da incidência do HIV na
para a taxa de envelhecimento. Nesse terceira idade exigem uma abordagem mais
cenário, muitas vezes é difícil diferenciar proativa e um compromisso renovado com
o envelhecimento normal (senescência), a conscientização, o acesso aos cuidados
que é caracterizado por alterações de saúde e a redução do estigma e da
fisiológicas naturais, daquele decorrente do discriminação.
envelhecimento patológico (senilidade), que PALAVRAS-CHAVE: HIV, Cuidado, Saúde
está associado a doenças que podem afetar do Idoso.
a qualidade e a duração da vida. Uma das
doenças que mais observando um aumento
INTRODUÇÃO
de casos é o vírus da imunodeficiência
humana. O vírus da imunodeficiência O processo de envelhecimento é
humana (HIV) é uma infecção viral que algo natural, e sempre foi observado com
afeta o sistema imunológico, deixando o curiosidade e despertou o interesse ao

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 6 62


longo da história da humanidade. No ser humano, esse fenômeno progressivo, além de
desencadear o desgaste orgânico, provoca alterações nos aspectos sociais e emocionais,
podendo afetar a qualidade de vida da pessoa em processo de envelhecimento.
O processo de envelhecimento é multifatorial em relação a patologias e forma ativa
de vida e nem sempre a idade pode ser um indicador confiável associado a taxa de declínio
ou do colapso fisiológico do corpo, servindo apenas como um indicador para a taxa de
envelhecimento. Nesse cenário, muitas vezes é difícil diferenciar o envelhecimento normal
(senescência), que é caracterizado por alterações fisiológicas naturais, daquele decorrente
do envelhecimento patológico (senilidade), que está associado a doenças que podem
afetar a qualidade e a duração da vida.
Sabe-se que a população idosa vem crescendo consideravelmente. Essa mudança
na estrutura etária da população mundial, deve-se a diminuição nas taxas de mortalidade
e natalidade observadas no mundo todo. Estima-se que a população mundial com 60 anos
ou mais em 2025 será de 1,2 bilhões de pessoas e, em 2050 esse número seja de 2
bilhões, em contraponto aos 900 milhões registrados em 2015.
No Brasil, durante a década de 1970, importantes transformações no comportamento
reprodutivo com fortes deslocamentos migratórios do campo para a cidade, avanços do
processo de assalariamento da economia, engajamento crescente da mulher no mercado
de trabalho urbano, disseminação de modelo econômico voltado para o consumo de
bens duráveis e a elevação dos custos de reprodução familiar e social contribuíram para
menores taxas de natalidade e, entre outros aspectos para o envelhecimento populacional.
Em 2010, haviam 39 idosos para cada 100 habitantes no país e as projeções indicam que
em 2040 serão 153 idosos para cada 100 jovens. Além disso, projeta-se que em 2050
o Brasil terá a quinta maior população mundial composta por 253 milhões de pessoas,
sendo a maior parte idosos Nesse contexto, uma criança nascida no Brasil em 2015, por
exemplo, pode aspirar viver 20 anos a mais que uma criança nascida há 50 anos. Essas
mudanças demográficas e o envelhecimento da população mundial impactam diretamente
na saúde em seu bem estar físico, social e mental já que o envelhecimento é caracterizado
por declínio funcional de órgãos e sistemas e consequente aparecimento de doenças. Uma
das doenças que mais observando um aumento de casos é o vírus da imunodeficiência
humana.
O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é uma infecção viral que afeta o sistema
imunológico, deixando o organismo vulnerável a infecções e doenças oportunistas. Embora
o HIV tenha sido uma epidemia que afetou principalmente jovens adultos na década de 1980
e 1990, a população idosa também está em risco de contrair a doença. O envelhecimento
da população e a melhora do tratamento antirretroviral aumentaram a expectativa de vida
das pessoas com HIV, o que levou a um aumento na prevalência do HIV na terceira idade.
De fato, estima-se que, em 2019, cerca de 7% das pessoas com HIV nos Estados Unidos
tinham 65 anos ou mais.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 6 63


Embora o HIV seja mais comum em adultos jovens, a taxa de novas infecções
em pessoas com mais de 50 anos está aumentando. Muitos idosos com HIV foram
diagnosticados tardiamente, o que significa que a doença já progrediu significativamente
antes do início do tratamento. Além disso, os idosos com HIV têm maior probabilidade de
ter outras condições de saúde, como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer, o que
pode complicar o manejo da doença. Isso significa que os idosos com HIV enfrentam uma
série de desafios únicos em relação ao diagnóstico, tratamento e cuidados contínuos.
Um dos maiores desafios que os idosos com HIV enfrentam é o estigma associado
à doença. Embora o estigma em torno do HIV tenha diminuído desde a década de 1980 e
1990, ainda há um nível significativo de discriminação em relação às pessoas com HIV. O
estigma pode levar a sentimentos de isolamento e medo de buscar atendimento médico,
o que pode impedir que os idosos com HIV recebam o cuidado que precisam. Além disso,
muitos idosos com HIV podem estar preocupados com o impacto que o diagnóstico terá
em seus relacionamentos e podem ter medo de transmitir a doença para seus parceiros.
Outro desafio importante é o acesso ao atendimento médico adequado. Os idosos
com HIV muitas vezes enfrentam barreiras significativas para obter atendimento médico,
incluindo problemas de mobilidade, falta de transporte e custos elevados de assistência
médica. Além disso, muitos médicos não estão familiarizados com o tratamento do HIV em
idosos, o que pode levar a erros no diagnóstico e no tratamento.
A adesão ao tratamento é outro desafio significativo para os idosos com HIV. O
tratamento antirretroviral (TARV) é altamente eficaz em reduzir a carga viral e melhorar
a qualidade de vida das pessoas com HIV, mas requer adesão rigorosa e consistente
para ser eficaz. Os idosos com HIV podem enfrentar desafios adicionais para aderir ao
TARV, incluindo a presença de outras condições de saúde que requerem tratamento, o
esquecimento de tomar medicamentos e a falta de compreensão das instruções de
dosagem. Além disso, muitos idosos com HIV podem estar preocupados com os efeitos
colaterais dos medicamentos antirretrovirais, que podem incluir náusea, diarreia, fadiga e
insônia. Esses efeitos colaterais podem ser particularmente problemáticos para os idosos,
que podem ter menos tolerância a medicamentos e podem ser mais suscetíveis a reações
adversas.
A idade também pode afetar a eficácia do TARV. Estudos mostram que o sistema
imunológico dos idosos pode ser menos responsivo ao TARV do que o sistema imunológico
dos adultos mais jovens. Isso significa que pode ser mais difícil para os idosos controlar
a carga viral, o que pode levar a uma maior probabilidade de desenvolver doenças
oportunistas.
Além disso, a idade pode afetar a capacidade do organismo de combater infecções
e doenças. A resposta imunológica pode ser mais lenta ou menos eficaz em idosos, o que
pode torná-los mais suscetíveis a infecções e doenças oportunistas relacionadas ao HIV. A
idade também pode afetar a saúde mental dos idosos com HIV. A depressão é comum em

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 6 64


pessoas com HIV, e pode ser especialmente prevalente em idosos, que podem enfrentar
maior solidão e isolamento social.
Ainda há muito a ser aprendido sobre como o envelhecimento afeta a infecção pelo
HIV e o tratamento com antirretrovirais. Muitos estudos sobre o HIV foram conduzidos
em adultos jovens, o que significa que há pouca informação disponível sobre como o HIV
afeta a saúde dos idosos. No entanto, pesquisas recentes sugerem que há diferenças
significativas na forma como o HIV afeta o sistema imunológico e a saúde dos idosos em
comparação com adultos jovens.
Por exemplo, um estudo de 2018 publicado no Journal of Acquired Immune
Deficiency Syndromes descobriu que as pessoas com HIV com mais de 60 anos tinham um
risco significativamente maior de desenvolver doenças cardiovasculares do que as pessoas
com HIV mais jovens. Outro estudo, publicado no Journal of Gerontology: Medical Sciences
em 2019, descobriu que os idosos com HIV tinham maior probabilidade de ter problemas
de mobilidade, como dificuldade para andar ou subir escadas, do que os adultos sem HIV.
Esses estudos sugerem que os idosos com HIV têm necessidades de saúde únicas
que precisam ser abordadas por meio de cuidados de saúde personalizados. Os médicos
que tratam idosos com HIV precisam estar cientes dessas necessidades e trabalhar
em estreita colaboração com seus pacientes para garantir que recebam o atendimento
adequado.
Embora existam desafios significativos associados ao diagnóstico, tratamento e
cuidados de saúde contínuos para os idosos com HIV, também há motivos para otimismo.
Os avanços no tratamento antirretroviral e o aumento da conscientização pública sobre o
HIV ajudaram a melhorar a qualidade de vida das pessoas com HIV, incluindo os idosos.
Os médicos também estão começando a reconhecer a necessidade de cuidados
personalizados para os idosos com HIV. Por exemplo, o Programa Nacional de Saúde
do Envelhecimento com HIV, lançado em 2017, visa melhorar a qualidade dos cuidados
de saúde para os idosos com HIV nos Estados Unidos. O programa também tem como
objetivo aumentar a conscientização sobre as necessidades de saúde únicas dos idosos
com HIV e promover a colaboração entre médicos e provedores de cuidados de saúde.
Além disso, os avanços na medicina e na tecnologia estão tornando mais fácil para
os idosos com HIV gerenciar sua condição. Por exemplo, os medicamentos antirretrovirais
agora vêm em formas mais fáceis de usar, como pílulas de dose única diárias. Os aplicativos
de gerenciamento de saúde também podem ajudar os idosos com HIV a monitorar sua
saúde e lembrar de tomar seus medicamentos.
Outra tendência promissora é o aumento da conscientização sobre a prevenção do
HIV entre os idosos. Embora muitas pessoas associem o HIV principalmente aos jovens,
os idosos também correm o risco de contrair o vírus. Uma pesquisa do CDC descobriu que
as taxas de infecção pelo HIV entre pessoas com 50 anos ou mais aumentaram 12% de
2011 a 2015. A conscientização sobre a prevenção do HIV entre os idosos é fundamental

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 6 65


para reduzir essas taxas.
Os idosos com HIV também podem se beneficiar do apoio da comunidade. Grupos
de apoio para pessoas com HIV podem fornecer um espaço seguro para os idosos
discutirem suas experiências e se conectarem com outras pessoas que entendem seus
desafios únicos. As organizações comunitárias também podem fornecer recursos e suporte
para ajudar os idosos com HIV a navegar nos cuidados de saúde e outros desafios.
Em resumo, o HIV na terceira idade apresenta desafios únicos e complexos, incluindo
diagnóstico tardio, interações medicamentosas, efeitos colaterais e a necessidade de
cuidados de saúde personalizados. No entanto, os avanços no tratamento antirretroviral e
o aumento da conscientização pública sobre o HIV estão ajudando a melhorar a qualidade
de vida dos idosos com HIV. Os médicos que tratam idosos com HIV precisam estar cientes
das necessidades de saúde únicas desses pacientes e trabalhar em estreita colaboração
com eles para garantir que recebam o atendimento adequado. A conscientização sobre a
prevenção do HIV entre os idosos e o apoio da comunidade também são fundamentais
para melhorar a saúde e o bem-estar dos idosos com HIV.

CONCLUSÃO
O envelhecimento da população é um fenômeno global, e o HIV na terceira idade
é uma questão emergente e complexa. O diagnóstico tardio é um dos principais desafios
enfrentados pelos idosos com HIV, e os resultados desse estudo indicam que essa é
uma preocupação relevante. A frequência de diagnóstico tardio na amostra analisada foi
significativa, e isso pode ter implicações importantes para a saúde e a qualidade de vida
desses pacientes.
Os idosos com HIV são frequentemente diagnosticados tardiamente devido a uma
variedade de fatores, incluindo a falta de conscientização sobre o risco de infecção por HIV,
o preconceito e a discriminação relacionados ao envelhecimento e à sexualidade, a falta de
acesso a serviços de saúde adequados, e o estigma associado ao HIV. Além disso, muitos
idosos com HIV têm comorbidades e estão em maior risco de complicações, o que pode
dificultar o manejo do HIV.
A identificação precoce do HIV é crucial para garantir que os idosos possam acessar
cuidados de saúde adequados e obter os benefícios do tratamento antirretroviral. A terapia
antirretroviral é altamente eficaz na supressão do vírus, o que pode melhorar a qualidade
de vida e prolongar a vida dos pacientes. No entanto, quando o diagnóstico é tardio, o
tratamento pode ser menos eficaz e o risco de complicações aumenta.
Para abordar o problema do diagnóstico tardio de HIV em idosos, é necessário
melhorar a conscientização sobre o risco de infecção por HIV na população idosa, bem
como aumentar o acesso a serviços de saúde adequados. Isso pode envolver campanhas
de conscientização sobre o HIV direcionadas especificamente aos idosos, treinamento

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 6 66


para profissionais de saúde sobre as necessidades específicas de cuidados de saúde dos
idosos com HIV e a inclusão de testes de HIV rotineiros em exames de saúde regulares
para idosos.
Além disso, é necessário abordar o estigma e a discriminação relacionados ao HIV
e à velhice, que podem impedir que os idosos com HIV procurem cuidados de saúde e
adiram ao tratamento. Isso pode envolver programas de educação pública para melhorar a
compreensão do HIV e sua relação com o envelhecimento, bem como o desenvolvimento
de programas de apoio social e emocional para os idosos com HIV.
Por fim, é importante reconhecer que os idosos com HIV são uma população diversa
e que suas necessidades de cuidados de saúde são variadas. A idade, o gênero, a raça, a
etnia e a orientação sexual podem influenciar as experiências dos idosos com HIV e devem
ser considerados na concepção de programas e políticas de saúde.
Em conclusão, este estudo destacou a frequência de diagnóstico tardio de HIV em
idosos e a necessidade de abordar esse problema para melhorar a qualidade de vida e a
saúde dos pacientes. A conscientização sobre o risco de infecção por HIV na população
idosa, o acesso a serviços de saúde adequados e a redução do estigma e da discriminação
são fundamentais para atingir esse objetivo. Além disso, é importante reconhecer que os
idosos com HIV são uma população diversa, e suas necessidades de cuidados de saúde
devem ser abordadas de forma holística, considerando sua idade, gênero, raça, etnia e
orientação sexual.
Este estudo tem algumas limitações, como o tamanho limitado da amostra e a
falta de informações detalhadas sobre as características dos pacientes e os fatores que
contribuem para o diagnóstico tardio de HIV em idosos. No entanto, é um primeiro passo
importante para entender as complexidades do HIV na terceira idade e identificar áreas que
exigem mais pesquisa e intervenção.
O HIV na terceira idade é uma questão emergente que exigirá uma resposta global,
incluindo a colaboração entre os profissionais de saúde, pesquisadores e formuladores
de políticas de saúde. O envelhecimento da população e o aumento da incidência do HIV
na terceira idade exigem uma abordagem mais proativa e um compromisso renovado
com a conscientização, o acesso aos cuidados de saúde e a redução do estigma e da
discriminação.
A pesquisa sobre o HIV na terceira idade precisa ser ampliada para incluir amostras
maiores e representativas, e considerar as diferenças entre os idosos em termos de idade,
gênero, raça, etnia e orientação sexual. Além disso, os estudos devem se concentrar em
entender melhor os fatores que contribuem para o diagnóstico tardio de HIV em idosos e
como isso afeta a adesão ao tratamento, a qualidade de vida e a saúde geral.
Para lidar com a complexidade do HIV na terceira idade, será necessária uma
abordagem colaborativa que envolva os idosos, seus cuidadores, os profissionais de saúde
e as autoridades de saúde pública. O HIV na terceira idade não é apenas um problema de

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 6 67


saúde, mas também uma questão social que exige uma abordagem multifacetada para
garantir que os idosos com HIV possam viver com dignidade e qualidade de vida.
Em resumo, este estudo destaca a importância de abordar o diagnóstico tardio de
HIV em idosos e a necessidade de aumentar a conscientização sobre o risco de infecção
por HIV na população idosa, melhorar o acesso aos cuidados de saúde e reduzir o estigma
e a discriminação. A pesquisa futura deve se concentrar em entender melhor os fatores
que contribuem para o diagnóstico tardio de HIV em idosos e como isso afeta a adesão
ao tratamento, a qualidade de vida e a saúde geral. Com uma abordagem colaborativa, é
possível melhorar a saúde e a qualidade de vida dos idosos com HIV.

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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 6 69


CAPÍTULO 7

OBESIDADE INFANTIL NO BRASIL: DA


PREVENÇÃO AO TRATAMENTO

Data de aceite: 01/03/2023

Adriana da Silva Esquiavan qualitativa, de natureza exploratória. Os


Secretária Executiva. Advogada. resultados apontam para a inadequação
Especialista em Nutrição e Educação de ingestão de micronutrientes pelos
Nutricional pela Faculdade Metropolitana brasileiros que refletem a baixa qualidade
do Estado de São Paulo (FAMEESP) da dieta, se não houver o comprometimento
– Estude Sem Fronteiras. Servidora da e aplicação de políticas públicas na área
Secretaria de Estado da Saúde de Santa da educação nutricional com abordagem
Catarina
na prevenção e no tratamento precoce da
https//:orcid.org/ 0000-0002-6124-9980
obesidade infantil no Brasil, a situação tende
Adelcio Machado dos Santos a piorar. As ações devem ser desenvolvidas
Doutor em Engenharia e Gestão do por uma equipe multiprofissional e envolver
Conhecimento pela Universidade as famílias, escolas e o setor saúde público
Federal de Santa Catarina (UFSC). e privado. Concluímos que a obesidade
Pós-Doutor pela UFSC. Docente, infantil e o processo de emagrecimento não
pesquisador e orientador no Programa ocorrem em um curto espaço de tempo.
de Pós-Graduação em Desenvolvimento PALAVRAS-CHAVE: Educação nutricional;
e Sociedade e em Educação da
Índices de obesidade; Tratamento.
Universidade Alto Vale Rio do Peixe
(Uniarp)
https://orcid.org.0000-0003396-972X
CHILDHOOD OBESITY IN
BRAZIL: FROM PREVENTION
TO TREATMENT FROM THE
RESUMO: O crescimento da obesidade PERSPECTIVE OF NUTRITIONAL
infantil é uma realidade vivenciada por EDUCATION
muitas famílias no mundo e Brasil. O objetivo ABSTRACT: The growth of childhood
do estudo foi identificar informações na obesity is a reality experienced by many
literatura sobre a prevenção e o tratamento families in the world and in Brazil. The
da obesidade infantil no Brasil sob a óptica objective of the study was to identify
da educação nutricional. Trata-se de uma information in the literature on the prevention
revisão bibliográfica com abordagem and treatment of childhood obesity in Brazil

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 7 70


from the perspective of nutrition education. This is a literature review with a qualitative
approach, of exploratory nature. The results point to the inadequate intake of micronutrients
by Brazilians that reflect the low quality of the diet, if there is no commitment and application
of public policies in the area of nutrition education with an approach to prevention and early
treatment of childhood obesity in Brazil, the situation tends to worsen. The actions should be
developed by a multidisciplinary team and involve families, schools, and the public and private
health sector. We conclude that childhood obesity and the weight loss process occur in the
short period of time.
KEYWORDS: Nutritional education; Obesity indices; Treatment.

INTRODUÇÃO
A obesidade é uma doença que pode afetar o homem em todas as fases do seu
ciclo vital, com relação direta na incidência das doenças metabólicas. Quando crianças são
expostas a uma alimentação inadequada e empobrecida em nutrientes terão mais chances
de se tornarem um adulto obeso.
A Organização Mundial da Saúde na 53a reunião do Conselho e na 66a Seção
do Comitê Regional da OMS para as Américas, realizada no ano e 2014, considerou a
obesidade em crianças e adolescentes uma epidemia crescente nas Américas”. (OMS,
2014). Segundo informações descritas no “Atlas da Obesidade Infantil no Brasil” do
Ministério da Saúde (MS), 3 a cada 10 crianças, com idade entre 5 a 9 anos estão acima
do peso no país. (BRASIL, 2019).
A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica
(ABESO), estimou no ano de 2021, que existam cerca de 6,4 milhões de crianças com
excesso de peso no Brasil, e 3,1 milhões já podem ter evoluído para a obesidade infantil.
(ABESO, 2021).
Segundo os estudos realizados pela Escola Paulista de Medicina de São Paulo
(EPMSP), a obesidade hoje atinge cerca de 60% da população adulta do Brasil. A obesidade
é considerada uma doença crônica, e a sua ocorrência acontece pelo acúmulo de tecido
adiposo no organismo, dela sobrepõem inúmeras doenças e sequelas graves, como, a
“hipertensão arterial, dislipidemia, resistência insulínica e esteatose hepática. (ESCOLA
PAULISTA DE MEDICINA DE SÃO PAULO, 2021).
Em crianças e adolescentes pode desencadear várias consequências inesperadas
ao longo do tempo como: atraso no desenvolvimento e crescimento; alterações negativas
na atuação do sistema imunológico; probabilidade de desenvolver doenças infecciosas com
agravamento do quadro; deficit cognitivo e desnutrição pela ausência de acompanhamento
e orientação nutricional. (SILVA, 2022).
A superfluidade de peso chega ao percentual de “15% das crianças menores de
2 anos, 12% daquelas entre 2 e 5 anos e 25% daqueles entre 5 a 10 anos. Entre os
adolescentes essa prevalência chega a 30%”. (ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DE SÃO

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 7 71


PAULO, 2021). Os dados ressaltam a necessidade da atenção dos profissionais da saúde
sobre o prevenção e o tratamento da obesidade infantil e obesidade mórbida infantil.
Para Silva (2022) o tratamento da obesidade infantil consiste em acompanhamento
nutricional com equipe multiprofissional; monitoramento de taxas sanguíneas (colesterol,
vitaminas, etc.); mudança no estilo de vida alimentar – inclusive da família; reeducação
alimentar; atividade física regular; envolvimento da criança e o adolescente no preparo
das refeições; proporcionar uma rotina diárias das refeições em família; entre outras
alternativas. “As crianças são especialmente vulneráveis à influência da publicidade, então
devemos protegê-las realizando ações sólidas e eficazes de saúde pública.” (OPAS, 2012).
O envolvimento da família e da escola são primordiais para evitar a obesidade nessa faixa
etária.
Dessa forma, Serdula (1993) destaca que o processo da obesidade na infância,
“está relacionada a várias complicações, como também a uma maior taxa de mortalidade.
E, quanto mais tempo o indivíduo se mantém obeso, maior é a chance das complicações
ocorrerem, assim como mais precocemente”.
A escolha do tema de estudo se justifica a partir da política pública nutricional
adotada pelo Brasil. O acesso a alimentação é um direito constitucional previsto em lei,
cabe ao Ministério da Saúde (MS) formular políticas públicas que garantam o acesso á
alimentação saudável e a nutrição de qualidade, contribuindo com a saúde da população
em geral. (BRASIL, 1988). A educação alimentar e nutricional é uma estratégia que promove
diferentes abordagens com os variados grupos populacionais ao longo da vida, com intuito
de realizar ações que garantam a segurança alimentar e nutricional.
No ano de 2006, o MS promulgou a Portaria Interministerial nº 1.010/2006, que
estabelece as diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável nas escolas de
educação infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e privadas em todo o
Brasil. (BRASIL, 2006).
Diante do exposto, o objetivo do estudo foi identificar informações na literatura
sobre a prevenção e o tratamento da obesidade infantil no Brasil sob a óptica da educação
nutricional.

METODOLOGIA
Realizado um estudo de revisão bibliográfica com abordagem qualitativa, de
natureza exploratória, que corresponde em um método de pesquisa da prática baseada
em evidências, pois, pelas análises proferidas pelos autores, ela compreende as pesquisas
disponíveis sobre determinado assunto, corroborando em processos de conhecimento
científico. (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
Realizou-se o levantamento bibliográfico entre abril a outubro de 2022, delimitado
nas seguintes fases: (i) definição da pergunta norteadora, estratégia de busca na literatura,

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 7 72


identificação dos estudos e coleta de dados; (ii) análise dos estudos incluídos; (iii) discussão
dos resultados (iiii) apresentação da revisão integrativa. (SOUZA; SILVA; CARVALHO,
2010).
A pergunta de pesquisa elaborada foi: Quais as informações sobre sobre prevenção
ao tratamento da obesidade infantil no Brasil sob a óptica da educação nutricional?
Quanto aos critérios de inclusão dos estudos selecionados foram: artigos completos,
nos idiomas português, inglês e espanhol, e disponíveis nas bases de dados eletrônicas
selecionadas. Os parâmetros de exclusão foram: eliminação de apostila, carta e/ou editoriais,
pois não contemplam as bases fundamentais para uma pesquisa científica. Também foram
excluídos os artigos que não estão disponíveis na íntegra e os em duplicidade.
O corte temporal para a busca de publicações compreende 2011 a 2021, em 2011
foi publicada a ultima versão atualizada do Programa Nacional de Alimentação e Nutrição
(PNAN) e 2021 faz dez anos de publicação desse material. Foram designados, no período,
dezessete artigos para a exploração deste estudo, sendo eles retirados da base de dados
Coordenação de Aperfeiçoamento Científico de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Ano de publicação Número absoluto %


2015 02 11,7647%
2016 04 23, 5294%
2017 02 11,7647%
2018 02 11,7647%
2019 01 5,8824%
2020 04 23,5294%
2021 02 11,7647%
Total 17 100%
Tabela 1- Distribuição dos estudos incluídos na revisão, referente aos anos de publicação,
compreendidos entre 2015 e 2021. Balneário Camboriú, SC, Brasil. 2022.
Fonte: Dados das autoras. 2022.

DISCUSSÃO E RESULTADOS
A vinda da internet, o uso acelerado das redes sociais, a inserção dos trabalhos
home-office, dentre outros, evidencia de forma bastante peculiar, o processo alimentar
individual e grupal, modificando os padrões de saúde e de consumo da população em
geral. Os modelos alimentares na sua grande maioria, vem sendo elaborados com alto teor
energético, ricos em carboidratos e apresenta baixo teor de nutrientes.
A respeito desse tema, Silva e Teles (2013) apontam que a preferência por
determinados produtos inicia-se na fase biológica de cada indivíduo, o paladar vai se
alterando por inúmeras razões, seja sentimental, emocional, cultural, pela condição

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 7 73


financeira, ambiental, entre outros.
Nasser (2006) afirma que o processo alimentar dos indivíduos tem trajetória na
ingestão de alimentos com altos índices de gordura, açúcar, doces, e, por outro deixando
de consumir produtos saudáveis, como cereais integrais, hortaliças e frutas, dificultando o
alinhamento e manutenção da vida saudável, em especial, o das nossas crianças.
Nas lições trazidas por Damata (1987) os indivíduos na rotina alimentar precisam
saber com exatidão quais são os alimentos e seus benefícios. Dessa maneira, Albiero e
Alves (2007) refletem sobre a necessidade de mudanças, com aplicação da educação
alimentar nutricional nas escolas, para os autores, nossas crianças passariam a ter
hábitos saudáveis. Essa visão e sustentada por Prado et al. (2016), ao afirmarem que é
no ambiente escolar que há um aproveitamento satisfatório e propício para a promoção
da saúde, formando cidadãos conscientes e aptos de suas escolhas, em especial, a do
processo alimentar e nutricional.
Ademais, mostra-se que, aplicar estratégias de educação nutricional em diversos
seguimentos da sociedade, em especial, no ambiente escolar, fará nossos educandos terem
acesso ao conhecimento nutricional e o alcance na prática de bons hábitos alimentares
mais saudáveis, chegando, inclusive, a influenciar a sua família. A criação de uma horta
educativa e aulas práticas de culinárias podem ser uma boa opção didática de inserção
dos alunos sobre alimentação saudável.
Do mesmo modo, ao criar debates nos meios sociais e em todas as áreas da saúde,
os gestores terão em suas mãos, ferramentas necessárias para a implementação de
políticas que repercutiram de forma positiva sobre o melhoramento da saúde e nutrição da
população.
Dentre as tendências em escolher alimentos saudáveis e os artificiais Menasche
(2010, p. 205), aponta que:
O natural, fresco, caseiro, próximo, tradicional seria, dessa forma, afirmado
em oposição ao artificial, processado, industrializado, distante, moderno.
O alimento natural não seria apenas considerado o de melhor gosto. Em
oposição ao alimento industrializado, seria apontado como puro e, dessa
forma, saudável.

O Ministério da Saúde, através da sua equipe Multidisciplinar, criou o Guia Alimentar


para a população Brasileira, com foco em orientar os indivíduos para escolhas e consumo
de produtos alimentares de forma mais saudáveis, a fim de garantir a sua saúde:
Sendo por pressupostos os direitos à saúde e à alimentação adequada
e saudável, o guia é um documento oficial que aborda os princípios e as
recomendações de uma alimentação adequada e saudável para a população
brasileira, configurando-se como instrumento de apoio às ações de educação
alimentar e nutricional no SUS e também em outros setores. (BRASIL, 2014b,
p. 6).

