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Vivendo em União Com Cristo ISSUU

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André Soares
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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A participação em Cristo está no cerne da teologia de Pau-

lo, mas é difícil de entender e fácil de negligenciar na prática.


Macaskill nos desafia a levá-la totalmente a sério em nossas
vidas cristãs, bem como em nossa teologia, apresentando seu
argumento com cuidado exegético e sabedoria espiritual.
Richard Bauckham, professor emérito de estudos
do Novo Testamento, University of St. Andrews

Macaskill nos oferece um relato lúcido e perspicaz de textos-


-chave na teologia dinâmica do apóstolo Paulo sobre a união
com Cristo pelo Espírito. Macaskill combina a perícia afiada
de um estudioso do Novo Testamento com um coração pas-
toral caloroso nesta obra incisiva, estabelecendo um retrato
prático da visão de Paulo da vida cristã e corrigindo erros co-
muns de interpretação que atenuam o poder extraordinário
do ensino de Paulo. Recomendo calorosamente Vivendo em
união com Cristo aos pastores, alunos e outros que buscam re-
cuperar a mensagem transformadora de Paulo de união com
Cristo na igreja hoje.
J. Todd Billings, Professor Pesquisador Girod
de Teologia Reformada, Western Theological Seminary,
Holland, Michigan
Aqui está a verdadeira interpretação teológica prática, origi-
nada por exegese cuidadosa, nutrida por sabedoria teológica
piedosa, e resultando em um relato verdadeiramente fresco e
revigorante da vida em união com Cristo. Este livro é uma fon-
te de visão pastoral para todos os que têm sede do evangelho
de Paulo. Beba profundamente deste poço!
Susan Eastman, Duke Divinity School
Grant
Macaskill

O evangelho de
Paulo e a identidade
moral cristã

Vivendo em
União com Cristo
M116v Macaskill, Grant
Vivendo em união com Cristo : o evangelho de Paulo
e a identidade moral cristã / Grant Macaskill ; [tradução:
Breno Nunes de Oliveira Seabra]. – São José dos
Campos, SP: Fiel, 2021.
Tradução de: Living in union with Christ : Paul's
gospel and Christian moral identity.
Inclui referências bibliográficas e índices.
ISBN 9786557231159 (brochura)
9786557231135 (epub)
9786557231142 (mp3)
1. Bíblia. N.T. Epístolas de Paulo – Crítica,
intepretação, etc. 2. Vida cristã – Doutrina bíblica. 3.
Mística – Doutrina bíblica. I. Título.
CDD: 227.06

Catalogação na publicação: Mariana C. de Melo Pedrosa – CRB07/6477

Vivendo em união com Cristo: O evangelho Proibida a reprodução deste livro por
de Paulo e a identidade moral cristã quaisquer meios sem a permissão escrita
dos editores, salvo em breves citações,
Traduzido do original em inglês: com indicação da fonte.
Living in Union with Christ: Paul’s Gospel and
Christian Moral Identity

Copyright © 2019 por Grant Macaskill Diretor: Tiago J. Santos Filho


Editor-chefe: Tiago J. Santos Filho
Supervisão editorial: Vinicius Musselman Pimentel
Editor: Rafael Bello
Originalmente publicado em inglês por Coordenação Editorial: Gisele Lemes
Baker Academic, a division of Tradução: Breno Nunes de Oliveira Seabra
Baker Publishing Group Revisão: Paulo Reiss Junior
Grand Rapids, United States. Diagramação: Rubner Durais
Capa: Rubner Durais
Copyright © 2021Editora Fiel
Primeira edição em português: 2021 ISBN brochura: 978-65-5723-115-9
Todos os direitos em língua portuguesa reservados ISBN e-book: 978-65-5723-113-5
por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária ISBN audiolivro: 978-65-5723-114-2

Caixa Postal 1601


CEP: 12230-971
São José dos Campos, SP
PABX: (12) 3919-9999
www.editorafiel.com.br
Sumário
Prefácio: reconsiderando a esperança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Abreviações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Introdução: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
união com Cristo como a base para a vida cristã

1. O contexto acadêmico para o presente estudo . . . . . . . . . . . 41


Tentativas de revisar nosso entendimento da justificação e da santificação
2. Quem eu realmente sou? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
A crise moral de Paulo
3. Batismo e identidade moral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
Revestindo-nos em Cristo
4. A Ceia do Senhor e a memória de outra pessoa . . . . . . . . 129
Fazei isto em memória de mim
5. Clamando “Aba” nas ruinas da guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
O Espírito e a presença de Cristo
6. Uma pequena vitória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
Esperança e a vida moral cristã
7. Síntese conclusiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205
Vivendo em união com Cristo

Bibliografia selecionada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233


Índice onomástico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 245
Índice de passagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 249
Índice de remissivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255
Prefácio
reconsiderando a esperança

E
ste livro é um exercício de interpretação teológica
prática das epístolas de Paulo. Ele envolve a exegese
cuidadosa de uma série de passagens em diálogo crí-
tico com o trabalho de outros estudiosos da Bíblia, mas seu
propósito não é simplesmente obter uma melhor compreen-
são do pensamento de Paulo em seu contexto histórico, que
é como os estudiosos da Bíblia frequentemente concebem sua
tarefa. Em vez disso é, em última análise, orientado em direção
a seguinte pergunta teológica prática: como cristãos que estão
comprometidos em ver a Escritura como normativa para nos-
so pensamento e prática devem pensar e agir hoje?
Este é um livro sobre esperança – a esperança do evan-
gelho, e a esperança de que esse evangelho realmente traz
libertação do poder do pecado de controlar e destruir nossas
vidas. E é sobre o caráter pessoal dessa esperança, com isso
pretendo dizer que essa é uma esperança constituída por uma
pessoa que se faz presente conosco e em nós para nos livrar
do pecado. Essa pessoa, Jesus Cristo, não é apenas aquele que
8 | Vivendo em união com Cristo

nos traz esperança; ele é nossa esperança. A ênfase dessa úl-


tima afirmação pode ser mudada sutilmente de uma forma
que extraia ainda mais seu significado: ele é nossa esperança.
As possibilidades de nossas vidas são limitadas não por nossa
própria capacidade natural para a bondade e o amor, mas pelas
perfeições e expectativas constituídas por essa outra pessoa,
Jesus Cristo. Graças a Deus.
Essa esperança pessoal deveria estar no centro da vida
e do ensino de cada igreja, tendo prioridade sobre todas as
outras maneiras de pensar sobre Deus e o que significa andar
com ele. Nenhum elemento da vida ou pensamento cristão
pode ser considerado sem referência a isso e sem referência à
pessoa em quem tal esperança é constituída. Por trás da escri-
ta deste livro, no entanto, está a sensação de que o significado
que atribuímos a essa esperança pessoal foi reduzido ou de-
formado de maneiras que comprometem a vida da igreja: ela
ainda molda a maneira como pensamos sobre o perdão, mas
não molda adequadamente a forma como pensamos sobre o
discipulado e o crescimento cristão.
Para colocar essa afirmação nos termos mais rígidos pos-
síveis, a maneira como pensamos sobre a moralidade cristã
– mesmo naqueles setores da igreja que se identificam como
“evangélicos” – funciona muitas vezes sem qualquer referên-
cia a Cristo. Frequentemente, quando pensamos nos cristãos
como agentes morais que agem na igreja e no mundo de uma
maneira eticamente boa, concebemos sua agência em termos
que não são propriamente determinados por quem Jesus é e
como ele está presente em suas vidas. Vemos suas ações em
termos simples como algo que pertence a eles e é realizado
por eles. Podemos falar de Jesus como aquele a quem sua
Prefácio | 9

