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145392-Mec Geral Exp 2022-2

Este documento apresenta um capítulo sobre medidas físicas. Aborda conceitos como grandezas físicas, unidades de medidas, algarismos significativos e instrumentos de medição. Fornece exemplos de diferentes instrumentos analógicos e digitais usados para realizar medidas.
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Este documento apresenta um capítulo sobre medidas físicas. Aborda conceitos como grandezas físicas, unidades de medidas, algarismos significativos e instrumentos de medição. Fornece exemplos de diferentes instrumentos analógicos e digitais usados para realizar medidas.
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Apostila Mecânica Geral Experimental

Alexandre Peixoto do Carmo

Março de 2019
Cabo Frio - RJ
Apostila Mecânica Geral Experimental.
Prof. Alexandre P. Carmo (apcarmo@iff.edu.br)

Sumário
Capítulo 1 - Medidas Físicas ........................................................................................................... 1
1.1 Introdução.............................................................................................................................. 1
1.2 Grandezas Físicas .................................................................................................................. 1
1.3 Medidas de uma grandeza física ........................................................................................... 6
1.4 Algarismo significativo ......................................................................................................... 7
1.4.1 Operações com algarismos significativos ...................................................................... 9
1.5 Regras de arredondamento .................................................................................................... 9
1.6 Exercício.............................................................................................................................. 10
Capítulo 2 - Instrumentos de medida ............................................................................................ 13
2.1 Introdução............................................................................................................................ 13
2.2 Aparelhos analógicos .......................................................................................................... 13
2.2.1 Régua graduada ............................................................................................................ 13
2.2.2 Balança Tríplice-escala ................................................................................................ 14
2.3 Aparelhos com escala auxiliar............................................................................................. 16
2.3.1 Paquímetro Universal ................................................................................................... 17
2.3.2 Outros instrumentos com escala auxiliar ..................................................................... 18
2.4 Instrumentos digitais ........................................................................................................... 18
2.4.1 Cronômetro digital ....................................................................................................... 19
2.5 Atividade prática ................................................................................................................. 20
Capítulo 3 - Análise estatística de dados ....................................................................................... 22
3.1 Introdução............................................................................................................................ 22
3.2 Incertezas de Tipo A ........................................................................................................... 22
3.2.1 Valor médio e desvio padrão ........................................................................................ 22
3.2.2 O desvio padrão da média ............................................................................................ 23
3.3 Incertezas em medidas físicas diretas.................................................................................. 23
3.4 Incertezas em medidas físicas indiretas .............................................................................. 24
3.5 Precisão e exatidão .............................................................................................................. 26
3.6 Exercícios ............................................................................................................................ 27
Capítulo 4 - Construção e Interpretação de Gráficos Lineares ..................................................... 29
4.1 Introdução............................................................................................................................ 29
4.2 Como desenhar um gráfico ................................................................................................. 29
4.3 Método dos Mínimos Quadrados ........................................................................................ 31
Apostila Mecânica Geral Experimental.
Prof. Alexandre P. Carmo (apcarmo@iff.edu.br)

4.3.1 Cálculo de incerteza dos coeficientes A e B ................................................................. 34


4.3.2 Caso particular: reta que passa pela origem ................................................................. 35
4.4 Exercícios ............................................................................................................................ 36
Capítulo 5 Linearização de dados experimentais .......................................................................... 37
5.1 Mudança de variável ........................................................................................................... 37
Bibliografia.................................................................................................................................... 38
Apostila Mecânica Geral Experimental.
Prof. Alexandre P. Carmo (apcarmo@iff.edu.br)

Capítulo 1 - Medidas Físicas

1.1 Introdução
A Física é uma ciência cujo objeto de estudo é a Natureza. Ela é classificada na grande
área das ciências exatas, que estudam as regularidades ou leis simples da Natureza. O enorme
sucesso das ciências exatas se deve ao método sistemático de obter conhecimento a partir de
observações, de experimentos e de comparações críticas dos resultados experimentais com
modelos teóricos (hipóteses) que surgem gradativamente no processo da construção do
conhecimento. Este método é chamado método científico, base das ciências naturais. Ao estudar
um dado fenômeno físico procura-se entender como certas propriedades ou grandezas associadas
aos corpos participam desse fenômeno.
Ao aplicar o método científico a um fenômeno de interesse busca-se obter ao final uma
lei física, que deve explicar um grande número de fatos da Natureza. Estas leis são quantitativas,
ou seja, devem ser expressas por funções matemáticas. Assim, para se estabelecer uma lei física
está implícito que se deve avaliar quantitativamente uma ou mais grandezas físicas e, portanto
realizar medidas. É importante observar que praticamente todas as teorias físicas conhecidas
representam aproximações aplicáveis num certo domínio da experiência. Assim, por exemplo, as
leis da mecânica clássica são aplicáveis aos movimentos usuais de objetos macroscópicos, mas
deixam de valer em determinadas situações: i) quando as velocidades são comparáveis com a da
luz, deve-se utilizar a teoria da relatividade restrita de Einstein; ii) quando há campo
gravitacional extremos, por exemplo próximos de estrelas, utiliza-se a teoria da relatividade
geral; iii) para objetos em escala atômica, é necessário empregar a mecânica quântica.
Entretanto, o surgimento de uma nova teoria não necessariamente inutiliza as teorias
precedentes, elas podem complementar como no caso da mecânica clássica.
Nos componentes curriculares experimentais devemos conhecer o método científico e
especialmente em "Mecânica Geral Experimental" vamos utilizar experiências da Mecânica com
esta finalidade.

1.2 Grandezas Físicas


A necessidade de medir é muito antiga e remonta à origem das civilizações. Mas o que é
medir uma grandeza física? Em primeiro lugar precisamos definir grandezas físicas: Grandezas
físicas são atributos de objetos físicos. Um objeto físico é um objeto que pode interagir direta ou
indiretamente com os nossos sentidos. Mas nem todo atributo de um objeto físico é uma
grandeza física. Por exemplo, o atributo beleza não é uma grandeza física. Para que um atributo
G possa ser considerado uma grandeza física sua definição deve conter os seguintes itens:

1) Determinar um conjunto objetos físicos para os quais a grandeza G faz sentido, que
denominaremos de domínio de G (representado por DG).
2) Especificar um procedimento experimental para testar se dois objetos, pertencentes a DG,
são equivalentes. É importante ressaltar que objetos distintos podem ser equivalentes
quanto a uma grandeza e não serem equivalentes em relação à outra.
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3) Estabelecer uma forma de atribuir valores para a grandeza G (VG) dos objetos
pertencentes a DG.
4) Definir um procedimento para soma de valores da grandeza G.

Para muitas (mas não para todas) as grandezas físicas existe ainda uma definição de
comparação de valores no sentido maior ou menor.
Podemos agora responder "o que é fazer uma medida?". Fazer uma medida significa
comparar uma quantidade de uma dada grandeza, com outra quantidade da mesma grandeza,
definida como unidade ou padrão dela. Por longo tempo cada país, cada região, cada cidade teve
seu próprio sistema de unidades (valores padrões de medida). Essas unidades de medidas,
entretanto, eram geralmente arbitrárias e imprecisas, como por exemplo, aquelas baseadas no
corpo humano: palmo, pé, polegada, braça, entre outras.
Para facilitar o comércio internacional, diversos países criaram padrões comuns para
medir grandezas físicas através de um acordo internacional. A 14ª Conferência Geral sobre Pesos
e Medidas, CGPM (da sigla em francês Conférence Générale des Poids et Mesures), ocorrida em
1971, estabeleceu as sete grandezas físicas fundamentais, mostradas na Tabela 1.1, que
constituem a base do Sistema Internacional de Unidades (SI).

Tabela 1.1: Grandezas fundamentais do sistema internacional de medidas (SI).

Grandeza Nome da unidade singular (plural) Símbolo da unidade


segundo
tempo s
(segundos)
comprimento metro (metros) m
kilograma ou quilograma
massa kg
(kilogramas ou quilogramas)
ampère
corrente elétrica A
(ampères)
temperatura kelvin
K
termodinâmica (kelvins)
mol
quantidade de matéria mol
(mols)
candela
intensidade luminosa cd
(candelas)

Quando escritos por extenso, os nomes de unidades sempre começam por letra
minúscula, mesmo quando deriva do nome de um cientista. Os símbolos das unidades, no
entanto serão escritos em maiúsculo quando a unidade é proveniente do nome de um cientista. O
nome da unidade de temperatura grau Celsius, símbolo ºC, não é uma exceção à regra de se
escrever o nome das unidades com letra minúscula, visto que a unidade grau começa pela letra
“g” minúscula e o adjetivo “Celsius” começa pela letra “C” maiúscula, pois este é um nome
próprio. A exceção para que o nome de uma unidade comece com letra maiúscula, ocorre tão
somente quando estiver localizado no início da frase ou em sentença com letras maiúsculas,
como em um título.
Quando dizemos que uma dada distância é de 15 metros (15 m), estamos afirmando que
essa distância é quinze vezes o tamanho padrão para o metro no SI. O valor de uma grandeza

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física (VG) deve ser expresso como o produto de um número pela dimensão (unidade de medida),
simbolizado por [VG].

