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Apresentação Do Dossiê

O dossiê apresenta uma reflexão sobre a docência na Educação Básica, abordando a complexidade dos saberes necessários para a formação de professores e a prática pedagógica. Ele reúne contribuições de diversos pesquisadores, enfatizando a importância de uma visão integrada da docência que considere contextos sociais, culturais e históricos. O objetivo é promover uma discussão crítica e criativa sobre a formação docente, destacando a necessidade de adaptação e inovação nas práticas educativas.

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Apresentação Do Dossiê

O dossiê apresenta uma reflexão sobre a docência na Educação Básica, abordando a complexidade dos saberes necessários para a formação de professores e a prática pedagógica. Ele reúne contribuições de diversos pesquisadores, enfatizando a importância de uma visão integrada da docência que considere contextos sociais, culturais e históricos. O objetivo é promover uma discussão crítica e criativa sobre a formação docente, destacando a necessidade de adaptação e inovação nas práticas educativas.

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IGNÁCIO, P.; CAMOZZATO, V. C.; GONÇALVES, S. da R. V. Apresentação do Dossiê Para Pensar a Docência na Educação Básica.

Apresentação do Dossiê Para Pensar a Docência na Educação


Básica

Presentation of the Dossier to Reflect on Teaching in Basic Education

Presentación del Dossier Para Pensar la Docencia en la Educación Básica

*Patrícia Ignácio1
**Viviane Castro Camozzato 2
***Suzane da Rocha Vieira Gonçalves 3

* Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal - RN, Brasil


** Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), Bagé - RS, Brasil
** Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande - RS, Brasil

O presente dossiê traz como proposta Pensar a Docência na Educação


Básica como materialidade de discursos advindos de campos diversos, como o do
currículo, da formação de professores, da prática pedagógica e dos fundamentos da
educação, entre outros que se mostram basilares na formação, conformação e
produção das identidades docentes. Essa visão caleidoscópica fortalece a percepção
de que o que se produz na área da Educação se move além de campos de
investigação fendidos. Ela congrega, reúne, mistura, combina, borra fronteiras,
produz matizes dos conhecimentos – para este dossiê, conhecimentos da Docência.
Como temática em pauta na atualidade e recorrente em todo o mundo, tendo em vista
as políticas e normativas de formação de professores e assistentes escolares
contemporâneas e, em especial, as discussões decorrentes de investigações
envolvendo a prática docente e suas implicações na formação dos sujeitos escolares,
urge que pensemos a docência como um todo, e não mais como partes.
Daí a importância deste dossiê para vislumbrarmos a ação docente não de
um único e engessado prisma. Haja vista tratar-se de trama, constelação discursiva,
concatenação tecida e engendrada em meio a políticas, documentos normativos,
formação inicial e continuada de professores e práticas pedagógicas, assentados em
um conjunto de saberes e fazeres considerados verdadeiros em um tempo e um
espaço históricos, sociais e culturais específicos.
Pesquisadores como Gauthier et al. (1998), Pimenta (1999), Tardif (2002),
Tardif e Lessard (2014), Gil e Hernández-Hernández (2016) e Larrosa (2018), entre
outros, vêm chamando a atenção para a complexidade desse conjunto de saberes
necessários à docência. Dentre estes, além do conhecimento de conteúdo, estão

1
Doutora em Educação pela UFPE. Pós-doutora em Educação pela UFRN. Professora, pesquisadora e
orientadora do Departamento de Práticas Educacionais e Currículo, no Centro de Educação da UFRN. Orcid:
https://orcid.org/0000-0003-2145-2957. E-mail: patricia.ignacio@ufrn.br.
2
Doutora em Educação pela UFRGS. Professora e pesquisadora na Uergs. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-
2617-0529. E-mail: vicamozzato@gmail.com.
3
Doutora em Educação Ambiental pela FURG. Professora, pesquisadora e orientadora do Instituto de Educação
da FURG. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-3156-2693. E-mail: suzanevieira@gmail.com.

