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TCCwiccaParte20 22 Finalmesmo

A monografia analisa como o ciberespaço auxilia os adeptos da religião Wicca no Brasil, facilitando a interação entre eles e a difusão de informações sobre os fundamentos, rituais e símbolos desta religião minoritária. Serão realizadas entrevistas com produtores e consumidores de conteúdo Wicca no YouTube, blogs e redes sociais

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TCCwiccaParte20 22 Finalmesmo

A monografia analisa como o ciberespaço auxilia os adeptos da religião Wicca no Brasil, facilitando a interação entre eles e a difusão de informações sobre os fundamentos, rituais e símbolos desta religião minoritária. Serão realizadas entrevistas com produtores e consumidores de conteúdo Wicca no YouTube, blogs e redes sociais

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI

CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS E LETRAS – CCHL


DEPARTAMENTO DE CIENCIAS SOCIAIS – DCIES
BACHARELADO EM CIENCIAS SOCIAIS

Religião Wicca no ciberespaço brasileiro: fundamentos, rituais, símbolos e interação online.

Maiara Sá Magalhães

TERESINA
JANEIRO, 2017
Maiara Sá Magalhães

Religião Wicca no ciberespaço brasileiro: fundamentos, rituais, símbolos e interação online.

Monografia apresentada à Universidade Federal


do Piauí – UFPI como um dos pré-requisitos para
obtenção do grau de bacharel em Ciências
Sociais.
ORIENTADORA: Msc. D.ra Francisca
Verônica Cavalcante

TERESINA
JANEIRO, 2017
Maiara Sá Magalhães

Religião Wicca no ciberespaço brasileiro: fundamentos, rituais, símbolos e interação online.

Monografia apresentada à Universidade Federal


do Piauí – UFPI como um dos pré-requisitos para
obtenção do grau de bacharel em Ciências
Sociais.
ORIENTADORA: Msc. D.ra Francisca
Verônica Cavalcante

Aprovada em: 17/01/2017

Nota: 10

Banca Examinadora

Prof. Dra. Francisca Verônica Cavalcante (UFPI)

Prof. Dr. Francisco de Oliveira Barros Júnior (UFPI)

Prof. Dra. Clarissa Carvalho (UESPI)


À minha gata Jelly, à minha orientadora
Verônica, à Prof. Emanuelle Chaves, à todos
os entrevistados e à minha avó.
Agradecimentos

Inicialmente gostaria de agradecer à minha orientadora por ter apoiado este projeto e
realização da pesquisa. Agradeço imensamente à professora Emanuelle Chaves por me
incentivar a ingressar no curso de Ciências sociais, por ser meu exemplo por todo esse tempo.

Desejo agradecer todos os professores de antropologia e sociologia, que formaram


meus conhecimentos durante o curso e, principalmente, aos entrevistados, que se
disponibilizaram a responder meus questionamentos e mesmo com todas as atribulações do
dia a dia dedicaram uma parte do seu tempo para me ajudar com a pesquisa.

Agradeço também aos meus amigos pelo apoio e paciência, principalmente ao amigo
Dudu por me apresentar ao ciberespaço. Agradeço aos colegas de curso e à minha mãe por me
incentivar a continuar no curso, mesmo com todos os empecilhos advindos da família e,
acima de tudo, agradeço à minha avó, Maria do Carmo, que me dava forças para fazer tudo o
que eu considero importante na vida.
“Só nos últimos cinco meses eu já morri umas quatro vezes. Ainda me restam três vidas pra
gastar”.
Pitty
Resumo
No presente trabalho será observada a importância do ciberespaço para as interações entre os
adeptos da religião Wicca bem como para a sua difusão. Assim, serão realizadas entrevistas
com produtores de conteúdo sobre esta religião no site YouTube e com wiccanos que
consomem este conteúdo. Os resultados dessas entrevistas serão analisados e interpretados de
modo a constatar de que forma a internet auxilia estes adeptos da religião Wicca e se há uma
preferência pelo espaço virtual em relação ao espaço físico.
Palavras – Chave: Wicca, ciberespaço, internet, religião
Abstract
In this project will be observed the importance of the cyberspace for the interaction between
the Wiccans, and also for it’s diffusion. Interviews will be conducted with the content
producer about this religion on YouTube and with Wiccans that consume this content. The
results of the interviews will be analyzed and interpreted in order to verify how the internet
helps this Wiccans and if there is a preference for the virtual space in relation to physical
space.
Key Words: Wicca, cyberspace, religion, internet.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 10
2 REVISÃO DA LITERATURA 16
2.1 A Religião Wicca 16
2.1.1 Histórico 17
2.1.2 Fundamentos 18
2.1.3 Rituais, símbolos e magia 22
2.1.4 Wicca no Brasil 36
2.1.5 Influências da Nova Era e outras tradições 38
2.2 Ciberespaço: Novas formas de interação social 40
2.3 A Religião Wicca no Ciberespaço 42
2.3.1 O ensino da Religião Wicca no Ciberespaço (Ensino à distância - EAD) 43
2.3.2 Blessed Be 44
2.3.3 Lojas Virtuais de artigos Wicca 45
2.3.4 Wicca no contexto do ciberespaço teresinense 46
3 METODOLOGIA 48
3.1 Netnografia ou Etnografia virtual? 49
3.1.1 Elementos negativos 50
3.1.2 Elementos positivos 51
3.2 Etnografando o espaço virtual: Um breve comentário sobre os sites brasileiros
analisados 52
3.2.1 Mapeamento de Blogs 53
3.2.2- Mapeamento de páginas do Facebook 55
3.2.3 Mapeamento de canais do YouTube 57
3.3 Entrevistas 60
3.3.1 Entrevistas Presenciais 61
3.3.2 Entrevistas Virtuais 63
4 PRODUTORES E CONSUMIDORES DA RELIGIÃO WICCA NO CIBERESPAÇO:
ANALISANDO RESULTADOS 66
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 73
7 REFERÊNCIAS 75
Anexo 1 – Termo de consentimento 79
Anexo 2 – Roteiro elaborado para a entrevistados que não possuem canal no Youtube 81
Anexo 3 – Roteiro elaborado para a entrevista com Rashid 81
Anexo 4 – Roteiro elaborado para entrevistados que possuem canal no Youtube 81
Lista de imagens

Imagem 1 - Representação da Grande Deusa em suas três fase 19


Imagem 2 - Representação do Deus Cornífero para a Wicca 20
Imagem 3 - Roda do ano 26
Imagem 4 - Lista de Sabaths e Luas Cheias de 2016 27
Imagem 5 - Exemplo de loja virtual de produtos Wiccanos 46
Imagem 6 - Página Wicca Friends 47
Imagem 7 - Blog Gato Místico 54
Imagem 8 - Exemplo de página no Facebook referente à religião Wicca 56
Imagem 9 - Exemplo de canal no Youtube especializado em Wicca 60
Imagem 10 - Estatistica IBGE 67
Lista de tabelas

Tabela 1 - Subdivisões das tradições Wiccanas e suas principais características 16


