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Livro de Extração ACURA

O 'Método Accura de Extração de Cannabis Medicinal' é um guia teórico e prático para a produção artesanal de extratos de cannabis, elaborado por Felipe de Castro e Ian Guedes. O livro aborda desde o conhecimento básico da planta até técnicas de extração, visando facilitar o acesso à medicina canábica para pacientes. A Accura, responsável pelo projeto, busca apoiar e educar pacientes sobre o autocultivo e a produção de fitoterápicos derivados da cannabis.
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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Livro de Extração ACURA

O 'Método Accura de Extração de Cannabis Medicinal' é um guia teórico e prático para a produção artesanal de extratos de cannabis, elaborado por Felipe de Castro e Ian Guedes. O livro aborda desde o conhecimento básico da planta até técnicas de extração, visando facilitar o acesso à medicina canábica para pacientes. A Accura, responsável pelo projeto, busca apoiar e educar pacientes sobre o autocultivo e a produção de fitoterápicos derivados da cannabis.
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MÉTODO ACCURA DE EXTRAÇÃO DE

CANNABIS
MEDICINAL
Abordagem teórica e prática da produção
artesanal de extrato de Cannabis.

FELIPE DE CASTRO E IAN GUEDES


MÉTODO ACCURA DE EXTRAÇÃO DE

CANNABIS
MEDICINAL
Abordagem teórica e prática da produção
artesanal de extrato de Cannabis.

1ª Edição

Felipe de Castro e Ian Guedes


Felipe de Castro Nenhuma parte dessa obra pode ser reproduzida ou transmitida de
Pesquisa e Desenvolvimento na nenhuma forma ou por nenhum meio, sem a permissão expressa e por escrito
ACCURA da Accura - Associação de Apoio e Pesquisa Cannabis Cura
Felipe é designer com experiência .
no desenvolvimento de marcas
e produtos. Em 2016 criou a Organização
Grow inBox, marca de estufas Accura - Associação de Apoio e Pesquisa Cannabis Cura
domésticas, e desde então tem se
dedicado à criação de ambientes de Coordenação geral do projeto
cultivo protegido. Atua na Accura Felipe de Castro
projetando áreas de cultivo e no Projeto gráfico, ilustrações e CGI
desenvolvimento de técnicas de Felipe de Castro
extração de cannabis.
Fotografia
Giuliano Bianco

Ian Guedes Revisão Técnica


Coordenador Geral na ACCURA Murilo Chaves Gouvêa / Dr. José Wilson Andrade
Um dos fundadores da Accura, Revisão Geral
Administrador, profissional com Paula Zomignani e Thálita Larissa Galutti
mais de 10 anos de experiência na
direção de uma clínica médica, Revisão Ortográfica
Permacultor, Reikiano, formado Taís Bravo
em nutrição e cultivo de plantas em
ambientes protegidos pela EACEA e
atualmente estudante de recuperação
biológica de solo pela Soil Food Web. de Castro, Felipe - Guedes, Ian
Método Accura de extração de Cannabis
É paciente medicinal de cannabis
medicinal / Felipe de Castro e Ian Guedes.
terapêutica, cultivador de cannabis
São Paulo - 2022.
há mais de 12 anos e também atua
como consultor em cultivo de Abordagem teórica e prática da produção
cannabis medicinal. artesanal de extrato de Cannabis.

ISBN 978-65-00-57043-4

Todos os direitos reservados à Accura


Associação de Apoio e Pesquisa Cannabis Cura
10 11
Carta de Agradecimento

A ACCURA (Associação de Apoio e Pesquisa Cannabis Cura) é uma


ONG fundada em 2018 para representar os interesses de pacientes
que fazem ou querem fazer uso da terapia canábica. Somos também
pacientes medicinais e entendemos as dificuldades nos processos,
valores e falta de orientações atuais.

Seguimos unidos para informar, auxiliar, apoiar, educar


e facilitar outros indivíduos no acesso à medicina para melhorar
sua qualidade de vida e tratar enfermidades.

A ACCURA e os autores deste livro, Felipe de Castro e Ian Guedes,


agradecem todo apoio das instituições e indivíduos que ajudaram
a viabilizar este projeto. Em especial aos parceiros Remederi e
Squadafum que foram imprescindíveis para a materialização
deste sonho.

Este é o primeiro livro sobre extração artesanal de cannabis


do Brasil! O autocultivo precisa ser considerado para
os pacientes medicinais e com informação de qualidade, juntos,
podemos tornar isso realidade no Brasil. Continuamos contando
com o apoio de todos vocês.

Queremos oferecer o livro digital para pacientes que não tenham


condições de adquiri-lo. Caso você conheça alguém que pode
se beneficiar deste conteúdo, entre em contato com a ACCURA.

As pessoas que contribuirem com a compra do livro serão


as verdadeiras responsáveis por levar este conteúdo para
mais pessoas de forma gratuita.

Pedimos consciência no compartilhamento deste conteúdo.

Obrigada!
Um forte abraço,

Time Accura
Sumário
Prefácio ........................................................................................................................ 17

Introdução...................................................................................................................... 19

Conhecendo a Cannabis .............................................................................................. 20


Cálices e pistilos, a “flor” de Cannabis.............................................................. 21
O tricoma.............................................................................................................. 25
Anatomia do tricoma.......................................................................................... 26
Maturação do tricoma......................................................................................... 28
Seleção da matéria prima.................................................................................... 30
Estado da matéria................................................................................................ 35
Tipos de Cannabis............................................................................................... 36
Uma breve história da Cannabis........................................................................ 38
Cânhamo, Maconha, Sativa, Índica... ............................................................... 40
Sistema endocanabinoide (SEC)........................................................................ 44

O processo...................................................................................................................... 46

Mistura.................................................................................................................. 48
Temperatura da mistura.............................................................................. 54
Resfriando o álcool...................................................................................... 56
Adicionando a matéria................................................................................ 58

Filtragem............................................................................................................... 62
Passagens adicionais............................................................................................ 73
Redução................................................................................................................. 74
Pesagem................................................................................................................. 84
Coleta.................................................................................................................... 88
Diluição................................................................................................................. 94
Descarboxilação................................................................................................. 102
Descarboxilação do THCA....................................................................... 104
Ingestão de THC........................................................................................ 105
Inalação de THC........................................................................................ 106
Oxidação pelo tempo................................................................................ 108
Procedimento controlado......................................................................... 110
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL
Administração.................................................................................................... 115
Percentual de canabinoides.............................................................................. 116
Concentração de canabinoides na diluição.................................................... 118 Prefácio
Concentração de canabinoides por gotas....................................................... 119
Posologia............................................................................................................. 120 Em vista da massiva quantidade de pacientes que conquistam
Rótulo.................................................................................................................. 122 autorizações para cultivo de Cannabis, torna-se uma responsabilidade
Conservação....................................................................................................... 126 social informações sobre boas práticas de produção. Assim, promovendo
Limpeza............................................................................................................... 128 uma melhora na qualidade e na segurança dos fitoterápicos derivados da
Cannabis que são preparados em casa.
Check list ...................................................................................................................... 132
O trabalho realizado pela Accura e pelos parceiros é um reflexo
Análise de Componente............................................................................................. 134 dessa responsabilidade. Em meu primeiro contato com a Accura, o que
mais me marcou foi o profissionalismo e a busca por conhecimento
dos colaboradores da associação. Todos em prol da saúde dos pacientes
acolhidos.

Nesta linha de trabalho, a equipe da Accura desenvolveu fórmulas e


processos de modo que seria inviável para a maioria das grandes indústrias
farmacêuticas. E a associação não só compartilha as informações, mas
também promove eventos e educa de forma responsável os pacientes que
mais precisam obter conhecimento sobre boas práticas de produção e,
assim, tratarem de sua saúde.

Um dos principais diferenciais expostos neste livro é a forma


lúdica e simplificada de procedimentos que eram complexos e onerosos
para produzir fitoterápicos derivados da Cannabis.

Técnicas mais brutas já estavam disponíveis para qualquer aluno há


algumas décadas, mas o que você verá neste livro é uma versão aprimorada
dos procedimentos de extração domésticos e que elevará significativamente
a qualidade dos seus produtos. Tudo isso sem encarecer sua produção
e demonstrando a possibilidade de manipulação segura em ambiente
doméstico. Assim, estamos não apenas compartilhando o conhecimento,
mas também a cada dia em busca de técnicas e tecnologias mais robustas e
que possibilitem aos pacientes carentes de recursos, cultivarem, extraírem
e produzirem fitoterápicos de Cannabis.
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Há pouco mais de 13 anos eu fiz meu primeiro cultivo e Introdução


produção. De lá para cá, muito se desenvolveu em técnicas de extração. Os
procedimentos relatados neste livro são um pequeno grão do que a Accura Antes de tudo o que é extração?
e parceiros estão trabalhando.
Quando você adoça seu café usando acúcar, na verdade, você está
Este é só o começo. Boa leitura! usando uma substância que foi produzida por um vegetal, mas de for-
ma isolada. Os açúcares contidos na cana foram extraídos, ou seja, foram
separados de todo restante que compõe a planta. Das diversas substâncias pre-
sentes na cana-de-açúcar, como água, lipídios e clorofila, agora você consegue
Murilo Chaves Gouvêa usar apenas os cristais de sacarose.
Farmacêutico, especialista em gestão da qualidade e auditoria de processos industriais
Ex-paciente terapêutico e fundador do Instituto Cuidy de Pesquisa e Desenvolvimento A extração de Cannabis segue a mesma lógica. É um processo de sepa-
ração de uma parte valiosa da planta. Porque resulta em um extrato altamente
concentrado e potente. Esse extrato é o que dá origem ao óleo de Cannabis.
Usado por pacientes de diversas patologias, como esclerose múltipla, epilepsia,
Parkinson e fibriomialgia, para citar apenas algumas.

