Veloso2022 Fonologiaeortografiadope Edulog
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João Veloso
University of Macau
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All content following this page was uploaded by João Veloso on 27 July 2022.
Editores
Rui A. Alves • Isabel Leite
E N S I N O DA LE IT UR A E DA ESCRI TA BASEADO EM EVI DÊNCIAS
Julho de 2022
ISBN: 978-989-53711-0-5
Depósito legal: 501790/22
Título
Ensino da Leitura e da Escrita Baseado em Evidências
Coordenador
Carlos Francisco de Paula Nadalim, Secretaria de Alfabetização. Ministério da Educação (Brasil)
Editores
Rui A. Alves, Universidade do Porto
Isabel Leite, Universidade de Évora
Autores
Ana Costa, Ana Cristina Silva Ana Paula Soares, Ana Paula Vale, Cecília Aguiar, Diana Alves, Inês
Gomes, Irene Cadime, Isabel Alçada, Isabel Leite, João A. Lopes, João Veloso, Louisa C. Moats,
Lourdes Mata, Malatesha Joshi, Margarida Alves Martins, Margarida Ramalho, Mariana Silva, Marisa
Lousada, Marta Matins, Octávio Moura, Otília de Sousa, Rebecca Treiman, Rui A. Alves, Sandra Fer-
nandes, Susana Araújo, Suzanne Carreker, Teresa Costa-Pereira, Tomás Goucha
Créditos
Capa - Freepik.com
Esta publicação corresponde à edição em português europeu do "Manual do curso ABC: Alfabetiza-
ção Baseada em Ciência" (ISBN: 978-65-87026-86-2), publicado no Brasil em 2021, do Ministério da
Educação (MEC): Secretaria de Alfabetização (Sealf) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes). Esta edição em português europeu é uma iniciativa do Plano Nacional de
Leitura 2027, com o apoio do EDULOG, Think Tank para Educação da Fundação Belmiro de Azevedo.
CAPÍTULO 5
Fonologia e Ortografia do
Português Europeu
João Veloso
Universidade do Porto
Resumo
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ramente como um “espelho” de propriedades linguísticas De resto, convém lembrar a este propósito que, mesmo
anteriores à – e independentes da – própria escrita (p. ex., e no quadro muito restritivo da linguística estruturalista
em sistemas alfabéticos como aquele que usamos em por- clássica, gerou-se uma corrente analítica, porventura não
tuguês, através do uso de diacríticos para assinalar a sílaba muito valorizada, que passou à História com a designação
tónica, da reserva de um símbolo gráfico para cada fone- um tanto genérica de grafemática (cf. Sgall, 1987), de
ma, ou ainda da marcação gráfica de certas distinções gra- certa forma continuada por investigações linguísticas
maticais como no par compramos/comprámos). Assim, como, p. ex., as de Gelb (1952), Linell (1982) e Luelsdorff
admite-se que, a haver alguma relação entre objetos lin- (1987), entre outros. No seu conjunto, e entre outras
guísticos (sons, palavras, estruturas morfossintáticas, etc.) características, estes textos representam uma perspetiva
e representações gráficas, essas relações restringem-se ex- em que se procura aplicar à descrição dos sistemas de
clusivamente no sentido forma linguística→forma gráfica. escrita os mesmos princípios explicativos utilizados pela
Os casos em que alguma possibilidade de interferência linguística na descrição dos sistemas gramaticais.
das estruturas gráficas sobre as linguísticas é admitida são
sempre entendidos como raros e anómalos: Saussure (1916, Concederei de seguida alguma atenção às abordagens
pp. 53-54), exemplificando com o antropónimo francês Le- que, dentro da própria linguística, ofereceram uma
fébure que surge a partir de uma confusão gráfica entre perspetiva parcialmente alternativa à visão fonocêntrica
<v> e <u>1 na escrita do nome Lefebvre, compara-os mesmo inflexível apresentada anteriormente. Não se pretende
às malformações fetais. pôr em causa o carácter extrinsecamente linguístico da
escrita ou o facto de a linguagem ser efetivamente, na
É inegável que a escrita é inteiramente dispensável para sua natureza profunda, um objeto oral que dispensa as
que um objeto linguístico se assuma como tal: sabemos representações gráficas para a construção dos sistemas
que, filogenética e ontogeneticamente, as representações linguísticos e para a respetiva descrição formal; todavia,
escritas (pelo menos no caso da língua materna) não é possível ignorar que, relativamente às línguas
surgem tardiamente, sempre depois da emergência da dotadas de representação escrita, existem vantagens em
modalidade oral e (ontogeneticamente) no âmbito da analisar a relação entre as representações linguísticas e
experiência cultural-social associada à escolarização. As as representações gráficas, assim como evidências de
línguas ágrafas e os falantes (de línguas ágrafas e não que o conhecimento das representações escritas induz,
ágrafas) que não conhecem as representações escritas nos falantes que o possuem, modos de processamento
constituem uma evidência forte deste mesmo facto. linguístico diferenciados.
