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Artigo EMPUXO

O documento apresenta uma proposta didática para o ensino da força de empuxo a alunos do Ensino Médio, utilizando um experimento de baixo custo com materiais simples. O experimento, denominado empuxoscópio, visa explorar qualitativa e quantitativamente a força de empuxo e reforçar conceitos de hidrostática, como a lei de Stevin. A proposta inclui a montagem do aparato experimental, procedimentos de medição e análise dos dados obtidos.

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Artigo EMPUXO

O documento apresenta uma proposta didática para o ensino da força de empuxo a alunos do Ensino Médio, utilizando um experimento de baixo custo com materiais simples. O experimento, denominado empuxoscópio, visa explorar qualitativa e quantitativamente a força de empuxo e reforçar conceitos de hidrostática, como a lei de Stevin. A proposta inclui a montagem do aparato experimental, procedimentos de medição e análise dos dados obtidos.

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Revista Brasileira de Ensino de Física, vol.

45, e20220344 (2023) Produtos e Materiais Didáticos


www.scielo.br/rbef cb
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0344 Licença Creative Commons

Um aparato experimental para o estudo da força


de empuxo
An experimental apparatus to study the buoyant force

Jhionathan de Lima*1 , Marcelo Prado Cionek1 , João Vitor Parada Poletto1


1
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.

Recebido em 28 de dezembro de 2022. Revisado em 23 de janeiro de 2023. Aceito em 03 de fevereiro de 2023.


Este trabalho apresenta uma proposta didática voltada para alunos do Ensino Médio que visa abordar
qualitativamente e quantitativamente a força de empuxo. O objetivo desta proposta é utilizar um experimento
de baixo custo, feito com materiais simples, para mostrar e explorar a existência e causa do empuxo, além de
estruturar um modelo matemático para o cálculo de tal força. Este experimento é útil também para reforçar e
demonstrar conceitos sobre hidrostática como pressão e lei de Stevin, que são importantes para o entendimento
e análise da força de empuxo. Esta proposta faz parte de um projeto apresentado pelos autores na disciplina
Projetos Integrados de Ensino de Física 1, do curso de Licenciatura em Física da Universidade Federal do Paraná.
Palavras-chave: Princípio de Arquimedes, força de empuxo, empuxoscópio, lei de Stevin, pressão.

This work presents a didactic proposal aimed at high school students that aims to approach qualitatively and
quantitatively the buoyant force. The objective of this proposal is to use a low-cost experiment, made with simple
materials, to show and explore the existence and cause of the buoyancy, in addition to structuring a mathematical
model for the calculation of such force. This experiment is also useful to reinforce and demonstrate concepts about
hydrostatics such as pressure and Stevin’s law, which are important for understanding and analyzing the buoyant
force. This proposal is part of a project presented by the authors in the discipline Integrated Projects of Physics
Teaching 1, of the licentiate degree course in Physics at the Federal University of Paraná.
Keywords: Archimedes’ principle, buoyant force, buoyancescope, Stevin’s law, pressure.