Hoje o uso do óleo de Cannabis é reconhecido pela ANVISA e


tem aumantado o número de pacientes que compram esse medicamen-
to nas farmácias do Brasil ou importam de outros países. Assim como
também aumenta o número de pacientes que estão conseguindo, por meio da
justiça, o direito a plantar Cannabis em casa para a produção do seu próprio
medicamento.

O óleo é uma alternativa no uso terapêutico pois não traz


prejuízos à saúde do paciente, tal como fumar um cigarro de Cannabis.

Esse livro mostra de uma forma simples como extrair os componentes


da Cannabis e chegar em melhores resultados e rendimentos.

18 19
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Conhecendo a Cannabis Cálices e pistilos, a ‘flor’ de Cannabis


Grande parte da “flor” de Cannabis é formada pela concentração de
A Cannabis é classificada com uma planta dióica, isso porque apresenta
cálices e pistilos, conjunto que forma o órgão reprodutor da Cannabis fêmea.
apenas um conjunto de órgãos reprodutores, ou masculino ou feminino. Diferente
das plantas monóicas, que apresentam ambos os conjuntos de orgãos reprodutivos
O cálice tem formato de lágrima e é onde se localiza o ovário.
na mesma planta (SMALL, 2017).
Dentro dele se devenvolve a semente, caso a planta seja fecundada.
O termo “flor” é muito usado para se referir a esses conjuntos de órgãos
Os pistilos contém as partes reprodutivas de uma “flor”. Deles
reprodutores da Cannabis, no entanto, não é correto do ponto de vista científico,
nascem estruturas semelhantes a pelos, responsáveis por captar o pólen da
pois essa estrutura vegetal se apresenta com algumas diferenças das flores. “Bud” é
planta macho que é liberado no ar.
outra palavra usada para se referir a essas estruturas, no entanto, bud, nos padrões
de classificação da horticultura são meristemas (pontos de crescimento de galhos,
Se não fecundada, a planta direciona sua
“flores” e partes embrionárias da planta onde a divisão celular acontece).
energia para produção de mais dessas estruturas
reprodutivas, onde se concentra a maior quantidade de
A nomenclatura correta é inflorescência. Um conjunto de flores na
resina psicoativa.
extremidade de um tronco ou por todo ele. Quando esse conjunto é fertilizado ele
se torna uma infrutescência.
Segundo Small (2017), quando o processo
reprodutivo da planta fêmea de Cannabis não acontece, ela
Na fase de floração, a planta fêmea produz uma resina que
passa a produzir um alto índice de substâncias terapêuticas
possui compostos com alto valor medicinal. Essa resina é produto da
e medicinais. Já quando a fêmea recebe o pólem da planta
extração abordada nesse livro.
macho, sua prioridade passa a ser o desenvolvimento de
sementes e a produção da resina é restringida.

A produção de Cannabis para fins


Reino: Plantae medicinais segue necessariamente esse
Divisão: Magnoliophyta isolamento da planta fêmea, para que
Classe: Magnoliopsida sementes não sejam produzidas. Essa técnica é
Ordem: Rosales
chamada de sensimilla, que em espanhol quer
Família: Cannabaceae
Gênero: Cannabis
dizer ‘sem sementes’.
Espécie: Cannabis sativa

Figura 01: Figura 02:


Cannabis Fêmea Cálice e pistilo

20 21
22 23
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

O tricoma

O próximo passo é entender onde a Cannabis guarda a resina que


queremos extrair. Ao olhar a superfície das “flores” e de algumas folhas em um
microscópio, pode-se observar uma camada que cobre a planta, com
estruturas parecidas com gotas.

Essas estruturas são os tricomas, glândulas secretoras que carregam


e armazenam canabinoides, terpenos e flavonoides, em maioria na
sua extremidade, chamada de cabeça do tricoma.

Figura 03 - O tricoma
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL
Cutícula
A cutícula faz parte da parede celular, e é formada, em grande
Anatomia do tricoma parte, por cutina, uma substância graxa complexa, impermeável
à água, depositada sobre a parede externa. A cutícula, de modo geral,
protege o vegetal contra a perda excessiva de água, formando uma camada
Os tricomas são o alvo da extração de Cannabis. Neles se concentram
impermeabilizante.
grande parte do valor medicinal da planta. Sabendo disso, a tarefa é separar a
resina que cobre a planta (tricomas) do restante da matéria vegetal.

Terpenos
Também chamados de oléos essenciais, são substâncias produzidas
pelos vegetais, e conferem a eles as carecteristicas aromáticas,
Cavidade Secretora resultantes de seu metabolismo. Eles são a maior classe química
São bolsas das estruturas secretoras, de ativos vegetais e hoje existem mais de 30 mil tipos de terpenos
onde as substâncias eliminadas pela descritos. Alguns bem conhecidos, como o limoneno, que é muito
planta ficam depositadas. presente no limão e em frutas cítricas, ou o mirceno que caracteriza a manga
pelo seu aroma. Além disso, os terpenos tem um papel importante no efeito
que a Cannabis causa no organismo humano, agindo em sinergia entre si e com
Célula de disco outros componentes (efeito Entourage), eles modulam os efeitos psicoativos
Localizado na base da cabeça do e medicinais da planta.
tricoma, é onde os canabinoides e outros
componentes são sintetizados.

Flavonoides
Células epiteliais Assim como os terpenos, os flavonoides tem importante papel
São células especializadas nas características organolépticas, tal como sabor único de cada
na produção de resina vegetal. Cerca de 20 flavonoides na Cannabis já foram descritos e
para revestir o vegetal estudados (canaflavina, catequina, quercetina, entre outros). Eles
e delimitar o meio também reúnem propriedades medicinais e potencializam os efeitos da
externo do interior Cannabis.
do organismo.

Canabinoides
Superfície Essas substâncias são produzidas por grande parte dos seres vivos, assim como
da planta em nós humanos, em outros mamíferos e em vegetais. Quando produzidas por
vegetais, são chamadas de fitocanabinoides ou canabinoides exógenos. Eles são
os grandes responsáveis pelos efeitos terapêuticos e psicoativos da Cannabis.
Pela afinidade que têm com os receptores presentes por todo corpo humano,
ajudam o organismo a manter um estado de homeostase (equilíbrio dinâmico
Substâncias biológico).
metabolizadas

Figura 04 - Anatomia do tricoma

26 27
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL
Em seu estágio de degradação, a coloração âmbar começa a aparecer
no interior da cabeça do tricoma. Nesse ponto, a Cannabis provoca menos efeito de
Maturação dos tricomas euforia mental e tem mais ação como sedativo corporal.

A coloração e a transparência dos tricomas mostram o nível Como essa transição não acontece em todos os tricomas ao mesmo tempo, a
de maturação de uma planta de Cannabis. Então, um olhar atento regra para determinar o momento da colheita e aumentar o rendimento sem perder
com algum instrumento óptico de ampliação que possibilite uma boa as características psicoativas da planta é que a grande maioria dos tricomas esteja
visualização dos tricomas, ajuda a determinar o ponto ideal de colheita esbranquiçada, enquanto uma pequena parte esteja âmbar.
a fim de maximizar os efeitos desejados na sua extração.

Isto pode ser feito com


câmeras fotográficas que possuam Imaturo Maduro Degradação
a função ‘macro’, microscópios Tricoma transparente. Pouca Tricoma esbranquiçado. Máxima Tricoma com coloração âmbar.
eletrônicos, lupas ou lentes de presença de THC ou CBD. concentração de THC ou CBD. Redução dos níveis de THC e CBD.
aumento. Para uma nítida visua-
lização dos tricomas, é necessário
que a ampliação seja de pelo menos
30 vezes.

Os tricomas imaturos são


bem transparentes e brilhosos.
Sob luz forte, é possível ver essas
estruturas resinosas brilharem
como cristais.

Quando entram na fase


de amadurecimento, os tricomas
perdem a transparência e se
tornam opacos e esbranquiçados,
resultado do acúmulo de
substâncias sintetizadas e
armazenadas.

Figura 05 - Maturação do tricoma

28 29
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Seleção da matéria prima

Tudo começa pela matéria-prima que dará origem à extração. 3) “Flores”


Basicamente, qualquer parte da Cannabis que tenha alguma concentração de É nas “flores” onde se
tricomas serve para esse processo. Mas não espere um bom resultado caso sua encontra a maior parte
matéria não seja de boa qualidade. Para extração de Cannabis medicinal, a dos canabinoides que a planta
qualidade é medida pela quantidade de tricomas maduros presente na planta. produz. Cálices, pistilos e
pequenas folhas formam a
Nas “flores”, os tricomas são muito mais abundantes, mas também são massa vegetal
presentes nas folhas que nascem próximas às “flores”, as chamadas sugar leaves. que chamamos de “flor”
Elas levam esse nome pois a concentração dessas de Cannabis.
glândulas sobre as folhas faz com que pareçam
cobertas de cristais de açúcar.

1) Fan leaves 3
As fan leaves possuem um caule
alongado que as projetam para longe das 2
“flores”. Essas folhas têm pouca presença
de tricomas.

2) Sugar leaves
Já as folhas chamadas de sugar
leaves, além de terem menor tamanho,
nascem bem próximas
às “flores” e possuem grande 1
concentração de tricomas.

