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1º Semestre - 2022
Uminho | Direito
Objeto da História do Direito – Paradigmas Definitórios e
Descritivos
Como ciência, a História do Direito descreve e revela, pesquisa, esclarece e
explicita a vida jurídica de um povo em todos os seus aspetos, detendo-se nas
fontes, nos costumes, na legislação que o rege, enfim, em todas as
manifestações que resultam do conhecimento dos factos ocorridos. Como se
observa, a história do direito tem como objeto de estudo o próprio direito como
indagação, tendo o historiador do direito o papel de relatar o que efetivamente
vigorou como direito, pois a história do direito visa reconstruir as ordens jurídicas
que vigoraram no passado, ou seja, os institutos jurídicos e as fontes do Direito.
Hoje refletimos e trazemos à tona tudo o que na altura era invisível. Há três
vertentes tradicionais e fundamentais independentes da História do Direito (três
níveis de manifestação): Fontes do Direito, Instituições e Pensamento Jurídico.
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do pressuposto de que as normas jurídicas seriam o resultado de uma
evolução histórica e que a sua essência seria encontrada nos costumes e
nas crenças dos grupos sociais. O Direito advinha do “Espírito do Povo”. A
escola histórica do Direito surgiu como oposição ao jusracionalismo, que via
o Direito com bases na razão. A escola Histórica, de Savigny, era contra a
codificação, que marca o século XIX, dizendo que os códigos eram a
fossilização do direito.
2
História do Direito como Tarefa de Indagação
A indagação é a atividade dos historiadores. Devemos preservar um registo dos
feitos do Homem para a posterioridade. Contudo, História não é a mera
apreensão de um dado, mas a sua elaboração pelo agente cognoscente.
Envolve criação para além da “ponderação, cuidado e rigor” e refere-se à
metodologia que o historiador se serve para analisar, interpretar e descrever os
factos históricos, bem como a todo o labor de investigação. Indagação envolve
um forte caráter epistemológico e de reconstrução.
3
Compromisso do Historiador – Heródoto (História da Invasão Persa da
Grécia) – Não se preocupou com a verdade nem com detalhes. Consultou várias
fontes para narrar vários factos. Reconhecia que o historiador nunca é isento, o
que relata depende do que sabe, do que sente e da sua perspetiva pessoal.
Assim o historiador compromete a história, ou seja, participa na sua construção.
História como projeto de fusão das duas perspetivas anteriores: tentar evitar
a perspetiva romanceada e a busca intensa pela verdade dado que o conceito
de verdade é complicado em História.
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o historiador necessita de uma certa sensibilidade para saber quais são os
eventos de relevância histórica porque o que é produzido hoje pode ter
relevância histórica no futuro. Temos de esperar na linha do tempo porque a
distância temporal permite-nos ver melhor e saber mais (possuir mais objetos de
análise e factos passíveis de ser analisados com uma certa frieza).
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desconstruir fronteiras disciplinares. O Estado não cria Direito, cria leis, o Estado
e as leis estão submetidos ao Direito (diferença entre positivistas e
normativistas).
6
permanência de todos os juristas). É voltada para o futuro. Juízes menos
dogmáticos e preocupados com questões do mundo prático.
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O desenraizamento do indivíduo e a perda de espaços de integração normativo-
social, como aspetos fundamentais desta crise é possível identificar:
1. O desenraizamento e isolamento do indivíduo, cada vez mais
desagarrado de convicções e de mundos normativos que anteriormente
lhe proporcionavam proteção.
2. Crescente falta de fé de vínculos religiosos, fruto de uma descrença
generalizada em tudo o que não seja de fácil apreensão.
3. Hedonismo: caracteriza o Homem atual – o Homem busca o prazer, o
bem-estar individual, o seu único objetivo é a sua ascensão
socioeconómica.
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Fontes do Direito: Problema ⟶ a expressão comporta vários sentidos.