VG = (valor numérico) x (unidade de medida)

Um número isolado NÃO significa uma grandeza física, a unidade de medida é imprescindível
para identificá-la!
Além das dimensões definidas na Tabela 1.1, há grandezas físicas derivadas que são
definidas em termos de equações. Essas grandezas terão como unidade de medida o produto de
potências das dimensões das grandezas de base usando as equações que relacionam as
quantidades derivadas às grandezas de base. Assim, sendo Q uma grandeza física derivada:

na qual α, β, γ, δ, ε, ζ e η são normalmente números inteiros pequenos, podendo ser positivos,


negativos, ou zero, e são chamados de expoentes dimensionais.
Entre o número e a unidade deve haver um espaço, que deve atender à conveniência de
cada caso. Quando houver possibilidade de fraude, não se deve usar espaçamento entre o número
e unidade de medida.
Particularmente, no estudo da mecânica trata-se somente com as três primeiras grandezas
físicas fundamentais: comprimento, massa e tempo. Esse sistema também é denominado de
sistema MKS (m de metro, k de kilograma e s de segundo).
As unidades de outras grandezas, como velocidade, energia, força, carga elétrica etc. são
derivadas das sete unidades estabelecidas na Tabela 1.1. Na Tabela 1.2 estão listadas algumas
destas grandezas.
Tabela 1.2: Grandezas e unidades derivadas

Grandeza Nome Símbolo Unidade Unidade base SI


derivadas no SI
Ângulo plano radiano rad 1 m/m
Ângulo sólido esferorradiano sr 1 m2/m2
Área m2
Volume m3
Velocidade m.s-1
Aceleração m.s-2
Frequência hertz Hz s-1
Força newton N kg.m.s-2
Pressão pascal Pa N.m-2 kg.m-1.s-2
Trabalho joule J N.m kg.m2.s-2
Potência watt W J/s kg.m2.s-3
Carga elétrica coulomb C A.s
Diferença de potencial
volt V J/C kg.m2.s-3.A-1
eletrostático
Capacitância farad F C/V kg-1.m-2.s4.A2
Resistência elétrica ohm Ω V/A kg.m2.s-3.A-2
Fluxo magnético weber Wb V.s kg.m2.s-2.A-1
Densidade de fluxo magnético tesla T Wb/m2 kg.s-2.A-1
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Indutância henry H Wb/A kg.m2.s-2.A-2


Fluxo luminoso lúmen lm cd.sr cd
Iluminância lux lx lm/m2 m-2.cd
Atividade catalítica katal kat s-1.mol

Os números que representam quantias em dinheiro, ou quantidades de mercadorias, bens


ou serviços em documentos para efeitos fiscais, jurídicos e/ou comerciais, devem ser escritos
com os algarismos separados em grupos de três, a contar da vírgula para a esquerda e para
direita, com pontos separando esses grupos entre si. Nos demais casos recomenda-se que os
algarismos da parte inteira e os da parte decimal dos números sejam separados em grupos de três,
a contar da vírgula para a esquerda e para a direita, com pequenos espaços entre esses grupos,
como, por exemplo, em trabalhos de caráter técnico ou científico. Também é admitido que os
algarismos da parte inteira e os da parte decimal sejam escritos seguidamente (isto é, sem
separação em grupos).
Com o objetivo de simplificar a notação utiliza-se prefixo de múltiplos e submúltiplos
com potência de 10, como descrito na Tabela 1.3.

Tabela 1.3: Múltiplos e submúltiplos

Fator Prefixo Símbolo Fator Prefixo Símbolo


101 deca da 10-1 deci d
102 hecto h 10-2 centi c
103 kilo ou quilo k 10-3 mili m
106 mega M 10-6 micro µ
109 giga G 10-9 nano n
1012 tera T 10-12 pico p
1015 peta P 10-15 fento f
1018 exa E 10-18 ato a

Por motivos históricos, o nome da unidade SI de massa (kilograma ou quilograma)


contém um prefixo (kilo ou quilo). Excepcionalmente e por convenção os múltiplos e
submúltiplos dessa unidade são formados pela junção de outros prefixos SI (Tabela 1.3) à
palavra grama. Os prefixos da Tabela 1.3 podem ser também empregados com unidades que não
pertencem ao SI. Porém, não são usados com as unidades de tempo: minuto (símbolo min); hora
(símbolo h); dia (símbolo d).
Diferentes tipos de definições para as unidades de base já foram usadas: propriedades
específicas de artefatos como a massa do protótipo internacional para o quilograma unitário
(IPKi), Figura 1.1; um estado físico específico, como o ponto triplo da água para a unidade
kelvin; prescrições experimentais idealizadas como no caso do ampère e da candela; ou
constantes da natureza, como a velocidade da luz para a definição da unidade do metro.

i
Um artefato de platina-irídio mantido no BIPM (sigla em francês de Bureau International des Poids et Mesures)
nas condições especificadas pela 1ª CGPM em 1889.
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Figura 1.1- Protótipo internacional para o quilograma (IPK)


Para ser de alguma utilidade prática, essas unidades não apenas precisam ser definidas,
mas também precisam ser realizadas fisicamente para disseminação. No caso de um artefato, a
definição e a realização são equivalentes. Embora isso seja simples e claro, os artefatos
envolvem o risco de perda, dano ou mudança. Na história evolutiva do SI o exemplo da
definição do metroii deixa evidente a vantagem em utilizar uma constante para definir o padrão
da unidade, levando à decisão de definir todas as unidades usando constantes. Assim, na 26ª
reunião do CGPM em novembro de 2018 passou-se a definição das unidades do SI em termos de
um conjunto de sete constantes, apresentadas na Tabela 1.4. Essas constantes em particular
foram escolhidas após terem sido identificadas como a melhor escolha, levando em conta a
definição anterior do SI, que é baseada em sete unidades básicas, e o progresso na ciência.

Tabela 1.4: Constantes do Sistema Internacional de Unidade (SI)

Descrição Símbolo Valor


Frequência de transição hiperfina do estado fundamental não
ΔνCs 9 192 631 770 Hz
perturbado do átomo de césio 133
Velocidade da luz no vácuo c 299 792 458 m/s
Constante de Plank h 6,626 070 15 x 10-34 J.s
Carga elementar e 1,602 176 634 x10-19 C
Constante de Boltzmann kB 1,380 649 x 10-23 J/K
Constante de Avogadro NA 6,022 140 76 x 1023 mol-1
Eficácia luminosa de radiação monocromática de frequência
Kcd 683 lm/W
540 x 1012 Hz

Os valores numéricos da definição das constantes foram escolhidos para serem


consistentes com as definições anteriores, mantendo assim uma continuidade na definição do SI.
Uma vez estabelecido os valores das constantes não se fazem necessário derivar os valores para
as unidades base do SI, porém isso é feito devido ao histórico das unidades base do SI e para
manter a consistência do sistema. Com base nessas constantes é estabelecido o padrão de
unidades do SI com descrito na tabela abaixo.

ii
Inicialmente era um protótipo construído em 1872, em 1960 passou a ser estabelecido em termos do comprimento
de onda de uma emissão do criptônio 86, e em 1983 foi estabelecida em termos da velocidade da luz.
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Tabela 1.5: Definição da base do SI

Unidade base Definição da unidade


segundo É definido tomando-se o valor numérico fixo da frequência de césio (∆νCs), a
(s) frequência de transição hiperfina não perturbada do estado fundamental do átomo
de césio 133, para ser 9 192 631 770 quando expresso na unidade Hz, que é igual a
s-1.
metro É definido tomando-se o valor numérico fixo da velocidade da luz no vácuo (c)
(m) como 299 792 458 quando expresso na unidade m s-1, onde o segundo é definido
em termos da frequência de césio ∆νCs..
quilograma
É definido tomando-se o valor numérico fixo da constante de Planck (h) como
(kg)
sendo 6,626 070 15 × 10-34 quando expresso na unidade J.s, que é igual a kg m2s-1,
onde o metro e o segundo são definidos em termos de c e ∆νCs.
ampère É definido tomando-se o valor numérico fixo da carga elementar (e) como sendo
(A) 1,602 176 634 × 10-19 quando expresso na unidade C, que é igual a A.s, onde o
segundo é definido em termos de ∆νCs.
kelvin É definido tomando-se o valor numérico fixo da constante de Boltzmann (kB) como
(K) sendo 1,380 649 × 10-23 quando expresso na unidade JK-1, que é igual a kg m2s-2K-1,
onde o quilograma, metro e segundo são definidos em termos de h, c e ∆νCs.
mol Um mol contém exatamente 6,02214076 × 10-23 entidades elementares. Este
(mol) número é o valor numérico fixo da constante de Avogadro, NA, quando expresso na
unidade mol-1 e é chamado o número de Avogadro.
A quantidade de substância, símbolo n, de um sistema é uma medida do número de
entidades elementares especificadas. Uma entidade elementar pode ser um átomo,
uma molécula, um íon, um elétron, qualquer outra partícula ou grupo de partículas
especificado.
candela É definido tomando-se o valor numérico fixo da eficácia luminosa da radiação
(cd) monocromática de frequência 540×1012 Hz,(Kcd) como sendo 683 quando expresso
na unidade lm W-1, que é igual a cd.sr.W-1, ou cd.sr.kg-1m-2s3, onde o quilograma,
metro e segundo são definidos em termos de h, c e ∆νCs.