obediência é prestada, ou como aquele que exemplifica a obe-


diência para eles, mas ainda são eles aqueles que agem, quer de
maneira boa ou má. Cristo não está pessoalmente envolvido
na obediência deles; eles podem ser ajudados ou fortalecidos
pelo Espírito Santo, mas são eles que agem. Em consequên-
cia, quando buscamos transformá-los em bons agentes morais
ou em melhores discípulos, pensamos em termos de ajudá-los
a tomarem decisões melhores, pelas quais lhes damos crédi-
to. Consequentemente, a maneira como realmente pensamos
sobre a atividade moral ou sobre o crescimento do cristão (o
que muitas vezes chamamos de “discipulado”) não é realmente
centrada em Cristo, mesmo quando consideramos que ela é
direcionada a ele. É, na realidade, uma compreensão centrada
no eu: podemos falar sobre sermos “semelhantes a Cristo” ou
“confiar no poder do Espírito”, e, no entanto, ainda conceber-
mos isso como algo que nós fazemos. Quando, com a ajuda do
Espírito Santo, somos obedientes, somos simplesmente ver-
sões melhores de nós mesmos.
E aqui está o problema. O relato de Paulo sobre a vida
cristã envolve uma rejeição da ideia de que nosso eu natural
pode ser melhorado ou consertado por si mesmo. Estamos
tão comprometidos com o pecado que sempre usaremos os
dons de Deus para fins idólatras, e permaneceremos cegos
para o fato de que estamos fazendo isso, como o próprio Paulo
estava antes de seu encontro transformador com o Cristo res-
surreto. As pessoas agirão, pensarão, ensinarão e liderarão de
maneiras que sirvam a essa idolatria constitucional e o farão
sem qualquer autoconsciência. Nossa única possibilidade de
salvação está em sermos habitados por outro ser, um ser me-
lhor que pode agir em nós para trazer a verdadeira bondade.
10 | Vivendo em união com Cristo

Portanto, a esperança pessoal de Paulo é expressa em sua de-


claração “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl
2.20).1 Isso não significa que sua identidade distinta particular
tenha sido apagada da existência: ele ainda saúda as igrejas para
as quais escreve como “Paulo” e ainda escreve de uma forma que
é moldada por seu passado. Mas algo mudou, e não apenas para
o que sua vida é direcionada, ou como ele busca vivê-la agora,
mas no sentido mais básico de quem ele é, da pessoa que habita
o espaço ocupado por seu corpo, de quem recebe o crédito pelo
que seus membros ou lábios fazem, de quem ele está se tornan-
do. Ele não está se tornando em uma versão melhor de Paulo;
ele está se tornando Paulo-em-Cristo. Ele está metamorfosean-
do-se2 na semelhança de Jesus. Por mais difícil que seja para nós
compreender o significado de tal linguagem, uma compreensão
adequada do conceito de Paulo, da vida moral cristã, exige isso.
Se a maneira como pensamos sobre a vida cristã não é
adequadamente moldada por esses termos, então eis o perigo
que nos espera: o “eu” que treinamos para servir melhor a Deus
será nosso eu natural, o qual sempre conduzirá à idolatria, cujas
tentativas de servir sempre se voltarão para a idolatria, e o qual
– como Paulo, os fariseus, e como qualquer outro eu religiosa-
mente diligente – trabalhará sob a ilusão de que está fazendo
um trabalho incrível, exceto nos momentos em que os episódios
1 Nesta edição em português, é usada a versão da Bíblia Almeida Revista e Atualizada
(ARA). Comentarei frequentemente sobre isso ou darei minha própria tradução
alternativa. No último caso, minha tradução refletirá a dificuldade de captar os tons
do grego no inglês idiomático; apenas um inglês não idiomático – estranho e desa-
jeitado – servirá nesses casos.
2 Esse termo reflete a palavra grega que Paulo usa em Romanos 12.2. Em Romanos
8.29, ele usa uma palavra relacionada, symmorphos, para descrever nossa condição
de sermos “conformados” à semelhança de Cristo.
Prefácio | 11

de óbvio fracasso nos levam (muito sinceramente) à cruz. Se


uma leve irritação poder se detectada sob a superfície de mi-
nhas palavras, ela é amplamente dirigida a mim mesmo, pois
tal forma de pensar sobre a vida cristã, sem dúvida, me marcou
ao longo dos anos e se manifestou em minha conduta e valores.
Eu fui um idólatra da pior maneira, porque pensava que estava
sendo fiel – a não ser nos meus momentos de pecado inegável.
Eu era evangélico de evangélicos, da tribo de Knox; quanto ao
zelo, um defensor de todas as reivindicações da verdade evangé-
lica e um participante de todos os serviços; quanto à doutrina,
sem defeito (em minha própria mente, pelo menos). No entan-
to, com o tempo, passei a ver que meu problema mais básico era
a maneira como pensava sobre mim mesmo: eu realmente não
havia entendido as implicações do evangelho para quem eu me
identificava ser, embora isso fosse uma grande parte da minha
herança teológica reformada. Isso afetou toda a minha piedade,
todos os meus relacionamentos e todo o meu serviço.
O processo de gradualmente passar a enxergar isso
dentro de mim me levou a perguntar se a mesma deficiência
poderia estar por trás de uma série de problemas que afetam
as igrejas hoje, particularmente entre aquelas que se autodeno-
minam “evangélicas”.3 As igrejas evangélicas em todo o mundo
3 Esse termo deve ser usado com cuidado. Ele não possui necessariamente o tipo de
significado teológico que frequentemente atribuímos a ele. “Evangélico” frequente-
mente funciona menos como um rótulo para um relato teológico específico e mais
como um rótulo para um movimento ou cultura marcados por um conjunto um
tanto fluido de compromissos com posições específicas em debates sobre questões
de fé. Muitos começaram a se sentir desconfortáveis com​​ o rótulo, em parte em
resposta aos problemas percebidos dentro do “evangelicalismo”, especialmente na
América e especialmente em relação aos recentes desenvolvimentos políticos. No
entanto, desde que tenhamos o cuidado de reconhecer o significado limitado da pa-
lavra, ela permanece útil como um termo para identificar uma subcultura específica.
12 | Vivendo em união com Cristo

