Português III
Português III
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de sentido
A obra La calanque é formada por uma série de pontos, técnica conhecida
como “pontilhismo”. Nela, cada pontinho se relaciona com os demais, compon-
do um todo, uma unidade de sentido. Assim como na imagem, ao produzirmos
um texto, os sinais de pontuação têm um papel importante para a construção
de sentidos e contribuem para evidenciar o que queremos transmitir ao nosso
interlocutor. Do mesmo modo, identificar cada um desses sinais na leitura é fun-
damental para a compreensão das ideias centrais do texto. Assim, na leitura ou
na escrita, devemos observar atentamente o emprego dos sinais de pontuação,
que exercem uma função estilística essencial na construção do texto.
Quando falamos, a maneira como dizemos um enunciado permite levar nosso interlocutor a compreender os sentidos
que pretendemos transmitir. Na escrita, a entonação acaba se perdendo, e a pontuação cumpre esse papel, favorecendo
a compreensão das intenções dos sujeitos envolvidos na situação comunicativa.
Observe que no título da notícia há um sinal de pontuação – uma interrogação – que sinaliza ao leitor uma per-
gunta-convite: “Vamos escrever uma carta de amor?”. Se esse sinal não fosse usado, o leitor poderia entender que a
manchete apresenta apenas um fato, uma informação, o que prejudicaria o objetivo comunicacional de quem produziu
o texto.
Já no corpo da notícia, podemos perceber que o ponto-final em cada período indica que a ideia transmitida foi encer-
rada, o que fica evidente pelo uso desse sinal de pontuação. Na fala, muitas vezes, o silêncio de uma das partes envolvidas
no processo comunicativo seria suficiente para indicar o fechamento de uma ideia.
Em tirinhas e histórias em quadrinhos, a pontuação também é muito usada para produzir efeitos de sentido. Observe
os usos da palavra “novidade” no texto a seguir.
Richardson Freitas
No segundo e no terceiro quadros da tirinha, o uso do ponto de exclamação ao final do termo “novidade”, na fala da
mulher, evidencia seu sentimento em relação ao que diz o gerente do banco: ora tristeza, ora desespero. No quarto qua-
dro, no entanto, essa palavra vem seguida de reticências, o que indica que o gerente provavelmente estaria acostumado
com o tipo de pedido feito pela mulher, mostrando seu desânimo diante do ocorrido. As reticências, então, deixam no ar
uma ideia de que o gerente não tem mais esperanças de que aquela situação – descontrole financeiro e consequente
solicitação de empréstimo – mude.
Além de demarcar a entonação, os sinais de pontuação têm outra função importante: separar os elementos que se
intercalam ao núcleo informacional da frase. Assim, como não se separam o sujeito do predicado e o verbo de seus com-
plementos, o uso da vírgula permite a inserção de outros termos sintáticos que contribuem para a construção de sentidos
do texto.
Imagine, por exemplo, que o gerente tivesse dito:
Você extrapolou, mesmo depois de muitos avisos, o limite do seu cheque especial!
A informação destacada precisa ser colocada entre vírgulas porque houve quebra da organização sintática básica da
língua: sujeito, verbo e complemento.
Os diversos sinais de pontuação têm funções específicas no texto, por isso é fundamental conhecer cada um deles.
com.br/viagens/mae-de-flay-causa-em-aeroporto-durante-viagem-de-
familia/. Acesso em: 27 set. 2023.
A gente planta, planta e uma hora a coisa vai. [...] marcada pelo verbo “desculpar-se”. No entanto, um dos
DESIDÉRIO, Mariana; ARANHA, Carla. Exame, 26 mar. 2020.
Disponível em: https://exame.com/revista-exame/a-familia-a-frente/.
complementos verbais (“a jornalistas”) não aparece após
Acesso em: 27 set. 2023. o verbo – como dita o padrão SVC –, mas, sim, antes dele.
f) Isolar o aposto explicativo Na sequência, leia um trecho de uma carta aberta es-
crita pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), divulgada à
O trecho de notícia a seguir fala de uma garota que imprensa em 2021. O objetivo do documento é chamar a
tinha o sonho de ter uma cama nova, tendo seu desejo atenção de gestores e órgãos públicos para os problemas
realizado por uma equipe de policiais. Leia-o. enfrentados pela população brasileira, os quais, segundo o
Micaely Aparecida Dias Santos, de 9 anos, comoveu os órgão, foram agravados durante a pandemia de covid-19.
policiais militares de São João do Pacuí, cidade a 490 km de
Carta aberta ao Brasil
Belo Horizonte, em Minas Gerais.
A menina, que mora com a família em uma área rural [...]
a 12 km da cidade, desejava ter uma cama nova e realizou O país precisa de um plano de retomada econômica, sem
o sonho após escrever uma cartinha e entregá-la na sede da ignorar o patamar recorde de quase 15 milhões de pessoas
Polícia Militar da região. desempregadas; a diminuição da capacidade produtiva da
[...] economia e a volta da inflação – um cenário preocupante,
MENINA de 9 anos realiza sonho de ter cama depois de enviar carta para que exige medidas emergenciais e a responsabilidade dos
a PM. UOL, 16 jun. 2021. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ governantes, em todas as esferas. O meio ambiente também
cotidiano/ultimas-noticias/2021/06/16/menina-de-9-anos-realiza-sonho-de-
padece, com queimadas históricas e a destruição de importan-
ter-cama-depois-de-fazer-pedido-para-pm.htm. Acesso em: 27 set. 2023.
tes biomas, do Pantanal à Amazônia, dos Pinheirais e searas
Na notícia, os termos destacados cumprem uma im- do Paraná ao Juquery, na grande São Paulo.
portante função: servem para acrescentar uma explicação Com tamanha gama de desafios a serem enfrentados pelo
em relação ao que foi dito anteriormente no texto. A vír- nosso país, não há tempo e nem espaço para desvios e desagre-
gula, então, deve ser colocada sempre antes e após um gações. Nossas armas devem ser as boas ideias – alicerces da
elemento explicativo – que, sintaticamente, é um aposto –, paz social. Defendemos, portanto, a construção de pontes para
isolando-o do núcleo informacional central. Assim, “de o efetivo diálogo federativo para a pactuação e coordenação
9 anos” é uma informação relevante sobre o sujeito da das políticas públicas. Clamamos por respeito à democracia,
sentença (“Micaely Aparecida Dias dos Santos”), trazendo às instituições e à população brasileira.
a idade da criança. Já o termo “cidade a 490 km de Belo Brasília, 30 de agosto de 2021.
Horizonte” explica onde fica São João do Pacuí, para que Frente Nacional de Prefeitos
o leitor tenha alguma referência de localização, pois se PREFEITOS defendem diálogo federativo em Carta aberta ao Brasil.
Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos, 30 ago. 2021. Disponível
trata de um município pouco conhecido. em: https://fnp.org.br/noticias/item/2653-prefeitos-defendem-dialogo-
federativo-em-carta-aberta-aobrasil. Acesso em: 15 dez. 2023.
Atenção Observe que, ao final do texto, a vírgula é usada para
Aposto é o elemento sintático que pode evidenciar uma separar o local e a data – informações indispensáveis ao
explicação ou resume um termo apresentado anterior- gênero textual carta e essenciais para que os dados divul-
mente na oração. gados em uma carta aberta tenham maior credibilidade e
validade. Imagine, por exemplo, que alguém encontre esta
Se o aposto vier ao final da frase, a vírgula é inserida carta daqui a 10 anos, ao realizar uma pesquisa para enten-
antes dele, e o período se encerra com um ponto-final. der como a pandemia afetou os municípios e os cidadãos
Observe: brasileiros. Essas informações seriam suficientes para que
ele situe no tempo o texto produzido, o que o ajudará, de
Micaely recebeu ajuda de policiais militares, certo modo, em sua análise e interpretação.
os “padrinhos” do sonho da jovem. Vale destacar ainda que se essa carta fosse enviada
aos órgãos de imprensa por correio, no envelope também
aposto em fim de frase vírgula que antecede seria fundamental o uso da vírgula para separar as informa-
o aposto ções do endereço. Além disso, em textos literários, quando
se representa uma carta ficcional ou um diário, as datas
Vale destacar que, além de estar separado na sentença também devem ser empregadas com o uso da vírgula.
por uma ou duas vírgulas, o aposto também pode estar h) Separar termos ligados por conjunções coordena-
marcado por outros sinais de pontuação, como dois-pontos das repetidas
e travessão. Em textos poéticos, conjunções repetidas são utiliza-
das como um recurso expressivo. Leia o trecho do poema
Micaely recebeu ajuda de policiais militares: os “pa- a seguir.
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conjunção adversativa precedida de vírgula [...] Quando admiramos as estrelas “estampando” o céu
noturno como pequenos pontos brilhantes em meio à escu-
No período, que está entre aspas para demarcar a fala ridão, estamos vendo o resultado prático de processos físicos
que produzem a luz vista aqui na Terra. Isso porque estrelas são
da mãe, as orações 1 (“tenho a letra,”) e 2 (“mas não tenho
astros luminosos, ou seja, que geram a própria luz. Já a nossa
o número”) mantêm entre si uma relação de oposição. Ao
Lua é um astro iluminado, pois ela não gera a própria luz; ela
fazer essa afirmação, Salustiana reforça a ideia de que só po-
apenas reflete a luz solar em nossa direção. O mesmo acontece
deria ajudar com as aulas de português, já que não possuía
com outros planetas que às vezes ficam visíveis a olho nu no
conhecimento matemático para poder compartilhar com os
céu noturno, como Vênus, Marte, Júpiter e Saturno – o que
alunos, ficando esta disciplina a cargo apenas da professora
vemos é a luz solar refletida nesses mundos, que não geram a
Marlene. Observe que a conjunção adversativa “mas”, que
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mulher negra brasileira a se tornar PhD em Física. Note que o primeiro período do fragmento possui três
Desde pequena sempre fui muito curiosa. Minha avó me orações, sendo que as duas últimas estabelecem uma relação
chamava de xereta, e não era um elogio. A verdade é que todo de adição, com sujeitos diferentes: o termo “o governo do
mundo ficava sem paciência com as perguntas que eu fazia e presidente Bashar al Assad” é o sujeito da penúltima oração,
ninguém sabia responder. [...] enquanto “vários grupos de oposição” é o sujeito da última.
GUIMARÃES, Sônia. Contra todas as expectativas Ciência Hoje, Considerando, portanto, que esse trecho é formado por duas
abr. 2021. Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/
orações sequenciais com sujeitos distintos, devemos inserir
contra-todas-as-expectativas/. Acesso em: 28 set. 2023.
a vírgula antes da conjunção “e”, que liga as duas orações.
Uma característica importante da infância da pesquisa- • Quando o “e” aparece repetido.
dora – sua curiosidade – foi fundamental para estimulá-la
Leia o fragmento de outro poema de Alberto Caeiro,
em sua carreira. Na frase a seguir, Sônia apresenta a visão
heterônimo de Fernando Pessoa:
de sua avó em relação a ela.
Olá, guardador de rebanhos,
Minha avó me chamava de xereta, e não era um elogio. Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?
valor adversativo “Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
A conjunção “e”, em geral, tem valor aditivo, isto é, intro- E que passará depois.
duz ideias que se somam, como em: “Ela gosta de estudar E a ti o que te diz?" [...]
e de trabalhar”. No exemplo destacado, porém, o “e” tem PESSOA, Fernando. O Guardador de Rebanhos, X. Poemas de Alberto
Caieiro: obra poética II. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 52. (fragmento).
valor adversativo, já que pode ser substituído facilmente Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/
pela conjunção “mas”, também adversativa: “Minha avó me pe000001.pdf. Acesso em: 28 set. 2023.
chamava de xereta, mas não era um elogio.”. De forma seca, o guardador de rebanhos apresenta sua
A expressão “ser xereta” também pode ser considerada visão objetiva para o eu lírico, apresentando informações
algo bom, quando a associamos, por exemplo, ao desejo de que esclarecem o que diz o vento.
querer aprender cada vez mais. Nesse sentido, poderia ser Nos versos em que ocorre essa resposta, a vírgula é
um elogio. No entanto, a pesquisadora afirma que sua avó utilizada antes do “e”, separando as orações e evidenciando
pensava justamente o contrário: “não era um elogio”. Assim, uma soma de ideias:
a conjunção “e”, nesse enunciado, tem claramente valor
adversativo, marcando oposição de ideias. Além de ser Que é vento, e que passa,
utilizada com valor adversativo, a conjunção “e” – em geral E que já passou antes,
com valor aditivo – pode ser utilizada com valor consecuti- E que passará depois.
vo, ou seja, ligando ideias que indicam uma consequência.
A forma de organização do período é uma questão de A reportagem alerta sobre a importância de cuidados
escolha pessoal, mas é importante estar atento à pontua- com os pets. No entanto, existe a possibilidade de o leitor
ção, pois sempre que a oração subordinada adverbial iniciar não saber o que é “banho seco”. Por esse motivo, essa
a sentença, o uso da vírgula é obrigatório. expressão é explicada no texto.
Isso também vale se a oração adverbial vier intercalada
na sentença, ou seja, se estiver no meio da oração princi- vírgula obrigatória
pal. Para que a subordinada fique isolada na sentença, é
Uma boa alternativa é o famoso “banho seco”, que
obrigatório que ela esteja entre vírgulas.
consiste em colocar talco no seu mascote seguido de uma
boa escovação.
Uso de vírgula na oração subordinada adverbial
Subordinada após a principal Diga que vai pensar se você oração que explica o termo anterior
(sem vírgula) não souber o que dizer.
Subordinada antes da principal As orações que explicam o termo anterior são chama-
Se você não souber o que
(com vírgula separando das de subordinadas adjetivas explicativas. Antes delas,
dizer, diga que vai pensar.
as orações)
sempre deve haver uma vírgula. Ou, se ela vier no meio
Subordinada no meio da da oração principal, deve ser isolada entre vírgulas no pe-
principal (entre vírgulas, Diga, se você não souber o
ríodo. Veja.
isolando a subordinada que dizer, que vai pensar.
da principal)
O famoso “banho seco”, que consiste em colocar
Como usuários da língua, essas escolhas revelam tam-
talco no seu mascote seguido de uma boa escovação,
bém nosso posicionamento diante daquilo que falamos. Veja
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Richardson Freitas
Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/ao-vencedor-as-batatas/.
Acesso em: 28 set. 2023.
Além disso, o ponto de exclamação marca a intensida- Algumas das dificuldades para regulamentar a IA são a
de do barulho feito pelo vaso se quebrando e, no último necessidade de contemplar no processo dois agentes dis-
quadrinho, expressa o entusiasmo do personagem ao se tintos – os desenvolvedores e os usuários – e uma lacuna
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Nesse excerto, encontramos dois momentos em que são citadas diretamente as falas do bailarino:
1. “Agora vamos fazer o ‘arabesco’...”
2. “Viemos cumprimentá-lo e lhe dar um beijo”
Em citações, o mais frequente é o uso de aspas duplas. No entanto, se dentro do trecho citado for necessário dar
algum destaque a uma palavra, isso é feito com aspas simples. No exemplo 1, as aspas duplas marcam a fala do bailarino,
e as aspas simples – que estão dentro da citação já iniciada por aspas – colocam em evidência a palavra “arabesco”, que
é uma posição de balé. Também são usadas aspas simples quando há citação de uma fala dentro de um trecho citado,
que já está entre aspas duplas. Ou seja, a regra geral para uso das aspas simples é a de que, se for preciso abrir aspas
quando isso já foi feito antes, essas segundas aspas devem ser simples.
O mesmo recurso de citação é válido em produções teóricas e acadêmicas, em que se usa a citação de outras obras
com frequência para dar maior valor científico ao texto. Veja o exemplo a seguir.
Marcuschi (2010, p. 28), ao se referir à perspectiva dicotômica, que tem como foco a fala em oposição à escrita, afirma que “o
inconveniente [dessa visão] é considerar a fala como o lugar do erro e do caos gramatical, tomando a escrita como lugar da norma e
do bom uso da língua”.
ALENCAR, Andréa Gomes de. O gênero debate nos livros didáticos de Português do ensino médio: vozes em diálogo. 2017. 263 f.
Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo. p. 27.
d) Indicar ironia
A tirinha ao lado trata
Avós que inspiram: conheça o livro infantil “O menino que descobriu as cores”,
do autor mirim Tiago Vilariño
FERRAZ, Alex. Celebs, 19 jul. 2021. Disponível em: http://celebs.com.br/4859/avos-que-inspiram-conheca-o-livro-infantil-o-menino-que-descobriu-as-cores-
do-autor-mirim-tiago-vilarino/. Acesso em: 28 set. 2023.
Para destacar o título de um texto, um livro, uma obra de arte, um filme, uma canção etc., podem ser utilizados alguns
recursos, como o uso das aspas, do itálico ou do negrito. Na manchete, a expressão “O menino que descobriu as cores”
é o nome de uma obra de literatura infantil; por esse motivo, foi colocado entre aspas.
f) Demarcar gírias, neologismos, palavras estrangeiras ou desvios da norma-padrão da língua
Leia uma frase de para-choque de caminhão.
Na subida “cê” me aperta, na descida “nóis” acerta.
SABEDORIA popular. In: CORTELLA, Mario Sergio; SOUSA, Mauricio de. Vamos pensar um pouco?: lições ilustradas com a Turma da Mônica. São Paulo:
Cortez: Mauricio de Sousa Editora, 2017. p. 28.
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O enunciado apresenta duas palavras registradas conforme seu uso oral informal: “cê” e “nóis”. As aspas, nesses
casos, sinalizam para o leitor que o autor do texto conhece o uso formal dessas palavras, mas optou por um registro mais
popular, provavelmente por considerar o espaço de circulação do enunciado: as estradas em que o caminhão circula.
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de diversos pontos de exclamação contribuem para evi- (exclamação, interrogação e reticências) reforçam a expres-
denciar ao leitor os sentimentos das personagens durante sividade do discurso, contribuindo para que o leitor possa
o diálogo descrito. atribuir sentidos ao texto.
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Não deixe que Cláudia descubra. Não, deixe que Cláudia descubra.
Com a vírgula após o advérbio de negação, a intenção do
Sem a vírgula, o enunciado tem o sentido de esconder algo.
enunciado é de não esconder nada.
O uso ou não da vírgula também implica diferenças de sentido em frases em que um vocativo é confundido com o
sujeito da oração. Na tirinha a seguir, veja como a falta de compreensão de um dos alunos sobre o que deve ser escrito
está relacionada a esse problema sintático.
No enunciado, o verbo “ter” está sendo usado em um contexto informal, apresentando o sentido de “haver”, que é
impessoal, ou seja, não possui sujeito. No primeiro exemplo, temos, portanto, uma oração formada apenas por predicado
e objeto direto (“Só há uma mãe.”). No segundo, porém, o termo “mãe”, isolado do restante da sentença por vírgula, é
um vocativo – sempre que uma palavra indica chamamento, ela deve ser separada do restante da oração por meio de
vírgula. Na tirinha há outros enunciados que apresentam termos com função de vocativo não isolados por vírgula, como
nas falas da professora, cuja pontuação correta seria: “Lívia, leia sua frase para nós!” e “Parabéns, Lívia! Sua vez, João”.
Na tirinha, a decepção da professora (“Eu mereço!”) está justamente no fato de o menino não ter compreendido o sentido
que ela pretendia. Considerando que esse texto remete ao lúdico, sabemos que o “engano” do aluno foi proposital para gerar
o humor, mas foi também bastante útil para nos ajudar a perceber como é importante estar atento ao fato de que, às vezes,
o uso ou não de uma pontuação pode mudar totalmente o sentido da informação. Pense, por exemplo, como seria diferente
se, em um relatório médico, em vez de escrever “O paciente está doente”, o profissional da saúde se confundisse e redigisse
“O paciente está doente?”. No primeiro caso, há uma constatação, uma certeza; no segundo, uma dúvida, uma incerteza.
Revisando
<id>002447_por_f1_c11_q0001</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
1. Ufam/PSC 2021 Por vários motivos a vírgula é usada na escrita. As frases a seguir estão todas corretamente pon-
tuadas e têm o motivo pelo qual se usou a vírgula entre parênteses. Uma delas, porém, NÃO contém a explicação
correta. Assinale, pois, a alternativa em que o motivo do uso desse sinal de pontuação está INCORRETO:
a) A Via-Láctea, que é uma galáxia, se perde entre bilhões de outras no universo (separar oração adverbial).
b) Viver, disse João Guimarães Rosa, é muito perigoso (separar oração intercalada).
c) Estudaram bastante; não conseguiram, no entanto, ser aprovados (separar conjunção deslocada).
d) Ela gosta das redes sociais e de fofocas; eu, de livros e boa música (indicar a elipse de um termo).
e) As crianças estudam, brincam, veem televisão durante a quarentena (separar orações coordenadas).
<id>002447_por_f1_c11_q0002</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
2. EEAR-SP 2023 Considerando o trecho seguinte, em qual alternativa há erro no emprego da vírgula?
Mesmo em menor quantidade o lixo residencial também pode conter substâncias tóxicas e por isso deve-se ter cuida-
do especial com alguns descartes como: pilhas baterias de celular alguns tipos de lâmpadas remédios e embalagens
de inseticida.
a) e por isso,
b) Mesmo em menor quantidade,
c) deve-se ter cuidado especial com alguns descartes, como
d) pilhas, baterias de celular, alguns tipos de lâmpadas, remédios
<id>002447_por_f1_c11_q0003</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
A resposta foi o sorriso inexprimível, mistura de sarcasmo, de bonomia e fatuidade, que desperta nos elegantes da corte
a ignorância de um amigo, profano na difícil ciência das banalidades sociais.
— Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher bonita. Queres conhecê-la?...
23
4. UPF-RS 2022
Lamentar a morte de mais de meio milhão de brasileiros por covid-19 é pouco. Esta é uma discussão de resposta muito
clara, quase óbvia. Se tivéssemos capacidade interna, poderíamos ter suprido parte das necessidades do mercado e reduzido
o impacto da pandemia no sistema de saúde em tempo hábil. O quadro de calamidade é resultado de décadas de políticas
de incentivo ___ mera reprodução em vez de estímulo ___ capacitação profissional e ao domínio do processo produtivo.
5 Começar reproduzindo (“copiando”) não é um problema. Basta lembrar da história do nylon, fibra têxtil sintética patenteada
pela empresa norte-americana DuPont em 1935 e usada para provocar a indústria japonesa e fazê-la exportar menos seda. A
resposta japonesa foi contundente e imediata: “copiar” o processo de manufatura e produzir nylon 6 meses após a desfeita.
Atualmente, a China domina o mercado mundial de nylon, seguida por Estados Unidos, Japão e Tigres Asiáticos. Os chineses
perceberam que, na era tecnológica, “o caminho mais curto para crescer é apostar em três frentes: inovação, inovação e inovação”.
10 Nesse contexto, pergunto: qual é o perfil da nossa indústria farmacêutica? Produzimos genéricos… até hoje. Mas a
política de “genéricos” tem como fragilidade o fato de incluir apenas medicamentos cujas patentes já tenham expirado.
O problema do conhecimento tecnológico insuficiente e a dificuldade do nosso país em evoluir de “copiar” para “inovar”
precisa ser tratado com prioridade e sem demagogia para romper o ciclo vicioso da dependência tecnológica e trazer um
diferencial competitivo.
15 O projeto de cranioplastia, reparo craniano extenso, pode ilustrar tanto a inovação estimulada pela demanda como os
entraves burocráticos ao desenvolvimento do produto. Pelo lado clínico, ___ cirurgias de reconstrução do crânio após remoção
da calota craniana envolvem um alto custo, incluindo a malha de titânio e porcelanato usada atualmente, totalizando um gasto
entre R$ 120 mil e R$ 200 mil por paciente, o que torna sua realização no Sistema Único de Saúde (SUS) economicamente
inviável. A cranioplastia faz-se necessária não somente por razões estéticas – o que, por si só, já justificaria o procedimento –,
20 mas também para assegurar que o cérebro do paciente fique mais protegido e com melhor irrigação sanguínea, resultando
em melhoras cognitivas e comportamentais e facilitando ___ reintrodução do indivíduo na sociedade.
No momento, infelizmente, a implantação de próteses cranianas é realizada pelo SUS somente mediante doação ou
após sentença judicial, considerando que o paciente corre risco de vida.
Nossa equipe desenvolveu uma solução utilizando uma prótese de polimetilmetacrilato (PMMA) confeccionada durante
25 o período da cirurgia, com resultados semelhantes e até superiores aos das próteses de titânio e porcelanato disponíveis,
5. AFA-SP 2023
A Pátria
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
o pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! não verás país nenhum como este:
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6. ESPM-SP 2023 Apesar de o juro real estar perto de 6% (nível considerado restritivo), a capacidade ociosa da
economia tem ficado cada vez menor, e alguns modelos apontam que a economia já opera acima da sua capa-
cidade produtiva. Com as medidas de núcleo da inflação – aquelas que buscam captar a tendência dos preços
desconsiderando efeitos de choques temporários – em 10% nos últimos 12 meses (o mesmo valor dos últimos
3 meses anualizados), é difícil argumentar que a inflação esteja sofrendo algum efeito de uma demanda mais fraca.
(Solange Srour, Folha de S.Paulo, 07/09/2022)
7. Enem 2020 Muito do que gastamos (e nos desgastamos) nesse consumismo feroz podia ser negociado com a gente mesmo:
uma hora de alegria em troca daquele sapato. Uma tarde de amor em troca da prestação do carro do ano; um fim de semana
em família em lugar daquele trabalho extra que está me matando e ainda por cima detesto.
Não sei se sou otimista demais, ou fora da realidade. Mas, à medida que fui gostando mais do meu jeans, camiseta e
mocassins, me agitando menos, querendo ter menos, fui ficando mais tranquila e mais divertida. Sapato e roupa simbolizam
bem mais do que isso que são: representam uma escolha de vida, uma postura interior.
Nunca fui modelo de nada, graças a Deus. Mas amadurecer me obrigou a fazer muita faxina nos armários da alma e na
bolsa também. Resistir a certas tentações é burrice; mas fugir de outras pode ser crescimento, e muito mais alegria.
LUFT, L. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2011.
Nesse texto, há duas ocorrências de dois-pontos. Na primeira, eles anunciam uma enumeração das negociações que
podemos fazer conosco. Na segunda, eles introduzem uma
a) opinião sobre o uso de jeans, camiseta e mocassins.
b) explicação sobre a simbologia de sapatos e roupas.
c) conclusão acerca da oposição entre otimismo e realidade.
d) comparação entre ostentação e conforto em termos de vestuário.
e) retomada da ideia de negociação discutida no primeiro parágrafo.
<id>002447_por_f1_c11_q0008</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
8. Enem 2020
O ouro do século 21
Cério, gadolínio, lutécio, promécio e érbio; sumário, térbio e disprósio; hólmio, túlio e itérbio. Essa lista de nomes
esquisitos e pouco conhecidos pode parecer a escalação de um time de futebol, que ainda teria no banco de reservas
lantânio, neodímio, praseodímio, európio, escândio e ítrio. Mas esses 17 metais, chamados de terras-raras, fazem parte
da vida de quase todos os humanos do planeta. Chamados por muitos de “ouro do século 21”, “elementos do futuro”
ou “vitaminas da indústria”, eles estão nos materiais usados na fabricação de lâmpadas, telas de computadores, tablets
e celulares, motores de carros elétricos, baterias e até turbinas eólicas. Apesar de tantas aplicações, o Brasil, dono da
segunda maior reserva do mundo desses metais, parou de extraí-los e usá-los em 2002. Agora, volta a pensar em reto-
mar sua exploração.
SILVEIRA. E. Disponível em: www.revistaplaneta.com.br. Acesso em: 6 dez. 2017 (adaptado).
As aspas sinalizam expressões metafóricas empregadas intencionalmente pelo autor do texto para
a) imprimir um tom irônico à reportagem.
b) incorporar citações de especialistas à reportagem.
c) atribuir maior valor aos metais, objeto da reportagem.
d) esclarecer termos científicos empregados na reportagem.
e) marcar a apropriação de termos de outra ciência pela reportagem.
1. Fuvest-SP 2023 Leia o fragmento e responda à Ao contrário dos poetas humanos, a inspiração de
questão: Ai-Da é baseada em 14 233 versos da “Divina Comédia”
de Dante Alighieri, uma base de palavras e programas de
A história do gênero biografia nasceu de tal maneira
análise de padrões de fala. Depois de processar as cen-
colada à historiografia do XIX que, a princípio, nem ao
20 tenas de linhas, o robô humanoide usou algoritmos para
menos recebeu nome ou alcunha. Afinal, ele resumia a
criar um poema.
própria disciplina. O modelo dessa forma de fazer história
Dado o crescente avanço dos modelos linguísticos,
era aquele que consagrava ao profissional a capacidade de
Aidan Meller [criador do Ai-Da] acredita que, em breve,
enaltecer e engrandecer aquele que seria biografado. Histó-
“serão completamente indistinguíveis dos textos huma-
rias de reis, príncipes, senadores e governantes eram as mais
25 nos”. /.../ Na verdade, em entrevista à CNN, o criador
recomendadas, para todo aquele que quisesse dignificar seu
do Ai-Da disse que o robô é capaz de imitar tão bem
personagem, mas também sua pátria e nacionalidade. No
a caligrafia de um humano que, se lermos, não sabere-
Brasil, o gênero foi amplamente praticado pelo Instituto His-
mos que não foi escrito por um. Meller acrescentou ainda
tórico e Geográfico que nasceu voltado ao enaltecimento
que, embora não veja a poesia de Ai-Da como uma real
do Império. Só se faziam estudos de grandes vultos, assim
30 competição com os poetas humanos, ele admite que é
como era prática do estabelecimento fazer biografia dos
“fundamentalmente perturbador”, tendo em conta a qua-
“outros próceros” e dos da “casa”. Assim, ao lado das traje-
lidade de trabalho apresentada pelo robô.
tórias de reis, rainhas, governadores gerais, literatos de fama,
Fonte: The Guardian (Disponível em https://www.maistecnologia.com/
realizavam-se, no dia a dia da instituição, relatos biográficos criado-robo-queescreve-poesia-desenvolvida-por-inteligencia-artificial/.
sobre os sócios locais. Não por coincidência media-se a Acesso em 13/03/2023)
importância do associado, a partir da pessoa que realizava
Considere o trecho extraído do texto.
sua biografia. Isto é, quando um dos sócios falecia, dizia a
regra local que era preciso realizar uma peça biográfica que Dado o crescente avanço dos modelos linguísticos,
seria impressa nas páginas da revista do estabelecimento. Aidan Meller (criador do Ai-Da) acredita que, em breve,
É muito fácil entender a economia interna da instituição que “serão completamente indistinguíveis dos textos huma-
costumava avaliar a relevância do homenageado a partir da nos”. (l. 22-25)
projeção e proeminência daquele que redigia a homena-
Assinale a única alternativa em que ocorrem vírgulas
gem, a qual também era dirigida à instituição e à própria
utilizadas pelo mesmo motivo do trecho sublinhado.
nação, como num jogo de dominó.
Lilia Moritz Schwarcz. “Biografia como gênero e problema”. 2013.
a) “Ai-Da, por exemplo, é um verdadeiro artista capaz de
Adaptado. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/002720404 pintar, desenhar, esculpir e escrever poesia.” (l. 4-5)
b) “Depois de processar as centenas de linhas, o
a) Tendo em vista as informações sobre o gênero
robô humanoide usou algoritmos para criar um
“biografia”, explique o sentido da expressão “jogo
poema.” (l. 19-21)
de dominó” no texto.
c) “Na verdade, em entrevista à CNN, o criador do
b) Considerando a função sintática da locução “a
Ai-Da disse que o robô é capaz de imitar tão bem
princípio” e da oração “quando um dos sócios fa-
a caligrafia de um humano /.../.” (l. 25-28)
lecia”, justifique a utilização das vírgulas.
<id>002447_por_f1_c11_q0010</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
d) “A apresentação do Ai-Da realizou-se no Ashmolean
2. AFA-SP 2024 Museum na Universidade de Oxford na passada
sexta-feira, tendo o robô feito parte de uma exposi-
Criado robô que escreve poesia desenvolvida ção em homenagem ao 700o aniversário da morte
por Inteligência Artificial do poeta Dante Alighieri.” (l. 9-13)
<id>002447_por_f1_c11_q0011</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Por Cátia Santos – 1 de dezembro de 2021.
3. FAG-PR 2019
Embora os robôs sejam criados para realizar tarefas
muito específicas e mecânicas, os avanços na tecnologia
População está envelhecendo? Imigrantes
permitiram que eles aprendessem sobre suas habilidades podem ser a solução, segundo o FMI
particulares. Ai-Da, por exemplo, é um verdadeiro artista Numa época em que a imigração provoca debates
5 capaz de pintar, desenhar, esculpir e escrever poesia. candentes e reações violentas em muitas partes do mundo,
Este robô utiliza um modelo sofisticado de linguagem, o FMI lança um alerta sobre o envelhecimento populacio-
uma base de dados de palavras e uma análise de padrões nal nos países avançados.
de fala. No seu relatório econômico global divulgado nesta
A apresentação do Ai-Da realizou-se no Ashmolean semana constam as estimações demográficas da ONU
10 Museum na Universidade de Oxford na passada sexta- indicando que a população local vai se reduzir em boa
-feira, tendo o robô feito parte de uma exposição em parte dos países desenvolvidos.
homenagem ao 700o aniversário da morte do poeta Dante Desde logo, daqui a algumas décadas, a mão de obra
FRENTE 1
Alighieri. Além de escrever poemas, através do recurso à ativa terá que sustentar o dobro dos idosos que existem
Inteligência Artificial, o robô consegue ser capaz de pintar, atualmente nesses países, cortando 3% de sua produção
15 desenhar e esculpir. econômica por volta de 2050.
27
c) separar adjunto adverbial deslocado. 5. IFSul-RS 2016 Assinale a alternativa em que NÃO há
d) indicar a ocorrência de elipse. erro de pontuação.
e) Nenhuma das alternativas anteriores. a) Os primeiros sinais de pontuação surgiram no
<id>002447_por_f1_c11_q0012</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
início do Império Bizantino, mas sua função era
4. PUC-RS 2016 Elie Wiesel, um dos sobreviventes dos diferente das atuais.
campos de concentração e Nobel da Paz em 1986, dis-
b) O que hoje é o ponto final, servia para separar
se que a intolerância está situada no início do ódio. A
uma palavra da outra.
relação parece-me correta. A intolerância é uma indis-
c) Os espaços brancos, entre palavras só aparece-
posição diante do outro; uma variedade da impaciência
ram no século VII, na Europa.
Eminescu, que papai ao menos tentou ler, como é fácil precioso do que um tesouro. Na estrutura modi-
inferir das folhas cortadas a espátula. Há uma edição em ficada – “com outro, bem mais precioso ainda”,
alfabeto árabe das Mil e Uma Noites que ele não leu, mas bem seria um advérbio, e a expressão teria o
29
10. UFRN 2018 — Temos sorte de viver no Brasil — dizia Hoje, o Brasil tem planos agressivos para desenvolver
meu pai, depois da guerra. — Na Europa mataram mi- e industrializar a Amazônia. Até os territórios mais remotos
lhões de judeus. 10 estão agora sob ameaça. Vários complexos de barragens
Contava as experiências que os médicos nazistas fa- hidrelétricas estão sendo construídos perto de tribos iso-
5 ziam com os prisioneiros. Decepavam-lhes as cabeças, ladas, e eles também irão privar milhares de outros índios
faziam-nas encolher – à maneira, li depois, dos índios da terra, água e meios de subsistência. Os complexos de
Jivaros. Amputavam pernas e braços. Realizavam estranhos barragens irão fornecer energia barata para as empresas de
transplantes: uniam a metade superior de um homem à 15 mineração, que estão prestes a realizar a mineração em
metade inferior de uma mulher, ou aos quartos traseiros grande escala nas terras indígenas se o Congresso aprovar
10 de um bode. Felizmente morriam essas atrozes quimeras; um projeto de lei que está sendo empurrado duramente
expiravam como seres humanos, não eram obrigadas a pelo lobby de mineração.
viver como aberrações. (A essa altura eu tinha os olhos Muitas tribos do sul do país como os Guarani vivem
cheios de lágrimas. Meu pai pensava que a descrição das 20 em condições desumanas sob barracos de lona em beiras
maldades nazistas me deixava comovido.) de estradas. Seus líderes estão sendo sistematicamente
15 Em 1948 foi proclamado o Estado de Israel. Meu pai atacados e mortos por milícias privadas de pistoleiros con-
abriu uma garrafa de vinho – o melhor vinho do armazém –, tratados pelos fazendeiros para evitar que eles ocupem
brindamos ao acontecimento. E não saíamos de perto do sua terra ancestral. Muitos Guarani cometem suicídio em
rádio, acompanhando as notícias da guerra no Oriente 25 desespero com a falta de qualquer futuro significativo.
Médio. Meu pai estava entusiasmado com o novo Estado: Os Guarani estão se suicidando por falta de terra.
20 em Israel, explicava, vivem judeus de todo o mundo, ju- “A gente antigamente tinha a liberdade, mas hoje em dia
deus brancos da Europa, judeus pretos da África, judeus nós não temos mais liberdade. Então, por isso, os nossos
da Índia, isto sem falar nos beduínos com seus camelos: jovens vivem pensando que eles não têm mais condições
tipos muito esquisitos, Guedali. 30 de viver. Eles se sentam e pensam muito, se perdem e se
Tipos esquisitos – aquilo me dava ideias. suicidam.” Rosalino Ortiz, Guarani
25 Por que não ir para Israel? Num país de gente tão es- Disponível em: www.survivalbrasil.org/povos/indios-brasileiros.
Acesso em: 28 abr. 2017.
tranha – e, ainda por cima, em guerra – eu certamente não
chamaria a atenção. Ainda menos como combatente, entre Com base na leitura do texto e nas expressões em
a poeira e a fumaça dos incêndios. Eu me via correndo pelas destaque, assinale a alternativa INCORRETA.
ruelas de uma aldeia, empunhando um revólver trinta e oito, a) No trecho “Nós não sabíamos que os brancos
30 atirando sem cessar; eu me via caindo, varado de balas. iam tirar a nossa terra. Nós não sabíamos de
Aquela, sim, era a morte que eu almejava, morte heroica, nada sobre o desmatamento. Nós não sabíamos
esplêndida justificativa para uma vida miserável, de monstro sobre as leis dos homens brancos.” (linhas 3-6) a
encurralado. E, caso não morresse, poderia viver depois num repetição de “nós não sabíamos” tem a função de
kibutz. Eu, que conhecia tão bem a vida numa fazenda, ressaltar informações que o índio desconhecia.
35 teria muito a fazer ali. Trabalhador dedicado, os membros
b) O trecho “Hoje, o Brasil tem planos agressivos
do kibutz terminariam por me aceitar; numa nova sociedade
para desenvolver e industrializar a Amazônia”,
há lugar para todos, mesmo os de patas de cavalo.
(linhas 8 e 9), se modificado para “Hoje, no
Adaptado de: SCLIAR, M. O centauro no jardim. 9. ed.
Porto Alegre: L&PM, 2001. Brasil, _______ planos agressivos para de-
senvolver e industrializar a Amazônia”, deveria,
Assinale a proposta de mudança no emprego de de acordo com a modalidade formal da língua
vírgula que mantém a correção e o sentido do enun- portuguesa, fazer uso do verbo HAVER para
ciado original. preencher a lacuna.
a) Colocação de vírgula imediatamente após expe- c) No trecho “Hoje, o Brasil tem planos agressivos
riências (l. 4). para desenvolver e industrializar a Amazônia”. (li-
b) Colocação de vírgula imediatamente após Feliz- nhas 8 e 9) O uso da palavra ‘agressivos’ indica
mente (l. 10). posição ideológica do autor, ou seja, não há neu-
c) Colocação de vírgula imediatamente após que (l. 13). tralidade na informação.
d) Colocação de vírgula imediatamente após país (l. 25). d) No trecho “Nos 514 anos desde que os europeus
e) Colocação de vírgula imediatamente após morte chegaram ao Brasil, os povos indígenas sofreram
(l. 31). genocídio em grande escala, e perda da maioria
<id>002447_por_f1_c11_q0019</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
11. UFU-MG 2017 de suas terras”, (linhas 1-3) a vírgula antes da con-
junção e está adequadamente empregada.
Desafios atuais e ameaças <id>002447_por_f1_c11_q0020</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
5 sabíamos de nada sobre o desmatamento. mada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse
Nós não sabíamos sobre as leis dos homens brancos.” trazido à sua presença um pirata, que por ali andava rou-
(Enawenê Nawê) bando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de
31
andar em tão mau ofício; porém ele, que não era medroso 13. PUC-RS 2015 As transformações que têm ocorrido na so-
nem lerdo, respondeu assim: “Basta, Senhor, que eu, porque ciedade contemporânea, em especial a partir dos anos 70,
roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em vêm propiciando mudanças nas relações científicas estabe-
uma armada, sois imperador?”. Assim é. O roubar pouco é lecidas com o ambiente internacional. Um evento norteador
culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco po- 5 das transformações societais e decisivo para essas mudanças
der faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas foi a globalização, que trouxe fortes evidências do entrosa-
Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar mento entre ciência e sociedade e alterou a dinâmica de
as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: produção do conhecimento, com efeitos no ensino superior
[...] Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que sobretudo, realçando a importância da internacionalização
faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm
10 nas funções de transmitir e produzir conhecimento.
o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.
Universidade, ciência, inovação e sociedade. 36o Encontro Anual da
Quando li isto em Sêneca, não me admirei tanto de que ANPOCS. (Texto adaptado.)
um filósofo estoico se atrevesse a escrever uma tal sentença
em Roma, reinando nela Nero; o que mais me admirou, e INSTRUÇÃO: Para responder à questão, considere as
quase envergonhou, foi que os nossos oradores evangélicos afirmativas sobre a pontuação do texto.
em tempo de príncipes católicos, ou para a emenda, ou I. As vírgulas da linha 2 poderiam ser substituídas
para a cautela, não preguem a mesma doutrina. Saibam por travessões sem prejuízos ao sentido e à cor-
estes eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o reção do texto.
que calam que com o que disserem; porque a confiança II. A utilização de uma vírgula depois de “em es-
com que isto se diz é sinal que lhes não toca, e que se não pecial” (linha 2) e antes de “sobretudo” (linha 9)
podem ofender; e a cautela com que se cala é argumento provocaria ambiguidade nos períodos.
de que se ofenderão, porque lhes pode tocar. [...]
III. A inserção de vírgulas antes e depois de “e deci-
Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo não
sivo para essas mudanças” (linha 5) tornaria mais
são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e vileza de sua
fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma
clara a relação de ênfase estabelecida com o
sua miséria ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladrão segmento anterior.
que furta para comer não vai nem leva ao Inferno: os que IV. As vírgulas das linhas 6 e 8 poderiam ser retiradas
não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de sem prejuízo ao significado e à estrutura do período.
maior calibre e de mais alta esfera [...]. Não são só ladrões,
Estão corretas apenas as afirmativas
diz o santo [São Basílio Magno], os que cortam bolsas, ou
a) I e II. c) II e IV. e) II, III e IV.
espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa;
os ladrões que mais própria e dignamente merecem este
b) I e III. d) I, II e III.
<id>002447_por_f1_c11_q0022</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos 14. Unifesp 2020 Leia a crônica “Inconfiáveis cupins”, de
e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração
Moacyr Scliar, para responder à questão.
das cidades, os quais já com manhã, já com força, rou-
bam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um Havia um homem que odiava Van Gogh. Pintor des-
homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam conhecido, pobre, atribuía todas suas frustrações ao artista
debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os holandês. Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis
outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam. girassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes
Essencial, 2011. deformados, dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu
Verifica-se o emprego de vírgula para indicar a elipse instinto criador.
Decidiu mover uma guerra implacável, sem quartel,
(supressão) do verbo em:
às telas de Van Gogh, onde quer que estivessem. Come-
a) “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca,
çaria pelas mais próximas, as do Museu de Arte Moderna
sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada,
de São Paulo.
sois imperador?” (1o parágrafo)
Seu plano era de uma simplicidade diabólica. Não
b) “O ladrão que furta para comer não vai nem leva
faria como outros destruidores de telas que entram num
ao Inferno: os que não só vão, mas levam, de que
museu armados de facas e atiram-se às obras, tentando
eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais
destruí-las; tais insanos não apenas não conseguem seu
alta esfera [...].” (3o parágrafo) intento, como acabam na cadeia. Não, usaria um método
c) “O roubar pouco é culpa, o roubar muito é gran- científico, recorrendo a aliados absolutamente insuspei-
deza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o tados: os cupins.
roubar com muito, os Alexandres.” (1o parágrafo) Deu-lhe muito trabalho, aquilo. Em primeiro lugar, era
d) “Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o necessário treinar os cupins para que atacassem as telas de
que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, Van Gogh. Para isso, recorreu a uma técnica pavloviana.
todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo Reproduções das telas do artista, em tamanho natural, eram
nome.” (1o parágrafo) recobertas com uma solução açucarada. Dessa forma, os
e) “Os outros ladrões roubam um homem, estes rou- insetos aprenderam a diferenciar tais obras de outras.
bam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um tipo
seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, de cupim que só queria comer Van Gogh. Para ele era
se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.” repulsivo, mas para os insetos era agradável, e isso era o
(3o parágrafo) que importava.
um lado, o texto escrito mantinha-se como detentor dos ninguém descobre sua timidez. Já no notoriamente tímido
10 valores da ciência, do conhecimento e do saber, enquanto, a timidez que usa para disfarçar sua extroversão tem o
de outro lado, os meios de informação e entretenimento, tamanho de um carro alegórico. Daqueles que sempre
33
lavada e não havia como miar, latir e reivindicar mais nada 19. Uece 2019
aos pais, só agradecer.
Grito Negro
As minhas fontes de renda eram praticamente duas:
procurar dinheiro nas bolsas vazias da mãe, torcendo para Eu sou carvão!
que deixasse alguma nota na pressa da troca dos acessó- E tu arrancas-me brutalmente do chão
rios, ou catar moedas nas ruas e nos bueiros. e me fazes tua mina, patrão.
A modalidade de caça a dinheiro perdido exigia Eu sou carvão!
disciplina e profissionalismo. Saía de casa pelas 13h e 5 E tu acendes-me, patrão,
caminhava por duas horas, com a cabeça apontada ao para te servir eternamente como força motriz
meio-fio como pedra em estilingue. Varria a poeira com os mas eternamente não, patrão.
pés e cortava o mato com canivete. Fui voluntário remoto Eu sou carvão
do Departamento Municipal de Limpeza Urbana. e tenho que arder sim;
Gastava o meu Kichute em vinte quadras, do bairro 10 queimar tudo com a força da minha combustão.
tebol brasileiro. A CBF fazia uma pesquisa parecida, mas Muito prazer, sou a jornalista que estacionou o carro
deixou de publicar por causa das distorções criadas pelos de Caetano no Leblon.
25 contratos de direito de imagem. Segundo a última edição Elisangela Roxo
35
e bem escritas. Olhei para fora e lá estava eu, solitária, Observe as seguintes afirmações sobre o emprego
em frente ao computador, já tarde da noite, numa gaiola de sinais de pontuação, considerando o sentido origi-
envidraçada, com vista panorâmica para a Marginal Pinhei- nal da frase e sua correção gramatical.
30 ros. Imaginei que apenas meia dúzia de gatospingados (e I. Substituição dos dois pontos da linha 21 por um
insones) iria ver a nota. Minha gracinha certamente desapa- ponto final.
receria em meio a tantas outras pérolas publicadas por nós.
II. Substituição dos dois pontos da linha 28 por uma
Adaptado de: https://abre.ai/cA92. Acesso em 13 abr. 2021.
vírgula.
Assinale a alternativa correta sobre o emprego dos III. Supressão da vírgula imediatamente depois de
sinais de pontuação no texto. “diz” (l. 33).
a) O ponto final da linha 03, depois de “saúde”, está
Quais estão corretas?
separando duas orações sintaticamente completas.
a) Apenas I. d) Apenas II e III.
b) Os dois-pontos da linha 06 introduzem discurso
b) Apenas II. e) I, II e III.
direto.
c) Apenas I e III.
c) As reticências das linhas 04 e 16 equivalem a etc. <id>002447_por_f1_c11_q0032</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
37
26. Acafe-SC 2023 O dinheiro compra bajuladores ▲ mas 28. Udesc 2018 Mas então eu tive um mau pressentimen-
não amigos ● compra a cama ▲ mas não o sono ● com- to... Parei de tocar... A pessoa pediu:
pra pacotes turísticos ▲ mas não a alegria ● compra todo CONTINUE! CONTINUE!
e qualquer tipo de produto ▲ mas não uma mente livre ● (toca e para)
compra seguros ▲ mas não o seguro emocional ■. 5 Gritava: MAIS! MAIS! MAIS! SEMPRE MAIS!
Cury, Augusto. Ansiedade: como enfrentar o mal do século. São Paulo: (toca e para)
Saraiva. 2017. Livro digital. [Adaptado]
E depois...
No texto, os símbolos ▲, ● e ■ podem ser CORRETA- (para a plateia)
MENTE substituídos por: Que aconteceu depois?
a) vírgula, ponto e vírgula e ponto-final, respectivamente. 10 (espantada)
b) dois pontos, ponto-final e ponto de exclamação, As lembranças chegam a mim aos pedaços... Ainda agora,
respectivamente. eu era menina...
c) vírgula, vírgula e ponto-final, respectivamente. (muda-se em menina. Corre, pelo palco, trocando as pernas)
d) dois-pontos, vírgula e ponto-final, respectivamente. Onde está a Margarida, olé, oli, olá?
<id>002447_por_f1_c11_q0035</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> 15 (põe-se de joelhos para espiar as águas de imaginário rio)
27. UEL-PR 2018 Cientistas da Universidade Federal do Rio Vejo restos de memória, boiando num rio,
de Janeiro (UFRJ) descobriram uma forma de diagnos- (aponta o chão)
ticar e tratar o Mal de Alzheimer, doença degenerativa Num rio que talvez não exista...
que mais afeta pessoas no mundo, especialmente na (ri, feliz)
velhice. Em animais, o método interrompeu o processo 20 Passam na corrente gestos e fatos...
de perda de funções do cérebro causado pela doença. (apanha na água invisível, com as pontas dos dedos, algo
A descoberta foi um dos destaques na revista Journal of
que teoricamente goteja)
Neuroscience, uma das principais publicações científi-
Eis um fato antigo.
cas. De acordo com reportagem do jornal O Globo, o
(aponta para o ar)
alvo do estudo foram os astrócitos, tipo de célula cerebral
25 Vejo também pedaços de mim mesma por toda parte...
considerada secundária até há alguns anos. Sem eles, as
(numa revolta)
mensagens químicas que fazem o cérebro comandar o
Meus Deus, como era mesmo o meu rosto, meus cabelos,
organismo não são enviadas.
As mensagens químicas são destruídas por uma substân- cada uma de minhas feições?
cia inflamatória chamada oligômero ab e os pesquisadores (para uma espectadora)
descobriram que eles atacam os astrócitos. O resultado é 30 Minha senhora, esqueci meu rosto em algum lugar.
que as células deixam de produzir uma substância essencial Adapt. RODRIGUES, Nelson. A valsa no 6. 2. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2012. pp. 30 e 31.
para a comunicação chamada TGF-b1, uma molécula que
pode ser sintetizada e, quando dada aos camundongos, fez Analise as proposições em relação à obra Valsa no 6,
com que a memória deles voltasse. “O que descobrimos não de Nelson Rodrigues, e ao texto.
significa a cura, mas uma estratégia para conter o avanço
I. Na estrutura “Mas então eu tive um mau pressenti-
da doença. Também pode ser um indicador do Alzheimer,
quando as perdas de função cognitiva ainda não são evi-
mento... Parei de tocar...”, (l. 1 e 2) o emprego do sinal
dentes”, disse ao GLOBO a coordenadora do estudo, Flavia de reticência sugere medo, apreensão, suspense.
Alcântara Gomes, do Instituto de Ciências Biomédicas da II. Da leitura da obra, infere-se que o elemento inte-
Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB/UFRJ). grador entre os dois atos da peça é a Valsa no 6,
Disponível em: https://br.noticias.yahoo.com/cientistas-brasileiros- cuja execução varia conforme o estado emocio-
descobrem-maneira-de-deter-o-mal-de-alzheimer-185422617.html. nal da personagem Sônia.
Acesso em: 23 jun. 2017.
III. Da leitura de “Vejo também pedaços de mim
Sobre os recursos linguístico-semânticos utilizados no mesma por toda parte”, (l. 25) infere-se que a per-
texto, considere as afirmativas a seguir. sonagem Sônia, por meio da memória, busca a
I. As aspas revelam o depoimento da pesquisadora reconstituição dos fatos e da sua identidade.
e indicam o discurso direto. IV. As expressões destacadas em “Meu Deus, como
II. As informações entre parênteses são indispensá- era mesmo o meu rosto” e “Minha senhora, es-
veis, pois acrescentam dados imprescindíveis. queci meu rosto” (l. 27 e 30) têm a função sintática
III. A palavra “quando”, destacada no texto, apresen- de vocativo nas duas estruturas.
ta um sentido condicional. V. No período “Vejo restos de memória, boiando
IV. O termo “eles”, destacado no texto, concorda num rio” (l. 16), a palavra destacada representa,
com a ideia de plural do seu referente. para Sônia, momentos de lucidez da sua infância.
Assinale a alternativa correta. Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. a) Somente as afirmativas I, II, IV e V são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. b) Somente as afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. c) Somente as afirmativas II, III e V são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. e) Somente as afirmativas III, IV e V são verdadeiras.
29. UCS-RS 2022 Porém, a partir da virada dos anos 70 para os 80,
ressurgiram as (belas) regras da antiga poética grega. Aris-
O ex-cinema de autor 60 tóteles ressuscitou e passou a ser o pau para toda obra do
Arnaldo Jabor cinema comercial, a fórmula narrativa única e o pretexto
para a conexão total com o grande público. Aristóteles,
Estou escrevendo um novo filme, inspirado em um
conto de Rubem Fonseca. O roteiro está quase pronto, coitado, foi prostituído em todas as produções, as mais
e diante de mim já se desenham os impasses do cinema bárbaras, as mais desonestas. Pobre Aristóteles – virou
contemporâneo. Como filmar? É fácil partir para comédias 65 partitura não mais das tragédias gregas, mas dos maio-
5 ao gosto do público ou tentativas de imitar filmes de ação res abacaxis de Hollywood. O método narrativo de sua
norte-americanos. Mas como realizar um filme que busca poética passou a justificar uma máquina de sensações
refletir sobre a vida, sobre as tragédias ou comédias huma- programadas. Somos levados por inúmeras direções: pra-
nas num mundo tão fragmentado, em que a ficção ficou zeres sádicos, assassinatos explosivos, vinganças sem fim,
insignificante, frágil? A realidade parece ficção. 70 tudo narrado como uma ventania, como uma tempesta-
10 E as dúvidas continuam: com que linguagem devo de de planos (cenas) curtos, nunca mais longos do que
abordar o fragmentário, o indizível, como criar uma quatro segundos, tudo tocado por orquestras sinfônicas
linguagem coerente para um mundo incoerente? Como plagiando Ravel para cenas românticas, Stravinsky para
buscar sentido na falta de sentido? Nem mesmo temos violências e guerras, tudo para não desgrudarmos os
mais a falta de sentido absurdista de Beckett, ou do 75 olhos da tela. Não há mais tempo para um filme ser visto,
15 nouveau roman, em que mesmo o desencanto total al- refletido, com choro, risos, vida. O desejo dos produtores
mejava um sentido qualquer, uma disfarçada esperança. é justamente apagar o drama humano dentro de nossas
Como fazer um cinema de autor que não seja o refle- cabeças. O conflito é permanente, de forma a impedir o
xo da realidade, mas a realidade do reflexo? Hoje, o que observador de ver seus conflitos internos.
é importante? Não existe mais? Não adianta buscar uma 80 Hoje, os roteiros são feitos em computador, de
20 qualidade, uma excelência, que foi soterrada pela quan- modo a não deixar respiros para o _____. É preciso
tidade de informações e por uma dramaturgia falsamente encher cada buraco, para que nada se infiltre na aten-
nova, disfarçada no excesso infinito de formas de registrar. ção absoluta. Mais importantes que as personagens,
Hoje nem o absurdismo descreve mais o absurdo... Há o são as coisas em volta. Sim, as coisas. Personagem é
desejo de obstruir justamente possíveis epifanias dentro da 85 só um pretexto para mostrar o décor. E o décor é um
25 sala escura. Não me refiro às novas experiências digitais grande showroom dos produtos norte-americanos. As
na web, pois seu processo é imprevisível. Falo apenas da personagens são os maravilhosos aviões, os supercom-
tela grande, da esperança de criar uma obra de arte, como putadores, a genialidade técnica lutando por algum bem
se dizia antigamente. E aí, eu penso: como vou fazer esse ininteligível.
filme que escrevo? 90 O cinema moderno perdeu a magia de antes, porque
30 O grande pensador André Bazin, o cara que mais quanto mais se aperfeiçoam as maneiras de penetrar na
entendia do assunto, uma vez definiu os vários momentos realidade, mais distante ela fica. Explico. Em meio a efeitos
da evolução da linguagem cinematográfica. Ele dizia: na especiais espantosos, o humano fica mais oculto. Quanto
época do cinema mudo, a linguagem do filme evocava a mais se fazem descobertas, mais fundo é o túnel do misté-
realidade, como nos poemas dramáticos geniais de um 95 rio. A máquina do mundo, quanto mais aberta, mais fica
35 Eisenstein ou em “A Paixão de Joana D’Arc”. Os cineastas vazia e misteriosa. A perfeição digital, contemporânea,
faziam conexões poéticas que evocavam sentidos. reprodutiva, descreve bem o mundo, mas não o condensa
Depois dos anos 30, com o cinema falado, a linguagem em poesia. Hoje, é imensa a quantidade de imagens que
ficou descritiva, submetida a cânones realistas da vida. John invadem nossos olhos. Tantas são que se anulam. Tanta é
Ford ou Hawks são exemplos de grandes realistas. 100 a exposição da realidade diante de nossos olhos que não
40 Nos anos 50 e 60, com o advento de equipamentos vemos mais nada.
mais leves, herdeiros da pobreza do _____ italiano, surgiu A solução para mim talvez esteja na frase de Nelson
o Cinema Novo, longe dos estúdios, e assim nasceu, por Rodrigues: “Se a nossa época não gostar de minhas peças,
exemplo, a nouvelle vague, e suas ondas influíram no pior para nossa época”.
mundo inteiro. Buscávamos a importância de uma verda- Disponível em: https://www.otempo.com.br/opiniao/arnaldo-jabor/o-ex-
45 de sobre a vida pessoal e social, a ponto de até dizermos: cinema-de-autor-1.1269424. Acesso em: 17 fev. 2022. (Adaptado.)
“Este filme é uma droga, mas é importante”. Nessa épo-
Sobre os sinais de pontuação presentes no texto, é
ca, o cinema tinha uma forte importância cultural. Era
visto como uma barreira contra a cultura de massas que correto afirmar que
já dominava o panorama _____. Nossa ideia era atingir a) o ponto de interrogação (linha 4) assinala a pre-
50 o público e fazê-lo pensar, equivocando-o e conscien- sença de pergunta indireta.
tizando-o. Os filmes eram livres para criar uma nova b) as reticências (linha 23) assinalam inflexão argu-
dramaturgia, sem regras fixadas por produtores _____. mentativa.
O autor era absoluto. Godard, sem dúvida, foi o grande c) os parênteses (linhas 59 e 71) são empregados
criador dessa época. Abria-se um tempo semelhante ao para indicar oposição discursiva.
FRENTE 1
55 que foi o modernismo, o cubismo etc. A liberdade era d) o travessão (linha 64) introduz discurso direto.
imensa para vermos a vida de ângulos jamais explorados, e) as aspas (linha 46) realçam ironicamente uma
a vida com outros olhos. expressão.
39
30. EEAR-SP 2023 As alternativas abaixo compõem um I. a função de linguagem predominante coloca em
texto. Assinale a que apresenta um erro de pontuação. foco o enunciador da mensagem e busca expres-
a) Em 2005, Marisa Lajolo revelou ao país um lado sar sua atitude em relação ao enunciado.
desconhecido de Monteiro Lobato: o sentimental. II. na construção desse gênero textual coexistem as se-
b) Ela escreveu um livro que reúne postais enviados quências tipológicas narrativa, descritiva e dissertativa.
por Lobato a Purezinha, sua noiva e futura esposa. III. no trecho “Elas tanto vêm de ontem..., são de hoje...,
c) Numa época em que a internet não existia, os ora vozes..., ora gestos...”, o emprego das reticên-
cartões-postais foram durante dois anos, o princi- cias comprometeu a clareza da mensagem.
pal veículo de comunicação entre eles.