ISSN 1982-7199 | DOI: 10.14244/reveduc186904 Revista Eletrônica de Educação, v.18, e6904109, p. 1-9, jan./dez. 2024
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saberes: i) pedagógicos de conteúdo, ii) das ciências da educação, iii) do currículo da


Educação Básica, iv) dos estudantes, v) dos contextos educacionais e vi) das
finalidades educativas, filiados e implicados em questões, teorizações, práticas e
desafios do seu espaço-tempo. Trata-se de uma docência vista, tautocronamente,
como um campo de disputa e de criação, na "reunião mútua e dialética da teoria e da
prática educativas" (Houssaye, 2004, p. 10), considerando-se que a docência
demanda a indissociação entre esses dois elementos. Isso nos instiga a tentar
problematizar, compreender, investigar, "puxar" os fios da trama destes tempos Para
Pensar a Docência na Educação Básica. Tal operação incita à criação de pequenas
suturas, fraturas, brechas, afinal, a docência é um processo em constante
(re)construção, feitura, (re)invenção, mutação, (re)criação e (trans)formação.
Nas fronteiras do pensamento sobre a Educação Básica, esperamos que este
dossiê contribua para abrir os campos do olhar e das possibilidades; que, em cada
momento pedagógico, seus textos sejam ativadores de provocações, análises,
identificações e criações de estratégias; que possa abrir o campo dos sentidos e dos
significados da docência, evidenciando possibilidades outras, implicando
investimentos nas potencialidades de cada sujeito e de cada processo. Isso porque,
para a formação e a prática docente – que se afirma como lugar de produção e
(re)invenção, e não de mera reprodução do existente –, é coerente "fazer com que o
mundo apareça aberto" (Larrosa, 2001, p. 49). Por isso, reconectamo-nos com as
temporalidades do antes, do durante e do depois, fazendo com que tenhamos, neste
dossiê, um espaço-tempo "aberto" Para Pensar a Docência na Educação Básica. O
desejo é que os textos funcionem como uma espécie de máquina para agenciar o
reconhecimento da importância social da educação e do acento em pensar a
Educação Básica a partir dos saberes e dos fazeres da docência.
Com vistas a contribuir para o compartilhamento de saberes que têm sido
produzidos sobre Docência nos espaços e nos tempos escolares e universitários do
Brasil, da Espanha, da Argentina e de Portugal, é que se engendrou a organização
dos textos que compõem este dossiê. Eis aí, sobretudo, sua originalidade: o
entrelaçamento de diferentes lugares onde a Docência se torna visível e é colocada,
por cada pesquisador e pesquisadora, como foco de problematização. Afinal, para
compreendermos sua trama discursiva, é preciso reunir esforços para que suas
linhas, fios e traços sejam analisados de uma perspectiva que entrelaça o local e o
global, dada a inseparabilidade cada vez mais ativa de tais esferas. Por isso mesmo,
nossos esforços em contemplar autores e autoras referência em suas áreas de
atuação e de pesquisa, suas abordagens e seus objetos de estudo, considerando o
fecundo potencial de inserção das discussões em diferentes pontos do Brasil e em
diferentes localidades do exterior.
Apresentamos, então, o dossiê Para Pensar a Docência na Educação Básica,
que traz os artigos comentados a seguir.
No artigo “From the past to the future of the training of Educators/Teachers:
the present poses new challenges”, Teresa Sarmento discute o processo de formação
de professores, ressaltando tratar-se de uma jornada individual e coletiva, que exige
a integração de ação, experiência e emoção. A autora revisita os princípios básicos

ISSN 1982-7199 | DOI: 10.14244/reveduc186904 Revista Eletrônica de Educação, v.18, e6904109, p. 1-9, jan./dez. 2024
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da formação docente e enfatiza a necessidade de preparar educadores para um