continuam a crescer e muitas são – em termos numéricos e


financeiros, pelo menos – muito bem-sucedidas. É impor-
tante não ser cínico sobre isso, mas também é importante ser
honesto em nossa avaliação de alguns dos problemas que se
tornaram visíveis em muitas dessas igrejas e rastrear cuida-
dosamente suas possíveis causas. Além de inúmeras histórias
de comportamento dominador e manipulador, especialmen-
te dentro da liderança, tem havido vários relatos de horríveis
fracassos morais pessoais. Talvez você conheça as histórias
que estão associadas a igrejas bem conhecidas em sua parte
do mundo; você pode ter acompanhado online as postagens
em blogs sobre isso, porque as congregações muitas vezes são
vistas como carros-chefes evangélicos e seus pastores como
líderes evangélicos. Conheço histórias como essas que são me-
nos divulgadas, porque as igrejas em questão são menores e
não são detectadas pelo radar nacional ou internacional. Pode
ser que você mesmo tenha se envolvido em uma história como
essa e ainda esteja sofrendo com isso. Pode ser que tal expe-
riência o aguarde.
Nunca devemos permitir que essas histórias obscure-
çam ou ofusquem o fato de que existem inúmeras igrejas ao
redor do mundo que, embora imperfeitas, incorporam algo
genuíno e maravilhosamente transformador, com lideranças
que têm sido genuínas e maravilhosamente transformadoras.
Parte da tarefa que cada um de nós enfrenta é perguntar se as
diferenças entre as igrejas que são saudáveis, mesmo imperfei-
tas, e aquelas que parecem ser mais profundamente tóxicas,
são acidentais ou sistêmicas. Será que o fato de um proble-
ma específico ter ocorrido em um determinado lugar pode
ser compreendido sem nenhuma explicação adicional além da
Prefácio | 13

existência do pecado no mundo manifestando-se aqui dessa


forma especialmente visível? Ou o problema local é sintomáti-
co de algo sistematicamente errado com a cultura ou ideologia
da igreja em questão e de seus líderes? Poderia também ser o
caso de que o que está errado não seja visto como um proble-
ma até que seus sintomas se tornem terrivelmente óbvios?
Essas perguntas precisam ser feitas com cuidado, se não
quisermos juntar os pontos erroneamente e desenhar uma
imagem distorcida. Elas precisam ser feitas repetidamente e
especificamente com muito cuidado porque nunca podemos
tirar conclusões generalizadas; o que é verdade sobre uma
situação pode não ser verdade sobre outra. Elas também
precisam ser feitas em diálogo com a Escritura, enquanto refle-
timos sobre sua representação do pecado como uma realidade
contínua dentro da igreja e sobre seu antídoto, o evangelho
de Jesus Cristo. Minha sugestão de que os problemas podem
resultar de uma compreensão deficiente de nossa união com
Cristo pode não ser correta, ou pode não ser adequada como
explicação, mas deve ser considerada.
Agradecimentos

A
maior parte do material deste livro foi apresentada
como a Série de Palestras Acadêmicas Kistemaker
2018 no Reformed Theological Seminary em Or-
lando. Agradeço a Michael Allen e Scott Swain por estender
a mim o convite para dar essas palestras e pela gentileza de
hospedar o evento em si. Também sou grato a Ceci Helm e
Christina Mansfield por seu apoio prático em relação à minha
estadia em Orlando.
O conteúdo do livro foi moldado por anos de pesquisa
sobre o tópico “união com Cristo”, e meu próprio pensamento
sobre o assunto foi fortemente influenciado pela interação com
colegas e com os alunos de doutorado que orientei. Em par-
ticular, gostaria de agradecer aos colegas da Universidade de
Aberdeen por suas contribuições (muitas vezes inconscientes):
Tom Greggs, Paul Nimmo, Phil Ziegler, Ivor Davidson, John
Swinton, Brian Brock e Katy Hockey moldaram meu pensa-
mento sobre esses tópicos de várias maneiras. Vários dos meus
alunos de doutorado, atuais e recentes, também influenciaram
fortemente meu pensamento, especialmente Lisa Igram, Kris
Song, Jeannine Hanger, Melissa Tan e Markus Nikkanen.
16 | Vivendo em união com Cristo

Embora todos os meus alunos tenham sido parceiros de


conversação inestimáveis, seus projetos se cruzaram particular-
mente com o conteúdo deste livro, e eles têm sido uma grande
parte do meu próprio ambiente de pesquisa.
No mundo mais amplo de estudos sobre o Novo Tes-
tamento, vários estudiosos também têm sido importantes
parceiros de conversação, e têm sido generosos com seu tempo
e pensamentos. John Barclay, Susan Eastman, Simon Gather-
cole, Matt Novenson, Paul Foster, Elizabeth Shively, David
Moffitt e Tom Wright foram provavelmente as vozes mais im-
portantes na conversa imediata, mas uma longa lista de outras
vozes poderia ser mencionada, algumas das quais simples-
mente moldaram uma profundidade real de bondade cristã.
Sou grato a todos os envolvidos no Instituto Chalmers
em St. Andrews e ao grupo que se reuniu para ler os rascunhos
de grande parte deste material; os participantes estimularam
meu pensamento sobre suas ramificações de várias maneiras
enriquecedoras. Dentro desse grupo, Mark Stirling, Jared Mi-
chelson, Kenny Robertson e Dave Redfern merecem crédito
especial por sua liderança e visão em levar este material para a
vida da igreja, especialmente seus líderes.
Estou particularmente feliz por publicar este livro com
a Baker Academic e desejo estender minha gratidão à equipe
editorial. Em particular, Dave Nelson forneceu contribuições
inestimáveis sobre os rascunhos das palestras iniciais, que con-
tribuíram para a forma final do material. Sou grato por ter um
editor com tanta experiência teológica e sabedoria envolvido
com um trabalho desse tipo. Mason Slater e Alex Nieuwsma
também merecem agradecimento, no caso deles por exercerem
enorme paciência comigo no lado administrativo das coisas.
Agradecimentos | 17

Por último, uma palavra de contínuo agradecimento à


minha esposa, Jane, e às famílias da nossa igreja na Arbroath
Town Mission e Cornerstone St. Andrews, e à nossa rede de
amigos em toda a Free Church. Todos continuaram a ofere-
cer apoio, incentivo e, sempre que necessário, desafio. Pete e
Joanne Nixon e Kenny e Anna Macleod foram amigos par-
ticularmente íntimos e ajudaram a moldar o que este livro
procura considerar. Também somos gratos pela amizade e su-
pervisão pastoral de Alasdair e Cathie Macleod ao longo dos
anos. O tema do ministério expositivo de Alasdair tem sido
simplesmente que “é tudo sobre Jesus”, e só posso esperar que
isso se reflita nas páginas do presente livro.
Abreviações

alt. alterado
cf. confer, compare
CSB Christian Standard Bible
dir. direcionado por
diss. dissertação
e.g. exempli gratia, por exemplo
esp. especialmente
etc. et cetera, etcetera
lit. literalmente
LNTS Library of New Testament Studies
NVI Nova Versão Internacional
repr. reimpresso
SBLDS Society of Biblical Literature Dissertation
Series
SNTSMS Society for New Testament Studies Mono-
graph Series
trans. tradução, traduzido por
WUNT Wissenschaftliche Untersuchungen zum
Neuen Testament
Introdução
união com Cristo como a base
para a vida cristã

“porque sem mim nada podeis fazer”.