Marque a única alternativa inteiramente correta:
d) Esses cartões, cuja leitura é prazerosa por si só,
a) I e II apenas. c) II e III apenas.
são também um importante registro de como os
b) I e III apenas. d) I apenas.
jovens namoravam no início do século XX. <id>002447_por_f1_c11_q0040</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
<id>002447_por_f1_c11_q0039</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
32. Enem
31. PUC-GO 2023 Leia o excerto do texto Um lugar todo
meu, de Heloísa Helena:
Depois que tudo se aquieta, quando nem mais o tele-
fone toca, clareio apenas alguns recantos da minha casa
e caminho até a varanda, aquela de onde sou capaz de
contemplar mais longe e profundamente.
Não os telhados e muito menos os alpendres das casas
dos vizinhos, porém os meus dias, as minhas noites, brilho
e penumbra do muito que já passou ou ainda é.
São lembranças ao alcance do meu querer. Basta-me
chamá-las, como agora faço. Pouco a pouco, percebo que
impressões começam a chegar, assenhoram-se de mim
e fazem do momento um meu instante valioso e único.
Elas tanto vêm de ontem..., são de hoje..., ora vozes...,
ora gestos..., reminiscências nem sempre de todo boas ou
de todo más, algumas delas constantes na memória, outras
já distantes, tal qual imagens de fotos antigas que, com o
passar do tempo, começam a se apagar.
O resultado disso é a complexa agitação do meu inte- Veja, 7 maio 1997.
rior, vestígio de movimentos descontínuos e entremeados
Na parte superior do anúncio, há um comentário
de alegria e de pesar, quando acontece a irrequieta con-
escrito à mão que aborda a questão das atividades
vivência do ir e vir dos sentimentos.
linguísticas e sua relação com as modalidades oral e
[...]
escrita da língua. Esse comentário deixa evidente uma
O lugar da minha casa, que um dia já foi pasto, ago-
posição crítica quanto a usos que se fazem da lingua-
ra é pomar para barulhentas ararinhas que brigam por
gem, enfatizando ser necessário
mangas maduras pelo calor do sol e adoçadas pelo luar.
[...] a) implementar a fala, tendo em vista maior de-
Gentes queridas e amigas já passaram pela minha senvoltura, naturalidade e segurança no uso da
casa. E mesmo que todas essas pessoas tenham saído para língua. A expressão “tipo assim” foi colocada en-
seguir seu próprio destino, cada quarto, sala, cozinha, tre vírgulas erradamente.
todos os cômodos da minha morada guardam riso, cheiro, b) conhecer gêneros mais formais da modalidade oral
som, que jamais desapareceram dos meus sentidos, porque para a obtenção de clareza na comunicação oral e
presentes fortemente em mim. escrita. A expressão “tipo assim” foi colocada entre
Então, quando ando pela minha casa, não atraves- vírgulas erradamente.
so os seus espaços tão somente. Traços do que vivi me c) dominar as diferentes variedades do registro oral
acompanham. E assim sendo, caminho sabendo que apoiei da língua portuguesa para escrever com adequa-
escolhas, desembaracei linhas e, sobretudo, que meu abra- ção, eficiência e correção. A expressão “tipo assim”
ço aliviou angústias, sossegou preocupações. foi colocada entre vírgulas corretamente.
Porém, esse meu lugar me serve também de refúgio. d) empregar vocabulário adequado e usar regras da
Nele posso chorar sem acanhamento, posso destruir ilu- norma-padrão da língua em se tratando da modali-
sões, pôr a nu meus desencantos. Mesmo quando tudo dade escrita. A expressão “tipo assim” foi colocada
parece desmoronar, eu confio na sua proteção. entre vírgulas corretamente.
[...] e) utilizar recursos mais expressivos e menos des-
(BORGES, Heloísa Helena de Campos. As fomes do mundo & outras gastados da variedade padrão da língua para se
crônicas. Goiânia: Kelps, 2018. p. 61-63. Adaptado.)
expressar com alguma segurança e sucesso. A
Com base na leitura deste fragmento, é possível inferir expressão “tipo assim” foi colocada entre vírgulas
que corretamente.
Ponto
Veja os principais assuntos e conceitos trabalhados neste capítulo acessando a seção Resumindo
no livro digital, na Plataforma Poliedro.
Música Livros
“Pontuação”, de Kenny Vasconcelos e Luana Leite. Dis- Onze sinais em jogo, de Lou-Ann Kleppa. Campinas, SP:
ponível em: https://youtu.be/1BhH4tw1Jnw. Acesso em: Unicamp, 2019.
29 set. 2023. Onze contos, cada um com foco em um sinal de pon-
Brincando com o nome de alguns sinais de pontuação, tuação: esse é o mote central para a construção das
a canção ilustra o relacionamento de um casal que não narrativas apresentadas nesse livro. Com essa histórias,
deseja colocar um “ponto-final” em seu amor, mas admite é possível compreender as características dos sinais de
algumas “vírgulas”. pontuação de forma intuitiva, nada artificial.
Vídeo No reino da pontuação, de Christian Morgenstern. Tradu-
“A história da exclamação em menos de três minutos!”. ção de Tetê Knecht. São Paulo: Berlendis, 2019.
Nexo Jornal, 2016. Disponível em: www.youtube.com/ Esse livro de poemas apresenta os conflitos entre os si-
watch?v=DJEmOGCN6EM&t=1s. Acesso em: 29 set. 2023. nais presentes nos versos, evidenciando que eles podem
FRENTE 1
O vídeo explica de forma sucinta a origem do sinal de concordar, discordar e, às vezes, até fazer o que querem.
exclamação e mostra os usos desse sinal em diferentes
contextos da vida cotidiana.
41
1. Uece 2020 Baseado no best-seller homônimo de R.J. a) “[...] a divisão do filme literalmente em capítulos,
Palacio, Extraordinário intima às lágrimas. Dito assim, estes nominados de acordo com o coadjuvante
pode parecer que o filme dirigido por Stephen Chbosky é ocasionalmente promovido ao centro [...]” (linhas
um drama apelativo. Não deixa de ser [...], pois estamos 28 a 30).
5 falando da história de um menino que sofre da Síndrome b) “[...] estamos falando da história de um menino que
de Treacher Collins, responsável por causar deformação sofre da Síndrome de Treacher Collins, responsá-
facial. É naturalmente tocante a sua jornada inicial, e vel por causar deformação facial” (linhas 4 a 7).
aparentemente simples, de sair de casa para o primei- c) “A dinâmica entre as pessoas em cena, com quem
ro dia de aula, quando instado a tirar o capacete de estabelecemos rapidamente empatia, funciona
10 astronauta que o esconde. Auggie (Jacob Tremblay) de- adequadamente dentro da proposta adotada” (li-
senvolveu uma série de técnicas para não se embaraçar nhas 41 a 43).
com o espanto alheio, sendo a mais eficiente delas olhar d) “Auggie é educado e amparado sempre de perto
para baixo e ler as pessoas a partir dos seus calçados. pela mãe, Isabel (Julia Roberts), encontra momentos
Mesmo dentro de uma estrutura bastante estanque, de leveza ao lado do paizão [...]” (linhas 16 a 19).
<id>002447_por_f1_c11_q0042</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
15 os relacionamentos são encarados com candura em </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Extraordinário, a começar pela estrutura familiar. Auggie 2. Urca-CE 2020 Observe a imagem a seguir e assi-
é educado e amparado sempre de perto pela mãe, Isabel nale a alternativa CORRETA, quanto ao emprego de
(Julia Roberts), encontra momentos de leveza ao lado do pontuação:
paizão, Nate (Owen Wilson), e tem o total apoio da irmã
20 mais velha, Via (Izabela Vidovic). Esse acolhimento do-
méstico serve para contrabalancear os episódios difíceis
na escola, a despeito de todo o cuidado que a direção e
a docência têm com sua integração.
Stephen Chbosky costura as diversas facetas narra- HIDALGO, Emilio Sanchéz.
25 tivas com habilidade. Saindo ligeiramente do habitual, Barbie e Ken, chacota dos
Extraordinário tenta expandir a mirada aos personagens opositores aos antipetistas ricos.
Disponível em: https://brasil.
periféricos, às testemunhas da trajetória de Auggie. Isso elpais.com/brasil/2018/10/23/
ocorre de maneira explícita, com a divisão do filme, lite- politica/1540287712_846177.html.
ralmente, em capítulos, estes nominados de acordo com a) Eu, particularmente, acho que não existe racismo
30 o coadjuvante ocasionalmente promovido ao centro, com no Brasil.
direito a narração em off. [...] O intuito por trás desse b) Eu acho que não existe particularmente, racismo
fracionamento é mostrar um pouco das dificuldades de no Brasil.
cada um. Ainda que rapidamente o foco sempre volte ao c) Eu, particularmente, acho, que não existe racismo
menino com problemas de adaptação social, esses res- no Brasil.
35 piros são bem-vindos para alargar a nossa compreensão d) Eu acho que não existe racismo no, particular-
acerca de um painel mais amplo. O percurso construído mente, Brasil.
é singelo e terno. e) Particularmente eu, acho que não existe racismo
Extraordinário não se propõe a fazer uma investigação no Brasil.
profunda das questões concernentes à história de Auggie. <id>002447_por_f1_c11_q0043</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
40 Todavia, Stephen Chbosky garante, ao menos, a preva- 3. IFPR 2020 Os itens de I a V a seguir, lidos sequen-
lência dos olhares afetuosos. A dinâmica entre as pessoas cialmente, formam um texto único (retirado da Revista
em cena, com quem estabelecemos rapidamente empatia, Ponto Jovem http://revistapontojovem.com.br, acesso
funciona adequadamente dentro da proposta adotada. Em em 23/07/2019). Leia-o com atenção para responder
tempos intolerantes como o nosso, é auspicioso assistir a à questão.
45 uma realização que, não obstante a restrição por conta do I. Uma pesquisa realizada pela Universidade
molde predefinido, neste caso o livro, consegue mirar em Anhembi Morumbi com mais de 18 mil estudantes
um público amplo, sem esquecer-se de propagar ideias de do 3o ano do ensino médio revelou que 59% des-
tolerância, afrontando, por exemplo, a conduta reprovável ses alunos já escolheram a carreira que querem
dos bullys. seguir. Porém entre aqueles que já estão deci-
MÜLLER, M. Crítica. Disponível em: https://www.papodecinema.com.
didos, menos da metade, revelou já ter algum
br/filmes/extraordinario/. Acesso em: 24 de outubro de 2019.
contato com a profissão escolhida. [...]
O aposto é um termo utilizado no texto para explicar II. Essa falta de foco do jovem na escolha gera outro
algo que aparece anteriormente e vem separado por problema grave, a evasão. No Brasil cerca de 56%
vírgulas. dos estudantes que ingressaram em uma univer-
Com base nessa informação, assinale a opção em sidade acabaram desistindo no meio do caminho
que a expressão destacada NÃO é um aposto. ou trocaram de curso no decorrer da graduação.
d) Isso acontece geralmente nas pessoas com a ida- ensino a distância, com tecnologias virtuais. Os alunos
de muito avançada, onde o procedimento seria 15 de instituições públicas permanecem com seu horizonte
muito agressivo. incerto quanto ao semestre e mesmo ao ano.
43
Para essas, o processo apenas se acelerou, e as águas que 8. PUC-Rio Leia o texto abaixo, encontrado na capa de
as banharam já haviam filtrado boa parte do que agora se uma fita disponível em videolocadoras:
apresentou como desafio quase intransponível para as outras. Um filme de ação em alta voltagem que vai prender
Fragmento adaptado de: https://bit.ly/3f9OhuF. Acesso em: 30 abr. 2020. você na poltrona até a última cena. Bill (James Belushi) é um
Assinale a alternativa correta para a substituição de pon- ex-mafioso que traiu um dos mais perigosos chefões da máfia
de Chicago e desapareceu carregando 12 milhões de dólares.
tuação empregada no texto, considerando a coesão e a
Agora, vivendo sob a vigilância do Programa de Pro-
coerência com o parágrafo em que está inserida.
teção a Testemunhas, leva uma vida tranquila ao lado de
a) A vírgula da linha 04 (depois de “águas”) poderia Debra (Vanessa Angel) sua esposa. Porém, liderada por
ser substituída por ponto e vírgula. Miles (Michael Beach) uma gangue de mafiosos, frios e
b) A vírgula da linha 13 poderia ser substituída por armados até os dentes, está em sua perseguição, para re-
dois-pontos. cuperar o dinheiro roubado e se vingar de Bill.
c) O ponto de interrogação da linha 17 poderia ser O xerife Dex (Timothy Dalton) também está envolvido na
substituído por vírgula se fosse deslocado para perseguição e Bill se vê forçado a fazer uma das mais difíceis
depois de “se modificaram” (linha 18). escolhas de sua vida, baseado puramente em seus instintos.
d) A vírgula da linha 31 poderia ser substituída por Quando você não diferencia os criminosos dos tiras...
dois-pontos. Não acredite em ninguém, suspeite de todos e corra para viver.
<id>002447_por_f1_c11_q0047</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
No segundo parágrafo do texto, faltam duas vírgulas.
7. Univesp 2018 Tentativa e erro, experimentar o novo, en-
tender que algumas questões têm respostas complexas ou Reescreva os trechos em que isso ocorre, acrescen-
podem mesmo não ter uma resposta, cultivar a noção de tando-as nos lugares corretos.
<id>002447_por_f1_c11_q0049</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
que o fracasso é essencial para o progresso, aceitar que
9. Univesp 2017 A vírgula é um sinal de pontuação usado
erros são o que nos faz eventualmente acertar, saber per-
para marcar uma pausa no enunciado. Assinale a alterna-
sistir quando as dificuldades parecem não acabar nunca.
Esses são alguns dos componentes da pesquisa cien- tiva que apresenta um período corretamente pontuado,
tífica, uma espécie de sabedoria acumulada através dos seguindo a norma-padrão da língua portuguesa.
tempos que, acredito, é também muito útil em vários a) O aluno levantou, o braço, pois tinha, uma dúvida.
aspectos da vida – de como enfrentar desafios individual- b) O aluno, levantou o braço, pois tinha uma dúvida.
mente até como reger empresas. Quem poderia adivinhar c) O aluno levantou o braço, pois tinha uma dúvida.
que a eletricidade e o magnetismo são manifestações de d) O aluno levantou o braço pois, tinha uma dúvida.
um campo eletromagnético que se propaga através do e) O aluno levantou o braço pois tinha uma dúvida.
espaço com a velocidade da luz?
Quem poderia adivinhar que as espécies animais Texto para as questões 10 e 11.
<assets>002447_por_f1_c11_t0001</assets>
evoluem devido a mutações genéticas aliadas ao proces- Nuvens contêm uma quantidade impressionante de
so de seleção natural? Esse conhecimento todo não veio água. Mesmo as pequenas podem reter um volume de
do nada; exigiu muita coragem intelectual, disciplina de 750 km³ de água e, se calcularmos meio grama de água
trabalho e tolerância ao erro. por metro cúbico, essas minúsculas gotas flutuantes podem
Se as coisas não funcionam, precisamos deixar o or- formar verdadeiros lagos voadores.
gulho para trás e aceitar que falhamos. Todo cientista sabe Imagine a situação de um agricultor que observa, pla-
muito bem que a maioria das suas ideias não vai funcionar. nando sobre os campos ressecados, nuvens contendo água
Resolutos, vamos em frente; mas devemos também estar mais que suficiente para salvar sua lavoura e deixar um bom
abertos a críticas. saldo, mas que, em vez disso, produzem apenas algumas
Na ciência, e em qualquer outra área de trabalho, é gotas antes de desaparecer no horizonte. É essa situação
bom ouvir as sábias palavras de Isaac Newton – mesmo se desesperadora que leva o mundo todo a gastar milhões de
o próprio, durante a vida, não tenha sido o que chamaria dólares todos os anos tentando controlar a chuva.
Califórnia, é de uma em mil. 13. UFPR 2019 Assinale a alternativa corretamente pon-
<id>002447_por_f1_c11_q0051</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c11_t0001</assets>
tuada.
11. FGV-SP 2015 Em conformidade com a norma-padrão a) A técnica de Mourou e Strickland criada em 1985, e
da língua portuguesa e sem alterar os sentidos do tex- conhecida como: amplificação de pulso com varre-
to, a frase final pode ser reescrita da seguinte forma: dura em frequência – CPA, por sua sigla em inglês,
a) Produtores de amêndoas estão preocupados tornou-se muito rapidamente a ferramenta-padrão
com suas plantações devido falta de umidade, e
para obter lasers de alta intensidade, utilizados, des-
até ameaça da água potável.
de então, em milhões de cirurgias do olho.
b) Como há falta de umidade, produtores de amên-
b) A técnica de Mourou e Strickland, criada em
doas estão preocupados com suas plantações.
1985, e conhecida como amplificação de pulso
Além disso, inclusive a água potável está ameaçada.
com varredura em frequência (CPA, por sua si-
c) Falta umidade e ameaça de água potável, coisas
gla em inglês); tornou-se muito rapidamente, a
com que se preocupa os produtores de amên-
ferramenta-padrão para obter lasers de alta in-
doas e suas plantações.
tensidade utilizados desde então em milhões de
d) Falta umidade e ameaça à água potável existe,
cirurgias do olho.
contudo os produtores de amêndoas estão preo-
c) A técnica de Mourou e Strickland criada em 1985
cupados com suas plantações.
e conhecida como amplificação de pulso com
e) Produtores de amêndoas estão preocupados
varredura em frequência, (CPA, por sua sigla em
com suas plantações que os transtornos se deve
inglês), tornou-se muito rapidamente a ferramenta-
à falta de umidade e de água potável.
<id>002447_por_f1_c11_q0052</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
-padrão, para obter lasers de alta intensidade uti-
12. PUC-RS lizados desde então, em milhões de cirurgias do
olho.
No Brasil, 38% dos universitários são d) A técnica de Mourou e Strickland, criada em 1985 e
analfabetos funcionais. Pesquisa aponta que conhecida como amplificação de pulso com varre-
estudantes não conseguem interpretar e dura em frequência – CPA, por sua sigla em inglês –
FRENTE 1
Desde ontem a cidade mudou. 15. UEL-PR 2019 Em relação aos recursos linguísticos
Quem era? Ora, era quem eu via. presentes no texto, assinale a alternativa correta.
Todos os dias o via. Estou a) Em “ele percebia toda a sua inferioridade de inte-
Agora sem essa monotonia. ligência, de educação; a sua rusticidade”, o ponto
Desde ontem a cidade mudou. e vírgula é usado para enumeração dos comple-
Ele era o dono da tabacaria. mentos do termo “inferioridade”.
Um ponto de referência de quem sou. b) No trecho “e, em qualquer parte, era apontado”,
Eu passava ali de noite e de dia. a palavra “apontado” está no masculino para con-
Desde ontem a cidade mudou. cordar com “subúrbio”.
Meu coração tem pouca alegria, c) No fragmento “Onde acabavam os trilhos da Cen-
E isto diz que é morte aquilo onde estou. tral”, o verbo está no plural para concordar com
Horror fechado da tabacaria! seu complemento “trilhos”.
Desde ontem a cidade mudou. d) Em “acabava a sua fama e o seu valimento”, o ver-
Mas ao menos a ele alguém o via, bo está no singular para concordar com o sujeito
Ele era fixo, eu, o que vou, “Campo de Sant’Ana”.
Se morrer, não falto, e ninguém diria: e) Em “tinha os seus companheiros, e a sua fama de
Desde ont’em a cidade mudou. violeiro”, a vírgula é utilizada para separar sujeitos
Obra poética, 1997. diferentes.
<id>002447_por_f1_c11_q0056</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
O eu lírico recorre a um sinal de pontuação para indi- </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c11_t0002</assets>
Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em pela incompatibilidade temporal.
pleno Campo de Sant’Ana, no meio da multidão que jor- IV. A palavra “placards” está grifada em itálico no
rava das portas da Catedral, cheia da honesta pressa de texto por se tratar de estrangeirismo, sendo hoje
quem vai trabalhar. A sua sensação era que estava numa comum seu correlato em português.
cidade estranha. No subúrbio tinha os seus ódios e os seus
amores; no subúrbio, tinha os seus companheiros, e a sua Assinale a alternativa correta.
fama de violeiro percorria todo ele, e, em qualquer parte, a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
era apontado; no subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
era bem Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
Campo de Sant’Ana para baixo, o que era ele? Não era d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
nada. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava a sua e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
<id>002447_por_f1_c11_q0057</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
fama e o seu valimento; a sua fanfarronice evaporava-se, e </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Para além da compaixão negros ficassem tomando piña colada no Caribe enquanto
Tendemos a acreditar que a compaixão, por si mesma, os brancos lutam contra o racismo no Brasil, na opinião da
pode tornar as pessoas mais humanizadas. Contudo, esse escritora Djamila Ribeiro. Justo, “já que a gente ficou esses
47
ser possível, seria importante as pessoas começarem a não 22. Uece 2020 A escritora Djamila Ribeiro é apresentada de
delegar”, afirmou. “As pessoas brancas precisam começar diversas formas, ao longo do texto: partes do seu nome,
a entender a importância de elas debaterem racismo, elas pronomes, profissão e papel social. Isso ocorre para que
lerem sobre isso, ter ações antirracistas nos seus espaços.” a tessitura do texto se faça a partir do princípio de
Uma pequena multidão fez fila em frente ao espaço a) intertextualidade, porque há referências explícitas
para assistir à conversa de Djamila com o também escritor a outros textos para a construção da imagem da
Antônio Prata, ambos colunistas da Folha, mediada pela escritora.
editora de Diversidade do jornal, Paula Cesarino Costa – b) coesão, porque a retomada do referente por di-
mesmo com o espaço lotado, o público se aglomerou para versos recursos ajuda a construir a imagem da
ver o debate do lado de fora. “Ser politicamente incorreto escritora e a encadear as informações.
faz sentido quando a gente vive num sistema cruel, desi- c) informatividade, porque é necessário elencar o
gual, violento. Faz sentido ser incorreto aí. Ter uma contra
maior número de informações acerca do racismo,
narrativa, ir contra a norma estabelecida”, disse Djamila.
sob risco de não compreensão do texto.
“Mas houve um esvaziamento do termo politicamente cor-
d) situacionalidade, porque a construção de contex-
reto. Se o respeito ao próximo, à humanidade do outro, é
tos faz com que o leitor recupere o tempo e o
ser politicamente correto, devemos ser.”
Para Antônio Prata, o assunto não o incomoda. “A espaço da notícia.
<id>002447_por_f1_c11_q0063</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
patrulha do politicamente correto é um comentário no 23. AFA-SP 2021
meu Facebook. A patrulha da Rota mata”, afirmou, em
consonância com o discurso de Djamila [...]. Para o es- Apelo
critor, autor dos livros “Nu, de botas” e “Trinta e poucos”, Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa.
hoje se sabe que é condenável ser machista, racista e ho- Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom
mofóbico, mas que “as pessoas estão lutando pelo direito chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi
de serem erradas”. [...] Prata afirmou que, por um tempo, ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o pra-
achou “nada mais saudável que haja uma coerção social” 5 to na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
que iniba o comportamento racista, mas que o momento Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou.
político atual, com ascensão de grupos conservadores no A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais
Brasil e no mundo, mostrou que “a gente tem que pensar ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda
se o discurso é eficaz, ou se é uma maquiagem que a gente a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo.
coloca na frente do ódio e o ódio volta pulando o muro.” 10 Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os
Para Djamila, por outro lado, “isso não é novo. O Brasil amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o
é um país extremamente conservador”, afirmou. “Para gru- perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas
pos minoritários, esse discurso de ódio é presente na nossa as aflições do dia.
vida desde sempre. [...]” Mestre em filosofia pela USP e Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate – meu
escritora de “O que é lugar de fala” e “Quem tem medo do 15 jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas
feminismo negro”, a ativista afirmou que “o debate sobre violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham.
racismo é surreal. A gente é acusado de dividir, de ser sec- Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim
tarista e violento [...]. Djamila reclamou de a luta negra ser levou o saca-rolha?
constantemente classificada como identitária por pessoas Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com
brancas que não se reconhecem também como parte de 20 os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa,
uma identidade. “Me cobram por qualquer coisa que uma Senhora, por favor.
mulher negra faça, ‘você viu essa negra de direita?’. [...] (TREVISAN, Dalton. Mistérios de Curitiba. 5a ed. Record. Rio de Janeiro, 1996.)
Consenso entre eles foi que a falta de diversidade
prejudica o Brasil. “A própria elite perde com o privilégio. Em relação à organização textual e aspectos sintáti-
O mundo perde quando não tem 70% de concorrência. cos do texto IV, assinale a alternativa que apresenta
A literatura é pior, o cinema é pior”, afirmou Prata, que uma análise correta.
também é roteirista. a) O texto é uma carta pessoal cujo emitente é o ma-
É HORA DE BRANCOS LUTAREM CONTRA O RACISMO... 12 de julho rido e o destinatário, a mulher, o que se comprova
de 2019. Disponível em: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br.
Acesso em: 29 out. 2019.
pelo vocativo e pelo desfecho com o pedido de
<id>002447_por_f1_c11_q0061</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c11_t0003</assets> volta da Senhora.
21. Uece 2020 Sobre a ocorrência de aspas, no texto, é b) O sinal de dois-pontos (l. 4) tem a função de introdu-
correto afirmar que se dá devido à zir uma oração explicativa para o fato mencionado
a) necessidade de realçar neologismos, arcaísmos e anteriormente.
gírias presentes no texto. c) O travessão (l. 14) tem a função de separar o
b) marcação de ironias ou palavras empregadas fora aposto do termo principal ao qual ele se refere.
de seus contextos. d) O sujeito da primeira oração do período “Às
c) presença de falas dos entrevistados, para asse- violetas, na janela, não lhes poupei água e elas
gurar a veracidade das fontes. murcham” está marcado na desinência verbal.
24. Univesp 2019 Leia com atenção a tirinha a seguir da à sociedade”. Prossegue: “As pessoas já não sabem o que é
cartunista Laerte para responder à questão. real e o que é falso. Muitas deixaram de acreditar e isso
é ainda mais perigoso.”
[...]
www.bbc.com. Adaptado.
Observe as passagens:
• Essa “alfabetização” deve contar com esforços de
vários setores da sociedade... (Texto I, 1o parágrafo);
Fonte: Blogger.
• as chamadas fake news são “uma ameaça à demo-
cracia e à sociedade”. (Texto II, 2o parágrafo).
Tramela: espécie de tranca de portas. O uso das aspas nos dois textos reporta, correta e
respectivamente,
De acordo com a tirinha assinale a alternativa correta. a) à ideia de educar-se digitalmente e ao destaque
a) A personagem da tira apresenta uma crise existencial à ironia presente na fala da jornalista ucraniana.
característica do sujeito contemporâneo, que, entre b) ao duplo sentido do termo em destaque e à cita-
outros fatores, é motivada pela crise financeira, o que ção do pensamento da jornalista ucraniana.
pode ser comprovado linguisticamente pelo uso do c) à inadequação do termo referente à educação vir-
adjetivo “barata”, empregado no primeiro quadrinho. tual e à reprodução da fala da jornalista ucraniana.
b) A tirinha ressalta o poder da leitura em abordar de d) à sinalização de um novo sentido ao termo e à trans-
forma profunda e meditativa questões que transcen- crição de trecho da fala da jornalista ucraniana.
dem a banalidade e superficialidade dos assuntos
e) ao sentido pejorativo presente no termo e à ênfa-
cotidianos, ajudando, assim, os leitores a operarem
se dada às ideias da jornalista ucraniana.
significativas transformações em suas vidas. <id>002447_por_f1_c11_q0066</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
c) As aspas utilizadas no segundo quadrinho são usa- 26. Fuvest-SP 2020 O Twitter é uma das redes sociais mais im-
das para indicar a citação de um trecho do texto portantes no Brasil e no mundo. [...] Um estudo identificou
lido pela personagem, que, formalmente, se apro- que as fake news são 70% mais propensas a serem retweeta-
xima do texto poético devido à métrica, já que os das do que fatos verdadeiros. [...] Outra conclusão importante
versos são escritos em redondilhas, além da utiliza- do trabalho diz respeito aos famosos bots: ao contrário do
ção da rima já referida na tira. que muitos pensam, esses robôs não são os grandes responsá-
d) As palavras “casinha”, “janela”, “porta” e “tramela” veis por disseminar notícias falsas. Nem mesmo comparando
pertencem ao mesmo campo semântico, estabe- com outros robozinhos: tanto os que espalham informações
lecendo relações de sinonímia e hiponímia entre mentirosas quanto aqueles que divulgam dados verdadeiros
si, o que aproxima o trecho do tipo textual poético. alcançaram o mesmo número de pessoas.
e) No segundo quadrinho da tira, a satisfação do cliente Super Interessante, “No Twitter, fake News se espalham 6 vezes mais
com o texto lido constitui uma crítica ao procedimen- rápido que notícias verdadeiras”. Maio/2019.
to poético, que, ao ser aplicado ao texto filosófico, No período “Nem mesmo comparando com outros
diminui-lhe o alcance crítico, ao subordinar a meto-
robozinhos: tanto os que espalham informações menti-
dologia científica da filosofia à estética da poesia.
<id>002447_por_f1_c11_q0065</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
rosas quanto aqueles que divulgam dados verdadeiros
25. Insper-SP 2018 alcançaram o mesmo número de pessoas.”, os dois-
-pontos são utilizados para introduzir uma
Texto I a) conclusão. d) contradição.
A educação virtual é uma arma importante para detec- b) concessão. e) condição.
tar informações falsas no noticiário, segundo especialistas.
c) explicação.
Essa “alfabetização” deve contar com esforços de vários <id>002447_por_f1_c11_q0067</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
setores da sociedade, para evitar que as chamadas fake 27. PUC-RS 2017 Não são poucos os articulistas e doutri-
news tumultuem o debate público, como ocorreu na cor- nadores que se colocam contra o instituto da “delação
rida eleitoral americana e na votação pela saída do Reino premiada”, por considerá-la um incentivo do Estado à prá-
Unido da União Europeia. tica da traição, beneficiando réus que estariam a seguir
[...] 5 os passos de Judas e de Silvério dos Reis, somente para
http://infograficos.estadao.com.br. Adaptado. citar dois traidores históricos. A crítica, todavia, revela-se
exagerada e ideologicamente estrábica. Cristo e Tiradentes
Texto II não podem ser caracterizados exatamente como crimi-
“Se uma história é demasiadamente emocionante ou nosos (salvo sob a ótica fanática dos judeus ortodoxos de
dramática, provavelmente não é real. A verdade é geralmen- 10 então ou tendo em conta os interesses mercenários das
te entediante”, disse a jornalista ucraniana Olga Yurkova Cortes Portuguesas nos idos coloniais). Existe uma clara
durante a palestra inaugural do TED 2018, a série de con- diferença entre trair um inocente e delatar um criminoso!
ferências realizada neste mês em Vancouver, no Canadá. Entre a fidelidade do criminoso diante de seu com-
FRENTE 1
Em sua apresentação, a ativista engajada no combate parsa e a necessária aplicação da lei penal frente ao
a notícias falsas – cofundadora do site StopFake – disse que 15 cometimento de um crime, melhor postar-se ao lado
as chamadas fake news são “uma ameaça à democracia e da segunda opção. Entre a paz pública aviltada pela
49
31. PUC-SP 2016 o gerenciamento das nossas ideias”, diz o médico Fernando
Gomes Pinto, membro da Sociedade Brasileira de Neuroci-
Racionalidade e tolerância no contexto rurgia. Isso porque, quando alguém medita, a atividade de
pedagógico algumas regiões do cérebro se torna mais acelerada, como:
hipocampo (memória), córtex cingulado anterior (concen-
Nadja Hermann – PUCRS
tração), córtex pré-frontal (coordenação motora) e amídalas
Stuart Mill (1806-1873) acrescenta à ideia de tolerân- cerebelosas (emoções).
cia religiosa a importância do pluralismo, da liberdade de Fonte: Galileu, no 276, p. 18, julho/2014.
opinião e crença, baseado na independência do indivíduo.
A liberdade compreende a “liberdade de pensamento e a) O pensamento é composto por neurônios que se
de sentimento, absoluta independência de opinião e de comunicam por sinapses elétricas ou químicas.
sentimento em todos os assuntos, práticos ou especulati- b) A rede neural é formada por neurônios, as células
vos, científicos, morais ou teológicos” (MILL, 200, p.21). cerebrais.
Desse modo, Stuart Mill defende a tolerância a partir de um c) Nessa rede, a atividade mental dos neurônios dá
princípio bastante simples de que a autoproteção constitui início ao nosso pensamento.
a única finalidade pela qual se garante à humanidade in- d) As emoções também não são tangíveis, palpáveis.
dividual ou coletivamente, interferir na liberdade de ação e) Ela nada mais é do que um grupo de células ce-
de qualquer um. O único propósito de se exercer legitima- rebrais, os neurônios, que se comunicam entre si
mente o poder sobre qualquer membro de uma comunidade por sinapses elétricas ou químicas.
FRENTE 1
51
câncer no Pinterest (rede social de compartilhamento de 3. Enem 2017 O homem disse, Está a chover, e depois,
fotos) e se havia evidência científica ou não no portal Quem é você, Não sou daqui, Anda à procura de comi-
de periódicos do PubMed, que é um motor de busca de da, Sim, há quatro dias que não comemos, E como sabe
livre acesso à base de dados MEDLINE de citações e que são quatro dias, É um cálculo, Está sozinha, Estou
resumos de artigos de investigação em biomedicina. O com o meu marido e uns companheiros, Quantos são,
Pinterest foi a mídia de escolha porque está em franca Ao todo, sete, Se estão a pensar em ficar conosco, tirem
ascensão no mundo e no Brasil. daí o sentido, já somos muitos, Só estamos de passagem,
“Foram analisados 507 Pins, sendo 75 de alimentos Donde vêm, Estivemos internados desde que a ceguei-
associados ao câncer, compartilhados mais de 27 mil ra começou, Ah, sim, a quarentena, não serviu de nada,
vezes, e encontramos mais de 80 mil artigos científicos Por que diz isso, Deixaram-nos sair, Houve um incêndio
sobre esses alimentos e câncer no PubMed. Em 90% dos e nesse momento percebemos que os soldados que nos
alimentos mencionados como funcionais para o câncer, vigiavam tinham desaparecido, E saíram, Sim, Os vossos
encontramos literatura científica. Os Pins são ideias que soldados devem ter sido dos últimos a cegar, toda a gente
as pessoas encontram e salvam de toda a Web”, esclarece está cega, Toda a gente, a cidade toda, o país.
a pesquisadora. SARAMAGO, J. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo:
Cia. das Letras, 1995.
Claudia informa que existem cerca de 50 bilhões de
pins sobre comida no Pinterest, e que o objetivo principal A cena retrata as experiências das personagens em
era investigar a relação entre postagens sobre comida e um país atingido por uma epidemia. No diálogo, a vio-
câncer no Pinterest e as evidências científicas. “Surpreen- lação de determinadas regras de pontuação
dentemente, 90% dos alimentos citados nessa mídia social a) revela uma incompatibilidade entre o sistema de
também aparecem na literatura científica”. No entanto, pontuação convencional e a produção do gênero
apesar desse paralelo entre conteúdo publicado em mídia romance.
social e evidência científica, a pesquisadora diz que não
b) provoca uma leitura equivocada das frases inter-
foi possível identificar a exata relação dos alimentos com
rogativas e prejudica a verossimilhança.
o câncer: se previnem, curam ou tratam. [...]
c) singulariza o estilo do autor e auxilia na represen-
Coordenação de Comunicação Social do CNPq. Ter, 21 Ago. 2018.
Disponível em: www.cnpq.br/web/guest/noticiasviews/-/journal_ tação do ambiente caótico.
content/56_INSTANCE_a6MO/10157/6333171. Acesso: 11 dez. 2018. d) representa uma exceção às regras do sistema de
[Fragmento. Adaptado].
pontuação canônica.
Em relação ao emprego dos sinais de pontuação na e) colabora para a construção da identidade do nar-
construção do texto, assinale a alternativa CORRETA: rador pouco escolarizado.
FRENTE 1
12
CAPÍTULO
Quando uma orquestra toca, sempre vemos alguém no centro, comandando
os musicistas com uma batuta. Às vezes, essa pessoa organiza o grupo so-
mente com gestos das mãos. Trata-se do regente, que é um profissional com
estudo formal em música, responsável por dirigir grupos musicais, como coros
ou orquestras. Com ou sem batuta, os seus gestos ajudam a organizar o ritmo
e a expressividade da música. De forma análoga, a língua portuguesa também
apresenta relações de regência, em que o verbo, substantivo, adjetivo e ad-
vérbio (termos regentes) passam a reger a preposição (termo regido) que a
eles se junta para formar o complemento.
Pedro Leite
Ao analisar o uso do verbo “namorar” nos quadrinhos acima, notamos que grande parte deles contém um complemento,
como em “namoram os livros”, “namoram a natureza”, “namoram o trabalho”, entre outros. Isso ocorre porque determina-
dos verbos dependem de complementos para que seu sentido fique completo. A relação entre um verbo e o termo a ele
subordinado – o complemento – pode ser estabelecida de forma direta (sem a presença de preposição) ou indireta (por
meio de preposição). Alguns verbos nem sempre precisam de um complemento, como é o caso de “namorar”, tal como
usado no último quadrinho: “Alguns apenas namoram”.
Estudar a relação de dependência entre o verbo e seu complemento, que se estabelece por meio de preposição ou
não, é analisar a regência verbal.
Saiba mais
Na gramática tradicional, o verbo “namorar” pode ser usado como transitivo direto ou intransitivo. Entretanto, também é
comum encontrá-lo acompanhado de complemento iniciado pela preposição “com”, a exemplo da sentença “Ela namorou
com um ator famoso”, contrariando as prescrições tradicionais.
Atenção
• Verbo intransitivo: não exige complemento.
• Verbo transitivo direto: tem complemento direto (objeto direto), ao qual se liga sem a presença de preposição.
• Verbo transitivo indireto: tem complemento (objeto indireto), ao qual se liga por meio de preposição.
• Verbo transitivo direto e indireto (bitransitivo): exige dois complementos, um objeto direto e outro indireto.
Para descobrir a regência de um verbo, temos que conhecer sua transitividade, ou seja, saber se ele é intransitivo,
transitivo direto, transitivo indireto ou bitransitivo. Nessa relação entre verbo e complemento, dizemos que o verbo é o
termo regente, e seu complemento é o termo regido.
Paguei-lhe um almoço.
Atenção
Os pronomes oblíquos “o”, “a”, “os” e “as” podem ser empregados como complementos de verbos transitivos diretos, e as
formas “lhe” e “lhes” como complementos de verbos transitivos indiretos.
Nas situações em que o uso da língua precisa ser mais monitorado, recomenda-se adequação à norma-padrão.
Contudo, nesses casos, podem surgir dúvidas quanto à regência dos verbos: eles exigem preposição para se ligar a seu
complemento ou não? Se sim, qual é a preposição exigida? No quadro a seguir, veja alguns verbos que suscitam dúvidas
e suas principais regências, conforme a norma-padrão.
Agradar
• Transitivo direto (acariciar) A mãe agrada carinhosamente o filho.
• Transitivo indireto (satisfazer) A refeição agradou aos convidados.
Aspirar
• Transitivo direto (sorver, inalar, inspirar, puxar para dentro) Na perfumaria, aspirei uma agradável fragrância.
• Transitivo indireto (desejar, almejar) A equipe aspira ao primeiro lugar no pódio.
Assistir
• Transitivo direto (socorrer, dar assistência) O bombeiro assistiu os moradores.
• Transitivo indireto (ver, estar presente) Assistimos ao último episódio da série.
Buscar • Transitivo direto (procurar, ir ao encontro de algo/alguém) A mãe vai buscar o filho no colégio.
Chamar
• Transitivo direto (fazer vir, convidar a vir, invocar) Ela chamou os amigos para uma festa.
• Transitivo indireto (clamar por, invocar por) Em perigo, chamaram por socorro.
Chegar
• Intransitivo (ação de ir de um lugar a outro concluída) Após longa viagem, chegaram.
• Transitivo indireto (exige a preposição a quando indica lugar) Chegaram ao aeroporto.
Esquecer
• Transitivo direto (sair da lembrança) Ele esqueceu o aniversário do amigo.
• Transitivo indireto (esquecer-se de) O motorista se esqueceu do nome da rua.
Ficar/morar/residir • Transitivo indireto (sentido estático; exige a preposição em) Ficaremos em casa no feriado.
Fugir • Transitivo indireto (afastar-se, evitar) O artista fugiu das perguntas.
• Transitivo direto (ter como consequência)
Sua decisão implica grandes consequências.
Implicar • Transitivo indireto (mostrar antipatia, importunar; exige a
Ele vive implicando com o irmão.
preposição com)
Ir
• Intransitivo (movimentar-se, deslocar-se) Vá devagar. / Fomos embora ontem.
• Transitivo indireto (ir de um lugar a outro) Fomos à praia no sábado.
Lembrar
• Transitivo direto (assemelhar-se, trazer à memória) Esse lugar lembra a minha cidade.
• Transitivo indireto (recordar-se, lembrar-se de) Lembrei-me da primeira vez que nos vimos.
Pagar/Perdoar
• Transitivo direto (apresenta uma coisa como complemento) Com seu prêmio, ela pagou as contas.
• Transitivo indireto (apresenta uma pessoa como complemento) Perdoou-lhe pela discussão.
Partir • Intransitivo (ir embora) Os parentes partirão na próxima semana.
Pedir
• Transitivo direto (indica aquilo que é pedido) Eu pedi duzentos gramas de muçarela.
FRENTE 1
Preferir
• Bitransitivo (opção entre duas coisas) Preferimos pizza a sanduíche.
• Transitivo direto (dar preferência a algo) Como companhia, prefiro você.
55
Querer
• Transitivo direto (desejar) Quero paz e harmonia.
• Transitivo indireto (ter simpatia, ter afeto) Eu quero muito a minha família.
Sobreviver • Transitivo indireto (manter-se vivo) O homem sobreviveu ao acidente.
Vir • Transitivo indireto (vir a algum lugar) Ele vem a minha casa estudar.
O arqueiro visou o alvo./O novo proprietário visou
Visar
• Transitivo direto (mirar, assinar, rubricar)
o contrato.
• Transitivo indireto (ter por objetivo)
Esse cartaz visa à conscientização.
• Buscar: esse verbo aceita complemento direto, no entanto é comum que seja usado com a preposição “por”.
• Implicar: o verbo “implicar” exige complemento direto, mas não raro o encontramos seguido da preposição “em”.
O uso de máscara de proteção facial é obrigatório, e qualquer infração constatada pelos órgãos de fiscalização pode
implicar em multas e fechamento dos estabelecimentos autuados, em caso de reincidência.
NOVO decreto do Conde, PB, mantém toque de recolher e suspensão de aulas presenciais. G1, 5 abr. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/pb/paraiba/
noticia/2021/04/05/novo-decreto-do-conde-pb-mantem-toque-de-recolher-e-suspensao-de-aulas-presenciais.ghtml. Acesso em: 4 jan. 2024.
• Lembrar (e esquecer): ambos são geralmente usados sem o pronome oblíquo, utilizando-se apenas a preposição “de”.
• Preferir: é frequentemente usado com o complemento iniciado por “do que”, porém, na norma-padrão, a preposição
deve ser “a”.
O goleador Cristiano Ronaldo revelou que prefere ver uma luta de boxe ou do UFC do que um jogo de futebol, quando
está em casa.
CRISTIANO Ronaldo diz que prefere assistir ao UFC a um jogo de futebol. Extra, 15 dez. 2020. Disponível em: https://extra.globo.com/esporte/
cristiano-ronaldo-diz-que-prefere-assistir-ao-ufc-um-jogo-de-futebol-24797705.html. Acesso em: 4 jan. 2024.
• Vir: exige-se a preposição “a”, mas é frequente o uso com a preposição “em”.
[...] quando vier em São Paulo, vamos jantar, vamos tomar um café [...]
GUIMARÃES, Hellen. Piloto morto em acidente com Boechat era “extremamente” cuidadoso, diz amigo do curso de aviação. O Globo,
11 fev. 2019. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/piloto-morto-em-acidente-com-boechat-era-extremamente-cuidadoso-diz-
amigo-do-curso-de-aviacao-23444966. Acesso em: 4 jan. 2024.
Regência nominal
Leia o texto a seguir.
57
Com relação à regência dos advérbios, alguns derivam de verbos ou adjetivos, logo também podem reger preposições.
Os advérbios terminados em “-mente” tendem a seguir a regência dos adjetivos de que são originados, por exemplo:
paralela a, paralelamente a; relativa a; relativamente a.
preposição
preposição
Os advérbios “longe” e “perto” são seguidos da preposição “de”, como em: “Não fale comigo, fique longe de mim” e
“Perto de casa, perto de tudo”.
Saiba mais
Estudar regências é complexo, envolve compreender diversos sentidos e uso das palavras, e, por isso, esse assunto é tema
de diversas pesquisas e debates entre especialistas da língua. Neste capítulo, abordamos os principais casos de regência
verbal e nominal, mas, no uso corrente da língua, outros casos podem aparecer e gerar dúvidas no falante. Existem diver-
sos dicionários específicos de regência que podem servir como apoio para sanar as dúvidas do dia a dia (ver seção “Quer
saber mais”); e os próprios dicionários de uso comum (como Houaiss, Aulete, Priberam, entre outros) também podem ajudar
nesse sentido.
1. IFTO 2019 Em uma oração, o termo regente pode ser “Fanfarronice é quando a gente diz que o Recife é o
um verbo significativo, seja ele transitivo ou intransitivo, lugar onde os rios Capibaribe e Beberibe se juntam para
e indica ação. Observe o verbo em cada oração quanto formar o Oceano Atlântico. Essa é uma ideia sofismática,
à sua regência e marque a alternativa que está em de- que tem uma base lógica. Mas é uma lógica que é feita para
sacordo com a sua classificação, ou seja, a incorreta. causar uma resposta que não é verdadeira. É uma mentira”.
a) O jogo não lhe agradou. (transitivo direto) “Megalomania é quando você quer ser maior do que
b) O jogo não agradou ao técnico. (transitivo indireto) você é. O cara faz acreditando que é verdadeiro. É quando
c) João agradou os amigos. (transitivo direto) alguém diz que a Avenida Caxangá é a maior em linha
d) A menina agradou a sua irmã. (transitivo direto) reta do mundo. É algo patológico, que a gente cria. É uma
macaquice que a gente utiliza para rir da gente mesmo”.
e) O capitão agradou o seu superior. (transitivo direto)
<id>002447_por_f1_c12_q0002</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Dizem que o Aníbal Bruno é a maior penitenciária da
2. IFPE 2019 Considerando que a transitividade verbal América Latina e que o Recife é a cidade com mais ataques
trata do tipo de relação que um verbo estabelece com de tubarão no mundo. Tem até campanha de supermerca-
seu(s) complemento(s), analise o trecho em destaque do que diz ter orgulho de ser nordestino. Enquanto toma
e, em seguida, assinale a alternativa cujo verbo subli- o tradicional chá das 5 da tarde e saboreia uma fatia de
nhado possui igual regência. bolo de rolo com seus colegas imortais, o membro da Aca-
Chico Mendes não sobreviveu aos ataques sofridos. demia Brasileira de Letras (ABL), Marcos Vilaça, costuma
a) O Brasil possui uma das principais fronteiras agrí- fazer uma “pequena-grande” correção sobre a tal mania
colas do planeta. de grandeza do pernambucano: “Não temos essa mania.
b) Em geral, consumimos produtos contaminados. O que temos é a grandeza mesmo”.
DUARTE, André. A Melhor Reportagem do Mundo. Revista Aurora
c) Empresas indenizaram cerca de mil trabalhadores. [Diário de Pernambuco]. Disponível em: https://felipegabriele.wordpress.
d) O ambientalista não cedeu aos constrangimentos. com/2011/03/17/nao-diga-que-e-pernambucano-nao-se-deve-humilhar-
ninguem-meu-filho/. Acesso em: 18 out. 2019 (adaptado).
e) O consumidor mais informado consome produtos
orgânicos. Com relação à transitividade e à regência verbal, ana-
<id>002447_por_f1_c12_q0003</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
lise as afirmativas seguintes.
3. IFPE 2020
I. Em “O Galo da Madrugada tem um bloco no Rio
A melhor reportagem do mundo de Janeiro no seu encalço, querendo rifá-lo do
Pela primeira vez na história do jornalismo, o maior Guinness Book” (1o parágrafo), o verbo “rifar” é
repórter em linha reta da revista mais arrojada da Rua do transitivo indireto e o pronome “lo” funciona como
Veiga investiga as origens da megalomania local objeto indireto.
O Recife já não tem mais o maior shopping nem a II. No trecho “Mas quem se importa com isso em
mais longa avenida em linha reta da América Latina, Ca- Pernambuco [...]” (1o parágrafo), o verbo “impor-
ruaru pode perder o posto de maior feira ao ar livre para tar-se” é transitivo indireto e, nesse caso, rege
uma concorrente do Equador e o Galo da Madrugada tem preposição “com”.
um bloco no Rio de Janeiro no seu encalço, querendo III. Na frase “Marcos Galindo, explica que o talento do
rifá-lo do Guinness Book. Mas quem se importa com isso pernambucano” (2o parágrafo), o verbo “explicar” é
em Pernambuco, uma terra superlativa, onde o “maior”, transitivo indireto e rege a preposição “que”.
o “melhor” ou o “primeiro” parecem preceder qualquer IV. No período “Depois de transferir para a academia
coisa, mesmo que ela não seja positiva? um assunto que só se falava em rodas de amigos”
O pesquisador e chefe do Departamento de Ciência (3o parágrafo), o verbo destacado é transitivo di-
da Informação da Universidade Federal de Pernambu- reto e indireto e “para a academia” funciona como
co (UFPE), Marcos Galindo, explica que o talento do
objeto indireto.
pernambucano para maximizar sua própria história re-
V. No trecho “Quem está embaixo quer ir para cima.”
monta ao período da Proclamação da República, em 1889.
(4o parágrafo), há um desvio de regência, uma vez
“A gente teve que criar uma nobreza que não tinha” (com
que, nesse caso, o verbo “ir” rege a preposição “a”.
a saída na monarquia portuguesa).
Depois de transferir para a academia um assunto que Estão CORRETAS, apenas, as afirmativas
só se falava em rodas de amigos, Marcos Galindo dividiu o a) II e IV. c) III e IV. e) I e V.
estilo pernambucano de autopromoção em três expressões b) III e V. d) I e II.
distintas: ufanismo, fanfarronice e megalomania: <id>002447_por_f1_c12_q0005</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
“Ufanismo tem uma função social superimportante 4. Ufam Contrariamente ao que se pensa na atualidade, a ce-
de autoafirmação e de construção da identidade. Quem râmica indígena amazônica, nos tempos pré-colombianos,
está embaixo quer ir para cima. E no discurso só se con- era artística e muito resistente ao fogo. Conforme relataram
segue isso levantando seu moral e dizendo que tudo o os primeiros cronistas e confirmam os historiadores, nas
FRENTE 1
que você faz é o maior ou o melhor. É quando você diz, tribos era difícil de encontrar alguém sem habilidade para
por exemplo, que a música de Chico Science é a melhor trabalhar o barro. Nenhum indivíduo se mostrava aves-
do mundo”. so para fazer vasilhas e, dessa maneira, colaborar com o
59
verbal, assinale C nas orações CORRETAS e E nas 7. IFTO 2014 Marque a única alternativa em que apre-
INCORRETAS: senta erro de regência (verbal ou nominal).
a) Fomos todos juntos ao cinema no último sábado.
Apesar dos desmatamentos incessantes, a Ama-
b) Devemos ter muito respeito por nossos irmãos.
zônia ainda é abundante em árvores e animais.
c) As crianças devem obedecer aos pais.
Tenho devoção pela ciência, que é a vela na es-
d) Ela está muito apaixonada em um rapaz da faculdade.
curidão de nossa ignorância.
e) Chegarei a Roma em dezembro de 2015.
Há muitas pessoas que acumulam demasiadas <id>002447_por_f1_c12_q0008</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
6. UEPG-PR 2023
Estupor
esse súbito não ter
esse estúpido querer
que me leva a duvidar
quando eu devia crer POSTAGEM 2
esse sentir-se cair
quando não existe lugar
aonde se possa ir
esse pegar ou largar
essa poesia vulgar
que não me deixa mentir
que pode ser aquilo,
lonjura, no azul, tranquila?
se nuvem, por que perdura?
montanha,
como vacila?
Fonte: LEMINSKI, P. Toda Poesia. São Paulo:
Companhia das letras, 2013, p. 249.
Texto adaptado de https://www.instragram.com/p/CbGc-yXrOtZ/?igshid= YmMyMTA2M2Y=). Publicado em: 14/03/2022. Data de acesso: 29/07/2022
Exercícios propostos
<id>002447_por_f1_c12_q0009</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
1. Udesc 2023 Um dos horrores de qualquer reclusão é nunca se poder estar só. No meio daquela multidão, há sempre um
que nos vem falar isto ou aquilo. No Hospício, eu ressenti esse incômodo que só pode ser compreendido por quem já se
viu recolhido a qualquer prisão; lá, porém, é pior do que em outra qualquer, sobretudo quando se está perfeitamente lúcido,
como eu estava, e não pode, por piedade, tratar com mau humor os outros companheiros, que são doentes.
5 Logo, no primeiro dia, travei eu conhecimento com esse agudo e miúdo suplício, próprio ao meu estado. O chefe Carneiro
tinha-me informado onde era a minha cama e o meu dormitório. Sentia-me fatigado de espírito, desejoso de interrogar-me
a mim mesmo, de pensar nos meus problemas íntimos, de fugir um instante daquele brouhaha1 hospitalar. Deitei-me na
cama e quis recordar-me dos episódios da minha entrada, das tolices que fizera. Sempre fiz esse exercício de memória, que
julgava conveniente para conservá-la sempre fiel e pronta para o que apelasse para ela. Não tinha bem começado, quando
10 um menino, que até ali não tinha visto, veio para junto de mim:
— O senhor me dá um cigarro?
Dei-lhe o cigarro e esperava que, após acendê-lo, se fosse, mas assim não foi. Continuou:
— O senhor sofre de ataques?
Disse-lhe que não e olhei bem a criança. Não devia ter dezessete anos; era forte e simpático. Lembrei-me logo de meu
15 filho e uma mágoa imensa me invadiu, pensando no destino dele. Vi-o ali, daqui a anos, talvez. Perguntei ao rapazola:
— Por quê? Você sofre?
1
Onomatopeia para tumulto, algaravia, algazarra.
Fonte: Barreto, Lima. Diário do Hospício; O cemitério dos vivos; prefácio Alfredo Bosi; organização e notas Augusto/Massi, Murilo Marcondes de Moura.
1 ed. São Paulo: Companhia das Letras 2017, pp.187 e 188.
Analise as proposições em relação à obra O cemitério dos vivos, Lima Barreto, e assinale (V) para verdadeira e (F)
para falsa.
Da leitura da obra, infere-se a intenção do autor em relatar as classes sociais e as devidas benesses, uma vez que os
FRENTE 1
doentes do hospício eram tratados de maneira diversa a depender dos títulos e das posses familiares dos internos.
O título e a leitura da obra levam o leitor a inferir que à época em que a narrativa romanesca se passa, não havia
tratamento específico para determinadas insanidades. Toda “loucura” era tratada da mesma forma.
61
No período “Perguntei ao rapazola:” (linha 15) o Dotado de excelência literária, o texto de Machado
sinal de pontuação, dois pontos, foi empregado de Assis é também reconhecido pela crítica devido
para esclarecer e exemplificar o que foi anun- à construção de um estilo singular. No texto, na se-
ciado na oração anterior, pois o rapaz tinha as quência “Rubião atirou-se aos cavalos e arrancou o
mesmas características físicas que seu filho. menino ao perigo”, a regência do verbo “arrancar” soa
Na estrutura “No meio daquela multidão, há estranha ao leitor conhecedor da norma gramatical.
sempre um que nos vem falar isto ou aquilo” A seguir, são apresentadas construções frasais em
(linhas 1 e 2), as palavras destacadas são prono- que é dado destaque para a regência verbal. Assinale
mes substantivos demonstrativos e referem-se, aquela que o seu sentido se assemelha, corretamen-
no texto, de modo geral, a qualquer comentário, te, ao modo machadiano de fazer regência:
qualquer conversa. a) Algumas pessoas já assistiram ao filme do Mer-
Assinale a alternativa que indica a sequência correta. cenário de Collant Vermelho?
a) V – V – V – F – F b) O bombeiro já aspirava ao cargo a ele ofertado
b) F – V – F – V – F pelo oficial.
c) F – F – F – V – V c) Dentre os candidatos que zeraram a redação,
d) V – F – V – F – V 217 339 fugiram ao tema.
e) V – V – F – F – V d) O jogador obedeceu ao regulamento do jogo de
<id>002447_por_f1_c12_q0010</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> futebol.
2. PUC-GO 2016 [...] Rubião ouviu o grito, voltou-se, viu <id>002447_por_f1_c12_q0011</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
o que era. Era um carro que descia e uma criança de três 3. UCB-DF 2020
ou quatro anos que atravessava a rua. Os cavalos vinham
quase em cima dela, por mais que o cocheiro os sofreas-
Além da imaginação
se. Rubião atirou-se aos cavalos e arrancou o menino ao Tem gente passando fome.
perigo. A mãe, quando o recebeu das mãos do Rubião, E não é fome que você imagina
não podia falar; estava pálida, trêmula. Algumas pessoas entre uma refeição e outra.
puseram-se a altercar com o cocheiro, mas um homem Tem gente sentido frio.
calvo, que vinha dentro, ordenou-lhe que fosse andando. 5 E não é frio que você imagina
O cocheiro obedeceu. Assim, quando o pai, que estava entre o chuveiro e a toalha.
no interior da colchoaria, veio fora, já o carro dobrava a Tem gente muito doente.
esquina de São José. E não é a doença que você imagina
— Ia quase morrendo, disse a mãe. Se não fosse este entre a receita e a aspirina.
senhor, não sei o que seria do meu pobre filho. 10 Tem gente sem esperança.
Era uma novidade no quarteirão. Vizinhos entravam E não é o desalento que você imagina
a ver o que sucedera ao pequeno; na rua, crianças e mo- entre o pesadelo e o despertar.
leques espiavam pasmados. A criança tinha apenas um Tem gente pelos cantos.
arranhão no ombro esquerdo, produzido pela queda. E não são os cantos que você imagina
— Não foi nada, disse Rubião; em todo caso, não 15 entre o passeio e a casa.
deixem o menino sair à rua; é muito pequenino. Tem gente sem dinheiro.
— Obrigado, acudiu o pai; mas onde está o seu chapéu? E não é falta que você imagina
Rubião advertiu então que perdera o chapéu. Um entre o presente e a mesada.
rapazinho esfarrapado, que o apanhara, estava à porta Tem gente pedindo ajuda.
da colchoaria, aguardando a ocasião de restituí-lo. Ru- 20 E não é aquela que você imagina
bião deu-lhe uns cobres em recompensa, coisa em que entre a escola e a novela.
o rapazinho não cuidara, ao ir apanhar o chapéu. Não o Tem gente que existe e parece
apanhou senão para ter uma parte na glória e nos servi- imaginação.
ços. Entretanto, aceitou os cobres, com prazer; foi talvez TAVARES, Ulisses. Viva a poesia. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 17.
a primeira ideia que lhe deram da venalidade das ações.
— Mas, espere, tornou o colchoeiro, o senhor feriu-se? Caso o autor resolvesse, em conformidade com as
Com efeito, a mão do nosso amigo tinha sangue, um regras de regência, mudar o sentido do verso “E não
ferimento na palma, coisa pequena; só agora começava a são os cantos que você imagina” (v. 14), poderia subs-
senti-lo. A mãe do pequeno correu a buscar uma bacia e tituir o fragmento do poema:
uma toalha, apesar de dizer o Rubião que não era nada, a) E não são os cantos aonde você frequenta.
que não valia a pena. Veio a água; enquanto ele lavava a b) E não são os cantos onde você se diverte.
mão, o colchoeiro correu à farmácia próxima, e trouxe um c) E não são os cantos aonde você caminha.
pouco de arnica. Rubião curou-se, atou o lenço na mão; d) E não são os cantos que você acredita.
a mulher do colchoeiro escovou-lhe o chapéu; e, quando e) E não são os cantos que você simpatiza.
b) A espécie humana, desde há muito, aspira o co- à distância avós, babás e professores, o que é enlouque-
nhecimento do cosmos cedor. Enfim, escolha sua perda e aprenda a se ausentar.
c) nunca podemos esquecer das longas distâncias Folha de S.Paulo, VERA IACONELLI, 10 set. 2017, com adaptações.
