ROTEIRO
ROTEIRO
● Bentinho
● Brás Cubas (Barman)
● Capitu nova
● Capitu velha
● Dona Carlota (Dona do bar)
● Dona Carolina
● Dona Fortunata
● Escobar
● Ezequiel
● Francisco
● José Dias
● Pádua
● Prima Justina
● Padre
● Sancha
● Virgília
- Cena 1 -
A ação começa com Francisco entrando na varanda segurando uma bandeja com um bule de
chá e duas xícaras, além de uma bolsa em seu braço, onde carrega o livro e os remédios. O
cuidador caminha devagar até a pequena cômoda que havia ao lado da cadeira de balanço,
encontrando na varanda Capitu sentada em sua cadeira de balanço.
CAPITU V - (Tom Alegre)
- Ezequiel! Que bom viestes me visitar!
FRANCISCO - (Tom de susto)
- Acho que te confundiste, sou eu Francisco, o teu enfermeiro
CAPITU V -
- Desculpe-me pelo meu equívoco, não sabia que meu filho tinha
contratado-lhe
FRANCISCO -
- Não há problema, mas o que fazes acordada está hora da manhã? Teus
ouvidos não se cansam de escutar todos os dias meus sermões?
CAPITU V -
- Que sermões ?
FRANCISCO -
- Não há nada, somente pensei alto
CAPITU V -
- O que vieste fazer aqui? E o que é isto na sua mão ?
FRANCISCO -
1
- É uma vitamina
CAPITU V -
- Pra mim ?
FRANCISCO -
- Sim senhora Capitolina…
CAPITU V - (Capitu interrompe, impaciente)
- Oras meu filho, “senhora” já não és mais necessário! Tudo que lhe peço é
que me chame de Maria
- FRANCISCO -
- Pois, “Senhora Apenas Maria”, imploro-lhe que venha ter comigo o chá que te
preparei. Além do mais, lhe trago uma surpresa!
CAPITU V -
- Que surpresa ?
FRANCISCO -
- Acredito que irás gostar muito de minha supresa
CAPITU V -
- Mas que surpresa é esta?
FRANCISCO -
- Finalmente trouxe-lhe o livro que tanto me pediste, só demorei para encontrar
CAPITU V -
- Livro? Eu lhe solicitei algo de tal espécie ?
(Francisco abre sua bolsa e pega o diário)
CAPITU V -
- Tem certeza que você está com a paciente certa ?
FRANCISCO -
- 100% de certeza! Espero que não ligue para a espécie do couro, não é a das
melhores, mas garanto-lhe que a folhagem é de boa qualidade
(Francisco entrega o diário para Capitu v)
CAPITU V - (Analisando o livro)
- Ora pois, então do que se trata essa obra?
FRANCISCO -
- Trata-se de uma história de romance oblíquo, escrito por algum classista
ainda não descoberto
CAPITU V -
- Oblíqua… Oblíqua e dissimulada? já fui chamada muitas vezes assim
FRANCISCO -
- Oblíqua e dissimulada nem sempre são adjetivos ruins
- Pois muito bem senhora, irei iniciá-lo ainda esta tarde, não temos tempo a
perder!
(Capitu entrega o livro a Francisco)
FRANCISCO -
- Não sei se atentou-se, mas não há registro de título, eu pensei em memórias
mais algum adjetivo que me foge à cabeça
CAPITU V -
2
- Oblíquas…, eu gosto do como soa
FRANCISCO -
- Pois bem, que seja Memórias Oblíquas então.
CAPITU V -
- Por favor, leia um pequeno trecho antes de virarmos a última gota deste chá.
(Francisco faz uma careta ironizando a palavra “Doce”; Capitu ri)
FRANCISCO -
- Aos olhos que vislumbram estas páginas, cada ser humano desse planeta
tem um par de olhos singulares, que refletem um universo particular, e é por
meio deles que nossos sentimentos mais íntimos se revelam, mesmo quando
tentamos escondê-los
CAPITU V -
- Há muito tempo ninguém descreve os meus olhos desta maneira.
FRANCISCO -
- Parece feliz em lembrar deles desta forma.
(Continua a ler)
- Meu já velho, coração pulsante, pertence ironicamente a cidade túmulo, a
grandiosíssima Rio de Janeiro! Foi nos campos fluminenses que eu nasci e
cresci, até vir uma terrível enchente. Acredito fielmente que existam eventos
que separem a nossa vida em antes e depois, e à mim a enchente foi este
divisor de águas. Desalojados tivemos que nos mudar, em novo endereço o
conheci, o homem que sempre soube que amei, Bento Santiago…
(Capitu V e Francisco saem de Cena)
(Fecha a luz)
- Cena 2 -
(Abre a luz)
A ação começa com Capitu Jovem na parede do muro de sua casa desenhando um coração
com seu nome e de bentinho com um giz, exemplo “Capitu + Bentinho”
D.FORTUNATA - (Gritando)
- Capitu!!!
CAPITU J - (Gritando)
- Mamãe!
D.FORTUNATA - (Gritando)
- Deixa de estar esburacando o muro!
BENTINHO -
- Bom dia ,Capitu! Obrigado Dona Fortunata!
(Capitu se aproxima de bento)
D. FORTUNATA -
- Ao seu dispor! Qualquer coisa se precisar de mim é só me chamar
BENTINHO -
- O que pensas em fazer hoje?
CAPITU J -
- Tem missa hoje?
BENTINHO -
3
- A Igreja está fechada! E o Padre está doente… Agora sério o que tu desejas
fazer?
CAPITU J -
- Tu já sabes a resposta!
BENTINHO -
- Nunca mais Capitolina!! Se minha mãe sentir que eu estou brincando disso
de novo , ela me manda para fora de casa ! Não lembras o que houve da
última vez que brincamos de missa?
CAPITU J -
- Aí que está! Ela não descobrirá!
BENTINHO -
- Na outra vez tu tinhas me dito isso também…
CAPITU J -
- Bentinho, deixe disso, se não quiseres brincar é só falar que eu arranjo outra
pesso…
BENTINHO -
- Eu brinco! Além do mais, que outra pessoa que você conhece tornará se
padre?
CAPITU J -
- Ninguém, por isso sempre te peço!
BENTINHO -
- Tudo bem, Freira Capitolina ajoelhe-se!
(Capitu se ajoelha)
CAPITU J -
- Perfeito ,Padre Bento!
BENTINHO -
- Irmãos e irmãs, reconheçamos os nossos pecados e peçamos perdão a Deus
CAPITU J -
- Amém!
BENTINHO -
- Senhor, tende piedade de nós.
CAPITU J -
- Amém!
BENTINHO -
- Cristo, tende piedade de nós.
CAPITU J -
- Amém!
BENTINHO -
- Oremos.
(Capitu se levanta)
- Deus todo-poderoso, concedei-nos a graça de celebrar dignamente esta
santa missa e de receber o vosso Corpo e Sangue com fé e amor
(Capitu se ajoelha de novo)
BENTINHO -
4
- Por Cristo, nosso Senhor. Amém!
TODOS -
- Amém!
CAPITU J -
- Amém!
(Capitu se levanta de novo)
- Que a minha mãe não conte a sua que estávamos brincando de missa!
BENTINHO -
- Oremos! Agora está bom! Não esqueças que tu és minha vizinha e que as
paredes das casas são finas, mais do que isso é deixar de brincar com Deus
e dar as mãos ao Diabo!
CAPITU J -
- Podes deixar. Aqui é sigilo de 100 anos! E também já estava querendo
brincar de outra coisa, vem comigo.
(Capitu vai em direção do coração
(Bentinho acompanha Capitu)
(Assustada, ao perceber que o coração continua na parede Capitu J fica em frente ao lugar que ela
fez o coração. Bentinho vai se aproximando)
(Entrada de música)
CAPITU J -
- Que é que você tem?
BENTINHO -
- Eu? Nada.
CAPITU J -
- Nada, não. Tu tem alguma coisa
(Os dois ficam em silêncio por um tempo enquanto Bentinho a observa)
CAPITU J -
- Que é que você tem?
BENTINHO -
- Não é nada… É uma notícia. (Gaguejando)
CAPITU J -
- Notícia de quê?
(Bentinho fica calado e tenta ver a pintura; Capitu J tenta cobrir a pintura)
CAPITU J -
- Então?
