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Úrsula - Resumo Completo

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ROMANTISMO Romantismo, quando o escravo e os ideais de liberdade

ocuparam os versos condoreiros.


O romantismo é todo um período cultural, artístico e literário
Subjetivismo - atitude individual e única. A poesia não
que se inicia na Europa no final do século XVIII, espalhando-se
assume mais os moldes clássicos e, sim, a vontade do Eu
pelo mundo até o final do século XIX.
criador.
O berço do romantismo pode ser considerado três países:
Itália, Alemanha e Inglaterra. Porém, na França, o romantismo
Egocentrismo - Houve o triunfo absoluto do EU; o reinado
ganha força como em nenhum outro país e, através dos artistas
da poesia confessional na qual o sujeito lírico declarava seus
franceses, os ideais românticos espalham-se pela Europa e pela
sentimentos.
América.
Dentro dos antecedentes históricos pode-se destacar que
Sentimentalismo - analisa e expressa a realidade por meio
Romantismo foi o primeiro movimento literário da era
de sentimentos; a emoção foi valorizada em detrimento do
denominada romântica ou moderna.
racionalismo.
As ideias românticas ganharam maior impulso a partir do
advento da Revolução Francesa (1789) e se difundiram pela
Supervalorização do amor - O amor foi considerado um
Europa e pelas Américas.
valor supremo na vida. Entretanto, a conquista amorosa era
As transformações revolucionárias atingiram todos os
difícil: havia o mito do amor impossível, o estigma da paixão
segmentos: social, econômicos, político, filosófico e artístico-
desesperadora. A perda ou não realização amorosa levava o
cultural. A humanidade acompanhava mudanças profundas e
romântico ao desespero, à loucura ou à morte.
fundamentais para a formação de uma nova identidade mais
idealista, o que possibilitou o desenvolvimento da estética
Idealização da Mulher - Mulher convertida em anjo, musa,
romântica.
deusa, criatura pura, poderosa, perfeita, inatingível, capaz de
Houve vários fatores decisivos para as transformações
maravilhar a vida do homem se lhe correspondesse. A mulher,
vividas na Europa nesse período, entre elas destacam-se:
porém, tornava-se perversa, maligna, impiedosa, quando pela
recusa arruinava a vida do galante que a cortejava.
 A queda dos sistemas de governo tirânicos.
 Os ideais de liberdade e igualdade.
Byronismo (mal do século) - Na ânsia de plenitude
 Formação de uma mentalidade nacionalista.
impossível, o artista sentia-se desajustado e insatisfeito, além de
 A consolidação do pensamento liberal.
decepcionado, devido à falência da utopia revolucionária:
 A revolução Francesa.
liberdade, igualdade, fraternidade. Assim, o romântico passou a
 A Revolução Industrial Inglesa.
ver o homem da época como um ser fragmentado, peça da
 A Declaração Universal dos Direitos Humanos.
engrenagem social, sem individualidade ou liberdade. Os
desajustes e as insatisfações conduziram ao mal do século,
Romantismo: A arte Burguesa
definido como a aflição e a dor dos descontentes com o mundo.
Era a influência do modo de vida byroniano do poeta inglês Lord
A burguesia, vitoriosa na Revolução Francesa,
George Byron, protótipo do herói romântico, sombrio, elegante e
experimentou franca ascensão e, afrontando os poderes da
desajustado.
Monarquia, exigiram seu espaço na estrutura sociopolítica, bem
como o cumprimento dos ideais de sua bandeira revolucionária,
Novo aspecto estilístico - Os românticos abandonam a
a utopia: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Valorizaram o
forma fixa (raros os sonetos, odes, oitavas e etc.), abandonam o
trabalho, o comércio, a indústria e todos os meios capazes de
uso obrigatório da rima e acabam valorizando o verso branco,
gerar lucro.
negam os gêneros literários em que abandonam o tradicional,
Os burgueses, ansiosos por adquirir cultura, passaram a
fazendo com que alguns gêneros não fizessem mais parte como:
ser mecenas, ou seja, patrocinaram a arte que correspondia aos
a tragédia e a comédia, onde foram surgindo outros como: o
seus interesses. Foi criado o drama para o público burguês,
drama, o romance de costumes, entre outros.
inventou-se a narrativa em forma de romance, para os leitores
ansiosos por consumir cultura e arte burguesas.
Além desses aspectos não se pode deixar de lado a
contribuição cultural do Romantismo pois promoveu uma ruptura
ASPECTOS GERAIS DO ROMANTISMO com as concepções clássicas da arte e permitiu uma revolução
cultural. Enriqueceu a Língua Portuguesa, com a incorporação
Valorização de elementos populares - Surgiu da relação de neologismos e a aproximação entre a Língua Literária e a
entre a burguesia e o Romantismo e objetivava retirar o privilégio Língua oral e coloquial.
da elite aristocrática. Intensificaram-se os temas ligados à vida
urbana; incentivou-se o público a participar de manifestações
culturais.
ROMANTISMO NO BRASIL
Apogeu: Publicação de "Suspiros Poéticos e Saudades",
Imaginação Criadora - Libertação da arte agora afastada
de Gonçalves de Magalhães , em 1836.
das rígidas regras clássicas. Liberdade para a forma e para o
conteúdo. Criação de mundos imaginários nos quais o romântico
Declínio: Publicação de "Memórias Póstumas de Brás
acreditava.
Cubas", de Machado de Assis, em 1881, que inaugura o
realismo e a publicação de O mulato, na mesma data, inaugura o
Nacionalismo - louvor e exaltação de pátria, resgatava as
Naturalismo.
origens de cada nação, valorizações dos elementos da terra
Não falaremos dos aspectos românticos da poesia, pois
natal, dos bens e das riquezas nacionais, das paisagens
como a Universidade Vale do Acaraú só cobrou os romances
naturais. Exaltavam-se as personalidades e os heróis da história,
românticos em prosa, então focaremos neles.
os valores gloriosos da pátria. No Brasil, houve a valorização do
A prosa literária desenvolveu-se no Romantismo, mas no
passado colonial: o índio foi tomado como herói nacional repleto
Brasil eram menos frequentes.
de glórias que só existiram nos ideários românticos. Outra forma
de nacionalismo brasileiro foi conhecida na terceira fase do

Prof. Raul Castro


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A espécie preferida pelo público era o romance de temática Romance Histórico - O romance histórico traz o retrato de
sentimental. Cultivava-se o gosto pelos folhetins, histórias de costumes de uma época passada, sendo um relato que muitas
amor editadas em jornais com capítulos publicados em série. vezes mistura ficção e realidade.
O primeiro romance romântico brasileiro, datado em 1843,
é O Filho de Pescador, de Teixeira e Souza. Romance regionalista - Por fim, temos o romance
Entretanto, o romance que impulsionava o apego regionalista, passado em ambiente rural, mostrando costumes,
sentimental do público foi A Moreninha, de Joaquim Manuel de valores e cultura típica de uma região. Este tipo de romance
Macedo, uma história de amor convencional, publicada em 1844, trazia um maior conhecimento do Brasil sobre si próprio, uma
que fixa os costumes da sociedade carioca da época, vez que voltava seu olhar pra regiões diferentes do Brasil,
contaminada por francesismos. trazendo à tona sua diversidade.
Neste cenário rural há um herói do campo, sertanejo,
O romance de Folhetim alguém que pertence à sua terra e é o retrato desta. É bravo e
honrado, preza a moral e os costumes de seu ambiente,
Tanto na Europa quanto no Brasil, o romance surgiu sob a colocando-se contrário às liberalidades da cidade e dos homens
forma de folhetim, publicação diária, em jornais, de capítulos de de lá. É importante ressaltar que não há tensão social no
determinada obra literária. Assim, ao mesmo tempo que romance romântico regionalista, sendo este apenas um retrato
ampliava o público leitor de jornais, o folhetim ampliava o público regional de costumes, sem críticas.
de literatura.
Ao escrever um folhetim, o artista submetia-se às Romance urbano - Os romances urbanos são os mais
exigências do público e dos diretores de jornais. Além disso, os lidos até hoje. Em sua grande maioria, este tipo no Romantismo
folhetins não podiam criticar os valores da época, reivindicar o narrava uma história que geralmente ocorria nas capitais, na alta
verdadeiro humanismo, pois, obrigatoriamente, tinham que se sociedade. Funcionava como crítica aos costumes, mostrando a
sujeitar aos valores ideológicos do público, constituindo-se assim sociedade e os interesses desta em uma determinada época. Os
numa arte de evasão e alienação da realidade algumas obras. heróis e heroínas deste romance faziam ou não parte desta alta
sociedade e tinham que superar várias barreiras para a
Eram assim estruturados: felicidade e a realização do amor e do casamento (que redimia
as personagens de todo o mal e imoralidade que elas pudessem
1º HARMONIA ter), tal como nos outros tipos de romances românticos.
Felicidade = Ordenação social burguesa
Exemplos de romances urbanos:
2º DESARMONIA Lucíola, Diva, Senhora, A Viuvinha, todos de José de
Conflito = Desordem = Crise da sociedade burguesa Alencar; Iaiá Garcia, Helena, A Mão e a Luva, de Machado de
Assis; A Moreninha, Moço Loiro de Joaquim Manuel de Macedo;
3º HARMONIA FINAL e Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de
Estabelecimento da felicidade definitiva da sociedade Almeida, que surge trazendo à tona os costumes da periferia,
burguesa, com o triunfo de seus valores indo na contramão do retrato de costumes da alta sociedade,
algo raro neste tipo de romance.
Principais aspectos da prosa romântica brasileira
ÚRSULA
Flash-back narrativo - volta no tempo para explicar, por
Prof. Raul Castro
meio do passado, certas atitudes das personagens no presente.

O amor como redenção - oposição entre os valores da


sociedade e o desejo de realização amorosa dos amantes = o
amor é visto como único meio de o herói ou o vilão romântico se
redimirem e se “purificarem” = solução: em muitos casos: a
morte.

