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Português III

O documento discute a importância da pontuação na construção de sentidos em textos, comparando-a à técnica do pontilhismo na obra 'La calanque' de Paul Signac. Exemplos práticos, como o projeto 'Cartas de Amor nas Ruas', ilustram como a pontuação pode alterar a interpretação e a intenção comunicativa. A análise detalha funções específicas da vírgula e outros sinais de pontuação, enfatizando sua relevância na clareza e estilo da escrita.

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O documento discute a importância da pontuação na construção de sentidos em textos, comparando-a à técnica do pontilhismo na obra 'La calanque' de Paul Signac. Exemplos práticos, como o projeto 'Cartas de Amor nas Ruas', ilustram como a pontuação pode alterar a interpretação e a intenção comunicativa. A análise detalha funções específicas da vírgula e outros sinais de pontuação, enfatizando sua relevância na clareza e estilo da escrita.

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La calanque, de Paul Signac, 1906.

Museus Reais de Belas Artes da Bélgica, Bruxelas

FRENTE 1

CAPÍTULO Pontuação: emprego e efeitos

11
de sentido
A obra La calanque é formada por uma série de pontos, técnica conhecida
como “pontilhismo”. Nela, cada pontinho se relaciona com os demais, compon-
do um todo, uma unidade de sentido. Assim como na imagem, ao produzirmos
um texto, os sinais de pontuação têm um papel importante para a construção
de sentidos e contribuem para evidenciar o que queremos transmitir ao nosso
interlocutor. Do mesmo modo, identificar cada um desses sinais na leitura é fun-
damental para a compreensão das ideias centrais do texto. Assim, na leitura ou
na escrita, devemos observar atentamente o emprego dos sinais de pontuação,
que exercem uma função estilística essencial na construção do texto.

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A pontuação em textos
Leia a notícia a seguir, sobre um projeto denominado Cartas de Amor nas Ruas.

Vamos escrever uma carta de amor? Descubra por quê


Projeto leva aos alunos do ensino médio e moradores de três regiões administrativas um espaço para pensar sobre as cidades
e suas relações sociais
Com fomento do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o projeto Cartas de Amor nas Ruas leva aos alunos do ensino médio do DF,
moradores das regiões administrativas de Ceilândia, São Sebastião e Recanto das Emas, um espaço de protagonismo para pensar
sobre as cidades e suas relações sociais. Os estudantes participam da produção das cartas juntamente com os idealizadores do
projeto, que recebeu aporte de R$ 100 mil e gerou 27 empregos diretos e 48 indiretos. O projeto é da atriz Nadja Dulci.
[...]
JARDON, Carolina (ed.). Agência Brasília, 16 abr. 2021. Disponível em: www.agenciabrasilia.df.gov.br/2021/04/16/vamos-escrever-uma-carta-de-amor-
descubra-por-que/. Acesso em: 27 set. 2023.

Quando falamos, a maneira como dizemos um enunciado permite levar nosso interlocutor a compreender os sentidos
que pretendemos transmitir. Na escrita, a entonação acaba se perdendo, e a pontuação cumpre esse papel, favorecendo
a compreensão das intenções dos sujeitos envolvidos na situação comunicativa.
Observe que no título da notícia há um sinal de pontuação – uma interrogação – que sinaliza ao leitor uma per-
gunta-convite: “Vamos escrever uma carta de amor?”. Se esse sinal não fosse usado, o leitor poderia entender que a
manchete apresenta apenas um fato, uma informação, o que prejudicaria o objetivo comunicacional de quem produziu
o texto.
Já no corpo da notícia, podemos perceber que o ponto-final em cada período indica que a ideia transmitida foi encer-
rada, o que fica evidente pelo uso desse sinal de pontuação. Na fala, muitas vezes, o silêncio de uma das partes envolvidas
no processo comunicativo seria suficiente para indicar o fechamento de uma ideia.
Em tirinhas e histórias em quadrinhos, a pontuação também é muito usada para produzir efeitos de sentido. Observe
os usos da palavra “novidade” no texto a seguir.

Richardson Freitas
No segundo e no terceiro quadros da tirinha, o uso do ponto de exclamação ao final do termo “novidade”, na fala da
mulher, evidencia seu sentimento em relação ao que diz o gerente do banco: ora tristeza, ora desespero. No quarto qua-
dro, no entanto, essa palavra vem seguida de reticências, o que indica que o gerente provavelmente estaria acostumado
com o tipo de pedido feito pela mulher, mostrando seu desânimo diante do ocorrido. As reticências, então, deixam no ar
uma ideia de que o gerente não tem mais esperanças de que aquela situação – descontrole financeiro e consequente
solicitação de empréstimo – mude.
Além de demarcar a entonação, os sinais de pontuação têm outra função importante: separar os elementos que se
intercalam ao núcleo informacional da frase. Assim, como não se separam o sujeito do predicado e o verbo de seus com-
plementos, o uso da vírgula permite a inserção de outros termos sintáticos que contribuem para a construção de sentidos
do texto.
Imagine, por exemplo, que o gerente tivesse dito:

Você extrapolou, mesmo depois de muitos avisos, o limite do seu cheque especial!

A informação destacada precisa ser colocada entre vírgulas porque houve quebra da organização sintática básica da
língua: sujeito, verbo e complemento.
Os diversos sinais de pontuação têm funções específicas no texto, por isso é fundamental conhecer cada um deles.

6 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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Usos da vírgula I Podemos observar que a repetição da palavra “planta”
tem um objetivo discursivo: reforçar a necessidade do traba-
A vírgula pode ter várias funções em um enunciado.
lho árduo para que se alcance o resultado esperado. Esse
Veja algumas delas:
é um caso de repetição textual não viciosa e que contribui
a) Separar elementos de mesma função sintática, enu- para reforçar, enfatizar uma ideia.
merados em uma sentença O mesmo pode ser observado no excerto de notícia a
Leia um novo trecho da notícia que trata do projeto seguir, que traz uma transcrição de um vídeo postado em
Cartas de Amor nas Ruas. uma rede social.
[...] Climão! Mãe de Flay causa em aeroporto durante
Cartas de Amor nas Ruas alcançou mais de 194 mil pes­
viagem de família
soas, com forte engajamento também nas redes sociais, graças
ao formato virtual, chegando a muitas cidades do Brasil, como O climão de festa de ano novo já está garantido para Flay.
São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Juiz de Fora, São A cantora viajou com a família para o Réveillon e o passeio
João Del Rey, Ouro Preto, Fortaleza, Santos Dumont e Viçosa. [...] já começou daquele jeito. Ainda no aeroporto, duas situações
JARDON, Carolina (ed.). Agência Brasília, 16 abr. 2021. Disponível em: constrangeram a cantora. A primeira envolvendo sua mãe, mais
www.agenciabrasilia.df.gov.br/2021/04/16/vamos-escrever-uma-carta- descontraída. A segunda já é um pouco mais séria, sobre o
de-amor-descubra-por-que/. Acesso em: 27 set. 2023.
desaparecimento de um objeto da paraibana dentro do avião.
Nesse parágrafo, é possível perceber que há uma enu- Ainda antes de decolar, ela apareceu sentada em uma das
meração das várias cidades atendidas pelo projeto. Ao citar mesas do aeroporto, com toda a família e brincando sobre uma
cada uma delas, a vírgula é obrigatória, pois “São Paulo, Rio cena que a mãe teria causado. E ela só fingindo costume. No
de Janeiro, Belo Horizonte, Juiz de Fora, São João Del Rey, vídeo, ela dá um conselho aos mais de 7 milhões de seguidores
Ouro Preto, Fortaleza, Santos Dumont e Viçosa” são palavras do Instagram, pedindo para que eles pensem duas vezes antes
de marcar uma viagem com toda a família, como ela fez.
que demarcam os lugares onde o projeto foi realizado. Sinta-
“Fica a dica: pense bem antes de viajar com a família toda.
ticamente, todas funcionam como adjunto adverbial de lugar.
Mãe já causou tanto aqui, gente. Tanto, tanto, tanto, tanto. Pelo
A mesma enumeração pode ser observada no anúncio
amor de Deus!”, “Olha ela, faz a egípcia. Menino, o que essa
a seguir, já que a expressão “de afeto, de amor, de proxi-
mulher já fez dentro desse aeroporto hoje, cê pensa! Agora que
midade” indica o tipo de carência a que as pessoas estão
eu vim dar uma relaxada!”, explicou a ex-BBB20.
sujeitas, especificando o sentido do predicativo “carentes”. [...]
PESSOA, Vinicius. O fuxico, 29 dez. 2021. Disponível em: www.ofuxico.
atibody/Shutterstock.com; Kwannokprom/Shutterstock.com

com.br/viagens/mae-de-flay-causa-em-aeroporto-durante-viagem-de-
familia/. Acesso em: 27 set. 2023.

A cantora Flay, ao comentar as ações de sua mãe du-


rante a viagem em família, reforça para seus seguidores que
a matriarca havia causado muita confusão: “Mãe já causou
tanto aqui, gente. Tanto, tanto, tanto, tanto. Pelo amor de
Deus!”. A repetição da palavra “tanto” é uma estratégia ar-
gumentativa para destacar a intensidade das travessuras
da mãe da artista, que não foram poucas. Mais uma vez,
é uma repetição que tem uma função importante para o
sentido do texto.
Em relação à pontuação, os dois textos lidos eviden-
ciam mais uma função da vírgula: separar termos repetidos.
c) Demarcar um termo deslocado em frases na ordem
indireta
De Olho no Mercado, 2020. Disponível em: https://www.deolhonomercado.
com.br/deolhonomercado/economia/2020-06-12-dia-dos-namorados-as-
A organização padrão da língua prevê que uma fra-
campanhas-preferidas-dos-publicitarios. Acesso em: 27 set. 2023. se tenha a seguinte ordem: sujeito, verbo e complemento
(SVC). Se isso ocorre, dizemos que ela está na ordem direta.
Quando mencionamos uma relação de elementos enu-
No entanto, para dar maior destaque a uma informação,
merados, com a mesma função sintática, eles devem vir
podemos fazer adaptações no enunciado de acordo com
separados por vírgula no texto escrito.
a intencionalidade; nesse caso, quando não seguimos a
b) Isolar termos repetidos regra SVC, dizemos que a frase está na ordem indireta.
Leia um trecho da declaração de um integrante da família A jornalistas, político se desculpa por declaração precon-
Bauducco sobre a empresa fundada há mais de 70 anos e ceituosa
os esforços feitos para que ela pudesse prosperar.
Nessa oração, o sujeito (“político”) realiza uma ação
FRENTE 1

A gente planta, planta e uma hora a coisa vai. [...] marcada pelo verbo “desculpar-se”. No entanto, um dos
DESIDÉRIO, Mariana; ARANHA, Carla. Exame, 26 mar. 2020.
Disponível em: https://exame.com/revista-exame/a-familia-a-frente/.
complementos verbais (“a jornalistas”) não aparece após
Acesso em: 27 set. 2023. o verbo – como dita o padrão SVC –, mas, sim, antes dele.

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Por esse motivo, é necessário colocar a vírgula logo após Quando vier no fim da sentença, no entanto, a vírgula
o termo deslocado. não deve ser utilizada, já que a frase está na ordem direta.

Ordem indireta (vírgula obrigatória) Posição do adjunto adverbial –


Uso da pontuação
frase na ordem direta
A jornalistas, político se desculpa por declaração preconceituosa
Voluntários plantam milhões de árvores
termo deslocado na Índia em apenas um dia.
Vírgula não necessária
adj. adverbial posposto
Ordem direta (sem vírgula)
Político se desculpa por declaração polêmica a jornalistas.
Quando o adjunto adverbial é formado por uma palavra
termo não deslocado apenas (um advérbio, e não uma locução adverbial, por
exemplo), a vírgula não precisa ser utilizada.
Considerando a intencionalidade da comunicação, há
diferenças de sentido entre as duas frases: na primeira, Ontem fiz trabalho
Nunca plantei árvores. Aqui não é a Índia.
voluntário.
o destaque é “a quem se pediu desculpas”; na segunda,
o foco está em “quem pediu desculpas”. A forma como
escolhemos apresentar uma informação revela nosso po- Contudo, se o interlocutor desejar dar um destaque
sicionamento sobre dado assunto e é um recurso bastante maior à ideia indicada pelo advérbio, a vírgula pode ser
usual em textos jornalísticos e literários. utilizada. Assim, para realçar um sentido, a vírgula tem um
papel fundamental.
d) Isolar um adjunto adverbial anteposto ou intercalado
Observe a manchete a seguir sobre uma quantidade Hoje, não quero mais Hoje não quero mais
falar sobre isso. falar sobre isso.
de árvores plantadas durante uma ação em prol do meio
ambiente.
No primeiro caso, a frase ressalta o tempo (“hoje”) em
Em apenas um dia, voluntários plantam que não se quer conversar, dando a entender que, em outro
250 milhões de árvores na Índia dia, será possível o diálogo. A vírgula, então, é usada para
CARVALHO, Monique de. Só Notícia Boa, 21 jul. 2021. Disponível em:
evidenciar essa ideia. A segunda frase, no entanto, sem
www.sonoticiaboa.com.br/2021/07/21/apenas-dia-voluntarios-plantam- o uso de vírgula após “hoje”, pode ser lida como um todo
250-milhoes-arvores-india. Acesso em: 27 set. 2023. de sentido em que a ideia “não quero mais falar” é mais
O termo que inicia a sentença traz uma informação de importante, sem preocupação com o tempo.
tempo, evidenciando a duração da ação. Sintaticamente, A vírgula pode ainda ser utilizada quando o adjunto
ele funciona como adjunto adverbial, que pode ser colo- adverbial empregado (mesmo que seja formado só por um
cado no início (antes do sujeito), no meio (intercalado entre advérbio) modifica toda a oração. Nesse caso, ele aparece
o sujeito e o verbo, por exemplo) ou no fim da sentença no início ou no final da sentença.
(após o complemento).
Provavelmente, eu vou Eu vou ser aprovado,
ser aprovado. provavelmente.
Atenção
Adjunto adverbial é o termo da oração que modifica o Observe que o uso da vírgula, nesse caso, também dá
verbo, o adjetivo, o próprio advérbio ou, ainda, toda a um destaque à informação expressa na oração sobre a qual
sentença, acrescentando uma circunstância que pode recai o sentido do adjunto adverbial.
indicar lugar, tempo, modo etc.
e) Isolar o vocativo
Leia a tirinha a seguir.
Nas frases em que o adjunto adverbial vier no início
(anteposto) ou no meio (intercalado), é obrigatório o uso
Armandinho, de Alexandre Beck

da vírgula, pois o termo na sentença ficou invertido (em


comparação à ordem SVC).

Posição do adjunto adverbial –


frase na ordem indireta Uso da pontuação

adj. adverbial anteposto


Vírgula obrigatória Nas duas primeiras falas da personagem Armadinho,
Em apenas um dia, voluntários plantam após o adjunto observamos que os termos “mãe” e “pai” estão isolados
adverbial do restante da sentença por uma vírgula, exercendo a fun-
milhões de árvores na Índia.
ção sintática de vocativo. Isso ocorre porque o garoto, ao
adj. adverbial intercalado
Vírgula obrigatória
realizar uma pergunta para a mãe e outra para o pai, faz
Voluntários, em apenas um dia, plantam antes e após o uso dessas expressões para chamar seus interlocutores a
milhões de árvores na Índia. adjunto adverbial quem dirige as perguntas. Portanto, sempre devemos usar
vírgula depois do vocativo.

8 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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Atenção Os sinais de pontuação, portanto – em especial a vír-
gula, os dois-pontos e o travessão –, são fundamentais nas
Vocativo é o termo da oração que destaca o interlocutor sentenças em que um aposto precisa ser usado.
a quem se dirige o enunciado.
g) Separar local em datas e números em endereços

f) Isolar o aposto explicativo Na sequência, leia um trecho de uma carta aberta es-
crita pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), divulgada à
O trecho de notícia a seguir fala de uma garota que imprensa em 2021. O objetivo do documento é chamar a
tinha o sonho de ter uma cama nova, tendo seu desejo atenção de gestores e órgãos públicos para os problemas
realizado por uma equipe de policiais. Leia-o. enfrentados pela população brasileira, os quais, segundo o
Micaely Aparecida Dias Santos, de 9 anos, comoveu os órgão, foram agravados durante a pandemia de covid-19.
policiais militares de São João do Pacuí, cidade a 490 km de
Carta aberta ao Brasil
Belo Horizonte, em Minas Gerais.
A menina, que mora com a família em uma área rural [...]
a 12 km da cidade, desejava ter uma cama nova e realizou O país precisa de um plano de retomada econômica, sem
o sonho após escrever uma cartinha e entregá-la na sede da ignorar o patamar recorde de quase 15 milhões de pessoas
Polícia Militar da região. desempregadas; a diminuição da capacidade produtiva da
[...] economia e a volta da inflação – um cenário preocupante,
MENINA de 9 anos realiza sonho de ter cama depois de enviar carta para que exige medidas emergenciais e a responsabilidade dos
a PM. UOL, 16 jun. 2021. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ governantes, em todas as esferas. O meio ambiente também
cotidiano/ultimas-noticias/2021/06/16/menina-de-9-anos-realiza-sonho-de-
padece, com queimadas históricas e a destruição de importan-
ter-cama-depois-de-fazer-pedido-para-pm.htm. Acesso em: 27 set. 2023.
tes biomas, do Pantanal à Amazônia, dos Pinheirais e searas
Na notícia, os termos destacados cumprem uma im- do Paraná ao Juquery, na grande São Paulo.
portante função: servem para acrescentar uma explicação Com tamanha gama de desafios a serem enfrentados pelo
em relação ao que foi dito anteriormente no texto. A vír- nosso país, não há tempo e nem espaço para desvios e desagre-
gula, então, deve ser colocada sempre antes e após um gações. Nossas armas devem ser as boas ideias – alicerces da
elemento explicativo – que, sintaticamente, é um aposto –, paz social. Defendemos, portanto, a construção de pontes para
isolando-o do núcleo informacional central. Assim, “de o efetivo diálogo federativo para a pactuação e coordenação
9 anos” é uma informação relevante sobre o sujeito da das políticas públicas. Clamamos por respeito à democracia,
sentença (“Micaely Aparecida Dias dos Santos”), trazendo às instituições e à população brasileira.
a idade da criança. Já o termo “cidade a 490 km de Belo Brasília, 30 de agosto de 2021.
Horizonte” explica onde fica São João do Pacuí, para que Frente Nacional de Prefeitos
o leitor tenha alguma referência de localização, pois se PREFEITOS defendem diálogo federativo em Carta aberta ao Brasil.
Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos, 30 ago. 2021. Disponível
trata de um município pouco conhecido. em: https://fnp.org.br/noticias/item/2653-prefeitos-defendem-dialogo-
federativo-em-carta-aberta-aobrasil. Acesso em: 15 dez. 2023.
Atenção Observe que, ao final do texto, a vírgula é usada para
Aposto é o elemento sintático que pode evidenciar uma separar o local e a data – informações indispensáveis ao
explicação ou resume um termo apresentado anterior- gênero textual carta e essenciais para que os dados divul-
mente na oração. gados em uma carta aberta tenham maior credibilidade e
validade. Imagine, por exemplo, que alguém encontre esta
Se o aposto vier ao final da frase, a vírgula é inserida carta daqui a 10 anos, ao realizar uma pesquisa para enten-
antes dele, e o período se encerra com um ponto-final. der como a pandemia afetou os municípios e os cidadãos
Observe: brasileiros. Essas informações seriam suficientes para que
ele situe no tempo o texto produzido, o que o ajudará, de
Micaely recebeu ajuda de policiais militares, certo modo, em sua análise e interpretação.
os “padrinhos” do sonho da jovem. Vale destacar ainda que se essa carta fosse enviada
aos órgãos de imprensa por correio, no envelope também
aposto em fim de frase vírgula que antecede seria fundamental o uso da vírgula para separar as informa-
o aposto ções do endereço. Além disso, em textos literários, quando
se representa uma carta ficcional ou um diário, as datas
Vale destacar que, além de estar separado na sentença também devem ser empregadas com o uso da vírgula.
por uma ou duas vírgulas, o aposto também pode estar h) Separar termos ligados por conjunções coordena-
marcado por outros sinais de pontuação, como dois-pontos das repetidas
e travessão. Em textos poéticos, conjunções repetidas são utiliza-
das como um recurso expressivo. Leia o trecho do poema
Micaely recebeu ajuda de policiais militares: os “pa- a seguir.
FRENTE 1

drinhos” do sono da jovem.


[...]
Micaely recebeu ajuda de policiais militares – os
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
“padrinhos” do sono da jovem.
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,

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Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo No caso da piada, como um dos interlocutores não
[...] compreendeu a intencionalidade da pergunta feita, a res-
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir, posta final foi dada com tom de deboche e ironia.
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito, A frase que inicia a piada apresenta duas orações com
E lá fora um grande silêncio, como um deus que dorme. sentidos completos.
PESSOA, Fernando. O Guardador de Rebanhos, XLIX. In: Poemas de
Alberto Caieiro: obra poética II. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 89-90.
(fragmento). Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/ Edifício pegando fogo, funcionários saindo correndo.
download/texto/pe000001.pdf Acesso em: 28 set. 2023.

Nesse fragmento do poema de Alberto Caieiro, hete- Oração 1 Oração 2


rônimo de Fernando Pessoa, podemos observar que, ao vírgula separando orações
descrever como gostaria que fosse sua vida, o eu lírico utili-
za a repetição da conjunção “ou” ligando termos da oração: Observe que as orações não estão ligadas por conjun-
ção; então, para separá-las, a vírgula é obrigatória.
O dia cheio de sol, ou suave de chuva, Seria possível, se o autor quisesse, usar a conjunção
ou tempestuoso como se acabasse o Mundo “e”: Edifício pegando fogo e funcionários saindo correndo.
Contudo, a omissão da conjunção traz maior expressividade
E da conjunção “nem”, que liga duas orações: ao enunciado, dando maior destaque à descrição. Assim, a
escolha por usar a vírgula, em vez da conjunção, contribui
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir para a construção da cena apresentada.
b) Separar orações coordenadas sindéticas que esta-
A vírgula, nesses casos, é utilizada sempre antes de belecem relação de explicação, oposição, conclusão
cada conjunção, separando tanto os termos de uma oração ou alternância
quanto várias orações de um mesmo período.
Leia um trecho do livro Torto arado, de Itamar Vieira
Saiba mais Junior, que, por meio das histórias de duas irmãs, Bibiana e
Belonísia, retrata o cotidiano da Fazenda Água Negra, no in-
Na literatura, é recorrente o uso de figuras de linguagem terior da Bahia, marcado não só pelos costumes e crenças do
para expressar diferentes intenções. Quando deseja seu povo, mas também pelo passado escravista. No excerto
evidenciar uma noção de “acréscimo” ou “sucessão”, o
a seguir, Bibiana narra um momento de festividade religiosa,
autor pode fazer uso do polissíndeto, figura em que se
em que inclusive o prefeito da cidade esteve presente, sendo
observa a repetição de conjunções coordenativas (como
“e”, “nem”, “mas” e “ou”), as quais podem separar palavras cobrado por uma promessa que havia feito aos moradores.
ou orações. [...] Nessa noite, em particular, estava presente o prefeito.
Havia cinco anos, meu pai tinha atendido um de seus filhos.
Apesar de ser mais recorrente em textos literários, a Vieram buscá-lo de carro, um Gordini vermelho, coisa nunca
repetição de conjunções coordenativas pode ocorrer em vista em Água Negra. Até então só conhecíamos a Ford Rural da
outros tipos de textos. Ela está presente, por exemplo, no fazenda e os carros que vimos na estrada quando fomos para o
provérbio “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, sabedoria hospital por causa do acidente. Desde então, o prefeito aparecia
popular utilizada para expressar equilíbrio em determinada na festa de santa Bárbara. Da primeira vez, meu pai não aceitou
situação, evitando-se extremos. seu pagamento, mas pediu que trouxesse um professor da pre-
feitura para que desse aula às crianças da fazenda. Contava que
Usos da vírgula II viu um tanto de constrangimento no rosto de Ernesto [prefeito],
que, sem escapatória, fez a promessa. A gratidão por meu pai
Além dos períodos simples, as vírgulas são igualmente e pela encantada [entidade religiosa] era grande, por isso teve
necessárias em períodos compostos para separar as ora- que cumprir o que prometeu. Havia também o medo de que
ções. Vamos conhecer alguns desses usos. o encantamento que curou o filho se desfizesse. Então, meses
a) Separar orações coordenadas assindéticas ( justa- mais tarde, viria uma professora no carro da prefeitura, três dias
postas, sem conjunções) na semana, para dar três horas de aula na casa de dona Firmina.
Firmina vivia sozinha e dispunha de um pequeno galpão com
Edifício pegando fogo, funcionários saindo correndo.
tábuas, que, apoiadas em duas latas cheias de barro, se tornavam
— É incêndio?
um banco para sete ou oito crianças. Para reforçar o que apren-
— Não, é uma pegadinha do Faustão!!!
díamos com a professora Marlene, tínhamos o apoio de minha
AVIZ, Luiz. As melhores piadas para crianças.
Rio de Janeiro: Pegue & Leve, 2013. p. 110. mãe. Dizia que só não poderia ensinar matemática, porque não
sabia; “tenho a letra, mas não tenho o número”.
A piada constrói-se a partir da falta de compreensão Inclusive, no princípio, o prefeito sugeriu uma solução
do interlocutor em perceber que a pergunta “É incên- menos trabalhosa e, sabendo que minha mãe era alfabetizada,
dio?” tem função meramente interacional, uma estratégia quis fazê-la professora. Minha mãe, consciente de suas limi-
para puxar conversa. Não se espera, nesses casos, uma tações, recusou. Reforçou em sua fala a expressão “tenho a
resposta objetiva em relação a isso, apenas o início de letra, mas não tenho o número”, e que queria muito que seus
um diálogo. filhos de sangue e de pegação tivessem estudo e pudessem ter

10 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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uma vida melhor do que a que tinha. Essa era a razão de todo RELAÇÃO DE CONCLUSÃO
o esforço que meu pai fez para que tivéssemos um professor
e, percebendo que não era o suficiente, uma escola. Meu pai
A gratidão por meu pai e pela encantada [...] era grande,
não era alfabetizado, assinava com o dedo de cortes e calos
por isso teve que cumprir o que prometeu.
de colher frutos e espinhos da mata. Escondia as mãos com a
tinta escura quando precisava deixar suas digitais em algum
documento. De tudo que vi meu pai bem-querer na vida, talvez conjunção conclusiva precedida de vírgula
fosse a escrita e a leitura dos filhos o que perseguiu com mais
afinco. Quem acompanhasse sua vida de lida na terra ou a A primeira vírgula utilizada no período separa a oração 1
seriedade com que guardava as crenças do jarê, acharia que
(“A gratidão por meu pai e pela encantada [...] era grande”)
eram os bens maiores de sua existência. Mas pessoas como
da oração 2 (“por isso teve que cumprir o que prometeu”).
nós, quando viam o orgulho que sentia dos filhos aprendendo
a ler e do valor que davam ao ensino, saberiam que esse era
Note que a oração 2 traz uma conclusão, reforçando que
o bem que mais queria poder nos legar. [...] a promessa de construção da escola no povoado de Água
VIEIRA JUNIOR, Itamar. Torto arado. São Paulo: Todavia, 2019. p. 65-66. Negra foi cumprida pelo fato de o prefeito ser grato aos
benefícios que recebeu. Portanto, antes de conjunções
Quando escrevemos, fazemos uso de um grande nú-
que evidenciam uma relação conclusiva, como “por isso”,
mero de orações no interior de cada período. Aquelas
a vírgula é fundamental.
que têm sentido completo e estão ligadas por uma con-
Algumas conjunções conclusivas que exigem a vírgula
junção requerem, em alguns casos, o uso da vírgula. No
são: portanto, logo, assim, pois (depois do verbo).
texto lido, percebemos que algumas orações estabelecem
entre si, por exemplo, relações de explicação, conclusão Além das orações que apresentam uma relação de
ou oposição. explicação, oposição e conclusão, a vírgula também deve
ser utilizada antes de conjunções alternativas. Veja.
RELAÇÃO DE EXPLICAÇÃO
RELAÇÃO DE ALTERNÂNCIA
Dizia que só não poderia ensinar matemática, porque
não sabia. Ou ele cumpria a promessa, ou o milagre seria desfeito.

conjunção explicativa precedida de vírgula


conjunção alternativa precedida de vírgula
Nesse fragmento, vemos que a oração 2 (“porque não
sabia”) traz uma explicação para o que é apresentado na O uso da conjunção “ou” deixa claro que as orações
oração 1 (“Dizia que só não poderia ensinar matemática”). que compõem o período são excludentes, pois indica que
Isto é, o fato de que Salustiana, mãe das protagonistas, ou o prefeito cumpre o que prometeu a Zeca Chapéu
poderia contribuir com a educação dos estudantes de Água Grande, ou pode ter o milagre que recebeu desfeito. A
Negra apenas no que se referia ao ensino das letras. A repetição da conjunção alternativa é bastante comum em
oração 2 é introduzida pela conjunção explicativa “porque” enunciados desse tipo, mas a vírgula somente precede a
e, antes dela, deve-se usar a vírgula.
segunda conjunção apresentada.
Outras conjunções explicativas que exigem a vírgula
Outras conjunções alternativas que, quando repetidas,
são: que, porquanto, pois (antes do verbo).
exigem a vírgula são: ora... ora, quer... quer, já... já.
RELAÇÃO DE OPOSIÇÃO c) Separar termos explicativos entre orações
Leia o excerto de um artigo que esclarece a diferença
[...] “tenho a letra, mas não tenho o número” [...].
entre astros luminosos e astros iluminados, destacando a ra-
zão de as estrelas terem luz própria, diferentemente da Lua.

conjunção adversativa precedida de vírgula [...] Quando admiramos as estrelas “estampando” o céu
noturno como pequenos pontos brilhantes em meio à escu-
No período, que está entre aspas para demarcar a fala ridão, estamos vendo o resultado prático de processos físicos
que produzem a luz vista aqui na Terra. Isso porque estrelas são
da mãe, as orações 1 (“tenho a letra,”) e 2 (“mas não tenho
astros luminosos, ou seja, que geram a própria luz. Já a nossa
o número”) mantêm entre si uma relação de oposição. Ao
Lua é um astro iluminado, pois ela não gera a própria luz; ela
fazer essa afirmação, Salustiana reforça a ideia de que só po-
apenas reflete a luz solar em nossa direção. O mesmo acontece
deria ajudar com as aulas de português, já que não possuía
com outros planetas que às vezes ficam visíveis a olho nu no
conhecimento matemático para poder compartilhar com os
céu noturno, como Vênus, Marte, Júpiter e Saturno – o que
alunos, ficando esta disciplina a cargo apenas da professora
vemos é a luz solar refletida nesses mundos, que não geram a
Marlene. Observe que a conjunção adversativa “mas”, que
FRENTE 1

própria luz como as estrelas. [...]


estabelece essa relação opositiva, é precedida de vírgula.
CASSITA, Danielle. O que são astros luminosos e astros iluminados?
Outras conjunções adversativas que exigem a vírgula Canaltech, 31 jan. 2021. Disponível em: https://canaltech.com.br/
são: porém, todavia, contudo, entretanto. espaco/o-que-sao-astros-luminosos/. Acesso em: 28 set. 2023.

11

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Observe o seguinte fragmento: Estudou tanto, e conseguiu “e” com valor consecutivo
ser PhD. (“tanto que”)
Oração 1 Oração 2
Dedicou-se muito, e não con- “e” com valor adversativo (“no
[...] estrelas são astros luminosos, ou seja, que geram a própria luz. seguiu a vaga. entanto”)

Portanto, nos casos em que o “e” não tem valor aditivo,


a vírgula deve ser utilizada antes dessa conjunção.
termo explicativo entre vírgulas
• Quando o “e” conecta orações de sujeitos diferentes.
Quando duas orações, unidas pela conjunção “e”, ti-
O termo “ou seja” evidencia uma ideia de explicação
verem sujeitos diferentes, a vírgula antes do “e” deve ser
entre as orações 1 (“estrelas são astros luminosos”) e 2
usada. A seguir, veja como isso ocorre no fragmento de
(“ou seja, que geram a própria luz”) e ao ser usado na frase
uma notícia sobre as guerras existentes no mundo atual.
indica o que o leitor deve entender por “astros luminosos”.
Antes e depois de termos desse tipo, devemos sempre Guerra civil na Síria
utilizar vírgulas. A guerra civil na Síria começou em 2011, depois que o
Outros termos na língua que cumprem essa mesma governo do presidente Bashar al Assad (filho do ex-presidente
função são: isto é, por exemplo, a saber, aliás, ou melhor, Hafez al Assad, que governou o país por 30 anos) reprimiu
entre outros. violentamente uma série de manifestações no país, e vários
d) Separar orações coordenadas sindéticas unidas grupos de oposição tomaram as armas.
pela conjunção “e” [...]
Até agora, a guerra civil causou pelo menos 350 mil mortes,
De forma geral, em orações unidas por “e” não utilizamos segundo estimativas da ONU, além de 6,6 milhões de deslocados,
vírgula antes dessa conjunção. No entanto, em alguns casos, dos quais 5,6 milhões são refugiados em países vizinhos.
esse uso é necessário. Veja as situações em que isso ocorre. ALÉM de Rússia e Ucrânia: Saiba quais são as outras guerras ativas
no mundo. CNN Brasil, 21 mar. 2022. Disponível em: https://www.
• Quando o “e” não tem valor aditivo. cnnbrasil.com.br/internacional/alem-de-russia-e-ucrania-saiba-quais-
Leia um trecho do relato de Sônia Guimarães, a primeira sao-as-outras-guerras-ativas-no-mundo/. Acesso em: 28 set. 2023.

mulher negra brasileira a se tornar PhD em Física. Note que o primeiro período do fragmento possui três
Desde pequena sempre fui muito curiosa. Minha avó me orações, sendo que as duas últimas estabelecem uma relação
chamava de xereta, e não era um elogio. A verdade é que todo de adição, com sujeitos diferentes: o termo “o governo do
mundo ficava sem paciência com as perguntas que eu fazia e presidente Bashar al Assad” é o sujeito da penúltima oração,
ninguém sabia responder. [...] enquanto “vários grupos de oposição” é o sujeito da última.
GUIMARÃES, Sônia. Contra todas as expectativas Ciência Hoje, Considerando, portanto, que esse trecho é formado por duas
abr. 2021. Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/
orações sequenciais com sujeitos distintos, devemos inserir
contra-todas-as-expectativas/. Acesso em: 28 set. 2023.
a vírgula antes da conjunção “e”, que liga as duas orações.
Uma característica importante da infância da pesquisa- • Quando o “e” aparece repetido.
dora – sua curiosidade – foi fundamental para estimulá-la
Leia o fragmento de outro poema de Alberto Caeiro,
em sua carreira. Na frase a seguir, Sônia apresenta a visão
heterônimo de Fernando Pessoa:
de sua avó em relação a ela.
Olá, guardador de rebanhos,
Minha avó me chamava de xereta, e não era um elogio. Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?
valor adversativo “Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
A conjunção “e”, em geral, tem valor aditivo, isto é, intro- E que passará depois.
duz ideias que se somam, como em: “Ela gosta de estudar E a ti o que te diz?" [...]
e de trabalhar”. No exemplo destacado, porém, o “e” tem PESSOA, Fernando. O Guardador de Rebanhos, X. Poemas de Alberto
Caieiro: obra poética II. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 52. (fragmento).
valor adversativo, já que pode ser substituído facilmente Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/
pela conjunção “mas”, também adversativa: “Minha avó me pe000001.pdf. Acesso em: 28 set. 2023.
chamava de xereta, mas não era um elogio.”. De forma seca, o guardador de rebanhos apresenta sua
A expressão “ser xereta” também pode ser considerada visão objetiva para o eu lírico, apresentando informações
algo bom, quando a associamos, por exemplo, ao desejo de que esclarecem o que diz o vento.
querer aprender cada vez mais. Nesse sentido, poderia ser Nos versos em que ocorre essa resposta, a vírgula é
um elogio. No entanto, a pesquisadora afirma que sua avó utilizada antes do “e”, separando as orações e evidenciando
pensava justamente o contrário: “não era um elogio”. Assim, uma soma de ideias:
a conjunção “e”, nesse enunciado, tem claramente valor
adversativo, marcando oposição de ideias. Além de ser Que é vento, e que passa,
utilizada com valor adversativo, a conjunção “e” – em geral E que já passou antes,
com valor aditivo – pode ser utilizada com valor consecuti- E que passará depois.
vo, ou seja, ligando ideias que indicam uma consequência.

12 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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Quando houver repetição do “e” em um período, deve- destaque à ideia de tempo expressa pela oração adverbial.
-se utilizar também a vírgula antes dessa conjunção. Com isso, ressalta-se em que momento deve-se oferecer
e) Separar orações subordinadas adverbiais quando água, lenço de papel e escuta atenta. Se colocada na or-
vêm antes da oração principal ou quando estão dem direta (“Ofereça água, lenço de papel e escute quando
intercaladas alguém começar a chorar na sua frente”), há um destaque
maior às ações que devem ser realizadas pelo líder.
Leia o trecho de um artigo de opinião que trata sobre Observando as escolhas linguísticas na organização
saúde mental e liderança. de um texto, podemos compreender os valores e inten-
[...] Se você é líder, [...] reveja seu (pré)conceito. A saúde cionalidades do autor.
emocional deve ser encarada com naturalidade, a exemplo f) Separar orações subordinadas adjetivas explicativas
das campanhas de prevenção de diabetes ou câncer de mama.
Parte do nosso desconforto vem da ideia equivocada de que Leia um trecho de uma reportagem sobre os cuidados
uma pessoa com depressão ou crise de pânico é fraca. É preciso com a rotina de banhos para cães.
superar essa barreira. Qual o benefício do banho seco?
[...] Quando alguém começar a chorar na sua frente, ofereça
Em alguns cachorros, o cheiro bom do banho não dura
água, lenço de papel e escute. Se você não souber o que dizer,
mais do que quatro ou cinco dias. Por conta disso, os tutores
diga que vai pensar e procurar a melhor saída. Não caia na ar-
acabam levando o pet para o chuveiro na semana seguinte.
madilha do líder: achar que tem que ter resposta para tudo. [...]
Além de trabalhoso, um banho exige cuidados durante e de-
NOGUEIRA, Francisco. Gestor, aceitar a vulnerabilidade é essencial para
cuidar de si e do outro. Veja Saúde, 19 jul. 2021. Disponível em: https:// pois, e nem sempre temos esse tempo todo para dar atenção à
saude.abril.com.br/blog/com-a-palavra/gestor-aceitar-a-vulnerabilidade-e- pelagem do mascote. Uma boa alternativa é o famoso “banho
essencial-para-cuidar-de-si-e-do-outro/. Acesso em: 28 set. 2023.
seco”, que consiste em colocar talco no seu mascote seguido
Ao tratar sobre a postura de um líder, o autor do texto de uma boa escovação.
poderia escrever a frase inicial de duas formas: usando a Atenção: não vale mergulhar o animal dentro do talco.
ordem direta, iniciada pela oração principal, ou a ordem O produto ajuda a remover algumas impurezas e proporciona
indireta, começando pela oração subordinada. um cheiro mais agradável, mas se usado em excesso pode
causar espirros e mal-estar no mascote. Use mais no lombo e
Ordem direta nas patas traseiras e não esqueça de escovar até remover a cor
branca típica do talco. Evite deixar restos do produto no pelo,
Reveja seu (pré)conceito se você é um líder.
pois a maioria dos animais se incomoda com isso mesmo que
não tenha perfume.
oração subordinada depois da oração principal (sem vírgula)
VIVIAN, Daisy. Cachorro precisa tomar banho toda semana? E no inverno?
Ordem indireta Saiba qual é a frequência ideal. Gaúcha Zero Hora, 11 set. 2021.
Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/donna/mundo-pet/noticia/
Se você é líder, reveja seu (pré)conceito. 2021/07/cachorro-precisa-tomar-banho-toda-semana-e-no-inverno-saiba-
qual-e-a-frequencia-ideal-ckr54379u00570193689wa04q.html.
oração subordinada antes da oração principal (com vírgula) Acesso em: 28 set. 2023.

A forma de organização do período é uma questão de A reportagem alerta sobre a importância de cuidados
escolha pessoal, mas é importante estar atento à pontua- com os pets. No entanto, existe a possibilidade de o leitor
ção, pois sempre que a oração subordinada adverbial iniciar não saber o que é “banho seco”. Por esse motivo, essa
a sentença, o uso da vírgula é obrigatório. expressão é explicada no texto.
Isso também vale se a oração adverbial vier intercalada
na sentença, ou seja, se estiver no meio da oração princi- vírgula obrigatória
pal. Para que a subordinada fique isolada na sentença, é
Uma boa alternativa é o famoso “banho seco”, que
obrigatório que ela esteja entre vírgulas.
consiste em colocar talco no seu mascote seguido de uma
boa escovação.
Uso de vírgula na oração subordinada adverbial
Subordinada após a principal Diga que vai pensar se você oração que explica o termo anterior
(sem vírgula) não souber o que dizer.
Subordinada antes da principal As orações que explicam o termo anterior são chama-
Se você não souber o que
(com vírgula separando das de subordinadas adjetivas explicativas. Antes delas,
dizer, diga que vai pensar.
as orações)
sempre deve haver uma vírgula. Ou, se ela vier no meio
Subordinada no meio da da oração principal, deve ser isolada entre vírgulas no pe-
principal (entre vírgulas, Diga, se você não souber o
ríodo. Veja.
isolando a subordinada que dizer, que vai pensar.
da principal)
O famoso “banho seco”, que consiste em colocar
Como usuários da língua, essas escolhas revelam tam-
talco no seu mascote seguido de uma boa escovação,
bém nosso posicionamento diante daquilo que falamos. Veja
FRENTE 1

é uma boa alternativa.


que, ao dizer “Quando alguém começar a chorar na sua
frente, ofereça água, lenço de papel e escute”, iniciando o oração explicativa intercalada
discurso pela oração subordinada, o interlocutor deu maior (entre vírgulas)

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A oração adjetiva explicativa, intercalada na oração declarativas, pois apresentam uma declaração, uma
principal, poderia ser suprimida do período, caso o autor afirmação sobre algo.
do texto entendesse que os leitores já sabem o que é um Em “Pobre cão!”, observamos uma entonação que ex-
“banho seco”. Nesse caso, a vírgula também não ocorreria: pressa um sentimento em relação ao ocorrido. É o ponto
“O famoso ‘banho seco’ é uma boa alternativa.”. de exclamação que cumpre o papel de evidenciar o estado
g) Marcar supressão de uma ou mais palavras emocional de um interlocutor: tristeza, alegria, dó, surpresa
etc. Os enunciados em que o ponto de exclamação é utili-
Leia o início de um texto sobre o uso de batatas para zado são chamados de frases exclamativas.
o desenvolvimento do raciocínio matemático. Veja como esse ponto é utilizado na charge a seguir:
Dois problemas envolvendo batatas estimulam o raciocí- ao se referir às pessoas com quem fala, a personagem usa
nio matemático [...]. Um deles envolve desenhar curvas em o vocativo “Mineiros”, finalizado com uma exclamação, evi-
batatas, e o outro, uma situação desconcertante em relação denciando que se trata de um chamamento com bastante
ao peso delas. [...] empolgação.
MARICONI, Marco. Ao vencedor, as batatas! Revista Ciência Hoje, abr. 2021.

Richardson Freitas
Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/ao-vencedor-as-batatas/.
Acesso em: 28 set. 2023.

Ao descrever como são os problemas matemáticos en-


volvendo o tubérculo, o autor do texto faz uma declaração
em que se pode observar que foi utilizada uma vírgula no
local onde deveria haver o verbo “envolver”. Veja.

Um deles envolve desenhar curvas em batatas, e o outro


[envolve] uma situação desconcertante [...].

A repetição da palavra (“envolve”) deixaria o texto re-


petitivo, e omiti-la é um recurso estilístico para evitar essa
repetição. Em construções como esta, a vírgula é usada para
mostrar que há a supressão de uma ou mais palavras.
Assim, sempre que um termo – palavra ou expressão
mais longa – for omitido, em seu lugar devemos utilizar
uma vírgula.

Outros sinais de pontuação


Ponto-final, ponto de exclamação e A resposta da multidão também vem carregada de ex-
ponto de interrogação pressividade, pois, ao responder ao questionamento feito,
todos respondem “Queijo!”, de forma que o ponto de ex-
O cão e a raposa clamação indica intensidade na entonação. Nesse caso, o
Um cão de caça viu um leão e se lançou no seu encalço. Mas uso da exclamação é fundamental para que o leitor saiba
o leão se voltou e pôs-se a rugir. Assustado, o cão deu uma meia- como deve ser a entonação no momento da leitura do texto.
-volta e foi embora. Uma raposa, vendo-o fazer aquilo, disse-lhe: A charge apresenta, ainda, uma pergunta: “Qual é a
— Pobre cão! Perseguias um leão e te assustas com um sua refeição?”. O ponto de interrogação ao final do enun-
simples rugido? ciado deixa claro que foi feito um questionamento direto,
O presunçoso que quer ir além de suas forças treme logo exigindo-se, portanto, uma resposta direta.
diante de alguém que lhe resista.
Em frases interrogativas, o ponto de interrogação pode:
ESOPO. 200 fábulas de Esopo. Tradução de Antônio Carlos Vianna.
Porto Alegre: L&PM, 2017. p. 20. a) marcar uma pergunta direta (espera-se obrigatoria-
mente uma resposta).
Para apresentar a cena da fábula, o narrador faz várias
afirmações que permitem ao leitor compreender o que está Quando você vai viajar?
acontecendo. Por meio delas, sabemos que:
• um cão viu e perseguiu um leão; b) marcar uma pergunta retórica (não se espera, de
• o leão rugiu para o cão; fato, uma resposta).
• o cão ficou assustado e fugiu;
— Pobre cão! Perseguias um leão e te assustas com
• a raposa observava a cena e tirou suas conclusões;
um simples rugido?
• há uma moral possível para a história.
Na fábula, esses enunciados foram finalizados com No primeiro exemplo, sabemos que, se a pergunta
um ponto-final, evidenciando que as ideias ditas es- (“Quando você vai viajar?”) fosse realizada em uma dada
tão completas. Essas frases são chamadas de frases situação de comunicação, em que uma pessoa faz uma

14 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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indagação direta à outra, exigiria uma resposta efetiva. Já dar conta de que escapou de ser atingido pelo vaso (sem
a pergunta da fábula (“Perseguias um leão e te assustas ainda se dar conta de que corre um risco maior).
com um simples rugido?”) também pode ser entendida
como uma pergunta retórica, ou seja, ela serve para es- Dois-pontos e travessão
timular uma reflexão. Os dois-pontos são utilizados com bastante frequência
Em contextos reais de comunicação, é preciso analisar em textos literários para introduzir a fala de personagens,
a situação para saber se, de fato, as frases interrogativas enquanto o travessão marca o diálogo entre elas. É o que
demandam ou não uma resposta direta. É por isso que, por ocorre no trecho da fábula que você leu anteriormente.
exemplo, ao dizer “Você viu como está quente hoje?” em
uma sala com janelas fechadas, a pergunta pode ser apenas Uma raposa, vendo-o fazer aquilo, disse-lhe:
um pedido para que elas sejam abertas. A mesma frase den-
tro de um elevador, por outro lado, pode ser um recurso para — Pobre cão!
introduz uma fala
iniciar uma conversa com uma pessoa com quem não temos
tanta intimidade. Qualquer um que responda diretamente à marca um diálogo
pergunta com um “sim” ou “não” estaria demonstrando falta
de compreensão do que esse enunciado significa dentro do O travessão também pode ser usado para separar a
contexto comunicativo em que se insere. fala da personagem da fala do narrador.
Os pontos de interrogação e de exclamação também
podem ser utilizados de forma isolada em tirinhas e histórias — Pobre cão! — disse a raposa vendo-o fazer aquilo.
em quadrinhos. Observe.
fala da personagem fala do narrador

Há, no entanto, outros usos que esses sinais de pon-


tuação podem ter em textos literários e não literários. Leia
um trecho de uma reportagem sobre políticas de regula-
mentação da inteligência artificial.

Brasil precisa de política pública para


regulamentar a inteligência artificial,
alertam pesquisadores
[...]
No Brasil, apesar de existirem algumas iniciativas empre-
sariais e governamentais, ainda não há, contudo, uma política
pública que estabeleça as diretrizes para regular a IA no país,
Vinasz Ilustrador-DG. Disponível em: https://www.behance.net/
vinasz_ilustrador/. Instagram: @vinasz.arte

apontaram pesquisadores participantes do primeiro evento


on-line do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação de 2023,
realizado na segunda-feira (27/03).
“Há algumas iniciativas setoriais voltadas a regula-
mentar a inteligência artificial no Brasil, mas que não se
configuram como uma estratégia ou política pública. E temos
que ter”, avaliou Dora Kaufman, professora do programa de
tecnologia da inteligência e design digital da Faculdade de
Ciência e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP) e pesquisadora dos impactos sociais
e éticos da IA.
[...]
Razões para regulamentar
Na avaliação da pesquisadora, uma das principais razões
pelas quais é preciso regulamentar a IA mundialmente é que
se trata de uma tecnologia de propósito geral, que reconfigura
a lógica e o funcionamento das sociedades.
Na tira apresentada, é possível reconhecer o uso de “Se considerarmos os últimos séculos, tivemos três tecnolo-
pontos de exclamação e de interrogação. No segundo gias de propósito geral anteriores à IA: o carvão, que deu início
quadrinho, esses pontos são um recurso importante na cons- à Revolução Industrial, a eletricidade e a mutação genética”,
trução de sentido porque indicam, sem o uso de palavras, a enumerou.
emoção do personagem, no caso a sensação de surpresa. [...]
FRENTE 1

Além disso, o ponto de exclamação marca a intensida- Algumas das dificuldades para regulamentar a IA são a
de do barulho feito pelo vaso se quebrando e, no último necessidade de contemplar no processo dois agentes dis-
quadrinho, expressa o entusiasmo do personagem ao se tintos – os desenvolvedores e os usuários – e uma lacuna

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de conhecimento dos reguladores em relação a essa nova todos os detalhes de como a coisa funciona. São milhões,
tecnologia, que é complexa e cujo desenvolvimento é ace- às vezes bilhões de “ações” que o robô executa entre uma
lerado. [...] pergunta sua e uma resposta dele. Impossível seguir o passo a
ALISSON, Elton. Agência Fapesp, 31 mar. 2023. Disponível em: https:// passo, disse uma especialista em informática no podcast The
agencia.fapesp.br/brasil-precisa-de-politica-publica-para-regulamentar-a- Daily, do NYT. [...]
inteligencia-artificial-alertam-pesquisadores/41026. Acesso em: 9 out. 2023.
PRATA, Antonio. Burrice natural, inteligência artificial. Folha de S.Paulo,
25 mar. 2023. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/
No primeiro trecho destacado, em vez de introduzir antonioprata/2023/03/burrice-natural-inteligencia-artificial.shtml.
uma fala, os dois-pontos foram usados para apresentar uma Acesso em: 8 out. 2023.
enumeração. Ou seja, logo após os dois-pontos, a pesquisa-
Nesse trecho, as aspas evidenciam o uso de um termo
dora apresenta quais são as três tecnologias de propósito
recorrente quando o tema em questão é abordado. Pode-se
geral anteriores à IA às quais se referiu anteriormente.
entender que o autor quis destacar o caráter genérico do
Já os travessões evidenciam a explicação destacada
termo “ações”, uma vez que, no texto, é mencionado grande
dentro da frase:
desconhecimento quanto ao funcionamento de aplicativos
e sistemas de inteligência artificial.
[...] dois agentes distintos – os desenvolvedores e os Agora observe o uso das aspas no fragmento de re-
usuários – [...] portagem a seguir, que fala do processo de produção de
uma conhecida marca de panetone.
explicação sobre o termo anterior
(entre travessões) “Berçário”
A massa do panetone leva basicamente farinha, ovos, man-
Nesse exemplo, em vez de travessão, a autora do texto teiga, açúcar, água e fermento natural. Segundo a Bauducco, é o
também poderia ter utilizado vírgulas. Visualmente, porém, fermento (chamado de massa madre) o segredo do seu produto.
o uso do travessão deixa a explicação com maior destaque Trata-se de uma massa viva, alimentada constantemente
para o leitor. e manualmente com farinha e água. Sua base é a mesma
Em síntese, os dois-pontos podem também introduzir há 65 anos e foi trazida de navio de Turim, na Itália, pelo
palavras, expressões ou orações que evidenciam explica- Sr. Bauducco.
ções ou enumerações. Já os travessões destacam para o Esse fermento precisa ser armazenado a uma temperatura
leitor um esclarecimento sobre o termo antecedente. fresca específica (que a Bauducco não revela). Por demandar
tanto cuidado, ela é chamada de “bebê” pela empresa, e a sala
Aspas onde fica armazenada, de “berçário”. [...]
MELO, Luísa. Do fermento à caixinha, veja como é feito o panetone na
As aspas podem ter diferentes funções em um texto. maior fábrica do país. G1, 11 dez. 2017. Disponível em: https://g1.globo.
a) Demarcar diálogo ou fala com/economia/noticia/do-fermento-a-caixinha-veja-como-e-feito-o-
panetone-na-maior-fabrica-do-pais.ghtml. Acesso em: 28 set. 2023.
Em textos literários, as aspas podem marcar a fala de
Em geral, o vocábulo “bebê” diz respeito ao ser hu-
personagens, indicando que há um diálogo. Veja como isso
mano – ou a outro animal – em seus primeiros anos de
ocorre em um trecho do texto “Slime na airfyer”, do escritor
vida. Nesse texto, porém, ele faz referência a uma massa
e roteirista Antonio Prata.
que é a base para a produção de um panetone, ou seja,
[...] Eis o caso. Meu filho de oito pega o iPad e começa a foi utilizado em seu sentido metafórico, já que a massa
trabalhar em seu castelo subaquático, no Minecraft. Minha filha exige tanto cuidado quanto um bebê. A palavra “berçário”,
de dez surge na sala e diz “eu também quero o iPad!”. Meu da mesma forma, foi ressignificada: não é o lugar onde os
filho argumenta que ela usou o iPad a noite passada inteira. bebês dormem, mas onde essa massa de panetone fica.
Hoje é a vez dele. Parece sensato. A promotoria, no entanto, Assim, as aspas também são usadas para destacar termos
apresenta seu caso de forma mais específica: “eu usei a noite
que foram utilizados em sentidos diferentes do original.
inteira porque ele não me pediu pra usar. Se ele tivesse pedido,
eu teria proposto meia hora cada um”. Segundo o argumento, c) Indicar citação direta
que me parece lógico, como hoje ela está pedindo, ele deve Em textos jornalísticos, a inserção da voz do outro é
aceitar meia hora cada um. [...] demarcada com aspas, e isso confere ao texto maior ve-
PRATA, Antonio. Slime na airfyer. Folha de S.Paulo, 22 jul. 2023. racidade, pois o fato é evidenciado a partir do discurso
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/
2023/07/slime-na-airfryer.shtml. Acesso em: 8 out. 2023. dos próprios sujeitos envolvidos e/ou de especialistas no
assunto. Leia o excerto de notícia.
Os trechos em destaque evidenciam as falas da filha do
narrador. O autor poderia marcar cada uma dessas falas utili- Estrelas da Ópera se apresentam para crianças
zando dois-pontos e travessão, mas optou pelo uso das aspas. doentes em Paris
b) Destacar um termo ou expressão [...]
Um momento raro é testemunhado na sala de reanima-
Em outro texto, Antonio Prata faz o seguinte uso das
ção de um hospital infantil em Paris: um menino entubado
aspas.
observa com grande atenção dois dançarinos da Ópera que,
[...] Os engenheiros que trabalham no ChatGPT, no Bing em trajes brilhantes, começam a traçar alguns passos de dança
(da Microsoft) ou no Bard (da Google) nem sequer conhecem à sua frente.

16 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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“Agora vamos fazer o ‘arabesco’...”, explica o bailarino Hugo Marchand [...]. “Viemos cumprimentá-lo e lhe dar um beijo”,
diz ao menino, que responde com um aceno tímido.
Em outro quarto do hospital, está um bebê que observa, de olhos arregalados, o vestido de Gilbert flutuar no ritmo de uma pirueta.
Por trás desta iniciativa, existe uma associação [...] que, desde sua criação em 2018, tem trabalhado para introduzir o balé
e a dança nas vidas de crianças, especialmente aquelas que sofrem com a pobreza, o exílio e doenças.
[...]
G1 apud France Presse, 16 jul. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/olha-que-legal/noticia/2021/07/16/estrelas-da-opera-se-apresentam-para-criancas-
doentes-em-paris.ghtml. Acesso em: 22 dez. 2023.

Nesse excerto, encontramos dois momentos em que são citadas diretamente as falas do bailarino:
1. “Agora vamos fazer o ‘arabesco’...”
2. “Viemos cumprimentá-lo e lhe dar um beijo”
Em citações, o mais frequente é o uso de aspas duplas. No entanto, se dentro do trecho citado for necessário dar
algum destaque a uma palavra, isso é feito com aspas simples. No exemplo 1, as aspas duplas marcam a fala do bailarino,
e as aspas simples – que estão dentro da citação já iniciada por aspas – colocam em evidência a palavra “arabesco”, que
é uma posição de balé. Também são usadas aspas simples quando há citação de uma fala dentro de um trecho citado,
que já está entre aspas duplas. Ou seja, a regra geral para uso das aspas simples é a de que, se for preciso abrir aspas
quando isso já foi feito antes, essas segundas aspas devem ser simples.
O mesmo recurso de citação é válido em produções teóricas e acadêmicas, em que se usa a citação de outras obras
com frequência para dar maior valor científico ao texto. Veja o exemplo a seguir.
Marcuschi (2010, p. 28), ao se referir à perspectiva dicotômica, que tem como foco a fala em oposição à escrita, afirma que “o
inconveniente [dessa visão] é considerar a fala como o lugar do erro e do caos gramatical, tomando a escrita como lugar da norma e
do bom uso da língua”.
ALENCAR, Andréa Gomes de. O gênero debate nos livros didáticos de Português do ensino médio: vozes em diálogo. 2017. 263 f.
Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo. p. 27.

d) Indicar ironia
A tirinha ao lado trata

Armandinho, de Alexandre Beck


do uso das aspas para mar-
car ironia.
No primeiro quadrinho,
o uso da palavra “amigos”
aparece duas vezes. Em
uma delas, as aspas foram
utilizadas. Esse uso eviden-
cia que a palavra foi usada
em sentido contrário ao ori-
ginal, ou seja, a fala do pai de Armandinho indica que podemos ter amigos e aqueles que pensamos serem nossos amigos,
mas, de fato, não são. A ironia é justamente esse uso de um termo para dizer algo oposto em um determinado contexto.
Na fala, a ironia poderia ser demarcada pela entonação ou mesmo por gestos e expressões faciais; já em textos escritos,
as aspas geralmente são usadas para que essa figura de linguagem seja reconhecida.
e) Sinalizar título de obra

Avós que inspiram: conheça o livro infantil “O menino que descobriu as cores”,
do autor mirim Tiago Vilariño
FERRAZ, Alex. Celebs, 19 jul. 2021. Disponível em: http://celebs.com.br/4859/avos-que-inspiram-conheca-o-livro-infantil-o-menino-que-descobriu-as-cores-
do-autor-mirim-tiago-vilarino/. Acesso em: 28 set. 2023.

Para destacar o título de um texto, um livro, uma obra de arte, um filme, uma canção etc., podem ser utilizados alguns
recursos, como o uso das aspas, do itálico ou do negrito. Na manchete, a expressão “O menino que descobriu as cores”
é o nome de uma obra de literatura infantil; por esse motivo, foi colocado entre aspas.
f) Demarcar gírias, neologismos, palavras estrangeiras ou desvios da norma-padrão da língua
Leia uma frase de para-choque de caminhão.
Na subida “cê” me aperta, na descida “nóis” acerta.
SABEDORIA popular. In: CORTELLA, Mario Sergio; SOUSA, Mauricio de. Vamos pensar um pouco?: lições ilustradas com a Turma da Mônica. São Paulo:
Cortez: Mauricio de Sousa Editora, 2017. p. 28.
FRENTE 1

O enunciado apresenta duas palavras registradas conforme seu uso oral informal: “cê” e “nóis”. As aspas, nesses
casos, sinalizam para o leitor que o autor do texto conhece o uso formal dessas palavras, mas optou por um registro mais
popular, provavelmente por considerar o espaço de circulação do enunciado: as estradas em que o caminhão circula.

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Além de marcas de oralidade e gírias, as aspas tam- Observe que, na segunda oração, há a omissão de uma
bém podem destacar palavras novas ou estrangeiras, informação: “em outras [pessoas] o olho da mente é cego.”.
como se pode observar nesta manchete. Assim, percebemos que o uso de vírgula se justifica pelo
fato de haver um termo oculto na sentença, e foi utilizado
De “teen” a “saia justa”, Folha inventou e o ponto e vírgula para separar as orações, de modo a or-
popularizou expressões ganizar melhor as informações do período.
FRANCO, Marcella, Folha de S.Paulo, 27 fev. 2021. Disponível em:
www1.folha.uol.com.br/folha-100-anos/2021/02/de-teen-a-saia-justa-
b) Separar itens enumerados
folha-inventou-e-popularizou-expressoes.shtml. Acesso em: 28 set. 2023.
O ponto e vírgula costuma ser utilizado ao final de
O termo “teen” é uma palavra estrangeira que significa itens enumerados em um texto, geralmente quando es-
“adolescente”, e a expressão “saia justa” é um neologismo ses itens estão organizados em tópicos, como ocorre, por
que faz referência a uma situação complicada. Tanto em exemplo, em documentos oficiais.
neologismos quanto em palavras estrangeiras, o uso das
aspas é recomendado. Em textos digitados, essa pontua- Capítulo V
ção pode ser substituída por um destaque específico, por Da Educação Ambiental
exemplo, aplicar itálico na palavra, o que é bastante comum Art. 38 – Compete ao Poder Público promover a educação
no caso de palavras estrangeiras. ambiental em todos os níveis de sua atuação e a conscien-
tização da sociedade para a preservação, conservação e
Ponto e vírgula recuperação do meio ambiente considerando:
O ponto e vírgula é utilizado para separar elementos I – a educação ambiental sob o ponto de vista interdis-
de um enunciado, sendo um sinal intermediário entre a ciplinar;
vírgula e o ponto-final. II – o fomento, junto a todos os segmentos da sociedade,
a) Separar orações da conscientização ambiental;
Leia a linha-fina colocada logo após o título do artigo III – a necessidade das instituições governamentais es-
de divulgação científica. taduais e municipais de realizarem ações conjuntas para o
planejamento e execução de projetos de educação ambiental,
Do que é feito o pensamento? A ciência por trás respeitando as peculiaridades locais e regionais;
da voz na sua cabeça IV – capacitação dos recursos humanos para a operaciona-
lização da educação ambiental, com vistas ao pleno exercício
Algumas pessoas falam com si mesmas o dia todo; outras
da cidadania.
têm mentes silenciosas. Algumas formam imagens mentais ví-
RIO GRANDE DO SUL (estado). Projeto de Lei nº 154/2009. Dispõe
vidas; em outras, o olho da mente é cego. Faz poucas décadas sobre o Código Estadual do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande
que os psicólogos criaram ferramentas para investigar nosso do Sul e dá outras providências. Diário Oficial da Assembleia Legislativa.
fluxo de consciência. Até que ponto podemos acessar – e ex- Porto Alegre, 3 ago. 2009. p. 14. Disponível em: http://proweb.procergs.
com.br/Diario/DA20090807-01-100000/EX20090807-01-100000-
plicar – o interior de nossas próprias cabeças? PL-154-2009.pdf. Acesso em: 28 set. 2023.
VAIANO, Bruno. Superinteressante, 16 jul. 2021. Disponível em: https://
super.abril.com.br/ciencia/do-que-e-feito-o-pensamento-a-ciencia-por- Em síntese, podemos dizer que o ponto e vírgula separa:
tras-da-voz-na-sua-cabeca/. Acesso em: 28 set. 2023.
• orações que tratam de um assunto comum dentro de
O ponto e vírgula representa no texto o fechamento um mesmo período;
parcial de uma ideia. Se com a vírgula apresentamos pe-
• orações, quando a segunda apresenta conjunção ad-
quenas “pausas” de sentido e com o ponto-final encerramos
versativa deslocada;
de fato uma ideia, o ponto e vírgula é o meio do caminho.
Na leitura, ele indica uma pausa melódica maior que uma • orações, quando em uma delas é feito o uso de vírgula;
vírgula e menor que um ponto-final. • diversos itens de um enunciado enumerativo.
Observe que no enunciado a seguir as orações que
Reticências
compõem o período estão claramente relacionadas. São
orações que tratam de um assunto em comum, separadas Observe os usos das reticências na reportagem de
por ponto e vírgula. divulgação científica a seguir.

7 mitos e meio sobre o cérebro derrubados


Algumas pessoas falam com si mesmas o dia todo; ou-
[...]
tras têm mentes silenciosas.
3. Suas emoções estão em seu coração
Quando a emoção o invade, “quando você sente o bati-
O ponto e vírgula também pode ser utilizado no enuncia- mento cardíaco, não o sente no peito, mas na cabeça”.
do quando em uma das orações já é feito o uso de vírgula. É “É difícil de entender, mas você não sente nada em seu
o que acontece nesta passagem do artigo lido anteriormente. corpo, tudo o que você sente está em seu cérebro.”
A dor, a alegria... tudo, porque o cérebro é quem escreve
Algumas formam imagens mentais vívidas; em outras, a história, ele é o narrador.
o olho da mente é cego. E abriga as paixões nas profundezas de sua parte mais
vírgula na segunda oração antiga...
(uso do ponto e vírgula ao final da primeira oração) 4. Você tem uma “besta interior”
Bem... não é assim. [...]

18 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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“[...] as regiões do cérebro que foram marcadas como f) a continuidade da frase
sua besta interior são, na verdade, aquelas que controlam seu

Armandinho, de Alexandre Beck


corpo – seus pulmões, seu coração, seu sistema imunológico,
seu metabolismo... seu corpo físico inteiro. E alguns de eles
(sic) estão no centro da memória, tomada de decisão, racio-
nalidade e percepção”.
“Essas regiões estão praticamente envolvidas em tudo que
seu cérebro faz.”
[...]
VENTURA, Dalia. BBC News, 18 jul. 2021. Disponível em: www.bbc. Em alguns gêneros como as tirinhas, as reticências tam-
com/portuguese/geral-57880463. Acesso em: 28 set. 2023. bém são usadas para marcar uma quebra na fala e indicar
a continuidade do enunciado no quadro seguinte.
As reticências podem ser utilizadas de diversas formas
Veja que, no primeiro quadro da tirinha, as reticências
no texto. Elas podem, por exemplo, indicar:
indicam que há uma pausa na fala do pai de Armandinho; no
a) a continuidade de uma ideia segundo, esse sinal de pontuação é empregado no início da
No trecho “A dor, a alegria... tudo”, as reticências fala para marcar a continuidade do que estava sendo dito. Já
marcam que outras sensações (além de “dor” e “alegria”) ao final das falas do pai no segundo e no terceiro quadros, as
poderiam ser mencionadas para mostrar tudo o que está reticências sugerem um prolongamento da ideia apresentada.
em nosso cérebro. Em síntese, a finalidade das reticências pode variar; por
b) o destaque de uma ideia isso, é preciso, ao escrever, ter clareza do que se deseja trans-
mitir e, na leitura, analisar o contexto para compreender qual
No trecho “seus pulmões, seu coração, seu sistema é a intencionalidade do autor com o uso dessa pontuação.
imunológico, seu metabolismo... seu corpo físico inteiro”, g) a supressão de partes de um texto
observamos que, em vez de nomear uma lista que poderia
ser bastante extensa, o jornalista prefere usar as reticên- Quando citamos um texto, nem sempre o fazemos na
cias, mostrando que haveria uma continuidade da lista. No íntegra. Às vezes, apenas parte da fonte original foi repro-
entanto, o fato de o trecho “seu corpo físico inteiro” vir duzida. Nesses casos, o “corte” deve ser sinalizado. Isso
após esse sinal também faz com que seja dado maior des- é feito com as reticências dentro de colchetes (ou mesmo
taque a essa informação; assim, se o leitor não se lembrar entre parênteses): [...] ou (...).
de todos os elementos enumerados, basta ele reconhecer A reportagem de divulgação científica lida, por exem-
a ideia que foi evidenciada após as reticências. plo, trata de sete mitos, mas você leu apenas dois. Para que
o leitor compreenda que uma parte foi suprimida, foram in-
c) a hesitação comum na fala
dicados os cortes com as reticências dentro dos colchetes.
Em “Bem... não é assim”, as reticências foram usadas No fragmento apresentado, esse recurso foi utilizado
para mostrar uma hesitação, uma pausa bastante ligada quatro vezes. Então é possível concluir que foram feitos qua-
ao contexto oral de comunicação. O uso dessa pontuação tro cortes de informação. Se o leitor consultar o texto original,
nesse texto aproxima os interlocutores – autor e leitor – por terá acesso a outras ideias.
dar a impressão de estar havendo uma conversa entre eles.
d) a necessidade de completar uma informação Parênteses
Os parênteses são utilizados, em geral, para acrescen-
O argumento principal do terceiro mito do texto é que
tar ao texto alguma informação importante que esclarece,
as sensações são produzidas pelo nosso cérebro, e não
ao leitor, algo que foi apresentado anteriormente. Leia o
por nosso coração. No entanto, há um conhecido ditado
primeiro parágrafo da reportagem sobre os mitos do cére-
popular que reforça esse mito: “O que os olhos não veem...”.
bro, apresentada anteriormente.
Observe que o ditado popular não foi escrito na íntegra.
Em vez disso, colocamos as reticências no final da frase. No século 4 a.C., Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) conside-
Elas servem, nesse caso, para fazer com que o próprio leitor rava o cérebro um órgão secundário que servia para resfriar
complete a parte que falta. o sangue que o coração usava para funções mentais. Mas era
também um lugar onde o espírito circulava livremente e onde
e) a interrupção de pensamento
estava, em sua visão, o sensus communis (ou “senso comum”).
Esse sinal de pontuação é bastante utilizado também VENTURA, Dalia. 7 mitos e meio sobre o cérebro derrubados.
BBC News, 18 jul. 2021. Disponível em: www.bbc.com/portuguese/
quando o autor quer evidenciar que alguém foi interrom- geral-57880463. Acesso em: 28 set. 2023.
pido em sua fala. Imagine, por exemplo, o diálogo a seguir:
O primeiro trecho entre parênteses traz informações
— Eu acho que você deveria... sobre Aristóteles: anos de nascimento e morte.
— Nem quero saber. Não perguntei sua opinião.
acréscimo de informação
FRENTE 1

As reticências evidenciam que o primeiro interlocutor


Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) considerava o cérebro
não conseguiu completar sua ideia, pois foi interrompido
um órgão secundário.
pelo segundo.

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Já o segundo acrescenta uma definição, trazendo uma o fragmento traga essa informação, a fim de explicitar ao
explicação para o leitor, caso ele não saiba o que significa leitor que o parágrafo faz referência à Declaração Universal
a expressão latina “sensus communis”. dos Direitos Humanos.
Este é um contexto em que o uso do colchete se faz
[...] era onde estava, em sua visão, o sensus necessário: trazer uma informação, em trechos transcritos,
communis (ou “senso comum”). de forma a esclarecer a que se refere uma palavra ou tre-
cho citado.
esclarecimento
Há muitos anos esta declaração [Declaração Universal
Além de evidenciar uma explicação, os parênteses dos Direitos Humanos] foi aprovada.
podem ser usados para destacar uma expressão. É o que
ocorre com o advérbio latino “sic”, que quer dizer “assim, colchetes marcam que o trecho inserido
deste modo” e, sempre que aparece no texto, está entre não está no texto original
parênteses (ou colchetes). Essa expressão é usada para
sinalizar que o texto original contém um equívoco ou desvio
Em depoimentos que são inseridos em textos jornalísti-
de registro formal, que foi mantido na citação do trecho, mas
cos, o uso do colchete é bastante comum. O texto a seguir
foi percebido por quem o transcreveu. Ou seja, evidencia
é um relato de um ator mirim que explica o motivo de não
que a citação é literal, sem alteração alguma, por isso o
ter mais voltado a atuar na TV.
desvio gramatical (problemas de digitação, concordância,
grafia, regência etc.) foi mantido. “Foi bem grave. Estava um amigo do meu pai, era uma
Na reportagem de divulgação científica lida anterior- Saveiro, então não tem banco de trás. Minha mãe no passa-
mente, há um desvio gramatical e, caso o trecho fosse geiro [banco] e eu no colo dela. Estávamos todos sem cinto.
citado conforme o original, seria necessário fazer essa in- E ele [motorista] completamente imprudente, foi fazer uma
dicação. Observe: ultrapassagem na curva… Acabou batendo de frente com um
carro bem maior”, relatou o jovem, hoje com 18 anos [...].
BRANDÃO, Felipe. Acidente interrompeu carreira de ator infantil de
[...] E alguns de eles (sic) estão no centro da memória, A vida da gente: “Fui forçado”. Observatório da TV, 15 jul. 2021.
tomada de decisão, racionalidade e percepção. Disponível em: https://observatoriodatv.uol.com.br/noticias/acidente-
interrompeu-carreira-de-ator-infantil-de-a-vida-da-gente-fui-forcado.
Acesso em: 28 set. 2023.
Em vez de registrar “deles”, o jornalista enganou-se
e escreveu “de eles”. A expressão “sic”, colocada entre O jornalista fez uso de aspas para indicar que a fala
parênteses logo após o equívoco, sinaliza que o problema era do próprio ator, mas precisou fazer algumas modifica-
foi percebido por quem fez a transcrição, mas optou-se ções no texto, inserindo esclarecimentos para que o leitor
pela não correção. compreendesse a informação na íntegra. Por esse motivo,
foram acrescentadas duas informações entre colchetes.
Colchetes A primeira – “[banco]” – evita uma possível ambiguidade,
Compare os trechos a seguir. já que é preciso deixar claro que, ao dizer “minha mãe no
passageiro”, o ator se referia ao local onde sua mãe estava
Texto original Texto modificado na hora do acidente: no banco do passageiro. A segunda
Há muitos anos esta decla- informação – “[motorista]” – esclarece a quem o pronome “ele”
ração foi aprovada, mas ainda se refere no trecho “E ele, completamente imprudente [...]”.
existem países que não obede- Há muitos anos esta declara-
ção [Declaração Universal Os colchetes demarcam que aquelas palavras foram
cem a este documento. Para dos Direitos Humanos] foi inseridas pelo jornalista, mas não foram ditas pelo autor.
que isto aconteça, é preciso que aprovada, mas ainda existem Como o fragmento está entre aspas, qualquer modifica-
todos aprendam, nas escolas de países que não obedecem
ção no texto precisa ser sinalizada com os colchetes, que
todo o mundo, o conteúdo des- a este documento. Para que
isto aconteça, é preciso que indicam os acréscimos.
ta declaração.
todos aprendam, nas escolas Em alguns textos, essa função dos colchetes é tam-
ROCHA, Ruth. Declaração universal
de todo o mundo, o conteú- bém demarcada com o uso de parênteses. Na sequência,
dos direitos humanos. Adaptação de
do desta declaração.
Ruth Rocha e [ilustrações] Otavio veja em outro trecho do texto “7 mitos e meio sobre o
Roth. 11. ed. São Paulo:
Salamandra, 2014. p. 45. cérebro derrubados” como a jornalista responsável pela
matéria demarca sua voz com esse sinal de pontuação,
O fragmento original encerra um livro que procura diferenciando-o da voz de Lisa Feldman Barrett, pesqui-
apresentar, de forma simples, a Declaração Universal dos sadora sobre o funcionamento do cérebro.
Direitos Humanos para crianças. Tem, portanto, o objetivo
de divulgar entre esse grupo de leitores alguns aspectos Os pássaros são animais muito interessantes porque há partes
importantes da vida social. do cérebro deles, nas quais os neurônios se regeneram a cada ano
Ao ler o trecho “Há muitos anos esta declaração foi para aprender novas canções para atrair parceiros. Na verdade,
aprovada”, não é possível saber a qual declaração o autor foi assim que a plasticidade (do cérebro) foi descoberta.
VENTURA, Dalia. 7 mitos e meio sobre o cérebro derrubados.
faz referência quando retiramos esse parágrafo de seu con- BBC News, 18 jul. 2021. Disponível em: www.bbc.com/portuguese/
texto original. Assim, é fundamental que, se for transcrito, geral-57880463. Acesso em: 28 set. 2023.

20 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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O trecho “(do cérebro)”, colocado entre parênteses, Coisas de “mafuá”
é uma inserção que não foi dita pela pesquisadora à — Mas, onde esteve você, Jaime?
repórter, mas esta, pensando em conferir maior clare-
— Onde estive?
za ao texto, optou por acrescentar a informação. Nesse
— Sim; onde você esteve?
caso, portanto, os parênteses têm a mesma função dos
— Estive no xadrez.
colchetes: introdução de uma informação nova e demar-
cação de autoria. — Como?
Por fim, os colchetes (ou os parênteses) também podem — Por causa de você.
ser usados para marcar a supressão de um trecho do texto. — Por minha causa? Explique-se, vá!
Nesse caso, esses sinais são usados com três pontos. Veja — Desde que você se meteu como barraqueiro do impo-
como esse recurso foi utilizado ao final do texto para indicar nente Bento, consultor técnico do “mafuá” do padre A, que o
que havia ainda mais coisas a serem lidas. azar me persegue.
Compare os mesmos trechos apresentados anteriormente: — Então eu havia de deixar de ganhar uns “cobres”?
— Não sei; a verdade, porém, é que essas relações entre
Texto original Texto modificado você, Bento e “mafuá” trouxeram-me urucubaca. Não se lem-
Há muitos anos esta decla- bra você da questão do pau?
ração foi aprovada, mas ainda — Isto foi há tanto tempo!... Demais o Capitão Bento nada
existem países que não obe- tinha a ver com o caso. Ele só pagou para derrubar a árvore;
decem a este documento. Para
Há muitos anos esta mas você...
que isto aconteça, é preciso que declaração foi aprovada,
todos aprendam, nas escolas de — Vendi o pau, para lenha, é verdade. Uma coisa à toa
mas ainda [...] é preciso
todo o mundo, o conteúdo desta que todos aprendam [...] o de que você fez um “lelé” medonho e, por causa, quase nós
declaração. conteúdo desta declaração. brigamos.
ROCHA, Ruth. Declaração universal dos — Mas o capitão não tinha nada com o caso.
direitos humanos. Adaptação de Ruth
Rocha e [ilustrações] Otavio Roth. 11. ed.
— À vista de todos, não; mas foi o azar dele que envene-
São Paulo: Salamandra, 2014. p. 45. nou a questão.
— Qual, azar! qual nada! O capitão tem os seus “quandos”
É importante que a supressão indicada pelos sinais de e não há negócios que se meta, que não lhe renda bastante.
pontuação destacados no texto modificado garanta ainda a — Isto é para ele; mas, para os outros que se metem com
unidade de sentido do texto. Ou seja, quando há supressão ele, sempre a roda desanda.
de partes do texto, o “corte” não pode prejudicar a com- — Comigo não se tem dado isso.
preensão textual. — Como, não?
— Sim. Tenho ganho “algum” — como posso me queixar?
Estabelecendo relações — Grande coisa! O dinheiro que ele te dá, não serve pra
Em Matemática, é comum o uso de parênteses e col- nada. Mal vem, logo vai.
chetes para demarcar as operações. Assim, ao se deparar [...]
com uma equação como [4 ? (2 1 3)] 2 2, deve-se BARRETO, Lima. Domínio público.
lembrar que a primeira conta a ser feita é a que está
Além disso, as interrogações ao final de algumas falas
entre parênteses e depois a que está entre colchetes.
Nesse exemplo, ainda é possível observar outro uso marcam a indicação de perguntas diretas para que o diá-
para o ponto: na área de Exatas, ele geralmente repre- logo ocorra. As reticências, por sua vez, mostram que uma
senta o sinal da multiplicação. Percebe-se, então, que das personagens estava confusa, sem saber o que pensar
parênteses, colchetes e ponto têm funções diferentes diante do que foi questionado, podendo sugerir, ainda, por
quando usados em textos verbais ou em expressões exemplo, no trecho “mas você...”, que algo seria dito na
matemáticas. sequência, o que não foi feito.
Releia o trecho a seguir e observe os efeitos de sentido
que esses sinais de pontuação atribuem ao texto.
Pontuação expressiva
O uso dos sinais de pontuação, além de contribuir para — Não sei; a verdade, porém, é que essas relações entre
a organização sintática da sentença e favorecer a coesão, você, Bento e “mafuá” trouxeram-me urucubaca. Não se
pode ser um recurso de expressividade. O excerto de crô- lembra você da questão do pau?
nica a seguir, de Lima Barreto, narra, por meio de diálogos, — Isto foi há tanto tempo!... Demais o Capitão Bento
a conversa entre duas personagens sobre um encontro nada tinha a ver com o caso. Ele só pagou para derrubar a
que tiveram anteriormente em um local onde havia barra- arvore; mas você...
quinhas que distribuíam prêmios (mafuá), o que resultou na
prisão de um deles. Observe, no trecho, como a presença Na crônica, portanto, os diferentes usos de pontuação
FRENTE 1

de diversos pontos de exclamação contribuem para evi- (exclamação, interrogação e reticências) reforçam a expres-
denciar ao leitor os sentimentos das personagens durante sividade do discurso, contribuindo para que o leitor possa
o diálogo descrito. atribuir sentidos ao texto.

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Uso ou não da vírgula
A escolha pelo uso ou não da vírgula também é fundamental para a construção de sentidos em um texto. Note as
diferenças de sentido que os dois enunciados a seguir podem apresentar.

Não deixe que Cláudia descubra. Não, deixe que Cláudia descubra.
Com a vírgula após o advérbio de negação, a intenção do
Sem a vírgula, o enunciado tem o sentido de esconder algo.
enunciado é de não esconder nada.

O uso ou não da vírgula também implica diferenças de sentido em frases em que um vocativo é confundido com o
sujeito da oração. Na tirinha a seguir, veja como a falta de compreensão de um dos alunos sobre o que deve ser escrito
está relacionada a esse problema sintático.

José James Teixeira


Observe como cada personagem entendeu a frase “Mãe só tem uma” e como deve ser a pontuação de acordo com
cada uma dessas interpretações.

Professora e Lívia Aluno João


João colocou a mãe como a pessoa com quem
A professora solicitou aos alunos que refletissem
dialoga. Ele a chama para dar uma informação.
Sentido da frase sobre o papel da mãe e sua relevância na vida deles.
Ou seja, entendeu “mãe” como a pessoa a quem
Ou seja, “mãe” é sobre quem eles deveriam falar.
deveria se referir.
Mãe só tem uma! Mãe, só tem uma!
Função sintática de “mãe”
objeto direto vocativo

No enunciado, o verbo “ter” está sendo usado em um contexto informal, apresentando o sentido de “haver”, que é
impessoal, ou seja, não possui sujeito. No primeiro exemplo, temos, portanto, uma oração formada apenas por predicado
e objeto direto (“Só há uma mãe.”). No segundo, porém, o termo “mãe”, isolado do restante da sentença por vírgula, é
um vocativo – sempre que uma palavra indica chamamento, ela deve ser separada do restante da oração por meio de
vírgula. Na tirinha há outros enunciados que apresentam termos com função de vocativo não isolados por vírgula, como
nas falas da professora, cuja pontuação correta seria: “Lívia, leia sua frase para nós!” e “Parabéns, Lívia! Sua vez, João”.
Na tirinha, a decepção da professora (“Eu mereço!”) está justamente no fato de o menino não ter compreendido o sentido
que ela pretendia. Considerando que esse texto remete ao lúdico, sabemos que o “engano” do aluno foi proposital para gerar
o humor, mas foi também bastante útil para nos ajudar a perceber como é importante estar atento ao fato de que, às vezes,
o uso ou não de uma pontuação pode mudar totalmente o sentido da informação. Pense, por exemplo, como seria diferente
se, em um relatório médico, em vez de escrever “O paciente está doente”, o profissional da saúde se confundisse e redigisse
“O paciente está doente?”. No primeiro caso, há uma constatação, uma certeza; no segundo, uma dúvida, uma incerteza.

22 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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Repetição dos sinais de pontuação Interação entre os Presença de ideias Discursos
A repetição de uma mesma pontuação, de forma con- sujeitos de outros intercalados
secutiva, também pode indicar múltiplos sentidos. Veja ponto de parênteses;
como isso acontece na piada a seguir. interrogação; colchetes;
ponto de aspas (de diálogo); travessão (duplo);
No caixa do banco, o sujeito vai descontar um cheque. exclamação; aspas (de ironia); vírgulas (separando
reticências; travessão (de fala.) explicações);
— Vai levar em dinheiro???
dois-pontos dois-pontos
— Não, me dá em clipes e borrachinhas!!! (antes de fala). (destacando ideias).
AVIZ, Luiz. As melhores piadas para crianças. Rio de Janeiro:
Pegue & Leve, 2013. p. 110.
evidenciam diálogo. marcam o discurso organizam o texto.
Os três sinais de interrogação evidenciam que o alheio.
funcionário não fez uma simples pergunta, mas que há
Ao estudar a pontuação, portanto, mais que conhecer
certo estranhamento ou ênfase no questionamento. Ele,
regras, é fundamental compreender sua função e utilidade
provavelmente, ficou surpreso com o valor alto a ser de acordo com os objetivos e as intencionalidades em uma
sacado e estranhou que o sujeito optasse por levar a situação comunicativa concreta.
quantia em dinheiro (em vez de fazer uma transferência,
por exemplo). Saiba mais
Já os três sinais de exclamação deixam claro que o
Os primeiros emoticons foram escritos a partir de sinais
sujeito ficou indignado com a pergunta feita, já que, para
de pontuação ou a combinação desses com números e
ele, era óbvio que, se ele veio descontar o cheque, levaria letras. Mesmo após a chegada dos emojis – as “carinhas”
o dinheiro consigo. e outros desenhos que usamos em aplicativos de comu-
A construção de humor se faz em relação a como cada nicação –, ainda é possível encontrar textos que fazem
uma das personagens interpreta a cena que vivencia, mas uso de emoticons em contextos digitais. De forma geral,
são os sinais de pontuação triplicados que dão pistas ao a pontuação usada representa uma imagem que remete
leitor sobre a surpresa do funcionário e a indignação do a um sentimento ou um símbolo. Veja alguns emoticons
sujeito, orientando, assim, como deve ser a entonação du- e o que eles significam.
rante a leitura. :) Alegria :( Tristeza :-O Espanto
Por fim, vale destacar a importância da pontuação na
=) Felicidade >:( Irritação <3 Amor (coração)
organização do discurso de acordo com o que desejamos
evidenciar em nossos textos. Em geral, com os sinais de :-D Sorriso :’( Choro ;-) Ok/tudo certo
pontuação podemos indicar:

Revisando
<id>002447_por_f1_c11_q0001</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. Ufam/PSC 2021 Por vários motivos a vírgula é usada na escrita. As frases a seguir estão todas corretamente pon-
tuadas e têm o motivo pelo qual se usou a vírgula entre parênteses. Uma delas, porém, NÃO contém a explicação
correta. Assinale, pois, a alternativa em que o motivo do uso desse sinal de pontuação está INCORRETO:
a) A Via-Láctea, que é uma galáxia, se perde entre bilhões de outras no universo (separar oração adverbial).
b) Viver, disse João Guimarães Rosa, é muito perigoso (separar oração intercalada).
c) Estudaram bastante; não conseguiram, no entanto, ser aprovados (separar conjunção deslocada).
d) Ela gosta das redes sociais e de fofocas; eu, de livros e boa música (indicar a elipse de um termo).
e) As crianças estudam, brincam, veem televisão durante a quarentena (separar orações coordenadas).
<id>002447_por_f1_c11_q0002</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

2. EEAR-SP 2023 Considerando o trecho seguinte, em qual alternativa há erro no emprego da vírgula?
Mesmo em menor quantidade o lixo residencial também pode conter substâncias tóxicas e por isso deve-se ter cuida-
do especial com alguns descartes como: pilhas baterias de celular alguns tipos de lâmpadas remédios e embalagens
de inseticida.
a) e por isso,
b) Mesmo em menor quantidade,
c) deve-se ter cuidado especial com alguns descartes, como
d) pilhas, baterias de celular, alguns tipos de lâmpadas, remédios
<id>002447_por_f1_c11_q0003</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

3. UFGD-MS 2015 Quem é esta senhora? — Perguntei a Sá.


FRENTE 1

A resposta foi o sorriso inexprimível, mistura de sarcasmo, de bonomia e fatuidade, que desperta nos elegantes da corte
a ignorância de um amigo, profano na difícil ciência das banalidades sociais.
— Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher bonita. Queres conhecê-la?...

23

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Compreendi e corei de minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara hipócrita do vício com o modesto
recato da inocência. Só então notei que aquela moça estava só, e que a ausência de um pai, de um marido, ou de um
irmão devia-me ter feito suspeitar a verdade.
Depois de algumas voltas descobrimos ao longe a ondulação do seu vestido, e fomos encontrá-la, retirada a um canto,
distribuindo algumas pequenas moedas de prata à multidão de pobres que a cercava. Voltou-se confusa ouvindo Sá pronunciar
o seu nome:
— Lúcia!
— Não há modos de livrar-se uma pessoa desta gente! São de uma impertinência! disse ela mostrando os pobres e es-
quivando-se aos seus agradecimentos.
Feita a apresentação no tom desdenhoso e altivo com que um moço distinto se dirige a essas sultanas do ouro, e trocadas
algumas palavras triviais, meu amigo perguntou-lhe:
— Vieste só?
— Em corpo e alma.
— E não tens companhia para a volta?
Ela fez um gesto negativo.
— Neste caso ofereço-te a minha, ou antes a nossa.
— Em qualquer outra ocasião aceitaria com muito prazer; hoje não posso.
— Já vejo que não foste franca!
— Não acredita?... Se eu viesse por passeio!
— E qual é o outro motivo que te pode trazer à festa da Glória?
— A senhora veio talvez por devoção? disse eu.
— A Lúcia devota!... Bem se vê que a não conheces.
— Um dia no ano não é muito, respondeu ela sorrindo.
ALENCAR, José de. Lucíola. 12a ed., São Paulo: Ática, 1988, capítulo II.

Assinale a alternativa em que a retirada da(s) vírgula(s) altera semanticamente a frase:


a) Lúcia, a jovem de 19 anos, era a mais linda da festa. (a segunda vírgula)
b) Lúcia saiu da festa da Glória, sorrateiramente.
c) Lúcia iniciou, naquele momento, uma distribuição de moedas pratas. (as duas vírgulas)
d) Ontem, Lúcia foi à festa da Glória.
e) Tranquilamente, Lúcia chegou à festa da Glória.
<id>002447_por_f1_c11_q0004</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

4. UPF-RS 2022

O que nos torna pouco competitivos?


Renato Rozental

Lamentar a morte de mais de meio milhão de brasileiros por covid-19 é pouco. Esta é uma discussão de resposta muito
clara, quase óbvia. Se tivéssemos capacidade interna, poderíamos ter suprido parte das necessidades do mercado e reduzido
o impacto da pandemia no sistema de saúde em tempo hábil. O quadro de calamidade é resultado de décadas de políticas
de incentivo ___ mera reprodução em vez de estímulo ___ capacitação profissional e ao domínio do processo produtivo.
5 Começar reproduzindo (“copiando”) não é um problema. Basta lembrar da história do nylon, fibra têxtil sintética patenteada
pela empresa norte-americana DuPont em 1935 e usada para provocar a indústria japonesa e fazê-la exportar menos seda. A
resposta japonesa foi contundente e imediata: “copiar” o processo de manufatura e produzir nylon 6 meses após a desfeita.
Atualmente, a China domina o mercado mundial de nylon, seguida por Estados Unidos, Japão e Tigres Asiáticos. Os chineses
perceberam que, na era tecnológica, “o caminho mais curto para crescer é apostar em três frentes: inovação, inovação e inovação”.
10 Nesse contexto, pergunto: qual é o perfil da nossa indústria farmacêutica? Produzimos genéricos… até hoje. Mas a
política de “genéricos” tem como fragilidade o fato de incluir apenas medicamentos cujas patentes já tenham expirado.
O problema do conhecimento tecnológico insuficiente e a dificuldade do nosso país em evoluir de “copiar” para “inovar”
precisa ser tratado com prioridade e sem demagogia para romper o ciclo vicioso da dependência tecnológica e trazer um
diferencial competitivo.
15 O projeto de cranioplastia, reparo craniano extenso, pode ilustrar tanto a inovação estimulada pela demanda como os
entraves burocráticos ao desenvolvimento do produto. Pelo lado clínico, ___ cirurgias de reconstrução do crânio após remoção
da calota craniana envolvem um alto custo, incluindo a malha de titânio e porcelanato usada atualmente, totalizando um gasto
entre R$ 120 mil e R$ 200 mil por paciente, o que torna sua realização no Sistema Único de Saúde (SUS) economicamente
inviável. A cranioplastia faz-se necessária não somente por razões estéticas – o que, por si só, já justificaria o procedimento –,
20 mas também para assegurar que o cérebro do paciente fique mais protegido e com melhor irrigação sanguínea, resultando
em melhoras cognitivas e comportamentais e facilitando ___ reintrodução do indivíduo na sociedade.
No momento, infelizmente, a implantação de próteses cranianas é realizada pelo SUS somente mediante doação ou
após sentença judicial, considerando que o paciente corre risco de vida.
Nossa equipe desenvolveu uma solução utilizando uma prótese de polimetilmetacrilato (PMMA) confeccionada durante
25 o período da cirurgia, com resultados semelhantes e até superiores aos das próteses de titânio e porcelanato disponíveis,

24 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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mas com custo cerca de 20 vezes menor que o praticado no mercado, tornando o tratamento, em teoria, viável e acessível
à rede SUS. Estamos confiantes nos resultados das próteses feitas de PMMA, na análise dos custos e na adequabilidade do
produto para o mercado.
A ciência translacional não é algo que possa se embutir no sistema por decreto. Grandes organizações, públicas e
30 privadas, estão amarradas nas suas próprias burocracias, o que dificulta o processo criativo e de inovação. No contexto da
inovação em saúde, precisamos inserir formas de gestão flexíveis, ágeis, que envolvam tomadas de decisão descentralizadas,
permitindo a responsabilização de todos os atores envolvidos, de modo a ampliar os espaços de criatividade e de ousadia
na busca e na implementação de soluções. O que não dá para aceitar é continuar ___ andar com o “freio de mão puxado”
e na contramão do desenvolvimento sustentável.
35 Por fim, a dicotomia entre público e privado já deveria ter sido ultrapassada. A saúde é direito de todos e dever do Estado.
Quem trabalha com inovação quer ver o produto funcionando no mercado global. Certa vez, em 1995, tive a oportunidade
de ouvir de Eric Kandel (Universidade Columbia), Rodolfo Llinás (Universidade de Nova York) e Torsten Wiesel (Universidade
Rockfeller) uma previsão sobre o cenário de concessões nos Institutos Nacionais da Saúde (NIH) em 2015-2020: “quem não
desenvolvesse uma ‘pílula’ para a sociedade como resultado do seu projeto de pesquisa estaria fora do pool”. Tal visão está
40 se tornando uma realidade global. Pessoalmente, acredito que um dos compromissos mais preciosos que temos com a nossa
população é o de proporcionar hoje, e não amanhã, uma solução para que todos possam ser atendidos a tempo e desfrutem
de boa qualidade de vida.
(ROZENTAL, Renato. O que nos torna pouco competitivos? [Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde. Fundação Oswaldo Cruz e Instituto de Ciências
Biomédicas. Universidade Federal do Rio de Janeiro]. Matéria publicada em Ciência Hoje de 20 de agosto de 2021. Disponível em: https://cienciahoje.org.br/
artigo/o-que-nos-torna-pouco-competitivos/. Acesso em 18 de setembro de 2021). Texto adaptado para esta prova.

Quanto ao emprego da pontuação, é correto o que se afirma em:


a) No período composto “Se tivéssemos capacidade interna, poderíamos ter suprido parte das necessidades do
mercado e reduzido o impacto da pandemia no sistema de saúde em tempo hábil” (linhas 2 e 3), empregou-se
vírgula para assinalar que a oração subordinada adverbial está anteposta à oração principal.
b) No enunciado “Produzimos genéricos… até hoje.” (linha 10), o uso das reticências é marca de completude sintá-
tico-semântica do segmento.
c) No trecho “Certa vez, em 1995, tive a oportunidade de ouvir de Eric Kandel (Universidade Columbia), Rodolfo Llinás
(Universidade de Nova York) e Torsten Wiesel (Universidade Rockfeller) uma previsão sobre o cenário de concessões
nos Institutos Nacionais da Saúde (NIH) em 2015-2020: ‘quem não desenvolvesse uma ‘pílula’ para a sociedade como
resultado do seu projeto de pesquisa estaria fora do pool’” (linhas 36 a 40), o uso dos dois pontos tem por função
introduzir um vocativo explicativo.
d) No período “Os chineses perceberam que, na era tecnológica, ‘o caminho mais curto para crescer é apostar em
três frentes: inovação, inovação e inovação’” (linhas 8 e 9), empregaram-se aspas para assinalar o discurso direto,
principalmente daquele posposto aos dois pontos.
e) No período “A cranioplastia faz-se necessária não somente por razões estéticas – o que, por si só, já justificaria
o procedimento –, mas também [...]” (linhas 19 e 20), o travessão duplo foi empregado tanto para assinalar uma
unidade intercalada quanto para realçar a função sintática de agente da passiva da referida unidade.
<id>002447_por_f1_c11_q0005</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

5. AFA-SP 2023
A Pátria
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
o pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! não verás país nenhum como este:
FRENTE 1

Imita na grandeza a terra em que nasceste!


(BILAC, Olavo. Poesias infantis. Rio de Janeiro, Minas, São Paulo: Francisco Alves & Cia,1904, p. 114-115.)

Assinale a alternativa correta referente ao poema “A Pátria”, de Olavo Bilac:

25

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a) Os pontos de exclamação ajudam a reforçar o tom imperativo do poema, marcado pelo uso dos verbos amar,
olhar, ver e imitar.
b) Em “A Natureza [...] / É um seio de mãe a transbordar carinhos”, o eu lírico vale-se da ironia para mostrar que a
Pátria é mãe carinhosa só para certos filhos.
c) O poema exalta a Pátria, mas mantém o senso crítico ao abordar, na primeira estrofe, o problema dos insetos
perigosos para a agricultura.
d) Fecundar a terra com o suor do rosto (penúltima estrofe) é um modo literal de dizer que o trabalho é importante
para quem quer se enriquecer no Brasil.
<id>002447_por_f1_c11_q0006</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

6. ESPM-SP 2023 Apesar de o juro real estar perto de 6% (nível considerado restritivo), a capacidade ociosa da
economia tem ficado cada vez menor, e alguns modelos apontam que a economia já opera acima da sua capa-
cidade produtiva. Com as medidas de núcleo da inflação – aquelas que buscam captar a tendência dos preços
desconsiderando efeitos de choques temporários – em 10% nos últimos 12 meses (o mesmo valor dos últimos
3 meses anualizados), é difícil argumentar que a inflação esteja sofrendo algum efeito de uma demanda mais fraca.
(Solange Srour, Folha de S.Paulo, 07/09/2022)

No tocante à pontuação do texto acima, só não está correto afirmar que:


a) A primeira vírgula do texto separa uma oração adverbial.
b) As duas ocorrências de parênteses se devem ao caráter explicativo dos segmentos.
c) No trecho “...cada vez menor, e alguns modelos apontam...”, o emprego da vírgula antes do conectivo “e” justifica-se
por haver duas orações com sujeitos diferentes.
d) Os travessões utilizados servem para colocar em destaque, realce ou ênfase o segmento em questão.
e) Na última oração, deveria haver uma vírgula antes do termo “sofrendo”, por se tratar de uma oração reduzida de
gerúndio.
<id>002447_por_f1_c11_q0007</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

7. Enem 2020 Muito do que gastamos (e nos desgastamos) nesse consumismo feroz podia ser negociado com a gente mesmo:
uma hora de alegria em troca daquele sapato. Uma tarde de amor em troca da prestação do carro do ano; um fim de semana
em família em lugar daquele trabalho extra que está me matando e ainda por cima detesto.
Não sei se sou otimista demais, ou fora da realidade. Mas, à medida que fui gostando mais do meu jeans, camiseta e
mocassins, me agitando menos, querendo ter menos, fui ficando mais tranquila e mais divertida. Sapato e roupa simbolizam
bem mais do que isso que são: representam uma escolha de vida, uma postura interior.
Nunca fui modelo de nada, graças a Deus. Mas amadurecer me obrigou a fazer muita faxina nos armários da alma e na
bolsa também. Resistir a certas tentações é burrice; mas fugir de outras pode ser crescimento, e muito mais alegria.
LUFT, L. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2011.

Nesse texto, há duas ocorrências de dois-pontos. Na primeira, eles anunciam uma enumeração das negociações que
podemos fazer conosco. Na segunda, eles introduzem uma
a) opinião sobre o uso de jeans, camiseta e mocassins.
b) explicação sobre a simbologia de sapatos e roupas.
c) conclusão acerca da oposição entre otimismo e realidade.
d) comparação entre ostentação e conforto em termos de vestuário.
e) retomada da ideia de negociação discutida no primeiro parágrafo.
<id>002447_por_f1_c11_q0008</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

8. Enem 2020
O ouro do século 21
Cério, gadolínio, lutécio, promécio e érbio; sumário, térbio e disprósio; hólmio, túlio e itérbio. Essa lista de nomes
esquisitos e pouco conhecidos pode parecer a escalação de um time de futebol, que ainda teria no banco de reservas
lantânio, neodímio, praseodímio, európio, escândio e ítrio. Mas esses 17 metais, chamados de terras-raras, fazem parte
da vida de quase todos os humanos do planeta. Chamados por muitos de “ouro do século 21”, “elementos do futuro”
ou “vitaminas da indústria”, eles estão nos materiais usados na fabricação de lâmpadas, telas de computadores, tablets
e celulares, motores de carros elétricos, baterias e até turbinas eólicas. Apesar de tantas aplicações, o Brasil, dono da
segunda maior reserva do mundo desses metais, parou de extraí-los e usá-los em 2002. Agora, volta a pensar em reto-
mar sua exploração.
SILVEIRA. E. Disponível em: www.revistaplaneta.com.br. Acesso em: 6 dez. 2017 (adaptado).

As aspas sinalizam expressões metafóricas empregadas intencionalmente pelo autor do texto para
a) imprimir um tom irônico à reportagem.
b) incorporar citações de especialistas à reportagem.
c) atribuir maior valor aos metais, objeto da reportagem.
d) esclarecer termos científicos empregados na reportagem.
e) marcar a apropriação de termos de outra ciência pela reportagem.

26 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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Exercícios propostos
<id>002447_por_f1_c11_q0009</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. Fuvest-SP 2023 Leia o fragmento e responda à Ao contrário dos poetas humanos, a inspiração de
questão: Ai-Da é baseada em 14 233 versos da “Divina Comédia”
de Dante Alighieri, uma base de palavras e programas de
A história do gênero biografia nasceu de tal maneira
análise de padrões de fala. Depois de processar as cen-
colada à historiografia do XIX que, a princípio, nem ao
20 tenas de linhas, o robô humanoide usou algoritmos para
menos recebeu nome ou alcunha. Afinal, ele resumia a
criar um poema.
própria disciplina. O modelo dessa forma de fazer história
Dado o crescente avanço dos modelos linguísticos,
era aquele que consagrava ao profissional a capacidade de
Aidan Meller [criador do Ai-Da] acredita que, em breve,
enaltecer e engrandecer aquele que seria biografado. Histó-
“serão completamente indistinguíveis dos textos huma-
rias de reis, príncipes, senadores e governantes eram as mais
25 nos”. /.../ Na verdade, em entrevista à CNN, o criador
recomendadas, para todo aquele que quisesse dignificar seu
do Ai-Da disse que o robô é capaz de imitar tão bem
personagem, mas também sua pátria e nacionalidade. No
a caligrafia de um humano que, se lermos, não sabere-
Brasil, o gênero foi amplamente praticado pelo Instituto His-
mos que não foi escrito por um. Meller acrescentou ainda
tórico e Geográfico que nasceu voltado ao enaltecimento
que, embora não veja a poesia de Ai-Da como uma real
do Império. Só se faziam estudos de grandes vultos, assim
30 competição com os poetas humanos, ele admite que é
como era prática do estabelecimento fazer biografia dos
“fundamentalmente perturbador”, tendo em conta a qua-
“outros próceros” e dos da “casa”. Assim, ao lado das traje-
lidade de trabalho apresentada pelo robô.
tórias de reis, rainhas, governadores gerais, literatos de fama,
Fonte: The Guardian (Disponível em https://www.maistecnologia.com/
realizavam-se, no dia a dia da instituição, relatos biográficos criado-robo-queescreve-poesia-desenvolvida-por-inteligencia-artificial/.
sobre os sócios locais. Não por coincidência media-se a Acesso em 13/03/2023)
importância do associado, a partir da pessoa que realizava
Considere o trecho extraído do texto.
sua biografia. Isto é, quando um dos sócios falecia, dizia a
regra local que era preciso realizar uma peça biográfica que Dado o crescente avanço dos modelos linguísticos,
seria impressa nas páginas da revista do estabelecimento. Aidan Meller (criador do Ai-Da) acredita que, em breve,
É muito fácil entender a economia interna da instituição que “serão completamente indistinguíveis dos textos huma-
costumava avaliar a relevância do homenageado a partir da nos”. (l. 22-25)
projeção e proeminência daquele que redigia a homena-
Assinale a única alternativa em que ocorrem vírgulas
gem, a qual também era dirigida à instituição e à própria
utilizadas pelo mesmo motivo do trecho sublinhado.
nação, como num jogo de dominó.
Lilia Moritz Schwarcz. “Biografia como gênero e problema”. 2013.
a) “Ai-Da, por exemplo, é um verdadeiro artista capaz de
Adaptado. Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/002720404 pintar, desenhar, esculpir e escrever poesia.” (l. 4-5)
b) “Depois de processar as centenas de linhas, o
a) Tendo em vista as informações sobre o gênero
robô humanoide usou algoritmos para criar um
“biografia”, explique o sentido da expressão “jogo
poema.” (l. 19-21)
de dominó” no texto.
c) “Na verdade, em entrevista à CNN, o criador do
b) Considerando a função sintática da locução “a
Ai-Da disse que o robô é capaz de imitar tão bem
princípio” e da oração “quando um dos sócios fa-
a caligrafia de um humano /.../.” (l. 25-28)
lecia”, justifique a utilização das vírgulas.
<id>002447_por_f1_c11_q0010</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
d) “A apresentação do Ai-Da realizou-se no Ashmolean
2. AFA-SP 2024 Museum na Universidade de Oxford na passada
sexta-feira, tendo o robô feito parte de uma exposi-
Criado robô que escreve poesia desenvolvida ção em homenagem ao 700o aniversário da morte
por Inteligência Artificial do poeta Dante Alighieri.” (l. 9-13)
<id>002447_por_f1_c11_q0011</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Por Cátia Santos – 1 de dezembro de 2021.
3. FAG-PR 2019
Embora os robôs sejam criados para realizar tarefas
muito específicas e mecânicas, os avanços na tecnologia
População está envelhecendo? Imigrantes
permitiram que eles aprendessem sobre suas habilidades podem ser a solução, segundo o FMI
particulares. Ai-Da, por exemplo, é um verdadeiro artista Numa época em que a imigração provoca debates
5 capaz de pintar, desenhar, esculpir e escrever poesia. candentes e reações violentas em muitas partes do mundo,
Este robô utiliza um modelo sofisticado de linguagem, o FMI lança um alerta sobre o envelhecimento populacio-
uma base de dados de palavras e uma análise de padrões nal nos países avançados.
de fala. No seu relatório econômico global divulgado nesta
A apresentação do Ai-Da realizou-se no Ashmolean semana constam as estimações demográficas da ONU
10 Museum na Universidade de Oxford na passada sexta- indicando que a população local vai se reduzir em boa
-feira, tendo o robô feito parte de uma exposição em parte dos países desenvolvidos.
homenagem ao 700o aniversário da morte do poeta Dante Desde logo, daqui a algumas décadas, a mão de obra
FRENTE 1

Alighieri. Além de escrever poemas, através do recurso à ativa terá que sustentar o dobro dos idosos que existem
Inteligência Artificial, o robô consegue ser capaz de pintar, atualmente nesses países, cortando 3% de sua produção
15 desenhar e esculpir. econômica por volta de 2050.

27

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Vem então a advertência do relatório: se mais pes- 5 que autoriza a separação, o isolamento e o desprezo. O
soas não forem integradas à população economicamente ódio vem depois. O ódio é uma escada, que se sobe ou
ativa, o aumento proporcional de idosos poderá reduzir não. O problema é que, depois que subimos, fica difícil
o crescimento dos países avançados. Na circunstância, descer. Para vencer o ódio é preciso impedir que se suba
o FMI afirma que a imigração “pode contribuir para ga- o primeiro degrau da escada.
nhos de longo prazo no crescimento e na produtividade” 10 O ódio pode ser definido como uma disposição favorá-
econômica. vel à destruição do outro. Ele tem parentesco com a raiva e,
No momento em que Donald Trump freia a imigração do ponto de vista evolucionário, sabemos que a raiva
legal e reprime mais duramente as entradas ilegais nos é uma emoção primitiva, desenvolvida em nosso sistema
Estados Unidos, que as eleições na Itália levaram ao poder límbico, particularmente nas amígdalas cerebrais, onde
uma maioria de parlamentares hostis aos imigrantes e que 15 estão também os mecanismos que nos permitem outros
a Hungria, no último domingo (8), reelegeu pela terceira sentimentos básicos, como o medo. O ódio, entretanto, é
vez o xenófobo Viktor Orban como seu primeiro-ministro, mais do que uma decorrência da luta pela sobrevivência, e
o FMI não hesita em avançar sua conclusão pró-imigra- Darwin reconheceu que ele é muito mais complexo do que
cionista: “é preciso repensar as políticas migratórias a raiva e o medo. O que há de pontual e explosivo na raiva
para dinamizar a mão de obra disponível nas economias 20 adquire o sentido da permanência e da frieza com o ódio.
avançadas... políticas mais restritivas [à imigração] exa- Há algo em comum entre o ódio e a intolerância, e
cerbariam de maneira significativa o efeito negativo do podemos observar isso quando nos damos conta de que
envelhecimento da população”. eles se encontram no plural. Como regra, os dois sentimen-
O Brasil não é citado no relatório do FMI. Mas o país tos se manifestam diante de grupos que seriam definidos
se encontra numa situação similar à dos países desen- 25 por características vergonhosas e/ou ameaçadoras. Um
volvidos citados acima, com a exceção do Japão onde o racista odeia os negros, os índios ou os judeus, não um
envelhecimento populacional é muito mais patente. Resta negro em particular ou este índio ou este judeu. O mesmo
que os brasileiros estão seguindo a mesma rota de enve- vale para as demais formas de ódio e intolerância que
lhecimento em razão do efeito convergente do aumento se obrigam a lidar com estereótipos, não com pessoas
da esperança de vida e da queda da taxa de natalidade. 30 concretas. Aqui, a biologia se cruza com a cultura, por-
A questão imigratória também está na ordem do dia em que a intolerância e o ódio precisam ser ensinados. As
nosso país. crianças, por isso mesmo, embora possam ser malvadas,
Como lembrou recentemente na Folha de S.Paulo não são intolerantes. Para que a intolerância se construa
Leonardo Monasterio, pesquisador do IPEA, o Brasil tem e se transforme em ódio, é preciso, afinal, uma base
uma proporção bastante baixa de imigrantes. 35 teórico-discursiva, ainda que rudimentar.
O país chegou a ter 5,1% de imigrantes no seio de Fragmentos adaptados de texto de Marcos Rolim, publicado no jornal
sua população em 1920. Atualmente este percentual é de EXTRACLASSE, em junho de 2016. p.11.
0,9%. Na Argentina a proporção de imigrantes no conjunto
Sobre os sinais de pontuação usados no texto, é
da população alcança 6% e nos Estados Unidos, 14%.
Como foi apontado neste mesmo espaço, a população
INCORRETO afirmar:
do país continuará subindo até 2050, para começar a cair a) A substituição da vírgula que antecede “depois
em seguida, segundo o Censo Mundial para o século XXI que subimos” (linha 7) por dois-pontos compro-
realizado em 2012 e 2015 pela ONU. meteria a correção da frase.
Se nada mudar, em 2085 estaremos com uma popu- b) Seria correto colocar uma vírgula entre “ódio” e “é
lação similar a de hoje: 208 milhões de habitantes. Na preciso”, na linha 8.
ausência de uma política imigracionista, acumularemos c) As vírgulas que separam “entretanto” e “por isso
os dois inconvenientes descritos acima: seremos velhos mesmo” do restante das estruturas em que se
e pobres. encontram (linhas 16 e 32, respectivamente) são
Disponível em: https://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/ usadas pela mesma razão.
luiz-felipealencastro/2018/04/11/fmi-faz-alertasobreenvelhecimento-
populacional-eimigracao.htm. d) Se uma vírgula fosse inserida após “raiva” (linha
19), a correção seria mantida e o período se tor-
Em “Na Argentina a proporção de imigrantes no con- naria mais enfático.
junto da população alcança 6% e nos Estados Unidos, e) Na linha 21, seria correto substituir o segundo “e”
14%”, a vírgula foi empregada para: e a vírgula que o precede por um ponto seguido
a) indicar a ocorrência de aposto. de letra maiúscula.
b) separar o vocativo do restante do enunciado. <id>002447_por_f1_c11_q0013</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

c) separar adjunto adverbial deslocado. 5. IFSul-RS 2016 Assinale a alternativa em que NÃO há
d) indicar a ocorrência de elipse. erro de pontuação.
e) Nenhuma das alternativas anteriores. a) Os primeiros sinais de pontuação surgiram no
<id>002447_por_f1_c11_q0012</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
início do Império Bizantino, mas sua função era
4. PUC-RS 2016 Elie Wiesel, um dos sobreviventes dos diferente das atuais.
campos de concentração e Nobel da Paz em 1986, dis-
b) O que hoje é o ponto final, servia para separar
se que a intolerância está situada no início do ódio. A
uma palavra da outra.
relação parece-me correta. A intolerância é uma indis-
c) Os espaços brancos, entre palavras só aparece-
posição diante do outro; uma variedade da impaciência
ram no século VII, na Europa.

28 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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d) Os gráficos, italianos, também inventaram a vírgu- cujas ilustrações admirou longamente, como denunciam
la e o ponto-e-vírgula no século XV. 25 os filetes de cinzas na junção das suas páginas coloridas.
e) O sinal mais tardio foram as aspas que surgiram Hoje tenho experiência para saber quantas vezes meu pai
no século XVII. leu um mesmo livro, posso quase medir quantos minutos
<id>002447_por_f1_c11_q0014</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> ele se deteve em cada página. E não costumo perder tempo
6. Univesp 2018 Leia o trecho da notícia publicada no com livros que ele nem sequer abriu, entre os quais uns
site da Revista Galileu, em julho de 2017, para respon- 30 poucos eleitos que mamãe teve o capricho de empilhar
der à questão. numa ponta de prateleira, confiando numa futura reden-
ção. Muitas vezes a vi de manhãzinha compadecida dos
Marvel criará primeiro super-herói chinês livros estatelados no escritório, com especial carinho pelos
protagonista em HQs que trazem a foto do autor na capa e que papai despreza:
A Marvel vai criar, em parceria com a chinesa 35 parece disco de cantor de rádio.
Chico Buarque. O irmão alemão. 1. ed. São Paulo. Companhia das
NetEase, o primeiro super-herói chinês a estrelar nos Letras. 2014. p. 60-61. Texto adaptado com o acréscimo do título.
quadrinhos. Até hoje a empresa que pertence à Disney
só mostrou chineses em papéis secundários, como A obra O irmão alemão, último livro de Chico Buarque
Benedict Wong, de Doutor Estranho, e o vilão Mandarim, de Holanda, tem como móvel da narrativa a existên-
em Homem de Ferro. cia de um desconhecido irmão alemão, fruto de uma
A franquia criadora de Homem-Aranha e X-Men, po- aventura amorosa que o pai dele, Sérgio Buarque
rém, já arrecadou US$ 1,175 bilhão na China com suas de Holanda, tivera com uma alemã, lá pelo final da
adaptações para o cinema. Por esse e por outros motivos, década de 30 do século passado. Exatamente quan-
a ideia é que a parceria das empresas não fique só nas do Hitler ascende ao poder na Alemanha. Esse fato
HQs, mas futuramente se transforme em outros produtos, é real: o jornalista, historiador e sociólogo Sérgio
como livros e jogos. Buarque de Holanda, na época, solteiro, deixou esse
https://revistagalileu.globo.com. 11.07.2017. Adaptado. filho na Alemanha. Na família, no entanto, não se falava
Em “Até hoje a empresa que pertence à Disney só no assunto. Chico teve, por acaso, conhecimento des-
mostrou chineses em papéis secundários”, a ex- sa aventura do pai em uma reunião na casa de Manuel
pressão que pode estar entre vírgulas, sem que se Bandeira, por comentário feito pelo próprio Bandeira.
comprometa a correção gramatical, é: Foi em torno da pretensa busca desse pretenso irmão
a) a empresa que que Chico Buarque desenvolveu sua narrativa ficcio-
nal, o seu romance.
b) que pertence à Disney
Sobre a obra, diz Fernando de Barros e Silva: “o que
c) à Disney
o leitor tem em mãos [...] não é um relato histórico.
d) só mostrou
Realidade e ficção estão aqui entranhadas numa nar-
e) chineses em papéis
<id>002447_por_f1_c11_q0015</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
rativa que embaralha sem cessar memória biográfica
7. Uece 2015 e ficção”.
“Ou by serendipity, como dizem os ingleses quando
A garagem de casa
na caça a um tesouro se tem a felicidade de deparar
Com o portão enguiçado, e num convite a ladrões de
com outro bem, mais precioso ainda.” (Linhas 14 a 17).
livros, a garagem de casa lembra uma biblioteca pública
Leia o que se diz sobre o enunciado acima.
permanentemente aberta para a rua. Mas não são adeptos
I. Estaria de acordo com os ensinamentos da gra-
de literatura os indivíduos que ali se abrigam da chuva ou
mática normativa o acréscimo de duas vírgulas
5 do sol a pino de verão. Esses desocupados matam o tempo
ao enunciado: Ou by serendipity, como dizem os
jogando porrinha, ou lendo os jornais velhos que mamãe
ingleses quando, na caça a um tesouro, se tem
amontoa num canto, sentados nos degraus do escadote
a felicidade de deparar com outro bem, mais pre-
com que ela alcança as prateleiras altas. Já quando fazem
o obséquio de me liberar o espaço, de tempos em tempos
cioso ainda.
10 entro para olhar as estantes onde há de tudo um pouco, em II. A regra que ampara o emprego das vírgulas
boa parte remessas de editores estrangeiros que têm apreço acrescentadas é a seguinte: Separa-se com vírgu-
pelo meu pai. Num reduto de literatura tão sortida, como las o adjunto adverbial deslocado ou intercalado.
bem sabem os habitués de sebos, fascina a perspectiva de III. Haveria diferença de sentido e de classe gra-
por puro acaso dar com um livro bom. Ou by serendipity, matical se mudássemos a posição da vírgula em
15 como dizem os ingleses quando na caça a um tesouro se “a felicidade de deparar com outro bem, mais
tem a felicidade de deparar com outro bem, mais precioso precioso ainda”, que passaria a “felicidade de
ainda. Hoje revejo na mesma prateleira velhos conheci- deparar com outro, bem mais precioso ainda”.
dos, algumas dezenas de livros turcos, ou búlgaros ou Na estrutura do texto, bem é um substantivo, e a
húngaros, que papai é capaz de um dia querer destrinchar. expressão tem o seguinte sentido: deparar com
20 Também continua em evidência o livro do poeta romeno outra coisa que não é um tesouro, porém é mais
FRENTE 1

Eminescu, que papai ao menos tentou ler, como é fácil precioso do que um tesouro. Na estrutura modi-
inferir das folhas cortadas a espátula. Há uma edição em ficada – “com outro, bem mais precioso ainda”,
alfabeto árabe das Mil e Uma Noites que ele não leu, mas bem seria um advérbio, e a expressão teria o

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seguinte sentido: deparar com outro tesouro bem protagonizada por uma bruxa. As editoras rejeitaram a ideia.
mais precioso do que aquele que se procurava. Motivo? É proibido assustar as crianças. A ganhadora do
Está correto o que se diz em prêmio Nobel, admiradora de Andersen – cuja coragem
a) I, II e III. se destacava por ter criado finais tristes –, ressalta a im-
b) I e II apenas. portância de se assustar, porque as crianças sentem uma
c) I e III apenas. necessidade natural de viver grandes emoções: “A figura
d) II e III apenas. que aparece [em seus contos] com mais frequência é a
<id>002447_por_f1_c11_q0016</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> morte, um personagem implacável que penetra no âmago
8. Unifesp 2019 da felicidade e arranca o melhor, o mais amado. Andersen
tratava as crianças com seriedade. Não lhes falava apenas da
alegre aventura que é a vida, mas também dos infortúnios,
das tristezas e de suas nem sempre merecidas calamidades”.
C. S. Lewis dizia que fazer as crianças acreditar que vivem
em um mundo sem violência, morte ou covardia só daria
asas ao escapismo, no sentido negativo da palavra.
Depois de passar dois anos mergulhado em relatos
compilados durante dois séculos, Italo Calvino selecionou
e editou os 200 melhores contos da tradição popular italia-
na. Após essa investigação literária, sentenciou: “Le fiabe
sono vere [os contos de fadas são verdadeiros]”. O autor de
O Barão nas Árvores tinha confirmado sua intuição de que
os contos, em sua “infinita variedade e infinita repetição”,
não só encapsulam os mitos duradouros de uma cultura,
como também “contêm uma explicação geral do mundo,
onde cabe todo o mal e todo o bem, e onde sempre se
encontra o caminho para romper os mais terríveis feiti-
ços”. Com sua extrema concisão, os contos de fadas nos
falam do medo, da pobreza, da desigualdade, da inveja,
(Malvados, 2008. Adaptado.) da crueldade, da avareza... Por isso são verdadeiros. Os
animais falantes e as fadas madrinhas não procuram con-
Verifica-se o emprego de vírgula para assinalar a su-
fortar as crianças, e sim dotá-las de ferramentas para viver,
pressão de um verbo
em vez de incutir rígidos padrões de conduta, e estimular
a) no segundo e no terceiro quadrinhos. seu raciocínio moral. Se eliminarmos as partes escuras
b) no segundo quadrinho, apenas. e incômodas, os contos de fadas deixarão de ser essas
c) no terceiro quadrinho, apenas. surpreendentes árvores sonoras que crescem na memória
d) no primeiro e no terceiro quadrinhos. humana, como definiu o poeta Robert Bly.
e) no primeiro quadrinho, apenas. Marta Rebón. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/18/
<id>002447_por_f1_c11_q0017</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> eps/1537265048_460929.html.
9. UFPR 2019 Era uma vez um lobo vegano que não en-
Com base no texto, considere as seguintes afirmativas:
golia a vovozinha, três porquinho que se dedicavam à
1. Na frase “Os animais falantes e as fadas madri-
especulação imobiliária e uma estilista chamada Gretel
que trabalhava de garçonete em Berlim. Não deveria nos nhas não procuram confortar as crianças, e sim
surpreender que os contos tradicionais se adaptem aos dotá-las de ferramentas para viver, em vez de in-
tempos. Eles foram submetidos a alterações no processo cutir rígidos padrões de conduta, e estimular seu
de transmissão, oral ou escrita, ao longo dos séculos para raciocínio moral”, a vírgula depois de “conduta”
adaptá-los aos gostos de cada momento. Vejamos, por pode ser suprimida sem alteração do sentido.
exemplo, Chapeuzinho Vermelho. Em 1697 – quando a 2. Na frase “A ganhadora do prêmio Nobel, admira-
história foi colocada no papel –, Charles Perrault acrescen- dora de Andersen – cuja coragem se destacava
tou a ela um moral, com o objetivo de alertar as meninas por ter criado finais tristes –, ressalta a importân-
quanto às intenções perversas dos desconhecidos. cia de se assustar...”, a vírgula depois do segundo
Pouco mais de um século depois, os irmãos Grimm travessão pode ser corretamente suprimida.
abrandaram o enredo do conto e o coroaram com um 3. No trecho “...não só encapsulam os mitos duradou-
final feliz. Se a Chapeuzinho Vermelho do século XVII ros de uma cultura, como também contêm uma
era devorada pelo lobo, não seria de surpreender que a explicação geral do mundo...”, a vírgula depois de
atual repreendesse a fera por sua atitude sexista quando “cultura” pode ser corretamente suprimida.
a abordasse no bosque. A força do conto, no entanto,
está no fato de que ele fala por meio de uma linguagem Assinale a alternativa correta.
simbólica e nos convida a explorar a escuridão do mundo, a) Somente a afirmativa 1 é verdadeira.
a cartografia dos medos, tanto ancestrais como íntimos. b) Somente a afirmativa 2 é verdadeira.
Por isso ele desafia todos nós, incluindo os adultos. [...] c) Somente a afirmativa 3 é verdadeira.
A poetisa Wislawa Szymborska falou sobre um amigo d) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.
escritor que propôs a algumas editoras uma peça infantil e) As afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.

30 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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<id>002447_por_f1_c11_q0018</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

10. UFRN 2018 — Temos sorte de viver no Brasil — dizia Hoje, o Brasil tem planos agressivos para desenvolver
meu pai, depois da guerra. — Na Europa mataram mi- e industrializar a Amazônia. Até os territórios mais remotos
lhões de judeus. 10 estão agora sob ameaça. Vários complexos de barragens
Contava as experiências que os médicos nazistas fa- hidrelétricas estão sendo construídos perto de tribos iso-
5 ziam com os prisioneiros. Decepavam-lhes as cabeças, ladas, e eles também irão privar milhares de outros índios
faziam-nas encolher – à maneira, li depois, dos índios da terra, água e meios de subsistência. Os complexos de
Jivaros. Amputavam pernas e braços. Realizavam estranhos barragens irão fornecer energia barata para as empresas de
transplantes: uniam a metade superior de um homem à 15 mineração, que estão prestes a realizar a mineração em
metade inferior de uma mulher, ou aos quartos traseiros grande escala nas terras indígenas se o Congresso aprovar
10 de um bode. Felizmente morriam essas atrozes quimeras; um projeto de lei que está sendo empurrado duramente
expiravam como seres humanos, não eram obrigadas a pelo lobby de mineração.
viver como aberrações. (A essa altura eu tinha os olhos Muitas tribos do sul do país como os Guarani vivem
cheios de lágrimas. Meu pai pensava que a descrição das 20 em condições desumanas sob barracos de lona em beiras
maldades nazistas me deixava comovido.) de estradas. Seus líderes estão sendo sistematicamente
15 Em 1948 foi proclamado o Estado de Israel. Meu pai atacados e mortos por milícias privadas de pistoleiros con-
abriu uma garrafa de vinho – o melhor vinho do armazém –, tratados pelos fazendeiros para evitar que eles ocupem
brindamos ao acontecimento. E não saíamos de perto do sua terra ancestral. Muitos Guarani cometem suicídio em
rádio, acompanhando as notícias da guerra no Oriente 25 desespero com a falta de qualquer futuro significativo.
Médio. Meu pai estava entusiasmado com o novo Estado: Os Guarani estão se suicidando por falta de terra.
20 em Israel, explicava, vivem judeus de todo o mundo, ju- “A gente antigamente tinha a liberdade, mas hoje em dia
deus brancos da Europa, judeus pretos da África, judeus nós não temos mais liberdade. Então, por isso, os nossos
da Índia, isto sem falar nos beduínos com seus camelos: jovens vivem pensando que eles não têm mais condições
tipos muito esquisitos, Guedali. 30 de viver. Eles se sentam e pensam muito, se perdem e se
Tipos esquisitos – aquilo me dava ideias. suicidam.” Rosalino Ortiz, Guarani
25 Por que não ir para Israel? Num país de gente tão es- Disponível em: www.survivalbrasil.org/povos/indios-brasileiros.
Acesso em: 28 abr. 2017.
tranha – e, ainda por cima, em guerra – eu certamente não
chamaria a atenção. Ainda menos como combatente, entre Com base na leitura do texto e nas expressões em
a poeira e a fumaça dos incêndios. Eu me via correndo pelas destaque, assinale a alternativa INCORRETA.
ruelas de uma aldeia, empunhando um revólver trinta e oito, a) No trecho “Nós não sabíamos que os brancos
30 atirando sem cessar; eu me via caindo, varado de balas. iam tirar a nossa terra. Nós não sabíamos de
Aquela, sim, era a morte que eu almejava, morte heroica, nada sobre o desmatamento. Nós não sabíamos
esplêndida justificativa para uma vida miserável, de monstro sobre as leis dos homens brancos.” (linhas 3-6) a
encurralado. E, caso não morresse, poderia viver depois num repetição de “nós não sabíamos” tem a função de
kibutz. Eu, que conhecia tão bem a vida numa fazenda, ressaltar informações que o índio desconhecia.
35 teria muito a fazer ali. Trabalhador dedicado, os membros
b) O trecho “Hoje, o Brasil tem planos agressivos
do kibutz terminariam por me aceitar; numa nova sociedade
para desenvolver e industrializar a Amazônia”,
há lugar para todos, mesmo os de patas de cavalo.
(linhas 8 e 9), se modificado para “Hoje, no
Adaptado de: SCLIAR, M. O centauro no jardim. 9. ed.
Porto Alegre: L&PM, 2001. Brasil, _______ planos agressivos para de-
senvolver e industrializar a Amazônia”, deveria,
Assinale a proposta de mudança no emprego de de acordo com a modalidade formal da língua
vírgula que mantém a correção e o sentido do enun- portuguesa, fazer uso do verbo HAVER para
ciado original. preencher a lacuna.
a) Colocação de vírgula imediatamente após expe- c) No trecho “Hoje, o Brasil tem planos agressivos
riências (l. 4). para desenvolver e industrializar a Amazônia”. (li-
b) Colocação de vírgula imediatamente após Feliz- nhas 8 e 9) O uso da palavra ‘agressivos’ indica
mente (l. 10). posição ideológica do autor, ou seja, não há neu-
c) Colocação de vírgula imediatamente após que (l. 13). tralidade na informação.
d) Colocação de vírgula imediatamente após país (l. 25). d) No trecho “Nos 514 anos desde que os europeus
e) Colocação de vírgula imediatamente após morte chegaram ao Brasil, os povos indígenas sofreram
(l. 31). genocídio em grande escala, e perda da maioria
<id>002447_por_f1_c11_q0019</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

11. UFU-MG 2017 de suas terras”, (linhas 1-3) a vírgula antes da con-
junção e está adequadamente empregada.
Desafios atuais e ameaças <id>002447_por_f1_c11_q0020</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

12. Unesp 2018 Leia o excerto do “Sermão do bom la-


Nos 514 anos desde que os europeus chegaram ao
drão”, de Antônio Vieira (1608-1697), para responder
Brasil, os povos indígenas sofreram genocídio em grande
escala, e perda da maioria de suas terras. “Nós não sa- à questão.
bíamos que os brancos iam tirar a nossa terra. Nós não Navegava Alexandre [Magno] em uma poderosa ar-
FRENTE 1

5 sabíamos de nada sobre o desmatamento. mada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse
Nós não sabíamos sobre as leis dos homens brancos.” trazido à sua presença um pirata, que por ali andava rou-
(Enawenê Nawê) bando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de

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<id>002447_por_f1_c11_q0021</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

andar em tão mau ofício; porém ele, que não era medroso 13. PUC-RS 2015 As transformações que têm ocorrido na so-
nem lerdo, respondeu assim: “Basta, Senhor, que eu, porque ciedade contemporânea, em especial a partir dos anos 70,
roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em vêm propiciando mudanças nas relações científicas estabe-
uma armada, sois imperador?”. Assim é. O roubar pouco é lecidas com o ambiente internacional. Um evento norteador
culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco po- 5 das transformações societais e decisivo para essas mudanças
der faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas foi a globalização, que trouxe fortes evidências do entrosa-
Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades, e interpretar mento entre ciência e sociedade e alterou a dinâmica de
as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: produção do conhecimento, com efeitos no ensino superior
[...] Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que sobretudo, realçando a importância da internacionalização
faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm
10 nas funções de transmitir e produzir conhecimento.
o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.
Universidade, ciência, inovação e sociedade. 36o Encontro Anual da
Quando li isto em Sêneca, não me admirei tanto de que ANPOCS. (Texto adaptado.)
um filósofo estoico se atrevesse a escrever uma tal sentença
em Roma, reinando nela Nero; o que mais me admirou, e INSTRUÇÃO: Para responder à questão, considere as
quase envergonhou, foi que os nossos oradores evangélicos afirmativas sobre a pontuação do texto.
em tempo de príncipes católicos, ou para a emenda, ou I. As vírgulas da linha 2 poderiam ser substituídas
para a cautela, não preguem a mesma doutrina. Saibam por travessões sem prejuízos ao sentido e à cor-
estes eloquentes mudos que mais ofendem os reis com o reção do texto.
que calam que com o que disserem; porque a confiança II. A utilização de uma vírgula depois de “em es-
com que isto se diz é sinal que lhes não toca, e que se não pecial” (linha 2) e antes de “sobretudo” (linha 9)
podem ofender; e a cautela com que se cala é argumento provocaria ambiguidade nos períodos.
de que se ofenderão, porque lhes pode tocar. [...]
III. A inserção de vírgulas antes e depois de “e deci-
Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo não
sivo para essas mudanças” (linha 5) tornaria mais
são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e vileza de sua
fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma
clara a relação de ênfase estabelecida com o
sua miséria ou escusa ou alivia o seu pecado [...]. O ladrão segmento anterior.
que furta para comer não vai nem leva ao Inferno: os que IV. As vírgulas das linhas 6 e 8 poderiam ser retiradas
não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de sem prejuízo ao significado e à estrutura do período.
maior calibre e de mais alta esfera [...]. Não são só ladrões,
Estão corretas apenas as afirmativas
diz o santo [São Basílio Magno], os que cortam bolsas, ou
a) I e II. c) II e IV. e) II, III e IV.
espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa;
os ladrões que mais própria e dignamente merecem este
b) I e III. d) I, II e III.
<id>002447_por_f1_c11_q0022</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos 14. Unifesp 2020 Leia a crônica “Inconfiáveis cupins”, de
e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração
Moacyr Scliar, para responder à questão.
das cidades, os quais já com manhã, já com força, rou-
bam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um Havia um homem que odiava Van Gogh. Pintor des-
homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam conhecido, pobre, atribuía todas suas frustrações ao artista
debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os holandês. Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis
outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam. girassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes
Essencial, 2011. deformados, dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu
Verifica-se o emprego de vírgula para indicar a elipse instinto criador.
Decidiu mover uma guerra implacável, sem quartel,
(supressão) do verbo em:
às telas de Van Gogh, onde quer que estivessem. Come-
a) “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca,
çaria pelas mais próximas, as do Museu de Arte Moderna
sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada,
de São Paulo.
sois imperador?” (1o parágrafo)
Seu plano era de uma simplicidade diabólica. Não
b) “O ladrão que furta para comer não vai nem leva
faria como outros destruidores de telas que entram num
ao Inferno: os que não só vão, mas levam, de que
museu armados de facas e atiram-se às obras, tentando
eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais
destruí-las; tais insanos não apenas não conseguem seu
alta esfera [...].” (3o parágrafo) intento, como acabam na cadeia. Não, usaria um método
c) “O roubar pouco é culpa, o roubar muito é gran- científico, recorrendo a aliados absolutamente insuspei-
deza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o tados: os cupins.
roubar com muito, os Alexandres.” (1o parágrafo) Deu-lhe muito trabalho, aquilo. Em primeiro lugar, era
d) “Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o necessário treinar os cupins para que atacassem as telas de
que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, Van Gogh. Para isso, recorreu a uma técnica pavloviana.
todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo Reproduções das telas do artista, em tamanho natural, eram
nome.” (1o parágrafo) recobertas com uma solução açucarada. Dessa forma, os
e) “Os outros ladrões roubam um homem, estes rou- insetos aprenderam a diferenciar tais obras de outras.
bam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um tipo
seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, de cupim que só queria comer Van Gogh. Para ele era
se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.” repulsivo, mas para os insetos era agradável, e isso era o
(3o parágrafo) que importava.

32 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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Conseguiu introduzir os cupins no museu e ficou à marcados pela explosão do som e da imagem, tomavam
espera do que aconteceria. Sua decepção, contudo, foi crescentemente conta da paisagem cultural. Entre ambos,
enorme. Em vez de atacar as obras de arte, os cupins a arte mantinha sua sabedoria sobre o reino da sensibili-
preferiram as vigas de sustentação do prédio, feitas de 15 dade. O advento da web e da linguagem que nela circula,
madeira absolutamente vulgar. E por isso foram detectados. a hipermídia, trouxe, entretanto, intensas transformações
O homem ficou furioso. Nem nos cupins se pode nessa distribuição de papeis e funções culturais. Tudo co-
confiar, foi a sua desconsolada conclusão. É verdade que meçou a misturar-se.
alguns insetos foram encontrados próximos a telas de Van Lúcia Santaella. A ecologia pluralista da comunicação: conectividade,
Gogh. Mas isso não lhe serviu de consolo. Suspeitava que mobilidade, ubiquidade. São Paulo: Paulus, 2010, p. 64
(com adaptações).
os sádicos cupins estivessem querendo apenas debochar
dele. Cupins e Van Gogh, era tudo a mesma coisa. Considerando o texto e a imagem apresentados, jul-
O Imaginário cotidiano, 2002. gue o item:
Tendo em vista a ordem inversa da frase, verifica-se o No primeiro período do texto, é facultativo o emprego
emprego de vírgula para separar um termo que exer- da vírgula que precede a expressão adverbial “passo
ce a função de sujeito em: a passo” (l. 3).
<id>002447_por_f1_c11_q0024</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>

a) “Deu-lhe muito trabalho, aquilo.” (4o parágrafo)


</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

16. EEAR-SP 2023 Assinale a alternativa que contém a


b) “Em vez de atacar as obras de arte, os cupins pre- pontuação correta do texto.
feriram as vigas de sustentação do prédio, feitas a) Os cinco sentidos do homem, ajudam-no a tomar
de madeira absolutamente vulgar.” (6o parágrafo) conhecimento de tudo que, acontece à sua vol-
c) “Para ele era repulsivo, mas para os insetos era agra- ta, seja um ruído, seja uma lâmpada acesa, um
dável, e isso era o que importava.” (5o parágrafo) odor; qualquer coisa pode atuar sobre ele como
d) “Não, usaria um método científico, recorrendo a um estímulo capaz de provocar uma associação
aliados absolutamente insuspeitados: os cupins.” significativa.
(3o parágrafo)
b) Os cinco sentidos do homem ajudam-no a tomar co-
e) “Para isso, recorreu a uma técnica pavloviana.”
nhecimento de tudo que acontece à sua volta, seja
(4o parágrafo)
<id>002447_por_f1_c11_q0023</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
um ruído, seja uma lâmpada acesa, um odor. Qual-
15. UnB-DF quer coisa pode atuar sobre ele como um estímulo
capaz de provocar uma associação significativa.
c) Os cinco sentidos do homem ajudam-no a tomar co-
nhecimento, de tudo que acontece à sua volta, seja
um ruído, seja uma lâmpada acesa, um odor: qual-
quer coisa pode atuar sobre ele, como um estímulo
capaz de provocar uma associação significativa.
d) Os cinco sentidos do homem, ajudam-no a tomar co-
nhecimento de tudo que acontece à sua volta seja
um ruído seja uma lâmpada acesa, um odor. Qual-
quer coisa pode atuar sobre ele como um estímulo,
capaz de provocar, uma associação significativa.
<id>002447_por_f1_c11_q0025</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

17. UEL-PR 2020 Leia um trecho da crônica a seguir, de


Luis Fernando Verissimo, e responda à questão:
Ser um tímido notório é uma contradição. O tímido
tem horror a ser notado, quanto mais a ser notório. Se ficou
notório por ser tímido, então tem que se explicar. Afinal,
que retumbante timidez é essa, que atrai tanta atenção?
Se ficou notório apesar de ser tímido, talvez estivesse se
Fernand Léger. Film Ballet Mécanique (Filme Balé Mecânico), 1924. enganando junto com os outros e sua timidez seja apenas
Internet: www.youtube.com.
um estratagema para ser notado. Tão secreto que nem ele
Desde o século XIX, depois da invenção da fotogra- sabe. É como no paradoxo psicanalítico: só alguém que
fia, do incremento do jornal, do surgimento do cinema se acha muito superior procura o analista para tratar um
e da explosão da publicidade, passo a passo, a era de complexo de inferioridade, porque só ele acha que se
Gutenberg foi cedendo seu espaço exclusivo – de alta sentir inferior é doença.
5 cultura e de linguagem tão próxima quanto possível da Todo mundo é tímido, os que parecem mais tímidos
pureza de meios (a escrita) – para linguagens cada vez são apenas os mais salientes. Defendo a tese de que nin-
mais híbridas, das quais o cinema e, então, a televisão são guém é mais tímido do que o extrovertido. O extrovertido
exemplos. Durante mais de três quartos do século XX, de faz questão de chamar atenção para sua extroversão, assim
FRENTE 1

um lado, o texto escrito mantinha-se como detentor dos ninguém descobre sua timidez. Já no notoriamente tímido
10 valores da ciência, do conhecimento e do saber, enquanto, a timidez que usa para disfarçar sua extroversão tem o
de outro lado, os meios de informação e entretenimento, tamanho de um carro alegórico. Daqueles que sempre

33

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quebram na concentração. Segundo minha tese, dentro de Petrópolis ao centro. Voltava quando atingia a entrada do
cada Elke Maravilha existe um tímido tentando se esconder viaduto da Conceição e reiniciava a minha arqueologia
e dentro de cada tímido existe um exibido gritando “Não monetária no outro lado da rua.
me olhem! Não me olhem!”, só para chamar a atenção. Levava um saquinho para colher as moedas. Cada
O tímido nunca tem a menor dúvida de que, quando tarde rendia o equivalente a três reais. Encontrar corren-
entra numa sala, todas as atenções se voltam para ele e tinhas, colares e broches salvava o dia. Poderia revender
para sua timidez espetacular. Se cochicham, é sobre ele. no mercado paralelo da escola. As meninas pagavam em
Se riem, é dele. Mentalmente, o tímido nunca entra num jujubas, bolo inglês e guaraná.
lugar. Explode no lugar, mesmo que chegue com a maciez Já o bueiro me socializava. Convidava com frequência
estudada de uma noviça. Para o tímido, não apenas todo o Liquinho, vulgo Ricardo. Mais forte do que eu, ajudava
mundo mas o próprio destino não pensa em outra coisa a a levantar a pesada e lacrada tampa de metal. Eu ficava
não ser nele e no que pode fazer para embaraçá-lo. com a responsabilidade de descer às profundezas do lodo.
O tímido vive acossado pela catástrofe possível. Vai Tirava toda a roupa – a mãe não perdoaria o petróleo
tropeçar e cair e levar junto a anfitriã. Vai ser acusado do do esgoto – e pulava de cueca, apalpando às cegas o
que não fez, vai descobrir que estava com a braguilha fundo com as mãos. Esquecia a nojeira imaginando as
aberta o tempo todo. E tem certeza de que cedo ou tarde recompensas. Repartia os lucros com os colegas que me
vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o seu acompanhavam nas expedições ao submundo de Porto
sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar a pala- Alegre. Lembro que compramos uma bola de futebol com
vra. O tímido tenta se convencer de que só tem problemas a arrecadação de duas semanas.
com multidões, mas isto não é vantagem. Para o tímido, Espantoso o número de itens perdidos. Assim como
duas pessoas são uma multidão. Quando não consegue os professores paravam no meu colégio, acreditava na
escapar e se vê diante de uma plateia, o tímido não pensa greve dos objetos: moedas e anéis rolavam e cédulas voa­
nos membros da plateia como indivíduos. Multiplica-os vam dos bolsos para protestar por melhores condições.
por quatro, pois cada indivíduo tem dois olhos e dois ou- Sofria para me manter estável, pois nunca pedia di-
vidos. Quatro vias, portanto, para receber suas gafes. Não nheiro a ninguém. Desde cedo, descobri que vadiar é
adianta pedir para a plateia fechar os olhos, ou tapar um também trabalhar duro.
Disponível em: http://carpinejar.blogspot.com.br/2016/06/
olho e um ouvido para cortar o desconforto do tímido pela achado-nao-e-roubado.html. Acesso em: 22 jun. 2016.
metade. Nada adianta. O tímido, em suma, é uma pessoa
convencida de que é o centro do Universo, e que seu ve- Quanto à pontuação do texto, são feitas as seguintes
xame ainda será lembrado quando as estrelas virarem pó. afirmações:
VERISSIMO, Luis Fernando. Da Timidez. In: Comédias para se I. O emprego da vírgula em “Recebia casa, comida e
ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 111-112. roupa lavada e...” apresenta a mesma justificativa
Sobre o trecho “E tem certeza de que cedo ou tarde do que o usado em “Convidava com frequência o
vai acontecer o que o tímido mais teme, o que tira o Liquinho, vulgo Ricardo”.
seu sono e apavora os seus dias: alguém vai lhe passar II. Os travessões empregados em “Tirava toda a
a palavra”, assinale a alternativa que substitui, correta- roupa – a mãe não perdoaria o petróleo do esgo-
mente, os dois-pontos, sem alterar o sentido original. to – e pulava de cueca” poderiam ser substituídos
a) isto é d) por conseguinte por parênteses sem acarretar prejuízo semântico.
b) nesse sentido e) até que III. O uso dos dois-pontos em “As minhas fontes de
c) afinal renda eram praticamente duas: procurar dinheiro
<id>002447_por_f1_c11_q0026</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
nas bolsas vazias da mãe...” se justifica pelo mesmo
18. IFSul-RS 2017 motivo empregado em “acreditava na greve dos
objetos: moedas e anéis rolavam e cédulas voavam
Achado não é roubado dos bolsos para protestar por melhores condições”.
Fabrício Carpinejar
Está(ão) INCORRETA(S) apenas a(s) afirmativa(s)
Não ganhava mesada, nem ajuda de custo na infância. a) I. b) II. c) I e III. d) II e III.
Eu me virava como dava. Recebia casa, comida e roupa <id>002447_por_f1_c11_q0027</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

lavada e não havia como miar, latir e reivindicar mais nada 19. Uece 2019
aos pais, só agradecer.
Grito Negro
As minhas fontes de renda eram praticamente duas:
procurar dinheiro nas bolsas vazias da mãe, torcendo para Eu sou carvão!
que deixasse alguma nota na pressa da troca dos acessó- E tu arrancas-me brutalmente do chão
rios, ou catar moedas nas ruas e nos bueiros. e me fazes tua mina, patrão.
A modalidade de caça a dinheiro perdido exigia Eu sou carvão!
disciplina e profissionalismo. Saía de casa pelas 13h e 5 E tu acendes-me, patrão,
caminhava por duas horas, com a cabeça apontada ao para te servir eternamente como força motriz
meio-fio como pedra em estilingue. Varria a poeira com os mas eternamente não, patrão.
pés e cortava o mato com canivete. Fui voluntário remoto Eu sou carvão
do Departamento Municipal de Limpeza Urbana. e tenho que arder sim;
Gastava o meu Kichute em vinte quadras, do bairro 10 queimar tudo com a força da minha combustão.

34 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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Eu sou carvão; do trabalho da entidade que comanda o futebol nacional,
tenho que arder na exploração mais de 80% dos jogadores de futebol ganhavam até
arder até às cinzas da maldição 1 mil reais por mês em 2015. Sem citar nomes, a CBF
arder vivo como alcatrão, meu irmão, informou que apenas um jogador recebia mais de 500
15 até não ser mais a tua mina, patrão. 30 mil reais, mas o número estava longe da realidade, e o
Eu sou carvão. mesmo se pode dizer dos dados da RAIS. O salário em
Tenho que arder carteira é só uma parte do que os atletas recebem, pois
Queimar tudo com o fogo da minha combustão. o principal vem dos direitos de imagem e patrocínios.
Sim! Mas essa é uma realidade dos clubes grandes. Em
20 Eu sou o teu carvão, patrão. 35 clubes como Bonsucesso e Olaria, não há direitos de
CRAVEIRINHA, José João. Karingana Ua Karingana. (Era uma vez).
Lisboa: Edições 70, 1982.
imagem, já que não há imagem a ser vendida. Os patro-
cinadores estão mais para pequenos comerciantes locais
José João Craveirinha foi o primeiro autor africano do que para grandes financiadores do futebol.
que ganhou o Prêmio Camões, o mais importante Sérgio Rangel. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/o-jogo-do-
prêmio literário da língua portuguesa. Sobre o poema salario-minimo/. 31/05/2019.
Grito Negro, é INCORRETO afirmar que Acerca de aspectos relativos à pontuação, assinale a al-
a) nos versos “Eu sou carvão!” (linha 1), “Eu sou ternativa correta com relação a alguns excertos do texto.
carvão;” (linha 11), “Eu sou carvão.” (linha 16), a a) Se o segmento “na arena vazia” (linha 5) for deslo-
pontuação demonstra, respectivamente, expres- cado para o final do período, a vírgula não poderá
sividade, causa e desumanização. ser dispensada, em razão de aspectos gramaticais.
b) os versos “Tenho que arder / Queimar tudo com o b) O travessão antes de “isso quando não há atraso
fogo da minha combustão.” (linhas 17 e 18) apre- no pagamento” (linha 9) poderia ser substituído
sentam o momento de indignação, fazendo o eu por ponto-final, sem prejuízo gramatical e do sen-
lírico erguer-se contra o opressor. tido básico do enunciado.
c) o poema apresenta o negro conformado à con- c) As vírgulas que isolam o segmento “em referência
dição imposta e aceitando trabalhar e servir aos
à antiga linha de trem” (linha 14) são opcionais.
seus senhores.
d) No segmento “A CBF fazia uma pesquisa pareci-
d) o poema discute questões raciais, quando a cor
da, mas deixou de publicar...” (linhas 23 e 24), a
do carvão remete à cor da pele negra e o jogo
substituição do “mas” por “a qual” dispensaria a
metafórico apresenta a relação entre as caracte-
necessidade da vírgula.
rísticas do carvão e a ação de queimar.
<id>002447_por_f1_c11_q0028</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
e) Se o segmento “Sem citar nomes” (linha 28) fosse
20. UFPR 2020 deslocado para depois de “apenas um jogador”, o
uso de vírgula poderia ser dispensado.
O jogo do salário mínimo <id>002447_por_f1_c11_q0029</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

21. UnB-DF 2019 O Brasil tem atualmente cerca de 600 terras


[...] Em menos de trinta minutos, dois times cente-
indígenas, que abrigam 227 povos, com um total de apro-
nários do futebol carioca, Bonsucesso e Olaria, vão se
ximadamente 480 mil pessoas. Essas reservas representam
enfrentar num jogo-treino, na preparação para a disputa
13% do território nacional, ou seja, 109,6 milhões de
da segunda divisão do campeonato do Rio.
hectares. A maior parte está na chamada Amazônia Legal,
5 Na arena vazia, os jogadores vivem a desigualdade
que abrange os estados de Tocantins, Mato Grosso, Mara-
salarial do futebol brasileiro. Na esperança de chegar a um
nhão, Roraima, Rondônia, Pará, Amapá, Acre e Amazonas.
clube grande, os 22 atletas em campo correm no estádio
Isso se tornou o grande pomo da discórdia por causa do
em troca de um salário mínimo (998 reais) na carteira as-
choque com arrozeiros, pecuaristas, madeireiros e garim-
sinada – isso quando não há atraso no pagamento. Juntos, peiros que atuam ilegalmente nas reservas.
10 ganham cerca de 22 mil reais – menos de 2% do salário Luiz Carlos Azedo._Nas entrelinhas, “A língua do índio”. Correio
mensal de uma estrela como o atacante Gabriel Barbosa, Braziliense, Política, 19/12/2018, p. 2 (com adaptações).
o Gabigol, do Flamengo. Longe do glamour dos estádios
Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do
padrão Fifa, os 22 em campo no chamado Clássico da
texto precedente, julgue o item:
Leopoldina, em referência à antiga linha de trem, são um
No trecho “Tocantins, Mato Grosso, Maranhão, Ro-
15 retrato do precário mercado de trabalho da bola no Brasil.
raima, Rondônia, Pará, Amapá, Acre e Amazonas”, as
Levantamento do antigo Ministério do Trabalho reve-
vírgulas foram empregadas para separar termos em
la que a maioria (54%) dos jogadores de futebol do país
uma enumeração.
empregados em 2017 recebia até três salários mínimos

Certo 
Errado
(2.811 reais). Os dados constam da RAIS (Relação Anual <id>002447_por_f1_c11_q0030</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
20 de Informações Sociais) de 2017. [...] 22. PUC-RS 2022
A estatística do antigo Ministério do Trabalho é o
único levantamento que tenta mapear os salários no fu- Eu existo!
FRENTE 1

tebol brasileiro. A CBF fazia uma pesquisa parecida, mas Muito prazer, sou a jornalista que estacionou o carro
deixou de publicar por causa das distorções criadas pelos de Caetano no Leblon.
25 contratos de direito de imagem. Segundo a última edição Elisangela Roxo

35

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Caro Caetano Veloso, entre as leis que devem valer para todos e as relações que
Espero que esta carta encontre você e sua família em evidentemente só podem funcionar para quem as tem. O
perfeita saúde. Que todos estejam seguros nestes tempos 20 resultado é um sistema social dividido e até mesmo equi-
tão sombrios… Escrevo por um bom motivo. Depois de librado entre duas unidades sociais básicas: o indivíduo (o
5 amanhã, ________ dez anos de um curioso e descon- sujeito das leis universais que modernizam a sociedade) e
certante fenômeno: o dia em que a internet ficou odara a pessoa (o sujeito das relações pessoais, que conduz ao
e eu virei lenda (sim, uma lenda, embora você não sai- polo tradicional do sistema). Entre os dois, o coração dos
ba disso). Muita gente ainda se lembra da reportagem 25 brasileiros balança. E no meio dos dois, a malandragem,
que publiquei no portal Terra em 10 de março de 2011, o “jeitinho” e o famoso e antipático “sabe com quem está
10 com um título longuíssimo: Caetano Veloso Passeia pelo falando?” seriam modos de enfrentar essas contradições e
Leblon e Estaciona o Carro. Era uma notícia nada no- paradoxos de modo tipicamente brasileiro. Ou seja: fazen-
ticiosa, sem dúvida, mas acabou se transformando do uma mediação também pessoal entre a lei, a situação
num marco do jornalismo brasileiro. A matéria – banal 30 onde ela deveria aplicar-se e as pessoas nela implicadas,
como um bichinho de avenca, poderia dizer o Nelson de tal sorte que nada se modifique, apenas ficando a lei
15 Rodrigues – ________ apenas 49 palavras e saiu sem um pouco desmoralizada, mas, como ela é insensível e
assinatura. Pois bem… Eu existo! Sou a autora daquelas não é gente como nós, todo mundo fica, como se diz,
mal traçadas linhas e chegou a hora de você conhecer numa boa, e a vida retorna ao seu normal...
os bastidores do elo invisível que nos conecta há uma 35 De fato, como é que reagimos diante de um “proibi-
década. Prazer, meu nome é Elisangela. do estacionar”, “proibido fumar”, ou diante de uma fila
20 [...] quilométrica? Como é que se faz diante de um requeri-
_________ a minha petulância com sua imagem, mento que está sempre errado? Ou diante de um prazo
Caetano, mas eu precisava rir de mim mesma naquela ativi- que já se esgotou e conduz a uma multa automática que
dade tão carente de sentido. Precisava me satirizar enquanto 40 não foi divulgada de modo apropriado pela autoridade
satirizava o jornalismo sobre o nada, entende? Olhei para pública? Ou de uma taxação injusta e abusiva?
25 dentro e dei de cara com minha porção jornalista que so- Adaptado de: DA MATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil?.
nhava entrar para a história graças a reportagens sensíveis Rio de Janeiro: Rocco, 1984. p. 97-99.

e bem escritas. Olhei para fora e lá estava eu, solitária, Observe as seguintes afirmações sobre o emprego
em frente ao computador, já tarde da noite, numa gaiola de sinais de pontuação, considerando o sentido origi-
envidraçada, com vista panorâmica para a Marginal Pinhei- nal da frase e sua correção gramatical.
30 ros. Imaginei que apenas meia dúzia de gatospingados (e I. Substituição dos dois pontos da linha 21 por um
insones) iria ver a nota. Minha gracinha certamente desapa- ponto final.
receria em meio a tantas outras pérolas publicadas por nós.
II. Substituição dos dois pontos da linha 28 por uma
Adaptado de: https://abre.ai/cA92. Acesso em 13 abr. 2021.
vírgula.
Assinale a alternativa correta sobre o emprego dos III. Supressão da vírgula imediatamente depois de
sinais de pontuação no texto. “diz” (l. 33).
a) O ponto final da linha 03, depois de “saúde”, está
Quais estão corretas?
separando duas orações sintaticamente completas.
a) Apenas I. d) Apenas II e III.
b) Os dois-pontos da linha 06 introduzem discurso
b) Apenas II. e) I, II e III.
direto.
c) Apenas I e III.
c) As reticências das linhas 04 e 16 equivalem a etc. <id>002447_por_f1_c11_q0032</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

d) As vírgulas das linhas 01 e 22 isolam um vocativo. 24. UPE 2021


<id>002447_por_f1_c11_q0031</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

23. UFRGS 2022 Entre a desordem carnavalesca, que 13 de maio


permite e estimula o excesso, e a ordem, que requer a con- Foi quando eu era seminarista no interior de São
tinência e a disciplina pela obediência estrita às leis, como Paulo. Era 13 de maio de 1966 e os meus colegas de semi-
é que nós, brasileiros, ficamos? Qual a nossa relação e a nário, quase todos descendentes de italianos ou alemães,
5 nossa atitude para com e diante de uma lei universal que resolveram homenagear o dia da abolição dos escravos
teoricamente deve valer para todos? Como procedemos com um almoço. Nós, os poucos negros ou pardos da
diante da norma geral, se fomos criados numa casa onde, turma, fomos “convidados” a sentar na mesa central do
desde a mais tenra idade, aprendemos que há sempre um refeitório, decorada com as palavras ‘Navio Negreiro’.
modo de satisfazer nossas vontades e desejos, mesmo que Quando vi aquilo me recusei e me sentei numa mesa
10 isso vá de encontro às normas do bom-senso e da coleti- lateral, com todos os outros colegas. Pois os organizadores
vidade em geral? daquilo me pegaram à força, me arrastaram e me fizeram
Num livro que escrevi – Carnavais, malandros e he- sentar na marra junto aos outros negros, no que considerei
róis –, lancei a tese de que o dilema brasileiro residia uma ofensa gravíssima. Arrumei as malas para ir embora,
numa trágica oscilação entre um esqueleto nacional feito mas fui convencido a ficar pelo padre do local. Ele me
15 de leis universais cujo sujeito era o indivíduo e situações recomendou que deixasse o ódio passar e que tomasse
onde cada qual se salvava e se despachava como podia, aquele episódio como bandeira de luta para um mundo
utilizando para isso o seu sistema de relações pessoais. melhor. E, de fato, aquele episódio alterou radicalmente
Haveria, assim, nessa colocação, um verdadeiro combate a direção da minha vida. Foi a partir de então que tirei a

36 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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foto do meu pai, que era negro, do fundo da minha mala, tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, esco-
e coloquei-a ao lado da fotografia da minha mãe, branca, var a língua e bochechar com Plax.
com os meus objetos pessoais. 30 Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar
Frei David Raimundo dos Santos, 63 anos, frade, fundador da para colocar um equipamento de som, porque entre a
ONG Educafro. Disponível em: www.educafro.org.br.
água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas
Acesso em: 15 set. 2020. Adaptado.
por dia.
Quanto aos recursos lexicais, gramaticais e gráficos Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar ou-
empregados no texto e seus efeitos nos sentidos, 35 tras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma.
analise as afirmativas a seguir. Sobram três, desde que você não pegue trânsito.
1. As aspas em “convidados” revelam que o nar- As estatísticas comprovam que assistimos três horas
rador ficou surpreso ao ser convidado para o de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai
evento do dia 13 de maio. caminhar ao menos meia hora (por experiência própria,
2. A designação ‘Navio Negreiro’ para a mesa de re- 40 após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou
feição foi ofensiva ao narrador, porque simboliza a meia hora vira uma).
a opressão e a violência que vitimam os negros, E você deve cuidar das amizades, porque são como
há séculos. uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me
3. Em: “Quando vi aquilo”, o pronome (destacado) se faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver
refere ao trecho “mesa central do refeitório, deco- 45 viajando.
rada com as palavras ‘Navio Negreiro’”; o uso de Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou
três jornais por dia para comparar as informações.
‘aquilo’, nesse caso, reforça que o narrador despre-
Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de
za a ação de seus colegas e discorda dela.
não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para
4. O termo “bandeira de luta” sinaliza a ideia de “ir
50 renovar a sedução.
à forra”, “passar por cima”, isto é, destruir a supre-
Isso leva tempo – e nem estou falando de sexo tântrico.
macia branca.
Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar
Estão CORRETAS: roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho
a) 1 e 2, apenas. d) 2 e 3, apenas. de estimação.
b) 1, 2 e 3, apenas. e) 3 e 4, apenas. 55 Na minha conta são 29 horas por dia. A única solu-
c) 1, 3 e 4, apenas. ção que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo
<id>002447_por_f1_c11_q0033</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> tempo!
25. Uece 2018 Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta,
assim você toma água e escova os dentes.
Exigências da vida moderna 60 Chame os amigos junto com os seus pais. Beba o
Luís Fernando Verissimo vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher...
Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã na sua cama.
por causa do ferro. E uma banana pelo potássio. E também Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria
uma laranja pela vitamina C. um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada
Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir 65 de leite de magnésio.
5 a diabetes. Agora tenho que ir.
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da
água. E uriná-los, o que consome o dobro do tempo. maçã, tenho que ir ao banheiro. E já que vou, levo um
Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobaci- jornal... Tchau! Viva a vida com bom humor!!!
los (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, VERISSIMO, Luís Fernando. Exigências da vida moderna. Disponível
em: http://www.refletirpararefletir.com.br/4-cronicas-de-luis-fernando-
10 ajudam a digestão). verissimo. Acesso em: 22.06.2018.
Cada dia uma Aspirina, previne infarto.
Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho bran- Segundo a gramática normativa, as reticências mar-
co estabiliza o sistema nervoso. cam, no texto escrito, uma pausa ou suspensão no
Um copo de cerveja, para... não lembro bem para o enunciado. No trecho “Um copo de cerveja, para...
15 que, mas faz bem. não lembro bem para o que, mas faz bem” (l. 14-15), o
O benefício adicional é que se você tomar tudo isso propósito do uso das reticências é
ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber. I. indicar omissão de uma ideia que não se quer
Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima revelar;
fibra. Fibra suficiente para fazer um pulôver. II. realçar as hesitações do enunciador;
20 Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves III. deixar o sentido do enunciado em aberto, permi-
diariamente. tindo, assim, uma interpretação pessoal do leitor;
E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem ve- IV. mostrar a incapacidade do autor em concluir a
zes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco ideia a ser expressa.
horas do dia... E não esqueça de escovar os dentes depois
FRENTE 1

25 de comer. Estão corretas as complementações contidas em


Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da a) I, II , III e IV. c) I, II e IV apenas.
maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto b) III e IV apenas. d) I, II e III apenas.