63
9. PUC-Campinas 2022
65
cia verbal, nesse contexto, deveria ser realizada 15. IFRS 2018
pela preposição “a”. CAPÍTULO 39
<id>002447_por_f1_c12_q0021</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
13. Acafe-SC 2022 Assinale a frase CORRETA quanto à Visitei algumas vezes o Egito subindo o Nilo, partindo
regência verbal e nominal. do Cairo até chegar de barco a Luxor, a monumental capi-
a) Devido à essa questão, a inclusão do assunto re- tal religiosa dos faraós. É um percurso de uns sete dias, e o
lativamente a expansão da fábrica agora não é barco sempre faz escalas, momento em que os turistas têm
pertinente sobre o tema. 5 a oportunidade de visitar os monumentos dessa fascinante
b) A causa do atraso tem a ver tão somente com a civilização. Na última escala de uma dessas viagens, atra-
aversão que ele sente por tarefas que lhe exigem camos em Luxor no fim da tarde, e aproveitei para descer,
um certo esforço intelectual. acompanhado por um guia, e me sentar num café, em uma
pequena aldeia próxima à cidade.
c) Recomendou-lhe, todavia, que não dissesse a
10 A brisa estava fresca, e eu descansava prazerosamente
seus pais o desamparo que o vira, para não lhes
do calor pesado do dia, distante do movimento dos turis-
deixar ainda mais constrangidos.
tas, bebendo um chá, cercado pelos habitantes do lugar,
d) As universidades são organizações que você
que conversavam e fumavam seus narguilés, enquanto
pode abandonar uma pesquisa sem ser ostensi-
cabras e crianças circulavam incessantemente.
vamente cobrado disso.
<id>002447_por_f1_c12_q0022</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
15 De repente, uma banda de uns 15 componentes parou
14. UCSC Analisa-se, no texto a seguir, o emprego da em frente ao café, tocando uma música magnífica. A melo-
regência. dia era de origem árabe, mas tinha um acompanhamento
rítmico que era muito similar ao samba de roda da Bahia.
Por falar em regências: ouço todos os dias a expressão
Ao retornar à noite para o barco, contei para a guia que
“na busca pela...”: jornalistas, seus entrevistados, narra-
20 nos acompanhava na viagem, uma professora de história
dores esportistas e políticos, todos diziam na “busca pelo
da Universidade do Cairo, da minha surpresa com a seme-
gol”, “na busca pelo sucesso”, “na busca pelo emprego”,
lhança entre os dois ritmos. Para meu espanto, a guia contou
“na busca pelo acordo” etc. Escrevi uma coluna sobre isso,
mas quero ampliar um pouco a coleta. Num só dia, nos que não era tão surpreendente assim, pois até o século IX
jornais de TV, anotei “aguardar pela liberação”, “procurar vivia, no lugar que hoje é o sul do Egito e o Norte do Sudão,
pelos desaparecidos” e “buscar pelos parentes”. Além dis- 25 um povo chamado iorubá, que, ao perder uma guerra, foi
so, o jornal do dia seguinte (o Estadão!!) dava a seguinte obrigado a fugir e atravessou a África, até chegar à Nigéria
manchete: Hollywood aguarda pela estrela Beckham. trezentos anos mais tarde, no século XII, não mais como
O leitor deve estar estranhando que eu estranhe essa povo, por ter se disseminado no percurso, porém como
proliferação de “por/pelo” seguindo esses nomes e verbos. tribo, sendo os homens negociados tempos depois pelas
Não é que eu reclame, nem que seja contra (logo eu!!!). Mas 30 tribos locais como escravos, com destino ao Brasil e a Cuba.
decidi olhar os dicionários (os dicionários, não, que olhei só MIDANI, André. Do vinil ao download. Rio de janeiro:
Nova Fronteira, 2015. Adaptado.
um, o Houaiss) e essa regência não se encontra registrada,
exceto uma vez, na décima informação sobre “procurar”. Regência é a parte da gramática que trata das rela-
As pessoas da minha idade dizem “aguarda a estrela”, ções entre os termos da frase, verificando como se
“busca os parentes” e “procura um emprego”. Nada de estabelece a dependência entre eles. Se o verbo exi-
“por/pelo”. Ou seja: tudo indica que as regências desses ge alguma preposição, o estudo é de regência verbal;
verbos mudaram. As “antigas” só estão esperando nos- no caso de um nome a exigir, trata-se de regência no-
sa morte para desaparecer de vez. Não sei de nenhum minal. Observe as palavras “num” (l. 8), “do” (l. 12), “ao”
trabalho que tenha anotado esses dados e certamente (l. 16) e “entre” (l. 22) e assinale a alternativa em que o
os dicionaristas é que não o fizeram. Aliás, vou dar uma tipo de regência esteja na ordem correta em que os
olhada em outro: fui. Nada de “por/pelo” no Aurélio: lá casos ocorrem no texto:
os rios buscam/procuram o mar etc. a) regência verbal – regência nominal – regência
Fonte: POSSENTI, Sírio. Língua na mídia. São Paulo: Parábola, 2009. p. 41.
nominal – regência verbal
Ao examinar o emprego da regência, o autor: b) regência nominal – regência verbal – regência
a) contesta o emprego de “na busca pelo gol”, “na nominal – regência nominal
busca pelo sucesso”, “na busca pelo emprego”, c) regência nominal – regência verbal – regência
“na busca pelo acordo”. nominal – regência verbal
b) apresenta dados que indicam mudança nas regên- d) regência verbal – regência nominal – regência
FRENTE 1
67
16. IFSul-RS 2015 tristezas ou frustrações? Para que, quando a vida recebê-las
(porque a vida nos aguarda e, do lado de fora do núcleo
As crianças estão cada vez mais avessas a familiar, as coisas são bem menos doces), elas estejam
regras, falhas e insucessos preparadas para os conflitos inevitáveis.
Eu, defensora ferrenha da importância da afetividade As crianças estão cada vez mais avessas a regras, fa-
e do emocional na constituição psíquica e no comporta- lhas e insucessos. Não sabem lidar com o amigo que não
mento das pessoas, assisti a 90 minutos de desequilíbrio empresta o brinquedo, não sabem agir diante do colega
e fragilidade correndo sem rumo em pleno campo de fu- que lhes faz um deboche, não conseguem suportar ter
tebol, na última terça-feira. sua atenção chamada pelo professor, não aguentam ter
Eram meninos... garotos que tinham, desde o início, um pedido aos pais negado. Então, diante do problema,
a obrigação clara de serem campeões. Por quê? Porque tomam o brinquedo à força, são cruéis com quem lhes
faziam parte da Seleção Brasileira (e o Brasil é o país do magoou, trocam de turma (e até de colégio), torturam os
futebol!); porque estavam jogando em casa; porque preci- pais com birras...
savam mudar o foco da população revoltada com a Copa; Estamos criando e perpetuando a geração da intole-
porque representavam um povo sofrido, prejudicado por rância! Mas quem é o adulto nessa relação mesmo? Nós
anos e anos de exploração, um povo invisível, e porque, ou eles?
como se tudo isso não bastasse, precisavam representar O Brasil terá uma nova oportunidade de restabelecer
heroicamente o craque Neymar, impossibilitado de jogar a dignidade e, ao menos, dar uma lapidada na amarga
devido à lesão. lembrança. Só que, na vida, nem sempre há a chance de
Acharam muito? E olha que nem citei os motivos pes- lutar por, pelo menos, o terceiro lugar tão pouco tempo
soais. Porque eles também queriam fazer jus ao esforço após uma derrota. Há vezes em que perder significa estar
dos pais, orgulhar a família, garantir um futuro promissor, fora. E somente depois de um bom tempo para se recom-
ganhar mais... por é que se galga uma nova oportunidade. E há que se
Mas não contavam com a força aterradora da men- poder suportar isso.
te. Essa, sim, é implacável! Não há preparo intelectual Pela Seleção Brasileira, podemos apenas torcer. Pelas
ou físico que seja páreo a ela. A mente pode elevar ou nossas crianças, podemos lutar e participar desse aprimo-
enterrar um ser. ramento psicológico e emocional. Não nos omitamos!
Se repararmos bem, vemos Davids, Hulks, Freds, PIONER, Lisandra. Caderno Vida. Jornal Zero Hora de 12 jul. 2014.
Marcelos e Dantes todos os dias pelos gramados da vida.
Observe os seguintes trechos:
Confusos, amedrontados, apáticos, atônitos, angustiados,
ansiosos. Jovens que carregam mais do que o peso do ... queriam fazer jus ao esforço dos pais...
próprio corpo: carregam o peso dos sonhos dos pais, o ... cada vez mais avessas a regras...
peso do despreparo emocional. Se abalam por pouco e,
Nos dois casos, a preposição destacada está correta-
com isso, se desestruturam.
Muitas vezes, vemos crianças intolerantes a todo e mente empregada, atendendo às regras de regência
qualquer rechaço. Crianças que, no primeiro embate da nominal.
vida, abandonam a situação ou desmoronam em lágrimas Em que alternativa a preposição está mal-empregada,
ou atos violentos, numa tentativa inglória de resolver o NÃO atendendo a essas regras?
impacto. Às vezes até resolvem, mas a situação é apenas a) Este modelo é análogo àquele outro.
momentânea. Por que eu insisto tanto na necessidade de b) José está curioso por saber os resultados.
que as crianças suportem, superem, criem mecanismos de c) Isto é preferível do que aquilo.
recuperação rápida e efetiva, que se refaçam diante das d) Levava uma vida propensa para o crime.
Texto complementar
Veja os principais assuntos e conceitos trabalhados neste capítulo acessando a seção Resumindo
no livro digital, na Plataforma Poliedro.
Site Livro
Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional. Dicionário prático de regência verbal e Dicionário prático
Disponível em: www.nilc.icmc.usp.br/nilc/minigramatica/ de regência nominal, ambos de Celso Pedro Luft. São
mini/sejabemvindo.htm. Acesso em: 15 dez. 2023. Paulo: Ática, 2013.
O NILC desenvolve estudos sobre processamento Os dicionários de regência verbal e nominal do professor
computacional de linguagens naturais e construção de e linguista Celso Pedro Luft são obras de referência e
recursos, ferramentas e aplicações práticas. O site dis- auxiliam no estudo das regências das palavras em língua
ponibiliza uma minigramática, que traz exemplos de uso portuguesa. Os livros trazem observações acerca das
de regência verbal. dúvidas mais recorrentes sobre o assunto e descrições
atualizadas sobre os padrões de regência do português
Música
contemporâneo.
“Tempo rei”, de Gilberto Gil. Disponível em: www.letras.
mus.br/gilberto-gil/46247/. Acesso em: 15 dez. 2023.
A canção traz uma reflexão sobre os efeitos da “passa-
gem do tempo”, tratado pelo eu lírico como um rei.
Exercícios complementares
<id>002447_por_f1_c12_q0025</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
1. UEPG/PSS-PR 2016
04 “são atribuídos a espíritos” está corretamente grafado, outra opção correta seria “são atribuídos aos espíritos”.
08 No trecho há apenas um verbo que exige preposição.
Soma:
69
71
texto, está correto o que se afirma em: 20 que cresceram decorando os horários da estrada de ferro
a) O pronome isso no fragmento “Eu já disse isso de Bradshaw como passatempo pode fazer isso, enquan-
e digo novamente” (linhas 18 e 19) retoma a to os altos comandantes consideravam que tudo estava
73
8. UFRR 2017 Leia os fragmentos retirados da obra Terras do sem fim de Jorge Amado, em seguida, observe os termos
destacados e a análise feita em cada uma das proposições:
I. “[...] Ester ficou com os avós que lhe faziam todas as vontades, que a mimavam”. A flexão do verbo “fazer” está
perfeita, concordando com o sujeito “os avós”.
II. “escapou da justa condenação devido à chacina de advogados que desmoralizavam a profissão, mas não esca-
pou da condenação pública”. O uso da crase na expressão “à chacina” está de acordo com a norma culta; bem
9. Ufam 2016 Leia o texto a seguir, intitulado “Tudo da minha terra”, de autoria de Antônio Carlos de Brito (do livro Cul-
tura Brasileira, organizado por Alfredo Bosi, p. 131. Adaptado.)
A turma que está por volta dos trinta anos certamente não sabe, mas, na década de 60 do século passado, a vida cultural
andou animada. Todos aspiravam a um novo tempo. Lembro-me do lançamento de livros de grandes nomes da literatura. Havia
quem preferisse mais o cinema do que o teatro, mas ambas as artes eram presenças vivas e atuantes; a música popular veria o
nascimento do Tropicalismo; uma legião de jornalistas, intelectuais, artistas, professores, gente do clero, sociólogos, economistas
etc. sustentava um nível de participação e combatividade em suas ideias e seus métodos que ia refletindo e ao mesmo tempo
incentivando o radicalismo político que se alastrava no meio estudantil. Como disse um poeta: o país aspirava o perfume de
uma nova manhã, a manhã da redenção. Essa cumplicidade da cultura com o meio político seria o seu pecado mortal e, em
dezembro de 1968, veio o castigo. Nossa vida cultural, cheia de viço e ideais, foi, do dia para a noite, reduzida a escombros.
O período que se abre a partir daí inaugura um capítulo novo e trágico em nossa história cultural. O governo investiu com as
armas da repressão à liberdade.
Assinale a alternativa em que a regência verbal está INCORRETA:
a) Todos aspiravam a um novo tempo
b) Havia quem preferisse mais o cinema do que o teatro
c) O governo investiu com as armas da repressão à liberdade
d) Lembro-me do lançamento de livros de grandes nomes da literatura
e) Como disse um poeta: o país aspirava o perfume de uma nova manhã
<id>002447_por_f1_c12_q0034</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
10. Ufam 2016 Apesar da intensa fama que possui, fiquei decepcionado com o Festival de Parintins. Perplexo, indaguei-me
onde fora parar o enredo original, no qual um fazendeiro branco perde seu patrimônio, representado por um touro gara-
nhão. Todos esqueceram do auto primitivo. O que vi foi mais uma revista folclórica que, em muitos pontos, macaqueia o
carnaval do Rio de Janeiro. Os dirigentes dos bois preferem antes o luxo do que a tradição, o que causa o abandono dos
verdadeiros valores folclóricos. Tal espetáculo é deprimente, embora isso agrade o grande público, que lhe assiste hipnoti-
zado. Cooptado pela indústria cultural, esse festival atende a interesses meramente turísticos. Até quando se manterá como
atração, antes de entrar em declínio? De qualquer forma, não era a diversão que eu precisava.
In: LOTTI, R. N. Caderno de viagem, p. 102. Texto adaptado.
11. ESPM-SP 2015 Assinale a única frase aceita pelas normas de regência verbal:
a) Sem-terra preferem a Bolsa Família a Reforma Agrária.
b) O jogador disse que preferia jogar no Morumbi do que jogar no Interior.
FRENTE 1
75
12. PUC-PR 2020 A aceitação de O Sétimo Guardião com o grande público já não é das melhores, e a novela de realismo
fantástico de Aguinaldo Silva ainda parece não cooperar com ela mesma. Uma falha da produção da trama acabou exibindo
um erro de ortografia em uma placa que mostrava “Bem-vindo à Tubiacanga”. A crase, no caso, está incorreta.
No trecho do excerto anterior “A aceitação de O Sétimo Guardião com o grande público”, há uma impropriedade gra-
matical quanto à regência de “aceitação”. A construção sintática exigida por esse núcleo resultaria em “A aceitação do
grande público a O Sétimo Guardião”, em que
a) “do grande público” é adjunto adverbial e “a O Sétimo Guardião” é complemento nominal.
b) “do grande público” é complemento nominal e “a O Sétimo Guardião” é adjunto adnominal.
c) “do grande público” é adjunto adnominal e “a O Sétimo Guardião” é complemento nominal.
d) “do grande público” é complemento nominal e “a O Sétimo Guardião” é adjunto adverbial.
e) “do grande público” e “a O Sétimo Guardião” são adjuntos adverbiais.
<id>002447_por_f1_c12_q0037</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
13. PUC-PR 2016 Leia o texto a seguir e assinale a alternativa que preenche adequadamente as lacunas, na ordem em
que aparecem, de acordo com as normas de regência prescritas pela norma culta.
Pesquisado por Robert Rosenthal e Lenore Jacobson na década de 1960, o Efeito Pigmaleão refere-se ao fenômeno da
relação entre a expectativa depositada numa pessoa e os resultados decorrentes de seu trabalho. O nome faz referência a
Pigmaleão, um escultor mítico grego que se apaixonou pela estátua ______ construía e pediu à deusa Afrodite ______
a tornasse uma mulher real. O Efeito Pigmaleão prescreve que, quanto maior a confiança depositada em alguém, maior é a
probabilidade de essa pessoa ter bons resultados. No estudo de Jacobson e Rosenthal, professores foram avisados, no início do
semestre, que havia em suas salas de aula alguns alunos excepcionais, que provavelmente se desenvolveriam mais depressa
que seus colegas. Ao final do ano, foi constatado que esses alunos realmente haviam tido melhores conceitos. A conclusão
foi ______ diversos fatores poderiam ter influenciado o sucesso dos alunos, entre eles o fato ______ professores provavel-
mente haviam prestado mais atenção a essas crianças e lhes dado tratamento diferenciado durante o semestre. Isso, é claro,
ocorreu subconscientemente, de acordo com Rosenthal, crendo que professores muitas vezes têm atitudes que facilitam o
desempenho de alunos ______ esperam mais.
FURTADO, Júlio. A mediação relacional da aprendizagem. Língua Portuguesa. Escala, n. 53, p. 25.
A sentença de Heráclito, filósofo pré-socrático e pai da dialética, no sentido de que ninguém pode entrar duas vezes no
mesmo rio porque, ao entrar pela segunda vez, já não encontra as mesmas águas, nunca se fez tão verdadeira como agora,
tamanha gravidade do fenômeno pelo qual estamos passando. Não haverá como resistir: sairemos diferentes de como entramos
nesta pandemia. Os processos civilizatórios deverão ser reinventados na economia, na política, na vida familiar, na educação.
5 Com o isolamento social, houve uma disrupção inesperada e muito traumática no ambiente educacional. Na educação pública,
praticamente foram paralisadas as aulas. No ambiente privado, mantiveram-se sob a forma do ensino a distância, com tecnologias
virtuais. Os alunos de instituições públicas permanecem com seu horizonte incerto quanto ao semestre e mesmo ao ano.
O que esperar no ambiente educacional? Os conteúdos não se modificaram. O desafio está em vislumbrar a retomada
dos processos educacionais pós-coronavírus. Projetamos uma realidade na qual pouco do que se tinha antes será encontrado.
Para responder à questão, considere as afirmativas sobre a regência das preposições nas contrações de preposição
mais artigo presentes no texto.
I. Em “pelo” (linha 3), a preposição é exigida pela forma verbal “passando” (linha 3).
II. Em “dos” (linha 9), a preposição é exigida pelo substantivo “desafio” (linha 8).
III. Em “no” (linha 13), a preposição é exigida pelo substantivo “estudante” (linha 13).
Está/Estão correta(s) apenas a(s) afirmativa(s)
a) I. b) III. c) I e II. d) II e III.
<id>002447_por_f1_c12_q0039</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
15. UEM/PAS-PR
Não será possível entender o fenômeno Valesca Popozuda, nossa Madonna tupiniquim, um dos mais curiosos da indústria
cultural brasileira contemporânea, sem perceber a função que um ídolo tem em seu tempo. Carmen Miranda, Elis Regina,
Ayrton Senna, para falar de personagens reais de nossa cultura, todos tiveram um lugar importante em seu tempo. Todos
simbolizaram algo essencial para quem os amava ou odiava.
5 O ditado popular que reza que “cada povo tem o político que merece” é verdadeiro se pensarmos na identificação que
leva à eleição de um político. O correspondente no campo estético, “cada povo tem o ídolo que merece”, explica a rela-
ção de espelhamento que as massas, que criam o ídolo, têm com ele. No desfile dos ídolos, Valesca Popozuda é candidata
ao topo de qualquer pódio. Nenhuma das divas da indústria cultural tem o poder de Valesca, embora – pelo menos por
enquanto – as outras (Sangalo, Claudia Leitte etc.) tenham rendido bem mais do que ela em termos financeiros. O poder
10 de Valesca Popozuda vai além. É o poder do que podemos chamar de hiperidentificação. Transitando entre ricos e pobres,
exótica e engraçada para uns, ousada e livre para outros, Valesca agrada à grande maioria. Bem cuidada como negócio, ela
deve crescer tanto quanto suas impressionantes pernas provavelmente siliconadas.
A única diva com a qual Valesca é realmente comparável é Xuxa. Xuxa é sua única antecessora, da qual ela é, olhando
bem, a única herdeira de porte. No convite ao sexo e ao consumo próprio de todas essas divas, Xuxa entrou na história
15 representando o sexo e o consumismo infantil que infantilizou adultos das novas gerações. Mas Xuxa ficou velha. Xuxa era
racista e burguesa e vendia a imagem de puritana usada até hoje por todas as suas herdeiras menores. Valesca, a rainha, é o
contrário. Ela é parda e mora na favela, embora pinte o cabelo de loiro como metade das brasileiras. Por mais que se possa
considerar a sexualidade como armadilha, Valesca a promete de modo livre. Uma armadilha livre não é uma mera contradição.
Fake autêntico
20 Pessoas que costumam julgar a partir de padrões de gosto talvez antipatizem com a figura de Valesca Popozuda. Fácil
tratar como bizarros aqueles quilos de silicone por todo o corpo. Alguns poderão dizer que, além de rainha do funk, ela é
a rainha do mau gosto. Mas o seu mau gosto, demonstrado fartamente no vídeo “Beijinho no ombro”, é o que ela tem de
melhor. Tudo o que é falso, no cenário da “Popozuda” parece verdadeiro, mas enquanto denuncia sua falsidade. A mensagem
de Valesca é o fake autêntico. Mesmo que ela não saiba, o que Valesca faz é um deboche por inversão. Tudo o que parece
25 fino e elegante, os tecidos, os materiais caros, o figurino de luxo, ela os transforma em “coisa de pobre”. O que era luxo vira
lixo. O que há de importante no luxo senão a enganação que a tantos agrada? É assim que Valesca Popozuda, Robin Hood
estético, rouba simbolicamente dos ricos para dar aos pobres.
Agradando os excluídos do gosto, ela conquista corações e mentes. Valesca engana e agrada, mas não mente que engana.
Talvez ela mesma não saiba o quanto é sincera ao ser declaradamente fake. A sinceridade dessa falsidade pode incomodar
30 sacerdotes do bom gosto, mas, para sorte dos “popofãs”, ela não está nem aí com isso.
Talvez Valesca não saiba que é realmente a deusa de um mundo de plástico, cabelos tingidos e silicone. Suas pernas
e glúteos são lenda urbana no cenário do funk ostentação. Para alguns funkeiros, a “ostentação” é uma vitória porque pen-
sam ter conquistado algo do mundo capitalista, um luxo aqui, um lixo acolá. Conquistaram certamente o autoengano que
é só o que o capitalismo pode oferecer. Outros funkeiros, mais espertos, exercitam o deboche. Mostram o ridículo de uma
FRENTE 1
35 sociedade cafona como a nossa. Valesca Popozuda – talvez ela não saiba – é a denúncia, o espelho e o flerte mais radical
com a atual verdade brasileira.
Disponível em: http://revistacult.uol.com.br/home/2014/04/valescapopozuda/. Acesso em 19 maio 2014.
77
Você se lembra daquele célebre comercial do cigarro Vila Rica, onde nosso tricampeão Gérson falava a famosa frase:
“… Porque você tem que levar vantagem em tudo, cerrrto?”. A frase teve tanto impacto que acabou sendo criada a “Lei
de Gérson”, que simboliza o oportunismo e a falta de escrúpulos típicas de uma grande parcela de nossa sociedade. [...]
Concordo que nossa postura oportunista realmente contribui para nos manter neste estado de atraso econômico e cultural
5 em que vivemos. Só que a “Lei de Gérson”, na verdade é muito mais antiga que o próprio. No excelente livro “Mauá, Empresário
do império”, de Jorge Caldeira (Ed. Companhia das Letras), percebe-se que há quase duzentos anos atrás esta lei já era cumprida.
Aliás, essa deve ser a lei mais antiga do Brasil, pois desde as capitanias hereditárias nossa história é pontilhada de exemplos de
oportunismo e falta de escrúpulos. A própria escravidão não deixa de ser uma mostra do viés ético de nossa sociedade desde
tempos imemoriais, mas isso já é outra história.
10 Eu não conheço a biografia do Gérson, muito menos do publicitário que criou a frase e o comercial do Vila Rica. Mas
acho muito improvável que o Gérson real seja um oportunista sanguinário como ficou sendo sua imagem. Nem acredito
que o diretor de criação da agência poderia imaginar que esta frase seria usada mais de vinte anos depois para designar esta
nossa característica.
Nossa língua é ferina. Quando a Volkswagen lançou o Fusca com teto solar no final da década de ‘60’, as vendas
15 despencaram depois que passou a ter a conotação de “carro de chifrudo”. A VASP na década de 70 criou um voo noturno
ligando São Paulo ao Guarujá para atender aos executivos que deixavam suas famílias no balneário e passavam a semana
trabalhando na capital. O nome do voo era “Corujão” devido ao horário. Não demorou muito, o voo passou a ser apelidado
de “Cornudão”, pelo fato das esposas ficarem na praia enquanto os maridos ficavam na cidade. A VASP teve que cancelar
a linha por falta de passageiros.
20 E óbvio que a VW tinha introduzido o teto solar baseado no fato do Brasil ser um país quente e ensolarado, perfeito para
aquele opcional. Só que o consumidor preferia ficar passando calor a ser visto dirigindo um carro com um buraco no teto
para “deixar os chifres de fora”. O voo corujão era perfeito, especialmente na época em que não havia Piaçaguera e, para
chegar ao Guarujá de carro na alta temporada, o motorista tinha que enfrentar horas de fila na balsa. Mas era melhor demorar
oito ou dez horas de carro do que ir de avião, em meia hora, num voo chamado “Cornudão”…
25 Com o comercial do Gérson foi a mesma coisa. Levar vantagem em tudo não significa que os outros tem que levar des-
vantagem. O oportunismo foi incorporado à frase por quem a leu/ouviu, não por quem a escreveu/disse. O problema é que
passou a ficar (para usar um conceito atual) “politicamente incorreto” levar vantagem em alguma coisa.
Na verdade, parece que nossa sociedade se divide em dois grandes blocos: um que leva vantagem em tudo (no sentido
pejorativo) e outro que não pode levar vantagem em nada. Acontece que dá para levar vantagem em tudo sem fazer com
30 que os outros saiam em desvantagem. Você não precisa esmagar a outra parte para sair ganhando.
(http://www.geocities.ws/cp_adhemar/leidegerson.html. Acesso em: 10 abril 2017. Texto revisado conforme a nova ortografia.)
EM13LP06
1. UEM-PR 2015
Excesso de regras
João Ubaldo Ribeiro ironiza normas legais em sua última coluna
19 de julho de 2014, 12h30
O escritor João Ubaldo Ribeiro, que morreu na última sexta-feira (18/7) aos 73 anos, ironizou em seu último texto a quan-
tidade de novas regras que vêm sendo fixadas na sociedade. “Imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico
pode ser regulamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo lado de cima, haverá
um desperdício geral de 3,28 por cento”, afirma o imortal da Academia Brasileira de Letras na coluna que havia preparado
5 para a edição do próximo domingo (20/7) do jornal O Globo.
Leia a íntegra do texto:
O correto uso do papel higiênico
O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no uso de papel higiênico, nem o
leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o assunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me
10 ocorreu que, dentro em breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam baixadas
normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos levando em conta não só o que é melhor
para nós como para a coletividade e o ambiente. Por exemplo, imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico
pode ser regulamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo lado de cima, haverá
um desperdício geral de 3.28 por cento, com a consequência de que mais lixo será gerado e mais árvores serão derrubadas
15 para fazer mais papel. E a maneira certa de passar o papel higiênico também precisa ter suas regras, notadamente no caso
das damas, segundo aprendi outro dia, num programa de tevê.
Tudo simples, como em todas as medidas que agora vivem tomando, para nos proteger dos muitos perigos que nos
rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências pessoais. Nos banheiros públicos, como os de aeroportos e rodo-
viárias, instalarão câmeras de monitoramento, com aplicação de multas imediatas aos infratores. Nos banheiros domésticos,
20 enquanto não passa no Congresso um projeto obrigando todo mundo a instalar uma câmera por banheiro, as recém-criadas
Brigadas Sanitárias (milhares de novos empregos em todo o Brasil) farão uma fiscalização por escolha aleatória. Nos casos
de reincidência em delitos como esfregada ilegal, colocação imprópria do rolo e usos não autorizados, tais como assoar o
nariz ou enrolar um pedacinho para limpar o ouvido, os culpados serão encaminhados para um curso de educação sanitária.
Nova reincidência, aí, paciência, só cadeia mesmo.
25 Agora me contam que, não sei se em algum Estado ou no País todo, estão planejando proibir que os fabricantes de gulo-
dices para crianças ofereçam brinquedinhos de brinde, porque isso estimula o consumo de várias substâncias pouco sadias e
pode levar à obesidade, diabetes e muitos outros males. Justíssimo, mas vejo um defeito. Por que os brasileiros adultos ficam
excluídos dessa proteção? O certo será, para quem, insensata e desorientadamente, quiser comprar e consumir alimentos
industrializados, apresentar atestado médico do SUS, comprovando que não se trata de diabético ou hipertenso e não tem
30 taxas de colesterol altas. O mesmo aconteceria com restaurantes, botecos e similares. Depois de algum debate, em que alguns
radicais terão proposto o Cardápio Único Nacional, a lei estabelecerá que, em todos os menus, constem, em letras vermelhas
e destacadas, as necessárias advertências quanto a possíveis efeitos deletérios dos ingredientes, bem como fotos coloridas
de gente passando mal, depois de exagerar em comidas excessivamente calóricas ou bebidas indigestas. O que nós fazemos
nesse terreno é um absurdo e, se o Estado não nos tomar providências, não sei onde vamos parar.
35 Ainda é cedo para avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que, protegendo as nossas crianças, ela se
tornará um exemplo para o mundo. Pelo que eu sei, se o pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia
e até preso. Mas, antes disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento psicológico. Se, ainda assim, persistir em seu
comportamento delituoso, não só vai preso mesmo, como a criança é entregue aos cuidados de uma instituição que cuidará
dela exemplarmente, livre de um pai cruel e de uma mãe cúmplice. Pai na cadeia e mãe proibida de vê-la, educada por
40 profissionais especializados e dedicados, a criança crescerá para tornar-se um cidadão modelo. E a lei certamente se aperfei-
çoará com a prática, tornando-se mais abrangente. Para citar uma circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável,
lembremos que a tortura física, seja lá em que hedionda forma – chinelada, cascudo, beliscão, puxão de orelha, quiçá um
piparote –, muitas vezes não é tão séria quanto a tortura psicológica. Que terríveis sensações não terá a criança, ao ver o
pai de cara amarrada ou irritado? E os pais discutindo e até brigando? O egoísmo dos pais, prejudicando a criança dessa
45 maneira desumana, tem que ser coibido, nada de aborrecimentos ou brigas em casa, a criança não tem nada a ver com os
problemas dos adultos, polícia neles.
Sei que esta descrição do funcionamento da lei da palmada é exagerada, e o que inventei aí não deve ocorrer na prá-
tica. Mas é seu resultado lógico e faz parte do espírito desmiolado, arrogante, pretensioso, inconsequente, desrespeitoso,
FRENTE 1
irresponsável e ignorante com que esse tipo de coisa vem prosperando entre nós, com gente estabelecendo regras para o
50 que nos permitem ver nos balcões das farmácias, policiando o que dizemos em voz alta ou publicamos e podendo punir
79
EM13LP03
2. Udesc “Eu me chamo Marina”. Então desprendi os cabelos e, em chinelos como estava, saí pela porta da frente para nunca
mais voltar.
Gosto de campinas abertas, amo a folha que flutua no ar, desgarrada da árvore. Ah, essa insensatez de todas as pessoas
condicionadas por palavras e símbolos que não são amor nem liberdade!
5 Aos 23 anos, tive um sonho: eu era eu mesma, porém mais esguia, o rosto mais magro e maduro. Podia ver a beleza em
minha pele, mas a vida de meus olhos se mesclava a um verde mais profundo, como um acorde nostálgico ou melancólico
em meio a uma canção agreste. Ou como as palavras de um poema que, um dia, uma voz amiga me declamara:
Eu não dei por esta mudança
tão simples, tão certa, tão fácil:
10 Em que espelho ficou perdida
a minha face?
“Não!”, eu gritava, “Isto não poderá acontecer!” E com um gesto brusco destruí o sonho, que se partiu em círculos a minha volta.
SOUZA, Silveira de. Um nome: Marina. In: Ecos no porão. Florianópolis: Ed. UFSC, 2012, p. 28.
Assinale a alternativa incorreta em relação ao conto Um nome: Marina, Silveira de Souza, e ao texto:
a) O conto Um nome: Marina é entrecortado por um poema, a este recurso estilístico denomina-se intertextualidade.
b) Na estrutura linguística “Ah, essa insensatez de todas as pessoas condicionadas por palavras” (linhas 3-4) no que
se refere à concordância e regência nominais há um desvio às normas exigidas pela gramática normativa.
c) O conto Um nome: Marina apresenta os fatos sequencialmente, o que é retratado pela progressão cronológica
da personagem principal – Marina.
d) Se a palavra “acorde” (linha 6) for substituída por som ainda assim o sentido e a coerência textual são mantidos.
e) Da leitura do conto Um nome: Marina infere-se um ar de sensualidade, reforçado pela repetição do nome Marina.
<id>002447_por_f1_c12_q0043</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
EM13LP08
3. FGV-SP O artista Juan Diego Miguel apresenta a exposição “Arte e Sensibilidade”, no Museu Brasileiro da Escultura (MUBE)
de suas obras que acabam de chegar no país.
Seu sentido de inovação tanto em temas como em materiais que elege é sempre de uma sensação extraordinária para o
espectador. Juan Diego sensibiliza-se com os materiais que nos rodeam e lhes da vida com uma naturalidade impressionante,
encontrando liberdade para buscar elementos no fauvismo de Henri Matisse, no cubismo de Pablo Picasso e do contempo-
râneo de Juan Gris. Uma arte que está reservada para poucos.
Exposição: de 03 de agosto à 02 de setembro, das 10 às 19h.
O primeiro período do texto deve ser reescrito, para apresentar maior clareza. Além disso, a regência do verbo che-
gar contraria a norma culta. Reescreva o parágrafo, com o objetivo de torná-lo mais claro e adequar a regência do
verbo referido.
FRENTE 1
Crase
13
CAPÍTULO
Uma das intepretações possíveis para a obra A persistência da memória está
ligada à rejeição da ideia de tempo como algo determinante e definitivo. A
tela evidencia vários relógios que parecem estar se derretendo e, ao mesmo
tempo, se fundindo a outros elementos da imagem. Ao final, não vemos nem
a imagem original dos relógios nem a forma dos elementos que os com-
põem: será uma terceira forma. Na língua portuguesa, o fenômeno da crase
também tem relação com a fusão de dois elementos que, ao se juntarem,
formam algo novo, diferente daqueles que lhe deram origem. Neste capítulo,
compreenderemos o que é a crase e quais são as situações em que ela se
faz necessária.
Na manchete, podemos observar que, após a forma verbal “vão”, há uma palavra com um acento grave. Toda vez que
esse acento for usado sobre a vogal “a”, significa que ocorreu o que conhecemos como crase, fenômeno linguístico em
que há, na fala, a fusão de dois sons idênticos. Isso pode ser percebido, por exemplo, quando a preposição “a” e o artigo
feminino “a” se encontram em uma sentença.
Banhistas vão à praia.
a a
Rata
favorece a percepção de que, em-
bora semelhantes, eles não são
iguais, pois cada um desempenha
uma função sintática na frase. Além
disso, a tirinha brinca com o termo
acento grave, que nomeia o sinal
usado, na escrita, para evidenciar
essa fusão.
Atenção
Enquanto os artigos têm a função de especificar os substantivos a que estão relacionados, a preposição cumpre o papel de
conectar partes do texto, sendo, por isso, um importante recurso para a coesão textual. Veja os exemplos.
• Eu vi a menina hoje. (“a” exerce a função de artigo, pois especifica o substantivo “menina”)
• Saí a caminhar ontem. (“a” tem função de preposição, pois liga dois verbos)
Além da junção com o artigo feminino definido, a preposição “a” também pode se contrair com a vogal “a” inicial de
pronomes demonstrativos (aquela, aquele, aquilo) ou relativos (a qual). Observe:
Fez homenagem àquela que ama! Esta é a história à qual me referi.
(a + aquela) (a + a qual)
Uso obrigatório
Há contextos de uso em que sempre ocorre crase. Nesses casos, o acento grave é obrigatório.
Eu volto de Campinas.
2a regra: ocorre crase na frente de nome de lugar,
desde que este admita o uso do artigo feminino “a”.
FRENTE 1
Eu vou a Campinas.
Vamos refletir agora sobre o uso da crase no texto a Não há presença do artigo na primeira frase, então
seguir. não ocorre crase na segunda.
83
sentido genérico
Agora, observe o texto a seguir. (qualquer comida)
“A máscara já não faz parte do meu dia a dia” Eu me referi às comidas caseiras do Brasil.
Brasileira descreve sua rotina em Xangai, onde a vida vol-
tou quase ao normal, enquanto a pandemia avança por outras sentido específico
partes do mundo e da própria China.
(comidas caseiras do Brasil)
SUNG, Fernanda. Piauí, 14 jan. 2021. Disponível em: https://piaui.folha.
uol.com.br/mascara-ja-nao-faz-parte-do-meu-dia-dia/.
Acesso em: 11 jan. 2024.
4a regra: não ocorre crase antes de verbo.
Em expressões com palavras repetidas, como “dia a
dia”, também não deve ser utilizado o sinal indicativo de
crase. Além disso, no exemplo, há uma palavra masculina • “a gente começa a comer”
(“dia”). Contudo, a dica de não usar crase entre palavras Na língua portuguesa, de forma geral, não ocorre artigo
repetidas é válida mesmo se houver uma palavra feminina, antes de verbo. Portanto, nesses casos, não tem como ocorrer
como ocorre em “gota a gota” ou “face a face”. fusão de preposição e artigo feminino, ou seja, não há crase.
3a regra: não ocorre crase antes de palavras no plu- 5a regra: não ocorre crase antes de palavras de
ral que não são definidas por um artigo feminino. sentido indefinido (artigos e pronomes indefinidos).
O texto apresenta diversas passagens em que o uso 7a regra: não ocorre crase antes de
do acento grave, indicador de crase, não deve ser utilizado. pronomes pessoais.
• “Gosto de ir a restaurantes”
FRENTE 1
A palavra “restaurante” é masculina e, seguindo apenas • “pedi a ela dois pratos típicos”
a regra de que só ocorre crase antes de palavras femininas, O verbo “pedir” exige preposição “a”, mas não utiliza-
concluímos que não há crase nesse caso. Além disso, no mos artigo “a” antes de pronomes pessoais. Sendo assim,
85
9a regra: não ocorre crase antes de pronomes Isso também se aplica quando nos referirmos aos me-
interrogativos. ses do ano ou aos dias da semana. Como, em geral, ao
indicar esses períodos, o uso do artigo “a” não é necessário,
então não ocorre crase. Por isso, as passagens “de segunda
• “queria saber a quem deveria chamar”
a domingo” e de “janeiro a dezembro” presentes no texto
Quando utilizamos um pronome interrogativo, ele não não apresentam o acento grave.
é antecedido por um artigo. Assim, não há como ocorrer o
fenômeno da crase antes dele.
13a regra: antes de pronomes de tratamento não
há crase, com exceção de “senhora”, “senhorita”,
10a regra: não ocorre crase antes de pronomes
“madame” e “dona”.
demonstrativos de primeira e segunda pessoas.
Reprodução
“Amo mais que pele de frango”
CASTRO, Daniel. Notícias da TV, São Paulo, 18 jun. 2019. Disponível
em: https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/celebridades/claudia-
raia-faz-elogio-tosco-fernanda-souza-amo-mais-que-pele-de-frango-
27589?cpid=txt. Acesso em: 11 jan. 2024.
1a regra: a crase é opcional antes de pronomes Por fim, em frases como “Moisés foi até a [à] escola”, o
possessivos femininos. uso da crase também será facultativo.
Estabelecendo relações
O acento indicativo de crase é opcional em alguns con-
textos específicos, como ocorre nos títulos da obra acima. Em Química, a fusão é um processo de transformação de
Uma editora optou por registrar a crase antes do pronome uma substância em estado sólido para o líquido. É o que
possessivo “minha”, enquanto a outra preferiu não o fazer. ocorre com o gelo, quando colocado fora da geladei-
ra. No estudo da crase, pudemos perceber que também
Carta à minha filha Carta a minha filha ocorre uma fusão, mas, no caso, de dois sons vocálicos
Como o uso de artigo definido antes de pronome pos- semelhantes: /aa/.
sessivo não é obrigatório, a crase também não é. Para identificar essa fusão é possível fazer, como na
Matemática, uma “prova real”, ou seja, olhar para seus
elementos de outra forma e checar se realmente “o re-
Atenção
sultado” está correto. Ao desmembrar os elementos que
Os principais pronomes possessivos femininos são: “mi- se fundiram, conseguimos evidenciar tanto a preposição
nha”, “tua”, “nossa”, “sua”. Eles servem para evidenciar quanto o artigo, isto é, os termos semelhantes.
a relação de posse estabelecida com a palavra a que
fazem referência. Raquel vai aa praia. Raquel vai à praia.
a pessoa citada não é próxima, seja porque é uma cele- o Gabigol, retorna ao Santos, clube em que iniciou sua
bridade, seja porque é uma desconhecida, o acento grave carreira, após passar uma temporada jogando em um time
não ocorre. Veja: europeu.
87
Apesar de a palavra “casa” ser utilizada nas duas manchetes, observamos que, na primeira, ela vem precedida de um
“a” com acento grave (“à”) e, na segunda, não. Isso ocorre por causa de uma regra da norma-padrão que orienta que a
palavra “casa” deve receber acento grave se ela vier modificada (apresentar um termo qualitativo), mas não deve receber
o acento indicativo de crase quando indicar “lar”, sem nenhum termo que especifique a palavra.
Em “Carla volta à casa do ‘BBB21’ [...]”, é possível perceber que a atriz está voltando para uma casa em especial, a
“do ‘BBB21’”; o acento indicador de crase, então, deve ser usado. Já em “o bom filho a casa torna”, não está determinada
qual é a casa, então podemos concluir que Gabigol volta para seu lar. Sempre que a palavra “casa” puder ser substituída
por “lar”, não haverá crase.
Palavra “terra”
Com a palavra “terra” acontece algo semelhante. Se esse substantivo vier modificado, também deve ser usado o
acento indicativo de crase, mas, se não houver nenhum qualificador, a crase não ocorrerá.
Em relação ao sentido, quando a palavra “terra” for usada em oposição a “bordo”, com a ideia de “chão”, “terra firme”,
não ocorre crase. Já quando o uso estiver ligado ao nome do planeta em que vivemos, então o acento grave deve ser
utilizado.
O respeito à Terra é fundamental para nossa sobrevivência. Após meses no mar, os navegantes retornaram a terra.
Palavra “distância”
Quando utilizamos a palavra “distância”, é preciso observar se ela está ou não determinada numericamente, ou seja,
se há uma informação que modifica o seu sentido. Se a distância estiver delimitada, há crase. Caso contrário, não.
Sem lentes, não enxergo à distância de um metro. Sem lentes, não enxergo a distância.
Considerando essa regra, a expressão “ensino a distância” (ou similares, como “Faça cursos a distância”, presente na
propaganda a seguir) não deve ter acento indicativo de crase.
Vendeu a ou à vista?
Se alguém “vendeu a vista”, deve ter vendido “o olho” (a
vista = objeto direto). O desespero era tanto que um vendeu
o carro, o outro vendeu o rim e esse vendeu a vista.
Se não era nada disso que você queria dizer, então a res-
posta é outra: “vendeu à vista”, e não a prazo (à vista = adjunto
adverbial de modo).
Observe que nesse caso não se aplica o “macete” da subs-
tituição do feminino pelo masculino (à vista > a prazo).
Por causa disso, há muita polêmica e algumas divergências
entre escritores, jornalistas, gramáticos e professores. Acen-
tuamos o “a” que inicia locuções (adverbiais, prepositivas,
conjuntivas) com palavra FEMININA: à beça; à beira de; à
cata de; à custa de; à deriva; à direita; à distância; à espreita;
à esquerda; à exceção de; à feição de; à força; à francesa; à
frente (de); à luz (“dar à luz um filho”); à mão; à maneira de; Mas não é só no sentido de “ação imediata” que o
à medida que; à mercê de; à míngua; à minuta; à moda (de); acento grave pode ser usado. Quando a forma “à vista” esti-
à noite; à paisana; à parte; à pressa; à primeira vista; à pro- ver sendo usada como “na presença” ou “diante dos olhos”,
cura de; à proporção que; à queima-roupa; à revelia; à risca; a locução adverbial de modo também receberá acento:
à semelhança de; à tarde; à toa; à toda; à última hora; à uma A agressão foi feita à vista de todos. (= A agressão foi
(= conjuntamente); à unha; à vista; à vontade; às avessas; às feita diante de todos.)
cegas; às claras; às escondidas; às moscas; às ocultas; às or- Vale lembrar que é sempre importante observar o con-
dens; às vezes (= algumas vezes, de vez em quando)... [...] texto de uso para verificar se o acento grave deve ou não
NOGUEIRA, Sérgio. Vendeu ‘a vista’ ou ‘à vista’? Veja se a crase está
correta nesse caso. G1, Rio de Janeiro, 16 jan. 2013. Disponível em:
ser utilizado. Isso porque a forma “a vista” (sem acento)
http://g1.globo.com/educacao/blog/dicas-de-portugues/post/vendeu-a- também pode ser encontrada em alguns enunciados, como
vista-ou-a-vista-veja-se-a-crase-esta-correta-nesse-caso.html. em “A vista ficou muito embaçada depois do exame”. Nes-
Acesso em: 11 jan. 2024.
se caso, não há preposição, apenas a presença do artigo
Como o estudioso evidencia em seu texto, alguns teó feminino “a” seguido pelo substantivo feminino “vista”. O
ricos argumentam que “à vista” não deveria ter o acento termo destacado não é, portanto, uma locução adverbial
grave, já que, se a palavra “vista” (subst. feminino) fosse de modo.
substituída por uma masculina (como “prazo”), o artigo não
seria utilizado, logo, não pode ocorrer crase. Dizemos “a Expressões com ambiguidade
prazo”, e não “ao prazo”. A discussão sobre o uso ou não do acento grave
Ele, no entanto, assim como outros estudiosos da lin- também acontece com algumas locuções adverbais de
guagem, discorda dessa primeira visão e argumenta que instrumento em que, na troca por palavra masculina, não
o uso do acento grave é necessário com base no fato de se observa a presença do artigo. É o que ocorre nas frases
que “à vista” é uma locução adverbial de modo formada “O material foi cortado a faca” / “O material foi cortado a
FRENTE 1
por um substantivo feminino. canivete”. Como a forma “ao canivete” não é gramatical,
Tal tese tem respaldo em algumas gramáticas contem- então não ocorre crase na primeira frase, justificando-se,
porâneas: assim, a ausência do acento.
89
instagram.com/gramaticaemquadrinhos
Em cada uma das cenas da tirinha, a expressão “a mão” exerce uma função diferente na sentença:
Fez a mão. / Lavou a mão. / Pintou a mão. Fez à mão. / Lavou à mão. / Pintou à mão.
O acento grave, portanto, pode ser utilizado em locuções adverbiais de instrumento ou de modo quando o objetivo
for evitar ambiguidade, ou seja, quando não ocorre crase obrigatoriamente, mas o acento grave é empregado em função
da clareza.
Veja outros exemplos em que o uso ou não desse sinal de acentuação pode gerar diferentes sentidos:
Artigo “a” Artigo “a” + preposição Artigo “a” Artigo “a” + preposição
Cortei a faca. Cortei à faca. Paguei a prestação. Paguei à prestação.
= cortar a própria faca = cortar com a faca = pagar uma parcela = pagar em parcelas
Matei à fome.
Matei a fome.
Fica a vontade. Fica à vontade. = levar uma pessoa à
= acabar com uma
morte por falta de
= permanecer o desejo = sentir-se confortável necessidade fisiológica
alimentos (matar
(matar a fome em si)
pela fome)
d) Joaquim foi a uma festa com uma fantasia a Elvis meses antes da Olimpíada do Rio de Janeiro, o executivo
Presley. tomou conhecimento das ações de Westerbos, quando leu
e) Vilão e herói ficaram cara a cara para o duelo. na imprensa que a Plastic Soup tentava desenvolver um
91
Exercícios propostos
<id>002447_por_f1_c13_q0009</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
1. EEAR-SP 2022 Quanto ao uso ou não do acento grave Sem olhar para os lados, por pudor talvez, sem querer
indicador de crase, assinale a alternativa que preenche, espiar as mesas da confeitaria onde possivelmente algum
correta e respectivamente, as lacunas do texto. conhecido tomava sorvete, entrei, fui ao balcão e disse
“Minha mãe, pessoa mais intransigente da casa, com uma dureza que só Deus sabe explicar: um doce
um dia acordou aberta _____ novas experiências. para o menino.
Deixou de lado seu ponto de vista contrário _____ De que tinha eu medo? Eu não olhava a criança, que-
aquisição de animais domésticos e achou que vale- ria que a cena, humilhante para mim, terminasse logo.
ria _____ pena adotar um cão. Porém, quanto _____ Perguntei-lhe: que doce você ...
passarinhos, jamais; queria-os livres para voarem Antes de terminar, o menino disse apontando depressa
com o dedo: aquelezinho ali, com chocolate por cima.
rumo ______ liberdade”.
Por um instante perplexa, eu me recompus logo e ordenei,
a) a – a – à – a – a c) à – à – a – à – a
com aspereza, à caixeira que o servisse.
b) à – a – à – à – à d) a – à – a – a – à
<id>002447_por_f1_c13_q0010</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
— Que outro doce você quer? perguntei ao menino
2. Efomm-RJ 2023 escuro.
Este, que mexendo as mãos e a boca ainda esperava
As caridades odiosas com ansiedade pelo primeiro, interrompeu-se, olhou-me
Clarice Lispector
um instante e disse com delicadeza insuportável, mos-
Foi uma tarde de sensibilidade ou de suscetibilida- trando os dentes: não precisa de outro não. Ele poupava
de? Eu passava pela rua depressa, emaranhada nos meus a minha bondade.
pensamentos, como às vezes acontece. Foi quando meu — Precisa sim, cortei eu ofegante, empurrando-o para
vestido me reteve: alguma coisa se enganchara na minha a frente. O menino hesitou e disse: aquele amarelo de
saia. Voltei-me e vi que se tratava de uma mão pequena e ovo. Recebeu um doce em cada mão, levantando as duas
escura. Pertencia a um menino a que a sujeira e o sangue acima da cabeça, com medo talvez de apertá-los. Mesmo
interno davam um tom quente de pele. O menino estava os doces estavam tão acima do menino escuro. E foi sem
de pé no degrau da grande confeitaria Seus olhos, mais olhar para mim que ele, mais do que foi embora, fugiu. A
do que suas palavras meio engolidas, informavam-me de caixeirinha olhava tudo:
sua paciente aflição. Paciente demais. Percebi vagamente — Afinal uma alma caridosa apareceu. Esse menino
um pedido, antes de compreender o seu sentido concreto. estava nesta porta há mais de uma hora, puxando todas as
Um pouco aturdida eu o olhava, ainda em dúvida se fora pessoas que passavam, mas ninguém quis dar.
a mão da criança o que me ceifara os pensamentos. Fui embora, com o rosto corado de vergonha. De
— Um doce, moça, compre um doce para mim. vergonha mesmo? Era inútil querer voltar aos pensamen-
Acordei finalmente. O que estivera eu pensando tos anteriores. Eu estava cheia de um sentimento de amor,
antes de encontrar o menino? O fato é que o pedido gratidão, revolta e vergonha Mas, como se costuma dizer,
deste pareceu cumular uma lacuna, dar urna resposta o Sol parecia brilhar com mais força Eu tivera a oportuni-
FRENTE 1
que podia servir para qualquer pergunta, assim como dade de ... E para isso fora necessário um menino magro
uma grande chuva pode matar a sede de quem queria e escuro ... E para isso fora necessário que outros não lhe
uns goles de água. tivessem dado um doce.
93
Só que não nos falávamos mais. Ela era mais digna do Assinale a alternativa correta.
que eu havia pensado: conseguido o dinheiro, nada mais a) Na frase do texto “... os poluentes de volta à terra.”,
quis me contar. E nem eu pude mais fazer festas ao menino a crase foi empregada incorretamente devido ao
vestido de menina. Pois qualquer agrado seria agora de
significado de terra no contexto.
meu direito: eu o havia pago de antemão.
b) Em “Prepare-o”, o pronome oblíquo possui a fun-
Um laço de mal-estar estabelecera-se agora entre nós
ção sintática de objeto indireto.
duas, entre a mulher e eu, quero dizer.
c) Chorume significa líquido não poluente que com
— Deixe a moça em paz, Zezinho, disse a mulher.
Evitávamos encostar os cotovelos. Nada mais havia a a ação da chuva, ajuda a lixiviar composto orgâni-
dizer, e a viagem era longa. Perturbada, olhei-a de través: co para o solo.
velha e suja, como se dizem das coisas. E a mulher sabia d) No contexto sobre a emissão de poluentes, ocor-
que eu a olhara. re uma colocação em desacordo com a norma
Então uma ponta de raiva nasceu entre nós duas. Só culta, relativo à concordância nominal.
o pequeno ser híbrido, radiante, enchia a tarde com o seu e) A linguagem conotativa permeia todo o texto,
suave martelar: “dá dá dá”. pois tenta induzir o leitor a rever os seus concei-
Lispector, Clarice. Clarice na cabeceira: crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. tos quanto ao meio ambiente.
4. UFMS Avalie as duas frases que seguem: porque a felicidade não é o dinheiro que traz. É você rea-
lizar aquilo que gosta de fazer. Isso é felicidade”, acredita.
I. Ela cheirava à flor de romã. Adaptado de: GONÇALVES, É. Entalhando a felicidade. Londrina:
II. Ela cheirava a flor de romã. Folha de Londrina, Folha Mais, 26 e 27 de maio de 2018, p. 1.
Considerando o uso da crase, é correto afirmar: Em relação aos recursos linguístico-semânticos pre-
01 As duas frases estão escritas adequadamente, sentes no texto, considere as afirmativas a seguir.
dependendo de um contexto. I. Na oração “Os móveis para bonecas obedecem
02 As duas frases são ambíguas em qualquer contexto. à arte vitoriana”, a presença da preposição “a”
04 A primeira frase significa que alguém exalava o deve-se à exigência feita pelo verbo.
perfume da flor de romã. II. Em “O artesão expõe suas peças no Calçadão de
08 A segunda frase significa que alguém tem o per- Londrina, esquina com Hugo Cabral, de segunda
fume da flor de romã. a sexta”, não se emprega a crase porque o “a” é
16 O “a” da segunda frase deveria conter o acento uma mera preposição.
indicativo da crase. III. Em “Dinheiro é maravilhoso, mas chega um pe-
Soma: ríodo em que ele não é mais tão importante”, o
<id>002447_por_f1_c13_q0013</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
resultado é a felicidade baseada no respeito pela natureza, dições artificiais plenamente satisfatórias. Nenhum vínculo
pela arte e pela sua história. “Dinheiro é maravilhoso, mas de memória, gratidão, amor, interesse, costume – direi mes-
chega um período em que ele não é mais tão importante, mo: de ressentimento ou ódio – o ligará a qualquer pessoa
95
9. UFPR 2019 Era uma vez um lobo vegano que não engo- Assinale a alternativa que preenche corretamente as
lia a vovozinha, três porquinhos que se dedicavam _____ lacunas do primeiro parágrafo, na ordem em que apa-
especulação imobiliária e uma estilista chamada Gretel recem no texto:
que trabalhava de garçonete em Berlim. Não deveria a) a – a – à – às. d) a – à – à – as.
nos surpreender que os contos tradicionais se adaptem b) à – à – a – as. e) à – à – à – as.
aos tempos. Eles foram submetidos _____ alterações no c) à – a – a – às.
processo de transmissão, oral ou escrita, ao longo dos <id>002447_por_f1_c13_q0018</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
séculos para adaptá-los aos gostos de cada momento. Ve- 10. ITA-SP Dadas as afirmações:
jamos, por exemplo, Chapeuzinho Vermelho. Em 1697 –
quando a história foi colocada no papel –, Charles 1. Tudo correu as mil maravilhas.
Perrault acrescentou _____ ela uma moral, com o objetivo 2. Caminhamos rente a parede.
de alertar as meninas quanto _____ intenções perversas 3. Ele jamais foi a festas.
dos desconhecidos. Verificamos que o uso do acento indicador da crase
Pouco mais de um século depois, os irmãos Grimm
no “a” é obrigatório:
abrandaram o enredo do conto e o coroaram com um
a) apenas na sentença n. 1.
final feliz. Se a Chapeuzinho Vermelho do século XVII
b) apenas na sentença n. 2.
era devorada pelo lobo, não seria de surpreender que a
atual repreendesse a fera por sua atitude sexista quando a c) apenas nas sentenças n. 1 e 2.
abordasse no bosque. A força do conto, no entanto, está d) em todas as sentenças.
<id>002447_por_f1_c13_q0019</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
no fato de que ele fala por meio de uma linguagem sim-
11. PUC-PR 2022 Associado por mais de 50 anos àquela
bólica e nos convida a explorar a escuridão do mundo,
sensação de ‘queimação’ no músculo durante o exercí-
a cartografia dos medos, tanto ancestrais como íntimos.
cio e às dores do dia seguinte, esse composto orgânico
Por isso ele desafia todos nós, incluindo os adultos. [...]
não age como inimigo, mas como protetor. E é muito
A poetisa Wislawa Szymborska falou sobre um amigo
importante para nosso organismo.
escritor que propôs a algumas editoras uma peça infantil
Disponível em: <https://cienciahoje.org.br/artigo/a-injusta-fama-do-
protagonizada por uma bruxa. As editoras rejeitaram a ideia. acido-latico/>. Acesso em: 2/3/22.
Motivo? É proibido assustar as crianças. A ganhadora do
prêmio Nobel, admiradora de Andersen – cuja coragem As duas ocorrências de crase do texto, indicadas por
se destacava por ter criado finais tristes –, ressalta a im- acento grave, são justificadas adequadamente por
portância de se assustar, porque as crianças sentem uma a) regência verbal.
necessidade natural de viver grandes emoções: “A figura b) regência nominal.
que aparece [em seus contos] com mais frequência é a mor- c) regência verbal e nominal, respectivamente.
te, um personagem implacável que penetra no âmago da d) concordância nominal.
felicidade e arranca o melhor, o mais amado. Andersen tra- e) regência nominal e verbal, respectivamente.
tava as crianças com seriedade. Não lhes falava apenas da <id>002447_por_f1_c13_q0020</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
alegre aventura que é a vida, mas também dos infortúnios, 12. Efomm-RJ 2022
das tristezas e de suas nem sempre merecidas calamidades”.
C. S. Lewis dizia que fazer as crianças acreditar que vivem Direito e avesso
em um mundo sem violência, morte ou covardia só daria Rachel de Queiroz
asas ao escapismo, no sentido negativo da palavra. Conheci uma moça que escondia como um crime
Depois de passar dois anos mergulhado em relatos certa feia cicatriz de queimadura que tinha no corpo. De
compilados durante dois séculos, Italo Calvino selecionou pequena a mãe lhe ensinara a ocultar aquela marca de
e editou os 200 melhores contos da tradição popular italia- fogo e nem sei que impulso de desabafo levou-a me falar
na. Após essa investigação literária, sentenciou: “Le fiabe nela; e creio que logo se arrependeu, pois me obrigou
sono vere [os contos de fadas são verdadeiros]”. O autor a jurar que jamais repetiria a alguém o seu segredo. Se
de O Barão nas Árvores tinha confirmado sua intuição
agora o conto é porque a moça é morta e a sua cicatriz já
de que os contos, em sua “infinita variedade e infinita
estará em nada, levada com o resto pelas águas de março,
repetição”, não só encapsulam os mitos duradouros de
que levam tudo.
uma cultura, como também “contêm uma explicação geral
Lembrou-me isso ao escutar outra moça, também
do mundo, onde cabe todo o mal e todo o bem, e onde
vaidosa e bonita, que discorria perante várias pessoas a
sempre se encontra o caminho para romper os mais ter-
respeito de uma deformação congênita que ela, moça, tem
ríveis feitiços”. Com sua extrema concisão, os contos de
no coração. Falava daquilo com mal disfarçado orgulho,
fadas nos falam do medo, da pobreza, da desigualdade, da
como se ter coração defeituoso fosse uma distinção aris-
inveja, da crueldade, da avareza... Por isso são verdadeiros.
tocrática que se ganha de nascença e não está ao alcance
Os animais falantes e as fadas madrinhas não procuram
confortar as crianças, e sim dotá-las de ferramentas para de qualquer um.
viver, em vez de incutir rígidos patrões de conduta, e es- E aí saí pensando em como as pessoas são estranhas.
timular seu raciocínio moral. Se eliminarmos as partes Qualquer deformação, por mais mínima, sendo em par-
escuras e incômodas, os contos de fadas deixarão de ser te visível do nosso corpo, a gente a combate, a disfarça,
oculta como um vício feio. Este senhor, por exemplo, que
FRENTE 1
97
anomalia se em lugar dos divertículos tivesse lobinhos 13. UFABC-SP A alternativa em que o acento indicativo
pendurados no nariz? Nunca vi ninguém expor com or- de crase não procede é:
gulho a sua mão de seis dedos, a sua orelha malformada; a) Tais informações são iguais às que recebi ontem.
mas a má formação interna é marca de originalidade, que b) Perdi uma caneta semelhante à sua.
se descreve aos outros com evidente orgulho. c) A construção da casa obedece às especificações
Doença interna só se esconde por medo da morte – da prefeitura.
isto é, por medo de que, a notícia se espalhando, chegue d) O remédio devia ser ingerido gota à gota, e não
a morte mais depressa. Não sendo por isso, quem tem de uma só vez.
um sopro no coração se gaba dele como de falar japonês. e) Não assistiu a essa operação, mas à de seu irmão.