BENTINHO -
- Você sabe
(Bentinho dá um passo na tentativa de ler, mas Capitu J empurra-o ,cobre e tenta apagar a pintura;
Bentinho começa a olhar para ela que o olha de volta; Bentinho pega as mãos de Capitu J e eles
continuam a se olhar)
(A cena fica assim durante um tempo até que Pádua entra de repente na cena)
(Fim da música quando Pádua chega e Capitu e Bento se assustam)
PÁDUA -
- Por que vocês estão se encarando?
(Em um susto, rapidamente Capitu J volta a apagar a pintura)
5
PÁDUA -
- Capitu!?
CAPITU J -
- Papai!
PÁDUA - (Gritando/Brigando)
- Não me estragues o reboco do muro!
(Pádua tenta ajudar a apagar mas depois se afasta da pintura)
PÁDUA -
- Vocês estavam fazendo palhaçada?
CAPITU J -
- Estávamos, sim, senhor. Mas Bentinho ri logo, não aguenta.
PÁDUA -
- Quando cheguei à porta, não ria.
CAPITU J -
- Já tinha rido das outras vezes. Papai, quer ver ele rir?
(Capitu J começa a olhar incessantemente para Bentinho, como se mandasse um sinal)
CAPITU J - (Vira para Pádua)
- Não está a rir porque estás aqui!
D.FORTUNATA - (Gritando)
- Capitu!!!
CAPITU J - (Ao sair de cena ainda olha para trás uma vez)
- Estou indo!
(Capitu J sai de cena deixando Pádua e Bentinho sozinhos)
PÁDUA -
- Garoto, você não ia virar padre?
(Capitu J sai primeiro da cena correndo. Pádua e Bentinho saem apenas na transição de cenas)
(Fecha a luz)
- Cena 3 -
(Abre a luz)
A ação começa com Francisco e Capitu na varanda em suas respectivas cadeiras de balanço,
Capitu por sua vez está com sua fitinha vermelha no cabelo segurando seu coque e fazendo
perguntas sobre o livro
CAPITU V -
- Nossa! Capitu é um nome tão comum assim?
FRANCISCO -
- Há de ser uma enorme coincidência ou apenas uma obra do destino
CAPITU V -
- Pois eu jamais me apaixonaria por um padre e cometeria tamanha
infantilidade
(Francisco ri; A fita de cabelo de Capitu V cai no chão)
CAPITU V -
- Por que estás a rir de mim?
(Francisco ignora e pega a fitinha de capitu que caiu no chão)
FRANCISCO -
- Maria tua fitinha de cabelo caiu, vire-se irei trançar seu cabelo
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(Capitu V vira-se)
CAPITU V -
- Não sabia que meu filho havia lhe contratado para cuidar de mim
(Capitu V encara Francisco)
FRANCISCO -
- Sim, Dona Santiago, sou o Francisco seu cuidador.
CAPITU V -
- Ah, claro, mas não entendo porque meu filho acha que eu preciso de um
cuidador.
FRANCISCO -
- Deve ser apenas preocupação de filho. Posso lhe fazer o penteado agora?
(Capitu começa a rir sozinha delicadamente)
FRANCISCO -
- O que houve agora?
CAPITU V -
- Nada… Esse momento por algum motivo me é familiar (Confusa)
FRANCISCO -
- Se não lembras não há problema, afinal de contas nenhum sentimento é
besta ou desprezível
CAPITU V -
- Obrigada por entender-me, meu filho
FRANCISCO -
- Não há de quê, afinal de contas estou por você e não vou embora
CAPITU V -
- Do nada ficou emocional
(Francisco revira os olhos e ri ironicamente)
FRANCISCO -
- Vamos voltar para o livro Maria
- O meu amor por bentinho não tinha sido como um raio caído do céu.
Começara com um sorriso, com uma palavra, com um olhar zombeteiro. A
cada segundo que passara na companhia dele, crescia um sentimento ainda
estranho, como se borboletas estivessem em pleno voo em meu estômago,
até chegar aquele momento, e de repente eu soube. Eu o amava
(Francisco e Capitu saem de cena)
(Fecha a luz)
- Cena 4 -
(Abre a luz)
A ação começa com Bentinho entrando no quarto de Capitu, onde a mesma encontra-se com
os cabelos soltos penteando-os; Capitu e bentinho começam a conversar
(Bentinho bate na porta)
CAPITU J -
- Pode Entrar! Há alguma coisa!?
BENTINHO -
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- Não há nada, vim te ver antes do Padre Cabral passar-lhes as lições. Como
passou a noite?
CAPITU J - (Capitu se levanta da cadeira; Fala como se tivesse esquecido o nome de José Dias)
- Eu, bem. Aquele amigo da sua mãe… Como é… José Dias? Ainda não falou
que você não quer fazer o seminário?
BENTINHO -
- Parece que não.
CAPITU J -
- Então quando ele irá dizer?!
BENTINHO -
- Uma hora ou outra ele irá falar, mas tu sabes que pra ela isso é quase uma
dívida, então, primeiro tem que saber se o campo está limp…
CAPITU J - (Interrompe antes de bentinho terminar de falar; Capitu fala com a voz firme)
- Que tem que falar, tem! Eu já nem sei se há tanta água no mundo para diluir
essa conversa à sua mãe. De fato acho que ele fará algo se for de seu
desejo não virar padre, mas será que ele conseguirá mudar a cabeça da sua
mãe? Ele é esperto, mas… Que desgraça! Você teime com ele, Bentinho!
BENTINHO - (Fala com voz firme)
- Teimo! Falo ainda hoje com ele.
CAPITU J -
- Tu juras?
BENTINHO -
- Juro!.. (Fica olhando para Capitu por um tempo)
(Entrada de música-Sinalizar a troca de cénario)
(Fecha a luz)
- Flash de memória -
(Abre a luz)
A ação se inicia com Bentinho voltando alegre para casa após as aulas de latim. Entra em
casa com um sorriso no rosto, mas logo o desmancha ao ver ‘O agregado’ da família, José
Dias.
BENTINHO -
- Bom dia, como vais?
JOSÈ DIAS - (Sério)
- Bom dia, estava nas aulas de latim ou foi encontrar aquela dissimulada?
BENTINHO - (Se recomponhe e fica sério)
- Eh… Eh… Eu?… (Olha para o teto e tenta pensar em algo)
JOSÉ DIAS -
- Entregaste-te com esse gaguejo
- Eu necessito que entendas que a gente do Pádua não é toda má.
- Capitu apesar dos olhos que o diabo lhe deu (Sinaliza com os dedos os olhos)
- (Fixa os olhos em bentinho) Já reparou nos olhos dela ? São assim olhos de uma
cigana oblíqua dissimulada
BENTINHO - (Se derretendo de amores)
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- Desculpe-me, mas em minha opinião aqueles são os pares de olhos mais
lindos que podem existir
JOSÉ DIAS -
- Recomponha-se. Pois, apesar deles, poderia passar, se não fosse a vaidade
e a adulação, oh adulação
- Dona Fortunata merece estima, e o Pádua não nego que seja honesto,mas
honestidade e estima não bastam, e as outras qualidades perdem muito valor
com as más companhias em que ele anda
BENTINHO -
- Pois não companheiro?
JOSÉ DIAS -
- Estou a dizer que não cases com aquela meretriz ou irás arrependeste
BENTINHO -
- Isto é uma ameaça ?
JOSÉ DIAS -
- Ameaça ou não espero que entendas o recado…
(José Dias se vira e sai de cena sem olhar para Bentinho, dando batidas no ombro)
(Fecha a luz)
- Retorno da Cena 4 -
(Abre a luz)
A ação começa com Bentinho observando Capitu pentear seus cabelos
BENTINHO - (Sussurrando)
- Olhos de uma cigana oblíqua e dissimulada
CAPITU J - (Olha para trás)
- O que dizes?
BENTINHO -
- Nada, …deixe-me ver teus olhos?
CAPITU J -
- Mas por qual motivo quer ver meus olhos?
(Recebendo o silêncio em resposta Capitu olha em direção a ele de forma a deixá-lo ver os olhos
dela e ele fica olhando um tempo pra ela)
(Entrada da música)
BENTINHO -
- Posso pentear seus cabelos agora?
CAPITU J -
- Tu?
BENTINHO -
- Eu mesmo!
CAPITU J -
- Vai embaraçar-me todo o cabelo.
BENTINHO -
- Se embaraçar, você desembaraça depois.
CAPITU J - (Tom irônico)
- Vamos ver o que grande cabeleireiro sabe fazer
(Bentinho apanha a fitinha de Capitu no chão e começa a pentear e faz um penteado)
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BENTINHO -
- Pronto!
CAPITU J -
- Está bom?
BENTINHO -
- Vejas no espelho.