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História das instituições: as instituições jurídicas são ideias, organizações,
princípios que se encontram estabelecidos numa determinada sociedade, e que
têm uma natureza estrutural e estruturante. A instituição tem como principal
função a satisfação dos interesses coletivos e individuais do indivíduo. Estudo
do Direito tal qual ele se encontra nas normas jurídicas das mais diferentes
épocas. Capacidade de verificar até que ponto essas leis se aplicavam na
sociedade e o sentido dessa lei era compartilhado ou vivido. Se a lei não era
seguida, o historiador deve dizer o que era seguido (por exemplo, costumes).
Implica que a lei não possuía um caráter exclusivamente normativo.
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História do pensamento jurídico: complexo e questionável. Análise das
doutrinas, ideologias, ocupa-se da atividade científica, cultural e prática que, em
cada época, acompanhou o direito (realismo, jusnaturalismo, idealismo, etc.).
Reporta-se à teleologia, formação e atitude mental do jurista: reconhecer que os
juristas possuem um lugar de fala nas atividades que desenvolvem. Interessa
apurar as instituições jurídicas configuradas e se essas instituições eram
realmente vividas.
método hermenêutico-compreensivo
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Gadamer, continuação intelectual de Heidegger, escreve o próprio livro sobre
hermenêutica (“Verdade e Método”). Vai mostrar como se dá a prática da
hermenêutica por meio do sujeito (não é possível separar o sujeito do objeto). O
sujeito é visto enquanto sujeito que compreende (ser humano). Logo, no plano
hermenêutico, não é possível fazer uma cisão entre interpretar e aplicar. A
compreensão é da estrutura do ser e já está integrada na aplicação.
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• Mito da Idade do Ouro – época ideal
• Mito da utopia – sociedade ideal
• Mito da fundação e renovação – revolução
• Mito do inimigo e do salvador – Ditador/Salvador
A marca mítica é, assim, forte e importante num povo e tem um efeito percursos
nas constituições materiais. “Cada ideologia pretende ser (inconscientemente ou
não) um todo organizado e coerente de mitemas, ou mitos, ou temas míticos,
que renova e inter-relacionados numa tradição mítica própria.” PFC.
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No domínio das ciências sociais, não há elementos de pura originalidade ou
influência, mas afinidade eletivas, escolha das influências e a sua apropriação.
O processo de influência nunca é puro, o influído altera a própria receção de
influência. A influência de algo em nos depende daquilo que somos, da cultura
em que vivemos, da nossa capacidade de compreensão, aceitação e
transformação. Ninguém é influenciado da mesma forma.
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• História Interna: corresponde à história do direito, conhecimento do sistema
jurídico. Campo que se ocupa das instituições.
• História Externa: estudo da dimensão material do direito, elementos
exteriores ao sistema jurídico, mas que acabam por influenciá-lo. Estudo das
fontes do direito do passado.
Nunca será possível uma história que corresponda exclusivamente a uma destas
três vertentes, embora se possa ter uma predominância de uma delas.
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Inserção Sistemática da História do Direito nas
Ciências Jurídico-Humanistas
Existem três áreas disciplinares de que se compõe à formação de um jurista:
• Ciências jurídicas positivas/técnicas: ciências que, como o Direito
Constitucional, integram tradicionalmente uma boa parte da história e da
filosofia
• Ciências puras ou exatas (não jurídicas): ciências jurídicas que não são
pragmáticas, isto é, não visam dar solução imediata aos problemas, mas
contribuem para a resolução das questões concretas. As ciências jurídicas
humanísticas têm a ver com o que direito tem de mais fundamental, o
Homem, enquanto Pessoa, a sua liberdade, responsabilidade, em toda a sua
designação. Comungam, partilham com as humanidades um conjunto de
preocupações, métodos, inspirações e metodologias.