Parece que o principal impedimento é o estético. <id>002447_por_f1_c13_q0022</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Pois se todos gostam de se distinguir da multidão, nem 14. UFRGS 2018 — Temos sorte de viver no Brasil — dizia
que seja por uma anomalia, fazem ao mesmo tempo meu pai, depois da guerra. — Na Europa mataram mi-
questão de que essa anomalia não seja visivelmente lhões de judeus.
deformante. Ter o coração do lado direito é uma gló- Contava as experiências que os médicos nazistas fa-
ria, mas um braço menor que o outro é uma tragédia. 5 ziam com os prisioneiros. Decepavam-lhes as cabeças,
Alguém com os dois olhos límpidos pode gostar de faziam-nas encolher – à maneira, li depois, dos índios
épater uma roda de conversa, explicando que não en- Jivaros. Amputavam pernas e braços. Realizavam estra-
xerga coisíssima nenhuma por um daqueles límpidos nhos transplantes: uniam a metade superior de um homem
olhos, e permitirá mesmo que os circunstantes curiosos ______ metade inferior de uma mulher, ou aos quartos
lhe examinem o olho cego e constatem de perto que 10 traseiros de um bode. Felizmente morriam essas atrozes
realmente não se nota diferença nenhuma com o olho quimeras; expiravam como seres humanos, não eram obri-
são. Mas tivesse aquela pessoa o olho que não enxerga gadas a viver como aberrações. (_______ essa altura eu
coalhado pela gota-serena, jamais se referiria ao defeito tinha os olhos cheios de lágrimas. Meu pai pensava que a
em público; e, caso o fizesse, por excentricidade de descrição das maldades nazistas me deixava comovido.)
temperamento sarcástico ou masoquista, os circunstan- 15 Em 1948 foi proclamado o Estado de Israel. Meu pai
tes bem-educados se sentiriam na obrigação de desviar abriu uma garrafa de vinho – o melhor vinho do arma-
a vista e mudar de assunto. zém –, brindamos ao acontecimento. E não saíamos de
Mulheres discutem com prazer seus casos gineco- perto do rádio, acompanhando _______notícias da guerra
lógicos; uma diz abertamente que já não tem um ovário, no Oriente Médio. Meu pai estava entusiasmado com o
outra, que o médico lhe diagnosticou um útero infantil. 20 novo Estado: em Israel, explicava, vivem judeus de todo
Mas, se ela tivesse um pé infantil, ou seios senis, será que o mundo, judeus brancos da Europa, judeus pretos da
os declararia com a mesma complacência? África, judeus da Índia, isto sem falar nos beduínos com
Antigamente havia as doenças secretas, que só se no- seus camelos: tipos muito esquisitos, Guedali.
meavam em segredo ou sob pseudônimo. De um tísico, Tipos esquisitos – aquilo me dava ideias.
por exemplo, se dizia que estava “fraco do peito”; e talvez 25 Por que não ir para Israel? Num país de gente tão
tal reserva nascesse do medo do contágio que todo mundo estranha – e, ainda por cima, em guerra – eu certamente
tinha. Mas dos malucos também se dizia que “estavam não chamaria a atenção. Ainda menos como combatente,
nervosos” e do câncer ainda hoje se faz mistério – e nem entre a poeira e a fumaça dos incêndios. Eu me via corren-
câncer e nem doidice pegam. do pelas ruelas de uma aldeia, empunhando um revólver
Não somos todos mesmo muito estranhos? Gostamos 30 trinta e oito, atirando sem cessar; eu me via caindo, varado
de ser diferentes – contanto que a diferença não se veja. de balas. Aquela, sim, era a morte que eu almejava, morte
O bastante para chamar atenção, mas não tanto que pa- heroica, esplêndida justificativa para uma vida miserável,
reça feio. de monstro encurralado. E, caso não morresse, poderia
Fonte: O melhor da crônica brasileira, 1/Ferreira Gullar… [et ali.]. 5. ed. viver depois num kibutz. Eu, que conhecia tão bem a vida
Rio de Janeiro: José Olympio, 2007.
35 numa fazenda, teria muito a fazer ali. Trabalhador dedi-
cado, os membros do kibutz terminariam por me aceitar;
épater: impressionar. numa nova sociedade há lugar para todos, mesmo os de
patas de cavalo.
Adaptado de: SCLIAR, M. O centauro no jardim. 9. ed.
[…] os circunstantes bem-educados se sentiriam na
Porto Alegre: L&PM, 2001.
obrigação de desviar a vista e mudar de assunto.
Assinale a alternativa que preenche corretamente as
Tendo em vista outros empregos da expressão subli-
lacunas das linhas 9, 12 e 18, nessa ordem.
nhada, deve ocorrer o uso do acento grave somente
a) à – À – às
em:
b) a – A – às
a) Era maravilhosa a vista da janela daquele quarto.
c) à – A – às
b) Usar computador constantemente pode prejudi-
d) a – À – as
car a vista.
e) à – A – as
c) Quando será realizada a vista de prova? <id>002447_por_f1_c13_q0023</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
d) Dói-me a vista esquerda. 15. UFRGS 2018 [...] ________ me perguntam: quantas pa-
e) A gasolina está no fim e não há um posto de com- lavras uma pessoa sabe? Essa é uma pergunta importante,
bustível a vista. principalmente para quem ensina línguas estrangeiras.
língua não é apenas composta de palavras: ela inclui tam- 16. UFPR Em qual alternativa o vocábulo “a” deve rece-
bém regras gramaticais e um mundo de outros elementos ber acento grave?
que também precisam ser dominados. Mas as palavras são a) Pintou o quadro a óleo.
particularmente numerosas, e é notável como qualquer pes- b) Fomos a uma aldeia.
soa, instruída ou não, _______ acesso a esse acervo imenso c) Dirigiram-se a Vossa Excelência.
de informação com facilidade e rapidez. Assim, perguntar d) Voltou a casa paterna.
quantas palavras uma pessoa sabe é parte do problema geral e) Começou a chover.
<id>002447_por_f1_c13_q0025</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
de o que é que uma pessoa tem em sua mente e que ______ </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
permite usar a língua, falando e entendendo. 17. Urca-CE 2017 Às vezes, nas ruas, há passeios em certas
Antes de mais nada, porém, o que é uma palavra? partes e outras não.
Ora, alguém vai dizer, “todo mundo sabe o que é uma No termo em destaque temos um caso da utilização
palavra”. Mas não é bem assim. Considere a palavra do acento grave. A alternativa em que o indicativo de
olho. É muito claro que isso aí é uma palavra – mas será crase não procede é:
que olhos é a mesma palavra (só que no plural)? Ou será a) O amor deve ser saboreado gota à gota, e não
outra palavra? de uma só vez.
Bom, há razões para responder das duas maneiras: b) Tais informações são iguais às que recebi ontem.
é a mesma palavra, porque significa a mesma coisa (mas c) Perdi uma caneta semelhante à sua.
com a ideia de plural); e é outra palavra, porque se pro- d) A construção da casa obedece às especificações
nuncia diferentemente (olhos tem um “s” final que olho da prefeitura.
não tem, além da diferença de timbre das vogais tônicas). e) Não assistiu a essa apresentação, mas à de seu
Entretanto, a razão principal por que julgamos que olho irmão.
<id>002447_por_f1_c13_q0026</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
e olhos sejam a mesma palavra é que a relação entre elas </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
é extremamente regular; ou seja, vale não apenas para 18. Unifor-CE Marque a alternativa em que o sinal de crase
esse par, mas para milhares de outros pares de elementos está empregado em todos os casos que é necessário.
da língua: olho/olhos, orelha/orelhas, gato/gatos, etc. E, a) A família ficou à mercê do frio, a despeito do fogo
semanticamente, a relação é a mesma em todos os pares: que estava a arder.
a forma sem “s” denota um objeto só, a forma com “s” b) O vento entrava à vontade restando a família a
denota mais de um objeto. Daí se tira uma consequência expectativa de que acontecesse logo.
importante: não é preciso aprender e guardar permanen- c) Falavam à beça, mas talvez não se entendessem
temente na memória cada caso individual; aprendemos à contento.
uma regra geral (“faz-se o plural acrescentando um “s” ao d) A cachorra ficou à porta, à olhar as brasas.
singular”), e estamos prontos. e) A falta de melhor expressão recorriam à discursos
Adaptado de: PERINI, Mário A. Semântica lexical. ReVEL, v. 11, n. 20, 2013. energéticos.
Texto complementar
À crase
Há muito tempo atrás “um tal de” acento diferencial, que muita gente nem sabe que já existiu, foi extinto. Ele servia para
diferençar palavras com a mesma grafia, mas com som diferente.
O acento diferencial só não acabou completamente por ter sido mantida a exceção em que ele permanece para distinguir
“pode” de “pôde”.
A confusão possível entre pode e pode, se não fosse mantido tal tipo de acento, me faz lembrar de uma embrulhada em um
registro de nascimento: onde o escrivão devia escrever o nome da criança, Diogo, escreveu, Digo, e quando foi escrever “digo”,
para corrigir “Diogo”, escreveu “diogo”; então, para desfazer a confusão, a certidão ficou assim: “... Digo, diogo, digo digo, onde
digo diogo digo digo e onde digo Digo digo Diogo”!
Pois, voltando ao começo, fui um dos que reagiram mal, de início, à proposta de extinção do acento diferencial. (um parêntese:
ao contrário do que se costuma dizer na televisão, nos jornais e nas conversas fiadas, eu fui um dos que reagiram e não um dos que
FRENTE 1
reagiu, porque dos que reagiram eu fui um – seria impensável inverter a frase e dizer “dos que reagiu eu fui um”, não é mesmo?).
Como dizia, eu não podia aceitar viver sem o acento diferencial. Acreditava que os meus textos iriam ficar sem pé nem cabeça
se as palavras não tivessem o seu sentido próprio perfeitamente estabelecido.
99
Veja os principais assuntos e conceitos trabalhados neste capítulo acessando a seção Resumindo
no livro digital, na Plataforma Poliedro.
Livro Site
Crase não é um bicho-de-sete-cabeças, de Sérgio Simka. Uso da crase: verdadeiro ou falso. Disponível em: https://
Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2009. sujeitosimples.com.br/. Acesso em: 20 out. 2023.
De forma divertida e com muito bom-humor, o autor pro- Site da banda Sujeito Simples, que tematiza diversos as-
põe um jeito fácil de estudar a crase, contribuindo para pectos da língua portuguesa ao som do rock, a exemplo
a compreensão desse fenômeno linguístico. das canções Crase 1 e Crase 2, que estão disponíveis
em plataformas de música. Além disso, no site é possí-
vel participar de jogos educativos que envolvem esse e
outros conteúdos da língua.
Exercícios complementares
<id>002447_por_f1_c13_q0027</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
1. PUC-PR 2022 Em breve, quando for possível olhar para a pandemia do coronavírus e enxergar algum aprendizado
promovido pela reviravolta na ordem mundial, um ramo relativamente novo da medicina estará contabilizado na lista
de progressos: os cuidados paliativos. A área pode ser definida como um tratamento multiprofissional, que visa à me-
lhoria da qualidade de vida de pessoas com doenças graves que necessitam de conforto físico, psicológico, espiritual
e social.
Disponível em: <https://saude.abril.com.br/coluna/com-a-palavra/cuidados-paliativos-um-jeito-humano-de-assistir-o-paciente-em-sofrimento/>.
Acesso em: 24/2/22.
2. Udesc 2023 Aquilo soou como uma novidade. Foi lendo. 3. PUC-PR 2016 Leia as sentenças e assinale o que se
“Na pequena cidade de Port Moresby, que fica no Golfo pede a seguir:
Papua, no Pacífico, a filha do líder de emancipação femi- I. Em 2014, os brasileiros, confiantes e crédulos,
nina, tendo tido a oferta altíssima com fins de casamento saíram a consumir, como se consumo fosse inves-
5 de cem bois, duzentas sacas de café e cinquenta cabras, timento. E o Estado agora nos convoca à pagar
além de mais trezentos quilos de sal, foi vendida em matri- também suas dívidas, que não são nossas. (Veja.
mônio para um jovem herdeiro que desmoralizou com sua São Paulo: Abril, p. 23, 10 jun. 2015. Adaptado).
oferta os pendores político-sociais do pai da noiva, uma II. Pode-se dizer que as gerações da Idade Média
bela papua de dezenove anos.” falam às gerações atuais por meio das grandes
10 Dorothy sentiu grande avidez pela notícia. Talvez lá por obras de arquitetura que exprimem a devoção e o
dentro do Boletim houvesse um retrato da bela papua vendi- espírito da época. (WHITNEY, W. A vida da lingua-
da em Port Moresby. Nada encontrou a não ser as repetidas gem. Petrópolis: Vozes, 2010. p.17).
notas sobre melhoria de maquinismos rurais, aos quais se III. À linguagem é uma expressão destinada a trans-
ligava o marido por força de seus negócios. Pensava sempre missão do pensamento.
15 que Jorge, por não ter filhos, votava às máquinas agrícolas
IV. O atendimento a gestantes foi suspenso ontem
uma espécie de amor. Talvez ele as vendesse como o pai
à tarde e a Prefeitura pouco pode fazer a curto
da bela papua de dezenove anos, entre a glória de oferecer
prazo para amenizar a situação.
tão bela mercadoria e a pena da separação. Havia alguns
V. Transmita a cada um dos pacientes às instruções
anos que Jorge lidava com estas máquinas. Frequentemente,
necessárias à continuidade do tratamento.
20 fazia ofertas ao telefone ou negociava em sua própria casa
com fregueses mais importantes. Fazia, então, louvores às O sinal indicativo de crase está adequadamente em-
máquinas beneficiadoras de café, de descaroçar algodão pregado na(s) alternativa(s):
ou de aparelhos que se adaptavam a seres humanos, trans- a) IV somente. c) II, III e IV. e) II e IV.
formando-os também em máquinas, a distribuir sementes b) I, III e V. d) I e IV.
25 a todos os ventos, permeadas de umidade. <id>002447_por_f1_c13_q0030</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Fonte: O conto da mulher brasileira, Edla van Steen (organizadora, 4. PUC-PR 2017 Leia o texto a seguir.
3. Ed. São Paulo: Global, 2007. Port Moresby, p. 34.
A crise e a crase
Analise as proposições em relação ao conto Port Ônibus de turismo já costumavam parar em frente
Moresby, Dinah Silveira de Queiroz, e assinale (V) à mansão de Chiquinho Scarpa, em São Paulo, para que
para verdadeira e (F) para falsa. os passageiros tirassem fotos. Há um mês, o movimento
Percebe-se, pela leitura do conto, que as mulhe- aumentou. É que o playboy de 64 anos estendeu uma
res eram todas parecidas, vestiam-se de modo faixa no jardim, com seu rosto estampado. Diz ele que
semelhante, tinham uma vida fútil e, praticamente, os motoristas que passam por ali aprovam a mensagem,
agiam da mesma forma. gritando: “É isso aí, Chiquinho”. O slogan: “Juntos pelo
Em “Fazia, então, louvores às máquinas” (linhas 21 Brasil! Não a (sic) luta de classes!”.
Veja, 20/04/2016, p. 89.
e 22) e “votava às máquinas agrícolas uma espécie
de amor” (linhas 15 e 16) o acento indicativo de crase O emprego ou a omissão do acento grave indicativo
é obrigatório porque as palavras destacadas, nas de crase pode mudar o sentido de uma afirmação. A
duas situações, são, sintaticamente, objeto indireto. análise adequada do slogan referido no texto, con-
A leitura do segmento “Pensava sempre que siderando-se o emprego ou não do acento grave,
Jorge, por não ter filhos, votava às máquinas encontra-se em:
agrícolas uma espécie de amor” (linhas 14 a 16) a) Sem o acento grave, a afirmação fica sem sen-
sugere ser Dorothy uma esposa frustrada e fútil, tido e por isso vem acompanhada do vocábulo
uma mulher que sente ciúmes da vida profissio- sic, para mostrar que não foi feita uma alteração
nal do marido. gramatical necessária.
No segmento “que se adaptavam a seres hu- b) O vocábulo sic, empregado na reprodução do
FRENTE 1
manos” (linha 23) o pronome átono, quanto à slogan, indica que houve a manutenção do estilo
colocação pronominal, está proclítico porque o de elaboração do texto, o que não fere a norma-
pronome relativo “que” atrai o pronome átono. -padrão.
101
dústrias de pescados, __________ camisa havia 8. Apesar de o acento grave ser utilizado apenas na pri-
uma inscrição de adesão ________ normas consti- meira frase a seguir, as duas sentenças estão corretas.
tucionais, destoava do discurso ativista dos grevistas. Explique essa afirmação.
Disse, inclusive, que as propostas _________ ele não I. Vou à França nas férias.
estivesse de acordo sequer seriam submetidas _____ II. Vou a Paris nas férias.
<id>002447_por_f1_c13_q0035</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
assembleia do sindicato. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
cavaignac: cavanhaque. 11. UnB-DF Já o leitor compreendeu que era a Razão que
Edson e Marconi: Edison foi o inventor do telégrafo, voltava à casa, e convidava a Sandice a sair, clamando, e
e Marconi, das ondas de rádio. com melhor jus, as palavras de Tartufo:
— La maison est à moi, c’est à vous d’en sortir.
O acento grave de “àquele” em “... ele lembrava a 5 Mas é sestro antigo da Sandice criar amor às casas
este ou àquele jornal uma ideia...” (linhas 7-8) alheias, de modo que, apenas senhora de uma, dificil-
a) evidencia o complemento preposicionado do mente lha farão despejar. É sestro; não se tira daí; há
verbo. muito que lhe calejou a vergonha. Agora, se advertirmos
b) mostra que a palavra é proparoxítona. no imenso número de casas que ocupa, umas de vez,
c) representa uma inovação ortográfica. 10 outras durante as suas estações calmosas, concluiremos
d) é indicativo da locução adverbial. que esta amável peregrina é o terror dos proprietários.
<id>002447_por_f1_c13_q0036</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> No nosso caso, houve quase um distúrbio à porta do
10. UFRGS 2022 Esse delírio que por aí vai pelo futebol meu cérebro, porque a adventícia não queria entregar a
_______ seus fundamentos na própria natureza humana. casa, e a dona não cedia da intenção de tomar o que era
O espetáculo da luta sempre foi o maior encanto do 15 seu. Afinal, já a Sandice se contentava com um cantinho
homem; e o prazer da vitória, pessoal ou do partido, no sótão.
5 foi, é e será a ambrosia dos deuses manipulada na Terra. — Não, senhora, replicou a Razão, estou cansada de
Admiramos hoje os grandes filósofos gregos, Platão, lhe ceder sótãos, cansada e experimentada, o que você
Sócrates, Aristóteles; seus coevos, porém, admiravam quer é passar mansamente do sótão à sala de jantar, daí
muito mais os atletas que venciam no estádio. Milon de 20 à de visitas e ao resto.
Crotona, campeão na arte de torcer pescoços de touros, — Está bem, deixe-me ficar algum tempo mais, estou
10 só para nós tem menos importância que seu mestre
na pista de um mistério...
Pitágoras. Para os gregos, para a massa popular grega,
— Que mistério?
seria inconcebível a ideia de que o filósofo pudesse no
— De dois, emendou a Sandice: o da vida e o da
futuro ofuscar a glória do lutador.
25 morte; peço-lhe só uns dez minutos. A Razão pôs-se a rir
Na França, o homem hoje mais popular é George
— Hás de ser sempre a mesma coisa... sempre a mes-
15 Carpentier, mestre em socos de primeira classe; e, se derem
ma coisa... sempre a mesma coisa.
nas massas um balanço sincero, verão que ele sobrepuja em
E, dizendo isto, travou-lhe dos pulsos e arrastou-a para
prestígio aos próprios chefes supremos vencedores da guerra.
fora; depois entrou e fechou-se. A Sandice ainda gemeu
Nos Estados Unidos, há sempre um campeão de boxe
tão entranhado na idolatria do povo que está em suas mãos 30 algumas súplicas, grunhiu algumas zangas; mas desenga-
20 subverter o regime político. nou-se depressa, deitou a língua de fora, em ar de surriada,
E os delírios coletivos provocados pelo combate de dois e foi andando...
Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.
campeões em campo? Impossível assistir-se a espetáculo
São Paulo: Ateliê, 2001, p.84-5.
mais revelador da alma humana que os jogos de futebol.
Não é mais esporte, é guerra. Não se batem duas Tendo como base o texto anterior, de Machado de
25 equipes, mas dois povos, duas nações. Durante o tempo Assis, julgue o item a seguir.
da luta, de quarenta a cinquenta mil pessoas deliram em Em “voltava à casa” (l. 2) e em “criar amor às casas
transe, estáticas, na ponta dos pés, coração aos pulos e alheias” (l. 5-6), o acento indicativo da crase é faculta-
nervos tensos como cordas de viola. Conforme corre o tivo, por se tratar de estruturas em que o substantivo
jogo, ________ pausas de silêncio absoluto na multidão “casa” tem relação com o “possuidor”, que está ex-
30 suspensa, ou deflagrações violentíssimas de entusiasmo, presso sintaticamente.
que só a palavra delírio classifica. E gente pacífica, bon- <id>002447_por_f1_c13_q0038</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
dosa, incapaz de sentimentos exaltados, sai fora de si, 12. Univap-SP 2017 Em relação ao emprego da crase, as
torna-se capaz de cometer os mais horrorosos desatinos. lacunas que constam na frase “Dirigiu-se ______ es-
A luta de vinte e duas feras no campo transforma em cola e, na biblioteca, começou ______ estudar _____
35 feras os cinquenta mil espectadores, possibilitando um páginas da lição do dia em que teve de faltar ______
enfraquecimento mútuo, num conflito horrendo, caso um
aulas.” são, corretamente, preenchidas por
incidente qualquer funda em corisco, ________ eletricida-
a) à / a / as / às
des psíquicas acumuladas em cada indivíduo.
b) a / a / à / às
FRENTE 1
103
13. Inatel-MG 2019 Um __um, todos os alunos responde- geram renda no campo e nas cidades, promovem segurança
rão __ diretora sobre os distúrbios que aconteceram alimentar e hídrica e dinamizam os territórios.
__ pouco. Contribuem, também, para que um número maior de
O correto preenchimento das lacunas está em: agricultores familiares, assentados da reforma agrária, ex-
trativistas e suas organizações se interessem por conhecer
a) a, à e há; d) a, a e há;
e participar desse ciclo virtuoso de desenvolvimento sus-
b) à, a e a; e) à, à e há
tentável, proporcionando uma alimentação mais saudável
c) à, à e a; aos brasileiros e ao mundo.
<id>002447_por_f1_c13_q0040</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Folha de S.Paulo, ASCLEPIUS RAMATIZ é presidente da Fundação
14. Unicentro-PR 2017 Acabar com a fome, alcançar a Banco do Brasil. Graduado em direito, possui MBA em negócios
segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agri- internacionais, 12 set. 2017, com adaptações.
cultura sustentável. O Objetivo de Desenvolvimento
Sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Assinale a alternativa na qual o emprego da crase no
Unidas traz um grande desafio aos países. termo em destaque está incorreto.
Os programas realizados nos últimos anos permitiram a) É importante destacar que a produção agroe-
avanços significativos, contudo a situação global ainda é cológica não se restringe à área rural e também
alarmante: 1 em cada 9 pessoas é subnutrida. influencia hábitos na cidade.
Especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mu- b) No Brasil, as grandes proporções territoriais e a
danças Climáticas preveem que as variações nos próximos diversidade de biomas tornam-se uma oportuni-
anos impactarão a agricultura e a produção de alimentos dade e um desafio para a implantação de políticas
em todo o mundo, agravando substancialmente o proble- orientadas à produção agroecológica.
ma. Com uma perspectiva tão complexa e restrita, como c) Também nesse sentido, surgiu o Programa de For-
garantir a sobrevivência das futuras gerações?
talecimento e Ampliação das Redes de Agroeco-
A chamada agropecuária tradicional tem dado passos
logia, Extrativismo e Produção Orgânica (Ecoforte),
importantes para se adaptar a essa nova realidade, mas
não há dúvida de que a escolha pela produção agroeco- com o qual se buscou integrar o investimento
lógica de alimentos pode trazer a resposta mais adequada social privado às políticas públicas com foco ter-
a esse cenário. ritorial, associando ações de pesquisa, extensão,
A agroecologia integra conhecimentos científicos e produção, comercialização, consumo e certifica-
saberes tradicionais na construção de sistemas agrícolas de ção orgânica.
baixo impacto ambiental e alta capacidade de resiliência. d) Ações articuladas da sociedade civil, somadas
Essa abordagem propõe uma dinâmica de produção ao incentivo de políticas públicas por meio de
de acordo com as características dos ecossistemas, com o programas e linhas de crédito, fortalecem às
uso e a conservação dos recursos naturais. As estratégias organizações agroecológicas, geram renda no
de cultivo são fundamentadas a partir do equilíbrio dos campo e nas cidades, promovem segurança ali-
componentes do solo, com a recuperação da fertilidade
mentar e hídrica e dinamizam os territórios.
e sem a necessidade de agrotóxicos. <id>002447_por_f1_c13_q0041</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
É importante destacar que a produção agroecológica 15. Unicentro-PR 2017 A cultura dominante, hoje mundia-
não se restringe à área rural e também influencia hábitos lizada, se estrutura ao redor da vontade de poder, que
na cidade. A crescente demanda por uma vida saudável se traduz por vontade de dominação da natureza, do
nos centros urbanos estimula, por exemplo, a criação de outro, dos povos e dos mercados. Essa é a lógica dos
hortas comunitárias com produção de verduras e hortali- 5 dinossauros que criou a cultura do medo e da guerra.
ças sem uso de agrotóxicos. Praticamente em todos os países, as festas nacionais e
No Brasil, as grandes proporções territoriais e a di- seus heróis são ligados a feitos de guerra e de violência.
versidade de biomas tornam-se uma oportunidade e um Os meios de comunicação levam ao paroxismo, à mag-
desafio para a implantação de políticas orientadas à pro- nificação de todo tipo de violência, bem simbolizado
dução agroecológica. Existem no país diversas redes que 10 nos filmes de Schwazenegger, como o “Exterminador do
aderiram a práticas sustentáveis e integradas na produção Futuro”. Nessa cultura, o militar, o banqueiro e o espe-
e comercialização de alimentos. culador valem mais do que o poeta, o filósofo e o santo.
Para o fortalecimento e ampliação dessas redes, a E sempre de novo faz suscitar a pergunta que, de forma
sociedade civil organizada requisitou a elaboração de um dramática, Einstein colocou a Freud nos idos de 1932: é
programa que aumentasse a escala de produção e a oferta 15 possível superar ou controlar a violência? Freud, realisti-
de alimentos saudáveis. Em 2013, atendendo a esse desejo, camente, responde: “É impossível aos homens controlar
foi criado o Plano Nacional de Agroecologia e Produção totalmente o instinto de morte... Esfaimados, pensamos
Orgânica (Planapo). no moinho que tão lentamente mói que poderíamos mor-
Também nesse sentido, surgiu o Programa de Fortaleci- rer de fome antes de receber a farinha”.
mento e Ampliação das Redes de Agroecologia, Extrativismo 20 Sem detalhar a questão, diríamos que, por detrás da
e Produção Orgânica (Ecoforte), com o qual se buscou in- violência, funcionam poderosas estruturas. A primeira de-
tegrar o investimento social privado às políticas públicas las é o caos sempre presente no processo cosmogênico.
com foco territorial, associando ações de pesquisa, exten- Viemos de uma imensa explosão, o big bang. E a evolução
são, produção, comercialização, consumo e certificação comporta violência em todas as suas fases. A expansão do
orgânica. Ações articuladas da sociedade civil, somadas ao 25 universo possui também o significado de ordenar o caos.
incentivo de políticas públicas por meio de programas e li- Possivelmente a própria inteligência nos foi dada para por-
nhas de crédito, fortalecem às organizações agroecológicas, mos limites à violência e conferir-lhe um sentido construtivo.
BNCC em foco
<id>002447_por_f1_c13_q0043</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
de suas marcas, hábitos, vocabulário. Quem ignora o papel ganhar um jogo. Isso não era restrito apenas aos joga-
do futebol, na formação histórica de algumas nações, pouco dores: era o sentimento nacional de todos os argentinos.
105
placar na partida, El Pibe não teve dúvidas sobre a sensa- 2. Observe o cartaz a seguir.
ção: “Foi como bater a carteira de um inglês”.
LineTale/Shutterstock.com
Na França, a vitória na Copa de 1998 ajudou a ameni-
zar o conflito racial que pairava na nação – entre brancos,
negros e árabes – e a derrota nas duas Copas seguintes o
acirrou novamente. A Copa do Mundo também foi capaz
de colocar no mesmo espaço de disputa o que um dos
muros mais implacáveis da história separava: em 1974,
Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental se enfrentaram
pela primeira fase, com vitória da ala soviética (que muitos
afirmam ter sido entregue pela parte capitalista para evitar
adversário mais forte na fase seguinte). Momento épico.
Copa traz integração. A última vez que a Champs-
-Élysées tinha enchido tanto quanto na final da Copa de 98
foi na Queda da Bastilha. Na Copa de 2014, o esboço que
vimos disso não aconteceu nos estádios, elitizados, mas
sim nas fan-fests, que, como o próprio nome diz, foram
espaços de festa, miscelânea, diversidade. Mas é muito
maior do que isso: Copa traz a união comunitária. A gente
não trabalha, a gente pinta a rua de casa, a gente compra
camisa do Neymar ou do Ronaldinho ou do Ronaldo ou do
Romário. Na hora do gol ou da vitória, a gente abraça até
quem não conhece. Muitas vezes, uma televisãozinha é o
suficiente para que toda a vizinhança se amontoe e torça
pela sua representante internacional naquele momento.
O país se volta, inteirinho, para um momento em que 11 Em “Ajude um brinquedo a encontrar um novo lar”,
homens são capazes de mudar, a qualquer instante, todo encontramos um desvio da norma-padrão, pois o “a”
o seu sistema nervoso. E quem sequer reconhece isso tem deveria ter acento grave. Explique se essa afirmativa
que revisar seu próprio elitismo e sair da bolha. é verdadeira ou falsa.
<id>002447_por_f1_c13_q0045</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
PROIETE, Gabriel. A Copa do Mundo na Rússia pode ser a última </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
tentativa de união nacional. Disponível em: https://medium.com/ EM13LP06
@gabriel_proiete/a-copa-do-mundo-da-r%C3%BAssia-pode-ser-a-
%C3%BAltima-tentativa-de-uni% C3%A3o-nacional-8aa3a939ed53.
3. Udesc
Acesso em: 7 maio 2018 (adaptado).
Capítulo 48
Com relação a aspectos semânticos e sintáticos do Conclusão feliz
texto, analise o que se afirma nas assertivas a seguir. [...] Passado o tempo indispensável do luto, o Leonar-
I. As expressões “bater a carteira” (2o parágrafo) e do, em uniforme de Sargento de Milícias, recebeu-se na
“sair da bolha” (4o parágrafo) têm o mesmo sentido Sé com Luisinha, assistindo à cerimônia a família em peso.
que “roubar” e “expressar-se”, respectivamente. Daqui em diante aparece o reverso da medalha. Se-
II. A recorrência da estrutura “a gente pinta”, “a gen- guiu-se a morte de Dona Maria, a do Leonardo-Pataca, e
te compra” e “a gente abraça” (4o parágrafo) torna uma enfiada de acontecimentos tristes que pouparemos
o texto cansativo e prejudica sua progressão e aos leitores, fazendo aqui o ponto final.
continuidade. ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um Sargento de Milícias.
Rio de Janeiro: Ediouro, p. 121.
III. Na oração “Quem ignora o papel do futebol, na
formação histórica de algumas nações, [...]” (1o Analise as alterações da oração “assistindo à ceri-
parágrafo), há um sujeito simples “quem”, mas, se- mônia a família” (linha 4), no tocante à presença (ou
manticamente, seu agente se mantém ignorado, ausência) do acento indicativo de crase:
pois é representado por um pronome indefinido. I. assistindo à casamento a família
IV. As palavras “televisãozinha” e “inteirinho” (4o II. assistindo às cerimônias a família
parágrafo) estão no diminutivo para indicar, res- III. assistindo a missas a família
pectivamente, tamanho e pejoro. IV. assistindo à elas a família
V. Em “países frágeis [...] podem derrotar países
Assinale a alternativa que apresenta a(s) proposi-
muito à frente nesses aspectos” (1o parágrafo), a
ção(ões) redigida(s) de acordo com as orientações da
expressão recebe o acento grave indicativo de
língua formal.
crase porque é uma locução adverbial feminina.
a) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras.
Estão corretas, apenas, as afirmações b) Somente a afirmativa IV é verdadeira.
a) I e V. d) III e V. c) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
b) II e III. e) II e IV. d) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
c) IV e V. e) Todas as afirmativas são verdadeiras.
FRENTE 1
14
CAPÍTULO
e semânticas
Na imagem, vê-se uma grande nuvem de poeira cósmica e gases causada
pelo movimento das estrelas. Em 2006, cientistas buscaram uma relação entre
a ação de fenômenos naturais demonstrados pelo Hubble e as criações de
Van Gogh, especialmente Noite estrelada (1889), e concluíram que o pintor
capturou as ações estelares na natureza de modo expressivo e artístico. Re-
lacionando esse fenômeno com a língua portuguesa, é a classe gramatical do
verbo que tem a função de configurar as ações e os movimentos dos seres e
os estados em que se encontram. Neste capítulo, estudaremos as proprieda-
des dessa classe de palavras.
No título da notícia, identificamos o verbo “avançam”, Podemos observar que o radical se mantém invariável,
que possui como radical “avanc-” e como morfema sufixal mas as desinências variam conforme a pessoa. Portanto, a
“-am”. Os sufixos que aportam informações ao radical maioria dos verbos segue uma regularidade de conjugação.
sobre o modo e o tempo verbal são as desinências Do ponto de vista morfológico, devido à regularidade ou
modo-temporais, e aqueles que trazem uma informação não das flexões verbais, os verbos recebem uma primeira
sobre a pessoa que enuncia e o número (singular ou classificação: regular, irregular, anômalo ou defectivo.
plural) são as desinências número-pessoais. Observe o Observe a seguir um quadro com a conjugação de
exemplo a seguir: quatro verbos, que têm o “e” como vogal temática, no pre-
sente do indicativo.
Fal á va mos
Entender Caber Ser Reaver
radical vogal desinência desinência
temática modo-temporal número-pessoal entendo caibo sou ---
entendes cabes és ---
Em “falávamos”, o sufixo “-va” indica o tempo pretérito entende cabe é ---
imperfeito do modo indicativo; já o sufixo “-mos” é indicador
entendemos cabemos somos reavemos
da primeira pessoa do plural.
entendeis cabeis sois reaveis
entendem cabem são ---
Atenção
O radical é um morfema (unidade mínima de significado) O verbo “entender” é classificado como regular, por-
que contém a parte invariável da palavra, e a ele se junta que segue o paradigma da segunda conjugação. Por sua
uma vogal, cuja função é facilitar o acréscimo de alguns vez, o verbo “caber” é irregular, pois apresenta uma flexão
morfemas. As vogais “a”, “e” e “i” com essa função rece- que não segue o paradigma de sua conjugação. Já o verbo
bem o nome de vogal temática. Exemplos: “andar” (radical
“ser” apresenta irregularidades em relação ao paradigma
“and-” + vogal temática “a”) e “partir” (radical “part-” +
em todas as formas verbais do presente do indicativo, por
vogal temática “i”). O radical mais a vogal temática formam
o tema. isso é classificado como anômalo. Enfim, o verbo “reaver”
só é conjugado na primeira e segunda pessoa do plural,
não apresentando formas para as outras pessoas e, por
Sendo o radical a parte invariável das palavras, sua isso, é classificado como defectivo.
presença é obrigatória no verbo, porém os sufixos verbais
não o são. Para exemplificar, examinemos as formas ver- Saiba mais
bais “estudo” e “estudei”, nas quais encontramos o mesmo
radical “estud-” e desinências verbais diferentes. Ao trocar É possível pesquisar a conjugação de verbos nos “conjuga-
dores” on-line, que permitem verificar tanto as desinências
as desinências no radical, estamos conjugando o verbo,
número-pessoais e modo-temporais de verbos regulares
ou seja, flexionando-o em modo, tempo, pessoa, núme-
quanto as irregularidades de outras formas verbais.
ro, voz e aspecto. Em língua portuguesa, há três tipos de Disponível em: https://www.flip.pt/flip-on-line/conjugador.
conjugação que são definidas pela vogal temática de cada Acesso em: 8 jan. 2024.
verbo. Observe:
109
Não estou
Não estou pensando em nada O fluxo e o refluxo da vida...
E essa coisa central, que é coisa nenhuma, Não estou pensando em nada.
É-me agradável como o ar da noite, E como se me tivesse encostado mal.
Fresco em contraste com o verão quente do dia, Uma dor nas costas, ou num lado das costas,
Não estou pensando em nada, e que bom! Há um amargo de boca na minha alma:
Pensar em nada É que, no fim de contas,
É ter a alma própria e inteira. Não estou pensando em nada,
Pensar em nada Mas realmente em nada,
É viver intimamente Em nada...
PESSOA, Fernando. Poemas de Álvaro de Campos. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000011.pdf.
Acesso em: 28 out. 2023.
Os versos destacados do poema de Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, apresentam uma
definição sobre o ato de “pensar em nada” (“Pensar em nada/É ter a alma própria e inteira/Pensar em nada/É viver inten-
samente”). Nas ações expressas pelos verbos “pensar”, “ter” e “viver”, não sabemos quem as realizou (os sujeitos) nem se
estão no presente, no passado ou no futuro. Logo, trata-se de formas verbais atemporais e sem sujeito, sendo chamadas
por isso de formas nominais do verbo. Os verbos mencionados estão no infinitivo, que é uma forma nominal usada para
mostrar a ação em si, em seu estado genérico. As três formas nominais são:
Amar
Infinitivo Expressa a ação em si e pode ter valor de substantivo. -r Sofrer
Sorrir
Amando
Expressa a ação em andamento e pode ter valor de adjetivo Sofrendo
Gerúndio -ndo
e advérbio. Sorrindo
Amado
Particípio Expressa a ação concluída e pode ter valor de adjetivo. -do Sofrido
Sorrido
Tempo e modo
O tempo verbal é uma categoria exclusivamente do
verbo cuja função é marcar a posição que os fatos enun-
ciados ocupam na temporalidade (passado, presente e
futuro), tendo como base o momento no qual os fatos fo-
ram enunciados.
Denominam-se modos verbais as diferentes maneiras
que o verbo assume para indicar a atitude de certeza (indi-
cativo), de dúvida (subjuntivo) ou de ordem (imperativo) do
sujeito que fala em relação ao que enuncia.
Na tirinha da artista Clara Gomes, há uma variação entre Retomamos, a seguir, uma sentença da tirinha de Clara
os modos verbais indicativo e subjuntivo. Nos trechos que Gomes, com as formas do verbo “ter” no tempo presente
correspondem ao narrador, na parte superior de cada quadri- em diferentes modos:
nho, identificamos verbos no presente do subjuntivo (“tenha”,
Talvez você tenha uma boa ideia.
“copie” e “faça”) e, nas falas das personagens, predomina presente do subjuntivo
o presente do indicativo (“molha”, “tenho”, “tô” e “sei”). Essa
variação é importante para o objetivo da tirinha, isto é, levar Você tem uma boa ideia.
o leitor à reflexão sobre as diferentes possibilidades de ação presente do indicativo
e escolhas na vida por meio de uma representação, com
efeitos de humor, da execução (ou não) delas. Tenha uma boa ideia.
presente do imperativo afirmativo
Estabelecendo relações No primeiro exemplo, vemos a forma “tenha”, demar-
Em um mundo que muda velozmente, muitas vezes não
cando que o verbo está no presente do modo subjuntivo,
encontramos possibilidades de pensar a longo prazo, ad- pois se imprime uma dúvida na sentença, indicada também
ministrando nossos pensamentos e desejos. Segundo a pela presença do advérbio “talvez”. No caso da forma “tem”,
psicologia, as ações de “desejar” e “pensar” positivamente não há uma situação duvidosa, mas de certeza, pois a forma
não mudam o mundo, pois não há ação direta dessas práti- verbal está no presente do modo indicativo; no terceiro
cas sobre os acontecimentos. No entanto, de acordo com o exemplo, há uma ordem ou conselho, uma vez que a forma
psicólogo Christian Dunker, professor de Psicologia Clínica verbal está no imperativo afirmativo.
da USP, o pensamento positivo pode ser uma mediação
para reencontrarmos o que “desejamos” que aconteça e, Voz
se agirmos em conformidade com isso, podemos mudar
a realidade ao nosso redor e a nós mesmos. Informações A voz verbal é uma categoria gramatical que se refere
relacionadas podem ser acessadas em: https://sites.usp. à perspectiva assumida para apresentar se o acontecimen-
br/psicousp/pensamento-positivo-e-benefico-quando- to verbal tem o sujeito como agente ou paciente. Há três
usado-da-forma-certa-entenda/. Acesso em: 8 jan.2024. formas de orientar tal perspectiva, constituindo, assim,
três vozes verbais.
Vamos analisar a seguir cada uma das possibilidades 1. Voz ativa: o acontecimento verbal ocorre a partir do
de flexão verbal. agente, sua nomeação é obrigatória e ocorre como
sujeito da oração.
Número e pessoa • A editora publicou um novo livro.
As formas verbais podem se apresentar no singular ou no • O livro recebeu vários prêmios.
plural, conforme o sujeito com o qual se relacionam – sujeito 2. Voz passiva: o acontecimento verbal ocorre a partir do
FRENTE 1
que, por sua vez, sempre representa uma pessoa do discurso. paciente (objeto direto), e o agente pode ser facultativo.
• O livro foi publicado [pela editora].
O pensamento positivo é importante segundo a Psicologia. • Vários prêmios foram recebidos.
111
sujeito paciente
verbo ser + agente da Na manchete 1, o verbo “falar” aparece sozinho e orga-
particípio passiva niza a oração, ou seja, é um verbo pleno. Na manchete 2, o
verbo que organiza a oração é “enfrentar” e está acompanha-
• Sintética: verbo + pronome apassivador
do de um verbo no presente do indicativo, “podem”. Nessa
construção, o verbo “poder” é auxiliar, e o verbo “enfrentar”
Alugam-se casas é pleno. A junção de um verbo auxiliar e um verbo pleno na
mesma oração recebe o nome de perífrase verbal.
verbo + partícula (pronome
sujeito paciente
apassivador)
Formação dos tempos e
3. Voz reflexiva: o sujeito sintático é, ao mesmo tempo, modos verbais
agente e paciente.
Como já indicamos anteriormente, as ações e os
• Eu me esforcei para conquistar essa vaga.
estados expressos pelos verbos e marcados pela tem-
A voz reflexiva também pode expressar sentido de poralidade podem ser enunciados de modo a transmitir
reciprocidade, quando uma ação verbal é compartilhada certeza, dúvida ou ordem. Estes são os três modos verbais
entre dois ou mais agentes. Veja os exemplos: da língua portuguesa:
• Os amigos se abraçaram fortemente.
• Eles se perdoaram pelos erros passados. Modo pelo qual o falante imprime certeza ao que
diz, quer em referência ao presente, quer em
No capítulo 15 do livro 4, aprofundaremos o estudo Indicativo relação ao passado, ou ao futuro.
das vozes verbais analisando seus efeitos de sentido nos Ex.: Eu consigo um emprego.
textos. presente do indicativo
Modo pelo qual o falante expressa o fato
Aspecto como algo incerto, duvidoso ou irreal, quer em
referência ao presente, quer em relação ao
O aspecto refere-se à relação entre o processo (ou Subjuntivo
passado ou ao futuro.
estado, ou fenômeno) expresso pelo verbo e à ideia de Ex.: Talvez eu consiga um emprego.
duração ou desenvolvimento. A apresentação de uma situa Presente do subjuntivo
ção dentro de uma noção aspectual depende de como o Modo pelo qual o falante incita seu interlocutor
a praticar ou não a ação.
falante pretende referir-se à duração da situação (ou mes- Imperativo
Ex.: Consiga um emprego!
mo não se referir a ela). As variações de aspecto não são presente do imperativo afirmativo
marcadas por sufixos verbais. Observe:
1. Aspecto durativo: demarca ação que tem duração Os tempos verbais são fundamentais para informar que
as ações, os fenômenos ou os estados expressos pelos
prolongada no tempo.
verbos ocorrem no passado, no presente ou no futuro. A
• A equipe está trabalhando em home office há 1 ano.
noção de “tempo” é objeto de estudo não só da Linguística,
2. Aspecto conclusivo ou terminativo: demarca térmi- mas de outras disciplinas, como a Filosofia e a Astrofísica.
no da ação verbal. Nos estudos linguísticos, o tempo é analisado tendo em
• Acabo de ouvir ótimas notícias. vista duas noções: a coincidência ou não entre o momento
3. Aspecto habitual ou permansivo: demarca continui- do acontecimento (da ação) e o momento de referência de
dade da ação. quem enuncia. Observe a seguir.
• Costumam acordar tarde.
4. Aspecto incoativo: demarcar início da ação verbal. Passado Presente Futuro
• Ela começou a estudar para o vestibular.
Embora os verbos possam aparecer sozinhos, perce-
bemos, nos exemplos anteriores, que eles também podem Viajei muito Viajo sozinho Viajarei com
naquele ano hoje meu amigo no
vir acompanhados de outros. Quanto a essa característica,
inverno
podem ser classificados como plenos ou auxiliares. Obser-
ve as duas manchetes a seguir:
Sobre a sentença Viajo sozinho hoje, podemos dizer que:
Manchete 1 I. expressa um fato que se desenvolve no momento em
que o falante se situa;
Laerte fala de charges, de seu maior projeto e II. apresenta um acontecimento que é atual ao momento
da mudança nas suas HQs em que se enuncia;
CIRNE, Pedro. TV Cultura - UOL, 18 out. 2021. III. está marcada no tempo presente do indicativo.
Pretérito imperfeito Indica anterioridade associada à noção de incerteza ou desejo. se [eu] cantasse
Indica anterioridade remota, associada à noção de incerteza se [eu] tivesse
mais-que-perfeito
ou desejo. cantado
simples quando [eu] cantar
Indica posterioridade associada à noção de incerteza,
Futuro quando [eu] tiver
composto possibilidade, em orações subordinadas.
cantado
IMPERATIVO
Dez anos depois de implementar lei de fechamento de bares, Diadema reduz homicídios em 90%
São Paulo – Dez anos depois de implementar a Lei 2.107/02, que ficou conhecida como Lei de Fechamento de Bares, a
cidade de Diadema, na Grande São Paulo, registrou uma redução na taxa de homicídios de 90,74%. Apontada pela Organização
das Nações Unidas (ONU) como uma das dez melhores políticas públicas de combate ao consumo de álcool, a lei, junto com
FRENTE 1
outras políticas públicas, foi determinante para a diminuição no número de homicídios em Diadema. A cidade, em 1999, tinha
a maior taxa de assassinatos do estado de São Paulo – 102,8 mortes para cada 100 mil habitantes – e, em 2011, reduziu esse
índice para 9,52 para cada 100 mil habitantes.
113
Nas seções anteriores, estudamos as classificações morfológicas e semânticas dos verbos. Também é importante
discutir os valores semânticos dos verbos em uma dada situação de comunicação, pois o tempo em que os verbos estão
conjugados não exprime apenas a noção temporal, mas também caracteriza a situação de comunicação.
A reportagem apresenta, no parágrafo inicial, fatos anteriores ao momento em que o texto é produzido, por isso os
tempos verbais utilizados estão no passado. Esses tempos verbais criam uma situação de narração. Textos de diferentes
gêneros podem conter momentos de narração, mas há aqueles em que esse tipo textual é predominante, como romances,
fábulas, contos, entre outros.
A partir do segundo parágrafo, os enunciadores iniciam a exposição do assunto da reportagem, citando autoridades
que corroboram as informações apresentadas e dados estatísticos relacionados ao assunto. O tempo verbal que predomina
então é o presente do indicativo. Os verbos dessa categoria criam uma situação de comentário.
De acordo com os valores de narração ou comentário, os tempos verbais podem ser correlacionados em dois grupos:
Grupo 1 Indicativo: pretérito perfeito simples; pretérito imperfeito; pretérito mais-que-perfeito; futuro do pretérito; e
(Narração) locuções formadas com esses tempos.
Grupo 2 Indicativo: presente; pretérito perfeito composto (tenho cantado); futuro do presente; futuro do presente
(Comentário) composto (terei cantado); e locuções verbais formadas com esses tempos.
Portanto, em uma situação de narração, os tempos verbais do grupo 1 devem ser correlacionados. Já no comentário,
essa correlação acontece entre os tempos verbais do grupo 2. Como o próprio nome expressa, correlação verbal se
caracteriza pela harmonia entre as formas verbais expressas num período. Na língua portuguesa, há outras correlações
verbais convencionadas. Vejamos:
dos desejos que variam, das aspirações que se transfor- Eu não pago mais nada, cansei de pagar!, gritei para
mam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a ele, agora eu só cobro!
mesma base fantástica de esperanças, a atualidade é uma. (O melhor de Rubem Fonseca, 2015.)
115
3. FICSAE-SP 2020 Ele [...] perguntou como é que eu ti- c) “Suas linhas perfeitas escondiam-lhe muito bem
nha deixado os meus dentes ficarem naquele estado. (2o a idade” representa um período simples, cujo nú-
parágrafo) cleo do sujeito é acompanhado de um pronome
Ao se transpor o trecho para o discurso direto, o ter- possessivo e de um adjetivo, ambos concordando
mo sublinhado assume a seguinte forma: em gênero e número; além disso, o predicado con-
a) deixaria. d) deixava. tém um adjunto adverbial.
b) deixa. e) deixara. d) a oração “Muito se contava a seu respeito” está
c) deixou. na voz passiva sintética; se fosse transformada
<id>002447_por_f1_c14_q0004</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0001</assets>
em voz passiva analítica, passaria a ser “Muito
4. FICSAE-SP 2020 O primeiro verbo atribui ideia de
futuro ao segundo na locução verbal sublinhada em: era contado a seu respeito”.
a) “Fui andando em direção à porta” (8o parágrafo). e) o “a” em “a seu respeito”, “a conheciam”, “a um
b) “Apontando o revólver para o peito dele comecei velho pescador” e “a sós” corresponde, respec-
a aliviar o meu coração (9o parágrafo). tivamente, a uma preposição acidental, a um
c) “Todos eles estão me devendo muito” (9o parágrafo). pronome pessoal oblíquo, a uma preposição es-
d) “Na sala de espera vazia uma placa, Espere o Dou- sencial e a um pronome pessoal oblíquo.
<id>002447_por_f1_c14_q0006</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
foi fácil fazê-lo entender essa súbita paixão. 7. EEAR-SP 2023 Leia:
Rosa IX, linda e encantadora canoa de nobre madeira, Todas as manhãs, antes de a aurora anunciar o dia, o
o caubi, nove metros talhados de uma única tora, linhas galo-da-campina punha-se a cantar emitindo notas ma-
perfeitas, traço fino, estilo apurado, um verdadeiro caso viosas, ritmadas. (Adalberon C. Lins)
de amor. Foi no Natal de 1977, na ilha de Santo Amaro, O verbo da segunda conjugação, na frase acima,
e, fechado o negócio, eu nem pensara em como levá-la encontra-se no
até Paraty. Fomos juntos, por mar, e vivi então a minha
a) presente do indicativo.
primeira travessia, a sós, por dois dias e uma noite.
b) pretérito perfeito do indicativo.
Não mudei o seu nome quando fui registrá-la porque
c) pretérito imperfeito do indicativo.
creio que todo barco adquire uma certa personalidade
com o nome de batismo, especialmente uma canoa. [...] d) pretérito imperfeito do subjuntivo.
<id>002447_por_f1_c14_q0008</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Fonte: KLINK, Amyr. Cem dias entre céu e mar.
Companhia de Bolso, 2005. 8. UEPG-PR 2022
<id>002447_por_f1_c14_q0005</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0002</assets>
5. Ufam/PSC 2023 Quanto aos aspectos linguísticos Por que as novas tecnologias não estão nos
morfossintáticos, é INCORRETO afirmar que: tornando mais produtivos?
a) as formas verbais “era” (no primeiro parágra- Durante anos, tem sido uma crença no ambiente
fo), “fosse” (no segundo parágrafo), “fomos” (no corporativo americano que a computação em nuvem
terceiro parágrafo) e “fui” (no quarto parágrafo) di- e a inteligência artificial irão fomentar um aumento
zem respeito a dois diferentes verbos anômalos. na produtividade que gera riqueza. Essa convicção
b) o “e” em “Não resisti e fui ter com ela”, e em inspirou uma enxurrada de financiamentos de risco e
“Rosa IX, linda e encantadora canoa de nobre despesas de empresas. E a recompensa, insistem seus
madeira” é uma conjunção aditiva, coordenando, defensores, não se limitará a um pequeno grupo de
respectivamente, duas orações e dois adjuntos gigantes da tecnologia, mas se espalhará por toda a
adnominais. economia.
mas o relatório parecia acabar com as esperanças Em relação ao texto jornalístico anteriormente repro-
anteriores de que um renascimento da produtividade duzido, assinale o que for correto.
finalmente estava acontecendo, ajudado pelo inves- 01 A forma verbal “insistem” se refere a um fato cuja
timento acelerado em tecnologias digitais durante a ocorrência está localizada em um futuro incerto
pandemia. ou duvidoso em relação ao momento da enuncia-
O crescimento da produtividade desde o início da
ção do discurso.
pandemia atualmente permanece em cerca de 1% ao
02 A forma verbal “limitará” se refere a um fato que
ano, em sintonia com a taxa precária desde 2010 – e
vai acontecer em um tempo posterior ao discurso.
muito abaixo do último período de melhoria robusta, de
04 A forma verbal “inspirou” faz referência a um fato
1996 a 2004, quando a produtividade cresceu mais
que teve seu início e seu fim em um momento
de 3% ao ano.
passado anterior ao discurso.
O atual quebra-cabeça da produtividade é objeto de
08 A forma verbal “parecia” está se referindo a um
acalorado debate entre os economistas. Robert Gordon,
fato que aconteceu muito tempo antes da enun-
economista da Universidade Northwestern, é o líder dos
ciação do discurso.
céticos. Segundo ele, a inteligência artificial de hoje é
16 A forma verbal “lendo” traz uma desinência que
essencialmente uma tecnologia de reconhecimento de
padrões, lendo de forma atenta vastos tesouros de pala-
expressa a ideia de um fato que pode ter ocorrido
vras, imagens e números. Suas façanhas, de acordo com ou não.
Gordon, são “impressionantes, mas não transformadoras” Soma:
Exercícios propostos
Considere o excerto do texto a seguir, da autoria de c) representa um período composto por subordinação,
Rubem Alves, para responder às questões de 1 e 2: cuja subordinada é uma oração adjetiva restritiva.
<assets>002447_por_f1_c14_t0003</assets>
d) se a palavra “erro” estivesse no plural, obrigatoria-
TREM mente o mesmo deveria acontecer com a palavra
[...] “um”, mas não com a palavra “dá”.
Tem um erro de gramática que me dá arrepios. Quan- e) se o verbo “ter” fosse substituído pelo verbo “haver”,
do eu ouço as pessoas dizendo: “Ele pediu pra mim ir teríamos, nesse contexto, um verbo impessoal e,
lá...”; ou: “Quero silêncio pra mim dormir”, eu penso por conseguinte, o sujeito dele seria inexistente; o
que o Tarzã se intrometeu demais no português, porque mesmo se daria se o verbo substituto fosse “existir”.
<id>002447_por_f1_c14_q0010</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
era o Tarzã que não falava “eu”: “Mim ama Jane, mim </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0003</assets>
vai pescar...” Claro, esse era o Tarzã antigo, da roça. Os 2. Ufam/PSC 2023 Em relação aos períodos “Mim” não
Tarzãs modernos estudaram em Oxford, falam português faz nada e “Mim” faz coisas, é CORRETO afirmar que:
escorreito, castiço, clássico. Mas não tem jeito, e já me a) ambos são períodos simples e têm como sujeito
conformei. Onde já se viu “mim” fazer coisas? “Mim” a palavra “Mim”.
não faz nada. Errado. “Mim” faz coisas. O povo decretou. b) o “i” de “Mim” representa uma vogal oral, enquan-
É o jeito do povo falar que faz a língua. Eu mesmo me to o de “coisas” representa uma semivogal.
revolto contra o Aurélio. Escrevi: “os anús fazendo seus c) o verbo “fazer” é regular e está conjugado no pre-
ruídos característicos...” A revisora me informou que a sente do modo indicativo.
grafia certa da ave negra é anus, sem acento. Pode ser. d) tanto a palavra “não” quanto a palavra “nada” ex-
Mas não quero que meu leitor se confunda. Por via das pressam negação, e ambas pertencem à classe
dúvidas e a bem da clareza, eu continuo a escrever anús, dos advérbios.
para que ninguém confunda o passarinho com o orifício e) o verbo “fazer” é defectivo e está conjugado no
terminal dos intestinos. [...] presente do modo indicativo.
Fonte: Rubem ALVES: Se eu pudesse viver minha vida novamente <id>002447_por_f1_c14_q0011</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
[recurso eletrônico]. Campinas, SP: Verus Editora, 2016, p. 64-66.
[Edição eletrônica do Kindle].
3. ESA-RJ 2022 São exemplos de verbos irregulares,
<id>002447_por_f1_c14_q0009</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0003</assets>
exceto:
1. Ufam/PSC 2023 Em relação ao período “Tem um a) Restrinjo a passagem de alunos por aqui a partir
erro de gramática que me dá arrepios”, é CORRETO de hoje.
afirmar que: b) Quando tinha três anos, já media um metro.
FRENTE 1
a) o “que” é uma conjunção subordinativa integrante. c) Todos os anos, ela me dava um presente.
b) o verbo “dar” é bitransitivo, selecionando, no d) Minha mãe faz bolos deliciosos.
caso, dois objetos diretos (“me” e “arrepios”). e) Nós pedimos uma pizza.
117
4. Unesp 2018 Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, Na oração em que está inserido, o termo destacado é
de Machado de Assis (1839-1908), para responder à um verbo que pede
questão. a) apenas objeto direto, representado pelo vocábu-
lo “lho”.
A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como
b) objeto direto e objeto indireto, ambos representa-
terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns
dos pelo vocábulo “lho”.
aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles
c) objeto direto, representado pelo vocábulo “dinhei-
era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também
ro”, e objeto indireto, representado pelo vocábulo
a máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o
“lho”.
vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca.
Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era
d) apenas objeto indireto, representado pelo vocá-
fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de
bulo “quem”.
beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era e) objeto direto, representado pelo vocábulo “di-
dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a nheiro”, e objeto indireto, representado pelo
sede, e aí ficavam dois pecados extintos, e a sobriedade e vocábulo “quem”.
<id>002447_por_f1_c14_q0013</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem 5. ITA-SP 2017
social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e
alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à A mídia realmente tem o poder de manipular
venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras. as pessoas?