Contudo, considerando a informação fornecida por Os principais argumentos com que a própria linguística
diversos campos de análise, verificamos que é possível pode justificar esta perspetiva mais integrada entre o
atenuar esta fronteira, geralmente apresentada como estudo da fonologia e o da ortografia são fornecidos
muito rígida pelo fonocentrismo ortodoxo tradicional da em primeiro lugar por décadas de investigação
linguística a respeito deste assunto2. psicolinguística que mostram precisamente que, ainda
que não obrigatório, o conhecimento ortográfico,
1 Ao longo do texto, usaremos colchetes para as transcrições ortográficas. quando presente e ativado junto dos falantes – p. ex.,
2 Conforme posto em destaque por autores como Coulmas (2003, p. 10) e em tarefas laboratoriais relacionadas com a perceção
Daniels (2010b), esta visão dogmaticamente fonocêntrica da linguística é da fala, a categorização fonológica, o acesso lexical,
típica sobretudo da tradição gramatical ocidental. Com toda a probabili- o reconhecimento de palavras, o processamento de
dade, esta discussão não teria adquirido o peso que aqui lhe é conferido se estímulos grafovisuais e outras –, origina resultados e
a história das ideias gramaticais e linguísticas que formatam a nossa visão modos de processamento distintos (cf., p. ex. e entre
deste problema tivesse seguido por outras vias. Com efeito, tradições grama- muitos outros: Ehri (1975, 1987), Shankweiler et al.
ticográficas como a hindu e a chinesa concebem a escrita (a natureza das (1979), Fox & Routh (1980), Brady et al. (1983), Olofsson
representações gráficas, a identificação aprofundada das ligações entre as es- & Lundberg (1983), Seymour (1987, 1997), Wagner &
truturas gramaticais e as representações escritas, a tipificação das estruturas Torgesen (1987), Frost, Repp & Katz (1988), Bryant et al.
gráficas, a sua evolução histórica a par da evolução fonética e gramatical da (1989), Sim-Sim (1989), Gombert (1990, 1992), Goswami &
língua, etc.) como uma parte integrante e obrigatória do estudo linguístico. Bryant (1990), Rebelo (1990), Blachman (1991), Lundberg
Este dado mostra como a “ortodoxia” linguística europeia e norte-americana (1991), Shankweiler (1991), Vellutino & Scanlon (1991),
é fruto também de uma convenção “culturalmente enviesada” e não só da Mousty et al. (1994), Jiménez González & Ortíz González
natureza essencial dos objetos estritamente fonológicos ou estritamente or- (1994), Zuck (1996), Jared (1997), Lyster (1997), Muter
tográficos tal como a tradição ocidental a concebe. & Snowling (1997), Peereman & Content (1997), Cielo
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(1998), Viana (1998), Barbeiro (1999), Dijkstra, Grainger & fonética, as palavras e os morfemas. É essa mesma carac-
Van Heuven (1999), Dijkstra, Timmermans & Schriefers terística, aliás, que caracteriza, na sua essência profunda,
(2000), Grainger, Spinelli & Ferrand (2000), Hallé, os sistemas alfabéticos de escrita (Daniels 2010a, p. 433).