Idealização do herói - ser dotado de honra, de idealismos


e coragem = põe a própria vida em risco para atender aos
apelos do coração ou da justiça = em algumas obras assume as
feições de “cavaleiro medieval”.
MARIA FIRMINA DOS REIS – Vida e Obras
Idealização da mulher - são desprovidas de opinião
própria, são frágeis, dominadas pela emoção, obedientes às Maria Firmina dos Reis foi uma escritora brasileira do
determinações dos pais e educadas para o casamento e objeto século XIX, nascida em São Luís, no estado do Maranhão, em
constante de proteção do cavalheiro. 1822, e falecida em 1917. Ela é conhecida por ser uma das
primeiras escritoras negras da literatura brasileira e uma das
Tipos de Romance pioneiras na abordagem das questões raciais e sociais em sua
obra.
São eles: Sua obra mais famosa é o romance "Úrsula," publicado
em 1859, que é considerado um dos primeiros romances
Romance Indianista: O romance indianista traz à tona a abolicionistas do Brasil. "Úrsula" aborda temas como a
vida, cultura, crença e costumes indígenas. O índio surge como escravidão, a discriminação racial e a luta pela liberdade dos
herói, representando o Brasil e os brasileiros, sendo corajoso, escravizados, além de explorar questões de gênero e classe
heroico, forte, idealizado. Há uma valorização da natureza e o social. Maria Firmina dos Reis também escreveu poesia e
espaço onde ocorre a narrativa remete ao natural, à paisagem contos, muitos dos quais tratavam das injustiças sociais e da
brasileira. condição das mulheres negras.
A obra de Maria Firmina dos Reis é importante não
apenas por sua contribuição à literatura brasileira, mas também
por seu papel na promoção da igualdade racial e social. Ela é
Prof. Raul Castro
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uma figura significativa na história da literatura afro-brasileira e Essa técnica narrativa permite ao leitor obter insights
continua a ser estudada e celebrada por seu legado literário e profundos sobre os personagens, seus conflitos internos,
ativismo. motivações e interações sociais. Ao alternar entre a visão
Tendo se tornado uma figura inestimável tanto para a onisciente e os relatos em primeira pessoa, a autora oferece
literatura negra quanto para o romantismo brasileiro, pois sua uma visão mais abrangente da vida e das lutas dos personagens
obra e legado transcenderam as fronteiras de seu tempo e ainda em uma sociedade marcada por questões de raça, classe e
ecoam como fonte de inspiração e reflexão. A importância de gênero.
Maria Firmina pode ser compreendida sob duas perspectivas O foco narrativo em terceira pessoa permite que o leitor
cruciais: sua contribuição para a literatura negra e seu impacto tenha uma visão mais objetiva dos eventos e das circunstâncias
no contexto do romantismo brasileiro. que afetam os personagens, enquanto os trechos em primeira
pessoa fornecem uma perspectiva mais íntima e pessoal dos
Contribuição para a Literatura Negra: protagonistas. Isso enriquece a narrativa e ajuda a destacar as
A autora é reconhecida como uma das primeiras complexas questões sociais e emocionais abordadas ao longo
escritoras negras do Brasil, uma pioneira que quebrou barreiras do romance.
significativas em um momento em que as vozes negras eram
frequentemente silenciadas e marginalizadas. Sua obra mais TEMPO
notável, o romance "Úrsula," é uma conquista literária que
transcende a narrativa em si. Este romance abolicionista ousado A obra segue uma estrutura narrativa cronológica, na qual
enfrentou questões essenciais da escravidão, da liberdade e da os eventos são apresentados na ordem em que ocorrem no
dignidade humana, lançando um olhar crítico sobre a crueldade tempo. A história se desenrola ao longo de vários anos,
do sistema escravocrata. abrangendo um período significativo. No entanto, a narrativa não
Maria Firmina dos Reis deu voz às experiências dos faz referências explícitas a datas específicas, e a cronologia
afrodescendentes no Brasil, destacando a brutalidade da exata dos eventos não é detalhada na obra.
escravidão e a busca pela liberdade. Sua escrita revela a Embora o livro não forneça datas precisas para os
profundidade de seu compromisso com a justiça social e sua eventos, ele oferece uma visão geral do tempo em que se passa,
determinação em desafiar as normas opressivas de sua época. destacando a passagem das estações, ciclos de plantações e
Assim, ela estabeleceu um precedente importante para futuras colheitas e o envelhecimento dos personagens.
gerações de escritores afro-brasileiros, que encontraram em sua Essa abordagem cronológica permite à autora explorar a
obra um modelo a ser seguido e uma fonte de inspiração para evolução das relações e dos conflitos ao longo do tempo, à
abordar questões raciais em suas próprias criações literárias. medida que os personagens enfrentam desafios e dilemas
pessoais e sociais.
Impacto no Romantismo Brasileiro:
No contexto do romantismo brasileiro, Maria Firmina dos ESPAÇO
Reis desempenhou um papel significativo ao trazer uma
abordagem inovadora para o gênero. Enquanto o romantismo Na obra "Úrsula," de Maria Firmina dos Reis, diversos
muitas vezes se concentrou em temas idealizados, amorosos e espaços são explorados, cada um deles desempenhando um
bucólicos, Maria Firmina optou por explorar questões sociais e papel significativo na narrativa. Apesar de a narradora não
raciais de forma crítica e comprometida em suas obras. Isso conceder nomes de locais, como cidade de ****, convento de
representou uma ruptura com as tendências literárias ****, esses espaços são representativos das condições sociais e
predominantes da época e estabeleceu um novo caminho para a das relações entre os personagens. Vamos explorar alguns dos
literatura brasileira. principais espaços dentro do romance:
Seu romance "Úrsula" é frequentemente apontado como
uma das primeiras manifestações do romantismo social no Fazenda de Santa Cruz: é um dos cenários centrais da
Brasil, antecipando uma tendência literária que ganharia força história. É uma fazenda onde se pratica a produção de açúcar e
nas décadas seguintes. Maria Firmina trouxe uma voz única para a escravidão é uma parte fundamental da dinâmica desse
o romantismo brasileiro ao abordar temas de opressão, injustiça espaço. A autora retrata as condições cruéis enfrentadas pelos
e desigualdade, contribuindo assim para a evolução do escravizados, bem como as relações entre senhores e escravos,
movimento literário no país. destacando as injustiças e a brutalidade do sistema
Maria Firmina dos Reis é uma figura essencial para a escravocrata. Pertencente ao comendador Fernando tem lá um
literatura negra e para o romantismo brasileiro. Sua coragem em cemitério aonde será enterrada Luíza B.
enfrentar questões sociais e raciais em uma época de grande
adversidade, combinada com sua maestria literária, torna-a um Convento dos Carmelitas: O convento é outro espaço
ícone que continua a inspirar escritores, leitores e defensores da importante na narrativa, especialmente na segunda parte do
igualdade racial e social no Brasil e além. romance. É onde Frei Fernando (antigo comendador Fernando)
Seu legado perdura como um farol de luz na luta contra a encontra refúgio e busca redenção espiritual. O convento
discriminação e como um exemplo do poder da literatura para representa um contraste com o engenho, pois é um local de
promover a justiça e a mudança. religiosidade e contemplação, onde os personagens confrontam
questões morais e espirituais.
ELEMENTOS DA NARRATIVA E RESUMO
Jardim do Comendador: O jardim da propriedade do
FOCO NARRATIVO Comendador Fernando é um espaço onde o protagonista passa
momentos de reflexão e remorso. Ele é descrito como um lugar
O foco narrativo é predominantemente em terceira de beleza natural, mas também é onde Fernando enfrenta seus
pessoa, com um narrador onisciente que tem conhecimento dos sentimentos de culpa e sofrimento interior.
pensamentos, sentimentos e ações de vários personagens ao
longo da narrativa. No entanto, a obra também apresenta Fazenda de Luíza B.: A casa de Luíza B., uma
algumas passagens em primeira pessoa, onde os próprios personagem importante na história, é onde se desenvolvem
personagens compartilham suas perspectivas e experiências algumas das tramas amorosas e conflitos.
como é o caso de Suzana e Túlio.
Paisagens Naturais: Ao longo do romance, a autora
descreve paisagens naturais, como florestas, campos, rios e
Prof. Raul Castro
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praias. Esses cenários naturais muitas vezes refletem o estado personagens. A natureza desempenha um papel simbólico,
emocional dos personagens e servem como pano de fundo para representando a beleza e a fragilidade da vida.
eventos importantes na trama.

Os espaços explorados na obra contribuem para a


compreensão das relações sociais, das tensões raciais e das LINGUAGEM
questões morais que permeiam a história. Eles também
desempenham um papel simbólico na medida em que A linguagem de "Úrsula" de Maria Firmina dos Reis é
representam aspectos da vida e das experiências dos caracterizada por sua riqueza descritiva e emocional. Sendo
personagens, adicionando profundidade à narrativa. assim, podemos encontrar as seguintes características:

TEMÀTICA CENTRAL 1. Descritiva: A autora usa uma linguagem descritiva


detalhada para pintar imagens vívidas na mente do
A temática central do romance "Úrsula," abrange várias leitor. Ela descreve a paisagem, o estado do cavaleiro,
questões sociais, morais e psicológicas, sendo difícil resumir a a natureza ao redor e até mesmo as emoções dos
obra a uma única temática. No entanto a perspectiva do Amor e personagens de forma minuciosa.
da Vingança parece ser a mais importante haja vista que a
trama gira em torno de complexas relações amorosas e de 2. Emocional: A linguagem transmite as emoções dos
vingança entre os personagens. O amor, muitas vezes não personagens de forma profunda. O leitor pode sentir a
correspondido, é um tema recorrente, enquanto a vingança compaixão de Túlio pelo cavaleiro ferido, a gratidão do
motiva ações que têm repercussões ao longo da narrativa. cavaleiro e a tristeza de Túlio por causa de sua
O amor entre Úrsula e Tancredo domina os dez primeiros condição de escravo. A narrativa evoca empatia e
capítulos que depois segue para a possessividade de Fernando simpatia pelos personagens.
que o consome por inteiro gerando como efeito um imenso
remorso que o domina nos capítulos finais ocasionando uma 3. Simbolista: A autora usa simbolismo em várias partes
imensa tragédia para todos. para transmitir significados mais profundos. Por
Entretanto, o livro não trata apenas disso e desenvolve exemplo, a comparação do sol com um homem maligno
outras temáticas importantes, vejamos algumas delas: e a donzela e a flor que choram em silêncio podem ser
interpretadas como metáforas para as complexidades
Escravidão e Racismo: A obra aborda de maneira das emoções humanas e as injustiças da sociedade.
contundente a instituição da escravidão no Brasil do século XIX,
destacando as injustiças, crueldades e desumanidades sofridas 4. Criticidade Social: Maria Firmina dos Reis utiliza sua
pelos escravizados. O romance também examina as prosa para fazer uma crítica social à escravidão e às
consequências do racismo e da discriminação racial na desigualdades raciais da época. Através da voz dos
sociedade da época. Em personagens como Suzana e Túlio, personagens, ela chama a atenção para a crueldade da
podemos observar o quão devastador é a escravidão e como a escravidão e para a necessidade de compreensão e
vida do escravo era árdua e difícil, como no momento em que igualdade entre todos os seres humanos.
Suzana narra seu sequestro na África, como Túlio narra o
sofrimento da sua mãe em posse do comendador, como Antero, 5. Expressividade: A linguagem é expressiva e poética
o velho, que conta sobre seus vícios e dores. em muitos momentos, criando um tom melódico e
envolvente que cativa o leitor.
Remorso e Redenção: O remorso também é uma
emoção central no livro, especialmente para um dos PERSONAGENS
protagonistas, Comendador Fernando. Ele é assombrado pelos
remorsos de suas ações passadas e busca redimir-se Úrsula – filha de Luíza B. e Paulo B., uma bela moça,
espiritualmente ao entrar para o convento dos Carmelitas. ingênua que cuida da mãe paralítica, apaixona-se por Tancredo
com que vive um grande amor, mas também é alvo da
Religião e Espiritualidade: A obra explora a religião de possessão de Fernando.
maneira significativa, com personagens que buscam conforto
espiritual e redenção. O convento e as reflexões religiosas Fernando – Tio de Úrsula, irmão de Luíza B., ao longo da
desempenham um papel importante na transformação dos obra ele aparece efetivamente no capítulo 10, apesar de já
personagens. O sacerdote amigo de Fernando exerce um papel mencionado ao longo da obra como alguém que possui o rancor
de consciência alertando-o para seus crimes e maldades, chega de Úrsula. Extremamente possessivo deseja a todo custo obter
a dizer que uma das formas dele se redimir seria dar a liberdade um casamento, ao longo da obra ele revela ser o assassino de
a todos os escravos da fazenda. Paulo B., assassina Túlio, prende Suzana, o que também leva a
sua morte, mata Tancredo, e é responsável pela loucura e morte
Condição da Mulher: O romance também aborda a de Úrsula. Ao final, enclausura-se em um convento e morre com
condição limitada da mulher na sociedade do século XIX, remorso e um arrependimento assumido no último suspiro.
destacando as restrições que as mulheres enfrentavam. As
personagens femininas, como Úrsula e Luíza B., enfrentam Tancredo – a obra inicia com Tancredo caído ao chão e
desafios em busca de autonomia e felicidade, mas que quase morto, mas após ser salvo por Túlio fica no sítio de Luíza
infelizmente não conseguem. e se apaixona por Úrsula onde revela que sofrera uma imensa
A mãe de Tancredo sofre os abusos de seu pai, Luíza B. decepção amorosa por parte de Adelaide e de seu pai. Depois
sofreu nas mãos do irmão e do marido (Paulo B.), e Úrsula sofre de casar com Úrsula acaba sendo assassinado por Fernando.
pelas mãos do tio, revelando as tristes consequências de uma
sociedade dominada pela patriarcalismo e o machismo. Túlio – escarvo liberto por Tancredo após salvá-lo, é
como um fiel escudeiro de Tancredo, é assassinado na mesma
Natureza e Paisagem: A descrição da natureza e da emboscada que ceifa a vida de seu amigo.
paisagem é uma característica marcante na obra, e esses
elementos muitas vezes refletem o estado emocional dos Luíza B. – mãe de Úrsula, uma senhora paralítica que
inicia o romance bastante doente e precisando de cuidados que
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são apenas paliativos. Ela morre logo após a chegada do irmão cenário deslumbrante onde a natureza está em pleno esplendor.
ao mesmo tempo que este confessa ter matado seu marido. O cavaleiro parece estar em profunda meditação e indiferente ao
estado exausto de seu cavalo, que mal consegue se manter de
Adelaide – moça órfã que foi criada pela mãe de pé.
Tancredo, é descrita, na visão do jovem protagonista, como uma O narrador especula sobre o motivo da melancolia do
mulher dissimulada que fingi se apaixonar por ele. Quando jovem cavaleiro, sugerindo que pode estar relacionada a uma
Tancredo vai para o trabalho em outra cidade ocorre a morte da ideia ou lembrança dolorosa. O cavaleiro continua sua jornada,
mãe, no retorno para casa descobre que ela havia se casado aparentemente alheio ao cenário em seu redor.
com seu pai, ao fim do livro, no Epílogo, é revelado que Adelaide Entretanto, o cavalo, já sem energia, eventualmente cai,
agiu de má fé torturando psicologicamente sua mãe, casou-se levando o cavaleiro ao chão também. O impacto da queda
mais uma vez e teve uma vida infeliz. parece acordar o viajante de sua meditação profunda, mas é
tarde demais para evitar a queda. O cavalo morre, e o cavaleiro
Paulo B. – esposo de Luíza, apenas mencionado na desmaia devido aos ferimentos na cabeça.²
obra, tendo sido inicialmente um marido ruim tenta se redimir, Era o alvorecer do dia e entra em cena um dos
mas sem tempo, pois é assassinado por Fernando. personagens centrais que passava pelo mesmo trajeto, eis a sua
descrição:
Suzana – escrava velha do sítio de Luíza que é tida como
uma mãe para Túlio, acaba morrendo após ser presa por O homem que assim falava era um pobre rapaz, que
Fernando em duras correntes por não revelar a localização de ao muito parecia contar vinte e cinco anos, e que ria franca
Úrsula. Chega a narrar sua chegada da África no capítulo 9 e expressão de sua fisionomia: deixava adivinhar toda a
mostra a dor da escravidão e na falta de liberdade que tinha ao nobreza de um coração bem formado. O sangue africano
vir para o Brasil. fervia-lhe nas veias; o mísero ligava-se à odiosa cadeia da
escravidão; e embalde o sangue ardente que herdara de
Antero – velho africano viciado em álcool que trabalha seus pais, e que o nosso clima e a servidão não puderam
em Santa Cruz, fica responsável de vigiar Túlio que Fernando o resfriar, embalde — dissemos — se revoltava, porque se lhe
prende, mas acaba bebendo e dorme permitindo a fuga de Túlio. erguia como barreira o poder do forte contra o fraco.³