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Por Francisco Fernandes Ladeira
Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à À primeira vista, a resposta para a pergunta que inti-
direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás tula este artigo parece simples e óbvia: sim, a mídia é um
com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo poderoso instrumento de manipulação. A ideia de que o
que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, frágil cidadão comum é impotente frente aos gigantescos
mostrava um reincidente, e com pouco era pegado. 5 e poderosos conglomerados da comunicação é bastante
Há meio século, os escravos fugiam com frequência. atrativa intelectualmente. Influentes nomes, como Adorno
Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Su- e Horkheimer, os primeiros pensadores a realizar análises
cedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos mais sistemáticas sobre o tema, concluíram que os meios
gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas de comunicação em larga escala moldavam e direcionavam
repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, 10 as opiniões de seus receptores. Segundo eles, o rádio torna
e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da todos os ouvintes iguais ao sujeitá-los, autoritariamente, aos
propriedade moderava a ação, porque dinheiro também idênticos programas das várias estações. No livro Televisão
dói. A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que e Consciência de Classe, Sarah Chucid Da Viá afirma que o
raros, em que o escravo de contrabando, apenas compra- vídeo apresenta um conjunto de imagens trabalhadas, cuja
do no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas 15 apreensão é momentânea, de forma a persuadir rápida e
da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas transitoriamente o grande público. Por sua vez, o psicólo-
ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e go social Gustav Le Bon considerava que, nas massas, o
iam ganhá-lo fora, quitandando. indivíduo deixava de ser ele próprio para ser um autômato
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinhei- sem vontade e os juízos aceitos pelas multidões seriam
ro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, 20 sempre impostos e nunca discutidos. Assim, fomentou-se a
com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico, concepção de que a mídia seria capaz de manipular incon-
se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de gra- dicionalmente uma audiência submissa, passiva e acrítica.
tificação. Quando não vinha a quantia, vinha promessa: Todavia, como bons cidadãos céticos, devemos du-
“gratificar-se-á generosamente” – ou “receberá uma boa vidar (ou ao menos manter certa ressalva) de proposições
gratificação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao 25 imediatistas e aparentemente fáceis. As relações entre mí-
lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara dia e público são demasiadamente complexas, vão muito
ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo além de uma simples análise behaviorista de estímulo/
o rigor da lei contra quem o acoitasse. resposta. As mensagens transmitidas pelos grandes veículos
Ora, pegar escravos fugidios era um ofício do tempo. de comunicação não são recebidas automaticamente e da
Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que 30 mesma maneira por todos os indivíduos. Na maioria das
se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza vezes, o discurso midiático perde seu significado original
implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se metia em na controversa relação emissor/receptor. Cada indivíduo
tal ofício por desfastio ou estudo; a pobreza, a necessidade está envolto em uma “bolha ideológica”, apanágio de seu
próprio processo de individuação, que condiciona sua
de uma achega, a inaptidão para outros trabalhos, o acaso,
35 maneira de interpretar e agir sobre o mundo. Todos nós, ao
e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por ou-
entrarmos em contato com o mundo exterior, construímos
tra via, davam o impulso ao homem que se sentia bastante
representações sobre a realidade. Cada um de nós forma
rijo para pôr ordem à desordem.
juízos de valor a respeito dos vários âmbitos do real, seus
(Contos: uma antologia, 1998.)
personagens, acontecimentos e fenômenos e, consequen-
Quem perdia um escravo por fuga dava algum di- 40 temente, acreditamos que esses juízos correspondem à
nheiro a quem lho levasse. (4o parágrafo) “verdade”. [...]
Marque a alternativa em que o verbo destacado está classificado corretamente quanto à transitividade.
VTD − verbo transitivo direto
VTI – verbo transitivo indireto
VI – verbo intransitivo
a) [...] devemos duvidar (ou ao menos manter certa ressalva) de preposições imediatistas e aparentemente fáceis. –
VTD (linhas 23-25)
b) Na maioria das vezes, o discurso midiático perde seu significado original na controversa relação emissor/recep-
tor. – VTI (linhas 30-32)
c) A mídia é apenas um, entre vários quadros ou grupos de referência, aos quais um indivíduo recorre como argu-
mento para formular suas opiniões. – VTI (linhas 42-43)
d) Nesse sentido, competem com os veículos de comunicação como quadros ou grupos de referência fatores
subjetivos/psicológicos [...] – VTD (linhas 43-44)
e) Evidentemente, o peso de cada quadro de referência tende a variar de acordo com a realidade individual. – VI
(linhas 48-49)
<id>002447_por_f1_c14_q0014</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Qual é a transitividade das formas verbais “mostravam” e “dependem”, respectivamente, presentes nos dois últimos
versos do poema?
FRENTE 1
a) Verbo transitivo direto e verbo transitivo indireto. d) Verbo transitivo indireto e verbo transitivo direto e
b) Verbo transitivo direto e verbo intransitivo. indireto.
c) Verbo intransitivo e verbo transitivo indireto. e) Verbo intransitivo e verbo transitivo direto.
119
9. Uece 2017
Grito
Quadro que fundou o expressionismo nasceu de um ataque de pânico.
Edvard Munch nasceu em 1863, mesmo ano em que O piquenique no bosque, de Édouard Manet, era exposto no Salão
dos Rejeitados, chamando a atenção para um movimento que nem nome tinha ainda. Era o impressionismo, superando
séculos de pintura acadêmica. Os impressionistas deixaram o realismo para a fotografia e se focaram no que ela não podia
5 mostrar: as sensações, a parte subjetiva do que se vê.
Crescendo durante essa revolução, Munch – que, aliás, também seria fotógrafo – achava a linguagem dos impressionistas
superficial e científica, discreta demais para expressar o que sentia. E ele sentia: Munch tinha uma história familiar trágica:
perdeu a mãe e uma irmã na infância, teve outra irmã que passou a vida em asilos psiquiátricos. Tornou-se artista sob forte
oposição do pai, que morreria quando Munch tinha 25 anos e o deixaria na pobreza. O artista sempre viveu na boemia,
10 entre bebedeiras, brigas e romances passageiros, tornando-se amigo do filósofo niilista Hans Jæger, que acreditava que o
suicídio era a forma máxima da libertação.
Fruto de suas obsessões, O Grito não foi seu primeiro quadro, mas o que o tornaria célebre. A inspiração veio do que
parece ter sido um ataque de pânico, que ele escreveu em seu diário, pouco mais de um ano antes do quadro: “Estava andando
por um caminho com dois amigos – o sol estava se pondo – quando, de repente, o sol tornou-se vermelho como o sangue. Eu
15 parei, sentindo-me exausto, e me encostei na cerca – havia sangue e línguas de fogo sobre o fiorde negro e a cidade. Meus
amigos continuaram andando, e eu fiquei lá, tremendo de ansiedade – e senti um grito infinito atravessando a natureza”.
Ali nasceria um novo movimento artístico. O Grito seria a pedra fundadora do expressionismo, a principal vanguarda
alemã dos anos 1910 aos 1930.
(Aventuras na História)
O verbo “nascer” em “Ali nasceria um novo movimento artístico” (linha 17) significa
a) começar a crescer, a brotar.
b) tomar forma, instituir-se.
c) gerar-se, ter surgimento, passar a existir.
d) aparecer, sair.
<id>002447_por_f1_c14_q0018</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
10. IFTO 2020 Marque a sequência correta quanto à classificação dos verbos destacados na frase abaixo.
Perceber que há um sentido na vida é oito vezes mais capaz de trazer satisfação do que ganhar um bom salário.
(KING e NAPA, 1998, pág. 199)
11. Unesp 2021 Para responder à questão, leia a crônica Dificilmente algo que não demandou suor e empenho
“A obra-prima”, de Lima Barreto, publicada na revista gerará prazer igual à conquista de algo que nos deixou
Careta em 25.09.1915. diversas noites sem dormir.
Portanto, busque ver nas barreiras impostas pela vida
Marco Aurélio de Jesus, dono de um grande talento algo que lhe fortalecerá e transformará a realização de
e senhor de um sólido saber, resolveu certa vez escrever seus sonhos em algo ainda mais especial. Olhar para trás
uma obra sobre filologia. e enxergar uma trajetória aberta em meio às dificuldades
Seria, certo, a obra-prima ansiosamente esperada e faz da sua conquista algo admirável e prazeroso.
que daria ao espírito inculto dos brasileiros as noções Os medíocres, aqueles que fazem apenas o que é
exatas da língua portuguesa. Trabalhou durante três anos, comum e corriqueiro, têm imensa dificuldade em enxergar
com esforço e sabiamente. Tinha preparado o seu livro que por trás de toda dificuldade há uma oportunidade
que viria trazer à confusão, à dificuldade de hoje, o saber única.
de amanhã. Era uma obra-prima pelas generalizações e Portanto, encare as barreiras da vida com bom ânimo
pelos exemplos. e determinação. São elas que fazem com que objetivos
A quem dedicá-la? Como dedicá-la? E o prefácio? maiores sejam alcançados apenas por aqueles que têm
E Marco Aurélio resolve meditar. Ao fim de igual tem- disposição e energia para enfrentar o caminho das pedras.
po havia resolvido o difícil problema. São elas que fazem aflorar os verdadeiros campeões.
A obra seria, segundo o velho hábito, precedida de Tenha confiança e siga em frente. Faça valer a sua
“duas palavras ao leitor” e levaria, como demonstração determinação, acima de todos os medos e dúvidas que
de sua submissão intelectual, uma dedicatória. tentam assombrá-lo.
Mas “duas palavras”, quando seriam centenas as que Roberto Shinyashiki
escreveria? Não. E Marco Aurélio contou as “duas pala-
vras” uma a uma. Eram duzentas e uma e, em um lance Nesse texto, Roberto Shinyashiki empregou as for-
único, genial, destacou em relevo, ao alto da página “du- mas verbais “busque”, “encare”, “Tenha” e “Faça” com
zentas e uma palavras ao leitor”. o intuito de:
E a dedicatória? A dedicatória, como todas as dedi- a) enfatizar os aspectos emocionais da linguagem.
catórias, seria a “pálida homenagem” de seu talento ao b) transmitir a mensagem de modo objetivo sem ad-
espírito amigo que lhe ensinara a pensar… mitir mais de uma interpretação.
Mas “pálida homenagem”… Professor, autor de um c) manifestar sua preocupação com o leitor no que
livro de filologia, cair na vulgaridade da expressão comum: se refere ao conteúdo motivacional.
“pálida homenagem”? Não. E pensou. E de sua grave me- d) atrair a atenção do leitor e influenciá-lo a receber
ditação, de seu profundo pensamento, saiu a frase límpida, a mensagem.
a grande frase que definia a sua ideia da expressão e, <id>002447_por_f1_c14_q0020</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
num gesto, sulcou o alto da página de oferta com a frase 13. Enem 2018
sublime: “lívida homenagem do autor”…
Está aí como um grande gramático faz uma obra-
-prima. Leiam-na e verão como a coisa é bela.
(Sátiras e outras subversões, 2016.)
121
123
c) I e III apenas. 19. Ufam 2018 Assinale a alternativa em que a forma ver-
d) II e III apenas. bal grifada NÃO se encontra corretamente conjugada:
<id>002447_por_f1_c14_q0026</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> a) A humanidade pode se dar por feliz, porque, mes-
18. IFTO 2019 Leia o texto musical “Trem-bala”, de Ana mo após duas sangrentas guerras, reouve o seu
Vilela, e responda à questão. cabedal cultural e científico.
Trem-bala b) As primitivas tribos humanas poderiam viver em
harmonia; no entanto, se desavieram até a extin-
Ana Vilela
ção de “muitas delas.
Não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra si c) As técnicas agrícolas e pecuárias proveem as ne-
É sobre saber que em algum lugar alguém zela por ti cessidades humanas na atualidade; o problema
É sobre cantar e poder escutar mais do que a própria voz da fome se encontra, portanto, em outra esfera.
É sobre dançar na chuva de vida que cai sobre nós d) Em torno de 1850, Karl Marx interviu decisiva-
mente na economia, predizendo a ocorrência de
É saber se sentir infinito um conflito entre proletariado e capitalistas.
Num universo tão vasto e bonito, é saber sonhar
e) Quando eu vir as coisas melhorarem na política, anun-
Então fazer valer a pena
ciarei a todos a grande e surpreendente novidade.
Cada verso daquele poema sobre acreditar <id>002447_por_f1_c14_q0028</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Qual seria a graça do mundo se fosse assim? 5 no vento que não retorna,
Por isso eu prefiro sorrisos e, em tão rápida existência,
E os presentes que a vida trouxe pra perto de mim tudo se forma e transforma!
125
22. UFU-MG 2022 [...] Fazia anos que ele partira para outro emoções mais imediatas é uma das características princi-
país e, de repente, pondo fim a seu exílio, regressara. Re- pais do conteúdo falso.
gressara e, inesperadamente, estava diante dela. A noite, Dá um pouco de trabalho checar a veracidade de
até então comum, começava a se alterar – porque só de um conteúdo, mas vale a pena incorporar alguns desses
ver aquela mulher que, tempos antes, movera a sua usina passos a seu dia a dia para que você não se transforme,
de desejos, a noite já ganhava outros contornos, mesmo inadvertidamente, em um vetor de notícias falsas.
se ela se afastasse dali e partisse da festa, sem descobrir Quando receber uma notícia, tome algumas precau-
FRENTE 1
127
Os verbos podem ser classificados quanto à atitude do falante em relação à ação que enunciam. No caso do fragmen-
to: “1) Pare e pense. Não acredite na notícia ou compartilhe o texto de imediato.”, o modo verbal está corretamente
indicado em:
a) Imperativo, pois expressa certeza do falante em relação ao que será feito.
b) Subjuntivo, pois expressa desejo do falante em relação ao que deve ser feito.
c) Subjuntivo, pois expressa possibilidade de que a ação irá ocorrer.
d) Imperativo, pois expressa conselho ou pedido do falante em relação ao que deve ser feito.
<id>002447_por_f1_c14_q0034</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
27. Ufam/PSC 2022 Leia as frases a seguir, atentando para a conjugação do verbo destacado em negrito:
I. Você quer mesmo que nós damos a notícia à esposa do falecido?
II. Ele manteu os seus propósitos mesmo diante das adversidades.
III. Espero que, mesmo com o acidente, não bloqueem as estradas.
IV. Peço outra vez: averiguem como vai estar o tempo hoje à tarde.
V. O professor interveio na briga dos alunos e levou todos para a diretoria.
Assinale a alternativa que registra os verbos CORRETAMENTE conjugados:
a) Somente nas frases IV e V.
b) Somente nas frases II e III.
c) Somente nas frases I, II e V.
d) Somente nas frases II, IV e V.
e) Somente nas frases I, III e IV.
a) Considerando o contexto da propaganda, existe alguma relação de sentido entre a imagem estilizada dos dedos
e as palavras “digital” e “diferença”? Explique.
b) Sem alterar o modo verbal, reescreva o trecho “Venha para a biometria. Cadastre suas digitais.”, passando os
verbos para a primeira pessoa do plural e fazendo as modificações necessárias.
<id>002447_por_f1_c14_q0039</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Exausto
Eu quero uma licença de dormir,
FRENTE 1
129
Texto complementar
Veja os principais assuntos e conceitos trabalhados neste capítulo acessando a seção Resumindo
no livro digital, na Plataforma Poliedro.
Filme Site
Corra, Lola, corra. Direção: Tom Tykwer. 1999. LX Conjugator. Disponível em: https://portulanclarin.net/
Na trama, vemos as ações que acontecem na correria de workbench/lx-conjugator/. Acesso em: 28 out. 2023.
uma mulher que precisa salvar seu namorado, prestes a O site é um identificador de flexão verbal, no qual é pos-
ser executado. Para isso, ela tem somente 20 minutos. O sível conhecer a variação de um verbo em modo, tempo,
filme mostra três finais possíveis para história. número e pessoa. O material é organizado por pesquisa-
dores da Universidade de Lisboa.
Livro
A vida modo de usar, de George Perec. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2009.
O livro trata de histórias inter-relacionadas de habitantes
de um mesmo prédio, em Paris, e as ações das persona-
gens geram conexões entre elas.
Exercícios complementares
<id>002447_por_f1_c14_q0041</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Texto II
Bacuralizar
verbo transitivo direto
1. autogovernar-se em comunidade, fazer a própria gestão dos recursos e serviços que deveriam ser oferecidos pelo
estado, sem a ajuda de empresas ou de parcerias público-privadas.
2. entricheirar-se em suas comunidades como forma de defesa à máquina de matar do estado.
(Adaptado do Instagram de Lia de Itamaracá. Disponível em https://www.insta7zu.com/tag/LiaDeltamaraca. Acessado em 20/10/2019.)
a) Explique por que o verbo “bacuralizar” é um neologismo e qual é o processo de formação dessa palavra. Por que
podemos identificar que se trata de um verbo?
FRENTE 1
b) Considere as informações sobre o enredo do filme Bacurau presentes no texto I e sobre o papel do Estado na
vida da comunidade no texto II. A partir dessas informações, crie um exemplo do uso de “bacuralizar” para cada
acepção da palavra registrada no texto II.
131
comovia ninguém. A loucura parecia antes erro do que disto, circulam pacificamente pelas ruas, se querem fazê-
miséria. E os três sentiam-se inclinados a lapidar a doida, -lo, ou não, se preferem ficar em casa. E doido é quem
isolada e agreste no seu jardim. Deus quis que ficasse doido...
133
8. Urca-CE 2018 Com o toque da corneta, engarrafam no consciência dizer se era duende macho ou duende fê-
convés do navio o rebanho de soldados ansiosos. mea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por saber
A forma verbal “engarrafam” se encontra no tempo: de longa data que pela boca é que morrem os peixes e
a) presente do subjuntivo os fantasmas... Também, ninguém lhe falava — não por
b) imperfeito do indicativo experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um
c) pretérito perfeito do indicativo homem ter nascido num século de luzes e de descren-
d) presente do indicativo ças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados
e) imperativo afirmativo seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em
<id>002447_por_f1_c14_q0049</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sentir a voz presa
9. Unama-PA 2015 na garganta, quando encontra na rua, a desoras2, uma
avantesma3 ...
Texto 1
[Nos poemas de Max Martins] A cada passo, giram-se Assim, um profundo mistério cercava a existência do
os significados e despoja-se o signo dos sentidos habi- lobisomem de Catumbi – quando começaram de aparecer
tuais, automatizados, para que germinem outros campos vestígios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas,
semânticos. mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se
(TUPIASSÚ, Amarílis. “Max Martins”. tenham sumido, por exemplo, as hóstias consagradas da
Revista ASAS DA PALAVRA. UNAMA, 2000) igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de
S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura
Texto 2
Rola o poema e o mundo vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa
E eu mudo. manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria
(Max Martins, “Poema”, p. 363) alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa
sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, da-
Texto 3 quela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a
A faca corta o pão convicção de que o lobisomem, para perpétua e supre-
separando o tempo em nós. ma vergonha de toda a sua classe, andava acumulando
(Max Martins. “Elegia em junho”, p. 365)
novos pecados sobre os pecados antigos, e dando-se à
A faca corta o pão / separando o tempo em nós. prática de excessos menos merecedores de exorcismos
que de cadeia.
Nos versos acima, a palavra separando é uma forma
Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente
nominal de gerúndio empregada por Max Martins para
munida de bentinhos5 e de revólveres, de amuletos e de
a) captar a ação dinâmica e a progressividade do
sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um
discurso poético.
jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado
b) expressar uma ação concluída, terminada no poema.
achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que
c) revelar uma interrupção de movimento na ação
fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos
verbal do poema.
singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a
d) causar esvaziamento de sentido no discurso poético.
gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam
Para responder às questões 10 e 11, leia a crônica espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os si-
“Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada original- tiantes7 empunhavam”.
mente em 1902. Esta nota de morcegos deve ser um chique românti-
<assets>002447_por_f1_c14_t0005</assets>
co do noticiarista. No fundo da alma de todo o repórter
Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que
tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,
sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos
para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado
já se não adormecem as crianças com histórias de fadas de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos,
e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu
tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa tempo passou.
primitiva credulidade. Inventar um fantasma é ainda um (Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)
magnífico recurso para quem quer levar a bom termo
qualquer grossa patifaria. As almas simples vão propa-
1
gando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, esbatido: de tom pálido.
2
os patifes vão rejubilando. a desoras: muito tarde.
3
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
4
folha: periódico diário, jornal.
Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pa- 5
bentinho: objeto de devoção contendo orações
cato bairro – como um fantasma de grande e louvável
FRENTE 1
escritas.
modéstia. E tão esbatido1 passava o seu vulto na treva, tão 6
pardieiro: prédio velho ou arruinado.
sutilmente deslizava ao longo das casas adormecidas – 7
sitiante: policial.
que as primeiras pessoas que o viram não puderam em
135
10. Unesp 2022 Constitui exemplo de interação do cro- controvérsias que tanto empecem o progresso da nossa
nista com o leitor o trecho cultura literária, científica e filosófica.
a) “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha Seguro de que a sabedoria dos legisladores saberá
de toda a sua classe, andava acumulando novos encontrar meios para realizar semelhante medida, e côns-
pecados sobre os pecados antigos” (3o parágrafo). cio de que a Câmara e o Senado pesarão o seu alcance e
b) “As almas simples vão propagando o terror, e, sob utilidade P. e E. deferimento.”
(Triste fim de Policarpo Quaresma, 1991. Adaptado.)
a capa e a salvaguarda desse temor, os patifes
vão rejubilando” (1o parágrafo).
empecer: prejudicar.
c) “Não vades agora crer que se tenham sumido, P. e E.: pede e espera.
por exemplo, as hóstias consagradas da igreja de
Catumbi” (3o parágrafo).
<id>002447_por_f1_c14_q0052</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0006</assets>
d) “as primeiras pessoas que o viram não puderam 12. Uefs-BA 2017 controvérsias que tanto empecem o pro-
em consciência dizer se era duende macho ou gresso da nossa cultura literária, científica e filosófica.
duende fêmea” (2o parágrafo). (4o parágrafo)
e) “O fantasma não falava — naturalmente por saber No contexto em que está inserido, o termo destacado
de longa data que pela boca é que morrem os é um verbo
peixes e os fantasmas” (2o parágrafo). a) transitivo direto.
<id>002447_por_f1_c14_q0051</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0005</assets> b) transitivo direto e indireto.
11. Unesp 2022 Em “Vamos lá! nestes tempos, que cor- c) intransitivo.
rem, já nem há morcegos” (5o parágrafo), o termo d) de ligação.
sublinhado está empregado na mesma acepção do e) transitivo indireto.
<id>002447_por_f1_c14_q0053</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
termo sublinhado em </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
a) “ela correu um risco desnecessário”. 13. IFTO 2017 Assinale a alternativa cuja predicação dos
b) “a notícia corria por toda a cidade”. verbos destacados está classificada de modo correto,
c) “a manhã corria especialmente tranquila”. respectivamente.
d) “segundo corria, ela seria facilmente eleita”. I. A criança tossiu a noite inteira.
e) “um arrepio correu-lhe pela espinha”. II. Os funcionários permanecem satisfeitos com seus
salários.
Leia o trecho do romance Triste fim de Policarpo III. O hóspede quebrou a maçaneta da porta do quarto.
Quaresma, de Lima Barreto, para responder à próxima
a) Intransitivo – verbo de ligação – transitivo indireto.
questão.
<assets>002447_por_f1_c14_t0006</assets> b) Intransitivo – verbo de ligação – transitivo direto.
Era assim concebida a petição: c) Transitivo direto – verbo de ligação – transitivo
“Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário indireto.
público, certo de que a língua portuguesa é emprestada d) Verbo de ligação – transitivo direto – intransitivo.
ao Brasil; certo também de que por esse fato, o falar e o e) Intransitivo – transitivo direto – transitivo indireto.
escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem <id>002447_por_f1_c14_q0054</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
na humilhante contingência de sofrer continuamente cen- 14. Unifesp 2021 Leia o conto de Carlos Drummond de
suras ásperas dos proprietários da língua; sabendo além, Andrade para responder à questão.
que dentro do nosso país os autores e os escritores, com
especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante O entendimento dos contos
à correção gramatical, vendo-se diariamente surgir azedas — Agora você vai me contar uma história de amor —
polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso disse o rapaz à moça. — Quero ouvir uma história de
idioma – usando do direito que lhe confere a Constituição, amor em que entrem caravelas, pedras preciosas e satélites
vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani artificiais.
como língua oficial e nacional do povo brasileiro.
— Pois não — respondeu a moça, que acabara de
O suplicante, deixando de parte os argumentos histó-
concluir o mestrado de contador de histórias, e estava com
ricos que militam em favor de sua ideia, pede vênia para
a imaginação na ponta da língua. — Era uma vez um país
lembrar que a língua é a mais alta manifestação da inteli-
onde só havia água, eram águas e mais águas, e o governo
gência de um povo, é a sua criação mais viva e original; e,
como tudo mais se fazia em embarcações atracadas ou
portanto, a emancipação política do país requer como com-
plemento e consequência a sua emancipação idiomática. em movimento, conforme o tempo. Osmundo mantinha
Demais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani, lín- uma grande indústria de barcos, mas não era feliz, porque
gua originalíssima, aglutinante, é a única capaz de traduzir Sertória, objeto dos seus sonhos, se recusava a casar com
as nossas belezas, de pôr-nos em relação com a nossa ele. Osmundo ofereceu-lhe um belo navio embandeirado,
natureza e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos que ela recusou. Só aceitaria uma frota de dez caravelas,
vocais e cerebrais, por ser criação de povos que aqui vi- para si e para seus familiares.
veram e ainda vivem, portanto possuidores da organização Ora, ninguém sabia fazer caravelas, era um tipo de
fisiológica e psicológica para que tendemos, evitando-se embarcação há muito fora de uso. Osmundo apresentou
dessa forma as estéreis controvérsias gramaticais oriundas um mau produto, que Sertória não aceitou, enumerando
de uma difícil adaptação de uma língua de outra região à os defeitos, a começar pelas velas latinas, que de latinas
nossa organização cerebral e ao nosso aparelho vocal – não tinham um centavo. Osmundo, desesperado, pensou
em afogar-se, o que fez sem êxito, pois desceu no fundo 16. PUC-Campinas 2021
das águas e lá encontrou um cofre cheio de esmeraldas,
topázios, rubis, diamantes e o mais que você imagina. A posição do artista
Voltou à tona para oferecê-lo à rígida Sertória, que virou o A sociedade atribui um papel específico ao criador de
rosto. Nada a fazer, pensou Osmundo; vou transformar-me arte e define sua posição na escala social, envolvendo não
em satélite artificial. Mas os satélites artificiais ainda não apenas o artista individualmente, mas também a formação
tinham sido inventados. Continuou humilde satélite de de grupos de artistas. Daí sermos levados a considerar
Sertória, que ultimamente passeava de uma lancha para sucessivamente primeiro o aparecimento do artista na
outra, levando-o preso a um cordão de seda, com a ins- sociedade com posição e papel configurados, para em
crição “Amor imortal”. Acabou. seguida relevar as condições em que se diferenciam os
— Mas que significa isso? — perguntou o moço, in- grupos de artistas.
satisfeito. — Não entendi nada. Houve um tempo em que se exagerou muito o aspecto
— Nem eu — respondeu a moça —, mas os contos coletivo da criação, concebendo-se o povo, no conjunto,
devem ser contados, e não entendidos; exatamente como como criador de arte. Por exemplo: os poemas atribuí-
a vida. dos a Homero haviam sido, na verdade, criação do gênio
(Contos plausíveis, 2012.) coletivo da Grécia. Hoje, está superada essa noção de
cunho altamente romântico, e sabemos que a obra exi-
— Agora você vai me contar uma história de amor —
ge necessariamente a atuação decisiva do artista criador.
disse o rapaz à moça. — Quero ouvir uma história de
O que chamamos arte coletiva é a arte criada pelo indiví-
amor em que entrem caravelas, pedras preciosas e satéli-
duo a tal ponto identificado às aspirações e valores do seu
tes artificiais. (1o parágrafo)
tempo que a história social parece dissolver o indivíduo,
Ao se transpor esse trecho para o discurso indireto, perdendo-se assim a identidade do criador.
os termos sublinhados assumem, respectivamente, as Os elementos individuais adquirem significado social
seguintes formas: na medida em que as pessoas correspondem a necessida-
a) “quis” e “entravam”. des coletivas; e estas, agindo, permitem por sua vez que os
b) “queria” e “entravam”. indivíduos possam exprimir-se, encontrando repercussão
c) “quis” e “entrassem”. no grupo. As relações entre o artista e o grupo se pautam
por esta circunstância e podem ser esquematizadas do
d) “queria” e “entrassem”.
seguinte modo: em primeiro lugar, há a necessidade de
e) “quisera” e “entraram”.
<id>002447_por_f1_c14_q0055</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
um agente individual que torne a si a tarefa de criar e apre-
15. Enem 2014 E se a água potável acabar? O que acontece- sentar a obra; em segundo legar ele é ou não reconhecido
ria se a água potável do mundo acabasse? como criador ou intérprete pela sociedade, e o destino da
As teorias mais pessimistas dizem que a água potável obra está ligado a essa circunstância; em terceiro lugar,
deve acabar logo, em 2050. Nesse ano, ninguém mais to- ele utiliza a obra, assim mercada pela sociedade, como
mará banho todo dia. Chuveiro com água só duas vezes por veículo das suas aspirações individuais mais profundas.
semana. Se alguém exceder 55 litros de consumo (metade (Adaptado de: CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 2.ed., p. 29-30, 1967)
do que a ONU recomenda), seu abastecimento será inter-
rompido. Nos mercados, não haveria carne, pois, se não há Está correto o emprego de todas as formas verbais na
água para você, imagine para o gado. Gastam-se 43 mil litros seguinte frase:
de água para produzir 1 kg de carne. Mas, não é só ela que a) Se não reaver seu antigo prestígio social, esse es-
faltará. A Região Centro-Oeste do Brasil, maior produtor de critor sentir-se-á frustrado.
grãos da América Latina em 2012, não conseguiria manter a b) Caso a escritora não se indisposse com seu públi-
produção. Afinal, no país, a agricultura e a agropecuária são, co, seus livros continuariam vendendo.
hoje, as maiores consumidoras de água, com mais de 70% c) Se ele não atentar para seu público e não desdi-
do uso. Faltariam arroz, feijão, soja, milho e outros grãos. zer suas injúrias, será punido.
Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 30 jul. 2012
d) A menos que ele obtenhe novo sucesso, logo o
A língua portuguesa dispõe de vários recursos para público se esquecerá de sua obra.
indicar a atitude do falante em relação ao conteúdo e) Se ele não se detiver e não puser reparo em seus
de seu enunciado. No início do texto, o verbo “dever” defeitos, não obterá sucesso.
<id>002447_por_f1_c14_q0057</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
contribui para expressar </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
137
19. IFTO 2017 Assinale a alternativa em que a forma verbal substitui corretamente o “gerundismo” cometido pelo perso-
nagem do segundo quadrinho na tirinha a seguir:
20. Ufam 2017 Assinale a alternativa em que a correspondência entre o imperativo afirmativo e o imperativo negativo
está INCORRETA:
a) Pula a cerca para encurtar caminho até a entrada da fazenda. − Não pule a cerca para encurtar caminho até a
entrada da fazenda.
b) Usai sempre um agasalho durante a noite, pois faz frio. − Não useis agasalhos durante a noite, pois não faz frio.
c) Não vou demorar. Espera-me para o jantar. – Vou demorar. Não me esperes para o jantar.
d) Crê no sobrenatural, pois ele existe. − Não creias no sobrenatural, pois ele não existe.
e) Louve os políticos, mas somente os que forem confiáveis. − Não louve os políticos, porque eles não são confiáveis.
<id>002447_por_f1_c14_q0061</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
a) O sentido que se atribui, no texto, à palavra “retórica” é o de “arte da eloquência, arte de bem argumentar; arte
da palavra” (Houaiss)? Justifique.
b) Mantendo-se o sentido que eles têm no contexto, que outra forma os verbos “se encontrem” e “houvera” pode-
riam assumir?
<id>002447_por_f1_c14_q0062</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
22. Ufam 2017 Assinale a alternativa em que há verbo conjugado de modo INCORRETO:
a) Se não reouvermos os passaportes roubados, não poderemos viajar.
b) Quando o vir, entregue-lhe estas revistas, por favor.
c) Se a crise atual se manter, o governo não terá sustentabilidade política.
d) Se a vires no aeroporto, dize-lhe que desejo boa viagem.
e) É um político que, sem se posicionar, apenas remedeia os problemas sociais.
<id>002447_por_f1_c14_q0063</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
23. Unesp 2019 Leia o trecho do romance S. Bernardo, de Graciliano Ramos, para responder à questão.
O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em casa do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma limpeza.
Essa gente quase nunca morre direito. Uns são levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam-se.
Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra, bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos miúdos.
Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o último teve angina e a mulher enforcou-se.
FRENTE 1
139
Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota, 25. PUC-Campinas 2021
citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou
uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe
Linguagens
político local. Em consequência mordeu-me cem mil-réis. Você pode achar que estou sendo implicante, metido
(S. Bernardo, 1996.). a policiar a linguagem alheia. Brasileiro é assim mesmo,
adora enfeitar a conversa para impressionar os outros. Sei
Verifica-se o emprego de verbo no modo imperativo disso. Eu próprio já andei escrevendo sobre o que chamei
no seguinte trecho: de ruibarbosismo: o uso de palavreado rebarbativo como
a) “Se eles entram nos trilhos, rodam que é uma forma de, numa discussão, reduzir ao silêncio o interlocu-
beleza. Se não entram, cruzem os braços.” (7o tor ignaro. Uma espécie de gás paralisante verbal. Mais de
parágrafo) uma vez vi gente de queixo caído ante as extravagâncias
b) “Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo vocabulares que o Antônio Houaiss (esse mesmo, o do
enquanto viveu. Mas agora é isto.” (10o parágrafo) dicionário) aspergia na mais prosaica mesa de boteco.
c) “Para diminuir a mortalidade e aumentar a produ- Minha prima Solange é chegada nessas construções
ção, proibi a aguardente.” (3o parágrafo) verbais entrecortadas por hifens, como “oferecer-lhe-ia”.
a) A cada vez que se apresentassem àquele escritor Ninguém se pergunta: estarei ficando grávida? (2o parágrafo).
os mais extravagantes recursos de retórica, ele
não hesitaria em se valer deles para ostentar seu A forma verbal destacada, caracterizada pela termina-
desempenho linguístico. ção “–ndo”, indica uma ação
b) No caso de se buscarem economizar ornamentos a) prestes a acontecer, mas ainda não realizada.
retóricos, teriam cumprido a boa parte dos escrito- b) totalmente realizada, finalizada.
res desfazer-se de seus rebuscamentos estilísticos. c) que pode ou não ter sido realizada.
c) Uma vez que o cronista empregou em seus textos d) não terminada, em andamento.
expressões como “de queixo caído” e “mesa de e) pontual, sem extensão no tempo.
<id>002447_por_f1_c14_q0067</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
problema que ocorre quando pensamos se alguém bebe c) A forma verbal “não pare de mexer” (imperativo
normalmente ou é alcoólatra. Claro que os polos não negativo) opõe-se à forma verbal “bota”, que se
nos confundem. É fácil dizer que uma pessoa que bebe encontra no presente do indicativo.
141
143
EM13LP07
mais dificuldade se conhece; e o que facilmente se come- 3. Enem 2015 Em junho de 1913, embarquei para a Euro-
te e dificultosamente se conhece, raramente se emenda. pa a fim de me tratar num sanatório suíço. Escolhi o de
A omissão é um pecado que se faz não fazendo. [...] Mas Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito dele
por que se perdem tantos? Os menos maus perdem-se me falara João Luso, que ali passara um inverno com a
pelo que fazem, que estes são os menos maus; os piores senhora. Mais tarde vim a saber que antes de existir no
perdem-se pelo que deixam de fazer, que estes são os lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo Antõnio
piores: por omissões, por negligências, por descuidos, por Nobre. “Ao cair das folhas”, um de seus mais belos so-
desatenções, por divertimentos, por vagares, por dilações, netos, talvez o meu predileto, está datado de “Clavadel,
por eternidades. Eis aqui um pecado de que não fazem outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até outubro de 1914.
escrúpulo os ministros, e um pecado por que se perdem BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro:
muitos. Mas percam-se eles embora, já que assim o que- Nova Aguilar, 1985.
rem: o mal é que se perdem a si e perdem a todos; mas de
No relato de memórias do autor, entre os recursos
todos hão de dar conta a Deus. Uma das cousas de que
se devem acusar e fazer grande escrúpulo os ministros, é
usados para organizar a sequência dos eventos nar-
dos pecados do tempo. Porque fizeram o mês que vem o rados, destaca-se a
que se havia de fazer o passado; porque fizeram amanhã a) construção de frases curtas a fim de conferir dina-
o que se havia de fazer hoje; porque fizeram depois o micidade ao texto.
que se havia de fazer agora; porque fizeram logo o que b) presença de advérbios de lugar para indicar a
se havia de fazer já. Tão delicadas como isto hão de progressão dos fatos.
ser as consciências dos que governam, em matérias c) alternância de tempos do pretérito para ordenar
de momentos. O ministro que não faz grande escrúpulo de os acontecimentos.
momentos não anda em bom estado: a fazenda pode-se d) inclusão de enunciados com comentários e ava-
restituir; a fama, ainda que mal, também se restitui; o liações pessoais.
tempo não tem restituição alguma. e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida
(Essencial, 2013. Adaptado.) do escritor.
FRENTE 2
10
CAPÍTULO Heróis do Modernismo no Brasil
Em fevereiro de 1922, o Teatro Municipal de São Paulo foi palco da irreverência
de autores do cenário cultural brasileiro na Semana de Arte Moderna, evento que
representou a ousadia de romper com os padrões estéticos vigentes.
Nos anos que se seguiram, após o evento da Semana de 22, três autores se destacaram
no cenário literário, tornando-se os mais importantes nomes da geração heroica do
Modernismo: Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira.
Saiba mais
Arlequim é um personagem cômico
prio autor, ao som da lira, ou de semelhante instrumento O combate às “sentimentalidades românticas” e o prés-
de corda, chamado barbitos, pectis ou magadis. [...] O timo ao lirismo “nascido no subconsciente” fundamentaram
amor e o vinho ou os prazeres são os temas mais frequen-
a proposta de Pauliceia desvairada, obra que se tornou
tes. [...] Com o desenvolvimento do lirismo coral, a ode
ganha maior desembaraço e apodera-se de temas novos,
um símbolo do projeto modernista. “Ode ao burguês” foi um
relacionados com a vida heroica [...]. dos poemas lidos sob vaias na Semana de Arte Moderna,
MOISÉS, Massaud. Dicionário de Termos Literários. 12. ed. rev., como endossam alguns historiadores dos acontecimentos
ampl. e atual. São Paulo: Cultrix, 2013. p. 336. do evento. Mário foi um dos palestrantes, tendo realizado
no segundo dia da semana, 15 de fevereiro, a conferência
Para o leitor de hoje, a leitura da Pauliceia desvairada em defesa da modernidade intitulada A Escrava que Não é
é uma experiência ainda capaz de provocar muito estranha- Isaura, texto posteriormente publicado como ensaio.
mento, mas por motivos obviamente diversos daqueles que A conferência apresentou um dos aspectos principais
comoveram os contemporâneos. [...] da obra do autor, a pesquisa acerca da cultura popular
Outras conversões, se podemos falar assim, ocorreriam brasileira. O interesse pelo folclore do país levou-o a em-
nos anos subsequentes. O livro escandalizava os farautos e preender a Missão de Pesquisas Folclóricas, ocupando o
fascinava os espíritos mais livres e criativos. De certo modo, cargo de diretor do Departamento de Cultura de São Paulo.
como um evangelho estético, ele trazia a boa nova das mu-
Macunaíma: a ressignificação do herói nacional
danças imediatas e necessárias – e o contato de suas palavras
catalisava as vontades transformadoras, precipitando aquilo
Reprodução
que a própria épica preparava.
BOSI, Alfredo (org.). Leitura de poesia. São Paulo: Ática, 2007. p. 53.
147
Reprodução
as relações de poder.
Reprodução
Capa da obra Pau Brasil, de Oswald de Andrade, com ilustração feita por
Tarsila do Amaral.
149
Historic Collection/Alamy/Fotoarena
Folhapress/Folhapress
Atenção
No Modernismo, o Movimento Antropófago, criado por
Oswald de Andrade, propunha a “deglutição” da cultura
estrangeira para integrá-la à nacional. Na peça O rei da
vela, Oswald causou estranhamento, intensificado com
a montagem realizada pelo Teatro Oficina de São Paulo.
Capa da obra Alumbramentos.
O resultado teve grandes proporções, o que acabou in-
fluenciando, por exemplo, o cantor Caetano Veloso, que Bandeira teve suas obras ilustradas por diversos artistas
inspirado pelas apresentações compôs uma canção incluí- motivados a dar forma a seus principais temas, como Mar-
da na peça. Posteriormente, o artista utilizou um cenário da
cel Gromaire e Fayga Ostrower. Em 1960, a editora baiana
peça, o picadeiro de um circo, como capa do seu álbum
Dinamene publicou em edição de luxo uma coletânea de
Estrangeiro. O desdobramento do movimento antropofá-
gico teve relativa importância na criação do Tropicalismo, poemas de amor sob o título Alumbramentos. O tema
movimento cultural de destaque na música da década amoroso presente em “Toante”, “Teresa” e “Namorados” di-
de 1960. recionam-se de forma admirada à figura feminina; a morte
também é um dos temas recorrentes na poética de Bandeira.
Saiba mais
Pasárgada foi o espaço fictício de fuga de Manuel Bandeira, registrado no poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, verso
que se tornou conhecido pelo público. O poeta afirmou em seu livro Itinerário de Pasárgada que tomou conhecimento da
pequena cidade, localizada na região montanhosa da Pérsia, durante as aulas de grego, quando ainda era muito jovem. Nesse
momento, o espaço ganhou forma na imaginação do menino, sendo marcada em seus poemas apenas décadas mais tarde.
A imagem do passado apresenta ao leitor de Bandeira uma questão relevante para compreender sua poesia, a experiência
com o tempo. Para o poeta, o tempo é mais uma concepção ritualística do que histórica, uma vez que foi através do passado
infantil que a experiência lírica foi acessada. A melancolia de um tempo que não volta é ativada pela ausência em favor de
um eterno retorno.
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Leonid Andronov/Shutterstock.com
Placa indicativa de Pasárgada, Irã. Imagem de Pasárgada, Irã.
Ler a poesia de Manuel Bandeira impõe ao leitor encarar o tema da morte presente em “Inscrição”, “A Dama Branca”,
“Noite Morta”, “Profundamente”, “Momento num Café”, “A Morte Absoluta”, “Consoada”, entre outros poemas que discor-
rem liricamente sobre a finitude, o que nos permite afirmar uma ligação entre os elementos poéticos e a própria vida do
autor. Em “Pneumotórax”, há uma gradação, em que o eu lírico é atendido em exame médico, após descrever os sintomas
comuns da tuberculose: dispneia, febre e hemoptise. O diagnóstico irônico flerta com a morte, dada a impossibilidade de
cura. A morte, portanto, é aguardada e personificada no campo da poesia em uma vida que poderia ter sido vivida, mas
“ficou na sala de espera”.
Manuel Bandeira foi um poeta capaz de perceber o sublime e o divino por meio do coti-
diano e da simplicidade. Embora tenha sido discípulo da poesia parnasiana, rompeu com as
convenções da forma, sintetizando o espírito revolucionário modernista no livro Libertinagem,
publicado em 1930. Os versos livres e o coloquialismo foram usados para tratar temas triviais,
como notamos em “Não sei dançar”, em que o eu lírico toma a alegria pelos olhos ao observar
as pessoas que se divertem no salão no baile de Carnaval. O “Poema tirado de uma notícia
FRENTE 2
de jornal”, em que a enumeração das ações de um personagem que bebe, canta e dança e
comete suicídio, remete ao texto jornalístico de linguagem referencial.
O sublime oculto na obra de Bandeira requer um leitor atencioso para perceber as suti-
lezas textuais, em que o complexo se encontra contido no simples. O quadro de uma maçã
observado sobre a mesa de um quarto de hotel revela o sublime ato cíclico da vida que
“prodigiosa” se reproduz “infinitamente”, palpitando em pequenas sementes ocultas na fruta. Capa do livro Libertinagem, de
Essa “coisa viva e pulsante” se revela por trás do quadro, enquanto a ambivalência vida-morte Manuel Bandeira.
151
Essa experiência de transcendência que alimentou a poética de Bandeira associou-se a uma fixação de momentos
de vida experimentados e que apresentaram distanciamento temporal do ato vivido. Não só a infância, mas o amor surgia
como uma possibilidade de alumbramento. A ausência daquilo sobre o que se fala, como cenas do passado, possibilitou
a reconstrução das cenas de figuras humanas perdidas no tempo. A realidade não captou o sentido desses elementos,
mas a realidade poética foi capaz de traduzir e alcançar o inapreensível.
No poema “Teresa”, a figura feminina é vista de forma fragmentada, em momentos distintos da vida do eu lírico, e deflagra
a transcendência, já que a morte física é superada pela imagem poética que eleva a mulher ao campo das ideias.
Estabelecendo relações
Relações intertextuais entre a Carta de Pero Vaz de Caminha e algumas poesias de
poetas modernistas
Em [...] Oswald de Andrade, é possível encontrar um diálogo entre sua poesia e o relato de viagem de Caminha.
[...]
Se na Carta, predominava o aspecto informativo, na retomada poética que Oswald faz dela, surgem novos sentidos,
ressaltando a mulher como objeto de desejo, fato que está implícito no relato de Caminha e explícito no poema “As meninas
da gare”. Geralmente, nos grandes centros, próximos às estações, nas grandes cidades, nas primeiras décadas do século XX,
era bastante comum a existência de prostíbulos, nos quais as mulheres ofereciam seus favores sexuais em troca de dinheiro.
Nesse sentido, o poeta modernista revela o processo de coisificação que já aparecia veladamente no texto de Caminha, que
enxergava somente as vantagens, as riquezas, que poderiam ser obtidas nas terras descobertas. Oswald oferece uma visão
crítica das relações entre colonizador e colonizado, ressaltando aspectos negativos, que se mantinham camuflados no olhar
do cronista, que parece deslumbrado com tudo o que vê, mas que o tempo todo busca sinais da existência de ouro e metais
preciosos, não esquecendo jamais de exaltar a docilidade dos indígenas, presas fáceis de serem dominadas e subjugadas,
como de fato aconteceu no período colonial.
LIMA, André Luis Batista de. Relações intertextuais entre a Carta de Pero Vaz de Caminha e algumas poesias de poetas modernistas. Revista Ícone,
v. 18, n. 2, 2018. p. 169-171. Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/icone/article/view/6967. Acesso em: 4 dez. 2023.
Revisando
<id>001598_por_f2_c10_q0001</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
1. Considere seus conhecimentos sobre a poética de Manuel Bandeira e o texto de Yudith Rosembaum para responder
à questão.
[...] a infância aparece na fala mesma da criança, fazendo soar pela voz lírica um eu infantil. Evoca-se a infância sem
explicação direta da falta através de um tom nostálgico, mas o ausente acaba por reviver na brincadeira de uma trova, de
uma cantiga, de uma música, que recriam a atmosfera encantatória, infantil. Muitas vezes, a memória da infância aparece
pela recriação humorística de cenas especiais, completamente despojadas de adornos encobridores da emoção principal.
É o caso de “Porquinho da Índia” (Libertinagem). Em ambos, a criança é recuperada pela graça e inocência da linguagem.
ROSENBAUM, Yudith. Manuel Bandeira: Uma poesia da Ausência. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002. p. 53.
A presença constante da infância nos poemas de Manuel Bandeira apresenta uma atmosfera romântica de saudosis-
mo. Explique a razão dessa recorrência.
<id>001598_por_f2_c10_q0002</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
2. Unesp 2019 Leia o poema “Pobre alimária”, de Oswald de Andrade, publicado originalmente em 1925.
O cavalo e a carroça E o animal disparou
Estavam atravancados no trilho Mas o lesto carroceiro
E como o motorneiro se impacientasse Trepou na boleia
Porque levava os advogados para os escritórios E castigou o fugitivo atrelado
Desatravancaram o veículo Com um grandioso chicote
(Pau-Brasil, 1990.)
Reprodução
Mal se esgueira um pajé entre locomotivas
E o forde assusta os manes lentos do Anhanguera.
[...]
Segue pra forca da Tabatinguera. Lento
O cortejo acompanha a rubra cadeirinha
Pro Ipiranga. Será que em tão pequeno assento
A marquesa botou sua imperial bundinha!...
ANDRADE, Mário de. Tabatinguera. In: Poesias completas. v. 1.
São Paulo: Martins Fontes, 1979.
Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escami- A colombina entrou num butiquim
nha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho. Bebeu, bebeu, saiu assim, assim
Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão
vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um Dizendo: pierrô cacete
naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora
FRENTE 2
153
9. Pesquise os poemas que homenageiam a cidade de São Paulo presentes no livro Pauliceia desvairada, de Mário
de Andrade. Em grupo com seus colegas, selecionem dois poemas para serem reescritos a partir da relação afetiva
que vocês têm com a sua cidade. Façam um painel ou um varal para expor os poemas.
Exercícios propostos
<id>001598_por_f2_c10_q0011</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
“me deixe”, “carneirada”, “mapear”, “farra”, “vagão”, “fu- 3. Unisc-RS 2017 Leia atentamente o trecho de Macu-
tebol”. É antes inteligentíssimo nessa aparente ignorância naíma, de Mário de Andrade.
porque, sofrendo as influências da terra, do clima, das
ligações e contatos com outras raças, das necessidades do No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói
momento e de adaptação, e da pronúncia, do caráter, da de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite.
psicologia racial, modifica aos poucos uma língua que já Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escu-
não lhe serve de expressão porque não expressa ou sofre tando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas
essas influências e a transformará afinal numa outra língua pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de
que se adapta a essas influências. Macunaíma.
(Carta de Mário a Drummond, 18 de fevereiro de 1925, em Lélia Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro
Coelho Frota, Carlos e Mário: correspondência completa entre Carlos
Drummond de Andrade e Mário de Andrade. Rio de Janeiro:
passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a
Bem-Te-Vi, 2002, p. 101.) falar exclamava:
— Ai! que preguiça!...
Apesar de passados quase 100 anos, a carta de Mário
e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca,
de Andrade ecoa no poema de Ma Njanu. Ambos os
trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos ou-
textos manifestam
tros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape
a) a ignorância ratificada do povo em sua luta para
já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento
se expressar.
dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si
b) a necessidade de diversificar a língua segundo
punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra
outros costumes.
ganhar vintém. E também espertava quando a família ia
c) a inteligência do povo e dos poetas livres de in-
tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo
fluências.
do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gri-
d) a ingenuidade em se crer na possibilidade de es-
tos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando
capar às regras.
<id>001598_por_f2_c10_q0012</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
a água-doce por lá. No mucambo si alguma cunhatã se
2. Fuvest-SP 2023 aproximava dele pra fazer festinha. Macunaíma punha a
mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos
I. É indispensável romper com todas as diplomacias guspia na cara. Porém respeitava os velhos e frequentava
nocivas, mandar pro diabo qualquer forma de hipocrisia, com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a
suprimir as políticas literárias e conquistar uma profunda cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.
sinceridade pra com os outros e pra consigo mesmo. A (ANDRADE, Mario de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter.
convicção dessa urgência foi pra mim a melhor conquista Belo Horizonte: Itatiaia, 1987. p. 9)
anteriormente é uma espécie de conjunto de bases 7. Ufam 2022 Maria Augusta Fonseca, professora da
FRENTE 2
estéticas que proclamam o rompimento com as estru- USP, em artigo sobre o Modernismo, diz: “Gilda de
turas do passado. A característica que está presente Mello e Souza, autora de uma análise interpretativa
em Pauliceia desvairada é de Macunaíma, afirma que a obra é sumo da incom-
a) a experiência externa de confusão e desordem pletude de nossa formação. A história vazada numa
que não altera a percepção subjetiva do sujeito. ‘fala impura’, permeada de ambiguidades, misto de
b) a constante definição de uma identidade nacional arcaico e moderno, resume na demanda da pedra má-
aos moldes do padrão artístico europeu. gica a metáfora da busca de uma identidade perdida.
155
esgalgo: magro.
sobriquete: apelido.
157
1. Memórias sentimentais de João Miramar 18. Unifesp 2020 Leia o trecho do poema “Os sapos”, de
2. Macunaíma Manuel Bandeira.
3. Cobra Norato O sapo-tanoeiro Vai por cinquenta anos
4. Juca Mulato [...] Que lhes dei a norma:
5. O ritmo dissoluto Diz: — “Meu cancioneiro Reduzi sem danos
É bem martelado. A formas a forma.
Raul Bopp
Manuel Bandeira Vede como primo Clame a saparia
Oswald de Andrade Em comer os hiatos! Em críticas céticas:
Que arte! E nunca rimo Não há mais poesia
Mário de Andrade
Os termos cognatos. Mas há artes poéticas...”
A sequência correta de preenchimento, de cima para
baixo, é O meu verso é bom
a) 4 – 3 – 1 – 2 d) 3 – 2 – 4 – 1 Frumento sem joio.
b) 5 – 4 – 2 – 1 e) 3 – 5 – 1 – 2 Faço rimas com
c) 1 – 5 – 2 – 4 Consoantes de apoio.
<id>001598_por_f2_c10_q0029</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
(Estrela da vida inteira, 1993.)
17. Enem 2020 Vou-me embora p’ra Pasárgada foi o poe No trecho, o “sapo-tanoeiro” representa uma sátira aos
ma de mais longa gestação em toda a minha obra. Vi
a) modernistas. d) parnasianos.
pela primeira vez esse nome Pasárgada quando tinha
b) românticos. e) árcades.
os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse
c) naturalistas.
nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas” <id>001598_por_f2_c10_q0032</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
ou “tesouro dos persas”, suscitou na minha imaginação 19. Uncisal 2014
uma paisagem fabulosa, um país de delícias, como o de
L’invitation au Voyage, de Baudelaire. Mais de vinte anos Poema só para Jaime Ovalle
depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais (Embora a manhã já estivesse avançada)
aguda sensação de tudo o que eu não tinha feito em mi- Chovia.
nha vida por motivo da doença, saltou-me de súbito do Chovia uma triste chuva de resignação
subconsciente este grito estapafúrdio: “Vou-me embora Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
p’ra Pasárgada!” Senti na redondilha a primeira célula de Então me levantei,
um poema, e tentei realizá-lo, mas fracassei. Alguns anos Bebi o café que eu mesmo preparei,
depois, em idênticas circunstâncias de desalento e tédio, Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei
me ocorreu o mesmo desabafo de evasão da “vida besta”. [pensando...
Desta vez o poema saiu sem esforço como se já estivesse — Humildemente pensando na vida e nas mulheres que
pronto dentro de mim. Gosto desse poema porque vejo [amei
nele, em escorço, toda a minha vida; [...] Não sou arqui- BANDEIRA, Manuel. Bandeira de bolso: uma antologia poética.
Porto Alegre: L&PM, 2009. p. 113.
teto, como meu pai desejava, não fiz nenhuma casa, mas
reconstruí e “não de uma forma imperfeita neste mundo A partir da leitura do poema, pode-se inferir que
de aparências’, uma cidade ilustre, que hoje não é mais a a) é um texto característico do Modernismo, pelo
Pasárgada de Ciro, e sim a “minha” Pasárgada. uso do verso livre e pela incorporação de aspec-
BANDEIRA. M. Itinerário da Pasárgada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; tos do cotidiano na poesia, tais como os eventos
Brasília: INL. 1984.
banais narrados pelo poema em questão.
Os processos de interação comunicativa preveem b) pertence à fase final da poesia de Manuel Bandei-
a presença ativa de múltiplos elementos da comu- ra, quando o poeta, desiludido com as propostas
nicação, entre os quais se destacam as funções da do Modernismo, retorna ao uso das formas poé-
linguagem. Nesse fragmento, a função da linguagem ticas fixas.
predominante é c) é representativo do Modernismo, fato que se
a) emotiva, porque o poeta expõe os sentimentos comprova pela liberdade que toma o poeta ao in-
de angústia que o levaram à criação poética. cluir o nome de um amigo seu no título do poema.
b) referencial, porque o texto informa sobre a ori- d) é um típico poema da geração de 45, da qual Ma-
gem do nome empregado em um famoso poema nuel Bandeira foi o principal representante.
de Bandeira. e) é representativo da poesia simbolista, estética
c) metalinguística, porque o poeta tece comentários que esteve presente em Cinza das Horas, primei-
sobre a gênese e o processo de escrita de um de ro livro de poemas de Manuel Bandeira.
<id>001598_por_f2_c10_q0033</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
seus poemas. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Quero as sardas de Adalgisa 24. UPF-RS 2019 Sobre Libertinagem, de Manuel Bandeira,
Quero quero tanta coisa apenas é incorreto afirmar que
Belo belo a) nos poemas aí reunidos, transparece a decisão
Mas basta de lero-lero do autor de romper com o formalismo parnasiano
Vida noves fora zero. e simbolista, que influenciava sua produção poé-
BANDEIRA, Manuel. In: MORICONI, Ítalo (Org.). Os cem melhores tica anterior.
poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 93-4. b) o temor da morte iminente que assombra o su-
Responda às questões a seguir com base na leitura jeito lírico é uma das temáticas em evidência no
do poema de Manuel Bandeira. livro, ganhando destaque, por exemplo, no poe-
a) O último verso apresenta um sentido metafórico ma intitulado “Pensão familiar”.
para a conta matemática. Explique de que modo c) o poema intitulado “Poética” traz uma síntese das
essa linguagem produz sentido no poema. ideias do autor sobre como deveria ser a poesia,
b) Justifique a presença do verso livre no poema e na e manifesta sua recusa ao lirismo que não seja
estética a que pertence a obra poética de Bandeira. libertação.
<id>001598_por_f2_c10_q0035</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> d) “Poema tirado de uma notícia de jornal”, como su-
22. UPF-RS 2017 Sobre o livro Libertinagem, de Manuel gere o próprio título, apresenta recursos próprios
FRENTE 2
Bandeira, publicado em 1930, apenas é incorreto afir- à poesia lírica, assemelhando-se em alguns as-
mar que: pectos a uma notícia de jornal.
a) Apresenta uma poesia concebida de modo lúcido e) o livro, publicado na primeira metade do século XX,
e calculado, que não abre espaço a manifesta- representa um marco da poesia modernista do
ções do subconsciente. Brasil.
159
Renato Borghi estreia nas lives com adaptação de clássico O Rei da Vela
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Veja os principais assuntos e conceitos trabalhados neste capítulo acessando a seção Resumindo
no livro digital, na Plataforma Poliedro.
Livro Vídeo
– A semana que não terminou, de Marcos Augusto Canal Café Filosófico CPFL. Macunaíma e o enigma do
Gonçalves. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. herói às avessas. YouTube, 8 maio 2016. Disponível em:
Nesse livro, o jornalista Marcos Augusto Gonçalves mes- https://www.youtube.com/watch?v=l_hWIfYna7k . Acesso
cla reportagem e relato histórico com o intuito de retomar em: 5 dez. 2023.
os principais eventos associados à Semana de Arte Nesse vídeo, o crítico José Miguel Wisnik aborda a obra
Moderna, desmistificando alguns dos mitos criados ao Macunaíma, de Mário de Andrade, discutindo o sentido do
longo da História. termo “caráter” adotado para designar o herói às avessas.
Exercícios complementares
<id>002447_por_f2_c10_q0004</id><tipo>objetiva</tipo><assunto> <id>001598_por_f2_c10_q0038</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
1. UFRGS 2022 Assinale a alternativa correta em rela- 2. Enem 2020 Assim, está nascendo dentro da língua portu-
ção à Semana de Arte Moderna, de 1922. guesa, e provavelmente dentro de todas as demais línguas,
a) É considerada o marco inicial do modernismo uma nova linguagem, a linguagem radiofônica. Como a dos
brasileiro, cujas propostas estéticas são imediata- engenheiros, como a dos gatunos, como a dos amantes,
mente incorporadas pelos movimentos locais de como a usada pela mãe com o filho que ainda não fala,
renovação, em outros estados do Brasil. essa linguagem radiofônica tem suas características próprias
b) Coincide com o Centenário da Independência do determinadas por exigências ecológicas e técnicas.
Brasil, materializando o compromisso do moder- ANDRADE, M. apud PINTO, E. P. O português do Brasil.
nismo com o passado, em busca da afirmação São Paulo: Edusp, 1981.
dos heróis colonizadores.
Mário de Andrade, ao se referir ao impacto que o
c) Tem como marco inaugural a obra Macunaíma, de
rádio teria nas pessoas e principalmente sobre a lin-
Mário de Andrade, cujo personagem configura o
caráter nacional brasileiro, resultante da miscige- guagem, possibilita uma reflexão acerca
nação étnica entre negros e brancos. a) das relações sociais específicas da sociedade da
d) Desdobra-se no Manifesto Antropófago, no qual época.
Oswald de Andrade propõe a retomada do ele- b) da relação entre o meio e o contexto social de
mento indígena, reprimido pela civilização, como enunciação.
matriz de pensamento e experimentação estética. c) do nascimento das línguas a partir de exigências
e) É marcada pela recusa da influência das vanguar- sociais específicas.
das europeias, como o Futurismo, o Dadaísmo, o d) das demais línguas do mundo, por possuírem ca-
Cubismo, entre outras, uma vez que os artistas e racterísticas em comum.
intelectuais modernistas estavam engajados na e) da especificidade da linguagem radiofônica, em
criação de uma arte autenticamente nacional. detrimento de outras linguagens.
c) II e III, apenas.
Tapa os ouvidos! <id>001598_por_f2_c10_q0042</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Também não resulta, Excelência. 5. Enem 2016
Então, ignora-os!
Como?! Descobrimento
Finge que não existem! Abancado à escrivaninha em São Paulo
Vai ser difícil, Excelência. Na minha casa da rua Lopes Chaves
Mas não impossível! De sopetão senti um friúme por dentro.
