Microscopia Óptica
Microscopia Óptica
AULA
Microscopia óptica
a b
Figura 1.1: (a) Insetos como o mosquito Aedes são visíveis a olho nu, mas para vermos
detalhes como o olho composto (b), necessitamos utilizar equipamentos especiais
(Fotos: Márcia Attias).
HISTÓRICO
8 CEDERJ
1 MÓDULO 1
AULA
Figura 1.2: (a) Microscópio seme-
lhante ao usado por Hooke.
As partes componentes são análo-
gas às dos microscópios usados
hoje em dia. (b) Reprodução de
um desenho feito por Hooke a
partir da observação de lâminas de
cortiça ao microscópio construído
por ele. Cada um dos espaços
foi por ele chamado de célula.
a b
O inglês Robert Hooke foi, em pleno século XVII, o que hoje chamamos de “homem
dos sete instrumentos”, atuando com contribuições relevantes nos campos da
Física, Astronomia, Química, Biologia, Geologia, Arquitetura e Tecnologia Naval.
Foi colaborador de cientistas como Isaac Newton, seu grande rival da época, e
Robert Boyle, a quem auxiliou na determinação das leis dos gases. Correspondeu-
se com Antony van Leeuwenhoek confirmando suas observações ao microscópio.
Entre outras criações, inventou ou melhorou instrumentos como o barômetro
e o anemômetro e um mecanismo que tornou os relógios mais precisos.
A Lei de Hooke, equação que descreve a elasticidade, é empregada até hoje. Suas
contribuições nos campos da Biologia e Paleontologia não foram menos importantes.
A reputação de Hooke na história da Biologia se deve em grande parte a sua obra
Micrographia, publicada em 1665. Hooke desenvolveu o microscópio composto
e o sistema de iluminação mostrados na Figura 1.2.a, utilizando-o para descrever
detalhadamente uma grande variedade de organismos como insetos, esponjas, penas
e aquela que parece ser sua maior contribuição, finas lâminas de cortiça (Figura 1.2.b).
Em desenhos detalhados, Hooke descreveu a estrutura como pequenos poros, semelhantes a
favos de mel, dando-lhes o nome de células (= pequenas celas, alojamentos dos monges nos
conventos). Embora as estruturas observadas correspondessem apenas às paredes celulares
de células vegetais já mortas, o nome prevaleceu e dele derivaram os termos Citologia e,
mais modernamente, a Biologia Celular. Sua obra permanece até hoje, embora não exista
nenhum registro de sua própria aparência.
Lente
Figura 1.3: Um dos microscópios
montados por Leeuwenhoek.
CEDERJ 9
Biologia Celular I | Microscopia óptica
Lente ocular
Foco macrométrico
Foco micrométrico
Figura 1.4: Principais compo-
nentes de um microscópio Objetiva
óptico simples. Platina
Lente condensadora
Fonte de iluminação
10 CEDERJ
MÓDULO 1
1
AULA
Figura 1.5: Esquema da formação da imagem em um microscópio óptico simples.
O LIMITE DE RESOLUÇÃO
CEDERJ 11
Biologia Celular I | Microscopia óptica
O limite de resolução
O ponto-chave da Microscopia, seja ela óptica ou eletrônica, é o limite de resolução de
um microscópio. Este conceito é bastante simples: trata-se da menor distância entre dois
pontos em que eles podem ser vistos como objetos distintos.
Os objetos A e B estão a uma distância que nos permite separá-los como distintos, mas se
eles estiverem muito próximos, não podem ser nitidamente separados, ou seja, o poder de
resolução dos nossos olhos não é suficiente para determinar os limites de cada objeto.
A B
Esse conceito é universalmente expresso na seguinte fórmula: d = 0,61λ
α
em que:
d= limite de resolução.
λ = comprimento de onda da radiação utilizada; no caso do feixe luminoso do microscópio
óptico, 550nm.
α= n.sen θ, onde n é o índice de refração do meio (ar/água) e q é metade do ângulo
formado pelo cone de luz que entra na objetiva (Figura 1.6).
Lente objetiva
Cone de luz
Figura 1.6
Feitas as contas, d= 0,2µm no microscópio óptico e, como você deve saber, 1µm = 10-6m.
12 CEDERJ
MÓDULO 1
Na próxima aula, você verá que esse limite foi novamente
1
As células e as
AULA
ultrapassado com a construção de microscópios eletrônicos, capazes estruturas que
as compõem são
de resolver (distinguir) objetos de até 0,2nm. Caso você não esteja muito pequenas
familiarizado com estas UNIDADES DE MEDIDA, consulte a Figura 1.7. para serem medidas
em centímetros ou
A Figura 1.7 é uma escala relativa das dimensões de células milímetros, como
os objetos do nosso
e estruturas subcelulares, assim como do alcance dos instrumentos cotidiano. Portanto,
(microscópios) utilizados na sua descrição e estudo. para elas usamos as
UNIDADES DE MEDIDA
dos micrômetros
(símbolo µm)
e nanômetros
(símbolo nm).
O micrômetro vale 1
milésimo do milímetro
e o nanômetro
vale 1 milésimo do
micrômetro.
1m= 103mm
ou 106mm
ou 109nm
Observação: 103 é a
maneira simplificada
com que os
Figura 1.7: Escala comparada do limite de resolução da microscopia óptica matemáticos escrevem
e da eletrônica e os objetos que cada uma pode discriminar. as potências de 10,
isto é, igual a 1.000;
da mesma forma 106 é
1.000.000, e assim
por diante.
Se você ainda não está convencido de que a resolução não depende
só das lentes, fique sabendo que Antony van Leeuwenhoek já observara
bactérias no século XVII, quando a tecnologia para construção de lentes
e microscópios era muito inferior à de nossos dias, mas as propriedades
físicas da propagação da luz eram as mesmas.
Caso você esteja considerando ampliar indefinidamente uma
imagem observada ao microscópio óptico até conseguir enxergar a
estrutura da membrana celular, por exemplo, podemos adiantar que
isso será tão eficaz quanto ampliar uma foto 3x4 para contar quantos
cílios há na pálpebra superior esquerda da pessoa.
Concluindo: aumento e resolução são coisas distintas, e o
aumento que não traz informações adicionais sobre a amostra
é chamado aumento vazio.
Por que será que isso acontece? Tudo é conseqüência da luz.
CEDERJ 13
Biologia Celular I | Microscopia óptica
!
Dê uma paradinha!
Imagine-se andando de bicicleta numa ciclovia. Você segue em linha reta à velocidade da
luz. Você é um raio de luz! Pedrinhas, formigas e outros pequenos objetos não impedem
que você continue deslizando suavemente, sem interferências.
Já uma chapinha de refrigerante ou um pedregulho podem fazer sua bicicleta se desviar
do trajeto e, no caso de obstáculos maiores, podem impedir sua passagem. Assim se
comporta a luz ao atravessar as amostras observadas ao microscópio óptico. Agora,
chega de passear: de volta ao estudo!
Por conta disso, foram sendo desenvolvidas ao longo dos anos tanto
novas técnicas de preparo das amostras (vide boxe), que lhes conferissem
maior resistência e contraste, quanto novas tecnologias na construção de
microscópios que permitissem a observação de células vivas.
14 CEDERJ
MÓDULO 1
1
O preparo de amostras para o microscópio óptico de campo claro
AULA
Para que possam ser guardadas por muito tempo, as amostras de células e tecidos precisam em
geral de um tratamento químico que garanta sua preservação. Esse tratamento inclui várias
etapas.
1. Fixação: é o tratamento da amostra com substâncias químicas, como o formol, que preservam
sua forma original.
2. Desidratação: é a substituição da água presente dentro e fora das células por um solvente
orgânico, como o etanol ou metanol. Esse solvente tanto pode ser removido deixando a lâmina
secar quanto pode ser substituído por parafina ou outra resina que torne o tecido rígido,
permitindo que seja fatiado.
3. Microtomia: tecidos como fígado ou músculo são muito espessos e precisam ser cortados em
fatias mais finas, que permitam a passagem parcial da luz. Uma vez embebidos em parafina,
deixa-se solidificar, e o tecido pode ser cortado (fatiado).
4. Coloração: como a maioria das células e seus componentes não são naturalmente coloridos, uma
série de corantes foi testada e, devido a sua afinidade química por determinados componentes
celulares, são empregados, ajudando na identificação dos diferentes compartimentos celulares.
O azul de metileno é um desses corantes.
Mais detalhes sobre as técnicas de preparo de amostras para microscopia óptica, você terá em
outra disciplina.
Lente ocular
Foco macrométrico
Foco micrométrico
Objetiva c
Platina
Condensador
Fonte de iluminação Figura 1.9: Em (a), microscópio óptico de campo claro. Em (b),
hemócito (célula do sangue) de um molusco corado. Em (c), células
a que revestem a mucosa bucal observadas sem nenhum tipo de
corante. Que estruturas você reconhece? (Fotos b: Marco Antonio
V. Santos, c: Raul D. Machado).
CEDERJ 15
Biologia Celular I | Microscopia óptica
a b
Figura 1.10: A luz, ao interagir com um sólido (= célula), tem sua trajetória atrasada, criando um contraste em
relação à luz que não encontrou nenhum obstáculo (a) (esquema à esquerda). Esse é o princípio do microscópio
de contraste de fase. À direita (b), você vê as mesmas células epiteliais (retiradas da mucosa bucal) já observadas
em campo claro tal como aparecem nesse microscópio. Há um halo em torno da célula e de algumas de suas
estruturas internas.
16 CEDERJ
MÓDULO 1
4. Microscópio de fluorescência: utiliza uma fonte de luz ultravioleta
1
AULA
e requer o uso de corantes fluorescentes (você verá mais detalhes na Aula
6) que se ligam a componentes específicos das células. Esses corantes
são capazes de absorver luz de um determinado comprimento de onda
(ultravioleta, por exemplo) e emitir num outro, dentro do espectro visível
(Figura 1.12). Em algumas situações, as células podem ser observadas
vivas; em outras, não.
O mais comum é que um modelo possa ter seus jogos de lentes
e fontes de luz alternados (intercambiados) para que se possa observar
amostras pelos três métodos.
5. Microscópio confocal de varredura a laser: a conjugação da
ciência da computação aos microscópios de fluorescência trouxe uma
nova dimensão à microscopia óptica.
O microscópio confocal possui, além de uma fonte de luz visível,
uma fonte de luz ultravioleta e uma fonte de raio laser. O feixe de laser
incide sobre a amostra; um sistema de filtros e aberturas especiais captura
sucessivamente a fluorescência emitida de vários planos focais.
Este conjunto de imagens é capturado digitalmente, e imagens como
as da Figura 1.13.b em que você pode ver a distribuição de microtúbulos
em uma célula são geradas em programas específicos de computador.
a b
CEDERJ 17
Biologia Celular I | Microscopia óptica
18 CEDERJ
MÓDULO 1
1
RESUMO
AULA
Os microscópios ópticos começaram a ser construídos no século XVII, e com
eles foram observadas e batizadas as primeiras células. O aperfeiçoamento na
construção de lentes, filtros e sistemas de iluminação deu origem a uma grande
variedade de microscópios ópticos. Além dos de campo claro, que requerem que
o material seja corado, existem microscópios de contraste de fase e de contraste
interferencial, onde as células podem ser observadas vivas e sem coloração
especial. Os microscópios de fluorescência permitem ver estruturas normalmente
muito finas para serem observadas com os comprimentos de onda da luz visível.
O microscópio confocal a laser inaugurou uma nova era na microscopia óptica,
mas a observação da maior parte das estruturas que compõem a célula só é
possível com um instrumento de maior poder de resolução: o microscópio
eletrônico, tema da próxima aula.
EXERCÍCIOS
3. Compare o microscópio de Hooke (Figura 1.2) com o modelo atual (Figura 1.4),
identificando as partes análogas.
• fonte de luz;
• lente condensadora;
• espessura da amostra;
• contraste da amostra.
CEDERJ 19
Biologia Celular I | Microscopia óptica
5. Em que tipo(s) de sistema óptico podemos observar células vivas e sem a adição
de corantes?
5µm =………...nm
0,5mm= …….. µm
100µm = ……..nm
1000µm= …….mm
60nm=……..….µm
11. Uma célula foi fotografada com 2000x de aumento no microscópio óptico. Uma
estrutura que tenha na realidade 2µm aparecerá com que comprimento na foto?
12. Procure determinar em que tipo de microscópio óptico foram obtidas as imagens
que estão na última página deste livro. Se conseguir identificar as amostras, melhor
ainda; caso contrário, consulte o gabarito desta aula no final do livro.
20 CEDERJ
2
AULA
Princípios de funcionamento
dos microscópios eletrônicos
HISTÓRICO
O século XX conheceu uma verdadeira "febre" a partir da
descoberta dos elétrons, feita por Thompson, em 1897. Tanto os cálculos
feitos pelos físicos teóricos, quanto os experimentos feitos nos "tubos de
raios catódicos" vieram a provar a natureza ondulatória dos elétrons.
Esses pioneiros provavelmente não faziam a menor idéia aonde aquelas
observações iriam levar, mas o estudo do comportamento ondulatório dos
elétrons resultou tanto na invenção dos aparelhos de televisão quanto na
monitor
feixe de elétrons
espécime
22 CEDERJ
MÓDULO 1
Três séculos de microscopia óptica serviram para acelerar os
progressos na interpretação das imagens da microscopia eletrônica. Ao
2
!
microscópio óptico não é difícil determinar o formato geral da célula e a
AULA
Resposta:
localização do núcleo, mas não é muito fácil identificar estruturas dentro Porque são pequenas,
transparentes, de
da célula. Por quê? Veja a resposta ao lado.
forma e tamanho
Mesmo assim, grande parte das estruturas intracelulares, as organelas, variável
d= 0,61λ
α
lente condensadora
Figura 2.2: C o m p a r a ç ã o e n t r e
o m i c r o s c ó p i o óptico (1) e o espécime
microscópio eltrônico de transmissão
(2) mostrando a posição relativa e a
equivalência de seus componentes. lente objetiva
lente lente
ocular projetora
24 CEDERJ
MÓDULO 1
filamento
2
AULA
posição das
lentes magnéticas
local onde é
colocada a
amostra
Lupa
para observação
da imagem na tela
fluorescente
CEDERJ 25
Biologia Celular I | Princípios de funcionamento dos microscópios eletrônicos
espécime
elétrons barrados
abertura da objetiva
elétrons transmitidos
tela
fluorescente
26 CEDERJ
MÓDULO 1
No início era assim:
2
A micrografia ao lado foi obtida em 1945 com microscópio
AULA
de transmissão utilizando espécime biológico (um fibroblasto de
embrião de pinto). Repare que é uma célula inteira e que a imagem
lembra muito o que observamos em microscopia óptica.
Cortesia de www.rockfeller.edu/rucal/journey/journey.html
CEDERJ 27
Biologia Celular I | Princípios de funcionamento dos microscópios eletrônicos
28 CEDERJ
MÓDULO 1
2
AULA
planta animal
fragmento
de amostra
1ª fixação: pós-fixação: 25% 50% 75% 95% 100% 25% 50% 75% 95% 100%
glutaraldeído OsO4 desidratação: resina
acetona
centrifugação
células isoladas,
bactérias, etc.
polimerização ultramicrotomia
inclusão (a 60°C a resina endurece) (O tecido é cortado
em fatias ultrafinas)
CEDERJ 29
Biologia Celular I | Princípios de funcionamento dos microscópios eletrônicos
30 CEDERJ
MÓDULO 1
Como acabamos de comentar, o feixe de elétrons passeia sobre a
amostra, como o feixe de laser sobre o CD que você ouve. Assim
2
como de cada ponto do CD é extraído um sinal sonoro diferente (a
AULA
música!), cada ponto da amostra interage de modo diferente com
o feixe de elétrons e dessas diferenças são gerados pontos mais ou
menos brilhantes que formarão a imagem. Essa imagem é observada
num monitor de TV e pode ser registrada em fotografia ou num
computador. Veja também um modelo de microscópio eletrônico de
varredura na Figura 2.10.
Figura 2.8: Filamento aquecido (fonte de elétrons) do MET, apontar a lente objetiva do MEV.
foto: Márcia Attias
a b
Figura 2.9: Imagens de microscopia de varredura: A: Células na fase final da divisão. B: Detalhe da
região anterior do inseto Oncopeltus fasciatus. A sensação de profundidade e relevo são as
principais características dessa modalidade de microscopia eletrônica.
CEDERJ 31
Biologia Celular I | Princípios de funcionamento dos microscópios eletrônicos
32 CEDERJ
MÓDULO 1
2
AULA
4
CEDERJ 33
Biologia Celular I | Princípios de funcionamento dos microscópios eletrônicos
2
De acordo com a natureza dos átomos presentes na amostra, a
AULA
colisão com os elétrons do feixe gera raios-X e outras radiações que
podem ser captadas por detectores especiais, dando informações sobre
a composição química da amostra. Esses detectores são acessórios que
podem ser adaptados ao microscópio eletrônico de transmissão ou ao
microscópio eletrônico de varredura.
CEDERJ 35
Biologia Celular I | Princípios de funcionamento dos microscópios eletrônicos
RESUMO
Links de interesse:
http://www.mos.org/sln/SEM/works/slideshow/semmov.html
- animação sobre o funcionamento do MEV.
http://www.denniskunkel.com/ - imagens de microscopia óptica
e eletrônica artificialmente coloridas. Muito bonito!
http://www.molbio.princeton.edu/confocal/510image2/
Zeisslist2.html - Maravilhosas imagens de fluorescência obtidas em
microscópio de fluorescência confocal.
http://mgasun.bch.umontreal.ca/protists/gallery.html - imagens de
protistas em microscopia óptica de contraste interferencial e de fase. Links
para imagens desses mesmos organismos em microscopia eletrônica,
mostrando como vários métodos de observação deve ser conjugados na
análise de um organismo.
http://www.msa.microscopy.com/ProjectMicro/Books4.html
- coleção de CD-roms selecionados com comentários.
36 CEDERJ
MÓDULO 1
EXERCÍCIOS
2
AULA
1. Defina, em suas próprias palavras, o que é o poder de resolução.
CEDERJ 37
Biologia Celular I- Aula 3
Moléculas Fundamentais
Objetivos: ao final desta aula você deverá saber
Quais os elementos químicos fundamentais dos seres vivos
Quais as características fundamentais da molécula de água
O que significa hidrofílico e hidrofóbico
Quais os grandes grupos de moléculas orgânicas
Quais as principais funções de cada um desses grupos
o Açucares, lipídeos, proteínas e ácidos nucleicos
1
Tina e Mauro “filosofavam” sobre a vida e anotei o seguinte diálogo:
NÃOOO! Não é
isso que estou
perguntando!
Pois é, gente. Estamos estudando BIOLOGIA, mais especificamente, BIOLOGIA CELULAR. Mais
adiante você vai estudar BIOQUÍMICA, mas até lá, vamos adiantando algumas informações que
vão ajudar você a entender “como as coisas funcionam”. Melhor dizendo, “como as células
funcionam”.
2
3
Bem, você certamente já viu a tabela abaixo. É a tabela periódica dos elementos, onde estão
relacionados todos os elementos químicos conhecidos. A maioria ocorre na natureza, mas
alguns foram sintetizados em laboratório (o que não vem ao caso, no momento).
Tina quer saber o que há de diferente entre os seres vivos e a matéria inorgânica. Afinal, ela já
sabe que na terra primitiva não havia seres vivos e que eles se formaram a partir da
combinação de átomos de elementos químicos que também são encontrados na atmosfera,
nas rochas e, principalmente na água. Tina e Mauro ficaram muito impressionados em saber
que 70% da nossa massa corporal é água.
Já os elementos químicos que existem em maior quantidade na crosta terrestre são o Oxigênio
e o Silício.
O que tem de tão especial entre estes quatro elementos que resulta nessa coisa sensacional
que são as células? As propriedades desses átomos nos seres vivos são sempre as mesmas, nas
células e nos compostos minerais. Eles podem se associar, formando moléculas. Como? Veja
na figura a seguir:
4
A B
Dois átomos podem fazer dois tipos de ligação química: em A eles compartilham elétrons,
formando uma ligação covalente. Em B, um átomo, mais eletronegativo, atrai para si o elétron
de outro átomo, que fica por isso carregado positivamente. O átomo que recebe o elétron fica
negativo, mantendo o doador positivo próximo. Tanto o átomo que doa quanto o que recebe o
elétron ficam ionizados, e
estabelecem entre
si uma ligação iônica.
Ligação covalente, ligação iônica...
Afinal, estamos estudando
biologia ou química?
Não fique preocupado, você conhece muito bem as substâncias que fazem essas ligações.
O oxigênio (O2) que respiramos, o gás carbônico (CO2) que expiramos e a água (H2O) são
moléculas onde encontramos ligações do tipo covalente. Já o sódio e o cloro no cloreto de
sódio (NaCl), estão ligados por ligações iônicas.
OK, vamos então ver as maravilhas que esses quatro elementos tão simples são capazes de
fazer
A vida surgiu nos oceanos e todas as formas de vida, de alguma forma, precisam manter a
água dentro e fora de suas células. Você já deve ter ouvido que “a água é o solvente
universal”. Isso significa que, entre outras coisas, quase TODAS as reações que ocorrem numa
célula, ocorrem em meio aquoso. A água dissolve substâncias como o sal (NaCl) e o açúcar,
5
mas não se mistura com óleos. O que esta molécula tem mais de interessante? Observe a
figura a seguir:
Tá, e daí?
6
É, Tina, assim como o
Mas Mauro, sal e CO2, mas já vamos
água são falar das moléculas
substâncias BIOLÓGICAS,
inorgânicas, não
são?
As células são 70% água, mas os outros 30% são formados pelos seguintes grupos de
substâncias:
Tá parecendo
fórmula de
suplemento
alimentar...
AÇÚCARES
“Açúcar é mais energia”. Talvez você já tenha ouvido esta frase. Com certeza você já ouviu
falar em glicose e sacarose. A sacarose é o açúcar que usamos no dia a dia. A sacarose é
formada por duas moléculas de glicose. Repare no esquema a seguir: para formar uma
molécula de sacarose é produzida uma molécula de água e para que a sacarose seja separada
em duas moléculas de glicose uma molécula de água é consumida. Por isso mesmo esta é uma
reação de hidrólise (hidro= água e lise=quebra). Interessante, não?
7
A glicose pode formar moléculas maiores, com MUITOS carbonos e uma delas é usada na
fabricação de papel, a celulose. A celulose não é um alimento, é um açúcar com função
estrutural, encontrado na
parece celular dos vegetais.
8
Então os açúcares podem funcionar como alimentos para as células ou como estrutura. Só
isso?
NÃO! A glicose possui 6 carbonos em sua molécula, mas existem açúcares com 3 carbonos, 4
carbonos, 5 carbonos.
Os açúcares de 5 carbonos mais importantes são a RIBOSE e a DESOXIRRIBOSE. Sabe por que?
Porque eles entram na composição da molécula dos ÁCIDOS NUCLEICOS. Sim, o DNA e o RNA,
que carregam e transmitem as informações genéticas de cada ser vivo.
A ribose ainda entra em outras duas moléculas muito importantes, que você até deve
conhecer, pelo menos de nome: a adenosina trifosfato, ou ATP e a adenosina monofosfato ou
AMP.
O ATP é a principal fonte de energia utilizada nas reações químicas da célula e o AMP (AMP
cíclico) é muito importante na transmissão de mensagens dentro da célula. Vamos falar muito
dessas moléculas durante a disciplina.
As membranas de todas as células são formadas por moléculas lipídicas. Os lipídeos são uma
classe de moléculas que inclui os óleos e as gorduras. Como você já deve saber “água e óleo
9
não se misturam” e por isso mesmo as membranas estabelecem um limite ideal entre o
interior aquoso das células e o meio externo, igualmente aquoso.
10
da água). Assim, por esta dupla natureza, quando em contato com a água os fosfolipídeos,
espontaneamente formam bicamadas e estas se fecham, formando os lipossomas (vamos
voltar a isso na aula sobre estrutura da membrana).
Além dos fosfolipídeos, os esteróis- que incluem o colesterol- também são uma classe de
lipídeos de grande importância: além de também se inserirem nas membranas, são
precursores de hormônios, os hormônios esteróides.
As tão temidas “gordurinhas” também são lipídeos que são armazenados como reserva
energética. Essas gorduras são excelentes fontes de energia, mas os carboidratos (açúcares)
são utilizados preferencialmente pelo organismo. É por isso que quando precisamos perder
peso, diminuímos o consumo de açúcares (e de gorduras).
AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS
Quando dois aminoácidos se ligam, forma-se entre eles uma ligação peptídica, mostrada no
esquema a seguir:
11
• Ligação peptídica
• Aminoácido
As proteínas são formadas por centenas de aminoácidos. Os aminoácidos são como as letras
do alfabeto: com um número finito deles, podem ser compostas infinitas proteínas.
O que determina que proteínas uma célula pode sintetizar, é o seu código genético, que é
formado pelo quarto tipo de moléculas: os
nucleotídeos.
12
atividades celulares que mencionamos acima.
Sim, vamos estudar Biologia Celular: como as células são, o que elas fazem, como isso
acontece. Vocês vão ver que vai ser muito legal!
13
4
AULA
Cultura de células
objetivos
4
Se algumas células dessa cultura
AULA
primária forem transferidas
para novo meio de cultura e nele
crescerem, constituirão culturas
secundárias que poderão tornar-se
"imortais".
CEDERJ 49
Biologia Celular I | Cultura de células
50 CEDERJ
MÓDULO 1
Além das linhagens naturalmente transformadas, a transformação
pode ser induzida por métodos químicos ou infecções virais. Algumas
4
linhagens transformadas, se reintroduzidas em animais, podem induzir
AULA
tumores, assim como algumas linhagens estabelecidas tiveram origem
em tumores malignos.
As linhagens celulares tornaram possível obter uma grande
quantidade de células homogêneas para experimentos. Também podem
ser armazenadas por longos períodos em baixa temperatura, em nitrogênio
líquido, sendo descongeladas e recolocadas em cultivo quando necessário.
Existem verdadeiros “bancos” de células em diversos laboratórios.
A seguir, algumas das linhagens celulares mais usadas.
Linhagem Origem
CEDERJ 51
Biologia Celular I | Cultura de células
!
O que são linfócitos B?
