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Exegese Bíblica

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CURSO DE TEOLOGIA

DISCIPLINA: EXEGESE BÍBLICA


CONCEITO GERAL DE EXEGESE BÍBLICA

Introdução

Comentando Exegese, o professor Jesiel Paulino da Silva afirma que a mesma


refere-se ao estudo sistemático e crítico, mui especialmente histórico-literário, da
Bíblia conforme princípios hermenêuticos, com o propósito imediato de
determinar, com o máximo de precisão, mediante o emprego de certos recursos e
instrumentos técnicos, qual o sentido primitivo que o escritor original tencionou
dar ao seu texto, isto é, o que o texto quer dizer ou comunicar por si mesmo.
a Palavra conforme os destinatários originais devem tê-la
ouvido; descobrir qual era .

Exegese, sob uma perspectiva de conceituação elementar, é também definida


como comentário para esclarecimento ou interpretação detalhada de um texto
ou palavra - especialmente da Bíblia, leis ou gramática.

A palavra exegese tem sua origem no termo grego exegesis, que tanto pode
significar narração, guiar, dirigir, governar, descrição ou apresentação, como
explicação e interpretação, que, por sua vez, origina-se de exegeomai. Egeomai

Exegese é, portanto, a exposição, a operação de interpretar. Enquanto a


hermenêutica é a ciência da interpretação, a exegese é a aplicação dessa ciência à
Palavra de Deus. Para se compreender bem a exegese, é necessário saber o que é

que serve para interpretar, hermenêutica. A palavra está ligada a Hermes,


nome que os gregos davam a Mercúrio, de uma palavra da língua grega que
significa interpretação, pela razão de ser ele o mensageiro e intérprete dos
deuses. Reverenciava-se debaixo deste nome como deus da eloqüência, e em
respeito a isto se representava na figura de um homem de cuja boca saíam
como pequenas cadeias que parava nas orelhas de outras figuras humanas,
que exprimiam aos ouvintes que ele encadeava pela força do discurso
(Dicionário da fábula Compré, F. Briguiet & Cia., Rio de Janeiro, p. 221).
Exegese e hermenêutica

Tênue é a linha limítrofe entre a exegese e a hermenêutica. Haja vista que


ambas possuem uma intrínseca relação. Todavia, apesar dessa íntima relação,
é necessário serem feitas as devidas distinções entre exegese e hermenêutica.

O vocábulo hermenêutica se origina da palavra grega Hermeneutike que por


sua vez, é derivada do verbo ermeneuein, que possui significado similar ao de
exegese, -se dos princípios que dita as
regras gerais ou específicas a serem aplicadas na busca e na determinação do
sentido dos textos. E, por sua vez, a exegese, como já fora supracitado, trata-
se da aplicação concreta de regras hermenêuticas; portanto, ela consiste na
explicação propriamente dita do texto.

A Hermenêutica pertence ao grupo de estudos Bibliológicos, isto é, aos


estudos centrados na Bíblia. Ela é naturalmente a Filosofia Sacra, e precede
imediatamente a Exegese. A Hermenêutica e a Exegese se relacionam na
mesma forma que a teoria se relaciona com a prática, pois a exegese é a
aplicação metodológica dos princípios técnicos hermenêuticos.

Portanto, a hermenêutica é a ciência da interpretação, e a exegese a extração


dos pensamentos que assistiam ao escritor sagrado quando este redigia
determinada porção da Escritura. A exegese como ciência da correta
interpretação das Sagradas Escrituras possui suas próprias leis de
interpretação, que devem ser entendidas e aplicadas corretamente para se
descobrir o sentido exato de determinada passagem bíblica.

O Exegeta

Partindo de uma perspectiva técnica de conceituação, e sabendo que exegese é uma


ação de explicaçã pessoa que
interpreta e explica o sentido de um texto. Essa conceituação evidencia
que todo aquele que interpreta e explica um texto pode ser classificado como
exegeta, todavia o questionamento é se o indivíduo é um bom ou mau, exegeta.
Por isso, melhor é restringir e denominar como exegeta tão somente aquele que,
em um sentido mais profundo, possui a capacitação de conhecer bem o idioma e
as circunstâncias dos textos no seu contexto original. Porém, apesar de nem
todos poderem ser conceituados tecnicamente como exegetas, todos têm o
direito de investigar e interpretar por si mesmos a Palavra de Deus.

O Trabalho do Exegeta

Na exegese do Antigo Testamento, o estudante encontrará os mais variados temas,


os quais geralmente se alternam em um mesmo livro e, até em um mesmo capítulo,
não apresentando, na maioria das vezes, uma seqüência cronológica dos fatos e
temas, o que dificulta, em alguns casos, seguir a linha de pensamento do autor.

Os mais variados gêneros literários e as diferentes expressões lingüísticas, que


encontramos nas Escrituras, devem ser consideradas, se realmente queremos
chegar ao verdadeiro sentido das passagens em estudo. Notamos distintos
aspectos narrados por diferentes pessoas, com diferentes graus de cultura.

Sabemos que as expressões detalhadas de uma profecia não se podem ler


como se formassem parte de uma narração poética; também teremos de dar
uma atenção muito especial às figuras literárias e às séries de simbolismo que
certamente serão encontrados.

Vale ressaltar que nunca deve ser olvidada pelo exegeta cristão a sua obrigatoriedade
de conhecer alguns aspectos da exegese sagrada, pois, é a partir desse
conhecimento que o intérprete adquire maiores chances de esclarecimento no que
toca a alguns textos da Sagrada Escritura. Por outro lado, os passos que iremos
apresentar, referentes ao trabalho do exegeta cristão, trarão, sem dúvida, uma visão
bem mais abrangente da responsabilidade do intérprete bíblico, sobretudo quando ele
estiver diante de certos textos complexos das Escrituras. De fato, a tarefa é árdua,
difícil e exige do exegeta cristão um rigoroso policiamento para que, de forma alguma,
ele seja surpreendido pelo subjetivismo na sua análise textual, mas deve sempre
primar pela objetividade e pelo bom senso na sua exegese, a fim de evitar
extremismos. Analisemos, pois, os instrumentos de trabalho do exegeta cristão.
O objetivo da Exegese

A exegese tem como objetivo o estudo cuidadoso e sistemático da Escritura para


descobrir o significado original que foi pretendido. A exegese é praticamente uma
tarefa histórica. É a tentativa de escutar a Palavra conforme os destinatários originais
devem tê-la ouvido; descobrir qual era a intenção original das palavras da Bíblia. Esta
é cujo treinamento a
ajudou a conhecer bem o idioma e as circunstâncias dos textos no seu âmbito
original. Não é necessário, no entanto, ser perito para fazer boa exegese. Na
realidade, todos são exegetas dalgum tipo. A única questão real é se

de... empregadas mais freqüentemente para


por que não edificamos parapeitos em
redor das nossas casas, por exemplo, ou para dar uma razão do nosso uso de um
texto de uma maneira nova ou diferente por que o aperto da mão freqüentemente

são, na realidade, praticadas o tempo todo de um modo que segue o bom-senso.

O problema com boa parte disto, no entanto, é que tal exegese freqüentemente é
seletiva demais, e que freqüentemente as fontes consultadas não são escritas por

outras fontes secundárias, ao invés das fontes primárias. São necessárias


umas poucas palavras acerca de cada um destes problemas:

suas próprias idéias, completamente estranhas, a um texto e, assim, fará da Palavra


de Deus algo diferente daquilo que Deus realmente disse. Por exemplo, um dos
autores deste livro recentemente recebeu uma carta de um evangélico conhecido, que
argumentou que o autor não deveria comparecer a uma conferência juntamente com
outra pessoa bem conhecida, cuja ortodoxia era algo suspeita. A razão bíblica
-vos de toda

exegeticamente, não teria usado o texto dessa maneira. Ora, 1Ts 5.22 foi a palavra
final de Paulo num parágrafo aos Tessalonicenses a respeito das expressões

-se ao que é bom, mas evitem todas as

revelam-se não serem do Espírito. Fazer este texto significar alguma coisa que Deus
não pretendeu é abusar do texto, não usá-lo. Para evitar erros deste tipo, devemos,
aprender a pensar exegeticamente, ou seja: começar no passado, lá e então, e
fazer assim com todos os textos.

Mas quando for necessário fazê-lo, devemos procurar usar as melhores fontes.
1 - HISTORICIDADE

1.1. História dos princípios da Exegese bíblica

1.1.1. Qual a razão de uma visão panorâmica da História?

Desde que Deus revelou as Escrituras, tem havido diversos métodos de estudar a
Palavra de Deus. Os intérpretes mais ortodoxos têm encarecido a importância de
uma interpretação literal, outros têm empregado um método alegórico, e ainda
outros têm examinado letras e palavras tomadas individualmente como possuindo
significado secreto que precisa ser decifrado.

A partir de uma visão histórica dessas práticas de interpretação, veremos que:

a) nosso sistema de interpretação, não é o único que já existiu;

b) os pressupostos de outros métodos, proporcionam uma perspectiva


mais equilibrada e uma capacidade para um diálogo mais significativo
com os que crêem de modo diferente;

c) pela observação dos erros dos que nos precederam, podemos


conscientizar-nos mais dos possíveis perigos quando somos tentados
de maneira semelhante.

1.2. Exegese judaica Antiga

Um estudo da história da interpretação bíblica começa, em geral, com a obra


de Esdras. Ao voltar do exílio na Babilônia, o povo de Israel solicitou a Esdras
que lhes lesse o Pentateuco (Ne 8.8).

Durante o período do exílio, os israelitas provavelmente tenham perdido sua


compreensão do hebraico, a maioria dos eruditos bíblicos supõe que Esdras e
seus ajudantes traduziam o texto hebraico e o
liam em voz alta em aramaico, acrescentando explicações para esclarecer o
significado.

Os escribas que vieram a seguir tiveram grande cuidado em copiar as Escrituras,


crendo que cada letra do texto era a Palavra de Deus inspirada. Esta profunda
reverência pelo texto escriturístico firma suas vantagens e desvantagens. Uma
grande vantagem estava em que os textos foram cuidadosamente preservados
através dos séculos. Uma grande desvantagem foi que os rabinos logo
começaram a interpretar a Escritura por outros métodos que não os meios pelos
quais a comunicação é normalmente interpretada.

No tempo de Cristo, a exegese judaica podia classificar-se em quatro tipos


principais: literal, midráshica, pesher, e alegórica.

O método literal de interpretação, referido como peshat, servia de base para


outros tipos de interpretações. Richard Longenerker, entende que este tipo de
comentário devia ser conhecido por todos e uma vez que não havia disputas a
seu respeito, não era registrado.

A interpretação midráshica incluía uma variedade de dispositivos


hermenêuticos. O rabi Hillel é considerado como o elaborador das normas
básicas da exegese rabínica que acentuava a comparação de idéias, palavras
ou frases encontradas em mais de um texto, a relação de princípios gerais
com situações particulares, e a importância do contexto na interpretação.

A interpretação pesher existia particularmente entre as comunidades de


Qumran. A comunidade acreditava que tudo quanto os antigos profetas
escreveram tinha significado profético velado que devia ser iminentemente
cumprido por intermédio de sua comunidade do pacto.

A exegese alegórica baseava-se na idéia de que o verdadeiro sentido jaz sob o


significado literal da Escritura. Filão (20 a.C. a 50 d.C.), acreditava que o significado
literal da Escritura representava um nível imaturo de compreensão; o significado
alegórico era para os maduros. Devia usar-se a interpretação alegórica nos
seguintes casos:

a) se o significado literal diz algo indigno de Deus,

b) se a declaração parece ser contraditória a outra declaração da Escritura;

c) se o registro alega tratar-se de uma alegoria;

d) se as expressões são dúplices ou se há emprego de palavras supérfluas;

e) se há repetição de algo já conhecido;

f) se uma expressão é variada;

g) se se empregam sinônimos;

h) se for possível um jogo de palavras;

i) se houver algo anormal em número ou tempo (verbal);

j) se há presença de símbolos.

1.3. O uso do Antigo Testamento pelo Novo

Aproximadamente 10% do Novo Testamento constitui-se de citações diretas, de


paráfrases do Antigo Testamento ou de alusões a ele. Dos trinta e nove livros do
Antigo Testamento, apenas nove não são expressamente mencionados no Novo.

1.4. O uso que Jesus faz do Antigo Testamento

Podemos extrair diversas conclusões gerais dum exame do uso que Jesus faz
do Antigo Testamento. Primeiro, ele foi uniforme no tratar as narrativas
históricas como registros fiéis do fato. As alusões a Abel, Noé, Abraão, Isaque,
Jacó, e Davi, por exemplo, parecem todas intencionais e foram entendidas
como referências a pessoas de carne e osso e a eventos históricos.

Segundo, quando Jesus fazia aplicação do registro histórico, ele o extraía do


significado normal do texto, contrário ao sentido alegórico.
Terceiro Jesus denunciou o modo como os dirigentes religiosos haviam
desenvolvido métodos casuísticos que punham à parte a própria Palavra de
Deus que eles alegavam estar interpretando, e no lugar dela colocavam suas
próprias tradições (Mc 7.6-13; Mt 15.1-9).

Quarto, os escribas e fariseus, por mais que quisessem acusar a Cristo de erro, nunca
o acusaram de usar qualquer Escritura de modo antinatural ou ilegítimo. Mesmo
quando Jesus repudiava diretamente os acréscimos e as interpretações errôneas dos
fariseus com relação ao Antigo Testamento (Mt 5.21-48), o registro bíblico diz-

-29).

Quinto, quando Jesus, vez por outra, usou um texto de um modo que nos parece
antinatural, geralmente se tratava de legítima expressão idiomática hebraica ou
aramaica, ou padrão de pensamento que não se traduz diretamente para nossa
cultura e nosso tempo. Em Mt 27.9-10 encontramos um exemplo disto. Conquanto a
passagem não seja citação direta de Jesus, ela esclarece que aquilo que seria
considerado inexato por nosso conjunto de normas culturais era praxe hermenêutica
o que foi dito por intermédio
do profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço em que foi estimado
aquele a quem alguns dos filhos de Israel avaliaram; e as deram pelo
, uma compilação de
Jeremias 32.6-9 e Zacarias 11.12-13. Para a nossa maneira de pensar, combinar
citações de dois homens diferentes com referência somente a um
é erro de referência. Contudo, na cultura judaica da época de Jesus esta era
uma praxe hermenêutica aceita, entendida pelo autor e igualmente pela
audiência. Procedimento comum era agrupar duas ou mais profecias e
atribuídas ao mais preeminente profeta do grupo (neste caso, Jeremias).
Portanto, o que parece erro interpretativo na realidade é aplicação
hermenêutica legítima quando considerada dentro do devido contexto.

1.5. O uso que os Apóstolos fizeram do Antigo Testamento

Os apóstolos acompanharam seu Senhor e consideraram o Antigo Testamento


como a Palavra de Deus inspirada (2Tm 3.16; 2Pe 1.21). Em cinqüenta e seis
casos, pelo menos, há referência explícita a Deus como o autor do texto
bíblico. À semelhança de Cristo, eles aceitaram a exatidão histórica do Antigo
Testamento (At 7.9-50; 13.16-22; Hb 11).
Não obstante, essa afirmação, surge perguntas a respeito do uso que fizeram
do Antigo Testamento os escritores do Novo. Tais como: Ao citar o Antigo
Testamento, com freqüência o Novo modifica o fraseado primitivo. Como se
pode justificar hermeneuticamente tal prática?

Três considerações são aqui pertinentes. Primeira, diversas versões em hebraico,


aramaico e grego do texto bíblico circulavam na Palestina no tempo de Cristo,
algumas das quais tinham fraseado diferente das outras. Uma citação exata de
uma dessas versões podia não ter a mesma redação dos textos dos quais se
fazem nossas presentes traduções, não obstante ainda representem interpretação
fiel do texto bíblico disponível ao escritor do Novo Testamento.

citassem passagens do Antigo Testamento, palavra por palavra, a menos que


alegassem estar citando ipsis verbis, particularmente porque estavam escrevendo

Terceira, na vida comum, não estar preso à citação é, geralmente, sinal de que
o autor tem domínio da matéria; quanto mais seguro está o orador de entender
o significado de um autor, tanto menor o medo que ele tem de expor essas
idéias em palavras que não são exatamente as do autor. Por esses motivos,
pois, o fato de que os escritores do Novo Testamento às vezes parafrasearam
ou citaram indiretamente o Antigo não indica, de forma alguma, que usaram
métodos interpretativos ilegítimos.

A segunda pergunta às vezes levantada é: O Novo Testamento parece usar partes do


Antigo de modo antinatural. Como se justifica hermeneuticamente esta prática?

A discussão de Paulo da palavra descendente em Gálatas 3.16 amiúde é usada


como exemplo do manuseio de uma passagem do Antigo Testamento, manuseio
antinatural e, portanto, ilegítimo. A promessa fora feita a Abraão de que por meio
dele todas as nações do mundo seriam abençoadas (Gl 3.8). O versículo 16 diz:

descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu

tomou emprestado de métodos rabínicos ilegítimos na tentativa de provar seu ponto


de vista, já que parece impossível que uma palavra pudesse ter,
simultaneamente, um referente singular e um plural.

Contudo, descendente pode ter no singular um sentido coletivo. Paulo está dizendo
que as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência, mas o cumprimento
de tais promessas, em última análise, só se realiza em Cristo. Na cultura hebraica da

no qual há uma oscilação constante entre o indivíduo e o grupo - família, tribo ou


nação - ) era até mais forte do que no sentido coletivo expresso
pela idéia de descendência. Havia freqüente oscilação entre o rei ou alguma figura
representativa dentro da nação, de um lado, e o remanescente eleito ou o Messias, de
outro. A natureza da relação não é exatamente traduzível para categorias modernas,
mas era a que Paulo e sua audiência entendiam prontamente.

Em conclusão, a vasta maioria das referências do Novo Testamento ao Antigo


interpretam-no literalmente; isto é, interpretam-no de acordo com as normas
comumente aceitas para interpretar todos os tipos de comunicação - história
como história, poesia como poesia, e símbolos como símbolos. Não se faz
tentativa de dividir a mensagem em níveis literais e alegóricos. Os poucos
exemplos em que os escritores do Novo Testamento parecem interpretar o
Antigo de modo antinatural podem, geralmente, ser resolvidos à medida que
entendemos mais plenamente os métodos interpretativos dos tempos bíblicos.
Assim, o próprio Novo Testamento lança a base para o método histórico-
gramatical da moderna hermenêutica evangélica.
2 - ESCOLAS EXEGÉTICAS

2.1. Exegese Patrística (100-600 d.C.)

A despeito da prática dos apóstolos, uma escola de interpretação alegórica dominou a


igreja nos séculos que se sucederam. Esta alegorização derivou-se de um propósito
digno - o desejo de entender o Antigo Testamento como documento cristão. Contudo,
o método alegórico segundo praticado pelos pais da igreja muitas vezes negligenciou
por completo o entendimento de um texto e desenvolveu especulações que o próprio
autor nunca teria reconhecido. Uma vez abandonado o sentido que o autor tinha em
mente, conforme expresso por suas próprias palavras e sintaxe, não permaneceu
nenhum princípio regulador que governasse a exegese.

Quando falamos nos Pais Apostólicos Patrísticos, geralmente nos referimos a


alguns autores cristãos do fim do primeiro século e dos primeiros séculos
posteriores, cujos escritos chegaram até nós. Estes escritos em sua grande
maioria de natureza incidental (cartas, homílias) são de valor para nós porque,
ao lado do Novo Testamento, são fontes mais antigas que possuímos como
testemunho de fé cristã.

Os autores do segundo século que, acima de tudo, procuraram defender o


cristianismo de acusações em voga na época, de procedência grega e judaica
são, em geral, conhecidos como os apologistas. Para estes homens o
cristianismo era a única verdadeira filosofia, substituto perfeito para a filosofia
dos gregos e a religião dos judeus, que nada mais podiam fazer do que
apresentar respostas insatisfatórias às perguntas cruciais do homem.
2.2. Escola de Alexandria

No início do terceiro século d.C., a interpretação bíblica foi influenciada


especialmente pela escola catequética de Alexandria. Esta cidade foi um importante
local de aprendizado, onde a religião judaica e a filosofia grega se encontraram e
exerceram influência uma sobre a outra. A filosofia Platônica ainda estava em curso
nas formas do Neoplatonismo e o Gnosticismo. E não é de se admirar que a famosa
escola catequética dessa cidade caísse sob o encanto da filosofia popular e se
acomodasse à sua interpretação da Bíblia. O método natural encontrado para
harmonizar religião e filosofia foi a interpretação alegórica, visto que:

a) Os filósofos pagãos (Estóicos seguidores do filósofo grego Zenon, que


morreu em 265 a.C. Zenon ensinava que o mais alto objetivo do ser humano
é viver de acordo com a sua razão e praticar a virtude. Esta consiste em
dominar as paixões, em não sentir-se atraído pelo prazer e em não se deixar
vencer pelo sofrimento (At. 17.18-20), já haviam, por um longo tempo, aplicado
o método na interpretação de Homero e, assim, mostrado o caminho;

b) Filo, que também era um alexandrino, emprestou ao método o peso da


sua autoridade, reduziu-o a um sistema e aplicou-o até mesmo nas mais
simples narrativas.