Tabela 2 - Sabbaths e seus respectivos temas 28
Tabela 3 - Esbaths e seus respectivos temas 29
Tabela 4 - As cores para a religião Wicca e seus respectivos significados 31
Tabela 5 - Ritos de passagem da religião Wicca e suas principais características 33
Tabela 6 - Comparativo entre os resultados obtidos nas entrevistas 66
Tabela 7 - Gênero correspondente aos apresentadores(as) dos canais de Wicca no Youtube. 68
1 INTRODUÇÃO
A religião Wicca é uma forma de bruxaria moderna que prega o amor à natureza e tem
como princípio a crença em dois importantes Deuses, a Grande Deusa e o Deus Cornífero. A
Grande Deusa representa as três faces da mulher (donzela, mãe e anciã). Cada uma dessas
faces indica também as fases da lua. O Deus Cornífero representa a caça e os animais. Assim,
a Wicca configura-se como uma religião minoritária no Brasil, ou seja, ainda há poucos
adeptos, como será visto ao longo do presente estudo. Dessa forma, observou-se que a
internet é muito utilizada pelos adeptos da religião Wicca com a finalidade de comunicação.
Assim, o objetivo geral desta pesquisa é compreender os significados dos rituais da Wicca
dispostos no ciberespaço, identificando seus símbolos e significados. Além disso, visa
compreender a importância da internet para a difusão e comunicação entre os adeptos desta
religião.
Inicialmente utilizarei para explicar a história da Wicca, um dos seus principais
autores, Gerald Gardner (2013), exclusivamente em sua obra bruxaria hoje, onde ele conta
como inseriu-se na Wicca e qual o motivo de ter escrito seu livro e de propagar a religião. Ele
é considerado por muitos o pioneiro em utilizar a palavra Wicca e em difundir a religião.
Seguindo a linha de autores Wiccanos, prosseguirei com Claudiney Prieto (2015), onde
trabalharei dois livros do autor Wicca para todos, de 2015 e Ritos de passagem: celebrando
nascimento, vida e morte na wicca, de 2006. No primeiro livro o autor trabalha conceitos
importantes da religião dos bruxos, bem como seus fundamentos, rituais e crenças. Já no
segundo livro, ele foca nos ritos de passagem, como o próprio título nos faz perceber,
enfatizando a importância de cada rito e de que forma é realizado. Durante o texto trabalharei
também os conceitos de ritual na Wicca e de Deus Cornífero a partir Regina Panzoldo (2014)
em sua obra Wicca: Segredos e Rituais. Além disso, também irei utilizar duas obras de Scott
Cunningham, que são A verdade sobre a bruxaria moderna (1998) e Guia essencial da bruxa
solitária (2001), em que ele retrata assim como Prieto, fundamentos e crenças da Wicca.
Além disso, utilizarei os conceitos de magia simpática na Wicca retratados por Laurie Cabot e
Tom Cowan (1992) na obra O Poder da Bruxa: A Terra, a Lua e o Caminho Mágico
Feminino. Também utilizo como material bibliográfico alguns sites da religião Wicca, como o
old religion e utilizei como base algumas imagens e rituais presentes no Almanaque Wicca de
2016.
Partindo para o seguimento da Nova Era, irei trabalhar alguns autores para
contextualizar a Wicca neste movimento. A principal autora utilizada é Verônica Cavalcante

10
(2009) e seus conceitos na obra Os tribalistas da Nova Era, focando também nos rituais
descritos pela autora e que se encaixam muito bem para tecer uma semelhança e influência da
Nova Era para com a Wicca. Além disso, utilizarei, ainda que timidamente, para corroborar
com as ideias da autora anterior, uma citação de Leila Amaral (2000) extraída de seu
livro Carnaval da alma: comunidade, essência e sincretismo na Nova Era. Para me auxiliar
em afirmar a religião estudada com influenciada pelo movimento da Nova Era utilizarei o
texto de Andréa Osório (2005) Dons da bruxa e trajetórias Wiccanas: Narrativas sobre ser e
tornar-se uma bruxa moderna. Quanto à questão do ecofeminismo e movimentos sociais que
influenciam na Wicca, tomarei como base o texto de Rosângela Angelin (2014), denominado
Mulheres, ecofeminismo e desenvolvimento sustentável diante das perspectivas de
redistribuição e reconhecimento de gênero. Estamos preparados?
Em relação ao campo histórico, apoiarei-me na obra de Campbell (1997) denominado
Todos os nomes da Deusa, para abordar a questão das Deusas nas antigas religiões. Com a
finalidade de relatar momentos históricos como a caça às bruxas e o período da inquisição,
utilizarei Russel e Alexander (2008) de acordo com a obra A História da Bruxaria. Utilizarei
também a obra do jornalista Jan Luis Duarte (não datada) que se chama Os primórdios da
Wicca no Brasil a fim de abordar com a religião wiccana chegou até nosso país e de que
forma difundiu-se.
Adentrando a antropologia, irei utilizar como base o clássico de Durkheim (2003) As
formas elementares da vida religiosa, onde trabalharei na pesquisa a ideia de representação
coletiva e a noção de tempo e espaço, que configura-se diferente dependendo da cultura e
assim relacionando este conceito com o calendário Wiccano. Irei utilizar em meu texto o
conceito de magia de Mauss em sua obra Sociologia e antropologia, no capítulo em que fala
do esboço de uma teoria geral da magia, também trabalharei seus conceitos de corporeidade
apresentados no capítulo denominado As técnicas do corpo e também utilizarei o autor para
dispor-me de conceitos acerca de expressões e gestos, retirados de sua obra A expressão
obrigatória dos sentimentos. Utilizarei a obra O ramo de ouro de Sir James Frazer (1982)
para abordar a questão da magia simpática e homeopática. Ainda sobre magia, trabalharei
sobre sua eficácia com a obra de Lévi-Strauss (1975) em um capítulo denominado O
feiticeiro e sua magia. Em relação ao simbolismo apresentados nos rituais wiccanos, utilizarei
os conceito de Geertz (1989) em sua obra A interpretação das culturas e também utilizarei o
mesmo autor para abordar a questão da etnografia. A seguir, quando trabalhar o conceito de
rituais utilizarei as obras de Helman (2003) denominada Ritual e manejo do infortúnio,