161
9. Enem Cara ao Modernismo, a questão da identidade Explique de que maneira o trecho do romance Memórias
nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade,
de Andrade. Em O trovador, esse aspecto é caracteriza uma escrita de vanguarda modernista.
<id>001598_por_f2_c10_q0050</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
a) abordado subliminarmente, por meio de expres- </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
senrolava-se da casa lenta à escola pela manhã branca e 12. PUC-Campinas 2016 Se a Grande Guerra represen-
de tarde azul. ta ruptura na história das relações culturais entre a
Ia na frente bamboleando maleta pelas portas lam- Europa e a América Latina, bem mais do que rompê-
piões eu menino. -las brutalmente ela as reconfigura e leva a afirmações
163
Manifesto antropófago, de 1928, é a mais eficaz [...]. 14. Imed-RS 2015 Leia a epigrama a seguir:
“Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei Combinação de cores
do antropófago.”
Verdamarelo
COMPAGNON, Olivier. O adeus à Europa: A América Latina e a Grande
Guerra. Argentina e Brasil, 1914-1939. Carlos Nougué (tradutor).
Dá azul?
Rio de Janeiro: Rocco, 2014. p. 303-304. Não.
Dá azar.
A lei do antropófago a que se refere Oswald de An- (Jacó Pum-pum)
drade em seu Manifesto tem como centro a
a) rejeição feroz (“exprobração”) do imperialismo cul- “Combinação de Cores” é um exemplo do tom bem-
-humorado, crítico e sarcástico presente na Revista
tural imposto pelas nações mais desenvolvidas.
de Antropofagia, publicada em São Paulo, em 1928 e
b) assimilação crítica (“deglutição”) dos valores de
1929. Os pseudônimos de seus colaboradores, como
culturas estrangeiras que interessem à nacional.
Jacó Pum-Pum, Piripipi, Pão de ló, Seminarista Voador,
c) aceitação integral (“reprodução”) dos valores tri-
também sinalizam a proposta ousada e irreverente de
bais em que viviam os silvícolas nas terras virgens.
seus idealizadores. Em relação à revista e ao contexto
d) revisão radical (“expiação”) dos valores já radica-
de sua publicação, considere as assertivas a seguir,
dos em nossas regiões economicamente frágeis.
assinalando V, se verdadeiras, ou F, se falsas.
e) acomodação simplória (“ingestão”) das artes pri-
Integrada ao movimento modernista, as fases
mitivas cultuadas em outros países.
<id>001598_por_f2_c10_q0052</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
da revista apresentadas como “dentições” são
13. UFRGS 2015 Leia a seguir o fragmento, retirado do exemplos da irreverência do grupo, o qual in-
romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima tencionava lançar as bases de um movimento
Barreto, e o poema de Oswald de Andrade. revolucionário literário, social, político e religioso.
— Não me conhece mais? Sou o general, o Coronel Com a revista Klaxon, tal periódico foi um dos
Albernaz. principais veículos de divulgação das ideias dos pri-
— Ah! É só coroné!... Há quanto tempo! Como está meiros modernistas de São Paulo.
nhã Maricota? O número de estreia da revista foi inaugurado
— Vai bem. Minha velha, nós queríamos que você pelo “Manifesto antropófago”, escrito por Oswald
nos ensinasse umas cantigas. de Andrade.
— Quem sou eu, ioiô! A ordem correta de preenchimento das lacunas, de
— Ora! Vamos, tia Maria Rita... você não perde cima para baixo, é:
nada... você não sabe o “Bumba-Meu-Boi”? a) V – V – V. d) F – F – V.
— Quá, ioiô, já mi esqueceu. b) V – F – V. e) F – F – F.
— E o “Boi Espácio”? c) F – V – V.
<id>001598_por_f2_c10_q0054</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
— Cousa veia, do tempo do cativeiro — pra que sô </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
coroné qué sabê disso? 15. Insper-SP 2014 O texto a seguir corresponde ao
capítulo 92, chamado “Estelário”, das Memórias sen-
Vício na fala timentais de João Miramar, obra representativa da
Para dizerem milho dizem mio primeira fase da literatura modernista brasileira.
Para dizerem melhor dizem mió
Coração esperançava o esperançoso
Para pior pió Começo claro da noite cidadina
Para dizer telha dizem teia Retalhos grandes de nuvens
Para telhado dizem teiado E duas estrelas vivas
E vão fazendo telhados Trem rolava com minha estrela
Considere as seguintes afirmações sobre os dois textos: Bordando a vida fabricadora
I. Os modernistas foram pioneiros na forma de Do Brás à Luz
representar a linguagem popular, através da va- Rolah estrelava o Hotel Suíço
Oswald de Andrade.
lorização do povo como elemento constitutivo da
nação brasileira. No texto, encontram-se vários traços de inovação es-
II. O narrador no romance e o sujeito lírico no poema tética, entre os quais NÃO ESTÁ
são letrados, mas registram a linguagem popular a) o emprego constante de regionalismos.
ao reproduzirem a fala do povo. b) a influência das vanguardas europeias.
III. O romance de Lima Barreto evidencia a impor- c) a abolição da pontuação convencional.
tância do folclore brasileiro para a constituição da d) a valorização dos neologismos.
cultura nacional. e) o fim das fronteiras entre prosa e poesia.
165
trofe como deveria ser o novo cancioneiro nacional. Poema tirado de uma notícia de jornal
08 no verso “Em comer os hiatos!”, a palavra grifada João Gostoso era carregador de feira livre e morava no
apresenta um hiato. [morro da Babilônia num barracão sem número.
16 embora o sapo-tanoeiro recomende que nunca se ri- Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
mem termos cognatos (versos 15 e 16), o eu-poético Bebeu
desrespeita essa orientação ao rimar “deslumbra” e Cantou
“penumbra” na primeira estrofe do poema. Dançou
32 a obra de Manuel Bandeira evoca o cotidiano das Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu
metrópoles, a fala simples do povo e as mistu- [afogado.
(Libertinagem & Estrela da manhã, 1993.)
ras de variedades linguísticas, ao abordar temas <id>001598_por_f2_c10_q0058</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c10_t0006</assets>
como o amor irrealizável, o jogo erótico, a nostal- 20. Unesp 2019
gia da infância, a ausência e a morte. a) Cite uma característica distintiva da poesia lírica
Soma: que não se encontra nesse poema.
<id>001598_por_f2_c10_q0057</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
b) Cite três elementos que evidenciam o caráter nar-
19. PUC-RS 2014 Leia o poema “Elegia de agosto”, de
rativo desse poema.
Manuel Bandeira. <id>001598_por_f2_c10_q0059</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c10_t0006</assets>
A nação elegeu-o seu Presidente 21. Unesp 2019 Cite duas características, uma de natu-
Certo de que jamais ele a decepcionaria. reza temática e outra de natureza formal, que afastam
De fato, esse poema da tradição parnasiano-simbolista.
<id>001598_por_f2_c10_q0061</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
Durante seis meses, </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
167
Centenário é importante para revisar mito da Estamos célebres! Enfim! Nossos livros serão lidíssi-
Semana de Arte Moderna mos! Insultadíssimos, celebérrimos. Teremos nossos nomes
eternizados nos jornais e na História da Arte Brasileira.
Especialistas dizem que a ideia de marco foi uma cons- PADOVAN, Thiago. Centenário: conheça os artistas e o que queriam os
trução histórica modernistas de 1922. Agência Brasil, 16 fev. 2022. Disponível em: https://
agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-02/centenario-conheca-os-
Apontada como marco zero do modernismo no Brasil, artistas-e-o-que-queriam-os-modernistas-de-22. Acesso em: 5 dez. 2023.
a Semana de Arte Moderna comemora seu centenário este
mês. Celebrada atualmente em exposições, livros, semi- Considere o texto de apoio e construa um parágrafo ar-
nários, eventos e reportagens, a efeméride é também uma gumentativo explicitando por que o valor simbólico da
oportunidade para se rediscutir a importância histórica do frase de Mário de Andrade é uma construção histórica.
evento – realizado no Theatro Municipal de São Paulo, entre EM13LGG203 e EM13LGG303
<id>001598_por_f2_c10_q0066</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, por artistas e inte- </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c10_t0007</assets>
lectuais da elite paulistana que defendiam estar rompendo 2. Releia os dois últimos parágrafos do texto e aponte
com o conservadorismo das artes no Brasil. uma razão para que a estratégia adotada pelo minis-
“Nesse momento, em que a gente está, em 2022, o que tro Gustavo Capanema em assumir “o modernismo
está sendo mais bacana de olhar para a semana de 22 é como uma política cultural estatal” não fosse mantida
justamente questionar o seu mito”, afirma Heloisa Espada, pela história.
curadora do Instituto Moreira Salles.
EM13LP50
[...] <id>001598_por_f2_c10_q0067</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
A ideia de que a semana foi um marco do modernismo 3. Leia o texto a seguir e depois o poema de Mário de
brasileiro, na realidade, foi uma construção histórica, que Andrade para responder à questão.
só veio a surgir décadas depois, defendem historiadores e
especialistas. Para marcar o Dia Internacional da Conscientização sobre
“Acho que o que marca essa comemoração de o Ruído, celebrado dia 26 de abril, o Monumento às Bandeiras,
100 anos é entender como a Semana de Arte Moderna se um dos símbolos da cidade de São Paulo, feito pelo artista
tornou um marco. Isso é uma construção histórica. Mas eles Victor Brecheret, recebeu fones de ouvidos para chamar a
fizeram de tudo para que realmente ela fosse polêmica e atenção da população sobre os perigos da poluição sonora.
POLUIÇÃO sonora: nem as estátuas aguentam mais tanto barulho.
para se alinhar à ideia de vanguarda que estava sendo dis-
Sputnik Brasil, 27 abr. 2017. Disponível em: https://www.proacustica.
cutida e da qual eles tinham notícias que vinham de outros org.br/noticias/clipping/poluicao-sonora-nem-as-estatuas-aguentam-
países, principalmente do Hemisfério Norte”, disse Heloisa. mais-tanto-barulho/. Acesso em: 5 dez. 2023.
[...]
Cedida pela Divulgação ProAcústica -
Associação Brasileira para a Qualidade
Acústica/Fotógrafo: João José Carniel
FRENTE 2
11
CAPÍTULO O Modernismo no Brasil: a poesia
mística e social
A produção estética da segunda fase do Modernismo se situa entre as duas
grandes guerras e em um contexto de revolução e crise política no Brasil. Essa
realidade crítica carecia de postura engajada diante dos problemas vivenciados, o
que levou os autores a se distanciar do tom combativo ao passado e da irreverên-
cia dos poemas-piada da geração heroica. Uma vez que as inovações artísticas e
as experimentações formais propostas pela Semana de 22 alcançaram seu obje-
tivo, os autores da nova fase modernista puderam abraçar as questões sociais de
seu tempo e buscar um tom mais místico e espiritual nas suas criações literárias.
Resolução:
Alternativa: A Nuvem de fumaça gerada pela bomba de plutônio lançada sobre Nagasaki
(Japão), em 9 de agosto de 1945.
Jansson.
A forma fiel ao poema original promove uma equiva-
Nesse período, a censura a produções artísticas era lência estrutural que, no entanto, ganha distanciamento
garantida pelo Departamento de Imprensa e Propaganda quando o leitor atento percebe que o sabiá, símbolo da
(DIP), órgão criado em 1939 que perseguiu artistas consi- natureza exótica romântica, já não é cunhado com letra
derados subversivos. As funções principais do DIP eram inicial maiúscula. Ademais, o pássaro está distante, como
coordenar a propaganda veiculada dentro e fora do país, se a própria terra idealizada não fosse mais uma possibili-
organizar os serviços ligados a turismo e à cultura, além dade nem mesmo no campo poético. Os elementos naturais
171
[...] como se o poeta descobrisse que os temas não im- O poema evidencia um mundo em que a ordem da
portam em si mesmos, destacados da palavra que os traz ao mercadoria tem mais valor que o indivíduo que a entrega.
mundo do poema. E que, portanto, não se trata apenas de Nesse sentido, noite é sinônimo de medo e insegurança.
encontrar a notação adequada, mas de saber se ela se justifica Para romper com esse cenário, a resistência surge na forma
por um outro sentido, que a contém e ocasiona uma expressão de aurora, de um novo dia que rompe com a escuridão.
válida por si. O tema da inquietação transporta-se para o domí- O sangue do leiteiro se enlaça ao leite derramado, compon-
nio estético, e os assuntos mais consagrados (o amor, a polis, do uma imagem tal como a aurora que surge no horizonte.
173
Luis War/Shutterstock.com
Seu papel na educação brasileira foi bastante im-
portante e, apesar de menos conhecida, sua carreira em
diversos cargos relacionados à área educacional é bastante
expressiva. Ao lado de vários intelectuais, a autora assinou,
em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.
O documento defendia a necessidade de mudanças edu-
cacionais no Brasil, propondo ações que seriam positivas
para a sociedade como um todo.
[...] O movimento escolanovista propunha a implantação de
um plano geral de educação organizado pelo Estado e defendia
a existência de uma escola única, pública, laica, obrigatória e
gratuita. Apesar de encontrar apoio em diferentes setores da
sociedade, a proposição do Movimento não ocorreu de forma
FRENTE 2
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177
Album/Easypix Brasil
nário público e de uma dona de casa que morreu quando
Murilo Mendes tinha apenas um ano de vida. Foi criado
pela madrasta, a quem considerava uma segunda mãe.
Aos16 anos, recusava-se a levar os estudos a sério, apesar
dos esforços da família. Alguns anos depois, em 1920, aca-
bou se mudando para o Rio de Janeiro com o irmão.
Seus primeiros textos foram publicados em revistas
modernistas, como a Revista de Antropofagia e Verde. Em
1930, com apoio do pai, publicou sua primeira coletânea
de poemas, pela qual recebeu o Prêmio Graça Aranha.
Casou-se em 1940 com a poeta Maria da Saudade Cortesão
e partiu para a Europa em uma missão cultural que durou
de 1952 a 1956. Em 1957, fixou residência na Itália, onde
assumiu a cadeira de professor de Cultura Brasileira na Uni-
versidade de Roma. Sua residência na cidade acabou se
tornando um ponto de encontro para artistas e intelectuais.
Suas primeiras produções poéticas evidenciam a
influência dos principais temas e procedimentos do Moder-
nismo brasileiro. Sua obra dialoga com a poesia de Mário
de Andrade e Oswald de Andrade e podemos observar
características como o nacionalismo, o folclore, o coloquia-
lismo, o humor, o poema-piada e a paródia.
Após sua conversão ao catolicismo, é possível notar Vinicius de Moraes nasceu no Rio de Janeiro em 1913.
uma vertente religiosa e espiritualista que passa a acom- Poeta, compositor, cronista e crítico de cinema, também
panhar sua obra até o fim, com um tom esperançoso, mas atuou como diplomata. Fazia parte de uma família de inte-
que também revela uma dupla concepção da poesia: como lectuais com formação católica, motivo pelo qual frequentou
salvação e, paradoxalmente, como martírio, à medida que o colégio jesuíta e participou do coro nas missas de domin-
testemunha o sofrimento do mundo. Umas das caracte- go. Na faculdade de Direito também se relacionava com
rísticas mais marcantes de sua obra é a dualidade, como um grupo de amigos católicos, e sua crença marcou seus
podemos observar no poema “Jogo”, por exemplo. primeiros poemas, publicados em O caminho para a dis-
O Surrealismo foi outra influência marcante na obra de tância (1933) e em Forma e exegese (1935).
Mendes. Desse movimento, o poeta utiliza principalmen- Estudou língua e literatura inglesa na Universidade de
te a técnica da montagem, que ele adota para conciliar Oxford, Inglaterra, mas retornou ao Brasil no início da Se-
elementos contraditórios, como o onírico e o mundano, o gunda Guerra Mundial. Passou a colaborar com revistas e
imaginário e o cotidiano. Tal influência se deu pela amizade jornais como crítico de cinema. Serviu como diplomata em
entre o poeta e o pintor surrealista Ismael Nery (1900- diversos países, até que, em 1968, por se opor à ditadura,
-1934), a quem Murilo Mendes e Jorge de Lima dedicaram foi exonerado de seu cargo.
a obra Tempo e eternidade. Vinicius ficou muito conhecido por sua participação
na criação da bossa nova, período em que cultivou uma
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Saiba mais
O escritor, jornalista e tradutor Mario Quintana (1906-
-1994) é considerado um dos maiores poetas brasileiros
do século XX. Sua síntese poética permite categorizar sua
produção estética como modernista. Nascido em Alegrete
no Rio Grande do Sul, Mario contribuiu com periódicos
como O Estado do Rio Grande do Sul, a Revista Globo e o
Correio do Povo e publicou seu primeiro livro, Cataventos,
Estátua de Tom Jobim, um dos mais importantes nomes da bossa nova
e da música brasileira, na praia de Ipanema, Rio de Janeiro.
em 1940, a partir do qual passou a ser agraciado pelo
público leitor seduzido pela musicalidade e beleza de sua
poesia. Essa relação de proximidade levou a produção
A obra de Vinicius de Moraes é, geralmente, dividida poética de Mario Quintana a ser reproduzida em inúmeras
em duas fases: na primeira, observamos fortes tendências antologias escolares. Atualmente, é comum o autor surgir
místicas e transcendentais, além do conflito entre a forma- em questões de vestibulares no país, especialmente por
ção católica e os prazeres mundanos. Já na segunda fase, seus poemas em prosa que apresentam grande densi-
iniciada com a coletânea Novos poemas (1938), o poeta dade, apesar da síntese. A brincadeira com as palavras
faz um movimento de afastamento do transcendentalismo, e os jogos linguísticos são característicos da poesia de
imprimindo um tom mais sensual aos seus poemas. Além seus livros Canções (1946) e Caderno H (1973), além
disso, a preocupação com os problemas sociais também de outras marcas modernistas, como os versos brancos
e livres e a abordagem a temas associados ao tempo, à
ganha espaço.
infância e a cenas cotidianas. O poeta morou por muitos
As mudanças não são apenas temáticas, mas estrutu-
FRENTE 2
179
1. Observe a tela Pogrom, pintada por Lasar Segall em 1937. Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
Acervo do Museu Lasar Segall-Ibram/Ministério do Turismo
Considerando o período que Cecília Meireles se propõe a retratar, justifique por que o ouro é representado de tal
forma no Romanceiro da Inconfidência.
Pesquise o poema “O pastor pianista”, de Murilo Mendes, e leia a crítica de Antonio Candido sobre ele para
responder às questões 5 e 6.
<assets>001598_por_f2_c11_t0002</assets>
Analisar este poema [O pastor pianista] é essencialmente tentar a caracterização da sua linguagem, a partir do problema
das tensões, muito vivo aqui a começar pela ambiguidade do título, que pode significar “pastor que toca piano”, ou “pastor
que apascenta pianos”.
CANDIDO, Antonio. Na sala de aula: caderno de análise literária. 8. ed. São Paulo: Ática, 2009. p. 82.
<id>001598_por_f2_c11_q0007</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0002</assets>
5. Uma das características da obra de Murilo Mendes são os dualismos. Analise essa característica a partir da afirmação
de Antonio Candido.
<id>001598_por_f2_c11_q0008</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0002</assets>
6. A imagem descrita no poema faz referência a uma vanguarda europeia. Qual seria essa vanguarda e qual o seu efeito
de sentido no poema?
<id>001598_por_f2_c11_q0009</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0003</assets>
7. Releia o poema “Essa negra Fulô”, de Jorge de Lima reproduzido anteriormente, e explique a repetição da expressão
que dá título ao poema.
<id>001598_por_f2_c11_q0010</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0003</assets>
8. O verso inicial do poema, “uma negra bonitinha”, se contrapõe à dinâmica apresentada por Jorge de Lima. Explique
a razão dessa ocorrência.
Exercícios propostos
<id>001598_por_f2_c11_q0016</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
2. UFPE A Semana de Arte Moderna deu início a uma revolução nas artes no Brasil, incluindo a literatura. A partir de en-
tão, adotamos os preceitos de vanguarda através de várias correntes que modificaram definitivamente a linguagem
literária no nosso país. Considerando esse contexto histórico, analise os itens abaixo.
0-0 No Modernismo, várias vanguardas se constituíram com ousadias formais e temáticas. Na ficção literária,
essas tendências exerceram influência, por exemplo, por meio da liberdade de expressão, da incorpora-
ção do cotidiano, da linguagem coloquial, da ambiguidade, da paródia, das inovações técnicas, como a
escrita automática e o fluxo da consciência.
1-1 Na primeira fase do modernismo brasileiro, Mário de Andrade foi muito versátil, interessando-se por tudo
que dissesse respeito ao Brasil. Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter, apela para o suporte mitológico
da lenda indígena, transfigurada pelo escritor. No entanto, falha no propósito de identificar o herói com o
povo brasileiro.
2-2 Tendo pertencido à geração de 30, Carlos Drummond de Andrade é considerado nosso poeta maior. De lin-
guagem seca e simples, no início chocou o público leitor com seu poema inusitado e sem sentimentalismo, No
Meio do Caminho, onde o anedótico mascara uma reflexão existencial.
FRENTE 2
3-3 O romance regionalista de 30 foi muito influenciado pelo Manifesto Regionalista de Gilberto Freire, lançado
em 1926, e tinha como principal característica expressar os valores regionais numa linguagem fora dos pa-
drões, no que dava continuidade à vertente aberta por Oswald de Andrade em sua obra romanesca.
4-4 João Guimarães Rosa e Clarice Lispector foram duas grandes figuras da terceira fase do modernismo brasilei-
ro. A primeira fazia, em sua prosa, uma espécie de “recriação linguística”, para expressar sua leitura mística do
sertão. A segunda, por sua vez, introduziu nas letras brasileiras uma prosa de sondagem interior, valendo-se,
para tanto, do fluxo da consciência e de metáforas insólitas.
181
3. UPF-RS 2016 Primeiro grande poeta a se afirmar 01 O poema não traz convergências semânticas em re-
após as estreias modernistas, Carlos Drummond de lação ao número de estrofes e ao seu título. Como
Andrade publica, na década de 1930, os livros Alguma se trata de um texto inspirado no ideário do spleen,
poesia e Brejo das almas, marcados pelo individualis- cultivado na segunda geração romântica, as estro-
mo e pelo humor do poeta gauche. Entretanto, desde fes são escritas em diferentes situações e depois
Sentimento do mundo, publicado no início da década agrupadas em um só poema sem o compromisso
de 1940, nota-se a emergência de um(a) __________ de vinculação dos significados de cada estrofe.
na produção do poeta mineiro, e o livro A rosa do 02 A exploração dos diferentes sentidos das pala-
povo, de 1945, assinala, justamente, o momento cul- vras na expressão poética pode ocorrer por meio
minante e derradeiro da __________ de Drummond, do uso de figuras de linguagem. No poema apa-
composta sob os anos trágicos e sombrios da Segun- rece a prosopopeia no verso “As casas espiam os
da Guerra Mundial. homens”. No verso “O bonde passa cheio de per-
nas”, encontra-se metonímia.
Assinale a alternativa cujas informações preenchem
04 Na última estrofe, o eu lírico, comovido com sua
corretamente as lacunas do enunciado.
perda amorosa, preocupa-se com o abuso da be-
a) sentimento ufanista / poesia nacionalista.
bida alcoólica e aconselha o leitor a evitar o seu
b) senso participante / poesia política.
consumo, mesmo correndo o risco de contrariá-
c) pendor filosofante / poesia metafísica.
-lo: “Eu não devia te dizer”.
d) sentimento nostálgico / poesia memorialística.
08 O título do poema, bem como o número de estro-
e) concepção formalista / poesia experimental.
fes, por refletirem o sincretismo religioso brasileiro,
Leia o poema a seguir para responder às questões estão relacionados aos sete pecados capitais: so-
4 e 5. berba, inveja, luxúria, preguiça, ira, avareza e gula.
<assets>002447_por_f2_c11_t0001</assets>
16 A segunda e a terceira estrofes representam dois
Poema de sete faces espaços diferentes: os dois primeiros versos da
segunda estrofe focalizam casas que espiam ho-
Quando nasci, um anjo torto
mens; a terceira estrofe focaliza o bonde, dentro
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. do qual se constata variedade racial.
As casas espiam os homens Soma:
<id>002447_por_f2_c11_q0002</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
que correm atrás de mulheres. </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f2_c11_t0001</assets>
A tarde talvez fosse azul, 5. UFJF-MG 2022 Sobre a expressão “desses que”, pre-
não houvesse tantos desejos. sente na segunda linha, é CORRETO afirmar que:
a) Sugere que o “anjo torto” é um ser único e incom-
O bonde passa cheio de pernas: parável.
pernas brancas pretas amarelas. b) Indica que o anjo é uma versão espiritual da vida
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. humana.
Porém meus olhos c) Indica que o “anjo torto” se assemelha a outros
não perguntam nada. anjos que “vivem na sombra”.
O homem atrás do bigode d) Sugere que o “anjo torto” deseja endireitar a vida
é sério, simples e forte. de “Carlos”.
Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos e) Indica que o anjo é um ser especial na vida de
o homem atrás dos óculos e do bigode. “Carlos”.
<id>002447_por_f2_c11_q0003</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
tos, leves, suaves e imagéticos. 8. FMP-RJ 2018 No poema, depois de refletir sobre o
e) concilia o profano e o sagrado ao produzir uma tempo presente, o eu lírico constata que é preciso
poesia mística, mas, ao mesmo tempo, erótica, a) suportar com resignação as dificuldades da vida,
tendo a mulher como uma de suas principais fon- sem enganar a si mesmo.
tes de inspiração. b) procurar conviver com os amigos, porque eles
<id>001598_por_f2_c11_q0020</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> são importantes na nossa vida.
7. EsPCEx-SP 2019 Leia as afirmações abaixo sobre c) enfrentar com coragem o isolamento, já que ele
Carlos Drummond de Andrade: impede a realização pessoal.
I. Preferiu não participar da Semana de Arte Moder- d) esperar com paciência a velhice para usufruir as
na, mas enviou seu famoso poema “Os Sapos”, experiências acumuladas.
que, lido por Ronald de Carvalho, tumultuou o Tea e) lutar contra as dificuldades do dia a dia para po-
tro Municipal. der viver com tranquilidade.
<id>001598_por_f2_c11_q0024</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
II. Sua fase “gauche” caracterizou-se pelo pessimis- </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0005</assets>
mo, pelo individualismo, pelo isolamento e pela 9. FMP-RJ 2018 Entre as características da obra de
reflexão existencial. A obra mais importante foi o Carlos Drummond de Andrade, a que está presente
“Poema de Sete Faces”. nesse poema é a
III. Na fase social, o eu lírico manifesta interesse pelo a) valorização do cotidiano e das raízes culturais
seu tempo e pelos problemas cotidianos, buscan- brasileiras.
do a solidariedade diante das frustrações e das b) nostalgia da vida provinciana relacionada à terra natal.
esperanças humanas. c) denúncia constante da monotonia observada no
IV. A última fase foi marcada pela poesia intimista, de dia a dia.
orientação simbolista, prezando o espiritualismo e d) esperança na sobrevivência do sentimento amoroso.
orientalismo e a musicalidade, traços que podem e) manifestação de cansaço diante dos problemas
ser notados no poema “O motivo da Rosa”. da vida.
<id>001598_por_f2_c11_q0026</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Estão corretas as afirmações: 10. IFPE 2017
a) I, II e III
b) II, III e IV Texto 1
c) II e III Certas palavras
d) II e IV Certas palavras não podem ser ditas
e) III e IV em qualquer lugar e hora qualquer.
Texto para as questões 8 e 9. Estritamente reservadas
<assets>001598_por_f2_c11_t0005</assets> para companheiros de confiança,
Os ombros suportam o mundo devem ser sacralmente pronunciadas
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. em tom muito especial
Tempo de absoluta depuração. lá onde a polícia dos adultos
Tempo em que não se diz mais: meu amor. não adivinha nem alcança.
Porque o amor resultou inútil. Entretanto são palavras simples:
E os olhos não choram. definem
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
FRENTE 2
183
samente proporcional ao tamanho do elefante, 15. IME-RJ 2019 Considere os versos 19 a 23 do texto,
sendo, ao mesmo tempo, um poema direcionado transcritos abaixo:
às crianças. E há por fim os olhos,
b) estabelece uma relação criador/criatura e, meta- onde se deposita
foricamente, é possível falar de um paralelo entre a parte do elefante
arte/artista: o conteúdo produzido pelo artista é mais fluida e permanente,
causa e consequência, ao mesmo tempo, do tra- alheia a toda fraude.
balho do poeta com as palavras. Abaixo, você encontrará alguns ditados populares
c) desconecta o elefante (criação) de seu criador, re- elencados. Qual destes ditados mais se aproxima da
tirando deste toda a sua capacidade criativa. ideia veiculada no verso 23, “alheia a toda fraude”?
d) mostra a criatura, o elefante, como algo definido e a) “Fazer o bem sem olhar a quem.”
único: criá-lo é tão trabalhoso que não há possibi- b) “O pior cego é aquele que não quer ver.”
lidade de criar outros elefantes. c) “Perto dos olhos, longe do coração.”
e) revela, metaforicamente, um descuido com o fazer d) “Em terra de cego, quem tem um olho é rei.”
poético ao descrever a deselegância do elefante e) “Os olhos são a janela da alma.”
mal construído, que segue pelas ruas de modo <id>001598_por_f2_c11_q0035</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
<id>001598_por_f2_c11_q0032</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0006</assets>
185
se seu aspecto, o poema “Remissão” 19. UEM-PR 2023 Sobre o poema a seguir, de Carlos
a) traduz a melancolia e o recolhimento do eu lírico Drummond de Andrade, e sobre sua poesia, de modo
em face da sensação de incomunicabilidade com geral, assinale o que for correto.
uma realidade indiferente à sua poesia.
b) revela uma perspectiva inconformada, mesclando- Consolo na praia
-a, livre da indulgência dos anos anteriores, a um Vamos, não chores...
novo formalismo estético. A infância está perdida.
A mocidade está perdida. 20. Fuvest-SP 2023 Leia os versos e responda à questão:
Mas a vida não se perdeu.
Ambição gera injustiça.
O primeiro amor passou. Injustiça, covardia.
O segundo amor passou. Dos heróis martirizados
O terceiro amor passou. nunca se esquece a agonia.
Mas o coração continua. Por horror ao sofrimento,
Perdeste o melhor amigo. ao valor se renuncia.
Não tentaste qualquer viagem. E, à sombra de exemplos graves,
Não possuis casa, navio, terra. nascem gerações opressas.
Mas tens um cão. Quem se mata em sonho, esforço,
Algumas palavras duras, mistérios, vigílias, pressas?
em voz mansa, te golpearam. Quem confia nos amigos?
Nunca, nunca cicatrizam. Mas, e o humour? Quem acredita em promessas?
encontrar algum consolo. 21. Uece 2021 Os versos acima são de autoria da escrito-
FRENTE 2
16 Na última estrofe, o eu lírico demonstra individua ra carioca Cecília Meireles (1901-1964). O poema traça
lismo, orgulho e alienação ao indicar soluções uma espécie de autorretrato, enfocando principal-
que possibilitem a fuga dos problemas existen- mente a questão da
ciais. O recurso mais utilizado para alcançar esse a) transitoriedade da vida.
objetivo é a utilização da metapoesia, sugerida b) alegria de viver.
pela expressão “Tudo somado”. c) partilha de pequenos momentos.
Soma: d) felicidade de envelhecer.
187
22. EPCAr-MG 2017 (Adapt.) Sobre os versos do poema 25. UFRGS 2019 Leia trechos dos poemas “Fanatismo”,
“Retrato”, é correto afirmar que de Florbela Espanca, e “Imagem”, de Cecília Meireles.
a) o poema traz referência à perda de todos os sen-
Fanatismo
tidos humanos, ocasionada pelo envelhecimento.
b) a visão do eu lírico oscila entre o pessimismo e o [...]
otimismo ante a efemeridade do tempo. “Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
c) o tom melancólico se desfaz no décimo verso, Quando me dizem isto, toda a graça
quando o eu lírico constata a inevitabilidade da Duma boca divina fala em mim!
transformação física. E, olhos postos em ti, digo de rastros:
d) o eu lírico sente-se perplexo diante da consciên- “Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
cia tardia das mudanças trazidas pela passagem Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...”
do tempo.
<id>001598_por_f2_c11_q0015</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> Imagem
23. ITA-SP Cecília Meireles, poeta da segunda fase do Tão brando é o movimento
Modernismo Brasileiro, faz parte da chamada “Poesia das estrelas, da lua,
de 30”. Sobre esta autora e seu estilo, é CORRETO das nuvens e do vento,
afirmar que ela que se desenha a tua
a) seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro, pro- face no firmamento.
duzindo uma poesia de consciência histórica.
b) não seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro, Desenha-se tão pura
produzindo uma obra de traços parnasianos. como nunca a tiveste,
c) seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro, pro- nem nenhuma criatura.
Pois é sombra celeste
duzindo uma poesia panfletária e musical.
da terrena aventura.
d) não seguiu rigidamente nenhuma corrente do Mo-
[...]
dernismo Brasileiro, produzindo uma poesia lírica,
mística e musical. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes
<id>001598_por_f2_c11_q0038</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> afirmações sobre os poemas.
24. ITA-SP 2019 Leia o poema de autoria de Cecília Meireles. Ambos os sujeitos líricos comparam o ser amado
à perfeição divina.
“Epigrama n. 04”
Ambos os sujeitos líricos veem o amor de modo
O choro vem perto dos olhos idealizado.
para que a dor transborde e caia. Ambos os sujeitos líricos falam diretamente ao
O choro vem quase chorando ser amado.
como a onda que toca a praia. Ambos os poemas citam diretamente a voz da
Descem dos céus ordens augustas opinião pública.
e o mar chama a onda para o centro. A sequência correta de preenchimento, de cima para
O choro foge sem vestígios, baixo, é
mas levando náufragos dentro. a) V – V – V – F. d) F – V – F – V.
(MEIRELES, Cecília, Viagem/Vaga música. Rio de Janeiro: b) V – V – F – V. e) V – F – V – F.
Nova Fronteira, 1982. p.43) c) F – F – V – V.
O texto <id>001598_por_f2_c11_q0040</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
189
36. ESPM-SP 2013 Assinale a afirmação incorreta sobre E assim, quando mais tarde me procure
o poema. O “eu” poético: Quem sabe a morte, angústia de quem vive
a) estabelece um denominador comum (tristeza) en- Quem sabe a solidão, fim de quem ama
tre o funcionário de banco, o prático da farmácia
Eu possa me dizer do amor (que tive):
e o homem de costeletas.
Que não seja imortal, posto que é chama
b) opõe o mundo interior com desejo de afetividade Mas que seja infinito enquanto dure.
(“carinhos de mulher”) ao mundo exterior com ro-
tina do trabalho (“tectec das máquinas”). Texto II – Soneto do maior amor
c) alude ao trabalho burocrático e repetitivo, refor- Maior amor nem mais estranho existe
çado pela onomatopeia “tectec”. Que o meu, que não sossega a coisa amada
d) associa o espaço externo a aspectos prazerosos E quando a sente alegre, fica triste
da vida e o espaço interno ao aspecto fútil de sua E se a vê triste, dá risada.
atividade.
E que só fica em paz se lhe resiste
e) atribui a existência do Banco, instituição capitalis-
O amado coração, e que se agrada
ta, à criatividade do Diretor do Banco. Mais da eterna aventura em que persiste
<id>001598_por_f2_c11_q0055</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0009</assets>
37. ESPM-SP 2013 Ainda sobre o poema de Murilo Men- Que de uma vida mal-aventurada.
des, assinale a incorreta. O “eu” poético: Louco amor meu, que quando toca, fere
a) questiona o acúmulo de dinheiro na sociedade E quando fere vibra, mas prefere
capitalista: objeto que existe como um meio, não Ferir a fenecer – e vive a esmo
um fim.
b) lastima o fato de os fregueses do Banco estarem Fiel à sua lei de cada instante
preocupados em multiplicar a fortuna, não usufruir Desassombrado, doido, delirante
a vida. Numa paixão de tudo e de si mesmo.
Fonte: Vinícius de Moraes/ seleção de textos, notas, estudo biográfico,
c) considera os contos chocando e o alinhamento histórico e crítico e exercícios por Carlos Filipe Moisés. S. Paulo:
da fortuna alheia os responsáveis pela sua dúvida Abril Educação, 1980. - Literatura Comentada. Página 34.
<id>001598_por_f2_c11_q0018</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
existencial. </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0004</assets>
d) põe sua roda da imaginação para funcionar quan- 38. Unifenas-MG 2019
do se refere aos carinhos de mulher, à chuva e às I. Ambos os textos apresentam uma estrutura for-
meninas. mal, além da clareza e da concisão da linguagem
e) deixa subentendida uma oposição entre o ter ca- que, assim, recuperam características clássicas.
pitalista e o querer poético. II. Ambos os textos filiam-se à tradição maneirista de
Camões, sobretudo pelo emprego expressivo de
Para as questões 38 e 39, utilize os textos a seguir. oposições.
<assets>001598_por_f2_c11_t0004</assets>
III. Usando rima e métrica tradicional, o autor destes
O autor: Marcus Vinícius de Melo Moraes (1913- sonetos vai ao encontro de um propósito dos mo-
-1980) formou-se em Direito e ingressou, em 1946, na dernistas brasileiros do primeiro momento, que
carreira diplomática. Como poeta, atingiu seu ponto mais têm com meta a valorização de autores clássicos.
alto por meio de um lirismo amoroso de tom erótico em a) I, II e III – corretos.
que a mulher torna-se o tema principal. Glorificando o b) I e II – corretos; III – incorreto.
amor físico, sem qualquer traço de moralismo, Vinícius de c) I – correto; II – incorreto; III – correto.
Moraes, exibe sempre, através de seus versos, forte paixão d) I – incorreto; II – correto; III – incorreto.
FRENTE 2
e amor pela vida – panteísmo erótico. Além de poeta, foi e) I e II – incorretos; III – correto.
cronista e autor de textos teatrais. Grande parte de sua <id>001598_por_f2_c11_q0019</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0004</assets>
191
Texto complementar
Veja os principais assuntos e conceitos trabalhados neste capítulo acessando a seção Resumindo
no livro digital, na Plataforma Poliedro.
Exercícios complementares
Para responder às questões de 1 a 3, leia o poema “O sobrevivente”, extraído do livro Alguma poesia (1930), de Carlos
FRENTE 2
Drummond de Andrade.
<assets>001598_por_f2_c11_t0010</assets>
O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
193
velmente complicadas para as necessidades mais 5. UFRGS 2017 Leia o poema José, de Carlos Drummond
simples.” (2a estrofe). de Andrade.
b) Identifique o pressuposto contido no trecho “E se
E agora, José? cuspir já não pode,
os olhos reaprendessem a chorar” (4a estrofe),
A festa acabou, a noite esfriou,
relacionando-o com o tema geral do poema.
<id>001598_por_f2_c11_q0071</id><tipo>objetiva</tipo><assunto> a luz apagou, o dia não veio,
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
4. UPF-RS 2021 Leia “Poema que aconteceu” e “Cora- o povo sumiu, o bonde não veio,
ção numeroso”, poemas que integram a obra Alguma a noite esfriou, o riso não veio,
poesia, de Carlos Drummond de Andrade. e agora, José? não veio a utopia
e agora, você? e tudo acabou
Poema que aconteceu Você que é sem nome, e tudo fugiu
Nenhum desejo neste domingo que zomba dos outros, e tudo mofou,
nenhum problema nesta vida Você que faz versos, e agora, José?
o mundo parou de repente que ama, protesta?
os homens ficaram calados e agora, José? [...]
domingo sem fim nem começo.
Está sem mulher, Se você gritasse,
A mão que escreve este poema está sem discurso, se você gemesse,
não sabe que está escrevendo está sem carinho, se você tocasse,
mas é possível que se soubesse já não pode beber, a valsa vienense,
nem ligasse. já não pode fumar, se você dormisse,
195
A máquina do mundo
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
197
Tive ouro, tive gado, tive fazendas. 15. UEM-PR 2015 Assinale o que for correto sobre o poema
Hoje sou funcionário público abaixo e sobre seu autor, Carlos Drummond de Andrade.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
No meio do caminho
ANDRADE, Carlos Drummond de. Confidência do Itabirano. In: No meio do caminho tinha uma pedra
MORICONI, Italo (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. tinha uma pedra no meio do caminho
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 97-98.
tinha uma pedra
II. no meio do caminho tinha uma pedra.
Meu caminho pelo mundo
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Eu mesmo traço
A Bahia já me deu na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Régua e compasso Nunca me esquecerei que no meio do caminho
5 Quem sabe de mim sou eu tinha uma pedra
Aquele abraço! tinha uma pedra no meio do caminho
Pra você que me esqueceu no meio do caminho tinha uma pedra.
Ruuummm! (ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012. p.237)
Aquele abraço!
10 Alô Rio de Janeiro 01 O poema marca um momento de mudança ra-
Aquele abraço! dical na obra de Drummond (representando sua
Todo o povo brasileiro adesão ao grupo de Poesia Pau-Brasil, de Murilo
Aquele abraço!
Mendes) após suas obras iniciais parnasianas.
GIL, Gilberto. Aquele abraço. Disponível em: http://letras.terra.com.br/
gilberto-gil/16138/7. Acesso em: 23 ago. 2011. Fragmento. 02 Embora tenha sido amplamente aceito por al-
guns grupos modernistas, “No meio do caminho”
Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade e o
encontrou resistência por parte de Oswald de
fragmento da canção “Aquele abraço”, de Gilberto Gil,
Andrade, que o considerou uma reflexão alienante
e teça um comentário sobre a presença da terra natal
de cunho antinacionalista.
na configuração da vida de cada sujeito lírico.
<id>001598_por_f2_c11_q0082</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
04 Drummond, em suas obras iniciais, ganhou a
14. Fuvest-SP 2021 Leia o poema e o excerto da crônica alcunha de “imaginação de pedra”, devido à
para responder à questão. insistente reprodução de paisagens típicas de
Minas Gerais em seus poemas, como se nota no
IV. Hotel Toffolo
elemento recorrente do texto reproduzido.
E vieram dizer-nos que não havia jantar. 08 Ainda que o poema “No meio do caminho” traga
Como se não houvesse outras fomes marcas das novas propostas poéticas da primeira
e outros alimentos. geração modernista, Drummond, cronológica e
Como se a cidade não nos servisse o seu pão esteticamente, faz parte da segunda geração do
5 de nuvens. modernismo brasileiro.
199
retratado, como o carpe diem presente no verso 21. ITA-SP 2014 É CORRETO afirmar que o texto
“feneciam rosas”. a) contém uma expressão exagerada de dor e tristeza,
3. A contraposição entre dormir e sonhar, na terceira decorrente do fim de um envolvimento amoroso.
estrofe, é desenvolvida no diálogo entre a pasto- b) fala sobre o rompimento de duas pessoas, que,
ra e o sono, transcrito entre aspas. por já ser previsto, não causou dor no sujeito lírico.
4. O diálogo final atenua gradativamente a aflição c) registra o término de um envolvimento afetivo
inicial ao apresentar um conjunto de interroga- superficial, pois os amantes não se entregaram
ções estruturadas em linguagem figurada. totalmente.
Assinale a alternativa correta. d) contém ambiguidade, pois, apesar de o sujeito lírico
a) Somente a afirmativa 2 é verdadeira. dizer que não chorou, o poema exprime tristeza.
b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. e) garante que a forma mais aconselhável de lidar
c) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. com as desilusões é estarmos de antemão prepa-
d) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. rados para ela.
<id>001598_por_f2_c11_q0087</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0012</assets>
<id>001598_por_f2_c11_q0085</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> 22. Unifesp Leia os versos de Cecília Meireles, extraídos
20. Enem 2015 do poema Epigrama no 8.
Cântico VI O eu lírico reconhece que a pessoa em quem depôs
Tu tens um medo de
sua vida representava
Acabar. a) uma relação incerta, por isso os desenganos vivi-
Não vês que acabas todo o dia. dos seriam inevitáveis.
Que morres no amor. b) um sentimento intenso, por isso tinha certeza de
Na tristeza. que não sofreria.
Na dúvida. c) um caso de amor passageiro, por isso se sentia
No desejo. enganado.
Que te renovas todo dia. d) uma angústia inevitável, por isso seria melhor
No amor. aquele amor.
Na tristeza. e) uma opção equivocada, por isso sempre teve
Na dúvida. medo de amar.
No desejo. <id>001598_por_f2_c11_q0057</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Que és sempre outro. 23. Unicamp-SP 2018 Na “Nota preliminar” escrita para a
Que és sempre o mesmo. primeira edição do livro Poemas negros, de Jorge de
FRENTE 2
Que morrerás por idades imensas Lima, o antropólogo Gilberto Freyre afirma que, gra-
Até não teres medo de morrer. ças à “interpretação de culturas, entre nós tão livre”,
E então serás eterno. e graças ao “cruzamento de raças”, “o Brasil vai-se
MEIRELES, C. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 1963 adoçando numa das comunidades mais genuinamen-
(fragmento).
te democráticas e cristãs do nosso tempo”. Com base
A poesia de Cecília Meireles revela concepções sobre no poema “Democracia”, responda às questões que
o homem em seu aspecto existencial. Em Cântico VI, se seguem.
201
vendo espíritos, abusões, mães-d’água, 25. Unicamp-SP 2018 Leia a seguir duas passagens do
conversando com os malucos, conversando sozinho, poema “Olá! Negro”, de Jorge de Lima.
emprenhando tudo que encontrava, “A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!
abraçando as cobras pelos matos, E és tu que a alegras ainda com os teus jazzes.
me misturando, me sumindo, me acabando, Com os teus songs, com os teus lundus!”
para salvar a minha alma benzida [...]
“Não basta iluminares hoje as noites dos brancos com
e meu corpo pintado de urucu,
[teus jazzes.
tatuado de cruzes, de corações, de mãos-ligadas,
Olá, Negro! O dia está nascendo!
de nomes de amor em todas as línguas de branco, de O dia está nascendo ou será a tua gargalhada que vem vindo?”
[mouro ou de pagão. (Jorge de Lima. Poesias completas. v. I, Rio de Janeiro / Brasília:
(Jorge de Lima, Poesias completas. v. I. Rio de Janeiro/Brasília: J. Aguilar / INL, 1974, p. 180-1.)
J. Aguilar/INL, 1974, p.160,164-165.)
Considerando o livro Poemas negros como um todo
a) A ideia de “adoçamento” social está presente tanto e a poética de Jorge de Lima, é correto afirmar que o
no poema de Jorge de Lima quanto no texto de último verso citado
Gilberto Freyre. Aponte dois episódios da formação a) manifesta o desprezo do negro pela situação de-
do poeta, referidos no poema, que exemplificam cadente da cultura do branco.
essa interpretação. Justifique sua escolha. b) realiza a aproximação entre a alegria do negro e
b) Considerando elementos da composição do poe- uma ideia de futuro.
ma, explique de que maneira a ideia de “democra- c) remete à vingança do negro contra a violência a
cia”, presente no título, manifesta-se no texto. que foi submetido pelo branco.
<id>001598_por_f2_c11_q0064</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
d) funciona como um lamento, já que o nascer do dia
24. PUC-GO 2015
não traz justiça social.
<id>001598_por_f2_c11_q0089</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
As vozes do homem </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
203
A obra de Murilo Mendes situa-se na fase inicial do Modernismo, cujas propostas estéticas transparecem, no poema,
por um eu lírico que
a) configura um ideal de nacionalidade pela integração regional.
b) remonta ao colonialismo assente sob um viés iconoclasta.
c) repercute as manifestações do sincretismo religioso.
d) descreve a gênese da formação do povo brasileiro.
e) promove inovações no repertório linguístico.
O pastor pianista
Soltaram os pianos na planície deserta Que reclamando a contemplação,
Onde as sombras dos pássaros vêm beber. Sonha e provoca a harmonia,
Eu sou o pastor pianista, Trabalha mesmo à força,
Vejo ao longe com alegria meus pianos E pelo vento nas folhagens,
Recortarem os vultos monumentais Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Contra a lua. Pelo amor e seus contrastes,
Comunica-se com os deuses.
Acompanhado pelas rosas migradoras
Apascento1 os pianos: gritam
E transmitem o antigo clamor do homem
(As metamorfoses, 2015.)
1
apascentar: vigiar no pasto; pastorear.
<id>001598_por_f2_c11_q0062</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0013</assets>
32. Unesp 2019 Entre 11 de fevereiro e 03 de junho de 2018, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) abrigou
a primeira exposição nos Estados Unidos dedicada à pintora brasileira Tarsila do Amaral. Leia a apresentação de uma
das pinturas expostas para responder à questão.
The painting Sleep (1928) is a dreamlike representation of tropical landscape, with this major motif of her repetitive figure
that disappears in the background.
This painting is an example of Tarsila’s venture into surrealism. Elements such as repetition, random association, and
dreamlike figures are typical of surrealism that we can see as main elements of this composition. She was never a truly
surrealist painter, but she was totally aware of surrealism’s legacy.
(www.moma.org. Adaptado.)
A apresentação sublinha a influência de uma determinada vanguarda europeia sobre a pintura de Tarsila do Amaral.
A influência dessa vanguarda europeia também se encontra nos seguintes versos do poeta modernista Murilo Mendes:
a) No fim de um ano seu Naum progrediu,
já sabe que tem Rui Barbosa, Mangue, Lampião.
Joga no bicho todo dia, está ajuntando pro carnaval,
depois do almoço anda às turras com a mulher.
As filhas dele instalaram-se na vida nacional.
Sabem dançar o maxixe
conversam com os sargentos em bom brasileiro.
(“Família russa no Brasil”)
205
É preciso inventar de novo o amor 37. Uefs-BA 2016 Adiante, segue um fragmento do poema
MORAES, V.; TOQUINHO. Bossa Nova, sua história, sua gente. “O operário em construção”, de Vinicius de Moraes.
São Paulo: Universal; Philips,1975 (fragmento).
Era ele que erguia casas
O trecho da canção de Toquinho e Vinicius de Moraes Onde antes só havia chão.
apresenta marcas do gênero textual carta, possibili- Como um pássaro sem asas
tando que o eu poético e o interlocutor Ele subia com as casas
a) compartilhem uma visão realista sobre o amor em 5 Que lhe brotavam da mão.
sintonia com o meio urbano. Mas tudo desconhecia
b) troquem notícias em tom nostálgico sobre as mu- De sua grande missão:
danças ocorridas na cidade. Não sabia, por exemplo,
Que a casa de um homem é um templo
c) façam confidências, uma vez que não se encon-
10 Um templo sem religião
tram mais no Rio de Janeiro.
Como tampouco sabia
d) tratem pragmaticamente sobre os destinos do
Que a casa que ele fazia
amor e da vida citadina. Sendo a sua liberdade
e) aceitem as transformações ocorridas em pontos Era a sua escravidão.
turísticos específicos. 15 De fato como podia
<id>001598_por_f2_c11_q0092</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Um operário em construção
36. IFSP 2017 Leia os textos I e II para responder à questão.
Compreender por que um tijolo
Texto I Valia mais do que um pão?
Um fenômeno natural vai iluminar ainda mais o céu Tijolos ele empilhava
e deixar os apreciadores da Lua encantados. É que, na 20 Com pá, cimento e esquadria
véspera do dia 14 de novembro, será possível observar a Quanto ao pão, ele o comia
maior Superlua já vista em 70 anos – quando a Lua Cheia Mas fosse comer tijolo!
coincide com o ponto mais próximo da Terra. Para se ter E assim o operário ia
uma ideia, o satélite não chegava tão perto de nós desde Com suor e com cimento
1948, e não voltará a fazê-lo até 2034. 25 Erguendo uma casa aqui
Guia da Semana São Paulo – 9 nov. de 2016. Adaptado. Adiante um apartamento
Texto II Além uma igreja, à frente
São demais os perigos desta vida Um quartel e uma prisão:
Para quem tem paixão, principalmente Prisão de que sofreria
Quando uma lua surge de repente 30 Não fosse eventualmente
E se deixa no céu, como esquecida. Um operário em construção.
E se ao luar que atua desvairado Mas ele desconhecia
Vem se unir uma música qualquer Esse fato extraordinário:
Aí então é preciso ter cuidado Que o operário faz a coisa
Porque deve andar perto uma mulher. 35 E a coisa faz o operário.
Deve andar perto uma mulher que é feita De forma que, certo dia,
De música, luar e sentimento À mesa, ao cortar o pão,
E que a vida não quer, de tão perfeita. O operário foi tomado
Uma mulher que é como a própria Lua: De uma súbita emoção
Tão linda que só espalha sofrimento 40 Ao constatar assombrado
Tão cheia de pudor que vive nua. Que tudo naquela mesa
Vinicius de Moraes – Garrafa, prato, facão,
Os Textos I e II apresentam o mesmo tema em comum, Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário, Um operário em construção.
porém com intencionalidades distintas, portanto pode-
45 [...]
-se inferir que
MORAES, Vinicius. O operário em construção. Rio de Janeiro, 1959.
I. O Texto I apresenta informações técnicas e al- Disponível em: www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesiaavulsas/
guns dados concretos e científicos. o-operario-em-construcao. Acesso em: 18 jan. 2016. Adaptado.
Ao exaltar a canção “O leve batel”, Vinicius de Moraes MORAES, V. Amigo Di Cavalcanti. Disponível em:
www.viniciusdemoraes.com.br. Acesso em: 23 set. 2013.
emprega adjetivos que exemplificam um tipo de recur-
so expressivo de natureza sonora que ocorre, de modo Levando em consideração questões relativas ao tex-
mais expressivo, nestes versos também de sua autoria: to, analise as afirmativas que seguem.
a) De repente do riso fez-se o pranto / Silencioso e I. O poema transcrito, tendo em vista as caracte-
branco como a bruma. rísticas apresentadas, como a sobriedade na
b) De nada vale ao homem a pura compreensão de linguagem, comparando-se com a ousadia da
todas as coisas. fase anterior, é um exemplar da poesia produzida
c) A minha pátria não é florão, nem ostenta / Lábaro no Segundo Momento Modernista. Neste, entre
não; a minha pátria é desolação. outros objetivos, buscou-se entender a relação
d) Na melancolia de teus olhos / Eu sinto a noite se homem 3 universo.
FRENTE 2
207
BNCC em foco
EM13LP38
<id>001598_por_f2_c11_q0101</id><tipo>discursiva</tipo><assunto></assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Escreva um pequeno texto, em que você possa refletir sobre a responsabilidade dos escritores da literatura de 1930
e dos meios de comunicação do século XXI mediante o tema da democracia. Procure discutir a problemática da
liberdade de expressão.
EM13LP04
<id>001598_por_f2_c11_q0102</id><tipo>discursiva</tipo><assunto></assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Tira de Custódio
Leia o “Poema de sete faces”, de Carlos Drummond de Andrade, e explique a diferença entre o anjo do poema e o
da tirinha.
EM13LP03
<id>001598_por_f2_c11_q0103</id><tipo>objetiva</tipo><assunto></assunto><bncc></bncc><enem></enem>
3. Considere a obra de Pedro Américo (1893), denominada Tiradentes esquartejado, e compare-a com a proposta da
obra Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. Indique a alternativa correta.
Museu Mariano Procópio, Juiz de Fora
a) Tanto a obra plástica quanto o livro revelam a verdade sobre o contexto da mineração do ouro, enaltecendo seus
mártires reais.
b) A obra de Pedro Américo visa à construção da imagem de um mártir da pátria, padrão adotado por Cecília
Meireles a partir da visão unilateral da sua narrativa.
FRENTE 2
c) Ambas as obras evidenciam o pano de fundo do século XVIII, momento marcado pela religiosidade e retomado
de maneira gloriosa por seus autores católicos.
d) A Proclamação da República, tema da obra de Cecília Meireles e Pedro Américo, é romantizada pelos dois auto-
res que tinham o objetivo de ressignificar o passado.
e) Enquanto Pedro Américo visa criar um mártir, Cecília dá voz ao passado mediante o recurso da polifonia, em que
várias perspectivas são evidenciadas, ou seja, várias vozes.
209
FRENTE 2
12
CAPÍTULO Modernismo: do regionalismo de 1930 ao
experimentalismo de 1945
A segunda geração do Modernismo é conhecida como a fase da construção e com-
preende o período de 1930 a 1945. Depois da comoção causada pelos primeiros
modernistas, uma nova geração de escritores passou a usufruir da liberdade conquis-
tada no início dos anos 1920. Esses escritores engajaram-se nos problemas sociais
e políticos do país, além de aprofundar a análise psicológica em suas obras. As con-
turbadas décadas de 1930 e 1940 vão culminar no mundo pós-guerra, que também
foi um período de grande inventividade na literatura brasileira, tendo como principal
característica a solidão do indivíduo moderno.
Everett Collection/Shutterstock.com
Federal estadunidense, gerou uma bolha inflacionária que
estourou em 1929.
Como consequência da Crise de 1929, os Estados
Unidos vivenciaram uma grande onda de desemprego,
além da falência de inúmeras empresas e da pobreza. Os
países que estavam atrelados ao sistema de crédito es-
tadunidense também sofreram com a crise financeira. No
Brasil, por exemplo, com o intuito de valorizar o preço do
café, 65 milhões de sacas foram queimadas entre os anos
de 1931 e 1938.
© The George and Helen Segal Foundation, Segal, George/ AUTVIS, Brasil, 2023.
Foto: Stu Jones/Shutterstock.com
211
Atenção
O regionalismo nordestino é um dos pontos de desta-
que do Modernismo de 1930. Os autores abordaram
os problemas decorrentes do declínio econômico da
região, desencadeado pela transferência do polo cultural
e econômico para a região Sudeste. A miséria, a aridez,
as relações de poder e o descaso dos políticos com o
Nordeste foram apresentados criticamente por meio da
Literatura.
Eder Chiodetto/Folhapress
Comitiva de Getúlio Vargas (ao centro) fotografada por Claro Jansson
durante sua passagem por Itararé (São Paulo) a caminho do Rio de Janeiro
após a Revolução de 1930.
Lembrou-se da rede nova, grande e de listas que comprara gico com indícios autobiográficos que discorre sobre a
em Quixadá por conta do vale de Vicente. adolescência feminina por meio da história de três meninas
Tinha sido para a viagem. Mas antes dormir no chão do internas em um colégio religioso. Publicou, ainda, Dora,
que ver os meninos chorando, com a barriga roncando de Doralina (1975), O galo de ouro (1985), além de peças
fome. teatrais, crônicas e obras infantojuvenis.
Estavam já na estrada do Castro. E se arrancharam debaixo Em 1977, Rachel de Queiroz se tornou a primeira
dum velho pau-branco seco, nu e retorcido, a bem dizer ao mulher eleita imortal da Academia Brasileira de Letras.
213
Joa Souza/Shutterstock.com
conhecidos do Brasil, e sua obra foi popularizada também
por meio de adaptações televisivas e cinematográficas,
independentemente da crítica. Obras como Gabriela, cravo
e canela, Tieta do Agreste e Dona Flor e seus dois mari-
dos já fazem parte do imaginário do brasileiro. Temos de
pontuar que o mundo pitoresco e colorido apresentado por
Amado ajudou a criar uma imagem equivocada do Brasil
mundo afora. Suas histórias giravam em torno do Carnaval,
da beleza feminina, das religiões africanas, mas também da
violência e da desigualdade. O olhar estrangeiro sobre es-
sas obras levou a uma generalização que tornou válida a
representação estereotipada do nosso país.
Entre as obras de Amado, destacamos Capitães da
Estátua em homenagem a Jorge Amado e sua esposa, Zélia Gatai, em
areia, que narra a história de um grupo de crianças aban- Salvador, Bahia.
donadas que vive nas proximidades do cais de Salvador.
Todos moram em um depósito abandonado e sobrevivem Atenção
praticando pequenos furtos. Pedro Bala é a personagem
Para os críticos, a obra de Jorge Amado pode ser dividida em
principal, um adolescente de 15 anos que, ao longo da
duas fases, sendo a primeira considerada a mais valiosa lite-
narrativa, se dá conta da situação de opressão e abando- rariamente. Desse período, destacam-se Cacau, Mar morto,
no em que vivem, pois estão sempre fugindo da polícia Capitães da areia, Jubiabá e Terras do sem-fim (1943), que
e brigando com outros grupos de meninos em situação possuem vertentes política e social bem marcadas.
de abandono. Os principais temas abordados no romance
são as desigualdades sociais, a marginalidade, o crime e
o abandono de crianças. Erico Verissimo (1905-1975)
[...]
215
Folhapress/Folhapress
central, a obra apresenta nítida coloração épica, sobretudo no
primeiro volume [...], referente a Ana Terra. Pondo em relevo
um tipo humano de grande riqueza interior, sem embargo de
seu humilde status, a ação transcorre no imperfeito do indi-
cativo. Com isso, o novelista afastava para longe o tempo da
fabulação e concomitantemente atribuía ao transcorrer da his-
tória um halo de eterno retorno, vizinho da lenda, dos contos
de fada ou das narrativas bíblicas. [...]
MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos.
São Paulo: Cultrix, 2005. p. 510.