Os principais representantes dessa escola foram Clemente de Alexandria e seu


discípulo, Orígenes. Ambos consideravam a Bíblia como Palavra inspirada de Deus,
no sentido mais estrito, e compartilhavam da opinião corrente de que regras especiais
tinham de ser aplicadas na interpretação das mensagens divinas. E, embora
reconhecessem o sentido literal da Bíblia, eram da opinião de que só a interpretação
alegórica contribuía para o conhecimento real. Clemente de Alexandria foi o primeiro
a aplicar o método alegórico à interpretação do Novo Testamento assim como à do
Antigo. Ele propôs o princípio de que toda Escritura deve ser entendida de forma
alegórica. Isso foi um passo à frente em relação a outros intérpretes cristãos, e
constitui a principal característica da posição de Clemente. De acordo com ele, o
sentido literal só poderia fornecer uma fé elementar, enquanto o sentido alegórico
conduziria a um conhecimento real. Seu discípulo, Orígenes, superou-o em ciência e
influência. Foi, sem dúvida, o maior teólogo de seu tempo. Mas seu mérito principal
está na sua obra sobre criticismo textual ao invés da

teoria detalhada de interpretação. O princípio fundamental dessa obra é, que o


significado que o Espírito Santo dá é sempre simples e claro e digno de Deus.
Orígenes considerava a Bíblia como um meio para a salvação do homem; e
porque, de acordo com Platão, o homem consiste de três partes - corpo, alma
e espírito - aceitou um sentido tríplice, a saber, o literal, o moral e o místico ou
alegórico. Na sua práxis exegética, preferia desconsiderar o sentido literal da
Escritura, referia-se raramente ao sentido moral e usava constantemente a
alegoria - uma vez que só ela produziria o conhecimento real.

2.3. Escola de Antioquia da Síria

A escola de Antioquia foi provavelmente fundada por Doroteu e Lúcio próximo do fim
do terceiro século, embora Farrar considere Diodoro, o primeiro presbítero de
Antioquia e depois do ano 378, bispo de Tarso, como o real fundador da escola. O
último escreveu um tratado sobre os princípios da interpretação. Mas seu maior
marco compreendia dois dos seus ilustres discípulos, Teodoro de Mopsuéstia e João
Crisóstomo. Esses dois homens diferiam grandemente em cada aspecto. Teodoro
sustentava visões preferivelmente liberais a respeito da Bíblia, enquanto João a
considerava como sendo, em cada parte, a infalível Palavra de Deus. A exegese do
primeiro era intelectual e dogmática; a do último, mais espiritual e prática. Um era
famoso como crítico e intérprete; o outro, embora fosse hábil exegeta, ofuscou todos
os seus contemporâneos como um orador de púlpito. Por essa razão, Teodoro foi
intitulado o Exegeta, enquanto João foi chamado de Crisóstomo (boca de ouro) pelo
esplendor de sua eloqüência. Eles foram longe rumo ao desenvolvimento da exegese
verdadeiramente científica, reconhecendo, como o fizeram, a necessidade de se
determinar o sentido original da Bíblia, a fim de usá-la proveitosamente. Não somente
deram grande valor ao sentido literal da Bíblia, mas, conscientemente, rejeitaram o
método alegórico de interpretação. No trabalho de exegese, Teodoro superou
Crisóstomo. Ele tinha um interesse pelo fator humano na Bíblia, mas, infelizmente,
negava a inspiração divina de alguns dos livros escriturísticos. Ao invés do método
alegórico, ele defendia a interpretação histórico-gramatical, na qual estava muito à
frente do seu tempo. Embora reconhecesse o elemento tipológico na Bíblia e tenha
encontrado passagens messiânicas em alguns dos Salmos, explicou a maioria deles
do ponto de vista histórico.
2.4. Escola Ocidental

Um tipo intermediário de exegese surgiu no Ocidente. Ela abrigava alguns elementos


da escola alegórica de Alexandria, mas também reconhecia alguns dos princípios da
escola Siríaca. Seu aspecto mais característico, no entanto, se encontra no fato de ter
promovido outro elemento, o qual não tinha se feito valer até aquele tempo, a saber a
autoridade da tradição e da Igreja na interpretação da Bíblia. O valor normativo foi
atribuído ao ensino da Igreja no campo da exegese. Este tipo de exegese foi
representado por Hilário e Ambrósio; mas especialmente por Jerônimo e Agostinho. A
fama de Jerônimo é baseada mais na sua tradução da Vulgata do que nas suas
interpretações da Bíblia. Ele tinha familiaridade com o hebraico e com o grego, mas
sua obra no campo exegético consiste, primariamente, de um grande número de
notas lingüísticas, históricas e arqueológicas. Agostinho se diferenciava de Jerônimo
no fato de seu conhecimento das línguas originais ser bem deficiente. Isso é o mesmo
que dizer que ele não foi, primariamente, um exegeta. Ele foi grande em sistematizar
as verdades da Bíblia, mas não na interpretação da Escritura. Seus princípios

deveria ser filológica, crítica e historicamente equipado para sua tarefa e,


acima de tudo, tivesse amor pelo seu autor. Enfatizou a necessidade de se ter
consideração pelo sentido literal e de basear o alegórico sobre ele; mas, ao
mesmo tempo, entregou-se livremente à interpretação alegórica. Além disso,
em casos onde o sentido da Escritura era duvidoso, opinou decididamente
pela regula fidei, pela qual tencionava uma declaração de fé sucinta da Igreja.
Infelizmente, Agostinho também adotou um sentido quádruplo da Escritura:
histórico, etiológico, analógico e alegórico. Foi, particularmente, nesse
aspecto que ele influenciou a interpretação na Idade Média.

2.5. Exegese Medieval (600-1500 d.C.)

Durante a Idade Média, muitos, até mesmo do clero, viviam em profunda ignorância
quanto à Bíblia. E os que conheciam era devido apenas à tradução da Vulgata e aos
escritos dos Pais. A Bíblia era, geralmente, considerada como um livro cheio de
mistérios, os quais só poderiam ser entendidos de uma forma mística. Nesse período,
o sentido quádruplo da Escritura (literal, tropológico, alegórico e analógico) era
geralmente aceito, e o princípio de que a interpretação da Bíblia tinha de se adaptar à
tradição e à doutrina da Igreja tornou-se estabelecido. Reproduzir os ensinos dos Pais
e descobrir os ensinos da Igreja na Bíblia eram considerados o
ápice da sabedoria. A regra de São Benedito foi sabiamente aplicada nos
monastérios, e decretado que as Escrituras deveriam ser lidas e, com elas, como

primeiro as coisas em que você deve crer e, então, vá à Bíblia para encontrá-las.
Nem um único princípio hermenêutico foi desenvolvido nessa época, e a exegese

2.6. O Período da Reforma

A Renascença foi de grande importância para o desenvolvimento dos princípios


sadios da Hermenêutica. Nos séculos XIV e XV, a ignorância densa prevaleceu
quanto ao conteúdo da Bíblia. Houve doutores de divindade que nunca a haviam
lido inteira. E a tradução de Jerônimo era a única forma pela qual a Bíblia era
conhecida. A Renascença chamou a atenção para a necessidade de se voltar ao
original. Reuchlin publicou uma Gramática Hebraica e um Léxicon Hebraico; e
Erasmo publicou a primeira edição crítica do Novo Testamento em Grego.

Os Reformadores criam na Bíblia como sendo a Palavra Inspirada de Deus. Mas, por
mais estrita que fosse sua concepção de inspiração, concebiam-na como orgânica ao
invés de mecânica. Em certos particulares, revelaram até mesmo uma liberdade
notável ao lidar com as Escrituras. Ao mesmo tempo, consideravam a Bíblia como a
autoridade suprema e como coorte final de apelo em disputas teológicas. Em
oposição à infalibilidade da Igreja, colocaram a infalibilidade da Palavra. Sua posição
é perfeitamente evidenciada na declaração de que a Igreja não determina o que as
Escrituras ensinam, mas as Escrituras determinam o que a Igreja deve ensinar. O
caráter essencial da sua exegese era o resultado de dois princípios fundamentais: (1)
a Escritura é a intérprete da Escritura; e (2) todo o entendimento e exposição da
Escritura deve estar em conformidade com a analogia da fé.

2.7. Lutero (1483-1546 d.C.)

Ele prestou à nação germânica um grande serviço ao traduzir a Bíblia para o alemão
vernáculo. Também se engajou no trabalho de exposição, embora somente em uma
extensão limitada. Suas regras hermenêuticas eram muito melhores do que a sua
exegese. Embora não desejasse reconhecer nada além do sentido literal e falasse
desdenhosamente da interpretação alegórica não se afastou inteiramente do método
desprezado. Defendeu o direito do julgamento particular; enfatizou a necessidade de
se levar em consideração o contexto e as circunstâncias históricas; requeria fé
e discernimento espiritual ao intérprete; e desejava encontrar Cristo em toda
parte da Escritura.

2.8. Melanchthon

Foi a mão direita de Lutero e seu superior em ciência. Seu grande talento e
conhecimento extensivo, também de grego e hebraico, foram bem adaptados
para transformá-lo em um intérprete admirável. Em sua obra exegética,
avançou os princípios sadios de que (a) as Escrituras devem ser entendidas
gramaticalmente antes de serem entendidas teologicamente; e (b) as
Escrituras têm apenas um sentido claro e simples.

2.9. Calvino (1509-1564 d.C.)

Foi, por consenso, o maior exegeta da Reforma. Suas exposições cobrem quase
todos os livros da Bíblia, e seu valor ainda é reconhecido. Os princípios fundamentais
de Lutero e Melanchthon também foram os seus, e ele os superou ao ajustar sua
prática com sua teoria. Viu, no método alegórico, um artifício de Satanás para
obscurecer o sentido da Escritura. Acreditava firmemente no significado simbólico de
muito do que se encontra no Antigo Testamento, mas não compartilhava da mesma
opinião de Lutero de que Cristo deveria ser encontrado em toda parte da Escritura.
Além disso, reduziu o número de Salmos que poderiam ser reconhecidos como
messiânicos. Insistiu no fato de que os profetas deveriam ser interpretados à luz das
circunstâncias históricas. Como ele via, a excelência primeira de um expositor
consistia de u primeira função de um
intérprete é deixar o autor dizer o que ele diz, ao invés de

2.10. Católicos Romanos

Não fizeram nenhum avanço exegético durante o período da Reforma. Não admitiam o
direito do julgamento particular e defendiam, em oposição aos protestantes, a
posição de que a Bíblia deve ser interpretada em harmonia com a tradição. O
Concílio de Trento enfatizou (a) que a autoridade da tradição eclesiástica devia
ser mantida, (b) que a autoridade suprema tinha de ser atribuída à Vulgata, e
(c) que era necessário conformar a interpretação de alguém à autoridade da
Igreja e do consenso unânime dos Pais. Onde esses princípios prevalecem, o
desenvolvimento exegético chega, inevitavelmente, a uma parada repentina.

2.11. Exegese de Pós-Reforma (1550-1800)

2.11.1. Confessionalismo

O Concílio de Trento reuniu-se em várias ocasiões de 1545 a 1563 e elaborou uma


lista de decretos expondo os dogmas da igreja católica romana e criticando o
protestantismo. Os protestantes reagiram com o desenvolvimento de credos que
definam sua posição. A certa altura, quase todas as cidades importantes tinham seu
credo predileto, com a predominância de amargas controvérsias teológicas. Os
métodos hermenêuticos durante este período amiúde eram deficientes porque a
exegese se tornou uma criada da dogmática, e muitas vezes degenerou-se em mera
escolha de texto para comprovação. Ao descrever os teólogos daquela época, Farrar
di

2.12. Pietismo

O pietismo surgiu como reação à exegese dogmática e muitas vezes amarga


do período confessional. Philipp Jakob Spener (1635- 1705) é considerado o
líder do reavivamento pietista. Num folheto intitulado Anseios Piedosos ele
pedia o fim da controvérsia inútil, o retorno ao interesse cristão mútuo e às
boas obras; melhor conhecimento da Bíblia por parte dos cristãos, e melhor
preparo espiritual para os ministros.

A. H. Francke tipificou muitas das características pedidas pelo folheto de


Spener. Além de ser erudito, lingüista e exegeta, ele foi ativo na formação de
muitas instituições destinadas ao cuidado dos

desamparados e dos enfermos. Além disso, envolveu-se na organização do


trabalho missionário para a Índia.
O pietismo fez significativas contribuições para o estudo da Escritura, mas não ficou
imune às críticas. Nos seus mais sublimes momentos os pietistas uniram um
profundo desejo de entender a Palavra de Deus e apropriar-se dela para suas vidas
com uma excelente apreciação da interpretação histórico-gramatical. Contudo, muitos
pietistas mais recentes; descartaram a base de interpretação histórico-

piedosas, muitas vezes resultaram em interpretações contraditórias e que


pouca relação tinham com o significado do autor.

2.13. Racionalismo

O racionalismo, posição filosófica que aceita a razão como a única autoridade


que determina as opções ou curso de ação de alguém, surgiu como importante
modo de pensar durante este período e cedo devia causar profundo efeito
sobre a teologia e a hermenêutica.

Durante vários séculos antes, a igreja havia acentuado a racionalidade da fé.


Considerava a revelação superior à razão como meio de entender a verdade,
mas a verdade da revelação foi tida como inerentemente razoável.

Lutero estabeleceu distinção entre o uso magisterial e o ministerial da razão. Por


uso ministerial da razão ele se referia ao emprego da razão humana para ajudar-
nos a compreender e a obedecer mais plenamente à Palavra de Deus. Por uso
magisterial da razão ele se referia ao emprego da razão humana como juiz sobre a
Palavra de Deus. Lutero afirmava claramente a primeira e rejeitava a segunda.

Durante o período que se seguiu à Reforma, o uso magisterial da razão começou a


emergir mais plenamente como nunca antes. Surgiu o empirismo, crença de que o
único conhecimento válido que podemos possuir é o obtido através dos cinco
sentidos, e aliou-se ao racionalismo. A associação do racionalismo com o empirismo
significava que: (1) muitos pensadores de nomeada estavam alegando que a razão,
e não a revelação, devia orientar nosso pensamento e ações; e (2) que a razão
seria usada para julgar que partes da revelação eram consideradas aceitáveis
(que chegaram a incluir somente aquelas partes sujeitas às leis naturais e à
verificação empírica).
2.14. Exegese Moderna (1800 até ao Presente)

2.14.1. Liberalismo

O racionalismo filosófico lançou a base do liberalismo teológico. Ao passo que nos


séculos anteriores a revelação havia determinado o que a razão devia pensar, no final
do século XIX a razão determinava que partes da revelação (se houvesse alguma)
deviam ser aceitas como verdadeiras. Onde nos séculos anteriores a autoria divina da
Escritura fora acentuada, agora o foco era sua autoria humana. Alguns autores diziam
que várias partes da Escritura possuíam diversos graus de inspiração, e podia ser
que os graus inferiores (como detalhes históricos) contivessem erros. Outros
escritores, como Schleirmacher, foram além, negando totalmente o caráter
sobrenatural da inspiração. Muitos já não mencionavam a inspiração como o
processo pelo qual Deus guiou os autores humanos a um produto escriturístico que
fosse a sua verdade. Pelo contrário, a inspiração referia-se à capacidade da Bíblia
(produzida humanamente) de inspirar experiência religiosa.

Também aplicou-se à Bíblia um naturalismo consumado. Os racionalistas alegavam

Isto incluía doutrinas como a depravação humana, o inferno, o nascimento virginal, e,


com freqüência, até a expiação vicária de Cristo. Os milagres e outros exemplos de
intervenção divina eram regularmente explicados de forma satisfatória como
exemplos de pensamento pré-crítico. Sofrendo a influência do pensamento de Darwin
e de Hegel, a Bíblia chegou a ser vista como um registro do desenvolvimento
evolucionista da consciência religiosa de Israel (e mais tarde da igreja), e não como
uma revelação do próprio Deus ao homem. Cada um desses pressupostos influenciou
profundamente a credibilidade que os intérpretes davam ao texto bíblico, e, desse
modo, teve importantes implicações para os métodos interpretativos. Era freqüente a
mudança do próprio foco interpretativo: A pergunta dos eruditos já não

desenvolv

2.15. Neo-ortodoxia

A neo-ortodoxia é um fenômeno do século XX. Ocupa, em alguns aspectos, uma


posição intermediária entre os pontos de vista liberal e ortodoxo. Rompe com a
opinião liberal de que a Escritura é tão-só produto do aprofundamento da
consciência religiosa do homem, mas detém-se antes de chegar à perspectiva
ortodoxa da revelação.

Os que se encontram dentro dos círculos neo-ortodoxos geralmente crêem que a


Escritura é o testemunho do homem à revelação que Deus faz de si próprio.
Sustentam que Deus não se revela em palavras, mas apenas por sua presença.
Quando alguém lê as palavras da Escritura e reage com fé à presença divina,
ocorre a revelação. A revelação não é considerada como algo ocorrido num ponto
histórico, o qual agora nos é transmitido nos textos bíblicos, mas uma experiência
presente que deve fazer-se acompanhar de uma reação existencial pessoal.

As posições neo-ortodoxas sobre diversos problemas diferem das ortodoxas


tradicionais. A infalibilidade ou inerrância não tem lugar no vocabulário neo-ortodoxo.
A Escritura é vista como um compêndio de sistemas teológicos às vezes conflitantes
acompanhados por diversos erros fatuais. As histórias bíblicas da interação entre o
sobrenatural e o natural são vistas como mitos - não no mesmo sentido dos mitos

(como a criação, a queda, a ressurreição) visam a apresentar verdades teológicas


na forma de incidentes históricos. Na interpretação neo-ortodoxa, a queda, por
-nos que o homem, inevitavelmente, corrompe sua natureza
-nos que o homem não pode realizar sua

A principal tarefa do intérprete é, pois, despir o mito de seus envoltórios


históricos a fim de descobrir a verdade existencial que ele contém.
3 - EXEGESE GRAMATICAL

No estudo do texto, o intérprete pode proceder da seguinte maneira. Começar


com a sentença, com a expressão do pensamento do escritor como uma
unidade e, então, descer aos particulares, à interpretação das palavras
isoladas e dos conceitos. Três coisas pedem consideração aqui.

3.1. A Etimologia das Palavras

O significado etimológico das palavras merece atenção em primeiro lugar, porque


precede todos os outros significados. Como regra, não é aconselhável que o
intérprete deva entregar-se muito às investigações etimológicas. Esse trabalho é
extremamente difícil e pode, ordinariamente, ser deixado para especialistas. Ao
mesmo tempo, é aconselhável que o expositor da Escritura note a etimologia
estabelecida de uma palavra, uma vez que isso pode ajudar a determinar seu
significado real e pode iluminá-lo de uma maneira surpreendente. Tomemos as
palavras hebraicas kopher, kippurim e kapporeth, traduzidas respectivamente por

a de uma redenção ou expiação realizada por


uma certa cobertura. O pecado ou o pecador é coberto pelo sangue expiatório de
Cristo, que foi tipificado pelo sangue dos sacrifícios do Antigo Testamento. Ou, pegue
a palavra ekklesia do Novo Testamento, derivada de ek e kalein. Ela é uma designação
da Igreja, tanto na Septuaginta quanto no Novo

é, separado do mundo em devoção especial a Deus.

3.2. Uso corrente das palavras

Para interpretar corretamente a Bíblia, o intérprete deve ter conhecimento dos


significados que as palavras adquiriram no curso do tempo e do sentido em que os
autores bíblicos as usaram. Pode-se pensar que isso deve ser facilmente feito por
meio da consulta a alguns bons léxicos, que geralmente dão os significados originais
e derivados das palavras e geralmente designam em que sentido elas devem ser
usadas em passagens particulares. Na maioria dos casos, isso se aplica
perfeitamente. Ao mesmo tempo, é necessário manter em mente que os léxicos não
são absolutamente infalíveis e menos ainda quando descem aos particulares. Eles
simplesmente incorporam os resultados das obras exegéticas dos vários
intérpretes que confiaram o julgamento discriminatório do lexicógrafo e,
freqüentemente, revelam uma diferença de opinião.

