Artigo EMPUXO
Artigo EMPUXO
This work presents a didactic proposal aimed at high school students that aims to approach qualitatively and
quantitatively the buoyant force. The objective of this proposal is to use a low-cost experiment, made with simple
materials, to show and explore the existence and cause of the buoyancy, in addition to structuring a mathematical
model for the calculation of such force. This experiment is also useful to reinforce and demonstrate concepts about
hydrostatics such as pressure and Stevin’s law, which are important for understanding and analyzing the buoyant
force. This proposal is part of a project presented by the authors in the discipline Integrated Projects of Physics
Teaching 1, of the licentiate degree course in Physics at the Federal University of Paraná.
Keywords: Archimedes’ principle, buoyant force, buoyancescope, Stevin’s law, pressure.
sistema avaliativo da disciplina de Projetos Integrados – Cilindro, ou outro recipiente análogo, de plástico
de Ensino de Física 1, obrigatória para os discentes transparente ou vidro3 ;
do curso de Licenciatura em Física da Universidade – Duas luvas cirúrgicas ou qualquer membrana elás-
Federal do Paraná. Essa proposta é composta de um tica;
experimento que visa explorar de forma experimental – Cerca de 30 cm de mangueira de aquário;
e intuitiva a força de empuxo. Para isso, considerando – Cola, fita adesiva e estilete;
um contexto onde os alunos já tenham conhecimento – Dinamômetro;
de conceitos de hidrostática, montamos um aparato – Suporte para dinamômetro;
experimental simples que chamamos de empuxoscópio, – Proveta graduada;
cujo propósito é demonstrar a existência e causa da – Seis corpos de forma geométrica comum, que
força de empuxo, além de proporcionar uma forma cabiam dentro da proveta, sendo dois deles com
de chegar à equação matemática para o cálculo de massas iguais e volumes diferentes e dois com
tal força, interpretá-la e analisar qual a influência das volumes iguais e massas diferentes e todos com
características do corpo (massa, volume, forma etc.) e densidade maior do que a da água4 ;
do fluido (densidade) sobre o empuxo. – Aproximadamente 1 m de fio de nylon.
O texto está estruturado da seguinte maneira:
inicialmente, apresentamos os materiais necessários para 3. Montagem Experimental
o experimento e um guia para a montagem experimental.
Em seguida, exibimos os procedimentos experimentais Inicialmente, cortamos o fundo do cilindro de plástico
e algumas discussões sobre como coletar e explorar deixando-o com dois orifícios. Em seguida, fizemos um
as informações. Posteriormente, trazemos os dados furo no cilindro de diâmetro igual ao da mangueira
obtidos no nosso experimento e mostramos uma forma de aquário. Acoplamos uma das pontas da mangueira
de explorar os dados para chegar à equação geral do dentro do cilindro e vedamos com ajuda da cola e da fita
empuxo. Por fim, discutimos as condições para um corpo adesiva. Finalmente, cortamos as duas luvas cirúrgicas
afundar ou boiar e concluímos com nossas considerações em forma de círculo, de tal forma que o diâmetro
finais. Nos materiais suplementares se encontra um guia seja um pouco maior que o diâmetro do cilindro e
de aula para o aluno ir acompanhando e preenchendo com ajuda da cola e fita adesiva, fixamos cada pedaço
no decorrer da exposição do professor. nas extremidades do cilindro, deixando a membrana
levemente esticada, conforme indica a Figura 1.
2. Materiais De posse do fio de nylon, fixamos um pedaço de
cerca de 20 cm de comprimento em cada massa, a fim
Vamos inicialmente guiar os passos para a montagem do de facilitar a interação delas com o dinamômetro. O
experimento, juntamente com o empuxoscópio, disposi- suporte para o dinamômetro foi feito utilizando pedaços
tivo formado por um tubo com duas membranas (leve- de uma cadeira de madeira quebrada, conforme indica a
mente esticadas) nas extremidades, com uma mangueira Figura 2.
acoplada no seu interior (Figura 1).
Figura 1: Empuxoscópio.