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Críticas oitocentistas e novecentistas à cientificidade do Direito em geral,
e das ciências jurídicas humanísticas em particular: O Direito, a reboque das
ciências naturais, Física, Química, Matemática, adota o seu racionalismo
dedutivo/formal. Não chega uma ciência positiva/ técnica para resolver os
problemas do Homem, é necessário conhecimento da natureza humana. O que
permite flexibilizar o direito ao ser humano são as ciências jurídico-humanísticas,
assim, as ciências mais técnicas vão buscar a reflexão das ciências
humanísticas. No entanto, estas ciências nem sempre foram bem vistas. O
cardeal de Luca (século XVIII) era contra a definição de direito como ciência,
questionando como era possível chamar ciência a um saber que não é absoluto.
Von Kirchman (século XIX) atacou fortemente a ciência jurídica através do
cientismo que defendia que uma ciência para o ser deveria produzir resultados
universais inequívocos. Assim, só as ciências naturais como a Física e a
Matemática poderiam ser consideradas verdadeiras ciências porque são
dedutivas, permitem um grau de certeza elevado. Kirchman publicou o ensaio “A
insignificância da jurisprudência com ciência”, em 1848, no qual interrogava “que
ciência é esta que tem como objeto aquilo que é efémero?”. Segundo o autor,
“três palavras do legislador e bibliotecas inteiras de doutrinas tornam-se numa
inutilidade”.
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1. O facto de estas disciplinas permitirem obter maior sucesso a nível prático
e profissional. Com uma sólida formação ao nível das ciências jurídico-
humanistas, haverá uma maior facilidade na resolução dos problemas
suscitados na atividade jurídica.
2. Em resposta às acusações de falta de cientificidade destes saberes, diz-
se que não só eles constituem verdadeiras ciências, como são muito
anteriores às ciências jurídicas técnicas – antiguidade das disciplinas.
3. As críticas às disciplinas não críticas a tais disciplinas em si mesmas.
4. As disciplinas jurídico-humanísticas são ciências, mas não são como as
ciências particulares, artilhadas para o desenvolvimento técnico. São
ciências primeiras, onde predominam exigências de rigor, de veracidade,
de fidelidade, de coerência, constituindo assim saberes com relativo grau
de estabilidade e uma dada suscetibilidade de reconstituição das teses
respetivas pelo recurso à razão demonstrativa
5. São imprescindíveis para as ciências jurídicas não humanísticas
6. Só estas disciplinas conseguem explicar o Direito, porque é assim e assim
deve continuar
7. Há questões inevitáveis no Homem, momentos de dúvida e reflexão
exigem uma necessidade destas disciplinas
8. São mais tolerantes à presença de disciplinas não jurídicas humanística
9. Sem estas disciplinas o direito transformar-se-ia numa empobrecida
geometria de leis: iríamos assistir a uma certa desumanização do direito.
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Problemas Epistemológicos Levantados pela
Historiografia Jurídica
Regime de mútua influência em que vive a História e o Direito: Quer seja
admitindo que o Direito seja apenas lei e ordem, quer considerando as múltiplas
aceções, não podemos desvinculá-las das suas origens. Para conhecer bem
uma legislação é necessário que se conheça bem a sua História. O Direito é
História na sua origem, essência e evolução: originou-se a partir dos usos e
costumes das sociedades primitivas influenciando depois diferentes civilizações.
A legislação é um produto histórico e insere-se numa continuidade histórica.
Toda a atividade jurisprudencial apresenta dimensões históricas fundamentais.
A História permite interpretar o Direito. Apesar de por vezes funcionarem num
conjunto, de por vezes se fundirem, uma diferença separa a história e o Direito:
o seu objetivo, objetivo do Direito é a justiça, enquanto o objetivo da História é a
verdade. Como forma de justificar a ligação entre Direito e História surgem 3
perspetivas:
1. Carl Joachin Friedrich: considerou que o Direito e a história são iguais, ou
seja, ambos se dedicam ao estudo de factos históricas, têm o mesmo objeto.
Tudo o que estudamos quando estudamos Direito é realmente História –
narração e testemunho de factos históricos.