Jesus em João 15.5.

E
xiste uma expressão latina frequentemente encontrada
na cultura popular: sine qua non. Significa “sem a qual
não”. É uma expressão que usamos para nos referirmos
a algo que não pode ser omitido ou posto de lado sem anular
inteiramente um esforço: sem essa coisa, nada pode ser feito.
A principal afirmação deste livro é que toda conver-
sa sobre a vida moral cristã deve começar e terminar com
a declaração de Paulo “já não sou eu quem vive, mas Cristo
vive em mim” (Gl 2.20), e deve compreender corretamente
a obra do Espírito Santo em relação à presença de Cristo.
Essa afirmação é a condição sine qua non da vida moral cristã,
que se torna nula em sua ausência. Isso significa que nunca
22 | Vivendo em união com Cristo

podemos falar sobre a atividade moral de um cristão sem,


sempre, ao mesmo tempo, falar de Jesus, porque o objetivo da
nossa salvação não é que nos tornemos versões moralmente
aprimoradas de nós mesmos, mas que passemos a habitar e
a manifestar sua identidade moral. Essa linguagem paulina
é espelhada nas palavras do Evangelho de João, citadas no
início deste capítulo, que desenvolvem a representação or-
gânica do cristão como ramo do próprio Cristo, a videira.
Deveria ser impensável, então, que líderes cristãos vejam sua
tarefa como um treinamento dos crentes para viver mais efe-
tivamente para Deus sem levá-los constantemente de volta
a esse ponto. Da mesma forma, deveria ser impensável que
os pregadores pudessem ver sua tarefa simplesmente como
explicar a passagem diante deles e mostrar o fardo moral que
ela coloca em suas congregações, sem também se sentirem
compelidos a apontar para a única pessoa em quem essas
responsabilidades poderiam ser cumpridas. E, no entanto,
muito do nosso ensino faz exatamente isso. Procuramos tor-
nar nosso povo “especialista nas Escrituras” para que estejam
moralmente preparados para tomar as decisões corretas, mas
isso é tudo o eles se tornam: não discípulos, mas escribas.1
O ponto chave, explorado com algum detalhe no corpo
deste livro, pode ser aqui resumido em termos das preposições
que o regem. Jesus Cristo não é representado simplesmente
como aquele através de quem temos perdão, ou mesmo como
1 A palavra “escribas” é usada para designar os especialistas na lei com quem Jesus
conflita nos Evangelhos. Algumas versões (por exemplo, ESV [Bíblia English Stan-
dard Version]) traduzem o termo grego subjacente simplesmente como “escribas”,
enquanto outras (por exemplo, NVI) usam a tradução mais dinâmica “professores
da lei”.
Introdução | 23

aquele por quem a vida moral é exemplificada, mas como aque-


le em quem a vida de discipulado ocorre. O próprio Cristo está
presente na vida do discípulo como o principal agente moral.
Não somos simplesmente salvos por ele, nem simplesmente
seguimos seu exemplo – embora ambas as afirmações conti-
nuem sendo verdadeiras – mas participamos nele. É por isso
que Paulo especifica com tanta frequência que as realidades
da vida cristã estão “em Cristo”. Não há necessidade de forne-
cer aqui alguns textos-prova disso, pois dificilmente podemos
virar uma página dos escritos paulinos sem encontrar essa ex-
pressão ou um equivalente próximo. O Espírito, entretanto,
que é tão importante para o relato de Paulo sobre a vida mo-
ral, é representado não como nos ajudando a cumprir nosso
potencial frustrado, mas como tornando realidade, dentro de
nós, a identidade do Filho, e ele faz isso porque ele mesmo é o
Espírito do Filho (Gl 4.6).
Por trás disso está um reconhecimento honesto de como
o pecado afeta nosso eu natural: o pecado corrompe cada um
de nós por completo, distorcendo nossas percepções e valo-
res em todos os níveis, a ponto de só podermos ser libertados
por alguém fora de nós. É por isso que precisamos de uma
justiça “externa”, pois não há potencialidade nativa de justiça
dentro de nós que possa atender a essa necessidade. Precisa-
mos que uma justiça externa seja creditada a nós se quisermos
ser justificados na presença de Deus, mas também precisamos
que tal justiça habite nossos membros, lábios e neurônios se
quisermos viver e pensar de uma forma que honre a Deus,
se quisermos confessá-lo corretamente. Consequentemente,
24 | Vivendo em união com Cristo

a situação do pecador2 nunca pode ser resolvida pelo próprio


pecador, não importa quão bem treinados ou bem ensinados
sejamos, mas apenas por outro: o Justo que entra em nossa
realidade para constituir novas possibilidades para nossas vi-
das. Qualquer tentativa de abordar a situação à parte deste
Justo servirá apenas aos instintos idólatras da condição hu-
mana, o que Paulo chama de “a carne”, e isso continua a ser
verdade na vida cristã em todos os momentos, pois a carne
idólatra luta contra o Espírito de Cristo.
Reconhecendo isso, João Calvino escreveu sobre a histó-
ria da salvação como envolvendo uma duplex gratia, uma “graça
dupla” de justificação e santificação (uma palavra que, aqui,
indica transformação e crescimento moral), em que ambas
as partes da duplex são constituídas por Jesus, não apenas a
justificação. É por isso que Calvino considerou qualquer negli-
gência da santificação como um “despedaçar de Cristo”.3 Não
porque a justificação pela fé em Cristo deva resultar automa-
ticamente em mudança moral, mas porque a mudança moral
também é uma função da pessoa a quem estamos unidos pelo
Espírito na fé.