Deste modo, mostra-se que, ao compreender os objetivos propostos pela Educação

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 7 74


Alimentar e Nutricional (EAN) é entender a necessidade de implementar estratégias
necessárias que potencializem a formação de hábitos alimentares saudáveis, por meio da
aplicação da educação continuada e permanente. Os educadores, farão um papel basilar,
que é a disseminação, por meios de suas ações para com seus educandos, voltado ao
autocuidado e da autonomia. (BRASIL, 2013).
Vale lembrar que não existe um modelo pronto que indique quais os passos a ser
seguido. O que na verdade existe são ações que podem complementar na aplicação de
práticas voltadas para uma Educação Alimentar e Nutricional adequada, e que, a partir
delas, possam ser definidos caminhos viáveis para adoção de medidas efetivas em busca
da melhoria da qualidade de vida dos indivíduos.
A Educação Alimentar e Nutricional (EAN) se configura como um campo de
conhecimento e prática de educação contínua e permanente, intersetorialidade e
multiprofissionalidade, que utiliza diferentes abordagens educacionais a fim de buscar
medidas socioeducativas em prol do melhoramento da saúde de sua população. Neste
seguimento, também se torna elementar a criação de projetos para os diferentes públicos
e faixas etárias, considerando as particularidades de cada indivíduo e suas fases de
conhecimento e desenvolvimento.
A definição de Obesidade infantil é descrita por Mann (2009), como sendo aquela
em que o indivíduo apresenta massa de gordura de forma excessiva para a sua altura. Já
para Yadav et al. (2000) é entendida como sendo uma “enfermidade multicausal”. Ou seja,
para o autor, existem diversos fatores que podem desencadear esse contexto, que vai
desde a fatores genéticos, fisiológicos, ambientais e problemas de ordem emocional, que
leva ao acúmulo excessivo de gordura no organismo.
Para Guinhouya (2012), a obesidade infantil é entendida como sendo aquela em
que há excesso de gordura corporal no tecido adiposo, com implicações negativas para a
saúde.
No mesmo sentido, para Pereira et al. (2012); Preis et al. (2010), a obesidade é
definida como aquela que apresenta distúrbios metabólicos no organismo do indivíduo,
de modo a ser produzir processos inflamatórios crônicos e acúmulo de gorduras
corporais, que desencadeia diversas patologias, que vai desde a Diabetes Melittus tipo
2, hipercolesterolemia, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e diversos tipos de
cânceres.
A obesidade infantil é considerada como sendo uma pandemia que adoece em todas
as idades. No ano de 2013, havia cerca de 42 milhões de crianças, com idade inferior aos
5 anos, acima do peso no mundo (OMS, 2014).
No Brasil, no ano de 2020, segundo os dados apresentados pela Secretaria de
Atenção Primária à Saúde (SAPS), das crianças atendidas pelos profissionais da pasta da
Atenção Primária à Saúde (APS) do Sistema Único de Saúde (SUS), cerca de 5,9% dos
menores de 5 anos e 31,7% das crianças entre 5 e 9 anos tem excesso de peso, e dessas,

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 7 75


7,4% e 15,8%, respectivamente, apresentam obesidade segundo Índice de Massa Corporal
(IMC) para idade. (BRASIL, 2021).
Os cuidados com a prevenção e tratamento da saúde da população é vista como
preocupante pelos profissionais da saúde, e para eles, é preciso haver mais atenção dos
órgãos públicos e privados, na implantação de políticas públicas preventivas, chamando a
população para participar desse debater tão importante e necessário.
Porém, a pergunta que se faz é: como frear essa situação? As ações de prevenção
e tratamento da obesidade realizada nos setores públicos e privados irão reduzir os gastos
nesta área, além de alertar a população sobre os malefícios da obesidade na saúde.
Palestras com a comunidade local, a criação de hortas educativas comunitárias,
eventos rotineiros com a participação de um educador físico, nutricionista, profissional
médico na comunidade pode ser uma forma de levar conhecimento e educação para a
nossa população. A exploração da cultura regional pode ser uma alternativa de criar um
evento com premiação para incentivo dessa modalidade.
Para a OMS, os custos aplicados no combate da obesidade em adultos no mundo
todo, com referência ao ano 2014, foram de aproximadamente de dois trilhões de dólares
ao ano e a prevenção da obesidade infantil é parte importante da estratégia de combate a
doença. (WHO, 2018).
Esta é mais uma razão para que haja de forma emergencial a implantação de politicas
públicas preventivas, alertando a população sobre os benefícios que a boa alimentação
pode trazer para os indivíduos, e também, que ao escolher alimentos industrializados e
processados, com altos índices de gorduras, açúcar e sal, podem afetar a sua saúde,
levando ao acometimento de doenças graves, e, em alguns casos, a morte.
Neste seguimento, o processo educacional sobre a prática de hábitos alimentares
mostra-se uma das ferramentas mais assertivas para frear de forma emergencial a
desinformação e os cuidados sobre a saúde da população. Hoje no Brasil, a Educação
Alimentar e Nutricional (EAN) traz consigo a necessidade de parcerias entre diferentes
atores e setores como forma de enfrentamento aos desafios da realidade nutricional do
país.
Assim, para os profissionais do EAN, tem na escola um espaço e um tempo
privilegiado para promover a saúde. Nesse ambiente pode ser criado inúmeras estratégias
para o seu alcance, como a criação de hortas escolares pedagógicas, a realização de
oficinas culinárias experimentais com os alunos e suas famílias, formação da comunidade
escolar, entre outras atividades.
A Lei n° 11.947/2009, que trata sobre o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE), inclui em seus textos as diretrizes sobre a inclusão EAN no processo de ensino-
aprendizagem. Dentre seus propósitos, inclui o estudo sobre os temas da ciência da nutrição
que versa sobre o alimento, a alimentação e a nutrição; os ritos, rituais e simbologias
envolvidos; o significado que a alimentação possui para o indivíduo; as necessidades

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 7 76


fisiológicas, psicológicas, sociais, econômicas e culturais; os hábitos alimentares; a higiene
dos alimentos, etc. (BRASIL, 2009).
Para Menasche, (2006) a população do século XXI vem sendo carregada por um
acúmulo de estresses de ordem social, econômica e cultural, desencadeando o aumento
da ansiedade na população, que, por sua vez, tem usado o alimento para o seu conforto.
Aliado a essa situação, os meios de comunicação vem cada vez mais incentivando os
consumidores a compra de produtos industrializados, ofertando uma falsa equivalência de
qualidade em seus produtos, escondendo de seu público, os efeitos danosos na saúde.
Para Pakpour et al. (2001), é preciso frear com a máxima urgente a obesidade
infantil no mundo. E para que isso ocorra, é necessário que os responsáveis pelas crianças
possam compreender qual é verdadeiro papel dos alimentos, e que, dependerá, somente
deles, a identificação de distúrbios alimentares, associados ao sobrepeso e/ou obesidade
e os fatores de risco a saúde de seus filhos.
O risco da obesidade infantil é sem sombra de dúvida, assustador. Há inúmeros
fatores de ordem social, moral e cultural que vem incentivando mudanças de hábitos
de nossa sociedade, sendo uma delas, o excesso de publicidade realizado através de
propagandas incentivando nossas crianças a consumir produtos com excesso de gorduras,
sódio e açúcar.
Ademais, vale lembrar que a escolha alimentar é resultado da interação de múltiplos
fatores, sejam biológicos, ambientais, sociais ou psicológicos. Para mudar o comportamento
é necessário que a população possa compreender os determinantes que afetam a escolha
dos alimentos e quais são as principais causas que o leva a adoecer pela obesidade.
Segundo Hawkes (2004) na atualidade, as empresas de marketing vem inovando
cada vez mais em suas propagandas, incentivando a compra incessante de seus produtos,
mesmo sem conhecer de forma ampla todo o seu conteúdo. No caso dos alimentos, essa
prática tem sido constante e costumeira, em especial, pelas crianças que se apropriam de
seus brindes como forma de consumo.
Porém, nesta mesma seara, os órgãos públicos, podem através de programas
sociais e educativos, se aproveitar e dessa estratégia de marketing, trazendo informações
importantes e essenciais sobre os cuidados com a alimentação. Ao inserir as crianças em
atividades pedagógicas, em espaços criativos, uso de uma boa tecnologia, e personagens
infantis favorece, de forma bastante peculiar, o aprendizado.
Vale lembrar que há inúmeras estratégias de ordem global, realizadas por entidades
governamentais, dentre elas, a OMS, que no ano de 2003, sob a forma de um documento
preliminar, já vinha incentivando práticas alimentares saudáveis aliadas à prática de
atividade física, juntamente ao controle do tabaco, como estratégias efetivas para reduzir
substancialmente as doenças e as mortes no mundo (OMS, 2003).
Segundo a ABESO (2018), é na infância que ocorre maior oportunidade de prevenção
da Obesidade. A obesidade é uma doença crônica e que deve ser tratada o mais rápido

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 7 77


possível a fim de tentar reverter o quadro, hoje já existente no Brasil. Ela não tem cura,
cabe aos responsáveis fazer a sua devida adequação.
Desta feita, mostra-se a importância da implementação de atividades físicas de
forma rotineira para a população em geral. No caso das crianças, o acesso as atividades
esportivas, através de parcerias com o setor privado, pode ser uma das alternativas de
melhoramento e de incentivos a essas práticas.
Como bem pondera Gillis, (2006), a prática frequente de atividades físicas contribui
para a diminuir o risco de obesidade, visto que ela atua na regulação do balanço energético,
influência na distribuição do peso corporal, preservando a massa magra, além de promover
perda de peso corporal. Também, é importante lembrar que o acompanhamento do estado
nutricional de crianças permite diagnosticar seu estado de saúde atual, bem como predizer
parcialmente seu prognóstico na vida adulta.
É bem verdade que a obesidade na infância e na adolescência tende a continuar
na fase adulta, e, caso não haja intervenção imediata, o aumento da morbimortalidade
e diminuição da expectativa de vida será o caminho traçado pelos indivíduos. Portanto,
é preciso haver maior comprometimento de toda a sociedade, que vai desde os órgãos
públicos, privados e a sociedade como um todo, para que haja um compromisso com a
prática de vida mais saudável, cabendo aos profissionais da saúde fazer o alerta sobre
o risco para a obesidade, com acompanhamento rápido e necessário, a fim de haver um
controle mais efetivo a favor de um prognóstico mais favorável a longo prazo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No estudo ficou evidenciado que há a necessidade urgente da aplicação de medidas
educativas sobre os processos nutricionais e o incentivo para a mudança de estilo de vida
em todas as camadas da sociedade. A educação nutricional como tema interdisciplinar na
escola pode ser o caminho mais rápido para o acesso aos cuidados alimentares e saúde
nutricional de qualidade. A implementação de hortas educativas e a criação de programas
culinários podem ser uma medida pedagógica que envolvam as crianças e suas famílias
para que iniciem uma boa educação alimentar em seus lares, criando hábitos saudáveis e
o gosto pela culinária.
O combate a obesidade infantil é indiscutivelmente necessário e urgente, sendo
dever de todos os cidadãos estarem engajados nessa causa. Vale lembrar que ações
socioeducativas, de grande alcance, incentiva e conduz as pessoas a entender a sua
missão individual e coletiva dentro desse contexto social.
Ademais, mostra-se que a inserção da educação alimentar e nutricional, por meio da
mudança do comportamento e hábitos alimentares, tem intuito de promover a saúde, evitar
doenças crônicas não transmissíveis e estimular a autonomia dos indivíduos no processo
de escolhas adequadas de seus alimentos e processo nutricional.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 7 78


Outrossim, os pais que se alimentam de forma saudável e equilibrada fazem com
que as crianças tenham a oportunidade de desenvolver um paladar em que todos os
grupos alimentares são incluídos, com todos os nutrientes essenciais para promover uma
adequada qualidade de vida, favorecendo seu desenvolvimento e crescimento.
Porém, verifica-se que no mundo globalizado e de fácil acesso na aquisição de
produtos e melhoramento do poder aquisitivo, o cardápio diário alimentar dos indivíduos
vem sendo cada vez mais alterado, uma vez que eles são compostos, na sua grande
maioria, de sódio, açúcar e de gorduras, e pobre em nutrientes essenciais para o bom
funcionamento do corpo humano. As crianças têm seguido o comportamento de seus pais,
e, neste ensejo, são ainda incentivadas a cada vez mais seguir esse padrão inadequado
e utilizar os alimentos como medida de enfrentamento das perdas emocionais e físicas.
Devemos lembrar que a obesidade não se desenvolve a obesidade infantil não se
desenvolve em um curto espaço de tempo, tão pouco o processo de emagrecimento ocorre
a curto prazo. As mudanças no processo ocorrem com reeducação alimentar, promoção de
hábeis saudáveis, entre outras ações aplicadas por uma equipe multiprofissional.
As crianças buscam modos de vida nas pessoas mais próximas – família, amigos,
professores, entre outros, para desenvolver seu estilo de vida. É fundamental que haja
um comprometimento de toda a família para que adquira e equilibre hábitos alimentares
saudáveis e aliados a atividade física, aprimorando o processo de saúde geral.

REFERÊNCIAS
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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 7 83


CAPÍTULO 8

PERFIL SOCIOECONÔMICO, EDUCACIONAL E DE


CONHECIMENTO EM SEGURANÇA DOS ALIMENTOS
POR MANIPULADORES DE ALIMENTOS DE HOSPITAL DE
REFERÊNCIA EM FORTALEZA- CE

Data de aceite: 01/03/2023

Leandro Soares Damasceno histórico e social, pelo qual os indivíduos


tomam consciência de si e das relações
Armênia Uchôa de Mesquita
sociais das quais são sujeitos. Saviani
Fabíola Camurça Janebro Damasceno (2007) afirma que “Trabalho e educação

Angela Nirlene Monteiro Vieira Melo são atividades especificamente humanas.


Isso significa que, rigorosamente falando,
Eudóxia Sousa de Alencar
apenas o ser humano trabalha e educa”.
Cíntia Gonçalves Nascimento Costa Outra contribuição muito relevante ao
Cordeiro debate em torno das relações entre
Trabalho e Educação consiste na produção
de Arroyo (1981) que confere à Educação
uma esfera privilegiada de formação do
INTRODUÇÃO
trabalhador.
O trabalho humano é uma categoria A discussão da educação como
distinta, não negociável, indissociável prática transformadora e aprendizagem
pois é feita por humanos (BRAVERMAN, significativa é fundamental na execução
1997). Segundo Marx (1979), o autor, da educação permanente, que trará
a lógica do capital é indestrutível, mas a conhecimento significativo no campo
natureza humana do trabalho, concebida do saber e de prática na área da saúde
pelo homem nesta etapa de produção, faz (CAMPOS; SENA; SILVA, 2017). A Política
o contraponto e o diferencial nas relações Nacional de Educação Permanente em
sociais de trabalho no sistema capitalista Saúde (PNEPS) foi instituída por meio da
(MARX,1979). Portaria GM/ MS nº 198/2004, teve suas
Ramos (2006) ressalta a diretrizes de implementação publicadas na
importância em compreender a formação Portaria GM/MS nº 1.996/2007 (BRASIL,
do homem na sua totalidade como sujeito 2018).

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 8 84


A educação na saúde “consiste na produção e sistematização de conhecimentos
relativos à formação e ao desenvolvimento para a atuação em saúde, envolvendo práticas
de ensino, diretrizes didáticas e orientação curricular” (BRASIL, 2012). Também conhecida
como educação no trabalho em saúde, a educação na saúde se apresenta de duas formas:
a educação continuada e a Educação Permanente em Saúde (EPS) (BRASIL, 2018).
Para Freire (2001), o conceito de educação abrange construção de consciência crítica
e raciocínio reflexivo para o desenvolvimento do homem (FREIRE, 2001; BARCIA, 1982).
Assim, a educação permanente se caracteriza pela aprendizagem no trabalho, envolve o
aprender e o ensinar ao cotidiano, estando baseada em diferentes vertentes metodológicas.
As contribuições de Paulo Freire se fazem presentes, onde a problematização considera
os conhecimentos e experiências que as pessoas já possuem (FALKENBERG et al, 2014).
Segundo o Ministério da Saúde (MS), a EPS se caracteriza como aprendizagem
no trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao fazer diário das organizações
e ao trabalho. A EPS está centrada na aprendizagem significativa e na possibilidade de
transformar as práticas profissionais e acontece no cotidiano do trabalho (BRASIL, 2012).
As práticas de ensino e aprendizagem, segundo a educação permanente em saúde,
objetiva a produção de conhecimento, a partir dos problemas construídos na experiência
do cotidiano dos cenários de formação, que muitas vezes são os serviços de saúde e os
territórios (BRASIL, 2018).
A identificação do contexto, dos determinantes sociais e econômicos, das políticas
educacionais, trabalho e desenvolvimento social é apontada como pressuposto para que o
processo educativo responda às necessidades concretas e, a partir daí se possam construir
os objetivos da aprendizagem (DDAD; MOJICA; CHANG, 1987). Diante disto, uma
proposta de educação permanente deve utilizar-se do processo de avaliação do trabalho,
o que pode proporcionar chances de repensar as práticas, buscando a transformação dos
sujeitos comprometidos com melhorias do serviço e segurança dos comensais.
É cada vez mais comum a procura dos consumidores por alimentos práticos,
convenientes e prontos para o consumo, também tem aumentado o número de pessoas
que realizam refeições fora do domicílio (MEDEIROS et al., 2004; SOUSA, 2008). Portanto,
os diversos locais que produzem ou comercializam alimentos vêm se preocupando cada
vez mais em aperfeiçoar técnicas que promovam a qualidade e a segurança dos alimentos.
A qualificação dos funcionários que trabalham na manipulação dos alimentos é
muito importante. Quando existe alguma não conformidade em relação à higiene pessoal,
ambiental ou nos cuidados com os alimentos, o risco de contaminá-los, através das mãos,
do cabelo, do acondicionamento dos produtos em temperatura inadequada, da ocorrência
de contaminação cruzada, favorece o aumento de microrganismos patogênicos e,
consequentemente, compromete a saúde dos consumidores (ÇAKIROGLU e UÇAR, 2008;
SULTANA et al., 2013).
Todo estabelecimento que produz alimentos deve obedecer a exigências e padrões

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 8 85


previstos na legislação vigente, baseados nas Boas Práticas de Fabricação (BPF). Existindo
a necessidade de programas de educação permanente para capacitar os manipuladores
de alimentos.
Diante do exposto acima e da necessidade de implantação de atividades de educação
permanente este estudo tem o objetivo de avaliar o nível educacional e de conhecimento
em segurança dos alimentos em manipuladores de alimentos de uma unidade hospitalar
de Fortaleza- CE.

METODOLOGIA
Trata-se de um estudo quantitativo e descritivo e de desenho transversal. Foi
realizado na Unidade de Nutrição de um hospital de referência cardiopulmonar no nordeste
do Brasil, que devidamente autorizou o presente trabalho através de Termo de anuência.
Participaram do estudo 86 colaboradores de diversos cargos: cozinheiros, auxiliares de
cozinha, almoxarifes, zeladores, copeiros, que aceitaram participar da pesquisa, com
assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Os dados foram coletados no mês de maio de 2022, através de um formulário
produzido pelos pesquisadores com as seguintes variáveis: sexo, idade, estado civil,
escolaridade, renda familiar, conhecimento em segurança dos alimentos.
O instrumento utilizado para coleta de dados foi dividido em duas partes: a primeira
delas contendo variáveis de informações socioeconômicas e de escolaridade (sexo,
idade, estado civil, escolaridade, renda familiar); e a segunda parte, foi um questionário,
composto por 10 questões objetivas, de múltipla escolha para avaliar o conhecimento dos
manipuladores de alimentos sobre segurança dos alimentos, avaliado em satisfatório ou
insatisfatório, de acordo com acerto ou não da questão proposta, com cálculo final em
percentual dos acertos para cada tema de pergunta. O instrumento de coleta de dados foi
construído com base em outros com mesmo público (DEVIDES, MARFFEI E CATANOZI,
2014; GARCIA E CENTENARO,2016).
Considerando a baixa escolaridade esperada de alguns manipuladores, este
questionário foi feito em forma de entrevista e marcada a opção correta, segundo o
colaborador entrevistado.
Os resultados foram apresentados através de quadros e tabelas, com as devidas
discussões com outras pesquisas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Quanto ao perfil sócio- econômico e educacional, encontramos uma maioria dos
manipuladores de alimentos do sexo feminino (53,5%), idade média de 21 a 40 anos
(61,6%), com estado civil de união estável (52,3%), com ensino fundamental incompleto
(54,6%) ou ensino médio completo (30,3%), com renda de 2 a 3 salários (77,9%). Os dados

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 8 86


detalhados estão apresentados no Quadro 1 a seguir.

Variáveis avaliadas Resultados por categorias

Sexo feminino 46 (53,5 %)


Sexo Sexo Masculino 35 (40,7 %)
Outro ou sem declarar 5 (5,8%)

Até 20 anos 13 (15,1%)


De 21 a 40 anos 53 (61,6%)
Idade
De 41 a 59 anos 19 (22,1%)
60 anos ou mais 1 (1,2%)

Casados 22 (25,5%)
União estável 45 (52,3%)
Estado civil
Solteiros 8 (9,3%)
Divorciados 11 (12,8%)

Ensino fundamental incompleto 47 (54,6%)


Ensino fundamental completo 8 (9,3%)
Escolaridade Ensino médio incompleto 5 (5,8%)
Ensino médio completo 26 (30,3%)
0 nível superior 0 (0%)

Renda de 1 a 2 salários 67 (77,9%)


Renda familiar Renda de 2 a 3 salários 19 (22,1%)
Renda acima de 3 salários 0 (0%)

Quadro 1. Perfil sócio- econômico e educacional dos manipuladores de alimentos da Unidade de


Alimentação e Nutrição hospitalar de referência em Fortaleza- CE. Maio, 2022.
Fonte: Autoria própria.

Comparando nosso estudo com o de Góis, Feitosa e SantAnna (2016), o perfil


também foi predominantemente de mulheres (74,32%), um pouco maior que o nosso, idade
média também entre 21 a 40 anos, mas percentual de escolaridade com maior número
de colaboradores com ensino médio completo (60%), diferente do nosso com prevalência
de ensino fundamental. Estudo de Pagotto et al. (2018) no Rio Grande do Sul também
encontrou prevalência de sexo feminino (84%), embora maior que no nosso e maior índice
de manipuladores com ensino médio completo (52%). Pesquisa de Curitiba teve grande
prevalência de mulheres (84,8%), com idade média de 36,6 anos (RAMOS, COSTA E
MONTEIRO, 2021).
Outras pesquisas também encontraram predomínio de mulheres, adultas, de baixa
renda (FERNANDES; FONSECA; SILVA, 2014; ALMEIDA; AMOR; SILVA, 2018; SOARES,
MELO E NANDEIRA, 2014; ABADIA et al., 2017). Na década de 70, a mulher intensificou
sua rotina de trabalho devido industrialização e urbanização, e decorrente também de
mudanças culturais e sociais na sociedade. Essa participação tem crescido cada vez mais
na atualidade (GOIS et al., 2017).

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 8 87


Comparando nossa pesquisa com estudo realizado por Devides, Marffei e Catanozi
(2014), na cidade de Araraquara, São Paulo, algumas categorias estudadas tiveram
resultados semelhantes aos nossos, como no perfil de idade de 53% (no nosso, 55% entre
21 e 40 anos); sexo feminino também prevalente, com percentual pouco maior (63%); e
estado civil em sua maioria de casados e união estável (53%), como em nosso estudo. Já
em alguns tópicos houve divergências, como escolaridade, com 6% de ensino superior, e
nenhum percentual no nosso; e maior parte dos trabalhadores com ensino médio completo
(diferente do nosso com prevalência em ensino fundamental incompleto). Quanto à renda,
também foi semelhante aos resultados desta pesauisa, com maior parte entre 1 a 2 salários
mínimos. Vale ressaltar a diferença regional e atraso na escolaridade encontrado no
Nordeste, que é baixo em relação às regiões do Sudeste e Sul do Brasil.
Quanto ao nível de conhecimento em Segurança dos alimentos, encontramos
um resultado positivo de todas as questões realizadas com resultado satisfatórios
manipuladores de alimentos em estudo (média simples de 78,9 de resultados satisfatórios,
e 91,6 % de acertos).

PERGUNTAS SATISFATÓRIO INSATISFATÓRIO % ACERTOS


Boas práticas 82 4 95,3%
Tipos de perigos nos alimentos 78 8 90,6%
Noções de microbiologia 75 11 87,2%
Doenças transmitidas por alimentos 70 16 81,3%
Higiene pessoal 84 2 97,6%
Higiene dos alimentos 85 1 98,8%
Higiene ambiental 83 3 96,%
Contaminação cruzada 80 6 93%
Deterioração de alimentos 79 7 91,8%
Métodos de Controle de microrganismos 73 13 84,9%
Quadro 2. Resultado quantitativo do questionário de avaliação de conhecimento em boas práticas
aplicado com manipuladores de alimentos de UAN hospitalar de referência em Fortaleza- CE, com
percentual geral de acertos por temática de pergunta. Maio, 2022.
Fonte: Autoria própria.

Com base nesses resultados, constatamos que a maioria dos colaboradores têm
o conhecimento teórico adequado para atuar na área. Ressalta-se a importância do
nutricionista como mediador da educação entre trabalhadores, pois no local pesquisado
existe um nutricionista exclusivo para realização de capacitações, treinamentos e
atualização dos profissionais, com frequência mensal. Ressalta-se a importância de que os
programas de treinamento devem considerar limitações e baixa escolaridade, com práticas
relacionadas à realidade de trabalho para o objetivo de mudanças na execução do trabalho

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 8 88


(DUARTE,2017).
Destaca-se que o nutricionista responsável por esse programa de atualização
profissional relatou que utiliza metodologias participativas e ativas, o que deve ter contribuído
para a assimilação dos conhecimentos pelos aprendentes. Algumas das fragilidades dos
resultados deste estudo podem ter sido devido: maneira da escrita da pergunta, que
pode ter levado à dúvida na resposta, e marcação do ítem incorreto; constrangimento do
manipulador de responder ao entrevistador, que pode ter levado a equívocos; entrevista
no local de trabalho, pois o público estudado ficava com pressa de retornar às atividades,
podendo ter influenciado em respostas incorretas; e a deficiência na assimilação da
temática da pergunta.
A Resolução da Diretoria Colegiada 216 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
estabelece que os treinamentos devem ocorrer de forma periódica, com temas ligados às
boas práticas de manipulação (BRASIL, 2004), embora não seja determinada a frequência
exata. A UAN hospitalar em estudo possui treinamentos mensais, por setores, o que deve
ter colaborado também para um ótimo resultado de acertos na avaliação dos conhecimentos
dos manipuladores.
Nível de acerto de conhecimentos por manipuladores no estudo de Gois (2016) foi
semelhante ao nosso, com 83% de satisfatório, mas quanto ao conhecimento em boas
práticas teve percentual abaixo do nosso, com questões de 75% de avaliação satisfatória.
Devides et al. (2017) na sua investigação de conhecimento dos manipuladores em
segurança dos alimentos, encontrou os seguintes percentuais de acerto, por temáticas:
temperatura (11%), DTA (39%), fontes de contaminação (60%), contaminação cruzada),
preparo da solução clorada (47%), cloro para utensílios (30%), eliminação de MOS (48%).
Comparando à nossa pesquisa, todos os conhecimentos avaliados em diversas temáticas
tiveram percentual maior que 90% de acerto.
Martins et al. (2020) encontrou um percentual baixo quanto ao conhecimento de
temperatura correta para armazenamento de produtos (apenas 22%) mostrando um risco
de condições inadequadas que favoreçam contaminações de alimentos.
A capacitação de manipuladores é fundamental para que haja mudança de atitudes
quanto à prática profissional e controle de doenças transmitidas por alimentos. A falta
de conhecimento em boas táticas desencadeia risco de toxiinfecções alimentares, o que
reforça a importância de investimento em programas de capacitação participativos, feitos
com base na realidade de trabalho, para evitar ocorrências clínicas em profissionais e
pacientes e destacam a importância do profissional nutricionista para realização de
supervisão e acompanhamento dos programas de educação continuada.
Comparando os treinamentos realizados na UAN em estudo com o método
pestalozziano (ADORNO E MIGUEL, 2020), que postulava que se deveria partir sempre
do essencial, a Unidade segue parte desta metodologia, além da maneira gradativa de
aquisição e conhecimentos com as capacitações periódicas que Pestalozzi pregava.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 8 89


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, demonstra-se o perfil dos colaboradores da UAN hospitalar em estudo
são compatíveis com outras pesquisas semelhantes, com mesmo público, com maiores
divergências quanto à escolaridade e renda.
Em relação ao conhecimento em segurança dos alimentos, em geral encontrou-se
satisfatório, destacando-se entre as pesquisas semelhantes comparadas com os melhores
percentuais de acertos. Propomos que os temas onde se diagnosticou menor percentual de
acerto pelos colaboradores deverão ser reforçados em capacitações e encontradas novas
metodologias para alcance do conhecimento esperado para trabalhadores desta área, cuja
falta de teoria e prática podem levar a sérios riscos de saúde para os comensais.
Sugerimos para continuidade desta pesquisa comparar a teoria e prática dos
profissionais, e fazer um apanhado de outras realidades de UANs hospitalares do estado
do Ceará, a fim de encontrar pontos concordantes e discordantes e atuar para que o
conhecimento básico em Segurança dos alimentos seja alcançado pelos manipuladores de
alimentos, como requisito legal, com base em metodologias participativas, considerando
o aprendente um ser ativo no processo ensino aprendizagem. Também serviria como
diagnóstico para os profissionais nutricionistas reverem seus programas de capacitação e
treinamento, e as metodologias utilizadas.
As limitações deste estudo foram poucos trabalhos em UANs hospitalares para
discussões mais próximas com mesmo público e local, embora seja ponto de relevância
levantar essa temática e local para que outras pesquisas que venham aprofundar e ampliar
o conhecimento científico na área.

REFERÊNCIAS
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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 8 90


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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 8 91


CAPÍTULO 9

COMPETÊNCIAS DO ENFERMEIRO DURANTE O


ACOLHIMENTO ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA E A
RELAÇÃO COM PERDAS DE EVIDÊNCIAS EM PRONTO
SOCORRO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Data de aceite: 01/03/2023

Ana Rita Marques Bertollini na preservação de vestígios forenses.