Apesar do SI ser o sistema padrão para as unidades de medida é reconhecido que algumas
unidades fora do SI ainda são utilizadas em publicações científicas, técnicas e comerciais. Outras
unidades fora do SI, como as unidades de tempo e de ângulo, estão enraizadas na história e na
cultura humana, e por isso continuam sendo usadas. Há ainda casos em que os cientistas achem
alguma vantagem particular em utilizar outro sistema de unidades em seu trabalho diferente do
SI. Um exemplo disso é a utilização das unidades CGS (centímetro, grama e segundo) para a
teoria do eletromagnetismo aplicada à eletrodinâmica quântica e à relatividade. É importante
conhecer as unidades fora do SI e suas respectivas correspondências no SI, possibilitando assim
realizar conversões entre sistemas.

1.3 Medidas de uma grandeza física


As medidas de grandezas físicas podem ser classificadas em duas categorias: medidas
diretas e indiretas.
Para medir diretamente uma grandeza física devemos compará-la diretamente com
outra grandeza de mesma espécie, utilizada como unidade de medida. O resultado desta
comparação é um número que indicará o número de vezes que a unidade adotada está contida

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(múltiplo) ou contém (submúltiplo) na grandeza física medida. Ou seja, a medida direta de uma
grandeza é o resultado da leitura de uma magnitude mediante o uso de aparelho de medida.
Exemplos de medidas diretas:
 comprimento de um objeto utilizando uma régua graduada;
 corrente elétrica em um circuito com um amperímetro;
 massa de um corpo com uma balança;
 intervalo de tempo entre dois eventos com um cronômetro.
A medição indireta de uma grandeza física é feita por meio de medições diretas de uma
ou mais grandezas de mesma espécie ou grandezas relacionadas, acrescidas de operações
matemáticas, suportadas por teorias que relacionam as diversas grandezas com aquela a ser
medida, que conduzem à medida procurada.
Exemplos de medidas indiretas:
 velocidade média de um móvel (v) determinando a distância percorrida (S) e o tempo
(t), e utilizando a equação da cinemática v=S/t;
 raio de uma esfera (r) determinando o diâmetro da esfera (d) e a relação r=d/2.
Um dos princípios fundamentais da Física afirma que: "Não se pode medir uma grandeza
física com precisão absoluta", isto é, "qualquer medição, por mais bem feita que seja e por mais
preciso que seja o aparelho, é sempre aproximada". De forma mais simples, toda medida possui
uma incerteza (erro ou desvio) associada a seu valor.

1.4 Algarismo significativo


Tendo em vista que toda medida de uma grandeza física resultará em um valor
aproximado, por mais capaz que seja o operador e por mais preciso que seja o aparelho utilizado,
esta limitação reflete-se no número de algarismos que usamos para representar as medidas. Ou
seja, só utilizamos os algarismos que temos certeza de estarem corretos, admitindo-se apenas o
uso de um algarismo duvidoso. Claramente o número de algarismos significativos está
diretamente ligado à precisão da medida, de forma que quanto mais precisa a medida, maior o
número de algarismos significativos.
Como exemplo será apresentado à determinação do comprimento de uma barra,
utilizando uma régua graduada (com precisão) em centímetros, isto é, a menor divisão da régua é
de 1 cm, conforme mostra a Figura 1.2.

Figura 1.2: Medida de comprimento da barra usando régua com escala centimétrica.

Ao tentarmos expressar o resultado desta medição percebemos que ela deve estar
compreendida entre 3 cm e 4 cm. Como a menor divisão da escala da régua é de 1 cm (precisão),
fica difícil ou impossível a determinação exata do número de milímetros que excedem a 3 cm no
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comprimento da barra. Podemos, no entanto, realizar uma estimativa afirmando que o


comprimento da barra é de, aproximadamente, 3,7 cm. Convém notar que não teria sentido
algum tentar obter mais um algarismo (milésimo de milímetro) para esta medida, pois já não
temos certeza alguma deste 7 (décimos de milímetro) que foi estimado (avaliado). Nesta medida,
o primeiro e algarismos (o 3) é o algarismo correto da medida e o segundo (o 7) é o avaliado,
chamado duvidoso. O conjunto desses algarismos, o correto mais o duvidoso, são os algarismos
significativos desta medida, dizemos então que a medida possui dois algarismos significativos.
Agora vamos supor que para determinar o comprimento da mesma barra tenha utilizado
uma régua graduada (com precisão) em milímetros, como mostrado na Figura 1.3.

Figura 1.3: Medida de comprimento da barra usando régua com escala milimétrica

Nesse caso somos capazes de expressar o resultado afirmando que o valor está entre 3,7
cm e 3,8 cm. Como a menor divisão da régua em questão é de 0,1 cm (ou 1 mm) podemos
estimar o valor da medida como sendo aproximadamente 3,75 cm, dessa forma nosso algarismo
duvidoso é o 5. Note que uma vez utilizado um instrumento com maior precisão conseguimos
expressar o resultado com um número maior de algarismos significativos, já que 3,75 cm possui
três algarismos significativos.
A identificação de um algarismo significativo numa medida deve seguir as seguintes
regras gerais:
1. Não é algarismo significativo os zeros à esquerda do primeiro algarismo diferente de
zero. Assim, tanto L = 32,5 cm como L = 0,325 m representam a mesma medida e tem 3
algarismos significativos. Outros exemplos:
a. 5 = 0,5x10 = 0,05x102 = 0,005x103 e possuem 1 algarismo significativo;
b. 26 = 2,6x10 = 0,26x102 = 0,026x103 e possuem 2 algarismos significativos;
c. 0,00034606 = 0,34606x10-3 = 3,4606x10-4 e possuem 5 algarismos significativos.
2. Zero à direita de algarismo significativo também é algarismo significativo. Portanto, L =
32,5 cm e L = 32,50 cm são diferentes, ou seja, a primeira medida tem 3 algarismos
significativos, enquanto que a segunda é mais precisa e tem 4 algarismos significativos.
3. É significativo o zero situado entre algarismos significativos. Por exemplo, L = 3,25 m
tem 3 algarismos significativos, enquanto que L = 3,025 m tem 4 algarismos
significativos.
4. Quando se trata apenas de valor numérico, pode-se dizer, por exemplo, que 5 = 5,0 =
5,00 = 5,000. Entretanto, quando se lida com resultados de medidas físicas deve-se
sempre lembrar que 5 cm ≠ 5,0 cm ≠ 5,00 cm ≠ 5,000 cm, já que estas medidas tem 1, 2,
3 e 4 algarismos significativos, respectivamente. Em outras palavras, a precisão de cada
uma delas é diferente.

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1.4.1 Operações com algarismos significativos


Como vimos na seção 1.3 uma medida indireta é efetuada utilizando-se operações
matemáticas com as medidas diretas. Além disso, em inúmeras situações é necessário efetuar
uma ou mais operações matemáticas com os resultados de medidas que são feitas com
instrumentos que possuem precisão diferente. Há ocasiões em que são obtidas medições com
diferentes números de algarismos significativos com um mesmo instrumento de medida. Abaixo
são apresentadas as regras para operações básicas com algarismos significativos:

i. Adição e subtração
Primeiro devemos reduzir todas as parcelas à mesma unidade. Após realizar a soma ou
subtração, o resultado deve apresentar apenas um algarismo duvidoso. Ou seja, devem ser
mantidos apenas os algarismos que não sofreram influência de algarismos duvidosos. Por
exemplo:

2,041 cm 20,00 g
+ 0,0498 cm - 0,5 g Resultado
98,00 cm Resultado 19,50 g => 19,5 g
100,0908 cm => 100,09 cm

ii. Multiplicação, divisão, funções


A regra é dar ao resultado da operação o mesmo número de algarismos significativos do
fator que tiver o menor número de algarismos significativos. Por exemplo:

3,45 m x 12 m = 41,4 m2 => 41 m2

100,20 m / 5,0 s = 20,04 m/s => 20 m/s

cos (32,5°) = 0,843391445 => 0,843

ln (23,41) = 3,15316328 => 3,153

iii. Operações com constantes


Nesse caso não deve ser levado em consideração o número de algarismos significativos
da constante.

2π x 40 cm = 251,327412 cm => 25 x 10 cm

Em todos os casos sugere-se que as contas sejam feitas mantendo todos os algarismos e
os arredondamentos necessários sejam feitos ao final, no resultado da operação.
1.5 Regras de arredondamento
Para efetuar o arredondamento deve-se utilizar a norma nacional ABNT NBR 5891:1977.
O arredondamento, de acordo com essa norma, segue as seguintes regras (o traço abaixo do
número representa o número que será mantido):
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 Quando o algarismo imediatamente seguinte ao último algarismo a ser conservado for


inferior a 5, o último algarismo a ser conservado permanecerá sem modificação.
Exemplo:
o 1,333 → 1,3
o 15,09403 → 15,09
o 1649,99 → 16 x 102
 Quando o algarismo imediatamente seguinte ao último algarismo a ser conservado for
superior a 5, ou, sendo 5, for seguido de no mínimo um algarismo diferente de zero, o
último algarismo a ser conservado deverá ser aumentado de uma unidade. Exemplo:
o 1,66 → 1,7
o 4,8505 → 4,9
 Quando o algarismo imediatamente seguinte ao último algarismo a ser conservado for 5
não seguido de outros algarismos ou seguido de zeros, dever-se-á arredondar o algarismo
a ser conservado para o algarismo par mais próximo. Consequentemente, o último
algarismo a ser mantido será acrescido de uma unidade se for ímpar, e permanecerá o
mesmo se for par.
o 12,3500 → 12,4
o 93,4500 → 93,4
o 9,475 → 9,48
o 3,305 → 3,30

Uma boa sugestão é que o arredondamento só se faz uma vez, ou seja, não se deve fazer o
arredondamento do arredondamento. Evite olhar o último algarismo para arredondar o
penúltimo, em seguida o antepenúltimo e assim por diante até chegar onde se quer. Faça o
arredondamento numa única observação de um algarismo.

