Linhas Fundamentais Da Cristologia de São Boaventura
Linhas Fundamentais Da Cristologia de São Boaventura
a Jesus Cristo, temática teológica que aqui nos interessa diretamente. De todos os mestres
franciscanos de Paris, o doutor seráfico foi o que mais, em sua teologia, se nutriu dos valores
Sobre a cristologia de são Boaventura já se tem grandes obras. Aqui intentamos apresentar
suas reflexões, tentarmos descobrir que tipo de cristologia está por detrás de seus escritos.
fato, ele afirma explicitamente que Cristo é o centro da vida cristã e do pensamento
teológico de tudo, ou saber de toda a realidade. Esta posição de Cristo no centro de toda a
doutor seráfico escreveu sobre a vida concreta de Jesus e sobre as normas da vida/seqüela
cristã, para depois se referir ao seu fundamento divino (cristologia ascendente). Outros, no
partem da teologia do Verbo para depois descer às exposições da sua visão do mistério de
justificações nos textos boaventurianos, com seus limites e vantagens. Consideremos então
qual S. Boaventura afirma de modo categórico: “Em Cristo, portanto, que tem o médio em
todas as coisas, é que deve se começar e por ele chegar ao Criador”.2 A função primária e
fundamental de toda a centralidade de Cristo, para com toda a criação decorre da sua
centralidade ou seu lugar de meio na Trindade Santa. De fato, Cristo é “o meio primário da
essência”3 na sua eterna geração do Pai. O Ser absoluto, num primeiro momento apresenta-
se como princípio, num segundo momento como médio, e num terceiro como fim. Estes três
modos de ser do Absoluto são as três Pessoas divinas: a pessoa do Pai é a origem do
originado, se encontra entre aquele que origina e não é originado (o Pai) e aquele que não
origina, mas é somente originado (Espírito Santo)4. Cristo é o primeiro médio na eterna
divina. A geração permite, então, que o Verbo seja originado do Pai e que junto a Ele ao
mesmo tempo originante do Espírito Santo, por quem necessariamente Ele é médio entre o
segunda pela via da vontade. São Boaventura não exclui que o Verbo proceda pela via da
inteligência, mas prefere insistir sobre a idéia de fecundidade da natureza divina. Deus tem
um Filho, o qual é Verbo porque a geração em Deus não pode ser senão na ordem intelectual
ou espiritual. São Boaventura não insiste tanto sobre a geração do Verbo pela via da
não é ligada à inteligência enquanto tal, de outro modo também, o Verbo e o Espírito Santo
deveriam produzir cada um, um Verbo por própria conta. Ora, a inteligência divina é fecunda
enquanto é possuída da primeira Pessoa, a qual dá origem à segunda Pessoa, que é sua
primeira Pessoa, à qual procede ratione originis (razão de origem) a geração da segunda
Pessoa. Por esse motivo, São Boaventura retém que, o Filho é gerado per modum naturae
(de modo natural) e não por via da inteligência, se não na medida em cujo termo inteligência
da qual Ele vem constituído sujeito subsistente distinto no processo da natureza divina em
para Cristo, é a mesma coisa que proceder em qualidade de médio ou centro na natureza
divina; portanto ser médio e imagem são para Cristo a mesma coisa, sendo ambos ligados à
Adequação do intelecto e da coisa inteligível, digo do intelecto dele, que é causa da coisa”. 6
divina. A razão própria do Verbo é aquela de exprimir a totalidade do ser divino e do ser
intrinsecamente ligado à sua teologia do Verbo que é a adequada expressão de Deus ad intra
aquela de “exprimir”, por isso São Boaventura prefere usar o termo “Verbo” no lugar de
“Filho”, porque enquanto o Filho refere-se a sua relação com o Pai, o Verbo refere-se à sua
relação com o Pai que “diz”, “fala”, meio pelo qual tudo cria, tudo traz a existência, e
também por sua relação com todo seu criado. O termo Verbo tem relação direta com toda
Quanto à origem do Verbo pelo Pai, dá-se por via da geração natural. Assim, a função de
“exprimir’ própria do Verbo se encontra na sua geração eterna no Pai. Com a geração o Pai
exprime todo o ser divino e extra-divino pronunciando a sua Palavra eterna, o Filho. O Verbo
é expressão, o enunciado da ciência do Pai, na qual o Pai diz adequadamente tudo de si.