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<id>002447_por_f1_c11_q0034</id><tipo>objetiva</tipo><assunto> <id>002447_por_f1_c11_q0036</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

26. Acafe-SC 2023 O dinheiro compra bajuladores ▲ mas 28. Udesc 2018 Mas então eu tive um mau pressentimen-
não amigos ● compra a cama ▲ mas não o sono ● com- to... Parei de tocar... A pessoa pediu:
pra pacotes turísticos ▲ mas não a alegria ● compra todo CONTINUE! CONTINUE!
e qualquer tipo de produto ▲ mas não uma mente livre ● (toca e para)
compra seguros ▲ mas não o seguro emocional ■. 5 Gritava: MAIS! MAIS! MAIS! SEMPRE MAIS!
Cury, Augusto. Ansiedade: como enfrentar o mal do século. São Paulo: (toca e para)
Saraiva. 2017. Livro digital. [Adaptado]
E depois...
No texto, os símbolos ▲, ● e ■ podem ser CORRETA- (para a plateia)
MENTE substituídos por: Que aconteceu depois?
a) vírgula, ponto e vírgula e ponto-final, respectivamente. 10 (espantada)
b) dois pontos, ponto-final e ponto de exclamação, As lembranças chegam a mim aos pedaços... Ainda agora,
respectivamente. eu era menina...
c) vírgula, vírgula e ponto-final, respectivamente. (muda-se em menina. Corre, pelo palco, trocando as pernas)
d) dois-pontos, vírgula e ponto-final, respectivamente. Onde está a Margarida, olé, oli, olá?
<id>002447_por_f1_c11_q0035</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> 15 (põe-se de joelhos para espiar as águas de imaginário rio)
27. UEL-PR 2018 Cientistas da Universidade Federal do Rio Vejo restos de memória, boiando num rio,
de Janeiro (UFRJ) descobriram uma forma de diagnos- (aponta o chão)
ticar e tratar o Mal de Alzheimer, doença degenerativa Num rio que talvez não exista...
que mais afeta pessoas no mundo, especialmente na (ri, feliz)
velhice. Em animais, o método interrompeu o processo 20 Passam na corrente gestos e fatos...
de perda de funções do cérebro causado pela doença. (apanha na água invisível, com as pontas dos dedos, algo
A descoberta foi um dos destaques na revista Journal of
que teoricamente goteja)
Neuroscience, uma das principais publicações científi-
Eis um fato antigo.
cas. De acordo com reportagem do jornal O Globo, o
(aponta para o ar)
alvo do estudo foram os astrócitos, tipo de célula cerebral
25 Vejo também pedaços de mim mesma por toda parte...
considerada secundária até há alguns anos. Sem eles, as
(numa revolta)
mensagens químicas que fazem o cérebro comandar o
Meus Deus, como era mesmo o meu rosto, meus cabelos,
organismo não são enviadas.
As mensagens químicas são destruídas por uma substân- cada uma de minhas feições?
cia inflamatória chamada oligômero ab e os pesquisadores (para uma espectadora)
descobriram que eles atacam os astrócitos. O resultado é 30 Minha senhora, esqueci meu rosto em algum lugar.
que as células deixam de produzir uma substância essencial Adapt. RODRIGUES, Nelson. A valsa no 6. 2. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2012. pp. 30 e 31.
para a comunicação chamada TGF-b1, uma molécula que
pode ser sintetizada e, quando dada aos camundongos, fez Analise as proposições em relação à obra Valsa no 6,
com que a memória deles voltasse. “O que descobrimos não de Nelson Rodrigues, e ao texto.
significa a cura, mas uma estratégia para conter o avanço
I. Na estrutura “Mas então eu tive um mau pressenti-
da doença. Também pode ser um indicador do Alzheimer,
quando as perdas de função cognitiva ainda não são evi-
mento... Parei de tocar...”, (l. 1 e 2) o emprego do sinal
dentes”, disse ao GLOBO a coordenadora do estudo, Flavia de reticência sugere medo, apreensão, suspense.
Alcântara Gomes, do Instituto de Ciências Biomédicas da II. Da leitura da obra, infere-se que o elemento inte-
Universidade Federal do Rio de Janeiro (ICB/UFRJ). grador entre os dois atos da peça é a Valsa no 6,
Disponível em: https://br.noticias.yahoo.com/cientistas-brasileiros- cuja execução varia conforme o estado emocio-
descobrem-maneira-de-deter-o-mal-de-alzheimer-185422617.html. nal da personagem Sônia.
Acesso em: 23 jun. 2017.
III. Da leitura de “Vejo também pedaços de mim
Sobre os recursos linguístico-semânticos utilizados no mesma por toda parte”, (l. 25) infere-se que a per-
texto, considere as afirmativas a seguir. sonagem Sônia, por meio da memória, busca a
I. As aspas revelam o depoimento da pesquisadora reconstituição dos fatos e da sua identidade.
e indicam o discurso direto. IV. As expressões destacadas em “Meu Deus, como
II. As informações entre parênteses são indispensá- era mesmo o meu rosto” e “Minha senhora, es-
veis, pois acrescentam dados imprescindíveis. queci meu rosto” (l. 27 e 30) têm a função sintática
III. A palavra “quando”, destacada no texto, apresen- de vocativo nas duas estruturas.
ta um sentido condicional. V. No período “Vejo restos de memória, boiando
IV. O termo “eles”, destacado no texto, concorda num rio” (l. 16), a palavra destacada representa,
com a ideia de plural do seu referente. para Sônia, momentos de lucidez da sua infância.
Assinale a alternativa correta. Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. a) Somente as afirmativas I, II, IV e V são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. b) Somente as afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. c) Somente as afirmativas II, III e V são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. e) Somente as afirmativas III, IV e V são verdadeiras.

38 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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<id>002447_por_f1_c11_q0037</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

29. UCS-RS 2022 Porém, a partir da virada dos anos 70 para os 80,
ressurgiram as (belas) regras da antiga poética grega. Aris-
O ex-cinema de autor 60 tóteles ressuscitou e passou a ser o pau para toda obra do
Arnaldo Jabor cinema comercial, a fórmula narrativa única e o pretexto
para a conexão total com o grande público. Aristóteles,
Estou escrevendo um novo filme, inspirado em um
conto de Rubem Fonseca. O roteiro está quase pronto, coitado, foi prostituído em todas as produções, as mais
e diante de mim já se desenham os impasses do cinema bárbaras, as mais desonestas. Pobre Aristóteles – virou
contemporâneo. Como filmar? É fácil partir para comédias 65 partitura não mais das tragédias gregas, mas dos maio-
5 ao gosto do público ou tentativas de imitar filmes de ação res abacaxis de Hollywood. O método narrativo de sua
norte-americanos. Mas como realizar um filme que busca poética passou a justificar uma máquina de sensações
refletir sobre a vida, sobre as tragédias ou comédias huma- programadas. Somos levados por inúmeras direções: pra-
nas num mundo tão fragmentado, em que a ficção ficou zeres sádicos, assassinatos explosivos, vinganças sem fim,
insignificante, frágil? A realidade parece ficção. 70 tudo narrado como uma ventania, como uma tempesta-
10 E as dúvidas continuam: com que linguagem devo de de planos (cenas) curtos, nunca mais longos do que
abordar o fragmentário, o indizível, como criar uma quatro segundos, tudo tocado por orquestras sinfônicas
linguagem coerente para um mundo incoerente? Como plagiando Ravel para cenas românticas, Stravinsky para
buscar sentido na falta de sentido? Nem mesmo temos violências e guerras, tudo para não desgrudarmos os
mais a falta de sentido absurdista de Beckett, ou do 75 olhos da tela. Não há mais tempo para um filme ser visto,
15 nouveau roman, em que mesmo o desencanto total al- refletido, com choro, risos, vida. O desejo dos produtores
mejava um sentido qualquer, uma disfarçada esperança. é justamente apagar o drama humano dentro de nossas
Como fazer um cinema de autor que não seja o refle- cabeças. O conflito é permanente, de forma a impedir o
xo da realidade, mas a realidade do reflexo? Hoje, o que observador de ver seus conflitos internos.
é importante? Não existe mais? Não adianta buscar uma 80 Hoje, os roteiros são feitos em computador, de
20 qualidade, uma excelência, que foi soterrada pela quan- modo a não deixar respiros para o _____. É preciso
tidade de informações e por uma dramaturgia falsamente encher cada buraco, para que nada se infiltre na aten-
nova, disfarçada no excesso infinito de formas de registrar. ção absoluta. Mais importantes que as personagens,
Hoje nem o absurdismo descreve mais o absurdo... Há o são as coisas em volta. Sim, as coisas. Personagem é
desejo de obstruir justamente possíveis epifanias dentro da 85 só um pretexto para mostrar o décor. E o décor é um
25 sala escura. Não me refiro às novas experiências digitais grande showroom dos produtos norte-americanos. As
na web, pois seu processo é imprevisível. Falo apenas da personagens são os maravilhosos aviões, os supercom-
tela grande, da esperança de criar uma obra de arte, como putadores, a genialidade técnica lutando por algum bem
se dizia antigamente. E aí, eu penso: como vou fazer esse ininteligível.
filme que escrevo? 90 O cinema moderno perdeu a magia de antes, porque
30 O grande pensador André Bazin, o cara que mais quanto mais se aperfeiçoam as maneiras de penetrar na
entendia do assunto, uma vez definiu os vários momentos realidade, mais distante ela fica. Explico. Em meio a efeitos
da evolução da linguagem cinematográfica. Ele dizia: na especiais espantosos, o humano fica mais oculto. Quanto
época do cinema mudo, a linguagem do filme evocava a mais se fazem descobertas, mais fundo é o túnel do misté-
realidade, como nos poemas dramáticos geniais de um 95 rio. A máquina do mundo, quanto mais aberta, mais fica
35 Eisenstein ou em “A Paixão de Joana D’Arc”. Os cineastas vazia e misteriosa. A perfeição digital, contemporânea,
faziam conexões poéticas que evocavam sentidos. reprodutiva, descreve bem o mundo, mas não o condensa
Depois dos anos 30, com o cinema falado, a linguagem em poesia. Hoje, é imensa a quantidade de imagens que
ficou descritiva, submetida a cânones realistas da vida. John invadem nossos olhos. Tantas são que se anulam. Tanta é
Ford ou Hawks são exemplos de grandes realistas. 100 a exposição da realidade diante de nossos olhos que não
40 Nos anos 50 e 60, com o advento de equipamentos vemos mais nada.
mais leves, herdeiros da pobreza do _____ italiano, surgiu A solução para mim talvez esteja na frase de Nelson
o Cinema Novo, longe dos estúdios, e assim nasceu, por Rodrigues: “Se a nossa época não gostar de minhas peças,
exemplo, a nouvelle vague, e suas ondas influíram no pior para nossa época”.
mundo inteiro. Buscávamos a importância de uma verda- Disponível em: https://www.otempo.com.br/opiniao/arnaldo-jabor/o-ex-
45 de sobre a vida pessoal e social, a ponto de até dizermos: cinema-de-autor-1.1269424. Acesso em: 17 fev. 2022. (Adaptado.)
“Este filme é uma droga, mas é importante”. Nessa épo-
Sobre os sinais de pontuação presentes no texto, é
ca, o cinema tinha uma forte importância cultural. Era
visto como uma barreira contra a cultura de massas que correto afirmar que
já dominava o panorama _____. Nossa ideia era atingir a) o ponto de interrogação (linha 4) assinala a pre-
50 o público e fazê-lo pensar, equivocando-o e conscien- sença de pergunta indireta.
tizando-o. Os filmes eram livres para criar uma nova b) as reticências (linha 23) assinalam inflexão argu-
dramaturgia, sem regras fixadas por produtores _____. mentativa.
O autor era absoluto. Godard, sem dúvida, foi o grande c) os parênteses (linhas 59 e 71) são empregados
criador dessa época. Abria-se um tempo semelhante ao para indicar oposição discursiva.
FRENTE 1

55 que foi o modernismo, o cubismo etc. A liberdade era d) o travessão (linha 64) introduz discurso direto.
imensa para vermos a vida de ângulos jamais explorados, e) as aspas (linha 46) realçam ironicamente uma
a vida com outros olhos. expressão.

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<id>002447_por_f1_c11_q0038</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

30. EEAR-SP 2023 As alternativas abaixo compõem um I. a função de linguagem predominante coloca em
texto. Assinale a que apresenta um erro de pontuação. foco o enunciador da mensagem e busca expres-
a) Em 2005, Marisa Lajolo revelou ao país um lado sar sua atitude em relação ao enunciado.
desconhecido de Monteiro Lobato: o sentimental. II. na construção desse gênero textual coexistem as se-
b) Ela escreveu um livro que reúne postais enviados quências tipológicas narrativa, descritiva e dissertativa.
por Lobato a Purezinha, sua noiva e futura esposa. III. no trecho “Elas tanto vêm de ontem..., são de hoje...,
c) Numa época em que a internet não existia, os ora vozes..., ora gestos...”, o emprego das reticên-
cartões-postais foram durante dois anos, o princi- cias comprometeu a clareza da mensagem.
pal veículo de comunicação entre eles.
Marque a única alternativa inteiramente correta:
d) Esses cartões, cuja leitura é prazerosa por si só,
a) I e II apenas. c) II e III apenas.
são também um importante registro de como os
b) I e III apenas. d) I apenas.
jovens namoravam no início do século XX. <id>002447_por_f1_c11_q0040</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
<id>002447_por_f1_c11_q0039</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
32. Enem
31. PUC-GO 2023 Leia o excerto do texto Um lugar todo
meu, de Heloísa Helena:
Depois que tudo se aquieta, quando nem mais o tele-
fone toca, clareio apenas alguns recantos da minha casa
e caminho até a varanda, aquela de onde sou capaz de
contemplar mais longe e profundamente.
Não os telhados e muito menos os alpendres das casas
dos vizinhos, porém os meus dias, as minhas noites, brilho
e penumbra do muito que já passou ou ainda é.
São lembranças ao alcance do meu querer. Basta-me
chamá-las, como agora faço. Pouco a pouco, percebo que
impressões começam a chegar, assenhoram-se de mim
e fazem do momento um meu instante valioso e único.
Elas tanto vêm de ontem..., são de hoje..., ora vozes...,
ora gestos..., reminiscências nem sempre de todo boas ou
de todo más, algumas delas constantes na memória, outras
já distantes, tal qual imagens de fotos antigas que, com o
passar do tempo, começam a se apagar.
O resultado disso é a complexa agitação do meu inte- Veja, 7 maio 1997.
rior, vestígio de movimentos descontínuos e entremeados
Na parte superior do anúncio, há um comentário
de alegria e de pesar, quando acontece a irrequieta con-
escrito à mão que aborda a questão das atividades
vivência do ir e vir dos sentimentos.
linguísticas e sua relação com as modalidades oral e
[...]
escrita da língua. Esse comentário deixa evidente uma
O lugar da minha casa, que um dia já foi pasto, ago-
posição crítica quanto a usos que se fazem da lingua-
ra é pomar para barulhentas ararinhas que brigam por
gem, enfatizando ser necessário
mangas maduras pelo calor do sol e adoçadas pelo luar.
[...] a) implementar a fala, tendo em vista maior de-
Gentes queridas e amigas já passaram pela minha senvoltura, naturalidade e segurança no uso da
casa. E mesmo que todas essas pessoas tenham saído para língua. A expressão “tipo assim” foi colocada en-
seguir seu próprio destino, cada quarto, sala, cozinha, tre vírgulas erradamente.
todos os cômodos da minha morada guardam riso, cheiro, b) conhecer gêneros mais formais da modalidade oral
som, que jamais desapareceram dos meus sentidos, porque para a obtenção de clareza na comunicação oral e
presentes fortemente em mim. escrita. A expressão “tipo assim” foi colocada entre
Então, quando ando pela minha casa, não atraves- vírgulas erradamente.
so os seus espaços tão somente. Traços do que vivi me c) dominar as diferentes variedades do registro oral
acompanham. E assim sendo, caminho sabendo que apoiei da língua portuguesa para escrever com adequa-
escolhas, desembaracei linhas e, sobretudo, que meu abra- ção, eficiência e correção. A expressão “tipo assim”
ço aliviou angústias, sossegou preocupações. foi colocada entre vírgulas corretamente.
Porém, esse meu lugar me serve também de refúgio. d) empregar vocabulário adequado e usar regras da
Nele posso chorar sem acanhamento, posso destruir ilu- norma-padrão da língua em se tratando da modali-
sões, pôr a nu meus desencantos. Mesmo quando tudo dade escrita. A expressão “tipo assim” foi colocada
parece desmoronar, eu confio na sua proteção. entre vírgulas corretamente.
[...] e) utilizar recursos mais expressivos e menos des-
(BORGES, Heloísa Helena de Campos. As fomes do mundo & outras gastados da variedade padrão da língua para se
crônicas. Goiânia: Kelps, 2018. p. 61-63. Adaptado.)
expressar com alguma segurança e sucesso. A
Com base na leitura deste fragmento, é possível inferir expressão “tipo assim” foi colocada entre vírgulas
que corretamente.

40 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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Texto complementar

Ponto
        
      
     
        
     

    ­ ­   
 €     ‚  
   ­ ƒ‚      
    „     
­†   
 „ ƒ   „‡
ƒ   
 ˆ  ˆ† ‚
  ‚       ‰     
 ‰ €
­ ‚ Š
      ƒ
      ƒ‚  
  ˆ    †
­  € ƒ‚ ‹ Œ ­     
­  Ž ‚    ‚  
Ž ‚ ‘  ’ Ž ‚
   ­   “  
          € 
     ” ‚
­     ’  
„     € 
  ­     Š 
      
•––  ‘€—”˜™š›  œœœž

adendo: suplemento; termo que corrige, explica, confirma ou complementa um texto.

Veja os principais assuntos e conceitos trabalhados neste capítulo acessando a seção Resumindo
no livro digital, na Plataforma Poliedro.

Quer saber mais?

Música Livros
“Pontuação”, de Kenny Vasconcelos e Luana Leite. Dis- Onze sinais em jogo, de Lou-Ann Kleppa. Campinas, SP:
ponível em: https://youtu.be/1BhH4tw1Jnw. Acesso em: Unicamp, 2019.
29 set. 2023. Onze contos, cada um com foco em um sinal de pon-
Brincando com o nome de alguns sinais de pontuação, tuação: esse é o mote central para a construção das
a canção ilustra o relacionamento de um casal que não narrativas apresentadas nesse livro. Com essa histórias,
deseja colocar um “ponto-final” em seu amor, mas admite é possível compreender as características dos sinais de
algumas “vírgulas”. pontuação de forma intuitiva, nada artificial.
Vídeo No reino da pontuação, de Christian Morgenstern. Tradu-
“A história da exclamação em menos de três minutos!”. ção de Tetê Knecht. São Paulo: Berlendis, 2019.
Nexo Jornal, 2016. Disponível em: www.youtube.com/ Esse livro de poemas apresenta os conflitos entre os si-
watch?v=DJEmOGCN6EM&t=1s. Acesso em: 29 set. 2023. nais presentes nos versos, evidenciando que eles podem
FRENTE 1

O vídeo explica de forma sucinta a origem do sinal de concordar, discordar e, às vezes, até fazer o que querem.
exclamação e mostra os usos desse sinal em diferentes
contextos da vida cotidiana.

41

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Exercícios complementares
<id>002447_por_f1_c11_q0041</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. Uece 2020 Baseado no best-seller homônimo de R.J. a) “[...] a divisão do filme literalmente em capítulos,
Palacio, Extraordinário intima às lágrimas. Dito assim, estes nominados de acordo com o coadjuvante
pode parecer que o filme dirigido por Stephen Chbosky é ocasionalmente promovido ao centro [...]” (linhas
um drama apelativo. Não deixa de ser [...], pois estamos 28 a 30).
5 falando da história de um menino que sofre da Síndrome b) “[...] estamos falando da história de um menino que
de Treacher Collins, responsável por causar deformação sofre da Síndrome de Treacher Collins, responsá-
facial. É naturalmente tocante a sua jornada inicial, e vel por causar deformação facial” (linhas 4 a 7).
aparentemente simples, de sair de casa para o primei- c) “A dinâmica entre as pessoas em cena, com quem
ro dia de aula, quando instado a tirar o capacete de estabelecemos rapidamente empatia, funciona
10 astronauta que o esconde. Auggie (Jacob Tremblay) de- adequadamente dentro da proposta adotada” (li-
senvolveu uma série de técnicas para não se embaraçar nhas 41 a 43).
com o espanto alheio, sendo a mais eficiente delas olhar d) “Auggie é educado e amparado sempre de perto
para baixo e ler as pessoas a partir dos seus calçados. pela mãe, Isabel (Julia Roberts), encontra momentos
Mesmo dentro de uma estrutura bastante estanque, de leveza ao lado do paizão [...]” (linhas 16 a 19).
<id>002447_por_f1_c11_q0042</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
15 os relacionamentos são encarados com candura em </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Extraordinário, a começar pela estrutura familiar. Auggie 2. Urca-CE 2020 Observe a imagem a seguir e assi-
é educado e amparado sempre de perto pela mãe, Isabel nale a alternativa CORRETA, quanto ao emprego de
(Julia Roberts), encontra momentos de leveza ao lado do pontuação:
paizão, Nate (Owen Wilson), e tem o total apoio da irmã
20 mais velha, Via (Izabela Vidovic). Esse acolhimento do-
méstico serve para contrabalancear os episódios difíceis
na escola, a despeito de todo o cuidado que a direção e
a docência têm com sua integração.
Stephen Chbosky costura as diversas facetas narra- HIDALGO, Emilio Sanchéz.
25 tivas com habilidade. Saindo ligeiramente do habitual, Barbie e Ken, chacota dos
Extraordinário tenta expandir a mirada aos personagens opositores aos antipetistas ricos.
Disponível em: https://brasil.
periféricos, às testemunhas da trajetória de Auggie. Isso elpais.com/brasil/2018/10/23/
ocorre de maneira explícita, com a divisão do filme, lite- politica/1540287712_846177.html.
ralmente, em capítulos, estes nominados de acordo com a) Eu, particularmente, acho que não existe racismo
30 o coadjuvante ocasionalmente promovido ao centro, com no Brasil.
direito a narração em off. [...] O intuito por trás desse b) Eu acho que não existe particularmente, racismo
fracionamento é mostrar um pouco das dificuldades de no Brasil.
cada um. Ainda que rapidamente o foco sempre volte ao c) Eu, particularmente, acho, que não existe racismo
menino com problemas de adaptação social, esses res- no Brasil.
35 piros são bem-vindos para alargar a nossa compreensão d) Eu acho que não existe racismo no, particular-
acerca de um painel mais amplo. O percurso construído mente, Brasil.
é singelo e terno. e) Particularmente eu, acho que não existe racismo
Extraordinário não se propõe a fazer uma investigação no Brasil.
profunda das questões concernentes à história de Auggie. <id>002447_por_f1_c11_q0043</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

40 Todavia, Stephen Chbosky garante, ao menos, a preva- 3. IFPR 2020 Os itens de I a V a seguir, lidos sequen-
lência dos olhares afetuosos. A dinâmica entre as pessoas cialmente, formam um texto único (retirado da Revista
em cena, com quem estabelecemos rapidamente empatia, Ponto Jovem http://revistapontojovem.com.br, acesso
funciona adequadamente dentro da proposta adotada. Em em 23/07/2019). Leia-o com atenção para responder
tempos intolerantes como o nosso, é auspicioso assistir a à questão.
45 uma realização que, não obstante a restrição por conta do I. Uma pesquisa realizada pela Universidade
molde predefinido, neste caso o livro, consegue mirar em Anhembi Morumbi com mais de 18 mil estudantes
um público amplo, sem esquecer-se de propagar ideias de do 3o ano do ensino médio revelou que 59% des-
tolerância, afrontando, por exemplo, a conduta reprovável ses alunos já escolheram a carreira que querem
dos bullys. seguir. Porém entre aqueles que já estão deci-
MÜLLER, M. Crítica. Disponível em: https://www.papodecinema.com.
didos, menos da metade, revelou já ter algum
br/filmes/extraordinario/. Acesso em: 24 de outubro de 2019.
contato com a profissão escolhida. [...]
O aposto é um termo utilizado no texto para explicar II. Essa falta de foco do jovem na escolha gera outro
algo que aparece anteriormente e vem separado por problema grave, a evasão. No Brasil cerca de 56%
vírgulas. dos estudantes que ingressaram em uma univer-
Com base nessa informação, assinale a opção em sidade acabaram desistindo no meio do caminho
que a expressão destacada NÃO é um aposto. ou trocaram de curso no decorrer da graduação.

42 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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<id>002447_por_f1_c11_q0045</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

III. Na região Nordeste, por exemplo, dos mais de 5. Unicentro-PR 2019


376 mil ingressantes, quase 200 mil universitários
desistiram do curso alcançando a porcentagem
O homem e a máquina
de 52,8%. Ou seja, mais da metade dos ingres- Bombas de gasolina com as quais o cliente se serve
santes abandonam a faculdade, boa parte delas diretamente. Grandes armazéns onde o próprio consumidor
por falta de identificação com o curso. pesa e embala os alimentos. Operações bancárias podem
IV. Para evitar essa situação, o jovem tem algu- ser efetuadas em nossa casa, no nosso computador, sem ter-
mas alternativas em busca de decidir bem o seu 5 mos de nos deslocar até a agência. Tudo isso faz já parte do
futuro. Testes vocacionais contribuem para deter- nosso quotidiano. E amanhã? Veremos escolas sem profes-
sores, escritórios sem empregados, fábricas sem operários?
minar seu curso com relação à sua personalidade
E se a máquina tecnológica enlouquecesse, matando todo
tais quais suas habilidades.
o emprego à sua passagem? Realidade ou ficção?
V. Mas existem cursos mais completos para não só
10 Desde que o mundo é mundo, ou melhor dizendo, des-
construir uma identidade de auto responsabilida-
de o advento da sociedade industrial, que as relações entre
de no jovem de 12 a 17 anos, e sim contribuir
o progresso técnico e o emprego não deixaram de alimentar
para a formação de um líder no futuro.
debates e polêmicas. Para alguns, a máquina passaria a
Em relação à pontuação do texto, assinale a alterna- substituir o homem e seria a principal causa de desemprego.
tiva correta. 15 A história não deu razão a esses pessimistas. Com efeito,
a) Está incorreto o uso da vírgula após a palavra o progresso científico gerou, desde a revolução industrial,
“metade”, no trecho I. um notável aumento da produtividade. Tornou as empresas
b) O uso da vírgula após a palavra “grave”, no trecho II, mais competitivas, garantiu o crescimento e possibilitou o
está correto. desenvolvimento de uma vasta gama de novos produtos e
c) No trecho II, justifica-se a ausência da vírgula an- 20 de serviços, frequentemente a preços mais baixos. Outros
tes de “ou”. tantos fatores que estimulam o emprego.
d) A utilização de vírgula depois da palavra “situa- Mas também é verdade que a tecnologia, pelos ganhos
de produtividade e de economia de trabalho que permite,
ção”, no trecho IV, está incorreta.
<id>002447_por_f1_c11_q0044</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
leva à supressão de certas categorias de postos de trabalho ou
4. IFPR 2020 25 à ontração do emprego em determinados setores. Para que a
tecnologia desempenhe plenamente o seu papel, é necessário
Objetivos dos fios de sustentação que garanta um saldo francamente positivo entre as perdas e
Os fios de sustentação podem ser colocados em dife- os ganhos: essa é, em última análise, a grande aposta!
rentes níveis do rosto e do corpo para tratar a pele flácida. Disponível em: www.google.com.br. Acesso em: 27 set. 2019.
Eles permitem reapertar a pele e, assim, rejuvenescer as
No texto, a expressão “ou melhor dizendo” (l. 10)
características sem cirurgia.
a) denota ratificação.
Esse procedimento tem resultados expressivos, po-
b) dispensa as vírgulas que a isolam.
dendo dar uma aparência mais jovem para a pessoa que
c) prescinde da forma nominal que a compõe.
o realiza.
Nem todas as pessoas podem realizar o tratamento,
d) pode ser deslocada na frase, sem comprometer a
como por exemplo, aquelas com a pele fina, muito rela- estrutura frasal.
<id>002447_por_f1_c11_q0046</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
xada ou enrugada. Isso acontece geralmente nas pessoas 6. PUC-RS 2022
com a idade muito avançada, onde o procedimento seria
muito agressivo. A educação a.C. e d.C.: tudo vai ser diferente
Disponível em: www.cirurgia.net/fios-desustentacao,
acessado em 08/07/2019.
no ensino “depois da covid-19”
Fábio Roque Sbardellotto
O uso da pontuação é importante, entre outras coi-
sas, para manter o texto coeso e coerente. Entre as A sentença de Heráclito, filósofo pré-socrático e pai
alternativas a seguir, assinale aquela na qual há um da dialética, no sentido de que ninguém pode entrar duas
vezes no mesmo rio porque, ao entrar pela segunda vez,
problema no uso da vírgula que compromete a corre-
já não encontra as mesmas águas, nunca se fez tão verda-
ção do texto.
5 deira como agora, tamanha gravidade do fenômeno pelo
a) Eles permitem reapertar a pele e, assim, rejuve-
qual estamos passando. Não haverá como resistir: sairemos
nescer as características sem cirurgia.
diferentes de como entramos nesta pandemia. Os proces-
b) Nem todas as pessoas podem realizar o trata- sos civilizatórios deverão ser reinventados na economia,
mento, como por exemplo, aquelas com a pele na política, na vida familiar, na educação.
fina, muito relaxada ou enrugada. 10 Com o isolamento social, houve uma disrupção ines-
c) Esse procedimento tem resultados expressivos, perada e muito traumática no ambiente educacional. Na
podendo dar uma aparência mais jovem para a educação pública, praticamente foram paralisadas as au-
pessoa que o realiza. las. No ambiente privado, mantiveram-se sob a forma do
FRENTE 1

d) Isso acontece geralmente nas pessoas com a ida- ensino a distância, com tecnologias virtuais. Os alunos
de muito avançada, onde o procedimento seria 15 de instituições públicas permanecem com seu horizonte
muito agressivo. incerto quanto ao semestre e mesmo ao ano.

43

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O que esperar no ambiente educacional? Os conteú­ de um modelo de humildade profissional: “Não sei o que
dos não se modificaram. O desafio está em vislumbrar a possa parecer aos olhos do mundo, mas aos meus pareço
20 retomada dos processos educacionais pós-coronavírus. apenas ter sido como um menino brincando à beira-mar,
Projetamos uma realidade na qual pouco do que se ti- divertindo-me com o fato de encontrar de vez em quan-
nha antes será encontrado. E as instituições de ensino do um seixo mais liso ou uma concha mais bonita que o
e seus educadores deverão se reposicionar – “não se normal, enquanto o grande oceano da verdade permanece
passará mais pelo mesmo rio”. A travessia será mais tran- completamente por descobrir à minha frente”.
Marcelo Gleiser. www.folha.uol.com.br. 10.12.2017. Adaptado.
25 quila para aquelas instituições que já desenvolviam um
ambiente educacional segmentado, embasado em uma No primeiro parágrafo, as vírgulas são empregadas para
relação humanista, que tinham o estudante no centro da a) enfatizar palavras empregadas com sentido figurado.
relação aprendizagem/ensino. A seletividade irá privilegiar b) separar elementos que se somam em uma sequência.
aqueles ambientes educacionais nos quais o processo de c) contrastar expressões com sentidos contraditó-
30 aprendizagem oferecia ferramentas que tornavam a tec- rios no contexto.
nologia aliada da educação, mas que também entregavam d) listar eventos históricos que se sucederam crono-
resultados alvissareiros para seus investidores, os alunos. logicamente.
Sairão exitosas as instituições educacionais que estavam e) evidenciar que o parágrafo é a citação do discur-
preparadas e já planejavam o futuro de uma educação de so de um terceiro.
35 excelência, apesar de existir crise econômica. <id>002447_por_f1_c11_q0048</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Para essas, o processo apenas se acelerou, e as águas que 8. PUC-Rio Leia o texto abaixo, encontrado na capa de
as banharam já haviam filtrado boa parte do que agora se uma fita disponível em videolocadoras:
apresentou como desafio quase intransponível para as outras. Um filme de ação em alta voltagem que vai prender
Fragmento adaptado de: https://bit.ly/3f9OhuF. Acesso em: 30 abr. 2020. você na poltrona até a última cena. Bill (James Belushi) é um
Assinale a alternativa correta para a substituição de pon- ex-mafioso que traiu um dos mais perigosos chefões da máfia
de Chicago e desapareceu carregando 12 milhões de dólares.
tuação empregada no texto, considerando a coesão e a
Agora, vivendo sob a vigilância do Programa de Pro-
coerência com o parágrafo em que está inserida.
teção a Testemunhas, leva uma vida tranquila ao lado de
a) A vírgula da linha 04 (depois de “águas”) poderia Debra (Vanessa Angel) sua esposa. Porém, liderada por
ser substituída por ponto e vírgula. Miles (Michael Beach) uma gangue de mafiosos, frios e
b) A vírgula da linha 13 poderia ser substituída por armados até os dentes, está em sua perseguição, para re-
dois-pontos. cuperar o dinheiro roubado e se vingar de Bill.
c) O ponto de interrogação da linha 17 poderia ser O xerife Dex (Timothy Dalton) também está envolvido na
substituído por vírgula se fosse deslocado para perseguição e Bill se vê forçado a fazer uma das mais difíceis
depois de “se modificaram” (linha 18). escolhas de sua vida, baseado puramente em seus instintos.
d) A vírgula da linha 31 poderia ser substituída por Quando você não diferencia os criminosos dos tiras...
dois-pontos. Não acredite em ninguém, suspeite de todos e corra para viver.
<id>002447_por_f1_c11_q0047</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
No segundo parágrafo do texto, faltam duas vírgulas.
7. Univesp 2018 Tentativa e erro, experimentar o novo, en-
tender que algumas questões têm respostas complexas ou Reescreva os trechos em que isso ocorre, acrescen-
podem mesmo não ter uma resposta, cultivar a noção de tando-as nos lugares corretos.
<id>002447_por_f1_c11_q0049</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
que o fracasso é essencial para o progresso, aceitar que
9. Univesp 2017 A vírgula é um sinal de pontuação usado
erros são o que nos faz eventualmente acertar, saber per-
para marcar uma pausa no enunciado. Assinale a alterna-
sistir quando as dificuldades parecem não acabar nunca.
Esses são alguns dos componentes da pesquisa cien- tiva que apresenta um período corretamente pontuado,
tífica, uma espécie de sabedoria acumulada através dos seguindo a norma-padrão da língua portuguesa.
tempos que, acredito, é também muito útil em vários a) O aluno levantou, o braço, pois tinha, uma dúvida.
aspectos da vida – de como enfrentar desafios individual- b) O aluno, levantou o braço, pois tinha uma dúvida.
mente até como reger empresas. Quem poderia adivinhar c) O aluno levantou o braço, pois tinha uma dúvida.
que a eletricidade e o magnetismo são manifestações de d) O aluno levantou o braço pois, tinha uma dúvida.
um campo eletromagnético que se propaga através do e) O aluno levantou o braço pois tinha uma dúvida.
espaço com a velocidade da luz?
Quem poderia adivinhar que as espécies animais Texto para as questões 10 e 11.
<assets>002447_por_f1_c11_t0001</assets>

evoluem devido a mutações genéticas aliadas ao proces- Nuvens contêm uma quantidade impressionante de
so de seleção natural? Esse conhecimento todo não veio água. Mesmo as pequenas podem reter um volume de
do nada; exigiu muita coragem intelectual, disciplina de 750 km³ de água e, se calcularmos meio grama de água
trabalho e tolerância ao erro. por metro cúbico, essas minúsculas gotas flutuantes podem
Se as coisas não funcionam, precisamos deixar o or- formar verdadeiros lagos voadores.
gulho para trás e aceitar que falhamos. Todo cientista sabe Imagine a situação de um agricultor que observa, pla-
muito bem que a maioria das suas ideias não vai funcionar. nando sobre os campos ressecados, nuvens contendo água
Resolutos, vamos em frente; mas devemos também estar mais que suficiente para salvar sua lavoura e deixar um bom
abertos a críticas. saldo, mas que, em vez disso, produzem apenas algumas
Na ciência, e em qualquer outra área de trabalho, é gotas antes de desaparecer no horizonte. É essa situação
bom ouvir as sábias palavras de Isaac Newton – mesmo se desesperadora que leva o mundo todo a gastar milhões de
o próprio, durante a vida, não tenha sido o que chamaria dólares todos os anos tentando controlar a chuva.

44 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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Nos Estados Unidos, a tendência de extrair mais umi- Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado nessa
dade do ar vem aumentando em mais um ano de secas segunda-feira pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela
severas. Em boa parte das planícies centrais e do sudoeste 5 ONG Ação Educativa. Criado em 2001, o Inaf é realizado
do país, os níveis de chuva, desde 2010, têm diminuído por meio de entrevista e teste cognitivo aplicado em uma
entre um e dois terços, com impacto direto nos preços do amostra nacional de 2 mil pessoas entre 15 e 64 anos.
milho, trigo e soja. A Califórnia, fonte de boa parte das frutas Elas respondem a 38 perguntas relacionadas ao cotidiano,
e legumes que abastecem o país, ainda deve recuperar-se como, por exemplo, sobre o itinerário de um ônibus ou o
de uma seca que deixou seus reservatórios com metade 10 cálculo do desconto de um produto. O indicador classifica
da capacidade e áreas sem gelo perigosamente reduzidas.
os avaliados em quatro níveis diferentes de alfabetização:
Em fevereiro, o Serviço Nacional do Clima divulgou que o
plena, básica, rudimentar e analfabetismo.
estado tem uma chance em mil de se recuperar logo. Produ-
Aqueles que não atingem o nível pleno são consi-
tores de amêndoas estão preocupados com suas plantações
por falta de umidade, e até a água potável está ameaçada. derados analfabetos funcionais, ou seja, são capazes de
Scientific American Brasil, julho de 2014. Adaptado.
15 ler e escrever, mas não conseguem interpretar e associar
<id>002447_por_f1_c11_q0050</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
informações.
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c11_t0001</assets>
Fragmento adaptado de: http://www.correiodopovo.com.br.
10. FGV-SP 2015 Assinale a alternativa em que o perío- Acesso em: 30 mar. 2014.
do, reescrito com base nas informações do texto, está
correto quanto ao emprego da vírgula. I. As vírgulas das linhas 1-2 isolam uma oração in-
a) A Califórnia, ainda deve recuperar-se de uma seca tercalada.
que deixou seus reservatórios com metade da capa- II. Seria correto substituir, na linha 9, a vírgula que
cidade e áreas sem gelo perigosamente reduzidas. antecede “sobre” por dois-pontos, já que a ex-
b) Imagine que, um agricultor observa, nuvens con- pressão a seguir é uma enumeração.
tendo água mais que suficiente para salvar a sua III. O emprego de travessão em lugar de dois-pontos
lavoura, deixando um bom saldo. na linha 11 seria correto, pois a expressão que
c) Quando a situação fica desesperadora o mundo segue é um aposto.
todo, para controlar a chuva gasta milhões de dó- A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são, apenas,
lares todos os anos. a) I.
d) As nuvens pequenas, que podem reter um volu- b) II.
me de 750 km3 de água, são capazes de formar c) III.
verdadeiros lagos voadores. d) I e II.
e) O Serviço Nacional do Clima divulgou em feverei- e) II e III.
ro, que a chance de uma recuperação rápida da <id>002447_por_f1_c11_q0053</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Califórnia, é de uma em mil. 13. UFPR 2019 Assinale a alternativa corretamente pon-
<id>002447_por_f1_c11_q0051</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c11_t0001</assets>
tuada.
11. FGV-SP 2015 Em conformidade com a norma-padrão a) A técnica de Mourou e Strickland criada em 1985, e
da língua portuguesa e sem alterar os sentidos do tex- conhecida como: amplificação de pulso com varre-
to, a frase final pode ser reescrita da seguinte forma: dura em frequência – CPA, por sua sigla em inglês,
a) Produtores de amêndoas estão preocupados tornou-se muito rapidamente a ferramenta-padrão
com suas plantações devido falta de umidade, e
para obter lasers de alta intensidade, utilizados, des-
até ameaça da água potável.
de então, em milhões de cirurgias do olho.
b) Como há falta de umidade, produtores de amên-
b) A técnica de Mourou e Strickland, criada em
doas estão preocupados com suas plantações.
1985, e conhecida como amplificação de pulso
Além disso, inclusive a água potável está ameaçada.
com varredura em frequência (CPA, por sua si-
c) Falta umidade e ameaça de água potável, coisas
gla em inglês); tornou-se muito rapidamente, a
com que se preocupa os produtores de amên-
ferramenta-padrão para obter lasers de alta in-
doas e suas plantações.
tensidade utilizados desde então em milhões de
d) Falta umidade e ameaça à água potável existe,
cirurgias do olho.
contudo os produtores de amêndoas estão preo-
c) A técnica de Mourou e Strickland criada em 1985
cupados com suas plantações.
e conhecida como amplificação de pulso com
e) Produtores de amêndoas estão preocupados
varredura em frequência, (CPA, por sua sigla em
com suas plantações que os transtornos se deve
inglês), tornou-se muito rapidamente a ferramenta-
à falta de umidade e de água potável.
<id>002447_por_f1_c11_q0052</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
-padrão, para obter lasers de alta intensidade uti-
12. PUC-RS lizados desde então, em milhões de cirurgias do
olho.
No Brasil, 38% dos universitários são d) A técnica de Mourou e Strickland, criada em 1985 e
analfabetos funcionais. Pesquisa aponta que conhecida como amplificação de pulso com varre-
estudantes não conseguem interpretar e dura em frequência – CPA, por sua sigla em inglês –
FRENTE 1

associar informações tornou-se muito rapidamente, a ferramenta-padrão


Entre os estudantes do ensino superior, 38% não do- para: obter lasers de alta intensidade utilizados des-
minam habilidades básicas de leitura e escrita, segundo o de então em milhões de cirurgias do olho.
45

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e) A técnica de Mourou e Strickland, criada em 1985 de não suportar a leitura; comparando o desembaraço
e conhecida como amplificação de pulso com var- com que os fregueses pediam bebidas variadas e esqui-
redura em frequência (CPA, por sua sigla em inglês), sitas, lembrava-se que nem mesmo o nome delas sabia
tornou-se muito rapidamente a ferramenta-padrão pronunciar; olhando aquelas senhoras e moças que lhe
para obter lasers de alta intensidade, utilizados des- pareciam rainhas e princesas, tal e qual o bárbaro que viu,
de então em milhões de cirurgias do olho. no Senado de Roma, só reis, sentia-se humilde; enfim, todo
<id>002447_por_f1_c11_q0054</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
aquele conjunto de coisas finas, de atitudes apuradas, de
14. Unifesp 2021 Leia o poema de Fernando Pessoa para hábitos de polidez e urbanidade, de franqueza no gastar,
responder à questão. reduziam-lhe a personalidade de medíocre suburbano, de
vagabundo doméstico, a quase cousa alguma.
Cruz na porta da tabacaria!
BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Rio de Janeiro:
Quem morreu? O próprio Alves? Dou Garnier, 1990. p. 130-131.
Ao diabo o bem-’star que trazia. <id>002447_por_f1_c11_q0055</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c11_t0002</assets>

Desde ontem a cidade mudou. 15. UEL-PR 2019 Em relação aos recursos linguísticos
Quem era? Ora, era quem eu via. presentes no texto, assinale a alternativa correta.
Todos os dias o via. Estou a) Em “ele percebia toda a sua inferioridade de inte-
Agora sem essa monotonia. ligência, de educação; a sua rusticidade”, o ponto
Desde ontem a cidade mudou. e vírgula é usado para enumeração dos comple-
Ele era o dono da tabacaria. mentos do termo “inferioridade”.
Um ponto de referência de quem sou. b) No trecho “e, em qualquer parte, era apontado”,
Eu passava ali de noite e de dia. a palavra “apontado” está no masculino para con-
Desde ontem a cidade mudou. cordar com “subúrbio”.
Meu coração tem pouca alegria, c) No fragmento “Onde acabavam os trilhos da Cen-
E isto diz que é morte aquilo onde estou. tral”, o verbo está no plural para concordar com
Horror fechado da tabacaria! seu complemento “trilhos”.
Desde ontem a cidade mudou. d) Em “acabava a sua fama e o seu valimento”, o ver-
Mas ao menos a ele alguém o via, bo está no singular para concordar com o sujeito
Ele era fixo, eu, o que vou, “Campo de Sant’Ana”.
Se morrer, não falto, e ninguém diria: e) Em “tinha os seus companheiros, e a sua fama de
Desde ont’em a cidade mudou. violeiro”, a vírgula é utilizada para separar sujeitos
Obra poética, 1997. diferentes.
<id>002447_por_f1_c11_q0056</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
O eu lírico recorre a um sinal de pontuação para indi- </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c11_t0002</assets>

car a supressão de um verbo em 16. UEL-PR 2019 Sobre os recursos linguístico-semânticos


a) “Ao diabo o bem-’star que trazia.” (1a estrofe) empregados no texto, considere as afirmativas a seguir.
b) “Todos os dias o via. Estou” (2a estrofe) I. Em “mas, ali, sobretudo do Campo de Sant’Ana
c) “Quem era? Ora, era quem eu via.” (2a estrofe) para baixo, o que era ele?”, trata-se de pergunta
d) “Se morrer, não falto, e ninguém diria:” (5a estrofe) retórica, cuja resposta já se insere na pergunta.
e) “Ele era fixo, eu, o que vou,” (5a estrofe) II. A repetição do item lexical “subúrbio”, no início do
trecho, empobrece a qualidade textual.
Leia o fragmento, a seguir, retirado do livro Clara dos An- III. O trecho “tal e qual o bárbaro que viu, no Senado
jos, de Lima Barreto, e responda às questões 15 e 16. de Roma” contém um paradoxo proporcionado
<assets>002447_por_f1_c11_t0002</assets>

Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em pela incompatibilidade temporal.
pleno Campo de Sant’Ana, no meio da multidão que jor- IV. A palavra “placards” está grifada em itálico no
rava das portas da Catedral, cheia da honesta pressa de texto por se tratar de estrangeirismo, sendo hoje
quem vai trabalhar. A sua sensação era que estava numa comum seu correlato em português.
cidade estranha. No subúrbio tinha os seus ódios e os seus
amores; no subúrbio, tinha os seus companheiros, e a sua Assinale a alternativa correta.
fama de violeiro percorria todo ele, e, em qualquer parte, a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
era apontado; no subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
era bem Cassi Jones de Azevedo; mas, ali, sobretudo do c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
Campo de Sant’Ana para baixo, o que era ele? Não era d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
nada. Onde acabavam os trilhos da Central, acabava a sua e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
<id>002447_por_f1_c11_q0057</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
fama e o seu valimento; a sua fanfarronice evaporava-se, e </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

17. Enem 2018


representava-se a si mesmo como esmagado por aqueles
“caras” todos, que nem o olhavam. [...] Física com a boca
Na “cidade”, como se diz, ele percebia toda a sua in- Por que nossa voz fica tremida ao falar na frente do
ferioridade de inteligência, de educação; a sua rusticidade, ventilador?
diante daqueles rapazes a conversar sobre cousas de que Além de ventinho, o ventilador gera ondas sonoras.
ele não entendia e a trocar pilhérias; em face da sofregui- Quando você não tem mais o que fazer e fica falando na
dão com que liam os placards dos jornais, tratando de frente dele, as ondas da voz se propagam na direção contrária
assuntos cuja importância ele não avaliava, Cassi vexava-se às do ventilador. Davi Akkerman – presidente da Associação

46 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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Brasileira para a Qualidade Acústica – diz que isso causa o sentimento moral não é confiável por si só. Como os ou-
mismatch, nome bacana para o desencontro entre as ondas. tros animais, o ser humano geralmente sente compaixão
“O vento também contribui para a distorção da voz, pelo fato 5 por quem ele conhece, e não por quem ele não conhece.
de ser uma vibração que influencia no som”, diz. Assim, o Hoje sabemos que até criaturas aparentemente simples
ruído do ventilador e a influência do vento na propagação como os camundongos reagem com desconforto quando
das ondas contribuem para distorcer sua bela voz. veem outros camundongos, com os quais tenham vivido
Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 30 jul. 2012 antes, sofrendo. Porém, o sofrimento de camundongos
(adaptado). 10 desconhecidos não consegue produzir um contágio afe-
Sinais de pontuação são símbolos gráficos usados tivo que precede a compaixão. Portanto, é provável que
para organizar a escrita e ajudar na compreensão da a tendência de dividir o mundo entre os conhecidos e os
mensagem. No texto, o sentido não é alterado em desconhecidos seja algo profundamente enraizado em
caso de substituição dos travessões por nossa herança evolutiva.
a) aspas, para colocar em destaque a informação 15 Também podemos recusar a compaixão por outros
motivos inaceitáveis; por exemplo, podemos culpar in-
seguinte.
justamente a pessoa que está sofrendo por seu infortúnio.
b) vírgulas, para acrescentar uma caracterização de
Muitas pessoas acreditam que os pobres atraem a pobreza
Davi Akkerman. sobre si por meio da preguiça e da falta de esforço. Conse-
c) reticências, para deixar subentendida a formação 20 quentemente, embora estejam muitas vezes enganadas com
do especialista. relação a isso, elas não sentem compaixão pelos pobres.
d) dois-pontos, para acrescentar uma informação in- Esses déficits de compaixão podem se conectar à
troduzida anteriormente. dinâmica perniciosa do nojo e da vergonha. Quando
e) ponto e vírgula, para enumerar informações fun- determinado subgrupo social é identificado como vergo-
damentais para o desenvolvimento temático. 25 nhoso e nojento, seus membros parecem inferiores aos
<id>002447_por_f1_c11_q0058</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> membros dominantes, além de muito diferentes deles:
18. Enem 2016 primitivos, fedorentos, contaminados e contaminantes.
Torna-se fácil, portanto, excluí-los da compaixão, e fica
L.J.C.
difícil enxergar o mundo de seu ponto de vista. Pessoas
— 5 tiros? — É. O PM pensou que... 30 que sentem muita piedade de outras pessoas de seu grupo
— É. — Hoje? (social, racial, religioso etc.) são capazes de tratar pessoas
— Brincando de pegador? — Cedinho. de grupos diferentes como animais ou objetos.
COELHO, M. In: FREIRE, M. (Org.). Os cem menores contos brasileiros Em suma, cultivar a compaixão não é por si só sufi-
do século. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.
ciente para superar as forças da discriminação, opressão e
Os sinais de pontuação são elementos com impor- 35 subordinação social. A própria compaixão pode se tornar
tantes funções para a progressão temática. Nesse uma aliada do nojo e da vergonha, fortalecendo a solida-
miniconto, as reticências foram utilizadas para indicar riedade entre as elites e distanciando-as ainda mais dos
a) uma fala hesitante. subalternizados. Daí a necessidade de se cultivar a edu-
b) uma informação implícita. cação dos sentimentos morais, ampliando os horizontes
c) uma situação incoerente. 40 da compaixão para além dos limites do grupo conhecido.
A capacidade de se colocar no lugar do outro, por mais
d) a eliminação de uma ideia.
diferente que ele seja, é algo que deve ser aprendido.
e) a interrupção de uma ação.
<id>002447_por_f1_c11_q0059</id><tipo>objetiva</tipo><assunto> NUSSBAUM, Martha C. Sem fins lucrativos: por que as democracias
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
precisam das humanidades. São Paulo: Martins Fontes, 2015. p. 38-39.
19. Enem 2016 Quem procura a essência de um conto no (Adaptado).
espaço que fica entre a obra e seu autor comete um erro:
é muito melhor procurar não no terreno que fica entre o Considere o seguinte trecho: “Quando determinado
escritor e sua obra, mas justamente no terreno que fica subgrupo social é identificado como vergonhoso e
entre o texto e seu leitor. nojento, seus membros parecem inferiores aos mem-
OZ, A. De amor e trevas. São Paulo: Cia. das Letras, 2005 (fragmento). bros dominantes, além de muito diferentes deles:
primitivos, fedorentos, contaminados e contaminan-
A progressão temática de um texto pode ser estru-
tes” (linhas 23 a 27).
turada por meio de diferentes recursos coesivos,
Nesse trecho, o sinal de pontuação dois-pontos (:) é
entre os quais se destaca a pontuação. Nesse texto, o
usado para introduzir uma
emprego dos dois-pontos caracteriza uma operação
a) citação d) enumeração
textual realizada com a finalidade de
b) explicação e) contextualização
a) comparar elementos opostos.
c) intercalação
b) relacionar informações gradativas.
c) intensificar um problema conceitual. Texto para as questões 21 e 22.
<assets>002447_por_f1_c11_t0003</assets>
d) introduzir um argumento esclarecedor.
e) assinalar uma consequência hipotética. “É hora de brancos lutarem contra racismo”,
<id>002447_por_f1_c11_q0060</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
diz escritora Djamila Ribeiro
20. UEG-GO 2022
Depois de 300 anos de escravidão, o ideal seria que os
FRENTE 1

Para além da compaixão negros ficassem tomando piña colada no Caribe enquanto
Tendemos a acreditar que a compaixão, por si mesma, os brancos lutam contra o racismo no Brasil, na opinião da
pode tornar as pessoas mais humanizadas. Contudo, esse escritora Djamila Ribeiro. Justo, “já que a gente ficou esses

47

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anos todos batalhando e vivendo o racismo”, disse ela na d) exposição de palavras e expressões para um sen-
noite desta quinta-feira (11) na Casa Folha, durante a Flip tido particular ou figurado.
(Festa Literária Internacional de Paraty). “Mas, como não vai <id>002447_por_f1_c11_q0062</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c11_t0003</assets>

ser possível, seria importante as pessoas começarem a não 22. Uece 2020 A escritora Djamila Ribeiro é apresentada de
delegar”, afirmou. “As pessoas brancas precisam começar diversas formas, ao longo do texto: partes do seu nome,
a entender a importância de elas debaterem racismo, elas pronomes, profissão e papel social. Isso ocorre para que
lerem sobre isso, ter ações antirracistas nos seus espaços.” a tessitura do texto se faça a partir do princípio de
Uma pequena multidão fez fila em frente ao espaço a) intertextualidade, porque há referências explícitas
para assistir à conversa de Djamila com o também escritor a outros textos para a construção da imagem da
Antônio Prata, ambos colunistas da Folha, mediada pela escritora.
editora de Diversidade do jornal, Paula Cesarino Costa – b) coesão, porque a retomada do referente por di-
mesmo com o espaço lotado, o público se aglomerou para versos recursos ajuda a construir a imagem da
ver o debate do lado de fora. “Ser politicamente incorreto escritora e a encadear as informações.
faz sentido quando a gente vive num sistema cruel, desi- c) informatividade, porque é necessário elencar o
gual, violento. Faz sentido ser incorreto aí. Ter uma contra
maior número de informações acerca do racismo,
narrativa, ir contra a norma estabelecida”, disse Djamila.
sob risco de não compreensão do texto.
“Mas houve um esvaziamento do termo politicamente cor-
d) situacionalidade, porque a construção de contex-
reto. Se o respeito ao próximo, à humanidade do outro, é
tos faz com que o leitor recupere o tempo e o
ser politicamente correto, devemos ser.”
Para Antônio Prata, o assunto não o incomoda. “A espaço da notícia.
<id>002447_por_f1_c11_q0063</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
patrulha do politicamente correto é um comentário no 23. AFA-SP 2021
meu Facebook. A patrulha da Rota mata”, afirmou, em
consonância com o discurso de Djamila [...]. Para o es- Apelo
critor, autor dos livros “Nu, de botas” e “Trinta e poucos”, Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa.
hoje se sabe que é condenável ser machista, racista e ho- Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom
mofóbico, mas que “as pessoas estão lutando pelo direito chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi
de serem erradas”. [...] Prata afirmou que, por um tempo, ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o pra-
achou “nada mais saudável que haja uma coerção social” 5 to na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
que iniba o comportamento racista, mas que o momento Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou.
político atual, com ascensão de grupos conservadores no A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais
Brasil e no mundo, mostrou que “a gente tem que pensar ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda
se o discurso é eficaz, ou se é uma maquiagem que a gente a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo.
coloca na frente do ódio e o ódio volta pulando o muro.” 10 Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os
Para Djamila, por outro lado, “isso não é novo. O Brasil amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o
é um país extremamente conservador”, afirmou. “Para gru- perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas
pos minoritários, esse discurso de ódio é presente na nossa as aflições do dia.
vida desde sempre. [...]” Mestre em filosofia pela USP e Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate – meu
escritora de “O que é lugar de fala” e “Quem tem medo do 15 jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas
feminismo negro”, a ativista afirmou que “o debate sobre violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham.
racismo é surreal. A gente é acusado de dividir, de ser sec- Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim
tarista e violento [...]. Djamila reclamou de a luta negra ser levou o saca-rolha?
constantemente classificada como identitária por pessoas Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com
brancas que não se reconhecem também como parte de 20 os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa,
uma identidade. “Me cobram por qualquer coisa que uma Senhora, por favor.
mulher negra faça, ‘você viu essa negra de direita?’. [...] (TREVISAN, Dalton. Mistérios de Curitiba. 5a ed. Record. Rio de Janeiro, 1996.)
Consenso entre eles foi que a falta de diversidade
prejudica o Brasil. “A própria elite perde com o privilégio. Em relação à organização textual e aspectos sintáti-
O mundo perde quando não tem 70% de concorrência. cos do texto IV, assinale a alternativa que apresenta
A literatura é pior, o cinema é pior”, afirmou Prata, que uma análise correta.
também é roteirista. a) O texto é uma carta pessoal cujo emitente é o ma-
É HORA DE BRANCOS LUTAREM CONTRA O RACISMO... 12 de julho rido e o destinatário, a mulher, o que se comprova
de 2019. Disponível em: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br.
Acesso em: 29 out. 2019.
pelo vocativo e pelo desfecho com o pedido de
<id>002447_por_f1_c11_q0061</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c11_t0003</assets> volta da Senhora.
21. Uece 2020 Sobre a ocorrência de aspas, no texto, é b) O sinal de dois-pontos (l. 4) tem a função de introdu-
correto afirmar que se dá devido à zir uma oração explicativa para o fato mencionado
a) necessidade de realçar neologismos, arcaísmos e anteriormente.
gírias presentes no texto. c) O travessão (l. 14) tem a função de separar o
b) marcação de ironias ou palavras empregadas fora aposto do termo principal ao qual ele se refere.
de seus contextos. d) O sujeito da primeira oração do período “Às
c) presença de falas dos entrevistados, para asse- violetas, na janela, não lhes poupei água e elas
gurar a veracidade das fontes. murcham” está marcado na desinência verbal.

48 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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<id>002447_por_f1_c11_q0064</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

24. Univesp 2019 Leia com atenção a tirinha a seguir da à sociedade”. Prossegue: “As pessoas já não sabem o que é
cartunista Laerte para responder à questão. real e o que é falso. Muitas deixaram de acreditar e isso
é ainda mais perigoso.”
[...]
www.bbc.com. Adaptado.

Observe as passagens:
• Essa “alfabetização” deve contar com esforços de
vários setores da sociedade... (Texto I, 1o parágrafo);

Fonte: Blogger.
• as chamadas fake news são “uma ameaça à demo-
cracia e à sociedade”. (Texto II, 2o parágrafo).
Tramela: espécie de tranca de portas. O uso das aspas nos dois textos reporta, correta e
respectivamente,
De acordo com a tirinha assinale a alternativa correta. a) à ideia de educar-se digitalmente e ao destaque
a) A personagem da tira apresenta uma crise existencial à ironia presente na fala da jornalista ucraniana.
característica do sujeito contemporâneo, que, entre b) ao duplo sentido do termo em destaque e à cita-
outros fatores, é motivada pela crise financeira, o que ção do pensamento da jornalista ucraniana.
pode ser comprovado linguisticamente pelo uso do c) à inadequação do termo referente à educação vir-
adjetivo “barata”, empregado no primeiro quadrinho. tual e à reprodução da fala da jornalista ucraniana.
b) A tirinha ressalta o poder da leitura em abordar de d) à sinalização de um novo sentido ao termo e à trans-
forma profunda e meditativa questões que transcen- crição de trecho da fala da jornalista ucraniana.
dem a banalidade e superficialidade dos assuntos
e) ao sentido pejorativo presente no termo e à ênfa-
cotidianos, ajudando, assim, os leitores a operarem
se dada às ideias da jornalista ucraniana.
significativas transformações em suas vidas. <id>002447_por_f1_c11_q0066</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

c) As aspas utilizadas no segundo quadrinho são usa- 26. Fuvest-SP 2020 O Twitter é uma das redes sociais mais im-
das para indicar a citação de um trecho do texto portantes no Brasil e no mundo. [...] Um estudo identificou
lido pela personagem, que, formalmente, se apro- que as fake news são 70% mais propensas a serem retweeta-
xima do texto poético devido à métrica, já que os das do que fatos verdadeiros. [...] Outra conclusão importante
versos são escritos em redondilhas, além da utiliza- do trabalho diz respeito aos famosos bots: ao contrário do
ção da rima já referida na tira. que muitos pensam, esses robôs não são os grandes responsá-
d) As palavras “casinha”, “janela”, “porta” e “tramela” veis por disseminar notícias falsas. Nem mesmo comparando
pertencem ao mesmo campo semântico, estabe- com outros robozinhos: tanto os que espalham informações
lecendo relações de sinonímia e hiponímia entre mentirosas quanto aqueles que divulgam dados verdadeiros
si, o que aproxima o trecho do tipo textual poético. alcançaram o mesmo número de pessoas.
e) No segundo quadrinho da tira, a satisfação do cliente Super Interessante, “No Twitter, fake News se espalham 6 vezes mais
com o texto lido constitui uma crítica ao procedimen- rápido que notícias verdadeiras”. Maio/2019.
to poético, que, ao ser aplicado ao texto filosófico, No período “Nem mesmo comparando com outros
diminui-lhe o alcance crítico, ao subordinar a meto-
robozinhos: tanto os que espalham informações menti-
dologia científica da filosofia à estética da poesia.
<id>002447_por_f1_c11_q0065</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
rosas quanto aqueles que divulgam dados verdadeiros
25. Insper-SP 2018 alcançaram o mesmo número de pessoas.”, os dois-
-pontos são utilizados para introduzir uma
Texto I a) conclusão. d) contradição.
A educação virtual é uma arma importante para detec- b) concessão. e) condição.
tar informações falsas no noticiário, segundo especialistas.
c) explicação.
Essa “alfabetização” deve contar com esforços de vários <id>002447_por_f1_c11_q0067</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

setores da sociedade, para evitar que as chamadas fake 27. PUC-RS 2017 Não são poucos os articulistas e doutri-
news tumultuem o debate público, como ocorreu na cor- nadores que se colocam contra o instituto da “delação
rida eleitoral americana e na votação pela saída do Reino premiada”, por considerá-la um incentivo do Estado à prá-
Unido da União Europeia. tica da traição, beneficiando réus que estariam a seguir
[...] 5 os passos de Judas e de Silvério dos Reis, somente para
http://infograficos.estadao.com.br. Adaptado. citar dois traidores históricos. A crítica, todavia, revela-se
exagerada e ideologicamente estrábica. Cristo e Tiradentes
Texto II não podem ser caracterizados exatamente como crimi-
“Se uma história é demasiadamente emocionante ou nosos (salvo sob a ótica fanática dos judeus ortodoxos de
dramática, provavelmente não é real. A verdade é geralmen- 10 então ou tendo em conta os interesses mercenários das
te entediante”, disse a jornalista ucraniana Olga Yurkova Cortes Portuguesas nos idos coloniais). Existe uma clara
durante a palestra inaugural do TED 2018, a série de con- diferença entre trair um inocente e delatar um criminoso!
ferências realizada neste mês em Vancouver, no Canadá. Entre a fidelidade do criminoso diante de seu com-
FRENTE 1

Em sua apresentação, a ativista engajada no combate parsa e a necessária aplicação da lei penal frente ao
a notícias falsas – cofundadora do site StopFake – disse que 15 cometimento de um crime, melhor postar-se ao lado
as chamadas fake news são “uma ameaça à democracia e da segunda opção. Entre a paz pública aviltada pela

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criminalidade e os questionáveis escrúpulos do delinquen- 15 pensaram em fazer esse evento “temático”, que chamaram
te, há que se optar pela primeira. Pensar diversamente de Casamento Falso.
pode satisfazer os melindres de teóricos do Direito Penal, Pablo Boniface, um profissional de marketing de 32
20 mas está longe de conduzir qualquer caso concreto a uma anos que esteve em um Casamento Falso em Buenos Aires
solução efetivamente pragmática: o crime solvido, seus em julho, disse que para ele foi a ocasião perfeita para
autores punidos e a segurança pública respeitada. 20 realizar algo que sempre quis fazer: colocar uma gravata.
O instituto em tela, entretanto, dada a natureza do de- “Para mim essas festas são até melhores do que um
lator, há que ser examinado com exaustiva cautela. Nestes casamento real, porque você não precisa se sentar com
25 tempos de interesse midiático despertado entre delegados, estranhos e ficar entediado. Você passa bons momentos com
promotores e procuradores de Justiça e juízes, quando seus amigos e não se encontra com todos os tios e avôs que
comissões parlamentares de inquérito se transformam em 25 normalmente frequentam essas cerimônias”, disse Pablo.
palcos de demagogos de talento artístico no mínimo discutí- Adaptado de: www.bbc.com/portuguese/ noticias/2015/08/150831_
falsos_casamentos_tg. Acesso em 07 set. 2016
vel, dar valor indevido à palavra de alguém que possa estar
30 a fazer parte de um teatro pode conduzir a caminhos muito Considere as propostas para alterar a pontuação ori-
distantes das garantias constitucionalmente estabelecidas. ginal do texto.
A concretização do instituto sob exame, portanto, I. As reticências (linha 2) poderiam ser corretamen-
merece tratamento e aplicações especiais, exigindo con- te substituídas por “e etc.”.
frontação segura com as demais provas produzidas.
II. Os dois-pontos (linhas 6 e 20) poderiam ser subs-
35 Deve a delação premiada ser aplicada a crimes que
tituídos por vírgula, mas isso atenuaria a coesão
formem um conjunto de delitos cujo combate apresente
entre as ideias.
especial interesse social, dentre os quais os produzidos
III. A vírgula (linha 15) poderia ser substituída por
pelas organizações criminosas, que agem no âmbito da
dois-pontos, sem prejuízo à correção e ao sen-
macrocriminalidade, porque revelam superior periculo-
40 sidade daqueles que estabelecem o consórcio delituoso.
tido da frase.
Excertos de texto de Edir Josias Beck publicado em abril de 2010.
IV. Uma vírgula poderia ser acrescentada depois de
Disponível em: https://jus.com.br/artigos/14620/a-necessidade-do- “Buenos Aires” (linha 18), sem prejuízo ao texto.
instituto-da-delacao-premiada-diante-da-macro-criminalidade.
Estão corretas apenas as propostas
Analise as afirmações sobre algumas propostas de a) I e II. c) II e IV. e) II, III e IV.
substituição para a pontuação do texto, selecionando b) I e III. d) I, III e IV.
<id>002447_por_f1_c11_q0069</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
as corretas. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

29. PUC-RS 2016


I. Seria correto substituir “... estrábica. Cristo...” (li-
nha 7) por “... estrábica, pois Cristo...”. Texto 1
II. Seria correto inserir uma vírgula após “então” (linha — “Deboísta” é quem é adepto da filosofia do “ser
10), já que o uso da vírgula, neste caso, é facultativo. de boa” – explica Carlos Abelardo, 19 anos, estudante de
III. O uso de ponto e vírgula seguido de letra minúscu- Ciências Biológicas na Universidade Federal de Goiás e
la após “opção” (linha 16) manteria a correção do criador, ao lado da namorada, Laryssa de Freitas, da página
período, contribuindo para o paralelismo das ideias. 5 no Facebook “Deboísmo”. — É aquela pessoa que não se
IV. A colocação de uma vírgula após “teatro” (linha deixa levar por problemas bestas, que, mesmo discordando
de alguém, não parte para a agressão. É a pessoa calma,
30) seria correta e conveniente, justificando-se
que escolhe o lutar em vez de brigar.
por corresponder a uma pausa na leitura.
Segundo Abelardo, o movimento é apartidário, mas
Estão corretas apenas as afirmativas 10 político. E sobre a escolha do símbolo, que é uma pregui-
a) I e II. c) III e IV. e) I, III e IV. ça, ele diz que a calmaria natural do animal passa uma
b) II e IV. d) I, II e III. sensação automática de “ficar de boas”. — É o animal
<id>002447_por_f1_c11_q0068</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> mais de boa — diz.
28. PUC-RS 2017 Adaptado de: http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/conheca-deboismo-
nova-filosofia-de-boas-da-internet-17392121. Acesso em: 2 abr. 2016.
Festas de casamento falsas viram moda
Texto 2
na Argentina
Comida gostosa, música boa, bar liberado a noite
toda... quem nunca se divertiu até altas horas numa boa
festa de casamento? Esse ritual que muitos já presenciaram
ao longo da vida é, porém, desconhecido para alguns
5 representantes das gerações mais jovens.
Mas há uma solução para elas: Casamento Falso (ou
Falsa Boda, no nome original em espanhol), uma ideia
de cinco amigos de La Plata, na Argentina. O detalhe era
que se tratava de um casamento falso, e que os convida-
10 dos não eram amigos ou parentes dos noivos, mas ilustres
desconhecidos que compraram entradas para o evento.
Martín Acerbi, um publicitário de 26 anos, estava
cansado de ir sempre às mesmas boates. “Queríamos Publicado em: https://twitter.com/TrabalhoEPrev/
organizar uma festa diferente, original”, disse. E assim status/639168434941620224. Acesso em 02 abr. 2016.

50 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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Assinale a proposta de alteração que NÃO traria pre- civilizada, contar sua verdade, é evitar danos aos demais.
juízo à correção e ao sentido dos textos. [...] Na parte que diz respeito apenas a si mesmo, sua in-
a) Na linha 1 (texto 1), poderiam ser acrescentados dependência é, de direito, absoluta. Sobre si mesmo, seu
dois-pontos depois do primeiro “é”, o que deixaria corpo e sua mente, o indivíduo é soberano (2000, p.18).
mais clara a definição que vem a seguir. MILL, John Stuart. A liberdade. In: ____. A liberdade, utilitarismo.
Trad. Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
b) No texto 1, seria possível utilizar parênteses, em
Trecho de artigo publicado no site do Grupo de Pesquisa “Racionalidade
vez de vírgulas, para isolar o trecho compreendi- e Formação”. Disponível em: http://w3.ufsm.br/gpracioform/artigo%20
do entre “19 anos” (linha 2) e “criador” (linha 4). 02.pdf. Acesso em: 24 out. 2015.
c) Na linha 6 (texto 1), a vírgula depois de “bestas” Os parênteses empregados por Nadja Hermann, de
poderia ser eliminada. acordo com a ordem em que aparecem do texto, têm
d) O ponto de interrogação da terceira pergunta do a função de
cartaz (texto 2) poderia ser substituído por ponto. a) assinalar o período em que Mill viveu e a fonte de
e) No cartaz (texto 2), poderia ser acrescentada uma onde foi retirada a citação.
vírgula depois do verbo “se estressar”. b) discriminar a citação e a época em que o filósofo
<id>002447_por_f1_c11_q0071</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

30. Ufal nasceu e morreu.


c) discernir quando e onde nasceu Stuart Mill.
d) indicar informações irrelevantes para um texto
acadêmico.
<id>002447_por_f1_c11_q0072</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

32. PUC-PR 2015 No texto, os parênteses contendo reti-


cências estão indicando que um segmento foi suprimido.
Analise as frases das alternativas para verificar qual
delas contém o segmento que se encaixa no texto e
assinale a alternativa CORRETA.
Onde começa o pensamento?
É possível “esvaziar a mente”?
Disponível em: www.ricotanaoderrete.com. Acesso em: 2 dez. 2013. R: Antes de tudo, precisamos entender que o pensa-
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que ser- mento é uma percepção do nosso consciente. Ele tem início
vem para compor a coesão e a coerência textual. No no córtex cerebral. Fisicamente, o pensamento não é algo
tangível, assim como as emoções. Mas o pensamento possui
enunciado da jovem garota, o ponto e vírgula foi empre-
uma base física, que é a rede neural. [...] Essa transmissão
gado, uma vez que este sinal de pontuação indica
de informações consiste na atividade mental, que pode ser
a) o término do discurso.
considerada uma manifestação física dos nossos pensamen-
b) a interrupção da fala.
tos. Tudo acontece em um curto espaço de tempo. Estima-se
c) o uso da ordem indireta.
que demorem 300 milissegundos antes de o pensamento se
d) a presença de aposto. tornar consciente. “Não é possível esvaziar a mente, mas
e) a enumeração de ações. práticas como meditação podem auxiliar a concentração e
<id>002447_por_f1_c11_q0070</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

31. PUC-SP 2016 o gerenciamento das nossas ideias”, diz o médico Fernando
Gomes Pinto, membro da Sociedade Brasileira de Neuroci-
Racionalidade e tolerância no contexto rurgia. Isso porque, quando alguém medita, a atividade de
pedagógico algumas regiões do cérebro se torna mais acelerada, como:
hipocampo (memória), córtex cingulado anterior (concen-
Nadja Hermann – PUCRS
tração), córtex pré-frontal (coordenação motora) e amídalas
Stuart Mill (1806-1873) acrescenta à ideia de tolerân- cerebelosas (emoções).
cia religiosa a importância do pluralismo, da liberdade de Fonte: Galileu, no 276, p. 18, julho/2014.
opinião e crença, baseado na independência do indivíduo.
A liberdade compreende a “liberdade de pensamento e a) O pensamento é composto por neurônios que se
de sentimento, absoluta independência de opinião e de comunicam por sinapses elétricas ou químicas.
sentimento em todos os assuntos, práticos ou especulati- b) A rede neural é formada por neurônios, as células
vos, científicos, morais ou teológicos” (MILL, 200, p.21). cerebrais.
Desse modo, Stuart Mill defende a tolerância a partir de um c) Nessa rede, a atividade mental dos neurônios dá
princípio bastante simples de que a autoproteção constitui início ao nosso pensamento.
a única finalidade pela qual se garante à humanidade in- d) As emoções também não são tangíveis, palpáveis.
dividual ou coletivamente, interferir na liberdade de ação e) Ela nada mais é do que um grupo de células ce-
de qualquer um. O único propósito de se exercer legitima- rebrais, os neurônios, que se comunicam entre si
mente o poder sobre qualquer membro de uma comunidade por sinapses elétricas ou químicas.
FRENTE 1

51

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BNCC em foco
<id>002447_por_f1_c11_q0073</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

EM13LP15 a) Em [...] “no Pinterest (rede social de compartilha-


1. O texto abaixo está sem nenhum sinal de pontuação. mento de fotos)”, o uso dos parênteses se deve
Coloque-os adequadamente. à necessidade do texto de separar o trecho que
O rap palavra formada pelas iniciais de rhythm and indica uma interrupção do pensamento da autora
poetry (ritmo e poesia) junto com as linguagens da dança da pesquisa realizada.
(o break dancing difundido para além dos guetos com o b) Em “Artigo publicado no periódico inglês Future
nome de cultura hip hop o break dancing surge como uma Science AO examina se as postagens em uma
dança de rua sprays nos muros trens e estações de metrô mídia social são modismo ou se há evidência
de Nova York as linguagens do rap do break dancing se científica quando o assunto é o câncer associado
tornaram os pilares da cultura hip hop. a alimentos funcionais”, não há vírgulas separan-
DAYRELL, J. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da do orações porque o período é composto por
juventude. Belo Horizonte: UFMG, 2005. (Adapt.).
<id>002447_por_f1_c11_q0074</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
coordenação.
EM13LP08 c) Em “Claudia informa que existem cerca de 50 bi-
2. UEMG 2019 lhões de pins sobre comida no Pinterest, e que
o objetivo principal era investigar a relação entre
Pesquisa estuda relação entre alimentos e postagens sobre comida e câncer no Pinterest
câncer nas redes sociais e as evidências científicas”, o uso da vírgula é
Artigo publicado no periódico inglês Future Science facultativo já que as orações subordinadas coor-
AO examina se as postagens em uma mídia social são denadas entre si se ligam pela conjunção “e”.
modismo ou se há evidência científica quando o assunto d) Em “‘Os Pins são ideias que as pessoas encontram
é o câncer associado a alimentos funcionais. e salvam de toda a Web’, esclarece a pesquisado-
Uma das autoras do artigo, Claudia Jurberg, pesbolsis- ra”, o uso da vírgula é obrigatório, uma vez que
ta de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de ela precede uma oração apositiva.
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), explica <id>002447_por_f1_c11_q0075</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

que foram analisados alimentos funcionais relacionados ao EM13LP06

câncer no Pinterest (rede social de compartilhamento de 3. Enem 2017 O homem disse, Está a chover, e depois,
fotos) e se havia evidência científica ou não no portal Quem é você, Não sou daqui, Anda à procura de comi-
de periódicos do PubMed, que é um motor de busca de da, Sim, há quatro dias que não comemos, E como sabe
livre acesso à base de dados MEDLINE de citações e que são quatro dias, É um cálculo, Está sozinha, Estou
resumos de artigos de investigação em biomedicina. O com o meu marido e uns companheiros, Quantos são,
Pinterest foi a mídia de escolha porque está em franca Ao todo, sete, Se estão a pensar em ficar conosco, tirem
ascensão no mundo e no Brasil. daí o sentido, já somos muitos, Só estamos de passagem,
“Foram analisados 507 Pins, sendo 75 de alimentos Donde vêm, Estivemos internados desde que a ceguei-
associados ao câncer, compartilhados mais de 27 mil ra começou, Ah, sim, a quarentena, não serviu de nada,
vezes, e encontramos mais de 80 mil artigos científicos Por que diz isso, Deixaram-nos sair, Houve um incêndio
sobre esses alimentos e câncer no PubMed. Em 90% dos e nesse momento percebemos que os soldados que nos
alimentos mencionados como funcionais para o câncer, vigiavam tinham desaparecido, E saíram, Sim, Os vossos
encontramos literatura científica. Os Pins são ideias que soldados devem ter sido dos últimos a cegar, toda a gente
as pessoas encontram e salvam de toda a Web”, esclarece está cega, Toda a gente, a cidade toda, o país.
a pesquisadora. SARAMAGO, J. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo:
Cia. das Letras, 1995.
Claudia informa que existem cerca de 50 bilhões de
pins sobre comida no Pinterest, e que o objetivo principal A cena retrata as experiências das personagens em
era investigar a relação entre postagens sobre comida e um país atingido por uma epidemia. No diálogo, a vio-
câncer no Pinterest e as evidências científicas. “Surpreen- lação de determinadas regras de pontuação
dentemente, 90% dos alimentos citados nessa mídia social a) revela uma incompatibilidade entre o sistema de
também aparecem na literatura científica”. No entanto, pontuação convencional e a produção do gênero
apesar desse paralelo entre conteúdo publicado em mídia romance.
social e evidência científica, a pesquisadora diz que não
b) provoca uma leitura equivocada das frases inter-
foi possível identificar a exata relação dos alimentos com
rogativas e prejudica a verossimilhança.
o câncer: se previnem, curam ou tratam. [...]
c) singulariza o estilo do autor e auxilia na represen-
Coordenação de Comunicação Social do CNPq. Ter, 21 Ago. 2018.
Disponível em: www.cnpq.br/web/guest/noticiasviews/-/journal_ tação do ambiente caótico.
content/56_INSTANCE_a6MO/10157/6333171. Acesso: 11 dez. 2018. d) representa uma exceção às regras do sistema de
[Fragmento. Adaptado].
pontuação canônica.
Em relação ao emprego dos sinais de pontuação na e) colabora para a construção da identidade do nar-
construção do texto, assinale a alternativa CORRETA: rador pouco escolarizado.

52 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 Pontuação: emprego e efeitos de sentido

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Igor Bulgarin/Shutterstock.com
Regente conduzindo
orquestra sinfônica.

FRENTE 1

Regências verbal e nominal

12
CAPÍTULO
Quando uma orquestra toca, sempre vemos alguém no centro, comandando
os musicistas com uma batuta. Às vezes, essa pessoa organiza o grupo so-
mente com gestos das mãos. Trata-se do regente, que é um profissional com
estudo formal em música, responsável por dirigir grupos musicais, como coros
ou orquestras. Com ou sem batuta, os seus gestos ajudam a organizar o ritmo
e a expressividade da música. De forma análoga, a língua portuguesa também
apresenta relações de regência, em que o verbo, substantivo, adjetivo e ad-
vérbio (termos regentes) passam a reger a preposição (termo regido) que a
eles se junta para formar o complemento.

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Regência verbal
Leia a tirinha a seguir.

Pedro Leite
Ao analisar o uso do verbo “namorar” nos quadrinhos acima, notamos que grande parte deles contém um complemento,
como em “namoram os livros”, “namoram a natureza”, “namoram o trabalho”, entre outros. Isso ocorre porque determina-
dos verbos dependem de complementos para que seu sentido fique completo. A relação entre um verbo e o termo a ele
subordinado – o complemento – pode ser estabelecida de forma direta (sem a presença de preposição) ou indireta (por
meio de preposição). Alguns verbos nem sempre precisam de um complemento, como é o caso de “namorar”, tal como
usado no último quadrinho: “Alguns apenas namoram”.
Estudar a relação de dependência entre o verbo e seu complemento, que se estabelece por meio de preposição ou
não, é analisar a regência verbal.

Saiba mais
Na gramática tradicional, o verbo “namorar” pode ser usado como transitivo direto ou intransitivo. Entretanto, também é
comum encontrá-lo acompanhado de complemento iniciado pela preposição “com”, a exemplo da sentença “Ela namorou
com um ator famoso”, contrariando as prescrições tradicionais.

Atenção
• Verbo intransitivo: não exige complemento.
• Verbo transitivo direto: tem complemento direto (objeto direto), ao qual se liga sem a presença de preposição.
• Verbo transitivo indireto: tem complemento (objeto indireto), ao qual se liga por meio de preposição.
• Verbo transitivo direto e indireto (bitransitivo): exige dois complementos, um objeto direto e outro indireto.

Para descobrir a regência de um verbo, temos que conhecer sua transitividade, ou seja, saber se ele é intransitivo,
transitivo direto, transitivo indireto ou bitransitivo. Nessa relação entre verbo e complemento, dizemos que o verbo é o
termo regente, e seu complemento é o termo regido.

54 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Regências verbal e nominal

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Veja os exemplos:
termo regente (verbo) termo regido (objeto direto)

Estudantes canadenses criam máquina que


aspira microplástico das praias

termo regente (verbo) termo regido (objeto direto)


o
NOGUEIRA, Lígia. UOL, 1 fev. 2021. Disponível em: www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2021/02/01/estudantes-canadenses-criam-maquina-que-
aspira-microplastico-das-praias.htm. Acesso em: 16 out. 2023.

termo regente termo regido


(verbo) (objeto direto)

Paguei-lhe um almoço.

termo regido (objeto indireto)

Atenção
Os pronomes oblíquos “o”, “a”, “os” e “as” podem ser empregados como complementos de verbos transitivos diretos, e as
formas “lhe” e “lhes” como complementos de verbos transitivos indiretos.

Nas situações em que o uso da língua precisa ser mais monitorado, recomenda-se adequação à norma-padrão.
Contudo, nesses casos, podem surgir dúvidas quanto à regência dos verbos: eles exigem preposição para se ligar a seu
complemento ou não? Se sim, qual é a preposição exigida? No quadro a seguir, veja alguns verbos que suscitam dúvidas
e suas principais regências, conforme a norma-padrão.

Verbo Regência (e significados) Exemplos

Agradar
• Transitivo direto (acariciar) A mãe agrada carinhosamente o filho.
• Transitivo indireto (satisfazer) A refeição agradou aos convidados.

Aspirar
• Transitivo direto (sorver, inalar, inspirar, puxar para dentro) Na perfumaria, aspirei uma agradável fragrância.
• Transitivo indireto (desejar, almejar) A equipe aspira ao primeiro lugar no pódio.

Assistir
• Transitivo direto (socorrer, dar assistência) O bombeiro assistiu os moradores.
• Transitivo indireto (ver, estar presente) Assistimos ao último episódio da série.
Buscar • Transitivo direto (procurar, ir ao encontro de algo/alguém) A mãe vai buscar o filho no colégio.

Chamar
• Transitivo direto (fazer vir, convidar a vir, invocar) Ela chamou os amigos para uma festa.
• Transitivo indireto (clamar por, invocar por) Em perigo, chamaram por socorro.

Chegar
• Intransitivo (ação de ir de um lugar a outro concluída) Após longa viagem, chegaram.
• Transitivo indireto (exige a preposição a quando indica lugar) Chegaram ao aeroporto.

Esquecer
• Transitivo direto (sair da lembrança) Ele esqueceu o aniversário do amigo.
• Transitivo indireto (esquecer-se de) O motorista se esqueceu do nome da rua.
Ficar/morar/residir • Transitivo indireto (sentido estático; exige a preposição em) Ficaremos em casa no feriado.
Fugir • Transitivo indireto (afastar-se, evitar) O artista fugiu das perguntas.
• Transitivo direto (ter como consequência)
Sua decisão implica grandes consequências.
Implicar • Transitivo indireto (mostrar antipatia, importunar; exige a
Ele vive implicando com o irmão.
preposição com)

Ir
• Intransitivo (movimentar-se, deslocar-se) Vá devagar. / Fomos embora ontem.
• Transitivo indireto (ir de um lugar a outro) Fomos à praia no sábado.

Lembrar
• Transitivo direto (assemelhar-se, trazer à memória) Esse lugar lembra a minha cidade.
• Transitivo indireto (recordar-se, lembrar-se de) Lembrei-me da primeira vez que nos vimos.

Pagar/Perdoar
• Transitivo direto (apresenta uma coisa como complemento) Com seu prêmio, ela pagou as contas.
• Transitivo indireto (apresenta uma pessoa como complemento) Perdoou-lhe pela discussão.
Partir • Intransitivo (ir embora) Os parentes partirão na próxima semana.

Pedir
• Transitivo direto (indica aquilo que é pedido) Eu pedi duzentos gramas de muçarela.
FRENTE 1

• Transitivo indireto (a pessoa a quem se pede) Eu lhe pedi várias vezes.

Preferir
• Bitransitivo (opção entre duas coisas) Preferimos pizza a sanduíche.
• Transitivo direto (dar preferência a algo) Como companhia, prefiro você.

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Verbo Regência (e significados) Exemplos
Obedecer/desobedecer • Transitivo indireto (obeder a algo/alguém) O filho obedeceu aos seus pais.

Querer
• Transitivo direto (desejar) Quero paz e harmonia.
• Transitivo indireto (ter simpatia, ter afeto) Eu quero muito a minha família.
Sobreviver • Transitivo indireto (manter-se vivo) O homem sobreviveu ao acidente.
Vir • Transitivo indireto (vir a algum lugar) Ele vem a minha casa estudar.
O arqueiro visou o alvo./O novo proprietário visou
Visar
• Transitivo direto (mirar, assinar, rubricar)
o contrato.
• Transitivo indireto (ter por objetivo)
Esse cartaz visa à conscientização.

Regência verbal e uso


Em algumas situações sociais, não é exigido o uso das regras de regência verbal, como na produção de alguns textos
jornalísticos orais ou escritos que, geralmente, adotam um uso linguístico mais informal. A partir desses casos, é possível
compreender como a regência de alguns verbos vem se modificando devido ao modo como os falantes empregam a
língua. Tais usos, contudo, não devem ser utilizados em situações sociais nas quais a norma-padrão é requisitada.
A seguir, veremos alguns desses verbos cuja regência está se modificando.
• Assistir: no sentido de “ver”, deve ligar-se a seu complemento por meio da preposição “a”. Porém, é cada vez mais
frequente seu uso como transitivo direto.

É possível assistir séries no dispositivo Echo Show?


COUTINHO, Flávio Motta. TecMundo, 9 abr. 2021. Disponível em: www.tecmundo.com.br/produto/215270-possivel-assistir-series-dispositivo-
echo-show.htm. Acesso em: 15 dez. 2023.

• Buscar: esse verbo aceita complemento direto, no entanto é comum que seja usado com a preposição “por”.

Avanço da inteligência artificial faz consumidor buscar por proteção de direitos


InfoMoney, 4 set. 2023. Disponível em https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/avanco-da-inteligencia-artificial-faz-consumidor-buscar-
por-protecao-de-direitos/. Acesso em: 15 dez. 2023.

• Implicar: o verbo “implicar” exige complemento direto, mas não raro o encontramos seguido da preposição “em”.

O uso de máscara de proteção facial é obrigatório, e qualquer infração constatada pelos órgãos de fiscalização pode
implicar em multas e fechamento dos estabelecimentos autuados, em caso de reincidência.
NOVO decreto do Conde, PB, mantém toque de recolher e suspensão de aulas presenciais. G1, 5 abr. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/pb/paraiba/
noticia/2021/04/05/novo-decreto-do-conde-pb-mantem-toque-de-recolher-e-suspensao-de-aulas-presenciais.ghtml. Acesso em: 4 jan. 2024.

• Lembrar (e esquecer): ambos são geralmente usados sem o pronome oblíquo, utilizando-se apenas a preposição “de”.

Por que às vezes eu lembro do que sonho e outras vezes não?


INGRID, Gabriela. Viva Bem, 16 abr. 2019. Disponível em: www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2019/04/16/por-que-as-vezes-eu-lembro-do-meu-
sonho-e-outras-vezes-nao.htm. Acesso em: 4 jan. 2024.

• Preferir: é frequentemente usado com o complemento iniciado por “do que”, porém, na norma-padrão, a preposição
deve ser “a”.

O goleador Cristiano Ronaldo revelou que prefere ver uma luta de boxe ou do UFC do que um jogo de futebol, quando
está em casa.
CRISTIANO Ronaldo diz que prefere assistir ao UFC a um jogo de futebol. Extra, 15 dez. 2020. Disponível em: https://extra.globo.com/esporte/
cristiano-ronaldo-diz-que-prefere-assistir-ao-ufc-um-jogo-de-futebol-24797705.html. Acesso em: 4 jan. 2024.

• Vir: exige-se a preposição “a”, mas é frequente o uso com a preposição “em”.

[...] quando vier em São Paulo, vamos jantar, vamos tomar um café [...]
GUIMARÃES, Hellen. Piloto morto em acidente com Boechat era “extremamente” cuidadoso, diz amigo do curso de aviação. O Globo,
11 fev. 2019. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/piloto-morto-em-acidente-com-boechat-era-extremamente-cuidadoso-diz-
amigo-do-curso-de-aviacao-23444966. Acesso em: 4 jan. 2024.

Questões de regência verbal

Orações que apresentam pronome relativo


Uma das maiores dificuldades com relação à regência é manter a preposição que se junta aos verbos em orações
com pronome relativo (que, quem, qual, cujo, onde etc.). Nessas orações, a preposição que exige o verbo deve vir antes
do pronome relativo. Observe os exemplos.

56 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Regências verbal e nominal

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Investimento em saúde é sinônimo de Do que eu falo quando falo de corrida
longevidade saudável
Pensar em uma vida saudável a longo prazo envolve di-
versos fatores aos quais deve-se atentar durante a vida. [...]. A preposição exigida pelo verbo deve aparecer antes
Folha Vitória, 31 mar. 2023. Disponível em: https://www.folhavitoria. do pronome relativo. Veja outros exemplos:
com.br/geral/noticia/03/2023/investimento-em-saude-e-sinonimo-de-
longevidade-saudavel. Acesso em: 16 out. 2023. O livro de cuja capa gostei é ótimo. (gostar de)
Ele descobriu a rua em que moro. (morar em)
No exemplo do trecho anterior, o verbo “atentar” rege Preciso limpar a prateleira de onde tiramos os retratos.
a preposição “a” (atentar a algo/alguém), portanto essa (tirar de)
preposição deve anteceder o pronome relativo “as quais”
(preposição a + as quais = às quais). É importante lembrar que, em situações informais de
uso da língua, não raro ocorre o apagamento das preposi-
Atenção ções em construções como “Essa é a série que falei”, em
vez de “Essa é a série de que falei”.
Quando o verbo exige a preposição “a” e tem como com-
plemento um substantivo feminino acompanhado do artigo Complemento comum a verbos de regências
“a” ou do pronome relativo “a qual”, ocorre crase e deve- diferentes
mos usar o acento grave; isso também acontece quando o
complemento do verbo é o pronome demonstrativo “aqui- Quando um mesmo complemento é regido por dois
lo” e suas variações. Ex.: Os filhos obedeceram à mãe / ou mais verbos diferentes, a construção da oração deve
Os participantes não conseguiram agradar àquele jurado. manter ambas as regências. Observe os exemplos.
Paula namorou João, depois se casou com ele (“namo-
Veja outro exemplo na capa do livro a seguir: no título rar” e “casar” têm regências diferentes: “namorar alguém”;
da obra (Do que eu falo quando eu falo de corrida), o ver- “casar-se com alguém”).
bo “falar” rege a preposição “de”, que aparece antes do O gato entrou na casa e saiu dela depois dos latidos
pronome “que”. (“entrar” e “sair” têm regências diferentes: “entrar em”;
“sair de”).
Reprodução

Regência nominal
Leia o texto a seguir.

Como o medo de spoilers é capitalizado


pelo mercado
Indústria cultural gera ‘medo de estar de fora’ no público,
que maximiza a arrecadação. Pesquisas mostram que ansie-
dade é infundada
GAGLIONI, Cesar. Nexo Jornal, 15 dez. 2021. Disponível em: www.
nexojornal.com.br/expresso/2021/12/15/Como-o-medo-de-spoilers-
%C3%A9-capitalizado-pelo-mercado. Acesso em: 4 jan. 2024.

No exemplo, é possível perceber que o substantivo


“medo”, em suas duas ocorrências, aparece seguido da
preposição “de”. Alguns substantivos, adjetivos e advérbios
dependem de complementos para que seu sentido fique
completo. Essa relação de dependência entre um nome (ter-
mo regente) e seu complemento (termo regido) é chamada
regência nominal e ocorre por meio de preposição. Veja:
preposição preposição

Tenho medo da opinião das pessoas e do fracasso.

substantivo complemento nominal

Casos de regência nominal


À semelhança do que ocorre com os verbos na regên-
cia verbal, os substantivos, adjetivos e advérbios também
FRENTE 1

regem preposições. Assim como o verbo “gostar”, o adjetivo


“suspeito” também é regido pela preposição “de” (Ex.: Ele
é suspeito de um roubo.).

57

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Veja no quadro abaixo as principais regências de alguns substantivos e adjetivos.

Substantivo Regência Adjetivo Regência Adjetivo Regência


admiração a, por acessível a fanático por
atentado a, contra acostumado a, com grato a, por
aversão a, para, por agradável a hostil a
bacharel em alheio a, de indeciso em
capacidade de, para análogo a insensível a
concordância a, com, de, entre ansioso de, para, por necessário a
devoção a, para, com, por apto a, para nocivo a
dificuldade com, de, em, para ávido de passível de
doutor em benéfico a prejudicial a
dúvida em, sobre capaz de, para propício a
facilidade de, em, para compatível com próximo a, de
horror a contíguo a relacionado a
impaciência com contrário a relativo a
medo de descontente com satisfeito com, de, em, por
obediência a desejoso de semelhante a
ojeriza a diferente de sensível a
proeminência sobre entendido em suspeito de
receio de equivalente a sito em
a, com, de, entre, com,
relação escasso de tolerante
para com para com
a, com, a, a,
respeito essencial vantajoso
para com, por para para
contra, de, para,
tentativa fácil de vazio de
para com

Com relação à regência dos advérbios, alguns derivam de verbos ou adjetivos, logo também podem reger preposições.
Os advérbios terminados em “-mente” tendem a seguir a regência dos adjetivos de que são originados, por exemplo:
paralela a, paralelamente a; relativa a; relativamente a.
preposição

Relativamente a sua decisão, não temos nenhuma objeção.

advérbio complemento nominal

preposição

Ela agiu pacientemente com sua amiga.

advérbio complemento nominal

Os advérbios “longe” e “perto” são seguidos da preposição “de”, como em: “Não fale comigo, fique longe de mim” e
“Perto de casa, perto de tudo”.

Saiba mais
Estudar regências é complexo, envolve compreender diversos sentidos e uso das palavras, e, por isso, esse assunto é tema
de diversas pesquisas e debates entre especialistas da língua. Neste capítulo, abordamos os principais casos de regência
verbal e nominal, mas, no uso corrente da língua, outros casos podem aparecer e gerar dúvidas no falante. Existem diver-
sos dicionários específicos de regência que podem servir como apoio para sanar as dúvidas do dia a dia (ver seção “Quer
saber mais”); e os próprios dicionários de uso comum (como Houaiss, Aulete, Priberam, entre outros) também podem ajudar
nesse sentido.

58 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Regências verbal e nominal

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Revisando
<id>002447_por_f1_c12_q0001</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. IFTO 2019 Em uma oração, o termo regente pode ser “Fanfarronice é quando a gente diz que o Recife é o
um verbo significativo, seja ele transitivo ou intransitivo, lugar onde os rios Capibaribe e Beberibe se juntam para
e indica ação. Observe o verbo em cada oração quanto formar o Oceano Atlântico. Essa é uma ideia sofismática,
à sua regência e marque a alternativa que está em de- que tem uma base lógica. Mas é uma lógica que é feita para
sacordo com a sua classificação, ou seja, a incorreta. causar uma resposta que não é verdadeira. É uma mentira”.
a) O jogo não lhe agradou. (transitivo direto) “Megalomania é quando você quer ser maior do que
b) O jogo não agradou ao técnico. (transitivo indireto) você é. O cara faz acreditando que é verdadeiro. É quando
c) João agradou os amigos. (transitivo direto) alguém diz que a Avenida Caxangá é a maior em linha
d) A menina agradou a sua irmã. (transitivo direto) reta do mundo. É algo patológico, que a gente cria. É uma
macaquice que a gente utiliza para rir da gente mesmo”.
e) O capitão agradou o seu superior. (transitivo direto)
<id>002447_por_f1_c12_q0002</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Dizem que o Aníbal Bruno é a maior penitenciária da
2. IFPE 2019 Considerando que a transitividade verbal América Latina e que o Recife é a cidade com mais ataques
trata do tipo de relação que um verbo estabelece com de tubarão no mundo. Tem até campanha de supermerca-
seu(s) complemento(s), analise o trecho em destaque do que diz ter orgulho de ser nordestino. Enquanto toma
e, em seguida, assinale a alternativa cujo verbo subli- o tradicional chá das 5 da tarde e saboreia uma fatia de
nhado possui igual regência. bolo de rolo com seus colegas imortais, o membro da Aca-
Chico Mendes não sobreviveu aos ataques sofridos. demia Brasileira de Letras (ABL), Marcos Vilaça, costuma
a) O Brasil possui uma das principais fronteiras agrí- fazer uma “pequena-grande” correção sobre a tal mania
colas do planeta. de grandeza do pernambucano: “Não temos essa mania.
b) Em geral, consumimos produtos contaminados. O que temos é a grandeza mesmo”.
DUARTE, André. A Melhor Reportagem do Mundo. Revista Aurora
c) Empresas indenizaram cerca de mil trabalhadores. [Diário de Pernambuco]. Disponível em: https://felipegabriele.wordpress.
d) O ambientalista não cedeu aos constrangimentos. com/2011/03/17/nao-diga-que-e-pernambucano-nao-se-deve-humilhar-
ninguem-meu-filho/. Acesso em: 18 out. 2019 (adaptado).
e) O consumidor mais informado consome produtos
orgânicos. Com relação à transitividade e à regência verbal, ana-
<id>002447_por_f1_c12_q0003</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
lise as afirmativas seguintes.
3. IFPE 2020
I. Em “O Galo da Madrugada tem um bloco no Rio
A melhor reportagem do mundo de Janeiro no seu encalço, querendo rifá-lo do
Pela primeira vez na história do jornalismo, o maior Guinness Book” (1o parágrafo), o verbo “rifar” é
repórter em linha reta da revista mais arrojada da Rua do transitivo indireto e o pronome “lo” funciona como
Veiga investiga as origens da megalomania local objeto indireto.
O Recife já não tem mais o maior shopping nem a II. No trecho “Mas quem se importa com isso em
mais longa avenida em linha reta da América Latina, Ca- Pernambuco [...]” (1o parágrafo), o verbo “impor-
ruaru pode perder o posto de maior feira ao ar livre para tar-se” é transitivo indireto e, nesse caso, rege
uma concorrente do Equador e o Galo da Madrugada tem preposição “com”.
um bloco no Rio de Janeiro no seu encalço, querendo III. Na frase “Marcos Galindo, explica que o talento do
rifá-lo do Guinness Book. Mas quem se importa com isso pernambucano” (2o parágrafo), o verbo “explicar” é
em Pernambuco, uma terra superlativa, onde o “maior”, transitivo indireto e rege a preposição “que”.
o “melhor” ou o “primeiro” parecem preceder qualquer IV. No período “Depois de transferir para a academia
coisa, mesmo que ela não seja positiva? um assunto que só se falava em rodas de amigos”
O pesquisador e chefe do Departamento de Ciência (3o parágrafo), o verbo destacado é transitivo di-
da Informação da Universidade Federal de Pernambu- reto e indireto e “para a academia” funciona como
co (UFPE), Marcos Galindo, explica que o talento do
objeto indireto.
pernambucano para maximizar sua própria história re-
V. No trecho “Quem está embaixo quer ir para cima.”
monta ao período da Proclamação da República, em 1889.
(4o parágrafo), há um desvio de regência, uma vez
“A gente teve que criar uma nobreza que não tinha” (com
que, nesse caso, o verbo “ir” rege a preposição “a”.
a saída na monarquia portuguesa).
Depois de transferir para a academia um assunto que Estão CORRETAS, apenas, as afirmativas
só se falava em rodas de amigos, Marcos Galindo dividiu o a) II e IV. c) III e IV. e) I e V.
estilo pernambucano de autopromoção em três expressões b) III e V. d) I e II.
distintas: ufanismo, fanfarronice e megalomania: <id>002447_por_f1_c12_q0005</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

“Ufanismo tem uma função social superimportante 4. Ufam Contrariamente ao que se pensa na atualidade, a ce-
de autoafirmação e de construção da identidade. Quem râmica indígena amazônica, nos tempos pré-colombianos,
está embaixo quer ir para cima. E no discurso só se con- era artística e muito resistente ao fogo. Conforme relataram
segue isso levantando seu moral e dizendo que tudo o os primeiros cronistas e confirmam os historiadores, nas
FRENTE 1

que você faz é o maior ou o melhor. É quando você diz, tribos era difícil de encontrar alguém sem habilidade para
por exemplo, que a música de Chico Science é a melhor trabalhar o barro. Nenhum indivíduo se mostrava aves-
do mundo”. so para fazer vasilhas e, dessa maneira, colaborar com o

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coletivo, o que tornava cada habitante digno de integrar locução “para onde” sem que houvesse prejuízo
o corpo social. Por isso, é bom evitar os julgamentos este- semântico para a correta compreensão do trecho.
reotipados e, antes de emitir juízos de valor sobre qualquer 02 No trecho “não existe lugar / aonde se possa
assunto, fazer consultas aos especialistas. ir”, o vocábulo destacado poderia ser trocado
O texto anterior apresenta uma regência nominal IM- pela locução “no que” sem que houvesse pre-
PRÓPRIA, o que pode ser verificado em: juízo semântico para a compreensão correta
a) a cerâmica indígena [...] era artística e muito resis- do segmento.
tente ao fogo. 04 Na frase “se nuvem, por que perdura?”, a palavra
b) Contrariamente ao que se pensa na atualidade. destacada poderia ser alterada para o termo “per-
c) Nenhum indivíduo se mostrava avesso para fazer siste” sem que houvesse prejuízo semântico para
vasilhas. a interpretação correta do período.
d) nas tribos era difícil de encontrar alguém sem 08 Na oração “se nuvem, por que perdura?”, o item
habilidade. destacado poderia ser substituído pelo vocábulo
e) o que tornava cada habitante digno de integrar o “sucumbe” sem que houvesse prejuízo semântico
corpo social. para a correta interpretação do período.
<id>002447_por_f1_c12_q0006</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> Soma:
5. Ufam/PSC 2022 Quanto às regências nominal e <id>002447_por_f1_c12_q0007</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

verbal, assinale C nas orações CORRETAS e E nas 7. IFTO 2014 Marque a única alternativa em que apre-
INCORRETAS: senta erro de regência (verbal ou nominal).
a) Fomos todos juntos ao cinema no último sábado.

Apesar dos desmatamentos incessantes, a Ama-
b) Devemos ter muito respeito por nossos irmãos.
zônia ainda é abundante em árvores e animais.
c) As crianças devem obedecer aos pais.

Tenho devoção pela ciência, que é a vela na es-
d) Ela está muito apaixonada em um rapaz da faculdade.
curidão de nossa ignorância.
e) Chegarei a Roma em dezembro de 2015.

Há muitas pessoas que acumulam demasiadas <id>002447_por_f1_c12_q0008</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

coisas e são insensíveis por miséria. 8. UEM/PAS-PR 2023



Sei que tens devoção a Nossa Senhora, até por
que és católico. POSTAGEM 1

Todas os habitantes das grandes cidades aspiram
ao ar poluído provocado pelas indústrias.

Sinto simpatia para com as pessoas humildes, víti-
mas que são de um sistema social injusto.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência
CORRETA de C e E de cima para baixo:
a) E – C – E – E – C – C d) C – C – E – C – E – C
b) C – E – E – C – C – E e) E – C – C – E – C – E
c) E – E – C – C – E – C
<id>002447_por_f1_c12_q0004</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

6. UEPG-PR 2023
Estupor
esse súbito não ter
esse estúpido querer
que me leva a duvidar
quando eu devia crer POSTAGEM 2
esse sentir-se cair
quando não existe lugar
aonde se possa ir
esse pegar ou largar
essa poesia vulgar
que não me deixa mentir
que pode ser aquilo,
lonjura, no azul, tranquila?
se nuvem, por que perdura?
montanha,
como vacila?
Fonte: LEMINSKI, P. Toda Poesia. São Paulo:
Companhia das letras, 2013, p. 249.

Em relação ao poema, assinale o que for correto.


01 No segmento “não existe lugar / aonde se possa
ir”, o termo destacado poderia ser substituído pela

60 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Regências verbal e nominal

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POSTAGEM 3 POSTAGEM 4

Texto adaptado de https://www.instragram.com/p/CbGc-yXrOtZ/?igshid= YmMyMTA2M2Y=). Publicado em: 14/03/2022. Data de acesso: 29/07/2022

Assinale o que for correto em relação às postagens de 1 a 4.


01 Em “o desmatamento na Amazônia pode aumentar ainda mais” (postagem 4), a ideia de possibilidade expressa
no trecho é um fato, e não uma atitude do locutor em relação ao conteúdo enunciado.
02 No trecho “Se aprovado o projeto de lei que compõe este pacote” (postagem 4), a substituição de “Se” por Caso
não alteraria o sentido de condição expresso no enunciado.
04 Em “Mais de 198 km2 de florestas foram derrubadas” (postagem 2), embora o enunciado expresse uma ação
realizada, não é/são identificado(s) o(s) autor(es) desse ato.
08 O vocábulo “devastação” (postagem 3) pressupõe a existência de um agente (aquele que devasta) e de um pa-
ciente (o que é atingido pela devastação).
16 Em “um alerta para o Congresso Nacional” (postagem 3), a substituição de “para” por “a” causaria um prejuízo
semântico-interpretativo ao trecho.
Soma:

Exercícios propostos
<id>002447_por_f1_c12_q0009</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. Udesc 2023 Um dos horrores de qualquer reclusão é nunca se poder estar só. No meio daquela multidão, há sempre um
que nos vem falar isto ou aquilo. No Hospício, eu ressenti esse incômodo que só pode ser compreendido por quem já se
viu recolhido a qualquer prisão; lá, porém, é pior do que em outra qualquer, sobretudo quando se está perfeitamente lúcido,
como eu estava, e não pode, por piedade, tratar com mau humor os outros companheiros, que são doentes.
5 Logo, no primeiro dia, travei eu conhecimento com esse agudo e miúdo suplício, próprio ao meu estado. O chefe Carneiro
tinha-me informado onde era a minha cama e o meu dormitório. Sentia-me fatigado de espírito, desejoso de interrogar-me
a mim mesmo, de pensar nos meus problemas íntimos, de fugir um instante daquele brouhaha1 hospitalar. Deitei-me na
cama e quis recordar-me dos episódios da minha entrada, das tolices que fizera. Sempre fiz esse exercício de memória, que
julgava conveniente para conservá-la sempre fiel e pronta para o que apelasse para ela. Não tinha bem começado, quando
10 um menino, que até ali não tinha visto, veio para junto de mim:
— O senhor me dá um cigarro?
Dei-lhe o cigarro e esperava que, após acendê-lo, se fosse, mas assim não foi. Continuou:
— O senhor sofre de ataques?
Disse-lhe que não e olhei bem a criança. Não devia ter dezessete anos; era forte e simpático. Lembrei-me logo de meu
15 filho e uma mágoa imensa me invadiu, pensando no destino dele. Vi-o ali, daqui a anos, talvez. Perguntei ao rapazola:
— Por quê? Você sofre?

1
Onomatopeia para tumulto, algaravia, algazarra.

Fonte: Barreto, Lima. Diário do Hospício; O cemitério dos vivos; prefácio Alfredo Bosi; organização e notas Augusto/Massi, Murilo Marcondes de Moura.
1 ed. São Paulo: Companhia das Letras 2017, pp.187 e 188.

Analise as proposições em relação à obra O cemitério dos vivos, Lima Barreto, e assinale (V) para verdadeira e (F)
para falsa.
Da leitura da obra, infere-se a intenção do autor em relatar as classes sociais e as devidas benesses, uma vez que os
FRENTE 1

doentes do hospício eram tratados de maneira diversa a depender dos títulos e das posses familiares dos internos.
O título e a leitura da obra levam o leitor a inferir que à época em que a narrativa romanesca se passa, não havia
tratamento específico para determinadas insanidades. Toda “loucura” era tratada da mesma forma.

61

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Em “Lembrei-me logo de meu filho” (linhas 14 e ele saiu, um e outro agradeceram-lhe muito o benefício
15) o verbo destacado, quanto à regência, é tran- da salvação do filho. A outra gente, que estava à porta e
sitivo direto, uma vez que está acompanhado do na calçada, fez-lhe alas.
pronome pessoal. ASSIS, Machado de. Quincas Borba. 18. ed. São Paulo: Ática, 2011. p. 87.


No período “Perguntei ao rapazola:” (linha 15) o Dotado de excelência literária, o texto de Machado
sinal de pontuação, dois pontos, foi empregado de Assis é também reconhecido pela crítica devido
para esclarecer e exemplificar o que foi anun- à construção de um estilo singular. No texto, na se-
ciado na oração anterior, pois o rapaz tinha as quência “Rubião atirou-se aos cavalos e arrancou o
mesmas características físicas que seu filho. menino ao perigo”, a regência do verbo “arrancar” soa

Na estrutura “No meio daquela multidão, há estranha ao leitor conhecedor da norma gramatical.
sempre um que nos vem falar isto ou aquilo” A seguir, são apresentadas construções frasais em
(linhas 1 e 2), as palavras destacadas são prono- que é dado destaque para a regência verbal. Assinale
mes substantivos demonstrativos e referem-se, aquela que o seu sentido se assemelha, corretamen-
no texto, de modo geral, a qualquer comentário, te, ao modo machadiano de fazer regência:
qualquer conversa. a) Algumas pessoas já assistiram ao filme do Mer-
Assinale a alternativa que indica a sequência correta. cenário de Collant Vermelho?
a) V – V – V – F – F b) O bombeiro já aspirava ao cargo a ele ofertado
b) F – V – F – V – F pelo oficial.
c) F – F – F – V – V c) Dentre os candidatos que zeraram a redação,
d) V – F – V – F – V 217 339 fugiram ao tema.
e) V – V – F – F – V d) O jogador obedeceu ao regulamento do jogo de
<id>002447_por_f1_c12_q0010</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> futebol.
2. PUC-GO 2016 [...] Rubião ouviu o grito, voltou-se, viu <id>002447_por_f1_c12_q0011</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

o que era. Era um carro que descia e uma criança de três 3. UCB-DF 2020
ou quatro anos que atravessava a rua. Os cavalos vinham
quase em cima dela, por mais que o cocheiro os sofreas-
Além da imaginação
se. Rubião atirou-se aos cavalos e arrancou o menino ao Tem gente passando fome.
perigo. A mãe, quando o recebeu das mãos do Rubião, E não é fome que você imagina
não podia falar; estava pálida, trêmula. Algumas pessoas entre uma refeição e outra.
puseram-se a altercar com o cocheiro, mas um homem Tem gente sentido frio.
calvo, que vinha dentro, ordenou-lhe que fosse andando. 5 E não é frio que você imagina
O cocheiro obedeceu. Assim, quando o pai, que estava entre o chuveiro e a toalha.
no interior da colchoaria, veio fora, já o carro dobrava a Tem gente muito doente.
esquina de São José. E não é a doença que você imagina
— Ia quase morrendo, disse a mãe. Se não fosse este entre a receita e a aspirina.
senhor, não sei o que seria do meu pobre filho. 10 Tem gente sem esperança.
Era uma novidade no quarteirão. Vizinhos entravam E não é o desalento que você imagina
a ver o que sucedera ao pequeno; na rua, crianças e mo- entre o pesadelo e o despertar.
leques espiavam pasmados. A criança tinha apenas um Tem gente pelos cantos.
arranhão no ombro esquerdo, produzido pela queda. E não são os cantos que você imagina
— Não foi nada, disse Rubião; em todo caso, não 15 entre o passeio e a casa.
deixem o menino sair à rua; é muito pequenino. Tem gente sem dinheiro.
— Obrigado, acudiu o pai; mas onde está o seu chapéu? E não é falta que você imagina
Rubião advertiu então que perdera o chapéu. Um entre o presente e a mesada.
rapazinho esfarrapado, que o apanhara, estava à porta Tem gente pedindo ajuda.
da colchoaria, aguardando a ocasião de restituí-lo. Ru- 20 E não é aquela que você imagina
bião deu-lhe uns cobres em recompensa, coisa em que entre a escola e a novela.
o rapazinho não cuidara, ao ir apanhar o chapéu. Não o Tem gente que existe e parece
apanhou senão para ter uma parte na glória e nos servi- imaginação.
ços. Entretanto, aceitou os cobres, com prazer; foi talvez TAVARES, Ulisses. Viva a poesia. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 17.
a primeira ideia que lhe deram da venalidade das ações.
— Mas, espere, tornou o colchoeiro, o senhor feriu-se? Caso o autor resolvesse, em conformidade com as
Com efeito, a mão do nosso amigo tinha sangue, um regras de regência, mudar o sentido do verso “E não
ferimento na palma, coisa pequena; só agora começava a são os cantos que você imagina” (v. 14), poderia subs-
senti-lo. A mãe do pequeno correu a buscar uma bacia e tituir o fragmento do poema:
uma toalha, apesar de dizer o Rubião que não era nada, a) E não são os cantos aonde você frequenta.
que não valia a pena. Veio a água; enquanto ele lavava a b) E não são os cantos onde você se diverte.
mão, o colchoeiro correu à farmácia próxima, e trouxe um c) E não são os cantos aonde você caminha.
pouco de arnica. Rubião curou-se, atou o lenço na mão; d) E não são os cantos que você acredita.
a mulher do colchoeiro escovou-lhe o chapéu; e, quando e) E não são os cantos que você simpatiza.

62 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Regências verbal e nominal

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<id>002447_por_f1_c12_q0012</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

4. UFMS 2019 d) se não seria melhor preferirmos nosso planeta do


que vagar pela imensidão
e) Cada nova descoberta [...] implica em novas
deduções
<id>002447_por_f1_c12_q0014</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

6. Unicentro-PR 2017 Um humano sai em busca de um


mamute, persegue-o durante o dia, arma a emboscada e,
depois de inúmeras tentativas, consegue matá-lo e abo-
canhar seu quinhão de carne.
Em seguida, exausto, volta para casa com o firme
propósito de deitar e rolar no tapete com o filho, contar
historinhas repetitivas e ignorar a bronca merecida do
pimpolho, pois, afinal, trata-se de um pai/mãe ausente
o dia todo.
Antes de dormir, ainda se verá no espelho com um
olhar de feroz reprovação pela falta de tempo e de pique
para a ginástica, para o sexo e para a vida social.
Quino. O regresso da Mafalda. Lisboa: Dom Quixote, 1984, p. 62. Bem-vindo à geração cem por cento, que acredita que
pode e deve dar conta de tudo e de fazer escolhas que não
No último quadrinho, há uma oração subordinada
impliquem perdas. Uma aluna comentou esse fenômeno
substantiva: “Não se esqueçam de que uma mãe
sabiamente: “Escolha sua perda!”. Sim, é disso que se trata.
cansada bate com menos força”. A oração sublinha- Uma ínfima parcela da população pode se dar ao
da completa o sentido da forma verbal “esqueçam”, luxo de não ter que caçar seu mamute diariamente. Além
pois a regência do verbo encontra-se relacionada disso, temos outras aspirações, que nos fazem mais do que
ao contexto comunicacional, requisitando o uso da caçadores, que nos fazem humanos.
preposição. A partir dessas reflexões, assinale a al- Ainda assim, somos assombrados pela ideia de que
ternativa que justifica corretamente o emprego da nossos filhos serão traumatizados pela nossa ausência.
regência do verbo “esquecer” presente na tirinha. Aqui funciona a lógica de que pai e mãe são oxigênio,
a) O verbo apresenta-se na forma não pronominal e é de que qualquer outro adulto cuidando deles será fatal.
transitivo direto, dispensando qualquer preposição. [...]
b) Apresenta-se na forma pronominal e é transitivo Nossos filhos viverão em média 4 a 5 décadas mais
indireto, exigindo a preposição. do que nós – ou seja, os deixaremos órfãos, na melhor
c) Verbo transitivo direto – sentido de “sair da lem- das hipóteses. Ausência fundamental que marca o senti-
brança”; quando pronominal, pede objeto direto. do da parentalidade, pois acarreta criar sujeitos rumo à
d) O verbo apresenta-se na forma pronominal e é autonomia. [...]
intransitivo. Há, ainda, outras ausências, menos radicais do que a
e) O verbo não é significativo, pois é de ligação, ser- morte, com as quais devemos aprender a lidar. Ausentamo-
vindo apenas para fazer o elo entre o sujeito e -nos trabalhando, amando outras pessoas, amando outras
coisas e amando a nós mesmos. [...] Ninguém merece ser
suas características.
<id>002447_por_f1_c12_q0013</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
tudo para um pai ou uma mãe. Por outro lado, nenhum
5. Ufam A espécie humana, desde há muito, aspira o co- adulto merece criar uma criança sem ajuda, sem respiro,
nhecimento do cosmos. No momento, embora travada tendo que gostar de brincar por obrigação. [...]
por crises econômicas diversas, prossegue a corrida espa- A tarefa parental é imensa e vitalícia. Será exerci-
cial. Na verdade, poderíamos dizer que assistimos nova da por quem assumir essa responsabilidade radical, não
escalada no rumo das estrelas. Cada nova descoberta – cabendo aqui fazer diferença entre homens e mulheres,
de planetas, estrelas, galáxias – implica em novas dedu- pais e mães. Quem tomar para si essa missão só poderá
ções, em novas esperanças de, quem sabe, encontrarmos cumpri-la a partir de suas escolhas e consequentes perdas,
vida complexa fora da Terra. Entretanto, nunca podemos sem fazer da parentalidade um poço de ressentimento e
esquecer das longas distâncias que, aliadas à pequenez e culpas, cuja conta quem paga são os filhos.
à insignificância do homem, tornam quase impossível o Então, façamos a lição de casa. O que realmente é
sonho das viagens intergalácticas. Vale a pena perguntar possível para cada família específica, para além de um
se não seria melhor preferirmos nosso planeta do que va- mundo fantasioso no qual os pais se dedicariam integral-
gar pela imensidão em busca do improvável. mente aos filhos como se isso fosse bom para as crianças?
Perguntemo-nos também o que é desejável para nós, pois
No texto anterior, a regência verbal está corretamente a presença ressentida não passa desapercebida aos pe-
empregada em: quenos.
a) poderíamos dizer que assistimos nova escalada Ao deixá-los com outros, sejam familiares ou profis-
no rumo das estrelas sionais, cabe assumir essa escolha, não valendo controlar
FRENTE 1

b) A espécie humana, desde há muito, aspira o co- à distância avós, babás e professores, o que é enlouque-
nhecimento do cosmos cedor. Enfim, escolha sua perda e aprenda a se ausentar.
c) nunca podemos esquecer das longas distâncias Folha de S.Paulo, VERA IACONELLI, 10 set. 2017, com adaptações.

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Assinale a alternativa na qual a regência do verbo a história, o museu, a restauração e a conservação das
“implicar” é a mesma da empregada no trecho: “que antiguidades, não foi para aprender uma lição. A razão
acredita que pode e deve dar conta de tudo e de fa- dessa nossa paixão é o caráter incompleto da revolução
zer escolhas que não impliquem perdas” moderna: o futuro é um terreno demasiado inquietante e
a) Isso implica em ociosidade e comprometimento incerto para aceitarmos que só ele nos defina; portanto, o
do plano terapêutico. passado assombra nossos dias.
Não conseguimos esquecer: proclamamos a liberdade
b) Uma virtude não implica em aceitabilidade total
dos espíritos, mas cultivamos antigos preconceitos de raça,
pelas pessoas.
cultura e classe. Ou então nos dizemos autônomos, mas
c) Renan começou implicar com tudo.
explicamos nossos atos pelos eventos da nossa infância
d) Sua conduta implica um nobre caráter.
<id>002447_por_f1_c12_q0015</id><tipo>objetiva</tipo><assunto> ou pelo legado dos nossos pais.
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

7. Uncisal 2015 Numa cultura diferente da nossa, os restos do passado


poderiam parecer bem mais importantes do que uma vida.
[...] Talvez um homem do Antigo Regime nos dissesse que
Quando me chamou, eu vim sem a presença do passado não haveria sociedade nem
Quando dei por mim, tava aqui sujeitos. Talvez, para ele, a promessa de futuro contida no
Quando lhe achei, me perdi sorriso de um menino valesse menos do que os artefatos
Quando vi você, me apaixonei... que sustentam a memória de um povo.
[...] (Adaptado de: CALLIGARIS, Contardo. Terra de ninguém.
Quando não tinha nada, eu quis S. Paulo, Cia das Letras, 2004, p. 331-332)
Quando tudo era ausência, esperei Está correto o emprego do elemento sublinhado na
Quando tive frio, tremi
seguinte frase:
Quando tive coragem, liguei...
a) A memória histórica de um povo, de cuja impor-
[...]
tância muitos duvidam, fica representada em
Disponível em: http://letras.mus.br/chico-cesar/43885/
Acesso em: 12 out. 2014. museus, monumentos e peças arqueológicas.
b) Em culturas antigas, aonde os valores eram tão di-
Assinale, dentre os versos da letra da canção de Chi- ferentes dos nossos, preservavam-se as façanhas
co César, a alternativa em que se cometeu erro de do passado.
regência em um dos verbos. c) Acredita-se que nossa negligência em relação ao
a) “Quando tive frio, tremi”. passado, à qual se acentua a cada dia, deve-se à
b) “Quando lhe achei, me perdi”. nossa maior preocupação com o futuro.
c) “Quando me chamou, eu vim”. d) O autor do texto não teve dúvida em relativizar a
d) “Quando tive coragem, liguei...”. importância dos museus, em cujos não reconhe-
e) “Quando vi você, me apaixonei...”. ce a importância que se lhes costuma atribuir.
<id>002447_por_f1_c12_q0016</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
e) As lições do passado, nas quais alguns manifes-
8. UCPel-RS 2017 (Adapt.) Nos enunciados: “O médico
tam descrédito, foram importantes para certas
em questão publicou em sua rede social a imagem de
épocas da história humana.
um receituário...” e “A diretoria do Hospital Santa Rosa <id>002447_por_f1_c12_q0018</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
de Lima publicou uma nota...”, o verbo publicar é classi- 10. Ufam/PSC 2023 Considere as imagens a seguir para
ficado respectivamente, segundo sua regência, como: responder à questão.
a) transitivo indireto – transitivo direto
b) transitivo indireto – transitivo indireto Imagem 1
c) transitivo direto e indireto – transitivo direto
d) transitivo direto – transitivo direto
e) transitivo direto – transitivo bitransitivo
<id>002447_por_f1_c12_q0017</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

9. PUC-Campinas 2022

[No museu do passado]


O interesse pela história deu origem aos museus e
também à decisão de preservar os monumentos históricos.
A justificativa inicial dessas iniciativas era: lembrar-se para
não repetir. Não deu muito certo, pois nunca paramos de
repetir o pior. Na verdade, suspeito que nosso gosto pelos
resíduos do passado não seja pedagógico. Por que nos
importa a história? Por que deambulamos pelos museus?
Acreditamos que os homens devam afirmar-se se-
gundo as suas habilidades. Não queremos que o passado
decida nosso destino: o que nos importa, em princípio,
Disponível em: https://www.facebook.com/leituraslivres/posts/pfbid02
é o futuro. “Não me fale de suas façanhas de ontem, di- uw4mttABPs57S9SEABe7fzcZEViPwvRuq2duWVUKkohUAJdUVpZs
ga-me o que sabe fazer.” Se inventamos a arqueologia, AsbZpbHApjNGl.

64 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Regências verbal e nominal

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Imagem 2 Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar,
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo de outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Disponível em: https://www.facebook.com/PROFCADOSORIO/ Peço que meu nome retifiquem.
posts/pfbid02Veux4L5qsZJt44dh1XAvVnYkd5WGz Já não me convém o título de homem.
NeiASLTRDDUR9jxGwb4KicF13DYiCXiyRDol.
Meu nome novo é coisa.
Do ponto de vista do uso linguístico formal, é INCOR- Eu sou a coisa, coisamente.
RETO afirmar que: Disponível em: www.pensador.com/eu_etiqueta-carlos_drumond_de_
andrade/. Acesso em: 27 out. 2017.
a) na Imagem 1, a substituição de “sofro”, na fala de
Paulo, por “estou sofrendo” acarretaria – ainda O conceito de Regência, nos estudos da linguagem,
que de forma sutil – uma mudança de significado. é utilizado para fazer referência à relação de subor-
b) na Imagem 2, na última fala, a oração adjeti- dinação existente entre certas palavras e termos
va “que podem viver” apresenta um pronome que as complementam, visto que, em determinados
relativo que retoma a palavra “lugar”, mas há a ne- contextos linguísticos, essas palavras podem não ser
cessidade de emprego de preposição antes dele autossuficientes, ou seja, podem necessitar de com-
por causa da regência do verbo “viver”, emprega- plementos para fazerem sentido. Considerando o
do na acepção de morar em. exposto, analise as assertivas e assinale a alternativa
c) na Imagem 2, na última fala, a oração adjetiva “que que aponta as corretas.
podem viver” apresenta um pronome relativo que
I. No trecho “E bem à vista exibo esta etiqueta”, a
retoma a palavra “lugar”, não havendo a necessi-
crase ocorre para atender a regência do verbo
dade de emprego de preposição antes dele.
“exibir”.
d) desconsiderando-se, na Imagem 2, o problema
II. Os verbos “desistir” e “retificar” (destacados no
de grafia de “Por que?” (a grafia oficial exigiria Por
quê?), a resposta dada poderia, com uso de co- poema) classificam-se como intransitivos, visto
nectivo, ser a seguinte: “Porque seres inteligentes que não necessitam de complemento no texto
iriam preservar o único lugar que podem viver”. em questão para terem sentido completo.
e) na Imagem 2, na última fala, a oração adjetiva III. Em “Da vitrine me tiram” e “Por me ostentar as-
“que podem viver” apresenta um pronome re- sim”, os pronomes destacados apresentam a
lativo que retoma a palavra “lugar”; tal pronome mesma função sintática, completando o sentido
poderia ser substituído por “o qual”, desde que, de verbos transitivos.
antes dele, fosse empregada preposição devida- IV. Em “meu gosto e capacidade de escolher”, os
mente contraída (em razão da regência do verbo substantivos “gosto” e “capacidade” são regidos
“viver”, empregado na acepção de morar em). pela preposição “de”, a qual articula comple-
<id>002447_por_f1_c12_q0019</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> mentos necessários ao entendimento desses
11. Uncisal 2018 Considere o poema, de Carlos Drummond substantivos no texto.
de Andrade, para responder à questão.
a) Apenas I e II.
Eu, etiqueta b) Apenas I e III.
FRENTE 1

[...] c) Apenas II e IV.


Não sou – vê lá – anúncio contratado. d) Apenas I e IV.
Eu é que mimosamente pago e) Apenas III e IV.

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<id>002447_por_f1_c12_q0020</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

12. IFPE 2017 Tradicionalmente, o trabalho escravo é empregado em


atividades econômicas na zona rural, como a pecuária, a
Trabalho escravo é ainda uma realidade produção de carvão e os cultivos de cana-de-açúcar, soja
no Brasil e algodão. Nos últimos anos, essa situação também é veri-
Esse tipo de violação não prende mais o indivíduo a ficada em centros urbanos, principalmente na construção
correntes, mas acomete a liberdade do trabalhador e o civil e na confecção têxtil.
mantém submisso a uma situação de exploração. No Brasil, 95% das pessoas submetidas ao trabalho
O trabalho escravo ainda é uma violação de direi- escravo rural são homens. Em geral, as atividades para as
tos humanos que persiste no Brasil. A sua existência foi quais esse tipo de mão de obra é utilizado exigem for-
assumida pelo governo federal perante o país e a Orga- ça física, por isso os aliciadores buscam principalmente
nização Internacional do Trabalho (OIT) em 1995, o que homens e jovens. Os dados oficiais do Programa Segu-
fez com que se tornasse uma das primeiras nações do ro-Desemprego de 2003 a 2014 indicam que, entre os
mundo a reconhecer oficialmente a escravidão contem- trabalhadores libertados, 72,1% são analfabetos ou não
porânea em seu território. Daquele ano até 2016, mais concluíram o quinto ano do Ensino Fundamental.
de 50 mil trabalhadores foram libertados de situações Muitas vezes, o trabalhador submetido ao trabalho
análogas à de escravidão em atividades econômicas nas escravo consegue fugir da situação de exploração, colo-
zonas rural e urbana. cando a sua vida em risco. Quando tem sucesso em sua
Mas o que é trabalho escravo contemporâneo? O empreitada, recorre a órgãos governamentais ou organi-
trabalho escravo não é somente uma violação trabalhis- zações da sociedade civil para denunciar a violação que
ta, tampouco se trata daquela escravidão dos períodos sofreu. Diante disso, o governo brasileiro tem centrado
colonial e imperial do Brasil. Essa violação de direitos seus esforços para o combate desse crime, especialmente
humanos não prende mais o indivíduo a correntes, mas na fiscalização de propriedades e na repressão por meio
compreende outros mecanismos, que acometem a digni- da punição administrativa e econômica de empregadores
dade e a liberdade do trabalhador e o mantêm submisso flagrados utilizando mão de obra escrava.
a uma situação extrema de exploração. Enquanto isso, o trabalhador libertado tende a retornar
Qualquer um dos quatro elementos abaixo é suficien- à sua cidade de origem, onde as condições que o levaram
te para configurar uma situação de trabalho escravo: a migrar permanecem as mesmas. Diante dessa situação, o
TRABALHO FORÇADO: o indivíduo é obrigado indivíduo pode novamente ser aliciado para outro trabalho
a se submeter a condições de trabalho em que é ex- em que será explorado, perpetuando uma dinâmica que
plorado, sem possibilidade de deixar o local seja por chamamos de “Ciclo do Trabalho Escravo”.
causa de dívidas, seja por ameaça e violências física Para que esse ciclo vicioso seja rompido, são necessá-
ou psicológica. rias ações que incidam na vida do trabalhador para além
JORNADA EXAUSTIVA: expediente penoso que vai do âmbito da repressão do crime. Por isso, a erradicação
além de horas extras e coloca em risco a integridade física do problema passa também pela adoção de políticas pú-
do trabalhador, já que o intervalo entre as jornadas é insu- blicas de assistência à vítima e prevenção para reverter a
ficiente para a reposição de energia. Há casos em que o situação de pobreza e de vulnerabilidade de comunidades.
Adaptado. SUZUKI, Natalia; CASTELI, Thiago. Trabalho escravo é ainda
descanso semanal não é respeitado. Assim, o trabalhador
uma realidade no Brasil. Disponível em: www.cartacapital.com.br/
também fica impedido de manter vida social e familiar. aulas/fundamental-2/trabalho-escravo-e-ainda-uma-realidade-no-brasil/.
SERVIDÃO POR DÍVIDA: fabricação de dívidas ilegais Acesso: 19 mar. 2017.
referentes a gastos com transporte, alimentação, aluguel No que diz respeito à sintaxe de concordância e à de
e ferramentas de trabalho. Esses itens são cobrados de regência, assinale a opção CORRETA.
forma abusiva e descontados do salário do trabalhador, a) Em “Para que esse ciclo vicioso seja rompido, são
que permanece sempre devendo ao empregador. necessárias ações que incidam na vida do traba-
CONDIÇÕES DEGRADANTES: um conjunto de ele- lhador [...]” (13o parágrafo), o verbo sublinhado
mentos irregulares que caracterizam a precariedade do está corretamente flexionado em concordância
trabalho e das condições de vida sob a qual o trabalhador
ao sujeito posposto.
é submetido, atentando contra a sua dignidade.
b) Em “[...] mais de 50 mil trabalhadores foram liber-
Quem são os trabalhadores escravos? Em geral, são
tados de situações análogas à de escravidão[...].”
migrantes que deixaram suas casas em busca de melhores
(1o parágrafo), a locução verbal grifada foi plurali-
condições de vida e de sustento para as suas famílias.
zada por concordar o termo “trabalhadores”, mas
Saem de suas cidades atraídos por falsas promessas de
aliciadores ou migram forçadamente por uma série de seria correto flexioná-la no singular em concor-
motivos, que podem incluir a falta de opção econômi- dância com a expressão de quantidade “mais de”.
ca, guerras e até perseguições políticas. No Brasil, os c) Em “No Brasil, 95% das pessoas submetidas ao
trabalhadores provêm de diversos estados das regiões trabalho escravo rural são homens” (10o pará-
Centro-Oeste, Nordeste e Norte, mas também podem grafo), o verbo sublinhado foi pluralizado para
ser migrantes internacionais de países latino-americanos concordar com o substantivo “pessoas”, mas
– como a Bolívia, Paraguai e Peru –, africanos, além do estaria correto flexioná-lo no singular em concor-
Haiti e do Oriente Médio. Essas pessoas podem se desti- dância com a porcentagem.
nar à região de expansão agrícola ou aos centros urbanos d) Em “Muitas vezes, o trabalhador submetido ao
à procura de oportunidades de trabalho. trabalho escravo consegue fugir da situação de

66 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Regências verbal e nominal

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exploração [...].” (11o parágrafo), a regência do d) aconselha o emprego de “aguarda a estrela”,
termo grifado também estaria correta se exercida “busca os parentes” e “procura um emprego”.
pela preposição “com”. e) defende que as regências dos verbos “aguardar”,
e) Em “No Brasil, os trabalhadores provêm de diver- “buscar” e “procurar” mudaram, portanto, deve-se
sos estados [...]” (8o parágrafo), houve incorreção empregar “por/pelo”.
<id>002447_por_f1_c12_q0023</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
no uso da preposição. A fim de respeitar a regên- </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

cia verbal, nesse contexto, deveria ser realizada 15. IFRS 2018
pela preposição “a”. CAPÍTULO 39
<id>002447_por_f1_c12_q0021</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

13. Acafe-SC 2022 Assinale a frase CORRETA quanto à Visitei algumas vezes o Egito subindo o Nilo, partindo
regência verbal e nominal. do Cairo até chegar de barco a Luxor, a monumental capi-
a) Devido à essa questão, a inclusão do assunto re- tal religiosa dos faraós. É um percurso de uns sete dias, e o
lativamente a expansão da fábrica agora não é barco sempre faz escalas, momento em que os turistas têm
pertinente sobre o tema. 5 a oportunidade de visitar os monumentos dessa fascinante
b) A causa do atraso tem a ver tão somente com a civilização. Na última escala de uma dessas viagens, atra-
aversão que ele sente por tarefas que lhe exigem camos em Luxor no fim da tarde, e aproveitei para descer,
um certo esforço intelectual. acompanhado por um guia, e me sentar num café, em uma
pequena aldeia próxima à cidade.
c) Recomendou-lhe, todavia, que não dissesse a
10 A brisa estava fresca, e eu descansava prazerosamente
seus pais o desamparo que o vira, para não lhes
do calor pesado do dia, distante do movimento dos turis-
deixar ainda mais constrangidos.
tas, bebendo um chá, cercado pelos habitantes do lugar,
d) As universidades são organizações que você
que conversavam e fumavam seus narguilés, enquanto
pode abandonar uma pesquisa sem ser ostensi-
cabras e crianças circulavam incessantemente.
vamente cobrado disso.
<id>002447_por_f1_c12_q0022</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
15 De repente, uma banda de uns 15 componentes parou
14. UCSC Analisa-se, no texto a seguir, o emprego da em frente ao café, tocando uma música magnífica. A melo-
regência. dia era de origem árabe, mas tinha um acompanhamento
rítmico que era muito similar ao samba de roda da Bahia.
Por falar em regências: ouço todos os dias a expressão
Ao retornar à noite para o barco, contei para a guia que
“na busca pela...”: jornalistas, seus entrevistados, narra-
20 nos acompanhava na viagem, uma professora de história
dores esportistas e políticos, todos diziam na “busca pelo
da Universidade do Cairo, da minha surpresa com a seme-
gol”, “na busca pelo sucesso”, “na busca pelo emprego”,
lhança entre os dois ritmos. Para meu espanto, a guia contou
“na busca pelo acordo” etc. Escrevi uma coluna sobre isso,
mas quero ampliar um pouco a coleta. Num só dia, nos que não era tão surpreendente assim, pois até o século IX
jornais de TV, anotei “aguardar pela liberação”, “procurar vivia, no lugar que hoje é o sul do Egito e o Norte do Sudão,
pelos desaparecidos” e “buscar pelos parentes”. Além dis- 25 um povo chamado iorubá, que, ao perder uma guerra, foi
so, o jornal do dia seguinte (o Estadão!!) dava a seguinte obrigado a fugir e atravessou a África, até chegar à Nigéria
manchete: Hollywood aguarda pela estrela Beckham. trezentos anos mais tarde, no século XII, não mais como
O leitor deve estar estranhando que eu estranhe essa povo, por ter se disseminado no percurso, porém como
proliferação de “por/pelo” seguindo esses nomes e verbos. tribo, sendo os homens negociados tempos depois pelas
Não é que eu reclame, nem que seja contra (logo eu!!!). Mas 30 tribos locais como escravos, com destino ao Brasil e a Cuba.
decidi olhar os dicionários (os dicionários, não, que olhei só MIDANI, André. Do vinil ao download. Rio de janeiro:
Nova Fronteira, 2015. Adaptado.
um, o Houaiss) e essa regência não se encontra registrada,
exceto uma vez, na décima informação sobre “procurar”. Regência é a parte da gramática que trata das rela-
As pessoas da minha idade dizem “aguarda a estrela”, ções entre os termos da frase, verificando como se
“busca os parentes” e “procura um emprego”. Nada de estabelece a dependência entre eles. Se o verbo exi-
“por/pelo”. Ou seja: tudo indica que as regências desses ge alguma preposição, o estudo é de regência verbal;
verbos mudaram. As “antigas” só estão esperando nos- no caso de um nome a exigir, trata-se de regência no-
sa morte para desaparecer de vez. Não sei de nenhum minal. Observe as palavras “num” (l. 8), “do” (l. 12), “ao”
trabalho que tenha anotado esses dados e certamente (l. 16) e “entre” (l. 22) e assinale a alternativa em que o
os dicionaristas é que não o fizeram. Aliás, vou dar uma tipo de regência esteja na ordem correta em que os
olhada em outro: fui. Nada de “por/pelo” no Aurélio: lá casos ocorrem no texto:
os rios buscam/procuram o mar etc. a) regência verbal – regência nominal – regência
Fonte: POSSENTI, Sírio. Língua na mídia. São Paulo: Parábola, 2009. p. 41.
nominal – regência verbal
Ao examinar o emprego da regência, o autor: b) regência nominal – regência verbal – regência
a) contesta o emprego de “na busca pelo gol”, “na nominal – regência nominal
busca pelo sucesso”, “na busca pelo emprego”, c) regência nominal – regência verbal – regência
“na busca pelo acordo”. nominal – regência verbal
b) apresenta dados que indicam mudança nas regên- d) regência verbal – regência nominal – regência
FRENTE 1

cias dos verbos “aguardar”, “buscar” e “procurar”. nominal – regência nominal


c) defende o uso de “aguardar pela liberação”, “procu- e) regência verbal – regência nominal – regência
rar pelos desaparecidos” e “buscar pelos parentes”. verbal – regência verbal

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<id>002447_por_f1_c12_q0024</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

16. IFSul-RS 2015 tristezas ou frustrações? Para que, quando a vida recebê-las
(porque a vida nos aguarda e, do lado de fora do núcleo
As crianças estão cada vez mais avessas a familiar, as coisas são bem menos doces), elas estejam
regras, falhas e insucessos preparadas para os conflitos inevitáveis.
Eu, defensora ferrenha da importância da afetividade As crianças estão cada vez mais avessas a regras, fa-
e do emocional na constituição psíquica e no comporta- lhas e insucessos. Não sabem lidar com o amigo que não
mento das pessoas, assisti a 90 minutos de desequilíbrio empresta o brinquedo, não sabem agir diante do colega
e fragilidade correndo sem rumo em pleno campo de fu- que lhes faz um deboche, não conseguem suportar ter
tebol, na última terça-feira. sua atenção chamada pelo professor, não aguentam ter
Eram meninos... garotos que tinham, desde o início, um pedido aos pais negado. Então, diante do problema,
a obrigação clara de serem campeões. Por quê? Porque tomam o brinquedo à força, são cruéis com quem lhes
faziam parte da Seleção Brasileira (e o Brasil é o país do magoou, trocam de turma (e até de colégio), torturam os
futebol!); porque estavam jogando em casa; porque preci- pais com birras...
savam mudar o foco da população revoltada com a Copa; Estamos criando e perpetuando a geração da intole-
porque representavam um povo sofrido, prejudicado por rância! Mas quem é o adulto nessa relação mesmo? Nós
anos e anos de exploração, um povo invisível, e porque, ou eles?
como se tudo isso não bastasse, precisavam representar O Brasil terá uma nova oportunidade de restabelecer
heroicamente o craque Neymar, impossibilitado de jogar a dignidade e, ao menos, dar uma lapidada na amarga
devido à lesão. lembrança. Só que, na vida, nem sempre há a chance de
Acharam muito? E olha que nem citei os motivos pes- lutar por, pelo menos, o terceiro lugar tão pouco tempo
soais. Porque eles também queriam fazer jus ao esforço após uma derrota. Há vezes em que perder significa estar
dos pais, orgulhar a família, garantir um futuro promissor, fora. E somente depois de um bom tempo para se recom-
ganhar mais... por é que se galga uma nova oportunidade. E há que se
Mas não contavam com a força aterradora da men- poder suportar isso.
te. Essa, sim, é implacável! Não há preparo intelectual Pela Seleção Brasileira, podemos apenas torcer. Pelas
ou físico que seja páreo a ela. A mente pode elevar ou nossas crianças, podemos lutar e participar desse aprimo-
enterrar um ser. ramento psicológico e emocional. Não nos omitamos!
Se repararmos bem, vemos Davids, Hulks, Freds, PIONER, Lisandra. Caderno Vida. Jornal Zero Hora de 12 jul. 2014.
Marcelos e Dantes todos os dias pelos gramados da vida.
Observe os seguintes trechos:
Confusos, amedrontados, apáticos, atônitos, angustiados,
ansiosos. Jovens que carregam mais do que o peso do ... queriam fazer jus ao esforço dos pais...
próprio corpo: carregam o peso dos sonhos dos pais, o ... cada vez mais avessas a regras...
peso do despreparo emocional. Se abalam por pouco e,
Nos dois casos, a preposição destacada está correta-
com isso, se desestruturam.
Muitas vezes, vemos crianças intolerantes a todo e mente empregada, atendendo às regras de regência
qualquer rechaço. Crianças que, no primeiro embate da nominal.
vida, abandonam a situação ou desmoronam em lágrimas Em que alternativa a preposição está mal-empregada,
ou atos violentos, numa tentativa inglória de resolver o NÃO atendendo a essas regras?
impacto. Às vezes até resolvem, mas a situação é apenas a) Este modelo é análogo àquele outro.
momentânea. Por que eu insisto tanto na necessidade de b) José está curioso por saber os resultados.
que as crianças suportem, superem, criem mecanismos de c) Isto é preferível do que aquilo.
recuperação rápida e efetiva, que se refaçam diante das d) Levava uma vida propensa para o crime.

Texto complementar

Dor de cabeça e dor na cabeça


Tempos atrás, surgiu um debate dentro do grupo de Whatsapp dos colaboradores da página do Facebook Língua e Tradição
[...], da qual faço parte, em torno de uma postagem [...].
A pergunta da autora do post é: por que dizemos “dor de cabeça”, “dor de barriga”, mas “dor NO braço” e não “dor DE braço”.
Na ocasião, apresentei a teoria de que “dor DE” se refere a dores internas, sobretudo as provocadas por disfunção orgânica, ao
passo que “dor NO” se refere a dor externa, provocada por contusão ou mau jeito. Por exemplo, “dor de cabeça” é a chamada ce-
falalgia; já “dor na cabeça” pode ser fruto de uma pancada. A dor de cabeça em geral é uma dor no cérebro, assim como a dor de
barriga é uma dor no intestino. Já uma dor na cabeça ou na barriga afeta os músculos ou os ossos imediatamente abaixo da pele.
Meu colega e amigo Chico Viana complementou: “Parece que a preposição ‘de’ introduz um determinante que alude a algo
conhecido, consensual. Ouvir de alguém próximo que está com ‘dor de cabeça’ não preocupa tanto quanto dele ouvir que está
com uma ‘dor na cabeça’. Esta última pode ser um sinal de algo mais grave. O mesmo se aplica, por exemplo, a ‘dor de barriga’ e
‘dor na barriga’. A preposição ‘em’ acena ao desconhecido e sugere a necessidade de procurar logo um médico”.
E nosso outro colega e amigo, Rafael Rigolon, acrescentou: “Temos ainda o caso fantástico da ‘dor de cotovelo’ (o despeito
amoroso) e a ‘dor no cotovelo’. A primeira é terrível. Só não é pior do que a ‘dor de olvido’ (Millôr)”.

68 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Regências verbal e nominal

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Em resumo, “dor DE” é uma dor conhecida, como a dor de cabeça, de barriga ou de cotovelo, cujas causas são rotineiramente
as mesmas. Já “dor EM” é uma dor cuja causa pode ser conhecida ou não, mas nunca é a usual. Por isso, o filhinho de três anos
da [...] autora da postagem, que ainda não é proficiente nessas sutilezas da língua portuguesa, falou em “dor de braço” por ana-
logia com essas dores mais comuns que sentimos cujo nome começa com “dor de”. Toda língua tem essas nuances sutis que só
dominamos à medida que vamos nos tornando falantes fluentes. E que um falante não nativo às vezes nunca chega a dominar.
A título de exemplo, o inglês também distingue entre uma dor corriqueira, de causa rotineira, como a dor de cabeça, e uma
dor de causa diferente, pouco comum, como uma dor na cabeça: a primeira se chama headache; a segunda, pain in the head.
BIZZOCCHI, Aldo. Dor de cabeça e dor na cabeça. Diário de um linguista, 9 out. 2023. Disponível em: https://diariodeumlinguista.com/2023/10/09/dor-
de-cabeca-e-dor-na-cabeca/. Acesso em: 17 nov. 2023.

Veja os principais assuntos e conceitos trabalhados neste capítulo acessando a seção Resumindo
no livro digital, na Plataforma Poliedro.

Quer saber mais?

Site Livro
Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional. Dicionário prático de regência verbal e Dicionário prático
Disponível em: www.nilc.icmc.usp.br/nilc/minigramatica/ de regência nominal, ambos de Celso Pedro Luft. São
mini/sejabemvindo.htm. Acesso em: 15 dez. 2023. Paulo: Ática, 2013.
O NILC desenvolve estudos sobre processamento Os dicionários de regência verbal e nominal do professor
computacional de linguagens naturais e construção de e linguista Celso Pedro Luft são obras de referência e
recursos, ferramentas e aplicações práticas. O site dis- auxiliam no estudo das regências das palavras em língua
ponibiliza uma minigramática, que traz exemplos de uso portuguesa. Os livros trazem observações acerca das
de regência verbal. dúvidas mais recorrentes sobre o assunto e descrições
atualizadas sobre os padrões de regência do português
Música
contemporâneo.
“Tempo rei”, de Gilberto Gil. Disponível em: www.letras.
mus.br/gilberto-gil/46247/. Acesso em: 15 dez. 2023.
A canção traz uma reflexão sobre os efeitos da “passa-
gem do tempo”, tratado pelo eu lírico como um rei.

Exercícios complementares
<id>002447_por_f1_c12_q0025</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. UEPG/PSS-PR 2016

Sociedades Agrárias Africanas: o milagre da vida, a maravilha da existência e a magia do poder


As sociedades agrárias africanas acreditam que a vida é um milagre – a dimensão espiritual manifesta-se na pura sensa-
ção da maravilha da sua existência. A onipresença da alegria, para esses povos, tem a sua correspondência na onipresença
das instâncias espirituais que dominam a natureza circunstante e, como consequência, também as sociedades e a vida das
famílias e das pessoas.
Dado o baixo nível tecnológico dessas sociedades a ideia de “dominação da terra pelo homem” seria absurda – histo-
ricamente nem faz parte do pensamento. Os fenômenos que fazem mover o mundo são atribuídos a espíritos que vivem na
natureza. Nessas sociedades, os antropólogos estudam os “cultos dos antepassados”; os (raríssimos) psicólogos da escola de
Jung descobrem as manifestações do inconsciente coletivo; os missionários de todas as denominações combatem as cren-
ças nos múltiplos espíritos e demônios e tentam substituir pela crença num único deus e num único diabo; os economistas
tentam compreender algo… Os africanos que ainda vivem nestas sociedades experienciam o sagrado que acreditam que os
envolve e tentam lidar com os espíritos que os rodeiam; também transmitem os seus conhecimentos às gerações seguintes.
Por meio de contatos com tais espíritos, as sociedades ocupam terrenos para o cultivo, defendem-se contra os vizinhos que
cobiçam as suas terras, as suas vacas ou as suas mulheres, declaram a guerra e garantem a paz. É desta forma que procuram
a saúde e o bem-estar dos seus e tentam infligir o azar, a doença e a morte aos seus inimigos. Conforme as características dos
espíritos de cada sociedade, também podem procurar proteção na guerra, sorte na emigração ou até dinheiro ou poder político.
Adaptado de: www.pordentrodaafrica.com/cultura/sociedades-africanas-a-gestao-espiritual-dos-recursos-naturais. Acesso em 10/06/2016.

Analise o trecho a seguir quanto à regência e assinale o que for correto.


Os fenômenos que fazem mover o mundo são atribuídos a espíritos que vivem na natureza.
01 Há duas preposições, uma regida por uma locução verbal e outra por um verbo.
02 Poderia ser “são atribuídos à espíritos”, uma vez que, nesse caso, a crase é facultativa.
FRENTE 1

04 “são atribuídos a espíritos” está corretamente grafado, outra opção correta seria “são atribuídos aos espíritos”.
08 No trecho há apenas um verbo que exige preposição.
Soma:

69

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<id>002447_por_f1_c12_q0026</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

2. Uesc-BA 2017 despesas não podem mais sair do orçamento. Contatos


profissionais, bancários e muitos serviços públicos acon-
A cara vida moderna
tecem através de celulares e da internet. Já conheci gente
Meu primeiro celular parecia um tijolo. Difícil de com falta de dinheiro para comer, mas sem poder abdicar
carregar. Pior ainda, de funcionar. A linha vivia com sinal do celular!
de ocupado. Mesmo assim era um luxo! Lembro quando Disponível em: http://vejasp.abril.com.br/cidades/a-cara-vida-moderna/.
liguei pela primeira vez para minha amiga Vera: Acesso em 29/05/2017.
— Estou em Brasília, no meu celular — contei.
Observando-se o excerto “Meu primeiro celular pare-
— Também quero um! — ela gritou, entusiasmada.
cia um tijolo” a mesma regência verbal do vocábulo
De novidade, tornou-se essencial. Agora esses apare-
lhos são mínimos, fotografam, tocam músicas e acessam
destacado encontra-se em:
a internet. Viver sem um é estar desconectado. No fim a) “— ela gritou, entusiasmada”
do mês vem a conta. Sempre me assusto! As operadoras b) “Agora esses aparelhos são mínimos”
oferecem pacotes. E de pacote em pacote às vezes eu me c) “E os televisores em si?”
sinto embrulhado! Compro por puro entusiasmo uma série d) “O preço raramente compensa”
de serviços que não uso depois! Um amigo meu tem três e) “daqui a pouco descobrirei algo absolutamente
celulares. Durante um jantar, falava em todos ao mesmo essencial”
<id>002447_por_f1_c12_q0027</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
tempo, enquanto eu tentava conversar. Imagino a conta! </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

A cada dia inventam algo que imediatamente se torna 3. Uece 2017


indispensável. Impossível encontrar um adolescente que
Moderna e eterna
não sinta necessidade de um laptop. Se não tem, voa para
uma lan house. A internet ficou tão importante quanto as Cem anos após inaugurar a primeira exposição mo-
calças que estou vestindo. O laptop de um jovem ator dernista do Brasil, que serviu de embrião para a Semana
quebrou às vésperas de ele sair em turnê pelo país com de 1922, Anita Malfatti ganha uma grande mostra, em São
um espetáculo. Está desesperado. Paulo, sobre seu legado.
— Vou perder meu contato com o mundo! 5 Uma semana após inaugurar aquela que seria a pri-
É verdade! E-mails, redes de relacionamento e blogs meira exposição de arte moderna no Brasil, no dia 12 de
são vitais para boa parte das pessoas. Tudo isso custa: o dezembro de 1917, Anita Malfatti (1889-1964) teve cinco
orçamento cresce em eletricidade, conexões de banda telas devolvidas por seus compradores, além de receber
larga e equipamentos — os avanços são rápidos, é preciso dezenas de bilhetes anônimos falando mal de suas obras.
renovar sempre. Falando em avanços: um amigo formou 10 O motivo? A crítica feroz do influente escritor Monteiro
uma excelente coleção de clássicos de cinema em vídeo. Lobato (1882-1948), que comparou o trabalho da pau-
Jogou fora e iniciou outra ao surgir o DVD. Agora veio o listana “aos desenhos de internos dos manicômios”. A
Blu-ray. O coitado quase explodiu de tão estressado! Mas mostra de Malfatti serviu de embrião para a revolução
é impossível permanecer com o equipamento antigo. Em artística que culminaria na Semana de Arte Moderna
pouco tempo some das lojas. Toca comprar tudo novo! 15 de 1922, protagonizada por ela, Tarsila do Amaral, Mário de
A TV por assinatura tornou-se um sonho de consumo. Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia – co-
E os televisores em si? Todo dia fico sabendo de uma tela nhecidos como o Grupo dos Cinco. É em comemoração
maior, mais fina e com melhor imagem. Sem falar nos ele- a essa emblemática exposição que o MAM de São Paulo
trodomésticos, mais e mais sofisticados. Quando comprei inaugura no próximo dia 7 Anita Malfatti: 100 Anos de
o meu primeiro freezer, há muito tempo, um amigo riu: 20 Arte Moderna.
— Para que uma coisa dessas? Graças à crítica de Lobato, Anita tornou-se a mártir do
Hoje ninguém dispensa um freezer. Qualquer item modernismo brasileiro”, explica a curadora Regina Teixeira
da vida pode se sofisticar: faz-se café expresso em casa, de Barros. Foi depois da publicação do artigo do escritor
sorvete, iogurte e até pão. Ninguém tem tudo, é fato. Mas que começaram a se reunir em torno dela jovens poetas
todo mundo tenta ter algum novo e fantástico produto! 25 e artistas inconformados com a linguagem tradicional que
Passada a garantia, é difícil consertar qualquer apare- dominava o cenário cultural da época. Apesar de ser mais
lho. O preço raramente compensa. E logo quebra de novo, discreta na forma de agir e se vestir que sua amiga Tarsila,
mesmo porque muitos técnicos de antigamente perderam Anita não deixou de ganhar notoriedade e reconhecimento
o pé nos digitais! em mercado ainda dominado por homens.
Viver ficou muito mais caro. Antes eu parava o carro 30 Aos 20 anos mudou-se para a Alemanha, onde se
na rua, agora é Zona Azul ou estacionamento particular; os apaixonou pelo expressionismo. Depois seguiu para os
cinemas aumentaram o valor dos ingressos porque inves- Estados Unidos, terra natal de sua mãe, pintora nas horas
tem em tecnologia; cabeleireiros sofisticaram os produtos; vagas e a primeira a incentivar a filha a seguir o sonho de
banho em cachorro é melhor no pet shop; é essencial um ser artista. Casada com o engenheiro italiano Samuelli
cartão de crédito, mas vem a anuidade. Além de um bom 35 Malfatti, Elizabeth Krug viajava com a filha desde pequena
plano de saúde, é ideal também um de aposentadoria. pela Europa, não apenas para iniciá-la no mundo das artes,
Tenho certeza: daqui a pouco descobrirei algo absoluta- mas por causa de um problema congênito de Anita – uma
mente essencial de cuja existência até agora não tinha o atrofia no braço e na mão direita. Sem grandes resultados
menor conhecimento! no tratamento, a pintora usava lenços coloridos para es-
Mas os salários não subiram na mesma proporção. No 40 conder a malformação na mão – o que a levou a ter uma
passado era mais fácil cortar gastos. Agora, não. Muitas bela coleção do acessório para diversas ocasiões.