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4.3. Discussões
Repetimos o mesmo procedimento citado anterior-
mente, porém, agora mergulhamos devagar o aparato, Quando mergulhamos o empuxoscópio na horizontal é
na posição vertical, mantendo novamente a extremidade perceptível que as membranas elásticas se deformam
livre da mangueira para fora da água e analisando o que para dentro, pelo fato de a água exercer pressão sobre
acontecia com as membranas superior e inferior à medida as membranas. No interior do empuxoscópio há pressão
que afundávamos o empuxoscópio, conforme ilustrado na atmosférica (por isso a mangueira com extremidade livre
Figura 4. para fora do recipiente com água), como a pressão exer-
cida pela água é maior que a pressão no interior do cilin-
dro, as membranas se deformam para dentro (Figura 3).
É importante destacar que as membranas se deformam
igualmente em ambos os lados, não importa o quanto
deslocamos o cilindro na horizontal, demonstrando o
fato de que a pressão num fluido, ao mesmo nível, deve
ser igual, consequência da lei de Stevin. A parte mais
interessante para nossa análise é quando mergulhamos o
cilindro na vertical. Percebemos que nessa configuração
as membranas se deformam gradativamente à medida
que mergulhamos cada vez mais o cilindro no recipiente
com água. Com o empuxoscópio da Figura 1 total-
Figura 4: Esquema experimental de mergulho vertical do
empuxoscópio.
mente imerso, ficou evidente que a membrana inferior se
deforma mais que a superior (Figura 4). Isso se deve ao
fato de a pressão num fluido aumentar linearmente com
a variação de altura da coluna de líquido (lei de Stevin).
4.2. Parte 2
Como a parte de baixo está a uma altura maior, em
Escolhemos uma das massas e utilizando o dinamômetro, relação à superfície, que a parte de cima, esta fica sujeita
medimos seu peso no ar, que denominaremos de peso real a uma pressão maior, considerando que as áreas de
(Preal ) (Figura 5 à esquerda). Em seguida, mergulhamos contato analisadas são iguais (bases do cilindro). Devido
totalmente esse corpo na proveta com água e medimos a a essa diferença (gradiente) de pressão, surge uma força
nova indicação do dinamômetro, a qual denominamos resultante atuando sobre o corpo imerso, dirigida na
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e20220344-4 Um aparato experimental para o estudo da força de empuxo
vertical de baixo para cima, a chamada força de empuxo. 5. Análise Dos Dados
Intuitivamente, fica claro que o fluido exerce uma força
maior no corpo na parte inferior, demonstrando de forma Na apresentação do projeto para a turma e para o profes-
qualitativa a existência e origem da força de empuxo, sor da disciplina na faculdade, realizamos o experimento
além de frisar a relevância da lei de Stevin. de acordo com a seção de procedimentos experimentais
A parte 2 é uma análise quantitativa. Utilizando as e obtivemos dados para a força de empuxo e volume
leis de Newton, fazemos um diagrama de corpo livre, submerso (Vs ) de cada corpo escolhido. Organizamos os
representando as forças que agem na massa quando dados obtidos experimentalmente conforme a Tabela 1.
medimos seu peso no ar e na água, conforme a Figura 6.
Tabela 1: Dados experimentais.