adequado do Pai. Mas tal função se amplia naturalmente e necessariamente para exprimir
toda a divindade: “Assim como o Pai compreende a si mesmo compreende tudo que pode
compreender, do mesmo modo o verbo dizendo diz tudo que pode dizer e que pode ser dito
na divindade”. “O Pai ao seu Verbo que dele procede se dizem todas as coisas porque o Pai
ao seu Verbo que dele procede se declara”. 9 O Pai é inseparável do Filho e do Espírito Santo,
sendo Ele o princípio na divindade. Portanto, pronunciando ou gerando o seu Verbo, não
pode não dizer e conhecer tudo aquilo que se refere ao interior da divindade, a saber, o
modo das percepções divinas, que têm como fim respectivamente o Filho e o Espírito Santo.
mas, é expresso pelo Verbo, porque o Verbo expressa o Pai, a si mesmo e o Espírito
Verbo é verdadeiro Deus enquanto possui a divindade no modo que lhe é próprio, que é
aquele de exprimir. O Filho, enquanto possuidor da natureza divina, exprime tudo aquilo que
o Pai concebe compreendendo a infinita perfeição do Ser divino e enquanto possui, das três
todo incriado e de toda a criatura. Sendo Deus enquanto conhecido, o Verbo é aquele no qual
freqüentemente S. Boaventura.
O Verbo exprime o Pai como princípio, que dá origem a tudo, e deste modo ele desdobra e
representa a produção ou origem do Pai. Exprimindo o Pai, o Verbo exprime toda a Trindade,
sendo o Pai com ele que é a origem da realidade trinitária. Conclui-se que, mediante o Verbo
Esta afirmação de fé está intimamente ligada com tudo o que falamos acima, (a respeito da
expressão do Pai, o Verbo deve ser pura e perfeita expressão de si mesmo enquanto
modo próprio de subsistência do Verbo em Deus é aquele de exprimir todo o ser divino. Esta
enquanto a percepção do Espírito Santo não pode efetuar-se de forma idêntica, pelo
seria pessoa distinta do Pai e do Filho. Teríamos, então, não uma Trindade mas, uma
Portanto, possuir o ser divino “segundo o modo de exprimir” comporta para o Verbo ser
princípio do Espírito Santo. De fato, exprimir o ser divino adequadamente significa possuir o
ser divino por via de geração ou por fala intelectual mediante o qual o Pai, Deus-fonte,
manifesta a plenitude infinita do ser divino dizendo a si mesmo todo o ser divino mediante
um único Verbo ou Conceito. Enquanto, o Pai diz tudo infinitamente no Verbo tem logo a
primeira comunicação da natureza divina per modum naturae (por modo natural), que é a
geração do Verbo. O Verbo vem constituído possuidor da natureza divina enquanto exprime
todo o ser divino e extra divino. O ser divino nele tem a subsistência pessoal enquanto daí é
o único que exprime. Assim, exprimindo o ser divino, o Verbo o possui essencialmente, pelo
qual não só deve exprimir ou representar a percepção do Espírito Santo, mas a deve também
A propriedade do Verbo é aquela de exprimir o ser, seja divino que extra divino; a
propriedade pessoal do Espírito Santo é aquela de ser o “dom” do ser divino, seja divino que
seja interno ou externo de Deus é o Espírito Santo, que é o dom no qual todos os outros dons
são concedidos.
“Se a criação é semelhante ao Deus Trindade, o é porque em Deus tem um Filho que é a
posta no ser de Deus num lançar gratuito de amor criador, o é porque em Deus reside o
mesmo Verbo o Pai diz tudo do ser divino e extra-divino: o Verbo é ao mesmo tempo cópia,
imagem do Pai e modelo da criação. O Verbo procede do Pai como sua imagem perfeita e
como causa exemplar de toda a criação. O Verbo, portanto, comporta uma dupla relação: ao
Pai como seu princípio de ser e às criaturas das quais é o modelo ou arquétipo perfeitíssimo.
São Boaventura fala de uma dupla locução em Deus ad intra e ad extra. Ad intra refere-se à
conformidade com a sua natureza de Verbo, o Filho é o modelo no qual se recapitula toda a
criação que, portanto, é uma cópia, deficiente, mas cópia dEle que é a imagem perfeita de
Deus invisível.