(Capitu ao invés de ir ao espelho abaixa lentamente a cabeça como se fosse olhar pro teto e encara
Bentinho por alguns instantes)
BENTINHO -
- Levante a cabeça, Capitu! Irá ficar tonta ou acabará com o pescoço
machucado!
(Os dois aproximam as cabeças; beijam-se)
(A música para)
(D.Fortunata entra e escuta-se um barulho alto de porta fechando)
(Capitu J se recompõe ligeiro. D. Fortunata entra à cena e Capitu J começa a rir)
CAPITU J - (Capitu se senta, ao mesmo tempo que ri e mostra o cabelo)
- Mamãe, olhe como este senhor cabeleireiro me penteou; pediu-me para
acabar o penteado e fez isto. Veja que tranças!
D. FORTUNATA - (Em um dom bondoso)
- Que tem? Está muito bem, ninguém dirá que é de pessoa que não sabe
pentear.
CAPITU J - (Como se estivesse incrédula)
- O que, mamãe? Isto?
(Capitu J começa a desfazer as tranças)
CAPITU J -
- Ora, mãe!
D. FORTUNATA - (Último período em um tom período irônico)
- Capitu deixe de ser tonta! Bentinho não deu ouvidos à Capitolina, hoje ela
acordou assim agitada mesmo… Se ser agitada seja mesmo o anormal para
ela.
(D. Fortunata olha os dois desconfiada)
D. FORTUNATA -
- Ah! Lembrei a razão de vir até aqui. Sua mãe está lhe chamando Bento, as
lições de Latim com o Padre estão te esperando.
BENTINHO - (Gaguejando)
- O… Obrig… Obrigado, Dona Fortunata!
D. FORTUNATA -
- Não há de que!
(Bentinho sai da cena)
D. FORTUNATA - (Tom de repreensão)
- Porque você é assim!
CAPITU J -
- Assim como mãe?!
D. FORTUNATA -
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- Como assim,Capitolina! Tu destrata do garoto desde que tu é pequena, faz
ele de gato e sapato! Agora só falta inventar virar mágica e usar o menino de
cobaia pro truque da serra!
CAPITU J -
- Mãe eu estava brincando!
D. FORTUNATA -
- CHEGA! Nunca me vistes tão sem paciência como hoje garota! Não quero
ouvir nada de ti até a manhã do dia seguinte.
CAPITU J -
- …
D. FORTUNATA -
- Acho bom mesmo!
(Ouvesse Bentinho falando “Sou Homem” de longe duas vezes)
D. FORTUNATA -
- O que deu nele? Isso tem coisa sua envolvida não tem?
CAPITU J -
- …
D. FORTUNATA -
- Desembucha garota!!
CAPITU J -
- …
D. FORTUNATA -
- Claro que há! por que ainda fui perguntar?!
(D. Fortunata sai estrebuchando de raiva; Sai Capitu J na transição de cenas)
(Fecha a luz)
- Cena 5 -
A ação começa com Francisco e Capitu na varanda em suas respectivas cadeiras de balanço,
Capitu por sua vez está indignada pelo capítulo que acabou de ouvir e está cheia de perguntas
CAPITU V - (Indignada)
- Por que tamanha agressividade com a garota?!
FRANCISCO -
- Isto não sei lhe dizer, porém entre as páginas percebo a preocupação da mãe
para com os comportamentos deliberados da garota, que mãe não se
preocupa com sua filha?
CAPITU V - (Emocionada)
- Ela devia amar sua filha mesmo, não devia?
(Capitu começa a chorar sem saber o motivo; Francisco pega um lenço e oferece a Capitu)
FRANCISCO -
- Aqui dona Santiago
CAPITU V - (Confusão)
- Obrigada, é… desculpe-me meu filho, minha memória está falhando esses
dias, não sei o que está acontecendo, mas o coração me faz lembrar
FRANCISCO -
- Creio que posso compreender
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CAPITU V - (Confusão)
- Mas então quem seria José Dias?
FRANCISCO -
- Era um amigo íntimo da família de Bento, o livro o define como o único com
capacidade de persuadir a mãe dele e foi quem apelidou Capitu de “Cigana
Oblíqua dissimulada”
CAPITU V -
- Ué e por que precisava convencê-la?
FRANCISCO -
- Como você bem sabe, padre não se casa, logo Bentinho não poderia
tornar-se padre, era primordial que sua mãe aceitasse que ele não seria mais
padre.
CAPITU V -
- E agora … (Capitu tenta recordar o nome da personagem) é é…
FRANCISCO -
- Por acaso és Capitu o nome que queres recordar?
CAPITU V -
- Isto. Capitu! Ela irá ficar solteira? O padre ficará em Celibato o resto de sua
vida? Pobrezinho…
FRANCISCO - (Rindo)
- Não vá precipitando-se, irei concluir a história
CAPITU V -
- Pois bem, não deixe-me na curiosidade
FRANCISCO - (Pega o livro e começa a ler)
- Estava à conversar com minha amiga Sancha, ela estava desconfiada do
meu comportamento, será que sabes do meu segredo? Não, creio não…
(Capitu ri)
(Fecha a luz)
- Cena 6 -
(Abre a luz)
A ação começa com Capitu se despedindo de Sancha no jardim de sua casa , enquanto isto
Bentinho está entrando no quintal da casa de capitu, eles se encontram e permanecem
sentados no poço
(Sancha e Capitu estão conversando alegremente)
BENTINHO - (falando consigo mesmo cabisbaixo)
- Os olhos de minha mãe estavam repletos de lágrimas. Seu maior desejo era
saldar a dívida contraída com outra moeda que valesse tanto ou mais, porém
não encontrava nenhuma
(Bentinho vê Capitu se despedindo de Sancha; Capitu volta-se e avista Bentinho)
CAPITU J - (Olhar apaixonante, caminha em sua direção)
- Bentinho, meu querido.
BENTINHO - (Que antes estava com olhar triste, sorri apaixonadamente)
- Capitu, meu amor.
CAPITU J -
- O que estás fazendo aqui a esta hora?
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BENTINHO -
- Minha querida Capitu, em dois ou três meses irei para o seminário.
(Capitu mantém os olhos fixos no chão)
CAPITU J -
- Já está confirmado?
BENTINHO -
- Infelizmente, sim. Já está tudo organizado.
CAPITU J -
- Como está dona Glória? Ela há de estar tão triste.
BENTINHO -
- Está sim. Seu olhar entristecido quando saí para vir aqui...
CAPITU J -
- E quanto tempo irás ficar lá?
BENTINHO -
- Ficarei um ano lá, mas voltarei aos sábados e nas férias.
BENTINHO -
- Mas não há de ser assim.
CAPITU J -
- Como assim, Bentinho?
BENTINHO -
- Dizem que não estamos em idade para casar, que somos crianças,
criançoças. Bem, mas dois ou três anos passam depressa. Você jura uma
coisa?
- Jura que só irás casar-se comigo.
(Bentinho segura as mãos de Capitu)
(O rosto de Capitu fica vermelho; Capitu fica tímida)
CAPITU J -
- Juro, eu Maria Capitolina de Pádua Santiago, juro.
- Mesmo que você case-se com outra, cumprirei meu juramento, não casando
nunca.
BENTINHO -
(Solta a mão de Capitu)
- Casar-me com outra?
CAPITU J -
- Tudo pode acontecer, Bentinho. Você pode encontrar outra moça que o
queira, apaixonar-se por ela e casar. Quem sou eu para que você lembre-se
de mim nessa ocasião?
(Segura as mãos de Capitu de novo)
BENTINHO -
- Eu também juro! Juro, Capitu, juro por Deus nosso Senhor que só me
casarei com você.
CAPITU J -
- Mas juremos de outra maneira; juremos que nos casaremos um com o outro.
(De mãos dadas e olhares apaixonados)
(Fecha a luz)
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- Cena 7 -
(Abre a luz)
A cena inicia-se na varanda do quarto de Capitu, do mesmo jeito que as outras cenas,
Francisco e Capitu estão a conversar
FRANCISCO -
- Eu lhe digo, que nosso amor vai até onde nos propusermos a lutar, até onde
Cristo permitir. Tenho que ser forte, pois o amor é para os fortes, para
aqueles que não têm medo de enfrentar obstáculos.
CAPITU V -
- Mas há amores que só podem viver em nossos corações, não em nossas
vidas.
(Chorando)
FRANCISCO -
- Não chores, tem aqui um lenço
- Porque estás a chorar?