Sacerdote – convocado por Fernando para realizar um Sensibilizado pela dor do outro, mesmo quando não se
casamento forçado com Úrsula ele não tem seu nome revelado, havia esperança de alguém aparecer por ali, o negro o retirou do
ao longo da trama se torna o confessor de Fernando e é a voz a cavalo morto, foi pegar água na fazenda, passou-a em sua testa
consciência que desencadeia seu remorso. e deu-lhe de beber conseguindo com que aos poucos o jovem
rapaz recobrasse os sentidos.
Feitor branco – capataz de Santa Cruz que enfrenta A conotação religiosa permeia todo o capítulo quando
verbalmente Fernando e se nega a penalizar Suzana, ao sair indica que só Deus teria visto tal cena de piedade e de caridade.
oferece um cavalo para que a escrava fuja, mas ela não o O jovem tendo recobrado o sentido perguntou quem era
atende. aquela alma caridosa que tinha interesse em sua pessoa. O
jovem escravo, com a retidão e o medo, pediu perdão pela ação
RESUMO COMPLETO e disse que queria apenas prestar-lhe auxílio.
O jovem novamente pede por socorro, pois sentia que
Capítulo 1 tinha febre e o escravo que ainda não tinha se apresentado, diz
que poderia levá-lo a fazenda de Luíza B. e que lá seria bem
DUAS ALMAS GENEROSAS tratado.
Ao insistir no nome do seu salvador somos apresentados
O capítulo começa com uma vasta descrição da natureza, ao primeiro personagem da história. Seu nome é Túlio, um
bem ao estilo da escola romântica. O narrador estabelece uma “mísero escravo”. Túlio se lamenta pela sua condição de
relação de vários adjetivos com hipérbato para destacar os escravo, mas logo o jovem o repreende e até profetiza:
predicativos do ambiente. “São vastos e belos os nossos
campos.” — Cala-te, oh! Pelo céu, cala-te, meu pobre Túlio —
O narrador menciona a sensação de tranquilidade e interrompeu o jovem cavaleiro. — Dia virá em que os
encanto que as águas calmas e a brisa suave proporcionam aos homens reconheçam que são todos irmãos. Túlio, meu
habitantes locais, que expressam sua reverência a Deus através amigo, eu avalio a grandeza de dores sem lenitivo, que te
de cânticos de amor e saudade. Esses cânticos são descritos borbulha na alma, compreendo tua amargura, e amaldiçoo
como notas de uma harpa eólica, evocadas pelo roçar da brisa em teu nome ao primeiro homem que escravizou a seu
ou pelo sussurrar da folhagem na mata. semelhante. Sim — prosseguiu — tens razão; o branco
Conforme a estação muda e as chuvas desaparecem, a desdenhou a generosidade do negro, e cuspiu sobre a
paisagem se transforma novamente, com o leito que antes pureza dos seus sentimentos! Sim, acerbo deve ser o seu
estava sob a água se tornando um tapete verde e úmido, sofrer, e eles que o não compreendem! Mas, Túlio, espera;
adornado por flores tropicais perfumadas. As carnaubeiras altas porque Deus não desdenha aquele que ama ao seu próximo.
se curvam com o vento, criando uma cena impressionante. . . e eu te auguro um melhor futuro. E te dedicaste por mim!
O narrador destaca a beleza efêmera da vegetação e da Oh, quanto me hás penhorado! Se eu te pudera compensar
flora local, onde o orvalho noturno parece uma lágrima generosamente. . . Túlio — acrescentou após breve pausa
pendurada nas folhas, pronta para ser recolhida pelo primeiro —, oh dize, dize, meu amigo, o que de mim exiges; porque
suspiro da saudade. O sol, ao nascer, seca esse pranto, mas a toda a recompensa será mesquinha para tamanho serviço.
beleza dos campos permanece.
O narrador expressa seu amor pela solidão, enfatizando Túlio diz apenas que desejava em troca que ele sempre
como a natureza proporciona uma conexão direta com Deus. Ele tratasse os seus amigos negros e vítimas da escravidão daquela
descreve a sensação de paz e humildade que a solidão oferece, forma piedosa e bondosa, e aquilo impressionou ainda mais o
permitindo que a alma se volte para Deus e o encontre, pois resgatado.
Deus está presente em toda parte.¹ Ambos chegam à frente da casa, Túlio cansado, o jovem
Em seguida, a narrativa introduz um jovem cavaleiro que caiu em desmaio.
atravessa os campos durante uma manhã de agosto, em um

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Notas e análises:
enterneceu-se: “[...]e por isso seu coração enterneceu-se em presença
¹ Note como há o elemento religioso associado à paisagem, no
da dolorosa cena que se lhe ofereceu à vista.” - Comover-se com
contexto da obra, essa descrição extensa e bem subjetiva serve como
compaixão ou ternura. Descreve a emoção do homem ao encontrar o
uma introdução à história e aos temas que serão explorados
cavaleiro ferido e desmaiado.
posteriormente, como as relações humanas, a escravidão e a luta por
justiça e liberdade. lenitivo: “Túlio, meu amigo, eu avalio a grandeza de dores sem lenitivo,
² A cena cria um mistério em torno do personagem que te borbulha na alma” - Algo que alivia ou suaviza uma situação
desconhecido, revelando seu estado de melancolia e sugerindo que algo difícil. O jovem reconhece o sofrimento de Túlio e sua situação como
profundo e perturbador está acontecendo em sua vida. escravo.
³ nesse momento também se aproveita para analisar o martírio
do negro que andava naquele momento para identifica-lo como escravo:
“Assim é que o triste escravo arrasta a vida de desgostos e de martírios,
Capítulo 2
sem esperança e sem gozos!” E ainda aproveita para apelar a Deus: O DELÍRIO
“Senhor Deus! Quando calará no peito do homem a tua sublime máxima
— ama a teu próximo como a ti mesmo —, e deixará de oprimir com tão Novamente com elementos adjetivos “Violente, terrível e
repreensível injustiça ao seu semelhante. Àquele que é seu irmão!” espantosa...” o narrador iniciar para falar da febre que assola a
saúde frágil do rapaz. O jovem continua doente e delirando, Túlio
Esse primeiro capítulo tem um impacto narrativo único, e a
descrição da natureza é feita de forma subjetiva e intimista, como se ficava à cabeceira sempre velando por sua saúde, era um delírio
escondesse nela algo, pois reflete o mistério que havia no jovem assustador que ali estava, nesse momento nos é apresentado a
cavaleiro errante, o teor é simbolicamente religioso, pois a ação de Túlio filha de dona Luíza B., Úrsula, descrita como sendo bela assim
se assemelha a do bom samaritano. como o primeiro raio da esperança e que se comovia
Quis até mesmo comparar com algumas obras de Alencar e imensamente com a dor do doente que ali sofria:
Bernardo Guimarães, mas Úrsula antecipa esses aspectos, tendo sido
lançado em 1859, antes mesmo de Iracema (1862) e O Seminarista Era ela tão caridosa. . . tão bela. . . E tanta compaixão
(1870)
lhe inspirava o sofrimento alheio, que lágrimas de tristeza e
O que torna interessante é o porquê do título do primeiro
capítulo: Duas almas caridosas, na verdade tal elemento se encontra na de sincero pesar se lhe escaparam dos olhos, negros,
ação e na palavra, no ato de Túlio e no discurso do jovem. Túlio se formosos, e melancólicos. Úrsula, com a timidez da corsa,
revela um bom homem pela sua ação cristã, e o jovem tem um discurso vinha desempenhar à cabeceira desse leito de dores os
que reconhece a maldade da escravidão e o fato de estar em dívida com cuidados que exigia o penoso estado do desconhecido.
o escravo.
Nesse caso, a autora já insere dois elementos, ou teses centrais Depois pôs-se a tocar as mãos do rapaz que estavam
a serem desenvolvidas na trama: a primeira, o que teria acontecido ao quentes como “larvas de um vulcão”, quando ele a viu julgou
jovem? Segunda, o que ocorrerá com Túlio?
estar diante de um anjo, se ele a teria amado, chamando-se de
Na cena do resgate por parte de Túlio o narrador insere o
contexto da escravidão com imenso intimismo. A cena destaca a louco, usando termos como “assassina” e “minha pobre mãe” era
crueldade da escravidão e a falta de esperança e alegria na vida dos um série de palavras desconexas que deixavam tanto Úrsula
escravos, que enfrentam muitos sofrimentos sem a liberdade de quanto Túlio mais assustados e o escravo ainda mais temeroso
expressar suas dores. de perder o recém-amigo.
A narrativa enfatiza a importância da esperança e sugere que a Até que um nome é proferido de sua boca: Adelaide. E
verdadeira libertação pode ser encontrada apenas na eternidade. isso é o bastante para instigar ainda mais a curiosidade de
Úrsula que já a imaginava como alguém bela e demoníaca ao
Glossário do capítulo 1: mesmo tempo.
Depois ambos, o doente e a jovem dormem, ela o
exíguo esquife: "E a sua beleza é amena e doce, e o exíguo¹ esquife²,
vigiando, e partilhando os cuidados entre o hospede e sua mãe,
que vai cortando as suas águas hibernais mansas e quedas". - ¹
Pequeno, limitado. - ² Pequeno barco. – nesse trecho descreve-se o sempre debilitada, quando repentinamente ele acorda sentindo
tamanho ou espaço e referindo-se ao campo em que o cavaleiro viaja. dor no peito e Úrsula vai para acalmá-lo e medicá-lo.
Ambos se falam e o jovem rapaz expressa sua gratidão.
algente: " Expande-se-nos o coração quando calcamos sob os pés a O enfermo continua a falar em delírio, alternando entre
erva reverdecida, onde gota a gota o orvalho chora no correr da noite
lembranças de amor e momentos de desespero. Úrsula,
esse choro algente." – Gélido, muito frio.
comovida pelas palavras do enfermo, derrama uma lágrima, mas
páramos: “Quem haverá aí que se não sinta transportado ao lançar a ela passa despercebida por ele.
vista por esses vastos páramos ao alvorecer do dia” - Planícies ou áreas O enfermo fala sobre a importância do amor e como o
planas e desoladas. - Descreve o terreno onde ocorreu o acidente com o coração se enche de felicidade quando se ama alguém. Úrsula,
cavaleiro e seu cavalo.
por sua vez, fica confusa com seus próprios sentimentos,
ubiquidade: “[...] e o encontra, porque com o dom da ubiquidade Ele aí misturando sua compaixão pelo enfermo com uma sensação
está!” - Habilidade de estar presente em todos os lugares ao mesmo estranha e inexplicável, repare nesse momento:
tempo. Refere-se nesse caso ao elemento da solidão provocado pelo
ambiente e evocando o divino. — Não vedes? — prosseguiu fitando Úrsula — como
axixá: “[...] e mais belas se ostentavam, em que o axixá com seus frutos é belo amar-se! Como se nos expande o coração, como nos
imitando purpúreas estrelas esmaltava a paisagem." - Planta típica da transborda a alma de felicidade?
região, provavelmente se referindo a uma espécie de palmeira. Descreve E a moça dizia consigo — Meu Deus! Meu Deus, que é
a beleza e a vegetação exuberante da paisagem em agosto. o que eu sinto no coração que me enternece? Deve ser sem
ginete: “com a outra frouxamente tomava as rédeas ao seu ginete.” dúvida esta forçada vigília, este lidar de todos os momentos.
Cavaleiro, pessoa que monta a cavalo. Refere-se ao cavaleiro e seu O estado de minha pobre mãe. . . a compaixão que me
cavalo no momento do acidente. inspira este infeliz mancebo, tão próximo talvez da morte!. . .
Oh, terrível ideia! A morte! É ele tão jovem. . . Tão leal, e tão
baldo: "De repente o cavalo, baldo de vigor, em uma das cavidades
onde o terreno se acidentava mais,[...]" - Desprovido de força ou vigor. franca é a sua fisionomia. . . meu Deus! Seria bem duro vê-lo
Descreve aqui o estado debilitado do cavalo no momento da queda. morrer! Poupai-o, Senhor. Se eu pudesse, duplicaria os
meus cuidados para salvá-lo! Oh, se eu pudesse. . .
dardejava: “E o sol já mais brilhante, e mais ardente e abrasador, subia
pressuroso a eterna escadaria do seu trono de luz, e dardejava seus
À medida que o delírio do enfermo diminui, ele entra em
raios sobre o infeliz mancebo! - Lançar ou emitir com intensidade, no
contexto, os raios do sol. - Descreve a ação dos raios solares que iam ao um estado de alucinação mais tranquilo, onde parece estar
encontro do jovem. cercado por ilusões reconfortantes. Úrsula fica aliviada ao ver a

