07 - A-Alfabetizacao Midiática e Informacional
07 - A-Alfabetizacao Midiática e Informacional
A ALFABETIZAÇÃO MIDIÁTICA
E INFORMACIONAL:
PERSPECTIVAS PARA A ÁREA
DE CIÊNCIAS DA NATUREZA
APONTADAS PELO DOCUMENTO
CURRICULAR DO
TERRITÓRIO MARANHENSE
Premma Hary Mendes Silva
Thaliana Cruz Dantas
Renata Araujo Lemos
Mariana Guelero do Valle
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Membro do Grupo de Pesquisa em Ensino de Ciências e
Biologia (GPECBio/UFMA).
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5570194136422634.
ORCID iD: https://orcid.org/0000-0003-0277-3421.
E-mail: thalyanacdantas@gmail.com.
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não são diretamente expressos na Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) e no DCTMA, temas relacionados à
Alfabetização Midiática e Informacional, de modo que
não podem ser identificados no documento. No entanto,
enfatizamos a urgência em discutir temas relacionados
aos usos das mídias e a necessidade de que estejam
previstos nos currículos oficiais.
Palavras-chave: Alfabetização Midiática e Informacional.
BNCC. Ensino de Ciências. DCTMA. Currículo. Maranhão.
Introdução
Na obra “Alfabetização: Leitura do mundo, leitura da palavra” é
possível perceber como Paulo Freire concebe que a alfabetização é
CADERNO SEMINAL 50
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palavra, como a aquisição de habilidades de leitura e de escrita de
palavras. A perspectiva de alfabetização defendida por Freire –
uma alfabetização crítica e emancipadora – nas palavras do autor,
“transcende a uma concepção mecânica e estrita do ato de ler”
(FREIRE; MACEDO, 2015, p. 90).
A alfabetização, para Paulo Freire, é parte de um processo em
que o educando compreende de forma crítica a natureza de sua
experiência no mundo. Para Freire, ser capaz de refletir sobre a
própria experiência é ler o mundo – o aspecto mais complexo da
alfabetização (FREIRE; MACEDO, 2015).
Percebemos a expansão do conceito de alfabetização de
forma que podemos compreender vários aspectos da vida social,
incorporando ideias complexas, a fim de atender às necessidades
reflexivas sobre várias áreas do conhecimento. Nesse contexto,
surgem variações como: Alfabetização Científica, Alfabetização
Tecnológica, Alfabetização Digital, Alfabetização Televisiva,
Alfabetização em Notícias, entre outros. O Guia da Educação
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[...] a alfabetização deve se tornar mais situacional,
pluralista e dinâmica. É necessária uma abordagem
teórica e conceitual mais holística, chamando atenção
para os contextos sociais, culturais, tecnológicos,
econômicos e políticos e como eles moldam as formas
de as pessoas adquirirem e usarem as competências
da alfabetização.
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Dessa forma, o documento da UNESCO (2013, p. 51) propõe
a integração desses conceitos. A Alfabetização Midiática e
Informacional (AMI) “[...] diz respeito ao papel e à função das mídias
e de outros provedores de informação, como bibliotecas, arquivos e
internet, em nossas vidas pessoais e nas sociedades democráticas”,
conforme descrito pela UNESCO em 2013.
Com foco na formação de professores, visto que ainda são
poucos os cursos de formação continuada que abordam a temática, a
publicação supracitada objetiva orientar professoras(es) sobre o uso das
Tecnologias da Informação e da Comunicação. A inclusão do tema no
currículo se faz necessária para que cidadãos(ãs), em especial, crianças,
adolescentes e jovens em idade escolar, tenham competências que os/
as possibilitem analisar criticamente as informações a que têm acesso
para buscar fontes seguras e exercer com responsabilidade seu direito
à liberdade de opinião.
O desenvolvimento deste estudo tem origem a partir do projeto
de pesquisa “Alfabetização Midiática e Informacional: valorização da
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Informacional para a área de Ciências da Natureza identificadas no
Documento Curricular do Território Maranhense (DCTMA).
O artigo apresenta uma breve introdução sobre o tema;
em seguida, descreve o caminho metodológico adotado para a
investigação; posteriormente, apresenta a sistematização das análises
realizadas para o estudo. Por fim, evidencia nossas considerações e
percepções a partir do documento analisado.
Caminho metodológico
A pesquisa qualitativa é uma abordagem de investigação que
possibilita uma compreensão aprofundada do objeto de estudo.
Nessa perspectiva, Bogdan e Biklen (1994) expõem que a abordagem
oferece maiores possibilidades de entendimento dos fenômenos ao
valorizar aspectos descritivos, percepções pessoais e pontos de vista
sobre o tema em questão.