Chéreau & Segui (2000), Martins (2000), Durgunoğlu &
Öne (2002), Hoover (2002), Gillon (2004), Yopp & Yopp A este respeito, torna-se pertinente referir uma divisão,
(2009), Cardoso et al. (2013), Sari & Aktan Acar (2013), Sun dentro das línguas que recorrem à escrita alfabética,
et al. (2013), LeRoux (2016), Alcock et al. (2018), Gonzales entre transparência e opacidade fonémica. Com efeito,
& Tejero Hughes (2018)). mesmo entre línguas que historicamente “decidiram”
optar por alfabetos como o alfabeto latino para as suas
É no âmbito destes contributos – teóricos e experi- representações escritas, nem sempre se verifica que os
mentais e oriundos de campos diversificados como a símbolos alfabéticos se destinam a transcrever exatamente
linguística, a psicolinguísta, as ciências da cognição e as o mesmo tipo de objetos fonológicos e linguísticos: em
ciências da educação – que emerge e se consolida uma algumas línguas, as representações escritas aproximam-
visão integradora que, em lugar da tradicional rutura se mais da própria “pronúncia moderna” das palavras,
fonocêntrica entre língua e escrita (e entre estudo da normalmente tomando em consideração uma variedade
língua e estudo da escrita), identifica um contínuo (Ehri da língua (a variedade padrão ou outra); noutras línguas,
(1975), Kavanagh (1991) e Olson (1993)) entre ambas, dan- as representações apresentam-se como historicamente
do inclusivamente origem a um campo de estudos que muito conservadoras, tentando preservar aspetos da
podemos aqui designar por “linguística da escrita”. Os “pronúncia” de estádios mais antigos da língua (ou seja,
estudos desenvolvidos no âmbito desta perspetiva mais privilegiando a etimologia das palavras); noutras ainda,
“flexível” procuram incluir as representações gráficas no as representações ortográficas pretendem dar conta
conjunto dos objetos de estudo da própria linguística, de aspetos mais abstratos das estruturas linguísticas
identificando relações minimamente sistemáticas en- das palavras, como determinadas propriedades
tre os dois planos contemplados (plano “estritamente morfossintáticas, p. ex, é esta diversidade que, pelo
linguístico” e plano gráfico). De entre as pesquisas que menos até certo ponto, determina a divisão, já referida,
exemplificam esta última orientação científica, pode- entre opções de escrita fonemicamente transparentes
riam ser citados, a título de exemplo, trabalhos como os e opções de escrita fonemicamente opacas (Sgall, 1987,
de Coulmas (2003), Rogers (2005) e Daniels (2010a, b). p. 1; Aaron, 1989, p. 379 ss.; Reitsma, 1989, p. 51; Luelsdorff,
1991, p. 1; Leong & Joshi, 1997, p. 1 ss.; Wimmer & Landerl,
1997; Pinto, 1998, pp. 140-142; Alcock & Ngorosho, 2003,
p. 635 ss.; Goswami et al., 2003; Veloso, 2005).
Propriedades fonológicas
contempladas pelas Retomo aqui, a este propósito, os termos exatos em
que, num trabalho anterior, expus as principais diferenças
alinhamento segmental de que são formadas, no nível de clui ainda, além do alfabético, os seguintes: logossilabários/morfossilabários; si-
observação mais imediato e mais próximo da realização labários; abjads; abugidas; e sistemas de notação de traços (“featural systems”).
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Assim, verifica-se que as línguas com um sistema de Perante a frequente coexistência na escrita de uma
escrita (alfabético) transparente privilegiam as relações mesma língua de marcas de opacidade e de transparência
maximamente regulares entre grafemas e fonemas: fonémica, autores como Aaron (1989, p. 379), entre
idealmente, cada fonema conta com uma e só uma outros, têm sublinhado que, em lugar de uma repartição
representação gráfica e vice-versa, sendo maximamente totalmente categórica entre línguas “transparentes” vs.
preservada, na escrita, a relação entre o plano fonético línguas “opacas”, será preferível aceitar um contínuo entre
e fonológico e o alinhamento gráfico. As aparentes línguas preponderantemente de um tipo ou de outro.
exceções, expectavelmente pouco numerosas, são Esta posição equivale a dizer que não existem línguas
frequentemente enquadráveis em sub-regularidades (ou com sistemas de escrita puramente transparentes ou
padrões secundários) sujeitos a princípios minimamente puramente opacos, sendo mais apropriado admitir uma
estabilizados. Já nas línguas com escrita fonemicamente gradação entre um extremo e outro e identificar línguas
opaca, as relações grafema-fonema e fonema-grafema com sistemas de escrita mais preponderantemente
são mais irregulares e multívocas; a escrita destas línguas transparentes ou mais preponderantemente opacos,
é mais abundante em exceções e casos particulares e é com algumas línguas dificilmente enquadráveis em
fortemente condicionada pela manutenção de marcas dicotomias rígidas deste tipo.