futuro que, embora incerto, possa garantir a educação como um direito fundamental
das crianças. No texto, a experiência prática e a relação entre dimensões pessoais e
profissionais são vistas como pilares essenciais no processo de profissionalização
docente. Ademais, Sarmento explora conceitos-chave, como experiência, reflexão,
aprendizagem profissional e interação pessoal, destacando-os como fundamentais
para a construção de uma identidade docente autêntica e colaborativa, alinhada à
complexidade da sociedade atual. Nesse processo, reforça a interdependência entre
formação e prática, com destaque para a colaboração entre formadores, instituições
e comunidade escolar. A autora também reflete sobre os impactos e os desafios da
pandemia, como a adaptação de estratégias pedagógicas, a construção de redes de
apoio entre formadores e a criação de oportunidades de ensino online para assegurar
a continuidade do processo educativo em tempos de crise, conforme evidenciado no
Instituto de Educação da Universidade do Minho. Com base nas experiências
promovidas pela crise pandêmica, Sarmento conclui o texto afirmando que a
formação docente deve ser fundamentada no desenvolvimento de cidadãos livres,
responsáveis e solidários.
Escola do campo, docência e pedagogia entrelaçam-se no artigo Educação
do Campo na formação de licenciandos(as) de Pedagogia: possibilidades, desafios e
contradições, de Marcelo Bagata Tavares, Maria Eliane de Oliveira Vasconcelos,
Edilson da Costa Albarado e Heloísa da Silva Borges. Utilizando uma metodologia
integrada, que envolve pesquisa participante em disciplina e em ações externas às
aulas propriamente ditas, o estudo discute a inserção da Educação do Campo como
componente curricular na formação inicial de professores do curso de Pedagogia,
com ênfase na Amazônia. A proposta busca ampliar a visão de docência,
contemplando as realidades do campo além dos contextos urbanos. A Educação do
Campo, originada nas lutas de movimentos sociais, é abordada sob uma perspectiva
crítica e dialógica, conectando-se com as especificidades culturais e laborais dos
sujeitos, sem desconsiderar o impacto das dinâmicas da classe trabalhadora como
um todo. Os autores realizaram, ainda, uma revisão bibliográfica e documental, além
de entrevistas com professoras, o que permitiu evidenciar a relevância da Educação
do Campo no curso de Pedagogia, aproximando os estudantes dos conhecimentos e
especificidades da realidade rural.
As concepções de alunos em formação docente sobre o papel do professor
em sala de aula são o objeto de estudo no artigo “Uso de metáforas e o
reconhecimento do papel do professor em sala de aula na educação básica”,
produzido pelas professoras-formadoras Andréa Inês Goldschmidt e Luciana Richter.
Partindo do pressuposto de que a reflexão deve fazer parte da formação docente, as
autoras questionam e estimulam o pensamento crítico de licenciandos por meio do
uso de metáforas. No estudo, as pesquisadoras promovem uma formação inicial
reflexiva para 25 licenciandos, matriculados em três disciplinas de um curso de
licenciatura em Ciências Biológicas. Com o auxílio de uma maleta com 18 elementos,
os futuros professores foram convidados a refletir e discutir metaforicamente sobre
cada um dos objetos, relacionando-os ao papel do docente na Educação Básica. A

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experiência formativa revelou concepções docentes que destacam certas qualidades,


como flexibilidade, criatividade e capacidade de chamar a atenção, estabelecer
limites, motivar, ter prazer em ensinar, construir boas relações afetivas, respeitar a
diversidade e o tempo de aprendizagem, além de reconhecer que o processo de
formação profissional é contínuo e que é possível errar e corrigir. Também são
salientadas as diferentes compreensões dos licenciandos no início e no final do curso,
indicando que, ao longo da formação, discussões e questionamentos contribuem para
o aprimoramento de seus entendimentos.
Estudos da literatura educacional têm evidenciado que a atividade docente se
constitui em uma profissão complexa, composta por diferentes etapas. Dentre elas, a
entrada na carreira é considerada uma fase marcante, devido à sua centralidade na
constituição da identidade docente e na adaptação do professor à profissão.
Acompanhando essa linha de pesquisa, o artigo “O atravessamento do início da
carreira docente: uma análise a partir do patrimônio disposicional”, de Wilson Elmer
Nascimento, apresenta a biografia de um professor de Física em exercício, com o
objetivo de identificar disposições incorporadas por ele mediante processos de
socialização e compreender a influência dessas disposições em seu enfrentamento
dos primeiros desafios do início de carreira. Ancorado no aporte teórico-metodológico
da tradição sociológica disposicionalista e contextualista da ação, o estudo evidencia
duas disposições fortemente arraigadas no repertório do professor participante da
pesquisa: uma disposição ascética, que mobilizou suas ações de permanência,
aperfeiçoamento e melhoria de práticas docentes; e uma disposição à resiliência,
basilar no enfrentamento de adversidades do início da carreira. O estudo conclui que
essas disposições suavizaram o choque de realidade e abriram possibilidades para o
amadurecimento e a consolidação profissional em um dos momentos mais críticos da
trajetória docente.
Em “Formação continuada de professores de anos iniciais do Ensino
Fundamental: uma inscrição em outra cultura formativa”, as autoras Sabrine Borges
de Mello Hetti Bahia, Elí Terezinha Henn Fabris e Daiane Scopel Boff instigam-nos a
colocar em questão o processo de formação continuada de professores do Ensino
Fundamental. Realizam isso com base na potencialidade de um Laboratório de
Docências (LABDOC), compreendido como um espaço formativo que não captura a
docência pelo discurso das tais "boas práticas", posto que enseja um movimento em
prol da autonomia docente e, portanto, da "valorização do estudo, da pesquisa e dos
conhecimentos docentes advindos das suas experiências com alunos, em diferentes
espaços educativos." As discussões dialogam com a perspectiva pós-estruturalista e,
especialmente, com as inspirações da análise foucaultiana. Conceitos como
hipercrítica, experiência, experimento e exercício de pensamento, dentre outros, são
entrelaçados nas análises. As autoras evidenciam a necessidade de uma cultura
formativa para a transformação das práticas pedagógicas docentes, o que implica um
processo de condução de si mais autoral, coformativo e aberto a deslocamentos.
O artigo “Proporcionalidad y porcentajes en la Educación Básica: análisis y
propuesta de mejora de una unidad didáctica”, de Gara Acedo Arzola, Adriana Breda,
Alicia Sánchez e Valderez Marina do Rosário Lima, traz a reflexão sistematizada de

