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LOBATO, 1986, P. 70-85

Aqui ele se aprofunda na gramática, explicando cada forma de língua. Boa para acadêmicos, auxilia como tese para artigos, resumos e etc . .... ....

Enviado por

noemyalves2019
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LOBATO, 1986, P. 70-85

Aqui ele se aprofunda na gramática, explicando cada forma de língua. Boa para acadêmicos, auxilia como tese para artigos, resumos e etc . .... ....

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806.

90-5 ' Lobato, Lúcia Maria Pinheiro


Sintaxe gerativa do Português; da teoria padrão a ª
teoria da regência e ligação — Belo Horizonte: Vigília,
1986. J
558p

1. Gramática Portuguesa 2. Língua Portuguesa 3. Gra- | ' “


mática Gerativa I. Título j

CDD 469.52 e'


ISBN—85—259—0261—6 CDU 801.5 ]
806.90-5 i

Cópyright © 1986 ' A minha mãe e a memória do meu pai.


Ao Wilson, ao Leandro e ao Thiago.
Lúcia Maria Pinheiro Lobato Ao Milton do Nascimento.

Todos os direitos reservados.


Proibida a reprodução parcial ou total desta obra,
sem a permissão da “[La théorie générative] n'est “certainement” vraie,
Editora Vigília Ltda. ce ne sont que des hypothéses. Je répéte encore une
Rua Felipe dos Santos, 508 — Lourdes — CP 2468 fois que ce sont des conjectures, des hypothéses
30180 —— Belo Horizonte — Minas Gerais —— Brasil sciertifiques, et si vous voulez mon sentiment, je
(031) 337-2744 suis persuadé qu’elles sont dans leur détail fausses.
Je ne peux pas considérer qu'une hypothêse un peu
FILIAL _ élaborée que je puisse proposer aujourd’hui, ou que
quiconque puisse proposer, ait des chances d'être
20550 — Rio de Janeiro - RJ vraie."
Rua Pareto, 23 — Tijuca
(021) 264-2815 ISBN—85-259-0261—6 (Palavras proferidas por Chomsky .em
debate transcrito em Piattelli-Palmarini
1979: 396—7.)
lª'—'"
2.1.2 Gramática e léxico
Capitulo 2
A divisão dos fatos linguísticos em dois tipos opostos — grama-
tical e lexical — remonta a tempos longínquos e tem variado muito
segundo as épocas, havendo, no entanto, ficado sempre constante
o fato de que a multiplicidade dos funcionamentos linguísticos se
divide em dois campos diferentes. Todo o problema consiste na in-
ESTRUTURA GRAMATICAL E
terpretação dada aos traços pertinentes da distinção.
TEORIAS SINTÁTICAS
A divisão mais tradicional apresenta dois tipos de inventários
descritivos: o manual de gramática e o dicionário. A gramática
expõe o sistema gramatical da língua, e o dicionário, de modo
geral, visa a ser o repertório não—sistemático do seu léxico.
2.1 Gramática e léxico; morfologia e sintaxe As gramáticas latinas e gregas do século XIX, resultantes da
evolução do estudo gramatical desde a antiguidade clássica até
2.1.1 Gramática: mais duas acepções então, e, portanto, representantes da abordagem tradicional da
s: lingua, recobriam as seguintes áreas: (1) pronuncia e ortografia;
Até agora, empregamos a palavra gramática em três sentido
s/ouvin tes de uma lin— (2) flexão; (3) formação de palavras; (4) sintaxe'
(1) o de sistema mentalizado pelos falante
cons- O dicionário, por seu lado, continha a definição dos significa-
gua; (2) o de conhecimento linguístico inato; (3) o de teoria
dos mais importantes das palavras.
truída para refletir a gramática mentalizada e o conhecimento
ões gra- Essa oposição, que na prática não foi de todo abandonada,
inato. Os dois primeiros sentidos correspondem as express
poderia ser justificada através da caracterização estabelecida por
mática particular e gramática universal, respectivamente. Esse Henry Sweet (1845—1912) e retomada por Otto Jespersen (1860-
s na
termo é usado ainda em pelo menos duas outras acepçõe 1943), segundo a qual a gramática trata do geral e o léxico do
ando
linguística: uma em que se opõe a léxico ou dicionário, englob particular. 0 particular são as designações atribuídas aos dados
as demais partes do estudo linguístico (fonética, fonologia, morfo- do universo biofisico e conceitual. O geral são os procedimentos e
ogia
logia, sintaxe e semântica) e outra em que só abarca a morfol as formas que, usados por uma língua determinada a fim de inte-
ca.
e a sintaxe, opondo-se, então, a fonética, fonologia e semânti grar o léxico nas frases, segundo alguns esquemas básicos determi—
Dependendo do ponto de vista teórico adotado a respeit o das partes
nados, constituem caracteristicas de toda uma classe. Assim, ca—
que se en-
em que se compõe o estudo linguístico, o conteúdo do dezra ka'deyras designa um objeto com características particula-
tende por gramática nessas duas últimas acepções pode variar. res,_enquanto o s de ka'deyras como unidade que exprime a
e o
Por exemplo, para o estruturalismo descritivista americano H‘Ocao de plural é comum a toda uma classe de vocábulos. Essa
última acepçã o o termo
gerativismo na sua versão de 1957, nesta Í?Áêgâeígãíaoese reencontra “na gramáticagerativa como uma dis-
semântica
gramática só se opunha à fonologia, pois a fonética e a , gulandade (geral) e zdzossmcrasza (particular): o
A palavr a “gramati—
estavam excluídas do âmbito da linguistica. que e geral e regular na lingua integra a gramática, e o que é par-
em linguís tica geral ticular e irregular integra o léxico.
cal“ e muito usada neste último sentido, tanto
se fala em morfema é meiªsepêaãitã, “se essa divisão tem suas vantagens práticas, não
quanto na teoria gerativa. Por exemplo, quando
do a uma
gramatical (oposto a morfema lexical) está-se se referin dependéncia a e que ela tem muito de irreal, escondendo a inter—
noção de Si taxe e IÉXÍex1stente entre (1) fonologial de um lado e flexão,
unidade morfossintática; e quando Chomsky conceitua a
a da frase (se 1,1, .“ eo de outro; (2) entre ilexao e Sintaxe de um lado e
sentença gramatical liga-a a estrutura morfossintátic
denominado exxco de outro: e (3) entre flexão de um lado e sint d t'
bem que, em virtude de não propor um componente
sintática, Os próprios dicionários e m ' d " ' '
_ ªnuais egiamatica sempreªxºmostraram
e ºu 10.
morfologia-para a teoria, ele diria tratar-se de estrutura impliCitamente essa
e não morfossintática). grªmaticais trata- dsegun a interdepend enma: nos. compendios
gramática minação das a 't se os vocabulos, se bem gue com fms de deter-
Nesta unidade, estaremos empregando o termo
ecerá de 11be dÍCÍonãrioª l es do discurso, da iormaçaio de palavras, etc.; e,
nessas duas últimas acepções, e o próprio contexto esclar
' . esses vocabulos sao caracterizados por seu funcio-
qual acepção se trata.
7—7
tradição a pala-
vocábulos (i.e., de suas formas vocabulares). Nessa
to, etc.). O caso básica. O gramático
o direto, transitivo indire vra era explicitamente a unidade gramatical
namento (verbo transitiv mát ica (no sentido a pa-
smo tempo, na gra grego Dionisio da Trácia (séc. II a.C.), por exemplo, definia
e que o léxico se situa, ao me ogi a e sintaxe) e na oração , que exige compos ição.
só abarca morfol lavra como a menor parte de uma
estrito da palavra, em que mát ica —— no sentido d.C., definia—se como a
outra parte da gra Prisciano, gramatico latino do século VI
semântica (sendo esta uma ual ), e que os vo- sta (i.e., de um sintagma
de descrição ou de man parte mínima de uma expressão compo
de sistema de regras ou s zon as: do gramatical como uma parte em termos
o tempo nas dua ou unidade maior), interpretando—a
cábulos funcionam ao mesm uma forma uma unidade signifi-
gra mática, por receberem eles do sentido de seu todo. A palavra seria então
e do não-gramatical. Na dades con stitutuin- de
a ele a decomposição
funcionar como uni cativa mínima. Com tal definição, impedi
gramatical que lhes permite los unida- l de paella: menina) em duas
antica, por serem os vocábu uma palavra como puellae (plura
tes de uma sentença. Na sem É eviden te que ele estava res-
partes significativas (puell e ae).:
des significativas. as palavras com re-
tringindo a aplicação da noção de significado
retaçã o levou-o , assim como a
morfologia ferente extralingúístico. Tal interp
2.1.3 Sintaxe vs. flexão ou- nem as formas livres que não pos-
,para as
seus seguidores, a não estudar
grafos sempre escolhem, formas presas do latim.
Observe-se que os lexicó suem referente extralingiiístico nem as
a forma para impediu que se chegasse a determina-
iação flexional, uma dad Esse posicionamento teórico
palavras que admitem var seria a do infi— uralismo ame-
a os verbos, essa forma ção da morfologia, tal como conceituada pelo estrut
verbete de dicionário. Par singular, derivação e compo—
e adjetivos, a do masculino ricano pós—bloomfieldiano, que abrange flexão,
nitivo; para os substantivos vão oco rrer as colocação
de gramática é que siçao. Na gramática tradicional, a sintaxe se ocupava—da
e assim por diante. No manual avra co- a à flexão, que
los. Essa distinção entre pal das palavras umas em relação as outras, e se opunh
formas flexionadas dos vocábu nada existe de fato, das palavras. A composição e
e como forma flexio se ocupava da variação das formas
mo unidade de dicionário de torná-la siste— que distin-
entemente a necessidade a derivação eram consideradas a parte, nas gramáticas
e tem sido enfatizada rec próprio dia-a—dia, 1, p. 103).
1981, Mathews 1974). No guiam as areas de estudo da gramática (cf. Nota
mática (cf. Lyons 1968 e os as pala— que
igiiamente: quando contam Talvez por influência das própriaslínguas amerindias, em