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sua melhora. No entanto, o enfermo tenta segurar a mão de sentimentos, ela experimentava ali o sentimento do primeiro
alguém que parece estar presente em suas visões, mas essa amor
mão escapa dele.
Nesse momento ele vislumbra o amigo Túlio, e começa a Úrsula, malgrado seu, experimentava todo o fogo de
refletir sobre a escravidão e a liberdade, e como tal liberdade um primeiro amor, bem o conhecia, e revoltava-se contra
pode se fazer a mente, através da imaginação, como o escravo esse sentimento, que supunha não ser compartilhado, e
que, cativo em terra alheia, sonha com o seu sertão africano. atribuía-o a simples amizade. Embalde o coração lhe gritava,
Ele compartilha a visão de que a mente humana é livre e esclarecendo- a, ela julgava-se humilhada; reassumia toda a
que, mesmo em condições de escravidão, o pensamento pode sua dignidade em face do cavaleiro, e só na solidão
voar para longe da realidade opressora. derramava o pranto de amargo e oculto padecer.
Túlio chora, e naquele momento o jovem volta a dormir
estando mais frio como nunca, seria a febre a acabar? Ou a Ela realizava passeios matinais secretos pela mata, onde
morte a o levar? Túlio e Úrsula estão agora conectados àquele buscava alívio para seus pensamentos. Sua mãe apreciava sua
jovem tão romântico, ao mesmo tempo tão misterioso e gentileza e cuidado. No entanto, os problemas de saúde da mãe
enigmático e dia após dia redobraram seus cuidados, e no pioravam a cada dia.
fundo, mesmo sempre dormindo em acalento, um sentimento O cavaleiro, quase totalmente recuperado, estava prestes
misterioso e novo também nascia no peito do jovem rapaz. a partir, mas ele não podia fazê-lo sem explicar algo a Úrsula. A
partida dele se aproximava, e ele não conseguia evitar a
Notas e análises saudade.
Nesse capítulo, o narrador cria uma atmosfera densa e Nessa manhã, Úrsula, mais cedo do que o habitual,
misteriosa, introduzindo elementos de intriga e drama emocional. Os aventurou-se profundamente na mata e descansou sob uma
delírios do enfermo e a compaixão de Úrsula estabelecem uma base grande árvore de jatobá. Ela estava oprimida por uma profunda
para o desenvolvimento dos personagens e a progressão da trama. A
angústia.
autora soube genialmente utilizar a natureza e a noite como elementos
simbólicos para realçar as emoções e os conflitos internos dos Ela é surpreendida por um homem, o cavaleiro
personagens, criando assim uma narrativa rica em atmosfera e convalescente, que antes de declarar sua partida, ajoelha-se e
sentimentos. Além disso há os elementos não ditos que ainda nos põe se declara apaixonado por ela. Úrsula fica inicialmente
em curiosidade e há mais deixas para questionamentos do que assustada, mas depois de uma conversa emocional, ela também
respostas: quem é Adelaide? Por que sua mãe foi citada? O que ocorreu confessa seu amor por ele. O cavaleiro compartilha sua história
para ele estar assim? E o mais importante: qual o nome desse homem de amor passado e como Úrsula o curou desse amor anterior,
que ali sofre? que era doloroso.
Ele pede que Úrsula o aceite e o ame em troca. Ela
Glossário do capítulo 2: concorda e também promete amá-lo profundamente. O capítulo
termina com o cavaleiro prestes a contar a Úrsula a história de
Noitibó, acauã – “ou pelo gemido triste de sentido noitibó, ou os
sua vida, particularmente sobre sua mãe.
agoureiros pios do acauã.” – O noitibó é uma ave noturna, pertencente à
família dos caprimulgídeos, conhecida por seu canto triste e melancólico
durante a noite. É frequentemente associado a ambientes noturnos e Notas e análises
misteriosos. O acauã é outra ave noturna, também conhecida por seu ¹ Interessante notar nessa passagem como a tristeza pela parte
canto noturno característico. É uma ave típica das regiões da América do da noite influencia seus pensamentos ao molde do romantismo, ela
Sul, especialmente do Brasil. A palavra "acauã" é mencionada para ansiava pelo dia que lhe traria mais felicidade.
descrever o som que se une ao gemido do noitibó, contribuindo para a
atmosfera silenciosa e melancólica da noite nos bosques. Glossário do capítulo 3
patentear – “e a donzela não se envergonhava de o patentear.” – tornar
engolfava – “Pobre menina! Toda entregue a uma preocupação,
algo evidente, claro ou manifesto, geralmente por meio de ações,
cuja causa não podia conhecer ainda, engolfava-se de dia para dia em
expressões ou demonstrações. Também pode se referir a revelar ou
mais profunda tristeza.” – O termo "engolfava" refere-se a um processo
mostrar algo abertamente. No trecho, Úrsula não se envergonha de
de afundamento ou imersão profunda em algo, muitas vezes
mostrar abertamente seus cuidados e compaixão pelo jovem enfermo.
descrevendo um estado de absorção ou envolvimento completo. No
Ela expressa sua preocupação e carinho de forma visível, sem tentar
contexto do trecho, indica que a personagem estava afundando cada vez
esconder seus sentimentos.
mais em sua tristeza, sem compreender completamente a causa.

Capítulo 3 eflúvios, cândido, langor - “[...]fazendo-lhe vibrar nas suas


cordas todos os simpáticos eflúvios¹ que emanavam do peito cândido² e
DECLARAÇÃO DE AMOR descuidoso da virgem. Esse alguém amava a palidez de Úrsula, esse
alguém adorava-lhe a suave melancolia, e o doce langor³ de seus negros
Vários dias se passaram, e o estado de saúde do olhos[...]” – ¹ influências ou emanações sutis e muitas vezes
hóspede de Luíza B. estava melhorando. Túlio, o jovem negro, e imperceptíveis que podem afetar alguém ou algo. No trecho, os eflúvios
a bela Úrsula cuidavam dele e do ambiente saudável da região são descritos como provenientes do peito cândido, ou seja, ²puro da
contribuía para sua recuperação. No entanto, o cavaleiro falava virgem, sugerindo uma conexão emocional ou espiritual. ³ se refere a
sobre sua partida iminente, o que entristecia Úrsula. uma sensação de fraqueza, fadiga ou languidez. Pode também estar
Túlio havia sido alforriado pelo mancebo em associado a um estado de melancolia suave e tranquilidade, como
agradecimento por sua dedicação. Agora, Túlio estava livre e mencionado no trecho.
disposto a segui-lo para onde quer que fosse. A relação entre os louça – “[...]tão bela, tão pura, tão ingênua e tão louçã,[...]” –
dois era marcada por profunda gratidão chegando a causar uma adjetivo que descreve algo que é belo, puro, delicado e imaculado. No
certa inveja a garota confusa de seus sentimentos. trecho, é usado para caracterizar Úrsula, sugerindo sua beleza e pureza.
Enquanto a saúde do hóspede melhorava, a mãe de exprobava, acremente - “lembrando-se de sua mãe, que tudo
Úrsula estava cada vez mais doente, aproximando-se da morte. ignorava, exprobava¹-se a si acremente² de tão leve procedimento.” – ¹
Úrsula cuidava dela com carinho, mas sua própria melancolia adjetivo que descreve algo que é belo, puro, delicado e imaculado. No
aumentava a cada dia.¹ Ela passava noites inquietas e trecho, é usado para caracterizar a virgem, sugerindo sua beleza e
contemplava amanheceres pensativos. pureza. ² "Acremente" é uma palavra que modifica o verbo "exprobava" e
A jovem não conseguia entender a causa de seus indica que a personagem estava se censurando ou repreendendo de
sentimentos e estava perdendo sua alegria juvenil. Alguém forma severa e amarga por sua ação leve. Significa que ela estava
sendo muito dura consigo mesma.
observava essa transformação nela com amor e apreciava sua
melancolia e palidez, mas Úrsula não compreendia seus próprios

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Capítulo 4 2. Casamento arranjado e interesses financeiros: A oposição
do pai de Tancredo ao casamento com Adelaide também destaca como
A PRIMEIRA IMPRESSÃO os casamentos eram frequentemente arranjados por razões financeiras e
sociais. O pai vê Adelaide como uma órfã sem fortuna e, portanto,
Aqui se inicia a história contada pelo jovem, alegava que inadequada para seu filho.
relembrar tal fato lhe trará imensa dor, mas que amor a ela
assim o fará. Tendo ele se separado de sua terra natal e de sua 3. Submissão das mulheres: A mãe de Tancredo, por outro
mãe, foi cursar Direito em São Paulo e lá permaneceu por seis lado, representa a figura feminina típica daquela época, caracterizada
por sua submissão ao marido. Ela se esforça para apaziguar seu
meses, tempo esse que nutriu uma imensa saudade pela mãe e
esposo, mesmo diante de seu tratamento desumano, e tenta persuadi-lo
tendo recebido o diploma voltou para os braços dessa mulher a a aceitar o desejo de seu filho. Sua falta de poder e influência na tomada
quem ele tanto amava. de decisões familiares reflete a realidade de muitas mulheres na
No entanto, ao vê-la percebeu que ela estava abatida, sociedade patriarcal.
mas depois tal suposta desfalecimento foi substituído pela
alegria de ver o filho e foi então que a mãe apresentou Adelaide, 4. Amor e casamento por escolha: A história de amor entre
moça e dama de companhia a qual mãe jurou proteger e cuidar Tancredo e Adelaide contrasta fortemente com o casamento arranjado e
e pediu que o filho fizesse o mesmo. O rapaz beijou a mão da as pressões sociais. Eles representam a ideia crescente de que o amor
deveria ser uma parte central do casamento, em oposição às uniões
mãe alegando tal promessa. Nessa hora conhecemos o seu
baseadas apenas em interesses materiais ou familiares. No entanto, a
nome, Tancredo. resistência do pai de Tancredo destaca o desafio que casais
enfrentavam ao tentar seguir seus próprios desejos românticos em uma
O pai veio cumprimentá-lo, contudo fala que não sociedade onde o poder paterno era supremo.
sentia pelo pai o mesmo amor pela mãe, pois era ele um
tirano e sua mãe, uma vítima da crueldade paterna. É incrível vermos como a autora genialmente nos coloca em um
É que entre ele e sua esposa estava colocado o mais enredo envolvente, com o pai como um vilão, rígido e desalmado que
despótico poder: meu pai era o tirano de sua mulher; e ela, contrasta com a figura bondosa da mãe. Tais elementos de um membro
da família cruel serão vistos mais tarde em O Seminarista, em que o pai
triste vítima, chorava em silêncio, e resignava-se com
de Eugênio proíbe o amor dele com Margarida, em Helena, de Machado
sublime brandura. de Assis, em que a mãe de Jorge o obriga a ir para a Guerra do
Meu pai era para com ela um homem desapiedado e Paraguai para esquecer Estela e fazê-la se casar com outro, em O
orgulhoso — minha mãe era uma santa e humilde mulher. Cabeleira, em que o pai, cangaceiro, retira o filho do seio materno para
Quantas vezes na infância, malgrado meu, torná-lo bandido o que o afasta de Luísa, todos esses exemplos foram
testemunhei cenas dolorosas que magoavam, e de louca de livros publicados anos depois de Úrsula.
prepotência, que revoltavam! E meu coração alvoroçava-se
nessas ocasiões apesar das prudentes admoestações de Capítulo 5
minha pobre mãe. A ENTREVISTA
Tanto que o pai, por ciúmes da mãe não deixara, nos seis Tancredo interrompe a história para expressar sua
de curso fora de casa, o filho fazer visitas apenas para maltratar profunda dor a Úrsula devido à humilhação que ele e sua mãe
a esposa que chorava de saudades suas. Agora era diferente, e sofreram nas mãos de seu pai. Ele explica como tentou chorar
ele estava de volta, gostava de ver Adelaide e tinha por ela diante de sua mãe, que aceitou a situação com humildade e
grande afeição e gostava pelo fato de que a moça dava alegria à resignação, enquanto ele próprio estava cheio de indignação.
sua mãe. Adelaide, a jovem por quem Tancredo está apaixonado,
Descobriu ao longo do tempo que estava apaixonado está presente e pede que a discussão e o sofrimento parem. Ela
pela jovem órfã, e depois declarou seu amor, mas Adelaide teria restitui os votos de Tancredo e pede que não desafie a cólera do
dito que era pobre e que o pai não permitiria tal união. pai.
A mãe, ao saber do amor de ambos, estremeceu de Tancredo se oferece para sacrificar seu amor por
medo, pois sabia que o pai não permitiria tal casamento, mas Adelaide para evitar o sofrimento de sua mãe, mas ela recusa
Tancredo acreditava que o pai não lhe negaria o único pedido de essa oferta e chora, nesse momento Tancredo nos concede uma
sua vida, não mesmo. oferta de uma ação futura e cruel, note:
No dia do aniversário de Adelaide, o jovem iludido pelo
amor, quis falar seu pedido ao pai, mas a mãe disse que iria em — Úrsula, minha Úrsula, só agora sei que essa mulher
seu lugar e ele ficou a ouvir a conversa dos dois. mentia, que suas lágrimas eram encadeadas¹ aleivosias², e
O que ele ouviu foi aterrador. Percebeu ele que o pai era suas palavras refalsadas³ como o seu coração.
mais cruel do que o imaginado, um homem vil e desumano,
maltratou a esposa e não consentiu em sua união, por mais que Tancredo então procura seu pai para obter sua permissão
a mãe argumentasse ele ordenou que se retirasse de sua frente para se casar com Adelaide. Seu pai, inicialmente com uma
e ela obedeceu. expressão de ódio, concorda em ouvir o motivo da visita de
Tancredo, ao longo da conversa ele vai se acalmando e
Notas e análises: tentando explicar para o filho a procedência do pai de Adelaide,
Esse capítulo é uma excelente oportunidade para se analisar o
mas o jovem corta a conversa e insiste no casamento.
aspecto feminino dentro da obra principalmente por oferecer um
vislumbre vívido das questões patriarcais e das normas sociais Tancredo explica seu amor por Adelaide e pede a
relacionadas ao casamento que prevaleciam na época em que a história permissão de seu pai para casar com ela. Seu pai concorda,
se passa. mas com a condição de que eles esperem um ano antes do
Quatro pontos não podem passar despercebidos: casamento e aproveita para lhe chamar a atenção para a
seriedade do casamento e o papel da mulher no matrimônio:
1. Patriarcado e Poder Masculino: o personagem masculino,
no caso, o pai de Tancredo, a qual seu nome não é revelado, detém um - [...] A esposa que tomamos é a companheira eterna
poder quase absoluto sobre a família. Ele toma decisões importantes,
dos nossos dias. Com ela repartimos as nossas dores, ou
como quem seu filho deve ou não se casar, sem levar em consideração
os desejos ou sentimentos de outros membros da família, incluindo sua os prazeres que nos afagam a vida. Se é ela virtuosa,
esposa. Isso ilustra como, naquela época, os homens frequentemente nossos filhos crescem abençoados pelo céu, porque é ela
exerciam autoridade desmedida sobre as vidas e as escolhas de suas que lhes dá a primeira educação, as primeiras ideias de
esposas e filhos. moral; é ela enfim que lhes forma o coração, e os mete na
carreira da vida com um passo, que a virtude marca. Mas, se

