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1) O artigo discute a construção social da masculinidade e sua relação com a violência, especialmente a homofobia. 2) Ao longo da história, a masculinidade foi associada a comportamentos como força, virilidade e repúdio a homossexualidade. 3) A homofobia surge como resposta violenta àqueles que não seguem os padrões de sexualidade estabelecidos, questionando a rigidez dos papéis de gênero.

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1) O artigo discute a construção social da masculinidade e sua relação com a violência, especialmente a homofobia. 2) Ao longo da história, a masculinidade foi associada a comportamentos como força, virilidade e repúdio a homossexualidade. 3) A homofobia surge como resposta violenta àqueles que não seguem os padrões de sexualidade estabelecidos, questionando a rigidez dos papéis de gênero.

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A CONSTRUO SCIOHISTRICA DA MASCULINIDADE E SUA

RELAO COM A VIOLNCIA: REFLETINDO SOBRE A HOMOFOBIA


Camila Louis Oliveira, Fabiane Fortes de Vargas,
Vinicius Cardoso Pasqualin
1

Elizabete Coelho
2


RESUMO: O presente artigo tem como objetivo trazer ao debate a construo cultural
da masculinidade como um padro de comportamento vivenciado de forma viril, rgida
e, muitas vezes, violenta diante da pluralidade de possibilidades de ser homem.
Conduziremos esta reflexo levando em conta as relaes de Gnero e o Processo de
Construo da Identidade, considerando os desafios encontrados pelos homossexuais ao
assumirem uma postura real do que so para si e para os outros. Discutiremos tambm
sobre a homofobia que, atualmente, um assunto recorrente e vem em resposta a
repulsa social contra as pessoas que se identificam com o que no comungado pelos
demais membros de uma sociedade predominantemente heterossexual.

Palavras-chave: Masculinidade; Homossexualismo; Homofobia.


1 INTRODUO

Hoje, mesmo com as inmeras conquistas alcanadas pelas mulheres em
diferentes mbitos da vida privada e social, os padres de como devem se comportar
no se modificaram na mesma proporo. Ainda so traados modelos e normas rgidas
de acordo com o sexo ao qual se nasce, por exemplo, o homem, no imaginrio social,
tem o dever de trabalhar, ser chefe e para ele que est imposta a vida pblica,
enquanto para a mulher cabem os afazeres domsticos, a vida privada. Como resultado
destes padres, dos papis desempenhados, segundo estes conceitos, levou os homens a

1
Acadmicos do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil e membros do Ncleo
Interdisciplinar de Estudos da Violncia (NIEV).

2
Docente do Curso de Psicologia da ULBRA/Guaba. Coordenadora do NIEV (Ncleo Interdisciplinar de
Estudos da Violncia) e Coordenadora das atividades Interdisciplinares do Observatrio da Violncia e
dos Direitos Humanos da ULBRA/Guaba.


comportamentos estereotipados tais como: ser agressivo, viril, no afeminado e ter
repdio a outros homens com comportamentos mais femininos.
A homossexualidade, mais do que nunca, vem sendo assunto bastante explorado
pelas mdias, e objeto de inmeros protestos e movimentos sociais, que vo desde a
sociedade civil organizada at a esfera poltica de nosso pas.
Pelo fato da formao da subjetividade no se dar de maneira privada, isolada e
desvinculada das questes sociais; entender como se constitui a homossexualidade
algo desafiador e complexo devido aos processos sociais em que se sustenta. Da mesma
forma, a compreenso das inmeras formas de preconceito sofrida pelos indivduos que
no correspondem a vivencia de sua sexualidade aos padres heterossexuais, s
possvel sob a tica da construo social, pois so as representaes que os indivduos
possuem destas pessoas que prevalecem na concretizao do preconceito existente;
(KERN & SILVA, 2009).
Nem sempre a vivncia da sua sexualidade encarada, pelos demais integrantes
da sociedade a qual se pertence, de maneira respeitosa e tolerante, e, como resposta
violenta a estes indivduos que ousam assumir-se de maneira diferente aos padres
historicamente estabelecidos de como se deve viver tal sexualidade, temos a homofobia.
O socilogo ric Fassin menciona duas significaes, que esto interligadas
entre si, da homofobia: uma que vista como uma fobia, estando relacionada ao campo
individual e psicolgico e a outra como um heterossexismo, portanto diz respeito
diferena das sexualidades, envolvendo o contexto coletivo e ideolgico (FASSIN,
1999 apud MAYA)
Assim, este artigo objetiva fazer um contraponto entre o papel socialmente
construdo do que ser homem, o que denominamos de masculinidade, com a postura
violenta e viril em relao aos indivduos que tm como opo relacionar-se com
pessoas do mesmo sexo.