São um tipo de glóbulo branco do sangue que
produz e secreta anticorpos que aderem aos
organismos invasores (bactérias, vírus etc.) .
Qualquer molécula ou organismo estranho é
denominado antígeno. Veja o esquema ao lado.
52 CEDERJ
MÓDULO 1
O QUE SÃO CÉLULAS-TRONCO?
4
Por definição, célula-tronco é uma célula capaz de se multiplicar
AULA
e se diferenciar em qualquer tipo celular. Por isso mesmo é chamada
pluripotente. Ao se dividir, uma célula pluripotente pode dar origem a
duas células iguais a ela ou, então, a uma célula ainda pluripotente e a
outra mais diferenciada, que é chamada multipotente, pois pode dividir-
se e diferenciar-se em vários tipos celulares dentro de uma categoria.
O que induz ou não essa diferenciação é a própria programação genética
da célula, além de fatores químicos presentes no meio extracelular.
Já é sabido que todas as células sangüíneas se diferenciam a partir de
um único tipo celular primordial (Figura 4.6).
Empregando as técnicas de cultura de células, os pesquisadores
estão procurando obter células-tronco e induzir in vitro sua diferenciação.
O domínio dessa tecnologia pode representar a cura para diversos tipos
de leucemia, pois as células que se tornam cancerosas são de um tipo
mais diferenciado. Além disso, será possível a fabricação de sangue a
partir de células-tronco do próprio paciente para utilização em cirurgias,
sem a necessidade de doadores.
Em projetos ainda mais ambiciosos, existe a perspectiva de
regenerar órgãos inteiros, como o fígado e o coração, que poderiam ser
utilizados em implantes, e até mesmo a possibilidade de recompor nervos
lesados e recuperar pessoas paraplégicas ou tetraplégicas. Como podemos
notar, embora as pesquisas ainda estejam começando, as possibilidades
são imensas.
!
A cultura de células já está entre nós.
Ao contrário do que você possa pensar, a cultura de células já faz parte do
nosso dia-a-dia. Quer ver?
1- Os chamados bebês de proveta resultam da fecundação in vitro de um
óvulo por um espermatozóide. Essa célula-ovo é mantida em condições
controladas de cultivo durante as primeiras divisões, quando então é
implantada no útero materno para prosseguir seu desenvolvimento.
2- No tratamento de queimados têm sido utilizados fibroblastos que, em
meio de cultura definido, são estimulados a se multiplicar e diferenciar-se
em células epiteliais. Essa pele artificial é usada em implantes na superfície
destruída pela queimadura.
CEDERJ 53
Biologia Celular I | Cultura de células
RESUMO
54 CEDERJ
MÓDULO 1
EXERCÍCIOS
4
AULA
1. Quais os requisitos básicos para manutenção de células em cultura?
5. O que é um hibridoma?
6. Da fusão de uma célula tumoral com uma célula secretora foram obtidos
heterocárions com as seguintes características:
CEDERJ 55
5
AULA
Métodos bioquímicos
para o estudo da célula
objetivos
I) FRACIONAMENTO CELULAR
HISTÓRICO
Nas primeiras décadas do século XX, já havia muita informação
sobre as reações químicas ligadas ao metabolismo celular. Nessa época
também os primeiros microscópios ópticos já tinham sido criados,
levando ao conhecimento de que uma célula não parecia ter só um núcleo
em seu interior, mas também outros componentes menores, cujo tamanho
estava quase fora da capacidade de observação daqueles microscópios.
A questão era como correlacionar esses conhecimentos anteriormente
acumulados usando diferentes abordagens.
Um bioquímico não era capaz de responder em que local da
célula se passava determinada reação enzimática que ele conseguia
medir no espectrofotômetro. Algumas vezes, era mesmo necessário
romper as células da preparação, fazendo um extrato para que certas
reações pudessem ocorrer in vitro e serem medidas. Isso mostrava que as
enzimas que se queriam medir nesse ensaio estavam confinadas em algum
compartimento intracelular, a que os reagentes adicionados externamente
não tinham acesso.
De modo recíproco, um morfologista não era capaz de responder
que etapas do metabolismo celular ocorriam nas várias partes da célula
que ele podia ver, especialmente ao se aproximar a metade do século, em
que os microscópios eletrônicos começavam a ser usados para observar
material biológico.
Nessa época, dois grupos trabalhavam intensamente para conhecer
melhor o conteúdo das células: o do Dr. Keith Porter, no Instituto
Rockefeller, em Nova York, Estados Unidos, e o grupo da Universidade
de Louvain, Bélgica, formado por Albert Claude, George Hogeboom e,
pouco depois, Christian De Duve.
O grupo do Dr. Porter estava criando, com sucesso, métodos
adequados ao preparo de material biológico para observação de
amostras biológicas ao microscópio eletrônico, métodos que, aliás, são
usados até hoje (veja Aula 2). A nova metodologia mostrou, no interior
de células eucarióticas, muitos compartimentos internos envolvidos por
membrana, muitos grânulos e muitos filamentos. O grupo da Bélgica
estava, desde meados da década de 30, realizando experimentos em que
células de fígado de rato eram rompidas e seu conteúdo assim liberado
era separado por centrifugação em várias frações, ditas subcelulares.
58 CEDERJ
MÓDULO 1
Depois de separada, cada fração era observada ao microscópio óptico
e ensaiada em várias características bioquímicas. Assim, em 1940, o
5
grupo belga publicou um trabalho muito importante em que descrevia
AULA
os primeiros resultados de fracionamento celular: as células do fígado
de rato rompidas podiam ser divididas em quatro frações. A fração
mais densa continha os núcleos; a próxima, em ordem decrescente de
densidade, era formada por grandes grânulos e consumia oxigênio
produzindo CO2; a seguinte era formada por pequenos grânulos e
hidrolisava proteínas em pH ácido; a menos densa continha proteínas
solúveis, sendo provavelmente o citoplasma.
Como correlacionar as frações descritas por Claude e colaboradores
com as observações de Porter ao microscópio eletrônico? A saída foi a
colaboração direta entre os dois grupos, dando um novo impulso ao
conhecimento do conteúdo celular e levando à descrição de várias organelas.
É importante destacar que o avanço espetacular da Biologia Celular nesse
período não foi só resultado do esforço de médicos, biólogos, químicos
e físicos. Houve importante colaboração de engenheiros e técnicos que
trabalhavam nas oficinas das universidades e dos institutos de pesquisa. A
ultracentrífuga e o ultramicrótomo, por exemplo, foram criados nas oficinas
do Instituto Rockefeller nesse período.
Preparando a amostra
CEDERJ 59
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
!
Atenção! Não confunda com o processo de coagulação! Faz parte do plasma
sangüíneo uma série de proteínas da coagulação: quando retiramos sangue
de um vaso, ou lesamos um vaso, forma-se uma rede protéica cujo principal
componente é a fibrina, que retém todas as células e deixa escapar o líquido. A
rede protéica contendo as células é chamada de coágulo e o líquido é chamado
de soro. Assim, a diferença entre plasma e soro é que o primeiro ainda contém
as proteínas da coagulação e o segundo não. Esse processo é fisiológico e pode
ser inibido in vitro por algumas substâncias como heparina e citrato de sódio,
entre outras. Quando retiramos sangue para exame, por exemplo, o processo
de coagulação é inibido para que, além do plasma, as células também possam
ser examinadas.
60 CEDERJ
MÓDULO 1
Se o tubo com sangue heparinizado for centrifugado, essa deposição
ocorrerá em poucos minutos, colocando as hemácias no fundo porque são
5
mais densas; sobre elas se forma uma fina camada esbranquiçada (buffy coat)
AULA
que contém os leucócitos e, no sobrenadante, o plasma sem células.
Que fique clara então a definição dos termos: precipitado é o
material que se depositou no fundo no tubo que foi centrifugado e
sobrenadante é o material que não se depositou. Na linguagem de
laboratório, nós nos referimos ao precipitado de uma centrifugação pelo
nome em inglês, pellet, talvez para não confundir com o precipitado
resultante de uma reação química. Esse método é bom para separar
as hemácias das outras células do sangue, porque a densidade dela é
muito diferente. Mas como fazer para separar células de densidade
muito próxima?
Exemplo 3 – Nos últimos anos, tem sido necessário separar as
diferentes classes de linfócito para realizar estudos de interação com o
vírus HIV ou mesmo procedimentos clínicos em que apenas a classe de
linfócito que o vírus infecta é tratada e depois devolvida à circulação
sangüínea do paciente.
Apesar de exercerem funções bastante diversas na defesa de um
organismo (você vai aprender mais adiante no curso), as diferenças entre
as classes de linfócitos que nos permitem separá-los são principalmente
moléculas de sua membrana plasmática expostas ao meio extracelular.
Quando essas moléculas foram descritas e foram produzidos anticorpos
contra elas, uma importante ferramenta ficou disponível. Assim, podemos
incubar a mistura de linfócitos com anticorpos que só reconhecem uma
das classes. Se esses anticorpos estiverem conjugados com fluorocromos,
podemos separar os linfócitos em um aparelho que reconheça moléculas
fluorescentes. Veja na Figura 5.1 um esquema deste aparelho, o citômetro
de fluxo, ou FACS (fluorescence activated cell sorter).
Colocamos a mistura de linfócitos que já foram incubados com
anticorpos fluorescentes numa entrada do aparelho que parece um funil.
A ponta do funil é muito fina e está submetida a uma vibração que faz
com que pinguem gotículas regulares e de tamanho tão pequeno que
só comportam uma célula (ou nenhuma). As gotículas passam em fila
indiana entre um laser (que vai excitar o fluorocromo) e um detector
(que vai ler se aquela gota tem célula, de que volume, se ela é fluorescente
ou não, e qual a intensidade da fluorescência). Associado ao detector há
um sistema que coloca carga negativa nas gotas que contêm uma célula
CEDERJ 61
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
62 CEDERJ
MÓDULO 1
Rompimento celular
5
No fracionamento celular, o que se deseja fazer é romper a
AULA
membrana plasmática sem romper as membranas das organelas. É difícil
conseguir isso, e para cada tipo celular existem métodos de rompimento
mais adequados que outros. Além disso, as células de uma preparação
não se rompem todas simultaneamente; o processo é progressivo e
precisa ser acompanhado ao microscópio óptico. Dentre os métodos
mais usados estão:
a) choque osmótico: as células são colocadas em meio hiposmótico,
aumentando de volume até arrebentar. É o método de escolha para
romper hemácias, por exemplo. Em outras células, temos de nos
preocupar em restaurar a osmolaridade ideal rapidamente para
que as membranas das organelas não se rompam também.
b) choque térmico: as células devem ser congeladas e descongeladas
rapidamente, alternando-se, por exemplo, imersão em nitrogênio
líquido (-196oC) e banho de 37oC.
c) maceração: pode ser realizada com homogeneizadores parecidos
com um liquidificador, ou de modo mais delicado com homoge-
neizadores de vidro, que se parecem com um copo onde um êmbolo
entra justo, forçando as células a sofrer o atrito entre os vidros.
Seguindo o mesmo princípio, alguns pesquisadores usam pequenas
pérolas de vidro misturadas à preparação. Agitando a preparação,
as pérolas se chocam, rompendo as células.
d) sonicação: todas as estruturas, biológicas ou não, possuem uma
freqüência de ressonância característica. Uma vibração nessa
freqüência que tenha grande intensidade pode romper a estrutura.
É a mesma história da ponte que vibra com a marcha dos soldados
ou do estádio lotado que vibra com os gritos e pulos da torcida.
Teoricamente, é possível usar ultra-som com uma freqüência de
vibração e intensidade adequadas para romper apenas a membrana
plasmática e deixar as estruturas intracelulares intactas. Na prática
porém, os sonicadores (aparelhos que emitem ultra-som) não têm
um controle de intensidade, freqüência e amplitude tão bom que
permita esse ajuste. Mesmo assim, a sonicação é um dos melhores
métodos para o rompimento de células.
CEDERJ 63
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
vesículas inside-in
vesículas inside-out
Figura 5.2: Esquema da produção de vesículas de membrana.
Centrifugação diferencial
64 CEDERJ
MÓDULO 1
ainda maior (cerca de 20.000g, 30 min), poderemos “peletar” a chamada
fração microssomal, formada por vesículas de origem variada, como a
5
membrana plasmática, o retículo endoplasmático, o complexo de Golgi e
AULA
os endossomos. Desta vez, o sobrenadante contém ribossomos, partículas
virais (se houver), e macromoléculas, como DNA e grandes complexos
enzimáticos. Esses componentes também são centrifugáveis, mas para “peletá-
los” são necessárias altíssimas velocidades (200.000g) por muitas horas.
O sobrenadante final, ou fração sobrenadante, é uma solução verdadeira,
que contém os componentes solúveis do citoplasma (Figura 5.3).
!
Uma centrífuga é um aparelho em que um motor faz um eixo girar em grande velocidade (como numa máquina de
furar). Essa velocidade é medida em rpm (rotações por minuto). Ao eixo que gira se adapta uma peça, o rotor, onde
colocaremos tubos com o material a ser centrifugado. Durante a centrifugação, forma-se um campo gravitacional
cuja intensidade (medida em gravidades - g) é proporcional à velocidade da centrifugação. Assim, a força centrífuga
empurra o material para o fundo do tubo numa velocidade que depende da centrifugação, da densidade do
material e do meio em que ele se encontra.
Veja se você entendeu: a medida rpm se refere
à velocidade com que o rotor gira. A medida g
se refere à intensidade do campo gravitacional Material em
Câmara blindada Sedimentação
formado durante a centrifugação.
Dentre os diferentes componentes de uma
amostra submetidos às mesmas condições
de centrifugação, os mais densos vão para o
fundo primeiro, os de densidade intermediária
depois, e por fim os de menor densidade.
Claro que a própria densidade do líquido em
que os componentes celulares estão suspensos
também influencia. As primeiras centrífugas
tinham eixo horizontal e foi um grande
avanço quando foram construídas centrífugas
cujo eixo girava na vertical.
As mais simples são ditas centrífugas clínicas, por
serem muito usadas em laboratórios de análises
clínicas (existe uma no laboratório de aulas
práticas no pólo; observe-a melhor) para separar
os componentes do sangue (veja exemplo 2,
anteriormente). Essas centrífugas atingem
velocidades de até 3.000 rpm. No entanto,
para separar componentes de densidade
menor, como organelas, é necessário um campo
gravitacional mais intenso, que só é conseguido Vácuo
em centrifugações de velocidade muito maior.
Isso só foi possível quando se construíram as Refrigeração
primeiras ultracentrífugas, na década de 30.
Nesses equipamentos, o rotor gira numa câmara
blindada, refrigerada e sem ar (no vácuo),
diminuindo assim as forças de atrito.
CEDERJ 65
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
Figura 5.4
66 CEDERJ
MÓDULO 1
Neste tipo de centrifugação, o material que está a caminho do
fundo do tubo encontra densidades cada vez maiores do líquido, tendo
5
cada vez mais dificuldade de prosseguir. Quando um componente da
AULA
mistura de organelas encontrar uma região do gradiente que tenha
densidade igual à sua, entrará em equilíbrio, formando uma “banda”.
Essa banda poderá ser recolhida cuidadosamente com uma pipeta ou
uma seringa e, assim, finalmente, temos uma organela purificada.
O sucesso de um protocolo de fracionamento celular pode ser
avaliado de duas maneiras:
a) por microscopia eletrônica, processando cada etapa e
observando no microscópio que componentes da célula estão presentes
naquela fração e se esses componentes estão bem conservados ou se o
fracionamento os danificou;
b) pela dosagem de enzimas marcadoras em todas as frações;
para uma enzima ser considerada marcadora de uma organela, é preciso
que ela esteja presente apenas nessa organela e em nenhum outro lugar
da célula e que seja encontrada nessa organela em todos os tipos
celulares. Essas enzimas foram estabelecidas nos primeiros trabalhos
de fracionamento celular e depois confirmadas por citoquímica (veja
na próxima aula).
A partir de frações subcelulares contendo organelas purificadas, ou
até mesmo de células inteiras, podemos purificar as macromoléculas que
desejamos estudar. Existem várias metodologias, cada uma mais apropriada
para proteínas ou lipídeos ou ácidos nucléicos ou açúcares. Para exemplificar,
vamos ver a seguir os princípios das metodologias bioquímicas mais usadas
em Biologia Celular: cromatografias e eletroforese.
CEDERJ 67
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
II) CROMATOGRAFIA
a) Cromatografia de partição
papel direção do
solvente
componentes
aplicação da
separados
amostra
!
Você pode fazer essa cromatografia em casa: use um pedaço de papel daqueles de coar café
e pingue tinta de caneta-tinteiro azul ou preta perto de uma das bordas do papel. Mergulhe
essa borda em um pouco de acetona e veja que, à medida que a acetona sobe pelo papel,
ela arrasta os componentes da tinta, uns mais e outros menos, separando uma mancha
vermelha, uma amarela e outra esverdeada.
68 CEDERJ
MÓDULO 1
b) Cromatografias em coluna
5
Nestes tipos de cromatografia, usamos uma coluna de vidro (ou
AULA
plástico, ou metal) que foi preenchida com uma resina que exercerá
um efeito de separação na amostra que a percorrer. Veja na Figura
5.6 como funciona.
CEDERJ 69
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
direção de eluição
componentes menor da
amostra
componentes maior da
amostra
componentes negativos
da amostra ficam presos
componentes positivos
da amostra passam direto
resina acoplada
ao anticorpo
5
bem é preciso que haja um ligante específico para acoplar à resina e
AULA
que a amostra não esteja muito sobrecarregada de contaminantes. Por
isso, geralmente usam-se as outras duas cromatografias para dar uma
“limpada” na amostra e só então se usa a cromatografia de afinidade
para purificar a proteína que queremos.
III) ELETROFORESE
CEDERJ 71
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
!
Reveja, em Bioquímica I:
uma proteína des-
Para desnaturar uma proteína, podemos fervê-la e, além disso, são naturada é aquela que
usados dois reagentes: a) o dodecil sulfato de sódio (SDS), um detergente perdeu suas estruturas
terciária e secundária,
iônico que, além de desnaturar, adiciona cargas negativas às ligações ficando só com a primária,
ou seja, os aminoácidos
peptídicas, tornando a carga da proteína sempre negativa e proporcional ligados covalentemente
ao seu tamanho (claro, porque quanto maior a proteína, mais ligações e enovelados ao acaso, o
que faz com que todas as
peptídicas ela tem!); b) o 2-mercaptoetanol, poderoso agente redutor que proteínas desnaturadas
sejam aproximadamente
adiciona hidrogênios às pontes dissulfeto, desfazendo-as (Figura 5.11). globulares.
SH
SH
C
A B
ELETROFORESE
B
sentido da corrida
C
72 CEDERJ
MÓDULO 1
A eletroforese em condições desnaturantes e redutoras (conhecida
pela sigla SDS-PAGE, de sodium dodecyl sulfate polyacrylamide gel
5
electrophoresis) é, portanto, uma técnica que separa proteínas de acordo
AULA
com seu tamanho, ou massa molecular. Depois que a corrida eletroforética
terminou, o gel é descolado dos vidros da cuba e corado com o corante
desejado. O mais comum, o azul de Comassie, só cora proteínas. Uma
das aplicações de SDS-PAGE pode ser procurar quantas proteínas fazem
parte de uma amostra. Veja na Figura 5.12 a foto de um gel em que
foram aplicadas como amostras as etapas de purificação de uma proteína.
Da esquerda para a direita, a amostra está cada vez mais purificada.
Às vezes necessitamos testar se uma proteína que foi 1 2 3 4 5
molecular
separada num gel é reconhecida por um anticorpo específico,
weight
seja produzido no laboratório ou mesmo presente no soro de 100,000
paciente (veja na próxima aula). Nesse caso, é preciso retirar as
proteínas do gel, já que o anticorpo não desnaturado (para poder
funcionar não podemos desnaturá-lo!) é uma molécula grande
demais para entrar no gel. Ao mesmo tempo, não queremos 40,000
misturar de novo as proteínas. A técnica de eletrotransferência
(ou Western blot.) veio resolver esse problema. Depois de
correr o gel como descrito anteriormente, colocamos o gel
em contato com um papel especial, a nitrocelulose, que tem
a capacidade de ligar proteínas (chamamos de membrana,
mas é um papel), e fazemos passar a corrente elétrica desta
vez no sentido perpendicular ao gel (veja na Figura 5.13).
As proteínas vão sair do gel ainda do jeito que estavam separadas 15,000
sentido da corrente
elétrica
nitrocelulose nitrocelulose
gel gel
Figura 5.13: Eletrotransferência.
CEDERJ 73
Biologia Celular I | Métodos bioquímicos para o estudo da célula
QUESTIONÁRIO
74 CEDERJ
6
a u l a
O uso de anticorpos na pesquisa
76 CEDERJ
Peroxissomos Peroxidase
Peroxissomos Catalase
CEDERJ 77
Sistema imune
Todos os animais, mesmo os mais simples, possuem
células especializadas na defesa do organismo contra vírus,
bactérias ou mesmo moléculas estranhas. No caso dos
mamíferos o sistema imune é constituído pelos chamados
glóbulos brancos que, na verdade, incluem vários tipos
celulares. Destes, os linfócitos B são responsáveis pela
produção de anticorpos. Os linfócitos podem ser do tipo anticorpos
T ou do tipo B, de acordo com sua origem. Os do tipo T secretados
passam pelo timo, uma glândula localizada sobre o osso esterno.
Nas aves os linfócitos B se originam da bursa de Fabricius, daí
seu nome. Nos mamíferos, eles se formam e amadurecem na
medula óssea. Os linfócitos B sintetizam anticorpos que tanto
são expostos em sua superfície, quanto secretados para o meio
anticorpos expostos
extracelular (no caso, o sangue). Os anticorpos utilizados como na superfície
marcadores celulares são provenientes de linfócitos B.
braço
cauda
5nm
78 CEDERJ
fago ocitose
fagocitose
Figura 6.2: Uma bactéria com vários anticorpos aderidos à sua superfície
é reconhecida e ingerida (fagocitada), sendo assim destruída.
CEDERJ 79
OS ANTICORPOS MONOCLONAIS
80 CEDERJ
6
antígeno X de linfócitos B
AULA
Célula s
Linfócitos plicam
que produzem
anti-X (vivem po mente
mação de heterocárions
e hibridomas
Secreção de anti-X
Meio
Clone
font
CEDERJ 81
A LIGAÇÃO ANTÍGENO-ANTICORPO
PODE SER VISUALIZADA?
82 CEDERJ
AULA
Também chamados fluorocromos, são corantes específicos para
microscopia de fluorescência, pois têm a capacidade de absorver um
comprimento de onda da luz e emitir em outro, mais longo. Se for utilizado
um filtro que permita a passagem apenas do comprimento de onda
emitido, esse será visto brilhando contra um fundo escuro, permitindo
que quantidades muito pequenas dessas moléculas sejam detectadas.
Na microscopia de fluorescência, esse princípio é utilizado para detectar
componentes celulares específicos, como proteínas ou açúcares. Nesses
casos, os marcadores fluorescentes são acoplados a moléculas que se
ligam de modo específico aos componentes celulares, como anticorpos
ou lectinas. Os marcadores mais utilizados são a rodamina, que emite
em vermelho, e a fluoresceína, que emite em verde (Figura 6.10).
fluor
CEDERJ 83
Incubação Incubação
com anticorpos com substrato
acoplados a da enzima
enzimas
Nitrocelulose Produto de
com as proteínas reação colorido
separadas
84 CEDERJ
AULA
que causa AIDS. A primeira testagem (chamada ELISA, de enzyme linked
y é feita com extratos do vírus não separados
immunoadsorbent assay)
por eletroforese; todas as proteínas juntas são incubadas com o soro do
paciente e depois com anticorpos secundários acoplados à enzima. A
resposta do ELISA é sim ou não, isto é, tem ou não tem anticorpos. Os
pacientes com resposta positiva serão chamados a fornecer outra amostra
de sangue para confirmar o teste. Nesse segundo teste, usa-se o Western
blot, para saber quais são as proteínas do vírus reconhecidas pelo soro
do paciente. Assim é possível identificar qual variante do vírus infectou
aquela pessoa, dado importante para encaminhar o tratamento daquele
paciente e também para estudos epidemiológicos.
NEM SÓ ANTICORPOS
SÃO USADOS COMO MARCADORES CELULARES
CEDERJ 85
86 CEDERJ
EXERCÍCIOS
CEDERJ 87
Meio Meio
Limite intracelular extracelular
Dê uma paradinha
88 CEDERJ
MÓDULO 1
7
3. Os lipídeos são principalmente do tipo _______________
AULA
e se organizam na membrana formando uma ___________
_____________________.
4. Os lipídeos da membrana se caracterizam por possuir uma
extremidade da molécula __________ e a outra _________.
Moléculas com essa natureza são chamadas _____________
_____________________.
Meio extracelular
Fernanda de Abreu / CEDERJ
Meio intracelular
CEDERJ 89
Biologia Celular I | Estrutura da membrana plasmática
Resumindo:
1. Todos os seres vivos são célu-
Vasconcelos Santos
meio intracelular do meio extracelular, a
membrana celular. Delimite na Figura 7.3
o meio intracelular e o meio extracelular.
Figura 7.3: Hemócito de molusco.
BÁSICO
Todas as células são limitadas por uma membrana que define
e separa o meio intracelular do extracelular. Dentro da célula, outros
compartimentos também são definidos por membranas. Um exemplo
disso é o núcleo, onde fica confinado o material genético. Outros exem-
plos que nos são familiares são as membranas que limitam o retículo
endoplasmático e as mitocôndrias (Figura 7.4).
Dados históricos
90 CEDERJ
MÓDULO 1
Como explicar a organização desses lipídeos numa membrana em
7
que tanto o meio interno quanto o externo são hidrofílicos? A resposta foi
AULA
dada em 1925 por Gorder e Grendel, estudando as membranas extraídas de
hemácias (os glóbulos vermelhos do sangue). Eles concluíram que os lipídeos
se organizam na membrana como uma camada dupla (bicamada).
Chamamos de folheto cada uma das camadas da bicamada lipídi-
ca. Assim, a membrana plasmática tem um folheto externo, voltado para
o meio extracelular, e um folheto interno, voltado para o citoplasma.
A Figura 7.5 representa uma bicamada de moléculas anfipáticas.