30 31
32 33
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Estado da Matéria

O ideal é que a matéria esteja seca. Desta forma, reduz-se o risco de


hidratar a mistura e diminuir seu poder de solvência.

Tanto para a secagem de “flores” como de folhas o procedimento é o


mesmo: um ambiente controlado, longe da luz, com temperatura e umidade
estáveis, sempre mantendo os parâmetros próximos de 50% de umidade relativa
e abaixo dos 24º C de temperatura, com uma leve e constante circulação de
ar. Procure também dispor suas “flores” ou folhas de forma que elas fiquem
espaçadas para que o ar circule por toda parte da matéria vegetal. Nesses
parâmetros, a secagem acontece entre 7 e 10 dias.

Sugar
leaves
“Flores”

Fan
leaves

34 35
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL Essas se diferenciam não só na aparência, na cor e no aroma, mas também
na sua composição bioquímica, de forma que alteram por completo o efeito
que tem no organismo humano. São centenas de substâncias identificadas
Tipos de Cannabis na planta, dentre elas, mais de 100 canabinoides, e cada um destes tem um
efeito diferente sobre o corpo.
Por milhares de anos, as escolhas dos seres humanos em cruzar
determinados indivíduos com a intenção de aprimoramento de uma linhagem Essa complexidade foi adquirida junto com a evolução da civilização
modificou muitos dos seres vivos com os quais nos relacionamos. E isso não foi humana. A Cannabis é uma espécie que tem coevoluido com a humanidade,
diferente com a Cannabis. isto é, ambas as espécies afetam a evolução uma da outra reciprocamente.

A partir do processo chamado seleção artificial, se criou uma enorme Uma forma de entender essas variações é olhar o cultivo de
variedade de cepas de Cannabis, também conhecidas por strains. Hoje existem Cannabis através da nossa história.
milhares de strains registradas comercialmente.

36 37
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL O Pen-ts’ao ching também cita os efeitos psicoativos da Cannabis
afirmando que a planta, se consumida a longo prazo, relaxa o corpo e permite que
o indivíduo comunique-se com espíritos. (HAND et al., 2016).
Uma breve história da Cannabis
Conforme os seres humanos se espalhavam pelos continentes,
Os sinais de origem da Cannabis apontam para os estepes da Ásia Central, a Cannabis os acompanhava. Introduzida nas américas pelos navios
mais precisamente entre a Mongólia e a região sul da Sibéria. Já o princípio da portugeses e espanhois mercadores de escravos a partir de 1500 ou levada para a
domesticação da planta pode ter começado há cerca de 12 mil anos, sendo um dos França por Napoleão após a invasão do Egito em 1798 (WARF, 2104), a Cannabis
mais antigos cultivos humanos registrados, segundo Ernest Abel (1980). viajou o mundo encontrando novos ambientes e condições para se desenvolver,
dando origem a novas linhagens genéticas.
A primeira evidência do cultivo de Cannabis surge na China, há 6
mil anos, no vilarejo de Pan-p’o. O objetivo era a produção de cordas, tecidos, No clima frio onde é atribuida a sua origem, a planta não desenvolvia
redes de pesca, papel e diversos artefatos construídos a partir de sua fibra. altos índices de substâncias psicoativas, mas sim uma outra versão, usada para
O seu uso medicinal aparece pela primeira vez em 2.700 A.C, no Pen-ts’ao obtenção de fibra. No entanto, ao chegar nos climas quentes do Sul e Suldoeste
ching, a mais antiga farmacopéia do mundo. O documento reconhece a da Asia, um novo tipo de Cannabis surgiu, com altas concentrações de substâncias
utilidade da Cannabis em mais de 100 doenças, incluindo dor reumática, gota e psicoativas (SMALL, 2017).
malária.

2000AC
1920DC 1200CD
2000AC
2000AC
1910DC Origem
atribuída

800DC
700DC 1000DC
1800DC 2000AC

1800DC 1100DC
1600DC

1400DC

Figura 06 - Uma breve história da Cannabis

38 39
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL Recentemente, em 1924 na Rússia, um geobotânico notou diferenças
visíveis na forma, tamanho e sementes de uma nova subespécie de Cannabis.
Notou também que em contraponto a Cannabis sativa que conhecia, essa não
Cânhamo, Maconha, Sativa, Índica... dependia de fotoperíodo para “flores”cer. Muitos acreditam que pela exposição
constante ao sol, numa região onde os dias são mais longos que a noite a planta
A domesticação da Cannabis seguiu caminhos diferentes em cada precisou “flores”cer automaticamente assim que atingia sua maturidade. Essa
parte do planeta em que ela se estabeleceu. Ou pelas condições geográficas planta foi chamada de Cannabis ruderalis.
do local ou pelos objetivos de seu cultivo por humanos, duas espécies foram
selecionadas inicialmente. A primeira era usada na Europa e no norte da Embora ainda exista debate sobra a classificação da Cannabis, hoje
Ásia e tinha como o principal intuito sua fibra, matéria prima necessária segundo o sistema de classificação APG (Angiosperm Philogeny Group)
para diversas construções. Já no Sul da Ásia, a segunda linhagem selecionada a espécie é denominada de Cannabis Sativa L. e possui duas subespécies
tinha pouco valor por sua fibra, mas se tornou uma droga utilizada de forma e algumas variações, como: Cannabis Sativa subespécie Sativa, Cannabis
recreativa, cultural e para fins espirituais, devido ao grande acúmulo de Sativa subespécie Indica, Cannabis Sativa subespécie Indica variação
substâncias psicoativas que causava efeito intoxicante quando consumida, Afghanica, Cannabis Sativa subespécie Sativa variação Ruderalis, Cannabis
segundo Small (2017). Nessa época, milênios atrás, o mapa da Cannabis Sativa subespécie Sativa variação Spontanea, etc.
ficou claramente dividido entre duas seleções genéticas. Uma que produzia
muitas fibras, que hoje conhecemos como hemp ou cânhamo, e outra que
pruduzia resina psicoativa em abundância, que é chamada de marijuana ou
maconha.

Um dos efeitos do estabelecimento da mesma genética em climas tão


distintos foi a adaptação em um novo fotoperíodo, isto é, a variável climática
que identifica o período de luminosidade solar na Terra, ou seja, o período que
vai do amanhecer ao pôr do sol.

Enquanto a variedade produtora de fibras se desenvolvia sob o sol do Fibra


norte com períodos curtos de floração, a variante do sul tirou vantagem das
Resina
longas estações do ano de grande incidência solar e teve assim um tempo mais
longo para florecer. Índica

Ainda a partir da versão produtora de resina psicoativa, foi selecionada


uma nova linhagem em uma pequena área no sudoeste da Ásia. Diferente das
demais, além de possuir as catacterísticas intoxicantes, florescia em um tempo
bem mais curto. Foi chamada de Cannabis índica (SMALL, 2017).

Figura 07 - Cânhamo, Maconha, Sativa, Índica...

40 41
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Em suas origens, as plantas poderiam apresentar diferenças claras e Por conta disso, hoje essas nomenclaturas não dizem muita
consistentes, tanto em morfologia quanto em composição bioquímica, caso ela coisa e muitas vezes tem sido usadas sem muita utilidade pela indústria
fosse classificada como Cannabis índica ou como Cannabis sativa. da Cannabis para classificar seus produtos.

A Cannabis índica foi descrita como uma planta baixa, arbustiva e de O que vale pontuar é que pode-se chamar uma planta índica ou
folhas largas, enquanto a Cannabis sativa era muito mais alta e esparsa, com sativa pelos aspectos físicos de desenvolvimento da planta ou pelos efeitos
folhas mais estreitas (figuras 8 e 10). que ela promove no corpo humano. De qualquer forma, é um exercício
puramente subjetivo. Depende da opinião de alguém que analiza a planta
Os efeitos percebidos com o consumo das duas variantes também visualmente ou a consome para relatar seus efeitos, já que não existem
podiam mostrar a mesma recorrência de alterações. Enquanto um efeito matrizes genéticas para a comparação.
relaxante e sedativo foi atribuído as plantas índicas, uma sensação de energia e
euforia era notado nas plantas sativas. É possível também analisar os canabinoides presentes na planta em um
laboratório para determinar quais os efeitos que aquela genética pode causar
No entanto, a constante cruza e hibridização criaram uma infinidade ao corpo. Essa prática é muito mais precisa para classificar as genéticas de
de novas linhagens genéticas com características morfológicas de uma planta Cannabis, no entanto, ainda é pouco adotada.
sativa, enquanto a mesma carrega um perfil bioquímico próprio de uma índica,
ou vice versa.

