Conflitos Pos Eleitoral
Conflitos Pos Eleitoral
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Quelimane
2024
António Mário Camacho
Dodoca Danito
Melito Constantino Costa
Quelimane
2024
Índice
1.Introdução ................................................................................................................................ 3
1.1.Objectivos ............................................................................................................................. 3
1.1.1.Objectivo Geral.................................................................................................................. 3
1.2.Metodologias ........................................................................................................................ 3
3.Conclusão .............................................................................................................................. 12
1. Introdução
Moçambique, desde a sua independência em 1975, tem realizado sucessivas eleições
com o objectivo de consolidar a democracia e o Estado de direito. No entanto, o processo
eleitoral nem sempre se desenrola de forma pacífica, com a ocorrência de conflitos pós-
eleitorais que afectam a estabilidade social e política do país. Os conflitos pós-eleitorais
representam um fenómeno complexo e desafiador, tendo um impacto significativo na
estabilidade política e social de um país. Neste contexto, o presente trabalho tem como
objectivo falar sobre os conflitos pós-eleitorais em Moçambique, focando nas suas causas,
resoluções e no impacto da educação dos líderes religiosos na direcção e administração de
cargos eleitorais.
1.1.Objectivos
1.1.1. Objectivo Geral
Falar sobre os conflitos pós-eleitorais em Moçambique.
1.2.Metodologias
A metodologia utilizada neste trabalho foi com base em pesquisa bibliográfica. A
pesquisa bibliográfica foi realizada mediante a leitura de livros, artigos científicos, revistas
especializadas e outros documentos relevantes sobre o tema.
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O Acordo Geral de Paz de 1992, assinado entre a Frelimo e a Renamo, trouxe paz e
democracia.
Segundo Silva (2016), o país devastado pela guerra torna-se uma democracia
presidencial detentora de sufrágio universal directo e secreto. As eleições presidenciais, por
sistema maioritário, e as eleições parlamentares, por sistema proporcional, decorrem
simultaneamente, com um intervalo de cinco anos. Todos os actos eleitorais são organizados
pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e pelo Secretariado Técnico de Administração
Eleitoral (STAE).
Para além da elevada taxa de abstenção, as eleições são marcadas pela fraude e pela
desconfiança interpartidária. Falhas técnicas no recenseamento dos eleitores, fraudes no
apuramento e processamento dos resultados e enganos na requalificação de votos nulos
tornaram-se comuns e beneficiam sobretudo a Frelimo (Brito, 2009).
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Nas eleições gerais de 2014, houve problemas em cerca de 12% das seções eleitorais.
Consequentemente, a Renamo rejeita de forma consistente os resultados por motivos de
fraude (Open Society Initiative for Southern Africa, AfriMAP, 2009). Por fim, os períodos
eleitorais são cada vez mais marcados por violência interpartidária. Em 2000, num protesto
contra resultados eleitorais em Montepuez, morreram nove pessoas. O mesmo sucedeu em
Mocímboa da Praia, em 2005. As eleições municipais de 2013 também foram marcadas por
violência, nomeadamente na Beira, assim como nas eleições gerais de 2014, nas províncias de
Gaza, Tete, Nampula e Sofala (Hanlon, 2014).
Conforme defende Omotola (2008, p. 01), “as eleições não apenas permitem
competição política, participação e legitimidade dos governos eleitos mas também permitem
uma mudança pacífica de poder, tornando possível atribuir responsabilidade àqueles que
governam”. Qualquer tentativa de perverter o processo eleitoral contra essas virtudes pode
servir para engendrar a conflitos eleitoral.
Para Hoglund (2009, p. 414), “embora o conflito eleitoral ocorra com frequência em
países que sofreram com outras formas de conflito, é o motivo, e o momento que tornam a
análise da violência eleitoral um fenómeno distinto da violência política”. O real motivo do
conflito eleitoral e de influenciar o processo eleitoral.
Por sua vez Norris (2012, p. 09), defende que “o não cumprimento dos padrões
internacionais de integridade eleitoral é um dos factores importantes para a eclosão de
protestos pós-eleitorais”. Ou seja argumenta que a manipulação eleitoral irá desencadear
protestos pós-eleitorais e, é particularmente alta em regimes que têm pouca experiência com a
competição democrática como foi o caso de Zanzibar, Malawi e Etiópia.
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Daxecker (2012), por sua vez mostra que a massiva presença dos observadores
internacionais e de renome tendem a aumentar a probabilidade de ocorrência da violêndo
conflito pós-eleitoral se as eleições em questão forem fraudulentas. Por sua vez Daxecker
(2012), defende que eleições fraudulentas monitoradas por organizações internacionais serão
mais susceptíveis a conflitos porque um terceiro independente pode revelar a fraude de forma
mais confiável do que as instituições domésticas.