O PROBLEMA: UM EVANGELHO COM NOTAS FALTANDO


Aqui, porém, está o nosso problema. Como observo no ca-
pítulo 2, o relato da salvação, que normalmente fundamenta
os modelos de discipulado dentro da igreja contemporânea,
2 Observe o uso do substantivo: pecado não é apenas algo que fazemos, ainda que
frequentemente, mas algo constitutivo do que somos.
3 Veja Mark Garcia, Life in Christ: Union with Christ and Twofold Grace in Calvin’s
Theology. Studies in Christian History and Thought (Carlisle, UK: Paternoster,
2008, repr., Eugene, OR: Wipf & Stock, 2008).
Introdução | 25

inclusive dentro do evangelicalismo contemporâneo, difere da


concepção de Paulo (e de Calvino) de maneiras sutis, mas alta-
mente problemáticas. Ele segue as seguintes linhas:

A morte de Jesus paga por nossos pecados, leva o castigo


que merecemos e torna possível nos acertarmos com Deus;
uma vez que estamos bem com Deus, recebemos o Espírito
Santo para nos dar a capacidade de elevar nosso desem-
penho moral e viver em obediência aos mandamentos de
Deus. Ainda precisamos do evangelho do perdão, porque
mesmo nessa nova vida de obediência, continuamos a cair
em pecados que precisam ser pagos, mas a transformação
de nossas vidas – a santificação – é algo diferente, algo que
vem pelo dom do Espírito.4

Alguns leitores podem se surpreender com qualquer


sugestão de que esse resumo do evangelho está aberto a ques-
tionamentos; eles podem já estar buscando passagens bíblicas
que deem suporte a tal relato da salvação. No passado, eu
mesmo teria feito isso. O que precisamos considerar, entre-
tanto, é que o relato é problemático porque não diz o suficiente.
Não descreve adequadamente, em termos da própria pessoa
de Cristo, a identidade do crente que vive em comunhão com
Deus. Não articula suficientemente como o Espírito deve ser
identificado em relação a Jesus Cristo. Permite-nos falar so-
bre a vida cristã como algo que nós praticamos em comunhão
com o Espírito, sem realmente nos forçar a prestar atenção
a quem somos agora em Cristo. Ao fazer isso, permite que
4 Veja capítulo 2, “Quem eu realmente sou?”.
26 | Vivendo em união com Cristo

elementos-chave do evangelho sejam assimilados, sem que


os reconheçamos, a um individualismo moderno que sempre
comprometerá nosso crescimento cristão.
Permita-me tentar utilizar uma analogia estendida que
eu acho que captura algo do estado atual da cultura evangé-
lica e sua compreensão do evangelho. Quando eu era criança,
mudávamos com frequência por causa do trabalho de meu pai.
Em cada mudança arrastávamos nosso piano conosco. Com o
tempo, aquele pobre piano perdeu parte de seu funcionamen-
to: algumas cordas ficaram irremediavelmente desafinadas,
alguns martelos se desalojaram e algumas teclas ficaram inu-
tilizáveis. Isso não me impediu de irritar meu professor de
piano gastando a maior parte do meu tempo tentando desco-
brir como tocar a trilha sonora de meus filmes favoritos, em
vez de praticar qualquer miserável peça de música clássica que
eu deveria estar aprendendo. No entanto, para tocar tais te-
mas tive que contornar a falta dessas notas ausentes. Grandes
temas tornaram-se curiosamente menores à medida que os
bemóis iam sendo substituídos por suas notas equivalentes;
outras notas foram substituídas por outras uma oitava acima.
À medida que o piano se deteriorava ainda mais e o núme-
ro de notas disponíveis diminuía, as melodias se tornavam
cada vez menos reconhecíveis, até que finalmente chegaram
ao ponto em que não podiam mais ser rotuladas com seus tí-
tulos originais. O que eu estava tocando não podia mais ser
significativamente chamado de tema de Star Wars, por exem-
plo, porque muitas das notas originais estavam faltando e,
não importava o quão forte eu batesse no si bemol, ele não
poderia substituir o dó sustenido. Se tivéssemos mantido o
piano em melhores condições e garantido que todas as notas
Introdução | 27

permanecessem operacionais, os resultados teriam sido bons,


mas uma vez que as notas começaram a falhar, a possibilidade
de tocar a melodia corretamente começou a se perder. Por fim,
desisti totalmente de tocar, pois o piano deixou de ser real-
mente um piano e passou a ser um ornamento.
A parte relevante dessa analogia não é a causa do mau es-
tado do piano, mas simplesmente sua condição de degradação
progressiva. Como notas vitais da escala foram perdidas, as
notas restantes, embora boas, foram insuficientes para com-
pensar a ausência das notas vitais. Por várias razões históricas
– boas razões, aliás – evangélicos de diversas origens se com-
prometeram coletivamente na defesa de certas verdades diante
de seus críticos. Mas embora tenhamos mantido essas notas
com todo o cuidado e as tenhamos feito soar bem alto, adqui-
rindo uma sensação ao longo do caminho daquilo que temos
em comum que é distintamente “evangélico”, permitimos que
outras verdades caíssem em silêncio. Nossa habilidade de
soar aquelas outras notas quando apropriado foi perdida. Em
algum momento, devemos nos perguntar se ainda estamos
tocando a melodia original ou, talvez sem reconhecê-la, tocan-
do outra coisa, algo diferente. Será que não estamos tocando
certas notas boas de maneira tão alta e exclusiva que elas pas-
saram a constituir uma melodia diferente? Perdemos tanto de
nossas escalas teológicas que o que proclamamos é, na verda-
de, um evangelho diferente, como o “outro evangelho” do qual
Paulo fala em Gálatas 1.6? Não acho que haja uma resposta
simples para essa última pergunta, mas a própria pergunta ex-
põe o problema que precisamos considerar.
28 | Vivendo em união com Cristo

PARTICIPAÇÃO EXCÊNTRICA:
VIVENDO EM CRISTO E NÃO EM NÓS MESMOS
Pode ser difícil para nós compreendermos a ideia do eu cristão
como constituído por Jesus por pelo menos duas razões, am-
bas as quais, creio, contribuíram para a deterioração do relato
moderno do discipulado e da ética. A primeira é que, como
modernos, estamos acostumados a falar de uma “pessoa” ou
de um “eu” como algo autônomo, algo que pode ser isolado do
mundo ao seu redor e ainda ter uma identidade definível ou
descritível. Esse é o conceito que Charles Taylor notoriamente
rotulou de “o self protegido”,5 essa é uma característica muito
importante – e notoriamente problemática – do pensamento
moderno. Ela fundamenta muitos debates éticos, como, por
exemplo, a discussão sobre se, ou em que estágio, os direitos
podem ser atribuídos a um feto ou embrião; muitas vezes, isso
é abordado como algo conectado ao ponto em que podemos
falar significativamente sobre o embrião atingindo a perso-
nalidade. O perigo para nós é que tal forma de pensar sobre
o eu – como algo protegido e isolável que é inerente ao meu
corpo e cérebro – pode estar tão arraigada que, inconsciente-
mente, equiparamos o ensino do Novo Testamento a ela. Sem
pensar, modificamos o significado da linguagem, que fala do
eu ou da pessoa, de diferentes maneiras para acomodar esse
conceito moderno.6 Nós atenuamos a força de qualquer coisa
5 Veja Charles Taylor, Uma Era Secular (São Leopoldo: Unisinos, 2010), p. 43. A
expressão ocorre ao longo do livro, mas discussões importantes são encontradas nas
páginas 53 a 58 e 150 a 158. O último, em particular, considera a importância de
Descartes e o cogito para o problema moderno de identidade. Para um estudo mais
abrangente sobre identidade, veja Charles Taylor, As fontes do self: a construção da
identidade moderna (São Paulo: Edições Loyola, 2013).
6 Para um exame mais completo do problema moderno e sua influência na leitura
Introdução | 29