Folha da planta sativa Folha da planta ruderalis Folha da planta índica

42 43
O SEC é composto por:
Sistema endocanabinoide (SEC)
Dr. José Wilson de Andrade
Receptores Endocanabinoides Enzimas que produzem os
endocanabinoides
“RELAX, EAT, SLEEP, FORGET AND PROTECT” - CB1 e CB2 - Estão presentes em
“Relaxar, comer, dormir, esquecer e proteger” todo tecido de nosso corpo, porém - NAT (N-acetiltransferase,
Foi com essa frase que o Prof. Vincenzo Di Marzo, bioquímico com uma maior expressão de CB1 sintetiza Anandamida)
molecular Italiano, definiu o SEC. Um sistema fisiológico presente em no Sistema Nervoso Central, e de - FLCß (Fosfolipase C Beta,
animais vertebrados e invertebrados, que evolui há 600 milhões de anos. CB2 no Sistema Imune e células sintetiza 2AG)
hematopoiéticas.
Ao realizar a extração de compostos ricos em fitocanabinóides com o Enzimas que degradam os
fim medicinal, é de suma importância que você compreenda o foco de ação dos Endocanabinoides (canabinoides endocanabinoides
compostos ativos que foram isolados. produzidos pelo nosso organismo)
- FAAH (hidrolase amida de
- Anandamida (Araquidoniletanolamida) ácido graxo – Anandamida)
O corpo humano apresenta vários sistemas fisiológicos: - 2AG (2 Araquidonilglicerol) - MAG (monoacilglicerol – 2AG)
respiratório, circulatório, digestivo, reprodutor, imunológico, etc. O SEC
é mais um deles. Qual sua função? Resumidamente, a homeostase de todos
os outros. Homeostase é equilíbrio, ou seja, no evento de um dos sistemas
operar acima ou abaixo de sua necessidade, a sua ação visa regular Encare os receptores (CB1/CB2) como cadeados e os endocanabinoides
estas alterações. Pense no SEC como o equalizador que define o tom e (Anandamida, 2AG) como chaves. Quando necessário, nosso corpo produz
a intensidade dos instrumentos em uma música. Neste caso, atuando como os essas chaves, que ao abrirem ou fecharem cadeados em determinadas regiões do
instrumentos, estão nosso sistemas fisiológicos. corpo, provocam uma reação.

Os fitocanabinódes (THC, CBD, e mais cerca de 100 outros)


presentes na sua extração, são basicamente cópias destas chaves. A ação
deles modula o funcionamento do SEC e consequentemente, de todos outros
sistemas fisológicos.

Importante ressaltar que além dos fitocanabinoides; os terpenos


Mirceno Linalol CBDA THCV THC CBN ∂-Pineno e flavonoides presentes em sua extração, também agem no SEC.
ß-
CBC CBD CBG Limoneno CBL Cariofileno THCA CBDA

Por que é importante compreender tudo isso?


Porque a genética de cada planta e o método de extração vão definir
diferentes concentrações de fitocanabinoides em seu extrato e isso significa que
os resultados finais, serão óleos com propriedades diferentes.

Figura 08 - Sistema endocanabinoide

44 45
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

O processo

O método Accura de extração de Cannabis consiste, de forma bem


resumida, em dissolver a resina espalhada sobre a planta utilizando álcool de
cereais, peneirar a mistura, filtrar o líquido e evaporar todo o álcool até o ponto
em que reste apenas a resina.

Tendo em mente apenas o parágrafo acima, já é possível que sua extração


aconteça. A partir daqui, seguir as informações detalhadas para cada etapa,
garante uma qualidade muito superior do resultado e a segurança em todos os
procedimentos, desde o trabalho do extrator até o consumo do paciente.

46 47
Insumos:

Utensílios necessários:

Cannabis Álcool de cereais Gelo seco


“flores” ou folhas Com concentração Ítem opcional.
que contenham superior a 90%. Pode ser substituído
quantidade significa- Cerca de 2 litros por um freezer
tiva de tricomas. para cada 50g de doméstico.
De 30 a 50 gramas Cannabis. De 2 a 4 quilos por
por recipiente de recipiente de vidro.
vidro.

ATENÇÃO!
Recipiente de vidro Pinça em Espátula de
Com o volume de 3 litros aço inox. silicone com O álcool utilizado é extremamente inflamável. Lembre-se
e resistente a variações Pegadores de gelo, estrutura sempre de ter atenção durante todos os procedimentos para que
de temperatura. Você de massa ou de rígida não ocorram acidentes. Não produza chamas, brasas ou faíscas
pode usar os vidros de salada. quando estiver perto do álcool e mantenha seus recipientes de
conservas e antepastos, armazenamento sempre fechados.
ou comprá-lo em lojas Nunca toque diretamente no gelo seco. Sua temperatura é de
especializadas. -78ºC, e pode provocar sérias lesões na pele. Utilize uma luva
térmica para manipular o gelo seco com segurança.

48 49
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Mistura

A quantidade de álcool de cereais é sempre a mínima necessária para


cobrir a matéria vegetal, fazendo toda a resina estar submersa no líquido.

O álcool dissolve primeiro uma camada de cera que cobre a planta, a


chamada cutícula, que é, em grande parte, gordura. Logo abaixo dela estão os
tricomas, que também são dissolvidos, enquanto o álcool penetra nas células
vegetais e carrega diversos compostos, como a clorofila, que confere uma
coloração verde muito forte ao líquido e um sabor amargo ao produto final.
Quanto mais tempo o álcool fica em contato com a planta, mais resina ele
dissolve e mais clorofila carrega.

Muitos componentes da Cannabis podem trazer benefícios ao paciente,


mas para algumas utilizações é interessante ter uma resina mais livre de clorofila
e mais concentrada em terpenos e canabinoides. Caso essa não seja a intenção,
ou opte por uma experiência com extração mais simples e descomplicada, fique
à vontade para deixar a matéria submersa no álcool quanto tempo quiser, entre
poucos minutos até 48 horas. Essa simples mistura já é suficiente para que o
álcool carregue os componentes que a Cannabis possui.

Mas, caso a escolha seja por um extrato mais limpo, concentrado,


aromático e potente, a mistura vai seguir outros passos.

50 51
Na imagem acima, é possivel ver duas formas de se obter o líquido. À denuncia apenas a presença de clorofila, mas também de água, gorduras
esquerda, a mistura entre a matéria e o álcool feita em temperatura ambiente, e substâncias hidrossolúveis que existem no interior da célula vegetal.
mostra uma coloração esverdeada. Já à direita, o líquido de coloração âmbar,
sem traços significativos de clorofila, foi obtido a partir da mistura feita à baixa A extração em baixa temperatura diminui a presença desses
temperatura. elementos no líquido e, quanto menor a temperatura, maior o controle
na extração. Essa primeira etapa do processo, a mistura, é o ponto
Ambos os líquidos contém canabinoides e terpenos, os elementos determinante quanto a qualidade, pureza e concentração do extrato
mais importantes na extração de Cannabis. Mas a coloração esverdeada não a ser obtido.

52 53
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL Quando a mistura chega Quando usamos o frezzer
abaixo de 0º C, a água presente no doméstico para resfriar o álcool e a
interior das células acaba congelando, matéria a ser extraída, essa mistura tem
Temperatura da mistura e dessa forma, os elementos celulares apenas alguns minutos para acontecer,
ficam congelados e presos dentro da pois eles voltarão para a temperatura
Existem muitas maneiras de controlar a temperatura enquanto o álcool planta e não são liberados, enquanto o ambiente em pouco tempo.
dissolve a resina da planta. Como o intuito aqui é a realização do processo sem a álcool dissolve os tricomas na mistura.
necessidade de equipamentos laboratoriais ou industriais, são apresentados três Já com o gelo seco, é possível
caminhos. No primeiro, sem necessidade de controle, simplesmente a mistura é Nesse ponto, pode ter surgido manter a temperatura próxima dos
feita em temperatura ambiente. No segundo, utiliza-se um freezer doméstico. E, uma dúvida: - A matéria vegetal -70º C por horas. Assim o trabalho
no terceiro, usamos gelo seco. não estava seca? Como assim a água de solvência do álcool pode agir por
presente nas células? - As “flores” e completo, sem o risco de descongelar a
Como dito anteriormente, quanto mais baixa a temperatura, melhor o folhas não estão secas por completo. planta. Da mesma forma que o emprego
resultado da extração, em concentração de canabinoides e em aroma. Mas os Após o processo de secagem descrito do gelo seco nessa fase de mistura
outros elementos presentes na Cannabis também podem ter valor terapêutico. brevemente no capítulo ‘Estado da confere maior qualidade ao extrato,
A clorofila e alcalóides contidos na planta podem ser desejáveis para alguns Matéria’, a planta ainda preserva alguma ele também exige maior cuidado,
pacientes. Então, as três maneiras de fazer essa mistura são válidas. umidade, e é nessa água que estão atenção e conhecimento. Por isso, ele é
depositados os elementos celulares. o foco nesse capítulo. O procedimento
feito no freezer segue a mesma lógica,
Para garantir que o máximo no entanto é mais simples. Tendo
de água da planta esteja sempre boa compreensão sobre a mistura
congelada durante a mistura, é ideal em baixa temperatura, é possível
que essa temperatura permaneça a realizá-la em ambos os métodos.
bem menos do que 0º C.

A maneira mais simples É possível conseguir Aqui se obtém alta


de começar. Não requer bons resultados, mas concentração de
muito tempo, trabalho, em um rendimento canabinoides, uma resina
equipamentos e insumos. não tão significativo, homogênea, características
Parecido com fazer um se considerarmos a mais acentuadas de aroma,
chá. No lugar da água quantidade de resina sabor, cor, textura etc.
quente, o álcool em disponível na matéria. Além de rendimentos
temperatura ambiente. muito mais expressivos.

54 55
Já para o gelo seco, o procedimento correto é ir o adicionando aos
Resfriando o álcool
poucos no álcool, até que a temperatura ideal seja atingida.

Caso a escolha seja pela extração em baixa temperatura, é


ATENÇÃO!
importante garantir que todos os materiais e insumos utilizados estejam na
menor temperatura possível antes de realizar a mistura. Isto é, o álcool, a sua É IMPORTANTE que o gelo seco seja adicionado com cuidado e aos poucos,
matéria-prima e os recipientes precisam estar previamente resfriados antes por dois motivos: o primeiro é que o choque térmico causado pela adição de
do solvente e a planta entrarem em contato. Um ambiente resfriado também muito gelo ao mesmo tempo pode trincar o vidro.
melhora o processo. O segundo ponto é que com o líquido à temperatura ambiente, o gelo causa
uma ebulição muito forte, e jogar muito gelo seco ao mesmo tempo pode
No freezer doméstico, recomenda-se que todos os itens fiquem pelo espirrar grandes quantidades do solvente para fora do recipiente.
menos de 6 a 12 horas para que cheguem na temperatura necessária.