70 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Regências verbal e nominal

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<id>002447_por_f1_c12_q0028</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Ela não se deixou abater. Aprendeu a pintar com a 4. UFPE


mão esquerda, algo marcante em sua personalidade. Con-
forme crescia, experimentava voluntariamente a fome, a Professores de Inglês
45 cegueira e a sede, na busca de sensações físicas de “su- Hoje qualquer pessoa pode aprender inglês com a
peração do eu”, como ela mesma descrevia. Um dos fatos maior facilidade: há institutos e cursos especializados,
insuperáveis, no entanto, foi sua paixão nem tão secreta livros que dispensam professor, aulas pelo rádio e pela
assim pelo grande amigo Mário de Andrade. Homossexual televisão, métodos tão modernos que nem me atrevo a
convicto, o modernista nunca correspondeu (sic) o amor descrever, com medo de me sentir inatual. Mas houve
50 de Anita. Após a Semana de 1922 (e apesar de sua pro- um tempo em que não era assim: os professores de inglês
funda admiração pela amiga), Mário decidiu não apoiá-la eram difíceis de encontrar, os alunos também não pa-
quando, nas décadas de 30 e 40, a artista decidiu inspirar- reciam muito numerosos, a literatura francesa dominava
-se nas pinturas da academia em suas novas produções. com uma encantadora prepotência, e parece que todo
“Ela fraquejou, sua mão, indecisa, se perdeu”, comentou brasileiro educado devia saber, em matéria de idiomas,
55 ele à época. Mário recusou também as pinturas de Anita apenas português e francês.
para o Salão de Belas Artes, o que provocou uma fissura Mas, por ter descoberto Keats e Shelley, nem sei bem
na relação dos dois. “Ele foi um dos críticos que não assi- como, eu andava à procura de quem me ensinasse inglês,
fosse por que método fosse, contanto que eu pudesse che-
milou que o modernismo não era apenas feito de ruptura à
gar à poesia inglesa com a maior rapidez possível.
tradição, mas também [de] uma reflexão sobre o passado,
Comecei a frequentar um instituto onde havia muitos
60 algo que Anita conseguiu colocar de forma magistral em
cursos de arte e literatura. Parecia-me que aquele era o
suas pinturas”, explica Regina.
caminho. E dispunha-me a uma dedicação total aos meus
Entre as poucas obras que mostram a amizade do
exercícios. Mas a boa professora, embora sem ser inglesa,
Grupo dos Cinco, a mais conhecida é certamente um de-
mas com cursos no estrangeiro e grande prática em aulas
senho homônimo assinado por Anita, destaque da mostra
particulares, iniciou suas aulas com um pequeno discurso
65 de São Paulo. Nele a pintora e Mário aparecem tocando
sobre a absoluta necessidade de se conjugar perfeitamente
piano, enquanto Tarsila, Oswald e Menotti estão deitados.
os verbos “to be” e “to have”, antes de se conhecer sequer
A cena mostra o ambiente genuíno no qual a Semana de uma palavra do vocabulário.
Arte Moderna de 1922 nasceu, resume a curadora. Ora, nem todos os estudantes haviam descoberto
Ana Carolina Ralston. Vogue. Fevereiro de 2016. p. 86-87.
Keats ou Shelley, e frequentavam as aulas por simples obri-
“Sic” é um advérbio latino, cujo significado é assim. gação. Ninguém estava pensando em versos ingleses: nem
Entre parênteses ou colchetes, intercala-se numa mesmo a professora. E foi um tal de recitar indicativos,
citação ou pospõe-se a ela para indicar que o texto condicionais e subjuntivos, presentes, futuros e passados,
original está reproduzido exatamente, por mais errado ora perfeitos, ora imperfeitos, ora mais que perfeitos, afir-
ou estranho que possa parecer. mativa, negativa e interrogativamente, que aqueles solos e
coros me conduziam a uma inevitável sonolência.
I. No texto em estudo, encontra-se a seguinte cons-
Mas havia salas próximas em que se estudavam piano
trução: “Homossexual convicto, o modernista nun- e violino. De modo que eu podia descansar na música,
ca correspondeu o (sic) amor de Anita” (linhas 48- sempre que os verbos chegavam àquele ponto de mono-
-50). Observe que o (sic) aparece após o verbo tonia em que só me restava ou enlouquecer ou dormir.
corresponder (correspondeu), no exato lugar A minha segunda professora de inglês era inglesa
onde deveria estar o complemento desse verbo. mesmo. Também acreditava na eficácia dos verbos “to
Portanto, o advérbio está apontando um proble- be” e “to have”, acrescentava-lhes ainda o “to get”, ao
ma de regência verbal. qual se referia com um sorriso tão carinhoso que até dava
II. Sabendo-se que o verbo corresponder é tran- vontade de se começar por aí. Mas essa professora tinha
sitivo indireto e, no sentido de “apresentar um método encantador: oferecia-me uma xícara de chá,
equivalência em relação a”, exige a preposição a, para acompanhar as aulas. Sua sala era absolutamente
é correto afirmar que o erro reside em usar igual às que se veem nos livros ilustrados para o ensino
objeto direto com este verbo, ou usá-lo sem a do inglês. Exceto a lareira, tudo estava lá. E como eu já
preposição a. sabia um pouco de verbos, passamos àquelas frases em
III. Observe-se que, mudando-se a preposição a pela que o chapéu ora é nosso, ora é da nossa prima, e o gato
preposição com, isto é, mudando-se a regência ora está embaixo da mesa ora em cima da cadeira. Mas
do verbo corresponder, muda-se também o sig- era tão difícil chegar a Keats e Shelley!
nificado: estabelecer ligação com outrem através A terceira professora gostava de histórias de fantasmas
de carta — Júlia correspondia-se com os irmãos e de sinos que batem à meia noite. Mas, no meio das
por meio de carta. suas histórias, levantavam-se às vezes o “to be” e o “to
have”, e ela me pedia para recitar todos os seus modos e
Está correto o que se diz em tempos, acompanhando os meus esforços com um sorriso
a) I e II apenas. que talvez não fosse completamente macabro, mas era
FRENTE 1

b) I e III apenas. bastante assustador.


c) II e III apenas. Feitas essas primeiras experiências, pareceu-me me-
d) I, II e III. lhor ir diretamente aos autores, e, de vez em quando,

71

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aperfeiçoar-me por meio de quantos livros de “inglês sem a) Naturalmente, alguns temas se ajustam mais sobre
mestre” fossem aparecendo. determinados gêneros artísticos que sobre outros.
Encerrando o ciclo das professoras, começou o dos b) Naturalmente, alguns temas se adaptam mais em
professores. Um era persa e dava-me a traduzir senten- determinados gêneros artísticos que em outros.
ças filosóficas sem se ocupar dos modos e tempos do “to c) Naturalmente, alguns temas transitam mais por
be” e do “to have”. O outro vinha da Austrália: contava determinados gêneros artísticos que por outros.
histórias de feitiçaria, mas no meio das histórias ficava d) Naturalmente, alguns temas reivindicam mais a
com tanto medo do que estava contando que era preciso determinados gêneros artísticos que a outros.
tranquilizá-lo. <id>002447_por_f1_c12_q0030</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Por isso, no dia em que visitei a casa de Keats, em 6. UPF-RS 2023


Roma, não pude deixar de pensar com ironia e tristeza:
como são longos, às vezes, os caminhos da vida! E quanto
Catar: regras e roupas para visitar o país da
tempo se pode levar para se chegar a um poeta! Copa do Mundo
Cecília Meireles. Inéditos. Rio: Editora Bloch, 1967, p. 151. Adaptado. Com normas rígidas em relação a vestuário e demons-
trações públicas de afeto, o Catar é o primeiro país
Do ponto de vista gramatical – especificamente em
muçulmano a receber uma Copa do Mundo
relação ao âmbito da sintaxe –, analise os seguintes (Por Beatriz Neves, 26 jul 2022)
comentários.
Em: “nem todos os estudantes haviam descober-
to Keats ou Shelley”, o verbo ‘haver’ deveria estar
no singular, pois, nesse contexto, funciona como
verbo impessoal.
Em: “como são longos, às vezes, os caminhos da
vida”, os termos da oração estão postos em or-
dem direta, por uma questão de ênfase.
Em: “Mas, por ter descoberto Keats e Shelley, [...]
andava à procura de quem me ensinasse inglês”,
o segmento sublinhando expressa um sentido de
causalidade.
Em: “como eu já sabia um pouco de verbos, pas- O Catar é o primeiro lugar do Oriente Médio a re-
samos àquelas frases em que o chapéu ora é ceber uma Copa do Mundo e, embora esteja mais para
nosso”, pela regência do verbo, o uso da crase, Emirados Árabes do que para Arábia Saudita nos costumes,
neste caso, é facultativo. é um país islâmico e tem hábitos muito diferentes para
Em: “Comecei a frequentar um instituto onde ha- 5 os padrões ocidentais. Autoridades locais já anunciaram
via muitos cursos de arte e literatura. Parecia-me que pretendem afrouxar as rédeas para os visitantes que
que aquele era o caminho”, o segmento sublinha- forem assistir a Copa do Mundo, mas é preciso estar aten-
do retoma toda a sentença anterior. to. Manifestações públicas de afeto, andar sem camisa
<id>002447_por_f1_c12_q0029</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> ou consumir bebida alcoólica não combinam com países
5. PUC-Rio 2022 Não há uma receita para se fazer arte 10 muçulmanos e no Catar não seria diferente. Uma das leis
nem deve haver temas bons e temas maus entre os quais mais severas que tem preocupado a opinião pública é a
o artista teria de escolher. Qualquer assunto pode ser ma- que proíbe relações entre pessoas do mesmo sexo e [prevê]
téria da arte e de boa arte. Naturalmente, alguns temas pena de sete anos de prisão [para quem desrespeitar essa
se prestam mais a determinados gêneros artísticos que a lei]. Em 2021, o presidente do comitê da Copa do Mun-
outros. O que decide é a personalidade do artista e seu 15 do 2022, Nasser Al-Khater, afirmou em entrevista à CNN
talento: sua tarefa consiste mesmo em realizar a alquimia que o país receberá bem todos os estrangeiros, inclusive
do real para criar o valor estético, o prazer estético. De a comunidade LGBTQIA+. “A versão de que as pessoas
minha parte, creio que, em um mundo cheio de tragédias não se sentem seguras aqui não é real. Eu já disse isso e
e violência, um pouco de alegria e otimismo pode aju- digo novamente, todos são bem-vindos [...]. O Catar é
dar a viver. Uma das funções da arte é aumentar o grau 20 um país tolerante, acolhedor e hospitaleiro. Somos muito
de maravilhoso que a vida possui e de que as pessoas mais modestos e conservadores e é isso que pedimos aos
necessitam. torcedores que respeitem. Respeitamos as diferentes cul-
GULLAR, Ferreira. Disponível em: https://www.dgabc.com.br/ turas e esperamos que outras culturas respeitem a nossa”,
Noticia/365915/ferreiragullar-fala-de-arte-e-cultura-brasileira. declarou Nasser.
Acesso em: 18 ago. 2021.
25 Pequeno gigante
Nas alternativas a seguir, a frase “Naturalmente, al- O Catar é um pequeno país localizado na Península
guns temas se prestam mais a determinados gêneros Arábica e faz fronteira com a Arábia Saudita. Embora seja
artísticos que a outros.” foi modificada pela substitui- um dos menores países do mundo – ocupa uma área que é
ção do verbo. metade do estado de Sergipe e possui cerca de 2 milhões de
A regência do novo verbo está de acordo com a norma- 30 habitantes – é gigante quando se fala em desenvolvimento,
-padrão em: modernidade e infraestrutura. Graças à exportação de gás

72 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Regências verbal e nominal

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natural e petróleo, o antigo protetorado britânico se tornou afirmação do fragmento anterior: “A versão de
um dos países mais ricos do planeta, com um PIB per capita que as pessoas não se sentem seguras aqui não
que supera o da Suíça e o dos Estados Unidos. é real” (linhas 17 e 18). Esse movimento textual
35 Com uma cartela de atrações luxuosas que se asseme- configura-se numa elipse por apagar os termos
lham aos Emirados Árabes Unidos, o Catar tem investido apresentados anteriormente, retomando-os por
para ser reconhecido como um centro cultural, educa- meio de um pronome, o que se configura como
cional e tecnológico. [...]. Além disso, 85% da população uma estratégia coesiva que evita a repetição.
é composta de expatriados, o que imprime alguma to- b) No fragmento: “Uma das leis mais severas que tem
40 lerância nos costumes e acaba propiciando a formação
preocupado a opinião pública é a que proíbe rela-
de bolhas, com pessoas de uma mesma nacionalidade
ções entre pessoas do mesmo sexo” (linhas 10 a
convivendo mais intensamente. Confira a seguir algumas
12), o verbo “tem” deveria estar acentuado, pois
regras e restrições que vigoram no Catar:
concorda com “leis”, que está no plural, por mais
1. Cuidado com carinhos em público: Se para muitos que esteja determinado pela expressão “uma das”.
45 de nós manifestações como beijos e abraços são coisas c) O não uso do acento indicativo de crase nos enun-
corriqueiras, mesmo entre desconhecidos, no Catar a
ciados “esperamos que outras culturas respeitem
manifestação de afeto em público não é bem vista.
a nossa” (linha 23) e “Jornalistas que viajam a tra-
O código penal do país enquadra beijos, abraços e
balho” (linha 82), justifica-se pela mesma razão: a
apertos de mãos entre pessoas do sexo oposto como
não exigência da preposição “a” pelos verbos em
50 atos obscenos.
questão: “respeitem” e “viajam”.
2. O consumo de bebidas alcoólicas é proibido: [...] no
d) A regência do verbo assistir depende do sentido
Catar, o consumo de álcool em público é proibido. Além
que constrói em seu uso. No fragmento “Autorida-
disso, apenas estabelecimentos designados pela FIFA ou
des locais já anunciaram que pretendem afrouxar
pelo governo catari terão permissão para a comercializa-
as rédeas para os visitantes que forem assistir a
55 ção [dessas bebidas]. Nos estádios, não haverá venda de
bebidas alcoólicas, já nas áreas chamadas hospitality, onde Copa do Mundo, mas é preciso estar atento” (li-
estarão os torcedores VIP e SuperVIP, as vendas deverão nhas 5 a 8), no termo em destaque não há acento
acontecer. [...] indicativo de crase porque o verbo assistir, nesse
caso, constrói o sentido de cuidar, acompanhar,
3. Regata e calça rasgada nem pensar: Como em qualquer
ajudar quem vai à Copa, por isso, “ficar atento”.
60 país muçulmano, no Catar, a religião também dita o estilo
de vida da população, influenciando hábitos cotidianos e
e) O pronome isso no fragmento “e é isso que pe-
até as vestimentas. Visitantes homens não podem, em pú- dimos aos torcedores que respeitem” (linhas 21
blico, exibir peitoral e coxas. Para as mulheres, o indicado e 22) retoma a afirmação anterior: “Somos muito
são saias abaixo do joelho, camisetas e nada de decotes, mais modestos e conservadores” (linhas 20 e 21),
65 mini-blusas, transparências ou roupas justas. configurando-se numa anáfora pronominal.
<id>002447_por_f1_c12_q0031</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
4. Relações LGBTQIA+: No Catar, relações entre pesso- 7. IME-RJ 2022
as do mesmo sexo são ilegais [...]. Ainda assim, Nasser
Al-Khater, presidente do Comitê Organizador da Copa ENGENHEIROS DA VITÓRIA
do Mundo de 2022, afirmou que os torcedores da co- Solução de problemas na história
70 munidade LGBTQIA+ são bem-vindos ao país, mas atos
[...] Quando se fala na eficiência em conseguir equi-
de carinho em público serão mal vistos, tanto entre tor-
pamentos de combate e transferir combatentes de A para
cedores homossexuais quanto heterossexuais. Segundo
B, os britânicos são campeões; certamente isso não foi
o comitê de comunicação da Copa do Catar, a polícia
por causa de alguma inteligência especial, mas pela am-
e as forças de segurança estão recebendo treinamento
5 pla experiência em organização e senso crítico depois de
75 antidiscriminatório específico antes do torneio e todas
enfrentar chances adversas em 1940, juntamente com a
as pessoas são livres para reservar acomodação e fica-
perspectiva de derrota. Aqui a necessidade foi a mãe da in-
rem juntas: “a vida privada dos indivíduos não é nossa
venção. Eles tinham que defender suas cidades, transportar
preocupação”, diz o comitê.
tropas até o Egito, apoiar os gregos, proteger as fronteiras
5. Cuidados com as fotografias: Filmar e fotografar pessoas 10 da Índia, trazer os Estados Unidos para a guerra e depois
80 sem autorização é crime no Catar. A regra se estende para levar aquele imenso potencial americano para a área da
imagens de policiais e edifícios militares, o que pode levar Europa. Era mais um problema a ser resolvido. Como foi
à prisão. Jornalistas que viajam a trabalho precisam de possível fazer com que 2 milhões de soldados americanos,
uma licença fornecida pela Agência de Notícias do Catar depois de chegar às bases de Clyde, fossem para bases no
(QNA). [...] 15 sul da Inglaterra preparando-se para o ataque à Norman-
(Disponível em: https://viagemeturismo.abril.com.br/mundo/catar-regras- dia, quando a maior parte das ferrovias britânicas estava
e-roupas-para-visitar-o-pais-da-copa-do-mundo/. Adaptado.
Acesso em 08 set. 2022) ocupada em transportar vagões de carvão para as fábricas
de ferro e aço que não podiam parar de produzir?
No que concerne a aspectos sintático-semânticos do Como se viu, uma organização composta por pessoas
FRENTE 1

texto, está correto o que se afirma em: 20 que cresceram decorando os horários da estrada de ferro
a) O pronome isso no fragmento “Eu já disse isso de Bradshaw como passatempo pode fazer isso, enquan-
e digo novamente” (linhas 18 e 19) retoma a to os altos comandantes consideravam que tudo estava

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garantido porque confiavam na capacidade de seus administradores de nível médio. Churchill acreditava que o melhor
era não se preocupar demais com os problemas, pois tudo se resolveria, isto é, uma maneira havia de ser encontrada,
25 passo a passo.
Há uma outra forma de pensar sobre essa história de soluções de problemas, e ela vem de um exemplo bem
contemporâneo. Em novembro de 2011, enquanto o genial líder da Apple, Steve Jobs, recebia inúmeras homenagens
póstumas, um artigo intrigante foi publicado na revista New Yorker. Nele o autor, Malcom Gladwell, argumentava que
Jobs não era o inventor de uma máquina ou de uma ideia que mudou o mundo; poucos seres o são (exceto talvez
30 Leonardo da Vinci e Thomas Edison). Na verdade, seu brilhantismo estava em adotar invenções alheias que não deram
certo, a partir das quais construía, modificava e fazia aperfeiçoamentos constantes. Para usar uma linguagem atual, ele
era um tweaker, e sua genialidade impulsionou como nunca o aumento de eficiência dos produtos de sua companhia.
A história do sucesso de Steve Jobs, contudo, não era nova. A chegada da Revolução Industrial do século XVIII na
Grã-Bretanha – muito provavelmente a maior revolução para explicar a ascensão do Ocidente – ocorreu porque o país
35 possuía uma imensa coleção de tweakers em sua cultura que encorajaram o progresso […]
A história da evolução do tanque T-34 soviético, de um grande pedaço de metal mal projetado e fraco para uma arma
de guerra mortífera, segura e de grande mobilidade, não foi uma história contínua de tweaking? Não foi esse também
o caso do grande bombardeiro americano, o B-29, que no início estava tão mergulhado em dificuldades que chegou a
se propor seu cancelamento até que as equipes da Boeing resolveram os problemas? E as miraculosas histórias do P-51
40 Mustang, dos tanques de Percy Hobart e de um poderoso sistema de radar tão pequeno que poderia ser inserido no
nariz de um avião patrulha de longa distância e virar a maré na Batalha do Atlântico? Depois que se unem os diversos
pedaços espalhados, tudo se encaixa. Mas todos esses projetos exigiram tempo e apoio.
Na verdade, os administradores de grandes companhias mundiais provavelmente se surpreendam diante, digamos, do
planejamento e orquestração do almirante Ramsay nos cincos desembarques simultâneos no Dia D e gostariam de poder
45 realizar um décimo do que ele fez.
Em suma, a vitória em grandes guerras sempre requer organização superior, o que, por sua vez, exige pessoas que
possam dirigir essas organizações, não com um interesse apenas moderado, mas da maneira mais competente possível
e com estilo que permitirá as pessoas de fora propor ideias novas na busca da vitória. Os chefes não podem fazer isso
tudo sozinhos, por mais que sejam criativos e dotados de energia. É necessário haver um sistema de apoio, uma cultura
50 de encorajamento, feedbacks eficientes, uma capacidade de aprender com os revezes, uma habilidade de fazer as coisas
acontecerem. E tudo isto tem de ser feito de uma maneira que seja melhor do que aquela do inimigo. É assim que as
guerras são vencidas. […]
O mesmo reconhecimento merecem, por certo, os militares de nível médio que mudaram a Segunda Guerra
Mundial, transformando as agressões do Eixo em 1942 em avanços irreversíveis dos Aliados em 1943-44, e finalmente
55 destruindo a Alemanha e o Japão. É verdade, alguns desses indivíduos, armamentos e organizações são reconhecidos,
mas em geral de uma forma fragmentada e popularizada. É raro que esses fios isolados sejam tecidos em conjunto para
mostrar como os avanços afetaram as muitas campanhas, fazendo a balança pender para o lado dos Aliados durante
o conflito global. Mais raro ainda é a compreensão de como o trabalho desses vários solucionadores de problemas
também precisa ser incluído numa importante “cultura do encorajamento” para garantir que simples declarações e
60 intenções estratégicas de grandes líderes se tornem realidade e não murchem nas tempestades da guerra. Se isso é o
que acontece, então vivemos com uma grande lacuna em nossa compreensão de como a Segunda Guerra Mundial
foi vencida em seus anos cruciais.
KENNEDY, Paul. Engenheiros da Vitória: Os responsáveis pela reviravolta na Segunda Guerra Mundial. 1ª ed.
São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 407- 428 (texto adaptado).

Em relação ao uso dos pronomes relativos, marque a alternativa correta:


a) Os britânicos, cujos equipamentos de combate ainda se fala, foram pioneiros devido à experiência da derrota
em 1940.
b) O brilhantismo de Steve Jobs estava em adotar invenções alheias de quais componentes elaborava aperfeiçoa-
mentos constantes.
c) Os sistemas de apoio, aos quais algumas sociedades enfatizam como prioridade, podem ajudar no enfrentamen-
to de revezes coletivos.
d) Os solucionadores de problemas, sobre cujos feitos não há pesquisas mais aprofundadas, incluem os militares
de nível médio.
e) O planejamento e a orquestração do Almirante Ramsay, com o qual os administradores de grandes companhias
mundiais se encantaram, são apenas alguns dos feitos, dentre outros similares.
<id>002447_por_f1_c12_q0032</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

8. UFRR 2017 Leia os fragmentos retirados da obra Terras do sem fim de Jorge Amado, em seguida, observe os termos
destacados e a análise feita em cada uma das proposições:
I. “[...] Ester ficou com os avós que lhe faziam todas as vontades, que a mimavam”. A flexão do verbo “fazer” está
perfeita, concordando com o sujeito “os avós”.
II. “escapou da justa condenação devido à chacina de advogados que desmoralizavam a profissão, mas não esca-
pou da condenação pública”. O uso da crase na expressão “à chacina” está de acordo com a norma culta; bem

74 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Regências verbal e nominal

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como a ausência da crase na expressão “a profissão” também está correta em função da transitividade do verbo
“desmoralizar”.
III. “O vestido é meu, foi o senhor quem me deu”, a colocação do pronome “me” não está de acordo com a norma
culta. O correto seria “... o senhor quem deu-me”, não há nenhum elemento atrativo para a posição proclítica, ou
seja, o pronome antes do verbo.
IV. “Passo a passo até alcançar o caminho mais largo, onde são menos numerosos os espinhos e os atoleiros.” A
crase é obrigatória na expressão “passo à passo”.
V. “O menino que assistia ao júri, saíra pela mão do pai, mas já estava na porta da sala quando o meirinho badalou
a grande sineta chamando os advogados e os escrivães.” A regência do verbo “assistir” está de acordo com a
norma culta, ou seja, assistir com sentido de “presenciar” é transitivo indireto e exige o emprego da preposição
“a”, portanto, a expressão “ao júri” está corretíssima.
Considerando a análise feita em cada proposição, é CORRETO afirmar que:
a) Somente a III está errada.
b) Estão corretas somente I e II.
c) Apenas a V está correta.
d) III e IV estão erradas.
e) Todas estão corretas, exceto a I.
<id>002447_por_f1_c12_q0033</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

9. Ufam 2016 Leia o texto a seguir, intitulado “Tudo da minha terra”, de autoria de Antônio Carlos de Brito (do livro Cul-
tura Brasileira, organizado por Alfredo Bosi, p. 131. Adaptado.)
A turma que está por volta dos trinta anos certamente não sabe, mas, na década de 60 do século passado, a vida cultural
andou animada. Todos aspiravam a um novo tempo. Lembro-me do lançamento de livros de grandes nomes da literatura. Havia
quem preferisse mais o cinema do que o teatro, mas ambas as artes eram presenças vivas e atuantes; a música popular veria o
nascimento do Tropicalismo; uma legião de jornalistas, intelectuais, artistas, professores, gente do clero, sociólogos, economistas
etc. sustentava um nível de participação e combatividade em suas ideias e seus métodos que ia refletindo e ao mesmo tempo
incentivando o radicalismo político que se alastrava no meio estudantil. Como disse um poeta: o país aspirava o perfume de
uma nova manhã, a manhã da redenção. Essa cumplicidade da cultura com o meio político seria o seu pecado mortal e, em
dezembro de 1968, veio o castigo. Nossa vida cultural, cheia de viço e ideais, foi, do dia para a noite, reduzida a escombros.
O período que se abre a partir daí inaugura um capítulo novo e trágico em nossa história cultural. O governo investiu com as
armas da repressão à liberdade.
Assinale a alternativa em que a regência verbal está INCORRETA:
a) Todos aspiravam a um novo tempo
b) Havia quem preferisse mais o cinema do que o teatro
c) O governo investiu com as armas da repressão à liberdade
d) Lembro-me do lançamento de livros de grandes nomes da literatura
e) Como disse um poeta: o país aspirava o perfume de uma nova manhã
<id>002447_por_f1_c12_q0034</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

10. Ufam 2016 Apesar da intensa fama que possui, fiquei decepcionado com o Festival de Parintins. Perplexo, indaguei-me
onde fora parar o enredo original, no qual um fazendeiro branco perde seu patrimônio, representado por um touro gara-
nhão. Todos esqueceram do auto primitivo. O que vi foi mais uma revista folclórica que, em muitos pontos, macaqueia o
carnaval do Rio de Janeiro. Os dirigentes dos bois preferem antes o luxo do que a tradição, o que causa o abandono dos
verdadeiros valores folclóricos. Tal espetáculo é deprimente, embora isso agrade o grande público, que lhe assiste hipnoti-
zado. Cooptado pela indústria cultural, esse festival atende a interesses meramente turísticos. Até quando se manterá como
atração, antes de entrar em declínio? De qualquer forma, não era a diversão que eu precisava.
In: LOTTI, R. N. Caderno de viagem, p. 102. Texto adaptado.

Assinale a alternativa em que a regência verbal está CORRETA:


a) não era a diversão que eu precisava
b) que lhe assiste hipnotizado
c) preferem antes o luxo do que a tradição
d) Embora agrade o grande público
e) Todos esqueceram do auto primitivo
<id>002447_por_f1_c12_q0035</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

11. ESPM-SP 2015 Assinale a única frase aceita pelas normas de regência verbal:
a) Sem-terra preferem a Bolsa Família a Reforma Agrária.
b) O jogador disse que preferia jogar no Morumbi do que jogar no Interior.
FRENTE 1

c) O consumidor endividado prefere mais a bebida barata que o uísque importado.


d) Deputado petista preferiu ficar no Congresso que assumir cargo administrativo.
e) A presidente afirmou que “prefere o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”.

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<id>002447_por_f1_c12_q0036</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

12. PUC-PR 2020 A aceitação de O Sétimo Guardião com o grande público já não é das melhores, e a novela de realismo
fantástico de Aguinaldo Silva ainda parece não cooperar com ela mesma. Uma falha da produção da trama acabou exibindo
um erro de ortografia em uma placa que mostrava “Bem-vindo à Tubiacanga”. A crase, no caso, está incorreta.

Disponível em: https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/novelas/globo-escorrega-feio-na-ortografia-em-placa-de-o-setimo-guardiao-24186.


Acesso em: 10/08/2019.

No trecho do excerto anterior “A aceitação de O Sétimo Guardião com o grande público”, há uma impropriedade gra-
matical quanto à regência de “aceitação”. A construção sintática exigida por esse núcleo resultaria em “A aceitação do
grande público a O Sétimo Guardião”, em que
a) “do grande público” é adjunto adverbial e “a O Sétimo Guardião” é complemento nominal.
b) “do grande público” é complemento nominal e “a O Sétimo Guardião” é adjunto adnominal.
c) “do grande público” é adjunto adnominal e “a O Sétimo Guardião” é complemento nominal.
d) “do grande público” é complemento nominal e “a O Sétimo Guardião” é adjunto adverbial.
e) “do grande público” e “a O Sétimo Guardião” são adjuntos adverbiais.
<id>002447_por_f1_c12_q0037</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

13. PUC-PR 2016 Leia o texto a seguir e assinale a alternativa que preenche adequadamente as lacunas, na ordem em
que aparecem, de acordo com as normas de regência prescritas pela norma culta.
Pesquisado por Robert Rosenthal e Lenore Jacobson na década de 1960, o Efeito Pigmaleão refere-se ao fenômeno da
relação entre a expectativa depositada numa pessoa e os resultados decorrentes de seu trabalho. O nome faz referência a
Pigmaleão, um escultor mítico grego que se apaixonou pela estátua ______ construía e pediu à deusa Afrodite ______
a tornasse uma mulher real. O Efeito Pigmaleão prescreve que, quanto maior a confiança depositada em alguém, maior é a
probabilidade de essa pessoa ter bons resultados. No estudo de Jacobson e Rosenthal, professores foram avisados, no início do
semestre, que havia em suas salas de aula alguns alunos excepcionais, que provavelmente se desenvolveriam mais depressa
que seus colegas. Ao final do ano, foi constatado que esses alunos realmente haviam tido melhores conceitos. A conclusão
foi ______ diversos fatores poderiam ter influenciado o sucesso dos alunos, entre eles o fato ______ professores provavel-
mente haviam prestado mais atenção a essas crianças e lhes dado tratamento diferenciado durante o semestre. Isso, é claro,
ocorreu subconscientemente, de acordo com Rosenthal, crendo que professores muitas vezes têm atitudes que facilitam o
desempenho de alunos ______ esperam mais.
FURTADO, Júlio. A mediação relacional da aprendizagem. Língua Portuguesa. Escala, n. 53, p. 25.

a) que – de que – de que – de que – dos quais


b) a qual – que – de que – o qual – de que
c) que – que – que – de que – de quem
d) a qual – de que – que – do qual – de quem
e) em que – que – de que – o qual – dos quais
<id>002447_por_f1_c12_q0038</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

14. PUC-RS 2021


A educação a.C. e d.C.: tudo vai ser diferente no ensino “depois da covid-19”
FÁBIO ROQUE SBARDELLOTTO

A sentença de Heráclito, filósofo pré-socrático e pai da dialética, no sentido de que ninguém pode entrar duas vezes no
mesmo rio porque, ao entrar pela segunda vez, já não encontra as mesmas águas, nunca se fez tão verdadeira como agora,
tamanha gravidade do fenômeno pelo qual estamos passando. Não haverá como resistir: sairemos diferentes de como entramos
nesta pandemia. Os processos civilizatórios deverão ser reinventados na economia, na política, na vida familiar, na educação.
5 Com o isolamento social, houve uma disrupção inesperada e muito traumática no ambiente educacional. Na educação pública,
praticamente foram paralisadas as aulas. No ambiente privado, mantiveram-se sob a forma do ensino a distância, com tecnologias
virtuais. Os alunos de instituições públicas permanecem com seu horizonte incerto quanto ao semestre e mesmo ao ano.
O que esperar no ambiente educacional? Os conteúdos não se modificaram. O desafio está em vislumbrar a retomada
dos processos educacionais pós-coronavírus. Projetamos uma realidade na qual pouco do que se tinha antes será encontrado.

76 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Regências verbal e nominal

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10 E as instituições de ensino e seus educadores deverão se reposicionar – “não se passará mais pelo mesmo rio”. A travessia
será mais tranquila para aquelas instituições que já desenvolviam um ambiente educacional segmentado, embasado em
uma relação humanista, que tinham o estudante no centro da relação aprendizagem/ensino. A seletividade irá privilegiar
aqueles ambientes educacionais nos quais o processo de aprendizagem oferecia ferramentas que tornavam a tecnologia
aliada da educação, mas que também entregavam resultados alvissareiros para seus investidores, os alunos. Sairão exitosas
15 as instituições educacionais que estavam preparadas e já planejavam o futuro de uma educação de excelência, apesar de
existir crise econômica.
Para essas, o processo apenas se acelerou, e as águas que as banharam já haviam filtrado boa parte do que agora se
apresentou como desafio quase intransponível para as outras.
Fragmento adaptado de: https://bit.ly/3f9OhuF. Acesso em: 30 abr. 2020.

Para responder à questão, considere as afirmativas sobre a regência das preposições nas contrações de preposição
mais artigo presentes no texto.
I. Em “pelo” (linha 3), a preposição é exigida pela forma verbal “passando” (linha 3).
II. Em “dos” (linha 9), a preposição é exigida pelo substantivo “desafio” (linha 8).
III. Em “no” (linha 13), a preposição é exigida pelo substantivo “estudante” (linha 13).
Está/Estão correta(s) apenas a(s) afirmativa(s)
a) I. b) III. c) I e II. d) II e III.
<id>002447_por_f1_c12_q0039</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

15. UEM/PAS-PR

Valesca Popozuda: Sobre o reinado do fake autêntico


Marcia Tiburi

Não será possível entender o fenômeno Valesca Popozuda, nossa Madonna tupiniquim, um dos mais curiosos da indústria
cultural brasileira contemporânea, sem perceber a função que um ídolo tem em seu tempo. Carmen Miranda, Elis Regina,
Ayrton Senna, para falar de personagens reais de nossa cultura, todos tiveram um lugar importante em seu tempo. Todos
simbolizaram algo essencial para quem os amava ou odiava.
5 O ditado popular que reza que “cada povo tem o político que merece” é verdadeiro se pensarmos na identificação que
leva à eleição de um político. O correspondente no campo estético, “cada povo tem o ídolo que merece”, explica a rela-
ção de espelhamento que as massas, que criam o ídolo, têm com ele. No desfile dos ídolos, Valesca Popozuda é candidata
ao topo de qualquer pódio. Nenhuma das divas da indústria cultural tem o poder de Valesca, embora – pelo menos por
enquanto – as outras (Sangalo, Claudia Leitte etc.) tenham rendido bem mais do que ela em termos financeiros. O poder
10 de Valesca Popozuda vai além. É o poder do que podemos chamar de hiperidentificação. Transitando entre ricos e pobres,
exótica e engraçada para uns, ousada e livre para outros, Valesca agrada à grande maioria. Bem cuidada como negócio, ela
deve crescer tanto quanto suas impressionantes pernas provavelmente siliconadas.
A única diva com a qual Valesca é realmente comparável é Xuxa. Xuxa é sua única antecessora, da qual ela é, olhando
bem, a única herdeira de porte. No convite ao sexo e ao consumo próprio de todas essas divas, Xuxa entrou na história
15 representando o sexo e o consumismo infantil que infantilizou adultos das novas gerações. Mas Xuxa ficou velha. Xuxa era
racista e burguesa e vendia a imagem de puritana usada até hoje por todas as suas herdeiras menores. Valesca, a rainha, é o
contrário. Ela é parda e mora na favela, embora pinte o cabelo de loiro como metade das brasileiras. Por mais que se possa
considerar a sexualidade como armadilha, Valesca a promete de modo livre. Uma armadilha livre não é uma mera contradição.
Fake autêntico
20 Pessoas que costumam julgar a partir de padrões de gosto talvez antipatizem com a figura de Valesca Popozuda. Fácil
tratar como bizarros aqueles quilos de silicone por todo o corpo. Alguns poderão dizer que, além de rainha do funk, ela é
a rainha do mau gosto. Mas o seu mau gosto, demonstrado fartamente no vídeo “Beijinho no ombro”, é o que ela tem de
melhor. Tudo o que é falso, no cenário da “Popozuda” parece verdadeiro, mas enquanto denuncia sua falsidade. A mensagem
de Valesca é o fake autêntico. Mesmo que ela não saiba, o que Valesca faz é um deboche por inversão. Tudo o que parece
25 fino e elegante, os tecidos, os materiais caros, o figurino de luxo, ela os transforma em “coisa de pobre”. O que era luxo vira
lixo. O que há de importante no luxo senão a enganação que a tantos agrada? É assim que Valesca Popozuda, Robin Hood
estético, rouba simbolicamente dos ricos para dar aos pobres.
Agradando os excluídos do gosto, ela conquista corações e mentes. Valesca engana e agrada, mas não mente que engana.
Talvez ela mesma não saiba o quanto é sincera ao ser declaradamente fake. A sinceridade dessa falsidade pode incomodar
30 sacerdotes do bom gosto, mas, para sorte dos “popofãs”, ela não está nem aí com isso.
Talvez Valesca não saiba que é realmente a deusa de um mundo de plástico, cabelos tingidos e silicone. Suas pernas
e glúteos são lenda urbana no cenário do funk ostentação. Para alguns funkeiros, a “ostentação” é uma vitória porque pen-
sam ter conquistado algo do mundo capitalista, um luxo aqui, um lixo acolá. Conquistaram certamente o autoengano que
é só o que o capitalismo pode oferecer. Outros funkeiros, mais espertos, exercitam o deboche. Mostram o ridículo de uma
FRENTE 1

35 sociedade cafona como a nossa. Valesca Popozuda – talvez ela não saiba – é a denúncia, o espelho e o flerte mais radical
com a atual verdade brasileira.
Disponível em: http://revistacult.uol.com.br/home/2014/04/valescapopozuda/. Acesso em 19 maio 2014.

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Assinale o que for correto quanto a questões de regência.
01 Em “A única diva com a qual Valesca é realmente comparável é Xuxa.” (linha 13), a preposição “com” introduz um
complemento nominal para a expressão “comparável”.
02 Em “Xuxa é sua única antecessora, da qual ela é, olhando bem, a única herdeira” (linhas 13-14), a preposição “de”
(na contração “da”) indica posse.
04 Em “Valesca agrada à grande maioria.” (linha 11), o emprego do acento indicativo de crase é facultativo, pois o
adjetivo “grande” é empregado para masculino e feminino.
08 Em “identificação que leva à eleição de um político” (linhas 5-6), o sinal indicativo de crase é facultativo, pois a
forma verbal “levar” tem o sentido de “conduzir”.
16 Em “Todos simbolizaram algo essencial para quem os amava ou odiava.” (linhas 3-4), a preposição “para” introduz
um complemento nominal para a expressão “essencial”.
Soma:
<id>002447_por_f1_c12_q0040</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

16. AFA-SP 2022

A VERDADEIRA LEI DE GÉRSON


Raul Marinho Gregorin

Você se lembra daquele célebre comercial do cigarro Vila Rica, onde nosso tricampeão Gérson falava a famosa frase:
“… Porque você tem que levar vantagem em tudo, cerrrto?”. A frase teve tanto impacto que acabou sendo criada a “Lei
de Gérson”, que simboliza o oportunismo e a falta de escrúpulos típicas de uma grande parcela de nossa sociedade. [...]
Concordo que nossa postura oportunista realmente contribui para nos manter neste estado de atraso econômico e cultural
5 em que vivemos. Só que a “Lei de Gérson”, na verdade é muito mais antiga que o próprio. No excelente livro “Mauá, Empresário
do império”, de Jorge Caldeira (Ed. Companhia das Letras), percebe-se que há quase duzentos anos atrás esta lei já era cumprida.
Aliás, essa deve ser a lei mais antiga do Brasil, pois desde as capitanias hereditárias nossa história é pontilhada de exemplos de
oportunismo e falta de escrúpulos. A própria escravidão não deixa de ser uma mostra do viés ético de nossa sociedade desde
tempos imemoriais, mas isso já é outra história.
10 Eu não conheço a biografia do Gérson, muito menos do publicitário que criou a frase e o comercial do Vila Rica. Mas
acho muito improvável que o Gérson real seja um oportunista sanguinário como ficou sendo sua imagem. Nem acredito
que o diretor de criação da agência poderia imaginar que esta frase seria usada mais de vinte anos depois para designar esta
nossa característica.
Nossa língua é ferina. Quando a Volkswagen lançou o Fusca com teto solar no final da década de ‘60’, as vendas
15 despencaram depois que passou a ter a conotação de “carro de chifrudo”. A VASP na década de 70 criou um voo noturno
ligando São Paulo ao Guarujá para atender aos executivos que deixavam suas famílias no balneário e passavam a semana
trabalhando na capital. O nome do voo era “Corujão” devido ao horário. Não demorou muito, o voo passou a ser apelidado
de “Cornudão”, pelo fato das esposas ficarem na praia enquanto os maridos ficavam na cidade. A VASP teve que cancelar
a linha por falta de passageiros.
20 E óbvio que a VW tinha introduzido o teto solar baseado no fato do Brasil ser um país quente e ensolarado, perfeito para
aquele opcional. Só que o consumidor preferia ficar passando calor a ser visto dirigindo um carro com um buraco no teto
para “deixar os chifres de fora”. O voo corujão era perfeito, especialmente na época em que não havia Piaçaguera e, para
chegar ao Guarujá de carro na alta temporada, o motorista tinha que enfrentar horas de fila na balsa. Mas era melhor demorar
oito ou dez horas de carro do que ir de avião, em meia hora, num voo chamado “Cornudão”…
25 Com o comercial do Gérson foi a mesma coisa. Levar vantagem em tudo não significa que os outros tem que levar des-
vantagem. O oportunismo foi incorporado à frase por quem a leu/ouviu, não por quem a escreveu/disse. O problema é que
passou a ficar (para usar um conceito atual) “politicamente incorreto” levar vantagem em alguma coisa.
Na verdade, parece que nossa sociedade se divide em dois grandes blocos: um que leva vantagem em tudo (no sentido
pejorativo) e outro que não pode levar vantagem em nada. Acontece que dá para levar vantagem em tudo sem fazer com
30 que os outros saiam em desvantagem. Você não precisa esmagar a outra parte para sair ganhando.
(http://www.geocities.ws/cp_adhemar/leidegerson.html. Acesso em: 10 abril 2017. Texto revisado conforme a nova ortografia.)

Assinale a opção cuja reescrita da regência verbal apresenta INCORREÇÃO gramatical.


a) “Mas era melhor demorar oito ou dez horas de carro do que ir de avião…” (l. 23 e 24) => Mas era melhor demorar
oito ou dez horas de carro a ir de avião…
b) “Você não precisa esmagar a outra parte para sair ganhando.” (l. 30) => Você não precisa de esmagar a outra
parte para sair ganhando.
c) “Levar vantagem em tudo não significa que os outros tem que levar desvantagem.” (l. 25 e 26) => Levar vantagem
em tudo não significa que os outros têm de levar desvantagem.
d) “Só que o consumidor preferia ficar passando calor a ser visto dirigindo um carro com um buraco no teto...”
(l. 21) => Só que o consumidor preferia ficar passando calor do que ser visto dirigindo um carro com um buraco
no teto…

78 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Regências verbal e nominal

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BNCC em foco
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EM13LP06

1. UEM-PR 2015

Excesso de regras
João Ubaldo Ribeiro ironiza normas legais em sua última coluna
19 de julho de 2014, 12h30

O escritor João Ubaldo Ribeiro, que morreu na última sexta-feira (18/7) aos 73 anos, ironizou em seu último texto a quan-
tidade de novas regras que vêm sendo fixadas na sociedade. “Imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico
pode ser regulamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo lado de cima, haverá
um desperdício geral de 3,28 por cento”, afirma o imortal da Academia Brasileira de Letras na coluna que havia preparado
5 para a edição do próximo domingo (20/7) do jornal O Globo.
Leia a íntegra do texto:
O correto uso do papel higiênico
O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no uso de papel higiênico, nem o
leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o assunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me
10 ocorreu que, dentro em breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam baixadas
normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos levando em conta não só o que é melhor
para nós como para a coletividade e o ambiente. Por exemplo, imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico
pode ser regulamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo lado de cima, haverá
um desperdício geral de 3.28 por cento, com a consequência de que mais lixo será gerado e mais árvores serão derrubadas
15 para fazer mais papel. E a maneira certa de passar o papel higiênico também precisa ter suas regras, notadamente no caso
das damas, segundo aprendi outro dia, num programa de tevê.
Tudo simples, como em todas as medidas que agora vivem tomando, para nos proteger dos muitos perigos que nos
rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências pessoais. Nos banheiros públicos, como os de aeroportos e rodo-
viárias, instalarão câmeras de monitoramento, com aplicação de multas imediatas aos infratores. Nos banheiros domésticos,
20 enquanto não passa no Congresso um projeto obrigando todo mundo a instalar uma câmera por banheiro, as recém-criadas
Brigadas Sanitárias (milhares de novos empregos em todo o Brasil) farão uma fiscalização por escolha aleatória. Nos casos
de reincidência em delitos como esfregada ilegal, colocação imprópria do rolo e usos não autorizados, tais como assoar o
nariz ou enrolar um pedacinho para limpar o ouvido, os culpados serão encaminhados para um curso de educação sanitária.
Nova reincidência, aí, paciência, só cadeia mesmo.
25 Agora me contam que, não sei se em algum Estado ou no País todo, estão planejando proibir que os fabricantes de gulo-
dices para crianças ofereçam brinquedinhos de brinde, porque isso estimula o consumo de várias substâncias pouco sadias e
pode levar à obesidade, diabetes e muitos outros males. Justíssimo, mas vejo um defeito. Por que os brasileiros adultos ficam
excluídos dessa proteção? O certo será, para quem, insensata e desorientadamente, quiser comprar e consumir alimentos
industrializados, apresentar atestado médico do SUS, comprovando que não se trata de diabético ou hipertenso e não tem
30 taxas de colesterol altas. O mesmo aconteceria com restaurantes, botecos e similares. Depois de algum debate, em que alguns
radicais terão proposto o Cardápio Único Nacional, a lei estabelecerá que, em todos os menus, constem, em letras vermelhas
e destacadas, as necessárias advertências quanto a possíveis efeitos deletérios dos ingredientes, bem como fotos coloridas
de gente passando mal, depois de exagerar em comidas excessivamente calóricas ou bebidas indigestas. O que nós fazemos
nesse terreno é um absurdo e, se o Estado não nos tomar providências, não sei onde vamos parar.
35 Ainda é cedo para avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que, protegendo as nossas crianças, ela se
tornará um exemplo para o mundo. Pelo que eu sei, se o pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia
e até preso. Mas, antes disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento psicológico. Se, ainda assim, persistir em seu
comportamento delituoso, não só vai preso mesmo, como a criança é entregue aos cuidados de uma instituição que cuidará
dela exemplarmente, livre de um pai cruel e de uma mãe cúmplice. Pai na cadeia e mãe proibida de vê-la, educada por
40 profissionais especializados e dedicados, a criança crescerá para tornar-se um cidadão modelo. E a lei certamente se aperfei-
çoará com a prática, tornando-se mais abrangente. Para citar uma circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável,
lembremos que a tortura física, seja lá em que hedionda forma – chinelada, cascudo, beliscão, puxão de orelha, quiçá um
piparote –, muitas vezes não é tão séria quanto a tortura psicológica. Que terríveis sensações não terá a criança, ao ver o
pai de cara amarrada ou irritado? E os pais discutindo e até brigando? O egoísmo dos pais, prejudicando a criança dessa
45 maneira desumana, tem que ser coibido, nada de aborrecimentos ou brigas em casa, a criança não tem nada a ver com os
problemas dos adultos, polícia neles.
Sei que esta descrição do funcionamento da lei da palmada é exagerada, e o que inventei aí não deve ocorrer na prá-
tica. Mas é seu resultado lógico e faz parte do espírito desmiolado, arrogante, pretensioso, inconsequente, desrespeitoso,
FRENTE 1

irresponsável e ignorante com que esse tipo de coisa vem prosperando entre nós, com gente estabelecendo regras para o
50 que nos permitem ver nos balcões das farmácias, policiando o que dizemos em voz alta ou publicamos e podendo punir

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até uma risada que alguém considere hostil ou desrespeitosa para com alguma categoria social. Não parece estar longe o
dia em que a maioria das piadas será clandestina e quem contar piadas vai virar uma espécie de conspirador, reunido com
amigos pelos cantos e suspeitando de estranhos. Temos que ser protegidos até da leitura desavisada de livros. Cada livro será
acompanhado de um texto especial, uma espécie de bula, que dirá do que devemos gostar e do que devemos discordar e
55 como o livro deverá ser comentado na perspectiva adequada, para não mencionar as ocasiões em que precisará ser reescri-
to, a fim de garantir o indispensável acesso de pessoas de vocabulário neandertaloide. Por enquanto, não baixaram normas
para os relacionamentos sexuais, mas é prudente verificar se o que vocês andam aprontando está correto e não resultará na
cassação de seus direitos de cama, precatem-se.
Fonte: Revista Consultor Jurídico, 19 de julho de 2014, 12h30. Disponível em: www.conjur.com.br/2014-jul-19/
joao-ubaldo-ribeiro-ironiza-normas-legais-ultima-coluna. Acesso em 05/11/2015.

Assinale o que for correto quanto aos elementos linguísticos do texto.


01 Em “denunciado à polícia” (linha 36), o emprego do sinal indicativo de crase justifica-se pela regência nominal da
forma de particípio passado “denunciado”, que exige a preposição a.
02 Nos trechos: “fotos coloridas de gente passando mal” (linhas 32-33) e “comidas excessivamente calóricas”
(linha 33), os vocábulos em negrito desempenham função de adjetivo, qualificando termos que os acompanham.
04 A expressão “Por enquanto” (linha 56) estabelece no texto uma relação de oposição entre um suposto controle das
atividades sexuais vivenciadas pelas pessoas e o cuidado que elas devem ter quanto ao que andam aprontando.
08 Construções sintáticas utilizadas no texto, tais como “Temos que ser protegidos” (linha 53) e “é prudente verificar”
(linha 57), indicam manifestações de ironia na medida em que o sentido que se deve entender é o contrário do
que está sendo dito.
16 Em “O mesmo aconteceria com restaurantes, botecos e similares.” (linha 30), a forma verbal em negrito expressa
uma circunstância de condição ligada à hipotética aprovação do chamado Cardápio Único Nacional.
Soma:
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</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

EM13LP03

2. Udesc “Eu me chamo Marina”. Então desprendi os cabelos e, em chinelos como estava, saí pela porta da frente para nunca
mais voltar.
Gosto de campinas abertas, amo a folha que flutua no ar, desgarrada da árvore. Ah, essa insensatez de todas as pessoas
condicionadas por palavras e símbolos que não são amor nem liberdade!
5 Aos 23 anos, tive um sonho: eu era eu mesma, porém mais esguia, o rosto mais magro e maduro. Podia ver a beleza em
minha pele, mas a vida de meus olhos se mesclava a um verde mais profundo, como um acorde nostálgico ou melancólico
em meio a uma canção agreste. Ou como as palavras de um poema que, um dia, uma voz amiga me declamara:
Eu não dei por esta mudança
tão simples, tão certa, tão fácil:
10 Em que espelho ficou perdida
a minha face?
“Não!”, eu gritava, “Isto não poderá acontecer!” E com um gesto brusco destruí o sonho, que se partiu em círculos a minha volta.
SOUZA, Silveira de. Um nome: Marina. In: Ecos no porão. Florianópolis: Ed. UFSC, 2012, p. 28.

Assinale a alternativa incorreta em relação ao conto Um nome: Marina, Silveira de Souza, e ao texto:
a) O conto Um nome: Marina é entrecortado por um poema, a este recurso estilístico denomina-se intertextualidade.
b) Na estrutura linguística “Ah, essa insensatez de todas as pessoas condicionadas por palavras” (linhas 3-4) no que
se refere à concordância e regência nominais há um desvio às normas exigidas pela gramática normativa.
c) O conto Um nome: Marina apresenta os fatos sequencialmente, o que é retratado pela progressão cronológica
da personagem principal – Marina.
d) Se a palavra “acorde” (linha 6) for substituída por som ainda assim o sentido e a coerência textual são mantidos.
e) Da leitura do conto Um nome: Marina infere-se um ar de sensualidade, reforçado pela repetição do nome Marina.
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</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

EM13LP08

3. FGV-SP O artista Juan Diego Miguel apresenta a exposição “Arte e Sensibilidade”, no Museu Brasileiro da Escultura (MUBE)
de suas obras que acabam de chegar no país.
Seu sentido de inovação tanto em temas como em materiais que elege é sempre de uma sensação extraordinária para o
espectador. Juan Diego sensibiliza-se com os materiais que nos rodeam e lhes da vida com uma naturalidade impressionante,
encontrando liberdade para buscar elementos no fauvismo de Henri Matisse, no cubismo de Pablo Picasso e do contempo-
râneo de Juan Gris. Uma arte que está reservada para poucos.
Exposição: de 03 de agosto à 02 de setembro, das 10 às 19h.

O primeiro período do texto deve ser reescrito, para apresentar maior clareza. Além disso, a regência do verbo che-
gar contraria a norma culta. Reescreva o parágrafo, com o objetivo de torná-lo mais claro e adequar a regência do
verbo referido.

80 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Regências verbal e nominal

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© Salvador Dalí, Fundación Gala-Salvador Dalí/AUTVIS, Brasil, 2020

Salvador Dalí. A persistência


da memória, 1931. Óleo sobre
tela, 24,1 cm 3 33 cm. Museu
de Arte Moderna, Nova York.

FRENTE 1

Crase

13
CAPÍTULO
Uma das intepretações possíveis para a obra A persistência da memória está
ligada à rejeição da ideia de tempo como algo determinante e definitivo. A
tela evidencia vários relógios que parecem estar se derretendo e, ao mesmo
tempo, se fundindo a outros elementos da imagem. Ao final, não vemos nem
a imagem original dos relógios nem a forma dos elementos que os com-
põem: será uma terceira forma. Na língua portuguesa, o fenômeno da crase
também tem relação com a fusão de dois elementos que, ao se juntarem,
formam algo novo, diferente daqueles que lhe deram origem. Neste capítulo,
compreenderemos o que é a crase e quais são as situações em que ela se
faz necessária.

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Crase: conceito, sentido e aplicação
Leia a manchete a seguir.

Banhistas descumprem decreto no feriado e vão à praia em Florianópolis e Balneário Camboriú


BITTENCOURT, Brenda. Hora de Santa Catarina, 2 abr. 2021. Disponível em: www.nsctotal.com.br/noticias/banhistas-descumprem-decreto-no-feriado-vao-a-praia-
em-florianopolisbalneario-camboriu. Acesso em: 20 out. 2023

Na manchete, podemos observar que, após a forma verbal “vão”, há uma palavra com um acento grave. Toda vez que
esse acento for usado sobre a vogal “a”, significa que ocorreu o que conhecemos como crase, fenômeno linguístico em
que há, na fala, a fusão de dois sons idênticos. Isso pode ser percebido, por exemplo, quando a preposição “a” e o artigo
feminino “a” se encontram em uma sentença.
Banhistas vão à praia.

a a

o verbo “ir” exige o substantivo “praia”


a preposição “a”. exige o artigo feminino “a”.
Na escrita, em vez de registrarmos um “a” ao lado do outro, convencionou-se indicar apenas um “a” e marcar essa
fusão com um sinal indicativo de crase: o acento grave.
Agora, leia a tirinha.
Na tirinha, a analogia da pre-
posição e do artigo como gêmeos

Rata
favorece a percepção de que, em-
bora semelhantes, eles não são
iguais, pois cada um desempenha
uma função sintática na frase. Além
disso, a tirinha brinca com o termo
acento grave, que nomeia o sinal
usado, na escrita, para evidenciar
essa fusão.

Atenção
Enquanto os artigos têm a função de especificar os substantivos a que estão relacionados, a preposição cumpre o papel de
conectar partes do texto, sendo, por isso, um importante recurso para a coesão textual. Veja os exemplos.
• Eu vi a menina hoje. (“a” exerce a função de artigo, pois especifica o substantivo “menina”)
• Saí a caminhar ontem. (“a” tem função de preposição, pois liga dois verbos)

Além da junção com o artigo feminino definido, a preposição “a” também pode se contrair com a vogal “a” inicial de
pronomes demonstrativos (aquela, aquele, aquilo) ou relativos (a qual). Observe:
Fez homenagem àquela que ama! Esta é a história à qual me referi.
(a + aquela) (a + a qual)

Preposição Pronome demonstrativo Preposição Pronome relativo


No primeiro caso, o substantivo “homenagem” exige a preposição “a”; assim, diante do pronome “aquela”, ocorrem
dois fonemas semelhantes: aaquela. Como na escrita esse registro não é admissível, o uso do acento grave é o que indica
o fenômeno da crase (àquela). No segundo exemplo, o verbo “referir” exige a preposição “a”. Portanto, o acento grave,
indicativo de crase, é fundamental para marcar a fusão da preposição com o pronome relativo em questão.

Uso obrigatório
Há contextos de uso em que sempre ocorre crase. Nesses casos, o acento grave é obrigatório.

1a regra: ocorre crase antes de palavras femininas quando houver um vocábulo na


sentença que exija a preposição “a”.

82 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 Crase

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Veja a manchete a seguir: Vai pra Itália? Veja o que visitar perto de Milão
Conheça os 6 lugares mais interessantes perto de Milão e
Mitos e verdades sobre a chegada do homem
saiba quantas horas você gasta para visitar cada cidade.
à Lua Milão e Roma são as portas de entrada para os brasileiros
O primeiro homem a pisar na Lua foi o astronauta norte- que viajam à Itália. Tanto Milão quanto Roma estão localizadas
-americano Neil Armstrong em 1969, durante a missão Apolo 11. em zonas estratégicas que permitem fazer muitos bate e volta.
ELERBROCK, Rafael. Brasil Escola, [s.d.]. Disponível em: https:// Em Milão é interessante ficar no mínimo três dias: no primeiro
brasilescola.uol.com.br/curiosidades/mitos-verdades-sobre-chegada- se faz um tour rápido, no segundo um tour mais tranquilo e
homem-na-lua.htm. Acesso em: 20 out. 2023.
no terceiro um tour nas partes menos centrais.
No enunciado, “Lua” é um substantivo feminino e admi- [...]
te, portanto, o emprego do artigo “a”; já o verbo “chegar” Design.com, 12 nov. 2019. Disponível em: https://revistadesign.com/
portal/vai-pra-italia-veja-o-que-visitar-perto-de-milao/.
exige como complemento a preposição “a” (chegar a al- Acesso em: 20 out. 2023.
gum lugar). Então, ocorre a fusão de dois “a”: o artigo “a”
No trecho destacado, o verbo “viajar” rege a preposi-
e a preposição “a”. Justifica-se, assim, o emprego do sinal
indicativo de crase em “à Lua”. ção “a”, e o substantivo “Itália” admite o uso do artigo “a”.
Uma estratégia para verificar se há ou não crase é Por esse motivo, no fragmento “brasileiros que viajam à
substituir a palavra feminina por outra masculina: “Mitos e Itália” ocorre crase.
verdades sobre a chegada do homem ao centro da Terra”. Em caso de dúvida se há ou não acento grave antes
Se, na frente de uma palavra masculina, o uso de “ao” (pre- do nome de um lugar, basta fazer um teste simples: formar
posição “a” + artigo “o”) for pertinente, então significa que frases com a preposição “de” + o nome do lugar e verificar
deve haver crase no caso de uma palavra feminina. se ele admite ou não o artigo feminino. Veja:
Outra estratégia para ter certeza de que ocorre crase
em uma sentença é trocar o “a” por “na” ou “para a”. Se o Viajei da Itália para cá.
sentido for mantido, então o fenômeno da crase ocorre na
frase. Exemplos: de + a
Quero ir à praia logo pela manhã.
(Quero ir para a praia logo pela manhã.)
há artigo feminino
Cheguei à casa de Angélica.
Se o nome “Itália” admite artigo, então a crase ocorre
(Cheguei na casa de Angélica.)
em Viajei à Itália.

Saiba mais Viajei de Roma para cá.

O verbo “chegar”, no sentido de “alcançar um lugar”, rege,


segundo a norma-padrão, a preposição “a”. No entanto, o preposição de
uso da preposição “em” junto a esse verbo tem se tornado
cada vez mais comum na fala e na escrita de brasileiros. não há artigo feminino
Assim, a frase “Cheguei na casa de Angélica”, embora
não seja contemplada pela gramática normativa, pode ser Se o nome “Roma” não admite artigo, então a crase
utilizada em contextos informais, sem que haja prejuízo não ocorre em Viajei a Roma.
para a comunicação.
Essa regra também é válida para os verbos “ir” e “vol-
tar”. Uma dica muito difundida em aulas e materiais didáticos
Também será obrigatório o uso do acento indicador sintetiza a ideia:
de crase com os pronomes demonstrativos iniciados pela
“Se eu vou a e volto da, crase há.
vogal “a” (aquele, aquela, aquilo) ou com o pronome relativo
Se eu vou a e volto de, crase pra quê?”
“a qual”, quando o termo regente (nome ou verbo) exigir
Então:
a preposição “a”.
Nos exemplos a seguir, os verbos “ir” e “obedecer”
Eu volto da Bahia. (da = de + a)
regem a preposição “a”. A crase ocorre porque há fusão
dessa preposição com a primeira vogal dos pronomes
“aquela” e “a qual”. Eu vou à Bahia.
Fui àquela cidade do interior. Há presença do artigo na primeira frase, então ocorre
Esta é a mãe à qual a criança obedece. crase na segunda.

Eu volto de Campinas.
2a regra: ocorre crase na frente de nome de lugar,
desde que este admita o uso do artigo feminino “a”.
FRENTE 1

Eu vou a Campinas.
Vamos refletir agora sobre o uso da crase no texto a Não há presença do artigo na primeira frase, então
seguir. não ocorre crase na segunda.

83

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O verbo “ir” exige a preposição “a”, mas nem sempre
Na indicação de hora aproximada
o nome do lugar exige o artigo “a”, por isso, é bastante
útil fazer essa troca pelo verbo “voltar” em determinadas Crase proibida
sentenças.
No título do artigo de opinião a seguir, observamos Trabalhei até as 22h ontem.
outro uso em que ocorre crase.
Indica um período (o trabalho
Às vezes a gente só quer um abraço que diga que começou antes e continuou)
vai ficar tudo bem
SIMÕES, Fabíola. A soma de todos os afetos, 15 jun. 2017. Disponível Os alunos retornaram após as onze horas.
em: www.asomadetodosafetos.com/2017/06/as-vezes-a-gente-so-quer-
um-abraco-que-diga-que-vai-ficar-tudo-bem.html.
Acesso em: 11 jan. 2024. Indica um tempo não específico
Nesse caso, “às vezes” é uma locução adverbial que (pode ser 11h01, 11h02...)
indica tempo, por isso, o uso do acento grave é necessário
Dica: presença da preposição “após”, “até”, “desde”,
para indicar a crase.
“entre” ou “para”.
A crase pode ocorrer:
a) em locução adverbial feminina de modo, tempo ou lu-
gar: às vezes, às pressas, à noite, à direita, à esquerda, b) em locução prepositiva formada com palavra feminina: à
às escondidas. beira de, à custa de, à sombra de, à moda de, à força de.
Ela saiu às pressas. (A locução indica o modo como À custa de muito esforço, conseguiu alcançar seus
ela saiu.) objetivos.
Ele corre à noite, porque o tempo está mais fresco. Aquele restaurante serve comida à moda da casa.
(A locução indica o tempo quando ele corre.)
No caso de locuções prepositivas ocultas, a crase se
A padaria fica à esquerda da loja de sapatos. (A locu- mantém. Veja:
ção indica o lugar onde o estabelecimento se localiza.)
Escreveu um conto à Machado de Assis.
Saiba mais Escreveu um conto à (moda de) Machado de Assis.
A expressão “as vezes” pode ser usada sem o acento
c) em locução conjuntiva: à medida que, à proporção que.
grave quando for sinônimo de “as ocasiões” ou “os mo-
mentos”. Se, no entanto, significar “de vez em quando”, a À medida que as horas passavam, eu ficava
expressão indica tempo, portanto deve receber o acento mais nervoso.
indicador de crase: “às vezes”. A diferença de sentido
pode ser observada nos exemplos a seguir. Atenção
Às vezes, quero comer tudo o que vejo pela frente. (de
vez em quando) A locução ocorre sempre que usamos duas ou mais pa-
Todas as vezes em que te vejo, meu coração acelera. lavras para indicar uma só ideia. Juntas, elas pertencem
(ocasiões/momentos) a apenas uma classe gramatical. As locuções adverbiais
indicam uma circunstância (de tempo, modo, lugar etc.),
as prepositivas são introduzidas por uma preposição e,
Em relação à locução adverbial de tempo, a indi- por fim, as conjuntivas desempenham a mesma função
cação de horas merece uma atenção especial. Ocorre de uma conjunção.
crase na maioria dos casos, exceto quando houver o
uso das preposições “após”, “até”, “desde”, “entre” ou
“para” em vez da preposição “a”. Uso proibido
O acento grave não deve ser utilizado quando não
Na indicação de hora exata ocorrer o fenômeno da crase.
Crase obrigatória
1a regra: não ocorre crase
Eles chegaram às 10h no novo emprego.
antes de palavras masculinas.

Marca uma hora específica


Observe que, no título de receita culinária a seguir, está
destacado o nome de um típico prato da culinária brasileira.
Partiremos às oito horas em ponto.
Aprenda a fazer um perfeito bife a cavalo para o
Indica um horário definido almoço e jantar
Gshow, 22 jun. 2020. Disponível em: https://gshow.globo.com/RPC/
Dica: presença da preposição “a”. Estudio-C/cozinha-paranaense/receitas/perfeito-para-o-almoco-aprenda-
a-fazer-bife-a-cavalo.ghtml. Acesso em: 20 out. 2023.

84 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 Crase

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O substantivo “cavalo” é masculino, portanto não admite exemplo há outro elemento que impossibilita a presença da
o artigo feminino “a”. E, sem a presença de artigo feminino, crase: o fato de o substantivo “restaurantes” estar no plural.
não pode ocorrer crase. (Lembre-se de que uma das regras Na frente de palavras que estejam no plural, a crase só
fundamentais da crase é a fusão entre dois sons iguais, como ocorre quando o substantivo feminino estiver especificado
ocorre com a preposição “a” e o artigo feminino “a”). pelo artigo “a”. Nesse caso, deve haver a concordância do
artigo com o substantivo.
2a regra: não ocorre crase em expressões com Eu me referi a comidas diversas.
palavras repetidas.

sentido genérico
Agora, observe o texto a seguir. (qualquer comida)
“A máscara já não faz parte do meu dia a dia” Eu me referi às comidas caseiras do Brasil.
Brasileira descreve sua rotina em Xangai, onde a vida vol-
tou quase ao normal, enquanto a pandemia avança por outras sentido específico
partes do mundo e da própria China.
(comidas caseiras do Brasil)
SUNG, Fernanda. Piauí, 14 jan. 2021. Disponível em: https://piaui.folha.
uol.com.br/mascara-ja-nao-faz-parte-do-meu-dia-dia/.
Acesso em: 11 jan. 2024.
4a regra: não ocorre crase antes de verbo.
Em expressões com palavras repetidas, como “dia a
dia”, também não deve ser utilizado o sinal indicativo de
crase. Além disso, no exemplo, há uma palavra masculina • “a gente começa a comer”
(“dia”). Contudo, a dica de não usar crase entre palavras Na língua portuguesa, de forma geral, não ocorre artigo
repetidas é válida mesmo se houver uma palavra feminina, antes de verbo. Portanto, nesses casos, não tem como ocorrer
como ocorre em “gota a gota” ou “face a face”. fusão de preposição e artigo feminino, ou seja, não há crase.

3a regra: não ocorre crase antes de palavras no plu- 5a regra: não ocorre crase antes de palavras de
ral que não são definidas por um artigo feminino. sentido indefinido (artigos e pronomes indefinidos).

Agora, imagine que o autor de um blog postou em sua


página o seguinte depoimento: • “ontem fui a um desses lugares” / “fiquei perguntando
a toda hora”
Gosto de ir a restaurantes populares. Lá, o cheirinho No primeiro trecho está evidente a presença da pre-
de comida caseira é tão bom que a gente começa a comer posição “a” e do artigo indefinido “um”. No segundo, a
e não quer parar. Se eu pudesse, iria todos os dias, de se- preposição aparece antes do pronome indefinido “toda”.
gunda a domingo e, de preferência, de janeiro a dezembro. Nesses contextos da língua, não se admite o uso do artigo
Ontem fui a um desses lugares (acho que cheguei após feminino “a”, logo, o fenômeno da crase não acontece.
as 20h). Quando a atendente chegou, pedi a ela dois pratos
típicos que eu adoro: frango a passarinho e bife à milane- 6a regra: não ocorre crase quando a indicação
sa. Ela perguntou meu nome, porque queria saber a quem
de hora vier precedida das preposições “após”,
deveria chamar quando o prato ficasse pronto. Eu achei
“até”, “desde”, “entre” e “para”.
estranho, porque não estava acostumado a isso. Mas, enfim,
se essa era a regra... kkkkk.
Eu estava tão faminto que fiquei perguntando a toda • “cheguei após as 20h”
hora se iria demorar, mas só levou de 15 a 20 minutos
Já vimos que, em expressões que marcam as horas,
para me chamarem.
quase sempre ocorre crase. Essa regra só não será válida
Bom, nem preciso dizer ao senhor e à senhora (ou a
vossa senhoria, se assim preferir) que eu devorei tudinho! quando as preposições “após”, “até”, “desde”, “entre” e “para”
Nunca comi tanto na minha vida! Mas quem resiste a antecederem o numeral ou algarismo que indica a hora.
essa maravilhosa culinária do nosso país, né? Eu, defini- No texto, é dito que o rapaz chegou “após as 20h”.
tivamente, não!!!! Como não há presença da preposição “a”, então não pode
Texto elaborado pelos autores para fins didáticos. haver crase.

O texto apresenta diversas passagens em que o uso 7a regra: não ocorre crase antes de
do acento grave, indicador de crase, não deve ser utilizado. pronomes pessoais.
• “Gosto de ir a restaurantes”
FRENTE 1

A palavra “restaurante” é masculina e, seguindo apenas • “pedi a ela dois pratos típicos”
a regra de que só ocorre crase antes de palavras femininas, O verbo “pedir” exige preposição “a”, mas não utiliza-
concluímos que não há crase nesse caso. Além disso, no mos artigo “a” antes de pronomes pessoais. Sendo assim,

85

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o fenômeno da crase não se justifica quando utilizamos Em expressões que envolvam números indicando um
esses pronomes. período, não há crase se o “a” que fica entre eles significar
“até”. É fundamental observar também se antes do primeiro
8a regra: não ocorre crase antes de pratos culinários algarismo (ou numeral) a preposição “de” se faz presente,
em que não se subentende a expressão “à moda de”. ainda que na junção com o artigo “a”. Veja:
Estaremos fechados de 1 a 5 de janeiro.
• “adoro frango a passarinho”
Muitos pratos culinários levam sinal indicador de crase, preposição “de” desnecessário o
como ocorre em “bife à milanesa”. Isso porque se suben- (sem artigo) acento grave
tende a expressão “à moda de”: bife à moda milanesa.
O teste será aplicado da sala 2 à 5.
Ou seja, à moda de Milão. O mesmo ocorre em “macarrão
à bolonhesa” (à moda de Bolonha) ou “arroz à grega” (à
moda da Grécia). preposição “de” necessário o
A expressão “à moda de” significa “segundo os cos- + artigo “a” acento grave
tumes” ou “conforme as maneiras”, portanto está ligada a Como na expressão “de 15 a 20 minutos” não há artigo
um estilo. Um país pode ter um estilo ou costume, assim antes do primeiro número, então não ocorre crase entre os
como uma pessoa (“molho à Juliana”), mas não um pássa- algarismos 15 e 20.
ro, por isso, no exemplo, o uso da crase não se justifica.
A expressão “frango a passarinho” quer dizer “cortado
como se fosse passarinho”. Além disso, “passarinho” é um 12a regra: não ocorre crase entre dias da semana
substantivo masculino, o que torna proibido o emprego do ou meses do ano, em expressões que indicam
acento grave. um período.

9a regra: não ocorre crase antes de pronomes Isso também se aplica quando nos referirmos aos me-
interrogativos. ses do ano ou aos dias da semana. Como, em geral, ao
indicar esses períodos, o uso do artigo “a” não é necessário,
então não ocorre crase. Por isso, as passagens “de segunda
• “queria saber a quem deveria chamar”
a domingo” e de “janeiro a dezembro” presentes no texto
Quando utilizamos um pronome interrogativo, ele não não apresentam o acento grave.
é antecedido por um artigo. Assim, não há como ocorrer o
fenômeno da crase antes dele.
13a regra: antes de pronomes de tratamento não
há crase, com exceção de “senhora”, “senhorita”,
10a regra: não ocorre crase antes de pronomes
“madame” e “dona”.
demonstrativos de primeira e segunda pessoas.

• “dizer a vossa senhoria”


• “não estava acostumado a isso” / “quem resiste a essa
maravilhosa culinária” Os pronomes de tratamento. geralmente. não são ante-
cedidos por artigo feminino, assim, não há como ocorrer o
Os pronomes demonstrativos não admitem artigo fe-
fenômeno da crase. É o que acontece no texto com o uso
minino. Isso explica por que o acento grave não pode ser
de “a vossa senhoria”. Veja outros exemplos:
utilizado antes de “isso” e “essa”.
Vou pedir a você que saia.
Vale lembrar que a crase que ocorre nos demonstra-
Ele queria contar o segredo a Vossa Majestade, mas
tivos “aquela”/”aquele”, em alguns contextos, não se dá
foi impedido.
pela presença de um artigo, mas pela vogal “a” que inicia
Para essa regra, no entanto, há algumas exceções: an-
esse pronome. Assim, em “Não resisti àquela comida” há
tes de “senhora”, “senhorita”, “dona” e “madame”, o uso do
crase, mesmo que “aquela” seja pronome demonstrativo,
acento grave é necessário.
pois o verbo “resistir” exige a preposição “a”, e o pronome
Nem preciso dizer ao senhor e à senhora que eu de-
começa com a vogal “a”.
vorei tudinho!
O verbo “dizer”, nesse contexto, exige a preposição
11a regra: não ocorre crase entre números quando “a” (dizemos algo a alguém). Por esse motivo, observe que,
a preposição “a” puder ser substituída por “até” e antes de “senhor”, foi usado “ao” (a + o = ao) e, antes de
se antes do primeiro número não houver o “senhora”, foi usado o “à” com acento grave (a + a = à).
artigo feminino “a”.
Uso facultativo
• “levou de 15 a 20 minutos” / “iria de segunda a do- Observe o título dos livros a seguir. A obra é a mesma,
mingo” / “iria de janeiro a dezembro” mas cada exemplar foi publicado por uma editora diferente.

86 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 Crase

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Claudia Raia faz elogio tosco a Fernanda Souza:
Reprodução

Reprodução
“Amo mais que pele de frango”
CASTRO, Daniel. Notícias da TV, São Paulo, 18 jun. 2019. Disponível
em: https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/celebridades/claudia-
raia-faz-elogio-tosco-fernanda-souza-amo-mais-que-pele-de-frango-
27589?cpid=txt. Acesso em: 11 jan. 2024.

Na manchete, a falta do acento grave no trecho des-


tacado justifica-se porque o contexto da publicação da
notícia pede um tratamento mais formal, pois entende-se
que existe uma relação distante entre o jornal e as pessoas
envolvidas.

3a regra: a crase é facultativa depois da locução


prepositiva “até a”.

1a regra: a crase é opcional antes de pronomes Por fim, em frases como “Moisés foi até a [à] escola”, o
possessivos femininos. uso da crase também será facultativo.

Estabelecendo relações
O acento indicativo de crase é opcional em alguns con-
textos específicos, como ocorre nos títulos da obra acima. Em Química, a fusão é um processo de transformação de
Uma editora optou por registrar a crase antes do pronome uma substância em estado sólido para o líquido. É o que
possessivo “minha”, enquanto a outra preferiu não o fazer. ocorre com o gelo, quando colocado fora da geladei-
ra. No estudo da crase, pudemos perceber que também
Carta à minha filha Carta a minha filha ocorre uma fusão, mas, no caso, de dois sons vocálicos
Como o uso de artigo definido antes de pronome pos- semelhantes: /aa/.
sessivo não é obrigatório, a crase também não é. Para identificar essa fusão é possível fazer, como na
Matemática, uma “prova real”, ou seja, olhar para seus
elementos de outra forma e checar se realmente “o re-
Atenção
sultado” está correto. Ao desmembrar os elementos que
Os principais pronomes possessivos femininos são: “mi- se fundiram, conseguimos evidenciar tanto a preposição
nha”, “tua”, “nossa”, “sua”. Eles servem para evidenciar quanto o artigo, isto é, os termos semelhantes.
a relação de posse estabelecida com a palavra a que
fazem referência. Raquel vai aa praia. Raquel vai à praia.

prep. art. fusão da prep. com o art.


2a regra: a crase é opcional antes de nomes
próprios femininos, mas, quando a pessoa citada é
famosa ou desconhecida, então o acento grave não Outras ocorrências
deve ser usado. Algumas vezes a presença ou não do acento grave
deve ser analisada considerando o contexto de uso de uma
palavra, seu sentido na frase ou mesmo se o vocábulo vem
Observe agora estas frases:
ou não acompanhado de um modificador.
Alessandra dedica-se a Áurea desde que
a filha nasceu. Atenção
Alessandra dedica-se à Áurea desde que O modificador é um termo que acrescenta uma infor-
a filha nasceu. mação à palavra (em geral, um substantivo) a que está
ligado. Em geral, os adjetivos e locuções adjetivas têm
Antes de nomes próprios femininos, o fenômeno da essa função. Em “vestido azul”, a palavra “azul” modifica
crase pode ou não ser marcado com o acento grave. Isso o sentido do substantivo “vestido”.
ocorre, pois se entende que, quando se trata de uma pessoa
com a qual temos um relacionamento próximo, podemos ou
não utilizar o artigo definido (eu posso dizer, por exemplo, Palavra “casa”
“Eu conheço Áurea” ou “Eu conheço a Áurea”). No exemplo Compare as duas manchetes a seguir. A primeira faz
anterior, o verbo “dedicar” exige a preposição “a”, então referência à atriz Carla Diaz, que participou do reality show
percebemos que a crase é possível. Big Brother Brasil (BBB), em 2021. A segunda utiliza um
Existe apenas uma exceção para essa regra: quando conhecido ditado popular para dizer que Gabriel Barbosa,
FRENTE 1

a pessoa citada não é próxima, seja porque é uma cele- o Gabigol, retorna ao Santos, clube em que iniciou sua
bridade, seja porque é uma desconhecida, o acento grave carreira, após passar uma temporada jogando em um time
não ocorre. Veja: europeu.

87

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Carla volta à casa do “BBB21” vestida de dummy, após paredão falso
“Sister” reuniu participantes na área externa da casa e, só então, revelou pegadinha. No retorno, ela beijou Arthur e fez alerta
a Juliette.
G1, 11 mar. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/ pop-arte/noticia/2021/03/11/
carla-diaz volta-a-casa-do-bbb21-vestida-de-dummy-apos-paredao-falso.ghtml. Acesso em: 11 jan. 2024.

O bom filho a casa torna: Santos contrata Gabigol


Em baixa na Europa, atacante volta ao clube que o revelou com contrato de empréstimo de um ano
Globo Esporte, 25 jan. 2018. Disponível em: https:// ge.globo.com/sp/santos-e-regiao/futebol/
times/santos/noticia/o-bom-filho-acasa-torna-santos-contrata-gabigol.ghtml. Acesso em: 11 jan. 2024.

Apesar de a palavra “casa” ser utilizada nas duas manchetes, observamos que, na primeira, ela vem precedida de um
“a” com acento grave (“à”) e, na segunda, não. Isso ocorre por causa de uma regra da norma-padrão que orienta que a
palavra “casa” deve receber acento grave se ela vier modificada (apresentar um termo qualitativo), mas não deve receber
o acento indicativo de crase quando indicar “lar”, sem nenhum termo que especifique a palavra.
Em “Carla volta à casa do ‘BBB21’ [...]”, é possível perceber que a atriz está voltando para uma casa em especial, a
“do ‘BBB21’”; o acento indicador de crase, então, deve ser usado. Já em “o bom filho a casa torna”, não está determinada
qual é a casa, então podemos concluir que Gabigol volta para seu lar. Sempre que a palavra “casa” puder ser substituída
por “lar”, não haverá crase.

Palavra “terra”
Com a palavra “terra” acontece algo semelhante. Se esse substantivo vier modificado, também deve ser usado o
acento indicativo de crase, mas, se não houver nenhum qualificador, a crase não ocorrerá.

Com crase Sem crase

Os passageiros chegaram à terra do Tio Sam. Os passageiros chegaram a terra ontem.

com modificador sem modificador

Em relação ao sentido, quando a palavra “terra” for usada em oposição a “bordo”, com a ideia de “chão”, “terra firme”,
não ocorre crase. Já quando o uso estiver ligado ao nome do planeta em que vivemos, então o acento grave deve ser
utilizado.

Com crase Sem crase

O respeito à Terra é fundamental para nossa sobrevivência. Após meses no mar, os navegantes retornaram a terra.

planeta “terra firme”, oposto de a bordo

Palavra “distância”
Quando utilizamos a palavra “distância”, é preciso observar se ela está ou não determinada numericamente, ou seja,
se há uma informação que modifica o seu sentido. Se a distância estiver delimitada, há crase. Caso contrário, não.

Com crase Sem crase

Sem lentes, não enxergo à distância de um metro. Sem lentes, não enxergo a distância.

distância determinada distância indeterminada

Considerando essa regra, a expressão “ensino a distância” (ou similares, como “Faça cursos a distância”, presente na
propaganda a seguir) não deve ter acento indicativo de crase.

88 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 Crase

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Nessas locuções [à parte, à queima-roupa, à risca, por
Acervo do Instituto Federal do Rio Grande do Sul
exemplo], o “a” recebe o acento grave, sem que haja, a rigor,
crase.
CUNHA, Celso; PEREIRA, Cilene da Cunha (org.). Gramática do
português contemporâneo: edição de bolso. Rio de Janeiro: Lexikon;
Porto Alegre, RS: L&PM, 2013. p. 330.

Com essa ressalva, talvez a polêmica gerada fique es-


clarecida: o acento grave pode ser utilizado em locuções
sem que o fenômeno da crase aconteça, ou seja, sem que
haja fusão da preposição e do artigo feminino. É, portanto,
uma convenção de acentuação, sem relação específica
com o fenômeno da crase.
Com base nisso, o anúncio a seguir estaria dentro da
norma-padrão: “Pague à vista”. Note que a locução significa
“no ato do vencimento”, no caso do anúncio (ou “no ato da
compra”, em situações comerciais).
Locução adverbial de modo “à vista”

Acervo da Prefeitura Municipal de Vilhena


Algumas locuções adverbiais – como “à vista” – costu-
mam causar controvérsia quanto ao uso do acento grave.

Vendeu a ou à vista?
Se alguém “vendeu a vista”, deve ter vendido “o olho” (a
vista = objeto direto). O desespero era tanto que um vendeu
o carro, o outro vendeu o rim e esse vendeu a vista.
Se não era nada disso que você queria dizer, então a res-
posta é outra: “vendeu à vista”, e não a prazo (à vista = adjunto
adverbial de modo).
Observe que nesse caso não se aplica o “macete” da subs-
tituição do feminino pelo masculino (à vista > a prazo).
Por causa disso, há muita polêmica e algumas divergências
entre escritores, jornalistas, gramáticos e professores. Acen-
tuamos o “a” que inicia locuções (adverbiais, prepositivas,
conjuntivas) com palavra FEMININA: à beça; à beira de; à
cata de; à custa de; à deriva; à direita; à distância; à espreita;
à esquerda; à exceção de; à feição de; à força; à francesa; à
frente (de); à luz (“dar à luz um filho”); à mão; à maneira de; Mas não é só no sentido de “ação imediata” que o
à medida que; à mercê de; à míngua; à minuta; à moda (de); acento grave pode ser usado. Quando a forma “à vista” esti-
à noite; à paisana; à parte; à pressa; à primeira vista; à pro- ver sendo usada como “na presença” ou “diante dos olhos”,
cura de; à proporção que; à queima-roupa; à revelia; à risca; a locução adverbial de modo também receberá acento:
à semelhança de; à tarde; à toa; à toda; à última hora; à uma A agressão foi feita à vista de todos. (= A agressão foi
(= conjuntamente); à unha; à vista; à vontade; às avessas; às feita diante de todos.)
cegas; às claras; às escondidas; às moscas; às ocultas; às or- Vale lembrar que é sempre importante observar o con-
dens; às vezes (= algumas vezes, de vez em quando)... [...] texto de uso para verificar se o acento grave deve ou não
NOGUEIRA, Sérgio. Vendeu ‘a vista’ ou ‘à vista’? Veja se a crase está
correta nesse caso. G1, Rio de Janeiro, 16 jan. 2013. Disponível em:
ser utilizado. Isso porque a forma “a vista” (sem acento)
http://g1.globo.com/educacao/blog/dicas-de-portugues/post/vendeu-a- também pode ser encontrada em alguns enunciados, como
vista-ou-a-vista-veja-se-a-crase-esta-correta-nesse-caso.html. em “A vista ficou muito embaçada depois do exame”. Nes-
Acesso em: 11 jan. 2024.
se caso, não há preposição, apenas a presença do artigo
Como o estudioso evidencia em seu texto, alguns teó­ feminino “a” seguido pelo substantivo feminino “vista”. O
ricos argumentam que “à vista” não deveria ter o acento termo destacado não é, portanto, uma locução adverbial
grave, já que, se a palavra “vista” (subst. feminino) fosse de modo.
substituída por uma masculina (como “prazo”), o artigo não
seria utilizado, logo, não pode ocorrer crase. Dizemos “a Expressões com ambiguidade
prazo”, e não “ao prazo”. A discussão sobre o uso ou não do acento grave
Ele, no entanto, assim como outros estudiosos da lin- também acontece com algumas locuções adverbais de
guagem, discorda dessa primeira visão e argumenta que instrumento em que, na troca por palavra masculina, não
o uso do acento grave é necessário com base no fato de se observa a presença do artigo. É o que ocorre nas frases
que “à vista” é uma locução adverbial de modo formada “O material foi cortado a faca” / “O material foi cortado a
FRENTE 1

por um substantivo feminino. canivete”. Como a forma “ao canivete” não é gramatical,
Tal tese tem respaldo em algumas gramáticas contem- então não ocorre crase na primeira frase, justificando-se,
porâneas: assim, a ausência do acento.

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Seguindo esse raciocínio, o acento indicativo de crase não poderia ser usado em locuções como “a mão”, “a máquina”,
“a tinta”: “Fez a mão”, “Escreveu a máquina” ou “Coloriu a tinta”. Note que “a tinta”, por exemplo, poderia ser substituída
por “a lápis” (Podemos fazer uma prova a lápis e não ao lápis).
No entanto, esse uso poderia gerar ambiguidade, e, para evitar essa situação, o acento grave tem sido utilizado em
algumas locuções adverbiais, visando dar maior clareza àquilo que se enuncia. Veja:

instagram.com/gramaticaemquadrinhos
Em cada uma das cenas da tirinha, a expressão “a mão” exerce uma função diferente na sentença:
Fez a mão. / Lavou a mão. / Pintou a mão.       Fez à mão. / Lavou à mão. / Pintou à mão.

Objeto direto Adjunto adverbial


(complementa o sentido do verbo: (indica o instrumento utilizado
“o que a pessoa fez, lavou, pintou?”) para fazer, lavar, pintar)

O acento grave, portanto, pode ser utilizado em locuções adverbiais de instrumento ou de modo quando o objetivo
for evitar ambiguidade, ou seja, quando não ocorre crase obrigatoriamente, mas o acento grave é empregado em função
da clareza.
Veja outros exemplos em que o uso ou não desse sinal de acentuação pode gerar diferentes sentidos:

Artigo “a” Artigo “a” + preposição Artigo “a” Artigo “a” + preposição
Cortei a faca. Cortei à faca. Paguei a prestação. Paguei à prestação.
= cortar a própria faca = cortar com a faca = pagar uma parcela = pagar em parcelas

Botei a venda. Botei à venda.


Cheira a flor. Cheira à flor.
= colocar uma faixa nos = colocar algo para
= sente o perfume da flor = tem o perfume da flor
olhos vender

Guardou a chave. Guardou à chave. Chega à noite.


Chega a noite.
= guardar a própria = guardar algo com = chegar no período
= anoitecer
chave chave noturno

Matei à fome.
Matei a fome.
Fica a vontade. Fica à vontade. = levar uma pessoa à
= acabar com uma
morte por falta de
= permanecer o desejo = sentir-se confortável necessidade fisiológica
alimentos (matar
(matar a fome em si)
pela fome)

90 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 Crase

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Revisando
<id>002447_por_f1_c13_q0001</id><tipo>objetiva</tipo><assunto> <id>002447_por_f1_c13_q0005</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. PUC-PR 2023 O texto a seguir é referência para a 5. UEPG-PR 2023


questão.
Em nome dos mares
O tempo é o segundo vilão que nos convida à irres-
“Precisamos mudar o mundo.” É assim, sem temer o
ponsabilidade com o que dizemos o que foi dito naquela
clichê, que Maria Westerbos festeja a recente inauguração
hora, naquela circunstância, naquele afeto, que pode não
de um pequeno mercado em Amsterdã. Aberto no fim
ser toda a verdade no momento seguinte. O “Te amo para
de março, o Ekoplaza LAB inova por materializar uma
sempre” pode não resistir à ressaca do próximo dia. Como
ideia disseminada há tempos pelos defensores do meio
suportar então que não somos nós mesmos, que as pala-
ambiente: lá, todos os produtos são livres de embalagens
vras têm a ver com aquele tempo, e que o tempo muda e
plásticas. “Sabe para onde vai uma parte significativa do
logo depois nos tornamos outros?
plástico que consumimos? Para os oceanos. Por isso, te-
DUNKER, C. THEBAS, C. O palhaço e o psicanalista: como escutar os
outros pode transformar vidas. São Paulo: Planeta do Brasil, 2019, p. 112. mos de evitar cada vez mais o plástico de uso unitário”,
explica a holandesa de 56 anos, enquanto toma café da
O acento indicativo de crase pode ser motivado por manhã numa padaria.
diversas combinações em língua portuguesa. Nos dois Para botar de pé a nova loja, a ativista trabalhou
casos destacados no texto, observa-se a soma de lado a lado com Erik Does, CEO da rede de supermerca-
a) preposição exigida pela regência nominal e arti- dos Ekoplaza, que só comercializa orgânicos. A parceria
go antecedendo o substantivo feminino. se concretizou graças à Plastic Soup Foundation. Criada
b) preposição exigida pela regência verbal e artigo por Westerbos em 2011 e também baseada na capital da
antecedendo o substantivo feminino. Holanda, a ONG luta para que os mares “não se trans-
c) artigo feminino singular exigido pela concordân- formem numa imensa sopa de dejetos plásticos”. Quinze
cia verbal e nominal do período. militantes atuam na instituição cujo orçamento beirou os
d) pronome demonstrativo em substituição à forma 745 mil euros em 2016. O dinheiro se originou de diferentes
“aquela” e artigo feminino singular. fontes, em especial doações de pessoas físicas e jurídicas.
e) preposição exigida pela regência verbal e prepo- Com apenas 60 metros quadrados, o Ekoplaza LAB
sição antecedendo o substantivo feminino. ocupa o térreo de um prédio residencial em Oud-West,
<id>002447_por_f1_c13_q0002</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> bairro de classe média que passa por acelerado processo
2. FEI-SP Assinale a alternativa que preenche correta- de gentrificação. As gôndolas do mercadinho abrigam
mente as lacunas das seguintes orações: 682 itens – cada um devidamente etiquetado com um
I. Precisa falar ___ cerca de três mil operários. selo em que se lê Plastic Free [livre de plástico]. O leite
II. Daqui ___ alguns anos tudo estará mudado. e o iogurte vêm em garrafas de vidro. As verduras, meio
sujas de terra, como que recém-chegadas da horta, estão
III. ___ dias está desaparecido.
em sacos de juta. E os grãos de café, em recipientes de
IV. Vindos de locais distantes, todos chegaram ___
papel (“Um modo perfeito de armazenar produtos secos”,
tempo ___ reunião.
propagandeia o aviso na prateleira). Todos esses invólucros,
a) a – a – há – a – à. d) há – a – à – a – a. diga-se, são recicláveis.
b) à – a – a – há – a. e) a – há – a – à – a. Já legumes, carnes e pães aguardam os consumido-
c) a – à – a – a – há. res em embalagens de plástico biodegradável. O material
<id>002447_por_f1_c13_q0003</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
lembra o polímero sintético tradicional, tanto pela con-
3. IFSP Assinale a alternativa que preenche, correta e sistência quanto por ser transparente. A diferença é que o
respectivamente, a frase a seguir. plástico comum leva cerca de 500 anos para se decompor
Os interessados em adotar crianças têm de recorrer enquanto o bioplástico se degrada em doze semanas, caso
___ orientações do Juizado de Menores e se sujeitar esteja em contato com o solo. Na água, a decomposição
___ uma espera muitas vezes longa, o que, apesar de exige um pouco mais de tempo.
tudo, não desanima ___ maioria. [...]
a) às – a – a d) as – a – à Para fundar a Plastic Soup, Westerbos abandonou uma
b) às – à – a e) as – à – à carreira de 25 anos na televisão, onde produzia documen-
c) às – à – à tários, programas de entretenimento e shows para crianças.
<id>002447_por_f1_c13_q0004</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Em pouco tempo, conseguiu que sua ONG alcançasse
4. Unicentro-PR 2018 Assinale a única alternativa em reconhecimento internacional.
que o acento indicativo de crase deve ser obrigatório. De acordo com a militante, em 2016, Erik Does an-
Atenção: os acentos foram omitidos propositadamente. dava interessado em diminuir as emissões de carbono na
a) Todos eles receberam cartas escritas a mão. rede Ekoplaza. Seria o próximo passo ecologicamente
b) Eles visitaram a casa dos pais no feriado. correto de uma cadeia de 75 lojas espalhadas pela Ho-
c) Sempre retorno a casa depois de uma boa pedalada. landa que se tornou sinônimo de vida saudável. Poucos
FRENTE 1

d) Joaquim foi a uma festa com uma fantasia a Elvis meses antes da Olimpíada do Rio de Janeiro, o executivo
Presley. tomou conhecimento das ações de Westerbos, quando leu
e) Vilão e herói ficaram cara a cara para o duelo. na imprensa que a Plastic Soup tentava desenvolver um

91

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plano de despoluição na Baía da Guanabara. À época, o Ele então me conduziu até o painel, [...]. As super-
renomado velejador holandês Dorian van Rijsselberghe fícies eram compostas por vários pedaços de madeira,
era embaixador da ONG e garoto propaganda da Ekoplaza. 20 aproximadamente do tamanho de um dado, porém alguns
Estava feita a conexão entre as partes. eram maiores que os outros. Todos eles eram ligados juntos
[...] por meio de finos arames. Esses pedaços de madeira eram
Até o final do ano, a Ekoplaza promete implantar cobertos, em cada quadrado, com papéis colados a eles,
uma seção sem embalagens plásticas em cada um de e sobre estes papéis estavam escritas todas as palavras do
seus supermercados. “Estamos de saco cheio do plástico, 25 idioma deles, em seus mais diversos modos, tempos e
e nossos consumidores também!”, proclama o site da declinações, porém sem nenhuma ordem.
empresa. O professor então quis que eu “observasse, porque
Adaptado de: PERASSOLO, J. Em nome dos mares. ele iria colocar seu mecanismo em funcionamento.” Os
Disponível em: https: //piaui.folha.uol.com.br/materia/ alunos, sob sua direção, seguravam cada um deles uma
em-nome-dos-mares/. Acesso em: 22/08/2022
30 alça de ferro, das quais havia quarenta fixadas em tor-
No fragmento do texto “A parceria se concretizou gra- no das extremidades do painel, e, dando-lhes uma volta
ças à Plastic Soup Foundation”, ocorreu uma crase, ou súbita, toda a disposição das palavras se modificava to-
seja, houve uma contração do artigo a + preposição talmente. Pediu então para que trinta e seis dos garotos
a. Identifique a(s) sentença(s) correta(s) quanto ao em- lessem vagarosamente as diversas linhas, à medida que
prego da crase e assinale o que for correto. 35 elas apareciam no painel, e, quando eles encontravam
01 Apesar da variedade de itens à venda, não en- três ou quatro palavras juntas que pudessem fazer parte
de uma sentença, eles ditavam para os quatro garotos res-
contrei tudo o que precisava.
tantes, que eram os escreventes.
02 Maria Westerbos nasceu em Wonji, na Etiópia, pe-
[...] Esta operação foi repetida três ou quatro vezes, e
quena cidade próxima à capital do país, Adis Abeba.
40 em cada volta, o mecanismo era tão bem planejado, que
04 O bioplástico é confeccionado à partir de celulo-
as palavras se moviam para novos lugares, à medida que
se, grama, algas, cogumelos e polpa de madeira. os pedaços de madeira quadrados se movimentavam de
08 Há uma parcela do plástico que é descartada à cima para baixo.
beira dos rios ou na praia e termina nos oceanos. Seis horas por dia eram empregadas pelos estudantes
Soma: 45 para a realização desta tarefa, e o professor me mostrou
<id>002447_por_f1_c13_q0006</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
vários volumes em grande formato, já colecionados, de
6. EEAR-SP 2023 Em qual alternativa o emprego da cra- frases incompletas, as quais ele pretendia montar, e além
se está incorreto? dessa riqueza de material, com a finalidade de oferecer
a) O ataque à igreja ortodoxa foi inadmissível. ao mundo uma obra completa de todas as artes e ciên-
b) Ele se sente melancólico às vésperas do Natal. 50 cias, as quais, todavia, poderiam ainda serem melhoradas,
c) Logo após à promulgação do decreto, houve pro- e em muito aceleradas, se o público criasse um fundo
testos em várias cidades. para construção e utilização de quinhentos painéis como
d) Durante o período de reclusão, muitas pessoas aquele em Lagado, e obrigasse os diretores a contribuírem
ficaram à beira de um ataque de nervos. conjuntamente com suas inúmeras coleções.
<id>002447_por_f1_c13_q0008</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
55 Ele me garantiu que naquela invenção havia utilizado
7. AFA-SP 2024 A seguir, você lerá um trecho do livro toda a inteligência da sua juventude, que ele havia esgota-
Viagens de Gulliver, um clássico da literatura univer- do todo o vocabulário com o seu painel, e havia feito um
sal, escrito por Jonathan Swift, publicado em 1726. O cálculo rigoroso da proporção geral que havia nos livros
trecho foi extraído da Parte III do Capítulo 5 do livro. entre os números de partículas, substantivos e verbos, e
60 outros componentes de uma oração.
Viagens de Gulliver
Fizemos um passeio para a outra parte da academia, Ilustração do mecanismo de criação de sentenças descrito
no texto:
onde, como já disse, moravam os cientistas de estudos
especulativos.
O primeiro professor que encontrei estava numa sala
5 muito grande, com quarenta alunos em torno dele. De-
pois das saudações, tendo observado que eu olhava com
curiosidade para um painel, /.../, disse ele, que “talvez
eu pudesse gostar de vê-lo utilizando um projeto para a
melhoria do conhecimento especulativo, por meio das
10 operações práticas e mecânicas.”
[...] Todos sabiam como era trabalhoso o método atual
para a conquista das artes e das ciências, ao passo que,
graças às suas ideias, a pessoa mais ignorante, a um custo
acessível, e com pouco esforço físico, poderia escrever (Disponível em: https://
15 livros de filosofia, poesia, política, direito, matemática e upload.wikimedia.org/
commons/c/c0/Viagens_
teologia, sem necessidade de recorrer ao auxílio de um deGulliver_050.jpeg.
gênio ou através de estudo. Acesso em: 20/03/2023)

92 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 Crase

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Leia o trecho a seguir, extraído do texto. 2. Os exames ficam disponíveis no prontuário ele-
“Pediu então para que trinta e seis dos garotos lessem trônico do paciente e permitem o acesso à
vagarosamente as diversas linhas, à medida que elas resultados recentes e antigos.
apareciam no painel...” (l. 33-35). O uso do acento indi- 3. Desde as últimas décadas, a evolução tecnológica
cativo de crase destacado no fragmento é impactou a assistência da medicina no que se refere
a) obrigatório, por se tratar de uma locução conjuntiva. à análise dos sintomas e a queixas dos pacientes.
b) obrigatório, por se tratar de uma locução adverbial. 4. À adoção dos avanços tecnológicos para a área
c) facultativo, pois a palavra à direita do a destacado da saúde tem-se dado a maior importância das
no fragmento é um pronome possessivo. mais diversas formas.
d) proibido, pois a palavra à direita do a destacado 5. A tecnologia pode também contribuir para à
no fragmento não admite o artigo feminino. precisão dos resultados graças à softwares e
<id>002447_por_f1_c13_q0007</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
aplicativos que dinamizam e humanizam o atendi-
8. FPS-PE 2015 A correta observação das regras ortográ- mento dos pacientes.
ficas da língua, em situações da escrita formal, também Estão adequados os sinais indicativos da crase em:
pode indicar apuro e competência no exercício da a) 1 e 2 apenas.
comunicação. Analise, nos seguintes enunciados, a b) 1 e 3 apenas.
adequação do uso do sinal indicativo da crase. c) 3 e 4 apenas.
1. Avanços da tecnologia da informação podem es- d) 1, 4 e 5 apenas.
tar à serviço de clínicas e hospitais. e) 1, 2, 3, 4 e 5.

Exercícios propostos
<id>002447_por_f1_c13_q0009</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. EEAR-SP 2022 Quanto ao uso ou não do acento grave Sem olhar para os lados, por pudor talvez, sem querer
indicador de crase, assinale a alternativa que preenche, espiar as mesas da confeitaria onde possivelmente algum
correta e respectivamente, as lacunas do texto. conhecido tomava sorvete, entrei, fui ao balcão e disse
“Minha mãe, pessoa mais intransigente da casa, com uma dureza que só Deus sabe explicar: um doce
um dia acordou aberta _____ novas experiências. para o menino.
Deixou de lado seu ponto de vista contrário _____ De que tinha eu medo? Eu não olhava a criança, que-
aquisição de animais domésticos e achou que vale- ria que a cena, humilhante para mim, terminasse logo.
ria _____ pena adotar um cão. Porém, quanto _____ Perguntei-lhe: que doce você ...
passarinhos, jamais; queria-os livres para voarem Antes de terminar, o menino disse apontando depressa
com o dedo: aquelezinho ali, com chocolate por cima.
rumo ______ liberdade”.
Por um instante perplexa, eu me recompus logo e ordenei,
a) a – a – à – a – a c) à – à – a – à – a
com aspereza, à caixeira que o servisse.
b) à – a – à – à – à d) a – à – a – a – à
<id>002447_por_f1_c13_q0010</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
— Que outro doce você quer? perguntei ao menino
2. Efomm-RJ 2023 escuro.
Este, que mexendo as mãos e a boca ainda esperava
As caridades odiosas com ansiedade pelo primeiro, interrompeu-se, olhou-me
Clarice Lispector
um instante e disse com delicadeza insuportável, mos-
Foi uma tarde de sensibilidade ou de suscetibilida- trando os dentes: não precisa de outro não. Ele poupava
de? Eu passava pela rua depressa, emaranhada nos meus a minha bondade.
pensamentos, como às vezes acontece. Foi quando meu — Precisa sim, cortei eu ofegante, empurrando-o para
vestido me reteve: alguma coisa se enganchara na minha a frente. O menino hesitou e disse: aquele amarelo de
saia. Voltei-me e vi que se tratava de uma mão pequena e ovo. Recebeu um doce em cada mão, levantando as duas
escura. Pertencia a um menino a que a sujeira e o sangue acima da cabeça, com medo talvez de apertá-los. Mesmo
interno davam um tom quente de pele. O menino estava os doces estavam tão acima do menino escuro. E foi sem
de pé no degrau da grande confeitaria Seus olhos, mais olhar para mim que ele, mais do que foi embora, fugiu. A
do que suas palavras meio engolidas, informavam-me de caixeirinha olhava tudo:
sua paciente aflição. Paciente demais. Percebi vagamente — Afinal uma alma caridosa apareceu. Esse menino
um pedido, antes de compreender o seu sentido concreto. estava nesta porta há mais de uma hora, puxando todas as
Um pouco aturdida eu o olhava, ainda em dúvida se fora pessoas que passavam, mas ninguém quis dar.
a mão da criança o que me ceifara os pensamentos. Fui embora, com o rosto corado de vergonha. De
— Um doce, moça, compre um doce para mim. vergonha mesmo? Era inútil querer voltar aos pensamen-
Acordei finalmente. O que estivera eu pensando tos anteriores. Eu estava cheia de um sentimento de amor,
antes de encontrar o menino? O fato é que o pedido gratidão, revolta e vergonha Mas, como se costuma dizer,
deste pareceu cumular uma lacuna, dar urna resposta o Sol parecia brilhar com mais força Eu tivera a oportuni-
FRENTE 1

que podia servir para qualquer pergunta, assim como dade de ... E para isso fora necessário um menino magro
uma grande chuva pode matar a sede de quem queria e escuro ... E para isso fora necessário que outros não lhe
uns goles de água. tivessem dado um doce.

93

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E as pessoas que tomavam sorvete? Agora, o que eu Analise os fragmentos abaixo:
queria saber com autocrueldade era o seguinte: temera I. “Eu passava pela rua depressa, emaranhada nos
que os outros me vissem ou que os outros não me vissem? meus pensamentos, como às vezes acontece.”
O fato é que, quando atravessei a rua, o que teria sido II. “Por um instante perplexa, eu me recompus logo e
piedade já se estrangulara sob outros sentimentos. E, agora
ordenei, com aspereza, à caixeira que o servisse.”
sozinha, meus pensamentos voltaram lentamente a ser os
III. “[ ... ] um menino a que a sujeira e o sangue inter-
anteriores, só que inúteis. Em vez de tomar um táxi, tomei
um ônibus. Sentei-me. no davam um tom quente de pele.”
— Os embrulhos estão incomodando? Assinale a opção correta em relação ao emprego do
Era uma mulher com uma criança no colo e, aos acento grave indicativo de crase.
pés, vários embrulhos de jornal. Ah não, disse-lhes eu. a) Em I, o acento é colocado por uma situação de re-
“Dá-dá-dá”, disse a menina no colo estendendo a mão e gência verbal; em II e III, o emprego é facultativo.
agarrando a manga de meu vestido. “Ela gostou da senho- b) Em I, ele é colocado por estar em uma expres-
ra”, disse a mulher rindo. Eu também sorri.
são adverbial feminina; em II, é facultativo; em III,
— Estou desde manhã na rua, informou a mulher. Fui
é inadequado.
procurar umas amizades que não estavam em casa. Uma
tinha ido almoçar fora, a outra foi com a família para fora. c) Em I e II, o acento é colocado por uma situação de
— E a menina? regência nominal; em lll, é facultativo.
— É menino, corrigiu ela, está com roupa dada de d) Em I, ele é colocado por uma situação de re-
menina, mas é menino. O menino comeu por aí mesmo. gência nominal; em II e III, por uma situação de
Eu é que não almocei até agora. regência verbal.
— É seu neto? e) Em I, ele é colocado por estar em uma expres-
Filho, é filho, tenho mais três. Olhe só como ele está são adverbial feminina; em Il, por uma situação de
gostando da senhora ... Brinca com a moça, meu filho! Ima- regência verbal; em III, o emprego é inadequado.
gine a senhora que moramos numa passagem de corredor <id>002447_por_f1_c13_q0011</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

e pagamos uma fortuna por mês. O aluguel passado não 3. IFTM-MG


pagamos ainda. E este mês está vencendo. Ele quer despejar.
Mas se Deus quiser, ainda arranjarei os dois mil cruzeiros
que faltam. Já tenho o resto. Mas ele não quer aceitar. Ele
pensa que se receber uma parte eu fico descansada dizen-
do: alguma coisa já paguei e não penso em pagar o resto.
Como a mulher velha estava ciente dos caminhos da
desconfiança. Sabia de tudo, só que tinha de agir como
se não soubesse – raciocínio de grande banqueiro. Ra-
ciocinava como raciocinaria um senhorio desconfiado, e
não se irritava.
Mas de repente fiquei fria: tinha entendido. A mulher
continuava a falar. Então tirei da bolsa os dois mil cruzeiros
e com horror de mim passei-os à mulher. Esta não hesitou
um segundo, pegou-os, meteu-os num bolso invisível entre
o que me pareceram inúmeras saias, quase derrubando
na sua rapidez o menino-menina.
— Deus nosso Senhor lhe favoreça, disse de repente
com o automatismo de uma mendiga.
Vermelha, continuei sentada de braços cruzados. A Disponível em: http://colmeia.eng.br/zumzum/preservacaodosolo/.
mulher também continuava ao lado. Acesso em abril de 2011.

Só que não nos falávamos mais. Ela era mais digna do Assinale a alternativa correta.
que eu havia pensado: conseguido o dinheiro, nada mais a) Na frase do texto “... os poluentes de volta à terra.”,
quis me contar. E nem eu pude mais fazer festas ao menino a crase foi empregada incorretamente devido ao
vestido de menina. Pois qualquer agrado seria agora de
significado de terra no contexto.
meu direito: eu o havia pago de antemão.
b) Em “Prepare-o”, o pronome oblíquo possui a fun-
Um laço de mal-estar estabelecera-se agora entre nós
ção sintática de objeto indireto.
duas, entre a mulher e eu, quero dizer.
c) Chorume significa líquido não poluente que com
— Deixe a moça em paz, Zezinho, disse a mulher.
Evitávamos encostar os cotovelos. Nada mais havia a a ação da chuva, ajuda a lixiviar composto orgâni-
dizer, e a viagem era longa. Perturbada, olhei-a de través: co para o solo.
velha e suja, como se dizem das coisas. E a mulher sabia d) No contexto sobre a emissão de poluentes, ocor-
que eu a olhara. re uma colocação em desacordo com a norma
Então uma ponta de raiva nasceu entre nós duas. Só culta, relativo à concordância nominal.
o pequeno ser híbrido, radiante, enchia a tarde com o seu e) A linguagem conotativa permeia todo o texto,
suave martelar: “dá dá dá”. pois tenta induzir o leitor a rever os seus concei-
Lispector, Clarice. Clarice na cabeceira: crônicas. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. tos quanto ao meio ambiente.

94 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 Crase

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<id>002447_por_f1_c13_q0012</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

4. UFMS Avalie as duas frases que seguem: porque a felicidade não é o dinheiro que traz. É você rea-
lizar aquilo que gosta de fazer. Isso é felicidade”, acredita.
I. Ela cheirava à flor de romã. Adaptado de: GONÇALVES, É. Entalhando a felicidade. Londrina:
II. Ela cheirava a flor de romã. Folha de Londrina, Folha Mais, 26 e 27 de maio de 2018, p. 1.

Considerando o uso da crase, é correto afirmar: Em relação aos recursos linguístico-semânticos pre-
01 As duas frases estão escritas adequadamente, sentes no texto, considere as afirmativas a seguir.
dependendo de um contexto. I. Na oração “Os móveis para bonecas obedecem
02 As duas frases são ambíguas em qualquer contexto. à arte vitoriana”, a presença da preposição “a”
04 A primeira frase significa que alguém exalava o deve-se à exigência feita pelo verbo.
perfume da flor de romã. II. Em “O artesão expõe suas peças no Calçadão de
08 A segunda frase significa que alguém tem o per- Londrina, esquina com Hugo Cabral, de segunda
fume da flor de romã. a sexta”, não se emprega a crase porque o “a” é
16 O “a” da segunda frase deveria conter o acento uma mera preposição.
indicativo da crase. III. Em “Dinheiro é maravilhoso, mas chega um pe-
Soma: ríodo em que ele não é mais tão importante”, o
<id>002447_por_f1_c13_q0013</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

5. UENP-PR 2019 conectivo “mas” estabelece uma relação de opo-


sição com a ideia expressa anteriormente.
Entalhando a felicidade IV. Em “Então, os avós e pais construíam os brin-
“Madeira é um elemento que tem que ser respeitado. quedos de forma artesanal” a partícula “então”
Eu nasci numa casa de madeira, me criei numa casa de estabelece uma relação de alternância.
madeira. Ela era feita com árvores retiradas dali, da re-
Assinale a alternativa correta.
gião”, conta José Belaque, 63. O artesão expõe suas peças
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
no Calçadão de Londrina, esquina com Hugo Cabral, de
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
segunda a sexta. Após uma vida dedicada ao trabalho
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
contínuo e sistemático, Belaque parece ter encontrado,
na madeira, a felicidade.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
As peças são criadas para discursar. Os móveis para e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
<id>002447_por_f1_c13_q0014</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
bonecas obedecem à arte vitoriana, período que estudou 6. ITA-SP Analisando as sentenças:
em um trabalho como guia turístico. Formas, desenhos,
cores, tudo leva ao passado. “A minimização, ou seja, a I. A vista disso, devemos tomar sérias medidas.
cozinha do adulto que tinha nas fazendas, agora é feita II. Não fale tal coisa as outras.
para as bonecas. A criança vai aprendendo, por meio do III. Dia a dia a empresa foi crescendo.
brinquedo, a história”, afirma. IV. Não ligo aquilo que me disse.
História na expressão e na própria madeira. “Isso tudo Podemos deduzir que:
é um resgate. Foi uma árvore que deu frutos, sombra, con-
a) Apenas a sentença III não tem crase.
forto e de repente ela se torna um elemento positivo”,
b) As sentenças III e IV não têm crase.
defende. “Quando eu era criança, não tinha indústria de
c) Todas as sentenças têm crase.
brinquedos e a gente queria brincar. Então, os avós e pais
d) Nenhuma sentença tem crase.
construíam os brinquedos de uma forma artesanal. Eu quis
voltar num tempo em que se construíam os brinquedos,
e) Apenas a sentença IV não tem crase.
<id>002447_por_f1_c13_q0015</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
elementos decorativos e móveis dentro de casa”, afirma. 7. Unesp A questão toma por base uma passagem da
Há quatro anos, tomou a decisão de viver da arte crônica O pai, hoje e amanhã, de Carlos Drummond
após a constatação de ter realizado bons trabalhos em
de Andrade (1902-1987).
sua carreira, já satisfeito com o ponto aonde tinha chega-
do. A oficina funciona no fundo da casa de Belaque. “Eu A civilização industrial, entidade abstrata, nem por
estou fazendo uma coisa que amo fazer, na hora em que isso menos poderosa, encomendou à ciência aplicada a
tenho interesse, então eu digo que estou no período fetal. execução de um projeto extremamente concreto: a fabri-
Eu almoço quando tenho fome, levanto quando o corpo cação do ser humano sem pais.
pede, trabalho e me estendo até de madrugada quando A ciência aplicada faz o possível para aviar a enco-
estou empolgado”, sorri. menda a médio prazo. Já venceu a primeira etapa, com a
E vai criando conforme suas crenças e constatações ex- inseminação artificial, que, de um lado, acelera a produ-
pressas na madeira. Recicladas e não recicladas, afirma usar tividade dos rebanhos (resultado econômico) e, de outro,
mais o pínus por questão de respeito e custo. As madeiras anestesia o sentimento filial (resultado moral).
de primeira linha que possui são controladas e faz questão O ser humano concebido por esse processo tanto pode
de afirmar: “Eu só trabalho com aquelas que têm o selo de considerar-se filho de dois pais como de nenhum. Em fase
controle, se não tiver eu não aceito, não compro. Não dou mais evoluída, o chamado bebê de proveta dispensará a
força para criar-se esse comércio”, argumenta. No fim, o incubação em ventre materno, desenvolvendo-se sob con-
FRENTE 1

resultado é a felicidade baseada no respeito pela natureza, dições artificiais plenamente satisfatórias. Nenhum vínculo
pela arte e pela sua história. “Dinheiro é maravilhoso, mas de memória, gratidão, amor, interesse, costume – direi mes-
chega um período em que ele não é mais tão importante, mo: de ressentimento ou ódio – o ligará a qualquer pessoa

95

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responsável por seu aparecimento. O sêmen, anônimo, Cena 2
obtido por masturbação profissional e recolhido ao banco
Mais tarde no mesmo dia, um casal residente na
especializado, por sua vez cederá lugar ao gerador sintético,
mesma cidade obtém financiamento imobiliário e decide
extraído de recursos da natureza vegetal e mineral. Estará
pela compra de um apartamento. São inúmeras opções de
abolida, assim, qualquer participação consciente do homem
imóveis à venda. Para a escolha adequada do local de sua
e da mulher no preparo e formação de uma unidade huma-
20 morada em São Paulo, o casal deverá levar em conta, além
na. Esta será produzida sob critérios políticos e econômicos
do valor do apartamento, também outros critérios: variação
tecnicamente estabelecidos, que excluem a inútil e mesmo
do preço dos imóveis por bairro, distância do apartamento
perturbadora intromissão do casal. Pai? Mito do passado.
até a escola dos filhos pequenos, tempo gasto entre o
Aparentemente, tal projeto parece coincidir com a
apartamento e o local de emprego do casal, preferência
tendência, acentuada nos últimos anos, de se contestar a
25 por um bairro tranquilo e existência de linha de ônibus
figura tradicional do pai. Eliminando-se a presença incô-
integrada ao metrô nas proximidades do imóvel – entre
moda, ter-se-ia realizado o ideal de inúmeros jovens que
outros critérios.
se revoltam contra ela – o pai de família e o pai social, o
Essas duas cenas urbanas descrevem situações co-
governo, a lei – e aspiram à vida isenta de compromissos
com valores do passado. muns _____ passam diariamente muitos dos cidadãos
Julgo ilusória esta interpretação. O projeto tecnológi- 30 residentes em grandes cidades. As protagonistas têm
co de eliminação do pai vai longe demais no caminho da em comum a angústia de tomar uma decisão complexa,
quebra de padrões. A meu ver, a insubmissão dos filhos escolhida dentre várias possibilidades oferecidas pelo
aos pais é fenômeno que envolve novo conceito de rela- espaço geográfico. Além de mostrar que a geografia é
ções, e não ruptura de relações. vivida no cotidiano, as duas cenas mostram também que,
De notícias e não notícias faz-se a crônica, 1975. 35 para tomar a decisão que ______ seja mais conveniente
realizar nossas protagonistas deverão realizar, primeira-
[...] e aspiram à vida isenta de compromissos com mente, uma análise geoespacial da cidade. Em ambas
valores do passado. as cenas, essa análise se desencadeia a partir de um
Na frase apresentada, a colocação do acento grave sistema cerebral composto de informações geográficas
sobre o “a” informa que 40 representadas internamente na forma de mapas mentais
a) o “a” deve ser pronunciado com alongamento, já que induzirão as três protagonistas a tomar suas decisões.
que se trata de dois vocábulos, um pronome átono Em cada cena podemos visualizar uma pergunta espacial.
e uma preposição, representados por uma só letra. Na primeira, o trabalhador pergunta: “qual a melhor rota
b) o “a”, por ser pronome átono, deve ser sempre a seguir, desde este ponto onde estou até o local de meu
colocado após o verbo, em ênclise, e pronuncia- 45 trabalho, neste horário de segunda-feira?” Na segunda,
o questionamento seria: “qual é o lugar da cidade que
do como um monossílabo tônico.
reúne todos os critérios geográficos adequados à nossa
c) o verbo “aspirar”, na regência em que é emprega-
moradia?”
do, solicita a preposição “a”, que se funde com o
A cena 1 é um exemplo clássico de análise de redes,
artigo feminino “a”, caracterizando uma ocorrên-
50 enquanto a cena 2 é um exemplo clássico de alocação
cia de crase.
espacial – duas das técnicas mais importantes da análise
d) o “a”, como artigo definido, é um monossílabo áto-
geoespacial.
no, e o acento grave tem a finalidade de sinalizar
A análise geoespacial reúne um conjunto de méto-
ao leitor essa atonicidade.
dos e técnicas quantitativos dedicados à solução dessas
e) o termo “de compromissos com valores do passado” e de outras perguntas similares, em computador, ______
55
exerce a função de adjunto adverbial de “isenta”. respostas dependem da organização espacial de infor-
<id>002447_por_f1_c13_q0016</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

8. UFRGS 2019 mações geográficas em um determinado tempo. Dada a


complexidade dos modelos, muitas técnicas de análise
Cena 1 geoespacial foram transformadas em linguagem compu-
Em uma madrugada chuvosa, um trabalhador resi- 60 tacional e reunidas, posteriormente, em um sistema de
dente em São Paulo acorda, ao amanhecer, às cinco horas, informação geográfica. Esse fato geotecnológico contribuiu
toma rapidamente o café da manhã, dirige-se até o carro, para a popularização da análise geoespacial realizada em
acessa a rua, e, como de costume, faz o mesmo trajeto computadores, que atualmente é simplificada pelo termo
5 até o trabalho. Mas, em um desses inúmeros dias, ouve geoprocessamento.
pelo rádio que uma das avenidas de sua habitual rota está Adaptado de: FERREIRA, Marcos César. Iniciação à análise geoespacial:
teoria, técnicas e exemplos para geoprocessamento. São Paulo:
totalmente congestionada. A partir dessa informação e Editora UNESP, 2014. p. 33-34.
enquanto dirige, o trabalhador inicia um processo mental
analítico para escolher uma rota alternativa que o faça Assinale a alternativa que preenche corretamente as
10 chegar ______ empresa no horário de sempre. lacunas das linhas 10, 29, 35 e 55, nessa ordem.
Para decidir sobre essa nova rota, ele deverá consi- a) a – as quais – lhe – em que as
derar: a nova distância a ser percorrida, o tempo gasto no b) à – com as quais – lhes – das quais as
deslocamento, a quantidade de cruzamentos existentes em c) à – que – os – cuja
cada rota, em qual das rotas encontrará chuva e em quais d) a – por que – lhe – de que as
15 rotas passará por áreas sujeitas a alagamento. e) à – pelas quais – lhes – cujas

96 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 Crase

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<id>002447_por_f1_c13_q0017</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

9. UFPR 2019 Era uma vez um lobo vegano que não engo- Assinale a alternativa que preenche corretamente as
lia a vovozinha, três porquinhos que se dedicavam _____ lacunas do primeiro parágrafo, na ordem em que apa-
especulação imobiliária e uma estilista chamada Gretel recem no texto:
que trabalhava de garçonete em Berlim. Não deveria a) a – a – à – às. d) a – à – à – as.
nos surpreender que os contos tradicionais se adaptem b) à – à – a – as. e) à – à – à – as.
aos tempos. Eles foram submetidos _____ alterações no c) à – a – a – às.
processo de transmissão, oral ou escrita, ao longo dos <id>002447_por_f1_c13_q0018</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

séculos para adaptá-los aos gostos de cada momento. Ve- 10. ITA-SP Dadas as afirmações:
jamos, por exemplo, Chapeuzinho Vermelho. Em 1697 –
quando a história foi colocada no papel –, Charles 1. Tudo correu as mil maravilhas.
Perrault acrescentou _____ ela uma moral, com o objetivo 2. Caminhamos rente a parede.
de alertar as meninas quanto _____ intenções perversas 3. Ele jamais foi a festas.
dos desconhecidos. Verificamos que o uso do acento indicador da crase
Pouco mais de um século depois, os irmãos Grimm
no “a” é obrigatório:
abrandaram o enredo do conto e o coroaram com um
a) apenas na sentença n. 1.
final feliz. Se a Chapeuzinho Vermelho do século XVII
b) apenas na sentença n. 2.
era devorada pelo lobo, não seria de surpreender que a
atual repreendesse a fera por sua atitude sexista quando a c) apenas nas sentenças n. 1 e 2.
abordasse no bosque. A força do conto, no entanto, está d) em todas as sentenças.
<id>002447_por_f1_c13_q0019</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
no fato de que ele fala por meio de uma linguagem sim-
11. PUC-PR 2022 Associado por mais de 50 anos àquela
bólica e nos convida a explorar a escuridão do mundo,
sensação de ‘queimação’ no músculo durante o exercí-
a cartografia dos medos, tanto ancestrais como íntimos.
cio e às dores do dia seguinte, esse composto orgânico
Por isso ele desafia todos nós, incluindo os adultos. [...]
não age como inimigo, mas como protetor. E é muito
A poetisa Wislawa Szymborska falou sobre um amigo
importante para nosso organismo.
escritor que propôs a algumas editoras uma peça infantil
Disponível em: <https://cienciahoje.org.br/artigo/a-injusta-fama-do-
protagonizada por uma bruxa. As editoras rejeitaram a ideia. acido-latico/>. Acesso em: 2/3/22.
Motivo? É proibido assustar as crianças. A ganhadora do
prêmio Nobel, admiradora de Andersen – cuja coragem As duas ocorrências de crase do texto, indicadas por
se destacava por ter criado finais tristes –, ressalta a im- acento grave, são justificadas adequadamente por
portância de se assustar, porque as crianças sentem uma a) regência verbal.
necessidade natural de viver grandes emoções: “A figura b) regência nominal.
que aparece [em seus contos] com mais frequência é a mor- c) regência verbal e nominal, respectivamente.
te, um personagem implacável que penetra no âmago da d) concordância nominal.
felicidade e arranca o melhor, o mais amado. Andersen tra- e) regência nominal e verbal, respectivamente.
tava as crianças com seriedade. Não lhes falava apenas da <id>002447_por_f1_c13_q0020</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

alegre aventura que é a vida, mas também dos infortúnios, 12. Efomm-RJ 2022
das tristezas e de suas nem sempre merecidas calamidades”.
C. S. Lewis dizia que fazer as crianças acreditar que vivem Direito e avesso
em um mundo sem violência, morte ou covardia só daria Rachel de Queiroz

asas ao escapismo, no sentido negativo da palavra. Conheci uma moça que escondia como um crime
Depois de passar dois anos mergulhado em relatos certa feia cicatriz de queimadura que tinha no corpo. De
compilados durante dois séculos, Italo Calvino selecionou pequena a mãe lhe ensinara a ocultar aquela marca de
e editou os 200 melhores contos da tradição popular italia- fogo e nem sei que impulso de desabafo levou-a me falar
na. Após essa investigação literária, sentenciou: “Le fiabe nela; e creio que logo se arrependeu, pois me obrigou
sono vere [os contos de fadas são verdadeiros]”. O autor a jurar que jamais repetiria a alguém o seu segredo. Se
de O Barão nas Árvores tinha confirmado sua intuição
agora o conto é porque a moça é morta e a sua cicatriz já
de que os contos, em sua “infinita variedade e infinita
estará em nada, levada com o resto pelas águas de março,
repetição”, não só encapsulam os mitos duradouros de
que levam tudo.
uma cultura, como também “contêm uma explicação geral
Lembrou-me isso ao escutar outra moça, também
do mundo, onde cabe todo o mal e todo o bem, e onde
vaidosa e bonita, que discorria perante várias pessoas a
sempre se encontra o caminho para romper os mais ter-
respeito de uma deformação congênita que ela, moça, tem
ríveis feitiços”. Com sua extrema concisão, os contos de
no coração. Falava daquilo com mal disfarçado orgulho,
fadas nos falam do medo, da pobreza, da desigualdade, da
como se ter coração defeituoso fosse uma distinção aris-
inveja, da crueldade, da avareza... Por isso são verdadeiros.
tocrática que se ganha de nascença e não está ao alcance
Os animais falantes e as fadas madrinhas não procuram
confortar as crianças, e sim dotá-las de ferramentas para de qualquer um.
viver, em vez de incutir rígidos patrões de conduta, e es- E aí saí pensando em como as pessoas são estranhas.
timular seu raciocínio moral. Se eliminarmos as partes Qualquer deformação, por mais mínima, sendo em par-
escuras e incômodas, os contos de fadas deixarão de ser te visível do nosso corpo, a gente a combate, a disfarça,
oculta como um vício feio. Este senhor, por exemplo, que
FRENTE 1

essas surpreendentes árvores sonoras que crescem na me-


mória humana, como definiu o poeta Robert Bly. nos explica, abundantemente, ser vítima de divertículos
Marta Rebón. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/18/ (excrescências em forma de apêndice que apareceram
eps/1537265048_460929.html. no seu duodeno), teria o mesmo gosto em gabar-se da

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<id>002447_por_f1_c13_q0021</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

anomalia se em lugar dos divertículos tivesse lobinhos 13. UFABC-SP A alternativa em que o acento indicativo
pendurados no nariz? Nunca vi ninguém expor com or- de crase não procede é:
gulho a sua mão de seis dedos, a sua orelha malformada; a) Tais informações são iguais às que recebi ontem.
mas a má formação interna é marca de originalidade, que b) Perdi uma caneta semelhante à sua.
se descreve aos outros com evidente orgulho. c) A construção da casa obedece às especificações
Doença interna só se esconde por medo da morte – da prefeitura.
isto é, por medo de que, a notícia se espalhando, chegue d) O remédio devia ser ingerido gota à gota, e não
a morte mais depressa. Não sendo por isso, quem tem de uma só vez.
um sopro no coração se gaba dele como de falar japonês. e) Não assistiu a essa operação, mas à de seu irmão.
Parece que o principal impedimento é o estético. <id>002447_por_f1_c13_q0022</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Pois se todos gostam de se distinguir da multidão, nem 14. UFRGS 2018 — Temos sorte de viver no Brasil — dizia
que seja por uma anomalia, fazem ao mesmo tempo meu pai, depois da guerra. — Na Europa mataram mi-
questão de que essa anomalia não seja visivelmente lhões de judeus.
deformante. Ter o coração do lado direito é uma gló- Contava as experiências que os médicos nazistas fa-
ria, mas um braço menor que o outro é uma tragédia. 5 ziam com os prisioneiros. Decepavam-lhes as cabeças,
Alguém com os dois olhos límpidos pode gostar de faziam-nas encolher – à maneira, li depois, dos índios
épater uma roda de conversa, explicando que não en- Jivaros. Amputavam pernas e braços. Realizavam estra-
xerga coisíssima nenhuma por um daqueles límpidos nhos transplantes: uniam a metade superior de um homem
olhos, e permitirá mesmo que os circunstantes curiosos ______ metade inferior de uma mulher, ou aos quartos
lhe examinem o olho cego e constatem de perto que 10 traseiros de um bode. Felizmente morriam essas atrozes
realmente não se nota diferença nenhuma com o olho quimeras; expiravam como seres humanos, não eram obri-
são. Mas tivesse aquela pessoa o olho que não enxerga gadas a viver como aberrações. (_______ essa altura eu
coalhado pela gota-serena, jamais se referiria ao defeito tinha os olhos cheios de lágrimas. Meu pai pensava que a
em público; e, caso o fizesse, por excentricidade de descrição das maldades nazistas me deixava comovido.)
temperamento sarcástico ou masoquista, os circunstan- 15 Em 1948 foi proclamado o Estado de Israel. Meu pai
tes bem-educados se sentiriam na obrigação de desviar abriu uma garrafa de vinho – o melhor vinho do arma-
a vista e mudar de assunto. zém –, brindamos ao acontecimento. E não saíamos de
Mulheres discutem com prazer seus casos gineco- perto do rádio, acompanhando _______notícias da guerra
lógicos; uma diz abertamente que já não tem um ovário, no Oriente Médio. Meu pai estava entusiasmado com o
outra, que o médico lhe diagnosticou um útero infantil. 20 novo Estado: em Israel, explicava, vivem judeus de todo
Mas, se ela tivesse um pé infantil, ou seios senis, será que o mundo, judeus brancos da Europa, judeus pretos da
os declararia com a mesma complacência? África, judeus da Índia, isto sem falar nos beduínos com
Antigamente havia as doenças secretas, que só se no- seus camelos: tipos muito esquisitos, Guedali.
meavam em segredo ou sob pseudônimo. De um tísico, Tipos esquisitos – aquilo me dava ideias.
por exemplo, se dizia que estava “fraco do peito”; e talvez 25 Por que não ir para Israel? Num país de gente tão
tal reserva nascesse do medo do contágio que todo mundo estranha – e, ainda por cima, em guerra – eu certamente
tinha. Mas dos malucos também se dizia que “estavam não chamaria a atenção. Ainda menos como combatente,
nervosos” e do câncer ainda hoje se faz mistério – e nem entre a poeira e a fumaça dos incêndios. Eu me via corren-
câncer e nem doidice pegam. do pelas ruelas de uma aldeia, empunhando um revólver
Não somos todos mesmo muito estranhos? Gostamos 30 trinta e oito, atirando sem cessar; eu me via caindo, varado
de ser diferentes – contanto que a diferença não se veja. de balas. Aquela, sim, era a morte que eu almejava, morte
O bastante para chamar atenção, mas não tanto que pa- heroica, esplêndida justificativa para uma vida miserável,
reça feio. de monstro encurralado. E, caso não morresse, poderia
Fonte: O melhor da crônica brasileira, 1/Ferreira Gullar… [et ali.]. 5. ed. viver depois num kibutz. Eu, que conhecia tão bem a vida
Rio de Janeiro: José Olympio, 2007.
35 numa fazenda, teria muito a fazer ali. Trabalhador dedi-
cado, os membros do kibutz terminariam por me aceitar;
épater: impressionar. numa nova sociedade há lugar para todos, mesmo os de
patas de cavalo.
Adaptado de: SCLIAR, M. O centauro no jardim. 9. ed.
[…] os circunstantes bem-educados se sentiriam na
Porto Alegre: L&PM, 2001.
obrigação de desviar a vista e mudar de assunto.
Assinale a alternativa que preenche corretamente as
Tendo em vista outros empregos da expressão subli-
lacunas das linhas 9, 12 e 18, nessa ordem.
nhada, deve ocorrer o uso do acento grave somente
a) à – À – às
em:
b) a – A – às
a) Era maravilhosa a vista da janela daquele quarto.
c) à – A – às
b) Usar computador constantemente pode prejudi-
d) a – À – as
car a vista.
e) à – A – as
c) Quando será realizada a vista de prova? <id>002447_por_f1_c13_q0023</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

d) Dói-me a vista esquerda. 15. UFRGS 2018 [...] ________ me perguntam: quantas pa-
e) A gasolina está no fim e não há um posto de com- lavras uma pessoa sabe? Essa é uma pergunta importante,
bustível a vista. principalmente para quem ensina línguas estrangeiras.

98 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 Crase

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Seria muito útil para quem planeja um curso de francês Assinale a alternativa que preenche corretamente as
ou japonês ter uma estimativa de quantas palavras um lacunas, na ordem.
nativo conhece; e quantas os alunos precisam aprender a) Às vezes – têm – lhe
para usar a língua com certa facilidade. Essas informa- b) Às vezes – tem – lhe
ções seriam preciosas para quem está preparando um c) As vezes – têm – o
manual que inclua, entre outras coisas, um planejamento d) Às vezes – tem – o
cuidadoso da introdução gradual de vocabulário. e) As vezes – têm – lhe
À parte isso, a pergunta tem seu interesse próprio. Uma <id>002447_por_f1_c13_q0024</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

língua não é apenas composta de palavras: ela inclui tam- 16. UFPR Em qual alternativa o vocábulo “a” deve rece-
bém regras gramaticais e um mundo de outros elementos ber acento grave?
que também precisam ser dominados. Mas as palavras são a) Pintou o quadro a óleo.
particularmente numerosas, e é notável como qualquer pes- b) Fomos a uma aldeia.
soa, instruída ou não, _______ acesso a esse acervo imenso c) Dirigiram-se a Vossa Excelência.
de informação com facilidade e rapidez. Assim, perguntar d) Voltou a casa paterna.
quantas palavras uma pessoa sabe é parte do problema geral e) Começou a chover.
<id>002447_por_f1_c13_q0025</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
de o que é que uma pessoa tem em sua mente e que ______ </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

permite usar a língua, falando e entendendo. 17. Urca-CE 2017 Às vezes, nas ruas, há passeios em certas
Antes de mais nada, porém, o que é uma palavra? partes e outras não.
Ora, alguém vai dizer, “todo mundo sabe o que é uma No termo em destaque temos um caso da utilização
palavra”. Mas não é bem assim. Considere a palavra do acento grave. A alternativa em que o indicativo de
olho. É muito claro que isso aí é uma palavra – mas será crase não procede é:
que olhos é a mesma palavra (só que no plural)? Ou será a) O amor deve ser saboreado gota à gota, e não
outra palavra? de uma só vez.
Bom, há razões para responder das duas maneiras: b) Tais informações são iguais às que recebi ontem.
é a mesma palavra, porque significa a mesma coisa (mas c) Perdi uma caneta semelhante à sua.
com a ideia de plural); e é outra palavra, porque se pro- d) A construção da casa obedece às especificações
nuncia diferentemente (olhos tem um “s” final que olho da prefeitura.
não tem, além da diferença de timbre das vogais tônicas). e) Não assistiu a essa apresentação, mas à de seu
Entretanto, a razão principal por que julgamos que olho irmão.
<id>002447_por_f1_c13_q0026</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
e olhos sejam a mesma palavra é que a relação entre elas </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

é extremamente regular; ou seja, vale não apenas para 18. Unifor-CE Marque a alternativa em que o sinal de crase
esse par, mas para milhares de outros pares de elementos está empregado em todos os casos que é necessário.
da língua: olho/olhos, orelha/orelhas, gato/gatos, etc. E, a) A família ficou à mercê do frio, a despeito do fogo
semanticamente, a relação é a mesma em todos os pares: que estava a arder.
a forma sem “s” denota um objeto só, a forma com “s” b) O vento entrava à vontade restando a família a
denota mais de um objeto. Daí se tira uma consequência expectativa de que acontecesse logo.
importante: não é preciso aprender e guardar permanen- c) Falavam à beça, mas talvez não se entendessem
temente na memória cada caso individual; aprendemos à contento.
uma regra geral (“faz-se o plural acrescentando um “s” ao d) A cachorra ficou à porta, à olhar as brasas.
singular”), e estamos prontos. e) A falta de melhor expressão recorriam à discursos
Adaptado de: PERINI, Mário A. Semântica lexical. ReVEL, v. 11, n. 20, 2013. energéticos.

Texto complementar

À crase
Há muito tempo atrás “um tal de” acento diferencial, que muita gente nem sabe que já existiu, foi extinto. Ele servia para
diferençar palavras com a mesma grafia, mas com som diferente.
O acento diferencial só não acabou completamente por ter sido mantida a exceção em que ele permanece para distinguir
“pode” de “pôde”.
A confusão possível entre pode e pode, se não fosse mantido tal tipo de acento, me faz lembrar de uma embrulhada em um
registro de nascimento: onde o escrivão devia escrever o nome da criança, Diogo, escreveu, Digo, e quando foi escrever “digo”,
para corrigir “Diogo”, escreveu “diogo”; então, para desfazer a confusão, a certidão ficou assim: “... Digo, diogo, digo digo, onde
digo diogo digo digo e onde digo Digo digo Diogo”!
Pois, voltando ao começo, fui um dos que reagiram mal, de início, à proposta de extinção do acento diferencial. (um parêntese:
ao contrário do que se costuma dizer na televisão, nos jornais e nas conversas fiadas, eu fui um dos que reagiram e não um dos que
FRENTE 1

reagiu, porque dos que reagiram eu fui um – seria impensável inverter a frase e dizer “dos que reagiu eu fui um”, não é mesmo?).
Como dizia, eu não podia aceitar viver sem o acento diferencial. Acreditava que os meus textos iriam ficar sem pé nem cabeça
se as palavras não tivessem o seu sentido próprio perfeitamente estabelecido.

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Resultado: os anos se passaram, o acento diferencial acabou e não faz tanta falta. Já foi tarde. Menos uma dificuldade neste
nosso idioma. Mas, como nem tudo é perfeito, dessa extinção às vezes decorrem certas dificuldades de compreensão de textos,
como é caso de alguns poemas modernos e de alguns títulos, em que nem sempre a evidência resultante da aplicação da lógica
em face da estrutura do texto se revela induvidosamente. Só por isso, não seria estranhável repensar o assunto para tornar facul-
tativo o acento diferencial.
Essa linha de raciocínio conduz a uma questão parecida, que é a da crase.
Hoje, a coisa mais irritante na língua é o uso completamente atabalhoado da crase. Ela só é colocada onde não devia e só não
aparece onde tinha de estar. Viajar pelas estradas do Brasil é uma tortura, por causa da crase. De minuto a minuto encontram-se
as placas de sinalização com as crases que não deviam existir: “retorno à 500 metros”, “restaurante à 2 quilômetros”, “obras à
100 metros”; e sem a crase que deveriam ter sido colocadas: “retorno a direita” e “posto a frente”. Nunca acertam. Entre Belo Ho-
rizonte e Sete Lagoas, fizeram uma bela e útil sinalização, com imensas e numerosas placas indicativas de retorno, só que estão
todas craseadas de forma errada, o que cito como exemplo, mas que não é privilégio dos mineiros: é crase para todos os lados;
na dúvida, craseia-se; se não houver dúvida, craseia-se ainda mais. Como parece que ninguém tem dúvida, haja crase espalhada,
dando nos nervos dos motoristas que conhecem as regras do seu uso, comprometendo, por isso, a segurança nas estradas.
Na televisão, especialmente nos comerciais, é um espanto: oferecem-se mercadoria “à prazo”, mas a farmácia fica aberta “a
noite”. Nas cidades, em cartazes, folhetos, placas, avisos, para onde você olhar, lá estarão as crases, exatamente onde não deveriam
estar. A Internet é outra tortura, todos craseiam “à todos” (abraços à todos!), afastando-se da regra básica, de que não cabe crase
na concordância do masculino.
Não me lembro se é do Sérgio Porto ou do Stanislaw Ponte Preta a frase “a crase não foi feita para humilhar ninguém”. Ele
enganou-se. Para que ninguém fosse humilhado pela crase, seria necessário, ou dar uma educação sofisticada a toda a população,
ou liberar a crase para cada um usar como quiser: Que tal, “vamos ào cinema?”. Experimente pronunciar. Elegante, não? Se “à
todos” pode ter crase, qualquer coisa passa a ser permitida!
A verdade, a meu ver, é que a crase, a exemplo do acento diferencial, poderia ser “quase” extinta, sem grandes danos à es-
trutura da língua. Não deveria ser abolida totalmente, mas tornada em geral facultativa, ficando obrigatória apenas nos casos em
que sua ausência comprometesse o sentido, como no caso do título desta crônica – “À CRASE” – que sem a crase seria “A CRASE”
e exprimiria coisa completamente diferente do que se pretendia dizer.
Se vocês pensam que o acento diferencial e a crase são as únicas incongruências da Língua Portuguesa, posso adiantar:
enganam-se!
Outras bandeiras de luta podem ser levantadas quanto à adaptação da língua à realidade. Por isso, deixo mais uma palavra
de ordem, um grito de guerra para novas batalhas que virão, mais cedo ou mais tarde:
— Trema, tremei!
HORTA, Goiano Braga. Blocos On-line. , 30 abr. 2021. Disponível em: https://blocosonline.com.br/literatura/prosa/cron/cb/2008/080129.php.
Acesso em: 20 out. 2023.

Veja os principais assuntos e conceitos trabalhados neste capítulo acessando a seção Resumindo
no livro digital, na Plataforma Poliedro.

Quer saber mais?

Livro Site
Crase não é um bicho-de-sete-cabeças, de Sérgio Simka. Uso da crase: verdadeiro ou falso. Disponível em: https://
Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2009. sujeitosimples.com.br/. Acesso em: 20 out. 2023.
De forma divertida e com muito bom-humor, o autor pro- Site da banda Sujeito Simples, que tematiza diversos as-
põe um jeito fácil de estudar a crase, contribuindo para pectos da língua portuguesa ao som do rock, a exemplo
a compreensão desse fenômeno linguístico. das canções Crase 1 e Crase 2, que estão disponíveis
em plataformas de música. Além disso, no site é possí-
vel participar de jogos educativos que envolvem esse e
outros conteúdos da língua.

Exercícios complementares
<id>002447_por_f1_c13_q0027</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. PUC-PR 2022 Em breve, quando for possível olhar para a pandemia do coronavírus e enxergar algum aprendizado
promovido pela reviravolta na ordem mundial, um ramo relativamente novo da medicina estará contabilizado na lista
de progressos: os cuidados paliativos. A área pode ser definida como um tratamento multiprofissional, que visa à me-
lhoria da qualidade de vida de pessoas com doenças graves que necessitam de conforto físico, psicológico, espiritual
e social.
Disponível em: <https://saude.abril.com.br/coluna/com-a-palavra/cuidados-paliativos-um-jeito-humano-de-assistir-o-paciente-em-sofrimento/>.
Acesso em: 24/2/22.

100 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 Crase

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O uso de acento grave, indicativo de crase, pode A notícia lida por Dorothy, no Boletim Agrícola
oferecer, entre outras informações, a de que as pa- despertou, na personagem, o desejo de realizar
lavras envolvidas em uma construção sintática têm uma campanha em favor das mulheres papuas,
um sentido bastante específico. A forma verbal “visa”, que eram trocadas por mercadorias.
destacada no texto, por estar associada a um comple-
Assinale a alternativa que indica a sequência correta.
mento introduzido por uma crase, tem o sentido de
a) V – V – F – F – V d) V – V – V – F – V
a) ordenar. d) gerar.
b) F – F – V – V – V e) V – F – F – V – V
b) impactar. e) objetivar.
c) acarretar. c) F – V – F – V – F
<id>002447_por_f1_c13_q0029</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
<id>002447_por_f1_c13_q0028</id><tipo>objetiva</tipo><assunto> </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

2. Udesc 2023 Aquilo soou como uma novidade. Foi lendo. 3. PUC-PR 2016 Leia as sentenças e assinale o que se
“Na pequena cidade de Port Moresby, que fica no Golfo pede a seguir:
Papua, no Pacífico, a filha do líder de emancipação femi- I. Em 2014, os brasileiros, confiantes e crédulos,
nina, tendo tido a oferta altíssima com fins de casamento saíram a consumir, como se consumo fosse inves-
5 de cem bois, duzentas sacas de café e cinquenta cabras, timento. E o Estado agora nos convoca à pagar
além de mais trezentos quilos de sal, foi vendida em matri- também suas dívidas, que não são nossas. (Veja.
mônio para um jovem herdeiro que desmoralizou com sua São Paulo: Abril, p. 23, 10 jun. 2015. Adaptado).
oferta os pendores político-sociais do pai da noiva, uma II. Pode-se dizer que as gerações da Idade Média
bela papua de dezenove anos.” falam às gerações atuais por meio das grandes
10 Dorothy sentiu grande avidez pela notícia. Talvez lá por obras de arquitetura que exprimem a devoção e o
dentro do Boletim houvesse um retrato da bela papua vendi- espírito da época. (WHITNEY, W. A vida da lingua-
da em Port Moresby. Nada encontrou a não ser as repetidas gem. Petrópolis: Vozes, 2010. p.17).
notas sobre melhoria de maquinismos rurais, aos quais se III. À linguagem é uma expressão destinada a trans-
ligava o marido por força de seus negócios. Pensava sempre missão do pensamento.
15 que Jorge, por não ter filhos, votava às máquinas agrícolas
IV. O atendimento a gestantes foi suspenso ontem
uma espécie de amor. Talvez ele as vendesse como o pai
à tarde e a Prefeitura pouco pode fazer a curto
da bela papua de dezenove anos, entre a glória de oferecer
prazo para amenizar a situação.
tão bela mercadoria e a pena da separação. Havia alguns
V. Transmita a cada um dos pacientes às instruções
anos que Jorge lidava com estas máquinas. Frequentemente,
necessárias à continuidade do tratamento.
20 fazia ofertas ao telefone ou negociava em sua própria casa
com fregueses mais importantes. Fazia, então, louvores às O sinal indicativo de crase está adequadamente em-
máquinas beneficiadoras de café, de descaroçar algodão pregado na(s) alternativa(s):
ou de aparelhos que se adaptavam a seres humanos, trans- a) IV somente. c) II, III e IV. e) II e IV.
formando-os também em máquinas, a distribuir sementes b) I, III e V. d) I e IV.
25 a todos os ventos, permeadas de umidade. <id>002447_por_f1_c13_q0030</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Fonte: O conto da mulher brasileira, Edla van Steen (organizadora, 4. PUC-PR 2017 Leia o texto a seguir.
3. Ed. São Paulo: Global, 2007. Port Moresby, p. 34.
A crise e a crase
Analise as proposições em relação ao conto Port Ônibus de turismo já costumavam parar em frente
Moresby, Dinah Silveira de Queiroz, e assinale (V) à mansão de Chiquinho Scarpa, em São Paulo, para que
para verdadeira e (F) para falsa. os passageiros tirassem fotos. Há um mês, o movimento
Percebe-se, pela leitura do conto, que as mulhe- aumentou. É que o playboy de 64 anos estendeu uma
res eram todas parecidas, vestiam-se de modo faixa no jardim, com seu rosto estampado. Diz ele que
semelhante, tinham uma vida fútil e, praticamente, os motoristas que passam por ali aprovam a mensagem,
agiam da mesma forma. gritando: “É isso aí, Chiquinho”. O slogan: “Juntos pelo
Em “Fazia, então, louvores às máquinas” (linhas 21 Brasil! Não a (sic) luta de classes!”.
Veja, 20/04/2016, p. 89.
e 22) e “votava às máquinas agrícolas uma espécie
de amor” (linhas 15 e 16) o acento indicativo de crase O emprego ou a omissão do acento grave indicativo
é obrigatório porque as palavras destacadas, nas de crase pode mudar o sentido de uma afirmação. A
duas situações, são, sintaticamente, objeto indireto. análise adequada do slogan referido no texto, con-
A leitura do segmento “Pensava sempre que siderando-se o emprego ou não do acento grave,
Jorge, por não ter filhos, votava às máquinas encontra-se em:
agrícolas uma espécie de amor” (linhas 14 a 16) a) Sem o acento grave, a afirmação fica sem sen-
sugere ser Dorothy uma esposa frustrada e fútil, tido e por isso vem acompanhada do vocábulo
uma mulher que sente ciúmes da vida profissio- sic, para mostrar que não foi feita uma alteração
nal do marido. gramatical necessária.
No segmento “que se adaptavam a seres hu- b) O vocábulo sic, empregado na reprodução do
FRENTE 1

manos” (linha 23) o pronome átono, quanto à slogan, indica que houve a manutenção do estilo
colocação pronominal, está proclítico porque o de elaboração do texto, o que não fere a norma-
pronome relativo “que” atrai o pronome átono. -padrão.

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c) A opção pela omissão do acento grave revela em todo o mundo. “A ideia é a de que as pessoas nunca
que o autor do slogan se refere a uma luta geral, se esqueçam da importância da preservação dos direitos
sem que haja recorte de envolvidos. humanos”, disse.
d) Caso optasse pelo emprego do acento grave, o Ele lembrou que os Direitos Humanos assumiram, nos
autor do slogan geraria ambiguidade no enun- últimos meses, no Brasil, um merecido e inédito protago-
ciado, pois não seria possível identificar que luta nismo. “Tal destaque decerto decorreu, além do empenho
estaria em questão. de seus servidores, do recente status ministerial, a propor-
e) As pessoas que passam pelo local em que se en- cionar visibilidade e o necessário suporte financeiro ______
políticas da pasta”.
contra o slogan compreendem a mensagem de
História – Foi ao final da Segunda Guerra Mundial,
duas maneiras, por isso fazem elogios ao autor.
<id>002447_por_f1_c13_q0031</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
em 10 dezembro de 1948, quando a humanidade in-
5. FGV-SP 2016 De acordo com a norma-padrão, assi- teira resolveu promover ______ dignidade humana em
nale a alternativa correta quanto à regência e ao uso todos os lugares e para sempre. Foi nesse espírito que as
ou não do acento indicativo da crase. Nações Unidas adotaram a Declaração Universal dos Di-
a) Coube à moeda alemã à garantia que o euro che- reitos Humanos como um padrão comum de conquistas
gasse com segurança a países europeus. para todos os povos e todas as nações. E é guiado por este
documento, que completa agora 70 anos, que o Ministério
b) Coube a moeda alemã à garantia de que o euro
de Direitos Humanos (MDH) tem atuado nas suas inúme-
chegasse com segurança nos países europeus.
ras demandas. [...]
c) Coube à moeda alemã a garantia de que o euro
BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
chegasse com segurança aos países europeus. MDH, 30 out. 2018. Disponível em: www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/
d) Coube à moeda alemã a garantia que o euro che- noticias/2018/outubro/declaracao-dos-direitos-humanos-chega-aos-70-
anos-em-meio-a-desafios-crescentes. Acesso em: 11 jan. 2024.
gasse com segurança à países europeus.
e) Coube a moeda alemã a garantia que o euro che- Os vocábulos que completam correta e respecti-
gasse com segurança nos países europeus. vamente as lacunas do texto estão indicados na
<id>002447_por_f1_c13_q0032</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
alternativa:
6. Acafe-SC 2021 Considerando a regência da língua
a) à – à – às – a d) à – a – às – a
escrita padrão, preencha as lacunas nas frases a se-
b) a – a – às – a e) à – a – as – à
guir com a alternativa correta.
c) à – à – as – à
A fala do representante dos trabalhadores das in- <id>002447_por_f1_c13_q0034</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

dústrias de pescados, __________ camisa havia 8. Apesar de o acento grave ser utilizado apenas na pri-
uma inscrição de adesão ________ normas consti- meira frase a seguir, as duas sentenças estão corretas.
tucionais, destoava do discurso ativista dos grevistas. Explique essa afirmação.
Disse, inclusive, que as propostas _________ ele não I. Vou à França nas férias.
estivesse de acordo sequer seriam submetidas _____ II. Vou a Paris nas férias.
<id>002447_por_f1_c13_q0035</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
assembleia do sindicato. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

a) de cuja – contra as – com que – a 9. Cederj 2015


b) com cuja – as – para as quais – à Ele e suas ideias
c) em cuja – às – com as quais – à Lima Barreto
d) sobre cuja – sobre as – sobre a quais – a
<id>002447_por_f1_c13_q0033</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Conheci-o no tempo em que trabalhava no Fon-Fon.
7. Leia o texto a seguir. Era um homem pequeno, magro, com um reduzido
cavaignac, bem tratado; mas a sua tragédia íntima e in-
Declaração dos Direitos Humanos chega aos terior só a vim conhecer perfeitamente mais tarde. Não
70 anos em meio a desafios crescentes 5 foram precisos muitos dias, mas foram precisos alguns.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos Andávamos por esse tempo na febre dos melhoramen-
(DUDH) completa 70 anos neste final de ano, em tempos tos, das construções; e, a todo momento, ele lembrava a
de desafios crescentes, quando ______ discriminação e este ou àquele jornal uma ideia.
______ violência ainda permanecem vivos, quando cen- Um dia, era uma avenida; outro dia, era uma pon-
tenas de milhões de mulheres e homens são destituídos 10 te, um jardim; e, de tal modo, a mania de ter ideias o
e privados de condições básicas de subsistência e de tomou, que não se limitava a deixá-las pelos jornais. Ia
oportunidades. A DUDH foi adotada e proclamada pela além. Procurava ministros, fazia requerimentos aos corpos
Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, em 10 de legislativos, propondo tais e tais medidas.
dezembro de 1948 e propunha ser uma norma comum a Era um pingar de ideias diário, constante e teimoso.
ser perseguida por todos os povos e nações como alicerce 15 [...]
para o progresso com paz social. O prefeito e seu gabinete já conheciam o extraordi-
Para o ministro dos Direitos Humanos, Gustavo Rocha, nário e fecundo homem; e, logo que ele se fazia anunciar,
a Declaração Universal dos Direitos Humanos represen- o chefe da cidade dizia para o secretário: “Esse diabo! Lá
ta um marco na história dos direitos humanos. Para o temos o homem das ideias!” [...]
ministro, é importante marcar a data de aniversário da 20 Este homem singular, este homem que, no seu gênero,
Declaração Universal dos Direitos Humanos, num mo- era um Edison ou um Marconi, nunca foi apreciado. Os
mento de tantas atrocidades contra os direitos das pessoas poderes públicos não tomaram na devida consideração

102 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 Crase

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os seus projetos; os jornais não o apontavam à admiração Assinale a alternativa que preenche corretamente as
do público, e ele vive hoje – triste, abandonado, desolado, lacunas das linhas 02, 29 e 37, nessa ordem.
25 em uma pequena cidade do interior. a) tem – haverá – as.
LIMA BARRETO. Ele e suas ideias. In: Para gostar de ler, b) têm – houveram – as.
volume 8, contos. São Paulo: Ática, p. 51-54.
c) tem – haverão – as.
d) tem – haverá – às.
Fon-Fon: revista humorística surgida em 1927, dedi- e) têm – houveram – às.
cada, principalmente, à caricatura. (N.E.) <id>002447_por_f1_c13_q0037</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

cavaignac: cavanhaque. 11. UnB-DF Já o leitor compreendeu que era a Razão que
Edson e Marconi: Edison foi o inventor do telégrafo, voltava à casa, e convidava a Sandice a sair, clamando, e
e Marconi, das ondas de rádio. com melhor jus, as palavras de Tartufo:
— La maison est à moi, c’est à vous d’en sortir.
O acento grave de “àquele” em “... ele lembrava a 5 Mas é sestro antigo da Sandice criar amor às casas
este ou àquele jornal uma ideia...” (linhas 7-8) alheias, de modo que, apenas senhora de uma, dificil-
a) evidencia o complemento preposicionado do mente lha farão despejar. É sestro; não se tira daí; há
verbo. muito que lhe calejou a vergonha. Agora, se advertirmos
b) mostra que a palavra é proparoxítona. no imenso número de casas que ocupa, umas de vez,
c) representa uma inovação ortográfica. 10 outras durante as suas estações calmosas, concluiremos
d) é indicativo da locução adverbial. que esta amável peregrina é o terror dos proprietários.
<id>002447_por_f1_c13_q0036</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> No nosso caso, houve quase um distúrbio à porta do
10. UFRGS 2022 Esse delírio que por aí vai pelo futebol meu cérebro, porque a adventícia não queria entregar a
_______ seus fundamentos na própria natureza humana. casa, e a dona não cedia da intenção de tomar o que era
O espetáculo da luta sempre foi o maior encanto do 15 seu. Afinal, já a Sandice se contentava com um cantinho
homem; e o prazer da vitória, pessoal ou do partido, no sótão.
5 foi, é e será a ambrosia dos deuses manipulada na Terra. — Não, senhora, replicou a Razão, estou cansada de
Admiramos hoje os grandes filósofos gregos, Platão, lhe ceder sótãos, cansada e experimentada, o que você
Sócrates, Aristóteles; seus coevos, porém, admiravam quer é passar mansamente do sótão à sala de jantar, daí
muito mais os atletas que venciam no estádio. Milon de 20 à de visitas e ao resto.
Crotona, campeão na arte de torcer pescoços de touros, — Está bem, deixe-me ficar algum tempo mais, estou
10 só para nós tem menos importância que seu mestre
na pista de um mistério...
Pitágoras. Para os gregos, para a massa popular grega,
— Que mistério?
seria inconcebível a ideia de que o filósofo pudesse no
— De dois, emendou a Sandice: o da vida e o da
futuro ofuscar a glória do lutador.
25 morte; peço-lhe só uns dez minutos. A Razão pôs-se a rir
Na França, o homem hoje mais popular é George
— Hás de ser sempre a mesma coisa... sempre a mes-
15 Carpentier, mestre em socos de primeira classe; e, se derem
ma coisa... sempre a mesma coisa.
nas massas um balanço sincero, verão que ele sobrepuja em
E, dizendo isto, travou-lhe dos pulsos e arrastou-a para
prestígio aos próprios chefes supremos vencedores da guerra.
fora; depois entrou e fechou-se. A Sandice ainda gemeu
Nos Estados Unidos, há sempre um campeão de boxe
tão entranhado na idolatria do povo que está em suas mãos 30 algumas súplicas, grunhiu algumas zangas; mas desenga-
20 subverter o regime político. nou-se depressa, deitou a língua de fora, em ar de surriada,
E os delírios coletivos provocados pelo combate de dois e foi andando...
Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.
campeões em campo? Impossível assistir-se a espetáculo
São Paulo: Ateliê, 2001, p.84-5.
mais revelador da alma humana que os jogos de futebol.
Não é mais esporte, é guerra. Não se batem duas Tendo como base o texto anterior, de Machado de
25 equipes, mas dois povos, duas nações. Durante o tempo Assis, julgue o item a seguir.
da luta, de quarenta a cinquenta mil pessoas deliram em Em “voltava à casa” (l. 2) e em “criar amor às casas
transe, estáticas, na ponta dos pés, coração aos pulos e alheias” (l. 5-6), o acento indicativo da crase é faculta-
nervos tensos como cordas de viola. Conforme corre o tivo, por se tratar de estruturas em que o substantivo
jogo, ________ pausas de silêncio absoluto na multidão “casa” tem relação com o “possuidor”, que está ex-
30 suspensa, ou deflagrações violentíssimas de entusiasmo, presso sintaticamente.
que só a palavra delírio classifica. E gente pacífica, bon- <id>002447_por_f1_c13_q0038</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

dosa, incapaz de sentimentos exaltados, sai fora de si, 12. Univap-SP 2017 Em relação ao emprego da crase, as
torna-se capaz de cometer os mais horrorosos desatinos. lacunas que constam na frase “Dirigiu-se ______ es-
A luta de vinte e duas feras no campo transforma em cola e, na biblioteca, começou ______ estudar _____
35 feras os cinquenta mil espectadores, possibilitando um páginas da lição do dia em que teve de faltar ______
enfraquecimento mútuo, num conflito horrendo, caso um
aulas.” são, corretamente, preenchidas por
incidente qualquer funda em corisco, ________ eletricida-
a) à / a / as / às
des psíquicas acumuladas em cada indivíduo.
b) a / a / à / às
FRENTE 1

O jogo de futebol teve a honra de despertar o nosso


povo do marasmo de nervos em que vivia. c) a / à / às / às
Adaptado de LOBATO, Monteiro. A onda verde. d) à / à / às / as
São Paulo: Globo, 2008. p. 119-120. e) à / à / a / as

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<id>002447_por_f1_c13_q0039</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

13. Inatel-MG 2019 Um __um, todos os alunos responde- geram renda no campo e nas cidades, promovem segurança
rão __ diretora sobre os distúrbios que aconteceram alimentar e hídrica e dinamizam os territórios.
__ pouco. Contribuem, também, para que um número maior de
O correto preenchimento das lacunas está em: agricultores familiares, assentados da reforma agrária, ex-
trativistas e suas organizações se interessem por conhecer
a) a, à e há; d) a, a e há;
e participar desse ciclo virtuoso de desenvolvimento sus-
b) à, a e a; e) à, à e há
tentável, proporcionando uma alimentação mais saudável
c) à, à e a; aos brasileiros e ao mundo.
<id>002447_por_f1_c13_q0040</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Folha de S.Paulo, ASCLEPIUS RAMATIZ é presidente da Fundação
14. Unicentro-PR 2017 Acabar com a fome, alcançar a Banco do Brasil. Graduado em direito, possui MBA em negócios
segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agri- internacionais, 12 set. 2017, com adaptações.
cultura sustentável. O Objetivo de Desenvolvimento
Sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Assinale a alternativa na qual o emprego da crase no
Unidas traz um grande desafio aos países. termo em destaque está incorreto.
Os programas realizados nos últimos anos permitiram a) É importante destacar que a produção agroe-
avanços significativos, contudo a situação global ainda é cológica não se restringe à área rural e também
alarmante: 1 em cada 9 pessoas é subnutrida. influencia hábitos na cidade.
Especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mu- b) No Brasil, as grandes proporções territoriais e a
danças Climáticas preveem que as variações nos próximos diversidade de biomas tornam-se uma oportuni-
anos impactarão a agricultura e a produção de alimentos dade e um desafio para a implantação de políticas
em todo o mundo, agravando substancialmente o proble- orientadas à produção agroecológica.
ma. Com uma perspectiva tão complexa e restrita, como c) Também nesse sentido, surgiu o Programa de For-
garantir a sobrevivência das futuras gerações?
talecimento e Ampliação das Redes de Agroeco-
A chamada agropecuária tradicional tem dado passos
logia, Extrativismo e Produção Orgânica (Ecoforte),
importantes para se adaptar a essa nova realidade, mas
não há dúvida de que a escolha pela produção agroeco- com o qual se buscou integrar o investimento
lógica de alimentos pode trazer a resposta mais adequada social privado às políticas públicas com foco ter-
a esse cenário. ritorial, associando ações de pesquisa, extensão,
A agroecologia integra conhecimentos científicos e produção, comercialização, consumo e certifica-
saberes tradicionais na construção de sistemas agrícolas de ção orgânica.
baixo impacto ambiental e alta capacidade de resiliência. d) Ações articuladas da sociedade civil, somadas
Essa abordagem propõe uma dinâmica de produção ao incentivo de políticas públicas por meio de
de acordo com as características dos ecossistemas, com o programas e linhas de crédito, fortalecem às
uso e a conservação dos recursos naturais. As estratégias organizações agroecológicas, geram renda no
de cultivo são fundamentadas a partir do equilíbrio dos campo e nas cidades, promovem segurança ali-
componentes do solo, com a recuperação da fertilidade
mentar e hídrica e dinamizam os territórios.
e sem a necessidade de agrotóxicos. <id>002447_por_f1_c13_q0041</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
É importante destacar que a produção agroecológica 15. Unicentro-PR 2017 A cultura dominante, hoje mundia-
não se restringe à área rural e também influencia hábitos lizada, se estrutura ao redor da vontade de poder, que
na cidade. A crescente demanda por uma vida saudável se traduz por vontade de dominação da natureza, do
nos centros urbanos estimula, por exemplo, a criação de outro, dos povos e dos mercados. Essa é a lógica dos
hortas comunitárias com produção de verduras e hortali- 5 dinossauros que criou a cultura do medo e da guerra.
ças sem uso de agrotóxicos. Praticamente em todos os países, as festas nacionais e
No Brasil, as grandes proporções territoriais e a di- seus heróis são ligados a feitos de guerra e de violência.
versidade de biomas tornam-se uma oportunidade e um Os meios de comunicação levam ao paroxismo, à mag-
desafio para a implantação de políticas orientadas à pro- nificação de todo tipo de violência, bem simbolizado
dução agroecológica. Existem no país diversas redes que 10 nos filmes de Schwazenegger, como o “Exterminador do
aderiram a práticas sustentáveis e integradas na produção Futuro”. Nessa cultura, o militar, o banqueiro e o espe-
e comercialização de alimentos. culador valem mais do que o poeta, o filósofo e o santo.
Para o fortalecimento e ampliação dessas redes, a E sempre de novo faz suscitar a pergunta que, de forma
sociedade civil organizada requisitou a elaboração de um dramática, Einstein colocou a Freud nos idos de 1932: é
programa que aumentasse a escala de produção e a oferta 15 possível superar ou controlar a violência? Freud, realisti-
de alimentos saudáveis. Em 2013, atendendo a esse desejo, camente, responde: “É impossível aos homens controlar
foi criado o Plano Nacional de Agroecologia e Produção totalmente o instinto de morte... Esfaimados, pensamos
Orgânica (Planapo). no moinho que tão lentamente mói que poderíamos mor-
Também nesse sentido, surgiu o Programa de Fortaleci- rer de fome antes de receber a farinha”.
mento e Ampliação das Redes de Agroecologia, Extrativismo 20 Sem detalhar a questão, diríamos que, por detrás da
e Produção Orgânica (Ecoforte), com o qual se buscou in- violência, funcionam poderosas estruturas. A primeira de-
tegrar o investimento social privado às políticas públicas las é o caos sempre presente no processo cosmogênico.
com foco territorial, associando ações de pesquisa, exten- Viemos de uma imensa explosão, o big bang. E a evolução
são, produção, comercialização, consumo e certificação comporta violência em todas as suas fases. A expansão do
orgânica. Ações articuladas da sociedade civil, somadas ao 25 universo possui também o significado de ordenar o caos.
incentivo de políticas públicas por meio de programas e li- Possivelmente a própria inteligência nos foi dada para por-
nhas de crédito, fortalecem às organizações agroecológicas, mos limites à violência e conferir-lhe um sentido construtivo.