2. Hegel: A História aproxima-se do Direito através do Estado. Ambos os
saberes são produtos do Estado, pois quem cria o Direito é o Estado, o
protagonista da História é o Estado.
3. José Mattoso: História e Direito tem a função comum de dar sentido à
realidade exterior, são ordens dadoras de sentido ao mundo (preconceitos
epistemológicos – colocar no centro apenas a História e o Direito como
dadores de sentido ao mundo).
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transformação do presente em passado. Ao legislar, decidimos que o que hoje
nos regia deixa de governar. Por outro lado, o labor jurisprudencial tem muita
indagação histórica: interessa realmente apurar o que efetivamente se passou.
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História Constitucional do Direito Português e
História do Direito Constitucional Português
Para uma História Constitucional do Direito Português: aspetos
fundamentais da ordem jurídica nacional (Direito Constitucional) que compõem
uma constituição – História da construção formal.
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Jusnaturalismo e Juspostivismo – não estudar
Direito Natural: Princípios universais e absolutos, dito superior decorrente da
própria natureza das coisas e da natureza humana independentes da vontade
do Homem. É a instância de legitimação do direito positivo.
Direito Positivo: Direito “posto” – fruto da vontade humana – estabelecido pelo
Homem de forma a satisfazer as necessidades do coletivo a partir dos princípios,
dos métodos, dos legados do Direito Natural.
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Evolução Histórica e Sistemática da Corrente
Jusnaturalista
A ideia do nascimento epistemológico do Direito, do ius redigere in artem
(direito escrito como arte), começa na Grécia, como vários aspetos da Civilização
Ocidental, e surge ligado à retórica. Porém, este legado grego de “pré-Direito”
era ainda marcado por uma “síncrise normativa”, em que o Direito era confundido
com outras ciências e as normas não possuíam natureza autónoma. Verificava-
se a necessidade do Direito se autonomizar. Essa autonomização do Direito teve
lugar em Roma, ainda sob inspiração helénica, dando-se o corte epistemológico
que permitiu a criação do Direito Romano – Ius Romanum. Afirma-se que há um
conjunto de princípios superiores às normas, pensamento de que deriva da
corrente jusnaturalista e que defende a existência de uma ideia de justiça. O
Direito tem, precisamente, muito a ver com a Justiça. Assim, no sentido da
criação do Ius Romanum, foram definidas características externas e internas
para uma lei com o objetivo de obter justiça.
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Além das características externas das normas jurídicas, para haver lei é preciso
que sejam observadas as características internas. O que nos leva aos tria
praecepta iuris, porque uma lei injusta não é lei:
• Honeste Vivere – viver honestamente): significa que ninguém deve
abusar dos seus poderes, dos seus direitos. Leva à proibição tanto do
abuso do direito como do abuso da liberdade.
• Altere non laedere – não prejudicar terceiros / não ofender ninguém:
trata-se de respeitar os direitos dos outros, de não prejudicar terceiros.
• Suum cuique tribuere – atribuir o seu a seu dono: remete para uma
atribuição de acordo com as necessidades individuais de cada indivíduo.
“O mais específico da arte atributiva do Direito.”
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Justiça Universal: comum a todos, compreende não só a justiça sob a forma do
ordenamento jurídico positivo, mas principalmente as leis não escritas,
universais e não revogáveis do Direito Natural. Para Aristóteles, a lei positiva tem
o seu fundamento nos costumes.
Justiça Particular: é a justiça fruto da vontade do Homem, criada com o
propósito de regular e promover a vida em sociedade. Tem por objetivo realizar
a igualdade entre o sujeito que age e o sujeito que sofre a ação:
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Os Realismos jurídicos e a sua inserção nas diversas
orientações Jusfilosóficas
Realismo Jurídico Norte-Americano (Século XIX-XX): Define que a ciência
jurídica deve dedicar-se ao estudo do modo como a justiça é aplicada nos
tribunais, sendo impossível dedicar-se ao estudo do direito como sistema lógico.