CAPITU V -
- Como explicar uma coisa que nem eu mesma entendo
(Com raiva e confusão)
- Minha memória está confusa, e eu não entendo o porquê. Palavras que se
confundem, pensamentos que se embaralham. Eu nem me lembro mais
quem és tu e onde estou.
FRANCISCO -
- Creio que não posso te curar disso, mas estarei aqui para te ajudar no que
precisar.
CAPITU V -
- Agradeço, Ezequiel
- Mas sobre o que estávamos a falar?
FRANCISCO -
- Como apaixonar-se já é ingenuidade o suficiente e como promessas na
juventude podem ser vagas.
(Capitu concorda em silêncio, com um olhar de tristeza nos olhos; Francisco pega o livro e
volta a ler)
- Vamos esquecer isso e voltar às Memórias Oblíquas
CAPITU V -
- Oblíquas…Eu gosto como soa
FRANCISCO -
- 8 de julho de 1858.
Assim como as outras noites escondi minha tristeza com a máscara da
felicidade, embora essa situação seja a mais melancólica possível, tratava
minha infelicidade como uma velha conhecida.
- Este baile embora pomposo não atrai minha animação, muito menos os
cortejos que venho recebendo, neste momento o que anseio em meu
coração é a volta do meu amado Bentinho.
- Dona Glória apesar de estar cumprindo sua promessa, está cada vez mais
entristecendo-se com a partida de seu filho, por isso todas as noite a faço
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companhia, menos esta a qual fui obrigada a vir este martírio em forma de
festa.
CAPITU V -
- Deus, como uma garota tão jovem pode ser tão triste
- Mas quem seria Dona Glória? Não lembro de você ter citado-a
FRANCISCO -
- Dona Glória é a mãe de Bentinho, apelidada por José Dias, um amigo da
família, de Santíssima.Também era conhecida pela fé que tinha, tanto que foi
o motivo para Bentinho se tornar padre.
- Era uma mulher de muitas posses, viúva de Pedro Santiago, pai de Bentinho.
CAPITU V -
- Meu filho, me perdoe, mas quem seria Bentinho mesmo?
FRANCISCO - (Francisco pega uma foto que está presa entre as páginas do livro e entrega a
Capitu)
- Aqui, esse é Bentinho
(Francisco aponta para a foto identificando quem seria Bentinho nela, ja que está Bentinho e Escobar
um ao lado do outro)
CAPITU V - (Fala sorrindo nostálgica)
- Esse? Eu o conheço
FRANCISCO - (Animado com a possível lembrança de Capitu)
- Conhece?
- Maria, você o reconhece?
CAPITU V - (Confusa)
- Desculpe-me, mas sobre o que falávamos?
FRANCISCO - (Fala mostrando a foto novamente e apontando para Bentinho)
- Esse homem, a senhora conhece? O nome dele é Bentinho
CAPITU V -
- Ora que rapazes bonitos, principalmente o que está ao lado desse Bentinho
FRANCISCO -
- Esse é Escobar, melhor amigo e companheiro de seminário de Bentinho
CAPITU V -
- … (Observa com atenção a foto)
FRANCISCO -
- O próximo trecho é sobre ele
(Pigarro)
- Vamos voltar a ler
- 05 de Outubro de 1859
- Estava à janela a observar o Beija-flor, e a pensar em como há fortuna em
sentir o sabor doce da vida, e beijar cada flor no jardim…, quando avistei de
longe, meio distante, se aproximando aos poucos, quem meu coração
almejava reencontrar era ele, meu amado Bentinho, mas desta vez estava
acompanhado de alguém, não o reconheci, mas a despedida entre meu amor
e este outro homem foi tão rasgada e afetuosa, se despediram com tanto
afeto que quis saber quem era este que merecia tanta atenção de quem
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espero a semana tão ansiosamente para rever, descobri que este era
Escobar, amigo de seminário de Bentinho, mas que amigo, confidente
- Assim, disfarço meu ciúmes, engulo tuas provocações, o sangue ferve, e me
sinto chateada, mas não crio caso, pois me recordo dos momentos que
passei contigo, me recordo de nosso beijo e dos juramentos que fizemos em
santo nome do senhor, e não irá ser um simples seminarista que me porá em
jogo
CAPITU V -
- Esta personagem.., como o nome dela mesmo?
FRANCISCO -
- Capitu, mais conhecida como Capitulina
CAPITU V -
- Isto, Capitulina…, (Tentando se recordar do que ia falar), ela.. é uma mistura de
emoções
FRANCISCO -
- Ela é a personagem principal, que viveu uma história obliqua, cheia de
sentimentos e emoções
CAPITU V -
- Oblíquas…Eu gosto como soa
FRANCISCO -
- Vamos voltar a nossa realidade de 1859
(Francisco volta a ler o livro)
- 24 de dezembro de 1859
- A cada segundo que se passa minha alma e meu corpo anseiam por sua
chegada, antes de dormir, seu juramento permanece na minha cabeça “juro
por Deus nosso Senhor que só me casarei com você”
- Eu olho para o sol e vejo o brilho do seu sorriso, eu olho para a lua e vejo o
brilho do teu olhar, e assim como o nascer do sol, amar você é inevitável
- Me sinto desnorteada, e não desejo isso nem ao meu pior inimigo, esbarro
nas coisas e tropeço sozinha, e as palavras que nunca te disse ficarão
guardadas atrás dos meus lábios até que um dia as venhas buscar
(Fecha a luz)
- Cena 8 -
A ação se inicia com Capitu J saindo da igreja, desastrada como é acaba esbarrando com
alguém. Rapidamente vira- se ela para que desculpasse pelo ocorrido.
CAPITU J - (Fala preocupada)
- Desculpe-me senhor
ESCOBAR -
- Não se preocupe, Senhorita…
- Desculpe, mas como se chamas?
CAPITU J -
- Maria Capitolina de Pádua Santiago, e o senhor?
ESCOBAR -
- Ezequiel de Sousa Escobar
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CAPITU J -
- Prazer em lhe conhecer, desculpe-me minha desatenção, ando muito
desleixada ultimamente, minha cabeça está nas nuvens
ESCOBAR -
- Não há problema
(Encara Capitu com olhar de confusão)
CAPITU J -
- Eu por acaso lhe conheço?.. Me és familiar
ESCOBAR - (Sorrindo de canto de olho)
- Acredito que não, mas me conheces agora
CAPITU J -
- Para onde estava indo ?
ESCOBAR -
- Estava indo a praça do mercado, sabes onde é?
CAPITU J -
- Sim!
ESCOBAR -
- Posso lhe acompanhar então?
CAPITU J -
- Eu aceito a companhia!
(Começam a andar juntos)
- És daqui do Rio de Janeiro?
ESCOBAR -
- Não, vim de São Paulo
(O prendedor do cabelo de Capitu desprende e Escobar a ajuda a colocá-lo novamente)
- Senhorita Pádua, deixe-me ajudá-la
- Vire-se o prenderei novamente.
(Capitu se vira ficando de costas para Escobar, ele tira o cabelo de seu ombro o colocando
totalmente para trás e o prende novamente)
CAPITU J -
- Obrigada!
- Então és de São Paulo, o que fazes aqui?
- Desculpe-me se fui inoportuna, minha curiosidade às vezes ultrapassa o
limite.
ESCOBAR -
- Não, não é importuna
- Eu vim para visitar um amigo que conheci no seminário
CAPITU J -
- Você também?
- Como podem todos os homens à minha volta desejarem virar padre?
ESCOBAR - (Fala confuso)
- Como?
CAPITU J - (Fala mudando o assunto)
- Chegamos ao nosso destino.
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- Desculpe-me pela minha pressa mas tenho muitos deveres, preciso ir.
- Boa sorte em encontrar seu amigo, Senhor Escobar.
(Escobar e Capitu saem de cena por lados opostos)
- Cena 9 -
(A cena continua com Capitu indo para casa de Bentinho e o encontra conversando com
José Dias, ela não atrapalha o diálogo mas escuta toda a conversa)
BENTINHO - (Fala furioso)
- O senhor tinha a completa razão, fui a até a praça do mercado a pedido de
minha mãe, mas não consegui chegar lá.
JOSÉ DIAS - (Fala sentado em uma poltrona da sala com um livro em suas mãos)
- Ainda não entendi onde está minha razão.
- Por acaso essa intervenção tem a ver com as ruas que estão cada vez mais
intransitáveis
BENTINHO -
- Como? Não, estou falando de Maria Capitulina!
JOSÉ DIAS -
- Ah! Agora eu entendo sua intervenção
- O que aquela dissimulada fez dessa vez?