104 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 Crase

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Em segundo lugar, somos herdeiros da cultura patriar- I. O termo preposicionado “da natureza” (l. 3) exerce
cal que instaurou a dominação do homem sobre a mulher a mesma função sintática que “de comunicação”
e criou as instituições do patriarcado assentadas sobre (l. 8), ambos tendo valor passivo, pois completam
30 mecanismos de violência, como o Estado, as classes, o o sentido de um nome.
projeto da tecnociência, os processos de produção como II. O vocábulo “países” (l. 6) é acentuado, porque o
objetivação da natureza e sua sistemática depredação. -i- do hiato não aparece antecedido de ditongo,
Em terceiro, essa cultura patriarcal gestou a guerra forma sílaba sozinho, e não vem seguido de -nh,
como forma de resolução dos conflitos. Sobre essa vasta enquanto a acentuação do ditongo aberto -oi- de
35 base, se formou a cultura do capital, hoje globalizada; sua “heróis” (l. 7) e de “mói” (l. 18) deve-se, respecti-
lógica é a competição e não a cooperação, por isso, gera
vamente, ao fato de se tratar de palavra oxítona e
guerras econômicas e políticas e, com isso, desigualdades,
de um monossílabo tônico.
injustiças e violências. Todas essas forças se articulam es-
III. A presença do sinal de crase em “à magnificação”
truturalmente para consolidar a cultura da violência que
(l. 8 e 9) revela a fusão de duas vogais idênticas,
40 nos desumaniza.
embora pertencentes a classes gramaticais dife-
A essa cultura da violência há que se opor à cultura
da paz. Hoje ela é imperativa, porque as forças de destrui-
rentes, sendo uma decorrente de regência verbal,
ção estão ameaçando, por todas as partes, o pacto social e outra determinante de um nome feminino.
mínimo sem o qual regredimos a níveis de barbárie. É IV. Os verbos em negrito no fragmento “superar ou
45 imperativa porque o potencial destrutivo já montado pode controlar a violência” (l.15) classificam-se como
ameaçar toda a biosfera e impossibilitar a continuidade transitivos, fazem parte da mesma conjugação
do projeto humano. Ou limitamos a violência e fazemos e compõem orações subjetivas que se alternam
prevalecer o projeto da paz ou conheceremos, no limite, entre si.
o destino dos dinossauros. V. As palavras “desigualdades” (l. 37) e “injustiças”
50 O ser humano é o único ser que pode intervir nos (l. 38) são derivadas pelo mesmo processo, não
processos da natureza e copilotar a marcha da evolução. obstante os prefixos que as formam expressarem
Ele foi criado criador. Dispõe de recursos de reengenharia diferentes ideias.
da violência mediante processos civilizatórios de conten-
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas
ção e uso de racionalidade. A competitividade continua
estão corretas é a
55 a valer, mas no sentido do melhor e não de destruição do
outro. Assim todos ganham e não apenas um. a) I e II. c) I, III e V. e) III, IV e V.
Onde buscar as inspirações para cultura da paz? Mais b) II e V. d) II, III e IV.
<id>002447_por_f1_c13_q0042</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
que imperativos voluntarísticos, é o próprio processo an-
16. FGV-SP 2015 Capitão Vitorino apareceu na casa do
troprogênico a nos fornecer indicações objetivas e seguras.
mestre José Amaro para falar-lhe do ataque ____ ci-
60 Ao lado de estruturas de agressividade, temos capacidades
de afetividade, compaixão, solidariedade e amorização. dade do Pilar. Disse ao compadre que D. Inês ficou
Hoje é urgente que desentranhemos tais forças para con- cara ____ cara com Quinca Napoleão, que queria sa-
ferir rumo mais benfazejo à história. Toda protelação é quear-lhe o cofre, mas ela não deu a chave _____ ele.
insensata. O homem era uma ameaça _____ população.
BOFF, Leonardo. Cultura da paz. Disponível em: www.leonardoboff. As lacunas do trecho devem ser preenchidas, correta
com/site/vista/2001-2002/culturapaz.htm. Acesso em: 12 jul. 2016. e respectivamente, com:
Adaptado.
a) à – a – a – à d) a – à – a – a
No que diz respeito aos recursos linguísticos presen- b) a – à – a – à e) à – à – à – à
tes no texto, está correto o que se afirma em c) à – à – a – a

BNCC em foco
<id>002447_por_f1_c13_q0043</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

EM13LP06 entende da antropologia social e cultural delas – e nisso


1. IFPE 2018 estamos inclusos. As seleções nacionais são representantes
A Copa do Mundo na Rússia pode ser a de seus países muito mais importantes e reconhecidas do
que o melhor dos embaixadores. E a Copa, o único espaço
última tentativa de união nacional pelo qual países frágeis na economia e geopolítica mundial
Mais do que a principal competição do maior esporte podem derrotar países muito à frente nesses aspectos.
no planeta, a Copa do Mundo deve ser considerada um Como Diego Maradona sempre gosta de lembrar, a
evento político. Futebol é política, e vice-versa. Como insti- seleção argentina, na Copa de 1986, entrou em campo
tuição, é parte estrutural da formação de diversos povos e sua contra a Inglaterra, pelas quartas de finais, para jogar pelos
cultura, contribuindo para a formatação de seus costumes, mortos na Guerra das Malvinas, e não simplesmente para
FRENTE 1

de suas marcas, hábitos, vocabulário. Quem ignora o papel ganhar um jogo. Isso não era restrito apenas aos joga-
do futebol, na formação histórica de algumas nações, pouco dores: era o sentimento nacional de todos os argentinos.

105

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<id>002447_por_f1_c13_q0044</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

E, quando questionado sobre o gol de mão que abriu o EM13LP08

placar na partida, El Pibe não teve dúvidas sobre a sensa- 2. Observe o cartaz a seguir.
ção: “Foi como bater a carteira de um inglês”.

LineTale/Shutterstock.com
Na França, a vitória na Copa de 1998 ajudou a ameni-
zar o conflito racial que pairava na nação – entre brancos,
negros e árabes – e a derrota nas duas Copas seguintes o
acirrou novamente. A Copa do Mundo também foi capaz
de colocar no mesmo espaço de disputa o que um dos
muros mais implacáveis da história separava: em 1974,
Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental se enfrentaram
pela primeira fase, com vitória da ala soviética (que muitos
afirmam ter sido entregue pela parte capitalista para evitar
adversário mais forte na fase seguinte). Momento épico.
Copa traz integração. A última vez que a Champs-
-Élysées tinha enchido tanto quanto na final da Copa de 98
foi na Queda da Bastilha. Na Copa de 2014, o esboço que
vimos disso não aconteceu nos estádios, elitizados, mas
sim nas fan-fests, que, como o próprio nome diz, foram
espaços de festa, miscelânea, diversidade. Mas é muito
maior do que isso: Copa traz a união comunitária. A gente
não trabalha, a gente pinta a rua de casa, a gente compra
camisa do Neymar ou do Ronaldinho ou do Ronaldo ou do
Romário. Na hora do gol ou da vitória, a gente abraça até
quem não conhece. Muitas vezes, uma televisãozinha é o
suficiente para que toda a vizinhança se amontoe e torça
pela sua representante internacional naquele momento.
O país se volta, inteirinho, para um momento em que 11 Em “Ajude um brinquedo a encontrar um novo lar”,
homens são capazes de mudar, a qualquer instante, todo encontramos um desvio da norma-padrão, pois o “a”
o seu sistema nervoso. E quem sequer reconhece isso tem deveria ter acento grave. Explique se essa afirmativa
que revisar seu próprio elitismo e sair da bolha. é verdadeira ou falsa.
<id>002447_por_f1_c13_q0045</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
PROIETE, Gabriel. A Copa do Mundo na Rússia pode ser a última </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
tentativa de união nacional. Disponível em: https://medium.com/ EM13LP06
@gabriel_proiete/a-copa-do-mundo-da-r%C3%BAssia-pode-ser-a-
%C3%BAltima-tentativa-de-uni% C3%A3o-nacional-8aa3a939ed53.
3. Udesc
Acesso em: 7 maio 2018 (adaptado).
Capítulo 48
Com relação a aspectos semânticos e sintáticos do Conclusão feliz
texto, analise o que se afirma nas assertivas a seguir. [...] Passado o tempo indispensável do luto, o Leonar-
I. As expressões “bater a carteira” (2o parágrafo) e do, em uniforme de Sargento de Milícias, recebeu-se na
“sair da bolha” (4o parágrafo) têm o mesmo sentido Sé com Luisinha, assistindo à cerimônia a família em peso.
que “roubar” e “expressar-se”, respectivamente. Daqui em diante aparece o reverso da medalha. Se-
II. A recorrência da estrutura “a gente pinta”, “a gen- guiu-se a morte de Dona Maria, a do Leonardo-Pataca, e
te compra” e “a gente abraça” (4o parágrafo) torna uma enfiada de acontecimentos tristes que pouparemos
o texto cansativo e prejudica sua progressão e aos leitores, fazendo aqui o ponto final.
continuidade. ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um Sargento de Milícias.
Rio de Janeiro: Ediouro, p. 121.
III. Na oração “Quem ignora o papel do futebol, na
formação histórica de algumas nações, [...]” (1o Analise as alterações da oração “assistindo à ceri-
parágrafo), há um sujeito simples “quem”, mas, se- mônia a família” (linha 4), no tocante à presença (ou
manticamente, seu agente se mantém ignorado, ausência) do acento indicativo de crase:
pois é representado por um pronome indefinido. I. assistindo à casamento a família
IV. As palavras “televisãozinha” e “inteirinho” (4o II. assistindo às cerimônias a família
parágrafo) estão no diminutivo para indicar, res- III. assistindo a missas a família
pectivamente, tamanho e pejoro. IV. assistindo à elas a família
V. Em “países frágeis [...] podem derrotar países
Assinale a alternativa que apresenta a(s) proposi-
muito à frente nesses aspectos” (1o parágrafo), a
ção(ões) redigida(s) de acordo com as orientações da
expressão recebe o acento grave indicativo de
língua formal.
crase porque é uma locução adverbial feminina.
a) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras.
Estão corretas, apenas, as afirmações b) Somente a afirmativa IV é verdadeira.
a) I e V. d) III e V. c) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
b) II e III. e) II e IV. d) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
c) IV e V. e) Todas as afirmativas são verdadeiras.

106 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 13 Crase

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NASA, ESA, H. E. Bond (STScI)
Ecos de luz da estrela V838 Mon. Imagem
capturada pelo telescópio Hubble, em 2004.

FRENTE 1

Verbo I: propriedades gramaticais

14
CAPÍTULO
e semânticas
Na imagem, vê-se uma grande nuvem de poeira cósmica e gases causada
pelo movimento das estrelas. Em 2006, cientistas buscaram uma relação entre
a ação de fenômenos naturais demonstrados pelo Hubble e as criações de
Van Gogh, especialmente Noite estrelada (1889), e concluíram que o pintor
capturou as ações estelares na natureza de modo expressivo e artístico. Re-
lacionando esse fenômeno com a língua portuguesa, é a classe gramatical do
verbo que tem a função de configurar as ações e os movimentos dos seres e
os estados em que se encontram. Neste capítulo, estudaremos as proprieda-
des dessa classe de palavras.

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Conceito e princípios gerais • 1a conjugação: vogal temática “a” – amar, cantar, chorar
etc.
O verbo é a classe gramatical mais complexa da lín-
gua portuguesa. Ele tem a morfologia mais rica entre as • 2a conjugação: vogal temática “e” – correr, sofrer, ver
classes de palavras e desempenha um papel fundamental etc.
na organização da sentença e do texto. A seguir, estuda- • 3a conjugação: vogal temática “i” – partir, sair, pedir
remos a estrutura morfológica, a classificação e os valores etc.
semânticos dos verbos. Para cada conjugação, existe um modelo de flexão,
isto é, um paradigma verbal que orienta a conjugação da
Estrutura e conjugação dos verbos maioria dos verbos. Vejamos o exemplo a seguir com os
Estudamos no Livro 1 a estrutura das palavras e veri- verbos “correr” e “sofrer”:
ficamos que existem morfemas verbais, isto é, sufixos que
se agregam ao radical na formação dos verbos. Veja a Presente do indicativo
manchete abaixo: Eu corro sofro

Buscas por navio escravista do século 19 Tu corres sofres


avançam em Angra dos Reis Ele, ela, você corre sofre
Projeto envolve pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Nós corremos sofremos
CARDOSO, Rafael. Agência Brasil, 7 jul. 2023. Disponível em: https:// Vós correis sofreis
agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-07/buscas-por-navio-
escravista-do-seculo-19-avancam-em-angra-dos-reis. Ele, ela, vocês correm sofrem
Acesso em: 28 out. 2023.

No título da notícia, identificamos o verbo “avançam”, Podemos observar que o radical se mantém invariável,
que possui como radical “avanc-” e como morfema sufixal mas as desinências variam conforme a pessoa. Portanto, a
“-am”. Os sufixos que aportam informações ao radical maioria dos verbos segue uma regularidade de conjugação.
sobre o modo e o tempo verbal são as desinências Do ponto de vista morfológico, devido à regularidade ou
modo-temporais, e aqueles que trazem uma informação não das flexões verbais, os verbos recebem uma primeira
sobre a pessoa que enuncia e o número (singular ou classificação: regular, irregular, anômalo ou defectivo.
plural) são as desinências número-pessoais. Observe o Observe a seguir um quadro com a conjugação de
exemplo a seguir: quatro verbos, que têm o “e” como vogal temática, no pre-
sente do indicativo.
Fal á va mos
Entender Caber Ser Reaver
radical vogal desinência desinência
temática modo-temporal número-pessoal entendo caibo sou ---
entendes cabes és ---
Em “falávamos”, o sufixo “-va” indica o tempo pretérito entende cabe é ---
imperfeito do modo indicativo; já o sufixo “-mos” é indicador
entendemos cabemos somos reavemos
da primeira pessoa do plural.
entendeis cabeis sois reaveis
entendem cabem são ---
Atenção
O radical é um morfema (unidade mínima de significado) O verbo “entender” é classificado como regular, por-
que contém a parte invariável da palavra, e a ele se junta que segue o paradigma da segunda conjugação. Por sua
uma vogal, cuja função é facilitar o acréscimo de alguns vez, o verbo “caber” é irregular, pois apresenta uma flexão
morfemas. As vogais “a”, “e” e “i” com essa função rece- que não segue o paradigma de sua conjugação. Já o verbo
bem o nome de vogal temática. Exemplos: “andar” (radical
“ser” apresenta irregularidades em relação ao paradigma
“and-” + vogal temática “a”) e “partir” (radical “part-” +
em todas as formas verbais do presente do indicativo, por
vogal temática “i”). O radical mais a vogal temática formam
o tema. isso é classificado como anômalo. Enfim, o verbo “reaver”
só é conjugado na primeira e segunda pessoa do plural,
não apresentando formas para as outras pessoas e, por
Sendo o radical a parte invariável das palavras, sua isso, é classificado como defectivo.
presença é obrigatória no verbo, porém os sufixos verbais
não o são. Para exemplificar, examinemos as formas ver- Saiba mais
bais “estudo” e “estudei”, nas quais encontramos o mesmo
radical “estud-” e desinências verbais diferentes. Ao trocar É possível pesquisar a conjugação de verbos nos “conjuga-
dores” on-line, que permitem verificar tanto as desinências
as desinências no radical, estamos conjugando o verbo,
número-pessoais e modo-temporais de verbos regulares
ou seja, flexionando-o em modo, tempo, pessoa, núme-
quanto as irregularidades de outras formas verbais.
ro, voz e aspecto. Em língua portuguesa, há três tipos de Disponível em: https://www.flip.pt/flip-on-line/conjugador.
conjugação que são definidas pela vogal temática de cada Acesso em: 8 jan. 2024.
verbo. Observe:

108 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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Há alguns verbos que podem ser classificados como • À noite todos os gatos são pardos.
abundantes. Trata-se daqueles que possuem duas formas • A ignorância é a mãe de todas as doenças.
para o particípio: uma regular, acrescentando-se o sufixo
• As aparências enganam.
“-do”, e outra irregular. Veja o quadro com alguns deles:
• Quem cala consente.
Particípio Provérbios, conhecidos também por ditados populares,
são orações que transmitem ensinamentos de geração em
regular irregular geração. Muitos desses provérbios têm origem em séculos
aceitado aceito passados, além de serem mensagens de sabedoria de mui-
tos povos. É bem comum ouvirmos provérbios no nosso dia
entregado entregue a dia, pois são frases utilizadas em situações específicas e
com sentido conhecido popularmente.
gastado gasto
Observemos os verbos das orações. Por exemplo, os
matado morto provérbios “A união faz a força” e “O bom filho à casa torna”
evidenciam processos que implicam o ato de “executar”
elegido eleito
algo, isto é, um sujeito que executa a ação de “fazer” algo,
exprimido expresso e “tornar” (voltar) a algum lugar. Porém, casos como “À noite
todos os gatos são pardos” e “A ignorância é a mãe de to-
imprimido impresso das as doenças” mostram o estado ou a qualidade de algo.
inserido inserto
Desse modo, os verbos podem implicar sentidos distintos,
por isso são agrupados em:
De acordo com as convenções da norma-padrão, • Verbos de ação: têm como ponto de partida um “agen-
recomenda-se que o particípio regular seja empregado te” e implicam um “fazer”. Também compreendem
com os verbos “ter” e “haver” como auxiliares. verbos que indicam fenômenos da natureza. Exem-
Exemplos: plos: acordar, comer, comprar, jogar, chover e trovejar.
• O funcionário havia entregado seus relatórios.
• Verbos de estado: mostram a permanência ou mudan-
• Ela teria aceitado o novo emprego.
ça de um estado ou condição. Exemplos: ser, estar,
O particípio irregular será empregado com os verbos permanecer, continuar, ficar e parecer.
“ser”, “estar” e “ficar” como auxiliares.
Do ponto de vista das propriedades semânticas, os
Exemplos: verbos de ação são também chamados de verbos signi-
• Os panfletos estavam impressos para distribuição. ficativos, isto é, que por si só expressam um conteúdo
• Um novo governador será eleito em breve. semântico, uma noção, um significado (acordar, amar,
ventar, ganhar etc.); já os verbos não significativos (ou
Alguns verbos só apresentam particípio irregular. de estado) são aqueles que expressam uma condição de
Exemplos: algo ou alguém (ser, estar, permanecer, ficar, tornar-se,
• abrir – aberto parecer, continuar etc.). No ordenamento sintático, os ver-
• cobrir – coberto bos significativos são classificados como transitivos ou
intransitivos, enquanto os verbos de estado são denomi-
• dizer – dito
nados verbos de ligação. Para exemplificar, observemos
• escrever – escrito os provérbios:
• fazer – feito
A união faz a força.
• pôr – posto verbo transitivo direto
• ver – visto
O verbo “faz” não tem sentido completo, por isso pre-
• vir – vindo cisa de um complemento direto, que é um objeto direto
(“a força”); a ideia é que o sujeito (“A união”) realiza a ação
Classificação semântica e formas de “fazer” algo. Em “É na necessidade que se conhece o
nominais do verbo amigo”, o verbo “conhece” é um verbo transitivo direto e
No primeiro capítulo do Livro 1, vimos que o verbo “o amigo” é o complemento verbal direto.
é a categoria gramatical que configura os processos da O bom filho à casa torna.
realidade objetiva sob a influência do tempo. Leia os pro- verbo transitivo indireto
vérbios a seguir.
• A união faz a força. O verbo “torna” não tem sentido completo e, aqui,
possui um complemento iniciado por preposição, o qual
FRENTE 1

• É na necessidade que se conhece o amigo.


é, portanto, um objeto indireto (“à casa”); compreende-se
• O bom filho à casa torna. que o sentido é o de voltar a algum lugar. Note que houve
• Uma mulher prevenida vale por duas. uma inversão da ordem natural do verbo e do objeto. Em

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“Uma mulher prevenida vale por duas”, o verbo “vale”, nesse contexto, é transitivo indireto e “por duas” é o complemento
verbal indireto.
As aparências enganam.
verbo intransitivo
O verbo “enganam”, nessa frase, traz sentido completo; logo, é um verbo significativo que atua na ordem sintática
como verbo intransitivo, pois não necessita de complemento. Em “Quem cala consente”, os verbos “cala” e “consente”
também não precisam de complementos; logo, trata-se de verbos intransitivos.

À noite todos os gatos são pardos.


verbo de ligação
O verbo “são” é de estado, pois, sozinho, não traz uma ideia de “executar algo”; ele atua na sentença como ele-
mento de ligação entre o sujeito (“Todos os gatos”) e suas características (“pardos”). Em “A ignorância é a mãe de todas
as doenças”, o verbo “é” apresenta um estado do sujeito (“A ignorância”), pois liga-o a uma característica (“a mãe de
todas as doenças”).
Nas orações anteriores, verificamos que o verbo assume uma importante função de organização. A partir da posição
na qual o verbo se encontra, podemos localizar o sujeito da ação, bem como identificar os complementos verbais (diretos
ou indiretos) ou as características do sujeito, no caso dos verbos de ligação.
Além disso, o verbo sofre a influência da temporalidade, o que nos permite deslocar as ações para o passado e para
o futuro. Na maioria dos provérbios anteriores, o tempo verbal predominante é o presente do indicativo, e essa escolha
é fundamental para expressar um sentido permanente, sem tempo determinado.
Algumas formas verbais podem não designar uma ação ou estado em si, porém expressam a ideia do que o verbo
representa e podem ter valor de substantivo ou adjetivo; são as formas nominais do verbo. Vejamos alguns exemplos no
poema a seguir.

Não estou
Não estou pensando em nada O fluxo e o refluxo da vida...
E essa coisa central, que é coisa nenhuma, Não estou pensando em nada.
É-me agradável como o ar da noite, E como se me tivesse encostado mal.
Fresco em contraste com o verão quente do dia, Uma dor nas costas, ou num lado das costas,
Não estou pensando em nada, e que bom! Há um amargo de boca na minha alma:
Pensar em nada É que, no fim de contas,
É ter a alma própria e inteira. Não estou pensando em nada,
Pensar em nada Mas realmente em nada,
É viver intimamente Em nada...
PESSOA, Fernando. Poemas de Álvaro de Campos. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000011.pdf.
Acesso em: 28 out. 2023.

Os versos destacados do poema de Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, apresentam uma
definição sobre o ato de “pensar em nada” (“Pensar em nada/É ter a alma própria e inteira/Pensar em nada/É viver inten-
samente”). Nas ações expressas pelos verbos “pensar”, “ter” e “viver”, não sabemos quem as realizou (os sujeitos) nem se
estão no presente, no passado ou no futuro. Logo, trata-se de formas verbais atemporais e sem sujeito, sendo chamadas
por isso de formas nominais do verbo. Os verbos mencionados estão no infinitivo, que é uma forma nominal usada para
mostrar a ação em si, em seu estado genérico. As três formas nominais são:

Forma nominal Função Sufixo verbal Exemplos

Amar
Infinitivo Expressa a ação em si e pode ter valor de substantivo. -r Sofrer
Sorrir

Amando
Expressa a ação em andamento e pode ter valor de adjetivo Sofrendo
Gerúndio -ndo
e advérbio. Sorrindo

Amado
Particípio Expressa a ação concluída e pode ter valor de adjetivo. -do Sofrido
Sorrido

Flexões verbais e perífrase verbal


Indicamos anteriormente que os verbos podem variar em número, pessoa, modo, tempo, voz e aspecto. Leia a tirinha
a seguir.

110 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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Clara Gomes/Bichinhos de Jardim
Os sonhos podem ser uma fonte de autoconhecimento
muito potente.
Na primeira sentença, o sujeito “o pensamento” repre-
senta a terceira pessoa do singular (ele). A forma verbal “é”
apresenta flexão que estabelece concordância com essa
expressão. Na segunda sentença, o sujeito “os sonhos”
representa a terceira pessoa do plural (eles). Por isso, a
flexão verbal (“podem ser”) se apresenta também no plural.
As desinências número-pessoais, assim, marcam as flexões
de número e pessoa nas formas verbais.

Tempo e modo
O tempo verbal é uma categoria exclusivamente do
verbo cuja função é marcar a posição que os fatos enun-
ciados ocupam na temporalidade (passado, presente e
futuro), tendo como base o momento no qual os fatos fo-
ram enunciados.
Denominam-se modos verbais as diferentes maneiras
que o verbo assume para indicar a atitude de certeza (indi-
cativo), de dúvida (subjuntivo) ou de ordem (imperativo) do
sujeito que fala em relação ao que enuncia.
Na tirinha da artista Clara Gomes, há uma variação entre Retomamos, a seguir, uma sentença da tirinha de Clara
os modos verbais indicativo e subjuntivo. Nos trechos que Gomes, com as formas do verbo “ter” no tempo presente
correspondem ao narrador, na parte superior de cada quadri- em diferentes modos:
nho, identificamos verbos no presente do subjuntivo (“tenha”,
Talvez você tenha uma boa ideia.
“copie” e “faça”) e, nas falas das personagens, predomina presente do subjuntivo
o presente do indicativo (“molha”, “tenho”, “tô” e “sei”). Essa
variação é importante para o objetivo da tirinha, isto é, levar Você tem uma boa ideia.
o leitor à reflexão sobre as diferentes possibilidades de ação presente do indicativo
e escolhas na vida por meio de uma representação, com
efeitos de humor, da execução (ou não) delas. Tenha uma boa ideia.
presente do imperativo afirmativo
Estabelecendo relações No primeiro exemplo, vemos a forma “tenha”, demar-
Em um mundo que muda velozmente, muitas vezes não
cando que o verbo está no presente do modo subjuntivo,
encontramos possibilidades de pensar a longo prazo, ad- pois se imprime uma dúvida na sentença, indicada também
ministrando nossos pensamentos e desejos. Segundo a pela presença do advérbio “talvez”. No caso da forma “tem”,
psicologia, as ações de “desejar” e “pensar” positivamente não há uma situação duvidosa, mas de certeza, pois a forma
não mudam o mundo, pois não há ação direta dessas práti- verbal está no presente do modo indicativo; no terceiro
cas sobre os acontecimentos. No entanto, de acordo com o exemplo, há uma ordem ou conselho, uma vez que a forma
psicólogo Christian Dunker, professor de Psicologia Clínica verbal está no imperativo afirmativo.
da USP, o pensamento positivo pode ser uma mediação
para reencontrarmos o que “desejamos” que aconteça e, Voz
se agirmos em conformidade com isso, podemos mudar
a realidade ao nosso redor e a nós mesmos. Informações A voz verbal é uma categoria gramatical que se refere
relacionadas podem ser acessadas em: https://sites.usp. à perspectiva assumida para apresentar se o acontecimen-
br/psicousp/pensamento-positivo-e-benefico-quando- to verbal tem o sujeito como agente ou paciente. Há três
usado-da-forma-certa-entenda/. Acesso em: 8 jan.2024. formas de orientar tal perspectiva, constituindo, assim,
três vozes verbais.
Vamos analisar a seguir cada uma das possibilidades 1. Voz ativa: o acontecimento verbal ocorre a partir do
de flexão verbal. agente, sua nomeação é obrigatória e ocorre como
sujeito da oração.
Número e pessoa • A editora publicou um novo livro.
As formas verbais podem se apresentar no singular ou no • O livro recebeu vários prêmios.
plural, conforme o sujeito com o qual se relacionam – sujeito 2. Voz passiva: o acontecimento verbal ocorre a partir do
FRENTE 1

que, por sua vez, sempre representa uma pessoa do discurso. paciente (objeto direto), e o agente pode ser facultativo.
• O livro foi publicado [pela editora].
O pensamento positivo é importante segundo a Psicologia. • Vários prêmios foram recebidos.

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A voz passiva pode ser de duas formas. Veja a seguir: Manchete 2
• Analítica: verbo ser + particípio do verbo principal Cavaleiro da Lua e Blade podem se enfrentar
nas HQs; entenda o motivo
O livro foi publicado pela editora PADRÃO, Márcio; YUGE, Claudio (ed.). Canaltech, 24 set. 2021.

sujeito paciente
verbo ser + agente da Na manchete 1, o verbo “falar” aparece sozinho e orga-
particípio passiva niza a oração, ou seja, é um verbo pleno. Na manchete 2, o
verbo que organiza a oração é “enfrentar” e está acompanha-
• Sintética: verbo + pronome apassivador
do de um verbo no presente do indicativo, “podem”. Nessa
construção, o verbo “poder” é auxiliar, e o verbo “enfrentar”
Alugam-se casas é pleno. A junção de um verbo auxiliar e um verbo pleno na
mesma oração recebe o nome de perífrase verbal.
verbo + partícula (pronome
sujeito paciente
apassivador)
Formação dos tempos e
3. Voz reflexiva: o sujeito sintático é, ao mesmo tempo, modos verbais
agente e paciente.
Como já indicamos anteriormente, as ações e os
• Eu me esforcei para conquistar essa vaga.
estados expressos pelos verbos e marcados pela tem-
A voz reflexiva também pode expressar sentido de poralidade podem ser enunciados de modo a transmitir
reciprocidade, quando uma ação verbal é compartilhada certeza, dúvida ou ordem. Estes são os três modos verbais
entre dois ou mais agentes. Veja os exemplos: da língua portuguesa:
• Os amigos se abraçaram fortemente.
• Eles se perdoaram pelos erros passados. Modo pelo qual o falante imprime certeza ao que
diz, quer em referência ao presente, quer em
No capítulo 15 do livro 4, aprofundaremos o estudo Indicativo relação ao passado, ou ao futuro.
das vozes verbais analisando seus efeitos de sentido nos Ex.: Eu consigo um emprego.
textos. presente do indicativo
Modo pelo qual o falante expressa o fato
Aspecto como algo incerto, duvidoso ou irreal, quer em
referência ao presente, quer em relação ao
O aspecto refere-se à relação entre o processo (ou Subjuntivo
passado ou ao futuro.
estado, ou fenômeno) expresso pelo verbo e à ideia de Ex.: Talvez eu consiga um emprego.
duração ou desenvolvimento. A apresentação de uma situa­ Presente do subjuntivo
ção dentro de uma noção aspectual depende de como o Modo pelo qual o falante incita seu interlocutor
a praticar ou não a ação.
falante pretende referir-se à duração da situação (ou mes- Imperativo
Ex.: Consiga um emprego!
mo não se referir a ela). As variações de aspecto não são presente do imperativo afirmativo
marcadas por sufixos verbais. Observe:
1. Aspecto durativo: demarca ação que tem duração Os tempos verbais são fundamentais para informar que
as ações, os fenômenos ou os estados expressos pelos
prolongada no tempo.
verbos ocorrem no passado, no presente ou no futuro. A
• A equipe está trabalhando em home office há 1 ano.
noção de “tempo” é objeto de estudo não só da Linguística,
2. Aspecto conclusivo ou terminativo: demarca térmi- mas de outras disciplinas, como a Filosofia e a Astrofísica.
no da ação verbal. Nos estudos linguísticos, o tempo é analisado tendo em
• Acabo de ouvir ótimas notícias. vista duas noções: a coincidência ou não entre o momento
3. Aspecto habitual ou permansivo: demarca continui- do acontecimento (da ação) e o momento de referência de
dade da ação. quem enuncia. Observe a seguir.
• Costumam acordar tarde.
4. Aspecto incoativo: demarcar início da ação verbal. Passado Presente Futuro
• Ela começou a estudar para o vestibular.
Embora os verbos possam aparecer sozinhos, perce-
bemos, nos exemplos anteriores, que eles também podem Viajei muito Viajo sozinho Viajarei com
naquele ano hoje meu amigo no
vir acompanhados de outros. Quanto a essa característica,
inverno
podem ser classificados como plenos ou auxiliares. Obser-
ve as duas manchetes a seguir:
Sobre a sentença Viajo sozinho hoje, podemos dizer que:
Manchete 1 I. expressa um fato que se desenvolve no momento em
que o falante se situa;
Laerte fala de charges, de seu maior projeto e II. apresenta um acontecimento que é atual ao momento
da mudança nas suas HQs em que se enuncia;
CIRNE, Pedro. TV Cultura - UOL, 18 out. 2021. III. está marcada no tempo presente do indicativo.

112 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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Em Viajei muito naquele ano, a ação de viajar se desloca para antes do momento em que o falante está situado
temporalmente. Já em Viajarei com meu amigo no inverno, inferimos que a forma verbal expressa um fato que ocorrerá
no futuro; o foco da ação situa-se posteriormente ao momento em que se localiza o falante.
Disso, podemos afirmar que o tempo de referência das três frases é o presente (o momento da fala), sendo o passado
e o futuro organizados a partir do momento e do ponto de vista do falante. Porém, o falante pode se expressar tendo como
ponto de referência o passado ou o futuro. Vejamos a seguir:
a) Em 15 de novembro de 1889, o Brasil se tornou uma república.
b) Em 15 de novembro de 1889, o Brasil se tornava uma república.
Nessas duas frases, o ponto de referência é o passado, marcado pela data “15 de novembro de 1889”. O momento
em que o acontecimento ocorre também está no passado, concomitante ao momento de referência. A diferença entre as
duas frases não está na localização da ação em relação à referência do falante, mas na sua duração, pois em b a duração
da ação é mais longa, prolongou-se durante o dia 15 de novembro de 1889. Verbos com esse aspecto de duração são
chamados de imperfeitos.
Concluindo, os tempos verbais são definidos pelo momento de referência do falante, momento e duração do aconte-
cimento. A seguir, vamos conhecer os empregos dos tempos verbais do português e seus sufixos ou desinências verbais:

Modo Tempo Emprego Desinência


Presente Indica uma ação simultânea ao momento da fala. [eu] canto
simples Indica ação concluída no passado. [eu] cantei
perfeito
composto Indica uma ação que se estende até o presente. [eu] tenho cantado
Pretérito imperfeito Indica uma ação passada não concluída completamente. [eu] cantava
INDICATIVO

mais-que- simples [eu] cantara


Indica uma ação passada anterior a outra ação passada.
-perfeito composto [eu] tinha cantado
simples Indica uma ação futura sem estabelecer relação com outro fato. [eu] cantarei
do presente
composto Indica uma ação futura anterior a outra futura. [eu] terei cantado
Futuro simples Indica uma ação posterior a outra passada. [eu] cantaria
do pretérito Indica posterioridade de uma ação incerta em relação a
composto [eu] teria cantado
um ato anterior.
Presente Indica simultaneidade associada à noção de incerteza ou desejo. que [eu] cante
Indica anterioridade de uma ação incerta concluída que [eu] tenha
perfeito
antes de outra. cantado
SUBJUNTIVO

Pretérito imperfeito Indica anterioridade associada à noção de incerteza ou desejo. se [eu] cantasse
Indica anterioridade remota, associada à noção de incerteza se [eu] tivesse
mais-que-perfeito
ou desejo. cantado
simples quando [eu] cantar
Indica posterioridade associada à noção de incerteza,
Futuro quando [eu] tiver
composto possibilidade, em orações subordinadas.
cantado
IMPERATIVO

Afirmativo Indica uma ordem. Canta [tu]

Negativo Indica uma ordem negativa. Não cantes [tu]

Valores semânticos e correlação verbal


Leia a reportagem a seguir.

Dez anos depois de implementar lei de fechamento de bares, Diadema reduz homicídios em 90%
São Paulo – Dez anos depois de implementar a Lei 2.107/02, que ficou conhecida como Lei de Fechamento de Bares, a
cidade de Diadema, na Grande São Paulo, registrou uma redução na taxa de homicídios de 90,74%. Apontada pela Organização
das Nações Unidas (ONU) como uma das dez melhores políticas públicas de combate ao consumo de álcool, a lei, junto com
FRENTE 1

outras políticas públicas, foi determinante para a diminuição no número de homicídios em Diadema. A cidade, em 1999, tinha
a maior taxa de assassinatos do estado de São Paulo – 102,8 mortes para cada 100 mil habitantes – e, em 2011, reduziu esse
índice para 9,52 para cada 100 mil habitantes.

113

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[...]
Regina [secretária Nacional de Segurança Pública] explica que a legislação foi precedida de um amplo diagnóstico das causas
dos homicídios na cidade e que a replicação da lei em outras cidades pode não produzir os mesmos resultados. [...]
Segundo a prefeitura, a maioria dos assassinatos na cidade, antes da aplicação da lei, ocorriam a partir de brigas, acertos
de contas e por débito no tráfico de drogas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município
tem 386 mil habitantes.
[...]
Carolina [coordenadora de Gestão da Segurança Pública do Instituto Sou da Paz] diz que a lei não teria produzido sozinha
resultados positivos. Ela destaca a implementação de outras políticas públicas que, em conjunto com a nova legislação, fez
reduzir a taxa de homicídios. [...]
Entre as diversas políticas públicas de segurança implantadas na cidade estão a criação do Centro Integrado de Videomoni-
toramento, o Serviço de Mediação de Conflitos e três planos Municipais de Segurança, o último lançado em novembro de 2011,
que tem como meta, para os próximos cinco anos, estabilizar a taxa de homicídios em um dígito por grupo de 100 mil habitantes.
A polícia utiliza de seis a 15 agentes e de três a oito fiscais da prefeitura para monitorar a aplicação da lei na cidade, que
tem cerca de 30 quilômetros quadrados. Desde 2002, foram fechados 32 estabelecimentos que descumpriam a legislação e
notificados cerca de 3 mil.
BOCCHINI, Bruno; ALBUQUERQUE, Flávia; MASSALI, Fábio (ed.). Agência Brasil, 15 jun. 2012. Disponível em: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/
agenciabrasil/noticia/2012-06-15/dez-anos-depois-de-implementar-lei-de-fechamento-de-bares-diadema-reduz-homicidios-em-90. Acesso em: 28 out. 2023.

Nas seções anteriores, estudamos as classificações morfológicas e semânticas dos verbos. Também é importante
discutir os valores semânticos dos verbos em uma dada situação de comunicação, pois o tempo em que os verbos estão
conjugados não exprime apenas a noção temporal, mas também caracteriza a situação de comunicação.
A reportagem apresenta, no parágrafo inicial, fatos anteriores ao momento em que o texto é produzido, por isso os
tempos verbais utilizados estão no passado. Esses tempos verbais criam uma situação de narração. Textos de diferentes
gêneros podem conter momentos de narração, mas há aqueles em que esse tipo textual é predominante, como romances,
fábulas, contos, entre outros.
A partir do segundo parágrafo, os enunciadores iniciam a exposição do assunto da reportagem, citando autoridades
que corroboram as informações apresentadas e dados estatísticos relacionados ao assunto. O tempo verbal que predomina
então é o presente do indicativo. Os verbos dessa categoria criam uma situação de comentário.
De acordo com os valores de narração ou comentário, os tempos verbais podem ser correlacionados em dois grupos:

Grupo 1 Indicativo: pretérito perfeito simples; pretérito imperfeito; pretérito mais-que-perfeito; futuro do pretérito; e
(Narração) locuções formadas com esses tempos.
Grupo 2 Indicativo: presente; pretérito perfeito composto (tenho cantado); futuro do presente; futuro do presente
(Comentário) composto (terei cantado); e locuções verbais formadas com esses tempos.

Portanto, em uma situação de narração, os tempos verbais do grupo 1 devem ser correlacionados. Já no comentário,
essa correlação acontece entre os tempos verbais do grupo 2. Como o próprio nome expressa, correlação verbal se
caracteriza pela harmonia entre as formas verbais expressas num período. Na língua portuguesa, há outras correlações
verbais convencionadas. Vejamos:

Presente do modo indicativo + pretérito perfeito composto do modo subjuntivo


• Creio que ele tenha estudado para a prova.
Presente do modo indicativo + presente do modo subjuntivo
• Espero que você estude para a prova.
Pretérito perfeito do indicativo + pretérito imperfeito do modo subjuntivo
• Pedi a ele que estudasse para a prova.
Pretérito imperfeito do modo indicativo + pretérito mais-que-perfeito composto do modo subjuntivo
• Queria que ela tivesse estudado para a prova.
Futuro do pretérito do modo indicativo + pretérito mais-que-perfeito composto do modo subjuntivo
• Gostaria que ele tivesse estudado para a prova.
Pretérito imperfeito do subjuntivo + futuro do pretérito do indicativo
• Se você estudasse para a prova, eu ficaria orgulhoso.
Pretérito mais-que-perfeito composto do subjuntivo + futuro do pretérito composto do indicativo
• Se você tivesse estudado para a prova, eu teria visto.
Futuro do subjuntivo + futuro do presente do modo indicativo
• Se você estudar para a prova eu ficarei contente.
Futuro do subjuntivo + futuro do presente composto do indicativo
• Quando você vier em minha casa, já terei estudado.
Futuro do subjuntivo + futuro do presente do modo indicativo
• Quando você estudar para a prova, ficarei muito orgulhoso.

114 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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Revisando
<id>002447_por_f1_c14_q0001</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. Fuvest-SP 2022 Sob a coloração cambiante das horas, um pouco de ouro


mais pela manhã, um pouco mais de púrpura ao crepús-
culo — a paisagem é a mesma de cada lado, beirando a
estrada da vida.
Eu tinha onze anos.
(O Ateneu, 2013.)

Bastante experimentei depois a verdade deste avi-


so, que me despia, num gesto, das ilusões de criança
educada exoticamente na estufa de carinho que é o regí-
men do amor doméstico (2o parágrafo).
Nesse trecho, o termo destacado é um verbo
a) transitivo indireto. d) intransitivo.
b) de ligação. e) transitivo direto.
c) bitransitivo.

Leia o trecho inicial do conto “O cobrador”, de Rubem


Fonseca, para responder às questões 3 e 4.
<assets>002447_por_f1_c14_t0001</assets>

Na porta da rua uma dentadura grande, embaixo es-


crito Dr. Carvalho, Dentista. Na sala de espera vazia uma
placa, Espere o Doutor, ele está atendendo um cliente.
Esperei meia hora, o dente doendo, a porta abriu e sur-
giu uma mulher acompanhada de um sujeito grande, uns
quarenta anos, de jaleco branco.
Entrei no gabinete, sentei na cadeira, o dentista botou
Disponível em: //deposito-de-tirinhas.tumblr.com/post/ um guardanapo de papel no meu pescoço. Abri a boca e
46675766891/por-laerte. disse que o meu dente de trás estava doendo muito. Ele
olhou com um espelhinho e perguntou como é que eu
a) Como as formas verbais ‘’gostaria’’ e ‘’acho’’ con-
tinha deixado os meus dentes ficarem naquele estado.
tribuem para a construção de sentido dos quadros Só rindo. Esses caras são engraçados.
1 e 2? Vou ter que arrancar, ele disse, o senhor já tem pou-
b) Considerando o contexto da tirinha, como o enun- cos dentes e se não fizer um tratamento rápido vai perder
ciador se vê no último quadro? todos os outros, inclusive estes aqui – e deu uma pancada
<id>002447_por_f1_c14_q0002</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
estridente nos meus dentes da frente.
2. Univag-MT 2017 Leia o trecho do romance O Ateneu,
Uma injeção de anestesia na gengiva. Mostrou o dente
de Raul Pompeia, para responder à questão.
na ponta do boticão: A raiz está podre, vê?, disse com
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta pouco caso. São quatrocentos cruzeiros.
do Ateneu. Coragem para a luta.” Só rindo. Não tem não, meu chapa, eu disse.
Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, Não tem não o quê?
que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada Não tem quatrocentos cruzeiros. Fui andando em
exoticamente na estufa de carinho que é o regímen do direção à porta.
amor doméstico; diferente do que se encontra fora, tão Ele bloqueou a porta com o corpo. É melhor pagar,
diferente, que parece o poema dos cuidados maternos disse. Era um homem grande […]. E meu físico franzino
um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer encoraja as pessoas. Odeio dentistas, comerciantes, advo-
mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro en- gados, industriais, funcionários, médicos, executivos, essa
sinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de canalha inteira. Todos eles estão me devendo muito. Abri
um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com o blusão, tirei o 38 [...]. Ele ficou branco, recuou. Apon-
saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma tando o revólver para o peito dele comecei a aliviar o meu
incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse coração: tirei as gavetas dos armários, joguei tudo no chão,
perseguido outrora, e não viesse de longe a enfiada das chutei os vidrinhos todos como se fossem balas, eles pipo-
decepções que nos ultrajam. cavam e explodiam na parede. Arrebentar os cuspidores e
Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, motores foi mais difícil, cheguei a machucar as mãos e os
igual aos outros que nos alimentam, a saudade dos dias pés. O dentista me olhava, várias vezes deve ter pensado
que correram como melhores. Bem considerando, a atua- em pular em cima de mim, eu queria muito que ele fizesse
lidade é a mesma em todas as datas. Feita a compensação isso para dar um tiro naquela barriga grande […].
FRENTE 1

dos desejos que variam, das aspirações que se transfor- Eu não pago mais nada, cansei de pagar!, gritei para
mam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a ele, agora eu só cobro!
mesma base fantástica de esperanças, a atualidade é uma. (O melhor de Rubem Fonseca, 2015.)

115

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<id>002447_por_f1_c14_q0003</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0001</assets>

3. FICSAE-SP 2020 Ele [...] perguntou como é que eu ti- c) “Suas linhas perfeitas escondiam-lhe muito bem
nha deixado os meus dentes ficarem naquele estado. (2o a idade” representa um período simples, cujo nú-
parágrafo) cleo do sujeito é acompanhado de um pronome
Ao se transpor o trecho para o discurso direto, o ter- possessivo e de um adjetivo, ambos concordando
mo sublinhado assume a seguinte forma: em gênero e número; além disso, o predicado con-
a) deixaria. d) deixava. tém um adjunto adverbial.
b) deixa. e) deixara. d) a oração “Muito se contava a seu respeito” está
c) deixou. na voz passiva sintética; se fosse transformada
<id>002447_por_f1_c14_q0004</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0001</assets>
em voz passiva analítica, passaria a ser “Muito
4. FICSAE-SP 2020 O primeiro verbo atribui ideia de
futuro ao segundo na locução verbal sublinhada em: era contado a seu respeito”.
a) “Fui andando em direção à porta” (8o parágrafo). e) o “a” em “a seu respeito”, “a conheciam”, “a um
b) “Apontando o revólver para o peito dele comecei velho pescador” e “a sós” corresponde, respec-
a aliviar o meu coração (9o parágrafo). tivamente, a uma preposição acidental, a um
c) “Todos eles estão me devendo muito” (9o parágrafo). pronome pessoal oblíquo, a uma preposição es-
d) “Na sala de espera vazia uma placa, Espere o Dou- sencial e a um pronome pessoal oblíquo.
<id>002447_por_f1_c14_q0006</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>

tor, ele está atendendo um cliente” (1o parágrafo).


</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0002</assets>

6. Ufam/PSC 2023 O autor, no terceiro parágrafo, em-


e) “o senhor já tem poucos dentes e se não fizer um
prega a forma de tempo verbal simples “pensara”,
tratamento rápido vai perder todos os outros” (4o
que, no Brasil, mesmo na modalidade escrita, costuma
parágrafo).
ser substituída pela forma de tempo verbal compos-
Leia o excerto a seguir, extraído do livro “Cem dias entre ta. Indique a opção que, CORRETAMENTE, respeita a
céu e mar”, de autoria de Amyr Klink, antes de respon- relação entre tempo verbal simples e tempo verbal
der às questões de 5 e 6, elaboradas a partir dele. composto (mantidos o número, a pessoa e o modo
<assets>002447_por_f1_c14_t0002</assets>
dos verbos empregados no texto):
QUERER a) pensara – tivesse pensado; saberei – terei sabi-
Rosa era seu nome e – como a mulher dos meus so- do; vivi – tenha vivido; terei – terei tido.
nhos, aquela de quem nunca saberei todos os segredos b) pensara – tinha pensado; saberei – terei sabido;
e para quem sempre terei uma história nova – era miste- vivi – tenho vivido; terei – terei tido.
riosa, elegante, cheia de enigmas. Suas linhas perfeitas c) pensara – tinha pensado; saberei – teria sabido;
escondiam-lhe muito bem a idade. Muito se contava a vivi – tenho vivido; terei – teria tido.
seu respeito. Grandes aventuras, viagens perigosas. Todos d) pensara – tivesse pensado; saberei – teria sabido;
na ilha a conheciam. vivi – tenho vivido; terei – teria tido.
Não resisti, e fui ter com ela. E, desde a hora em que e) pensara – tinha pensado; saberei – terei sabido;
deitei os olhos em suas doces curvas, não descansei mais vivi – tenha vivido; terei – teria tido.
até que fosse minha. Pertencia a um velho pescador, e não <id>002447_por_f1_c14_q0007</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

foi fácil fazê-lo entender essa súbita paixão. 7. EEAR-SP 2023 Leia:
Rosa IX, linda e encantadora canoa de nobre madeira, Todas as manhãs, antes de a aurora anunciar o dia, o
o caubi, nove metros talhados de uma única tora, linhas galo-da-campina punha-se a cantar emitindo notas ma-
perfeitas, traço fino, estilo apurado, um verdadeiro caso viosas, ritmadas. (Adalberon C. Lins)
de amor. Foi no Natal de 1977, na ilha de Santo Amaro, O verbo da segunda conjugação, na frase acima,
e, fechado o negócio, eu nem pensara em como levá-la encontra-se no
até Paraty. Fomos juntos, por mar, e vivi então a minha
a) presente do indicativo.
primeira travessia, a sós, por dois dias e uma noite.
b) pretérito perfeito do indicativo.
Não mudei o seu nome quando fui registrá-la porque
c) pretérito imperfeito do indicativo.
creio que todo barco adquire uma certa personalidade
com o nome de batismo, especialmente uma canoa. [...] d) pretérito imperfeito do subjuntivo.
<id>002447_por_f1_c14_q0008</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Fonte: KLINK, Amyr. Cem dias entre céu e mar.
Companhia de Bolso, 2005. 8. UEPG-PR 2022
<id>002447_por_f1_c14_q0005</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0002</assets>

5. Ufam/PSC 2023 Quanto aos aspectos linguísticos Por que as novas tecnologias não estão nos
morfossintáticos, é INCORRETO afirmar que: tornando mais produtivos?
a) as formas verbais “era” (no primeiro parágra- Durante anos, tem sido uma crença no ambiente
fo), “fosse” (no segundo parágrafo), “fomos” (no corporativo americano que a computação em nuvem
terceiro parágrafo) e “fui” (no quarto parágrafo) di- e a inteligência artificial irão fomentar um aumento
zem respeito a dois diferentes verbos anômalos. na produtividade que gera riqueza. Essa convicção
b) o “e” em “Não resisti e fui ter com ela”, e em inspirou uma enxurrada de financiamentos de risco e
“Rosa IX, linda e encantadora canoa de nobre despesas de empresas. E a recompensa, insistem seus
madeira” é uma conjunção aditiva, coordenando, defensores, não se limitará a um pequeno grupo de
respectivamente, duas orações e dois adjuntos gigantes da tecnologia, mas se espalhará por toda a
adnominais. economia.

116 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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Isso ainda não aconteceu. do modo como foram a eletricidade e o motor de com-
A produtividade, que é definida como o valor das bustão interna.
mercadorias produzidas e serviços realizados por hora Adaptado de: LOHR, Steve. Por que as novas tecnologias não estão nos
tornando mais produtivos? Disponível em: https://www.msn.com/ptbr/
de trabalho, caiu consideravelmente no primeiro tri- dinheiro/other/por-que-as-novas-tecnologias-n%C3%A3o-est%C3%A3o-
mestre deste ano, informou o governo americano este nos-tornando-mais-produtivos/ar-AAXT2C3?ocid=msedgntp&cvid=ce4f9
mês. Os números do trimestre costumam ser voláteis, 7021cbd4e5dbd3b1a6951e30633. Acesso em: 30/05/22.

mas o relatório parecia acabar com as esperanças Em relação ao texto jornalístico anteriormente repro-
anteriores de que um renascimento da produtividade duzido, assinale o que for correto.
finalmente estava acontecendo, ajudado pelo inves- 01 A forma verbal “insistem” se refere a um fato cuja
timento acelerado em tecnologias digitais durante a ocorrência está localizada em um futuro incerto
pandemia. ou duvidoso em relação ao momento da enuncia-
O crescimento da produtividade desde o início da
ção do discurso.
pandemia atualmente permanece em cerca de 1% ao
02 A forma verbal “limitará” se refere a um fato que
ano, em sintonia com a taxa precária desde 2010 – e
vai acontecer em um tempo posterior ao discurso.
muito abaixo do último período de melhoria robusta, de
04 A forma verbal “inspirou” faz referência a um fato
1996 a 2004, quando a produtividade cresceu mais
que teve seu início e seu fim em um momento
de 3% ao ano.
passado anterior ao discurso.
O atual quebra-cabeça da produtividade é objeto de
08 A forma verbal “parecia” está se referindo a um
acalorado debate entre os economistas. Robert Gordon,
fato que aconteceu muito tempo antes da enun-
economista da Universidade Northwestern, é o líder dos
ciação do discurso.
céticos. Segundo ele, a inteligência artificial de hoje é
16 A forma verbal “lendo” traz uma desinência que
essencialmente uma tecnologia de reconhecimento de
padrões, lendo de forma atenta vastos tesouros de pala-
expressa a ideia de um fato que pode ter ocorrido
vras, imagens e números. Suas façanhas, de acordo com ou não.
Gordon, são “impressionantes, mas não transformadoras” Soma:

Exercícios propostos

Considere o excerto do texto a seguir, da autoria de c) representa um período composto por subordinação,
Rubem Alves, para responder às questões de 1 e 2: cuja subordinada é uma oração adjetiva restritiva.
<assets>002447_por_f1_c14_t0003</assets>
d) se a palavra “erro” estivesse no plural, obrigatoria-
TREM mente o mesmo deveria acontecer com a palavra
[...] “um”, mas não com a palavra “dá”.
Tem um erro de gramática que me dá arrepios. Quan- e) se o verbo “ter” fosse substituído pelo verbo “haver”,
do eu ouço as pessoas dizendo: “Ele pediu pra mim ir teríamos, nesse contexto, um verbo impessoal e,
lá...”; ou: “Quero silêncio pra mim dormir”, eu penso por conseguinte, o sujeito dele seria inexistente; o
que o Tarzã se intrometeu demais no português, porque mesmo se daria se o verbo substituto fosse “existir”.
<id>002447_por_f1_c14_q0010</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
era o Tarzã que não falava “eu”: “Mim ama Jane, mim </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0003</assets>

vai pescar...” Claro, esse era o Tarzã antigo, da roça. Os 2. Ufam/PSC 2023 Em relação aos períodos “Mim” não
Tarzãs modernos estudaram em Oxford, falam português faz nada e “Mim” faz coisas, é CORRETO afirmar que:
escorreito, castiço, clássico. Mas não tem jeito, e já me a) ambos são períodos simples e têm como sujeito
conformei. Onde já se viu “mim” fazer coisas? “Mim” a palavra “Mim”.
não faz nada. Errado. “Mim” faz coisas. O povo decretou. b) o “i” de “Mim” representa uma vogal oral, enquan-
É o jeito do povo falar que faz a língua. Eu mesmo me to o de “coisas” representa uma semivogal.
revolto contra o Aurélio. Escrevi: “os anús fazendo seus c) o verbo “fazer” é regular e está conjugado no pre-
ruídos característicos...” A revisora me informou que a sente do modo indicativo.
grafia certa da ave negra é anus, sem acento. Pode ser. d) tanto a palavra “não” quanto a palavra “nada” ex-
Mas não quero que meu leitor se confunda. Por via das pressam negação, e ambas pertencem à classe
dúvidas e a bem da clareza, eu continuo a escrever anús, dos advérbios.
para que ninguém confunda o passarinho com o orifício e) o verbo “fazer” é defectivo e está conjugado no
terminal dos intestinos. [...] presente do modo indicativo.
Fonte: Rubem ALVES: Se eu pudesse viver minha vida novamente <id>002447_por_f1_c14_q0011</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
[recurso eletrônico]. Campinas, SP: Verus Editora, 2016, p. 64-66.
[Edição eletrônica do Kindle].
3. ESA-RJ 2022 São exemplos de verbos irregulares,
<id>002447_por_f1_c14_q0009</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0003</assets>
exceto:
1. Ufam/PSC 2023 Em relação ao período “Tem um a) Restrinjo a passagem de alunos por aqui a partir
erro de gramática que me dá arrepios”, é CORRETO de hoje.
afirmar que: b) Quando tinha três anos, já media um metro.
FRENTE 1

a) o “que” é uma conjunção subordinativa integrante. c) Todos os anos, ela me dava um presente.
b) o verbo “dar” é bitransitivo, selecionando, no d) Minha mãe faz bolos deliciosos.
caso, dois objetos diretos (“me” e “arrepios”). e) Nós pedimos uma pizza.

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<id>002447_por_f1_c14_q0012</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

4. Unesp 2018 Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, Na oração em que está inserido, o termo destacado é
de Machado de Assis (1839-1908), para responder à um verbo que pede
questão. a) apenas objeto direto, representado pelo vocábu-
lo “lho”.
A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos, como
b) objeto direto e objeto indireto, ambos representa-
terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns
dos pelo vocábulo “lho”.
aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles
c) objeto direto, representado pelo vocábulo “dinhei-
era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também
ro”, e objeto indireto, representado pelo vocábulo
a máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o
“lho”.
vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca.
Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era
d) apenas objeto indireto, representado pelo vocá-
fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de
bulo “quem”.
beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era e) objeto direto, representado pelo vocábulo “di-
dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a nheiro”, e objeto indireto, representado pelo
sede, e aí ficavam dois pecados extintos, e a sobriedade e vocábulo “quem”.
<id>002447_por_f1_c14_q0013</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem 5. ITA-SP 2017
social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e
alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à A mídia realmente tem o poder de manipular
venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras. as pessoas?
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Por Francisco Fernandes Ladeira
Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à À primeira vista, a resposta para a pergunta que inti-
direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás tula este artigo parece simples e óbvia: sim, a mídia é um
com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo poderoso instrumento de manipulação. A ideia de que o
que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, frágil cidadão comum é impotente frente aos gigantescos
mostrava um reincidente, e com pouco era pegado. 5 e poderosos conglomerados da comunicação é bastante
Há meio século, os escravos fugiam com frequência. atrativa intelectualmente. Influentes nomes, como Adorno
Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Su- e Horkheimer, os primeiros pensadores a realizar análises
cedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos mais sistemáticas sobre o tema, concluíram que os meios
gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas de comunicação em larga escala moldavam e direcionavam
repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, 10 as opiniões de seus receptores. Segundo eles, o rádio torna
e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da todos os ouvintes iguais ao sujeitá-los, autoritariamente, aos
propriedade moderava a ação, porque dinheiro também idênticos programas das várias estações. No livro Televisão
dói. A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que e Consciência de Classe, Sarah Chucid Da Viá afirma que o
raros, em que o escravo de contrabando, apenas compra- vídeo apresenta um conjunto de imagens trabalhadas, cuja
do no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas 15 apreensão é momentânea, de forma a persuadir rápida e
da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas transitoriamente o grande público. Por sua vez, o psicólo-
ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e go social Gustav Le Bon considerava que, nas massas, o
iam ganhá-lo fora, quitandando. indivíduo deixava de ser ele próprio para ser um autômato
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinhei- sem vontade e os juízos aceitos pelas multidões seriam
ro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, 20 sempre impostos e nunca discutidos. Assim, fomentou-se a
com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico, concepção de que a mídia seria capaz de manipular incon-
se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de gra- dicionalmente uma audiência submissa, passiva e acrítica.
tificação. Quando não vinha a quantia, vinha promessa: Todavia, como bons cidadãos céticos, devemos du-
“gratificar-se-á generosamente” – ou “receberá uma boa vidar (ou ao menos manter certa ressalva) de proposições
gratificação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao 25 imediatistas e aparentemente fáceis. As relações entre mí-
lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara dia e público são demasiadamente complexas, vão muito
ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo além de uma simples análise behaviorista de estímulo/
o rigor da lei contra quem o acoitasse. resposta. As mensagens transmitidas pelos grandes veículos
Ora, pegar escravos fugidios era um ofício do tempo. de comunicação não são recebidas automaticamente e da
Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que 30 mesma maneira por todos os indivíduos. Na maioria das
se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza vezes, o discurso midiático perde seu significado original
implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se metia em na controversa relação emissor/receptor. Cada indivíduo
tal ofício por desfastio ou estudo; a pobreza, a necessidade está envolto em uma “bolha ideológica”, apanágio de seu
próprio processo de individuação, que condiciona sua
de uma achega, a inaptidão para outros trabalhos, o acaso,
35 maneira de interpretar e agir sobre o mundo. Todos nós, ao
e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por ou-
entrarmos em contato com o mundo exterior, construímos
tra via, davam o impulso ao homem que se sentia bastante
representações sobre a realidade. Cada um de nós forma
rijo para pôr ordem à desordem.
juízos de valor a respeito dos vários âmbitos do real, seus
(Contos: uma antologia, 1998.)
personagens, acontecimentos e fenômenos e, consequen-
Quem perdia um escravo por fuga dava algum di- 40 temente, acreditamos que esses juízos correspondem à
nheiro a quem lho levasse. (4o parágrafo) “verdade”. [...]

118 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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[...] A mídia é apenas um, entre vários quadros ou grupos de referência, aos quais um indivíduo recorre como argu-
mento para formular suas opiniões. Nesse sentido, competem com os veículos de comunicação como quadros ou grupos
de referência fatores subjetivos/psicológicos (história familiar, trajetória pessoal, predisposição intelectual), o contexto social
45 (renda, sexo, idade, grau de instrução, etnia, religião) e o ambiente informacional (associação comunitária, trabalho, igreja).
“Os vários tipos de receptor situam-se numa complexa rede de referências em que a comunicação interpessoal e a midiática
se completam e modificam”, afirmou a cientista social Alessandra Aldé, em seu livro A construção da política: democracia,
cidadania e meios de comunicação de massa. Evidentemente, o peso de cada quadro de referência tende a variar de acordo
com a realidade individual. Seguindo essa linha de raciocínio, no original estudo Muito Além do Jardim Botânico, Carlos
50 Eduardo Lins da Silva constatou como telespectadores do Jornal Nacional acionam seus mecanismos de defesa, individuais
ou coletivos, para filtrar as informações veiculadas, traduzindo-as segundo seus próprios valores. “A síntese e as conclusões
que um telespectador vai realizar depois de assistir a um telejornal não podem ser antecipadas por ninguém; nem por quem
produziu o telejornal, nem por quem assistiu ao mesmo tempo que aquele telespectador”, inferiu Carlos Eduardo.
Adaptado de: http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/amidia-realmente-tem-o-poder-de-manipular-as-pessoas/. (Publicado em
14/04/2015, na edição 846. Acesso em 13/07/2016.)

Marque a alternativa em que o verbo destacado está classificado corretamente quanto à transitividade.
VTD − verbo transitivo direto
VTI – verbo transitivo indireto
VI – verbo intransitivo
a) [...] devemos duvidar (ou ao menos manter certa ressalva) de preposições imediatistas e aparentemente fáceis. –
VTD (linhas 23-25)
b) Na maioria das vezes, o discurso midiático perde seu significado original na controversa relação emissor/recep-
tor. – VTI (linhas 30-32)
c) A mídia é apenas um, entre vários quadros ou grupos de referência, aos quais um indivíduo recorre como argu-
mento para formular suas opiniões. – VTI (linhas 42-43)
d) Nesse sentido, competem com os veículos de comunicação como quadros ou grupos de referência fatores
subjetivos/psicológicos [...] – VTD (linhas 43-44)
e) Evidentemente, o peso de cada quadro de referência tende a variar de acordo com a realidade individual. – VI
(linhas 48-49)
<id>002447_por_f1_c14_q0014</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

6. Univag-MT 2021 Leia o poema de Rubem Braga para responder à questão.


E quando nós saímos era a Lua, Andamos em silêncio pela praia.
Era o vento caído e o mar sereno Nos corpos leves e levados ia
Azul e cinza azul anoitecendo O sentimento do prazer cumprido.
A tarde ruiva das amendoeiras.
Se mágoa me ficou na despedida,
E respiramos, livres das ardências Não fez mal que ficasse, nem doesse −
Do sol, que nos levara à sombra cauta Era bem doce, perto das antigas.
Tangidos pelo canto das cigarras
Dentro e fora de nós exasperadas.
(Livro de versos, 1998.)

O verbo sublinhado indica um fato pontual, ocorrido no passado, em:


a) “Nos corpos leves e levados ia” (3a estrofe). d) “E quando nós saímos era a Lua” (1a estrofe).
a
b) “Azul e cinza azul anoitecendo” (1 estrofe). e) “Era bem doce, perto das antigas” (4a estrofe).
a
c) “Não fez mal que ficasse, nem doesse” (4 estrofe).
<id>002447_por_f1_c14_q0015</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

7. UFMS 2018 Leia o poema de Ferreira Gullar e responda à questão.

Morte de Clarice Lispector


enquanto te enterravam no cemitério judeu na direção de Botafogo
do Caju as pedras e as nuvens e as árvores
(e o clarão de teu olhar soterrado no vento
resistindo ainda) mostravam alegremente
o táxi corria comigo à borda da Lagoa que não dependem de nós.
(GULLAR, Ferreira. Melhores poemas de Ferreira Gullar. 7 ed. Seleção de Alfredo Bosi. São Paulo: Global, 2004. p. 153).

Qual é a transitividade das formas verbais “mostravam” e “dependem”, respectivamente, presentes nos dois últimos
versos do poema?
FRENTE 1

a) Verbo transitivo direto e verbo transitivo indireto. d) Verbo transitivo indireto e verbo transitivo direto e
b) Verbo transitivo direto e verbo intransitivo. indireto.
c) Verbo intransitivo e verbo transitivo indireto. e) Verbo intransitivo e verbo transitivo direto.

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<id>002447_por_f1_c14_q0016</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

8. IFPE 2020 Observe o segundo quadrinho.

BECK, Alexandre. Disponível em: <http://tirasarmandinho.tumblr.com>. Acesso em: 27 out. 2019.

Oração 1 – Porque não cuida da sua vida?... Guri!


Oração 2 – Estou cuidando!
Sabendo que o verbo “cuidar”, no sentido em que aparece no texto, é transitivo indireto, é CORRETO afirmar que, na
oração 2, o verbo utilizado
a) também é transitivo indireto, levando em conta que uma parte da Oração 2 está oculta.
b) é intransitivo, ou seja, não necessita de complemento verbal.
c) é transitivo direto, já que não exige preposição.
d) é, ao mesmo tempo, transitivo direto e indireto, pois aceita qualquer tipo de complemento verbal.
e) pode variar a transitividade dependendo da oração apresentada no 3o quadrinho.
<id>002447_por_f1_c14_q0017</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

9. Uece 2017

Grito
Quadro que fundou o expressionismo nasceu de um ataque de pânico.
Edvard Munch nasceu em 1863, mesmo ano em que O piquenique no bosque, de Édouard Manet, era exposto no Salão
dos Rejeitados, chamando a atenção para um movimento que nem nome tinha ainda. Era o impressionismo, superando
séculos de pintura acadêmica. Os impressionistas deixaram o realismo para a fotografia e se focaram no que ela não podia
5 mostrar: as sensações, a parte subjetiva do que se vê.
Crescendo durante essa revolução, Munch – que, aliás, também seria fotógrafo – achava a linguagem dos impressionistas
superficial e científica, discreta demais para expressar o que sentia. E ele sentia: Munch tinha uma história familiar trágica:
perdeu a mãe e uma irmã na infância, teve outra irmã que passou a vida em asilos psiquiátricos. Tornou-se artista sob forte
oposição do pai, que morreria quando Munch tinha 25 anos e o deixaria na pobreza. O artista sempre viveu na boemia,
10 entre bebedeiras, brigas e romances passageiros, tornando-se amigo do filósofo niilista Hans Jæger, que acreditava que o
suicídio era a forma máxima da libertação.
Fruto de suas obsessões, O Grito não foi seu primeiro quadro, mas o que o tornaria célebre. A inspiração veio do que
parece ter sido um ataque de pânico, que ele escreveu em seu diário, pouco mais de um ano antes do quadro: “Estava andando
por um caminho com dois amigos – o sol estava se pondo – quando, de repente, o sol tornou-se vermelho como o sangue. Eu
15 parei, sentindo-me exausto, e me encostei na cerca – havia sangue e línguas de fogo sobre o fiorde negro e a cidade. Meus
amigos continuaram andando, e eu fiquei lá, tremendo de ansiedade – e senti um grito infinito atravessando a natureza”.
Ali nasceria um novo movimento artístico. O Grito seria a pedra fundadora do expressionismo, a principal vanguarda
alemã dos anos 1910 aos 1930.
(Aventuras na História)

O verbo “nascer” em “Ali nasceria um novo movimento artístico” (linha 17) significa
a) começar a crescer, a brotar.
b) tomar forma, instituir-se.
c) gerar-se, ter surgimento, passar a existir.
d) aparecer, sair.
<id>002447_por_f1_c14_q0018</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

10. IFTO 2020 Marque a sequência correta quanto à classificação dos verbos destacados na frase abaixo.
Perceber que há um sentido na vida é oito vezes mais capaz de trazer satisfação do que ganhar um bom salário.
(KING e NAPA, 1998, pág. 199)

a) regular, anômalo, defectivo d) defectivo, anômalo, regular


b) anômalo, regular, irregular e) defectivo, irregular, anômalo
c) regular, irregular, anômalo

120 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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<id>002447_por_f1_c14_q0019</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

11. Unesp 2021 Para responder à questão, leia a crônica Dificilmente algo que não demandou suor e empenho
“A obra-prima”, de Lima Barreto, publicada na revista gerará prazer igual à conquista de algo que nos deixou
Careta em 25.09.1915. diversas noites sem dormir.
Portanto, busque ver nas barreiras impostas pela vida
Marco Aurélio de Jesus, dono de um grande talento algo que lhe fortalecerá e transformará a realização de
e senhor de um sólido saber, resolveu certa vez escrever seus sonhos em algo ainda mais especial. Olhar para trás
uma obra sobre filologia. e enxergar uma trajetória aberta em meio às dificuldades
Seria, certo, a obra-prima ansiosamente esperada e faz da sua conquista algo admirável e prazeroso.
que daria ao espírito inculto dos brasileiros as noções Os medíocres, aqueles que fazem apenas o que é
exatas da língua portuguesa. Trabalhou durante três anos, comum e corriqueiro, têm imensa dificuldade em enxergar
com esforço e sabiamente. Tinha preparado o seu livro que por trás de toda dificuldade há uma oportunidade
que viria trazer à confusão, à dificuldade de hoje, o saber única.
de amanhã. Era uma obra-prima pelas generalizações e Portanto, encare as barreiras da vida com bom ânimo
pelos exemplos. e determinação. São elas que fazem com que objetivos
A quem dedicá-la? Como dedicá-la? E o prefácio? maiores sejam alcançados apenas por aqueles que têm
E Marco Aurélio resolve meditar. Ao fim de igual tem- disposição e energia para enfrentar o caminho das pedras.
po havia resolvido o difícil problema. São elas que fazem aflorar os verdadeiros campeões.
A obra seria, segundo o velho hábito, precedida de Tenha confiança e siga em frente. Faça valer a sua
“duas palavras ao leitor” e levaria, como demonstração determinação, acima de todos os medos e dúvidas que
de sua submissão intelectual, uma dedicatória. tentam assombrá-lo.
Mas “duas palavras”, quando seriam centenas as que Roberto Shinyashiki
escreveria? Não. E Marco Aurélio contou as “duas pala-
vras” uma a uma. Eram duzentas e uma e, em um lance Nesse texto, Roberto Shinyashiki empregou as for-
único, genial, destacou em relevo, ao alto da página “du- mas verbais “busque”, “encare”, “Tenha” e “Faça” com
zentas e uma palavras ao leitor”. o intuito de:
E a dedicatória? A dedicatória, como todas as dedi- a) enfatizar os aspectos emocionais da linguagem.
catórias, seria a “pálida homenagem” de seu talento ao b) transmitir a mensagem de modo objetivo sem ad-
espírito amigo que lhe ensinara a pensar… mitir mais de uma interpretação.
Mas “pálida homenagem”… Professor, autor de um c) manifestar sua preocupação com o leitor no que
livro de filologia, cair na vulgaridade da expressão comum: se refere ao conteúdo motivacional.
“pálida homenagem”? Não. E pensou. E de sua grave me- d) atrair a atenção do leitor e influenciá-lo a receber
ditação, de seu profundo pensamento, saiu a frase límpida, a mensagem.
a grande frase que definia a sua ideia da expressão e, <id>002447_por_f1_c14_q0020</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

num gesto, sulcou o alto da página de oferta com a frase 13. Enem 2018
sublime: “lívida homenagem do autor”…
Está aí como um grande gramático faz uma obra-
-prima. Leiam-na e verão como a coisa é bela.
(Sátiras e outras subversões, 2016.)

O cronista narra uma série de fatos ocorridos no pas-


sado. Um fato anterior a esse tempo passado está
indicado pela forma verbal sublinhada em
a) “Eram duzentas e uma e, em um lance único,
genial, destacou em relevo, ao alto da página ‘du-
zentas e uma palavras ao leitor’.” (6o parágrafo)
b) “A obra seria, segundo o velho hábito, precedida
de ‘duas palavras ao leitor’ e levaria, como de-
monstração de sua submissão intelectual, uma
dedicatória.” (5o parágrafo)
c) “A dedicatória, como todas as dedicatórias, seria
a ‘pálida homenagem’ de seu talento ao espírito
amigo que lhe ensinara a pensar...” (7o parágrafo)
d) “E Marco Aurélio resolve meditar.” (4o parágrafo)
e) “Leiam-na e verão como a coisa é bela.” (9o pa-
rágrafo)
<id>002447_por_f1_c14_q0021</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

12. Facape-PE 2023 Para realizar nossas metas precisamos


vencer vários tipos de obstáculos que a vida nos impõe.
Barreiras como falta de dinheiro, falta de tempo, excesso
FRENTE 1

de estresse, entre outras dificuldades que põem à prova a


nossa força de vontade e nos fazem dar ainda mais valor
às nossas conquistas. Disponível em: www.sul21.com.br. Acesso em: 1 dez. 2017 (adaptado).

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Nesse texto, busca-se convencer o leitor a mudar seu Fitou tranquilo o que tinha sido sua casa e era um
comportamento por meio da associação de verbos no amontoado de caliça e tijolo, a ser removido. Em breve
modo imperativo à restaria o lote, à espera de outra casa maior, sem sinal dele
a) indicação de diversos canais de atendimento. e dos seus, mas destinada a concentrar outras vivências.
b) divulgação do Centro de Defesa da Mulher. Uma ordem, um estatuto pairava sobre os destroços, e tudo
c) informação sobre a duração da campanha. era como devia ser, sem ilusão de permanência.
Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. 12. ed.
d) apresentação dos diversos apoiadores. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1979.
e) utilização da imagem das três mulheres.
<id>002447_por_f1_c14_q0022</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

14. EsPCEx-SP 2022 Vocabulário


caibro s.m. elemento estrutural de um telhado, geral-
Assiste à demolição mente peças de madeira que se dispõem da cumeeira
— Morou mais de vinte anos nesta casa? Então vai ao frechal, a intervalos regulares e paralelas umas às
sentir “uma coisa” quando ela for demolida. outras, em que se cruzam e assentam as ripas, frequen-
Começou a demolição. Passando pela rua, ele viu temente mais finas e compridas, e sobre as quais se
a casa já sem telhado, e operários, na poeira, removen- apoiam e se encaixam as telhas.
do caibros. Aquele telhado que lhe dera tanto trabalho pérgula s.f. espécie de galeria coberta de barrotes
por causa das goteiras, tapadas aqui, reaparecendo ali. espacejados assentados em pilares, geralmente guar-
necida de trepadeiras.
Seu quarto de dormir estava exposto ao céu, no calor da
buganvília s.f. designação comum às plantas do gê-
manhã. Ao fundo, no terraço, tinham desaparecido as
nero bougainvillea, trepadeira, muito cultivadas como
colunas da pérgula, e a cobertura de ramos de buganvília –
ornamentais.
dois troncos subindo do pátio lá embaixo e enchendo de flanco s.m. pela lateral.
de florinhas vermelhas o chão de ladrilho, onde gatos da marco s.m. parte fixa que guarnece o vão de portas
vizinhança amavam fazer sesta e surpreender tico-ticos. e janelas, e onde as folhas destas se encaixam, pren-
Passou nos dias seguintes e viu o progressivo desfa- dendo-se por meio de dobradiças.
zer-se das paredes, que escancarava a casa de frente e tapume s.m. cerca ou vala guarnecida de sebe que de-
de flancos jogando-a por assim dizer na rua. Os marcos fende uma área; anteparo, geralmente de madeira, com
das portas apareciam emoldurando o vazio. O azul e as que se veda a entrada numa área, numa construção.
nuvens circulavam pelos cômodos, em composição sur- lambri s.m. revestimento interno de parede, usado
realista. E o pequeno balcão da fachada, cercado de ar, com fim decorativo ou para proteger contra frio, umi-
parecia um mirante espacial, baixado ao nível dos míopes. dade ou barulho; feito de madeira, mármore, estuque,
A demolição prosseguiu à noite, espontaneamente. numa só peça ou composto por painéis, que vão até
Um lanço de parede desabou sozinho, para fora do tapu- certa altura ou do chão ao teto (mais usado no plural).
me, quando já cessara na rua o movimento dos lotações. caliça s.f. conjunto de resíduos de uma obra de alve-
naria demolida ou em desmoronamento, formado por
Caiu discreto, sem ferir ninguém, apenas avariando – des-
pó ou fragmentos dos materiais diversos do reboco (cal,
culpem – a rede telefônica.
argamassa ressequida) e de pedras, tijolos desfeitos.
A casa encolhera-se, em processo involutivo. Já agora
lote s.m. porção de terra autônoma que resulta de
de um só pavimento, sem teto, aspirava mesmo à desin- loteamento ou desmembramento; terreno de pequenas
tegração. Chegou a vez da pequena sala de estar, da sala dimensões, urbano ou rural, que se destina a constru-
de jantar com seu lambri envernizado a preto, que ele ções ou à pequena agricultura
passara meses raspando a poder de gilete, para recuperar Fonte: HOUAISS, A. e Villar, M. de S. Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa. Elaborado no Instituto Antônio Houaiss de
a cor da madeira. E a vez do escritório, parte pensante e
Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa.
sentinte de seu mecanismo individual, do eu mais íntimo Rio de Janeiro. Objetiva, 2009.
e simultaneamente mais público, eu de gavetas sigilosas,
manuseadas por um profissional da escrita. De todo o
Marque a alternativa em que a forma verbal substitui
tempo que vivera na casa, fora ali que passara o maior
corretamente a locução verbal sublinhada na seguin-
número de horas, sentado, meio corcunda, desligado de
te oração: “Ao fundo, no terreno, tinham desaparecido
acontecimentos, ouvindo, sem escutar, rumores que che-
as colunas da pérgula…”.
gavam de outro mundo – cantoria de bêbados, motor de
avião, chorinho de bebê, galo na madrugada.
a) havia desaparecido
E não sentiu dor vendo esfarinharem-se esses compar- b) havia desaparecidas
timentos de sua história pessoal. Nem sequer a melancolia c) haviam desaparecidas
do desvanecimento das coisas físicas. Elas tinham durado, d) haviam desaparecido
cumprido a tarefa. Chega o instante em que compreende- e) haviam desaparecidos
<id>002447_por_f1_c14_q0023</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>

mos a demolição como um resgate de formas cansadas, </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

15. ITA-SP 2018


sentença de liberdade. Talvez sejamos levados a essa
compreensão pelo trabalho similar, mais surdo, que se a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer
vai desenvolvendo em nós. E não é preciso imaginar a a barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra
alegria de formas novas, mais claras, a surgirem constan- [cabeça aparecer
temente de formas caducas, para aceitar de coração sereno os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que
o fim das coisas que se ligaram à nossa vida. [agora é pra valer

122 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer Geração “me me me”
não quero morrer pois quero ver Eles são narcisistas e possuem uma autoconfiança
como será que deve ser envelhecer invejável. Os que pertencem às gerações anteriores cos-
eu quero é viver pra ver qual é tumam dizer que são preguiçosos, mimados e até mesmo
e dizer venha pra o que vai acontecer egoístas.
eu quero que o tapete voe / no meio da sala de estar Eles não largam o celular e costumam expor suas
eu quero que a panela de pressão pressione
vidas, opiniões e sentimentos nas redes sociais. Estão
e que a pia comece a pingar
conectados 24 horas por dia, 7 dias por semana. Eles,
eu quero que a sirene soe
definitivamente, assustam as gerações que os antecedem;
e me faça levantar do sofá
fazem parte de uma geração incompreendida.
eu quero pôr Rita Pavone
Mas afinal, quem são eles? Estamos falando daqueles
no ringtone do meu celular
que nasceram entre 1980 e 2000 e fazem parte da geração
eu quero estar no meio do ciclone
Y, ou da “Millennial Generation”. Uma geração polêmica,
pra poder aproveitar
que se tornou foco de grandes estudos e pesquisas ao
e quando eu esquecer meu próprio nome
redor do mundo.
que me chamem de velho gagá
Uma pesquisa do National Institutes of Health apon-
pois ser eternamente adolescente nada é mais demodé
tou que a presença do narcisismo entre jovens da geração
com uns ralos fios de cabelo sobre a testa que não
Y é três vezes maior, se comparada com a da geração que
[para de crescer
hoje tem 65 anos ou mais. 58% dos respondentes foram
não sei por que essa gente vira a cara pro presente e
classificados com nível “alto” de narcisismo. Veja, abaixo,
[esquece de aprender
os resultados de algumas perguntas que compuseram o
que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr.
questionário:
(ANTUNES, A. Envelhecer. Álbum Ao vivo lá em casa. 2010.)
– 40% dos jovens entrevistados afirmaram que es-
peram ser promovidos no trabalho, independente de seu
Rita Pavone: cantora italiana de grande sucesso na desempenho;
década de 1960. – 60% deles acreditam possuir opiniões corretas e estão
certos de sua posição. São extremamente autoconfiantes;
O emprego recorrente do verbo querer, no texto, revela – o percentual de jovens entre 18 e 29 que vive com
a) inconformismo diante do processo de envelheci- os pais é superior, se comparado a outras gerações. Eles
mento. saem mais tarde de casa;
b) medo de se tornar inútil quando a velhice chegar. – em 1982, 80% dos jovens com menos de 23 anos
c) anseio por uma vida plena de coisas boas. estavam interessados em assumir cargos profissionais de
d) crença na ideia de que querer é poder. grande responsabilidade. Em pesquisa realizada em 2002,
esse percentual caiu para 60%.
e) boa receptividade para a chegada da velhice.
<id>002447_por_f1_c14_q0024</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Devido à globalização, à internet e, principalmen-
16. UPE 2017 te, às redes sociais, os jovens pertencentes à geração Y
acabaram assumindo um perfil único, que independe de
seu local de origem. Pelo egocentrismo que marca essa
geração, eles também foram classificados como “Me, Me,
Me Generation”, expressão que dá a ideia perfeita da su-
pervalorização do ego.
Esse grau extremo de autoconfiança torna-se um de-
safio para pais e educadores. Ao incentivar a autoestima
do jovem, é importante que não se estimule, por acidente,
o narcisismo. Há diferentes maneiras de trabalhar a auto-
confiança. O jovem deve entender que não é detentor de
toda a verdade; também precisa ser questionado, e não
apenas elogiado. É preciso impor limites.
O professor americano David McCullough Jr. ficou
famoso pelo discurso que preparou à sua turma de alu-
nos do ensino médio. Durante a cerimônia de formatura,
ele fez questão de ressaltar aos jovens ali presentes que
eles não eram especiais, e ainda destacou que crianças
mimadas podem resultar em adultos fracassados. O dis-
curso foi filmado e, ao ir para o Youtube, teve mais de
2 milhões de views.
O discurso de McCullough virou fonte de inspiração
para pais e educadores, e o professor – que do dia para
FRENTE 1

a noite ganhou imensa popularidade – afirma que não


Capa da Revista Time, edição de 20/05/13. Disponível em: http//time. menosprezava seus jovens alunos, mas julgava necessá-
com/247/millennials-the-me-me-me-generation. Acesso em: 03/06/17. rio alertá-los. “Em 26 anos ensinando adolescentes, pude

123

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ver como eles crescem cercados por adultos que os tratam o sol começava a se pôr e que os verdes dos matos se
como preciosidades”. enchiam cada vez mais de sombras. Quando chegassem a
Dizer aos jovens que eles não são tão especiais quan- Encantado o menino poria ela no Opala do prefeito e ela
to acreditam ser não deve ser visto como uma forma de nunca mais apareceria. Ele não gosta de mim, pensou a
menosprezo ou desestímulo à autoestima e autoconfian- menina cheia de gana. Ele deve estar pensando: o mun-
ça, mas, sim, como uma atitude fundamental, que visa do deveria ser feito só de homens, as meninas são umas
despertar o questionamento e a percepção do jovem, chatas. O menino cuspiu na areia seca. A menina pisou
levando-o para além de seu universo particular (e sempre sobre a saliva dele e fez assim com o pé para apagar o
tão protegido). cuspe. Até que ficou evidente a noite. E o menino disse
O mundo desafia e, por isso, é tão importante manter a gente não vai parar até chegar em Encantado, agora eu
os pés no chão e evitar construções irrealistas do nosso proíbo que você olhe pros lados, que se atrase. A menina
próprio “eu”. não queria chorar e prendia-se por dentro porque deixar
Publicado em: 07/08/2013, por Carolina Prestes Yirula. Disponível em: arrebentar uma lágrima numa hora dessas é mostrar muita
https://cadernodia.wordpress.com/2013/08/07/geracao-me-me-me.
Acesso em: 03/06/2017. Adaptado. fraqueza, é mostrar-se muito menina. E na curva da estra-
da começaram a aparecer muitos caminhões apinhados
No que se refere ao emprego de algumas formas ver- de soldados e a menina não se conteve de curiosidade.
bais, assinale a alternativa CORRETA. Para onde vão esses soldados? — ela balbuciou. O meni-
a) No trecho “Os que pertencem às gerações an- no respondeu ríspido. Agora é hora apenas de caminhar,
teriores costumam dizer que são preguiçosos, de não fazer perguntas, caminha! A menina pensou eu
mimados e até mesmo egoístas.” (1o parágrafo), a vou parar, fingir que torci o pé, eu vou parar. E parou.
forma verbal destacada indica alta frequência da O menino sacudiu-a pelos ombros até deixá-la numa
ação expressa no verbo “dizer”. vertigem escura. Depois que a sua visão voltou a adquirir
b) No trecho “58% dos respondentes foram clas- o lugar de tudo, ela explodiu chamando-o de covarde.
sificados com nível “alto” de narcisismo.” (4o Os soldados continuavam a passar em caminhões paqui-
parágrafo), o emprego da locução destacada dérmicos. E ela não chorava, apenas um único soluço
indica que a ação de “classificar” ainda está em seco. O menino gritou então que ela era uma chata,
curso, no momento presente. que ele a deixaria sozinha na estrada que estava de saco
c) No trecho “os jovens pertencentes à geração Y cheio de cuidar de um traste igual a ela, que se ela não
acabaram assumindo um perfil único” (5o parágra- soubesse o que significa traste, que pode ter certeza que
fo), a forma verbal destacada indica a efemeridade é um negócio muito ruim. A menina fez uma careta e
da ação expressa em “assumir”. tremeu de fúria. Você é o culpado de tudo isso, a menina
d) Com a forma verbal destacada no trecho: “O jo- gritou. Você é o único culpado de tudo isso. Os soldados
vem deve entender que não é detentor de toda continuavam a passar. Começou a cair o frio e a menina
a verdade” (6o parágrafo), a autora pretendeu tiritou balançando os cabelos molhados, mas o menino
expressar que a ação de “entender” é uma pro- dizia se você parar eu te deixo na beira da estrada, no
meio do caminho, você não é nada minha, não é minha
babilidade.
irmã, não é minha vizinha, não é nada. E Encantado era
e) Ao empregar a forma verbal destacada no trecho
ainda a alguns lerdos quilômetros. A menina sentiu que
“e ainda destacou que crianças mimadas podem
seria bom se o encantado chegasse logo para se ver livre
resultar em adultos fracassados.” (7o parágrafo), a
do menino. Entraria no Opala e não olharia uma única
autora pretendeu expressar obrigatoriedade da
vez pra trás para se despedir daquele chato. Encantado
ação de “resultar”.
<id>002447_por_f1_c14_q0025</id><tipo>objetiva</tipo><assunto> apareceu e tudo foi como o combinado. Doze e meia
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

17. Uece 2016 da noite e o Opala esperava a menina parado na frente da


igreja. Os dois se aproximaram do Opala tão devagarinho
Duelo antes da noite que nem pareciam crianças. O motorista bigodudo abriu
No caminho a menina pegou uma pedra e atirou-a a porta traseira e falou: pode entrar, senhorita. Senhorita...
longe, o mais que pôde. O menino puxava a sua mão e o menino repetia para ele mesmo. A menina se sentou
reclamava da vagareza da menina. Deviam chegar até a no banco traseiro. Quando o carro começou a andar, ela
baixa noite a Encantado, e o menino sabia que ele era falou bem baixinho: eu acho que vou virar a cabeça e
responsável pela menina e deveria manter uma disciplina. olhar pra ele com uma cara de nojo, vou sim, vou olhar.
Que garota chata, ele pensou. Se eu fosse Deus, não teria E olhou. Mas o menino sorria. E a menina não resistiu e
criado as garotas, seria tudo homem igual a Deus. A me- sorriu também. E os dois sentiram o mesmo nó no peito.
nina sentia-se puxada, reclamada, e por isso emitia uns
Leia com atenção o trecho transcrito a seguir:
sons de ódio: graças a Deus que eu não preciso dormir
no mesmo quarto que você, graças a Deus que eu não No caminho a menina pegou uma pedra e atirou-a
vou morar nunca mais com você. Vamos e não resmunga, longe, o mais que pôde. O menino puxava a sua mão e
exclamou o menino. E o sol já não estava sumindo? Isso reclamava da vagareza da menina. Deviam chegar até a
nenhum dos dois perguntava porque estavam absortos na baixa noite a Encantado, e o menino sabia que ele era
raiva de cada um. A estrada era de terra e por ela poucos responsável pela menina e deveria manter uma disciplina.
passavam. Nem o menino nem a menina notavam que Que garota chata, ele pensou. (linhas 1-6)

124 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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Atente ao que se diz sobre os verbos desse excerto. Não é sobre tudo que o seu dinheiro é capaz de comprar
I. O pretérito imperfeito (do indicativo), empregado E sim sobre cada momento, sorriso a se compartilhar
no texto, em vez de reportar-se ao passado, pa- Também não é sobre correr contra o tempo pra ter
rece neutralizar o valor desse passado, dando a [sempre mais
impressão de que as ações se realizam ou pelo Porque quando menos se espera, a vida já ficou pra trás
menos se estendem ao momento da fala.
II. Os verbos no pretérito perfeito do indicativo in- Segura teu filho no colo
dicam que a ação ou as ações que estão sendo Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui
narradas aconteceram antes do momento em Que a vida é trem-bala, parceiro
que fala o enunciador (narrador). Não é por aca- E a gente é só passageiro prestes a partir
so que os contos tradicionais são narrados nesse
Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá
tempo verbal.
Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá
III. O verbo “dever”, que exprime obrigação, usado
como auxiliar em uma locução verbal, tem o papel
Segura teu filho no colo
de modalizar o enunciado em que aparece (isto
Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui
é, mostrar a relação do falante com o conteúdo
Que a vida é trem-bala, parceiro
daquilo que expressa). No enunciado em aná-
E a gente é só passageiro prestes a partir
lise, o verbo “dever” aparece duas vezes como Disponível em: <https://www.letras.mus.br/ana-vilela/trembala/>.
auxiliar nas seguintes locuções verbais: “deviam Acesso em: 8 out. 2018.
chegar” e “deveria manter”. A primeira, em virtude
No fragmento “É sobre cantar e poder escutar mais
de “dever” estar no presente do indicativo, causa
do que a própria voz”, de acordo com a desinência
impressão de que o enunciador assume como
verbal, podemos afirmar que os verbos cantar, poder
certo o que diz o enunciado (sem dúvida eles de-
e escutar estão:
vem “chegar até a baixa noite a Encantado”). Já
a) Na forma nominal do verbo no gerúndio.
a segunda, em virtude de o verbo “dever” vir no
futuro do pretérito, produz a impressão de que o b) Na forma nominal do verbo no particípio.
enunciador assume com reservas o conteúdo do c) Na forma nominal do verbo no modo imperativo
seu enunciado. afirmativo.
d) Na forma nominal do verbo no modo imperativo
Está correto o que se diz em negativo.
a) I, II e III. e) Na forma nominal do verbo no infinitivo.
b) I e II apenas. <id>002447_por_f1_c14_q0027</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

c) I e III apenas. 19. Ufam 2018 Assinale a alternativa em que a forma ver-
d) II e III apenas. bal grifada NÃO se encontra corretamente conjugada:
<id>002447_por_f1_c14_q0026</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> a) A humanidade pode se dar por feliz, porque, mes-
18. IFTO 2019 Leia o texto musical “Trem-bala”, de Ana mo após duas sangrentas guerras, reouve o seu
Vilela, e responda à questão. cabedal cultural e científico.
Trem-bala b) As primitivas tribos humanas poderiam viver em
harmonia; no entanto, se desavieram até a extin-
Ana Vilela
ção de “muitas delas.
Não é sobre ter todas as pessoas do mundo pra si c) As técnicas agrícolas e pecuárias proveem as ne-
É sobre saber que em algum lugar alguém zela por ti cessidades humanas na atualidade; o problema
É sobre cantar e poder escutar mais do que a própria voz da fome se encontra, portanto, em outra esfera.
É sobre dançar na chuva de vida que cai sobre nós d) Em torno de 1850, Karl Marx interviu decisiva-
mente na economia, predizendo a ocorrência de
É saber se sentir infinito um conflito entre proletariado e capitalistas.
Num universo tão vasto e bonito, é saber sonhar
e) Quando eu vir as coisas melhorarem na política, anun-
Então fazer valer a pena
ciarei a todos a grande e surpreendente novidade.
Cada verso daquele poema sobre acreditar <id>002447_por_f1_c14_q0028</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

20. Fuvest-SP 2021


Não é sobre chegar no topo do mundo e saber que venceu
É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu Romance LIII ou Das Palavras Aéreas
É sobre ser abrigo e também ter morada em outros Ai, palavras, ai, palavras,
[corações
que estranha potência, a vossa!
E assim ter amigos contigo em todas as situações
Ai, palavras, ai, palavras,
A gente não pode ter tudo sois de vento, ides no vento,
FRENTE 1

Qual seria a graça do mundo se fosse assim? 5 no vento que não retorna,
Por isso eu prefiro sorrisos e, em tão rápida existência,
E os presentes que a vida trouxe pra perto de mim tudo se forma e transforma!

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Sois de vento, ides no vento, pequeno para ser homem,
e quedais, com sorte nova! [...] forte para ser criança.
Ser indefeso, indefinido, que só se vê na minha cidade.
10 Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa! Amo e canto com ternura
Perdão podíeis ter sido! 30 todo o errado da minha terra.
— sois madeira que se corta, Becos da minha terra,
— sois vinte degraus de escada, discriminados e humildes,
lembrando passadas eras...
15 — sois um pedaço de corda...
— sois povo pelas janelas,
Beco do Cisco.
cortejo, bandeiras, tropa...
35 Beco do Cotovelo.
Beco do Antônio Gomes.
Ai, palavras, ai, palavras, Beco das Taquaras.
que estranha potência, a vossa! Beco do Seminário.
20 Éreis um sopro na aragem... Bequinho da Escola.
— sois um homem que se enforca! 40 Beco do Ouro Fino.
Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência. Beco da Cachoeira Grande.
Ao substituir a pessoa verbal utilizada para se referir Beco da Calabrote.
ao substantivo “palavras” pela 3a pessoa do plural, os Beco do Mingu.
verbos dos versos “sois de vento, ides no vento,” (v. 4) / Beco da Vila Rica...
“Perdão podíeis ter sido!” (v. 12)! / “Éreis um sopro na
aragem...” (v. 20) seriam conjugados conforme apre- 45 Conto a estória dos becos,
dos becos da minha terra,
sentado na alternativa:
suspeitos... mal afamados
a) são, vão, podiam, eram.
onde família de conceito não passava.
b) seriam, iriam, podiam, serão.
“Lugar de gentinha” – diziam, virando a cara.
c) eram, foram, poderiam, seriam.
d) são, vão, poderiam, eram.
50 De gente do pote d’água.
e) eram, iriam, podiam, seriam. De gente de pé no chão.
<id>002447_por_f1_c14_q0029</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

21. IME-RJ 2019 Becos de mulher perdida.


Becos de mulheres da vida.
Becos de Goiás Renegadas, confinadas
Beco da minha terra... 55 na sombra triste do beco.
Amo tua paisagem triste, ausente e suja. Quarto de porta e janela.
Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa. Prostituta anemiada,
Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio. solitária, hética, engalicada,
5 E a réstia de sol que ao meio-dia desce, fugidia, tossindo, escarrando sangue
e semeia polmes dourados no teu lixo pobre, 60 na umidade suja do beco.
calçando de ouro a sandália velha,
jogada no teu monturo. Becos mal-assombrados.
Amo a prantina silenciosa do teu fio de água, Becos de assombração...
10 descendo de quintais escusos Altas horas, mortas horas...
sem pressa, Capitão-mor – alma penada,
e se sumindo depressa na brecha de um velho cano. 65 terror dos soldados, castigado nas armas.
Capitão-mor, alma penada,
Amo a avenca delicada que renasce num cavalo ferrado,
na frincha de teus muros empenados, chispando fogo,
15 e a plantinha desvalida, de caule mole descendo e subindo o beco,
que se defende, viceja e floresce 70 comandando o quadrado – feixe de varas...
no agasalho de tua sombra úmida e calada. Arrastando espada, tinindo esporas...

Amo esses burros-de-lenha Mulher-dama. Mulheres da vida,


que passam pelos becos antigos. Burrinhos dos morros, perdidas,
20 secos, lanzudos, malzelados, cansados, pisados. começavam em boas casas, depois,
Arrochados na sua carga, sabidos, procurando a sombra, 75 baixavam pra o beco.
no range-range das cangalhas. Queriam alegria. Faziam bailaricos.
– Baile Sifilítico – era ele assim chamado.
E aquele menino, lenheiro ele, salvo seja. O delegado-chefe de Polícia – brabeza –
Sem infância, sem idade. dava em cima...
25 Franzino, maltrapilho, 80 Mandava sem dó, na peia.

126 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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No dia seguinte, coitadas, Sobre as formas verbais destacadas no trecho, é cor-
cabeça raspada a navalha, reto afirmar que evidenciam acontecimentos
obrigadas a capinar o Largo do Chafariz, a) acabados em relação a um tempo impreciso.
na frente da Cadeia. b) controversos em relação a um tempo decorrido.
c) pontuais em relação a um tempo determinado.
85 Becos da minha terra... d) hipotéticos em relação a um tempo longínquo.
Becos de assombração.
Românticos, pecaminosos... Leia o trecho a seguir para responder às questões 23
Têm poesia e têm drama. e 24.
<assets>002447_por_f1_c14_t0004</assets>
O drama da mulher da vida, antiga, Levantei-me com a taça de champanha e declarei
90 humilhada, malsinada. que, acompanhando as ideias pregadas por Cristo, resti-
Meretriz venérea, tuía a liberdade ao meu escravo Pancrácio; que entendia
desprezada, mesentérica, exangue. que a nação inteira devia acompanhar as minhas ideias
Cabeça raspada a navalha, e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era
castigada a palmatória, um dom de Deus, que os homens não podiam roubar sem
95 capinando o largo, pecado. [Machado de Assis, Diálogos e Reflexões de um
chorando. Golfando sangue. Relojoeiro.]
<id>002447_por_f1_c14_q0031</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0004</assets>

(ÚLTIMO ATO) 23. Famema-SP 2022 Se colocarmos a forma verbal Le-


vantei-me no plural, mantendo-se o mesmo tempo
Um irmão vicentino comparece. verbal e a mesma pessoa, a forma adequada será
Traz uma entrada grátis do São Pedro de Alcântara. a) Levantamos-nos.
100 Uma passagem de terceira no grande coletivo de b) Levantar-nos-emos.
São Vicente. c) Levantamo-nos.
Uma estação permanente de repouso - no aprazível d) Levantemos-nos.
São Miguel. e) Levantemo-nos.
Cai o pano. <id>002447_por_f1_c14_q0032</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0004</assets>
a
CORALINA, Cora. Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. 21 ed. - 24. Famema-SP 2022 Assinale a opção que indica a
São Paulo: Global Editora, 2006.
modificação da oração reduzida de gerúndio acom-
“E aquele menino, lenheiro ele, salvo seja” (verso 23) panhando as ideias pregadas por Cristo para uma
O modo em que se encontra o verbo ser, na forma oração desenvolvida, de forma adequada ao texto.
verbal acima destacada, em contraste com o modo a) conforme acompanhava as ideias pregadas por
de todas as outras formas verbais do poema, evoca Cristo.
a) um indício de certeza, característico do modo in- b) em acompanhamento das ideias pregadas por
dicativo das formas verbais em português, pois é Cristo.
certo que a vida do menino é amarga. c) já que acompanhava as ideias pregadas por Cristo.
b) algo irreal, hipotético, expresso pelo modo subjun- d) embora acompanhasse as ideias pregadas por
tivo, que aponta, no entanto, para um desejo, uma Cristo.
possibilidade, no caso, de que o menino seja res- e) quando acompanho as ideias pregadas por Cristo.
gatado daquele cotidiano que lhe rouba a infância. <id>002447_por_f1_c14_q0033</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

c) um anúncio, um sinal pertinente ao modo indicati- 25. IFSul-RS 2019


vo, de que o menino será salvo de sua realidade
Para mandar no grupo da família: um guia de
tão dura.
d) a certeza, expressa pelo modo verbal, de que a como checar se uma notícia é falsa
existência do menino é atravessada pelo trabalho Juliana Gragnani
infantil. Você abre seu celular e recebe uma notícia en-
e) o tom imperativo da voz poética que está presen- caminhada por um amigo ou parente. Ela confirma
te não apenas nesse verso, mas ao longo de todo completamente suas convicções ou então causa muita
o poema. surpresa ou repulsa? Segundo especialistas, este apelo às
<id>002447_por_f1_c14_q0030</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

22. UFU-MG 2022 [...] Fazia anos que ele partira para outro emoções mais imediatas é uma das características princi-
país e, de repente, pondo fim a seu exílio, regressara. Re- pais do conteúdo falso.
gressara e, inesperadamente, estava diante dela. A noite, Dá um pouco de trabalho checar a veracidade de
até então comum, começava a se alterar – porque só de um conteúdo, mas vale a pena incorporar alguns desses
ver aquela mulher que, tempos antes, movera a sua usina passos a seu dia a dia para que você não se transforme,
de desejos, a noite já ganhava outros contornos, mesmo inadvertidamente, em um vetor de notícias falsas.
se ela se afastasse dali e partisse da festa, sem descobrir Quando receber uma notícia, tome algumas precau-
FRENTE 1

que estivera a um passo de seu antigo amor. ções e reflita:


CARRASCOZA, João Anzanello. Festa e lua. In: ___. Uns e outros. 1. Pare e pense. Não acredite na notícia ou compar-
Curitiba: Cia. Bras. de Educação e Sistemas de Ensino, 2021. (Adaptado). tilhe o texto de imediato.

127

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2. Ela lhe causou uma reação emocional muito grande? Desconfie. Notícias inventadas são feitas para causar, em alguns
casos, grande surpresa ou repulsa.
3. A notícia simplesmente confirma alguma convicção de quem recebeu a mensagem? Também é uma técnica da notícia
inventada. Não quer dizer que seja verdadeira. Desenvolva o hábito de desconfiar e pesquisar.
4. A notícia está pedindo para você acreditar nela ou, por outro lado, ela está mostrando por que acreditar? Quando a
notícia é verdadeira, é mais provável que ela cite fontes, dê links ou cite documentos oficiais e seja transparente quanto a
seu processo de apuração.
5. Produzir uma reportagem assim que eventos acontecem toma tempo e exige profissionais qualificados. Desconfie de
notícias bombásticas no calor do momento.
Adaptado de https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45043716, acesso em 02/10/2018

Os verbos podem ser classificados quanto à atitude do falante em relação à ação que enunciam. No caso do fragmen-
to: “1) Pare e pense. Não acredite na notícia ou compartilhe o texto de imediato.”, o modo verbal está corretamente
indicado em:
a) Imperativo, pois expressa certeza do falante em relação ao que será feito.
b) Subjuntivo, pois expressa desejo do falante em relação ao que deve ser feito.
c) Subjuntivo, pois expressa possibilidade de que a ação irá ocorrer.
d) Imperativo, pois expressa conselho ou pedido do falante em relação ao que deve ser feito.
<id>002447_por_f1_c14_q0034</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

26. IFTO 2019

Disponível em: <http://radacaosam.blogspot.com/2014/08/resposta-exercicio--de-reflexao-criativa.html>. Acesso em: 2 out. 2018.

Do ponto de vista morfológico, os verbos utilizados na propaganda estão:


a) No modo subjuntivo, indicando uma possibilidade de uso dos produtos anunciados, sugerindo-os, assim, para
um determinado público-alvo.
b) No modo indicativo, apresentando a certeza quanto à qualidade dos produtos anunciados, induzindo, assim, a
venda a seu público-alvo.
c) No pretérito mais-que-perfeito, pois apresentam duas ideias ocorridas no passado, de forma simultânea.
d) No presente do indicativo, mostrando que as ações transmitidas ocorrem no mesmo momento em que o texto é
enunciado.
e) No modo imperativo, o que se relaciona ao objetivo principal da propaganda: vender os produtos da marca “O
Boticário”.
<id>002447_por_f1_c14_q0035</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

27. Ufam/PSC 2022 Leia as frases a seguir, atentando para a conjugação do verbo destacado em negrito:
I. Você quer mesmo que nós damos a notícia à esposa do falecido?
II. Ele manteu os seus propósitos mesmo diante das adversidades.
III. Espero que, mesmo com o acidente, não bloqueem as estradas.
IV. Peço outra vez: averiguem como vai estar o tempo hoje à tarde.
V. O professor interveio na briga dos alunos e levou todos para a diretoria.
Assinale a alternativa que registra os verbos CORRETAMENTE conjugados:
a) Somente nas frases IV e V.
b) Somente nas frases II e III.
c) Somente nas frases I, II e V.
d) Somente nas frases II, IV e V.
e) Somente nas frases I, III e IV.

128 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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<id>002447_por_f1_c14_q0036</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

28. Ufam 2019 Leia a frase a seguir:


“Nosso amigo Tenório não só criou a maior editora da cidade, como ainda trouxe, para nela trabalhar, revisores com-
petentes de outros locais.”
Transpondo os verbos em destaque para o futuro do pretérito, eles assumem, respectivamente, as seguintes formas:
a) criava – trazia d) criara – trouxera
b) criará – trará e) criará – trouxera
c) criaria – traria
<id>002447_por_f1_c14_q0037</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

29. Ufam 2022 Leia a frase a seguir:


Quando você _______ que a resolução do problema parece difícil, não perca a calma nem se ________ com mais
nada; só se ________ a tranquilidade é que achará a saída.
Assinale a alternativa que preenche CORRETAMENTE as lacunas:
a) ver – entreta – mantiver d) ver – entreta – manter
b) ver – entretenha – manter e) vir – entretenha – mantiver
c) vir – entretenha – manter
<id>002447_por_f1_c14_q0038</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

30. Fuvest-SP 2018 Examine a propaganda.

a) Considerando o contexto da propaganda, existe alguma relação de sentido entre a imagem estilizada dos dedos
e as palavras “digital” e “diferença”? Explique.
b) Sem alterar o modo verbal, reescreva o trecho “Venha para a biometria. Cadastre suas digitais.”, passando os
verbos para a primeira pessoa do plural e fazendo as modificações necessárias.
<id>002447_por_f1_c14_q0039</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

31. IME-RJ 2018

Exausto
Eu quero uma licença de dormir,
FRENTE 1

perdão pra descansar horas a fio,


sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.

129

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Quero o que antes da vida [...] E se para alguém o Sem-Pernas abria exceção no seu
foi o sono profundo das espécies, ódio, que abrangia o mundo todo, era para as crianças
a graça de um estado. que formavam os Capitães da Areia. Estes eram seus com-
Semente. panheiros, eram iguais a ele, eram as vítimas de todos
Muito mais que raízes. os demais, pensava o Sem-Pernas. E agora sentia que os
PRADO, Adelia. Exausto. Disponível em <http://byluleoa- estava abandonando, que estava passando para o outro
tecendopalavras.blogspot.com.br/>. Acesso em 31/07/17.
lado. Com este pensamento se sobressaltou, sentou-se.
A respeito da forma verbal quero (versos 1 e 5), pode- Não, ele não os trairia. Antes de tudo estava a lei do gru-
mos afirmar que po, a lei dos Capitães da Areia. Os que a traíam eram
a) expressa a busca por um relacionamento do ho- expulsos e nada de bom os esperava no mundo. E nunca
mem com o seu interior. nenhum a havia traído do modo como o Sem-Pernas a ia
b) revela a alegria do ser humano em ser um explo- trair. Para virar menino mimado, para virar uma daquelas
rador de novas terras, novos ambientes. crianças que eram eterno motivo de galhofa para eles.
c) comprova um ciclo incessante de buscas por ob- Não, não os trairia.
jetivos vazios por parte do ser humano, os quais (Família. Capitães da Areia. Jorge Amado, 1937)

só trazem cansaço e angústia. Leia os trechos seguintes:


d) salienta o insaciável e sempre destrutivo relacio-
I. “Enquanto isso, o Sem-Pernas dormia em boa
namento do homem com a natureza e os recursos
cama”
que ela pode trazer à vida humana na Terra.
II. “Se sentiu como um traidor do grupo”
e) reporta a atenção do leitor aos ciclos repetitivos
III. “Não só o Gringo estivera quase morrendo”
do homem em busca do objetivo de ser feliz sem
depender de ninguém, somente da natureza que Com relação aos verbos destacados, é correto afirmar
o cerca. que:
<id>002447_por_f1_c14_q0040</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
a) o momento em que Sem-Pernas se sentiu como
32. Uniceub-DF 2018 [...] agora, deitado sobre a grama
um traidor (ii) antecede o momento da ação de
macia do jardim rico, vestido com boa roupa, penteado
dormir (i);
e com perfume, um livro de figura ao lado, o Sem-Pernas
b) a expressão Enquanto isso (i) sinaliza o tempo si-
pensava no Gringo quase morrendo, enquanto ele comia
bem e vestia bem. Não só o Gringo estivera quase mor- multâneo entre as ações de dormir (i) e sentir (ii);
rendo. Durante aqueles oito dias, os Capitães da Areia c) a ação estivera quase morrendo (iii) conclui-se em
continuaram malvestidos, mal alimentados, dormindo momento anterior ao da ação do verbo sentir (ii);
sob a chuva no trapiche ou embaixo das pontes. Enquan- d) a ação do verbo dormir (i) conclui-se em momento
to isso, o Sem-Pernas dormia em boa cama, comia boa anterior ao da ação de estar quase morrendo (iii);
comida, tinha até uma senhora [D. Ester] que o beijava e e) a ação de sentir (ii) conclui-se simultaneamente ao
o chamava de filho. Se sentiu como um traidor do grupo. final da ação de estar quase morrendo (iii).

Texto complementar

Sextar: novo verbo defectivo unipessoal


Quando se abre o Instagram, na sexta-feira, é quase impossível não se deparar com algum post que diz:
― Sextou!
Tal “verbo” está se incorporando ao cotidiano, de tal modo, que já é comum aceitar-lhe o uso.
Mudanças na Língua, provenientes da pressão da linguagem popular, são bem-vindas, desde que não perniciosas, artificiais
e não queiram modificar o alicerce do idioma, como é o caso dessa invenção de todes. Não vejo ninguém do povo falando todes;
apenas os pseudointelectuais “ativistas” “de esquerda” e outras denominações que a cada dia aparecem.
De modo que parece que veio para ficar o verbo unipessoal sextar, na forma sextou, cujo uso está se ampliando para segun-
dou, quintou, etc.
Observem, porém, leitores, que o “verbo” sextar só aparece na terceira pessoa (no caso, do singular), o que nos leva a classi-
ficá-lo como defectivo unipessoal.
O que que são verbos defectivos unipessoais?
São um tipo de verbo defectivo que só se conjuga na terceira pessoa do singular. Defectivos são verbos que têm algum defeito.
Podem ser impessoais (sem sujeito) e pessoais (têm sujeito, mas só se conjugam na terceira pessoa ou não são conjugados em
algumas pessoas). Quando o verbo só admite a terceira pessoa do singular, chamamos unipessoal; é o caso de germinar, ranger
e agora… sextar!.
ATENÇÃO!
Os verbos defectivos impessoais e unipessoais deixam de ser defectivos quando empregados em sentido figurado:
Choveu bastante em João Pessoa, nesses últimos dias (sentido próprio).

130 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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Choveram reclamações no balcão daquela companhia de viagens (sentido figurado).
Leito(a)r querido(a):
Não vi ninguém, até agora, dizer domingou. Mas por que não fazê-lo, se existe sextou? Domingou, pessoal; vamos assistir
àquele jogo e torcer bastante pelo nosso time.
TRINDADE, João. Sextar: novo verbo defectivo unipessoal. Portal Correio, 17 jul. 2022. Disponível em: https://portalcorreio.com.br/colunas/sextar-
novo-verbo-defectivo-unipessoal/. Acesso em: 28 out. 2023.

Veja os principais assuntos e conceitos trabalhados neste capítulo acessando a seção Resumindo
no livro digital, na Plataforma Poliedro.

Quer saber mais?

Filme Site
Corra, Lola, corra. Direção: Tom Tykwer. 1999. LX Conjugator. Disponível em: https://portulanclarin.net/
Na trama, vemos as ações que acontecem na correria de workbench/lx-conjugator/. Acesso em: 28 out. 2023.
uma mulher que precisa salvar seu namorado, prestes a O site é um identificador de flexão verbal, no qual é pos-
ser executado. Para isso, ela tem somente 20 minutos. O sível conhecer a variação de um verbo em modo, tempo,
filme mostra três finais possíveis para história. número e pessoa. O material é organizado por pesquisa-
dores da Universidade de Lisboa.
Livro
A vida modo de usar, de George Perec. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2009.
O livro trata de histórias inter-relacionadas de habitantes
de um mesmo prédio, em Paris, e as ações das persona-
gens geram conexões entre elas.

Exercícios complementares
<id>002447_por_f1_c14_q0041</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. Unicamp-SP 2020 (Adapt.)


Texto I
Em Bacurau, vilarejo fictício no meio do nada que recebe o nome de um pássaro “brabo” de hábitos noturnos, o sertão
é também o centro do país. Bacurau cheira a morte. A primeira sequência do longa é a passagem de um caminhão-pipa
que atropela caixões pelo caminho. No povoado isolado, mas hiperconectado à internet, os moradores, com uma grande
variedade de gêneros, raças e sexualidades, vivem sem água e escondem-se quando o prefeito em campanha pela reeleição
chega para distribuir mantimentos vencidos, e despejar livros velhos em frente à escola local. Aí já começa a resistência:
em meio à penúria, os moradores organizam-se e ajudam-se entre si. Quando o vilarejo literalmente desaparece dos mapas
digitais e a comunidade perde a conexão com a internet, a presença de forasteiros coincide com o misterioso aparecimento
de cadáveres crivados à bala e Bacurau vive uma carnificina.
(Adaptado de Joana Oliveira, Em ‘Bacurau’, é lutar ou morrer no sertão que espelha o Brasil. El País. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/20/
cultura/1566328403_365611.html. Acessado em 20/10/2019.)

Texto II
Bacuralizar
verbo transitivo direto
1. autogovernar-se em comunidade, fazer a própria gestão dos recursos e serviços que deveriam ser oferecidos pelo
estado, sem a ajuda de empresas ou de parcerias público-privadas.
2. entricheirar-se em suas comunidades como forma de defesa à máquina de matar do estado.
(Adaptado do Instagram de Lia de Itamaracá. Disponível em https://www.insta7zu.com/tag/LiaDeltamaraca. Acessado em 20/10/2019.)

a) Explique por que o verbo “bacuralizar” é um neologismo e qual é o processo de formação dessa palavra. Por que
podemos identificar que se trata de um verbo?
FRENTE 1

b) Considere as informações sobre o enredo do filme Bacurau presentes no texto I e sobre o papel do Estado na
vida da comunidade no texto II. A partir dessas informações, crie um exemplo do uso de “bacuralizar” para cada
acepção da palavra registrada no texto II.

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<id>002447_por_f1_c14_q0042</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

2. Unicamp-SP 2024 com poliomielite. Isso porque as constantes ações de


vacinação foram capazes de controlar e eliminar essas
“Nevou” no Rio doenças do Brasil. Então, não preciso vacinar meu filho
Em pleno verão, o fenômeno que vem chamando aten- contra essas doenças? Precisa sim. Essas doenças ainda
ção nas ruas do Rio é conhecido como “nevada carioca”, ou fazem vítimas em outros lugares do mundo. Com a glo-
apenas “nevou”. Trata-se da mania de descolorir, platinando balização, a pessoa pode passar por vários continentes
os cabelos até os fios ficarem completamente brancos, que em uma única semana. Se não estiver vacinada, ela pode
tomou conta das cabeças dos jovens de Norte a Sul e virou trazer a doença para o Brasil e transmitir para alguém que
a febre do momento. A onda começou às vésperas do Natal, não esteja imunizado. Pessoas não vacinadas, portanto,
ganhou força no réveillon e entrou em janeiro lotando os sa- podem ser a porta de entrada de doenças que já foram
lões. Nascida nas comunidades e nos subúrbios, a tendência eliminadas no Brasil.
ultrapassou fronteiras geográficas e sociais da cidade, prin- Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/
vacinacao/importancia-da-vacinacao.
cipalmente depois de ganhar as redes e de ter conquistado Acesso em: 18/07/2018. Adaptado.
artistas e atletas. Cabeleireiros e donos de salão apostam que
o modismo resiste com força até os dias de folia. No texto, podemos verificar o uso de diferentes
(Adaptado de: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2023/01/nevou-no- tempos e modos verbais. Analisando os efeitos de
rio-mania-de-descolorir-o-cabelo-ate-ficar-quase-branco-vira-moda- sentido das formas verbais empregadas, é CORRETO
entre-os-cariocas.ghtml. Acesso em 22/06/2023.)
afirmar que:
No texto, o verbo nevar apresenta sentido a) no trecho: “Muitas doenças comuns no Brasil e no
a) literal e é sinônimo de descolorir. mundo deixaram de ser um problema de saúde
b) figurado e quer dizer embranquecer. pública por causa da vacinação massiva da po-
c) metafórico e é antônimo de escurecer. pulação”, o pretérito perfeito e o infinitivo são
d) metonímico e significa cabelos brancos empregados para indicar que uma ação ocorrida
<id>002447_por_f1_c14_q0043</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> no passado ainda continua no presente.
3. UPE 2019 b) identificamos o emprego de uma forma verbal
Importância da vacinação na voz ativa no trecho: “Quando uma pessoa é
infectada pela primeira vez por um antígeno [...]”,
O ditado popular “melhor prevenir do que remediar”
para expressar uma ação que se passa no tempo
se aplica perfeitamente à vacinação. Muitas doenças co-
presente.
muns no Brasil e no mundo deixaram de ser um problema
c) no trecho: “Mas se, anos depois, aquele organis-
de saúde pública por causa da vacinação massiva da popu-
mo invadir o corpo novamente [...]”, o autor opta
lação. Poliomielite, sarampo, rubéola, tétano e coqueluche
pelo emprego do modo indicativo para garantir a
são só alguns exemplos de doenças comuns no passa-
veracidade de sua afirmação.
do e que as novas gerações só ouvem falar em histórias.
O resultado da vacinação não se resume a evitar doença.
d) no trecho: “o sistema imunológico vai produzir
Vacinas salvam vidas. anticorpos em uma velocidade suficiente [...]”, o
autor opta por empregar o verbo “ir” no presente,
Mas como a vacina ajuda o nosso sistema imunológico? acompanhado de forma verbal no infinitivo, para
Quando uma pessoa é infectada pela primeira vez por indicar uma ação futura.
um antígeno (substância estranha ao organismo), como o e) com o emprego do verbo “estar” acompanhado
vírus do sarampo, o sistema imunológico produz anticor- de uma forma no gerúndio, no trecho: “Muitas
pos (proteínas que atuam como defensoras no organismo) doenças infecciosas estão ficando raras.”, o autor
para combater aquele invasor. Mas essa produção não pretendeu indicar uma ação pontual, em um mo-
é feita na velocidade suficiente para prevenir a doença, mento bem definido do tempo.
<id>002447_por_f1_c14_q0044</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
uma vez que o sistema imunológico não conhece aquele </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

invasor. Por isso, a pessoa fica doente, podendo chegar


4. Unifesp 2020 Leia a crônica “Inconfiáveis cupins”, de
à morte. Mas se, anos depois, aquele organismo invadir Moacyr Scliar, para responder à questão.
o corpo novamente, o sistema imunológico vai produzir Havia um homem que odiava Van Gogh. Pintor des-
anticorpos em uma velocidade suficiente para evitar que conhecido, pobre, atribuía todas suas frustrações ao artista
a pessoa fique doente uma segunda vez. Essa proteção holandês. Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis
é chamada de imunidade. O que a vacina faz é gerar girassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes
essa imunidade. Com os mesmos antígenos que causam deformados, dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu
a doença, mas enfraquecidos ou mortos, a vacina ensina instinto criador.
e estimula o sistema imunológico a produzir os anticorpos Decidiu mover uma guerra implacável, sem quartel,
que levam à imunidade. Portanto, a vacina faz as pessoas às telas de Van Gogh, onde quer que estivessem. Come-
desenvolverem imunidade sem ficar doente. çaria pelas mais próximas, as do Museu de Arte Moderna
de São Paulo.
Doenças controladas podem voltar Seu plano era de uma simplicidade diabólica. Não faria
Muitas doenças infecciosas estão ficando raras. Pesso- como outros destruidores de telas que entram num museu
as nascidas a partir de 1990 podem nunca ter tido contato armados de facas e atiram-se às obras, tentando destruí-las;
com pessoas com sarampo ou rubéola e, definitivamente, tais insanos não apenas não conseguem seu intento, como

132 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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acabam na cadeia. Não, usaria um método científico, re- Como era mesmo a cara da doida, poucos poderiam
correndo a aliados absolutamente insuspeitados: os cupins. dizê-lo. Não aparecia de frente e de corpo inteiro, como
Deu-lhe muito trabalho, aquilo. Em primeiro lugar, era as outras pessoas, conversando na calma. Só o busto,
necessário treinar os cupins para que atacassem as telas de recortado numa das janelas da frente, as mãos magras,
Van Gogh. Para isso, recorreu a uma técnica pavloviana. ameaçando. Os cabelos, brancos e desgrenhados. E a boca
Reproduções das telas do artista, em tamanho natural, eram inflamada, soltando xingamentos, pragas, numa voz rouca.
recobertas com uma solução açucarada. Dessa forma, os Eram palavras da Bíblia misturadas a termos populares,
insetos aprenderam a diferenciar tais obras de outras. dos quais alguns pareciam escabrosos, e todos fortíssimos
Mediante cruzamentos sucessivos, obteve um tipo na sua cólera.
de cupim que só queria comer Van Gogh. Para ele era Sabia-se confusamente que a doida tinha sido moça
repulsivo, mas para os insetos era agradável, e isso era o igual às outras no seu tempo remoto (contava mais de
que importava. sessenta anos, e loucura e idade, juntas, lhe lavraram o
Conseguiu introduzir os cupins no museu e ficou à corpo). Corria, com variantes, a história de que fora noiva
espera do que aconteceria. Sua decepção, contudo, foi de um fazendeiro, e o casamento uma festa estrondosa;
enorme. Em vez de atacar as obras de arte, os cupins mas na própria noite de núpcias o homem a repudiara,
preferiram as vigas de sustentação do prédio, feitas de Deus sabe por que razão.
madeira absolutamente vulgar. E por isso foram detectados. O marido ergueu-se terrível e empurrou-a, no calor do
O homem ficou furioso. Nem nos cupins se pode bate-boca; ela rolou escada abaixo, foi quebrando ossos,
confiar, foi a sua desconsolada conclusão. É verdade que arrebentando-se. Os dois nunca mais se veriam. Já outros
alguns insetos foram encontrados próximos a telas de Van contavam que o pai, não o marido, a expulsara, e esclare-
Gogh. Mas isso não lhe serviu de consolo. Suspeitava que ciam que certa manhã o velho sentira um amargo diferente
os sádicos cupins estivessem querendo apenas debochar no café, ele que tinha dinheiro grosso e estava custando a
dele. Cupins e Van Gogh, era tudo a mesma coisa. morrer – mas nos racontos antigos abusava-se de veneno.
(O imaginário cotidiano, 2002.) De qualquer modo, as pessoas grandes não contavam a
Enquanto existirem no mundo aqueles horríveis gi- história direito, e os meninos deformavam o conto. Repu-
rassóis, aquelas estrelas tumultuadas, aqueles ciprestes diada por todos, ela se fechou naquele chalé do caminho do
deformados, dizia, não poderei jamais dar vazão ao meu córrego, e acabou perdendo o juízo. Perdera antes todas as
instinto criador. (1o parágrafo) relações. Ninguém tinha ânimo de visitá-la. O padeiro mal
jogava o pão na caixa de madeira, à entrada, e eclipsava-se.
Ao se transpor o trecho para o discurso indireto, os Diziam que nessa caixa uns primos generosos mandavam
termos sublinhados assumem a seguinte redação: pôr, à noite, provisões e roupas, embora oficialmente a
a) existirem, pode, meu. ruptura com a família se mantivesse inalterável. Às vezes
b) existissem, poderia, seu. uma preta velha arriscava-se a entrar, com seu cachimbo e
c) existiam, puderem, meu. sua paciência educada no cativeiro, e lá ficava dois ou três
d) existem, poderei, dele. meses, cozinhando. Por fim a doida enxotava-a. E, afinal,
e) tenham existido, terá podido, seu. empregada nenhuma queria servi-la. Ir viver com a doida,
<id>002447_por_f1_c14_q0045</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> pedir a bênção à doida, jantar em casa da doida, passaram
5. Unifesp 2019 Leia o trecho inicial do conto “A doida”, a ser, na cidade, expressões de castigo e símbolos de irrisão.
de Carlos Drummond de Andrade, para responder à Vinte anos de uma tal existência, e a legenda está
questão. feita. Quarenta, e não há mudá-la. O sentimento de que
A doida habitava um chalé no centro do jardim mal- a doida carregava uma culpa, que sua própria doidice era
tratado. E a rua descia para o córrego, onde os meninos uma falta grave, uma coisa aberrante, instalou-se no espíri-
costumavam banhar-se. Era só aquele chalezinho, à es- to das crianças. E assim, gerações sucessivas de moleques
querda, entre o barranco e um chão abandonado; à direita, passavam pela porta, fixavam cuidadosamente a vidraça e
o muro de um grande quintal. E na rua, tornada maior pelo lascavam uma pedra. A princípio, como justa penalidade.
silêncio, o burro que pastava. Rua cheia de capim, pedras Depois, por prazer. Finalmente, e já havia muito tempo,
soltas, num declive áspero. Onde estava o fiscal, que não por hábito. Como a doida respondesse sempre furiosa,
mandava capiná-la? criara-se na mente infantil a ideia de um equilíbrio por
Os três garotos desceram manhã cedo, para o banho e compensação, que afogava o remorso.
a pega de passarinho. Só com essa intenção. Mas era bom Em vão os pais censuravam tal procedimento. Quan-
passar pela casa da doida e provocá-la. As mães diziam do meninos, os pais daqueles três tinham feito o mesmo
o contrário: que era horroroso, poucos pecados seriam com relação à mesma doida, ou a outras. Pessoas sensí-
maiores. Dos doidos devemos ter piedade, porque eles veis lamentavam o fato, sugeriam que se desse um jeito
não gozam dos benefícios com que nós, os sãos, fomos para internar a doida. Mas como? O hospício era longe,
aquinhoados. Não explicavam bem quais fossem esses os parentes não se interessavam. E daí – explicava-se ao
benefícios, ou explicavam demais, e restava a impressão forasteiro que porventura estranhasse a situação – toda
de que eram todos privilégios de gente adulta, como fazer cidade tem seus doidos; quase que toda família os tem.
visitas, receber cartas, entrar para irmandades. E isso não Quando se tornam ferozes, são trancados no sótão; fora
FRENTE 1

comovia ninguém. A loucura parecia antes erro do que disto, circulam pacificamente pelas ruas, se querem fazê-
miséria. E os três sentiam-se inclinados a lapidar a doida, -lo, ou não, se preferem ficar em casa. E doido é quem
isolada e agreste no seu jardim. Deus quis que ficasse doido...

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Respeitemos sua vontade. Não há remédio para loucu- de encerrado o expediente, isto é, depois de terminado
ra; nunca nenhum doido se curou, que a cidade soubesse; o segundo tempo, vi, claramente visto, chapéus de palha
e a cidade sabe bastante, ao passo que livros mentem. que subiam para o ar e não voltavam, adjetivos que se
(Contos de aprendiz, 2012.) chocavam no espaço com explosões inglesas de entusias-
mo, botões que se desprendiam dos paletós, lenços que
lapidar: apedrejar. palpitavam como asas, enquanto gargantas enrouqueciam
raconto: relato, narrativa. e outras perdiam o dom humano da palavra. Vi tudo isso e
irrisão: zombaria. tive, não sei se inveja, se admiração ou se espanto pelos
valentes chutadores de Minas, que surraram por 4 a 3
Em “Não aparecia de frente e de corpo inteiro, como os bravos futebolistas fluminenses. Não posso atinar bem
as outras pessoas, conversando na calma” (3o pará- como uma bola, jogada à distância, alcance tanta reper-
grafo), o termo sublinhado é um verbo cussão no centro de Minas. Que um indivíduo se eletrize
a) de ligação. diante da bola e do jogador, quando este joga bem, é
b) transitivo direto e indireto. coisa de fácil compreensão. Mas contemplar, pelo fio,
c) transitivo direto. a parábola que a esfera de couro traça no ar, o golpe do
d) intransitivo. center-half investindo contra o zagueiro, a pegada soberba
e) transitivo indireto. deste, e extasiar-se diante desses feitos, eis o que excede de
<id>002447_por_f1_c14_q0046</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> muito a minha imaginação. Para mim, o melhor jogador do
6. Enem 2020 mundo, chutando fora do meu campo de visão, deixa-me
frio e silencioso. Os meus patrícios, porém, rasgaram-se
10 DECRETO N. 28.314, DE 28 DE anteontem de gozo, imaginando os tiros de Nariz, e sen-
SETEMBRO DE 2007 tiram na espinha o frio clássico da emoção, quando o
Demite o Gerúndio do Distrito Federal e dá outras telefone anunciou que Carlos Brant, machucando-se no
providências. joelho, deixara o combate. Alguns pensaram em comprar
O GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL, no uso iodo para o herói e outros gritavam para Carazzo que não
das atribuições que lhe confere o artigo 100, incisos VII chutasse fora. A centenas de quilômetros, eles assistiam ao
e XXVI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, DECRETA: jogo sem pagar entrada. E havia quem reclamasse contra
Art. 1o Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos o juiz, acusando-o de venal. Um sujeito puxou-me pelo
do Governo do Distrito Federal. paletó, indignado, e declarou-me: “O senhor está vendo
Art. 2o Fica proibido, a partir desta data, o uso do que pouca-vergonha. Aquela penalidade de Evaristo não
gerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA. foi marcada.” Eu olhei para os lados, à procura de Evaristo
Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua e da penalidade; vi apenas a multidão de cabeças e de
publicação. entusiasmos; e fugi.
Art. 4o Revogam-se as disposições em contrário. (Carlos Drummond de Andrade. Quando é dia de futebol, 2014.)
Brasília, 28 de setembro de 2007.
119o da República e 48o de Brasília O narrador relata uma série de eventos ocorridos no
Disponível em: www.dodf.gov.br. Acesso em: 11 dez. 2017. passado. Um evento anterior a esse tempo passado
está indicado pela forma verbal sublinhada em:
Esse decreto pauta-se na ideia de que o uso do ge- a) “Onze mineiros batiam bola no Rio de Janeiro;
rúndio, como “desculpa de ineficiência”, indica dois mil mineiros escutavam, em Belo Horizonte,
a) conclusão de uma ação. o eco longínquo dessa bola e experimentavam
b) realização de um evento. uma patriótica emoção.” (1o parágrafo)
c) repetição de uma prática. b) “Os meus patrícios, porém, rasgaram-se anteon­
d) continuidade de um processo.
tem de gozo, imaginando os tiros de Nariz, e
e) transferência de responsabilidade.
<id>002447_por_f1_c14_q0047</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
sentiram na espinha o frio clássico da emoção,
7. FMABC-SP 2022 Leia a crônica “Enquanto os minei- quando o telefone anunciou que Carlos Brant,
ros jogavam”, de Carlos Drummond de Andrade, para machucando-se no joelho, deixara o combate.”
responder à questão. (5o parágrafo)
c) “Vi tudo isso e tive, não sei se inveja, se admira-
Domingo, à tarde, na forma do antigo costume, eu
ção ou se espanto pelos valentes chutadores de
ia ver os bichos do Parque Municipal (cansado de lidar
Minas, que surraram por 4 a 3 os bravos futebolis-
com gente nos outros dias da semana), quando avistei
tas fluminenses.” (2o parágrafo)
grande multidão parada na avenida Afonso Pena. Meu
primeiro pensamento foi continuar no bonde; o segundo
d) “A centenas de quilômetros, eles assistiam ao jogo
foi descer e perguntar as causas da aglomeração. Desci, e sem pagar entrada. E havia quem reclamasse con-
soube que toda aquela gente estava acompanhando, pelo tra o juiz, acusando-o de venal.” (5o parágrafo)
telefone, o jogo dos mineiros na capital do país. Onze e) “Não posso atinar bem como uma bola, jogada
mineiros batiam bola no Rio de Janeiro; dois mil mineiros à distância, alcance tanta repercussão no centro
escutavam, em Belo Horizonte, o eco longínquo dessa de Minas. Que um indivíduo se eletrize diante da
bola e experimentavam uma patriótica emoção. Quando bola e do jogador, quando este joga bem, é coisa
chegou a notícia da vitória dos nossos patrícios, depois de fácil compreensão.” (3o parágrafo)

134 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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<id>002447_por_f1_c14_q0048</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

8. Urca-CE 2018 Com o toque da corneta, engarrafam no consciência dizer se era duende macho ou duende fê-
convés do navio o rebanho de soldados ansiosos. mea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por saber
A forma verbal “engarrafam” se encontra no tempo: de longa data que pela boca é que morrem os peixes e
a) presente do subjuntivo os fantasmas... Também, ninguém lhe falava — não por
b) imperfeito do indicativo experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um
c) pretérito perfeito do indicativo homem ter nascido num século de luzes e de descren-
d) presente do indicativo ças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados
e) imperativo afirmativo seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em
<id>002447_por_f1_c14_q0049</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sentir a voz presa
9. Unama-PA 2015 na garganta, quando encontra na rua, a desoras2, uma
avantesma3 ...
Texto 1
[Nos poemas de Max Martins] A cada passo, giram-se Assim, um profundo mistério cercava a existência do
os significados e despoja-se o signo dos sentidos habi- lobisomem de Catumbi – quando começaram de aparecer
tuais, automatizados, para que germinem outros campos vestígios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas,
semânticos. mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se
(TUPIASSÚ, Amarílis. “Max Martins”. tenham sumido, por exemplo, as hóstias consagradas da
Revista ASAS DA PALAVRA. UNAMA, 2000) igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de
S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura
Texto 2
Rola o poema e o mundo vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa
E eu mudo. manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria
(Max Martins, “Poema”, p. 363) alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa
sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, da-
Texto 3 quela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a
A faca corta o pão convicção de que o lobisomem, para perpétua e supre-
separando o tempo em nós. ma vergonha de toda a sua classe, andava acumulando
(Max Martins. “Elegia em junho”, p. 365)
novos pecados sobre os pecados antigos, e dando-se à
A faca corta o pão / separando o tempo em nós. prática de excessos menos merecedores de exorcismos
que de cadeia.
Nos versos acima, a palavra separando é uma forma
Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente
nominal de gerúndio empregada por Max Martins para
munida de bentinhos5 e de revólveres, de amuletos e de
a) captar a ação dinâmica e a progressividade do
sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um
discurso poético.
jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado
b) expressar uma ação concluída, terminada no poema.
achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que
c) revelar uma interrupção de movimento na ação
fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos
verbal do poema.
singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a
d) causar esvaziamento de sentido no discurso poético.
gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam
Para responder às questões 10 e 11, leia a crônica espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os si-
“Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada original- tiantes7 empunhavam”.
mente em 1902. Esta nota de morcegos deve ser um chique românti-
<assets>002447_por_f1_c14_t0005</assets>
co do noticiarista. No fundo da alma de todo o repórter
Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que
tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,
sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos
para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado
já se não adormecem as crianças com histórias de fadas de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos,
e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu
tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa tempo passou.
primitiva credulidade. Inventar um fantasma é ainda um (Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)
magnífico recurso para quem quer levar a bom termo
qualquer grossa patifaria. As almas simples vão propa-
1
gando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, esbatido: de tom pálido.
2
os patifes vão rejubilando. a desoras: muito tarde.
3
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
4
folha: periódico diário, jornal.
Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pa- 5
bentinho: objeto de devoção contendo orações
cato bairro – como um fantasma de grande e louvável
FRENTE 1

escritas.
modéstia. E tão esbatido1 passava o seu vulto na treva, tão 6
pardieiro: prédio velho ou arruinado.
sutilmente deslizava ao longo das casas adormecidas – 7
sitiante: policial.
que as primeiras pessoas que o viram não puderam em

135

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<id>002447_por_f1_c14_q0050</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0005</assets>

10. Unesp 2022 Constitui exemplo de interação do cro- controvérsias que tanto empecem o progresso da nossa
nista com o leitor o trecho cultura literária, científica e filosófica.
a) “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha Seguro de que a sabedoria dos legisladores saberá
de toda a sua classe, andava acumulando novos encontrar meios para realizar semelhante medida, e côns-
pecados sobre os pecados antigos” (3o parágrafo). cio de que a Câmara e o Senado pesarão o seu alcance e
b) “As almas simples vão propagando o terror, e, sob utilidade P. e E. deferimento.”
(Triste fim de Policarpo Quaresma, 1991. Adaptado.)
a capa e a salvaguarda desse temor, os patifes
vão rejubilando” (1o parágrafo).
empecer: prejudicar.
c) “Não vades agora crer que se tenham sumido, P. e E.: pede e espera.
por exemplo, as hóstias consagradas da igreja de
Catumbi” (3o parágrafo).
<id>002447_por_f1_c14_q0052</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0006</assets>

d) “as primeiras pessoas que o viram não puderam 12. Uefs-BA 2017 controvérsias que tanto empecem o pro-
em consciência dizer se era duende macho ou gresso da nossa cultura literária, científica e filosófica.
duende fêmea” (2o parágrafo). (4o parágrafo)
e) “O fantasma não falava — naturalmente por saber No contexto em que está inserido, o termo destacado
de longa data que pela boca é que morrem os é um verbo
peixes e os fantasmas” (2o parágrafo). a) transitivo direto.
<id>002447_por_f1_c14_q0051</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f1_c14_t0005</assets> b) transitivo direto e indireto.
11. Unesp 2022 Em “Vamos lá! nestes tempos, que cor- c) intransitivo.
rem, já nem há morcegos” (5o parágrafo), o termo d) de ligação.
sublinhado está empregado na mesma acepção do e) transitivo indireto.
<id>002447_por_f1_c14_q0053</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
termo sublinhado em </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

a) “ela correu um risco desnecessário”. 13. IFTO 2017 Assinale a alternativa cuja predicação dos
b) “a notícia corria por toda a cidade”. verbos destacados está classificada de modo correto,
c) “a manhã corria especialmente tranquila”. respectivamente.
d) “segundo corria, ela seria facilmente eleita”. I. A criança tossiu a noite inteira.
e) “um arrepio correu-lhe pela espinha”. II. Os funcionários permanecem satisfeitos com seus
salários.
Leia o trecho do romance Triste fim de Policarpo III. O hóspede quebrou a maçaneta da porta do quarto.
Quaresma, de Lima Barreto, para responder à próxima
a) Intransitivo – verbo de ligação – transitivo indireto.
questão.
<assets>002447_por_f1_c14_t0006</assets> b) Intransitivo – verbo de ligação – transitivo direto.
Era assim concebida a petição: c) Transitivo direto – verbo de ligação – transitivo
“Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário indireto.
público, certo de que a língua portuguesa é emprestada d) Verbo de ligação – transitivo direto – intransitivo.
ao Brasil; certo também de que por esse fato, o falar e o e) Intransitivo – transitivo direto – transitivo indireto.
escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem <id>002447_por_f1_c14_q0054</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

na humilhante contingência de sofrer continuamente cen- 14. Unifesp 2021 Leia o conto de Carlos Drummond de
suras ásperas dos proprietários da língua; sabendo além, Andrade para responder à questão.
que dentro do nosso país os autores e os escritores, com
especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante O entendimento dos contos
à correção gramatical, vendo-se diariamente surgir azedas — Agora você vai me contar uma história de amor —
polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso disse o rapaz à moça. — Quero ouvir uma história de
idioma – usando do direito que lhe confere a Constituição, amor em que entrem caravelas, pedras preciosas e satélites
vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani artificiais.
como língua oficial e nacional do povo brasileiro.
— Pois não — respondeu a moça, que acabara de
O suplicante, deixando de parte os argumentos histó-
concluir o mestrado de contador de histórias, e estava com
ricos que militam em favor de sua ideia, pede vênia para
a imaginação na ponta da língua. — Era uma vez um país
lembrar que a língua é a mais alta manifestação da inteli-
onde só havia água, eram águas e mais águas, e o governo
gência de um povo, é a sua criação mais viva e original; e,
como tudo mais se fazia em embarcações atracadas ou
portanto, a emancipação política do país requer como com-
plemento e consequência a sua emancipação idiomática. em movimento, conforme o tempo. Osmundo mantinha
Demais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani, lín- uma grande indústria de barcos, mas não era feliz, porque
gua originalíssima, aglutinante, é a única capaz de traduzir Sertória, objeto dos seus sonhos, se recusava a casar com
as nossas belezas, de pôr-nos em relação com a nossa ele. Osmundo ofereceu-lhe um belo navio embandeirado,
natureza e adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos que ela recusou. Só aceitaria uma frota de dez caravelas,
vocais e cerebrais, por ser criação de povos que aqui vi- para si e para seus familiares.
veram e ainda vivem, portanto possuidores da organização Ora, ninguém sabia fazer caravelas, era um tipo de
fisiológica e psicológica para que tendemos, evitando-se embarcação há muito fora de uso. Osmundo apresentou
dessa forma as estéreis controvérsias gramaticais oriundas um mau produto, que Sertória não aceitou, enumerando
de uma difícil adaptação de uma língua de outra região à os defeitos, a começar pelas velas latinas, que de latinas
nossa organização cerebral e ao nosso aparelho vocal – não tinham um centavo. Osmundo, desesperado, pensou

136 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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<id>002447_por_f1_c14_q0056</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

em afogar-se, o que fez sem êxito, pois desceu no fundo 16. PUC-Campinas 2021
das águas e lá encontrou um cofre cheio de esmeraldas,
topázios, rubis, diamantes e o mais que você imagina. A posição do artista
Voltou à tona para oferecê-lo à rígida Sertória, que virou o A sociedade atribui um papel específico ao criador de
rosto. Nada a fazer, pensou Osmundo; vou transformar-me arte e define sua posição na escala social, envolvendo não
em satélite artificial. Mas os satélites artificiais ainda não apenas o artista individualmente, mas também a formação
tinham sido inventados. Continuou humilde satélite de de grupos de artistas. Daí sermos levados a considerar
Sertória, que ultimamente passeava de uma lancha para sucessivamente primeiro o aparecimento do artista na
outra, levando-o preso a um cordão de seda, com a ins- sociedade com posição e papel configurados, para em
crição “Amor imortal”. Acabou. seguida relevar as condições em que se diferenciam os
— Mas que significa isso? — perguntou o moço, in- grupos de artistas.
satisfeito. — Não entendi nada. Houve um tempo em que se exagerou muito o aspecto
— Nem eu — respondeu a moça —, mas os contos coletivo da criação, concebendo-se o povo, no conjunto,
devem ser contados, e não entendidos; exatamente como como criador de arte. Por exemplo: os poemas atribuí-
a vida. dos a Homero haviam sido, na verdade, criação do gênio
(Contos plausíveis, 2012.) coletivo da Grécia. Hoje, está superada essa noção de
cunho altamente romântico, e sabemos que a obra exi-
— Agora você vai me contar uma história de amor —
ge necessariamente a atuação decisiva do artista criador.
disse o rapaz à moça. — Quero ouvir uma história de
O que chamamos arte coletiva é a arte criada pelo indiví-
amor em que entrem caravelas, pedras preciosas e satéli-
duo a tal ponto identificado às aspirações e valores do seu
tes artificiais. (1o parágrafo)
tempo que a história social parece dissolver o indivíduo,
Ao se transpor esse trecho para o discurso indireto, perdendo-se assim a identidade do criador.
os termos sublinhados assumem, respectivamente, as Os elementos individuais adquirem significado social
seguintes formas: na medida em que as pessoas correspondem a necessida-
a) “quis” e “entravam”. des coletivas; e estas, agindo, permitem por sua vez que os
b) “queria” e “entravam”. indivíduos possam exprimir-se, encontrando repercussão
c) “quis” e “entrassem”. no grupo. As relações entre o artista e o grupo se pautam
por esta circunstância e podem ser esquematizadas do
d) “queria” e “entrassem”.
seguinte modo: em primeiro lugar, há a necessidade de
e) “quisera” e “entraram”.
<id>002447_por_f1_c14_q0055</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
um agente individual que torne a si a tarefa de criar e apre-
15. Enem 2014 E se a água potável acabar? O que acontece- sentar a obra; em segundo legar ele é ou não reconhecido
ria se a água potável do mundo acabasse? como criador ou intérprete pela sociedade, e o destino da
As teorias mais pessimistas dizem que a água potável obra está ligado a essa circunstância; em terceiro lugar,
deve acabar logo, em 2050. Nesse ano, ninguém mais to- ele utiliza a obra, assim mercada pela sociedade, como
mará banho todo dia. Chuveiro com água só duas vezes por veículo das suas aspirações individuais mais profundas.
semana. Se alguém exceder 55 litros de consumo (metade (Adaptado de: CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 2.ed., p. 29-30, 1967)
do que a ONU recomenda), seu abastecimento será inter-
rompido. Nos mercados, não haveria carne, pois, se não há Está correto o emprego de todas as formas verbais na
água para você, imagine para o gado. Gastam-se 43 mil litros seguinte frase:
de água para produzir 1 kg de carne. Mas, não é só ela que a) Se não reaver seu antigo prestígio social, esse es-
faltará. A Região Centro-Oeste do Brasil, maior produtor de critor sentir-se-á frustrado.
grãos da América Latina em 2012, não conseguiria manter a b) Caso a escritora não se indisposse com seu públi-
produção. Afinal, no país, a agricultura e a agropecuária são, co, seus livros continuariam vendendo.
hoje, as maiores consumidoras de água, com mais de 70% c) Se ele não atentar para seu público e não desdi-
do uso. Faltariam arroz, feijão, soja, milho e outros grãos. zer suas injúrias, será punido.
Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 30 jul. 2012
d) A menos que ele obtenhe novo sucesso, logo o
A língua portuguesa dispõe de vários recursos para público se esquecerá de sua obra.
indicar a atitude do falante em relação ao conteúdo e) Se ele não se detiver e não puser reparo em seus
de seu enunciado. No início do texto, o verbo “dever” defeitos, não obterá sucesso.
<id>002447_por_f1_c14_q0057</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
contribui para expressar </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

17. IFPE 2020


a) uma constatação sobre como as pessoas admi-
nistram os recursos hídricos. Lixo: um grave problema no mundo moderno
b) a habilidade das comunidades em lidar com pro- (1) Até meados do século XIX, o lixo gerado – restos
blemas ambientais contemporâneos. de comida, excrementos de animais e outros materiais
c) a capacidade humana de substituir recursos natu- orgânicos – reintegrava-se aos ciclos naturais e servia como
rais renováveis. adubo para a agricultura. Mas, com a industrialização e
d) uma previsão trágica a respeito das fontes de a concentração da população nas grandes cidades, o lixo
FRENTE 1

água potável. foi se tornando um problema.


e) uma situação ficcional com base na realidade am- (2) A sociedade moderna rompeu os ciclos da nature-
biental brasileira. za: por um lado, extraímos mais e mais matérias-primas,

137

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por outro, fazemos crescer montanhas de lixo. E, como indivíduos de grande energia, que largaram os estudos na
todo esse rejeito não retorna ao ciclo natural, transfor- universidade, ambos nascidos em 1955.
mando-se em novas matérias-primas, pode tornar-se uma Bill Gates e Steve Jobs, apesar das ambições no ponto
perigosa fonte de contaminação para o meio ambiente de convergência da tecnologia e dos negócios, tinham
ou de doenças. 15 origens bastante diferentes e personalidades radicalmente
(3) Recentemente, começamos a perceber que, as- distintas.
sim como não podemos deixar o lixo acumular dentro de À diferença de Jobs, Gates entendia de programação
nossas casas, é preciso conter a geração de resíduos e dar e tinha uma mente mais prática, mais disciplinada e com
um tratamento adequado ao lixo no nosso planeta. Para grande capacidade de raciocínio analítico. Jobs era mais
isso, será preciso conter o consumo desenfreado, que gera 20 intuitivo, romântico, e dotado de mais instinto para tornar
cada vez mais lixo, e investir em tecnologias que permitam a tecnologia usável, o design agradável e as interfaces
diminuir a geração de resíduos, além da reutilização e da amigáveis. Com sua mania de perfeição, era extremamente
reciclagem dos materiais em desuso. exigente, além de administrar com carisma e intensidade
(4) Precisamos, ainda, reformular nossa concepção indiscriminada. Gates era mais metódico; as reuniões para
a respeito do lixo. Não podemos mais encarar todo lixo 25 exame dos produtos tinham horário rígido, e ele chegava
como “resto inútil”, mas, sim, como algo que pode ser ao cerne das questões com uma habilidade ímpar. Jobs
transformado em nova matéria-prima para retornar ao ci- encarava as pessoas com uma intensidade cáustica e ar-
clo produtivo. dente; Gates às vezes não conseguia fazer contato visual,
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Lixo um grave problema no mundo mas era essencialmente bondoso.
moderno. Disponível em: <https://www.mma.gov.br/estruturas/secex_ “Cada qual se achava mais inteligente do que o outro,
30
consumo/_arquivos/8%20-%20mcs_lixo.pdf>.
Acesso em: 27 out. 2019 (adaptado). mas Steve em geral tratava Bill como alguém levemen-
te inferior, sobretudo em questões de gosto e estilo”, diz
No texto, observa-se a relação da sociedade com o lixo Andy Hertzfeld. “Bill menosprezava Steve porque ele não
ao longo do tempo. Para marcar essa história, o tem- sabia de fato programar.” Desde o começo da relação,
po verbal vai mudando conforme o assunto avança 35 Gates ficou fascinado por Jobs e com uma ligeira inveja
até os dias atuais. Indique a alternativa que analisa de seu efeito hipnótico sobre as pessoas. Mas também o
CORRETAMENTE o uso dos tempos verbais do modo considerava “essencialmente esquisito” e “estranhamente
indicativo destacados em cada trecho. falho como ser humano”, e se sentia desconcertado com
a) No trecho “o lixo gerado [...] servia como adubo a grosseria de Jobs e sua tendência a funcionar “ora no
para a agricultura” (1o parágrafo), o verbo, no 40 modo de dizer que você era um merda, ora no de tentar
pretérito mais-que-perfeito, diz respeito a um pas- seduzi-lo”. Jobs, por sua vez, via em Gates uma estreiteza
sado anterior à época da industrialização. enervante.
b) Em “será preciso conter o consumo desenfreado” Suas diferenças de temperamento e personalidade
(3o parágrafo), o futuro do presente é utilizado iriam levá-los para lados opostos da linha fundamental
para indicar um comportamento que ainda deve 45 de divisão na era digital. Jobs era um perfeccionista que
se realizar. adorava estar no controle e se comprazia com sua índole
c) Na oração “esse rejeito não retorna ao ciclo na- intransigente de artista; ele e a Apple se tornaram exem-
tural” (2o parágrafo), o trecho utiliza o pretérito plos de uma estratégia digital que integrava solidamente
o hardware, o software e o conteúdo numa unidade in-
imperfeito para assinalar ação frequente no pas-
50 dissociável. Gates era um analista inteligente, calculista e
sado, com relação ao lixo.
pragmático dos negócios e da tecnologia; dispunha-se a
d) Em “A sociedade moderna rompeu os ciclos da
licenciar o software e o sistema operacional da Microsoft
natureza” (2o parágrafo), o verbo no presente refe-
para um grande número de fabricantes.
re-se a uma atitude que vivenciamos diariamente.
Depois de trinta anos, Gates desenvolveu um respeito
e) Na frase “Não podemos mais encarar todo lixo 55 relutante por Jobs. “De fato, ele nunca entendeu muito de
como ‘resto inútil’” (4o parágrafo), o pretérito perfei- tecnologia, mas tinha um instinto espantoso para saber o
to aponta para uma ação que já ficou no passado. que funciona”, disse. Mas Jobs nunca retribuiu valorizando
<id>002447_por_f1_c14_q0058</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
devidamente os pontos fortes de Gates. “Basicamente Bill é
18. AFA-SP
pouco imaginativo e nunca inventou nada, e é por isso que
Gates e Jobs 60 acho que ele se sente mais à vontade agora na filantropia
Quando as órbitas se cruzam do que na tecnologia”, disse Jobs, com pouca justiça. “Ele
só pilhava despudoradamente as ideias dos outros.”
Em astronomia, quando as órbitas de duas estrelas se
(ISAACSON, Walter. Steve Jobs: a biografia. São Paulo:
entrecruzam por causa da interação gravitacional, tem-se Companhia das Letras, 2011. p. 189-191. Adaptado).
um sistema binário. Historicamente, ocorrem situações
análogas quando uma era é moldada pela relação e riva- Em relação ao texto, assinale a alternativa correta.
5 lidade de dois grandes astros orbitando: Albert Einstein e a) O uso do presente do indicativo no subtítulo do
Niels Bohr na física no século XX, por exemplo, ou Thomas texto se justifica por ser um presente histórico que
Jefferson e Alexander Hamilton na condução inicial do exprime um fato passado como se fosse atual.
governo americano. Nos primeiros trinta anos da era b) Há no texto a predominância do pretérito imper-
do computador pessoal, a partir do final dos anos 1970, feito do indicativo para destacar a duração do fato
10 o sistema estelar binário definidor foi composto por dois passado expresso.

138 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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c) O futuro do pretérito, na linha 44, expressa incerteza a respeito de um fato já ocorrido por meio de um tempo
composto.
d) A reescrita “Suas diferenças de temperamento e personalidade levá-los-iam para lados opostos” (l. 43-44) atende
à norma-padrão da língua.
<id>002447_por_f1_c14_q0059</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

19. IFTO 2017 Assinale a alternativa em que a forma verbal substitui corretamente o “gerundismo” cometido pelo perso-
nagem do segundo quadrinho na tirinha a seguir:

Disponível em: tocadocuty.wordpress.com. Acesso em: 31 out. 2016.

a) Lê, aprendes, superas-me. d) Leria, aprenderia, superaria-me.


b) Leio, aprendo, supero-me. e) Lerei, aprenderei, superarei-me.
c) Lia, aprendia, superava-me.
<id>002447_por_f1_c14_q0060</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

20. Ufam 2017 Assinale a alternativa em que a correspondência entre o imperativo afirmativo e o imperativo negativo
está INCORRETA:
a) Pula a cerca para encurtar caminho até a entrada da fazenda. − Não pule a cerca para encurtar caminho até a
entrada da fazenda.
b) Usai sempre um agasalho durante a noite, pois faz frio. − Não useis agasalhos durante a noite, pois não faz frio.
c) Não vou demorar. Espera-me para o jantar. – Vou demorar. Não me esperes para o jantar.
d) Crê no sobrenatural, pois ele existe. − Não creias no sobrenatural, pois ele não existe.
e) Louve os políticos, mas somente os que forem confiáveis. − Não louve os políticos, porque eles não são confiáveis.
<id>002447_por_f1_c14_q0061</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

21. Fuvest-SP 2017 Leia este texto, publicado em 1905.


Por toda parte, a verbiagem, oca, inútil e vã, a retórica [...] pomposa, a erudição míope, o aparato de sabedoria resumem
toda a elaboração intelectual. [...] Aceitam-se e proclamam-se os mais altos representantes da intelectualidade: os retóricos
inveterados, cuja palavra abundante e preciosa impõe-se como sinal de gênio, embora não se encontrem nos seus longos
discursos e muitos volumes nem uma ideia original, nem uma só observação própria. E disto ninguém se escandaliza; o
escândalo viria se houvera originalidade.
Manoel Bomfim, A América Latina: males de origem. Adaptado.

verbiagem: falatório longo mas com pouco sentido ou utilidade; verborragia.

a) O sentido que se atribui, no texto, à palavra “retórica” é o de “arte da eloquência, arte de bem argumentar; arte
da palavra” (Houaiss)? Justifique.
b) Mantendo-se o sentido que eles têm no contexto, que outra forma os verbos “se encontrem” e “houvera” pode-
riam assumir?
<id>002447_por_f1_c14_q0062</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

22. Ufam 2017 Assinale a alternativa em que há verbo conjugado de modo INCORRETO:
a) Se não reouvermos os passaportes roubados, não poderemos viajar.
b) Quando o vir, entregue-lhe estas revistas, por favor.
c) Se a crise atual se manter, o governo não terá sustentabilidade política.
d) Se a vires no aeroporto, dize-lhe que desejo boa viagem.
e) É um político que, sem se posicionar, apenas remedeia os problemas sociais.
<id>002447_por_f1_c14_q0063</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

23. Unesp 2019 Leia o trecho do romance S. Bernardo, de Graciliano Ramos, para responder à questão.
O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em casa do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma limpeza.
Essa gente quase nunca morre direito. Uns são levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam-se.
Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra, bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos miúdos.
Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o último teve angina e a mulher enforcou-se.
FRENTE 1

Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, proibi a aguardente.


Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que não preciso descrevê-la. As partes principais apareceram ou apare-
cerão; o resto é dispensável e apenas pode interessar aos arquitetos, homens que provavelmente não lerão isto. Ficou tudo

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confortável e bonito. Naturalmente deixei de dormir em d) “Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos
rede. Comprei móveis e diversos objetos que entrei a utili- o mundo dá um bando de voltas.” (5o parágrafo)
zar com receio, outros que ainda hoje não utilizo, porque e) “Não senhor, não procedi nem percorri. Tive abati-
não sei para que servem. mentos, desejo de recuar; contornei dificuldades:
Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos muitas curvas.” (6o parágrafo)
o mundo dá um bando de voltas. <id>002447_por_f1_c14_q0064</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Ninguém imaginará que, topando os obstáculos 24. Unesp 2014


mencionados, eu haja procedido invariavelmente com
segurança e percorrido, sem me deter, caminhos certos. Água-Mãe
Não senhor, não procedi nem percorri. Tive abatimentos, Jogava com toda a alma, não podia compreender
desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas. como um jogador se encostava, não se entusiasmava com
Acham que andei mal? A verdade é que nunca soube a bola nos pés. Atirava-se, não temia a violência e com a
quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz sua agilidade espantosa, fugia das entradas, dos pontapés.
coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins Quando aquele back, num jogo de subúrbio, atirou-se con-
que deram lucro. E como sempre tive a intenção de possuir tra ele, recuou para derrubá-lo, e com tamanha sorte que
as terras de S. Bernardo, considerei legítimas as ações que o bruto se estendeu no chão, como um fardo. E foi assim
me levaram a obtê-las. crescendo a sua fama. Aos poucos se foi adaptando ao
Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus. Vie- novo Joca que se formara nos campos do Rio. Dormia no
ram-me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princípio clube, mas a sua vida era cada vez mais agitada. Onde quer
se esquivava, agarrou-se comigo, as taxas desceram. E os que estivesse, era reconhecido e aplaudido. Os garçons não
negócios desdobraram-se automaticamente. Automatica- queriam cobrar as despesas que ele fazia e até mesmo nos
mente. Difícil? Nada! Se eles entram nos trilhos, rodam ônibus, quando ia descer, o motorista lhe dizia sempre:
que é uma beleza. Se não entram, cruzem os braços. — Joca, você aqui não paga.
Mas se virem que estão de sorte, metam o pau: as tolices Quando entrava no cinema era reconhecido. Vinham
que praticarem viram sabedoria. Tenho visto criaturas que logo meninos para perto dele. Sabia que agradava muito.
trabalham demais e não progridem. Conheço indivíduos No clube tinha amigos. Havia porém o antigo centerforward
preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, de- que se sentiu roubado com a sua chegada. Não tinha ra-
senroscam-se, abrem a boca – e engolem tudo. zão. Ele fora chamado. Não se oferecera. E o homem se
Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tenta- enfureceu com Joca. Era um jogador de fama, que fora
tivas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes. grande nos campos da Europa e por isso pouco ligava aos
Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, na- que não tinham o seu cartaz. A entrada de Joca, o sucesso
turalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no rápido, a maravilha de agilidade e de oportunismo, que
tempo de Salustiano Padilha. Houve reclamações. caracterizava o jogo do novato, irritava-o até ao ódio. No
— Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo dia em que tivera que ceder a posição, a um menino do
enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, pa- Cabo Frio, fora para ele como se tivesse perdido as duas
ciência, vá à justiça. pernas. Viram-no chorando, e por isso concentrou em Joca
Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, o toda a sua raiva. No entanto, Joca sempre o procurava.
caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralítico de Tinha sido a sua admiração, o seu herói.
um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estu- Água-Mãe, de José Lins do Rego (1901-1957).
dando Direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz.
Violências miúdas passaram despercebidas. As ques- No primeiro parágrafo, predominam verbos empre-
tões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas gados no
de João Nogueira. a) pretérito perfeito do modo indicativo.
Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei b) pretérito imperfeito do modo indicativo.
maquinismos e não prestei atenção aos que me censura- c) presente do modo indicativo.
vam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a d) presente do modo subjuntivo.
pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos e) pretérito mais-que-perfeito do modo indicativo.
ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo <id>002447_por_f1_c14_q0065</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota, 25. PUC-Campinas 2021
citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou
uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe
Linguagens
político local. Em consequência mordeu-me cem mil-réis. Você pode achar que estou sendo implicante, metido
(S. Bernardo, 1996.). a policiar a linguagem alheia. Brasileiro é assim mesmo,
adora enfeitar a conversa para impressionar os outros. Sei
Verifica-se o emprego de verbo no modo imperativo disso. Eu próprio já andei escrevendo sobre o que chamei
no seguinte trecho: de ruibarbosismo: o uso de palavreado rebarbativo como
a) “Se eles entram nos trilhos, rodam que é uma forma de, numa discussão, reduzir ao silêncio o interlocu-
beleza. Se não entram, cruzem os braços.” (7o tor ignaro. Uma espécie de gás paralisante verbal. Mais de
parágrafo) uma vez vi gente de queixo caído ante as extravagâncias
b) “Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo vocabulares que o Antônio Houaiss (esse mesmo, o do
enquanto viveu. Mas agora é isto.” (10o parágrafo) dicionário) aspergia na mais prosaica mesa de boteco.
c) “Para diminuir a mortalidade e aumentar a produ- Minha prima Solange é chegada nessas construções
ção, proibi a aguardente.” (3o parágrafo) verbais entrecortadas por hifens, como “oferecer-lhe-ia”.