Falamos anteriormente que o Verbo refere-se ao Pai que o pronuncia e às criaturas que ele
exprime como causa exemplar. De qual relação se trata? De uma relação “necessária” seja
respeito ao Pai da qual vem gerado na identidade numérica da natureza divina, seja a
respeito da criatura que ele exprimi como também a diversa participação do ser divino. O
criação. Pelo fato de que o Verbo exprime o Pai, exprime pura e necessariamente toda
criatura possível, porque o Pai é o princípio, sem princípio de todo o ser intra-divino e extra-
divino.
A relação do Verbo com a criação, pelo fato mesmo da sua inclusão na relação do Verbo ao
Pai, é uma característica própria do Verbo enquanto tal. Se o Verbo é Deus enquanto
expressão do Pai, é, imagem perfeita do Pai e modelo original de todo o criado. A geração
realidade criada e temporal. O Verbo é a (arte) eterna em quem o Pai criou todas as coisas.
Assim, Deus enquanto Verbo é “expressão”, é causa exemplar de toda a criação pelo fato
que o Verbo, enquanto “expressão” da vida trinitária, exprime em si mesmo as suas relações
com o Pai e com o Espírito Santo e esta pessoa mesma consegue sua imagem. Como
Trindade se expressa e reflete-se no Verbo, assim também em Jesus Cristo e por meio dele é
expressão e reflexo da criação, portanto é justo afirmar, que a Trindade, que o Verbo
Toda Trindade se empenha na obra da criação, mas cada pessoa trabalha segundo a sua
relação ou modo próprio de ser: o Pai como principium existendi, o Verbo como ratio
exemplandi. O Espírito Santo como ratio liberalitastis. Na criação a Trindade toda age, mas o
Para São Boaventura, a vida eterna de Deus é expressão da sua infinita beleza na precessão
ser, a vida do Absoluto, é a beleza enquanto amada. Tal é a lei interna de Deus; tal também
deve ser a lei da criação, a saber, da participação das percepções de Deus ad extra. A
criação, para S. Boaventura se apresenta qual epifania da estrutura de Deus, que é Beleza e
Amor. A beleza e o amor se resumem em termo: A bondade, que é a razão do Ser da difusão
ou expansão do ser divino seja ad intra que ad extra. “A difusão inicia quando Deus produz a
criação no tempo na qual a imensa eterna bondade se expande. Na outra difusão, ao invés,
de qual não se pode pensar uma maior, o ser que se difundi comunica ao outro inteiramente
a sua inteligência, a sua substância e a sua natureza”.12 Na criação, não sendo comunicação
natureza entre Deus as criaturas. Ao panteísmo se opõem a criação, que é uma atividade
originaria do ser puro. Ora, para São Boaventura, o principio que comanda a vida interna de
Deus é o Bem: “o Bem é difuso, expansivo por si mesmo”13, comanda a atividade de Deus
fora de si, com a diferença que na intimidade do ser divino, o Bem se difunde naturalmente e
No interno da vida divina está a expansão do ser por via de geração (duplicação do idêntico
cuja cópia é perfeitamente idêntica ao original) e por via da vontade, liberdade, amor e dom.
esplendor, para o Filho significa colocar em evidencia toda a perfeição da substância do Pai e
daí ser o reflexo de sua beleza infinita. Enquanto expressão perfeita do ser e da beleza do
que gera (o Pai), o Verbo é também o exemplar de tudo o que gera o Pai ou realiza fora de si.
“O rosto de Deus é a beleza da sabedoria eterna, que origina todas as coisas e tudo governa
com sabedoria, que tudo recompõe na original beleza e perfeição. Todas as razões eternas
estão na Arte eterna e nessas refulgem, sua grandeza em cada ser se manifesta nessas”. 14
Assim, São Boaventura frente ao universo criado distingue uma tríplice série de seres: a
Para São Boaventura a causalidade exemplar, que aqui nos interessa, pertence ao sentido
“A criatura pois, se compara com Deus por motivo de marca, imagem e semelhança.