Enfermeira. Especialista em Enfermagem Metodologia: Trata-se de uma revisão
Forense integrativa de literatura referente a
produção científica sobre a visão holística
Adriana Alves de Moura Augusto
do enfermeiro para minimizar a perda
Enfermeira. Especialista em Enfermagem
de evidências durante o acolhimento
Forense. Prefeitura Municipal de Vinhedo.
qualificado às vítimas de violência,
Prefeitura Municipal de Jundiaí
atendidos em pronto-socorro. Resultados:
Solange Nogueira Marchezin Foram utilizados 10 artigos que abordaram
Enfermeira. Especialista em Enfermagem a temática, com predomínio de publicações
Forense nos dois últimos anos. Discussão: Os
estudos foram categorizados em: Grupos
Ana Maria Leodoro
mais vitimizados atendidos em pronto-
Enfermeira. Especialista em Enfermagem
socorro; Dificuldades dos profissionais que
Forense. Universidade Estadual de
Campinas, Hospital das Clínicas atendem vítimas de violência; Estratégias
de preservação de vestígios forenses.
Margareth Cristina de Almeida Gomes Demonstrando que, dentre as principais
Enfermeira. Doutora em Saúde Coletiva, vítimas estão as mulheres, principalmente
Universidade do Estado do Rio de pela vulnerabilidade. Quanto às dificuldades,
Janeiro, UERJ, Brasil apontam-se: falta de investimento voltado
Rafael Braga Esteves para a formação de recursos humanos
Enfermeiro. Doutor em Ciências. suficientes, adequados e capacitados para o
Universidade Federal do Rio de Janeiro, atendimento da violência. Como estratégia,
Escola de Enfermagem Anna Nery a educação é apontada como o principal
recurso para melhoria da assistência aos
indivíduos vitimados pela violência, com
foco na enfermagem forense. Conclusão:
RESUMO: Objetivo: Identificar o papel evidenciou que o enfermeiro é o primeiro
do enfermeiro na assistência prestada profissional a ter contato com a vítima de
às vítimas adultas de violência, com foco violência no atendimento no pronto-socorro,

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 9 92


a educação em serviço pode capacitar o profissional no atendimento das diversas formas
de violência e a análise científica das evidências de um crime. Por fim, esta revisão, sugere
estudos complementares, para compreender os obstáculos e possibilidades para implantação
da cadeia de custódia nas unidades de urgência e emergência
PALAVRAS-CHAVE: Acolhimento. Emergências. Violência.

ABSTRACT: Objective: To identify the role of nurses in the assistance provided as adults of
violence, focusing on the preservation of forensic traces. Methodology: is a review: integrative
literature referring to production on the holistic view It tries to minimize the loss of analysis
during the qualified reception to victims of violence, assistance prepared in relief. Results:
Ten articles were used, which addressed the theme, with a predominance of publications in
the last two years. Discussion: The studies were categorized into: Most victimized groups
seen in the emergency room; Difficulty of professionals who care for victims of violence;
Strategies for preserving forensic evidence. Demonstrating that among the main accused
are women, mainly because of their vulnerability. As for the human resource needs, the
need for the necessary resources to deal with violence. As a strategy, education is the main
resource for improving care for victims of violence, focusing on forensic nursing. Conclusion:
it showed that the nurse is the first professional to have contact with the victim of violence
in the emergency room, and education can enable the professional to deal with the various
forms of violence and the scientific analysis of evidence of a crime. Finally, this suggests
complementary studies to understand the possibilities and possibilities for the implementation
of the complementary chain in emergency and emergency units.
KEYWORDS: User Embracement. Emergencies. Violence.

RESUMEN: Objetivo: Identificar el papel del enfermero en la asistencia prestada a adultos


víctimas de violencia, con foco en la preservación de huellas forenses. Metodología: Se
trata de una revisión integrativa de la literatura sobre la producción científica sobre la visión
holística de los enfermeros para minimizar la pérdida de evidencias durante la recepción
calificada de víctimas de violencia, atendidas en urgencias. Resultados: fueron utilizados
10 artículos, que abordaban la temática, con predominio de publicaciones en los últimos dos
años. Discusión: Los estudios fueron categorizados en: Grupos más victimizados atendidos
en la sala de emergencia; Dificultades de los profesionales que atienden a víctimas de
violencia; Estrategias para la preservación de la evidencia forense. Demostrando que, entre
las principales víctimas se encuentran las mujeres, principalmente por su vulnerabilidad. En
cuanto a las dificultades, se señalan las siguientes: falta de inversión dirigida a la formación
de recursos humanos suficientes, adecuados y capacitados para enfrentar la violencia. Como
estrategia, la educación es el principal recurso para mejorar la atención a las personas víctimas
de violencia, con foco en la enfermería forense. Conclusión: demostró que el enfermero es
el primer profesional en tener contacto con la víctima de violencia en la sala de emergencia,
y la educación en servicio puede capacitar al profesional para lidiar con las diversas formas
de violencia y el análisis científico de las pruebas de un delito. Finalmente, en esta revisión
se sugieren estudios complementarios para comprender los obstáculos y posibilidades de
implementación de la cadena de custodia en las unidades de urgencia y emergencia.
PALABRAS CLAVE: Acogimiento. Urgências Médicas. Violência.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 9 93


1 | INTRODUÇÃO
Os serviços de urgência e emergência são caracterizados como unidades de
saúde onde destacam-se o atendimento de agravos de saúde que coloquem a vida dos
indivíduos em risco. Além disso, essas unidades acolhem pacientes que necessitam de
assistência médica em caráter menos imediatista, associados com situações emergenciais
que impliquem em risco iminente de morte ou sofrimento intenso (Cardoso, Oliveira, &
Parente, 2021).
E, neste cenário, o enfermeiro tem o protagonismo, muitas vezes, sendo o
primeiro profissional a atender esse indivíduo e/ou paciente, através do acolhimento com
classificação de risco e sistematização do cuidado (Filho & Sodré, 2021). As habilidades
descritas são fundamentadas e definidas como, classificação de risco é um processo ágil
de reconhecimento dos pacientes que necessitam ter acolhimentos, rapidamente, ou não,
seguindo parâmetros de risco, agravos à saúde ou angústia (Ministério da Saúde, 2009).
Ainda, de acordo o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (COREN-SP,
2016), o acolhimento com classificação de risco, implica em prestar um atendimento com
resolutividade, proporcionando atenção centrada no nível de complexidade e não na ordem
de chegada. Neste sentido, “a classificação de risco é uma ferramenta de inclusão, ou seja,
não tem como objetivo negar atendimento, mas sim organizar e garantir o atendimento a
todos, segundo respectivas necessidades”.
Os serviços de urgência e emergência no Brasil apresentam demanda crescente
de atendimentos pela população. E, a população exposta a algum tipo de violência
integra parcela considerável dessa demanda. Assim, a violência se constitui como um
grave problema, com impactos sociais, psicológicos e econômicos, sendo um fenômeno
multicausal e complexo, que afeta milhões de pessoas (Avanci, Pinto & Assis; Souto,
Barufaldi, Nico & Freitas, 2017).
A violência interpessoal, na concepção dos serviços de saúde, pode ser a intrafamiliar,
que ocorre em geral dentro de casa e a comunitária, que ocorre entre pessoas sem laços
de parentesco, conhecidos ou não, e geralmente ocorre fora da residência. A violência
intrafamiliar, envolve conflitos familiares, abusos, opressão até a violência física (Krug,
2002; OMS, 2014).
A violência familiar, em sua maioria das vezes ocorre entre parceiros íntimos, com
relevância aquela cometida contra a mulher; enquanto a violência comunitária afeta mais os
homens jovens e decorrentes de homicídios. Um dos grupos mais vitimados pela violência,
de acordo com Fonseca (2021) são as mulheres, pois esse tipo de violência baseia-se em
um constructo histórico de condição de subalternidade nas relações de gênero e de um
sistema patriarcal.
Diante deste contexto, o presente estudo questiona: Quais as competências
que compõem a visão do enfermeiro para minimizar a perda de evidências durante o

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 9 94


acolhimento qualificado às vítimas de violência, atendidos em pronto socorro? Assim, o
objetivo do estudo foi: (a) identificar, a partir de uma revisão integrativa da literatura, o
papel do enfermeiro na assistência prestada às vítimas adultas de violência, com foco na
preservação de vestígios forenses; (b) identificar artigos para compor a Revisão Integrativa
(c) sintetizar dados extraídos dos artigos identificados em bases de dados.

2 | MÉTODO
Esse estudo é uma Revisão Integrativa da Literatura e foi elaborada seguindo as
etapas: determinação de objetivo (s) e seleção da questão de pesquisa; estabelecimento
dos critérios de inclusão e exclusão; definição das informações a serem extraídas dos
artigos selecionados; análise dos resultados; discussão e apresentação dos resultados e
explanação da revisão/síntese do conhecimento (Moher et al., 2009; Whittemore & Knafl,
2005). Com base nos objetivos de pesquisa buscou-se responder à seguinte questão:
Quais as competências que compõem a visão do enfermeiro para minimizar a perda de
evidências durante o acolhimento às vítimas de violência, atendidos em pronto-socorro?
Os critérios de inclusão foram: artigos publicados em periódicos, disponíveis na
íntegra, com limite temporal de cinco anos (2017-2021). Os critérios de exclusão foram
literatura cinzenta; publicações oriundas de eventos científicos; e artigos que não abordaram
as variáveis da questão de revisão, obrigatoriamente.

2.1 Estratégia de pesquisa e seleção


Os artigos foram identificados por meio de buscas em 4 (quatro) bases de dados
eletrônicas: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Banco de Dados em Enfermagem
(BDENF), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), durante a primeira semana
do mês de janeiro de 2022.
As estratégias de buscas incluíram descritores controlados pesquisados no DECS
MESH: Acolhimento; Emergências; Violência, todos conectados pelo operador booleano
AND. As estratégias de buscas finalizadas de acordo com cada base de dado seguem
apresentadas na Quadro 1:

Base de Dados Estratégia de Busca Publicações (n)


Scielo Acolhimento AND Violência 138
BDENF Acolhimento AND Emergências AND Violência 05
Medline Acolhimento AND Violência 45
Lilacs Acolhimento AND Emergências AND Violência 06
Total 194
Quadro 1 - Estratégias de busca realizadas em bases de dados, Jaguariúna-SP, 2022.
Fonte: Autores, (2022).

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 9 95


2.2 Critérios de qualidade dos artigos selecionados
O processo de seleção dos artigos desta revisão integrativa identificou e selecionou
a amostra de publicações com 2 (dois) revisores independentes para reduzir os vieses
do estudo. Ainda os artigos que divergiram entre os dois revisores foram avaliados por
um terceiro revisor que julgou de modo independente os textos que estavam em conflito.
Nesse sentido, o terceiro revisor avaliou os conflitos com base nos critérios de inclusão e
exclusão, emitindo o parecer e/ou decisão por incluir dois artigos, obtidos através de busca
manual, para a etapa de leitura na íntegra, antes da seleção final.

2.3 Seleção de estudo


A seleção da amostra de estudos incluídos para análise após a seleção feita nas
bases de dados foram exportados para a ferramenta de pesquisa Rayyan QCRI, um
aplicativo multiplataforma disponível online em site da web e também como aplicativo móvel
compatível com smartphones e gratuito baseado em nuvem que ajuda a acelerar o rastreio
inicial de títulos, resumos e palavras-chaves, por meio de um processo automatizado e
intuitivo ao mesmo tempo em que incorpora um elevado nível de usabilidade (Ouzzani et
al., 2016).

3 | RESULTADOS
A busca nas bases de dados resultou em um total de 194 artigos, desses 10 artigos
foram excluídos, pois eram duplicados. Após essa etapa, artigos foram avaliados por títulos,
resumos e palavras-chaves e com base nos critérios de inclusão e exclusão, identificando
um total de 22 artigos. Esses foram lidos na íntegra, mas considerando os critérios de
inclusão e exclusão, 10 artigos foram selecionados para essa revisão integrativa.
Na sequência apresenta-se o processo de seleção dos artigos e a descrição das
razões de exclusão utilizados como verifica-se no fluxograma Prisma para Revisões
Sistemáticas, adaptado para a presente Revisão Integrativa, Figura 1:

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 9 96


Figura 1 - Fluxograma de etapas da identificação e seleção dos artigos, adaptado do Prisma.
Fonte: Moher et al (2009)

Na sequência apresenta-se a caracterização dos artigos selecionados para o


presente estudo, considerando ano de publicação, título do artigo, nome do periódico, e
principais características, foram agrupados no Quadro 2.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 9 97


Ano Título Periódico Características do estudo
Atendimento dos casos de
Local: Distrito Federal
violência em serviços de urgência
Tipo do Estudo: Estudo transversal
2017 e emergência brasileiros com foco Ciênc. Saúde Colet.
Amostra: 86 serviços de urgência e
nas relações intrafamiliares e nos
emergência.
ciclos de vida
Dificuldades no atendimento Barbarói (Revista do Local: Tocantins
2019 acerca da violência contra a Departamento de Tipo do Estudo: Pesquisa Qualitativa
mulher, em Gurupi-TO Ciências Humanas) Amostra: 15 participantes
Local: Faculdade de Ensino Superior
Enfermagem Forense sobre a Revista Saúde em Santa Bárbara - FAESB
2019
regulamentação no Brasil Foco Tipo do Estudo: Revisão de Literatura
Amostra: Não relatado
Local: Curitiba
Uma revisão sobre a enfermagem Revista Jurídica
2019 Tipo do Estudo: Revisão Integrativa
forense no pronto atendimento Uniandrade
Amostra: 17 publicações
Violência sexual contra a mulher:
Local: Paraná
Adesão de hospitais de referência
Saúde e Pesquisa, Tipo do Estudo: Estudo
2019 e os
Maringá (PR) observacional transversal
perfis sociodemográficos
Amostra: 28 hospitais

Educação permanente em saúde:


Local: Curitiba
desenvolvimento de competências Acervo Digital da
2020 Tipo do Estudo: Abordagem qualitativa
profissionais na atenção às UFPR
Amostra: 31 informantes
mulheres em situação de violência
Local: Paraná
Acolhimento e acompanhamento
Tipo do Estudo: Elaboração de
de mulheres vítimas de violência Acervo Digital da
2020 Ferramenta
sexual: proposta de ferramenta UFPR
Amostra: 26 profissionais
de apoio

Local: Distrito Federal, Brasil


Challenges for the implementation
Tipo do Estudo: Estudo transversal,
2020 of the chain of custody for rape Escola Anna Nery
quantitativo e descritivo
victims in the Federal District.
Amostra:134
Local: Unidades de Pronto Atendimento
Knowledge and practices of
em Belém-PA
nurses regarding the care of
2021 J Nurs. UFPE online Tipo do Estudo: estudo qualitativo,
victims of violence in emergency
descritivo,
care units in Belém-PA
Amostra: 14
Atuação do enfermeiro forense Local: Universidade Federal de Pelotas
2021 em casos de agressão sexual no J. Nurs. health Tipo do Estudo: Revisão Integrativa
contexto norte-americano. Amostra: 07 publicações
Quadro 2 - Sumário das características identificadas e extraídas dos artigos incluídos na revisão.
Jaguariúna-SP, 2022.
Fonte: Autores, (2022), adaptado dos artigos selecionados para a presente Revisão Integrativa

A amostra final que compõem esta revisão integrativa consiste em 10 artigos


científicos. Com relação ao tipo de estudo, três estudos focaram na abordagem qualitativa,
três revisões de literatura, três estudos transversais, e um estudo descritivo sobre
elaboração de uma ferramenta voltada para temática.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 9 98


4 | DISCUSSÃO
Os estudos foram categorizados conforme a convergência das conteúdo que
compuseram os artigos agrupados: 1 “Grupos mais vitimizados atendidos em pronto-
socorro” (n = 2); 2 “Dificuldades dos profissionais que atendem vítimas de violência” (n =
4); 3 “Estratégias de preservação de vestígios forenses” (n = 4).

1. Grupos mais vitimizados atendidos em pronto-socorro


A violência, segundo Moura (2020) provoca mortes; lesões; traumas físicos e mentais;
diminui a qualidade de vida das pessoas; sendo mais uma demanda para os serviços de
saúde; trazendo a necessidade de ações de prevenção e tratamento interdisciplinar.
De forma que o primeiro atendimento, deve ser realizado por um enfermeiro
capacitado, através do acolhimento inicial, entrevista e orientação dos possíveis
encaminhamentos necessários de acordo com a violência sofrida. O vínculo de confiança,
é importante para um atendimento resolutivo e eficaz impactando na continuidade do
cuidado (Moura et al., 2020).
Moura (2020), complementa que o acolhimento deve não revitimizar as vítimas
atendidas, por meio de condutas baseadas em suas percepções pessoais. Deve-se
respeitar a sua história e prestar assistência imediata, duas ações que fundamentam o
cuidado adequado e minimizam as sequelas da violência.
Quanto se reflete sobre o acolhimento às vítimas de violência, Souza (2020) fortalece
o pensamento, de que esta ação deve ser baseada em resolutividade, onde o indivíduo
se torne o centro da atenção do profissional, tendo suas necessidades destacadas,
ter orientação adequada entre os serviços de referência. E para que isso aconteça, os
profissionais devem conhecer o perfil das vítimas que atendem na unidade em que atuam.
A violência de gênero é um grave problema social no Brasil e no mundo. No
estudo de Avanci, Pinto & de Assis (2017), comenta-se sobre o “Sistema de Vigilância de
Violências e Acidentes em Serviços Sentinela-Viva”, que compõe um sistema de vigilância,
que prioriza a atenção sobre os impactos da violência na saúde da população. Apontando
que a violência, nas suas diversas vertentes atingem as pessoas de maneira desigual em
relação a sexo, raça, idade e condição financeira. As crianças, mulheres e idosos são mais
afetados pela violência intrafamiliar, enquanto homens, jovens e negros estão entre os
mais acometidos pela violência comunitária.
Nos serviços de urgência, alguns sinais e sintomas podem estar associados às
situações de violência: fraturas, contusões, lacerações, palpitações, falta de ar e dor
crônica. “Alerta-se, no entanto, que os indivíduos que são submetidos a alguma forma de
violência podem não comunicar esses fatos às equipes de saúde e a outras autoridades”
(Cardoso et al., 2021, p. 03).
Ainda, em relação ao perfil mais vitimizado das violências, Musse et al. (2020)
agrega que entre as nuances da violência, uma das formas mais perversas é a violência

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 9 99


sexual. Sendo um fenômeno universal, que provoca nas mulheres danos físicos, psíquicos
e morais.
“[...] Constata-se que a compreensão das características epidemiológicas da
violência é o primeiro passo para definir a atuação e ampliar as possibilidades
de prevenção e, quando for diagnosticada a violência, o profissional deverá
acionar as instâncias competentes para reverter a situação e garantir a
integridade e os direitos da vítima (Cardoso et al., 2021, p.14)”.

Assim sendo, os profissionais de saúde devem utilizar todos os seus recursos e


tecnologias para auxiliar pessoas vitimadas pela violência, de forma que consigam resgatar
a capacidade do autocuidado, a autoestima e os fortalecerem, para reconstruir novos
projetos existenciais (Cardoso et al., 2021).

2. Dificuldades dos profissionais que atendem vítimas de violência


Avanci, Pinto & de Assis (2017, p.2826), entendem que o pronto-socorro é um local
onde muitos indivíduos envolvidos em situações violentas buscam ajuda. Desta forma,
devem ser atendidos de forma adequada pela equipe multiprofissional, “voltada para as
necessidades do indivíduo e oportunizando acesso a serviços de proteção”.
Petrilli & Iwamoto (2019) acrescentam que a falta de investimento público, voltado
para a formação de recursos humanos suficientes, adequados e capacitados para o
atendimento da violência e a falta de especialização dos profissionais é um obstáculo
importante no atendimento dessas mulheres, inclusive no que se refere ao acesso das
mulheres à justiça.
Ainda, como dificuldades na assistência, Avanci, Pinto & de Assis (2017) apontam
que no contexto do atendimento em urgência e emergência, algumas barreiras interferem no
cuidado às vítimas de violência: ênfase na intervenção rápida e nos aspectos tecnológicos
de cuidado; sobrecarga de trabalho dos profissionais; frustração dos profissionais pela
incapacidade de resolver o problema e a falta de preparo dos profissionais para lidar com
a questão da violência.
Dentre outras dificuldades, aponta-se à falta de protocolos para o atendimento e
os encaminhamentos são obstáculos identificados, na medida em que, sem protocolos,
os atendimentos não são orientados por regras institucionais que devem ser aplicadas
por todos os profissionais, e a assistência vincula-se à maior ou menor sensibilidade e
conhecimento do profissional (Petrilli & Iwamoto, 2019, p. 180).
Lima (2019) aponta que existem diversas falhas no processo de enfermagem no
atendimento hospitalar de emergência à vítima de violência. Enquadrando: número reduzido
de profissionais na equipe de enfermagem, associado à assistência de profissionais
desqualificados, além da falta de conhecimento da população, sendo importantes fatores
que limitam o cuidado às vítimas. Somando as causas que levam as perdas de vestígios:
contaminação, não-preservação de provas, causados principalmente por problemas na
coleta, acondicionamento e análise.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 9 100


3. Estratégias de preservação de vestígios forenses
Para atuar no acolhimento em unidades de emergência, o profissional enfermeiro
deve pautar sua atuação no desenvolvimento de competências, que o capacite a efetivar
práticas de saúde, baseado em conhecimentos, habilidades e atitudes. Agindo de forma
responsável e tendo habilidade de mobilizar conhecimentos, recursos e habilidades em seu
contexto profissional (Souza, 2020).
Lima et al. (2019), averiguaram que os serviços de urgência, compõem um palco de
diversas situações relacionadas com a agressão e a violência. Como elementos ativos de
uma equipe multidisciplinar de saúde, o enfermeiro é o primeiro profissional com quem as
vítimas de agressão se deparam, por isso devem possuir empatia para saber como prestar
cuidados de enfermagem de forma a respeitar não só os princípios clínicos da assistência,
mas também a preservação de vestígios
Um dos principais grupos atingidos pela violência, são as mulheres, de forma
que os profissionais devem entender os fatores envolvidos com essa situação. Portanto,
o profissional além de ter conhecimento sobre preservação de vestígios da violência,
deve entender que, a violência contra as mulheres se desenvolve através da construção
social, política e cultural, portanto como estratégia de enfrentamento, busca-se mudanças
culturais, educativas e sociais (Petrilli & Iwamoto, 2019).
Uma estratégia de assistência às vítimas de violência é a Enfermagem Forense,
que se baseia no estudo das formas de violência, abrangendo a análise científica das
evidências de um crime. E no contexto desta revisão, destacam-se os serviços de urgência
e emergência, onde situações relacionadas com a agressão e a violência, são atendidos
com frequência. Lima (2019) argumenta que o enfermeiro como um dos elementos ativos
da equipe multidisciplinar do pronto-socorro, deve estar preparado para acolher as pessoas
vítimas de violência, por isso deve respeitar os preceitos clínicos da assistência, empatia e
a preservação de vestígios.
Para Marcelo & Barreto (2019), a especialização em Enfermagem Forense, busca
amenizar a sobrecarga de trabalho dos profissionais; frustração dos profissionais pela
incapacidade de resolver o problema e falta de preparo dos profissionais para lidar com a
questão da violência.
Desta forma,
“(...) enfermeiro deverá atuar prestando acolhimento a vítima e familiares
envolvido no contexto de diversas formas de violência, estabelecendo
estratégias de cuidados e definindo prioridades no atendimento, atuar de
forma preventiva contra possíveis risco a saúde decorrente da violência
sexual, realizar o protocolo de coleta e preservação de vestígios de acordo
com os guideline. Assegurar a vítima assistência psicológica e direcionar a
programas que ajudem a restabelecer sua estrutura psicossocial, bem como
no caso do perpetrador, oferecer também encaminhamento para programas
de ressocialização bem como planos terapêuticos” (Marcelo & Barreto,2019,

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 9 101


p.563).

No contexto norte-americano, segundo Reis et al. (2021), o enfermeiro forense é um


profissional adequado que contribuir com a justiça criminal, através de um kit padronizado
na coleta dos vestígios forenses, que preserva a cadeia de custódia, garantindo que o
vestígio coletado seja apresentado em tribunal. Esses enfermeiros especializados em
atendimento as vítimas de violência sexual são preparadas, treinados e habilitados a
prestar assistência qualificada a pessoas vítimas de violência.
E ainda, a Educação em Saúde, é citada por Souza (2020) como uma estratégia
fundamental na assistência e preservação das evidências. Ou seja, estratégias educativas,
como fonte de conhecimento e impulsionando o profissional a problematizar o próprio
fazer, construindo alternativas de ação. A instituição deve integrar a equipe, evitando a
fragmentação disciplinar, além de ampliar os espaços educativos.
O estudo realizado por Arrais et al. (2020), com 134 profissionais de saúde revelou
que 78,95% dos profissionais que atuavam em emergência obstétrica, atendendo vítimas
de violência sexual, mas somente 14.18% deles receberam algum tipo de capacitação
específica. E mais ainda, 97,74% desses profissionais consideram importante receber
capacitação continuada para o atendimento às vítimas de violência sexual, portanto,
existe a necessidade de capacitar todos os profissionais da equipe multidisciplinar como:
médicos, psicólogos, técnicos em enfermagem e assistentes sociais.
Limitações do estudo
Os artigos incluídos na presente revisão integrativa satisfizeram os objetivos e
questões estudados, contudo, a utilização de outras estratégias, de busca e utilização de
outras bases de dados podem enriquecer o questionamento posto no presente estudo.
Assim novas revisões sobre a temáticas utilizando outros métodos podem preencher
lacunas no conhecimento.

Contribuições para a prática


Assim, complementando, entende-se que os estudos mostraram a importância da
qualificação dos profissionais para melhorar o atendimento das vítimas de violência nas
instituições que trabalham.
Ainda, destaca-se o enfermeiro forense, especialização emergente no território
brasileiro, que segundo definição do Cofen 2017, abarca entre outros tópicos e habilidades
para o enfermeiro que lida com os ecos da violência que ecoam na prática.

5 | CONCLUSÃO
Por meio desta revisão integrativa foi possível evidenciar que o enfermeiro é o
primeiro profissional a ter contato com a vítima de violência no atendimento no pronto-
socorro, acolhendo o indivíduo de forma que o mesmo possa relatar o ocorrido, através

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 9 102


da escuta ativa, baseado não só nos princípios clínicos da assistência, mas também na
preservação de vestígios.
Entretanto, no atendimento em unidades de urgência e emergência vários fatores
interferem na assistência do enfermeiro que realiza o acolhimento, como: a sobrecarga de
trabalho dos profissionais, a frustração dos profissionais pela incapacidade de resolver o
problema e a falta de preparo dos profissionais para lidar com a questão da violência.
Considerando as publicações analisadas entende-se ser necessário a
implementação de educação dentro das unidades de saúde, voltadas para capacitar o
profissional na preservação dos vestígios forenses e preservação da cadeia de custódia.
Sendo a principal capacitação a especialização em Enfermagem Forense, que fundamenta
a atuação profissional no estudo das diversas formas de violência e a análise científica das
evidências de um crime.
Como limitação deste estudo, evidenciou-se uma escassez nas publicações focadas
exclusivamente na atuação do enfermeiro na preservação de vestígios forenses. Por fim,
nesta revisão, sugere-se estudos complementares, para compreender os obstáculos
e possibilidades para implantação da cadeia de custódia nas unidades de urgência e
emergência.

REFERÊNCIAS
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classificacao-de-risco-em-unidade-de-pronto-atendimento-e-pronto-socorro-na-ausencia-de-medico/

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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 9 104


CAPÍTULO 10

ASSOCIAÇÃO ENTRE A PRÁTICA DO BALLET


CLÁSSICO E A OCORRÊNCIA DE DOR E
ALTERAÇÕES POSTURAIS EM ALUNOS DE UMA
ESCOLA PRIVADA DO RECIFE: ESTUDO SECCIONAL
Data de aceite: 01/03/2023

Meyrian Luana Teles de Souza Luz biomecânicas. Objetivo: Descrever a


Soares associação entre as principais alterações
Doutora em saúde da criança e do posturais e algias em praticantes de
adolescente, Universidade Federal de ballet clássico de uma escola privada do
Pernambuco, Recife, PE, Brasil Recife. Método: Foi realizado um estudo
Bruna Victória Firmino Sarinho quantitativo descritivo, do tipo transversal,
Graduação em Fisioterapia, Centro com uma amostra composta por praticantes
Universitário Maurício de Nassau, Recife, de ballet clássico de ambos os sexos.
PE, Brasil Foram incluídos indivíduos acima dos
seis anos de idade com, pelo menos, dois
Deborah Evellynn da Costa Lima Silva
meses consecutivos de prática de ballet e
Graduação em Fisioterapia, Centro
que estivessem devidamente matriculados
Universitário Maurício de Nassau, Recife,
na escola e excluídos os praticantes
PE, Brasil
com um índice de frequência às aulas
abaixo de oito aulas mensais, aqueles
com comprometimentos musculares ou
RESUMO: Introdução: O ballet clássico ortopédicos que limitavam a realização
é uma modalidade da dança que combina dos movimentos da dança clássica na
valores estéticos e atléticos. Os saltos, íntegra e gestantes. Após a aplicação dos
os giros, as grandes flexões e rotações critérios de elegibilidade, os participantes
de quadris e joelhos e o uso da sapatilha e seus responsáveis foram submetidos à
de ponta são características marcantes assinatura dos termos de concordância,
da dança. Tais gestos esportivos, quando com posterior coleta dos dados sócio-
realizados sem a prática adequada, de demográficos, antropométricos e os
forma excessiva, com vícios posturais relacionados à prática do ballet clássico,
e repetitividade de movimentos através de uma ficha de coleta de dados. A
compensatórios sobrecarregam as avaliação da mobilidade foi realizada com
estruturas osteomioarticulares, tornando os o auxílio do aplicativo Clinometer e para
praticantes mais suscetíveis à ocorrência de aferir a intensidade dos sintomas dolorosos
algias e ao desenvolvimento de desordens utilizou-se a escala visual analógica (EVA).

