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Unidade II

O documento aborda o Direito do Ambiente em Moçambique, apresentando uma análise das políticas públicas, legislação e instrumentos jurídicos relacionados à proteção ambiental. A unidade é composta por quatro capítulos que discutem as metas do Estado moçambicano, o Estado Constitucional Ecológico, a adesão ao direito internacional e o acervo legislativo nacional. O objetivo é capacitar os estudantes a compreenderem a importância do direito ambiental e a atuação do governo em questões ecológicas.

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INSTITUTO SUPERIOR MONITOR

DIREITO DO AMBIENTE

Unidade II

O DIREITO DO AMBIENTE EM MOÇAMBIQUE

Instituto Superior Monitor


Maio 2011
Direito do Ambiente – unidade II

Ficha Técnica:

Título: Direito do Ambiente – O Direito do Ambiente em Moçambique


Autor: Nádia Esteves e Bonifácio Pedro
Revisor: Diana Paredes e Ramalho
Execução gráfica e paginação: Instituto Superior Monitor
1ª Edição: 2011
© Instituto Superior Monitor

Todos os direitos reservados por:

Instituto Superior Monitor


Av. Samora Machel, n. º 202 – 2.º Andar
Caixa Postal 4388 Maputo
MOÇAMBIQUE

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida


ou transmitida por qualquer forma ou por qualquer
processo, electrónico, mecânico ou fotográfico,
incluindo fotocópia ou gravação, sem autorização
prévia e escrita do Instituto Superior Monitor.
Exceptua-se a transcrição de pequenos textos ou
passagens para apresentação ou crítica do livro. Esta
excepção não deve de modo nenhum ser interpretada
como sendo extensiva à transcrição de textos em
recolhas antológicas ou similares, de onde resulte
prejuízo para o interesse pela obra. Os transgressores
são passíveis de procedimento judicial

2
Direito do Ambiente – unidade II

Índice
INTRODUÇÃO .......................................................................................................5

UNIDADE II – O DIREITO DO AMBIENTE EM MOÇAMBIQUE 6


ESTRUTURA DA UNIDADE II......................................................................................6
CONTEXTUALIZAÇÃO .................................................................................................7
RESULTADOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE II.............................................7
CAPÍTULO I – AS METAS DO ESTADO MOÇAMBICANO......................................8
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO ....................................................8
1. INTRODUÇÃO..............................................................................................8
2. AS POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS................................................9
3. A POSIÇÃO DO GOVERNO QUANTO AO AMBIENTE........................13
4. OS PRINCIPAIS PRINCÍPIOS ACOLHIDOS ...........................................15
QUADRO SINÓPTICO.........................................................................................19
EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO..........................................................................20
LEITURA RECOMENDADA ..............................................................................20
CAPÍTULO II – O ESTADO CONSTITUCIONAL ECOLÓGICO ..............................21
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO ..................................................21
1. O ESTADO CONSTITUCIONAL ECOLÓGICO ......................................22
QUADRO SINÓPTICO.........................................................................................25
EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO..........................................................................26
LEITURA RECOMENDADA ..............................................................................26
CAPÍTULO III – A ADESÃO AO DIREITO INTERNACIONAL...............................27
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO ..................................................27
1. OS INSTRUMENTOS JURÍDICOS INTERNACIONAIS E
REGIONAIS ..........................................................................................................27
QUADRO SINÓPTICO.........................................................................................30
EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO..........................................................................31
LEITURA RECOMENDADA ..............................................................................31
CAPÍTULO IV – O ACERVO LEGISLATIVO MOÇAMBICANO.............................32
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO ..................................................32
1. LEI DO AMBIENTE E SEUS REGULAMENTOS....................................32
2. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL COMPLEMENTAR ..................................33
QUADRO SINÓPTICO.........................................................................................34
EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO..........................................................................35

ATENÇÃO – 35
LEITURA RECOMENDADA ..............................................................................35
VEJA COMO RESOLVER OS EXERCÍCIOS.....................................................36
CAPÍTULO I ................................................................................................36
CAPÍTULO II...............................................................................................37
CAPÍTULO III .............................................................................................37
CAPÍTULO IV .............................................................................................37

3
Direito do Ambiente – unidade II

AVALIAÇÃO DE DIREITO DO AMBIENTE..............................................................39

ANEXO I 41

QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DA SATISFAÇÃO-ESTUDANTES 41

4
Direito do Ambiente – unidade II

INTRODUÇÃO
Caro Estudante,
Seja Bem-vindo(a) à unidade II da disciplina de Direito do Ambiente.
Para ter sucesso nesta unidade necessita de estudar com atenção todo o manual, não deixando de
rever as unidades anteriores. Para complementar os seus conhecimentos recomenda-se que realize
uma leitura pelos recursos auxiliares recomendados ao longo desta unidade, não só pela
bibliografia indicada como pelos websites sugeridos. Para aceder a outras bibliotecas faça-se
acompanhar do seu cartão de estudante.
A biblioteca virtual do ISM inclui livros digitalizados, artigos, websites e outras referências
importantes para esta e outras disciplinas, que deverá utilizar na realização de casos práticos. A
biblioteca virtual pode ser consultada em biblioteca@ismonitor.ac.mz.
O aluno pode ainda recorrer a outras bibliotecas virtuais, como por exemplo em:
www.saber.ac.mz
www.books.google.com
Recomenda-se que o aluno não guarde as suas dúvidas para si e que as apresente ao tutor, sempre
que achar pertinente. Recomenda-se que entre em contacto com o respectivo tutor, caso ainda não
tenha o contacto do mesmo poderá obtê-lo através do site: https://www.ismonitor.ac.mz/ ou através
da página facebook: https://www.facebook.com/ismonitor/.
Os exercícios práticos têm como objectivo a consolidação do conhecimento dos temas
apresentados nesta unidade. O Instituto Superior Monitor fornece as soluções de muitos desses
exercícios de forma a facilitar o processo de aprendizagem, mas atenção caro estudante, você
deve resolver os exercícios de auto-avaliação antes de consultar as soluções fornecidas.
No final desta unidade encontra-se o teste de avaliação. A avaliação deve ser submetida ao Instituto
Superior Monitor até 30 (trinta) dias após a recepção da unidade. A avaliação da unidade pode ser
submetida por e-mail (testes@ismonitor.ac.mz) ou entrega directa na instituição sede ou centros de
recursos. É da responsabilidade do aluno certificar-se da recepção do teste no exacto número de
páginas.
Esta unidade pressupõe que a realização de 37,5 horas de aprendizagem, distribuídas da seguinte
forma:
✓ Tempo para leituras da unidade: 22 horas;
✓ Tempo para trabalhos de pesquisa: 5 horas;
✓ Tempo para realização de exercícios práticos: 8,5 horas;
✓ Tempo para realizar avaliações: 2 horas.
A presente unidade é válida por 12 (doze) meses. Os estudantes que não tenham obtido
aproveitamento na disciplina (por terem interrompido o curso ou reprovado) devem contactar o
Instituto Superior Monitor. Esta recomendação deve-se ao facto de os materiais serem
periodicamente revistos e actualizados, de forma a se adaptarem às mudanças do mundo actual e às
dinâmicas da produção de conhecimento no seio da própria disciplina.
UNIDADE II – O DIREITO DO AMBIENTE EM
MOÇAMBIQUE

ESTRUTURA DA UNIDADE II

A presente unidade é composta por quatro capítulos, ao longo dos quais será feita
uma análise dos documentos com valor jurídico e legislação referente ao
ambiente, em vigor em Moçambique. Contextualizado o estudante face às
questões ambientais, cabe agora fazer um apanhado do que existe, em
Moçambique, em termos políticos, estratégicos e de Direito, no que toca à
protecção e defesa do meio. Todos os capítulos da unidade II são referentes à
realidade moçambicana no presente momento.
O primeiro capítulo incide sobre as linhas políticas traçadas pelo Estado
Moçambicano quanto ao ambiente. Serão focadas as Políticas Nacionais em
relação com o ambiente e alguns mecanismos governamentais nacionais,
desenvolvidos na prossecução da sustentabilidade ambiental. Em seguida, serão
explicados os princípios ambientais adoptados pelo Estado Moçambicano, a maior
parte dos quais o aluno já teve oportunidade de ler no âmbito a Unidade I. Estes
princípios informam o ordenamento jurídico no que toca ao ambiente, assim como
a definição de políticas e outros mecanismos governamentais de prossecução de
metas ambientais.
O segundo capítulo irá incidir sobre a análise do texto constitucional e a
interpretação a dar ao mesmo, no que toca à defesa do bem jurídico ambiente. Será
analisada a posição do legislador constituinte quanto à assunção do postulado do
Estado Democrático Ecológico e será feita referência às perspectivas subjectivista
e objectivista, objecto de debate ao nível da doutrina constitucional.
O terceiro capítulo é referente aos instrumentos jurídicos que vinculam
Moçambique em matéria ambiental. A abordagem será feita de maneira a
distinguir a vertente internacional da vertente regional, explicitando assim os
vários tratados que Moçambique ratificou e que como tal vinculam o Estado.
O capítulo quatro serve para contextualizar o aluno face a toda a legislação
nacional aprovada em sede ambiental. Será dado relevo à Lei do Ambiente,
enquanto instrumento jurídico de base, e será feita uma breve abordagem da
principal legislação ambiental complementar existente em Moçambique.

6
Direito do Ambiente – unidade II

CONTEXTUALIZAÇÃO

A primeira unidade serviu para que o aluno tomasse consciência da dimensão dos
problemas ambientais hoje experimentados por todo o mundo. Por outro lado, era
importante que o estudante pudesse ter dados que lhe permitissem formar uma
opinião clara quanto à necessidade do Direito intervir nas questões ambientais.
Com a presente unidade, pretende-se reforçar a ideia de que o ambiente é uma
preocupação nacional patente em diversos instrumentos de índole pública, como
sejam as políticas públicas e estratégias, planos, programas de concretização
destas, ou legislação aprovada para concretizar as bases lançadas no texto
constitucional. A este propósito, apela-se ao aluno para que relembre a noção do
bem jurídico ambiente, abordada na Unidade 1, de maneira a que possa facilmente
entender a posição do legislador constituinte.
Com esta unidade, pretende-se que o estudante consiga contextualizar-se face à
posição das autoridades públicas perante as preocupações ambientais. Pretende-se
que o estudante adquira uma base de conhecimentos ampla acerca dos
instrumentos políticos e jurídicos ambientais existentes, os quais poderão um dia
ser invocados em prol da defesa do ambiente, no seu desempenho futuro enquanto
jurista.

RESULTADOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE II

Ao concluir o estudo dos quatro capítulos da Unidade II - “O Direito do Ambiente


em Moçambique”, os estudantes serão capazes de:

- Explicar a sensibilidade do Governo Moçambicano às questões ambientais,


a partir da análise das principais políticas relacionadas com a área ambiental;
- Opinar quanto às metas governamentais traçadas para o ambiente e
identificar a eventual falta delas;
- Enunciar e explicar os princípios ambientais patentes nos instrumentos
políticos e jurídicos abordados na presente unidade;
- Definir Estado Constitucional Ecológico;
- Explicar os artigos do texto constitucional referentes ao ambiente e a
perspectiva adoptada pelo legislador constituinte no que toca ao ambiente;
- Ter consciência das matérias ambientais que deram azo à produção de
instrumentos jurídicos de índole internacional e de índole regional, que
vinculam Moçambique em matéria ambiental; e
- Orientar o enquadramento legal de situações jurídicas ambientais.

7
Direito do Ambiente – unidade II

CAPÍTULO I – AS METAS DO ESTADO MOÇAMBICANO

OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO

Findo este capítulo, o estudante deverá ser capaz de:

1. Descrever os objectivos das políticas públicas relacionadas com o


ambiente;
2. Resumir as ideias importantes e princípios patentes na Política
Nacional do Ambiente e políticas sectoriais conexas;
3. Opinar quanto à concretização das metas ambientais a partir da
operacionalização do Plano Quinquenal do Governo 2010-2014; e
4. Enunciar os principais princípios orientadores da actuação dos órgãos
do Estado, autarquias e sociedade civil.

1. INTRODUÇÃO

Caro estudante, cabe agora desvendar qual a posição do Estado Moçambicano, em


concreto, do poder executivo, perante o meio ambiente. Poderemos considerar que
Moçambique é um Estado de Direito Ecológico? Estarão os governantes
preocupados em assegurar às gerações vindouras um território irrepreensível em
termos ambientais? Estarão a ser tomadas medidas no sentido de reduzir os
impactos negativos sobre o meio ambiente?
Para respondermos a estas questões, vamos em primeiro lugar analisar as linhas
orientadoras das políticas levadas a cabo pelo Governo Moçambicano que, directa
ou indirectamente, se relacionam com o ambiente.
No desenvolvimento da “arte de governar”, o órgão executivo traça metas de
acordo com o interesse e necessidades do povo. Assim, o Governo define
políticas e estratégias de concretização de objectivos para, em última análise,
corresponder às aspirações populares. Estas políticas desenvolvem-se em
articulação estreita com actividade normativa, a cargo da Assembleia da
República, do Governo e, eventualmente, das autarquias locais.
Uma Política Nacional deve ser entendida como um conjunto de princípios e
ideias, de concepção e formalização dinâmicas, consubstanciado num texto
que oriente e enquadre a definição de objectivos e de linhas de actuação,
coerentes e estruturados.

8
Direito do Ambiente – unidade II

O ambiente consta da agenda dos órgãos de soberania desde os anos 90, década
que marca a viragem ao nível político de Moçambique, desde logo pela revisão
constitucional operada em 1990, francamente aberta a uma economia de
mercado. A referida década marca o início da aprovação de políticas específicas,
que orientam grande parte da produção legislativa, bem como a actuação do
Aparelho de Estado e dos seus cidadãos.
As políticas nacionais são instrumentos aprovados pelo Conselho de Ministros
que, tendo em conta o modelo de desenvolvimento do país, traçam metas bem
claras e definem a estratégia a levar a cabo para as alcançar.
As políticas não são estáticas, pelo contrário, consagram a sua própria
evolução, que decorre da motivação pelos novos desafios ao enfrentar os
problemas colocados ao Estado. Ao definir estratégias, orienta-se a forma de
acatar questões estruturais e operacionais, e superá-las.
No que toca às políticas que iremos analisar, elas propugnam a protecção
ambiental, passando pelo objectivo primordial de redução da pobreza, a partir
do qual será possível alcançar o desenvolvimento sustentável. As políticas
definem estratégias de implementação diversas, consoante o sector envolvido.
Uma política nacional é indissociável do modelo de desenvolvimento e tem de ter
em conta os desequilíbrios regionais. Sendo universal, ela deve respeitar as
diferenças, de modo a ser aplicável e concretizável em todo o território
nacional.

Uma política define um rol de objectivos a prosseguir pelas entidades públicas,


mas cabe também a todos os cidadãos o dever de participarem na sua
prossecução.

Por último, importa focar que uma política nacional deve potenciar a integração
com outras políticas sectoriais definidas pelo Governo e que tenham objectivos
paralelos.

Posto isto, passemos agora à análise da Política Nacional do Ambiente.


Convidamos desde já o estudante a descarregá-la do website legisambiente.co.mz,
de maneira a que possa seguir o nosso raciocínio, consultando o texto integral da
política em análise.

2. AS POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS

a) A Política Nacional do Ambiente (PNA)

A Politica Nacional do Ambiente foi aprovada pela Resolução n.º 5/95, de 3 de


Agosto. Nela estão consagrados direitos, deveres e princípios fundamentais
orientadores das actividades exercidas sobre o meio ambiente e com base nela
foram potenciadas a elaboração e aplicação de instrumentos jurídicos (Lei do

9
Direito do Ambiente – unidade II

Ambiente, regulamentos específicos para as diversas áreas em conexão com o


ambiente), e procedeu-se a um reforço institucional na área ambiental.
A PNA reconhece a estreita relação a estabelecer entre o desenvolvimento e o
ambiente. Cuidar do meio ambiente é considerado um aspecto inseparável do
processo de desenvolvimento. Moçambique é um país onde a pobreza continua a
representar um problema sério, o qual potencia a pressão exercida sobre os
recursos naturais e uma exploração desregrada dos mesmos.
A PNA assume os preceitos universais de desenvolvimento sustentável,
reconhecendo a importância de preservar o meio em prol das gerações
futuras.
A título de premissas fundamentais, podemos encontrar no texto da PNA a
promoção da utilização efectiva dos recursos naturais e prossecução dos
objectivos que se seguem:

1- Assegurar qualidade de vida aos cidadãos;


2- Assegurar a gestão dos recursos naturais de modo a manter a
capacidade funcional e produtiva para as gerações presentes e
vindouras;
3- Desenvolver na população a consciência ambiental promovendo a
participação pública na gestão ambiental;
4- Planificar os objectivos sócio-económicos tomando em consideração as
questões ambientais;
5- Proteger os ecossistemas e processos ecológicos essenciais; e
6- Por último, integrar os esforços regional e mundial na busca de
soluções para os problemas ambientais.

b) A Política Nacional de Terras (PNT)

A Política Nacional de Terras foi aprovada pela Resolução nº 10/95, de 17 de


Outubro e consubstancia o conjunto de princípios e medidas fundamentais
que orientam e concretizam o uso de terra em Moçambique. Ao referirmos o
uso da terra, incluímos não apenas o uso para fins agrários mas também para
outros fins como sejam o uso urbano, o uso para exploração mineral, turística,
infra-estruturas, etc. Todos estes fins têm directa ou indirectamente a ver com
o ambiente e daí a PNT ser por nós focada e integrada no presente capítulo.
Nos termos da Política Nacional de Terras, esta tem por base o princípio de que “a
terra é um dos mais importantes recursos naturais de que o país dispõe,
merecendo por isso ser valorizada.”
A Política Nacional de Terras é um documento que integra um conjunto de
orientações sobre a situação da terra moçambicana, numa fase de mudança do
sistema económico para uma economia de mercado. O seu texto avança com

10
Direito do Ambiente – unidade II

oportunidades e limitações que o nosso país experimentava nos anos 90, em


relação ao uso e aproveitamento da terra.
A PNT consagra, como prioridades nacionais, a eliminação da pobreza e a
promoção do desenvolvimento económico e humano auto-sustentado. Define
as estratégias para a sua implementação, as relações institucionais na legalização
de uso de terras ou outras actividades e as finalidades relacionadas com as terras.
No que diz respeito às questões ambientais, esta política assume claramente a
meta de alcançar a segurança alimentar, utilizando a terra de forma
sustentável e rentável, favorecendo o investimento privado, sem colocar em
risco os interesses locais. Outro dos seus objectivos é a conservação das áreas
de interesse ecológico e gestão sustentável dos recursos naturais, de forma a
garantir a qualidade de vida da geração presente e das gerações vindouras.
De entre os princípios fundamentais sobre a terra, podemos encontrar nela o
princípio que defende o uso sustentável de recursos naturais, assegurando que
as zonas de protecção total e parcial mantenham a qualidade ambiental e os
fins especiais para que foram constituídas. Incluem-se as zonas costeiras, zonas
de alta biodiversidade e faixas de terrenos ao longo das águas interiores.
Conhecer esta política tem interesse para os profissionais do Direito, sobretudo os
que lidarão com o direito de uso e aproveitamento da terra (DUAT) e respectiva
rentabilização para construção ou desenvolvimento de projectos. Partindo desta
política, lançaram-se as bases para uma regulamentação intensa dos
mecanismos institucionais condicionantes do aproveitamento da terra e
respectivos recursos, podendo ser estabelecida a estreita conexão existente com o
meio ambiente. Não podemos esquecer que a PNT serviu de base para a
estruturação da actividade administrativa do Estado na gestão da terra e
para a formulação de legislação para a aquisição de direitos sobre ela.

c) A Política de Ordenamento Territorial (POT)

A Resolução nº 18/2007, de 30 de Maio, aprova a Política de Ordenamento


Territorial. De acordo com o texto introdutório da referida política, esta é um
instrumento concebido como o conjunto de directivas que permitem ao Governo,
por meio de um processo de concertação, integração e participação, de todos
níveis, definir os objectivos gerais a que devem obedecer os instrumentos de
ordenamento territorial para alcançar uma melhor distribuição das actividades
humanas no território, a preservação das zonas de reservas naturais e estatuto, e
assim, assegurar a sustentabilidade do desenvolvimento humano e o
cumprimento dos tratados e acordos internacionais, no âmbito territorial.”
A política de ordenamento territorial foi desenvolvida tendo por base uma
análise dos factores físicos, geográficos, sociais, económicos e culturais do
país, que influenciam o correcto aproveitamento dos recursos na gestão territorial.
São realçados, a título de factores positivos, entre outros, a grande extensão
territorial de Moçambique, a riqueza dos recursos naturais e da