11
presente no livro Cultura, saúde e doença e a obra de Peirano (2013) denominada Rituais
ontem e hoje. Com a finalidade de trabalhar os conceitos de feitiçaria e bruxaria, abordarei
Leach contextualizado por Pierucci (2001) em A magia. Como relação à análise dos ritos de
passagem da Wicca, abordarei Turner (1974) bem como as ideias de Gennep (1909),
apresentadas por ele em suas obras Floresta de Símbolos (2005) e O processo Ritual (1974),
bem como o conceito de liminaridade. Em relação à questão etnográfica também abordarei
Malinowski (1976)em sua obra Os Argonautas do Pacifico Ocidental.
Para realizar minhas colocações acerca do ciberespaço utilizarei Gibson em sua obra
Neuromancer (2008) para caracterizar o termo citado, também serão utilizados conceitos de
Pierre Levy (1999) em seu livro Cibercultura. Além disso, utilizarei as opiniões de Bauman
acerca do Ciberespaço e o conceito de redes de Enne (2004) em seu texto Conceito de rede e
as sociedades contemporâneas. Com a finalidade de explanar sobre a etnografia virtual,
utilizarei Suzana de Sousa Gutierrez (2004), na obra A Etnografia Virtual na Pesquisa de
Abordagem Dialética em Redes Sociais On-line e Suely Gomes e Flávia Santos (2013) no
texto Etnografia virtual na prática: análise dos procedimentos metodológicos observados em
estudos empíricos em cibercultura. Para enfatizar a importância do ciberespaço para a religião
Wicca, utilizarei o texto de Lília Fontinele, Ianne Macedo Bruno Olimpio e Ana do Vale
(2014) denominado Relatos etnográficos sobre o circuito pagão no Piauí.
No presente trabalho, inicio explanando acerca da revisão literária, onde falo uma
breve explicação da religião Wicca, suas origens e fundamentos. Ainda neste tópico abordo os
principais rituais da religião, bem como seus símbolos e os conceitos referentes à magia,
comparando conceitos de antropólogos com os de autores wiccanos. Logo após, apresento
informações relativas a essa religião no Brasil, elaborando hipóteses de como ela chegou em
nosso país e de que forma se difundiu. Além disso, em um subtópico seguinte, falo acerca das
influências existentes na Wicca advindas da Nova Era, que é um movimento recente que
funde diversas religiões com um novo modelo de enxergar o mundo e a natureza e da tradição
Diânica, que valoriza a figura feminina.
No próximo tópico explico sobre o ciberespaço e seus principais conceitos. Logo após,
mostro a religião Wicca inserida neste meio, mostrando algumas forma de interação na
religião que encontrei como o Ensino a Distância da Wicca (EAD), as lojas virtuais de artigos
para rituais, bem como um termo muito importante utilizado pelos wiccanos na internet,
“blessed be”, que significa “abençoado seja”. Para finalizar a questão do ciberespaço na

12
Wicca, falo sobre a cidade de Teresina, onde a religião Wicca possui certa participação no
meio virtual.
Na metodologia, expliquei acerca do uso das expressões “netnografia” e “etnografia
virtual”. Além disso, apresento os elementos positivos e negativos da utilização desta
metodologia. Logo após, realizo um mapeamento dos sites relativos a Wicca no Brasil. Após
essa atividade, apresento as entrevistas que realizei ao longo da pesquisa, tanto às entrevistas
presenciais, como as virtuais, realizadas por meio de recursos da internet. Por fim, apresento
os resultados obtidos, através de tabelas e análises de dados. Além disso, mostro minhas
principais considerações acerca da realização da pesquisa.
Dessas observações feitas, acima, surgiu o interesse em estudar a religião Wicca, a
partir de um chat no espaço online, visto que nesse se encontra os seus fundamentos básicos e
instruções de efetivação dos rituais e interação entre seus adeptos. Dessa forma, o objetivo
desse trabalho é analisar o conteúdo religioso em discussão, que está disposto no espaço
online, destacando seus fundamentos, rituais e interação entre os adeptos. Além disso,
identificar e descrever no ciberespaço os sites que tratam sobre a religião wicca, analisando
sua dinâmica com os usuários.
A religião wicca está presente na minha vida desde a infância. Lembro-me que quando
criança, em minhas visitas à banca de jornal perto da rua onde morava, eu comprava
mensalmente um exemplar de uma revista chamada Witch que era voltada para o público
infanto-juvenil e girava em torno de cinco personagens principais, cada um deles representava
um elemento da natureza: Will possuía poderes relacionados à energia e reunia, em si, os
quatro elementos da natureza, Irma era detentora de poderes associados à água, Taranee
representava o fogo, Cornélia possuía poderes relativos a terra e Hay Leen tinha poderes
relacionados ao ar.
Observei hoje a relação que, de certa forma, a revista possuía com alguns aspectos que
caracterizam a religião, visto que uma das características da religião Wicca é a relação com as
vibrações e os elementos da natureza. Além disso, o nome de uma das personagens, Cornélia,
assemelha-se ao Deus Cornífero, cultuado pela Wicca. Essas cinco personagens eram
chamadas de bruxas1 e ao longo da revista elas ensinavam coisas sobre os signos do zodíaco,
tarot, assim como diversos assuntos de adolescentes, por exemplo, como não ficar de
recuperação na escola, como agir no primeiro encontro afetivo e coisas desse tipo. Ao final de
cada edição continha uma história em quadrinhos envolvendo as personagens bruxinhas, onde

1
“Ser um bruxo é aceitar a ideologia fundamentada no respeito aos ciclos da natureza e as forças que regem o
universo” (PANZOLO, p. 5)
13
eu passava cada página com curiosidade e atenção. Eu gostava muito dessa revista, comprava
todas as edições e me interessava por todos os brindes que geralmente eram incensos, cartas
de tarot, pedras, runas, etc.
Menos do que afirmar a relação da revista de infância com a religião, em discussão,
quero enfatizar a minha afinidade por assuntos esotéricos, desde longo tempo. Quando
ingressei na universidade, durante o percurso acadêmico, pude entrar em contato novamente
com esses assuntos através da antropologia das religiões e, assim, certificar a minha afinidade
por essa área do saber.
A questão da religião ligada à internet ganhou meu interesse quando estava navegando
pelo site Youtube e encontrei muitos vídeos sobre iniciação Wicca. Achei esse material não
procurando acerca da religião, mas como fazer “filtro dos sonhos 2”. Procurando mais um
pouco sobre wicca me deparei com cursos e iniciações realizadas online, o que me levou a
pensar de antemão que nessa sociedade contemporânea a internet tem uma importância
fundamental, quase vital, na comunicação, informação e compartilhamentos entre os
indivíduos, formando verdadeiras redes de relações e interações sociais que abarcam quase
todas as dimensões da sociedade, inclusive a religiosa. O ciberespaço começou a me
interessar também como lócus de pesquisa, ao assistir uma defesa de mestrado em
antropologia da Jornalista Clarissa Sousa de Carvalho 3(UFPI) denominada: O "bicho mãe"no
ciberespaço: gênero e maternidade no blog Mamíferas, que analisava os discursos de
mulheres mães que criaram o blog Mamíferas para compartilhar sobre parto natural e criação
de filhos. Onde me chamou atenção a metodologia de pesquisa empregada que, por sua vez,
tomou os discursos no espaço online para análise, instrumento cada vez mais frequente nas
ciências humanas.
Esta pesquisa trata, de modo geral, sobre a relação dos indivíduos com o sobrenatural
e sua relevância está no fato dessa dimensão fazer parte e dar significado a própria existência
humana, portanto, investiga-la se torna importante para compreender os sentidos dados à vida
e às relações sociais. No que se refere à escolha de tratar esse tema particularmente a partir do
que está constituído no ciberespaço se justifica por ser esse um espaço que hoje se tornou

2
Objeto de origem indígena, que possui um forte poder simbólico. Constitui-se por um círculo vazado e um
emaranhado de cordões por dentro, lembrando assim uma teia de aranha. Essas teias representam nossos sonhos
que são tecidos. A função desse objeto é separar os sonhos bons dos sonhos ruins, deixando apenas que os bons
sonhos venham até nós, por esse motivo ele é colocado em cima da cama.