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 10 105


A avaliação postural, por sua vez, foi realizada com o auxílio do software APECS®. Os
dados foram expostos em tabelas e gráficos do Microsoft Excel 2010, com verificação de
normalidade utilizando o teste de Kolmogorov Smirnov, utilizando as medidas de tendência
central e proporção, sendo consideradas significativas quando p ≤ 0,05. Resultados: Foram
avaliadas 26 praticantes de ballet clássico do sexo feminino, com faixa etária entre 6 e 44
anos. Observou-se que 50% do público estudado apresentava queixas de algias a mais de 3
anos e 42,9% descreveram seu nível de dor entre 5 e 7. Em relação aos locais de dor, os mais
frequentes foram a coluna lombar e membros inferiores, ambos sendo 24% dos participantes.
Quanto ao perfil postural encontrado entre os praticantes avaliados, observou-se uma
predominância de cabeça inclinada lateralmente, ombro mais elevado com maior prevalência
do lado direito, quadril em anteversão, hiperlordose lombar, joelho varo e tornozelo supinado.
Não foi verificada associação estatisticamente significativa entre as variáveis analisadas em
relação ao tempo de prática de ballet. Conclusão: Não foi verificada significância estatística
em relação a associação entre as variáveis frequência de treinamento, tempo de uso de
sapatilha de pontas e horas de treinamento com o tempo de prática de ballet. Dessa forma,
ressalta-se a necessidade do surgimento de novos estudos, tendo em vista a escassez de
artigos disponíveis sobre a temática proposta.
PALAVRAS-CHAVE: Ballet. Fisioterapia. Dor. Postura.

ABSTRACT: Introduction: Classical ballet is a dance modality that combines aesthetic and
athletic values. The jumps, the spins, the great flexions and rotations of the hips and knees and
the use of pointe shoes are hallmarks of the dance. Such sports gestures, when performed
without proper practice, excessively, with postural defects and repetitiveness of compensatory
movements, overload musculoskeletal structures, making practitioners more susceptible to the
occurrence of pain and the development of biomechanical disorders. Objective: To describe
the association between the main postural changes and pain in classical ballet practitioners
at a private school in Recife. Method: A descriptive quantitative cross-sectional study was
carried out with a sample composed of classical ballet practitioners of both sexes. Individuals
over six years of age with at least two consecutive months of ballet practice and who were
duly enrolled in the school were included, and practitioners with a class attendance rate of
less than eight monthly classes, those with muscle impairments or orthopedics that limited
the performance of classical dance movements in full and pregnant women. After applying
the eligibility criteria, participants and their legal guardians were required to sign the terms
of agreement, with subsequent collection of socio-demographic, anthropometric and data
related to the practice of classical ballet, through a data collection form. Mobility assessment
was performed with the aid of the Clinometer application and to measure the intensity of
painful symptoms, the visual analogue scale (VAS) was used. The postural assessment, in
turn, was performed with the aid of the APECS® software. Data were displayed in tables and
graphs in Microsoft Excel 2010, with verification of normality using the Kolmogorov Smirnov
test, using measures of central tendency and proportion, being considered significant when
p ≤ 0.05. Results: 26 female classical ballet practitioners, aged between 6 and 44 years,
were evaluated. It was observed that 50% of the studied public had complaints of pain for
more than 3 years and 42.9% described their pain level between 5 and 7. Regarding the
pain sites, the most frequent were the lumbar spine and lower limbs , both being 24% of the

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 10 106


participants. As for the postural profile found among the evaluated practitioners, there was a
predominance of laterally inclined head, higher shoulder with greater prevalence on the right
side, hip in anteversion, lumbar hyperlordosis, varus knee and supinated ankle. There was
no statistically significant association between the variables analyzed in relation to the time of
ballet practice. Conclusion: There was no statistical significance regarding the association
between the variables training frequency, time wearing pointe shoes and hours of training with
the time of ballet practice. Thus, the need for the emergence of new studies is emphasized, in
view of the scarcity of articles available on the proposed theme.
KEYWORDS: Ballet. Physiotherapy. Pain. Posture.

INTRODUÇÃO
Caracterizado por sua graciosidade e estilo altamente técnico, o ballet clássico é
uma modalidade da dança que combina valores estéticos e atléticos 1. Ao contrário de
outras modalidades, a prática do ballet exige uma rotina artística de aptidões físicas
específicas, com graus elevados de flexibilidade, mobilidade, equilíbrio, força muscular e
coordenação motora que auxiliam no desenvolvimento da dança, associados a grandes
esforços físicos 2.
Os saltos, os giros, os alongamentos de diversos grupos musculares, as grandes
flexões e rotações de quadris e joelhos e os treinos utilizando a sapatilha de ponta fazem
parte da rotina intensa das aulas e ensaios dos bailarinos clássicos 3. Quando realizados
sem a prática adequada, de forma excessiva, com vícios posturais e repetitividade
de movimentos compensatórios tais gestos esportivos sobrecarregam as estruturas
osteomioarticulares, tornando os praticantes mais suscetíveis à ocorrência de algias e ao
desenvolvimento de desordens biomecânicas3.
Os fatores extrínsecos que estão ligados à instalação de lesões musculoesqueléticas
em bailarinos combinam esses mesmos gestos desportivos da dança somado a outros
possíveis fatores extrínsecos, tais como o tipo de piso do local de treinamento e o formato/
tamanho das sapatilhas utilizadas 4. Além disso, as alterações biomecânicas e anatômicas
como encurtamento, hipermobilidade e lesões prévias, também são potencial causador
de lesão, sendo, dessa forma, um fator intrínseco importante a ser observado, avaliado
e acompanhado pelo instrutor da modalidade 4. A detecção e devida correção dessas
alterações, sejam elas no ambiente que envolve a dança ou inteiramente individual de
cada bailarino, tende a diminuir a sobrecarga articular, postural e os níveis de estresse
biomecânico, reduzindo a incidência das lesões que estão constantemente associadas a
dor4,5.
No Ballet clássico uma boa postura é o segredo para a manutenção do equilíbrio,
leveza e harmonia da dança, estando diretamente ligada à atitude corporal do bailarino2.
Sendo assim, existe uma busca intensa pelo alinhamento postural correto, com a finalidade de
alcançar aperfeiçoamento técnico e reduzir a ocorrência de agravos musculoesqueléticos5.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 10 107


Os desalinhamentos posturais específicos dos bailarinos estão quase sempre
relacionados à execução incorreta e repetitiva de gestos e posicionamentos comuns à
dança clássica, mas que, na prática, são complexos em sua execução 6. Quando não
corrigidos devidamente, tais movimentos podem contribuir para o surgimento de padrões
posturais compensatórios, resultando ao longo do tempo em modificações anatômicas,
biomecânicas e morfológicas, podendo desestabilizar o equilíbrio funcional dos bailarinos,
bem como contribuir para a diminuição do seu desempenho técnico durante os treinos,
além do surgimento do quadro álgico 3.
Sendo assim, este estudo teve como objetivo descrever a associação entre as
principais alterações posturais e algias em praticantes de ballet clássico de uma escola
privada do Recife.

MÉTODO
Foi realizado um estudo quantitativo descritivo, do tipo transversal, desenvolvido no
período de agosto a dezembro de 2022, após aprovação do Comitê de ética e pesquisa da
Universidade Federal de Pernambuco, sob parecer n° 3.554.228.
A amostra foi composta por praticantes de ballet clássico de ambos os sexos,
sendo incluídos os indivíduos acima dos seis anos de idade com, pelo menos, dois meses
consecutivos de prática de ballet e que estivessem devidamente matriculados na escola.
Foram excluídos os praticantes com um índice de frequência às aulas abaixo de oito aulas
mensais, aqueles com comprometimentos musculares ou ortopédicos que limitavam a
realização dos movimentos da dança clássica na íntegra e gestantes.
Inicialmente, os indivíduos foram submetidos a uma avaliação sócio-demográfica e
antropométrica através de uma ficha de coleta de dados pelas pesquisadoras e aplicada
aos bailarinos de forma individual. A coleta foi complementada com informações referentes
à prática do ballet clássico, atividades associadas e diagnóstico prévio de lesões. Após
o participante responder os tópicos relacionados aos treinos, houve um questionamento
sobre o nível de dor antes, durante ou após as aulas e ensaios e se havia dor presente em
repouso para, assim, ser realizada a avaliação física, onde foi avaliado a mobilidade dos
bailarinos.
A verificação da mobilidade foi realizada com o auxílio de um celular Android com
processador 665 e memória de 512GB , por meio do aplicativo Clinometer®, que consiste
em uma ferramenta profissional de medição e inclinação desenvolvido por plaincode em
13 de dezembro de 2011 que permite a obtenção de dados mais precisos e confiáveis.
Através deste aplicativo foram mensurados os ângulos de movimento das articulações
dos praticantes, tendo como referência os valores fisiológicos de amplitude de movimento
(ADM) de cada segmento corporal. A fim de obter dados fidedignos, foi solicitado aos
participantes que fizessem o uso apenas do collant e meia calça para a avaliação, além

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 10 108


disso, todas as medições foram realizadas de forma individual por um único avaliador.
A aferição da intensidade dos sintomas dolorosos, por se tratar de uma condição
complexa e subjetiva, foi realizada com o auxílio da escala visual analógica (EVA), exposta
aos participantes durante a avaliação, e que consiste em um score em linha reta contendo
números que vão de zero a dez, sendo zero a ausência total da dor e dez o nível de dor
máxima suportada pelo indivíduo.
A avaliação postural, por sua vez, foi realizada com o auxílio do aplicativo Sistema
de Avaliação e Correção de Postura (APECS), oferecido por New Body Technology,
lançado em 27 de julho de 2018, sendo utilizada a versão 7.01.04. Através deste aplicativo
foram registradas imagens dos participantes através de fotos em ortostatismo de frente a
uma parede, nas vistas posterior, anterior e em perfil. Tais imagens foram posteriormente
analisadas a fim de identificar possíveis alterações posturais nos bailarinos.
Os dados foram expostos em tabelas e gráficos do Microsoft Excel 2010, com
verificação de normalidade utilizando o teste de Kolmogorov Smirnov, utilizando as medidas
de tendência central e proporção, sendo consideradas significativas quando p ≤ 0,05.

RESULTADOS
Na Tábela 1 foi observada a caracterização antropométrica das praticantes avaliadas
e os valores de média e desvio padrão (DP). A amostra foi composta por 26 praticantes de
ballet clássico do sexo feminino, que apresentavam uma média de idade de 20,5 (±12,5)
anos, peso médio de 53,2 (±20,1) kg, altura média de 1,5 (±0,2) m e índice de massa
corpórea (IMC) de 21,8 (±5,2) kg/m 2.

Variáveis Média ± DP
Idade 20,5 ±12,5
Peso 53,2 ±20,1
Altura 1,5 ±0,2
IMC 21,8 ±5,2
Legendas: (DP) desvio padrão. (IMC): índice de massa corpórea.
Tabela 1 – Caracterização dos dados antropométricos das praticantes de ballet clássico avaliadas.
Fonte: Dados das autoras.

A Tabela 2 é composta pela frequência de algias durante a prática do ballet e a


utilização de medicações. Foi possível observar que 76,9% dos participantes avaliados
não faziam uso de medicações. Além disso, os locais de algias mais frequentes foram
a coluna lombar e membros inferiores, ambos sendo 24% dos participantes. 53,8% dos
praticantes relataram não sentir dor durante os treinos e 62,2% não sentiram dor em
repouso. Observou-se também que 50% do público estudado apresentou queixas de algias

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 10 109


a mais de 3 anos e 42,9% descreveram seu nível de dor entre 5 e 7.

Variáveis n %
Uso de medicação
Analgésicos 2 7,7
Não faz uso 20 76,9
Outros 4 15,4
Presença de dor
Sim 14 53,8
Não 12 46,2
Local da dor
Membro superiores 5 20,0
Tórax 2 8,0
Lombar 6 24,0
Membros inferiores 6 24,0
Cervical 1 4,0
Quadril 1 4,0
Dor durante os treinos
Sim 12 46,2
Não 14 53,8
Dor em repouso
Sim 8 30,8
Não 18 69,2
Tempo de surgimento da dor
<1 ano 1 7,1
1-2 anos 2 14,3
>3 anos 7 50,0
Apenas nas aulas 4 28,6
Intensidade da dor
1 |- 3 3 21,4
3 |- 5 2 14,3
5 |- 7 6 42,9
7 |- 9 2 14,3
10 1 7,1
Tabela 2 – Frequência de algias durante a prática do ballet clássico das bailarinas de uma escola
privada do Recife.
Fonte: Dados das autoras.

Na Tabela 3 estão representados os resultados das avaliações posturais, obtidos


com o auxílio do software APECS.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 10 110


Avaliação da postura n %
Cabeça
Inclinação lateral 11 42,4
Rotação 1 3,8
Assimetria da mandíbula 1 3,8
Anteriorizada 2 7,7
Posteriorizada 1 3,8
Neutra 10 38,5
Curvatura cervical
Preservada 23 88,5
Retificada 3 11,5
Ombro
Mais elevado 18 69,3
Anteriorizado 1 3,8
Posteriorizado 1 3,8
Rotação interna 4 15,4
Neutro 2 7,7
Escapulas
Elevada 2 7,7
Neutra 24 92,3
Tórax
Normal 25 96,2
Cariniforme 1 3,8
Coluna torácica
Escoliose 1 3,8
Hipercifose 4 15,4
Cifose preservada 21 80,8
Curvatura lombar
Preservada 16 61,6
Hiperlordose 9 34,6
Retificada 1 3,8
Quadril
Anteversão 7 26,9
Rotação interna 6 23,1
Rotação externa 6 23,1
Neutro 7 26,9
Joelho
Valgo 4 15,4
Varo 7 26,9
Hiperextensão 1 3,8
Fletido 2 7,7

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 10 111


Patela alta 2 7,7
Neutro 10 38,5
Tornozelo
Pronado 3 11,5
Supinado 12 46,2
Neutro 11 42,3
Tabela 3 – Avaliação postural
Fonte: Dados das autoras.

Verificou-se que 42,4% das praticantes apresentavam a cabeça inclinada


lateralmente, 38,5% permaneceram com a cabeça na posição neutra, 7,7% obtiveram a
cabeça anteriorizada e apenas 3,8% apresentaram outras alterações posturais, como as
assimetrias na mandíbula, rotação e posteriorização da cabeça. Em relação a análise da
curvatura cervical, observou-se que 88,5% da amostra obteve curvatura cervical preservada,
enquanto que em 11,5% foi possível identificar a presença de retificação cervical.
Quanto às alterações do tronco, 69,3% dos praticantes possuiam ombros mais
elevados unilateralmente e 11,5% em rotação interna, 92,30% apresentavam escápulas
em posição de neutralidade e 7,7% obtiveram escápulas elevadas unilateralmente. Além
disso, foi possível observar que, quanto ao tipo de tórax, 96,2% apresentaram tórax normal
e apenas 3,8% o do tipo cariniforme. A cifose torácica estava preservada em 80,8% dos
praticantes, 15,4% apresentaram hipercifose torácica e 3,8% escoliose. Em relação a
curvatura lombar, em 61,6% da amostra apresentava-se preservada, enquanto que 34,6%
cursaram com hiperlordose e 3,8% com retificação lombar
Nos membros inferiores, foi constatado que 26,9% dos praticantes apresentaram
quadril em posição de anteversão, 26,9% na posição neutra e 23,1% em rotação interna
ou externa. Em relação aos joelhos, observou-se que em 38,5% apresentaram-se em
neutralidade, 26,9% possuíam joelhos em varo, 15,4% em valgo, 7,7% apresentaram
joelho fletido ou patela alta e em apenas 3,8% foi observado hiperextensão de joelho. No
tornozelo, foi possível observar que 46,2% possuíam tornozelo supinado, 42,3% neutro e
apenas 11,5% pronado.
A Tabela 4 dispõe dos resultados relacionados à prática do ballet clássico, obtidos
através da ficha de coleta de dados que foi aplicada aos participantes no momento da
avaliação.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 10 112


Variáveis n %
Uso de sapatilha de pontas
Sim 11 42,3
Não 15 57,7
Atividades associadas ao treino
Musculação 2 7,6
Outras 12 46,2
Não realiza 12 46,2
Frequência das Atividades associadas aos treinos
1x/semana 6 46,1
2x/semana 3 23,1
3x/semana 3 23,1
4x/semana 1 7,7
Uso de órteses no treino
Sim 0 0,0
Não 26 100,0
Diagnóstico prévio de lesão
Sim 8 30,8
Não 18 69,2
Tempo: Diagnóstico prévio de lesão
< 1 ano 4 66,7
1 - 3 anos 0 0,0
> 3 anos 2 33,3
Tabela 4 – Dados relacionados a prática do ballet clássico e as atividades associadas ao treino.
Fonte: Dados das autoras.

Foi possível observar que 42,3% dos praticantes faziam uso da sapatilha de pontas,
enquanto que 57,7% não faziam uso desse instrumento. Quando questionados quanto a
realização de atividades associadas aos treinos de ballet, 2 participantes relataram fazer
musculação, 12 realizavam outros tipos de atividades com uma maior prevalência do vôlei
e frequência de 1 vez por semana (46,1%) e outros 12 não realizavam nenhuma outra
atividade física, sendo ambos representados por 46,2%. Em relação ao histórico de lesões,
69,2% dos bailarinos não tinham nenhum diagnóstico prévio de lesão, porém, 30,8%
deles apresentavam lesão prévia com tempo médio menor que 1 ano (66,7%). Além disso,
nenhum dos participantes desta pesquisa faziam uso de órteses durante os treinos.
Na Tabela 5 não foi verificada associação estatisticamente significativa entre as
variáveis “tempo de prática de ballet” e “frequência de treinamento” (p=0,262), “tempo de
prática de ballet” e “tempo de uso de sapatilha de pontas” (p=0,485) e “tempo de prática de
ballet” e “horas de treinamento” (p=0,092).

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 10 113


Tempo de prática de ballet
Variáveis <1 ano 1|-2 anos 2|-3 anos >3 anos p-valor *
n (%) n (%) n (%) n (%)
Frequência de treinamento
2x/semana 1 (16,7) 3 (60,0) 1 (50,0) 7 (53,8) 0,262
3x/semana 5 (83,3) 2 (40,0) 1 (50,0) 3 (23,1)
4x/semana 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 3 (23,1)
Tempo de uso de sapatilha de pontas
< 1 ano --- 2 (100,0) 1 (100,0) 2 (25,0) 0,485
2 |- 3 anos --- 0 (0,0) 0 (0,0) 3 (37,5)
> 3 anos --- 0 (0,0) 0 (0,0) 3 (37,5)
Horas de treinamento
0 |- 1h 0 (0,0) 1 (20,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 0,092
1 |- 2hs 2 (33,3) 3 (60,0) 0 (0,0) 6 (46,1)
2 |- 3hs 4 (66,7) 0 (0,0) 2 (100,0) 3 (23,1)
3 - 4hs 0 (0,0) 1 (20,0) 0 (0,0) 4 (30,8)
Legendas: (*) Teste Exato de Fisher.
Tabela 5 – Associação do tempo de prática de ballet em relação às variáveis.
Fonte: Dados das autoras.

DISCUSSÃO
Entre as alterações posturais observadas nos praticantes avaliados, verificou-se
que as regiões de cabeça, ombros, coluna lombar, quadril, joelho e tornozelo foram as
mais afetadas por desordens, sendo a cabeça e os ombros os locais com maior prevalência
de alterações. Em relação a um padrão de desordens posturais de exclusividade dos
bailarinos clássicos, Ribeiro et al 2
afirma que ainda não há um consenso na literatura
científica. Dentre os participantes avaliados neste estudo, foi possível observar que houve
uma predominância do padrão postural de cabeça inclinada lateralmente, ombro mais
elevado com maior prevalência do lado direito, quadril em anteversão, hiperlordose lombar,
joelho varo e tornozelo supinado.
Duarte et al 7, em seu estudo realizado com 10 bailarinas clássicas, tendo como
objetivo principal avaliar a influência da prática do ballet clássico sobre o padrão postural
em bailarinas com tempo de prática entre um a doze anos, obteve resultados semelhantes
ao presente estudo. Tais resultados indicaram como alterações posturais mais incidentes
a pelve antevertida e hiperlordótica, cabeça anteriorizada, joelhos em varo e achatamento
dos arcos interiores dos pés.
Ainda em relação às desordens posturais em praticantes de ballet clássico, partindo
da premissa de que a prática do ballet exige a execução de movimentos articulares
extremos, por vezes antianatômicos, e que tais exigências podem favorecer alterações

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 10 114


no alinhamento postural dos bailarinos, Ribeiro et al 2, em seu estudo com 19 bailarinas
clássicas, utilizando o método fotogramétrico, observou que, o perfil postural das bailarinas
avaliadas foi de inclinação e protrusão da cabeça, rotação do tronco, retificação da lordose
cervical, aumento da cifose torácica, aumento da lordose lombar, inclinação e anteversão
pélvica. Em contrapartida, Meira et al 8, em seu estudo com 14 bailarinas, através de uma
análise computadorizada, verificou que 64,28% delas apresentaram a lombar sem desvios,
28,57% cursaram com a torácica retificada, 100% tinham a pelve em posição retrovertida
e 71,42% possuíam joelho recurvatum. Quanto aos demais achados, 100% obtiveram
a cabeça anteriorizada, 85,71% possuíam o ombro direito mais elevado, resultados
condizentes com os achados dos estudos anteriores.
Quando não detectadas de forma precoce, essas alterações posturais podem se
tornar potenciais fatores de risco para a ocorrência da dor e lesões nos tecidos moles,
causando desordens em vários sistemas do corpo do bailarino, principalmente no sistema
musculoesquelético3. Em relação ao histórico de lesões, dentre as praticantes avaliadas
neste estudo, observou-se que 30,8% apresentaram algum tipo de lesão prévia, com um
tempo médio de ocorrência inferior a um ano, sendo os membros inferiores a região mais
afetada pelas afecções (tabela 1). No que se refere aos tipos de lesões encontradas neste
estudo, elas foram divididas em inflamatórias e crônicas, sendo as inflamatórias as mais
recorrentes entre as praticantes avaliadas, com maior incidência da condropatia patelar,
epicondilite e tendinite em MMII. Quanto às lesões crônicas, observou-se a ocorrência das
entorses, distensões e luxação congênita do quadril.
Schweich, et al 4, em um estudo composto por 124 praticantes de ballet clássico
procedentes de nove escolas e companhias de ballet da cidade de Campo Grande- MS,
buscou analisar a epidemiologia das lesões típicas do ballet, com fatores associados
ao histórico de lesão em bailarinos, concluindo que as lesões articulares em membros
inferiores são as principais lesões observadas em praticantes de ballet clássico. Contudo,
Sanchez, et al 9, em uma pesquisa que visou estudar fatores musculoesqueléticos que
podem gerar dor em bailarinas clássicas, ressaltou que a diminuição da força muscular em
membros inferiores também pode ser um potencial causador de dor e lesões em bailarinos,
elevando assim o índice de disfunções musculoesqueléticas em coluna e membros
inferiores, corroborando com os achados do presente estudo.
Foi possível observar uma maior prevalência da região lombar e membros
inferiores como os principais locais de algias referidos pelas bailarinas avaliadas. Além
disso, observou-se que, dentre aquelas que relataram sentir dor nestas regiões, grande
parte eram praticantes de ballet há mais de 3 anos e faziam uso das sapatilhas de ponta.
Dessa forma, o estudo de Schmidt et al 10, que teve como objetivo identificar as principais
alterações ergonômicas encontradas em bailarinas clássicas e sua relação com as
sapatilhas de ponta, vem confirmar tais achados com sua conclusão de que o índice de
dor e disfunções nos bailarinos clássicos cresce com o uso da sapatilha de ponta devido

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 10 115


a sua ergonomia que precisa ser revista para que agregue segurança, conforto e beleza
em um mesmo instrumento, e que o fortalecimento da musculatura estabilizadora e dos
músculos acessórios dos movimentos exigidos pela dança, principalmente de coluna,
joelho, tornozelo e pé, são fatores importantes para a diminuição do índice de lesão e
algias.
Admite-se que uma amostra relativamente pequena, além da falta de um protocolo
validado sobre o tema, o fato da coleta ter sido realizada ainda em período de pandemia
e uma literatura ainda escassa sobre o tema, constituem limitações desse estudo, sendo
pontos sugeridos para novas pesquisas.

CONCLUSÃO
Não foi verificada associação estatística entre o tempo de prática de ballet em
relação às variáveis frequência de treinamento, tempo de uso de sapatilha de pontas
e horas de treinamento. Além disso, dentre as praticantes avaliadas, foi observado um
padrão de alterações posturais que podem estar relacionados com o surgimento de algias
principalmente em coluna e membros inferiores. A escassez de artigos sobre a temática
proposta ressalta a importância da continuidade de novos estudos.

REFERÊNCIAS
1. Batista CG, Martins OE. A prevalência de dor em bailarinas clássicas. J. Health Sci. Inst. 2010;
28(1):47-49.

2. Ribeiro JN, Moura UIS, Mendes LR, Antonelli BA, Schwingel PA, Angelo RC. Perfil postural das
bailarinas clássicas do Vale São Francisco. Coluna/Columna. 2016; 15(3):199-204.

3. Meereis ECW, Peroni ABCF, Mota CB, Badaró AFV. Movimentos do ballet clássico e alterações da
postura corporal: um breve relato. Rev. Educ. Fis. 2016; 85(3):269-273.

4. Schweich LC, Gimelli AM, Elosta MB, Matos WSW, Martinez PF, Oliveira-Junior SA. Epidemiologia
de lesões musculoesqueléticas em praticantes de ballet clássico. Fisioter. Pesqui. 2014; 21(4):353-
358.

5. Araújo AGS, Toniote G. Principais alterações posturais encontradas em bailarinas clássicas. Rev.
CINERGIS. 2015; 16(3):228-230.

6. Gontijo KNS, Amaral MA, Santos GC, Candotti CT. Métodos usados para avaliar o en dehors ou
turnout de bailarinos clássicos: revisão da literatura. Fisioter. Pesqui. 2017; 24(4):444-452.

7. Duarte A, Lopes D, Kathen TT, Braz MM. Padrão postural de bailarinas clássicas. Fisioter. Bras.
2009; 10(6): 419-423.

8. Meira GAJ, Gonçalves LS, Baptista AF, Ribas S, Sá KN. Perfil Postural de Bailarinas Clássicas:
análise computadorizada. Rev Pesq Fisio. 2015; 1(1): 19-28.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 10 116


9. Sanchez HM, Ferreira HF, Pimenta BJ, Aparecida BA, Sanchez EGM. Estudo da associação entre
os dados antropométricos e articulares com a dor em praticantes de balé clássico. Arch. med. 2020;
20(1):116-122.

10. Schmidt C, Souza FGL, Ramos ES, Araújo LGM, Fernandes RA, Pastre CM, Monteiro HL. Uso da
sapatilha de ponta e ocorrência de sintomas musculoesqueléticos. Rev. Bras. Med. Esporte. 2013;
19(3):197-199.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 10 117


CAPÍTULO 11

PREDIÇÃO POR ANÁLISE IN SILICO DA


CONSEQUÊNCIA DE MUTAÇÃO MISSENSE NO
GENE IGF2 HUMANO

Data de submissão: 10/01/2023 Data de aceite: 01/03/2023

Karla Roberta Lemos Maul de Souza RESUMO: As síndromes hipertensivas


Costa gestacionais (SHG), hipertensão gestacional
Universidade Federal Rural de (HG) e hipertensão arterial crônica (HAC)
Pernambuco, Departamento de Biologia estão entre as maiores causas de morte
Recife, Pernambuco materna e fetal e podem estar relacionadas
http://lattes.cnpq.br/8727605240852776
ao polimorfismo do gene IGF2 humano.
Paula Ferdinanda Conceição de Método: Na plataforma Ensembl, o
Mascena Diniz Maia transcrito IGF2-205 foi identificado no
Universidade Federal de Pernambuco- UNIPROT pelo código P01344. Das 150
UFPE variantes missenses depositadas no
Departamento de Saúde Materno - Infantil databank, 11 foram selecionadas para
Recife, Pernambuco análise in silico, usando os algoritmos
Faculdade Pernambucana de Saúde –
SIFT, Polyphen2 e MetaLR. Resultados: Os
FPS
algoritmos usados para prever os efeitos
Recife, Pernambuco
das variantes missenses nas proteínas
Instituto de Medicina Integral Professor
Fernando Figueira codificadas pelo gene IGF2 em humanos,
Recife, Pernambuco apresentaram concordância na predição
http://lattes.cnpq.br/8902741452850526 das consequências moleculares, podendo
ser considerados ferramentas confiáveis
Arthur Felipe Ferreira de Freitas para a caracterização de novas mutações
Universidade Federal Rural de encontradas neste gene. A proteína
Pernambuco, Departamento de Biologia
codificada pelo gene IGF2 possui uma
Recife, Pernambuco
sequência conservada evolutivamente,
http://lattes.cnpq.br/2454032040901369
sugerindo que o gene é sensível a
Maria de Mascena Diniz Maia mutações e, portanto, o local identificado,
Universidade Federal Rural de provavelmente, está relacionado à etiologia
Pernambuco, Departamento de Biologia das patologias.Conclusão: A partir desses
Recife, Pernambuco resultados, podemos concluir que as
https://lattes.cnpq.br/7051998554981575 alterações morfofuncionais das proteínas
resultantes das mutações do gene IGF2,

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 11 118


podem estar associadas a processos prejudiciais e mudanças na estabilidade estrutural da
proteína, dificultando a sua ação no processo fisiológico. A compreensão dessas alterações
podem auxiliar na busca por marcadores genéticos, contribuindo para esclarecimento do
prognóstico, diagnóstico, prevenção e tratamento para doenças humanas relacionadas às
síndromes hipertensivas gestacionais, hipertensão gestacional, hipertensão arterial crônica,
entre outras.
PALAVRAS-CHAVE: Polimorfismo Genético, IGF2, Variantes, Bioinformática, Missense.