11
Direito do Ambiente – unidade II

biodiversidade e a progressiva descentralização e desconcentração que


permitem uma avaliação e acção ao nível local mais eficaz. No que toca a factores
de índole negativa, realçamos a pobreza, a pressão demográfica sobre a terra e
os recursos, a qual assume “dimensões alarmantes”, o desequilíbrio entre as
zonas urbanas e rurais e a falta de instrumentos necessários a um processo
vinculativo e coerente de ordenamento do território.
Assim, podemos constatar a importância da função e objectivos deste instrumento
para o desenvolvimento nacional. A sua relevância está no facto de o mesmo
servir de base para aplicação dos restantes instrumentos jurídicos aplicáveis
à distribuição e organização das actividades humanas no território nacional.
Por esta razão, podemos afirmar que esta política dá especial ênfase a assegurar
a sensibilidade aos valores de ordenamento territorial, de maneira que este seja
feito de forma ponderada, justa e sensata, evitando gerar desequilíbrios na
gestão e organização do meio físico e recursos das diferentes regiões do país,
assim como das actividades humanas relacionadas com os mesmos.
A este propósito, importa desde já focar o objectivo geral da política de
Ordenamento do território: contribuir para uma gestão sustentável dos
recursos naturais e humanos, compatibilizando as políticas sectoriais e
coordenando acções de planeamento nas várias escalas geográficas entre os
diversos níveis da administração pública. Assim, é potenciado o alcance de
melhorias ao nível da qualidade de vida dos cidadãos, assegurando a
sustentabilidade dos recursos naturais.
Para a concretização dos objectivos que a política de ordenamento territorial se
propõe alcançar, a mesma assume diversos princípios fundamentais, de entre
vários destacamos o princípio de igualdade de direitos, da precaução, da
descentralização, do acesso à informação, da responsabilidade, da
participação, da continuidade das relações de ordenamento e da concertação.

d) A Política e Estratégia de Desenvolvimento de Florestas e Fauna


Bravia (PEDFFB)

A Política de Desenvolvimento de Florestas e Fauna Bravia foi aprovada pela


Resolução nº 8/97, de 1 de Abril, e anuncia uma concretização de objectivos a
longo prazo traçados pelo Governo, que orienta os esforços dos diferentes
intervenientes no sector florestal (Estado, autoridades locais, sector privado,
ONG’s).
Este instrumento tem como objectivo geral proteger, conservar, desenvolver e
utilizar de uma forma racional e sustentável os recursos florestais e
faunísticos para o benefício económico, social e ecológico da actual e futura
geração de Moçambicanos. O alcance dos objectivos passa pela promoção do
papel e da intervenção do sector privado no maneio e uso dos recursos
florestais e faunísticos, contribuindo para o Produto Nacional Bruto;
envolvimento das comunidades locais no maneio e conservação dos recursos

12
Direito do Ambiente – unidade II

florestais e faunísticos; procurar a sustentabilidade ecológica no uso de


recursos naturais; desenvolvimento institucional ao nível central;
fortalecimento das capacidades organizacionais e operacionais ao nível
provincial e distrital; consolidação das capacidades ao nível dos recursos
humanos.
Propugna-se, assim, a conservação dos recursos de base, incluindo a densidade
biológica, assim como a gestão de benefícios económicos da geração actual e das
futuras gerações.
Para além de delinear objectivos, a política de desenvolvimento florestal e fauna
bravia analisa as oportunidades e limitações encontradas no desenvolvimento da
política e estratégia para uma gestão correcta da floresta e da fauna bravia.
A Política e Estratégia de Desenvolvimento de Florestas e Fauna Bravia foi
desenvolvida com base em consultas a intervenientes do sector, tendo sido
tomadas em consideração as várias políticas nacionais existentes por sector
(Terras, Ambiente, Turismo, Agrária, etc). É importante referir que a PEDFFB
reflecte os objectivos e prioridades consagrados no capítulo 11 da Agenda 21,
aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e
Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992 (ECO92), à qual o
estudante poderá facilmente aceder a partir da internet.

3. A POSIÇÃO DO GOVERNO QUANTO AO AMBIENTE

“As responsabilidades do Governo quanto ao desenvolvimento sustentável no


país incluem o estabelecimento de políticas, normas, instituições, programas que
assegurem um caminho visando a implantação de uma cultura para uma
correcta gestão e uso sustentável dos recursos disponíveis, bem como o
desempenho de funções de planificação, desenvolvimento de políticas,
monitoramento, regulação e controle. (MICOA, 2007:10).
A frase retirada de um estudo realizado pelo Ministério da Coordenação da Acção
Ambiental resume de forma concisa e simples o que perfaz as responsabilidades
do órgão executivo. São vários os mecanismos usados pelo Governo e a visão
estratégica do Governo no que toca às questões ambientais: “planos de
desenvolvimento sustentável; estratégia e plano de acção para convenção de
diversidade biológica; estratégia ambiental para desenvolvimento sustentável,
bem como políticas e regulamentos na área ambiental.” (Novunga, 2005:14).

No presente capítulo, iremos prestar especial atenção a um deles, por ser aquele
que serve de base ao desenvolvimento de outros mecanismos e por ser aquele que
abarca todo o rol de prioridades e metas do governo durante o seu mandato: o
Programa Quinquenal do Governo.

13
Direito do Ambiente – unidade II

→ O Programa Quinquenal 2010-2014

Sempre que um novo Governo toma posse, cabe-lhe elaborar e apresentar à


sociedade um Plano onde constam objectivos a prosseguir e acções estratégicas
de forma a alcançá-los. O Plano Quinquenal do Governo vigora durante os cinco
anos de duração do respectivo mandato e passa pela aprovação da Assembleia
da República.
Hoje, encontra-se em vigor o Programa Quinquenal 2010 – 2014, o qual foi
aprovado pela Resolução n.º 4/2010, de 13 de Abril.
Caro estudante, como terá percebido ao longo da Unidade I, a opinião do jurista
ambientalista Carlos Serra sobre as questões ambientais em Moçambique é-nos
bastante cara. Este autor escreveu um artigo para o jornal O País que nos parece
pertinente citar, no que toca às considerações a tecer quanto ao teor do Programa
Quinquenal 2010-2014. (Serra, 2010:3). Assim, sugerimos que descarregue o
programa, assim como o artigo, e que os leia com muita atenção.
A título de considerações, Carlos Serra começa por afirmar uma certa “leveza e
superficialidade no tratamento das questões ambientais”. No programa foi
definido como “objectivo central, o combate à pobreza para melhorar as
condições de vida do povo moçambicano em ambiente de paz, harmonia e
tranquilidade”. Dentro dos 4 objectivos gerais, Carlos Serra é da opinião que
“faltou efectivamente definir, pelo menos, o desenvolvimento sustentável como
prioridade, nas suas dimensões económica, social e ambiental para a presente e
futuras gerações de moçambicanos”
Concretamente no que toca ao ambiente, o jurista ambientalista considera que a
“acção estratégica referente à adequação da legislação ambiental peca desde
logo porque se perde uma oportunidade de precisar com exactidão que novos
instrumentos legais deverão ser aprovados e divulgados”. Carlos Serra avança, a
título de exemplo, com algumas bases da Lei do Ambiente que não foram
objecto de regulamentação: a definição de padrões de qualidade ambiental
para a poluição sonora; o preenchimento das lacunas referentes ao quadro
legal sobre a protecção da biodiversidade; a operacionalização dos direitos à
participação e à informação; a definição de meios processuais adequados
para o acesso à justiça.
O autor lamenta o facto de o Programa Quinquenal prever de forma genérica a
realização de campanhas de plantio de árvores, quando “poderia ter ido mais
longe, prevendo uma Política e Estratégia de Repovoação Florestal”.
Por outro lado, Carlos Serra refere que poderia o Programa ter ido mais longe
no que toca à criação de aterros sanitários, prevendo-se a sua construção
para os principais centros urbanos do país. O jus-ambientalista foca, além
disso, que “faltou vincar expressamente a necessidade da importância de
realizar um levantamento minucioso da biodiversidade nacional”.

14
Direito do Ambiente – unidade II

Estará o actual Governo no bom caminho para assegurar qualidade de vida


às gerações presentes e às gerações vindouras? Será possível redobrar
esforços no sentido de colocar o ambiente na agenda prioritária do órgão
executivo, prosseguindo assim as metas traçadas nas políticas analisadas?

4. OS PRINCIPAIS PRINCÍPIOS ACOLHIDOS

Feita uma breve análise das principais políticas nacionais concebidas para acatar a
questão ambiental pelo órgão executivo do nosso país, e verificada a importância
do tema ambiente na prossecução das metas do Governo Moçambicano, importa
agora analisarmos alguns dos princípios ambientais que claramente orientam a
actuação do Estado e informam a produção de um sistema de normas
ambientais, capaz de justificar a autonomia do Direito do Ambiente também em
Moçambique.
“A especial importância dos princípios no Direito Ambiental resulta da
necessidade de dar coerência e racionalidade a um vastíssimo conjunto de
normas ambientais; de garantir a estabilidade a um sistema que não pára de
evoluir e de se expandir a velocidades vertiginosas”. (Aragão 2008:1).

Importa lembrar que os princípios ambientais assumem a múltipla função de


serem um padrão que permite aferir a validade das leis (tornando
inconstitucionais ou ilegais as disposições legais ou regulamentadoras ou actos
que os contrariem), de ajudarem na interpretação de outras normas jurídicas
e de poderem ser usados na integração de lacunas.

Os princípios ambientais encontram a sua génese na Declaração do Meio


Ambiente, adoptada pela Conferência das Nações Unidas, em Estocolmo, em
Junho de 1972. Foi por ocasião desta que se firmaram 26 princípios de
protecção ambiental, alguns dos quais totalmente acolhidos na legislação e
políticas Moçambicanas, como os que a seguir se descrevem:

a) Princípio da Utilização e Gestão Racionais dos componentes


ambientais

Este princípio propugna que “o ar, a luz, a terra, a água, os ecossistemas, a


biodiversidade, as relações ecológicas, a matéria orgânica e inorgânica, todas as
condições sócio-culturais e económicas que afectam a vida das comunidades”, ou
seja, os componentes ambientais, sejam utilizados e geridos de forma racional,
de modo a promover a qualidade de vida dos cidadãos e manter a
biodiversidade de ecossistemas.

Este princípio corresponde, em certa medida, ao previsto nos princípios XIII e


XIV da Declaração de Estocolmo, a qual inspirou muitos países a adoptarem
princípios ambientais no respectivo ordenamento jurídico interno.

15
Direito do Ambiente – unidade II

b) Princípio do Reconhecimento e Valorização das Tradições e do Saber

Este princípio visa proteger a importância que as comunidades locais


assumem na conservação e preservação dos recursos naturais. Encontra-se
patente na Lei do Ambiente, e é reconhecido em diversos instrumentos políticos
(vide Estratégia Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável de Moçambique,
Política Nacional do Ambiente - ponto 2.1; 2.3.10., respectivamente).