BENTINHO -
- Estava se engraçando com um cavalheiro, em praça pública! E como se já
não fosse o bastante está conversando com outro homem com uma
intimidade reprovável, ainda o deixou toca-lá.
- O senhor estava completamente certo ao aconselha-me a não confiar nela.
- Onde eu estava com a cabeça?
JOSÉ DIAS -
- Ainda bem que eu o convenci a estudar leis, se ficasse aqui nunca teria
terminado os estudos.
- Aquele anjo caído é sua perdição, ela seria o motivo da sua falência!
BENTINHO -
- Agradeço, pelo seu conselho
PRIMA JUSTINA -
- Senhor Bentinho, licença
- A Senhorita Pádua veio visitar Dona Glória, ela está na sala caso queira
comprimentá-la.
BENTINHO - (É interrompido)
- Não…
JOSÉ DIAS -
- Obrigado, ele irá num instante.
(A mulher concorda e sai da sala deixando eles sozinhos)
BENTINHO -
- Não irei falar com aquela dissimulada
JOSÉ DIAS -
- Sim, você irá até a sala e irá romper seus laços com aquela perdida.
- Acabe de vez com essa relação sem futuro.
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- Cena 10 -
(José Dias sai de cena e Bentinho vai ao encontro de Capitu, que quando percebeu a
movimentação corre até a sala e finge que não escutou nada daquelas coisas)
(Capitu se alegra ao ver Bentinho)
CAPITU J - (Percebendo que chegou antes de Bentinho)
- Ainda bem que cheguei antes de Bentinho.
(Bentinho entra em cena e Capitu leva um susto)
CAPITU J - (Se recompõe e fala alegremente)
- Bentinho!
(Ela o abraça mas não recebe o abraço de volta)
- Quando voltou? Porque não foste me visitar eu esperei ansiosa pela sua
volta.
BENTINHO - (Diz de forma fria)
- Voltei ontem pela tarde.
- Não tive tempo para visitas, Senhorita Pádua.
CAPITU J -
- Senhorita Pádua?
- De onde veio toda essa formalidade? Pensei que esses tratamentos não
eram aplicados para nós.
BENTINHO -
- Claro que pensou, dissimuladas como és.
CAPITU J -
- Bentinho, está me ofendendo falando de tal maneira.
BENTINHO -
- Senhorita Pádua, acredito que não seja certo mantermos uma amizade,
nossas diferenças fazem com que não sejamos compatíveis, além de nos
iludirem com esse possível romance infantil.
CAPITU J -
- Compatíveis?
- Estás falando igual ao José Dias, tenho certeza que ele quem colocou essas
ideias absurdas na sua cabeça.
BENTINHO -
- Ele abriu os meus olhos, para que eu pudesse ver que a amizade não é o
suficiente para levarmos essa infantilidade a diante.
CAPITU J -
- Ele está te envenenando contra mim!
BENTINHO -
- Nunca pensei que eu fosse realmente dar ouvidos às palavras dele, mas ao
ter ver com o Escobar, tive certeza que és a perdida que ele sempre me
disse.
CAPITU J -
- Então é isso? Estás com ciúmes.
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- E pior, está descontando em mim sem ao menos saber o meu lado! Estas se
tornando um seguidor tão fiel daquele homem que nem mesmo pensa antes
de seguir seus comandos.
- Eu esperava confiança de você, Bento. E não por ser meu amigo de longa
data, mas por ser a pessoa pela qual amei todos esses anos.
BENTINHO -
- Então me diga sua versão, embora eu tenha certeza que já sei o que
aconteceu e o que está acontecendo.
CAPITU J -
- Eu nunca falei com Escobar antes de hoje, estava apenas sendo educada e o
ajudando a chegar até a rua do mercado.
BENTINHO -
- Tinham intimidade demais para quem nunca tinha falado antes desta manhã!
CAPITU J -
- Chega! Não vou ficar aqui escutando esses absurdos.
- Passar bem, Senhor Santiago.
(Capitu saí de cena deixando Bentinho sozinho na cena)
- Cena 11 -
A cena inicia-se na varanda do quarto de Capitu, do mesmo jeito que as outras cenas,
Francisco e Capitu estão a conversar
CAPITU V - (Com raiva)
- Aquele…Aquele arrogante!
FRANCISCO -
- Pense pelo lado dele, o que a senhora faria caso visse o amor da sua vida
conversando com outra pessoa na rua?
CAPITU V -
- Eu conversaria com ele e não agiria de forma tão infantil como esse…Como
é o nome dele mesmo?
FRANCISCO -
- Bento Santiago.
CAPITU V -
- Isso, exatamente!
- Como pode um homem feito agir de forma tão imatura
FRANCISCO -
- O ciúmes é um fogo que arde sem se ver, é uma ferida que dói e não se
sente, é um mal que envenena e não se cura, é um inferno que consome e
não se apura
CAPITU V -
- Lindo trecho, mas do que estávamos a falar?
FRANCISCO - (Sussurro)
- Sua memória está a piorar…
CAPITU V -
- O que dizes meu filho? Lamentavelmente não consegui escutar-lhe
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FRANCISCO -
- Estava a comentar que deu a hora do seu remédio
CAPITU V -
- Que remédio? Eu estou saudável
FRANCISCO -
- Não é nada demais, apenas uma dose de vitamina
CAPITU V -
- E quem você pensa que é para me medicar?
- Por acaso és meu médico?
FRANCISCO -
- Não, sou teu cuidador, pode me chamar de Francisco, o seu filho Ezequiel
me contratou.
CAPITU V -
- Ah… Tá bom
FRANCISCO -
- Por favor tome o seu remédio
(Francisco entrega o remédio nas mãos de Capitu)
CAPITU - (Falou fazendo careta)
- Esse remédio tem um gosto horrível!
FRANCISCO - (Rir e continua a falar)
- Agora que contribuístes comigo, irei continuar a ler o livro
CAPITU V -
- Este livro é muito bonito, do que se trata?
FRANCISCO -
- Trata-se de uma história de romance oblíquo, escrito por algum classista
ainda não descoberto
CAPITU V -
- Oblíquas…Eu gosto como soa
FRANCISCO -
- Agora, vamos para o livro
- Eu te amei desde criança, você era meu vizinho e meu melhor amigo,agora
eu vejo a importância da nossa amizade. Passei anos sem vê-lo com tanta
frequência e agora que voltou não posso me aproximar por causa da opinião
de pessoas que não sabem da metade do nosso sentimento…
- Cena 12 -
A ação se inicia com Capitu J numa sala de sua casa sentada na poltrona lendo um livro , até
que sua tia, Dona Carolina, bate na porta chamando sua atenção.
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- Eu não quero ver ninguém hoje, peça-o para voltar outro dia.
- E, tia, pare de tentar fazer com que eu me case.
DONA CAROLINA - (Pegou em suas mãos)
Querida, sei que ainda sente a falta de sua mãe, mas não é correto se fechar em
um quarto.
CAPITU J - (Se levantou e caminhou para longe)
- Eu entendo, tia, sinto muita falta da mamãe, mas não é apenas isso que está
me deixando triste.
- Há alguns dias briguei com um amigo.
DONA CAROLINA -
- Por isso chegou em casa chorosa após ir à igreja.
- Por acaso, esse amigo é o filho de Dona Glória? Como é mesmo o nome
dele…
CAPITU J -
- Bento Santiago
- Sim, é ele.
DONA CAROLINA -
- Minha irmã sempre falou sobre como vocês eram unidos, creio que irão se
acertar, Mas agora tem um homem esperando por você, Maria Capitolina, sai
já desse quarto e vai recebê-lo.
- Irei chamá-lo, comporte-se
(A tia de Capitu saí de cena e Bentinho entra batendo na porta)
CAPITU J - (fala antes de ver quem realmente era)
- Olá senhor…
- Bentinho?
BENTINHO - (Ele é interrompido)
- Capitu, eu…
CAPITU J -
- Desculpe-me, Senhor Santiago, o que deseja?
BENTINHO -
- Capitolina…
CAPITU J - (Fala com deboche)
- Nossa última conversa foi muito esclarecedora, Senhor Santiago, creio que
não seja prudente o senhor se encontrar com alguém tão dissimulada como
eu.
- Se José Dias o visse agora o reprovaria.
BENTINHO -
- Capitu, eu não estou aqui para brigar com você novamente.
- Esta manhã tomei conhecimento do que aconteceu com você enquanto eu
estava na Europa.
- Sinto muito, pela morte de sua mãe.
CAPITU J - (Fala tristonha)
- Obrigada, Senhor Santiago.