que sugira que “eu” possa ser constituído como uma pessoa
por meio de meus relacionamentos com os outros, incluin-
do este outro, particularmente significativo, chamado Jesus.
Essa é uma das razões pelas quais temos dificuldade em com-
preender o que significa dizer “Cristo vive em mim” ou “viver
é Cristo”: cada um de nós assume que temos uma identidade
baseada em nós mesmos. Falta-nos uma categoria que nos ha-
bilite a compreender nossa identidade como sendo formada
por meio de nosso encontro relacional com o outro.
A segunda razão é mais propriamente teológica. Ela
tem a ver com nossas identidades como algo formado não
apenas por nossos relacionamentos em geral, mas por nosso
relacionamento com essa pessoa em particular, Jesus Cristo.
Nossas mentes hesitam diante da ideia de que somos cons-
tituídos em união com Cristo porque nossas mentes são
pecaminosas, e o pecado procura manter seu domínio sobre
nós mesmo quando seu poder foi formalmente quebrado. Se
o pecado é, como Lutero o descreveu, um voltar-se para den-
tro de nós mesmos,7 então ele se opõe inteiramente ao ato de
nos abrirmos para a presença interior de outro, particular-
mente este outro, que tem tal poder de nos transformar. O
pecado procura cavar, agarrar-se ao que ocupa.
de Paulo, veja Susan Eastman, Paul and the Person: Reframing Paul’s Anthropology
(Grand Rapids: Eerdmans, 2017). Eastman se engaja ampla e construtivamente nas
disciplinas modernas que lutaram com a forma como a individualidade deve ser
entendida, valendo-se da filosofia e da psicologia, bem como da teologia.
7 A famosa expressão usada por Lutero, que pegou o conceito de Agostinho e o apli-
cou à sua leitura de Paulo, é homo incurvatus in se. Algumas teologias modernas têm
criticado essa maneira de pensar sobre o pecado, vendo-a como altamente andro-
cêntrica. Veja Matt Jensen, The Gravity of Sin: Augustine, Luther and Barth on homo
incurvatus in se. London: T&T Clark, 2007).
30 | Vivendo em união com Cristo

Como Susan Eastman apontou recentemente,8 a lin-


guagem que Paulo usa sobre o poder controlador do pecado
(especialmente em Romanos 7.20) tem alguns paralelos bas-
tante notáveis ​​com a linguagem que ele usa sobre a presença
libertadora de Cristo (especialmente em Gálatas 2.20): am-
bos são representados pela linguagem de ocupação. O pecado
habita em nós, comprometendo nosso arbítrio e controlando
nossas paixões: não sou mais eu que ajo, mas o pecado que
habita em mim (Rm 7.17). A única solução é ser habitado por
uma presença melhor para que possamos dizer: “já não sou
eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20). Mas o pe-
cado que habita em nossa carne e em nossas mentes sempre
lutará com o Espírito, por meio de quem essa melhor morada
se torna real e por quem nossas mentes são transformadas. E
o pecado frequentemente o fará sutilmente, disfarçando seu
verdadeiro caráter com um manto de religião e piedade.
Isso nos leva a uma afirmação que alguns podem achar
surpreendente ou mesmo ofensiva. Embora usemos a palavra
“pecado” facilmente e com frequência, especialmente dentro
do evangelicalismo, não levamos a sério o suficiente o quanto
o pecado afligirá e subverterá nossa piedade – tanto nossa prá-
tica quanto nossa doutrina – se não for sempre confrontado
pelo evangelho. Esse, certamente, é um dos temas dominantes
das Escrituras tanto no Antigo quanto no Novo Testamento:
aqueles que receberam a Palavra de Deus ainda se voltam para
fins idólatras e precisam ser graciosamente libertados de suas
corrupções. Isso foi verdade acerca daqueles que dançaram
8 Susan Eastman, Paul and the Person: Reframing Paul’s Anthropology (Grand Rapids:
Eerdmans, 2017), p. 6-8.
Introdução | 31

ao redor de um bezerro de ouro depois de terem sido tira-


dos do Egito (Êx 32); foi verdade acerca dos fariseus (Mt
23); foi verdade acerca do grupo da circuncisão na Galácia e
os pseudo-humildes em Colossos (Cl 2.23). Ainda mais sur-
preendente é que isso aconteceu com Pedro, um apóstolo cheio
do Espírito que teve de ser desafiado por Paulo (Gl 2.11-14).
Na maioria desses casos, o compromisso das pessoas com as
Escrituras não está em questão: ninguém diria que os fariseus
não levaram a sério a Palavra de Deus ou que o “evangelicalis-
mo” de Pedro era duvidoso. Mas em algum ponto, para o qual
eles próprios estavam cegos, sua piedade foi distorcida pelo
pecado e começou a servir a fins errados. Se isso foi verdade
para eles, poderia ser verdade para nós? Poderíamos, mesmo
enquanto nos congratulamos por nossos compromissos com
as Escrituras e suas verdades, estar pensando de maneiras fun-
damentalmente idólatras?

LEGALISMO: O EU IDÓLATRA E OS MANDAMENTOS DIVINOS


Muitas vezes pensamos na idolatria em termos de colocar algo
no lugar que deveria ser apropriadamente ocupado somente
por Deus. Isso não está errado, mas precisamos dar um passo
adiante. A idolatria é definida por seus sujeitos tanto quanto
por seus objetos; somos idólatras constitucionalmente, e é por
isso que transformamos as coisas em ídolos. Colocamos essas
coisas no lugar que Deus deveria ocupar porque convém ao
nosso egocentrismo fazê-lo, mesmo que as coisas que colo-
camos venham a nos escravizar e tiranizar. Colocamos ídolos
físicos que representam deuses naquele lugar porque os vemos
como coisas que podem ser controladas por nós: podemos
32 | Vivendo em união com Cristo