2 A CONSTRUO SCIO HISTRICA DA MASCULINIDADE

At o sculo XVIII no era possvel encontrar um modelo de sexualidade
humana. A sexualidade surgiu no sculo XIX e por isso pertence sociedade moderna
e ps-moderna. O fato de no haver nenhuma corrente de pensamento ou linha terica
que pudesse dar conta da questo da sexualidade, no sentido de informar, fez surgir
apenas normas que diferenciavam os sexos. No monismo a mulher era entendida como
um homem invertido, o modelo de perfeio era representado pela anatomia masculina,
ou seja, com esse conceito de perfeio as mulheres eram tidas como inferiores
(COSTA, 1995 apud SILVA).
A relao de reproduo, sexo e orgasmo eram baseadas no modelo masculino.
Na passagem do sculo XVIII para o sculo XIX surge concepo de dualismo, que
em para justificar e impor as diferenas morais aos comportamentos masculinos e
femininos, de acordo com as exigncias das sociedades burguesas (COSTA, 1995).
De homem invertido, a figura feminina passa a ser vista como inverso de homem
ou sua forma complementar, porm mesmo com essa nova concepo as mulheres
seriam inferiores perante a sociedade da poca, ou seja, um mecanismo de poder do
masculino sobre o feminino ao qual hoje chamamos de machismo (SILVA, 2000).
As tarefas dos homens da poca eram atribudas s relaes em sociedade,
poltica e econmica, enquanto as mulheres cuidavam da parte domstica e da famlia.
Ainda no incio do sculo XIX a concepo de mulher muda, as mesmas passam a
serem vistas como frgeis, em termo de ossos e nervos, e tambm sobre o prazer
ertico, o que reforou ainda mais a supremacia masculina. (SILVA, 2000).
Com o passar do tempo a diferena de sexos passou a fundar as diferenas de
gneros. Entende-se por gnero um sistema simblico de significados da constituio e
organizao social das diferenas entre os sexos, configurando e refletindo posies
hierrquicas e antagnicas entre homens e mulheres. (PINTO, MENEGHEL,
MARQUES, 2011)
Na constituio e organizao das identidades de gnero, a sociabilidade tem
papel estruturante, sendo que o ser homem ou ser mulher no se constitui apenas dos
modelos de masculinidade e feminilidade, ancorados em modelos culturais. Estes so
tambm mediados pelas relaes intersubjetivas, reproduzindo ou reconstruindo tais
modelos conforme as situaes e as especificidades sociais.(NASCIMENTO, GOMES e
REBELLO,2009)
Nesse processo de construo das identidades, os modelos sociais e histricos
funcionam como matrizes e se traduzem em habitus. Este entendido como
conhecimento adquirido e determinado pela posio social do indivduo, estruturando
prticas e representaes que podem ser objetivamente regulamentadas e reguladas,
envolvendo uma capacidade criadora, ativa e inventiva. (NASCIMENTO, GOMES e
REBELLO, 2009)
Os alicerces da identidade de gnero so lanados na infncia do sujeito, na sua
experincia na famlia, na escola e com amigos da mesma idade. Sendo este o quadro
primrio da socializao de gnero, um processo que orienta a conformao do que ser
homem ou mulher em nossa sociedade. (PINTO, MENEGHEK e MARQUES, 2007)
A construo da masculinidade est associada a um conjunto de ideias e prticas
que identificam essa identidade virilidade, fora e aos poderes advindos da prpria
constituio biolgica sexual. Ser homem, culturalmente, no ter medo, no chorar,
no demonstrar sentimentos, arriscar-se diante do perigo, demonstrar coragem, ser
ativo. (SOUZA, 2005)