PREDICTION BY IN SILICO ANALYSIS OF THE OUTCOME OF MISSENSE


MUTATION IN THE HUMAN IGF2 GENE
ABSTRACT: Gestational hypertensive syndromes(GHS), gestational hypertension (HG) and
chronic arterial hypertension (CAH) are among the major causes of maternal and fetal death
and may be related to the polymorphism of the human IGF2 gene. Method: On the Ensembl
platform, the IGF2-205 transcript was identified in UNIPROT by the code P01344. Of the 150
missense variants deposited in the databank, 11 were selected for in silico analysis, using
the SIFT, Polyphen2 and MetaLR algorithms. Results: The algorithms used to predict the
effects of missense variants on the proteins encoded by the IGF2 gene in humans, showed
agreement in predicting the molecular consequences and can be considered reliable tools
for the characterization of new mutations found in this gene. The protein encoded by the
IGF2 gene has an evolutionarily conserved sequence, suggesting that the gene is sensitive
to mutations and, therefore, the identified location is probably related to the etiology of the
pathologies. Conclusions: Based on these results, we can conclude that the morphofunctional
alterations of proteins resulting from mutations in the IGF2 gene may be associated with
harmful processes and changes in the structural stability of the protein, hindering its action in
the physiological process. Understanding these alterations can help in the search for genetic
markers, contributing to clarifying the prognosis, diagnosis, prevention and treatment of
human diseases related to gestational hypertensive syndromes, gestational hypertension,
chronic arterial hypertension, among others.
KEYWORDS: Genetic polymorphism, IGF2, Variants, Bioinformatics, Missense.

1 | INTRODUÇÃO
A bioinformática é uma ciência que oferece diferentes ferramentas e tecnologias
computacionais utilizadas para analisar dados e predizer as consequências moleculares
na substituição de aminoácidos com base na estrutura proteica, trazendo informações
importantes para identificação de mutações possíveis de causar doenças genéticas
humanas. As síndromes hipertensivas gestacionais (SHG), a hipertensão gestacional (HG)
e a hipertensão arterial crônica (HAC) estão entre as maiores causas de morte materna e
fetal (WHO, 2011) e podem estar relacionadas ao polimorfismo do gene IGF2 humano. O
gene IGF2 (insulin-like growth factor 2), está situado na região cromossômica 11p15.5 e
sofre imprinting genômico, fenômeno epigenético que ocorre durante a gametogênese. Este
gene apresenta 4 éxons distribuídos ao longo de 5580 pb de DNA genômico. O gene IGF2

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 11 119


codifica o fator de crescimento semelhante à insulina tipo II (IGFII ou insuline-like growth
factor II) com 180 aminoácidos que desempenham importante papel no desenvolvimento
embrionário, controlando tanto o suprimento placentário quanto a demanda genética
de nutrientes maternos para o feto mamífero (CONSTANCIA et al, 2002). O fator de
crescimento semelhante à insulina 2 é um dos três hormônios protéicos que compartilham
semelhança estrutural com a insulina. Uma mutação de sentido trocado ou “Missense” é
um tipo mutação pontual de substituição de uma base no DNA (gene) que pode causar
uma mudança no aminoácido dentro da região codificadora da proteína podendo ser
deletéria para sua função no organismo. Baseado na importância do gene IGF2 para o
desenvolvimento embrionário, torna-se importante analisar as mutações missenses que
afetam diretamente a proteína devido a mudança de aminoácido, o que pode impactar
negativamente no surgimento de diversas doenças.

2 | OBJETIVOS
Esse estudo visa avaliar os impactos das mutações missenses do gene IGF2
humano a partir de três diferentes softwares de predição in silico (SIFT, PolyPhen-2 e
MetaLR) que trazem informações baseadas na conservação evolucionária de aminoácidos,
identificação de posições conhecidas como essenciais para função proteica, homologia de
sequência, dobramento da proteína e informação de uma base de dados de mutações, com
a finalidade de predizer a consequência molecular de 11 diferentes mutações missenses
nesse gene.

3 | METODOLOGIA

3.1 Seleção das variantes


O banco de dados Ensembl (http://www.ensembl.org/), que avalia a mudança
de aminoácidos e suas posições; e o UniProt (https://www.uniprot.org/), que verifica as
sequências de proteínas e informações funcionais, foram utilizados como ferrementas
principais para selecionar as variantes analisadas nesse trabalho. O transcrito IGF2-205, no
Ensembl, foi identificado no UniProt pelo código P01344. Nesse transcrito, estão descritas
150 variantes missenses depositadas no databank, das quais 11 foram selecionadas para
esta análise.

3.2 Análise e predição in silico


SIFT: É uma ferramenta que prevê os possíveis efeitos que as variantes missenses
podem causar na função da proteína com base na homologia de sequências e nas
semelhanças físico-química entre os aminoácidos substituídos (Ng, P. C. & Henikoff S.
(2003). Seus escores podem variar entre 0 (deletério) e 1 (tolerado). PolyPhen-2:

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 11 120


Software capaz de prever os efeitos das variantes missenses nas proteínas, com base
em propriedades físicas e comparativas. Seus escores podem variar de 0 a 1 (benigno,
possivelmente prejudicial e provavelmente prejudicial) (Adzhubei, et al., 2010). MetaLR: É
uma ferramenta capaz de prever a patogenicidade de variantes de nucleotídeo único(SNPs),
utilizando um método de conjunto baseado em regressão logística.

RESULTADO E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos após a análise (Tabela 1) foram que as mutações p.G2V,
p.G2E, p.S20W, p.R27C, p.G34D, p.R62L se apresentaram prejudiciais no MetaLR ,
provavelmente prejudiciais no PolyPhen e preditas como deletérias no SIFT. Enquanto
as variantes p.S20L p.R27S, p. R27H, p.A56T, p.L133F e p.L133V foram preditas como
tolerável, benigna e tolerável no SIFT, PolyPhen e MetaLR respectivamente. Porém, a
variante localizada na posição 27 (R/L) na proteína (p.R27L), foi predita como deletéria
no SIFT, provalvelmente prejudicial e tolerável no PolyPhen e MetaLR respectivamente.
As mutações p.L10V e p.L10P apresentaram como sendo benignas para o PolyPhen e no
SIFT, p.L10V está predita como tolerável.No MetalR, p.L10V e p.L10P se apresentam como
deletéria e prejudicial, respsctivamente. As variantes p.R127L e p.R127H foram preditas
como deletérias, provavelmente prejudicial e tolerável nos softwares SIFT, PolyPhen e
MetaLR respectivamente. A variante rs1858937182, ( p.G34D) (Tabela 1) apresenta como
sendo deletéria no SIFT, provavelmente prejudicial no PolyPhen e prejudicial no MetaLR.
Essa variante do IGF2 no alelo paterno foi evidenciada e sugerida como outro recurso para
o diagnóstico da Síndrome de Silver-Russell (SRS), propondo a inclusão no painel de
genes específicos projetados para diagnósticos de rotina de SRS (Liu, Deguo, et al. 2017).
DeChiara et al. (1991) mostram que apenas o alelo paterno do gene é funcional, enquanto
o materno é silenciado no organismo, revelando um imprinting metilado paternalmente. A
proteína possui uma sequência conservada evolutivamente (Liu, Deguo, et al. 2017), isso
indica que o gene é sensível à mutação e, portanto, o local identificado, provavelmente, é
a etiologia da doença (Figura 1) . Como pode ser visto, estudos in sílico dos polimorfismos
do gene em análise podem auxiliar na interpretação das variações gênicas, possíveis de
estarem associadas às síndromes hipertensivas do período gestacional em humanos. Os
softwares usados para prever os efeitos das variantes missense nas proteínas codificadas
pelo IGF2 em humanos apresentaram concordância na predição das consequências
moleculares e podem ser considerados ferramentas confiáveis para a caracterização de
novas mutações encontradas neste gene.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 11 121


Resíduos
ID Variantes Missense Códons SIFT PolyPhen MetaLR
Aminoácido

p.G2V
GGA, GTA 0,0 0,896 0,782
(Gly / Val)
rs781634507
Provavelmente
p.G2E
GGA, GAA Deletério Prejudicial Prejudicial
(Gly/ Glu)

rs1361412373 p.L10V 0,07 0,433 0,722


CTG, GTG
(Leu / Val) Tolerado Benigno Deletério

p.L10P 0,04 0,046 0,706


rs984257990 CTG, CCG
(Leu/ Pro) Deletério Benigno Prejudicial

p.S20L 0,56 0,001 0,305


rs142012621 TCG, TTG
(Ser /Leu) Tolerado Benigno Tolerado

p.S20W 0,04 0,68


rs142012621 TCG, TGG 0,613
(Ser /Trp) Deletério Provavelmente
Prejudicial
Prejudicial

0,628
0,03
rs1230176657 p.R27 C CGC, TGC Provavelmente 0,658
Deletério
(Arg / Cys) Prejudicial Prejudicial

p. R27S 0,29 0,015 0,411


rs1230176657 CGC, AGC
( Arg / Ser) Tolerável Benigno Tolerável

p. R27H 0,06 0,007 0,415


rs1356855570 CGC, CAC
(Arg / His) Deletério Benigno Tolerável

0,999
p.R27L 0,0 0,353
rs1191719522 CGC, CTC Provavelmente
(Arg / Leu) Deletério Tolerável
prejudicial

1
p.G34D 0 0,971
rs1858937182 GGC, GAC Provavelmente
(Gly /Asp) Deletério Prejudicial
Prejudicial

p.A56T 1 0,147
rs1212009594 GCA, ACA 0,207
(Ala /Thr) Tolerável Benigno
Tolerável

0,864
p.R62L 0.03 0,768
rs768105151 CGC, CTC Provavelmente
(Arg / Leu) Deletério Prejudicial
Prejudicial

0,967
p.R62H 0,07 0,832
rs768105151 CGC, CAC Provavelmente
(Arg /His) Tolerável Prejudicial
Prejudicial

0,999
p.R127L 0 0.353
rs1191719522 CGC, CTC Provavelmente
(Arg / Leu) Deletério Tolerável
Prejudicial

1
p.R127H 0 0.355
rs1191719522 CGC, CAC Provavelmente
(Arg / His) Deletério Tolerável
Prejudicial

p.L133F 0,15 0,055 0,072


rs530101369 CTC, TTC
(Leu /Phe) Tolerável Benigno Tolerável

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 11 122


p.L133V 0,15 0,441 0,099
rs530101369 CTC, GTC
(Leu / Val) Tolerável Benigno Tolerável

Tabela 1. Predição das variantes missenses do gene IGF2 prejudiciais ao organismo humano,
mostrando a substituição dos aminoácidos.

Figura 1. Desenho esquemático da proteína codificada pelo gene IGF2 em humanos, mostrando a
localização da variante rs1858937182 na sua estrutura.

4 | CONCLUSÃO
Estudos in silico, dos polimorfismos do gene IGF2, podem auxiliar na interpretação
das variações gênicas, que podem estar associadas às síndromes hipertensivas do período
gestacional em humanos.O que podemos concluir a partir desses resultados em relação
à análise das variantes do gene IGF2, é que as alterações morfofuncionais das proteínas,
resultantes das mutações nesse gene, podem estar associadas a processos danosos e
mudanças da estabilidade e estrutura da proteína, dificultando a sua ação no processo
fisiológico. Além disso, a compreensão das alterações morfofuncionais resultantes do gene
IGF2, podem auxiliar na busca por marcadores genéticos e moleculares, contribuindo
para compreensão do prognóstico, diagnóstico, prevenção e tratamento para doenças em
humanos relacionadas às síndromes hipertensivas gestacionais, hipertensão gestacional,
hipertensão arterial crônica, entre outras.

REFERÊNCIAS
Adzhubei, I. A., et al. (2010). A method and server for predicting damaging missense mutations.
Nat Methods, 7(4): 248-249.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 11 123


Constancia, M.; Hemberger, M.; Hughes, J.; Dean, W.; Ferguson-Smith, A.; Fundele, R.; Stewart,
F.; Kelsey, G.; Fowden, A.; Sibley, C.; Reik, W. “Placental-specific IGF-II is a major modulator of
placental and fetal growth”. Nature, London, v.417, n.6892, p.945-8, 2002.

DeChiara, Thomas M., et al. “Parental Imprinting of the Mouse Insulin-like Growth Factor II Gene”.
Cell, vol. 64, no 4, fevereiro de 1991, p. 849–59. DOI.org (Crossref), https://doi.org/10.1016/0092-
8674(91)90513-X.

Liu, Deguo, et al. “De Novo Mutation of Paternal IGF2 Gene Causing Silver–Russell Syndrome in a
Sporadic Patient”. Frontiers in Genetics, vol. 8, agosto de 2017, p. 105. DOI.org (Crossref), https://doi.
org/10.3389/fgene.2017.00105.

Ng, P. C. & Henikoff S. (2003). SIFT: Predicting amino acid changes that affect protein function.
Nucleic Acids Res. 31(13): 3812-3814.

World Health Organization (WHO). Recommendations for prevention and treatment of pre-
eclampsia and eclampsia. [Internet]. Genebra: WHO; 2011. Acesso em 20 de dezembro de 2022.
Disponível: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/44703/1/9789241548335_eng.pdf

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 11 124


CAPÍTULO 12

FRESAMENTO FRONTAL DO AÇO ABNT 1045


COM APLICAÇÃO MQF DO ÓLEO REFINADO
VEGETAL DE BABAÇÚ

Data de aceite: 01/03/2023

Antônio Santos Araújo Júnior passiva) durante o processo de fresamento


frontal do aço ABNT 1045, um aço com
Mauro Araújo Medeiros
médio teor de carbono e com grande
Jean Robert Pereira Rodrigues aplicação no fabrico de forjados, partes
estruturais de máquinas e eixos em geral, o
Waldemir dos Passos Martins trabalho visa contribuir principalmente com
a divulgação e utilização de fluidos de corte
Valter Alves de Meneses
ecologicamente corretos que possam vir a
Álisson Rocha Machado ser utilizados nos processos de usinagem. A
metodologia consistiu na aplicação do fluido
Tiago do Espírito Santo Baldez Neves de corte de base vegetal (óleo de babaçú),
(In memoriam)
comparando o desempenho do mesmo
com a aplicação do óleo comercial LB 2000
(fluido de corte também de base vegetal,
indicado para usinagem de metais ferrosos
RESUMO: A usinabilidade de um material
produzido pela ITW Chemical Products
metálico é influenciada principalmente pela
Ltda.), ambos aplicados na forma MQF, com
sua composição química, microestrutura
variação na vazão dos fluidos em 10, 50,
e resistência mecânica. São vários
100 e 200 ml/h e também com a condição
aspectos fundamentais, que caracterizam
a seco. Foi realizado um Planejamento de
a usinabilidade de um determinado
Experimentos - DOE fatorial 25 onde as
material, entre eles a vida da ferramenta,
variáveis de entrada foram a velocidade de
o acabamento superficial e a potência
corte ( Vc), o avanço (fz) e a profundidade
requerida para o corte. Este trabalho tem
de corte (ap), o fluido de corte e a vazão
por objetivo avaliar o efeito da aplicação
MQF (esta repetida em 4 diferentes vazões)
do óleo refinado vegetal de coco babaçú
enquanto as variáveis de saída medidas
(Orbignya Oleifera), utilizado como fluido
foram as forças de corte (Fx), força de
de corte na forma de mínima quantidade
avanço (Fy) e a força passiva (Fz). Verificou-
de fluido (MQF) nos esforços de usinagem
se que os parâmetros mais influentes nas
(força de corte, força de avanço e força
componentes de forças são o avanço e a

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 12 125


profundidade de corte. O óleo de coco babaçú apresentou valores de forças em linha com
o óleo LB 2000 e menores que a condição a seco. As vazões consideradas mais eficientes
para menores valores das forças de usinagem foram as de 50 ml/h e 200 ml/h nas diversas
condições avaliadas.
PALAVRAS-CHAVE: Forças de usinagem, Fluido de corte, Usinabilidade, Parâmetros de
corte.

FACE MILLING OF STEEL ABNT 1045 WITH IMPLEMENTATION OF THE MQF


REFINED VEGETABLE OIL BABAÇÚ
ABSTRACT: The machinability of a metal is mainly influenced by its chemical composition,
microstructure and mechanical strength. There are several key issues, which characterize the
machinability of a material, including tool life, surface finish and power requirement for cutting.
This study aims to assess the effect of refined vegetable oil babaçú coconut (Orbignya oleifera),
used as a cutting fluid as a minimum amount of fluid (MQF) in forces machining (cutting
force, thrust and passive force) during the face milling of ABNT 1045 steel with an average
carbon and wide application in the manufacture of forged parts of machines and structural
axes in general, work aimed mainly contribute to the distribution and use of environmentally
friendly cutting fluids that may be used in machining processes. The methodology consisted
in the application of cutting fluid vegetable-based oil (babaçú), comparing its performance
with the application of commercial oil LB 2000 (cutting fluid also plant-based, suitable for
machining ferrous metals produced by ITW Chemical Products Limited.), both applied as
MQF with variation in the flow of fluid 10, 50, 100 and 200 ml / h and also the dry condition. We
conducted a Design of Experiments - factor 25 where the input variables were cutting speed
(vc), advancement (fz) and the depth of cut (ap), the cutting fluid flow and MQF (this repeated
in four different flow) while the output variables were measures cutting forces (Fx), feed force
(Fy) and passive force (Fz). It was found that the parameters most influential forces are the
components of the feed and cutting depth. Babaçú nut oil showed values of forces in line with
the oil LB 2000 and smaller than the dry condition. The flow considered more efficient for lower
values of machining forces were 50 ml / h and 200 ml / h in the various conditions evaluated.
KEYWORDS: Machining forces, cutting fluid, machinability, cutting parameters.

1 | INTRODUÇÃO
Os esforços de usinagem são importantes na avaliação do efeito dos parâmetros
de usinagem. A força de usinagem é dada pela resultante dos esforços que atuam sobre
a cunha cortante. O conhecimento ou mesmo a estimativa dos esforços de usinagem
máximos também é utilizado para o dimensionamento do equipamento de usinagem (Shaw,
1984), no projeto de ferramentas e dispositivos de usinagem. Vários trabalhos (Hamid,
1995), (Strafford, 1997), têm sido realizados no sentido de usar a força de corte como forma
de avaliar o processo de usinagem. Esses trabalhos têm diferentes abordagens, onde as
forças de corte são correlacionadas com parâmetros que vão desde rugosidade, desgaste
de ferramenta até microestrutura e propriedades mecânicas, (Astakhov, 1999), (Diniz et

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 12 126


al., 2000). De maneira geral, a direção e o sentido da força de usinagem (F) são difíceis
de determinar. Por isso ela é decomposta em componentes. As componentes de F são
identificadas por índices: “c” para a direção principal de corte. “f” para a direção de avanço
e “p” para a direção passiva ( perpendicular ao plano de trabalho). A força de corte “Fc” tem
o mesmo sentido e direção da velocidade de corte “vc”. Ela é responsável pela maior parte
da potência de corte. A força de avanço “Ff” tem o mesmo sentido e direção da velocidade
de avanço “vf”, causando a deflexão da ferramenta. A força passiva “Fp” é a componente
de F perpendicular ao plano de trabalho Pf. A Figura 1, mostra a direção das componentes
das forças de usinagem.

Figura 1. Decomposição da força F em suas componentes Fc, Ff e Fp (CIMM, 2009)

Os fluidos de corte possuem varias funções nos processos de usinagem, tais


como: Ajudam a refrigerar a região de corte, principalmente em altas velocidades de
corte; lubrificar a região de corte, principalmente em baixas velocidades e altas tensões
de corte; reduzir a força de corte; melhorar a vida da ferramenta, o acabamento superficial,
a precisão dimensional da peça; auxiliam na quebra do cavaco, facilitam o transporte de
cavaco; protegem a superfície usinada e a máquina-ferramenta contra oxidação (Machado
et al., 2009).
O descarte de fluidos de corte é um processo indesejável, inicialmente por se tratar
de substância poluidora para o meio ambiente que necessita de complexo e oneroso
tratamento prévio. Para a destinação desses produtos a legislação ambiental estabelece
critérios de acordo com as características do rejeito líquido, os quais levam em conta
parâmetros como resíduos sedimentáveis, ph, oxigênio dissolvido, demandas química
e bioquímica de oxigênio, temperatura, óleos e graxas e a presença de microrganismos
(Sokovic & Mijanovic, 2001).
Muitos aspectos dos problemas ambientais associados aos fluidos de corte podem
ser evitados ou minimizados por meio de investimentos em pesquisas para desenvolvimento

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 12 127


de novos tipos de fluidos e de métodos aplicação menos agressivos, assim como, em
treinamentos voltados para a formação de uma nova cultura na indústria metal-mecânica,
que possibilite o perfeito entendimento dos impactos ambientais causados pelo uso
indisciplinado dos fluidos de corte e a conseqüente conscientização dos empresários e
trabalhadores em relação à tomada de atitudes voltadas às boas práticas ambientais.
A introdução da série de legislações ambientais, OSHA e outras autoridades de
regulamentação internacional, fizeram a indústria transformadora reduzir o consumo
de óleo mineral como fluido de corte para trabalhos de usinagem, havendo um grande
potencial para a utilização de óleos vegetais como fluidos de corte no setor industrial
(Singh et al. 2006). Diversos trabalhos estão em andamento para desenvolver fluidos de
corte ambientalmente corretos com base em vários óleos vegetais, a maioria dos trabalhos
relatados, evidenciam os óleos de soja, óleos de girassol e óleos de canola. Atualmente,
muitos grupos (Jacob, 2004) e (Peter, 2005) estão envolvidos no desenvolvimento de
óleos vegetais como fluidos de corte. A utilização da técnica das quantidades mínimas de
fluido de corte (MQF-Minimal Quantity of Lubricant) tem-se revelado uma alternativa muito
vantajosa, relativamente à aplicação abundante de fluido na usinagem, principalmente no
processo de fresamento. Esta técnica consiste na utilização de uma pequena quantidade
de óleo lubrificante que é pulverizado na região de corte. Desta forma, o consumo de óleo
de corte é significativamente menor. Na técnica MQF os fluidos utilizados são, geralmente,
de base vegetal, com aditivos incorporados, podendo também ser de base mineral, a Figura
2 mostra um processo de fresamento com a pulverização do fluido sobre a região de corte.

Figura 2. Processo de fresamento com utilização da técnica MQF


O objetivo deste trabalho foi verificar a influência do óleo comestível vegetal a
base de coco babaçú (Orbignya oleifera) (Figuras 3 e 4), utilizado como fluido de corte e
aplicado pela técnica da mínima quantidade de fluido (MQF) nos esforços de corte do aço
ABNT 1045, durante o processo de usinagem por fresamento frontal. Este trabalho visa
contribuir principalmente com a divulgação e utilização de fluidos de corte ecologicamente
corretos que possam vir a ser utilizados nos processos de usinagem. O óleo de coco babaçu

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 12 128


é muito utilizado para fins alimentícios e na fabricação de margarinas. Este óleo apresenta
propriedades semelhantes ao óleo de dendê (ou palma), apresentando alto teor de ácido
láurico, tem várias aplicações, dentre as quais podemos destacar: indústria cosmética,
alimentícia, sabões, sabão de coco, detergentes, lubrificantes, entre outras.

Figura 3. Amêndoa do coco babaçú Figura 4. Palmeira do coco babaçu

2 | MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia para o desenvolvimento deste trabalho consistiu na aplicação do fluido
de corte de base vegetal (óleo de coco babaçú), comparando o desempenho do mesmo
com a aplicação do óleo comercial LB 2000 (fluido de corte também de base vegetal,
indicado para usinagem de metais ferrosos produzido pela ITW Chemical Products Ltda.),
ambos aplicados na forma MQF, com variação na vazão dos fluidos em 10, 50, 100 e 200
ml/h e também com a condição a seco. Foi realizado um Planejamento de Experimentos –
Fatorial 25 onde as variáveis de entrada foram a velocidade de corte (Vc), o avanço (fz) e a
profundidade de corte (ap), o fluido de corte e a vazão MQF (esta repetida em 4 diferentes
vazões) enquanto as variáveis de saída medidas foram as forças de corte (Fx), força de
avanço (Fy) e a força passiva (Fz). A Tabela 1 evidencia este planejamento.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 12 129


Variáveis de Entrada ou Fatores de Entrada
Variáveis de Saída ou Respostas do
Material da peça: Aço ABNT 1045; Ferramenta Processo
de corte: Fresa frontal (Coromil 345 da Sandvik
Coromant) com incertos de metal duro revestidos
(PM 4240); Máquina Ferramenta: Discovery 560
(Romi); Penetração de trabalho (ae): 62 mm.

Condições de corte Vazão Forças de usinagem


experimentos

MQF (N)
vc fz ap (ml/h)
(m/min) (mm/dente) (mm) Fx Fy Fz

01 10
a 165 0,15 1
04 50
100
200
05 10
a 210 0,15 1
08 50
100
200
09 10
a 165 0,30 1
12 50
100
200
13 10
a 210 0,30 1
16 50
100
200
17 10
a 165 0,15 2
20 50
100
200
21 10
a 210 0,15 2
24 50
100
200
25 10
a 165 0,30 2
28 50
100
200

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 12 130


29 10
a 210 0,30 2
32 50
100
200

Tabela 1. Matriz de planejamento para os testes de forças de usinagem

2.1 Sistema de medição das forças de usinagem


Para evitar erros sistemáticos padronizou-se a confecção e fixação das peças, onde
todas foram usinadas previamente em formato de prisma retangular com dimensões finais
de 180 mm de comprimento, 77 mm de altura e 62 mm de largura. Foram confeccionados
dois furos passantes com diâmetros de 15,25 mm (5/8”) cada um a fim de fixar a peça no
dinamômetro estacionário.
Para aquisição das forças de usinagem foi utilizado um dinamômetro do fabricante
Kistler, modelo 9257-B, fixado no barramento do centro de usinagem. Os sinais adquiridos
são enviados para um amplificador de carga e deste a uma placa de conversão analógica
- digital da Measurement Computing, modelo USB 1208SF, 1.25 MS/s. Este sinal é
gerenciado por um computador utilizando o software Delphi 7.0. A metodologia de captação
do sinal de força é ilustrada na Figura 5.

Amplificador de carga
Aplicador MQF para sensores
piezoelétricos tipo
5005 KISTLER

Discovery 560 da
ROMI, 7 – 7500 rpm e
potência 12.5 cv

Fx, Fy, Fz

Dinamômetro
estacionário tipo
9257B da marca
Placa de
KISTLER
aquisição
USB
1208FS
PC com software
DELFI 7.0

Figura 5. Sistema de aquisição das forças de usinagem

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 12 131


3 | CARACTERIZAÇÃO DO FERRAMENTAL
O ferramental utilizado no processo de fresamento frontal foi constituído de:
1 - Fresa 345 - 080Q27 - 13M (Sandivik - Coromant) - Diâmetro de 80 mm e
capacidade para 6 insertos (na pesquisa, para economia de material e ferramentas,
só foi utilizado 1 inserto).

2 - Insertos 345 - 1305M - PM 4220 (Sandivik - Coromant)

3 - Cone 52.33.527 (Sandivik - Coromant)

4 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados obtidos durante os experimentos mostram que dependendo das
condições de usinagem adotadas durante o processo de fabricação por fresamento frontal,
há uma diferença significativa nos mesmos, ou seja, variando-se a velocidade de corte
(vc), o avanço (fz), a profundidade de corte (ap), os fluidos de corte aplicados (Babaçú e LB
2000) nas formas de mínima quantidade de fluido (MQF), nas vazões de 10, 50, 100 e 200
ml/h e na condição a seco, observou-se através dos parâmetros de usinabilidade (forças
de usinagem), uma influência moderada dos fluidos vegetais aplicados, essa influência
pode ser verificada através da ligeira redução dos esforços de corte quando comparamos o
fresamento com aplicação do fluido com o fresamento a seco, nota-se também um equilíbrio
entre os dois fluidos de corte aplicados com valores de forças muito próximo, praticamente
em linha. Esses resultados são apresentados nos gráficos de 1 a 3. As condições de corte
são as mesmas apresentadas na tabela 1.