apaziguá-los, satisfazê-los e manipulá-los por meio de nos-


sos rituais, nossa adoração e nossas ofertas. Se lhes dermos
as coisas certas, eles nos darão chuva ou sol ou o tipo certo de
filhos. Yahweh não é assim, mas “os deuses” são. Quando nos
aproximamos de Deus, o fazemos em seus termos; quando nos
aproximamos de nossos ídolos, o fazemos em nossos termos,
visto que eles são realmente as coisas que nós criamos para
serem colocadas no lugar devido a Deus. Quando esses ídolos
nos escravizam, é o nosso eu que nos mantém prisioneiros,
porque no nosso eu é onde o pecado habita.
Quando colocamos outras coisas naquele lugar (sexo,
dinheiro, sucesso, status, etc.), o mesmo problema está em
jogo: o eu é idólatra porque é autocentrado e não centrado em
Deus, e ter ídolos de todos os tipos é a maneira mais fácil de
satisfazer os anseios do eu, até que os anseios piorem e os ído-
los se tornem menos recompensadores. O caminho fácil para a
gratificação nos leva a nos tornamos propriedade daquilo que
pensávamos que serviria aos nossos desejos.
Como discutirei no capítulo 3, Paulo usa a mesma ima-
gem para falar da escravidão ao pecado na idolatria – ser
controlado pelos “princípios elementares” – e para falar so-
bre o legalismo. Pois, na verdade, o legalismo é uma espécie
particular de idolatria que reflete essa mesma dinâmica de
egocentrismo. O legalismo pega os bons dons de Deus das
Escrituras e dos mandamentos e os transforma em fins do eu,
usando-os como meio de ganhar capital simbólico, controlan-
do a maneira como os outros pensam sobre nós e tentando
controlar a maneira como Deus pensa sobre nós.
Precisamos desafiar as maneiras de pensar sobre o le-
galismo que o veem como um problema de outra pessoa.
Introdução | 33

Temos a tendência de pensar no legalismo em termos de um


compromisso de carteirinha com a salvação pelas obras, uma
crença que atribuímos a outras religiões ou outras tradições
cristãs, mas da qual nós mesmos fomos libertados. Além das
questões que foram levantadas sobre se os judeus dos dias de
Jesus alguma vez sustentaram tal crença,9 essa maneira de falar
sobre o legalismo faz pouca justiça ao que parece ser um tema
dominante em Gálatas: o legalismo envolve a busca de status
aos olhos de outros crentes, seja conscientemente ou não, e
não apenas a busca por ganhar crédito diante de Deus.
Alternativamente, às vezes pensamos no legalismo
como se fosse idêntico à manutenção dos valores tradicio-
nais, vendo-o como um problema que aflige os cristãos mais
velhos que parecem ser mais moralmente restritivos do que
nós. Acreditamos que não há graça suficiente em suas vidas,
por isso eles se preocupam tanto em seguir certas práticas
tradicionais. Novamente, além da possibilidade de estarmos
julgando pessoas cujos compromissos aparentemente tra-
dicionais são, na verdade, manifestações reais de decisões
piedosas, existe o perigo de ignorarmos nossas próprias
motivações morais, o impulso por trás de nossas próprias
práticas de oração ou adoração. Vivendo nosso cristianismo
“vibrante”, “moderno” e “radical”, estaríamos nós, na verdade,
vivendo o velho problema da idolatria, pela qual até mesmo
9 Essas perguntas foram feitas cuidadosamente em E. P. Sanders, Paul and Palestinian
Judaism: A Comparison of Patterns of Religion (Minneapolis: Fortress, 1977). Embo-
ra a interpretação de Sanders sobre Paulo tenha sido criticada ao longo das décadas,
sua afirmação central de que a graça era um conceito onipresente no Judaísmo do
Segundo Templo foi amplamente aceita, e isso, por sua vez, problematizou formas
comuns de conceituar “obras de justiça”.
34 | Vivendo em união com Cristo

a bondade dos mandamentos de Deus se transforma em algo


que o eu pecaminoso pode mercantilizar?
Aqui está o mais desconfortável dos pensamentos. A
certa altura, Paulo considera o ensino ou as crenças de pes-
soas que parecem ter confiado em Cristo e recebido o Espírito
como um “outro evangelho” (Gl 1.6). Paulo rotula algumas
dessas pessoas de “falsos irmãos” (2.4), mas ele também fala de
se opor a um companheiro apóstolo (Cefas, ou seja, Pedro, em
2.11) por aquiescer a tais crenças e, claro, ele escreve aos gála-
tas porque essa teologia agora prevalece entre eles. A própria
Escritura, então, representa isso como uma corrupção que se
manifesta dentro das igrejas que professaram fé em Cristo e
experimentaram o Espírito. Não é um problema que possa-
mos simplesmente projetar em outras tradições da igreja sem
perguntar primeiro se ele vive entre nós.
Como veremos no capítulo 4, a linguagem que Paulo usa
para esse outro evangelho o representa como uma espécie de
idolatria da qual os crentes supostamente foram libertados.
Esse, acredito, é um exemplo particularmente claro de algo
que funciona como um tema em todo o Novo Testamento:
nossa pecaminosidade constitucional, nossa “carne”, continua-
rá a se manifestar em idolatria sempre que não for vista pelo
que é e tratada com seu único antídoto, a presença pessoal de
Jesus Cristo agindo por meio de seu Espírito. Se começarmos
a pensar ou falar sobre qualquer parte da vida e da ética cris-
tã à parte de Cristo, nossa carne a transformará em idolatria.
Até mesmo as melhores coisas, até mesmo os mandamentos
de Deus, tomados de forma isolada de Jesus, se tornarão ma-
téria de idolatria, como aconteceu com os gálatas, porque os
mandamentos são mais fáceis de lidar do que o próprio Deus.
Introdução | 35

Se realmente levarmos o pecado a sério, reconheceremos isso;


mas talvez nosso problema seja precisamente que não leva-
mos o pecado a sério o suficiente. Apesar de toda a frequência
com que falamos sobre o pecado, não reconhecemos o quão
profundamente ele nos compromete e quão absolutamente
necessitados de Jesus sempre seremos. Somos, por natureza,
idólatras; a única coisa que pode superar essa realidade, sem-
pre que ela vem à tona, é o evangelho de Jesus Cristo. Cada
um de nós deve refletir sobre isso: será que o rótulo “evange-
lho”, em nosso evangelicalismo particular, na verdade designa
aquele outro euangelion (evangelho) do qual Paulo fala? Não
seria uma coisa horrível para qualquer um de nós admitir isso?