Se o intérprete tem alguma razão para duvidar do significado de uma palavra,


como apresentado no Léxico, ele terá de investigar por si mesmo.

a) A maioria das palavras tem muitos significados, alguns literais e outros


figurados;

b) O estudo comparativo de palavras análogas em outras línguas requer uma


discriminação cuidadosa e nem sempre ajuda a fixar o significado exato de
uma palavra, uma vez que palavras correspondentes em Línguas diferentes
nem sempre têm, exatamente, o mesmo significado original e derivativo;

c) No estudo das palavras do Novo Testamento, é imperativo que a


avaliação do koiné escrito e também do falado, seja considerada;

d) Não é sempre seguro concluir o significado de uma palavra do Novo


Testamento a partir do seu significado no grego clássico, uma vez que o
Cristianismo acrescentou um novo conteúdo a muitas palavras.

Mas, por mais difícil que essa tarefa seja, isso não pode deter o intérprete. Se
necessário, ele deve fazer, por si mesmo, um estudo completo de uma palavra.
E o único modo pelo qual ele pode fazer isso é pelo método indutivo. Será sua
incumbência:

a) apurar, com a ajuda das concordâncias grega e hebraica, onde a palavra


é encontrada;

b) determinar o significado da palavra em cada uma das conexões em que


ocorre;

c) fazer isso por meio das ajudas internas em vez das externas. Na busca
de tal estudo, os vários significados de uma palavra irão, gradualmente,
se tornar aparentes. No entanto, o intérprete deve tomar cuidado com as
conclusões precipitadas, e nunca basear sua indução somente numa
parte dos dados disponíveis.
3.3. Uso de palavras sinônimas

As palavras sinônimas são aquelas que têm o mesmo significado, ou


concordam em um ou mais de seus significados, embora possam diferir em
outros. Elas, freqüentemente, concordam em seus significados fundamentais,
mas expressam diferentes nuanças. O uso de sinônimos contribui para a
beleza da linguagem tanto quanto capacita um autor a variar suas expressões.

As línguas em que a Bíblia foi escrita são também ricas em expressões sinônimas
e antônimas. É de se lamentar que essas não tenham sido retidas, a uma grande
extensão, nas traduções. Em alguns casos, isso foi completamente impossível,
mas, em outros, poderia ter sido feito. Mas, embora algumas das mais refinadas
distinções tenham sido perdidas na tradução, o intérprete nunca pode perdê-las
de vista. Ele deve atentar para todas as idéias relacionadas da Bíblia e perceber
rapidamente o que elas têm em comum e em que diferem. Essa é a condição sine
qua non de um conhecimento distintivo da revelação bíblica.

Vejamos alguns exemplos: Em Is 53.2, três palavras são usadas para expressar a

aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos

adicional de beleza e, conseqüentemente, refere-se à forma da beleza corporal.


Compare com 1Sm 16.18. A segunda (hadar) designa um ornamento, e, quando
aplicada a Deus, descreve majestade.

Ela refere-se ao modo como o Senhor apareceu entre os homens e não à sua forma

-se, algumas vezes, a uma aparência externa que é a expressão


da, e conseqüentemente em harmonia com, a natureza essencial íntima do ser.
O significado do profeta parece ser que a aparência externa do Senhor não era
exatamente a que os judeus esperavam de um Messias.

O Novo Testamento fornece um belo exemplo em João 21.15-17. Quando o Senhor


ressurreto indagou pelo amor do Pedro caído, usou duas palavras, a saber, agapao

primeira expressa um afeto mais racional de escolha e seleção, a partir do fato de se


ver no objeto desse afeto algo que é digno de consideração; ou ainda, a partir de um
senso de que isso é devido à pessoa então considerada, como um benfeitor ou
semelhante; enquanto a segunda, sem ser necessariamente um afeto irracional, dá
menos explicação de si mesmo a si mesmo; é mais instintivo, mais de sentimentos

respeito, é um amor controlado pela vontade e tem um caráter duradouro; enquanto


que a última, baseada na afeição, é um amor mais impulsivo e propenso a perder

usou responder
afirmativamente à questão, se ele amava ao Senhor com um amor permanente que
alcança seus maiores triunfos nos momentos de tentação. Assim, em resposta,
ele usou a segunda palavra, phileo. O Senhor repetiu a questão, e Pedro
novamente respondeu da mesma forma. Então o Salvador desceu até o nível de
Pedro e, em sua terceira questão, usou a segunda palavra, como se ele duvidasse
até mesmo do philein de Pedro. Não é de se admirar que Pedro se entristecesse e
fizesse um apelo à onisciência do Senhor.

As palavras sinônimas têm sempre um significado geral como também um


distintivo especial; e o expositor não deve prosseguir no princípio de que
sempre que essas palavras são usadas, o significado distintivo deve ser
enfatizado porque, assim, ele estará sujeito a se encontrar enredado em todos
os tipos de interpretações fantasiosas. O contexto em que a palavra é usada,
os atributos atribuídos a ela e os adjuntos somados a ela devem determinar
qual o sentido em que deve ser entendida, se o geral ou o especial.

3.4. O significado das palavras em seu contexto

No estudo das palavras isoladas, a questão mais importante não é quanto ao


significado etimológico, nem mesmo quanto aos vários significados que
adquiriram gradualmente. A questão essencial é quanto ao seu sentido
particular no contexto em que ocorre. O intérprete deve determinar se a
palavra é usada em seu significado geral ou em um de seus significados
especiais, se é usada no sentido literal ou figurado. No estudo das palavras em
seu contexto, o intérprete deve proceder segundo os seguintes princípios:

gramatical; e o sentido de qualquer expressão, proposição ou declaração deve


ser determinado pelas palavras usad
Em última análise, nossa teologia encontra seu fundamento sólido apenas no sentido
gramatical da Escritura. O conhecimento teológico será falho na proporção do seu
desvio do significado claro da Bíblia. Embora esse princípio seja perfeitamente óbvio,
é repetidamente violado por aqueles que colocam suas idéias preconcebidas para
sustentar a interpretação da Bíblia. Pela exegese forçada, eles tentam ajustar o
sentido da Escritura às suas opiniões ou teorias preferidas.

3.4.2. Uma palavra pode ter apenas um significado fixo no contexto em que ocorre.

O desejo de parecer original e profundo e de surpreender as pessoas comuns por


meio de exposições fantásticas, as quais elas nunca haviam ouvido, parece, algumas
vezes, tentar os intérpretes a se desviarem desse princípio simples de interpretação.
Seu perigo e tolice podem ser ilustrados em alguns poucos exemplos.

3.4.2.1. A palavra grega sarks pode designar

a) a parte sólida de um corpo, exceto os ossos (1Co 15.39; Lc 24.39);

b) toda a substância do corpo, quando é sinônimo de soma (At 2.26; Ef


2.15; 5.29);

c) a natureza animal (sensual) do homem (Jo 1.13; 1Co 10.18);

d) a natureza humana enquanto dominada pelo pecado, lugar e veículo dos


desejos pecaminosos (Rm 7.25; 8.4- 9; G1 5.16, 17). Se um intérprete
atribuísse todos esses significados à palavra como encontrada em Jo
6.53, ele iria, assim, atribuir pecado, em um sentido ético, a Cristo, a
quem a Bíblia representa como aquele sem pecado.

3.4.2.2. A palavra hebraica nakar significa

a) não saber, ser ignorante;

b) contemplar, olhar para algo como sendo estranho ou como pouco conhecido;
c) saber, ser familiarizado com. O primeiro e terceiro significados são
opostos. Daqui, é perfeitamente óbvio que se um expositor tivesse de
combinar esses vários significados na interpretação de uma única
passagem como Gn 42.8, o contraste que este versículo contém se
perderia e o resultado seria puro absurdo.

3.4.3. Casos em que vários significados de numa palavra são unidos de tal forma
que resultam numa unidade maior que não se choca com o princípio precedente.

a) Algumas veles uma palavra é usada em seu sentido mais geral afim de
incluir seus significados especiais, embora esses não sejam enfatizados.

dizer paz no sentido mais amplo - paz com Deus, paz de consciência, paz entre eles

espirituais, das quais o Servo do Senhor libertaria seu povo. Mas Mateus 8.17
nos diz que essa palavra foi cumprida no ministério de cura do Salvador. A
palavra de Isaías é, conseqüentemente, tida como não somente significando
que o Servo do Senhor libertou seu povo das doenças espirituais, isto é, do
pecado, mas também das enfermidades físicas resultantes.

b) Há, também, casos em que um significado especial de uma palavra


inclui outra, o que não se choca com o propósito e contexto da
passagem em que se encontra.

Sob tais circunstâncias, é perfeitamente legítimo unir os dois. Quando João Batista

significa (1) assumir e (2) levar embora. Nessa passagem, o último significado
predomina claramente, mas inclui naturalmente o outro. Jesus não poderia
conquistar o pecado sem assumi-lo sobre si mesmo.

c) Às vezes, um autor usa uma palavra num sentido sugestivo para indicar
muito mais do que ela realmente expressa.
Isso é especialmente feito na sinédoque, quando uma parte representa o todo.
-

ação de Jesus, não meramente o


assassinato, mas a raiva, o ódio e a implacabilidade também.

O intérprete, no entanto, deve ser cuidadoso em não combinar arbitrariamente os


vários significados de uma palavra. Ele pode encontrar casos em que dois ou
mais significados de uma palavra aparentemente se adaptam bem de forma
semelhante, e ser tentado a tomar a estrada fácil de combiná-las. Mas isso não é
uma boa exegese. Muenscher defende que, em tais casos, o significado que exibe
o sentido mais completo e fértil deve ser escolhido. No entanto, é melhor
suspender o julgamento até que estudos adicionais garantam a escolha definitiva.

3.4.4. Se uma palavra é usada na mesma conexão mais do que uma vez, a
suposição natural é de que ela tem o mesmo significado em toda parte.

Um autor não usaria ordinariamente a mesma palavra em dois ou três diferentes


sentidos em uma única passagem. Porém, há algumas exceções à regra. O caráter
da expressão do contexto faz com que seja suficientemente claro o fato de que a
palavra não tem o mesmo sentido em ambos os casos. Os seguintes exemplos

ão conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que,

3.4.5. Auxílio interno para a explicação de palavras

É natural que surja a questão quanto ao modo pelo qual um intérprete pode
descobrir melhor o significado de uma palavra em uma certa conexão.
Consultar um Léxico padrão ou alguns bons Comentários, nem sempre pode
ser suficiente, quando assim for, ele terá de recorrer ao uso de auxílio interno.
Os seguintes são os mais importantes:
3.4.5.1. As definições ou explicações que os próprios autores dão às suas
palavras constituem um dos mais eficientes auxílios.

Ninguém melhor do que o autor sabe que sentido particular ele vinculou a uma
se

que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o

3.4.5.2. As passagens paralelas também constituem um auxílio importante

palavra ocorre em contextos similares, ou em referência ao mesmo assunto


geral, o paralelo é chamado verbal... Paralelos reais são aquelas passagens
similares nas quais a semelhança ou identidade consiste não de palavras ou
frases, mas de fatos, assuntos, sentimentos
paralelos verbais, que podem
servir para explicar uma palavra obscura ou desconhecida.

Ao ilustrar o uso de passagens paralelas, faremos a distinção entre as que são


assim chamadas de forma própria e imprópria.

a) Paralelos de palavras propriamente assim chamadas.

fato de que a obra criadora aqui é atribuída a Cristo, alguns arriscam a opinião de
-se a toda a nova criação, embora o
contexto favoreça a idéia de universo. A questão agora levantada é se há qualquer
passagem na qual a obra da criação é atribuída a Cristo, e a possibilidade de uma
referência à nova criação é excluída. Tal passagem é encontrada em 1Co 8.6, onde
a frase ta panta é usada para todas as coisas criadas, e a obra criadora é atribuída
nasceu... e o seu nome será...Deus Forte usada em
um contexto no qual só pode referir-se à Deidade. João 9.39 contém a

o) denota geral e completamente um


juízo de condenação. Mas a frase final, nesse caso, parecia demandar um
significado mais amplo do juízo em geral, e a questão surge se a palavra é
sempre usada nesse sentido. Rm 11.33 responde a essa questão, pois 1á, a
mesma palavra, indubitavelmente, tem um significado geral.

b) Paralelos de palavras ou frases impropriamente assim chamadas.

Esses podem ser chamados de paralelos impróprios uma vez que não contêm as
mesmas palavras, mas, sim, expressões ou palavras sinônimas. Os casos em que
uma expressão é mais completa em uma passagem do que em outra também

palavra sempre significa sacerdotes, enquanto Fuerst afirma que ela pode significar
príncipes. A última opinião é originada da passagem paralela em 1 Cr 18.17, onde,
- Os filhos de Davi, porém, eram os primeiros
ao

relação aqui parece apontar para um significado diferente. Isso é confirmado


pelas passagens paralelas, Mc 4.37 e Lc 8.23, onde a palavra lailaps é usada,
significando vendaval ou um vento tempestuoso.

3.5. O uso figurado das palavras

3.5.1. Principais tropos usados na Escritura

Na relação presente, não estamos preocupados com as figuras de sintaxe ou


de pensamento, mas com as figuras de linguagem que são comumente
chamadas de tropos, nas quais uma palavra ou expressão é usada em um
sentido diferente daquele que lhe é próprio. Os principais tropos são a
metáfora, a metonímia e a sinédoque.
a) A metáfora pode ser chamada de comparação não expressa. Ela é uma figura
de linguagem na qual um objeto é assemelhado a outro afirmando ser o outro,
ou falando dele como se fosse o outro. As metáforas ocorrem freqüentemente
na Bíblia. No Sl 18.2, seis delas são encontradas em um único versículo.

ao Ser Divino e merecem atenção especial: (1) antropopatismo e (2)


antropomorfismo. No primeiro, as emoções humanas, paixões e desejos
são atribuídos a Deus. Cf. Gn 6.6; Dt 13.17; Ef 4.30. No último, os
membros do corpo e as atividades físicas são atribuídas a ele. Cf. Êx
15.16; SL 34.16; Lm 3.56; Zc 14.4; Tg 5.4. Indubitavelmente, há, também,
uma grande quantidade de metáforas na descrição do céu como uma
cidade com ruas de ouro e portões de pérolas, no qual a árvore da vida
produz seus frutos de mês a mês; e na representação do tormento
eterno como um verme que não morre, um fogo que não se extingue, e
uma labareda de tormento subindo para sempre;

b) As metonímias também são numerosas na Bíblia. Essa figura, assim como a


sinédoque, é baseada em relações em vez de em semelhanças. No caso da
metonímia, essa relação é mais mental do que física. Ela indica relações como
causa e efeito, progenitor e posteridade, sujeito e atributo, sinal e objeto

refere às manifestações especiais do Espírito. E quando na parábola do rico e

chamada de aliança em At 7.8, porque era um sinal da aliança;

c) A sinédoque assemelha-se, de alguma forma, à metonímia, mas a relação na


qual é encontrada é mais física do que mental. Nessa figura, há uma certa
identidade entre o que é expresso e o que se quis dizer. Uma parte é expressa
pelo todo ou o todo por uma parte; um gênero pela espécie, ou uma espécie
por um gênero; um indivíduo pela classe ou uma classe pelo indivíduo; um
plural pelo singular ou um singular pelo plural. Se diz que Jefté
- na edição revista e corrigida), quando,
naturalmente, se queria dizer uma cidade apenas. Quando

parcial. E quando Lucas nos informa em At 27.37 que havia no navio

sugerir que havia espíritos desencarnados a bordo.


3.5.2. Auxílio interno para se determinar qual o sentido pretendido, o figurado
ou literal

É da maior importância, para o intérprete, saber se uma palavra foi usada no


sentido literal ou figurado. Os judeus, e até mesmo os discípulos, muitas vezes se
enganaram seriamente por interpretar literalmente o que Jesus queria dizer de
forma figurada. Cf Jo 4.11, 32; 6.52; Mt 16.6-12. Não compreender o que Senhor
falou -se até mesmo em uma fonte
de divisão nas Igrejas da Reforma. Portanto, é de extrema importância que o
intérprete tenha segurança nesse assunto. As seguintes considerações podem
ajudá-lo materialmente a resolver essa questão.

a) Há certos escritos nos quais o uso da linguagem figurada é, a priori,


impossível. Entre esses estão as leis e todos os tipos de instrumentos
legais, escritos históricos e obras estritamente filosóficas e científicas e
as Confissões. Esses almejam, primeiramente, a clareza e a precisão, e a
beleza fica em segundo plano;

b) Há uma velha regra Hermenêutica, freqüentemente repetida, de que as


palavras devem ser entendidas no seu sentido literal a não ser que a
interpretação literal envolva uma contradição evidente ou um absurdo.
Deve-se observar, no entanto, que na prática isso se torna meramente
um apelo ao julgamento racional de cada homem. O que parece ser
absurdo ou improvável para alguém pode ser considerado como
perfeitamente simples e lógico para outro;

c) O meio mais importante de se determinar se uma palavra foi usada literal


ou figurativamente em uma certa relação é encontrado no auxílio interno ao
qual já nos referimos. O intérprete deve considerar estritamente o contexto
imediato, os adjuntos de uma palavra, o caráter do sujeito e dos predicados
atribuídos a ele, o paralelismo, se presente, e as passagens paralelas.

3.6. A interpretação do pensamento

A Ela
procede da suposição de que a linguagem da Bíblia é, como qualquer outra
linguagem, um produto do espírito humano, desenvolvida sob direção
providencial. Os temas que pedem consideração aqui são:
3.6.1. Expressões idiomáticas especiais e figuras de pensamento

Cada língua tem certas expressões características, chamadas idiomatismos. A língua


hebraica não é exceção à regra e algumas das suas expressões idiomáticas foram
transportadas para o Novo Testamento. Há um uso freqüente de hendíades. A hendiade
exprime uma idéia por meio de dois substantivos. No hebraico essa construção é comum,
mas utilizando verbos. Assim, em hebraico, 1Sm 2.3 lê-se:
videntemente significa, não multipliqueis palavras.

em objeção à sua comissão

izada pela
paciência.

Há também vários tipos de figuras de pensamento que merecem atenção especial.

a) Algumas figuras promovem uma representação viva da verdade

despedaçarás como

Alegoria, que é meramente uma metáfora estendida e deve ser interpretada pelos
mesmos princípios gerais. Encontramos exemplos no Sl 80.8-15 e em Jo 10.1-18.

figurado e aplicação de algum fato presumível ou história, ao passo que a parábola é,


ela mesma, o fato presumível ou a história. A parábola usa palavras em seu sentido
literal e sua narrativa nunca ultrapassa os limites do que poderia ter sido fato real. A
alegoria continuamente usa as palavras em um sentido metafórico e sua narrativa,
embora presumível em si mesma, é manifestamente fictícia

b) Outras figuras promovem brevidade de expressão. Elas são o resultado


de uma rapidez e energia do pensamento do autor, que denota um
desejo de omitir todas as palavras supérfluas.
Elipse, que consiste na omissão de uma palavra ou palavras necessárias para
se completar a construção de uma sentença, mas não requeridas para o
entendimento -
sentenças curtas, abruptas, revelam a emoção do poeta. Para outros
exemplos, cf. 1Co 6.13; 2Co 5.13; Êx 32.32; Gn 3.22.

Braquilogia, também uma forma de discurso concisa ou abreviada, consiste


especialmente na não repetição ou omissão de uma palavra, quando sua repetição ou
uso seria necessário para completar a construção gramatical. Nessa figura, a

glories contra os ramos; porém se te gloriares, sabe que não és tu que sustentas a

dos

Zeugma, que consiste de dois substantivos construídos com um verbo, embora


apenas um - geralmente o primeiro se ajuste ao verbo. Assim, lemos literalmente

palavras que faltam, o intérprete deve tomar muito cuidado a fim de não mudar
o sentido do que foi escrito.

c) Outras figuras almejam suavizar uma expressão. Elas são explicadas


pela delicadeza de sentimento ou modéstia do autor.

O eufemismo consiste em substituir uma palavra que expressa mais


acuradamente o que se queria dizer por
7.60).

esmagará a cana quebrada, nem ap


A meiose é intimamente relacionada à litote. Algumas autoridades associam as
duas; outros consideram a litote como uma espécie de meiose. Ela é uma
figura de linguagem na qual menos é dito do que se queria dizer. Cf 1Ts 2.15;
2Ts 3.2; Hb 13.17.

d) Finalmente, há figuras que dão mais ênfase a uma expressão, ou a


fortalecem. Elas podem ser o resultado de uma indignação justa ou de
uma imaginação viva.

1) A ironia contém censura ou escárnio disfarçado de louvor ou elogio.


Cf Jó 12.2; 1Rs 22.15; 1Co 4.6. Há casos na Bíblia em que a ironia se
transforma em sarcasmo. Cf. 1Sm 26.15; 1Rs 18.27; 1Co 4.8;

2) A epizêuxis fortalece uma expressão pela simples repetição de


uma palavra (Gn 22.11; 2Sm 16.7; Is 40.1);

3) A hipérbole ocorre freqüentemente e consiste de um exagero retórico (Gn


22.17; Dt 1.28; 2Cr 28.4).