140 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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Ela se casou com um cidadão americano. Até onde vão muito, que perdeu o emprego em função de não poder
meus conhecimentos linguísticos, o idioma inglês não ad- trabalhar adequadamente por estar sempre embriagado,
mite mesóclise. Será que foi por isso que o casamento da que tem problemas sérios de relacionamento com seus
Solange não deu certo? ruibarbosismo: referência a Rui amigos e/ou familiares que se ressentem da forma pela
Barbosa, escritor de estilo bastante rebuscado. qual esta pessoa vem bebendo, e que apresenta doenças
(WERNECK, Humberto. Esse inferno vai acabar. Porto Alegre: devidas ao álcool, é um alcoólatra. O problema reside
Arquipélago, 2011, p. 30)
exatamente em definir aqueles que não mostram esses
É adequada a articulação entre os tempos verbais e sinais óbvios, ou seja, os que estão em um ponto inter-
há pleno atendimento das normas de concordância mediário entre o rosa e o vermelho.
na seguinte frase: (O que é alcoolismo, 1991. Adaptado.)

a) A cada vez que se apresentassem àquele escritor Ninguém se pergunta: estarei ficando grávida? (2o parágrafo).
os mais extravagantes recursos de retórica, ele
não hesitaria em se valer deles para ostentar seu A forma verbal destacada, caracterizada pela termina-
desempenho linguístico. ção “–ndo”, indica uma ação
b) No caso de se buscarem economizar ornamentos a) prestes a acontecer, mas ainda não realizada.
retóricos, teriam cumprido a boa parte dos escrito- b) totalmente realizada, finalizada.
res desfazer-se de seus rebuscamentos estilísticos. c) que pode ou não ter sido realizada.
c) Uma vez que o cronista empregou em seus textos d) não terminada, em andamento.
expressões como “de queixo caído” e “mesa de e) pontual, sem extensão no tempo.
<id>002447_por_f1_c14_q0067</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>

boteco”, parecem haver nele claras preferências </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

27. IFTO 2020


pela simplicidade.
d) A cada vez que usasse uma mesóclise, a prima Vatapá
Solange parecerá manifestar uma predileção (Dorival Caymmi)
por formas verbais em que reponta tendências Quem quiser vatapá, ô
exibicionistas. Que procure fazer
e) Com a expressão gás paralisante verbal o cronis- Primeiro o fubá
ta faria uma alusão ao efeito que terá provocado Depois o dendê
em alguém as formas mais rebuscados de cons- Procure uma nêga baiana, ô
truções linguísticas. Que saiba mexer
<id>002447_por_f1_c14_q0066</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Que saiba mexer
26. Uefs-BA 2017 Leia o texto de Jandira Masur para res-
Que saiba mexer
ponder à questão.
Bota castanha de caju
Tudo que exige a separação em duas categorias envol- Um bocadinho mais
ve o problema do limite, do divisor de águas. Muitas vezes Pimenta malagueta
isso é resolvido através de convenções arbitrariamente es- Um bocadinho mais
tabelecidas. É o caso do limite de 18 anos, que separa o Amendoim, camarão, rala um coco
menor do maior de idade. É claro que todo divisor estabe- Na hora de machucar
lecido através de convenções implica situações bizarras: Sal com gengibre e cebola, iaiá
com um dia a menos de 18 anos não posso assistir a um Na hora de temperar
filme que 24 horas depois já me será permitido. Não pare de mexer, ô
Outros tipos de situações não necessitam de divisores Que é pra não embolar
arbitrários, como é o caso da gravidez. Não se fica um Panela no fogo
pouco grávida: ou se está ou não se está. Ninguém se Não deixe queimar
pergunta: estarei ficando grávida? Com qualquer dez mil-réis e uma nêga ô
No alcoolismo o limite entre o ser e o não ser alcoó­ Se faz um vatapá
latra não pode ser arbitrariamente definido como no caso Se faz um vatapá
da maioridade. Ele, o limite, também não é claro e ób- Que bom vatapá
vio como ocorre no caso da gravidez. Logo, a pergunta Com adaptações. Disponível em: https://www.letras.mus.br/
que as pessoas se fazem, sobre se elas ou outros estão dorivalcaymmi/924247/. Acesso em: 2/10/2019.
bebendo demais e, portanto, se tornando alcoólatras,
Com relação ao emprego do imperativo nos versos,
é pertinente e não tem uma resposta fácil. A situação é
marque a opção correta.
semelhante ao que ocorre quando se observa uma gra-
dação de cores que varia do rosa ao vermelho. Quando,
a) O sujeito verbal (3a pessoa) mantém-se o mesmo;
exatamente em que ponto é que o rosa se transforma portanto, o emprego das formas verbais está correto.
em vermelho? Distinguir entre o rosa inicial e o verme- b) A oposição imperativo afirmativo e imperativo
lho final não nos causa problemas. O difícil é distinguir negativo justifica a mudança do verbo bota / não
o momento em que o rosa não é mais rosa. Este é o pare de mexer / não deixe queimar.
FRENTE 1

problema que ocorre quando pensamos se alguém bebe c) A forma verbal “não pare de mexer” (imperativo
normalmente ou é alcoólatra. Claro que os polos não negativo) opõe-se à forma verbal “bota”, que se
nos confundem. É fácil dizer que uma pessoa que bebe encontra no presente do indicativo.

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d) A diferença de formas (procure / bota) ocorre em De tudo quanto ele pede
virtude do deslocamento da 3a para a 2a pessoa dás só bom-dia ao patrão,
do sujeito verbal. e recomeças a luta
e) A diferença de formas (bota / não pare de mexer / na engrenagem da fiação.
MOTA, M. Canto ao meio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.
não deixe queimar) não é registrada nas gramá-
ticas normativas, logo há inadequação na flexão Nesse texto, a mobilização do uso padrão das formas
dos verbos. verbais e pronominais
<id>002447_por_f1_c14_q0068</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
a) ajuda a localizar o enredo num ambiente estático.
28. FEI-SP 2019 Carlos Drummond de Andrade tem uma
b) auxilia na caracterização física do personagem
vasta produção poética, reconhecida em todo o mundo,
principal.
e com marcas recorrentes. A sua permanente reflexão
c) acrescenta informações modificadoras às ações
sobre a realidade, sobre a relação entre o “eu” e o
dos personagens.
“mundo”, sobre a função do artista na sociedade é uma
dessas marcas, que pode ser lida na poesia abaixo: d) alterna os tempos da narrativa, fazendo progredir
as ideias do texto.
Mãos dadas e) está a serviço do projeto poético, auxiliando na
Não serei o poeta de um mundo caduco. distinção dos referentes.
<id>002447_por_f1_c14_q0070</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
Também não cantarei o mundo futuro. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

30. IFPE 2019


Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Por que todo mundo não fala a mesma língua?
Entre eles, considero a enorme realidade.
(1) Porque as línguas foram surgindo nas várias regiões
O presente é tão grande, não nos afastemos.
do mundo de forma independente. Algumas têm a mesma
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
origem, como o hindu, o sueco, o inglês e o português.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
Elas vieram de uma grande língua comum, chamada proto-
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista
-indo-europeu, que há milhares de anos era falada na Ásia.
[da janela,
(2) Esse idioma deu origem a quase todas as lín-
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
guas ocidentais e algumas orientais. “Supõe-se que o
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
indo-europeu tenha sido uma língua só, que foi se dife-
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os
renciando com o tempo”, explica o professor de linguística
[homens presentes,
Paulo Chagas de Souza, da Universidade de São Paulo.
a vida presente.
(ANDRADE, C. D. de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro:
(3) É que as línguas são vivas – elas se transformam
Nova Aguilar, 1988, p.68) com o uso. Mesmo as que vieram de uma raiz comum
foram sendo modificadas pouco a pouco pela prática de
Considerando o contexto em que o verbo “afastemos” cada grupo falante, que seleciona os termos adequados ao
(sexto verso) se apresenta, depreende-se: seu ambiente e à sua cultura. Os esquimós, por exemplo,
a) a aceitação de que as pessoas não se aproximarão. criaram palavras capazes de descrever 40 tons de branco.
b) o reconhecimento de que as pessoas não vivem Esses termos não fazem o menor sentido para um povo
em harmonia. que mora no deserto, concorda?
c) o desejo de que as pessoas se mantenham unidas. (4) O Império Romano teve uma forte função na difu-
d) o desejo inconsciente de que as pessoas se afastem. são e na construção de muitas das línguas que são faladas
e) a certeza de que as pessoas não se afastarão. hoje. Naquela época, na região de Roma, falava-se o latim,
<id>002447_por_f1_c14_q0069</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
uma língua derivada do proto-indo-europeu que floresceu
29. Enem 2019
na região do Lácio.
Toca a sirene na fábrica, (5) À medida que o império avançava, conquistando
e o apito como um chicote novos territórios, esse idioma foi sendo imposto aos povos
bate na manhã nascente dominados, mas não sem sofrer influência das línguas lo-
e bate na tua cama cais, com mudanças de pronúncia e enxertos de palavras.
no sono da madrugada. (6) Com o enfraquecimento do domínio dos césares,
Ternuras da áspera lona essas diferenças foram se intensificando e construindo
pelo corpo adolescente. dialetos, que se transformaram em idiomas próprios. Foi
É o trabalho que te chama. assim que surgiu o português, o italiano e o francês, por
Às pressas tomas o banho, exemplo.
tomas teu café com pão, (7) Hoje, são faladas 7 099 línguas ao redor do mundo,
tomas teu lugar no bote segundo o compêndio Ethnologue, um livro que cataloga
no cais do Capibaribe.
os idiomas do nosso planeta desde 1950. Mas a gente não
Deixas chorando na esteira
ouve a maioria delas: mais de 90% dessas línguas estão na
teu filho de mãe solteira.
boca de apenas 6% dos habitantes da Terra. O restante da
Levas ao lado a marmita,
população mundial usa menos de 400 idiomas.
contendo a mesma ração
OLIVEIRA, Fábio. Por que todo mundo não fala a mesma língua?
do meio de todo o dia, Disponível em: http://super.abril.com.br/sociedade/por-que-todo-mundo-
a carne-seca e o feijão. não-fala-a-mesma-lingua/amp/. Acesso em: 04 maio 2019.

142 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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As afirmativas a seguir apresentam reflexões sobre a) O autor do anúncio optou pelo emprego de
a sintaxe de concordância da língua portuguesa. “imobilizar” em vez de “mobilizar” (que seria o es-
Analise-as e marque a única que faz uma avaliação perado pelo leitor) de forma intencional, tornando,
CORRETA sobre a sintaxe de concordância do texto. assim, seu texto mais expressivo e adequado aos
a) Em “Mas a gente não ouve a maioria delas” (7o objetivos comunicacionais.
parágrafo), o verbo foi registrado no singular para b) O autor do anúncio utilizou o prefixo -i de forma ina-
concordar com a expressão “a gente”, continuaria, dequada, pois, nesse contexto, o verbo adequado
portanto, conjugado na terceira pessoa do singu- seria “mobilizar”, que significa “incitar à participação”.
lar se o sujeito da frase fosse o pronome “nós”. c) Ao acrescentar o prefixo -i ao vocábulo “mobilizar”, o
b) Em “Naquela época, na região de Roma, falava-se autor utilizou um neologismo; essa inovação, contu-
o latim” (4o parágrafo), o sujeito do verbo “falar” é do, foi necessária para tornar o texto mais expressivo
indeterminado e o “-se” é índice de indetermina- e atingir os objetivos comunicacionais do anúncio.
ção, por isso o verbo foi corretamente conjugado d) Houve um erro de digitação, pois, nesse contexto,
na terceira pessoa do singular. não cabe o verbo “imobilizar”.
c) Em “esse idioma foi sendo imposto aos povos do- e) O verbo adequado, nesse contexto, seria “mobi-
minados” (5o parágrafo), a locução verbal também lizar”, uma vez que o evento esportivo mobilizou
poderia estar no plural para concordar com o re- mais de quarenta mil pessoas a irem ao Estádio
ferente “povos dominados”. Atlético Paranaense para assistirem às lutas.
<id>002447_por_f1_c14_q0072</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
d) Em “Foi assim que surgiu o português, o italiano e </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

o francês, por exemplo” (6o parágrafo), houve um 32. Uefs-BA 2017


deslize na concordância, pois o sujeito da oração
A Christo S. N. Crucificado estando o poeta a
é composto (“o português, o italiano e o francês”),
e o verbo, deveria, portanto, estar no plural para
última hora de sua vida
estabelecer concordância. Meu Deus que estais pendente em um madeiro,
e) Em “há milhares de anos era falada na Ásia” (1o Em cuja lei protesto de viver
parágrafo), o verbo grifado está conjugado de Em cuja santa lei hei de morrer
forma adequada, pois o verbo “haver” indicando Animoso, constante, firme e inteiro.
tempo passado é impessoal, não devendo ser
Neste lance, por ser o derradeiro,
pluralizado, portanto.
<id>002447_por_f1_c14_q0071</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Pois vejo a minha vida anoitecer,
31. IFTO 2020 Com relação ao emprego do verbo “imo- É, meu Jesus, a hora de se ver
bilizar” no anúncio abaixo, é correto afirmar que: A brandura de um Pai, manso Cordeiro.
Mui grande é vosso amor e meu delito,
Porém pode ter fim todo pecar,
E não o vosso amor, que é infinito.
Esta razão me obriga a confiar,
Que por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.
MATOS, Gregório. In: AMADO, James (Org.) Obras Completas de
Gregório de Matos. Salvador: Ed. Janaína, 1968. V. I, p. 47.

Sobre aspectos de morfossintaxe presentes no texto,


é correto afirmar:
I. A forma verbal de segunda pessoa “estais”, no
verso 1, é compatível com o uso do pronome
“vosso” nos versos 9, 11 e 14.
II. “viver” (v. 2), “morrer” (v. 3), “anoitecer” (v. 6) e “ver”
(v. 7) estão usados no texto como intransitivos.
III. “hei de” (v. 3) é uma expressão verbal que enfatiza
promessa, obrigação ou desejo no futuro.
IV. Na sentença “Mui grande é vosso amor e meu de-
lito” (v. 9), aplica-se uma norma de concordância
• Ingressos esgotados no 1o dia oficial de vendas. verbal aceitável.
• Recorde histórico de público no Brasil: 45 207 pessoas V. As expressões “Meu Deus” (v. 1), “meu Jesus”
no Estádio Atlético Paranaense. (v. 7) e “manso Cordeiro” (v. 8) são apostos.
• Recorde global de público na pesagem: 15 000 pessoas.
• 42 milhões de pessoas impactadas nas redes sociais em A alternativa em que todas as afirmativas indicadas
FRENTE 1

1 semana. estão corretas é a


• Transmissão para 141 países. a) I e II. c) IV e V. e) II, III e IV.
Disponível em: Revista Veja. ed. 2479, ano 49, n. 21, jan. 2016. b) II e IV. d) I, III e IV.

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BNCC em foco
<id>002447_por_f1_c14_q0073</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

EM13LP01 Tendo em vista o gênero literário em que se enquadra


1. Unesp 2016 Para responder à questão, leia o excer- o texto e os recursos expressivos nele presentes, o
to do “Sermão da primeira dominga do Advento”, de verbo que melhor expressa sua finalidade é
Antônio Vieira (1608-1697), pregado na Capela Real a) reverenciar. d) alegrar.
em Lisboa no ano de 1650. b) persuadir. e) ludibriar.
Sabei cristãos, sabei príncipes, sabei ministros, que
c) celebrar.
<id>002447_por_f1_c14_q0074</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
se vos há de pedir estreita conta do que fizestes; mas EM13LP44
muito mais estreita do que deixastes de fazer. Pelo que 2. Enem 2020 (Adapt.)
fizeram, se hão de condenar muitos, pelo que não fize-
ram, todos. [...]
Desçamos a exemplos mais públicos. Por uma omis-
são perde-se uma maré, por uma maré perde-se uma
viagem, por uma viagem perde-se uma armada, por
uma armada perde-se um Estado: dai conta a Deus de uma
Índia, dai conta a Deus de um Brasil, por uma omissão.
Por uma omissão perde-se um aviso, por um aviso perde-
-se uma ocasião, por uma ocasião perde-se um negócio,
por um negócio perde-se um reino: dai conta a Deus de
tantas casas, dai conta a Deus de tantas vidas, dai conta
a Deus de tantas fazendas, dai conta a Deus de tantas Disponível em: www.hospitalalbertorassi.org.br. Acesso em: 13 dez. 2017
honras, por uma omissão. Oh que arriscada salvação! [...] (adaptado).
Oh que arriscado ofício é o dos príncipes e o dos minis-
a) Considerando-se os elementos constitutivos do
tros! Está o príncipe, está o ministro divertido, sem fazer
texto, esse anúncio visa resolver qual problema?
má obra, sem dizer má palavra, sem ter mau nem bom
pensamento: e talvez naquela mesma hora, por culpa de
Quais elementos linguísticos ajudam a identificar
uma omissão, está cometendo maiores danos, maiores a proposta do texto?
estragos, maiores destruições, que todos os malfeitores b) Dentre os modos verbais apresentados, destaca-
do mundo em muitos anos. O salteador na charneca com mos como característica do anúncio o modo impe-
um tiro mata um homem; o príncipe e o ministro com uma rativo. Retire do texto dois verbos conjugados no
omissão matam de um golpe uma monarquia. A omissão imperativo afirmativo e dois no imperativo negativo.
<id>002447_por_f1_c14_q0075</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>

é o pecado que com mais facilidade se comete e com </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

EM13LP07
mais dificuldade se conhece; e o que facilmente se come- 3. Enem 2015 Em junho de 1913, embarquei para a Euro-
te e dificultosamente se conhece, raramente se emenda. pa a fim de me tratar num sanatório suíço. Escolhi o de
A omissão é um pecado que se faz não fazendo. [...] Mas Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito dele
por que se perdem tantos? Os menos maus perdem-se me falara João Luso, que ali passara um inverno com a
pelo que fazem, que estes são os menos maus; os piores senhora. Mais tarde vim a saber que antes de existir no
perdem-se pelo que deixam de fazer, que estes são os lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo Antõnio
piores: por omissões, por negligências, por descuidos, por Nobre. “Ao cair das folhas”, um de seus mais belos so-
desatenções, por divertimentos, por vagares, por dilações, netos, talvez o meu predileto, está datado de “Clavadel,
por eternidades. Eis aqui um pecado de que não fazem outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até outubro de 1914.
escrúpulo os ministros, e um pecado por que se perdem BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro:
muitos. Mas percam-se eles embora, já que assim o que- Nova Aguilar, 1985.
rem: o mal é que se perdem a si e perdem a todos; mas de
No relato de memórias do autor, entre os recursos
todos hão de dar conta a Deus. Uma das cousas de que
se devem acusar e fazer grande escrúpulo os ministros, é
usados para organizar a sequência dos eventos nar-
dos pecados do tempo. Porque fizeram o mês que vem o rados, destaca-se a
que se havia de fazer o passado; porque fizeram amanhã a) construção de frases curtas a fim de conferir dina-
o que se havia de fazer hoje; porque fizeram depois o micidade ao texto.
que se havia de fazer agora; porque fizeram logo o que b) presença de advérbios de lugar para indicar a
se havia de fazer já. Tão delicadas como isto hão de progressão dos fatos.
ser as consciências dos que governam, em matérias c) alternância de tempos do pretérito para ordenar
de momentos. O ministro que não faz grande escrúpulo de os acontecimentos.
momentos não anda em bom estado: a fazenda pode-se d) inclusão de enunciados com comentários e ava-
restituir; a fama, ainda que mal, também se restitui; o liações pessoais.
tempo não tem restituição alguma. e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida
(Essencial, 2013. Adaptado.) do escritor.

144 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 14 Verbo I: propriedades gramaticais e semânticas

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Acervo da Casa Mário de Andrade, São Paulo
Na foto, estão os principais nomes do
Modernismo brasileiro, reunidos em um
almoço para homenagear Paulo Prado (em
pé, ao centro da foto, de bigode escuro),
em 1924. Entre eles, vemos Mário de
Andrade (à esquerda das cadeiras, de pé,
terno escuro e óculos), Oswald de Andrade
(sentado no chão) e Manuel Bandeira
(à esquerda, de pé, óculos e gravata
borboleta).

FRENTE 2

10
CAPÍTULO Heróis do Modernismo no Brasil
Em fevereiro de 1922, o Teatro Municipal de São Paulo foi palco da irreverência
de autores do cenário cultural brasileiro na Semana de Arte Moderna, evento que
representou a ousadia de romper com os padrões estéticos vigentes.
Nos anos que se seguiram, após o evento da Semana de 22, três autores se destacaram
no cenário literário, tornando-se os mais importantes nomes da geração heroica do
Modernismo: Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira.

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Mário de Andrade (1893-1945) Sob esse ponto de vista – de tempo e de espaço – o ad-
jetivo “arlequinal”, quando se refere à natureza de Pauliceia
desvairada, possui um certo sentido futurista [...]. Assim, o traje

Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro


de losangos aglutina a variedade da vida metropolitana no
século XX, bem captada na simultaneidade e bem transmitida
ao nível da técnica, através [...] do uso dos pares de substan-
tivos para qualificar (solução genialmente explorada na “Ode
ao burguês”). E haveria traços do futurismo na teoria do verso
harmônico, do verso melódico e da polifonia poética [...].
[...] em Pauliceia desvairada, inspirando o desenho de
Guilherme de Almeida na escolha de losangos multicores
(brancos, verdes, azuis, vermelhos, amarelos), dispostos verti-
calmente, preenchendo toda a superfície da capa [...] o livro
exibe-se como se fosse a própria cidade, trazendo no centro
do frontispício, em destaque de cartaz branco, emoldurado por
traços negros, sua identificação, também em preto.
LOPEZ, Telê Porto Ancona. Arlequim e a modernidade. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/69575/72159.
Acesso em: 4 dez. 2023.

Saiba mais
Arlequim é um personagem cômico

In: Pierre Carlet de Chamblain de Marivaux. Théâtre


complet. Paris: Laplace, Sanchez et cie, 1878
Mário Raul de Morais Andrade nasceu em São Paulo de origem italiana, cujas características
e expressou seu afeto pela cidade em inúmeros poemas, são a ingenuidade, a malandra-
sendo a obra Pauliceia desvairada a sua máxima declara- gem e a preguiça. Na Commedia
ção de amor. Publicado em 1922, ano da Semana de Arte dell’Arte ele integra o triângulo amo-
roso composto também pelo Pierrô e
Moderna, o livro composto de 23 poemas apresentou a
pela Colombina. A alegria e a audácia
cidade como protagonista, personificada em versos livres
do personagem, e a fragmentação de
e provocadores. sua roupa feita de retalhos de sacos
Inspiração de farinha, simbolizam o contraste que
inspirou o autor modernista Mário de
São Paulo! comoção de minha vida...
Reprodução

Andrade. No Brasil, o arlequim ficou


Os meus amores são flores feitas famoso no Carnaval, pelo sucesso da canção de Noel Rosa e
[de original!... Heitor dos Prazeres, “Pierrô Apaixonado”, de 1935.
Arlequinal!... Trajes de losangos...
[Cinza e ouro...
Luz e bruma... Forno e inverno
A irreverência dos poetas da geração heroica do
[morno...
Modernismo está marcada em diversos poemas, em con-
Elegâncias sutis sem escândalos,
sonância com o tom combativo e crítico. O poema “Ode ao
[sem ciúmes...
Perfumes de Paris... Arys! burguês” (a seguir) é um elogio inverso às elites retrógra-
Bofetadas líricas no Trianon... das da capital paulista. O título remete às obras de origem
[Algodoal!...
Capa do livro Pauliceia grega, associadas à exaltação de campeões na guerra e
desvairada.
aos jogos olímpicos. No poema, a imagem do burguês foi
São Paulo! comoção de minha vida... ironizada por sua relação com o passado e sua resistência
Galicismo a berrar nos desertos da América. à modernização, tanto na estética cultural como na socie-
ANDRADE, Mário de. Pauliceia desvairada. Disponível em: https:// dade. O eu lírico com sua acidez e ironia insulta os “barões
digital.bbm.usp.br/view/?45000019565&bbm/7651#page/46/mode/2up. lampeões! os condes Joões! os duques zurros!”. O efeito
Acesso em: 4 dez. 2023.
sonoro do termo “ode” ao ser lido em voz alta ganha novo
No poema “Inspiração”, a urbe inquieta simboliza o significado, pois transforma-se em “ódio ao burguês”.
crescimento acelerado das metrópoles, o que é perceptí-
vel nas imagens sobrepostas e no uso das reticências para Ode ao burguês
expressar a interrupção de ideias que não se finalizam. O Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
dinamismo paulistano comove o eu lírico, como uma musa O burguês-burguês!
inspiradora. A aglomeração e os contrastes ilustram a ci- A digestão bem feita de São Paulo!
dade que é “Luz e bruma... Forno e inverno morno”, onde O homem-curva! o homem-nádegas!
os habitantes e a temperatura são singulares. [...]
O arlequim, signo presente na obra como um todo, Eu insulto as aristocracias cautelosas!
inclusive na imagem da capa da primeira edição, simboliza Os barões lampeões! os condes Joões! os duques zurros!
a ousadia e a contradição do personagem da Commedia Que vivem dentro de muros sem pulos;
dell’Arte italiana. [...]

146 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 10 Heróis do Modernismo no Brasil

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Eu insulto o burguês-funesto! [...]
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições! Um pouco de teoria? Acredito que o lirismo, nascido no
Fora os que algarismam os amanhãs! subconsciente, acrisolado num pensamento claro ou confuso,
[...] cria frases que são versos inteiros, sem prejuízo de medir tantas
sílabas, com acentuação determinada. Entroncamento é sueto
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
para os condenados da prisão alexandrina. Há porém raro
Morte ao burguês de giolhos.
exemplo dele neste livro. Uso de cachimbo...
Cheirando religião e que não crê em Deus!
A inspiração é fugaz, violenta. Qualquer impecilho a
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
perturba e mesmo emudece. Arte, que, somada a Lirismo, dá
Ódio fundamento, sem perdão!
Poesia, não consiste em prejudicar a doida carreira do estado
Fora! Fu! Fora o bom burguês!... lírico para avisá-lo das pedras e cercas de arame do caminho.
ANDRADE, Mário de. Pauliceia desvairada. Disponível em: https:// Deixe que tropece, caia e se fira. Arte é mondar mais tarde o
digital.bbm.usp.br/view/?45000019565&bbm/7651#page/70/mode/2up.
Acesso em: 4 dez. 2023. poema de repetições fastientas, de sentimentalidades român-
ticas, de pormenores inúteis ou inexpressivos.
[...]
ode: de remota origem grega, inicialmente consistia num ANDRADE, Mário de. Pauliceia desvairada. São Paulo:
poema destinado ao canto. Sinônimo, pois, de canção, Casa Mayença, 1922. Disponível em: https://digital.bbm.usp.br/
reduzia-se a um cantar monódico, interpretado pelo pró- view/?45000019565&bbm/7651#page/8/mode/2up. Acesso em: 4 dez. 2023.

prio autor, ao som da lira, ou de semelhante instrumento O combate às “sentimentalidades românticas” e o prés-
de corda, chamado barbitos, pectis ou magadis. [...] O timo ao lirismo “nascido no subconsciente” fundamentaram
amor e o vinho ou os prazeres são os temas mais frequen-
a proposta de Pauliceia desvairada, obra que se tornou
tes. [...] Com o desenvolvimento do lirismo coral, a ode
ganha maior desembaraço e apodera-se de temas novos,
um símbolo do projeto modernista. “Ode ao burguês” foi um
relacionados com a vida heroica [...]. dos poemas lidos sob vaias na Semana de Arte Moderna,
MOISÉS, Massaud. Dicionário de Termos Literários. 12. ed. rev., como endossam alguns historiadores dos acontecimentos
ampl. e atual. São Paulo: Cultrix, 2013. p. 336. do evento. Mário foi um dos palestrantes, tendo realizado
no segundo dia da semana, 15 de fevereiro, a conferência
Para o leitor de hoje, a leitura da Pauliceia desvairada em defesa da modernidade intitulada A Escrava que Não é
é uma experiência ainda capaz de provocar muito estranha- Isaura, texto posteriormente publicado como ensaio.
mento, mas por motivos obviamente diversos daqueles que A conferência apresentou um dos aspectos principais
comoveram os contemporâneos. [...] da obra do autor, a pesquisa acerca da cultura popular
Outras conversões, se podemos falar assim, ocorreriam brasileira. O interesse pelo folclore do país levou-o a em-
nos anos subsequentes. O livro escandalizava os farautos e preender a Missão de Pesquisas Folclóricas, ocupando o
fascinava os espíritos mais livres e criativos. De certo modo, cargo de diretor do Departamento de Cultura de São Paulo.
como um evangelho estético, ele trazia a boa nova das mu-
Macunaíma: a ressignificação do herói nacional
danças imediatas e necessárias – e o contato de suas palavras
catalisava as vontades transformadoras, precipitando aquilo

Reprodução
que a própria épica preparava.
BOSI, Alfredo (org.). Leitura de poesia. São Paulo: Ática, 2007. p. 53.

O poema “Ode ao burguês”, de Pauliceia desvairada,


foi um apelo às novas possibilidades estéticas da mo-
dernidade. O famoso “Prefácio Interessantíssimo” da obra
apresentou a corrente do “Desvairismo”, ou seja, a arte do
contraponto, que evidencia o conflito entre o velho e o
novo, em uma dimensão crítica acerca dos desdobramen-
tos vanguardistas. No prefácio, o autor discutiu os rumos
da arte no Brasil.
Leitor:
Está fundado o Desvairismo.
Este prefácio, apesar de interessante, inútil.
Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões. Para quem me
aceita são inúteis ambos. Os curiosos terão prazer em descobrir
FRENTE 2

minhas conclusões, confrontando obra e dados. Para quem


me rejeita trabalho perdido explicar o que, antes de ler, já
Capa da obra Macunaíma, de Mário de Andrade.
não aceitou.
Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo O título do romance de Mário de Andrade, publicado
o que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para em 1928, Macunaíma: o herói sem nenhum caráter, apre-
corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste senta dois termos – herói e caráter – que nos remetem à
Prefácio Interessantíssimo. imagem do herói construída ao longo da história literária

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nos romances brasileiros. No século XIX, a prosa romântica Oswald de Andrade (1890-1954)
apresentava o arquétipo cavalheiresco de coragem, bravura

Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro


e lealdade que compunham o caráter do herói. No entanto,
na obra-prima de Mário de Andrade, o caráter não é um traço
definitivo do protagonista, uma vez que Macunaíma é um sím-
bolo representativo da identidade brasileira em formação.
A narrativa, com características míticas, é considerada
uma rapsódia, apresentando enredo baseado em lendas
e mitos do folclore nacional, resultado da ampla pesquisa
do autor em sua missão pelo Brasil. O distanciamento das
convenções e da verossimilhança do romance tradicional
pode tornar confuso o entendimento da história do herói,
que foge de Manaus para a Argentina em poucas linhas e
torna-se loiro ao se banhar em uma poça que clareia a pele.

rapsódia: designava, na Grécia antiga, a recitação de frag-


mentos de poemas épicos, notadamente homéricos, pelos José Oswald de Sousa Andrade é um dos nomes de
rapsodos, poetas ou declamadores ambulantes, que iam de grande importância no cenário literário brasileiro, tendo sido
cidade a cidade [...]. nos domínios literários, a compilação, o agitador da Semana de Arte Moderna e reconhecido pelo
numa mesma obra, de temas ou assuntos heterogêneos e seu humor irreverente, pela sua capacidade de transgres-
de vária origem. são e pela postura polêmica e ousada que contribuíram
MOISÉS, Massaud. Dicionário de Termos Literários. 12. ed. rev.,
ampl. e atual. São Paulo: Cultrix, 2013. p. 389.
com as conquistas do Modernismo.
Depois de uma viagem realizada à Europa, Oswald de
Andrade retornou ao Brasil com ideias fermentadas pelas
As cenas são alegóricas, pois simbolizam as etnias vanguardas artísticas decisivas nos desdobramentos que
formadoras do Brasil, como a branca, a negra e a nativa, mobilizaram a realização da Semana de 22. A atuação do
composta pelos indígenas. O protagonista Macunaíma reve- autor foi enfática em determinados momentos, como na
la fraquezas, como inveja e preguiça, marcadas pela frase defesa de Anita Malfatti (1889-1964), em artigo escrito no
célebre da obra: “Ai! Que preguiça!...”. Diferentemente dos Jornal do Comércio, com o intuito de se opor às críticas
heróis idealizados do Romantismo, como o guerreiro Peri – de Monteiro Lobato à pintora. Além de livros de poesia,
personagem da obra O Guarani, de José de Alencar –, o romances, peças teatrais e ensaios, Oswald publicou dois
herói sem nenhum caráter não concentra os valores nobres importantes manifestos em anos posteriores à semana, o
e heroicos. Ele é um malandro alegórico que se distancia Manifesto Pau-Brasil e o Manifesto Antropofágico, os quais
dos princípios morais. nortearam algumas das noções estéticas do movimento.
<assets>002447_por_f2_c10_t0003</assets>
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói da
nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve Pobre alimária
um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o O cavalo e a carroça
murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma Estavam atravancados no trilho
criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já E como o motorneiro se impacientasse
na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais Porque levava os advogados para o escritório
de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava: – Ai! Desatravancaram o veículo
que preguiça!...e não dizia mais nada. [...] E o animal disparou
ANDRADE, Mário de. Macunaíma. Disponível em: https://www. Mas o lesto carroceiro
castroweb.com.br/castrodigital/Arquivos2020/CastroDigital_livro_ Trepou na boleia
Macunaima_Mario_de_Andrade.pdf. Acesso em: 4 dez. 2023.
E castigou o fugitivo atrelado
As técnicas inovadoras e a aproximação das carac- Com um grandioso chicote
terísticas das vanguardas europeias são evidências da ANDRADE, Oswald de. Poesias reunidas. São Paulo:
Companhia das Letras, 2017. ©Oswald de Andrade
modernidade da obra que apresenta nuance surrealista.
A montagem é uma sobreposição de imagens e espaços Foram abordados nos textos do autor a busca pela
apresentados de forma simultânea, que visam representar identidade nacional, o resgate de elementos culturais da
a pluralidade identitária e territorial do país. pluralidade brasileira e o processo de modernização visto
O tempo da narrativa não é linear e essa descontinui- no país, especialmente na cidade de São Paulo. Em seu
dade imprime à obra desordem, confusão e ambiguidade. poema “Pobre alimária”, notamos o registro de uma cena
A valorização da linguagem oral é um dos princípios mo- urbana marcada pela tensão entre o velho e o novo, em
dernistas de destaque no texto de Mário de Andrade, como que a carroça e o cavalo representam o mundo rural, con-
outro importante elemento que busca construir a identidade vivendo com elementos da vida urbana e moderna. Essas
nacional. O espírito nacionalista presente em Macunaíma ambiguidades foram tratadas de forma irreverente e irônica
é representativo do senso crítico dos autores do Moder- por Oswald de Andrade, que se apresentava como um autor
nismo, que rompeu com a idealização romântica do Brasil. ousado e de pensamento liberal.

148 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 10 Heróis do Modernismo no Brasil

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estrutura rejeitada pelo eu lírico, cuja postura radical inverte

Reprodução
as relações de poder.

As inovações estilísticas da prosa modernista

Reprodução
Capa da obra Pau Brasil, de Oswald de Andrade, com ilustração feita por
Tarsila do Amaral.

A velocidade e o dinamismo do século XX, vistos na


arte vanguardista como um reconhecimento do progres-
Capa do livro Memórias Sentimentais de João Miramar, 1924, de Oswald de
so, foram adotados nos textos de Oswald de Andrade por Andrade. Coleção Guita e José Mindlin (São Paulo, SP).
influência do Futurismo. Porém, foram feitas algumas res-
salvas quanto ao radicalismo do movimento, liderado por Em sua obra Memórias sentimentais de João Miramar,
Filippo Marinetti, visto que os modernistas brasileiros abra- publicada em 1924, as inovações estilísticas buscaram
çaram a ideia futurista como oposição ao passadismo contra romper com os limites entre prosa e poesia. As imagens
o qual lutavam. fragmentadas e sintéticas dispostas capítulo a capítulo alu-
A ordem direta das orações e a ruptura com a pon- dem a cenas cinematográficas.
tuação evitam as pausas na leitura e compõem um ritmo 60. Namoro
que alude à fala, aspiração dos modernistas que buscavam
aproximar a poesia da linguagem coloquial, além de evi- Vinham motivos como gafanhotos para eu e Célia comer-
denciar as variedades linguísticas. mos amoras em moitas de bocas.
Requeijões fartavam mesas de sequilhos.
Oswald de Andrade defendia a reinvenção da cultura
Destinos calmos como vacas quietavam nos campos de sol
mediante à máxima “ver com os olhos livres”. Tratava-se de
parado. A vida ia lenta como poentes e queimadas.
uma proposta primitivista, em que a colonização do Brasil
Um matinal arranjo desenvolto de ligas morenava coxas
pudesse ser revisitada com o intuito de se reverter o modo
e cachos.
de encarar o processo cultural de violência imposto no país
e ainda presente nos textos literários. Em alguns dos seus 62. Comprometimento
poemas-piada, como “Erro de português”, “brasil” e “Vício O Forde levou-nos para igreja e notário entre matos der-
na fala”, podemos verificar o tom cômico e analítico acerca rubados e a vasta promessa das primeiras culturas.
da formação cultural brasileira. Jogaram-nos flores como bênçãos e sinos tilintintaram.
Em “A História do Brasil”, por exemplo, Oswald de A lua substituiu o sol na guarita do mundo mas o dia
Andrade cria intertextualidade com a Carta, de Pero Vaz continuou tendo havido entre nós apenas uma separação pre-
de Caminha, por meio da paródia ao inverter o significado cavida de bens.
do texto original. O trecho retomado de Carta, “E houvemos
75. Natal
vista de terra”, reporta à invasão das terras no processo de
Minha sogra ficou avó.
expansão territorial ocorrido nos séculos XV e XVI. A inter-
ANDRADE, Owald de. Obras completas. Rio de Janeiro: Civilização
pretação de Oswald desmascarou a malícia do europeu, Brasileira, 1975. v. 2. p. 39-48. Disponível em: https://monoskop.org/
abordando o olhar do outro sobre o corpo nu das indígenas. images/6/62/Oswald-de-andrade-Obras_Completas-vol2.pdf.
Acesso em: 6 dez. 2023.
A plurissignificação do texto do poeta é marcada pela ironia,
elemento primordial para a inversão de significado sobre a Nos capítulos transcritos, percebemos como o narrador-
FRENTE 2

problemática da colonização. -personagem, João Miramar, dá saltos na narrativa em


Oswald também faz uso da paródia no poema “senhor episódios que parecem quadros cinematográficos. A nar-
feudal”. No texto, há um embate entre o antigo e o novo, rativa contém 163 capítulos curtos, numerados e intitulados,
apresentado ao leitor de forma sintética, buscando dessa- os quais variam entre diversos gêneros, como carta, relato,
cralizar os elementos cristalizados da poesia, como métrica poema, entre outros que abarcavam a infância do perso-
e rima. O uso da paródia foi a ruptura com os discursos ins- nagem, viagem à Europa, casamento, divórcio e outras
titucionalizados, pela referência às relações de vassalagem, memórias acionadas de forma fragmentada.

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O Rei da Vela: o teatro crítico às elites Manuel Bandeira (1886-1968)
brasileiras

Historic Collection/Alamy/Fotoarena
Folhapress/Folhapress

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho nasceu e


passou parte de sua infância no Recife, tendo se mudado
com a família para o Rio de Janeiro e, mais tarde, para São
O Rei da Vela, 1967. Paulo, onde se matriculou na Escola Politécnica. Bandeira
tinha uma afeição muito significativa pela sua infância e
A peça teatral O Rei da Vela, escrita em 1933, é consi- pelos acontecimentos ocorridos em Recife, que foram
derada a primeira obra modernista do gênero dramático no marcados na sua produção poética e afirmados em seu
Brasil e foi encenada apenas em 1967, pelo Teatro Oficina, livro Itinerário de Pasárgada, de 1954, em que retorna ao
sob a direção de José Celso Martinez Corrêa (1937-2023). passado em busca do tempo perdido.
Trata-se de uma peça de teor crítico sobre a decadência O poeta iniciou a vida literária arcando com as custas
dos latifundiários no contexto da crise da Bolsa de Valores da primeira obra, A Cinza das Horas, publicada em 1917 no
em 1929, em que foram evidenciadas as fragilidades das Jornal do Comércio e que apresentou aspecto melancólico
relações familiares e da propriedade. e reflexivo, além de preocupação com a forma poética
Oswald não inseriu na peça elementos de inovação muitas vezes marcada pela métrica e pelas rimas que dão
formal; no entanto, a montagem de cenário e os figurinos um tom musical ao livro. A melancolia foi recorrente em
chocaram o público em sua primeira encenação, trinta anos poemas de Bandeira, associada à tuberculose, doença
após ter sido escrita. O personagem central, Abelardo I, que acompanhou a vida do poeta. A angústia pela morte
surge em cena com chicote e revólver à cintura, enquanto iminente, a qual, no entanto, chegou apenas aos 82 anos,
os clientes se encontram em uma jaula. está impressa em temas como a efemeridade da vida, a
A crítica direcionada à sociedade brasileira e às suas felicidade da infância distante e a solidão.
estruturas falhas rompeu com o idealismo romântico das
peças elaboradas até então. Abelardo I, agiota e proprie-
tário de uma fábrica de velas, casa-se com a filha de uma Reprodução

família da aristocracia decadente do interior de São Paulo,


Heloísa de Lesbos, e enriquece emprestando dinheiro a
fazendeiros decadentes. A metáfora está na vela como
símbolo de morte e da exploração e violência praticada
contra a população, que não tinha dinheiro nem mesmo
para pagar a conta de luz.

Atenção
No Modernismo, o Movimento Antropófago, criado por
Oswald de Andrade, propunha a “deglutição” da cultura
estrangeira para integrá-la à nacional. Na peça O rei da
vela, Oswald causou estranhamento, intensificado com
a montagem realizada pelo Teatro Oficina de São Paulo.
Capa da obra Alumbramentos.
O resultado teve grandes proporções, o que acabou in-
fluenciando, por exemplo, o cantor Caetano Veloso, que Bandeira teve suas obras ilustradas por diversos artistas
inspirado pelas apresentações compôs uma canção incluí- motivados a dar forma a seus principais temas, como Mar-
da na peça. Posteriormente, o artista utilizou um cenário da
cel Gromaire e Fayga Ostrower. Em 1960, a editora baiana
peça, o picadeiro de um circo, como capa do seu álbum
Dinamene publicou em edição de luxo uma coletânea de
Estrangeiro. O desdobramento do movimento antropofá-
gico teve relativa importância na criação do Tropicalismo, poemas de amor sob o título Alumbramentos. O tema
movimento cultural de destaque na música da década amoroso presente em “Toante”, “Teresa” e “Namorados” di-
de 1960. recionam-se de forma admirada à figura feminina; a morte
também é um dos temas recorrentes na poética de Bandeira.

150 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 10 Heróis do Modernismo no Brasil

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A poética da ausência
Ao adoecer do pulmão com dezoito anos de idade, Manuel Bandeira abandonou os estudos e iniciou uma jornada
em busca da melhoria da saúde. Em 1913, embarcou para a Suíça com o intuito de se tratar no Sanatório de Clavadel e
precisou retornar ao Brasil durante a Primeira Guerra Mundial. Desde então, enfrentou uma série de perdas em sua família,
as mortes da mãe, da irmã, do pai e do irmão, ficando sem a família próxima aos 36 anos de idade. A ausência, tão marcada
em sua obra, foi um infortúnio que o acompanhou ao longo da vida.
A infância, tempo marcado por felicidade, e o passado em Recife na companhia de Rosa, a babá negra que lhe contava
histórias, estão em diversos poemas de Bandeira, como “Porquinho-da-Índia”, em que há a imagem da primeira desilusão
amorosa; “Evocação do Recife”, onde o menino praticava travessuras, quebrando vidraças e brincando de chicote-quei-
mado e “Vou-me embora pra Pasárgada”, poema simbólico, em que o espaço idealizado de uma cidade antiga da Pérsia
se torna o paraíso perdido, o refúgio de suas mais profundas tristezas.

Saiba mais
Pasárgada foi o espaço fictício de fuga de Manuel Bandeira, registrado no poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, verso
que se tornou conhecido pelo público. O poeta afirmou em seu livro Itinerário de Pasárgada que tomou conhecimento da
pequena cidade, localizada na região montanhosa da Pérsia, durante as aulas de grego, quando ainda era muito jovem. Nesse
momento, o espaço ganhou forma na imaginação do menino, sendo marcada em seus poemas apenas décadas mais tarde.
A imagem do passado apresenta ao leitor de Bandeira uma questão relevante para compreender sua poesia, a experiência
com o tempo. Para o poeta, o tempo é mais uma concepção ritualística do que histórica, uma vez que foi através do passado
infantil que a experiência lírica foi acessada. A melancolia de um tempo que não volta é ativada pela ausência em favor de
um eterno retorno.
ivanadb/iStockphoto.com

Leonid Andronov/Shutterstock.com
Placa indicativa de Pasárgada, Irã. Imagem de Pasárgada, Irã.

Ler a poesia de Manuel Bandeira impõe ao leitor encarar o tema da morte presente em “Inscrição”, “A Dama Branca”,
“Noite Morta”, “Profundamente”, “Momento num Café”, “A Morte Absoluta”, “Consoada”, entre outros poemas que discor-
rem liricamente sobre a finitude, o que nos permite afirmar uma ligação entre os elementos poéticos e a própria vida do
autor. Em “Pneumotórax”, há uma gradação, em que o eu lírico é atendido em exame médico, após descrever os sintomas
comuns da tuberculose: dispneia, febre e hemoptise. O diagnóstico irônico flerta com a morte, dada a impossibilidade de
cura. A morte, portanto, é aguardada e personificada no campo da poesia em uma vida que poderia ter sido vivida, mas
“ficou na sala de espera”.

A poesia da simplicidade e do sublime


Reprodução

Manuel Bandeira foi um poeta capaz de perceber o sublime e o divino por meio do coti-
diano e da simplicidade. Embora tenha sido discípulo da poesia parnasiana, rompeu com as
convenções da forma, sintetizando o espírito revolucionário modernista no livro Libertinagem,
publicado em 1930. Os versos livres e o coloquialismo foram usados para tratar temas triviais,
como notamos em “Não sei dançar”, em que o eu lírico toma a alegria pelos olhos ao observar
as pessoas que se divertem no salão no baile de Carnaval. O “Poema tirado de uma notícia
FRENTE 2

de jornal”, em que a enumeração das ações de um personagem que bebe, canta e dança e
comete suicídio, remete ao texto jornalístico de linguagem referencial.
O sublime oculto na obra de Bandeira requer um leitor atencioso para perceber as suti-
lezas textuais, em que o complexo se encontra contido no simples. O quadro de uma maçã
observado sobre a mesa de um quarto de hotel revela o sublime ato cíclico da vida que
“prodigiosa” se reproduz “infinitamente”, palpitando em pequenas sementes ocultas na fruta. Capa do livro Libertinagem, de
Essa “coisa viva e pulsante” se revela por trás do quadro, enquanto a ambivalência vida-morte Manuel Bandeira.

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reside na seleção vocabular, “murcho” e “placentário”, “vermelho” erotizado e “divino” mítico. A grandeza da vida se oculta
na maçã, que se oferta à morte em um quarto simples de hotel. Estruturalmente, o termo “vida” se encontra no centro do
poema, como um coração que pulsa, mas ninguém vê.
A iluminação da existência simples e sem espanto é o “alumbramento” ao qual Bandeira se referiu ao afirmar em seus
relatos sobre uma emoção intensa e espiritual vinda de forma momentânea, como se fosse um ato de iluminação.
Na minha experiência pessoal fui verificando que o meu esforço consciente só resultava em insatisfação, ao passo que o que
me saía do subconsciente, numa espécie de transe ou alumbramento, tinha ao menos a virtude de me deixar aliviado de minhas
angústias. Longe de me sentir humilhado, rejubilava como se de repente me tivessem posto em estado de graça.
BANDEIRA, Manuel. Itinerário de Pasárgada. In: Seleta de prosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

Essa experiência de transcendência que alimentou a poética de Bandeira associou-se a uma fixação de momentos
de vida experimentados e que apresentaram distanciamento temporal do ato vivido. Não só a infância, mas o amor surgia
como uma possibilidade de alumbramento. A ausência daquilo sobre o que se fala, como cenas do passado, possibilitou
a reconstrução das cenas de figuras humanas perdidas no tempo. A realidade não captou o sentido desses elementos,
mas a realidade poética foi capaz de traduzir e alcançar o inapreensível.
No poema “Teresa”, a figura feminina é vista de forma fragmentada, em momentos distintos da vida do eu lírico, e deflagra
a transcendência, já que a morte física é superada pela imagem poética que eleva a mulher ao campo das ideias.

Estabelecendo relações
Relações intertextuais entre a Carta de Pero Vaz de Caminha e algumas poesias de
poetas modernistas
Em [...] Oswald de Andrade, é possível encontrar um diálogo entre sua poesia e o relato de viagem de Caminha.
[...]
Se na Carta, predominava o aspecto informativo, na retomada poética que Oswald faz dela, surgem novos sentidos,
ressaltando a mulher como objeto de desejo, fato que está implícito no relato de Caminha e explícito no poema “As meninas
da gare”. Geralmente, nos grandes centros, próximos às estações, nas grandes cidades, nas primeiras décadas do século XX,
era bastante comum a existência de prostíbulos, nos quais as mulheres ofereciam seus favores sexuais em troca de dinheiro.
Nesse sentido, o poeta modernista revela o processo de coisificação que já aparecia veladamente no texto de Caminha, que
enxergava somente as vantagens, as riquezas, que poderiam ser obtidas nas terras descobertas. Oswald oferece uma visão
crítica das relações entre colonizador e colonizado, ressaltando aspectos negativos, que se mantinham camuflados no olhar
do cronista, que parece deslumbrado com tudo o que vê, mas que o tempo todo busca sinais da existência de ouro e metais
preciosos, não esquecendo jamais de exaltar a docilidade dos indígenas, presas fáceis de serem dominadas e subjugadas,
como de fato aconteceu no período colonial.
LIMA, André Luis Batista de. Relações intertextuais entre a Carta de Pero Vaz de Caminha e algumas poesias de poetas modernistas. Revista Ícone,
v. 18, n. 2, 2018. p. 169-171. Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/icone/article/view/6967. Acesso em: 4 dez. 2023.

Revisando
<id>001598_por_f2_c10_q0001</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. Considere seus conhecimentos sobre a poética de Manuel Bandeira e o texto de Yudith Rosembaum para responder
à questão.
[...] a infância aparece na fala mesma da criança, fazendo soar pela voz lírica um eu infantil. Evoca-se a infância sem
explicação direta da falta através de um tom nostálgico, mas o ausente acaba por reviver na brincadeira de uma trova, de
uma cantiga, de uma música, que recriam a atmosfera encantatória, infantil. Muitas vezes, a memória da infância aparece
pela recriação humorística de cenas especiais, completamente despojadas de adornos encobridores da emoção principal.
É o caso de “Porquinho da Índia” (Libertinagem). Em ambos, a criança é recuperada pela graça e inocência da linguagem.
ROSENBAUM, Yudith. Manuel Bandeira: Uma poesia da Ausência. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002. p. 53.

A presença constante da infância nos poemas de Manuel Bandeira apresenta uma atmosfera romântica de saudosis-
mo. Explique a razão dessa recorrência.
<id>001598_por_f2_c10_q0002</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

2. Unesp 2019 Leia o poema “Pobre alimária”, de Oswald de Andrade, publicado originalmente em 1925.
O cavalo e a carroça E o animal disparou
Estavam atravancados no trilho Mas o lesto carroceiro
E como o motorneiro se impacientasse Trepou na boleia
Porque levava os advogados para os escritórios E castigou o fugitivo atrelado
Desatravancaram o veículo Com um grandioso chicote
(Pau-Brasil, 1990.)

152 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 10 Heróis do Modernismo no Brasil

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Considerando o momento de sua produção, o poema de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do
a) celebra a persistência das tradições rurais brasi- banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água
leiras, que inviabilizaram o avanço do processo lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais
de industrialização de São Paulo. de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.
b) valoriza a variedade e a eficácia dos meios de Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na mar-
transporte, que contribuíam para impulsionar a ca do pezão do Sumé. Porém a água já estava muito suja
economia brasileira. da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito
c) critica a recorrência das práticas de exploração maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar
da cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou:
e maus-tratos aos animais nos principais centros
— Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém
urbanos brasileiros.
pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.
d) registra uma rápida cena urbana, que expõe
ANDRADE, Mário de. Macunaíma. Disponível em: https://www.
tensões e ambiguidades no processo de moder- castroweb.com.br/castrodigital/Arquivos2020/CastroDigital_livro_
nização da cidade de São Paulo. Macunaima_Mario_de_Andrade.pdf. Acesso em: 5 dez. 2023.
<id>001598_por_f2_c10_q0006</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>

e) exemplifica o choque social constante entre as </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c10_t0003</assets>

6. De acordo com o trecho, explique por que a obra de


elites enriquecidas e a população pobre da cidade
Mário de Andrade é considerada uma rapsódia.
de São Paulo. <id>001598_por_f2_c10_q0007</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c10_t0003</assets>
<id>001598_por_f2_c10_q0003</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f2_c10_t0003</assets>
7. De acordo com o aspecto cultural discutido na ques-
3. Retome o texto “Pobre alimária” e explique qual é o
tão anterior, explique por que o protagonista da obra
efeito de sentido provocado pelo título desse poema
Macunaíma é chamado de “herói sem nenhum cará-
de Oswald de Andrade.
ter”. Associe a resposta à proposta modernista.
<id>001598_por_f2_c10_q0008</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
Leia o poema a seguir de Mário de Andrade para res- </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

ponder às questões 4 e 5. 8. Observe a capa do livro Pauliceia desvairada, de


<assets>001598_por_f2_c10_t0002</assets> Mário de Andrade, e leia a canção de Noel Rosa, com-
Mas a taba cresceu... Tigueras agressivas, posta em 1935.
Para trás! Agora o asfalto anda em Tabatinguera.

Reprodução
Mal se esgueira um pajé entre locomotivas
E o forde assusta os manes lentos do Anhanguera.
[...]
Segue pra forca da Tabatinguera. Lento
O cortejo acompanha a rubra cadeirinha
Pro Ipiranga. Será que em tão pequeno assento
A marquesa botou sua imperial bundinha!...
ANDRADE, Mário de. Tabatinguera. In: Poesias completas. v. 1.
São Paulo: Martins Fontes, 1979.

tigueras: área plantada onde já se fez a colheita.


manes: alma dos mortos, restos mortais.
<id>001598_por_f2_c10_q0004</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c10_t0002</assets>

4. A partir da leitura do poema, explique como o avanço


da expansão urbana de São Paulo se relaciona com o
espaço indígena. Capa do livro Pauliceia desvairada.
<id>001598_por_f2_c10_q0005</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c10_t0002</assets>

5. Indique um verso do poema de Mário de Andrade que Pierrot apaixonado


apresente a irreverência e a crítica típicas da postura
Um pierrô apaixonado
modernista.
Que vivia só cantando
Leia o trecho de Macunaíma, de Mário de Andrade, Por causa de uma colombina
para responder às questões 6 e 7. Acabou chorando, acabou chorando
<assets>001598_por_f2_c10_t0003</assets>

Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escami- A colombina entrou num butiquim
nha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho. Bebeu, bebeu, saiu assim, assim
Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão
vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um Dizendo: pierrô cacete
naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora
FRENTE 2

Vai tomar sorvete com o arlequim


d’água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa
lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova Um grande amor tem sempre um triste fim
era que-nem a marca dum pé-gigante. Abicaram. O herói Com o pierrô aconteceu assim
depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou Levando esse grande chute
na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada Foi tomar vermute com amendoim
porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Canção de Noel Rosa. Disponível em: https://www.letras.mus.br/
Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho noel-rosa-musicas/125758/. Acesso em: 5 dez. 2023.

153

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Pesquise sobre a representação simbólica dos personagens na Commedia dell’Arte e explique a oposição estabele-
cida entre Arlequim e Pierrot diante da recusa de Colombina vista na canção.
<id>001598_por_f2_c10_q0010</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

9. Pesquise os poemas que homenageiam a cidade de São Paulo presentes no livro Pauliceia desvairada, de Mário
de Andrade. Em grupo com seus colegas, selecionem dois poemas para serem reescritos a partir da relação afetiva
que vocês têm com a sua cidade. Façam um painel ou um varal para expor os poemas.

Exercícios propostos
<id>001598_por_f2_c10_q0011</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. Unicamp-SP 2021 até hoje do movimento que chamam de “modernismo”.


Foi ela que nos permitiu a intuição de que carecemos, sob
Texto 1
pena de morte, de procurar uma arte de expressão nacional.
antipoema HOLANDA, Sérgio Buarque de. O lado oposto e outros lados, 1926.
é preciso rasurar o cânone
distorcer as regras II. Trazendo de países distantes nossas formas de con-
as rimas vívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em
as métricas manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável
e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra.
o padrão
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil, 1936.
a norma que prende a língua
os milionários que se beneficiam do nosso silêncio Os dois excertos do historiador e crítico literário Sérgio
Buarque de Holanda salientam que a cultura brasileira
do medo de se dizer poeta, somente completará a sua formação quando
só assim será livre a palavra.
a) souber reproduzir fielmente os modelos externos.
(Ma Njanu é idealizadora do “Clube de Leitoras” na periferia de
Fortaleza e da “Pretarau, Sarau das Pretas”, coletivo de artistas negras. b) importar uma estética à altura da sua genialidade.
Disponível em: http://recantodasletras.com.br/poesias/6903974. c) abolir a necessidade de figurar o caráter nacional.
Acessado em 20/05/2020.)
d) deixar a posição de colônia e se tornar metrópole.
Texto 2
e) firmar, na arte e na vida social, a sua autenticidade.
O povo não é estúpido quando diz “vou na escola”, <id>001598_por_f2_c10_q0013</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

“me deixe”, “carneirada”, “mapear”, “farra”, “vagão”, “fu- 3. Unisc-RS 2017 Leia atentamente o trecho de Macu-
tebol”. É antes inteligentíssimo nessa aparente ignorância naíma, de Mário de Andrade.
porque, sofrendo as influências da terra, do clima, das
ligações e contatos com outras raças, das necessidades do No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói
momento e de adaptação, e da pronúncia, do caráter, da de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite.
psicologia racial, modifica aos poucos uma língua que já Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escu-
não lhe serve de expressão porque não expressa ou sofre tando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas
essas influências e a transformará afinal numa outra língua pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de
que se adapta a essas influências. Macunaíma.
(Carta de Mário a Drummond, 18 de fevereiro de 1925, em Lélia Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro
Coelho Frota, Carlos e Mário: correspondência completa entre Carlos
Drummond de Andrade e Mário de Andrade. Rio de Janeiro:
passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a
Bem-Te-Vi, 2002, p. 101.) falar exclamava:
— Ai! que preguiça!...
Apesar de passados quase 100 anos, a carta de Mário
e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca,
de Andrade ecoa no poema de Ma Njanu. Ambos os
trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos ou-
textos manifestam
tros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape
a) a ignorância ratificada do povo em sua luta para
já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento
se expressar.
dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si
b) a necessidade de diversificar a língua segundo
punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra
outros costumes.
ganhar vintém. E também espertava quando a família ia
c) a inteligência do povo e dos poetas livres de in-
tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo
fluências.
do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gri-
d) a ingenuidade em se crer na possibilidade de es-
tos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando
capar às regras.
<id>001598_por_f2_c10_q0012</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
a água-doce por lá. No mucambo si alguma cunhatã se
2. Fuvest-SP 2023 aproximava dele pra fazer festinha. Macunaíma punha a
mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos
I. É indispensável romper com todas as diplomacias guspia na cara. Porém respeitava os velhos e frequentava
nocivas, mandar pro diabo qualquer forma de hipocrisia, com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a
suprimir as políticas literárias e conquistar uma profunda cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.
sinceridade pra com os outros e pra consigo mesmo. A (ANDRADE, Mario de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter.
convicção dessa urgência foi pra mim a melhor conquista Belo Horizonte: Itatiaia, 1987. p. 9)

154 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 10 Heróis do Modernismo no Brasil

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A partir da interpretação do trecho anterior, assinale a c) a crítica social às novas classes de trabalhadores
alternativa correta. que se formavam em São Paulo.
a) Macunaíma é um típico herói idealizado do Ro- d) o tumulto da cidade que se mistura com os an-
mantismo. seios de um sujeito lírico agitado e integrado ao
b) Observa-se, no trecho, que o comportamento da meio.
personagem está em sintonia com o ambiente em e) a organização e a consolidação de ideias inova-
que vive, sendo, por esse motivo, um romance tí- doras que surgiram na primeira fase modernista.
<id>001598_por_f2_c10_q0016</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
pico do Naturalismo. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

c) O trecho apresenta a inovação em termos de 6. Enem


linguagem que caracteriza as obras literárias da O canto do guerreiro
primeira geração do Modernismo. Aqui na floresta Valente na guerra,
d) O texto apresenta as características que marcam Dos ventos batida, Quem há, como eu sou?
o regionalismo crítico da prosa da segunda gera- Façanhas de bravos Quem vibra o tacape
ção do Modernismo. Não geram escravos, Com mais valentia?
e) O aprofundamento psicológico da personagem Que estimem a vida Quem golpes daria
permite afirmar que se trata de um romance da Sem guerra e lidar. Fatais, como eu dou?
terceira geração do Modernismo brasileiro. — Ouvi-me, Guerreiros, — Guerreiros, ouvi-me;
<id>001598_por_f2_c10_q0014</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
— Ouvi meu cantar. — Quem há, como eu sou?
4. Leia o texto a seguir.
Gonçalves Dias.
Uma análise pouco mais atenta do livro mostra que ele
foi construído a partir da combinação de uma infinidade de Macunaíma
textos preexistentes, elaborados pela tradição oral ou escrita, (Epílogo)
popular ou erudita, europeia ou brasileira. A originalidade Acabou-se a história e morreu a vitória.
estrutural de Macunaíma deriva, deste modo, do livro não Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na
se basear na mímesis, isto é, na dependência constante que tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em
a arte estabelece entre o mundo objetivo e a ficção; mas um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles
em ligar-se quase sempre a outros mundos imaginários, a campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos,
sistemas fechados de sinais, já regidos por significação autô- aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto...
noma. Este processo, parasitário na aparência, é no entanto Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera.
curiosamente inventivo; pois, em vez de recortar com neu- Nenhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da
tralidade nos entrechos originais as partes de que necessita tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia
saber do Herói?
para reagrupá-las, intactas, numa ordem nova, atua quase
Mário de Andrade.
sempre sobre cada fragmento, alterando-o em profundidade.
SOUZA, Gilda de Mello e. O tupi e o alaúde. São Paulo:
A leitura comparativa dos dois textos indica que
Editora 34, 2003. p. 10. a) ambos têm como tema a figura do indígena bra-
sileiro apresentada de forma realista e heroica,
Macunaíma, obra de Mário de Andrade referenciada
como símbolo máximo do nacionalismo romântico.
no trecho, é classificada como uma rapsódia. Pesqui-
b) a abordagem da temática adotada no texto es-
se o significado desse termo e associe-o à explicação
crito em versos é discriminatória em relação aos
de Gilda de Mello e Souza.
<id>001598_por_f2_c10_q0015</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
povos indígenas do Brasil.
5. O trecho a seguir foi extraído do “Prefácio interessan- c) as perguntas “– Quem há, como eu sou?” (1o texto)
tíssimo”, de Pauliceia desvairada (1922), escrito por e “Quem podia saber do Herói?” (2o texto) ex-
Mário de Andrade: pressam diferentes visões da realidade indígena
brasileira.
Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar
d) o texto romântico, assim como o modernista, aborda
tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: não
o extermínio dos povos indígenas como resultado
só para corrigir, como para justificar o que escrevi. D’aí a
do processo de colonização no Brasil.
razão deste “Prefácio interessantíssimo”.
e) os versos em primeira pessoa revelam que os in-
ANDRADE, Mário de. Pauliceia desvairada. São Paulo:
Projeto Livro Verde, 2016. dígenas podiam expressar-se poeticamente, mas
foram silenciados pela colonização, como demons­
O livro do escritor paulista é um marco na vida do tra a presença do narrador, no segundo texto.
autor e no Modernismo brasileiro. O prefácio citado <id>002447_por_f2_c10_q0001</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

anteriormente é uma espécie de conjunto de bases 7. Ufam 2022 Maria Augusta Fonseca, professora da
FRENTE 2

estéticas que proclamam o rompimento com as estru- USP, em artigo sobre o Modernismo, diz: “Gilda de
turas do passado. A característica que está presente Mello e Souza, autora de uma análise interpretativa
em Pauliceia desvairada é de Macunaíma, afirma que a obra é sumo da incom-
a) a experiência externa de confusão e desordem pletude de nossa formação. A história vazada numa
que não altera a percepção subjetiva do sujeito. ‘fala impura’, permeada de ambiguidades, misto de
b) a constante definição de uma identidade nacional arcaico e moderno, resume na demanda da pedra má-
aos moldes do padrão artístico europeu. gica a metáfora da busca de uma identidade perdida.

155

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Esperança vã de reconquista, dado o impasse criado particularmente às propostas do Manifesto Pau-
pelo herói ao rejeitar sua própria cultura” (FONSECA, -Brasil, de Oswald de Andrade.
2022, p. 547 a 579). Constrói imagens incompatíveis com os ideais
Sobre a fala da pesquisadora acerca do livro Macunaí- de progresso e civilização, trazidos pelas van-
ma, afirma-se: guardas europeias, inspiradoras do Modernismo
I. A busca pela muiraquitã representaria a tentativa brasileiro.
do herói de reencontrar uma identidade que não Reforça os elementos naturais da paisagem, re-
existe, uma vez que, ao sair do Amazonas, deixar metendo à “cor local”, tal como o nacionalismo
a consciência na ilha de Marapatá, embranque- presente em José de Alencar e Gonçalves Dias.
cer-se na água da pegada do santo, tentar viver Descreve a exuberância da natureza tropical,
como um paulistano, Macunaíma teria abdicado apropriando-se de maneira paródica dos discur-
da sua cultura e de sua identidade. sos dos primeiros cronistas, que alardeavam as
II. Quando a estudiosa menciona ‘fala impura’, ‘misto belezas naturais das terras recém-descobertas.
de arcaico e moderno’ está se referindo à lingua- A sequência correta de preenchimento é
gem da obra, considerando principalmente a a) F – V – F – F.
Carta pras Icamiabas. b) V – F – F – V.
III. A ‘incompletude de nossa formação’, pela perspec- c) V – F – V – V.
tiva da pesquisadora, no livro de Mário de Andrade, d) F – F – V – F.
pode ser contestada, afinal, no livro, o herói tem e) V – V – F – V.
<id>001598_por_f2_c10_q0021</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
seu “pretume” lavado pela água do ‘pezão do </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Sumé’, marcando em si a formação e a identidade 10. Mackenzie-SP 2018


nacional: como indígena da tribo dos Tapanhumas, 3 de Maio
negro, sai do banho ‘branco louro e de olhos azui- Oswald de Andrade
zinhos’, sintetizando a formação do povo brasileiro.
Aprendi com meu filho de dez anos
Assinale a alternativa CORRETA: Que a poesia é descoberta
a) Somente a afirmativa I é verdadeira. Das coisas que eu nunca vi
b) Somente a afirmativa II é verdadeira.
c) Somente a afirmativa III é verdadeira. Assinale a alternativa correta sobre a vida e a obra do
d) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras. poeta Oswald de Andrade (1890-1954).
e) Todas as afirmativas são verdadeiras. a) Dedicou-se exclusivamente à feitura de poemas
<id>001598_por_f2_c10_q0019</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> líricos ao longo de sua extensa obra literária.
8. Leia o trecho a seguir e responda: Como podemos en- b) A paródia é um recurso usado em sua poesia,
tender a expressão “arlequinal”, de Mário de Andrade? como atesta o poema “Canto do regresso à pátria”.
São Paulo! comoção de minha vida... c) Aderiu tardiamente ao movimento modernista por
Os meus amores são flores feitas de original... ter se assumido como seguidor das ressalvas ao
Arlequinal!... Traje de losangos... Cinza e ouro... modernismo formuladas por Monteiro Lobato.
Luz e bruma... Forno e inverno morno... d) Escreveu os seguintes romances de realismo so-
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes... cial engajado: O Quinze e Vidas secas.
Perfumes de Paris... Arys! e) Demonstrou em sua poesia um desinteresse pela
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!... nossa cultura e pelo português brasileiro, prefe-
ANDRADE, Mário de. “Inspiração“. In: Poesias completas. rindo emular fielmente as vanguardas francesas.
São Paulo: Edusp, 1987. p. 83. <id>001598_por_f2_c10_q0022</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
<id>001598_por_f2_c10_q0020</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
11. PUC-Campinas 2017 Para responder à questão, con-
9. UFRGS 2020 Considere o poema abaixo, de Oswald sidere o texto a seguir.
de Andrade, do livro Pau-Brasil, de 1925.
Os modernistas de São Paulo, em especial Menotti
Riquezas Naturais del Picchia e Oswald de Andrade, usavam habitualmente
Muitos metaes pepinos romans e figos o termo “futurismo”, mas o faziam em sentido elástico,
De muitas castas para designar as propostas mais ou menos renovadoras
Cidras limões e laranjas que se opunham às receitas “passadistas” e “acadêmi-
Uma infinidade cas”. A polarização futurismo 3 passadismo servia como
Muitas cannas daçucre tática retórica eficaz – mas também simplificadora. Esse
Infinito algodam aspecto do discurso modernista, que se apresentava como
Também há muito paobrasil ruptura com o “velho”, acabava por atirar na lata do
lixo do “passadismo” manifestações variadas, às quais,
Nestas capitanias diga-se, não raro os próprios “novos” estavam atados.
Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes GONÇALVES, Marcos. Augusto. 1922 – A semana que não terminou.
São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 20.
afirmações sobre o poema.
Insere-se no contexto do primitivismo das van- O modernista Oswald de Andrade chegou a dizer que
guardas do Modernismo brasileiro, remetendo somos todos futuristas porque somamos um povo de

156 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 10 Heróis do Modernismo no Brasil

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mil origens, arribado em mil barcos, com desastres e Um dos principais traços da poesia modernista é a
ânsias, aludindo assim tentativa de unir arte e vida, incorporando o cotidia-
a) aos gêneros literários que deveriam ser frequen- no à esfera da arte, deslocando a arte de seu lugar
tados. “sagrado” (intocável) e miscigenando temas conside-
b) à diversidade da nossa composição histórica, ét- rados “elevados” e “abstratos” à concretude da vida
nica e cultural. comum. Explique de que modo isso ocorre no texto.
<id>001598_por_f2_c10_q0025</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
c) às diversas facções em que se dividiam os mo- </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

dernistas. 14. UFU-MG Em vários capítulos de Memórias sentimen-


d) à força da aristocracia na condução de nossas tais de João Miramar, Oswald de Andrade apresenta
manifestações artísticas. a paisagem urbana e caótica, bem como a diversida-
e) às formas de atuação a que estavam presos os de da população.
artistas conservadores. Higienópolis fervilhou iluminações passos no jardim
<id>001598_por_f2_c10_q0023</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
idas à rua de crianças com jogos.
12. Enem O irmão de José Chelinini interveio esgalgo almofa-
dinha impávido com sobriquete de Periquito e furtados
cigarros. Back batuta de campeonatos sapecava shoots
no muro longe do quintal, tratando de canjas a mim e ao
conde, interventores estabanados.
Os pais vieram si sinhore lembrando nos olhos praias
satisfeitas de golfos humildes de Itália.
E gaffes jantaram vinhos finos.
ANDRADE, Oswald de. Memórias sentimentais de João Miramar.

esgalgo: magro.
sobriquete: apelido.

a) Com base no comentário anterior, redija um texto


explicando o espaço urbano em que se desenro-
la este fragmento da narrativa.
b) Identifique, nos estrangeirismos presentes no tex-
to, três influências culturais que se mesclaram à
cultura brasileira no início do século XX.
<id>001598_por_f2_c10_q0027</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

15. Unesp 2015 Em 1924, uma caravana formada por


MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA. Oswald de Andrade: o culpado Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do
de tudo. 27 set. 2011 a 29 jan. 2012. São Paulo: Prol Gráfica, 2012. Amaral e o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, entre
outros, percorreu as cidades históricas mineiras e aca-
O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de
bou entrando para os anais do Modernismo.
que a brasilidade está relacionada ao futebol. Quanto
O movimento deflagrado em 1922 estava se reconfigurando.
à questão da identidade nacional, as anotações em (MARQUES, Ivan. “Trem da modernidade”. Revista de História da
torno dos versos constituem Biblioteca Nacional, fev. 2012. Adapt.)
a) direcionamentos possíveis para uma leitura crítica Entre as características da “reconfiguração” do Mo-
de dados histórico-culturais. dernismo, citada no texto, podemos incluir
b) forma clássica da construção poética brasileira. a) a politização do movimento, o resgate de princí-
c) rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol. pios estéticos do parnasianismo e o indigenismo.
d) intervenções de um leitor estrangeiro no exercí- b) a retomada da tradição simbolista, a defesa da
cio de leitura poética. internacionalização da arte brasileira e a valoriza-
e) lembretes de palavras tipicamente brasileiras ção das tradições orais.
substitutivas das originais. c) a incorporação da estética surrealista, o apoio ao
<id>002447_por_f2_c10_q0002</id><tipo>discursiva</tipo><assunto></assunto><bncc></bncc><enem></enem>

13. UFJF-MG 2022 movimento tenentista e a defesa do verso livre.


d) a defesa do socialismo, a crítica ao barroco brasi-
Balada do Esplanada (trecho) leiro e a revalorização do mundo rural.
Oswald de Andrade e) a maior nacionalização do movimento, o declínio
FRENTE 2

Há poesia da influência futurista e o aumento da preocupa-


Na dor ção primitivista.
<id>001598_por_f2_c10_q0028</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
Na flor </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

16. UFRGS 2015 No primeiro bloco, estão listados os tí-


No beija-flor
No elevador tulos de algumas obras do Modernismo brasileiro; no
(Fonte: ANDRADE, Oswald de. Obras completas. Rio de Janeiro:
segundo bloco, nomes de autores modernistas.
Civilização Brasileira, 1972.) Associe adequadamente os dois blocos.

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<id>001598_por_f2_c10_q0030</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. Memórias sentimentais de João Miramar 18. Unifesp 2020 Leia o trecho do poema “Os sapos”, de
2. Macunaíma Manuel Bandeira.
3. Cobra Norato O sapo-tanoeiro Vai por cinquenta anos
4. Juca Mulato [...] Que lhes dei a norma:
5. O ritmo dissoluto Diz: — “Meu cancioneiro Reduzi sem danos
É bem martelado. A formas a forma.
Raul Bopp
Manuel Bandeira Vede como primo Clame a saparia
Oswald de Andrade Em comer os hiatos! Em críticas céticas:
Que arte! E nunca rimo Não há mais poesia
Mário de Andrade
Os termos cognatos. Mas há artes poéticas...”
A sequência correta de preenchimento, de cima para
baixo, é O meu verso é bom
a) 4 – 3 – 1 – 2 d) 3 – 2 – 4 – 1 Frumento sem joio.
b) 5 – 4 – 2 – 1 e) 3 – 5 – 1 – 2 Faço rimas com
c) 1 – 5 – 2 – 4 Consoantes de apoio.
<id>001598_por_f2_c10_q0029</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
(Estrela da vida inteira, 1993.)
17. Enem 2020 Vou-me embora p’ra Pasárgada foi o poe­ No trecho, o “sapo-tanoeiro” representa uma sátira aos
ma de mais longa gestação em toda a minha obra. Vi
a) modernistas. d) parnasianos.
pela primeira vez esse nome Pasárgada quando tinha
b) românticos. e) árcades.
os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse
c) naturalistas.
nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas” <id>001598_por_f2_c10_q0032</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
ou “tesouro dos persas”, suscitou na minha imaginação 19. Uncisal 2014
uma paisagem fabulosa, um país de delícias, como o de
L’invitation au Voyage, de Baudelaire. Mais de vinte anos Poema só para Jaime Ovalle
depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais (Embora a manhã já estivesse avançada)
aguda sensação de tudo o que eu não tinha feito em mi- Chovia.
nha vida por motivo da doença, saltou-me de súbito do Chovia uma triste chuva de resignação
subconsciente este grito estapafúrdio: “Vou-me embora Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
p’ra Pasárgada!” Senti na redondilha a primeira célula de Então me levantei,
um poema, e tentei realizá-lo, mas fracassei. Alguns anos Bebi o café que eu mesmo preparei,
depois, em idênticas circunstâncias de desalento e tédio, Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei
me ocorreu o mesmo desabafo de evasão da “vida besta”. [pensando...
Desta vez o poema saiu sem esforço como se já estivesse — Humildemente pensando na vida e nas mulheres que
pronto dentro de mim. Gosto desse poema porque vejo [amei
nele, em escorço, toda a minha vida; [...] Não sou arqui- BANDEIRA, Manuel. Bandeira de bolso: uma antologia poética.
Porto Alegre: L&PM, 2009. p. 113.
teto, como meu pai desejava, não fiz nenhuma casa, mas
reconstruí e “não de uma forma imperfeita neste mundo A partir da leitura do poema, pode-se inferir que
de aparências’, uma cidade ilustre, que hoje não é mais a a) é um texto característico do Modernismo, pelo
Pasárgada de Ciro, e sim a “minha” Pasárgada. uso do verso livre e pela incorporação de aspec-
BANDEIRA. M. Itinerário da Pasárgada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; tos do cotidiano na poesia, tais como os eventos
Brasília: INL. 1984.
banais narrados pelo poema em questão.
Os processos de interação comunicativa preveem b) pertence à fase final da poesia de Manuel Bandei-
a presença ativa de múltiplos elementos da comu- ra, quando o poeta, desiludido com as propostas
nicação, entre os quais se destacam as funções da do Modernismo, retorna ao uso das formas poé-
linguagem. Nesse fragmento, a função da linguagem ticas fixas.
predominante é c) é representativo do Modernismo, fato que se
a) emotiva, porque o poeta expõe os sentimentos comprova pela liberdade que toma o poeta ao in-
de angústia que o levaram à criação poética. cluir o nome de um amigo seu no título do poema.
b) referencial, porque o texto informa sobre a ori- d) é um típico poema da geração de 45, da qual Ma-
gem do nome empregado em um famoso poema nuel Bandeira foi o principal representante.
de Bandeira. e) é representativo da poesia simbolista, estética
c) metalinguística, porque o poeta tece comentários que esteve presente em Cinza das Horas, primei-
sobre a gênese e o processo de escrita de um de ro livro de poemas de Manuel Bandeira.
<id>001598_por_f2_c10_q0033</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
seus poemas. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

d) poética, porque o texto aborda os elementos es- 20. PUC-Campinas 2018


téticos de um dos poemas mais conhecidos de Sou bem-nascido. Menino,
Bandeira. Fui, como os demais, feliz.
e) apelativa, porque o poeta tenta convencer os lei- Depois veio o mau destino
tores sobre sua dificuldade de compor um poema. E fez de mim o que quis.

158 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 10 Heróis do Modernismo no Brasil

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Esses versos de Manuel Bandeira atestam b) Confirma seu autor como um dos melhores poe-
a) sua adesão ao que havia de mais radical na poé- tas do verso livre em português.
tica dos modernistas de 1922. c) Realiza uma feliz incorporação de motivos e ter-
b) a poesia que compôs ainda nos moldes de uma mos prosaicos à poesia brasileira.
linguagem mais tradicional. d) Evoca, em vários momentos, o tema da morte,
c) seu ingresso na corrente modernista conhecida que atravessa a obra do autor.
como Verde-Amarelismo. e) Sustenta, no poema-manifesto “Poética”, a defesa
d) a influência que recebeu da poesia condoreira da plena liberdade de criação estética.
<id>001598_por_f2_c10_q0036</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
romântica. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

23. EBMSP-BA 2018


e) sua empatia para com os ideais da Geração de
1945. Consoada
<id>001598_por_f2_c10_q0034</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

21. UFBA Quando a Indesejada das gentes chegar


(Não sei se dura ou caroável),
Belo belo Talvez eu tenha medo.
Belo belo minha bela Talvez sorria, ou diga:
Tenho tudo que não quero — Alô, iniludível!
Não tenho nada que quero O meu dia foi bom, pode a noite descer.
Não quero óculos nem tosse (A noite com os seus sortilégios.)
Nem obrigação de voto Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
Quero quero A mesa posta,
Quero a solidão dos píncaros Com cada coisa em seu lugar.
A água da fonte escondida BANDEIRA, Manuel. Consoada. Antologia Poética. Porto Alegre:
L&PM, 2012. p. 133.
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível Sobre esses versos de Manuel Bandeira, está correto
A luz da primeira estrela o que se afirma em
Piscando no lusco-fusco a) Mostram uma dissociação entre a realidade con-
Quero quero creta e a presumível.
Quero dar a volta ao mundo b) Sintetizam o mascaramento da angústia como so-
Só num navio de vela lução diante do inevitável.
Quero rever Pernambuco c) Revelam a instabilidade do sujeito poético diante
Quero ver Bagdá e Cusco da transitoriedade da vida.
Quero quero
d) Tematizam, metafórica e eufemisticamente, a mor-
te, que é aceita, embora não desejável.
Quero o moreno de Estela
e) Refletem a desilusão diante de um viver sem sen-
Quero a brancura de Elisa
tido, devido ao mal sem cura que o acometeu.
Quero a saliva de Bela <id>001598_por_f2_c10_q0037</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Quero as sardas de Adalgisa 24. UPF-RS 2019 Sobre Libertinagem, de Manuel Bandeira,
Quero quero tanta coisa apenas é incorreto afirmar que
Belo belo a) nos poemas aí reunidos, transparece a decisão
Mas basta de lero-lero do autor de romper com o formalismo parnasiano
Vida noves fora zero. e simbolista, que influenciava sua produção poé-
BANDEIRA, Manuel. In: MORICONI, Ítalo (Org.). Os cem melhores tica anterior.
poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 93-4. b) o temor da morte iminente que assombra o su-
Responda às questões a seguir com base na leitura jeito lírico é uma das temáticas em evidência no
do poema de Manuel Bandeira. livro, ganhando destaque, por exemplo, no poe-
a) O último verso apresenta um sentido metafórico ma intitulado “Pensão familiar”.
para a conta matemática. Explique de que modo c) o poema intitulado “Poética” traz uma síntese das
essa linguagem produz sentido no poema. ideias do autor sobre como deveria ser a poesia,
b) Justifique a presença do verso livre no poema e na e manifesta sua recusa ao lirismo que não seja
estética a que pertence a obra poética de Bandeira. libertação.
<id>001598_por_f2_c10_q0035</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> d) “Poema tirado de uma notícia de jornal”, como su-
22. UPF-RS 2017 Sobre o livro Libertinagem, de Manuel gere o próprio título, apresenta recursos próprios
FRENTE 2

Bandeira, publicado em 1930, apenas é incorreto afir- à poesia lírica, assemelhando-se em alguns as-
mar que: pectos a uma notícia de jornal.
a) Apresenta uma poesia concebida de modo lúcido e) o livro, publicado na primeira metade do século XX,
e calculado, que não abre espaço a manifesta- representa um marco da poesia modernista do
ções do subconsciente. Brasil.

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Texto complementar

Renato Borghi estreia nas lives com adaptação de clássico O Rei da Vela
         
           
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¡¢¢Š ‡ ‡ ‡Š¢¢’Š ’’’  ’ ’ ’’  ’’’’  ‡ ¡ ‡ˆ‰ˆ‡

Veja os principais assuntos e conceitos trabalhados neste capítulo acessando a seção Resumindo
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Quer saber mais?

Livro Vídeo
 – A semana que não terminou, de Marcos Augusto Canal Café Filosófico CPFL. Macunaíma e o enigma do
Gonçalves. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. herói às avessas. YouTube, 8 maio 2016. Disponível em:
Nesse livro, o jornalista Marcos Augusto Gonçalves mes- https://www.youtube.com/watch?v=l_hWIfYna7k . Acesso
cla reportagem e relato histórico com o intuito de retomar em: 5 dez. 2023.
os principais eventos associados à Semana de Arte Nesse vídeo, o crítico José Miguel Wisnik aborda a obra
Moderna, desmistificando alguns dos mitos criados ao Macunaíma, de Mário de Andrade, discutindo o sentido do
longo da História. termo “caráter” adotado para designar o herói às avessas.

Exercícios complementares
<id>002447_por_f2_c10_q0004</id><tipo>objetiva</tipo><assunto> <id>001598_por_f2_c10_q0038</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. UFRGS 2022 Assinale a alternativa correta em rela- 2. Enem 2020 Assim, está nascendo dentro da língua portu-
ção à Semana de Arte Moderna, de 1922. guesa, e provavelmente dentro de todas as demais línguas,
a) É considerada o marco inicial do modernismo uma nova linguagem, a linguagem radiofônica. Como a dos
brasileiro, cujas propostas estéticas são imediata- engenheiros, como a dos gatunos, como a dos amantes,
mente incorporadas pelos movimentos locais de como a usada pela mãe com o filho que ainda não fala,
renovação, em outros estados do Brasil. essa linguagem radiofônica tem suas características próprias
b) Coincide com o Centenário da Independência do determinadas por exigências ecológicas e técnicas.
Brasil, materializando o compromisso do moder- ANDRADE, M. apud PINTO, E. P. O português do Brasil.
nismo com o passado, em busca da afirmação São Paulo: Edusp, 1981.
dos heróis colonizadores.
Mário de Andrade, ao se referir ao impacto que o
c) Tem como marco inaugural a obra Macunaíma, de
rádio teria nas pessoas e principalmente sobre a lin-
Mário de Andrade, cujo personagem configura o
caráter nacional brasileiro, resultante da miscige- guagem, possibilita uma reflexão acerca
nação étnica entre negros e brancos. a) das relações sociais específicas da sociedade da
d) Desdobra-se no Manifesto Antropófago, no qual época.
Oswald de Andrade propõe a retomada do ele- b) da relação entre o meio e o contexto social de
mento indígena, reprimido pela civilização, como enunciação.
matriz de pensamento e experimentação estética. c) do nascimento das línguas a partir de exigências
e) É marcada pela recusa da influência das vanguar- sociais específicas.
das europeias, como o Futurismo, o Dadaísmo, o d) das demais línguas do mundo, por possuírem ca-
Cubismo, entre outras, uma vez que os artistas e racterísticas em comum.
intelectuais modernistas estavam engajados na e) da especificidade da linguagem radiofônica, em
criação de uma arte autenticamente nacional. detrimento de outras linguagens.

160 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 10 Heróis do Modernismo no Brasil

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<id>001598_por_f2_c10_q0039</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

3. PUC-Campinas 2016 Retrato do Brasil: ensaio sobre a II


tristeza brasileira, de Paulo Prado (escritor a quem Mário E os massacres no Alentejo, Excelência?
de Andrade dedicou Macunaíma), é hoje um livro quase Oh nada de extraordinário a assinalar
esquecido. Quando saiu, porém, alcançou êxito excep- Senão os coveiros já teriam reclamado
Horas suplementares!
cional: quatro edições entre 1928 e 1931. O momento
(Mário de Andrade)
era propício para tentar explicações do Brasil, país que
Texto 2
se via a si mesmo como um ponto de interrogação. Terra
tropical e mestiça condenada ao atraso ou promessa de Alerta
um eldorado sul-americano? Lá vem o lança-chamas
BOSI, Alfredo. Céu, Inferno. São Paulo: Ática, 1988. p. 137 Pega a garrafa de gasolina
Atira
A razão pela qual o escritor Mário de Andrade dedicou Eles querem matar todo amor
a Paulo Prado seu romance Macunaíma é sugerida Corromper o polo
no próprio texto, uma vez que nesse romance o autor Estancar a sede que eu tenho doutro ser
pretende Vem de flanco, de lado
a) romper com as amarras desse gênero da ficção, Por cima, por trás
apostando em uma narração caótica e puramente Atira
Atira
experimental.
Resiste
b) historiar a saga da família Prado, identificando-a
Defende
com a história dos chamados barões do café da De pé
Pauliceia. De pé
c) criar um protagonista cuja história espelhe e transfi- De pé
gure a diversidade e a busca de identidade cultural O futuro será de toda a humanidade
do povo brasileiro. (Oswald de Andrade)
d) denunciar o nacionalismo das tendências artísti- Acerca dos Textos 1 e 2, bem como dos seus autores e do contexto histórico
e literário em que estão inscritos, analise as seguintes proposições.
cas que retratam o Brasil como se fosse o centro
do universo. I. O Texto 1 é um poema em que o autor se reve-
e) lamentar o atraso de nosso país, enquanto suge- la comprometido com as causas sociais de seu
re que nosso futuro está na modernização e na tempo, e em que um eu lírico questionador faz vir
tecnologia. à tona imagens da indiferença de quem está no
<id>001598_por_f2_c10_q0040</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> poder, subjugando o oprimido.
4. UPE 2017 II. Mário de Andrade foi o autor de Macunaíma, cujo
Texto 1
protagonista é um “herói sem nenhum caráter”,
Retrato de Novembro uma espécie de mito grego, nascido na selva ama-
I
zônica que vai até São Paulo, em busca de um
Os trabalhadores protestam na rua, valioso talismã. Sobre o nascimento desse mito,
Excelência. confira o seguinte trecho: “No fundo do mato-
Não me incomodam! -virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente.
Como?! Era preto retinto e filho do medo da noite”.
Não vou sair para essas bandas! III. O Texto 2 é um poema, cujo eu lírico é um revolu-
Querem avistar-se com Vossa Excelência. cionário, em luta por sua liberdade. A sua causa,
Não os conheço! isto é, o seu ideal, é a humanidade.
Já estão a fazer barulho.
IV. Para Oswald de Andrade, no seu Manifesto da Poe­
Manda-os embora!
Não abalam. sia Pau-brasil, “a poesia existe nos fatos”. Isso faz
Manda-os calar! entender que ele conseguiu reunir, na sua poesia
e na sua prosa, elementos para um olhar crítico
Não nos escutam, Excelência. sobre a realidade brasileira.
Bom, somos um país livre! Estão CORRETAS:
Mas a gritaria vai-nos incomodar. a) I e II, apenas. d) II e IV, apenas.
Fecha as portas e as janelas! b) I, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV
Mesmo assim os ouviremos.
FRENTE 2

c) II e III, apenas.
Tapa os ouvidos! <id>001598_por_f2_c10_q0042</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Também não resulta, Excelência. 5. Enem 2016
Então, ignora-os!
Como?! Descobrimento
Finge que não existem! Abancado à escrivaninha em São Paulo
Vai ser difícil, Excelência. Na minha casa da rua Lopes Chaves
Mas não impossível! De sopetão senti um friúme por dentro.

161

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Fiquei trêmulo, muito comovido Macunaíma acordou tremendo, todo lambuzado. Assim
Com o livro palerma olhando pra mim. mesmo examinou bem a pedra mirim da ilhota para vê
Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! Muito si não havia alguma cova com dinheiro enterrado. Não
[longe de mim, havia não. Nem a correntinha encantada de prata que
Na escuridão ativa da noite que caiu, indica pro escolhido, tesouro de holandês. Havia só as
Um homem pálido, magro de cabelos escorrendo nos olhos formigas jaquitaguas ruivinhas.
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, Então passou Caiuanogue, a estrela da manhã. Macu-
Faz pouco se deitou, está dormindo. naíma já meio enjoado de tanto viver pediu pra ela que
Esse homem é brasileiro que nem eu... o carregasse pro céu.
ANDRADE, M. Poesias completas. São Paulo: Edusp, 1987. Caiuanogue foi se chegando porém o herói fedia
muito.
O poema “Descobrimento”, de Mário de Andrade, — Vá tomar banho! — ela fez. E foi-se embora.
marca a postura nacionalista manifestada pelos es- Assim nasceu a expressão “Vá tomar banho” que os bra-
critores modernistas. Recuperando o fato histórico do sileiros empregam se referindo a certos imigrantes europeus.
“descobrimento”, a construção poética problematiza a
ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter.
representação nacional a fim de Rio de Janeiro: Agir, 2008.
a) resgatar o passado indígena brasileiro.
b) criticar a colonização portuguesa no Brasil. O fragmento de texto faz parte do capítulo VII, inti-
c) defender a diversidade social e cultural brasileira. tulado “Vei, a Sol”, do livro Macunaíma, de Mário de
d) promover a integração das diferentes regiões do país. Andrade, pertencente à primeira fase do Modernis-
e) valorizar a região Norte, pouco conhecida pelos mo brasileiro. Considerando a linguagem empregada
brasileiros. pelo narrador, é possível identificar
<id>001598_por_f2_c10_q0044</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
a) resquícios do discurso naturalista usado pelos es-
6. Enem 2015 critores do século XIX.
b) ausência de linearidade no tratamento do tempo,
O peru de Natal
recurso comum ao texto narrativo da primeira fase
O nosso primeiro Natal de família, depois da morte
modernista.
de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de conse-
c) referência à fauna como meio de denunciar o pri-
quências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre
mitivismo e o atraso de algumas regiões do país.
fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato
d) descrição preconceituosa dos tipos populares
da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas
internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, de-
brasileiros, representados por Macunaíma e Caiua-
vido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser nogue.
desprovido de qualquer lirismo, duma exemplaridade in- e) uso da linguagem coloquial e de temáticas do
capaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele lendário brasileiro como meio de valorização da
aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades ma- cultura popular nacional.
teriais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de Leia o poema a seguir para responder às questões
geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, 8 e 9.
quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres. <assets>002447_por_f2_c10_t0001</assets>

ANDRADE, M. In: MORICONI, I. Os cem melhores contos brasileiros


do século. São Paulo: Objetiva, 2000 (fragmento).
O trovador
Mário de Andrade

No fragmento do conto de Mário de Andrade, o tom Sentimentos em mim do asperamente


confessional do narrador em primeira pessoa revela dos homens das primeiras eras…
uma concepção das relações humanas marcada por As primaveras de sarcasmo
a) distanciamento de estados de espírito acentuado intermitentemente no meu coração arlequinal…
pelo papel das gerações. Intermitentemente…
b) relevância dos festejos religiosos em família na Outras vezes é um doente, um frio
sociedade moderna na minha alma doente como um longo som redondo…
c) preocupação econômica em uma sociedade ur- Cantabona! Cantabona!
bana em crise. Dlorom…
d) consumo de bens materiais por parte de jovens, Sou um tupi tangendo um alaúde!
adultos e idosos. (Fonte: ANDRADE, Mário. Poesias Completas. Belo Horizonte:
Villa Rica, 1993)
e) pesar e reação de luto diante da morte de um fa-
miliar querido.
<id>001598_por_f2_c10_q0045</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> trovador: Na lírica medieval europeia, era o artista
7. Enem 2015 de origem nobre que, geralmente acompanhado de
Vei, a Sol instrumentos musicais (como o alaúde), compunha e
entoava cantigas (poesias cantadas).
Ora o pássaro careceu de fazer necessidade, fez alaúde: Instrumento de cordas de origem árabe que
e o herói ficou escorrendo sujeira de urubu. Já era se tornou popular na Europa a partir do século XVI.
de madrugadinha e o tempo estava inteiramente frio.

162 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 10 Heróis do Modernismo no Brasil

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<id>002447_por_f2_c10_q0005</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f2_c10_t0001</assets>

8. UFJF-MG 2022 Ao contrário do Indianismo Român- 7. Felicidade


tico, típico do século XIX, cujo projeto era pensar a
Napoleão que era um grande guerreiro que Maria da
identidade brasileira a partir de uma suposta pureza
Glória conheceu em Pernambuco disse que o dia mais
da “cultura indígena” (o que, muitas vezes, resultou,
feliz da vida dele foi o dia em que eu fiz a minha primeira
contraditoriamente, na imagem de um índio idealiza-
comunhão.
do e desenhado com traços e valores europeus: “o
Índio cheio de bons sentimentos portugueses”, como 8. Fraque do ateu
diria Oswald de Andrade no “Manifesto Antropófago”), Saí de D. Matilde porque marmanjo não podia con-
o modernismo brasileiro dos anos de 1920 buscou
tinuar na classe com meninas.
compreender a nacionalidade brasileira como algo
Matricularam-me na escola modelo das tiras de qua-
impuro, inconcluso, miscigenado. Uma nacionalidade
dros nas paredes alvas escadarias e um cheiro de limpeza.
construída na dinâmica de uma diversidade cultural
Professora magrinha e recreio alegre começou a aula
processada por encontros e conflitos entre povos
da tarde um bigode de arame espetado no grande professor
ameríndios, africanos e europeus. Após a leitura do
Seu Carvalho.
poema “O Trovador”, escrito por Mário de Andrade
No silêncio tique taque da sala de jantar informei
e publicado em 1921 no livro Pauliceia Desvairada, e
mamãe que não havia Deus porque Deus era a natureza.
tendo em vista as considerações acima, exemplifique
Nunca mais vi o Seu Carvalho que foi para o Inferno.
de que modo a visão modernista de Brasil está pre- ANDRADE, Oswald de. Memórias sentimentais de João Miramar.
sente no poema “O Trovador”. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
<id>001598_por_f2_c10_q0046</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f2_c10_t0001</assets>

9. Enem Cara ao Modernismo, a questão da identidade Explique de que maneira o trecho do romance Memórias
nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade,
de Andrade. Em O trovador, esse aspecto é caracteriza uma escrita de vanguarda modernista.
<id>001598_por_f2_c10_q0050</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
a) abordado subliminarmente, por meio de expres- </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

11. Imed-RS 2016 Leia o texto a seguir, de Oswald de


sões como “coração arlequinal”, que, evocando o
Andrade:
carnaval, remete à brasilidade.
b) verificado já no título, que remete aos repentistas Pronominais
nordestinos, estudados por Mário de Andrade em
Dê-me um cigarro
suas viagens e pesquisas folclóricas.
Diz a gramática
c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expres-
Do professor e do aluno
sões como “Sentimentos em mim do asperamente”
E do mulato sabido
(v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo
som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9). Mas o bom negro e o bom branco
d) problematizado na oposição tupi (selvagem) 3 Da Nação Brasileira
alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional Dizem todos os dias
que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Deixa disso camarada
Oswald de Andrade. Me dá um cigarro.
e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimen- Analise as assertivas a seguir a partir do texto:
tos dos homens das primeiras eras” para mostrar I. O poema “Pronominais” foi escrito em um período
o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas. em que a Literatura brasileira discutia aspectos da
<id>001598_por_f2_c10_q0048</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

10. UFJF-MG 2017 língua como elemento caracterizador da identida-


de nacional.
5. Perigo das Armas II. O poema expõe a ironia de Oswald de Andrade
às disparidades sociais e demonstra sua preocu-
Entrei para a escola mista de D. Matilde.
Ela me deu um livro com cem figuras para contar a
pação social com os marginalizados.
mamãe a história do Rei Carlos Magno. III. Assim como Oswald de Andrade, Mário de Andrade
Roldão num combate espetou com um pau a gengiva
apresentou em suas produções a sua preocupa-
ção com uma língua escrita mais próxima da fala,
aflita do Maneco que era filho da venda da esquina e
uma das principais características da primeira fase
mamãe botou no fogo a minha Durindana.
modernista.
6. Maria da Glória Qual(is) está(ão) correta(s)?
a) Apenas I. d) Apenas II e III.
FRENTE 2

Preta pequenina do peso das cadeias. Cabelos brancos


b) Apenas II. e) I, II e III.
e um guarda-chuva.
c) Apenas I e III.
O mecanismo das pernas sob a saia centenária de- <id>001598_por_f2_c10_q0051</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

senrolava-se da casa lenta à escola pela manhã branca e 12. PUC-Campinas 2016 Se a Grande Guerra represen-
de tarde azul. ta ruptura na história das relações culturais entre a
Ia na frente bamboleando maleta pelas portas lam- Europa e a América Latina, bem mais do que rompê-
piões eu menino. -las brutalmente ela as reconfigura e leva a afirmações

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identitárias complexas [...]. As referências europeias Qual(is) está(ão) correta(s)?
subsistem [...] mas são agora apenas parte de um todo a) Apenas I. d) Apenas II e III.
identitário que bebe em fontes variadas para definir b) Apenas II. e) I, II e III.
os caracteres da nacionalidade. Deste ponto de vista, c) Apenas I e II.
<id>001598_por_f2_c10_q0053</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
a metáfora proposta por Oswald de Andrade em seu </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Manifesto antropófago, de 1928, é a mais eficaz [...]. 14. Imed-RS 2015 Leia a epigrama a seguir:
“Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei Combinação de cores
do antropófago.”
Verdamarelo
COMPAGNON, Olivier. O adeus à Europa: A América Latina e a Grande
Guerra. Argentina e Brasil, 1914-1939. Carlos Nougué (tradutor).
Dá azul?
Rio de Janeiro: Rocco, 2014. p. 303-304. Não.
Dá azar.
A lei do antropófago a que se refere Oswald de An- (Jacó Pum-pum)
drade em seu Manifesto tem como centro a
a) rejeição feroz (“exprobração”) do imperialismo cul- “Combinação de Cores” é um exemplo do tom bem-
-humorado, crítico e sarcástico presente na Revista
tural imposto pelas nações mais desenvolvidas.
de Antropofagia, publicada em São Paulo, em 1928 e
b) assimilação crítica (“deglutição”) dos valores de
1929. Os pseudônimos de seus colaboradores, como
culturas estrangeiras que interessem à nacional.
Jacó Pum-Pum, Piripipi, Pão de ló, Seminarista Voador,
c) aceitação integral (“reprodução”) dos valores tri-
também sinalizam a proposta ousada e irreverente de
bais em que viviam os silvícolas nas terras virgens.
seus idealizadores. Em relação à revista e ao contexto
d) revisão radical (“expiação”) dos valores já radica-
de sua publicação, considere as assertivas a seguir,
dos em nossas regiões economicamente frágeis.
assinalando V, se verdadeiras, ou F, se falsas.
e) acomodação simplória (“ingestão”) das artes pri-
 Integrada ao movimento modernista, as fases
mitivas cultuadas em outros países.
<id>001598_por_f2_c10_q0052</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
da revista apresentadas como “dentições” são
13. UFRGS 2015 Leia a seguir o fragmento, retirado do exemplos da irreverência do grupo, o qual in-
romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima tencionava lançar as bases de um movimento
Barreto, e o poema de Oswald de Andrade. revolucionário literário, social, político e religioso.
— Não me conhece mais? Sou o general, o Coronel  Com a revista Klaxon, tal periódico foi um dos
Albernaz. principais veículos de divulgação das ideias dos pri-
— Ah! É só coroné!... Há quanto tempo! Como está meiros modernistas de São Paulo.
nhã Maricota? O número de estreia da revista foi inaugurado
— Vai bem. Minha velha, nós queríamos que você pelo “Manifesto antropófago”, escrito por Oswald
nos ensinasse umas cantigas. de Andrade.
— Quem sou eu, ioiô! A ordem correta de preenchimento das lacunas, de
— Ora! Vamos, tia Maria Rita... você não perde cima para baixo, é:
nada... você não sabe o “Bumba-Meu-Boi”? a) V – V – V. d) F – F – V.
— Quá, ioiô, já mi esqueceu. b) V – F – V. e) F – F – F.
— E o “Boi Espácio”? c) F – V – V.
<id>001598_por_f2_c10_q0054</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
— Cousa veia, do tempo do cativeiro — pra que sô </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

coroné qué sabê disso? 15. Insper-SP 2014 O texto a seguir corresponde ao
capítulo 92, chamado “Estelário”, das Memórias sen-
Vício na fala timentais de João Miramar, obra representativa da
Para dizerem milho dizem mio primeira fase da literatura modernista brasileira.
Para dizerem melhor dizem mió
Coração esperançava o esperançoso
Para pior pió Começo claro da noite cidadina
Para dizer telha dizem teia Retalhos grandes de nuvens
Para telhado dizem teiado E duas estrelas vivas
E vão fazendo telhados Trem rolava com minha estrela
Considere as seguintes afirmações sobre os dois textos: Bordando a vida fabricadora
I. Os modernistas foram pioneiros na forma de Do Brás à Luz
representar a linguagem popular, através da va- Rolah estrelava o Hotel Suíço
Oswald de Andrade.
lorização do povo como elemento constitutivo da
nação brasileira. No texto, encontram-se vários traços de inovação es-
II. O narrador no romance e o sujeito lírico no poema tética, entre os quais NÃO ESTÁ
são letrados, mas registram a linguagem popular a) o emprego constante de regionalismos.
ao reproduzirem a fala do povo. b) a influência das vanguardas europeias.
III. O romance de Lima Barreto evidencia a impor- c) a abolição da pontuação convencional.
tância do folclore brasileiro para a constituição da d) a valorização dos neologismos.
cultura nacional. e) o fim das fronteiras entre prosa e poesia.

164 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 10 Heróis do Modernismo no Brasil

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Leia o poema a seguir para responder às questões Que soluças tu,
de 16 a 18. Transido de frio,
<assets>002447_por_f2_c10_t0002</assets>
Sapo-cururu
Os Sapos 55 Da beira do rio...
Enfunando os papos, BANDEIRA, Manuel. Melhores poemas: Manuel Bandeira. Seleção de
Saem da penumbra, Francisco de Assis Barbosa. 17. ed. São Paulo: Global, 2015, p. 32-33.
<id>002447_por_f2_c10_q0006</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f2_c10_t0002</assets>
Aos pulos, os sapos.
16. Uece 2022 Os sapos, no poema, simbolizam os
A luz os deslumbra.
poetas parnasianos e os modernistas. O sapo que re-
5 Em ronco que aterra, presenta o poeta modernista é o
Berra o sapo-boi: a) sapo-tanoeiro, porque acredita que o poema, as-
— “Meu pai foi à guerra!” sim como uma joia, deve ser lapidado.
— “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!” b) sapo-boi, porque acredita que o poema anuncia
O sapo-tanoeiro, um narrador e delega a ele a palavra.
10 Parnasiano aguado, c) sapo-pipa, porque acredita que só ele sabe es-
Diz: — “Meu cancioneiro crever poemas a partir de formas fixas.
É bem martelado. d) sapo-cururu, porque acredita que para os poe-
mas não há necessidade de formas prontas.
Vede como primo <id>002447_por_f2_c10_q0007</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f2_c10_t0002</assets>

Em comer os hiatos! 17. UFMS 2021 A partir da leitura do fragmento a seguir


15 Que arte! E nunca rimo e do poema “Os sapos”, de Manuel Bandeira, assinale
Os termos cognatos. a alternativa correta.
O meu verso é bom “E no interior de um período em que se comemorava o
Frumento sem joio. primeiro centenário da independência, em meio a uma
Faço rimas com imensa modificação que o País vivia nos campos social,
20 Consoantes de apoio. político e econômico, como a formação de novos parti-
dos políticos, a participação feminina, o fim da Primeira
Vai por cinquenta anos Guerra Mundial e princípios da industrialização, que se
Que lhes dei a norma: forja a oportunidade de fundar uma nova estética e daí
Reduzi sem danos
o advento da Semana de Arte Moderna, em 1922.
A fôrmas a forma.
Resumidamente, são características da Semana: reno-
25 Clame a saparia vação nos princípios estéticos e liberdade temática e
Em críticas céticas: formal para enfrentar o conservadorismo, o tradicio-
Não há mais poesia, nalismo e o excessivo rigor estético, notadamente o
Mas há artes poéticas…” ideário parnasiano.
Urra o sapo-boi: Se, por um lado, os integrantes da Semana propu-
30 — “Meu pai foi rei” — “Foi!” nham a libertação dos valores estéticos e culturais
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!” recebidos desde o período colonialista de origem
portuguesa, por outro firmaram-se nas proposições
Brada em um assomo das chamadas Vanguardas Europeias, como cubismo,
O sapo-tanoeiro: futurismo, dadaísmo, expressionismo e surrealismo.
— “A grande arte é como Na literatura, tornaram-se marcas principais: a ruptura
35 Lavor de joalheiro.
sintática, a linguagem informal, o regionalismo, os versos
Ou bem de estatuário. livres e sem métrica (sem medida fixa), os versos brancos
Tudo quanto é belo, (sem rimas) e o uso intensivo do sarcasmo e da ironia.”
Tudo quanto é vário, a) O poema transcrito tornou-se uma espécie de
Canta no martelo.” mote ou síntese do modernismo, porque em seus
40 Outros, sapos-pipas
versos estão presentes várias características do
(Um mal em si cabe), que a Semana tentou sintetizar: sarcasmo e críti-
Falam pelas tripas: ca irônica ao passado estético representado pelo
— “Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!” parnasianismo.
b) O poema ficou confuso, porque, embora rimados
Longe dessa grita, e divididos em quadras, os versos são curtos, em
FRENTE 2

45 Lá onde mais densa redondilha menor, inadequados para o fim a que


A noite infinita
se propunha.
Verte a sombra imensa;
c) Na terceira estrofe, o poeta faz um autoelogio e
Lá, fugido ao mundo, ainda menciona o movimento parnasiano, ao qual
Sem glória, sem fé, orgulhosamente pertence, e que se constituiu
50 No perau profundo fonte de inspiração aos jovens poetas que cria-
E solitário, é riam a Semana de Arte Moderna.

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d) Nas três últimas estrofes, em que se dá o arremate Explicou: “Não nasci presidente.
da composição, reforça-se o tom de manifesto par- Nasci com a minha consciência.
nasiano ao caracterizar o isolamento do sapo que Quero ficar em paz com a minha consciência”.
vive na sombra imensa da noite, distante do mundo. Agora vai viajar.
Vai viajar longamente no exterior.
e) E um poema, segundo a proposta modernista,
Está em paz com a sua consciência.
com o qual se pretendia homenagear a poética
Ouviram bem?
parnasiana, ressaltando as características mar- ESTÁ EM PAZ COM A SUA CONSCIÊNCIA
cantes do movimento, como o humor popular e o E que se danem os pobres e humildes que é tão difícil ajudar.
uso de palavras de uso popular e de pouco pres-
Com base no poema, afirmam-se:
tígio poético, como o substantivo “sapo”.
<id>001598_por_f2_c10_q0056</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f2_c10_t0002</assets>
I. Os versos abordam uma temática prosaica, de
18. UFSC 2019 Com base na leitura integral da obra Me- aparente simplicidade, muito presente na totali-
lhores poemas: Manuel Bandeira e do poema “OS dade da obra de Manuel Bandeira.
SAPOS”, no contexto sócio-histórico e literário e, II. Certa melancolia, associada ao sentimento de
ainda, de acordo com a variedade padrão da língua conformismo diante da realidade, é perceptível
escrita, é correto afirmar que: ao longo do poema.
01 embora inicialmente tenha escrito poemas liga- III. O poema apresenta um traço narrativo, trazendo,
dos à poesia simbolista e à parnasiana, Manuel inclusive, uma fala registrada em discurso direto.
Bandeira é considerado um dos autores mais im- IV. As marcas de oralidade e a presença de adjetivos
portantes do modernismo brasileiro. evidenciam o lirismo exacerbado que caracteriza
02 em “OS SAPOS”, evidencia-se o caráter lúdico e o sentimento de mundo do poeta.
descontraído que marcaria a poesia de Manuel A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são
Bandeira até o final da vida, quando supera os te- a) I, apenas. d) II e III, apenas.
mas clássicos da juventude, como o amor, a morte b) II, apenas. e) I, II e III.
e uma visão melancólica da existência. c) I e III, apenas.
04 no poema, vários sapos debatem de modo inflama- Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para
do, até que um sapo-tanoeiro ofende a figura de um responder às questões 20 e 21.
“parnasiano aguado” e prescreve ao fim de cada es- <assets>001598_por_f2_c10_t0006</assets>

trofe como deveria ser o novo cancioneiro nacional. Poema tirado de uma notícia de jornal
08 no verso “Em comer os hiatos!”, a palavra grifada João Gostoso era carregador de feira livre e morava no
apresenta um hiato. [morro da Babilônia num barracão sem número.
16 embora o sapo-tanoeiro recomende que nunca se ri- Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
mem termos cognatos (versos 15 e 16), o eu-poético Bebeu
desrespeita essa orientação ao rimar “deslumbra” e Cantou
“penumbra” na primeira estrofe do poema. Dançou
32 a obra de Manuel Bandeira evoca o cotidiano das Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu
metrópoles, a fala simples do povo e as mistu- [afogado.
(Libertinagem & Estrela da manhã, 1993.)
ras de variedades linguísticas, ao abordar temas <id>001598_por_f2_c10_q0058</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c10_t0006</assets>
como o amor irrealizável, o jogo erótico, a nostal- 20. Unesp 2019
gia da infância, a ausência e a morte. a) Cite uma característica distintiva da poesia lírica
Soma: que não se encontra nesse poema.
<id>001598_por_f2_c10_q0057</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
b) Cite três elementos que evidenciam o caráter nar-
19. PUC-RS 2014 Leia o poema “Elegia de agosto”, de
rativo desse poema.
Manuel Bandeira. <id>001598_por_f2_c10_q0059</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c10_t0006</assets>

A nação elegeu-o seu Presidente 21. Unesp 2019 Cite duas características, uma de natu-
Certo de que jamais ele a decepcionaria. reza temática e outra de natureza formal, que afastam
De fato, esse poema da tradição parnasiano-simbolista.
<id>001598_por_f2_c10_q0061</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
Durante seis meses, </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

O eleito governou com honestidade, 22. Enem 2014


Com desvelo, Camelôs
Com bravura. Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão:
Mas um dia, O que vende balõezinhos de cor
De repente, O macaquinho que trepa no coqueiro
Lhe deu a louca O cachorrinho que bate com o rabo
E ele renunciou Os homenzinhos que jogam boxe
A perereca verde que de repente dá um pulo que engraçado
Renunciou sem ouvir ninguém.
E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma.
Renunciou sacrificando o seu país e os seus amigos.
Renunciou carismaticamente, falando nos pobres e Alegria das calçadas
humildes que é tão difícil ajudar. Uns falam pelos cotovelos:

166 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 10 Heróis do Modernismo no Brasil

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— “O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai qual impera o mundo espiritual, de onde vêm as som-
[buscar um pedaço de banana para eu acender bras dos mortos para trilhar o caminho dos vivos.
[o charuto. Naturalmente o menino pensará: 08 O poema é composto de versos com métrica
[Papai está malu...”
regular. Com exceção das rimas emparelhadas
Outros, coitados, têm a língua atada. (“passaram” e “morreram”), o texto apresenta ri-
Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino mas interpoladas. A regularidade métrica e o
[ingênuo de demiurgos de inutilidades. equilíbrio formal mostram que, apesar da tristeza,
E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da a camada racional se sobressai à emocional.
[meninice... 16 A morte é tema fortemente marcado na obra do
E dão aos homens que passam preocupados ou tristes poeta. No poema, ela se faz presente nos versos
[uma lição de infância. “Os que ainda vivem e os que já morreram / [...]
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2007.
(Não desta noite, mas de outra maior.)”
Soma:
Uma das diretrizes do Modernismo foi a percepção de <id>001598_por_f2_c10_q0064</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

elementos do cotidiano como matéria de inspiração 24. ESPM-RJ 2016


poética. O poema de Manuel Bandeira exemplifica
essa tendência e alcança expressividade porque Poética
a) realiza um inventário dos elementos lúdicos tradi- Estou farto do lirismo comedido
cionais da criança brasileira. Do lirismo bem comportado
b) promove uma reflexão sobre a realidade de po- Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
breza dos centros urbanos. [protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
c) traduz em linguagem lírica o mosaico de elemen- Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
tos de significação corriqueira. [o cunho vernáculo de um vocábulo
d) introduz a interlocução como mecanismo de
construção de uma poética nova. Abaixo os puristas
e) constata a condição melancólica dos homens dis- Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
tantes da simplicidade infantil. Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
<id>001598_por_f2_c10_q0062</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
23. UEM-PR 2016 Assinale o que for correto sobre o poe-
ma abaixo e sobre o seu autor, Manuel Bandeira. Estou farto do lirismo namorador
Político
Noite Morta Raquítico
Noite morta. Sifilítico
Junto ao poste de iluminação De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
Os sapos engolem mosquitos. [de si mesmo
De resto não é lirismo
Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbado. Será contabilidade tabela de cossenos secretário do amante
[exemplar com cem modelos de cartas e as
No entanto há seguramente por ela uma procissão de [diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
[sombras.
Quero antes o lirismo dos loucos
Sombras de todos os que passaram. O lirismo dos bêbados
Os que ainda vivem e os que já morreram. O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O córrego chora. O lirismo dos clowns de Shakespeare
A voz da noite... — Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
BANDEIRA, Manuel. In: Libertinagem.
(Não desta noite, mas de outra maior.)
Sobre o poema, verdadeiro manifesto dos ideais revo-
Petrópolis, 1921.
lucionários do Modernismo de 22, só NÃO é possível
(BANDEIRA, Manuel. Melhores poemas. 16. ed. São Paulo:
Global, 2013, p. 79) afirmar que:
01 Embora a noite esteja iluminada pelo poste de a) repudia os modelos de correção técnica dos par-
luz, o silêncio e as sombras criam um ambiente nasianos: obrigatoriedade do verso “fita métrica”,
gótico e triste. Os bêbados e os sapos são os úni- da rima e da pontuação perfeitas.
cos seres alegres em um espaço desolado. b) critica a contenção lírica, a postura protocolar e
FRENTE 2

02 “O córrego chora” é uma expressão que se configura burocrática na poesia.


como uma personificação. A ideia criada pelo texto c) condena o preciosismo vocabular e, indiretamente,
consiste em atribuir ao córrego um atributo humano, o sentido frio da palavra em estado de dicionário.
o choro. O eu do poema associa o barulho emitido d) rejeita os moldes sentimentais “fabricados” pela
pelo correr das águas a um lamento dentro da noite. perspectiva, já tão desgastada, do Romantismo.
04 O verso final refere-se a uma noite especial – que e) censura, já perceptível desde o início pelo título,
pode ser a véspera do Natal ou do Ano Novo – na as teorias de versificação em vigor.

167

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BNCC em foco
Leia o texto sobre o centenário da Semana de Arte EM13LGG302 e EM13LGG303
<id>001598_por_f2_c10_q0065</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c10_t0007</assets>
Moderna para responder às questões 1 e 2. 1. Em carta a Menotti del Picchia, Mário de Andrade afirma:
<assets>001598_por_f2_c10_t0007</assets>

Centenário é importante para revisar mito da Estamos célebres! Enfim! Nossos livros serão lidíssi-
Semana de Arte Moderna mos! Insultadíssimos, celebérrimos. Teremos nossos nomes
eternizados nos jornais e na História da Arte Brasileira.
Especialistas dizem que a ideia de marco foi uma cons- PADOVAN, Thiago. Centenário: conheça os artistas e o que queriam os
trução histórica modernistas de 1922. Agência Brasil, 16 fev. 2022. Disponível em: https://
agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-02/centenario-conheca-os-
Apontada como marco zero do modernismo no Brasil, artistas-e-o-que-queriam-os-modernistas-de-22. Acesso em: 5 dez. 2023.
a Semana de Arte Moderna comemora seu centenário este
mês. Celebrada atualmente em exposições, livros, semi- Considere o texto de apoio e construa um parágrafo ar-
nários, eventos e reportagens, a efeméride é também uma gumentativo explicitando por que o valor simbólico da
oportunidade para se rediscutir a importância histórica do frase de Mário de Andrade é uma construção histórica.
evento – realizado no Theatro Municipal de São Paulo, entre EM13LGG203 e EM13LGG303
<id>001598_por_f2_c10_q0066</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, por artistas e inte- </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c10_t0007</assets>

lectuais da elite paulistana que defendiam estar rompendo 2. Releia os dois últimos parágrafos do texto e aponte
com o conservadorismo das artes no Brasil. uma razão para que a estratégia adotada pelo minis-
“Nesse momento, em que a gente está, em 2022, o que tro Gustavo Capanema em assumir “o modernismo
está sendo mais bacana de olhar para a semana de 22 é como uma política cultural estatal” não fosse mantida
justamente questionar o seu mito”, afirma Heloisa Espada, pela história.
curadora do Instituto Moreira Salles.
EM13LP50
[...] <id>001598_por_f2_c10_q0067</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
A ideia de que a semana foi um marco do modernismo 3. Leia o texto a seguir e depois o poema de Mário de
brasileiro, na realidade, foi uma construção histórica, que Andrade para responder à questão.
só veio a surgir décadas depois, defendem historiadores e
especialistas. Para marcar o Dia Internacional da Conscientização sobre
“Acho que o que marca essa comemoração de o Ruído, celebrado dia 26 de abril, o Monumento às Bandeiras,
100 anos é entender como a Semana de Arte Moderna se um dos símbolos da cidade de São Paulo, feito pelo artista
tornou um marco. Isso é uma construção histórica. Mas eles Victor Brecheret, recebeu fones de ouvidos para chamar a
fizeram de tudo para que realmente ela fosse polêmica e atenção da população sobre os perigos da poluição sonora.
POLUIÇÃO sonora: nem as estátuas aguentam mais tanto barulho.
para se alinhar à ideia de vanguarda que estava sendo dis-
Sputnik Brasil, 27 abr. 2017. Disponível em: https://www.proacustica.
cutida e da qual eles tinham notícias que vinham de outros org.br/noticias/clipping/poluicao-sonora-nem-as-estatuas-aguentam-
países, principalmente do Hemisfério Norte”, disse Heloisa. mais-tanto-barulho/. Acesso em: 5 dez. 2023.
[...]
Cedida pela Divulgação ProAcústica -
Associação Brasileira para a Qualidade
Acústica/Fotógrafo: João José Carniel

O modernismo brasileiro também viveu suas ambi-


guidades e controvérsias. A começar pelo fato de que o
movimento, cuja efervescência ocorreu nas cidades, foi
bancado pela elite cafeeira, que vivia no interior, em fa-
zendas. “É a riqueza do campo que paga essa ideia da arte
moderna”, explicou Heloisa.
A especialista questiona o motivo de nomes como o
do escritor e político Plínio Salgado, que fez parte da se- Ação INAD 2017 – Dia Internacional da Conscientização Sobre o Ruído.
mana, terem sido “apagados” pela história. “Temos ali a
participação do Menotti del Picchia [escritor] e do Plínio Inspiração
Salgado, figuras que depois se tornaram controversas politi- São Paulo! comoção de minha vida...
camente, ligadas ao movimento do verde-amarelismo [que Os meus amores são flores feitas de original!...
se opunha ao movimento pau-brasil de Oswald de Andrade Arlequinal!... Trajes de losangos... Cinza e ouro...
e pregava um ufanismo exacerbado]. Depois o Plínio Salga- Luz e bruma... Forno e inverno morno...
do é expoente do Integralismo [que tinha grande afinidade Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
com o fascismo italiano]”, disse Heloisa. Perfumes de Paris... Arys!
Nessa análise política, também é importante entender Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!...
como o movimento modernista foi utilizado pelo Estado
São Paulo! comoção de minha vida...
Novo, de Getúlio Vargas. “O Gustavo Capanema [ministro
Galicismo a berrar nos desertos da América.
forte do governo Getúlio Vargas] era o homem, digamos,
ANDRADE, Mário de. Pauliceia desvairada. Disponível em: https://
por detrás dessa estratégia de assumir o modernismo como digital.bbm.usp.br/view/?45000019565&bbm/7651#page/46/mode/2up.
uma política cultural estatal”, disse Bagolin, explicando que Acesso em: 5 dez. 2023.
a busca por uma arte brasileira, com identidade nacional, Compare a campanha da ProAcústica (Associação Brasi-
“serviu como uma luva para o projeto do Estado Novo”. leira para Qualidade Acústica) sobre um dos problemas
CRUZ, Elaine Patrícia. Centenário é importante para revisar mito da Semana
enfrentados na cidade de São Paulo com a relação
de Arte Moderna. Agência Brasil, 14 fev. 2022. Disponível em: https://
agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-02/centenario-e-importante- emotiva do eu lírico no poema de Mário de Andrade.
para-revisar-mito-da-semana-de-arte-moderna. Acesso em: 5 dez. 2023. Explicite a nova dinâmica da cidade no século XXI.

168 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 10 Heróis do Modernismo no Brasil

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Acervo do Museu Lasar Segall-Ibram/Ministério do Turismo
Pogrom, de Lasar Segall,1937. Óleo com areia sobre
tela, 184 cm x 150 cm. Museu Lagar Segall, São
Paulo. O termo “pogrom” tem sua origem na Rússia
czarista e se associa às pilhagens e assassinatos
praticados contra determinadas comunidades
minoritárias. No contexto da Segunda Guerra, o
vocábulo foi utilizado para se referir a movimentos
populares cometidos contra comunidades étnicas
ou religiosas, como os corpos de crianças judias
ilustrados por Lasar Segall.

FRENTE 2

11
CAPÍTULO O Modernismo no Brasil: a poesia
mística e social
A produção estética da segunda fase do Modernismo se situa entre as duas
grandes guerras e em um contexto de revolução e crise política no Brasil. Essa
realidade crítica carecia de postura engajada diante dos problemas vivenciados, o
que levou os autores a se distanciar do tom combativo ao passado e da irreverên-
cia dos poemas-piada da geração heroica. Uma vez que as inovações artísticas e
as experimentações formais propostas pela Semana de 22 alcançaram seu obje-
tivo, os autores da nova fase modernista puderam abraçar as questões sociais de
seu tempo e buscar um tom mais místico e espiritual nas suas criações literárias.

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Modernismo no Brasil: geração de No poema, o sujeito lírico dirige-se a seu interlocutor de
modo inquiridor, interrogando-lhe de forma incisiva. Porém,
1930 (poesia) as perguntas que são feitas incidem sobre um saber igno-
Em 2017, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul rado. Como a própria universidade comenta, trata-se de um
utilizou o poema “José” – um dos mais conhecidos de Carlos poema que “traz uma possibilidade para que se interprete
Drummond de Andrade, extraído de seu livro homônimo José como duplo do eu lírico, que dialoga consigo mesmo.
publicado em 1942 – para elaborar uma questão sobre um Como nome próprio, porém muito comum, apresenta a vi-
tema comum nos poemas de autores da segunda geração são da época, 1942, em plena Segunda Guerra Mundial,
modernista: o desamparo existencial. Observe. um mundo em decomposição”.
A angústia e o vazio da situação de perda diante da
Exercício resolvido
<id>001598_por_f2_c11_q2001</id><tipo>objetiva</tipo><assunto></assunto><bncc></bncc><enem></enem>
luz apagada aludem aos tempos sombrios, em que “o
1. UFRGS 2017 Leia o poema José, de Carlos Drummond povo sumiu” e “a noite esfriou”. José alegoriza a condição
de Andrade. do homem perdido e incerto do futuro de si próprio e da
humanidade. As atrocidades vistas no contexto de guerra
E agora, José? e tudo fugiu
desencadeiam, no texto poético, cenas de brutalidade e
A festa acabou, e tudo mofou,
a luz apagou, e agora, José?
desolamento do eu lírico que comovem o leitor.
o povo sumiu, A obra Pogrom, apresentada na abertura deste capítulo,
a noite esfriou, [...][...] faz parte da série de quadros “Visões de Guerra”, de Lasar
e agora, José? Segall, escultor e gravurista judeu, fixado no Brasil na dé-
e agora, você? Se você gritasse, cada de 1930. Esse trabalho traz pinturas que evidenciam
Você que é sem nome, se você gemesse, o horror em tons de marrom e ocre, reforçando o estilo do
que zomba dos outros, se você tocasse, artista. Apesar de haver referência bélica nas gravuras, a
Você que faz versos, a valsa vienense, violência brutal é comovente nas imagens de corpos em-
que ama, protesta? se você dormisse, pilhados, cenas de tortura e dor, como vemos em Pogrom,
e agora, José? se você cansasse, que remete ao Holocausto.
se você morresse....
A seguir, vamos estudar de forma mais aprofundada os
Está sem mulher, Mas você não morre,
está sem discurso, você é duro, José!
poemas de Carlos Drummond de Andrade, um dos autores
está sem carinho, de maior importância no cenário da poesia brasileira. Neste
já não pode beber, Sozinho no escuro momento, é relevante que notemos como os escritores da
já não pode fumar, qual bicho-do-mato, poesia de 1930 buscavam revelar as questões sociais e
cuspir já não pode, sem teogonia, existenciais desse tempo, marcado por tantas revoluções,
a noite esfriou, sem parede nua guerras, crises políticas e autoritarismo.
o dia não veio, para se encostar,
o bonde não veio, sem cavalo preto O mundo em crise no século XX
o riso não veio, que fuja a galope,
A invasão da Polônia, em 1939, pelo exército da Ale-
não veio a utopia você marcha, José!
manha nazista de Adolf Hitler, foi o estopim para a Segunda
e tudo acabou José, para onde?
Guerra Mundial, que teve diversos eventos trágicos, como o
teogonia: narrativa do nascimento dos deuses, genea­ ataque militar do Serviço Aéreo Imperial da Marinha Japone-
logia, nas religiões politeístas. sa contra a base naval dos Estados Unidos em Pearl Harbor,
território do Havaí, em 1941, e o bombardeio de Hiroshima
e Nagasaki pelos Estados Unidos, em agosto de 1945. As
Assinale a alternativa correta sobre o poema.
bombas usadas contra as duas cidades japonesas marcaram
a) O diálogo com José, interlocutor, pode ser lido
o único momento histórico em que se atentou contra civis
como uma forma de o sujeito lírico refletir sobre o
com armas nucleares.
desamparo existencial.
b) O poema em versos curtos apresenta o caminho
Everett Collection/Shutterstock.com

para superação dos impasses de José.


c) As repetições indicam a monotonia da existência
do trabalhador comum, José, em crise com sua
condição operária.
d) O sujeito lírico, na ausência de respostas, não
consegue decifrar para onde José marcha, em-
bora este saiba seu caminho.
e) A expressão “e agora, José?” põe em relevo a
indignação do sujeito lírico com seu interlocutor,
incapaz de se definir.

Resolução:
Alternativa: A Nuvem de fumaça gerada pela bomba de plutônio lançada sobre Nagasaki
(Japão), em 9 de agosto de 1945.

170 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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As atrocidades praticadas nos anos de guerra deixa- de censurar peças de teatro, filmes e produções de arte
ram como herança o peso da barbárie humana, da sede com o objetivo de evitar informações que pudessem ser
por poder e do preconceito desmedido, um legado com o prejudiciais à imagem do Brasil.
qual os diversos nomes do mundo da arte tentaram lidar
esteticamente. O poeta brasileiro Vinicius de Moraes pro- Saiba mais
testou contra o cenário de guerra e destruição por meio do
poema de vertente social “A rosa de Hiroshima”, de 1946. A Hora do Brasil: o “fala sozinho”
Nele, o eu lírico interpela o leitor a pensar sobre as O programa de rádio mais antigo do Brasil, Programa
consequências drásticas dos efeitos da radioatividade nas Nacional, foi criado em 22 de julho de 1935 como par-
te da política de controle da informação transmitida pela
vítimas da bomba atômica. A imagem da rosa vista como um
imprensa. Posteriormente, em 1939, durante a ditadura
objeto singelo é descontruída pela rosa que desabrochou do Estado Novo de Getúlio Vargas, o programa ganhou
com a explosão, provocando devastação em Hiroshima e novo nome, A Hora do Brasil, sendo obrigatória sua trans-
Nagasaki. A ausência de perfume da rosa destrutiva sim- missão pelas emissoras de rádio do país no horário das
boliza a ausência de vida que a bomba causa às meninas 19h às 20h. O programa, que ficou conhecido como “fala
“cegas inexatas” e sobre as mulheres “rotas e alteradas” sozinho”, levou ao ar ao longo desses anos informações
que não poderão dar vida a outra geração, já que o mal oficiais sobre os poderes Executivo, Judiciário e Legisla-
da rosa é hereditário. tivo. A partir de 1962, o programa passou a ser chamado
Essa imagem de uma rosa associada ao que é im- de A Voz do Brasil, podendo ser veiculado, ainda hoje,
perfeito, feio e incômodo surge em um poema de Carlos no intervalo entre 19h e 22h.
Drummond de Andrade chamado “A flor e a náusea”,
publicado em seu livro A rosa do povo, em 1945. Diferen- Carlos Drummond de Andrade incorporou à sua poesia
temente da rosa de Vinicius de Moraes, nesse livro o poeta temas sociais que expressavam seu engajamento diante
mineiro faz alusão a um contexto histórico mais amplo e do momento histórico do país, tendo se aproximado do
alude ao momento de tensão nazifascista, da marcha pelo comunismo em 1945. A convite de Luís Carlos Prestes,
capital, da crise política da Era Vargas, entre outros temas militar e político líder da Coluna Prestes, o poeta tornou-se
que alimentaram a fase social de Drummond. coeditor da Tribuna Popular, jornal do Partido Comunista.
A flor de Drummond corresponde a uma nova ordem No entanto, ao discordar das ideias do partido, desligou-se
social, que necessitava ser estabelecida em um contexto das atividades que lhe foram atribuídas.
conturbado pela Revolução de 1930, movimento conhecido Na sua fase social, Drummond publicou importantes
por dar fim à República Velha, liderado por políticos e milita- poemas como “Nova canção do exílio”, que traça inter-
res que se opunham às oligarquias cafeeiras, alcançando o textualidade com o poema romântico de Gonçalves Dias,
intento de colocar Getúlio Vargas no poder. A Constituição “Canção do exílio”, mas com uma nova perspectiva sobre
de 1934 legitimou o poder do novo presidente e, em 1937, a terra. A fim de estreitar relação com o poema original,
com o Congresso Nacional fechado, foi decretado o Estado Drummond preservou muito de sua forma, mas utilizou-se
Novo, dando início a um período sombrio de ditadura. dela para assumir um posicionamento diferente. O mo-
mento de ditadura faz com que o eu lírico sinta-se exiliado
Claro Jansson/Wikimedia Commons

dentro do próprio país, diferentemente do autor do século


XIX, que canta a pátria de modo saudoso, quando se en-
contrava distante. O diálogo estabelecido por Drummond é
explícito, como evidencia Roberto de Oliveira de Brandão
em sua análise:
Considerando em suas grandes unidades espaciais,
observa-se que a Nova Canção se mantém fiel à tradição re-
produzindo o mesmo número de estrofes (5), o mesmo número
de versos em cada estrofe (5 nas três primeiras e 6 nas duas
últimas), o mesmo posicionamento dos versos recorrentes, o
mesmo vocábulo ou formas sinônimas transformadas dispostas
em versos equivalentes da estrutura global do poema.
BRANDÃO, Roberto de Oliveira. Entre o mítico e o profano.
Língua e Literatura, São Paulo, n. 6, p. 235-243, 1977. p. 236.
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/linguaeliteratura/article/
Getúlio Vargas em passagem por Itararé, SP, em 1930. Acervo Jandira view/115821/113335. Acesso em: 16 nov. 2023.
FRENTE 2

Jansson.
A forma fiel ao poema original promove uma equiva-
Nesse período, a censura a produções artísticas era lência estrutural que, no entanto, ganha distanciamento
garantida pelo Departamento de Imprensa e Propaganda quando o leitor atento percebe que o sabiá, símbolo da
(DIP), órgão criado em 1939 que perseguiu artistas consi- natureza exótica romântica, já não é cunhado com letra
derados subversivos. As funções principais do DIP eram inicial maiúscula. Ademais, o pássaro está distante, como
coordenar a propaganda veiculada dentro e fora do país, se a própria terra idealizada não fosse mais uma possibili-
organizar os serviços ligados a turismo e à cultura, além dade nem mesmo no campo poético. Os elementos naturais

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estão no passado “onde tudo é belo/ e fantástico”; a reali- termos de estrutura sintética e tom irônico, está o polêmico
dade dura dos anos de ditadura impede que a poesia seja “No meio do caminho”, publicado no terceiro número da
leve, rítmica, com versos em redondilha e rimados, pois o Revista de Antropofagia de Oswald de Andrade.
canto da “Nova canção do exílio” é outro.
[...] É sabido que a complexidade reflexiva da obra de
A segunda geração do Modernismo não se propõe
Drummond não a impede de ser pródiga em versos que se
a retomar o passado histórico e cultural, percorrendo os tornaram parte do linguajar comum. Drummond é um dos
mesmos caminhos da geração heroica que liderou a Se- maiores hitmakers frásicos da poesia brasileira: “vai, Carlos!
mana de 22. Poetas como Carlos Drummond de Andrade, Ser gauche na vida”; “mundo mundo vasto mundo, se eu me
Murilo Mendes, Vinicius de Moraes e Jorge de Lima voltam chamasse Raimundo”; “João amava Teresa que amava Raimun-
seus olhos aos aspectos sociais, econômicos e políticos do que amava...”; “como ficou chato ser moderno./Agora serei
do país com outra postura. A “Canção do exílio” de Murilo eterno”; “e agora José?”. Nenhum exemplo se compara ao
Mendes, ao contrário da canção de Gonçalves Dias, de- rastilho mirabolante desatado pelo famigerado poema “No
nuncia a invasão cultural estrangeira no Brasil e o valor dos meio do caminho”, publicado no seu livro de estreia em 1930.
produtos, como as frutas comercializadas a preços altos [...]
dentro do país. Como pôde um poemeto obsessivo, anguloso e circular,
A postura dos poetas da poesia de 1930 em alguns falando aparentemente de quase nada, tendo como elemen-
momentos apresenta uma tendência ao misticismo. A forte to concreto não mais que a dureza mineral da pedra, haver
religiosidade de Jorge de Lima levou-o a publicar poemas demonstrado essa potência de “bomba atômica”, no dizer de
cujo lema era a restauração da poesia em Cristo. Em par- Mário Quintana? [...]
ceria com Murilo Mendes, publica Tempo e eternidade, em WISNIK, José Miguel. Maquinação do mundo: Drummond e a
mineração. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 20.
1935, obra com 45 poemas de cada um dos dois poetas,
nos quais o aspecto neobarroco se destaca por fundir no
texto o terreno e o transcendente. hitmaker: termo originado da junção das palavras da língua
Cecília Meireles, considerada neossimbolista, apresen- inglesa hit (sucesso) e maker (produtor); aquele que faz
músicas de sucesso.
ta em seus textos o efêmero e o eterno, além dos temas da
ausência e da morte, sua companheira ao longo da vida.
A perda dos pais, a infância solitária e o suicídio do marido O poema “No meio do caminho” causou um verdadeiro
foram fantasmas que acompanharam a poesia da autora escândalo à época de sua publicação, especialmente entre
no decorrer de sua produção artística. os antimodernistas, que o consideravam estúpido. O pro­
saísmo e a liberdade formal adotados, no entanto, convivem
Carlos Drummond de Andrade: com o diálogo e com a tradição literária anunciados no
verso repetido diversas vezes. Drummond remete ao pri-
o poeta de muitas faces meiro verso da obra A divina comédia, de Dante Alighieri,
“Nel mezzo del cammin di nostra vita” (“No meio do cami-
Acervo do Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional, Rio de Janeiro

nho de nossa vida”), e com humor reflexivo rompe com a


convenção literária em versos livres e linguagem coloquial.
O tom irreverente e crítico e a tônica existencial pre-
sentes no poema se mantêm ao longo da produção do
poeta, a qual se estendeu até a década de 1980 e apre-
sentou singularidades que dividiram a obra de Drummond
em fases: gauche, social e filosófica. Essa visão da poética
drummondiana induziu o crítico literário Affonso Romano de
Sant’Anna a classificar o drama existencial em três momen-
tos inseparáveis, que abrangem os grandes temas do autor.
Eu maior que o Mundo
Eu menor que o Mundo
Eu igual ao Mundo
Observa-se aí a fidelidade à oposição básica: Eu versus o
Mundo, que é a síntese de um vasto sistema de oposições da
obra: claro-escuro, província-metrópole, essência-aparência,
tudo-nada, esquerda-direita, instante-eternidade, construção-
-destruição, vida-morte.
SANT'ANNA, Affonso Romano de. Drummond, o gauche no tempo.
Rio de Janeiro: Record, 1992. Disponível em: https://pt.scribd.com/
document/470570821/Drummond-o-gauche-no-tempo-Affonso-Romano-
de-Sant-anna-Ed-Record-pdf. Acesso em: 12 dez. 2023.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), poeta
mineiro, nasceu em Itabira (MG), estreando como autor em A relação do indivíduo com o mundo ganha variadas
1930 com seu livro Alguma poesia. Entre os 49 poemas dimensões nas obras essenciais escritas nas três fases de
que se aproximam da primeira geração modernista, em Carlos Drummond de Andrade.

172 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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o milagre, a redenção) parecem eventualmente nulos como
Donatas Dabravolskas/Shutterstock.com
fontes do poema, que daqui a pouco encontrará justificativa,
para o poeta, não como referência a um objeto, mas como
expressão que se torna ela própria uma espécie de objeto.
CANDIDO, Antonio. Inquietudes na poesia de Drummond.
In: CANDIDO, Antonio. Vários Escritos. 4. ed. Rio de Janeiro:
Ouro sobre Azul/São Paulo: Duas Cidades, 2004. p. 88.

Nessa nova perspectiva sobre o fazer poético visto em


“Segredo”, percebemos que a inquietação de Drummond
reside em um paradoxo: a luta vã diante da poesia e a
necessidade de vencer a batalha poética. Nos livros pos-
teriores, como A rosa do povo (1945), obra pertencente
à fase social, esse incômodo se mantém. Em “Procura da
poesia”, o eu lírico afirma que os acontecimentos da vida
são insuficientes para que o poema se constitua.
No que tange à forma, a poesia de Drummond na fase
gauche apresenta uma estrutura em favor do ritmo da vida.
Estátua de Carlos Drummond de Andrade em Copacabana, Rio de Janeiro. A arquitetura textual com liberdade de métrica e rima, na
verdade, trabalha a cargo do conteúdo, do elemento textual
Eu maior que o mundo: a fase gauche interno. No poema “Cidadezinha qualquer”, presente em
A primeira fase da poética de Drummond é chama- Alguma poesia, a tranquilidade e a harmonia da pequena
da de gauche, termo de origem francesa cujo significado cidade do interior mineiro é ironizada pela repetição mo-
refere-se a indivíduo canhestro, inseguro, desajustado ao nótona da vida interiorana, uma vez que tudo acontece
mundo. Os poemas dessa fase são prosaicos, sintéticos, devagar; a lentidão está no homem, no cachorro, no burro.
apresentam versos livres e brancos, similares aos produzi- A vida “besta” e entediante é marcada pela pausa das reti-
dos pelos autores da primeira geração modernista, sendo cências que corroboram a temática do poema.
as características temáticas de destaque o isolamento e
o individualismo. Eu menor que o mundo: a resistência nos
O livro inaugural do jovem autor com apenas 28 anos, versos drummondianos (poesia social)
Alguma poesia, foi publicado em 1930 e apresenta poe- A fase social da obra de Carlos Drummond de Andrade
mas que se tornaram clássicos da literatura brasileira, como está intimamente ligada à percepção do autor sobre o
“Poema de sete faces”, “Infância”, “O sobrevivente”, “Quadri- contexto histórico-social e ao seu engajamento diante dos
lha”, entre outros que já anunciavam a reflexão crítica sobre problemas do país e do mundo. Trata-se do momento clas-
assuntos cotidianos. A memória, o sensualismo, o amor e sificado pelo crítico Affonso Romano de Sant’Anna em que
a família surgem nessa obra sob o viés da ironia moderna, o poeta apresenta um “eu menor que o mundo”, ou seja,
bem como o pensar sobre a própria poesia e condição poé­ carrega o peso dos problemas nas costas. Nessa produção,
tica, como notamos nos poemas metalinguísticos comuns poemas importantes ganham destaque, como “Sentimento
ao longo da produção do poeta. do mundo”, “Mãos dadas”, “Mundo grande”, “O medo”, entre
A poesia parece (para usar uma definição sua dessa fase) outros presentes nos livros Sentimento do mundo (1940) e
“acontecer” sob o estímulo do assunto, de tal maneira que lhe A rosa do povo (1945).
é coextensiva; faz-se pelo simples registro da emoção ou da O livro A rosa do povo constitui uma das obras mais
percepção [...]. emblemáticas dessa fase. No âmbito mundial, destacam-se a
CANDIDO, Antonio. Inquietudes na poesia de Drummond. Segunda Guerra e a ascensão do fascismo; no âmbito nacio-
In: CANDIDO, Antonio. Vários Escritos. 4. ed. Rio de Janeiro: nal, a ditadura do Estado Novo surge como fator incômodo.
Ouro sobre Azul/São Paulo: Duas Cidades, 2004. p. 87.
Juntos, todos esses elementos movimentam a poesia para
A metalinguagem nesses primeiros poemas evidencia uma poética da resistência, sendo a rosa o símbolo alegórico
a relação de poesia e inspiração ou sentimento poético, o da transformação necessária ao coletivo, isto é, ao povo.
que ganha outra dimensão no livro publicado posterior- A crítica ao mundo burguês e a valorização e proteção
mente, Brejo das almas (1934), já que o eu lírico questiona da propriedade que anula a vida humana no universo capi-
a autenticidade da poesia, como afirma o crítico literário talista são retratadas no poema narrativo “Morte do leiteiro”,
Antonio Candido sobre o poema “Segredo”: que tem como eu lírico o proprietário de uma residência.
FRENTE 2

[...] como se o poeta descobrisse que os temas não im- O poema evidencia um mundo em que a ordem da
portam em si mesmos, destacados da palavra que os traz ao mercadoria tem mais valor que o indivíduo que a entrega.
mundo do poema. E que, portanto, não se trata apenas de Nesse sentido, noite é sinônimo de medo e insegurança.
encontrar a notação adequada, mas de saber se ela se justifica Para romper com esse cenário, a resistência surge na forma
por um outro sentido, que a contém e ocasiona uma expressão de aurora, de um novo dia que rompe com a escuridão.
válida por si. O tema da inquietação transporta-se para o domí- O sangue do leiteiro se enlaça ao leite derramado, compon-
nio estético, e os assuntos mais consagrados (o amor, a polis, do uma imagem tal como a aurora que surge no horizonte.

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A imagem ambivalente assinalada por noite e dia, como nasce a possibilidade de aceder ao significado maior dos ver-
símbolos de medo e resistência, respectivamente, figura em sos, do enigma se revelar em toda sua claridade. [...]
determinados poemas da fase social de Drummond. Em “A CAMILO, Vagner. Drummond: Da Rosa do Povo à Rosa das Trevas.
São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. p. 200.
noite dissolve os homens”, poema do livro Sentimento do
mundo (1940), a noite separa os homens, impedindo-os O poema que encerra o livro, “A máquina do mundo”,
que se apoiem. O eu lírico não enxerga seus companheiros, retoma duas obras da tradição clássica literária: A divina
chamados por ele de irmãos, pois o medo deitou sobre as comédia, de Dante Alighieri, e Os lusíadas, de Luís Vaz
casas e as ruas. de Camões. A estrutura organizada em tercetos alude à
terza rima do poeta italiano e ao fato de Dante se encontrar
Eu igual ao mundo: o pessimismo e a poética perdido em meio a uma floresta escura, como se nota nos
primeiros versos da sua epopeia. O eu lírico drummondiano,
do impasse (poesia filosófica)
ao contrário, encontra-se em uma estrada mineira pedrego-
A fase filosófica de Drummond é conhecida pela intros- sa e conhecida, mas não anseia pela claridade do caminho,
pecção e pelo signo ou “fase do não”, em que a obscuridade pois está sem esperança de compreender qualquer enigma.
de sua poesia se associa a uma postura de inação diante do Quanto ao poema camoniano, Drummond retoma a métrica
mundo circundante. O refúgio e isolamento do eu lírico, no dos versos decassílabos e o episódio também chamado de
entanto, não significam alienação da realidade, mas um imo- “A máquina do mundo”, no qual Vasco da Gama tem diante
bilismo. Diferentemente da busca pela explicação de uma de si reveladas as verdades pela miniatura do universo
pedra que impede o caminhante em “No meio do caminho”, aberta pelas mãos da ninfa Tétis.
o eu lírico dessa fase reflexiva nega qualquer explicação e
aceita a penumbra que recobre sua poesia. No começo, a figura regente era a da máquina do mundo
O livro com essa característica mais outonal da fase fi- que “se entreabriu”; no final, é o ato de retração do eu, oposto
losófica é Claro enigma, publicado em 1951, período tenso ao mundo, que “baixa os olhos”, como se os fechasse para
marcado pela Guerra Fria, contexto crítico do pós-guerra entre não poder ver. [...]
BOSI, Alfredo. Céu, inferno: ensaios de crítica literária e ideológica.
as potências mundiais Estados Unidos e União Soviética, além
34. ed. São Paulo: Duas Cidades, 2003. p. 99.
de seus respectivos aliados dos blocos Ocidental e Oriental.
Claro enigma apresenta o verso do poeta Paul Valéry terza rima: [...] a sua invenção, na estrutura que passou a
na epígrafe, “Les événements m’ennuient”, cuja tradução – ostentar, deve-se a Dante: toda a Divina Comédia (séc. XIV)
“Os acontecimentos me entediam” – expressa o estado compõe-se de tercetos, por meio dos quais o poeta desejaria
de tédio, pessimismo e desilusão social. Porém, a crítica simbolizar a Santíssima Trindade, os Três Reinos (Inferno,
afiada ao processo criativo de Drummond ressalta que é Purgatório e Paraíso) e tudo o mais que se relaciona com o
necessária atenção ao ler os poemas desse livro, os quais sentido cabalístico do número 3. [...]
tendem à preocupação quase parnasiana com a forma, MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 12. ed. rev. e atual.
porque a lírica do poeta sempre é ensimesmada, o que São Paulo: Cultrix, 2013. p. 459.
indica que a desordem e o inconformismo com o mundo
encontram-se atrás da ordem clássica da poesia marcada Atenção
pela métrica e rima perfeitas.
Esse Modernismo classicizante retorna à tradição li- Apesar da divisão em três fases proposta pelo crítico
terária, recupera a mitologia, o vocabulário erudito, como literário Affonso Romano de Sant’Anna, há críticos que
preferem analisar a obra de Drummond sob quatro divi-
uma saída para a impossibilidade de dizer. A palavra parece
sões: fase gauche, fase social, fase do “não” e fase da
estar muda nessa fase, enquanto há um impasse já anun-
memória. Embora as polaridades entre os temas sociais
ciado no título, cuja figura de linguagem conhecida como
e individuais oscilem na produção do poeta ao longo de
oxímoro define a tônica da obra. sua vida, há na fase gauche uma tendência a inquieta-
O poema de abertura do livro, “Dissolução”, evidencia a ções humanas próprias do indivíduo sob uma atmosfera
postura passiva do eu lírico que se vê diante da escuridão irônica, com linguagem sintética e bem-humorada, sen-
e cruza os braços, fundindo-se à noite. A imagem da rosa do Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934) as
revolucionária perde sua força na sexta estrofe, pois é uma duas obras publicadas nesse momento. A fase social se
rosa “pobre”. A atmosfera dos poemas de Claro enigma debruça sobre os problemas do mundo, especialmente
mostra um posicionamento poético que dispensa salvar o os de conotação política e social, e marca um período
mundo pela palavra. Apesar disso, há o incômodo do eu em que se destaca a veia socialista do poeta. Os prin-
lírico que, na busca por fazer um poema mais duro, rígido cipais livros publicados nessa fase são Sentimento do
e calcado nas marcas clássicas, ainda se encontra inquieto, mundo (1940), José (1942) e A rosa do povo (1945).
pois o corpo do texto não lhe parece suficiente. A produção conhecida como fase do “não” é característica
do pessimismo, da melancolia e impassibilidade diante
Em “Oficina Irritada”, porém, Drummond radicaliza sua
do mundo. Claro enigma (1951) é o livro de destaque
atitude, movida agora por um desejo perverso de causar dor,
dessa fase, mas o poeta também escreveu Fazendeiro
traduzido em imagens aflitivas (como a do tendão de Vênus sob do ar (1953) e A vida passada a limpo (1959). Já a última
o pedicuro); no choque das imagens sublimes e grotescas; na fase retoma memórias da infância e do período passado
musicalidade “dura” (motivada pelo baque seco das consoantes na cidade de Itabira, em Minas Gerais. São obras publi-
plosivas) e no efeito sombrio dos versos (dada a incidência da cadas nesse período Boitempo (1968) e As impurezas
sinistra vogal “u”) [...]. É só no momento em que o leitor toma do branco (1973).
a consciência dessa intenção deliberadamente perversa, que

174 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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Cecília Meireles (1901-1964) No âmbito literário, Cecília Meireles destacou-se na
poesia, mas também escreveu ensaios e algumas peças de

Acervo do Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional, Rio de Janeiro


teatro. Em sua obra poética, é possível perceber influências
das poesias medieval, romântica, parnasiana e simbolista –
sendo o Simbolismo mais evidente nas primeiras antologias,
que posteriormente ela renegou.
A autora representa a vertente espiritualista da se-
gunda geração do Modernismo brasileiro, tendo sido
uma poeta de tom bastante intimista e religioso, com uma
escrita que se aproxima da abstração musical e contém
fluidez onírica. Alguns dos temas mais recorrentes em seus
poemas são: o amor, o tempo, a morte e a eternidade. Já
nos primeiros escritos, há poemas com temas históricos,
lendários e mitológicos, mas sua obra mais reconhecida é,
sem dúvidas, Romanceiro da Inconfidência.
A literatura brasileira se tornou mais rica em 1922, pois
surgia nesse ano a poesia de Cecília Meireles [...].
Saiba mais
Além de Viagem, Cecília Meireles publicou Baladas para Escola Normal ou Curso Normal é uma instituição edu-
El-Rei, Vaga Música, Mar Absoluto, Retrato Natural, Roman- cacional cujo principal objetivo é formar professores de
ceiro da Inconfidência, Amor em Leonoreta, Doze Noturnos Ensino Fundamental, ou seja, um curso de Magistério.
da Holanda, O Aeronauta, Pequeno Oratório de Santa Clara, Atualmente, é requisitado um curso superior em Peda-
Canções, Romance de Santa Cecília, Ou Isto ou Aquilo e outros. gogia ou Letras.
Devido aos temas profundamente introspectivos, tratados
na sua poética, Cecília Meireles chegou a ser considerada uma
Romanceiro da Inconfidência
autora mais ibérica que brasileira, isto para os que desconheciam
a sua luta política enquanto cidadã. Porém, quando publicou o A obra Romanceiro da Inconfidência é um livro de
Romanceiro da Inconfidência, fruto de onze anos de pesquisas poemas que narra a história da Inconfidência Mineira, um
históricas, a crítica deu-se por satisfeita com um exemplo de movimento promovido por colonos brasileiros que dese-
técnica e nacionalidade numa poética de conteúdo social. javam se libertar do domínio português. O espaço em que
Assim temos a Cecília dos sons, das cores, dos tons, dos esse enredo se desenvolve é Vila Rica, atual cidade de
amores e das letras que se unem e se fundem em poemas de Ouro Preto.
rara expressividade.
PORTÁCIO, Denilson Albano. Romanceiro da Inconfidência, um misto Atenção
de poder, liberdade e opressão. Revista de Letras, v. 18, n. 2, p. 74-83,
jul./dez. 1996. p. 74. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/bitstream/ Romanceiro é o nome dado ao conjunto de breves poe-
riufc/16750/1/1996_art_daportacio.pdf. Acesso em: 16 nov. 2023. mas de tom popular sobre determinado tema. O gênero
Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro. Perdeu os pais originou-se na Idade Média e tem ligações com a tradição
ibérica.
muito cedo e foi criada pela avó. Frequentou a Escola Normal
e formou-se em 1917. Atuou como professora do ciclo básico,
mas também se dedicou à literatura e ao jornalismo.

Luis War/Shutterstock.com
Seu papel na educação brasileira foi bastante im-
portante e, apesar de menos conhecida, sua carreira em
diversos cargos relacionados à área educacional é bastante
expressiva. Ao lado de vários intelectuais, a autora assinou,
em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.
O documento defendia a necessidade de mudanças edu-
cacionais no Brasil, propondo ações que seriam positivas
para a sociedade como um todo.
[...] O movimento escolanovista propunha a implantação de
um plano geral de educação organizado pelo Estado e defendia
a existência de uma escola única, pública, laica, obrigatória e
gratuita. Apesar de encontrar apoio em diferentes setores da
sociedade, a proposição do Movimento não ocorreu de forma
FRENTE 2

tranquila, esbarrando na oposição da Igreja Católica, que, até


então, concorria com o Estado na função de educar a população
e controlava parcela expressiva das escolas da rede privada. [...]
SILVA, Giselle Lourenço de Sousa. O pensamento educacional de Cecília
Meireles. 2017. 125 f. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade
Católica de Goiás, Goiânia, 2017. Disponível em: http://tede2.pucgoias.
edu.br:8080/bitstream/tede/3833/2/GISELLE%20LOUREN%c3%87O%20
DE%20SOUSA%20SILVA.pdf. Acesso em: 16 nov. 2023. Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto, Minas Gerais.

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O livro nasceu depois de uma visita que Cecília Meireles

Museu Júlio de Castilhos, Porto Alegre


fez à cidade de Ouro Preto (MG). A autora foi enviada para
acompanhar, como jornalista, as festividades da Semana San-
ta na cidade e acabou sendo influenciada pelo forte apelo
histórico do lugar. Seu interesse também está relacionado ao
desejo dos modernistas de recuperar o passado nacional. Com
dedicação, Cecília Meireles faz uma extensa pesquisa sobre o
Brasil do século XVIII e costura dados, personagens e docu-
mentos históricos em suas composições poéticas.
Pensando nos aspectos estruturais, destaca-se o uso da
redondilha maior – verso de sete sílabas –, um esquema livre
de rimas e a combinação dos gêneros épico, dramático e
lírico. Cecília também estudou as formas poéticas medievais
Prisão de Tiradentes, de Antônio Parreiras, 1914. Óleo sobre tela, 282 cm 3 180 cm.
e os poetas do Arcadismo, principalmente Tomás Antônio
Museu Antônio Parreiras, Niterói, Brasil.
Gonzaga. Como resultado, podemos perceber o entrelaça-
mento de três tempos na obra: a época de Cecília (década Estabelecendo relações
de 1920), a época da Inconfidência Mineira (século XVIII) e
a época medieval. Os poetas Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e
Cláudio Manuel da Costa são reconhecidos não apenas
Atenção por se destacarem no Arcadismo brasileiro, mas também
pela participação direta que tiveram em um importante
Entre as principais características do Arcadismo estão: o momento histórico do Brasil: a Inconfidência Mineira.
bucolismo, a idealização da natureza e o interesse por O movimento teve origem na capitania de Minas Gerais
problemas sociais. Esse era o movimento estético vigente e foi influenciado pelos ideais de liberdade do Ilumi-
quando a Inconfidência Mineira aconteceu. nismo. Os inconfidentes se revoltaram contra a Coroa
portuguesa, que, criando uma série de leis, impedia o
desenvolvimento econômico da colônia. Com a cres-
A obra se organiza em cinco partes, nas quais se su-
cente cobrança de taxas e impostos, cresceu também a
cedem romances, cenários e falas. Os romances formam insatisfação da população, levando grupos de diferentes
o núcleo narrativo e são entremeados por falas – inter- classes sociais a se unir para reivindicar mudanças.
venções da voz narrativa que se dirige às personagens ou Os poetas árcades e Joaquim José da Silva Xavier,
ajudam na interpretação da leitura – e cenários – que situam conhecido como Tiradentes, eram os principais re-
o leitor no tempo e espaço e indicam mudanças de tom. presentantes do movimento e pretendiam libertar o
Brasil da Coroa portuguesa, estabelecendo uma Repú-
Em o Romanceiro da Inconfidência, observa-se um traba-
blica Independente. Os inconfidentes foram traídos por
lho exemplar do fazer poético de Cecília Meireles. Um longo
Joaquim Silvério dos Reis, que devia uma grande soma
poema que narra um importante fato histórico do Brasil Colô- para a Coroa e, em troca de informações, teve sua dívida
nia, a Inconfidência Mineira. perdoada.
Este poema de estrutura dramática evidencia a figura do
personagem como condutor da narrativa e utiliza recursos cê-
nicos para narrar as ações desses personagens, os quais na Jorge de Lima, Murilo Mendes e
sua grande maioria são reais, aparecendo ainda personagens
fictícios que auxiliam no enriquecimento da trama.
Vinicius de Moraes
O personagem narrador utiliza variados recursos de lingua-
gem para contar a travessia de liberdade do Alferes Tiradentes. Vida e obra de Jorge de Lima (1895-1953)
Ilustra a narrativa com o poder do ouro, o som das igrejas do
Acervo do Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional, Rio de Janeiro

século XVIII, as cores que compuseram a trajetória da liber-


dade e as palavras, as ideias, que resumiram o significado da
Inconfidência Mineira.
PORTÁCIO, Denilson Albano. Romanceiro da Inconfidência, um misto
de poder, liberdade e opressão. Revista de Letras, v. 18, n. 2, p. 74-83,
jul./dez. 1996. p. 83. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/bitstream/
riufc/16750/1/1996_art_daportacio.pdf. Acesso em: 16 nov. 2023.

Ao longo da obra, ficam evidentes os tons espiritualista,


característico do Modernismo, evocativo e questionador.
Há, ainda, tintas de uma dualidade ou ambiguidade que
permeia as ações do ser humano. Os personagens são
apresentados de maneira detalhada, estratégia que os
humaniza e comove o leitor. Entre as principais figuras his-
tóricas inseridas no enredo estão: Chica da Silva, D. Maria I,
Joaquim José da Silva Xavier, Cláudio Manoel da Costa e Jorge de Lima nasceu em Alagoas. Foi pintor, ilustrador,
Tomás Antônio Gonzaga. escultor, romancista, professor, mas se destacou como poeta.