56 57
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

O procedimento feito dessa forma pode durar várias horas, se


Adicionando a matéria julgar necessário. Mas a partir de 1 hora de mistura já é possível extrair
grande parte da resina contida no vegetal.
Quando o procedimento é feito usando o freezer, recomenda-se
que a mistura aconteça entre 1 e 5 minutos. Quanto maior o tempo de É importante que a próxima etapa, a separação entre líquido e
mistura, mais clorofila será liberada e mais esverdeado ficará seu líquido. matéria vegetal, seja feita enquanto ainda for presente uma boa quantidade
de gelo seco no recipiente, garantindo que a temperatura permaneça abaixo
A grande vantagem de usar o gelo seco para resfriar o álcool é a dos -40º C durante todo o tempo de mistura.
possibilidade de reduzir muito mais a temperatura do líquido e por muito
mais tempo. Independente do tempo de mistura escolhido, o processo de
separação entre líquido e matéria vegetal (filtragem) deve ser feito de
Dependendo da quantidade de gelo seco que for utilizada, forma ágil assim que iniciado. Isso garante maior pureza e concentração ao
a mistura pode se manter na temperatura ideal por horas. E é possível extrato. Então, o ideal é ter todos os itens a mão antes de iniciar o processo
manter por ainda mais tempo, ao adicionar mais gelo à medida que ele seguinte. Uma boa prática é que todo o fundo do recipiente esteja coberto
sublima (passa do estado sólido para o estado gasoso). por uma camada de gelo seco.

Dessa maneira, se obtém o máximo de resina sem que níveis Quando a temperatura for atingida, adicione a planta aos poucos,
significativos de clorofila e outros componentes da planta sejam liberados. até que exceda o volume do líquido. Por estar congelada e quebradiça,
Com o uso de um termômetro infravermelho, é fácil identificar a a matéria perderá bastante volume no processo, e se transformará em
temperatura certa para começar a colocar a matéria no álcool. Assim que o pequenos pedaços durante a mistura. Nesse momento, pode se adicionar
líquido atingir -40º C inicia-se a mistura. ainda mais gelo seco para que se cubra a matéria adicionada.

Caso não disponha de um termômetro, alguns sinais ajudam a A partir daqui, agite com cuidado e sempre que possível para que o
identificar a temperatura em que está sua mistura. máximo de tricomas entrem em contato com o álcool e sejam dissolvidos.

O primeiro indicativo de que o líquido atingiu a temperatura


ideal é a ebulição. Logo que o gelo seco é adicionado ao álcool, ATENÇÃO!
a quantidade de gás liberada é muito grande, fazendo o líquido todo se
agitar. Aos poucos, conforme mais gelo é adicionado, a temperatura chega Nunca tampe o recipiente enquanto ainda restar gelo seco na mistura. A
mais perto dos -70º C e isso diminui a ebulição, fazendo com que o líquido pressão causada pelos gases liberados pode estourar
fique menos turbulento. Outro sinal, é a camada de gelo que se forma ao o vidro e causar sérios acidentes.
redor do recipiente. O vapor de água presente no ar congela ao tocar a
sua parte externa, formando, com o tempo, uma espessa camada de água
congelada.

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ou

Utensílios necessários: Filtro qualitativo 80g/cm3 ou filtro de café


Filtro de papel laboratorial ou doméstico.

ou

Bubble bag ou peneira inox


Para as bubble bags pode-se usar qualquer dimenssão de malha, de
25 a 220 micras, mas as malhas menores removerão mais resíduos.
Erlenmeyer 2 litros Funil de vidro 500ml
Caso não disponha de uma bubble bag, utilize uma peneira feita
Pode ser subistituído por Pode ser substituído por
em aço inox.
uma garrafa. um funil culinário.

ATENÇÃO!
É importante que todos os utensílios usados no processo estejam
limpos e sem resídos de alimentos. Não compartilhe itens de cozinha
para fazer suas extrações. Mantenha separado e limpo tudo o que for
ter contato direto com o líquido.
Recipiente de inox com mais de 3 litros
O recipiente que vai receber o líquido gelado precisa resistir a grandes
variações de temperatura em um curto espaço de tempo. Então, não é
recomendado que se utilize recipientes de vidro.

62 63
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Filtragem
De forma simples, essa etapa consiste em retirar grande parte de matéria
vegetal presente na mistura e em seguida passar o líquido em um filtro de papel
para eliminar qualquer partícula de planta que tenha ficado.

Com auxílio de Para a primeira separação, passar toda a mistura


um pano limpo, retire a maior por uma peneira de cozinha já funciona. No
parte do gelo formado no entanto, existe uma forma mais eficiente para
exterior do recipiente para garantir a maior qualidade do produto final,
evitar que água entre em que é usar uma malha muito mais fina que
contato com a mistura. uma peneira.

As bubble bags como


são chamadas possuem essa
malha, idealmente usadas para
extrações de Cannabis.

No exemplo acima, a malha foi retirada da bubble bag para ser usada em conjunto com
uma tampa do próprio vidro recortada, formando uma peneira fixa no recipiente.

64 65
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Existem bubble bags com várias dimensões de malhas, variando O álcool não congela nessa temperatura a que foi submetido, mas sua
desde 25 micras até 220 micras. Isso porque, em outras formas viscosidade muda. Enquanto em temperatura ambiente ele é muito parecido com
de extração, em que os tricomas não são dissolvidos, mas sim retirados da a água e passa por um filtro de papel com facilidade, em baixas temperaturas, ele
planta de modo que ainda preservem sua forma e tamanho, eles precisam se torna mais viscoso e muito mais lento para ser filtrado.
ser coletados pelas malhas de dimensões corretas. Não é o caso desse
método. Qualquer malha, de 25 à 220 micras funciona. A diferença é que, Como já comentado, a filtragem em baixa temperatura confere maior
usando a menor malha, o resultado será um líquido mais limpo. pureza ao extrato. Em laboratórios, esse processo de filtragem é feito sob pressão
negativa. Uma bomba de vácuo auxilia a passagem do álcool pelo filtro. Mas
aqui a simples gravidade e o tempo farão essa tarefa.
ATENÇÃO!

Trabalhar com gelo seco oferece


riscos. O toque ou contato prolongado da
pele com uma superfície a -70º C provoca
queimaduras. E novamente existe o risco
de quebra do recipiente por choque de
temperatura, chegando a uma diferença
de 90º C em poucos segundos. O correto
é que esse recipiente de coleta seja de aço
inox para evitar que isso ocorra.

Quando o vidro for virado de


boca para baixo, o gás liberado pelo gelo
seco forçará o líquido para fora. Aguarde
alguns minutos até que a separação do
líquido tenha occorido.

Nessa etapa, a recomendação


de segurança mais importante é nunca
manipular o gelo seco diretamente com
as mãos, nem o líquido ou os materiais
resfriados por ele. É necessário a utilização
de luvas isolantes térmicas para qualquer
contato com essas superfícies.

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68 69
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Com o líquido limpo, sem vestígios de matéria vegetal, é possível


armazená-lo por tempo indeterminado. Essa solução alcoólica precisa
apenas estar longe da luz e do calor, para manter suas propriedades, caso queira
passar para a próxima etapa em outro momento.

A secagem, o próximo passo, demora um tempo considerável para


ser concluída. Por isso, caso não queira fazê-la logo em seguida, é uma boa
alternativa estocar em boas condições de armazenamento e secar conforme sua
demanda.

Os componentes nesse líquido são fácilmente degradados pela luz. Por


isso, dê preferência para recipientes opacos ou vidros escuros.

Essa filtragem pode demorar vários minutos, ou até horas,


dependendo do volume de líquido a ser filtrado. Uma forma de aumentar a
velocidade nessa etapa é dividir o volume do líquido e passá-lo em mais de um
filtro ao mesmo tempo.

Embora o líquido já esteja aparentemente limpo, logo que deixa


o recipiente de mistura para o recipiente de coleta, é agora, nessa segunda etapa
de separação, que as últimas partículas de matéria vegetal serão eliminadas.

A comparação é nítida entre o álcool antes e depois de ser filtrado. Após


a fltragem, é possível ver o líquido muito mais cristalino, enquanto as impurezas
retidas pela filtro o deixavam mais turvo.

Se ainda notar algum resíduo, repita o processo de filtragem.

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EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Passagens adicionais
Após a primeira passagem pelo álcool, ainda restará resina a ser dissolvida
na matéria-prima. Ainda mais se o processo de mistura não durar muito tempo
ou se não for usada muita turbulência. Um tempo mais curto de mistura e com
menos agito resulta em maior pureza na primeira passagem.

De qualquer forma, mais passagens de álcool pela planta, ou seja, novas


misturas com sua matéria já extraída e um novo álcool, pode ser necessário para
um melhor rendimento.

Se for possível manter a temperatura sempre abaixo dos -40ºC, essa


mistura continuará extraindo um produto limpo e de alta concentração.
Caso contrário, suas passagens adicionais ficarão com tom esverdeadas,
evidenciando os elementos liberados pela matéria vegetal. Mas se não houver
restrição de um extrato verde, rico em clorofila, essa passagem adicional
pode ficar agindo por dias, em temperatura ambiente, até que o máximo dos
componentes sejam liberados no líquido.