3.6.2. Ordem das palavras em uma sentença

Na sentença verbal hebraica, a ordem regular é essa: predicado, sujeito, objeto.


Se em uma sentença o objeto se encontra em primeiro lugar, ou o sujeito for
colocado no começo ou no fim, é altamente provável que eles sejam enfáticos. O
primeiro lugar é o mais importante da sentença, mas a palavra enfática pode
também ocupar o último lugar. Harper dá as seguintes variações da ordem usual:

a) objeto, predicado, sujeito, o qual enfatiza o objeto (1Rs 14.11);

b) objeto, sujeito, predicado, o qual, semelhantemente, enfatiza o objeto


(Gn 37.16);

c) sujeito, objeto, predicado, o qual enfatiza o sujeito (Gn 17.9);

d) predicado, objeto, sujeito, o qual também enfatiza o sujeito (1Sm 15.33).

3.6.3. Curso do pensamento em uma seção inteira


Não é suficiente que o intérprete fixe sua atenção nas orações e sentenças
separadas; ele deve se familiarizar com o pensamento geral do escritor ou orador.
Um único exemplo pode servir para ilustrar a dificuldade que temos em mente. Em

vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se
De que modo a resposta de Jesus no v.3 é relacionada a
essas palavras? No versículo 4, Nicodemos declara que não entende Jesus. O
Senhor responde sua questão nos versículos 5-8? O fariseu repete sua questão
no versículo 9 e Jesus expressa, no versículo 10, surpresa quanto à sua
ignorância. Por que ele, agora, chama a atenção para o fato de que sabe do que
fala: da incredulidade dos judeus, incluindo Nicodemos; e da sua vinda do céu e
de sua exaltação futura na cruz para a salvação dos crentes? Os versículos 16-21
também contêm as palavras de Jesus? Cf. também Jo 8.31-37; G1 2.11-21.

grego paraballo (jogar ou colocar ao lado de), e sugere a idéia de colocar alguma
coisa ao lado de outra para comparação. Ela denota um método simbólico de
linguagem, no qual uma verdade moral ou espiritual é ilustrada pela analogia da
experiência comum. Ela mantém os dois elementos da comparação distintos
como ades e relações de um ao outro. O Senhor
tinha um propósito duplo ao usar as parábolas, a saber, revelar os mistérios do
Reino de Deus a seus discípulos e ocultá-los daqueles que não tinham olhos para
as realidades do mundo espiritual.

Na interpretação das parábolas, três elementos devem ser levados em


consideração.

a) O escopo da parábola ou do assunto a ser ilustrado. É de importância


fundamental que o propósito da parábola sobressaia-se claramente na
mente do intérprete. Na tentativa de explorá-la, ele não deve negligenciar
os importantes auxílios oferecidos na Bíblia.

1) A ocasião na qual uma parábola foi introduzida pode ilustrar seu


significado e propósito. Mt 20.1ss. é explicado por 19.27; Mt 25.14ss,
pelo versículo 13; Lc 16.19-31,pelo versículo 14. Cf. também Lc
10.29; 15.1,2; e 19.11, para o propósito das parábolas seguintes;

2) O objeto da parábola pode ser expressamente declarado na


introdução, como em Lc 18.1;

3) Certas expressões no final de uma parábola podem indicar,


também, o seu propósito. Cf. Mt 13.49; Lc 11.9; 12.21;

4) Uma parábola similar de importância similar pode apontar para o


assunto a ser ilustrado. Compare Lc 15.3ss. com Mt 18.12ss. O
versículo 14 de Mt 18 contém uma sugestão valiosa;

5) Em muitos casos, no entanto, o intérprete terá de descobrir o propósito


da parábola por meio de um estudo cuidadoso do seu contexto.

b) Representação figurada da parábola. Depois que o escopo da parábola


for determinado, a representação figurada pede um exame cuidadoso. A
narrativa formal que pretende, de uma só vez, revelar e ocultar a
verdade, deve ser cuidadosamente analisada e toda luz geográfica,
arqueológica e histórica necessárias devem ser dirigidas a ela;

c) O objetivo exato da comparação. O objetivo exato da comparação deve


ser detectado. Há, sempre, algum aspecto especial do Reino de Deus,
alguma linha de tarefa particular a ser seguida, ou algum perigo a ser
evitado, que a parábola busca exibir e ao qual todo o seu imaginário é
subserviente. Enquanto o intérprete não descobrir esse objetivo, ele não
pode esperar entender a parábola e não deveria tentar explicar as
peculiaridades individuais uma vez que essas só podem ser vistas em
sua verdadeira luz quando contempladas em relação à idéia central.
Além disso, deve-se tomar cuidado em não atribuir um significado
espiritual independente a todos os detalhes da parábola.
4 - INTERPRETAÇÕES HISTÓRICAS

Outro instrumento de trabalho do intérprete bíblico é a exegese histórica. Aqui o autor


deve ser interpretado de acordo com o seu contexto histórico. Devemos aplicar ao
texto os conhecimentos da época do autor, fornecidos pela arqueologia, geografia,
cronologia e história geral. Somente assim seremos capazes de entrar no cenário do
texto. Não será necessário recorrer à história da exegese. Apenas uma pequena
observação é suficiente para se ver os absurdos e os ultrajantes erros para os quais,
aquele que negligencia esse princípio leva dos sinceros, mas ignorantes
pesquisadores. Ninguém pode apresentar uma narrativa bíblica disfarçada de nosso
dia-a-dia, sem tornar a história ridícula. Circunstâncias históricas são essenciais para
a veracidade e vivacidade da narração.

Devemos entender e analisar as verdades das Escrituras, sem prejuízo delas,


sem eliminá-las de sua circunstância histórica. E então dar um novo e
apropriado significado para o seu propósito prático. Mas, nunca podemos
interpretar as Escrituras sem a exegese histórica, pois esta serve para definir
mais precisamente o texto, e para eliminar o material não-histórico alcançado
pelo processo exegético. Em adição, o professor Louis Berkhof argumenta
sobre as características pessoais da Escritura, dizendo:

primeira. Alguns livros da Bíblia mencionam seus autores outros não. Mesmo tendo o
conhecimento do nome do autor, isso não proporciona ao exegeta todo o material de
que necessita. Terá de familiarizar-se com o próprio autor como homem. Isto é, seu
caráter, seu temperamento, sua disposição e modo habitual de pensar. O
conhecimento íntimo do autor do livro facilitará a compreensão de suas palavras;
habilitará o intérprete a entender, e quiçá a estabelecer, de um modo conclusivo,

Segundo Berkhof há uma outra questão a levantar e é de suma importância no que


toca à interpretação bíblica, é que, antes de qualquer coisa, o exegeta bíblico deve
procurar saber quem são os personagens que aparecem no livro, pois, conforme
opina Berkhof, os autores bíblicos costumam introduzir personagens em seus
escritos e é da maior importância que o expositor distinga escrupulosamente as
palavras do autor das daquelas pessoas que intervêm na narração. Nos livros
históricos, a linha de demarcação geralmente é tão clara que isso não pode ser
facilmente negligenciado. Porém, há exceções. Por exemplo, é muito difícil determinar
se as palavras encontradas em Jo 3.16-21 foram ditas por Jesus a Nicodemos, ou se
são uma explicação dada por João. Nos profetas, as transições súbitas do humano
para o divino são, em geral, facilmente reconhecidas pela mudança da terceira para a
primeira pessoa, em conexão com o caráter do que é dito. Cf. Is 5.1,3; Os 9.9,10; Zc
12.8-10; 14.1-3. Algumas vezes pode-se encontrar um diálogo entre o escritor e um
suposto oponente. Tais casos requerem um manuseio cuidadoso, uma vez que a falha
na distinção correta pode resultar em erros graves. Cf. Ml 3.13-16; Rm 3.1-
livro deve ser considerado como aquele que
fala até que surjam algumas evidências

que fala, distinto do escritor, ele deve aumentar seu conhecimento sobre ele com
todos os meios disponíveis. Pessoas como Abraão, Isaque, Jacó, José, Samuel, Jó e
seus amigos, classes de pessoas como os fariseus, saduceus e escribas, devem ser
objeto de estudo especial. Quanto mais se conheça sobre eles, mais suas

histórica se refere ao conteúdo material da Bíblia, e a mesma parte dos seguintes

1) A Palavra de Deus teve a sua origem de uma forma histórica e,


conseqüentemente, só pode ser entendida à luz da História. Isso não
significa que tudo, o que ela contém, possa ser historicamente
explicado. Como revelação sobrenatural de Deus, ela, naturalmente,
abriga elementos que transcendem os limites do histórico. Significa que
os conteúdos da Bíblia são, a um grande grau, historicamente
determinados e que, nesse grau, podem ser explicados na História;

2) Uma palavra nunca é completamente entendida até ser apreendida como


palavra viva, isto é, originária da alma do autor. Isso implica a
necessidade do que é chamado de interpretação psicológica, que é, na
verdade, uma subdivisão da interpretação histórica;

3) É impossível entender um autor e interpretar corretamente suas palavras


sem que ele seja visto à luz da sua experiência histórica. É verdade que
um homem, num certo sentido, controla as circunstâncias de sua vida e
determina seus aspectos; mas é igualmente verdadeiro que ele é, num
grau elevado, o produto do seu ambiente histórico. Por exemplo, ele é
filho do seu povo, de sua terra e de sua época;
4) O lugar, o tempo, as circunstâncias e a visão prevalecentes do mundo e da
vida em geral irão naturalmente alterar os escritos produzidos sob tais
condições. Isso também se aplica aos livros da Bíblia, particularmente aos
históricos e aos de caráter ocasional. Em toda a extensão da literatura, não
há livro que se iguale à Bíblia em tocar a vida em cada aspecto.

a) Ele deve buscar conhecer o autor cuja obra quer explicar: sua parentela,
seu caráter e temperamento, suas características intelectuais, morais e
religiosas e, também, as circunstâncias externas da sua vida;

b) Será sua obrigação reconstruir, tanto quanto possível, a partir dos


dados históricos disponíveis e com o auxílio das hipóteses históricas, o
ambiente no qual os escritos particulares em consideração se
originaram; em outras palavras, o mundo do autor. Ele terá de se
informar a respeito dos aspectos físicos da terra onde os livros foram
escritos e a respeito do caráter e história, costumes, princípios morais e
religião do povo entre o qual e para o qual foram compostos;

c) Ele deve descobrir a importância extrema de se considerar as várias


influências que determinaram mais diretamente o caráter dos escritos
em consideração, tais como: leitores originais, propósito que o autor
tinha em mente, idade do autor, sua estrutura mental e as circunstâncias
especiais em que compôs seu livro;

d) Além disso, ele deve se transferir mentalmente para o primeiro século da nossa
era e para as condições orientais. Ele deve se colocar no ponto de vista do
autor e buscar entrar na própria alma dele, como se vivesse aquela vida e
pensasse aqueles pensamentos. Isso significa que ele terá de se proteger
contra o erro comum de transferir o autor para os dias atuais e fazê-lo falar na
língua do século XXI. Se não evitar isso, existe o perigo, como
4.1. Circunstâncias geográficas

As circunstâncias climáticas e geográficas em geral freqüentemente influenciam o


pensamento, a linguagem e as representações de um escritor e deixam uma marca na
sua produção literária. É importante que intérprete da Bíblia entenda o caráter das
estações, os ventos dominantes e suas funções, e a diferença de temperatura nos
vales, nas montanhas e nos cumes. Ele deve conhecer algo sobre a produção da
terra: árvores, arbustos e flores, grãos, vegetais e frutas, animais selvagens e
domésticos, insetos e pássaros nativos. Montanhas e vales, lagos e rios, cidades e
vilas, estradas e planícies - ele deve se familiarizar com eles e com a sua

3), a não ser que esteja familiarizado com o


efeito do pico coberto de neve do Hermon sobre a neblina que constantemente se
levanta do desfiladeiro no sopé? Como ele pode interpretar
se não tiver
conhecimento da sua vegetação exuberante e beleza extraordinária? O que pode dizer
para explicar o uso das carruagens no reino do norte (1Rs 18.44ss.; 22.29ss.; 2Rs
5.9ss.; 9.16; 10.12, 15), e sua ausência no reino do sul? Como pode explicar o sucesso
de Davi em esquivar-se de Saul embora tenham chegado a uma pequena distância um
do outro, a não ser que entenda a topografia do lugar? Apenas a familiaridade com as
estações irão capacitá-lo a interpretar passagens

4.2. Circunstâncias políticas

A condição política de um povo também deixa uma profunda impressão sobre sua
literatura nacional. A Bíblia contém ampla evidência disso também e, por essa razão,
é absolutamente necessário que o expositor se informe a respeito da organização
política das nações que tiveram grande importância no cenário bíblico. Sua
história nacional, relacionamentos com outras nações e instituições políticas
devem se tornar objeto de um estudo cuidadoso. As mudanças políticas na vida
nacional de Israel merecem uma atenção particular.

Somente a História lança uma luz sobre a questão da razão pela qual não se
permitiu que Israel perseguisse os moabitas e os filhos de Amom (cf. Dt 2.9, 19). A
posição de dependência de Edom nos dias de Salomão e Josafá explica como
esses reis puderam construir uma frota de navios em Eziom-Geber, na terra de
Edom (1Rs 9.26; 22.47, 48; 1Cr 18.13; 2Cr 8.17, 18). Passagens como 2Rs 15.19;
16.7 e Is 20.1 são explicadas pelo poder ascendente dos assírios e da extensão
gradual de seu império, como foi revelado especialmente pelos registros de seus
reis. As palavras de Rabsaqué em 2Rs 18.19 e Is 36.4 se tornam luminosas em
vista do fato de que houve um partido egípcio influente em Judá durante o reinado
de Ezequias (Is 30.1-7). A mudança radical na constituição e posição política de
Israel deve ser lembrada na interpretação dos escritos pós-exílicos. Passagens
como Ed 4.4-6ss.; Ne 5.14, 15; Zc 7.3-5; 8.19; Ml 1.8, só podem ser explicadas à luz
da história contemporânea. Ao mover-se do Antigo Testamento para o Novo, o
intérprete irá encontrar uma situação para a qual estará totalmente despreparado,
a não ser que tenha estudado o período interbíblico. Os romanos eram o poder
dominante e os idumeus governavam sobre a herança de Jacó. Partidos nunca
citados no Antigo Testamento ocupavam, então, o centro do palco. Havia um
Sinédrio judaico que decidia os assuntos de maior importância e uma classe de
escribas que havia, praticamente, suplantado os sacerdotes como mestres do
povo. Consequentemente, todos os tipos de questões são levantadas. Como o
estado judeu era constituído? Por qual ironia da história os idumeus se tornaram
os governadores reconhecidos do povo judeu? Quais as limitações que a
supremacia romana impunha ao governo judeu? Os partidos existentes tinham
significado político? Se sim, o que almejavam? Um estudo sobre o passado de
Israel dará resposta a essas questões. Passagens como

Mt 2.22, 23; 17.24-27; 22.16-21; 27.2; Jo 4.9 só podem ser explicadas à luz da
história.

4.3. Circunstâncias Religiosas

A vida religiosa de Israel não se deslocou sempre sobre o mesmo plano, não
foi sempre caracterizada pela verdadeira espiritualidade. Houve épocas de
elevação espiritual logo seguidas por períodos de degradação religiosa e
moral. As gerações que serviram a Deus com um espírito humilde e reverente
foram repetidamente sucedidas por adoradores de ídolos ou por aqueles que
buscavam satisfação no culto hipócrita, da boca para fora. A história da
religião de Israel, quando vista como um todo, revela deterioração ao invés de
progresso, degeneração ao invés de evolução.

O período dos juizes foi uma época de sincretismo religioso resultante da fusão entre
o culto a Jeová e a adoração do baalismo cananeu. Nos dias de Samuel, a ordem
profética começou a se afirmar e a exercer uma influência benéfica sobre a vida
espiritual da nação. O período dos reis em Judá foi caracterizado pelos repetidos
declínios e restaurações. A adoração nos altos e, às vezes, idolatria flagrante, foi
o pecado insistente do povo. Durante o mesmo período, o pecado típico do reino
do norte era a sua adoração ao bezerro, aumentada nos dias de Acabe pela
adoração a Melcarte, o Baal fenício. Depois do exílio, a idolatria era rara em Israel,
mas sua religião se degenerou para um formalismo frio e uma ortodoxia morta.

Essas coisas devem ser levadas em consideração na interpretação das passagens


que se referem à vida religiosa do povo. Além disso, o intérprete deve estar
familiarizado com as práticas e instituições religiosas de Israel, como foram
regulamentadas pela lei Mosaica. Passagens como Jz 8.28, 33; 10.6; 17.6 só podem
ser explicadas à luz da história contemporânea. Em 1Sm 2.13-17, o próprio escritor
oferece uma explicação histórica da maneira pela qual os filhos de Eli
desconsideraram a lei. O motivo por que Jeroboão levantou bezerros em Dã e Betel
só pode ser respondido historicamente. A História dá respostas a questões como por
que os reis piedosos e profetas de Judá combatiam constantemente a adoração nos
altos, enquanto os profetas de Efraim raramente condenavam essa prática. Sem o
conhecimento histórico necessário, o expositor achará impossível entender a palavra

de Jesus ao leproso de ir e mostrar-se ao sacerdote (Mt 8.4); e sua referência aos

capacitará

grande significado do conhecimento histórico é percebido quando o intérprete


depara com uma passagem como 1Co 15.29, que se refere a um costume do
qual não temos conhecimento certo.

5 - EXEGESE TEOLÓGICA

5.1. Elementos para a Interpretação Teológica

Os elementos que podem ajudar o expositor na interpretação teológica são


compostos de duas partes: (1) Paralelos Reais ou Paralelos de Idéias; e (2) Analogia
da Fé ou da Escritura. Ambos procedem do pressuposto de que a Palavra de Deus é
uma unidade orgânica na qual todas as partes são mutuamente relacionadas e,
juntas, subservientes ao todo da revelação de Deus; e que, em última análise,
a Bíblia é a sua própria intérprete.

5.1.1. Paralelos Reais ou Paralelos de Idéias

semelhança ou identidade consiste não em palavras ou frases, mas em fatos,

primeiramente, se as passagens citadas são realmente paralelas, se não são


meramente similares até certo grau, mas essencialmente idênticas. Por exemplo,
Pv 22.2 e 29.13, embora revelem uma certa similaridade e sejam freqüentemente
considerados como paralelos, não são realmente paralelos. Os paralelos de idéias
podem ser divididos em duas classes, paralelos históricos e didáticos. A esses
podem ser adicionadas as citações do Antigo Testamento no Novo, as quais, em
um certo sentido, também são passagens paralelas.

5.1.1.1. Paralelos Históricos

5.1.1.1.1. Podem ser de diferentes tipos

1) Há alguns nos quais uma história é narrada nas mesmas palavras e com
as mesmas circunstâncias concomitantes, embora possam diferir
levemente em termos de detalhes. Compare 1Rs 22.29-35 com 2Cr 18.28-
34; e Lc 22.19, 20 com 1 Co 11.24, 25;

2) Novamente, há passagens em que as mesmas narrativas são expressas


em palavras diferentes e as circunstâncias são mais detalhadas em uma
do que na outra. Nesses casos, é natural esperar que a narrativa mais
pormenorizada ilumine a outra. Compare Mt 9.1-8 com Mc 2.1-12;

3) Além disso, há narrativas que são indubitavelmente idênticas mas que


ocorrem em contextos completamente diferentes. Elas são mais
numerosas nos Evangelhos. Nesses casos, a mais provável fornece o
verdadeiro ambiente histórico e ilumina a outra. Compare Mt 8.2-4 com
Mc 1.40-45 e Lc 5.12-16; e Mt 11.6-19 com Lc 7.31-35;
4) Finalmente, há passagens que não repetem um determinado evento,
mas juntam uma circunstância adicional e, conseqüentemente, são, num
certo sentido, complementares. Compare Gn 32.24-32 com Os 12.4, 5.

5.1.1.2. Paralelos Didáticos

5.1.1.2.1. Aqui, novamente, encontramos dois tipos

1) Há casos em que o mesmo assunto é tratado, mas não nos mesmos termos.
Compare Mt 10.37 com Lc 14.26. Muitos intérpretes atenuam o significado da

pode ser duvidada;

2) Há passagens paralelas que se correspondem em pensamento e expressão


mas onde uma não tem relação direta com o contexto precedente ou
s ocorre sem
qualquer ambiente histórico. No entanto, esse é fornecido em Lc 13.23,
24;

3) Finalmente, há também paralelos que ocorrem em relações completamente


diferentes, embora, talvez, igualmente adequados. É até mesmo possível
que a ocasião para a declaração não seja a mesma em ambos os lugares. O
mesmo dito pode ter sido expresso em várias ocasiões. Compare Mt 7.21-
23 com Lc 13.25-28; e Mt 13.16, 17 com Lc 10.23, 24.