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uma futura professora sobre sua própria prática, quando usa os Critérios de
Adequação Didática (CID) para implementar, avaliar e redesenhar uma unidade
didática sobre proporcionalidade e porcentagens aplicada à Educação Básica. A
intervenção foi aplicada a um grupo de alunos do primeiro ano do Ensino Secundário
Obrigatório Espanhol (11-12 anos), em um instituto público de Barcelona, como parte
do Master en Formación de Profesorado de Secundaria de Matemáticas de
Catalunya, da Universitat Autònoma de Barcelona, de uma das autoras. A análise,
pautada nos Critérios de Adequação Didática, revelou que a futura professora deu
maior ênfase às adequações epistêmica, cognitiva e de meios ao avaliar sua prática.
De forma geral, os resultados estão alinhados com outras pesquisas que tratam da
reflexão docente durante a formação de professores ao se utilizarem os Critérios de
Adequação Didática como ferramenta para aprimorar a prática pedagógica.
A sociedade neoliberal contemporânea é submetida a escrutínio mediante
problematização do processo de comodificação da docência, que ocorre, entre outros
artefatos culturais e espaços sociais, de maneira cada vez mais proeminente em livros
didáticos direcionados a professores da Educação Infantil. Considerando esse
contexto, Rodrigo Saballa de Carvalho, no artigo “A comodificação da docência no
currículo de livros didáticos para docentes de pré-escola”, utiliza a análise do discurso
foucaultiana para investigar o fenômeno da comodificação da docência em livros
didáticos voltados para a prática pedagógica na pré-escola. As análises
desenvolvidas pelo autor desconstroem os raciocínios políticos e pedagógicos
presentes nos discursos das quatro obras analisadas. Carvalho apresenta um amplo
conjunto de materialidades ao destacar "a precarização do ofício docente e o
alinhamento dos livros à BNCC-EI", além das "pedagogias de take-away nas lições
de docência". Por esse motivo, o autor entende que uma das urgências do tempo
presente é o exercício do pensamento crítico por parte dos docentes, de modo a
resistir ao processo de comodificação e às estruturas discursivas que colocam a
docência na posição de "não saber".
A partir da análise do discurso foucaultiana, o artigo “A pedagogização da
pandemia em planos de aula da Nova Escola: quais docências? Quais saberes? Que
estudantes?” chama atenção para o processo de pedagogização da pandemia de
COVID-19. As autoras Viviane Castro Camozzato, Patrícia Ignácio e Mariangela
Momo debruçaram-se em um conjunto de nove planos de aula, disponibilizados no
site da Nova Escola, todos direcionados aos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Por compreenderem a pedagogização como "a ação de descontextualizar,
remodelar, reconceitualizar e recontextualizar os saberes, a partir das regras do
discurso que os enuncia", as escolas e os docentes viram-se na encruzilhada de
construírem novos modos de saber-fazer em face das condições adversas da
pandemia. As autoras chegaram à conclusão de que o processo de pedagogização
da pandemia foi acionado e funcionou de modo a implementar o biopoder; por isso,
engendrou práticas de cuidado individual e coletivo para manter a vida e a força
produtiva. Assim, de forma articulada a outros artefatos culturais e lugares de
aprendizagem atuantes em nossas sociedades, os planos de aula analisados
propuseram saberes e fazeres direcionados aos docentes, aos estudantes e à

