Vivendo em União Com Cristo ISSUU
Vivendo em União Com Cristo ISSUU
O evangelho de
Paulo e a identidade
moral cristã
Vivendo em
União com Cristo
M116v Macaskill, Grant
Vivendo em união com Cristo : o evangelho de Paulo
e a identidade moral cristã / Grant Macaskill ; [tradução:
Breno Nunes de Oliveira Seabra]. – São José dos
Campos, SP: Fiel, 2021.
Tradução de: Living in union with Christ : Paul's
gospel and Christian moral identity.
Inclui referências bibliográficas e índices.
ISBN 9786557231159 (brochura)
9786557231135 (epub)
9786557231142 (mp3)
1. Bíblia. N.T. Epístolas de Paulo – Crítica,
intepretação, etc. 2. Vida cristã – Doutrina bíblica. 3.
Mística – Doutrina bíblica. I. Título.
CDD: 227.06
Vivendo em união com Cristo: O evangelho Proibida a reprodução deste livro por
de Paulo e a identidade moral cristã quaisquer meios sem a permissão escrita
dos editores, salvo em breves citações,
Traduzido do original em inglês: com indicação da fonte.
Living in Union with Christ: Paul’s Gospel and
Christian Moral Identity
E
ste livro é um exercício de interpretação teológica
prática das epístolas de Paulo. Ele envolve a exegese
cuidadosa de uma série de passagens em diálogo crí-
tico com o trabalho de outros estudiosos da Bíblia, mas seu
propósito não é simplesmente obter uma melhor compreen-
são do pensamento de Paulo em seu contexto histórico, que
é como os estudiosos da Bíblia frequentemente concebem sua
tarefa. Em vez disso é, em última análise, orientado em direção
a seguinte pergunta teológica prática: como cristãos que estão
comprometidos em ver a Escritura como normativa para nos-
so pensamento e prática devem pensar e agir hoje?
Este é um livro sobre esperança – a esperança do evan-
gelho, e a esperança de que esse evangelho realmente traz
libertação do poder do pecado de controlar e destruir nossas
vidas. E é sobre o caráter pessoal dessa esperança, com isso
pretendo dizer que essa é uma esperança constituída por uma
pessoa que se faz presente conosco e em nós para nos livrar
do pecado. Essa pessoa, Jesus Cristo, não é apenas aquele que
8 | Vivendo em união com Cristo
A
maior parte do material deste livro foi apresentada
como a Série de Palestras Acadêmicas Kistemaker
2018 no Reformed Theological Seminary em Or-
lando. Agradeço a Michael Allen e Scott Swain por estender
a mim o convite para dar essas palestras e pela gentileza de
hospedar o evento em si. Também sou grato a Ceci Helm e
Christina Mansfield por seu apoio prático em relação à minha
estadia em Orlando.
O conteúdo do livro foi moldado por anos de pesquisa
sobre o tópico “união com Cristo”, e meu próprio pensamento
sobre o assunto foi fortemente influenciado pela interação com
colegas e com os alunos de doutorado que orientei. Em par-
ticular, gostaria de agradecer aos colegas da Universidade de
Aberdeen por suas contribuições (muitas vezes inconscientes):
Tom Greggs, Paul Nimmo, Phil Ziegler, Ivor Davidson, John
Swinton, Brian Brock e Katy Hockey moldaram meu pensa-
mento sobre esses tópicos de várias maneiras. Vários dos meus
alunos de doutorado, atuais e recentes, também influenciaram
fortemente meu pensamento, especialmente Lisa Igram, Kris
Song, Jeannine Hanger, Melissa Tan e Markus Nikkanen.
16 | Vivendo em união com Cristo
alt. alterado
cf. confer, compare
CSB Christian Standard Bible
dir. direcionado por
diss. dissertação
e.g. exempli gratia, por exemplo
esp. especialmente
etc. et cetera, etcetera
lit. literalmente
LNTS Library of New Testament Studies
NVI Nova Versão Internacional
repr. reimpresso
SBLDS Society of Biblical Literature Dissertation
Series
SNTSMS Society for New Testament Studies Mono-
graph Series
trans. tradução, traduzido por
WUNT Wissenschaftliche Untersuchungen zum
Neuen Testament
Introdução
união com Cristo como a base
para a vida cristã
E
xiste uma expressão latina frequentemente encontrada
na cultura popular: sine qua non. Significa “sem a qual
não”. É uma expressão que usamos para nos referirmos
a algo que não pode ser omitido ou posto de lado sem anular
inteiramente um esforço: sem essa coisa, nada pode ser feito.