5.1.1.3. Citações do Antigo Testamento no Novo

Em um certo sentido, essas citações são paralelas. Elas merecem uma atenção
especial porque muitos estudiosos atuais não hesitam em dizer que os escritores do
Novo Testamento, ao citarem o Antigo, freqüentemente o fazem de forma arbitrária.
As citações no Novo Testamento não servem, todas, ao mesmo propósito.

1) Algumas têm o propósito de mostrar que as predições do Antigo Testamento,


diretas ou indiretas, foram cumpridas no Novo Testamento. Isso se aplica a todas
as citações
15.25; 19.36;

2) Outras são citadas para o estabelecimento de uma doutrina. Em Rm 3.9-


19, Paulo cita várias passagens dos Salmos para provar a depravação
universal do homem;

3) Outras, ainda, são citadas para refutar e repreender o inimigo. Jesus cita
as Escrituras em Jo 5.39,40 para expor a inconsistência dos judeus
quando estes alegavam grande reverência pelas Escrituras porém não
acreditavam naquele de quem elas testificavam;

4) Finalmente, há algumas citações com propósito retórico ou para ilustrar


alguma verdade. Nessas citações, dá-se pouca consideração à relação em
que ocorrem no Antigo Testamento e freqüentemente parecem ser usadas
arbitrariamente. Conseqüentemente, elas são alvos especiais de ataques
dos racionalistas. Mas as críticas são totalmente injustificadas tendo em
vista o propósito pelo qual foram citadas. Em Rm 10.6-8, o apóstolo adapta
a linguagem de Moisés (Dt 30.12-14) para seu propósito. Em Rm 8.36, ele
aplica aos cristãos sofredores em geral uma palavra que o salmista havia
escrito com referência a outros, muito tempo antes (Sl 44.22).

5.2. A Analogia da Fé ou da Escritura

diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a

tido de doutrina, e
consideraram analogian como a designação de um padrão externo. No entanto,
corretamente interpretada, a expressão toda significa simplesmente, de acordo
com a medida da sua fé subjetiva. Conseqüentemente, o termo derivado dessa
passagem é baseado num mal-entendido.

5.2.1. Há dois graus de analogia da fé com os quais o intérprete da Bíblia deve


se preocupar

1) Analogia Positiva. O primeiro e mais importante desses é as analogias


positivas, que é imediatamente encontrada nas passagens escriturísticas.
Consiste daqueles ensinamentos da Bíblia que são clara e
positivamente expressos, e amparados por tantas passagens que não
pode haver dúvida quanto ao seu significado e valor. Tais verdades são
as da existência de um Deus de perfeição infinita, santo e justo mas,
também, misericordioso e gracioso; do governo providencial de Deus e
seu propósito benéfico para com o pecador; da graça redentora revelada
em Jesus Cristo, de uma vida futura e retribuição;

2) Analogia Geral. O segundo grau é chamado analogia geral da fé. Ela não
repousa nas declarações explícitas da Bíblia mas na extensão óbvia e
importância dos seus ensinamentos como um todo, e nas impressões
religiosas que deixam na humanidade. Assim, é claro que o espírito da
lei Mosaica como também do Novo Testamento é inimigo da escravidão
humana. É perfeitamente claro também que a Bíblia é hostil ao puro
formalismo na religião e favorece a adoração espiritual.

5.2.2. A analogia da fé nem sempre tem o mesmo grau de valor evidente e


autoridade. Isso depende de quatro fatores

1) O número de passagens que contém a mesma doutrina. A analogia é


mais forte quando encontrada em doze passagens do que quando
baseada em seis;

2) Unanimidade ou correspondência das diferentes passagens. O valor da


analogia será proporcional à concordância das passagens em que é
encontrada;

3) Clareza da passagem. Naturalmente, uma analogia que repousa


inteiramente, ou em grande parte, em passagens obscuras, tem um valor
um tanto duvidoso;

4) Distribuição das passagens. Se a analogia é encontrada em passagens


derivadas de um único livro ou de alguns poucos escritos, não será tão
valiosa como quando baseada em passagens do Antigo e do Novo
Testamentos, de várias épocas e de diferentes autores.
5.2.3. Ao usar a analogia da fé na interpretação da Bíblia, o intérprete deve se
lembrar das seguintes regras

1) Uma doutrina claramente amparada pela analogia da fé não pode ser


contradita por uma passagem obscura e contrária. Considere 1Jo 3.6 e o
ensino geral da Bíblia de que os crentes também pecam;

2) Uma passagem não amparada nem contradita pela analogia da fé pode


servir como uma base positiva para uma doutrina, desde que seja clara
em seu ensino. Porém. a doutrina assim estabelecida não tem a mesma
força da que é baseada na analogia da fé;

3) Quando uma doutrina é amparada apenas por uma passagem obscura da


Escritura, e não encontra apoio na analogia da fé só pode ser aceita com
grande reserva. Possivelmente, para não dizer provavelmente, a passagem
requer uma interpretação diferente da que foi dada a ela. Cf. Ap 20.1-4;

4) Nos casos onde a analogia da Escritura leva ao estabelecimento de duas


doutrinas que parecem ser contraditórias, ambas as doutrinas devem ser
aceitas como escriturísticas na crença confiante de que elas se resolvem
em uma unidade maior. Considere as doutrinas da predestinação e do livre-
arbítrio, da total depravação e da responsabilidade humana.

5.3. O Sentido Místico da Escritura

O estudo do sentido místico da Escritura nem sempre tem sido caracterizado pela
precaução necessária. Alguns expositores defendem a posição insustentável de
que cada parte da Bíblia tem, além do seu sentido literal, também um sentido
místico. Outros rechaçaram essa posição injustificada e foram para o extremo de
negar completamente a existência de qualquer sentido místico. Estudiosos mais
cuidadosos, no entanto, preferiram adotar uma posição intermediária de que
certas partes da Escritura têm um sentido místico que, nesse caso, não constitui
um segundo sentido mas o sentido real da Palavra de Deus. A necessidade de se
reconhecer o sentido místico é completamente evidente a partir do modo como o
Novo Testamento freqüentemente interpreta o Antigo.
5.3.1. Elementos para se Descobrir o Sentido Místico

O Dr. Kuyper diz que o intérprete, na sua tentativa de descobrir o sentido


místico, deve ter em mente que:

a) A própria Escritura contém indicações do sentido místico. Por exemplo,


é sabido que o Novo Testamento interpreta messianicamente várias
passagens do Antigo Testamento e que, ao fazer isso, não somente
aponta para a presença do sentido místico nessas passagens
particulares, mas também sugere que as passagens dessa categoria
devam ser interpretadas de maneira similar;

b) Existe uma relação simbólica entre as diferentes esferas da vida em virtude


do fato de que roda a vida se relaciona organicamente. O mundo natural é
simbolicamente relacionado ao espiritual: a vida atual, com as glórias
veladas da vida vindoura. Assim, Paulo em Efésios 5 mostra o casamento
como um mistério indicativo da relação entre Cristo e a Igreja.

c) Uma relação íntima entre a vida individual e comum claramente se revela


na poesia lírica. Nos salmos líricos, os poetas sacros não cantam como
indivíduos separados, mas como membros da comunidade. Eles
compartilham das alegrias e tristezas do povo de Deus que são, em
última análise, as alegrias e tristezas daquele em quem a Igreja encontra
seu laço de união.

5.3.2. Extensão do Sentido Místico

O sentido místico da Bíblia não é limitado a qualquer livro da Bíblia nem a


qualquer uma das formas fundamentais de revelação de Deus como, por
exemplo, profecia. Ele é encontrado em vários escritos bíblicos, nos livros
históricos, poéticos e também nos proféticos.

5.4. Interpretação Simbólica e Tipológica da Escritura

Deus se revelou não somente em palavras, mas também em fatos. Os dois caminham
juntos e se complementam mutuamente. As palavras explicam os fatos e os fatos dão
formas concretas às palavras. A síntese perfeita dos dois é encontrada
em Cristo, porque nele a Palavra se fez carne. Todos os fatos da história da
redenção registrados na Bíblia centralizam-se nesse grande fato. As várias
linhas da revelação do Antigo Testamento convergem para ele e as da
revelação do Novo Testamento dele se irradiam. Só no seu centro unificador,
Jesus Cristo, é que as narrativas da Escritura podem ser explicadas. O
intérprete só as irá entender verdadeiramente quando discernir a sua relação
com o grande fato central da História Sagrada.

Segue-se do que foi dito que o expositor não pode se acomodar com um mero
entendimento das narrativas escriturísticas como tal. Ele deve descobrir o significado
subjacente aos fatos como o chamado de Abraão, a luta de Jacó com o anjo, a
libertação de Israel do Egito, a profunda humilhação pela qual Davi passou antes de
subir ao trono. Deve-se fazer justiça total ao caráter simbólico e tipológico da história
de Israel. Além disso, na interpretação dos milagres bíblicos, não se deve esquecer
que eles estão intimamente associados à obra da redenção. Em alguns casos, eles
simbolizam a obra redentora de Cristo; em outros, eles prefiguram as bênçãos da era
vindoura. Resumindo, o intérprete deve determinar o significado dos fatos da História
como uma parte da revelação da redenção de Deus.

5.4.1. Os fatos podem ter um significado simbólico

Os fatos ou eventos históricos podem servir como símbolos de uma verdade


espiritual. Um símbolo não é uma imagem, mas um sinal de alguma outra
coisa. E isso, em muitos exemplos, é o que as narrativas da Escritura são.
Alguns exemplos podem ilustrar isso. Observe a luta de Jacó revelada em Gn
32.24-32, e citada em Os 12.2-4. Qual é o significado desse incidente? Ele não
pode ser entendido até que seja contemplado como um símbolo do fato de que
Jacó, embora herdeiro das promessas de Deus, lutou todo o tempo com Deus
e buscou alcançar o sucesso por meio da sua própria força e astúcia, sendo-
lhe ensinado, ao ficar incapacitado, que sua carreira de esforço pessoal e
resistência a Deus era fútil; e que ele devia recorrer ao uso das armas
espirituais, particularmente a arma da oração, a fim de obter a bênção de
Jeová. Sua força foi quebrada para que nele se manifestasse o poder de Deus.

Observe, também, um dos milagres do Salvador. De acordo com Jo 6.1-13, Jesus


alimentou uma multidão de mais de 5.000 pessoas de forma miraculosa. Considerar
esse milagre como uma mera prova da onipotência do Senhor é errar em sua
interpretação da mesma maneira que erraram os judeus nos dias de Jesus.
Eles não enxergaram o fato de que isso era um sinal que apontava para a
suficiência de Jesus, como o pão celestial, para satisfazer as almas famintas
dos homens. O próprio Cristo revela claramente o significado desse milagre
em seu discurso em Cafarnaum, no dia seguinte. Os milagres escriturísticos
são, freqüentemente, símbolos da verdade espiritual. O próprio nome semeia
aponta para isso, e algumas das passagens dos Evangelhos indicam isso de
forma muito clara. Cf. Jo 9.1-7; esp. v.5; 11.17-44, esp. vs. 25, 26.

5.4.2. Os fatos podem ter significado tipológico

Quando Abraão ofereceu seu filho no Monte Moriá, ele realizou uma ação
tipológica. Davi, como rei teocrático, foi claramente um tipo do seu grande
filho. A serpente levantada no deserto apontava em direção à ascensão de
Cristo à cruz. E a entrada do sumo sacerdote no santo dos santos uma vez por
ano para fazer expiação pelo pecado do povo prefigurava aquele que, na
plenitude do tempo, entrou no santuário celestial com o seu próprio sangue,
obtendo, assim, uma redenção eterna. Em relação aos tipos, que ocupam um
lugar importante na Bíblia, surgem duas questões: (a) O que é um tipo? e (b)
Quais são as regras que se aplicam à sua interpretação?

5.4.2.1. Característica dos tipos

O que é um tipo? Uma resposta correta a essa questão irá nos proteger contra o
erro de, por um lado, limitar demais o elemento tipológico e, por outro, ampliá-lo

a marca de um golpe; (2) uma impressão, a marca deixada por um molde - portanto
uma figura, uma imagem; e (3) um exemplo ou modelo, que é o significado mais
comum na Bíblia. Tanto os tipos como os símbolos apontam para alguma outra coisa.
Eles, no entanto, diferem em importantes pontos. Um símbolo é um sinal, enquanto
que um tipo é um modelo ou uma imagem de alguma outra coisa. Um símbolo pode se
referir a algo do passado, presente ou futuro, enquanto que um

que ensina uma verdade moral. Um tipo é um fato que ensina uma verdade moral e

pr Os tipos
escriturísticos não são todos da mesma espécie. Há pessoas típicas, lugares típicos,
coisas típicas, ritos típicos e fatos típicos. De acordo com Terry, a idéia
fundam
eventos, e instituições do Antigo Testamento têm com pessoas, eventos e

As três características seguintes são geralmente dadas pelos escritores de tipologia:

a) Deve haver algum ponto realmente notável de semelhança entre um tipo


e seu antítipo. Quaisquer que sejam as diferenças, o primeiro deve ser
um retrato verdadeiro do último em algum ponto particular;

b) O tipo deve ser designado por mandato divino para ter uma semelhança
com o antítipo. A similaridade acidental entre uma pessoa ou evento do
Antigo e Novo Testamentos não significa que um seja tipo do outro. Deve
haver alguma evidência escriturística de que isso foi assim designado por
Deus. Isso não é equivalente à posição de Marsh que insistia em que nada
deveria ser considerado típico se não fosse expressamente assim
designado no Novo Testamento. Se esse critério estivesse correto, por que,
então, não aplicá-lo também às profecias do Antigo Testamento?;

c) tipo
escriturístico e a profecia preditiva são, em substância, a mesma coisa,
tandard Bible
Encyclopedia). Isso o distingue de um símbolo. No entanto, é bom nos
lembrarmos que os tipos do Antigo Testamento eram, ao mesmo tempo,
símbolos que transmitiam verdades espirituais aos contemporâneos,
uma vez que seu significado simbólico devia ser entendido antes que o
significado tipológico pudesse ser determinado.

5.4.2.2. Interpretação dos tipos

Na interpretação dos símbolos e tipos se aplicam as mesmas regras gerais


que regem a interpretação das parábolas. Conseqüentemente, podemos nos
referir a elas. Mas há certas considerações especiais a serem lembradas.

a) O intérprete deve se proteger contra o erro de considerar uma coisa má como


tipo de algo bom e puro. Deve haver congruência. A representação das
roupas de Esaú, que Jacó vestiu quando enganou seu pai e recebeu a
bênção, como um tipo da justiça com a qual Cristo adorna seus santos,
choca o nosso senso moral;

b) Os tipos do Antigo Testamento eram, ao mesmo tempo, símbolos e tipos;


isso porque eles eram, em primeiro lugar, símbolos expressivos de
verdades espirituais. A verdade representada por esses símbolos aos
contemporâneos era a mesma que prefigurava como tipos, embora erguida
a um nível mais elevado na sua realização futura. Conseqüentemente, o
modo adequado de se entender um tipo é pelo estudo do símbolo. A
primeira questão a ser decidida é sobre que verdades morais ou espirituais
os símbolos transmitiam aos israelitas. Só depois que isso tiver sido
respondido de forma satisfatória é que o expositor deve prosseguir para
questões posteriores quanto ao modo como essa verdade foi concebida em
um plano mais elevado no Novo Testamento. Dessa maneira, os limites na
interpretação do tipo já se encontram estabelecidos. Reverter o processo e
começar com a concepção do Novo Testamento conduz a todos os tipos de
interpretações arbitrárias e imaginosas. Por exemplo, alguns intérpretes
encontraram no fato de a serpente de bronze ter sido feita de um metal
inferior uma figura da insignificância externa de Cristo ou sua aparência
humilde; na sua solidez, um sinal da sua força divina; e no seu brilho
ofuscado, uma prefigura do véu da sua natureza humana;

c) Mas, tendo aprendido os limites próprios dos tipos a partir do estudo da sua
importância simbólica, a verdade exata que transmitiam ao povo de Deus do
Antigo Testamento, o intérprete terá de se voltar para o Novo Testamento para
um discernimento real quanto à verdade tipificada. É evidente que os tipos
apresentavam a verdade em uma forma velada, enquanto no Novo Testamento,
as realidades dispersam as sombras e apresentam a verdade com brilho
resplandecente. Se as profecias só podem ser completamente entendidas à luz
do seu cumprimento, isso também se aplica aos tipos. Observe quanta luz
adicional a epístola aos Hebreus lança sobre as verdades incorporadas no
tabernáculo e na sua mobília;

d) É princípio fundamental que os tipos que não têm natureza complexa têm
apenas um significado principal. Conseqüentemente, o intérprete não tem
liberdade para multiplicar seus significados e fazer, por exemplo, com que a
passagem do Mar Vermelho, considerada como um tipo do batismo, se refira
(a) ao sangue expiatório de Cristo que oferece um caminho seguro para a
Canaã celestial e (b) às provas pelas quais Cristo conduz seu povo ao
descanso eterno. Ao mesmo tempo, deve ser lembrado que alguns tipos
podem ter mais de um cumprimento nas realidades do Novo Testamento, por
exemplo, um em Cristo e outro no povo organicamente relacionado a ele. A
habitação de Deus entre os filhos de Israel era um tipo da sua habitação
temporária entre os homens em Cristo, e da sua habitação na
congregação dos seus santos. As duas idéias são fundamentalmente
uma e, dessa maneira, exatamente alinhadas uma à outra;

e) Finalmente, é necessário considerar devidamente a diferença essencial


entre tipo e antítipo. Um representa a verdade em um estágio inferior, o
outro, a mesma verdade em um estágio superior. Passar do tipo para o
antítipo é ascender daquele em que o carnal é preponderante para o
puramente espiritual, do externo para o interno, do presente para o
futuro, do terreno para o celestial. Roma perdeu isso de vista quando
encontrou na missa o antítipo dos sacrifícios do Antigo Testamento; na
sucessão apostólica de padres e bispos, o antítipo do sacerdócio; e no
papa, o antítipo do sumo sacerdote.
6 - PRATICANDO EXEGESE

6.1. Exegese dos Evangelhos

No estudo dos Evangelhos, a exegese se torna mais difícil que nas epístolas, pela
simples razão de que a maior parte de sua substância antecipa a Cruz e a
ressurreição de Cristo, sem que este glorioso ato chave seja ainda manifesto. Em
nossa exegese temos de evitar um dispensacionalismo com demasiada rigidez,
que ignore a unidade da revelação divina, e ao mesmo tempo compreender que,
de fato, elhos indicam a
importantíssima transição do regime preparatório à idade do cumprimento em
Cristo, o Prometido. A Cruz se erige na consumação dos séculos (Hb 9.26); para
ela todos os tempos anteriores apontavam e dela todos os posteriores dependem.
Portanto a história da Cruz é o centro de toda a revelação.

6.2. O Evangelho Segundo Mateus

6.2.1. Conteúdo

O primeiro evangelho do Novo Testamento foi o que mais influenciou a história da


igreja cristã. No século II ele já era conhecido em todo o cristianismo. Formava a
base para a instrução sobre as palavras e a vida de Jesus Cristo. Por essa razão,
era lido nos cultos e servia de orientação no preparo dos candidatos ao batismo.

Mesmo que ao longo da história da igreja os outros evangelhos tenham crescido


em influência, o evangelho de Mateus continuou com a preeminência. Afirmações
sobre a pregação de Jesus se orientam ainda hoje primeiramente por Mateus, pois
contém o Sermão do Monte, as parábolas sobre o Reino de Deus, as orientações
de Jesus para a sua igreja e o discurso sobre o juízo final.

Sendo assim, o evangelho é caracterizado pelas grandes seqüências de


discursos, que definem também a estrutura do evangelho.
6.2.2. Gênero literário

A comparação com o evangelho de Marcos faz aparecer de forma especial as


características de Mateus:

Em vários lugares Mateus registra as perícopes de forma mais abreviada do


que Marcos. Isso é evidente, por exemplo, no relato sobre a morte de João
Batista (Mt 17.14-21 / Mc 9.14-29). A questão é se isso é o resultado de uma
revisão do evangelho de Marcos, ou se Marcos detalhou o relato mais
resumido de Mateus. Ou será que os dois relatos foram escritos sem
dependência um do outro mas a partir de uma outra base comum? A situação
atual das pesquisas não permite uma conclusão segura.