Conforme Vaux et al. (2006), estes conflitos geralmente são resultado de:
Entretanto, frente a esse cenário, em primeiro lugar, é de salientar que a crise eleitoral
indica que Moçambique é um Estado frágil repleto de dificuldades sistémicas e institucionais,
que tornam o ato eleitoral extremamente ineficaz. Em segundo lugar, a abstenção, fraude e
violência surgem em parte na centralização do poder pela Frelimo. Por um lado, a partir do
momento em que domina a cena política, a Frelimo torna o voto inútil aos olhos da
população. Por um lado, o partido eleva as ocorrências fraudulentas e a desconfiança
interpartidária, num esforço de eclipsar os outros partidos. Por último, as dificuldades
eleitorais originaram também um fracasso da Renamo enquanto partido político. Hoje, a
Renamo é um partido-guerrilha que recorre à violência, e não à política, como forma de
exercer pressão. Em Moçambique, o voto é visto com desdém e com desconfiança.
a) Mecanismos formais:
Tribunal Constitucional: O Tribunal Constitucional (TC) é o principal responsável por
resolver disputas eleitorais. No entanto, sua capacidade de resolver conflitos de forma
imparcial e eficaz tem sido questionada, principalmente pela oposição.
CNE: A Comissão Nacional de Eleições (CNE) também tem um papel na resolução de
conflitos eleitorais, mas sua actuação é limitada.
Diálogo político: O diálogo entre os partidos políticos é fundamental para resolver
conflitos pós-eleitorais. No entanto, este diálogo nem sempre é fácil de estabelecer,
especialmente em um clima de tensão e desconfiança.
b) Mecanismos informais:
Mediação: A mediação por parte de organizações da sociedade civil ou líderes
religiosos pode ser útil para resolver conflitos pós-eleitorais.
Trabalho de base: O trabalho de base com as comunidades pode ajudar a prevenir a
violência e promover a reconciliação.
Eleições de 2009: As eleições de 2009 foram muito contestadas pela Renamo, que
alegou fraude generalizada. A crise foi resolvida através de um acordo político
mediado pela comunidade internacional.
Eleições de 2014: As eleições de 2014 também foram contestadas pela Renamo, que
boicotou a segunda volta das eleições presidenciais. A crise não foi resolvida de forma
pacífica e resultou em violência no centro do país.
Eleições autárquicas de 2023: As eleições autárquicas de 2023 foram novamente
contestadas pela Renamo e MDM. A crise ainda está em curso, mas há esforços para
resolvê-la através do diálogo político.
Além disso, o Conselho Cristão de Moçambique (CCM) traçou uma estratégia para
evitar a ocorrência de conflitos pós-eleitorais nas autárquicas de 2023 e gerais de 2024.
Para estes pleitos, de acordo com Silva (2023), a organização religiosa promoveu
contactos com os partidos políticos e órgãos eleitorais, promovendo o diálogo, no âmbito do
projecto “Eu Oro, Eu Voto”, financiado pela organização alemã Pão para o Mundo (“Brot für
die Welt”, em alemão).
De acordo com Oliveira (2022), líderes com maior nível de educação, especialmente
em áreas como teologia, ética e cidadania, podem estar mais aptos a:
3. Conclusão
Terminado o trabalho conclui-se que, os conflitos pós-eleitorais em Moçambique são
um problema complexo com raízes históricas, sociais e políticas. A resolução deste problema
exige um esforço multifacetado que envolva o Estado, os partidos políticos, a sociedade civil
e os líderes religiosos.
Para além da educação dos líderes religiosos, outras medidas que podem ser tomadas
para prevenir e mitigar os conflitos pós-eleitorais em Moçambique incluem o reforço da
institucionalidade democrática, a promoção da cultura de paz e tolerância, o combate à
pobreza e à desigualdade social e a melhoria da transparência e da justiça no processo
eleitoral.
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4. Referências bibliográficas
AFRIMAP. (2009). Moçambique: Democracia e participação politica. Africa do Sul:
Compress.
Gloor, A. (2005). Electoral conflicts: Conflict triggers and approaches for conflict
management Case study Mozambique: General elections 2004, Peace, Conflict and
Development: An Interdisciplinary Journal. Vol. 7, July 2005. Disponível em
http://www.peacestudiesjournal.org.uk. Acesso em 26 de fev. de 2024.
Laakso, L. (2007). Insights into electoral violence in Africa. In: Basedau, ERDMANN
e MEHLER, 2007, pp. 224–252.
Silva, R. (2023). Moçambique: Mais diálogo para evitar conflitos nas eleições.
Maputo.