176 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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Cursou Medicina e exerceu sua profissão até se lançar na Essa negra Fulô! Essa negra Fulô!
vida política, sem nunca perder o contato com os escritores Essa negra Fulô Essa negra Fulô!
de sua época, entre eles José Lins do Rego, Gilberto Freyre
e Murilo Mendes. Suas primeiras produções poéticas têm O Sinhô foi açoitar Ó Fulô? Ó Fulô?
forte influência parnasiana e simbolista. sozinho a negra Fulô. Cadê, cadê teu Sinhô
A segunda fase de sua obra teve início quando o poe­ta A negra tirou a saia que nosso Senhor me mandou?
e tirou o cabeção, Ah! foi você que roubou,
aderiu ao Modernismo e ficou conhecida como fase negra
de dentro dele pulou foi você, negra Fulô?
ou regional, cujo poema mais conhecido é “Essa negra
nuinha a negra Fulô.
Fulô”. Inspirado pela onda de brasilidade que envolvia
Essa negra Fulô!
os modernistas, Lima adotou os versos brancos e livres,
LIMA, Jorge de. Essa negra Fulô. In: LIMA, Jorge de. Poemas negros.
agregou o espaço nordestino às suas composições, enfati- São Paulo: Cosac Naify, 2014.
zando as paisagens, o folclore e os personagens. Também
apresentou suas memórias de infância e adolescência, des- “Essa negra Fulô” é um poema narrativo e descritivo,
crevendo a convivência com a população negra. no qual o eu lírico recupera uma lembrança da infância e a
<assets>001598_por_f2_c11_t0003</assets> apresenta sem um viés crítico, o que mostra o distanciamen-
Essa negra Fulô to entre ele e as pessoas envolvidas na rememoração. As
Ora, se deu que chegou saiu na perna dum pinto falas da Sinhá e as atitudes do feitor e do Sinhô evidenciam
(isso já faz muito tempo) o Rei-Sinhô me mandou a opressão a que o povo negro escravizado era submetido.
no banguê dum meu avô que vos contasse mais cinco.” Chama a atenção a maneira como a mulher negra é
uma negra bonitinha apresentada; figura frequente na poesia dessa fase de Lima,
chamada negra Fulô. Essa negra Fulô! a negra Fulô parece ser reduzida a um corpo sensual, que é
Essa negra Fulô! usado para que ela consiga se livrar de punições. A crítica
Essa negra Fulô! literária mostra-se dividida em relação à denominada fase
Essa negra Fulô! Ó Fulô? Ó Fulô? negra do poeta, pois o corpo da mulher negra é o que mais
Vai botar para dormir se destaca em Poemas negros (1947).
Ó Fulô! Ó Fulô! esses meninos, Fulô! A terceira fase de Jorge de Lima é conhecida como
(Era a fala da Sinhá) “Minha mãe me penteou místico-religiosa e coincide com sua conversão ao catolicis-
— Vai forrar a minha cama, minha madrasta me enterrou mo. O ponto alto desse período foi a publicação, em parceria
pentear os meus cabelos, pelos figos da figueira com Murilo Mendes, da coletânea Tempo e eternidade, em
vem ajudar a tirar que o Sabiá beliscou.” 1935. Ainda nessa fase, publicou A túnica inconsútil (1938)
a minha roupa, Fulô! e Anunciação e encontro de Mira-Celi (1943). São caracte-
Essa negra Fulô! rísticas dessas obras a simbologia hermética, as alegorias,
Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! o ritmo, o equilíbrio métrico e a atemporalidade. Tematica-
mente, é possível notar a presença de figuras religiosas,
Essa negrinha Fulô Fulô? Ó Fulô? mescladas ao lirismo e à sensualidade.
ficou logo pra mucama, (Era a fala da Sinhá Sua última fase foi a épica, período em que publicou
para vigiar a Sinhá chamando a negra Fulô.) A invenção de Orfeu (1952). A obra é organizada em dez
pra engomar pro Sinhô! Cadê meu frasco de cheiro cantos e é considerada o ponto alto e a síntese da carreira
Essa negra Fulô! que teu Sinhô me mandou? literária de Jorge de Lima, por reunir características das fa-
Essa negra Fulô — Ah! foi você que roubou! ses negra e místico-religiosa. Aclamada pela crítica de sua
Ah! foi você que roubou! época, A invenção de Orfeu é uma produção complexa e
Ó Fulô! Ó Fulô! enigmática, que apresenta diversas referências simbólicas,
(Era a fala da Sinhá) O Sinhô foi ver a negra literárias e mitológicas.
vem me ajudar, ó Fulô, levar couro do feitor.
vem abanar o meu corpo A negra tirou a roupa.
Vida e obra de Murilo Mendes (1901-1975)
que eu estou suada, Fulô! O Sinhô disse: Fulô!
Folhapress/Folhapress

vem coçar minha coceira, (A vista se escureceu


vem me catar cafuné, que nem a negra Fulô.)
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história, Essa negra Fulô!
que eu estou com sono, Fulô! Essa negra Fulô
FRENTE 2

Essa negra Fulô! Ó Fulô? Ó Fulô?


Cadê meu lenço de rendas
“Era um dia uma princesa cadê meu cinto, meu broche,
que vivia num castelo cadê meu terço de ouro
que possuía um vestido que teu Sinhô me mandou?
com os peixinhos do mar. Ah! foi você que roubou.
Entrou na perna dum pato Ah! foi você que roubou.

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Nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, no ano de 1901, Vida e obra de Vinicius de Moraes (1913-1980)
Murilo Mendes foi poeta e prosador. Era filho de um funcio-

Album/Easypix Brasil
nário público e de uma dona de casa que morreu quando
Murilo Mendes tinha apenas um ano de vida. Foi criado
pela madrasta, a quem considerava uma segunda mãe.
Aos16 anos, recusava-se a levar os estudos a sério, apesar
dos esforços da família. Alguns anos depois, em 1920, aca-
bou se mudando para o Rio de Janeiro com o irmão.
Seus primeiros textos foram publicados em revistas
modernistas, como a Revista de Antropofagia e Verde. Em
1930, com apoio do pai, publicou sua primeira coletânea
de poemas, pela qual recebeu o Prêmio Graça Aranha.
Casou-se em 1940 com a poeta Maria da Saudade Cortesão
e partiu para a Europa em uma missão cultural que durou
de 1952 a 1956. Em 1957, fixou residência na Itália, onde
assumiu a cadeira de professor de Cultura Brasileira na Uni-
versidade de Roma. Sua residência na cidade acabou se
tornando um ponto de encontro para artistas e intelectuais.
Suas primeiras produções poéticas evidenciam a
influência dos principais temas e procedimentos do Moder-
nismo brasileiro. Sua obra dialoga com a poesia de Mário
de Andrade e Oswald de Andrade e podemos observar
características como o nacionalismo, o folclore, o coloquia-
lismo, o humor, o poema-piada e a paródia.
Após sua conversão ao catolicismo, é possível notar Vinicius de Moraes nasceu no Rio de Janeiro em 1913.
uma vertente religiosa e espiritualista que passa a acom- Poeta, compositor, cronista e crítico de cinema, também
panhar sua obra até o fim, com um tom esperançoso, mas atuou como diplomata. Fazia parte de uma família de inte-
que também revela uma dupla concepção da poesia: como lectuais com formação católica, motivo pelo qual frequentou
salvação e, paradoxalmente, como martírio, à medida que o colégio jesuíta e participou do coro nas missas de domin-
testemunha o sofrimento do mundo. Umas das caracte- go. Na faculdade de Direito também se relacionava com
rísticas mais marcantes de sua obra é a dualidade, como um grupo de amigos católicos, e sua crença marcou seus
podemos observar no poema “Jogo”, por exemplo. primeiros poemas, publicados em O caminho para a dis-
O Surrealismo foi outra influência marcante na obra de tância (1933) e em Forma e exegese (1935).
Mendes. Desse movimento, o poeta utiliza principalmen- Estudou língua e literatura inglesa na Universidade de
te a técnica da montagem, que ele adota para conciliar Oxford, Inglaterra, mas retornou ao Brasil no início da Se-
elementos contraditórios, como o onírico e o mundano, o gunda Guerra Mundial. Passou a colaborar com revistas e
imaginário e o cotidiano. Tal influência se deu pela amizade jornais como crítico de cinema. Serviu como diplomata em
entre o poeta e o pintor surrealista Ismael Nery (1900- diversos países, até que, em 1968, por se opor à ditadura,
-1934), a quem Murilo Mendes e Jorge de Lima dedicaram foi exonerado de seu cargo.
a obra Tempo e eternidade. Vinicius ficou muito conhecido por sua participação
na criação da bossa nova, período em que cultivou uma
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro

vida de boemia e passou a dedicar-se a turnês musicais


acompanhando, principalmente, o músico Toquinho. O amor
é, sem dúvidas, a grande marca do poeta e compositor.
A obra de Vinicius de Moraes é um longo aprendizado
do amor.
Em seus primeiros livros, a temática amorosa viu-se embra-
çada pela religiosidade do jovem atormentado por sentimentos
e desejos que traziam consigo a nódoa do pecado. Otávio de
Faria referiu-se a esse momento da poesia de Vinicius como
o de uma luta entre a pureza impossível e a impureza inacei-
tável. Foi aos poucos que o poeta conquistou maturidade e
desenvoltura nos planos afetivo e estético.
Nos versos do primeiro Vinicius, o amor é exaltado com
vocabulário nobre e imagens nebulosas; surge distante das
experiências mais chãs e da linguagem do dia a dia, ou, ao
contrário, mostra-se decaído por sua pureza aviltada. Adiante,
Autorretrato, de Ismael Nery, 1930. Óleo sobre papel, 62 cm 3 47,5 cm. o poeta mais bem formado consolidaria uma escrita em que
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. o amor baixa à esfera comum das vivências cotidianas, da

178 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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expressão coloquial, numa manobra em direção à expressão experimentações formais. O soneto, porém, é a forma mais
mais direta, mais simples; a trama afetiva, por sua vez, adensa-se, cultuada por Vinicius de Moraes. O poeta, no entanto, pro-
marcada agora por erotismo e força intuitiva, leveza e natura- põe-se a criar sonetos com uma linguagem mais coloquial,
lidade, ânimo humorístico e potência subversiva. o que ajuda a dar ares de modernidade à sua produção.
Como exemplos, cabe lembrar dos sonetos, como os céle- Cada um dos poetas da década de 1930 apresenta
bres “Soneto de fidelidade”, “Soneto do maior amor” e “Soneto em seus trabalhos influências de diferentes movimentos
de separação”. Modelados pela temática amorosa, despertam estéticos. Essas produções se encontraram no Modernis-
nossa emoção e, ao mesmo tempo, fascinam pelo acabamento
mo a partir de um traço em comum: a liberdade criativa.
formal. O resultado é uma rara capacidade de criar vínculos
A segunda geração da poesia modernista, no entanto, não
permanentes com o leitor, perseverando numa espécie de me-
se propunha a romper com os ideais da primeira, como
mória coletiva. [...]
afirma Alfredo Bosi:
FERRAZ, Eucanaã. Apresentação. In: MORAES, Vinicius de. Todo amor.
São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 9. [...] se desviarmos o foco da atenção da ruptura para as
permanências, constataremos o quanto ficou da linguagem
chã: comum, fácil. reelaborada no decênio de 20. A dívida maior, e era de espe-
rar que fosse, a da poesia. Mário, Oswald e Bandeira tinham
desmembrado de vez os metros parnasianos e mostrado com
Saiba mais exemplos vigorosos a função do coloquial, do irônico, do pro-
saico na tessitura do verso. Um Drummond, um Murilo, um
A bossa nova foi um movimento musical cujo principal Jorge de Lima, embora cada vez mais empenhados em superar
objetivo era a renovação do samba. O movimento teve a dispersão e a gratuidade lúdica daqueles, foram os legítimos
origem na zona sul do Rio de Janeiro na década de 1950. continuadores do seu roteiro de liberação estética. E, mesmo
A canção “Chega de saudade” é considerada o marco a lírica essencial, antipitoresca e antiprosaica, de Cecília Mei-
inicial do movimento e é uma colaboração entre o músico reles [...], Vinicius de Marais [...], próxima do neossimbolismo
Tom Jobim e o poeta Vinicius de Moraes.
europeu, só foi possível porque tinha havido uma abertura a
todas as experiências modernas no Brasil pós-22.
Joao Paulo V Tinoco/Shutterstock.com

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira.


São Paulo: Cultrix, 1970. p. 431.

As vanguardas valorizavam a experimentação e, desse


modo, cabe dizer que as referências a outros autores, à tradi-
ção literária ou às correntes vanguardistas são incorporadas
nesses poemas como meio de expressar algo novo.

Saiba mais
O escritor, jornalista e tradutor Mario Quintana (1906-
-1994) é considerado um dos maiores poetas brasileiros
do século XX. Sua síntese poética permite categorizar sua
produção estética como modernista. Nascido em Alegrete
no Rio Grande do Sul, Mario contribuiu com periódicos
como O Estado do Rio Grande do Sul, a Revista Globo e o
Correio do Povo e publicou seu primeiro livro, Cataventos,
Estátua de Tom Jobim, um dos mais importantes nomes da bossa nova
e da música brasileira, na praia de Ipanema, Rio de Janeiro.
em 1940, a partir do qual passou a ser agraciado pelo
público leitor seduzido pela musicalidade e beleza de sua
poesia. Essa relação de proximidade levou a produção
A obra de Vinicius de Moraes é, geralmente, dividida poética de Mario Quintana a ser reproduzida em inúmeras
em duas fases: na primeira, observamos fortes tendências antologias escolares. Atualmente, é comum o autor surgir
místicas e transcendentais, além do conflito entre a forma- em questões de vestibulares no país, especialmente por
ção católica e os prazeres mundanos. Já na segunda fase, seus poemas em prosa que apresentam grande densi-
iniciada com a coletânea Novos poemas (1938), o poeta dade, apesar da síntese. A brincadeira com as palavras
faz um movimento de afastamento do transcendentalismo, e os jogos linguísticos são característicos da poesia de
imprimindo um tom mais sensual aos seus poemas. Além seus livros Canções (1946) e Caderno H (1973), além
disso, a preocupação com os problemas sociais também de outras marcas modernistas, como os versos brancos
e livres e a abordagem a temas associados ao tempo, à
ganha espaço.
infância e a cenas cotidianas. O poeta morou por muitos
As mudanças não são apenas temáticas, mas estrutu-
FRENTE 2

anos no Hotel Majestic, transformado na Casa de Cultura


rais. Na primeira fase, temos um poeta mais prolixo e seus Mario Quintana. Como nunca se casou, a poesia tornou-se
versos são mais longos; na segunda fase, por sua vez, a a grande companheira de sua vida.
linguagem é mais econômica e concisa, dando espaço a

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Revisando
<id>001598_por_f2_c11_q0001</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. Observe a tela Pogrom, pintada por Lasar Segall em 1937. Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
Acervo do Museu Lasar Segall-Ibram/Ministério do Turismo

mulheres entre laranjeiras


pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.

a) é herdeiro da vertente social do Modernismo de 30.


b) ironiza a idealização da vida rural, tão cantada pe-
los românticos do século XIX.
c) substitui a idealização romântica da vida rural por
uma visão mais crítica.
d) se vale de vocabulário e sintaxe simples, de acor-
do com a proposta do Modernismo.
e) mostra na primeira estrofe um quadro romântico da
natureza, que é desfeito nas estrofes seguintes.
<id>001598_por_f2_c11_q0005</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

3. Segundo o Dicionário de Termos Literários do escri-


tor e professor português Carlos Ceia, romanceiro é a
“designação atribuída ao gênero literário de tradição
Lasar Segall, Pogrom, 1937. Óleo com areia sobre tela, 184 cm 3 150 cm. oral constituído pelo conjunto de breves poemas tra-
Museu Lagar Segall, São Paulo. dicionais ou romances cuja origem remonta à Baixa
Analise as afirmações sobre as fases da produção Idade Média. Tal designação surge já em 1579 com
poética de Carlos Drummond de Andrade e a relação a coleção de Lucas Rodrigues – Romancero Historia-
de intertextualidade com a tela de Segall. do –, sendo consolidada em 1600 com o Romancero
I. A fase gauche dialoga com a obra de Lasar Segall, General”. A partir do conceito de romanceiro dado
pois a relação do poeta com o mundo é de indife- pelo professor e considerando a estrutura do livro Ro-
rença, como se nota em seus poemas prosaicos manceiro da Inconfidência, por que podemos afirmar
sobre a guerra e a violência. que a obra de Cecília Meireles apresenta as caracte-
II. Pogrom, de Segall, associa-se à fase social de rísticas desse gênero?
<id>001598_por_f2_c11_q0006</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>

Drummond, devido à sua inclinação aos proble- </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

4. Leia o texto a seguir.


mas de cunho sociopolítico, presentes em obras
como Sentimento do mundo e A rosa do povo. Romanceiro da Inconfidência (1953), de Cecília
III. Pode-se afirmar que a fase metafísica drummon- Meireles (1901-1964), livro de poemas que efetua um
diana é uma paráfrase da obra de Segall, uma vez mergulho lírico na história da Conjuração Mineira
que Drummond tinha interesse pelo tema da mor- (1789), é das obras poéticas de maior fôlego na litera-
te e ressureição. tura brasileira. Resultado de dez anos de pesquisa sobre
IV. A fase da memória, escrita entre as décadas de o século XVIII no Brasil, o livro registra com exatidão
1970 e 1980, conversa com a obra de Segall, dados e documentos históricos [...].
pois o poeta escrevia crônicas de guerra e nove- A denúncia de injustiça estende-se a todos os setores
las de conteúdo histórico. da sociedade, que tem sua formação também retratada
É correto apenas o que se afirma em: no livro. Emprega-se em múltiplos contextos a referên-
a) I. cia ao ouro que permite o enriquecimento da região.
b) II. No Romance I, ele é objeto de busca de “homens alu-
c) III. cinados”; no IV, matéria-prima de um punhal usado
d) IV. por um pai para assassinar a filha (nesse caso, recria-
e) III e IV. ção de fato verídico). Entre outros aproveitamentos,
<id>001598_por_f2_c11_q0004</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> destaca-se o do metal como símbolo da ganância per-
2. ITA-SP O poema a seguir é um dos mais conhecidos manente (“Que a sede de ouro é sem cura, / e, por ela
de Carlos Drummond de Andrade. É INCORRETO di- subjugados, / os homens matam-se e morrem, / ficam
zer que o poema mortos, mas não fartos”, Romance I), que tem como

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consequência a desigualdade e a exploração brutal do trabalho escravo (“Morre-se de febre e fome / sobre a riqueza
da terra”, Romance II).
[...]
ROMANCEIRO da Inconfidência. In: Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.
itaucultural.org.br/obra6408/romanceiro-da-inconfidencia. Acesso em: 15 jan. 2024. Verbete da Enciclopédia.

Considerando o período que Cecília Meireles se propõe a retratar, justifique por que o ouro é representado de tal
forma no Romanceiro da Inconfidência.

Pesquise o poema “O pastor pianista”, de Murilo Mendes, e leia a crítica de Antonio Candido sobre ele para
responder às questões 5 e 6.
<assets>001598_por_f2_c11_t0002</assets>

Analisar este poema [O pastor pianista] é essencialmente tentar a caracterização da sua linguagem, a partir do problema
das tensões, muito vivo aqui a começar pela ambiguidade do título, que pode significar “pastor que toca piano”, ou “pastor
que apascenta pianos”.
CANDIDO, Antonio. Na sala de aula: caderno de análise literária. 8. ed. São Paulo: Ática, 2009. p. 82.
<id>001598_por_f2_c11_q0007</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0002</assets>

5. Uma das características da obra de Murilo Mendes são os dualismos. Analise essa característica a partir da afirmação
de Antonio Candido.
<id>001598_por_f2_c11_q0008</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0002</assets>

6. A imagem descrita no poema faz referência a uma vanguarda europeia. Qual seria essa vanguarda e qual o seu efeito
de sentido no poema?
<id>001598_por_f2_c11_q0009</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0003</assets>

7. Releia o poema “Essa negra Fulô”, de Jorge de Lima reproduzido anteriormente, e explique a repetição da expressão
que dá título ao poema.
<id>001598_por_f2_c11_q0010</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0003</assets>

8. O verso inicial do poema, “uma negra bonitinha”, se contrapõe à dinâmica apresentada por Jorge de Lima. Explique
a razão dessa ocorrência.

Exercícios propostos
<id>001598_por_f2_c11_q0016</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. EsPCEx-SP Sobre a poesia da Segunda Geração modernista, é correto afirmar que


a) apresenta fortes características regionalistas, assim como a prosa do período.
b) valoriza as formas fixas, como o soneto, em detrimento à liberdade de expressão.
c) preocupa-se fundamentalmente com o sentido da existência humana.
d) apresenta forte tendência nacionalista e de crítica à realidade social brasileira.
e) é essencialmente experimentalista e inovadora quanto a temas e formas de expressão.

Na questão a seguir, marque V para verdadeiro e F para falso.


<id>001598_por_f2_c11_q0027</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

2. UFPE A Semana de Arte Moderna deu início a uma revolução nas artes no Brasil, incluindo a literatura. A partir de en-
tão, adotamos os preceitos de vanguarda através de várias correntes que modificaram definitivamente a linguagem
literária no nosso país. Considerando esse contexto histórico, analise os itens abaixo.
0-0 No Modernismo, várias vanguardas se constituíram com ousadias formais e temáticas. Na ficção literária,
essas tendências exerceram influência, por exemplo, por meio da liberdade de expressão, da incorpora-
ção do cotidiano, da linguagem coloquial, da ambiguidade, da paródia, das inovações técnicas, como a
escrita automática e o fluxo da consciência.
1-1 Na primeira fase do modernismo brasileiro, Mário de Andrade foi muito versátil, interessando-se por tudo
que dissesse respeito ao Brasil. Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter, apela para o suporte mitológico
da lenda indígena, transfigurada pelo escritor. No entanto, falha no propósito de identificar o herói com o
povo brasileiro.
2-2 Tendo pertencido à geração de 30, Carlos Drummond de Andrade é considerado nosso poeta maior. De lin-
guagem seca e simples, no início chocou o público leitor com seu poema inusitado e sem sentimentalismo, No
Meio do Caminho, onde o anedótico mascara uma reflexão existencial.
FRENTE 2

3-3 O romance regionalista de 30 foi muito influenciado pelo Manifesto Regionalista de Gilberto Freire, lançado
em 1926, e tinha como principal característica expressar os valores regionais numa linguagem fora dos pa-
drões, no que dava continuidade à vertente aberta por Oswald de Andrade em sua obra romanesca.
4-4 João Guimarães Rosa e Clarice Lispector foram duas grandes figuras da terceira fase do modernismo brasilei-
ro. A primeira fazia, em sua prosa, uma espécie de “recriação linguística”, para expressar sua leitura mística do
sertão. A segunda, por sua vez, introduziu nas letras brasileiras uma prosa de sondagem interior, valendo-se,
para tanto, do fluxo da consciência e de metáforas insólitas.

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<id>001598_por_f2_c11_q0022</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

3. UPF-RS 2016 Primeiro grande poeta a se afirmar 01 O poema não traz convergências semânticas em re-
após as estreias modernistas, Carlos Drummond de lação ao número de estrofes e ao seu título. Como
Andrade publica, na década de 1930, os livros Alguma se trata de um texto inspirado no ideário do spleen,
poesia e Brejo das almas, marcados pelo individualis- cultivado na segunda geração romântica, as estro-
mo e pelo humor do poeta gauche. Entretanto, desde fes são escritas em diferentes situações e depois
Sentimento do mundo, publicado no início da década agrupadas em um só poema sem o compromisso
de 1940, nota-se a emergência de um(a) __________ de vinculação dos significados de cada estrofe.
na produção do poeta mineiro, e o livro A rosa do 02 A exploração dos diferentes sentidos das pala-
povo, de 1945, assinala, justamente, o momento cul- vras na expressão poética pode ocorrer por meio
minante e derradeiro da __________ de Drummond, do uso de figuras de linguagem. No poema apa-
composta sob os anos trágicos e sombrios da Segun- rece a prosopopeia no verso “As casas espiam os
da Guerra Mundial. homens”. No verso “O bonde passa cheio de per-
nas”, encontra-se metonímia.
Assinale a alternativa cujas informações preenchem
04 Na última estrofe, o eu lírico, comovido com sua
corretamente as lacunas do enunciado.
perda amorosa, preocupa-se com o abuso da be-
a) sentimento ufanista / poesia nacionalista.
bida alcoólica e aconselha o leitor a evitar o seu
b) senso participante / poesia política.
consumo, mesmo correndo o risco de contrariá-
c) pendor filosofante / poesia metafísica.
-lo: “Eu não devia te dizer”.
d) sentimento nostálgico / poesia memorialística.
08 O título do poema, bem como o número de estro-
e) concepção formalista / poesia experimental.
fes, por refletirem o sincretismo religioso brasileiro,
Leia o poema a seguir para responder às questões estão relacionados aos sete pecados capitais: so-
4 e 5. berba, inveja, luxúria, preguiça, ira, avareza e gula.
<assets>002447_por_f2_c11_t0001</assets>
16 A segunda e a terceira estrofes representam dois
Poema de sete faces espaços diferentes: os dois primeiros versos da
segunda estrofe focalizam casas que espiam ho-
Quando nasci, um anjo torto
mens; a terceira estrofe focaliza o bonde, dentro
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. do qual se constata variedade racial.
As casas espiam os homens Soma:
<id>002447_por_f2_c11_q0002</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
que correm atrás de mulheres. </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f2_c11_t0001</assets>

A tarde talvez fosse azul, 5. UFJF-MG 2022 Sobre a expressão “desses que”, pre-
não houvesse tantos desejos. sente na segunda linha, é CORRETO afirmar que:
a) Sugere que o “anjo torto” é um ser único e incom-
O bonde passa cheio de pernas: parável.
pernas brancas pretas amarelas. b) Indica que o anjo é uma versão espiritual da vida
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. humana.
Porém meus olhos c) Indica que o “anjo torto” se assemelha a outros
não perguntam nada. anjos que “vivem na sombra”.
O homem atrás do bigode d) Sugere que o “anjo torto” deseja endireitar a vida
é sério, simples e forte. de “Carlos”.
Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos e) Indica que o anjo é um ser especial na vida de
o homem atrás dos óculos e do bigode. “Carlos”.
<id>002447_por_f2_c11_q0003</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Meu Deus, por que me abandonaste 6. UCS-RS 2022


se sabias que eu não era Deus Stop.
se sabias que eu era fraco.
A vida parou
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo ou foi o automóvel?
Fonte: ANDRADE, C. D. Alguma Poesia. Belo Horizonte:
seria uma rima, não seria uma solução. Edições Pindorama, 1930.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é o meu coração. Esse poema pode ser interpretado como uma crítica à
vida moderna e acelerada que tem entre suas conse-
Eu não devia te dizer quências os congestionamentos e outros transtornos
mas essa lua causados pela falta de mobilidade urbana, afinal, pas-
mas esse conhaque sar alguns minutos ou horas “parado” no trânsito faz
botam a gente comovido como o diabo. parte da rotina de quem vive ou trabalha nas grandes
ANDRADE, C. D. de. Antologia poética. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012. p. 19-20. 01)
cidades. Sobre Carlos Drummond de Andrade, é cor-
<id>002447_por_f2_c11_q0001</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>002447_por_f2_c11_t0001</assets> reto afirmar que
4. UEM-PR 2023 Sobre o poema e sobre o seu autor Carlos a) apresenta preocupação com o rigor formal, a pre-
Drummond de Andrade, assinale o que for correto. cisão vocabular, o verso curto e os paralelismos

182 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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sintáticos, explorando temas como a fugacidade Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
do tempo e a efemeridade das coisas. Teus ombros suportam o mundo
b) faz parte da terceira geração modernista, denomi- e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
nada geração de 45, sendo duramente criticado As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
pela falta de engajamento social e por retroceder provam apenas que a vida prossegue
em relação às conquistas de 1922. e nem todos se libertaram ainda.
c) tem a obra poética dividida em quatro fases, sen- Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
preferiram (os delicados) morrer.
do que a gauche é caracterizada pelo pessimismo,
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
individualismo, isolamento, reflexão existencial, iro-
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
nia e metalinguagem.
A vida apenas, sem mistificação.
d) combina, influenciado por filosofias orientais, es-
ANDRADE, Carlos Drummond. Obras completas. Rio de Janeiro:
piritualidade com um modo sutil de perceber o Aguilar, 1967. P. 110-111.
<id>001598_por_f2_c11_q0023</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
universo, o que explica a utilização de versos cur- </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0005</assets>

tos, leves, suaves e imagéticos. 8. FMP-RJ 2018 No poema, depois de refletir sobre o
e) concilia o profano e o sagrado ao produzir uma tempo presente, o eu lírico constata que é preciso
poesia mística, mas, ao mesmo tempo, erótica, a) suportar com resignação as dificuldades da vida,
tendo a mulher como uma de suas principais fon- sem enganar a si mesmo.
tes de inspiração. b) procurar conviver com os amigos, porque eles
<id>001598_por_f2_c11_q0020</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> são importantes na nossa vida.
7. EsPCEx-SP 2019 Leia as afirmações abaixo sobre c) enfrentar com coragem o isolamento, já que ele
Carlos Drummond de Andrade: impede a realização pessoal.
I. Preferiu não participar da Semana de Arte Moder- d) esperar com paciência a velhice para usufruir as
na, mas enviou seu famoso poema “Os Sapos”, experiências acumuladas.
que, lido por Ronald de Carvalho, tumultuou o Tea­ e) lutar contra as dificuldades do dia a dia para po-
tro Municipal. der viver com tranquilidade.
<id>001598_por_f2_c11_q0024</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
II. Sua fase “gauche” caracterizou-se pelo pessimis- </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0005</assets>

mo, pelo individualismo, pelo isolamento e pela 9. FMP-RJ 2018 Entre as características da obra de
reflexão existencial. A obra mais importante foi o Carlos Drummond de Andrade, a que está presente
“Poema de Sete Faces”. nesse poema é a
III. Na fase social, o eu lírico manifesta interesse pelo a) valorização do cotidiano e das raízes culturais
seu tempo e pelos problemas cotidianos, buscan- brasileiras.
do a solidariedade diante das frustrações e das b) nostalgia da vida provinciana relacionada à terra natal.
esperanças humanas. c) denúncia constante da monotonia observada no
IV. A última fase foi marcada pela poesia intimista, de dia a dia.
orientação simbolista, prezando o espiritualismo e d) esperança na sobrevivência do sentimento amoroso.
orientalismo e a musicalidade, traços que podem e) manifestação de cansaço diante dos problemas
ser notados no poema “O motivo da Rosa”. da vida.
<id>001598_por_f2_c11_q0026</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Estão corretas as afirmações: 10. IFPE 2017
a) I, II e III
b) II, III e IV Texto 1
c) II e III Certas palavras
d) II e IV Certas palavras não podem ser ditas
e) III e IV em qualquer lugar e hora qualquer.
Texto para as questões 8 e 9. Estritamente reservadas
<assets>001598_por_f2_c11_t0005</assets> para companheiros de confiança,
Os ombros suportam o mundo devem ser sacralmente pronunciadas
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. em tom muito especial
Tempo de absoluta depuração. lá onde a polícia dos adultos
Tempo em que não se diz mais: meu amor. não adivinha nem alcança.
Porque o amor resultou inútil. Entretanto são palavras simples:
E os olhos não choram. definem
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
FRENTE 2

partes do corpo, movimentos, atos


E o coração está seco. do viver que só os grandes se permitem
e a nós é defendido por sentença
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. dos séculos.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. E tudo é proibido. Então, falamos.
És todo certeza, já não sabes sofrer. ANDRADE, Carlos Drummond de. Certas palavras. In: A palavra Mágica -
E nada esperas de teus amigos. POESIA. 10a ed. Rio de Janeiro: Record, 2003, p. 32.

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Texto 2 é silêncio que faz eco
e que volta a ser silêncio
Diálogo final no negrume circundante.
— É tudo que tem a me dizer? – perguntou ele. Silêncio: que quer dizer?
— É – respondeu ela. Que diz a boca do mundo?
— Você disse tão pouco. Meu bem, o mundo é fechado,
— Disse o que tinha para dizer. se não for antes vazio.
— Sempre se pode dizer mais alguma coisa. O mundo é talvez: e é só.
— Que coisa?
— Sei lá. Alguma coisa. Talvez nem seja talvez.
— Você queria que eu repetisse? O mundo não vale a pena,
— Não. Queria outra coisa. mas a pena não existe.
— Que coisa é outra coisa? Meu bem, façamos de conta.
— Não sei. Você que devia saber. De sofrer e de olvidar,
[...] de lembrar e de fruir,
ANDRADE, Carlos Drummond de. Diálogo Final (trecho). In: Histórias de escolher nossas lembranças
para o Rei - CONTO. 4a ed. Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 42-43. e revertê‐las, acaso
Os textos 1 e 2 foram escritos por Carlos Drummond se lembrem demais em nós.
de Andrade, grande nome do Modernismo brasileiro. Façamos, meu bem, de conta
Sobre os autores e características das três fases do – mas a conta não existe –
que é tudo como se fosse,
movimento modernista do Brasil, assinale a alternativa
ou que, se fora, não era.
CORRETA.
[...]
a) Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.
e Cecília Meireles são os principais autores da
segunda fase do Modernismo brasileiro e repre- Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a pers-
sentam, através de textos exclusivamente poéticos, pectiva do sujeito maduro, já afastado das ilusões,
temas urbanos, intimistas e regionalistas. como se lê no verso-síntese “Tu não me enganas,
b) Assim como Drummond, fizeram parte da se- mundo, e não te engano a ti.” (“Legado”). O excerto de
gunda geração modernista os escritores Clarice “Cantiga de enganar” apresenta a relação do eu com
Lispector e Guimarães Rosa, os quais possuíam o mundo mediada
características bastante semelhantes, devido à a) pela música, que ressoa em canções líricas.
tendência lírica da geração de 30. b) pela cor, brilhante na claridade solar.
c) João Cabral de Melo Neto, grande poeta da c) pela afirmação de valores sólidos.
terceira fase do Modernismo brasileiro, ficou co- d) pela memória, que corre fluida no tempo.
nhecido como “poeta engenheiro” e, assim como e) pelo despropósito de um faz-de-conta.
Drummond, tinha a inspiração como principal alia-
Texto para as questões de 12 a 15.
da na elaboração de seus poemas. <assets>001598_por_f2_c11_t0006</assets>

d) Enquanto a primeira geração modernista foi ca- O elefante


racterizada pela polêmica, pela originalidade e Fabrico um elefante a parte do elefante
pelo deboche, a segunda mostrou-se mais ama- de meus poucos recursos. mais fluida e permanente,
durecida, lançou nomes como Carlos Drummond Um tanto de madeira alheia a toda fraude.
de Andrade e consolidou os ideais difundidos na tirado a velhos móveis
fase anterior. 5 talvez lhe dê apoio. Eis o meu pobre elefante
e) Além de Drummond, os escritores Oswald e Mário E o encho de algodão, 25 pronto para sair
de Andrade também abrilhantaram a segunda de paina, de doçura. à procura de amigos
geração do Modernismo. Conhecidos como “Os num mundo enfastiado
A cola vai fixar
Andrades”, os autores introduziram em suas obras que já não crê em bichos
suas orelhas pensas.
uma linguagem mais livre, semelhante à lingua- e duvida das coisas.
10 A tromba se enovela,
gem coloquial. 30 Ei-lo, massa imponente
<id>001598_por_f2_c11_q0029</id><tipo>objetiva</tipo><assunto> é a parte mais feliz e frágil, que se abana
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

11. Fuvest-SP 2020 de sua arquitetura. e move lentamente


a pele costurada
Cantiga de enganar Mas há também as presas, onde há flores de pano
[...] dessa matéria pura 35 e nuvens, alusões
O mundo não tem sentido. 15 que não sei figurar. a um mundo mais poético
O mundo e suas canções Tão alva essa riqueza onde o amor reagrupa
de timbre mais comovido a espojar-se nos circos as formas naturais.
estão calados, e a fala sem perda ou corrupção.
que de uma para outra sala E há por fim os olhos, Vai o meu elefante
ouvimos em certo instante 20 onde se deposita 40 pela rua povoada,

184 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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mas não o querem ver à procura de sítios, segredos, episódios
nem mesmo para rir segredos, episódios não contados em livro,
da cauda que ameaça não contados em livro, de que apenas o vento,
deixá-lo ir sozinho. de que apenas o vento, as folhas, a formiga
75 as folhas, a formiga reconhecem o talhe,
45 É todo graça, embora reconhecem o talhe, mas que os homens ignoram,
as pernas não ajudem mas que os homens ignoram, pois só ousam mostrar-se
e seu ventre balofo pois só ousam mostrar-se sob a paz das cortinas
se arrisque a desabar sob a paz das cortinas à pálpebra cerrada.
ao mais leve empurrão. 80 à pálpebra cerrada. Acerca de “vento”, “folhas” e “formiga”, pode-se afir-
50 Mostra com elegância mar que
sua mínima vida, E já tarde da noite a) significam a procura do poeta por novos “sítios”,
e não há cidade volta meu elefante, ou seja, novo público, futuros leitores do poema.
alma que se disponha mas volta fatigado,
b) são comparados ao “livro” que o poeta pretende
a recolher em si as patas vacilantes
escrever sob a paz das cortinas.
55 desse corpo sensível 85 se desmancham no pó.
c) não constituem elementos naturais capazes de
a fugitiva imagem, Ele não encontrou
compreender e espelhar a natureza do “elefante”.
o passo desastrado o de que carecia,
d) estão presentes no poema com o objetivo de
mas faminto e tocante. o de que carecemos,
Mas faminto de seres eu e meu elefante, exaltar o comportamento humano que só se mos-
60 e situações patéticas, 90 em que amo disfarçar-me. tra “sob a paz das cortinas / à pálpebra cerrada”.
de encontros ao luar Exausto de pesquisa, e) eles não ignoram o que o homem ignora.
<id>001598_por_f2_c11_q0033</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0006</assets>
no mais profundo oceano, caiu-lhe o vasto engenho
14. IME-RJ 2019 No texto, considerando o elefante fabrica-
sob a raiz das árvores como simples papel.
do artesanalmente como uma alegoria para falar da arte,
ou no seio das conchas, A cola se dissolve
mandar o elefante à rua aponta para um desejo de:
65 de luzes que não cegam 95 e todo o seu conteúdo
a) divulgação daquilo que até então era privado e
e brilham através de perdão, de carícia,
íntimo.
dos troncos mais espessos. de pluma, de algodão,
Esse passo que vai jorra sobre o tapete, b) invisibilidade da coisa criada.
sem esmagar as plantas qual mito desmontado. c) anonimato e silenciamento, já que há nas ruas um
70 no campo de batalha, 100 Amanhã recomeço. burburinho incessante que acaba por silenciar
ANDRADE, Carlos Drummond de. O Elefante. 9a ed. - tudo o que nela transita.
São Paulo: Editora Record, 1983.
<id>001598_por_f2_c11_q0031</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
d) fuga às responsabilidades do artista, pois o poeta
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0006</assets>
sucumbe diante de sua inspiração.
12. IME-RJ 2019 O poema O elefante:
e) banalização dos sentimentos que inspiraram o
a) anuncia, por meio da alegoria do animal, que o
poeta a construir seu elefante.
tamanho dos problemas dos adultos é inver- <id>001598_por_f2_c11_q0034</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0006</assets>

samente proporcional ao tamanho do elefante, 15. IME-RJ 2019 Considere os versos 19 a 23 do texto,
sendo, ao mesmo tempo, um poema direcionado transcritos abaixo:
às crianças. E há por fim os olhos,
b) estabelece uma relação criador/criatura e, meta- onde se deposita
foricamente, é possível falar de um paralelo entre a parte do elefante
arte/artista: o conteúdo produzido pelo artista é mais fluida e permanente,
causa e consequência, ao mesmo tempo, do tra- alheia a toda fraude.
balho do poeta com as palavras. Abaixo, você encontrará alguns ditados populares
c) desconecta o elefante (criação) de seu criador, re- elencados. Qual destes ditados mais se aproxima da
tirando deste toda a sua capacidade criativa. ideia veiculada no verso 23, “alheia a toda fraude”?
d) mostra a criatura, o elefante, como algo definido e a) “Fazer o bem sem olhar a quem.”
único: criá-lo é tão trabalhoso que não há possibi- b) “O pior cego é aquele que não quer ver.”
lidade de criar outros elefantes. c) “Perto dos olhos, longe do coração.”
e) revela, metaforicamente, um descuido com o fazer d) “Em terra de cego, quem tem um olho é rei.”
poético ao descrever a deselegância do elefante e) “Os olhos são a janela da alma.”
mal construído, que segue pelas ruas de modo <id>001598_por_f2_c11_q0035</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

desequilibrado. 16. Uerj


FRENTE 2

<id>001598_por_f2_c11_q0032</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0006</assets>

13. IME-RJ 2019 Considere os versos 68 a 80 do texto,


O sobrevivente
transcritos a seguir: Impossível compor um poema a essa altura da evolução
 [da humanidade.
Esse passo que vai Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de
sem esmagar as plantas  [verdadeira poesia.
no campo de batalha, O último trovador morreu em 1914.
à procura de sítios, Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

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Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades c) propõe, como reação do poeta à vulgaridade do
 [mais simples. mundo, uma poética capaz de interferir na realida-
Se quer fumar um charuto aperte um botão. de pelo viés nostálgico.
Paletós abotoam-se por eletricidade. d) reflete a visão idealizada do trabalho do poeta e a
Amor se faz pelo sem-fio. consciência da perenidade da poesia, resistente
Não precisa estômago para digestão. à passagem do tempo.
e) realiza a transição do lirismo social para o lirismo
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta metafísico, caracterizado pela adesão ao conforto
muito para atingirmos um nível razoável de cultura. espiritual e ao escapismo imaginativo.
Mas até lá, felizmente, estarei morto. <id>001598_por_f2_c11_q0037</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

18. UFPR 2017 “E não gostavas de festa... / Ó velho, que


Os homens não melhoraram festa grande / hoje te faria a gente”. Esses são os ver-
e matam-se como percevejos. sos de abertura do poema “A Mesa”, parte integrante
Os percevejos heroicos renascem. do livro Claro Enigma, de Carlos Drummond de Andra-
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado. de. Neles podem ser identificados alguns elementos do
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo poema, entre os quais o destinatário, um patriarca, a quem
[dilúvio. o eu lírico se dirige ao longo de centenas de versos.
(Desconfio que escrevi um poema.) A respeito de “A Mesa” e de sua integração com outros
Carlos Drummond de Andrade. Nova reunião: 19 livros de poesia.
poemas do mesmo livro, assinale a alternativa correta.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1985. Texto I a) Numa festa de aniversário, o eu lírico reapresenta
ao velho pai as pessoas da família. Tristes e nostál-
Os dois primeiros versos enfatizam uma ideia que
gicas, elas vão se dando conta de que o pai não as
será desconstruída pela leitura integral do poema,
reconhece. É o que se observa nos versos: “Aqui sen-
caracterizando uma ironia, expressa também no títu-
tou-se o mais velho” e “Mais adiante vês aquele / que
lo. Transcreva o verso do texto que, em comparação
de ti herdou a dura / vontade, o duro estoicismo”.
com os dois primeiros, revela essa ironia. Em segui-
b) Na festa preparada para o pai, o eu lírico observa
da, estabeleça a relação entre o verso transcrito e
a conversa barulhenta em torno da comida e, inu-
o título.
<id>001598_por_f2_c11_q0036</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
tilmente, tenta calar seus parentes, que trazem à
17. Fuvest-SP 2021 mesa assuntos triviais, perturbando a solenidade
do reencontro. É o que se observa na repetição
Remissão do verso “(não convém lembrar agora)”.
Tua memória, pasto de poesia, c) Por meio dos versos “Como pode nossa festa / ser
tua poesia, pasto dos vulgares, de um só que não de dois? / Os dois ora estais reuni-
vão se engastando numa coisa fria dos / numa aliança bem maior / que o simples elo da
a que tu chamas: vida, e seus pesares. terra”, o eu lírico se dirige à mãe, convidando-a para
se sentar à cabeceira da mesa, provocando uma
Mas, pesares de quê? perguntaria,
discussão entre o pai autoritário e a mãe submissa.
se esse travo de angústia nos cantares,
se o que dorme na base da elegia
d) Na memória do eu lírico, o pai se refere aos filhos
vai correndo e secando pelos ares, cinquentões como se eles fossem meninos. Em-
bora sugira discordar do pai, o eu lírico reconhece
e nada resta, mesmo, do que escreves as contradições da condição de filho adulto nos
e te forçou ao exílio das palavras, versos “e o desejo muito simples / de pedir à mãe
senão contentamento de escrever, que cosa, / mais do que nossa camisa, nossa alma
frouxa, rasgada”.
enquanto o tempo, e suas formas breves e) O soneto “Encontro” faz referência a um pai, mas,
ou longas, que sutil interpretavas, como o pai está morto (“Está morto, que importa? /
se evapora no fundo do teu ser? Inda madruga / e seu rosto, nem triste nem riso-
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma. nho, / é o rosto antigo, o mesmo. E não enxuga /
suor algum, na calma de meu sonho”), o filho só
Claro enigma apresenta, por meio do lirismo reflexivo,
o encontra em sonho e na imaginação, diferente-
o posicionamento do escritor perante a sua condição
mente de “A mesa”.
no mundo. Considerando-o como representativo des- <id>002447_por_f2_c11_q0004</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

se seu aspecto, o poema “Remissão” 19. UEM-PR 2023 Sobre o poema a seguir, de Carlos
a) traduz a melancolia e o recolhimento do eu lírico Drummond de Andrade, e sobre sua poesia, de modo
em face da sensação de incomunicabilidade com geral, assinale o que for correto.
uma realidade indiferente à sua poesia.
b) revela uma perspectiva inconformada, mesclando- Consolo na praia
-a, livre da indulgência dos anos anteriores, a um Vamos, não chores...
novo formalismo estético. A infância está perdida.

186 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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<id>002447_por_f2_c11_q0005</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

A mocidade está perdida. 20. Fuvest-SP 2023 Leia os versos e responda à questão:
Mas a vida não se perdeu.
Ambição gera injustiça.
O primeiro amor passou. Injustiça, covardia.
O segundo amor passou. Dos heróis martirizados
O terceiro amor passou. nunca se esquece a agonia.
Mas o coração continua. Por horror ao sofrimento,
Perdeste o melhor amigo. ao valor se renuncia.
Não tentaste qualquer viagem. E, à sombra de exemplos graves,
Não possuis casa, navio, terra. nascem gerações opressas.
Mas tens um cão. Quem se mata em sonho, esforço,
Algumas palavras duras, mistérios, vigílias, pressas?
em voz mansa, te golpearam. Quem confia nos amigos?
Nunca, nunca cicatrizam. Mas, e o humour? Quem acredita em promessas?

A injustiça não se resolve. Que tempos medonhos chegam,


À sombra do mundo errado depois de tão dura prova?
murmuraste um protesto tímido. Quem vai saber, no futuro,
Mas virão outros. o que se aprova ou reprova?
De que alma é que vai ser feita
Tudo somado devias
essa humanidade nova?
precipitar-te – de vez – nas águas.
Cecília Meireles – trecho final do “Romance LIX ou Da Reflexão
Estás nu na areia, no vento... dos Justos”, de Romanceiro da Inconfidência.
Dorme, meu filho.
ANDRADE, C. D. de. Antologia poética. São Paulo: a) Como se articula a sequência ambição, injustiça e
Companhia das letras, 2012. p. 34. covardia – formada no poema – com o episódio
01 Para Drummond, o universo cotidiano adverso fatal de Tiradentes?
constitui-se fonte de inspiração para expor con- b) A voz lírica interroga quais serão as consequên­
flitos e instrumento de resgate para levar o ser cias dos acontecimentos bárbaros da história
humano a compreender e a aceitar as frustra- sobre as novas gerações. Por que essa é uma re-
ções da vida diária. A vivência de experiências flexão dos justos?
individuais torna-se tema e assunto que focaliza
Leia o poema a seguir para responder às questões
problemas existenciais.
21 e 22.
02 Para reforçar o sofrimento, a desilusão e a melan- <assets>001598_por_f2_c11_t0011</assets>

colia que marcam o poema, o autor desconsidera Retrato


o ideário do Modernismo e faz uso de forma fixa, Cecília Meireles
de versos em redondilhas, de rimas sistemáticas.
Além disso, no fim do poema, há dois conselhos Eu não tinha este rosto de hoje,
na tentativa de resolução dos conflitos: “precipitar- Assim calmo, assim triste, assim magro,
-te – de vez – nas águas.” e “Dorme, meu filho.” Nem estes olhos tão vazios
04 Marcada por agudas crises nos campos político, Nem o lábio amargo.
econômico e social, parte da poesia de Drummond
Eu não tinha estas mãos sem força,
focaliza o mundo e o ser humano em crise. No poe­
Tão paradas e frias e mortas;
ma, há um traço irônico na pergunta contida no
Eu não tinha este coração
verso: “Mas, e o humour?”.
Que nem se mostra
08 As frustrações, o tédio e a angústia sugeridas pelo
poema são elementos mediadores entre a interio-
Eu não dei por esta mudança,
ridade do sujeito e a realidade externa. Depois dos
Tão simples, tão certa, tão fácil:
eventos tristes, sobram a vida que “não se perdeu”,
— Em que espelho ficou perdida
o “coração”, “um cão”, talvez “o humour”, e a praia
a minha face?
(as “águas”, a “areia”, o “vento”), onde é possível <id>001598_por_f2_c11_q0011</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0011</assets>

encontrar algum consolo. 21. Uece 2021 Os versos acima são de autoria da escrito-
FRENTE 2

16 Na última estrofe, o eu lírico demonstra individua­ ra carioca Cecília Meireles (1901-1964). O poema traça
lismo, orgulho e alienação ao indicar soluções uma espécie de autorretrato, enfocando principal-
que possibilitem a fuga dos problemas existen- mente a questão da
ciais. O recurso mais utilizado para alcançar esse a) transitoriedade da vida.
objetivo é a utilização da metapoesia, sugerida b) alegria de viver.
pela expressão “Tudo somado”. c) partilha de pequenos momentos.
Soma: d) felicidade de envelhecer.

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<id>001598_por_f2_c11_q0013</id><tipo>objetiva</tipo><assunto> <id>001598_por_f2_c11_q0039</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0011</assets> </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

22. EPCAr-MG 2017 (Adapt.) Sobre os versos do poema 25. UFRGS 2019 Leia trechos dos poemas “Fanatismo”,
“Retrato”, é correto afirmar que de Florbela Espanca, e “Imagem”, de Cecília Meireles.
a) o poema traz referência à perda de todos os sen-
Fanatismo
tidos humanos, ocasionada pelo envelhecimento.
b) a visão do eu lírico oscila entre o pessimismo e o [...]
otimismo ante a efemeridade do tempo. “Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
c) o tom melancólico se desfaz no décimo verso, Quando me dizem isto, toda a graça
quando o eu lírico constata a inevitabilidade da Duma boca divina fala em mim!
transformação física. E, olhos postos em ti, digo de rastros:
d) o eu lírico sente-se perplexo diante da consciên- “Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
cia tardia das mudanças trazidas pela passagem Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...”
do tempo.
<id>001598_por_f2_c11_q0015</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> Imagem
23. ITA-SP Cecília Meireles, poeta da segunda fase do Tão brando é o movimento
Modernismo Brasileiro, faz parte da chamada “Poesia das estrelas, da lua,
de 30”. Sobre esta autora e seu estilo, é CORRETO das nuvens e do vento,
afirmar que ela que se desenha a tua
a) seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro, pro- face no firmamento.
duzindo uma poesia de consciência histórica.
b) não seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro, Desenha-se tão pura
produzindo uma obra de traços parnasianos. como nunca a tiveste,
c) seguiu rigidamente o Modernismo Brasileiro, pro- nem nenhuma criatura.
Pois é sombra celeste
duzindo uma poesia panfletária e musical.
da terrena aventura.
d) não seguiu rigidamente nenhuma corrente do Mo-
[...]
dernismo Brasileiro, produzindo uma poesia lírica,
mística e musical. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes
<id>001598_por_f2_c11_q0038</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> afirmações sobre os poemas.
24. ITA-SP 2019 Leia o poema de autoria de Cecília Meireles. Ambos os sujeitos líricos comparam o ser amado
à perfeição divina.
“Epigrama n. 04”
Ambos os sujeitos líricos veem o amor de modo
O choro vem perto dos olhos idealizado.
para que a dor transborde e caia. Ambos os sujeitos líricos falam diretamente ao
O choro vem quase chorando ser amado.
como a onda que toca a praia. Ambos os poemas citam diretamente a voz da
Descem dos céus ordens augustas opinião pública.
e o mar chama a onda para o centro. A sequência correta de preenchimento, de cima para
O choro foge sem vestígios, baixo, é
mas levando náufragos dentro. a) V – V – V – F. d) F – V – F – V.
(MEIRELES, Cecília, Viagem/Vaga música. Rio de Janeiro: b) V – V – F – V. e) V – F – V – F.
Nova Fronteira, 1982. p.43) c) F – F – V – V.
O texto <id>001598_por_f2_c11_q0040</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

I. aproxima metaforicamente um fenômeno humano 26. Enem


e um fenômeno natural a partir da identificação Ai, palavras, ai, palavras,
de, pelo menos, um traço comum a ambos: água que estranha potência a vossa!
em movimento.
Todo o sentido da vida
II. sugere que, enquanto o movimento do choro é
principia a vossa porta:
ligado à variação das emoções, o movimento da o mel do amor cristaliza
onda deve-se a forças naturais, responsáveis pela seu perfume em vossa rosa;
circularidade marítima. sois o sonho e sois a audácia,
III. ameniza o dramatismo do choro humano, pois, calúnia, fúria, derrota...
quando acomete o sujeito, ele passa naturalmen-
te, como a onda que volta ao mar. A liberdade das almas,
ai! Com letras se elabora...
IV. leva-nos a perceber que o choro contido tem um
E dos venenos humanos
impacto emocional que o torna desolador.
sois a mais fina retorta:
Estão corretas:
frágil, frágil, como o vidro
a) I e II apenas;
e mais que o aço poderosa!
b) I, II e IV apenas; Reis, impérios, povos, tempos,
c) I, III e IV apenas; pelo vosso impulso rodam...
d) II e III apenas; MEIRELES, Cecília. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985
e) todas. (fragmento).

188 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro virou cozinha.
da Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada no Foi outras coisas para que tinha jeito.
episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no Não falou mais:
entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a se- Viram que sabia fazer tudo,
guinte relação entre o homem e a linguagem: até molecas para a Casa-Grande.
a) A força e a resistência humanas superam os danos Depois falou só,
provocados pelo poder corrosivo das palavras. só diante da ventania
b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm que ainda vem do Sudão;
seu equilíbrio vinculado ao significado das palavras. falou que queria fugir
c) O significado dos nomes não expressa de forma dos senhores e das judiarias deste mundo
justa e completa a grandeza da luta do homem para o sumidouro.
pela vida. LIMA, J. Poemas negros. Rio de Janeiro: Record, 2007.
d) Renovando o significado das palavras, o tempo
O poema de Jorge de Lima sintetiza o percurso de
permite às gerações perpetuar seus valores e
vida de Maria Diamba e sua reação ao sistema opres-
suas crenças.
sivo da escravidão. A resistência dessa figura feminina
e) Como produto da criatividade humana, a lingua-
é assinalada no texto pela relação que se faz entre
gem tem seu alcance limitado pelas intenções e
a) o uso da fala e o desejo de decidir o próprio destino.
pelos gestos.
<id>001598_por_f2_c11_q0041</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
b) a exploração sexual e a geração de novas escravas.
27. Unisc-RS 2017 Leia atentamente o trecho do poema c) a prática na cozinha e a intenção de ascender
Cantiguinha, de Cecília Meireles, e analise as afirmati- socialmente.
vas a seguir. d) o prazer de sentir os ventos e a esperança de vol-
[...] tar à África.
Veio vindo a ventania, e) o medo da morte e a vontade de fugir da violência
– te juro – dos brancos.
<id>001598_por_f2_c11_q0045</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
as águas mudam seu brilho,
29. Unioeste-PR 2020 Leia atentamente o excerto do so-
quando o tempo anda inseguro.
neto “O acendedor de lampiões”, de Jorge de Lima, e
Quando as águas escurecem,
assinale a opção CORRETA.
– te juro –
todos os barcos se perdem, Triste ironia atroz que o senso humano irrita: –
entre o passado e o futuro. ele que doira a noite e ilumina a cidade,
São dois rios os meus olhos, talvez não tenha luz na choupana em que habita.
– te juro – Tanta gente também nos outros insinua
noite e dia correm, correm, crenças, religiões, amor, felicidade,
mas não acho o que procuro. como este acendedor de lampiões da rua!
(MEIRELES, Cecília. Obra poética. 2. ed. Rio de Janeiro:
José Aguilar, 1967. p. 120.) a) Trata-se de um soneto decassílabo, com rimas ex-
ternas, denotando, pelo cuidado com a forma e
I. A exaltação da natureza, observada nos versos de
temática, pertencer ao movimento parnasiano.
Cecília Meireles, permite afirmar que sua obra per-
b) O poema retrata a amargura da profissão de acen-
tence à primeira geração do Romantismo brasileiro.
II. Nos versos de Cecília Meireles, percebem-se o dedor de lampiões em uma sociedade que não
tom intimista e a reflexão sobre a condição huma- valoriza o trabalho, tampouco o trabalhador braçal.
na, que se dá a partir da analogia entre o rio e as c) O soneto retrata a miséria nos subúrbios dos
lágrimas do eu lírico. grandes centros brasileiros, onde a situação é tão
III. A singeleza da linguagem, verificada nos versos, precária que não há luz elétrica para os moradores.
configura uma das principais características da d) A temática proposta no poema faz alusão à hipo-
obra de Cecília Meireles. crisia humana, principalmente no que diz respeito
Assinale a alternativa correta. à crença, religião, amor, felicidade.
a) Somente as afirmativas I e II estão corretas. e) Acender lampiões se traduz como um ato de co-
b) Somente as afirmativas II e III estão corretas. ragem, de bravura, pois o acendedor de lampiões
c) Somente as afirmativas I e III estão corretas. não se cansa de executar seu trabalho.
<id>001598_por_f2_c11_q0052</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
d) Nenhuma afirmativa está correta.
FRENTE 2

30. UFU-MG 2015


e) Todas as afirmativas estão corretas.
<id>001598_por_f2_c11_q0017</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> Noite de São João
28. Enem PPL 2016 Jorge de Lima
Vamos ver quem é que sabe
Maria Diamba soltar fogos de S. João?
Para não apanhar mais Foguetes, bombas, chuvinhas,
falou que sabia fazer bolos: chios, chuveiros, chiando,

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<id>001598_por_f2_c11_q0047</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0007</assets>

chiando, 33. PUC-Rio 2021 O poema de Murilo Mendes apresenta


chovendo um tom
chuvas de fogo! a) generoso e inclusivo.
chá – Bum! b) heroico e épico.
LIMA, Jorge de. Obra completa. Rio de Janeiro: José Aguilar,1958, p. 58. c) utópico e ufanista.
a) Quais são as três figuras de efeito sonoro que d) pessimista e cético.
predominam nesta estrofe? Texto para as questões 34 e 35.
<assets>001598_por_f2_c11_t0008</assets>
b) Explique cada uma delas, citando exemplos retira-
dos destes versos de Jorge de Lima.
O pastor pianista
<id>002447_por_f2_c11_q0006</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> Soltaram os pianos na planície deserta
31. UFJF-MG 2023 Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
Eu sou o pastor pianista,
Reflexão n. 1 Vejo ao longe com alegria meus pianos
Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho Recortarem os vultos monumentais
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio Contra a lua.
Nem ama duas vezes a mesma mulher. Fragmento do poema do poeta mineiro Murilo Mendes (1901-1975).
<id>001598_por_f2_c11_q0050</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
Deus de onde tudo deriva </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0008</assets>

É a circulação e o movimento infinito. 34. Mackenzie-SP 2018 Observe as afirmações.


Ainda não estamos habituados com o mundo I. O tema da música, frequente na poesia de Murilo
Nascer é muito comprido.
Mendes, é trabalhado nos versos acima sob
Fonte: MENDES, Murilo. Antologia Poética. São Paulo:
influência do surrealismo.
Cosac Naify, 2014, p.64. II. Os versos revelam ecos da poesia cerebral e ra-
cionalista do poeta pernambucano João Cabral
Sobre o poema de Murilo Mendes (que dialoga com de Melo Neto.
uma frase do filósofo grego Heráclito: “Ninguém se III. Pode-se afirmar que a poesia de Murilo Mendes
banha duas vezes no mesmo rio”), há um contraste é multifacetada, pois em diferentes poemas há
entre palavras que manifestam negação/ausência e tanto uma perspectiva de denúncia social como
versos que expressam afirmação/presença. Em rela- também diálogos com o experimentalismo da poesia
ção a tal contraste, é CORRETO afirmar: concreta.
a) Segundo o poema, o mundo nunca é o mesmo, o Assinale a alternativa correta.
que sustenta a afirmação: “nascer é muito comprido”. a) Estão corretas as afirmações I e II.
b) O poema propaga uma ideia imutável de vida es- b) Estão corretas as afirmações I e III.
piritual em contraposição à fluidez cotidiana. c) Estão corretas as afirmações II e III.
c) O poema defende uma crença em verdades ab- d) Todas as afirmações estão corretas.
solutas em detrimento das mutações mundanas. e) Nenhuma das afirmações está correta.
<id>001598_por_f2_c11_q0051</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>

d) O poema convida o leitor a se adaptar ao mundo </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0008</assets>

35. Mackenzie-SP 2018 Seria possível compararmos o


tal como ele é, ao invés de transformá-lo.
fragmento do poema “O pastor pianista” com:
e) O poema manifesta uma contraposição entre o
a) a poesia parnasiana de Olavo Bilac e de Alberto
ato de nascer e o ato de amar uma mulher.
Oliveira, pela presença da temática da arte pela arte.
Texto para as questões 32 e 33. b) os cenários sertanejos e a representação do con-
<assets>001598_por_f2_c11_t0007</assets>
flito entre indivíduo e natureza, como presentes
Solidariedade em Vidas secas, de Graciliano Ramos.
Sou ligado pela herança do espírito e do sangue c) o indianismo e as metáforas de mestiçagem, co­
Ao mártir, ao assassino, ao anarquista, mo encontrados no romance Iracema, de José de
Sou ligado Alencar.
Aos casais na terra e no ar, d) o poema-piada e a desconstrução com efeito de
Ao vendeiro da esquina, humor da temática do amor, característicos da
Ao padre, ao mendigo, à mulher da vida, obra de Oswald de Andrade.
Ao mecânico, ao poeta, ao soldado, e) o jogo poético entre os planos físico e onírico,
Ao santo e ao demônio, como recorrente na obra de Jorge de Lima.
Construídos à minha imagem e semelhança.
Leia o poema e responda às questões 36 e 37.
MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. Org. Luciana Stegagno <assets>001598_por_f2_c11_t0009</assets>

Picchio. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 205-206.


<id>001598_por_f2_c11_q0046</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0007</assets>
Modinha do empregado de banco
32. PUC-Rio 2021 Em relação aos aspectos formais ca- Eu sou triste como um prático de farmácia
racterísticos do texto, pode-se afirmar que sou quase tão triste como um homem que usa costeletas
a) a estrutura é de um soneto. Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher
b) os versos são dodecassílabos. mas só ouço o tectec das máquinas de escrever.
c) as rimas são ricas. Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda.
d) os versos são livres e brancos. Quantas meninas pela vida afora

190 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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E eu alinhando no papel as fortunas dos outros. Texto I – Soneto da Fidelidade
Se eu tivesse estes contos punha a andar
De tudo, ao meu amor serei atento
a roda da imaginação nos caminhos do mundo.
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
E os fregueses do Banco
Que mesmo em face de maior encanto
que não fazem nada com estes contos!
Dele se encante mais meu pensamento.
Chocam outros contos pra não fazerem nada com eles
Quer vivê-lo em cada vão momento
Também se o Diretor tivesse a minha imaginação
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
o Banco já não existiria mais
e eu estaria noutro lugar. E rir meu riso e derramar meu pranto
(Murilo Mendes) Ao seu pesar ou seu contentamento.
<id>001598_por_f2_c11_q0054</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0009</assets>

36. ESPM-SP 2013 Assinale a afirmação incorreta sobre E assim, quando mais tarde me procure
o poema. O “eu” poético: Quem sabe a morte, angústia de quem vive
a) estabelece um denominador comum (tristeza) en- Quem sabe a solidão, fim de quem ama
tre o funcionário de banco, o prático da farmácia
Eu possa me dizer do amor (que tive):
e o homem de costeletas.
Que não seja imortal, posto que é chama
b) opõe o mundo interior com desejo de afetividade Mas que seja infinito enquanto dure.
(“carinhos de mulher”) ao mundo exterior com ro-
tina do trabalho (“tectec das máquinas”). Texto II – Soneto do maior amor
c) alude ao trabalho burocrático e repetitivo, refor- Maior amor nem mais estranho existe
çado pela onomatopeia “tectec”. Que o meu, que não sossega a coisa amada
d) associa o espaço externo a aspectos prazerosos E quando a sente alegre, fica triste
da vida e o espaço interno ao aspecto fútil de sua E se a vê triste, dá risada.
atividade.
E que só fica em paz se lhe resiste
e) atribui a existência do Banco, instituição capitalis-
O amado coração, e que se agrada
ta, à criatividade do Diretor do Banco. Mais da eterna aventura em que persiste
<id>001598_por_f2_c11_q0055</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0009</assets>

37. ESPM-SP 2013 Ainda sobre o poema de Murilo Men- Que de uma vida mal-aventurada.
des, assinale a incorreta. O “eu” poético: Louco amor meu, que quando toca, fere
a) questiona o acúmulo de dinheiro na sociedade E quando fere vibra, mas prefere
capitalista: objeto que existe como um meio, não Ferir a fenecer – e vive a esmo
um fim.
b) lastima o fato de os fregueses do Banco estarem Fiel à sua lei de cada instante
preocupados em multiplicar a fortuna, não usufruir Desassombrado, doido, delirante
a vida. Numa paixão de tudo e de si mesmo.
Fonte: Vinícius de Moraes/ seleção de textos, notas, estudo biográfico,
c) considera os contos chocando e o alinhamento histórico e crítico e exercícios por Carlos Filipe Moisés. S. Paulo:
da fortuna alheia os responsáveis pela sua dúvida Abril Educação, 1980. - Literatura Comentada. Página 34.
<id>001598_por_f2_c11_q0018</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
existencial. </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0004</assets>

d) põe sua roda da imaginação para funcionar quan- 38. Unifenas-MG 2019
do se refere aos carinhos de mulher, à chuva e às I. Ambos os textos apresentam uma estrutura for-
meninas. mal, além da clareza e da concisão da linguagem
e) deixa subentendida uma oposição entre o ter ca- que, assim, recuperam características clássicas.
pitalista e o querer poético. II. Ambos os textos filiam-se à tradição maneirista de
Camões, sobretudo pelo emprego expressivo de
Para as questões 38 e 39, utilize os textos a seguir. oposições.
<assets>001598_por_f2_c11_t0004</assets>
III. Usando rima e métrica tradicional, o autor destes
O autor: Marcus Vinícius de Melo Moraes (1913- sonetos vai ao encontro de um propósito dos mo-
-1980) formou-se em Direito e ingressou, em 1946, na dernistas brasileiros do primeiro momento, que
carreira diplomática. Como poeta, atingiu seu ponto mais têm com meta a valorização de autores clássicos.
alto por meio de um lirismo amoroso de tom erótico em a) I, II e III – corretos.
que a mulher torna-se o tema principal. Glorificando o b) I e II – corretos; III – incorreto.
amor físico, sem qualquer traço de moralismo, Vinícius de c) I – correto; II – incorreto; III – correto.
Moraes, exibe sempre, através de seus versos, forte paixão d) I – incorreto; II – correto; III – incorreto.
FRENTE 2

e amor pela vida – panteísmo erótico. Além de poeta, foi e) I e II – incorretos; III – correto.
cronista e autor de textos teatrais. Grande parte de sua <id>001598_por_f2_c11_q0019</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0004</assets>

fama decorre especialmente da projeção adquirida com 39. Unifenas-MG 2019


a Bossa-Nova e a MPB. Convém assinalar que ele nunca I. Para ser intenso, o amor tem que ser finito, pois,
se definia como músico, não separando o letrista (e even- dessa maneira, não corre o risco de se extinguir
tualmente cantor) do poeta propriamente dito. Era só o na apatia e no marasmo. É o que afirma a voz poé­
poeta, ou o “poetinha”, como era tratado com carinho. tica do texto I.

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II. No texto II, fica claro que, para se manter vivo, o c) O texto poético diz que a produção literária é con-
amor não pode se concretizar; por isso, a voz poé- sequência da tristeza; a imagem deixa claro que
tica resiste a ele. só se faz poesia com a distração.
III. “Mas que seja infinito enquanto dure” (texto I) e d) O poema de Vinicius e a imagem apresentam a
“fiel à sua lei de cada instante” (texto II) são versos ideia de que a poesia é algo fugidio, volúvel, con-
que contrapõem concepções totalmente opostas sequência também de um estado de espírito.
sobre o amor. e) A noção de que poesia e prosa são gêneros dis-
a) I, II e III – corretos. tintos fica evidente no texto poético; já a imagem
b) I e II – corretos; III – incorreto. não discrimina qualquer tipo de leitura literária.
<id>001598_por_f2_c11_q0049</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
c) I – correto; II – incorreto; III – correto. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

d) I – incorreto; II – correto; III – incorreto. 41. Fuvest-SP


e) I e II – incorretos; III – correto. Receita de mulher
<id>001598_por_f2_c11_q0060</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

40. ESPM-SP 2019 As muito feias que me perdoem


Mas beleza é fundamental. É preciso
A um passarinho Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Para que vieste Se é para uma prosa Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de
Na minha janela Não sou Anchieta [haute couture*
Meter o nariz? Nem venho de Assis. Em tudo isso (ou então
Se foi por um verso Deixa-te de histórias Que a mulher se socialize elegantemente em azul,
Não sou mais poeta Some-te daqui! [como na República Popular Chinesa).
Ando tão feliz! Não há meio-termo possível. É preciso
(Vinicius de Moraes) Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas
[pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no
[terceiro minuto da aurora.
Vinicius de Moraes.

*haute couture: alta-costura.

No conhecido poema “Receita de mulher”, de que


se reproduziu aqui um excerto, o tratamento dado ao
tema da beleza feminina manifesta a
Disponível em: http://humbertodealmeida.com.br/
a) oscilação do poeta entre a angústia do pecador
uma-borboleta-e-a-poesia-em-movimento/ (tendo em vista sua educação jesuítica) e o impu-
dor do libertino.
A partir da leitura do poema e da observação da ima- b) conjugação, na sensibilidade do poeta, de inte-
gem, assinale a afirmação correta. resse sexual e encantamento estético, expresso
a) Tanto no texto poético quanto na imagem fica de modo provocador e bem-humorado.
evidente que a fonte de inspiração para a prática c) idealização da mulher a que chega o poeta quan-
literária são os elementos da natureza. do, na velhice, arrefeceu-lhe o desejo sexual.
b) Enquanto a imagem mostra a alienação de vá- d) crítica ao caráter frívolo que, por associar-se ao
rios leitores, o poema de Vinicius de Moraes consumo, o amor assume na contemporaneidade.
sugere o engajamento do escritor com perso- e) síntese, pela via do erotismo, das tendências eu-
nagens históricas. ropeizantes e nacionalistas do autor.

Texto complementar

Quatro décadas sem Vinicius de Moraes, o “Poetinha”


“Pela maneira aberta como sempre recebeu jovens para dar conselhos ou parceiros para colocar letra e música, ele foi um
poeta amplo, cuja extensa obra musical inspirou e cercou de amor, em algum momento, a mais brasileiros do que qualquer coisa”,
como está escrito na contracapa do álbum Testamento Vol. 2, lançado logo após a morte de Vinicius de Moraes, em 9 de julho de
1980. O autor é o musicólogo e jornalista brasileiro Zuza Homem de Mello [...].
Amplamente reconhecido pelo trabalho realizado na música popular brasileira, Vinicius foi antes de tudo um exímio poeta.
“No poema você tem uma liberdade de rimas e de métrica que não tem na letra de música, porque ela está submissa a uma melo-
dia”, afirma Zuza. Segundo ele, fazer poesia e fazer música são coisas muito diferentes, especialmente na visão dos poetas que até
menosprezaram Vinicius por escolher esse caminho, julgando a composição musical como inferior à poesia. “Ele já é um poeta
consagrado quando começa a fazer letras de música nos anos 1950, e na época isso foi considerado um retrocesso.”
Na opinião do musicólogo, letras de música são até mais trabalhosas de serem feitas, pela necessidade de acompanhar uma
melodia preestabelecida. “Mas a adaptação de Vinicius, do poema para a música, foi extremamente rápida. Ele já começa fazendo

192 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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letras sensacionais”, conta Zuza, lembrando o ano de 1956. Nessa época, Vinicius escreve a peça Orfeu da Conceição, na qual tam-
bém é responsável pelas letras da trilha sonora, enquanto Antônio Carlos Jobim se encarrega das melodias. “Essa foi a primeira
experiência daquilo que seria, em algum tempo, a chamada obra da dupla Tom e Vinicius.”
A importância da parceria na canção brasileira se deu em grande parte pela experiência de Vinicius como poeta. A sofisticação
de suas letras o colocava em uma posição de destaque na época, segundo Zuza. “Isso se deu instantaneamente. Na primeira parceria
dos dois, eles já se colocam em um patamar de reconhecimento que a maioria dos compositores leva anos para atingir”, afirma o
musicólogo. Daí nasce Se Todos Fossem Iguais a Você, a música mais famosa da peça que inaugura o trabalho conjunto de Tom e Vinicius.
“Depois os dois fizeram a segunda fornada, que resultou nas canções que compõem um LP fundamental da história da canção
brasileira, chamado Canção do Amor Demais”, diz Zuza. O disco, interpretado por Elizeth Cardoso, é composto de músicas como
Chega de Saudade e Eu Não Existo Sem Você. “Aí também foi a primeira vez que apareceu o violão de João Gilberto, o que deu um
peso importantíssimo para o LP”, acrescenta o musicólogo. Ainda nesse disco, é possível ver canções feitas apenas por Vinicius,
que também era instrumentista, e outras apenas por Tom, que também era letrista. Segundo Zuza, isso mostra como a dinâmica
deles funcionava, já que ambos entendiam um pouco do ramo um do outro.
[...]
Para o professor Ivan Vilela, que leciona Música Popular Brasileira na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, a grande
marca de Vinicius de Moraes foi sua transformação de uma arte mais clássica para uma mais popular. “Ele fazia parte do corpo
diplomático, então teve muito contato com pessoas desse mundo erudito. Quando ele vai para a música, é através da parceria dele
com Jobim que encontra um tom mais coloquial”, diz Ivan. Segundo o professor, de certa forma, a música popular e a forma em
que ela é narrada acabaram modificando a forma literária de Vinicius.
Ainda de acordo com Ivan, a carreira extremamente multifacetada — diplomata, poeta, cantor, compositor, roteirista — fez
com que Vinicius deixasse também um extenso legado em todas essas áreas. “Mas acho que o maior deles é essa humildade de
alguém que carrega uma bagagem de saber erudito se encantar e mergulhar nesse mundo do saber popular, conseguindo criar
algo a partir desse encontro.”
LÓPEZ, Maria Laura. Quatro décadas sem Vinicius de Moraes, o “Poetinha”. Jornal da USP, 8 jun. 2020. Disponível em: https://jornal.usp.br/cultura/
quatro-decadas-sem-vinicius-de-moraes-o-poetinha/. Acesso em: 16 nov. 2023.

Veja os principais assuntos e conceitos trabalhados neste capítulo acessando a seção Resumindo
no livro digital, na Plataforma Poliedro.

Quer saber mais?

Site Afonso Henriques Neto para criarem um retrato do poeta


Acervo Digital Vinicius de Moraes. Disponível em: http:// mineiro Carlos Drummond de Andrade.
acervo.viniciusdemoraes.com.br. Acesso em: 16 nov.
Canal USP. [Livros da Fuvest] Romanceiro da Inconfidência
2023.
(Cecília Meireles). Disponível em: https://www.youtube.
Neste site, é possível acessar o acervo digital completo
com/watch?v=mActI9X0Yeg. Acesso em: 16 nov. 2023.
do poeta Vinicius de Moraes, além de ouvir podcasts,
Nesse vídeo, a professora Norma Goldstein fala sobre a
assistir a um minidocumentário e ver os manuscritos de
coletânea de poemas Romanceiro da Inconfidência, de
diversas composições e poemas.
Cecilia Meireles.
Vídeos Leio, logo escrevo. Romanceiro da Inconfidência – Cecília
Canal imoreirasalles. Vida e verso de Carlos Drummond Meireles – Resumo + Análise. Disponível em: https://www.
de Andrade – filme na íntegra. YouTube, 31 out. 2020. youtube.com/watch?v=xg4beRd5jTw. Acesso em: 16 nov.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v= 2023.
TgSoN0Y5IUA. Acesso em: 16 nov. 2023. Cecília Meireles é uma autora do Modernismo brasilei-
Nesse vídeo, do Canal Instituto Moreira Salles, o diretor ro, mas também adotou uma escrita que destoava dos
Eucanaã Ferraz reúne quatro escritores contemporâneos, ideais modernistas. Isso ocorre no livro Romanceiro da
Joca Reiners Terron, Antonio Cicero, Alberto Martins e Inconfidência, que narra o Brasil do final do século XVIII.

Exercícios complementares

Para responder às questões de 1 a 3, leia o poema “O sobrevivente”, extraído do livro Alguma poesia (1930), de Carlos
FRENTE 2

Drummond de Andrade.
<assets>001598_por_f2_c11_t0010</assets>

O sobrevivente
Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

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Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessi- Coração numeroso
[dades mais simples. Foi no Rio.
Se quer fumar um charuto aperte um botão. Eu passava na Avenida quase meia-noite.
Paletós abotoam-se por eletricidade. Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas inumeráveis.
Amor se faz pelo sem-fio. Havia a promessa do mar
Não precisa estômago para digestão. e bondes tilintavam,
abafando o calor
Um sábio declarou a O Jornal que ainda que soprava no vento
falta muito para atingirmos um nível razoável e o vento vinha de Minas.
de cultura. Mas até lá, felizmente, Meus paralíticos sonhos desgosto de viver
estarei morto. (a vida para mim é vontade de morrer)
faziam de mim homem-realejo imperturbavelmente
Os homens não melhoraram
na Galeria Cruzeiro quente quente
e matam-se como percevejos. e como não conhecia ninguém a não ser o doce vento
Os percevejos heroicos renascem. [mineiro,
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado. nenhuma vontade de beber, eu disse: Acabemos com isso.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo
[dilúvio. Mas tremia na cidade uma fascinação casas compridas
autos abertos correndo caminho do mar
voluptuosidade errante do calor
(Desconfio que escrevi um poema.)
mil presentes da vida aos homens indiferentes,
(Poesia 1930-1962, 2012.)
<id>001598_por_f2_c11_q0068</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0010</assets>
que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis choraram.
1. Unesp 2020 O mar batia em meu peito, já não sabia no cais.
a) Que relação pode ser estabelecida entre os dois A rua acabou, quede árvores? A cidade sou eu
primeiros versos e o último verso do poema? a cidade sou eu
b) Reescreva, na voz passiva, o trecho sublinhado sou eu a cidade
no último verso do poema “(Desconfio que escre- meu amor.
vi um poema.)”.
<id>001598_por_f2_c11_q0069</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0010</assets> Em relação aos dois poemas, é correto afirmar que:
2. Unesp 2020 a) “Poema que aconteceu” expressa a dedicação
a) Qual a opinião do eu lírico sobre a “evolução da do poeta à criação poética.
humanidade”? Justifique sua resposta com base b) O vocabulário de “Poema que aconteceu” é típico
no texto. da retórica romântica.
b) É possível que o eu lírico, no verso “O último tro- c) A linguagem formal e o discurso indireto estão
vador morreu em 1914.”, tenha feito alusão a um presentes em “Coração numeroso”.
importante evento histórico. De que evento se trata d) Ao adotar o ideal da impessoalidade, os poemas
e qual é sua relação com o tema geral do poema? transparecem tendências do Parnasianismo.
<id>001598_por_f2_c11_q0070</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0010</assets>
e) No poema “Coração numeroso”, o eu lírico se
3. Unesp 2020 apresenta amargurado e melancólico.
a) Explicite a antítese contida em “Há máquinas terri- <id>001598_por_f2_c11_q0072</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

velmente complicadas para as necessidades mais 5. UFRGS 2017 Leia o poema José, de Carlos Drummond
simples.” (2a estrofe). de Andrade.
b) Identifique o pressuposto contido no trecho “E se
E agora, José? cuspir já não pode,
os olhos reaprendessem a chorar” (4a estrofe),
A festa acabou, a noite esfriou,
relacionando-o com o tema geral do poema.
<id>001598_por_f2_c11_q0071</id><tipo>objetiva</tipo><assunto> a luz apagou, o dia não veio,
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

4. UPF-RS 2021 Leia “Poema que aconteceu” e “Cora- o povo sumiu, o bonde não veio,
ção numeroso”, poemas que integram a obra Alguma a noite esfriou, o riso não veio,
poesia, de Carlos Drummond de Andrade. e agora, José? não veio a utopia
e agora, você? e tudo acabou
Poema que aconteceu Você que é sem nome, e tudo fugiu
Nenhum desejo neste domingo que zomba dos outros, e tudo mofou,
nenhum problema nesta vida Você que faz versos, e agora, José?
o mundo parou de repente que ama, protesta?
os homens ficaram calados e agora, José? [...]
domingo sem fim nem começo.
Está sem mulher, Se você gritasse,
A mão que escreve este poema está sem discurso, se você gemesse,
não sabe que está escrevendo está sem carinho, se você tocasse,
mas é possível que se soubesse já não pode beber, a valsa vienense,
nem ligasse. já não pode fumar, se você dormisse,

194 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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se você cansasse, sem teogonia, b) o homem moderno travar, desde o início da vida
se você morresse.... sem parede nua (“manhã”), uma luta contra a existência, luta essa
Mas você não morre, para se encostar, completamente frustrada.
você é duro, José! sem cavalo preto c) o “eu” lírico questionar a força da poesia, ou do
que fuja a galope, discurso, e mesmo assim não abdicar de enfrentar,
Sozinho no escuro você marcha, José! com esse instrumento de luta, as adversidades.
qual bicho-do-mato, José, para onde? d) a palavra ser um instrumento ineficaz de luta,
Assinale a alternativa correta sobre o poema. aspecto que conduz o “eu” lírico coletivo a um
a) O diálogo com José, interlocutor, pode ser lido pessimismo quase destrutivo.
como uma forma de o sujeito-lírico refletir sobre o e) haver uma desarmonia social a qual não pode ser
desamparo existencial. solucionada apenas com o uso de discursos ou
b) O poema em versos curtos apresenta o caminho ideologias vãs.
<id>001598_por_f2_c11_q0074</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
para superação dos impasses de José. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

7. UEM-PR 2020 Sobre o poema de Drummond, inicial-


c) As repetições indicam a monotonia da existência
mente publicado em O sentimento do mundo (1940),
do trabalhador comum, José, em crise com sua
assinale o que for correto.
condição operária.
d) O sujeito-lírico, na ausência de respostas, não Não serei o poeta de um mundo caduco.
consegue decifrar para onde José marcha, em- Também não cantarei o mundo futuro.
bora este saiba seu caminho. Estou preso à vida e olho meus companheiros.
e) A expressão “e agora, José?” põe em relevo a Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
indignação do sujeito-lírico com seu interlocutor, Entre eles, considero a enorme realidade.
incapaz de se definir. O presente é tão grande, não nos afastemos.
<id>001598_por_f2_c11_q0073</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
6. ESPM-SP 2016
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da
[janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens
[presentes,
a vida presente.
ANDRADE, C. D. “Mãos dadas”. In: Antologia poética –
Carlos Drummond de Andrade, 2015.

01 O eu poético propõe a união entre os homens.


Apesar de a Segunda Guerra Mundial continuar
seus lastros de morte, o poeta não tece deses-
peranças, mostrando-se engajado e pronto a se
O Lutador juntar a seus semelhantes: “Não nos afastemos
muito, vamos de mãos dadas”. Sua matéria é o
Lutar com palavras
hoje e, ao contrário do artista idealizador, procura
é a luta mais vã
vivenciar seu tempo: “O presente é tão grande,
Entanto lutamos
mal rompe a manhã não nos afastemos”.
[...] 02 Neste verso: “Entre eles, considero a enorme
Lutar com palavras realidade”, o eu lírico mostra como os homens
parece sem fruto. perderam a motivação na vida, estão cabisbaixos
Não têm carne e sangue… e “taciturnos”, como ainda comprova o verso: “Es-
Entretanto, luto. tão taciturnos mas nutrem grandes esperanças”.
Assim, desiludidos, os homens caminham para
Palavra, palavra o tempo futuro e olham-no como um espaço de
(digo exasperado), fuga onde poderão andar de mãos dadas, como
se me desafias, sugere o título do poema.
FRENTE 2

aceito o combate. 04 Na segunda estrofe, o eu lírico rechaça qualquer


(Carlos Drummond de Andrade)
tipo de poesia que fale do tempo vindouro. O advér-
Tema frequente na poética de Drummond, os versos bio de negação que antecede cada um dos verbos
sugerem o fato de: no futuro: “serei”, “direi”, “distribuirei”, “fugirei” apon-
a) os homens insistirem, ao longo da história, numa ta para o compromisso com o tempo presente,
discussão político-ideológica, sabendo tratar-se evitando qualquer tipo de alienação que possa ligar
de um embate inútil. o eu lírico a outra realidade temporal que não seja

195

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o de sua vivência atual. Nesse sentido, o eu lírico Se era noivo, se era virgem,
assume o compromisso de estar atento a tudo que se era alegre, se era bom,
ocorre à sua volta e à vida presente. não sei,
08 O primeiro verso (“Não serei o poeta de um mun- é tarde para saber.
do caduco.”) representa, no contexto estético de Da garrafa estilhaçada,
produção do poema, uma crítica aos poetas par- no ladrilho já sereno
nasianos, que cantavam musas e temas clássicos, escorre uma coisa espessa
distantes da realidade econômica e social de seu que é leite, sangue... não sei.
tempo. O sintagma “mundo caduco”, portanto, re- Por entre objetos confusos,
fere-se ao passado e, também, ao conteúdo e à mal redimidos da noite,
forma utilizados pelos poetas que se recusavam a duas cores se procuram,
vivenciar o olhar contemporâneo. suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
16 Há uma clara recusa de Drummond em cantar
formando um terceiro tom
os temas cotidianos. Na época da publicação de a que chamamos aurora.
“Mãos dadas”, o poeta ainda se mostrava resisten-
te à proposta poética do Modernismo, adotando o Com relação ao poema Morte do Leiteiro, de Carlos
rigor métrico. Drummond de Andrade, julgue os itens a seguir.
Soma: Nesse poema, foram utilizados recursos literários
<id>001598_por_f2_c11_q0075</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
característicos do primeiro momento modernista,
8. UnB-DF tais como o humor e a paródia.
Nos seis versos iniciais do poema, a impessoalida-
Morte do Leiteiro de poética é reforçada pelo emprego de orações
Carlos Drummond de Andrade sem sujeito ou com sujeito indeterminado. Tal im-
Há pouco leite no país, pessoalidade contrasta com a aproximação entre
é preciso entregá-lo cedo.
narrador e personagem, marcada, textualmente,
Há muita sede no país,
pelo emprego do pronome “Meu” no verso “Meu
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda, leiteiro tão sutil” (v.20).
que ladrão se mata com tiro. O autor emprega recursos linguísticos para ex-
Então o moço que é leiteiro pressar, de forma impessoal, a voz da ideologia
de madrugada com sua lata que fundamenta a atitude do senhor que atira no
sai correndo e distribuindo leiteiro sem refletir sobre o real perigo de tal ato.
leite bom para gente ruim. O leiteiro é um personagem caracterizado no
Sua lata, suas garrafas poema sobretudo em sua dimensão psicológica,
e seus sapatos de borracha o que aproxima a estrutura do poema à de um
vão dizendo aos homens no sono texto jornalístico.
que alguém acordou cedinho O narrador enuncia os fatos de forma a aderir ao
e veio do último subúrbio
ponto de vista do senhor que mata o leiteiro por
trazer o leite mais frio
acidente, como se verifica na forma sutil com que
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força avalia como imprudente a ação do personagem
na luta brava da cidade. que entrega leite em domicílio.
Pela maneira como são apresentados sentimen-
Meu leiteiro tão sutil tos em um modelo poético sucinto e inspirado na
de passo maneiro e leve, tradição clássica, o poema pode ser considera-
antes desliza que marcha. do um diálogo de Carlos Drummond de Andrade
É certo que algum rumor com a poesia do grupo de poetas brasileiros que
sempre se faz: passo errado, ficou conhecido como Geração de 45.
vaso de flor no caminho, A imagem final do poema extrai sua eficácia es-
cão latindo por princípio,
tética do atrito entre a beleza de uma imagem
ou um gato quizilento.
comumente associada à esperança (aurora) e a
E há sempre um senhor que acorda,
condição trágica da inusitada mistura de cores que
resmunga e torna a dormir.
resulta do assassinato do leiteiro (leite e sangue).
<id>001598_por_f2_c11_q0076</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Mas este acordou em pânico 9. Fuvest-SP 2018
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada. Os bens e o sangue
O revólver da gaveta VIII
saltou para sua mão. [...]
Ladrão? se pega com tiro. Ó filho pobre, e descorçoado*, e finito
Os tiros na madrugada ó inapto para as cavalhadas e os trabalhos brutais
liquidaram meu leiteiro. com a faca, o formão, o couro... Ó tal como quiséramos

196 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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<id>001598_por_f2_c11_q0078</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

para tristeza nossa e consumação das eras, 11. Unicamp-SP 2016


para o fim de tudo que foi grande!
Ó desejado, Morro da Babilônia
ó poeta de uma poesia que se furta e se expande À noite, do morro
à maneira de um lago de pez** e resíduos letais... descem vozes que criam o terror
És nosso fim natural e somos teu adubo, (terror urbano, cinquenta por cento de cinema,
tua explicação e tua mais singela virtude... e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua geral).
Pois carecia que um de nós nos recusasse
para melhor servir-nos. Face a face Quando houve revolução, os soldados
te contemplamos, e é teu esse primeiro espalharam no morro,
e úmido beijo em nossa boca de barro e de sarro. o quartel pegou fogo, eles não voltaram.
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.
Alguns, chumbados, morreram.
O morro ficou mais encantado.
*descorçoado: assim como “desacorçoado”, é uma Mas as vozes do morro
variante de uso popular da palavra “desacoroçoado”, não são propriamente lúgubres.
que significa “desanimado”. Há mesmo um cavaquinho bem afinado
**pez: piche. que domina os ruídos da pedra e da folhagem
e desce até nós, modesto e recreativo,
Considere as seguintes afirmações: como uma gentileza do morro.
I. Os familiares, que falam no poema, ironizam a (Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012, p.19.)
condição frágil do poeta.
II. O passado é uma maldição da qual o poeta, No poema “Morro da Babilônia”, de Carlos Drummond
como revela o título do poema, não consegue se de Andrade,
desvencilhar. a) a menção à cidade do Rio de Janeiro é feita de
III. O trecho “o fim de tudo que foi grande” remete à ruí- modo indireto, metonimicamente, pela referência
na das oligarquias, das quais Drummond é tributário. ao Morro da Babilônia.
IV. A imagem de uma “poesia que se furta e se expan- b) o sentimento do mundo é representado pela per-
de/à maneira de um lago de pez e resíduos letais...” cepção particular sobre a cidade do Rio de Janeiro,
sintetiza o pessimismo dos poemas de Claro enigma. aludida pela metáfora do Morro da Babilônia.
Estão corretas: c) o tratamento dado ao Morro da Babilônia assemelha-
a) I e II, apenas. d) I, III e IV, apenas. -se ao que é dado a uma pessoa, o que caracteriza
b) I, II e III, apenas. e) I, II, III e IV. a figura de estilo denominada paronomásia.
c) II e IV, apenas. d) a referência ao Morro da Babilônia produz, no
<id>001598_por_f2_c11_q0077</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
percurso figurativo do poema, um oxímoro: a re-
10. Fuvest-SP 2018 lação entre terror e gentileza no espaço urbano.
<id>001598_por_f2_c11_q0066</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>

A máquina do mundo
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

12. Fuvest-SP 2022


E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa, Sweet Home
e no fecho da tarde um sino rouco Quebra-luz, aconchego.
se misturasse ao som de meus sapatos Teu abraço morno me envolvendo.
que era pausado e seco; e aves pairassem A fumaça de meu cachimbo subindo.
no céu de chumbo, e suas formas pretas Como estou bem nessa poltrona de humorista inglês.
lentamente se fossem diluindo O jornal conta histórias, mentiras...
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado, Ora afinal a vida é um bruto romance
e nós vivemos folhetins sem o saber.
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava Mas surge o imenso chá com torradas,
e só de o ter pensado se carpia.* chá de minha burguesia contente.
[...] Ó gozo de minha poltrona!
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma. Ó doçura de folhetim!
Ó bocejo de felicidade!
FRENTE 2

*carpir-se: lamentar-se. Carlos Drummond de Andrade. Alguma poesia.

a) Por que a expressão em inglês sweet home susci-


a) O ponto de vista do eu lírico em relação à “máqui- ta, no título do poema, um teor de ironia?
na do mundo” ilustra as principais características b) Na circunstância do poema, os termos “bruto roman-
de Claro enigma? Justifique. ce” e “folhetins”, como formas literárias, representam
b) Transcreva o verso que sintetiza o evento sublime diferentes visões de mundo, estabelecendo entre
de que trata o texto. si um contraste simbólico. Comente.

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<id>001598_por_f2_c11_q0081</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

13. UFBA Não, hoteleiro, nosso repasto é interior,


I. e só pretendemos a mesa.
Alguns anos vivi em Itabira. Comeríamos a mesa, se no-lo ordenassem as Escrituras.
Principalmente nasci em Itabira. Tudo se come, tudo se comunica,
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. 10 tudo, no coração, é ceia.
Noventa por cento de ferro nas calçadas. Carlos Drummond de Andrade. “Estampas de Vila Rica”, de Claro Enigma.
5 Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e [...] A população de Ouro Preto nutre convicções e
[comunicação. paixões, como qualquer outra, mas cultiva-as in petto [no
íntimo], com impecável benignidade de espírito, sem o
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, menor azedume ou nojo pela paixão ou opinião contrá-
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e ria. Essas preferências diversas confraternizam, não raro,
[sem horizontes. junto à mesa no Hotel Toffolo, e chega-se à conclusão
de que política não vale positivamente uma boa cerveja.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, Carlos Drummond de Andrade. “Contemplação de Ouro Preto”,
10 é doce herança itabirana. de Passeios na Ilha.

a) Que relação de sentido liga a imagem “pão de nu-


De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
vens” (v. 4-5) ao verso “tudo, no coração, é ceia”
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
(v. 10)? Justifique.
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
b) As atitudes dos dois grupos à mesa do Hotel
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
Toffolo, no poema e na crônica, são equivalentes?
15 este orgulho, esta cabeça baixa...
Explique.
<id>001598_por_f2_c11_q0098</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Tive ouro, tive gado, tive fazendas. 15. UEM-PR 2015 Assinale o que for correto sobre o poema
Hoje sou funcionário público abaixo e sobre seu autor, Carlos Drummond de Andrade.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
No meio do caminho
ANDRADE, Carlos Drummond de. Confidência do Itabirano. In: No meio do caminho tinha uma pedra
MORICONI, Italo (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. tinha uma pedra no meio do caminho
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 97-98.
tinha uma pedra
II. no meio do caminho tinha uma pedra.
Meu caminho pelo mundo
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Eu mesmo traço
A Bahia já me deu na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Régua e compasso Nunca me esquecerei que no meio do caminho
5 Quem sabe de mim sou eu tinha uma pedra
Aquele abraço! tinha uma pedra no meio do caminho
Pra você que me esqueceu no meio do caminho tinha uma pedra.
Ruuummm! (ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012. p.237)
Aquele abraço!
10 Alô Rio de Janeiro 01 O poema marca um momento de mudança ra-
Aquele abraço! dical na obra de Drummond (representando sua
Todo o povo brasileiro adesão ao grupo de Poesia Pau-Brasil, de Murilo
Aquele abraço!
Mendes) após suas obras iniciais parnasianas.
GIL, Gilberto. Aquele abraço. Disponível em: http://letras.terra.com.br/
gilberto-gil/16138/7. Acesso em: 23 ago. 2011. Fragmento. 02 Embora tenha sido amplamente aceito por al-
guns grupos modernistas, “No meio do caminho”
Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade e o
encontrou resistência por parte de Oswald de
fragmento da canção “Aquele abraço”, de Gilberto Gil,
Andrade, que o considerou uma reflexão alienante
e teça um comentário sobre a presença da terra natal
de cunho antinacionalista.
na configuração da vida de cada sujeito lírico.
<id>001598_por_f2_c11_q0082</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
04 Drummond, em suas obras iniciais, ganhou a
14. Fuvest-SP 2021 Leia o poema e o excerto da crônica alcunha de “imaginação de pedra”, devido à
para responder à questão. insistente reprodução de paisagens típicas de
Minas Gerais em seus poemas, como se nota no
IV. Hotel Toffolo
elemento recorrente do texto reproduzido.
E vieram dizer-nos que não havia jantar. 08 Ainda que o poema “No meio do caminho” traga
Como se não houvesse outras fomes marcas das novas propostas poéticas da primeira
e outros alimentos. geração modernista, Drummond, cronológica e
Como se a cidade não nos servisse o seu pão esteticamente, faz parte da segunda geração do
5 de nuvens. modernismo brasileiro.

198 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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16 Apesar de uma aparente simplificação monotemáti- Ah! Enquanto os Destinos impiedosos
ca, o poema traz um dos temas caros a Drummond, Não voltam contra nós a face irada,
o tempo, que é trabalhado com profundidade lírica. Façamos, sim, façamos, doce amada,
Soma: Os nossos breves dias mais ditosos.
<id>002447_por_f2_c11_q0007</id><tipo>objetiva</tipo><assunto> Um coração que frouxo,
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

16. EsPCEx-SP 2023 A grata posse de seu bem difere,


A si, Marília, a si próprio rouba,
Encomenda E a si próprio fere.
Desejo uma fotografia
como esta — o senhor vê? — como esta: Ornemos nossas testas com as flores,
em que para sempre me ria E façamos de feno um brando leito;
como um vestido de eterna festa. Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Como tenho a testa sombria, Sobre as nossas cabeças,
derrame luz na minha testa. Sem que o possam deter, o tempo corre;
Deixe esta ruga, que me empresta E para nós o tempo, que se passa,
um certo ar de sabedoria. Também, Marília, morre.

Não meta fundos de floresta Com os anos, Marília, o gosto falta,


nem de arbitrária fantasia... E se entorpece o corpo já cansado;
Não... Neste espaço que ainda resta, Triste, o velho cordeiro está deitado,
ponha uma cadeira vazia. E o leve filho sempre alegre salta.
Fonte: Cecília Meireles (In: Vaga Música, 1942). A mesma formosura
É dote que só goza a mocidade:
Quanto aos aspectos da linguagem poética presentes Rugam-se as faces, o cabelo alveja,
no poema “Encomenda”, de Cecília Meireles: Mal chega a longa idade.
I. A composição do poema é feita em forma de soneto.
Que havemos de esperar, Marília bela?
II. Na segunda estrofe, o eu poético lança mão da
Que vão passando os florescentes dias?
antítese na percepção que tem de si mesmo.
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
III. Na construção dos versos, optou-se pela compo-
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
sição em redondilhas maiores.
Ah! Não, minha Marília,
IV. Como recurso para conferir musicalidade aos ver-
Aproveite-se o tempo, antes que faça
sos, há o emprego de rima alternada e de rima O estrago de roubar ao corpo as forças,
interpolada. E ao semblante a graça.
V. Tendo em vista se tratar de um poema do Moder- GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. In: PROENÇA FILHO.
nismo brasileiro, optou-se pela construção em A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar,
1996. p. 597-598.
versos brancos.
Estão corretas apenas as afirmativas Texto:
a) I e IV c) III e IV e) IV e V Romance LXXIII ou da inconformada Marília
b) I e II d) II, III e V Pungia a Marília, a bela,
<id>001598_por_f2_c11_q0056</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
negro sonho atormentado:
17. Uefs-BA 2017 Leia atentamente os dois textos e voava seu corpo longe,
compare-os para responder à questão. O texto de longe por alheio prado.
Gonzaga foi publicado pela primeira vez em 1792, em Procurava o amor perdido,
Portugal. Cerca de um século e meio depois, Cecília a antiga fala do amado.
Meireles (em 1953) publica, no Brasil, a primeira edi- Mas o oráculo dos sonhos
ção do Romanceiro da Inconfidência. dizia a seu corpo alado:
“Ah, volta, volta, Marília,
Texto:
tira-te desse cuidado,
LIRA XIV que teu pastor não se lembra
de nenhum tempo passado...”
Minha bela Marília, tudo passa;
E ela, dormindo, gemia:
A sorte deste mundo é mal segura;
FRENTE 2

“Só se estivesse alienado!”


Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça. Entre lágrimas se erguia
Estão os mesmos deuses seu claro rosto acordado.
Sujeitos ao poder do ímpio Fado: Volvia os olhos em roda,
Apolo já fugiu do Céu brilhante, e logo, de cada lado,
Já foi Pastor de gado. piedosas vozes discretas
[...] davam-lhe o mesmo recado:

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“Não chores tanto, Marília, Numa das naves que afundaram
por esse amor acabado: é que certamente tu vinhas.
que esperavas que fizesse
Eu te esperei todos os séculos
o teu pastor desgraçado,
sem desespero e sem desgosto,
tão distante, tão sozinho
e morri de infinitas mortes
Em tão lamentoso estado?”
guardando sempre o mesmo rosto.
A bela, porém gemia:
“Só se estivesse alienado!” Quando as ondas te carregaram
meus olhos, entre águas e areias,
E a névoa da tarde vinha cegaram como os das estátuas,
com seu véu tão delicado a tudo quanto existe alheias.
envolver a torre, o monte,
Minhas mãos pararam sobre o ar
o chafariz, o telhado...
e endureceram junto ao vento,
Mas os versos! Mas as juras!
e perderam a cor que tinham
Mas o vestido bordado!
e a lembrança do movimento.
Bem que o coração dizia
— coração desventurado – E o sorriso que eu te levava
“Talvez se tenha esquecido...” desprendeu-se e caiu de mim:
“Talvez se tenha casado...” e só talvez ele ainda viva
Seu lábio porém gemia: dentro destas águas sem fim.
“Só se tivesse alienado!” MEIRELES, C. In: SECCHIN, A. C. (Org.). Obra completa.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. In: _____.
Obra poética. Rio de Janeiro, José Aguilar, 1958. p. 849-850.
Na composição do poema, o tom elegíaco e solene
Sobre os dois poemas, é correto afirmar: manifesta uma concepção de lirismo fundada na
I. No primeiro poema, encarnando ainda as carac- a) contradição entre a vontade da espera pelo ser
terísticas do momento literário anterior, Gonzaga amado e o desejo de fuga.
exalta a beleza do amor impossível, convocando b) expressão do desencanto diante da impossibili-
a mulher amada a corresponder à pureza desse dade da realização amorosa.
amor idealizado e platônico. c) associação de imagens díspares indicativas de
II. Fiel aos ditames de seu momento literário, o autor esperança no amor futuro.
do primeiro poema, frente à passagem inexorável d) recusa à aceitação da impermanência do senti-
do tempo, convoca a amada a vivenciar a felicida- mento pela pessoa amada.
de de um amor bucólico, simples, cheio de pureza e) consciência da inutilidade do amor em relação à
como a vida pastoril no campo. inevitabilidade da morte.
<id>001598_por_f2_c11_q0084</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
III. No segundo poema, Cecília Meireles resgata a </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

19. UFPR 2013 Leia atentamente este trecho do Roman-


história de amor tematizada no primeiro texto,
ceiro de Inconfidência:
criando espaço para a voz desesperada de Marília,
que, apesar das evidências, ainda acredita na ve- Romance LIV ou DO ENXOVAL
racidade e permanência do amor de Dirceu. INTERROMPIDO
IV. Um dos enlaces entre os dois poemas é o fato Aqui esteve o noivo, A agulha, de prata,
de que, no primeiro há o temor de Dirceu sobre a de agulha e dedal, e de ouro, o dedal.
ação deletéria do tempo sobre o amor, o que se bordando o vestido Em haste de cera,
confirma no segundo, em que Marília chora e se do seu enxoval. ergue o castiçal
desespera frente ao silêncio de Dirceu. para a turva noite
Em maio, era em Maio,
V. Cecília Meireles, no segundo poema, quebra não lírio de cristal.
num Maio fatal;
só os padrões literários observados no primei-
feneciam rosas
ro texto, dando espaço para uma estética mais “Sabeis, ó pastora,
pelo seu quintal.
ligada ao modernismo, como também nega a ve- daquele zagal*
Por estrada e monte,
racidade do idílio amoroso de Gonzaga. que andava num prado
neblina total.
A alternativa em que todas as afirmativas indicadas sobrenatural?
No perfil da lua,
estão corretas é a um nimbo mortal. Teria inimigo?
a) I e II. d) I, III e IV. (Mas quem lê na névoa Teria rival?”
b) II e V. e) II, III e IV. o amargo sinal?)
c) IV e V. O sono conversa
<id>001598_por_f2_c11_q0083</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
A noite da Vila em cada poial**.
18. Enem PPL 2019 é densa e glacial.
O sono, embuçado “Sabeis, ó pastora,
Canção em cada beiral. quem seja o chacal
No desequilíbrio dos mares, Quem não dorme, sonha que os passos arrasta
as proas giram sozinhas… com seu enxoval. de longe arraial?

200 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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Eu vi sua língua o eu lírico exorta seu interlocutor a perceber, como ine-
é um negro punhal. rente à condição humana,
Que mortes fareja a) a sublimação espiritual graças ao poder de se
o imundo animal?” emocionar.
(MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. São Paulo:
b) o desalento irremediável em face do cotidiano
Edusp/Imesp, 2004. p. 149.
repetitivo.
c) o questionamento cético sobre o rumo das atitu-
*zagal: pastor.
**poial: assento de pedra na entrada de uma casa.
des humanas.
d) a vontade inconsciente de perpetuar-se em esta-
do adolescente.
O Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles,
e) um receio ancestral de confrontar a imprevisibili-
vincula-se a uma tradição literária que prevê a mescla
dade das coisas.
de gêneros. No livro, a recriação de fatos históricos,
as falas de personagens espalhadas por toda a peça O poema abaixo é de Cecília Meireles:
<assets>001598_por_f2_c11_t0012</assets>
e a linguagem repleta de recursos expressivos poéti-
cos resultam em uma obra singular. Com base nisso, Epigrama 8
considere as seguintes afirmativas: Encostei-me em ti, sabendo bem que eras somente onda.
1. A primeira estrofe apresenta a personagem cen- Sabendo bem que eras nuvem, depus minha vida em ti.
tral e sua ação anterior a uma reviravolta.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil,
2. A segunda estrofe possui imagens líricas que
fiquei sem poder chorar, quando caí.
podem ser associadas à poética do personagem <id>001598_por_f2_c11_q0086</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0012</assets>

retratado, como o carpe diem presente no verso 21. ITA-SP 2014 É CORRETO afirmar que o texto
“feneciam rosas”. a) contém uma expressão exagerada de dor e tristeza,
3. A contraposição entre dormir e sonhar, na terceira decorrente do fim de um envolvimento amoroso.
estrofe, é desenvolvida no diálogo entre a pasto- b) fala sobre o rompimento de duas pessoas, que,
ra e o sono, transcrito entre aspas. por já ser previsto, não causou dor no sujeito lírico.
4. O diálogo final atenua gradativamente a aflição c) registra o término de um envolvimento afetivo
inicial ao apresentar um conjunto de interroga- superficial, pois os amantes não se entregaram
ções estruturadas em linguagem figurada. totalmente.
Assinale a alternativa correta. d) contém ambiguidade, pois, apesar de o sujeito lírico
a) Somente a afirmativa 2 é verdadeira. dizer que não chorou, o poema exprime tristeza.
b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. e) garante que a forma mais aconselhável de lidar
c) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. com as desilusões é estarmos de antemão prepa-
d) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. rados para ela.
<id>001598_por_f2_c11_q0087</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0012</assets>
<id>001598_por_f2_c11_q0085</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> 22. Unifesp Leia os versos de Cecília Meireles, extraídos
20. Enem 2015 do poema Epigrama no 8.
Cântico VI O eu lírico reconhece que a pessoa em quem depôs
Tu tens um medo de
sua vida representava
Acabar. a) uma relação incerta, por isso os desenganos vivi-
Não vês que acabas todo o dia. dos seriam inevitáveis.
Que morres no amor. b) um sentimento intenso, por isso tinha certeza de
Na tristeza. que não sofreria.
Na dúvida. c) um caso de amor passageiro, por isso se sentia
No desejo. enganado.
Que te renovas todo dia. d) uma angústia inevitável, por isso seria melhor
No amor. aquele amor.
Na tristeza. e) uma opção equivocada, por isso sempre teve
Na dúvida. medo de amar.
No desejo. <id>001598_por_f2_c11_q0057</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Que és sempre outro. 23. Unicamp-SP 2018 Na “Nota preliminar” escrita para a
Que és sempre o mesmo. primeira edição do livro Poemas negros, de Jorge de
FRENTE 2

Que morrerás por idades imensas Lima, o antropólogo Gilberto Freyre afirma que, gra-
Até não teres medo de morrer. ças à “interpretação de culturas, entre nós tão livre”,
E então serás eterno. e graças ao “cruzamento de raças”, “o Brasil vai-se
MEIRELES, C. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 1963 adoçando numa das comunidades mais genuinamen-
(fragmento).
te democráticas e cristãs do nosso tempo”. Com base
A poesia de Cecília Meireles revela concepções sobre no poema “Democracia”, responda às questões que
o homem em seu aspecto existencial. Em Cântico VI, se seguem.

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DEMOCRACIA E as mãos abarcaram o pescoço do homem:
nós te abarcaremos.
Punhos de rede embalaram o meu canto
[...]
para adoçar o meu país, ó Whitman.
(LIMA, Jorge de. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2006. p. 94.)
Jenipapo coloriu o meu corpo contra os maus-olhados,
catecismo me ensinou a abraçar os hóspedes, No texto, as vozes a que o título se refere manifestam-
carumã me alimentou quando eu era criança, -se (assinale a alternativa correta):
Mãe-negra me contou histórias de bicho, a) nas partes que compõem todo o ser do homem
moleque me ensinou safadezas, no momento de angústia.
massoca, tapioca, pipoca, tudo comi, b) na dúvida do homem, dividido entre o bem e o mal.
bebi cachaça com caju para limpar-me, c) nas indicações intertextuais bíblicas em vários tre-
tive maleita, catapora e ínguas, chos ao longo do texto.
bicho-de-pé, saudade, poesia; d) na amargura da estrela que oprimia o homem em
fiquei aluado, mal-assombrado, tocando maracá, seu aspecto espiritual.
<id>001598_por_f2_c11_q0088</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
dizendo coisas, brincando com as crioulas, </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

vendo espíritos, abusões, mães-d’água, 25. Unicamp-SP 2018 Leia a seguir duas passagens do
conversando com os malucos, conversando sozinho, poema “Olá! Negro”, de Jorge de Lima.
emprenhando tudo que encontrava, “A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!
abraçando as cobras pelos matos, E és tu que a alegras ainda com os teus jazzes.
me misturando, me sumindo, me acabando, Com os teus songs, com os teus lundus!”
para salvar a minha alma benzida [...]
“Não basta iluminares hoje as noites dos brancos com
e meu corpo pintado de urucu,
[teus jazzes.
tatuado de cruzes, de corações, de mãos-ligadas,
Olá, Negro! O dia está nascendo!
de nomes de amor em todas as línguas de branco, de O dia está nascendo ou será a tua gargalhada que vem vindo?”
[mouro ou de pagão. (Jorge de Lima. Poesias completas. v. I, Rio de Janeiro / Brasília:
(Jorge de Lima, Poesias completas. v. I. Rio de Janeiro/Brasília: J. Aguilar / INL, 1974, p. 180-1.)
J. Aguilar/INL, 1974, p.160,164-165.)
Considerando o livro Poemas negros como um todo
a) A ideia de “adoçamento” social está presente tanto e a poética de Jorge de Lima, é correto afirmar que o
no poema de Jorge de Lima quanto no texto de último verso citado
Gilberto Freyre. Aponte dois episódios da formação a) manifesta o desprezo do negro pela situação de-
do poeta, referidos no poema, que exemplificam cadente da cultura do branco.
essa interpretação. Justifique sua escolha. b) realiza a aproximação entre a alegria do negro e
b) Considerando elementos da composição do poe­- uma ideia de futuro.
ma, explique de que maneira a ideia de “democra- c) remete à vingança do negro contra a violência a
cia”, presente no título, manifesta-se no texto. que foi submetido pelo branco.
<id>001598_por_f2_c11_q0064</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
d) funciona como um lamento, já que o nascer do dia
24. PUC-GO 2015
não traz justiça social.
<id>001598_por_f2_c11_q0089</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
As vozes do homem </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

26. Unicamp-SP 2017


Naquele momento de angústia,
O Sinhô foi açoitar
o homem não sabia se era o mau ou o bom ladrão.
sozinho a negra Fulô.
E quando a mais amarga das estrelas o oprimia demais,
A negra tirou a saia
eis que a sua boca ia dizendo:
e tirou o cabeção,
eu sou anjo. de dentro dêle pulou
E os pés do homem: nós somos asas. nuinha a negra Fulô.
E as mãos: nós somos asas.
E a testa do homem: eu sou a lei. Essa negra Fulô!
E os braços: nós somos cetros. Essa negra Fulô!
E o peito: eu sou o escudo. Ó Fulô! Ó Fulô!
E as pernas: nós somos as colunas. Cadê, cadê teu Sinhô
E a palavra do homem: eu sou o Verbo. que Nosso Senhor me mandou?
E o espírito do homem: eu sou o Verbo. Ah! Foi você que roubou,
E o cérebro: eu sou o guia. foi você, negra Fulô?
E o estômago: eu sou o alimento.
Essa negra Fulô!
E se repetiram depois as acusações milenárias. (Jorge de Lima. Poesias Completas. v. 1. Rio de Janeiro/Brasília:
E todas as alianças se desfizeram de súbito. J. Aguilar e INL, 1974. p. 121.)
E todas as maldições ressoaram tremendas. A Sinhá mandou arrebentar-lhe os dentes:
E as espadas de fogo interceptaram o caminho da árvore Fute, Cafute, Pé-de-pato, Não-sei-que-diga,
 [da vida. avança na branca e me vinga.

202 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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Exu escangalha ela, amofina ela, c) É possível entender que, na recordação que o eu
amuxila ela que eu não tenho defesa de homem, lírico faz do passado, a experiência religiosa e a
sou só uma mulher perdida neste mundão. vivência da infância estão intimamente vinculadas.
Neste mundão. d) A distância a que se refere o eu lírico ao longo
Louvado seja Oxalá.
do texto deve-se tão só ao afastamento físico dos
Para sempre seja louvado.
(Idem, p. 164.) elementos evocados.
e) As pessoas, os lugares e os objetos, evocados no
Essas duas cenas de ciúmes concluem dois textos texto de forma metonímica e por meio de sobre-
diferentes de Jorge de Lima. A primeira pertence ao posições de planos, enfatizam esteticamente o
conhecido poema modernista “Essa negra Fulô”; a se- esforço de recordar empreendido pelo eu lírico.
gunda, ao poema “História”, de Poemas negros (1947). <id>001598_por_f2_c11_q0100</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Em relação a “Essa negra Fulô”, o poema “História”, 28. IFPE


especificamente, representa Mulher proletária
a) a reiteração da denúncia das relações de poder,
Mulher proletária – única fábrica
muito arraigadas no sistema escravocrata, que co- que o operário tem, (fabrica filhos)
locam no mesmo plano violências raciais e sexuais. tu
b) a passagem de uma caracterização da mulher na tua superprodução de máquina humana
negra como sedutora para uma postura solidária forneces anjos para o Senhor Jesus,
em relação à escrava, que explicita as estratégias forneces braços para o senhor burguês.
compensatórias de que se vale para sobreviver. Mulher proletária,
c) a permanência de uma visão pitoresca sobre a si- o operário, teu proprietário
tuação da mulher negra nos engenhos de açúcar, há de ver, há de ver:
que oculta os mecanismos de poder que garan- a tua produção,
tiam sua exploração. a tua superprodução,
d) a superação da visão idílica da vida na senzala, ao contrário das máquinas burguesas
graças a uma postura realista e social, que revela a salvar o teu proprietário.
violência das relações entre senhores e escravos. In: Poesia completa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. v.1.
<id>001598_por_f2_c11_q0097</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Jorge de Lima é um poeta representativo da segunda
27. Ifal 2016
geração modernista. Analise as proposições a seguir
Oração acerca dos recursos expressivos que constroem a
imagem da “mulher proletária”.
— “Ave Maria cheia de graça...”
I. As metáforas “fábrica” e “máquina humana” são,
A tarde era tão bela, a vida era tão pura,
de certo modo, desveladas pela construção pa-
as mãos de minha mãe eram tão doces, rentética “fabrica filhos”.
havia lá, no azul, um crepúsculo de ouro... lá longe... II. Os dois últimos versos na primeira estrofe consti-
— “Cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita! Bendita!” tuem eufemismos das ideias de mortalidade e de
Os outros meninos, minha irmã, meus irmãos menores trabalho infantil.
[meus III. O trocadilho entre “prole” e “proletária” assinala a
brinquedos, a casaria branca de minha função social da mulher no contexto do poema.
terra, a burrinha do vigário pastando IV. A gradação na segunda estrofe aponta para a
junto à capela... lá longe... submissão da mulher e para a salvação do ho-
mem operário.
Ave cheia de graça
V. Os últimos versos do poema sugerem que o
— “bendita sois entre as mulheres, bendito é o fruto do
trabalho da mulher pode levar sua família à as-
[vosso ventre...” censão social.
E as mãos do sono sobre meus olhos, Estão corretas, apenas:
e as mãos de minha mãe sobre o meu sonho, a) I, II e V c) I, II e III e) I e IV
e as estampas de meu catecismo para o meu sonho de ave! b) II, III e IV d) II e V
<id>001598_por_f2_c11_q0061</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
E isso tudo tão longe... tão longe...
29. Enem 2017
LIMA, Jorge de. Poemas. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2004. p. 39.

Sobre o poema de Jorge de Lima, marque a alternati- O farrista


va que contém uma declaração errada. Quando o almirante Cabral
FRENTE 2

a) Percorre esse texto um sentimento saudosista, res- Pôs as patas no Brasil


ponsável por criar uma cena lírica de encontro de O anjo da guarda dos índios
tempos: o presente e o passado se entrelaçam. Estava passeando em Paris.
b) Pode-se afirmar que, no poema, dá-se um in- Quando ele voltou de viagem
tercâmbio de valores em que a mãe está para a O holandês já está aqui.
“cheia de graça” como o eu lírico está para o “ben- O anjo respira alegre:
dito fruto”. “Não faz mal, isto é boa gente,

203

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Vou arejar outra vez.” Tal e qual o zepelim
O anjo transpôs a barra, Mas deu um vento no anjo,
Diz adeus a Pernambuco, Ele perdeu a memória...
Faz barulho, vuco-vuco, E não voltou nunca mais.
MENDES, M. História do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992.

A obra de Murilo Mendes situa-se na fase inicial do Modernismo, cujas propostas estéticas transparecem, no poema,
por um eu lírico que
a) configura um ideal de nacionalidade pela integração regional.
b) remonta ao colonialismo assente sob um viés iconoclasta.
c) repercute as manifestações do sincretismo religioso.
d) descreve a gênese da formação do povo brasileiro.
e) promove inovações no repertório linguístico.

Leia o poema de Murilo Mendes (1901-1975) para responder às questões 30 e 31.


<assets>001598_por_f2_c11_t0013</assets>

O pastor pianista
Soltaram os pianos na planície deserta Que reclamando a contemplação,
Onde as sombras dos pássaros vêm beber. Sonha e provoca a harmonia,
Eu sou o pastor pianista, Trabalha mesmo à força,
Vejo ao longe com alegria meus pianos E pelo vento nas folhagens,
Recortarem os vultos monumentais Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Contra a lua. Pelo amor e seus contrastes,
Comunica-se com os deuses.
Acompanhado pelas rosas migradoras
Apascento1 os pianos: gritam
E transmitem o antigo clamor do homem
(As metamorfoses, 2015.)

1
apascentar: vigiar no pasto; pastorear.
<id>001598_por_f2_c11_q0062</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0013</assets>

30. Unesp 2018


a) Explique por que se pode afirmar que o verso inicial desse poema opera uma perturbação ou quebra do discurso
lógico.
b) Sem prejuízo para o sentido dos versos, que expressões poderiam substituir os termos “onde” (2o verso da
1a estrofe) e “pelo” (4o verso da 3a estrofe), respectivamente?
<id>001598_por_f2_c11_q0090</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c11_t0013</assets>

31. Unesp 2018


a) O crítico literário Antonio Candido caracteriza esse poema como uma “pastoral fantástica”. Tal caracterização
alude a qual escola literária? Justifique sua resposta.
b) Identifique duas características que permitem vincular esse poema ao movimento modernista.
<id>001598_por_f2_c11_q0063</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

32. Unesp 2019 Entre 11 de fevereiro e 03 de junho de 2018, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) abrigou
a primeira exposição nos Estados Unidos dedicada à pintora brasileira Tarsila do Amaral. Leia a apresentação de uma
das pinturas expostas para responder à questão.
The painting Sleep (1928) is a dreamlike representation of tropical landscape, with this major motif of her repetitive figure
that disappears in the background.
This painting is an example of Tarsila’s venture into surrealism. Elements such as repetition, random association, and
dreamlike figures are typical of surrealism that we can see as main elements of this composition. She was never a truly
surrealist painter, but she was totally aware of surrealism’s legacy.
(www.moma.org. Adaptado.)

A apresentação sublinha a influência de uma determinada vanguarda europeia sobre a pintura de Tarsila do Amaral.
A influência dessa vanguarda europeia também se encontra nos seguintes versos do poeta modernista Murilo Mendes:
a) No fim de um ano seu Naum progrediu,
já sabe que tem Rui Barbosa, Mangue, Lampião.
Joga no bicho todo dia, está ajuntando pro carnaval,
depois do almoço anda às turras com a mulher.
As filhas dele instalaram-se na vida nacional.
Sabem dançar o maxixe
conversam com os sargentos em bom brasileiro.
(“Família russa no Brasil”)

204 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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b) Eu sou triste como um prático de farmácia, b) O componente religioso e o tom confessional são
sou quase tão triste como um homem que usa característicos de seus poemas.
[costeletas. c) A estrutura rimada das estrofes é uma caracterís-
Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de tica básica de todos os seus poemas.
[mulher d) A temática de cunho social pauta-se na esperan-
mas só ouço o tectec das máquinas de escrever. ça de eliminação das diferenças sociais.
Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda. e) A ironia de seus textos apoia-se na cuidadosa es-
Quantas meninas pela vida afora! colha de palavras de cunho erudito.
<id>001598_por_f2_c11_q0058</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
E eu alinhando no papel as fortunas dos outros. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

34. Uece 2018


(“Modinha do empregado de banco”)
Velhice
c) Ele acredita que o chão é duro Vinícius de Moraes
Que todos os homens estão presos
Virá o dia em que eu hei de ser um velho experiente
Que há limites para a poesia
Olhando as coisas através de uma filosofia sensata
Que não há sorrisos nas crianças
E lendo os clássicos com a afeição que a minha mocidade
Nem amor nas mulheres [não permite.
Que só de pão vive o homem 5 Nesse dia Deus talvez tenha entrado definitivamente em
Que não há um outro mundo. [meu espírito
(“O utopista”) Ou talvez tenha saído definitivamente dele.
Então todos os meus atos serão encaminhados no sentido
d) A costureira, moça, alta, bonita, [do túmulo
ancas largas, 10 E todas as ideias autobiográficas da mocidade terão
os seios estourando debaixo do vestido, [desaparecido:
(os olhos profundos faziam a sombra na cara), Ficará talvez somente a ideia do testamento bem escrito.
[morreu. Serei um velho, não terei mocidade, nem sexo, nem vida
Desde então o viúvo passa os dias no quarto Só terei uma experiência extraordinária.
[olhando pro manequim. 15 Fecharei minha alma a todos e a tudo
Passará por mim muito longe o ruído da vida e do mundo
(“Afinidades”)
Só o ruído do coração doente me avisará de uns restos
e) O cavalo mecânico arrebata o manequim pensativo [de vida em mim.
que invade a sombra das casas no espaço elástico. Nem o cigarro da mocidade restará...
Ao sinal do sonho a vida move direitinho as estátuas 20 Será um cigarro forte que satisfará os pulmões viciados
que retomam seu lugar na série do planeta. E que dará a tudo um ar saturado de velhice.
Os homens largam a ação na paisagem elementar Não escreverei mais a lápis
e invocam os pesadelos de mármore na beira do E só usarei pergaminhos compridos.
Terei um casaco de alpaca que me fechará os olhos...
[infinito.
(“O mundo inimigo”) 25 Serei um corpo sem mocidade, inútil, vazio
<id>001598_por_f2_c11_q0096</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Cheio de irritação para com a vida
33. FMP-RJ 2016
Cheio de irritação para comigo mesmo.
Somos todos poetas O eterno velho que nada é, nada vale, nada vive
O velho cujo único valor é ser o cadáver de uma
Assisto em mim a um desdobrar de planos.
[mocidade criadora.
as mãos veem, os olhos ouvem, o cérebro se move, MORAES, Vinícius. Velhice. Disponível em: http://www.viniciusdemoraes.
A luz desce das origens através dos tempos com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/velhice. Acesso: 23/9/17.
E caminha desde já
Na frente dos meus sucessores.
Os versos “Virá o dia em que eu hei de ser um velho
Companheiro, experiente/ Olhando as coisas através de uma filoso-
Eu sou tu, sou membro do teu corpo e adubo da tua alma. fia sensata/ E lendo os clássicos com a afeição que a
Sou todos e sou um, minha mocidade não permite” (linhas 1 a 4) podem ser
Sou responsável pela lepra do leproso e pela órbita vazia traduzidos pelo seguinte ditado popular:
[do cego, a) A velhice é a segunda meninice.
Pelos gritos isolados que não entraram no coro. b) Quanto mais idade, mais maturidade.
Sou responsável pelas auroras que não se levantam c) A velhice é um tirano que castiga os prazeres com
FRENTE 2

E pela angústia que cresce dia a dia. pena de morte.


MENDES, M. A poesia em pânico. Rio de Janeiro: d) A juventude leviana faz velhice desolada.
<id>001598_por_f2_c11_q0091</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
Cooperativa Cultural Guanabara, 1938 </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

35. Enem 2015


O texto exemplifica a seguinte afirmativa a respeito da
obra de Murilo Mendes: Carta ao Tom 74
a) O estranhamento provocado por metáforas inusi- Rua Nascimento Silva, cento e sete
tadas instaura uma simbologia especial. Você ensinando pra Elizete

205

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As canções de canção do amor demais II. O Texto I propõe ao interlocutor assistir ao espetá-
Lembra que tempo feliz culo, já que o fenômeno só acontecerá no­vamente
Ah, que saudade, daqui a 70 anos.
Ipanema era só felicidade
III. O Texto II apresenta a comparação entre a beleza
Era como se o amor doesse em paz
da mulher e aparição da lua.
Nossa famosa garota nem sabia
A que ponto a cidade turvaria IV. O Texto II complementa a ideia apresentada pelo
Esse Rio de amor que se perdeu Texto I.
Mesmo a tristeza da gente era mais bela É correto o que está contido em
E além disso se via da janela a) I e IV, apenas. d) I e III, apenas.
Um cantinho de céu e o Redentor b) II e IV, apenas. e) I, II, III e IV.
É, meu amigo, só resta uma certeza, c) III, apenas.
É preciso acabar com essa tristeza <id>001598_por_f2_c11_q0093</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

É preciso inventar de novo o amor 37. Uefs-BA 2016 Adiante, segue um fragmento do poema
MORAES, V.; TOQUINHO. Bossa Nova, sua história, sua gente. “O operário em construção”, de Vinicius de Moraes.
São Paulo: Universal; Philips,1975 (fragmento).
Era ele que erguia casas
O trecho da canção de Toquinho e Vinicius de Moraes Onde antes só havia chão.
apresenta marcas do gênero textual carta, possibili- Como um pássaro sem asas
tando que o eu poético e o interlocutor Ele subia com as casas
a) compartilhem uma visão realista sobre o amor em 5 Que lhe brotavam da mão.
sintonia com o meio urbano. Mas tudo desconhecia
b) troquem notícias em tom nostálgico sobre as mu- De sua grande missão:
danças ocorridas na cidade. Não sabia, por exemplo,
Que a casa de um homem é um templo
c) façam confidências, uma vez que não se encon-
10 Um templo sem religião
tram mais no Rio de Janeiro.
Como tampouco sabia
d) tratem pragmaticamente sobre os destinos do
Que a casa que ele fazia
amor e da vida citadina. Sendo a sua liberdade
e) aceitem as transformações ocorridas em pontos Era a sua escravidão.
turísticos específicos. 15 De fato como podia
<id>001598_por_f2_c11_q0092</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Um operário em construção
36. IFSP 2017 Leia os textos I e II para responder à questão.
Compreender por que um tijolo
Texto I Valia mais do que um pão?
Um fenômeno natural vai iluminar ainda mais o céu Tijolos ele empilhava
e deixar os apreciadores da Lua encantados. É que, na 20 Com pá, cimento e esquadria
véspera do dia 14 de novembro, será possível observar a Quanto ao pão, ele o comia
maior Superlua já vista em 70 anos – quando a Lua Cheia Mas fosse comer tijolo!
coincide com o ponto mais próximo da Terra. Para se ter E assim o operário ia
uma ideia, o satélite não chegava tão perto de nós desde Com suor e com cimento
1948, e não voltará a fazê-lo até 2034. 25 Erguendo uma casa aqui
Guia da Semana São Paulo – 9 nov. de 2016. Adaptado. Adiante um apartamento
Texto II Além uma igreja, à frente
São demais os perigos desta vida Um quartel e uma prisão:
Para quem tem paixão, principalmente Prisão de que sofreria
Quando uma lua surge de repente 30 Não fosse eventualmente
E se deixa no céu, como esquecida. Um operário em construção.
E se ao luar que atua desvairado Mas ele desconhecia
Vem se unir uma música qualquer Esse fato extraordinário:
Aí então é preciso ter cuidado Que o operário faz a coisa
Porque deve andar perto uma mulher. 35 E a coisa faz o operário.
Deve andar perto uma mulher que é feita De forma que, certo dia,
De música, luar e sentimento À mesa, ao cortar o pão,
E que a vida não quer, de tão perfeita. O operário foi tomado
Uma mulher que é como a própria Lua: De uma súbita emoção
Tão linda que só espalha sofrimento 40 Ao constatar assombrado
Tão cheia de pudor que vive nua. Que tudo naquela mesa
Vinicius de Moraes – Garrafa, prato, facão,
Os Textos I e II apresentam o mesmo tema em comum, Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário, Um operário em construção.
porém com intencionalidades distintas, portanto pode-
45 [...]
-se inferir que
MORAES, Vinicius. O operário em construção. Rio de Janeiro, 1959.
I. O Texto I apresenta informações técnicas e al- Disponível em: www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesiaavulsas/
guns dados concretos e científicos. o-operario-em-construcao. Acesso em: 18 jan. 2016. Adaptado.

206 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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Sobre o fragmento do poema de Vinícius de Moraes, a) Pode-se considerar o “Poema de Natal” como
é incorreto afirmar que o operário, a quem o eu poé- pertencente a uma vertente mais reflexiva de
tico se refere, Vinícius de Moraes, dedicado à frágil e fugaz con-
a) é visto, inicialmente, como um indivíduo subju- dição humana.
gado e sem liberdade, ao ser comparado a um b) Estabelece-se um paradoxo entre o termo “Natal”,
“pássaro sem asas” (v. 3). presente no título, que significa nascimento, e o
b) não consegue fazer de seu trabalho um meio de li- tema desenvolvido no poema, em que o eu lírico
bertação e acaba, contraditoriamente, na condição reflete acerca da morte.
de oprimido, denunciada por meio do paradoxo c) Os últimos versos do poema: “da morte, apenas/
presente nos versos “a casa que ele fazia/Sendo a Nascemos, imensamente.”, demonstram esperan-
sua liberdade/Era a sua escravidão.” (v. 12-14). ça diante de um aspecto sombrio desenvolvido
c) tem consciência crítica de sua mais-valia, luta por no poema, que é o fim da vida e a dor da partida
seus direitos e busca reverter a situação ao ques- de um ente querido.
tionar “como podia/Um operário em construção/ d) Em seu “Poema de Natal”, Moraes revela um eu
Compreender por que um tijolo/Valia mais do que lírico atento e preocupado com o campo emo-
um pão?” (v. 15-18). cional e as dificuldades que os seres humanos
d) dá-se conta, em uma súbita constatação, de que sofrem ao longo da vida, como as questões re-
tudo à sua volta é fruto de seu trabalho, “– Garra- lacionadas ao nascimento e à morte, expondo,
fa, prato, facão/ Era ele quem fazia” (v. 42-43). desse modo, uma atenta e sensível preocupação
e) constrói sua consciência ao longo do texto, com a condição humana.
criando uma dicotomia entre a construção de ha- e) O “Poema de Natal” é exemplo de obra produzida
bitações e objetos e a construção de seu próprio graças a sua conversão ao cristianismo, tratando,
olhar crítico, na condição de um “humilde operá- dessa forma, da perspectiva cristã frente à vida e
rio” (v. 44) explorado pelo sistema econômico. ao mundo.
<id>001598_por_f2_c11_q0094</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> <id>001598_por_f2_c11_q0095</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
38. FGV-RJ 2016 Agora me digam: como é que, com tio- 40. IFPE 2014
-avô modinheiro parente de Castro Alves, com quem
notivagava na Bahia; pai curtidor de um sarau musical, Amigo Di Cavalcanti Como diria Neruda.
tocando violão ele próprio e depositário de canções A hora é grave e Por isso, pinta, pintor
que nunca mais ouvi cantadas, como “O leve batel”, inconstante. Pinta, pinta, pinta, pinta
linda, lancinante, lúdica e que mais palavras haja em Tudo aquilo que prezamos Pinta o ódio e pinta o amor
“l’s” líquidos e palatais, com versos atribuídos a Bilac; O povo, a arte, a cultura Com o sangue de tua tinta
avó materna e mãe pianistas, dedilhando aquelas valsas Vemos sendo desfigurado Pinta as mulheres de cor
antigas que doem como uma crise de angina no peito; Pelos homens do passado Na sua desgraça distinta
dois tios seresteiros, como Henriquinho e tio Carlinhos, Que por terror ao futuro Pinta o fruto e pinta a flor
irmão de minha mãe, de dois metros de altura e um Optaram pela tortura. Pinta tudo que não minta
digitalismo espantosos, uma espécie de Canhoto (que Poeta Di Cavalcanti Pinta o riso e pinta a dor
também o era) da Gávea; como é que, com toda essa Nossas coisas bem-amadas Pinta sem abstracionismo
progênie, poderia eu deixar de ser também um compo- Neste mesmo exato instante Pinta a Vida, pintador
sitor popular… Estão sendo desfiguradas. No teu mágico realismo!
Vinicius de Moraes. Samba falado: (crônicas musicais). Rio de Janeiro: Hay que luchar, Cavalcanti
Beco do Azougue, 2008. Adaptado. Vinicius de Moraes

Ao exaltar a canção “O leve batel”, Vinicius de Moraes MORAES, V. Amigo Di Cavalcanti. Disponível em:
www.viniciusdemoraes.com.br. Acesso em: 23 set. 2013.
emprega adjetivos que exemplificam um tipo de recur-
so expressivo de natureza sonora que ocorre, de modo Levando em consideração questões relativas ao tex-
mais expressivo, nestes versos também de sua autoria: to, analise as afirmativas que seguem.
a) De repente do riso fez-se o pranto / Silencioso e I. O poema transcrito, tendo em vista as caracte-
branco como a bruma. rísticas apresentadas, como a sobriedade na
b) De nada vale ao homem a pura compreensão de linguagem, comparando-se com a ousadia da
todas as coisas. fase anterior, é um exemplar da poesia produzida
c) A minha pátria não é florão, nem ostenta / Lábaro no Segundo Momento Modernista. Neste, entre
não; a minha pátria é desolação. outros objetivos, buscou-se entender a relação
d) Na melancolia de teus olhos / Eu sinto a noite se homem 3 universo.
FRENTE 2

inclinar. II. Quanto ao emprego da vírgula, sobretudo em


e) Quero ir-me embora pra estrela / Que vi luzindo relação ao vocativo, percebe-se que ora o poe­
no céu. ta segue a regra gramatical, ora a infringe.
<id>001598_por_f2_c11_q0044</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> Possivelmente, a omissão desse sinal, na primeira
39. Unioeste-PR 2021 Com base na leitura de “Poema de estrofe, deva-se à retratação da intimidade com
Natal”, de Vinícius de Moraes, assinale a alternativa Cavalcanti; a presença, na segunda, indica certa
INCORRETA. formalidade com o pintor.

207

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III. O estrangeirismo, na segunda estrofe, é em- Amarra-te aos pés das garças e solta-as para que te levem
pregado por se tratar de uma citação direta de E quando a decomposição dos campos de guerra te ferir
Neruda. O emprego dessa variedade linguística [as narinas, lança-te sobre a cidade mortuária
revela que Vinicius de Moraes fugiu à principal Cava a terra por entre as tumefações e se encontrares um
proposta de sua Geração Modernista: adotar uma [velho canhão soterrado, volta
postura de valorização do perfil nacional. E vem atirar sobre as borboletas cintilando cores que
IV. O poema apresenta estrutura paralelística, eviden- [comem as fezes verdes das estradas.
ciada, principalmente, pela repetição do vocábulo [...]
‘pinta’. Essa estratégia, junto ao emprego de figu- Suga aos cínicos o cinismo, aos covardes o medo, aos
ras como aliteração e assonância, contribui para a [avaros o ouro
obtenção da musicalidade, recurso característico E para que apodreçam como porcos, injeta-os de pureza!
do texto poético.
V. As palavras ‘pintor’ e ‘pintador’ têm sentidos iguais, E com todo esse pus, faz um poema puro
assim como, no texto, ‘Vida’ apresenta a mesma E deixa-o ir, armado cavaleiro, pela vida
relevância semântica que ‘fruto’, ‘flor’, ‘riso’ e ‘dor’. E ri e canta dos que pasmados o abrigarem
Portanto, não há como justificar o emprego da inicial E dos que por medo dele te derem em troca a mulher e
maiúscula apenas para o vocábulo ‘Vida’, tampouco [o pão.
o ponto de exclamação fechando o poema.
Estão corretas, apenas:
Canta! Canta, porque cantar é a missão do poeta
a) I e II E dança, porque dançar é o destino da pureza
b) I e IV Faz para os cemitérios e para os lares o teu grande gesto
c) I, II e IV [obsceno
d) II, III e V Carne morta ou carne viva — toma! Agora falo eu que
e) III e V [sou um!
<id>001598_por_f2_c11_q0048</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
(Vinícius de Moraes. Antologia poética. São Paulo:
41. Unicamp-SP O excerto a seguir foi extraído do poe- Companhia das Letras, 2009. p. 51-3.)
ma Balada feroz, de Vinícius de Moraes.
a) Como é próprio do modernismo poético, os
[...] Lança o teu poema inocente sobre o rio venéreo versos citados contrariam a linguagem mais de-
[engolindo as cidades purada e as imagens mais elevadas da lírica
Sobre os casebres onde os escorpiões se matam à visão tradicional. Como podemos definir as imagens
[dos amores miseráveis predominantes em Balada feroz? A que se refe-
Deita a tua alma sobre a podridão das latrinas e das fossas rem tais imagens?
Por onde passou a miséria da condição dos escravos e b) Qual é o papel da poesia e do poeta diante da
[dos gênios. [...] realidade representada?

BNCC em foco
EM13LP38
<id>001598_por_f2_c11_q0101</id><tipo>discursiva</tipo><assunto></assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. Leia o texto a seguir.


Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989
[...]
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacio-
nal. (Redação dada pela Lei no 9.459, de 15/05/97) )
Pena: reclusão de um a três anos e multa. (Redação dada pela Lei no 9.459, de 15/05/97)
§ 1o Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que
utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. (Redação dada pela Lei no 9.459, de 15/05/97)
§ 2o Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publi-
cação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei no 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. (Incluído pela Lei no 9.459, de 15/05/97)
§ 3o No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes
do inquérito policial, sob pena de desobediência: (Redação dada pela Lei no 9.459, de 15/05/97)

208 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 11 O Modernismo no Brasil: a poesia mística e social

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I – o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo; (Incluído pela Lei no 9.459,
de 15/05/97)
II – a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio;
(Redação dada pela Lei no 12.735, de 2012)
[...]
BRASIL. Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989. Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716compilado.htm. Acesso em: 9 jan. 2024.

Escreva um pequeno texto, em que você possa refletir sobre a responsabilidade dos escritores da literatura de 1930
e dos meios de comunicação do século XXI mediante o tema da democracia. Procure discutir a problemática da
liberdade de expressão.
EM13LP04
<id>001598_por_f2_c11_q0102</id><tipo>discursiva</tipo><assunto></assunto><bncc></bncc><enem></enem>

2. Leia a tirinha e o trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade.

Tira de Custódio
Leia o “Poema de sete faces”, de Carlos Drummond de Andrade, e explique a diferença entre o anjo do poema e o
da tirinha.
EM13LP03
<id>001598_por_f2_c11_q0103</id><tipo>objetiva</tipo><assunto></assunto><bncc></bncc><enem></enem>

3. Considere a obra de Pedro Américo (1893), denominada Tiradentes esquartejado, e compare-a com a proposta da
obra Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. Indique a alternativa correta.
Museu Mariano Procópio, Juiz de Fora

Tiradentes esquartejado, de Pedro


Américo, 1893. Óleo sobre tela,
270 cm 3 165 cm. Mariano Procópio
Museu, Juiz de Fora, Minas Gerais.

a) Tanto a obra plástica quanto o livro revelam a verdade sobre o contexto da mineração do ouro, enaltecendo seus
mártires reais.
b) A obra de Pedro Américo visa à construção da imagem de um mártir da pátria, padrão adotado por Cecília
Meireles a partir da visão unilateral da sua narrativa.
FRENTE 2

c) Ambas as obras evidenciam o pano de fundo do século XVIII, momento marcado pela religiosidade e retomado
de maneira gloriosa por seus autores católicos.
d) A Proclamação da República, tema da obra de Cecília Meireles e Pedro Américo, é romantizada pelos dois auto-
res que tinham o objetivo de ressignificar o passado.
e) Enquanto Pedro Américo visa criar um mártir, Cecília dá voz ao passado mediante o recurso da polifonia, em que
várias perspectivas são evidenciadas, ou seja, várias vozes.

209

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Direito de reprodução gentilmente cedido por João Candido Portinari
Retirantes, de Candido Portinari, 1944-1945.
Óleo sobre tela, 190 cm 3 180 cm. Museu
de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand,
São Paulo.

FRENTE 2

12
CAPÍTULO Modernismo: do regionalismo de 1930 ao
experimentalismo de 1945
A segunda geração do Modernismo é conhecida como a fase da construção e com-
preende o período de 1930 a 1945. Depois da comoção causada pelos primeiros
modernistas, uma nova geração de escritores passou a usufruir da liberdade conquis-
tada no início dos anos 1920. Esses escritores engajaram-se nos problemas sociais
e políticos do país, além de aprofundar a análise psicológica em suas obras. As con-
turbadas décadas de 1930 e 1940 vão culminar no mundo pós-guerra, que também
foi um período de grande inventividade na literatura brasileira, tendo como principal
característica a solidão do indivíduo moderno.

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Modernismo no Brasil: geração de Esse período atribulado se deu entre dois grandes
conflitos mundiais. No fim da Primeira Guerra Mundial, com
1930 (prosa) a assinatura do Tratado de Versalhes em 1919, a Alemanha
e os países vencidos sofreram duras imposições e senti-
Décadas conturbadas ram-se prejudicados. Havia, então, uma constante ameaça
[...] O mundo se tornava fascista. Num mundo assim, que à paz selada por meio de diversos acordos entre os paí-
futuro nos reservariam? Provavelmente não havia lugar para ses-membros da Liga das Nações. Nessa conjuntura socio-
nós, éramos fantasmas, rolaríamos de cárcere em cárcere, fin- política de grande instabilidade e desconfiança, regimes
daríamos num campo de concentração. Nenhuma utilidade ditatoriais ascenderam, culminando na Segunda Guer-
representávamos na ordem nova. Se nos largassem, vagaríamos ra Mundial (1939). Deu-se, assim, um tempo de extrema
tristes, inofensivos e desocupados, farrapos vivos, velhos pre- intolerância, perseguição, repressão e autoritarismo no
maturos; desejaríamos enlouquecer, recolher-nos ao hospício mundo.
ou ter coragem de amarrar uma corda ao pescoço e dar o
mergulho decisivo. Essas ideias, repetidas, vexavam-me; tanto Saiba mais
me embrenhara nelas que me sentia inteiramente perdido. [...]
RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio de Janeiro: O Tratado de Versalhes foi um acordo de paz assina-
Record, 2020. p. 152. do entre Alemanha e Império Britânico, França, Itália,
Japão, Estados Unidos e outros países aliados para
No início da década de 1930, a grande crise econô-
pôr fim à Primeira Guerra Mundial. Nele foram impostas
mica de 1929 gerou o declínio econômico de diversos sanções à Alemanha, que incluíam a perda de parte de
países, a começar pelos Estados Unidos. Após a Primeira seu território e do controle de todas as colônias, dos
Guerra Mundial, as potências europeias, como Inglaterra oceanos e sobre o continente africano, além de res-
e Alemanha, estavam em um momento de recuperação, o trição ao tamanho do exército e o pagamento de uma
que proporcionou aos Estados Unidos uma oportunidade indenização pelos prejuízos causados durante a guerra.
para expansão e consolidação econômicas. No entanto,
o aumento desenfreado de crédito, emitido pela Reserva

Everett Collection/Shutterstock.com
Federal estadunidense, gerou uma bolha inflacionária que
estourou em 1929.
Como consequência da Crise de 1929, os Estados
Unidos vivenciaram uma grande onda de desemprego,
além da falência de inúmeras empresas e da pobreza. Os
países que estavam atrelados ao sistema de crédito es-
tadunidense também sofreram com a crise financeira. No
Brasil, por exemplo, com o intuito de valorizar o preço do
café, 65 milhões de sacas foram queimadas entre os anos
de 1931 e 1938.
© The George and Helen Segal Foundation, Segal, George/ AUTVIS, Brasil, 2023.
Foto: Stu Jones/Shutterstock.com

O rastro de destruição da guerra ficou registrado em fotografias. Muitos


países mal tinham se recuperado dos estragos da Primeira Guerra Mundial
quando a Segunda Grande Guerra começou. Na imagem, dois homens
sentados nos escombros após a Batalha de Berlim, em 1945.

O Brasil não era um país industrializado e foi menos


atingido pela crise de 1929. Porém, também viveu um
momento conturbado, pois perdeu seu principal com-
prador de café, os Estados Unidos. O cenário que se
desenhou mundo afora foi favorável a governos mais
FRENTE 2

rígidos; assim, em 1930 teve início uma revolução em


Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, cujo líder foi Getúlio
Vargas. O recém-eleito presidente Júlio Prestes foi impe-
dido de tomar posse da cadeira presidencial, marcando o
término da Primeira República. Getúlio Vargas assumiu e
Estátuas de bronze representando homens na fila do pão. Cena comum nos governou o Brasil por 15 anos, período conhecido como
Estados Unidos durante a Grande Depressão. Era Vargas.

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Claro Jansson/Wikimedia Commons

Atenção
O regionalismo nordestino é um dos pontos de desta-
que do Modernismo de 1930. Os autores abordaram
os problemas decorrentes do declínio econômico da
região, desencadeado pela transferência do polo cultural
e econômico para a região Sudeste. A miséria, a aridez,
as relações de poder e o descaso dos políticos com o
Nordeste foram apresentados criticamente por meio da
Literatura.

Rachel de Queiroz (1910-2003)

Eder Chiodetto/Folhapress
Comitiva de Getúlio Vargas (ao centro) fotografada por Claro Jansson
durante sua passagem por Itararé (São Paulo) a caminho do Rio de Janeiro
após a Revolução de 1930.

Nesse período, muitos se tornaram presos políticos,


principalmente intelectuais e militantes, acusados de comu-
nismo pela polícia de Getúlio Vargas. Entre os autores que
estiveram presos estão Jorge Amado, Rachel de Queiroz
e Graciliano Ramos, cujo testemunho desse período está
registrado na obra Memórias do cárcere (fragmento apre-
sentado no início deste capítulo).
Com esse panorama histórico, percebemos que a se-
gunda fase do Modernismo teve início em um momento de Rachel de Queiroz nasceu no Ceará. Foi romancista,
crise mundial. Na literatura, os autores buscavam apresen- contista, cronista e dramaturga. Pelo lado materno, tem la-
tar as inquietações desses novos tempos. Nessa fase de ços hereditários com o escritor José de Alencar (sua bisavó
construção, eles puderam aprofundar temas importantes materna era prima de Alencar). Sua família é da cidade de
com base nas conquistas da fase anterior. Quixadá, mas Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza.
[...] O Modernismo e, num plano histórico mais geral, Em 1917, sua família se mudou para o Rio de Janeiro
os abalos que sofreu a vida brasileira em torno de 1930 (a fugindo da seca, mas acabou retornando anos depois. A
crise cafeeira, a Revolução, o acelerado declínio do Nor- escritora começou a colaborar com o jornal O Ceará muito
deste, as fendas nas estruturas locais) condicionaram novos cedo, aos 17 anos. Aos 20 anos, escreveu seu primeiro
estilos ficcionais marcados pela rudeza, pela captação di- romance O quinze, que logo despertou o interesse e os
reta dos fatos, enfim por uma retomada do naturalismo, elogios da crítica, pois foi um divisor de águas no romance
bastante funcional no plano da narração-documento que regionalista.
então prevaleceria. Desde o período do Romantismo foram produzidas
[...] obras de cunho regionalista, como é o caso de algumas
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. de José de Alencar e Bernardo Guimarães, por exemplo.
São Paulo: Cultrix, 2006. p. 389. Criar um panorama do Brasil por meio da literatura era um
Conforme explicou Alfredo Bosi, a prosa desse perí­odo projeto do escritor romântico Alencar. No regionalismo da
está mais ligada aos fatos, o que levou a uma retoma- segunda fase do Modernismo, o enfoque mudou, pois os
da parcial do Realismo/Naturalismo. Pode ser chamada autores tiveram necessidade de retratar esses espaços e
de neorrealista, ou seja, um novo tipo de realismo já seus problemas na busca por soluções. Essa mudança de
desvencilhado da inflexibilidade do cientificismo e do postura está relacionada diretamente com as experiências
racionalismo. Os escritores dos anos 1930 tinham uma pessoais dos autores e com a realidade e as tensões que
abordagem mais crítica das relações sociais; além dis- tomaram conta do Brasil na década de 1930, como vimos
so, há a expressão emocional das personagens, antes anteriormente.
suprimida pelo determinismo, e um aprofundamento da [...] Diferentemente da ingenuidade e da idealização
análise psicológica. Na prosa, temos, basicamente, três românticas, e do determinismo redutor e preconceituoso na-
vertentes: prosa regionalista, prosa intimista e prosa ur- turalista, esse novo tipo de romance não trata o sertanejo de
bana. O novo romance regionalista teve início em 1928, modo pitoresco nem como objeto de análise científica, mas
com a publicação de A bagaceira, de José Américo de sim a partir de uma perspectiva próxima de sua realidade e
Almeida. favorável à sua causa.

212 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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Esse é o caso de O Quinze (1930), primeiro romance, tempo, porque aqueles cepos apontados para o céu não tinham
escrito quando ainda é uma jovem de 20 anos, sobre a forte nada de abrigo.
seca que se abate no Nordeste brasileiro, no ano de 1915. O vaqueiro saiu com a rede, resoluto:
Trata-se de uma narrativa em terceira pessoa, repleta de des- — Vou ali naquela bodega, ver se dou um jeito...
crições bem vívidas, basicamente composta de dois planos, Voltou mais tarde, sem a rede, trazendo uma rapadura e
que, como nota o crítico português Casais Monteiro, se cruzam um litro de farinha:
próximo do término: o primeiro é de um grupo de pequenos — Tá aqui. O homem disse que a rede estava velha, só deu
proprietários (a professora Conceição e a sua avó dona Inácia, isso, e ainda por cima se fazendo de compadecido...
assim como Vicente e sua mãe, dona Idalina); o segundo, uma Faminta, a meninada avançou; e até Mocinha, sempre mais
família de retirantes, liderada pelo sertanejo Chico Bento, que, ou menos calada e indiferente, estendeu a mão com avidez.
após passar por diversas agruras em sua viagem para a capital, Contudo, que representava aquilo para tanta gente?
resolve migrar para São Paulo. Horas depois, os meninos gemiam:
A linguagem [...] é simples e crua: traços de oralidade — Mãe, tô com fome de novo... [...]
salpicam na medida certa o português culto no qual se tece QUEIROZ, Rachel de. O quinze. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012.
a prosa, ao mesmo tempo que são construídas metáforas e
comparações com base em elementos pertencentes ao campo
semântico do universo sertanejo (os “cotos de galhos como vintém azinhavrado: moeda de cobre ou latão corroída.
membros amputados” ou o comboio que, na curva, “era arranchar-se: abrigar-se.
cepo: toco de árvore.
como uma cobra que fugisse sobre o borralho ainda quente
de uma coivara”). As cenas, na maior parte das vezes curtas,
sucedem-se como pequenas crônicas, algumas das quais até Nesse trecho do romance, podemos observar que a
podem ser lidas de maneira independente [...]. narração é objetiva, relatando a cena de maneira simples,
ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. sem o uso de artifícios para sensibilizar o leitor da gravidade
Rachel de Queiroz. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: da situação em que Chico Bento e sua família se encontram.
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1140/rachel-de-queiroz.
Acesso em: 7 nov. 2023. A fome das personagens é algo grave, dramático, que por
si só deve comover quem lê a obra. O objetivo e o foco
do romance estão em relatar também as relações criadas
Atenção
pela desgraça, as vidas que se cruzam por causa da miséria
As obras de Rachel de Queiroz relatam as lutas do povo gerada pela seca e mantida pelo descaso.
nordestino pela sobrevivência, como é o caso da obra O É importante observar que os diálogos são valorizados
quinze, que narra a grande seca ocorrida em 1915 no no romance, ou seja, as personagens falam por si mesmas.
Nordeste brasileiro. Sua experiência pessoal se relacionou A interferência do narrador é mínima. Além disso, devemos
com os temas abordados em suas obras. Rachel de Queiroz
observar a pluralidade de planos narrativos, tendo como
utilizou uma linguagem simples e coloquial, além de cons-
principais o campo e o sertão, ligados pelo deslocamento
truir metáforas que criaram relação de comparação com
elementos do universo sertanejo. das personagens. Por fim, há a valorização das cenas que
remetem à linguagem cinematográfica que os modernistas
de 1922 consolidaram na literatura brasileira.
O quinze, como vimos no texto, conta a história do Seu segundo romance, João Miguel (1932), também
vaqueiro Chico Bento e sua família, composta de esposa, tem como espaço o estado do Ceará e apresentou a preo-
cunhada e filhos. Por causa da grande seca de 1915, Chico cupação social da autora, que retomou temas como a seca,
Bento é demitido e obrigado a cruzar o sertão para chegar a desigualdade e a indiferença dos governantes. O estilo
ao Recife. Esse percurso é permeado de fome, sede, misé- de Rachel de Queiroz se consolidou com simplicidade e
ria, medo e morte. Além do conflito principal, em segundo vigor, seus diálogos foram escritos com naturalidade, e a
plano, temos a história de Dona Inácia e sua neta Conceição dramaticidade de sua obra surgiu da forma realista como
a madrinha de um dos filhos de Chico Bento. os fatos foram narrados.
A preocupação social da autora ultrapassava o fa-
Chegou a desolação da primeira fome. Vinha seca e trá-
zer literário, por isso se envolveu politicamente com o
gica, surgindo no fundo sujo dos sacos vazios, na descarnada
Partido Comunista, mas acabou rompendo com ele em
nudez das latas raspadas.
1933. Foi presa por suas convicções políticas e pelas
— Mãezinha, cadê a janta?
ideias trots­kistas que defendia. O romance Caminho das
— Cala a boca, menino! Já vem!
— Vem lá o quê!...
pedras foi escrito nesse período e tem um viés político
Angustiado, Chico Bento apalpava os bolsos... nem um bastante definido.
triste vintém azinhavrado... Em 1939, publicou As três Marias, romance psicoló-
FRENTE 2

Lembrou-se da rede nova, grande e de listas que comprara gico com indícios autobiográficos que discorre sobre a
em Quixadá por conta do vale de Vicente. adolescência feminina por meio da história de três meninas
Tinha sido para a viagem. Mas antes dormir no chão do internas em um colégio religioso. Publicou, ainda, Dora,
que ver os meninos chorando, com a barriga roncando de Doralina (1975), O galo de ouro (1985), além de peças
fome. teatrais, crônicas e obras infantojuvenis.
Estavam já na estrada do Castro. E se arrancharam debaixo Em 1977, Rachel de Queiroz se tornou a primeira
dum velho pau-branco seco, nu e retorcido, a bem dizer ao mulher eleita imortal da Academia Brasileira de Letras.

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Seu último romance foi publicado em 1992, Memorial de Cacau (1933) foi seu primeiro romance regionalista e
Maria Moura, e narra a história de uma mulher que, vestida narra a realidade da população interiorana da Bahia, es-
de homem, tenta se vingar dos homens que assassinaram pecificamente os que trabalhavam cultivando cacau, mas
sua família. a obra foi censurada e recolhida. As obras publicadas nos
anos seguintes têm temática urbana e se aproximam do
Arquivo Nacional do Brasil, Rio de Janeiro

realismo socialista, são elas: Suor (1934), Jubiabá (1935),


Mar morto (1936) e Capitães da areia (1937).
Entre 1936 e 1937, Jorge Amado foi preso por motivos
políticos, o que acarretou a censura e o recolhimento de
suas obras. Em 1941, com o objetivo de escapar da perse-
guição da ditadura da Era Vargas, exilou-se na Argentina.
Regressou ao Brasil em 1944, elegendo-se deputado fede-
ral, mas seu mandato foi cassado em 1948. Nesse mesmo
ano, ele partiu para uma viagem por diversos países da
Europa, voltando ao Brasil em 1956. Gabriela, cravo e ca-
nela foi lançado dois anos após seu retorno.
Jorge Amado é um escritor muito popular no Brasil e
no mundo. Sua obra combinou as questões regionais com
uma forma romanesca convencional, apesar de transforma-
da pelo Modernismo. Amado nem sempre contou com a
Rachel de Queiroz foi a primeira mulher a ser aceita na Academia Brasileira
simpatia dos críticos literários; a maior parte deles concorda
de Letras. Na foto, a cerimônia de posse ocorrida em 1977. que as primeiras produções do escritor baiano são as mais
valiosas literariamente. As principais características de suas
Jorge Amado (1912-2001) obras são o realismo social, os conflitos políticos, o folclore
e as crenças populares.
Photo © Effigie /Bridgeman Images/Fotoarena

O período de maior crítica é o que abrange os roman-


ces lançados entre o fim da década de 1950 e o início da
década de 1960.
[...]
Em 1956, retorna ao Brasil e publica seu romance mais
popular, Gabriela, Cravo e Canela (1958). Com ele inicia uma
nova fase romanesca, em que, segundo Álvaro Cardoso Gomes
(1944), “abandona a ficção engajada e adentra cidades baianas,
carregadas de lirismo, que mostram casos pitorescos e caracte-
rísticos. Verifica-se também substancial mudança na linguagem,
que descobre suas raízes populares, recebendo influências da
literatura de cordel e tornando-se mais viva e sensual”.
[...]
A crônica social da vida baiana narrada nessa fase inclui
títulos como Dona Flor e seus Dois Maridos (1967), Teresa
Batista Cansada de Guerra (1973) e Tieta do Agreste (1977),
livros que são bem recebidos pelos leitores e adaptados para
o teatro, cinema e televisão, embora sejam pouco apreciados
pela crítica literária, que aponta a superficialidade nessas fábulas
populares. Alfredo Bosi afirma que, na nova fase, Jorge Amado
Jorge Amado nasceu em uma fazenda de cacau em
oferece ao leitor “glutão”, “pieguice e volúpia em vez de paixão,
Itabuna, na Bahia. Por causa de um surto de varíola que estereótipos em vez de trato orgânico dos conflitos sociais, pi-
assolou a fazenda, a família se mudou para Ilhéus quando o toresco em vez de captação estética do meio, tipos ‘folclóricos’
escritor estava prestes a completar 2 anos, tendo passado em vez de pessoas, descuido formal a pretexto de oralidade”.
lá sua infância. Anos mais tarde, mudaram-se novamente; [...]
dessa vez para Salvador, onde um professor do colégio ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. Jorge Amado.
jesuíta percebeu o talento literário de Amado. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.
itaucultural.org.br/pessoa4164/jorge-amado. Acesso em: 7 nov. 2023.
Seu primeiro conto foi publicado no jornal da escola,
que ele mesmo fundou em 1925. Em 1927, iniciou uma co- Antonio Candido, apesar de reconhecer problemas
laboração mais recorrente com jornais e revistas da região. flagrantes na literatura de Jorge Amado, tem opinião menos
A primeira obra que publicou foi Lenita (1929), uma nove- severa que a de Alfredo Bosi, apontando “uma identificação
la escrita com Edison Carneiro e Dias Costas. O primeiro afetiva com o povo, [...] numa prosa generosa, comunicativa,
romance foi publicado em 1931, O país do carnaval, no que fez de Jorge Amado o romancista mais popular do
mesmo ano em que Jorge Amado ingressou no curso de Brasil” (Iniciação à literatura brasileira. São Paulo: Huma-
Direito, já no Rio de Janeiro. nitas, 1999. p. 86).

214 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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Jorge Amado segue como um dos escritores mais re-

Joa Souza/Shutterstock.com
conhecidos do Brasil, e sua obra foi popularizada também
por meio de adaptações televisivas e cinematográficas,
independentemente da crítica. Obras como Gabriela, cravo
e canela, Tieta do Agreste e Dona Flor e seus dois mari-
dos já fazem parte do imaginário do brasileiro. Temos de
pontuar que o mundo pitoresco e colorido apresentado por
Amado ajudou a criar uma imagem equivocada do Brasil
mundo afora. Suas histórias giravam em torno do Carnaval,
da beleza feminina, das religiões africanas, mas também da
violência e da desigualdade. O olhar estrangeiro sobre es-
sas obras levou a uma generalização que tornou válida a
representação estereotipada do nosso país.
Entre as obras de Amado, destacamos Capitães da
Estátua em homenagem a Jorge Amado e sua esposa, Zélia Gatai, em
areia, que narra a história de um grupo de crianças aban- Salvador, Bahia.
donadas que vive nas proximidades do cais de Salvador.
Todos moram em um depósito abandonado e sobrevivem Atenção
praticando pequenos furtos. Pedro Bala é a personagem
Para os críticos, a obra de Jorge Amado pode ser dividida em
principal, um adolescente de 15 anos que, ao longo da
duas fases, sendo a primeira considerada a mais valiosa lite-
narrativa, se dá conta da situação de opressão e abando- rariamente. Desse período, destacam-se Cacau, Mar morto,
no em que vivem, pois estão sempre fugindo da polícia Capitães da areia, Jubiabá e Terras do sem-fim (1943), que
e brigando com outros grupos de meninos em situação possuem vertentes política e social bem marcadas.
de abandono. Os principais temas abordados no romance
são as desigualdades sociais, a marginalidade, o crime e
o abandono de crianças. Erico Verissimo (1905-1975)
[...]