Os lipídeos da membrana
CEDERJ 91
Biologia Celular I | Estrutura da membrana plasmática
Anéis
esteroides
rígidos
a b
a Micela b Lipossoma
92 CEDERJ
MÓDULO 1
Dessa maneira, os grupos apolares das extremidades também não
7
AULA
ficam em contato com a água. Guardadas as devidas proporções, as
micelas são semelhantes a bolhas de sabão, só que enquanto as bolhas
de sabão ficam em contato com o ar (tanto por dentro quanto por fora),
as micelas ficam em meio aquoso, além de serem muitíssimo menores.
Os fosfolipídeos
Figura 7.8: Os fosfolipídeos são formados por uma cabeça polar onde a um esqueleto
de glicerol ligam-se um fosfato e um radical orgânico. A cauda apolar é formada
por duas cadeias longas de ácidos graxos. Uma dessas pode ser insaturada.
CEDERJ 93
Biologia Celular I | Estrutura da membrana plasmática
Os fosfolipídeos
94 CEDERJ
MÓDULO 1
Meio extracelular
7
AULA
Fernanda de Abreu / cedrj
Figura 7.10: Assimetria dos fosfolipídeos da
membrana. Os fosfolipídeos voltados para
o meio extracelular não são idênticos aos
voltados para o citoplasma.
Citoplasma
CEDERJ 95
Biologia Celular I | Estrutura da membrana plasmática
Esteróis
b c
a
Figura 7.13: A estrutura do colesterol, com anéis aromáticos, torna a molécula bastante rígida: (a) fórmula plana;
(b) fórmula esquemática, apontando em cinza médio a parte hidrofílica da molécula, em cinza-claro os anéis
carbônicos e em preto a cauda de hidrocarbonetos; (c) fórmula tridimensional onde o oxigênio da hidroxila
aparece em cinza, os carbonos em preto e os hidrogênios em branco.
96 CEDERJ
MÓDULO 1
Elas se dispõem por entre as moléculas dos fosfolipídeos, conferindo
7
AULA
maior rigidez à membrana e aumentando sua resistência à deformação.
Assim, quanto mais ricas em colesterol, menos fluidas são as membranas,
porque os anéis aromáticos do colesterol atrapalham o movimento das cau-
das dos fosfolipídeos, que são muito flexíveis. Se, por um lado, isso soa como
uma desvantagem, por outro, a presença de colesterol entre as moléculas de
fosfolipídeos dificulta sua cristalização em baixas temperaturas. Para haver a
formação de um cristal, é preciso que os fosfolipídeos se aproximem muito,
o que é dificultado pelo colesterol (Figura 7.14).
Os glicolipídeos
CEDERJ 97
Biologia Celular I | Estrutura da membrana plasmática
Domínios lipídicos
98 CEDERJ
MÓDULO 1
quando foi descoberto que algumas regiões da bicamada lipídica têm
7
AULA
fluidez menor que o resto da bicamada que as cerca. Esta menor fluidez
é resultante da aglomeração de fosfolipídeos de cadeias longas – espe-
cialmente esfingomielina e colesterol nessas regiões. As caudas de ácidos
graxos desses lipídeos se emaranham, formando assim um conjunto que
não se mistura com o resto e se move em conjunto, como se fosse uma
jangada flutuando no mar. Nessa comparação, a jangada seria o conjunto
de lipídeos de menor fluidez (ou seja, com menor liberdade de se mistu-
rar aos outros), e o mar em volta seria todo o resto da membrana. Por
esta razão, as plataformas lipídicas foram denominadas lipid rafts, pois
raft, em inglês significa jangada, em português. O maior comprimento
das cadeias de ácidos graxos desses lipídeos aumenta a espessura da
bicamada nessas regiões, formando verdadeiras plataformas lipídicas
(Figura 7.16), denominação que adotaremos neste texto.
Glicolipídeo
Colesterol
Glicoproteína
Figura 7.16: As plataformas lipídicas
são regiões da membrana onde se con-
centram lipídeos de cadeias longas,
especialmente do tipo esfingolipídeos
e colesterol. Consequentemente,
a bicamada nessas regiões é mais
espessa, menos fluida, e só proteínas
com determinada extensão podem
se inserir ali.
Plataforma lipídica
CEDERJ 99
Biologia Celular I | Estrutura da membrana plasmática
Resumo
100 CEDERJ
MÓDULO 1
7
• As membranas são fluidas porque os lipídeos que as compõem movem-se o
AULA
tempo todo, fazendo flexão das cadeias de ácidos graxos, rotação, translocação
e, raramente, flip-flop.
• Existem regiões menos fluidas na bicamada lipídica, as plataformas lipídicas,
ricas em ácidos graxos de cadeia longa e colesterol.
• Regiões diferenciadas em termos de composição lipídica, função e fluidez das
membranas constituem domínios de membrana.
Exercícios
CEDERJ 101
3
5
a u l a
Criofratura
plano de corte
perfil bidimensional,
membrana de aspecto trilaminar
Figura 3.1: No microscópio de transmissão o corte ultrafino de uma célula resulta numa imagem
bidimensional onde se vê o contorno (perfil) trilaminar da membrana plasmática e as organelas internas
(não representadas).
planos de corte
O “empilhamento" de vários
perfis bidimensionais em série
permite reconstruir o aspecto
tridimensional da estrutura.
Figura 3.2: Cortes em série de uma estrutura podem dar uma noção de sua forma
tridimensional.
40 CEDERJ
3
era composta principalmente de proteínas e lipídeos; entretanto, a
AULA
observação da estrutura trilaminar da membrana em cortes ultrafinos
levou à conclusão errada de que a estrutura da membrana seria um
"sanduíche" de proteínas recheado por uma bicamada lipídica.
Uma membrana com essa organização seria não apenas
muito rígida, dificultando os movimentos celulares, como seria
quase impossível que substâncias passassem através dela: aquelas
hidrofílicas ficariam impedidas de passar pela bicamada lipídica, assim
como seria impossível que as substâncias hidrofóbicas atravessassem a
cobertura de proteínas (veja o esquema na Figura 3.3).
Lipídeos e outras
substâncias hidrofóbicas
não cruzariam a “couraça”
Proteínas e outras moléculas de proteínas da membrana.
hidrofílicas não atravessariam
o “miolo” lipídico da membrana.
proteína
proteína
lipídeo
Figura 3.3: O "modelo do sanduíche" da membrana era rígido e não explicava os movimentos
celulares e o transporte através da membrana, embora correspondesse à imagem de microscopia
eletrônica de transmissão de cortes ultrafinos.
Fundamentos da técnica
CEDERJ 41
CONGELAMENTO
Algumas adaptações tiveram de ser feitas para que os cristais de
gelo que se formavam no processo de congelamento não perfurassem
as células, lesando-as gravemente e impedindo a observação de sua
organização. Assim, antes de congelar as amostras, elas são brevemente
fixadas em aldeídos e infiltradas com glicerol, uma substância que
dificulta a formação de cristais de gelo (Figura 3.5). Um outro fator
que impede a formação de cristais é fazer um congelamento ultra-
rápido, o que requer equipamentos ainda mais sofisticados.
Figura 3.5: Para criofratura, as células são inicialmente fixadas com aldeídos, a seguir infiltradas com glicerol, que
impedirá a formação de cristais de gelo quando congeladas.
42 CEDERJ
3
Depois de congeladas, as amostras são colocadas numa câmara
AULA
a vácuo e aí fraturadas, também a baixa temperatura. Para observar a
superfície exposta após a fratura, não seria possível retirar a amostra do
aparelho, pois à temperatura ambiente ela simplesmente derreteria.
Por esse motivo, é necessário fazer um molde que reproduza a
superfície fraturada com todos os detalhes.
REPLICAÇÃO
CEDERJ 43
Figura 3.8: Quando a célula é fraturada em seu plano médio é possível reconhecer o
núcleo pelo seu envoltório duplo e complexos de poro. Vacúolos e organelas
intracelulares são de identificação mais difícil.
44 CEDERJ
Figura 3.11: Esquema de uma hemácia (A) sendo fraturada (B) e (C) e expondo, ora a face E da membrana,
voltada para o exterior (D1), ou a face P, voltada para o citoplasma (D2).
CONCLUSÃO
A criofratura continua sendo uma técnica importante no estudo das células, entretanto,
muitas variações foram introduzidas, permitindo a obser vação não apenas do "miolo" da
membrana, mas também das faces voltadas para o citoplasma, para o meio extracelular e
também de estruturas citoplamáticas, como os microtúbulos.
CEDERJ 45
RESUMO
EXERCÍCIOS
46 CEDERJ
Pré-requisitos
Aulas de 11 a 16 de Proteínas (Bioquímica I).
Biologia Celular I | Proteínas de membrana
INTRODUÇÃO A estrutura básica de todas as membranas biológicas é formada por uma bicapa
lipídica; entretanto, são as proteínas que conferem individualidade e especificidade
às membranas celulares.
As funções desempenhadas por cada membrana (transporte, reconhecimento, adesão,
veja Figura 8.1) dependem primariamente de suas proteínas constituintes.
As proteínas correspondem, em média, a cerca de 50% da massa de uma membrana,
podendo chegar a 75%, no caso da membrana mitocondrial interna.
A técnica da criofratura (veja Aula 3) permitiu, pela primeira vez, observar que as
proteínas de membrana se distribuem na bicamada lipídica ora atravessando-a de um
lado ao outro, ora inserindo-se apenas no folheto externo ou interno da bicapa.
Assim, na descrição clássica do modelo do mosaico fluido, as proteínas da membrana
são classificadas em dois grupos: transmembrana, quando atravessam a matriz
lipídica; periféricas, quando se encontram associadas a outras proteínas integrais
ou lipídeos da membrana.
a
c
104 CEDERJ
MÓDULO 2
8
Algumas proteínas atravessam apenas uma vez a bicamada e são !
AULA
A proteína que
chamadas unipasso (Figura 8.2A), enquanto as que passam muitas vezes
transporta glicose
pela bicamada são chamadas multipasso (Figura 8.2B). Muitas vezes, as para dentro das
células é do tipo
proteínas multipasso criam em seu interior um ambiente hidrofílico que multipasso, assim
como a bomba de
pode atuar como um “poro” transmembrana. sódio/potássio.
2. Há proteínas que se associam à membrana de modo indireto,
ou seja, formam ligações não covalentes com proteínas transmembrana
(Figura 8.3). Estas correspondem às proteínas periféricas inicialmente
descritas no modelo do mosaico fluido.
Meio
Extracelular
Meio
Intracelular
CEDERJ 105
Biologia Celular I | Proteínas de membrana
!
As âncoras de membrana podem ser de vários tipos, específicos para o lado
citoplasmático ou para o lado extracelular da membrana. Proteínas ligadas
covalentemente a lipídeos podem ser encontradas no folheto citoplasmático.
Proteínas ancoradas via glicosil-fosfatidil-inositol (GPI), só existem na face
da membrana voltada para o meio extracelular. A proteína ancorada por
GPI se prende sempre ao fosfolipídeo fosfatidilinositol, tendo como ponte
entre a proteína e o fosfolipídeo uma seqüência de açúcares, que é sempre
a mesma, uma etanolamina. É interessante como uma mesma estrutura está
presente na ligação de proteínas tão diferentes à membrana.
106 CEDERJ
MÓDULO 2
8
AULA
Figura 8.6: Proteínas que se ligam por carga a outros componentes da membrana
podem se soltar da mesma, se a força iônica da solução onde se encontram for
drasticamente alterada.
!
Protozoários parasitas como o Trypanosoma brucei (agente
da doença do sono) e o Plasmodium (causador da malária)
periodicamente secretam a enzima fosfolipase-c específica
para fosfatidil inositol. Dessa forma, todas as proteínas ancoradas
por GPI na superfície deles são rapidamente eliminadas e
os protozoários se tornam “invisíveis” para os anticorpos já
produzidos pelo hospedeiro.
CEDERJ 107
Biologia Celular I | Proteínas de membrana
108 CEDERJ
MÓDULO 2
8
NEM TODAS AS PROTEÍNAS ATRAVESSAM A BICAMADA
AULA
FORMANDO UMA HÉLICE
CEDERJ 109
Biologia Celular I | Proteínas de membrana
110 CEDERJ
MÓDULO 2
8
MECANISMOS DE RESTRIÇÃO À MOBILIDADE DAS
AULA
PROTEÍNAS: BARREIRAS E DOMÍNIOS
CEDERJ 111
Biologia Celular I | Proteínas de membrana
FORMAÇÃO DE BARREIRAS
Proteína A
112 CEDERJ
MÓDULO 2
8
OS CARBOIDRATOS DE MEMBRANA
AULA
Correspondem aos açúcares. Grande parte dos lipídeos e das
proteínas de membrana voltados para o meio extracelular apresenta-se
ligado a carboidratos, formando glicoproteínas ou glicolipídeos. Há ainda
um terceiro tipo de carboidratos: são as proteoglicanas, que geralmente
são encontradas na matriz extracelular (serão abordadas em maior detalhe
em Biologia Celular 2), mas algumas se inserem na bicamada lipídica por
parte de sua porção protéica ou por meio de uma âncora do tipo GPI.
O conjunto de carboidratos da membrana forma o chamado
glicocálix ou cell-coat. Quanto mais carboidratos contiver uma
membrana, mais espesso será o glicocálix (Figura 8.14).
Além de estarem sempre ligados a uma proteína ou a um lipídio
na membrana plasmática, os açúcares estão sempre voltados para o meio
extracelular (Figura 8.15).
DE: ALBERTS, Bruce et al. Molecular Biology of the Cell. 4.ed. Nova York: Garland Science Publishing, 2002.
CEDERJ 113
Biologia Celular I | Proteínas de membrana
Membrana do retículo
Citossol
Membrana plasmática
114 CEDERJ
MÓDULO 2
8
AULA
Proteoglicanas diferem de glicoproteínas em algumas características: as glicoproteínas têm
uma cadeia ramificada de monossacarídeos diferentes ligados a uma proteína. Já as proteoglicanas
têm longas cadeias lineares de dissacarídeos repetidos ligados a uma proteína. A relação em massa
entre a cadeia de açúcares e a cadeia protéica também é diferente: enquanto na glicoproteína
a parte protéica é muito maior, na proteoglicana, a parte glicídica predomina.
Proteoglicana
RESUMO
CEDERJ 115
Biologia Celular I | Proteínas de membrana
EXERCÍCIOS
1. Por que a criofratura foi fundamental para se saber como as proteínas se inserem
na bicamada lipídica.
• proteína transmembrana
• proteína periférica
• proteína ancorada
• proteína unipasso
• proteína multipasso
• porinas
• complexo proteico
4. O que é um heterocárion?
8. O que é glicocálix?
116 CEDERJ
9
AULA
Permeabilidade da membrana
Pré-requisito
Estrutura de proteínas (Bioquímica I)
Biologia Celular I | Permeabilidade da membrana
Recordando:
As membranas celulares são compostas por uma bicamada
de lipídeos, onde estão inseridas proteínas. Enquanto
as proteínas variam muito de acordo com as atividades
específicas dos diferentes tipos celulares, os lipídeos são,
além de majoritários, praticamente os mesmos nas
membranas plasmáticas das diferentes células. Os lipídeos
podem ser definidos como moléculas hidrofóbicas não
carregadas, embora os fosfolipídeos e mesmo o colesterol
nas membranas possuam uma extremidade hidrofílica em
suas moléculas.
!
Se o texto acima lhe parece confuso, volte à Aula 7.
118 CEDERJ
MÓDULO 2
9
A PERMEABILIDADE SELETIVA DA MEMBRANA
AULA
PLASMÁTICA
Dê uma paradinha. Vá até a cozinha, prepare uma limonada, pegue umas batatinhas fritas
e, na volta, reveja estes conceitos de Bioquímica I:
• Molécula polar X molécula apolar
• Molécula hidrofílica X molécula hidrofóbica
• Íon
• Camada de solvatação
– ”Ah, não tem nada a ver!”
– “Como não? Já imaginou tomar limonada se o açúcar não dissolver na água? E a batata?
Fica horrível, encharcada de óleo de fritura!
Repare que esses conceitos fazem parte do nosso dia-a-dia.”
Capilar
Figura 9.2: A troca de gases entre os seres vivos e o meio ambiente é feita sempre
por difusão simples, obedecendo à diferença de concentração. Como a planta
está produzindo O2, ele é lançado ao meio ambiente. Já o animal consome
continuamente O2 e expira CO2, que é lançado ao meio ambiente e absorvido pela
planta, em cujas células a concentração é mais baixa.
120 CEDERJ
MÓDULO 2
9
Vimos, assim, que a permeabilidade seletiva da bicamada lipídica
AULA
nada tem a ver com a “utilidade” das moléculas para a célula, dependendo
apenas das características físico-químicas das mesmas.
DIFUSÃO SIMPLES
OSMOSE
Experimento 1:
Material:
Luvas de látex descartáveis
Soro fisiológico
Tubo de ensaio
Pipetas e bulbos
Lâminas e lamínulas
Microscópio óptico
Procedimento:
1. Sempre usando as luvas, recolha uma amostra (1 ml) do
sangue do animal num tubo contendo soro fisiológico (1 ml). Este
será o tubo 1. Misture, colha com a pipeta uma gota da mistura,
monte entre lâmina e lamínula e observe ao microscópio óptico. Qual
o formato das hemácias?
CEDERJ 121
Biologia Celular I | Permeabilidade da membrana
122 CEDERJ
MÓDULO 2
9
AULA
a b c d
Figura 9.3: Variações na forma e no volume de células submetidas a soluções de diferentes tonicidades.
EXPERIMENTO 2:
Material:
Uma cebola sem casca
Água destilada
Açúcar (sacarose)
Tubo de ensaio
Pipetas e bulbos
Lâminas e lamínulas
Microscópio óptico
Procedimento:
1. Puxe cuidadosamente uma película da superfície da
cebola. Estenda essa película sobre uma gota d’água colocada numa
lâmina e monte com uma lamínula. Observe e descreva o formato
das células ao microscópio.
2. Puxe uma outra película semelhante à primeira mas
monte sobre uma gota de uma solução saturada de açúcar em
água. Observe ao microscópio e descreva as alterações.
CEDERJ 123
Biologia Celular I | Permeabilidade da membrana
parede
celular
núcleo
membrana
plasmática
BÁSICO
124 CEDERJ
10
AULA
As proteínas transportadoras
PROTEÍNAS TRANSPORTADORAS
Dê uma paradinha:
Se você acha que proteína multipasso é isso,
dê uma espreguiçada, endireite as costas
e volte à aula de proteínas de membrana (número 8)
para refrescar sua memória.
B
A COMO ATUA UMA PROTEÍNA TRANSPORTADORA
126 CEDERJ
MÓDULO 2
10
Podem ser comparadas às enzimas, pois, como elas, ligam-se a um soluto
AULA
específico e sofrem alterações na sua forma até liberar esse soluto do outro
lado da membrana e reiniciar o processo com uma nova molécula; porém,
diferentemente das enzimas, não alteram o soluto que é transportado
por elas. Outro ponto importante é que cada unidade de uma proteína
carreadora transporta poucas moléculas do soluto por vez. Um bom
exemplo de carreador é a proteína que continuamente transporta a
glicose do sangue para dentro das células. Nos momentos em que um
determinado tipo celular necessita de maior aporte de glicose, isso é
feito aumentando o número de transportadores na membrana
das células, pois a velocidade com que um
carreador é capaz de atuar não se modifica.
Situações de esforço muscular, como uma
corrida, levam a esse tipo de situação;
entretanto, o tecido mais vulnerável
à falta de glicose é o nervoso.
CEDERJ 127
Biologia Celular | As proteínas transportadoras
AS AQUAPORINAS
128 CEDERJ
MÓDULO 2
10
O controle de sua atividade é feito de outra forma: quando a célula recebe
AULA
determinado tipo de estímulo (geralmente por parte de um hormônio),
moléculas de aquaporina que estavam armazenadas dentro da célula
são direcionadas a se inserir na membrana, acelerando a passagem de
água através dela.
!
Ciência é vida!
Os portadores do diabetes do tipo 2 produzem grande quantidade de
urina, sempre muito diluída. Nesses indivíduos, a reabsorção de água
nos túbulos renais é deficiente justamente pela falta de aquaporinas
na sua membrana. Diversas outras doenças também estão associadas
ao mau funcionamento dessas proteínas.
!
Tudo é relativo Talvez você esteja se perguntando: serão as
aquaporinas carreadores ou canais? Pense no assunto; voltaremos
a ele na seção de exercícios.
CEDERJ 129
11
5
a u l a
Transporte passivo
!
Assim como nos canais iônicos, as
pessoas espremidas numa saleta
também tendem a se espalhar,
quando uma porta para um
compartimento mais espaçoso
é aberto.
130 CEDERJ
AULA
(Figuras 11.1, 11.2 e 11.3). Esse estímulo pode ser um ligante,
uma sensibilidade do canal a alterações de voltagem ou a um estímulo
mecânico.
Nos canais ativados por ligante, uma molécula se liga ao canal
e induz uma mudança no formato da molécula que abre a comporta
(Figura 11.1A e 11.1B). Um bom exemplo de ligante é a adrenalina
(vide box). Quando ficamos nervosos ou com medo, essa substância é
liberada na corrente sangüínea e, ao encontrar canais iônicos que são
ativados por ela na superfície de vários tipos de célula, dispara processos
químicos que resultam na aceleração dos batimentos cardíacos, no
suor frio e outros sintomas relacionados a essas situações. Repare no
esquema: há canais que são abertos por ligantes extracelulares (como a
adrenalina) e outros por ligantes produzidos na própria célula, ou seja,
são abertos por dentro (Figura 11.1B).
MEIO EXTRACELU
MEIO INTRACELU
!
Ter um ataque de nervos no trânsito
abre vários canais iônicos dependentes
de adrenalina.
CEDERJ 131
!
A atividade muscular depende
tanto de canais que se abrem por
ligante como de canais ativados
por voltagem.
!
Já na atividade cerebral
participam muitos canais
dependentes de voltagem.
132 CEDERJ
AULA
iônicos sensíveis a estímulos mecânicos, levando a folha a fechar-se,
aprisionando o inseto ((Figura 11.3).
Você já deve ter notado que grande parte dos exemplos que temos
utilizado nesta aula se refere aos tecidos chamados excitáveis, isto é, músculos
e nervos. Os tipos celulares desses tecidos necessitam responder rapidamente
a estímulos. Isso é conseguido quando, em reposta a um estímulo, abrem-se
canais e por eles passam grandes quantidades de íons em pequeno intervalo
de tempo.
No estado de repouso, a membrana dessas células se encontra polarizada.
Isto é, há um acúmulo de cátions (especialmente Na+ e K+) no meio extracelular.
Em conseqüência, o meio intracelular é negativo em relação ao extracelular.
Essa diferença de cargas (chamada potencial de membrana) é mantida pelo
transporte ativo desses cátions, a ser estudado na Aula 12.
CEDERJ 133
inativo aberto
134 CEDERJ
AULA
figuras B e C mostram
o percuso do estímulo
ao longo de um trecho
da membrana, onde se
abrem sucessivamente
canais iônicos ativados
por voltagem (B). Os
canais abertos criam
uma área de inversão
da voltagem que induz
à abertura dos canais
vizinhos. Enquanto os
canais recém-ativados
se encontram no estado
inativo (área sombreada),
impedindo que o estímulo
dê "marcha à ré", os
canais à frente abrem-se,
permitindo a propagação
do estímulo no sentido
correto.
CEDERJ 135
CONCLUSÃO
136 CEDERJ
5
a u l a
Transporte ativo
!
A harmonia do desequilíbrio:
Assim como uma bicicleta só se mantém equilibrada nas duas rodas se estiver
em movimento, a vida celular também requer atividade constante. Por
exemplo, no caso dos neurônios, o que indica se seu estado é de repouso ou
atividade é a diferença de cargas nos lados interno e externo na membrana
celular. Quando a célula está em repouso, o exterior é positivo em relação ao
meio interno. Em atividade, essa polaridade se inverte momentaneamente e o
interior se torna positivo. Essa mudança de carga se faz pela passagem de íons
(principalmente Na+ e K+). Se a distribuição de íons fosse igual nos dois lados
da membrana, a célula “não saberia” em que estado se encontra.
138 CEDERJ
AULA
seus dois postulados básicos:
1. dá-se sempre contra o gradiente de concentração do soluto que
está sendo transportado;
2. requer gasto energético (ATP) por parte da célula.
CEDERJ 139
140 CEDERJ
AULA
quantidade de íons Na+ e a evasão de uma quantidade também
considerável de íons K+ para fora da célula provocam a despolarização.
Como no balanço final a entrada de cátions é maior que a saída, o meio
interno se torna positivo em relação ao meio externo.
Até este ponto, descrevemos eventos que dependem apenas da
abertura de canais, isto é, transporte passivo. O papel do transporte ativo
será fazer com que a célula retorne ao estado de repouso, ou seja, refazer
a distribuição dos íons de modo que o meio intracelular seja negativo
em relação ao meio extracelular, mesmo que isso signifique deslocar
íons do compartimento onde eles estão em menor concentração para
outro onde sua concentração seja maior. A repolarização (retorno ao
estado polarizado) da membrana é feita por um sistema de transporte
ativo chamado de bomba de sódio/potássio.
Dê uma paradinha:
O transporte ativo, energeticamente falando, é sempre
feito ladeira acima. Isto é, enquanto para descarregar um
caminhão de areia basta erguer a caçamba e despejar o
conteúdo, para enchê-lo serão necessários vários operários
com pás.
CEDERJ 141
A BOMBA DE SÓDIO/POTÁSSIO
A bomba de Naa+/K
K+ é um dos sistemas de transporte ativo mais
estudados e mais bem conhecidos. A Figura 12.6
6 resume suas principais
características funcionais.
Meio Intracelular
142 CEDERJ
CEDERJ 143
A bomba de Naa+/K
K+ é uma proteína carreadora através da qual
passam, em sentidos opostos, dois íons diferentes (o sódio e o potássio).
Já o transportador de glicose, também uma proteína carreadora,
transporta apenas um tipo molecular. Essas características levaram ao
agrupamento das proteínas carreadoras em três grupos: as que fazem
uniporte, as que fazem simporte e as do grupo antiporte ((Figura 12.8).
As proteínas uniporte transportam apenas um tipo de molécula.
É o caso do transportador de glicose presente na membrana da maioria
das células.