O direito legislado não é o mais importante. Existem outros elementos
extrajurídicos (como a etnia, aspetos sociais, a raça, crenças) cujo valor que
assumem na decisão dos magistrados é maior que o valor das leis.
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O jusnaturalismo positivista/titularidade como
corruptela dos pressupostos do Realismo Jurídico
Clássico – não estudar
O jusnaturalismo positivista/titularista trata-se de uma subcorrente do
jusnaturalismo que define que o direito tudo a ver com a Justiça e com a vontade
de alcançar essa Justiça. A Justiça confunde-se com a “perpétua vontade de
atribuir a cada um o que é seu” e a forma de o conseguir é através dos títulos
jurídicos. Só é possível defender os direitos de cada indivíduo se existirem títulos
por trás (as leis e fontes do direito). Esta ideia acaba por levar ao formalismo. Ao
positivar os direitos decorrentes da natureza humana afasta-se do
Jusnaturalismo e aproxima-se do Juspositivismo – Jusnaturalismo Positivista.
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Jusracionalismo como antecedente próximo de
concepções Juspositivistas Modernas e Nominalismo
Jurídico Occamista como antecedente remoto – não estudar
O jusracionalismo vai permitir a consagração positiva do direito natural e, por
isso, define-se como a corrente que opera a transição do Jusnaturalismo para o
Juspositivismo. Sendo o antecessor mais direito do Juspositivismo,
consideramos como sendo o antecessor mais distante do nominalismo
occamista. Esta última corrente desenvolve uma doutrina fundamental que se
opõe à doutrina vigente na altura (realismo). Caracteriza-se pela construção dos
direitos subjetivos uma vez que, contrariamente aos realistas (como S. Tomás
de Aquino) define que o nome cria as realidades, a linguagem cria a realidade e
esta não e existe sem o nome.
Nesta tríade, o elemento juridicamente distintivo não pode deixar de ser o suum.
Dá-se então uma consideração excessiva do suum (colocando-a sobre os
elementos personalistas e da justiça), mas a verdade é que a simples atribuição
justa e rigorosa do seu a seu dono tem formidáveis virtualidades de justiça e bem
aplicada em si mesma chega para fazer verdadeiro Direito.
Proposta marcada de influências da tradição realista clássica, humanista,
personalista, crítica e da análise mítica.
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Direito Positivo: Direito posto, Direito que os homens criaram a partir dos
princípios, dos métodos, dos legados do Direito Natural. Pode ser vigente,
obrigatório num determinado lugar e tempo, como de caráter Histórico (já teve
vigência, mas deixou de ter, embora continue positivo). O Direito Positivo não
contraria nem é alternativo ao Direito Natural
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nada têm. O Direito serve as classes dominantes, logo, se deixarem de existir
classes, deixa de haver direito e deixa de haver história.
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Promulgação da “Lei Seca”: Esta lei, promulga nos EUA, na primeira metade
do século XX, proibia a comercialização de bebidas alcoólicas – tem uma
natureza jurídica inexistente. Nas conceções jurídicas positivistas, qualquer
ordem jurídica tem conteúdo desde que o Estado tenha força para isso. Mesmo
conteúdos que não tenham força jurídica como foi a “lei seca” que não passava
de uma lei moral.
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conflitos, isolando-se como sendo a única instância capaz de os resolver.
Confunde-se com o Estado. É aqui que reside o atual problema: absorve uma
série de domínios para os quais não estava preparado.
pós-modernidade jurídicas.
Modernidade: Nasceu com o fim da Idade Média (séc. XV). A nível cultural
identificamos o pensamento moderno com o pensamento iluminista, com a
revolução francesa de 1789, e como a modernidade jurídica. Caracteriza-se
sobretudo pela crença ilimitada nas capacidades do indivíduo como sendo capaz
de alcançar a justiça, a felicidade, verdades absolutas, certezas científicas,
conhecimentos universais. O pensamento moderno identificava a criação
normativa com um legislador. O criador das normas era o Estado e o Direito eram
leis. No entanto, o Estado não é a única instância criadora de normas nem o
Direito se identifica unicamente com as leis, existem mais fontes.