Ao assumir este princípio, políticas e instrumentos jurídicos resguardam o


devido valor do papel das comunidades locais enquanto parte integrante do
meio. Assim, acautela-se que os seus interesses sejam protegidos, dando-lhes
legitimidade para participarem na gestão do mesmo, atribuindo-lhes um
papel significativo nos processos decisórios referentes ao ambiente. Desta
forma, as gerações vindouras poderão ter acesso às tradições e saberes
intrinsecamente moçambicanos, dignos de reconhecimento e continuidade.
Partindo da Lei do Ambiente, que promove a criação de agentes de fiscalização
comunitária, vários mecanismos foram concebidos nesse sentido em legislação
específica.

c) Princípio da Precaução

Este princípio tem a sua origem na Convenção sobre a Diversidade Biológica


assinada em 1992, no Rio de Janeiro, por ocasião da Eco-92. Defende-se assim
que os Estados devem proteger o meio ambiente, aplicando os critérios de
precaução conforme as suas capacidades, sempre que haja ameaças de
qualquer dano ambiental. O Estado assume assim a função de evitar os riscos
e a ocorrência de danos ambientais, prevenindo assim a degradação
ambiental e propugnando a melhoria da qualidade de vida da geração
presente e futuras.

Este princípio aplica-se à actividade do Estado mas abarca também a tomada de


medidas ambientais por parte da sociedade em geral.

O princípio da precaução concretiza-se no estabelecimento de sistemas de


prevenção de actos lesivos ao ambiente e pode encontrar-se em diversos
instrumentos jurídicos, nomeadamente regulamentos, onde se encontram
patentes mecanismos de prevenção de danos ambientais (como, por exemplo, a
necessidade de realização de um estudo de impacto ambiental), ou em planos do
Governo definidos para precaver problemas eventuais (cheias, queimadas,
desertificação, etc).

Por outro lado, “o princípio da precaução vem recebendo cada vez mais atenção
do Direito Internacional, na medida em que ele reflecte a necessidade de tomada
de decisões que possam antever prováveis danos ambientais causados por

16
Direito do Ambiente – unidade II

substâncias ou produtos dos quais não se tem ainda certeza científica quanto ao
seu impacto no meio ambiente.

O princípio da precaução não se confunde com o da prevenção ao dano


ambiental, embora tenham a mesma origem, uma vez que ambos são
instrumentos poderosos para se evitar e prevenir a ocorrência de danos ao
ambiente, e a principal diferença entre eles está na incerteza científica ou no
grau de avaliação dos riscos de certas actividades ou substâncias. (Rios,
2011:14)

d) Princípio da visão global e integrada do ambiente

A Lei do Ambiente, no artigo 4º, explica este princípio segundo o qual o ambiente
deve ser visto como um conjunto de ecossistemas interdependentes, naturais e
construídos, que devem ser geridos de maneira a manter o seu equilíbrio
funcional, sem exceder os seus limites.

e) Princípio da Ampla Participação do Cidadão

Segundo este princípio, patente na Declaração do Rio com o número X, o Estado


tem o dever de proporcionar a participação pública em diversos sectores
sociais, incluindo a defesa e protecção do meio ambiente. O art. 8º da Lei do
Ambiente expressa que “é obrigação do Governo criar mecanismos adequados
para envolver os diversos sectores da sociedade civil, comunidades locais, em
particular as associações de defesa do ambiente, na elaboração de políticas e
legislação relativa à gestão dos recursos naturais do país, assim como no
desenvolvimento das actividades de implementação do Programa Nacional de
Gestão Ambiental”.

Para além da Lei do Ambiente, podemos encontrar o espírito deste princípio em


outros instrumentos legislativos como por exemplo no ponto 2.2. da Política
Nacional do Ambiente.

f) Princípio de Igualdade

O princípio de igualdade garante oportunidades iguais no acesso e uso de


recursos naturais, e é claramente consagrado na Lei do Ambiente, assim como
no ponto 2.3.10 da Política Nacional do Ambiente.

g) Princípio da Responsabilização

Este princípio desenvolveu-se como princípio XIII da Declaração do Rio e


prevê a obrigação para os Estados de desenvolverem legislação nacional
relativa à responsabilização e indemnização das vítimas de dano ambiental.

17
Direito do Ambiente – unidade II

Na ordem jurídica moçambicana, este princípio foi consagrado na Lei do


Ambiente: “quem polui ou de qualquer outra forma degrada o ambiente, tem
sempre a obrigação de reparar ou compensar os danos daí decorrentes.”

Além disso, ele encontra-se previsto no ponto 2.2. da Política Nacional do


Ambiente, no art. 3º da Lei de Floresta e Fauna Bravia e no art. 55º da Lei das
Águas.

h) Princípio do Poluidor Pagador (PPP)

“O Princípio do Poluidor-Pagador é um princípio normativo de carácter


económico porque imputa ao poluidor os custos decorrentes da actividade
poluente.” (Colombo, 2006:1)
Este princípio foi consagrado na declaração de Rio, como princípio XVI e tem
estreita ligação ao Princípio da Responsabilização.
A título exemplificativo, o princípio do poluidor pagador foi claramente
consagrado no art. 54º da Lei das Águas, segundo o qual toda a actividade
susceptível de provocar a contaminação ou degradação do domínio público
hídrico e em particular o despejo de águas residuais, dejectos ou outras
substâncias nas águas do domínio público fica dependendo da autorização
especial a conceder administrações regionais de águas e ao pagamento de uma
taxa”.

i) Princípio da Cooperação Internacional

Este princípio foi consagrado como princípio IX na declaração do Rio: “Os


Estados devem cooperar para reforçar a criação de capacidades endógenas para
obter o desenvolvimento sustentável, aumentando o saber mediante o
intercâmbio de conhecimentos científicos e tecnológicos, intensificando o
desenvolvimento, a adaptação, a difusão e a transferência de tecnologias,
notadamente as tecnologias novas e inovadoras.”

Ainda no mesmo instrumento legislativo, podemos encontrar o espírito deste


princípio no número XIX, onde está consagrado que “Os Estados deverão
proporcionar a informação pertinente e notificar previamente e de forma
oportuna os Estados que possam ver-se afectados por actividades passíveis de ter
consideráveis efeitos ambientais nocivos transfronteiriços.”
Este princípio implica para o Estado que o adopta o reconhecimento do carácter
transfronteiriço e global dos problemas ambientais e pretenda chegar a soluções
harmoniosas, passando pela colaboração internacional.

j) Princípio da Sustentabilidade

18
Direito do Ambiente – unidade II

O Princípio da sustentabilidade informa grande parte das normas e políticas


ambientais em vigor em Moçambique, desde logo, podemos assumir que o
legislador constituinte o acolhe, a partir da leitura do n.º 2 do artigo 117º da
Constituição da República de Moçambique.

Este princípio consagra que a satisfação das necessidades das gerações actuais não
deve comprometer a das gerações vindouras. Por outras palavras, “a utilização
dos recursos naturais actualmente disponíveis, não deve ser mais rápida do que a
capacidade da própria natureza em os repor”. (Coelho, 2011:1)

QUADRO SINÓPTICO

METAS DO ESTADO MOÇAMBICANO

O ambiente consta da agenda dos órgãos de soberania desde os anos 90, década
que marca a viragem ao nível político de Moçambique, desde logo pela revisão
constitucional operada em 1990, francamente aberta a uma economia de
mercado.

Políticas Públicas a) A Política Nacional do Ambiente (PNA);


Ambientais b) A Política Nacional de Terras (PNT);
c) A Política de Ordenamento Territorial (POT); e
d) A Política e Estratégia de Desenvolvimento de
Florestas e Fauna Bravia (PEDFFB).

Posição do Relativamente ao Plano Quinquenal do Governo 2010-


Governo quanto ao 2014 importa levantar duas questões:
ambiente Estará o actual Governo no bom caminho para assegurar
qualidade de vida às gerações presentes e às gerações
vindouras? Será possível redobrar esforços no sentido de
colocar o ambiente na agenda prioritária do órgão
executivo, prosseguindo assim as metas traçadas nas
políticas analisadas?
a) Princípio da Utilização e Gestão Racionais dos
Principais
componentes ambientais;
Princípios
b) Princípio do Reconhecimento e Valorização das
Acolhidos
Tradições e do Saber;
c) Princípio da Precaução;
d) Princípio da visão global e integrada do ambiente;
e) Princípio da Ampla Participação do Cidadão;
f) Princípio de Igualdade;
g) Princípio da Responsabilização;

19
Direito do Ambiente – unidade II

h) Princípio do Poluidor Pagador;


k) Princípio da Cooperação Internacional; e
l) Princípio da Sustentabilidade.

EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO

1. Considera que os Princípios do Poluidor Pagador, da Sustentabilidade e da


Ampla Participação do Cidadão informam a Política Nacional do Ambiente?
Justifique.
2. Leia com atenção a Política de Ordenamento do Território e aponte os
princípios e objectivos específicos previstos na mesma.
3. Descarregue a Declaração de Estocolmo e leia com atenção os 26 princípios
nela patentes.
4. Aponte três críticas avançadas por Carlos Serra ao Programa Quinquenal do
Governo 2010-2014.
5. Refira-se à função dos princípios num ordenamento jurídico.

LEITURA RECOMENDADA

1. ARAGÃO, A. (2008). "O Princípio do Poluidor Pagador como Princípio


Nuclear da Responsabilidade Ambiental no Direito Europeu". pp. 1
http://www.icjp.pt Acesso 03.03.2011.
2. COELHO, C. (2011). O que é o Princípio da Sustentabilidade? Obtido em
03 de 2011, de CarlosCoelho.eu:
http://www.carloscoelho.eu/dossiers/reach/ver.asp?submenu=20&pf=29
3. COLOMBO, S. R. (2006). O Princípio do poluidor-pagador. Obtido em
03 de 2011, de Âmbito Jurídico: http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9
32
4. CANOTILHO, J. G. (2010). O Princípio da Sustentabilidade como
Princípio Estruturante do Direito Constitucional. In Revista de Estudos
Politécnicos, Vol. VIII, nº13, (pp. 7-18).
5. NOVUNGA, B. (2005). Estudo sobre o Papel das Convenções
Internacionais sobre o Meio Ambiente no Alívio da Pobreza em
Moçambique - uma análise de consistência (relatório final). Maputo:
Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental.
6. RIOS, A. V. (2011). Introdução ao Direito Ambiental. Conteúdo didático
da disciplina de Introdução ao Direito Ambiental - Módulo 1 , p. 14.