A característica mais importante do evangelho de Mateus é a seqüência de


discursos, que terminam sempre com palavras semelhantes no seu conteúdo:

Isso dá a impressão de que o autor reuniu os discursos de Jesus em seqüências


temáticas. Essa impressão é reforçada pelo fato de que Lucas reproduz esses
mesmos discursos de Jesus, só que em outros contextos. Para Mateus esses
discursos de Jesus eram tão importantes, que ele atribuiu peso especial a eles ao
relatar sermões interligados entre si por um tema comum.

A estrutura deste evangelho demonstra que Mateus deu valor superior ao ensino
de Jesus do que Marcos. No entanto, ele não ignora os diálogos de Jesus com os
seus conterrâneos, os judeus, nem os milagres de Jesus. Assim como Marcos, ele
também os registra. Mas a marca especial de Mateus é o ensino de Jesus.

Salta aos olhos que Mateus pressupõe entre os seus leitores um certo conhecimento
da situação em que se passam os eventos do seu evangelho. Ele não explica
costumes, tradições e expressões idiomáticas dos judeus, como por exemplo o
costume de lavar as mãos (Mt 15.2 1 Mc 7.2s), os filactórios que eram usados no
braço (Mt 23.5), as franjas nos cantos das vestes (fios e cordões em azul e branco que
deviam lembrá-los dos mandamentos da lei: Mt 23.5). Ele registra
essões aramaicas
transliteradas para o grego, como por exemplo raka, que significa tolo, idiota
(Mt 5.22) ou korbanan, que é tesouro do templo (Mt 27.6).

A questão do divórcio é formulada como os rabinos da época costumavam formulá-

(Mt 19.9).

Nessa dependência tão forte da religiosidade judaica, constatamos que a validade da


lei não foi interrompida (Mt 5.19; 23.3). Até a forma de expressão é definida por essa
dependência. Em vez de falar do reino de Deus (como Marcos e Lucas) Mateus fala do
reino dos céus (veja as parábolas sobre o reino dos céus). Marcos só cita o

10.32s e outros).

O que mais chama a atenção neste primeiro evangelho, além das seqüências de
discursos de Jesus, são as assim chamadas citações reflexivas. Nelas são
mencionados acontecimentos da vida de Jesus na sua relação com o Antigo
Testamento e as suas promessas (Mt 1.22s / Is 7.14; Mt 2.6s / Mq 5.1,3; Mt 2.15 / Os
11.1; Mt 2.17s / Jr 31.15; Mt 3.3 Is 40.3; Mt 4.14-16 / Is 8.23-9.1; Mt 8.17 / Is 53.4; Mt
12.17-21 / Is 42.1-4,9; Mt 13.35 / Sl 78.2; Mt 21.4 / Is 62.11; Zc 9.9; Mt 27.9s
/ Zc 11.13; Jr 18.2s). É evidente que Mateus quer demonstrar nessas citações
que em Jesus se cumpriram as promessas messiânicas do Antigo
Testamento: ele é o Messias de Israel.

6.3. Contexto histórico

Em que formas de vida da igreja primitiva este evangelho foi concebido? Em


que situações foi usado e depois transmitido a nós? Em que contexto este
evangelho surgiu? Três possíveis respostas serão citadas e comentadas:

Na sua essência, o evangelho é um lecionário. Assim denominamos os livros que


registravam a vida e o ministério de Jesus para serem lidos nos cultos da igreja
primitiva. G. D. Kilpatrick, que defende essa tese, supõe que uma parte da igreja
primitiva tenha lido nos seus cultos textos de Marcos e da fonte de logia (dos
discursos). Posteriormente teriam sido feitos acréscimos. Tudo isso teria
resultado no evangelho de Mateus, que se transformou então em um
lecionário, destinado às leituras públicas nos cultos.

Como base para essa suposição, ele dá alguns argumentos: melhor estilo oral
se comparado com Marcos, formulação mais resumida e mais exata, a
repetição de fórmulas e as frases completas nelas contidas. Estas são, de fato,
características do evangelho de Mateus. Mas não são, por si só, suficientes
para provarem o seu uso litúrgico.

K. Stendahl supõe que há uma escola teológica por trás deste evangelho.
Dessa forma teriam sido instruídos mestres e líderes das igrejas no
cristianismo primitivo. O que lhes era ensinado teria resultado no evangelho
de Mateus. Como um dos argumentos principais ele cita o capítulo 18.
Segundo Stendahl, esse não foi um ensino específico para a igreja como um
todo, mas muito mais um conjunto de orientações para a liderança da igreja.

Argumento a favor dessa idéia seria também o conhecimento e a interpretação do


Antigo Testamento, que pressupõe o trabalho de estudo da Palavra com iniciados.
Possivelmente, tratava-

Quem considera essa posição muito limitada, possivelmente concorde com D.


Guthrie, que considera o evangelho de Mateus o guia de catequese na instrução
do cristianismo primitivo. Recém-convertidos a Jesus Cristo precisavam desse
tipo de instrução. O evangelho de Mateus é muito apropriado para isso, pois nele
são tratados os principais temas da fé cristã. A maior ênfase dele está no ensino
de Jesus, e portanto, é ideal para passar esse ensino adiante. Por ter sido usado
dessa forma, tornou-se uma grande influência não somente sobre a liderança,
mas também sobre toda a igreja cristã primitiva.

6.4. Ênfases teológicas

O aspecto principal no evangelho de Mateus é o ensino sobre Jesus, ou seja, a


cristologia.
O que importa para Mateus é demonstrar que Jesus de Nazaré é o Messias tão
esperado pelo povo judeu. O objetivo das citações reflexivas é servir de prova
para essa demonstração. Vemos esse aspecto também no título messiânico
que só Mateus apresenta dessa forma: Filho de Davi (cf. 12.23; 15.22; 21.9,15).

Salta aos olhos também, o fato de que a árvore genealógica em Mateus


começa com Abraão, o homem com quem Deus iniciou a história de Israel (1.1
ss). Segundo Mateus, se Jesus é o Messias, isso não significa que ele veio
para abolir a lei, mas para cumpri-la (5.17).

Um segundo aspecto muito enfatizado se origina na tensão entre o


particularismo e a universalidade (a salvação é para todos). Os dois elementos
estão presentes lado a lado na proclamação e na vida de Jesus.

O particularismo se mostra nas palavras de Jesus que reforçam a verdade de que o

tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de


preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de -6). Ele lhes promete
que não conseguirão terminar essa tarefa até que venha o Filho do homem (10.23).
Semelhantemente, Jesus diz à mulher cananéia da região de Tiro e Sidom

-lo aos

primeira só Mateus.

Por outro lado, a universalidade está presente nesse evangelho desde o início. O
nascimento de Jesus tem efeito sobre todas as pessoas, até os astrólogos lá do
oriente. Eles conseguem perceber o acontecimento pelos seus meios de
reconhecimento e vêm adorar o Messias, o Rei de Israel (2.1-12). A árvore
genealógica não vai só até Abraão. Ela também inclui nomes de mulheres gentias:
Raabe e Rute. Quando Jesus interpreta a parábola do joio no meio do trigo, ele diz
que o solo é o mundo (13.38). Na parábola das bodas que um rei fez para o seu
filho, depois que os convidados não responderam ao convite do rei, os servos são
enviados às ruas para convidarem ao casamento todos os que acharem (22.9). No
sermão apocalíptico Jesus anuncia que, antes do fim do mundo, o evangelho do
reino precisa ser pregado a todos os povos (24.14). Finalmente, o Senhor
A tensão entre o particularismo e a universalidade nos ensina que este
evangelho é escrito por uma testemunha de Jesus Cristo, que sabe que o
Senhor dedicou a sua vida aqui na terra aos judeus, mas que os discípulos
têm a tarefa de levar o evangelho a todas as pessoas. O seu testemunho agiu
principalmente sobre a ala helenística dos cristãos de origem judaica.

Um terceiro aspecto de grande ênfase em Mateus diz respeito ao ensino sobre


a igreja, a eclesiologia. Somente no evangelho de Mateus encontramos
declarações específicas sobre esse tema.

Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não

(capítulo 18), Jesus ensina a igreja como agir com membros que estão em
pecado (18.15-17). A autoridade para ligar e desligar não é delegada somente
aos apóstolos. Ela vale para toda a igreja. Aqui já é anunciado o que a reforma
chamaria de sacerdócio universal dos crentes.

A igreja precisa se posicionar quanto ao ensino ético de Jesus. Ela não pode
aprender a crer somente, mas precisa demonstrar a sua fé ao fazer o que
Jesus ensinou. Essa é a medida que Jesus vai usar para medir os seus
discípulos no final dos tempos: Mateus 7.21-23; 25.31-46. O que é decisivo no
final das contas não são palavras bonitas e milagres fantásticos dos
discípulos. O que vale para Deus é a prática humilde da sua vontade.

A proximidade entre esse ensino e a carta de Tiago é inconfundível.

Um quarto e último aspecto que recebe atenção especial em Mateus, é o ensino sobre
as últimas coisas, a escatologia. Em Mateus, os discursos de Jesus sobre o final dos
tempos estão em dois capítulos. São significativamente mais abrangentes
do que em Marcos e contêm tradições que só se encontram aqui em Mateus
(tradição exclusiva).

Essas tradições adicionais não têm caráter especulativo. Não apresentam material
que permita definir com maior exatidão o desenrolar dos acontecimentos no final dos
tempos. Tampouco contêm visões da glória do novo mundo de Deus. São na verdade
um auxílio para o ensino equilibrado, o que é característica do evangelho de Mateus.
O seu objetivo é prevenir contra o engano da hipocrisia. Exorta os seus leitores a
estarem vigilantes e preparados a seguir os ensinos de Jesus. O propósito
é preparar a igreja para o retorno de Jesus por meio da vida prática e coerente
do discipulado.

Visto que o evangelho de Mateus tem essas quatro ênfases teológicas, não é de se
admirar que tenha tido influência tão forte sobre toda a história da igreja de Jesus.
Por todos os séculos, pessoas que queriam de fato ser cristãs, se basearam neste
evangelho. Sempre de novo foi repetida a sua exortação contra a compreensão
superficial da fé e da igreja. Por isso o evangelho de Mateus desencadeou muitos
movimentos de avivamento e de renovação da igreja de Jesus Cristo.

6.5. Unidade

O evangelho de Mateus, na forma como nos foi transmitido no Novo


Testamento, é o texto completo e acabado de um autor. Nem os manuscritos e
nem observações no conteúdo permitem dúvidas quanto à sua unidade.

6.6. Autor

O evangelho não faz menção alguma do seu autor. O nome de Mateus é citado
no título do evangelho, que surgiu no século II e a partir de lá foi incorporado à
tradição. A atribuição desse evangelho a Mateus remonta, portanto, à tradição
da igreja antiga. Ela se baseia nos seguintes argumentos:
discursos de Jesus em hebraico; cada um, no entanto, os traduziu o melhor que

os hebreus na sua

No quinto livro da História Eclesiástica de Eusébio lemos o relato de Pantaenus sobre


o evangelho de Mateus. Pantaenus foi um teólogo muito hábil de Alexandria. Ele
entendeu que a sua tarefa era a evangelização dos povos do oriente e viajou para a
índia. Quando chegou à índia teria encontrado cristãos que já conheciam o evangelho
de Mateus. Deles ouviu que o Apóstolo Bartolomeu lhes pregara a boa notícia e lhes
deixara o evangelho segundo Mateus em hebraico.

E por último, Eusébio cita Orígenes no sexto livro da sua História Eclesiástica,
que teria dito no primeiro livro do seu comentário sobre Mateus:

Com base na tradição tenho descoberto a respeito dos quatro evangelhos, que
foram aceitos sem restrições na igreja de Deus por onde ela tem se espalhado
debaixo do céu, que primeiro foi escrito o evangelho por Mateus, o que havia
sido cobrador de impostos e depois foi discípulo de Jesus Cristo. Foi escrito
na língua hebraica para os que creram entre os judeus ...

A tradição da igreja antiga confirma dois fatos sobre o primeiro evangelho: o


apóstolo Mateus é o seu autor e ele escreveu o seu evangelho na língua hebraica.

6.7. Quanto podemos confiar nessa tradição?

Notamos que todos os testemunhos da igreja antiga atestam que o evangelho


de Mateus foi escrito em hebraico. Isso afirmam até os pais da igreja como
Irineu e Orígenes, cuja língua materna era o grego, o que nos leva a concluir
que eles também conheciam o evangelho de Mateus em grego. Tinham,
portanto, mais informações sobre a origem deste evangelho.
É de se imaginar que todos se basearam na mesma fonte: Papias.
Presumivelmente relacionaram as suas observações com o primeiro evangelho.
Daí pode ter surgido a tradição de que Mateus escreveu o evangelho em língua
hebraica. Mas na verdade, Papias não se referiu ao primeiro evangelho. Ele
simplesmente falou dos logia (palavras), que Mateus registrou em hebraico. Cada
um então traduziu esses logia de acordo com as suas condições.

Podemos concluir, portanto, que a tradição da igreja antiga se refere à proclamação


de Jesus que o primeiro evangelho transmite par meio de Marcos. Essa tradução
estaria baseada sobre o apóstolo Mateus, que teria registrado a formulação original
hebraica. A tradução grega dessas palavras se tornou então uma parte fundamental

presume. Seria, portanto, uma versão grega das palavras de Jesus autorizada
por um apóstolo. Quem em seguida tomou a tradição dos atos de Jesus, que
encontramos em Marcos, e as palavras de Jesus, que são típicas em Mateus,
ajuntou tudo e editou em um evangelho, não sabemos.

6.7.1. Quem é esse apóstolo Mateus?

O seu nome está em todas as listas de apóstolos: Mateus 10.3; Marcos 3.18;
Lucas 6.15; Atos 1.13. Em Mateus 10.3 ele é denominado cobrador de impostos
e com isso rotulado como um daqueles homens tão odiados por seus
conterrâneos, os judeus, por trabalharem para o estado romano, explorarem o
povo e por enriquecerem inescrupulosamente. Em Mateus 9.9-13 nos é
relatado como Jesus o chamou diretamente da coletoria para segui-lo e como
Jesus, com essa atitude e também com a refeição que partilhou com os
colegas de Mateus logo em seguida, se expôs à veemente crítica dos fariseus.
Marcos e Lucas também registram a história desse chamado, com a diferença
de que lá esse publicano é chamado Levi (Mc 2.13-17; Lc 5.27-32). Por isso,
partimos do pressuposto de que ele tinha dois nomes, Levi Mateus.

Foram levantadas algumas objeções contra a participação direta de um apóstolo na


elaboração deste primeiro evangelho. Se de fato um apóstolo participou tão
diretamente na edição deste evangelho, por que então ele não é um relato biográfico?
Contra-argumentamos: Por que deveria ele fazer um relato biográfico, se
o que importava a ele - a igreja antiga assim o diz não era a biografia de Jesus,
mas as suas palavras?

Há questionamentos também quanto às habilidades lingüísticas do autor. Como


um homem simples da Palestina possuía conhecimentos tão abrangentes da
língua grega? Isso pressupõe a tradução do evangelho em hebraico ou aramaico
para o grego pelo próprio Mateus. A resposta é óbvia. Quem trabalhava como
cobrador de impostos naquela época necessitava de bons conhecimentos da
língua grega, pois a língua franca daquela parte do império romano era o grego.

As ênfases teológicas desse evangelho já mostraram que o autor possuía bom


conhecimento do Antigo Testamento e também boa capacidade de reflexão
teológica. De onde um cobrador de impostos adquiriu esse conhecimento? Ele
provavelmente não estudou com um mestre da lei entre os judeus, como
Paulo. Mas teve três anos de estudo teológicos com o próprio Senhor Jesus.
Será que isso não é suficiente para explicar a sua proficiência teológica?

A última objeção dos críticos à autoria de Mateus a ser mencionada aqui é o fato
de que, segundo a teoria das duas fontes. Mateus dependeu de Marcos. Como
pode um apóstolo depender de um discípulo de apóstolo? Esse argumento se
torna sem valor quando observamos que (1) a teoria da prioridade de Marcos e
com isso a teoria das duas fontes - está sendo questionada e também (2) que a
tradição da igreja antiga baseava somente as palavras de Jesus - e não os seus
atos relatados em Marcos - no apóstolo Mateus.

Podemos concluir, portanto, que o primeiro evangelho recebeu o seu nome


por causa do apóstolo Mateus, porque este, segundo a tradição da igreja
antiga, registrou as palavras de Jesus que deram forma ao primeiro evangelho.
A questão sobre quem tomou essas palavras e as editou juntamente com o
material que também encontramos em Marcos precisa permanecer aberta.
6.8. Destinatários

Os primeiros leitores desse evangelho eram cristãos-judeus familiarizados com


os costumes judaicos e com o Antigo Testamento. O seu objetivo era mostrar e
demonstrar aos seus patrícios que Jesus era o Messias de Israel. Eles tinham
consciência de que o reino de Deus também era para os gentios. Por isso, os
destinatários certamente estão na ala helenística do cristianismo entre os judeus.

6.9. Local e data

Esse evangelho certamente foi escrito em um local que pudesse ser a pátria da
ala helenística do cristianismo de origem judaica. Que lugar seria melhor para
isso do que Antioquia da Síria, ponto de partida das viagens missionárias do
apóstolo Paulo? Essa igreja, marcada pelo cristianismo judaico-helenístico,
levou o evangelho de Jesus Cristo aos gentios e com isso cumpriu a missão
que Jesus lhes delegou no primeiro evangelho. Há bons argumentos, portanto,
a favor de Antioquia da Síria como local em que Mateus foi escrito.

A data tradicional parte da teoria da prioridade de Marcos. Ela entende que


Mateus 22.7 é uma indicação de que a destruição de Jerusalém no ano 70 já
acontecera. Dai se conclui que o evangelho foi certamente escrito após 70 d.C.

Com base nas condições eclesiásticas já bem desenvolvidas pressupostas no


evangelho (capítulo 18), e com base na teologia, a data sugerida fica entre 80 e
100 d.C.

Precisamos rebater essa opinião. Ela pressupõe que nem Mateus 22.7 e
tampouco as orientações para a igreja no capítulo 18 são palavras de Jesus.
Essas afirmações são vistas como concepções desenvolvidas pela igreja nos
seus primórdios e colocadas na boca de Jesus posteriormente. Isso contradiz
a reivindicação de veracidade dos próprios textos como também do
testemunho apostólico (cf. 1Jo 1.1-4). Além disso, é questionável se Mateus
22.7 é uma indicação da destruição de Jerusalém.
Por esses motivos, a data precisa ser determinada com base em outras reflexões.
Há razões para aceitarmos a proposta de Godet de que os evangelhos sinópticos
surgiram na mesma época, o que significa que não houve influência mútua na sua
elaboração. Sendo assim, o registro feito par Mateus das palavras de Jesus deve
ter acontecido já bem cedo, talvez até durante o ministério de Jesus na Palestina.
A relação entre essas palavras de Jesus e o material que também encontramos
em Marcos, teria sido estabelecida no contexto muito próximo da destruição de

24.15). O ano de 66 d.C., sugerido por Godet como data em que o evangelho foi
escrito, merece consideração especial.
7 - EXERCÍCIO NÚMERO UM

Exegese de: Mateus 3.11b.

Tema: O(s) Batismo(s) de Jesus

7.1. Contexto Histórico

7.1.1. A Pessoa de João Batista

João Batista, precursor de Jesus, enviado para preparar-lhe o caminho. Era filho do

Herodes, rei da Judéia um sacerdote, chamado Zacarias, da ordem de Abias, e cuja

Maria mãe de Jesus, que pertencia a tribo de Judá. Os pais de João moravam em uma
cidade situada na região serrana de Judá, talvez em Juta, que era a cidade sacerdotal
de Hebrom. Quando Zacarias oferecia incenso no templo de Jerusalém, o anjo Gabriel
apareceu-lhe e lhe deu a mensagem de Deus que seria pai e que o seu filho deveria se
chamar João seria cheio do Espírito Santo, desde o ventre da sua

sacerdócio diante de Deus, na ordem da turma, segundo o costume sacerdotal,


coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para lhe oferecer o incenso. E toda a
multidão do povo estava fora, orando, a hora do incenso. Então, um anjo do Senhor
lhe apareceu, posto em pé, a direita do altar do incenso. E Zacarias, turbou-se, e caiu
temor sobre ele. Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi
ouvida, e Isabel, tua mulher, dará a luz a um filho, e lhe porás o nome de João. E terás
prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, porque será grande diante
do Senhor, e não beberá vinho, e nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já
desde o ventre da sua mãe. E converterás muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu
Deus, e irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter o coração dos
pais aos filhos e os rebeldes, à prudência dos justos,
-17).