1.6 Exercício
1) Verifique quantos algarismos significativos apresentam os números abaixo:
a) 0,003055 b) 1,0003436 c) 0,0069000 d) 162,32x106
e) 54359,02 f) 0,3005 g) 1,2097x10-4 h) 15,4990

2) Aproxime os números acima para 3 algarismos significativos.

3) Efetue as seguintes operações, levando em conta os algarismos significativos:


a) 2,3462 cm + 1,4 mm + 0,050 m b) 0,052 cm /1,112 s c) 10,56 m - 36 cm
d) sen (0,709 rad) e) π(12,0 cm)2 f)

4) Dentre os conjuntos de medidas realizadas com cada uma das réguas, indique quais estão
erradas.
Régua com escala decimétrica:

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0,8 dm; 172 dm; 0,81 dm; 5 cm; 35,5 cm; 25,1 x 10 cm; 32 x 10 cm; 50 mm; 12,8 x 102
mm; 550 x 102 mm; 5 x 10 mm; 89,2 x 10 mm; 15 x 10-1 m; 12,00 m; 1,18 x 10-1 m; 6 x
10-2 m.
Régua com escala centimétrica:
0,55 m; 91,050 m; 133 x 10-2 m; 0,80 dm; 172 dm; 10,1 dm; 1 x 10-2 dm; 1,00 x 10 cm;
55,5 x 10 cm; 66,66 cm; 1 x 10-1 cm; 8,890 x 102 cm; 7,8 cm; 50 mm; 12,8 x 10 mm; 137
mm; 37,7 mm; 17,000 x 103 mm.
Régua com escala milimétrica:
5,555 m; 99,0501 m; 3,2786 x 10-1 m; 7,67325 x 102 m; 648,28 x 10-2 m; 0,80 dm; 172
dm; 0,999 dm; 1 x 10-3 dm; 5,55 x 10 cm; 32,23 x 101 cm; 347,01451 x 103 cm; 1 x 10-2
cm; 7,81 cm; 27,3 cm; 50 mm; 12,7 x 10 mm; 1,0 mm; 37,7770 x 103 mm; 1,99 mm.

5) Um nó é definido como uma milha náutica por hora. Uma milha náutica equivale à
distância de 1 minuto de latitude. O perímetro da Terra é 40 000 km.
a) A quantos metros equivale uma milha náutica?
b) Um navio anda na velocidade de 20 nós. Qual sua velocidade em m/s?

6) Uma unidade astronômica (UA) é a distância média da Terra ao Sol, aproximadamente


igual a 150 000 000 km. A velocidade da luz vale cerca de 3,00x108 m/s. Escreva esta
velocidade em termos de unidades astronômicas por minuto.

7) Transforme as grandezas abaixo para as respectivas unidades:


a) 9810 dinas = __________ kgf
b) 7814 N = __________ kgf
c) 200 cm s-2 = __________ ms-2
d) 80 km h-1 = __________ ms-1
e) 3 000 L h-1 = __________ m3s-1
f) 7 500 N m-2 = __________ kgf m-2
g) 7 kgf cm-2 = __________ kgf m-2
h) 820 N m-3 = __________ kgf m-3
i) 8 000 000 cm2s-1 = __________m2s-1
j) 9 700 dinas cm-3 = __________ kgf m-3

Faça os exercícios abaixo aplicando as regras de operação com algarismos significativos e


os critérios de arredondamento. Apresente o resultado em notação científica com a unidade
adequada.

8) A relação entre a altura h atingida por um líquido em um tubo capilar vertical, e o raio r
do tubo, é dada por: h = 2 δ / (μgr), onde δ é a tensão superficial do líquido, μ sua massa
específica, e g a aceleração da gravidade. Determine a altura atingida pelo álcool em um
capilar com 0,40 mm de raio, dado que δ = 22,3 x 10-5 N/cm, μ = 0,7894 g/cm³ e g =
9,8066 m/s².

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9) O momento de inércia do cilindro é: I = CmR², onde m é a massa do cilindro, R seu raio e


C é uma constante. Se o cilindro rola sobre um plano inclinado, C = (ght²/2L²)-1, onde g
é a aceleração da gravidade, h a altura entre o topo e a base do plano inclinado e t é o
tempo gasto pelo cilindro para percorrer a distância L sobre o plano. Calcule C, usando
os seguintes dados: g = 9,8066 m/s² ; h = 2,95 cm ; t = 2,32 s ; L = 724,0 mm.

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Capítulo 2 - Instrumentos de medida

2.1 Introdução
O objetivo neste capítulo é reconhecer os procedimentos de manuseio e determinação da
precisão de alguns aparelhos frequentemente utilizados no curso de "Mecânica Geral
Experimental".
A precisão de um aparelho de medida corresponde à quantidade mínima da grandeza
física que ele é capaz de diferenciar. Por exemplo, numa régua milimétrica, a precisão é de
1 mm. Ao realizar uma medida devemos apresentar o resultado levando em consideração além
do valor obtido à incerteza da medida. Assim ao realizar uma medida de uma grandeza física X,
por exemplo, devemos apresentar o resultado dessa medida da seguinte forma:

(x±ux) [X]

na qual, x representa o valor medido da grandeza X, a incerteza (erro) da medida é representada


pela letra u seguido da grandeza x subscrita (ux), e [X] a unidade de medida da grande X.
A incerteza de uma medida é dividida em dois tipos: incerteza aleatória ou estatística,
denominada de incerteza de Tipo A; e incerteza intrínseca do aparelho, representado pela
letra grega sigma (σ) com o subscrito “ap" (σap), denominada de incerteza de Tipo B.
Neste capítulo será feita a classificação dos aparelhos de acordo com a forma de leitura
da sua escala: analógicos, aparelhos com escala auxiliar (nônio ou vernier) e digitais, além de
orientações de utilização. Serão apresentados conceitos apenas relacionados às incertezas do tipo
B, o cálculo das incertezas tipo A será tratada no capítulo 3.

2.2 Aparelhos analógicos


Os aparelhos analógicos com leitura direta são aqueles cujas escalas permitem que o
algarismo duvidoso da medida seja avaliado. Neste caso, é usual adotar a incerteza da escala
como sendo a metade da precisão, isto é,

σap = 1/2 x (precisão do aparelho) (2.1)

Alguns exemplos são: régua com escala milimétrica, balança analógica, termômetro analógico.
Contudo, alguns aparelhos que apresentam escala semelhante à da régua não permitem essa
avaliação. É o caso de um paquímetro não digital que é considerado um aparelho com escala
auxiliar.

2.2.1 Régua graduada


Aparelhos capazes de medir comprimentos com a precisão máxima de milímetros,
centímetros, decímetros etc. A precisão da régua graduada é definida como sendo a menor
divisão da escala graduada. A Figura 2.1 mostra um exemplo de medida usando uma régua com

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escala milimétrica, onde a menor divisão vale 1 mm. Logo, a incerteza de escala da régua é
σap = 1/2 x (precisão da régua escala milimétrica) = 1/2 x (1 mm) = 0,5 mm

Figura 2.1: Medida usando régua com escala milimétrica

Obviamente, no caso das réguas com escalas centimétrica (menor divisão de 1 cm) e
decimétrica (menor divisão de 1 dm), as incertezas de escalas são 0,5 cm e 0,5 dm,
respectivamente. Para entender a origem deste critério considere, por exemplo, a medida do
comprimento do lápis com uma régua com escala milimétrica mostrada na Figura 2.1. Com o
olho bem treinado ou com o auxílio de uma lupa, e se os traços de marcação dos milímetros
inteiros da régua forem suficientemente estreitos, pode-se avaliar até décimos de milímetro.
Contudo, este procedimento pode não ser válido. Se uma régua é graduada em milímetros é
porque o material com que é feita pode resultar em variações do comprimento total comparáveis
com a sua menor divisão ou, então, o próprio processo de fabricação pode não ser seguro, dando
variações comparáveis com a menor divisão. Nestes casos, supor a régua exata e avaliar décimos
de milímetro não é garantia de uma boa medida. Por outro lado, arredondar até o milímetro
inteiro mais próximo pode implicar em perda de informação. Assim, avaliar a incerteza em
metade da precisão é um meio termo aceitável. É importante observar que esta incerteza
corresponde na verdade à incerteza máxima que pode ser obtida com a régua com escala
milimétrica. O comprimento do lápis na Figura 2.1 é de 6,45 cm, sendo que os algarismos 6 e 4
são exatos e o 5 é o algarismo duvidoso, ou estimado. Portanto, o resultado da medida deve ser:

L = (6,45± 0,05) cm.

Existem inúmeros instrumentos analógicos de leitura direta que seguem a mesma lógica
de leitura que a régua, pode ser citado: transferidor, termômetro, manômetro, entre outros. De
forma análoga a incerteza atribuída à medida nesses instrumentos será a metade da precisão do
instrumento (menor divisão da escala).