72 73
Becker 2 litros
Ou um outro recipiente que ofereça
resistência a variações de temperatura e tenha
Utensílios necessários: uma abertura larga para facilitar a evaporação
dos gases.

Dica:

Banho maria
É uma ótima forma
de evaporar o álcool,
pois garante uma melhor
distribuição do calor
por todo o líquido,
diminuindo o tempo
Chapa elétrica de evaporação.
Pode ser subistituída por um fogão elétrico, panela elétrica
ou qualquer outra fonte de calor que não produza chama.

A temperatura ideal (cerca de 50ºC) pode ser bem menor do que a


temperatura mínima dos equipamentos citados acima. Se esse for o
caso, use algo resistente a temperatura, como um descanso de panela ATENÇÃO!
de silicone para ficar entre a chapa aquecida e o recipiente. Isso fará
com que a temperatura da evaporação não ultrapasse muito a faixa
Os gases liberados na evaporação do álcool são inflamáveis.
de 45ºC até 60ºC.
Mantenha sempre a ventilação e não produza chamas no local.
ALTO RISCO DE EXPLOSÃO!

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EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Redução
Redução é o procedimento de aquecimento e evaporação do álcool
para obtenção da resina pura. Outra vez, um procedimento que oferece riscos e
precisa de certos cuidados. O álcool em questão é pouco hidratado, isso significa
que ele é altamente inflamável. Então, lembre-se bem:

A REDUÇÃO DEVE SER FEITA EM AMBIENTE ABERTO E


VENTILADO. NUNCA UTILIZAR EQUIPAMENTOS QUE PRODUZAM
CHAMAS PARA A REDUÇÃO. APENAS EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS
SÃO SEGUROS PARA ESTA ETAPA DO PROCESSO.

Fique de olho Deixe o caminho dos gases Circulação de ar


no processo completamente desobstruído é fundamental

Altas temperaturas
Não utilize chamas degradam os
por perto componentes

Os equipamentos que produzem chamas, como fogão à gás ou qualquer


outro equipamento por combustão, são altamente desaconselhados para
evaporar o álcool. Tenha cuidado com sua segurança e evite também produzir
Faça sobre uma O movimento constante Mantenha longe de chamas, faíscas ou mesmo fumar nas próximidades onde o álcool está sendo
base sólida ajuda a evaporar mais rápido crianças e animais evaporado.

76 77
O agitador magnético é um equipamento laboratorial com diversas aplicações.
Para esse processo, ele aquece e evapora o álcool, enquanto mantem o líquido
em movimento, facilitando a liberação dos gases evaporados.

78 79
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Seja qual for sua fonte segura de calor, os cuidados não mudam.
A temperatura certa é fundamental para que a resina mantenha suas
melhores características. Com uma temperatura maior do que a ideal,
componentes importantes da Cannabis sofrem transformações, ou simplesmente
evaporam.

Os terpenos são os componentes mais voláteis nessa resina. Com uma


temperatura muito alta, o extrato acaba perdendo muito desses componentes.
Já os canabinoides passam por alterações. Com o calor ocorrem certas perdas
de partes das suas moléculas originais, transformando-as em novas moléculas.
Uma dessas trasnformações chama-se descarboxilação. Algo que até pode ser
desejável, mas ainda não é o momento de fazer transformações de componentes.
Trataremos sobre descarboxilação mais adiante.

Tente manter a temperatura por volta de 50º C durante toda a evaporação.


Tenha em mente que o líquido funciona como um dissipador de calor, ou seja,
quanto maior o volume de líquido no recipiente, menor a temperatura. A
medida que o álcool evapora e o volume diminui, a temperatura tende a subir.

80 81
82 83
Dica:

Utensílios necessários:

Balança de precisão
É necessário que a balança utilizada possua pelo menos duas
casas decimais. Um equipamento com uma precisão menor do
que essa não vai entregar a segurança necessária para a dosagem
do óleo.
Pese o recipente vazio
e escreva essa informação no próprio recipiente.
Instrumentos de medição perdem a calibração com o tempo de
Ao final, subtraia o valor do recipiente vazio do valor
uso. Certifique-se sempre que sua balança esta calibrada pesando
do recipiente com a resina, para ter o peso exato do extrato.
um objeto de peso conhecido.

84 85
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL Sem essa etapa não é possível dosar de uma maneira segura
a administração, sobretudo quando seu uso for via ingestão. É a partir da
pesagem que você consegue encontrar a sua dose ideal. Já que, dessa forma, os
Pesagem
efeitos de uma super dosagem, por exemplo, só começam a ser percebidos por
Pesar a resina, após a evaporação do álcool não é apenas uma forma de volta de 1 hora depois do consumo.
descobrir o rendimento da extração, mas mais importante é saber a quantidade
de canabinoides que sua resina pode conter. Com a resina pesada, a extração está pronta. A parte da planta que era o
alvo da separação está isolada no recipiente e sua quantidade agora é conhecida.

86 87
Dica:

A resina extraída apresenta viscosidades diferentes conforme a


sua temperatura muda. Use isso a seu favor na hora de manipular sua
extração.

Utensílios necessários: Aquecida


A 45ºC a resina fica menos
viscosa, com um aspecto
mais líquido, sendo
possível a coleta com uma
seringa de agulha grossa.

Temperatura
ambiente
Entre 20ºC e 24ºC o
extrato tem a viscosidade
alta e adere em superfícies
com facilidade.
Recipiente de silicone
Manter seu extrato puro em um recipiente de silicone facilita
a retirada e evita perdas. Mas você também pode usar um recipiente
de vidro com tampa hermética.
Congelada
Próximo de 0ºC a resina
solidifica e seu aspecto fica
como o de um caramelo,
dessa forma pode-se
tirá-la em pedaços.
Espátula de inox
Pode ser substituída por uma colher de aço inox ou uma espátula
de silicone com a estrutura rígida.

88 89
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Coleta
Coletar a resina pode não ser uma tarefa fácil, pois ela adere com
facilidade a quase todos os materiais. Por isso, o silicone e o aço inox são os
melhores materiais para trabalhar.

Algo que ajuda bastante é fazer a coleta usando a temperatura a


seu favor. Por volta dos 50ºC, a resina fica mais líquida, menos viscosa,
escorrendo melhor pelo vidro. Nessa hora, uma pequena inclinação faz
com que ela se acumule em um dos cantos do recipiente. Ao resfriar, volta
a ter a viscosidade mais alta, o que facilita sua retirada e evitando perdas.
Pode-se ainda colocar o recipiente com a resina no congelador para que ela
fique mais sólida para a coleta.

O armazenamento do extrato puro (não diluído) é recomendado para


aumentar o seu tempo de validade. No entanto, para o uso dentro de um prazo
de três meses, o óleo diluído mantém todas suas propriedades.

Caso a quantidade de extrato obtida não necessite ser estocada


por mais do que esse período de tempo, pode-se fazer toda a diluição no mesmo
recipiente onde a evaporação do álcool ocorreu. Neste caso, a coleta não se faz
necessária.

90 91
92 93
Insumos:

Utensílios necessários:

Óleo veículo
Óleo de coco, óleo TCM (Triglicerídeo de Cadeia Média), azeite de oliva,
manteiga, ghee (manteiga clarificada), entre outros.
.
Você pode escolher o óleo veículo com base em sua finalidade. Por
exemplo, se o uso for em gotas sublingual, o sabor do azeite pode ficar
enjoativo com o uso prolongado, já o TCM não tem sabor e é ideal para
essa forma de consumo. Para o consumo nas refeições, o azeite, o óleo de
coco ou mesmo a manteiga podem ser boas bases culinárias para diluir a
extração.

ATENÇÃO!
Embora essa diluição de óleo veículo e extrato de Cannabis possa ser
adicionada aos seus alimentos para que sua ingestão aconteça junto
com a refeição, um óleo com extração não é um óleo para cozinhar,
Agitador magnético com aquecimento e sim para ser adicionado após o preparo do alimento.
Este equipamento aquece a mistura enquanto circula o extrato e o óleo Adicione apenas a quantidade desejada de miligramas de canabinoides
veículo, fazendo com que o resultado seja bem homogêneo. Mas você no seu prato já porcionado. Fique atento nos próximos capítulos
pode fazer isso na mesma chapa de aquecimento usada anteriormente sobre posologia, percentual de canabinoides e concentração de
para a evaporação, enquanto mistura manualmente com o auxílio de uma canabinoides para ter um consumo seguro.
espátula ou colher de inox.

94 95
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Diluição
Nesse ponto, você tem uma extração não diluída, um produto
muito concentrado em canabinoides. As concentrações muito altas
oferecem maior risco de erro para administrar quantidades seguras.
Além disso, a viscosidade da resina dificulta o consumo ingerido e a
absorção pelo organismo. Então uma versão diluída corretamente não só ajuda
a modular melhor a dose como também serve de veículo para uma digestão e
absorção mais fácil.

Para isso usamos algum óleo de consumo benéfico à saúde a fim de


diminuir a concentração de canabinoides. Um ótimo veículo para essa resina é o
TCM ou MCT (Triglicerídeo de Cadeia Média). Também conhecido como óleo
de coco fracionado, ou pela composição de C8 caprílico e C10
cáprico. Pode-se usar outros óleos como o azeite de oliva ou o
óleo de coco utilizados em cozinha.

Para esse exemplo utilizaremos a proporção de


1 parte de resina para 10 partes de óleo veículo. (1g de
resina para 10ml de MCT)

96 97
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Faça uma completa diluição para que seu óleo fique bem homogêneo.
Deixe por 20 minutos ou mais no agitador magnético com temperatura por
volta de 50º C.