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manutenção do "fazer viver". A pandemia de COVID-19 foi incorporada ao logos


pedagógico, utilizando técnicas e procedimentos que convertem o conhecimento com
vistas a produzir sujeitos alinhados às circunstâncias de excepcionalidade vividas.
A partir da abordagem (auto)biográfica e utilizando os Casos de Ensino como
dispositivo de pesquisa e formação, o artigo “Casos de Ensino: Teatro do Oprimido
como ato de resistência”, de Cláudia Starling, Elizeu Clementino de Souza e Emanoel
Nogueira Ramos, leva-nos a refletir sobre como os processos formativos emergem
das reflexões sobre a prática pedagógica e o uso do texto dramático. Os autores
destacam o potencial dos Casos de Ensino para fomentar o desenvolvimento
profissional e investigativo dos educadores. Os resultados mostram a importância da
reflexão crítica sobre as vivências em sala de aula, proporcionando uma
compreensão mais profunda dos desafios e possibilidades no ensino de teatro na
Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJAI), com ênfase nas questões de
reconhecimento e resistência vividas pelos estudantes, sob a perspectiva docente.
O impacto do uso das Inteligências Artificiais Generativas (IAGs) na educação
tem sido um tema recorrente entre pesquisadores e profissionais de diferentes áreas
e instituições educativas. Na esteira desse debate, o artigo “IA generativa em
competências discursivas na educação básica”, de Alba Valéria de Sant´Anna de F.
Loiola, Andréia dos Santos Sachete, Raquel Salcedo Gomes e Roges Horacio Grand,
objetiva contribuir com reflexões sobre os processos mentais que consolidam a
aprendizagem em língua materna em um contexto marcado pela presença crescente
das IAGs. No centro da discussão, o estudo propõe uma aproximação teórica entre
os gêneros discursivos de Bakhtin e o conceito de transletramento, enfatizando o
impacto das IAGs no desenvolvimento de habilidades discursivas conversacionais na
educação básica. Para isso, analisa possíveis usos dessas tecnologias no contexto
educacional, relacionando-as às habilidades do componente Língua Portuguesa.
Considerando que o uso das IAGs tem implicações significativas no desenvolvimento
cognitivo dos estudantes, em especial na educação básica, o artigo também ressalta
a importância da formação docente para o uso da IA.
Liliana Mayer, em “Enseñar en otro país. Un análisis sobre la inserción de
docentes extranjeros en escuelas binacionales”, investiga os motivos de escolas
binacionais na Argentina contratarem professores estrangeiros e as razões pelas
quais os profissionais optam por trabalhar nessas instituições. A autora realizou um
estudo de casos múltiplos, compreendendo 16 entrevistas com profissionais
envolvidos. O artigo indica o quanto os docentes são divididos, nas escolas
binacionais da Argentina, em duas categorias, em especial: os "professores de
carreira" e "os professores estrangeiros residentes na Argentina". Ambas as
categorias são desigualmente consideradas nas escolas, sendo inseridas de modos
distintos, o que gera processos de hierarquia.
O modelo neoliberal, no mundo contemporâneo, tem se alastrado por todas as
esferas da vida dos sujeitos. Logo, não é possível refletir sobre a Educação e os
sujeitos escolares sem considerar que suas formas de vida emergem sob a égide de
princípios neoliberais. Com esse entendimento, o artigo “Docências contemporâneas:
do ensino de conteúdos à gestão das emoções” analisa as docências

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contemporâneas mobilizadas por documentos orientadores da Educação Básica no