2.2.2 Balança Tríplice-escala


A balança tríplice-escala é assim denominada porque possui três escalas com ordem de
grandezas diferentes, como pode ser visto na Figura 2.2. Por exemplo, no laboratório será
utilizada uma balança com escalas de centenas de grama, dezenas de grama, e grama (com
menor divisão em décimos de grama). Em algumas balanças a escala menor é apresentada numa
escala auxiliar móvel denominada de "Vernier", a qual será apresentada mais adiante. Assim,
supondo o resultado de uma medida com a balança tríplice-escala pode ser apresentado com

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algarismo na casa do milésimo do grama, sendo este algarismo duvidoso. Sendo a precisão da
balança (menor divisão) de 0,1 g a incerteza do aparelho será dada por:

σap = 1/2 x (precisão da balança) = 1/2 x 0,1 g = 0,05 g

Marcadores móveis Escalas

Prato

Ajuste do
ponto zero
Fiel (ponto de zero)

Figura 2.2: Balança tríplice-escala.

Antes de fazer uma medida com a balança, deve-se verificar se está zerada. Para isto, sem
nenhum objeto no prato da balança, deve ser verificado se, ao colocar os marcadores das escalas
nas respectivas marcas de zero, o ponteiro situado na extremidade do braço da balança (fiel) está
apontando para o zero de uma escala vertical. A inclinação do braço da balança pode ser ajustada
girando um parafuso situado na base da balança ou girando um contra peso situado no braço da
balança no lado oposto à escala vertical. A balança deve ser zerada para evitar erros sistemáticos
nas medidas. Ao medir a massa de um objeto colocando-o no prato da balança, o braço desta
ficará levantado, sendo necessário posicionar os marcadores das escalas de forma que o ponteiro
volte para o zero da escala vertical. Assim feito, o valor da massa fica indicada pelas posições
dos marcadores nas escalas da balança.

Figura 2.3: Medida feita em uma balança tríplice-escala

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A Figura 2.3 apresenta a medida da massa (m) de um corpo em uma balança tríplice-
escala com precisão de 0,2 g. O valor da leitura indicada pelas setas, incluindo a incerteza na
medida, é

m = (190,4 ± 0,1) g.

2.3 Aparelhos com escala auxiliar


Os aparelhos com escala auxiliar são instrumentos de medida analógicos, porém não é
possível estimar um algarismo além da precisão do instrumento. Esse fato ocorre devido à
existência da escala auxiliar, denominada nônio ou vernier, propiciando uma melhor
reprodutividade da medida.
O nônio ou vernier, nome dado em homenagem aos seus inventores Pedro Nunes
(português) e Pierre Vernier (francês), é um dispositivo que nos permite efetuar a leitura de uma
fração da menor divisão de uma régua ou escala graduada à qual está adaptado. Ele é constituído
de uma pequena escala com N divisões de valores conhecidos, que se movem ao longo da régua
principal. As divisões do nônio possuem dimensões diferentes daquelas da régua principal,
porém relacionam-se entre si de uma maneira simples. Por exemplo, o vernier da Figura 1,
possui N=10 divisões que correspondem, em comprimento, a nove divisões da escala principal.
Cada divisão do nônio é mais curta que uma divisão da escala principal de 1/N da divisão desta
escala. Na Figura 2.4, a marca correspondente ao “zero” na escala do nônio coincide com a
correspondente marca da escala principal, simultaneamente a marca "dez" na escala do nônio
coincide com a marca "nove" da escala principal.

Escala
principal
Escala
nônio
Figura 2.4: Escala com nônio

A precisão de um instrumento com nônio corresponde ao valor da menor divisão da


escala principal dividida pelo número de divisões do nônio. A incerteza de um aparelho com
escala auxiliar é igual à precisão do aparelho.

σap = (precisão do aparelho) (2.2)

A leitura em um instrumento com nônio deve ser feita em duas etapas, a primeira
observa-se o valor da última marcação da escala principal que o zero na escala do nônio passou,
soma-se ao valor da escala principal o valor onde a primeira marcação do nônio coincide com a
marcação da escala principal.
Na Figura 2.5 é apresentado um exemplo de leitura com escala auxiliar (nônio). É
importante notar que a escala principal está marcada em centímetros, com subdivisões de 1 mm.
O nônio possui dez divisões, dessa forma cada divisão do nônio corresponde a 0,1 mm.
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cm

mm

Figura 2.5: Exemplo de leitura na escala nônio

A leitura com a respectiva incerteza do aparelho será:

(2,6 ± 0,1) mm ou (0,26 ± 0,01) cm

2.3.1 Paquímetro Universal


O paquímetro universal, Figura 2.6, é um instrumento de medida de comprimento entre
dois pontos perfeitamente alinhados que permite leituras com frações de milímetros. Consiste de
uma régua metálica graduada (haste), ao longo da qual desliza o nônio ou vernier. O paquímetro
universal possui bicos para medidas externas, orelhas para medidas internas, e uma haste para
medidas de profundidade.

Figura 2.6: Elementos de um paquímetro universal

Antes de utilizar o paquímetro é importante verificar se o fixador está solto, para que a
escala de nônio deslize livremente. É importante usar o impulsor para ajustar firmemente os
bicos (ou as orelhas) nas laterais da peça para efetuar a medida.
Na Figura 2.7 é apresentado um exemplo de medida feita com um paquímetro universal
com escala principal em centímetro, e subdivisões de 1 mm, e escala de nônio com dez
marcações principais, contendo 5 subdivisões em cada, totalizando assim 50 divisões no nônio.

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A precisão do aparelho será de 0,02 mm (ou 0,002 cm). A leitura da medida, já com a incerteza
do instrumento, será:

(2,862 ± 0,002) cm

cm

Figura 2.7: Exemplo de medida feita com um paquímetro universal

2.3.2 Outros instrumentos com escala auxiliar


Além do paquímetro a escala auxiliar é empregada largamente em micrômetros e
transferidores de precisão. A lógica de leitura empregada nesses instrumentos é a mesma
apresentada aqui, deve-se sempre seguir as orientações dos fabricantes quanto à metodologia de
medição e cuidados com os instrumentos.

2.4 Instrumentos digitais


A cada dia é mais comum à utilização de instrumentos digitais para a realização de
medidas físicas. Para cada instrumento deve-se consultar no manual do fabricante sobre a
incerteza. É comum a incerteza ser um percentual sobre o valor da medida apresentada, além
disso, para alguns a incerteza variar com a faixa de medida. De forma geral, na ausência de
informações do fabricante sobre a incerteza do aparelho, adota-se a precisão como sendo a
menor leitura apresentada pelo instrumento, e a incerteza do aparelho digital é igual à precisão
do instrumento.

σap = (precisão do aparelho) (2.3)

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2.4.1 Cronômetro digital


Existem inúmeros modelos de cronômetro digital disponíveis no mercado, até mesmo
alguns modelos de telefone celular apresentam aplicativos de cronômetro. Esta seção apresentará
as orientações básicas para uso do cronômetro AK68 da marca AKSO, Figura 2.8, disponível no
Laboratório de Física. Para outros modelos, ou mais detalhes do AK68, consulte o manual de
instruções do fabricante para melhor utilização e conservação do instrumento.

Figura 2.8: Cronômetro AK68 no modo relógio. Esse modo também indica o dia da semana.

O cronômetro AK68 da marca AKSO apresenta as seguintes funções: i) cronômetro


progressivo; ii) “split” (medições parciais de tempo); iii) relógio; iv) alarme de hora cheia; v)
alarme diário ajustável; vi) calendário com dias da semana. A principal utilização desse
instrumento será no modo cronômetro progressivo e “split”. A precisão do cronômetro é de
0,01 s nas medidas inferiores a 30 min, e de 1 s para medidas maiores ou igual a 30 min. A
Figura 2.9 destaca os botões (A, B e C) utilizados para controle das funções e a tela (D) onde
serão apresentados os valores do cronômetro, relógio ou data e o indicador do dia da semana (E).

Figura 2.9: Esquema cronômetro AK68 indicando botões e visor

Para alternar a função do cronômetro entre relógio e cronômetro progressivo basta


acionar o botão “B”. No modo relógio apenas uma indicação do dia da semana ficará visível, no
modo cronômetro progressivo todas as indicações do dia da semana estarão visíveis, sendo que

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as indicações de semana referentes a “SU”, “FR” e “AS” ficaram piscando. Para iniciar/parar o
cronômetro é necessário acionar o botão “C”. Se o cronômetro estiver parado ao acionar o botão
“A” o visor será zerado. Se a cronometragem estiver ativa ao acionar o botão “A” a função
“split” será acionada, com isso a tela ficará congelada, porém a contagem do tempo continuará
em segundo plano; ao acionar novamente o botão “A” a tela retornará para o valor do tempo da
cronometragem.

2.5 Atividade prática


1) Utilizando o cronômetro determine o tempo entre dois eventos.

2) Indique as medidas, com respectiva incerteza, apresentadas nas figuras abaixo


a)

b)

c)

Incerteza:
0,5% medida + 0,1°C

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d)

3) Utilize a balança tríplice-escala para determinar a massa dos corpos de prova.

4) Utilizando uma régua e um paquímetro para determinar as dimensões relevantes dos corpos de
provas.