O PRESENTE ESTUDO: SUA FORMA E OBJETIVOS


O que procuro fazer no presente estudo não é fornecer um
relato abrangente da identidade cristã ou uma discussão sis-
temática das filosofias cristãs da individualidade. Para os
interessados ​​em tais discussões, existem outros estudos dispo-
níveis que fazem um trabalho muito melhor do que eu jamais
poderia.10 Nem procuro dar um relato sistemático ou abran-
gente da santificação; novamente, outros estudos excelentes
desse tipo estão disponíveis.11 Em vez disso, o que farei é tra-
balhar através de uma série de passagens nas quais o sentido
subjacente de Paulo sobre a reconstituição da identidade cristã
transparece no desenvolvimento e na trama de seus escritos.
Vou mostrar como a maneira distinta de Paulo pensar sobre a
10 Veja, por exemplo, Brian Rosner, Known by God: A Biblical Theology of Personal
Identity (Grand Rapids: Zondervan, 2017).
11 Em particular, direciono os leitores a Michael Allen, Sanctification. New Studies in
Dogmatics (Grand Rapids: Zondervan, 2017).
36 | Vivendo em união com Cristo

identidade em Cristo rompe com as maneiras naturais de pen-


sar sobre a vida moral. Isso pode, por sua vez, ser colocado em
diálogo com os estudos mais sistemáticos observados acima,
ajudando a qualificá-los ou aprofundá-los. Mais importante,
pode ser colocado em diálogo com o pensamento, o discurso e
a prática visíveis na igreja hoje.
Isso identifica a presente obra como um trabalho em
teologia prática, embora seja uma espécie particular des-
se tipo de empreendimento. É o tipo de teologia prática
que é moldada imediatamente pelo envolvimento com os
textos bíblicos, mas de maneira orientada para os desafios
e questões contemporâneas; é uma interpretação teológica
prática. Esse é o tipo de interpretação em que Lutero, Cal-
vino e os outros pais da teologia protestante se engajaram.
A leitura de Paulo por Lutero tem sido frequentemente cri-
ticada por projetar sua situação contemporânea nos escritos
do apóstolo, mas, na verdade, é uma reflexão cuidadosa
sobre como o ensino de Paulo possui implicações para a si-
tuação de Lutero. Enquanto os estudos bíblicos modernos
geralmente estão satisfeitos com as descobertas da exegese
como uma tarefa histórica (ou seja, o que Paulo quis dizer,
o que ele pretendia dizer), a tarefa teológica prática con-
sidera como essas descobertas podem estar relacionadas à
situação contemporânea (o que Paulo significa hoje). Isso
envolve uma consciência do caráter da situação contempo-
rânea, cujos elementos podem ser novos e estranhos aos da
situação antiga, e envolve uma sensibilidade para o fato de
que nenhuma parte da Escritura está sozinha. Nossa leitu-
ra de Paulo deve estar relacionada ao cânon mais amplo da
Escritura e às tradições teológicas. Esses elementos podem
Introdução | 37

nem sempre ser visíveis no que fazemos, pois o espaço é


sempre limitado, mas eles devem informá-lo.
Como a obra é orientada para a tarefa da teologia prática
e, portanto, para a vida da igreja, procurei reduzir ao míni-
mo as notas de rodapé sobre estudos bíblicos, para que não
obstruam o estudo. Na verdade, grande parte da literatura
acadêmica está realmente preocupada com dados contextuais,
muitas vezes como um fim em si mesmo (ou simplesmente
para demonstrar erudição), ao invés de se preocupar com da-
dos genuinamente necessários para interpretar a passagem.
Onde eu cito pesquisas bíblicas, é porque penso que são ge-
nuinamente relevantes não apenas para o estudo bíblico, mas
também para as leituras pastorais do material bíblico. Além
disso, por causa dessa orientação, transliterei o grego para que
a obra seja legível para aqueles cujo treinamento pode não ter
incluído as línguas bíblicas.
O núcleo deste livro (capítulos 2 a 6) foi originalmente
apresentado como a Série de Palestras Acadêmicas Kiste-
maker 2018 no Novo Testamento, no Reformed Theological
Seminary em Orlando. O título da minha série era “The Re-
formed Self in Paul” [O eu reformado em Paulo], um ensaio
sobre o tema da transformação pessoal e a maneira como esse
tema foi entendido em relação à união com Cristo na tradição
reformada. Ao desenvolver essas palestras para publicação,
pareceu importante adicionar mais algum material para con-
textualizar e, em seguida, concluir meus estudos. O capítulo
1 fornece uma visão geral crítica de alguns desenvolvimentos
recentes nos estudos sobre Paulo e sua ética. Algumas críti-
cas serão feitas a outros relatos acadêmicos nesse capítulo,
mas, na maioria das vezes, simplesmente destacarei o que
38 | Vivendo em união com Cristo

considero ser as inadequações que serão demonstradas por


minhas próprias leituras nos capítulos posteriores. Alguns
leitores podem querer simplesmente pular o capítulo 1, já
que o material a seguir pode ser lido sem ele. Minha impres-
são, porém, é que o livro estaria incompleto sem ele, uma vez
que esses movimentos acadêmicos são bastante influentes e
seus efeitos são sentidos até mesmo em um nível popular.
Como esse capítulo vai enquadrar o que se segue em relação
à erudição bíblica, ele terá muitas notas de rodapé, ao contrá-
rio do restante do livro. No capítulo 2, consideraremos o que
Paulo diz nos capítulos iniciais de Gálatas, relacionando isso
à maneira como ele agora avalia sua maneira natural e antiga
de pensar sobre sua justiça em Filipenses 3. Agora que a per-
versidade de seu eu natural, sua carne, se tornou visível para
ele, ele reconhece que estava tratando a justiça como uma
mercadoria que ele poderia possuir e acumular, adquirindo
assim poder sobre os outros e sobre Deus. Agora que ele está
“em Cristo”, toda sua maneira de se relacionar com Deus e o
mundo foi transformada e, com isso, toda a sua maneira de
conceber a justiça. No capítulo 3, vamos nos concentrar no
batismo como uma prática que é representada em termos de
nossa união com Cristo, que é traduzida por meio da ima-
gem de nos revestirmos dele. No capítulo 4, veremos o papel
que a Ceia do Senhor (eucaristia) desempenha no relato de
Paulo sobre a identidade moral cristã: na Ceia do Senhor,
ocupamos e realizamos uma memória de Jesus que torna sua
história nossa e, ao fazê-lo, redefine nossas relações com o
mundo e com Deus. No capítulo 5, consideraremos como a
santificação e a transformação são retratadas como uma luta
genuína, a guerra da carne e do Espírito, mostrando como
Introdução | 39

isso é representado não em termos de desenvolvimento pro-


gramático, mas em termos pessoais de nos revestirmos de
quem Cristo é. O capítulo 6, então, pegará essa imagem de
luta e conflito e a relacionará com a esperança cristã, nossa
orientação em direção a um futuro que envolverá uma trans-
formação decisiva. O capítulo 7 oferecerá um conjunto de
reflexões conclusivas dirigidas explicitamente à aplicação
pastoral.
O Ministério Fiel visa apoiar a igreja de Deus, fornecen-
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teológicos, literatura, ministério Adote um Pastor e conteúdo
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