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pelo contrário, sua educação abandonada torna-a uma Tancredo fica arrasado e acusa Adelaide de traição
mulher sem alma, inconsequente, leviana, estúpida, ou alegando inclusive que sua mãe teria morrido provavelmente
impertinente, então do paraíso das nossas sonhadas devido à tristeza e ao sofrimento causados por essa situação.
venturas despenhamo-nos num abismo de eterno desgosto. Ele confronta seu pai e Adelaide, expressando seu
profundo desgosto e amaldiçoando a tal madrasta, enquanto
O pai novamente tenta alertar para o fato de que Adelaide isso, a recém desposada ordena ao pai que o retire da sala, o
era muito nova e ele ainda não a conhecia, e novamente o filho o pai fica sem reação apenas olhando para o chão, o clima fica
interrompe. Depois o pai apresenta a Tancredo uma oferta de intenso quando Tancredo alega que o pai havia sido um tirano
emprego que o levará para longe de sua província natal, alega para um mulher santa e que agora era um covarde para uma
que não poderá rejeitar tal trabalho. mulher demoníaca e continua a amaldiçoá-la:
Tancredo fica devastado com a notícia de que será
exilado de sua terra natal e pede a seu pai que ele possa se Mulher odiosa, eu vos amaldiçoo! Por cada um dos
casar com Adelaide antes de partir. Seu pai fica furioso e exige transportes de ternura, que outrora meu coração vos deu,
que Tancredo aceite a condição imposta anteriormente. tende um pungir agudo de profunda dor; e dor, que me
O capítulo termina com Tancredo aceitando a condição dilacera agora a alma, seja a partilha vossa na hora
de seu pai, embora com relutância e dor em seu coração. derradeira. Por cada uma só das lágrimas de minha mãe
choreis um pranto amargo, mas árido como um campo
Notas e análises: pedregoso, doído como a desesperação de um amor traído.
¹ ato de ligar ou conectar algo em uma sequência ordenada E nem uma mão, que vos enxugue o pranto, e nem uma voz
² ações ou palavras traiçoeiras meiga, que vos suavize a dor de todos os mo- mentos. O fel
³ ato de tornar algo falso. de um profundo, mas irremediável remorso, vos envenene o
Este capítulo destaca os conflitos familiares, as emoções
futuro e o desejado prazer, e no meio da opulência e do
intensas dos personagens e a pressão social que afeta suas escolhas.
Ele também mostra a complexidade das relações entre os personagens luxo, firam-vos sem tréguas os insultos de impiedosa sorte.
e as decisões difíceis que precisam tomar em nome do amor e do dever. Arfe o vosso peito, e estale por magoados suspiros, e
Entretanto a função central desse capítulo é jogar luz no caráter ambíguo ninguém os escute; e sobre esse sofrimento terrível cuspam
que permeia a personalidade de Adelaide, o narrador mostra indícios de os homens, e riam-se de vós.
que a experiência amorosa será mais desastrosa do que feliz, o que leva
novamente o leitor a curiosidade e mantê-lo preso ao próximo capítulo. Ele se retirou da casa e encerrou a história para Úrsula
que concedeu sua mão para ele a beijasse.
Capítulo 6
A DESPEDIDA Capítulo 8
LUÍZA B.
Em um capítulo bastante curto em relação aos demais, a
mãe fica sabendo das condições impostas e da repentina ida do Esse capítulo se concentra em Luiza B., mãe de Úrsula,
filho, o que a põe ainda mais em pranto. como já dito anteriormente, a mãe de Úrsula padecia por uma
Sobre Adelaide ele alega que o sentimento de sofrer não grave doença, era paralítica e essa condição fragilizou bastante
era verdadeiro e ao pai pediu para que aliviasse a dor da mãe sua saúde.
em sua ausência e que cuidasse de sua futura esposa. A filha tinha demorado ao encontro da mãe por conta da
O capítulo culmina com Tancredo se despedindo de sua conversa com Tancredo, ela expressou preocupação sobre o
mãe e de Adelaide. Apesar de sua determinação em não ceder à jovem que desejava ir embora e tal lembrança a magoou ainda
emoção, ele acaba chorando diante delas. O último olhar de mais.
Adelaide é descrito como “cheio de ternura” e “dor”, pois ela O jovem entrou na sala para cumprimentar a senhora que
compreende a gravidade da situação e a incerteza do futuro. cuidara de sua saúde e a mãe de Úrsula passou a vê-lo e tentou
até mesmo ler seu coração.
Capítulo 7 Viu como alguém bom e pensou em pedir que cuidasse
ADELAIDE de sua filha, mas hesitou, o jovem insistiu que ele pedisse o que
desejasse.
Tancredo reflete sobre sua vida no exílio e a ausência de Ela então pediu que cuidasse de sua filha, alegou
notícias de Adelaide. Ele relembra a correspondência que também que seu irmão F de P. tinha por ela imenso ódio. O
recebia de sua mãe e como essa correspondência diminuiu motivo? Havia se casado com alguém inferior a escala da
gradualmente até cessar completamente. A falta de notícias o família.
deixou angustiado, mas ele se recuperou de uma doença grave Tendo despertado o ódio do irmão, o marido lhe trouxe
e decidiu voltar para casa. grandes infelicidades até ter Úrsula. A paternidade, transformou-
Antes de retornar à sua terra natal, Tancredo escrita com o, o que o fez querer reaver o dinheiro gasto com os vícios e os
letras frágeis, como se houvesse dificuldade em escrevê-la, uma amores banais. Infelizmente, não teve tempo, pois o marido
carta de sua mãe, mas não acusa seu pai de nada e não havia acabou sendo assassinado e o irmão vingativo comprou a dívida
mencionado Adelaide. Ele também lê cartas de seu pai e de da fazenda, elas viviam a mercê dele.
amigos, e descobre de fato que aquela carta de sua mãe tinha Tancredo também se identifica, o seu sobrenome revela
sido a última, ela estava morta. uma posição social rica e bem estabelecida o que deixa Luiza
O jovem cavalgou intermitente por quinze dias e ao ainda mais surpresa.
chegar sentiu o clima fúnebre do ambiente. Além disso, Úrsula revela o seu amor a ele e ele deseja
Quando finalmente encontra Adelaide em sua casa, fica desposar Úrsula, a mãe não quer conceder a mão da filha, pois
encantado com sua beleza, chega por um instante a esquecer eles eram de posição mais baixa que a dele.
sua dor, mas sua felicidade é efêmera. Adelaide se mostra fria e Entretanto, após a insistência de ambos a mãe os pede
distante, e diz: que se ajoelhem e assim abençoa o casal concedendo a tão
sonhada promessa de um casamento.
— Tancredo, respeitai a esposa de vosso pai!

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Capítulo 9 A narrativa de Suzana ressalta a resiliência e a luta dos
escravizados por liberdade e dignidade. Túlio, também representa essa
A PRETA SUZANA busca por liberdade ao escolher seguir o senhor Tancredo em busca de
uma vida melhor.
Para mim, um dos mais belos capítulos desse romance,
Túlio irá partir com Tancredo e fora se despedir de sua “mãe” Glossário do capítulo 9
Suzana, uma velha senhora e fiadeira da fazenda. A preta o
recrimina e chama-o de ingrato, pois em breve Úrsula ficará rutilante – “via despontar o sol rutilante e ardente do meu país” - algo
sozinha e ela também tem pouco tempo naquele mundo, quem que brilha intensamente. – Nesse trecho Suzana descreve o seu país
cuidaria da jovem moça? Ainda mais pelo fato de que dona Luiza antes de ser capturada.
B. tratara-o como filho.
Túlio pede perdão, e diz que não estava trocando um Capítulo 10
cativeiro por outro, pois Tancredo havia sido alforriado pelo NA MATA
jovem rapaz, ele tinha enfim liberdade. Isso comove
imensamente Suzana que até chora, Túlio se sente mal por A história se desenrola com Úrsula, a protagonista,
despertar tamanha mágoa, mas a velha diz tais lágrimas a experimentando uma mistura de emoções. Ela sente uma
faziam recordar de que também provara da liberdade.¹ saudade profunda de Tancredo, o homem que ama, mas que
A velha começa a contar sua história, no tempo da está prestes a partir. Esta saudade é temperada pela esperança
colheita de milho e amendoim de sua terra africana, era moça, de um reencontro, pois ambos compartilharam seus sentimentos
virtuosa, havia casado com um homem a quem muito amara, e paixão.
tivera um filho a quem muito lhe tinha amor, mas um dia, em O capítulo começa com Úrsula despedindo-se de
meio a colheita, ouvira um assobio, e por um momento de Tancredo, que está prestes a partir. Ambos têm um amor
descuido se vira amarrada por cordas, mesmo implorando pela intenso, mas sua despedida é repleta de tristeza e ansiedade.
liberdade os homens riam dela e veio para uma terra Tancredo promete retornar em breve, e Úrsula fica com a
desconhecida, sofrer maus-tratos e abusos, narra com amargor lembrança de seu amado.
a vinda de 30 dias passando fome, bebendo água podre e vendo No entanto, enquanto Úrsula está imersa em suas
muitos dos seus morrerem, ela assim diz: reflexões e saudades, ela se aventura na mata, onde Tancredo
havia confessado seu amor a ela anteriormente. Lá, ela começa
Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros a chorar e a lamentar a partida de Tancredo. Ela se lembra de
de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um seus momentos juntos e entalha o nome dele em uma árvore
navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de como um ato de carinho.
tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa Enquanto Úrsula está na mata, um tiro de arcabuz é
sepultura, até que abordamos às praias brasileiras. Para disparado, assustando-a. Ela encontra uma perdiz ferida e
caber a mercadoria humana no porão fomos amarrados em agonizante, e seu coração se enche de compaixão pela ave que
pé, e, para que não houvesse receio de revolta, chega a abraçá-la em seu peito sujando seu vestido. Neste
acorrentados como os animais ferozes das nossas matas, momento, um homem desconhecido aparece diante dela, e ela
que se levam para recreio dos potentados da Europa: fica assustada e perturbada por sua presença enquanto o
davam-nos a água imunda, podre e dada com mesquinhez, a homem misterioso a olhava com imenso afeto e carinho.
comida má e ainda mais porca; vimos morrer ao nosso lado O desconhecido tenta se comunicar com Úrsula, mas ela
muitos companheiros à falta de ar, de alimento e de água. É inicialmente o rejeita, sentindo medo e desconfiança. No entanto,
horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus ele insiste e revela seus sentimentos por ela, chama-a pelo
semelhantes assim, e que não lhes doa a consciência de nome e vai expressando um amor intenso e pedindo seu afeto
levá-los à sepultura asfixiados e famintos! em troca. Úrsula se sente pressionada pela presença e pelas
Muitos não deixavam chegar esse último extremo — palavras do desconhecido, mas mantém sua distância e pede
davam-se à morte.² para ser deixada em paz. Ele é assim descrito:

Chegando ao Brasil fora comprado pelo comendador P., Esse homem não estava no verdor dos anos; mas sua
homem cruel que torturava e maltratava os escravos, depois fisionomia, suposto que severa e pouco simpática, nessa
houve o casamento de dona Luiza B. e viu a mulher também hora crepuscular, que dá certa sombra a toda a natureza,
sofrer pela forma como o marido tratava os escravos, quando ele não denunciava a sua idade. A pele sem rugas, os olhos
morreu, dona Luíza passou a tratá-los melhor, mas a magia e a negros e cintilantes, tinham um quê de belo, mas que não
saudade de sua liberdade eram insubstituíveis.³ atraía. Era de estatura acima da medíocre, esbelto, e bem
“Túlio ajoelhou-se respeitoso ante tão profundo sentir” e conformado; e as feições finas davam-lhe um ar
mãe Suzana abençoou sua partida. aristocrático, que, quando não atrai, sempre agrada.

Notas e análises O homem misterioso diz ser amigo de sua mãe e até se
¹ Na literatura do século XIX, especialmente no contexto do emociona ao citá-la, mas ela o repreende dizendo que sua mãe
Romantismo, as vozes negras eram frequentemente silenciadas ou
sofrera muitas amarguras e que não tinha amigos.
retratadas de maneira estereotipada. Maria Firmina dos Reis, como uma
das primeiras escritoras negras no Brasil, quebrou essa tendência ao dar O capítulo termina com o desconhecido implorando a
voz à personagem Suzana, uma escrava negra. Isso é notável porque Úrsula que não o odeie e afirmando que seu amor é ardente e
permitiu que os leitores vissem a perspectiva e as experiências das respeitoso chegando a se ajoelhar e dizer que a partir daquele
pessoas escravizadas sob uma luz humanizada e autêntica, aspecto momento seria seu escravo.¹ No entanto, Úrsula continua a se
esse que só veriam duas décadas depois em Castro Alves. sentir angustiada e desconfortável com a situação, enquanto o
² Isso funciona como uma denúncia contundente da crueldade e desconhecido expressa sua paixão e desejo de conquistá-la. O
desumanidade do sistema escravista. homem pede o amor em nome de sua mãe, e ainda pede uma
³ O capítulo também destaca a complexidade das relações entre
palavra que o anime, mas ela diz que não poderá ceder tal
senhores e escravos. Enquanto Suzana critica a crueldade de alguns
senhores, ela também elogia a bondade da Senhora Luíza B. e sua filha. palavra e pede que se identifique.
Isso demonstra que as relações entre senhores e escravos não eram Ele diz que não poderá fazê-lo, pois se ela soubesse
unidimensionais, mas sim nuances e afetadas pela personalidade e quem era, preferia que fosse amado como um desconhecido e
caráter individual de cada pessoa. até chega em alguns momentos a trocar as palavras doces por
ameaças do tipo:

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O narrador adentra no espírito de Fernando, inclusive a
Rogai ao céu — acrescentou —, meiga e inocente forma como tratava os escravos da casa, observe:
donzela, rogai ao céu para que vos possa esquecer; porque
se o meu amor prosseguir assim, extremoso, indomável, Fernando combatia a dezoito anos o poder desse
apaixonado, haveis de ser minha, porque ninguém me amor fraterno, e seu orgulho conseguiu por algum tempo o
desdenha impunemente. Ouvis? que o coração repugnava, o que a razão e a inteligência
condenavam, e o que ele sentia dolorosamente, porque só
Úrsula se retira da floresta prometendo a si mesma nunca nesse afeto lhe estava a ventura de toda a sua vida.
mais voltar lá. O homem fica a refletir sobre a donzela Úrsula E para vencer-se obstinadamente evitava a vista de
quando ele diz: sua irmã, a que não poderia resistir, para bem saciar a sua
vingança, para bem flagelar-se, flagelando-a na sua
— Mulher! Anjo ou demônio! Tu, a filha de minha desgraça.
irmã! Úrsula, para que te vi eu? Mulher, para que te amei? Fernando tinha vivido solitário, e desesperado com
Muito ódio tive ao homem que foi teu pai: ele caiu às minhas essa luta terrível do coração com o orgulho: e esses
mãos, e o meu ódio não ficou satisfeito. Odiei-lhe as cinzas; desgostos íntimos, que ele próprio forjava, o tinham
sim odiei-as até hoje; mas triunfaste do meu coração, embrutecido, e tanto lhe afeiaram a moral, que era odiado, e
confesso-me vencido, amo-te! Humilhei-me ante uma temido de quantos o praticavam ou conheciam de nome.
criança, que desdenhou-me e parece detestar-me! Hás de Ele tornara-se odioso e temível aos seus escravos:
amar-me. Humilhado pedi-te o teu afeto. Maldição! Paulo B., nunca fora benigno e generoso para com eles; porém o
estás vingado! ódio, e o amor, que lhe torturavam de contínuo, fizeram-no
uma fera, um celerado.
Sim, o homem em questão é o tio de Úrsula F. de P *** Nunca mais cansou de duplicar rigores às pobres
citado no capítulo anterior. criaturas que eram seus escravos! Apraziam-lhe os
sofrimentos destes porque ele também sofria.¹
Notas e análises
¹ nota-se aqui uma situação de vassalagem amorosa, em que Para Úrsula a percepção era a mesma e o temor da
o homem não tendo o amor de sua amada deseja ao menos servi-la morte da mãe jogava ela em um abismo de aflições, se ela
como escravo para se manter próximo. morresse o homem iria querer se casar com ela, e Fernando
Nesse capítulo, a autora explora as emoções complexas de
triunfaria, para ela, ele não passava de um aproveitador.
Úrsula, sua saudade e esperança em relação a Tancredo, e a introdução
de um elemento misterioso na história com a aparição do desconhecido, Foi quando veio ao encontro de Úrsula a preta Suzana
que parece nutrir um amor obsessivo por ela justo quando Tancredo aos prantos dizendo que a mãe, dona Luíza B. estava a falecer e
parte. A narrativa enfoca os conflitos emocionais e as tensões que precisava dar o último adeus ao grande amor de sua vida, sua
Úrsula está enfrentando, enquanto também introduz intrigas adicionais à filha amada. A cena termina com Úrsula sendo levada para ver
trama. sua mãe, enquanto enfrenta uma mistura de emoções e
preocupações.
Capítulo 11
O DERRADEIRO ADEUS Notas e análises
¹ Neste capítulo, Maria Firmina brinca e nos confunde, será que
Fernando está tão arrependido assim, ele teria mesmo mudado? Havia
Úrsula está passando por uma série de emoções de fato remorso em suas falas e ações? O narrador nos enceta duas
conflitantes. Ela se sente sobrecarregada com as reviravoltas visões, a visão da alma, por dentro de suas ações perversas movidas
que ocorreram em sua vida. Inicialmente, ela estava feliz com o pelo sofrimento e a visão de Úrsula que tem pelo tio um imenso rancor
amor de Tancredo, mas agora está perturbada por um encontro pelo que fizera a sua mãe. Sendo assim fica o ponto, se Fernando faz
na mata com um homem misterioso e ameaçador. sofrer sofrendo, se ele for rejeitado, será um vilão ou um homem que
Úrsula se preocupa com as palavras apaixonadas e busca perdão? Tudo isso nos é jogado e deixado para pensar, ou
ameaçadoras do homem da mata, temendo que ele represente melhor, para ler nos próximos capítulos.
uma grande desgraça para ela. Ela também se recorda das
manchas de sangue em suas roupas, que a perturbaram Capítulo 12
profundamente. FOGE!
A personagem deseja que Tancredo a proteja contra esse
homem desconhecido e acredita que o amor dele lhe dará forças Em um curto capítulo, temos o diálogo derradeiro de mãe
para enfrentar as ameaças do estranho. e filha, a mãe moribunda fala que o irmão veio lhe pedir perdão,
No entanto, Úrsula é atormentada por pesadelos durante pois tinha algo para falar, Fernando havia lhe confessado que no
a noite, nos quais o homem misterioso a assombra. Ela luta para passado havia assassinado o pai de Úrsula e que agora, a filha o
encontrar paz e se desespera com a visão do homem rejeitava, mas ele queria mostrar tal arrependimento cuidando de
ameaçador. Úrsula no sentido de tê-la como esposa.
A situação piora quando Úrsula recebe uma carta de seu O pior ainda vem por aí, a mãe revela que Fernando após
tio, o nome de Fernando nos é trazido ao final da assinatura. sair da presença da irmã iria à cidade para voltar com um
Luíza, sua mãe, fica preocupada com o motivo da visita de seu sacerdote e executar o casamento à força com Úrsula.
irmão e teme que ele ainda busque vingança, mas a carta A moça entra em desespero e sua mãe roga
expressa um tom imenso de arrependimento e retidão, dona
Luiza fica em dúvida, mas a moça duvida de tal boa vontade, — Úrsula, minha filha, teme a cólera de Fernando;
Úrsula também fica apreensiva e se pergunta por que Fernando mas sobretudo teme e repele seu amor desenfreado e
está perturbando a paz de ambas naquele momento. libidinoso. Meu Deus, perdoai-me se peco nisto. . .
Quando Fernando chega, repentinamente após a Aconselho-te. . . . que fujas. . .Foge, minha filha. Foge!
conversa de Luiza e Úrsula, e se agarra ao peito da irmã, ele e
Luíza têm um encontro emotivo e surpreendente, e Úrsula entra Úrsula vê a vida de sua mãe se esvair, partir, ela chora
em pânico, reconhecendo nele o homem misterioso da mata e copiosamente pela perda da mãe e devido a triste ideia de se ver
temendo por sua segurança, isso acarreta ainda mais o forçada a casar com Fernando.
desespero e ansiedade na menina. Pela manhã o corpo de dona Luíza atravessa a fazenda
em direção ao cemitério.

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para chegar até ela. Ao longo do caminho, ele expressa seu
Notas e análises amor profundo por Úrsula e sua impaciência em revê-la.
Nesse momento temos a certeza das reais intenções de Tancredo está acompanhado por Túlio que lhe oferece
Fernando, o amor que possui por Úrsula não passa de uma um caminho mais rápido pela fazenda Santa Cruz, o ex escravo
possessividade, a verdade em seu arrependimento, mas há uma má tem lembranças dolorosas da fazenda de Santa Cruz, onde sua
intenção no casamento forçado com Úrsula, e se a mãe a mandou fugir
mãe, uma escrava, sofreu terrivelmente nas mãos do cruel
era porque sabia que não tinha como Úrsula resistir ao casamento.
Comendador Fernando P., chegando a chorar e ter tais lágrimas
compartilhadas por Tancredo.
Capítulo 13 Enquanto Tancredo e Túlio se aproximam da fazenda de
O CEMITÉRIO DE SANTA CRUZ Santa Cruz, Túlio compartilha a triste história de sua mãe e
como ela foi submetida a tratamentos brutais e separada dele
Inicia-se com a descrição do cenário como uma tarde que quando criança. Ele também revela que Fernando P., o
encapsula toda a beleza, luxúria e poesia do equador. A comendador, comprou as dívidas que o marido de Luíza B.
descrição sugere uma tarde de cores vibrantes, com o sol se deixou com o objetivo único de reduzi-las à miséria.
pondo e a lua surgindo no horizonte. Os últimos raios de sol se
misturam com os raios prateados da lua de agosto, criando um Deveis saber que esse homem amaldiçoado comprou
ambiente mágico. as numerosas dívidas que meu senhor legou à órfã e à sua
O capítulo se passa no cemitério de Santa Cruz, que está viúva, com o intuito tão somente de reduzi-la ao último
silencioso e deserto, com apenas o vento que sussurra entre as extremo de miséria, como a reduziu; porque seus diversos
árvores quebrando a monotonia e a solidão do lugar. O narrador credores ter-se-iam comovido, e talvez lhe facultassem os
reflete sobre o esquecimento que a morte traz e como os meios de os ir pagando sem grande detrimento de sua
segredos dos mortos são guardados pelo sepulcro. fortuna, aliás tão arruinada.
O cemitério de Santa Cruz é descrito como simples e
despojado, sem monumentos extravagantes, apenas uma À medida que avançam pela fazenda de Santa Cruz,
capelinha singela e uma cruz. A estrada que leva a Santa Cruz Túlio relembra os sofrimentos de sua mãe e expressa seu ódio
passa por perto do cemitério. inicial por vingança, mas sua “mãe”, Susana, o ajudou a superar
Úrsula, chega ao cemitério no crepúsculo. Ela está esse desejo. Tancredo e Túlio, ambos marcados por suas
sofrendo muito e busca a sepultura de sua mãe. Ajoelha-se junto próprias dores, compartilham lágrimas e empatia pela história do
à sepultura e chora esta perda irreparável. Ela está sozinha e outro.
entregue ao destino que começa a experimentar com tanta Ao chegarem à casa de Luíza B., eles encontram
dureza. Susana, que revela que Úrsula saiu para orar no cemitério de
Profundamente abalada chega até mesmo a esquecer do Santa Cruz sobre a sepultura de sua mãe. Tancredo e Túlio
seu amor por Tancredo e até mesmo o ódio que sente pelo partem imediatamente para encontrar Úrsula, preocupados com
comendador. Sua dor é intensa e sua única conexão com a vida as revelações de Susana sobre a perseguição de Fernando P., o
é seu amor por Tancredo. comendador, que havia abreviado os dias da mãe de Úrsula e
No auge de seu sofrimento, Úrsula desmaia junto à agora ameaça se casar com ela à força.
sepultura de sua mãe, e sua vida parece estar se esvaindo. Ela O capítulo termina com Tancredo e Túlio galopando em
está sozinha e sem ajuda. busca de Úrsula, determinados a protegê-la do comendador e a
Enquanto isso, ao longe, um barulho de cavalos se reunir-se com ela.
aproxima. Dois homens, Tancredo e Túlio, chegam ao cemitério.
Eles encontram Úrsula desmaiada junto à sepultura. Tancredo, Capítulo 15
profundamente apaixonado por ela, a reconhece e a abraça.
Úrsula desperta ao toque de Tancredo, e há um momento
NO CONVENTO DE ****
emocionante de reencontro.
Após uma breve oração iniciada no capítulo 13, Úrsula e
No entanto, Túlio lembra a Tancredo que eles precisam
Tancredo decidem fugir do comendador Fernando P. Úrsula está
partir rapidamente, pois Úrsula está debilitada e não pode
aterrorizada com a perseguição dele e implora para que fujam
suportar uma jornada lenta. Tancredo concorda, preocupado
antes que ele os alcance. Tancredo concorda e eles partem em
com a saúde de Úrsula. Eles planejam levar Úrsula com eles, e a
uma viagem para escapar do comendador.
esperança de um futuro melhor parece brilhar novamente para a
Eles deixam a estrada real e tomam um atalho mais longo
protagonista.
para evitar o comendador. Durante a viagem, Tancredo
O capítulo termina com Tancredo, Úrsula e Túlio orando
compartilha com Úrsula os tristes eventos que ocorreram
pelo descanso eterno da mãe de Úrsula, Luíza B.
durante sua ausência.
Finalmente, eles chegam à cidade de ***, onde procuram
Glossário do capitulo 13
abrigo no convento de Nossa Senhora da ***. O convento é
alvião – “De joelhos beijou a terra úmida, e ainda revolta pelo descrito como um edifício antigo, simples e melancólico,
alvião[...]” - O termo "alvião" neste contexto refere-se a uma ferramenta afastado do mundo, onde vivem as virgens dedicadas ao
agrícola usada para revirar a terra, geralmente uma enxada ou um Senhor. As freiras levam uma vida de castidade e oração, longe
instrumento semelhante dos prazeres mundanos.
Úrsula e Tancredo param diante das paredes do
Capítulo 14 convento e, após observarem o local, Tancredo a conduz à porta
O REGRESSO do convento, que se abre para eles. Úrsula está radiante de
beleza e parece estar em paz ao entrar no convento.
Tancredo expressa sua determinação em proteger Úrsula
“AGORA É PRECISO SABERMOS como Tancredo, de
do comendador e declara seu amor por ela. Ele acredita que o
volta de sua viagem, pôde saber onde estava Úrsula, e o que lhe
comendador não conseguirá separá-los, pois a mulher só ama
havia acontecido.” O capítulo agora pretende explicar o que
verdadeiramente uma vez em sua vida.
poderia ser uma incoerência de roteiro, mas como Tancredo
O capítulo termina com Tancredo refletindo sobre a
sabia onde Úrsula estava?
verdadeira natureza da mulher, contrastando aquelas que
Tancredo, depois de concluir sua missão na comarca de
compreenderam sua nobre missão de amor e paz com aquelas
***, retorna apressadamente para reencontrar sua amada,
Úrsula. Ele está dominado pela ideia de revê-la e está ansioso