___ (f
usamos o termo palavra amb um vocábulo áfica o estru-
cada variação flexional de faltavaa entidade palavra como uma unidade ortogr
vras de um texto, contamos mos do total l da
quando pensamos em ter turalismo americano passou a considerar que a unidade centra
como palavra diferente, mas , tomamos o e deixa

”is;
m o léxico de uma língua análise gramatical é o morfema. Nesse enfoque, a sintax
de palavras que compõe cada vocábulo se opor a morfologia. Essa distin ção
o mais abstrato, como se entao de se opor à flexão para
termo palavra num sentid idade abstrata que e o nível
bete fosse uma ent pressupoe uma nítida separação entre o nivel daspalavras
escolhido para entrada de ver dada sentença. as (flexão
nada ao se realizar numa das frases. A morfologia se limitaria ao nível das palavr
tomasse dada forma flexio como o “repre- fatos rela:
do dicionário seria, então, Comp081çao e derivação); a sintaxe trataria de todos os
A palavra como unidade flexionais. LER, por m das
to de variações Clolnados com o funcionamento das palavras nas frases (orde
sentante“ de todo um conjun etc. das classes pa—
ante de leio, lé, lerei, lesse, l?;dãlgâãhigrsicordancia, etc.). A morfologia trataria
exemplo, seria o represent nif icados do termo
ir esse s dois sig se levam , a Sintaxe, das classes smtagmaticas. No entanto, se
Os termos usados para recobr dade do ão entre
vocabular. O lexema é a uni palavra snagging; os problemas que decorrem dessa oposiç
palavra são lexema e forma voc abu lares fica-se tentado a
iação flexional. As formas Suprimir esta liftim en re morfologia e sintaxe,
léxico, independente de var a pod erem morfossmtaxe. Seus
lexemas se incorporam par campos são tão 1'1 ªde restringir-se a. noçao de
são as formas nas quais os por tu- em indicativo,
sentença. Como dispomos, em TSUbjuntivo nomingati os que em morfologia fala-se
ocorrer em dado sintagma ou usa —lo no fun—
podemos também optar por CíOnais, e que orta \t/0, ªcusativo, etc., que sao class1f1caçoes
guês, do termo vocábulo, eme e do deveriam cons-
e tradução literal do ing. ler tar Unicamentª de' n o, e acordo com a dicotomia,
lugar do termo lexema, que por sua vez,
fala-se em concord”um' estudo. smtatico. Emgsmtaxe,
fr. lerême. tio) como nal (morfoló—
que tinha a palavra (dic gica), Por outro mªgrela, que implica_var1açao flex1o
A gramática tradicional, mente essa gmática:
gramatical, usava implicita Se a morfologia flexiohªlmo'lfomgla nao e toda 'ela paradi
unidade central da teoria lar ao esta- , ' 0 e, o mesmo naose da para a morfologia
vocábulo) e forma vocabu del‘ivacional
distinção entre lexema (ou e se ocupava da , que e marcada pela irregularidade. Além do mais, há
sintaxe e flexão: a sintax
belecer a oposição entre nal dos
a flexão, da variação flexio
"ww—«Man Ane vnnáhnlns: e
WW
;