3 RELAES DE GNERO: VIOLNCIA E MASCULINIDADE

A masculinidade vem ao longo da histria sendo socialmente construda
associada fora fsica, prontido sexual e coragem, com o homem tendo o dever de ser
o provedor e emocionalmente o mais forte. Do homem so exigidos comportamentos
que lhe afirmam como criatura superior. No que se refere vida sexual, dele exigisse
uma atividade intensa, j da mulher, so traados padres de timidez e retraimento. Na
vida intrafamiliar tambm so refletidos esses padres, em que cabe a mulher o mundo
da casa, das atividades domsticas, de prover os filhos e, ao homem, est reservado o
mundo da rua, do pblico onde este deve se responsabilizar pelas tarefas financeiras que
deem conta do sustento de sua famlia.(MUSZKAT, 2006)
Com a diversidade do mundo contemporneo se refletem diferentes modos de
homens e mulheres vivenciarem o que ser masculino e feminino. Em relao ao
primeiro, mltiplas masculidades hoje coexistem. Apesar disso, sabe-se que predomina
em nosso contexto cultural a masculinidade hegemnica. Esta pode ser caracterizada
pela legitimao e valorizao da competio, coragem para se arriscar, individualismo,
sexualidade, fora corporal, hierarquia, distncia emocional e dominao. A partir da
masculinidade hegemnica h uma ideologia em que o ser homem se ancora na
heterossexualidade, na racionalidade e no privilgio de poder infligir
violncia.(NASCIMENTO, GOMES e REBELLO, 2009)
As relaes de gnero so constitudas a partir de uma ordem social em que,
simbolicamente, a dominao uma pertena da masculinidade, do mesmo modo que o
direito de us-la. Essas estruturas de ordem social acabam por serem naturalizadas, ou
seja, certas caractersticas que compem o modelo hegemnico podem ser vistas como
uma manifestao biologicamente estabelecida. De tal modo, a estrutura de dominao
no mbito das relaes de gnero pode contribuir para que a violncia seja associada
consciente ou inconscientemente ao ser homem. Ainda hoje, elas se baseiam
fundamentalmente no modelo patriarcal, que tem como valores o poder do homem
sobre as mulheres e crianas, a submisso da mulher e a atribuio de posies
hierrquicas, de superioridade e inferioridade a uns e outros. (NASCIMENTO, GOMES
e REBELLO, 2009)
O fenmeno da violncia pode ser tambm problematizado a partir da
construo social, historicamente associado masculinidade. Para ser aceito ou fazer
parte dos grupos sociais, meninos vivenciam uma aprendizagem mimtica de
violncias, ou seja, uma aprendizagem atravs do meio e por adaptao. Essa violncia
inicialmente se volta contra si mesmos e posteriormente se volta para os outros, sejam
mulheres ou homens que no conseguiram atingir esse status. (CONNEL, 2002 apud
NASCIMENTO; GOMES; REBELLO, 2009, p. 1155)
Infere-se assim que a fragilidade est associada ao universo feminino, havendo
uma necessidade do homem de afastar-se de qualquer atributo vinculado s mulheres e
ao feminino, levando alguns ao comportamento homofbico. A aproximao de cunho
afetivo com outro homem representa um risco de m interpretao, como algum com
pendores homoafetivos. (MUSZKAT, 2006)
Desta forma, a homofobia vem para negar qualquer aspecto emocional do
homem. Mas no h nisto uma justificativa aos comportamentos violentos praticados
contra o grupo de diferentes. A violncia um meio, embora deletrio de resposta,
como afirma Muszkat, que tem a finalidade de procurar solucionar um conflito por meio
da eliminao de uma de suas partes. (MUSZKAT, 2006)
Lagache caracteriza a agresso na tica da intersubjetividade, como uma forma
de entrar em relao com o outro. Como fator complicador o fenmeno da agresso,
ou seja, a resposta agressiva no limita sua expresso motricidade violenta e
destrutiva, mas pode manifestar-se em comportamentos complexos que consistem em
ataques minuciosos e sistemticos ao outro, como os que encontramos nas relaes
onde predomina a lgica do dominante-dominado. (LAGACHE, 1960 apud
CHAVES, E. L. Violncia, 2008.)
A discriminao consequncia do preconceito, ou seja, a repulsa a pessoa ou
algo baseado em ideias preconcebidas, como se fosse uma ao da opinio formada,
explicitao da concepo premeditada em face da visualizao de uma situao
exercida por qualquer indivduo. Com base nestes conceitos podemos agrupar a
homossexualidade e os homossexuais nessa atmosfera de pessoas que sofrem
preconceito e so discriminadas, pois foram marginalizadas e segregadas do meio
social.