Enquanto vestígio, compara-se a Deus como princípio enquanto imagem, compara-se a Deus
como objeto; e enquanto semelhança, compara-se a Deus como dom infuso. E, portanto,
toda criatura é vestígio, que vem de Deus; toda criatura é imagem que conhece Deus; e toda
criatura e só ela é semelhança na qual Deus habita. E conforme este tríplice grau de
“Se consideramos a saída das coisas de Deus, aí é dado de encontrar que o produto artificial
procede do artífice mediante uma semelhança que existe na mente. O artífice produz
externamente um objeto similar o mais possível ao modelo que tem dentro de si… Neste
modo deve compreender que do Sumo Artífice nenhuma criatura é feita se não mediante o
Verbo eterno, no qual dispôs todas as coisas e por meio do qual produz não só as criaturas,
que daí levam o vestígio, e outro que daí, tem a Imagem, afim que se possam assimilar ao
Vemos então nesta citação que São Boaventura compara Deus a um artista, o qual produz a
sua obra na base de um exemplar como um modelo que tem na sua mente. Este exemplar
ou modelo é o seu Verbo eterno mediante o qual idealizou todas as coisas e o pode produzir
por via da criação. Na universalidade das coisas criadas apresenta-se uma tríplice
criaturas privadas da inteligência e da vontade livre. Esta reflete Deus na participação dos
sinal da relação com Deus enquanto é princípio causal, que permite a participação
fundamental do ser divino com a marca genérica da Trindade, a qual pertence à constituição
do Ser absoluto. Assim, cada substância consiste na unidade da matéria, da forma e da sua
a sua união na unidade do ser. Estes três representam o mistério da santíssima Trindade: o
Pai princípio e origem, o Filho, imagem do Pai, o Espírito Santo que é unidade do amor.18
Ora, com base em tudo que já dissemos a respeito do exemplarismo do Verbo, toda a criação
e também o modo sensível que tem em si a razão do vestígio, leva impressa a estrutura
trinitária do quanto diz da relação ao Verbo a sua causa exemplar. Deus de fato, enquanto
Verbo – na medida em cujo ser divino reside na segunda pessoa segundo o modo que o é
próprio –é causa exemplar do universo sensível. Em virtude das suas relações ao Verbo com
contemplativo e do sábio a Deus eterno, pelo fato que sombras, ressonância e pintura do
qual primeiro princípio, potentíssimo, sapientíssimo, ótimo e ativo, daquela eterna origem,
exemplaridade: eterna e temporal. Por quanto observa a exemplaridade eterna, Cristo é tal
enquanto é esplendor da glória paterna da substância de Deus Pai, candura da luz eterna e
exemplarmente todas as coisas que do princípio da criação foram feitas. Sob este aspecto
realidade do universo”. 20
Ser reflexo ou esplendor da substancia do Pai é a razão por cujo Verbo é exemplar de todo o
criado.
2.1.8. O Verbo causa exemplar da imagem e da semelhança
qual imagem em certos casos qual semelhança da Trindade, e do Verbo qual causa exemplar
divino, a qual se encontra nas criaturas inteligentes. Neste, de fato, tem o espírito (mente)
benevolência. E visto que, este sinal resplende em todas as criaturas, não há criatura que
seja de toda privada da verdade e da bondade. Outro ao vestígio, o sinal da Trindade refulge
nas criaturas intelectuais segundo uma dupla ordem ou grau: a imagem e semelhança. Esta
dupla ordem é unida nesse íntimo, no sentido que pode se encontrar na criatura racional
somente, a qual é destinada a revestir-se da semelhança, que não pode existir senão na
evidente a sua característica trinitária nas criaturas racionais, tudo está expresso nessas
“imagem” não indica somente a ordem da analogia entre as criaturas e Deus como o é pelo
vestígio, mas indica um grau mais alto de manifestação da Trindade. A alma racional refere-
virtude da memória, da inteligência e da vontade livre pela qual é criada capaz também de
íntimo entre Deus e a alma, de fato, por meio da graça essa possui Deus como habitante,
como dom infuso. Estes são, portanto, três graus ou modo de semelhança analógica entre a
comuns, as quais São Boaventura chama de “vestígio. Tem, pois, uma outra relação na qual
uma nova e mais perfeita configuração da alma a Deus. A alma, de fato, exprime Deus em
modo mais direto e imediato e por isso é dita imagem. Esta se concretiza como no seu” lugar
vontade. A terceira relação consiste na deformidade em base a qual a alma participa da vida
das três Pessoas divinas. As criaturas racionais enquanto tal exprime a Trindade não já
segundo a relação causal às três Pessoas divinas, mas do interno de si mesmo. Enquanto
imagem do Deus, essa representa o modelo trinitário não de forma distante, mas próximo.