um terceiro tipo de morfologia, que não recebeu rótulo, e que e Com essas'reservas feitas, pode—se então dizer que o léxico se
, os caracteriza de modo geral por seu valor de designação, por consti-
claramente sintático: é a que teria de explicar, por exemplo
casos em que se da cliticização dentro do verbo. No hebreu clássico, tuir um sistema aberto e por terem seus elementos uma frequência
ra ao média baixa em um determinado texto. Suas unidades, os morfe-
por exemplo, um objeto pronominal anafórico se incorpo
ca. Não é um caso de mas lexicais, têm um caráter arbitrário absoluto. Já a gramática
verbo formando uma só unidade fonológi
verbo só ocorre quando se se caracteriza pelas funções que exercem suas unidades — os mor—
flexão, pois “essa forma específica do
esperaria quanto ao mais um pronome objeto definido” (Aronoff femas gramaticais —, pelas relações em que eles entram e também
nina- por formarem estes um sistema fechado e serem eles de uma fre-
197623). O mesmo se da para o Suaíli em um exemplo como
a nm e o pronom e objeto o quência média alta num dado texto. Seus elementos têm um cará-
mupilc'a, “eu o sumo“, em que o morfem
(m' : eu; na : presente; pik(a) : surrar). ter de motivação relativa.
O reconhecimento de tais dificuldades levou o estruturalismo O gerativismo, ao considerar que o léxico de uma língua não
. é em número teoricamente infinito (cf. N. 13, pp. 67—8), diminuiu a
a não opor morfologia e sintaxe, e a enfatizar o seu relacionamento
a unidade mínima significância da oposição entre sistema aberto sistema fechado
Criou—se, assim, a área da morfossintaxe, em que
continua a ser o morfema. como caracterização da dicotomia lexical gramatical. O próprio
caráter algébrico da gramática gerativa impôs a consideração de
um vocabulário finito: numa linguagem formal, para construir as
2.1.4 Sistema aberto e sistema fechado
sequências (finitas ou infinitas) dessa linguagem, tem—se de partir
entre de elementos de base já conhecidos e, portanto, em número finito.
O estruturalismo procurou dar fundamento a oposição
e léxico, com base na dicoto mia Nas línguas naturais, esses elementos de base são os morfemas
gramática (: morfossintaxe)
aberto. O sistema é chamad o fe- (raízes e afixos).ª Mas isso não quer dizer que tenha invalidado a
entre sistema fechado e sistema
um número reduzid o de elemen tos e oposição sistema aberto sistema fechado. Ela é perfeitamente com-
chado quando é composto de
ar esse efetivo; por exempl o, o pativel com a finitude do léxico num dado momento, se se consi-
não tem possibilidade de aument
plu- dera sistema aberto não como implicando infinito, mas sim signifi-
gênero (masculino, feminino e neutro) e o número (singular e
amente cando passível de ser ampliado (e nesse caso terá interferido a
ral). O sistema aberto seria formado por um número teoric
infinito de elementos e com possibilidade de aumentar seu efetivo: noçaode evolução e já não se poderá mais falar em sincronia).
rios de
nunca são coincidentes as listas de vocábulos dos dicioná
oposiçã o se relacio na direta mente com 2.1.5 As partes de que se compõe a gramática gerativa
uma mesma língua. Essa
ical e não-gra matical . Gramat ical é o sis-
a distinção entre gramat
A gramática gerativa abandonou, de fato, a oposição entre
tema fechado; não-gramatical é o sistema aberto.
fe- morfologia e sintaxe, e incluiu os fatos morfológicos de criação de
No entanto, essa distinção entre sistema aberto e sistema
tipo privati vo (oposiç ão em que um palavras noiãmbito da sintaxe, deixando no âmbito da fonologia os
chado não é uma oposiçãode
marca e o ªfoíítabelecimento da estrutura fonológica dos morfemas (os fatos
dos termos é caracterizado pela presença de uma dada
as unidad es conside radas como Strucotzopologicos, segundo Chomsky 1957). Na época de Syntactic
outro pela sua ausência) e mesmo
fechad o são alguma s vezes em número ta a semes, tem decorrlenc1a— da influência estruturalista behavoris—
formadoras de um sistema
são os pró- mática elLan lca tambem nao integrava a teoria linguistica. A gra-
incerto, como é o caso das preposições. Por outro lado, SintaXe- aafv1sta entao como. sendo composta pela fonologia e pela
morfem as lexicais ) que entram de um
prios elementos lexicais (os
para formar unidad es maiore s (sin- eStabelecer'OnOIOgla abarcaria a fonêmica e a morfofonologia (que
lado na estrutura gramatical
lado, no process o da derivaç ão, em que formações ia a estrutura fonologica dos morfemas a partir das in-
tagmas e frases) e, de outro
o da compos ição, em que se unem a fatos l' “lecebidas. da Sintaxe), e a sintaxe se ocuparia dos demais
recebem afixos, e no process 1ngu1sticos, mcluswe os morfológicos, tendo por objetivo
os casos para formar novas entidad es
outros lexemas, em ambos gerar
lí ., ““todas as 5 equencias gramaticais de morfemas de uma
lexicais. Gramática e léxico situam—se ao longo de um eixo contí— bªíª? de((flâlpolªisky 'l95'73.32). NoAmodelo de 1965 continuou-se a
nuo e se distinguem ao invés de se oporem. O gênero e o número por exemplo a I12111211il‘oglcos‘no ambito da sintaxe: postulava-se,
por
se colocam no ponto extremo do gramatical. As preposições, do Afixo (Aff'
posição interme diária entre léxico e g iansformamonal deSalto (ou Deslocamento)
exemplo, colocam-se numa 1x Hopping) para levar afixos como -NDO (do ge-
gramática.
w
.