Nesta pesquisa foram adotadas estratégias metodológicas da
pesquisa documental. Conforme Kripka, Scheller e Bonotto (2015, p. 244),
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O corpus de análise é constituído pelo Documento Curricular do
Território Maranhense para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental
(1ª edição), tendo como foco especificamente a área de Ciências da
Natureza para os anos finais do Ensino Fundamental.
Como referencial de análise, utilizamos as competências centrais
para professores, presentes no documento “Alfabetização Midiática
e Informacional: currículo para a formação de professores” proposto
pela UNESCO. O quadro a seguir (Quadro 1) apresenta as competências
centrais da AMI para os/as professores(as) e uma breve descrição de
cada competência:
Quadro 1 – Competências centrais para professoras(es) conforme o documento da
UNESCO (2013)
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Situar o contexto “O professor de AMI estará em condições de
sociocultural dos conteúdos demonstrar seu conhecimento e sua compreensão de
midiáticos que os conteúdos de mídia são produzidos em meio a
contextos sociais e culturais específicos” (p. 33).
A promoção da AMI “O professor de AMI estará em condições de usar os
entre os estudantes e conhecimentos e as habilidades assimiladas durante
o gerenciamento das sua própria formação em AMI para promover a
mudanças requeridas. alfabetização midiática e informacional entre os
estudantes e gerenciar as mudanças a ela relacionadas
no ambiente escolar” (p. 34).
Fonte: Adaptado de UNESCO (2016).
A primeira fase da pesquisa se deu a partir da leitura inicial dos
documentos utilizados nesta investigação. Essa análise inicial permitiu
levantar inferências preliminares sobre como a Alfabetização Midiática
e Informacional é abordada no Documento Curricular do Território
Maranhense para o Ensino Fundamental.
A fase seguinte consistiu em realizar nova leitura das obras
a partir da análise do referencial adotado. Fundamentadas nas
descrições das competências para a Alfabetização Midiática e
Informacional apresentadas no quadro 1 deste artigo, analisamos o
texto do Documento Curricular do Território Maranhense voltado à
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curriculares estaduais, a partir das competências e habilidades que
devem ser desenvolvidas por estudantes de todo o país ao longo da
Educação Básica. Segundo a BNCC,
A relação entre o que é básico-comum e o que é diverso
é retomada no Artigo 26 da LDB, que determina que os
currículos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental
e do Ensino Médio devem ter base nacional comum,
a ser complementada, em cada sistema de ensino
e em cada estabelecimento escolar, por uma parte
diversificada, exigida pelas características regionais
e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos
educandos (BRASIL, 2018, p. 11).
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de currículos locais – inclusive do território maranhense; é válido
serem desenvolvidas pesquisas que analisem a perspectiva da
Alfabetização Midiática e Informacional apresentada na Base
Nacional Comum Curricular.
Para Carlsson (2019), a AMI se estabelece como um lugar de
“aprendizagem democrática” viabilizando a construção de um
conhecimento que abrange desde a tomada de decisões políticas,
perpassando o significado de direitos humanos universais, até
a segurança nacional e internacional. A autora pontua que uma
sociedade democrática inclusiva é baseada em cidadãos bem
informados, críticos e reflexivos. Todavia, reitera que a AMI sozinha
responde a todas as problemáticas geradas pelas mídias na sociedade,
devendo ser compreendida como um processo longo e contínuo. A
autora destaca que
[...] isso não quer dizer que a AMI sozinha possa
resolver todos os problemas fundamentais da mídia e
da cultura da comunicação. [...] As questões levantadas
por esses desenvolvimentos são urgentes e tornam
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5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais
de informação e comunicação de forma crítica,
significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas
sociais (incluindo as escolares) para se comunicar,
acessar e disseminar informações, produzir
conhecimentos, resolver problemas e exercer
protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações
confiáveis, para formular, negociar e defender ideias,
pontos de vista e decisões comuns que respeitem
e promovam os direitos humanos, a consciência
socioambiental e o consumo responsável em âmbito
local, regional e global, com posicionamento ético
em relação ao cuidado de si, dos outros e do planeta
(BRASIL, 2018, p. 9).
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acessar e disseminar informações, produzir
conhecimentos, resolver problemas e exercer
protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva
(MARANHÃO, 2019, p. 296).