Como imagem, a criatura racional. Mostra em si as características próprias da vida íntima de
Deus qual puríssimo Espírito: “Deve-se conceder, portanto, que a imagem consiste nesses
Deus”. 22A imagem é mais alta no possuir as perfeições divinas, mas ao mesmo tempo
A natureza humana segundo o Doutor Seráfico ocupa uma posição central na ordem e na
escala hierárquica dos seres: é colocada entre os espíritos puros. Por causa de tal posição
“mediana”, na qual Deus a pôs originalmente lhes era possível interpretar seja o “livro
interior” (a verdade divina eterna no Verbo) que aquele “exterior” (a natureza, o criado).
O homem saído das mãos criadoras de Deus por meio do Verbo, sabedoria e arte de Deus,
era
uma criatura racional capaz de Deus (imagem), mais precisamente, capaz de ser
“informada” através do Verbo incriado à vida da graça, de fato também cumulada da graça
concreta deformidade. Em tal estado de graça lhe era suficiente ler o “livro da criação”. Em
tal situação positiva de fato tinha recebido um tríplice olho para poder gozar de uma tríplice
visão: o olho da carne para ver e ler o mundo externo sensível; o olho da razão para ver e ler
o mundo interior espiritual da alma; o olho da contemplação para ver Deus; como o primeiro
via fora de si (extra se), com o segundo dentro de si (intra se), com o terceiro sobre si (supra
“No estado da inocência, quando a imagem não era corrompida, mas deforme por meio da
graça, era suficiente o livro das criaturas para que o homem se exercitasse a conter a luz da
divina sabedoria, para que em tal modo fosse sapiente, vendo todas as coisas em si, vendo
nele o modelo eterno, segundo o tríplice modo de ser das coisas, isto é, na matéria ou na
Estes três modos de ver correspondiam um tríplice olho doado por Deus criador: aquele do
corpo, aquele da razão e aquele da contemplação. “O olho do corpo, para que visse o mundo
e a realidade que são no mundo; o olho da razão para que visse a alma e a realidade que
estão na alma; o olho da contemplação, para que visse a Deus e a realidade que são em
Deus”. 24
O que significa essa afirmação acima citada? Boaventura atribui a Adão antes do pecado
direta dele? Em concreto: O homem das origens gozava já da visão imediata de Deus?
reassume em modo eficaz a sua visão do estado original e da queda desse como pressuposto
“Um homem descia de Jerusalém a Jericó… O seráfico afirma que em tal homem se vê Adão,
que da Jerusalém celeste cai, conseqüência da prevaricação da sua vontade, cai na miséria e
na imperfeição desta vida. Jerusalém significa o estado da inocência aonde Deus vinha ser
contemplado como num espelho puro, sem sombra de obscuridade, pelo fato que na alma
não aqui era alguma névoa de pecado, mas absoluta pureza e sem rebelião; nessa” o olho
conhecimento de Deus que se pode ter no presente da fé que daquela escatologia imediata
da glória. Essa é intermediária entre as duas, porque Adão tinha com Deus antes do pecado
se coloca em uma posição inferior ao conhecimento que se tem dele no estado de glória e
superior àquela que se tem dele no estado de miséria; de fato, no estado da origem
conforme o olho puro da razão contemplava Deus sem obscuridade, no estado de glória Deus
espelho opaco e em enigma, ou bem uma semelhança obscura. O homem origina, vivendo
em uma situação de luz e de paz com Deus em si era ordenado em modo perfeito à beata
do Pai.