Caso não esteja utilizando um agitador magnético, misture


continuamente usando uma espátula de silicone até que não seja possível ver
resina não diluída. Mantenha a temperatura morna para facilitar a diluição.

Quanto mais baixa for a temperatura na etapa da mistura e quanto mais


limpo for seu processo de filtragem, melhor a resina se dilui no óleo veículo,
sem deixar resíduos sólidos não dissolvidos. Uma mistura feita em temperatura
ambiente, em geral, deixa elementos não solúveis pelo óleo.

Após a diluição, o conteúdo


fica mais fluido e é facilmente
transferido para outro
recipiente.

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100 101
Utensílios necessários:

Termômetro
Pode ser utilizado um termômetro infravermelho ou um
termômetro culinário.

Verifique se o termômetro é construído para operar na faixa de


operação que atenda os 115ºC necessários para o procedimento.

Identifique em que ponto do botão de ajuste de temperatura


do seu forno estabiliza em 115ºC e faça uma marcação para
facilitar futuros processos.
Forno elétrico ou convencional
Para um bom resultado na transformação dos canabinoides
é essencial que a diluição receba a mesma temperatura por todos
os lados do recipiente, por isso, não é recomendável
uma chapa de aquecimento.
ATENÇÃO!
Posicione o recipiente em um ponto do forno onde ele receberá Siga rigorosamente a temperatura de 115ºC e o tempo de 40 minutos
calor de forma bem distribuída. para obter o máximo de canabinoides descarboxilados.

102 103
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Descarboxilação do THCA Ingestão de THC

Muitas extrações tem o objetivo de tirar o máximo em THC (Tetra- A fim de obter o máximo de THC
hidrocanabinol). Mas não espere obter boas quantidades de THC extraindo disponível para o consumo via ingestão,
uma planta em seu estado natural. é necessário descarboxilar, ou seja,
transformar o THCA em THC. Assim
Aqui entra a transformação de canabinoides citada anteriormente, a a fórmula estrutural do canabinoide
descarboxilação. desejado fica compatível com seus
respectivos receptores, como uma peça
O canabinoide originalmente gerado pela planta é o THCA (Ácido de quebra-cabeça se encaixando em
TetraHidroCanabinólico) e sua degradação resulta em THC. Embora tenha seu devido lugar.
valor terapêutico para determinadas patologias, o THCA não está biodisponível
para os receptores CB1 do sistema endocanabinoide humano, ou seja, não causa
o efeito entorpecente conhecido da Cannabis rica em THC.

Essa transformação de forma induzida e controlada ocorre pelo calor.


CB1
receptores de THC
Quando a molécula de THCA atinge determinada temperatura, parte de sua
composição se perde. Um conjunto de átomos chamado de carboxila, formado
por carbono, oxigênio e hidrogênio é liberado da cadeia. Formando assim a
molécula de THC. CB2
receptores de CBD

THCA THC

Os receptores do sistema
endocanabinoide estão
presentes no sistema nervoso
central, órgãos, tecidos
Figura 04 - Descarboxilação do THC
conjuntivos, glândulas e células
do sistema imunológico

104 105
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL As imagens abaixo mostram as reações que essa variação de
temperatura causa na Cannabis.
Inalação de THC
Uma dúvida que comumente aparece é: por que não é
necessário descarboxilar a Cannabis para fumá-la, mas sim para ingeri-
la? Mas essa pergunta carrega uma afirmação incorreta, pois ao fumar,
a descarboxilação também acontece.

O objetivo desse livro é a produção de óleo de Cannabis para fins


medicinais, mas, apenas para fim da compreensão sobre o tema, pense no cigarro
de Cannabis como um dispositivo de descarboxilação e ebulição das substâncias
a serem inaladas. Onde uma variação de cerca de 2000ºC acontece entre a brasa
e a fumaça que se aspira. Dessa forma, a transformação das moléculas de THCA
em moléculas de THC acontece dentro do tubo formado pelo papel enrolado
em torno da erva, por onde passam os gases em alta temperatura, capazes de
transformar e carregar substâncias da Cannabis.

A PRÁTICA DE FUMAR É DESACONSELHÁVEL PARA OS


TRATAMENTOS COM BASE EM CANABINOIDES. MESMO QUE AS
SUBSTÂNCIAS BENÉFICAS SEJAM INALADAS, A COMBUSTÃO DA
CELULOSE OFERECE GRAVES RISCOS À SAÚDE. A FORMA MAIS
SEGURA DE INALAÇÃO DA CANNABIS É POR VAPORIZAÇÃO.

A fumaça atravessa o cigarro a cerca de 300º C e passa


pela piteira por volta de 70º C

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EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Oxidação pelo tempo

Com o tempo, sua Cannabis descarboxila espontaneamente.

Essa perda da carboxila não acontece apenas pelo calor.

Para uma analogia simples, pense no processo de vaporização da água,


que acontece com maior velocidade quando a temperatura atinge seu ponto de
ebulição, mas também ocorre em temperatura ambiente. Quando uma poça
de água se forma dentro de casa, mesmo que na sombra em clima ameno, ela
evapora a medida que o tempo passa.

A mesma coisa acontece com uma planta colhida a muito tempo. Os


canabinoides que passaram por um longo processo de envelhecimento, já
podem estar, em grande parte, descarboxilados.

Sabendo disso, você pode definir um tempo de aquecimento maior


para plantas mais novas e menor para plantas mais antigas. De qualquer
forma, o processo de aquecimento deve ser feito, se a intenção for a máxima
conversão de THCA em THC.

108 109
Procedimento controlado
Um forno convencional serve para Essa alteração resultará num composto
esse processo. Nesse ponto, você já não tem com maior efeito sedativo corporal do que
material inflamável e não há problema usar o efeito mental e de euforia. Caso essa não
chama por perto. O ponto de atenção aqui seja a intenção, certifique-se de estabilizar a
é a precisão. Caso seu forno tenha um bom temperatura em de 115º C antes de colocar o
controle de temperatura, você terá mais material no forno.
sucesso.
Uma forma de fazer isso com precisão e
Em um calor muito maior do que segurança é com um termômetro infravermelho
o ideal, o THC sofre nova degradação e se ou um termômetro culinário.
transforma em outro canabinoide denominado
de CBN, alterando novamente sua assimilação O tempo médio para a deterioração do
pelo sistema endocanabinoide. THCA acontecer é de 20 a 45 minutos.
Escolha um recipiente
de vidro com resistência
a altas temperaturas para
ir ao forno com sua diluição.
Não leve lacres ou partes
plásticas do recipiente ao
forno junto com o vidro.
Use um pedaço de papel
alumínio para proteger
a abertura.
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Administração

Agora é hora de pensar na dosagem a ser consumida.

É preciso calma e algumas experiências de consumo deste seu novo


óleo de Cannabis para saber qual será a quantidade ideal de canabinoides que
lhe fornecerão o bem estar desejado.

Uma quantidade pequena não será perceptível e uma dose muito


grande pode trazer ansiedade, além de muitos outros efeitos adversos. Então,
é bom começar pelo mínimo, subindo a dose aos poucos em diferentes usos,
até atingir a faixa em que os efeitos são melhor percebidos.

A potência da resina extraída depende de muitos fatores, tal como o


perfil de canabinoides da cepa, seu desenvolvimento, maturidade em que foi
colhida, entre outros. Ou seja, varia muito.

Mas é possível criar alguns parâmetros para administrar a substância


com maior segurança.

Para saber a potência da sua resina e do seu óleo, partiremos do exemplo


da extração de plantas que produzem altos níveis de THC, mas a lógica pode ser
aplicada a outras cepas de Cannabis.

114 115
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Percentual de canabinoides A figura à esquerda, ilustra um exemplo de “flor” de Cannabis e as


proporções dos elementos que compõe essa parte da planta.
Ao escolher uma genética de Cannabis, nos deparamos com
muitos dados e informações que descrevem fatores sobre seu cultivo Para ficar claro, afirmar que uma genética tem 25% de THC, é dizer sobre
e características bioquímicas. Uma das informações que mais caracteriza a proporção entre essa molécula e todos os outros componentes que formam
a genética é o percentual de canabinoides. Para entender como ler os a “flor” seca. Quando a extração acontece, as proporções de canabinoides se
percentuais de componentes informados pelos bancos de genéticas, vamos multiplicam, e acabam sendo grande parte do peso do extrato.
analisar “flor” e resina lado a lado:

1g de “flor” 1g de resina
Quando secas (15% de umidade) elas podem  O percentual de THC pode subir para 30% ou 60%
ter algo entre 15% e 25% de seu peso em  após a extração, pois não há mais matéria vegetal a
moléculas de THC. ser considerada, apenas resina.

116 117
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Concentração Concentração 
de canabinoides de canabinoides
na diluição por gotas

Considerando esses maiores valores como referência, conseguimos fazer No exemplo, foi diluída 1 parte de resina bruta para cada 10
uma divisão mais segura, assim nossas chances de erro nos levariam a um óleo partes de óleo veículo. Ou melhor dizendo, foi diluído até 600mg de THC
menos potente, que precisará do consumo de mais gotas, mas ainda entregará (supondo 60% de concentração em 1g ou 1000mg) em um frasco contendo 10ml.
os canabinoides necessários. O contrário disso seria uma concentração muito
alta, em que poucas gotas podem entregar uma super dosagem. Como esse óleo será consumido em gotas, a intenção é descobrir
quantos miligramas de THC carrega cada gota. Sabendo quantas
gotas compõe o conteúdo do frasco é possível fazer uma extrapolação desse número.
Dividindo a quantidade de miligramas de THC pela quantidade de gotas no frasco.