BENTINHO -
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- Capitolina, sobre nossa última conversa, eu gostaria que me entendesse.
CAPITU J -
- Eu entendi muito bem, Bento.
- Sinto que tenha razão, somos uma infantilidade.
BENTINHO -
- Não, não somos.
- Você é a pessoa que eu mais amo nessa vida, eu quem fui imaturo e não te
ouvi, desculpe-me. Não pense que eu não quero seguir em frente com nosso
relacionamento, eu quero! Eu estava coberto de ciúmes, com tanto ciúmes
que escutei as palavras difamatórias de José Dias, acreditei nelas e
- Perdoe-me, por tudo que disse e por te fazer acreditar que és dissimulada.
Eu a amo e confio em você.
CAPITU J -
- Então prove-me que não acredita nas palavras de José Dias, prove que
confia em mim e não nele.
BENTINHO -
- Eu provo!
- Irei até ele hoje mesmo e direi que nunca irei me afastar de você, Capitolina.
Nunca mais irei te deixar ir como fiz dias atrás, provarei que você não é o
motivo da minha ruina e sim da minha ascensão. Tornarei você minha e
nunca mais darei ouvidos às palavras dele.
CAPITU J -
- Está querendo dizer que…
BENTINHO -
- Sim, Capitu, estou querendo dizer exatamente isso.
(Capitu se exalta e se levanta)
(Bentinho ajoelha-se na sua frente segurando suas mãos)
- Maria Capitolina, aceitar casar-se comigo?
CAPITU J -
- Sim, Bentinho! É tudo que eu mais desejo.
(Bentinho abraça Capitu)
- Cena 13 -
A cena começa com Bentinho em cima do altar esperando impacientemente o padre chegar,
este chega desesperado e pedindo desculpas pelo seu atraso, ao se recompor a música de
casamento começa a tocar, a madrinha entra com as flores e depois Capitu vai em direção ao
altar, onde Bentinho está a sua espera; Quem está lhe acompanhando é seu pai.
PADRE -
- Desculpe-me meus fiéis, me desculpem
BENTINHO -
- Finalmente…
PADRE - (Pigarro)
- Nesta noite estrelada de março de 1865, após São Pedro, com a chave dos
céus, recolher as gotas e acender as estrelas.
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- Diante de Deus e dos homens, estamos aqui reunidos para celebrar a união
de Bento Albuquerque Santiago e Maria Capitolina de Pádua
(Começa a música e a madrinha entra com as flores)
(Começa a marcha nupcial e Capitu entra)
(Ao Capitu chegar no altar)
BENTINHO -
- Sinto-me tão afortunado…
PÁDUA -
- Minha filha, tu seras feliz (e da um beijo na testa de capitu)
(Bentinho estende a mão para capitu)
CAPITU - (Olhando para o padre)
- Se tivesse se atrasado mais a cerimônia que iria fazer seria a do meu enterro
(Entrega o buquê a madrinha)
PADRE - (Pigarro)
- Meus irmãos e irmãs, chegamos ao momento mais esperado e emocionante
desta celebração: a troca das alianças, que são o símbolo do compromisso e
da união dos nossos queridos noivos perante Deus e perante todos nós
(Entrada do padrinho e do cachorro que vai trazer as alianças)
- Eles escolheram as alianças como o símbolo do seu amor, um amor que é
puro, forte e duradouro. Vamos ouvir com carinho e admiração os votos que
eles vão fazer, e pedir a Deus que proteja esta união
BENTINHO -
- Capitu, você é a minha vida, a minha Desdêmona. Eu te prometo ser fiel,
dedicado e apaixonado. Eu te prometo nunca duvidar do teu amor, nem
deixar que o mal nos separe. Eu prometo amar-te sempre
(Bentinho coloca o anel na mão de Capitu)
CAPITU - (Com os olhos cheios de lágrima)
- Meu amado bentinho, você é a resposta de todas as orações que eu fiz. Você
é uma canção, um sonho, um sussurro, você é o meu melhor amigo, o meu
amor, aquele que desperta a minha alma e me faz querer mais, aquele que
coloca um fogo em meu coração e traz paz a minha mente. Eu prometo
amar-te sempre
PADRE -
- Que o amor que os une seja a base sólida de uma vida a dois. Que saibam
cultivar a paciência, a compreensão e o perdão. O casamento é um caminho
de entrega mútua e de crescimento conjunto
- Com a autoridade que me é concedida pela Igreja, declaro-vos marido e
mulher. Podem-se beijar
(Lágrimas de alegria escorrem pelo rosto de Capitu, enquanto Bentinho sorri com o coração
cheio de gratidão)
(Capitu e Bentinho se beijam)
CAPITU -
- Queridos amigos e familiares, é com grande alegria que os convido a unirem-se a
nós na pista de dança
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(Capitu e Bentinho vão na frente de mãos dadas saindo do palco e os padrinhos
acompanham jogando arroz)
BENTINHO - (Estende a mão)
- Capitu, minha amada, me concede a honra de dançar a primeira música
desse novo capítulo de nossas vidas junto a mim ?
(Capitu sorri; Bentinho começa a conduzir a dança)
PADRE -
- Desculpe-me interromper, mas estou com fome, posso me deliciar com o
banquete ?
CAPITU -
- Claro, pode se servir
(Padre se vira para sair de cena)
-Ah quase ia me esquecendo, por favor não ache que meu marido está
incorporado do mal q que quando ele dançar sozinho
(Padre ri)
CAPITU -
- Vamos Bentinho…
(Dança do casal)
- Cena 14 -
A cena inicia-se na varanda do quarto de Capitu, do mesmo jeito que as outras cenas,
Francisco e Capitu estão a conversar
CAPITU V -
- Que lindo…, quem dera eu ter tido um casamento tão… tão belo
(Capitu olha para sua mão e percebe que tem um anel)
- Meu filho, sabes dizer se me casei?
FRANCISCO -
- Suponho que sim, mas nunca o ví
CAPITU V -
- E filhos?
FRANCISCO -
- O teu amado filho Ezequiel, que tanto falas, te manda flores e cartas todos os
dias
CAPITU V -
- Meu amado Ezequiel, sinto tanta saudades
- Por acaso sabes onde ele está?Ele por acaso está em alguma viagem?…,
não consigo me recordar
FRANCISCO -
- Está concluindo sua graduação em história, para exercer sua paixão… ser
arqueólogo
- Em suas cartas ele pergunta muito como a senhora está e enfatiza que
quando concluir seu curso irá pessoalmente lhe trazer um buquê de suas
flores favoritas
CAPITU V (Capitu olha para o vaso de flores na cabeceira)
- Tulipas… Tulipas azuis. Estas são minhas favoritas
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FRANCISCO -
- Seus olhos brilham a dizer isto
CAPITU V -
- Brilhariam mais se estivermos a ler um livro
FRANCISCO -
- Estamos a ler, este aqui (Mostra o livro)
(Capitu olha para Francisco, olha para o chão e fica em silêncio)
- O que houves Maria, nunca ficasses calada assim
CAPITU V - (Com o Tom de voz alto e apresentando está em estado de confusão)
- Quem é você e porque sabes meu nome ?
(Tenta se levantar da cadeira sozinha)
FRANCISCO -
- Maria sente-se!!!!
CAPITU V -
- Não. Se não responder minha pergunta irei me retirar
FRANCISCO -
- Eu respondo, mas por gentileza sente-se não irei te fazer mal algum
(Capitu se senta, mas tenta afastar sua cadeira para trás)
- Olá Maria. Meu nome é Francisco, fiz graduação na área de saúde e fui
contratado pelo seu filho para cuida-te
(Capitu permanece em silêncio com os braços fechados)
(Francisco abre a gaveta e pega as cartas de Ezequiel)
- Olhe estas são as cartas que teu filho manda, em especial esta é a primeira
onde ele sobre mim
- Sou um homem inofensivo que só vim lhe ajudar, eu prometo
CAPITU V -
- Desculpe-me meu filho, acho que devo ter cometido um erro…
FRANCISCO -
- Está tudo bem, eu estou aqui para isso
CAPITU V -
- Mas então o que eu tenho ?
FRANCISCO -
- Você apresenta a doença senil, caracterizada pela comprometimento da
memória e mudanças de humor recorrentes
CAPITU V -
- Não!! Eu não apresento tal doença, pare de blasfemar!
FRANCISCO -
- Te juros!
CAPITU V -
- Juras o'que ?