4 O PROCESSO DE CONSTRUO DA IDENTIDADE HOMOSSEXUAL

Com o incio da modernidade e o avano das cincias, o foco de ateno sexual
deixou de ser o matrimnio e se concentrou nas sexualidades perifricas, ou seja, a
sexualidade dos loucos, das crianas, dos criminosos e no prazer homoertico. Com a
ideia de prazer homoertico e da inferioridade social, poltica e frgil da mulher, os
homens comeam a ficar perturbados e procuram buscar algo que faa com que essas
ideias no se tornem normas sociais, para no quebrar o poder masculino.
(FOUCAULT, 1984)
No sculo XIX surge o movimento intitulado culto masculinidade, onde o
medo vivido pelos homens de serem vistos como homossexuais, somados ao novo
conceito de masculinidade que veio com as revolues e guerras, em que os homens
teriam que assumir mais do que nunca um papel de virilidade caracterizou-se, na poca,
uma crise de identidade masculina. Assim, ser homem significa no ser mulher e jamais
ser homossexual, ou seja, a identidade sexual e de gnero estavam ligadas aos papis
desempenhados na sociedade. (SILVA, 2000)
Com a noo de bissexualidade e com o crescimento do movimento feminista a
masculinidade entra em crise, o homem tem que buscar um papel, uma identidade em
que ele possa se apoiar e se mostrar superior ao sexo feminino e, ao mesmo tempo,
provar a sua heterossexualidade. Muitos autores so unnimes em afirmar que a
identidade masculina est em crise. Em outras palavras, falam da existncia de uma
contradio entre o poder do macho e a vivncia de novos modelos de masculinidade.
(PEREIRA, 1995; SLOAN, JIRN, 2004; CECARELLI, 1998 apud SOUZA, 2005)
No Brasil, at 1821, os relacionamentos homoerticos eram considerados crime.
J ao final do sculo XIX passam a ser considerados como doena. (GUIMARES, In:
DIAS, Maria Berenice, 2011, p. 26-35.) No entanto, o ato homossexual continua a ser
visto como antinatural e condenado tica e moralmente.
A discusso acerca da homossexualidade tem controvrsias, pois sob este rtulo
faz-se referncias a diversos fenmenos ligados a sexualidade que no deveriam ser
rotulados com tal termo, porm isto ocorre devido s atitudes de rejeio preconceituosa
que existem h sculos na sociedade, devido aos comportamentos ertico-afetivos entre
pessoas do mesmo sexo. Assim, Costa refere que falar sobre uma identidade
homossexual seria apoiar a lacuna que foi construda culturalmente de que h uma
diferena fundamental e essencial entre as pessoas com determinadas caractersticas
desejantes. A homossexualidade trata-se de um fenmeno que atinge no s o campo do
fsico humano, mas mais do que isto influencia na existncia humana nas suas relaes
e experincias individuais.
No que se refere construo da homossexualidade atravs dos processos
sociais fundamental que se faa uma anlise a partir dos processos identitrios. A
identidade, como um conjunto de caracteres prprios e especficos de uma pessoa,
resulta de uma trajetria social da pessoa, respaldada por sua histria de vida, carregada
e impregnada de sentidos e significados construdos pela simbiose eu-indivduo/eu-ator
social.
O processo de construo da identidade, caracterizado por Maia, nos ajuda a
compreender os motivos pelos quais os indivduos homossexuais so considerados
diferentes dentro desta lgica hierrquica dos papis a serem desempenhados conforme
o sexo ao qual se nasce. A formao de identidade envolve o campo das relaes e das
diferenas, as mesmas marcam simbolicamente uma identidade da outra. As diferenas
so cruciais na construo da identidade masculina heterossexual, pois justamente esta
demarcao de gnero que afirma o ser homem. Assim, a identidade ocorre dentro de
um sistema hierrquico e classificatoriamente negativo, por meio da excluso e
marginalizao. (MAIA, 2010)
A partir deste processo que entendemos que os gays so vistos como os outros,
como aqueles fora do sistema representativo de homem, de masculino. O homem
heterossexual toma a sua identidade sexual como referncia, utilizando-se da
naturalizao e reificao da heterossexualidade para tornar outros sujeitos e prticas
como abjetos, ou seja, excluindo e marginalizando os homossexuais.
Ainda hoje, segundo Guimares (2011), com todo o discurso dos Direitos
Humanos, aqueles considerados marginalizados pela sua sexualidade ora recebem
apoio, ora so atacados por meio da imposio a sua retrao e silncio. No presente
trabalho buscamos descrever a segunda condio, em que a imposio a retrao e ao
silncio acabam sendo impostos pela sociedade, especificamente por determinados
grupos sociais.
Os diversos movimentos sociais existentes como, por exemplo, skinheads,
punks, pitboys, etc., procuram reforarem sua corporalidade e expresses simblicas
masculinidade sustentada em condies de virilidade, culto ao corpo e exerccios de
musculao e estilizao corporal, evidenciando a agressividade ao visual grupal,
impondo seu poder com a violncia contra minorias sociais.
Ao reconhecer a sua identidade, o indivduo reconhece a si como ser subjetivo e
intersubjetivo, ou seja, identidade a conscincia de si mesmo. Quando este olhar para
dentro de si descobre uma identidade que no considerada padro ou aquela esperada
pela sociedade a qual se pertence, , sem dvida, um confronto com uma realidade que,
muitas vezes, no nada colorida, como muitas vezes o Orgulho Gay exterioriza.
(KERN, 2009)