1. Introdução de seu corpo. Isto lhe sugeriu um método para resolver


o problema, que sem demora, saltou alegremente da
Por que icebergs e navios podem flutuar nos oceanos? banheira e, correndo nu para casa, gritava bem alto que
Por que uma pessoa parece ficar mais leve dentro tinha achado o que procurava. Enquanto corria, gritava
da água? Por que balões podem subir e descer pelos repetidamente em grego ‘eureka, eureka’ (achei, achei).
ares? Essas perguntas podem ser respondidas com base Segundo o historiador, medindo os volumes de água
no princípio de Arquimedes. Arquimedes enunciou seu deslocados por ouro e prata, e pela coroa, Arquimedes
princípio no século III a.C. Segundo a lenda contada pelo teria comprovado a fraude1 [1].
historiador Vitruvius, Hiero II, rei de Siracusa, mandou Segundo o princípio de Arquimedes, todo corpo par-
que uma coroa votiva de ouro fosse colocada em certo cial, ou completamente imerso num fluido, sofre a
templo para os deuses imortais, que fosse feita de grande influência de uma força exercida pelo fluido, na direção
valor, e designou para este fim um peso apropriado do vertical e dirigida de baixo para cima, cujo o módulo é
metal para o fabricante. A coroa confeccionada pelo igual ao peso do volume do líquido deslocado pelo corpo.
fabricante parecia ter o peso correspondente com aquele Essa força, exercida pelo fluido sobre o corpo, é chamada
do ouro que havia sido designado para isto, entretanto, empuxo e age no centro de gravidade da porção de
surgiram rumores de que parte do ouro havia sido líquido substituída pelo corpo. Assim, dependendo da
retirado e que uma quantidade correspondente de prata relação entre a força de empuxo e o peso do corpo imerso
havia sido substituída. Hiero desconfiou do ouvires e no fluido, este pode boiar ou afundar, ou, como no caso
solicitou que Arquimedes verificasse se a coroa era de de um balão, subir ou descer [2–4].
ouro puro ou não, mas sem causar nenhum dano à Visando ir além de uma aula tradicional sobre
ela. Segundo a estória, enquanto Arquimedes pensava este assunto e inspirados em outros trabalhos [5–9],
sobre o problema, chegou por acaso ao banho público, elaboramos um projeto didático (uma proposta de aula
e lá, sentado na banheira, notou que a quantidade de para uma turma do Ensino Médio) que faz parte do
água que transbordava dela era igual a porção imersa
1 Há uma certa discussão sobre a veracidade desse método e outras
* Endereço de correspondência: jhionathan.lima@ufpr.br histórias aparecem para justificar a descoberta.

Copyright by Sociedade Brasileira de Física. Printed in Brazil.


e20220344-2 Um aparato experimental para o estudo da força de empuxo

sistema avaliativo da disciplina de Projetos Integrados – Cilindro, ou outro recipiente análogo, de plástico
de Ensino de Física 1, obrigatória para os discentes transparente ou vidro3 ;
do curso de Licenciatura em Física da Universidade – Duas luvas cirúrgicas ou qualquer membrana elás-
Federal do Paraná. Essa proposta é composta de um tica;
experimento que visa explorar de forma experimental – Cerca de 30 cm de mangueira de aquário;
e intuitiva a força de empuxo. Para isso, considerando – Cola, fita adesiva e estilete;
um contexto onde os alunos já tenham conhecimento – Dinamômetro;
de conceitos de hidrostática, montamos um aparato – Suporte para dinamômetro;
experimental simples que chamamos de empuxoscópio, – Proveta graduada;
cujo propósito é demonstrar a existência e causa da – Seis corpos de forma geométrica comum, que
força de empuxo, além de proporcionar uma forma cabiam dentro da proveta, sendo dois deles com
de chegar à equação matemática para o cálculo de massas iguais e volumes diferentes e dois com
tal força, interpretá-la e analisar qual a influência das volumes iguais e massas diferentes e todos com
características do corpo (massa, volume, forma etc.) e densidade maior do que a da água4 ;
do fluido (densidade) sobre o empuxo. – Aproximadamente 1 m de fio de nylon.
O texto está estruturado da seguinte maneira:
inicialmente, apresentamos os materiais necessários para 3. Montagem Experimental
o experimento e um guia para a montagem experimental.
Em seguida, exibimos os procedimentos experimentais Inicialmente, cortamos o fundo do cilindro de plástico
e algumas discussões sobre como coletar e explorar deixando-o com dois orifícios. Em seguida, fizemos um
as informações. Posteriormente, trazemos os dados furo no cilindro de diâmetro igual ao da mangueira
obtidos no nosso experimento e mostramos uma forma de aquário. Acoplamos uma das pontas da mangueira
de explorar os dados para chegar à equação geral do dentro do cilindro e vedamos com ajuda da cola e da fita
empuxo. Por fim, discutimos as condições para um corpo adesiva. Finalmente, cortamos as duas luvas cirúrgicas
afundar ou boiar e concluímos com nossas considerações em forma de círculo, de tal forma que o diâmetro
finais. Nos materiais suplementares se encontra um guia seja um pouco maior que o diâmetro do cilindro e
de aula para o aluno ir acompanhando e preenchendo com ajuda da cola e fita adesiva, fixamos cada pedaço
no decorrer da exposição do professor. nas extremidades do cilindro, deixando a membrana
levemente esticada, conforme indica a Figura 1.
2. Materiais De posse do fio de nylon, fixamos um pedaço de
cerca de 20 cm de comprimento em cada massa, a fim
Vamos inicialmente guiar os passos para a montagem do de facilitar a interação delas com o dinamômetro. O
experimento, juntamente com o empuxoscópio, disposi- suporte para o dinamômetro foi feito utilizando pedaços
tivo formado por um tubo com duas membranas (leve- de uma cadeira de madeira quebrada, conforme indica a
mente esticadas) nas extremidades, com uma mangueira Figura 2.
acoplada no seu interior (Figura 1).