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que se pode perder). A pós-modernidade está assim ligada a modelos
incoerentes. Para PFC a verdadeira superação da modernidade estaria na
recuperação do classicismo/realismo clássico.
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Início do Estudo da História do Direito
O Direito nem sempre existiu, não é uma realidade absoluta e imutável que tenha
sempre existido nos mesmos moldes. Terá o direito nascido com a História ou
com a Pré-História? O que distingue a História da Pré-História é a escrita. A
escrita não se trata de um fenómeno que surgiu em todo o lado ao mesmo tempo,
o que aconteceu a ritmos diferentes em diferentes pontos do globo – História
Mundial comparativa.
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Civilizações Arcaicas
• Civilizações Arcaicas: período de transição. As comunidades transitam
para a escrita, conhecem-na, mas já não a utilizam em todas as suas
atividades e domínios (só em domínios muito restritos dessas
sociedades). Estão num estádio de desenvolvimento entre as pré-
históricas e históricas.
o Direito Arcaico: as primeiras expressões deste direito são a
génese do direito atual,
o A informalidade já não se verifica, pois, temos também uma
autoridade política, centralizada num plano territorial, que faz valor
o direito – Raízes do Direito Antigo.
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Complexidade: estas normatividades eram bastante complexas. Direitos
bastante elaborados que ofereciam um grau de elaboração rigoroso.
Normatividades Arcaicas
Normatividades Pré-Clássicas Ocidentais: a civilização micénica alcança o
estado arcaico no século XVII a.c. Foi a civilização que antecedeu a civilização
clássica grega. Davam importância ao juramento e à palavra dada bem como ªa
teoria do dom e da dádiva. A dádiva é a oferta que se organiza na expectativa
de oferta recíproca (dou na medida de receber em medida igual), produzia uma
aliança entre cidadãos.
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Grandes culturas jurídicas do Oriente Antigo e o
seu legado para as culturas clássicas
Os mais antigos documentos remontam de 3000 a.c. atrás da bacia do
mediterrâneo – zona da Mesopotâmia, Egito, aqui foram-se desenvolvendo
civilizações muito prósperas devido à proximidade com o rio.
• Próximo Oriente: Egito, Babilónia, Suméria, Assíria, Acádia e Israel
• Extremo Oriente: China e Índia
a.c.)
O Direito egípcio é o primeiro sistema jurídico sistematizado de que há registo.
O traço mais característico deste povo é a íntima ligação de juricidade (regras
fruto da vontade do Faraó – detentor do poder e intermediário entre o povo e
Deus) com a Religião. Não havia uma autonomização jurídica, o direito estava
aliado à religião.
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A vida no além, primeiramente, apenas concedida ao Faraó pelo facto de se
identificar com Mâat, não era submetido ao julgamento de Osíris.
Posteriormente, o Faraó passou a ser igualmente julgado pela deusa da justiça
e da verdade de forma a provar se de facto poderia ascender à imortalidade.
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Progresso representado pela lei de talião e recurso a sanções pecuniárias:
a Lei de Talião consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena. Define
que uma pessoa que feriu outra, por exemplo, deve ser penalizada em grau
semelhante, há uma equivalência entre o mal cometido e a pena a aplicar.
Introduzida pela primeira vez no Código de Hammurabi constitui um progresso
tremendo.
Kettu – direito mais concreto e de aplicação mais rígida: que tem o intuito de
fazer face às necessidades é uma justiça mais pragmática que se assemelha ao
nosso direito positivo.
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Direito Chinês da Antiguidade
Alternância histórica entre as ordens normativas do li e do fá: na Antiga
China era extremamente desonroso resolver as questões por via judicial e ter de
recorrer ao tribunal. As pessoas deveriam resolver os seus litígios sozinhas
através das regras sociais. O direito chinês não é um direito religioso, está sim
integrado numa conceção filosófica: o Confucionismo (séc. V a.C. – Confúcio).