3
Doutoranda em Comunicação, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Mestra em Antropologia
e Arqueologia pela Universidade Federal do Piauí. Especialista em Tendências e Perspectivas do Jornalismo pela
Universidade Federal do Piauí e Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo pela mesma universidade.
14
importante em termos das interações cotidianas, abrigando uma plêiade de assuntos, relações
e modos de viver através da informação e compartilhamento via internet, a exemplo das
práticas esotéricas da religião Wicca efetivadas. Essa religião tem o espaço virtual como seu
principal ponto de divulgação e comunicação entre seus praticantes, pois os wiccanos estão
espalhados ao redor do país em pequena quantidade. Assim, a internet é um local que reúne
todo esse grupo:

A questão territorial é importante no caso das bruxas: como analisado por meio dos
questionários, mais da metade das bruxas reside na região Sudeste, espalhadas por
seus quatro estados. Os principais núcleos de bruxaria no país (SP, RJ, MG, DF e
PR) estão distantes para que se formasse uma comunidade regional. A Internet
tornou-se o único instrumento capaz de aglomerar bruxas de todo o país em
relacionamento e comunicação contínuos. (OSÓRIO, 2005, p. 136)

A partir de uma breve pesquisa através de ferramentas virtuais de busca, constatou-se


que existem poucos trabalhos acadêmicos relacionados à religião Wicca no Brasil. Quando
encontrados abordam a questão do gênero, o poder da mulher diante das figuras femininas,
que tem uma grande representatividade na religião dos bruxos. Dessa forma, esse estudo terá
a contribuição de expor para a sociedade de que forma esses rituais são executados e talvez
instigar a curiosidade das pessoas para estudar a Wicca. Além disso, pretendo com este
trabalho uma alargamento do discurso acerca da religião Wiccana, pois segundo Geertz
(1989, p.10) “o objetivo da antropologia é o alargamento do universo do discurso humano”.
Sendo a Wicca uma religião considerada minoritária, ela merece ser reconhecida por toda a
população não só acadêmica para desmistificar preconceitos.

15
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 A Religião Wicca
A Wicca é uma religião considerada neopagã4, configurando-se como uma releitura
das religiões pagãs5 que surgiram antes de Cristo. Essa religião não possui livros sagrados ou
até mesmo mandamentos. Existem diversas tradições da Wicca espalhadas pelo mundo, entre
elas estão: 1734, Alexandrina, Algard, Diânica, Georgina, Eclética, Feri, Gardneriana,
Hereditária e Seax-Wicca (Wicca saxônica), segundo observa-se na seguinte tabela, onde
estão dispostas as tradições Wiccanas e suas principais características:
Tabela 1 - Subdivisões das tradições Wiccanas e suas principais características

Subdivisões da Wicca Principais características

Baseado nas ideias do poeta Robert Cochrane, um


1734
bruxo-hereditário. Possui inflências da Wicca.

Fundada por Alex Sanders, tradição mais eclética e


Alexandrina liberal, rituais muito formais e baseados na magia
cerimonial.

Fundado por Mary Nesnick e reúne princípios das


Algard
tradições Gardneriana e Alexandrina.

Tradição que foca seus cultos na Deusa, dando


Diânica
supremacia ao Sagrado Feminino.

Criado por George Patterson , é eclética e traz um


Georgina conjunto de rituais alexandrinos, celtas, gardnerianos
e tradicionalistas.

Eclética São criados rituais e covens de estrutura livre.


Fundada por Victor Anderson, a maioria dos seus
Feri
praticantes são solitários e politeístas.
Fundada por Gerald Gardner, tradição hierárquica, em
Gardneriana
que os sacerdotes lideram o coven.
Hereditária Seus praticantes dizem ter uma ascendência pagã.
Fundada por Raymond Buckland, é uma das tradições
Seax-wicca (Wicca saxônica)
precursoras dos bruxos solitários.
Fonte: Elaboração do próprio autor

4
O neopaganismo é um termo atual utilizado para designar religiões que fazem releituras e que tentam recriar o
paganismo de diferentes culturas.
5
As religiões pagãs caracterizavam-se geralmente pelo politeísmo e por serem pré-cristãs. Pagão vem da palavra
paganus e quer dizer povo do campo.
16
Os praticantes dessa religião denominam-se Wiccans e são, segundo a definição de
Gerald Gardner:

(..) As pessoas sábias, que praticam ritos antigos e que, junto com muita superstição
e conhecimento herbal, preservaram um ensinamento oculto e processos de trabalho
que elas próprias pensam ser magia ou bruxaria (..) Essas Wicca geralmente
trabalham com bons propósitos e ajudam os que estão com problemas com suas
melhores habilidades. (..). (GARDNER, 2013, p. 84)

2.1.1 Histórico
A Wicca não possui uma origem em data específica. Alguns autores acreditam que
essa religião tem suas raízes no período que alguns ainda denominam “pré história”, nos
primórdios da humanidade;

A magia wicca surgiu no neolítico nas regiões europeias, entre os povos da Irlanda,
Inglaterra, País de Gale, percorrendo os povos da Itália e da França. O povo celta, ao
invadir a Europa, trouxe suas crenças nativas, que se mesclaram ao conjunto de
crenças da população local, dando assim início ás práticas wiccanistas (...).
(PRIETO, 1999, P.23)

O povo Celta tem, como pode-se perceber, uma grande influência sobre esta religião,
principalmente em relação ao culto à Deusa, pois acredita-se que esses povos “têm um culto
comum da Mãe dos Deuses e a crença em que ela intervém nos assuntos humanos(..)”
(CABOT; COWAN, 1992, p. 53) Além disso, suas sociedades possuíam uma hierarquia
matrilinear, que segundo Hoebel e Frost (2006, p. 223) ocorre quando “a descendência é
considerada de mãe a filha, à filha da filha”.
As antigas religiões reverenciavam divindades femininas. Algumas delas,
consideravam ambos os sexos, porém o poder principal era o feminino. Isso pode ser ilustrado
por Joseph Campbell (1997):

De fato, como salienta Mellart, as recém descobertas culturais centradas em


Deusas de Çatal Huyuk e Hacilar estabelecem nitidamente uma continuidade
religiosa entre o que o arqueólogo francês André Leroi-Gourhan descreve
como um sistema de crença paleolítico centrado no feminino e a grande
“Deus Mãe” das épocas arcaica e clássica. (CAMPBELL, 1997, p. 15)

Com o aparecimento do cristianismo, muitos pagãos europeus começaram a ser


perseguidos pela igreja. Assim, foram obrigados a praticar sua religião de forma clandestina
ou até mesmo se converter ao catolicismo. Nesse período iniciaram as perseguições aos

17
pagãos e a chamada caça às bruxas, onde algumas características da bruxaria foram
incorporadas à heresia, abominada pela igreja católica:

A inquisição empenhou-se decisivamente em assimilar a bruxaria à heresia. Os


manuais para inquisidores, que começaram a aparecer por volta de 1230,
frequentemente incluíam perguntas tanto a respeito de bruxaria, quanto de heresia
convencional. Os inquisidores estavam instruídos sobre o que procurar, e por meio
de interrogatórios, ameaças e torturas eram geralmente capazes de descobrir
bruxaria onde quer que existisse, e onde quer que não. Cada condenação cristalizava
a imagem da bruxa mais concretamente na consciência popular e estabelecia mais
um precedente para as gerações de futuros inquisidores. O palco estava agora
totalmente montado para a inauguração da grande caça às bruxas. (ALEXANDER;
RUSSEL, 2008, p. 76-77)