20
Direito do Ambiente – unidade II

7. SERRA, C. (2010). "A Protecção do Ambiente no Plano Quinquenal do


Governo para 2010-2014". in O País; , pp.1-4 Disponível em:
http://www.opais.co.mz.
8. SERRA & CUNHA. (2008). Manual de Direito do Ambiente, 2ª Edição
Revista e Actualizada. Maputo: CFJJ

Legislação

→ Constituição da República de Moçambique – 2004 - B.R. I Série, número


51, de 22 de Dezembro de 2004.

→ Toda a legislação e políticas mencionadas, disponíveis em


www.legisambiente.gov.mz/

→ Declaração de Estocolmo, disponível em


www.direitoshumanos.usp.br/.../Meio-Ambiente/declaracao-de-estocolmo-
sobre-o-ambiente-humano.html

→ Programa Quinquenal do Governo para 2010-2014 disponível em


http://www.portaldogoverno.gov.mz/docs_gov/programa/PQG_2010-14.pdf

→ MICOA. (2007) “Estratégia Ambiental para o Desenvolvimento


Sustentável de Moçambique”. MICOA, Maputo.

CAPÍTULO II – O ESTADO CONSTITUCIONAL ECOLÓGICO

OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO:

No final deste capítulo, o estudante deverá ser capaz de:

1. Definir Estado Constitucional Ecológico;


2. Identificar e interpretar os artigos da Constituição referentes ao Ambiente;
3. Explicar as perspectivas objectivista e subjectivista do ambiente e
demonstrar a perspectiva adoptada pelo legislador constituinte.

21
Direito do Ambiente – unidade II

1. O ESTADO CONSTITUCIONAL ECOLÓGICO

Caro estudante, é chegado o momento de nos debruçarmos sobre o texto


constitucional moçambicano e analisarmos a posição assumida pelo legislador
constituinte em relação ao Ambiente.

Antes de ler a exposição que se segue, abra a Constituição e, usando as suas


impressões sobre o texto constitucional (que resultam da análise recomendada na
Unidade 1), lembre os artigos que considera estarem em relação com o Ambiente.

Antes de entramos na análise da CRM, importa esclarecermos o conceito de


Estado Constitucional Ecológico. O presente capítulo tem por base o Estado
Moçambicano e o que este idealiza, define e promove para o país em termos
ambientais.

Com sabe, o nosso país enquanto nação soberana, consolida a independência do


seu povo e do seu território através da acção do poder político. O Governo,
enquanto órgão executivo do Aparelho de Estado, dirigido pelo Presidente da
República, assume a função de levar o país a bom porto, encaminhando-o
através de diversos mecanismos desenvolvidos para o efeito (Programas, Planos,
Estratégias, Políticas, …). É importante lembrar que o Estado não é apenas o
Governo, mas, entre muitos outros, também a Administração Autárquica, à
qual incumbe definir e procurar atingir metas ambientais. Para tal, delineia
instrumentos jurídicos e procedimentos. Moçambique é hoje um país
descentralizado e desconcentrado, o poder local tem vindo a assumir uma
importância e papel crescente nos desígnios da Nação.

Na base da actuação de todos os órgãos do país, está a Constituição da


República de Moçambique, A “lei-mãe”, o projecto político da Nação, a lei que
está na base de todo o sistema político e jurídico moçambicano.

Como sabe, a actual CRM foi aprovada em 1990 e resulta de uma viragem na
vontade política do povo moçambicano, manifestada pelos seus
representantes. O país mudou de política económica e adopta o ideal da
democracia multipartidária.

Passa a ser um Estado democrático, regido pelo Direito, com uma Constituição
que prevê rol de direitos e tarefas a desenvolver pelo Estado. Um Estado
Constitucional. “O Estado Constitucional é, assim, e em primeiro lugar, o Estado
com uma Constituição limitadora do poder através do império do direito”.
(Canotilho,1999:3)

Daí a importância de nos debruçarmos sobre a CRM com muita atenção e


procurarmos perceber de que forma é que o legislador encarou o ambiente.
Mas para lá chegarmos, temos de esclarecer o conceito de Estado Constitucional
Ecológico. Este conceito corresponde ao que alguns autores apelidam de “Estado
de Direito Ecológico”ou Estado Sócio-ambiental.

22
Direito do Ambiente – unidade II

Nas palavras do Doutor Canotilho, um “Estado Constitucional, além de ser e


dever ser um Estado de Direito democrático e social, deve também ser um estado
regido por princípios ecológicos” (Canotilho, 1999:1). Ou seja, tem de ser um
Estado que desenvolve um sistema de normas e políticas ambientais, no
sentido de proteger o meio ambiente e orienta a sua actuação em função de
princípios ambientais.

“Se, de uma forma simples, o Estado de Direito Ambiental é aquele que se pauta
por um nível elevado de protecção ecológica, mais desenvolvidamente, o Estado
de Direito Ambiental é a «forma de Estado que se propõe aplicar o princípio da
solidariedade económica e social para alcançar um desenvolvimento sustentável
orientado para a busca da igualdade substancial entre os cidadãos, mediante o
controlo jurídico do uso racional do património natural” (Aragão, 2010:2)

“O Estado de Direito, hoje, só é Estado de Direito se for um Estado protector do


ambiente e garantidor do direito ao ambiente; mas o Estado ambiental e
ecológico só será Estado de Direito se cumprir os deveres de juridicidade
impostos à actuação dos poderes públicos. (…) a juridicidade ambiental deve
adequar-se às exigências de um Estado constitucional ecológico e de uma
democracia sustentada (Canotilho, 2010:2)

O conceito de Estado Constitucional Ecológico deu origem a uma problemática


de discussão que parecia querer centrar-se no “dilema de consagrar o meio
ambiente ou como fim e tarefa do Estado ou como direito subjectivo
fundamental.” (Canotilho, J.J. Gomes, 1999:2)

“Independentemente de se saber se o direito ao ambiente é um verdadeiro direito


subjectivo, tornou-se claro que a problematização constitucional deste direito
não deveria limitar-se ao recorte do ambiente como tarefa ambiental do
Estado.”

Alguns autores explicam a opção pela previsão de um direito fundamental em vez


de uma simples tarefa ou fim do Estado. “O Estado Constitucional ambiental tem
por cerne o direito à vida, e apresenta-se a partir do princípio da dignidade,
como matriz de todos os demais direitos fundamentais do homem, e depende da
adequada tutela da qualidade do meio ambiente (Silva, 2008:4).

Chegou o momento de abrir a Constituição no artigo 90º. Leia o artigo com


atenção.

Nas palavras de Carlos Serra (Serra & Cunha, 2008), este artigo é um dos “pilares
do regime jurídico-constitucional moçambicano de protecção do ambiente”. O
direito a viver num ambiente equilibrado faz parte da esfera jurídica individual
de cada cidadão moçambicano e o legislador constituinte prevê, de entre os
direitos fundamentais patentes no texto constitucional, o direito fundamental ao
ambiente.

23
Direito do Ambiente – unidade II

Percebemos que o legislador constituinte eleva a dignidade deste direito à de um


direito fundamental pela sua localização na estrutura da Constituição. Se
prestarmos atenção à estrutura do texto constitucional, deparamos com ele no
capítulo dos Direitos e Deveres Económicos, Sociais e Culturais. Estamos assim
perante um direito que assume uma “Dupla Dimensão – negativa: direito a
abstenção por parte de sujeitos terceiros, Estado, ou particulares de quaisquer
actos de carácter nocivo, susceptíveis de lesar o bem jurídico ambiente. Positiva:
direito à realização de uma série de prestação positiva por parte do Estado”
(Serra & Cunha, 2008:102)

Como direitos positivados na CRM, os direitos económicos, sociais e culturais


(DESC) podem ser encarados no plano subjectivo e no plano juridico-objectivo.
No plano subjectivo, consideram-se autênticos direitos inerentes à esfera
jurídica individual de cada cidadão, independentemente da sua
exequibilidade imediata; nesta medida, assumem a mesma densidade
subjectiva dos direitos, liberdades e garantias.

Dentro dos DESC, o direito ao ambiente é normalmente associado aos direitos


de terceira geração. “A terceira geração de direitos humanos está relacionada
aos direitos de fraternidade. Em regra, não se destinam à protecção individual,
mas sim à protecção de grupos, o que se afina com as necessidades das
sociedades de massa, provenientes da urbanização das sociedades humanas.”
(Angieuski, 2005:1). Mas não deixam por isso de ser fundamentais.

Além de prever um direito, o artigo 90º refere claramente um dever por parte
do cidadão de defender o ambiente. Conjugado com o art. 45º al. f), podemos
concluir que este direito fundamental consiste também num dever.

“Assim, a defesa e protecção do planeta; a defesa e protecção das gerações


futuras, em geral a defesa e protecção do meio ambiente não pode nem deve ser
apenas uma tarefa do Estado ou das entidades públicas, mas também a
participação do próprio indivíduo. - Dever fundamental ecológico – este consiste
no dever de protecção e defesa do ambiente que radica na ideia de
responsabilidade conduta que pressupõe um imperativo categórico ambiental,
para que os resultados da acção que usufrui dos bens ambientais não sejam
destruidores destes bens por parte de outras pessoas da mesma ou de gerações
futuras”.

Importa, neste contexto, prestar agora atenção ao artigo 117º da CRM. Este define
as incumbências do Estado face à protecção do direito fundamental ao
ambiente, de modo a garantir o equilíbrio ecológico e a conservação e
preservação do ambiente. No seu número 2 refere a tarefa de garantir o direito ao
ambiente, visando a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
Como vimos, o artigo 45º al. f) refere, de entre os deveres que cabem aos
cidadãos, a defesa e conservação do ambiente, assim como a defesa e
conservação do bem público e comunitário.

24
Direito do Ambiente – unidade II

Assim, podemos concluir por uma responsabilidade partilhada entre o Estado e


o cidadão. O cidadão passa a estar adstrito a respeitar o ambiente, enquanto
direito de todos e também enquanto direito próprio.
Temos, assim, elementos suficientes para entender a perspectiva subjectivista.
Inspirada no Princípio I da Declaração de Estocolmo, esta perspectiva defende
que na esfera jurídica individual de cada cidadão, enquanto sujeito de direitos e
deveres constitucionalmente consagrados – é reconhecido um “direito subjectivo
ao ambiente, com assento constitucional, autónomo e distinto de outros direitos
também constitucionalmente consagrados.” (Serra & Cunha, 2008:102)
No polo oposto situa-se a perspectiva objectivista, a qual encara o ambiente
como uma tarefa ou fim do Estado. Assim, o legislador constitucional “atribui
ao Estado a obrigação de proteger o ambiente.”