etimológicas correspondentes a estádios passados
da língua, auditivamente inacessíveis aos falantes- O PE – apesar de se aproximar mais, como veremos
escreventes contemporâneos. adiante, dos sistemas de escrita fonemicamente
transparentes – conserva propriedades “mistas” dos
A este respeito, é ainda comum encontrarmos sistemas transparentes e dos sistemas opacos, conforme
na literatura referências a línguas prototipicamente podemos observar a partir dos seguintes exemplos:
“transparentes” e línguas prototipicamente “opacas”. No - a manutenção do <h> inicial em formas como hoje,
primeiro conjunto, encontraríamos, p. ex., o finlandês hora ou homem representa um caso de opacidade
(Korkeamäki, 1997) e o italiano (Cossu, 1999, p. 10), em que fonémica. Com efeito, tal símbolo gráfico não corresponde
os símbolos gráficos têm quase sem exceção o mesmo a nenhum objeto fonológico ou sequer fonético (“não é
valor fonético. No segundo grupo, teriam lugar línguas pronunciado”) e a sua presença nestas palavras justifica-
como o inglês (Klima, 1972, Snowling, 1989, Perfetti, 1997) -se apenas com base em critérios diacrónicos: a sua
e o francês (Fijalkow, 1982, Sprenger-Charolles et al., 1997). manutenção, nesta posição, tem como único objetivo
Nestas últimas (“línguas com escrita fonemicamente preservar uma marca histórica, mais precisamente o
opaca”), um símbolo gráfico pode corresponder a uma facto de o latim e o grego terem marcado a aspiração
grande quantidade de realizações sonoras e um fonema (entretanto perdida) das palavras que, nessas línguas,
pode ser grafado com múltiplos símbolos. A respeito viriam a dar origem a estas palavras do português (com
do inglês, p. ex., considere-se, a título ilustrativo, o caso um <h>, no caso do latim; com o espírito rude, no caso do
da sequência gráfica <ough>, que pode corresponder a grego: port. hoje < lat. hodie; port. hora < lat. hora < gr. ʹώρα;
produtos fonéticos tão díspares como [@U]4 em though port. homem < lat. hominem);
[D@ ‘todavia’, [aU]em plough [plaU] ‘arado’ e [Q] em - grafias como pé, em que cada símbolo gráfico
cough [kQf] ‘tosse’ (veja-se também que a sequência corresponde a um e só um segmento fonético e fonológico,
gráfica <gh> tem, nestes mesmos exemplos, valores com uma representação escrita que é sempre a mesma
fonéticos diferentes: ∅ nas duas primeiras palavras, [f] em todas as palavras em que <p> e <é> ocorrem e com
na terceira). A principal razão para estas representações uma indicação clara, p. ex., do grau de abertura vocálica
gráficas apresentarem tanta disparidade fonética deve- através do acento agudo colocado diacriticamente
se sobretudo ao facto de, em estádios antigos da língua, sobre a vogal gráfica, constituem exemplos de escrita
elas terem tido supostamente o mesmo valor (<gh> terá fonemicamente transparente.
correspondido a uma consoante velar aspirada em inglês
antigo), fonética e fonologicamente alterado ao longo dos No Quadro 1, que aqui adapto a partir de um
tempos sem que a escrita oficial tivesse acompanhado a trabalho anterior (Veloso, 2005), registo um resumo
evolução histórica da língua. das principais características que tipificam os sistemas
preponderantemente transparentes e os sistemas
preponderantemente opacos; o mesmo quadro identifca
4 Ao longo do texto, as transcrições fonéticas serão dadas entre parênteses ainda, com base em estudos anteriores, algumas línguas
retos. que se situam mais perto de cada um dos extremos
admitidos por esta bipartição. Finalmente, sublinhe-se
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que o mesmo quadro faz ainda uma referência – bastante PE torna-se particularmente visível quando observamos
importante no contexto deste trabalho – a uma implicação regularidades como as seguintes:
trazida pela distinção opaco/transparente: de acordo - para a maioria dos fonemas consonânticos da língua,
com autores como O’Neil (1972, p. 113), Aaron (1989, p. existem as já mencionadas relações regulares de tipo
379), Alcock & Ngorosho (2003, p. 635 ss.), Goswami et al. biunívoco: /p/, /t/, /f/5, p. ex., só podem ser representados,
(2003, p. 235 ss.) e outros, a aprendizagem da leitura e em PE, por <p>, <t>, <f>, respetivamente;