Na superfície voltada para a luz, as células do epitélio intestinal possuem
uma proteína transportadora de glicose que carreia simultaneamente íons
sódio. Chama-se a isso simporte ou co-transporte. Veja no boxe da página
145 as vantagens desse tipo de transporte para a célula. Já na bomba de Naa+/
K+ também ocorre a passagem de duas moléculas distintas, mas em sentidos
opostos. A isso chamamos antiporte.
144 CEDERJ
AULA
à ação da bomba de Naa+/K
K+ o gradiente de concentração do sódio é sempre
muito maior no meio externo, favorecendo sua entrada na célula juntamente
com a glicose. Esse tipo de transporte é chamado de difusão facilitada ou
transporte ativo secundário, pois embora não dependa diretamente de ATP
e obedeça ao gradiente de concentração do Naa+, depende do funcionamento
da bomba de Naa+/K
K+, um transportador ativo. Esse mecanismo impede que
as células intestinais percam glicose em direção à luz intestinal nos períodos
de jejum. Essa situação já foi comentada quando estudamos os domínios de
membrana (Aula 8). A célula do epitélio intestinal possui então dois domínios:
o apical, onde existem as microvilosidades e o co-transportador de sódio e
glicose e o domínio basolateral, onde o transportador de glicose é do tipo
uniporte.
CEDERJ 145
!
A receita de soro caseiro
(1 colher de chá de sal e 1
colher de sopa de açúcar em
1 litro de água), utilizada para
reidratação oral de pessoas
com diarréia, se baseia no
simporte de Na+ e glicose
que ocorre no intestino. A
absorção do Na+ (do cloreto de
sódio) e da glicose derivada do
açúcar aumenta a tonicidade
do citoplasma das células
intestinais, fazendo com que
a água seja absorvida por
osmose.
146 CEDERJ
AULA
síntese de ATP para a bactéria.
3. As proteínas de multirresistência a drogas, já comentadas
anteriormente, fazem parte de uma grande família de transportadores
ativos, as proteínas ABC (de ATP
A Binding Cassete, uma sequência
de aminoácidos presente nas proteínas dessa família que se ligam ao
ATP, necessário para que o transporte através delas seja realizado).
As proteínas dessa família atuam tanto no transporte de íons como de
pequenas moléculas, participando de processos de detoxificação por
várias drogas de natureza lipídica.
A importância dos transportadores ABC pode ser bem avaliada no
caso da fibrose cística, uma anomalia genética relativamente comum. Nos
–
portadores dessa doença o gene que codifica um transportador de Cll é
defeituoso, ou inexistente, acarretando profundos desbalanceamentos no
equilíbrio hídrico e eletrolítico do indivíduo. Esses sintomas se manifestam
como alta concentração de sal no suor, alta viscosidade do muco que
reveste as vias respiratórias, ocasionando obstrução delas, e muitos outros
que diminuem a qualidade e a expectativa de vida dos afetados.
CEDERJ 147
A B
RESUMO
148 CEDERJ
AULA
ativo ou passivo, o transporte através dos canais é sempre passivo.
• A maior parte das proteínas do tipo canal é de canais iônicos seletivos que permitem
a passagem de íons inorgânicos específicos de acordo com seu tamanho e carga. O
transporte através desses canais é pelo menos 1.000 vezes mais veloz que o transporte
através de qualquer carreador conhecido.
• A maior parte dos canais iônicos só se abre sob determinados estímulos, como a alteração
do potencial de membrana (ativados por voltagem) ou a ligação de uma molécula
específica (ativados por ligante).
EXERCÍCIOS
3. Por que alguns autores chamam o simporte de Na+ e glicose através da membrana de
“transporte ativo secundário” se não há consumo de ATP no processo?
4. O que são aquaporinas? Qual sua importância nos dutos coletores das células renais?
6. Comente a frase: “Dizer que a membrana é dotada de permeabilidade seletiva é dizer que
através dela só passam as moléculas de que a célula necessita.”
CEDERJ 149
13
AULA
e princípios de
sinalização celular I
objetivos
8 CEDERJ
13 MÓDULO 3
Tipos de sinalização
De acordo com a meia vida (veja o boxe) da molécula sinalizadora e de quais células
AULA
possuem receptores para aquele sinal, podemos classificar os tipos de sinalização como:
a) Parácrina – a molécula sinalizadora tem vida curta e os receptores estão nas células
próximas (Figura 13.2.a). Nesse caso, a molécula sinalizadora é chamada de mediador local.
b) Autócrina – a molécula sinalizadora tem vida curta e o receptor está na própria célula que
emitiu o sinal. Para você entender melhor, compare a sinalização autócrina com algumas coisas
que nós fazemos, como colocar um bilhete para nós mesmos a fim de não esquecer de fazer alguma
coisa, ou anotar um compromisso na agenda, ou colocar o despertador para tocar na hora que queremos
acordar. Todos esses exemplos são sinais que colocamos e nós próprios percebemos; somos, assim,
tanto emissores como alvos dos mesmos sinais, que são, portanto, autócrinos (Figura 13.2.b).
c) Dependente de contato – a molécula sinalizadora não é secretada, ficando exposta na
superfície da célula sinalizadora, e a célula-alvo precisa fazer contato para que o receptor possa se
ligar (Figura 13.1).
d) Endócrina – a molécula sinalizadora tem vida longa, é lançada na corrente sanguínea
e vai atingir células-alvo em locais distantes. Nesse caso, a molécula sinalizadora é chamada de
hormônio (Figura 13.2.d).
e) Neuronal é um caso
especial de sinalização entre células
que poderia ser classificado como
parácrino ou endócrino. Nessa
situação, a molécula sinalizadora,
chamada neurotransmissor, viaja
grandes distâncias, mas não no
sangue ou no meio extracelular
e sim dentro de prolongamentos
celulares dos neurônios, os
axônios, indo atingir a célula-
alvo longe do corpo celular do
neurônio que emitiu o sinal,
mas próximo do axônio onde
a molécula sinalizadora foi
secretada (Figura 13.2.c).
CEDERJ 9
Biologia Celular I | Receptores de membrana e princípios de sinalização celular I
ue
ng
Sa
Figura 13.3: (a) Na corrente sanguínea circulam
muitos hormônios, secretados por diferentes
células, que atingirão várias células, mas só
Hormônios Várias células-alvo algumas expõem o receptor adequado. (b) Do
Várias células sinalizadoras mesmo modo, um neurônio possui diferentes
b prolongamentos para alcançar as células que
possuem os receptores capazes de reconhecer
o neurotransmissor.
Várias células-alvo
10 CEDERJ
13 MÓDULO 3
Célula muscular esquelética
Figura 13.4: Diferentes
células podem responder
de modo diferente à
mesma molécula sinali-
AULA
zadora, por apresentarem
Acetilcolina
diferentes receptores,
como as células muscula-
Contração
res esquelética e cardíaca,
ou mesmo apresentando
receptores iguais, como as
células cardíaca e secretória.
Diminuição
de freqüência
Célula que não se comunica
se “trumbica”
Célula secretória
CEDERJ 11
Biologia Celular I | Receptores de membrana e princípios de sinalização celular I
Morte celular
B
Proliferação
A
F
C G
B
Diferenciação
A
Tipos de receptores
Qual o tipo de receptor mais adequado para receber um determinado sinal? Isso depende
de que tipo de molécula esse sinal for (Figura 13.6):
a) se a molécula sinalizadora for pequena e/ou hidrofóbica o suficiente para atravessar a
membrana, o receptor deve ser intracelular;
b) se a molécula sinalizadora não puder atravessar a membrana, o receptor terá de estar
obrigatoriamente na membrana plasmática, exposto na superfície celular.
Essas características de afinidade, isto é, permeabilidade entre as moléculas sinalizadoras e as
membranas celulares, mais especificamente a bicamada lipídica, já foram abordadas na Aula 8.
Figura 13.6: Os receptores para moléculas hidrofílicas ficam voltados para o meio extracelular (a) enquanto os
receptores para sinalizadores pequenos e hidrofóbicos são intracelulares (b).
12 CEDERJ
13 MÓDULO 3
Sinalização por ligantes hidrofóbicos
AULA
nítrico (NO). Essa pequena molécula age sobre as células musculares
lisas que envolvem os vasos sanguíneos, provocando vasodilatação local.
Promovendo o relaxamento dessas células musculares, o NO faz com
que o vaso aumente de calibre, deixando o sangue fluir mais facilmente.
O NO é produzido nas células endoteliais que revestem os vasos, isto
é, bem perto das células sobre as quais ele age. Quando um impulso
nervoso chega a essas células, elas ativam uma enzima, a óxido nítrico
sintase (NOS), que produz NO a partir do aminoácido arginina. O NO
é um gás e, assim como o O2 e o CO2, ele atravessa as membranas por
difusão simples (a Aula 8), saindo da célula na qual foi produzido e se
espalhando rapidamente pelas células vizinhas. Nas células musculares
lisas, o NO ativa outras enzimas, o que leva à vasodilatação. O NO é um
mediador local, fazendo sinalização parácrina.
CEDERJ 13
Biologia Celular I | Receptores de membrana e princípios de sinalização celular I
Por isso, precisam associar-se a moléculas hidrofílicas que tenham um sítio capaz de acomodá-la.
Essa molécula hidrofílica, que chamamos carreadora (Figura 13.6.b), freqüentemente é a albumina
do soro. Ao chegar bem perto da membrana de uma célula, a molécula sinalizadora (ligante) se
solta da carreadora e se difunde pela bicamada lipídica, entrando na célula. O receptor para este
ligante deve estar no citoplasma e, com a chegada deste, fica ativo, desempenhando suas funções.
É muito freqüente, porém, que o receptor seja um fator de transcrição, isto é, uma molécula
que, com a chegada do ligante, forma um complexo que entra no núcleo e vai ativar a transcrição
de um gen (Figura 13.7).
Claro que essa resposta demora muito mais para aparecer do que aquela que depende
apenas da ativação de uma molécula que já estava pronta. Mas também permanece mais tempo,
já que o gen ativado produzirá uma proteína que não será degradada de imediato. Alguns
dos hormônios mais conhecidos agem assim, como por exemplo os hormônios esteróides
(testosterona, estrogênio, cortisol e outros) e os tireoidianos.
Mas e se o ligante não consegue atravessar a membrana? O que você faria para passar
uma informação para alguém que está num lugar onde você não pode entrar? Não vale
telefonar! Acho que o jeito seria mandar um recado por alguém que estivesse na porta (ou na
janela!). E recomendar muita atenção para que o recado chegue direitinho.
Quando a molécula sinalizadora é hidrofílica e/ou grande, não podendo, portanto, atravessar a
bicamada lipídica, o receptor vai ter de funcionar como um verdadeiro garoto de recados, mas sem sair
14 CEDERJ
13 MÓDULO 3
da membrana onde tem de estar obrigatoriamente exposto (Figura 13.6.a).
Quando o receptor recebe a molécula sinalizadora, ele invariavelmente muda
AULA
de conformação. A mudança conformacional passa a informação adiante
porque muda o comportamento do receptor. Vamos ver quais são as principais
classes de receptores para ligantes hidrofílicos e o que acontece depois da
chegada do ligante a cada um deles, passando a informação adiante.
Existem três tipos de receptor de sinalização na membrana
plasmática: a) os receptores do tipo canal; b) os associados à proteína
G e c) os receptores enzimáticos. Em comum eles possuem o fato de
serem proteínas transmembrana e de não entrarem na célula (a não
ser que devam ser degradados), o que os diferencia dos receptores de
endocitose (você vai conhecê-los na Aula 19), que entram na célula
junto com o ligante. Vamos ver as características básicas de cada um.
a) Receptores do tipo canal
Esses você já conhece das Aulas 10 e 11, de transporte. São os
canais controlados por ligante. Esses receptores podem ser os canais
eles próprios ou estar associados a um canal iônico, de modo que a
mudança conformacional induzida pelo ligante ativa o canal associado,
que se abre (Figura 13.8). Um bom exemplo é o receptor de acetilcolina
em células musculares esqueléticas.
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Biologia Celular I | Receptores de membrana e princípios de sinalização celular I
Tamanho é documento?
Enzima
ativa
16 CEDERJ
13 MÓDULO 3
As enzimas ativadas por proteína G devem funcionar de modo a
passar o sinal adiante. As enzimas que fazem isso são principalmente
AULA
a adenilciclase e a fosfolipase C. Elas têm em comum, além de serem
ativadas por proteína G, claro, o fato de sua ação enzimática gerar
produtos pequenos e de curta duração, os mensageiros secundários. Vamos
estudar uma de cada vez na aula seguinte.
RESUMO
• Ligantes que entram na célula podem ter vida muito curta e provocar
respostas rápidas, como o óxido nítrico, ou ter vida longa e provocar resposta
lenta e duradoura, como os hormônios esteróides.
EXERCÍCIOS
1. Conceitue:
a. Receptor:
b. Ligante:
c. Molécula sinalizadora:
d. Célula-alvo:
CEDERJ 17
Biologia Celular I | Receptores de membrana e princípios de sinalização celular I
• Uma molécula sinalizadora pode ser reconhecida por vários tipos celulares
diferentes. ( )
18 CEDERJ
14
a u l a
Receptores de membrana e
princípios de sinalização celular II
Adenilciclase
20 CEDERJ
AULA
por um receptor que ativa proteína G, que por sua vez ativa adenilciclase, que produz AMPc,
a elevação súbita da concentração desse mensageiro é prontamente percebida pela célula. Muitas
enzimas citoplasmáticas são ativadas por AMPc e reagem a esse pico de concentração. Para esse
mecanismo funcionar bem, é preciso que a concentração de AMPc baixe tão rápido quanto
subiu, assim, a célula poderá perceber o próximo sinal. A enzima responsável por isso é a AMPc-
fosfodiesterase, que faz com que a molécula fique linear (passando a se chamar AMP-5´monofosfato),
perdendo a função. Mas ela não vira lixo, não! Pode mais tarde receber outros fosfatos, voltando
a ser o precioso ATP.
O AMPc dispara uma enorme diversidade de eventos, ativando enzimas, abrindo canais
iônicos etc. com muitas conseqüências em termos da atividade celular. Uma das enzimas mais
importantes ativadas por AMPc é a proteína quinase A (PKA). Uma proteína quinase é uma
enzima que fosforila outras proteínas. A proteína quinase A ganhou esse nome por causa de seu
modo de ativação, o A é de AMPc.
Dê uma paradinha!
Esse negócio está ficando confuso, não? Tudo aconteceu por causa de um ligante que nem mesmo
entrou na célula! Vamos resumir a seqüência de eventos para que fique mais claro:
CEDERJ 21
22 CEDERJ
Outra enzima freqüentemente ativada por proteína G é a fosfolipase C. Como seu nome
AULA
está dizendo, essa enzima hidrolisa um fosfolipídio. Uma fosfolipase é classificada como A, C ou
D de acordo com o local onde ela corta o fosfolipídio. A fosfolipase C corta entre o fosfato e o
glicerol (para lembrar a estrutura do fosfolipídio, veja a Aula 7). Não é qualquer fosfolipídio que pode
ser clivado pela fosfolipase C. O alvo da fosfolipase C ativada por proteína G é um fosfolipídio
da face interna da membrana plasmática, o fosfatidilinositol 4,5 bifosfato, mais conhecido pela
sigla PIP2. A clivagem gera duas moléculas: 1) o diacilglicerol, também conhecido como DAG,
um glicerol com duas caudas de ácido graxo, que permanece na membrana; e 2) o inositol
trifosfato (IP3), que é liberado para o citoplasma (Figura 14.3).
As duas moléculas produzidas, DAG e IP3, terão funções diferentes em locais diferentes.
O DAG permanece na bicamada interna da membrana plasmática, onde se movimenta com
grande velocidade e vai recrutar do citoplasma uma proteína quinase ainda no estado inativo.
Ela só será ativada por cálcio depois de recrutada, por isso se chama proteína quinase C (PKC).
E de onde vem o cálcio que vai ativá-la? Isso é função da outra molécula produzida pela fosfolipase,
o IP3. Ele difunde rápido pelo citoplasma e vai encontrar seu receptor na membrana do retículo
endoplasmático. Esse receptor é do tipo canal, e quando o IP3 se liga ele abre um canal que deixa
vazar cálcio para o citoplasma, ativando a PKC e várias outras proteínas (Figura 14.3).
Nesse tipo de cascata de sinalização, o cálcio é o mensageiro secundário e pode afetar
diretamente componentes do citoesqueleto, como os microtúbulos, disparar mecanismos de
secreção ou prosseguir a cascata, ativando diretamente enzimas como proteína quinase C, que
vai fosforilar outras proteínas passando o sinal adiante.
CEDERJ 23
24 CEDERJ
AULA
vezes! Para manter essa diferença, vários mecanismos funcionam
permanentemente. Na membrana plasmática, há uma proteína
trocadora de cálcio por sódio que usa a energia do gradiente de sódio
gerado pela bomba de sódio e potássio para, sem gasto suplementar
de energia, botar cálcio para fora. Além dela, há uma outra bomba de
cálcio na membrana plasmática que hidrolisa ATP para obter a energia
necessária (aí sim, transporte ativo) e proteínas ligadoras de cálcio no
citoplasma que tornam o íon indisponível para outras reações.
Quando ocorre um pico de cálcio proveniente de sinalização,
a concentração normal aumenta 100 vezes, chegando a 10-5M. Nessa
situação, além das bombas na membrana plasmática, entra em
funcionamento a bomba de cálcio do retículo endoplasmático, que
recolhe de volta o cálcio liberado, mas se surgir algum problema,
como uma lesão na membrana plasmática (que logo será selada), e
a concentração subir mais, chegando a 10-3M, a mitocôndria passa a
bombear cálcio para dentro usando a energia do gradiente de prótons,
deixando temporariamente de produzir ATP. Isso é um mecanismo de
emergência, que raramente ocorre.
CEDERJ 25
Proteínas-alvo
Receptores enzimáticos
26 CEDERJ
AULA
receptores. Esse fenômeno dura apenas alguns segundos, já que a fosforilação
pelas tirosina quinases é logo revertida por proteínas tirosina fosfatases.
As proteínas recrutadas passam a estar ativas e vão, assim, passar o sinal adiante.
CEDERJ 27
28 CEDERJ
AULA
secretada por glóbulos brancos em resposta à infecção viral, principalmente). O γ-interferon
produzido por células infectadas é reconhecido por receptores de γ-interferon que ativam uma via
de tirosina quinases citoplasmáticas chamadas Janus quinases (Jaks), em referência ao deus romano
de duas faces. As Jaks fosforilam uma série de proteínas reguladoras de expressão gênica (as STATS),
que rapidamente entram no núcleo e ativam a transcrição de vários gens que codificam proteínas
que aumentam a resistência à infecção viral. Além do α-interferon, também os receptores para γ-
interferon (que ativa macrófagos), eritropoeitina (que estimula a produção de hemácias), prolactina
(que estimula a produção de leite) e hormônio do crescimento usam a via de Jaks e STATS.
Amplificação de sinais
CEDERJ 29
Integração de sinais
Como você já deve ter imaginado, freqüentemente as cascatas de sinalização iniciadas por
diferentes receptores se cruzam na célula, isto é, têm componentes em comum. Dois exemplos
bem simples estão esquematizados na Figura 14.10. É preciso que estejam presentes os dois
ligantes, A e B, reconhecidos por seus respectivos receptores, para que a sinalização possa
prosseguir numa via comum.
30 CEDERJ
AULA
• A ativação da proteína G ativa por sua vez adenilciclase ou fosfolipase C.
EXERCÍCIOS
2. E os de ligantes hidrofílicos?
CEDERJ 31
32 CEDERJ
INTRODUÇÃO Você está iniciando uma nova unidade na disciplina Biologia Celular.
Até agora, vimos os principais métodos que permitiram o descobrimento
e o estudo das células e a estrutura e principais funções desempenhadas
pelas membranas celulares. A partir de agora, vamos tratar dos principais
compartimentos delimitados por algumas membranas celulares e as
funções desempenhadas por eles.
Das primeiras formas de vida até os seres que hoje habitam nosso
planeta, muito tempo se passou e muita coisa mudou. As condições
climáticas e atmosféricas da Terra primitiva foram essenciais para que
as primeiras formas de vida surgissem. Essas, acreditamos, seriam seres
muito simples cujas principais características seriam o fato de serem
limitados por uma membrana e conterem material genético (DNA)
capaz de se autoduplicar, perpetuando as características daquele
organismo por mais uma geração. Erros nesse processo de duplicação
resultaram em mutações que respondem pela enorme diversidade de
formas vivas que habitam nosso planeta. O detalhamento do processo
de duplicação do DNA, e das falhas que podem ocorrer no mesmo,
serão estudadas com maiores detalhes nas disciplinas de Genética e
Evolução, embora alguns aspectos já tenham sido comentados em
“Grandes Temas”.
Chamamos procariontes (pro = antes, karyon = núcleo) às formas
de vida mais simples que conhecemos. São seres cujo tamanho varia entre
1 e 2 micrômetros e cujo DNA não se encontra num compartimento à
parte, o envoltório nuclear, encontrado apenas nos eucariontes (eu = bem).
As células eucariontes são também muito maiores do que as procariontes,
medem em geral entre 10 e 50 micrômetros.
34 CEDERJ
AULA
bactérias e, em geral, parasitam outras células. As bactérias estão presentes em praticamente todos
os pontos do planeta e em todos os níveis da cadeia alimentar. Existem bactérias fotossintetizantes e
fixadoras de nitrogênio (produtores primários), outras são parasitas, simbiontes ou decompositoras
(último nível da cadeia alimentar).
Vimos que todas as células, inclusive as bactérias, são limitadas por uma bicamada
lipídica na qual se inserem proteínas, a membrana plasmática. Cabe à membrana plasmática
definir os meios intra e extracelular e permitir a troca de informações e moléculas entre eles.
No caso das bactérias (e também dos fungos e dos vegetais), além da membrana plasmática
existe uma estrutura mais externa, a parede celular. Esta é formada por moléculas de natureza
glicídica e, entre outras funções, sustenta e define a forma que essas células terão (Figura 15.1).
Com sua forma e tamanho tão simplificados, a reprodução das bactérias é extremamente
rápida. Em poucas horas, uma colônia bacteriana é capaz de recobrir a superfície de uma placa
de agar nutritivo (ou algum alimento que você tenha deixado fora da geladeira). Outra vantagem
do modelo procarionte é que, com dimensões tão diminutas, todos os pontos da célula estão
sempre próximos entre si, com fácil acesso ao material genético (DNA) e à superfície; assim, o
metabolismo e o equilíbrio celular são facilmente mantidos.
Em relação a essas qualidades todas, podem surgir as perguntas: com todas essas vantagens,
por que a Terra não é toda dominada apenas por bactérias? Por que surgiram e foram tão
bem-sucedidos evolutivamente os seres eucariontes unicelulares e, mais adiante, os pluricelulares?
CEDERJ 35
Comparada à área de superfície dos procariontes, a das células eucariontes pode ser mais
de 30 vezes maior (Figura 15.2). Se compararmos o volume, essa diferença pode ser até 10.000
vezes maior! Entretanto, enquanto a vida de um procarionte praticamente se resume em crescer
e multiplicar-se, o aumento de tamanho permitiu a incorporação de uma série de funções aos
seres eucariontes.
Organizar uma célula é como arrumar uma mala ou dobrar um pára-quedas: se as peças estiverem
bem dobradas, vai caber muito mais coisas na sua mala. Quanto ao pára-quedas, ele pode ser comparado
a uma célula em que todas as membranas foram unificadas numa só superfície. Enquanto estiver dobrado,
será fácil transportá-lo; depois de aberto, aquela enorme superfície de tecido será bem difícil de levar.
As figuras A e B ocupam o mesmo volume, mas a B possui uma área de membrana bem
maior. Se fosse esticada ocuparia o volume da figura C.
36 CEDERJ
AULA
mesmo. A solução foi a internalização da maior parte das membranas celulares, dando origem às
organelas e aos compartimentos celulares. A membrana plasmática corresponde a apenas uma
pequena fração (2 a 5%) do total de membranas de uma célula. Somente ficaram na membrana
plasmática aquelas proteínas necessárias às funções de transporte, comunicação e adesão.
A maior parte das membranas celulares (cerca de 50%) pertence ao retículo endoplasmático.
Também existem evidências de que, no decorrer do processo evolutivo, algumas das bactérias
ingeridas, em vez de serem digeridas, estabeleceram uma relação simbiótica com a célula
predadora (Figura 15.3). Acredita-se que as mitocôndrias e os cloroplastos resultam de uma
relação dessa natureza.
Em todas as células, podem ser definidos dois compartimentos: o meio intracelular e o meio
extracelular. Na Figura 15.4, esses dois compartimentos estão representados em cores diferentes.
Talvez seja uma surpresa para você verificar que os espaços internos do retículo endoplasmático,
do complexo de Golgi e das vesículas que a célula secreta ou ingere são correspondentes ao meio
extracelular. O meio intracelular se restringe àquilo que chamamos de citossol.
CEDERJ 37
Figura 15.4: Esquema de uma célula onde estão coloridos em branco o meio extracelular e em cinza o meio
intracelular.
38 CEDERJ
O núcleo
É o compartimento que contém o genoma e o principal local de síntese de ácidos nucléicos
(DNA e RNA). O envoltório nuclear é duplo e a comunicação entre o núcleo e o citoplasma
é feita através de complexos do poro, complexos protéicos que funcionam como comportas,
regulando a passagem de moléculas para dentro e para fora do núcleo. As proteínas atravessam
o complexo de poro já na sua forma enovelada. Isso quer dizer que a passagem pelo complexo
de poro não depende apenas do tamanho da molécula, mas da existência de mecanismos de
reconhecimento que funcionam como um passaporte para a entrada no núcleo. Esse é um
transporte do tipo 1, através de comportas.
CEDERJ 39
O citoplasma
O citoplasma é o maior compartimento celular. Corresponde a uma parte líquida, o
citossol, e às organelas que nele se distribuem. No citossol, ocorrem tanto a síntese quanto
a degradação de proteínas. A síntese de proteínas, você já sabe, ocorre nos ribossomas. Já a
degradação ocorre nos proteassomas, os quais estudaremos nas próximas aulas. Muitas reações
metabólicas (como a glicólise) também ocorrem nesse compartimento.
O retículo endoplasmático
Quase a metade do total de membranas de uma célula pertence ao retículo endoplasmático.