QUADRO SINÓPTICO

Estado - Estado de Direito;


Constitucional - democrático;
Ecológico - social; e
- regido por Princípios Ecológicos.
Artigos da Art. 90º;
Constituição art. 117º;
relacionados Art. 45º, al. f) e g);
com o Art. 11º, al. c) e d); e
Ambiente Art. referentes às garantias constitucionais a activar
na protecção ao ambiente: 48º; 51º; 52º; 53º; 58º;
62º; 70º;79º; 80º; 81º; 88º; 89º; 91º; 92º; e 98º.
Perspectiva - Tem origem no Princípio I da Declaração de
subjectivista Estocolmo.
- O Direito do Ambiente é um direito fundamental.
- Na esfera individual de cada sujeito cabe o direito
constitucional de viver num ambiente são e
equilibrado.
- e o dever constitucional de o defender (art. 90º
n.1; 45º al. f) e g).
Perspectiva - Cabe ao Estado a tarefa de defender e proteger o
Objectivista ambiente em nome do interesse público com o fim
de fomentar um desenvolvimento sustentável. (arts.
90º, nº 2 e 117º)
- Direito do ambiente como fim ou tarefa do Estado

Perspectiva adoptada na CRM

O legislador Moçambicano conjuga as duas perspectivas:

25
Direito do Ambiente – unidade II

- o direito do ambiente é um direito fundamental inerente à esfera


individual de cada Moçambicano. (perspectiva subjectivista)
- ao direito fundamental ao ambiente vem associado um correspectivo
dever de respeitar o ambiente
- além disso, cabe ao Estado desenvolver estratégias e mecanismos no
sentido de garantir o direito ao ambiente e de garantir o equilíbrio
ecológico (perspectiva objectivista)

EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO

1. Explique a génese dos direitos económicos, sociais e culturais, sem deixar


de enquadrar os direitos de terceira geração.
2. Defina direito/dever fundamental ao ambiente.
3. Enumere três direitos fundamentais que possam estar em conexão com o
bem ambiente.
4. Inspirado na Lei do Ambiente, explique por palavras suas o conceito de
qualidade de vida.
5. Preste atenção à zona em que reside. Considera que se encontram
preenchidos os pressupostos de qualidade de vida? Aponte exemplos que
fundamentem a sua constatação.

LEITURA RECOMENDADA

1. ANGIEUSKI, P. N. (2005). Evolução dos Direitos Humanos: Crítica à


Classificação em Gerações de Direitos. Obtido em 03 de 2011, de Boletim
Jurídico: http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=745
2. CANOTILHO, J.J. Gomes. (1999). Dimensões do Estado Constitucional
Ecológico, Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Coimbra:
Almedina
3. SERRA & CUNHA. (2008). Manual de Direito do Ambiente, 2ª Edição
Revista e Actualizada. Maputo: CFJJ
4. FERRONATTO, Rafael Luiz; Petry, Diogo et al. (s.d.). O Estado
Constitucional Ecológico e o Estado Socio-ambiental de Direito. Obtido
em 03 de 2011, de http://www.diritto.it/pdf/27939.pdf
5. SILVA, C. V. (2008). O Paradoxo entre o Estado Constitucional
Ecológico, o Desenvolvimento Económico e o Antropocentrismo.
Coordenação do I Curso de Aperfeiçoamento de Magistrados (p. 2). Rio
Grande do Norte, Brasil: ESMARN.

26
Direito do Ambiente – unidade II

Legislação

→ Constituição da República de Moçambique – 2004 - B.R. I Série, número


51, de 22 de Dezembro de 2004.

CAPÍTULO III – A ADESÃO AO DIREITO INTERNACIONAL

OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO:

No final deste capítulo o estudante será capaz de:

1. Identificar os instrumentos jurídicos de âmbito internacional e regional


ratificados em Moçambique;
2. Distinguir entre instrumentos jurídicos internacionais e instrumentos
jurídicos regionais; e
3. Explicar a aplicabilidade prática da adesão a tratados internacionais.

1. OS INSTRUMENTOS JURÍDICOS INTERNACIONAIS E


REGIONAIS

Continuando a nossa viagem pela legislação que se encontra em vigor em


Moçambique, importa agora analisar o que existe ao nível dos compromissos
internacionais assumidos pelo Estado.
Para além das normas definidas internamente, os Estados vinculam-se a outros
instrumentos cuja origem está em negociações internacionais, empreendidas
ao nível dos Chefes de Estado e de Governo.
As negociações internacionais que estão na origem de um tratado processam-se
normalmente ao nível de organizações internacionais de cooperação entre
Estados. Algumas de âmbito universal (como sejam as Nações Unidas), outras
com objectivos específicos (como seja a IUCN) ou ainda, organizações de
integração de âmbito regional (como a SADC).
Por outro lado, nas relações diplomáticas entre Moçambique e outros países,
Moçambique esforçou-se por fazer aprovar tratados de âmbito bilateral (dois

27
Direito do Ambiente – unidade II

países partes) ou multilateral (vários países envolvidos), apelidados de acordos


internacionais.
No que toca a negociações internacionais em matéria de ambiente, são já muitos
os instrumentos internacionais que têm como finalidade a protecção e
preservação do Meio Ambiente e das espécies que nele habitam, assim como a
sensibilização e responsabilização dos poluidores.
Como vimos, muitas das matérias ambientais têm um âmbito universal e
preocupam todos os países do mundo (por exemplo, o aquecimento global, a
poluição atmosférica, o degelo, a preservação de espécies e biodiversidade, etc.).
Outras matérias despertam o interesse de países directamente envolvidos com o
objecto da negociação (como por exemplo, em matéria de águas, os países por
onde corre um rio transfronteiriço, como o rio Zambeze).
Para Moçambique, o processo de adesão a instrumentos internacionais teve origem
nos anos 80, com a ratificação da Convenção Africana sobre a Conservação da
Natureza e dos Recursos Naturais, pela Resolução nº 18/81, de 30 de Dezembro;
Este é um instrumento de âmbito regional, que vincula os países membros da
União Africana.
No mesmo ano de 1981, Moçambique aderiu à Convenção Sobre o Comércio
Internacional das Espécies da Fauna e Flora Silvestre Ameaçadas de
Extinção, com a Resolução nº 20/81, de 30 de Dezembro, e aderiu à Acta da
União Internacional para Conservação do Meio Ambiente, pela Resolução nº
21/81 de 30 de Dezembro; Em 1982, Moçambique adere à Convenção para a
Protecção de Património Cultural e Natural do Mundo da UNESCO, com a
Resolução nº 17/82, de 13 de Novembro.
A década de 90 foi bastante rica em termos de adesão a tratados internacionais por
Moçambique. A Convenção de Viena para a Protecção da Camada de Ozono,
bem como as respectivas emendas de Londres de 1990 e Copenhaga de 1992, é
hoje aplicada em Moçambique desde a sua ratificação com a resolução nº 8/93, de
8 de Dezembro; Em 1994 a Moçambique ratifica a Convenção das NU sobre as
Mudanças Climáticas de Junho de 1992, pela Resolução nº 1/94, assim como a
Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica, pela Resolução nº
2/94. Segue-se a adesão de Moçambique à Convenção sobre Organização
Hidrográfica Internacional (IHO), pela Resolução nº 20/94.

Em 1996, Moçambique aderiu à Convenção de Bamako relativa à Interdição da


Importação de Lixos Perigosos e ao Controlo da Movimentação
Transfronteiriços desses lixos em África, com a Resolução n.º 19/96, de 26 de
Novembro; É também nesse mesmo ano que a Convenção de Basileia sobre o
Controlo de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e sua
Eliminação se torna vinculativa pela Resolução n.º 18/96, de 26 de Novembro;
1996 foi também o ano de adesão à Convenção para a Protecção, Gestão e
Desenvolvimento Marinho e Costeiro da Região Oriental de África, pela
Resolução n.º 17/96, de 26 de Novembro. Além disso, Moçambique aderiu à
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar e ao Acordo relativo à

28
Direito do Ambiente – unidade II

Implementação da parte XI da mesma convenção, pela Resolução nº 21/96. Por


último, ainda em 1996, Moçambique ratifica a Convenção das Nações Unidas, de
7 de Junho de 1984, sobre a Desertificação nos Países afectados por seca grave
e/ou desertificação, particularmente em África (Resolução nº 20/96).
O novo milénio concretizou a vinculação do Estado moçambicano a mais
instrumentos de índole internacional.
O Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança surge na sequência da Convenção
sobre a Biodiversidade e visa contribuir para assegurar um nível adequado de
protecção no domínio de transferência segura, manuseamento e utilização de
organismos vivos, modificados, resultantes da biotecnologia moderna.
A Convenção Internacional sobre a Responsabilidade dos Prejuízos Devidos à
Poluição por Hidrocarbonetos, vinculativa da Ordem Jurídica interna pela
Resolução n.º 52/2001, de 6 de Novembro; O Protocolo relativo à Conservação da
Fauna e Aplicação da Lei na Comunidade para o Desenvolvimento da África
Austral, Resolução n.º 14/2002, de 5 de Março de 2002.
Em 2003, Moçambique adere à Convenção sobre Terras Húmidas de
Importância Internacional, especialmente as que servem de habitat de aves
aquáticas, assinada a 12 de Fevereiro de 1971, em Ramsar e o respectivo protocolo
de Paris. No ano de 2003, aderiu à Convenção Internacional para a Prevenção da
Poluição por Navios, de 1973 e o respectivo protocolo de 1978 (Marpol), através
da Resolução nº 5/2003, de 18 de Fevereiro.
O nosso país aderiu também à Convenção Internacional sobre a Preparação,
Combate e Cooperação contra a Poluição por Hidrocarbonetos, de 1990,
através da Resolução nº 6/20003 de 18 de Fevereiro.
Em 2004, Moçambique adere à Convenção de Estocolmo sobre Poluentes
Orgânicos e Persistentes, com a Resolução nº 56/2004, de 31 de Dezembro.
No mesmo ano, adere ao Protocolo de Quioto, sobre as Mudanças Climáticas,
pela Resolução nº 10/2004 de 28 de Julho.
Para além de Convenções Internacionais, existem ainda vários acordos
internacionais ratificados pelo Estado Moçambicano, com destaque para o Acordo
entre República de Moçambique, República de Botswana, República da África do
Sul e a República do Zimbabwe sobre o Estabelecimento da Comissão do Curso
de Água do Limpopo - Resolução n.º 67/2004, de 31 de Dezembro.
O Acordo entre a República da Angola, a República do Botswana, a República do
Malawi, a República de Moçambique, a República da Namíbia, a República Unida
da Tanzânia, a República da Zâmbia e a República do Zimbabwe sobre o
estabelecimento da Comissão do Curso de Água do Zambeze - Resolução n.º
64/2004, de 31 de Dezembro de 2004;
O Acordo Tripartido Interino entre a República de Moçambique, a República da
África do Sul e o Reino Unido da Suazilândia sobre a Cooperação na Protecção e
Utilização Sustentável dos Recursos Hídricos dos Cursos de Água do
Incomáti e Maputo - Resolução n.º 53/2004, de 1 de Dezembro de 2004;