Brasil. Ancorados nas teorizações foucaultianas, em especial nas ferramentas da
governamentalidade e da análise do discurso, os autores Matheus Trindade
Velasques, Gicele Weinheimer e Fernanda Wanderer buscam examinar de que
formas são engendradas, a partir da racionalidade neoliberal, docências brasileiras
com contornos de gestão do desenvolvimento humano. Com o escrutínio dos
documentos que orientam a educação nacional, os autores apontam um
deslocamento da docência focada no ensino de conteúdos para uma docência
centrada na gestão de si e das emoções dos estudantes, sustentada por princípios
empresariais que instauram a lógica da concorrência e da competição nos ambientes
escolares.
Os autores Ana Patrícia de Souza Azevêdo, Caroline Barroncas de Oliveira e
Gabriel da Silva Bentes convidam o leitor a navegar em águas autobiográficas para
compreender como se constituiu a docência de uma professora de Ciências com
atuação no campo. Utilizando as "cartas de navegação" como ferramenta de escrita
de si, o texto reverbera uma experiência viva e sensível pelo Rio Amazonas, no barco
da filosofia da diferença. O artigo “Uma docência navegante na educação básica”
rompe com respostas unificadoras, recriando caminhos e novas formas de olhar para
a Educação do Campo, das Águas e da Floresta (EDCAF) e evidenciando as múltiplas
possibilidades de existir. Filiados ao pensamento foucaultiano, os autores trazem para
o dossiê fragmentos da vida e acontecimentos da experiência de uma professora que
ensina Ciências, ao longo dos anos de 2017 e 2018. As narrativas compartilhadas e
experienciadas pela docente-navegante na educação básica revelam uma
organização escolar amazônica que desafia a visão linear de docência, mostrando
novas possibilidades de ser, pensar e dizer-se como professora de Ciências na
EDCAF.
A relação entre escola e família constitui-se no foco investigativo do artigo
“Relação escola-família e o ‘mito da omissão parental’ na educação básica: escuta
aos docentes”, de Tânia de Freitas Resende, Maria Amália de Almeida Cunha e Maria
Alice Nogueira. O estudo põe sob suspeição dois discursos opostos sobre a relação
das famílias populares com a escola, recorrentemente acionados no campo da
educação e da sociologia: o discurso dos professores tende a responsabilizar as
famílias por uma suposta omissão no acompanhamento escolar de seus filhos; já o
discurso sociológico argumenta que essa omissão é um "mito". Buscando elementos
para romper com essa visão dicotômica, as autoras, ao longo de um ano, realizaram
uma pesquisa com profissionais de duas escolas da rede municipal de Belo Horizonte
(MG), com o objetivo de contribuir para a compreensão da complexa natureza da
relação escola-família. Por meio de observações, entrevistas e grupos focais, a
pesquisa evidenciou os desafios enfrentados pelos profissionais; a ampliação do
envolvimento das famílias nas escolas em estudo; um maior engajamento das
famílias de estudantes com melhor desempenho; o envolvimento decrescente das
famílias à medida que os alunos crescem. O estudo também registra a reincidência
do discurso da ausência e culpabilização das famílias. Nesse panorama investigativo,