FRANCISCO -
- Ah… é… (Pega rapidamente o livro) Juro que iremos voltar a ler este livro
CAPITU -
- Ah claro…, o livro…
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FRANCISCO -
-
- Cena 15 -
A ação se inicia com Dona Carlota (Dona do restaurante) dando as boas vindas a Sancha e
Escobar, que estão à espera de se encontrarem com Bentinho e Capitu.
DONA CARLOTA -
- Boa noite, sejam muito bem vindos
(Sancha e Escobar respondem educadamente)
SANCHA e ESCOBAR -
- Boa noite
DONA CARLOTA -
- Mesa para quantos ?
SANCHA -
- Mesa para quatro
DONA CARLOTA -
- E onde estão os outros ?
SANCHA -
- Estamos a esperá-los
DONA CARLOTA -
- Querem me acompanhar ou aguardá-los ?
ESCOBAR -
- Iremos esperá-los aqui, muito obrigado
DONA CARLOTA -
- Tudo bem, é a mesa próxima do bar
- Vou trazer-lhes algumas bebidas
ESCOBAR -
- Melhor ainda! Nunca pare, só de um tempo
(Dona Carlota sai de cena)
ESCOBAR -
- Como eles estão demorando…
SANCHA -
- E o que iremos fazer neste tempo ?
ESCOBAR - (Sinaliza com os dedos chamando Sancha)
- Venha cá querida!, irei lhe contar o que irá acontecer…
(Sancha vai em direção de Escobar e fica a dar risinhos)
(Bentinho e Capitu chegam de braços dados)
BENTINHO -
- Que bom que vinhestes Escobar
(Sancha rapidamente afasta-se um pouco e se localiza ao lado de Escobar)
(Escobar abre um sorriso no rosto e vai em direção de Bento dar-lhe um abraço)
ESCOBAR -
- Sem formalidades amigo, um simples abraço é mais que suficiente
(Sancha e Capitu abraçam-se)
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- Chega de demora! Vamos entrar?, acho que a senhorita esqueceu de trazer
minha bebida
CAPITU -
- Vamos!
(Capitu e Escobar vão em direção do bar, quando Bentinho está indo acompanhá-los Sancha
o puxa)
SANCHA -
- Posso contar-lhe um segredo?
BENTINHO -
- Claro, pode confiar em mim
SANCHA -
- Iremos à Europa
BENTINHO -
- Quem? Você e Escobar?
SANCHA -
- Não! Nós seis, eu, você, Escobar, Capitu e nossos filhos
BENTINHO -
- Me lembro de quando fui a Europa, será maravilhoso voltar lá
SANCHA -
- Com certeza, pena que nunca tive essa oportunidade
BENTINHO -
- Terá agora, e farei questão de apresentar os lugares mais belos daquela
terra.
SANCHA - (Ela sorrir)
- Você jura?
BENTINHO - (Bentinho puxa a mão de Sancha e dar-lhe um beijo no dorso da mão dela )
- Claro, não deixaria a senhora na mão de qualquer um.
(Escobar chega)
ESCOBAR - (Pigarro)
- Na minha terra ladrão de mulher morre cedo…
BENTINHO -
- Perdão, o que disses?
ESCOBAR -
- Nada… Com licença irei roubar Sancha por um instante.
CAPITU -
- Vamos Bentinho…
(Eles se sentam na mesa e pedem algo para comer)
(Escobar e Bentinho se sentam nas pontas e Capitu e Sancha entre eles)
(Garçonete chega e interrompe)
GARÇONETE - (Deixando a comida na mesa)
- Desculpe-me interromper.
ESCOBAR - (Fala sentado ao lado dela na ponta da mesa)
- Capitulina, pode me passar a bebida?
CAPITU - (Fala com um sorriso no rosto)
- Claro!
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BENTINHO - (Fala com a voz carregada de ciúmes)
- Meu amigo, sobre o que você e minha queridíssima esposa conversavam
enquanto estavam no bar, pude perceber que mesmo de longe, só poderia
ser algo de extremo humor, nunca vi ela sorrir tanto.
CAPITU -
- Ele estava me contando sobre a viagem à Europa, creio que Sancha fez a
gentileza de contar-lhe sobre, enquanto ficaram sozinhos.
SANCHA -
- Sim, comentei com Bentinho sobre, mas não sabia que você tinha
conhecimento sobre, Capitu.
- Mas que bom que tem, creio que iremos nos divertir muito na Europa.
ESCOBAR -
- Com certeza.
- Além disso, tomei conhecimento que Capitu nunca foi a Europa. Bentinho,
como pode privar Capitolina de tamanhas belezas.
- Como seu amigo, aconselho que pague essa dívida levando-a para um belo
passeio por aquelas terras maravilhosas antes que outro o faça.
BENTINHO -
- Outro? Por acaso você, meu querido amigo, seria esse outro?
ESCOBAR - (Ele olha para Capitu)
- Claro! Não perderia essa oportunidade por nada.
(Escobar faz uma pausa e logo após vira seu olhar para Sancha)
- Aproveitaria o passeio que irei fazer com Sancha e faria esse favor a amigos,
imagine nós quatro aproveitando as belas paisagens da França ou então da
belíssima Inglaterra.
BENTINHO -
- Sim, claro, nós quatro.
- Seu humor está melhor do que o desta manhã, o que aconteceu?
SANCHA -
- Verdade, ele ficou com um melhor humor após a visita que fez a vocês esta
manhã.
BENTINHO -
- Foi até minha casa esta manhã?
CAPITU -
- Sim, mas você não estava em casa.
- Preparei um chá para que esperássemos sua chegada, mas sua demora foi
tanta que ele acabou não podendo ficar mais.
- Acabei esquecendo de comentar.
(Fala e dá mais um gole em sua bebida)
BENTINHO -
- Andas muito esquecida ultimamente, Capitu.
SANCHA -
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-E pelo que pude perceber meu querido marido sofre do mesmo
esquecimento, afinal não me contou que não estava presente nessa visita,
Bentinho.
ESCOBAR -
- Não brigue com ela, meu amigo, eu quem fui tolo.
- Esqueci completamente que havia me contado que não estaria em casa na
manhã de hoje.
(Escobar vira o olhar para a esposa e responde seu comentário)
- E meu amor, minha cabeça anda nas nuvens nesses últimos dias, acabei não
comentando, não leve a mal.
SANCHA -
- Nisso eu tenho que concordar, meu marido.
- Mas sua visita não foi perdida, pelo menos visitou o pequeno Ezequiel.
CAPITU -
- Muito bem colocado, Sancha.
- Vocês deveriam visitar mais Ezequiel, ele sente falta de vocês.
BENTINHO -
- Verdade, o menino é tão apegado a você que nem parece ser nosso filho.
ESCOBAR -
- Não exagere, Bento
- Ele é muito apegado a Capitolina, pude perceber isso.
BENTINHO -
- Claro, a mãe faz os gostos do filho.
CAPITU -
- Bentinho! Assim vai parecer que eu mimo o menino.
ESCOBAR -
- Não se preocupe, toda mãe faz isso.
- Sacha mesmo faz todos os gostos de Capituzinha.
SANCHA -
- Mas é diferente, Capituzinha é uma menina, merece ser mimada pela mãe de
vez em quando.
ESCOBAR -
- Ezequiel é um ótimo menino, merece ter seus gostos atendidos também.
CAPITU - (Diz sorrindo agradecida)
- Obrigado por concordar comigo, Escobar.
ESCOBAR -
- Não tem o que agradecer, tenho Ezequiel como um filho pra mim.
BENTINHO - (Ele ri, como se fosse uma brincadeira, mas depois fica sério)
- Se formos pela aparência ele realmente é mais seu filho do que meu.
SANCHA -
- Verdade, agora eu percebo a semelhança.
- Se eu não soubesse até poderia dizer que Ezequiel é filho de Escobar, não
seu Bentinho, mas Escobar nunca faria isso com você e nem comigo.
BENTINHO -
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- Claro, Escobar é um amigo fiel.
CAPITU - (levanta-se apoiando as duas mão na mesa e olhando diretamente para Bento)
- E eu por acaso não sou?
ESCOBAR -
- Tenho certeza que ele não quis dar a entender isso, Capitolina.
SANCHA -
- Deixe-os, são marido e mulher, sabem se entender.
CAPITU - (Desvia o olhar para Escobar)
- Sinto em desapontá-lo, Escobar, mas meu marido quis dar a entender
exatamente isso.
BENTINHO - (Também se levanta ficando na mesma posição que Capitu)
- Eu não mencionei nada sobre, mas se doeu em ti é porque sentiu verdade
nas minhas palavras.
CAPITU -
- Pelo contrário, senti o duplo sentido de suas palavras e não a verdade delas.