Figura 1: Empuxoscópio.

Os materiais utilizados neste experimento foram:


Figura 2: Suporte para o dinamômetro.
– Recipiente retangular transparente com água, com
cerca de 25 cm de profundidade e largura, e 50 cm
de comprimento2 ; 3 Utilizamos uma caneca de chope de plástico.
4 Utilizamos pedaços de metal (cilindros, cubos e paralelepípedos)
2 Utilizamos uma caixa organizadora de plástico. encontrados no laboratório de usinagem da universidade.

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de Lima et al. e20220344-3

4. Procedimento Experimental peso aparente (Paparente ) (Figura 5 à direita). Para


o cálculo do volume, anotamos a indicação inicial de
O experimento foi dividido em duas partes, a parte de- água na proveta. Após mergulhar totalmente o corpo,
monstrativa da existência da força de empuxo (parte 1) e verificamos a nova indicação. Fazendo a diferença entre
a parte matemática para o cálculo de tal força (parte 2). o volume final e o inicial obtivemos o volume do corpo,
que será o volume submerso (volume imerso na água),
4.1. Parte 1 já que mergulhamos totalmente os corpos. Repetimos o
mesmo procedimento para as demais massas, anotando
Após o aparato experimental da Figura 1 estar mon- todos os dados medidos e calculados.
tado, mergulhamos o empuxoscópio na horizontal no
recipiente com água, mantendo sempre a extremidade
livre da mangueira para fora da água, e analisamos o
que acontecia com as membranas, conforme ilustrado na
Figura 3.

Figura 5: Configuração para medir o peso real (à esquerda) e o


peso aparente (à direita).
Figura 3: Esquema experimental de mergulho horizontal do
empuxoscópio.

4.3. Discussões
Repetimos o mesmo procedimento citado anterior-
mente, porém, agora mergulhamos devagar o aparato, Quando mergulhamos o empuxoscópio na horizontal é
na posição vertical, mantendo novamente a extremidade perceptível que as membranas elásticas se deformam
livre da mangueira para fora da água e analisando o que para dentro, pelo fato de a água exercer pressão sobre
acontecia com as membranas superior e inferior à medida as membranas. No interior do empuxoscópio há pressão
que afundávamos o empuxoscópio, conforme ilustrado na atmosférica (por isso a mangueira com extremidade livre
Figura 4. para fora do recipiente com água), como a pressão exer-
cida pela água é maior que a pressão no interior do cilin-
dro, as membranas se deformam para dentro (Figura 3).
É importante destacar que as membranas se deformam
igualmente em ambos os lados, não importa o quanto
deslocamos o cilindro na horizontal, demonstrando o
fato de que a pressão num fluido, ao mesmo nível, deve
ser igual, consequência da lei de Stevin. A parte mais
interessante para nossa análise é quando mergulhamos o
cilindro na vertical. Percebemos que nessa configuração
as membranas se deformam gradativamente à medida
que mergulhamos cada vez mais o cilindro no recipiente
com água. Com o empuxoscópio da Figura 1 total-
Figura 4: Esquema experimental de mergulho vertical do
empuxoscópio.
mente imerso, ficou evidente que a membrana inferior se
deforma mais que a superior (Figura 4). Isso se deve ao
fato de a pressão num fluido aumentar linearmente com
a variação de altura da coluna de líquido (lei de Stevin).
4.2. Parte 2
Como a parte de baixo está a uma altura maior, em
Escolhemos uma das massas e utilizando o dinamômetro, relação à superfície, que a parte de cima, esta fica sujeita
medimos seu peso no ar, que denominaremos de peso real a uma pressão maior, considerando que as áreas de
(Preal ) (Figura 5 à esquerda). Em seguida, mergulhamos contato analisadas são iguais (bases do cilindro). Devido
totalmente esse corpo na proveta com água e medimos a a essa diferença (gradiente) de pressão, surge uma força
nova indicação do dinamômetro, a qual denominamos resultante atuando sobre o corpo imerso, dirigida na