5 HOMOFOBIA

Desde os anos 80, a violncia contra homossexuais assunto de interesse para
grupos e progressivamente vem sendo tema de debates poltico sendo um assunto
bastante explorado pelas mdias. (RAMOS e CARRARA, 2006)
A ideologia que sustenta a superioridade de um gnero sobre o outro, no qual h
a subordinao do feminino ao masculino e a hierarquizao das sexualidades, d-se o
nome de sexismo. Dentro deste sistema de ideias h o heterossexismo ou
heteronormatividade, que se baseia na predominncia da heterossexualidade. Este e a
homofobia constituem as duas faces da mesma intolerncia, pois ambos discriminam
pessoas em razo de seu sexo e, mais particularmente, de seu gnero. (BORRILLO In:
LIONO, 2009. p. 15-46)
Assim como o sexismo, a homofobia cultural. Porm, a aprendizagem deste
preconceito inicialmente por meio da formao das impresses. Posteriormente, essas
impresses so convertidas em motivao para algumas decises, por exemplo, quem
ouve algum ridicularizar os homossexuais est recebendo uma impresso, mas quem
decide ridicularizar estes indivduos faz da sua impresso uma atitude prpria,
mantendo vivas as vrias crenas que coletivamente motivam este comportamento.
(WEINBERG, 1972 apud MAYA, A.C.L., 2008)
Portanto, pode-se afirmar que a homofobia transcende os aspectos de ordem
psicolgica, quanto hostilidade e a violncia contra pessoas homossexuais, bissexuais
e transgneros. A homofobia diz respeito a:
[...] valores, mecanismos de excluso, disposies e estruturas
hierarquizantes, relaes de poder, sistemas de crenas e de representao,
padres relacionais e identitrios, todos eles voltados a naturalizar, impor,
sancionar e legitimar uma nica sequncia sexo-gnero-sexualidade, centrada
na heterossexualidade e rigorosamente regulada pelas normas de gnero.
(JUNQUEIRA, 2007)