O retículo forma uma rede contínua de membranas. Na superfície da membrana do retículo
voltada para o citoplasma, aderem-se os ribossomos que participam da síntese de proteínas. Essas
proteínas podem ser secretadas pelas células ou destinar-se às diversas organelas, e tanto podem ser
solúveis quanto inseridas em membranas. Além das proteínas, também os lipídeos são sintetizados
no retículo. As regiões do retículo nas quais ocorre a síntese de lipídeos são chamadas de retículo
liso. As regiões onde os ribossomos podem se ancorar formam o retículo rugoso.
A proteína em formação passa para o interior do retículo endoplasmático por meio de
proteínas translocadoras, características do transporte através de membrana. Esse processo
também será detalhado nas aulas seguintes.
O complexo de Golgi
A maioria das proteínas precisa passar do retículo para o complexo de Golgi, onde será
finalizada. Essa passagem é feita por vesículas que brotam das cisternas do retículo e se fundem
ao complexo de Golgi. No complexo de Golgi, resíduos de açúcar são incorporados às cadeias
protéicas, dando à proteína uma identidade que equivale a um endereço. Do Golgi, as proteínas
partem em vesículas que se fundem à membrana das organelas às quais se destinam. Este é o tipo
de transporte que chamamos vesicular.
O endereço de uma proteína é, na verdade, uma determinada seqüência de aminoácidos
chamada seqüência sinal. As proteínas características de cada membrana ou compartimento
celular possuem seqüências sinal específicas que garantem o correto direcionamento das
inúmeras proteínas sintetizadas pela célula.
40 CEDERJ
AULA
de transporte entre os diversos
compartimentos celulares. Nela,
você pode observar que várias
organelas (núcleo, mitocôndrias,
peroxissomas, plastos) recebem
proteínas sintetizadas no citossol,
isto é, proteínas que são sinte-
tizadas em ribossomos livres no Vesículas de
secreção
citoplasma e que são transferidas
diretamente para a organela,
sem passar por processos de
modificação ou endereçamento
no interior do retículo ou das
cisternas do complexo de Golgi.
RESUMO
CEDERJ 41
EXERCÍCIOS
1. Quais os dois métodos pelos quais acredita-se que tenham se formado as organelas
celulares?
4. Agora considere uma célula de dimensões lineares dez vezes maior (15, 20
e 10 µm) e repita os cálculos. Qual a relação entre a área e o volume das duas
células?
42 CEDERJ
Pré-requisitos
Bioquímica I: conceito de aminoácido,
peptídeo, proteína.
Biologia Celular I: estrutura de
membrana, transporte ativo.
Biologia Celular I | Retículo endoplasmático
Figura 16.1: Uma célula de mamífero cujo retículo endoplasmático teve seu lúmen
totalmente preenchido por um corante fluorescente. Na foto da direita, uma região
da periferia da célula é mostrada em maior ampliação.
Foto: Hugh Pelham
44 CEDERJ
16 MÓDULO 3
O retículo e sua saúde
Na membrana do retículo endoplasmático liso de algumas células existem enzimas capazes de catalisar
importantes processos de detoxificação. Elas modificam toxinas lipossolúveis, que podem, portanto,
AULA
atravessar membranas, tornando-as solúveis em meio aquoso. Elas podem ser então excretadas pelas
células e depois filtradas no rim. As enzimas mais importantes que fazem esse trabalho são as da família
do citocromo P450.
Apenas recordando
Sabemos que todas as proteínas celulares são sintetizadas a partir de informações contidas no DNA. Para
cada proteína é produzido, a partir do DNA, um filamento de RNA-mensageiro (RNAm), que é lido pelos
ribossomos (Figura 16.2). Os ribossomos também são formados por RNA, mas do tipo ribossomal (RNAr).
Conforme a fita de RNAm passa pelo ribossomo, aminoácidos trazidos por RNAt, ou transportador, são
acoplados uns aos outros, formando a cadeia peptídica. A figura a seguir esquematiza as etapas do que é
conhecido como “Dogma central da biologia molecular”.
Figura 16.2: A informação contida no DNA é transmitida ao RNA na transcrição, que por sua vez serve de
molde para a síntese de proteínas na tradução.
CEDERJ 45
Biologia Celular I | Retículo endoplasmático
46 CEDERJ
16 MÓDULO 3
AULA
Figura 16.4: Os aminoácidos que compõem as proteínas são adicionados de acordo com a “leitura” (tradução)
que os ribossomos fazem ao longo de uma fita de RNA mensageiro. A uma mesma fita podem associar-se
muitos ribossomos (polirribossomo ou polissomo) que vão produzindo várias cópias da mesma proteína.
Ao final da “leitura”, as subunidades ribossomais se separam e se incorporam ao conjunto de subunidades
ribossomais livres no citossol.
Quando a síntese de uma proteína que precisa passar pelo retículo se inicia, os primeiros
aminoácidos expostos fora do ribossomo constituem uma seqüência sinal. Essa seqüência então
se liga a uma partícula reconhecedora do sinal ou SRP (do inglês Signal Recognition Particle). A
membrana do retículo, por sua vez, possui um receptor para o conjunto seqüência de sinal (SRP)
(Figura 16.5). A membrana do retículo possui também um receptor que forma uma âncora para
adesão do ribossomo. A SRP interrompe a síntese das proteínas endereçadas ao retículo até
que o ribossomo esteja acoplado à sua membrana. A partir do acoplamento, a cadeia protéica
continuará sendo sintetizada para dentro do lúmen do retículo.
Como você sabe, uma cadeia protéica, mesmo ainda não enovelada, não pode atravessar
diretamente uma bicamada lipídica. Quando o ribossomo vai se acoplar ao retículo, forma-se um
canal hidrofílico transmembrana por onde a proteína nascente vai passar. Esse canal é formado por
proteínas transmembrana que se agrupam apenas quando o ribossomo vai se acoplar. Esse canal
hidrofílico recebe o nome de translocon. O ribossomo se ajusta no translocon, de modo que nada
mais atravesse o canal além da cadeia protéica e nada vaze do lúmen do retículo para o citossol.
O ribossomo permanecerá aderido até terminar de sintetizar a seqüência primária de aminoácidos
da proteína. No final da síntese, a seqüência sinal é cortada por uma enzima específica. Concluindo,
o que define se um ribossomo ficará livre ou aderido ao retículo é o tipo de proteína (com ou sem
seqüência de sinal) que ele estiver sintetizando naquele momento.
CEDERJ 47
Biologia Celular I | Retículo endoplasmático
Figura 16.5: Quando uma proteína endereçada ao retículo começa a ser sintetizada, ela expõe uma seqüência
sinal que será reconhecida pela SRP. A SRP interrompe a síntese da proteína até ligar-se a uma proteína
receptora na membrana do retículo. Assim, o ribossomo pode ligar-se ao complexo de translocação, por onde
a cadeia polipeptídica penetrará. Ao fim da síntese da cadeia protéica, as duas subunidades do ribossomo se
soltam da membrana do retículo e se separam, voltando ao estoque citoplasmático de ribossomos.
48 CEDERJ
16 MÓDULO 3
Que tipos de proteína são sintetizadas no retículo?
São sintetizadas no retículo proteínas transmembrana, isto é, aquelas que ficam inseridas
AULA
na membrana plasmática, na membrana do complexo de Golgi, de organelas como os lisossomos
ou do próprio retículo. Proteínas que ficarão solúveis em compartimentos, como as enzimas
lisossomais, e proteínas que serão secretadas, como hormônios ou enzimas digestivas também
são sintetizadas em ribossomos aderidos ao retículo endoplasmático.
Como uma proteína que está sendo sintetizada chega à luz do retículo?
Uma das principais características da seqüência sinal é ser rica em aminoácidos hidrofó-
bicos, assim como a região da SRP à qual ela se liga. Uma vez que o ribossomo esteja aderido
à membrana do retículo (através do receptor para SRP), a cadeia polipeptídica em formação se
alinha ao translocon (Figura 16.6). Assim, conforme a proteína vai crescendo, vai penetrando
diretamente na luz do retículo. A seqüência sinal hidrofóbica, já livre da ligação à SRP, mantém
a cadeia protéica ancorada à parte interna do translocon. Terminada a síntese da proteína, a
seqüência sinal é cortada enzimaticamente e a proteína fica livre no lúmen do retículo, a partir
de onde terá início um processo de acabamento e endereçamento ao seu destino final.
Figura 16.6: Mecanismo de translocação de uma proteína para o lúmen do retículo endoplasmático.
Para que o esquema fique mais claro, os ribossomos e o RNAm foram omitidos, mas eles estão lá!
CEDERJ 49
Biologia Celular I | Retículo endoplasmático
Problemas e soluções:
Como obrigar a cadeia polipeptídica a passar pelo complexo translocador?
A ligação da SRP à seqüência sinal de transferência leva o ribossomo a se ancorar
na membrana, apontando a cadeia polipeptídica na direção do poro do complexo
translocador. Certamente, isso ajuda a direcionar a cadeia para dentro do retículo, mas
o que obriga a cadeia nascente a passar pelo translocon é o seu próprio crescimento: à
medida que o peptídio vai sendo sintetizado junto ao ribossomo, a outra extremidade vai
sendo translocada pelo poro.
50 CEDERJ
16 MÓDULO 3
E as proteínas multipasso?
AULA
fácil imaginar como uma cadeia peptídica pode atravessar muitas vezes
a bicamada lipídica, como fazem as proteínas multipasso (veja na Aula 8).
Essas possuem seqüências de início e interrupção da transferência que se
alternam ao longo da cadeia em crescimento (Figura 16.8).
Figura 16.8: As proteínas multipasso alteram seqüência de início (start) e interrupção (stop) da transferência
que resultam em muitas passagens pela membrana.
Detalhe importante:
Os processos de síntese e inserção de proteínas no retículo descritos até agora
resultam em inserção da proteína pela extremidade NH2 (amino), ficando
a terminação COOH (carboxila) sempre voltada para o citossol. Não fique
pensando que todas as proteínas são assim. Muitas têm a extremidade COOH
voltada para o exterior e outras possuem as duas extremidades da cadeia
voltadas para o mesmo lado da membrana. Isso acontece quando a seqüência
de transferência está inserida no meio da cadeia peptídica, deixando de fora
do retículo justo a extremidade NH2. A posição em que as seqüências de início
e interrupção da transferência ocupam na cadeia em formação fará toda a
diferença (Figura16.9).
Figura 16.9: Formação de uma proteína duplo passo. Repare que, neste exemplo, a seqüência de iniciação (sinal
inicial) não está na ponta da proteína, fazendo com que as duas extremidades da cadeia (amino e carboxila)
fiquem voltadas para o mesmo lado da membrana, no caso, o citossol. O sinal de interromper a transferência é
a segunda seqüência de ancoragem à membrana.
CEDERJ 51
Biologia Celular I | Retículo endoplasmático
52 CEDERJ
16 MÓDULO 3
Todas as enzimas responsáveis por catalisar a síntese de
fosfolipídeos se localizam na membrana do retículo do lado voltado
AULA
para o citossol, onde estão as moléculas precursoras colina, glicerol
fosfato e ácidos graxos (Figura 16.10). Com isso, todos os lipídeos
sintetizados serão inicialmente adicionados ao lado da bicamada
voltados para o citossol. Se lembrarmos que uma membrana é uma
bicamada lipídica em que as quantidades de lipídeo em cada camada
é equivalente, assim como as áreas ocupadas por eles, no retículo liso
deveria haver um desequilíbrio entre as duas camadas (Figura 16.11).
Humor e ciência
Quem acha que os cientistas são pessoas sisudas, que encaram a ciência
como coisa muito séria, com a qual não se brinca, está muito enganado. Um
exemplo de como se pode fazer ciência séria sem perder o senso de humor
é a enzima scramblase. Ao ser batizada, seus descobridores compararam sua
atividade à do cozinheiro que vira um ovo na chapa para que frite dos dois
lados. São o que chamamos de ovos mexidos, para os pesquisadores de língua
inglesa: scrambled eggs.
CEDERJ 53
Biologia Celular I | Retículo endoplasmático
Figura 16.13: Assimetria da bicamada lipídica: a fosfatidilserina (negativa) só existe no lado voltado para o
citossol, e os glicolipídeos (hexágonos), só no lado externo.
54 CEDERJ
16 MÓDULO 3
Essa assimetria resulta de uma outra classe de enzimas, as flipases. As flipases atuam na
membrana plasmática e, seletivamente, viram fosfatidilserina e fosfatidiletanolamina do folheto
AULA
externo para o folheto voltado para o citossol. Enquanto as flipases gastam energia para realizar
a transferência de fosfolipídeos entre os folhetos da bicamada, as scramblases se valem da própria
energia da síntese.
A incorporação de colesterol à membrana também ocorre no retículo liso. A maioria do
colesterol vem pronto na dieta e só precisa ser disponibilizado (aguarde a Aula 20). Ele é sintetizado
em apenas algumas células animais, principalmente hepatócitos. Apenas uma pequena parte é
inserida na membrana do retículo liso. A maior parte é secretada em associação com moléculas
hidrofílicas, servindo de precursor para vários outros esteróis. Nessas células, o domínio liso do
retículo é muito mais abundante.
O retículo também é responsável pela síntese de outros lipídeos. Entre os mais importantes
temos as ceramidas, que são depois enviadas para o complexo de Golgi (próxima aula), onde
servem de precursoras de glicoesfingolipídeos e a esfingomielina.
A membrana plasmática, a dos lisossomos, do complexo de Golgi, dos endossomas e a
própria membrana do retículo são todas sintetizadas por ele. Além disso, mitocôndrias
e peroxissomos também dependem de lipídeos que são inicialmente sintetizados no retículo e
transferidos por proteínas transportadoras específicas para as membranas dessas organelas (Figura
16.14). A partir dessa incorporação essas organelas crescem, podendo depois se dividir.
CEDERJ 55
Biologia Celular I | Retículo endoplasmático
RESUMO
56 CEDERJ
16 MÓDULO 3
EXERCÍCIOS
AULA
2. Por que dizemos que o retículo não é rugoso e, sim, que está rugoso?
CEDERJ 57
17
a u l a
Complexo de Golgi
Um pouco de História
O complexo de Golgi foi descrito pela primeira vez por Camillo Golgi em 1898, graças
a um novo tipo de coloração histológica para neurônios usando metais pesados que ele
havia criado. No trabalho original, o complexo de Golgi está esquematizado como uma
rede dentro de um terminal nervoso. Camillo Golgi e Ramón-Cajal, dois neuroanatomistas,
ganharam o prêmio Nobel em 1906 pela criação desse método de coloração, conhecido como
método de Cajal, que permitiu mostrar que o sistema nervoso central é formado por células
individualizadas e não por uma rede contínua. A própria existência do complexo de Golgi
foi considerada duvidosa até 1954, quando sua organização foi descrita por microscopia
eletrônica. Alguns detalhes desta organização são desconhecidos até hoje.
Camillo Golgi, (à esquerda), Ramón-Cajal (no centro) e um dos esquemas originais do “aparato reticolare”
observado por Golgi (à direita).
60 CEDERJ
AULA
por célula. Diferente do retículo endoplasmático, com sua rede contínua de túbulos, o complexo
de Golgi é formado por lamelas (ou cisternas) que não são contínuas (Figura 17.1). No conjunto,
elas se arranjam como uma pilha de pratos ou, comparação ainda melhor, como vários pães árabes
empilhados. Olhando mais atentamente, há perfurações nas lamelas, como se os pães tivessem
buracos não alinhados. De cada lado da pilha há uma rede de túbulos. Todas essas informações
decorrem da observação em microscopia eletrônica de transmissão de muitos cortes da organela
e reconstrução tridimensional a partir desses cortes (relembre a Figura 3.2).
CEDERJ 61
(B)
(A)
Figura 17.2: Micrografias de complexo de Golgi em uma célula animal (A) e na Euglena
(B). As lamelas estão empilhadas e podemos ver a rede de túbulos cis e trans.
Fotos: Márcia Attias
Funções
62 CEDERJ
AULA
c) distribuir as macromoléculas provenientes do retículo endo-
plasmático e que percorreram o complexo de Golgi entre três possíveis
destinos:
1. a membrana plasmática, onde tais moléculas se
incorporarão ou serão secretadas;
2. vesículas de secreção que se acumulam no citoplasma
esperando um sinal para exocitarem seu conteúdo;
3. lisossomos, onde formarão a própria membrana da
organela ou terão papel na digestão intracelular.
Você vai saber mais sobre a função de distribuição de macro-
moléculas nas Aulas 20 e 21, ainda neste módulo. Nesta aula vamos
nos deter mais na função de adição de açúcares.
Glicosilação
CEDERJ 63
Tipo de glicosilação N O
* Os açúcares são adicionados enquanto a cadeia de aminoácidos que forma a proteína ainda está
sendo montada.
** Os açúcares são adicionados à cadeia de aminoácidos já completamente montada.
64 CEDERJ
Como você notou, então, os processos de síntese das macromoléculas mais importantes seguem
um “molde”, com o objetivo de conservar a informação, diminuindo ao máximo a ocorrência de erros.
Já na glicosilação, em que uma cadeia ramificada de pelo menos 14 açúcares (que costumamos chamar
de árvore de açúcar, por causa das ramificações) é montada, não existem moldes a seguir! Será que não
é tão importante evitar a ocorrência de erros? Se considerarmos que a porção glicídica de glicoproteínas
e glicolipídeos serve de receptor específico a muitos ligantes importantes, atua na adesão das células e
no reconhecimento celular, certamente temos de admitir que é importante que essas árvores de açúcar
estejam montadas sem erros.
Glicosilação do tipo N
Qual será o mecanismo que garante que a árvore glicídica seja corretamente montada? Para
começar, se a cada vez que uma asparagina aparecer na cadeia protéica nascente no lúmen do
retículo endoplasmático, os 14 açúcares fossem acrescentados um de cada vez, seria uma correria
de enzimas! Daí para a ocorrência de erro é um pulo! O que ocorre é que a árvore é pré-montada
e fica pendurada, como em um cabide, num fosfolipídeo da membrana do retículo, esperando
a asparagina aparecer (Figura 17.5). A pré-montagem da árvore no retículo endoplasmático
funciona como uma linha de montagem de fábrica: a enzima que acrescenta o primeiro açúcar
reconhece o fosfolipídeo, a que coloca o segundo açúcar reconhece o fosfolipídeo mais o primeiro
açúcar, a enzima que coloca o terceiro só reconhece como substrato o conjunto fosfolipídeo mais
o primeiro e o segundo açúcares e assim por diante. Dizendo de uma maneira mais elegante, o
mecanismo de copiar um molde usado na replicação, na transcrição e na tradução, nesse caso,
é substituído pelo mecanismo da glicosilação, em que cada enzima só reconhece como substrato
o produto da enzima anterior.
CEDERJ 65
66 CEDERJ
AULA
deu tanto trabalho para fazer, vai ser podada! Para que a proteína saia do
complexo de Golgi, as três glicoses terminais serão sucessivamente cortadas
por enzimas, e além delas uma das manoses também será retirada. Veja na
Figura 17.7 o que acontece com a árvore glicídica. Parece um absurdo?
Durante anos muitos pesquisadores acharam que isso era mesmo um passo
bioquímico inútil, mas outros pesquisadores (movidos pela idéia de que se a
seleção natural manteve esse mecanismo por milhões de anos, em todos os
eucariotos, desde fungos até mamíferos, é porque deve haver uma vantagem
importante) resolveram procurar essa razão. E não é que acharam há pouco
tempo? Tem a ver com o controle de qualidade da síntese da proteína e da
própria montagem da árvore de açúcares.
CEDERJ 67
68 CEDERJ
AULA
continuará percorrendo a lamela trans e atingirá a rede trans, onde o último açúcar da árvore
será adicionado: o ácido siálico (ou ácido N-acetil-neuramínico, conhecido pela sigla do inglês
NANA). O ácido siálico tem enorme importância porque, além de ser um monômero polar, como
os outros açúcares, ele tem carga negativa. Assim, ao terminar em ácido siálico, uma glicoprote-
ína passa a ser uma molécula negativa em pH fisiológico, independente da sua porção protéica.
Na Figura 17.10, temos um panorama passo a passo da glicosilação do tipo N.
Figura 17.10: Funcionamento geral da glicosilação do tipo de N. Depois de a árvore pré-montada ser transferida
para o aminoácido asparagina, ainda no retículo, três açúcares são cortados (passo 1). Já no complexo de
Golgi, na rede cis e lamela cis, mais açúcares são retirados (passo 2). Na lamela medial, mais cortes e o primeiro
acréscimo (passos 3 e 4). Pouco antes de sair do Golgi, são adicionados o penúltimo (lamela trans) e depois o
último (na rede trans) açúcares (passo 5).
CEDERJ 69
As proteoglicanas
Além de sintetizar glicoproteínas, o complexo de Golgi também é o local de formação das proteoglicanas.
Essas moléculas também têm uma porção protéica e uma porção glicídica, mas a proporção entre as duas é
diferente: elas têm muito mais açúcar do que proteína (veja Aula 7). Uma de suas características marcantes
é que, diferente das glicoproteínas, a porção glicídica das proteoglicanas não lembra uma árvore
ramificada. Dímeros de açúcar se repetem, formando moléculas muito longas. Muitas proteoglicanas
são sulfatadas, e a adição dos grupamentos sulfato também é feita por enzimas do complexo de Golgi.
As proteoglicanas são encontradas na superfície das células, onde protegem bastante a membrana
plasmática e a matriz extracelular, onde formam grandes polímeros que sustentam e conectam as células,
como você vai ver em Biologia Celular II.
Figura 17.11:
Conformação básica de
uma proteoglicana.
70 CEDERJ
Não foi nada fácil! Depois de saber quais enzimas eram responsáveis por cada etapa
AULA
em experimentos de Bioquímica, experimentos de fracionamento celular mostraram que tais
enzimas não eram citossólicas, estando confinadas em algum compartimento. O refinamento
desses experimentos mostrou que as primeiras enzimas estavam no retículo e as últimas no
complexo de Golgi, porque iam parar nas mesmas frações que enzimas marcadoras dessas
organelas já conhecidas. Depois, adaptando os ensaios bioquímicos de cada uma destas enzimas
para microscopia eletrônica (formando um produto eletrodenso e não colorido, como no
espectrofotômetro usado em Bioquímica), foi possível demonstrar que as enzimas estavam dentro
de diferentes lamelas do complexo de Golgi (Figura 17.12).
Figura 17.12: Na micrografia A, o complexo de Golgi não está submetido a nenhum tratamento especial.
Na micrografia B, foi feita impregnação com metal pesado (a coloração de Golgi e Cajal), no caso, o ósmio, que
se acumula preferencialmente na rede e lamela cis. Nas micrografias C e D, ensaios de citoquímica mostraram o
produto final de enzimas de glicosilação na lamela trans (C) e na rede trans (D). Fotos de Daniel Friend.
CEDERJ 71
CONCLUSÃO
72 CEDERJ
CEDERJ 73
RESUMO
74 CEDERJ
AULA
microscopia eletrônica?
CEDERJ 75
78 CEDERJ
18 MÓDULO 3
Auto-radiografia é uma técnica em que se separam proteínas por eletroforese e depois, para distinguir
quais das proteínas estão marcadas radioativamente, coloca-se o gel em contato com um filme de raios X. Só as
AULA
proteínas marcadas impressionam o filme. O caso citado no texto é chamado incorporação metabólica:
fornecemos para a célula um precursor radioativo da molécula que queremos detectar. Se queremos
detectar proteínas sintetizadas num dado período, fornecemos um aminoácido marcado, como a
metionina, que tem o átomo de enxofre radioativo (35S).
Figura 18.1: O modo de ação da chaperona hsp70: ela impede que a cadeia protéica
enovele erradamente.
CEDERJ 79
Biologia Celular I | Controle de qualidade da síntese protéica
80 CEDERJ
18 MÓDULO 3
AULA
Figura 18.3: Modo de ação das chaperonas do grupo das hsp60.
Para você ter uma idéia do tamanho, um proteassoma é pouco menor que um ribossomo; seu tamanho
também é medido em “s” (svedbergs, unidade de sedimentação: expressa a velocidade com que uma
macromolécula vai para o pellet em uma ultracentrifugação em condições padronizadas). As subunidades
do ribossomo têm 40s a menor e 60s a maior, enquanto a porção mediana do proteassoma, que contém as
enzimas, mede 26s, e as porções de reconhecimento, 19s cada uma.
CEDERJ 81
Biologia Celular I | Controle de qualidade da síntese protéica
Figura 18.4: Proteassomas vistos por contrastação negativa no microscópio eletrônico (A). Em B, a imagem de um proteassoma
trabalhada em computador, mostrando que cada proteassoma possui uma região mediana, que é o sítio de degradação
onde estão as proteases com o sítio ativo voltado para dentro e, em cada extremidade, um sítio de reconhecimento. Em C,
um desenho esquemático de um proteassoma onde se vê o seu interior.
Fonte: Molecular Biology of the Cell, 3-ª ed.
82 CEDERJ
18 MÓDULO 3
Controle de qualidade no retículo endoplasmático
AULA
podemos responder a uma pergunta que ficou em suspenso na Aula 17:
por que as glicoproteínas do tipo N têm as glicoses da ponta da árvore
de açúcares cortadas antes de sair do retículo endoplasmático? Como
já adiantamos na aula passada, esse corte funciona como um sinal de
que a glicoproteína está corretamente sintetizada e enovelada, podendo
prosseguir para o complexo de Golgi. Mas e se ela não estiver perfeita?
As glicoses não são cortadas e ela não sai. O que acontece com ela? Essa
glicoproteína vai ser reconhecida por chaperonas do retículo que vão
hidrolisar ATP para conseguir energia e tentar consertá-la. As chaperonas
mais conhecidas que fazem esse trabalho são a calnexina e a calreticulina.
Essas chaperonas são também lectinas, já que reconhecem um açúcar
específico: uma glicose na ponta de uma árvore N-ligada (Figura 18.5).
CEDERJ 83
Biologia Celular I | Controle de qualidade da síntese protéica
84 CEDERJ
18 MÓDULO 3
Proteassomas e chaperonas mantêm a célula com todas
as proteínas em ordem
AULA
Além da vantagem óbvia de evitar o acúmulo de proteínas malfor-
madas e, portanto, inúteis, a importância do trabalho das chaperonas e dos
proteassomas fica mais evidente quando examinamos as conseqüências
do acúmulo de proteínas malformadas.