A wicca popularizou-se através dos escritos de Gerald Gardner6 (2013), na década de


50 a partir do seu livro intitulado A bruxaria Hoje7 (2014), que não foi publicado no Brasil. O
autor desejava mostrar que a antiga bruxaria ainda estava viva e que era praticada na Europa
sob o nome de Wicca. Além dessa obra ele publicou High Magic’s Aid (1949), de cunho
ficcional e Significado da Bruxaria (1954). Em sua obra “Bruxaria Hoje”, Gardner (2003)
mostra-nos as crenças e rituais da bruxaria, nunca antes revelados, segundo ele:

Bruxas da Inglaterra me disseram: “Escreva e conte às pessoas que não somos


pervertidas. Somos pessoas decentes, apenas queremos ser deixadas em paz, mas há
certos segredos que você não pode revelar”. Após alguns argumentos sobre o que
não deveria ser revelado, tive permissão de contar muito do que jamais havia vindo
a público em relação a suas crenças, seus rituais e suas razões para o faze, também
para enfatizar que nem suas presentes crenças, nem seus rituais e práticas são maus.
(GARDNER, 2003, p. 2)

Assim, os ensinamentos da chamada Antiga religião celta reapareceram, portanto com


uma nova roupagem, dando origem ao que pode ser chamado de bruxaria moderna ou Wicca.
2.1.2 Fundamentos
A lei geral da Wicca é “Tudo o que fizermos, para o bem ou para o mal, a nós
retornará triplicadamente e nesta encarnação”, Esse princípio funciona como uma lei da
ação e reação, onde o indivíduo apenas deve fazer aquilo que desejar para si. Chama-se: Lei
tríplice. Ela está ligada a um dogma da mesma religião, que prega: “Faça o que quiser, desde
que não faça mal a nada nem a ninguém”. Percebe-se que um princípio se liga ao outro pelo

6
É considerado o pai da bruxaria moderna. Nasceu em 13 de Junho de 1884, perto da Inglaterra e foi um
importante difusor da religião Wicca pelo mundo.
7
Witchcraft today, originalmente publicado em 1954.
18
fato de que fazendo o mal para alguém, ele retornará para você (segundo princípio
apresentado) de forma triplicada nesta encarnação (primeiro princípio apresentado).
Os participantes desta religião respeitam a natureza e acreditam que o ser humano é
responsável pelas suas próprias escolhas. Não há sacrifícios de animais e nem mesmo
humanos. Dessa forma, rompe-se com o padrão de bruxas que a igreja pregava na idade
média, em que eram mulheres que cultuavam o Diabo:

A ideia de pacto era crucial, portanto serviu de remate para a demonização do


feiticeiro. Um maleficus era, agora, por definição, alguém que faz um pacto com
Satã. O pacto ajudou a distinguir a bruxaria da possessão. O Diabo pode possuir uma
pessoa contra a vontade, mas o pacto pelo contrário, é sempre vountário. A bruxa,
portanto, serve ao Diabo por livre e espontânea iniciativa(...). O motivo do pacto, na
lenda medieval, culminou na história de Fausto, o grande mago fictício da
Renascença que firmou um pacto com o Demônio a fim de obter sabedoria e prazer
sexual. A lenda misturou as tradições da magia superior e inferior, e manteve-se
popular durante séculos, como testemunham o Dr. Fausto, de Marlowe (século
XVI), e Fausto, de Goethe (século XIX) (...) (ALEXANDER, RUSSEL, 2008, p.63)

Seus membros se autodenominam wiccans e cultuam, dependendo da tradição, duas


divindades. Entre elas está a Deusa, que representa a figura feminina, a lua e a terra. Como
podemos observar na Imagem 1, que está disposta logo abaixo, ela caracteriza as fases da lua,
sendo chamada também de Deusa tríplice, pois assume as formas de donzela, mãe e anciã:
Imagem 1 - Representação da Grande Deusa em suas três fase

Fonte: Meninos Mortos8


Também podemos observar a existência do Deus Cornífero, que representa a figura
masculina, bem como o sol e os animais. Porém, para algumas tradições, a religião cultua
vários Deuses advindos de outras religiões, como Deuses celtas, gregos, etc. O Deus

8
Disponível em: http://meninosmortos.blogspot.com.br/ Acesso em: 25 de outubro de 2016, 02:37.
19
Cornífero é representado por uma figura masculina que possui chifres, como pode ser visto na
Imagem 2:
Imagem 2 - Representação do Deus Cornífero para a Wicca

Fonte: Bruxa Encantada9


A presença de chifres no Deus Cornífero faz com que algumas pessoas acreditem que
os wiccanos adoram a figura do Diabo, pois para algumas religiões eles remetem à figuras
diabólicas, mas a explicação para essa questão é o fato de que os chifres era há muito tempo
um símbolo de poder:

Os chifres sempre foram tidos como símbolo de honra e respeito entre os povos do
neolítico, pois exprimem a força e a agressividade do touro, do cervo, do búfalo e de
todos os animais portadores dos mesmos. (...) Portanto como podemos perceber, os
chifres desde tempos imemoráveis foram considerados símbolos de realeza,
divindade, fartura e não, símbolo do mal, como muitos ainda o associaram.
(PANZOLDO, 2014, p. 11)

Alguns bruxos são denominados solitários, pois optam por não participar de um coven,
grupo físico onde se encontram os praticantes dessa religião. Os wiccans podem ou não ser
chamados de bruxos. Segunda Ayesha Tamarix, escritora de um blog10, especializado em
Wicca denominado old religion: “Para os Wiccans tradicionais há a necessidade de pertencer
a coven e aqueles que praticam sua religião como solitários, não devem se denominar Wiccan,
e sim bruxos ou bruxas solitários”. O que deve-se entender da afirmação da blogueira, em
suma, é que para alguns participantes da religião, apenas quem frequenta um coven deve ser
chamado de wiccan e os bruxos solitários não devem receber este título.
9
Disponível em: http://bruxaencantada.blogspot.com.br/2016/05/o-deus-deus-cornifero.html Acesso em: 22 de
novembro de 2016, 05:30.
10
Weblog ou, simplesmente, blog, como é popularmente conhecido, é um tipo de publicação on-line. Um
weblog é construído e colocado na rede por meio de um aplicativo que realiza a codificação da página e sua
publicação. Este aplicativo possibilita ao usuário uma interface que permite facilmente editar e publicar
hipertextos, inclusive com a adição de imagens, áudio e vídeo. A publicação vai mostrar estes textos em ordem
cronológica inversa, dando possibilidade ao leitor de comentar. (GUTIERREZ, 2004)
20
Quanto ao conceito da autora do blog, deve-se ressaltar que a palavra “tradicionais”
torna confusa a ideia de que apenas wiccanos que pertencem a um coven são tradicionais.
Porém, existem diversas tradições na religião em questão, como já foi exposto no quadro e
bruxos solitários participam de uma tradição, mesmo que possam mesclar alguma delas. Esses
bruxos que denominados solitários, comumente não seguem uma tradição da Wicca fixa ou
constante. Na maioria das vezes o que ocorre é uma mistura entre diversas tradições para
adaptar à realidade do bruxo, como poderemos constatar em uma entrevista realizada, onde o
bruxo mescla diferentes tradições wiccanas para adaptar-se a uma nova, criada por ele
mesmo.
Ressalta-se que há uma diferença de significado entre os bruxos aos quais me referi e
os bruxos retratados pela etnografia de Evans-Pritchard (2005). O referido autor afirma que
para os Azande, bruxo era aquele que possuía a substância bruxaria no corpo e que de alguma
forma faziam mal a alguém. Já os bruxos aqui estudados são os praticantes da religião Wicca,
que assim se consideram por cultuarem a grande Deusa e por praticarem o que se considera
bruxaria moderna11. A bruxaria se configura como uma prática onde elementos da natureza e
símbolos são utilizados para um determinado fim:

Bruxaria: Arte do Bruxo, magia, especialmente aquela que usa poder pessoal em
conjunto com as energias das pedras, das ervas, das cores e de outros objetos
naturais (Ver Magia popular). Usando-se apenas essa definição, a bruxaria não é
uma religião. Contudo, alguns seguidores da Wicca usam essa palavra para definir
sua religião(...). (CUNNINGHAM, 1998, p.166)

A hierarquia entre os wiccans é algo que varia de acordo com os covens. Muitos dos
wiccans modernos acreditam que não existe essa hierarquia, por exemplo, uma pessoa não é
mais qualificada que a outra para ser um sacerdote. Apenas os covens mais antigos prezam
pela existência dos títulos de iniciantes, iniciados e sacerdotes. Este conceito de sacerdote,
existe em várias religiões e “segundo Max Weber e depois dele, Pierre Bourdieu, denominam-
se sacerdotes os funcionários qualificados de uma empresa religiosa permanente,
especializado em exercer influência sobre os deuses e corações dos homens através do culto
regular e organizado” (PIERUCCI, 2001, p. 27). Os sacerdotes e sacerdotisas wiccanos são
uma espécie de “coordenadores” de um coven, eles instruem os outros participantes do grupo
a realizar os rituais e iniciações, realizar suas orações, a conectar-se com a Deusa e o Deus.

11
A religião Wicca também é chamada por algumas pessoas de bruxaria moderna.
21
Quanto à reencarnação, os wiccanos creem que existe um mundo pós vida, chamado
Summerland12, onde suas almas repousam antes de renascer no espaço físico novamente:

O que talvez distingue a Wicca é que em nossa noção de outromundo não há céu,
inferno, purgatório, nem lugar de terror e condenação. Se tudo o que fazemos nessa
encarnação a nós retornará invariavelmente na mesma vida, não há pecados, faltas
ou erros a serem pagos. Sendo assim, o outromundo wiccano é um lugar de paz,
harmonia onde vamos restaurar nossas energias para uma encarnação futura.
(PRIETO, 2015, p.202)

Dessa forma, percebe-se que os wiccans concebem o pós-vida como um mundo sem
punições e sem arrependimentos, pois de acordo com sua lei tríplice, tudo o que fizerem nessa
vida, retornará na mesma vida. Essa crença na terra do verão, segundo Claudiney Prieto
(2006), “tem suas origens na mitologia celta, segundo a qual havia um reino, chamado Tir
Nan Og, A Terra da Juventude Eterna, para onde os mortos se dirigiam”. O summerland é
visto por algumas pessoas como uma espécie de paraíso pagão. Na literatura não foi
encontrada uma descrição mais densa acerca desse mundo.
2.1.3 Rituais, símbolos e magia
Os rituais, como afirma Helman (2003), podem assumir dimensões sociais e nos
ajudam a entender a realidade. Além disso, seus símbolos podem ser associados à diversos
significados e interpretações de um determinado grupo social. Em geral, os significados
atribuídos à relação homem e natureza, apresentados pela religião wicca, dispostos no meio
virtual perpassam por seus rituais e símbolos. Segundo Peirano (2013) em uma tradução que a
autora fez sobre um texto de 1985 do autor Stanley Tambiah (1929-2014):

O ritual é um sistema cultural de comunicação simbólica. Ele é constituído de


sequências ordenadas e padronizadas de palavras e atos, em geral expressos por
múltiplos meios. Estas sequências tem conteúdo e arranjo caracterizados por graus
variados de formalidade (convencionalidade), estereotipia (rigidez), condensação
(fusão) e redundância (repetição) (...). (PEIRANO, 2013, p. 9)

Diante dessa afirmação percebe-se que há um importante elo entre rituais e símbolos já
que o ritual é composto por uma dimensão simbólica. Os símbolos são dotados de
significados. Assim, esses significados:

(...) Só podem ser armazenados através de símbolos (..) Tais símbolos religiosos,
dramatizados em rituais e relatados em mitos, parecem resumir de alguma maneira,
12
Traduzido por Prieto (2015) como país de verão ou A terra de verão segundo Panzoldo (2014) e pode receber
outros nomes de acordo com a tradição da religião.
22
pelo menos para aqueles que vibram com eles, tudo que se conhece sobre a forma
como é o mundo, a qualidade de vida emocional que ele suporta, e a maneira como
deve comportar-se quem está nele. Dessa forma, os símbolos sagrados relacionam
uma antologia e uma cosmologia com uma estética e uma moralidade: Seu poder
peculiar provém de uma suposta capacidade de identificar o fato como valor no seu
nível mais fundamental, de dar um sentido normativo abrangente àquilo que, de
outra forma, seria apenas real. O número desses símbolos sintetizadores é limitado
em qualquer cultura (...) (GEERTZ, 1989, p. 93-94)

Na religião Wicca observa-se o uso de diversos objetos, inclusive já citados, como


símbolos necessários para a realização de um ritual. Um exemplo disso é o Ritual para a
proteção, onde o cristal é um símbolo que possui seu significado próprio dentro da ação. Ele
nos remete à proteção, é um objeto essencial na execução dessa atividade. Além disso,
observa-se também a presença do incenso, que segundo o manual da Wicca 2016, representa
o elemento do ar. Esse ritual é realizado da seguinte forma:

Faça um altar para a sua família. Pegue um cristal. Projete em cada ponta do cristal a
imagem das pessoas que você deseja proteger. Elas ficarão ali representadas. Cada
vez que lavar o cristal reforce a programação. Todas as quintas feiras acenda um
incenso, permeie o cristal com sua fumaça e deixe-o queimando ao lado.
(PANZOLDO, 2014, p. 73-78)

O ritual é definido como “uma forma específica de movimento, manipulação de


objetos ou séries de processos internos com o intuito de produzir efeitos desejados. Na
religião, rituais são praticados visando a união com o divino”. (CUNNINGHAM, 1998, p.56).
Dessa forma, na religião Wicca, os rituais possuem o significado de conectar seus praticantes
aos Deuses, estabelecendo assim uma conexão e para isso, devem ser respeitados uma série de
processos internos.
Adentrando ainda mais o significado dos rituais, deparamo-nos com os estudos de
Durkheim (2003), que possui “um interesse pela religião porque ela articula rituais e símbolos
que têm o efeito de criar entre indivíduos afinidades sentimentais que constituem a base de
classificações e representações coletivas.” (HASS, 201413). Assim, devemos observar o
conceito de representações coletivas elaborados pelo autor. Este conceito está ligado ao
estudo das religiões e é essencial para entendermos posteriormente a definição de magia para
Mauss (2003). Assim, as representações religiosas:

(...) são representações coletivas que exprimem realidades coletivas, os ritos são
maneiras de agir que só surgem no interior de grupos coordenados e se destinam a
13
Disponível em < http://www.domtotal.com/direito/pagina/detalhe/23867/concepcao-de-religiao-segundo-
emile-durkheim > Acessado em 3 de Janeiro de 2017 às 22:34.
23
suscintar, manter ou refazer alguns estados mentais desses grupos. Mas então, se as
categorias são de origem religiosa, elas devem participar da natureza comum a todos
os fatos religiosos; também elas devem ser coisas sociais, produtos do pensamento
coletivo. (DURKHEIM, 2003, p.XIV)

Marcel Mauss (2003) considera as práticas mágicas uma forma de representação


coletiva, tendo em vista o conceito desenvolvido por Durkheim (2003), “as práticas mágicas
não são vazias de sentido. Elas correspondem a representações, geralmente muito ricas, que
constituem o terceiro elemento da magia”. (MAUSS, 2003, p. 97). Além disso:

A magia compreende agentes, atos e representações: chamamos mágico o indivíduo


que efetua atos mágicos, mesmo quando não é um profissional; chamamos
representações mágicas as idéias e as crenças que correspondem aos atos mágicos;
quanto aos atos, em relação aos quais definimos os outros elementos da magia,
chamamo-los ritos mágicos.(...) Os ritos mágicos, e a magia como um todo, são, em
primeiro lugar, fatos de tradição. (MAUSS, 2003, p. 55)

Segundo o autor, a magia está ligada à crença, ela “é portanto, em conjunto, o objeto
de uma crença apriori; trata-se de uma crença coletiva, unânime, e é a natureza dessa crença
que faz a magia poder facilmente transpor o abismo que separa seus dados de suas
conclusões”. (MAUSS, 2003, p. 131). Observa-se que o autor acima citado tem a magia como
um de seus principais focos de pesquisa. Porém, devem ser observados também os conceitos
de Lévi-Strauss (1975) acerca deste assunto. Para ele, magia, arte e ciência estariam ligados
paralelamente. Além disso, a eficácia da magia está atrelada à crença depositada nela:

(...)a eficácia da magia implica na crença da magia, e que esta se apresenta sob três
aspectos complementares: existe, inicialmente, a crença do feiticeiro. na eficácia de
suas técnicas; em seguida, a crença do doente que ele cura, ou da vítima que ele
persegue, no poder do. próprio feiticeiro; finalmente, a confiança e as exigências da
opinião coletiva, que formam à cada instante uma espécie de campo de gravitação
no seio do qual se definem e se situam ás relações entre o feiticeiro e aqueles que ele
enfeitiça. (LEVI-STRAUSS, 1975, p.2)

No caso utilizado pelo autor, ele refere-se a uma crença do doente que será curado,
isso aplica-se à situação dos rituais de cura, mas pode ser observada em outros rituais onde a
magia é utilizada. Ainda sobre a questão da eficácia da magia, ou até mesmo de um ritual,
relembramos que para Prieto (2015) para obter a eficácia de um ritual, deve-se seguir
13(treze) passos, que são: definir o objetivo, escolher e preparar os símbolos, purificar e
consagrar objetos, usar símbolos, momento certo, força da palavra, invocação dos Deuses,

24
preparar o espaço sagrado, criar um estado de relaxamento, usar os cinco sentidos,
pronunciamento do desejo, geração de poder e liberar a magia.
A magia, para os bruxos é considerada como: “O movimento das energias naturais
(...). A energia existe em todas as coisas- nós, plantas, pedras, cores, sons, movimentos. A
magia é o processo de gerar ou aumentar essas energias, dando-lhes propósitos e liberando-as.
A magia é uma prática natural e não sobrenatural, apesar de pouco compreendida”.
(Cunningham, 2001, p.91)
Segundo Claudiney Prieto (2015) a magia wiccana pode ser dividida em duas
categorias: magia divina, que é a magia que os Deuses provocam respondendo a um desejo e a
magia energética, que são as energias que podemos encontrar no universo e em nós mesmos.
Este conceito de magia foi trabalhado antes pelo antropólogo Sir James Frazer (1982) em sua
obra O Ramo de Ouro, onde ele também divide-a em dois segmentos: magia imitativa
(homeopática) em que o mágico imita atos que ele quer que aconteça e a magia simpática
(contagiosa), em que a ação é realizada em objetos que afetarão uma determinada pessoa que
os possui, ou seja, “(...) A magia homeopática fundamenta-se na associação de ideias pela
similaridade. Ao passo que a magia do contágio baseia-se na associação de ideias pela
contiguidade (...) Na prática, porém, os dois ramos se combinam com frequência. (FRAZER,
1982, p. 85).
Podemos relacionar as teorias de Frazer (1982) à magia simpática na Wicca, pois
existem rituais realizados com objetos que afetarão determinadas pessoas, levando em conta,
é claro, o contexto histórico em que o autor encontra-se inserido e a realidade da religião
wiccana. Esses objetos são chamados de símbolos. Um exemplo de magia simpática na Wicca
é que algumas bonecas são usadas pelas bruxas como um instrumento de cura:

(...) Na arte da magia, porém, usamos bonecas feitas à imagem de outra pessoa a fim
de habilitar essa pessoa com energia mágica ou curativa. O uso correto de uma
boneca pode ajudar a tratar doenças, aliviar dores e recuperar a vitalidade. As
bonecas são excelentes para aliviar a dor da artrite e as dores de cabeça. (CABOT,
COWAN, 1992, p. 279)

Outro conceito que está ligado aos estudos de Wicca é a bruxaria, que inclusive já foi
apresentado neste trabalho (pág.21-22), trabalhado por Evans- Pritchard (2004), mas que
muito se difere do trabalhado na religião por Cunningham (1998). Além disso, Prieto (2015)
acredita que bruxaria e Wicca são palavras sinônimas e que muitas pessoas afirmam praticar
apenas bruxaria por suas práticas se configurarem como mais antigas que a Wicca. De acordo
com Leach (1986), existem diferenças entre bruxaria e feitiçaria: “Feitiçaria é o desempenho
25
consciente de um ato tecnicamente possível, que tem a consequência imaginária de trazer o
mal a uma vítima. A feitiçaria, portanto, é o ofício da magia negra, pode ser apreendida por
qualquer um, A bruxaria é qualidade inata da bruxa e todas as manifestações de bruxaria são
instrinsecamente sobrenaturais”. (LEACH, 1986, p. 472) 14. Podemos observar que o conceito
estabelecido de bruxaria pelo autor remete ao conceito de Evans- Pritchard (2004), pois para
Leach (1986), a bruxaria, assim como a substância bruxaria é inata ao indivíduo.
2.1.3.1 Roda do ano e sabbaths
Os participantes dessa religião realizam rituais de acordo com as estações do ano, que
representam o ciclo de renascimento do Deus e da fertilidade da Deusa bem como as colheitas
de cada época em questão. O ciclo é representado através de datas marcadas no calendário,
denominado de roda do ano15, que está dividida em quatro Sabbaths maiores (Samhain,
Imbolc, Llamas e Beltane) e quatro Sabbaths menores (Yule, Ostara, Litha e Mabon).
Podemos observar a roda do ano na imagem 3, que está abaixo:
Imagem 3 - Roda do ano