Acervo do Fundo Correio da Manhã/


Arquivo Nacional, Rio de Janeiro
É aqui também que mora o chefe dos Capitães da Areia:
Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus cinco
anos. Hoje tem quinze anos. Há dez que vagabundeia nas
ruas da Bahia. Nunca soube de sua mãe, seu pai morrera de
um balaço. Ele ficou sozinho e empregou anos em conhecer
a cidade. Hoje sabe de todas as suas ruas e de todos os seus
becos. Não há venda, quitanda, botequim que ele não co-
nheça. Quando se incorporou aos Capitães da Areia (o cais
recém-construído atraiu para as suas areias todas as crianças
abandonadas da cidade) o chefe era Raimundo, o Caboclo,
mulato avermelhado forte.
Não durou muito na chefia o caboclo Raimundo. Pedro Segundo Alfredo Bosi, apenas Erico Verissimo divide
Bala era muito mais ativo, sabia planejar os trabalhos, sabia com Jorge Amado o apreço e a boa recepção por parte do
tratar com os outros, trazia nos olhos e na voz a autoridade de público leitor. Mas, assim como ocorreu com o romancista
chefe. Um dia brigaram. A desgraça de Raimundo foi puxar baiano, a crítica literária vê sua obra com certas reservas.
uma navalha e cortar o rosto de Pedro, um talho que ficou para Nascido em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, Erico
o resto da vida. Os outros se meteram e como Pedro estava Verissimo interessou-se cedo pela literatura. Sua família
desarmado deram razão a ele e ficaram esperando a revanche, era rica, mas acabou falindo no começo do século XX, por
que não tardou. Uma noite, quando Raimundo quis surrar isso, após os anos de estudo em Porto Alegre, Verissimo
Barandão, Pedro tomou as dores do negrinho e rolaram na retornou à sua cidade natal para trabalhar.
luta mais sensacional que as areias do cais jamais assistiram. Seu primeiro texto publicado em revista foi o conto “La-
Raimundo era mais alto e mais velho. Porém, Pedro Bala, o drão de gado”, em 1928. Alguns anos depois, ele conseguiu
cabelo loiro voando, a cicatriz vermelha no rosto, era de uma
um emprego como secretário na revista O globo e mudou-se
agilidade espantosa e desde esse dia Raimundo deixou não só
para Porto Alegre, onde passou a viver com a esposa.
a chefia dos Capitães da Areia, como o próprio areal. Engajou
Em 1932, publicou seu primeiro livro de contos, Fanto-
tempos depois num navio.
ches, e passou a atuar também como tradutor de diversas
FRENTE 2

Todos reconheceram os direitos de Pedro Bala à chefia,


obras inglesas, francesas e espanholas. Essa experiência
e foi desta época que a cidade começou a ouvir falar nos
Capitães da Areia, crianças abandonadas que viviam do furto.
influenciou sua técnica de escrita.
Nunca ninguém soube o número exato de meninos que assim Sua obra se situa na sociedade porto-alegrense. Cla-
viviam. Eram uns cem e destes mais de quarenta dormiam nas rissa (1933) foi o primeiro romance publicado e se conecta
ruínas do velho trapiche. [...] sutilmente com as demais obras, que inclui Música ao longe
AMADO, Jorge. Capitães da areia. São Paulo: (1935), Um lugar ao sol (1936), Saga (1933), Olhai os lírios
Companhia das Letras, 2008. p. 29. do campo (1938) – grande sucesso de público – e O resto

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é silêncio (1943). Esses títulos compõem o primeiro ciclo de Apesar de ser didaticamente classificada e estudada
obras de Erico Verissimo, considerado urbano. sob o rótulo do regionalismo, a obra de Verissimo apresen-
O ciclo histórico em que recuperou a vida e a história tou pouca diferença em relação a obras escritas com base
gaúcha trouxe reconhecimento ao autor. A trilogia O tempo na observação da sociedade. Assim como aconteceu com
e o vento foi escrita e publicada em um espaço de 13 anos o regionalismo, o romance histórico já havia sido explorado
e tem como mote principal entender a formação do estado no Romantismo brasileiro. O ciclo histórico de Verissimo
do Rio Grande do Sul e apresentar a identidade do povo pode ser mais facilmente relacionado ao regionalismo, mas
gaúcho. É considerada a obra-prima do autor pelos críticos no sentido de valorizar a história e a identidade gaúcha.
e foi adaptada para a televisão.
José Lins do Rego (1901-1957)
[...] Dividida em três partes fundamentais, por sua vez
desmembradas em capítulos de acordo com a personagem

Folhapress/Folhapress
central, a obra apresenta nítida coloração épica, sobretudo no
primeiro volume [...], referente a Ana Terra. Pondo em relevo
um tipo humano de grande riqueza interior, sem embargo de
seu humilde status, a ação transcorre no imperfeito do indi-
cativo. Com isso, o novelista afastava para longe o tempo da
fabulação e concomitantemente atribuía ao transcorrer da his-
tória um halo de eterno retorno, vizinho da lenda, dos contos
de fada ou das narrativas bíblicas. [...]
MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos.
São Paulo: Cultrix, 2005. p. 510.

Como vimos no comentário do crítico literário Massaud


Moisés, a trilogia O tempo e o vento é composta dos livros:
• O continente: narra o nascimento do estado do Rio
Grande do Sul por meio da história das famílias Terra,
Carré, Cambará e Amaral.
José Lins do Rego nasceu na cidade de Pilar, na Paraíba,
• O retrato: narra o retorno de Rodrigo Terra Cambará especificamente no Engenho Corredor, propriedade de seu
à sua terra natal, depois de ter estudado Medicina em avô materno. No ano em que nasceu, sua mãe morreu, e
Porto Alegre. O pano de fundo desse volume é a de- ele passou a ser criado pelos avós maternos, já que seu
cadência social da cidade de Santa Fé, causada por pai foi viver em outro engenho e pouco visitava o menino.
interesses políticos. Em 1919, entrou para a Faculdade de Direito do Recife
• O arquipélago: narra o retorno de Rodrigo Terra Cambará e, no ano de sua formatura, 1923, conheceu o sociólogo
a Santa Fé, após um longo período no Rio de Janeiro, e escritor Gilberto Freyre, que o incentivou a desenvolver
agora tendo como aliado Getúlio Vargas, o que leva uma literatura relacionada à cultura local. Em 1926, mudou-
a família Cambará ao reconhecimento nacional. Toda- -se para Maceió, onde conheceu e passou a se relacionar
via, com o fim da ditadura, Rodrigo se vê politicamente com os modernistas Jorge de Lima, Graciliano Ramos e
derrotado e adoece. Rachel de Queiroz, tendo fortalecidos os estímulos a pro-
duzir obras com causas regionalistas.
Toda gente tinha achado estranha a maneira como o cap.
Seu primeiro romance, Menino de engenho (1932),
Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa Fé. Um dia che-
inaugurou o chamado ciclo da cana-de-açúcar do autor,
gou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde, com o chapéu
do qual fazem parte as obras Doidinho (1933), Banguê
de barbicacho puxado para a nuca, a bela cabeça de macho
(1934), O moleque Ricardo (1935), Usina (1936) e Fogo
altivamente erguida, e aquele seu olhar de gavião que irritava
Morto (1943). Essas narrativas têm em comum o retrato do
e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Devia andar lá pelo
meio da casa dos trinta, montava um alazão, trazia bombachas
mundo e dos modos de vida das personagens dos enge-
claras, botas com chinelas de prata e o busto musculoso aper- nhos de cana-de-açúcar no Nordeste, bem como tratam da
tado num dólmã militar azul, com gola vermelha e botões de decadência desse sistema econômico e do autoritarismo
metal. Tinha um violão a tiracolo; sua espada, apresilhada aos dos patrões.
arreios, rebrilhava ao sol daquela tarde de outubro de 1828 Em Menino de Engenho – obra com traços autobiográfi-
e o lenço encarnado que trazia ao pescoço esvoaçava no ar cos –, José Lins do Rego iniciou o ciclo contando a infância
como uma bandeira. Apeou na frente da venda de Nicolau, do menino Carlos de Mello, que, assim como o autor, nas-
amarrou o alazão no tronco dum cinamomo, entrou arrastando ceu em um engenho. Aos 4 anos, Carlinhos, que narra a
as esporas, batendo na coxa direita com o rebenque, e foi logo história já adulto, fica órfão quando o pai assassina sua
gritando, assim com ar de velho conhecido: mãe e é levado para viver com os avós no Engenho Santa
— Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha Rosa. O leitor acompanha sua trajetória de vida, os estudos,
e nos grandes dou de talho! o contato com o campo e a substituição dos engenhos de
[...] cana por usinas que produzem açúcar em escala indus-
VERISSIMO, Erico. O tempo e o vento, parte 1: O continente. São Paulo: trial. A decadência dos engenhos é retratada por meio do
Companhia das Letras, 2004. p. 176. declínio do engenho vizinho ao Santa Rosa.

216 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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O Santa Fé ficava encravado no engenho do meu avô. As [...]
terras do Santa Rosa andavam léguas e léguas de norte a sul. E não falou mais. Foi para a sua rede, enjeitou a janta,
O velho José Paulino tinha este gosto: o de perder a vista nos e na escuridão do quarto as coisas começaram a rodar na
seus domínios. Gostava de descansar os olhos em horizontes cabeça. Não haveria um direito para ele? A terra era do
que fossem seus. Tudo o que tinha era para comprar terras e senhor de engenho, e ele que se danasse, que fosse com os
mais terras. Herdara o Santa Rosa pequeno, e fizera dele um seus cacos para o inferno. Um ódio de morte tomou-o de
reino, rompendo os seus limites pela compra de propriedades repente. Não sentira aquilo no momento em que o coronel
anexas. [...] O Santa Fé, porém, resistira a essa sua fome de lhe falara. Era um maluco, não tinha raiva dele. Mas na es-
latifúndios. [...] Não se sentiam, porém, rivais o Santa Fé e o curidão, na rede que rangia nos armadores de corda, tinha
Santa Rosa. Era como se fossem dois irmãos muito amigos, raiva, tinha uma vontade de destruição, de matar, de acabar
que tivessem recebido de Deus uma proteção de mais ou uma com o outro. As gargalhadas de Marta enchiam a casa. Teria
proteção de menos. Coitado do Santa Fé! Já o conheci de fogo uma filha na Tamarineira. O infeliz daquele negro Floripes
morto. E nada é mais triste do que um engenho de fogo morto. pagaria. E sem querer, levantou-se da rede. Abriu a janela
Uma desolação de fim de vida, de ruína, que dá à paisagem do quarto e o céu estrelado pinicava na escuridão da noite.
rural uma melancolia de cemitério abandonado. [...] Ao lado Andou para a porta e pensou em sair um pouco. Lobisomem.
da prosperidade e da riqueza do meu avô, eu vira ruir, até no Os meninos correram de sua figura, ouviu gente batendo
prestígio de sua autoridade, aquele simpático velhinho que
porta por sua causa. Foi até a pitombeira e sentou-se em
era o coronel Lula de Holanda, com o seu Santa Fé caindo
cima da raiz. O que havia nele para espantar os meninos,
aos pedaços. Todo barbado, como aqueles velhos dos álbuns
para meter medo aos velhos? Todo o ódio ao negro Floripes
de retratos antigos, sempre que saía de casa era de cabriolé e de
sumiu-se. Uma onda de frio passou-lhe pelo corpo. O que
casimira preta. [...]
tinha nele para fazer medo, para fazer correr gente? Lem-
REGO, José Luís do. Menino de engenho.
São Paulo: Global, 2020. p. 121. brou-se da noite da morte da velha Lucinda. Ligou tudo.
Correram dele. Lobisomem. Em menino falavam dos que
A ruína do engenho é refletida no declínio físico e men- saíam de noite para beber sangue, matar inocentes, correr
tal do proprietário do Santa Fé. O narrador relata a tristeza como bicho danado. E sem saber explicar, o mestre José
de ver um engenho em declínio, já que sua própria realidade Amaro examinou-se com pavor. O que havia no seu corpo,
é contrária: o engenho Santa Rosa ainda caminha bem, e a nos seus gestos, na sua vida? A filha endoidecera. Mas isto
rotina do lugar encanta o garoto. nada tinha que ver com a invenção do povo. Ele não saía de
Em Fogo morto, há o fechamento do ciclo da cana- casa, nunca fizera mal a ninguém. E por que seria o monstro
-de-açúcar. Esse romance encerra a saga dos engenhos que alarmava o povo? [...]
e se desenrola em um momento em que a decadência REGO, José Luís do. Fogo morto. São Paulo: Global, 2021. p. 40
da sociedade canavieira já está estabelecida. A obra se
estrutura em três partes: Tamarineira: hospital psiquiátrico localizado no Recife.
• “O mestre José Amaro”: a primeira parte se concentra
na figura de José Amaro, um velho fabricante de selas
É importante notar no trecho anterior o uso do discur-
de cavalo que mora com a família nas terras do enge-
so indireto livre. Esse recurso permite que o leitor tenha
nho Santa Fé. O dono do engenho, Lula de Holanda,
acesso aos pensamentos das personagens por meio da
quer que a família do seleiro vá embora de suas ter-
voz do narrador. Destaca-se na obra o uso de expressões
ras, o que gera conflitos entre as personagens. Além
regionais como “engenho de fogo morto”, para se referir
disso, são narradas as frustrações de José Amaro
aos engenhos que já não produziam mais açúcar, como
com sua profissão e com os problemas familiares.
vimos no fragmento de Menino de engenho.
• “O engenho de seu Lula”: a segunda parte do ro-
mance narra, principalmente, a história do engenho
Henry Koster. A sugar mill, 1816. In: Travels in Brazil. Londres: Longman, Hurst,
Rees, Orme, and Brown, 1817.
Santa Fé, que viveu momentos de grande prestígio e
prosperidade com o primeiro dono, mas acabou decli-
nando nas mãos do herdeiro: Luís César de Holanda
Chacon, o seu Lula.
• “O capitão Vitorino”: a última parte do romance discor-
re sobre Vitorino, o compadre de José Amaro. Ele é
um homem pouco respeitado até por sua esposa e seu
compadre, mas representa a figura do herói sonhador,
sempre em busca de justiça. A situação dele muda de-
FRENTE 2

pois que enfrenta um poderoso tenente da região e um


famoso cangaceiro. A partir daí, todos passam a consi-
derá-lo um homem de respeito e valente.
Essas personagens representam uma ordem social
prestes a desaparecer, e a narrativa aborda aspectos
importantes desse processo histórico que gerou não só
mudanças econômicas, mas também sociais e culturais. A Sugar Mill, de Henry Koster, 1816. Travels in Brazil (London, 1816).

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Graciliano Ramos (1892-1953) embora pouco afeito ao pitoresco e ao descritivo, e antes de
mais nada preocupado em ser, por intermédio da sua obra,

Acervo do Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional, Rio de Janeiro


como artista e como homem, termina por nos conduzir dis-
cretamente a esferas bastante várias de humanidade, sem se
afastar demasiado de certos temas e modos de escrever. [...]
CANDIDO, Antonio. Ficção e confissão. Rio de Janeiro:
Ouro sobre azul, 2006. p. 17.

Suas obras abordaram tanto aqueles que abandonaram


o sertão em busca de uma vida diferente, longe da misé-
ria, quanto aqueles que permaneceram lá, lutando com a
aridez do espaço. Mas, antes de explorar alguns de seus
romances, vamos conhecer melhor o autor.
Graciliano Ramos nasceu em Quebrangulo, Alagoas.
O primeiro de 16 filhos que seus pais tiveram. Dois anos
depois de seu nascimento, a família se mudou para uma
fazenda no sertão de Pernambuco, onde o escritor teste-
munhou a miséria, a passagem de grupos de imigrantes
fugindo da seca e da fome e a paisagem composta de
[...]
animais e vegetação mortos.
Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo perfeita
Aos 13 anos, partiu para Maceió com o intuito de es-
saúde. [...]
tudar. No ano seguinte, colaborou com o jornal carioca
O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. Cin-
quenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a
O malho, publicando alguns sonetos. Três anos depois, co-
maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endure- meçou a colaborar regularmente com o Jornal de Alagoas.
ci, calejei, e não é um arranhão que penetra esta casca espessa Em 1914, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou
e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada. como revisor em vários jornais. Seu retorno para Alagoas
Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma aconteceu às pressas, depois que três irmãos e um sobri-
pessoa a vida inteira sem saber para quê! Comer e dormir nho morreram em decorrência da peste bubônica.
como um porco! Como um porco! Levantar-se cedo todas as
Lais Monteiro/Shutterstock.com

manhãs e sair correndo, procurando comida! E depois guardar


comida para os filhos, para os netos, para muitas gerações. Que
estupidez! Que porcaria! Não é bom vir o diabo e levar tudo?
Sol, chuva, noites de insônia, cálculos, combinações,
violências, perigos — e nem sequer me resta a ilusão de ter
realizado obra proveitosa. [...]
RAMOS. Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro:
Record, 1995. p. 184-185.

As obras de 1930, em especial as do ciclo regionalis-


ta, revelaram muitos talentos, como vimos anteriormente.
Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Erico Verissimo e José
Lins do Rego destacaram-se com obras que ainda hoje
são relevantes na história da Literatura brasileira. O nome
de maior expressão desse período, porém, é Graciliano
Ramos, autor de uma linguagem direta, estilo seco, con-
ciso e econômico nos adjetivos, como vimos no trecho
reproduzido.
Graciliano Ramos soube como equilibrar a profunda
investigação dos problemas sociais e a análise psicológica
de suas personagens, criando uma prosa que combinou Estátua em homenagem a Graciliano Ramos, Maceió, Alagoas.
com maestria o regionalismo com o intimismo. Sobre a obra
de Ramos, o crítico literário Antonio Candido afirmou: Continuou sua carreira jornalística, mas também enve-
Para ler Graciliano Ramos, talvez convenha ao leitor apa- redou na política e, em 1927, foi eleito prefeito de Palmeira
relhar-se do espírito de jornada, dispondo-se a uma experiência dos Índios, exercendo um mandato reconhecido pela cor-
que se desdobra em etapas e, principiada na narração de costu- reção política, pela inteligência e pela honestidade. Seus
mes, termina pela confissão das mais vívidas emoções pessoais. relatórios ao governador do estado chamaram a atenção de
Com isto, percorre o sertão, a mata, a fazenda, a vila, a cidade, um editor que o procurou para saber se não teria interesse
a casa, a prisão, vendo fazendeiros e vaqueiros, empregados em escrever literatura. Nesse momento, Graciliano Ramos já
e funcionários, políticos e vagabundos, pelos quais passa o estava compondo seu primeiro romance, Caetés, publicado
romancista, progredindo no sentido de integrar o que observa por Augusto Frederico Schimidt em 1933. Esse foi apenas
ao seu modo peculiar de julgar e de sentir. De tal forma que, o início de uma importante carreira literária.

218 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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[...] Atenção
Ramos estreia na literatura com Caetés, romance concebi-
do ainda dentro dos padrões da ficção realista do século XIX, A obra de Graciliano Ramos é marcada por um estilo seco,
revelando a influência do escritor português Eça de Queirós conciso e econômico nos adjetivos. O autor priorizou a
na descrição das cenas e na caracterização dos personagens. objetividade e a clareza em sua narrativa. Seu engaja-
O enredo gira em torno do envolvimento amoroso de João mento é observado na crítica e na denúncia de todo tipo
Valério, guarda-livros com pretensões literárias, e Luísa, esposa de injustiça e opressão econômica, social e política. A
do patrão. Em paralelo a essa história, desenvolve-se outra. análise psicológica que fez de suas personagens não se
Ramos emprega a estratégia do romance dentro do romance, limitou ao regional e estimulou uma reflexão acerca dos
pois João Valério ocupa-se de escrever um romance histórico caminhos da sociedade moderna e das relações por ela
engendrada que criam desigualdade social.
sobre o martírio do bispo Sardinha, devorado pelos índios cae-
tés. Ambas as histórias, a dada altura, acabam por se imbricar,
na medida em que o protagonista reconhece trazer em si um
São Bernardo
eu primário adormecido e reprimido, metaforicamente equi-
parado a um caeté recôndito: “Que sou eu”, diz ele, “senão [...]
um selvagem, ligeiramente polido, com uma tênue camada Amanheci um dia pensando em casar. Foi uma ideia que
de verniz por fora?”. E, de fato, um traço marcante da ficção me veio sem que nenhum rabo de saia a provocasse. Não me
do escritor alagoano é essa investigação progressiva do eu ocupo com amores, devem ter notado, e sempre me pareceu
subjacente à imagem social. que mulher é um bicho esquisito, difícil de governar.
[...] [...] Não me sentia, pois, inclinado para nenhuma: o que
FENSKE, Elfi Kürten. Graciliano Ramos: memória e a geografia do sentia era desejo de preparar um herdeiro para as terras de
drama humano. Templo Cultural Delfos, 2016. Disponível em: S. Bernardo. [...]
http://www.elfikurten.com.br/2013/07/graciliano-ramos.html. RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2009. p. 57.
Acesso em: 7 nov. 2023.
O segundo romance de Graciliano Ramos, São Bernardo,
Antonio Candido e Alfredo Bosi opinaram que esse foi publicado em 1934. A obra é narrada em primeira pes-
primeiro romance serviu de exercício literário a Graciliano soa e apresenta as memórias do narrador-protagonista
Ramos, que começou a sedimentar a forma e a linguagem Paulo Honório, proprietário da fazenda São Bernardo, lo-
que marcaram sua prosa. Caetés se destacou pela escrita calizada no município de Viçosa, Alagoas. Já nas primeiras
cuidadosa, e podemos observar, segundo Antonio Candido, linhas do romance, Paulo Honório expõe seu desejo de
“as melhores receitas da ficção realista tradicional, quer escrever um livro e os arranjos que fez com alguns cola-
na estrutura literária, quer na concepção da vida”. boradores que acabaram não dando certo. Sem desistir de
O autor fez amizade com escritores do regionalismo bra- seu plano, Paulo Honório se dedica a escrever sozinho e
sileiro, como José Lins do Rego, Rachel de Queiroz e Jorge passa a contar sua vida.
Amado. Nesse período, escreveu São Bernardo (1934) e Ele narra sua infância, conta que não conheceu seus
Angústia (1936). Também foi acusado de subversão, perse- pais e que viveu sozinho e na miséria. Por meio de mui-
guido e preso. Cumpriu sua pena no Rio de Janeiro, onde to trabalho e alguns negócios desonestos, Paulo Honório
foi submetido a violência física e moral, experiência relatada consegue se apropriar da fazenda São Bernardo. Nesse
na obra póstuma Memórias do cárcere (1953). lugar, onde o trabalho dele foi muitas vezes explorado e
ele oprimido, passa a ser o novo explorador e opressor.
Saiba mais O motivo que o leva a buscar o casamento é somen-
te gerar um herdeiro para a fazenda que ele conquistou.
Memórias do cárcere é uma obra de valor histórico, pois Madalena, uma professora de hábitos urbanos, conhece
relata um período crítico da história do Brasil. A leitura dessa
Paulo Honório quando ele a convida para lecionar em São
obra é um convite à reflexão acerca de justiça e crítica so-
Bernardo. Em seguida, propõe o casamento, o que acaba
cial, além do autoritarismo e do cerceamento da liberdade,
já que Graciliano Ramos foi preso sem motivo aparente. gerando uma mudança na fazenda onde ele atua com im-
piedade e rigidez. Madalena e sua tia, d. Glória, entram em
contato com as pessoas que vivem e trabalham na fazenda,
Depois de solto, Ramos foi viver em um quarto de tomando ciência da situação miserável em que vivem, e
pensão no Rio de Janeiro, com seus filhos e sua segunda tentam imprimir uma organização mais humanizada no lu-
esposa – a primeira esposa morreu no parto do quarto gar. Todavia, a violência que norteia as relações de Paulo
filho. O escritor, que já havia sido prefeito de Palmeiras dos Honório acaba por confrontar o jeito de ser da esposa, que,
Índios, colaborado com diversos jornais e publicado três mesmo lhe dando um herdeiro, passa a ser controlada por
romances, teve sua vida desfeita por uma prisão arbitrária. ele por causa do ciúme que sente dela e das relações que
FRENTE 2

Seus planos de escrever um novo romance foram adiados ela constrói em São Bernardo.
pela falta de dinheiro. Paulo Honório demonstra uma crescente paranoia,
Vidas secas (1938) foi publicado somente em 1938, humilhando a esposa, atormentando-a com acusações de
depois que o autor escreveu alguns contos que reuniu para adultério, rejeitando o filho, sentindo-se ameaçado e jul-
formar essa que é, possivelmente, sua obra mais conhecida. gando que está perdendo seu poder como latifundiário.
A seguir, vamos analisar três grandes obras de Graciliano Seu comportamento acaba levando a esposa ao suicídio e,
Ramos mais detalhadamente. em seguida, à sua própria decadência social e política. Ele

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acaba sozinho e abandonado por seus amigos e aliados, casamento pobre, passa a se envolver em dívidas para sa-
e passa a refletir sobre suas atitudes e os enganos que tisfazer os desejos da noiva. Enquanto Luís da Silva contraía
cometeu, enquanto escreve suas memórias. dívidas, Marina aproveitava a companhia de Julião Tavares,
[...] de quem acaba engravidando. Ao descobrir o que ocorreu,
As janelas estão fechadas. Meia-noite. Nenhum rumor na Luís da Silva decide se vingar de Julião Tavares e, em uma
casa deserta. briga, mata seu rival. Volta para casa após o ocorrido, bebe
Levanto-me, procuro uma vela, que a luz vai apagar-se. até adormecer e entra em uma espécie de coma.
Não tenho sono. Deitar-me, rolar no colchão até a madrugada,
[...] Tudo nesse romance sufocante lembra o adjetivo “de-
é uma tortura. Prefiro ficar sentado, concluindo isto. Amanhã
gradado” que se opõe ao universo do herói problemático. A
não terei com que me entreter.
existência de Luís da Silva arrasta-se na recusa e na análise
Ponho a vela no castiçal, risco um fósforo e acendo-a.
impotente da miséria moral do seu mundo e, não tendo outra
Sinto um arrepio. A lembrança de Madalena persegue-me.
saída, resolve-se pelo crime e pela autodestruição. O livro
Diligencio afastá-la e caminho em redor da mesa. Aperto as
avança com a rapidez do objeto que cai: sempre mais veloz-
mãos de tal forma que me firo com a unhas, e quando caio
mente e pesadamente rumo à morte e ao nada. [...]
em mim estou mordendo os beiços a ponto de tirar sangue.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira.
De longe em longe sento-me fatigado e escrevo uma linha. São Paulo: Cultrix, 2006. p. 403.
Digo em voz baixa:
— Estraguei a minha vida, estraguei-a estupidamente. Com base no comentário de Alfredo Bosi, podemos
A agitação diminui. concluir que Ramos criou uma narrativa vertiginosa que
— Estraguei a minha vida estupidamente. mergulha o leitor no monólogo interior da personagem,
Penso em Madalena com insistência. Se fosse possível atormentada por um sentimento de autonegação e nojo em
recomeçarmos... Para que enganar-me? Se fosse possível re- relação ao mundo em que vive, mas também de si mesmo.
começarmos, aconteceria exatamente o que aconteceu. Não O fervilhar de seus pensamentos acaba sendo um contra-
consigo modificar-me, é o que mais me aflige. ponto à vida monótona e inerte que leva como funcionário
[...] público. O fracasso da personagem não é apenas social e
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1995. p. 188. econômico, mas também afetivo e relacional.

É importante destacar que a personagem Paulo Honório Levantei-me há cerca de trinta dias, mas julgo que ain-
é um homem criado dentro de um sistema capitalista e de da não me restabeleci completamente. Das visões que me
competição. Ele é movido pela ambição e pela ideia de perseguiam naquelas noites compridas umas sombras perma-
que a posse material é o que pode garantir uma posição necem, sombras que se misturam à realidade e me produzem
na sociedade, o que reflete em suas relações a violência calafrios.
[...]
e o autoritarismo. Graciliano Ramos traçou o perfil de um
Vivo agitado, cheio de terrores, uma tremura nas mãos,
homem rude, egoísta e ambicioso que, envolvido no jogo
que emagreceram. As mãos já não são minhas: são mãos de
de poder, não é capaz de abrir espaço para relações huma-
velho, fracas e inúteis. As escoriações das palmas cicatrizaram.
nas de amizade e amor. A consequência disso é a solidão.
Impossível trabalhar. Dão-me um ofício, um relatório, para
datilografar, na repartição. Até dez linhas vou bem. Daí em
Angústia
diante a cara balofa de Julião Tavares aparece em cima do ori-
Publicado em 1936, Angústia é o terceiro romance ginal, e os meus dedos encontram no teclado uma resistência
de Graciliano Ramos e conquistou o público e a crítica. A mole de carne gorda.
narrativa em primeira pessoa conta a história de Luís da [...]
Silva, um funcionário público, tímido e solitário que vive Em duas horas escrevo uma palavra: Marina. Depois, apro-
em uma casa velha em um bairro pobre. Depois de passar veitando letras deste nome, arranjo coisas absurdas: ar, mar,
meses doente e convalescendo na cama, decide escrever rima, arma, ira, amar. [...]
suas memórias. Seu relato surge de lembranças confusas RAMOS, Graciliano. Angústia. Rio de Janeiro: Record, 2020. p. 8.
e cheias de angústia.
Ele compartilha com o leitor momentos de sua infância Vidas secas
vivida na fazenda do avô. Após a morte dele, o menino se Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas
muda com o pai para uma vila nas proximidades da fazenda manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro,
e passa a frequentar a escola. Acaba perdendo também estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco,
o pai, mas, com a ajuda de algumas pessoas, ingressa no mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a
Exército, termina seus estudos e começa a colaborar com viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam
alguns jornais em traduções e revisões. Passa por mo- uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através
mentos de privação, vivendo nas ruas e pedindo esmolas, dos galhos pelados da catinga rala.
porém acaba conseguindo uma posição como funcionário Arrastaram-se para lá, devagar, sinha Vitória com o filho
público. mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça,
A vida de Luís da Silva se passa tranquilamente, até Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada
que conhece Marina, uma moça pobre que logo se torna numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no
sua amiga. Pouco tempo depois, ele a pede em casamento ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás. [...]
e, percebendo que a moça não se contentaria com um RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2020. p. 8

220 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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Vidas secas, publicado em 1938, é considerado a pautado na humilhação, na exploração e na enganação
obra-prima do regionalismo nordestino. O romance narra de seres humanos.
a história de uma família que foge da seca do sertão. O As personagens têm dificuldade de se expressar, de
núcleo familiar é formado pelo pai, Fabiano; pela mãe, sinhá conversar e, consequentemente, de se relacionar e com-
Vitória; dois meninos, denominados apenas como menino preender o mundo à sua volta, o que as deixa vulneráveis à
mais velho e menino mais novo; e a cachorra Baleia. Em exploração dos patrões. Em certos momentos, aproximam-
suas andanças pelo sertão, a família chega a uma fazen- -se da animalização, e a comparação entre as personagens
da abandonada, mas, com a chegada das chuvas, o dono e animais pode ser observada na narrativa. Na contramão,
da propriedade retorna, e Fabiano é submetido às ordens temos a cachorra Baleia, que, ao contrário dos filhos de
dele, sendo contratado como vaqueiro. Durante o tempo Fabiano e sinhá Vitória, é identificada por um nome e huma-
em que vivem na fazenda, são explorados nos serviços nizada pelo narrador, que apresenta as ações e os sonhos
que prestam, testemunham a violência do patrão e sofrem da cachorra como se fossem de uma pessoa.
humilhações cotidianas, até que a seca retorna, e a família A capacidade de sonhar é o que humaniza essas per-
volta a perambular pelo Sertão nordestino. sonagens, suas aspirações remetem aos direitos básicos
de qualquer cidadão: comida, trabalho, moradia, educação.
[...] Originado de um (ou alguns) conto(s), o romance
preserva, em sua estruturação, as marcas de origem: são 13 ca-
A família de Fabiano pode ser entendida como represen-
pítulos marcados por certa autonomia, “verdadeiros casulos de tação dos diversos grupos de retirantes nordestinos que
vida isolada”. Como quadros justapostos, os capítulos tendem a compartilham uma história semelhante.
focalizar os personagens separadamente [...]. Essa tomada par-
cial de cada personagem acentua a condição de vida isolada, Atenção
encasulada no seu próprio cismar. Não há interação entre eles, A temática social ganhou relevo nas conturbadas décadas
visto que lhes falta o essencial: a palavra. Fabiano, sua mulher de 1930 e 1940. As obras regionalistas da segunda fase
e filhos são seres espoliados não só de casa e comida, mas modernista destacam-se por abordar, principalmente, os
também de linguagem, pois, fiéis ao clima da seca, fazem uso problemas sociais do Nordeste do Brasil com enfoque na
de uma fala truncada e de alguns sons guturais. Para suprir essa condição humana, aprofundando a análise psicológica
fala minguada, a impossibilidade de comunicação e expressão, das personagens.
Ramos recorre a um narrador extremamente onisciente, que
sabe e diz tudo o que se passa dentro e fora da cabeça dos
personagens, inclusive da cachorrinha Baleia [...].
FENSKE, Elfi Kürten. Graciliano Ramos: memória e a geografia do drama Geração de 1945
humano. Templo Cultural Delfos, 2016. Disponível em: http://www. — Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura, mas
elfikurten.com.br/2013/07/graciliano-ramos.html. Acesso em: 7 nov. 2023.
experiência, a que me induziram, alternadamente, séries de
Como lemos no fragmento, a estrutura do romance de- raciocínios e intuições. Tomou-me tempo, desânimos, esforços.
mandou o uso de um narrador na terceira pessoa, o único Dela me prezo, sem vangloriar-me. Surpreendo-me, porém,
na obra de Graciliano Ramos. Outra estratégia narrativa um tanto à-parte de todos, penetrando conhecimento que os
essencial na composição é a onisciência seletiva múltipla. outros ainda ignoram. O senhor, por exemplo, que sabe e es-
tuda, suponho nem tenha ideia do que seja na verdade — um
[...] O que predomina no caso da onisciência múltipla, espelho? Demais, decerto, das noções de física, com que se
como no caso da onisciência seletiva que vem logo a seguir, familiarizou, as leis da óptica. Reporto-me ao transcendente.
é o discurso indireto livre, enquanto na onisciência neutra o Tudo, aliás, é a ponta de um mistério. Inclusive, os fatos. Ou
predomínio é do estilo indireto. Os canais de informação e os a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece, há um mi-
ângulos de visão podem ser vários, neste caso. lagre que não estamos vendo.
Um bom exemplo é Vidas secas, de Graciliano Ramos, [...]
que começa com Fabiano e sua família (mulher, dois filhos ROSA, João Guimarães. O espelho. In: Primeiras estórias.
e uma cachorra), fugindo da seca do Nordeste, em busca de São Paulo: Global, 2019. p. 94.
uma terra menos inóspita. Depois de uma longa caminhada,
sob o sol escaldante, encontram uma fazenda para trabalhar, Um pouco de história
e, a partir daí, o romance passa a enfocar sucessivamente cada O ano de 1945 é lembrado por marcar o fim da Se-
personagem, dedicando-lhes alternadamente os capítulos em gunda Guerra Mundial. Aqui no Brasil esse ano marcou o
que nos são transmitidos seus pensamentos e sentimentos. fim do primeiro governo Vargas. No mundo, iniciou-se um
Sonhos, frustrações, medos e lembranças aparecerem de forma período de Guerra Fria e, no Brasil, um período democrá-
um tanto fragmentária, através do indireto livre. tico de grande desenvolvimento, tendo como ponto alto o
LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O foco narrativo. São Paulo: Ática, 2007. governo de Juscelino Kubitschek.
FRENTE 2

p. 47-48. (Série Princípios).


Em 1960, Jânio Quadros sucedeu a Kubitschek, mas
É importante notar que a obra vai além de apresen- permaneceu no cargo por apenas dois anos, assumindo o
tar ou denunciar a seca no Nordeste; ela discorre sobre posto o vice João Goulart. Em 1964, Goulart acabou desa-
a secura da vida dos sertanejos, marcada pela profunda gradando a direita política com suas ideias sobre reforma
opressão das relações de poder. Graciliano Ramos apre- agrária e urbana, direito ao voto para população analfabeta
sentou um romance sobre sujeitos complexos que foram e mudanças fiscais. Em março daquele mesmo ano, aconte-
usados como peças de um sistema econômico e social ceu o golpe que deu início aos 20 anos de ditadura militar.

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The U.S. National Archives and Records Administration

Bridgeman Images/Easypix Brasil


Comemoração pelo fim da Segunda Guerra Mundial em Paris, França.

Saiba mais Cursou Medicina e trabalhou como médico em algumas


cidades do interior de Minas Gerais, também foi médico vo-
Guerra Fria foi um período de tensão política entre a an- luntário durante a Revolução de 1932. Prestou concurso
tiga União Soviética e os Estados Unidos, que teve início para seguir carreira diplomática e, em 1938, foi nomeado
pouco tempo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em
cônsul em Hamburgo, Alemanha. Em 1942, em razão do
1945, e continuou até o fim da União Soviética, em 1991.
rompimento de relações diplomáticas do Brasil com a Ale-
manha, Guimarães Rosa e outros funcionários da embaixada
Contexto literário foram feitos reféns. Foi necessário negociar a libertação de
diplomatas alemães detidos no Brasil em troca da soltura
Depois de 1945, a literatura brasileira passou a en-
dos brasileiros.
veredar diferentes caminhos. Não é possível delinear um
projeto comum que una os diferentes escritores que atua­ Estabelecendo relações
ram e ainda atuam no cenário literário brasileiro. Apesar de,
didaticamente, o período pós-1945 ser classificado como A segunda esposa de Guimarães Rosa, que ele conhe-
neomodernismo, não existe uma escola literária. ceu na embaixada, teve papel importante durante a
Segunda Guerra Mundial. Contrariando o posicionamento
Cada autor segue por um caminho singular, o que, in-
do governo de Getúlio Vargas, que naquele momen-
clusive, pode ser entendido como reflexo da solidão do
to apoiava Adolph Hitler, Aracy Moebius de Carvalho
homem moderno, que se tornou cada vez mais encerrado ajudou muitos judeus a escapar do cerco nazista. Em
em seu mundo. O estilo individual tem se sobressaído ao 1937, o governo brasileiro emitiu a Circular Secreta 1127,
estilo de época, ou seja, é difícil definir características ou documento que restringia a entrada de judeus no país, o
tendências gerais desse período. que tornou a atitude de Aracy muito perigosa, passível de
Todavia, podemos observar índices marcantes de aná- condenação por traição. Nessa época, Guimarães Rosa
lise psicológica, tensão social e regionalismo tanto no foi transferido para a embaixada de Hamburgo, onde sua
conto quanto na prosa da segunda metade do século XX. esposa trabalhava, e há indícios de que a auxiliou na mis-
É importante frisar que tais categorias têm função didática são de ajudar judeus a entrar no Brasil.
e não devem ser encaradas com rigidez, antes é preciso
se debruçar na peculiaridade de cada autor. Em 1937, ganhou dois concursos literários, o primeiro
A análise psicológica e a tensão social podem ser ob- com um volume de poesia intitulado Magma, publicado
servadas na obra de autores como Lygia Fagundes Telles, postumamente, em 1997; e o segundo com Sagarana, uma
Nélida Piñon, Hilda Hilst, Osman Lins, Raduan Nassar e coletânea com nove narrativas que publicou em 1946. Nes-
Clarice Lispector. sa obra, encontramos textos importantes do autor, como “A
Já o regionalismo, que, como vimos, desde o Romantis- hora e a vez de Augusto Matraga” e “O burrinho Pedrês”.
mo inspirou autores brasileiros, atravessou todo o século XX, Já em 1956, publicou Corpo de baile, um livro de
por meio da obra de autores como João Ubaldo Ribeiro e novelas que, posteriormente, foi dividido em três volumes:
Guimarães Rosa, e, com este último, a prosa regionalista Manuelzão e Miguilin; No Urubuquaquá, no Pinhém e Noi-
ganhou um novo patamar de originalidade. tes do sertão. Nessa obra, encontramos as novelas “Campo
geral”, “A estória de Lélio e Lina” e “Buriti”. O único romance
Guimarães Rosa (1908-1967) de Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas, foi publicado
Nascido em Cordisburgo, Minas Gerais, Guimarães em 1956 e se tornou uma das obras mais importantes da
Rosa demonstrou cedo sua inclinação para os estudos. literatura brasileira pela originalidade de sua linguagem.
Ainda na infância, lia em francês, era frequentador assíduo O autor publicou ainda Primeiras estórias (1962), Tu-
da biblioteca, demonstrava interesse também por insetos e tameia (1967) e Estas estórias (1969). Em 1963, foi eleito
História Natural e tinha facilidade em aprender. Autodidata, para a Academia Brasileira de Letras, mas adiou a posse
estudava os mais variados assuntos. por quatro anos, por causa de um pressentimento de que

222 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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morreria tão logo assumisse a cadeira. A posse só aconte- seguir são do conto “A terceira margem do rio”, do
ceu em novembro de 1967 e, por coincidência ou destino, livro Primeiras estórias. Observe no destaque do pri-
Guimarães Rosa morreu três dias depois. meiro trecho um exemplo de gradação e, no destaque
do segundo, um exemplo de reiteração.
A inventividade da linguagem
[...]
O destaque de Guimarães Rosa na geração de 1945 e Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas
na literatura brasileira se deve à forma singular e inventiva persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou:
com que trabalhava a linguagem. Seu modo de escrever — “Cê vai, ocê fique, você nunca volte!” Nosso pai suspendeu
e criar palavras transformou e renovou o uso da língua. O a resposta. [...]
autor era poliglota, aprendeu sozinho alemão e russo e fa- ROSA, João Guimarães. A terceira margem do rio. In: Primeiras estórias.
lava francês desde a infância, o que nos permite imaginar a Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. p. 66.
profundidade de sua elaboração linguística e sua habilidade
[...] Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida,
com as palavras e a linguagem. nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo
Para exprimir seu pensamento, Guimarães Rosa teve de da morte, peguem em mim, e me depositem também numa
forjar uma língua que é só dele. O leitor que aborda pela pri- canoinha de nada, nessa água, que não para, de longas beiras:
meira vez um de seus livros, sobretudo a partir de Corpo de e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro – o rio.
baile, fica desconcertado com a obscuridade dessa língua. Mas ROSA, João Guimarães. A terceira margem do rio. In: Primeiras estórias.
ao mesmo tempo é subjugado, e enfeitiçado por essa maneira Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. p. 70.
inteiramente nova de dizer as coisas, E pouco a pouco tudo
• Neologismos: outra forte característica do autor é a
começa a adquirir um sentido, um sentido múltiplo, ambíguo,
“invenção” de palavras, ou seja, o neologismo. Na
numa palavra, poético. Tal língua é o português brasileiro, em
obra de Guimarães Rosa esse processo acontece por
que encontramos o falar regional de Minas Gerais, o portu-
meio de composição, derivação, adaptação de ter-
guês clássico, alusões às múltiplas línguas estrangeiras que o
autor conhecia e lembranças das suas imensas leituras. Seu mos estrangeiros e pela atribuição de novos sentidos
vocabulário é inteiramente renovado pela prática sistemática por meio do contexto. Nos fragmentos a seguir, ob-
do neologismo. Todos os recursos da fonética são explorados. serve exemplos de neologismo por composição, por
[...] Mas está claro que essa renovação linguística [...] prende-se derivação e por atribuição de novo sentido (o verbo
diretamente à dominante “poética” da obra [...]. ganha novo sentido).
TEYSSIER, Paul. Dicionário de literatura brasileira. São Paulo:
[...]
Martins Fontes, 2003. p. 59-60.
Com arranco, calou-se. Como arrependido de ter come-
Como lemos no fragmento de Paul Teyssier, a inventi- çado assim, de evidente. Contra que aí estava com o fígado
vidade da linguagem de Guimarães Rosa surgiu da mistura em más margens; pensava, pensava.
de vários componentes. A seguir, destacamos alguns deles. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições.
• Falar regional: sua vivência como médico de cida- Se é que se riu: aquela crueldade de dentes. Encarar, não me
des mineiras interioranas e sua experiência como encarava, só se fito à meia esguelha. [...]
vaqueiro – em uma viagem de nove dias pelo sertão ROSA, João Guimarães. Famigerado. In: Primeiras estórias.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. p. 51.
conduzindo uma boiada – aproximaram o autor do fa-
lar característico dos sertanejos, servindo de base para [...]
sua linguagem. Podemos observar também a inserção Saltando na sela, ele se levantou de molas. Subiu em si,
de ditos e expressões populares em toda a sua obra. desagravava-se, num desafogaréu.
Observe essa característica no trecho a seguir. Sorriu-se, outro. Satisfez aqueles três: — “Vocês podem
ir, compadres. Vocês escutaram bem a boa descrição…” — e
[...] Cheguei na sala, e dei com outros três homens. Dis-
eles prestes se partiram. [...]
seram de si que tropeiros eram, e estavam assim vestidos e ROSA, João Guimarães. Famigerado. In: Primeiras estórias.
parecidos. Mas o Malinácio começou a glosar e reproduzir Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. p. 53.
minha conversa tida com ele – disso desgostei, segredos frescos
contados não são para todos. E o arrieiro dono da tropa – que [...]
era o de cara redonda e pra clara – me fez muita interroga- Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu
ção. Não estive em boas cócoras. Construí de desconfiar. Não e decidiu.
do fato d’ele tal encarecer – pois todo tropeiro sempre muito Um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não
pergunta; mas do jeito como os outros dois ajudavam aquele a pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. [...]
ROSA, João Guimarães. A terceira margem do rio. In: Primeiras estórias.
me ver, de tudo perseverado tomando conta. Ele queria saber Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. p. 66.
para onde eu mesmo me ia além. [...]
FRENTE 2

ROSA. João Guimarães. Grande sertão: veredas. São Paulo: • Aforismos: um aforismo é uma frase que expressa
Nova Aguilar, 1994. p. 187-188. conceitos, definições ou um princípio moral. O aforismo
• Uso de recursos poéticos: sabemos que a poesia não soa como uma máxima, uma verdade incontornável.
se restringe ao poema; assim, mesmo escrevendo em Quando nada acontece, há um milagre que não estamos
prosa, Guimarães Rosa lançou mão de recursos como vendo.
a aliteração, a gradação, a reiteração, o ritmo e a rima, ROSA, João Guimarães. O espelho. In: Primeiras estórias.
comuns na produção de poemas. Os fragmentos a São Paulo: Global, 2019. p. 94.

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[...] a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. [...]
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 184.

Esperar é reconhecer-se incompleto.


ROSA, João Guimarães. Desenredo. In: Tutameia. São Paulo: Global, 2021. p. 48.

Essas são algumas das estratégias inventivas recorrentes na linguagem da obra de Guimarães Rosa. O autor também
se destacou por transformar o conceito de regionalismo, já que o foco de sua obra era se aprofundar nos aspectos mais
comuns à experiência humana.
[...] O sertanejo não é simplesmente o ser humano rústico que povoa essa grande região do Brasil. Seu conceito é ampliado:
ele é o próprio ser humano, que convive com problemas de ordem universal e eterna. Problemas que qualquer homem, em
qualquer região, enfrentaria. É o eterno conflito entre o ser humano e o destino que o espera, a luta sem tréguas entre o bem e
o mal dentro de cada um, Deus e o diabo, a morte que nos despedaça, e o amor que nos reconstrói, num clima muitas vezes
mítico, mágico e obscuro, porém muitas vezes contrastando com a rusticidade da realidade. [...]
GUIMARÃES Rosa. Panorama da literatura brasileira, [s.d.]. Disponível em: http://www.nilc.icmc.usp.br/nilc/literatura/guimar.esrosa.htm.
Acesso em: 7 nov. 2023.

Guimarães Rosa escreveu muitos contos e novelas e apenas um romance. Apesar de sua obra estar enraizada na
região do sertão de Minas Gerais e nas pessoas que ali vivem – sertanejos, crianças, vaqueiros, matutos etc. –, Rosa
priorizou em seus livros questões universais que dizem respeito a todo ser humano, de qualquer região. É isso que torna
sua obra universal e bem-aceita não somente no Brasil, mas no mundo.

Atenção
A inventividade da linguagem em Guimarães Rosa é uma forte característica. Podemos observar que, por meio do uso da
fala regional, de recursos poéticos, de neologismos e de aforismos, ele dá origem a uma linguagem singular e poética.

Grande sertão: veredas — a construção de si por meio da linguagem


A luta entre o bem e o mal é constante na obra de Guimarães Rosa, o que fica ainda
Reprodução

mais evidente em Grande sertão: veredas, romance publicado em 1956 e uma das narrativas
mais importantes da literatura brasileira. A originalidade da obra, que é ao mesmo tempo
um diálogo e um monólogo da vida do ex-jagunço Riobaldo relatado a um doutor que usa
óculos, apresenta dimensão grandiosa, seja do ponto de vista da extensão, seja do trabalho
com a linguagem.
O aspecto inovador, no entanto, vai muito além do experimentalismo, já que o prota-
gonista apresenta discussões filosóficas que permeiam as relações humanas, tais como
a origem do homem, a experiência da descoberta do amor, a existência de Deus e do
diabo, a dualidade presente em diversos aspectos da existência etc. Além disso, o pro-
tagonista configura-se como uma espécie de armadilha articulada por Guimarães Rosa,
uma vez que esse jagunço letrado é quase impenetrável para os homens ditos sábios.
O autor estabelece um jogo no qual, diante do leitor sabido, descortina-se um jagunço
letrado, professor de meninos no sertão, que faz um pacto com o diabo. Nesse jogo, os
papéis são invertidos, sendo o leitor homem letrado obrigado a mergulhar no sertão de
Riobaldo em busca de melhor compreender a sua travessia.
[...] O diabo existe e não existe? Dou o dito. Abrenúncio. Essas melancolias. O senhor vê: existe cachoeira; e pois? Mas
cachoeira é barranco de chão, e água se caindo por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou desfaz o barranco, sobra
cachoeira alguma? Viver é negócio muito perigoso...
Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos aves-
sos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco – é
alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 21. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. p. 21.

A confusão da narrativa de Riobaldo, ao longo de Grande sertão: veredas, ganha corpo com a colaboração do com-
padre Quelemém. A história toma forma mediante o plano psicológico sempre pelo caminho da duplicidade, uma vez que
o sertão é árido e seco, mas suas veredas – pequenos rios profundos – guardam o mistério que os olhos não conseguem
ver. Essa duplicidade está na estrutura de monólogo que se baseia em um diálogo, na figura do doutor que ouve o serta-
nejo, na própria busca de Riobaldo de entender sua história e construí-la à medida que a vai narrando. Logo, ele resgata
a palavra, dando nome ao que viveu, corroborando os fatos de que o ser humano existe porque existe a linguagem e de
que essa existência – estar vivo – é um risco constante.

224 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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O senhor não acha? Me declare, franco, peço. Ah, lhe agradeço. Se vê que o senhor sabe muito, em ideia firme, além de ter
carta de doutor. Lhe agradeço, por tanto. Sua companhia me dá altos prazeres.
Em termos, gostava que morasse aqui, ou perto, era uma ajuda. Aqui não se tem convívio que instruir. Sertão. Sabe o senhor:
sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso...
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 21. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. p. 33.

Esse aspecto metalinguístico do romance de Guimarães Rosa é uma evidência de que a própria linguagem é um sertão
a ser atravessado, por isso mesmo é que o sertão rosiano está para além do aspecto geográfico ou físico, “o sertão é do
tamanho do mundo”, é a própria vida com todos os seus descuidos prosseguidos.
O título de forma dupla apresenta o elemento externo – sertão – e o interno – veredas –, o que induz o leitor a com-
preender esse aspecto universalista em Rosa, chamado pelo crítico literário Antonio Candido de “transregionalismo” ou
“surregionalismo”.
O pitoresco da linguagem, o arcaísmo, o tema caipira, o tema regional, o tema jagunço, o tema caboclo, isso já era uma
coisa muito sovada, muito gasta. Praticamente considerava-se que a literatura brasileira já tinha saído disso. E no momento em
que a crítica pensava mais ou menos isso surge um homem que, fechado hermeticamente dentro do universo do sertão, com uma
exuberância verbal extraordinária, com aquilo que era considerado ruim da tradição brasileira que é a exuberância da linguagem,
com aquilo que era considerado ruim que era o regionalismo com aquilo que era considerado perigoso que era o pitoresco, parte
de tudo isso e consegue fazer uma coisa inteiramente nova, consegue fazer uma ficção de tipo realmente universal, com todos
os grandes problemas do homem.
[...]
Ele faz um tipo de livro que supera o regionalismo através do regionalismo. Esse, do ponto de vista da composição literária,
a meu ver, é um paradoxo supremo. Tanto assim que me senti obrigado a criar uma nova categoria que é o transregionalismo ou
surregionalismo.
CALLADO, Antonio et al. Depoimentos sobre João Guimarães Rosa e sua obra. [S.l: s.n.], 2011. p. 27.

A relação do narrador-personagem com o leitor é de significativa proximidade, uma vez que não se sabe quem é o
interlocutor com quem Riobaldo conversa. Nesse sentido, notamos que a perspectiva do narrador, ou seja, o foco narrativo,
toma toda a liberdade de contar sua história de dentro dela, o que valida a grandeza do texto literário atrelado ao modo
que se narra em sobreposição ao fato narrado.
Riobaldo rememora seu passado, abordando seu primeiro contato com o menino corajoso chamado Reinaldo, filho
de Joca Ramiro, chefe de um grupo de jagunços. O período de lembranças retoma os estudos, o tempo como professor
de Zé Rebelo e seu ingresso na jagunçagem, sendo batizado de Tatarana e, posteriormente, ao fazer um pacto com o
diabo, de Urutu-Branco. Na sua reaproximação de Reinaldo, alguns segredos são revelados, como o verdadeiro nome do
amigo, Diadorim, por quem Riobaldo passa a nutrir grande amor. No entanto, o período experenciado entre duas guerras
no sertão escondem outros segredos que, tal como as veredas, apresentam profundidade e complexidade.
A relação de Riobaldo e Reinaldo-Diadorim se inicia quando se conhecem às margens do rio São Francisco, o que se
torna, no romance, o eixo gravitacional, direcionando Riobaldo para todas as belezas secretas do sertão, bem como sua
violência – em uma ambivalência constante e bem marcada na narrativa. Nesse sentido, Diadorim é a mola propulsora do
narrador para dois polos opostos, e Riobaldo torna-se chefe do grupo de jagunços, como resultado do pacto feito com o
diabo, e vive a experiência da beleza mediante o amor por Diadorim.
Diadorim, paradoxalmente, é o nada e o tudo na travessia do jagunço entre “nonada” e o infinito. Seu nome se inicia
com dia, termo originado do grego que remete a “através”, ou seja, associa-se à travessia. As mesmas letras também ini-
ciam o nome do Diabo, com quem Riobaldo estabelece um acordo, ainda que não se confirme a sua existência. Riobaldo
mergulha na sublimação pela paixão, que ganha forma ambígua à medida que narra a sua história.
— Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no
baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 20. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 7.

A narrativa disposta entre um travessão – que introduz a palavra “nonada”, ou seja, nada – e o símbolo do infinito
disposto na última página é um convite ao leitor para transpor o próprio sertão, aquele que vive dentro da gente. Atraves-
sar o sertão dessa grandiosa obra requer coragem para enfrentar a aridez e as veredas que existem no âmago humano.
Ao trabalhar com destreza a fala particular do sertanejo para explorar dilemas universais, Rosa construiu um romance
definido pelo crítico Alfredo Bosi como uma “obra espantosa”, tamanha sua potência no que tange à linguagem e ao sentir.
FRENTE 2

Bosi, sobre essa narrativa, ainda pontua:


É verdade que a interpretação da obra fundamental de Rosa está ainda em aberto. Riobaldo, o protagonista de Grande Sertão,
é um homem que busca, no vaivém das suas memórias e reflexões, negar a existência real do demônio (“o que-não-há”) com
quem fez pacto quando se propôs vencer o jagunço Hermógenes. E parece concluir que o Mal é atributo do ser, um acidente
que vicia o coração dos homens, uma fatalidade que se deve enfrentar com paciência e vida justa.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2021. p. 461.

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Revisando

Leia o trecho a seguir para responder às questões de terra gaúcha, à sua religião e a seus costumes, de provér-
1 a 3. bios, lendas e relatos históricos [...].
<assets>001598_por_f2_c12_t0001</assets>
TEYSSIER, Paul. Erico Verissimo. In: TEYSSIER, Paul. Dicionário de
[...] literatura brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 139.
E depois de arriar as trouxas e aliviar a burra, reparou
Texto II
nos vizinhos. A rês estava quase esfolada. A cabeça incha-
“Uma geração vai, e outra geração vem;
da não tinha chifres. Só dois ocos podres, malcheirosos, porém a terra para sempre permanece.
donde escorria uma água purulenta. E nasce o sol, e põe-se o sol,
Encostando-se ao tronco, Chico Bento se dirigiu aos e volta ao seu lugar donde nasceu.
esfoladores: O vento vai para o sul, e faz o seu giro
— De que morreu essa novilha, se não é da minha para o norte; continuamente vai girando
conta? o vento, e volta fazendo seus circuitos.”
Um dos homens levantou-se, com a faca escorrendo ECLESIASTES I, 4-6
sangue, as mãos tintas de vermelho, um fartum sangrento [...]
envolvendo-o todo: Os anos chegavam e se iam. Mas o trabalho fazia Ana
— De mal dos chifres. Nós já achamos ela doente. E esquecer o tempo. No inverno tudo ficava pior: a água gelava
vamos aproveitar, mode não dar para os urubus. nas gamelas que passavam a noite ao relento; pela manhã
Chico Bento cuspiu longe, enojado: o chão frequentemente estava branco de geada e houve um
— E vosmecês têm coragem de comer isso? Me ripuna agosto em que, quando foi lavar roupa na sanga, Ana teve
só de olhar... primeiro de quebrar com uma pedra a superfície gelada da
O outro explicou calmamente: água. Em certas ocasiões surpreendia-se a esperar que algu-
— Faz dois dias que a gente não bota um de-comer ma coisa acontecesse e ficava meio aérea, quase feliz, para
de panela na boca... depois, num desalento, compreender subitamente que para
Chico Bento alargou os braços, num gesto de ela a vida estava terminada, pois um dia era a repetição do
fraternidade: dia anterior – o dia de amanhã seria igual ao de hoje, assim
por muitas semanas, meses e anos até a hora da morte. [...]
— Por isso não! Aí nas cargas eu tenho um resto de
VERISSIMO, Erico. O continente. São Paulo:
criação salgada que dá para nós. Rebolem essa porqueira Companhia das Letras, 2004. p. 84.
pros urubus, que já é deles! Eu vou lá deixar um cristão co- <id>001598_por_f2_c12_q0004</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0002</assets>
mer bicho podre de mal, tendo um bocado no meu surrão!
4. A que propriedade do texto literário o primeiro frag-
Realmente a vaca já fedia, por causa da doença. [...]
mento se refere?
QUEIROZ, Rachel de. O quinze. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012. p. 35. <id>001598_por_f2_c12_q0005</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0002</assets>

<id>001598_por_f2_c12_q0001</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0001</assets> 5. Explique o uso da epígrafe e sua relação com a narrativa.
<id>001598_por_f2_c12_q0006</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
1. O romance O quinze, de Rachel de Queiroz, faz par- </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

te da segunda fase do Modernismo brasileiro. Quais 6. Considere o fragmento a seguir a respeito da obra de
características desse período podemos observar no José Lins do Rego.
trecho? Justifique sua resposta. O autor e a personagem se confundem, e ambos evolui-
<id>001598_por_f2_c12_q0002</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0001</assets><assets>002447_por_f2_c12_t0001</assets>
rão juntos, da infância à idade adulta, na série de romances
2. Como é possível relacionar o texto com a obra Reti- que constituem o que foi chamado de “ciclo da cana-de-
rantes, de Candido Portinari, que abre este capítulo? -açúcar”. Esse ciclo compreende além de Menino de enge-
<id>001598_por_f2_c12_q0003</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0001</assets>

3. Considerando o fragmento lido, assinale V (verdadei- nho, Doidinho (1932), Banguê (1934), O moleque Ricardo
(1934), Usina (1936), e a obra síntese Fogo morto (1943).
ro) ou F (falso) para as afirmativas a seguir.
TEYSSIER, Paul. José Lins do Rego. In: TEYSSIER, Paul. Dicionário de
A narrativa é ligada às propostas de denúncia so- literatura brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 72.
cial dos regionalistas da prosa de 1930.
Apesar de ter sido publicada na década de 1930, Qual é o tema que José Lins do Rego aborda nas
o romance está mais fortemente ligado à estética obras que compõem o “ciclo da cana-de-açúcar”?
<id>001598_por_f2_c12_q0007</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>

pré-modernista. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

7. Com base em seus conhecimentos sobre a obra de


O romance tem um discurso moralizante e destaca
José Lins do Rego, é possível afirmar que ele se de-
o sofrimento da família de Chico Bento, segundo
tém apenas no âmbito regionalista?
valores cristãos.
Destaca-se na narrativa o drama da seca, a misé- Leia o trecho a seguir para responder às questões
ria e a degradação humana. 8 e 9.
<assets>001598_por_f2_c12_t0003</assets>

Leia os trechos a seguir e responda às questões 4 e 5. A vida na fazenda se tornara difícil. Sinha Vitória
<assets>001598_por_f2_c12_t0002</assets> benzia-se tremendo, manejava o rosário, mexia os bei-
Texto I ços rezando rezas desesperadas. Encolhido no banco do
O continente, é a obra-prima do autor. Ele o constrói copiar, Fabiano espiava a catinga amarela, onde as folhas
como “um mosaico de citações” (Julia Kristeva) feito de secas se pulverizavam, trituradas pelos redemoinhos, e os
fragmentos narrativos, de textos relativos às tradições da garranchos se torciam, negros, torrados. No céu azul as

226 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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<id>001598_por_f2_c12_q0008</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0003</assets>

últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco 8. Por que a família se viu obrigada a fugir da fazenda?
<id>001598_por_f2_c12_q0009</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
os bichos se finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano </assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0003</assets>

resistia, pedindo a Deus um milagre. 9. No trecho, o narrador compara Fabiano a um escra-


Mas quando a fazenda se despovoou, viu que tudo vizado. Explique o que se entende por escravidão
estava perdido, combinou a viagem com a mulher, ma- nesse contexto.
<id>001598_por_f2_c12_q0010</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
tou o bezerro morrinhento que possuíam, salgou a carne, </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

largou-se com a família, sem se despedir do amo. Não 10. Leia a seguir um trecho do conto “Famigerado”. De-
poderia nunca liquidar aquela dívida exagerada. Só lhe pois, comente o processo de formação de palavras
restava jogar-se ao mundo, como negro fugido. que atribui uma qualidade singular à linguagem de
Saíram de madrugada. Sinha Vitória meteu o braço Guimarães Rosa.
pelo buraco da parede e fechou a porta da frente com a [...] Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações,
taramela. [...]
seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2020.
o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava. E, pá:
— “Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me
copiar: varanda.
ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado... faz-me-
garrancho: ramo de árvore retorcido.
-gerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?”
arribação: deslocamento de aves.
morrinhento: fraco. [...]
ROSA, João Guimarães. Famigerado. In: Primeiras estórias.
taramela: trava de madeira ou metal. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 34.

Exercícios propostos
<id>001598_por_f2_c12_q0025</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. Uern 2015 Considere o texto e a imagem a seguir. a) Os efeitos da crise econômica mundial e os cho-
ques ideológicos que levaram a posições mais
O decênio de 1930 teve como característica própria
um grande surto do romance, tão brilhante quanto o que
definidas formavam um campo propício ao de-
se verificou entre 1880 e 1910, e que apenas em pequena senvolvimento de um romance caracterizado pela
parte dependeu da estética modernista. denúncia social.
b) Na poesia, ganha corpo uma geração de poetas
(Antonio Candido e J. Aderaldo Castello. Presença da Literatura
Brasileira: Modernismo. São Paulo / Rio de Janeiro: Difel, 1979.) que se opõem às conquistas e inovações dos pri-
meiros modernistas de 1922. Uma nova proposta
é defendida inicialmente pela revista Orfeu.
c) O período de 1930 a 1945 é o mais radical do
movimento modernista, pela necessidade de rup-
tura com toda arte passadista.
d) As revistas e manifestos marcam o segundo
momento modernista, com a divulgação do movi-
mento pelos vários estados brasileiros.
e) Ao mesmo tempo em que se procura o moder-
no, o original e o polêmico, o nacionalismo se
(Seca: Bahia tem pelo menos 140 cidades em situação de emergência. manifesta em suas múltiplas facetas: uma volta
28 de Agosto de 2014. Disponível em: http://visaonacional.com.br)
às origens, a pesquisa de fontes quinhentistas, a
O comentário do especialista associado à imagem apre- procura de uma “língua brasileira”.
<id>002447_por_f2_c12_q0001</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
senta e representa características importantes da prosa </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

modernista da geração de 1930. Em relação à produção 3. Ufam 2023 Sobre O quinze, é CORRETO afirmar que:
literária identificada, assinale a alternativa correta. a) ilustra o retorno ao romance de estrutura neonatu-
a) A preocupação com a documentação da realida- ralista do século XX, afastando-se das conquistas
de presente no Pré-Modernismo é retomada. da fase heroica do Modernismo.
b) Utiliza-se uma linguagem rebuscada objetivando b) Raquel de Queiroz não atinge o mesmo nível es-
demonstrar a importância do tema abordado. tético de outros autores do mesmo período por
c) O regionalismo é explorado de forma precon- preocupar-se com questões de temática social.
ceituosa, demonstrando com exagero a situação c) os aspectos regionais da obra, somados a aspec-
difícil das regiões retratadas. tos de seu enredo, equiparam O quinze a obras
FRENTE 2

d) O desejo por um país melhor, isento de desigualda- românticas.


des sociais, faz com que os romancistas de 1930 d) a preocupação com elementos estéticos é colo-
descrevam cenários e personagens idealizados. cada em segundo plano quando se trata de obras
<id>001598_por_f2_c12_q0027</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
de cunho social.
2. EsPCEx-SP 2015 Assinale a alternativa que contém e) o romance é de 1915, mas – por questões es-
uma das características da segunda fase modernis- téticas – o enquadram na geração de 1930, do
ta brasileira. Modernismo.

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<id>002447_por_f2_c12_q0002</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

4. UPE 2022 em seu processo de empoderamento, traço ca-


racterístico da obra de Jorge Amado, autor da
Texto 1
geração de 1945 do Modernismo brasileiro.
— Na casa de Dona Arminda, curvada pela costura,
ainda roxa dos golpes, Gabriela pensa. […] Tão bom seu d) O Texto 2 apresenta uma comparação entre a
Nacib! Bateu nela, estava com raiva. A culpa era dela, por personagem Tereza Batista e o povo brasileiro, o
que aceitara casar? […]. Medo talvez de perdê-lo, de um dia qual, embora sofrido, não se deixa derrotar, em
ele casar com outra, mandá-la embora. Foi por isso certa- virtude da capacidade de resiliência.
mente. Fez mal, não devia aceitar. Antes fora a pura alegria. e) Tereza Batista e Gabriela são personagens que
AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela. Excerto. Disponível em: representam, na obra de Jorge Amado, a eman-
https://www.companhiadasletras.com.br/sala_professor/pdfs/CL_ cipação das mulheres brasileiras na luta por
AliteraturadeJorgeAmado_representacoesdofeminino.pdf.
Acesso em: 05 jun. 2021. igualdade e pelo empoderamento feminino, con-
forme demonstram os Textos 1 e 2.
Texto 2 <id>001598_por_f2_c12_q0013</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

— Com quem se parece Tereza Batista, tão castigada 5. UFSC 2019


pela vida, tão cansada de apanhar e de sofrer e, ainda assim,
Destino
de pé […] Tereza Batista se parece com o povo e com mais
ninguém. Com o povo brasileiro, tão sofrido, nunca derro- Ocuparam a mesa do canto, o Gato puxou o baralho.
tado. Quando o pensam morto, ele se levanta do caixão. Mas nem Pedro Bala, nem João Grande, nem Professor,
AMADO, Jorge. Tereza Batista cansada de guerra. Excerto. Disponível tampouco Boa-Vida se interessaram. Esperavam o Que-
em: https://www.companhiadasletras.com.br/sala_professor/pdfs/CL_ rido-de-Deus na Porta do Mar. As mesas estavam cheias.
AliteraturadeJorgeAmado_representacoesdofeminino.pdf.
5 Muito tempo a Porta do Mar andara sem fregueses. A varío-
Acesso em: 05 jun. 2021.
la não deixava. Agora que ela tinha ido embora, os homens
Texto 3 comentavam as mortes. Alguém falou no lazareto. “É uma
desgraça ser pobre”, disse um marítimo.
Numa mesa pediram cachaça. Houve um movimento
10 de copos no balcão. Um velho então disse:
— Ninguém pode mudar o destino. É coisa feita lá
em cima – apontava o céu.
Mas João de Adão falou na outra mesa:
— Um dia a gente muda o destino dos pobres...
15 Pedro Bala levantou a cabeça, Professor ouviu sorri-
dente. Mas João Grande e Boa-Vida pareciam apoiar as
palavras do velho, que repetiu:
— Ninguém pode mudar, não. Está escrito lá em cima.
— Um dia a gente muda... – disse Pedro Bala, e todos
20 olharam para o menino.
— Que é que tu sabe, frangote? – perguntou o velho.
É filho do Loiro, fala a voz do pai – respondeu João de
Adão olhando com respeito. — O pai morreu pra mudar
o destino da gente.
25 Olhou para todos. O velho calou e também olhava
Disponível em: https://twitter.com/HumorPoliticobr/ com respeito. A confiança foi de novo 19 chegando para
status/1026921387787800576/photo/1. Acesso em: 05 jun. 2021.
todos. Lá fora um violão começou a tocar.
Com base na leitura dos Textos 1, 2 e 3, e conside- AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009, p. 159.
rando as características da obra de Jorge Amado,
assinale a alternativa CORRETA. Com base na leitura do texto e da obra Capitães da
a) Em suas obras, Jorge Amado imprimiu a represen- Areia, publicada originalmente em 1937, no contexto
tação do perfil multicultural do povo brasileiro ao sócio-histórico e literário e, ainda, de acordo com a va-
representar tipos marginalizados na sociedade, riedade padrão da língua escrita, é correto afirmar que:
por meio de linguagem rebuscada e da tipificação 01 os termos “menino” (linha 20), “tu” (linha 21), “fran-
social, traços característicos da primeira fase do gote” (linha 21) e “filho do Loiro” (linha 22) têm
Modernismo brasileiro. como referente Pedro Bala.
b) A sensualidade dos perfis femininos aparece 02 o emprego do termo “frangote” (linha 21) pode
em diversas obras de Jorge Amado na caracte- ser tomado como exemplo de personificação por
rização de personagens, como Gabriela, Tieta e adjetivação.
Tereza Batista. O Texto 1 mostra a sensualidade, 04 no texto, a palavra “destino” (linha 11 e linha 14) é
a alegria e o lirismo na construção da imagem fe- tratada pelas personagens de modo distinto, até
minista de Gabriela. antagônico, revelando a visão delas sobre a vida,
c) O Texto 3 apresenta conexão intertextual direta compreendida de modo fatalista ou como resulta-
com os Textos 1 e 2 na representação feminina do da ação humana.

228 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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08 a obra Capitães da Areia foi perseguida após sua (Reportagem publicada no Jornal da Tarde, na página
publicação devido à perspectiva comunista, dada de “Fatos Policiais”, com um clichê da casa do comenda-
a atuação política do escritor Jorge Amado. dor e um deste no momento em que era condecorado.)
16 os verbos “ocuparam” (linha 01), “interessaram” AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009, p. 12.
(linha 03), “esperavam” (linha 03) e “pediram”
(linha 09) têm como sujeito parte do grupo deno- Relacionando os Textos 1 e 2, a obra Capitães da
minado Capitães da Areia. Areia, o contexto sócio-histórico e literário do roman-
32 os termos “alguém” (linha 07) e “ninguém” (linha ce e, ainda, de acordo com a variedade padrão da
11) marcam de forma indefinida a presença de um língua escrita, é correto afirmar que:
enunciador externo e interno à troca de turnos de 01 nos Textos 1 e 2, as crianças demonstram facili-
fala, respectivamente. dade para estabelecer relações entre si, mesmo
Soma: percebendo a existência de diferenças étnicas,
<id>001598_por_f2_c12_q0014</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> raciais e socioeconômicas.
6. UFSC 2019 02 a ironia presente na charge consiste no fato de o
Texto 1 adulto e a criança compartilharem a mesma visão
de mundo.
04 os Textos 1 e 2 pertencem ao mesmo gênero tex-
tual, mas se diferenciam pela temática.
08 no Texto 2, o que é denominado no jornal como
“outro delicado problema” (linha 11) são os filmes
que influenciam os meninos com ideias erradas.
16 o Texto 2 é característico da esfera jornalista e in-
tegra, junto com outros textos, a parte inicial do
romance para problematizar a vida dos meninos
de rua.
Soma:
<id>001598_por_f2_c12_q0015</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

7. Uern 2014 Leia o trecho de “Fogo morto”, de José


Lins do Rego, escritor regionalista que retratou a
decadência dos engenhos de cana nordestinos, no
início do século XX.
E o Santa Fé foi ficando assim o engenho sinistro da
várzea. Deodato dava mais em negro que o Major Ursulino.
Era tudo por ordem do Capitão Lula de Holanda. Como
podia um homem com aquele trato, com aquelas manei-
ras, permitir tudo aquilo? [...]
Disponível em: https://www.topimagens.com.br/outros/15801-na-minha-
O Santa Fé tirara aquela safra com certa dificuldade.
escola.html. Acesso em: 30 mar. 2019 Faltavam bestas para a almanjarra. Mesmo assim o açúcar
dera o necessário para que ele não bulisse no ouro do
Texto 2
Capitão Tomás. Todo aquele ouro seria para a educação
CARTAS À REDAÇÃO do Neném.
Chegou a abolição e os negros do Santa Fé se foram
A OPINIÃO DA INOCÊNCIA para os outros engenhos. Ficara somente com Seu Lula
A nossa reportagem ouviu também o pequeno Raul, o boleeiro Macário, que tinha paixão pelo ofício. Até as
que, como dissemos, tem onze anos e já é dos ginasianos negras da cozinha ganharam o mundo. E o Santa Fé ficou
mais aplicados do Colégio Antônio Vieira. Raul mostrava com os partidos do mato, com o negro Deodato sem gosto
uma grande coragem, e nos disse acerca da sua conversa para o eito, para a moagem que se aproximava.
5 com o terrível chefe dos Capitães da Areia. (José Lins do Rego. Fogo morto. 23. ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1982.)
— Ele disse que eu era um tolo e não sabia o que
era brincar. Eu respondi que tinha uma bicicleta e muito Assinale a alternativa que contempla o(s) motivo(s)
brinquedo. Ele riu e disse que tinha a rua e o cais. Fiquei pelo(s) qual(is) o engenho de Santa Fé se encontra
FRENTE 2

gostando dele, parece um desses meninos de cinema que em processo de decadência.


10 fogem de casa para passar aventuras. a) Má administração e abolição da escravatura.
Ficamos então a pensar neste outro delicado problema b) Diminuição de mercado para consumo da produção.
para a infância que é o cinema, que tanta ideia errada c) Condições climáticas desfavoráveis à continuida-
infunde às crianças acerca da vida. Outro problema que de do trabalho.
está merecendo a atenção do dr. juiz de menores. A ele d) Descomprometimento dos empregados com o
15 volveremos. trabalho a ser feito.

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<id>001598_por_f2_c12_q0016</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

8. UFSC [...]. Depois Volta Seca chegou com um jornal que 16 No período “A família gratificará bem quem der
trazia notícias de Lampião. Professor leu a notícia para notícias do pequeno Augusto e o conduzir a sua
Volta Seca e ficou vendo as outras coisas que o jornal casa” (linhas 15-16), a expressão “a sua casa” po-
trazia. deria ser escrita como “à sua casa”, sem que isso
5 Então chamou: implicasse desrespeito à norma-padrão.
— Sem-Pernas! Sem-Pernas! Soma:
[...] <id>002447_por_f2_c12_q0003</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

E leu uma notícia no jornal: 9. Unioeste-PR 2020 No que tange o romance Fogo
Ontem desapareceu da casa número... da rua..., Graça, morto, de José Lins do Rego, é CORRETO afirmar que:
10 um filho dos donos da casa, chamado Augusto. Deve ter a) a obra fora escrita para denunciar o cangaço e o
se perdido na cidade que pouco conhecia. É coxo de uma cangaceiro, representados na personagem Antônio
perna, tem treze anos de idade, é muito tímido, veste rou- Silvino, que espalhava terror e morte pelo Nordeste
pa de casimira cinza. A polícia o procura para o entregar brasileiro, mormente na década de 30.
aos seus pais aflitos, mas até agora não o encontrou. A
b) trata-se de um romance panfletário, de tom po-
15 família gratificará bem quem der notícias do pequeno Au-
lítico, pois nota-se a denúncia dos problemas
gusto e o conduzir a sua casa.
sociais: a miséria, a fome, a seca que assolam o
O Sem-Pernas ficou calado. Mordia o lábio. Professor
sertão nordestino da época.
disse:
— Ainda não descobriram o furto... c) o título “fogo morto” aponta para a decadência
20 Sem-Pernas fez que sim com a cabeça. Quando des- em sentido amplo, tanto do engenho que cede
cobrissem o furto não o procurariam mais como a um filho lugar à usina quanto da expressão de um Nordes-
desaparecido. Barandão fez uma cara de riso e gritou: te decadente.
— Tua família tá te procurando, Sem-Pernas. Tua ma- d) a obra Fogo morto pertence ao ciclo do canga-
mãe tá te procurando pra dar de mamar a tu... ço, juntamente a outros dois romances do autor:
25 Mas não disse mais nada, porque o Sem-Pernas já Pedra bonita e Cangaceiros, haja vista a deca-
estava em cima dele e levantava o punhal. E esfaquearia dência do engenho.
sem dúvida o negrinho se João Grande e Volta Seca não e) Coronel Lula, Capitão Vitorino e Capitão Antônio
o tirassem de cima dele. Barandão saiu amedrontado. Silvino são representantes do Exército nacional,
O Sem-Pernas foi indo para o seu canto, um olhar de que tiveram ascensão no Nordeste brasileiro na
30 ódio para todos. Pedro Bala foi atrás dele, botou a mão década de 40.
em seu ombro: <id>001598_por_f2_c12_q0018</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

— São capazes de não descobrir nunca o roubo, 10. Unioeste-PR 2017 Qual alternativa NÃO procede a
Sem-Pernas. Nunca saber de você... Não se importe, não. respeito de Terras do sem fim, de Jorge Amado?
— Quando doutor Raul chegar vão saber... a) Na posse pelas terras para o plantio do cacau, o
35 E rebentou em soluços, que deixaram os Capitães da código que regula as relações de mandonismo
Areia estupefatos. dos coronéis é a lei do gatilho.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: b) A narrativa da história das três irmãs prostitutas –
Companhia das Letras, 2008. p. 133-4.
Maria, Lúcia, Violeta – é intercalada à da morte e
Com base no texto, na leitura do romance Capitães translado do pai defunto.
da Areia e no contexto do Modernismo brasileiro, as- c) Ao descobrir a paixão da esposa Ester pelo advo-
sinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S). gado Virgílio, o Coronel Horácio assassina os dois
01 Capitães da Areia inclui-se entre as obras do
amantes numa “pensão de luxo”, em Ilhéus.
chamado Regionalismo de 30, cujas temáticas
d) Depois de ouvir a leitura da Bíblia, feita por
compreendem, entre outros aspectos, a denúncia
Don’Ana, Sinhô Badaró ordena a invasão das
das mazelas sociais do Brasil.
matas de Sequeiro Grande, porque essa era a
02 Augusto – apelidado pelos capitães da areia de
“vontade de Deus”.
Sem-Pernas, devido a uma deficiência física –
e) O romance inicia com uma viagem de navio em
abandona a casa dos pais após ter furtado ob-
cujos espaços delineiam-se os grupos que darão
jetos de valor e se une aos capitães da areia; a
suporte à narrativa, marcada por “terras, dinheiro,
vergonha, mais que o temor do castigo, impede-o
cacau e morte”.
de voltar para casa. <id>001598_por_f2_c12_q0019</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
04 A agressão de Sem-Pernas a Barandão representa 11. UFRGS 2017 Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso)
um ponto de virada na história porque, a partir de as seguintes afirmações sobre o capítulo A Teiniaguá.
então, Sem-Pernas, que sempre fora calmo e re-
Aguinaldo Silva vem do Norte e chega a Santa Fé
servado, passa a agredir os colegas, até que Pedro
depois de muitas andanças pelo Brasil, empres-
Bala o expulsa do grupo e ele comete suicídio.
08 Na composição das personagens que habitam o tando dinheiro a juro alto.
trapiche, Jorge Amado adota um procedimento Luzia, neta adotiva de Aguinaldo Silva, vem da Cor-
semelhante: nenhum dos meninos é mau por na- te para Santa Fé e torna-se a “senhora do Sobrado”.
tureza, porém eles cometem más ações por força Luzia escolhe Bolívar Cambará para casar, apai-
das circunstâncias sociais. xonada por seu jeito sofisticado e urbano.

230 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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Dr. Carl Winter frequenta o Sobrado e nutre gran- III. São Bernardo, ao priorizar a denúncia social, apre-
de admiração por Luzia, a quem compara com senta personagens sem densidade psicológica.
Melpômene, musa da tragédia. Paulo Honório, dessa forma, é um personagem-
A sequência correta de preenchimento é -tipo que representa o grande produtor rural
a) F – V – V – F. nordestino da primeira metade do século XX.
b) V – F – F – V. IV. No trecho “para que serve esta narrativa? Para
c) V – V – V – F. nada, mas sou forçado a escrever”, o uso da
d) F – F – F – V. metalinguagem indica um personagem-narrador
e) V – V – F – V. preocupado em realizar o balanço de seu casa-
<id>001598_por_f2_c12_q0020</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> mento, ao escrever um romance sobre Madalena,
12. Leia o texto seguinte. sua falecida esposa.
[...] O que eu precisava era ler um romance fantásti-
Em relação ao romance São Bernardo, estão corretas
co, um romance besta, em que os homens e as mulheres
somente as afirmações:
fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se,
a) I e II
traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infe-
lizmente essas leituras já não me comovem. [...] b) I e III
RAMOS, Graciliano. Angústia. Rio de Janeiro: Record, 2013. p. 90.
c) III e IV
d) I, II, III e IV
O tipo de romance a que o narrador se refere é bastan- e) I, II e III
te distinto da composição de Angústia, pois este livro <id>001598_por_f2_c12_q0023</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

a) representa as tensões da Prosa de 1930 voltadas 14. Enem 2018 E fui mostrar ao ilustre hóspede [o governa-
às questões da seca. dor do Estado] a serraria, o descaroçador e o estábulo.
b) compõe uma atmosfera irreverente e humorada Expliquei em resumo a prensa, o dínamo, as serras e o
ao eliminar a figura do herói. banheiro carrapaticida. De repente supus que a escola
c) rejeita a idealização amorosa, ao reduzir os even- poderia trazer a benevolência do governador para certos
tos ao plano do riso. favores que eu tencionava solicitar.
d) impõe-se complexa, ao simular a idealização do — Pois sim senhor. Quando V. Exª. vier aqui outra vez,
amor e da fantasia. encontrará essa gente aprendendo cartilha.
e) foge do modelo romântico composto pelas rela- RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1991.

ções amorosas. O fragmento do romance de Graciliano Ramos dialoga


<id>002447_por_f2_c12_q0004</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

13. UTFPR 2023 Sobre a obra São Bernardo, de Gracilia- com o contexto da Primeira República no Brasil, ao
no Ramos, assinale o que for correto. focalizar o(a)
a) derrocada de práticas clientelistas.
Conheci que Madalena era boa em demasia, mas não
b) declínio do antigo atraso socioeconômico.
conheci tudo de uma vez. Ela se revelou pouco a pouco, e
c) liberalismo desapartado de favores do Estado.
nunca se revelou inteiramente. A culpa foi minha, ou antes, a
d) fortalecimento de políticas públicas educacionais.
culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste. E,
falando assim, compreendo que perco o tempo. Com efeito, e) aliança entre a elite agrária e os dirigentes políticos.
<id>001598_por_f2_c12_q0026</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
se me escapa o retrato moral de minha mulher, para que 15. Mackenzie-SP 2018
serve esta narrativa? Para nada, mas sou forçado a escrever.
Quando os grilos cantam, sento-me aqui à mesa da sala de Carta do escritor Graciliano Ramos ao pintor
jantar, bebo café, acendo o cachimbo. Às vezes as ideias não Cândido Portinari
vêm, ou vêm muito numerosas – e a folha permanece meio
escrita, como estava na véspera. Releio algumas linhas, que Rio – 18 – Fevereiro – 1946
me desagradam. Não vale a pena tentar corrigi-las. Afasto o Caríssimo Portinari:
papel. Emoções indefiníveis me agitam – inquietação terrível, A sua carta chegou muito atrasada, e receio que esta
desejo doido de voltar, tagarelar novamente com Madalena, resposta já não o ache fixando na tela a nossa pobre gente
como fazíamos todos os dias, a esta hora. Saudade? Não, da roça. Não há trabalho mais digno, penso eu. Dizem
não é isto: é desespero, raiva, um peso enorme no coração. que somos pessimistas e exibimos deformações; contudo
RAMOS, G. São Bernardo. 46. ed. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 101. as deformações e miséria existem fora da arte e são culti-
vadas pelos que nos censuram.
I. A atribuição da culpa pelo matrimônio fracassado O que às vezes pergunto a mim mesmo, com angús-
de Paulo Honório é de fundo determinista: a luta tia, Portinari, é isto: se elas desaparecessem, poderíamos
contra as dificuldades do sertão nordestino resul- continuar a trabalhar? Desejamos realmente que elas
FRENTE 2

tou na figura de difícil trato do personagem. desapareçam ou seremos também uns exploradores, tão
II. A linguagem comedida em São Bernardo, com perversos como os outros, quando expomos desgraças?
sentenças breves e concisas, não descarta o fato Dos quadros que você mostrou quando almocei no Cos-
de o romance explorar a dimensão psicológica, me Velho pela última vez, o que mais me comoveu foi
principalmente a de Paulo Honório, o que não é aquela mãe com a criança morta. Saí de sua casa com um
muito comum nas obras regionalistas da geração pensamento horrível: numa sociedade sem classes e sem
de 1930. miséria seria possível fazer-se aquilo? Numa vida tranquila

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<id>001598_por_f2_c12_q0029</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

e feliz que espécie de arte surgiria? Chego a pensar que 17. FPP-PR 2016 Considerando-se o gênero de São
faríamos cromos, anjinhos cor-de-rosa, e isto me horroriza. Bernardo, de Graciliano Ramos, podemos afirmar que
Felizmente a dor existirá sempre, a nossa velha amiga, a) a obra relaciona-se ao Romantismo por retratar
nada a suprimirá. E seríamos ingratos se desejássemos a problemas sociais e denunciar a opressão e a ti-
supressão dela, não lhe parece? Veja como os nossos ri- rania do homem no nordeste brasileiro.
caços em geral são burros. b) a obra constitui romance de Realismo crítico, de
Julgo naturalmente que seria bom enforcá-los, mas confissão, com tensão psicológica e preocupações
se isto nos trouxesse tranquilidade e felicidade, eu ficaria
sociais.
bem desgostoso, porque não nascemos para tal sensabo-
c) o romance narra, em fluxo de consciência, o dra-
ria. O meu desejo é que, eliminados os ricos de qualquer
ma psicológico de Madalena, cuja voz narra as
modo e os sofrimentos causados por eles, venham novos
dificuldades de Paulo Honório de aceitar o mun-
sofrimentos, pois sem isto não temos arte.
E adeus, meu grande Portinari. Muitos abraços para do, os outros e a si mesmo.
você e para Maria. d) constitui romance Regionalista Modernista, vin-
Graciliano culado ao projeto de construção da identidade
nacional, aliando as formas dos gêneros dramáti-
sensaboria: contratempo, monotonia. co e lírico.
e) a obra inaugura o romance Naturalista, além de
Depreende-se corretamente do texto que o escritor questionar as fronteiras entre o real e o imaginá-
Graciliano Ramos: rio, pela visão de Madalena, vítima da tirania do
a) compreende a miséria humana e os sofrimentos marido.
como motivadores da produção artística, que não
Leia os textos a seguir para responder às questões
pode ser apenas ornamental.
18 e 19.
b) entende que a função da pintura é oferecer as so- <assets>001598_por_f2_c12_t0004</assets>

luções práticas para o erradicamento da miséria Os textos literários são obras de discurso, a que falta
humana. a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéti-
c) se refere a pinturas que ele mesmo produziu cos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano,
sobre as diferenças sociais que afetam o povo graças à função irrealizante da imaginação que os constrói.
brasileiro. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devemo po-
d) se dirige ao pintor Portinari com o claro objetivo der de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo
de propor a formação de uma política que exclua outro, irreal, neles configurado [...]. No entanto, da adesão
os ricos da sociedade. a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real,
e) escreve ao pintor Portinari para tentar amenizar o nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência
remorso que sente por explorar a miséria humana. da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐
<id>002447_por_f2_c12_q0005</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> -lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova.
16. UFRGS 2022 Sobre São Bernardo, de Graciliano Ramos, A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real
assinale a alternativa correta. ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo
a) Paulo Honório é o narrador que repassa sua insight que em nós provocou.
trajetória desde a infância pobre até tornar-se Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.
proprietário de uma fazenda moderna e unir-se
O que eu precisava era ler um romance fantástico, um
à Madalena, em um casamento cheio de tensões
romance besta, em que os homens e as mulheres fossem
que acaba de forma trágica. criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo-
b) Madalena é uma herdeira ambiciosa, que, auxilia- -se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente
da pelos esforços de uma tia incansável, forma-se essas leituras já não me comovem.
professora e dedica-se ao magistério e a disputas Graciliano Ramos, Angústia.
políticas no interior de Alagoas.
c) Luís Padilha é o filho do antigo proprietário da Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, po-
fazenda São Bernardo que dissipa sua fortuna ins- voado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma
tigado por Paulo Honório, a quem procura enganar concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante.
Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de
oferecendo-lhe um cargo político em Maceió. seu livro Angústia.
d) Dona Glória, tia de Madalena, dedica-se a tare- <id>001598_por_f2_c12_q0030</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0004</assets>

fas mal pagas e economiza muito para sobreviver, 18. Fuvest-SP 2020 Para Graciliano Ramos, Angústia não
mas vai se tornar uma aliada importante de Luís faz concessão ao gosto do público na medida em que
Padilha na tentativa de extrair dinheiro de Paulo compõe uma atmosfera
Honório. a) dramática, ao representar as tensões de seu tempo.
e) Casimiro Lopes é o jagunço subordinado a Paulo b) grotesca, ao eliminar a expressão individual.
Honório e trata de garantir a simpatia de seu che- c) satírica, ao reduzir os eventos ao plano do riso.
fe mediante serviços prestados a Madalena e d) ingênua, ao simular o equilíbrio entre sujeito e
Dona Glória, além de dedicar-se com carinho e mundo.
desvelo ao filho do casal. e) alegórica, ao exaltar as imagens de sujeira.

232 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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<id>001598_por_f2_c12_q0031</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0004</assets>

19. Fuvest-SP 2020 Se o discurso literário “aclara o real — Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo
ao desligar-se dele, transfigurando-o”, pode-se dizer enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, pa-
que Luís da Silva, o narrador-protagonista de Angús- ciência, vá à justiça.
tia, já não se comove com a leitura de “histórias fáceis, Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, o
sem almas complicadas” porque caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralítico de
a) rejeita, como jornalista, a escrita de ficção. um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estu-
b) prefere alienar-se com narrativas épicas. dando Direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz.
c) é indiferente às histórias de fundo sentimental. Violências miúdas passaram despercebidas. As ques-
d) está engajado na militância política. tões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas
e) se afunda na negatividade própria do fracassado. de João Nogueira.
Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei
Leia o trecho do romance S. Bernardo, de Graciliano maquinismos e não prestei atenção aos que me censura-
Ramos, para responder às questões 20 e 21. vam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a
<assets>001598_por_f2_c12_t0005</assets>
pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos
O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em
ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo
casa do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma
Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me patriota,
limpeza. Essa gente quase nunca morre direito. Uns são
citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou
levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam-se.
uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe
Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra,
político local. Em consequência mordeu-me cem mil-réis.
bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos
(S. Bernardo, 1996.)
miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as <id>001598_por_f2_c12_q0032</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0005</assets>

lombrigas comeram o segundo, o último teve angina e a 20. Unesp 2019 No trecho, o narrador revela-se uma pessoa
mulher enforcou-se. a) empreendedora e solidária.
Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, b) invejosa e hesitante.
proibi a aguardente. c) obstinada e compassiva.
Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que não d) egoísta e violenta.
preciso descrevê-la. As partes principais apareceram ou e) preguiçosa e traiçoeira.
aparecerão; o resto é dispensável e apenas pode interessar <id>001598_por_f2_c12_q0033</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem><assets>001598_por_f2_c12_t0005</assets>

aos arquitetos, homens que provavelmente não lerão isto. 21. Unesp 2019 Tenho visto criaturas que trabalham demais
Ficou tudo confortável e bonito. Naturalmente deixei de e não progridem. (7o parágrafo)
dormir em rede. Comprei móveis e diversos objetos que Considerada no atual contexto histórico, essa fala do
entrei a utilizar com receio, outros que ainda hoje não narrador pode ser vista como uma crítica à ideia de
utilizo, porque não sei para que servem.
a) trabalho. d) preguiça.
Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos
b) meritocracia. e) pobreza.
o mundo dá um bando de voltas.
c) burocracia.
Ninguém imaginará que, topando os obstáculos mencio- <id>001598_por_f2_c12_q0034</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

nados, eu haja procedido invariavelmente com segurança e 22. UFRGS 2020 Considere as afirmações abaixo, sobre
percorrido, sem me deter, caminhos certos. Não senhor, não o romance São Bernardo, de Graciliano Ramos.
procedi nem percorri. Tive abatimentos, desejo de recuar; I. A obra está integrada à Geração de 30, momento
contornei dificuldades: muitas curvas. Acham que andei do Modernismo brasileiro voltado sobretudo para
mal? A verdade é que nunca soube quais foram os meus a representação das contradições entre o pro-
atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me
cesso de modernização e o atraso das estruturas
trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. E como
patriarcais da sociedade brasileira.
sempre tive a intenção de possuir as terras de S. Bernardo,
II. As tensões psicológicas do narrador e persona-
considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las.
gem Paulo Honório conferem uma carga intimista
Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus.
Vieram-me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princí- que enfraquece as pressões da natureza e do
pio se esquivava, agarrou-se comigo, as taxas desceram. E meio social sobre as ações do romance.
os negócios desdobraram-se automaticamente. Automati- III. As tensões psicológicas e a problematização do
camente. Difícil? Nada! Se eles entram nos trilhos, rodam processo de escrita caracterizam a obra, que, as-
que é uma beleza. Se não entram, cruzem os braços. sim, ultrapassa os limites do regionalismo, afeito
Mas se virem que estão de sorte, metam o pau: as toli- ao descritivismo da paisagem local.
ces que praticarem viram sabedoria. Tenho visto criaturas Quais estão corretas?
que trabalham demais e não progridem. Conheço indiví- a) Apenas I. d) Apenas I e II.
FRENTE 2

duos preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, b) Apenas II. e) I, II e III.
desenroscam-se, abrem a boca – e engolem tudo. c) Apenas III.
<id>001598_por_f2_c12_q0035</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tenta- </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

tivas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes. 23. O fragmento a seguir foi retirado do romance Capi-
Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, na- tães da areia, de Jorge Amado. Ele apresenta um
turalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no Brasil que o autor ajudou a consolidar no imaginário
tempo de Salustiano Padilha. Houve reclamações. coletivo? Explique sua resposta.

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[...] A cidade está alegre, cheia de sol. “Os dias da maquinalmente: — A Deus nada é impossível. — Que
Bahia parecem dias de festa”, pensa Pedro Bala, que se desastre, senhor Paulo Honório, que irreparável desastre!
sente invadido também pela alegria. Assovia com força, murmurou seu Ribeiro perto de mim.
bate risonhamente no ombro de Professor. E os dois riem,
Assinale a alternativa correta sobre o excerto.
e logo a risada se transforma em gargalhada. No entanto,
não têm mais que uns poucos níqueis no bolso, vão ves- a) As diferenças ideológicas entre Paulo Honório e
tidos de farrapos, não sabem o que comerão. Mas estão Madalena são os catalisadores responsáveis pelo
cheios da beleza do dia e da liberdade de andar pelas ruas suicídio da esposa.
da cidade. E vão rindo sem ter do quê, Pedro Bala com b) O trecho é um dos pontos altos da narrativa em
o braço passado no ombro de Professor. De onde estão que Paulo Honório descobre o plano de Madalena
podem ver o Mercado e o cais dos saveiros e mesmo o
para lhe retirar a posse das terras.
velho trapiche onde dormem. [...]
c) As causas obscuras da morte de Madalena serão
AMADO, Jorge. Capitães da areia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2008. p. 145. esclarecidas no último capítulo, quando Paulo Honório
<id>001598_por_f2_c12_q0036</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> descobre que Dona Glória envenenou a sobrinha.
24. ESPM-SP 2017 A respeito da obra São Bernardo, de d) Madalena, com o auxílio de Salustiano Padilha,
Graciliano Ramos, o crítico literário e professor João seu amante, forja a própria morte para se ver livre
Luiz Lafetá afirma: dos desmandos de Paulo Honório e do filho pe-
Todo valor se transforma – ilusoriamente – em valor queno a quem rejeita.
de troca. E toda relação humana se transforma – destrui- e) Ribeiro, fiel escudeiro de Paulo Honório, é o respon-
doramente – numa relação entre coisas, entre possuído e sável por descobrir e por revelar todo o ambicioso
possuidor. Tal é a relação estabelecida entre Paulo Honório plano de Madalena.
<id>001598_por_f2_c12_q0039</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
e o mundo. Seu desenvolvido sentimento de propriedade </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

leva-o a considerar todos que o cercam como coisas que 26. UPF-RS 2017 No conto ______________, de João
se manipulam à vontade e se possui. Guimarães Rosa, o narrador conta a história de seu
__________, que vive refugiado em uma canoa, no
O trecho de São Bernardo que melhor exemplifica a meio do rio, ao longo de muitos anos, sem falar com
análise do crítico literário é: ninguém. No universo mitopoético do autor, a figura
a) “Com efeito, se me escapa o retrato moral de mi- desse homem exilado em meio ao rio se erige como
nha mulher, para que serve esta narrativa? Para imagem do(a) __________ no fluir eterno das águas.
nada, mas sou forçado a escrever.”
b) “Madalena entrou aqui cheia de bons sentimentos e Assinale a alternativa cujas informações preenchem
bons propósitos. Os sentimentos e os propósitos es- corretamente as lacunas do enunciado.
barraram com a minha brutalidade e o meu egoísmo.” a) “Partida do audaz navegante” / tio / isolamento.
c) “Bichos. As criaturas que me serviram durante anos b) “As margens da alegria” / pai / abandono.
eram bichos. Havia bichos domésticos, como o c) “A terceira margem do rio” / tio / abandono.
Padilha, bichos do mato, como Casimiro Lopes, e mui- d) “Partida do audaz navegante” / pai / permanência.
tos bichos para o serviço do campo, bois mansos.” e) “A terceira margem do rio” / pai / permanência.
<id>001598_por_f2_c12_q0040</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
d) “E a desconfiança terrível que me aponta inimigos </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

27. Enem 2021


em toda a parte! A desconfiança é também uma
consequência da profissão.” A volta do marido pródigo
e) “A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida
— Bom dia, seu Marrinha! Como passou de ontem?
agreste, que me deu uma alma agreste.”
<id>002447_por_f2_c12_q0006</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
— Bem. Já sabe, não é? Só ganha meio dia. [...]
25. UFRGS 2023 O excerto abaixo é retirado de São Ber- Lá além, Generoso cotuca Tercino:
nardo, de Graciliano Ramos. Considere-o, no contexto — [...] Vai em festa, dorme que-horas, e, quando che-
do enredo do romance. ga, ainda é todo enfeitado e salamistrão!...
— Que é que hei de fazer, seu Marrinha... Amanheci
Entrei apressado, atravessei o corredor do lado direito
com uma nevralgia... Fiquei com cisma de apanhar friagem...
e no meu quarto dei com algumas pessoas soltando excla-
— Hum...
mações. Arredei-as e estaquei: Madalena estava estirada
— Mas o senhor vai ver como eu toco o meu serviço
na cama, branca, de olhos vidrados, espuma nos cantos
e ainda faço este povo trabalhar...
da boca. Aproximei-me, tomei-lhe as mãos, duras e frias,
toquei-lhe o coração, parado. Parado. No soalho havia [...]
manchas de líquido e cacos de vidro. D. Glória, caída no Pintão suou para desprender um pedrouço, e teve
tapete, soluçava, estrebuchando. A ama, com a criança nos de pular para trás, para que a laje lhe não esmagasse um
braços, choramingava. Maria das Dores gemia. Comecei pé. Pragueja:
a friccionar as mãos de Madalena, tentando reanimá-la. — Quem não tem brio engorda!
E balbuciava: — A Deus nada é impossível. Era uma frase — É... Esse sujeito só é isso, e mais isso... — opina Sidu.
ouvida no campo, dias antes, e que me voltava, ofere- — Também, tudo p’ra ele sai bom, e no fim dá certo...
cendo-me esperança absurda. Pus um espelho diante da — diz Correia, suspirando e retomando o enxadão. — “P’ra
boca de Madalena, levantei-lhe as pálpebras. E repetia uns, as vacas morrem... p’ra outros até boi pega a parir...”.

234 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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Seu Marra já concordou: Versos
— Está bem, seu Laio, por hoje, como foi por doença,
Cármen Lúcia também citou versos da escritora
eu aponto o dia todo. Que é a última vez!... E agora, deixa Cecília Meireles, ao dizer que “liberdade é um sonho que
de conversa fiada e vai pegando a ferramenta! o mundo inteiro alimenta” – da obra Romanceiro da in-
ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967.
confidência, lançada em 1953.
Esse texto tem importância singular como patrimônio lin- “Se, no verso de Cecília Meireles, a liberdade é um
guístico para a preservação da cultura nacional devido sonho, que o mundo inteiro alimenta, parece-me ser a Jus-
a) à menção a enfermidades que indicam falta de tiça um sentimento, que a humanidade inteira acalenta”,
discursou a ministra.
cuidado pessoal.
Mais adiante em seu discurso, Cármen Lúcia fez men-
b) à referência a profissões já extintas que caracteri-
ção a uma personagem do livro Grande Sertão: Veredas,
zam a vida no campo.
do escritor mineiro (tal como a ministra) Guimarães Rosa.
c) aos nomes de personagens que acentuam as- “Riobaldo afirmava que ‘natureza da gente não cabe em
pectos de sua personalidade. nenhuma certeza’. Mas parece-me que a natureza da gente
d) ao emprego de ditados populares que resgatam não se aguenta em tantas incertezas. Especialmente quan-
memórias e saberes coletivos. do o incerto é a Justiça que se pede e que se espera do
e) às descrições de costumes regionais que desmis- Estado”, disse a nova presidente do STF.
tificam crenças e superstições. Em seguida, outro escritor mineiro foi lembrado por
<id>001598_por_f2_c12_q0041</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Cármen Lúcia. “Em tempos cujo nome é tumulto escrito em
28. PUC-SP 2017 pedra, como diria Drummond, os desafios são maiores. Ser di-
fícil não significa ser impossível. De resto, não acho que para
De Caetano a Guimarães Rosa, veja as
o ser humano exista, na vida, o impossível”, disse a ministra,
referências de Cármen Lúcia em seu discurso em referência ao poema “Nosso tempo”, do escritor mineiro.
de posse A sucessora de Ricardo Lewandowski concluiu o dis-
Por Luma Poletti | 13/09/2016 10:00 curso citando um terceiro escritor mineiro: Paulo Mendes
Campos. “O Judiciário brasileiro sabe dos seus compro-
Ao longo de seu discurso de posse, a ministra Cármen missos e de suas responsabilidades. Em tempo de dores
Lúcia, que assumiu a presidência do Supremo Tribunal Fe- multiplicadas, há que se multiplicarem também as espe-
deral nesta segunda-feira (12), citou trechos de canções de ranças, à maneira da lição de Paulo Mendes Campos”,
Caetano Veloso, Titãs, além de versos de Cecília Meirelles, disse Cármen Lúcia, em referência ao “Poema didático”,
Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos e de Paulo Mendes Campos.
fez menção a Riobaldo, personagem de Grande Sertão: Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/de-caetano-
Veredas, clássico de Guimarães Rosa e uma das mais im- a-guimaraes-rosa-veja-as-referencias-de-carmen-lucia-em-seu-discurso-
de-posse/>. Acesso em: 26 set. 2016. (Adaptado.)
portantes obras-primas da literatura brasileira.
A escolha das referências musicais da ministra dá pis- Riobaldo afirmava que “natureza da gente não cabe
tas sobre sua visão acerca do atual momento sociopolítico. em nenhuma certeza”. Mas parece-me que a natureza da
Citando o cantor e compositor Caetano Veloso, presente na gente não se aguenta em tantas incertezas. Especialmente
sessão – que interpretou em voz e violão o hino nacional –, quando o incerto é a Justiça que se pede e que se espera
Cármen Lúcia concordou que “alguma coisa está fora da do Estado.
ordem”.
“Caetanos e não caetanos deste Brasil tão plural con- Nesse trecho do terceiro parágrafo da parte Versos,
cluem em uníssono: alguma coisa está fora de ordem, fora Luma Poletti emprega as aspas simples dentro das as-
da nova ordem mundial”, disse a ministra. “O que nos pas duplas para
cumpre, a nós servidores públicos em especial, é ques- a) identificar com as simples o texto de Guimarães
tionar e achar resposta: de qual ordem está tudo fora...”, Rosa e as duplas a fala de Riobaldo.
acrescentou. b) evidenciar com as simples o discurso de Cármen
O cantor já se posicionou contra o governo do pre- Lúcia e com as duplas o pensamento de Riobaldo.
sidente Michel Temer, nos bastidores da cerimônia de c) assinalar com as simples o dizer de Riobaldo e
abertura das Olimpíadas de 2016. com as duplas o discurso da ministra.
A nova presidente do STF também citou a música “Co- d) indicar com as simples a natureza da gente e com
mida”, da banda Titãs. “Cumpre-nos dedicar-nos de forma as duplas o discurso de Cármen Lúcia.
<id>001598_por_f2_c12_q0042</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
intransigente e integral a dar cobro ao que nos é determina- </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

do pela Constituição da República e que de nós é esperado 29. Unesp 2021 Para responder à questão, leia o trecho do
pelo cidadão brasileiro, o qual quer saúde, educação, tra- romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
FRENTE 2

balho, sossego para andar em paz por ruas, estradas do país Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemen-
e trilhas livres para poder sonhar além do mais. Que, como do. Mas não é por disfarçar, não pense. De grave, na lei do
na fala do poeta da música popular brasileira, ninguém quer comum, disse ao senhor quase tudo. Não crio receio. O
só comida, quer também diversão e arte”. senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o
Um dos compositores da canção citada é Arnaldo seu, não é criatura de pôr denúncia. E meus feitos já re-
Antunes, que também se posicionou contra o impeachment vogaram, prescrição dita. Tenho meu respeito firmado.
de Dilma Rousseff nas redes sociais. Agora, sou anta empoçada, ninguém me caça. Da vida

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pouco me resta – só o deo-gratias; e o troco. Bobeia. Na A imagem integra uma adaptação em quadrinhos da
feira de São João Branco, um homem andava falando: — “A obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Na
pátria não pode nada com a velhice...” Discordo. A pá- representação gráfica, a inter-relação de diferentes
tria é dos velhos, mais. Era um homem maluco, os dedos linguagens caracteriza-se por
cheios de anéis velhos sem valor, as pedras retiradas – ele a) romper com a linearidade das ações da narrativa
dizia: aqueles todos anéis davam até choque elétrico...
literária.
Não. Eu estou contando assim, porque é o meu jeito de
b) ilustrar de modo fidedigno passagens representa-
contar. Guerras e batalhas? Isso é como jogo de baralho,
verte, reverte. Os revoltosos depois passaram por aqui,
tivas da história.
soldados de Prestes, vinham de Goiás, reclamavam posse c) articular a tensão do romance à desproporcionali-
de todos os animais de sela. Sei que deram fogo, na barra dade das formas.
do Urucuia, em São Romão, aonde aportou um vapor do d) potencializar a dramaticidade do episódio com re-
Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos anos adiante, cursos das artes visuais.
um roceiro vai lavrar um pau, encontra balas cravadas. e) desconstruir a diagramação do texto literário pelo
O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da desequilíbrio da composição.
<id>001598_por_f2_c12_q0045</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não 31. Enem 2014 O correr da vida embrulha tudo. A vida é
misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e
as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.
real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1986.
vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido
desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto. [...] No romance Grande sertão: veredas, o protagonista
Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente Riobaldo narra sua trajetória de jagunço. A leitura do
do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe. trecho permite identificar que o desabafo de Riobaldo
(Grande sertão: veredas, 2015.) se aproxima de um(a)
a) diário, por trazer lembranças pessoais.
No texto, o narrador
b) fábula, por apresentar uma lição de moral.
a) sugere que a narração de eventos significativos
c) notícia, por informar sobre um acontecimento.
não permite uma visão abrangente da vida.
d) aforismo, por expor uma máxima em poucas palavras.
b) admite que sua narrativa sinuosa visa confundir e
e) crônica, por tratar de fatos do cotidiano.
enganar o seu interlocutor. <id>001598_por_f2_c12_q0046</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
c) sugere que a narração de eventos significativos 32. Enem 2014 Pecados, vagância de pecados. Mas, a gen-
não cabe em uma narrativa linear. te estava com Deus? Jagunço podia? Jagunço – criatura
d) alega que sua narrativa linear busca conferir coe- paga para crimes, impondo o sofrer no quieto arruado
rência e sentido a uma vida de desacertos. dos outros, matando e roupilhando. Que podia? Esmo
e) alega que uma narrativa sinuosa conduz a uma disso, disso, queri, por pura toleima; que sensata resposta
compreensão limitada da existência. podia me assentar o Jõe, broreiro peludo do Riachão do
<id>001598_por_f2_c12_q0044</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> Jequitinhonha? Que podia? A gente, nós, assim jagunços,
30. Enem 2018 se estava em permissão de fé para esperar de Deus per-
dão de proteção? Perguntei, quente.
— “Uai? Nós vive... — foi o respondido que ele me deu.
ROSA, G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001
(fragmento).

Guimarães Rosa destaca-se pela inovação da lingua-


gem com marcas dos falares populares e regionais.
Constrói seu vocabulário a partir de arcaísmos e da
intervenção nos campos sintático-semânticos. Em
Grande sertão: veredas, seu livro mais marcante, faz o
enredo girar em torno de Riobaldo, que tece a história
de sua vida e sua interlocução com o mundo-sertão.
No fragmento em referência, o narrador faz uso da lin-
guagem para revelar
a) inquietação por desconhecer se os jagunços po-
dem ou não ser protegidos por Deus.
b) uma insatisfação profunda com relação à sua con-
dição de jagunço e homem pecador.
c) confiança na resposta de seu amigo Jõe, que pa-
recia ser homem estudado e entendido.
d) muitas dúvidas sobre a vida após a morte, a vida
espiritual e sobre a fé que pode ter o jagunço.
e) arrependimento pelos pecados cometidos na vida
errante de jagunço e medo da perdição eterna.

236 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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Texto complementar

As anotações de viagem de Guimarães Rosa pelo sertão de Minas Gerais


A Boiada
O diário de viagem registra o tempo de permanência de Rosa no Sertão de Minas, no período de 10 a 28 de maio de 1952.
A primeira parte refere-se à viagem do Rio de Janeiro até a fazenda da Sirga, próxima a Andrequicé, Minas Gerais. A segunda
registra a travessia da boiada da Sirga até a fazenda São Francisco. Durante esta trajetória de 10 dias e um percurso de 40 léguas
(240 km), Rosa acompanha a comitiva formada por um grupo de vaqueiros (18 nos dois primeiros dias, reduzindo depois para 8),
montado na mula Balalaika se intitulando vaqueiro-amador. Durante esse período no Sertão de Minas (19 dias ao todo) anota
numa caderneta as suas observações e conversas e comentários dos vaqueiros.
[...]
Guimarães Rosa fez suas anotações numa cadernetinha de bolso pendurada ao pescoço por um barbante, tendo na ponta
um lápis. O barbante todo ensebado ainda se encontra na caderneta 6, único exemplar da Boiada que faz parte da série Estudo
para Obra do Arquivo Guimarães Rosa.
A cadernetinha, leve e fácil de carregar, possibilitava ao escritor escrever mesmo em situações adversas. Ela é do tipo “De
Luxe” marca registrada, tamanho 15, pautada, capa dura de papelão cinza e espiral verde, possui 30 páginas numeradas contendo
apenas os dois últimos dias da viagem.
O autor escreveu a lápis desde a primeira folha, anotando a data sempre à esquerda na margem superior. No princípio a
caligrafia está bem legível e caprichada, mas gradativamente a letra vai se alterando. Muitas notas foram, sem dúvida, registradas
sobre o lombo da mula Balalaika, o que pode ser comprovado pelo traçado sacolejante da escrita.
[...]
A cultura popular está bem presente através dos causos, quadrinhas, versos e desafios marcando (ou pontuando) o som da
viola e das danças, expressões da região, conversas dos vaqueiros e o conhecimento popular a respeito dos bichos e das plantas,
aprendidos informalmente através das relações sociais de trabalho e de lazer. Guimarães Rosa faz questão de escrever o sertão
do vaqueiro
MEYER, Mônica. As anotações de viagem de Guimarães Rosa pelo sertão de Minas Gerais. Graphos, João Pessoa, 2006. Disponível em:
https://periodicos.ufpb.br/index.php/graphos/article/view/9561/5208. Acesso em: 7 nov. 2023.

Veja os principais assuntos e conceitos trabalhados neste capítulo acessando a seção Resumindo
no livro digital, na Plataforma Poliedro.

Quer saber mais?

Site
Fundação Casa de Jorge Amado. Disponível em: https:// Fogo morto. Direção: Walter Lima Junior. 1976.
www.jorgeamado.org.br/. Acesso em: 7 nov. 2023. O filme é a adaptação do romance homônimo de José
A Fundação Casa de Jorge Amado foi criada com o Lins do Rego.
objetivo de preservar e estudar os acervos bibliográficos
Memorial de Maria Moura. Direção: Denise Saraceni.
e artísticos do escritor Jorge Amado. No site, você pode
1994.
obter mais informações sobre a vida e a obra do autor.
A minissérie é a adaptação do romance homônimo de
Filmes Rachel de Queiroz.
Passaporte para liberdade. Direção: Jayme Monjardim e
O tempo e o vento. Direção: Jayme Monjardim. 2013.
Seani Soares. 2021.
O filme é a adaptação do romance homônimo de Erico
A série, disponível em plataforma de streaming, conta a
Verissimo.
história de Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa,
esposa do escritor, que ajudou a salvar a vida de inúme-
ros judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
FRENTE 2

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Exercícios complementares
<id>001598_por_f2_c12_q0024</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

1. A prosa de 1930 tem entre seus representantes auto- tendência reconhecida e aceita da arte moderna, princi-
res como Rachel de Queiroz, Erico Verissimo, Jorge palmente da pintura? Não haverá muito de deformação na
Amado e José Lins do Rego. Sobre a prosa desse pe- obra de grandes pintores como Portinari, Di Cavalcante
ríodo, é incorreto afirmar: e Segall – todos eles inconformados com a sociedade em
a) O contexto pedia uma literatura mais ligada aos que vivem?
(Adaptado de Erico Verissimo, Prefácio, em Caminhos Cruzados.
fatos.
São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 20-21.)
b) Retoma o realismo/naturalismo, mas sem a inflexi-
bilidade cientificista do século XIX.
c) Analisa de forma determinista a sociedade para
elaborar uma representação mais fiel do contur-
bado período histórico.
d) Tem o aprofundamento psicológico das persona-
gens, evidenciando o fator emocional nas obras.
e) Nesse período desenvolveram-se três tipos de
ficção: prosa urbana, prosa regionalista e prosa
intimista.
<id>002447_por_f2_c12_q0014</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

2. UFRGS 2023 Leia o segmento abaixo, retirado do ca-


pítulo “Ana Terra”, de O continente, da trilogia O tempo
e o vento, de Erico Verissimo.
E agora, ali a olhar-se no poço, Ana Terra pensava nas
palavras do guerrilheiro: “... precisaremos de moças bonitas
e trabalhadeiras”. Bonitas e trabalhadeiras. Bonitas, bonitas,
bonitas... Ergueu-se, caminhou para o lugar onde estava
o cesto, tirou as roupas para fora, ajoelhou-se, apanhou
o sabão preto e começou a lavá-las. Enquanto fazia isso
cantava. Eram cantigas que aprendera ainda em Sorocaba.
Só cantava quando estava sozinha. Às vezes, perto da mãe,
podia cantarolar. Mas na presença do pai e dos irmãos ti-
nha vergonha. Não se lembrava de jamais ter ouvido o pai
cantar ou mesmo assobiar. Maneco Terra era um homem
que falava pouco e trabalhava demais. Severo e sério, exigia Tarsila do Amaral, A negra, 1923. Coleção Museu de Arte
Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo.
dos outros muito respeito e obediência, e não admitia que
ninguém em casa discutisse com ele. “Terra tem só uma A ideia de deformação aplica-se ao quadro de Tarsila
palavra”, costumava dizer. E era verdade. Quando ele dava e ao romance Caminhos cruzados, de Erico Verissimo,
a sua palavra, cumpria, custasse o que custasse.
porque tal procedimento artístico acentua
Considere as afirmações abaixo, sobre o segmento. a) a crítica do modernismo à violência da escravidão
e às desigualdades sociais, presentes no quadro e
I. O romance mostra as condições precárias de vida
nas personagens do romance, respectivamente.
em um rancho isolado no interior do Rio Grande
b) o imaginário da burguesia nacional, pois tanto as
do Sul.
protagonistas do romance quanto a imagem da
II. Maneco Terra representa o pai provedor, que
mulher negra retratam os traços característicos
confunde solidez moral com rigidez afetiva.
das reformas sociais do Estado Novo.
III. A água do poço funciona como um espelho, que
c) os princípios estéticos do movimento modernista,
reforça o lado feminino e sensível de Ana.
pois as duas expressões artísticas apresentam-se
Quais estão corretas? como reflexo dos valores da elite cafeeira paulista.
a) Apenas I. d) a moral implícita da modernidade, pois o narrador
b) Apenas III. do livro e a representação do corpo negro criti-
c) Apenas I e II. cam o comportamento social das personagens
d) Apenas II e III. femininas no século XX.
<id>001598_por_f2_c12_q0048</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
e) I, II e III. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>
<id>001598_por_f2_c12_q0047</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> 4. UFRGS 2020 (Adapt.) Da sua janela, ponto culminan-
3. Unicamp-SP 2020 Que dizer das personagens? Creio te da Travessa das Acácias, o Prof. Clarimundo viaja o
que têm a força e ao mesmo tempo a fraqueza da cari- olhar pela paisagem. No pátio de D. Veva um cachorro
catura. Mas, pensando melhor, não poderemos também magro fuça na lata do lixo. Mais no fundo, um pomar
alegar em defesa do romancista que a caricatura é uma com bergamoteiras e laranjeiras pontilhadas de frutos

238 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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dum amarelo de gemada. Quintais e telhados, fachadas As questões 5 e 6 referem-se ao romance O conti-
cinzentas com a boca aberta das janelas. Na frente da nente, de Erico Verissimo.
sapataria do Fiorello, dois homens conversam em voz <id>001598_por_f2_c12_q0049</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

alta. A fileira das acácias se estende rua afora. As som- 5. UFRGS 2019 Assinale a alternativa correta sobre o
bras são dum violeta profundo. O céu está levemente capítulo A fonte.
enfumaçado e a luz do sol é de um amarelo oleoso e a) O contexto histórico é a fundação dos primeiros
fluido. Vem de outras ruas a trovoada dos bondes atenua­ povoados no Rio Grande do Sul.
da pela distância. Grasnar de buzinas. Num trecho do b) A forma pacífica de colonização do Rio Grande do
Guaíba que se avista longe, entre duas paredes caiadas, Sul é apresentada.
passa um veleiro. c) A família Terra instala-se nas missões jesuíticas,
Para Clarimundo tudo é novidade. Esta hora é uma onde Ana conhece Pedro.
espécie de parêntese que ele abre em sua vida interior,
d) Pedro Missioneiro tem visões e premonições, que
para contemplar o mundo chamado real. E ele verifica,
lhe dão dimensão mítica na narrativa.
com divertida surpresa, que continuam a existir os cães
e as latas de lixo, apesar de Einstein. O sol brilha e os
e) Pedro é morto pelos irmãos de Ana, por roubar o
veleiros passam sobre as águas, não obstante Aristóteles. punhal de prata da família.
<id>001598_por_f2_c12_q0050</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Seus olhos contemplam a paisagem com a alegria meio 6. UFRGS 2019 Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso)
inibida duma criança que, vendo-se de repente solta
as seguintes afirmações sobre o capítulo Ismália Caré.
num bazar de brinquedos maravilhosos, não quer no
primeiro momento acreditar no testemunho de seus O contexto histórico é o surgimento da oposição
próprios olhos. republicana e abolicionista.
Clarimundo debruça-se à janela... Então tudo isto exis- O ano é 1884, e Santa Fé é elevada à categoria
tia antes, enquanto ele passava as horas às voltas com de cidade.
números e teorias e cogitações, tudo isto tinha realidade? Licurgo Cambará casa-se com a prima Alice Terra,
(Este pensamento é de todas as tardes à mesma hora: mas filha de Florêncio.
a surpresa é sempre nova.) E depois, quando ele voltar Licurgo, por respeito e fidelidade à Alice, termina
para os livros, para as aulas, para dentro de si mesmo, a seu relacionamento com Ismália Caré.
vida ali fora continuará assim, sem o menor hiato, sem o
menor colapso?
A sequência correta de preenchimento de cima para
Um galo canta num quintal. Roupas brancas se ba- baixo, é
louçam ao vento, pendentes de cordas. Clarimundo ali a) V – V – F – F.
está como um deus onipresente que tudo vê e ouve. A b) F – V – F – V.
impressão que lhe causam aquelas cenas domésticas o c) V – V – V – F.
levam a pensar no seu livro. d) F – F – V – V.
A sua obra... Agora ele já não enxerga mais a pai- e) V – F – V – V.
<id>001598_por_f2_c12_q0051</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
sagem. O mundo objetivo se esvaeceu misteriosamente. </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

Os olhos do professor estão fitos na fachada amarela da 7. Unicamp-SP 2017 São Francisco botava o dedo nas
casa fronteira, mas o que ele vê agora são as suas próprias feridas dos leprosos. Mas é que ele era um santo, fazia
teorias e ideias. Imagina o livro já impresso... Sorri, exterior milagres, e ela é simplesmente Doralice Leitão Leiria, um
e interiormente. O leitor (a palavra leitor corresponde, na ser humano como qualquer outro.
mente de Clarimundo, à imagem dum homem debruçado (Erico Verissimo. Caminhos cruzados. São Paulo:
Companhia de Bolso, 2016. p. 77.
sobre um livro aberto: e esse homem – extraordinário! – é
sempre o sapateiro Fiorello) – o leitor vai se ver diante dum — Queres seguir a política? Então? Procura imitar
assunto inédito, diferente, original. Bismarck! Haverá padrão melhor?
Adaptado de: VERISSIMO. Erico. Caminhos Cruzados. 26. ed. (Idem, p. 290.)
Porto Alegre/Rio de Janeiro: Editora Globo, 1982. p. 57-58.
Os fragmentos apresentados captam um dos traços
Considere as seguintes afirmações a respeito do texto.
principais de Caminhos cruzados no que diz respeito
I. Clarimundo é um professor envolvido com o mun- à identidade narrativa das personagens. Consideran-
do interior das ideias e teorias, mas também é do o conjunto do romance, tal traço consiste em uma
observador do mundo real. a) percepção de que a necessidade de status na vida
social e a produção de desejos políticos e religio-
II. Clarimundo narra a sua experiência de viver em
sos nascem da cópia de um modelo consagrado.
Porto Alegre, escrever livros e dar aulas.
b) afirmação, por meio do narrador, da necessidade
III. O caráter descritivo, marcado por verbos no preté- de protagonistas bem construídos para o êxito da
FRENTE 2

rito imperfeito e no presente, predomina no texto. narrativa ficcional.


Quais estão corretas? c) recusa dos modelos bem-sucedidos na vida so-
a) Apenas I. cial, pois eles constrangem a imaginação artística
b) Apenas II. e moral dos romancistas.
c) Apenas III. d) representação literária da condição humana, que
d) Apenas I e III. não necessita de figuras imaginárias para atribuir
e) I, II e III. sentido à vida religiosa e política.

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<id>001598_por_f2_c12_q0052</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

8. PUC-Campinas 2017 Para responder à questão, con- Fogo Morto, as histórias cantadas por José Passa-
sidere o texto abaixo. rinho ecoam o sofrimento das personagens.
e) Nos dois romances, observa-se a geografia subur-
Na América Latina do século XX, em incontáveis
momentos, a criação artística articulou-se com utopias bana, com favelas construídas em torno da linha
ou perspectivas de transformação social. Em diferentes férrea, com aglomerados humanos miscigenados
contextos, artistas usaram sua produção para corroborar e também com o subemprego das personagens,
determinados projetos políticos ou consentiram que suas como o carteiro Joaquim dos Anjos e o seleiro
criações fossem apropriadas e sustentadas por movimentos José Amaro.
<id>001598_por_f2_c12_q0055</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
políticos, dentro ou fora do Estado.
10. UFRGS 2017 Leia os trechos abaixo, retirados res-
(PRADO, Maria Ligia; PELLEGRINO, Gabriela. História da pectivamente do segundo e do penúltimo capítulo de
América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. p. 187-188)
Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
É exemplo de uma literatura engajada em projetos de
— Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
transformação social uma parte expressiva da obra
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto,
romanesca de Jorge Amado, na qual, por exemplo,
com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar sozinho. E,
ressalta, em tom de denúncia, pensando bem, ele não era um homem; era apenas um
a) o melancólico final dos velhos engenhos açuca- cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho,
reiros da Paraíba, como narrado nostalgicamente queimado, tinha olhos azuis e os cabelos ruivos; mas
em Fogo morto. como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios,
b) a reação da sociedade conservadora à vida mar- descobria-se, encolhia-se na presença de brancos e
ginal dos meninos abandonados, exposta com julgava-se cabra. (Capítulo II).
crueza em Capitães da Areia.
Cabra ordinário, mofino, encolhera-se e ensinara o
c) a brutalidade dos coronéis nordestinos do início
caminho. Esfregou a testa suada e enrugada. Para que re-
do século, de hábitos ainda escravocratas, tal cordar a vergonha? Pobre dele. Estava tão decidido que
como se registra em São Bernardo. ele viveria sempre assim? Cabra safado, mole. Se não fosse
d) os hábitos autoritários da casta favorecida pela in- tão fraco, teria entrado no cangaço e feito misérias. Depois
dustrialização do cacau, apontados em Os velhos levaria um tiro de emboscada ou envelheceria na cadeia,
marinheiros. cumprindo sentença, mas isto não era melhor que acabar-
e) o papel político revolucionário assumido no ser- -se numa beira de caminho, assando no calor, a mulher e
tão baiano pela protagonista de Gabriela, cravo os filhos acabando-se também. Devia ter furado o pescoço
e canela. do amarelo com faca de ponta, devagar. Talvez estivesse
<id>001598_por_f2_c12_q0054</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> preso e respeitado, um homem respeitado, um homem.
9. UFPR 2017 A respeito dos romances Clara dos Anjos, Assim como estava, ninguém podia respeitá-lo. Não era
de Lima Barreto, e Fogo Morto, de José Lins do Rego, homem, não era nada. Aguentava zinco no lombo e não
assinale a alternativa correta. se vingava. (Capítulo XII).
a) Clara dos Anjos é um romance memorialístico, no
Assinale a alternativa correta sobre os trechos acima.
qual os acontecimentos rememorados permitem
a) No segundo trecho, Fabiano revela o projeto de virar
compreender a origem da família da protagonista;
cangaceiro para ser respeitado como um homem.
Fogo Morto é um romance intimista que dá a co-
b) No primeiro trecho, Fabiano revela vergonha de
nhecer a vida de um núcleo familiar aristocrático
se afirmar como homem, por ser “apenas um ca-
ao longo da década de 1930.
bra ocupado em guardar as coisas dos outros”.
b) Os pontos de vista narrativos desses roman-
c) No primeiro e no segundo trechos, a sensação de
ces diferem um do outro, porque, em Clara
não ser homem permanece, apesar de Fabiano
dos Anjos, o narrador participa da trama como
ter furado o pescoço do soldado amarelo.
personagem, narrando acontecimentos de que
d) Em ambos os trechos, Fabiano revive a vergonha
participou, enquanto, em Fogo Morto, o narrador
de ter dito que era homem para o soldado amarelo.
é onisciente, dedicando-se a investigar a alma
e) Na presença dos meninos, Fabiano luta para su-
das personagens.
perar a vergonha de ser cabra e de se afirmar
c) Nos dois romances, as mulheres pobres não re-
como homem.
cebem educação formal e são submetidas a uma <id>001598_por_f2_c12_q0056</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

rotina de violência familiar. Seu destino é o enlou- 11. Fuvest-SP 2017 Leia o trecho de Vidas secas, de
quecimento, como acontece com Marta e Neném Graciliano Ramos, para, em seguida, responder ao
em Fogo Morto, ou a insubmissão, como acon- que se pede.
tece com Clara dos Anjos, que abandona a casa Aí Fabiano parou, sentou-se, lavou os pés duros, pro-
dos pais. curando retirar das gretas fundas o barro que lá havia. Sem
d) Nos dois romances, a cultura popular aparece se enxugar, tentou calçar-se – e foi uma dificuldade: os cal-
representada pela música, que agrada a diferen- canhares das meias de algodão formaram bolos nos peitos
tes personagens: em Clara dos Anjos, a modinha dos pés e as botinas de vaqueta resistiram como virgens.
aproxima Cassi Jones da família de Clara; em Sinha Vitória levantou a saia, sentou-se no chão e limpou-se

240 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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também. Os dois meninos entraram no riacho, esfregaram hesitou, espiou as lojas, as toldas iluminadas, as moças
os pés, saíram, calçaram as chinelinhas e ficaram espian- bem-vestidas. Encolheu os ombros. Talvez aquilo tives-
do os movimentos dos pais. Sinha Vitória aprontava-se e se sido feito por gente. Nova dificuldade chegou-lhe ao
erguia-se, mas Fabiano soprava arreliado. Tinha vencido a espírito, soprou-a no ouvido do irmão. Provavelmente
obstinação de uma daquelas amaldiçoadas botinas; a outra aquelas coisas tinham nomes. O menino mais novo inter-
emperrava, e ele, com os dedos nas alças, fazia esforços rogou-o com os olhos. Sim, com certeza as preciosidades
inúteis. Sinha Vitória dava palpites que irritavam o marido. que se exibiam nos altares da igreja e nas prateleiras das
Não havia meio de introduzir o diabo do calcanhar no lojas tinham nomes. Puseram-se a discutir a questão intri-
tacão. A um arranco mais forte, a alça de trás rebentou-se, cada. Como podiam os homens guardar tantas palavras?
e o vaqueiro meteu as mãos pela borracha, energicamente. Era impossível, ninguém conservaria tão grande soma de
Nada conseguindo, levantou-se resolvido a entrar na rua conhecimentos. Livres dos nomes, as coisas ficavam dis-
assim mesmo, coxeando, uma perna mais comprida que tantes, misteriosas. Não tinham sido feitas por gente. E
a outra. Com raiva excessiva, a que se misturava alguma os indivíduos que mexiam nelas cometiam imprudência.
esperança, deu uma patada violenta no chão. A carne com- Vistas de longe, eram bonitas. Admirados e medrosos, fa-
primiu-se, os ossos estalaram, a meia molhada rasgou-se e lavam baixo para não desencadear as forças estranhas que
o pé amarrotado se encaixou entre as paredes de vaqueta. elas porventura encerrassem.
(Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2012, p. 82.)
Fabiano soltou um suspiro largo de satisfação e dor.
a) O trecho pertence à parte de Vidas secas intitu- Sinha Vitória precisava falar. Se ficasse calada, seria
lada “Festa”, na qual se narra a ida da família de como um pé de mandacaru, secando, morrendo. Que-
sertanejos, acompanhada da cachorra Baleia, à ria enganar-se, gritar, dizer que era forte, e a quentura
cidade, onde deve participar de uma festividade medonha, as árvores transformadas em garranchos, a
pública. Considerada esta questão no contexto imobilidade e o silêncio não valiam nada. Chegou-se a
Fabiano, amparou-o e amparou-se, esqueceu os objetos
do livro, como se passa essa participação e o que
próximos, os espinhos, as arribações, os urubus que fa-
ela mostra a respeito da socialização da família?
rejavam carniça. Falou no passado, confundiu-se com o
b) O tratamento narrativo dado aos eventos apresen- futuro. Não poderiam voltar a ser o que já tinham sido?
tados no trecho confere a ele um tom que contrasta (Idem, p. 120.)
com o que é dominante, no conjunto de Vidas se-
cas. Qual é esse tom? Explique sucintamente. a) O contraste entre as preciosidades dos altares da
<id>001598_por_f2_c12_q0057</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> igreja e das prateleiras das lojas, no primeiro ex-
12. Unicamp-SP 2015 Leia os excertos a seguir. certo, e as árvores transformadas em garranchos,
Um dia... Sim, quando as secas desaparecessem e no segundo, caracteriza o conflito que perpassa
tudo andasse direito... Seria que as secas iriam desaparecer toda a narrativa de Vidas secas. Em que consiste
e tudo andar certo? Não sabia. este conflito?
(Graciliano Ramos, Vidas secas. 118a ed., Rio de Janeiro: b) No primeiro excerto, encontra-se posta uma ques-
Record, 2012, p. 25.) tão recorrente em Vidas secas: a relação entre
linguagem e mundo. Explique em que consiste
Nunca vira uma escola. Por isso não conseguia
defender-se, botar as coisas nos seus lugares. O demônio
esta relação na passagem acima.
<id>002447_por_f2_c12_q0008</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
daquela história entrava-lhe na cabeça e saía. Era para um 14. PUC-Rio 2023
cristão endoidecer. Se lhe tivessem dado ensino, encontraria
meio de entendê-la. Impossível, só sabia lidar com bichos. Fragmento de Vidas secas
(Graciliano Ramos, Vidas secas. 118a ed., Rio de Janeiro: As manchas dos juazeiros tornaram a aparecer,
Record, 2012, p. 35.)
Fabiano aligeirou o passo, esqueceu a fome, a canseira e os
a) Nos excertos citados, a seca e a falta de educa- ferimentos. As alpercatas dele estavam gastas nos saltos, e
ção formal afetam a existência das personagens. a embira tinha-lhe aberto entre os dedos rachaduras muito
Levando em conta o caráter crítico e político do dolorosas. Os calcanhares, duros como cascos, gretavam-
romance, relacione o problema da seca com a -se e sangravam. Num cotovelo do caminho avistou um
questão da escolarização no que diz respeito à canto de cerca, encheu-o a esperança de achar comida,
personagem Fabiano. sentiu desejo de cantar. A voz saiu-lhe rouca, medonha.
b) “Nunca vira uma escola. Por isso não conseguia Calou-se para não estragar força. Deixaram a margem do
defender-se, botar as coisas nos seus lugares.” rio, acompanharam a cerca, subiram uma ladeira, che-
Descreva uma passagem do romance em que, garam aos juazeiros. Fazia tempo que não viam sombra.
por não saber ler e escrever, Fabiano é prejudica- Sinha Vitória acomodou os filhos, que arriaram como
trouxas, cobriu-os com molambos. O menino mais ve-
FRENTE 2

do e não consegue se defender.


<id>001598_por_f2_c12_q0058</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
lho, passada a vertigem que o derrubara, encolhido sobre
13. Unicamp-SP Ocupavam-se em descobrir uma enorme folhas secas, a cabeça encostada a uma raiz, adormecia,
quantidade de objetos. Comunicaram baixinho um ao acordava. E quando abria os olhos, distinguia vagamente
outro as surpresas que os enchiam. Impossível imaginar um monte próximo, algumas pedras, um carro de bois.
tantas maravilhas juntas. O menino mais novo teve uma A cachorra Baleia foi enroscar-se junto dele. Estavam no
dúvida e apresentou-a timidamente ao irmão. Seria que pátio de uma fazenda sem vida. O curral deserto, o chi-
aquilo tinha sido feito por gente? O menino mais velho queiro das cabras arruinado e também deserto, a casa do

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vaqueiro fechada, tudo anunciava abandono. Certamente em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se,
o gado se finara e os moradores tinham fugido. Fabiano encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.
procurou em vão perceber um toque de chocalho. Avizi- Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos,
nhou-se da casa, bateu, tentou forçar a porta. Encontrando alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a,
resistência, penetrou num cercadinho cheio de plantas murmurando:
mortas, rodeou a tapera, alcançou o terreiro do fundo, — Você é um bicho, Fabiano.
viu um barreiro vazio, um bosque de catingueiras mur- Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um
chas, um pé de turco e o prolongamento da cerca do bicho, capaz de vencer dificuldades.
curral. Trepou-se no mourão do canto, examinou a catinga, Chegara naquela situação medonha – e ali estava,
onde avultavam as ossadas e negrume dos urubus. Des- forte, até gordo, fumando seu cigarro de palha.
ceu, empurrou a porta da cozinha. Voltou desanimado, — Um bicho, Fabiano. [...]
ficou um instante no copiar, fazendo tenção de hospedar Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali.
ali a família. Mas chegando aos juazeiros, encontrou os Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho,
meninos adormecidos e não quis acordá-los. Foi apanhar mas criara raízes, estava plantado.
gravetos, trouxe do chiqueiro das cabras uma braçada (Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro:
de madeira meio roída pelo cupim, arrancou touceiras de Record, 2007. p. 18-19.)
macambira, arrumou tudo para a fogueira. [...] Miudinhos,
a) Ambos os trechos são narrados em terceira pes-
perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se,
soa. Apesar disso, há uma diferença de pontos
somaram as suas desgraças e os seus pavores. O coração
de vista na aproximação das personagens com o
de Fabiano bateu junto do coração de Sinha Vitória, um
mundo animal e vegetal. Que diferença é essa?
abraço cansado aproximou os farrapos que os cobriam.
Resistiram à fraqueza, afastaram-se envergonhados, sem
b) Explique como essa diferença se associa à visão
ânimo de afrontar de novo a luz dura, receosos de perder de mundo expressa em cada romance.
<id>001598_por_f2_c12_q0063</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
a esperança que os alentava.
16. Fuvest-SP O pequeno sentou-se, acomodou nas per-
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio, São Paulo: Record, 1986, p.12-13.
nas a cabeça da cachorra, pôs-se a contar-lhe baixinho
a) Vidas secas é considerado um dos mais impor- uma história. Tinha um vocabulário quase tão minguado
tantes romances da literatura brasileira. Publicado como o do papagaio que morrera no tempo da seca.
em 1938, no momento de valorização das narrati- Valia-se, pois, de exclamações e de gestos, e Baleia
vas regionalistas e realistas, o livro retrata, dentre respondia com o rabo, com a língua, com movimentos
outros temas, a vulnerabilidade das populações fáceis de entender.
marginalizadas. A partir da leitura do fragmento Graciliano Ramos, Vidas secas.
do texto, comente a relação do humano com o
Considere as seguintes afirmações sobre este trecho
meio ambiente presente na obra.
de Vidas secas, entendido no contexto da obra, e res-
b) Determine o foco narrativo utilizado por Graciliano
ponda ao que se pede.
Ramos em Vidas secas e justifique a sua resposta.
<id>001598_por_f2_c12_q0060</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
a) No trecho, torna-se claro que a escassez voca-
15. Unicamp-SP Leia os seguintes trechos de O cortiço e bular do menino contribui de modo decisivo para
Vidas secas: ampliar as diferenças que distinguem homens
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos de animais. Você concorda com essa afirmação?
os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes disper- Justifique, com base no trecho, sua resposta.
sas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. b) Nesse trecho, como em outros do mesmo livro,
[...]. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela é por exprimir suas emoções e sentimentos
gula viçosa de plantas rasteiras que mergulhavam os pés vi- pessoais a respeito da pobreza sertaneja que
gorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal o narrador obtém o efeito de contagiar o lei-
de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra. tor, fazendo com que ele também se emocione.
(Aluísio Azevedo, O cortiço. Ficção completa. Rio de Janeiro: Você concorda com a afirmação? Justifique sua
Nova Aguillar, 2005. p. 462.)
resposta.
<id>002447_por_f2_c12_q0007</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Che-
17. Enem 2017 Tenho visto criaturas que trabalham de-
gara naquele estado, com a família morrendo de fome,
mais e não progridem. Conheço indivíduos preguiçosos
comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um
que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se,
juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mu-
abrem a boca e engolem tudo.
lher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura,
pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos passados Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tenta-
esmorecera. [...] tivas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes.
— Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, na-
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com turalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no
certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando tempo de Salustiano Padilha. Houve reclamações.
bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado — Minhas senhoras, Seu Mendonça pintou o diabo
em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, pa-
os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia ciência, vá à justiça.

242 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, Quais estão corretas?
o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, para- a) Apenas I.
lítico de um braço, e a dos Gama, que pandegavam b) Apenas II.
no Recife, estudando direito. Respeitei o engenho do c) Apenas I e II.
Dr. Magalhães, juiz. d) Apenas II e III.
Violências miúdas passaram despercebidas. As ques- e) I, II e III.
<id>001598_por_f2_c12_q0066</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
tões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

de João Nogueira. 19. Fuvest-SP 2021 — Posso furar os olhos do povo?


Efetuei transações arriscadas, endividei-me, im- Esta frase besta foi repetida muitas vezes e, em falta
portei maquinismos e não prestei atenção aos que me de coisa melhor, aceitei-a. Sem dúvida. As mulheres hoje
não vivem como antigamente, escondidas, evitando os
censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas.
homens. Tudo é descoberto, cara a cara. Uma pessoa topa
Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus
outra. Se gostou, gostou; se não gostou, até logo. E eu
produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem.
de fato não tinha visto nado. As aparências mentem. A
Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos, cha-
terra não é redonda? Esta prova da inocência de Marina
mou-me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa
me pareceu considerável. Tantos indivíduos condenados
Brito também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-
injustamente neste mundo ruim! O retirante que fora en-
-me e elogiando o chefe político local. Em consequência
contrado violando a filha de quatro anos – estava aí um
mordeu-me cem mil réis.
exemplo. As vizinhas tinham visto o homem afastando as
RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1990.
pernas da menina, todo o mundo pensava que ele era um
O trecho, de São Bernardo, apresenta um relato de monstro. Engano. Quem pode lá jurar que isto é assim
Paulo Honório, narrador-personagem, sobre a ex- ou assado? Procurei mesmo capacitar-me de que Julião
pansão de suas terras. De acordo com esse relato, o Tavares não existia. Julião Tavares era uma sensação. Uma
processo de prosperidade que o beneficiou eviden- sensação desagradável, que eu pretendia afastar de minha
cia que ele casa quando me juntasse àquela sensação agradável que
a) revela-se um empreendedor capitalista prag- ali estava a choramingar.
mático que busca o êxito em suas realizações a Graciliano Ramos, Angústia.

qualquer custo, ignorando princípios éticos e va- Em termos críticos, esse fragmento permite observar
lores humanitários. que, no plano maior do romance Angústia, o ponto
b) procura adequar sua atividade produtiva e função de vista
de empresário às regras do Estado democrático de a) se acomoda nos limites da vulgaridade.
direito, ajustando o interesse pessoal ao bem da b) tenta imitar a retórica dos dominantes.
sociedade. c) reproduz a lógica do determinismo social.
c) relata aos seus interlocutores fatos que lhe ocor- d) atinge a neutralidade do espírito maduro.
reram em um passado distante, e enumera ações e) revira os lados contrários da opinião.
<id>002447_por_f2_c12_q0009</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
que põem em evidência as suas muitas virtudes </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

de homem do campo. 20. Uerr 2023 [Quanto] à questão da incorporação dos po-
d) demonstra ser um homem honrado, patriota e au- bres pelo romance de 30, é preciso acrescentar que uma
abertura desse tipo coloca para o intelectual, oriundo ge-
dacioso, atributos ressaltados pela realização de
ralmente das classes médias ou de algum tipo de elite
ações que se ajustam ao princípio de que os fins
decaída, o problema de lidar com um outro. Esse pro-
justificam os meios.
blema foi vivido em profundidade pelos autores daquela
e) amplia o seu patrimônio graças ao esforço pes- década e bem ou mal resolvido de várias maneiras dife-
soal, contando com a sorte e a capacidade de rentes. [...] Para Graciliano, como se vê, o roceiro pobre
iniciativa, sendo um exemplo de empreendedor é um outro, enigmático, impermeável. Não há solução
com responsabilidade social. fácil para uma tentativa de incorporação dessa figura no
<id>001598_por_f2_c12_q0065</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
campo da ficção. E lidando com o impasse, ao invés das
18. UFRGS 2015 Leia as seguintes afirmações sobre a
fáceis soluções, que Graciliano vai criar Vidas Secas, ela-
obra de Graciliano Ramos. borando uma linguagem, uma estrutura romanesca, uma
I. No romance Angústia, Luís da Silva narra seu constituição de narrador, um recorte de tempo, enfim,
dilema de ou casar-se com a vizinha Marina ou um verdadeiro gênero a se esgotar num único roman-
mudar-se para o Rio de Janeiro para trabalhar ce, em que narrador e criaturas se tocam, mas não se
como funcionário público. identificam. Em grande medida, o impasse acontece por-
FRENTE 2

II. Em São Bernardo, Paulo Honório, narrador pro- que, para a intelectualidade brasileira daquele momento,
tagonista, recupera sua trajetória de sucesso o pobre, a despeito de aparecer idealizado em certos
aspectos, ainda é visto como um ser humano meio de
econômico, mas de fracasso afetivo.
segunda categoria, simples demais, incapaz de ter pen-
III. No romance Vidas Secas, é narrada a dura trajetó- samentos demasiadamente complexos – lembre-se que
ria de uma família de retirantes, que luta contra as a crítica achou inverossímil que Paulo Honório fosse o
condições adversas, tanto naturais como sociais. narrador de S. Bernardo. O que Vidas Secas faz é, com

243

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um pretenso não envolvimento da voz que controla a sapatos, mas o remoque de Fabiano molestara-a. Pés de
narrativa, dar conta de uma riqueza humana de que essas papagaio. Isso mesmo, sem dúvida, matuto anda assim.
pessoas seriam plenamente capazes. Para que fazer vergonha à gente? Arreliava-se com a com-
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. Revista de Literatura paração. Pobre do papagaio. Viajara com ela, na gaiola
Brasileira, São Paulo, n. 2, ed. 34, p. 255-256, 2001.
que balançava em cima do baú de folha. Gaguejava:
Analisando-se o caso específico do romance de 30 e — “Meu louro.” Era o que sabia dizer. Fora isso, aboiava
os elementos gerais do Modernismo brasileiro quan- arremedando Fabiano e latia como Baleia. Coitado. Sinha
to à questão da representação das classes populares Vitória nem queria lembrar-se daquilo.
(Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro/São Paulo:
pelos intelectuais, é possível afirmar, com base no
Record, 2007, p. 41-43.)
texto precedente, que, em Vidas Secas, de Graciliano
Ramos, a) Por que a comparação feita por Fabiano incomo-
a) as estruturas narrativas seguem a linha do roman- da tanto sinha Vitória? Que lembrança evoca?
ce proletário de Jorge Amado, cuja perspectiva b) Tendo em vista a condição e a trajetória de si-
política engajada se reflete na composição do nha Vitória, justifique a ironia contida no nome da
romance pela identificação imediata entre autor personagem. Que outra personagem referida no
e povo. excerto também revela uma ironia no nome?
<id>001598_por_f2_c12_q0069</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
b) tal como na obra do modernista Oswald de Andrade, </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

22. Enem 2018 Certa vez minha mãe surrou-me com uma
a adoção de uma linguagem simples, pulsante e
corda nodosa que me pintou as costas de manchas san-
semelhante à língua falada aproxima o narrador
grentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu
das classes populares.
distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos. Dei-
c) o autor se identifica com o personagem popular
taram-me, enrolaram-me em panos molhados com água
graças à reinvenção da língua do povo expres-
de sal – e houve uma discussão na família. Minha avó,
sa em neologismos esteticamente refinados, a
que nos visitava, condenou o procedimento da filha e
exemplo do que fez Guimarães Rosa. esta afligiu-se. Irritada, ferira-me à toa, sem querer. Não
d) à semelhança de Os sertões, de Euclides da guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó.
Cunha, a perspectiva do narrador é a do obser- RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1998.
vador culto e distanciado da visão de mundo
limitada atribuída ao sertanejo inculto. Num texto narrativo, a sequência dos fatos contribui
e) a distância entre autor e personagens populares para a progressão temática. No fragmento, esse pro-
é problematizada; assim, a perspectiva única do cesso é indicado pela
autor não prevalece e manifesta-se a riqueza hu- a) alternância das pessoas do discurso que determi-
mana real que constitui os personagens. nam o foco narrativo.
<id>001598_por_f2_c12_q0068</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem> b) utilização de formas verbais que marcam tempos
21. Unicamp-SP O excerto abaixo, de Vidas Secas, trata narrativos variados.
da personagem sinha Vitória: c) indeterminação dos sujeitos de ações que carac-
Calçada naquilo, trôpega, mexia-se como um terizam os eventos narrados.
papagaio, era ridícula. Sinha Vitória ofendera-se grave- d) justaposição de frases que relacionam semantica-
mente com a comparação, e se não fosse o respeito que mente os acontecimentos narrados.
Fabiano lhe inspirava, teria despropositado. Efetivamen- e) recorrência de expressões adverbiais que organi-
te os sapatos apertavam-lhe os dedos, faziam-lhe calos. zam temporalmente a narrativa.
<id>001598_por_f2_c12_q0070</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
Equilibrava-se mal, tropeçava, manquejava, trepada nos </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

saltos de meio palmo. Devia ser ridícula, mas a opinião 23. UPE [...] Uma tarde surpreendi no oitão da capela [...]
de Fabiano entristecera-a muito. Desfeitas essas nuvens, Luís Padilha discursando para Marciano e Casimiro
curtidos os dissabores, a cama de novo lhe aparecera no Lopes:
horizonte acanhado. Agora pensava nela de mau humor. — Um roubo. É o que tem sido demonstrado cate-
Julgava-a inatingível e misturava-a às obrigações da casa. goricamente pelos filósofos e vem nos livros. Vejam: mais
[...] Um mormaço levantava se da terra queimada. Es- de uma légua de terra, casas, mata, açude, gado, tudo de
tremeceu lembrando-se da seca [...]. Diligenciou afastar um homem. Não está certo.
a recordação, temendo que ela virasse realidade. [...] — O senhor tem razão, seu Padilha. Eu não entendo,
Agachou-se, atiçou o fogo, apanhou uma brasa com a sou bruto, mas perco o sono assuntando nisso. A gente se
colher, acendeu o cachimbo, pôs-se a chupar o canudo mata por causa dos outros. É ou não é Casimiro?
de taquari cheio de sarro. Jogou longe uma cusparada, Casimiro Lopes franziu as ventas, declarou que as
que passou por cima da janela e foi cair no terreiro. coisas desde o começo do mundo tinham dono.
Preparou-se para cuspir novamente. Por uma extrava- — Qual dono! gritou Padilha. O que há é que morre-
gante associação, relacionou esse ato com a lembrança mos trabalhando para enriquecer os outros.
da cama. Se o cuspo alcançasse o terreiro, a cama seria [...] Conheci que Madalena era boa em demasia, mas
comprada antes do fim do ano. Encheu a boca de sali- não conheci tudo de uma vez. Ela se revelou pouco a
va, inclinou-se – e não conseguiu o que esperava. Fez pouco, e nunca se revelou inteiramente. A culpa foi mi-
várias tentativas, inutilmente. [...] Olhou de novo os pés nha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu
espalmados. Efetivamente não se acostumava a calçar uma alma agreste.

244 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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[...] Madalena entrou aqui cheia de bons sentimentos entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um
e bons propósitos. Os sentimentos e os propósitos esbarra- lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes
ram com a minha brutalidade e o meu egoísmo. utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua
Creio que nem sempre fui egoísta e brutal. A profissão com que se dirigia aos brutos – exclamações, onomato-
é que me deu qualidades tão ruins. peias. Na verdade, falava pouco. Admirava as palavras
(Graciliano Ramos. São Bernardo. Rio de Janeiro: compridas e difíceis da gente da cidade, tentava repro-
Record, 1984, pp. 59, 60, 101, 187). duzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis
e talvez perigosas.
Considerando os fragmentos anteriores no contexto
[...]
do romance, analise as afirmativas e conclua.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. Rio de Janeiro: Record, 2013. p. 18.
O romance trata dos grandes latifundiários, ou <id>001598_por_f2_c12_q0073</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

seja, donos de grandes extensões de terras que 26. Angústia, de Graciliano Ramos, faz parte do ciclo
se enriquecem apropriando-se do trabalho de de romances regionalistas da segunda geração dos
pessoas pertencentes às camadas mais pobres modernistas brasileiros. A obra apresenta algumas ca-
da sociedade, sem lhes pagarem o que merecem. racterísticas específicas que a classificam como:
“vida agreste” e “alma agreste”, a que Paulo a) romance intimista. d) romance de folhetim.
Honório se refere, significa que ele tinha esses b) romance engajado. e) obra de tese.
atributos por residir no Nordeste do país. c) romance social.
<id>001598_por_f2_c12_q0074</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
Paulo Honório conseguiu se apropriar da fazenda </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

São Bernardo, da vida das pessoas que trabalha- 27. PUC-Campinas 2016 Por vezes, a literatura pode se
vam com ele, porém não conseguiu se apropriar pautar por diferentes tempos: há o tempo da história
da vida de Madalena, sua esposa. narrada, de sua sequência cronológica, e há o tempo
A narrativa traz uma das características predomi- da linguagem que processa essa história. A linguagem
nantes na escritura de Graciliano Ramos, que é a experimental do irlandês James Joyce reinterpreta,
elaboração através de períodos breves, obtendo em pleno século XX, a história mítica de Ulisses. No
o máximo de efeito com o mínimo de recursos. Brasil, há uma ocorrência similar, se pensamos em
Paulo Honório, perseguido pelo remorso, utiliza-se Grande sertão: veredas, romance no qual Guimarães
da narrativa em terceira pessoa para contar a sua Rosa articula magistralmente dois planos temporais:
própria história e, com isso, afastar seus fantasmas. a) a história do passado colonial e o registro das ve-
<id>001598_por_f2_c12_q0071</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
lhas crônicas medievais.
24. UFMG Leia estes trechos: b) o ritmo cantante da lírica e a urgente denúncia
Trecho 1 política.
O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e c) o universo arcaico do sertão e a expressão lin-
restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não conse- guística ousada e inventiva.
gui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é d) a corrosão nostálgica da memória e a busca de
igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, uma nova mitologia.
vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que e) o desapego às crenças do passado e a obsessão
perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui pelo experimentalismo estético.
<id>001598_por_f2_c12_q0075</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe tia </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

28. Unisc-RS 2016 Relacione os autores listados abaixo


barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito eterno,
como se diz nas autopsias; o interno não aguenta tinta.
com as informações apresentadas a seguir.
MACHADO DE ASSIS, J. M. Dom Casmurro. São Paulo: Globo, 1997. p. 3.
(1) Oswald de Andrade (4) Graciliano Ramos
(2) João Guimarães Rosa (5) Jorge Amado
Trecho 2 (3) Clarice Lispector
Desse antigo verão que me alterou a vida restam
Escreveu o romance Grande sertão: veredas, re-
ligeiros traços apenas. E nem deles posso afirmar que
levante obra da terceira geração do Modernismo
efetivamente me recorde. O hábito me leva a criar um
brasileiro.
ambiente, imaginar fatos a que atribuo realidade.
RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: Record. 1984. p. 26.
É de sua autoria o romance Memórias sentimen-
tais de João Miramar.
A partir da leitura desses trechos, EXPLIQUE como, Vidas Secas é uma de suas obras mais conhecidas.
em cada uma das obras referidas, o narrador aborda Escreveu romances importantes da nossa lite-
as possibilidades de a escrita reconstituir o passado. ratura, tais como Capitães de areia e Gabriela,
<id>001598_por_f2_c12_q0072</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
cravo e canela.
25. Explique a estratégia usada por Graciliano Ramos
FRENTE 2

A paixão segundo GH é um exemplo da sua pro-


para caracterizar sua personagem no trecho a seguir.
sa intimista e psicológica.
[...]
Vivia longe dos homens, só se dava bem com ani- A sequência correta de preenchimento dos parênte-
mais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não ses, de cima para baixo, é
sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se a) 3 – 4 – 2 – 1 – 5. d) 2 – 5 – 1 – 3 – 4.
com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem b) 2 – 1 – 4 – 5 – 3. e) 4 – 3 – 5 – 1 – 2.
cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro c) 5 – 3 – 4 – 1 – 2.

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<id>001598_por_f2_c12_q0077</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

29. EsPCEx-SP 2015 Leia o trecho a seguir e responda. O artigo de Euclides da Cunha, publicado em 1897,
O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não
aborda o espaço do sertão de uma perspectiva dife-
seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a den- rente da abordada por Guimarães Rosa. Considerando
tro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia. o momento literário em que os autores produzem suas
Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não obras, explique as diferenças no significado do sertão.
<id>001598_por_f2_c12_q0080</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga:
31. Fuvest-SP 2021 Leia o texto e responda à questão.
é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar
dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde Só a Rosa parecia capaz de compreender no meio do
criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de auto- sentir, mas um sentimento sabido e um compreendido adi-
ridade. O Urucúia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que vinhado. Porque o que Miguilim queria era assim como
na beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de algum sinal do Dito morto ainda no Dito vivo, ou do Dito
vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata vivo mesmo no Dito morto. Só a Rosa foi quem uma vez
em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá disse que o Dito era uma alminha que via o Céu por detrás
há. Os gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. do morro, e que por isso estava marcado para não ficar
Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou muito tempo mais aqui. E disse que o Dito falava com cada
pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda parte. pessoa como se ela fosse uma, diferente; mas que gostava
Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas. de todas, como se todas fossem iguais. E disse que o Dito
Quanto ao trecho, é correto afirmar que nunca tinha mudado, enquanto em vida, e por isso, se a
a) não há ponto de vista do narrador, que apenas gente tivesse um retratinho dele, podia se ver como os traços
relata as impressões alheias. do retrato agora mudavam. Mas ela já tinha perguntado,
b) apresenta alguns neologismos, como “toleima”, ninguém não tinha um retratinho do Dito. E disse que o
“almargem”, “opiniães” e “oestes”. Dito parecia uma pessoinha velha, muito velha em nova.
c) não há abordagem universal, a passagem consti- João Guimarães Rosa. Campo Geral.

tui apenas uma descrição do sertão. a) Sabendo que o quiasmo é uma figura de estilo
d) o trecho transpõe os limites do regional, alcan- formada por uma dupla antítese cujos termos se
çando a dimensão universal. cruzam, identifique um exemplo de quiasmo no
e) transparece todo misticismo sertanejo, baseado texto e explique a sua construção.
apenas nos dois extremos: o bem e o mal. b) Nas palavras do crítico Paulo Rónai, o escritor
<id>001598_por_f2_c12_q0078</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>
Guimarães Rosa sonda as suas personagens
30. Leia os trechos seguintes para responder à questão.
“num momento de crise, quando, acuadas pelo
Texto I amor, pela doença ou pela morte, procuram de-
E sobre as chapadas desertas e desoladas alevantam-se sesperadamente tomar consciência de si mesmas
quase que exclusivamente os mandacarus (cereus) silentes e buscam o sentido de sua vida”. Como a ausên-
e majestosos; árvores providenciais em cujos galhos e raí- cia de Dito desperta a inquietação de Miguilim?
<id>001598_por_f2_c12_q0081</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
zes armazenam-se os últimos recursos para a satisfação da </assunto><bncc></bncc><enem></enem>

sede e da fome ao viajante retardatário – cactáceas gigantes 32. UnB-DF (Adapt.) No texto a seguir, de João Guimarães
que, revestidas de grandes frutos de um vermelho rutilante e Rosa, a face, a imagem, está no âmbito da reflexão es-
subdividindo-se com admirável simetria em galhos ascenden- pecular: real, virtual, simbólica.
tes, igualmente afastados, patenteiam a conformação típica O espelho
e bizarra de grandes candelabros firmados sobre o solo…
Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura, mas
CUNHA, Euclides da. A nossa Vendéia. Euclidesite. Obras de Euclides
da Cunha. Crônicas. Disponível em: https://euclidesite.com.br/obras-de- experiência, a que me induziram, alternadamente, séries de
euclides/cronicas/a-nossa-vendeia/. Acesso em: 12 dez. 2023. raciocínios e intuições. Tomou-me tempo. Surpreendo-me,
Texto II porém, um tanto à parte de todos, penetrando conhecimen-
O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não 5 to que os outros ainda ignoram. O senhor, por exemplo,
seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a que sabe e estuda, suponho nem tenha ideia do que seja,
dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do na verdade — um espelho? Decerto, das noções de física,
Urucuia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, com que se familiarizou, as leis da ótica. Reporto-me ao
o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão transcendente, todavia...
se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um 10 O espelho, são muitos, captando-lhe as feições;
pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de mo- todos refletem-lhe o rosto, e o senhor crê-se com as-
rador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do pecto próprio e praticamente inalterado, do qual lhe
arrocho de autoridade. dão imagem fiel. Mas — que espelho? Há-os bons e
[...] maus, os que favorecem e os que detraem; e os que
Em termos, gostava que morasse aqui, ou perto, era uma 15 são apenas honestos, pois não. E onde situar o nível e
ajuda. Aqui não se tem convívio que instruir. Sertão. Sabe o ponto dessa honestidade ou fidedignidade?
senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais Como é que o senhor, eu, os restantes próximos,
forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso... somos, no visível? O senhor dirá: as fotografias o com-
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 20. ed. –
provam. Respondo: que, além de prevalecerem para as
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 20 lentes das máquinas objeções análogas, seus resultados

246 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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apoiam antes que desmentem a minha tese, tanto revelam superporem-se aos dados iconográficos os índices do misterioso.
Ainda que tirados de imediato, um após outro, os retratos sempre serão entre si muito diferentes. E as máscaras, moldadas
nos rostos? Valem, grosso modo, para o falquejo das formas, não para o explodir da expressão, o dinamismo fisionômico.
Não se esqueça, é de fenômenos sutis que estamos tratando.
25 Resta-lhe argumento: qualquer pessoa pode, a um tempo, ver o rosto de outra e sua reflexão no espelho. O experimen-
to, por sinal ainda não realizado com rigor, careceria de valor científico, em vista das irredutíveis deformações, de ordem
psicológica. Além de que a simultaneidade torna-se impossível, no fluir de valores instantâneos. Ah, o tempo é o mágico de
todas as traições... E os próprios olhos, de cada um de nós, padecem viciação de origem, defeitos com que cresceram e a
que se afizeram, mais e mais. Os olhos, por enquanto, são a porta do engano; duvide deles, dos seus, não de mim. Ah, meu
30 amigo, a espécie humana peleja para impor ao latejante mundo um pouco de rotina e lógica, mas algo ou alguém de tudo
faz brecha para rir-se da gente...
Vejo que começa a descontar um pouco de sua inicial desconfiança quanto ao meu são juízo. Fiquemos, porém, no
terra a terra. Rimo-nos, nas barracas de diversões, daqueles caricatos espelhos, que nos reduzem a mostrengos, esticados
ou globosos. Mas, se só usamos os planos, deve-se a que primeiro a humanidade mirou-se nas superfícies de água quieta,
35 lagoas, fontes, delas aprendendo a fazer tais utensílios de metal ou cristal. Tirésias, contudo, já havia predito ao belo Narciso
que ele viveria apenas enquanto a si mesmo não se visse...
Sim, são para se ter medo, os espelhos...
João Guimarães Rosa. O espelho. In: Primeiras estórias. Ficção completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, v. 2, p. 437-55 (com adaptações).