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roteiro de aula do material suplementar. Dessa forma, Como no eixo y expressamos o empuxo e no eixo
ao mesmo tempo que o professor constrói o gráfico no x o volume submerso, substituindo essas grandezas na
quadro negro, os alunos o fazem na área destinada a isso equação y = ax + b e de posse do coeficiente angular
no roteiro. Os gráficos, que vamos mostrar aqui, foram calculado com a equação (3), podemos escrever:
feitos num programa de computador, a fim de facilitar a
visualização e exposição da proposta de abordagem do E = a.Vs + 0 ⇒ E = (0, 01 N/ml) · Vs (4)
professor. Partindo da lei de Stevin, podemos chegar à equação
Note que a linha de tendência dos pontos experi- geral do empuxo e comparar o valor do coeficiente
mentais é uma reta, a qual podemos expressar por angular calculado. A diferença de pressão entre dois
y = ax + b. Podemos ajustar a melhor reta aos pontos pontos em um líquido é dada por:
experimentais. Vale a pena frisar que por se tratar de
uma proposta de aula destinada a alunos do Ensino Mé- ∆P = ρ g ∆h (5)
dio, vamos apresentar a maneira mais simples de analisar
Onde ρ representa a densidade do líquido, g a ace-
o gráfico, ou seja, traçando a reta com o método do bom
leração da gravidade local e ∆h a diferença de altura
senso e calculando os coeficientes matematicamente, sem
entre os pontos analisados. Partindo da consideração de
usar o MMQ [10]. Aconselhamos que o professor utilize
que ∆h seja a altura do corpo imerso vamos multiplicar
uma régua de comprimento suficiente ou qualquer outro
ambos os lados da equação (5) pela área A da base do
objeto semelhante e tente traçar a melhor reta possível,
corpo.
guiando os alunos a fazerem o mesmo em seus roteiros.
O gráfico da reta ajustada aos pontos encontrados no A ∆P = ρ g ∆h A (6)
nosso experimento é mostrado na Figura 8.
Sabe-se que a pressão é definida pela razão entre a
força perpendicular F⊥ pela área A que ela se distribui.
Assim, uma diferença de pressão multiplicada por uma
área é igual à uma força causada devido a essa diferença
de pressão, que mostramos ser a força de empuxo E.
Também, a altura ∆h de um corpo multiplicado por
sua área da base A é justamente o volume desse corpo.
Nesse ponto, entra a importância de escolhermos objetos
com formas geométricas cujos volumes são dados por
essa relação entre área da base e altura, visto que
para generalizarmos precisaríamos recorrer ao Cálculo
Diferencial e Integral, um assunto com o qual a maioria
das turmas do Ensino Médio não têm contato. Sendo
assim, a equação (6) se resume em:
E = ρgV (7)
Figura 8: Reta ajustada aos pontos experimentais. Onde V representa o volume do corpo, no caso deste
estar totalmente imerso. Essa é a relação entre o empuxo
Como quando o volume submerso do corpo é zero o e o volume submerso do corpo no caso particular em que
empuxo é nulo (se o corpo não está parcialmente ou o corpo está totalmente imerso. Podemos ainda explorar
totalmente imerso no fluido, este não exerce força sobre o caso mais geral, no qual o volume submerso pode
o corpo), o coeficiente linear b da reta tende a zero, logo, corresponder apenas à uma porção do corpo ou ele todo.
só precisamos calcular e interpretar o coeficiente angular Voltando para os dados obtidos experimentalmente,
a da reta ajustada. Utilizando a definição matemática sabemos que a densidade da água é ρa = 1 × 103 kg/m3 ,
de coeficiente angular e reconhecendo que no nosso caso que a aceleração local da gravidade é g ≈ 10 m/s2 e que
y → E e x → Vs , temos que: 1 ml = 1 cm3 = 1 × 10−6 m3 para a água, além de que
2
1 N = 1 kg · m/s . Dessa forma, podemos escrever:
∆y ∆E 2
a= = (2) N 1 kg · m/s kg m
∆x ∆Vs 1 = −6 3
= 106 3 2 (8)
ml 10 m m s
Pegando dois pontos do gráfico, que melhor se ajustam Por conveniência, podemos reescrever a equação (8)
à reta, podemos calcular facilmente o valor do coeficiente como:
angular a. No nosso caso, escolhemos os valores corres- ρa
pondentes para os corpos 5 e 6 da Tabela 1. z }| {
N kg m
1 = 10 · 103 3 · 10 2
2
(9)
∆E 0, 44 N − 0, 24 N ml m | {zs }
a= = = 0, 01 N/ml (3)
∆Vs 45 ml − 25 ml g
DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0344 Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 45, e20220344, 2023
e20220344-6 Um aparato experimental para o estudo da força de empuxo
Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 45, e20220344, 2023 DOI: https://doi.org/10.1590/1806-9126-RBEF-2022-0344
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Agradecimentos
Material Suplementar
Referências
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