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Capítulo 3 - Análise estatística de dados


3.1 Introdução
Na linguagem estatística, o valor medido não representa o valor verdadeiro da grandeza
física, pois existe sempre uma incerteza ao se comparar uma quantidade de uma dada grandeza
física com a de sua unidade. O valor verdadeiro é o valor que seria obtido por uma medição
perfeita com um aparelho perfeito, ou seja, é, por natureza, indeterminado. Na prática usa-se a
melhor estimativa com respectiva incerteza da medida no lugar do valor verdadeiro.
"Verdadeiro" no sentido de que ele é o valor que se acredita que satisfaça, completamente, a
definição da grandeza. Quando o resultado da medida (valor e unidade) for registrado é
necessário informar com que nível de confiança (ou intervalo dentro do qual) pode-se dizer que
ele representa a grandeza física. Essa é a função do erro (erro aqui tem o significado de incerteza
inevitável que acompanha todas as medidas) ou desvio ao valor de qualquer medida.
Neste capítulo serão abordados os temas relacionados às incertezas de Tipo A
(incertezas aleatórias ou estatísticas) associadas à medida de uma grandeza física, como
relacionar incertezas do tipo A e tipo B, a propagação de erro em medidas indiretas e a diferença
entre exatidão e precisão em uma medida.

3.2 Incertezas de Tipo A


As incertezas de tipo A referem-se à variação dos valores de uma quantidade física de
uma medição em relação à seguinte, provocada pelas flutuações aleatórias no valor medido. Por
exemplo, ao repetir as medições do tempo necessário para uma bola cair através de uma dada
altura, as diferentes condições iniciais, flutuações aleatórias no movimento do ar, a variação do
seu tempo de reação em iniciar e parar um relógio, entre outras, vai levar a uma dispersão
significativa nos tempos obtidos. Este tipo de "erro" também afeta a precisão do experimento.
A solução para quantificar as flutuações aleatórias é repetir a medição várias vezes. O
mais provável é que você vai obter valores um pouco diferentes para cada uma das medidas. O
valor "correto" da grandeza medida encontra-se em algum lugar entre o maior e menor valor (o
intervalo dá uma gama provável). Pode-se mostrar usando a teoria estatística que, numa situação
deste tipo, a melhor estimativa que se pode fazer do verdadeiro valor é a média entre os valores
medidos.

3.2.1 Valor médio e desvio padrão


Suponha que queremos medir o valor de uma grandeza, x. Imaginemos que fazendo isso
através de um número total de N medições de x, os valores de cada medição a ser denotado por
xi, onde i assume os valores de 1 a N. Quer devido a variabilidade na quantidade x ou por causa
de erros aleatórios inerentes e inevitáveis no nosso procedimento de medição, nem todos os
valores medidos xi serão iguais. Nossa melhor estimativa do valor "verdadeiro" de x é dado pelo
valor médio de x, denotado como :

(3.1)

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Na equação acima introduzimos a notação sigma, muito útil em vários casos, de acordo com a
qual

(3.2)

Geralmente nós também requeremos alguma medida da variação nos valores de xi. Esta
variação está relacionada com a incerteza na nossa estimativa do valor "correto" de x. A
"melhor" estimativa da variação é dada por uma quantidade representada por , denominada
desvio padrão (ou desvio padrão amostral) de x, dada por:

(3.3)

Calcular o desvio padrão pode ser muito tedioso. Você deve praticar esse cálculo, pelo
menos, algumas vezes de forma manual. Mais tarde, para cálculos de desvio padrão, você pode
usar uma calculadora que tem uma função de desvio padrão, ou uma planilha eletrônica.

3.2.2 O desvio padrão da média


O desvio padrão ( ) caracteriza a incerteza média das medidas xi. No entanto, nossa
melhor estimativa para a medida da grandeza x é o valor médio de xi ( ), que representa uma
combinação criteriosa de todas as N medidas, e temos que levar isso em conta para estabelecer o
erro (ou incerteza) devido às flutuações aleatórias de um experimento. A teoria estatística mostra
que a melhor estimativa para a incerteza aleatória (incerteza de tipo A) de um conjunto de
medidas é o desvio padrão da média, , (ou erro padrão, ou erro padrão da média) dado por:

(3.4)

Note que poderíamos reduzir o desvio padrão da média, tomando mais medidas (fazendo
N maior). No entanto, não faz sentido em tomar mais do que o número necessário para reduzir o
desvio padrão da média para um valor abaixo do erro da própria leitura do instrumento.

3.3 Incertezas em medidas físicas diretas


Quando uma grandeza física de interesse é obtida diretamente a partir de um instrumento,
ou aparelho, de medida, diz-se que o procedimento é feito por uma medida direta. Sejam, por
exemplo, N determinações de uma mesma grandeza x obtidas diretamente por um mesmo
aparelho de medida. O valor médio da grandeza representa o valor esperado, ou a melhor
estimativa, dessa grandeza. Neste procedimento, a incerteza padrão na medida, representado
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pela letra “u” minúsculo seguido do símbolo da medida deve incluir, não somente a
incerteza aleatória (tipo A) expressa pelo desvio padrão da média , mas também a incerteza
intrínseca (tipo B) do aparelho de medida, isto é:

(3.5)

O resultado da medida da grandeza x deverá ser corretamente apresentado como:

(3.6)

A incerteza de uma medida física deve ser sempre escrita com apenas um algarismo
significativo, e o valor da medida deve ser tal que o número de casas decimais seja igual ao da
incerteza. Por exemplo, considere uma medida de um intervalo de tempo (t) sendo
, e ao calcular a incerteza padrão obteve . O resultado será:
.
Lembre-se que a incerteza em qualquer quantidade medida tem as mesmas dimensões
que a quantidade medida. Na equação (3.6) a unidade da grandeza é representada colocando o
símbolo que representa a grandeza entre colchetes.

3.4 Incertezas em medidas físicas indiretas


Na maioria das experiências, a quantidade de interesse não é medida diretamente, mas
deve ser calculada a partir de outras grandezas. Tais medições são chamadas indiretas. Como
você já sabe, as quantidades medidas diretamente não são exatas e têm erros associados a elas.
Quando nós calculamos o parâmetro de interesse a partir de valores medidos diretamente, diz-se
que os erros das medições diretas se propagam. Esta seção descreve como calcular erros em caso
de medições indiretas.
Considerando o caso mais simples, temos a grandeza indireta ( ) dada por uma função de
apenas uma variável ( ):

(3.7)

A incerteza propagada para a função , denominada de incerteza padrão combinada e


representada por , devido à incerteza da medida direta da grandeza , denotado por
, será dada por:

(3.8)

Na Tabela 3.1 são apresentadas algumas relações entre a incerteza da medida direta e a incerteza
combinada para a função utilizada na medição indireta.
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Tabela 3.1: Relações dos valores médios e incertezas combinadas para grandeza indireta de uma variável

Relação funcional Valor médio Incerteza combinadas

iii

iii

É muito comum o caso onde o resultado de uma experiência é dado em função de duas ou
mais medidas independentes. Supondo a grandeza indireta sendo função de duas
medidas diretas e independentes, isto é, a medida de não afeta a medida de . Teremos
nesse caso que a incerteza vai depender das incertezas e da seguinte forma:

(3.9)

Na Tabela 3.2 são apresentadas algumas relações entre a incerteza da medida direta e a incerteza
combinada para a função utilizada na medição indireta.

Tabela 3.2: Relações dos valores médios e incertezas combinadas para grandeza indireta de duas variáveis

Relação funcional Valor médio Incerteza combinada

Com as relações apresentadas nas tabelas 3.1 e 3.2 é possível fazer combinações capazes
de atender um grande número de relações utilizadas em medidas indiretas. Para casos omissos
nas tabelas basta utilizar as expressões gerais para a propagação da incerteza. Podemos expandir
nosso raciocínio para uma grandeza física que tenha a relação expressa por uma função de várias
variáveis

(3.10)

iii
A incerteza do ângulo deve ser em radianos (entre 0 e 2π) para o cálculo da incerteza combinada.
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A expressão para a incerteza combinada para a medida indireta será dada por:

(3.11)

De forma geral o resultado de uma medida indireta deve ser apresentado como:

(3.12)

Lembrando que a incerteza deve ter apenas um algarismo significativo, e que o valor da
medida ( deve ter o mesmo número de casas decimais da incerteza. Além disso, a unidade de
medida, , da incerteza e da medida devem ser a mesma.

3.5 Precisão e exatidão


Uma maneira fácil de entender a diferença entre precisão e exatidão, é fazer uma
analogia com disparos de projéteis sobre um alvo. O objetivo "atingir o centro do alvo" é
equivalente a encontrar o valor verdadeiro. A exatidão seria atingir, o mais próximo possível, o
centro do alvo. Por outro lado, a precisão seria atingir, o mais próximo possível, o mesmo ponto
do alvo. A Figura 3.1 mostra as diferentes possibilidades de disparos de projéteis sobre o alvo.

Preciso e inexato Preciso e exato

Impreciso e exato Impreciso e inexato

Figura 3.1: Representação entre exatidão e precisão

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A precisão está associada com a capacidade de um instrumento avaliar uma grandeza


com a menor dispersão estatística e com maior número de algarismos significativos. A precisão
descreve a reprodutibilidade do resultado, isto é, a concordância de valores numéricos para
várias medições. A precisão pode ser descrita por variáveis aleatórias, tais como: desvio padrão
da média.
Por outro lado, exatidão, também denominada acurácia, é a capacidade que um
instrumento de medida tem de se aproximar, o máximo possível, do valor verdadeiro.
Obviamente, para se chegar a um valor próximo do valor verdadeiro, deve-se utilizar um
instrumento preciso, porém o uso de um instrumento preciso não leva, necessariamente, a um
valor exato. Se, por exemplo, o instrumento estiver descalibrado, o valor medido, embora
preciso, não é o valor verdadeiro.
A grandeza que é utilizada para quantificar a precisão de uma medida apresentada na
forma é a incerteza relativa, representado por ( ), dado pela expressão:

(3.13)

Para quantificarmos a exatidão de uma medida é necessário termos um valor de


referência, para compararmos com o valor medido, . A grandeza utilizada para quantificar
a exatidão é erro relativo, representada pela letra grega épsilon , dada pela expressão:

(3.14)

Tanto a incerteza relativa quanto o erro relativo são geralmente apresentados em termos de
porcentagem, e quanto menor forem seus valores mais preciso e exato, respectivamente, será a
medida.