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vertical de baixo para cima, a chamada força de empuxo. 5. Análise Dos Dados
Intuitivamente, fica claro que o fluido exerce uma força
maior no corpo na parte inferior, demonstrando de forma Na apresentação do projeto para a turma e para o profes-
qualitativa a existência e origem da força de empuxo, sor da disciplina na faculdade, realizamos o experimento
além de frisar a relevância da lei de Stevin. de acordo com a seção de procedimentos experimentais
A parte 2 é uma análise quantitativa. Utilizando as e obtivemos dados para a força de empuxo e volume
leis de Newton, fazemos um diagrama de corpo livre, submerso (Vs ) de cada corpo escolhido. Organizamos os
representando as forças que agem na massa quando dados obtidos experimentalmente conforme a Tabela 1.
medimos seu peso no ar e na água, conforme a Figura 6.
Tabela 1: Dados experimentais.

Corpo Preal (N ) Paparente (N ) E (N ) Vs (ml)


1 0, 46 0, 42 0, 04 5
2∗ 0, 56 0, 50 0, 06 10
3∗ 0, 56 0, 36 0, 20 20
4∗∗ 0, 62 0, 38 0, 24 25
5∗∗ 1, 98 1, 74 0, 24 25
6 0, 52 0, 08 0, 44 45
∗ ∗∗
corpos de mesma massa; corpos de mesmo volume.

Note que corpos de mesma massa apresentaram empu-


xos diferentes, assim como corpos de massas diferentes.
Também, corpos de mesmo volume forneceram empuxos
aproximadamente iguais (considerando a incerteza dos
instrumentos). Em contrapartida, corpos de volumes
Figura 6: Forças atuantes no dinamômetro e na massa quando
esta está imersa no ar (à esquerda) e na água (à direita). Nestes diferentes resultaram em indicações de empuxo dife-
diagramas, Fd e Fd0 são as tensões no fio ligando a massa e o rentes. Além disso, na forma como os dados foram
dinamômetro, E é a força de empuxo e Preal e Paparente são os apresentados, é perceptível que o empuxo aumenta
pesos da massa medidos pelo dinamômetro em cada situação. conforme o volume submerso aumenta. Em linguagem
matemática, isso nos informa que o empuxo e volume
Sabendo que a massa encontra-se em equilíbrio está- submerso são grandezas diretamente proporcionais. To-
tico, a resultante das forças sobre ela deve ser nula. Dessa das essas conclusões nos levam a pensar que o empuxo
forma, no ar temos que o dinamômetro indica o peso do não depende da massa, mas sim do volume submerso
corpo no ar (Fd = Preal ). Já quando imerso na água, do corpo mergulhado. Com o objetivo de encontrar essa
percebemos que a indicação do dinamômetro diminui relação, construímos um gráfico (Figura 7) do empuxo
(devido ao empuxo). A nova indicação do dinamômetro é em função do volume submerso (E × Vs ), com os dados
o peso aparente da massa (Fd0 = Paparente ). Sendo ainda da Tabela 1. Durante a apresentação, esboçamos o
satisfeita a condição de equilíbrio e sabendo que o peso gráfico no quadro negro, pois essa proposta de aula
real de um corpo não pode variar, concluímos que surge considera que os alunos vão seguir os passos do professor
uma força na vertical dirigida de baixo para cima, que desde a coleta até a análise de dados, preenchendo o
foi evidenciada na parte 1, a força de empuxo. Assim,
temos que, no caso da massa em equilíbrio na água:
E + Paparente = Preal ⇒ E = Preal − Paparente (1)
Com ajuda da equação (1), calculamos facilmente
o empuxo para cada massa, a partir das indicações
do dinamômetro para o peso do objeto no ar e na
água. Essa equação já nos informa o valor da força de
empuxo, porém, essa não é a equação que gostaríamos
de chegar, pois ela não nos diz qual a dependência dessa
força com as características do corpo e do fluido. Dessa
forma, vamos utilizar os dados obtidos para a força de
empuxo e o volume submerso de cada corpo e tentar
estabelecer alguma relação entre essas duas grandezas.
Nossa proposta para realizar tal análise será apresentada
na próxima seção, na qual analisamos os dados obtidos
na apresentação do projeto na universidade. Figura 7: Gráfico do empuxo em função do volume submerso.