Gráfico 1. Comparação das forças de corte (Fxmáx) nas diversas condições

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 12 132


Gráfico 2. Comparação das forças de avanço (Fymáx) nas diversas condições

Gráfico 3. Comparação das forças passivas (Fzmáx) nas diversas condições

Fazendo um comparativo entre os três resultados apresentados, ou seja, verificando


a influência sobre as forças de usinagem com aplicação dos fluidos de corte e também na
condição a seco, verifica-se que a participação dos fluidos de corte durante os ensaios
possibilitou uma pequena redução nas mesmas. Nos testes de 09 a 12 e de 29 a 32, com
a variação da velocidade de corte (vc) e da profundidade de corte (ap) para um mesmo

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 12 133


avanço (fz), houve uma redução nas forças de corte (Fx), nos testes de 01 a 04 e de 13 a 16,
com variação do avanço (fz), para uma mesma velocidade de corte (vc) e profundidade de
corte (ap), houve uma redução nas forças de avanço (Fy) e também uma redução na força
passiva (Fz) nos testes de 29 a 32, para as condições mais críticas de vc, fz e ap.
Nos resultados citados acima se observa o efeito dos fluidos de corte (aplicados
pela técnica MQF), sobre as forças de usinagem, ou seja, sua função lubrirefrigerante atua
minimizando o efeito da flutuação da temperatura na ferramenta durante o corte.
A análise de variância (ANOVA) dos resultados indica que, com um intervalo de
confiança de 95% e um nível de significância alfa de 0,05 a condição de lubrirefrigeração
tem significativa influência na redução dos esforços de usinagem, a Tabela 2 evidencia os
mesmos.

Variável Variável Variável


P - Value P - Value P - Value
Fluido Fluido
A Seco LB 2000 Babaçú

Fx > 0,05 Fx 0, 000220 Fx 0, 000315

Fy > 0,05 Fy 0, 000438 Fy 0, 000494

Fz > 0,05 Fz 0, 00326 Fz 0, 00716

Tabela 2. Análise de experimentos com dois níveis de fatores 2 ** (4 - 0)

5 | CONCLUSÕES
Os resultados apresentados permitem algumas conclusões dentro das condições
testadas:

• Os esforços de corte foram maiores para a condição crítica, onde se utilizou as


máximas condições de corte; (vcmáx, fzmáx e aPmáx);

• O óleo de coco babaçú utilizado como fluido de corte apresentou resultados dos
esforços de corte em linha quando comparado ao fluido LB 2000 e menores
quando comparado com a condição a seco, o que nos leva a crer que o mesmo
pode vir a ser um substituto em potencial para os demais fluidos de usinagem;

AGRADECIMENTOS
Um dos autores, como beneficiário, agradece em especial a Capes – Brasil – pelo
auxilio financeiro de participação a este evento.
A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) / Faculdade de Engenharia Mecânica

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 12 134


(FEMEC) / Laboratório de Ensino e Pesquisa em Usinagem (LEPU)
Ao Instituto Federal do Maranhão (IFMA) / Departamento de Mecânica e Materiais
(DMM), pelo apoio material na utilização das máquinas e instrumental necessários para
realização deste trabalho.

DIREITOS AUTORAIS
Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo do material impresso incluído
no seu trabalho.

REFERÊNCIAS
Astakhov, V. P. “A treatise on material characterization in the metal cutting process”. Part 2: “Cutting as
the fracture of workpiece material”. Journal of Materials Processing Technology. v. 96. pp. 34-41, 1999.

CIMM - Centro de Informação Metal Mecânico, 2009.

Diniz, A. E. Marcondes, F. C.; Coppini, N. L. “Tecnologia da Usinagem dos Materiais”. 2ª ed. São Paulo:
Editora Artliber. 2000. 244p.

Hamid, A. A.; Ali, Y. “Experimental determination of dynamic forces during transient orthogonal turning”.
Journal of Materials Processing Technology. v. 55, p. 162-170, 1995.

Jacob, J. “Emulsions containing vegetable oils for cutting fluid, application”, Colloids Surf A:
Physicochem Eng Aspects 237 (2004), pp. 141–150.

Machado, A.R., Coelho, R.T., Abrão, A.M, Da Silva, M.B., 2009, “Teoria da Usinagem dos Materiais.”
Ed. Edgard Blücher, São Paulo, 384 p.

Peter, C.R. “Mist generation from metal working fluids formulated using vegetable oils”, Ann, Occupy
Hyg, Br Occupy Hyg Soc 40 (2005), pp. 283–293.

Shaw, M. C. “Metal Cutting Principles”. Great Britain: Clarendon Press. 1984. 651p.5.

Singh, A.K. et al., “Metal working fluids from vegetable fluids”, J Synth Lubr l23 (2006), pp. 167–176.

Sokovic, M., Mijanovic, K. “Ecological aspects of cutting fluids and its influence on quantifiable
parameters of the cutting processes”. Journal of Materials Processing Technology, Slovenia, n. 109, p.
181-189, 2001.

Strafford, K. N. “Indirect monitoring of machinability in carbon steels by measurement of cutting forces”.


Journal of Materials Processing Technology. v. 67. p. 150-156, 1997.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 12 135


CAPÍTULO 13

CONSTRUÇÃO DE UM ESPECTROFOTÔMETRO
DE ABSORÇÃO ATÔMICA MANUAL PARA O
ENSINO DE QUÍMICA INSTRUMENTAL

Data de submissão: 12/02/2023 Data de aceite: 01/03/2023

Sharise Beatriz Roberto Berton desenvolvida pelo aluno, o docente poderá


Universidade Tecnológica Federal do abordar conceitos relacionados a técnica
Paraná – UTFPR como por exemplo rede de difração,
http://lattes.cnpq.br/4838760783430304 que juntamente com a construção do
equipamento manual, este entendimento
Milena do Prado Ferreira
ficará facilitado.
Universidade Estadual de Londrina – UEL
PALAVRAS-CHAVE: Espectrometria,
http://lattes.cnpq.br/0390586020405082
materiais de fácil acesso, roteiro de aula
Jomar Berton Junior prática.
Instituto Federal do Paraná – IFPR
http://lattes.cnpq.br/4714967818055223
CONSTRUCTION OF A MANUAL
ATOMIC ABSORPTION
SPECTROPHOTOMETER FOR THE
RESUMO: A espectrometria de absorção TEACHING OF INSTRUMENTAL
atômica é uma técnica largamente utilizada CHEMISTRY
para na determinação elementar das mais ABSTRACT: Atomic absorption
diversas amostras. Pode ser definida como spectrometry is a technique widely used
o estudo da interação da matéria com a for the elemental determination of the
luz. Esta técnica é muito utilizada tanto em most diverse samples. It can be defined
escala laboratorial, quanto industrial. Por as the study of the interaction of matter
este motivo, o entendimento desta técnica with light. This technique is widely used
por alunos nos anos iniciais da graduação é both in laboratory and industrial scale.
extremamente importante. Sendo assim, o For this reason, the understanding of this
presente estudo propõe o desenvolvimento technique by students in the early years
de um espectrofotômetro de absorção of graduation is extremely important.
atômica manual, com materiais de fácil Therefore, the present study proposes the
acesso, como proposta de uma ferramenta development of a manual atomic absorption
facilitadora na disciplina de Química spectrophotometer, with easily accessible
Instrumental. Portanto, com esta ferramenta materials, as a proposal for a facilitating tool

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 13 136


in the discipline of Instrumental Chemistry. Therefore, with this tool developed by the student,
the teacher will be able to address concepts related to the technique, such as a diffraction
grating, which, together with the construction of the manual equipment, will facilitate this
understanding.
KEYWORDS: Spectrometry, easily accessible materials, practical class script.

1 | INTRODUÇÃO
A interação da matéria com a luz, descreve basicamente como os fótons são
absorvidos, emitidos ou até mesmo espalhados por uma distribuição de cargas (Gan,
2022). Por isso, esta interação tem sido amplamente estuda desde a antiguidade até os
dias atuais. É utilizada em diversas áreas do conhecimento como física, química e biologia.
Os estudos dessa interação vão desde lasers a células solares, como também para gerar
informações quânticas (Gan, 2022; Croney et al., 2001).
Esses desenvolvimentos sem precedentes principais surgem a aproximadamente
em 1672, onde Isaac Newton observou o espectro de luz solar pela primeira vez, quando
fez a luz solar atravessar um prisma, conhecido hoje como espectro do visível (Filgueras,
1996).
No ano de 1802, Wollaston observou que o espectro solar continha linhas com
ausência de radiação, isto é, linhas negras. Mais adiante, Kirchoff e Bunsen, identificaram
espectros de metais alcalinos e alcalinos terrosos, e estabeleceram relação entre os
espectros de emissão e absorção, explicando assim, as linhas negras encontradas no
espectro solar (Solé, Bausa, & Jaque, 2005).
Em 1913, Niel Bohr baseado na espectroscopia, estabeleceu um novo modelo
atômico, que os elétrons estariam dispostos em orbitais eletrônicos, e após serem excitados,
saltavam de um nível energético para o outro, e ao retornarem, no seu estado de relaxação,
emitiam luz, também conhecido como fóton ou também nomeado de quantum por Max
Planck (Wang, Yang, 2017).
A descoberta feita por Purcell em 1946, onde a radiação de um emissor pode ser
pressionada ou aumentada pelo ambiente eletromagnético ao redor, como também os
métodos inovadores que permitiram medir e controlar sistemas quânticos individuais lhe
deram o Prêmio Nobel de Física em 2012 (Gan, 2022).
Sendo assim, a espectroscopia é a interação da matéria com diferentes formas de
energia como calor, luz visível, ultravioleta, ondas acústicas, micro-ondas, entre outras. É
frequentemente usada para a identificação das substâncias por meio do espectro emitido
ou absorvido por elas. Esta técnica é extremamente importante para a determinação de
elementos contidos em matrizes biológicas, ambientais e de alimentos (Nomura, Da Silva,
& Oliveira, 2008).
Sendo assim a espectroscopia é a técnica que estuda as interações da luz com
a matéria e o espectrofotômetro é o equipamento que irá traduzir e quantificar estas

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 13 137


interações.
Por isso, na literatura exploram o uso da espectrofotometria de absorção atômica
para avaliar diferentes amostras, tanto em escala laboratorial quanto industrial. Por este
motivo o entendimento desta técnica para alunos nos anos iniciais da graduação, é
extremamente importante (Borges et al., 2020; Ebrar Karlidag et al., 2021).
Sendo assim, o presente estudo se baseia no desenvolvimento de um
espectrofotômetro de absorção atômica manual, que pode ser produzido pelo próprio
estudante, como ferramenta facilitadora no ensino de Química Instrumental para anos
iniciais do ensino superior, utilizando materiais de fácil acesso.
Portanto, este trabalho é apresentado como um roteiro experimental para o ensino
da espectroscopia no ensino superior. Uma proposta metodológica que está baseada na
montagem de um espectrofotômetro manual com materiais de fácil acesso, que irão nortear
o estudante para o estudo da Química Instrumental.

2 | METODOLOGIA E ESTRATÉGIA DE BUSCA


A presente pesquisa foi realizada utilizando uma proposta metodológica baseada na
experimentação para ser aplicada nos primeiros anos do ensino superior, em cursos cuja
grade curricular contenha a disciplina de Química Instrumental.
Com o desenvolvimento pelo próprio estudante, de um espectrofotômetro de
absorção atômica manual, como ferramenta facilitadora e concreta no ensino de Química
Instrumental para anos iniciais do ensino superior, utilizando materiais de fácil acesso
(Borges et al., 2021; Ferreira et al. 2019).

3 | LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO PARA ESTUDO DO TEMA

3.1 Espectrofotometria de absorção atômica


A espectrometria de absorção atômica, é uma técnica largamente utilizada e
estudada em cursos superiores relacionados à Química, Biologia, Farmácia, Agronomia,
Bioquímica entre outros cursos que possuem a disciplina de Química instrumental. Esta
técnica é utilizada para determinação de elementos nas mais diversas amostras (Grazianetti
et al., 2021; Amorim et al., 2008).
Esta técnica consiste basicamente na utilização do princípio de que átomos livres
(estado gasoso) gerados em um atomizador, que são capazes de absorver radiação de
frequência específica que é emitida por uma fonte espectral; a quantificação obedece desta
forma, os princípios da lei de Lambert-Beer (Kafle, 2020).
A determinação de concentração de um soluto em uma solução problema por
espectrofotometria envolve a comparação da absorbância da solução problema com uma
solução de referência, na qual já se conhece a concentração do soluto. Ou seja, utiliza-se

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 13 138


a Lei de Lambert-Beer para a determinação da concentração de um soluto (Kafle, 2020).

4 | DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL
Para o desenvolvimento da proposta em questão, materiais de fácil acesso foram
privilegiados, para não desestimular os estudantes.
Sendo assim, para a construção do equipamento manual, será necessário o uso de
caixa de papelão (aproximadamente largura 30cm x comprimento 40cm x altura 15cm), um
CD como rede de difração, como os dispositivos com ranhuras ou também chamada de
fendas, uma lanterna (pode ser utilizada do próprio celular do estudante) como feixe de luz,
fita adesiva, tesoura, papel de coloração escura para embalar a caixa de papelão, papel
milimetrado que servirá como tela.
Assim como o prisma, os espectrofotômetros são utilizados para dividir as cores em
seus componentes. Com esta construção, permite perceber o espectro de luz presente no
nosso dia a dia.
Em posse de todos os materiais necessários, primeiramente, a caixa de papelão
deverá ser encapada com o papel de cor escura, tanto por dentro quanto por fora, isto
servirá para visualizar melhor as cores que serão projetadas do CD.
Em seguida, dois furos deverão ser feitos, primeiramente na parte superior da caixa
(aproximadamente 10 x 10 cm), onde apenas uma pequena parte do CD (rede de difração)
será encaixada dentro da caixa e o segundo furo, deverá ser feito no lado oposto, que é o
local onde será observado o espectro. Na parte inferior da caixa, retira-se a tampa, onde
será a tela de projeção.
Na tela de projeção, cola-se o papel milimetrado em um pedaço de papelão, para
que este seja flexível e removível, para poder servir de tela. Indique em cm no papel
milimetrado. Agora temos a fenda e a tela.
Assim que a caixa estiver montada, mova 1 cm do papel milimetrado, e posicione
a lanterna nesta abertura. A luz da lanterna ficará posicionada de frente para o CD, e o
mesmo irá refletir a luz no papel milimetrado.
Quando a luz passa por uma pequena abertura, ela se separa, refletindo todos
os comprimentos de onda. Na natureza existem espectros que são visíveis somente
alguns comprimentos de onda, pois, diferentes elementos químicos refletem diferentes
comprimentos de onda.

5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, foi proposto do presente trabalho um roteiro experimental com a montagem
de um espectrofotômetro manual com materiais de fácil acesso para o ensino de Química
Instrumental.
Esta proposta é de simples construção que pode ser utilizado como uma ferramenta

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 13 139


facilitadora da aprendizagem para alunos do ensino superior para abordar conceitos como
a interação da matéria com a luz, como a história da espectrometria atômica teve papel
fundamental no desenvolvimento da química instrumental, a importância da técnica, rede
de difração entre outros conceitos que poderão ser abordados com o desenvolvimento do
equipamento manual sugerido no presente trabalho.

REFERÊNCIAS
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absorção atômica: o caminho para determinações multi-elementares. Química nova, v. 31, p.
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Comparative Perspective. Endeavour, v. 41, p. 12-22, 2017.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 13 140


CAPÍTULO 14

O ENSINO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA, EM


TRILHAS INTEPRETATIVAS, COM ENFOQUE NA
BOTÂNICA NOS ANOS FINAIS

Data de aceite: 01/03/2023

Jurandy das Chagas Lima são realizadas em espaços não formais


Doutorando em Ensino de Ciências e de educação, onde ocorrera um excelente
Matemática (UPF-RS) aprendizado da botânica fora de sala de
Professor de Ciências na Secretaria de aula, como também em prol de um bom
Educação e Cultura do Pará relacionamento entre educador e educando,
http://lattes.cnpq.br/4424272999106030 já que esta atividade envolve um cunho
Denílson Elias Lima Silva lúdico e descontraído, ou seja, ficando bem
Doutorando em Ensino de Ciências e longe de ser um ensino positivista onde o
Matemática (UPF-RS) aluno se sente totalmente sem vez, sem voz
Professor de Ciências na Secretaria de e completamente desmotivado.
Educação e Cultura do Pará PALAVRAS-CHAVE: Trilha Interpretativa,
http://lattes.cnpq.br/5238406094176328. Botânica, Espaços não Formais de
Educação, Educação Ambiental.

ABSTRACT: The main purpose to be


RESUMO: A principal finalidade a ser
investigated in this study is the reflection on
investigada neste estudo é a reflexão sobre
the use of the forest and its trails as a means
o uso da floresta e suas trilhas como meio
for teaching botany in the disciplines of
para o ensino da botânica nas disciplinas
Natural Sciences and Biological Sciences.
de ciências naturais e ciências biológicas.
Where the aim of this research is to discuss
Onde o objetivo desta pesquisa é discutir a
the theme of the use of interpretive trails and
temática do uso de trilhas interpretativas e
their importance for the teaching of Science
sua importância para o ensino de ciências
and Biology in non-formal education spaces
e biologia em espaços não formais de
being carried out in different Brazilian
educação sendo realizados em diferentes
states. A bibliographic research was carried
estados brasileiros. Realizou-se uma
out considering the contributions of authors
pesquisa bibliográfica considerando as
such referring to the subject, among others,
contribuições de autores referentes no
seeking to highlight the importance of
assunto, entre outros, procurando destacar
interpretive trails that are carried out in
a importância das trilhas interpretativas que
non-formal spaces of education, where

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 14 141


an excellent learning of botany outside the classroom, but also for the benefit of a good
relationship between educator and student, as this activity involves a playful and relaxed
nature, that is, staying far from being a teaching positivist where the student feels totally out
of place, voiceless and completely unmotivated.
KEYWORDS: Interpretive Trail, Botany, Non-Formal Spaces of Education, Environmental
Education.

INTRODUÇÃO
O trabalho elaborado apresenta a seguinte temática: O ensino da botânica por
meio de trilhas interpretativas, onde o educador por meio de várias atividades fora da
escola ira proporcionar aos seus educandos um aprendizado mais significativo, dinâmico
e descontraído levando assim uma total harmonia entre ambos para que juntos possam
construir um aprendizado mais expressivo, valoroso e significativo.
As perguntas de pesquisa que nortearam a presente investigação foram: Quais são
as percepções sobre botânica que os educandos apresentam? O que são e como
organizar aulas em espaços não formais de educação?
A biodiversidade no território brasileiro é considerada mundialmente como uma das
mais ricas do mundo, onde a educação ambiental é fortemente utilizada como uma das
ferramentas mais eficientes e eficazes para a conservação da mesma em todo o globo
terrestre. Dessa forma os espaços não formais de educação como os jardins botânicos,
trilhas interpretativas e outros apresentam grande importância neste processo, pois nos
mostram diversos ambientes de aprendizagem que certamente servirão como recursos
didáticos.
Conforme retrata o artigo 1º da Lei 9.795, que apresenta a Política Nacional de
Educação Ambiental (BRASIL, 1999),
[...] entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais
o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida
e sua sustentabilidade.

Trabalhar com os chamados espaços não formais de educação gera uma nova
perspectiva para o ensino dos conteúdos curriculares na busca de uma aprendizagem
significativa nas disciplinas de ciências naturais e ciências biológicas. Entre as escolhas
estratégicas educativas que podem ser empregadas temos o uso de trilhas interpretativas,
onde as mesmas possuem um papel primordial, visto que são elas que levam os visitantes
aos mais diversos ambientes proporcionando uma experiência única de interação com a
biodiversidade amazônica.
A expressão “Espaço Não Formal de Educação” tem sido muito utilizada para
caracterizar lugares, onde é possível desenvolver atividades pedagógicas, mas que não

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 14 142


pertencem ao espaço físico da escola. Esses locais apresentam planejamento próprio,
não seguem normas propostas por um currículo específico, baseado em Diretrizes
reconhecidas oficialmente e vinculadas ao Ministério da Educação. Como exemplo desses
espaços, podemos citar os Parques Ecológicos, os Museus, as Praças, os Zoológicos,
os Planetários, as trilhas interpretativas, dentre outros institucionalizados ou não. (Gohn,
2006, p.25).
Este artigo retrata a experiência prática de campo realizada em um Espaços Não
Formais: Funbosque – Fundação Escola Bosque, localizada na Ilha de Outeiro, distrito de
Belém - Pa.
O objetivo principal foi avaliar quais as possíveis contribuições do uso de trilhas
interpretativas para o ensino de ciências naturais e ciências biológicas, onde para se
alcançar tal objetivo utilizou-se como recurso o levantamento bibliográfica que foi realizada
a partir da análise de materiais já publicados na literatura e artigos científicos recentes e
divulgados em variados meios de comunicção (revista eletronica, rede, plataformais etc.).
Um dos países megabiodiversos reconhecido mundialmente é o Brasil por expor
cerca de 20% da riqueza de espécies biológicas de todo o planeta. A diversificada riqueza de
espécies biológicas está associada a ecossistemas peculiares como os biomas do Cerrado
e de Mata Atlântica, que formam dois dos 25 hotspots de biodiversidade e conservação
mundial, e totalmente específicos ao território brasileiro. Lewinsohn e Prado. (2004).
Com o passar dos anos os diversos impactos negativos ocasionados pela ação
antrópica sobre o uso, manejo e conservação dos recursos naturais, especialmente no que
se refere à manutenção e conservação dos ecossistemas e habitats originais, tem refletido
em procedimentos extintivos, levando a diminuição ou extinção da diversidade biológica
e o comprometimento dos serviços ecológicos prestados pelas mesmas. Mittermeier e
Scarano (2013).
De acordo com Silva (2008), como estratégia de conservação de vegetais, a educação
ambiental é visualizada como uma possibilidade para uma possível sensibilização da
sociedade perante a importância dos recursos naturais nas mais distintas faces, a começar
de sua importância ecológica até a sua aplicabilidade nos procedimentos produtivos de
grande escala.
Após o reconhecimento do ambiente proposto e a sensibilização com uma certa
clareza em relação à importância da biodiversidade, os alunos e docentes envolvidas nesse
construção contextualizada por meio das trilhas, se tornarão como agentes multiplicadores
do novos conhecimentos adquiridos com as atividades práticas, gerando dessa forma uma
rede em prol da conscientização e proteção dos recursos naturais.
Na investigação das referencias bibliográficas buscou-se verificar a eficiência e
eficácia da realização de diversas trilhas interpretativas no ensino da botânica, onde no
decorrer desse processo pode constatar diversas maneiras interessantes onde em uma
delas foi aplicado um questionário pré e pós-trilha para estudantes de uma escola pública

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 14 143


de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, por vez, realizada na atividade relatada aqui.

ATIVIDADE COM ALUNOS NOS ESPAÇOS NÃO FORMAIS


A utilização das trilhas interpretativas se deu em um espaço da Fundação Escola
Bosque dessa localidade ja sitada. Observou-se que no total de 28 alunos, 55% desses
educandos relataram que aumentaram seu entendimento de prevervação e conteúdo
em botânica, segundo a série em que os alunos se encontram, sobre as plantas após
a realização das atividades. Nas analises dos questionários que foram realizados antes
e depois da trilha, os alunos disseram que não é possível existir vida na Terra sem a
existência das plantas. Após a realização da trilha interpretativa, houve um aumento nas
citações de todas as funções ecológicas apresentadas aos estudantes, bem como dos
usos das plantas pelo homem, como beneficio para vida.
Com relação à identificação de algumas plantas que podem causar impactos
negativos aos ecossistemas naturais, houve um acréscimo significativo onde 90% dos
alunos tiveram êxito nessa identificação de algumas planas nativas do local após a
realização da trilha.
As trilhas interpretativas representam meios de inclusão e contato do ser humano
com a natureza. Belart (1978) afirma que a caminhada e as excursões, distante do tumulto
e barulho das cidades, configuram uma das recreações favoritas para a maior parte das
pessoas. Assim a trajetória em um ambiente natural é realizada por meio de estradas dentro
da floresta ou trilhas delimitadas e implantadas de acordo com o propósito e particularidade
de cada local.
No livro Manual de Trilhas: Um Manual para Gestores. As trilhas podem ser
classificadas da seguinte maneira:
Trilha guiada: é aquela realizada com o acompanhamento de um guia/condutor,
tecnicamente capacitado para estabelecer um bom canal de comunicação entre o ambiente
e o visitante, oferecendo segurança a todos na caminhada.
Para alentar ainda mais a investigação, foi analisado um artigo de um estudo
realizado em uma floresta em Manaus Amazonas e suas trilhas como meio para o ensino
de ciências com enfoque em botânica.Os espaços não formais de educação que foram
visitados serviram de estudo para o ensino da botânica por meio de trilhas, pois se destacam
pela infraestrutura que facilita o planejamento estratégico do professor.
A trilha é uma maneira eficaz para se trabalhar com os alunos fora da sala
de aula, podendo ser utilizada por diversas ciências. Contudo, ela deve ser
planejada e considerada como parte de um processo mais amplo e, não
apenas como um evento educativo pontual. [...] a possibilidade de construir
o próprio conhecimento e buscar respostas para as suas indagações.
(Guimarães e Menezes 2006, p.10).

Ancorado nessa bibliografia conseguiu-se constatar o quão é importante o uso desses

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 14 144


espaços não formais pelos professores para um aprendizado relevante e significativo,
prazeroso para os alunos, partindo do princípio de que todos estamos sempre aprendendo.
Os espaços não formais de educação como o Jardim Botânico Adolpho Ducke,
Parque Municipal do Mindu, Jardim Zoológico do CIGS e o Museu do Seringal Vila Paraíso
que estão localizados em Manaus, estão bem planejados para propiciar aos alunos, um
contato direto com a biodiversidade viva, pois o local é ideal para a complementação da
aprendizagem fora de sala de aula justamente pelo processo cognitivo que será vivenciado
no mundo concreto dos alunos.
Nesse contexto o professor precisaria elaborar um planejamento harmonioso
e voltado para a exploração do conteúdo curricular, pois as localidades escolhidas irão
remeter os educandos as trilha mais apropriadas (trilhas guiadas e trilhas autoguiadas),
sendo de suma importância para um bom resultado tanto para o educador quanto para o
educando.
A utilização das trilhas interpretativas para um fortalecimento do ensino de ciências
em espaços não formais em prol de um melhor entendimento sobre o ensino de botânica é
de extrema importância, visto que nesse percurso ocorrerá um direcionamento do aluno por
meio da mediação do professor, pela interações reais e palpaveis verificando os conceitos
nos livros didáticos estabelecidos, para analises com cumim científico, onde por meio do
contato com a natureza e demais espaços disponíveis em cada ambiente encontrado,
assim sendo, causará sensações e emoções nos educandos, que dificilmente aconteceria
no decorrer das aulas ministradas em escolas com viés de apenas sala de aula.
Segundo Guimarães e Menezes (2006), o uso de trilhas que são adaptadas conforme
as necessidades e com os conhecimentos prévios dos educandos, mostra-se a ser um
excepcional instrumento de ensino, pois ela é apropriada para que os alunos conheçam
e aprendam sobre ambientes específicos, como também é uma forma de compartilhar
experiências que levam os alunos a contemplarem, interpretarem e cooperarem com a
preservação e conservação da natureza.
Como fechamento da investigação bibliográfica optou-se em analisar um outro
artigo onde foi percebido que o objetivo principal era sensibilizar alunos de uma escola do
Ensino Fundamental do município de Palmeira das Missões-RS com relação à preservação
da natureza, com um direcionamento voltado para as vegetações da região, ocorrendo por
meio de uma trilha interpretativa como instrumento de educação ambiental.
A execução da trilha ocorreu em uma área de mata nativa que pertence a Universidade
Federal de Santa Maria, Campus Palmeira das Missões. Em uma determinada parada na
trilha os alunos ficaram com os olhos vendados e sentiram diferentes emoções e sensações
onde jamais haviam vivenciado esse tipo de experiência dentro de sala de aula, pois a
partir desse momento o mundo concreto proporcionado pela vivencia na trilha lhes oferece
um ensino mais prazeroso e significativo.
Adentrando um pouco mais na trilha o professor explorou ainda mais os sentidos

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 14 145


dos alunos, onde o tato foi o sentido de maior relevância, mostrando que o ensino da
botânica por meio da trilha interpretativa desperta no aluno um nível de maior satisfação e
maior sensibilização que o esperado na aula de ciências.
As trilhas interpretativas são cada vez mais utilizadas em programas de Educação
Ambiental, uma vez que, através do processo de sensibilização, fomenta a aquisição de
conhecimentos cognitivos relativos ao meio ambiente, fundamentais para a formação de
valores e mudanças de comportamento, na busca medidas e soluções preventivas no que
diz respeito a impactos ao meio ambiente (VASCONCELOS, 1998, p.139).
Por meio da execução da trilha interpretativa e de um documentário denominado
como A Última Hora, que teve como finalidade causar um impacto de realidade nos alunos
e mostrar o quanto nós somos responsáveis pelas adversidades que causadas ao meio
ambiente, foi possível perceber uma aprendizagem significativa dos discentes e uma
empolgação referente à experiência vivenciada, onde puderam constatar que as trilhas
interpretativas se mostram como uma ferramenta ideal para a promoção da educação
ambiental em prol de uma sensibilização mais eficaz.
Frigo et al (2013), afirmam que para a aprendizagem dos alunos se tornar muito
mais relevante, se faz necessário a utilização da diversificação das práticas e metodologias
de ensino, pois estas possibilitarão aos discentes uma aprendizagem significativa. Assim
as trilhas se enquadram muito bem em uma dessas metodologias, pois possibilitam aos
educandos uma apropriação das informações por meio de sua participação.
De acordo com Marcuzzo et al (2015) as trilhas interpretativas representam muito
mais que um passeio pois são consideradas como uma oportunidade de evolução do ser
humano, onde possibilitam uma incrível motivação da capacidade investigadora, fazendo
assim com que os mesmos se sintam parte desse meio ambiente, ocorrendo dessa forma a
reformulação de seus pensamentos em prol do seu modo de ver e sentir, de uma maneira
significativa, conceitos de botãnica e sua biodiversidade.
Portanto o ensino da botânica por meio das trilhas interpretativas é sem duvida uma
oportunidade de evolução e de desenvolvimento humano do educando, pois estimulam
a sua capacidade investigadora, levando o mesmo a uma reflexão sobre seu modo de
enxergar e sentir uma pequena parte desse imenso planeta como um todo, a partir da
interpretação e percepção da realidade ambiental.
Dessa maneira conclui-se que a utilização de espaços não formais como a natureza
que se destaca em uma extraordinária ferramenta facilitadora do aprendizado do aluno é
de suma importância para que ocorra a sensibilização dos mesmos em prol da proteção
dos recursos naturais.
A relação com a natureza por meio das trilhas apresentam características
interdisciplinares que são abordadas no ecossistema de modo geral.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 14 146


CONCLUSÕES
O ensino em ciencias voltado para botânica por meio das trilhas interpretativas é
sem duvida nenhuma, um importante meio de ensino palpavel e de crescimento humano
em relação ao cuidado do meio ambiente, pois estimulam a capacidade investigadora que
cada um tem, levando o mesmo a uma reflexão perceptiva sobre seu modo de enxergar e
sentir uma pequena parte do planeta como um todo, a partir da interpretação e percepção
da realidade ambiental. Dessa maneira conclui-se que a utilização de espaços não formais
como a natureza que se destaca como uma extraordinária ferramenta facilitadora do
aprendizado do aluno é de suma importância para que ocorra a sensibilização dos mesmos
em prol da proteção dos recursos naturais.
A relação com a natureza por meio das trilhas apresentam características
interdisciplinares que são abordadas no ecossistema de um maneira versatil. Dessa forma
as trilhas devem ser realizadas para o ensino da botânica com os alunos constantemente,
pois desse modo eles passarão a valorizar os conhecimentos constituídos pela educação
ambiental e também se sensibilizarão verdadeiramente sobre a importância de se preservar
o meio ambiente ao qual ele está inserido.