217
Seus planos de escrever um novo romance foram adiados ela constrói em São Bernardo.
pela falta de dinheiro. Paulo Honório demonstra uma crescente paranoia,
Vidas secas (1938) foi publicado somente em 1938, humilhando a esposa, atormentando-a com acusações de
depois que o autor escreveu alguns contos que reuniu para adultério, rejeitando o filho, sentindo-se ameaçado e jul-
formar essa que é, possivelmente, sua obra mais conhecida. gando que está perdendo seu poder como latifundiário.
A seguir, vamos analisar três grandes obras de Graciliano Seu comportamento acaba levando a esposa ao suicídio e,
Ramos mais detalhadamente. em seguida, à sua própria decadência social e política. Ele
219
É importante destacar que a personagem Paulo Honório Levantei-me há cerca de trinta dias, mas julgo que ain-
é um homem criado dentro de um sistema capitalista e de da não me restabeleci completamente. Das visões que me
competição. Ele é movido pela ambição e pela ideia de perseguiam naquelas noites compridas umas sombras perma-
que a posse material é o que pode garantir uma posição necem, sombras que se misturam à realidade e me produzem
na sociedade, o que reflete em suas relações a violência calafrios.
[...]
e o autoritarismo. Graciliano Ramos traçou o perfil de um
Vivo agitado, cheio de terrores, uma tremura nas mãos,
homem rude, egoísta e ambicioso que, envolvido no jogo
que emagreceram. As mãos já não são minhas: são mãos de
de poder, não é capaz de abrir espaço para relações huma-
velho, fracas e inúteis. As escoriações das palmas cicatrizaram.
nas de amizade e amor. A consequência disso é a solidão.
Impossível trabalhar. Dão-me um ofício, um relatório, para
datilografar, na repartição. Até dez linhas vou bem. Daí em
Angústia
diante a cara balofa de Julião Tavares aparece em cima do ori-
Publicado em 1936, Angústia é o terceiro romance ginal, e os meus dedos encontram no teclado uma resistência
de Graciliano Ramos e conquistou o público e a crítica. A mole de carne gorda.
narrativa em primeira pessoa conta a história de Luís da [...]
Silva, um funcionário público, tímido e solitário que vive Em duas horas escrevo uma palavra: Marina. Depois, apro-
em uma casa velha em um bairro pobre. Depois de passar veitando letras deste nome, arranjo coisas absurdas: ar, mar,
meses doente e convalescendo na cama, decide escrever rima, arma, ira, amar. [...]
suas memórias. Seu relato surge de lembranças confusas RAMOS, Graciliano. Angústia. Rio de Janeiro: Record, 2020. p. 8.
e cheias de angústia.
Ele compartilha com o leitor momentos de sua infância Vidas secas
vivida na fazenda do avô. Após a morte dele, o menino se Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas
muda com o pai para uma vila nas proximidades da fazenda manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro,
e passa a frequentar a escola. Acaba perdendo também estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco,
o pai, mas, com a ajuda de algumas pessoas, ingressa no mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a
Exército, termina seus estudos e começa a colaborar com viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam
alguns jornais em traduções e revisões. Passa por mo- uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através
mentos de privação, vivendo nas ruas e pedindo esmolas, dos galhos pelados da catinga rala.
porém acaba conseguindo uma posição como funcionário Arrastaram-se para lá, devagar, sinha Vitória com o filho
público. mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça,
A vida de Luís da Silva se passa tranquilamente, até Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada
que conhece Marina, uma moça pobre que logo se torna numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no
sua amiga. Pouco tempo depois, ele a pede em casamento ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás. [...]
e, percebendo que a moça não se contentaria com um RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2020. p. 8
221
ROSA. João Guimarães. Grande sertão: veredas. São Paulo: • Aforismos: um aforismo é uma frase que expressa
Nova Aguilar, 1994. p. 187-188. conceitos, definições ou um princípio moral. O aforismo
• Uso de recursos poéticos: sabemos que a poesia não soa como uma máxima, uma verdade incontornável.
se restringe ao poema; assim, mesmo escrevendo em Quando nada acontece, há um milagre que não estamos
prosa, Guimarães Rosa lançou mão de recursos como vendo.
a aliteração, a gradação, a reiteração, o ritmo e a rima, ROSA, João Guimarães. O espelho. In: Primeiras estórias.
comuns na produção de poemas. Os fragmentos a São Paulo: Global, 2019. p. 94.
223
Essas são algumas das estratégias inventivas recorrentes na linguagem da obra de Guimarães Rosa. O autor também
se destacou por transformar o conceito de regionalismo, já que o foco de sua obra era se aprofundar nos aspectos mais
comuns à experiência humana.
[...] O sertanejo não é simplesmente o ser humano rústico que povoa essa grande região do Brasil. Seu conceito é ampliado:
ele é o próprio ser humano, que convive com problemas de ordem universal e eterna. Problemas que qualquer homem, em
qualquer região, enfrentaria. É o eterno conflito entre o ser humano e o destino que o espera, a luta sem tréguas entre o bem e
o mal dentro de cada um, Deus e o diabo, a morte que nos despedaça, e o amor que nos reconstrói, num clima muitas vezes
mítico, mágico e obscuro, porém muitas vezes contrastando com a rusticidade da realidade. [...]
GUIMARÃES Rosa. Panorama da literatura brasileira, [s.d.]. Disponível em: http://www.nilc.icmc.usp.br/nilc/literatura/guimar.esrosa.htm.
Acesso em: 7 nov. 2023.
Guimarães Rosa escreveu muitos contos e novelas e apenas um romance. Apesar de sua obra estar enraizada na
região do sertão de Minas Gerais e nas pessoas que ali vivem – sertanejos, crianças, vaqueiros, matutos etc. –, Rosa
priorizou em seus livros questões universais que dizem respeito a todo ser humano, de qualquer região. É isso que torna
sua obra universal e bem-aceita não somente no Brasil, mas no mundo.
Atenção
A inventividade da linguagem em Guimarães Rosa é uma forte característica. Podemos observar que, por meio do uso da
fala regional, de recursos poéticos, de neologismos e de aforismos, ele dá origem a uma linguagem singular e poética.
mais evidente em Grande sertão: veredas, romance publicado em 1956 e uma das narrativas
mais importantes da literatura brasileira. A originalidade da obra, que é ao mesmo tempo
um diálogo e um monólogo da vida do ex-jagunço Riobaldo relatado a um doutor que usa
óculos, apresenta dimensão grandiosa, seja do ponto de vista da extensão, seja do trabalho
com a linguagem.
O aspecto inovador, no entanto, vai muito além do experimentalismo, já que o prota-
gonista apresenta discussões filosóficas que permeiam as relações humanas, tais como
a origem do homem, a experiência da descoberta do amor, a existência de Deus e do
diabo, a dualidade presente em diversos aspectos da existência etc. Além disso, o pro-
tagonista configura-se como uma espécie de armadilha articulada por Guimarães Rosa,
uma vez que esse jagunço letrado é quase impenetrável para os homens ditos sábios.
O autor estabelece um jogo no qual, diante do leitor sabido, descortina-se um jagunço
letrado, professor de meninos no sertão, que faz um pacto com o diabo. Nesse jogo, os
papéis são invertidos, sendo o leitor homem letrado obrigado a mergulhar no sertão de
Riobaldo em busca de melhor compreender a sua travessia.
[...] O diabo existe e não existe? Dou o dito. Abrenúncio. Essas melancolias. O senhor vê: existe cachoeira; e pois? Mas
cachoeira é barranco de chão, e água se caindo por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou desfaz o barranco, sobra
cachoeira alguma? Viver é negócio muito perigoso...
Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos aves-
sos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco – é
alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 21. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. p. 21.
A confusão da narrativa de Riobaldo, ao longo de Grande sertão: veredas, ganha corpo com a colaboração do com-
padre Quelemém. A história toma forma mediante o plano psicológico sempre pelo caminho da duplicidade, uma vez que
o sertão é árido e seco, mas suas veredas – pequenos rios profundos – guardam o mistério que os olhos não conseguem
ver. Essa duplicidade está na estrutura de monólogo que se baseia em um diálogo, na figura do doutor que ouve o serta-
nejo, na própria busca de Riobaldo de entender sua história e construí-la à medida que a vai narrando. Logo, ele resgata
a palavra, dando nome ao que viveu, corroborando os fatos de que o ser humano existe porque existe a linguagem e de
que essa existência – estar vivo – é um risco constante.
Esse aspecto metalinguístico do romance de Guimarães Rosa é uma evidência de que a própria linguagem é um sertão
a ser atravessado, por isso mesmo é que o sertão rosiano está para além do aspecto geográfico ou físico, “o sertão é do
tamanho do mundo”, é a própria vida com todos os seus descuidos prosseguidos.
O título de forma dupla apresenta o elemento externo – sertão – e o interno – veredas –, o que induz o leitor a com-
preender esse aspecto universalista em Rosa, chamado pelo crítico literário Antonio Candido de “transregionalismo” ou
“surregionalismo”.
O pitoresco da linguagem, o arcaísmo, o tema caipira, o tema regional, o tema jagunço, o tema caboclo, isso já era uma
coisa muito sovada, muito gasta. Praticamente considerava-se que a literatura brasileira já tinha saído disso. E no momento em
que a crítica pensava mais ou menos isso surge um homem que, fechado hermeticamente dentro do universo do sertão, com uma
exuberância verbal extraordinária, com aquilo que era considerado ruim da tradição brasileira que é a exuberância da linguagem,
com aquilo que era considerado ruim que era o regionalismo com aquilo que era considerado perigoso que era o pitoresco, parte
de tudo isso e consegue fazer uma coisa inteiramente nova, consegue fazer uma ficção de tipo realmente universal, com todos
os grandes problemas do homem.
[...]
Ele faz um tipo de livro que supera o regionalismo através do regionalismo. Esse, do ponto de vista da composição literária,
a meu ver, é um paradoxo supremo. Tanto assim que me senti obrigado a criar uma nova categoria que é o transregionalismo ou
surregionalismo.
CALLADO, Antonio et al. Depoimentos sobre João Guimarães Rosa e sua obra. [S.l: s.n.], 2011. p. 27.
A relação do narrador-personagem com o leitor é de significativa proximidade, uma vez que não se sabe quem é o
interlocutor com quem Riobaldo conversa. Nesse sentido, notamos que a perspectiva do narrador, ou seja, o foco narrativo,
toma toda a liberdade de contar sua história de dentro dela, o que valida a grandeza do texto literário atrelado ao modo
que se narra em sobreposição ao fato narrado.
Riobaldo rememora seu passado, abordando seu primeiro contato com o menino corajoso chamado Reinaldo, filho
de Joca Ramiro, chefe de um grupo de jagunços. O período de lembranças retoma os estudos, o tempo como professor
de Zé Rebelo e seu ingresso na jagunçagem, sendo batizado de Tatarana e, posteriormente, ao fazer um pacto com o
diabo, de Urutu-Branco. Na sua reaproximação de Reinaldo, alguns segredos são revelados, como o verdadeiro nome do
amigo, Diadorim, por quem Riobaldo passa a nutrir grande amor. No entanto, o período experenciado entre duas guerras
no sertão escondem outros segredos que, tal como as veredas, apresentam profundidade e complexidade.
A relação de Riobaldo e Reinaldo-Diadorim se inicia quando se conhecem às margens do rio São Francisco, o que se
torna, no romance, o eixo gravitacional, direcionando Riobaldo para todas as belezas secretas do sertão, bem como sua
violência – em uma ambivalência constante e bem marcada na narrativa. Nesse sentido, Diadorim é a mola propulsora do
narrador para dois polos opostos, e Riobaldo torna-se chefe do grupo de jagunços, como resultado do pacto feito com o
diabo, e vive a experiência da beleza mediante o amor por Diadorim.
Diadorim, paradoxalmente, é o nada e o tudo na travessia do jagunço entre “nonada” e o infinito. Seu nome se inicia
com dia, termo originado do grego que remete a “através”, ou seja, associa-se à travessia. As mesmas letras também ini-
ciam o nome do Diabo, com quem Riobaldo estabelece um acordo, ainda que não se confirme a sua existência. Riobaldo
mergulha na sublimação pela paixão, que ganha forma ambígua à medida que narra a sua história.
— Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no
baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 20. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 7.
A narrativa disposta entre um travessão – que introduz a palavra “nonada”, ou seja, nada – e o símbolo do infinito
disposto na última página é um convite ao leitor para transpor o próprio sertão, aquele que vive dentro da gente. Atraves-
sar o sertão dessa grandiosa obra requer coragem para enfrentar a aridez e as veredas que existem no âmago humano.
Ao trabalhar com destreza a fala particular do sertanejo para explorar dilemas universais, Rosa construiu um romance
definido pelo crítico Alfredo Bosi como uma “obra espantosa”, tamanha sua potência no que tange à linguagem e ao sentir.
FRENTE 2
225
Leia o trecho a seguir para responder às questões de terra gaúcha, à sua religião e a seus costumes, de provér-
1 a 3. bios, lendas e relatos históricos [...].
<assets>001598_por_f2_c12_t0001</assets>
TEYSSIER, Paul. Erico Verissimo. In: TEYSSIER, Paul. Dicionário de
[...] literatura brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 139.
E depois de arriar as trouxas e aliviar a burra, reparou
Texto II
nos vizinhos. A rês estava quase esfolada. A cabeça incha-
“Uma geração vai, e outra geração vem;
da não tinha chifres. Só dois ocos podres, malcheirosos, porém a terra para sempre permanece.
donde escorria uma água purulenta. E nasce o sol, e põe-se o sol,
Encostando-se ao tronco, Chico Bento se dirigiu aos e volta ao seu lugar donde nasceu.
esfoladores: O vento vai para o sul, e faz o seu giro
— De que morreu essa novilha, se não é da minha para o norte; continuamente vai girando
conta? o vento, e volta fazendo seus circuitos.”
Um dos homens levantou-se, com a faca escorrendo ECLESIASTES I, 4-6
sangue, as mãos tintas de vermelho, um fartum sangrento [...]
envolvendo-o todo: Os anos chegavam e se iam. Mas o trabalho fazia Ana
— De mal dos chifres. Nós já achamos ela doente. E esquecer o tempo. No inverno tudo ficava pior: a água gelava
vamos aproveitar, mode não dar para os urubus. nas gamelas que passavam a noite ao relento; pela manhã
Chico Bento cuspiu longe, enojado: o chão frequentemente estava branco de geada e houve um
— E vosmecês têm coragem de comer isso? Me ripuna agosto em que, quando foi lavar roupa na sanga, Ana teve
só de olhar... primeiro de quebrar com uma pedra a superfície gelada da
O outro explicou calmamente: água. Em certas ocasiões surpreendia-se a esperar que algu-
— Faz dois dias que a gente não bota um de-comer ma coisa acontecesse e ficava meio aérea, quase feliz, para
de panela na boca... depois, num desalento, compreender subitamente que para
Chico Bento alargou os braços, num gesto de ela a vida estava terminada, pois um dia era a repetição do
fraternidade: dia anterior – o dia de amanhã seria igual ao de hoje, assim
por muitas semanas, meses e anos até a hora da morte. [...]
— Por isso não! Aí nas cargas eu tenho um resto de
VERISSIMO, Erico. O continente. São Paulo:
criação salgada que dá para nós. Rebolem essa porqueira Companhia das Letras, 2004. p. 84.
pros urubus, que já é deles! Eu vou lá deixar um cristão co- <id>001598_por_f2_c12_q0004</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0002</assets>
mer bicho podre de mal, tendo um bocado no meu surrão!
4. A que propriedade do texto literário o primeiro frag-
Realmente a vaca já fedia, por causa da doença. [...]
mento se refere?
QUEIROZ, Rachel de. O quinze. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012. p. 35. <id>001598_por_f2_c12_q0005</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0002</assets>
<id>001598_por_f2_c12_q0001</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0001</assets> 5. Explique o uso da epígrafe e sua relação com a narrativa.
<id>001598_por_f2_c12_q0006</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
1. O romance O quinze, de Rachel de Queiroz, faz par- </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
te da segunda fase do Modernismo brasileiro. Quais 6. Considere o fragmento a seguir a respeito da obra de
características desse período podemos observar no José Lins do Rego.
trecho? Justifique sua resposta. O autor e a personagem se confundem, e ambos evolui-
<id>001598_por_f2_c12_q0002</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0001</assets><assets>002447_por_f2_c12_t0001</assets>
rão juntos, da infância à idade adulta, na série de romances
2. Como é possível relacionar o texto com a obra Reti- que constituem o que foi chamado de “ciclo da cana-de-
rantes, de Candido Portinari, que abre este capítulo? -açúcar”. Esse ciclo compreende além de Menino de enge-
<id>001598_por_f2_c12_q0003</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0001</assets>
3. Considerando o fragmento lido, assinale V (verdadei- nho, Doidinho (1932), Banguê (1934), O moleque Ricardo
(1934), Usina (1936), e a obra síntese Fogo morto (1943).
ro) ou F (falso) para as afirmativas a seguir.
TEYSSIER, Paul. José Lins do Rego. In: TEYSSIER, Paul. Dicionário de
A narrativa é ligada às propostas de denúncia so- literatura brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 72.
cial dos regionalistas da prosa de 1930.
Apesar de ter sido publicada na década de 1930, Qual é o tema que José Lins do Rego aborda nas
o romance está mais fortemente ligado à estética obras que compõem o “ciclo da cana-de-açúcar”?
<id>001598_por_f2_c12_q0007</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
pré-modernista. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Leia os trechos a seguir e responda às questões 4 e 5. A vida na fazenda se tornara difícil. Sinha Vitória
<assets>001598_por_f2_c12_t0002</assets> benzia-se tremendo, manejava o rosário, mexia os bei-
Texto I ços rezando rezas desesperadas. Encolhido no banco do
O continente, é a obra-prima do autor. Ele o constrói copiar, Fabiano espiava a catinga amarela, onde as folhas
como “um mosaico de citações” (Julia Kristeva) feito de secas se pulverizavam, trituradas pelos redemoinhos, e os
fragmentos narrativos, de textos relativos às tradições da garranchos se torciam, negros, torrados. No céu azul as
últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco 8. Por que a família se viu obrigada a fugir da fazenda?
<id>001598_por_f2_c12_q0009</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
os bichos se finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0003</assets>
largou-se com a família, sem se despedir do amo. Não 10. Leia a seguir um trecho do conto “Famigerado”. De-
poderia nunca liquidar aquela dívida exagerada. Só lhe pois, comente o processo de formação de palavras
restava jogar-se ao mundo, como negro fugido. que atribui uma qualidade singular à linguagem de
Saíram de madrugada. Sinha Vitória meteu o braço Guimarães Rosa.
pelo buraco da parede e fechou a porta da frente com a [...] Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações,
taramela. [...]
seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2020.
o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava. E, pá:
— “Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me
copiar: varanda.
ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado... faz-me-
garrancho: ramo de árvore retorcido.
-gerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?”
arribação: deslocamento de aves.
morrinhento: fraco. [...]
ROSA, João Guimarães. Famigerado. In: Primeiras estórias.
taramela: trava de madeira ou metal. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 34.
Exercícios propostos
<id>001598_por_f2_c12_q0025</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
1. Uern 2015 Considere o texto e a imagem a seguir. a) Os efeitos da crise econômica mundial e os cho-
ques ideológicos que levaram a posições mais
O decênio de 1930 teve como característica própria
um grande surto do romance, tão brilhante quanto o que
definidas formavam um campo propício ao de-
se verificou entre 1880 e 1910, e que apenas em pequena senvolvimento de um romance caracterizado pela
parte dependeu da estética modernista. denúncia social.
b) Na poesia, ganha corpo uma geração de poetas
(Antonio Candido e J. Aderaldo Castello. Presença da Literatura
Brasileira: Modernismo. São Paulo / Rio de Janeiro: Difel, 1979.) que se opõem às conquistas e inovações dos pri-
meiros modernistas de 1922. Uma nova proposta
é defendida inicialmente pela revista Orfeu.
c) O período de 1930 a 1945 é o mais radical do
movimento modernista, pela necessidade de rup-
tura com toda arte passadista.
d) As revistas e manifestos marcam o segundo
momento modernista, com a divulgação do movi-
mento pelos vários estados brasileiros.
e) Ao mesmo tempo em que se procura o moder-
no, o original e o polêmico, o nacionalismo se
(Seca: Bahia tem pelo menos 140 cidades em situação de emergência. manifesta em suas múltiplas facetas: uma volta
28 de Agosto de 2014. Disponível em: http://visaonacional.com.br)
às origens, a pesquisa de fontes quinhentistas, a
O comentário do especialista associado à imagem apre- procura de uma “língua brasileira”.
<id>002447_por_f2_c12_q0001</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
senta e representa características importantes da prosa </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
modernista da geração de 1930. Em relação à produção 3. Ufam 2023 Sobre O quinze, é CORRETO afirmar que:
literária identificada, assinale a alternativa correta. a) ilustra o retorno ao romance de estrutura neonatu-
a) A preocupação com a documentação da realida- ralista do século XX, afastando-se das conquistas
de presente no Pré-Modernismo é retomada. da fase heroica do Modernismo.
b) Utiliza-se uma linguagem rebuscada objetivando b) Raquel de Queiroz não atinge o mesmo nível es-
demonstrar a importância do tema abordado. tético de outros autores do mesmo período por
c) O regionalismo é explorado de forma precon- preocupar-se com questões de temática social.
ceituosa, demonstrando com exagero a situação c) os aspectos regionais da obra, somados a aspec-
difícil das regiões retratadas. tos de seu enredo, equiparam O quinze a obras
FRENTE 2
227
229
8. UFSC [...]. Depois Volta Seca chegou com um jornal que 16 No período “A família gratificará bem quem der
trazia notícias de Lampião. Professor leu a notícia para notícias do pequeno Augusto e o conduzir a sua
Volta Seca e ficou vendo as outras coisas que o jornal casa” (linhas 15-16), a expressão “a sua casa” po-
trazia. deria ser escrita como “à sua casa”, sem que isso
5 Então chamou: implicasse desrespeito à norma-padrão.
— Sem-Pernas! Sem-Pernas! Soma:
[...] <id>002447_por_f2_c12_q0003</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
E leu uma notícia no jornal: 9. Unioeste-PR 2020 No que tange o romance Fogo
Ontem desapareceu da casa número... da rua..., Graça, morto, de José Lins do Rego, é CORRETO afirmar que:
10 um filho dos donos da casa, chamado Augusto. Deve ter a) a obra fora escrita para denunciar o cangaço e o
se perdido na cidade que pouco conhecia. É coxo de uma cangaceiro, representados na personagem Antônio
perna, tem treze anos de idade, é muito tímido, veste rou- Silvino, que espalhava terror e morte pelo Nordeste
pa de casimira cinza. A polícia o procura para o entregar brasileiro, mormente na década de 30.
aos seus pais aflitos, mas até agora não o encontrou. A
b) trata-se de um romance panfletário, de tom po-
15 família gratificará bem quem der notícias do pequeno Au-
lítico, pois nota-se a denúncia dos problemas
gusto e o conduzir a sua casa.
sociais: a miséria, a fome, a seca que assolam o
O Sem-Pernas ficou calado. Mordia o lábio. Professor
sertão nordestino da época.
disse:
— Ainda não descobriram o furto... c) o título “fogo morto” aponta para a decadência
20 Sem-Pernas fez que sim com a cabeça. Quando des- em sentido amplo, tanto do engenho que cede
cobrissem o furto não o procurariam mais como a um filho lugar à usina quanto da expressão de um Nordes-
desaparecido. Barandão fez uma cara de riso e gritou: te decadente.
— Tua família tá te procurando, Sem-Pernas. Tua ma- d) a obra Fogo morto pertence ao ciclo do canga-
mãe tá te procurando pra dar de mamar a tu... ço, juntamente a outros dois romances do autor:
25 Mas não disse mais nada, porque o Sem-Pernas já Pedra bonita e Cangaceiros, haja vista a deca-
estava em cima dele e levantava o punhal. E esfaquearia dência do engenho.
sem dúvida o negrinho se João Grande e Volta Seca não e) Coronel Lula, Capitão Vitorino e Capitão Antônio
o tirassem de cima dele. Barandão saiu amedrontado. Silvino são representantes do Exército nacional,
O Sem-Pernas foi indo para o seu canto, um olhar de que tiveram ascensão no Nordeste brasileiro na
30 ódio para todos. Pedro Bala foi atrás dele, botou a mão década de 40.
em seu ombro: <id>001598_por_f2_c12_q0018</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
— São capazes de não descobrir nunca o roubo, 10. Unioeste-PR 2017 Qual alternativa NÃO procede a
Sem-Pernas. Nunca saber de você... Não se importe, não. respeito de Terras do sem fim, de Jorge Amado?
— Quando doutor Raul chegar vão saber... a) Na posse pelas terras para o plantio do cacau, o
35 E rebentou em soluços, que deixaram os Capitães da código que regula as relações de mandonismo
Areia estupefatos. dos coronéis é a lei do gatilho.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: b) A narrativa da história das três irmãs prostitutas –
Companhia das Letras, 2008. p. 133-4.
Maria, Lúcia, Violeta – é intercalada à da morte e
Com base no texto, na leitura do romance Capitães translado do pai defunto.
da Areia e no contexto do Modernismo brasileiro, as- c) Ao descobrir a paixão da esposa Ester pelo advo-
sinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S). gado Virgílio, o Coronel Horácio assassina os dois
01 Capitães da Areia inclui-se entre as obras do
amantes numa “pensão de luxo”, em Ilhéus.
chamado Regionalismo de 30, cujas temáticas
d) Depois de ouvir a leitura da Bíblia, feita por
compreendem, entre outros aspectos, a denúncia
Don’Ana, Sinhô Badaró ordena a invasão das
das mazelas sociais do Brasil.
matas de Sequeiro Grande, porque essa era a
02 Augusto – apelidado pelos capitães da areia de
“vontade de Deus”.
Sem-Pernas, devido a uma deficiência física –
e) O romance inicia com uma viagem de navio em
abandona a casa dos pais após ter furtado ob-
cujos espaços delineiam-se os grupos que darão
jetos de valor e se une aos capitães da areia; a
suporte à narrativa, marcada por “terras, dinheiro,
vergonha, mais que o temor do castigo, impede-o
cacau e morte”.
de voltar para casa. <id>001598_por_f2_c12_q0019</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
04 A agressão de Sem-Pernas a Barandão representa 11. UFRGS 2017 Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso)
um ponto de virada na história porque, a partir de as seguintes afirmações sobre o capítulo A Teiniaguá.
então, Sem-Pernas, que sempre fora calmo e re-
Aguinaldo Silva vem do Norte e chega a Santa Fé
servado, passa a agredir os colegas, até que Pedro
depois de muitas andanças pelo Brasil, empres-
Bala o expulsa do grupo e ele comete suicídio.
08 Na composição das personagens que habitam o tando dinheiro a juro alto.
trapiche, Jorge Amado adota um procedimento Luzia, neta adotiva de Aguinaldo Silva, vem da Cor-
semelhante: nenhum dos meninos é mau por na- te para Santa Fé e torna-se a “senhora do Sobrado”.
tureza, porém eles cometem más ações por força Luzia escolhe Bolívar Cambará para casar, apai-
das circunstâncias sociais. xonada por seu jeito sofisticado e urbano.
a) representa as tensões da Prosa de 1930 voltadas 14. Enem 2018 E fui mostrar ao ilustre hóspede [o governa-
às questões da seca. dor do Estado] a serraria, o descaroçador e o estábulo.
b) compõe uma atmosfera irreverente e humorada Expliquei em resumo a prensa, o dínamo, as serras e o
ao eliminar a figura do herói. banheiro carrapaticida. De repente supus que a escola
c) rejeita a idealização amorosa, ao reduzir os even- poderia trazer a benevolência do governador para certos
tos ao plano do riso. favores que eu tencionava solicitar.
d) impõe-se complexa, ao simular a idealização do — Pois sim senhor. Quando V. Exª. vier aqui outra vez,
amor e da fantasia. encontrará essa gente aprendendo cartilha.
e) foge do modelo romântico composto pelas rela- RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1991.
13. UTFPR 2023 Sobre a obra São Bernardo, de Gracilia- com o contexto da Primeira República no Brasil, ao
no Ramos, assinale o que for correto. focalizar o(a)
a) derrocada de práticas clientelistas.
Conheci que Madalena era boa em demasia, mas não
b) declínio do antigo atraso socioeconômico.
conheci tudo de uma vez. Ela se revelou pouco a pouco, e
c) liberalismo desapartado de favores do Estado.
nunca se revelou inteiramente. A culpa foi minha, ou antes, a
d) fortalecimento de políticas públicas educacionais.
culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste. E,
falando assim, compreendo que perco o tempo. Com efeito, e) aliança entre a elite agrária e os dirigentes políticos.
<id>001598_por_f2_c12_q0026</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
se me escapa o retrato moral de minha mulher, para que 15. Mackenzie-SP 2018
serve esta narrativa? Para nada, mas sou forçado a escrever.
Quando os grilos cantam, sento-me aqui à mesa da sala de Carta do escritor Graciliano Ramos ao pintor
jantar, bebo café, acendo o cachimbo. Às vezes as ideias não Cândido Portinari
vêm, ou vêm muito numerosas – e a folha permanece meio
escrita, como estava na véspera. Releio algumas linhas, que Rio – 18 – Fevereiro – 1946
me desagradam. Não vale a pena tentar corrigi-las. Afasto o Caríssimo Portinari:
papel. Emoções indefiníveis me agitam – inquietação terrível, A sua carta chegou muito atrasada, e receio que esta
desejo doido de voltar, tagarelar novamente com Madalena, resposta já não o ache fixando na tela a nossa pobre gente
como fazíamos todos os dias, a esta hora. Saudade? Não, da roça. Não há trabalho mais digno, penso eu. Dizem
não é isto: é desespero, raiva, um peso enorme no coração. que somos pessimistas e exibimos deformações; contudo
RAMOS, G. São Bernardo. 46. ed. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 101. as deformações e miséria existem fora da arte e são culti-
vadas pelos que nos censuram.
I. A atribuição da culpa pelo matrimônio fracassado O que às vezes pergunto a mim mesmo, com angús-
de Paulo Honório é de fundo determinista: a luta tia, Portinari, é isto: se elas desaparecessem, poderíamos
contra as dificuldades do sertão nordestino resul- continuar a trabalhar? Desejamos realmente que elas
FRENTE 2
tou na figura de difícil trato do personagem. desapareçam ou seremos também uns exploradores, tão
II. A linguagem comedida em São Bernardo, com perversos como os outros, quando expomos desgraças?
sentenças breves e concisas, não descarta o fato Dos quadros que você mostrou quando almocei no Cos-
de o romance explorar a dimensão psicológica, me Velho pela última vez, o que mais me comoveu foi
principalmente a de Paulo Honório, o que não é aquela mãe com a criança morta. Saí de sua casa com um
muito comum nas obras regionalistas da geração pensamento horrível: numa sociedade sem classes e sem
de 1930. miséria seria possível fazer-se aquilo? Numa vida tranquila
231
e feliz que espécie de arte surgiria? Chego a pensar que 17. FPP-PR 2016 Considerando-se o gênero de São
faríamos cromos, anjinhos cor-de-rosa, e isto me horroriza. Bernardo, de Graciliano Ramos, podemos afirmar que
Felizmente a dor existirá sempre, a nossa velha amiga, a) a obra relaciona-se ao Romantismo por retratar
nada a suprimirá. E seríamos ingratos se desejássemos a problemas sociais e denunciar a opressão e a ti-
supressão dela, não lhe parece? Veja como os nossos ri- rania do homem no nordeste brasileiro.
caços em geral são burros. b) a obra constitui romance de Realismo crítico, de
Julgo naturalmente que seria bom enforcá-los, mas confissão, com tensão psicológica e preocupações
se isto nos trouxesse tranquilidade e felicidade, eu ficaria
sociais.
bem desgostoso, porque não nascemos para tal sensabo-
c) o romance narra, em fluxo de consciência, o dra-
ria. O meu desejo é que, eliminados os ricos de qualquer
ma psicológico de Madalena, cuja voz narra as
modo e os sofrimentos causados por eles, venham novos
dificuldades de Paulo Honório de aceitar o mun-
sofrimentos, pois sem isto não temos arte.
E adeus, meu grande Portinari. Muitos abraços para do, os outros e a si mesmo.
você e para Maria. d) constitui romance Regionalista Modernista, vin-
Graciliano culado ao projeto de construção da identidade
nacional, aliando as formas dos gêneros dramáti-
sensaboria: contratempo, monotonia. co e lírico.
e) a obra inaugura o romance Naturalista, além de
Depreende-se corretamente do texto que o escritor questionar as fronteiras entre o real e o imaginá-
Graciliano Ramos: rio, pela visão de Madalena, vítima da tirania do
a) compreende a miséria humana e os sofrimentos marido.
como motivadores da produção artística, que não
Leia os textos a seguir para responder às questões
pode ser apenas ornamental.
18 e 19.
b) entende que a função da pintura é oferecer as so- <assets>001598_por_f2_c12_t0004</assets>
luções práticas para o erradicamento da miséria Os textos literários são obras de discurso, a que falta
humana. a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéti-
c) se refere a pinturas que ele mesmo produziu cos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano,
sobre as diferenças sociais que afetam o povo graças à função irrealizante da imaginação que os constrói.
brasileiro. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devemo po-
d) se dirige ao pintor Portinari com o claro objetivo der de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo
de propor a formação de uma política que exclua outro, irreal, neles configurado [...]. No entanto, da adesão
os ricos da sociedade. a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real,
e) escreve ao pintor Portinari para tentar amenizar o nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência
remorso que sente por explorar a miséria humana. da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐
<id>002447_por_f2_c12_q0005</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> -lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova.
16. UFRGS 2022 Sobre São Bernardo, de Graciliano Ramos, A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real
assinale a alternativa correta. ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo
a) Paulo Honório é o narrador que repassa sua insight que em nós provocou.
trajetória desde a infância pobre até tornar-se Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.
proprietário de uma fazenda moderna e unir-se
O que eu precisava era ler um romance fantástico, um
à Madalena, em um casamento cheio de tensões
romance besta, em que os homens e as mulheres fossem
que acaba de forma trágica. criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo-
b) Madalena é uma herdeira ambiciosa, que, auxilia- -se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente
da pelos esforços de uma tia incansável, forma-se essas leituras já não me comovem.
professora e dedica-se ao magistério e a disputas Graciliano Ramos, Angústia.
políticas no interior de Alagoas.
c) Luís Padilha é o filho do antigo proprietário da Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, po-
fazenda São Bernardo que dissipa sua fortuna ins- voado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma
tigado por Paulo Honório, a quem procura enganar concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante.
Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de
oferecendo-lhe um cargo político em Maceió. seu livro Angústia.
d) Dona Glória, tia de Madalena, dedica-se a tare- <id>001598_por_f2_c12_q0030</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0004</assets>
fas mal pagas e economiza muito para sobreviver, 18. Fuvest-SP 2020 Para Graciliano Ramos, Angústia não
mas vai se tornar uma aliada importante de Luís faz concessão ao gosto do público na medida em que
Padilha na tentativa de extrair dinheiro de Paulo compõe uma atmosfera
Honório. a) dramática, ao representar as tensões de seu tempo.
e) Casimiro Lopes é o jagunço subordinado a Paulo b) grotesca, ao eliminar a expressão individual.
Honório e trata de garantir a simpatia de seu che- c) satírica, ao reduzir os eventos ao plano do riso.
fe mediante serviços prestados a Madalena e d) ingênua, ao simular o equilíbrio entre sujeito e
Dona Glória, além de dedicar-se com carinho e mundo.
desvelo ao filho do casal. e) alegórica, ao exaltar as imagens de sujeira.
19. Fuvest-SP 2020 Se o discurso literário “aclara o real — Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo
ao desligar-se dele, transfigurando-o”, pode-se dizer enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, pa-
que Luís da Silva, o narrador-protagonista de Angús- ciência, vá à justiça.
tia, já não se comove com a leitura de “histórias fáceis, Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, o
sem almas complicadas” porque caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralítico de
a) rejeita, como jornalista, a escrita de ficção. um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estu-
b) prefere alienar-se com narrativas épicas. dando Direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz.
c) é indiferente às histórias de fundo sentimental. Violências miúdas passaram despercebidas. As ques-
d) está engajado na militância política. tões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas
e) se afunda na negatividade própria do fracassado. de João Nogueira.
Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei
Leia o trecho do romance S. Bernardo, de Graciliano maquinismos e não prestei atenção aos que me censura-
Ramos, para responder às questões 20 e 21. vam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a
<assets>001598_por_f2_c12_t0005</assets>
pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos
O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em
ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo
casa do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma
Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota,
limpeza. Essa gente quase nunca morre direito. Uns são
citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou
levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam-se.
uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe
Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra,
político local. Em consequência mordeu-me cem mil-réis.
bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos
(S. Bernardo, 1996.)
miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as <id>001598_por_f2_c12_q0032</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0005</assets>
lombrigas comeram o segundo, o último teve angina e a 20. Unesp 2019 No trecho, o narrador revela-se uma pessoa
mulher enforcou-se. a) empreendedora e solidária.
Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, b) invejosa e hesitante.
proibi a aguardente. c) obstinada e compassiva.
Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que não d) egoísta e violenta.
preciso descrevê-la. As partes principais apareceram ou e) preguiçosa e traiçoeira.
aparecerão; o resto é dispensável e apenas pode interessar <id>001598_por_f2_c12_q0033</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0005</assets>
aos arquitetos, homens que provavelmente não lerão isto. 21. Unesp 2019 Tenho visto criaturas que trabalham demais
Ficou tudo confortável e bonito. Naturalmente deixei de e não progridem. (7o parágrafo)
dormir em rede. Comprei móveis e diversos objetos que Considerada no atual contexto histórico, essa fala do
entrei a utilizar com receio, outros que ainda hoje não narrador pode ser vista como uma crítica à ideia de
utilizo, porque não sei para que servem.
a) trabalho. d) preguiça.
Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos
b) meritocracia. e) pobreza.
o mundo dá um bando de voltas.
c) burocracia.
Ninguém imaginará que, topando os obstáculos mencio- <id>001598_por_f2_c12_q0034</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
nados, eu haja procedido invariavelmente com segurança e 22. UFRGS 2020 Considere as afirmações abaixo, sobre
percorrido, sem me deter, caminhos certos. Não senhor, não o romance São Bernardo, de Graciliano Ramos.
procedi nem percorri. Tive abatimentos, desejo de recuar; I. A obra está integrada à Geração de 30, momento
contornei dificuldades: muitas curvas. Acham que andei do Modernismo brasileiro voltado sobretudo para
mal? A verdade é que nunca soube quais foram os meus a representação das contradições entre o pro-
atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me
cesso de modernização e o atraso das estruturas
trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. E como
patriarcais da sociedade brasileira.
sempre tive a intenção de possuir as terras de S. Bernardo,
II. As tensões psicológicas do narrador e persona-
considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las.
gem Paulo Honório conferem uma carga intimista
Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus.
Vieram-me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princí- que enfraquece as pressões da natureza e do
pio se esquivava, agarrou-se comigo, as taxas desceram. E meio social sobre as ações do romance.
os negócios desdobraram-se automaticamente. Automati- III. As tensões psicológicas e a problematização do
camente. Difícil? Nada! Se eles entram nos trilhos, rodam processo de escrita caracterizam a obra, que, as-
que é uma beleza. Se não entram, cruzem os braços. sim, ultrapassa os limites do regionalismo, afeito
Mas se virem que estão de sorte, metam o pau: as toli- ao descritivismo da paisagem local.
ces que praticarem viram sabedoria. Tenho visto criaturas Quais estão corretas?
que trabalham demais e não progridem. Conheço indiví- a) Apenas I. d) Apenas I e II.
FRENTE 2
duos preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, b) Apenas II. e) I, II e III.
desenroscam-se, abrem a boca – e engolem tudo. c) Apenas III.
<id>001598_por_f2_c12_q0035</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tenta- </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
tivas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes. 23. O fragmento a seguir foi retirado do romance Capi-
Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, na- tães da areia, de Jorge Amado. Ele apresenta um
turalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no Brasil que o autor ajudou a consolidar no imaginário
tempo de Salustiano Padilha. Houve reclamações. coletivo? Explique sua resposta.
233
leva-o a considerar todos que o cercam como coisas que 26. UPF-RS 2017 No conto ______________, de João
se manipulam à vontade e se possui. Guimarães Rosa, o narrador conta a história de seu
__________, que vive refugiado em uma canoa, no
O trecho de São Bernardo que melhor exemplifica a meio do rio, ao longo de muitos anos, sem falar com
análise do crítico literário é: ninguém. No universo mitopoético do autor, a figura
a) “Com efeito, se me escapa o retrato moral de mi- desse homem exilado em meio ao rio se erige como
nha mulher, para que serve esta narrativa? Para imagem do(a) __________ no fluir eterno das águas.
nada, mas sou forçado a escrever.”
b) “Madalena entrou aqui cheia de bons sentimentos e Assinale a alternativa cujas informações preenchem
bons propósitos. Os sentimentos e os propósitos es- corretamente as lacunas do enunciado.
barraram com a minha brutalidade e o meu egoísmo.” a) “Partida do audaz navegante” / tio / isolamento.
c) “Bichos. As criaturas que me serviram durante anos b) “As margens da alegria” / pai / abandono.
eram bichos. Havia bichos domésticos, como o c) “A terceira margem do rio” / tio / abandono.
Padilha, bichos do mato, como Casimiro Lopes, e mui- d) “Partida do audaz navegante” / pai / permanência.
tos bichos para o serviço do campo, bois mansos.” e) “A terceira margem do rio” / pai / permanência.
<id>001598_por_f2_c12_q0040</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
d) “E a desconfiança terrível que me aponta inimigos </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
do pela Constituição da República e que de nós é esperado 29. Unesp 2021 Para responder à questão, leia o trecho do
pelo cidadão brasileiro, o qual quer saúde, educação, tra- romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
FRENTE 2
balho, sossego para andar em paz por ruas, estradas do país Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemen-
e trilhas livres para poder sonhar além do mais. Que, como do. Mas não é por disfarçar, não pense. De grave, na lei do
na fala do poeta da música popular brasileira, ninguém quer comum, disse ao senhor quase tudo. Não crio receio. O
só comida, quer também diversão e arte”. senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o
Um dos compositores da canção citada é Arnaldo seu, não é criatura de pôr denúncia. E meus feitos já re-
Antunes, que também se posicionou contra o impeachment vogaram, prescrição dita. Tenho meu respeito firmado.
de Dilma Rousseff nas redes sociais. Agora, sou anta empoçada, ninguém me caça. Da vida
235
signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não 31. Enem 2014 O correr da vida embrulha tudo. A vida é
misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e
as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.
real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1986.
vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido
desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto. [...] No romance Grande sertão: veredas, o protagonista
Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente Riobaldo narra sua trajetória de jagunço. A leitura do
do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe. trecho permite identificar que o desabafo de Riobaldo
(Grande sertão: veredas, 2015.) se aproxima de um(a)
a) diário, por trazer lembranças pessoais.
No texto, o narrador
b) fábula, por apresentar uma lição de moral.
a) sugere que a narração de eventos significativos
c) notícia, por informar sobre um acontecimento.
não permite uma visão abrangente da vida.
d) aforismo, por expor uma máxima em poucas palavras.
b) admite que sua narrativa sinuosa visa confundir e
e) crônica, por tratar de fatos do cotidiano.
enganar o seu interlocutor. <id>001598_por_f2_c12_q0046</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
c) sugere que a narração de eventos significativos 32. Enem 2014 Pecados, vagância de pecados. Mas, a gen-
não cabe em uma narrativa linear. te estava com Deus? Jagunço podia? Jagunço – criatura
d) alega que sua narrativa linear busca conferir coe- paga para crimes, impondo o sofrer no quieto arruado
rência e sentido a uma vida de desacertos. dos outros, matando e roupilhando. Que podia? Esmo
e) alega que uma narrativa sinuosa conduz a uma disso, disso, queri, por pura toleima; que sensata resposta
compreensão limitada da existência. podia me assentar o Jõe, broreiro peludo do Riachão do
<id>001598_por_f2_c12_q0044</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> Jequitinhonha? Que podia? A gente, nós, assim jagunços,
30. Enem 2018 se estava em permissão de fé para esperar de Deus per-
dão de proteção? Perguntei, quente.
— “Uai? Nós vive... — foi o respondido que ele me deu.
ROSA, G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001
(fragmento).
Veja os principais assuntos e conceitos trabalhados neste capítulo acessando a seção Resumindo
no livro digital, na Plataforma Poliedro.
Site
Fundação Casa de Jorge Amado. Disponível em: https:// Fogo morto. Direção: Walter Lima Junior. 1976.
www.jorgeamado.org.br/. Acesso em: 7 nov. 2023. O filme é a adaptação do romance homônimo de José
A Fundação Casa de Jorge Amado foi criada com o Lins do Rego.
objetivo de preservar e estudar os acervos bibliográficos
Memorial de Maria Moura. Direção: Denise Saraceni.
e artísticos do escritor Jorge Amado. No site, você pode
1994.
obter mais informações sobre a vida e a obra do autor.
A minissérie é a adaptação do romance homônimo de
Filmes Rachel de Queiroz.
Passaporte para liberdade. Direção: Jayme Monjardim e
O tempo e o vento. Direção: Jayme Monjardim. 2013.
Seani Soares. 2021.
O filme é a adaptação do romance homônimo de Erico
A série, disponível em plataforma de streaming, conta a
Verissimo.
história de Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa,
esposa do escritor, que ajudou a salvar a vida de inúme-
ros judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
FRENTE 2
237
1. A prosa de 1930 tem entre seus representantes auto- tendência reconhecida e aceita da arte moderna, princi-
res como Rachel de Queiroz, Erico Verissimo, Jorge palmente da pintura? Não haverá muito de deformação na
Amado e José Lins do Rego. Sobre a prosa desse pe- obra de grandes pintores como Portinari, Di Cavalcante
ríodo, é incorreto afirmar: e Segall – todos eles inconformados com a sociedade em
a) O contexto pedia uma literatura mais ligada aos que vivem?
(Adaptado de Erico Verissimo, Prefácio, em Caminhos Cruzados.
fatos.
São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 20-21.)
b) Retoma o realismo/naturalismo, mas sem a inflexi-
bilidade cientificista do século XIX.
c) Analisa de forma determinista a sociedade para
elaborar uma representação mais fiel do contur-
bado período histórico.
d) Tem o aprofundamento psicológico das persona-
gens, evidenciando o fator emocional nas obras.
e) Nesse período desenvolveram-se três tipos de
ficção: prosa urbana, prosa regionalista e prosa
intimista.
<id>002447_por_f2_c12_q0014</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
alta. A fileira das acácias se estende rua afora. As som- 5. UFRGS 2019 Assinale a alternativa correta sobre o
bras são dum violeta profundo. O céu está levemente capítulo A fonte.
enfumaçado e a luz do sol é de um amarelo oleoso e a) O contexto histórico é a fundação dos primeiros
fluido. Vem de outras ruas a trovoada dos bondes atenua povoados no Rio Grande do Sul.
da pela distância. Grasnar de buzinas. Num trecho do b) A forma pacífica de colonização do Rio Grande do
Guaíba que se avista longe, entre duas paredes caiadas, Sul é apresentada.
passa um veleiro. c) A família Terra instala-se nas missões jesuíticas,
Para Clarimundo tudo é novidade. Esta hora é uma onde Ana conhece Pedro.
espécie de parêntese que ele abre em sua vida interior,
d) Pedro Missioneiro tem visões e premonições, que
para contemplar o mundo chamado real. E ele verifica,
lhe dão dimensão mítica na narrativa.
com divertida surpresa, que continuam a existir os cães
e as latas de lixo, apesar de Einstein. O sol brilha e os
e) Pedro é morto pelos irmãos de Ana, por roubar o
veleiros passam sobre as águas, não obstante Aristóteles. punhal de prata da família.
<id>001598_por_f2_c12_q0050</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Seus olhos contemplam a paisagem com a alegria meio 6. UFRGS 2019 Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso)
inibida duma criança que, vendo-se de repente solta
as seguintes afirmações sobre o capítulo Ismália Caré.
num bazar de brinquedos maravilhosos, não quer no
primeiro momento acreditar no testemunho de seus O contexto histórico é o surgimento da oposição
próprios olhos. republicana e abolicionista.
Clarimundo debruça-se à janela... Então tudo isto exis- O ano é 1884, e Santa Fé é elevada à categoria
tia antes, enquanto ele passava as horas às voltas com de cidade.
números e teorias e cogitações, tudo isto tinha realidade? Licurgo Cambará casa-se com a prima Alice Terra,
(Este pensamento é de todas as tardes à mesma hora: mas filha de Florêncio.
a surpresa é sempre nova.) E depois, quando ele voltar Licurgo, por respeito e fidelidade à Alice, termina
para os livros, para as aulas, para dentro de si mesmo, a seu relacionamento com Ismália Caré.
vida ali fora continuará assim, sem o menor hiato, sem o
menor colapso?
A sequência correta de preenchimento de cima para
Um galo canta num quintal. Roupas brancas se ba- baixo, é
louçam ao vento, pendentes de cordas. Clarimundo ali a) V – V – F – F.
está como um deus onipresente que tudo vê e ouve. A b) F – V – F – V.
impressão que lhe causam aquelas cenas domésticas o c) V – V – V – F.
levam a pensar no seu livro. d) F – F – V – V.
A sua obra... Agora ele já não enxerga mais a pai- e) V – F – V – V.
<id>001598_por_f2_c12_q0051</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
sagem. O mundo objetivo se esvaeceu misteriosamente. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Os olhos do professor estão fitos na fachada amarela da 7. Unicamp-SP 2017 São Francisco botava o dedo nas
casa fronteira, mas o que ele vê agora são as suas próprias feridas dos leprosos. Mas é que ele era um santo, fazia
teorias e ideias. Imagina o livro já impresso... Sorri, exterior milagres, e ela é simplesmente Doralice Leitão Leiria, um
e interiormente. O leitor (a palavra leitor corresponde, na ser humano como qualquer outro.
mente de Clarimundo, à imagem dum homem debruçado (Erico Verissimo. Caminhos cruzados. São Paulo:
Companhia de Bolso, 2016. p. 77.
sobre um livro aberto: e esse homem – extraordinário! – é
sempre o sapateiro Fiorello) – o leitor vai se ver diante dum — Queres seguir a política? Então? Procura imitar
assunto inédito, diferente, original. Bismarck! Haverá padrão melhor?
Adaptado de: VERISSIMO. Erico. Caminhos Cruzados. 26. ed. (Idem, p. 290.)
Porto Alegre/Rio de Janeiro: Editora Globo, 1982. p. 57-58.
Os fragmentos apresentados captam um dos traços
Considere as seguintes afirmações a respeito do texto.
principais de Caminhos cruzados no que diz respeito
I. Clarimundo é um professor envolvido com o mun- à identidade narrativa das personagens. Consideran-
do interior das ideias e teorias, mas também é do o conjunto do romance, tal traço consiste em uma
observador do mundo real. a) percepção de que a necessidade de status na vida
social e a produção de desejos políticos e religio-
II. Clarimundo narra a sua experiência de viver em
sos nascem da cópia de um modelo consagrado.
Porto Alegre, escrever livros e dar aulas.
b) afirmação, por meio do narrador, da necessidade
III. O caráter descritivo, marcado por verbos no preté- de protagonistas bem construídos para o êxito da
FRENTE 2
239
8. PUC-Campinas 2017 Para responder à questão, con- Fogo Morto, as histórias cantadas por José Passa-
sidere o texto abaixo. rinho ecoam o sofrimento das personagens.
e) Nos dois romances, observa-se a geografia subur-
Na América Latina do século XX, em incontáveis
momentos, a criação artística articulou-se com utopias bana, com favelas construídas em torno da linha
ou perspectivas de transformação social. Em diferentes férrea, com aglomerados humanos miscigenados
contextos, artistas usaram sua produção para corroborar e também com o subemprego das personagens,
determinados projetos políticos ou consentiram que suas como o carteiro Joaquim dos Anjos e o seleiro
criações fossem apropriadas e sustentadas por movimentos José Amaro.
<id>001598_por_f2_c12_q0055</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
políticos, dentro ou fora do Estado.
10. UFRGS 2017 Leia os trechos abaixo, retirados res-
(PRADO, Maria Ligia; PELLEGRINO, Gabriela. História da pectivamente do segundo e do penúltimo capítulo de
América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. p. 187-188)
Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
É exemplo de uma literatura engajada em projetos de
— Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
transformação social uma parte expressiva da obra
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto,
romanesca de Jorge Amado, na qual, por exemplo,
com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar sozinho. E,
ressalta, em tom de denúncia, pensando bem, ele não era um homem; era apenas um
a) o melancólico final dos velhos engenhos açuca- cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho,
reiros da Paraíba, como narrado nostalgicamente queimado, tinha olhos azuis e os cabelos ruivos; mas
em Fogo morto. como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios,
b) a reação da sociedade conservadora à vida mar- descobria-se, encolhia-se na presença de brancos e
ginal dos meninos abandonados, exposta com julgava-se cabra. (Capítulo II).
crueza em Capitães da Areia.
Cabra ordinário, mofino, encolhera-se e ensinara o
c) a brutalidade dos coronéis nordestinos do início
caminho. Esfregou a testa suada e enrugada. Para que re-
do século, de hábitos ainda escravocratas, tal cordar a vergonha? Pobre dele. Estava tão decidido que
como se registra em São Bernardo. ele viveria sempre assim? Cabra safado, mole. Se não fosse
d) os hábitos autoritários da casta favorecida pela in- tão fraco, teria entrado no cangaço e feito misérias. Depois
dustrialização do cacau, apontados em Os velhos levaria um tiro de emboscada ou envelheceria na cadeia,
marinheiros. cumprindo sentença, mas isto não era melhor que acabar-
e) o papel político revolucionário assumido no ser- -se numa beira de caminho, assando no calor, a mulher e
tão baiano pela protagonista de Gabriela, cravo os filhos acabando-se também. Devia ter furado o pescoço
e canela. do amarelo com faca de ponta, devagar. Talvez estivesse
<id>001598_por_f2_c12_q0054</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> preso e respeitado, um homem respeitado, um homem.
9. UFPR 2017 A respeito dos romances Clara dos Anjos, Assim como estava, ninguém podia respeitá-lo. Não era
de Lima Barreto, e Fogo Morto, de José Lins do Rego, homem, não era nada. Aguentava zinco no lombo e não
assinale a alternativa correta. se vingava. (Capítulo XII).
a) Clara dos Anjos é um romance memorialístico, no
Assinale a alternativa correta sobre os trechos acima.
qual os acontecimentos rememorados permitem
a) No segundo trecho, Fabiano revela o projeto de virar
compreender a origem da família da protagonista;
cangaceiro para ser respeitado como um homem.
Fogo Morto é um romance intimista que dá a co-
b) No primeiro trecho, Fabiano revela vergonha de
nhecer a vida de um núcleo familiar aristocrático
se afirmar como homem, por ser “apenas um ca-
ao longo da década de 1930.
bra ocupado em guardar as coisas dos outros”.
b) Os pontos de vista narrativos desses roman-
c) No primeiro e no segundo trechos, a sensação de
ces diferem um do outro, porque, em Clara
não ser homem permanece, apesar de Fabiano
dos Anjos, o narrador participa da trama como
ter furado o pescoço do soldado amarelo.
personagem, narrando acontecimentos de que
d) Em ambos os trechos, Fabiano revive a vergonha
participou, enquanto, em Fogo Morto, o narrador
de ter dito que era homem para o soldado amarelo.
é onisciente, dedicando-se a investigar a alma
e) Na presença dos meninos, Fabiano luta para su-
das personagens.
perar a vergonha de ser cabra e de se afirmar
c) Nos dois romances, as mulheres pobres não re-
como homem.
cebem educação formal e são submetidas a uma <id>001598_por_f2_c12_q0056</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
rotina de violência familiar. Seu destino é o enlou- 11. Fuvest-SP 2017 Leia o trecho de Vidas secas, de
quecimento, como acontece com Marta e Neném Graciliano Ramos, para, em seguida, responder ao
em Fogo Morto, ou a insubmissão, como acon- que se pede.
tece com Clara dos Anjos, que abandona a casa Aí Fabiano parou, sentou-se, lavou os pés duros, pro-
dos pais. curando retirar das gretas fundas o barro que lá havia. Sem
d) Nos dois romances, a cultura popular aparece se enxugar, tentou calçar-se – e foi uma dificuldade: os cal-
representada pela música, que agrada a diferen- canhares das meias de algodão formaram bolos nos peitos
tes personagens: em Clara dos Anjos, a modinha dos pés e as botinas de vaqueta resistiram como virgens.
aproxima Cassi Jones da família de Clara; em Sinha Vitória levantou a saia, sentou-se no chão e limpou-se
241
qualquer custo, ignorando princípios éticos e va- Em termos críticos, esse fragmento permite observar
lores humanitários. que, no plano maior do romance Angústia, o ponto
b) procura adequar sua atividade produtiva e função de vista
de empresário às regras do Estado democrático de a) se acomoda nos limites da vulgaridade.
direito, ajustando o interesse pessoal ao bem da b) tenta imitar a retórica dos dominantes.
sociedade. c) reproduz a lógica do determinismo social.
c) relata aos seus interlocutores fatos que lhe ocor- d) atinge a neutralidade do espírito maduro.
reram em um passado distante, e enumera ações e) revira os lados contrários da opinião.
<id>002447_por_f2_c12_q0009</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
que põem em evidência as suas muitas virtudes </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
de homem do campo. 20. Uerr 2023 [Quanto] à questão da incorporação dos po-
d) demonstra ser um homem honrado, patriota e au- bres pelo romance de 30, é preciso acrescentar que uma
abertura desse tipo coloca para o intelectual, oriundo ge-
dacioso, atributos ressaltados pela realização de
ralmente das classes médias ou de algum tipo de elite
ações que se ajustam ao princípio de que os fins
decaída, o problema de lidar com um outro. Esse pro-
justificam os meios.
blema foi vivido em profundidade pelos autores daquela
e) amplia o seu patrimônio graças ao esforço pes- década e bem ou mal resolvido de várias maneiras dife-
soal, contando com a sorte e a capacidade de rentes. [...] Para Graciliano, como se vê, o roceiro pobre
iniciativa, sendo um exemplo de empreendedor é um outro, enigmático, impermeável. Não há solução
com responsabilidade social. fácil para uma tentativa de incorporação dessa figura no
<id>001598_por_f2_c12_q0065</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
campo da ficção. E lidando com o impasse, ao invés das
18. UFRGS 2015 Leia as seguintes afirmações sobre a
fáceis soluções, que Graciliano vai criar Vidas Secas, ela-
obra de Graciliano Ramos. borando uma linguagem, uma estrutura romanesca, uma
I. No romance Angústia, Luís da Silva narra seu constituição de narrador, um recorte de tempo, enfim,
dilema de ou casar-se com a vizinha Marina ou um verdadeiro gênero a se esgotar num único roman-
mudar-se para o Rio de Janeiro para trabalhar ce, em que narrador e criaturas se tocam, mas não se
como funcionário público. identificam. Em grande medida, o impasse acontece por-
FRENTE 2
II. Em São Bernardo, Paulo Honório, narrador pro- que, para a intelectualidade brasileira daquele momento,
tagonista, recupera sua trajetória de sucesso o pobre, a despeito de aparecer idealizado em certos
aspectos, ainda é visto como um ser humano meio de
econômico, mas de fracasso afetivo.
segunda categoria, simples demais, incapaz de ter pen-
III. No romance Vidas Secas, é narrada a dura trajetó- samentos demasiadamente complexos – lembre-se que
ria de uma família de retirantes, que luta contra as a crítica achou inverossímil que Paulo Honório fosse o
condições adversas, tanto naturais como sociais. narrador de S. Bernardo. O que Vidas Secas faz é, com
243
22. Enem 2018 Certa vez minha mãe surrou-me com uma
a adoção de uma linguagem simples, pulsante e
corda nodosa que me pintou as costas de manchas san-
semelhante à língua falada aproxima o narrador
grentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu
das classes populares.
distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos. Dei-
c) o autor se identifica com o personagem popular
taram-me, enrolaram-me em panos molhados com água
graças à reinvenção da língua do povo expres-
de sal – e houve uma discussão na família. Minha avó,
sa em neologismos esteticamente refinados, a
que nos visitava, condenou o procedimento da filha e
exemplo do que fez Guimarães Rosa. esta afligiu-se. Irritada, ferira-me à toa, sem querer. Não
d) à semelhança de Os sertões, de Euclides da guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó.
Cunha, a perspectiva do narrador é a do obser- RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1998.
vador culto e distanciado da visão de mundo
limitada atribuída ao sertanejo inculto. Num texto narrativo, a sequência dos fatos contribui
e) a distância entre autor e personagens populares para a progressão temática. No fragmento, esse pro-
é problematizada; assim, a perspectiva única do cesso é indicado pela
autor não prevalece e manifesta-se a riqueza hu- a) alternância das pessoas do discurso que determi-
mana real que constitui os personagens. nam o foco narrativo.