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de Lima et al. e20220344-5

roteiro de aula do material suplementar. Dessa forma, Como no eixo y expressamos o empuxo e no eixo
ao mesmo tempo que o professor constrói o gráfico no x o volume submerso, substituindo essas grandezas na
quadro negro, os alunos o fazem na área destinada a isso equação y = ax + b e de posse do coeficiente angular
no roteiro. Os gráficos, que vamos mostrar aqui, foram calculado com a equação (3), podemos escrever:
feitos num programa de computador, a fim de facilitar a
visualização e exposição da proposta de abordagem do E = a.Vs + 0 ⇒ E = (0, 01 N/ml) · Vs (4)
professor. Partindo da lei de Stevin, podemos chegar à equação
Note que a linha de tendência dos pontos experi- geral do empuxo e comparar o valor do coeficiente
mentais é uma reta, a qual podemos expressar por angular calculado. A diferença de pressão entre dois
y = ax + b. Podemos ajustar a melhor reta aos pontos pontos em um líquido é dada por:
experimentais. Vale a pena frisar que por se tratar de
uma proposta de aula destinada a alunos do Ensino Mé- ∆P = ρ g ∆h (5)
dio, vamos apresentar a maneira mais simples de analisar
Onde ρ representa a densidade do líquido, g a ace-
o gráfico, ou seja, traçando a reta com o método do bom
leração da gravidade local e ∆h a diferença de altura
senso e calculando os coeficientes matematicamente, sem
entre os pontos analisados. Partindo da consideração de
usar o MMQ [10]. Aconselhamos que o professor utilize
que ∆h seja a altura do corpo imerso vamos multiplicar
uma régua de comprimento suficiente ou qualquer outro
ambos os lados da equação (5) pela área A da base do
objeto semelhante e tente traçar a melhor reta possível,
corpo.
guiando os alunos a fazerem o mesmo em seus roteiros.
O gráfico da reta ajustada aos pontos encontrados no A ∆P = ρ g ∆h A (6)
nosso experimento é mostrado na Figura 8.
Sabe-se que a pressão é definida pela razão entre a
força perpendicular F⊥ pela área A que ela se distribui.
Assim, uma diferença de pressão multiplicada por uma
área é igual à uma força causada devido a essa diferença
de pressão, que mostramos ser a força de empuxo E.
Também, a altura ∆h de um corpo multiplicado por
sua área da base A é justamente o volume desse corpo.
Nesse ponto, entra a importância de escolhermos objetos
com formas geométricas cujos volumes são dados por
essa relação entre área da base e altura, visto que
para generalizarmos precisaríamos recorrer ao Cálculo
Diferencial e Integral, um assunto com o qual a maioria
das turmas do Ensino Médio não têm contato. Sendo
assim, a equação (6) se resume em:
E = ρgV (7)
Figura 8: Reta ajustada aos pontos experimentais. Onde V representa o volume do corpo, no caso deste
estar totalmente imerso. Essa é a relação entre o empuxo
Como quando o volume submerso do corpo é zero o e o volume submerso do corpo no caso particular em que
empuxo é nulo (se o corpo não está parcialmente ou o corpo está totalmente imerso. Podemos ainda explorar
totalmente imerso no fluido, este não exerce força sobre o caso mais geral, no qual o volume submerso pode
o corpo), o coeficiente linear b da reta tende a zero, logo, corresponder apenas à uma porção do corpo ou ele todo.
só precisamos calcular e interpretar o coeficiente angular Voltando para os dados obtidos experimentalmente,
a da reta ajustada. Utilizando a definição matemática sabemos que a densidade da água é ρa = 1 × 103 kg/m3 ,
de coeficiente angular e reconhecendo que no nosso caso que a aceleração local da gravidade é g ≈ 10 m/s2 e que
y → E e x → Vs , temos que: 1 ml = 1 cm3 = 1 × 10−6 m3 para a água, além de que
2
1 N = 1 kg · m/s . Dessa forma, podemos escrever:
∆y ∆E 2
a= = (2) N 1 kg · m/s kg m
∆x ∆Vs 1 = −6 3
= 106 3 2 (8)
ml 10 m m s
Pegando dois pontos do gráfico, que melhor se ajustam Por conveniência, podemos reescrever a equação (8)
à reta, podemos calcular facilmente o valor do coeficiente como:
angular a. No nosso caso, escolhemos os valores corres- ρa
pondentes para os corpos 5 e 6 da Tabela 1. z }| {
N kg m
1 = 10 · 103 3 · 10 2
2
(9)
∆E 0, 44 N − 0, 24 N ml m | {zs }
a= = = 0, 01 N/ml (3)
∆Vs 45 ml − 25 ml g