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que trocaram seus afetos genuínos por ouro e ganância, no caso do fundo da alma o orgulho feminil — era como a lembrança
de Adelaide, perdendo assim sua honra. de que seu amor apagara ainda mesmo as cinzas do de
Adelaide.¹
Capítulo 16
O COMENDADOR FERNANDO P. A narrativa volta para nos contar o que ocorrera a Túlio,
antes de ir ao encontro de Tancredo, seu amigo fiel, dois
homens o interceptaram e o colocaram em um casebre
A narrativa se volta novamente para Fernando que havia
abandonado ameaçando-o matá-lo se ousasse gritar. Dentro do
sido deixado de lado, mas agora volta a ter a atenção narrativa.
casebre estava Fernando:
Em um capítulo tenso, o comendador quer acima de tudo
obter o amor e o casamento a força. Ao descobrir que Úrsula
O comendador cruzava o quarto com passos
fugiu com Tancredo, um jovem de quem desaprova
desordenados. Pálido como um espectro, com os cabelos
profundamente, Fernando P. entra em um estado de desespero.
erriçados, os lábios convulsos e contraídos, as comissuras
Sua busca por Úrsula se torna uma obsessão, e ele está
dos lábios espumantes, pintava-se-lhe no todo a
determinado a encontrá-la a qualquer custo. Foi até o sacerdote,
desesperação, e o ódio infame, e a vingança não satisfeita.
que eram “amigos” do tipo que um suporta o outro, e levou-o
Era Otelo² no seu ciúme, Satanás expulso do céu e
para que assim que visse Úrsula casasse logo com ela.
ferido no orgulho.³
Foi até a fazenda da falecida Luíza B., invadiu a sala e
perguntou pela moça, Úrsula, pensando em ganhar mais tempo,
Túlio se viu perdido, como se nada mais pudesse fazer
disse que a moça fora sozinha ao cemitério, e deduziu que
pela sua vida, mesmo assim se manteve firme. Fernando
Tancredo já a teria resgatado.
pergunta por Tancredo, mas Túlio revela que ele estaria em
O comendador foi e lá nada encontrou, sentiu-se
casa, Fernando grita chamando-o de mentiroso, sabia que
enganado e mandou que seu feitor branco, trouxesse a escrava
Úrsula estava em um convento esperando pelo casamento, mas
Suzana arrastada por cavalos.
ele queria intercepta-lo para não chegar no convento.
O feitor repreende a tortura e se recusa a fazer isso,
Fernando propõe que se ele entregasse a localização de
alegando que avisará a velha para que fuja, mas ao sair, o padre
Tancredo ele daria até mesmo metade da riqueza dele. Túlio se
já vinha com os cavalos e Suzana vinha como em procissão. O
esquece do medo e esbraveja com ele que jamais entregaria a
feitor lhe oferece um cavalo para fuga, mas ela diz ser inocente e
localização daquele que o tirou da escravidão.
que não teria nada a temer.
Fernando golpeia-o na boca e o negro cai desmaiado e
Quando novamente interrogada pelo comendador, ela
ele é entregue aos cuidados de Antero.
alega não saber do paradeiro da moça e resiste a pressão
psicológica, o padre defende-a chamando atenção para não
Notas e análises
derramar sangue inocente.
¹ observe novamente o elemento romântico de idealização
Fernando manda-a para a cela mais úmida e manda feminina, a mulher retratada como objeto de adoração.
colocar correntes em seus braços e pernas, o padre recomenda ² Otelo é um personagem mouro shakespiriano que é general do
que não faça tal maldade, mas é em vão. exército veneziano e é casado com Desdêmona, uma mulher de origem
Após isso, chega um escravo avisando que Úrsula foi veneta (italiana). A trama da peça gira em torno dos ciúmes infundados
vista em direção à cidade de ***, ele prepara homens armados e de Otelo, instigados pelo vilão Iago, que leva Otelo a acreditar
parte em direção à sua vingança. erroneamente que Desdêmona o traiu com seu tenente, Cássio. Esses
ciúmes levam a consequências trágicas.
³ A queda de Satanás faz referência a obra de Milton no Paraíso
Capítulo 17 Perdido, isso mostra e reflete o sentimento de Fernando, louco de
TÚLIO ciúmes como Otelo e raivoso como o Diabo expulso, no sentido de se
sentir rejeitado por Úrsula e enganado por Tancredo.
Úrsula continuava escondida no convento, temendo por
Suzana e pedindo por carta que a trouxessem até ela. Tancredo, Glossário do capítulo 17
bem no dia de seu casamento, mandara chamar por Túlio para
que o amigo realizasse algumas tarefas, mas ele não apareceu, Sicários – “Os sicários saíram — a porta tornou-se a fechar[...]” -
assassinos ou matadores contratados para realizar assassinatos por
o que foi estranho. Tancredo não fazia ideia da armadilha que
dinheiro ou por motivos políticos, religiosos, ou outros. Nesse momento,
Fernando tramava contra ele. os assassinos saíram para que Fernando ficasse a sós com Túlio.
Aquela ausência de Túlio lhe foi demasiada estranha e
vários pensamentos de temores lhe passou pela mente, mas
tentou afastá-los, decidiu se juntar com alguns amigos
Capítulo 18
(provavelmente como escolta) e foi ao convento para o A DEDICAÇÃO
casamento.
Entretanto, diante da alegria de casar não havia felicidade O velho Antero era um escravo africano viciado em
em imaginar que algo poderia acontecer ao seu amigo. bebidas que vigiava a prisão em que Túlio estava. O prisioneiro
Ele então, indagando a si mesmo, achava estranho o abominava a ideia de matá-lo, e vendo que estava tudo deserto,
sentimento penível que lhe nascia na alma, porém embalde julgou que o comendador saíra para preparar a armadilha, se
tentava recobrar a serenidade de ânimo. Túlio figurava-se lhe em não podia ter Úrsula como esposa primeiro, teria como viúva
perigo eminente, e toda a felicidade que o aguardava não lhe depois.
apagava esse crescente desassossego; porque essa felicidade Antero aceita o dinheiro e sai em busca de cachaça,
começava a parecer-lhe que mais tarde se tornaria amarga. deixando Túlio sozinho na prisão.
Foi apenas com a presença de Úrsula que Tancredo se Túlio começa a avaliar a possibilidade de escapar e
acalmou, veja como ela é descrita nessa cena: encontra instrumentos de tortura na prisão, o que o faz refletir
sobre os sofrimentos que outros prisioneiros já enfrentaram ali.
Assim era ela mais formosa que nunca, e Tancredo, No entanto, ele está determinado a salvar seu benfeitor. Antero
vendo-a tão radiante de mocidade e de amor, olvidou suas retorna e passa a beber até desmaiar, ele pega as chaves de
penosas inquietações para só rever-se nela, para render-lhe Antero e sai enlouquecido para avisar da armadilha.
um culto de apaixonada veneração. Corre desesperadamente pela noite afora, encontra um
E ela sorriu com um sorriso que transportou-o de sacerdote que diz ter feito um casamento, ao chegar na igreja
felicidade, e esse sorriso feiticeiro e angélico arrancou-lhe pela noite, ele vê ao longe o casal sair a carruagem em direção a

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fazenda, Túlio grita avisando da armadilha, mas dois tiros são feroz e concupiscente é uma paixão funesta, que conduz ao
disparados e Túlio cai ao chão e morre. crime, que lhe mata a alma e a despenha no inferno.
Tancredo tendo ouvido a voz do amigo vai em sua
direção, mas Úrsula o impede avisando que queriam assassiná- Fernando está assombrado pelos crimes que cometeu
lo. Tancredo e Úrsula estavam cercados, mas o jovem não em nome de seu amor doentio por Úrsula. Ele não consegue
fraquejou e tirou duas pistolas, um dos tiros ele erra, mas o mais encontrar paz de espírito e é atormentado por remorsos.
segundo ele o acertou de raspão a um homem que reconheceu Em suas noites sem sono, ele tenta visitar Úrsula, mas teme sua
ser o comendador. rejeição e acusações de seus crimes.
Fernando foi em direção ao casal, não havia nada mais a Ao chegar ao quarto de Úrsula, ele a encontra dormindo,
fazer. Úrsula foi em direção ao tio implorar pela vida do marido. em meio a um sono agitado. Fernando a observa com uma
mistura de adoração e culpa, hesitando em acordá-la. No
— Poupai-o, senhor. Ah, pelo céu, poupai-o! — entanto, quando Úrsula finalmente acorda e o vê, ela solta um
exclamou Úrsula, aflita e pálida, caindo aos pés desse grito angustiado.
homem desapiedado. A visão de Úrsula despertando e sofrendo é avassaladora
E por um esforço sublime, que só a mulher — ente para Fernando. Pela primeira vez, ele começa a entender a dor
feito para a dedicação e o amor — pode conceber, disse-lhe, de outra pessoa, e o remorso o atinge com força total. Ele tenta
apresentando-lhe o peito: implorar o perdão de Úrsula, expressando seu amor por ela e
— Ofendi-vos, senhor, vingai-vos: eis-me, não me seu arrependimento por seus atos cruéis.
poupeis: mas ele? Oh, não o assassineis! Oh, não tem culpa No entanto, a resposta de Úrsula é surpreendente e
de que o ame mais que a vida! perturbadora. Ela sorri de maneira distorcida e parece estar
E caiu prostrada aos pés de Fernando, que completamente insana. Fernando percebe que ela enlouqueceu
semelhante à hiena que meneia a cauda e lambe os beiços, devido aos eventos traumáticos que ocorreram.
porque a presa lhe não escapará, olhava-a sorrindo de O capítulo termina com Fernando sofrendo um colapso
ferocidade. emocional, enquanto observa a loucura de Úrsula. Sua dor é
agravada pela convicção de que seus planos foram arruinados e
Tancredo foi ao encontro de Úrsula levantou-a e disse: suas esperanças de tê-la como esposa foram destruídas. Ele
percebe que está sendo punido por seus atos malignos e
— Amo-te! egoístas.
Depois esses dois astros de amor, que guiavam ainda A dor do remorso era tamanha que seu rosto chega a se
no perigo, ou nas trevas da desesperação ao infeliz desfigurar a ponto dos escravos não o reconhecerem e ele sabia
mancebo, recaíram em seu lânguido torpor. que não podia encontrar consolo em ninguém, pois sua maldade
Esse beijo foi a expressão profunda de tão sublime não permitia que ninguém se aproximasse.
amor: foi o primeiro, o casto e puro ósculo de amor, que o
comendador jurou ser o derradeiro. Glossário do capítulo 19

Fernando o agarrou e travou-se uma imensa briga, Sopitara – “Fernando até ali sopitara esse castigo do céu,” –
ambos se rolavam pelo chão, mas os capangas de Fernando forma conjugada do verbo "sopitar," que significa adormecer ou fazer
seguraram Tancredo e o tio o golpeou o peito com um punhal, alguém adormecer.
Tancredo amaldiçoou Fernando dizendo que nunca teria o amor Pusilanimidade - “Por último, vencendo sua pusilanimidade,
de Úrsula, a moça em direção ao seu amado que morre em seus correu desvairado ao seu quarto.” - falta de coragem ou a timidez
braços: excessiva de alguém. Momento esse em que Fernando decide ir ao
quarto de Úrsula.
Então a donzela despertou de seu dorido letargo,
abriu os olhos, e num excesso de amor apaixonado, e de Capítulo 20
uma dor íntima, lançou-se sobre seu desditoso esposo, e A LOUCA
unindo-o ao coração recebeu-lhe o derradeiro suspiro.
Um mar de sangue tingiu-lhe as mãos e os puros No último capítulo, intitulado "A LOUCA", a história chega
seios. Tinha os olhos fixos e pasmados sobre o doloroso a um emocionante clímax. O comendador Fernando P. está
espetáculo, e entretanto parecia nada ver; estava absorta sentado em seu jardim, atormentado pelos remorsos por seus
em sua dor suprema, muda, e impassível em presença de crimes. O cenário ao redor é de uma beleza melancólica, mas
tão monstruosa desgraça. Fernando não presta atenção a isso.
O seu sofrimento era horrível, e profundo, e o que se Ele é interrompido pela chegada de um velho sacerdote,
passava de amargo e pungente naquela alma cândida e que aponta na direção do poente e menciona "Susana". O
meiga foi bastante para perturbar-lhe a razão. comendador observa a cena de dois escravos carregando um
corpo em uma rede para o enterro, e a voz do remorso ecoa em
Capítulo 19 sua mente.
O DESPERTAR O sacerdote repreende Fernando por seus crimes,
destacando o assassinato de Tancredo, Túlio, Paulo e Susana.
O capítulo explora as profundezas da alma de Fernando Ele fala sobre o sofrimento que Fernando infligiu aos inocentes e
P., o comendador, após os eventos recentes que abalaram sua como ele ignorou as súplicas por misericórdia.
vida. A autora descreve as diferenças entre o amor puro e nobre
e o amor corrompido e maligno que Fernando sente por Úrsula, Assassino de Tancredo, de Túlio, de Paulo, e de
observe: Susana. Monstro! Flagelo da humanidade, ainda não
saciastes a vossa vingança? Ah, humilhado e em nome de
O AMOR QUE SE NUTRE no coração do homem Deus, pedi-vos mercê para os infelizes, salvação para a
generoso é puro e nobre, leal e santo, profundo e imenso, e vossa alma. Desdenhastes as minhas súplicas!
capaz de quanta virtude o mundo pode conhecer, de quanta Orgulhoso e vingativo que sois! E não sentistes que
dedicação se possa conceber. Ele o eleva acima de si Deus observa os malvados e que os pune ainda na terra.
próprio, e as suas ações são o perfume embriagador desse
sentimento, que o anima: mas o amor no peito do homem