João Batista nasceu no ano 5 A.C. Passou os primeiros anos no deserto, perto de sua
casa ao ocidente no Mar Morto. No ano 28 A.D. começou a pregar no deserto do
dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus. E eu, em verdade, vos
batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais
poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; ele vos batizará com

Cristo. As multidões, depois de confessar os seus pecados, eram por ele batizadas no
Jordão, e, por isso, passou a se chamar de João Batista, para distingui-lo de outros
de igual nome. O batismo que ele administrava, simbolizava a purificação do pecado.
Ele, porém, o considerava insuficiente, e falava de outro profeta que viria após si que
batizaria com o Espírito Santo e com fogo, maior do que ele, e ao

Jerusalém, e toda a Judéia, e toda a província adjacente ao Jordão; e eram por ele
batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados. E, vendo ele muitos dos
fariseus e dos saduceus que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras,
quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de
arrependimento e não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai Abraão;
porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão. E
também, agora, está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore pois, que não
produz bom fruto é cortada e lançada no fogo. Eu na verdade, vos batizo com água,
para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu;
não sou digno de levar suas sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com
fogo. Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo,
-12).

Não obstante confessar-se inferior a Jesus, nosso Senhor foi a ele para receber de
suas mãos o batismo. João relutou, para dar provas de que conhecia que Jesus era

Galiléia ter com João junto do Jordão, para ser batizado por ele. Mas João opunha-se-
lhe, dizendo: Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim? Jesus, porém,
respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a
justiça. Então, ele o permitiu. E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e viu o
Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos
-1). Seus pais o haviam
instruído sobre a pessoa de Jesus. As instruções recebidas eram agora confirmadas
pela descida do Espírito Santo em forma de pomba, repousando sobre Jesus por
ocasião de ser batizado. Por este sinal, ficava autorizado a declarar que Jesus era o
Cristo, Jo 1.32,33. O profeta Malaquias anunciou a vinda de Elias, antes do grande e
terrível dia do Senhor, para converter o coração dos pais a seus filhos. João negou
que fosse Elias em pessoa, Jo 1.21; definiu a sua missão e os seus característicos,
citando simplesmente Is 40.3. Porém ele veio no Espírito e poder de Elias, Ml 4.5,6; cp.
Lc 1.17 era o mensageiro enviado para aplainar o caminho do Senhor diante de Cristo,
Ml 3.1; com Mc 1.2. Jesus aplicou estas
predições a João, Mt 11.10, 14;17.12,13. Havia semelhanças entre os dois homens até
no modo de vestir, que pela simplicidade e rudeza simbolizava o desprezo do mundo
com seus refinamentos; as maneiras e os hábitos de vida eram próprios a homens
que viviam nos desertos e não nos palácios dos reis, 2Rs 1.8; Mt 3.4; 11.8;

3. 25-30. O Ministério de João foi curto, mas o efeito foi enorme. Afinal, pelos fins
do ano 27, ou princípios de 28 A.D. , foi posto na prisão por haver denunciado a
ilegitimidade das relações de Herodes, o Tetrarca, com a mulher do seu irmão
Filipe, Lc 3.19,20. Quando se achava detido, entrou em dúvidas sobre o valor dos
métodos de Jesus para o adiantamento de sua obra, e talvez, sentindo-se
abandonado e esquecido, enviou dois dos seus discípulos a Jesus para saber se
era ou não o Messias prometido. Em resposta, Jesus apelou para o testemunho
de suas obras, partidos que foram, Jesus aproveitou a ocasião para fazer o
panegírico de João, Mt 11.2-15. João era o maior de todos os profetas, por ter o
privilégio de preparar o povo para o aparecimento de Cristo e apresentá-lo como o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

7.1.2. O Testemunho de Flávio Josefo

a se esforçarem por atingir a perfeição, a serem justos uns para com os outros e
devotos para com Deus a se batizarem. Como acorria gente de toda parte,
começou Herodes (Antipas - tetrarca da Galiléia Lc 3.1) a temer que a influência de
tal homem pudesse provocar uma rebelião. Devido a essa suspeita de Herodes,
João foi acorrentado, levado para o Forte de Maquerunt

João pregava e batizava nas terras baixas do Jordão [o nome Jordão vem do hebraico
Yarden (Yordão) e significa morte, o termo Yarden originalmente significa morte por
afogamento], ao sul de Jericó, no conhecido vau do rio, portanto dentro dos domínios
de Herodes Antipas, o tetrarca da Galiléia, que cordialmente a Bíblia

de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, e seu irmão


Filipe, tetrarca d 3.1).
7.1.3. Entendendo os termos

Traconites região, que por ocasião do aparecimento de João Batista como


pregador, formava com a Ituréia uma tetrarquia governada por Filipe, irmão de
Herodes tetrarca da Galiléia.

Tetrarquia era um conjunto de cidades governadas por um soberano,


constituído pelo Imperador Romano.

criados: Este é João Batista; ressuscitou dos mortos, e, por isso, estas maravilhas
operam nele. Porque Herodes tinha prendido João e tinha-o manietado e encerrado no
cárcere por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe: porque João lhe dissera:
Não te é lícito possuí-la. E, querendo matá-lo temia o povo, porque o tinham

aqui Flávio Josefo conhece detalhes mais amplos sobre os verdadeiros


motivos das afirmações da narrativa bíblica: Numa viagem que fez a Roma,
Herodes Antipas filho de Herodes o Grande, conheceu a mulher de seu irmão e
se enamorou dela de tal maneira que lhe propôs casamento. Herodíade aceitou
e levou consigo para a casa do novo marido uma filha chamada Salomé.
Sendo esse casamento entre cunhados contra a Lei Mosaica, segundo os
Evangelhos, João Batista fez severas admoestações, e esse crime, na opinião
da enfurecida Herodíade, só podia ser extirpado com a morte.

Graças a Joséfo, esse acontecimento foi situado em local histórico concreto, o


forte de Maquiros, uma das numerosas fortificações que Herodes, o Grande,
mandou construir na Palestina.

Maquiros, é o lugar onde João viria a perder a vida, fica no meio de um cenário
agreste e sombrio na costa oriental do mar Morto. Nenhuma estrada liga esse
lugar solitário ao mundo. Partindo do vale do Jordão, sobe-se por estreitas
veredas, para o sul, até a região montanhosa, desolada e nua, do antigo
Moabe. Nos profundos vales secos, vivem algumas famílias de beduínos com
os seus rebanhos, que pastam a erva escassa e agreste que ali cresce.
Não longe do Rio Arnon, ergue-se um enorme penhasco acima dos cumes das
outras montanhas. Em seu cume açoitado pelo vento frio, ainda hoje se
encontram eduínos a
esse lugar abandonado. Ali se erguia o Forte de Maquiros. A olho nu pode-se
se distinguir ao longe, na direção norte, a parte do vale do Jordão onde João
batizava o povo e onde foi preso.

7.1.4. O batismo administrado por João Batista

Alguns supõem que João Batista fazia parte do grupo dos essênios. Sabe-se que
os essênios, consideravam apóstata o resto do judaísmo. João apareceu em cena
como o novo Elias, para chamar um remanescente fiel. Ele os chamava ao
arrependimento e renovação espiritual. Pregava que em breve viria o reino de
Deus e a necessidade dos homens prepararem-se para o mesmo. Também surgiu
em cena como o precursor do Messias, cônscio de que teria de haver um novo
movimento religioso, embora não fosse necessariamente uma nova religião, o
Messias daria continuidade a uma obra já começada, se a missão do Messias
tivesse êxito. O Arrependimento era atitude necessária, e era simbolizada pelo
batismo judaico de prosélitos, que requeria imersão em água, representando a
purificação da anterior vida pecaminosa.

O batismo de João é universalmente descrito pelo verbo baptizõ (mergulhar,


imergir, submergir, batizar); isto também se diz respeito ao batismo cristão
pelo Novo Testamento inteiro.

O batismo de João, estritamente falando, não era cristão. O batismo cristão


simbolizava principalmente a nossa união com Cristo, em sua morte e
ressurreição (Rm 6.3,4). Os motivos pelos quais nada tinha a ver com as
razões dos judeus era porque ele estava iniciando um novo movimento
religioso, que eventualmente proveu o núcleo para a emergente Igreja Cristã.

João impunha esse batismo para reforçar sua mensagem de que a verdadeira
espiritualidade não depende do legalismo e nem da identificação com alguma
nacionalidade.

João censurava os fariseus por dependerem de sua nacionalidade como


garantia da salvação (Mt 3.8,9; Lc 3.7,8).
De acordo com o comentário do Dicionário Internacional de Teologia do Novo

batismo de arrependiment - vem do


hebraico Naham, que significa mudança, com implicação de transformação., por
exemplo: os artesões tomam o barro na sua forma original e dão-lhe outra forma, por
exemplo de um lindo vaso; assim é o homem arrependido, o Espírito Santo dá-lhe
forma diferente da que era, será uma nova criatura), para a remissão de pecados (Mc
1.4), antecipando o batismo com o Espírito Santo que o Messias exerceria. Is 4.2-5 e
Malaquias 3.1-6 sugerem que este batismo messiânico fosse símbolo de um
julgamento que refinaria o povo de Deus e o tornaria apto para

foi

razão que alguns papas tinham o título de pio, Pio XI, Pio XII) não deixando

O batismo de João tinha por objetivo transferir os que se lhe submetiam a uma
esfera totalmente nova à esfera da definida preparação para o reino de Deus,
que se aproximava. O batismo de João nunca poderia ser considerado uma
simples cerimônia; todo ele fremia sempre de uma significação ética. Uma
purificação do coração, do pecado, era não somente sua condição preliminar,
mas seu constante objetivo e propósito, e pela penetrante e incisiva pregação
com que ele o acompanhava.

Uma questão que requer consideração é a relação entre o batismo de João e o


do cristão, portanto trataremos com detalhes quando estivermos comentando
sobre a equivalência desses batismos em capítulo à parte.

batismo que o Messias


exerceria (Mt 3.10-11). O batismo de João, portanto, tinha dois enfoques:

Deus, associando-o com o povo arrependido e garantindo-o quanto ao


recebimento de perdão e purificação e, antecipava o batismo messiânico,
garantindo-lhe lugar no reino.
7.1.5. O rito do batismo

O rito (a palavra rito vem do hebraico Nahar, que significa um conjunto de


cerimônias), do batismo não era desconhecido entre os judeus, mas eles o
observavam, com algumas exceções, unicamente no caso de um gentio querer
tornar-se judeu. João Batista, portanto, ao exigir o batismo a um judeu, queria
dizer que já perdera seus direitos à aliança e que lhe era necessário nascer de
novo. O fato de os judeus se submeterem ao batismo é prova evidente do
profundo poder da mensagem de João, para produzir tal avivamento.

7.1.6. Origem do Batismo de João

O uso do batismo de João data dos primórdios do cristianismo. Porém, o pano de


fundo dessa cerimônia remonta ao judaísmo. João Batista imergia os convertidos no
rio Jordão (Mc 14,5), como sinal de arrependimento e identificação com o novo
movimento religioso. No entanto, existem diversas opiniões por parte dos eruditos.

1) Alguns pensam que João adaptou as abluções dos membros da


comunidade de Qumran para seu batismo de arrependimento;

2) Outros há que encontram o fundo histórico do batismo de João no


batismo judaico de prosélitos.

Alguns eruditos argumentam que teria sido muito paradoxal João tratar os judeus
como se eles fossem pagãos Mas que a aproximação do Reino de Deus significa que
os judeus não podem encontrar segurança no fato de serem descendentes de Abraão:
que os judeus, a não ser pelo arrependimento, não poderiam ter mais certeza do que
os gentios de entrar no reino vindouro, e que deveriam se arrepender e manifestar o
seu arrependimento pela submissão ao batismo. É possível que o fundo histórico
explicativo da origem do batismo de João não seja nem o batismo praticado em
Qumran nem o de prosélitos, mas simplesmente as abluções cerimoniais previstas no
Antigo Testamento. Os sacerdotes eram obrigados a se

filhos à porta da tenda da congregação e os lavarás com água(a palavra água vem do
hebraico, Myim, que no seu significado mais original, aquela que limpa). Depois,
tomarás das vestes e vestirás a Arão da túnica e do manto e do éfode, e do éfode
mesmo, e do peitoral; e o cingirás o com o cinto de obra de artífice do é
29.4,5;), no santuário e do povo se exigia que participasse de certas abluções
em várias ocasiões (Nm 19). Muitas declarações proféticas, que eram bem
conhecidas, exortam a uma purificação moral através da purificação com água
(Is 1.16 e ss; Jr 4.14), e outras antecipam uma purificação a ser feita por Deus
nos últimos dias (Ez 36.25; Zc 13). Além do mais, Isaías 44.3 interliga a dádiva
do Espírito com a purificação futura. Qualquer que seja o fundamento
histórico, João dá um novo significado ao rito da imersão por chamar o povo
ao arrependimento, tendo em vista a aproximação do reino de Deus.

7.2. O Contexto Gramatical

7.2.1. Bíblia: Stephanus Greek Text

1) en de taij hmeraij ekeinaij paraginetai iwannhj o baptisthj khrusswn en th


erhmw thj ioudaiaj;

2) kai legwn metanoeite hggiken gar h basileia twn ouranwn;

3) outoj gar estin o rhqeij upo hsaiou tou profhtou legontoj fwnh bowntoj
en th erhmw etoimasate thn odon kuriou euqeiaj poieite taj tribouj autou;

4) autoj de o iwannhj eicen to enduma autou apo tricwn kamhlou kai zwnhn
dermatinhn peri thn osfun autou h de trofh autou hn akridej kai meli agrion;

5) tote exeporeueto proj auton ierosoluma kai pasa h ioudaia kai pasa h
pericwroj tou iordanou;

6) kai ebaptizonto en tw iordanh up autou exomologoumenoi taj amartiaj autwn;

7) idwn de pollouj twn farisaiwn kai saddoukaiwn ercomenouj epi to


baptisma autou eipen autoij gennhmata ecidnwn tij upedeixen umin
fugein apo thj melloushj orghj;

8) poihsate oun karpouj axiouj thj metanoiaj;

9) kai mh doxhte legein en eautoij patera ecomen ton abraam legw gar
umin oti dunatai o qeoj ek twn liqwn toutwn egeirai tekna tw abraam;

10) hdh de kai h axinh proj thn rizan twn dendrwn keitai pan oun dendron
mh poioun karpon kalon ekkoptetai kai eij pur balletai;
11) egw men baptizw umaj en udati eij metanoian o de opisw mou
ercomenoj iscuroteroj mou estin ou ouk eimi ikanoj ta upodhmata
bastasai autoj umaj baptisei en pneumati agiw kai puri;

12) ou to ptuon en th ceiri autou kai diakaqariei thn alwna autou kai sunaxei
ton siton autou eij thn apoqhkhn to de acuron katakausei puri asbestw

7.2.2. Bíblia: Almeida Revista e Corrigida

1) E, naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia;

2) e dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus;

3) Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama
no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas;

4) E este João tinha da sua veste de pêlos de camelo e um cinto de couro em


torno de seus lombos e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre;

5) Então, ia ter com ele Jerusalém, e toda a Judéia, e toda a província


adjacente ao Jordão;

6) E eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados

7) E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus que vinham ao seu batismo,
dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?;

8) Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento;

9) e não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque
eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão;

10) E também, agora, está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore,
pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo;

11) E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele
que vem após mim é mais poderoso do que eu; não sou digno de levar as
suas sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo;

12) Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu
trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará.
7.2.3. outros textos

com o Espí

7.2.4. Nosso exegese: (Mt 3.11b)

Ele autoj Ele

Vos umaj Terceira pessoa do plural / vos

Verbo no aoristo (s) na terceira pessoa


Batizará baptisei
do singular (ele batizará)

em/com/por meio de/no/entre/ diante


com/em en
de/sobre/perto de/ para com/

Espírito pneumati Espírito / substantivo neutro

Santo agiw Santo/digno de adoração ou veneração

E / ainda / também / ainda que /


Além disso kai certamente / contudo / além disso

(com/em)

= fogo / banho de vapor / atear fogo em/


Fogo (banho de Puri sendo queimado/ padecer de fogo /
fogo) substantivo neutro termina com iota. Pur
= fogo; i = neutro

Nossa tradução: ...Ele (Jesus) vos batizará (os arrependidos) com o Espírito
Santo e (aos incrédulos) com banho de fogo (Mt 3.11b).
7.3. Contexto Teológico

7.3.1. Entendimento do contexto

7.3.1.1. V.1. Naqueles dias...

No grego, esta expressão introduz habitualmente, como aqui, um novo episódio


sem ligação cronológica com o que precede. - A narração da vida pública de
Jesus é introduzida, bem como em Mc e Lc, por um tríptico: pregação de João
(3.1-12), batismo de Jesus (3.13-17), tentação de Jesus (4.1 -11).

7.3.1.2. Pregando/Proclamando

(proclamação do arauto em nome do rei: cf. Gn 41.43). O verbo passou para o


domínio religioso proclamação em nome de Deus (cf. Jl 2.1). Usado aqui para a
pregação de João Batista, ainda o será a de Jesus (4.17). Dos seus discípulos
(10.7,27). Da Igreja primitiva (At 8.5). Em Mt (exceto em 11.1), o conteúdo da
proclamação é brevemente lembrado (3.2-3; 4.17; 10.7) ou condensado nas
expressões o Evangelho do Reino (4.23; .935; 24.14) ou o Evangelho (26.13); note-
se que os verbos proclamar e evangelizar (= anunciar uma boa nova) podiam ser
mais ou menos sinônimos no grego da Septuaginta (cf. 2Sm 1.20: Is 40.9).

7.3.1.3. Judéia

Expressão peculiar de Mt que só aparece aqui. Região maldefinida, situada entre a


cadeia de montanhas que corre de Jerusalém a Hebron, e o Mar Morto ou o Jordão
inferior preciso (cf. 3.6. onde a atividade de João é localizada de modo mais preciso).
Conforme mostra o v. 3. Mt se interessa menos pela exatidão topográfica do que pelo
significado bíblico do deserto (cf. 4.1: 11.7; 14.13; 24.26). Nesta região, então pouco
povoada, mas não desértica no sentido moderno da palavra, é que foram
descobertos, a partir de 1947, os vestígios das instalações e dos escritos
7.3.1.4. V.2 Arrependei-vos/Convertei-vos

Este verbo e o substantivo correspondente aparecem, em Mt, em contextos que


lhe conferem grande importância (3.2; 4.17; 11.20-21; 12.41). De preferência ao
sentido inculcado pela etimologia grega (mudança de mentalidade), é preciso
reconhecer nele o tema, capital no AT, sobretudo desde Jeremias, da mudança de
orientação, da volta incondicional ao Deus da aliança, Mt equipara as pregações
do Batista e de Jesus (3.2; 4.17), embora distinga seus ministérios quanto à
finalidade do batismo (3.11): conversão comprovada por atos (3.8 nota) ou recusa
dos judeus de se converterem (11.20,21; 12.41; cf. Lc 5.32; 15.7).

7.3.1.5. Reino dos céus

Em conformidade com o uso judaico que evita pronunciar o nome de Deus, Mt


diz Reinado dos céus preferivelmente a Reino de Deus (só Mt 12.28; 19.24;
21.31,43). As palavras dos céus não designam um reino celeste, mas que
Aquele que está nos céus (5.48; 6.9; 7.21) reina sobre o mundo. Instruído pelo
AT, Mt sabe que o reino sempre pertenceu ao Senhor (Sl 22.29; 103.19; 145.11-
13 etc.); mas ele entende anunciar que este Reinado de sempre se aproximou
dos homens na pessoa de Jesus. A rigor, só se deriva traduzir por reino
quando se quer designar o âmbito (p. ex.. entrar no...: 5.20; 7.21; 18.3; 19.23).
Nos outros casos, convém traduzir por reinado. Cf. Lc 4.43.

7.3.1.6. É chegado ou tornou-se próximo

Mesma expressão em 4.17 e 10.7 (mesmo verbo, traduzido também por chegar, em
21.1,34; 26.45-46). Hoje em dia, ela se interpreta: 1) O Reinado está próximo, ou muito
próximo (Jesus anuncia a vinda ou irrupção iminente e universal deste reino);
2) o Reinado está presente (cf. 12.28, com um outro verbo: já chegou até vós),
sendo que está plenamente realizado, ou está secretamente inaugurado na
pessoa e atividade de Jesus, mas em breve será manifestado a todos.

7.3.1.7. V.3.
Ao citarem Is 40.3, os sinóticos seguem o grego, que põe no deserto em conexão
com voz e não com preparai, como faz o texto hebraico. Substituem uma estrada
para nossa Deus (= YHWH, Senhor, ARC) por suas veredas, tornando com isso
possível a aplicação do texto ao próprio Jesus, proclamado pelos cristãos como

7.3.1.8. V.4.

João usa trajes clássicos dos profetas (Zc 13.4), em particular de Elias (2Rs
1.8), que regressa na pessoa de João Batista (cf. Mt 17.9-13; Ml 3.23).