- Como sempre, estou sempre no alvo de seu ciúmes exagerado.
ESCOBAR - (Fala se levantando e tentando fazer com que os dois não briguem mais)
- Vamos mudar o assunto.
CAPITU - (Falou desviando o olhar e sentando-se novamente)
- Ótima ideia! Talvez assim eu me livre dos comentários infelizes de meu
marido.
BENTINHO -
- Como sempre, Escobar com ótimas ideias para livrar Capitu.
SANCHA -
- O que quer dizer com isso?
BENTINHO -
- Sancha, como não percebe o que acontece entre esses dois?
SANCHA - (Fala em reprovação)
- Ele não ousaria fazer algo dessa espécie, não é querido?
BENTINHO -
- Engane-se como quiser.
- Tenho certeza que seu comentário tenha fundamento, menos na parte da
fidelidade do meu amigo.
(Sancha crua os berços em reprovação ao comentário de Bentinho, vira-se para Escobar esperando
sua resposta)
ESCOBAR -
- Bentinho está passando dos limites, como pode pensar isso de mim ou pior
da sua esposa?
BENTINHO - (Responde furioso)
- Por qual outro motivo a defenderia tanto? Para mim está mais do que claro,
estas defendendo a mãe do teu filho!
(Neste momento Capitu dá um tapa estralado em Bentinho, a música pára e todos do lugar tem sua
atenção voltada para os quatro)
(Sancha e Escobar se assustam pois não esperavam tal ato)
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DONA CARLOTA -
- Mas o que está acontecendo aqui? Se forem brigar façam isso fora daqui.
CAPITU -
- Nunca mais ouse proferir essas palavras novamente!
(Capitu sai de cena furiosa e é seguida por Sancha)
BENTINHO -
- E você? Não vai defender sua amada?
ESCOBAR -
- Você virou uma pessoa amargurada, Bentinho.
- Ouviu as palavras que disse a sua esposa? Como pode ofendê-la de tal
maneira?
- Não é mais o Bento que conheci…
(Escobar sai de cena, mas antes deixa algumas moedas na mesa para pagar pela comida e bebida)
DONA CARLOTA -
- E você de um fora, rápido!
(Bentinho também sai de cena)
- Cada noite aparece uma novidade diferente, eu mereço!
VIRGÍLIA -
- Dona Carlota, estragou o grande final.
- Será que o menino era mesmo filho do tal de Escobar?
BRÁS CUBAS -
- Não sei te dizer, Virgília.
- É a maldita casualidade da semelhança…
(Fecha luz)
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- Não deveríamos ter trazido Ezequiel, achávamos que Escobar estava tão
mal.
BENTINHO -
- Afinal, o que aconteceu com Escobar?
SANCHA -
- Ele saiu para
- Cena 19 -
A ação começa com Ezequiel com o livro em suas mãos chegando ao escritório de seu pai, o
qual está a escrever um novo livro em sua escrivaninha toda bagunçada de papéis
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EZEQUIEL -
- Não respondeu minha pergunta.
DOM CASMURRO -
- Não há o que se importar, não posso mudar o que aconteceu.
EZEQUIEL -
- E se tivesse?
- Gostaria de mudar?
DOM CASMURRO - (Permanece encarando Ezequiel)
- …
EZEQUIEL -
- Gostaria que você tivesse coragem o suficiente, pelo menos uma vez em sua
vida, para seguir seu coração
DOM CASMURRO (Ri alto e ironicamente)
- Você está achando-se muito agora
- És a última pessoa a quem pediria uma lição de moral
EZEQUIEL -
- Nunca tivestes alguém com coragem o suficiente para dizer-lhe a verdade,
tive que ser eu esse.
DOM CASMURRO
- Verdade? (Rindo descontroladamente e alto)
- Você não sabe um pingo da verdade!
- Apenas continua do mesmo jeito de sempre, uma criança, uma criançola
poupada das dores dessa vida
EZEQUIEL -
- Achas que sou tolo?
- Por acaso não lembras que herdei a curiosidade de minha mãe?
DOM CASMURRO -
- E o que isso tem haver comigo?
EZEQUIEL -
- As noites que tu brigavas com minha mãe pelo seu ciúmes, achas mesmo
que eu sentava e ficava a brincar com meus brinquedos?
- Não! Estava atrás da porta escutando todas as suas discussões
DOM CASMURRO -
- Ezequiel, você não tinha o direito!
EZEQUIEL -
- Como não?
- Todas as vossas discussões baseava-se em meu nascimento, tudo girava em
torno de mim
DOM CASMURRO -
- Não sabes da metade, e ainda ousas falar como se conhece-se a história
completa
EZEQUIEL
- Não se faça de sonso logo agora
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- Além do mais não estou aqui para discutir, mas parece que sempre que
visito-lhe arrumas algum motivo novo
- Apesar de tudo que passei, apesar de tudo que minha mãe passou, e não
nego-lhe, pai, que você passou também, mas estou cansado de discutir
- Afinal, de quantas maneiras um coração pode ser destroçado e continuar
batendo?
DOM CASMURRO -
- Pare de enrolar e vai direto ao ponto!
EZEQUIEL -
- Apesar de tudo ainda persiste em ser Casmurro
- Enfim, vim visitar-lhe pois após a morte de minha mãe li o seu antigo diário
DOM CASMURRO
- Capitu escreveu um diário ?
EZEQUIEL -
- Sim, ela estava entediada e resolveu aproveitar o tempo que lhe restava para
escrever suas memórias
DOM CASMURRO -
- Tempo ? Tempo de que ?
EZEQUIEL -
- Olha só… Olha quem está se importando com a esposa que não via a anos e
que a pouco tempo falou que não ligavas para sua morte
DOM CASMURRO
- Ex-esposa
EZEQUIEL -
- Não negaste a segunda parte
DOM CASMURRO -
- Vá direto ao ponto, meu tempo é precioso
EZEQUIEL -
- O tempo não foi gentil com minha mãe e lhe deu o presente da perda das
funções cognitivas
DOM CASMURRO -
- Caiu bem com a dissimulação dela
EZEQUIEL -
- Um pouco de sensibilidade seria agradável
- Pai, eu estou cansado de brigar
- Apesar de nunca ter ido para o seminário como o senhor, ia todas os
domingo a missa com minha mãe e aprendi a perdoar
- Então pai, eu te perdoo
- E venho aqui para dizer-lhe isso e mostra-lhe o diário que minha mãe
escreveu
DOM CASMURRO -
- Posso vê-lo?
EZEQUIEL -
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- Eu pensei muito nisso pai… e eu decidi que é melhor para mim e para o
senhor se este diário for queimado
DOM CASMURRO -
- Porque ? Se não tem nada para esconder-me, mostre-me
EZEQUIEL -
- Nahh…, acho que o passado tem que ficar no passado, e o que apenas nos
resta é lidar com as consequências das nossas escolhas
DOM CASMURRO -
- Por favor Ezequiel não faças isso, eu finalmente posso saber a verdade
EZEQUIEL -
- Pai, eu preciso deixar isso para trás, queimar este diário, para que nós dois
possamos seguir em frente
(Ezequiel joga livro na lareira)
DOM CASMURRO -
- Como você pode fazer isso ???
- Toda a verdade, a traição, a paixão a dualidade… Tudo se foi
EZEQUIEL -
- Já basta, pai! O que foi feito não pode ser desfeito. A verdade permanecerá
um mistério
- venho dizer-lhe que amo você e estou partindo para uma viagem científica à
Grécia, Egito e Palestina. Desejo que possa concentrar-se no pouco tempo
que lhe resta e aproveitá-lo. (Dá um beijo na testa de Bentinho e sai de cena)
DOM CASMURRO -
- Como ?? Como ele pode ser capaz de fazer isso ?
- Nunca saberei se a profecia de José dias foi verdadeira
- Nunca saberei quem realmente me amou
- Nunca saberei a verdade dessa história oblíqua
- Mas e se… e se… Hahahha, o livro não foi totalmente incinerado, posso
usá-lo para reviver minhas antigas memórias, não nego que minha memória
já está falha, estou cansado, mas talvez... (senta em sua mesa) algumas
palavras, apenas algumas ainda restam, posso usá-las como guia.
- Finalmente irei conseguir concluir meu livro!, o livro de minha vida, minha
história, mas como chamá-lo ?
- Dom me cai bem e casmurro mais ainda, não bento, muito menos bentinho,
mas sim Dom Casmurro, é assim que o livro irá se chamar!
(Mostra Dom Casmurro escrevendo o livro)
(Fecha a luz)
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