verbal (cf.
rúndio) ou -DO (do particípio) para —"'depois da raiz semântica é comumente intitulada tese da sintaxe autónoma (V.
o do tratam ento da Chomsky 1975a: 86—109), e Chomsky a classifica como uma 'hipó-
§ 5.1). Mas a'inda não havia surgido a questã
a uma nova modi—
morfologia derivacional, que, ao surgir, levará tese empírica acerca da organização das linguas (V. Chomsky
padrão estend ida 1975a: 92). Com isso ele queredizer que se trata de uma hipótese
ficação no modelo, que culminará na teoria
a morfol ogia flexion al de trabalho cuja adequaçãvsó pode ser testada na pratica: ela
(Chomsky 1970a). Nesta versão da teoria,
de regras transf orma-
continua a ser tratada na sintaxe, por meio será adequada se permitir generalizações significativas sobre a sin-
t" para o taxe de um lado e a semant' - e outro, e se impedir generalizações
cionais como a do Salto do AfixoV-ou do “DO Suppor
deriva- .
da morfol ogia inadequadas. .
inglês. Mas não se justificaria o tratamento
as,“ uma vez que a mor- Apesar da postulaçã teórica de componentes estanques, na
cional por meio de transformações sintátic
o com- pratica a identificação de dado fato como sintático ou semântico
fologia derivacional é caracteristicamente muito irregular, e
se caracte' nem sempre se faz sem problemas. A identificação de relações de
ponente transformacional, como veremos na 2.a Parte,
ica gerativ a, por traduzir correferência, por exemplo, que no § 1.3.1 classificamos, delacordo
rizava, segundo a visão clássica da gramát
disso, e tendo em vista com a proposta chomskiana, como um fenômeno sintático, foi
o que é geral e regular na língua. Diante
ia classificada por Jackendoff (1972) como um fato semântico.
que o léxico era considerado como a parte da teoria que traduz
(expre ssão cômod a para refe—
as idiossincrasias dos “itens lexicais“
maiores 2.1.6 Não há níveis estanques de análise
rência ambígua a morfemas, palavras ou unidades básicas
tas e as locuçõe s) nada
que as palavras, como as palavras compos A noção de continuidade permeia toda a lingua. Acabamos de
ogia deriva cional ao léxico.
mais natural do que incorporar a morfol ver que qualquer separação que se faça entre campos de análise
tra-
Foi exatamente —a proposta de Chomsky (1970a). E onde são representa um corte arbitrário no continuum dos fatos linguisti-
ca“, como os infixos clitico s?
tados os fatos de ”morfologia sintáti cos. As teorias evoluem, e com elas mudam os cortes no continuum
Nessa linha de pensamento, també m na sintaxe , por meio de regras
caso dos linguístico. Temos de estar sempre atentos para esse fato ao tentar
transformacionais (regras de cliticização, por exemplo, no avaliar qualquer teoria linguística. Em outras palavras, já que
o compon ente transf ormaci onal e
clíticos). Observe-se, ainda, que qualquer teoria lida com dicotomias, com oposições-, nenhuma teo-
são parte do compon ente sinta-
o léxico, nos modelos chomskianos, ria sera um retrato totalmente fiel do seu objeto de estudo e na
er tipo de morfol ogia se inclui na
tico, o que significa que qualqu tarefa de avaliar. entre mais de uma teoria, qual a melhor, e'vim-
sintaxe. Os fatos morfológicos que se incluem na fonologia, como portante verificar qual a que menos ”deforma" o objeto em estudo.
de atri-
vimos, são só os de interpretação dos dados sintáticos (i.e., De qualquer modo, todas o deformarão (só que em maior ou menor
fonoló gica corres ponden te, a
buição aos morfemas de sua forma grau)], pois uma teoria não é mais do que uma aprorcimacdo a
ente sintáti co; p.ex., a partir de
partir das informações do compon gramatica que os falantes ouvintes têm mentalizada. .
e de “faze +-DO“ gerar “feito" ),
“le+-'NDO" produzir “lendo”,
sos de criaçã o de palavra s.
não estando ai incluídos os proces
ada 2.2 Teorias sintáticas
A partir da publicação de Aspects, a semântica foi integr
tica, desde
à teoria gramatical chomskiana. A investigação linguis
A sintaxe 2.2.1 A gramática tradicional
então, se ocupa da sintaxe, da semântica e da fonologia.
dos itens lexicais, procur ando
trata da construção de frases a partir mas líroc'uraremos. nesta seção, apresentar resumidamente algu-
permi tam gerar as sequên cias
formular regras e princípios que e eouas smtaticas de grande mfluenma no desenvolvimento da
No seu âmbito ainda se inclue m
gramaticais na língua, e só elas. ÉOÉQZIÉae sªbre as lmguas,tratando de seu âmbito, de seus objeti—
m transfor-
os fenômenos morfológicos, se bem que não mais exista natural quelais caracteristicas identificadoras e distinguidoras. É
cado das
mações como a de cliticização. A semântica explica o signifi que remonta n1c1emos com a gramotzca tradicional, pois é a ela
forma falada
sequências geradas pela sintaxe. A fonologia indica a ( nossa tradição gramatical.
sintaxe,
dessas mesmas sequências fornecidas pela sintaxe. Logo,
chomskiana,
semântica e fonologia são consideradas, na teoria 2.2.1.1 Os antigos gregos
dife—
como independentes uma da outra. Cada uma constitui um FO. ' _; . . I
autôno- ramo dlanÉiIGiecia, por volta do sec. V a.C., que se iniciaram, como
rente componente da teoria, sendo, as três, componentes
A tese de que a sintax e indepe nde da iosotia, os estudos linguísticos que, desenvolvidos pelos
mos dentro da teoria global.
. .
' l O
estu- de tornar accessiveis aos contemporâneos as obras de Homero, e
romanos, pelos trabalhos especulativos da Idade Média e pelo
(2) alpreocupagéo com o “uso correto“ da lingua (pronúncia e