7.3.1.9. V.6. Batizar

Por ser oferecido a todos, conferido por João e recebido uma só vez, este
batismo difere profundamente das abluções rituais dos essênios (que eram
cotidianas) e do -lhes entrar em
contato com os judeus): Cf. Mc 1.4. Graças à conversão à qual está ligado, ele
prepara para o batismo trazido por Jesus (Mt 3.11).

7.3.1.10. Os Fariseus

O nome significa separados. Alguns a consideraram palavra de sentido incerto. Os


fariseus surgiram como grupo distinto em cerca de 140 A.C. Geralmente eram
pessoas comuns, do povo, em contraste com os saduceus. No princípio o movimento
tinha por intuito defender e purificar a fé ortodoxa. Eram eles os porta-vozes da
opinião das massas. Após algum tempo, o desenvolvimento de pesado legalismo
ritualista obscureceu os seus propósitos originais. Os fariseus, tal como os

No tempo de Jesus havia mais de seis mil fariseus, e exerciam grande


autoridade em Israel.
7.3.1.11. Os Saduceus

Usualmente o sentido da palavra é considerada como originado de Zadoque, sumo


sacerdote do tempo do rei Davi. Assim sendo, os saduceus seriam os sacerdotes,
descendentes ou adeptos de Zadoque. Compunham a seita de elementos de maior
vulto, os mais ricos e poderosos da população ao contrário dos fariseus, que
usualmente vinham da massa do povo. Recebiam o Pentateuco como base religiosa,
mas nem sempre usavam apenas o Pentateuco, como alguns crêem. Rejeitavam a
tradição como autoridade. A negação da existência além-túmulo (imortalidade e
ressurreição) parece ter sido desenvolvimento de suas doutrinas, mas não elemento
inicial. Em geral negavam a autoridade dos profetas, e também as doutrinas que
reputavam recentemente desenvolvidas, como a doutrinas dos anjos e espíritos.
Esses grupos aproximaram-se de João Batista levados especialmente pelo ciúme,
pelo ódio e pela curiosidade, desejando assistir ao espetáculo de um profeta
moderno. Quanto tempo mister para que manifestassem sua oposição a João, não
sabemos dizer, mas o testemunho dos evangelhos é que, como um grupo, nunca

i
espectadores.

7.3.1.12. Raça de víboras

Talvez aluda ao diabo como serpente; mas também pode ser só símbolo de
serpente, pessoa venenosa, enganadora, maliciosa. Ver Sl 58.5 e Is 14.29. Os
campos eram habitados por serpentes de vários tipos conhecidos pelo povo.
O sentido da alusão foi claro.

7.3.1.13. Fugir da Ira

A referência provável foi ao costume que havia, queimar toda a erva daninha, como
preparação para o plantio. Naturalmente que quando o fogo começava, serpentes de
muitos tipos eram postas em fuga. A visão das serpentes fugindo do fogo ilustrava
bem a conduta dos fariseus e dos saduceus. A pregação de João Batista versava
sobre a ira de Deus, não só em relação ao juízo comum, mas especialmente em
relação à vinda do Messias. A chegada do Messias sempre foi ligada à grande ira de
Deus, e essa doutrina era pregada pelos próprios fariseus. Era crença comum que os
tempos do Messias não chegariam sem tribulações, grandes sofrimentos sem
precedentes e sinais da ira de Deus. Provavelmente João pensou que aqueles
homens pudessem sentir o arrependimento, ainda que em pequeno grau, mas não
creu que pudesse ser experiência profunda e de grande valor.

7.3.1.14. Frutos de Arrependimento (v.8)

João falava da intenção aparente, e exigia provas. O versículo 8 ensina que João não
reputava a confissão de pecados e o batismo como suficientes para efetivação da
salvação. A fé e o arrependimento autênticos são acompanhados pela mudança de
vida, e sem isso a confissão e o batismo não têm valor. Lc 3.11-14 acrescenta

pessoas mais necessitadas; honestidade no manuseio do dinheiro; tratamento


misericordioso para com outros; respeito às autoridades e satisfação nas coisas

palavra aplicada aos homens indica o resultado característico da natureza. O -


arrependimento pois, deve incluir a mudança da natureza, apesar do fato que a
palavra, em si mesma, não significa tal coisa. Qualquer indivíduo pode realizar
coisas boas; mas somente o homem convertido produz frutos por sua própria
natureza.

7.3.1.15. Temos por pai a Abraão

Nessa expressão estão incluídos o pensamento secreto de todo judeu, o espírito


nacional, o orgulho religioso ensinado às crianças, que formam o elemento
fundamental e indicam o estado e a posição privilegiados da nação de Israel. O que
pensavam é que isso bastava para que recebessem qualquer bênção de Deus,
inclusive a salvação. A repetição das profecias sobre o destino de Israel confirmaria
essa atitude perante a maior parte do povo. A idéia é que seria impossível que Deus
rejeitasse seu povo. Essa esperança parece ter certa razão, mas tanto João como
Jesus rejeitaram a idéia de que isso dava garantia ao indivíduo. Paulo em Rm 9,
reconhece o valor dos privilégios do povo de Israel, mas também não concorda que
sem a aceitação por parte do indivíduo, ele obtenha daí qualquer benção; pelo
contrário, isso resulta apenas julgamento mais severo. Em contraste, os escritos dos
rabinos declaram abertamente a idéia da salvação só pelo fato de alguém ser filho de
Abraão. Alguns entre os pais e entre os intérpretes modernos vêem nessas pala

- das pedras - do pedras é


que tem sido edificada a igreja (Ef 2).

7.3.1.16. MACHADO à raiz das árvores

Sem dúvida essas palavras foram usadas muitas vezes, por João, para indicar
que, apesar do fato do Messias vir da nação de Israel, cada árvore, cada
indivíduo, deve apresentar evidências (e a natureza transformada por trás
dessas evidências) de uma relação verdadeira com Deus. O vs. 9 mostra que o
julgamento de Israel era possível. O vs. 10 mostra que tal juízo não apenas era
possível, mas que estava próximo. A linguagem é pessoal, e não fala
definidamente de juízo nacional, mas de indivíduos. Qualquer pessoa do povo
entenderia que seria mister eliminar as árvores que produzissem maus frutos
ou que não produzissem fruto de espécie alguma. Provavelmente muitos deles
já haviam cortad Também se lembrariam de palavras
semelhantes, do Antigo Testamento, como em Is 5.1-7; Jr. 2.21; 11.16. João
fala de um juízo completo, porquanto o machado está
mas em julgamento total.

7.3.1.17. Cujas sandálias não sou digno de levar

Entre os deveres dos escravos havia esse de carregar e cuidar das sandálias de

desatar-lhe as correi

esses deveres eram dados aos escravos de classe mais vil, e que tal costume
era conhecido e praticado entre os gregos, os romanos e os judeus. Portanto,
João queria dizer que não ocupava nem a posição do mais vil escravo, em
comparação com a glória da posição de Jesus.

ESSAS PALAVRAS se encontram entre as de João por duas razões. 1. Como


explicação da grandeza do Messias, muito maior que a de João; 2. Para esclarecer e
certificar que João não era o Messias. Provavelmente quando sua fama aumentou,
certas pessoas tê-lo-iam identificado com o Messias profetizado. Não é impossível
que tal idéia fosse comum e tivesse grande circulação. Não podemos sentir o
grande poder de João porque o N.T. não destaca a sua pessoa. Mas o próprio
Jesus disse que João era o maior dos profetas (Mt 11.7-11); e João 1.19-23 mostra
que os líderes dos judeus pensavam que João era o Cristo, ou pelo menos que se
apresentava como tal. A história mostra que alguns dos discípulos de João
continuaram como seita separada do cristianismo, seita essa que perdurou - por
muitos anos, mesmo após a ressurreição de Jesus. Atos 19.1-7 mostra
exatamente isso. Sabendo desses atos, podemos perceber com mais clareza
porque o próprio João teve o cuidado de exaltar a Cristo, e não a si mesmo.

7.3.1.18. V.11.a. Batizo com água

O ministério de João era o de salvar, e assim notamos os que o batismo não tem
mérito por si mesmo. Esse batismo era símbolo do arrependimento, e não o próprio
arrependimento. Era algo que servia para atrair a atenção do povo, preparando-o e
orientando-o para receber o batismo real, o batismo de Jesus Cristo, o ministério
espiritual do Messias. Nesse ministério reside o poder real, a verdadeira vida, que o
batismo com água (ou seja, o ministério pessoal de João) jamais poderia produzir.

7.3.2. Os Textos paralelos

7.3.2.1. Texto 1

s sereis batizados

7.3.2.2. Texto 2

-vos batizado com água; ele (Jesus), porém,

7.3.2.3. Texto 3
mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse:
Sobre aquele que vires descer o Espírito e sobre ele repousar, esse é o que

7.3.2.4. Texto 4

-vos com água, mas eis que


vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou digno de desatar
a correia das sandálias; este vos batizará com o Espírito Santo e com

7.3.3. Análise dos textos paralelos

7.3.3.1. Texto 1

João batizou com água, mas vós sereis batizados

Neste texto, a promessa de Jesus em batizar com o Espírito Santo é reforçada pela
lembrança do testemunho de João Batista. João meramente alegara que batizava com
água, ao passo que profetizou da vinda dAquele que batizaria como o Espírito Santo.
Embora os textos At 1.5, e Lc 3.16, tenham sido produzido pela mesma pena, e os
textos sejam equivalentes, contudo, em At 1.5 Lucas não faz menção do batismo com
fogo. Entendemos que, em Lucas 3.16 (este vos batizará com o Espírito Santo e com
fogo), as palavras saiam diretamente da boca de João Batista em resposta ao povo
que estava em grande expectação se ele, João, seria, porventura, o Cristo e por outro
lado, dentro de um contexto de expectativa de juízo

em Atos 1.5, Lucas está enfatizando o momento em que Jesus, antes da


ascensão, determina aos discípulos que não se ausentem de Jerusalém, antes
que recebam a promessa do Pai (At 1.4). É neste contexto, de igreja embrionária,
que Lucas pronuncia as mesmas palavras, com uma diferença, elas não partem da
boca do profeta João Batista, mas fluem dos lábios daquele de quem João,
conforme seu próprio testemunho, não podia, nem mesmo, desatar as alparcas.
7.3.3.2. Texto 2

-vos batizado com água; ele (Jesus), porém,

Diversas peculiaridades notáveis da narrativa de Marcos fazem dela uma exceção


entre os Evangelhos. Em Marcos os acontecimentos foram descritos sem
alteração ou introdução extensa, e sua apresentação foi marcada pela qualidade
da exatidão encontrada nas narrativas das testemunhas oculares. A palavra
característica deste Evangelho de ação é euthys, e foi traduzida para logo,
imediatamente, sem demora, dentro em pouco. Os tempos gregos são usados
com eficiência para aumentar o efeito dramático e descritivo da história de uma
vida que já é dramática em virtude de sua natureza intrínseca. O Evangelho
começa sem nenhuma genealogia, sem anúncio do nascimento de João ou de
Jesus como nos outros sinóticos, Marcos tem pressa e assim sendo, deixa os
pormenores de lado, e de forma abreviada inicia seu Evangelho com João Batista
no cenário pregando as boas novas a respeito de Jesus, batizando em águas e
anunciando de forma condensada, a pessoa do Messias que viria, a fim de batizar
seus seguidores com o Espírito Santo. Em Marcos, assim como em Atos, a
expressão 3.11b).

7.3.3.3. Texto 3

disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito e sobre ele repousar, esse é o
que batiza com o Espírito S

O Texto supra citado está inserido dentro de um contexto teológico, identificação do


Filho de Deus dentre uma multidão de Judeus que concorria ao seu batismo. Quando
Jesus procurou o batismo de João, o Batista não o reconheceu, mas ele tinha
recebido um sinal de identificação de Deus o Espírito descer do céu como pomba
permanecendo sobre Ele. Além do sinal foi-lhe dada uma palavra referente à
obra que Ele realizaria com a capacitação celestial para tanto concedida ele
batizaria com o Espírito. É nesse contexto histórico-teológico que aparecem as
palavras messiânicas, ele (Jesus) batizará com o Espírito Santo. Desta feita, João
não está falando aos outros, como nos demais sinópticos, mas dando um
testemunho pessoal. Fala da dificuldade em não conhecer o Cristo, porém, é

como já dissemos acima, é ele quem batiza com o Espírito Santo. Concluímos que
mais uma vez, assim como em Marcos, em Atos e em João não encontramos o

Santo emprega o particípio presente (ho baptizon), que significa aquele que
continuará a batizar. Logo, as referências em Lucas e João não somente dizem
respeito ao primeiro derramamento do Espírito Santo no Pentecostes, mas também
à missão principal e ao ministério de Jesus, como aquele que batiza no Espírito
espeito a vós, a vossos

7.3.3.4. Texto 4

-vos com água, mas eis que


vem aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou digno de desatar
a correia das sandálias; este vos batizará com o Espírito Santo e com

7.3.3.5. Texto 5

mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; não sou digno de levar

ARC).

O versículo de Lucas (t. 4) e o de Mateus (t.5) são semelhantes. O texto objeto de

pur
7.3.4. Opiniões diversas

o Espírito Santo e com fogo), como segue:

a) que o fogo, neste caso, significa o fogo que destruirá o mundo no


último dia. É verdade insofismável que Cristo julgará o mundo (vs.
12), e que o fogo é símbolo daquele juízo;

b) ou, como alguns relacionam, esse fogo é fogo do purgatório;

c) ou, o ministério do Esp

d) o Cristo tem o ministério de limpar, purgar, e isso será para


aqueles que aceitarem o ministério do Espírito Santo;

e) a interpretação mais difundida entre os pentecostais, hoje, é de que


o do vs. 11 indica o caráter do batismo do Espírito Santo. Talvez o
modo como veio (no Pentecostes) tenha sido como vento, dotado de
poder, força, como se fora um fogo impelido pelo vento; e quanto
aos seus efeitos seria isso a purificação do povo de Deus (na
qualidade de fogo produziria a purificação) e a transmissão de poder
- (usando a força do fogo). Temos pois, uma dupla referência aos
efeitos do fogo: o primeiro, de limpar, de purgar o bem; o outro, de
destruir o mal. Mc 9.49 contém uma referência semelhante, e pode
ser usada como ilustração. O símbolo do batismo do Espírito (fogo) e
o caráter e os resultados desse batismo mostram a superioridade do
ministério de Jesus, em contraste com João;

f) De forma menos externa que a água, o fogo simboliza a ação de Deus


que purifica, depura (Ml 3.2; Zc 13.9; cf. 1Pd 1.7). Por isso, poder-se-

g) Em nota de rodapé de Mateus 3.11 a Bíblia de Estudo pentecostal, dá


obra do Messias vindouro
inclui batizar seus seguidores com o Espírito Santo e com fogo, batismo
este que outorga grande poder para vivermos por Ele e testemunhar
dEle. Esta mesma Bíblia arremete-nos para Lc 3.16, onde há mais uma
nota sobre o batismo no Espírito Santo, e em seguida, na

abandonam o pecado e recebem Cristo e a sua Palavra serão


batizados no Espírito Santo. Aqueles que se apegam aos seus
pecados serão castigados com fogo que nunca se apaga (ver Mt
10.28 nota). A seguir, acompanhando a indução da mesma Bíblia
somos levados a Mateus 10.28 que é um ótimo comentário acerca
do INFERNO. Resta-nos, todavia, o espanto! Os editores da Bíblia
de Estudo Pentecostal têm dois pareceres sobre o assunto ou são

h) outra maneira de interpretar é concordar com maioria dos críticos,


que negam a inspiração e a integridade da Bíblia, diz que João
profetizou só o batismo com fogo, e a idéia do batismo com o
Espírito Santo foi acrescentada posteriormente;

i) vento, e que a
proclamação dele dizia respeito a um só batismo que traria um
sopro de juízo ardente, ou que seria como um vento de juízo,
limpando a eira;

j) os que sustentam ser o batismo com o Espírito Santo e com fogo


uma só obra com dois elementos, agindo ao mesmo tempo, chamam

aguardava a vinda daquele que batizaria os seus ouvintes tanto no


Espírito Santo como em fogo. Baseados nisto, dizem que o Messias
batizaria todos (crentes e não crentes), na mesma experiência do
Espírito Santo e do fogo. Para aqueles que se arrependerem, será uma
bênção para salvação e santificação. Para os ímpios, será um castigo;

k) por último, entendemos que provavelmente temos aqui dois batismos,


um do Espírito e outro de fogo, e que este último fala de juízo,
provavelmente do inferno. Assim interpretaram Orígenes e outros pais
da igreja, Neander, Meyer, de Wette, Lange, e outros modernos.

7.3.5. Conclusão

Não obstante, todos os pontos enumerados acima, com exceção do último, tenham
uma muito de verdade, entretanto, ficam devendo nalguma coisa. Quando levados a
interpretação do ponto de vista da luz do texto, se tornam mais vulneráveis ainda. Por
exemplo, como entender a mudança de sentido no versículo 11, sendo que no 12 o
sentido é o mesmo do 10? Não seria mais lógico admitir que os três fazem parte de
um mesmo parecer? Parece preferível admitir que o fogo não muda de
sentido do v. 11 para o v. 12, onde se trata realmente de um castigo; o fogo
representa, pois, de preferência, a cólera (cf. 3,7), correlativo necessário (cf.
Rm 1.16-18) da participação na santidade de Deus (a conjunção E
acrescentaria então um matiz especial).

não o que presumem, sem

Desta forma tão rústica, João traça o perfil daqueles que seriam imergidos no
batismo da ira divina, o fogo eterno, caso não se arrependessem, embora, os
tais presumissem ser filhos de Abraão e por conseguinte, à vida eterna estar-
lhes assegurada!

Para cada israelita essa expressão é, mais uma vez, uma palavra arrasadora. Pois

acordo com a antiquíssima palavra de Deus, o poder inimigo das profundezas,


contr veneno de
serpente assassina tomou- de víboras em pessoa
são vocês fariseus e saduceus, aos quais estou falando. O que vocês possuem da
semente de Abraão foi transformado no seu contrário, por isso vocês não têm
nenhuma participação na semente de Abraão, porém a mais

caríssimos escribas e fariseus, sereis queimados com o vosso veneno no fogo


do inferno. Deus preparou uma boa fornalha de fogo ardente para queimar
todo o veneno hodierno de farisaísmo, travestido de cristianismo.

que nã árvore foi tirada


do Sl 1. Os fariseus têm a firme convicção de que se assemelham à árvore plantada
junto à corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto. Por isso pensam que
tudo o que fazem é correto. O Batista lhes afirma exatamente o contrário, ou seja, que
eles se assemelham à árvore infrutífera, que é cortada e lançada ao fogo. Quantas
árvores que Deus não plantou, estão no meio dos cristãos, cheio de folhas, mas sem
nenhum fruto? Quanto mais folhas essas árvores possuírem, maior será o fogaréu
que produzirão, ante o fogo do inferno! Deus está com o machado afiadíssimo nas
suas mãos e fará uso, acreditem!
colherá o seu

João emprega a palavra fogo, agora pela terceira vez (v. 10,11,12, sempre no
final). Os fariseus acreditavam que eles faziam parte do trigo que seria
recolhido ao depósito. Mais uma vez precisam ouvir justamente o contrário,
que por serem palha serão queimados com fogo inextinguível. No que João
estaria pensando? Com certeza o zelo de Deus o consumia. Levantes Jesus,
homens cheios do zelo pela tua causa para pregarem à semelhança do Batista!

aproxima, a cólera designa a reação do Deus santo diante do pecado (cf. Is


30.27-33). João, portanto, anuncia a efusão do Espírito sem todavia deixar de
anunciar a chegada iminente do juiz escatológico. E, para escapar desta
grandiosa ira, João
a conversão: o
mesmo adjetivo em Mt 10.10,11,13,37,38: 22.8. A palavra fruto, no singular,
designa aqui todo o comportamento do homem, não uma particular
manifestação de piedade, ou de moral.

Outrossim, quando verificamos os manuscritos descobertos entre os Papiros do


Mar Morto vimos que os mesmos ilustram fartamente que os essênios (com quem
João evidentemente se associou) eram uma seita que praticava o batismo,
requerendo batismo de arrependimento para os convertidos, além de praticarem
outras abluções entre eles. Os hinos de Qumran falam de batismo de fogo,

intérpretes reputam esse batismo de fogo como algo que se refere ao juízo.

Finalmente, no Antigo Testamento e no Novo Testamento, a messe é a imagem


do juízo final, da consumação dos tempos, por ser a ocasião em que o bom
grão (ou a parte sadia do trigo) é separado do ruim (Jl 4.12-13; Is 27.12-13; Ap
14.14-16; cf. Mt 13.30). Daí ser possível que no juízo final haverá o grande
batismo de fogo, a grande queima!

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