Com referência ao texto O espelho, e a questões por ele suscitadas, julgue os itens a seguir.
No fragmento de texto apresentado, extraído de um conto de Guimarães Rosa, o estilo de composição diverge
esteticamente do verificado na obra-prima do autor, Grande Sertão: Veredas, caracterizada pelo regionalismo
pitoresco e folclórico, avesso a reflexões filosóficas, transcendentes ou existenciais.
Na estrutura “do qual lhe dão imagem fiel” (l. 12 e 13), a expressão “imagem fiel”, em termos semânticos, é a in-
formação nova do período, tendo em vista que os elementos “do qual”, “lhe” e “dão” retomam, respectivamente,
referência em constituintes sintáticos anteriores, a saber: “aspecto próprio e praticamente inalterado” (l. 11 e 12);
“o senhor” (l. 11); e “todos” (l. 11), sujeito da oração.
Levando em consideração o texto em seu nível semântico e, ainda, o que o narrador postula acerca da reflexão de
imagens em espelho plano, os vocábulos “fotografias” (l. 18), “lentes” (l. 20), “olhos” (l. 28 e 29), bem como a expressão
“superfícies de água quieta” (l. 34) e os correlatos, formariam um conjunto lexical e semântico cujo traço unificador
evidenciaria, na ótica do narrador, uma simplificação da realidade operada pela visão e pelo cérebro.
As estruturas “Não se esqueça, é de fenômenos sutis que estamos tratando” (l. 24) e Não se esqueça, estamos
tratando de fenômenos sutis são análogas no que se refere aos constituintes sintáticos, mas se distinguem
quanto a efeitos discursivos: a primeira, mas não a segunda, evidencia feitos obtidos pela focalização de com-
plemento verbal.
<id>001598_por_f2_c12_q0082</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

33. Fuvest-SP 2019 Leia os textos.


— Eu acho que nós, bois, — Dançador diz, com baba — assim como os cachorros, as pedras, as árvores, somos pessoas
soltas, com beiradas, começo e fim. O homem, não: o homem pode se ajuntar com as coisas, se encostar nelas, crescer,
mudar de forma e de jeito… O homem tem partes mágicas… São as mãos… Eu sei…
João Guimarães Rosa, “Conversa de bois”. Sagarana.

Um boi vê os homens
Tão delicados (mais que um arbusto) e correm
e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
[...]
Carlos Drummond de Andrade, “Um boi vê os homens”. Claro enigma.
FRENTE 2

a) Em ambos os textos, o assombro de quem vê decorre das avaliações contrastantes sobre quem é visto. Justifique
essa afirmação com base em cada um dos textos.
b) O conto de Rosa e o poema de Drummond valem-se de uma mesma figura de linguagem. Explicite essa figura e
justifique sua resposta.

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BNCC em foco
<id>001598_por_f2_c12_q0083</id><tipo>discursiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

EM13LP01

1. Leia o trecho a seguir.


[...]
O padre José Pedro dizia que a culpa era da vida e tudo fazia para remediar a vida deles, pois sabia que era a única
maneira de fazer com que eles tivessem uma existência limpa. Porém uma tarde em que estava o padre e estava o João de
Adão, o doqueiro disse que a culpa era da sociedade mal organizada, era dos ricos... Que enquanto tudo não mudasse, os
meninos não poderiam ser homens de bem. E disse que o padre José Pedro nunca poderia fazer nada por eles porque
os ricos não deixariam. O padre José Pedro naquele dia tinha ficado muito triste, e quando Pirulito o foi consolar, explicando
que ele não ligasse ao que João de Adão dizia, o padre respondeu balançando a cabeça magra.
— Tem vezes que eu chego a pensar que ele tem razão, que isso tudo está errado. Mas Deus é bom e saberá dar o remédio...
[...]
AMADO, Jorge. Capitães da areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 118.

Jorge Amado foi um autor engajado e interessado em temas relacionados à miséria do povo brasileiro. Que crítica
podemos observar no trecho lido?
<id>001598_por_f2_c12_q0084</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

EM13LP06

2. Leia o trecho a seguir.


Levantei-me há cerca de trinta dias, mas julgo que ainda não me restabeleci completamente. Das visões
que me perseguiam naquelas noites compridas umas sombras permanecem, sombras que se misturam à realidade e me
produzem calafrios.
[...]
Vivo agitado, cheio de terrores, uma tremura nas mãos, que emagreceram. As mãos já não são minhas: são mãos de
velho, fracas e inúteis. As escoriações das palmas cicatrizaram.
Impossível trabalhar. Dão-me um ofício, um relatório, para datilografar, na repartição. Até dez linhas vou bem. Daí em
diante a cara balofa de Julião Tavares aparece em cima do original, e os meus dedos encontram no teclado uma resistência
mole de carne gorda. [...]
Em duas horas escrevo uma palavra: Marina. Depois, aproveitando letras deste nome, arranjo coisas absurdas: ar, mar,
rima, arma, ira, amar. [...]
Enxoto as imagens lúgubres. Vão e voltam, sem vergonha, e com elas a lembrança de Julião Tavares. Intolerável. Esforço-me
por desviar o pensamento dessas coisas. Não sou um rato, não quero ser um rato. Tento distrair-me olhando a rua.
[...]
RAMOS, Graciliano. Angústia. Rio de Janeiro: Record, 2020. p. 8-11.

No trecho, o narrador Luís da Silva evidencia que sua relação com o passado se associa a:
a) saudade.
b) remorso.
c) medo.
d) tormento.
e) dúvida.
<id>001598_por_f2_c12_q0085</id><tipo>objetiva</tipo><assunto>
</assunto><bncc></bncc><enem></enem>

EM13LP01

3. Sobre a Geração de 1945, ou seja, a prosa neomodernista, assinale V (verdadeiro) ou F (falso) nas afirmativas a seguir.
Movimento de renovação cultural e artística que buscava definir uma identidade nacional e opunha-se ao modo de
vida e aos ideais da elite brasileira.
Fase heroica, caracterizada por intenso experimentalismo na forma e nos temas. Os escritores desse período
tentaram incorporar os motes vanguardistas à literatura nacional.
Período de continuação do neorrealismo, tanto na vertente urbana como na regionalista. Expansão do regiona-
lismo e inovações temáticas e linguísticas, com destaque para Guimarães Rosa.
Período em que surgiu o verde-amarelismo, manifestação contrária à estética pau-brasil. Defesa de uma arte
genuinamente nacional, ufanista e valorização do elemento indígena.

248 LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 Modernismo: do regionalismo de 1930 ao experimentalismo de 1945

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Gabarito
(o break dancing difundido, para além dos guetos, com o nome
Frente 1 de cultura hip hop. O break dancing surge como uma dança de
rua. O grafite nasce de assinaturas inscritas pelos jovens com
Capítulo 11 — Pontuação: emprego e efeitos sprays nos muros, trens e estações de metrô de Nova York. As
de sentido linguagens do rap e do break dancing se tornaram os pilares da
cultura hip hop.
Revisando 2. C
1. A 3. A 5. A 7. B 3. C
2. A 4. A 6. E 8. C

Exercícios propostos
Capítulo 12 — Regências verbal e nominal
1. a) Assim como num jogo de dominó, em que é preciso encaixar
as peças de acordo com um padrão, a autora explica que a Revisando
biografia era não apenas um texto sobre a vida de alguém,
1. A 5. D
mas também uma homenagem, que deveria ser escrita por
alguém igualmente importante. Assim, o jogo de dominó a 2. D 6. Soma: 01 + 04 = 05
que a autora se refere é esse jogo de encaixar alguém que 3. A 7. D
pudesse enaltecer o biografado (quem produzia a biografia 4. C 8. Soma: 02 + 04 + 08 = 14
indicava a importância do biografado), o que também, por
consequência, seria um elogio à instituição e ao país. Exercícios propostos
b) A locução “a princípio” é um adjunto adverbial de tempo, que,
1. E 5. E 9. A 13. B
pelo fato de estar deslocado no período (no início da oração a
que se refere), foi colocado entre vírgulas. Já a oração “quan- 2. C 6. D 10. C 14. B
do um dos sócios falecia” é adverbial temporal e também foi 3. B 7. B 11. E 15. D
colocada antes da oração principal no período do qual faz par- 4. B 8. D 12. A 16. C
te (e após o conectivo, “isto é”, que introduz uma explicação
para o período anterior), por isso a colocação entre vírgulas. Exercícios complementares
2. B 6. B 10. B 14. A 1. Soma: 01 + 04 = 05 9. B
3. D 7. A 11. D 2. B 10. D
4. D 8. E 12. C 3. D 11. E
5. A 9. C 13. D 4. F; F; V; F; V 12. C
15. O uso da vírgula é obrigatório, já que há vírgula depois do termo 5. C 13. C
“passo a passo”, indicando que se trata de um adjunto adverbial
deslocado. 6. E 14. A

16. B 21. Certo. 26. A 31. A 7. D 15. Soma: 01 + 02 + 16 = 19

17. A 22. D 27. B 32. D 8. D 16. D

18. A 23. B 28. B BNCC em foco


19. C 24. D 29. B
1. Soma: 01 + 08 + 16 = 25
20. B 25. D 30. C
2. B
Exercícios complementares 3. Segundo a norma-padrão, o primeiro período do texto deve ser
escrito da seguinte maneira: “O artista Juan Diego Miguel apre-
1. C 3. A 5. C 7. B senta, no Museu Brasileiro de Escultura (MUBE), a exposição ‘Arte
2. A 4. B 6. D e Sensibilidade’, composta de suas obras, que acabam de che-
8. Agora, vivendo sob a vigilância do Programa de Proteção a Tes- gar ao país”.
temunhas, leva uma vida tranquila ao lado de Debra (Vanessa
Angel), sua esposa. Porém, liderada por Miles (Michael Beach),
uma gangue de mafiosos, frios e armados até os dentes, está em
sua perseguição, para recuperar o dinheiro roubado e se vingar
Capítulo 13 — Crase
de Bill.
Revisando
9. C 15. E 21. C 27. D
1. B 5. Soma: 01 + 02 + 08 = 11
10. D 16. B 22. B 28. C
2. A 6. C
11. B 17. B 23. D 29. E 3. A 7. A
12. C 18. B 24. C 30. E 4. D 8. C
13. E 19. D 25. D 31. A
Exercícios propostos
14. E 20. D 26. C 32. E
1. D
BNCC em foco 2. E
1. Texto original: O rap, palavra formada pelas iniciais de rhythm 3. A
and poetry (ritmo e poesia), junto com as linguagens da dança 4. Soma: 01 + 04 = 05

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5. D 9. C 13. D 17. A 9. A 15. E 21. B 27. A
6. A 10. C 14. E 18. A 10. D 16. A 22. A 28. C
7. C 11. B 15. B 11. C 17. A 23. C 29. E
8. E 12. E 16. D 12. D 18. E 24. C
13. E 19. D 25. D
Exercícios complementares
14. D 20. A 26. E
1. E 3. E 5. C 7. B
30. a) 
Entre a imagem estilizada dos dedos e as palavras “digital”
2. E 4. A 6. C e “diferença” há uma relação de reiteração, que se dá pela
8. A crase antes de nome de lugar deve ser utilizada apenas para disposição principal de quatro dedos caracterizados como
os casos em que o nome admitir o artigo “a” e desde que o pessoas com características diferentes. Além disso, “digital”
termo regente exija complemento ligado pela preposição “a”. alude à impressão digital relacionada à biometria, e “diferen-
Portanto, há crase em “à França”, mas não há crase em “a Paris”. ça”, à capacidade de verificação da identidade de uma pessoa.
9. A b) A reescrita fica: “Venhamos para a biometria. Cadastremos
nossas digitais”.
10. A
31. A
11. A afirmativa é falsa, pois, quando o substantivo “casa” for em-
pregado no sentido de “lar”, “residência”, não se usa a crase, 32. C
mas, se vier especificado de algum modo, o emprego da crase
é obrigatório. Exercícios complementares
12. A 14. D 16. A 1. a) 
Essa palavra foi criada a partir do substantivo próprio
13. A 15. D “Bacurau”, mais a inserção do sufixo “-izar”. É justamente a
inclusão desse sufixo que indica que a nova palavra é um
BNCC em foco verbo no infinitivo.
b) Há várias possibilidades de criação de frases, desde que seja
1. D
no sentido trazido no texto II. Exemplos: “Diante do abandono
2. O anúncio está correto quanto à gramática, pois não se usa o de Bacurau pelas autoridades, os moradores se bacuralizam
acento grave antes de verbo. para sobreviver” (acepção 1); “Para escapar às ações do pre-
3. C feito, a comunidade decide se bacuralizar” (acepção 2).
2. B 12. A
Capítulo 14 — Verbo: propriedades 3. D 13. B
4. B
gramaticais e semânticas 14. D
5. D
15. D
Revisando 6. D
16. E
1. a) 
A forma verbal “gostaria” está conjugada no futuro do pretérito 7. B
17. B
do modo indicativo, cujo tempo verbal expressa possibilida- 8. D
de, hipótese ou desejo. A personagem da tirinha, ao fazer uso 9. A 18. D
dessa forma verbal, expressa o desejo de que as pessoas a
10. C 19. E
vejam de acordo com os padrões de beleza exigidos social-
mente. Já a forma verbal “acho”, conjugada no presente do 11. B 20. A
indicativo, indica uma ação frequente, o que remete à forma 21. a) 
Não. O sentido que se atribui no texto é o de um discurso lon-
negativa que a personagem às vezes vê de si mesma e que go, pomposo e sem ideias originais, opondo-se claramente
corrobora com a forma que os outros também a veem, ou seja, àquele atribuído pelo dicionário Houaiss, uma vez que este
com uma aparência desconectada dos padrões sociais de be- classifica a palavra “retórica” positivamente, ao destacar sua
leza feminina. eloquência e seu bom desenvolvimento argumentativo.
b) A personagem da cartunista Laerte, ao concluir seu monólo- b) Em “embora não se encontrem nos seus longos discursos e
go, cita o trecho de um poema de Mário Quintana, o poeta muitos volumes nem uma ideia original, nem uma só obser-
da simplicidade, apresentando uma visão lírica de si mes- vação própria”, podemos fazer a conversão da forma verbal
ma e distanciando-se de toda a opressão relacionada à sua “se encontrem” para “sejam encontradas”. No segundo caso,
aparência, uma visão poética que lhe propicia liberdade. O a forma verbal “houvera” poderá ser substituída por “hou-
pronome “eles”, presente no verso citado, interfere na am- vesse”. Então, teremos: “E disto ninguém se escandaliza; o
biguidade em relação a que ou a quem a personagem se escândalo viria se houvesse originalidade”.
refere, se aos “padrões” de beleza, se aos próprios “pensa- 22. C 25. A 28. C 31. A
mentos” ou aos “outros” (aqueles que a observam); de toda
maneira, ela se apropria do verso de Quintana para se trans- 23. A 26. D 29. E 32. D
formar em passarinho e seguir sua vida de forma leve e livre 24. B 27. D 30. E
de qualquer julgamento.
BNCC em foco
2. E 5. E
1. B
3. C 6. B
2. a) 
O problema da destruição do meio ambiente. Trechos como
4. E 7. C
“economize água”, “separe o lixo”, “mantenha torneira fecha-
8. Soma: 02 + 04 = 06 da”, entre outros, ajudam a construir a proposta de preservação
ambiental do anúncio.
Exercícios propostos
b) Imperativo afirmativo: “economize”, “separe”, “evite” e “man-
1. C 3. A 5. C 7. A tenha”. Imperativo negativo: “não jogue” e “não deixe”.
2. A 4. B 6. D 8. A 3. C

250 LÍNGUA PORTUGUESA Gabarito

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para a construção da imagem do Brasil: o colorido e a ausência
Frente 2 de margens claras e definidas representam o espírito do país em
construção. O Brasil possui diversidade étnico-racial, numerosas
Capítulo 10 — Heróis do Modernismo no Brasil realidades e histórias distintas que o compõem; dessa forma,
Revisando Mário de Andrade propõe a unidade a partir da heterogeneidade.
9. B 11. B
1. As referências à infância têm tom nostálgico, pois, tal como as
poesias do Romantismo, o apelo à saudade do passado pessoal 10. B 12. A
é um recurso para romper com a dor do momento presente. 13. A imagem do “elevador” contrasta com elementos considerados
Nesse sentido, os poemas do autor apresentam, como afirma tradicionalmente poéticos (ao mencionar a natureza, em “flor”,
Rosenbaum, “brincadeira de uma trova, de uma cantiga, de uma “beija-flor”) e sentimentos como a “dor”, no campo da subjetividade.
música, que recriam a atmosfera encantatória, infantil”. Isso comprova como o cotidiano é incorporado à esfera da arte no
2. D Modernismo. O elevador, meio amplamente utilizado em prédios
de centros urbanos, em “nada” dialoga com a beleza da natureza
3. Oswald de Andrade utiliza o termo “alimária” (quadrúpedes que
ou a subjetividade de um sentimento, estando no campo prático da
servem como besta de carga) para aludir ao passado rural que atra-
vida cotidiana e, ainda assim, também pode conter poesia.
vanca a passagem do progresso na cidade de São Paulo. O adjetivo
“pobre” indica o sentimento do eu lírico em relação ao animal que 14. a) 
O espaço urbano em que se desenrola esse fragmento da
é chicoteado pelo “lesto carroceiro” por atrapalhar os “advogados narrativa é a cidade de São Paulo. O trecho referencia o
para o escritório”. bairro Higienópolis, onde ocorria uma explosão demográfica
ocasionada pela chegada de imigrantes vindos da Europa. O
4. O pajé se esgueira mal entre as locomotivas, o que evidencia
desenvolvimento urbano era acelerado e desorganizado, o
que o espaço das terras indígenas foi tomado pelo processo de
que é característico das megacidades.
urbanização da cidade de São Paulo.
b) Pelos estrangeirismos presentes no texto, podem ser identi-
5. O verso “A marquesa botou sua imperial bundinha!...” é um
ficadas, ao menos, três referências culturais: a cultura inglesa
exemplo do tom de deboche e irreverência dos modernistas ao
em “back” e “shoots”; a cultura italiana em “si sinhore”; e a
processo de modernização e crescimento acelerado da cidade
cultura francesa em “gaffes”.
de São Paulo; a expressão “bundinha” remete ao modo pejorati-
15. E 17. C 19. B
vo de se referir à marquesa.
16. E 18. D 20. B
6. A rapsódia é uma composição artística formada por vários elemen-
tos tradicionais e populares, e Macunaíma é um livro construído a 21. a) 
Nos primeiros versos do poema, o eu lírico enumera seus de-
partir da vasta pesquisa de Mário de Andrade sobre lendas, su- sejos de vida, como ver as belezas das coisas simples, visitar
perstições, provérbios e anedotas do folclore brasileiro. lugares inacessíveis e cidades distantes, rever sua terra na-
tal (Pernambuco), encontrar-se com várias mulheres que ele
7. O Modernismo foi um movimento artístico interessado em res-
deseja etc. No último verso, no entanto, ele expõe a dureza
gatar a história e a cultura nacional, valorizando a pluralidade
da matemática da vida quando diz “Vida noves fora zero”.
étnico-cultural. O livro Macunaíma procura evidenciar esse as-
“Noves fora” ou a prova dos nove consiste em uma técni-
pecto na imagem de um herói que representa a coletividade, a
ca matemática que é um teste de validade para as quatro
pluralidade, a multiplicidade brasileira. Essa imagem é alcançada
operações matemáticas básicas, muito utilizado quando as
com base na pesquisa da vasta cultura nacional.
calculadoras ainda não eram tão populares. O trecho “Vida
8. Pierrot é um palhaço triste que vive um amor platônico por noves fora zero” significa que, após a soma de tudo o que a
Colombina, para quem ele não se declarava. Sua representação vida lhe ofereceu, nada restou. Outra interpretação possível
com lágrima no rosto e uma flor na mão é a marca do sofrimento para este verso é a de que é necessário viver a vida real,
pelo amor não correspondido. Diferentemente, Arlequim é a ale- sem mistificação.
gria e a diversão, um palhaço esperto e preguiçoso, que costuma
b) A presença do verso livre na obra poética de Manuel Ban-
pregar peças nos outros.
deira é justificada pelo movimento estético do qual ele fazia
9. Resposta pessoal. parte: a primeira geração modernista. Uma das características
nas obras da primeira geração é a rejeição ao rigor formal
Exercícios propostos
característico de estéticas anteriores, como o Parnasianismo.
1. B Os modernistas acreditavam que a utilização de versos livres
2. E auxiliava no desencarceramento da poesia.

3. C 22. A

4. O termo “rapsódia” se relaciona à mistura de estilos, o que em 23. D


Macunaíma se liga aos elementos lendários, além da composi- 24. B
ção baseada em textos da tradição literária ressignificados por
Mário de Andrade. A adoção de mitos do folclore brasileiro mar- Exercícios complementares
ca a originalidade de que trata Gilda de Mello e Souza, pois o 1. D 3. C 5. C 7. E
livro não se propõe à verossimilhança ou a mimésis, não ficando 2. B 4. B 6. A
“na dependência constante que a arte estabelece entre o mundo
objetivo e a ficção”. 8. No verso “Sou um tupi tangendo um alaúde”, é possível perceber
o ponto de vista do Modernismo, em que há a mistura de um ele-
5. D mento da cultura europeia (alaúde) ao da cultura brasileira (tupi).
6. C O trovador de Mário de Andrade não se enquadra nas caracte-
7. A rísticas do trovador europeu medieval, mas se define por suas
características indígenas: um tupi tangendo um alaúde.
8. Mário de Andrade trabalhou obstinadamente pela definição de
uma identidade nacional para o Brasil. Arlequim – personagem 9. D
da Commedia dell’arte que foi criado para entreter e divertir a 10. O principal traço que distingue a obra Memórias sentimentais de
plateia durante o intervalo dos espetáculos –, com sua imagem João Miramar como vanguarda modernista é a escrita fragmenta-
carnavalesca, roupa feita de retalhos coloridos e combinados da, caracterizada pelo fato de os episódios estarem numerados
em forma de losangos em uma única peça, foi a figura escolhida e separados, o que não permite que a leitura seja feita de forma

251

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linear, que é um aspecto tradicional. Outros pontos marcantes comparar a campanha ao poema de Mário de Andrade, uma vez
são a utilização de linguagem coloquial, a falta de pontuação e que o eu lírico, apesar de evidenciar seu sentimentalismo direcio-
construções que exploram a sintaxe. nado à cidade amada, alude às suas contradições, explicitadas
11. C 16. D no verso “Galicismo a berrar nos desertos da América”. A nova
dinâmica do século XXI apresenta diversos problemas enfren-
12. B 17. A tados pelas grandes metrópoles, como o excesso de barulho,
13. D 18. Soma: 02 + 08 + 32 = 42 comprovando que as dissonâncias não se alteraram, pois a cida-
14. A 19. C de continua sendo uma composição de opostos.

15. A.
20. a) 
Tradicionalmente, a poesia lírica distingue-se pela enuncia- Capítulo 11 — O Modernismo no Brasil:
ção de um sujeito lírico, ou seja, pela expressividade poética a poesia mística e social
de uma subjetividade, suas emoções, seus sentimentos. Já
no poema de Manuel Bandeira, a objetividade predomina Revisando
na enunciação poética em detrimento da subjetividade.
1. B
b) Há uma série de elementos no poema que evidenciam seu
caráter narrativo. A voz poética configura-se como um nar- 2. A
rador-observador, ou seja, simula um foco narrativo em 3a 3. A estrutura da obra de Cecília Meireles é inspirada nas narrati-
pessoa, que conta sucintamente a trajetória da personagem vas medievais de origem oral chamadas de romances. Cecília
João Gostoso. Para a organização temporal do enredo, os organiza seus 85 romances em cinco partes, sendo que cada
verbos estão conjugados ora no pretérito imperfeito, para um deles tem o ritmo marcado pelo verso redondilho, ou seja,
evidenciar ações que se prolongam no passado (“era” e “mo- cinco e sete sílabas métricas, o que dá fluidez à leitura.
rava”), ora no pretérito perfeito, para a enumeração de uma 4. O ouro foi um dos motivadores da Inconfidência Mineira e foi
sequência de ações pontuais (“chegou”, “bebeu”, “cantou”, por dinheiro que os inconfidentes foram traídos, daí o ouro ser
“dançou” etc.). Além disso, o enredo de João Gostoso culmi- simbolizado no Romanceiro da Inconfidência como um objeto
na, enfim, no clímax (“se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e que desperta ganância, violência e morte.
morreu afogado”).
5. Antonio Candido afirma que há dualismo no próprio título, uma
21. Quanto à natureza temática, o poema de Manuel Bandeira trans- vez que o pastor pianista pode tocar ou apascentar os pianos
forma em matéria poética um evento colhido de “uma notícia de na planície. O pastor é um termo que se refere ao ambien-
jornal”, distanciando-se do lema “arte pela arte” parnasiano ou do te campestre, no entanto, pastor que apascenta pianos está
transcendentalismo simbolista. No que tange à natureza formal, fora da lógica e da realidade, por isso o termo “pianista” pode
o poema opta pelo verso livre, pela irregularidade métrica, pela funcionar como adjunto adnominal que amplia a linguagem
inexistência de rimas e pelas formulações sintáticas simples e pró- poética.
ximas da oralidade e da coloquialidade, opondo-se às estéticas
6. Trata-se do Surrealismo; seu efeito está na ampliação da lin-
parnasiana e simbolista, que prezavam por inversões sintáticas
guagem, na figuração de pianos sendo apascentados por um
complexas, vocabulário erudito, rimas raras e formas tradicionais
pianista em plena planície, como se fosse a descrição de uma
da poesia, como o soneto.
cena onírica.
22. C
7. A expressão “Essa negra Fulô” é a reprodução da fala da sinhá e
23. Soma: 02 + 16 = 18 representa as relações de poder do sistema escravocrata. A re-
24. E petição do verso é uma reiteração da denúncia dessas relações
no plano das violências raciais, entre outras presentes no poema.
BNCC em foco 8. A opressão, as humilhações e os castigos contra a escrava são
o tom dado ao poema; por essa razão, a imagem de uma mulher
1. Como se afirma no texto de Elaine Patricia Cruz sobre a Semana bonita com atributos físicos e traços da beleza de sua raça des-
de 22, os modernistas “fizeram de tudo para que realmente ela toam da violência a que é submetida a mulher.
fosse polêmica e para se alinhar à ideia de vanguarda”, o que
significa que o valor da semana foi construído ao longo dos anos
que se seguiram. Alguns fatos, por exemplo, foram apagados da
Exercícios propostos
história do grande evento cultural ocorrido em fevereiro de 1922, 1. C 9. E
como o patrocínio vindo da elite cafeeira, o que era controverso,
2. V; F; V; F; V 10. D
uma vez que o conservadorismo era atacado pelos modernistas.
O fato de a participação de Plínio Salgado na semana ter sido 3. B
11. E
apagada da história, por seu alinhamento posterior às ideias do 4. Soma: 02 + 16 = 18
fascismo italiano, é outro indício de que os modernistas seriam 12. B
5. C
“insultadíssimos” e “celebérrimos”, de acordo com a construção 13. E
histórica que se faria com o tempo. 6. A
7. C 14. A
2. O Modernismo foi um movimento que visava romper com a cul-
tura passadista e com os grilhões do passado nacional. Nesse 8. A 15. E
sentido, a imagem do movimento sempre esteve associada à
16. O verso “(Desconfio que escrevi um poema.)” é irônico, pois
liberdade e à valorização da cultura brasileira. A ideia de asso-
contrasta com as ideias expostas nos versos iniciais, de que não
ciá-lo à política estatal do Estado Novo, período marcado pela
seria possível fazer verdadeira poesia no contexto de opressão
ditadura e censura aos meios culturais, embora tenha sido um
humana. Assim, ao declarar ao final que acredita ter conseguido
projeto do ministro de Getúlio Vargas, deveria ser dissociado
realizar esse feito, o eu lírico se sobrepõe ao caos e às antíteses
do movimento para evitar uma imagem negativa e distante de
da modernidade, “sobrevivendo” a esse contexto de opressão.
seus propósitos.
17. A
3. O grupo ProAcústica utilizou um símbolo da cidade de São Paulo
para chamar a atenção da população para um problema recor- 18. D
rente enfrentado pelos moradores: a poluição sonora. Pode-se 19. Soma: 01 + 04 + 08 = 13

252 LÍNGUA PORTUGUESA Gabarito

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20. a) 
A obra Romanceiro da Inconfidência é um livro de poemas lamento pela desvalorização do ser humano perante um mun-
que narra a história da Inconfidência Mineira, um movimento do dominado pelo capital, na ânsia de tecnologia e disputa
promovido por colonos brasileiros que desejavam se libertar de mercados.
do domínio português. O narrador conta a travessia de Tira- 4. B
dentes e o espaço é Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto. No
trecho do poema, a sequência ambição, injustiça e covardia 5. A
se articula como causa e consequência, na medida em que 6. C
a ambição do ouro levou à condenação de Tiradentes. A in- 7. Soma: 01 + 04 + 08 = 13
justiça, por sua vez, remente à covardia dessa condenação,
que puniu o representante de menor prestígio social em de- 8. F; V; V; F; F; F; V
trimento da falta de punição às elites locais. 9. E
b) Diante do cenário de injustiça retratado no poema, os ques- 10. a) 
Sim. Em Claro enigma, o poeta expressa a opressão e o
tionamentos do eu lírico refletem uma preocupação sobre as esmagamento do ser face aos problemas sociais do fim da
próximas gerações. Trata-se de uma reflexão dos justos, pois, Segunda Guerra Mundial. Versos como “a estrada é pedre-
ao lutar por justiça e igualdade social, não condena os mais gosa”, “o sino possui um som rouco”, “o som dos sapatos do
fracos, mas defende ideais libertários e éticos. O tom de preo- poeta é seco”, “fecho da tarde”, “céu de chumbo”, “escuri-
cupação questiona se ainda haverá valores éticos e morais nas dão maior” expressam a negatividade e o pessimismo do eu
próximas gerações. poético até o momento em que a necessidade de abertura
21. A 24. B 27. B provoca a revelação.
22. D 25. A 28. A b) O verso é: “a máquina do mundo se entreabriu”. A ideia de
Máquina do Mundo está associada ao sistema cósmico do
23. D 26. B 29. D
mundo, ao modo como ele funciona e a tudo o que ele rege
30. a) 
Aliteração, assonância e onomatopeia. e congrega.
b) Aliteração é a repetição de fonemas idênticos ou semelhan- 11. A
tes no começo de várias palavras, presente em: “vamos ver”
12. a) 
A expressão em inglês quer indicar a indiferença e alienação
(aliteração do /v/); em “chuvinhas, chios, chuveiros, chiando,
da felicidade burguesa (essa “burguesia contente”) diante
chiando, chovendo chuvas” (aliteração do /x/); “sabe […] são”
das adversas condições sociopolíticas brasileiras da época;
(aliteração do /s/) e “fogos […] foguetes […] fogo” (aliteração
do /f/). Assonância é a repetição de sons de vogais em uma isso porque a classe privilegiada levaria uma vida ensimes-
frase, presente em “ver quem é que sabe” (assonância do /e/); mada (“Ó gozo de minha poltrona!”). Por sua vez, também é
“chuvinhas […] chuveiros […] chuvas” (assonância do /u/) e “fo- uma classe colonizada, absorvendo os costumes e valores
gos […] João […] foguetes […] bombas […] chios […] chuveiros ingleses (“Como estou bem nessa poltrona de humorista in-
[…] chiando […] chovendo” (assonância do /o/). Onomatopeia glês / A fumaça de meu cachimbo subindo / Ó doçura de
consiste na formação de uma palavra a partir da reprodução folhetim!”). Tudo isso indica uma vida fútil e distante da reali-
de um som natural que possa ser associado a ela, utilizando dade geral do povo brasileiro.
os meios de que a língua dispõe, exemplo: “chá – Bum!”, que b) No verso em questão (“Ora afinal a vida é um bruto romance”),
se refere ao som produzido pelos fogos de São João. faz-se alusão ao romance, em que há um conflito intrínseco
31. A 34. B 37. C 40. D entre o protagonista e a vida, o meio brutal que o envolve.
32. D 35. E 38. B 41. B “Bruto”, aqui, refere-se ao ambiente inóspito, violento e de-
sagradável da realidade brasileira. Em ponto diametralmente
33. A 36. E 39. B
oposto, os “folhetins” justamente indicam outra situação a
partir de outro gênero narrativo. No verso “[...] nós vivemos
Exercícios complementares
folhetins sem o saber” conota-se uma vida burguesa cuja exis-
1. a) 
Enquanto nos dois primeiros versos o eu lírico exprime a tência nada enfrenta de brutal ou desconfortável, sendo doce,
impossibilidade de “compor um poema a essa altura da evo- tranquila e alienada, tal como se poderia ver nas histórias de
lução da humanidade”, no último, ele hesita na desconfiança folhetim (historinhas típicas dos jornais semanais do século
de que realmente o compôs. Trata-se de uma reflexão me- XIX). Narrativas cheias de peripécias e tramas sentimentais,
talinguística de oposição sobre o fazer poético, que pode que tinham sempre um desfecho feliz.
acontecer mesmo na ausência de qualquer circunstância
13. No poema “Confidência do Itabirano”, o sujeito poético apresen-
que o tornasse compreensível ou natural.
ta Itabira como um espaço real e experimentado; há também no
b) Na voz passiva, o trecho sublinhado em “Desconfio que escre- poema a ideia de que o sujeito lírico permanece ligado à sua
vi um poema.” teria a seguinte redação: Um poema foi escrito origem. No fragmento da canção de Gilberto Gil, há o mesmo
por mim. sentimento de orgulho de sua origem, mas sem especificações.
2. a) 
Por meio dos versos “os homens” que “não melhoraram / e Há apenas a ideia de que o seu aprendizado para o mundo foi
matam-se como percevejos” e “Inabitável, o mundo é cada adquirido na sua terra natal.
vez mais habitado”, de “O sobrevivente”, o eu lírico exprime
14. a) 
A imagem “pão de nuvens” (v. 4-5) e o verso “tudo, no co-
o seu pessimismo sobre a evolução da humanidade, em um
ração, é ceia” (v. 10) conjugam-se para construir o conceito
universo marcado por privações, irracionalidade e automatis-
de que a necessidade de alimento não está ligada indispen-
mo, ausência de lirismo, excesso de tecnologia, assim como
savelmente a uma necessidade fisiológica, mas sim a uma
pela perda de sensibilidade nos gestos humanos.
carência de ordem espiritual e afetiva.
b) No verso “O último trovador morreu em 1914”, o eu lírico aludiu
b) Sim. No texto, o autor afirma que a confraternização é amigá-
ao momento histórico da Primeira Guerra Mundial, responsá-
vel pelo tom pessimista que permeia todo o poema. vel e respeitosa, mesmo que entre eles haja opiniões políticas
divergentes, mas não impeditivas de usufruir do prazer do
3. a) 
A antítese ocorre na incoerência da fabricação de máquinas convívio, metaforizado na imagem da “boa cerveja”.
muito complicadas para satisfazer necessidades simples.
15. Soma: 08 + 16 = 24
b) Ao estabelecer paralelo com o episódio bíblico do dilúvio
(“E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo 16. A 18. B 20. A 22. A
dilúvio”), o eu lírico enfatiza o tamanho do desastre e o seu 17. E 19. C 21. D

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23. a) 
Os episódios que exemplificam a ideia de “adoçamento Capítulo 12 — Modernismo: do regionalismo
social” são “Jenipapo coloriu o meu corpo contra os maus-
-olhados,/catecismo me ensinou a abraçar os hóspedes” e de 1930 ao experimentalismo de 1945
“para salvar minha alma benzida/e meu corpo pintado de
urucu”. Neles, nota-se que a miscigenação entre as três Revisando
culturas é abordada como um processo natural, de forma 1. Uma dessas características é a denúncia social, que evidenciava
democrática, como sugerido pelo próprio Gilberto Freyre ao a decadência da região Nordeste após o deslocamento político
conceituar democracia racial. e social para o sul. Além disso, as personagens apresentadas
b) A palavra “democracia” manifesta-se em situações cotidianas são de camadas mais populares e a linguagem valoriza as falas
do eu lírico, marcado por traços da cultura negra, europeia e regionais do Brasil.
indígena, em trechos como “Mãe negra me contou histórias 2. Rachel de Queiroz e Candido Portinari se posicionaram politica-
de bicho” (cultura negra), “meu corpo pintado de urucu” (cul- mente ao denunciar o problema da seca, além de incentivar a
tura indígena) e “catecismo me ensinou a abraçar hóspedes” reflexão sobre os desdobramentos e as consequências na vida
(cultura do colonizador português). O convívio “pacífico” entre dos moradores dessas regiões que são obrigados a se deslocar
essas culturas é evidenciado ainda nos versos finais do poe- continuamente para fugir da fome, da miséria e da morte.
ma: “me misturando, me sumindo, me acabando,/ para salvar
3. V; F; F; V
a minha alma benzida/e meu corpo pintado de urucu,/ tatuado
de cruzes, de corações, de mãos-ligadas,/de nomes de amor 4. O fragmento 1 evidencia o caráter intertextual da obra de Verissimo.
em todas as línguas de branco,/de mouro ou de pagão”. Ele se refere à propriedade de retomar, dialogar, absorver e transfor-
mar outros escritos para compor um novo texto.
24. A 26. B 28. C
5. A epígrafe é um pequeno texto localizado no início de um li-
25. B 27. D 29. B vro ou de um capítulo e serve de tema, resumo ou aponta o
30. a) 
O verso “Soltaram os pianos na planície deserta” surpreen- sentido da obra. O uso do trecho bíblico serve para situar o
de pela ocorrência de algo inesperado, insólito e fora da leitor do mote da narrativa. O mote é evidenciado no texto que
expectativa do leitor, que se depara com um cenário ilógico apresenta a passagem do tempo e a permanência das coisas.
onde pianos são lançados a um prado deserto como se se 6. O autor apresenta uma das faces do Nordeste, narrando o ápi-
tratasse de um rebanho de ovelhas. ce, a decadência e o fim dos engenhos de açúcar devido à
b) O termo “onde” poderia ser substituído por “em que” ou “na abolição da escravatura, ascensão das usinas e fracasso dos
qual” e o termo “pelo”, por “através do” ou “por meio do” sem herdeiros dos grandes senhores de engenho.
prejuízo para o sentido dos versos originais. 7. Não, pois, apesar de o espaço ser predominantemente o
Nordeste brasileiro, a ênfase na análise psicológica de seus
31. a) 
A expressão faz referência ao surrealismo. No poema, ocor-
personagens extrapola os limites do regionalismo, abordando
re a troca de elementos naturais por imagens sem sentido,
temas importantes para toda sociedade moderna.
como pianos que estão em uma planície para serem “pas-
toreados”. 8. A família precisa se deslocar para fugir da fome e da seca
iminentes.
b) Pode-se citar a retomada do bucolismo árcade ou neoclassi-
cista; a ruptura com a lógica, que remete à teoria psicanalítica 9. Fabiano e sua esposa são pessoas simples e sem educação
de Freud; e a utilização de versos sem rima e sem métrica. formal; por isso, os patrões se aproveitam dessa situação para
ludibriar a família, envolvendo-os em dívidas injustas. Essa estra-
32. E 35. B 38. A
tégia faz com que, em vez de receber por seu trabalho, o vaqueiro
33. A 36. D 39. E esteja sempre trabalhando para sanar sua suposta dívida.
34. B 37. C 40. C 10. Um dos recursos utilizados por Guimarães Rosa para singula-
rizar sua linguagem é o neologismo. Podemos observar esse
41. a) 
As imagens são marcadas por uma dimensão escatológi-
recurso na palavra “enigmava”, atribuindo sentido de “ação de
ca (“latrinas”, “fossas”, “fezes”), referindo-se a um mundo
quem cria enigmas”; na sequência de “fasmisgerado... faz-me-
em colapso, que marcha para seu próprio aniquilamento. A
-gerado... falmisgeraldo... familhasgerado”, podemos considerar
atmosfera presente no poema associa-se ao período que
o processo de composição, já que o autor propõe diferentes
antecede a Segunda Guerra Mundial.
formatos para a palavra “famigerado”.
b) Segundo os versos apresentados, o papel do poeta e da poe-
sia seria o de transformar a matéria putrefata do mundo em um Exercícios propostos
“poema puro”, ou seja, a matéria conflitiva do mundo deveria
ser purificada pelo poeta, caberia à sensibilidade lírica subli- 1. A 12. E
mar o “pus” em poesia. 2. A 13. A
3. A 14. E
BNCC em foco
4. D 15. A
1. O contexto político da Poesia de 1930 era a tensão da ditadura do
5. Soma: 01 + 04 + 08 = 13 16. A
Estado Novo, período em que órgãos institucionalizados foram
criados para censurar produções artísticas que fossem considera- 6. Soma: 08 + 16 = 24 17. B
das subversivas. Autores desse período eram alvo desses órgãos 7. A 18. A
e viam na literatura a ferramenta para a defesa da democracia. 8. Soma: 01 + 08 + 16 = 25 19. E
Mesmo atualmente, a democracia é um regime ainda muito frágil,
com pessoas ou grupos confundindo defesa de violência, práti- 9. C 20. D
cas racistas e extremistas com liberdade de expressão. 10. C 21. B
2. No poema, o anjo surge em seu nascimento e anuncia que ele 11. E 22. E
será gauche na vida. O anjo torto, que vive na sombra, representa 23. O trecho combina imagens contraditórias do país, fala sobre a
o mau agouro àquele que terá de lidar com o peso da existência. alegria da cidade, o sol, o cotidiano que parece uma festa in-
Na tirinha, a paródia é construída a partir do termo “torto” e refe- finita e a alegria do povo, mas faz o contraponto destacando
re-se ao problema na coluna do anjo que carrega livros no sebo. que Pedro Bala e o professor não têm dinheiro algum e estão
3. E vestidos de farrapo, ou seja, vivem na pobreza. A liberdade de

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que gozam vem da situação em que vivem, ou seja, nas ruas da b) Enquanto em O cortiço os personagens se revelam por ter um
cidade. Essa é a síntese do imaginário coletivo sobre o Brasil, um comportamento semelhante ao do animal nas suas atitudes
país de carnaval e alegria, mas cheio de pobreza. primárias e instintivas, descritas em linguagem objetiva e dis-
24. C 27. D 30. D tante, em Vidas secas, o autor demonstra consciência social
ao responsabilizar as condições adversas que se abatem so-
25. A 28. C 31. D bre eles, enfatizando, por meio da transcrição de monólogos,
o aspecto da precariedade da comunicação verbal que os iso-
26. E 29. C 32. A la do mundo ao redor.

Exercícios complementares 16. a) 


Em Vidas secas, o narrador designa os personagens de “vi-
ventes”, homens e animais em luta pela sobrevivência em
1. C 4. D 7. A 10. B uma terra árida que os iguala, por isso a linguagem quase não
2. E 5. D 8. B os diferencia. No trecho, assiste-se ao processo zoomórfico
do menino que assim se assemelha ao papagaio com seu
3. A 6. C 9. D vocabulário reduzido, gesticulando e pronunciando exclama-
11. a) 
No capítulo “Festa”, de Vidas secas, Fabiano e a família se en- ções para substituir as frases que não conseguia enunciar.
caminham para a cidade para participar dos festejos de Natal. Em uma inversão de papéis, Baleia é dotada de capacidade
No entanto, a festa, que deveria ser um momento de socializa- de entendimento, em um procedimento antropomórfico que
ção, serve apenas para que as personagens se deparem com permite o diálogo de um animal com um ser humano.
sua inaptidão social. b) Não, em Vidas secas, a linguagem é objetiva, clara e sintética,
b) O trecho apresenta descrições mais detalhadas do que no adequada ao ambiente árido em que se desenvolve a narra-
restante da obra. Isso se explica pela mudança de compor- tiva que reflete a realidade cruel dos retirantes nordestinos.
tamento das personagens que, nesse momento, são menos A capacidade do narrador em expressar o problema da co-
“bichos” e mais “gente”, uma vez que adotam comportamen- municação e a solidão advém, sobretudo, do uso do discurso
tos mais “civilizados”, como a preocupação com a forma de se indireto livre para transcrever pensamentos dos personagens,
vestir, a higiene, os cuidados pessoais. reveladores de emoções e sentimentos comuns a todo ser
humano e com os quais o leitor se solidariza.
12. a) 
Em Vidas secas, Graciliano Ramos pretende mostrar que
a secura climática é estendida aos mais diversos aspectos 17. A
da vida do sertanejo nordestino: as relações humanas são 18. D
secas, assim como as sociais, políticas e econômicas. Isso
19. E
posto, percebe-se que a seca não é apenas um problema cli-
mático, ela impede que o indivíduo seja capacitado a alterar 20. E
a própria vida, a ser protagonista do seu viver. 21. a) 
Sinhá Vitória sente-se incomodada com a comparação feita
b) No capítulo “Contas”, Fabiano presta contas ao dono da fa- por Fabiano, por este ridicularizar o seu jeito desengonçado
zenda a respeito da venda dos animais que criava, mas o de caminhar quando usava sapatos. O fato de ser comparada
resultado não coincide com o calculado por Sinhá Vitória; sem a um papagaio fere sua vaidade feminina, mas incomoda-a
conseguir argumentar ou se defender, o vaqueiro optou por também a lembrança do sacrifício do animal, a situação ex-
culpar a esposa, situação preferível a perder a parca situação trema a que se via obrigada para aliviar a fome da família.
em que vivia. Fabiano resignou-se em aceitar os cálculos de b) É irônico o fato de alguém tão sofredor e miserável ter o nome
seu patrão, permanecendo endividado. Trata-se de um mo- de Vitória. Como Baleia, cachorra magra que vive no Sertão,
mento de humilhação, em que o vaqueiro conclui que “quem o nome da personagem apresenta características contrárias à
é do chão não se trepa”. realidade em que vivem.
13. a) 
Os trechos do enunciado apresentam, entre outros, o ca- 22. B
leidoscópio de sentimentos e emoções de Fabiano e sua 23. V; F; V; V; F
família enquanto observam as festividades de Natal na ci-
24. Em Dom Casmurro, o narrador admite que as lembranças do
dade. Nos excertos, está presente o conflito de quem vive
passado podem não ser exatas ou fidedignas, pois o tempo do
em absoluta situação de precariedade e rudeza e estranha
enunciador e os fatos enunciados não são os mesmos, assim
o mundo dos mais afortunados que têm acesso ao “luxo” e
como a percepção das sensações vivenciadas no passado que
à abastança.
se altera com o passar da idade. Em Infância, o narrador adverte
b) No excerto, Sinha Vitória procura demarcar-se do meio que o leitor da sua incapacidade em relembrar fielmente o passado e
a cerca (“Se ficasse calada, seria como um pé de mandaca- confessa que usa a fantasia para recriar fatos que talvez não cor-
ru, secando, morrendo”), mas a pobreza e a falta de instrução respondam à realidade.
fazem com que a distância que a separa das outras pessoas
25. O autor vai construindo, por comparação, uma estratégia chama-
aumente cada dia mais.
da de animalização, relacionando o personagem com os animais.
14. a) 
O fragmento reflete o sofrimento e a falta de perspectiva das Isso fica evidente quando, na descrição do livro, o personagem
personagens, que levam uma vida de opressão e miséria em se confunde com o próprio cavalo, comunicando-se com ele por
meio a uma natureza marcada pela seca. uma linguagem encantada, gutural e monossilábica.
b) O foco narrativo é a terceira pessoa. O narrador é onisciente, 26. A 28. B
tendo conhecimento também dos pensamentos e sentimen- 27. C 29. D
tos das personagens. 30. A relação de Euclides da Cunha com o Sertão se dá por uma
15. a) 
Aluísio Azevedo (naturalista) usa termos científicos para perspectiva científica e filosófica norteada pelos estudos deter-
apresentar os personagens de O cortiço sob uma visão de- ministas e evolucionistas; por essa razão, o descritivismo acerca
terminista, realçando com objetividade a influência do meio da hostilidade do meio da Caatinga é primoroso na obra. Guima-
no comportamento do homem (“fermentação sanguínea”, ”na rães Rosa é autor de uma geração que se depara com algumas
lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir”). rupturas com a tradição literária. Nesse sentido, a inventividade
Graciliano Ramos (modernista) usa recursos como o discurso linguística é peça-chave na composição de suas narrativas, o que
indireto livre para retratar o mundo psicológico de Fabiano, leva o leitor a olhar para o Sertão sem os estereótipos do meio,
o que resulta em uma aproximação com o personagem por apesar de suas características serem bem marcadas pelas cren-
revelar suas inquietudes e seus conflitos. ças, religiosidade, cantigas, casos etc.

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31. a) 
A expressão “do Dito morto ainda no Dito vivo, ou do Dito
vivo mesmo no Dito morto” configura um quiasmo. O pri-
meiro segmento sugere que Dito, ainda vivo, era portador
de uma percepção acurada atribuída, por muitos, como uma
marca de distinção divina que em breve o chamaria para
si. O segundo, “do Dito vivo mesmo no Dito morto”, rela-
ciona-se com as lembranças dos ditos e pensamentos que
Miguilim ainda guarda como valiosos ensinamentos durante
sua fase de transição de criança para adulto.
b) A morte de Dito atinge Miguilim de forma intensa pela dor da
ausência de quem era também amigo e confidente e sempre
disposto a responder aos seus questionamentos de criança.
Com a morte do irmão, Miguilim é obrigado a procurar res-
postas em diálogo consigo mesmo, o que contribui para seu
amadurecimento e, consequente, emancipação.
32. F; V; V; V
33. a) 
Tanto o excerto de “Conversa de bois” como o de “Um boi
vê os homens” transcrevem reflexões dos animais sobre a
condição humana. No primeiro, o boi Dançador constata a
supremacia do Homem sobre os irracionais pelo fato de
ser provido de mãos. Já no segundo, as reflexões recaem
sobre a natureza íntima do ser humano, desprovida de atri-
butos essenciais que pudessem torná-lo mais sensível ao
mundo que o rodeia.
b) O conto de Rosa e o poema de Drummond valem-se da pro-
sopopeia ou personificação, figura de linguagem pela qual o
autor atribui características humanas a seres inanimados ou
a animais.

BNCC em foco
1. A conversa entre o Padre José Pedro e João de Adão descrita
pelo narrador evidencia uma crítica às relações de poder e o
desejo de manutenção do status quo por parte da população
rica. Também há uma crítica aos órgãos governamentais, que
são responsáveis pela organização da sociedade.
2. D
3. F; F; V; F

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Língua Portuguesa – Frente 2 – Capítulo 10

Revisando
1. Observe a capa do livro Pauliceia desvairada, de Pierrot apaixonado
Mário de Andrade e leia a canção de Noel Rosa, com-
Um pierrô apaixonado
posta em 1935, para responder à questão.
Que vivia só cantando
Por causa de uma colombina
Reprodução

Acabou chorando, acabou chorando

A colombina entrou num butiquim


Bebeu, bebeu, saiu assim, assim

Dizendo: pierrô cacete


Vai tomar sorvete com o arlequim

Um grande amor tem sempre um triste fim


Com o pierrô aconteceu assim
Levando esse grande chute
Foi tomar vermute com amendoim
Canção de Noel Rosa. Disponível em: https://www.letras.mus.br/
noel-rosa-musicas/125758/.

Explique como a imagem do Arlequim, cujas vesti-


mentas ilustram a capa de Pauliceia Desvairada, se
Capa do livro Pauliceia desvairada. associa à cidade de São Paulo.

Exercícios propostos

1. Enem Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera.


Nenhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da
O canto do guerreiro tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia
Aqui na floresta saber do Herói?
Dos ventos batida, Mário de Andrade.
Façanhas de bravos
Não geram escravos, Considerando-se a linguagem desses dois textos, ve-
Que estimem a vida rifica-se que
Sem guerra e lidar. a) a função da linguagem centrada no receptor está
— Ouvi-me, Guerreiros, ausente tanto no primeiro quanto no segundo texto.
— Ouvi meu cantar. b) a linguagem utilizada no primeiro texto é co-
loquial; enquanto, no segundo, predomina a
Valente na guerra, linguagem formal.
Quem há, como eu sou? c) há, em cada um dos textos, a utilização de pelo
Quem vibra o tacape menos uma palavra de origem indígena.
Com mais valentia? d) a função da linguagem, no primeiro texto, centra-
Quem golpes daria -se na forma de organização da linguagem; e, no
Fatais, como eu dou? segundo, no relato de informações reais.
— Guerreiros, ouvi-me; e) a função da linguagem centrada na primeira
— Quem há, como eu sou?
pessoa, predominante no segundo texto, está au-
Gonçalves Dias.
sente no primeiro.

Macunaíma 2. IFPE 2014


(Epílogo) Entenda o movimento literário que deu
Acabou-se a história e morreu a vitória.
origem a Macunaíma
Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na
tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em Macunaíma é uma obra que atravessa tempos e lu-
um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles gares, raças e linguagens, cruzando as fronteiras entre
campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, o culto e o popular. O livro faz uma síntese do povo
aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto... brasileiro que se mantém atual mesmo 80 anos depois

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 1


de seu lançamento. De acordo com Noemi Jaffe, autora mundo. Entende-se: o dado, aquilo que é constituído
do título “Folha Explica – Macunaíma”, da Publifolha, o pelo passado natural e cultural, é, no Brasil, tomado
caráter atual da obra se mantém por tratar de temas que principalmente como o tempo do subdesenvolvimen-
ainda fazem parte do Brasil. “O nosso país ainda apre- to, da dependência cultural, política e econômica, da
senta os mesmos problemas retratados em Macunaíma: escravatura. É da reação contra essa situação que surge
é economicamente dependente, desigual e apresenta a tendência construtiva de quase toda a nossa melhor
dificuldades de reconhecimento da identidade.” arte. Nesse processo, não é o Brasil do passado que
A obra Macunaíma, de Mário de Andrade, foi es- determina o Brasil moderno. Ao contrário: é o Brasil
crita em 1927 e publicada em 1928. O livro pertence moderno que reinventa o Brasil do passado. [...] Para o
ao Modernismo, movimento literário que teve seu ápice artista brasileiro, pensar sobre o Brasil – pensar o Brasil –
em 1922, com a Semana de Arte Moderna, que teve não pode deixar de ser reinventá-lo. E creio que gran-
Mário de Andrade como um de seus mentores. “Seis anos de parte dos artistas modernos, os vários modernismos
depois, em 1928, ano em que Macunaíma foi lançado, desde 22, o concretismo, o neoconcretismo, a bossa
o Modernismo já era um movimento literário mais con- nova, o tropicalismo e os artistas contemporâneos sem-
solidado; com nome, número, identidade e ideologia”, pre se encontraram nessa mesma situação ante a tarefa
afirma Noemi Jaffe. da inventio Brasilis: da descoberta-invenção do Brasil.
Em 1928, de acordo com Oscar Pilagallo, autor da CICERO, Antonio. “O construtivismo brasileiro”. Folha de S. Paulo,
série “Folha Explica – História” e outros livros da Publifo- São Paulo, 27 nov. 2010. Ilustrada, p. E 12.

lha, “o modernismo entrava em outra fase, marcado pelo Texto 2


Manifesto antropófago de Oswald de Andrade, publicado
em maio daquele ano, e pelo lançamento de Macunaíma, Tua orla Bahia
de Mário de Andrade. Foram duas vertentes importantes, No benefício destas águas profundas
ambas marcadas pelo nacionalismo. O folclorismo de E o mato encrespado do Brasil
Mário e a irreverência de Oswald”. Uma jangada leva os teus homens morenos
Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Publicado em 2008. De chapéu de palha
Acesso em: 25 ago. 2013.
Pelos campos de batalha
Conforme retrata o texto, Macunaíma é uma obra de Da renascença
grande importância para a literatura nacional, não só
por retratar questões relativas à identidade brasileira, Este mesmo mar azul
como também por ser um marco no Modernismo. A Feito para as descidas
respeito da primeira fase desse movimento estético Dos hidroplanos de meu século
no Brasil, é correto afirmar que: Frequentado rendez-vous
a) teve oficialmente seu início com a Semana de Arte De Holandeses de Condes e de Padres
Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Que Amaralina atualiza
Paulo, a qual foi centrada na arte literária, em detri- Poste das saudades transatlânticas
mento das outras artes. Riscando o ocre fotográfico
b) propôs uma nova concepção da linguagem Entre Itapoã e o farol tropical
artística, voltando-se para a linguagem verdadei-
ramente brasileira, embora não tenha retratado a
A bandeira nacional agita-se sobre o Brasil
oralidade.
A cidade alteia cúpulas
c) visando à focalização da linguagem e do perfil
Torres coqueiros
popular, os autores desse momento priorizaram
Árvores transbordando em mangas-rosas
o texto em prosa, a exemplo do que fez Mário de
Até os navios ancorados
Andrade, em Macunaíma.
d) o nacionalismo do Primeiro Momento Modernista
se consagrou no trabalho com a linguagem, mas Forte de São Marcelo
não quanto ao conteúdo. Por conta disso, a obra Panela de pedra da história colonial
Macunaíma se constitui uma exceção. Cozinhando palmas
e) além da adoção de um perfil nacionalista, essa E as tuas ruas entreposto do Mundo
fase teve características como descontração, E os teus sertanejos asfaltados
ironia, irreverência e subversão de regras grama- E o teu ano de igrejas diferentes
ticais, o que ocorreu na poesia e na prosa. Com um grande dia santo
ANDRADE, Oswald de. “Versos baianos”. Cadernos de poesia do aluno
3. Uesc-BA Oswald: poesias reunidas. São Paulo: Círculo do Livro, s.d. p. 145-146.

Texto 1 Explique como se processa, no poema de Oswald de


O artista brasileiro moderno tende a desconfiar do Andrade (modernista de 22), a reinvenção do Brasil
dado imediato, isto é, do lugar da natureza, da cul- comentada no texto 1. Documente sua resposta com
tura, da história em que os outros querem situá-lo no versos do texto 2.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 2


4. Unicamp-SP 2016 a) Trata-se da ascensão de um moderno mundo
urbano, onde coexistiam harmonicamente dife-
Rua da Liberdade – São Paulo-SP – 1937 rentes temporalidades, funções urbanas, sistemas
técnicos e formas de trabalho, viabilizando-se,
desse modo, a coesão entre o espaço da cidade
e o tecido social.
b) Trata-se de um espaço agrário e acomodado,
num período em que a urbanização não tinha se
estabelecido, mas que abrigava em seu interstício
alguns vetores da modernização industrial.
c) Trata-se de um espaço onde coexistiam distintas
temporalidades: uma atrelada ao ritmo lento de
um passado agrário e, outra, atrelada ao ritmo
acelerado que caracteriza a modernidade urbana.
d) Trata-se de uma paisagem urbana e uma divisão
do trabalho típicas do período colonial, pois a me-
tropolização é um processo desencadeado a partir
da segunda metade do século XX.

5. UFRGS 2020 Um tema em Quarto de despejo é en-


contrado também no poema “O bicho”, de Manuel
Bandeira, transcrito a seguir.

O bicho
Vi ontem um bicho
(Disponível em: www.ims.com.br/ims/artista/colecao/claude-levi-strauss/ Na imundície do pátio
obra/1995.) Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Pobre alimária Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O cavalo e a carroça
O bicho não era um cão,
Estavam atravancados no trilho
Não era um gato,
E como o motorneiro se impacientasse Não era um rato.
Porque levava os advogados para os escritórios O bicho, meu Deus, era um homem.
Desatravancaram o veículo
E o animal disparou Assinale a alternativa que identifica esse tema recor-
Mas o lesto carroceiro rente nas duas obras.
Trepou na boleia a) A revolta e a indignação daqueles que sofrem a
E castigou o fugitivo atrelado miséria e a marginalização social.
Com um grandioso chicote b) O problema da fome, que avilta a dignidade humana.
(Oswald de Andrade. Pau-Brasil. São Paulo: Globo, 2003. p. 159.)
c) A aceitação da pobreza, que se tornou uma con-
dição inerente às sociedades modernas.
A imagem e o poema revelam a dinâmica do espaço d) A esperança como forma de enfrentar o sofrimen-
na cidade de São Paulo na primeira metade do sécu- to da fome e de garantir a sobrevivência.
lo XX. Qual alternativa a seguir formula corretamente e) O ato de escrever funciona como modo de driblar
essa dinâmica? a fome.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 3


Exercícios complementares

1. Ulbra-RS A obra Macunaíma, de Mário de Andrade, 4. ESPM-SP 2016 O ensaísta Roberto Schwarz alude ao
é composta de lendas variadas, com um vasto reper- fato de haver no país um descompasso ideológico,
tório de mitos e fábulas, que se mesclam tanto pela isto é, o desconcerto de uma sociedade escravista,
realidade, como pelo fantástico. Macunaíma subverte mais as ideias importadas do liberalismo europeu. De
a estrutura da narrativa, transgredindo os princípios onde a sensação de que, no Brasil, as ideias estão
de Aristóteles no que se refere às regras da veros- deslocadas em relação ao seu uso europeu: há um
similhança. Sob essa perspectiva e sobre a obra desacordo entre a situação local e o molde importado.
referida, assinale a alternativa correta. As ‘nossas’ coisas, assim, não seriam nossas.
a) Mário de Andrade procura, em Macunaíma, mos- Dos itens a seguir, o exemplo literário que reflete o
trar a colonização portuguesa e sua cultura diversa. espírito do tema anteriormente exposto é:
b) A máxima “herói sem nenhum caráter”, atribuída a) “Alguém há de cuidar que é frase inchada/Daquela
à rapsódia de Mário de Andrade, significa que a que lá se usa entre essa gente” (Cláudio Manuel
personagem protagonista possui caráter destemi- da Costa)
do e empreendedor. b) “Invejo o ourives quando escrevo;/Imito o amor/
c) Mário de Andrade apresenta um texto rico em Com que ele, em ouro, o alto-relevo/Faz de uma
linguagem formal mesclada ao coloquialismo, às flor.” (Olavo Bilac)
gírias, provérbios populares e frases-feitas com a c) “Minha terra tem primores,/Que tais não encontro
intenção de aproveitar e valorizar a variedade lin- eu cá;/Em cismar – sozinho à noite –/Mais prazer
guística brasileira. encontro eu lá;” (Gonçalves Dias)
d) “A praça! A praça é do povo/Como o céu é do con-
d) Macunaíma valoriza o espírito indígena assim como
dor,” (Castro Alves)
o comportamento colonialista dos portugueses.
e) “Tupi or not tupi, that is the question” (Oswald de
e) Macunaíma retrata a longa trajetória espacial do
Andrade)
herói que começa na cidade e termina na selva.
5. PUC-Campinas 2017 Na América Latina do século XX,
2. Enem 2016
em incontáveis momentos, a criação artística articu-
O bonde abre a viagem, Companheiro vou. lou-se com utopias ou perspectivas de transformação
No banco ninguém, O bonde está cheio, social. Em diferentes contextos, artistas usaram sua pro-
Estou só, stou sem. De novo porém dução para corroborar determinados projetos políticos
Depois sobe um homem, Não sou mais ninguém.
ou consentiram que suas criações fossem apropriadas
No banco sentou,
e sustentadas por movimentos políticos, dentro ou fora
ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Vila Rica, 1993.
do Estado.
O desenvolvimento das grandes cidades e a conse- PRADO, Maria Ligia; PELLEGRINO, Gabriela. História da
América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. p. 187-8.
quente concentração populacional nos centros urbanos
geraram mudanças importantes no comportamento O Modernismo de 22 compreendeu aspirações utópi-
dos indivíduos em sociedade. No poema de Mário de cas não apenas ligadas ao desempenho artístico, mas
Andrade, publicado na década de 1940, a vida na me- também a ideais que poderiam nortear o futuro do
trópole aparece representada pela contraposição entre país. Parte dessas aspirações utópicas, vazadas em
a) a solidão e a multidão. tom crítico e irônico, encontra-se
b) a carência e a satisfação. a) no prefácio “Lede”, de Gonçalves de Magalhães.
c) a mobilidade e a lentidão. b) na “binomia” poética com que se definiu Álvares
d) a amizade e a indiferença. de Azevedo.
e) a mudança e a estagnação. c) no capítulo edificante e final de Os sertões, de
Euclides da Cunha.
3. IFPE 2020 O Modernismo brasileiro costuma ser divi-
d) na novela A hora e vez de Augusto Matraga, de
dido em três fases: a Geração de 22, a de 30 e a de 45.
Guimarães Rosa.
Essas Gerações têm como um de seus representantes,
e) no polêmico “manifesto da poesia Pau-Brasil”, de
respectivamente,
Oswald de Andrade.
a) Mário de Andrade, Aluísio de Azevedo e Euclides
da Cunha. 6. IFPE 2016
b) Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade
e Vinícius de Moraes. Cartas de meu avô
c) José de Alencar, Machado de Assis e João Cabral Manuel Bandeira
de Melo Neto. A tarde cai, por demais
d) Oswald de Andrade, Cecília Meireles e Guimarães Erma, úmida e silente…
Rosa. A chuva, em gotas glaciais,
e) Vinícius de Moraes, Ariano Suassuna e Olavo Bilac. Chora monotonamente.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 4


E enquanto anoitece, vou Acalentei em meu delírio ardente
Lendo, sossegado e só, Por essas doces noites de desvelo!
As cartas que meu avô Ser amado por ti, o teu alento
Escrevia a minha avó. A bafejar-me a abrasadora frente!
Enternecido sorrio Em teus olhos mirar meu pensamento,
Do fervor desses carinhos: Sentir em mim tu’alma, ter só vida
É que os conheci velhinhos, P’ra tão puro e celeste sentimento
Quando o fogo era já frio. Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Cartas de antes do noivado… Juntos, juntos perderem-se no oceano,
Cartas de amor que começa, Beijar teus lábios em delírio insano
Inquieto, maravilhado, Nossas almas unidas, nosso alento,
E sem saber o que peça. Confundido também, amante, amado
Temendo a cada momento Como um anjo feliz... que pensamento!?
Ofendê-la, desgostá-la, Disponível em: https://pensador.uol.com.br/frase/ NTU2MTQw/.
Acesso em: 07 nov. 2016.
Quer ler em seu pensamento
E balbucia, não fala… Texto 3

A mão pálida tremia Livre


Contando o seu grande bem. Cruz e Sousa
Mas, como o dele, batia Livre! Ser livre da matéria escrava,
Dela o coração também. arrancar os grilhões que nos flagelam
A partir da leitura do poema “Cartas de meu avô”, do e livre penetrar nos Dons que selam
poeta pernambucano Manuel Bandeira, um dos principais a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.
nomes do Modernismo brasileiro, podemos dizer que Livre da humana, da terrestre bava
a) no último verso da primeira estrofe, há uma pro- dos corações daninhos que regelam,
sopopeia ou personificação. quando os nossos sentidos se rebelam
b) a expressão “erma, úmida e silente”, no segundo contra a Infâmia bifronte que deprava.
verso, está se referindo à chuva.
c) a palavra “enternecido”, no início da terceira es- Livre! bem livre para andar mais puro,
trofe, tem como sinônimo “quente”. mais junto à Natureza e mais seguro
d) o sujeito de “balbucia”, último verso da penúltima do seu Amor, de todas as justiças.
estrofe, é a palavra “pensamento”. Livre! para sentir a Natureza,
e) em “quando o fogo era já frio”, no final da terceira para gozar, na universal Grandeza,
estrofe, ocorre uma antonomásia. Fecundas e arcangélicas preguiças.
Disponível em: http:/www.poesiaspoemaseversos.com.br/
7. UCPel-RS 2017 cruz-e-sousa-poemas/. Acesso em: 07 nov. 2016.
Texto 1
Sobre o(s) texto(s) é correto afirmar que:
O Último Poema a) O texto 3 demonstra a temática presente nas poe-
Manuel Bandeira sias românticas da segunda geração, ou seja, o
Assim eu quereria o meu último poema. desejo pela liberdade.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos
b) O texto 2 é um soneto que representa o valor mé-
[intencionais
trico atribuído ao parnasianismo.
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume c) Os textos 1 e 3 demonstram a liberdade re-
A pureza da chama em que se consomem os diamantes presentada ora na escrita e ora no tema, algo
[mais límpidos representativo para o romantismo.
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação. d) O texto 2 demonstra a preocupação do eu-lírico
Disponível em: http://www.releituras.com/mbandeira_ultimo.asp. com a questão da efemeridade da vida e a busca
Acesso em: 07 nov. 2016.
pelo prazer, algo representativo na primeira gera-
Texto 2 ção do romantismo.
Amar e ser amado e) O texto 1 demonstra a liberdade de expressão
Castro Alves e criação poética, sem preocupação com a lin-
Amar e ser amado! Com que anelo guagem, característica presente nas produções
Com quanto ardor este adorado sonho literárias do modernismo.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 5


Língua Portuguesa – Frente 2 – Capítulo 11

Revisando

Texto para as questões 1 e 2. a) bucólico. d) saudosista.


b) popular. e) familiar.
Revelação do subúrbio
c) interiorano.
Quando vou para Minas, gosto de ficar de pé, contra
[a vidraça do carro*, 2. Fuvest-SP 2014 Segundo o crítico e historiador da
vendo o subúrbio passar. literatura Antonio Candido de Mello e Souza, justa-
O subúrbio todo se condensa para ser visto depressa, mente na década que presumivelmente corresponde
com medo de não repararmos suficientemente ao período de elaboração do livro a que pertence o
poema, o modo de se conceber o Brasil havia sofrido
em suas luzes que mal têm tempo de brilhar.
“alteração marcada de perspectivas”. A leitura do poe-
A noite come o subúrbio e logo o devolve,
ma de Drummond permite concluir corretamente que,
ele reage, luta, se esforça,
nele, o Brasil não mais era visto como país
até que vem o campo onde pela manhã repontam laranjais
a) agrícola (fornecedor de matéria-prima), mas como
e à noite só existe a tristeza do Brasil.
industrial (produtor de manufaturados).
Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo, 1940.
b) arcaico (retardatário social e economicamente)
mas, sim, percebido como moderno (equiparado
*carro: vagão ferroviário para passageiros.
aos países mais avançados).
c) provinciano (caipira, localista) mas, sim, cosmopo-
1. Fuvest-SP 2014 Em consonância com uma das linhas lita (aberto aos intercâmbios globais).
temáticas principais de Sentimento do mundo, o vivo d) novo (em potência, por realizar-se), mas como
interesse que, no poema, o eu lírico manifesta pela subdesenvolvido (marcado por pobreza e atrofia).
paisagem contemplada prende-se, sobretudo, ao fato e) rural (sobretudo camponês), mas como suburbano
de o subúrbio ser (ainda desprovido de processos de urbanização).

Exercícios propostos

1. Insper-SP Utilize os textos a seguir para responder Poema de Sete Faces


ao teste. Quando nasci um anjo torto
desses que vive na sombra
disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.

As casas espiam os homens


Que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul
Não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:


Pernas brancas pretas amarelas.
Para que
tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos


não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste


se sabias que eu não era Deus
(www.custodio.net) se sabias que eu era fraco.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 6


Mundo mundo vasto mundo, c) aponta a insuficiência da poesia para solucionar
se eu me chamasse Raimundo os problemas da vida.
seria uma rima, não seria uma solução. d) adota tom melancólico para evidenciar a deses-
Mundo mundo vasto mundo, perança com a vida.
mais vasto é meu coração. e) invoca a tristeza da vida para potencializar a inefi-
cácia da rima.
Eu não devia te dizer
mas essa lua 3. UFSM-RS 2013 Observe as seguintes estrofes do
mas esse conhaque poema “Coração numeroso”, de Carlos Drummond de
botam a gente comovido como o diabo. Andrade:
(Carlos Drummond de Andrade)
Mas tremia na cidade uma fascinação casas compridas
autos abertos correndo caminho do mar
gauche: A palavra francesa (pronuncia-se “gôche”) era
voluptuosidade errante do calor
uma gíria usada por jovens da classe média urbana
para rotular indivíduos tidos como arredios, esquisitos, mil presentes da vida aos homens indiferentes,
inadaptados. que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis choraram.

O mar batia em meu peito, já não batia no cais.


A respeito do jogo intertextual estabelecido entre a A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu
tirinha e o poema, considere estas afirmações: a cidade sou eu
I. Os três primeiros quadrinhos ilustram o conteúdo sou eu a cidade
expresso nos versos da segunda estrofe do poe- meu amor.
ma de Drummond.
II. Como a tirinha faz uma citação do poema, é pos- Nos versos citados, a relação entre o eu lírico e o
sível caracterizá-la como pertencente ao mesmo seu entorno é estreita – o que é confirmado pelas
gênero do texto de Drummond. expressões sublinhadas. A partir de tais observações,
III. O silêncio da personagem, presente no último pode-se afirmar que a aproximação estabelecida en-
quadrinho da tira, ilustra o conteúdo expresso na tre o sujeito e a cidade conota
última estrofe do poema. a) a comoção do sujeito poético, cuja sensibilidade
Está(ão) correta(s): é despertada pela vitalidade que movimenta a
a) Apenas I. d) Apenas III. urbe.
b) Apenas II. e) Apenas I e III. b) a desumanização do sujeito poético, cujo cotidia-
c) Apenas I e II. no frenético repete o ritmo do espaço urbano.
c) a soberba do eu lírico, que se supõe tão grandio-
2. Enem PPL
so e fascinante quanto a cidade.
Texto I d) a degradação do sujeito lírico que, assim como a
cidade, está “doente” por não receber a atenção
Poema de sete faces das pessoas.
Mundo mundo vasto mundo, e) a apatia do eu lírico que, assim como a cidade,
Se eu me chamasse Raimundo segue o seu rumo, imune ao caos urbano.
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo, 4. Uece 2014
mais vasto é meu coração.
ANDRADE, C. D. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2001
Portão
(fragmento). O portão fica bocejando, aberto
Texto II para os alunos retardatários.
Não há pressa em viver
CDA (imitado) nem nas ladeiras duras de subir,
Ó vida, triste vida! 5 quanto mais para estudar a insípida cartilha.
Se eu me chamasse Aparecida Mas se o pai do menino é da oposição,
dava na mesma. à ilustríssima autoridade municipal,
FONTELA, O. Poesia reunida. São Paulo: Cosac Naify; prima por sua vez da sacratíssima
Rio de Janeiro: 7Letras, 2006. autoridade nacional,
Orides Fontela intitula seu poema CDA, sigla de Carlos 10 ah, isso não: o vagabundo
Drummond de Andrade, e entre parênteses indica “imi- ficará mofando lá fora
tado” porque, como nos versos de Drummond, e leva no boletim uma galáxia de zeros.
a) apresenta o receio de colocar os dramas pessoais A gente aprende muito no portão
no mundo vasto. fechado.
b) expõe o egocentrismo de sentir o coração maior ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Carlos Drummond de Andrade:
que o mundo. Poesia e Prosa. Editora Nova Aguilar: 1988. p. 506-507.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 7


Atente ao que é dito sobre o vocábulo “insípida” (linha 5). A sucessão “6 horas, 6a feira, 60 anos”, no poema
I. Foi empregado na acepção de sem graça, desin- de Quintana, indica a finitude: fim do dia útil, fim da
teressante, monótono. semana útil, consequentemente, fim da vida útil.
II. Foi empregado no seu sentido literal, não figurado. Os dois poemas, embora os sujeitos líricos sejam
III. A mudança da posição desse adjetivo para de- uma mulher e um homem, encerram com um tom
pois do substantivo não alteraria o significado do melancólico, porque a realidade não correspon-
substantivo. de às suas expectativas.
Está correto o que se afirma somente em a) V – V – V – V.
a) I e II. b) V – F – F – V.
b) III. c) V – V – F – F.
c) I e III. d) F – F – V – F.
d) II. e) F – V – V – F.
5. UFRGS 2016 Leia o poema de Cecília Meireles, abai- 6. Enem 2017
xo, e o de Mario Quintana, na sequência. Da humana condição
Canção excêntrica Custa o rico entrar no céu
(Afirma o povo e não erra).
Ando à procura de espaço
Porém muito mais difícil
Para o desenho da vida
É um pobre ficar na terra.
Em números me embaraço
QUINTANA, M. Melhores poemas. São Paulo: Global, 2003.
E perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída, Mário Quintana ficou conhecido por seus “quintana-
Em vez de abrir um compasso, res”, nome que o poeta Manuel Bandeira deu a esses
projeto-me num abraço quartetos com pequenas observações sobre a vida.
e gero uma despedida. Nessa perspectiva, os versos do poema Da humana
condição ressaltam
Se volto sobre o meu passo, a) a desvalorização da cultura popular.
É já distância perdida. b) a falta de sentido da existência humana.
c) a irreverência diante das crenças do povo.
Meu coração, coisa de aço, d) uma visão irônica das diferenças de classe.
começa a achar um cansaço e) um olhar objetivo sobre as diferenças sociais.
esta procura de espaço 7. Leia o texto seguinte.
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida Borba Gato e as disputas pelas identidades e
não me animo a um breve traço: memórias do país
– saudosa do que não faço, Era sábado, dia 24 de julho de 2021, quando um gru-
– do que faço, arrependida. po de jovens vestidos de preto chegou em um caminhão e
Seiscentos e sessenta e seis começaram a jogar pneus, derramar líquido inflamável em
uma estátua que fica no bairro de Santo Amaro, zona sul
A vida é uns deveres que nós trouxemos para
de São Paulo, e atearam fogo. Imediatamente, os meios de
[fazer em casa. comunicação noticiaram que a estátua de Borba Gato ha-
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo... via sido incendiada. A autoria do ato foi reivindicada pelo
Quando se vê, já é 6a feira... grupo Revolução Periférica, que postou imagens da ação
Quando se vê, passaram 60 anos... nas redes sociais. Nessas mesmas redes sociais emergiu um
Agora, é tarde demais para ser reprovado... debate intenso sobre a legitimidade da ação. Alguns eram
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade, contra e outros a favor. Esse não é um fato isolado no Brasil,
Eu nem olhava o relógio muito menos no mundo, sobretudo no que diz respeito a
Seguia sempre, sempre em frente... ligação destes monumentos com a escravidão moderna.
E iria jogando pelo caminho a casca dourada No ano de 2015, na África do Sul, estudantes da
[e inútil das horas. Universidade da Cidade do Cabo removeram a estátua
do imperialista britânico Cecil Rhodes. Segundo os estu-
Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes dantes, o monumento significava a presença do racismo
afirmações sobre os poemas. imperando na instituição e no país. Em 2017, na cidade
O poema de Cecília Meireles apresenta vocabu- Charlottesville, Virginia, Estados Unidos, houve protestos
lário ligado à geometria e regularidade estrutural e confrontos contra a retirada da estátua do general con-
e métrica, apontando para a necessidade de o federado Robert E. Lee. Ainda no Estados Unidos, durante
sujeito lírico definir sua vida com exatidão. as manifestações contra o assassinato de George Floyd,
O poema de Mario Quintana busca a definição da as ações a favor da retirada dos monumentos que tinham
vida, a partir da metáfora com o universo escolar ligação com o passado escravista do país se intensificaram
e a passagem do tempo. e reverberaram pelo mundo.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 8


[...] no bangüê dum meu avô
Todos esses fatos têm algo em comum: a disputa em uma negra bonitinha,
torno da memória, ou seja, como os fatos devem ser lem- chamada negra Fulô.
brados no presente que os rememora. Falar em memória é
Essa negra Fulô!
também falar em pertencimento e constituição de identi-
Essa negra Fulô!
dades. O sociológico e historiador Michael Pollak afirma
que a memória, principalmente a memória coletiva, tem Ó Fulô! Ó Fulô!
como função estabelecer espaços de pertencimento ao (Era a fala da Sinhá)
mesmo tempo que traça limites para esse pertencimento. — Vai forrar a minha cama,
RIBEIRO, Deivide Júlio. Borba Gato e as disputas pelas identidades e pentear os meus cabelos,
memórias do país. Disponível em: https://cjt.ufmg.br/2021/08/04/borba- vem ajudar a tirar
gato-e-as-disputas-pela-identidades-e-memorias-do-pais/.
Acesso em: 19 jan. 2024.
a minha roupa, Fulô!

A partir da leitura do texto, é possível afirmar que Essa negra Fulô!


Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, tam- Essa negrinha Fulô
bém recorre à ressignificação da memória do país, pois ficou logo pra mucama,
a) recrimina o movimento da Conjuração Mineira do pra vigiar a Sinhá
pra engomar pro Sinhô!
século XVIII.
b) acusa poetas árcades de macularem a poesia Essa negra Fulô!
com política. Essa negra Fulô!
c) adota a perspectiva daqueles que foram conside-
Ó Fulô! Ó Fulô!
rados traidores.
d) defende a posição da metrópole portuguesa (Era a fala da Sinhá)
diante da insurreição. vem me ajudar, ó Fulô,
e) condena os inconfidentes infiéis a partir de uma vem abanar o meu corpo
visão eurocêntrica. que eu estou suada, Fulô!

8. UPE 2015 vem coçar minha coceira,


vem me catar cafuné,
Irene no Céu vem balançar minha rede,
Irene preta vem me contar uma história,
Irene boa que eu estou com sono, Fulô!
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu: Essa negra Fulô!
— Licença meu branco!
“Era um dia uma princesa
E São Pedro bonachão:
que vivia num castelo
— Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
que possuía um vestido
(Manuel Bandeira)
com os peixinhos do mar.
Negra Entrou na perna dum pato
A negra para tudo saiu na perna dum pinto
a negra para todos o Rei-Sinhô me mandou
a negra para capinar plantar que vos contasse mais cinco.”
regar
colher carregar empilhar no paiol Essa negra Fulô!
ensacar Essa negra Fulô!
lavar passar remendar costurar Ó Fulô? Ó Fulô?
cozinhar rachar lenha Vai botar para dormir
limpar a bunda dos nhozinhos esses meninos, Fulô!
trepar. “Minha mãe me penteou
A negra para tudo minha madrasta me enterrou
nada que não seja tudo tudo tudo pelos figos da figueira
até o minuto de que o Sabiá beliscou.”
(único trabalho para seu proveito
Essa negra Fulô!
exclusivo)
Essa negra Fulô!
morrer.
(Carlos Drummond de Andrade) Ó Fulô? Ó Fulô?
(Era a fala da Sinhá
Essa Negra Fulô Chamando a negra Fulô.)
Ora, se deu que chegou Cadê meu frasco de cheiro
(isso já faz muito tempo) Que teu Sinhô me mandou?

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 9


— Ah! Foi você que roubou! todos eles trabalhadores dos engenhos de açú-
Ah! Foi você que roubou! car de Minas Gerais, Alagoas e Pernambuco,
O Sinhô foi ver a negra estados onde respectivamente nasceram esses
levar couro do feitor. poetas.
A negra tirou a roupa. Os três poemas apresentam vocabulários dife-
renciados, mas, em todos, a imagem da negra
O Sinhô disse: Fulô!
tem o beneplácito dos autores. Bandeira enxer-
(A vista se escureceu
ga Irene sem pecado, Jorge de Lima explora a
que nem a negra Fulô.)
sensualidade da Negra Fulô e Drummond critica
Essa negra Fulô! o tratamento dado à escrava.
Essa negra Fulô! Os três poemas são lírico-amorosos, defendem a
postura da mulher. Além de serem estruturados
Ó Fulô! Ó Fulô!
em redondilhas maior e menor, apresentam rimas
Cadê meu lenço de rendas,
cruzadas e interpoladas. Trata-se, portanto, de
Cadê meu cinto, meu broche,
textos em que a preocupação formal se revela
Cadê o meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou? mais importante que o conteúdo.
Assinale a alternativa que contém a sequência
Ah! foi você que roubou. CORRETA.
Ah! foi você que roubou. a) V – V – F – F – F d) V – V – F – V – V
Essa negra Fulô! b) F – F – F – F – V e) F – F – F – V – F
Essa negra Fulô! c) V – F – V – F – V

O Sinhô foi açoitar 9. UPE 2015


sozinho a negra Fulô. Texto 1
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção, Mapa de anatomia: O Olho
de dentro pulou
O Olho é uma espécie de globo,
nuinha a negra Fulô.
é um pequeno planeta
Essa negra Fulô! com pinturas do lado de fora.
Essa negra Fulô! Muitas pinturas:
azuis, verdes, amarelas.
Ó Fulô! Ó Fulô! É um globo brilhante:
Cadê, cadê teu Sinhô parece cristal,
que Nosso Senhor me mandou?
é como um aquário com plantas
Ah! Foi você que roubou,
finamente desenhadas: algas, sargaços,
foi você, negra fulô?
miniaturas marinhas, areias, rochas,
Essa negra Fulô!
(Jorge de Lima)
naufrágios e peixes de ouro.

Observe os três poemas que, apesar de autores diferen- Mas por dentro há outras pinturas,
tes, apresentam alguns pontos em comum. Sobre eles, que não se veem:
coloque V nas afirmativas verdadeiras e F nas falsas. umas são imagens do mundo,
Em Essa Negra Fulô e em Negra, o eu poético outras são inventadas.
revela ser herdeiro de preconceito, pois o ter-
mo negra é, no contexto dos dois poemas, uma O Olho é um teatro por dentro.
palavra que demonstra uma condição de inferio- E às vezes, sejam atores, sejam cenas,
ridade reveladora de uma atitude racista, própria
e às vezes, sejam imagens, sejam ausências,
daqueles que admitem ter sido necessária a es-
formam, no Olho, lágrimas.
cravidão para o progresso.
(Cecília Meireles)
 Manuel Bandeira, diferentemente de Jorge de
Lima e Carlos Drummond de Andrade, critica, com Texto 2
veemência, em Irene no céu, o comportamento
dos antigos senhores de escravos, quando de-
A um ausente
monstra a atenção e o carinho de São Pedro, Tenho razão de sentir saudade,
permitindo que Irene entre no céu, ao dizer: “Entra, tenho razão de te acusar.
Irene. Você não precisa pedir licença”. Houve um pacto implícito que rompeste
Carlos Drummond de Andrade, Jorge de Lima e sem te despedires foste embora.
e Manuel Bandeira criaram três poemas narrati- Detonaste o pacto.
vos em que se relata a história de três escravos, Detonaste a vida geral, a comum aquiescência

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 10


de viver e explorar os rumos de obscuridade Tenho razão para sentir saudade de ti,
sem prazo sem consulta sem provocação de nossa convivência em falas camaradas,
até o limite das folhas caídas na hora de cair. simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
Antecipaste a hora. que eram sempre certeza e segurança.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas. Sim, tenho saudades.
Que poderias ter feito de mais grave Sim, acuso-te porque fizeste
do que o ato sem continuação, o ato em si, o não previsto nas leis da amizade e da natureza
o ato que não ousamos nem sabemos ousar nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque depois dele não há nada? porque o fizeste, porque te foste.
(Carlos Drummond de Andrade)

Texto 3

Ausência
Eu deixarei que morra em mim o desejo Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu
de amar os teus olhos que são doces. desabrocharás para a madrugada.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
Me veres eternamente exausto porque eu fui o grande íntimo da noite.
No entanto a tua presença é qualquer Porque eu encostei minha face na face da noite
coisa como a luz e a vida e ouvi a tua fala amorosa.
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e Porque meus dedos enlaçaram os dedos da
em minha voz a tua voz. névoa suspensos no espaço.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria E eu trouxe até mim a misteriosa essência do
terminado. teu abandono desordenado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos Eu ficarei só como os veleiros nos pontos
desesperados silenciosos.
Para que eu possa levar uma gota de orvalho Mas eu te possuirei como ninguém porque
nesta terra amaldiçoada. poderei partir.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do E todas as lamentações do mar, do vento, do
passado. céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em tua voz serenizada.
outra face.
(Vinícius de Moraes)

Após a leitura dos poemas, analise as proposições a seguir.


I. O Texto 1 é um poema, cujo eu lírico trata das ausências, recorrendo aos sentidos, e fala de seus sentimentos,
valendo-se da forma e da cor que as imagens poéticas sugerem.
II. Os três poemas falam de ausência ou de saudade na mesma proporção, como também de relações amorosas
frustradas.
III. No Texto 2, o eu lírico questiona a ausência de quem partiu, sem sequer anunciar sua partida. Percebe-se que a
morte foi o motivo da ausência da amizade sugerida pelas imagens poéticas.
IV. Vinicius de Moraes é dono de um lirismo de caráter confidencial, com uma visão familiar do mundo; é um poeta
singular. No Texto 3, percebe-se um eu lírico carregado de sentimentos de afeto por uma amada, entre o universo
espiritual e físico.
Estão CORRETAS:
a) I e II, apenas. d) III e IV, apenas.
b) I, II e III, apenas. e) I, II, III e IV.
c) I, III e IV, apenas.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 11


Exercícios complementares

1. Imed-RS 2016 Leia os poemas a seguir, de Casimiro Analise as seguintes afirmações a partir dos poemas:
de Abreu e Carlos Drummond de Andrade, respecti- I. Embora Casimiro de Abreu integre o período lite-
vamente: rário romântico, e Carlos Drummond de Andrade,
o modernismo, ambos os poemas abordam a pas-
Meus oito anos sagem do tempo e a ideia de perda de momentos
Oh! Que saudades que tenho da vida humana: infância e juventude.
Da aurora da minha vida, II. No primeiro poema, o eu lírico apresenta a infância
Da minha infância querida com certo escapismo, fugindo, assim, do momento
— Que os anos não trazem mais! presente, o qual é resgatado no último verso.
III. Identifica-se que, em ambos os poemas, o eu lí-
Que amor, que sonhos, que flores, rico mostra-se pesaroso e inconformado com a
Naquelas tardes fagueiras passagem do tempo e da vida.
À sombra das bananeiras, Quais estão corretas?
Debaixo dos laranjais! […] a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e II.
Rezava às Ave-Marias,
d) Apenas II e III.
Achava o céu sempre lindo,
e) I, II e III.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar! 2. Unicamp-SP 2020 Leia os três excertos e responda à
questão.
Que doce a vida não era
Texto 1:
Em vez das mágoas de agora.
Mas cachoeira é barranco de chão, e água se caindo
Consolo na praia por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou
Vamos, não chores... desfaz o barranco, sobra cachoeira alguma? Viver é ne-
A infância está perdida. gócio muito perigoso...
(João Guimaraes Rosa, Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro:
A mocidade está perdida. Nova Fronteira, 2001, p. 26.)
Mas a vida não se perdeu.
Texto 2:
O primeiro amor passou. Chego à sacada e vejo a minha serra, / a serra de meu
O segundo amor passou. pai e meu avô, / de todos os Andrades que passaram /
O terceiro amor passou. e passarão, a serra que não passa. / [...] / Esta manhã
acordo e / não a encontro. / [...] / foge minha serra, vai /
Mas o coração continua.
deixando no meu corpo e na paisagem / mísero pó de
Perdeste o melhor amigo. ferro, e este não passa.
(Carlos Drummond de Andrade, Boitempo II. Rio de Janeiro:
Não tentaste qualquer viagem. Record, 1994, p. 72.)
Não possuis casa, navio, terra.
Texto 3:
Mas tens um cão.
Menor em quilômetros do que o desastre de Mariana,
Algumas palavras duras, causado pela Samarco, controlada pela mesma Vale, o de
em voz mansa, te golpearam. Brumadinho é gigante em gravidade: as florestas e rios
afetados eram muito mais ricos e importantes para o equi-
Nunca, nunca cicatrizam.
líbrio ambiental, salientam especialistas.
Mas, e o humour? (Fonte: https://oglobo.globo.com/brasil/dano-ambiental-em-brumadinho-
ameaca-centenas-de-especies-2324033. Acessado em 06/11/2019.)
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
A vida imita a arte. Quando Guimarães Rosa, que se
criou nas terras do sertão do Paraopeba, e Drummond
murmuraste um protesto tímido.
escreveram, provavelmente não imaginavam o que
Mas virão outros.
ocorreria em Brumadinho e Mariana. Percebe-se uma
relação entre um processo de transformação e as
Tudo somado, devias expressões “mísero pó de ferro”, em Drummond, e
precipitar-te, de vez, nas águas. “desfaz o barranco”, em Rosa. Identifique a atividade
Estás nu na areia, no vento... econômica e descreva o processo de transformação
Dorme, meu filho. da matéria-prima implícitos nos textos desses autores.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 12


3. Fuvest-SP 2013 Leia o seguinte poema. A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
Tristeza do Império A gente trabalha o ano inteiro
Os conselheiros angustiados Por um momento de sonho
ante o colo ebúrneo Pra fazer a fantasia
das donzelas opulentas De rei, ou de pirata, ou jardineira
que ao piano abemolavam Pra tudo se acabar na quarta-feira
“bus-co a cam-pi-na se-re-na Tristeza não tem fim
pa-ra-li-vre sus-pi-rar”, Felicidade sim...
esqueciam a guerra do Paraguai, A felicidade é como a gota
o enfado bolorento de São Cristóvão, De orvalho numa pétala de flor
a dor cada vez mais forte dos negros Brilha tranquila
e sorvendo mecânicos Depois de leve oscila
uma pitada de rapé, E cai como uma lágrima de amor.
sonhavam a futura libertação dos instintos A minha felicidade está sonhando
e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus de Nos olhos da minha namorada
É como esta noite
[Copacabana, com rádio e telefone automático.
Passando, passando
Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo.
Em busca da madrugada
a) Compare sucintamente “os conselheiros” do Impé- Falem baixo, por favor...
rio, tal como os caracteriza o poema de Drummond, Pra que ela acorde alegre com o dia
ao protagonista das Memórias póstumas de Brás Oferecendo beijos de amor.
Cubas, de Machado de Assis. Tristeza não tem fim
b) Ao conjugar de maneira intempestiva o passado Felicidade sim...
imperial ao presente de seu próprio tempo, qual MORAES, Vinicius de; JOBIM, Tom. Vinicius de Moraes –
é a percepção da história do Brasil que o poeta Literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1980. p. 71-2.
revela ser a sua? Explique resumidamente. a) Em 2013, comemorou-se o centenário de nasci-
4. Enem PPL 2017 mento de uma das mais importantes personagens
da cultura brasileira, Vinicius de Moraes. Poeta,
O exercício da crônica compositor, jornalista, diplomata, Vinicius soube
Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como poucos sensibilizar os seus leitores com
como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na uma literatura densa, envolvente e sensível. Ape-
qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situa-
sar de pertencer historicamente ao Modernismo,
ções que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador
a poética de Vinicius está muito próxima à de ou-
do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se diante de
sua máquina, acende um cigarro, olha através da janela tro estilo de época da nossa literatura. A partir da
e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de leitura da letra da canção “A felicidade”, parceria
preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, sua com o maestro Tom Jobim, aponte o estilo
em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar do qual ele se aproxima, fundamentando a sua
um sangue novo. resposta.
MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. b) Determine o gênero literário predominante no texto,
São Paulo: Cia. das Letras, 1991.
justificando com dois aspectos que o caracterizam.
Nesse trecho, Vinicius de Moraes exercita a crônica
para pensá-la como gênero e prática. Do ponto de 6. UPE 2014
vista dele, cabe ao cronista A arquitetura da cana-de-açúcar
a) criar fatos com a imaginação.
Os alpendres das casas-grandes
b) reproduzir as notícias dos jornais.
de par em par abertos, anchos,
c) escrever em linguagem coloquial.
cordiais como a hora do almoço,
d) construir personagens verossímeis. apesar disso não são francos.
e) ressignificar o cotidiano pela escrita.

5. PUC-Rio 2014 O aberto alpendre acolhedor


no casarão sem acolhimento
A felicidade tira a expressão amiga, amável
Tristeza não tem fim do que é fora e não dentro:
Felicidade sim...
A felicidade é como a pluma dos lençóis de cana, tendidos,
Que o vento vai levando pelo ar postos ao sol até onde a vista,
Voa tão leve e que lhe dão o sorriso aberto
Mas tem a vida breve que disfarça o que dentro é urtiga.
Precisa que haja vento sem parar. (João Cabral de Melo Neto)

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 13


O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,


Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,


Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.


(Manuel Bandeira)

Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor contar.

Um homem vai devagar.


Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus!


(Carlos Drummond de Andrade)

Em relação aos três poemas, assinale a alternativa CORRETA.


a) Os poemas de Cabral, Bandeira e Drummond apresentam temas característicos de ambientes sociais diferentes.
No primeiro poema, o eu lírico faz uma crítica ao ambiente rural, enquanto os outros dois refletem a realidade
urbana própria da metrópole, na qual o homem e os animais são inconfundíveis.
b) Só os poemas dos autores pernambucanos tratam de uma temática social, enquanto o poeta mineiro menciona
Deus, revelando uma preocupação religiosa intensa, própria do imaginário da região onde nasceu.
c) O primeiro e o terceiro poema revelam preocupação com o homem contemporâneo, quando este vive o tédio
dos grandes centros urbanos. Também neles, o eu poético fala da efemeridade do tempo, tema próprio da poé-
tica de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto.
d) João Cabral, em Arquitetura da cana-de-açúcar, revela preocupação com o retirante nordestino, que busca na
capital uma vida melhor. Tal fato se apresenta no primeiro texto, cuja temática é a mesma de Morte e vida seve-
rina, Auto de Natal pernambucano.
e) Os três poemas apresentam comportamentos e situações inerentes à existência de seres humanos pertencentes
a classes e ambientes sociais distintos: a casa grande e a hipocrisia de seus habitantes, a cidade grande e a vida
animalesca de alguns que nela vivem e a cidade do interior com seus mexericos.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 14


Língua Portuguesa – Frente 2 – Capítulo 12

Exercícios propostos

1. Acafe-SC 2020 Leia o comentário a seguir sobre Ca- c) Evidencia o tema da contestação armada à ordem
pitães da Areia, de Jorge Amado. vigente, representado pelo cangaço e o bando
de Antônio Silvino.
A segunda parte do romance se inicia com a apresenta-
d) A educação para o casamento e a desintegração
ção de dois novos personagens: a menina Dora e seu irmão
familiar caracterizaram a trágica condição das mo-
Zé Fuinha. A primeira ‘capitã da areia’ despertará o desejo se-
ças solteiras, a exemplo de Marta e Neném.
xual dos meninos, mas, defendida por ________ e _________,
e) Traça a história completa da ascensão à decadên-
acabará sendo aceita pelo grupo. Aos poucos, se torna a ‘mãe’
cia de uma casa e sua família, cujo símbolo é o
dos capitães, tão necessitados de afeto e carinho.
engenho Santa Fé e seus proprietários.
A alternativa que preenche corretamente os espaços
em branco é: 4. Uespi Graciliano Ramos foi um dos principais escri-
a) Gato – Boa Vida tores da Geração de 30. Geração esta que, dentro
b) Sem Pernas – Pedro Bala dos princípios do regionalismo, pensou o Brasil (seus
c) Volta Seca – Pirulito problemas sociais, políticos, religiosos, econômicos e
d) João Grande – Professor culturais) a partir de cada uma das suas regiões. São
Bernardo, romance publicado em 1934, tem como ce-
2. Unesp 2020 A ideia de pátria se vinculava estreitamente nário a zona pastoril de Alagoas. Sobre esta obra de
à de natureza e em parte extraía dela a sua justificativa. Graciliano, é correto afirmar o que segue.
Ambas conduziam a uma literatura que compensava o a) São Bernardo é narrado na terceira pessoa, o
atraso material e a debilidade das instituições por meio da que permite um distanciamento entre o narrador
supervalorização dos aspectos regionais, fazendo do exo- e o objeto da narrativa.
tismo razão de otimismo social. A partir de 1930 houve
b) Paulo Honório, o personagem principal do roman-
uma mudança de orientação, sobretudo na ficção regio-
ce, é filho de um rico proprietário rural, de quem
nalista, percebendo-se o que havia de mascaramento no
encanto pitoresco com que antes se abordava o homem
ele herda a fortuna.
rústico. Evidenciou-se a realidade dos solos pobres, das c) A narrativa do romance é concisa, clara, dinâmica,
técnicas arcaicas, da miséria pasmosa das populações, da sem se perder em episódios que sejam desne-
sua incultura paralisante. A visão que resulta dessa pers- cessários para a compreensão da obra.
pectiva é pessimista quanto ao presente e problemática d) Paulo Honório amarga “três anos, nove meses e
quanto ao futuro. quinze dias” na cadeia por matar a sua primeira
(Antonio Candido. A educação pela noite e namorada: Germana.
outros ensaios, 1989. Adaptado.)
e) As relações de Paulo Honório com os empregados
O excerto assinala uma reorientação nos rumos da lite- da fazenda são harmoniosas e sem nenhum conflito.
ratura brasileira, na medida em que os escritores
5. Mackenzie-SP
a) deparam-se com a instituição de uma regionaliza-
ção oficial pelo IBGE. Texto I
b) passam a mostrar os aspectos do Brasil como Vivia longe dos homens, só se dava bem com os
país subdesenvolvido. animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não
c) reconhecem o estabelecimento de alianças de- sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se
mocráticas no Brasil. com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem
d) percebem a assimilação do american way of life cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro
pelo povo brasileiro. entendia.
Graciliano Ramos, Vidas secas
e) optam pelo emprego de uma visão eurocêntrica
em sua produção literária. No texto I, a descrição do personagem Fabiano apon-
ta para as seguintes características, EXCETO:
3. Unioeste-PR 2018 Qual das afirmativas NÃO é proce-
a) adaptação do personagem ao meio natural.
dente em relação ao romance Fogo morto, de José
b) identificação com o animal.
Lins do Rego?
c) caráter antissocial.
a) Ambientado na região açucareira do nordeste, na
d) comportamento primitivo e espontâneo.
Várzea do Rio Paraíba, seu autor integra a gera-
e) revolta devido a sua condição familiar.
ção regionalista dos anos 30.
b) É dividido em quatro partes, centradas, respecti- 6. Enem
vamente nos seguintes temas: Mestre Zé Amaro;
Maria Bonita e os cangaceiros; O coronel e o lobi- Mudança
somem; A usina do seu Lula de Holanda. Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 15


manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia intei- [...]
ro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam
Quanto ao trecho lido, é correto afirmar que
pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio
seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que
a) há predomínio de uma visão ufanista do narrador.
procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu b) o intimismo dificulta uma visão crítica.
longe, através dos galhos pelados da catinga rala. c) a abordagem universal permite alcançar à dimen-
Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá Vitória com o são regional.
filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha d) a incapacidade de modificar o modo de vida reve-
na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio. As manchas dos la traços deterministas.
juazeiros tornaram a aparecer, Fabiano aligeirou o passo, e) o narrador externo explora conflitos internos do
esqueceu a fome, a canseira e os ferimentos. Deixaram personagem.
a margem do rio, acompanharam a cerca, subiram uma
ladeira, chegaram aos juazeiros. Fazia tempo que não viam 8. UFBA Pôs-se a berrar, imitando as cabras, chamando o
sombra. irmão e a cachorra. Não obtendo resultado, indignou-se.
RAMOS, G. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2008 (fragmento). Ia mostrar aos dois uma proeza, voltariam para casa es-
pantados.
Valendo-se de uma narrativa que mantém o distancia- Aí o bode se avizinhou e meteu o focinho na água.
mento na abordagem da realidade social em questão, O menino despenhou-se da ribanceira, escanchou-se no
o texto expõe a condição de extrema carência dos espinhaço dele.
personagens acuados pela miséria. Mergulhou no pelame fofo, escorregou, tentou em
O recurso utilizado na construção dessa passagem, o vão segurar-se com os calcanhares, foi atirado para a
qual comprova a postura distanciada do narrador, é a frente, voltou, achou-se montado na garupa do animal,
a) caracterização pitoresca da paisagem natural. que saltava demais e provavelmente se distanciava do
b) descrição equilibrada entre os referentes físicos e bebedouro. Inclinou-se para um lado, mas, fortemente
psicológicos dos personagens. sacudido, retomou a posição vertical, entrou a dançar
c) narração marcada pela sobriedade lexical e se­ desengonçado, as pernas abertas, os braços inúteis.
quência temporal linear. Outra vez impelido para a frente, deu um salto mortal,
d) caricatura dos personagens, compatível com o passou por cima da cabeça do bode, aumentou o ras-
aspecto degradado que apresentam. gão da camisa numa das pontas e estirou-se na areia.
e) metaforização do espaço sertanejo, alinhada com Ficou ali estatelado, quietinho, um zunzum nos ouvi-
o projeto de crítica social. dos, percebendo vagamente que escapara sem honra
da aventura.
7. EsPCEx-SP 2016 Leia o trecho do romance São
[...]
Bernardo e dê o que se pede.
Olhou com raiva o irmão e a cachorra. Deviam
[...] tê-lo prevenido. Não descobriu neles nenhum sinal de
O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. solidariedade: o irmão ria como um doido, Baleia, séria,
Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem ob- desaprovava tudo aquilo. Achou-se abandonado e mes-
jetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado quinho, exposto a quedas, coices e marradas.
é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra [...]
esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade Lembrou-se de Fabiano e procurou esquecê-lo. Com
embotada. certeza Fabiano e sinha Vitória iam castigá-lo por causa
[...] do acidente. [...]
Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se [...]
uma pessoa a vida inteira sem saber para quê! Comer Retirou-se. A humilhação atenuou-se pouco a pou-
e dormir como um porco! Levantar-se cedo todas as co e morreu. Precisava entrar em casa, jantar, dormir. E
manhãs e sair correndo, procurando comida! E depois precisava crescer, ficar tão grande como Fabiano, matar
guardar comida para os filhos, para os netos, para muitas cabras a mão de pilão, trazer uma faca de ponta à cintura.
gerações. Que estupidez! Que porcaria! Não é bom vir Ia crescer, espichar-se numa cama de varas, fumar cigarros
o diabo e levar tudo? de palha, calçar sapatos de couro cru.
[...] Subiu a ladeira, chegou-se a casa devagar, entortando
Penso em Madalena com insistência. Se fosse pos- as pernas, banzeiro. Quando fosse homem, caminharia
sível recomeçarmos... Para que enganar-me? Se fosse assim, pesado, cambaio, importante, as rosetas das esporas
possível recomeçarmos, aconteceria exatamente o que tilintando. Saltaria no lombo de um cavalo brabo e voa-
aconteceu. Não consigo modificar-me, é o que mais me ria na catinga como pé-de-vento, levantando poeira. Ao
aflige. regressar, apear-se-ia num pulo e andaria no pátio assim
[...] torto, de perneiras, gibão, guarda-peito e chapéu de couro
Foi este modo de vida que me inutilizou. Sou um com barbicacho. O menino mais velho e Baleia ficariam
aleijado. Devo ter um coração miúdo, lacunas no cére- admirados.
bro, nervos diferentes dos nervos dos outros homens. E RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 74. ed. Rio de Janeiro, São Paulo:
um nariz enorme, uma boca enorme, dedos enormes. Record, 1998. p. 51-53.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 16


Sobre o fragmento, contextualizado na obra, é verda- as ilustrações de exemplares do Evangelho, as chamadas
deiro o que se afirma em “iluminuras” artesanais. Na altura do século XII, o estilo
01 A narrativa apresenta uma linguagem de carga gótico se impôs, tanto na arquitetura como na pintura.
semântica negativa, ligada à agressividade e à Nesta, o fascínio dos artistas estava em criar efeitos de
violência praticadas entre as personagens. perspectiva e a ilusão de espaços que parecem reais. Mas
é na Renascença, sobretudo na italiana, que a pintura
02 O projeto de autorrealização do menino ocorre
atinge certa emancipação artística, graças a obras de gê-
no futuro, como compensação da frustração ex-
nios como Leonardo, Michelangelo, Rafael. É o império
perimentada no presente. da “perspectiva”, considerada por muitos artistas como
04 O menino apresenta um padrão de conduta que mais importante do que a própria luz. Para além das re-
se assemelha ao de sinha Vitória, no que se refe- presentações de caráter religioso, as paisagens rurais e
re às suas atitudes e ações. retratos de pessoas, sobretudo das diferentes aristocracias,
08 O menino da narrativa necessita de testemunhas, apresentam-se num auge de realismo.
de público: ele quer comprovação de suas faça- Em passos assim instrutivos, o livro da irmã Wendy
nhas, de sua coragem. vai nos conduzindo por um roteiro histórico da arte da
16 O sentido inusitado da situação mostrada no pintura e dos sucessivos feitos humanos. Desde um jogo
fragmento ocorre porque o animal percebe o de boliche numa estalagem até figuras femininas em ativi-
dades domésticas, de um ateliê de ourives até um campo
insucesso da ação praticada pelo menino, en-
de batalha, 1tudo vai se oferecendo a novas técnicas, como
quanto o irmão zomba dele.
a da “câmara escura”, explorada pelo holandês Vermeer,
32 O processo de aprendizagem da criança res- pela qual se obtinha melhor controle da luminosidade
tringe-se à imitação de animais integrantes do adequada e do ângulo de visão. Entram em cena as no-
cenário nordestino. vas criações da tecnologia humana: os navios a vapor, os
Soma: trens, as máquinas e as indústrias podem estar no centro
das telas, falando do progresso. Nem faltam, obviamente,
9. PUC-Campinas 2016 Leia atentamente o texto a se- os motivos violentos da história: a Revolução Francesa, a
guir para responder à questão. sanguinária invasão napoleônica da Espanha (num qua-
História da pintura, história do mundo dro inesquecível de Goya), escaramuças entre árabes. Em
contraste, paisagens bucólicas e jardins harmoniosos des-
O homem nunca se contentou em apenas ocupar filam ainda pelo desejo de realismo e fidedignidade na
os espaços do mundo; sentiu logo a necessidade de re- representação da natureza.
presentá-los, reproduzi-los em imagens, formas, cores, 2
Mas sobrevém uma crise do 3realismo, da 4submissão
desenhá-los e pintá-los na parede de uma caverna, nos da pintura às formas dadas do mundo natural. Artistas
muros, numa peça de pano, de papel, numa tela de mo- como Manet, Degas, Monet e Renoir aplicam-se a um
nitor. Acompanhar a história da pintura é acompanhar um novo modo de ver, pelo qual a imagem externa se sub-
pouco a história da humanidade. É, ainda, descortinar o mete à visão íntima do artista, que a tudo projeta agora
espaço íntimo, o espaço da imaginação, onde podemos de modo sugestivo, numa luz mais ou menos difusa, apa-
criar as formas que mais nos interessam, nem sempre dis- nhando uma realidade moldada mais pela impressão da
poníveis no mundo natural. Um guia notável para aprender imaginação criativa do que pelas formas nítidas naturais.
a ler o mundo por meio das formas com que os artistas o No Impressionismo, 5uma catedral pode ser pouco mais
conceberam é o livro História da Pintura, de uma arguta que 6uma grande massa luminosa, 7cujas formas arquite-
irmã religiosa, da ordem de Notre Dame, chamada Wendy tônicas mais se 8adivinham do que se traçam. Associada
Beckett. Ensina-nos a ver em profundidade tudo o que os à Belle Époque, a arte do final do século XIX e início do
pintores criaram, e a reconhecer personagens, objetos, XX guardará ainda certa inocência da vida provinciana,
fatos e ideias do período que testemunharam. no campo, ou na vida mundana dos cafés, na cidade.
A autora começa pela Pré-História, pela caverna Desfazendo-se quase inteiramente dos traços dos
subterrânea de Altamira, em cujas paredes, entre 15000 impressionistas, artistas como Van Gogh e Cézanne,
e 12000 a.C., toscos pincéis de caniços ou cerdas e pó explorando novas liberdades, fazem a arte ganhar no-
de ocre e carvão deixaram imagens de bisões e outros vas técnicas e aproximar-se da abstração. A dimensão
animais. E dá um salto para o antigo Egito, para artistas psicológica do artista transparece em seus quadros: o
que já obedeciam à chamada “regra de proporção”, pela quarto modestíssimo de Van Gogh sugere um cotidiano
qual se garantia que as figuras retratadas − como caça- angustiado, seus campos de trigo parecem um dourado a
dores de aves e mulheres lamentosas no funeral de um saltar da tela. A Primeira Grande Guerra eliminará com-
faraó − se enquadrassem numa perfeita escala de medi- preensões mais inocentes do mundo, e o século XX em
das. Já na Grécia, a pintura de vasos costuma ter uma marcha acentuará as cores dramáticas, convulsionadas,
função narrativa: em alguns notam-se cenas da Ilíada e da as formas quase irreconhecíveis de uma realidade fratu-
Odisseia. A maior preocupação dos artistas helenísticos rada. O cubismo, o expressionismo e o abstracionismo
era a fidelidade com que procuravam representar o mun- (Picasso, Kandinsky e outros) interferem radicalmente
do real, sobretudo em seus lances mais dramáticos, como na visão “natural” do mundo. 9Por outro lado, 10menos
os das batalhas. libertário, 11doutrinas totalitaristas, como a stalinista e a
A arte cristã primitiva e medieval teve altos momentos, nazifascista, pretenderão que os artistas se submetam às
desde os consagrados à figuração religiosa nas paredes dos suas ideologias. Já Mondrian fará escola com a geometria
templos, como as imagens da Virgem e do Menino, até das formas, Salvador Dalí expandirá o surrea­lismo dos

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 17


sonhos, e muitas tendências contemporâneas passam a A linguagem e o universo de Guimarães Rosa na obra-
sofrer certa orientação do mercado da arte, agora espe- -prima que é o romance Grande sertão: veredas estão
culada como mercadoria. em parte caracterizados no seguinte segmento do texto:
Em suma, a história da pintura nos 12ensina a entender a) apanhando uma realidade moldada mais pela
o que podemos ver do mundo e de nós mesmos. As peças impressão da imaginação criativa do que pelas
de um museu parecem estar ali 13paralisadas, 14mas basta formas nítidas naturais.
um pouco da nossa atenção a cada uma delas para que b) o fascínio dos artistas [do estilo gótico] estava em
a vida ali contida se manifeste. Com a arte da pintura criar efeitos de perspectiva e a ilusão de espaços
aprenderam as artes e técnicas visuais do nosso tempo: que parecem reais.
a fotografia, o cinema, a televisão devem muito ao que c) as paisagens rurais e retratos de pessoas, sobre-
o homem aprendeu pela força do olhar. Novos recursos tudo das diferentes aristocracias, apresentam-se
ampliam ou restringem nosso campo de visão: atualmen- num auge de realismo.
te muitos andam de cabeça baixa, apontando os olhos d) paisagens bucólicas e jardins harmoniosos
para a pequena tela de um celular. Ironicamente, alguém desfilam ainda pelo desejo de realismo e fidedig-
pode baixar nessa telinha “A criação do homem”, que nidade na representação da natureza.
Michelangelo produziu para eternizar a beleza do forro e) acentuará as cores dramáticas, convulsionadas,
da Capela Sistina. as formas quase irreconhecíveis de uma realida-
BATISTA, Domenico, inédito. de fraturada.

Exercícios complementares

1. ITA-SP 2017 O romance Fogo morto, de José Lins do Como era que sinha Vitória tinha dito? A frase dela
Rego, apresenta um amplo painel social do interior tornou ao espírito de Fabiano e logo a significação apa-
paraibano no final do século XIX. Acerca das persona- receu. As arribações bebiam a água. Bem. O gado curtia
gens, é correto dizer que sede e morria. Muito bem. As arribações matavam o gado.
a) os três principais senhores de engenho retrata- Estava certo. Matutando, a gente via que era assim, mas
dos são o Coronel Lula de Holanda, o Capitão sinha Vitória largava tiradas embaraçosas. Agora Fabiano
José Paulino e o mestre José Amaro. percebia o que ela queria dizer. Esqueceu a infelicidade
b) o Coronel Lula de Holanda, explorando os escra- próxima, riu-se encantado com a esperteza de sinha Vi-
tória. Uma pessoa como aquela valia ouro. Tinha ideias,
vos e tomando as terras de José Amaro, tornou-se
sim senhor, tinha muita coisa no miolo. Nas situações
o mais rico da Paraíba.
difíceis encontrava saída. Então! Descobrir que as arriba-
c) o Capitão Vitorino é uma figura quixotesca, pois,
ções matavam o gado! E matavam. Àquela hora o mulungu
mesmo ridicularizado pelo povo, luta contra os
do bebedouro, sem folhas e sem flores, uma garrancharia
desmandos das autoridades.
pelada, enfeitava-se de penas.
d) o líder cangaceiro Antônio Silvino consegue, no
[...]
final, acabar com a injustiça praticada pelos se-
Alargou o passo, desceu a ladeira, pisou a terra de alu-
nhores de engenho.
vião, aproximou-se do bebedouro. Havia um bater doido
e) o mestre José Amaro decide entrar para o bando de asas por cima da poça de água preta, a garrancheira do
de Antônio Silvino para se vingar do Coronel Lula mulungu estava completamente invisível. Pestes. Quando
de Holanda pelo que ele lhe fez. elas desciam do sertão, acabava-se tudo. O gado ia finar-
2. UFBA O Mulungu do bebedouro cobria-se de arribações. -se, até os espinhos secariam.
Mau sinal, provavelmente o sertão ia pegar fogo. Vinham Suspirou. Que havia de fazer? Fugir de novo, aboletar-
em bandos, arranchavam-se nas árvores da beira do rio, -se noutro lugar, recomeçar a vida. [...]
descansavam, bebiam e, como em redor não havia comi- RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 74. ed. Rio de Janeiro/São Paulo:
Record, 1998. p. 108-110.
da, seguiam viagem para o sul. O casal agoniado sonhava
desgraças. O sol chupava os poços, e aquelas excomunga- De acordo com esse trecho de Vidas secas, inserido
das levavam o resto da água, queriam matar o gado. na obra, é verdadeiro o que se afirma nas proposições
Sinha Vitória falou assim, mas Fabiano resmungou,
01 A personagem Fabiano aparece nessa narrativa —
franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves matarem
uma produção regionalista do Modernismo da
bois e cabras, que lembrança! Olhou a mulher, desconfia-
do, julgou que ela estivesse tresvariando. [...]
década de 30 — como um representante do ser-
Fabiano estirou o beiço e enrugou mais a testa suada: tanejo, de consciência embotada e raciocínio lento.
impossível compreender a intenção da mulher. [...] 02 O texto apresenta mais de um sujeito discursivo,
— Chi! Que fim de mundo! pois a personagem sinha Vitória vai gradativa-
Não permaneceria ali muito tempo. No silêncio com- mente ocupando todo o espaço no pensamento
prido só se ouvia um rumor de asas. de Fabiano.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 18


04 A personagem Fabiano, no seu circuito de fugas Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem,
sem causas bem determinadas, torna-se cada vez bem. Não era preciso barulho não. Se havia dito pala-
mais fragilizada aos olhos da família. vra à toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado.
08 O pensamento de sinha Vitória incita a curiosidade Atrevimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra.
de Fabiano e ele percebe a realidade da seca Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor,
transfigurada poeticamente. mas sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância da
16 Sinha Vitória, na narrativa, representa um ele- mulher, provavelmente devia ser ignorância da mulher.
mento humano que possui um olhar capaz de Até estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia ler
compactar uma multiplicidade de imagens no ser- (um bruto, sim senhor), acreditara na sua velha. Mas pedia
tão nordestino. desculpa e jurava não cair noutra.
(Graciliano Ramos. Vidas secas. São Paulo:
32 A narrativa deixa evidente um estilo pseudoacadê- Livraria Martins Editora, 1974.)
mico do narrador, que prevalecerá por toda a obra.
Soma: 3. Unesp Lendo atentamente o fragmento de Vidas
secas, percebe-se que o foco principal é o das tran-
As questões de números 3 e 4 tomam por base uma
sações entre Fabiano e o proprietário da fazenda.
passagem do romance regionalista Vidas secas, de
Aponte a alternativa que não corresponde ao que é
Graciliano Ramos (1892-1953).
efetivamente exposto pelo texto.
a) O proprietário era, na verdade, um benfeitor para
Contas
Fabiano.
Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros b) Fabiano declarava-se “um bruto” ao proprietário.
e a terça dos cabritos. Mas como não tinha roça e apenas c) O proprietário levava sempre vantagem na parti-
se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e lha do gado.
milho, comia da feira, desfazia-se dos animais, não chegava d) Fabiano sabia que era enganado nas contas, mas
a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um cabrito.
não conseguia provar.
Se pudesse economizar durante alguns meses, levan-
e) Fabiano aceitava a situação e se resignava, por
taria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não
medo de ficar sem trabalho.
se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de
milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo o 4. Unesp Quem é do chão não se trepa.
produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa aflição, Fabiano emprega duas vezes este provérbio para re-
tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, tratar com certo determinismo sua situação, que ele
engolia em seco. Transigindo com outro, não seria roubado considera impossível de ser mudada. Há outros que
tão descaradamente. Mas receava ser expulso da fazenda. poderiam ser utilizados para retratar essa atitude de
E rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia conselhos. Era bom desânimo ante algo que parece irreversível. Na re-
pensar no futuro, criar juízo. Ficava de boca aberta, ver- lação de provérbios abaixo, aponte aquele que não
melho, o pescoço inchando. De repente estourava: poderia substituir o empregado por Fabiano, em vir-
— Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém tude de não corresponder àquilo que a personagem
pode viver sem comer. Quem é do chão não se trepa. queria significar.
Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os a) Quem nasce na lama morre na bicharia.
bichos de Fabiano. E quando não tinha mais nada para ven- b) Quem semeia ventos colhe tempestades.
der, o sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava
c) Quem nasceu pra tostão não chega a milhão.
encalacrado, e na hora das contas davam-lhe uma ninharia.
d) Quem nasceu pra ser tatu morre cavando.
Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o
e) Os paus, uns nasceram para santos, outros para
gado, arrependeu-se, enfim deixou a transação meio apa-
tamancos.
lavrada e foi consultar a mulher. Sinha Vitória mandou os
meninos para o barreiro, sentou-se na cozinha, concentrou- 5. Uerj De repente voltou-me a ideia de construir o livro.
-se, distribuiu no chão sementes de várias espécies, realizou [...]
somas e diminuições. No dia seguinte Fabiano voltou à Desde então procuro descascar fatos, aqui sentado à
cidade, mas ao fechar o negócio notou que as operações mesa da sala de jantar [...].
de Sinha Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. 5 Às vezes, entro pela noite, passo tempo sem fim acor-
Reclamou e obteve a explicação habitual: a diferença era dando lembranças. Outras vezes não me ajeito com esta
proveniente de juros. ocupação nova.
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bru- Anteontem e ontem, por exemplo, foram dias per-
to, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a didos. Tentei debalde canalizar para termo razoável esta
mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel 10 prosa que se derrama como a chuva da serra, e o que
do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os me apareceu foi um grande desgosto. Desgosto e a vaga
estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o compreensão de muitas coisas que sinto.
que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Traba- Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo per-
lhar como negro e nunca arranjar carta de alforria! feita saúde. [...] Não tenho doença nenhuma.
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom 15 O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro.
que, o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda. Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 19


objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado jurou muito contra a ideia. Seria que, ele, que nessas artes
é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas?
esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era
20 embotada. mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por
Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo,
uma pessoa a vida inteira sem saber para quê! Comer e de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não
dormir como um porco! Como um porco! Levantar-se cedo posso, do dia em que a canoa ficou pronta. Sem alegria
todas as manhãs e sair correndo, procurando comida! E nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu. Um
adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou
25 depois guardar comida para os filhos, para os netos, para
matula e trouxa, não fez alguma recomendação. Nossa mãe,
muitas gerações. Que estupidez! [...]
a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente
Coloquei-me acima da minha classe, creio que me
alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — “Cê vai, ocê
elevei bastante. Como lhes disse, fui guia de cego, vende- fique, você nunca volte!” Nosso pai suspendeu a respos-
dor de doce e trabalhador alugado. Estou convencido de ta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também,
30 que nenhum desses ofícios me daria os recursos intelec- por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de
tuais necessários para engendrar esta narrativa. Magra, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um
acordo, mas em momentos de otimismo suponho que há propósito perguntei: — “Pai, o senhor me leva junto, nessa
nela pedaços melhores que a literatura do Gondim. Sou, sua canoa?” Ele só retomou a olhar em mim, e me botou a
pois, superior a mestre Caetano e a outros semelhantes. bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim,
35 Considerando, porém, que os enfeites do meu espírito se mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai
reduzem a farrapos de conhecimentos apanhados sem entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu
escolha e mal cosidos, devo confessar que a superioridade se indo – a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida
que me envaidece é bem mesquinha. longa. Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma
[...] parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles
40 Quanto às vantagens restantes – casas, terras, móveis, espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa,
semoventes, consideração de políticos, etc. – é preciso para dela não saltar, nunca mais.
convir em que tudo está fora de mim. ROSA, João Guimarães. “A terceira margem do rio”. In Primeiras Estórias.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
Julgo que me desnorteei numa errada.
GRACILIANO RAMOS. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2004. Analise as afirmativas a seguir:
I. No fragmento do conto A terceira margem do rio, o
As palavras do narrador expõem a extensão de seu
leitor pode perceber que a linguagem utilizada pelo
sofrimento na tomada de consciência que impulsiona
narrador tem especificidades que dão à narrativa um
a escrita de seu livro. Na tentativa de descrever a si
ritmo próprio e uma originalidade quando comparada
mesmo e confessar suas culpas, o personagem-narrador
a outros textos produzidos na mesma época, no Brasil.
muitas vezes parece dirigir-se ao leitor.
II. O narrador, um menino que presencia a partida do
Dos fragmentos transcritos abaixo, aquele que exem-
pai, também presencia a discordância da mãe em
plifica esse diálogo sugerido com o leitor é:
relação à atitude paterna. Em muitos momentos do
a) De repente voltou-me a ideia de construir o livro.
conto, a linguagem do sertanejo, com seus trejeitos
(l. 1)
e modos, é enunciada pelo autor, confirmando seu
b) Desgosto e a vaga compreensão de muitas coi- estilo que merece sempre destaque.
sas que sinto. (l. 11 e 12) III. Os irmãos do narrador, mesmo diante da decisão
c) Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo per­ do pai de ir embora, não esboçam qualquer reação.
feita saúde. (l. 13 e 14) Eles sabem que o pai não voltará, mas não se im-
d) Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos portam. Essa declaração é confirmada pelo narrador
sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os ou- do conto A terceira margem do rio, no momento em
tros. (l. 16 e 17) que ele diz: “Sem alegria nem cuidado, nosso pai en-
6. UPE 2015 calcou o chapéu e decidiu. Um adeus para a gente”.
IV. O pai do narrador, embora diante das contrariedades
A terceira margem do rio da esposa: “Nossa mãe jurou muito contra a ideia”,
Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e não mudava de ideia: “Nosso pai nada não dizia”. Em
sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemu- razão da qualidade narrativa, da história, do enredo,
nharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a da boa psicologia das personagens, o conto de Gui-
informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não fi- marães Rosa permite muitas interpretações, muitas
gurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, impressões sobre a atitude do pai do narrador.
conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia,
V. A decisão do pai do narrador de sair de casa foi
e que ralhava no diário com a gente – minha irmã, meu
motivada pelo fato de não suportar mais a convi-
irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou
fazer para si uma canoa. Era a sério. Encomendou a canoa vência com aquela família repleta de problemas,
especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha vivenciando muitos desafios a serem vencidos. Isso
da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser fica evidenciado na hora em que o narrador diz: “Ele
toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria só retomou a olhar em mim, e me botou a bênção,
para dever durar na água por uns 20 ou 30 anos. Nossa mãe com gesto me mandando para trás.”

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 20


Estão CORRETAS
a) I, II e III.
b) I, II e IV.
c) I, III e IV.
d) II, III e IV.
e) III, IV e V.

7. Unicamp-SP 2016 [...] E, páginas adiante, o padre se portou ainda mais excelentemente, porque era mesmo uma brava
criatura. Tanto assim, que, na despedida, insistiu:
— Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a
passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria... Cada um tem a sua hora e a sua vez: você
há de ter a sua.
(João Guimarães Rosa, A hora e a vez de Augusto Matraga, em Sagarana. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001, p. 380.)

[...] Então, Augusto Matraga fechou um pouco os olhos, com sorriso intenso nos lábios lambuzados de sangue, e de seu
rosto subia um sério contentamento.
Daí, mais, olhou, procurando João Lomba, e disse, agora sussurrando, sumido:
— Põe a bênção na minha filha..., seja lá onde for que ela esteja... E, Dionóra... Fala com a Dionóra que está tudo
em ordem!
Depois morreu.
(Idem, p. 413.)

a) O segundo excerto, de certo modo, confirma os ditos do padre apresentados no primeiro. Contudo, “a hora e a vez”
do protagonista não são asseguradas, segundo a narrativa, pela reza e pelo trabalho. O que lhe garantiu ter “a sua
hora e a sua vez”?
b) “A hora e a vez” de Nhô Augusto relacionam-se aos encontros que ele tem com outro personagem, Joãozinho Bem-
-Bem, em dois momentos da narrativa. Em cada um desses momentos, Nhô Augusto precisa realizar uma escolha.
Indique quais são essas escolhas que importam para o processo de transformação do personagem protagonista.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 21


Gabarito
Exercícios complementares
Frente 2
1. C
Capítulo 10
2. No texto de Guimarães Rosa, a imagem da cachoeira ilustra o
conceito de que a realidade é composta da dualidade terra fixa
Revisando
e água, ou seja, uma não existe sem a outra. A frase “Viver é
1. O traje de losangos do personagem Arlequim da Commedia dell’arte, muito perigoso” surge como uma advertência de que, para so-
representativo de sua imagem contraditória e fragmentada, foi o que breviver, é necessário manter o equilíbrio entre todas as formas
inspirou a capa da obra de Mário de Andrade. O livro é uma declara- de vida. No de Drummond, a referência a “mísero pó de ferro”
ção de amor à cidade natal do poeta e, assim como o personagem alude não só à matéria-prima da indústria pesada da mineração,
irreverente, São Paulo resguarda uma variedade de pessoas, cultu- mas também àquela que, como membro do clã dos Andrades
ras, modos de vida e problemas típicos de uma metrópole. que viveu em Itabira, faz parte da maneira de ser do sujeito
lírico e explica uma das características do seu estilo antissenti-
mental. A linguagem coloquial plena de ironia seca, o sarcasmo
Exercícios propostos
e o humor desencantado com que sentimento e emoção são
1. C refreados seriam explicados pelo “mísero pó de ferro” que ficou
impregnado em sua personalidade e influenciariam seu fazer
2. E poético.
3. De acordo com Antonio Cicero, a arte do Modernismo brasileiro é 3. a) Os “conselheiros” do Império, citados no poema de Drummond,
caracterizada pela “reinvenção” do Brasil no passado, o que sig- são representantes de uma elite burguesa que se caracteriza
nifica que os artistas modernos olharam para o passado do país a pela insensibilidade social e alienação política, grupo em que
partir de uma outra perspectiva, valorizando o natural e primitivo está inserido também Brás Cubas, protagonista do romance de
em oposição à visão de que o passado do Brasil foi assinalado Machado de Assis. Entregues a futilidades e a prazeres imedia-
pela cultura da escravidão e pelo subdesenvolvimento. Oswald de tos, esquecem os verdadeiros dramas que os cercam, moldam
Andrade, por meio de seu movimento Pau-Brasil, objetivou libertar sua vida de acordo com os interesses individuais de um mundo
a poesia das influências europeias e criar uma arte baseada no de aparências e experimentam o tédio e a angústia de quem
povo brasileiro e em suas características. Por meio da utilização não luta pela realização pessoal.
de versos livres, de um “português” marcadamente brasileiro, da
ausência de pontuação e do uso da linguagem coloquial e tele- b) Ao conjugar o passado imperial ao presente de seu próprio
gráfica, o poeta descrevia paisagens e cenas do dia a dia, como tempo, Drummond apresenta uma visão crítica e pessimista
em “Uma jangada leva os teus homens morenos / De chapéu de da História do Brasil, pois as atitudes da elite do sistema tota-
palha”. Em nossa literatura, a transposição de técnicas de cinema litarista de Getúlio imitam as da elite do século XIX no que diz
foi inaugurada por Oswald de Andrade. No trecho “Dos hidropla- respeito a frivolidade, alienação e provincianismo.
nos de meu século / Frequentado rendez-vous / De Holandeses 4. E
de Condes e de Padres / Que Amaralina atualiza / Poste das
saudades transatlânticas / Riscando o ocre fotográfico”, “Torres 5. a) O estilo do qual a poética de Vinicius de Moraes se aproxima
coqueiros / Árvores transbordando em mangas-rosas / Até os é o Romantismo, pelas seguintes razões: ênfase no sentimen-
navios ancorados”, é possível perceber a construção de cenas e talismo; exagero na descrição das emoções; expressão do
a tentativa de descontinuidade com o objetivo de fazer parecer intimismo e da subjetividade; idealização do ser amado; valori-
que as imagens ocorriam simultaneamente. A obra de Oswald de zação de aspectos da natureza.
Andrade influenciou movimentos marcantes da cultura brasileira b) O gênero literário predominante é o lírico. Há a centralidade
da década de 1960: o Concretismo e o Tropicalismo. do eu lírico na construção do poema, o predomínio do tom
4. C intimista, a criação de uma atmosfera e a fusão do sujeito com
o objeto.
5. B
6. E

Exercícios complementares

1. C 3. D 5. E 7. E Capítulo 12
2. A 4. E 6. A
Exercícios propostos

1. D
Capítulo 11
2. B

Revisando 3. B
4. C
1. B 2. D
5. E
Exercícios propostos 6. C
1. A 4. C 7. C 7. D
2. C 5. A 8. E 8. Soma: 02 + 08 + 16 = 26
3. A 6. D 9. C 9. A

LÍNGUA PORTUGUESA GABARITO 22


Exercícios complementares

1. C
2. Soma: 01 + 02 + 08 + 16 = 27
3. A
4. B
5. C
6. B
7. a) Ao salvar inocentes da sanha vingativa de Joãozinho Bem-
-Bem, Nhô Augusto encontra também a redenção final, obtida
com seu trabalho, sua reza e a fé de que teria sua hora e vez.
Matraga dá a vida, como Cristo, pelos seus semelhantes.
b) Nesse duelo fatal, os conceitos de bem e mal caem por terra,
pois o "bom" Augusto Estêves e o "mau" Joãozinho Bem-Bem
envolvem-se em uma ação que supera o maniqueísmo: o pri-
meiro faz o bem à família cometendo assassinato, enquanto o
segundo, ao assassinar o protagonista, dá-lhe sua redenção.

LÍNGUA PORTUGUESA GABARITO 23


Resumindo LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2
1

Capítulo 11 − Pontuação: emprego e efeitos • Expressa o estado emocional de um interlocutor: tristeza, ale-
de sentido gria, pena, surpresa etc.
• O uso da exclamação indica para o leitor/escritor a entonação
adequada à expressão de sentimentos.
A pontuação em textos
• Pode evidenciar uma surpresa (não explícita) quando utilizado
• A pontuação é um recurso gráfico próprio do texto escrito
de forma isolada em tirinhas e histórias em quadrinhos.
que auxilia o leitor a compreender aspectos do contexto de
comunicação: pausa, hesitação, ironia, tomada de turno (em Ponto de interrogação
um diálogo) etc.
• Sintaticamente, a pontuação ajuda a organizar as ideias em • Usado ao final de frases interrogativas.
núcleos informacionais, facilitando a compreensão textual. • Marca uma pergunta direta (espera-se obrigatoriamente uma
resposta).
• Os sinais de pontuação permitem:
a) recuperar a intenção comunicativa do enunciador;
• Marca uma pergunta retórica (não se espera, de fato, uma
resposta).
b) definir a entonação mais adequada no momento da leitura;
• Pode evidenciar uma dúvida (não explícita) quando utilizado
c) separar elementos intercalados em uma frase; de forma isolada em tirinhas e histórias em quadrinhos.
d) organizar orações em períodos compostos.
Dois-pontos
Usos da vírgula I
• Introduz, em textos literários, a fala de personagens.
• A vírgula pode ser utilizada, no interior das orações, para:
• Introduz palavras, expressões ou orações que evidenciam
a) separar elementos de mesma função sintática, enumerados uma explicação ou enumeração.
em uma sentença;
b) isolar termos repetidos; Travessão
c) demarcar um termo em frases com ordem indireta; • Marca, em textos literários, o diálogo entre personagens.
d) isolar um adjunto adverbial anteposto ou intercalado; • Separa, em textos literários, a fala da personagem da fala do
e) isolar o vocativo; narrador.
f) isolar o aposto; • Destaca um esclarecimento no interior (travessão duplo) ou
no final (travessão simples) de uma frase.
g) separar local em datas; separar números em endereços;
h) separar termos ligados por conjunções coordenadas Aspas
repetidas.
• As aspas podem ter diferentes funções em um texto:
Usos da vírgula II a) demarcar diálogo ou fala;
• Em períodos compostos, a vírgula tem outras finalidades: b) destacar um termo ou expressão;
a) separar orações coordenadas assindéticas (não ligadas c) indicar citação;
por conjunções); d) indicar ironia;
b) separar orações coordenadas sindéticas que estabelecem e) sinalizar título de obra;
relação de oposição, alternância, explicação ou conclusão;
f) demarcar gíria, neologismos, palavras estrangeiras ou des-
c) separar termos explicativos entre orações; vios da norma-padrão da língua.
d) separar orações coordenadas sindéticas unidas pela
conjunção “e” (quando não tem valor aditivo, quando os Ponto e vírgula
sujeitos são diferentes e quando a conjunção se repete); • Representa no texto um fechamento parcial de uma ideia.
e) separar orações subordinadas adverbiais quando vêm • Relaciona orações de mesma natureza, que tratam de um
antes da oração principal ou quando estão intercaladas; assunto em comum.
f) separar orações subordinadas adjetivas explicativas; • Relaciona orações coordenadas adversativas, desde que a
g) marcar supressão de uma ou mais palavras. conjunção adversativa venha deslocada.
• Separa uma oração de outra, quando, nesta segunda, foi usa-
Outros sinais de pontuação da uma vírgula (que, em geral, marca a omissão de um termo).
Ponto-final • Separa itens enumerados em um texto.
• Usado ao final de frases declarativas, evidenciando a afirma- Reticências
ção ou a negação de uma ideia.
• As reticências podem ser utilizadas para indicar:
• Marca o fechamento de uma ideia, mostrando a completude
de uma informação. a) a continuidade de uma ideia;
FRENTE 1

b) o destaque de uma ideia;


Ponto de exclamação c) a hesitação comum na fala;
• Usado ao final de frases exclamativas. d) a supressão de partes de um texto;
LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 1 1
e) a necessidade de completar uma informação; Pontuação expressiva
f) a interrupção de pensamento; • Os sinais de pontuação podem ser utilizados em textos para
g) a continuidade da frase (de um quadro a outro em tirinhas, criar suspense, indicar tensão, dúvidas, emoções etc.
por exemplo). • Em alguns enunciados, o uso ou não da vírgula pode levar à
alteração de sentido.
Parênteses
• É preciso estar atento a problemas de compreensão relacio-
• Os parênteses podem ser utilizados para: nados a questões sintáticas: vocativo é separado da sentença
a) acrescentar uma informação no texto, referente a algo por vírgula; o sujeito, não. Alguns textos podem “brincar” com
mencionado anteriormente; isso para gerar efeito de humor.
b) evidenciar uma explicação de um termo antecedente; • Sinais de pontuação triplicados (como três interrogações ou
c) separar o advérbio latino sic do restante da sentença; três exclamações) podem evidenciar mais que uma simples
pergunta ou expressão de um sentimento: são sinais de algo
d) marcar um apagamento textual (supressão de informação), mais enfático (revolta, indignação, surpresa etc.). É importante,
quando combinado com os três pontos. no momento da leitura, perceber a entonação mais adequada
para remeter ao sentido expresso pela pontuação.
Colchetes
• Os sinais de pontuação que evidenciam a interação entre os
• Os colchetes podem evidenciar alterações no texto original. sujeitos (marcam diálogos) são: ponto de interrogação, ponto
Eles podem ser usados para: de exclamação, reticências e dois-pontos (antes de fala).
a) destacar um esclarecimento referente a uma palavra ou a • Os sinais de pontuação que evidenciam a presença da ideia
um trecho citado; de outros (marcam o discurso alheio) são: aspas (de diálogo
b) mostrar que uma informação foi inserida pelo autor do texto ou de ironia) e travessão (de fala).
que está sendo lido e não pelo autor do trecho citado; • Os sinais de pontuação que evidenciam a presença de dis-
c) introduzir no texto uma informação nova e demarcar a cursos intercalados (organizam o texto) são: parênteses,
autoria; colchetes, travessão (duplo), vírgulas (separando explicações)
d) marcar um apagamento textual (supressão de informação), e dois-pontos (destacando ideias).
quando combinado com os três pontos;
e) separar o advérbio latino sic do restante da sentença.

Capítulo 12 − Regências verbal e nominal • Pagar, perdoar: são transitivos diretos quando o seu comple-
mento se refere à coisa, e transitivos indiretos (preposição “a”)
quando o complemento se refere à pessoa. Podem também
Regência verbal
ser transitivos diretos e indiretos.
É a relação de dependência entre o verbo e o seu complemen-
to, que se estabelece por meio de preposição ou não. Alguns • Pedir: pede-se a ou para alguém alguma coisa ou que faça
verbos que podem gerar dúvidas de regência verbal são: alguma coisa.
• Abdicar: significando “rejeitar”, “desistir” rege, em geral, a • Preferir: é transitivo direto e indireto e rege a preposição “a”.
preposição “de”. • Visar: significando “objetivar”, “ter em vista” rege ou não a
• Aspirar: significando “desejar”, “almejar” rege a preposição preposição “a”.
“a” ou “por”.
Regência nominal
• Assistir: significando “presenciar”, “ver” rege a preposição “a”
É a relação de dependência entre um substantivo, adjetivo ou
e só aceita pronome tônico como complemento; significando
advérbio e os seu(s) complemento(s). Essa relação é sempre
“caber”, “competir” rege a preposição “a” e admite pronome
marcada por alguma preposição. Alguns casos que podem gerar
átono como complemento; significando “acompanhar”, “pres-
dúvidas de regência nominal:
tar assistência” usa-se ou não a preposição “a”.
• Chamar: significando “fazer”, “mandar ir ou vir” é transitivo Substantivos e adjetivos
direto; significando “bradar”, “clamar” rege a preposição “por”; • regem a preposição “a”: adepto, indiferente, alheio, junto, refe-
significando “tomar para si”, “assumir” rege a preposição “a”. rente, simpatia, favorável, tendência, imune, paralelo, relativo,
• Chegar, dirigir-se, ir, retornar, voltar: regem a preposição “a” acessível, adequado, desfavorável, equivalente, insensível,
(com o sentido “ir e voltar” também se usa a preposição “para”). obediente.
• Implicar: significando “resultar”, “ser a causa de” não se usa • regem a preposição “de”: junto, próximo, imune, contente,
preposição; significando “envolver”, “comprometer” é transi- capaz, incapaz, digno, indigno, passível, contemporâneo.
tivo direto e indireto e rege a preposição “em”; significando • regem a preposição “com”: junto, feliz, contente, amoroso,
“antipatizar”, “mostrar-se impaciente” rege a preposição “com”. compatível, cruel, cuidadoso, descontente.
• Morar, residir, situar-se, estabelecer-se: regem a preposição • regem a preposição “em”: feliz, entendido, indeciso, lento,
“em”. morador, hábil.
FRENTE 1

• Obedecer, desobedecer: regem a preposição “a”, tanto para • regem a preposição “para”: ansioso, inútil, bom.
coisa quanto para pessoa, e aceitam o pronome “lhe” como • regem a preposição “por”: ansioso, aversão, feliz, simpatia,
complemento para pessoa, e “a ele(s)/as” para coisa. contente, responsável.
LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 1 2
Advérbios • relativo a – relativamente a
Os advérbios terminados em -mente seguem a mesma regência • semelhante a – semelhantemente a
dos adjetivos de que são originados. Exemplos: • favorável a – favoravelmente a
• análogo a – analogamente a Os advérbios “perto” e “longe” são seguidos da preposição “de”.

Capítulo 13 − Crase
A crase é a fusão de dois sons idênticos. Na escrita, é marcada com o acento grave (`). Observe:

a
1 ñ à
(artigo)
aquele
àquele
a aquela
1 ñ àquela
(preposição) aquilo
àquilo
(pronome demonstrativo)
a qual
1 ñ à qual
(pronome relativo)

Ocorre crase

Regras Exemplos

Antes de palavras femininas, quando houver um vocábulo que exija a preposição “a”. Raíssa foi à loja ontem.

Antes de números que indicam hora determinada. Roseli chegou às três horas da manhã.

Antes de nome de lugar, desde que admita o uso do artigo feminino “a”. Aline vai à Bahia/Aline volta da Bahia.

Na expressão “às vezes” com sentido “de vez em quando”. Às vezes, Débora fica muito chateada.

Antes de palavras no plural especificadas por um artigo feminino. Refiro-me às cortinas da vovó Cecília.

Antes dos pronomes de tratamento “senhora”, “senhorita”, “madame” e “dona”. Peço perdão à senhorita Ivete.

Entre números, se antes do primeiro termo houver o artigo feminino “a”. A prova de Arlete será da sala 7 à 10.

Em locução conjuntiva formada por palavra feminina. Helena ficava mais cansada à medida que corria.

Em locução adverbial feminina de modo, tempo ou lugar. Helena saiu à noite.

Em locução prepositiva formada por palavra feminina. Renato ficou à beira da morte.

Em pratos culinários em que se subentende a expressão “à moda de”. Hélio adora macarrão à bolonhesa.
Lis usou um vestido à moda parisiense.
Na locução “à moda de”, ainda que subentendida, inclusive antes de palavra masculina. Lis usou um vestido à parisiense.
Lis usou um vestido à Victor Valentim.

Não ocorre crase

Regras Exemplos

Antes de palavras masculinas. Denise foi a pé até o shopping.


Quando a indicação de hora vier precedida das preposições “após”, “até”, “desde”,
Adriano chegará entre as 12h e 13h.
“entre” ou “para”.
Antes de nome de lugar que não admite o uso do artigo feminino “a”. Carol vai a Salvador. Ela volta de Salvador.

Na expressão “as vezes” com sentido de “momentos”, “ocasiões”. Fico triste todas as vezes que não te vejo.
Antes de palavras no plural que têm sentido genérico e que não são especificadas por
Refiro-me a cortinas de seda.
um artigo feminino.
Em pratos culinários em que não se subentende a expressão “à moda de”. Paulo não gosta de frango a passarinho.

Antes da maioria dos pronomes de tratamento. Peço perdão a Vossa Excelência.

Entre números, se antes do primeiro número não houver o artigo feminino “a”. A prova da OAB será de 4 a 7 de março.
FRENTE 1

Em expressões com palavras repetidas. Fátima o viu face a face.

Antes de verbo. Isabel sai a caminhar quando quer.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 1 3


Antes de palavras com sentido indefinido – artigos ou pronomes. O carro de Marcos veio a toda velocidade.

Antes de pronomes pessoais. Saulo disse a ela que era tudo mentira.

Antes de pronome interrogativo. Queria saber a quem ela puxou!


a a
Antes de pronome demonstrativo de 1 e 2 pessoas. Leonardo está disposto a isto!

Entre dias da semana ou meses do ano. As matrículas ocorrem de janeiro a março.

Uso facultativo

Regras Exemplos

Depois da locução prepositiva “até a”. Moisés foi até à/até a escola.

Antes de pronomes possessivos femininos. Bruno, fique atento à/a nossa palestra.
Antes de nomes próprios femininos de pessoa próxima. Dei um presente à/a Camila.

Obs.: Para nomes de pessoas famosas com as quais não se tem intimidade, não se deve A atriz se referia a Cláudia Raia.
utilizar o acento grave.

Outras ocorrências

Ocorre crase Não ocorre crase


Antes da palavra “casa”, desde que ela seja modificada por um termo Se a palavra “casa” indicar “lar” ou não houver nenhum termo que a
qualitativo (adjetivo ou locução adjetiva). especifique, não haverá crase.
Ex.: Fui à casa de Marina. Ex.: Voltar a casa é o melhor a fazer depois do trabalho.
Antes da palavra “terra”, se ela estiver acompanhada por um especifi- Quando a palavra “terra” for empregada no sentido de “chão”, “terra
cador (adjetivo ou pronome), ou se fizer referência ao nome do planeta. firme”. Nesses casos, nunca vem especificada.
Ex.: O navegante retornou à terra natal./ O astronauta voltou à Terra. Ex.: Os navegantes retornaram a terra.
Se a palavra “distância” for determinada numericamente. Se a palavra “distância” não estiver especificada numericamente.
Ex.: Vi você à distância de 100 m. Ex.: Vi você a distância.
Se a expressão “à vista” for empregada com o sentido de “no ato da
Se “a vista” for sinônimo de “visão”.
compra”, “diante dos olhos”.
Ex.: A vista já está cansada.
Ex.: Vou comprar o imóvel à vista.

• O acento grave pode ser utilizado em locuções sem que o fenômeno da crase aconteça, ou seja, sem que ocorra a fusão da pre-
posição e do artigo feminino. Por exemplo, na locução “à vista” pode ser utilizado o acento grave, apesar de este não demarcar
necessariamente o fenômeno da crase; trata-se de uma convenção de acentuação, pois a norma-padrão afirma ser admissível o
uso do acento grave em locuções adverbiais de modo formadas por um substantivo feminino.

Expressões com ambiguidade


• Em algumas locuções adverbiais, o acento grave pode ser utilizado para evitar a ambiguidade. Ex.: Ela cheira a flor de jasmim. (ela
aspira o perfume da flor)/Ela cheira à flor de jasmim. (ela tem o perfume da flor).

Capítulo 14 − Verbo I: propriedades gramaticais • 3ª conjugação: vogal temática “i” (ex.: partir).
e semânticas Para cada conjugação, existe um modelo de flexão, isto é, um
paradigma verbal que orienta a conjugação da maioria dos ver-
bos. Quanto à regularidade desse paradigma, os verbos são
Conceito e princípios gerais classificados em:
O verbo tem a morfologia mais rica entre as classes de palavras,
• Regulares: são aqueles em que o radical permanece o mesmo
desempenhando um papel fundamental na organização da sen-
em todas as formas verbais. Ex.: cantar.
tença e do texto.
• Irregulares: são os verbos cujos radicais se alteram ou cujas
Estrutura e conjugação dos verbos terminações não seguem o modelo da conjugação a que per-
O verbo é formado obrigatoriamente por um radical geralmente tencem. Ex.: ouvir.
invariável, ao qual são acrescidos os sufixos modo-temporais e • Defectivos: são aqueles que não têm todas as conjugações.
o os sufixos número-pessoais. Ex.: abolir e reaver.
Em língua portuguesa, há três tipos de conjugação verbal, que • Anômalos: suas conjugações incluem mais de um radical.
FRENTE 1

são definidas pela vogal temática de cada verbo: Ex.: ser: (sede, era etc.) e ir (vou, fui, irei etc.).
• 1ª conjugação: vogal temática “a” (ex.: amar); • Abundantes: apresentam duas ou mais formas equivalentes.
• 2ª conjugação: vogal temática “e” (ex.: correr); e Ex.: aceitar (aceitado e aceito).
LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 1 4
Classificação semântica e formas nominais do verbo
Do ponto de vista das propriedades semânticas, existem: verbos significativos (por si só expressam um conteúdo semântico, uma
noção, um significado) e verbos não significativos, ou de estado (expressam uma condição de algo ou alguém).
No ordenamento sintático, os verbos significativos são classificados como:
• transitivos: necessitam de um complemento verbal direto ou indireto (com preposição).
• intransitivos: apresentam sentido completo, não necessitando de complementos.
• de ligação: estabelecem relação entre o sujeito e uma característica a ele atribuída.
As formas nominais do verbo não sofrem influência direta do tempo e não têm sujeito, podendo funcionar como substantivo ou ad-
jetivo. As formas nominais são: infinitivo (ex.: amar), gerúndio (ex.: amando) e particípio (ex.: amado).

Flexões verbais e perífrase verbal


Os verbos podem variar em:
• modo: indicativo (sentido de certeza), subjuntivo (sentido de dúvida) e imperativo (sentido de ordem).
• tempo: presente, pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito e futuro do presente e do pretérito.
• pessoa: primeira, segunda e terceira pessoa (singular e plural).
• número: singular e plural.
• voz: ativa, passiva e reflexiva.
• aspecto: durativo, conclusivo, habitual e incoativo.
A perífrase verbal é quando um verbo auxiliar e um verbo pleno se reúnem na mesma sentença. Ex.: Ele deve estudar esse ano.

Formação dos tempos e modos verbais


Os modos verbais são as diferentes formas que o verbo assume para indicar a atitude (de certeza, de dúvida ou de ordem) do sujeito
que fala em relação ao que ele enuncia. São eles:
• Indicativo (certeza). Ex.: Eu estudo todos os dias.
• Subjuntivo (dúvida). Ex.: Talvez eu estude todos os dias.
• Imperativo (ordem). Ex.: Estude todos os dias.
Os tempos verbais são definidos pela relação entre o ponto de referência do locutor e a anterioridade, posterioridade ou simultanei-
dade do acontecimento verbal. O ponto de referência pode estar no presente, no passado ou futuro.

Modo Tempo Emprego Desinência

Presente Indica uma ação simultânea ao momento da fala. [eu] canto

simples Indica ação concluída no passado. [eu] cantei


perfeito
composto Indica uma ação que se estende até o presente. [eu] tenho cantado

Pretérito imperfeito Indica uma ação passada não concluída completamente. [eu] cantava
INDICATIVO

simples [eu] cantara


mais-que-perfeito Indica uma ação passada anterior a outra ação passada.
composto [eu] tinha cantado
Indica uma ação futura sem estabelecer relação com
simples [eu] cantarei
do presente outro fato.
composto Indica uma ação futura anterior a outra futura. [eu] terei cantado
Futuro
simples Indica uma ação posterior a outra passada. [eu] cantaria
do pretérito Indica posterioridade de uma ação incerta em relação a
composto [eu] teria cantado
um ato anterior.
Indica simultaneidade associada à noção de incerteza
Presente que [eu] cante
ou desejo.
Indica anterioridade de uma ação incerta concluída que [eu] tenha
perfeito
antes de outra. cantado
SUBJUNTIVO

Indica anterioridade associada à noção de incerteza ou


Pretérito imperfeito se [eu] cantasse
desejo.
Indica anterioridade remota, associada à noção de se [eu] tivesse
mais-que-perfeito
incerteza ou desejo. cantado
simples Indica posterioridade associada à noção de incerteza, quando [eu] cantar
Futuro
composto possibilidade, em orações subordinadas. quando [eu] tiver cantado
FRENTE 1

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 1 5


IMPERATIVO
Afirmativo Indica uma ordem. Canta [tu]

Negativo Indica uma ordem negativa. Não cantes [tu]

Valores semânticos e correlação verbal


Os verbos não só expressam um tempo verbal, mas também criam situações de comunicação: narração ou comentário.
• Narração: uso dos tempos verbais do pretérito. O narrador exige pouco do interlocutor, colocando-o em uma posição passiva.
• Comentário: uso dos tempos verbais do presente e do futuro. O locutor se compromete mais com o que enuncia e exige partici-
pação ativa do interlocutor.
A correlação verbal é a harmonia entre as formas verbais expressas em um período. A seguir, algumas correlações convencionadas:
• Presente do modo indicativo + pretérito perfeito composto do modo subjuntivo.
Ex.: Creio que ele tenha estudado para a prova.
• Presente do modo indicativo + presente do modo subjuntivo.
Ex.: Espero que você estude para a prova.
• Pretérito perfeito do indicativo + pretérito imperfeito do subjuntivo.
Ex.: Pedi a ele que estudasse para a prova.
• Pretérito imperfeito do modo indicativo + pretérito mais-que-perfeito composto do modo subjuntivo.
Ex.: Queria que ela tivesse estudado para a prova.
• Futuro do pretérito do modo indicativo + pretérito mais-que-perfeito composto do modo subjuntivo
Ex.: Gostaria que ele tivesse estudado para a prova.
• Pretérito imperfeito do subjuntivo + futuro do pretérito do indicativo.
Ex.: Se você estudasse para a prova, eu ficaria orgulhoso.
• Pretérito mais-que-perfeito composto do subjuntivo + futuro do pretérito composto do indicativo.
Ex.: Se você tivesse estudado para a prova, eu teria visto.
• Futuro do subjuntivo + futuro do presente do modo indicativo.
Ex.: Se você estudar para a prova eu ficarei contente.
• Futuro do subjuntivo + futuro do presente composto do indicativo.
Ex.: Quando você vier em minha casa, já terei estudado.
• Futuro do subjuntivo + futuro do presente do modo indicativo.
Ex.: Quando você estudar para a prova, ficarei muito orgulhoso.

FRENTE 1

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 1 6


Resumindo LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2

Capítulo 10 − Heróis do Modernismo no Brasil Pauliceia Desvairada. O autor desenvolveu intensa pesquisa
sobre a cultura e o folclore nacional, condensados em sua
• Mário de Andrade e Oswald de Andrade foram dois autores obra Macunaíma, publicada em 1928.
modernistas envolvidos com os preparativos da Semana de • Oswald de Andrade foi um dos autores mais irreverentes do
Arte Moderna. Manuel Bandeira não participou da ocasião Modernismo, cuja obra se desdobrou em poemas, manifestos,
diretamente, mas enviou seu poema “Os sapos”, declamado romances, peças teatrais. O Manifesto Antropófago é a síntese
por Ronald de Carvalho na abertura do evento. da deglutição cultural modernista.
• Os três autores são considerados os heróis do Modernismo, • Manuel Bandeira foi o poeta do cotidiano que revelou o su-
pois suas produções, embora apresentem singularidades, são blime por meio de sua poesia da simplicidade, mediante a
a síntese da ruptura modernista. emoção intensa do alumbramento. Sua obra mais represen-
• Mário de Andrade apresentou as intenções do movimento em tativa dos objetivos modernistas é Libertinagem, publicada
seu “Prefácio Interessantíssimo”, publicado em 1922 no livro em 1930.

Capítulo 11 − O Modernismo no Brasil: a poesia • A segunda fase é conhecida como fase negra ou regional e
mística e social é inspirada por uma onda de brasilidade.
• Nesse período, o autor adotou versos brancos e livres, con-
Carlos Drummond de Andrade ferindo por meio deles algumas particularidades da região
Nordeste a seus poemas.
• A poesia da segunda fase do Modernismo no Brasil, produzi-
da a partir da década de 1930, encontra-se em um contexto • Sua última fase é conhecida como épica. A obra de destaque
conturbado entre as duas guerras mundiais e a tensão da desse período é A invenção de Orfeu.
ditadura do Estado Novo da Era Vargas. • A obra de Jorge de Lima é complexa e enigmática, apresenta
• Os autores da Poesia de 1930, embalados pela liberdade diversas referências simbólicas, literárias e mitológicas.
formal característica da primeira fase modernista, procuram,
agora, posicionar-se de maneira engajada diante das ques- Murilo Mendes
tões sociais de seu tempo. • Sua obra apresenta como características o nacionalismo, o
• Além da denúncia social, outros aspectos presentes nas pro- folclore, o coloquialismo, o humor, o poema-piada e a paródia.
duções poéticas são: teor místico, caráter religioso e temas • A produção poética de Murilo Mendes dialoga com a de Mário
associados à efemeridade da vida e à morte. de Andrade e Oswald de Andrade.
• Carlos Drummond de Andrade, um dos poetas mais influentes • Seus poemas têm influência do Surrealismo.
do século XX, tem sua obra dividida em três fases: gauche, • Após a conversão ao catolicismo, a produção do autor ganha
social e filosófica.
um tom mais religioso e espiritualista, permeado de espe-
• A primeira fase da poética drummondiana aproxima-se das rança.
características irreverentes da primeira geração modernista.
• Na obra de Murilo Mendes, a poesia apresenta uma ambi-
• A fase social está atrelada ao contexto político e social do guidade marcada por salvação e martírio. Nesse sentido, a
Brasil e do mundo. dualidade e a visão dicotômica do mundo são características
• A fase filosófica apresenta reflexão e um tom pessimista diante de sua obra.
do fazer poético.
Vinicius de Moraes
Cecília Meireles • Produção poética dividida em duas fases: a cristã e a mate-
• Representante da vertente espiritualista do Modernismo. rialista/cotidiana.
• Poemas de tom intimista e religioso, pautados por uma lingua- • Na primeira fase, fortes tendências místicas e transcendentais,
gem próxima à abstração musical e fluidez onírica. além de certo tom religioso conferido pela formação católica
• Em sua obra, são temas recorrentes: o amor, o tempo, a morte do autor.
e a eternidade. • Na segunda fase, de tom mais sensual e erótico, os poemas
• Romanceiro da Inconfidência é considerado sua obra-prima. retratam um amor cotidiano.
Ela se organiza em romance, cenários e falas e mostra influên-
• Assim como os outros poetas de sua geração, parte de sua
cia do Arcadismo. Nos poemas, a autora reconta um episódio
produção evidencia uma preocupação com questões sociais.
histórico brasileiro: a Inconfidência Mineira.
FRENTE 2

• Vinicius ajudou a criar o movimento musical Bossa Nova.


Jorge de Lima • Uma das formas de maior destaque de sua obra é o soneto
• A primeira fase da produção poética tem influências parna- camoniano, mas trabalhado pelo poeta com uma linguagem
sianas e simbolistas. mais coloquial.

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 1


Capítulo 12 − Modernismo: do regionalismo de José Lins do Rego
1930 ao experimentalismo de 1945 • Suas obras têm traços autobiográficos, misturando memórias
e registros em suas composições.
Rachel de Queiroz • Usava discurso indireto livre e linguagem poética.
• Autora importante para o romance regionalista, publicou Graciliano Ramos
O quinze aos 20 anos de idade. A obra narra a grande seca • Teve equilíbrio entre a investigação dos problemas sociais e
ocorrida em 1915 no Nordeste brasileiro. a análise psicológica de suas personagens.
• Usava linguagem objetiva, simples, sem artifícios para sen- • Suas obras abordaram aqueles que abandonaram o sertão
sibilizar o leitor. em busca de uma vida diferente, bem como aqueles que
• Foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de permaneceram lutando com a aridez do espaço.
Letras. • Tinha um estilo seco, conciso e econômico nos adjetivos.
O autor priorizou a objetividade e a clareza em sua narrativa.
Jorge Amado • São Bernardo, romance narrado em primeira pessoa, apre-
• Escritor popular entre leitores brasileiros e estrangeiros. senta as memórias do narrador-protagonista Paulo Honório.
• Suas primeiras obras têm cunho político e social mais marcado. • Angústia, romance em primeira pessoa, conta a história de
• Ajudou a criar um imaginário coletivo do país. Luís da Silva, um funcionário público tímido e solitário que vive
• Teve forte atuação política e inclinação comunista. em uma casa velha em um bairro pobre.
• Erotismo e sensualidade são marcas de sua prosa. • Vidas secas, único romance em terceira pessoa, narra a his-
tória de uma família que foge da seca do Sertão nordestino.
Erico Verissimo
• Autor tão popular quanto Jorge Amado. Guimarães Rosa
• Suas primeiras obras são observações da sociedade urbana • Destacou-se pela forma singular e inventiva com que traba-
do Rio Grande do Sul. lhava a linguagem.
• A trilogia O tempo e o vento faz parte de sua produção regio- • A inventividade de sua linguagem surgiu da mistura de vários
nalista, pois apresenta a busca pela formação da identidade componentes, como o falar regional e o uso de recursos poé-
e do território gaúcho. ticos, neologismos e aforismos.

FRENTE 2

LÍNGUA PORTUGUESA FRENTE 2 2

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