É comum que proteínas malformadas tenham seqüências hidrofó-
bicas indevidamente expostas. Esta exposição leva a uma tendência de
agregação. Os agregados protéicos só se formam se o sistema de degra-
dação não funcionar, mas, uma vez iniciada a agregação, a atividade das
proteases fica difícil porque as proteases não têm acesso às proteínas e
eles (os agregados) também não entram nos proteassomas. Um agregado
protéico que cresça muito pode levar a célula à morte, ou, se a célula
conseguir expeli-lo, causar enorme prejuízo ao tecido, acumulando-se no
meio extracelular. Um tipo particular de agregado protéico é formado
quando regiões β-pregueadas anormalmente expostas em várias proteínas
provocam o empilhamento dessas proteínas, formando o que se chama
placa β−amilóide (Figura 18.7). As placas β-amilóides são marcantes
em algumas doenças neurodegenerativas, como o mal de Alzheimer e a
doença de Huntington, embora não se possa atribuir a essas placas a causa
das doenças.
Figura 18.7: Uma proteína globular (A), quando mal enovelada, pode assumir uma
conformação planar (B) que expõe folhas β-pregueadas. Muitas proteínas com essa
configuração formam um agregado conhecido como β-amilóide (C), altamente
resistente a proteases e muito prejudicial aos tecidos.
CEDERJ 85
Biologia Celular I | Controle de qualidade da síntese protéica
Agregados de proteínas mal enoveladas também estão presentes na doença humana de Creutzfeld-Jacob
e na encefalopatia espongiforme bovina, conhecidas como “mal da vaca louca”. Nesse caso, a presença da
proteína mal enovelada pode induzir a modificação da proteína correta, que está presente na superfície
de células nervosas de indivíduos normais, e cuja função ainda não é conhecida (Figura 18.8). A proteína
defeituosa é resistente à degradação por proteases e pode ser adquirida quando um indívíduo ingere o
tecido que contém a proteína defeituosa de outro indivíduo, mesmo de outra espécie. Assim, a proteína
defeituosa foi considerada “infecciosa”, já que sozinha era capaz de transmitir uma doença, e ficou
conhecida como prion (encurtamento de “protein only”).
Figura 18.8: Se uma proteína normal (A) se associar a uma proteína igual a ela, mas mal enovelada (B), será
formado um heterodímero (C). A proteína defeituosa vai induzir a modificação da proteína normal, formando
um homodímero (D). Quando novas proteínas normais forem produzidas (E) elas se associarão às defeituosas,
formando um agregado (F), que crescerá à medida que novas proteínas se associarem.
RESUMO
Ubiquitinas
Proteassomas
86 CEDERJ
18 MÓDULO 3
2) Glicoproteína em processo de síntese no retículo endoplasmático
AULA
Proteína correta Proteína defeituosa
Chaperonas (tipo hsp 70) + ATP
+1 glicose
Chaperona (tipo calnexina)
Citoplasma
Glicosidase
Ubiquitinas
Proteassomas
EXERCÍCIOS
2. O que são chaperonas? Por que também são chamadas proteínas de choque
térmico?
CEDERJ 87
19
AULA
Endocitose
objetivos
90 CEDERJ
19 MÓDULO 3
E se o nutriente for uma partícula ou molécula grande, como uma prote-
ína, por exemplo? As moléculas grandes não conseguem atravessar a bicamada
AULA
lipídica da membrana plasmática (Figura 19.1.c). Também não existem transpor-
tadores para moléculas muito grandes ou bactérias. Para conseguir captá-las, a
célula faz uma invaginação, ou fossa, na sua membrana, e termina por englobar
a partícula numa vesícula (Figura 19.2).
CEDERJ 91
Biologia Celular I | Endocitose
92 CEDERJ
19 MÓDULO 3
Por que endocitar?
AULA
que não podem ser internalizadas por proteínas transportadoras. Algumas
células são capazes de endocitar partículas bastante grandes, inclusive
outras células, como uma bactéria, por exemplo (Figura 19.4).
CEDERJ 93
Biologia Celular I | Endocitose
94 CEDERJ
19 MÓDULO 3
Tamanho não é tudo: endocitose específica e não específica
AULA
muito pequenas, a célula pode lidar com ela de duas formas:
a) endocitar junto com o líquido, de maneira não específica, de modo
que as quantidades captadas serão muito pequenas, quase desprezíveis;
b) endocitar de modo específico, isto é, antes de endocitar,
concentrar e separar das demais as moléculas de interesse. As células
fazem isso expondo para o meio extracelular receptores que reconhecem
e ligam as moléculas que a célula precisa endocitar.
a) É o mesmo princípio de reconhecimento entre receptor e ligante
que estudamos na Aula 13.
Temos assim dois tipos de endocitose: do tipo (a), chamada
endocitose de fase fluida que é inespecífica; e a do tipo (b), que é específica
e foi denominada endocitose mediada por receptor.
CEDERJ 95
Biologia Celular I | Endocitose
96 CEDERJ
19 MÓDULO 3
AULA
Figura 19.6: Um fagócito profissional pode reconhecer e fagocitar uma bactéria tanto
ligando-se a açúcares específicos da parece celular (a) quanto ligando-se a anticorpos
secretados que se ligaram à superfície bacteriana (b).
Fagocitose específica
Macropinocitose
Bactéria
Pseudópodo
Figura 19.7: Micrografia
eletrônica mostrando uma
bactéria sendo fagoci-
tada por um neutrófilo. Membrana
A membrana do fagócito plasmática
se ajusta em torno da bac-
téria à medida que ela é
internalizada, lembrando
o fechamento de um zíper.
Foto: Dorothy Bainton.
Célula fagocítica
1µm
CEDERJ 97
Biologia Celular I | Endocitose
98 CEDERJ
19 MÓDULO 3
Existe um outro tipo de fagocitose, de descoberta mais recente,
que é bastante característico dos fagócitos profissionais. Essas células se
AULA
deslocam sempre aderidas ao substrato (a matriz extracelular, in vivo, e
vidro ou plástico, in vitro). Para fazer isso, emitem grandes projeções de
membrana plasmática, que vão estabelecendo conexões com o substrato
(esse assunto será tratado também na aula de Junções, em Biologia
Celular II) e depois puxam o resto da célula, como faz um alpinista.
Quando a célula, por alguma razão (o ambiente não está favorável, ou
há alguma atração em outro lugar), decide não seguir naquela direção,
as projeções já emitidas são lançadas para o dorso da célula, dando um
aspecto ondulado (ruffles). Eventualmente, as pontas dessas projeções
podem se fundir com a membrana dorsal da célula, formando assim
um vacúolo de dimensões e características semelhantes a um vacúolo
fagocítico (Figura 19.9).
CEDERJ 99
Biologia Celular I | Endocitose
RESUMO
Não-específica (macropinocitose)
100 CEDERJ
19 MÓDULO 3
EXERCÍCIOS
AULA
1. Que tipos de partícula:
5. Na endocitose mediada por receptor, que tipos de molécula atuam como ligante
na célula-alvo?
CEDERJ 101
20
a u l a
Compartimentos endocíticos
INTRODUÇÃO Na última aula você aprendeu que a célula usa a endocitose para captar do meio
extracelular moléculas que não atravessam a membrana. A atividade endocítica
sempre envolve a formação de uma vesícula que contém o fluido extracelular
e as moléculas nele dispersas. Se a endocitose for específica, isto é, mediada
por um receptor, o ligante será endocitado com muito mais eficiência. É bom
relembrar que aqui os termos ligante e receptor têm o mesmo significado que
na Aula 13, com a diferença de que a associação dos dois provoca a endocitose
de ambos e não uma cascata de sinalização.
104 CEDERJ
AULA
dos complexos receptor-
ligante atrai proteínas do
citoplasma, que, em con-
seqüência, polimerizam.
CEDERJ 105
Figura 20.3
Até hoje permanece a dúvida se a formação da rede de clatrina é que “puxa” a membrana,
provocando a invaginação que se aprofunda e forma a vesícula. Há argumentos a favor e contra
essa idéia. A favor poderíamos dizer que, de fato, o polímero se forma espontaneamente se as
subunidades de clatrina se aproximarem o suficiente, e o polímero formado vai assumindo uma
forma de esfera. O argumento contra é que na endocitose de fase fluida, portanto não mediada,
não há nem a participação de receptor nem a formação do revestimento de clatrina; no entanto,
a membrana forma uma invaginação que se aprofunda até se destacar numa vesícula. Nesse caso,
o que provocaria a deformação da membrana?
106 CEDERJ
AULA
membrana que ele contém já formou uma invaginação profunda, o
estrangulamento da invaginação formará uma vesícula revestida por
clatrina. Já se conhece o mecanismo molecular responsável por esse
estrangulamento: uma proteína chamada dinamina, que é um tipo de
proteína G porque liga GTP, forma um colarinho ao redor do pescoço
da invaginação. Quando o revestimento de clatrina está completo,
a dinamina hidrolisa o GTP, o que diminui o tamanho do filamento e
provoca o estrangulamento (Figura 20.4).
A maior importância do revestimento de clatrina é a formação da
vesícula com altas concentrações de complexos receptor-ligante. Assim
que a vesícula revestida se destaca, por ação da dinamina, o revestimento
de clatrina se desfaz. O resultado é uma vesícula não revestida, cheia
de complexos receptor-ligante. A única diferença entre essa vesícula e
uma outra resultante de endocitose de fase fluida é a concentração do
conteúdo, que na vesícula formada por fase fluida é igual àquela em que
as moléculas se encontram no meio extracelular.
Figura 20.4: Depois que a invaginação revestida por clatrina se aprofunda, a dinamina
estrangula o seu “pescoço”, destacando-a da membrana. Por ação de enzimas, assim que
a vesícula se destaca o revestimento é desmanchado, e seus componentes ficam dispersos
no citossol.
CEDERJ 107
Um pouco de história
108 CEDERJ
AULA
sua porção extracelular, mas não conseguia interagir com o revestimento de cla-
trina porque não tinha a porção citoplasmática (Figura 20.6). Assim, a eficiência
da endocitose era muito menor do que com receptores normais (Figura 20.7).
CEDERJ 109
Figura 20.8: Desenho esquemático da via endocítica mediada por receptor. Os complexos receptor-ligante se
agrupam e, com auxílio do revestimento de clatrina, são endocitados com grande eficiência, passando aos com-
partimentos que formam a via endocítica. O núcleo (N), o retículo endoplasmático (RE) e o complexo de Golgi
também estão representados, apesar de não fazerem parte da via. (Desenho original de Isabel Porto Carreiro.)
110 CEDERJ
AULA
Além do colesterol associado a seu transportador, o LDL, outras moléculas essenciais para as
células também são captadas por endocitose mediada por receptor. Uma das mais estudadas
é a endocitose da molécula que transporta ferro na corrente sanguínea, a transferrina.
A transferrina ligada a ferro é chamada holotransferrina e é reconhecida por um receptor
presente na maioria das células eucarióticas. A endocitose se dá pelo mecanismo, que você já
conhece, de formação de vesículas revestidas por clatrina. Depois do revestimento desfeito,
as vesículas se fundem com o endossoma inicial e, no pH 6,5 desse compartimento, a holo-
transferrina libera os átomos de ferro, que são ativamente bombeados para o citoplasma,
tornando-se apotransferrina (transferrina sem ferro). Diferentemente do que ocorre com o
LDL, o receptor tem afinidade por apotransferrina (não por holotransferrina!) em pH ácido.
Ainda acoplados, receptor e apotransferrina seguem de volta para a membrana plasmática.
Ao atingirem a superfície celular, reencontram o pH do meio extracelular, de 7,2-7,4. Nesse
pH, o receptor não tem afinidade por apotransferrina e o complexo se desfaz. A apotransfer-
rina vai ligar outros átomos de ferro e o receptor livre vai poder ligar holotransferrina, com
quem tem grande afinidade no pH do meio extracelular. Sem dúvida nenhuma, é bastante
econômico devolver a transferrina ao meio extracelular para que a mesma molécula possa
transportar muitos átomos de ferro, entrando e saindo da célula várias vezes. Por causa
desse trânsito intracelular peculiar, o complexo receptor-transferrina tem sido considerado
marcador de endossoma inicial em células de mamífero (Figura 20.9).
Figura 20.9: Os receptores ligam holotransferrina na superfície da célula (1) e são agrupados (2)
em vesículas revestidas por clatrina (2-4). Depois que a vesícula se destaca (5), o revestimento
despolimeriza (6) e a vesícula se funde com o endossoma inicial (Ei). Por causa do pH 6,5 desse
compartimento, o ferro se solta da transferrina (7) e é bombeado para o citoplasma. A apotrans-
ferrina e o receptor voltam para a superfície (8-9), onde se soltam. Note que, nesse mecanismo de
captação de ferro em células de mamífero, nem a transferrina, nem o ferro atingem o endossoma
tardio (Et) e muito menos o lisossoma (L). (Desenho original de Flavia Moreira Leite.)
CEDERJ 111
O endossoma tardio
112 CEDERJ
CEDERJ 113
O lisossoma
114 CEDERJ
AULA
poucos minutos, lisossomas já formados, ou vesículas transportadoras
de enzimas lisossomais provenientes do Golgi, se fundirão ao vacúolo,
descarregando seu conteúdo. A partir daí, o vacúolo fagocítico passa
a ser denominado fagolisossoma e terá condições de digerir todos os
componentes da célula que tenha sido fagocitada.
CEDERJ 115
Doenças lisossomais
Quando alguma enzima lisossomal não funciona, seu substrato não digerido se acu-
mula. Isso acontece em muitas doenças. Entre as mais conhecidas estão a doença de
Hurler, cujos portadores não digerem glicosaminoglicanas. Os portadores da doença
de Tay-Sachs acumulam um tipo de glicolipídio, os gangliosídeos, enquanto os porta-
dores da doença de Gaucher acumulam outro tipo, os cerebrosídeos. A Síndrome de
Niemann-Pick engloba várias lipidoses e seus portadores não digerem colesterol ou
esfingomielina. A forma mais grave de doença lisossomal é a doença da célula I (o I
se deve ao acúmulo de corpos de inclusão). Os portadores dessa doença têm apenas
um gene defeituoso (felizmente recessivo!), acarretando a ausência da enzima que
fosforila a manose no carbono 6. Assim, as enzimas lisossomais não são reconheci-
das pelo receptor de manose-6P no Golgi e não são dirigidas à via endocítica, e sim
secretadas. Por isso, os portadores da doença da célula I são diagnosticados pela
presença de várias enzimas lisossomais na corrente sanguínea.
116 CEDERJ
AULA
por que não digerem sua própria membrana? A resposta está nas
glicoproteínas dessa membrana. As proteínas da membrana lisossomal
voltadas para o lúmen são fortemente glicosiladas e suas árvores glicídicas
terminam em ácido siálico. A enzima capaz de retirar o ácido siálico, a
sialidase (ou neuraminidase) é a única glicosidase que não está presente
no lisossoma. Assim, as outras enzimas, capazes de danificar a membrana
lisossomal, simplesmente não têm acesso a ela (Figura 20.12).
Proteína
Enzimas
Glicídio
Membrana
CEDERJ 117
Figura 20.13: Os lisossomas são o último compartimento da via endocítica. Para eles,
convergem e se fundem os fagossomas, os endossomas contendo moléculas endocitadas
via receptor ou por fase fluida e vacúolos autofágicos contendo organelas que estejam
velhas ou sobrando.
118 CEDERJ
AULA
• A endocitose mediada por receptor é mais eficiente porque os complexos
receptor-ligante ficam concentrados em pequenas vesículas.
• Além dos ligantes, o endossoma tardio recebe as enzimas lisossomais que vieram
do Golgi acopladas ao receptor de manose-6P.
• O pH do endossoma tardio é mais baixo ainda (6,0), fazendo com que as enzimas
lisossomais e os receptores de manose-6P se soltem. Os receptores voltam para
o Golgi.
CEDERJ 119
EXERCÍCIOS
10. Por que as enzimas lisossomais não digerem as proteínas do próprio lisossoma?
120 CEDERJ
Oba, vídeo!
O pólo dispõe de um ótimo material em vídeo sobre o citoesqueleto. Você
pode utilizá-lo tanto durante quanto após a leitura do material impresso. O
vídeo Cellebration ilustra vários tipos de movimentos celulares. No CD-ROM do
Molecular Cell Biology e do Molecular Biology of the Cell há animações e vídeos
sobre a dinâmica de formação de microfilamentos e microtúbulos e movimentos
celulares. Dúvidas? Consulte o seu tutor.
Figura 21.1
8 CEDERJ
21 MÓDULO 4
Figura 21.4: Uma célula pequena e com uma parede
semi-rígida (a) sustenta-se sem alterar substancial-
mente sua forma. Esse é o modelo de sustentação de
bactérias e outros procariotos. A célula em (b) tende
AULA
a se acomodar ao substrato e tomar a forma de (c).
Porém, se houver um sistema interno de sustentação,
b a forma é mantida, mesmo com um tamanho relati-
vamente grande (d).
a c d
Tamanho é documento?
Se pensarmos em termos evolutivos, forma e tamanho só passaram a
constituir “problemas” para os eucariontes. Os procariontes, isto é, as
bactérias, são células pequenas e não compartimentalizadas. A forma da
célula é mantida pela parede celular bacteriana (Figura 21.4a). Também
devido a seu tamanho, a distância entre dois pontos da célula procarionte
nunca é muito grande, de modo que as moléculas requeridas para uma
determinada função sempre estarão acessíveis.
CEDERJ 9
Biologia Celular I | Organização Geral do Citoesqueleto
Os componentes do citoesqueleto
25nm 25µm
25nm 25µm
25nm 25µm
Figura 21.5: Cada tipo de filamento é mostrado tal como é visto por contrastação negativa ao microscópio
eletrônico de transmissão, num esquema que mostra a disposição das proteínas que os formam e sua
distribuição em uma célula epitelial do intestino.
10 CEDERJ
21 MÓDULO 4
Por que três tipos de filamento?
AULA
cada um características próprias de resistência a tensões, flexibilidade e
estabilidade. Todos os filamentos do citoesqueleto são formados através da
polimerização (vide glossário) de proteínas. Todos podem polimerizar-se
e despolimerizar-se rapidamente; entretanto, os filamentos intermediários
podem suportar níveis de tensão e deformação que causariam a ruptura
de microfilamentos e microtúbulos (Figura 21.6).
deformação
microfilamentos
força de deformação
CEDERJ 11
Biologia Celular I | Organização Geral do Citoesqueleto
RESUMO
12 CEDERJ
21 MÓDULO 4
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO
AULA
1. Por que as células eucariontes não podem prescindir de um citoesqueleto?
a. Diâmetro
b. Proteína característica
c. Estabilidade
d. Resistência
e. Localização na célula
CEDERJ 13
10
22
AULA
Os Filamentos Intermediários
objetivos
INTRODUÇÃO Como já vimos na aula 21, o sucesso do modelo eucarionte de célula se deve,
em grande parte, à existência do citoesqueleto, sistema dinâmico de filamentos
protéicos que confere às células forma, motilidade, resistência e suporte das
estruturas intracelulares. Três classes de filamentos formam o citoesqueleto:
os microfilamentos, os microtúbulos e os filamentos intermediários, assunto
desta aula.
Os filamentos intermediários conferem às células resistência mecânica ao
esticamento. Essa propriedade é importante para os tecidos de modo geral
e particularmente para aqueles que normalmente são submetidos a tensão e
compressão, como as células musculares, cardíacas e a pele (Figura 22.1).
Dados históricos
16 CEDERJ
22 MÓDULO 4
Caracterização
AULA
(microtúbulos e microfilamentos), são os mais resistentes e duráveis: em
células submetidas a tratamento com detergentes não iônicos e soluções
concentradas de sais, o citoesqueleto é praticamente todo destruído,
com exceção dos filamentos intermediários. Nas células de nossa pele,
que naturalmente se descamam, também só existem praticamente os
filamentos intermediários.
Os filamentos intermediários são encontrados no citoplasma
de quase todas as células eucariontes, embora haja exceções, como as
hemácias. Tipicamente formam uma rede no citoplasma, envolvendo o
núcleo e se distribuindo para a periferia. Freqüentemente se ancoram à
membrana plasmática em áreas de junção célula-célula (desmossomas)
ou célula-lâmina basal (hemidesmossomas). Há também um tipo de
filamento intermediário que se distribui na face interna do envoltório
nuclear, formando a lâmina nuclear.
Estrutura
CEDERJ 17
Biologia Celular I | Os Filamentos Intermediários
NH2 COOH
a
região em α-hélice
NH2 COOH
b
dímero trançado
NH2 COOH
COOH NH2
NH2 COOH
0,5µm c
filamento intermediário
observado ao microscópio eletrônico COOH NH2
NH2 tetrâmero formado COOH
pela justaposição dos dímetos
e
resultado da adição tetrâmeros
para formação do filamento
10nm
Figura 22.2: Os filamentos intermediários são formados pela adição de tetrâmeros — grupos de 4 moléculas
fibrilares — que se organizam de modo que as extremidades do filamento são idênticas.
Dinâmica
18 CEDERJ
22 MÓDULO 4
Diversidade
AULA
pelas proteínas tubulina e actina respectivamente, cada tipo celular possui
filamentos intermediários específicos. Dentre os tipos de proteínas que
formam os filamentos intermediários, as queratinas formam o maior
grupo. Mais de 20 tipos de queratina já foram identificadas em células
epiteliais humanas e outros 10 tipos em cabelos e unhas. Cada tipo de
epitélio possui determinados tipos de queratina.
CEDERJ 19
Biologia Celular I | Os Filamentos Intermediários
pressão
lâmina
basal
queratina defeituosa
hemidesmossomas
20 CEDERJ
22 MÓDULO 4
Neurofilamentos
AULA
epiteliais, os neurofilamentos são tipicamente encontrados nos neurônios
(Figura 22.4).
Figura 22.4: O axônio
é um prolongamento
do corpo celular do
neurônio através do
qual são transportadas
as vesículas contendo os
neurotransmissores.
Alguns podem chegar
a medir 1m ou mais,
dependendo do tamanho
do animal.
CEDERJ 21
Biologia Celular I | Os Filamentos Intermediários
22 CEDERJ
22 MÓDULO 4
Figura 22.6: Junções que
reforçam a adesão entre
as células musculares
cardíacas. Filamentos
AULA
intermediários formados
por desmina participam
dessas estruturas.
célula 1 célula 2
junções
As laminas nucleares
CEDERJ 23
Biologia Celular I | Os Filamentos Intermediários
Tabela 22.1
Tipo de filamento Proteínas componentes Localização celular
células do sangue
Desmina Músculo
Proteína acídica glial (GFAP) Células da glia
(astrócitos, células de
Schwan, microglia)
RESUMO
24 CEDERJ
22 MÓDULO 4
As principais funções dos filamentos intermediários estão ligadas à sustentação da
AULA
membrana plasmática, do envoltório nuclear e ao posicionamento das organelas no
citoplasma.
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO
CEDERJ 25
8. Qual a doença associada ao aumento excessivo de neurofilamentos?
10. Com os conhecimentos adquiridos nesta aula, comente a frase: “do pó vieste
e ao pó retornarás”.
23
AULA
Microtúbulos
objetivos
INTRODUÇÃO Vimos na aula 22 que os microtúbulos são filamentos longos e ocos, responsáveis
pela formação de estruturas transitórias, como o fuso miótico, ou permanentes,
como os flagelos. A forma geral e a disposição do núcleo e das organelas
celulares também são determinadas pela distribuição desses filamentos.
DÍMERO a b
duas moléculas que juntas
formam uma unidade
Figura 23.1: Esquema de um microtúbulo em corte transversal (a) e em vista la-
funcional; podem ser
teral (b). Cada esfera em A corresponde a uma molécula (dímero α−β) de tubulina.
iguais (homodímero) ou
Os protofilamentos são formados por cadeias lineares de tubulina.
diferentes (heterodímero).
dímero de tubulina
Protofilamento em formação
GTP
A sigla GTP corresponde a guanosina trifosfato, uma molécula que, assim como o
ATP (adenosina trifosfato), pode ser hidrolisada, gerando o guanosina difosfato,
ou GDP, e liberando energia para algumas atividades celulares, como a dinâmica
de polimerização dos microtúbulos. No entanto, a quantidade de energia liberada
é bem menor que a da hidrólise do ATP. Por isso a hidrólise de GTP é usada muito
mais freqüentemente como um sinal do que como fonte de energia. Geralmente,
a molécula associada a GTP está ativa e a associada a GDP está inativa (também
é assim com a proteína G, você lembra da aula 13?). Ah! Sim, ATP e GTP contêm
nucleosídeos que também estão presentes na estrutura do DNA e RNA.
28 CEDERJ
23 MÓDULO 4
Figura 23.3: Microscopia
AULA
eletrônica mostrando um
feixe de microtúbulos onde
está havendo crescimento
preferencial na extremidade
plus (Foto: Gary Borisi, fonte:
Molecular biology of the cell,
Alberts et al. 3rd ed. Garland
Publishing Co., 1994.)
1µm
30 CEDERJ
23 MÓDULO 4
In vivo, as células possuem um centro organizador de microtúbulos
ou centrossoma, de onde partem todos os seus microtúbulos. Em geral, os
AULA
microtúbulos se orientam com a extremidade minus voltada para o centro
organizador e a extremidade plus voltada para periferia celular (Figura 23.6).
O estudo dos processos de alongamento e encurtamento de micro-
túbulos é feito com a utilização de várias substâncias. Para saber um
pouco sobre elas, consulte o box.
CEDERJ 31
Biologia Celular I | Microtúbulos
32 CEDERJ
23 MÓDULO 4
A POLIMERIZAÇÃO E A DESPOLIMERIZAÇÃO DE MICROTÚBULOS
SÃO CONTÍNUAS
AULA
A utilização da videomicroscopia para a observação de células
nas quais a tubulina foi marcada com moléculas fluorescentes (procu-
re material em vídeo ou Cd-Rom disponível no pólo ou na Internet)
mostrou claramente que os microtúbulos de uma célula típica estão
constantemente se alongando e encurtando, num processo conhecido
como instabilidade dinâmica. Já foi demonstrado que a vida média de
uma molécula de tubulina é de 20 horas, enquanto um microtúbulo se
mantém por cerca de dez minutos, em outras palavras, uma molécula
de tubulina "participa" da construção de vários microtúbulos durante
sua vida celular.