<id>001598_por_f2_c12_q0068</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> b) utilização de formas verbais que marcam tempos
21. Unicamp-SP O excerto abaixo, de Vidas Secas, trata narrativos variados.
da personagem sinha Vitória: c) indeterminação dos sujeitos de ações que carac-
Calçada naquilo, trôpega, mexia-se como um terizam os eventos narrados.
papagaio, era ridícula. Sinha Vitória ofendera-se grave- d) justaposição de frases que relacionam semantica-
mente com a comparação, e se não fosse o respeito que mente os acontecimentos narrados.
Fabiano lhe inspirava, teria despropositado. Efetivamen- e) recorrência de expressões adverbiais que organi-
te os sapatos apertavam-lhe os dedos, faziam-lhe calos. zam temporalmente a narrativa.
<id>001598_por_f2_c12_q0070</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
Equilibrava-se mal, tropeçava, manquejava, trepada nos </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
saltos de meio palmo. Devia ser ridícula, mas a opinião 23. UPE [...] Uma tarde surpreendi no oitão da capela [...]
de Fabiano entristecera-a muito. Desfeitas essas nuvens, Luís Padilha discursando para Marciano e Casimiro
curtidos os dissabores, a cama de novo lhe aparecera no Lopes:
horizonte acanhado. Agora pensava nela de mau humor. — Um roubo. É o que tem sido demonstrado cate-
Julgava-a inatingível e misturava-a às obrigações da casa. goricamente pelos filósofos e vem nos livros. Vejam: mais
[...] Um mormaço levantava se da terra queimada. Es- de uma légua de terra, casas, mata, açude, gado, tudo de
tremeceu lembrando-se da seca [...]. Diligenciou afastar um homem. Não está certo.
a recordação, temendo que ela virasse realidade. [...] — O senhor tem razão, seu Padilha. Eu não entendo,
Agachou-se, atiçou o fogo, apanhou uma brasa com a sou bruto, mas perco o sono assuntando nisso. A gente se
colher, acendeu o cachimbo, pôs-se a chupar o canudo mata por causa dos outros. É ou não é Casimiro?
de taquari cheio de sarro. Jogou longe uma cusparada, Casimiro Lopes franziu as ventas, declarou que as
que passou por cima da janela e foi cair no terreiro. coisas desde o começo do mundo tinham dono.
Preparou-se para cuspir novamente. Por uma extrava- — Qual dono! gritou Padilha. O que há é que morre-
gante associação, relacionou esse ato com a lembrança mos trabalhando para enriquecer os outros.
da cama. Se o cuspo alcançasse o terreiro, a cama seria [...] Conheci que Madalena era boa em demasia, mas
comprada antes do fim do ano. Encheu a boca de sali- não conheci tudo de uma vez. Ela se revelou pouco a
va, inclinou-se – e não conseguiu o que esperava. Fez pouco, e nunca se revelou inteiramente. A culpa foi mi-
várias tentativas, inutilmente. [...] Olhou de novo os pés nha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu
espalmados. Efetivamente não se acostumava a calçar uma alma agreste.
seja, donos de grandes extensões de terras que 26. Angústia, de Graciliano Ramos, faz parte do ciclo
se enriquecem apropriando-se do trabalho de de romances regionalistas da segunda geração dos
pessoas pertencentes às camadas mais pobres modernistas brasileiros. A obra apresenta algumas ca-
da sociedade, sem lhes pagarem o que merecem. racterísticas específicas que a classificam como:
“vida agreste” e “alma agreste”, a que Paulo a) romance intimista. d) romance de folhetim.
Honório se refere, significa que ele tinha esses b) romance engajado. e) obra de tese.
atributos por residir no Nordeste do país. c) romance social.
<id>001598_por_f2_c12_q0074</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
Paulo Honório conseguiu se apropriar da fazenda </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
São Bernardo, da vida das pessoas que trabalha- 27. PUC-Campinas 2016 Por vezes, a literatura pode se
vam com ele, porém não conseguiu se apropriar pautar por diferentes tempos: há o tempo da história
da vida de Madalena, sua esposa. narrada, de sua sequência cronológica, e há o tempo
A narrativa traz uma das características predomi- da linguagem que processa essa história. A linguagem
nantes na escritura de Graciliano Ramos, que é a experimental do irlandês James Joyce reinterpreta,
elaboração através de períodos breves, obtendo em pleno século XX, a história mítica de Ulisses. No
o máximo de efeito com o mínimo de recursos. Brasil, há uma ocorrência similar, se pensamos em
Paulo Honório, perseguido pelo remorso, utiliza-se Grande sertão: veredas, romance no qual Guimarães
da narrativa em terceira pessoa para contar a sua Rosa articula magistralmente dois planos temporais:
própria história e, com isso, afastar seus fantasmas. a) a história do passado colonial e o registro das ve-
<id>001598_por_f2_c12_q0071</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
lhas crônicas medievais.
24. UFMG Leia estes trechos: b) o ritmo cantante da lírica e a urgente denúncia
Trecho 1 política.
O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e c) o universo arcaico do sertão e a expressão lin-
restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não conse- guística ousada e inventiva.
gui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é d) a corrosão nostálgica da memória e a busca de
igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, uma nova mitologia.
vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que e) o desapego às crenças do passado e a obsessão
perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui pelo experimentalismo estético.
<id>001598_por_f2_c12_q0075</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe tia </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
245
29. EsPCEx-SP 2015 Leia o trecho a seguir e responda. O artigo de Euclides da Cunha, publicado em 1897,
O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não
aborda o espaço do sertão de uma perspectiva dife-
seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a den- rente da abordada por Guimarães Rosa. Considerando
tro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia. o momento literário em que os autores produzem suas
Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não obras, explique as diferenças no significado do sertão.
<id>001598_por_f2_c12_q0080</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga:
31. Fuvest-SP 2021 Leia o texto e responda à questão.
é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar
dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde Só a Rosa parecia capaz de compreender no meio do
criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de auto- sentir, mas um sentimento sabido e um compreendido adi-
ridade. O Urucúia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que vinhado. Porque o que Miguilim queria era assim como
na beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de algum sinal do Dito morto ainda no Dito vivo, ou do Dito
vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata vivo mesmo no Dito morto. Só a Rosa foi quem uma vez
em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá disse que o Dito era uma alminha que via o Céu por detrás
há. Os gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. do morro, e que por isso estava marcado para não ficar
Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou muito tempo mais aqui. E disse que o Dito falava com cada
pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda parte. pessoa como se ela fosse uma, diferente; mas que gostava
Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas. de todas, como se todas fossem iguais. E disse que o Dito
Quanto ao trecho, é correto afirmar que nunca tinha mudado, enquanto em vida, e por isso, se a
a) não há ponto de vista do narrador, que apenas gente tivesse um retratinho dele, podia se ver como os traços
relata as impressões alheias. do retrato agora mudavam. Mas ela já tinha perguntado,
b) apresenta alguns neologismos, como “toleima”, ninguém não tinha um retratinho do Dito. E disse que o
“almargem”, “opiniães” e “oestes”. Dito parecia uma pessoinha velha, muito velha em nova.
c) não há abordagem universal, a passagem consti- João Guimarães Rosa. Campo Geral.
tui apenas uma descrição do sertão. a) Sabendo que o quiasmo é uma figura de estilo
d) o trecho transpõe os limites do regional, alcan- formada por uma dupla antítese cujos termos se
çando a dimensão universal. cruzam, identifique um exemplo de quiasmo no
e) transparece todo misticismo sertanejo, baseado texto e explique a sua construção.
apenas nos dois extremos: o bem e o mal. b) Nas palavras do crítico Paulo Rónai, o escritor
<id>001598_por_f2_c12_q0078</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Guimarães Rosa sonda as suas personagens
30. Leia os trechos seguintes para responder à questão.
“num momento de crise, quando, acuadas pelo
Texto I amor, pela doença ou pela morte, procuram de-
E sobre as chapadas desertas e desoladas alevantam-se sesperadamente tomar consciência de si mesmas
quase que exclusivamente os mandacarus (cereus) silentes e buscam o sentido de sua vida”. Como a ausên-
e majestosos; árvores providenciais em cujos galhos e raí- cia de Dito desperta a inquietação de Miguilim?
<id>001598_por_f2_c12_q0081</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
zes armazenam-se os últimos recursos para a satisfação da </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
sede e da fome ao viajante retardatário – cactáceas gigantes 32. UnB-DF (Adapt.) No texto a seguir, de João Guimarães
que, revestidas de grandes frutos de um vermelho rutilante e Rosa, a face, a imagem, está no âmbito da reflexão es-
subdividindo-se com admirável simetria em galhos ascenden- pecular: real, virtual, simbólica.
tes, igualmente afastados, patenteiam a conformação típica O espelho
e bizarra de grandes candelabros firmados sobre o solo…
Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura, mas
CUNHA, Euclides da. A nossa Vendéia. Euclidesite. Obras de Euclides
da Cunha. Crônicas. Disponível em: https://euclidesite.com.br/obras-de- experiência, a que me induziram, alternadamente, séries de
euclides/cronicas/a-nossa-vendeia/. Acesso em: 12 dez. 2023. raciocínios e intuições. Tomou-me tempo. Surpreendo-me,
Texto II porém, um tanto à parte de todos, penetrando conhecimen-
O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não 5 to que os outros ainda ignoram. O senhor, por exemplo,
seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a que sabe e estuda, suponho nem tenha ideia do que seja,
dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do na verdade — um espelho? Decerto, das noções de física,
Urucuia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, com que se familiarizou, as leis da ótica. Reporto-me ao
o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão transcendente, todavia...
se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um 10 O espelho, são muitos, captando-lhe as feições;
pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de mo- todos refletem-lhe o rosto, e o senhor crê-se com as-
rador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do pecto próprio e praticamente inalterado, do qual lhe
arrocho de autoridade. dão imagem fiel. Mas — que espelho? Há-os bons e
[...] maus, os que favorecem e os que detraem; e os que
Em termos, gostava que morasse aqui, ou perto, era uma 15 são apenas honestos, pois não. E onde situar o nível e
ajuda. Aqui não se tem convívio que instruir. Sertão. Sabe o ponto dessa honestidade ou fidedignidade?
senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais Como é que o senhor, eu, os restantes próximos,
forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso... somos, no visível? O senhor dirá: as fotografias o com-
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 20. ed. –
provam. Respondo: que, além de prevalecerem para as
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 20 lentes das máquinas objeções análogas, seus resultados
Com referência ao texto O espelho, e a questões por ele suscitadas, julgue os itens a seguir.
No fragmento de texto apresentado, extraído de um conto de Guimarães Rosa, o estilo de composição diverge
esteticamente do verificado na obra-prima do autor, Grande Sertão: Veredas, caracterizada pelo regionalismo
pitoresco e folclórico, avesso a reflexões filosóficas, transcendentes ou existenciais.
Na estrutura “do qual lhe dão imagem fiel” (l. 12 e 13), a expressão “imagem fiel”, em termos semânticos, é a in-
formação nova do período, tendo em vista que os elementos “do qual”, “lhe” e “dão” retomam, respectivamente,
referência em constituintes sintáticos anteriores, a saber: “aspecto próprio e praticamente inalterado” (l. 11 e 12);
“o senhor” (l. 11); e “todos” (l. 11), sujeito da oração.
Levando em consideração o texto em seu nível semântico e, ainda, o que o narrador postula acerca da reflexão de
imagens em espelho plano, os vocábulos “fotografias” (l. 18), “lentes” (l. 20), “olhos” (l. 28 e 29), bem como a expressão
“superfícies de água quieta” (l. 34) e os correlatos, formariam um conjunto lexical e semântico cujo traço unificador
evidenciaria, na ótica do narrador, uma simplificação da realidade operada pela visão e pelo cérebro.
As estruturas “Não se esqueça, é de fenômenos sutis que estamos tratando” (l. 24) e Não se esqueça, estamos
tratando de fenômenos sutis são análogas no que se refere aos constituintes sintáticos, mas se distinguem
quanto a efeitos discursivos: a primeira, mas não a segunda, evidencia feitos obtidos pela focalização de com-
plemento verbal.
<id>001598_por_f2_c12_q0082</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Um boi vê os homens
Tão delicados (mais que um arbusto) e correm
e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
[...]
Carlos Drummond de Andrade, “Um boi vê os homens”. Claro enigma.
FRENTE 2
a) Em ambos os textos, o assombro de quem vê decorre das avaliações contrastantes sobre quem é visto. Justifique
essa afirmação com base em cada um dos textos.
b) O conto de Rosa e o poema de Drummond valem-se de uma mesma figura de linguagem. Explicite essa figura e
justifique sua resposta.
247
EM13LP01
Jorge Amado foi um autor engajado e interessado em temas relacionados à miséria do povo brasileiro. Que crítica
podemos observar no trecho lido?
<id>001598_por_f2_c12_q0084</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
EM13LP06
No trecho, o narrador Luís da Silva evidencia que sua relação com o passado se associa a:
a) saudade.
b) remorso.
c) medo.
d) tormento.
e) dúvida.
<id>001598_por_f2_c12_q0085</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
EM13LP01
3. Sobre a Geração de 1945, ou seja, a prosa neomodernista, assinale V (verdadeiro) ou F (falso) nas afirmativas a seguir.
Movimento de renovação cultural e artística que buscava definir uma identidade nacional e opunha-se ao modo de
vida e aos ideais da elite brasileira.
Fase heroica, caracterizada por intenso experimentalismo na forma e nos temas. Os escritores desse período
tentaram incorporar os motes vanguardistas à literatura nacional.
Período de continuação do neorrealismo, tanto na vertente urbana como na regionalista. Expansão do regiona-
lismo e inovações temáticas e linguísticas, com destaque para Guimarães Rosa.
Período em que surgiu o verde-amarelismo, manifestação contrária à estética pau-brasil. Defesa de uma arte
genuinamente nacional, ufanista e valorização do elemento indígena.
Exercícios propostos
Capítulo 12 — Regências verbal e nominal
1. a) Assim como num jogo de dominó, em que é preciso encaixar
as peças de acordo com um padrão, a autora explica que a Revisando
biografia era não apenas um texto sobre a vida de alguém,
1. A 5. D
mas também uma homenagem, que deveria ser escrita por
alguém igualmente importante. Assim, o jogo de dominó a 2. D 6. Soma: 01 + 04 = 05
que a autora se refere é esse jogo de encaixar alguém que 3. A 7. D
pudesse enaltecer o biografado (quem produzia a biografia 4. C 8. Soma: 02 + 04 + 08 = 14
indicava a importância do biografado), o que também, por
consequência, seria um elogio à instituição e ao país. Exercícios propostos
b) A locução “a princípio” é um adjunto adverbial de tempo, que,
1. E 5. E 9. A 13. B
pelo fato de estar deslocado no período (no início da oração a
que se refere), foi colocado entre vírgulas. Já a oração “quan- 2. C 6. D 10. C 14. B
do um dos sócios falecia” é adverbial temporal e também foi 3. B 7. B 11. E 15. D
colocada antes da oração principal no período do qual faz par- 4. B 8. D 12. A 16. C
te (e após o conectivo, “isto é”, que introduz uma explicação
para o período anterior), por isso a colocação entre vírgulas. Exercícios complementares
2. B 6. B 10. B 14. A 1. Soma: 01 + 04 = 05 9. B
3. D 7. A 11. D 2. B 10. D
4. D 8. E 12. C 3. D 11. E
5. A 9. C 13. D 4. F; F; V; F; V 12. C
15. O uso da vírgula é obrigatório, já que há vírgula depois do termo 5. C 13. C
“passo a passo”, indicando que se trata de um adjunto adverbial
deslocado. 6. E 14. A
249
3. C 22. A
251
15. A.
20. a)
Tradicionalmente, a poesia lírica distingue-se pela enuncia- Capítulo 11 — O Modernismo no Brasil:
ção de um sujeito lírico, ou seja, pela expressividade poética a poesia mística e social
de uma subjetividade, suas emoções, seus sentimentos. Já
no poema de Manuel Bandeira, a objetividade predomina Revisando
na enunciação poética em detrimento da subjetividade.
1. B
b) Há uma série de elementos no poema que evidenciam seu
caráter narrativo. A voz poética configura-se como um nar- 2. A
rador-observador, ou seja, simula um foco narrativo em 3a 3. A estrutura da obra de Cecília Meireles é inspirada nas narrati-
pessoa, que conta sucintamente a trajetória da personagem vas medievais de origem oral chamadas de romances. Cecília
João Gostoso. Para a organização temporal do enredo, os organiza seus 85 romances em cinco partes, sendo que cada
verbos estão conjugados ora no pretérito imperfeito, para um deles tem o ritmo marcado pelo verso redondilho, ou seja,
evidenciar ações que se prolongam no passado (“era” e “mo- cinco e sete sílabas métricas, o que dá fluidez à leitura.
rava”), ora no pretérito perfeito, para a enumeração de uma 4. O ouro foi um dos motivadores da Inconfidência Mineira e foi
sequência de ações pontuais (“chegou”, “bebeu”, “cantou”, por dinheiro que os inconfidentes foram traídos, daí o ouro ser
“dançou” etc.). Além disso, o enredo de João Gostoso culmi- simbolizado no Romanceiro da Inconfidência como um objeto
na, enfim, no clímax (“se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e que desperta ganância, violência e morte.
morreu afogado”).
5. Antonio Candido afirma que há dualismo no próprio título, uma
21. Quanto à natureza temática, o poema de Manuel Bandeira trans- vez que o pastor pianista pode tocar ou apascentar os pianos
forma em matéria poética um evento colhido de “uma notícia de na planície. O pastor é um termo que se refere ao ambien-
jornal”, distanciando-se do lema “arte pela arte” parnasiano ou do te campestre, no entanto, pastor que apascenta pianos está
transcendentalismo simbolista. No que tange à natureza formal, fora da lógica e da realidade, por isso o termo “pianista” pode
o poema opta pelo verso livre, pela irregularidade métrica, pela funcionar como adjunto adnominal que amplia a linguagem
inexistência de rimas e pelas formulações sintáticas simples e pró- poética.
ximas da oralidade e da coloquialidade, opondo-se às estéticas
6. Trata-se do Surrealismo; seu efeito está na ampliação da lin-
parnasiana e simbolista, que prezavam por inversões sintáticas
guagem, na figuração de pianos sendo apascentados por um
complexas, vocabulário erudito, rimas raras e formas tradicionais
pianista em plena planície, como se fosse a descrição de uma
da poesia, como o soneto.
cena onírica.
22. C
7. A expressão “Essa negra Fulô” é a reprodução da fala da sinhá e
23. Soma: 02 + 16 = 18 representa as relações de poder do sistema escravocrata. A re-
24. E petição do verso é uma reiteração da denúncia dessas relações
no plano das violências raciais, entre outras presentes no poema.
BNCC em foco 8. A opressão, as humilhações e os castigos contra a escrava são
o tom dado ao poema; por essa razão, a imagem de uma mulher
1. Como se afirma no texto de Elaine Patricia Cruz sobre a Semana bonita com atributos físicos e traços da beleza de sua raça des-
de 22, os modernistas “fizeram de tudo para que realmente ela toam da violência a que é submetida a mulher.
fosse polêmica e para se alinhar à ideia de vanguarda”, o que
significa que o valor da semana foi construído ao longo dos anos
que se seguiram. Alguns fatos, por exemplo, foram apagados da
Exercícios propostos
história do grande evento cultural ocorrido em fevereiro de 1922, 1. C 9. E
como o patrocínio vindo da elite cafeeira, o que era controverso,
2. V; F; V; F; V 10. D
uma vez que o conservadorismo era atacado pelos modernistas.
O fato de a participação de Plínio Salgado na semana ter sido 3. B
11. E
apagada da história, por seu alinhamento posterior às ideias do 4. Soma: 02 + 16 = 18
fascismo italiano, é outro indício de que os modernistas seriam 12. B
5. C
“insultadíssimos” e “celebérrimos”, de acordo com a construção 13. E
histórica que se faria com o tempo. 6. A
7. C 14. A
2. O Modernismo foi um movimento que visava romper com a cul-
tura passadista e com os grilhões do passado nacional. Nesse 8. A 15. E
sentido, a imagem do movimento sempre esteve associada à
16. O verso “(Desconfio que escrevi um poema.)” é irônico, pois
liberdade e à valorização da cultura brasileira. A ideia de asso-
contrasta com as ideias expostas nos versos iniciais, de que não
ciá-lo à política estatal do Estado Novo, período marcado pela
seria possível fazer verdadeira poesia no contexto de opressão
ditadura e censura aos meios culturais, embora tenha sido um
humana. Assim, ao declarar ao final que acredita ter conseguido
projeto do ministro de Getúlio Vargas, deveria ser dissociado
realizar esse feito, o eu lírico se sobrepõe ao caos e às antíteses
do movimento para evitar uma imagem negativa e distante de
da modernidade, “sobrevivendo” a esse contexto de opressão.
seus propósitos.
17. A
3. O grupo ProAcústica utilizou um símbolo da cidade de São Paulo
para chamar a atenção da população para um problema recor- 18. D
rente enfrentado pelos moradores: a poluição sonora. Pode-se 19. Soma: 01 + 04 + 08 = 13
253
255
BNCC em foco
1. A conversa entre o Padre José Pedro e João de Adão descrita
pelo narrador evidencia uma crítica às relações de poder e o
desejo de manutenção do status quo por parte da população
rica. Também há uma crítica aos órgãos governamentais, que
são responsáveis pela organização da sociedade.
2. D
3. F; F; V; F
Revisando
1. Observe a capa do livro Pauliceia desvairada, de Pierrot apaixonado
Mário de Andrade e leia a canção de Noel Rosa, com-
Um pierrô apaixonado
posta em 1935, para responder à questão.
Que vivia só cantando
Por causa de uma colombina
Reprodução
Exercícios propostos
O bicho
Vi ontem um bicho
(Disponível em: www.ims.com.br/ims/artista/colecao/claude-levi-strauss/ Na imundície do pátio
obra/1995.) Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Pobre alimária Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O cavalo e a carroça
O bicho não era um cão,
Estavam atravancados no trilho
Não era um gato,
E como o motorneiro se impacientasse Não era um rato.
Porque levava os advogados para os escritórios O bicho, meu Deus, era um homem.
Desatravancaram o veículo
E o animal disparou Assinale a alternativa que identifica esse tema recor-
Mas o lesto carroceiro rente nas duas obras.
Trepou na boleia a) A revolta e a indignação daqueles que sofrem a
E castigou o fugitivo atrelado miséria e a marginalização social.
Com um grandioso chicote b) O problema da fome, que avilta a dignidade humana.
(Oswald de Andrade. Pau-Brasil. São Paulo: Globo, 2003. p. 159.)
c) A aceitação da pobreza, que se tornou uma con-
dição inerente às sociedades modernas.
A imagem e o poema revelam a dinâmica do espaço d) A esperança como forma de enfrentar o sofrimen-
na cidade de São Paulo na primeira metade do sécu- to da fome e de garantir a sobrevivência.
lo XX. Qual alternativa a seguir formula corretamente e) O ato de escrever funciona como modo de driblar
essa dinâmica? a fome.
1. Ulbra-RS A obra Macunaíma, de Mário de Andrade, 4. ESPM-SP 2016 O ensaísta Roberto Schwarz alude ao
é composta de lendas variadas, com um vasto reper- fato de haver no país um descompasso ideológico,
tório de mitos e fábulas, que se mesclam tanto pela isto é, o desconcerto de uma sociedade escravista,
realidade, como pelo fantástico. Macunaíma subverte mais as ideias importadas do liberalismo europeu. De
a estrutura da narrativa, transgredindo os princípios onde a sensação de que, no Brasil, as ideias estão
de Aristóteles no que se refere às regras da veros- deslocadas em relação ao seu uso europeu: há um
similhança. Sob essa perspectiva e sobre a obra desacordo entre a situação local e o molde importado.
referida, assinale a alternativa correta. As ‘nossas’ coisas, assim, não seriam nossas.
a) Mário de Andrade procura, em Macunaíma, mos- Dos itens a seguir, o exemplo literário que reflete o
trar a colonização portuguesa e sua cultura diversa. espírito do tema anteriormente exposto é:
b) A máxima “herói sem nenhum caráter”, atribuída a) “Alguém há de cuidar que é frase inchada/Daquela
à rapsódia de Mário de Andrade, significa que a que lá se usa entre essa gente” (Cláudio Manuel
personagem protagonista possui caráter destemi- da Costa)
do e empreendedor. b) “Invejo o ourives quando escrevo;/Imito o amor/
c) Mário de Andrade apresenta um texto rico em Com que ele, em ouro, o alto-relevo/Faz de uma
linguagem formal mesclada ao coloquialismo, às flor.” (Olavo Bilac)
gírias, provérbios populares e frases-feitas com a c) “Minha terra tem primores,/Que tais não encontro
intenção de aproveitar e valorizar a variedade lin- eu cá;/Em cismar – sozinho à noite –/Mais prazer
guística brasileira. encontro eu lá;” (Gonçalves Dias)
d) “A praça! A praça é do povo/Como o céu é do con-
d) Macunaíma valoriza o espírito indígena assim como
dor,” (Castro Alves)
o comportamento colonialista dos portugueses.
e) “Tupi or not tupi, that is the question” (Oswald de
e) Macunaíma retrata a longa trajetória espacial do
Andrade)
herói que começa na cidade e termina na selva.
5. PUC-Campinas 2017 Na América Latina do século XX,
2. Enem 2016
em incontáveis momentos, a criação artística articu-
O bonde abre a viagem, Companheiro vou. lou-se com utopias ou perspectivas de transformação
No banco ninguém, O bonde está cheio, social. Em diferentes contextos, artistas usaram sua pro-
Estou só, stou sem. De novo porém dução para corroborar determinados projetos políticos
Depois sobe um homem, Não sou mais ninguém.
ou consentiram que suas criações fossem apropriadas
No banco sentou,
e sustentadas por movimentos políticos, dentro ou fora
ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Vila Rica, 1993.
do Estado.
O desenvolvimento das grandes cidades e a conse- PRADO, Maria Ligia; PELLEGRINO, Gabriela. História da
América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. p. 187-8.
quente concentração populacional nos centros urbanos
geraram mudanças importantes no comportamento O Modernismo de 22 compreendeu aspirações utópi-
dos indivíduos em sociedade. No poema de Mário de cas não apenas ligadas ao desempenho artístico, mas
Andrade, publicado na década de 1940, a vida na me- também a ideais que poderiam nortear o futuro do
trópole aparece representada pela contraposição entre país. Parte dessas aspirações utópicas, vazadas em
a) a solidão e a multidão. tom crítico e irônico, encontra-se
b) a carência e a satisfação. a) no prefácio “Lede”, de Gonçalves de Magalhães.
c) a mobilidade e a lentidão. b) na “binomia” poética com que se definiu Álvares
d) a amizade e a indiferença. de Azevedo.
e) a mudança e a estagnação. c) no capítulo edificante e final de Os sertões, de
Euclides da Cunha.
3. IFPE 2020 O Modernismo brasileiro costuma ser divi-
d) na novela A hora e vez de Augusto Matraga, de
dido em três fases: a Geração de 22, a de 30 e a de 45.
Guimarães Rosa.
Essas Gerações têm como um de seus representantes,
e) no polêmico “manifesto da poesia Pau-Brasil”, de
respectivamente,
Oswald de Andrade.
a) Mário de Andrade, Aluísio de Azevedo e Euclides
da Cunha. 6. IFPE 2016
b) Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade
e Vinícius de Moraes. Cartas de meu avô
c) José de Alencar, Machado de Assis e João Cabral Manuel Bandeira
de Melo Neto. A tarde cai, por demais
d) Oswald de Andrade, Cecília Meireles e Guimarães Erma, úmida e silente…
Rosa. A chuva, em gotas glaciais,
e) Vinícius de Moraes, Ariano Suassuna e Olavo Bilac. Chora monotonamente.
Revisando
Exercícios propostos
Observe os três poemas que, apesar de autores diferen- Mas por dentro há outras pinturas,
tes, apresentam alguns pontos em comum. Sobre eles, que não se veem:
coloque V nas afirmativas verdadeiras e F nas falsas. umas são imagens do mundo,
Em Essa Negra Fulô e em Negra, o eu poético outras são inventadas.
revela ser herdeiro de preconceito, pois o ter-
mo negra é, no contexto dos dois poemas, uma O Olho é um teatro por dentro.
palavra que demonstra uma condição de inferio- E às vezes, sejam atores, sejam cenas,
ridade reveladora de uma atitude racista, própria
e às vezes, sejam imagens, sejam ausências,
daqueles que admitem ter sido necessária a es-
formam, no Olho, lágrimas.
cravidão para o progresso.
(Cecília Meireles)
Manuel Bandeira, diferentemente de Jorge de
Lima e Carlos Drummond de Andrade, critica, com Texto 2
veemência, em Irene no céu, o comportamento
dos antigos senhores de escravos, quando de-
A um ausente
monstra a atenção e o carinho de São Pedro, Tenho razão de sentir saudade,
permitindo que Irene entre no céu, ao dizer: “Entra, tenho razão de te acusar.
Irene. Você não precisa pedir licença”. Houve um pacto implícito que rompeste
Carlos Drummond de Andrade, Jorge de Lima e sem te despedires foste embora.
e Manuel Bandeira criaram três poemas narrati- Detonaste o pacto.
vos em que se relata a história de três escravos, Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
Texto 3
Ausência
Eu deixarei que morra em mim o desejo Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu
de amar os teus olhos que são doces. desabrocharás para a madrugada.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
Me veres eternamente exausto porque eu fui o grande íntimo da noite.
No entanto a tua presença é qualquer Porque eu encostei minha face na face da noite
coisa como a luz e a vida e ouvi a tua fala amorosa.
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e Porque meus dedos enlaçaram os dedos da
em minha voz a tua voz. névoa suspensos no espaço.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria E eu trouxe até mim a misteriosa essência do
terminado. teu abandono desordenado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos Eu ficarei só como os veleiros nos pontos
desesperados silenciosos.
Para que eu possa levar uma gota de orvalho Mas eu te possuirei como ninguém porque
nesta terra amaldiçoada. poderei partir.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do E todas as lamentações do mar, do vento, do
passado. céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em tua voz serenizada.
outra face.
(Vinícius de Moraes)
1. Imed-RS 2016 Leia os poemas a seguir, de Casimiro Analise as seguintes afirmações a partir dos poemas:
de Abreu e Carlos Drummond de Andrade, respecti- I. Embora Casimiro de Abreu integre o período lite-
vamente: rário romântico, e Carlos Drummond de Andrade,
o modernismo, ambos os poemas abordam a pas-
Meus oito anos sagem do tempo e a ideia de perda de momentos
Oh! Que saudades que tenho da vida humana: infância e juventude.
Da aurora da minha vida, II. No primeiro poema, o eu lírico apresenta a infância
Da minha infância querida com certo escapismo, fugindo, assim, do momento
— Que os anos não trazem mais! presente, o qual é resgatado no último verso.
III. Identifica-se que, em ambos os poemas, o eu lí-
Que amor, que sonhos, que flores, rico mostra-se pesaroso e inconformado com a
Naquelas tardes fagueiras passagem do tempo e da vida.
À sombra das bananeiras, Quais estão corretas?
Debaixo dos laranjais! […] a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e II.
Rezava às Ave-Marias,
d) Apenas II e III.
Achava o céu sempre lindo,
e) I, II e III.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar! 2. Unicamp-SP 2020 Leia os três excertos e responda à
questão.
Que doce a vida não era
Texto 1:
Em vez das mágoas de agora.
Mas cachoeira é barranco de chão, e água se caindo
Consolo na praia por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou
Vamos, não chores... desfaz o barranco, sobra cachoeira alguma? Viver é ne-
A infância está perdida. gócio muito perigoso...
(João Guimaraes Rosa, Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro:
A mocidade está perdida. Nova Fronteira, 2001, p. 26.)
Mas a vida não se perdeu.
Texto 2:
O primeiro amor passou. Chego à sacada e vejo a minha serra, / a serra de meu
O segundo amor passou. pai e meu avô, / de todos os Andrades que passaram /
O terceiro amor passou. e passarão, a serra que não passa. / [...] / Esta manhã
acordo e / não a encontro. / [...] / foge minha serra, vai /
Mas o coração continua.
deixando no meu corpo e na paisagem / mísero pó de
Perdeste o melhor amigo. ferro, e este não passa.
(Carlos Drummond de Andrade, Boitempo II. Rio de Janeiro:
Não tentaste qualquer viagem. Record, 1994, p. 72.)
Não possuis casa, navio, terra.
Texto 3:
Mas tens um cão.
Menor em quilômetros do que o desastre de Mariana,
Algumas palavras duras, causado pela Samarco, controlada pela mesma Vale, o de
em voz mansa, te golpearam. Brumadinho é gigante em gravidade: as florestas e rios
afetados eram muito mais ricos e importantes para o equi-
Nunca, nunca cicatrizam.
líbrio ambiental, salientam especialistas.
Mas, e o humour? (Fonte: https://oglobo.globo.com/brasil/dano-ambiental-em-brumadinho-
ameaca-centenas-de-especies-2324033. Acessado em 06/11/2019.)
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
A vida imita a arte. Quando Guimarães Rosa, que se
criou nas terras do sertão do Paraopeba, e Drummond
murmuraste um protesto tímido.
escreveram, provavelmente não imaginavam o que
Mas virão outros.
ocorreria em Brumadinho e Mariana. Percebe-se uma
relação entre um processo de transformação e as
Tudo somado, devias expressões “mísero pó de ferro”, em Drummond, e
precipitar-te, de vez, nas águas. “desfaz o barranco”, em Rosa. Identifique a atividade
Estás nu na areia, no vento... econômica e descreva o processo de transformação
Dorme, meu filho. da matéria-prima implícitos nos textos desses autores.
Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor contar.
Exercícios propostos
1. Acafe-SC 2020 Leia o comentário a seguir sobre Ca- c) Evidencia o tema da contestação armada à ordem
pitães da Areia, de Jorge Amado. vigente, representado pelo cangaço e o bando
de Antônio Silvino.
A segunda parte do romance se inicia com a apresenta-
d) A educação para o casamento e a desintegração
ção de dois novos personagens: a menina Dora e seu irmão
familiar caracterizaram a trágica condição das mo-
Zé Fuinha. A primeira ‘capitã da areia’ despertará o desejo se-
ças solteiras, a exemplo de Marta e Neném.
xual dos meninos, mas, defendida por ________ e _________,
e) Traça a história completa da ascensão à decadên-
acabará sendo aceita pelo grupo. Aos poucos, se torna a ‘mãe’
cia de uma casa e sua família, cujo símbolo é o
dos capitães, tão necessitados de afeto e carinho.
engenho Santa Fé e seus proprietários.
A alternativa que preenche corretamente os espaços
em branco é: 4. Uespi Graciliano Ramos foi um dos principais escri-
a) Gato – Boa Vida tores da Geração de 30. Geração esta que, dentro
b) Sem Pernas – Pedro Bala dos princípios do regionalismo, pensou o Brasil (seus
c) Volta Seca – Pirulito problemas sociais, políticos, religiosos, econômicos e
d) João Grande – Professor culturais) a partir de cada uma das suas regiões. São
Bernardo, romance publicado em 1934, tem como ce-
2. Unesp 2020 A ideia de pátria se vinculava estreitamente nário a zona pastoril de Alagoas. Sobre esta obra de
à de natureza e em parte extraía dela a sua justificativa. Graciliano, é correto afirmar o que segue.
Ambas conduziam a uma literatura que compensava o a) São Bernardo é narrado na terceira pessoa, o
atraso material e a debilidade das instituições por meio da que permite um distanciamento entre o narrador
supervalorização dos aspectos regionais, fazendo do exo- e o objeto da narrativa.
tismo razão de otimismo social. A partir de 1930 houve
b) Paulo Honório, o personagem principal do roman-
uma mudança de orientação, sobretudo na ficção regio-
ce, é filho de um rico proprietário rural, de quem
nalista, percebendo-se o que havia de mascaramento no
encanto pitoresco com que antes se abordava o homem
ele herda a fortuna.
rústico. Evidenciou-se a realidade dos solos pobres, das c) A narrativa do romance é concisa, clara, dinâmica,
técnicas arcaicas, da miséria pasmosa das populações, da sem se perder em episódios que sejam desne-
sua incultura paralisante. A visão que resulta dessa pers- cessários para a compreensão da obra.
pectiva é pessimista quanto ao presente e problemática d) Paulo Honório amarga “três anos, nove meses e
quanto ao futuro. quinze dias” na cadeia por matar a sua primeira
(Antonio Candido. A educação pela noite e namorada: Germana.
outros ensaios, 1989. Adaptado.)
e) As relações de Paulo Honório com os empregados
O excerto assinala uma reorientação nos rumos da lite- da fazenda são harmoniosas e sem nenhum conflito.
ratura brasileira, na medida em que os escritores
5. Mackenzie-SP
a) deparam-se com a instituição de uma regionaliza-
ção oficial pelo IBGE. Texto I
b) passam a mostrar os aspectos do Brasil como Vivia longe dos homens, só se dava bem com os
país subdesenvolvido. animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não
c) reconhecem o estabelecimento de alianças de- sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se
mocráticas no Brasil. com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem
d) percebem a assimilação do american way of life cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro
pelo povo brasileiro. entendia.
Graciliano Ramos, Vidas secas
e) optam pelo emprego de uma visão eurocêntrica
em sua produção literária. No texto I, a descrição do personagem Fabiano apon-
ta para as seguintes características, EXCETO:
3. Unioeste-PR 2018 Qual das afirmativas NÃO é proce-
a) adaptação do personagem ao meio natural.
dente em relação ao romance Fogo morto, de José
b) identificação com o animal.
Lins do Rego?
c) caráter antissocial.
a) Ambientado na região açucareira do nordeste, na
d) comportamento primitivo e espontâneo.
Várzea do Rio Paraíba, seu autor integra a gera-
e) revolta devido a sua condição familiar.
ção regionalista dos anos 30.
b) É dividido em quatro partes, centradas, respecti- 6. Enem
vamente nos seguintes temas: Mestre Zé Amaro;
Maria Bonita e os cangaceiros; O coronel e o lobi- Mudança
somem; A usina do seu Lula de Holanda. Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas
Exercícios complementares
1. ITA-SP 2017 O romance Fogo morto, de José Lins do Como era que sinha Vitória tinha dito? A frase dela
Rego, apresenta um amplo painel social do interior tornou ao espírito de Fabiano e logo a significação apa-
paraibano no final do século XIX. Acerca das persona- receu. As arribações bebiam a água. Bem. O gado curtia
gens, é correto dizer que sede e morria. Muito bem. As arribações matavam o gado.
a) os três principais senhores de engenho retrata- Estava certo. Matutando, a gente via que era assim, mas
dos são o Coronel Lula de Holanda, o Capitão sinha Vitória largava tiradas embaraçosas. Agora Fabiano
José Paulino e o mestre José Amaro. percebia o que ela queria dizer. Esqueceu a infelicidade
b) o Coronel Lula de Holanda, explorando os escra- próxima, riu-se encantado com a esperteza de sinha Vi-
tória. Uma pessoa como aquela valia ouro. Tinha ideias,
vos e tomando as terras de José Amaro, tornou-se
sim senhor, tinha muita coisa no miolo. Nas situações
o mais rico da Paraíba.
difíceis encontrava saída. Então! Descobrir que as arriba-
c) o Capitão Vitorino é uma figura quixotesca, pois,
ções matavam o gado! E matavam. Àquela hora o mulungu
mesmo ridicularizado pelo povo, luta contra os
do bebedouro, sem folhas e sem flores, uma garrancharia
desmandos das autoridades.
pelada, enfeitava-se de penas.
d) o líder cangaceiro Antônio Silvino consegue, no
[...]
final, acabar com a injustiça praticada pelos se-
Alargou o passo, desceu a ladeira, pisou a terra de alu-
nhores de engenho.
vião, aproximou-se do bebedouro. Havia um bater doido
e) o mestre José Amaro decide entrar para o bando de asas por cima da poça de água preta, a garrancheira do
de Antônio Silvino para se vingar do Coronel Lula mulungu estava completamente invisível. Pestes. Quando
de Holanda pelo que ele lhe fez. elas desciam do sertão, acabava-se tudo. O gado ia finar-
2. UFBA O Mulungu do bebedouro cobria-se de arribações. -se, até os espinhos secariam.
Mau sinal, provavelmente o sertão ia pegar fogo. Vinham Suspirou. Que havia de fazer? Fugir de novo, aboletar-
em bandos, arranchavam-se nas árvores da beira do rio, -se noutro lugar, recomeçar a vida. [...]
descansavam, bebiam e, como em redor não havia comi- RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 74. ed. Rio de Janeiro/São Paulo:
Record, 1998. p. 108-110.
da, seguiam viagem para o sul. O casal agoniado sonhava
desgraças. O sol chupava os poços, e aquelas excomunga- De acordo com esse trecho de Vidas secas, inserido
das levavam o resto da água, queriam matar o gado. na obra, é verdadeiro o que se afirma nas proposições
Sinha Vitória falou assim, mas Fabiano resmungou,
01 A personagem Fabiano aparece nessa narrativa —
franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves matarem
uma produção regionalista do Modernismo da
bois e cabras, que lembrança! Olhou a mulher, desconfia-
do, julgou que ela estivesse tresvariando. [...]
década de 30 — como um representante do ser-
Fabiano estirou o beiço e enrugou mais a testa suada: tanejo, de consciência embotada e raciocínio lento.
impossível compreender a intenção da mulher. [...] 02 O texto apresenta mais de um sujeito discursivo,
— Chi! Que fim de mundo! pois a personagem sinha Vitória vai gradativa-
Não permaneceria ali muito tempo. No silêncio com- mente ocupando todo o espaço no pensamento
prido só se ouvia um rumor de asas. de Fabiano.
7. Unicamp-SP 2016 [...] E, páginas adiante, o padre se portou ainda mais excelentemente, porque era mesmo uma brava
criatura. Tanto assim, que, na despedida, insistiu:
— Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a
passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria... Cada um tem a sua hora e a sua vez: você
há de ter a sua.
(João Guimarães Rosa, A hora e a vez de Augusto Matraga, em Sagarana. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001, p. 380.)
[...] Então, Augusto Matraga fechou um pouco os olhos, com sorriso intenso nos lábios lambuzados de sangue, e de seu
rosto subia um sério contentamento.
Daí, mais, olhou, procurando João Lomba, e disse, agora sussurrando, sumido:
— Põe a bênção na minha filha..., seja lá onde for que ela esteja... E, Dionóra... Fala com a Dionóra que está tudo
em ordem!
Depois morreu.
(Idem, p. 413.)
a) O segundo excerto, de certo modo, confirma os ditos do padre apresentados no primeiro. Contudo, “a hora e a vez”
do protagonista não são asseguradas, segundo a narrativa, pela reza e pelo trabalho. O que lhe garantiu ter “a sua
hora e a sua vez”?
b) “A hora e a vez” de Nhô Augusto relacionam-se aos encontros que ele tem com outro personagem, Joãozinho Bem-
-Bem, em dois momentos da narrativa. Em cada um desses momentos, Nhô Augusto precisa realizar uma escolha.
Indique quais são essas escolhas que importam para o processo de transformação do personagem protagonista.
Exercícios complementares
1. C 3. D 5. E 7. E Capítulo 12
2. A 4. E 6. A
Exercícios propostos
1. D
Capítulo 11
2. B
Revisando 3. B
4. C
1. B 2. D
5. E
Exercícios propostos 6. C
1. A 4. C 7. C 7. D
2. C 5. A 8. E 8. Soma: 02 + 08 + 16 = 26
3. A 6. D 9. C 9. A
1. C
2. Soma: 01 + 02 + 08 + 16 = 27
3. A
4. B
5. C
6. B
7. a) Ao salvar inocentes da sanha vingativa de Joãozinho Bem-
-Bem, Nhô Augusto encontra também a redenção final, obtida
com seu trabalho, sua reza e a fé de que teria sua hora e vez.
Matraga dá a vida, como Cristo, pelos seus semelhantes.
b) Nesse duelo fatal, os conceitos de bem e mal caem por terra,
pois o "bom" Augusto Estêves e o "mau" Joãozinho Bem-Bem
envolvem-se em uma ação que supera o maniqueísmo: o pri-
meiro faz o bem à família cometendo assassinato, enquanto o
segundo, ao assassinar o protagonista, dá-lhe sua redenção.
Capítulo 11 − Pontuação: emprego e efeitos • Expressa o estado emocional de um interlocutor: tristeza, ale-
de sentido gria, pena, surpresa etc.
• O uso da exclamação indica para o leitor/escritor a entonação
adequada à expressão de sentimentos.
A pontuação em textos
• Pode evidenciar uma surpresa (não explícita) quando utilizado
• A pontuação é um recurso gráfico próprio do texto escrito
de forma isolada em tirinhas e histórias em quadrinhos.
que auxilia o leitor a compreender aspectos do contexto de
comunicação: pausa, hesitação, ironia, tomada de turno (em Ponto de interrogação
um diálogo) etc.
• Sintaticamente, a pontuação ajuda a organizar as ideias em • Usado ao final de frases interrogativas.
núcleos informacionais, facilitando a compreensão textual. • Marca uma pergunta direta (espera-se obrigatoriamente uma
resposta).
• Os sinais de pontuação permitem:
a) recuperar a intenção comunicativa do enunciador;
• Marca uma pergunta retórica (não se espera, de fato, uma
resposta).
b) definir a entonação mais adequada no momento da leitura;
• Pode evidenciar uma dúvida (não explícita) quando utilizado
c) separar elementos intercalados em uma frase; de forma isolada em tirinhas e histórias em quadrinhos.
d) organizar orações em períodos compostos.
Dois-pontos
Usos da vírgula I
• Introduz, em textos literários, a fala de personagens.
• A vírgula pode ser utilizada, no interior das orações, para:
• Introduz palavras, expressões ou orações que evidenciam
a) separar elementos de mesma função sintática, enumerados uma explicação ou enumeração.
em uma sentença;
b) isolar termos repetidos; Travessão
c) demarcar um termo em frases com ordem indireta; • Marca, em textos literários, o diálogo entre personagens.
d) isolar um adjunto adverbial anteposto ou intercalado; • Separa, em textos literários, a fala da personagem da fala do
e) isolar o vocativo; narrador.
f) isolar o aposto; • Destaca um esclarecimento no interior (travessão duplo) ou
no final (travessão simples) de uma frase.
g) separar local em datas; separar números em endereços;
h) separar termos ligados por conjunções coordenadas Aspas
repetidas.
• As aspas podem ter diferentes funções em um texto:
Usos da vírgula II a) demarcar diálogo ou fala;
• Em períodos compostos, a vírgula tem outras finalidades: b) destacar um termo ou expressão;
a) separar orações coordenadas assindéticas (não ligadas c) indicar citação;
por conjunções); d) indicar ironia;
b) separar orações coordenadas sindéticas que estabelecem e) sinalizar título de obra;
relação de oposição, alternância, explicação ou conclusão;
f) demarcar gíria, neologismos, palavras estrangeiras ou des-
c) separar termos explicativos entre orações; vios da norma-padrão da língua.
d) separar orações coordenadas sindéticas unidas pela
conjunção “e” (quando não tem valor aditivo, quando os Ponto e vírgula
sujeitos são diferentes e quando a conjunção se repete); • Representa no texto um fechamento parcial de uma ideia.
e) separar orações subordinadas adverbiais quando vêm • Relaciona orações de mesma natureza, que tratam de um
antes da oração principal ou quando estão intercaladas; assunto em comum.
f) separar orações subordinadas adjetivas explicativas; • Relaciona orações coordenadas adversativas, desde que a
g) marcar supressão de uma ou mais palavras. conjunção adversativa venha deslocada.
• Separa uma oração de outra, quando, nesta segunda, foi usa-
Outros sinais de pontuação da uma vírgula (que, em geral, marca a omissão de um termo).
Ponto-final • Separa itens enumerados em um texto.
• Usado ao final de frases declarativas, evidenciando a afirma- Reticências
ção ou a negação de uma ideia.
• As reticências podem ser utilizadas para indicar:
• Marca o fechamento de uma ideia, mostrando a completude
de uma informação. a) a continuidade de uma ideia;
FRENTE 1
Capítulo 12 − Regências verbal e nominal • Pagar, perdoar: são transitivos diretos quando o seu comple-
mento se refere à coisa, e transitivos indiretos (preposição “a”)
quando o complemento se refere à pessoa. Podem também
Regência verbal
ser transitivos diretos e indiretos.
É a relação de dependência entre o verbo e o seu complemen-
to, que se estabelece por meio de preposição ou não. Alguns • Pedir: pede-se a ou para alguém alguma coisa ou que faça
verbos que podem gerar dúvidas de regência verbal são: alguma coisa.
• Abdicar: significando “rejeitar”, “desistir” rege, em geral, a • Preferir: é transitivo direto e indireto e rege a preposição “a”.
preposição “de”. • Visar: significando “objetivar”, “ter em vista” rege ou não a
• Aspirar: significando “desejar”, “almejar” rege a preposição preposição “a”.
“a” ou “por”.
Regência nominal
• Assistir: significando “presenciar”, “ver” rege a preposição “a”
É a relação de dependência entre um substantivo, adjetivo ou
e só aceita pronome tônico como complemento; significando
advérbio e os seu(s) complemento(s). Essa relação é sempre
“caber”, “competir” rege a preposição “a” e admite pronome
marcada por alguma preposição. Alguns casos que podem gerar
átono como complemento; significando “acompanhar”, “pres-
dúvidas de regência nominal:
tar assistência” usa-se ou não a preposição “a”.
• Chamar: significando “fazer”, “mandar ir ou vir” é transitivo Substantivos e adjetivos
direto; significando “bradar”, “clamar” rege a preposição “por”; • regem a preposição “a”: adepto, indiferente, alheio, junto, refe-
significando “tomar para si”, “assumir” rege a preposição “a”. rente, simpatia, favorável, tendência, imune, paralelo, relativo,
• Chegar, dirigir-se, ir, retornar, voltar: regem a preposição “a” acessível, adequado, desfavorável, equivalente, insensível,
(com o sentido “ir e voltar” também se usa a preposição “para”). obediente.
• Implicar: significando “resultar”, “ser a causa de” não se usa • regem a preposição “de”: junto, próximo, imune, contente,
preposição; significando “envolver”, “comprometer” é transi- capaz, incapaz, digno, indigno, passível, contemporâneo.
tivo direto e indireto e rege a preposição “em”; significando • regem a preposição “com”: junto, feliz, contente, amoroso,
“antipatizar”, “mostrar-se impaciente” rege a preposição “com”. compatível, cruel, cuidadoso, descontente.
• Morar, residir, situar-se, estabelecer-se: regem a preposição • regem a preposição “em”: feliz, entendido, indeciso, lento,
“em”. morador, hábil.
FRENTE 1
• Obedecer, desobedecer: regem a preposição “a”, tanto para • regem a preposição “para”: ansioso, inútil, bom.
coisa quanto para pessoa, e aceitam o pronome “lhe” como • regem a preposição “por”: ansioso, aversão, feliz, simpatia,
complemento para pessoa, e “a ele(s)/as” para coisa. contente, responsável.
LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 1 2
Advérbios • relativo a – relativamente a
Os advérbios terminados em -mente seguem a mesma regência • semelhante a – semelhantemente a
dos adjetivos de que são originados. Exemplos: • favorável a – favoravelmente a
• análogo a – analogamente a Os advérbios “perto” e “longe” são seguidos da preposição “de”.
Capítulo 13 − Crase
A crase é a fusão de dois sons idênticos. Na escrita, é marcada com o acento grave (`). Observe:
a
1 ñ à
(artigo)
aquele
àquele
a aquela
1 ñ àquela
(preposição) aquilo
àquilo
(pronome demonstrativo)
a qual
1 ñ à qual
(pronome relativo)
Ocorre crase
Regras Exemplos
Antes de palavras femininas, quando houver um vocábulo que exija a preposição “a”. Raíssa foi à loja ontem.
Antes de números que indicam hora determinada. Roseli chegou às três horas da manhã.
Antes de nome de lugar, desde que admita o uso do artigo feminino “a”. Aline vai à Bahia/Aline volta da Bahia.
Na expressão “às vezes” com sentido “de vez em quando”. Às vezes, Débora fica muito chateada.
Antes de palavras no plural especificadas por um artigo feminino. Refiro-me às cortinas da vovó Cecília.
Antes dos pronomes de tratamento “senhora”, “senhorita”, “madame” e “dona”. Peço perdão à senhorita Ivete.
Entre números, se antes do primeiro termo houver o artigo feminino “a”. A prova de Arlete será da sala 7 à 10.
Em locução conjuntiva formada por palavra feminina. Helena ficava mais cansada à medida que corria.
Em locução prepositiva formada por palavra feminina. Renato ficou à beira da morte.
Em pratos culinários em que se subentende a expressão “à moda de”. Hélio adora macarrão à bolonhesa.
Lis usou um vestido à moda parisiense.
Na locução “à moda de”, ainda que subentendida, inclusive antes de palavra masculina. Lis usou um vestido à parisiense.
Lis usou um vestido à Victor Valentim.
Regras Exemplos
Na expressão “as vezes” com sentido de “momentos”, “ocasiões”. Fico triste todas as vezes que não te vejo.
Antes de palavras no plural que têm sentido genérico e que não são especificadas por
Refiro-me a cortinas de seda.
um artigo feminino.
Em pratos culinários em que não se subentende a expressão “à moda de”. Paulo não gosta de frango a passarinho.
Entre números, se antes do primeiro número não houver o artigo feminino “a”. A prova da OAB será de 4 a 7 de março.
FRENTE 1
Antes de pronomes pessoais. Saulo disse a ela que era tudo mentira.
Uso facultativo
Regras Exemplos
Depois da locução prepositiva “até a”. Moisés foi até à/até a escola.
Antes de pronomes possessivos femininos. Bruno, fique atento à/a nossa palestra.
Antes de nomes próprios femininos de pessoa próxima. Dei um presente à/a Camila.
Obs.: Para nomes de pessoas famosas com as quais não se tem intimidade, não se deve A atriz se referia a Cláudia Raia.
utilizar o acento grave.
Outras ocorrências
• O acento grave pode ser utilizado em locuções sem que o fenômeno da crase aconteça, ou seja, sem que ocorra a fusão da pre-
posição e do artigo feminino. Por exemplo, na locução “à vista” pode ser utilizado o acento grave, apesar de este não demarcar
necessariamente o fenômeno da crase; trata-se de uma convenção de acentuação, pois a norma-padrão afirma ser admissível o
uso do acento grave em locuções adverbiais de modo formadas por um substantivo feminino.
Capítulo 14 − Verbo I: propriedades gramaticais • 3ª conjugação: vogal temática “i” (ex.: partir).
e semânticas Para cada conjugação, existe um modelo de flexão, isto é, um
paradigma verbal que orienta a conjugação da maioria dos ver-
bos. Quanto à regularidade desse paradigma, os verbos são
Conceito e princípios gerais classificados em:
O verbo tem a morfologia mais rica entre as classes de palavras,
• Regulares: são aqueles em que o radical permanece o mesmo
desempenhando um papel fundamental na organização da sen-
em todas as formas verbais. Ex.: cantar.
tença e do texto.
• Irregulares: são os verbos cujos radicais se alteram ou cujas
Estrutura e conjugação dos verbos terminações não seguem o modelo da conjugação a que per-
O verbo é formado obrigatoriamente por um radical geralmente tencem. Ex.: ouvir.
invariável, ao qual são acrescidos os sufixos modo-temporais e • Defectivos: são aqueles que não têm todas as conjugações.
o os sufixos número-pessoais. Ex.: abolir e reaver.
Em língua portuguesa, há três tipos de conjugação verbal, que • Anômalos: suas conjugações incluem mais de um radical.
FRENTE 1
são definidas pela vogal temática de cada verbo: Ex.: ser: (sede, era etc.) e ir (vou, fui, irei etc.).
• 1ª conjugação: vogal temática “a” (ex.: amar); • Abundantes: apresentam duas ou mais formas equivalentes.
• 2ª conjugação: vogal temática “e” (ex.: correr); e Ex.: aceitar (aceitado e aceito).
LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 1 4
Classificação semântica e formas nominais do verbo
Do ponto de vista das propriedades semânticas, existem: verbos significativos (por si só expressam um conteúdo semântico, uma
noção, um significado) e verbos não significativos, ou de estado (expressam uma condição de algo ou alguém).
No ordenamento sintático, os verbos significativos são classificados como:
• transitivos: necessitam de um complemento verbal direto ou indireto (com preposição).
• intransitivos: apresentam sentido completo, não necessitando de complementos.
• de ligação: estabelecem relação entre o sujeito e uma característica a ele atribuída.
As formas nominais do verbo não sofrem influência direta do tempo e não têm sujeito, podendo funcionar como substantivo ou ad-
jetivo. As formas nominais são: infinitivo (ex.: amar), gerúndio (ex.: amando) e particípio (ex.: amado).
Pretérito imperfeito Indica uma ação passada não concluída completamente. [eu] cantava
INDICATIVO
FRENTE 1
Capítulo 10 − Heróis do Modernismo no Brasil Pauliceia Desvairada. O autor desenvolveu intensa pesquisa
sobre a cultura e o folclore nacional, condensados em sua
• Mário de Andrade e Oswald de Andrade foram dois autores obra Macunaíma, publicada em 1928.
modernistas envolvidos com os preparativos da Semana de • Oswald de Andrade foi um dos autores mais irreverentes do
Arte Moderna. Manuel Bandeira não participou da ocasião Modernismo, cuja obra se desdobrou em poemas, manifestos,
diretamente, mas enviou seu poema “Os sapos”, declamado romances, peças teatrais. O Manifesto Antropófago é a síntese
por Ronald de Carvalho na abertura do evento. da deglutição cultural modernista.
• Os três autores são considerados os heróis do Modernismo, • Manuel Bandeira foi o poeta do cotidiano que revelou o su-
pois suas produções, embora apresentem singularidades, são blime por meio de sua poesia da simplicidade, mediante a
a síntese da ruptura modernista. emoção intensa do alumbramento. Sua obra mais represen-
• Mário de Andrade apresentou as intenções do movimento em tativa dos objetivos modernistas é Libertinagem, publicada
seu “Prefácio Interessantíssimo”, publicado em 1922 no livro em 1930.
Capítulo 11 − O Modernismo no Brasil: a poesia • A segunda fase é conhecida como fase negra ou regional e
mística e social é inspirada por uma onda de brasilidade.
• Nesse período, o autor adotou versos brancos e livres, con-
Carlos Drummond de Andrade ferindo por meio deles algumas particularidades da região
Nordeste a seus poemas.
• A poesia da segunda fase do Modernismo no Brasil, produzi-
da a partir da década de 1930, encontra-se em um contexto • Sua última fase é conhecida como épica. A obra de destaque
conturbado entre as duas guerras mundiais e a tensão da desse período é A invenção de Orfeu.
ditadura do Estado Novo da Era Vargas. • A obra de Jorge de Lima é complexa e enigmática, apresenta
• Os autores da Poesia de 1930, embalados pela liberdade diversas referências simbólicas, literárias e mitológicas.
formal característica da primeira fase modernista, procuram,
agora, posicionar-se de maneira engajada diante das ques- Murilo Mendes
tões sociais de seu tempo. • Sua obra apresenta como características o nacionalismo, o
• Além da denúncia social, outros aspectos presentes nas pro- folclore, o coloquialismo, o humor, o poema-piada e a paródia.
duções poéticas são: teor místico, caráter religioso e temas • A produção poética de Murilo Mendes dialoga com a de Mário
associados à efemeridade da vida e à morte. de Andrade e Oswald de Andrade.
• Carlos Drummond de Andrade, um dos poetas mais influentes • Seus poemas têm influência do Surrealismo.
do século XX, tem sua obra dividida em três fases: gauche, • Após a conversão ao catolicismo, a produção do autor ganha
social e filosófica.
um tom mais religioso e espiritualista, permeado de espe-
• A primeira fase da poética drummondiana aproxima-se das rança.
características irreverentes da primeira geração modernista.
• Na obra de Murilo Mendes, a poesia apresenta uma ambi-
• A fase social está atrelada ao contexto político e social do guidade marcada por salvação e martírio. Nesse sentido, a
Brasil e do mundo. dualidade e a visão dicotômica do mundo são características
• A fase filosófica apresenta reflexão e um tom pessimista diante de sua obra.
do fazer poético.
Vinicius de Moraes
Cecília Meireles • Produção poética dividida em duas fases: a cristã e a mate-
• Representante da vertente espiritualista do Modernismo. rialista/cotidiana.
• Poemas de tom intimista e religioso, pautados por uma lingua- • Na primeira fase, fortes tendências místicas e transcendentais,
gem próxima à abstração musical e fluidez onírica. além de certo tom religioso conferido pela formação católica
• Em sua obra, são temas recorrentes: o amor, o tempo, a morte do autor.
e a eternidade. • Na segunda fase, de tom mais sensual e erótico, os poemas
• Romanceiro da Inconfidência é considerado sua obra-prima. retratam um amor cotidiano.
Ela se organiza em romance, cenários e falas e mostra influên-
• Assim como os outros poetas de sua geração, parte de sua
cia do Arcadismo. Nos poemas, a autora reconta um episódio
produção evidencia uma preocupação com questões sociais.
histórico brasileiro: a Inconfidência Mineira.
FRENTE 2
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