do normativo dos gramaticos dos períodos subsequentes, consti-
gramatica) a fim de preservar _o grego clássico de ºcorrupções. Esses
tuem o que no Ocidente se tem chamado “gramática tradicional”.
O estudo gramatical na Gréci antiga pode ser visto como estudiosos são denominados alexandrinos por terem desenvolvido
' (1) o que se iniciou com os seus estudos na colônia grega de Alexandria, onde, no séc. III a.C.
constituído de três períodos principa
filósofos p'ré-socrãticos e os primeiros retóricos e continuou com floresceu um grande centro ue estudos literários e linguísticos?
e (3) o Considera—se que foi nessaÉe'w—af. que se codificou a chamada gra-
Sócrates, Platão e Aristóteles; (2) «, «,e-riodo dos estóicos;
o período, a língua não era mática tradicional do greg , Ms séculos III e II a.C., os sábios de
período dos Alexandrinos. No pri )
obra Alexandria escreveram gloss. *ios e compêndios gramaticais com o
uma preocupação independente, enm; “ando-se esparsa na
ção que se tem sobre os fim de tornar possível, pelos contemporâneos, a leitura dos textos
de cada pensador do período. A informa
classicos, sobretudo os de Homero, cuja língua ja diferia bastante
filósofos pré-socráticos, os primeiros retóricos e Sócrates é indireta.
o a do grego falado então. Essas primeiras gramaticas, ainda incomple-
Quanto a Platão, escreveu um diálogo (Crátilo) todo dedicad
ele debate a questão da origem tas e pouco sistemáticas, baseadas na língua escrita, tinham os dois
questões linguísticas (nesse dialogo
io- objetivos citados acima: (1) elucidação da língua dos textos lite-
da língua e trata da controvérsia entre naturalistas e convenc
rarios arcaicos, e (2) proteção do grego clássico, que devia ser res-
nalistas: a composição fonética das palavras, ou mesmo sua estru-
do guardado de corrupções.
tura etimológica, refletiria a composição da coisa denotada (:
(i.e., da forma da palavra com Vejamos em que consistia a analise linguistica dos gregos. A
referente), ou seu relacionamento
e de descriçao fonética restringia-se a observações sobre a pronúncia
o referente) é resultado de convenção social?), mas o restant
das letras e sobre os diacriticos (os acentos), pois seu ponto de
sua obra também contém referências a língua, embora não seja a
partida era o alfabeto. Alias, como se disse acima, o objetivo da
ela dedicado. De qualquer modo, não escreveu nenhum compêndio
gramatica grega era a língua escrita, como indica a própria etimo-
gramatical. Quanto a Aristóteles, tampouco escreveu um tratado
logia da palavra gramática, que deriva da forma utilizada para
sobre a língua, e seu pensamento linguístico esta esparso em sua
des1gnar “a'arte de escrever". Mas, por outro lado, a sílaba era
obra retórica e lógica.
considerada uma unidade da estrutura da lingua, as variações dos
Só a partir da escola estóica é que a lingua passou a ser tra-
lin- sons basicos (alofones na terminologia estruturalista) eram leva-
tada em obras independentes. Segundo os estóicos, os estudos
espírito do homem seria uma das em conta, pois era observado o fato de uma mesma letra ter
guísticos eram parte da filosofia. O
diferentes realizações fónicas, de acordo com o ambiente em que
tabula rasa, uma espécie de página em branco, no momento de ocorresse, e tentava—se elaborar classificações articulatórias.
seu nascimento, e essa página seria ”escrita” pelas experiências O estudo etimológico teve um desenvolvimento menor ainda
sensoriais e intelectuais do homem. A língua seria exatamente a que o da fonética. Os estudiosos procuravam chegar as formas ante-
expressão dessas experiências. Isto é, a lingua seria a expressão do riores de uma palavra, relacionando-a com outras palavras que com
Tra-
pensamento, e o veículo dessa expressão seria a voziphone). ela tivessem algum ponto semântico em comum, mas tiveram pouco
gia e da gramáti ca (classes de
taram eles da pronúncia, da etimolo sucesso nessa empreitada.
palavras e paradigmas flexionais), separadamente, privilegiando o
si
estudo gramatical, mas sem estar interessados na língua em trinâaE-ísrealaseclãlsªirf g’fglos
para eles, antes de mais nada, classes de palavras) liªgfaõsdªs
e q . oca u'os baseavaise
em'paites nª
dopªlªvrª
discursoe res—
(ou
mesma: como filósofos, a língua era
tiva .‘ . ( identificar os paradlgmas ou modelos fle-
a expressãodo pensamento e dos sentimentos e é nessa perspec x1onais desses vocábulos.
que era investigada. Essa é uma característica que os estóicos com- na sittiitfieilsmcéiiseide palavras, como até hoje são aprendidas
partilharam com os estudiosos do período anterior: todos desenvol—
veram o estudo sobre a língua no âmbito de pesquisas filosóficas resultado‘de(contribe
cas. A Pl'otagoras nouiggésmdlgem"ma gregª,
,Séc Ve víamos ªntlgtlldªde
estudiosos _em mªs 52,10
diferentes epo-0
ou lógicas. nomes gregos A Platão . 1" ,_ _eve—se a distinção dos generos dos
O período dos alexandrinos se destacou dos dois anteriores
to nominal e. um ,a (iVisao da oraçao grega em um elemen-
exatamente nesse ponto: sua preocupação com a língua era litera- . . elemento verbal, com o consequente estabele—
ria, e não filosófica ou lógica, e seu estudo linguístico era parte de c1mento
eram as das do nome
pal classes
ras susce , . e do verb
. o. O s nomes, para "
' Platao,
seu estudo literário. Dois fatores contribuíram para seu interesse & ptiveis de tunc10nar como SUJEltO numa
em estudar a língua como parte dos estudos literariª (1) o desejo
«.