A História do Direito Chinês é a do eterno antagonismo entre duas
noções/modelos de Direito: Li e Fá.
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É assim constituído pela Suna (costume, tradição), considerada a segunda fonte
de direito, que completa o texto do Alcorão. Trata-se do relato da vida e dos feitos
de Maomé recolhidos e redigidos pelos fiéis.
A fonte de Direito não era a lei escrita – o Direito provinha antes de uma ideia de
justiça universal partilhada no coletivo pelas várias polis; provinha de uma ideia
de justiça presente na consciência coletiva e não nas leis. Daí a inexistência de
uma classe de juristas na Grécia Antiga bem como a escassez de legislação.
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Apesar da defesa de criação de uma classe de juristas profissionais por parte de
Aristóteles, a mesma só surge com os romanos.
42
A retórica e argumentação como instrumentos fundamentais na realização
da justiça grega. O florescimento dos logógrafos, antecessores dos
sofistas
É no contexto acima descrito que surge a retórica e argumentação. A retórica
estava muito ligada ao discurso manipulador, caracterizava-se pela inventio –
criação de argumentos de forma a convencer as assembleias que tomavam as
decisões. A dada altura dava-se mais importância à forma do discurso do que á
veracidade dos factos, á matéria substantiva - a justiça tornou-se muito teatral.
Neste âmbito surgem os logógrafos, mestres que vendiam “palavras bonitas”
(antecessores dos sofistas e advogados). Estando presentes nas assembleias,
tinham grande capacidade para elaborar bonitos discursos e excelentes
argumentações.
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Os sofistas referem-se a um direito natural numa perspetiva diferente – definem
que o homem está no centro do universo, que tudo gira á sua volta –
Jusnaturalismo Antropocêntrico. Para os sofistas o direito não tinha a sua
origem nos deuses, a sua fonte era antes o ser humano. Definia-se que não era
possível chegar a uma verdade plena e absoluta, a verdade era relativa.
Considerava-se justo aquilo que era bom e útil para a sociedade. A divisão
fundamental que os sofistas sublinham é entre tudo aquilo que se pode subtrair
ao arbítrio da vontade humana. Aquilo que está excluído/fora do alcance da
vontade humana identifica-se com a natureza – a physis. O Jusnaturalismo já
não é cosmológico, o que interessa verificar é quais são as necessidades e
interesses dos homens, já que eles são “a medida de todas as coisas”
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Aristóteles, discípulo de Platão introduz uma alteração na teoria das ideias:
define que a própria realidade não se limita a ser um espelho das ideias – ela
tem as ideias. A essência das coisas não está no mundo inteligível, mas sim no
mundo empírico. Embora este realismo epistemológico possa diferir da
conceção de Platão, ambos partilham a mesma ideia de moral, de justiça e de
Estado. A ideia de Platão, Aristóteles bem como Sócrates acerca do Estado é a
mesma: ambos vêm o Estado como instrumento para desenvolver a natureza
dos homens e alcançar a felicidade. Neste sentido, mesmo que as leis sejam
injustas, devem ser respeitadas e não desobedecidas de forma a evitar a
desarmonia. Aristóteles faz a distinção entre justo legal (justiça particular) e
justiça natural (justiça geral).
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CAPÍTULO VII – Estudar sai no teste – Muito importante
Tópicos de resposta
• São abertas ao questionamento – Zetéticas
• Humanização do jurista e consequentemente do Direito
• São de fundamental importância para o desenvolvimento das Ciências
Jurídicas não Humanísticas
• Só as disciplinas Jurísticas Humanistas podem dizer o que é o Direito
Introdução
Pré-direito: Religião – Lei – Magia
• Características do Direito:
o Unicidade na multiplicidade
o Mutável – sistema sempre em alteração
o Norma – expectativa social estabilizada no tempo
o O direito afirma-se na violação da norma – sanção
o Acompanha a evolução histórica
o Teoricamente não pode/deve ser corrompido
o Inegabilidade do ponto de partida (Lei)
• Disciplina dietética ≠ Disciplina Dogmática (jurídico): conjunto de
valores fundados no passado que visam o futuro.