Dependendo da viscosidade da extração e do modelo do


seu conta-gotas, você terá um número diferente. Mas deve ser algo
próximo de 30 gotas por mililitro (ml) de óleo.

Então, neste caso, com um frasco conta-gotas de 10ml contendo


300 gotas com 1 grama de resina diluída, cada gota deverá conter cerca de
2mg de THC.

1000mg
de resina
600mg de THC

600mg THC em 10ml


= 2mg/gota
300 gotas por frasco

Frasco
118 10ml 119
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Posologia

Pronto, você chegou onde precisava. Tem um óleo de Cannabis


porcionado para uso. Falta saber o quanto usar. E as quantidades podem mudar
muito entre indivíduos.

Mas, antes de tudo, esse livro é recomendado aos pacientes


medicinais que fazem uso da Cannabis por indicação médica, então sempre siga
as orientações prescritas e mantenha o acompanhamento médico ao longo de
todo o tratamento.

Ainda assim, um extrato de Cannabis artesanal está sujeito a


inúmeras variações por conta do processo de extração ou pela escolha genética
e métodos de cultivo, como já mencionamos.

Para entender a posologia ideal, considere iniciar com pequenas doses


por ingestão para os primeiros usos, e aumente pouco a pouco nas ingestões
seguintes, até que encontre a sua faixa de consumo.

120 121
Utensílios necessários:

Frasco conta-gotas
Utilize vidros de coloração escura para manter a integridade do seu óleo
por mais tempo.

Ao contrário de um grande frasco contendo todo seu óleo, dê preferência


por fracionar seu resultado em vários frascos menores e utilize um por
vez. Isso aumenta a longevidade dos compostos além de diminuir o risco
de contaminação.

Etiqueta e caneta
Quanto mais informações couber no rótulo melhor,
então procure etiquetas grandes onde você possa anotar tudo
ATENÇÃO!
o que precisa. Antes de preencher os frascos com o óleo, higienize e esterelize
todas as partes (vidro, lacre de plastico e bulbo de borracha). Isso
Uma ótima alternativa também é usar um rotulador eletrônico pode ser feito com o álcool com 70% de concentração, ou ainda
ou uma impressora para criar seus rótulos identificando pode se levar as partes de vidro para o forno e aquecê-las por 15
cada extração. minutos a 150ºC.

122 123
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Rótulo

Cada planta e cada processo de extração resulta em um óleo


diferente. Então, é bom ter uma forma de reconhecer em cada tubo de óleo, qual
foi a planta usada e como foi o processo de extração.

Nomeie os recipientes com o nome da cepa, informações sobre


descarboxilação, a proporção de resina para óleo veículo e o volume em
mililitros.

Além disso, você pode fazer uma ficha para registrar o efeito de
diferentes extrações e compara-lás, para encontrar a cepa que melhor atenda
suas necessidades.

124 125
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Conservação

Conserve sempre suas extrações em locais protegidos de altas


temperaturas, troca de ar e incidência de luz. Dessa forma, elas duraram
por muito tempo.

Os frascos de medicamento feito em vidro âmbar são ideais para


conservar os extratos diluídos, pois sua coloração impede que os componentes
do óleo sejam degradados pela luz, além de oferecem boa vedação.

Para extratos não diluídos (resina pura), escolha potes herméticos de


vidro ou de silicone, com poucas quinas e arestas para facilitar a sua remoção.

De forma geral, os componentes de uma extração são melhor


preservados em uma temperatura de até 18ºC e umidade relativa do ar de 50%.
Mas, para cada veículo utilizado na diluição (manteiga, óleo de coco, etc.), a
conservação pode ser diferente e você pode optar por refrigerar sua diluição abaixo
dos 18ºC, mas mantenha sempre a temperatura acima dos 5ºC.

126 127
Utensílios necessários:

Álcool com concentração de 70%


O mesmo tipo de álcool utilizado na assepsia dos frascos
pode ser usado também na limpeza dos resíduos junto com
um papel toalha.

Sabão neutro, esponja e água quente Dica:


Com a temperatura da água acima dos 45ºC, a resina se desprende dos
materiais com mais facilidade. Caso você não consiga remover alguns resíduos mais aderidos,
aqueça seus materiais imersos em álcool para que qualquer
Tenha uma esponja de limpeza apenas para limpar seus materiais de resto de resina ou impurezas sejam completamente dissolvidas,
extração, e nunca a use para limpar resíduos de alimentos. facilitando a limpeza total.

128 129
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Limpeza

A resina extraída contém, além dos óleos presentes nos tricomas, uma
significativa quantidade de gorduras, ceras e partículas sólidas, que podem
deixar resíduos bem aderidos ao recipiente. Deixe de molho em sabão neutro e
água quente até que os resíduos soltem mais facilmente.

Outra forma, é usar álcool com concentração maior que 90%. Seu
poder de solvência ajuda muito na limpeza dos utensílios que tiveram contato
com a resina.

Uma limpeza a assepsia correta é fundamental para manter seus


utenssílios sempre prontos para uso. Não limpar seus materiais de extração logo
após o uso diminui a durabilidade e torna a limpeza mais difícil.

130 131
Strain Peso da matéria
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Extração em baixa temperatura (Gelo seco)


Check list
Status Etapas Instruções Tempo médio* (min)

Mistura 1.1- Colocar álcool de cereais em um recipiente de vidro (por volta 5


Agora que você chegou até aqui, fica fácil de entender cada passo e de 2 litros para cada 50 gramas de matéria)

a sua importância no processo. 1.2 - Adicionar gelo seco aos poucos dentro do recipiente (de 1 a
2 quilos para cada 50 gramas de matéria)
15

1.3 - Com o álcool já em baixa temperatura, adicione a matéria a 5


ser extraída

Na página seguinte, você encontra um tabela para te ajudar na 1.4 - Adicione gelo seco até que o conteúdo do vidro seja coberto
(adicionar mais 1 a 2 quilos por cada 50 gramas de matéria)
10

tarefa de extrair os canabinoides de suas plantas. Caso tenha alguma 1.5 - Mantenha o vidro em repouso para que a temperatura da
mistura caia ainda mais.
60

dúvida em qualquer procedimento, consulte o capítulo correspondente. 1.6 - Comece a mexer a mistura periodicamente até enquanto 60
houver gelo seco na mistura
1.7 - Se necessário, adicione mais gelo seco (isso aumenta o 180
tempo da mistura e o rendimento na primeira passagem)
Você pode também imprimir as tabelas para criar diários de cada 1.8 - Antes do gelo seco desaparecer completamente, termine o 30
processo de mistura e inicie a filtragem
extração que fizer, alimentando sempre com a strain de origem, rendimento Filtragem 2.1 - Separe a matéria orgânica da solução usando uma tela de 25 20

da extração, status de descarboxilação, etc. a 200 micras


2.2 - Filtre a solução usando um filtro de papel 20

Redução 1 3.1 - Inicie a redução em um recipiente grande no agitador 1200


magnético ou em outra fonte segura de calor
3.2 - conforme a volume diminui, transfira o conteúdo para 440
beckers menores, de 50ml ou de 25ml

Pesagem 4.1 - Tenha previamente a peso do recipiente vazio. Caso não 5


tenha, pese logo após a diluição e limpeza
4.2 - Pese o recipiente contendo a resina 5

Diluição 5.1 - Adicione o volume (ml) de óleo veículo correspondente a 10 5


partes do peso (g) da resina
5.5 - Deixe agitar em temperatura média (50ºC) cerca de 20 20
minutos

Descarboxilação 6.1 - Transfira o conteúdo para um vidro resistente à temperatura 5

6.2 - Pré-aqueça o forno a temperatura de 115º por 15 minutos 15

6.3 - Deixe descarboxilar por 30 a 40 minutos 40

6.4 - Espere o vidro voltar à temperatura ambiente 60

Envasamento 7.1 - Separe em vidros conta gotas de 10 ml 10

Etiquetagem 8.1 - Nomeie o vidro da seguinte forma: - Strain . Decarboxilação . 15


Método de extração . Concentração . Volume - Data
Limpeza 9.1 - Limpe os vidros e utensílios usados com água morna e 20
sabão neutro
9.2 - Antes de utilizar novamente, limpe os vidros com álcool de 5
cereais

*tempos estimados para 50g de matéria

2250

Peso do extrato Volume veículo

132 133
EXTRAÇÃO DE CANNABIS MEDICINAL

Análise de componentes

Como já dito anteriormente, cada extração traz compostos diferentes e


em diferentes concentrações.

Para um consumo com segurança, uma análise laboratorial pode ser


feita. Dessa forma, os niveis de canabinoides consumidos pelo paciente tem o
rigor e controle necessário para evitar superdosagens e maximizar o resultado
do tratamento.

A figura ao lado mostra um laudo de análise em HPLC (Cromatografia


líquida de alta eficiência) de uma resina extraída seguindo criteriosamente o
método descrito neste livro. A baixa temperatura empregada pelo uso do gelo
seco no processo de mistura, além da filtragem completa de resíduos, resultam
em um extrato limpo e potente. Eliminar impurezas (clorofila, resíduos
vegetais, gorduras, etc.) tem como consequência uma extração com altos índice
de compostos medicinais. Dos 1000mg analisados, 800mg foram identificados
como sendo moléculas de canabinoides.

Cada extração pode ter sua própria análise laboratorial, para que o óleo
de Cannabis gerado a partir dela seja diluído e administrado de acordo com os
níveis de canabinoides desejados.

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136 137
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