29
Direito do Ambiente – unidade II

Entretanto, no âmbito da organização de integração SADC e da cooperação


levada a cabo pelos países membros, foram aprovados alguns instrumentos
relacionados com a protecção do meio ambiente: O Protocolo da SADC sob
Transportes e Comunicações e Meteorologia, integrado na ordem jurídica
através da Resolução n.º 18/2008, de 12 de Maio; O Protocolo de Cooperação no
Domínio da Energia da SADC – Resolução n.º 52/98, de 15 de Setembro; o
Protocolo sobre o Sector Mineiro da SADC – Resolução n.º 53/98, de 15 de
Setembro; o Protocolo revisto sobre Cursos de Água Compartilhados na Região
da SADC – Resolução nº 31/2000, de 27 de Dezembro; o Protocolo sobre o
Desenvolvimento do Turismo da SADC; o Protocolo de Conservação da Fauna
e Aplicação da Lei na SADC através da Resolução n.º 14/2002, de 5 de Março; o
Protocolo sobre as Pescas da SADC, através da Resolução nº 3/2002, de 30 de
Abril. Parece muita coisa mas “Moçambique necessita, ao nível regional, de se
integrar cada vez mais nas iniciativas regionais existentes. As políticas
relacionadas cm a SADC centram-se fundamentalmente na área económica e
política. Muito recentemente, iniciativas para a Conservação Transfronteiriça têm
estado a ser desenvolvidas. Mais ênfase deverá ser dada a considerações
ambientais, especialmente no que diz respeito ao uso e gestão dos recursos
naturais ao nível dos rios e bacias hidrográficas. (MICOA, 2007:3)

Terminamos esta exposição sobre os instrumentos jurídicos internacionais e


regionais com uma frase retirada de um estudo realizado sobre o papel das
Convenções Internacionais sobre o meio ambiente na concretização do alívio à
pobreza: “Existe consistência entre os objectivos preconizados pelas convenções
internacionais e os objectivos do Governo” (Novunga, 2005:18).

QUADRO SINÓPTICO

INSTRUMENTOS JURÍDICOS INTERNACIONAIS E REGIONAIS

São muitos os instrumentos internacionais que têm como finalidade a protecção e


preservação do Meio Ambiente e das espécies que nele habitam, assim como a
sensibilização e responsabilização dos poluidores.
Para Moçambique, o processo de adesão a instrumentos internacionais teve origem
nos anos 80, com a ratificação da Convenção Africana sobre a Conservação da
Natureza e dos Recursos Naturais, pela Resolução nº 18/81, de 30 de Dezembro
A década de 90 foi bastante rica em termos de adesão a tratados internacionais por
Moçambique.
O novo milénio concretizou a vinculação do Estado moçambicano a mais
instrumentos de índole internacional.
Para além de Convenções Internacionais, existem ainda vários acordos
internacionais ratificados pelo Estado Moçambicano.

30
Direito do Ambiente – unidade II

No âmbito da organização de integração SADC e da cooperação levada a cabo


pelos países membros, foram aprovados alguns instrumentos relacionados com a
protecção do meio ambiente.

EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO

1. Releia o capítulo III com atenção e aponte todas as matérias ambientais


constantes dos instrumentos internacionais em vigor em Moçambique.
2. Explique as consequências para Moçambique do incumprimento dos
compromissos ambientais assumidos internacionalmente.
3. Procure na internet duas organizações internacionais que tenham por objecto
a defesa ou promoção do ambiente.
4. Deambule pelo site da SADC e procure descarregar um protocolo que
abarque matéria ambiental.
5. Considera que Moçambique está a cumprir os instrumentos internacionais
que vinculam o país? Fundamente.

LEITURA RECOMENDADA

1. FEMA. (2011). Glossário. Obtido em 02 de 2011, de web site do Conselho


Empresarial Moçambicanopara o Desenvolvimento Sustentável:
www.fema.org.mz
2. Novunga, B. (2005). Estudo sobre o Papel das Convenções Internacionais
sobre o Meio Ambiente no Alívio da Pobreza em Moçambique - uma
análise de consistência (relatório final). Maputo: Ministério para a
Coordenação da Acção Ambiental.
3. Serra & Cunha. (2008). Manual de Direito do Ambiente, 2ª Edição Revista
e Actualizada. Maputo: CFJJ

Legislação

→ Constituição da República de Moçambique – 2004 - B.R. I Série, número 51,


de 22 de Dezembro de 2004.
→ Todos os instrumentos referidos disponíveis em www.legisambiente.co.mz

31
Direito do Ambiente – unidade II

CAPÍTULO IV – O ACERVO LEGISLATIVO MOÇAMBICANO

OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO CAPÍTULO:

No final do presente capítulo, os estudantes deverão ser capazes de:

1. Identificar a legislação interna existente em matéria ambiental;


2. Descrever o papel da lei do ambiente enquanto instrumento jurídico de
base; e
3. Interpretar e aplicar legislação referente a áreas conexas com o
ambiente.

1. LEI DO AMBIENTE E SEUS REGULAMENTOS

A Lei do Ambiente – Lei nº 20/97, de 1 de Outubro, foi aprovada em 1997, pela


Assembleia da República. Tendo por base o direito fundamental a viver num
ambiente equilibrado e o dever de o defender, patente na Constituição da
República de Moçambique, a Assembleia da República definiu um regime
jurídico que permita assegurar uma gestão correcta do ambiente e seus
componentes, assim como “a criação de condições propícias à saúde e ao bem-
estar das pessoas, ao desenvolvimento e à preservação dos recursos naturais.”
Além da Constituição da República, enquanto Lei-quadro sobre que assenta a
construção de um sistema de normas internas, a Lei do Ambiente consiste na
base jurídica a partir da qual se edifica o sistema de normas concretizadoras
das metas traçadas pela Assembleia a República para o país.
Como veremos no ponto seguinte, a partir dela foram desenvolvidos
regulamentos referentes a matérias ambientais específicas e foram definidos
estatutos de órgãos criados.
Assim, a Lei do Ambiente tem por “objecto a definição das bases legais para
uma utilização e gestão correctas do ambiente, com vista à materialização de um
sistema de desenvolvimento sustentável no país.”
A Lei do Ambiente assume todos os princípios fundamentais tratados no capítulo
primeiro deste manual. O seu texto permitiu o estabelecimento de limites na
formulação da legislação concretizadora do seu conteúdo. A título de exemplos
úteis, assinalamos:

32
Direito do Ambiente – unidade II

O Decreto nº 39/2000, de 17 de Outubro, que aprova o estatuto orgânico do


Fundo do Ambiente e o Decreto n.º 40 /2000, de 17 de Outubro, que aprova o
estatuto orgânico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Sustentável.
Estes dois órgãos foram criados no sentido de apoiar o Governo na promoção
da causa ambiental.
O Decreto nº 8/2003, de 18 de Fevereiro – aprova o Regulamento sobre a Gestão
dos Lixos Biomédicos; o Decreto nº 32/2003, de 12 de Agosto – Aprova o
Regulamento relativo ao Processo de Auditoria Ambiental; o Decreto nº
18/2004, de 2 de Junho - aprova o Regulamento sobre Padrões de Qualidade
Ambiental e de Emissão e Efluentes; o Decreto nº 45/2004, de 29 de Setembro –
aprova o Regulamento sobre o Processo de Avaliação de Impacto Ambiental.
O Decreto nº 11/2006, de 15 de Junho – aprova Regulamento sobre Inspecção
Ambiental, o Decreto nº 13/2006, de 15 de Junho - aprova o Regulamento sobre
a Gestão de Resíduos; o Decreto nº 45/2006, de 30 de Novembro, aprova o
Regulamento sobre Prevenção da Poluição e Protecção do Ambiente Marinho
e Costeiro; o Decreto nº 6/2007, de 25 de Abril de 2007 - aprova o Regulamento
sobre a Bio-segurança relativa à Gestão de Organismos Geneticamente
Modificados.
Os instrumentos acima indicados são alguns dos mais importantes em vigor no
que toca às mais diversas questões ambientais.

2. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL COMPLEMENTAR

Para além da legislação que lança as bases fundamentais para o tratamento


jurídico das questões ambientais, existe legislação aprovada nas mais diversas
áreas que, de forma complementar, se relaciona com matéria ambiental e
concretiza as políticas definidas para o respectivo sector.
Faz parte da legislação ambiental complementar:

→ a Lei das Águas - Lei nº 16/91, de 3 de Agosto;


→ Decreto nº 495/73 de 9 de Outubro – determina várias medidas de
protecção contra a poluição das águas, praias e margens do ultramar);
→ a Lei das Florestas e Fauna Bravia - Lei nº 10/99, de 12 de Junho;
→ a Lei das Minas - Lei nº 14/2002, de 26 de Junho;
→ a Lei das Pescas - Lei n.º 3/90, de 26 de Setembro – Esta lei foi
regulamentada por diversos diplomas: Decreto nº 16 /96, de 28 de Maio,
aprova o regulamento da Pesca Desportiva e Recreativa; o Decreto n.º
35/2001, de 13 de Novembro – aprova o Regulamento Geral de
Aquacultura; o Decreto n.º 43/2003, de 10 de Dezembro – aprova o
Regulamento Geral da Pesca Marítima;
→ a Lei da Terra – Lei nº 19/97, de 1 de Outubro, e seus regulamentos:
Decreto 66/98 de 8 de Dezembro; Decreto 1/2003 de 18 de Fevereiro;

33
Direito do Ambiente – unidade II

Decreto 50/2007, de 18 de Outubro; Decreto 60/2007 de 26 de Dezembro


(aprova o regulamento do solo urbano).
→ a Lei do Ordenamento do Território – Lei 19/2007 de 18 de Julho;
Regulamento da Lei do Ordenamento do Território – Decreto
nº23/2008.
→ a Lei nº 21/97, de 1 de Outubro – regula a actividade de Produção
Transporte Distribuição e Comercialização de Energia Eléctrica;
→ o Decreto n.º 42/2005, de 29 de Novembro - aprova o Regulamento que
estabelece Normas referentes à Rede Nacional de Energia Eléctrica;
→ o Decreto nº 44/2005, de 29 de Dezembro - aprova o Regulamento da
Distribuição e Comercialização de Gás Natural;
→ a Lei 10/88, de 22 de Dezembro – determina a protecção legal dos bens
materiais e imateriais do Património Cultural Moçambicano
→ a Lei nº 3/2001, de 21 de Fevereiro – A Lei dos Petróleos; e
→ o Decreto nº 24/2004, de 20 de Agosto – aprova o regulamento das
operações petrolíferas.