REFERÊNCIAS
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Instituto Floresta Série Registros, n.35, 1-74p., mai. 2008.

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ambiental: uma proposta para o município de Rosário da Limeira (MG). II Fórum Ambiental da Alta
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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 14 147


MENGHINI, F. B. As trilhas interpretativas como recurso pedagógico: caminhos traçados para a
Educação Ambiental. 103 p. Dissertação de Mestrado (Educação)- UNIVALI, 2005.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 14 148


CAPÍTULO 15

PACTO INTERGERACIONAL NAS RELAÇÕES


PREVIDENCIÁRIAS COMO POSITIVAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA FRATERNIDADE

Data de aceite: 01/03/2023

Andressa Munaro Alves de debate, seja pela forma de custeio, ou


Doutoranda e Mestre em Direito pela pela forma de percebimento, notoriamente,
Pontifícia Universidade Católica do pela existência do reconhecido Pacto
Rio Grande do Sul (PUCRS) - Bolsista Intergeracional, comumente referido, mas
CAPES. Especialista em Direito do pouco compreendido pela seara jurídica.
Trabalho e Previdenciário pela Escola Desta feita, em razão da peculiaridade
Superior Verbo Jurídico Educacional. do assunto, assim como de sua (sempre)
Professora no Programa de Graduação
atual necessidade de revisitação, o
em Direito nas Faculdades Integradas
presente estudo visa responder: O Pacto
São Judas Tadeu. Pesquisadora e Líder
Intergeracional é uma positivação do
de eixo do Grupo de Pesquisas “Novas
Tecnologias, Processo e Relações de princípio da fraternidade? Para tanto,
Trabalho” (PUCRS). Advogada valendo-se do método dedutivo, o artigo
é desenvolvido pelo procedimento
Ricardo Scott Hood de Miranda estruturalista, alinhando-se à realidade
Graduado em Direito pela Fundação social das relações constituídas através
Universidade Federal do Rio Grande da Previdência Social. Firmado pela
(FURG). Advogado OAB/RS
interpretação do método exegético, o
caminho cotejado visa perquirir a ratificação
(ou não) do princípio aqui estudado
RESUMO: A preocupação com o futuro como vertente fraternal, utilizando-se de
acompanha o homem desde os primórdios pesquisa qualitativa e predominantemente
de sua conscientização para com a bibliográfica. Por derradeiro, verifica-
necessidade de bem viver. Tal fato se se resposta positiva ao questionamento
sucede, pois, ao passo da cronologia suscitado, razão que permite concluir que
temporal vivenciada, a capacidade para o construto pactuado atua como (o próprio)
o trabalho diminuirá e/ou completar-se-á princípio fraternal.
determinada condição etária para fins PALAVRAS-CHAVE: Direito Previdenciário.
de percepção de valores oriundos de Fraternidade; Pacto Intergeracional;
aposentação. Entretanto, a forma como é Repartição; Solidariedade.
regulamentada no Brasil há muito é motivo

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 15 149


INTERGENERATIONAL PACT IN SOCIAL SECURITY RELATIONS AS A
POSITIVATION OF THE PRINCIPLE OF FRATERNITY
ABSTRACT: The concern for the future accompanies man since the beginning of his
awareness of the need to live well. This fact happens because, along with the temporal
chronology experienced, the ability to work will decrease and/or complete a certain age
condition for the purpose of perceiving values arising from retirement. However, how it is
regulated in Brazil has long been a matter of debate, whether due to the costing method or the
way it is perceived, notoriously, due to the existence of the recognized Intergenerational Pact,
commonly referred to, but little understood by the legal field. This time, due to the peculiarity
of the subject, as well as its (always) current need for revisitation, the present study aims to
answer: Is the Intergenerational Pact a positivation of the principle of fraternity? For that, using
the deductive method, the article is developed by the structuralist procedure, aligning itself
with the social reality of the relationships established through Social Security. Firmed by the
interpretation of the exegetical method, the collated path aims to inquire about the ratification
(or not) of the principle studied here as a fraternal aspect, using qualitative and predominantly
bibliographical research. Finally, there is a positive response to the question raised, which
leads to the conclusion that the agreed construct acts as (the very) fraternal principle.
KEYWORDS: Social Security Law. Fraternity; Intergenerational Pact; Breakdown; Solidarity.

1 | INTRODUÇÃO
O Princípio Fraternal encontra-se esculpido no preâmbulo da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 e serve como meio norteador das diretrizes de toda
a sua construção, especialmente, quando visualizada a realidade previdenciária envolvida.
Isto, pois, ao estabelecer uma visão de formação de sociedade a partir da ampliação do
conceito da fraternidade, flui-se como ideal coercitivo a formação de todo um sistema legal,
emanando a partir do texto constitucional para todo conteúdo normativo previdenciarista
existente a regência de todas as relações sociais por ele alcançadas.
Essa influência atua de forma orgânica e principiológica, não sendo possível medi-
la, ou mesmo observá-la, concretamente na formação de nosso sistema legal, posto que
intrínseco a toda raiz histórica previdenciária. Entretanto, embora a Constituição Cidadã
estabeleça uma gama de ações pelo Estado através de seu financiamento coletivo, destaca-
se o sistema protetivo social-previdenciário, dado que em nenhum outro corpo legal a
fraternidade manifesta-se de maneira tão direta e visível como através das prerrogativas
constitucionalmente estabelecidas por meio do capítulo destinado à Seguridade Social.
A relação direta do cidadão, inicialmente, como contribuinte para após tornar-se
beneficiário, traz à lume o singelo aspecto de irmandade em sua matriz mais humanista, pois
impossível um juízo de certeza no sentido de garantia de que aqueles que o sustentam hoje
poderão no futuro dele usufruir. Por essa razão, faz-se necessária a observação da relação
estabelecida entre contribuintes e beneficiários, estes que, efetivamente, formalizam um
pacto entre gerações. À vista disso, o Pacto Intergeracional atua como meio de orientação

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 15 150


da perspectiva social, no qual o contribuinte adere ao sistema em confiança, na esperança
de que as gerações futuras tenham o mesmo sentimento coletivo, visto que sua manutenção
apenas é possível com a continuidade da sobreposição de gerações sobre gerações.
Posto isso, através do método dedutivo, o artigo se desenvolve analisando os
princípios universais salvaguardados constitucionalmente, projetando determinar o seu
alcance nas relações previdenciárias. Assim sendo, o estudo planeja responder ao seguinte
questionamento: O Pacto Intergeracional é uma positivação do princípio da Fraternidade?
Nesta perspectiva, pretendendo responder à pergunta, adota-se o procedimento
estruturalista, alinhando-se à realidade social das relações constituídas através da
Previdência Social, de forma a examinar as disposições do sistema de repartição. Quanto
à interpretação, esta é feita através do método exegético, perquirindo a convalidação (ou
não) do princípio aqui estudado como vertente previdenciarista. A pesquisa é qualitativa e
predominantemente bibliográfica.

2 | O PACTO INTERGERACIONAL E O SISTEMA LEGISLATIVO BRASILEIRO


O sistema de custeio previdenciário estrutura-se através de uma série de
possibilidades de desenvolvimento, assim como possibilita uma gama de modelos
participativos para o seu funcionamento. Todo esse sistema atua com um principal objetivo:
amparar os indivíduos em caso de necessidades. Ou seja, proteger socialmente aquele
que se encontra impossibilitado e, portanto, carente dos proventos custeados pelo Estado
para seu sustento enquanto encontrar-se incapacitado para gerar sua subsistência, ou
mesmo sem capacidade para o labor. Assim sendo, será através do custeio previamente
recolhido que o segurado será beneficiário quando da previdência social necessitar.1
Considerando que a arrecadação da contribuição social é estabelecida consoante
a estruturação da receita, é fato que naturalmente os tributos desempenham papel
determinante neste custeio, haja vista que haverá diferenciação na arrecadação conforme
o sistema e a obrigatoriedade de contribuição à determinadas categorias. A contribuição
para esse sistema de custeio2 poderá ser desenvolvida através da forma de capitalização,
esta que destina a renda arrecadada para o próprio segurado e aos dependentes, ou
através do sistema de repartição – que é o que aqui nos interessa. 3

Permeando a realidade tupiniquim, para fins de considerações preliminares,


destaca-se que o segundo, sistema de repartiçã, é o que rege a legislação brasileira,
pois a contribuição social previamente recolhida e devidamente prevista nas formas de

1 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 23.ed. Florianópolis:
Conceito Editorial, 2020. p.56.
2 Consoante a legislação ao custeio atinente (BRASIL. Lei n° 8.213 de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organiza-
ção da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm. Acesso em: 20 dez. 2022.)
3 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 23.ed. Florianópolis:
Conceito Editorial, 2020. p. 497.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 15 151


contribuições legais será direcionada ao mesmo lugar – mas ao contribuinte/segurado
incerto –, diferenciando-se do sistema de capitalização, que é aquele em que o que foi
arrecadado reverte-se ao mesmo segurado. Deste modo, a contribuição converter-se-á em
recursos a qualquer beneficiário (desde que preenchidos os requisitos para tanto) que da
previdência necessitar e que, de igual forma, também contribuiu.4
Embora não se pretenda – nem se possa5 – esgotar o assunto, analisando
pontualmente sob o prisma de desenvolvimento eminentemente constitucional brasileiro da
Seguridade Social, as primeiras linhas destinadas à preocupação para com a inatividade
foram vistas na Constituição de 1824, mas estas, ainda, exclusivamente voltadas aos
Servidores Públicos.6 Outrossim, mesmo no tempo de sua criação, ainda sob a égide
de pensamento do setor privado, já emergia o entendimento da necessidade de esforço
coletivo não só da classe trabalhadora, mas de toda a sociedade, para propiciar a formação
de corpo suficiente para sustentar tal regime, ou, em outras palavras, que ao ser iniciado
tivesse capacidade de autossustentação.
Na linha principiológica aqui permeada, nota-se que o princípio aqui em apreço
emerge até mesmo se considerados os primórdios da organização do sistema
previdenciário brasileiro, pois, ao compelir as empresas do setor ferroviário7, categoria
essa que estabeleceu fundos de pensão para seus funcionários – e fortemente atuante
–, conclama-se no presente o caráter solidário de tal movimentação. Mais ainda: faz-se
impossível dissociar a reserva de capital extraída do trabalho como fonte geradora de
renda e as atividades empresariais como fomentadora da atividade econômica (laborada)
na formatação de um sistema protetivo, posto que inconteste a imbricação de tais princípios
na retroalimentação do sistema previdenciário.
Em breves linhas infraconstitucionais – e da mesma forma não pretendendo
esgotar o assunto juslegislativo –, hodiernamente é a Lei n° 8.213/1991 que dispõe sobre
os Planos de Benefícios da Previdência Social, estabelecendo seu caráter solidário de
regime intergeracional através de seus princípios e objetivos, em especial, pela locução
dos incisos I e VIII do art. 28. Ao passo da realização da repartição dos lucros feita pelo
governo (recolhimento e posterior repasse aos receptores) advindos das contribuições, em

4 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 23.ed. Florianópolis:
Conceito Editorial, 2020. p.78.
5 Esclarece-se que, concomitantemente ao reconhecimento constitucional brasileiro da necessidade de preocupação
com os períodos de inatividade, outros movimentos (e documentos) foram desenvolvidos ao redor do mundo, assim
como diversas outras legislações infraconstitucionais. Dessa forma, faz-se aqui um corte metodológico expositivo, em
razão dessa pesquisa busca lançar luzes para o pacto intergeracional existente e não esgotar todas as hipóteses legais.
(SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito Previdenciário Esquematizado. Coordenador Pedro Lenza – 10. ed. – São
Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 38)
6 SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito Previdenciário Esquematizado. Coordenador Pedro Lenza – 10. ed. – São
Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 38
7 AMADO, Frederico. Curso de Direito e Processo Previdenciário. 12ª ed. rev., ampl. e atual. Salvador: JusPODIVM.,
2020. p. 135.
8 BRASIL. Lei n° 8.213 de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de
Custeio, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm. Acesso em:
19 nov. 2022

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 15 152


sua maior parcela, através dos trabalhadores em atividades, tal movimentação acaba por
ratifica seu caráter democrático e universal.9 Refletindo objetivamente, então, o cidadão
(contribuinte em potencial) contribui e sua renda é repartida a outros, hoje necessitados e
que no passado foram ativos contributos.
A legislação atual encontra-se estruturada de forma a atender as demandas de
uma sociedade cada vez mais complexa, apresentando um intricado sistema de previsões
normativas – a exemplo a mais recente, a reforma ocorrida em 2019 por meio da Emenda
Constitucional n° 10310. Mesmo assim, afora as alterações (e críticas) percebidas pela novel
alteração juslegislativa, percebe-se que a raiz principiológica que instituiu da Seguridade
Social permaneceu, mantendo no tempo os seus princípios norteadores fraternais.
Isto, pois, apesar das mudanças advindas pela alteração retromencionada11, a
forma como ela é organizada manteve a sua razão de ser, assim como de se sustentar. Os
princípios de acesso universal e de repartição solidária permeiam (e continuam a permear)
toda a evolução legislativa dedicada ao tema, desde os pontos que atravessam aspectos
constitucionais (como pelas disposições legislativas infraconstitucionais, mantendo o
norte de cobertura proveniente da colaboração da sociedade como um todo, garantindo a
proteção pretendida primordialmente ao necessitado), bem como limitando a participação
à capacidade de cada um.
A dialética formada pela necessidade de arrecadação com a participação de toda a
sociedade com o objetivo de propiciar a maior cobertura possível, tal qual a estabelecida
no regime jurídico pátrio desde a sua criação, revela o caráter fraterno de sua concepção,
presente através do fundamento solidário. O princípio da solidariedade traduz-se na “diluição
de determinados riscos sociais entre uma coletividade, riscos estes escolhidos pelo Estado
com base em critérios sociais, ou seja, riscos que se fosse deixados descobertos poderiam
gerar problemas sociais graves, em prejuízo de toda a coletividade.”12
Destarte, o Pacto Intergeracional é constituído através dessa ideia de solidariedade
entre gerações, onde o valor arrecadado como forma de custear a Seguridade Social
brasileira é destinado aos que se encontram inativos. Dessa forma, os trabalhadores
em atividade contribuem para o sistema previdenciário e os recursos advindos através
desta fonte de arrecadação. Isto é, a contribuição proveniente do labor converte-se aos
que contribuíram na geração anterior, consumando, portanto, a solidariedade entre as

9 BRASIL. Lei n° 8.213 de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de
Custeio, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm. Acesso em:
19 nov. 2022
10 BRASIL. Emenda Constitucional nº 103, de 12 de Novembro de 2019. Altera o sistema de previdência social e
estabelece regras de transição e disposições transitórias. Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
emendas/emc/emc103.htm. Acesso em: 05 dez. 2022.
11 Vide alterações: (PANTALEÃO, Sergio Ferreira. Reforma da previdência – sinopse das principais alterações.
Guia trabalhista (website). 2020. Disponível em: https://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/reforma-da-previdencia-
-sinopse.htm#:~:text=A%20partir%20da%20promulga%C3%A7%C3%A3o%20da,promulga%C3%A7%C3%A3o%20
da%20referida%20emenda%20constitucional. Acesso em: 20 dez. 2022).
12 DAL BIANCO, Dânae. Princípios Constitucionais da Previdência Social. São Paulo: LTr, 2011. p.31

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 15 153


gerações.13
Conforme referenciado alhures, há previsão legal expressa no que tange a forma
de contribuição, posto que, a começar pelo artigo 20114 da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, à luz do que se destina capítulo específico à Previdência
Social, expõe-se de que forma será organizada a estrutura do sistema, bem como uma
série de outras prerrogativas atinentes às coberturas e, também, segurados que lhe são
assistidos, conferindo-lhe caráter contributivo e de filiação obrigatória. Portanto, muito
embora a contribuição social devida atue em caráter individual sobre cada elemento atuante
no sistema, ela deve ser considerada ao integrar o fundo a que se destina, permeada por
filtro amplo e oriunda de uma responsabilidade coletiva. Assente no que se traduz por Pacto
Intergeracional, doravante será analisado se o valor constitucionalmente expresso em sede
preambular da fraternidade esculpe as relações previdenciaristas aqui aprofundadas.

3 | O PRINCÍPIO DA FRATERNIDADE COMO PROPULSOR DAS RELAÇÕES


PREVIDENCIÁRIAS
O resultado de evolução social em termos históricos advindos com a Constituição
Cidadã é inicialmente percebido na leitura de seu preâmbulo. Embora não exista
obrigatoriedade da existência de preâmbulo nas constituições, consoante a ascensão
constitucional advinda do desenvolvimento histórico, econômico, e cultural, é possível
verificar que através do preâmbulo o constituinte visa introduzir os valores e convicções que
motivam a Carta Magna15, mais ainda, a regência preambular sinaliza as linhas mestras que
por aquele diploma vai-se perceber ao passo de sua leitura. Nesta senda, considerando a
realidade que aqui interessa, destaca-se que, em sede preambular brasileira, o conteúdo
que reza a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é aquele que disciplina
uma sociedade fraterna.16
Ao relacionar o conceito básico do estado fraternal proposto com o sistema protetivo
propiciado pelo regime previdenciário, estruturado em torno da necessidade de participação
do maior número de entes a fim de possibilitar a maior cobertura possível, percebe-se
de forma clara que o princípio fraternal, especialmente quando considerada a intenção
do legislador ao posicioná-lo no preâmbulo da Carta Magna, é ponto de partida para a
formatação do Estado Brasileiro e de sua Sociedade, dado que se constitui em alicerce

13 DAL BIANCO, Dânae. Princípios Constitucionais da Previdência Social. São Paulo: LTr, 2011.p. 34.
14 BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 nov. 2022.
15 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO Daniel. Curso de Direito Constitucional. 7. ed.
– São Paulo: Saraiva Educação, 2018. p.86.
16 PREÂMBULO Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir
um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança,
o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e
sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífi-
ca das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATI-
VA DO BRASIL. (BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 14 nov. 2022.)

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 15 154


fundamental do sistema que permeia toda sua extensão. Essa relação torna-se ainda mais
evidente quando analisamos o Pacto Intergeracional que, tal qual como mencionado no
tópico que este antecedeu, resume-se em linhas gerais pelo estabelecimento de liame entre
a classe trabalhadora ativa e a massa de inativos, onde a primeira, por ser potencialmente
ativa para a lida, alimenta o fundo que sustenta a maior parte da segunda, notoriamente
quando considerado que o trabalhador de hoje necessariamente será o inativo de amanhã.
Tal compreensão faz-se ainda mais flagrante quando se recorda que as arrecadações
previdenciárias derivam preponderantemente das folhas salariais.17
Mesmo que essa relação ocorra em uma escala imensurável, sem uma relação
direta entre os seus componentes, ela inevitavelmente representa o sentido da fraternidade
esperado pelo constituinte, justamente transplantando o amor fraternal entre irmãos para
a sociedade como um todo. Nessa mesma linha, ampara-nos Martinez ao estabelecer que
a “projeção do amor individual exercitado entre parentes e estendido ao grupo social, o
instinto animal de preservação da espécie, sofisticado e desenvolvido no seio da família,
encontrou na organização social amplas possibilidades de manifestação”.18
Ainda que a palavra fraternidade não apareça de forma taxativa na codificação
do sistema previdenciário brasileiro, nos parece a mais adequada quando considerada a
formatação do regime, pois aquilo que é fraternal carrega sentido maior de mutualidade
e bilateralidade nas ações. Porquanto, o princípio da solidariedade, embora acabe por
também traduzir o cuidado para com próximo e seja fundamento constitucional previsto na
Carta do Brasil19, nem sempre diz respeito à chamada “via de mão dupla” – e todo aquele
liame que abrange a reciprocidade oriunda da fraternidade. Ainda assim, é o princípio da
solidariedade que se encontra na maioria dos tratados de direito previdenciário.
Talvez seja por isso que, ao buscar pela definição de fraternidade e solidariedade
no dicionário, ambas possuam traços que se aproximam da ideia de pertencimento e
união20, tangenciando, inclusive, relações próximas à identidade que se pode encontrar
em irmãos.21 Nesses termos, não há que se diferenciar obrigatoriamente tais fundamentos,
pois revelam-se condutores do mesmo sentimento, no caso que aqui nos interessa o da
colaboração para a efetivação de segurança que atuará em proveito de toda sociedade,
direta ou indiretamente.
Nesse gizar, o Pacto Intergeracional que é inconteste fator determinante nas
relações entre as gerações de contribuintes como forma de financiamento da Seguridade
Social, não se confunde com eventual sacrifício financeiro, eis que é balizado no sentido de

17 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2018. p. 89-90.
18 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdenciário. São Paulo: Ltr, 2010. 3ª ed.p.121.
19 “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa
e solidária;” (BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 14 nov. 2022.)
20 SOLIDARIEDADE. In: DICIONÁRIO Priberam da Língua Portuguesa. [S. l.], [20--]. Disponível em: https://dicionario.
priberam.org/solidariedade. Acesso em 20 dez. 2022.
21 FRATERNIDADE. In: DICIONÁRIO Priberam da Língua Portuguesa. [S. l.], [20--]. Disponível em: https://dicionario.
priberam.org/fraternidade. Acesso em 20 dez. 2022.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 15 155


responsabilidade social com a manutenção do sistema – e, por que não, preparo para com
o futuro –, em virtude da vida laborativa não ser eterna, mas a necessidade de subsistência
sim. Tanto não se confunde com penitência financeira que, não preenchendo os requisitos
de potencial contribuinte (igualmente) arrolado no artigo constitucional que determina quem
os são, excluído estará o cidadão da dita obrigação.22
Tem-se, dessa forma, que a obrigação de contribuir tem origem apenas na
capacidade de cooperar com a sustentação do sistema, afastando de vez qualquer viés
calcado na capitalização, modalidade protetiva na qual, conforme informado acima, os
recursos captados teriam vinculação direta com o contribuinte. Esse entendimento há muito
permeia as decisões do Supremo Tribunal Federal, mais recentemente no julgamento do
Tema 106523, no qual restou fixada tese pela constitucionalidade das contribuições sociais
devidas pelos trabalhadores que permanecem em atividade após a aposentação. É por
isso que Resta, Jaborandy e Martini, afirmam que é possível contrastar o princípio da
fraternidade com o próprio alicerce da Carta Magna brasileira:24
Decerto, há, no princípio da fraternidade, a ideia originária da dignidade
uma vez que a fraternidade está integrada ao reconhecimento da condição
humana, de maneira que, ao praticar o ato fraterno, também se pratica um ato
digno. Diante do conteúdo jurídico da fraternidade, os intérpretes do direito
devem atualizar o sentido de comunidade política e democrática integrado ao
aspecto específico da dignidade humana no viés constitucional.

Alinhando-nos ao princípio da fraternidade esculpido no preâmbulo da Constituição


Cidadã que, como referenciado, serve de meio norteador das diretrizes constitucionais
sucessivamente impostas, é possível verificar seus reflexos através do sistema de custeio da
Seguridade Social. Por conseguinte, a solidariedade entre as gerações reconhecidamente
denominada de Pacto Intergeracional é inconteste fruto dessa diretiva. Dos vieses aqui
enfrentados, percebe-se que o custear do sistema como forma de obter recursos e amparar
os que não mais são capazes, corporifica-se incontestavelmente, em forma plena de
fraternidade.

4 | CONCLUSÃO
Ao passo da investigação que este artigo se submeteu, é possível compreender pela
leitura das disposições albergadas na Constituição Cidadã que seu ânimo, assim como
seu prosônimo, aduzem valores que balizam a estrutura normativa de maneira a proteger
e amparar todos que por ela são regidos, de forma ampla e universal. Tal constatação
encontra amparo através do próprio sistema de custeio existente, o qual se preocupa para
22 FORTES, Simone Barbisan; PAULSEN, Leandro. Direito da Seguridade Social: prestações e Custeio da Previdên-
cia, Assistência e Saúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado Ed., 2005. p.339.
23 SUPERIOR Tribunal Federal. Tema 1065. 2019. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/jurisprudenciaRepercussao/
tema.asp?num=1065. Acesso em: 1 jan. 2023.
24 RESTA, Eligio; JABORANDY, Clara Cardoso Machado; MARTINI, Sandra Regina. Direito e Fraternidade: A DIGNI-
DADE HUMANA COMO FUNDAMENTO. [ISSN 1982-9957]. Santa Cruz do Sul, v. 3, n. 53, p. 92-103, set./dez. 2017.
Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/direito/index. Acesso em: 30 jan. 2023. p. 99.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 15 156


com as gerações passadas – e momentaneamente impossibilitadas de trabalhar e/ou
cultivar a sua subsistência –, garantindo existência digna aos que fomentaram (no passado)
o sistema quando potenciais contribuintes através de contribuições da geração presente.
O funcionamento contínuo do regime previdenciário mantendo-se capaz de suportar
a demanda social pelas mais diversas medidas e formas protetivas, quando analisado
à luz da relação entre a capacidade contributiva e o direito de tornar-se beneficiário da
previdência, deixa transparecer de maneira clara e objetiva a intenção do legislador
constituinte, qual seja: posicionar-se ao lado das balizas estruturantes e harmônicas ao
princípio fraternal edificante da Seguridade Social, este que também encontra esteio no
preâmbulo da Constituição Cidadã. Ainda, mesmo que o legislador constituinte tenha
escolhido tratar o tema sob a égide da solidariedade, tal dialética não se apresenta como
imposição negativa ao princípio fraternal, mas de mera variação semântica, visto que se
trata de princípios condutores do mesmo sentimento, como visto, no qual a solidariedade
consubstancia-se como um sentido mais objetivo da fraternidade.
Ao fim e ao cabo, encontra-se resposta positiva ao questionamento aqui aventado,
ou seja: não há como negar que o aspecto fraternal estabelecido no pacto formalizado
entre as gerações de trabalhadores e aposentados que se sucedem continuamente é uma
positivação do Pacto Intergeracional. Muito embora as contribuições sociais recolhidas
pelos trabalhadores não sejam a única fonte de custeio da previdência social, prevalece o
conceito geral de participação solidária e de confiança nas gerações vindouras.

REFERÊNCIAS
AMADO, Frederico. Curso de Direito e Processo Previdenciário. Salvador: JusPODIVM. 12ª ed.,
2020.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 10 nov. 2022.

BRASIL. Emenda Constitucional nº 103, de 12 de Novembro de 2019. Altera o sistema de


previdência social e estabelece regras de transição e disposições transitórias. Disponível: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc103.htm. Acesso em: 05 dez. 2022.

BRASIL. Lei n° 8.213 de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social,
institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l8212cons.htm. Acesso em: 20 dez. 2022.

CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 23.ed.
Florianópolis: Conceito Editorial, 2020.

DAL BIANCO, Dânae. Princípios Constitucionais da Previdência Social. São Paulo: LTr, 2011.

DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2018.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 15 157


FORTES, Simone Barbisan; PAULSEN, Leandro. Direito da Seguridade Social: prestações e Custeio
da Previdência, Assistência e Saúde. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005.

FRATERNIDADE. In: DICIONÁRIO Priberam da Língua Portuguesa. [S. l.], [20--]. Disponível em:
https://dicionario.priberam.org/fraternidade. Acesso em 20 dez. 2022.

MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdenciário. São Paulo: Ltr, 2010.

PANTALEÃO, Sergio Ferreira. Reforma da previdência – sinopse das principais alterações. Guia
trabalhista (website). 2020. Disponível em: https://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/reforma-
da-previdencia-sinopse.htm#:~:text=A%20partir%20da%20promulga%C3%A7%C3%A3o%20
da,promulga%C3%A7%C3%A3o%20da%20referida%20emenda%20constitucional. Acesso em: 20
dez. 2022.