3.6 Exercícios
1 - a) Um estudante mede o comprimento (L) de um pêndulo simples e relata sua melhor
estimativa como 110mm e o intervalo em que o comprimento provavelmente se encontra como
108 mm a 112 mm. Reescreva este resultado na forma . b) Se outro estudante relatar sua
medição da corrente elétrica (I) como sendo , qual é o intervalo dentro do qual I
provavelmente se encontra?

2 - Reescreva cada uma das seguintes medidas na sua forma correta


a)
b)
c)
d)

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3 - Um estudante faz medidas diretamente às grandezas x e y e obtém o seguinte resultado:


e . Qual a melhor estimativa para a medida indireta estabelecida
por e a respectiva incerteza [utilize a relação de propagação de erro da Tabela 3.2].

4 - Efetue os seguintes cálculos levando em consideração a propagação de erro.


a)
b)
c)

5 - Você mede, quatro vezes, o tempo de queda de uma bola largada de uma janela do segundo
andar utilizando um cronômetro com erro de 0,1s e obtém os seguintes resultados: 1,1s; 1,3s;
1,2s; 1,0s.
Determine a melhor estimativa para o tempo, com a respectiva incerteza levando em
consideração o erro do aparelho e o desvio padrão da média.

6 - Um estudante mede, cinco vezes, a aceleração da gravidade g, obtendo os resultados (em


m/s2):
9,7; 9,6; 9,7; 10,1; 9,5; 10,1
Determine a melhor estimativa para a aceleração da gravidade, com a respectiva incerteza.
Determine a incerteza relativa e o erro relativo para o valor encontrado (utilize o valor de
9,81m/s2 como valor teórico de referência).

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Capítulo 4 - Construção e Interpretação de Gráficos Lineares


4.1 Introdução
A análise de dados obtidos em medições de grandezas físicas não se restringe ao estudo
de variações estatísticas de uma mesma grandeza medida. Em muitos casos é interessante
realizar medições de vários valores de grandezas físicas distintas e investigar a relação
matemática existente entre elas. A Física, a Engenharia, a Química, e outras utilizam estes
conhecimentos para a descrição e melhor compreensão das propriedades do universo que nos
rodeia. Um gráfico é uma curva que mostra a relação entre duas variáveis medidas. Quando, em
um fenômeno físico, duas grandezas estão relacionadas entre si o gráfico dá uma ideia clara de
como a variação de uma das quantidades afeta a outra. Assim, um gráfico bem feito pode ser a
melhor forma de apresentar os dados experimentais.
Em atividades experimentais é comum a coleta de um conjunto de dados em uma tabela
de pares ordenados (pontos experimentais) que posteriormente são sintetizados em uma
expressão matemática (função) capaz de descrever a relação entre as variáveis estudadas
experimentalmente. O primeiro problema é escolher a função que relaciona as variáveis
investigadas. Colocando todos os pontos experimentais em um gráfico e traçando uma curva que
melhor se ajuste a esses pontos é possível determinar o tipo de função que melhor descreve os
pontos, e assim verificar a existência de leis físicas.
É comum buscar uma função que descreva apropriadamente a dependência entre duas
grandezas medidas no laboratório. Algumas das curvas mais comuns são: linha reta, funções
polinomiais, função exponencial e funções trigonométricas. Para tanto, leva-se em conta o
conhecimento teórico que se tem sobre o sistema em estudo e o comportamento dos dados
experimentais. Escolhida uma função, (por exemplo, uma função linear), busca-se a seguir a
determinação dos parâmetros da função (no caso da função linear o coeficiente angular e o
coeficiente linear). Este procedimento é conhecido como ajuste de funções ao conjunto de
dados experimentais ou método de regressão.
Existem muitos métodos de juste de funções que podem ser utilizados para a
determinação dos parâmetros da função. Discutiremos o Método dos Mínimos Quadrados que,
além de ser consagrado como um método de ajuste, possui solução analítica para funções
lineares nos parâmetros, podendo assim ser facilmente realizado.

4.2 Como desenhar um gráfico


A discussão sobre construção de gráficos será limitada a gráficos em duas dimensões. O
eixo horizontal será denominado de eixo x (eixo das abscissas). O eixo vertical será denominado
eixo y (eixo das ordenadas).
Para a construção de um gráfico que relaciona grandezas físicas é importante saber de
antemão quais extremos de valores serão representados, as respectivas incertezas de cada
medida, e a unidades de cada grandeza. Deve-se determinar qual grandeza será a independente
(colocada no eixo x) e qual será a dependente (colocada no eixo y). Uma forma de determinar a
grandeza independente é como sendo aquela que o experimentador pode escolher o valor, e

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como a grandeza dependente o resultado experimental da alteração da variável independente. No


entanto, é possível alterar essa relação para obter um melhor ajuste dos dados.
A primeira tarefa para a construção de um gráfico é ter em mãos a tabela com os pontos
ordenados dos dados experimentais das grandezas que se quer analisar. Como exemplo
será utilizado os dados obtidos de um experimento que visa obter o valor do zero absoluto
determinando a temperatura de um gás ideal mantido a volume constante em função da pressão
no gás. Os dados experimentais podem ser vistos na Tabela 4.1.

Tabela 4.1: Dados experimentais

Pressão (mmHg) Temperatura (°C)


1 65 -20
2 75 16
3 85 42
4 95 94
5 105 126

A incerteza para a pressão e temperatura são constantes, com valores respectivamente iguais
a 1 mmHg e 2 °C.
As regras básicas que devem ser seguidas na construção de gráficos são:

1. Colocar um título, especificando o fenômeno físico em estudo, que relaciona as


grandezas medidas.
2. Escrever nos eixos coordenados as grandezas representadas, com suas respectivas
unidades. No eixo x (horizontal), eixo das abscissas, é lançado os valores da variável
independente. No eixo y (vertical), eixo das ordenadas, é lançado dos valores da variável
dependente, ou seja, aquela obtida em função da primeira.
3. Determinar os valores mínimos e máximos dos dados em ambos os eixos x e y. A escala
deve ser simples e sugere-se adotar valores múltiplos ou submúltiplos de números
inteiros.
4. A escala adotada num eixo não necessita ser igual a do outro.
5. Escolher escalas tais que a precisão dos pontos sobre o gráfico seja aproximadamente
igual à precisão dos pontos que representam os dados experimentais. Se por exemplo o
gráfico é feito muito mais precisamente do que o justificado pela precisão dos dados, os
pontos serão indevidamente espalhados e torna-se difícil opinar sobre a forma da curva.
6. Nunca se deve assinalar os dados, correspondentes aos pontos experimentais, sobre os
eixos coordenados.
7. É recomendável utilizar linhas de grade para facilitar a leitura dos dados experimentais.
8. Apresentar legenda com os elementos que compõem o gráfico (símbolos dos dados,
linhas representando retas de ajustes etc.).
9. As incertezas de cada medida devem ser apresentadas na forma de barra de erro sobre os
pontos experimentais, seguindo a escala do eixo para estabelecer o tamanho das barras.

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Seguindo esses passos teremos um gráfico para os dados da Tabela 4.1 como o
apresentado na Figura 4.1.

Medida do zero absoluto com termômetro de gás.


140

120
Dados experimentais
100

80
Temperatura (°C)

60

40

20

0
60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110

-20

-40
Pressão (mmHg)

Figura 4.1: Gráfico com os dados do experimento para determinar o zero absoluto.

Com base no gráfico é fácil perceber que a temperatura apresenta uma dependência linear
com a pressão para a condição estabelecida no experimento. Ou seja, podemos ajustar uma
função do tipo
(4.1)
na qual o y será a temperatura e x a pressão.
Para este experimento percebemos que o coeficiente A será a temperatura que o gás terá
quando a pressão for zero (se o gás não condensar antes em um líquido). Essa temperatura é
chamada de zero absoluto da temperatura. O coeficiente B depende da natureza do gás, da sua
massa e do seu volume. É preciso determinar o valor de A e B que melhor se ajustam aos dados
experimentais obtidos, isso pode ser feito utilizando o Método dos Mínimos Quadrados.