da escrita processa-se de forma mais célere e mais - concordantemente, cada símbolo gráfico reservado à
fácil nos sistemas transparentes do que nos opacos. representação escrita das consoantes tem, na maior parte
Estes últimos – tendo em consideração (i) o elevado dos casos, um e só um valor fonético ou correspondente
número de exceções, (ii) as relações assistemáticas nas fonológico: <v>, <b>, <d>, p. ex., correspondem sempre, em
correspondências grafema-fonema e (iii) a notação de PE, a /v/, /b/ e /d/, respetivamente6;
símbolos gráficos com motivação puramente histórica e - os casos em que este tipo de relação não parece
sem qualquer relação com dados fonético-fonológicos tão evidente correspondem, na sua maioria também, a
acessíveis ao processamento auditivo e cognitivo dos instâncias em que o valor fonético de um símbolo gráfico
aprendentes – exigem um esforço cognitivo mais pesado, pode ser probabilisticamente extraído com elevadas
mais demorado e mais problemático, conforme se torna taxas de acerto (portanto, relativamente “predizível” com
patente, segundo os autores citados, em ritmos e em grande regularidade) a partir do contexto de ocorrência
índices de sucesso de aprendizagem da escrita mais dos segmentos envolvidos, integrando-se assim nas “sub-
favoráveis na aprendizagem da escrita fonemicamente -regularidades” ou “padrões secundários” acima referidos
transparente do que na da escrita fonemicamente opaca. como típicos dos sistemas de escrita fonemicamente
transparentes. Um exemplo: <c> pode ter o valor de [k]
ou de [s] em PE, mas esta relação é sempre predizível
A relação entre representações fonológicas a partir do contexto de ocorrência de acordo com um
e representações ortográficas em português subconjunto organizado de regras de correspondência
europeu fonema←→grafema, na medida em que, antes de vogal
anterior, <c> corresponde sempre a [s] (cimo, cedo), ao
Nesta secção, tentarei desenvolver o tema das passo que, antes de qualquer outra vogal, corresponde
relações entre as representações fonológicas e as sempre a [k] (casa, cobre, culto).
representações ortográficas do PE, tomando como
referência, principalmente, a variedade padrão da língua, Relativamente ao aspeto que acabo de exemplificar, a
e estruturando todas as observações em torno das dispersão de <c> por [k] e [s] não é comparável ao caso de
seguintes dimensões: <ough> do inglês acima citado: o valor fonético-fonológico
a) identificação das principais evidências de transpa- de <ough> em inglês ([@U] em though [D@U] ‘todavia’,
rência e opacidade fonémica em aspetos específicos [aU] em plough [plaU] ‘arado’, [Q] em cough [kQf] ‘tosse’)
da escrita do PE, com base nos principais dados acima tem de ser memorizado, palavra a palavra, pelos falantes-
reunidos e observando em separado o vocalismo e o escreventes e pelos aprendentes da língua, sem que o
consonantismo; contexto gráfico ou fonológico forneça qualquer pista
b) integração do PE na dicotomia línguas com siste- que permita a associação estável da sequência gráfica a
mas de escrita fonemicamente transparentes/ línguas uma dessas representações/realizações fonéticas. Tal não
com sistemas de escrita fonemicamente opacos;
c) identificação/caracterização das principais proprie-
dades linguísticas do PE preservadas pelas conven- 5 No texto, as representações fonológicas são apresentadas entre barras
Relativamente ao primeiro destes tópicos, come- ais do PE, as correspondências <v>=/v/ e <b>=/b/ podem apresentar algumas
çaremos por dizer que, em PE, as relações fonema/ oscilações, dada a inexistência de um fonema /v/ em muitas das represen-
grafema e grafema/fonema no que diz respeito às tações fonológicas destes falantes, para quem palavras como vela e bela
consoantes são consideravelmente regulares, siste- terão, frequentemente, realizações fonéticas homófonas (["bEl] ou []).
máticas e biunívocas, aproximando bastante esta Este facto poderá tornar a distinção <b>/<v> eventualmente opaca para os
língua das línguas com sistemas de escrita fonemica- falantes das variedades aqui mencionadas. Como se disse no texto, as gen-
Esta característica das representações ortográficas do sobretudo a norma padrão do português europeu.