Davi (2005) diz que a homofobia se sustenta em nossa cultura por trs
justificativas: a dominao do masculino e o ideal de virilidade, a ideia de sexo para
reproduo, que tem ligao com as regras morais das religies ocidentais, e a
heterossexualidade como uma normal sexual geral.
A homofobia vista como um dispositivo de poder sobre a sexualidade e esse
tem um duplo aspecto, uma parte visvel e outra invisvel. A visvel exercida nos
presdios, nos manicmios, nos asilos, instituies como formas terminais, e a invisvel
o que chamamos de dispositivo de poder, no qual circulam novas intensidades de
poder, refletindo a paisagem mental de uma poca (FOUCAULT, 1987).
O sexo se inseriu nas disciplinas do corpo, como foco das disputas polticas e
participou do ajustamento das populaes, abrindo caminha para o controle de todo o
corpo social, ou seja, a biopolitica do sexo transformando o sexo em alvo de um poder
organizado em torno da gesto da vida. Foucault, 1978).
A verdade produto de vrias coeres causadoras de efeitos regulamentados de
poder e que cada sociedade possui seu regime de verdade. Dessa forma, a verdade
centrada na forma do discurso cientfico e nas instituies que o produzem
(FOUCAULT, 1979).
A economia do poder corresponde a uma economia da verdade e os seus
mecanismos de difuso e dominao, ou seja, esses discursos produzem verdades que
por sua vez produzem poder. Simplificando mais, esses discursos interferem nas
subjetividades dos sujeitos de forma que os mesmos passam a seguir a ordem de
maneira cega, o que explica o porqu da homofobia, o porqu da discriminao sem um
motivo aparente.

6 CONSIDERAES FINAIS

Na atualidade, o gnero est sendo considerado fundamentalmente em relao
sexualidade, prevalecendo assim opo sexual e afetiva, por exemplo, se o sujeito se
diz hetero, homo ou bissexual. Com tantas mudanas culturais, os homens ainda esto
buscando uma melhor descrio do que ser homem. (SILVA, 2000)
Entende-se que o preconceito contra homossexuais uma construo scio-
histrica. Na perspectiva das relaes intergrupais e segundo a teoria da identidade
social, o preconceito entendido a partir do pertencimento de um indivduo a uma
categoria social e este pertencimento leva s atribuies positivas. O que considerado
um atributo positivo em um grupo (ser macho, portanto superior as mulheres) gera uma
autoestima positiva e, ao contrrio, uma imagem desfavorvel e negativa ao outro grupo
(macho), mas que adota caractersticas femininas. (TAJFEL,1972 apud LACERDA;
PEREIRA; CAMINO, 2002, vol.15, n.1, p. 165-178.)
Um determinado comportamento social no o ato de pessoas isoladas, mas,
sim, de algum que se situa numa mesma estrutura social permeada de valores,
expectativas, papis e normas que definem as relaes entre eles. A construo e a
atuao da masculinidade, como prtica pessoal, no pode ser isolada de seu contexto
socioinstitucional, pois produzida na vida diria a partir de relaes interpessoais,
inter-relacionais e entre os sujeitos. (DAVI, 2004)
No que tange a homofobia, no podemos colocar em posio de vitimizao os
indivduos homossexuais, e, sim, entender de que forma o repdio de muitos homens,
queles sujeitos, constituem atitudes que so manifestadas por atos violentos.
Buscamos realizar uma breve reflexo e descrio da construo cultural do
comportamento que afirma a masculinidade, do ser homem, do ser macho, juntamente
com os comportamentos que barram o ser que foge deste status. A partir da reviso da
literatura, podemos concluir que com a evoluo da histria da masculinidade criou-se
um desejo dos homens dominarem, de serem os mais fortes e dentro desses aspectos h
tambm uma postura de violncia perante o outro, o diferente.
Consideramos que discutir o tema da violncia no uma tarefa fcil,
principalmente quando se trata de investigar as formas de intolerncia e de agresso que
ocorrem contra grupos ainda marginalizados. Concordamos que a anlise deste tipo de
relao violenta no se deve pautar somente pela busca de vtimas e de agressores, pois
a violncia como uma relao social deve ser analisada no seu contexto, que inclui
tambm o autor, a vtima e a situao.

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