o Contestável;
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Critical legal studies, teoria crítica da escola de França, etc. – “Lente” usada para
compreender a realidade e, a partir dessa lente criar mudança e
consequentemente progresso. Teorias mal vistas por uma parte dos estudiosos
do direito por consequência de uma visão em que o Direito não deve ser letrado.
Risco ≠ perigo: risco implica uma ação perigo implica uma consequência.
O direito joga com expectativas normativas.
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“Teoria é visão”. O historiador tem que indagar, procurar a verdade – A
história é indagação – Um facto é passado, então, toda a indagação de índole
histórica refere-se a factos passados. Estória. (Factos menores, fábulas, etc) ≠
História.
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• Ciência
• É o próprio discurso capaz de transformar a história
Tipos de História:
• História narrativa – mera descrição dos factos, não tenta teorizar os
factos.
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• História pragmática – extrair do passado algumas lições que sirvam para
a aprendizagem.
• História genética – sentido evolutivo da compreensão dos factos com um
fim. História científica, tem a pretensão de operar sobre métodos rigorosos
de analisar o passado.
Método hermenêutico compreensivo – comunicação, compreensão.
Hermenêutica tem um papel muito próprio. Discussão filosófica – pergunta pelo
sentido do ser – o ser tem uma estrutura, essa estrutura é o compreender. O
desenvolvimento da compreensão se dá pela interpretação, na interpretação o
compreender ser apropria do compreendido. Pelo facto de estarmos no mundo
há uma compreensão que se antecipa a todo o tipo de explicação.
O mito pode ajudar a explicar como se estabelecem certos ritos, o mito possui
um papel muito importante na sociedade e na cultura. História mítica das
constituições – dimensão mítica e aspetos míticos – é uma narrativa que envolve
algumas ideias “força” e alguma ideologia – o direito é todo ele fictional. A
constituição portuguesa tem aspetos místicos, mítico no sentido sagrado.
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Exorcizar o passado, e recuperação dos direitos fundamentais e liberdades. Mito
utópico. La citta del sole, Nova Atlântica, Utopia. Mito de passagem – A revolução
tem um caráter libertador, renovador.
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As ciências jurídicas humanísticas podem ser consideradas ciências científicas?
Sim são as ciências primeiras, são sapiência, preocupam-se com as causas
últimas, são vitais para as ciências jurídicas.
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Lei eterna: expressão da razão universal. Nem tudo o que é estabelecido pelo
direito é justo. Cícero não se baseia na arbitrariedade. Relação entre direito
natural e direito dos povos.
O direito natural pode ser o mais alto critério teórico que o jurista tem.
53
Contrato tem, simultaneamente, uma vertente jurídica e económica.
Realismo jurídico: uma postura jurídica que tem como fórmula básica a
admissibilidade de um Direito Natural real, o qual se diferencia do Direito Natural
racionalista da modernidade. Esse direito real seria anterior ao direito positivo.
Característica do Ultrarealismo
Ultramoderno
Integral
Personalista
A chave metodológica tem de ser compreensiva baseada no ser do Direito
Elementos em comum:
• Postura empírica – preocupado com a tomada de decisão judicial
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• Preocupação com a vida judiciária do direito
• Teoria geral do Direito e os seus problemas
• Relevo Histórico e sociológico das questões relacionadas com o direito
o Direito pertence a uma determinada realidade – histórica, cultural…
• O Direito não pode ser separado da Sociedade
“Esta é uma questão boa para a prova” – relacionar sociologia e direito. Crítica
à dogmática jurídica. Ensino jurídico é mero treino
“Gosto de pedir à parte mais dura da matéria: aquele bloco inicial” / “início do
estuda história”
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