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CA PÍ T U LO 5
se passa, nos termos expostos, para a associação de <c> dispõe de cinco símbolos gráficos (<a>, <e>, <i>, <o>, <u>),
em português a [s] ou a [k], que depende de forma muito sendo este um inventário parcialmente ampliável através
regular do contexto (gráfico) de ocorrência. do recurso a alguns diacríticos (<ê>, <ó>, <à>, etc.). Esta
parcimónia de recursos gráficos contrasta, na fonologia e
Efetivamente, casos como o de <ough> em inglês na fonética do PE, com um inventário vocálico mais rico:
– isto é, casos em que uma representação gráfica tem se excluirmos as vogais foneticamente nasais, o PE padrão
valores fonéticos diferentes principalmente devido admite pelo menos 9 vogais fonéticas: [i e E a O o u 6 1].
à manutenção de valores fonéticos atestados em Esta discrepância faz com que a falta de correspondências
estádios passados da língua e impredizíveis a partir do um-para-um, nas vogais do português, entre símbolos
contexto – são relativamente raros em PE. Poderíamos gráficos e realizações fonéticas/representações fonológicas
citar, como exemplos deste tipo de relação opaca em se torne bastante evidente. Dou de seguida alguns
português (quer no sentido fonema→grafema, quer no exemplos, novamente sem nenhum objetivo de esgotar
sentido grafema→fonema), casos como os seguintes, que exaustivamente todos os casos que pretendo ilustrar:
aqui trazemos como meros exemplos e sem qualquer - a vogal [i] (por vezes, semivocalizada em [j]), p. ex.,
intenção de exaustividade7: pode ser grafada como <e> (elemento, elefante, e, teatro,
- /s/, em português, conta com representações peão,…) ou como <i> (ilha, cidade, tipo, piano, pião…);
gráficas como <s>, <ss>, <c> e <ç> (vd. exemplos como - um símbolo gráfico como <e> pode corresponder, na
sino [“sinu], missa [“mis6], cimo [“simue aço [“asu] ). A mesma ou em diferentes palavras, a valores fonéticos
determinação de qual das representações ortográficas diferentes: [E] (relva), [e] (mesa), [1] (telefone), [i] (elegante),
corresponde, em cada palavra, à consoante /s/ é [j] (seara), ∅ (dá-lhe, com apagamento total (facultativo)
inacessível a partir do contexto fonético-fonológico (as de uma vogal que pode ser realizada também como
grafias sublinhadas nos exemplos supra são homófonas [1], conforme poderia verificar-se também com telefone
na maior parte dos dialetos contemporâneos da língua ([t5fOn]) e, na verdade, com todas as palavras com [1]).
e podem ocorrer exatamente no mesmo contexto,
como demonstrado, novamente na maior parte dos Com base em exemplos como os que acabo de dar,
dialetos contemporâneos, por pares homófonos como podemos aceitar, conforme já foi dito, que é no voca-
asso/aço [“asu], sinto/cinto [“si~tu], etc.); lismo que as relações fonologia/ortografia e ortografia/
- no sentido inverso (relações grafema→fonema), <x> fonologia se podem considerar mais opacas em PE. No
corresponde, em PE, a um símbolo gráfico cujos cor- entanto, devemos também salientar que um número
respondentes fonológicos e fonéticos são não só em importante de oscilações entre transparência/opaci-
número relativamente elevado, como, também, são to- dade nas representações escritas das vogais do portu-
talmente imprevisíveis a partir do contexto. A este nível, guês é relativamente predizível e regular em português.
<x> será, talvez, o grafema mais “opaco” do português, Exemplificarei estas regularidades com base em dois
exigindo da parte dos falantes-escreventes-aprendentes casos bastante produtivos da fonologia do PE: os casos
da língua um esforço de memorização item-a-item se- de redução átona e os de harmonização vocálica.