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o artigo convida o leitor a refletir sobre o atual redesenhar das fronteiras na relação
entre profissionais da escola e famílias.
No artigo elaborado pelas pesquisadoras Juliana Boanova Souza Ferreira e
Suelen Assunção Santos, intitulado “Implementação do Programa Escola Cívico-
Militar: os efeitos do Dispositivo de Terceirização”, o foco encontra-se no processo de
militarização das escolas públicas no Brasil, atualizado pelo Programa Nacional das
Escolas Cívico-Militares, iniciado em 2020. Ao problematizarem a adesão voluntária
da população a esse programa, as autoras apoiam-se em conceitos pós-
estruturalistas de Michel Foucault – em especial, no conceito de dispositivo – e em
Étienne de La Boétie – com sua análise da servidão voluntária. O artigo apresenta o
conceito de Dispositivo de Terceirização como um novo mecanismo que reflete
escolhas sociais, em que os sujeitos optam por terceirizar suas ações e
responsabilidades sociais. Fica em evidência o quanto tem se constituído o
Dispositivo de Terceirização a fim de reforçar a disciplinarização dos corpos nas
escolas públicas, perpetuando práticas educacionais em um contexto de déficit
educacional.
Tendo a cartografia como mobilizadora para a pesquisa-intervenção
realizada, o artigo “Entre a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental:
o que enunciam as crianças?”, de Larissa Ferreira Rodrigues Gomes, Rayra
Sarmento Ferreira Subtil e Claudineia Rossini Gouveia, convida-nos a escutar as
crianças a partir dos sentidos que atribuem para a transição da Educação Infantil ao
Ensino Fundamental em um município de Vitória, no Espírito Santo. As narrativas
construídas com as crianças evidenciam que elas enfrentam desafios ao
compreenderem as mudanças que acompanham a transição para os anos iniciais do
Ensino Fundamental, gerando preocupações sobre a continuidade de momentos de
brincadeiras e o aumento das responsabilidades escolares. Afirma-se, desse modo,
que elaborar e ofertar estratégias que facilitem o processo de transição proporciona
que as crianças conheçam a escola onde estudarão e interajam com as crianças
dessa nova realidade.
No artigo “Isolada e superficial? A formação em gênero e sexualidades no
curso de graduação em Pedagogia”, Matheus Estevão Ferreira da Silva concentra-se
na formação inicial de professores, analisando as percepções de estudantes de
Licenciatura em Pedagogia de uma universidade pública de São Paulo sobre gênero
e sexualidades. Para tanto, o autor utilizou uma amostra de 212 estudantes, que
responderam um questionário com perguntas abertas e fechadas, e fez uma análise
documental do Projeto Político-Pedagógico (PPP) e da grade curricular do referido
curso. A análise demonstra que, embora os documentos institucionais indiquem a
inclusão de uma formação em gênero e sexualidades na Pedagogia, sugerindo uma
abordagem transversal e disciplinar desses temas, as discussões são
predominantemente relegadas a disciplinas optativas. Da mesma forma, as
percepções dos estudantes sugerem que a formação em gênero e sexualidades
depende, em grande medida, da iniciativa individual dos(as) graduandos(as), que
precisam buscar essas discussões além das atividades curriculares obrigatórias. O
título do artigo, ao iniciar com uma pergunta, já aponta para a problemática central:

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"isolada e superficial", evidenciando a precariedade da formação docente inicial,


apesar da urgência e relevância dessas discussões.
Para finalizarmos este dossiê, reafirmamos nossa intencionalidade de
problematizar e compreender a docência na Educação Básica a partir de múltiplas
perspectivas e contextos. Os 17 textos aqui reunidos oferecem um olhar complexo e
arejado sobre as práticas docentes, entrelaçando múltiplas dimensões –
pedagógicas, culturais e políticas – que impactam tanto a formação de professores
quanto a realidade cotidiana das escolas e das próprias universidades. O dossiê
mostra que a docência é um campo em constante movimento, onde a teoria e a
prática se encontram e se tensionam, produzindo novas formas de pensar e agir no
espaço escolar e universitário. Ao final deste percurso, esperamos que as reflexões
propostas provoquem novos debates e ampliem o horizonte de possibilidades para a
formação de professores e a prática cotidiana de todos nós.

Referências

GAUTHIER, Clermont et al. Por uma teoria da Pedagogia. Pesquisas contemporâneas


sobre o saber docente. Unijuí: UNIJUÍ, 1998, 480p.

GIL, Sancho; HERNÁNDEZ-HERNÁNDEZ, Fernando (Orgs.). Professores na incerteza:


aprender a docência no mundo atual. Porto Alegre: Penso, 2016, 196p.

HOUSSAYE, Jean. Pedagogia: justiça para uma causa perdida? In: HOUSSAYE, Jean et
al. Manifesto a favor dos pedagogos. Porto Alegre: Artmed, 2004, p. 09-45.

LARROSA, Jorge. Pedagogia profana. Belo Horizonte: Autêntica, 2001, 208p.

LARROSA, Jorge. Esperando não se sabe o quê: sobre o ofício de professor. Belo
Horizonte: Autêntica, 2018, 523p.

PIMENTA, Selma Garrido (Org.). Saberes Pedagógicos e Atividade Docente. São Paulo:
Cortez, 1999, 304p.

TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. Petrópolis, RJ: Vozes,


2002, 376p.

TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da
docência como profissão de interações humanas. 9 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014, 320p.

ISSN 1982-7199 | DOI: 10.14244/reveduc186904 Revista Eletrônica de Educação, v.18, e6904109, p. 1-9, jan./dez. 2024
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