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e20220344-6 Um aparato experimental para o estudo da força de empuxo

Identificando as grandezas: Usando o fato de que m = ρ V , tem-se que:


1 N/ml = 102 · ρa · g (10) ρf Vc
ρf Vs = ρc Vc ⇒ = (15)
ρc Vs
Substituindo na equação (4), tem-se:
Onde ρc representa a densidade do corpo imerso e Vc
E = (0, 01 × 102 · ρa · g) · Vs = ρa · g · Vs (11) o volume total do corpo. Como o volume do corpo é
Para um caso geral, temos que o empuxo é dado pela sempre maior ou igual ao volume submerso (Vc > Vs ),
equação: temos que o quociente Vc /Vs > 1, e daí:
ρf
E = ρ g Vs (12) > 1 ⇒ ρf > ρc (16)
ρc
Onde ρ é a densidade do fluido no qual o corpo será
imerso, g a aceleração local da gravidade e Vs o volume Concluímos que para um corpo boiar, ele precisa ter
submerso do corpo. densidade no máximo igual a do fluido imerso. Caso
Agora fica mais claro que o empuxo depende apenas contrário, o empuxo será menor que o peso e o corpo vai
do volume submerso do corpo que estamos mergulhando afundar. No caso analisado, o empuxo é no mínimo igual
e da densidade do fluido utilizado. Como a densidade ao peso e portanto o corpo, sendo colocado na superfície,
m boia. Com isso, explicamos porque corpos de grande
volumétrica de um corpo é dada por ρ = ⇒ m =
V massa conseguem boiar, o segredo está na densidade
ρ · V , podemos interpretar o produto ρ Vs que aparece
média do corpo (quando esse é formado por vários
na equação (12) como sendo a massa de fluido (mf )
materiais) em relação à do fluido, como por exemplo,
deslocado pelo copo imerso, uma vez que o volume
um navio.
submerso corresponde ao volume de fluido deslocado.
Portanto, podemos escrever o empuxo como:
7. Considerações Finais
E = mf · g = Pf (13)
Com este experimento, foi possível mostrar de forma
Concluímos que o empuxo corresponde, em módulo,
didática, que quando mergulhamos um corpo num
ao peso da massa de fluido deslocado pelo corpo sub-
líquido (ou num fluido, em geral) este fica sujeito à
merso (Pf ).
uma força exercida pelo líquido dirigida de baixo para
cima, na vertical. Tal força chamamos de empuxo, e
6. Boia ou Afunda? independe da massa, densidade ou tipo de material do
corpo mergulhado. Do corpo, apenas o volume submerso
Nesta seção, trazemos uma discussão extra sobre corpos (o quanto do corpo vamos mergulhar) é relevante. O
flutuantes no caso em que o corpo não está em contato empuxo também depende da densidade do líquido no
com as paredes do recipiente. Uma discussão mais qual estamos mergulhando o corpo. Assim, líquidos
detalhada pode ser encontrada na referência [7]. de diferentes densidades produzem forças de empuxo
Para saber se um corpo boia ou afunda num deter- diferentes. Essa força exercida pelo líquido corresponde,