Essa instabilidade dinâmica resulta da hidrólise expontânea
da molécula de GTP ligada à subunidade β da tubulina em GDP.
Enquanto a associação ao GTP favorece a polimerização e mantém
o protofilamento esticado, o GDP diminui a ligação entre os dímeros
de tubulina, encurvando o filamento e favorecendo o desligamento do
dímero do protofilameto (Figura 23.8).
O crescimento de um microtúbulo é favorecido quando há um
acréscimo contínuo de subunidades ligadas a GTP. Naturalmente, para
que isso ocorra, é necessário que haja um estoque citoplasmático de
tubulinas ligadas a GTP, que continuamente substituirão as subunidades
ligadas à GDP que forem se soltando da extremidade plus. Essas tubulinas
ligadas à GTP formam um quepe de GTP na extremidade do filamento.
Se esse quepe de GTP se desfizer (pela hidrólise do GTP a GDP não
seguida de substituição por novas subunidades ligadas a GTP), ocorre
o rápido encolhimento do microtúbulo, um fenômeno descrito como
despolimerização catastrófica. Esse fenômeno pode ser comparado à
implosão de um prédio: quando os alicerces são dinamitados, toda a
estrutura colapsa (Figura 23.8). Já foram identificadas proteínas que
contribuem para essa rápida despolimerização. Muito adequadamente
essas proteínas foram denominadas catastrofinas.
CEDERJ 33
Biologia Celular I | Microtúbulos
34 CEDERJ
23 MÓDULO 4
OS MICROTÚBULOS ORGANIZAM A FORMA DA CÉLULA
Como você pode notar na Figura 23.6, a forma geral das células
AULA
depende da distribuição dos microtúbulos a partir do centrossomo,
que, por sua vez, está sempre próximo ao núcleo, exceto durante a
divisão celular.
Isso já nos dá uma"pista" sobre a importância do centro
organizador de microtúbulos. Numa célula como a representada na
Figura 23.6A, os microtúbulos partem do centrossomo, irradiando-se
em todas as direções, mas preferencialmente no sentido para o qual
essa célula parece está se deslocando. Já numa célula como o neurônio
representada na Figura 23.6D, muitos microtúbulos se orientam
paralelamente na direção do axônio, conferindo a forma básica
dessa célula. Além disso, conforme já comentado nas aulas 17 e 21,
o complexo de Golgi se posiciona sempre em torno do centrossoma
e as cisternas do retículo endoplasmático se distribuem com a mesma
orientação dos microtúbulos. Mais adiante, veremos também que
vesículas citoplasmáticas e organelas como as mitocôndrias utilizam
os microtúbulos como trilhos para se deslocar dentro da célula. Os
filamentos intermediários, outro tipo de filamento do citoesqueleto,
também se distribuem paralelamente aos microtúbulos.
Se, por um estímulo natural (ver box) ou por micromanipula-
ção, o centrossoma de uma célula for deslocado de sua posição, todas
as organelas celulares se reposicionarão em relação a ela, inclusive o
núcleo. Por essas evidências, considera-se que o centro organizador de
microtúbulos corresponde ao centro da célula.
CEDERJ 35
Biologia Celular I | Microtúbulos
Figura 23.9: Em A, o a
esquema das modifica-
ções da distribuição dos
microtúbulos na célula
T citotóxica quando vai
“atacar”a célula-alvo.
Em B, imunofluorescên-
cia com anticorpos
antitubulina, mostrando
que o centrossoma da
célula T se desloca para
a região de contato com
a célula-alvo. Note que,
nesta última, a distri-
buição dos microtúbulos
é normal. Foto: Geiger,
B. et al., J. Cell Biol. 95:
137-143 (1982) Rockfeller
University press.
a b c d
36 CEDERJ
23 MÓDULO 4
AS MAPS (PROTEÍNAS ASSOCIADAS AOS MICROTÚBULOS)
AULA
a partir de sua extremidade, outras proteínas interagem lateralmente
com os microtúbuos, ajudando a manter a ligação entre os dímeros
de tubulina (Figura 23.11). Essas proteínas pertencem a um grupo
de proteínas cuja função é associar-se a microtúbulos com o objetivo
de manter sua estrutura: as proteínas associadas a microtúbulos ou,
simplesmente, MAPs.
MAPs são proteínas tão estreitamente associadas aos microtúbulos que fazem
parte do próprio polímero. Essa noção vem de experimentos de polimerização
de microtúbulos in vitro , a partir de um extrato citoplasmático em que, além dos
dímeros de tubulina, havia muitas outras proteínas solúveis. A polimerização foi
induzida, pelas condições adequadas e pelos microtúbulos produzidos separados
do resto do extrato e purificados. Depois, a despolimerização foi induzida
acrescentando-se cálcio e abaixando-se a temperatura; aí (surpresa!) descobriu-se,
fazendo eletroforese, que além de tubulina, os microtúbulos, ao despolimerizar,
liberava outras proteínas também: eram as MAPs. Duas das proteínas capazes de
estabilizar os microtúbulos são a MAP2 e a Tau. Caso você esteja se perguntando,
"mas por que duas proteínas para mesma coisa?", já lhe adiantamos a resposta:
a distância determinada entre dois microtúbulos pela MAP2 é bem maior que a
determinada pela Tau. Assim, os feixes de microtúbulos estabilizados pela Tau
são bem mais compactos do que os da MAP2.
CEDERJ 37
Biologia Celular I | Microtúbulos
PROTEÍNAS MOTORAS
38 CEDERJ
23 MÓDULO 4
Existe uma enorme variedade de cinesinas. As primeiras foram observadas fazendo
o transporte de vesículas contendo neurotransmissores no axônio gigante de lula
AULA
(o axônio dessa espécie tem 1mm de espessura, o que é enorme se comparado a
outras células nervosas). Num organismo simples como a levedura Sacharomices
cerevisae (o fermento de pão), foram descritos 6 tipos de cinesinas; na espécie
humana, foram 40 (até o momento)!
a
Figura 23.13: A cinesina (a) e a miosina (b)
são proteínas capazes de hidrolisar ATP,
o que provoca mudanças em sua confor-
mação. A associação da cinesina a um
microtúbulo e da miosina a um microfila-
mento promove movimento do filamento
ou de alguma “carga” associada a essas
proteínas motoras. Note que a cinesina
ligada ao ATP se liga ao microtúbulo,
enquanto a miosina depende de ATP
justo para desligar-se do filamento.
CEDERJ 39
Biologia Celular I | Microtúbulos
corpo celular
axônio
(pode chegar a 1m)
dendritos
extremidades sinápticas
(onde se localizam as
vesículas)
a b c
40 CEDERJ
23 MÓDULO 4
MOVIMENTO CILIAR E FLAGELAR
AULA
ários (os ciliados e os flagelados) e também em células de organismos
pluricelulares, como os espermatozóides (flagelo) e o epitélio ciliado das
vias respiratórias (cílios).
A estrutura interna de cílios e flagelos é idêntica. Mesmo assim, eles
são prontamente diferenciados: os cílios costumam ser curtos e se dispor em
fileiras que executam um movimento ondulatório sincronizado semelhante
ao de um remo (Figura 23.16A e B). Os flagelos são bem mais longos e em
menor número (um no espermatozóide humano, oito na Giardia lamblia
etc.). O movimento dos flagelos é ondulatório (Figura 23.16C).
Figura 23.16: (a) O movi-
mento do cílio se dá em
duas etapas: uma puxada
rápida num sentido (1
e 2) que efetivamente
resulta em deslocamento
b e uma recuperação lenta
no outro sentido (3 a 5)
que prepara o cílio para
um novo batimento.
(b) Esquema de um
ciliado (Paramecium).
As fileiras de cílios se
movem sincronicamente.
( c ) O movimento flagelar
se dá como uma onda que
c se propaga.
CEDERJ 41
Biologia Celular I | Microtúbulos
RESUMO
42 CEDERJ
23 MÓDULO 4
Os microtúbulos podem estar associados a proteínas acessórios que aumentam sua
estabilidade através da formação de pontes entre as subunidades de tubulina.
AULA
As cinesinas e dineínas são proteínas que se associam aos microtúbulos e são capazes de
promover o deslizamento entre eles ou o transporte de organela e vesículas através do
citoplasma, utilizando-os como trilhos.
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO
6. Por que são úteis na quimioterapia do câncer tanto drogas que evitam a
polimerização de microtúbulo quanto aquelas que evitam sua despolimerização?
44 CEDERJ
24
AULA
Microfilamentos
INTRODUÇÃO Como vimos na aula 21, todos os microfilamentos são formados pela proteína
actina. Os microfilamentos estão associados a vários fenômenos celulares. O
mais conhecido talvez seja a contração muscular, mas também dependem
destes filamentos a adesão das células à matriz extracelular ou a substratos,
a separação das células-filhas ao final da divisão celular, a preservação da
estrutura das microvilosidades intestinais, os movimentos amebóides e muitos
outros processos celulares (Figura 24.1).
microvilosidades
anel contrátil
c Figura 24.1: Filamentos
a de actina participam na
separação de (a) células em
divisão, (b) no preenchi-
mento de microvilosidades
fibras de intestinais e (c) na adesão
tensão de células.
b
LEVEDURA
CARACTERÍSTICAS DA ACTINA
Forma do ciclo
de vida de alguns A actina está presente em todas as células eucariontes, sendo
fungos. O fermento
de pão e a Candida uma proteína muito conservada, isto é, sua seqüência de aminoácidos
albicans, causadora
do “sapinho”, são é muito semelhante em organismos filogeneticamente bem distantes,
leveduras. como fungos e animais. De acordo com o tipo celular, a actina pode
ISOFORMA corresponder a até 20% do peso seco da célula, como é o caso das
Pequenas variações células musculares. Eucariontes mais simples, como as LEVEDURAS,
de uma molécula
que podem resultar possuem apenas um gene para actina. Já os mamíferos possuem
de modificações
sutis na cadeia
vários genes para actina e ainda produzem várias ISOFORMAS dessa
primária, como a molécula. Pelo menos seis formas de actina já foram descritas. As mais
substituição de um
aminoácido, ou o importantes são a actina α, presente em células musculares, e a actina
acréscimo de um
grupamento, como β, encontrada em células não musculares. Além dessas ainda existe a
um acetil ou um
metil. actina γ, também em células não musculares.
46 CEDERJ
24 MÓDULO 4
ESTRUTURA DOS MICROFILAMENTOS Figura 24.2: (a) Embora a
actina G seja uma proteína
globular, ela aprisiona a
Seguindo a “estratégia” fundamental molécula de ATP n uma
AULA
região específica. (b) Con-
para formação de filamentos, os microfilamentos forme os monômeros de
actina G se ligam, forma-
são formados pela ligação de várias moléculas se um filamento. Cada
monômero é adicion ado
de actina, formando longos filamentos de sempre na mesma posição,
8nm de espessura (Figura 24.2), ou seja os conferindo uma polaridade
específica ao filamen to.
microfilamentos também são polímeros. A A extremidade oposta à
molécula de ATP é a extremi-
actina no seu estado monomérico é chamada de dade positiva ou plus.
actina G (de globular) e, quando incorporada
ao microfilamento, de actina F (de filamentosa).
Dois monômeros de actina só se encaixam em
uma determinada posição. O resultado disso é
a b
que o filamento de actina se torna polarizado,
isto é, as extremidades são diferentes.
CEDERJ 47
Biologia Celular I | Microfilamentos
A POLIMERIZAÇÃO DINÂMICA
Complexo Arp 2 - 3
Monômeros incorporados
ao núcleo formado por
Arp2 e Arp3 Complexo
Arp 2-3
Figura 24.4: O microfilamento se forma a
partir do complexo formado pela Arp 2 e
pela Arp 3. O filamento cresce na direção
da extremidade plus, pela incorporação de
novos monômeros de actina.
PARADINHA ESPER TA
Nesta altura, você deve estar achando que microfilamentos e
microtúbulos compartilham muitas características. De fato, ambos
resultam da polimerização de proteínas e formam filamentos
polarizados e dinâmicos. Embora a estratégia de formação de
ambos seja semelhante, tubulina e actina são proteínas comple-
tamente distintas e os filamentos por elas formados possuem
características de flexibilidade e resistência muito diferentes.
48 CEDERJ
24 MÓDULO 4
Normalmente a concentração citoplas-
mática de actina G é muitas vezes superior
AULA
à concentração crítica (necessária para dar
início a um novo microfilamento). Isto, em
tese, poderia acarretar a total polimerização
da actina da célula. Entretanto, isto não ocorre, Sítio de ligação ao Timosina ligada ao
filamento de actina monômero de actina
poque a actina citoplasmática fica protegida
por uma pequena proteína, a timosina que se Figura 24.5: A timosina impede
mantém ligada aos monômeros, impedindo que o monômero a ela ligado se
incorpore a um microfilamento.
sua incorporação à extremidade positiva do
filamento (Figura 24.5).
CEDERJ 49
Biologia Celular I | Microfilamentos
Todos chegarão a ser o primeiro da fila, mas ela ficará do mesmo tamanho.
Se a fila anda e pára de entrar gente :
50 CEDERJ
24 MÓDULO 4
Estarão disponíveis, na plataforma ou no pólo,
AULA
vídeos mostrando a relação entre a incorporação de
monômeros de actina ao filamento e os movimentos
celulares; em caso de dúvida, consulte o tutor.
CEDERJ 51
Biologia Celular I | Microfilamentos
a
A bB Cc
Figura:24.10: A α-actinina d
mantém uma distância (D)
entre os microfilamentos
d
maior que a fimbrina(d).
Isso permite que outras
proteínas se insiram entre
os filamentos.
52 CEDERJ
24 MÓDULO 4
Não é difícil concluir que os feixes formados pela fimbrina são finos
e compactos, como os encontrados nas microvilosidades (Figura 24.11).
AULA
Figura: 24.11 as microvilosidades
(A) são sustentadas por um feixe
interno de microfilamentos asso-
ciados a fimbrina.
Fimbrina
CEDERJ 53
Biologia Celular I | Microfilamentos
a
A
fibras de tensão
filopódio
córtex celular
B
b
CITOPLASMA
MATRIZ EXTRACELULAR
Cc
50 nm
54 CEDERJ
24 MÓDULO 4
A filamina também é uma proteína que interliga filamentos de actina,
mas, ao invés de formar pontes entre filamentos dispostos em paralelo, os
AULA
filamentos ligados por essa proteína formam uma rede (Figura 24.13).
Dímero de filamina
fimbrina
α-actinina
filamina
50 nm
CEDERJ 55
Biologia Celular I | Microfilamentos
56 CEDERJ
24 MÓDULO 4
AULA
Do caldeirão da bruxa
CEDERJ 57
Biologia Celular I | Microfilamentos
5µm
Espectrina
(dímero)
Actina (filamento
muito curto
Anquirina
Banda 3
Glicoforim Banda 4.1
50 nm
Curiosidade fantasmagórica
58 CEDERJ
24 MÓDULO 4
Traída pela própria actina: a estratégia da Listeria monocytogenes
AULA
A bactéria patogênica Listeria monocytogenes, responsável por um tipo grave de intoxi-
cação alimentar, desenvolveu uma estratégia particular para movimentar-se dentro
das células que invade. Inicialmente, a bactéria é englobada pela célula hospedeira
em um vacúolo, do qual rapidamente escapa para o citoplasma. Embora não possua
estruturas locomotoras, a bactéria é capaz de formar em uma de suas extremidades
uma cauda de filamentos de actina que, ao crescer, funciona como a cauda de um
foguete, empurrando-a pelo citoplasma. Eventualmente, a cauda de actina acaba
empurrando a Listeria na direção da membrana plasmática, levando-a a invadir as
células vizinhas, onde se multiplicará e repetirá a estratégia de escape. Acompanhe
as principais etapas desse processo na Figura 24.17. Um vídeo documentando este
curioso fenômeno também estará à sua disposição na plataforma.
bactéria
livre
fagocitose
a bactéria
escapa
formação da
cauda da actina
b
a bactéria
induz uma
projeção
Figura 24.17: Esquema (a) e fluorescência (b) de uma
célula parasitada pela bactéria Listeria monocitogenes.
(Foto: Tim Mitchinson e Julie Theriot)
CEDERJ 59
Biologia Celular I | Microfilamentos
60 CEDERJ
24 MÓDULO 4
A superfamília das miosinas engloba várias subfamílias. Dessas,
as mais importantes são as miosinas I, II e V. Evolutivamente, a miosina
AULA
I é mais primitiva e acredita-se que tenha dado origem à miosina II e
todas as outras. A miosina I também é chamada miosina não muscular
e é o tipo mais abundante na maioria das células. Já a miosina II é
característica das células musculares. A miosina V foi descoberta mais
recentemente e é responsável pelo transporte de vesículas ao longo
de microfilamentos. Tanto a actina quanto a miosina foram primeiro
descritas em células musculares.
Todas as miosinas possuem uma região da molécula conservada,
é o chamado domínio motor. Trata-se de uma região globular onde a
hidrólise do ATP a ADP e Pi é catalisada. A hidrólise do ATP provoca
uma modificação na posição relativa entre a miosina e o microfilamento
que lhe esteja próximo que leva à liberação do Pi. Deste ponto em
diante, a ligação entre actina e miosina se fortalece, ao mesmo tempo
que uma região flexível logo abaixo da cabeça globular da miosina se
deforma, fazendo com que a miosina acabe por puxar o filamento de
actina ao qual inicialmente havia se ligado. A dinâmica do processo
está esquematizada na Figura 24.18.
CEDERJ 61
Biologia Celular I | Microfilamentos
Figura 24.18
Filamento de actina
minus
62 CEDERJ
24 MÓDULO 4
Além do domínio motor, todas as miosinas possuem uma
cauda que pode manter a molécula ligada à membrana ou a outro
AULA
filamento (Figuras 24.19 e 24.20). No caso da miosina I, a cauda é
bastante curta; já a miosina II é um dímero em que as duas caudas se
entrelaçam de modo que os domínios globulares se posicionem em uma
das extremidades da molécula (Figura 24.19). Na miosina V, a porção
flexível da molécula é mais longa, permitindo que seu passo seja maior
do que o da miosina II.
Miosina I
Miosina II
Miosina V
(A)
a
(B)
b cauda cadeias
leves
Cabeças
2 nm globulares
150 nm
Figura 24.19 (a): Esquema comparativo das moléculas de miosina I, II e V. As setas apontam a região flexível da
molécula, que se dobra para produzir o deslocamento do filamento de actina. Na miosina V, a distância entre
as cabeças globulares é maior, permitindo um deslocamento maior que o da miosina II. (b) Detalhamento da
organização da molécula de miosina II. Na região globular da molécula, estão localizados tanto os sítios catalíticos
para a hidrólise do ATP quanto a região que se liga ao filamento de actina.
CEDERJ 63
Biologia Celular I | Microfilamentos
aa Miosina V
vesícula
b
Miosina II
cc
Miosina I
Membrana plasmática
Figura 24.20: A miosina pode provocar (a) movimento de uma vesícula por
sobre um filamento, (b) o deslizamento antiparalelo de dois filamentos
de actina, ou (c) prender-se à membrana e puxar um microfilamento. O
sinal de + indica a extremidade plus do filamento de actina.
64 CEDERJ
24 MÓDULO 4
PERMANENTES OU TRANSITÓRIAS: AS ESTRUTURAS
FORMADAS POR MICROFILAMENTOS
AULA
Enquanto nas células musculares os microfilamentos e a miosina
a eles associada formam um arranjo estável, o anel de contração é uma
estrutura transitória, que se forma apenas ao final da divisão celular. Em
células que aderem ou se deslocam num substrato, feixes de filamentos
de actina estão sempre se formando e se associando a complexos de
adesão localizados na membrana plasmática. São os contatos focais
(Figura 24.22). Os contatos focais, por estarem associados às fibras de
tensão, conferem à célula uma resistência que a membrana plasmática
(composta essencialmente por uma bicapa fluida de lipídeos) por si só
não seria capaz de proporcionar. Estas regiões de adesão se reorganizam
de forma dinâmica, conforme mostrado na Figura 24.15, permitindo a
adesão, sem impedir o deslocamento da célula.
CONCLUSÕES
CEDERJ 65
Biologia Celular I | Microfilamentos
Tabela 24.1
Forma, tamanho e Associação com a
Função da proteína Exemplo peso molecular actina
50 nm 370 x 43 kD/µm
Forma filamentos Actina
Fortalece o Tropomiosina
2 x 35 kD
filamento
14nm
Forma feixes a partir 68 kD
Fimbrina
dos filamentos
Forma feixes a partir 40nm
dos filamentos
α-actinina 2 x 100 kD
mentos à membrana β α
66 CEDERJ
24 MÓDULO 4
RESUMO
AULA
Os microfilamentos são filamentos formados por monômeros da proteína
actina. São estruturas polarizadas, sendo a extremidade plus a que cresce
mais rapidamente e a minus a de crescimento mais lento.Os microfilamentos
são nucleados a partir de três monômeros de actina que se combinam a
outras proteínas relacionadas à actina. Geralmente, as extremidades plus
do filamento ficam voltadas para a periferia celular.
CEDERJ 67
Biologia Celular I | Microfilamentos
AVALIAÇÃO
1. O que é um microfilamento?
3. O que você entende por instabilidade dinâmica? Como caminha uma molécula de
actina em um microfilamento?
68 CEDERJ
25
AULA
Tráfego Intracelular
de Vesículas
objetivos
INTRODUÇÃO Na aula 16, você aprendeu que as novas moléculas (proteínas, glicoproteínas,
lipídios) produzidas no retículo endoplasmático passam dessa organela para
o complexo de Golgi em vesículas. Depois, na aula 17, você aprendeu que
para percorrer o complexo de Golgi as moléculas precisam ser colocadas em
vesículas que brotam de cada lamela e se fundem com a lamela seguinte, já
que as lamelas do Golgi não são contínuas. A princípio, isso pode parecer
uma trabalheira absurda, mas como a cada lamela essas moléculas ganham
cadeias de açúcar que vão sendo modificadas, com certeza o processamento
dessas moléculas fica mais organizado. No final, já na rede trans do Golgi, as
moléculas seguirão para a membrana plasmática ou para os lisossomas, sempre
dentro de vesículas.
Repare bem, você não acha que, de tanto receber vesículas, a membrana
plasmática ficaria enorme? (daria para fazer babados, ou, no mínimo, umas
preguinhas...). Esse aumento da área da membrana plasmática seria muito
prejudicial para a célula, já que, por conter o citoplasma fluido, o aumento
de área seria acompanhado por um aumento de volume. Colocando um
pouquinho de matemática nesse raciocínio, você vai lembrar que: se a área
da membrana aumenta ao quadrado, o volume que ela delimita aumenta ao
cubo. Se o volume da célula aumentasse muito, certamente haveria entrada de
água (por osmose), o que diluiria o citoplasma, alterando o equilíbrio de todas
as reações que lá se desenrolam. Por isso, acréscimos de superfície precisam
estar bem controlados.
Em contrapartida, as células precisam se nutrir, inclusive de moléculas que não
atravessam a membrana, e para isso endocitam o fluido extracelular. A formação
de vesículas endocíticas reduz a área da membrana plasmática, contrapondo-se,
assim, ao processo secretório. Observando a Figura 25.1, podemos ter uma
idéia do trânsito de vesículas envolvidas nas duas principais vias da fisiologia
celular: a endocítica e a secretória.
70 CEDERJ
25 MÓDULO 4
lisossoma
endossoma MP
tardio
AULA
RE
endossoma
inicial
grânulo de
CGN Golgi TGN secreção
Complexo de Golgi
CEDERJ 71
Biologia Celular I | Tráfego Intracelular de Vesículas
DIRECIONAMENTO
Quando analisamos as direções seguidas pelas vesículas no
citoplasma de uma célula de mamífero (Figura 25.1), podemos perceber
que as vesículas da via secretória se deslocam da região próxima ao
núcleo, onde se encontram retículo endoplasmático e complexo de
Golgi, para a periferia da célula, até chegar à membrana plasmática.
Convencionou-se chamar essa direção de tráfego de anterógrada. Já
as vesículas endocíticas se deslocam passando pelos endossomas
inicial e tardio em direção aos lisossomas, que costumam estar
preferencialmente na região perinuclear; essa direção de tráfego
é dita retrógrada.
Com o que você aprendeu nas últimas aulas, já poderia apostar
que algum tipo de filamento do citoesqueleto estaria envolvido no
72 CEDERJ
25 MÓDULO 4
direcionamento das vesículas, já que as proteínas motoras podem
fazer com que vesículas ou mesmo organelas inteiras deslizem ao
AULA
longo de microtúbulos ou microfilamentos. Para testar essa hipótese,
um experimento simples seria usar drogas que despolimerizam esses
filamentos e observar se as vesículas continuam se deslocando.
Os resultados desses experimentos foram muito interessantes.
Ao despolimerizar microfilamentos usando citocalasina, as células não
conseguem mais fazer fagocitose, porque a emissão de pseudópodos
depende do remodelamento dos microfilamentos naquela região. Outra
alteração que chamou a atenção dos pesquisadores foi o “encolhimento”
do retículo endoplasmático: ao invés de se manter espalhado por uma
grande área do citoplasma ele se tornou menos ramificado. Entretanto,
os resultados mais marcantes foram obtidos com o uso do nocodazol,
uma droga que provoca a despolimerização dos microtúbulos. Nessa
situação, a via endocítica ficava bastante prejudicada, a maior parte
das vesículas formadas não conseguia passar o material endocitado
para os outros compartimentos, principalmente do endossoma inicial
em diante (Figura 25.2). Em muitas células, a despolimerização dos
microtúbulos causava a redistribuição dos lisossomos, que deixam de
ser encontrados principalmente na região perinuclear para se espalhar
na periferia da célula.
MP
endossoma inicial
TGN
endossoma tardio
lisossoma
CEDERJ 73
Biologia Celular I | Tráfego Intracelular de Vesículas
Golgi
RE
microtúbulo
74 CEDERJ
25 MÓDULO 4
AULA
Figura 25.4: Esquema de propulsão de uma vesícula por uma cauda de filamentos
de actina. Micrografias de endossomas de ovócito de rã com a cauda de actina
formada. Fotos de Taunton et al. J. Cell Biol.148:519, 2000.
SELEÇÃO DA CARGA
receptor
adaptina
clatrina
Figura 25.5: Formação de
uma vesícula revestida
carga por clatrina.