4.3 Método dos Mínimos Quadrados


Quando fazemos uma série de medições e elas apresentam uma relação linear do tipo
especificado pela equação (4.1), podemos indagar qual reta que melhor se ajuste às medidas, isto
é, determinar as melhores estimativas para os coeficientes A e B da equação (4.1), baseado nos
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dados experimentais . Nesta seção apresentaremos como obter os coeficientes utilizando


um método analítico chamado regressão linear ou ajuste por mínimos quadrados para uma reta.
Assumindo que os N pontos experimentais apresentam uma dependência linear
como a equação (4.1), que as incertezas nas medidas x são desprezíveis, e que as incertezas em y
possuem a mesma magnitude. O Método dos Mínimos Quadrados diz que os coeficientes que
melhor se ajustam para um conjunto de N pontos experimentais , ... , , são dados
por:

(4.2)

(4.3)

na qual introduzimos a conveniente abreviação para o denominador


(4.4)
Nas equações acima foi omitido dos somatórios os limites i=1 até N e os subscritos i em x e y.
Em todos os cálculos dos mínimos quadrados, as unidades podem ser suprimidas, e uma
análise dimensional para os coeficientes deve ser feito. Para os dados que estão sendo utilizados
como exemplo, Tabela 4.1, denominando a temperatura de T e pressão de P temos para a relação
(4.1):

A análise dimensional fica:

(4.5)

Uma forma de facilitar os cálculos dos coeficientes é montar, com base nos dados
experimentais, uma tabela (como a Tabela 4.2) com os valores relevantes. Uma vez feita a
análise dimensional dos coeficientes nesta tabela e demais cálculos devem ser feitos sem as
respectivas unidades.

Tabela 4.2: Valores necessários para o cálculo dos coeficientes pelo Método dos Mínimos Quadrados

i Pressão = x Temperatura = y x2 xy
1 65 -20 4225 -1300
2 75 16 5625 1200
3 85 42 7225 3570
4 95 94 9025 8930
5 105 126 11025 13230
N=5 425 258 37125 25630

Substituindo os valores da Tabela 4.2 nas equações (4.4), (4.2) e (4.3) obtém-se os
valores para os coeficientes da equação (4.1), que juntamente com a análise dimensional (4.5)
tornam-se:

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(4.6)

A equação que melhor descreve os dados experimentais apresentados na Tabela 4.1 é:


(4.7)

É necessário inserir a reta de ajuste no gráfico com os pontos experimentais. Para isso
devem ser definidos dois valores arbitrários para a pressão (variável independente da equação),
dentro dos limites dos dados experimentais, e calcular os respectivos valores para a temperatura
utilizando a equação (4.7). Os valores obtidos são apresentados na Tabela 4.3.
Tabela 4.3: Pontos utilizados para determinar a reta de ajuste
P (coordenada x) (mmHg) T (coordenada y) (°C)
65 -22,4
105 125,6

Ligando uma reta entre esses dois pontos obtém-se a reta de ajuste. O gráfico da Figura 4.2
mostra a reta de ajuste e os dados experimentais. A equação que estabelece a relação entre as
grandezas envolvidas, que nesse caso são a pressão (P) e temperatura (T), pode ser inserida no
gráfico ou apresentada de forma separa com a devida referência.

Medida do zero absoluto com termômetro de gás.


140

120

Dados experimentais
100
Reta ajuste

80
Temperatura (°C)

60

40

20

0
60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110

-20

-40
Pressão (mmHg)
Figura 4.2: Gráfico com dados experimentais e reta de ajuste

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Uma vez determinada à equação que melhor descreve os dados experimentais, equação
(4.7) para nosso exemplo, é possível fazer uma extrapolação da reta de ajuste. A extrapolação
consiste na porção da reta de ajuste fora da região dos pontos experimentais. Porém é importante
ter em mente que não há nenhuma garantia, a princípio, que o comportamento continue igual
fora da região dos dados experimentais. O uso de extrapolação dos resultados experimentais
deve ser utilizado com prudência!
Analisando a equação obtida, percebe-se que o valor para o zero absoluto corresponderia,
no exemplo trabalho, ao valor de -262,9 °C. O valor na literatura para o zero absoluto é definido
como -273,15°C (resultando no valor da constante de Boltzmann na Tabela 1.4). Ao comparar o
valor obtido com os dados experimentais e o da literatura encontra-se um erro relativo (em
módulo) de 3,75%, temos assim que o valor calculado foi 3,75% maior que o de referência. O
erro relativo entre o valor obtido e o valor de referência é uma forma de verificarmos a exatidão
do resultado. Outra informação relevante é sobre a precisão do resultado, mensurada pela
incerteza relativa do resultado. Para determinar a incerteza relativa é necessário estabelecer a
incerteza dos coeficientes obtidos pelo método dos mínimos quadrados.

4.3.1 Cálculo de incerteza dos coeficientes A e B


Durante o processo de medição dos valores , forma-se uma ideia sobre as
suas incertezas. No entanto, é importante lembrar que os números não são N
medidas de uma mesma grandeza. Logo, não há uma relação fidedigna da amplitude dos seus
valores.
Entretanto, pode-se estimar a incerteza nos números . Ao assumir que
cada segue uma distribuição normal em torno do seu valor verdadeiro obtido pela expressão
, com parâmetro de largura . Assim, os desvios têm uma distribuição
normal, todos com o mesmo valor central zero e a mesma largura . É possível mostrar que
neste caso, considerando a melhor estimativa para os coeficientes A e B dado respectivamente
pelas equações (4.2) e (4.3), que a incerteza das medidas é:

(4.8)

Mas uma vez é cômodo montar uma tabela para o cálculo de de forma análoga a montada
para o cálculo dos coeficientes pelo método dos mínimos quadrados.
O fator no denominador (N-2) mostra que para o caso de ter apenas dois pares de dados
não é possível fazer qualquer estimativa da incerteza, pois dois pontos
definem exatamente uma reta e a reta de ajuste necessariamente passará sobre os dois pontos
experimentais. Com isso a equação (4.8) retornará , indicando que não é possível
determinar com apenas duas medidas.
O objetivo nesta seção é apresentar as incertezas dos coeficientes A e B, que são
determinadas com base em da seguinte forma:

-------------------------------------------------------------------
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(4.9)

(4.10)

na qual Δ já foi definido na equação (4.4).


Aplicando as relações para a incerteza dos coeficientes descritas acima para os dados da
Tabela 4.1, utilizados como exemplo, obtém-se: e . O
resultado para os coeficientes e respectivas incertezas é:
e
É possível agora obter a incerteza relativa para os coeficientes, que para exemplo trabalhado foi
de 7,7% para o coeficiente A e 5,4% para o coeficiente B.

4.3.2 Caso particular: reta que passa pela origem


No estudo da Física, assim como nas demais ciências exatas e engenharias, há um caso
particular de relação linear entre grandezas muito comum: grandezas proporcionais entre si. Em
outras palavras quando há uma relação linear entre duas grandezas tal que o coeficiente linear
(A) da equação (4.1) é igual à zero, ou seja:
(4.11)
Este é o caso, por exemplo, da relação entre a massa (m) e o volume (V) de um corpo, com a
constante de proporcionalidade dada pela massa específica do corpo.
Para o caso particular em que os dados experimentais podem ser descritos pela equação
(4.11), e mantendo as considerações feitas anteriormente na introdução do método dos mínimos
quadrados, o coeficiente B será dado por:

(4.12)

A incerteza das medidas para este caso particular será dada por:

(4.13)

e a incerteza do coeficiente B será dada por:

(4.14)

Caso o coeficiente obtido esteja relacionado com a grandeza buscada por alguma
expressão matemática (por exemplo, multiplicação por constantes) deve-se utilizar as relações de
propagação de incerteza (incertezas combinadas) para medidas indiretas tratadas na seção 3.4
para isolar a grandeza buscada e a respectiva incerteza padrão combinada associada a ela.

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4.4 Exercícios
1- Para determinar a massa específica (ρ) de uma substância realizou-se um experimento no qual
se mediu o volume (V) e respectiva massa (m) da substância. Os dados coletados são
apresentados na tabela abaixo.

V (mL) 10 20 30 40 50
m (g) 127,5 302,0 380,5 592,0 685,5

As respectivas incertezas do volume e massa são 1 mL e 0,5 g. a) Construa um gráfico com os


dados experimentais. b) Determine utilizando a forma apropriada do método dos mínimos
quadrados a massa específica do material e respectiva incerteza. Insira no gráfico a reta de ajuste
obtida. c) Identifique com base na literatura qual o material mais provável da substância
analisada. d) Analise a exatidão (use o valor de referência do item c) e precisão do experimento.

2- Em um circuito a corrente elétrica (I) que passa pelo resistor, com resistência (R)
desconhecida, é medida em função da diferença de potencial (ΔV) nos terminais do resistor. Os
dados coletados são apresentados na tabela abaixo, as incertezas das medidas podem ser
desprezadas. Sabendo que a lei de Ohm estabelece que I=ΔV/R, determine utilizando o método
dos mínimos quadrados adequado a resistência, com unidade em Ω=V/A, e respectiva incerteza.

ΔV (V) 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00


I (mA) 43,30 97,50 169,30 191,40 263,80 291,20 361,70 419,80

3- Um corpo ao mover-se sobre um trilho de ar (dispositivo capaz de tornar o atrito durante o


deslocamento desprezível) inclinado descreve um movimento retilíneo uniformemente variado.
Os dados de tempo (t) e velocidade (v) do referido movimento estão descritos na tabela abaixo,
os respectivos instrumentos de medida utilizados tem incertezas de 0,01 s e 0,1 cm/s.

t (s) 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60


v (cm/s) 16,1 31,0 47,5 64,3 73,9 88,5 103,4

a) Utilize o método dos mínimos quadrados para determine a equação que melhor descreve a
velocidade do corpo em função do tempo. b) Determine a precisão para os valores obtidos. c)
Sabendo que a inclinação utilizada foi de (8±1)°, determine a aceleração da gravidade local com
respectiva incerteza. Calcule o erro relativo do valor obtido com a referência de 9,81 m/s² e
incerteza relativa para a aceleração da gravidade obtida no experimento.

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