minado fluido, devemos comparar sua densidade com a em módulo, ao peso da massa de líquido deslocado
densidade do fluido. No primeiro caso, as forças atuando pelo corpo mergulhado e varia de acordo com a ace-
sobre ele são representadas na Figura 9. leração da gravidade local, ou seja, se realizássemos
esse mesmo experimento na Lua, por exemplo, os dados
seriam outros, pois lá o valor da gravidade é diferente
(menor) que daqui, embora a relação boia ou afunda seja
invariante com a aceleração da gravidade, como mostra
a equação (16).
Esta proposta de aula serve também para reforçar e
demonstrar alguns conceitos de hidrostática anteriores
ao estudo da força de empuxo, que estamos considerando
que os alunos já tenham visto em aula. Com auxilio do
empuxoscópio, é possível explorar, além da existência e
causa da força de empuxo, a lei de Stevin e o conceito
Figura 9: Diagrama de forças de um corpo flutuante em de pressão. O experimento num todo revisa assuntos de
equilíbrio. mecânica como leis de Newton e reforça a importância
de interpretação de dados e gráficos. Esta proposta
Estando o corpo em equilíbrio, temos que FR = 0, de aula foi pensada para ser aplicada numa turma do
e assim: Ensino Médio, mas pode ser facilmente adaptada para
um roteiro de experimento para uma aula de física
E = P ⇒ ρf g Vs = m g (14) experimental do Ensino Superior.

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de Lima et al. e20220344-7

Agradecimentos

Os autores agradecem ao professor Mauro Gomes Rod-


bard pelas sugestões e orientações para a construção
desta proposta.

Material Suplementar

O seguinte material suplementar está disponível online:


Apêndice A – Estudo da força de empuxo

Referências
[1] R.A. Martins, Caderno Brasileiro de Ensino de Física
17, 115 (2000).
[2] F. Ramalho, N.G. Ferraro e P.A.T. Soares, Os Funda-
mentos da Física (Moderna, São Paulo, 2009), v. 1.
[3] F. Sears, M.W. Zemansky e H.D. Young, Física (Pearson
Education, São Paulo, 2003), v. 2.
[4] A.K.T. Assis, Rev.da Soc. Bras. de História da Ciência
16, 69 (1996).
[5] V.C. Barbosa e A.M.S. Breitschaft, Revista Brasileira
de Ensino de Física 28, 115 (2006).
[6] F.M.S. Lima, G.M. Venceslau e G.T. Brasil, Revista
Brasileira de Ensino de Física 36, 2309 (2014).
[7] F.C Santos, W.M.S. Santos e S.C. Berbat, Revista
Brasileira de Ensino de Física 29, 295 (2007).
[8] A.V. Gomes, E.M.S. Amaral e R.J. Prado, Revista
Brasileira de Ensino de Física 41, 3 (2019).
[9] M.N.S. Montanheiro, Caderno Catarinense de Ensino de
Física 7, 2 (1990).
[10] R.N. Almeida, O Método dos Mínimos Quadrados:
Estudo e Aplicações para o Ensino Médio. Dissertação de
Mestrado, Universidade Estadual do Norte Fluminense
(2015).

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