CEDERJ 75
Biologia Celular I | Tráfego Intracelular de Vesículas
76 CEDERJ
25 MÓDULO 4
proteínas misturadas seleção PARA
LISOSSOMAS
SECREÇÂO CONSTITUTIVA
AULA
RE GOLGI
SECREÇÂO REGULADA
OUTROS REVESTIMENTOS
CEDERJ 77
Biologia Celular I | Tráfego Intracelular de Vesículas
GTPASE a proteína está ligada a GTP e se esconde quando a proteína está ligada
MONOMÉRICA a GDP. Por isso, o estado ligado a GTP é ativo e o ligado a GDP desliga
É uma proteína
a proteína da membrana, inativando sua função (Figura 25.9).
formada por uma
única cadeia que está
ligada a GTP e é capaz
de hidrolizá-lo. Assim
como as outras GTPases
que você conheceu na GDP GTP
aula de sinalização
celular (aula 13), essas a cadeia lipídica
b
proteínas estão ativas
quando ligadas a GTP e
ficam inativas depois de
hidrolizá-lo. Figura 25.9: Uma GTPase fica inativa quando está ligada a GDP e tem a cadeia
lipídica oculta em uma reentrância da molécula, estando solúvel no citoplasma da
célula. A mesma proteína ligada a GTP expõe a cadeia lipíca e vai funcionar inserida
em uma membrana.
PARADINHA ESPER TA
Atenção! Para que a GTPase ligada a GDP passe a estar ligada a GTP, é
preciso que o nucleotídeo inteiro seja retirado. Logo ele será substituído
por GTP, que é muito mais abundante no citoplasma que a forma GDP. A
conversão direta de GDP a GTP pelo acréscimo do terceiro fosfato demanda
energia e só acontece na mitocôndria, como vamos ver nas próximas aulas.
78 CEDERJ
25 MÓDULO 4
Depois de inserida na membrana, a GTPase vai servir de
adaptadora das outras proteínas do revestimento (Figura 25.11). As
AULA
adaptadoras foram identificadas em leveduras e são semelhantes, mas
não iguais, nas várias etapas do tráfego de vesículas. A adaptadora de
COP I se chama ARF e a de COP II se chama Sar 1.
proteínas do
revestimento
vesícula brotando
Sar 1 - GTP
subunidades
aA
de COP II
CITOPLASMA
carga transmembrana carga
transmembrana
carga solúvel
LÚMEN
DO RE
b
B
chaperonas ligadas a
proteínas malformadas
De novo as leveduras
Muitas etapas do tráfego intracelular de vesículas foram primeiro identificadas em
leveduras. A razão disso é que é muito mais fácil produzir nesses fungos mutantes
estáveis deficientes em alguma etapa do tráfego intracelular. Correlacionando o
fenótipo do mutante, ou seja, a etapa que ele não consegue fazer, com o gene
que foi deletado pode-se inferir qual o papel da proteína que está faltando. Os
mutantes de levedura deficientes na secreção celular foram classificados como
mutantes sec. A maioria das proteínas de mamífero que funcionam no tráfego de
vesículas tem uma proteína correspondente em leveduras classificada como sec.
CEDERJ 79
Biologia Celular I | Tráfego Intracelular de Vesículas
via endocítica
LEGENDA
clatrina
COP I
COP II
secreção constitutiva
MP
secreção regulada
RE GOLGI
Compartimento A
Compartimento
doador
Compartimento B
Figura 25.13: Duas vesículas que tiverem brotado do mesmo compartimento doador, mas carregando
marcadores diferentes, vão se fundir com compartimentos-alvo diferentes, onde cada uma encontrará
marcadores complementares.
80 CEDERJ
25 MÓDULO 4
SNARES
AULA
responsáveis pelo reconhecimento entre vesículas e compartimentos e
também pela própria fusão entre suas membranas. Elas estão presentes
tanto na membrana da vesícula quanto na membrana do compartimento
receptor. A SNARE do compartimento doador, que vai ser incluída na
vesícula que está brotando, é dita v-SNARE (de vesicle SNARE) e a
SNARE complementar que está na membrana do compartimento-alvo é
a t-SNARE (de target SNARE) (Figura 25.14).
Compartimento
v-SNARE
doador
carga B
t-SNARE Compartimento B
CEDERJ 81
Biologia Celular I | Tráfego Intracelular de Vesículas
t-SNARE
(sinaptobrevina) CITOPLASMA
t-SNARE
(sanap-25)
membrana plasmática
do neurônio
t-SNARE
(sintaxina)
Figura 25.15: Quando uma vesícula sináptica vai ser exocitada, a sinaptobrevina (v-
SNARE) que está em sua membrana será reconhecida pela sintaxina e pela snap-25
(t-SNAREs) que estão na face citoplasmática da membrana do neurônio.
1 - RECONHECIMENTO 2 - FUSÃO
complexo v-t-SNARE complexo v-t-SNARE
82 CEDERJ
25 MÓDULO 4
2) fusão propriamente dita: as SNAREs mudam de conformação
puxando as membranas da vesícula e do compartimento uma de encontro à
AULA
outra, tornando-as tão próximas que a água que separa as duas bicamadas
é excluída, possibilitando a fusão. O próprio processo de fusão das duas
bicamadas passa por etapas, mas estas são tão rápidas que ainda não é possível
discriminar experimentalmente, sendo estudadas por hipóteses baseadas nas
propriedades fisico-químicas das bicamadas lipídicas (Figura 25.17).
Figura 25.17: As etapas
hipotéticas do processo
H 2O H2O de fusão de membra-
H2O nas. Em A, a vesícula
H2O H2O H2O H 2O
se aproximou do com-
H2O H2O H2O
partimento-alvo e os
H 2O H2O H 2O H2O
H2O complexos v-t SNARE se
H 2O reconheceram, levando a
c
uma mudança de confor-
mação que os aproxima
a
A (b), chegando a excluir
a água da área entre as
duas membranas. Com o
H2O
H2O H2O
contato estreito forçado
pelas SNAREs, forma-se
H2O dD um “ poro de fusão” (c),
H2O
que transforma as duas
bicamadas em uma só
(d), que termina por se
B
b romper (e).
eE
10nm
Volte à Figura 25.16 e repare que as duas SNAREs, a que veio com
a vesícula e a que estava no compartimento, passaram a estar na mesma
membrana, o que inviabiliza sua função. Para separá-las, é necessário ATP
e o trabalho de proteínas auxiliares. A mais conhecida é chamada NSF,
uma espécie de chaperona solúvel no citoplasma, que pode agir, com a
ajuda de proteínas adaptadoras, na separação de complexos v-t SNARE
de qualquer membrana (Figura 25.18). Depois de separar o complexo,
a SNARE que veio com a vesícula pode voltar ao seu compartimento de
origem, numa nova vesícula que vai brotar, fazendo o caminho de volta.
complexo
v-t SNARE
NSF
adaptadoras
CEDERJ 83
Biologia Celular I | Tráfego Intracelular de Vesículas
84 CEDERJ
25 MÓDULO 4
Sopa de letrinhas
Você achou complicados os nomes das moléculas nesse assunto de fusão de
AULA
membranas? Realmente fica mais fácil de entender esses nomes se a gente sabe
de onde eles saíram. Um dos primeiros resultados dos experimentos programados
para estudar os fatores que regulam a fusão entre os compartimentos celulares
foi usando uma droga que bloqueava completamente todos os processos
de fusão de membrana, a N-etilmaleimida. O próximo passo foi identificar a
molécula que era sensível a essa droga: era o NSF, fator sensível a N-etilmaleimida
(N-etilmaleimide sensitive factor). Mais alguns estudos e descobriram que
o NSF não agia sozinho, precisava de auxiliares, que foram coletivamente
chamadas SNAP (soluble NSF adaptor proteins, proteínas solúveis adaptadoras
de NSF). Pouco tempo depois, foram identificadas, sempre em leveduras ou
neurônios, as proteínas de membrana às quais o NSF e o SNAP se acoplavam:
finalmente eram descobertas as SNARE (SNAP receptors, receptores de SNAP).
Proteína Organela
Rab 1 Retículo e Golgi
Rab 2 Rede cis do Golgi
Rab 3A Vesículas sinápticas, grânulos de secreção
Rab 4 Endossoma de reciclagem
Rab 5A Membrana plasmática, vesículas revestidas de clatrina
Rab 5C Endossoma inicial
Rab 6 Golgi medial e trans
Rab 7 Endossoma tardio
Rab 9 Endossoma tardio
Rab 11 Endossoma de reciclagem
CEDERJ 85
Biologia Celular I | Tráfego Intracelular de Vesículas
RESUMO
A secreção de vesículas da rede trans do Golgi para a membrana plasmática pode ser:
• constitutiva, reciclando elementos da própria membrana;
• regulada, ficando estocada no citoplasma, aguardando um sinal para
exocitose.
86 CEDERJ
25 MÓDULO 4
Os marcadores de vesículas do tipo SNARE promovem a fusão das membranas
AULA
aproximando as bicamadas até que se fundam.
CEDERJ 87
Biologia Celular I
Gabarito
Módulo 1 - Aula 1
5x 40x 200X
2. As células recebem este nome porque o que Hooke descreveu foram as paredes
celulares remanescentes onde antes haviam estado células que morreram, deixando
lacunas semelhantes às celas dos monges.
3. Comparação do microscópio de Hooke (Figura 1.1) com o modelo atual (Figura 1.4),
identificando as partes análogas.
ocular
macrométrico
micrométrico
revólver
objetivas
amostra
platina
condensadora
fonte de luz
154 CEDERJ
6. No microscópio de fluorescência a amostra é tratada com um corante fluorescente
e iluminada com uma fonte de luz ultravioleta, capaz de fazer com que apenas as
áreas onde o corante se fixou apareçam na imagem.
8. Uma hemácia mede 8 µm. Quando observada sob o aumento total de 1.000
vezes, medirá 8.000 µm=8x103 µm = 8 mm = 0,8 cm
10. 5 µm = 5.000.nm
100µm = 100.000 nm
1.000µm= 1 mm
60 nm= 0,06 µm
11. Uma célula foi fotografada com 2.000x de aumento no microscópio óptico.
Uma estrutura que tenha na realidade 2 µm aparecerá na foto com 4.000 µm =
4 mm = 0,4 cm.
CEDERJ 155
Módulo 1 - Aula 2
1. É a menor distância em que dois pontos podem ser definidos como distintos.
10.000 = 104
104 x 102 x 10 –9 m= 104+2-9m= 10-3 m = 1 mm
100 nm = 102 x 10 m–9
Resposta: 1 milímetro
3- 30 µm = 30 x 10 –4 cm
Resposta: 3000 vezes. Obs.: em geral esse é o aumento inicial para observação
ao microscópio de transmissão. Uma vez localizada a área de interesse usamos
aumentos bem maiores.
4.
Microscópio óptico Microscópio eletrônico
Poder de resolução 2 µm 2 nm
156 CEDERJ
Inclusão: substituição do solvente orgânico por resina
Módulo 1 - Aula 3
1.
• Fratura: feita a baixa temperatura e sob vácuo, expõe as superfície das membranas
plasmática e das organelas intracelulares.
• Evaporação com platina: feita em ângulo de 45o visa criar áreas sombreadas
segundo o relevo das proteínas de membrana e estruturas celulares.
• Evaporação com carbono: feita homogeneamente por toda a réplica, cria uma
“base”, sendo o carbono transparente ao feixe de elétrons.
• Limpeza da réplica: feita com ácidos ou bases fortes. Remove restos celulares
que estejam grudados na réplica.
• Lavagem: feita com água. Depois dela a réplica é recolhida sobre uma grade e
levada ao microscópio eletrônico de transmissão.
CEDERJ 157
2. O plano médio, isto é, aquele para onde convergem as caudas hidrofóbicas
dos fosfolipídeos.
Módulo 1 - Aula 4
5. É uma célula formada pela fusão de dois tipos celulares diferentes. Seu
núcleo reúne o DNA das duas células originais e ela se comporta combinando
características das duas células originais.
158 CEDERJ
6. C, pois com a alta taxa de multiplicação será mais rápida a obtenção de grandes
quantidades da proteína secretada.
Módulo 1 - Aula 5
CEDERJ 159
9. A eletroforese usa um campo elétrico para separar ácidos nucléicos ou proteínas,
que foram previamente desnaturadas e tratadas com SDS, conforme sua massa
molecular. A massa molecular de uma certa proteína da amostra pode ser feito por
comparação com padrões colocados na mesma corrida eletroforética. A eletroforese
serve também para acompanhar a purificação de uma proteína, porque permite
observar quantas proteínas diferentes estão presentes numa amostra.
10. Na técnica de Western blot proteínas já separadas por eletroforese podem ser
transferidas para uma membrana de nitrocelulose, ficando acessíveis à incubação
com anticorpos ou outros ligantes específicos. Assim, é possível mostrar que uma
certa proteína está presente numa amostra porque um anticorpo específico a
reconheceu. Ou mostrar que o soro de um paciente reconhece antígenos de um
parasito, portanto ele já teve contato com o parasito.
Módulo 1 - Aula 6
2. Como cada molécula de anticorpo possui dois sítios de ligação para cada
antígeno, é possível a formação de ligações cruzadas, ou seja, um dos braços da
molécula de anticorpo se liga a um antígeno e o outro a outro antígeno (veja
esquema).
3. Defina:
Hibridoma – é o resultado da fusão de uma célula tumoral (daí o sufixo oma) com
um linfócito B. O resultado é uma célula que se multiplica indefinidamente, como
a célula tumoral, e que secreta continuamente anticorpos, como o linfócito B.
160 CEDERJ
4. Associações de anticorpos e moléculas.
Módulo 2 - Aula 7
Exercício inicial
3. [fosfolipídeo] [bicamada].
Exercício final
vacúolos também são considerados como meio extracelular, já que também ficam
separados do citoplasma por uma membrana.
CEDERJ 161
3. É qualquer espaço limitado por uma membrana contínua e separado do meio
externo ou do citosol. A mitocôndria, por exemplo, possui duas membranas e
dois compartimentos, o intermembranas e a matriz mitocondrial, separados pela
membrana mitocondrial interna.
9. O colesterol é uma molécula pequena e muito rígida por conta dos anéis
aromáticos. Pelo seu tamanho, ela se insere entre as moléculas de fosfolipídeo,
diminuindo o espaço disponível para os movimentos deles.
11. Algumas regiões são compostas por lipídeos de menor fluidez que permanecem
agregados, formando domínios com funções específicas. Quando esses domínios
ocorrem em invaginações da membrana, são chamados cavéolas.
162 CEDERJ
Módulo 2 - Aula 8
2.
• proteína multipasso: são aquelas cuja cadeia polipeptídica vai e vem através da
membrana várias vezes.
• Porinas - são proteínas do tipo “barril”, que formam poros aquosos em algumas
membranas, como a membrana externa das mitocôndrias.
4. É uma célula formada pela fusão do citoplasma e dos núcleos de duas outras,
diferentes entre si.
CEDERJ 163
6. São mecanismos que impedem o livre fluxo de proteínas no plano da membrana.
Podem ser associações de proteínas em complexos de membrana ou associações
com elementos do citoesqueleto ou do meio extracelular ou mesmo regiões de
adesão entre duas células vizinhas que impedem a passagem de proteínas da face
apical da membrana para a superfície basolateral e vice-versa.
Módulo 2 - Aula 12
1.
e) Errado, além de o antiporte ser uma troca de moléculas entre dois compartimentos,
o simporte é o transporte necessariamente conjunto de um íon e uma segunda
espécie molecular, por exemplo a glicose, sempre no mesmo sentido.
164 CEDERJ
2. A frase é uma boa analogia. Enquanto um enorme número de grãos passa
pelo funil em poucos segundos, levaríamos muito mais tempo para colocar igual
quantidade de grãos usando uma colher. Cada grão deve estar na colher, enquanto
nem todos os grãos entrarão em contato com as bordas do funil.
3. Porque, para que ele ocorra, é necessário que a bomba de Na+/K+ esteja mantendo
maior a concentração de sódio no meio extracelular. Do contrário, a célula poderia até
perder glicose para o meio externo.
CEDERJ 165
Biologia Celular I
Gabarito
Aula 13
1.
5. Deve ser uma molécula pequena e hidrofóbica para que possa atravessar a
bicamada lipídica.
7.
122 CEDERJ
9. São proteínas que ligam GTP, hidrolisando-o a GDP e Pi. Esta alternância
entre ligação a GTP e GDP funciona como um sinal liga/desliga para a proteína,
disparando vários eventos.
10. GIs atuam inibindo a atividade de outras proteínas. GEs atuam estimulando a
atividade de outras proteínas.
Aula 14
6. A adenilciclase hidrolisa ATP a AMPc, que por sua vez ativa uma enzima como
a PKA, uma quinase que fosforila outras proteínas.
Ao ser ativada pela proteína G, a fosfolipase C cliva o PIP2 em IP3 e DAG. O IP3
libera cálcio armazenado no retículo endoplasmático. Já o DAG recruta o PKC no
citossol. O PKC se tornará ativo ao combinar-se com o cálcio liberado pela IP3.
7. São moléculas, como o cálcio, que disparam efeitos celulares. Embora eles
não sejam as moléculas sinalizadoras, sua presença é conseqüência da cascata
de reações disparada por estas. O cálcio, ou outro mensageiro secundário, tanto
pode ser a última molécula a sinalizar uma atividade celular, no citoesqueleto, por
exemplo, quanto ser um mero intermediário numa cascata que prossegue ainda
por vários degraus (moléculas).
CEDERJ 123
A grande vantagem é a amplificação do sinal inicial, isto é, uma molécula ativa
duas, que ativarão quatro, e assim por diante, resultando na ativação final de
muitas moléculas a partir de umas poucas inicialmente utilizadas.
Aula 15
3.
2 µm
1,5µm
1µm
124 CEDERJ
9. Não, de acordo com a proteína que está sendo sintetizada eles permanecem
livres ou se aderem ao retículo.
10. É uma seqüência de aminoácidos que informa o destino de uma proteína que
começa a ser sintetizada.
Aula 16
7. É enzimaticamente cortada.
CEDERJ 125
Aula 17
Aula 18
2. São proteínas que, com gasto de ATP, se ligam a cadeias protéicas em formação,
ajudando no seu correto enovelamento. Porque quando a célula sofre um choque
térmico aumenta a síntese de proteínas com defeito e, conseqüentemente, também
aumenta a quantidade citoplasmática de chaperonas que tentam consertar essas
proteínas.
126 CEDERJ
3. As hsp60 têm uma forma de barril na qual aprisionam a proteína defeituosa
e tentam consertá-la. As hsp70 atuam desenovelando e enovelando a proteína,
tanto para que ela assuma a conformação certa como para que ela possa passar
pelos complexos translocadores de organelas como a mitocôndria.
Aula 19
1.
CEDERJ 127
Aula 20
11. Quando uma mutação faz com que enzimas lisossomais sejam defeituosas
(podem não funcionar, podem não ter seqüência de endereçamento correta), os
substratos que elas deveriam digerir acabam se acumulando no citoplasma ou no
meio extracelular.
128 CEDERJ
12. É quando a célula digere alguns de seus próprias componentes, como
mitocôndrias, que estejam “sobrando”. O vacúolo autofágico se forma a partir de
membranas do retículo, que envolvem a organela que vai ser degradada, criando
um ambiente apropriado à ação das enzimas lisossomais.
CEDERJ 129
Biologia Celular I
Gabarito
CEDERJ 161
Aula 21
1. Pelo seu tamanho. São muito grandes, quando comparadas às bactérias e outros procariontes
e “desabariam” sob seu próprio volume.
2. Porque, além de pequenos, possuem uma parede celular, que lhes confere forma e a distância
entre seus espaços internos e a superfície nunca é grande.
5.
Diâmetro 7 nm 25 nm 10 nm
Estabilidade muito dinâmicos, pouco muito dinâmicos, pouco maior estabilidade, pouco
estáveis estáveis dinâmicos
Figura 21.1: Neurônio. Célula especializada em receber e enviar estímulos para outros neurônios,
músculos ou glândulas.
Figura 21.3: Células epiteliais. Especializadas em revestir áreas de contato com o meio externo,
como a luz intestinal, e responsáveis pela absorção das moléculas digeridas.
– movimento amebóide
– movimento flagelar
162 CEDERJ
– anel de constrição entre as células-filhas
– fagocitose
Aula 22
Porque ambos possuem NH2 (amina) e COOH (carboxila) nas duas extremidades.
4. Tipicamente nos epitélios. A queratina também forma cabelos, pelos, unhas, cascos e garras.
As penas das aves também são formadas por um tipo diferente de queratina.
5. Nos neurônios, os neurofilamentos; nas células da glia, a proteína acídica glial; e nos neurônios
periféricos, a periferina.
7. Vimentina, das células de origem mesenquimal: tecidos conjuntivos de modo geral e endotélio dos
vasos.
9. Para que o envoltório nuclear se desagregue. Nas células sem lâmina nuclear a mitose é dita
fechada, isto é, ocorre sem que o envoltório se desfaça.
10. Grande parte da poeira que se acumula numa casa resulta da descamação de células
epiteliais, das quais resta principalmente a queratina. Também nas sepulturas, os restos mortais
se resumem a ossos, dentes e estruturas formadas por queratina. Quer dizer, podemos não vir
do pó, mas certamente ao pó retornaremos...
CEDERJ 163
Aula 23
5. Dependem dos complexos de γ-tubulina em forma de anel que nucleiam a formação de novos
microtúbulos e agem como uma proteção contra a perda de subunidades pela extremidade minus.
6. A estabilização dos microtúbulos fará com que o estoque de tubulina citoplasmática se esgote
e impedirá a despolimerização, por exemplo, do fuso acromático. Isso impediria a finalização
da mitose. Contudo, se os microtúbulos de uma célula forem desfeitos, a formação do fuso
também será impedida e o resultado também será que a célula (cancerosa) não se dividirá e
morrerá.
7. Além do fuso acromático (durante a mitose) e dos cílios e flagelos, os microtúbulos conferem
a forma geral da célula e a disposição das organelas, servindo inclusive como trilhos para que
elas trafeguem de um extremo a outro da célula.
8. Elas possuem dois (às vezes três) domínios globulares capazes de hidrolisar ATP e de se ligar
e desligar alternadamente do microtúbulo, caminhando sobre ele. A outra extremidade da
molécula se liga a uma vesícula ou organela (que será transportada) ou a outro microtúbulo,
fazendo com que um se mova em relação ao outro.
164 CEDERJ
9. Cílios e flagelos se organizam em nove pares de microtúbulos periféricos e um par central.
Todos esses pares estão ligados aos adjacentes por nexinas e ao par central por conexões
radiais. Moléculas de dineína ligadas a um par interagem com o microtúbulo do par adjacente
caminhando sobre ele e causando a deformação do cílio ou flagelo. As nexinas e conexões
radiais impedem que os microtúbulos deslizem um em relação ao outro, mas provocam seu
encurvamento. Como nem todas as dineínas estão ativas num mesmo momento, um lado do
cílio se encurva e o outro não, alternadamente.
Aula 24
2. Cada molécula de actina possui em seu interior uma molécula de ATP que é hidrolisada a
ADP quando um novo monômero se liga à extremidade plus do filamento.
4. Não.
9. É um anel formado por feixes de actina que se contrai por ação da miosina entre os filamentos,
fechando-se e levando ao estrangulamento e separação das células-filhas.
10. As miosinas possuem uma cabeça globular que se liga à actina e é capaz de hidrolisar ATP;
a região entre a cabeça e a cauda da miosina se dobra nesse processo e faz com que a miosina
puxe a actina, provocando o movimento.
CEDERJ 165
Aula 26
1. Não. As mitocôndrias podem ser mais ou menos alongadas e diferem em tamanho mesmo
dentro de um mesmo tipo celular. Tipos celulares diferentes também têm mitocôndrias com
aspecto diferente (número e formato das cristas, por exemplo).
7. Porque são capazes de utilizar O2 e moléculas orgânicas para produzir grande quantidade de
ATP. As células que não possuem mitocôndrias (anaeróbios) possuem um rendimento energético
muito baixo, pois produzem ATP só através da glicólise.
166 CEDERJ
d) o DNA e os RNAs mitocondriais são semelhantes em vários aspectos aos de bactérias;
Os inibidores da síntese de DNA mitocondrial são diferentes dos do núcleo e semelhantes aos
que inibem as enzimas bacterianas.
Aula 28
1. Por serem envoltos por 2 membranas, uma da bactéria e outra que corresponderia ao
vacúolo endocítico, por possuírem seu próprio DNA e RNA semelhantes ao de bactérias, por
serem capazes de se auto-duplicar, por sua forma e tamanho e pela sensibilidade aos mesmo
antibióticos que as bactérias.
3. As mitocôndrias, pois essas existem todos os tipos de eucariontes (animais, vegetais e fungos),
enquanto os cloroplastos só existem nos vegetais.
4. Estruturas presentes na semente que possuem dupla membrana e ácidos nucléicos. Podem
se diferenciar em cloroplastos ou outros tipos de plastídeos.
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6. Membranas: externa,
Interna
Tilacóides
Espaços: intermembranas
Estroma
Tilacóide
8. A fase dependente de luz da fotossíntese, quando são produzidas moléculas energéticas que
serão utilizadas no ciclo de fixação do carbono.
Aula 29
3. Não, porque as reações desse ciclo ocorrem otimamente num pH em torno de 8,0, o que só
é atingido quando os H+ do estroma estão sendo concentrados no espaço tilacóide, o que só
ocorre na presença de luz.
7. É a reação que a rubisco catalisa consumindo ATP e O2 e produzindo CO2. Ocorre quando a
concentração de O2 no mesófilo aumenta muito. É o inverso da fixação do carbono.
168 CEDERJ
8. São plantas de clima quente e seco, que mantêm seus estômatos fechados a maior parte do
dia e, para evitar a fotorrespiração, fazem a fixação do carbono apenas nas células da bainha do
feixe e por uma via em que ao invés de gliceraldeído 3-fosfato, o CO2 é fixado numa molécula
de quatro carbonos.
Aula 30
1. Porque seu metabolismo produz peróxido de hidrogênio, ou água oxigenada, que é depois
degradado pela catalase.
2. Peroxissomos não possuem DNA, são envoltos por apenas uma membrana e não produzem
ATP e NADH.H+.
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