melhante ao que é exigido pela sequência <ough> do in-
glês acima exemplificada. Na realidade, <x>, em PE, pode A redução átona é, ao nível fonético-fonológico,
corresponder, de forma praticamente impossível de pre- uma das características mais individualizadoras das
ver através de subpadrões minimamente regulares, a [S] variedades europeias do português. Trata-se de um
(xerife), [Z] (ex-ministro), [z] (exame), [s] (máximo), [ks] processo fonológico que consiste, fundamentalmente,
(texano) e [gz] (hexágono). em uma vogal, ao ser “deslocada” de uma sílaba tónica
para uma sílaba átona (nomeadamente em resultado
Relações fonologia/ortografia mais tipificáveis como de uma operação morfológica/morfossintática como a
opacas são mais frequentes, em PE, quando observamos sufixação ou a flexão verbal), ganhar altura e centralidade
o vocalismo. Para a notação das vogais, o português, como ou recuo (exemplo: a vogal <e> de medo, por ser tónica,
quase todas as línguas que escolheram o alfabeto latino, é semifechada e anterior; a mesma vogal, em medroso,
torna-se fechada (alta) e central, em resultado da perda
de acento tónico). Os exemplos adicionais encontrados
7 Uma lista exaustiva das relações regulares (transparentes) e irregulares no Quadro 2 ilustram este fenómeno e mostram como as
(opacas) entre representações fonológicas e representações ortográficas em vogais fonológicas do português mudam de configuração
português, partindo de exemplos do português do Brasil, pode ser encon- fonética (articulatória e acústica) em função da sua
trada em Scliar-Cabral (2003). relação com o acento de palavra.
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mação da ortografia do PE aos sistemas fonemicamente o alinhamento segmental fonológico das palavras
transparentes encontra-se no conjunto das regras de (a “ordem dos fonemas”) , a sua forma fonética (a
acentuação gráfica da língua, que conglomeram um “pronúncia”) ou aspetos da etimologia (como a
conjunto de procedimentos totalmente desprovido de manutenção do <h> inicial em palavras como “hora”). Os
exceções cuja aplicação faz com que a marcação da sistemas “opacos” tendem a valorizar a etimologia, ao
sílaba tónica (ou através de diacríticos próprios, ou em passo que os “transparentes” privilegiam a proximidade
função da natureza dos segmentos encontrados nas três com as representações fonológicas e as realizações
últimas sílabas da palavra) seja sempre inteiramente fonéticas da língua contemporânea. Nesse sentido, a
predizível a partir da forma gráfica de cada palavra. escrita do PE foi aqui considerada como um exemplo de
“sistema de escrita fonemicamente transparente”, tendo
Convém ainda sublinhar que as principais reformas presente a aproximação entre a escrita da língua e as
ortográficas do português que tiveram lugar ao longo suas estruturas fonético-fonológicas.
do século XX (1911, 1945 e 1990) corporizam uma inclina-
ção crescente para o aumento do grau de transparência Com efeito, se olharmos, p. ex., aos casos
fonémica das representações ortográficas da língua: eli- exemplificados nos Quadros 2 e 3, veremos que o número
minando casos em que a uma representação fonológica e a ordem dos segmentos fonológicos das palavras é
correspondia a mais do que uma representação ortográ- correspondido de forma bastante regular no número
fica com base unicamente na etimologia (como sucedeu e na ordem dos correspondentes segmentos gráficos,
com a uniformização de /f/ em <f>, eliminando a dualida- dentro de um quadro de grande estabilidade ao nível
de gráfica <ph> (philosophia→filosofia) para étimos gre- das relações mais gerais entre segmentos fonológicos
gos e <f> para étimos latinos e outros) ou banindo con- e segmentos ortográficos. Porém, torna-se pertinente
soantes a que não correspondiam quaisquer realizações lembrar neste momento que, olhando aos exemplos
fonéticas, anteriormente mantidas fundamentalmente da redução átona e da harmonização vocálica (Quadros
por razões etimológicas (eléctrico→elétrico, acto→ato, 2 e 3), o nível fonológico verdadeiramente preservado
óptimo→ótimo), o resultado destas mudanças traduziu- nas representações ortográficas do português não é
-se, como dissemos, num incremento da transparência apenas o nível tradicionalmente designado como “nível
fonémica. fonémico”, uma vez que as representações ortográficas
da língua se mostram mais próximas do chamado nível
De acordo com perspetivas como as de O’Neil (1972, p. morfofonológico. Este é o nível em que a identidade
113), Aaron (1989, p. 379), Alcock & Ngorosho (2003, p. 635 linguística (e ortográfica) de um morfema é preservada
ss.), Goswami et al. (2003, p. 235 ss.) e outros a respeito independentemente da variação fonética concreta a que
da ligação causal entre a transparência fonémica da es- as unidades linguísticas estão sujeitas, num plano mais
crita e a facilidade/rapidez da sua aprendizagem, estes abstrato do que aquele que é directamente verificado a
sucessivos aumentos do grau de transparência terão tra- partir da realização fonética.
zido maior sucesso nas tarefas de ensino/aprendizagem
da leitura e da escrita e de processamento de estímulos Por outras palavras: nas representações ortográficas
escritos. Esta foi, aliás, a grande motivação sociopolítica do PE, tolo e tolice, p. ex, preservam a grafia <o> na raiz
da primeira reforma ortográfica do PE no século XX (a de derivacional de ambas as palavras. De um ponto de vista
1911, levada a cabo pelo primeiro governo da República mais “fonético”, a segunda palavra poderia ser grafada
no âmbito da intenção política de aumentar os níveis de como *tulice8).
escolarização da população em geral).