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Em vossa louca e vaidosa ideia, julgastes-vos grande, c) na alegoria indígena.
e esmagastes aos vossos semelhantes que eram fracos, e d) no nacionalismo romântico.
estavam inermes.
Como a fera dos bosques acometestes a Tancredo e 02. Com base na leitura do livro, quais personagens
covardemente o assassinastes: como um verdugo cruel representam a questão da escravidão e do racismo?
punistes Susana de um crime que não tinha. . . Oh, se o a) Túlio e Úrsula; b) Tancredo e Suzana;
arrependimento vos não apagar a nódoa do pecado, os c) Fernando e Luíza B.; d) Túlio e Suzana;
crimes vos despenharão no inferno.
03. Na leitura da obra, percebe-se algumas estratégias
O comendador, com o coração partido, pede para ver narrativas, dentre as quais se destacam:
Úrsula. O sacerdote o leva até o quarto da donzela, onde uma a) dar voz e protagonismo a personagens negros;
cena angustiante o aguarda. Úrsula, agora completamente b) ausência de idealismo romântico;
insana, está sorrindo e falando com sombras invisíveis. Ela c) presença do zoomorfismo naturalista;
menciona Tancredo e suas flores de noivado. d) ausência de tensão narrativa;
Fernando, testemunhando a loucura de Úrsula, fica
arrasado. Ele percebe que sua esperança de tê-la como esposa 04. Sobre a narrativa do livro pode-se afirmar que é
foi destruída e que sua própria vida está repleta de remorso e a) extradiegético; b) homodiegético;
dor. Ele fecha os olhos e se ajoelha em desespero. c) heterodiegético; d) autodiegético;
Úrsula continua a murmurar e a sorrir, e depois, em seu
último suspiro, ela menciona o nome de Tancredo e sai da vida 05. Quanto a classificação do romance, podemos classificá-lo
para a morte. O sacerdote e Fernando estão ajoelhados ao lado como
dela quando sua alma deixa seu corpo. a) de costumes; b) urbano
c) regionalista; d) histórico-indianista
Notas e análises
A cena é carregada de emoção, com a redenção e a punição de 06. Qual é a principal razão pela qual o pai de Tancredo se opõe
Fernando P. como temas centrais. A história termina com um momento ao casamento de seu filho com Adelaide?
de tristeza e reflexão sobre os horrores do orgulho, vingança e
crueldade, contrastados com a redenção tardia e o peso dos remorsos.
a) Porque ele acredita que Adelaide é indesejável para a família.
b) Porque ele deseja que Tancredo se case com uma mulher
EPÍLOGO rica.
c) Porque ele não gosta de Adelaide pessoalmente.
No Epílogo, dois anos se passaram desde os eventos d) Porque ele tem outros planos para o casamento de Tancredo.
trágicos narrados anteriormente, e a província esqueceu os
crimes ocorridos no convento de *** e a morte de Tancredo. A 07. Como a mãe de Tancredo reage à oposição de seu marido
justiça permaneceu cega, os assassinos impunes, e as ao casamento de seu filho?
investigações foram abandonadas.
Apenas um homem sabia a identidade do assassino, mas a) Ela confronta seu marido e exige que ele mude de ideia.
ele se recusava a denunciá-lo, pois sua missão era dedicada à b) Ela aceita passivamente a vontade de seu marido.
paz e à religião. Esse homem, chamado frei Luís de Santa c) Ela foge de casa com Tancredo e Adelaide.
Úrsula, havia entrado para o convento dos carmelitas como d) Ela convence Adelaide a desistir de Tancredo.
noviço.
No convento, frei Luís era considerado um louco por suas 08. Como Tancredo descreve Adelaide, a mulher que ele
intensas práticas religiosas, jejuns e momentos de frenesi conhece após voltar para casa?
durante a oração. No entanto, ninguém conhecia sua verdadeira
identidade ou a história por trás de suas ações. a) Ele a descreve como meiga e encantadora.
Em seu leito de morte, frei Luís revela a um religioso seu b) Ele a descreve como autoritária e irritante.
passado sombrio. Ele confessa ter sido o responsável pelo c) Ele a descreve como distante e fria.
assassinato de Tancredo, movido pela vingança e pelo ciúme d) Ele a descreve como ambiciosa e gananciosa.
em relação a Úrsula. Ele lamenta sua falta de arrependimento
sincero e seu coração ainda cheio de ódio. 09. Como o pai de Tancredo reage quando sua esposa confronta
O religioso tenta trazer conforto espiritual a frei Luís, suas decisões sobre o casamento de Tancredo?
mostrando-lhe um crucifixo e lembrando-o do perdão divino. No
entanto, frei Luís continua atormentado por sua culpa e a) Ele muda de ideia e concorda com o casamento.
desespero. Ele morre com um profundo arrependimento, b) Ele se desculpa com sua esposa e muda suas ações.
buscando o perdão de Deus. c) Ele zomba dela e a rejeita com sarcasmo.
Enquanto isso, Adelaide, a mulher por quem Tancredo d) Ele chora e pede perdão por seu comportamento.
sofrera uma imensa dor também enfrenta suas próprias tristezas
e desgostos na vida, tendo perdido dois esposos. O remorso a 10. Qual é a condição imposta pelo pai de Tancredo para que
assombra, por ter maltratado a mãe de Tancredo e ela depois ele possa se casar com Adelaide, e como Tancredo reage a
falecera em vida de amargura e desesperos. essa condição?
A história termina com a lembrança da infeliz Úrsula em a) O pai de Tancredo exige que ele espere um ano antes de se
uma lápide simples junto ao altar da Senhora das Dores no casar com Adelaide, e Tancredo, inicialmente, aceita a condição
convento, com a inscrição "Orai pela infeliz Úrsula". Ela é uma com alegria.
das vítimas do amor e da tragédia que marcaram a narrativa. b) O pai de Tancredo pede a ele que escolha entre o casamento
com Adelaide e um emprego distante, e Tancredo escolhe o
Exercícios estilo UVA emprego.
c) O pai de Tancredo concorda em deixá-lo se casar com
01. Com base na leitura do romance Úrsula, pode-se afirmar que Adelaide imediatamente, sem impor condições.
uma das temáticas exploradas na obra consiste d) O pai de Tancredo exige que ele se case com Adelaide
a) nas consequências de uma vida solitária. imediatamente, sem esperar um ano, e Tancredo aceita essa
b) nas questões raciais e escravocratas. condição com relutância.
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11. No capítulo 6 intitulado A despedida, vemos o seguinte 22. O que motiva a busca de vingança do Comendador
trecho: "Adelaide reclinava-se nos braços de minha mãe, pálida Fernando?
como a açucena pendurada na corrente; e essa mulher cheia de a) O assassinato de sua esposa por Tancredo.
bondade e de virtude esforçava-se por consolá-la de uma dor b) A rejeição de seu amor por parte de Úrsula.
que só nela era real, mas que supunha igual na donzela que um c) O roubo de suas propriedades.
dia seria minha esposa." Tal fragmento comprova que Adelaide d) A recusa de Tancredo em lhe vender suas terras.

a) Estava realmente sofrendo e expressando sua dor de maneira 23. O que acontece com o Comendador Fernando no final da
sincera. história?
b) Estava indiferente à partida de Tancredo, pois não a) Ele encontra a felicidade ao lado de Úrsula.
demonstrou emoção. b) Ele se torna um eremita.
c) Estava escondendo suas verdadeiras emoções e agindo de c) Ele é assassinado.
forma dissimulada. d) Ele entra para o convento.
d) Estava ansiosa para se tornar a esposa de Tancredo e não se
importava com a separação temporária. 24. Qual é o papel do Sacerdote na história?
a) Ele é o mentor espiritual de Fernando.
12. Qual é o nome da personagem que compartilha sua história b) Ele é o responsável pelos assassinatos de Tancredo e Túlio.
de vida e experiências como escrava? c) Ele é o pai de Úrsula.
a) Maria; b) Túlio; d) Ele é um político influente na província.
c) Luíza B.; d) Susana;
25. Qual é o destino de Tancredo no final da história?
13. O que aconteceu com a “mãe” de Túlio? a) Ele se casa com Úrsula.
a) Ela foi comprada pelo Comendador P. b) Ele é assassinado pelo Comendador Fernando.
b) Ela foi libertada e retornou à África. c) Ele foge para outra província.
c) Ela morreu durante a viagem de escravos para o Brasil. d) Ele morre em um duelo de espadas com o Comendador
d) Ela fugiu da escravidão e viveu escondida na fazenda. Fernando.

14. Por que Úrsula fica tão perturbada com o encontro na mata? 26. O que motiva a entrada de Frei Luís de Santa Úrsula para o
a) Porque o homem da mata também a ameaça. convento?
b) Porque ela encontra seu pai lá. a) O amor por Úrsula.
c) Porque o homem da mata é Tancredo disfarçado. b) O desejo de vingança contra Tancredo.
d) Porque ela perde seu amuleto. c) O remorso por seus pecados.
d) A busca por riquezas.
15. O que preocupa Luíza quando Fernando a visita rogando
perdão? 27. Qual é o significado simbólico da lápide no convento com a
a) Ela teme que ele queira reconciliação. inscrição "Orai pela infeliz Úrsula"?
b) Ela teme que ele busque vingança. a) Úrsula era uma santa.
c) Ela quer se casar com ele novamente. b) Úrsula foi esquecida pela sociedade.
d) Ela quer que ele a ajude a cuidar de Úrsula. c) Úrsula encontrou a felicidade no final.
d) Úrsula foi vítima de tragédias e sofrimentos.
16. O “amor” de Fernando por Úrsula revela-se como um
sentimento 28. Túlio acaba sendo assassinado ao
a) puro b) obsessivo c) fiel d) romântico a) se negar a entregar a localização de Úrsula.
b) se negar a entregar a localização de Tancredo.
17. Personagem responsável pela morte de Suzana e Túlio: c) proteger Tancredo de levar um tiro.
a) Fernando b) Feitor branco d) tentar avisar Tancredo de uma emboscada.
c) Antero d) Sacerdote
29. No fragmento: “Os sicários saíram — a porta tornou-se a
18. Para escapar das mãos de Fernando Úrsula fechar[...]”, o termo sicários significa respectivamente
a) recorre à justiça. a) empregados b) assassinos
b) busca refúgio em uma junta militar. c) escravos d) escravocratas
c) busca refúgio em um convento.
d) resiste em sua fazenda às investidas de Fernando. 30. Pode-se dizer que o romance, além de uma questão
regionalista, possui uma pauta
19. Qual é a razão pela qual Frei Luís de Santa Úrsula entra a) científica b) filosófica
para o convento dos carmelitas? c) social d) lírica
a) Para buscar vingança contra o Comendador Fernando.
b) Por amor a Úrsula. Anotações:
c) Para escapar da justiça.
d) Para encontrar a paz espiritual e se redimir de seus pecados.

20 Qual é o destino final de Úrsula?


a) Ela foge com Tancredo. b) Ela se casa com Paulo B.
c) Ela morre enlouquecida. d) Ela é condenada à prisão.

21. Quem é Adelaide e qual é sua relação com a história?


a) Uma escrava que ajuda Úrsula a escapar.
b) Uma amiga de Úrsula.
c) A segunda esposa do pai de Tancredo.
d) A mãe de Úrsula.
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Em outros vestibulares GABARITO - UVA
01. B 02. D 03. A 04. C 05. C 06. B 07. B 08. A
1. (Ufrgs 2020) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as 09. C 10. A 11. C 12. D 13. A 14. B 15. B 16. B
seguintes afirmações sobre o romance Úrsula, de Maria Firmina 17. A 18. C 19. D 20. C 21. C 22. B 23. D 24. A
dos Reis. 25. B 26. C 27. D 28. D 29. B 30. C
( ) O romance é narrado em primeira pessoa por Úrsula,
jovem negra escrava, que aprendeu a ler com a patroa, D. GABARITO – em outros vestibulares
Susana. Resposta da questão 1: [C]
( ) Adelaide é a menina pobre que busca ascensão social
A primeira afirmativa é falsa, pois a obra é narrada em 3ª pessoa, e
através do casamento, como muitas mulheres faziam na época. Úrsula nem é uma jovem negra, nem escrava.
( ) A crítica ao modelo patriarcal está especialmente centrada Como as demais são verdadeiras, é correta a opção [C]: F – V – V – V.
nas figuras de Tancredo e de seu pai.
( ) O romance caracteriza-se como transgressor à produção Resposta da questão 2: [C]
romanesca do período, ao apresentar Túlio e Antero como
sujeitos constituídos de humanidade. As duas primeiras proposições são falsas, pois o romance “Úrsula”
apresenta narrador onisciente com uso uniforme de linguagem, ou seja,
sem variedade de registro, formal ou coloquial, em função da origem
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima
étnica dos personagens. Como as demais são verdadeiras, é correta a
para baixo, é opção [C]: F – F – V – V.
a) V – V – F – F. b) V – F – F – V.
c) F – V – V – V. d) F – F – V – V. Resposta da questão 3: [E]
e) V – V – V – F.
Maria Firmina dos Reis, autora de “Úrsula”, obra que esteve cem anos
2. (Ufrgs 2019) Sobre Úrsula, romance de Maria Firmina dos fora do mercado editorial, antecipa, em nota introdutória ao romance,
Reis, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes que seu texto conterá traços reveladores da sua condição de mulher
negra e pobre, desculpando-se por enveredar pelo caminho do
afirmações.
intimismo, desconhecido até aquele momento. “Úrsula” denuncia as
injustiças praticadas em uma sociedade autoritária e patriarcal revelando
( ) O romance é narrado em primeira pessoa por Úrsula, ao leitor sentimentos e angústias vivenciados por seus personagens
jovem negra escravizada e depois alforriada por Tancredo, escravizados. Assim, é correta a opção [E], pois todos as proposições
senhor com quem a protagonista se casa. são corretas.
( ) A linguagem apresenta variedade de registro: personagens
negras comunicam-se de forma coloquial, personagens brancas Anotações:
adotam a norma culta da língua.
( ) O enredo está centrado no amor fracassado entre Úrsula e
Tancredo, embora personagens como Túlio e mãe Susana
sejam cruciais para o romance, especialmente na definição de
seu caráter antiescravista.
( ) O escravocrata comendador Fernando P., antagonista de
Tancredo na disputa por Úrsula, arrepende-se de seus crimes no
final da vida e, recolhido em um convento, transforma-se no frei
Luís de Santa Úrsula.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima


para baixo, é
a) V – F – V – F. b) V – V – F – F.
c) F – F – V – V. d) F – V – F – V.
e) V – V – F – V.

3. (Ufrgs 2019) Considere as seguintes afirmações sobre Maria


Firmina dos Reis e seu romance Úrsula.

I. O romance Úrsula foi publicado no Maranhão, em 1859, sob o


pseudônimo de “Uma Maranhense”, e quase não se tem notícia
de sua circulação à época da publicação. Recuperado na
segunda metade do século XX, só então o livro passa a ser
reeditado e minimamente debatido no meio literário.
II. Nas primeiras páginas do romance, uma voz que pode ser lida
como a da autora apresenta, a modo de prólogo, seu livro ao
leitor, consciente das limitações que seriam impostas a ele por
ter sido escrito por uma mulher brasileira de educação
acanhada.
III. A circulação limitada de Úrsula dá mostras de que,
associados ao valor estético, fatores como classe social, gênero
e raça do escritor também participam da definição do cânone
literário.

Quais estão corretas?


a) Apenas I. b) Apenas III.
c) Apenas I e II. d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

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