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aprendizagem baseada em projetos, a pesquisa e a investigação de
documentos, a criação de mídias e os espaços virtuais que viabilizem
a (re)construção de conhecimentos, são valiosas no processo
educacional por meio da educação midiática. Além disso, a BNCC
apresenta os campos jornalístico-midiático e artístico-literário como
possibilidades de leitura crítica e construção ampla e significativa
da linguagem e da informação em suas respectivas funções sociais
(FERRARI; OCHS, 2020).
Na análise do Documento Curricular do Território Maranhense,
destacamos trechos que nos remeteram às competências que a
Alfabetização Midiática e Informacional proporciona. De forma geral,
é possível identificar que o documento inclui formas de abordagens
aos conteúdos a partir das mídias e tratamento da informação, a
exemplo do que é evidenciado no trecho a seguir:
Utilizar diferentes linguagens e tecnologias digitais
de informação e comunicação para se comunicar,
acessar e disseminar informações, produzir
conhecimentos e resolver problemas das Ciências da
e no mundo do trabalho.
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Esse ponto estabelece um diálogo direto com a Competência
Geral 4 da BNCC (2018, p. 11):
Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-
motora, como Libras, e escrita), corporal, visual,
sonora e digital –, bem como conhecimentos das
linguagens artística, matemática e científica, para se
expressar e partilhar informações, experiências, ideias
e sentimentos em diferentes contextos e produzir
sentidos que levem ao entendimento mútuo.
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consigo conhecimentos prévios acerca do mundo
da informação e comunicação, necessitando da
intervenção do professor como mediador para auxiliá-
los numa reflexão crítica envolvendo esse conjunto de
informações (MARANHÃO, 2019, pp. 366-367).
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desenvolva uma conduta reflexiva e questionadora
no processo de construção do ensino-aprendizagem,
garantindo o acesso universal e a equidade
educacional (MARANHÃO, 2019, p. 366).
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sentimento de pertencimento e proximidade com os temas, bem
como o uso de exemplos próximos, estimula a reflexão dos estudantes
sobre o local onde vivem. Quanto a isso, o documento destaca que:
Espera-se que ao contextualizar o objeto de
conhecimento com as vivências e experiências
e ao democratizar o conhecimento científico, os
estudantes tenham melhores condições de intervir
sobre sua realidade local, de forma responsável, ética
e sustentável (MARANHÃO, 2019, p. 360).
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satisfatoriamente discussões relacionadas ao uso responsável das
mídias digitais. No entanto, uma das habilidades destaca que as/
os estudantes devem compreender fenômenos relativos ao mundo
tecnológico, incluindo o digital. A habilidade citada abre espaço para
discutirmos o tema em sala de aula.
De modo geral, a análise do DCTMA nos faz refletir sobre a
relevância das/dos professoras(es) na formação de estudantes que
vivem rodeados por informações veiculadas nas diversas mídias
diariamente. Sendo assim, é necessário que os profissionais da
educação sejam alfabetizados midiaticamente e informacionalmente
para contribuir com a formação de alunas/os que sejam capazes
de analisar informações baseadas na criticidade, reflexão, clareza,
qualidade, confiabilidade, entre outros aspectos fundamentais.
Considerações finais
O currículo em Alfabetização Midiática e Informacional possibilita
um aprofundamento na qualificação de professoras e professores
para desenvolver atividades e estratégias que estejam conformes às
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De modo geral, o DCTMA inclui habilidades que fomentam o uso
crítico e reflexivo de mídias e tecnologias na educação, ademais a AMI
é tratada como um elemento essencial para a compreensão crítica
das informações e para o desenvolvimento de uma postura analítica
diante das mídias. Uma vez que as atividades diárias estão cada vez
mais mediadas por tecnologias digitais.
Em suma, identificamos que, embora não figure expressamente
no rol de conteúdos apresentados na BNCC, a AMI está presente em
itens que destacam o uso das mídias no documento do DCTMA. No
entanto, não é o bastante, visto que a nossa sociedade passa por uma
onda de desinformação. Além do que o compartilhamento excessivo
de informações nas mídias exige de nós uma postura crítica em relação
àquilo que escrevemos e compartilhamos. Assim, é necessário que a
AMI esteja presente de forma declarada nos currículos oficiais, inclusive
de forma mais detalhada e expressiva na área de Ciências da Natureza no
Documento Curricular do Território Maranhense – Ensino Fundamental,
permeando suas competências, objetos de conhecimento e habilidades,
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de competências digitais e midiáticas, bem como potencializar o
desenvolvimento de um pensamento reflexivo e crítico.
Assim, enfatizamos a necessidade de uma revisão curricular
que amplie e especifique de forma clara as competências da AMI,
garantindo que sejam uma parte integral e destacada da educação
em disciplinas da área de Ciências da Natureza.
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