A principal afirmação deste livro é que toda conver-
sa sobre a vida moral cristã deve começar e terminar com
a declaração de Paulo “já não sou eu quem vive, mas Cristo
vive em mim” (Gl 2.20), e deve compreender corretamente
a obra do Espírito Santo em relação à presença de Cristo.
Essa afirmação é a condição sine qua non da vida moral cristã,
que se torna nula em sua ausência. Isso significa que nunca
22 | Vivendo em união com Cristo
PARTICIPAÇÃO EXCÊNTRICA:
VIVENDO EM CRISTO E NÃO EM NÓS MESMOS
Pode ser difícil para nós compreendermos a ideia do eu cristão
como constituído por Jesus por pelo menos duas razões, am-
bas as quais, creio, contribuíram para a deterioração do relato
moderno do discipulado e da ética. A primeira é que, como
modernos, estamos acostumados a falar de uma “pessoa” ou
de um “eu” como algo autônomo, algo que pode ser isolado do
mundo ao seu redor e ainda ter uma identidade definível ou
descritível. Esse é o conceito que Charles Taylor notoriamente
rotulou de “o self protegido”,5 essa é uma característica muito
importante – e notoriamente problemática – do pensamento
moderno. Ela fundamenta muitos debates éticos, como, por
exemplo, a discussão sobre se, ou em que estágio, os direitos
podem ser atribuídos a um feto ou embrião; muitas vezes, isso
é abordado como algo conectado ao ponto em que podemos
falar significativamente sobre o embrião atingindo a perso-
nalidade. O perigo para nós é que tal forma de pensar sobre
o eu – como algo protegido e isolável que é inerente ao meu
corpo e cérebro – pode estar tão arraigada que, inconsciente-
mente, equiparamos o ensino do Novo Testamento a ela. Sem
pensar, modificamos o significado da linguagem, que fala do
eu ou da pessoa, de diferentes maneiras para acomodar esse
conceito moderno.6 Nós atenuamos a força de qualquer coisa
5 Veja Charles Taylor, Uma Era Secular (São Leopoldo: Unisinos, 2010), p. 43. A
expressão ocorre ao longo do livro, mas discussões importantes são encontradas nas
páginas 53 a 58 e 150 a 158. O último, em particular, considera a importância de
Descartes e o cogito para o problema moderno de identidade. Para um estudo mais
abrangente sobre identidade, veja Charles Taylor, As fontes do self: a construção da
identidade moderna (São Paulo: Edições Loyola, 2013).
6 Para um exame mais completo do problema moderno e sua influência na leitura
Introdução | 29
que sugira que “eu” possa ser constituído como uma pessoa
por meio de meus relacionamentos com os outros, incluin-
do este outro, particularmente significativo, chamado Jesus.
Essa é uma das razões pelas quais temos dificuldade em com-
preender o que significa dizer “Cristo vive em mim” ou “viver
é Cristo”: cada um de nós assume que temos uma identidade
baseada em nós mesmos. Falta-nos uma categoria que nos ha-
bilite a compreender nossa identidade como sendo formada
por meio de nosso encontro relacional com o outro.
A segunda razão é mais propriamente teológica. Ela
tem a ver com nossas identidades como algo formado não
apenas por nossos relacionamentos em geral, mas por nosso
relacionamento com essa pessoa em particular, Jesus Cristo.
Nossas mentes hesitam diante da ideia de que somos cons-
tituídos em união com Cristo porque nossas mentes são
pecaminosas, e o pecado procura manter seu domínio sobre
nós mesmo quando seu poder foi formalmente quebrado. Se
o pecado é, como Lutero o descreveu, um voltar-se para den-
tro de nós mesmos,7 então ele se opõe inteiramente ao ato de
nos abrirmos para a presença interior de outro, particular-
mente este outro, que tem tal poder de nos transformar. O
pecado procura cavar, agarrar-se ao que ocupa.
de Paulo, veja Susan Eastman, Paul and the Person: Reframing Paul’s Anthropology
(Grand Rapids: Eerdmans, 2017). Eastman se engaja ampla e construtivamente nas
disciplinas modernas que lutaram com a forma como a individualidade deve ser
entendida, valendo-se da filosofia e da psicologia, bem como da teologia.
7 A famosa expressão usada por Lutero, que pegou o conceito de Agostinho e o apli-
cou à sua leitura de Paulo, é homo incurvatus in se. Algumas teologias modernas têm
criticado essa maneira de pensar sobre o pecado, vendo-a como altamente andro-
cêntrica. Veja Matt Jensen, The Gravity of Sin: Augustine, Luther and Barth on homo
incurvatus in se. London: T&T Clark, 2007).
30 | Vivendo em união com Cristo
www.ministeriofiel.com.br