Antes do pecado, com o seu “olho de contemplação” era capaz de acolher e contemplar o
Verbo exemplar divino nas coisas com espontaneidade e certeza, vale dizer num espelho e
não em enigma “. Era capaz de reconduzir e levar assim, toda a realidade ao Criador pelo
fato de conter nele o Modelo divino. Esta em a razão pela qual, segundo o Doutor
franciscano, o homem, saído das mãos criadoras de Deus era reconduzido ao Verbo, se
O pecado de fato tem levado o homem à enfermidade, à ignorância e à maldade; por isso ele
se torna carnal, animal e sensual. Pois que fechado à inspiração e à atividade do Verbo na
sua interioridade, que com sua luz não mais o pode iluminar interiormente. Ele não é mais
capaz de conter o Verbo Modelo na criatura e de reconduzir este com tal percepção a essa
Sob este fundo antropológico e teológico São Boaventura elabora sua visão do Verto
encarnado. Isto já é um sinal de que considera motivo principal da vinda do Verbo divino na
história humana a redenção do homem do pecado e das suas conseqüências. Esta opção dá
à sua cristologia uma especificidade. Digamos que expondo a situação da origem do homem
criado de Deus e elevado à vida de graça, Boaventura não pensa nem alude a uma mediação
do verbo encarnado: elabora um relatório entre o homem das origens e Deus como relação
entre o homem, ou melhor, a alma criada e elevada à vida da graça, e o Verbo e, através
A obra da redenção é efetuada pelo Verbo qual “média pessoa” a qual com a encarnação é
tudo. Boaventura apresenta diversos motivos para ilustrar a conveniência da vinda redentora
do Verbo e não da outra Pessoa divina na carne. Em uma parte claríssima do Brevilóquio
escreve: “Foi de todo conveniente à nossa salvação a encarnação do Verbo, pois como o
gênero humano veio à existência através do Verbo incriado e depois caiu na culpa
abandonando o Verbo inspirado, assim pudesse levantar da culpa pela mediação do Verbo
encarnado”. 26
Por isso a mediação da criação é própria do Verbo, a ele se destina também aquela da
redenção. Depois que o homem caiu no pecado, a divina sabedoria encontrou um caminho
de misericórdia por meio do Verbo encarnado, afim de que por meio dele o homem fosse
disposto à graça.
É importante, todavia, destacar o motivo pelo qual segundo São Boaventura, o Verbo,
espiritual, invisível, para operar a mediação redentora e levar assim o homem (com o
mundo) ao Pai, se seja devido revestir de carne humana, fazer-se homem, matéria, corpo,
sentimento.
Por causa do pecado a criatura racional sob um ofuscamento do olho da contemplação, foi
muito conveniente que o eterno e invisível tornasse visível e assumisse a carne, para
Notas:
Sentenças.
2 BAGNOREGIO, Boaventura. Collazione in Hexaemeron. Tradutor Pietro Maranesi. Roma
(Itál.): Città Nuova Editrice, 1994. Edizione latino – italiana. Coll. 1, 10. p. 53.
5 Sig. Desenvolvimento, geração, etc. ( Essa expressão será usada outras vezes no corpo do
trabalho)
6 Coll. 3. n. 8. P. 97
7 BAGNOREGIO, Boaventura. I sent, d.27, 2 a, concl. I , 485. Apud. BARTOS, Jan Francizzek,
10 Coll. 9. 2; p.191.
12 BAGNOREGIO, Boaventura. Itinerário da mente para Deus. Tradutor Luis A. De Boni. Porto
14 Idem. De Sanctis Angelis. Sermo 1; IX, 616. Apud. BARTOS, Jan Francizzek, OFMConv. Op.
15Idem. Brevilóquio. Tradutor Luis A. De Boni. Porto Alegre: EDIPUCRS e USF, 1999. Vol. I. p
2, c.1; p. 84-85.
16 Idem. La Ciencia Divina e Humana de Cristo. q. 4, concl; V, 24. Apud. BARTOS, Jan
17 BAGNOREGIO, Boaventura. Redução das Artes à Teologia. Tradutor Luis A. De Boni. Porto
19 Idem. Itinerário da mente para Deus. 1999. Vol. I. Cap. 2. n.11 e 13; p. 314-315.
20 Idem. Apologia Pauperum. VI, 2, 12; VIII, 242. Apud. BARTOS, Jan Francizzek, OFMConv.
21 Idem. La Ciencia Divina e Humana de Cristo. q. 4, concl; V, 24. Apud. BARTOS, Jan
22 Idem. I Sent. d. 3, p. 2. a.1, q.1. concl ; I, 81-82. Apud. BARTOS, Jan Francizzek, OFMConv.
25 Idem. Sermoni Dominicale. Sermo 39, 1. Apud. IAMMARRONE, Giovanni. OFMConv. Op. Cit.
1997. P. 159.
__________________________________________________