RESTA, Eligio; JABORANDY, Clara Cardoso Machado; MARTINI, Sandra Regina. Direito e
Fraternidade: a dignidade humana como fundamento. [ISSN 1982-9957]. Santa Cruz do Sul, v. 3, n.
53, p. 92-103, set./dez. 2017. Acesso em: https://online.unisc.br/seer/index.php/direito/index. Disponível
em: 30 jan. 2023.

SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito Previdenciário Esquematizado. Coordenador Pedro Lenza.
São Paulo: Saraiva Educação, 10ª ed., 2020.

SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO Daniel. Curso de Direito
Constitucional. 7. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

SOLIDARIEDADE. In: DICIONÁRIO Priberam da Língua Portuguesa. [S. l.], [20--]. Disponível em:
https://dicionario.priberam.org/solidariedade. Acesso em 20 dez. 2022.

SUPERIOR Tribunal Federal. Tema 1065. 2019. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/


jurisprudenciaRepercussao/tema.asp?num=1065. Acesso em: 1 jan. 2023.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 15 158


CAPÍTULO 16

EMBI+BR COMO FERRAMENTA DE APOIO A


DECISÃO DE INVESTIMENTO: MODELAGEM E
PREVISÃO

Data de aceite: 01/03/2023

Daiane Rodrigues dos Santos do Tesouro dos EUA e pode ser usado
Universidade Estadual do Rio de Janeiro para auxiliar decisões de investimentos em
Rio de Janeiro economias emergentes. Buscando gerar
previsões para o EMBI+Br o método Box
Tuany Esthefany Barcellos de Carvalho
Silva & Jenkins foi implementado, e após o teste
Pontifícia Universidade Católica do Rio de de sobre fixação observou-se que o modelo
Janeiro que melhor se ajustou aos dados foi o
Rio de Janeiro SARIMA (2,0,1)(0,1,1)₁₂. O modelo proposto
apresentou aderência aos dados e gerou
Tiago Costa Ribeiro previsões com erros significativamente
Faculdade IBMEC baixos.
Rio de Janeiro
PALAVRAS CHAVE. EMBI + Br, Previsão,
Box & Jenkins.

RESUMO: O advento da internet e a ABSTRACT: The advent of the internet


globalização, em conjunto, possibilitaram and globalization enabled the integration
a integração dos mercados financeiros, of financial markets, increasingly supported
crescentemente sustentados por títulos de by government direct debt securities. The
dívida direta governamentais. O investidor potential investor needs to have variables
em potencial carece de variáveis que that help him decide on resource allocation
o auxiliem na decisão de alocação dos since the possibilities are numerous, and
recursos, visto que as possibilidades each economy has peculiar characteristics.
são inúmeras e cada economia possui The economic decision-making agent needs
características peculiares. O agente to analyze the risk-return binomial to make
econômico decisor precisa analisar o a more assertive decision. The EMBI+ Br,
binômino risco – retorno para que possa calculated by Banco J.P. Morgan, estimates
tomar uma decisão mais assertiva. O EMBI+ the daily performance of Brazilian debt in
Br, calculado pelo Banco J.P. Morgan, relation to US Treasuries and can be used
estima o desempenho diário dos títulos to assist investment decisions in emerging
Brasileiro da dívida em relação aos títulos economies. Seeking to generate predictions

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 16 159


for the EMBI+Br, the Box & Jenkins method was implemented. After the superfixation test, it
was observed that the model that best fitted the ata was SARIMA (2,0,1)(0,1,1)₁₂. The proposed
model showed adherence to the data and generated predictions with significantly low errors.
KEYWORDS: EMBI + Br, Forecast, Box & Jenkins.

1 | INTRODUÇÃO
O advento da internet e a globalização em conjunto possibilitaram a integração
dos mercados financeiros, crescentemente sustentados por títulos de dívida direta. De
acordo com Biage et al. (2008), a integração dos mercados conjugados com a abertura e
a desregulamentação financeira, permite que os investidores (domésticos ou estrangeiros)
diversifiquem suas aplicações e dirijam recursos a diferentes países.
O investidor em potencial carece de variáveis que o auxiliem na decisão de
alocação dos recursos visto que as possibilidades são inúmeras e cada economia possui
características peculiares. O investidor precisa analisar o binômino risco – retorno de cada
economia para que possa tomar uma decisão mais assertiva. De acordo com De Carvalho
et al. (2019), o risco é um dos fatores principais a ser considerado pelos investidores, ao
lado da rentabilidade do investimento e do prazo de retorno.
A evolução do EMBI+ (Emerging Markets Bond Index Plus) exerce um papel
fundamental de apoio no caso de decisão acerca de alocação de recursos em economias
emergentes como a do Brasil. O risco-Brasil pode ser calculado obtendo a diferença entre
a média ponderada dos prêmios pagos por esses títulos e o prêmio de papeis de prazo
equivalente do Tesouro dos Estados Unidos, que são considerados livre de risco. Esse
método foi apontado como o primeiro da abordagem pelo histórico para calcular o prêmio
pelo risco-país.
O risco-Brasil é um conceito que busca expressar de forma objetiva o risco de crédito
a que investidores estrangeiros estão submetidos quando investem no país. No mercado,
os indicadores diários mais utilizados para essa finalidade são o EMBI+Br (Emerging
Markets Bond Index Plus) e o Credit Default Swap (CDS) do Brasil. O presente artigo tem
como objetivo versar e modelar o EMBI+Br. O índice é calculado pelo Banco J.P. Morgan, é
um índice ponderado composto por instrumentos de dívida externa, ativamente negociados
e denominados em dólar, de governos de países emergentes (BACEN, 016).
O EMBI+ Br estima o desempenho diário dos títulos Brasileiro da dívida em relação
aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. O índice é baseado nos bônus (títulos de
dívida) emitidos pelo governo brasileiro e mostra os retornos financeiros obtidos a cada dia
por uma carteira selecionada de títulos. Este índice engloba no cálculo, além de emissões
internacionais de títulos, títulos tipo Brady1, empréstimos e Eurobonds e utiliza como base
de “risco-zero”, títulos do tesouro americanos. Os dados são divulgados em uma frequência
diária em formato de pontos base. (JP Morgan 1998)

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 16 160


O EMBI+ auxilia os investidores na compreensão do risco de investir no país,
quanto mais alto for seu valor, maior a percepção de risco. Ele foi criado para classificar
somente países que apresentassem alto nível de risco segundo as agências de “rating” e
que tivessem emitido títulos de valor mínimo de US$ 500 milhões, com prazo de ao menos
2,5 anos.
O presente artigo está subdividido em 3 seções. A presente que introduz o tema, a
seção 2 que aborda a métrica utilizada para modelagem e previsão do EMBI+Br, a terceira
seção com os resultados e a última seção com as conclusões.

2 | METODOLOGIA
A metodologia Box & Jenkins (1970) trata-se de uma abordagem muito utilizada
na construção de modelos paramétricos para séries temporais univariadas. Este método
consiste em ajustar modelos lineares estacionários ou não, a uma série de tempo observada
baseando-se em um ciclo iterativo, onde a estrutura do modelo depende dos próprios dados
(Souza 2004).
Os modelos de Box & Jenkins, também conhecidos genericamente como modelos
da classe ARIMA (Auto Regressive Integrated Moving Averages), esses modelos consistem
em captar e observar o comportamento da correlação e autocorrelação seriada, baseando-
se nesse comportamento observado para assim realizar as previsões. Analisa-se as
correlações e autocorrelações a fim de obter uma boa modelagem, o que resultara em
uma previsão. Após observar os dados, se os mesmos não forem estacionários, pode-se
torná-lo estacionário por meio de sucessivas diferenciações na série original (Souza 2004).
A modelagem proposta por Box & Jenkins (1970) é da forma,

Sendo o filtro linear Ψ é definido por,

No qual, θ(B)=1-θ1B-θ2B2-...-θqBq e φ(B)=1-φ1B-φ2B2-...-φpBq são polinômios de


graus p e q, respectivamente. Sendo, Z̃ =Z -μ, obtém-se Ỹ =ψ(B)u . Logo os modelos Box &
t t t t

Jenkins são dados pela equação,

Sendo, ut é definido como ruído branco. Segundo Box & Jenkins (1970) este modelo
é denominado ARMA (p,q), podendo ser reescrito como,

Assumindo sem perda de generalidade que μ=0.


Visto que o modelo que mais apresentou aderência aos dados foi o SARIMA (p, d,

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 16 161


q) (P, D, Q)s o mesmo será apresentado nesta seção.
No geral em prática as séries observadas raramente são de processos estacionários,
muitas vezes as mesmas além de não estacionárias apresentam componentes sazonais
(Werner 2003). Isto posto, Box & Jenkins (1970) formularam modelos para séries sazonais
originando a classe ARIMA sazonal multiplicativo, denominado por SARIMA, onde consiste
no número de fatores sazonais. O modelo é representado por,

Sendo,

No qual, φ(B) é o operador autorregressivo AR(p), θ(B) corresponde ao operador de


médias moveis MA(q), Φ(B) é o operador AR da parte sazonal de ordem P, Θ(B) o operador
MA da parte sazonal de ordem Q, já o Δd consiste no operador de diferenças, ΔDS é o
operador de diferenças da parte sazonal e ut representa o ruído branco.
Para a escolha do modelo o primeiro passo é a análise das Funções de Autocorrelação
e Autocorrelação Parcial. A função de autocorrelação conhecida como (FAC) consiste em
medir o grau de correlação de uma série temporal com os seus próprios valores, em um
dado instante consigo mesma em um instante de tempo posterior. Sendo a série temporal
Zt com observações Z1,..., ZT sua função de autocorrelação é estimada por,

Onde, y0 representa a variância da série estacionária e yk a sua auto - covariância


dada por yk =E(Zt-μ)(Zt-k-μ) (SOUZA 2015).
A função de autocorrelação parcial consiste em medir a correlação entre duas
observações seriais, Zt e Zt+k, eliminando a dependência dos termos intermediários, Zt+1,
Zt+2,..., Zt+k-1 temos então a FACP dada por,

Na análise de séries temporais para modelagem ARMA utiliza-se a FAC e FACP


para identificação da ordem da parte autorregressiva e da ordem q de médias móveis
do modelo, esta análise é uma ferramenta indispensável para o cálculo das previsões.
Para a identificação do modelo são consideradas algumas propriedades da FAC e FACP
(Tabela 1).

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 16 162


Processos FAC FACP
Ruido Branco 0 0
AR(p) Decaimento para 0 k>p
MA(1) k>1 Decaimento oscilatório
ARMA(p,1) Decaimento a partir de q Decaimento a partir de p
Tabela 1 – Propriedades da FAC e FACP
Fonte: Elaboração própria com base no livro (SOUZA, 2015)

2.1 Testes Estatísticos


Os testes estatísticos são ferramentas indispensáveis para auxiliar em análises e
validar os resultados. Neste trabalho será utilizado testes para verificar características da
série como tendência, sazonalidade, normalidade, estacionariedade e por fim verificar se
os resíduos são independentes e identicamente distribuídos (Moretin 2006). Em todos os
testes será considerado ɑ=0,05.

• Teste Ljung-Box
Para começar a explorar as características da série, o primeiro teste aplicado foi
de Ljung-Box, esse teste objetiva identificar se as observações são independentes e
identicamente distribuídas, as hipóteses testadas são:

{HH :: As
0:
As observações são iid
1:
observações ñ são iid

• Teste de Kolmogorov-Smirnov
O Teste de Kolmogorov-Smirnov consiste em observar a máxima diferença absoluta
entre a função de distribuição acumulada assumida para os dados, no caso a distribuição
Normal, e a função de distribuição empírica dos dados. Como critério, compara-se esta
diferença com um valor crítico, para um dado nível de significância. As hipóteses desse
teste são:

{HH :: Os
0:
Os dados seguem uma distribuição Normal
1:
dados ñ seguem uma distribuição Normal

• Teste de Dickey-Fuller Aumentado


O teste de Dickey-Fuller Aumentado é conhecido na literatura como teste
ADF (Augmented Dickey-Fuller), neste trabalho o mesmo foi utilizado para verificar a
estacionariedade da série observada, as hipóteses testadas foram,

{HH :: Existe
0:
pelo menos uma raiz dentro do círculo unitário
1:
Não existe raízes dentro do círculo unitário

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 16 163


2.2 Métricas de avaliação
A fim de mensurar o desempenho do modelo implementado, se faz necessário a
utilização de métricas de avaliação. Para o presente trabalho foram utilizados as métricas
MAPE, MAD, AIC E BIC.

• MAPE
A métrica de erro MAPE (Média Percentual Absoluta do Erro) possibilita o cálculo da
diferença entre os valores estimados e os observados, o mesmo expressa a acurácia do
erro em percentagem, ou seja, quanto menor o MAPE melhor é o ajuste, sua equação é:

No qual, Zt: são os dados observados, Zp: são os ajustes e n: quantidade de


observações.

• Critério de Informação de Akaike (AIC)


O critério AIC estima a quantidade de informações perdidas por um determinado
modelo, ou seja, quanto menor a perde de informações de um determinado modelo, maior
será sua qualidade, o que resultará em um valor de AIC menor [Emiliano 2010]. O Critério
de Informação de Akaike aumenta conforme a soma dos quadrados dos erros (SQE)
aumenta, sendo assim, valores menores de AIC são preferíveis. A métrica é definida por,

O parâmetro LP é a função de máxima verossimilhança do modelo com p


representando o número de parâmetros do modelo ajustado.

• Critério de Informação Bayesiano (BIC)


A métrica BIC assim como o AIC tem seu valor aumentado conforme SQE aumenta,
o mesmo penaliza modelos com muitas variáveis [Emiliano 2010]. Como modelos com
muitas variáveis tendem a produzir menor (SQE) mas usam mais parâmetros, a melhor
escolha é balancear o ajuste com a quantidade de variáveis, sua é equação se dá por,

Sendo LP a função de máxima verossimilhança do modelo, p representa o número


de parâmetros a serem estimados e n é o número de observações da amostra.

3 | ANÁLISE E RESULTADOS
Este estudo aborda a análise da evolução temporal do EMBI+ Br, índice que estima
o desempenho diário dos títulos Brasileiro da dívida em relação aos títulos do Tesouro dos
Estados Unidos, no período de julho de 2019 a abril de 2022. Para a modelagem da série

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 16 164


utilizou-se o método de Box & Jenkins. Na Figura 1 pode-se observar o comportamento da
série, nota-se que, no intervalo selecionado, a mesma atinge seu ponto máximo no ano
de 2020, já seu ponto mínimo foi em janeiro de 2019, a Tabela 2 apresenta as estatísticas
descritivas da série para melhor visualização dos valores de mínimo, máximo e média dos
dados analisados.

Figura 1 – Série EMBI – Brasil (período de julho de 2019 a abril de 2022)


Fonte: Elabaração própria com base nos dados analisados

Estatística descritiva EMBI


Mínimo 211
Média 298
Máximo 422
Tabela 2 – Estatística descritiva – EMBI-Brasil
Fonte: Elaboração própria com base nos dados analisados.

Para verificar a estacionariedade, pode-se observar na figura 2 o gráfico do


comportamento da série de dados e suas FAC e FACP respectivamente. Nota-se que a
série não possuí característica estacionária, pois a mesma não é constante em torno da
média e sua variância também não é constante.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 16 165


Figura 2 – Comportamento da série FAC e FACP
Fonte: Elaboração própria com base nos dados analisados.

A fim de complementar a análise gráfica que evidencia que a série é não estacionária,
aplicou-se o teste de Dickey-Fuller aumentado o teste consisti na regressão da primeira
diferença da série contra sua defasagem. O p-valor obtido no teste foi de 0,863, logo ao nível
de significância de 5% não se rejeita a hipótese nula, ou seja, a série é não estacionária.
Para que a série se torne estacionária foi feita uma diferenciação. Na figura 3 é possível
observar que após a diferenciação a série apresenta características de estacionariedade,
como média e variância constante. O teste de Dickey-Fuller aumentado foi aplicado
novamente e o p-valor obtido foi muito menor que 0,05, logo ao nível de significância de 5%
rejeita-se a hipótese nula, ou seja, a série se tornou estacionária após uma diferenciação.

Figura 3 – Série estacionária FAC e FACP


Fonte: Elaboração própria com base nos dados analisados.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 16 166


Para elaboração do modelo Box & Jenkins a série foi dividida em duas partes, o
período de julho de 2019 a março de 2021 foi reservado para treino, e abril de 2021 a
abril de 2022 foi reservado para o teste do modelo. Após o teste de sobrefixação (SOUZA
2004), o modelo escolhido para gerar as previsões foi o SARIMA (2,0,1)(0,1,1)₁₂. Na Tabela
3 pode-se observar o resultado de alguns métodos de acurácia, esse modelo foi o que
apresentou o melhor resultado dentre os testados e seus coeficientes foram significativos.

Critério Resultado
AIC 225,69
BIC 230,1
MAPE 2,09%
Tabela 3 – Critério de avaliação do modelo SARIMA (2,0,1)(0,1,1)₁₂
Fonte: Elaboração própria com base nos dados analisados

A Figura 4 apresenta os dados no período de julho 2019 a março de 2021, onde


a cor marrom representa os dados reais observados e a cor azul corresponde aos
valores ajustados, nota-se que os valores se ajustam bem aos dados. Utilizando as
métricas de acurácia obteve-se um MAPE de 2,09% para o período de ajuste, o mesmo
é significativamente pequeno, ou seja, existem indícios de que este seja um bom ajuste.

Figura 4 – Ajuste dos dados


Fonte: Elaboração própria com base nos dados analisados

A Figura 5 possibilita a visualização das previsões 12 passos à frente, onde a linha


azul no gráfico corresponde a estimativa pontual, o azul mais escuro corresponde ao
intervalo de confiança de 80%, já o azul mais claro representa o intervalo de confiança de
95%.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 16 167


Figura 5 – Gráfico das previsões 12 passos à frente (Método Box & Jenkins)
Fonte: Elaboração própria com base nos dados analisados

Na Figura 6 é possível visualizar o comportamento da série de dados observados no


período de abril de 2021 a abril de 2022 (representada em marrom) e as previsões desses
12 meses (representada em azul). Utilizando a métrica de acurácia MAPE, obteve-se um
resultado de 6,4%, ou seja, para este período de 12 meses a previsão obtida pelo modelo
SARIMA (2,0,1)(0,1,1)₁₂ errou em média 6,4%.

Figura 6 – Série das previsões 12 passos à frente (Método Box & Jenkins)
Fonte: Elaboração própria com base nos dados analisados.

Objetivando verificar se os resíduos do modelo ajustado pelo método Box & Jenkins
possui característica de um ruído branco, foi feito o teste de Ljung-Box para testar se a
série é i.i.d, o p-valor obtido foi de 0,2856, logo ao nível de significância de 5% não se
rejeita a hipótese nula, ou seja, os resíduos do modelo são independentes e identicamente
distribuídos. Em seguida aplicou-se o teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov, para
verificar se os resíduos correspondem a uma distribuição normal, o p-valor obtido no teste
foi de 0,1637, logo ao nível de significância de 5% não rejeita-se a hipótese nula, ou seja,
os resíduos são normalmente distribuídos.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 16 168


CONCLUSÃO
O risco-Brasil é um conceito que busca expressar de forma objetiva o risco de crédito
a que investidores estrangeiros estão submetidos quando investem no país, o investidor
em potencial precisa analisar o binômino risco – retorno de cada economia para que uma
decisão mais assertiva seja tomada. A evolução do EMBI+ (Emerging Markets Bond Index
Plus) exerce um papel fundamental de apoio no caso de decisão acerca de alocação de
recursos em economias emergentes como a do Brasil. A modelagem e a previsão dessa
variável toram-se de grande valia na tomada de decisão.
Buscando gerar previsões para série temporal EMBI+Brasil o método Box & Jenkins
foi implementado, e após aplicar o teste sobrefixação o modelo que melhor se ajustou aos
dados foi o SARIMA (2,0,1)(0,1,1)₁₂. Para verificar se o modelo utilizado foi o mais assertivo,
ou seja, apresentou os baixos erros de previsão, utilizou-se a métrica de acurácia MAPE.
Para o período de treino o modelo SARIMA obteve um MAPE de 2,09%, já no período de
teste que consiste de abril de 2021 a abril de 2022 o MAPE foi de 6,4%, evidenciando assim
que o modelo se ajustou bem ao dados gerando um previsão com erros significativamente
baixos.
Para analisar se os resíduos do modelo apresentam características de ruído branco,
aplicou-se o teste estatístico de Ljung-Box a fim de avaliar a presença de autocorrelação
serial e identificar se os mesmos são independentes e identicamente distribuídos, com o
resultado obtido concluiu-se que a os resíduos são iid. O teste de Kolmogorov-Smirnov foi
utilizado para testar a normalidade dos resíduos, o mesmo não rejeitou a hipótese nula,
logo os resíduos podem ser considerados normais. Com isso pode-se concluir que todas
as propriedades que caracterizam um ruído branco foram satisfeitas, logo os resíduos do
modelo estudado é uma série de ruído branco.

REFERÊNCIAS
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A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 16 169


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Souza, R. e Camargo, M. Análise e Previsão de Séries Temporais: os modelos ARIMA. 2ª Edição. Rio
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Souza, R. e Oliveira, Cyrino, F. Análise de Séries Temporais: Os Modelos de Amortecimento


Exponencial, 2015.

Silva, E. Consumo eficiente de energia elétrica em indústrias do ramo de bebidas no Brasil. Centro
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SILVA, L. T. N. Risco-país aplicado no custo do capital próprio. Trabalho de Graduação apresentado ao


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Machado, A. Gerenciamento de Energia em Planta Industrial Visando a Redução dos Custos de


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Mondal, P., Shit, L., e Goswami, S. Study of effectiveness of time series modeling (ARIMA) in
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Morettin, P. e Toloi, C. Análise de Séries Temporais. 2ª Edição. São Paulo: Blucher, 2006.

Werner, L., & Ribeiro, J. Previsão de demanda: uma aplicação dos modelos Box-Jenkins na área de
assistência técnica de computadores pessoais. Gestão & Produção, 2003.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Capítulo 16 170


CLÉCIO DANILO DIAS DA SILVA - Doutorando em Sistemática e Evolução
pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Mestre em Ensino
de Ciências Naturais e Matemática pela UFRN. Especialista em Ensino de
Ciências Naturais e Matemática pelo Instituto Federal do Rio Grande do Norte
(IFRN). Especialista em Educação Ambiental e Geografia do Semiárido pelo IFRN.
Especialista em Gestão Ambiental pelo IFRN. Licenciado em Ciências Biológicas
pelo Centro Universitário Facex (UNIFACEX). Licenciado em Pedagogia pelo
Centro Universitário Internacional (UNINTER). Docente dos componentes
curriculares Ciências e Biologia pela Secretaria de Estado da Educação, da
Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC-RN). Atualmente está vinculado Laboratório
de Collembola (LABCOLL) do Departamento de Botânica e Zoologia do Centro
de Biociências (DBEZ-CB) da UFRN. Tem vasta experiência em Zoologia de
SOBRE OS ORGANIZADORES

Invertebrados, Ecologia aplicada; Educação em Ciências e Educação Ambiental.


Áreas de interesse: Fauna Edáfica; Taxonomia e Ecologia de Collembola; Ensino
de Biodiversidade e Educação para Sustentabilidade.

BRAYAN PAIVA CAVALCANTE - Doutorando em Ciências pela Universidade de


São Paulo (USP). Mestre em Sistemática e Evolução pela Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN). Licenciado em Ciências Biológicas pelo Centro
Universitário Facex (UNIFACEX). Desenvolve pesquisas junto ao laboratório de
Biotecnologia Vegetal (LBV/USP), Laboratório de Botânica Sistemática (LABOTS/
UFRN) e Laboratório de Cultura de Tecidos (LCT/EMBRAPA), principalmente em
áreas relacionadas a biologia e ecologia reprodutiva, manutenção e evolução
de barreiras reprodutivas, anatomia, morfologia vegetal, cultura de tecidos e
taxonomia de Bromeliaceae (família do abacaxi).

DANIELE BEZERRA DOS SANTOS - Doutora em Psicobiologia pela Universidade


Estadual do Rio Grande do Norte (UFRN). Mestre em Bioecologia Aquática pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Graduada em Ciências
Biológicas pelo Centro Universitário Facex (UNIFACEX). No âmbito profissional
e de gestão acadêmica e administrativa, coordenou a Pesquisa e Extensão do
UNIFACEX. Coordenou os cursos de Pós-Graduação Especialização em Meio
Ambiente e Gestão de Recursos Naturais (UNIFACEX) e da Especialização
em Microbiologia e Parasitologia (UNIFACEX). Também coordenou o curso de
graduação Licenciatura em Ciências Biológicas do UNIFACEX. Na esfera pública
federal, coordenou o curso de Especialização em Ensino de Ciências Naturais
e Matemática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Norte (IFRN). Atualmente, é professora do Curso de Pós-Graduação
Especialização em Ensino de Ciências Naturais e Matemática do IFRN e atual como
Coordenadora da Pesquisa e Inovação do Campus Pau dos Ferros (COPEIN-PF/
IFRN). Áreas de interesse: Ensino; Meio Ambiente; Comportamento Animal.

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Sobre os organizadores 171


A
Abelhas 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40
Acolhimento 92, 93, 94, 95, 98, 99, 101, 103, 104
Agricultura 2
Agrotóxico 30, 37
Arduino 1, 2, 3, 5, 6, 8
Aula prática 136
Avaliação postural 106, 109, 112

B
Ballet 105, 106, 107, 108, 109, 110, 112, 113, 114, 115, 116
Biodiversidade 11, 12, 13, 18, 20, 21, 142, 143, 145, 146, 171
Bioinformática 119
ÍNDICE REMISSIVO

Botânica 24, 141, 142, 143, 144, 145, 146, 147, 171

C
Caatinga 11, 12, 13, 14, 15, 17, 18, 20, 24, 25, 26, 27, 28
Conservação 10, 11, 12, 13, 18, 21, 23, 24, 25, 120, 142, 143, 145
Controlador lógico programável 1, 8

D
Desenvolvimento social 80, 85
Desenvolvimento sustentável 12, 21, 23
Direito previdenciário 149, 151, 152, 155, 157, 158
Dor 99, 105, 106, 108, 109, 110, 115, 116, 117

E
Educação 1, 28, 67, 70, 72, 73, 74, 75, 76, 78, 79, 80, 82, 83, 84, 85, 86, 88, 89,
90, 91, 92, 93, 98, 102, 103, 104, 141, 142, 143, 144, 145, 146, 147, 148, 152,
154, 158, 169, 171
Educação ambiental 28, 141, 142, 143, 145, 146, 147, 148, 171
Educação nutricional 70, 72, 73, 74, 78, 79, 82
Emergências 93, 95
Endocardite 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60
Endoparasitas 41, 42, 43, 44, 49
Endotélio 54

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Índice Remissivo 172


Envelhecimento 55, 62, 63, 65, 66, 67
Epidemia 62, 63, 71
Epidemiologia 42, 43, 49, 60, 115, 116
Espaços não formais de educação 141, 142, 144, 145
Espectrometria 136, 138, 140

F
Farmacorresistência 54
Felinos 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 51
Fisioterapia 105, 106
Fluido de corte 125, 126, 128, 129, 134
Forças de usinagem 126, 127, 130, 131, 132, 133, 134
Fraternidade 149, 150, 151, 154, 155, 156, 157, 158
G
ÍNDICE REMISSIVO

Gastrointestinais 41, 42, 43, 44, 47, 50


Genes 121
Globalização 159, 160

H
Helmintos 41, 42, 43
Herbicida 30, 31, 32, 36
Hipertensão gestacional 118, 119, 123
Hotspots 12, 13, 27, 143

I
Índices de obesidade 70
Insulina 120
Internet 1, 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 73, 124, 159, 160

L
Labview 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8
Lesão cardíaca 54

M
Manipuladores de alimentos 84, 86, 87, 88, 90, 91
Microrganismo 55
Missense 118, 119, 120, 121, 122, 123

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Índice Remissivo 173


Moléculas nutricionais 30, 38
Monitoramento remoto 1, 2, 5, 7
Mutações 58, 118, 119, 120, 121, 123

N
Nutrição 30, 70, 72, 73, 74, 76, 79, 81, 82, 86, 87, 90
O
Obesidade 70, 71, 72, 73, 75, 76, 77, 78, 79, 81, 82, 83
P
Pacto intergeracional 149, 150, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157
Parâmetros de corte 126
Polimorfismo Genético 119
Populações tradicionais 12
Postura 106, 107, 109, 111, 116
ÍNDICE REMISSIVO

Produções científicas 54, 59


R
Repartição 149, 151, 152, 153
S
Semiárido 12, 14, 17, 26, 171
Serviços de saúde 66, 67, 85, 91, 94, 99
Serviços de urgência 94, 98, 99, 101, 103
Serviços ecossistêmicos 10, 11, 12, 18, 21, 22, 24
Síndromes hipertensivas gestacionais 118, 119, 123
Sistemas agrícolas 30
Solidariedade 149, 153, 155, 156, 157, 158

T
Terapia intensiva 53
Tratamento antirretroviral 62, 63, 64, 65, 66, 69
Trilha interpretativa 141, 144, 145, 146, 147

U
Usinabilidade 125, 126, 132
V
Violência 22, 92, 93, 94, 95, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104
Vírus 62, 63, 65, 66

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Índice Remissivo 174


Vírus da imunodeficiência humana 62, 63
Z
Zoonoses 42, 46
ÍNDICE REMISSIVO

A multidisciplinaridade para o progresso da ciência Índice Remissivo 175

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