STJ EARESP 1759860 b2354
STJ EARESP 1759860 b2354
Documento: 2148594 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 21/03/2022 Página 2 de 4
Superior Tribunal de Justiça
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº
1.759.860 - PI (2020/0240127-7)
EMBARGANTE : JOAQUIM ROCHA CIPRIANO
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE SOUSA MACÊDO JÚNIOR - PI002291
ANTONIO DE SOUSA MACEDO NETO - PI010309
EMBARGADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
RELATÓRIO
É o relatório.
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EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº
1.759.860 - PI (2020/0240127-7)
EMENTA
VOTO
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A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (RELATORA):
O acórdão embargado da QUINTA TURMA ratificou a decisão da Presidência
de intempestividade do recurso, ressaltando que "não há que se falar em erro na informação
prestada pelo TJPI a respeito do prazo para interposição do agravo em recurso especial,
pois a informação considerou o feriado local que não foi comprovado pelo
agravante no ato da interposição do agravo em recurso especial conforme dispõeo art.
1003, § 6º, do CPC" (fl. 801).
Sustenta o Embargante que o acórdão embargado diverge do paradigma
prolatado nos autos do AgInt no AREsp 1.303.415/TO, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 19/02/2019, DJe de 11/03/2019, que entendeu pela
tempestividade do recurso interposto com base nas informações prestadas pelo sistema
eletrônico, fornecidas pelo próprio judiciário. Pondera que "o entendimento é pela confiança
nos dados fornecidos pelo Poder Judiciário no sistema eletrônico, não admitindo punir a
parte que confia na informação, independentemente de prova de feriado local, em matéria
de prazo recursal" (fls. 831-832).
Cumpre observar, desde logo, que a controvérsia não reside na necessidade de o
recorrente comprovar a existência de feriado local no ato de interposição do recurso, questão já
exaustivamente examinada e decidida no âmbito desta Corte Especial, no sentido de que a única
exceção à regra da obrigatoriedade de comprovação de feriado local no ato de interposição do
recurso é o da segunda-feira de carnaval, conforme entendimento assentado no julgamento da
QO no REsp 1.813.684/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, julgada em 03/02/2020, DJe
28/02/2020, com modulação dos efeitos, reafirmado por ocasião do julgamento dos EDcl na QO
no REsp 1.813.684/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em
19/05/2021, DJe 20/08/2021.
A questão controvertida é se o erro do sistema eletrônico do Tribunal a quo na
indicação do término do prazo recursal seria apto a configurar justa causa para afastar a
intempestividade do recurso ou se, a despeito da falha, seria ônus indeclinável do advogado
diligenciar sobre a comprovação do feriado local e, por conseguinte, do prazo recursal.
O acórdão embargado entendeu que o mencionado erro do Judiciário não isenta
o advogado de provar, por documento idôneo, no ato de interposição do recurso, o feriado local.
O acórdão paradigma, ao revés, entendeu que tal falha pode configurar a justa
causa prevista no caput e § 1º do art. 183 do Código de Processo Civil de 1973, reproduzido no
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art. 223, § 1º, do Código de Processo Civil de 2015.
Entendo, portanto, que está devidamente demonstrada a dissidência
jurisprudencial, a ensejar o conhecimento dos embargos de divergência.
No mérito, com a devida vênia dos entendimentos contrários, penso que a falha
induzida por informação equivocada prestada por sistema eletrônico de tribunal deve ser levada
em consideração, em homenagem aos princípios da boa-fé e da confiança, para a aferição da
tempestividade do recurso.
Eis, a propósito, os fundamentos declinados no voto condutor do julgado
paradigma, aos quais adiro:
"[...]
Em se tratando da ocorrência de feriado local para efeito de
tempestividade do recurso, a comprovação dar-se-á no ato da interposição,
mediante documento idôneo, sendo inaplicável a essa situação específica a
regra da possibilidade de regularização posterior.
Todavia, da análise detida dos autos, extrai-se que, no mesmo ato
ordinatório, evento 52 (fl. 321, e-STJ), o sistema eletrônico efetuou a
intimação e calculou o prazo de 30 dias úteis para a interposição de
recurso, fixando a data final para 4.4.2018.