Terminamos assim a presente unidade, esperando que o estudante tenha retido


algumas das ideias constantes deste manual.

QUADRO SINÓPTICO

LEI DO AMBIENTE E SEUS REGULAMENTOS

A Lei do Ambiente consiste na base jurídica a partir da qual se edifica o sistema


de normas concretizadoras das metas traçadas pela Assembleia a República para o
país - Lei do Ambiente – Lei nº 20/97, de 1 de Outubro.
A partir dela foram desenvolvidos regulamentos referentes a matérias ambientais
específicas e foram definidos estatutos de órgãos criados.

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL COMPLEMENTAR

Para o tratamento jurídico das questões ambientais existe, para além da Lei do
Ambiente, a legislação aprovada nas mais diversas áreas que, de forma
complementar, se relaciona com matéria ambiental e concretiza as políticas
definidas para o respectivo sector, como por exemplo: a Lei das Águas, a Lei das
Florestas e Fauna Bravia, a Lei de Minas, a Lei dos Petróleos, a Lei da Terra, a Lei
das Pescas, etc.

34
Direito do Ambiente – unidade II

EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO

1. Procure na Lei do Ambiente o artigo referente ao Conselho Nacional de


Desenvolvimento Sustentável e leia com atenção as competências deste
órgão consultivo do Conselho de Ministros.
2. Defina por palavras o conceito de “padrões de qualidade ambiental”.
3. Você é advogado. Um potencial cliente vem consultá-lo e informa-o de
que:
a) Pretende instalar uma indústria de fundição de alumínio.
b) Pondera criar um aterro sanitário e uma empresa privada de
reciclagem.
Partindo da leitura do capítulo IV, que instrumentos jurídicos internos
poderia invocar como aplicáveis, no intuito de provar ao seu cliente que
conhece bem a legislação ambiental em vigor em Moçambique?
4. Organize um inquérito com cinco perguntas referentes ao ambiente, de
forma a verificar, junto de dez amigos seus, o grau de sensibilidade às
questões ambientais.
5. Elabore uma síntese sobre os dados recolhidos, sem deixar de comentar e
recomendar no final.

LEITURA RECOMENDADA

→ Lei do Ambiente – Lei nº 20/97, de 1 de Outubro;


→ Decreto nº 39/2000, de 17 de Outubro, que aprova o estatuto orgânico do
Fundo do Ambiente;
→ Decreto n.º 40 /2000, de 17 de Outubro, que aprova o estatuto orgânico
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Sustentável;
→ Decreto nº 8/2003, de 18 de Fevereiro – aprova o Regulamento sobre a
Gestão dos Lixos Biomédicos;
→ Decreto nº 32/2003, de 12 de Agosto – Aprova o Regulamento relativo ao
Processo de Auditoria Ambiental;
→ Decreto nº 18/2004, de 2 de Junho - aprova o Regulamento sobre
Padrões de Qualidade Ambiental e de Emissão e Efluentes;
→ Decreto nº 45/2004, de 29 de Setembro – aprova o Regulamento sobre o
Processo de Avaliação de Impacto Ambiental;
→ Decreto nº 11/2006, de 15 de Junho – aprova Regulamento sobre
Inspecção Ambiental;

35
Direito do Ambiente – unidade II

→ Decreto nº 13/2006, de 15 de Junho - aprova o Regulamento sobre a


Gestão de Resíduos;
→ Decreto nº 45/2006, de 30 de Novembro, aprova o Regulamento sobre
Prevenção da Poluição e Protecção do Ambiente Marinho e Costeiro;
→ Decreto nº 6/2007, de 25 de Abril de 2007 - aprova o Regulamento sobre
a Biosegurança relativa à Gestão de Organismos Geneticamente
Modificados.
→ Lei das Águas - Lei nº 16/91, de 3 de Agosto;
→ Lei das Florestas e Fauna Bravia - Lei nº 10/99, de 12 de Junho;
→ Lei das Minas - Lei nº 14/2002, de 26 de Junho;
→ Lei das Pescas - Lei n.º 3/90, de 26 de Setembro – Esta lei foi
regulamentada por diversos diplomas: Decreto nº 16 /96, de 28 de Maio,
aprova o regulamento da Pesca Desportiva e Recreativa; o Decreto n.º
35/2001, de 13 de Novembro – aprova o Regulamento Geral de
Aquacultura; o Decreto n.º 43/2003, de 10 de Dezembro – aprova o
Regulamento Geral da Pesca Marítima;
→ Lei de terras e seus regulamentos;
→ Lei nº 21/97, de 1 de Outubro – regula a actividade de Produção
Transporte Distribuição e Comercialização de Energia Eléctrica;
→ Decreto n.º 42/2005, de 29 de Novembro - aprova o Regulamento que
estabelece Normas referentes à Rede Nacional de Energia Eléctrica;
→ Decreto nº 44/2005, de 29 de Dezembro - aprova o Regulamento da
Distribuição e Comercialização de Gás Natural;
→ Lei nº 3/2001, de 21 de Fevereiro – A Lei dos Petróleos; e
→ Decreto nº 24/2004, de 20 de Agosto – aprova o regulamento das
operações petrolíferas.

VEJA COMO RESOLVER OS EXERCÍCIOS

CAPÍTULO I

1. Podemos encontrar o princípio do poluidor pagador na política nacional do


Ambiente, no ponto 2.2, consagrando que o poluidor deve repor a
qualidade do ambiente danificado e/ou pagar os custos para a prevenção e
eliminação da poluição por si causado”. A PNA propugna claramente no
seu objectivo principal, no ponto 2.1, assegurar o desenvolvimento
sustentável do país. Assim, concluímos que este princípio informa toda a
concepção da Política Nacional do Ambiente. Por último, o princípio da
ampla participação do cidadão encontra-se claramente assumido na política

36
Direito do Ambiente – unidade II

do Ambiente quando esta garante a participação pública na tomada de


decisões com impacto ambiental.

CAPÍTULO II
1. - A generalidade dos direitos económicos, sociais e culturais possui duas
dimensões: uma negativa, que se traduz num direito a abstenção do Estado
e de terceiros; outra positiva, que consiste no direito de exigir ao Estado
determinadas acções e prestações.
- Como direitos positivados na CRM, os direitos económicos, sociais e
culturais podem ser encarados no plano subjectivo e no plano jurídico-
objectivo. No plano subjectivo, consideram-se autênticos direitos inerentes
à esfera jurídica individual de cada cidadão, independentemente da sua
exequibilidade imediata; nesta medida, assumem a mesma densidade
subjectiva dos direitos, liberdades e garantias.
- Os direitos de terceira geração: A terceira geração de direitos humanos
está relacionada com os direitos destinados à protecção de grupos, como
por exemplo o direito ao ambiente.

CAPÍTULO III

2. As consequências para Moçambique do incumprimento de Convenções


Internacionais são apenas as de sofrer pressão diplomática no sentido de
cumprir compromissos assumidos internacionalmente.
Estando em face da ordem internacional, a qual não conta com uma
entidade dotada de poderes e legitimidade para zelar pela aplicabilidade e
cumprimento dos tratados (não existe um tribunal com poderes para
obrigar um país soberano a cumprir), Moçambique acabaria por sofrer mais
consequências ao nível dos problemas ambientais do que propriamente das
possíveis sanções a aplicar pelo incumprimento.

CAPÍTULO IV

3.
a) Uma indústria de alumínio é fortemente poluente e nefasta para a saúde.
Deveria remeter para a CRM; Lei do Ambiente; Regulamento sobre
Padrões de Qualidade Ambiental e de Emissão de Efluentes; Regulamento
sobre o Processo de AIA; Regulamento sobre Inspecção Ambiental.

b) Para o aterro sanitário e reciclagem, Lei do Ambiente e Regulamento sobre


a Gestão de Resíduos; Regulamento sobre Inspecção Ambiental,

37
Direito do Ambiente – unidade II

eventualmente o Regulamento sobre a Gestão dos Lixos Biomédicos;


Regulamento sobre Padrões de Qualidade Ambiental e de Emissão e
Efluentes; Regulamento sobre o Processo de AIA.

38
Direito do Ambiente – unidade II

AVALIAÇÃO DE DIREITO DO AMBIENTE

ATENÇÃO – TESTE DE AVALIAÇÃO


Avaliação
NOME: ___________________________________________________________

Nº DE MATRÍCULA ________________ NOTA _________________

N.B: Envie-nos este teste já resolvido, para correcção.

Maio, 2011
Teste da 2ª Unidade – Duração 2 horas

Leia atentamente as questões apresentadas neste teste. Resolva-o na


folha de teste em anexo e envie ao ISM para correcção. A cotação
para cada questão está entre parênteses.

1. Considera que Moçambique é um Estado Constitucional


Ecológico? Justifique a sua resposta com base na Constituição da
República de Moçambique. (Ponderada em 4 valores)

2. “A primeira ideia forte do enquadramento jurídico-constitucional do


ambiente é a de que (…) a conformação jurídico-subjectiva do
ambiente é indissociável da sua conformação jurídico-objectiva.”
(JJ Gomes Canotilho)
a) Comente a frase do douto Constitucionalista português,
relacionando-a com a Constituição da República de Moçambique.
(Ponderada em 4 valores)

3. Equacione, por hipótese, a seguinte situação:


O Conselho Municipal de Cajupara é reputado pela sua forte aposta
no investimento privado e fomento do turismo na região. A actuação
do Presidente do Conselho Municipal tem, contudo, levado a alguma
contestação por parte de associações ambientalistas da zona. Estas

39
Direito do Ambiente – unidade II

alegam que, ao exercer a competência para atribuição de licenças, o


órgão autárquico está a violar o direito fundamental a viver num
ambiente equilibrado, na medida em que:
- Autorizou a transformação de todos os jardins do centro urbano em
hotéis;
- Permitiu a construção de uma infra-estrutura hoteleira de betão
armado sobre as dunas na costa;
- Ordenou o derrube da floresta protegida do Parque Nacional de
Liassa, com o intuito de instalar um campo de golfe, para benefício da
população local.

a) Comente o caso, sem deixar de o relacionar com os objectivos


traçados nas várias políticas analisadas ao longo da unidade II.
(Ponderada em 5 valores)
b) Refira que princípios foram violados com a actuação do Conselho
Municipal. (Ponderada em 4 valores)
c) Considera que o Presidente do Conselho Municipal está a violar
algum diploma legal? (Ponderada em 3 valores)

Bom Trabalho!

40
Direito do Ambiente – unidade II

ANEXO I
QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DA SATISFAÇÃO-
ESTUDANTES

41

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