oração, e os verbos, as susceptíveis de denotar a ação ou a quali— ou particular, etc.), sua flexão, a formação de palavras e sua inte-
dade expressa pelo predicado, Assim, a classe dos verbos era consti- gração na oração (o artigo segue ou precede o substantivo, etc.).
tuida pelos elementos atualmente denominados verbos e adjetivos. A parte mais desenvolvida de sua gramática é a apresentação da
sintaxe
flexão paradigmática das palavras gregas. Em sua obra a
Aristóteles acrescentou a essas duas classes uma outra, deno- apesar de ser“ " apregad o o termo syntaxis
está totalmente ausente,
minada das conjunções, q‘." —:_Iiecobi'ia o que modernamente se re— algumas definições dadas.
e de a análise sintática estar subjac- .
conhece como conjunções, provavelmente as preposições, o artigo
Esse compêndio era essencialmen te pedagógico, destinado a
e os pronomes. Dessa maneira, entravam nessa terceira classe os ura
a
ser usado nas escolas com o fim de levar apreciação da literat
elementos que não cabiam nas duªs primeiras explicitadas por
Platão. Seguindo Protágoras, Aristóteles manteve a divisão dos gê— grega clássica, e manteve-se em uso no mundo de fala grega até o
o, em
neros na classe nominal, os quais faziam parte da classe dos casos, séc. XII, tendo sido traduzida no séc. V em siríaco e armêni
categoria essa que abrangia outras variações na forma dos voca- versões ainda hoje existentes.
bulos, como o número, a declinação, os comparativos e superlati- O gramático alexandrino que mais escreveu sobre sintaxe foi
6), “pa-
vos, os tempos verbais e outras. Apolônio Díscolo (séc. II a.C.) e, segundo Robins (196713
Os estóicos subdividiram as palavras primeiramente'em quatro
rece ser sua a primeira tentativa de uma teoria sintática abran-
gente, sistematicamente aplicada à língua grega.” Manteve as oito
classes: nome, verbo, conjunção e artigo; posteriormente, conside-
raram cinco, em virtude da divisão dos nomes em próprios e co- partes do discurso apresentadas por Dionísio de Trácia, redefinindo
algumas em termos filosóficos. Por exemplo, aos pronomes, além
. muns, estando os adjetivos incluídos dentro da classe dos nomes.
Quanto a flexão,-o uso que se faz da categoria de caso originou-se
da característica de substitutos do nome, dada por Dionísio da'
Trácia, acrescentou a característica de serem portadores de “subs-
naquela época, sendo mais uma das contribuições dos estóicos ao
estudo gramatical: o caso “reto" (o nominativo) era a forma
tância sem qualidades“. Baseou sua descrição sintática nas rela-
s
ções entre substantivo e verbo, e entre as demais classes de palavra
primeira, básica, e os outros casos, os “oblíquos“ (o acusativo, o
e os substantivos e verbos (p. ex., os verbos são classificados como
genitivo, o dativo) eram vistos como derivações do primeiro.
ativos ( sitivos), passivos e neutros (intransitivos); os ativos
O termo caso era pelos estóicos aplicado unicamente “aos subs— são defini os como verbos que designam uma ação que passa para
tantivos, adjetivos e participios, restringindo-se a posição sufixal e algo ou alguém). Para ele, a sintaxe dizia respeito a combinação
abrangendo tanto o nominativo quanto os casos oblíquos; mas de elementos, sendo esses elementos os que designamos como fone-
Aristóteles o estendera aos verbos _ o passado e o futuro são cha- mas (que formam as sílabas), as sílabas (que formam as palavras),
mados casos; o presente do indicativo é o caso real —, e incluia na e os significados das palavras (que formam as frases) (cf. House-
classe toda a derivação, considerando o nominativo como a forma holder 19’72:8-9). Tratou longamente da noção de concordância
real, e' exclusivamente o genitivo, o dativo e o acusativo como casos. (p. ex., entre um substantivo ou pronome nominativo e um verbo
Os verbos foram por eles classificados em passivos e ativos, transi- flexionado), e sua análise sintática faz lembrar a análise em cons-
tivos e neu—tros (: intransitivos). A distinção entre tempo presente tituintes imediatos (cf. Robins 1967: 36-38).
e tempo passado, estabelecida por Aristóteles, foi acrescentada pelos
estóicos a oposição entre aspecto concluso e aspecto inconcluso. 2.2.1.2 Os romanos
A mais antiga gramática grega que chegou até nós foi a de
Os romanos herdaram a tradição gramatical grega. Suas gra-
Dionísio da Trácia (séc. II a.C.), que assim se chamava em virtude
maticas tomaram por modelo as gramáticas gregas e apresentam
da procedência do pai — o próprio Dionisio nasceu em Alexandria.
as categorias gramaticais (partes do discurso) gregas como univer-
Sua gramática começa pela definição de gramática (“A gramática
sais. Varrão (séc. I a.C.), o mais antigo gramático latino cuja obra
é o conhecimento prático dos usos gerais de poetas e escritores de
chegou a nossos dias, distinguia três partes diferentes no estudo
prosa.“) elsuas funções. A descrição propriamente dita consiste de
da língua _ etimologia, variação vocabular e sintaxe — e atribuía
uma apresentação dos sons do grego (confundidos com letras), da
& esse estudo um objetivo literário (a gramática é "o conhecimento
noção de sílaba e das partes do discurso (oito, segundo Dionísio: sistemático do uso da maioria dos poetas, historiadores, e orado-
substantivo, verbo, particípio, artigo, pronome, preposição, advérbio
res”),4 Foi ele quem primeiro estabeleceu uma diferença entre
e conjunção). As partes do discurso eram analisadas segundo sua
geral flexão e derivação — a flexão (por ele denominada variação natu-