Uma explicação para a não adoção desta última
Deixo uma anotação final para um aspeto que me hipótese é a seguinte: a manutenção de uma mesma
parece importante neste momento: em diversos pontos grafia para um segmento que tem realizações fonéticas
do texto, foi dito que são diversas as propriedades diferentes mas que corresponde ao mesmo segmento
linguísticas passíveis de serem transpostas para as teórico da estrutura morfológica das duas palavras é,
representações fonológicas, residindo em parte na justamente, um meio para se preservar o parentesco
escolha das propriedades absorvidas (ou não) pelas morfológico entre as duas palavras e a identidade da raiz
formas escritas a distinção entre “escrita transparente” derivacional partilhada pelas duas.
e “escrita opaca”. Entre os factos de natureza
estritamente linguística que podem ser transpostos 8 O asterisco que antecede esta forma gráfica simboliza a sua inexistência
para as representações escritas, foram mencionados de acordo com as regras ortográficas contemporâneas e vigentes.
73
E N S I N O DA LE IT UR A E DA ESCRI TA BASEADO EM EVI DÊNCIAS
Observações finais
74
CA PÍ T U LO 5
Quadro I
Línguas com sistemas de escrita fonemicamente transparentes e línguas com sistemas de escrita fonemicamente
opacos (ap. Veloso, 2005)
ALEMÃO
(Valtin (1989: 119;1997: 176); Wimmer & Landerl
(1997); Wimmer, Landerl & Frith (1999);
Goswami et al. (2003: 236))
ESPANHOL
(Fijalkow (1982: 67); Sgall (1987: 1); Valle-Arroyo
(1989: 165 ss.); Leong & Malatesha Joshi (1997: 2);
Goswami et al. (2003: 236))
FINLANDÊS
(Fijalkow (1982: 67); Reitsma (1989: 51);
Korkeamäki (1997: 331)) FRANCÊS
GREGO (Fijalkow (1982: 67); Sgall (1987:1); Klees (1989:
(Porpodas (1989: 179 ss.); Harris & Giannouli 137); Sprenger-Charolles et al. (1997: 339))
(1999); Goswami et al. (2003: 236)) INGLÊS
NEERLANDÊS (Fijalkow (1982: 67); Sgall (1987: 1); Snowling
Exemplos de línguas (Booij (1987: 215); Reitsma (1989: 52)) (1989: 1); Luelsdorff (1991: 1); Leong & Malatesha
ITALIANO Joshi (1997: 3); Perfetti (1997: 25); Pinto (1998:
(Fijalkow (1982: 67); Morchio et al. (1989: 143); 140); Alcock & Ngorosho (2003: 635); Goswami
Reitsma (1989: 51); Leong & Malatesha Joshi et al. (2003: 236))
(1997: 2); Perfetti (1997: 25); Cossu (1999);
Goswami et al. (2003: 236))
POLACO
(Sgall (1987: 1))
PORTUGUÊS
(Girolami-Boulinier & Pinto (1996: 38); Leong &
Malatesha Joshi (1997: 2); Pinto (1998: 140; 1999:
510); Alcock & Ngorosho (2003: 635))
SERVOCROATA
(Reitsma (1989: 51))
TURCO
(Çapan (1989: 192 ss.))
OBS. – Tal como mencionado no corpo do texto, a inclusão de uma dada língua no grupo das línguas “fonemicamente transparentes” ou no das
“fonemicamente opacas” assenta na identificação, para a língua em causa, da preponderância de fatores ligados a uma categoria ou outra, não devendo ser
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E N S I N O DA LE IT UR A E DA ESCRI TA BASEADO EM EVI DÊNCIAS
Quadro 2
Redução vocálica átona em português europeu
Quadro 3
Alternâncias vocálicas motivadas pela harmonização vocálica em português
76
CA PÍ T U LO 5
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PARA SABER MAIS
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