Inicialmente cumpre destacar que durante muito tempo a
jurisprudência do STJ entendeu que as informações processuais disponíveis
na internet não substituem os meios formais de publicação e intimação dos
atos processuais. Afirmava-se que eventuais omissões ou equívocos
ocorridos nesses andamentos não justificam a devolução do prazo recursal,
e o eventual erro na sua divulgação não constituía justa causa a ensejar a
devolução de prazo processual.
Contudo, esse entendimento começou a ser modificado por esta
Corte Superior, que passou a entender que, no caso de problema técnico do
sistema, ou até mesmo de algum erro ou omissão do serventuário da justiça
responsável pelo registro dos andamentos que porventura prejudique umas
das partes, poderá ser configurada a justa causa prevista no caput e § 1º
do art. 183 do CPC/1973, reproduzido no art. 223, § 1º, do CPC/2015.
A propósito:
AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL.
TEMPESTIVIDADE. FERIADO LOCAL. COMPROVAÇÃO A
POSTERIORI. MATÉRIA EM DISCUSSÃO NA CORTE ESPECIAL.
INFORMAÇÕES PROCESSUAIS. SITE DO TRIBUNAL DE
ORIGEM. MANUTENÇÃO DA LINHA DE ENTENDIMENTO
ADOTADA EM DECISÃO ANTERIOR.
1- Questão relativa à possibilidade de comprovação de
feriado local posteriormente à interposição do recurso especial
ainda não pacificada pela Corte Especial.
2- No curso da presente ação, esta Turma flexibilizou o
entendimento jurisprudencial então vigente, no sentido de que as
informações divulgadas pelos sites dos Tribunais não possuíam
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caráter oficial, o que, à época, beneficiou os agravados em
detrimento dos interesses da agravante.
3- Especificidade da hipótese concreta que autoriza o
reconhecimento da tempestividade do recurso especial, a fim de
evitar que sejam adotados entendimentos contraditórios no curso
da mesma ação.
4- Agravo interno provido.
(AgInt no REsp 1663221/TO, Rel. Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA, Rel. p/ Acórdão Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/08/2017, DJe
25/08/2017).
A meu sentir, embora seja ônus do advogado a prática dos atos processuais
segundo as formas e prazos previstos em lei, o Código de Processo Civil abre a possibilidade
de a parte indicar motivo justo para o seu descumprimento, a fim de mitigar a exigência, in
verbis:
"Art. 223. Decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar ou
de emendar o ato processual, independentemente de declaração judicial,
ficando assegurado, porém, à parte provar que não o realizou por justa
causa.
§ 1º Considera-se justa causa o evento alheio à vontade da parte e
que a impediu de praticar o ato por si ou por mandatário.
§ 2º Verificada a justa causa, o juiz permitirá à parte a prática do
ato no prazo que lhe assinar."
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
CORTE ESPECIAL
Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro HUMBERTO MARTINS
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. LINDÔRA MARIA ARAÚJO
Secretária
Bela. VÂNIA MARIA SOARES ROCHA
AUTUAÇÃO
EMBARGANTE : JOAQUIM ROCHA CIPRIANO
ADVOGADOS : ANTÔNIO DE SOUSA MACÊDO JÚNIOR - PI002291
ANTONIO DE SOUSA MACEDO NETO - PI010309
EMBARGADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Corte Especial, por unanimidade, conheceu dos embargos de divergência e deu-lhes
provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Maria Thereza de Assis Moura, Herman
Benjamin, Jorge Mussi, Luis Felipe Salomão, Benedito Gonçalves, Raul Araújo, Maria Isabel
Gallotti, Sérgio Kukina e Nancy Andrighi votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Francisco Falcão, Og Fernandes, Mauro
Campbell Marques e Paulo de Tarso Sanseverino.
Licenciado o Sr. Ministro Felix Fischer.
Convocado o Sr. Ministro Sérgio Kukina.
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