significação (o substantivo significa uma pessoa ou coisa, e é
ral: declinatio naturalis) se caracteriza pela regularidade, por teriam a possibilidade de exprimir os mesmos conceitos, sendo aci—
conter poucas omissões e por ser comum a todos os falantes; a dentais as suas diferenças (p. ex., as diferenças entre as formas das
derivação (por ele denominada variação voluntaria : declinatio palavras). Esse tipo de gramática que trata das caracteristicas lin-
voluntaria) se caracteriza por sua variabilidade de pessoa para gúísticas universais difere das gramaticas do tipo das de Donato e
pessoa, e de radical para 1. Mas foram as gramaticas dos últi- de Prisciano em seu próprio objet' nquanto as de Donato e
mos gramaticos latinos eram influência nas épocas'poste— ' Prisciano eram compêndios norm a ue tratavam do uso cor-
riores. As mais importante ram as Donato (séc. IV d.C.) e de reto de dada língua com fins didático s, as gramaticas escritas sob
Prisciano (séc. VI d.C.), que tornaram como base a gramática de a influência escolástica eram gramati cas gerais com fins teóricos.
Dionísio da Trácia. Prisciano não seguiu a distinção de Varrão entre Isto é, umas eram gramaticas pedagóg icas e outras eram científicas.
variação natural (flexão) e variação voluntaria (derivação), no que Essas gramaticas gerais compartilhavam com os estudos dos
seguia a prática comum entre os gregos. Essas gramaticas tinham estóicos a idéia de que a língua é um meio de analisar a realidade.
fim pedagógico e descreviam o latim clássico (de Cícero e Vergilio). Elas são também chamadas gramáticas especula tivas exatamente
por seus autores acreditarem que a língua se assemel ha a um es-
2.2.1.3 A Idade Média pelho -— speculum, em latim — que reflete a real1dad e extralin-
giiística. Esse pressuposto levou-os natural mente a pr1v1leg1ar o
A Idade Média, por sua vez, herdou a tradição gramatical ro- do grande número de obras
estudo da significação. Em virtude
mana, tendo as gramaticas da época se pautado, em sua maioria,
publicadas nos séculos XIII e XIV pelos gramaticos gerais medie-
pelas de Donato e de Prisciano. As próprias gramaticas de Donato
vais com o título de De modis significandi (Sobre os modos de
e de Prisciano eram adotadas no estudo do latim clássico, que era
significar), ficaram eles conhecidos como modistas. Para eles os
a língua da erudição, do ensino, da diplomacia e da Igreja, apesar
modos de significar (substantivo, verbo, etc.) correspondiam ne-
de ser uma língua estrangeira aprendida na escola. Mas gramaticas
cessariamente aos modos de ser e de compreender: a palavra repre-
simplificadas foram escritas na época (como a de Alexandre de
sentaria a coisa de uma determinada maneira (como substantivo,
Villadei) para os iniciantes, com o intuito de ajudar na memori-
como a " como atributo, etc.) e essa representação não poderia
zação das regras latinas (regras de variação vocabular ºle combi-
tomar ma senão na parte do discurso correspondente (substan—
nação de palavras).
tivo, verbo, adjetivo, etc.).
A filosofia medieval teve seu apogeu nos séc. XII e XIII, quan-
do floresceu a filosofia escolástica, que é o resultado da integração
2.2.1.4 Da Renascença ao século XVIII
da _filosofia aristotélica no pensamento cristão, por diversos pensa-
dores (São Boaventura, Alberto o Magno, São Tomás de Aquino, O estudo gramatical na Renascença foi de novo um aliado da
Duns Scoto). Por influência da filosofia aristotélica, os escolasticos literatura, pois seu objetivo era 0 de tornar accessivel a literatura
retomaram a idéia de um sistema filosófico universal, procurando clássica e ajudar na aprendizagem do latim classico. No século XVI
reduzir todas as ciências a um conjunto de proposições indepen— surgiu um grande número de gramaticas em todo o mundo, toman-
dentemente verdadeiras (i.e., a verdade dessas proposições poderia do por base as gramaticas greco—romanas. Nessa época, foi publi—
ser demonstrada dedutivamente a partir de um certo número de cada a primeira gramática portuguesa (Grammatica de linguagem .
princípios de base, validos universalmente). Esse pensamento filo— portuguesa, de Fernão de Oliveira [1536]), e a gramática de João
sófíco refletiu-se diretamente no estudo linguístico: oslgramaticos de Barros [1540]. Surge também o interesse pelas novas línguas,
da época aceitaram a idéia de que cabe a ciência a identificação de motivado (1) pelas grandes descobertas e consequentes contatos
princípios universais e se propuseram o objetivo de identificar os entre povos de línguas diferentes, (2) pela Reforma (que aumentou
princípios universais dos quais derivariam as categorias da gramá- 0 interesse pelo hebraico, pelo aramaico, pelo armênico e pelo si—
tica, da lógica, da epistemologia e da metafísica. As partes do dis- ríaco), e (3) pelo desenvolvimento da imprensa.
curso apresentadas por Donato e Prisciano foram aceitas como NNO século XVII são retomadas as especulações filosóficas no
universais e necessárias e ao gramatico especulativo caberia deter— âmbito dos estudos linguísticos. Na França, a Grammaire Générale
minar as suas causas, isto é, os princípios universais dos quais et Raisonnée (Gramática geral e racional) publicada em 1660 pelos
derivariam. Os conceitos (as coisas sobre as quais os homens po- gramáticos de PortªBoyal (V. Lancelot & Arnauld [1660]) foi uma
dem falar) foram também considerados universais: as línguas tentativa de moldar os fatos gramaticais a formas lógicas univer-
da gramática com-
Lingua mais sistematicamente os princípios e métodos a luz
sais. Nessa linha se insere a Grammatica Philosophica da am sido modificados
public ada (&
parada, se bem que muitos deles tenh
Portugueza, de Jerônimo Soares Barbosa (1737—1816), s da lingu istica. Sua principal tese
dos desenvolvimentos posteriore
no século XVIII em Lisboa. m no que concerne às exce-
do vai de encontro ao pensamento de Grim
O problema da relação entre língua e pensamento, que vem ar: Grimm admitia as [e)-<ce—
XVIII por ções a lei de mudança fonética regul
tempo de Aristóteles, é . vido nos séculos XVII e que as leis foneticas
çõeS, mas os neogramatícos considerªvam
Bacon, Descart es, Spinoz a ke, Leibniz e outros filósofos (V. § estavam eles adotando o
tinham carater absoluto. Nesse aspecto,
1.2.). A grande tentativa da época foi a de invenção de uma língua gia, em suanabordagem
pensamento vigente na época para a biolo
filosófica universal e geral,'com base no pressuposto de 'que ha um que a pyolugao biologica
positivista, -— modelo darwiniano —, de
sistema lógico e racional preexistente a todas as línguas e do qual Outr o princrpio do mov1mento
se processa segundo leis imutáveis.
todas elas não são senão variantes, sendo a estrutura da lingua um método científico de estudo
dos neogramáticos era o de que o único
produto da razão, um reflexo do pensamento. As gramaticas de , coloc aram-se eles em pos1çao
da língua é o histórico. Nesse ponto
Port Royal e de Soares Barbosa são tentativas nesse sentido. (sécs. XVII e XVIII), que,
contraria a dos filósofos cartesianos
O século XVIII desenvolveu um estudo linguístico baseado nos . antig uidade clássica com
seguindo uma trilha que teve início na
mesmos pressupostos filosóficos dominantes no século anterior: m o princípio de que a
Platão, Aristóteles e os estoicos, defendia
continuou a pensar em categorias gramaticais universais, na exis- assim sendo , asdiferentes
tência de um sistema lógico subjacente a qualquer lingua, numa
língua é reflexo do pensamento e que, riam decor-
rsais que deve
sintaxe baseada na ordem das palavras e na função precípua de
linguas compartilham propriedades unive
e huma na. l
toda língua de expressar os pensamentos. Por outro lado, prosse-
rer de propriedades universais da ment
guiu também o trabalho descritivo das línguas asiaticas, america-
nas e africanas. 2.2.3 Os estruturalismos linguísticos
do século XIX, surgiu
Sucedendo os estudos comparativistas
2.2.2 A gramática comparada ente linguistica — o estru-
no início do século XX uma nova corr
estudos ismo reinante nos estu-
No século XIX, o parentesco linguístico foi objeto . . turalismogt— que se insurgiu contra o atom
. minado a tendência de se estu-
altamente especializados, que utilizavam o método dos da filologia comparada (i.e., contra
os elementos em si mesmos,
comparativo. A esse tipo de estudo é comum atribuir-se o rótulo dar os elementos isoladamente, de ver
de gramática (ou filologia) comparada ou de linguistica histórica. sem relaciona-los com outrosda mesma língua com os quais tenham
Na verdade, a preocupação com a origem das linguas, sua seme- contra o princípio compa—
ligações de identidade ou de oposição) e
lhança, e a etimologia das palavras é bem anterior, mas só a partir e científico. Ainda no século
rativista de que só o método histórico
da descoberta do sânscrito, em fins do século XVIII, e que os estu- de um estudo sistemático da
XIX, já se havia visto a necessidade J. Bal-
dos comparativistas passaram a ter o objetivo de identificar as fa-
o polonês
língua (o comparativista William'D. Whitney,
tenay e os suíços J. Wint eler e Anton Marty estao
mílias de línguas e mostraram ser a mudança linguistica um pro- douin de Cour
cesso regular (princípio da regularidade das mudanças), universal mesmo antes deles
entre os que pregaram uma tal necessidade, mas
(todas as línguas evoluem) e constante (qualquer língua esta em lida de coerente). Mas f01
Humboldt já via a língua como uma tota
evolução continua). utur alis mo recebeu bases
Só com Saussure (1857-1913) que 0 estr
Os primeiros estudiosos a se ocuparem da análise sistemática sistemáticas e objetivas capazes de lhe atrib uir o status de nova
das correspondências entre as diferentes formas de diferentes lín- corrente linguistica. Através de suas aula s de lingu ística geral na
guas foram o dinamarquês Rasmus Rask (1787-1832) e os alemães ersi dade de Genebra,
École des Hautes Études de Paris e na univ
Jakob Grimm (1787—1863), Friedrick e August Wilhelm von Schle- ndo- se apon tar entre
Saussure influenciou outros lingiiistas, pode
, Albe rt Sech ehaye
gel, Franz Bopp (1791-1867), Wilhelm von Humboldt (1767-1834) os seus seguidores seus discípulos Charles Bally
e A. Schleicher (1821-1867). Grimm chegou a propor uma tabela Todos, formaram o que
e Antoine Meillet, além de E. Henri Frei.
de correspondências fonéticas entre o sânscrito, o grego e o latim mestre,
se costuma denominar escola de Genebra. Após a morte do
de um lado, e as línguas germânicas de outro, a qual ficou conhe- Charles Bally e Albert Sechehaye publicar am em form a de livro
cida como “lei de Grimm”. Humboldt classificou as línguas em iso— rale suas anot açõe s
e sob o título de Cours de Linguistique Géné
lantes, aglutinantes e flexionais, de acordo com a estrutura grama- das aulas de Saussure dadas em Genebra.
tical dos vocábulos. Mas foram os neogramaticos que formularam

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