Fonte: Brianna Loch16


As datas de celebração de cada Sabbath variam de acordo com os hemisférios Norte
ou Sul, pois as festividades estão ligadas às colheitas de cada estação do ano. Isso pode ser
observado na explicação do Almanaque Wicca 2016 e na Imagem 4 retirada da mesma fonte:

14
Citação retirada de: PIERUCCI, Antônio Flávio. A Magia. São Paulo: PubliFolha, 2001.

15
“O conceito da Roda do Ano baseia-se no princípio intuído de que tempo e espaço são circulares”. (CABOT,
COWAN, 1992, p 130)
16
Disponível em <http://stoa.usp.br/briannaloch/files/2617> Acesso em 22 de Dezembro de 2016 às 19:21.
26
Imagem 4 - Lista de Sabaths e Luas Cheias de 2016

Fonte: Almanaque Wicca 2016: Guia de Magia e espiritualidade

O calendário menciona as datas de todos os festivais mais importantes, de acordo


com o ciclo sazonal do Hemisfério Norte- Indicado pela sigla (HN)- e do Hemisfério
Sul- indicado pela sigla (HS). A decisão de celebrar os festivais de acordo com o
ciclo sazonal do Hemisfério Norte ou do Hemisfério Sul fica a critério do leitor.
(DAW E FEW, 2015, p. 25)

Este conceito da roda do ano remete-nos à questão de que tempo e espaço são
circulares e variam de região para região em relação à realização das festividades wiccanas.
Para Durkheim (2003), o tempo e o espaço, assim como no calendário da Wicca, possuem
significações distintas dependendo da cultura, pois eles são categorias criadas socialmente:

Não é o meu tempo que está assim organizado; é o tempo tal como é objetivamente
pensado por todos os homens de uma mesma civilização. Apenas isso já é suficiente
para fazer entrever que uma tal organização deve ser coletiva. E, de fato, a
observação estabelece que esses pontos de referência indispensáveis, em relação aos
quais todas as coisas se classificam temporalmente, são tomados da vida social. As
divisões em dias, semanas, meses, anos,etc., correspondem à periodicidade dos ritos,
27
das festas, das cerimônias públicas. Um calendário exprime o ritmo da atividade
coletiva, ao mesmo tempo que tem por função assegurar sua regularidade. (...)Para o
espaço mesmo, não há direita nem esquerda, nem alto nem baixo,nem norte nem
sul. Todas essas distinções provêm, evidentemente, de terem sido atribuídos valores
afetivos diferentes às regiões. E, como todos os homens de uma mesma civilização
representam-se o espaço da mesma maneira, é preciso,evidentemente, que esses
valores afetivos e as distinções que deles dependem lhes sejam igualmente comuns;
o que implica quase necessariamente que tais valores e distinções são de origem
social. (DURKHEIM, 2003, p.6-7)

Cada um dos sabbaths representa uma fase do ciclo da Deusa e do Deus Cornífero.
Esse ciclo está ligado ás colheitas realizadas durante o ano em cada período correspondente à
festividade e cada ritual possui como elementos os alimentos referentes à época do ano. Pode-
se observar essa relação através do quadro abaixo:
Tabela 2 - Sabbaths e seus respectivos temas
Sabbaths Temas
Noite em que o Deus Velho morre e volta ao País de Verão para
esperar seu renascimento em Yule. A Deusa em sua forma de anciã
Samhain
lamenta a perda de seu Consorte, deixando as pessoas na escuridão
temporária. É quando os espíritos passeiam pela terra.
Celebra o renascimento do Deus, simbolizado pelo sol, que começa a
Yule
retornar novamente depois desta noite de escuridão.
Este Sabbat honra a Deusa como a noiva que espera o retorno do
Imbolc Deus Sol. Também pode ser consagrado à Brigit, deusa do celta do
fogo.
Noite de equilíbrio, no qual dia e noite são iguais, com as forças da
luz sobre as forças da escuridão. Algumas tradições celebram nesse
Ostara
dia a união entre o Deus e a Deusa, considerando um sabbath da
fertilidade.
Tempo para celebrar a nova vida. É quando a relação da Deusa e do
Deus se consome. Um ato ritual comum durante esse Sabbath é o
Beltane
Grande Rito, símbolo da união entre feminino e masculino, onde um
athame é mergulhado em uma taça com vinho.
A Deusa mãe é vista em seu estado de gravidez e o Deus está no
Litha
cume do seu poder. Ele é honrado como o sol supremo.
A Deusa é honrada como a rainha da abundancia e o Deus é honrado
Lammas
como pai da prosperidade
Festival de ação de graças pagão, celebração da vinha. Está associado
Mabon
com as maças como símbolo da vida renovada.
Fonte: Elaboração do próprio autor
2.1.3.2 Esbaths
A lua, que é um símbolo que representa a Deusa também é cultuada através de rituais,
denominados Esbaths17. Assim, treze luas são celebradas, pois são seguidos os calendários
celtas. Porém, o período mais importante é o de lua cheia, porque ela representa o período em

17
“(...) Vem do francês arcaico, que significa divertir-se. “(PRIETO, 2015, p. 69)
28
que a Deusa encontra-se fértil. Durante esses rituais é realizado um ato denominado “puxar a
lua para baixo”:

(...) Onde o poder lunar e da Deusa são atraídos por uma sacerdotisa ou bruxa (...)
Quando puxamos a lua convocamos os poderes mágicos lunares para que entrem em
nós e ilumine nossa alma. Esta energia pode ser usada posteriormente para a
realização de um feitiço, consagração ou para ser emitida a alguém que precisa de
cura. (PRIETO, 2015, P. 94-95)

Estes Esbaths podem ser visualizados na Tabela 3, onde estão seguidos pelos seus
principais temas, ou seja, suas principais finalidades. Cada mês é marcada por uma lua
diferente.
Tabela 3 - Esbaths e seus respectivos temas
Esbaths Temas
Momento para preparar-se para o sucesso, meditar sobre os
Lua de Feno – Janeiro
objetivos e planejar sobre o futuro
Momento de nos alimentar-nos interna e externamente,
Lua do Milho - Fevereiro
lutando pelos nossos sonhos
Momento de agradecer pela abundancia e fartura e meditar
Lua da Colheita - Março
sobre o equilíbrio da vida.
Período da caça e estoque de comida. Momento de celebrar
Lua do Sangue - Abril
os ancestrais e meditar sobre a morte renascimento.
Momento ideal para fazer a paz consigo mesmo e com
Lua Escura – Maio
todos ao redor.
Renascimento espiritual. Esta lunação é ideal para nos levar
Lua do Carvalho - Junho
ao encontro de nossa alma.
Lunação ideal para trabalhar os sentimentos interiores. É
Lua do Lobo – Julho
hora de preparar-se para o florescer da primavera
Lua da Tempestade – Ideal para purificação, limpeza e descartar o que não serve
Agosto mais.
Marca o momento de ara e semear. A terra despertou do
Lua do Arado – seu sono profundo e agora é hora de ter esperança e deixar
Setembro os ventos da transformação trazer nova energia para a sua
vida
A união da Deusa e do Deus traz energia fertilizadora
Lua dos Grãos - Outubro
necessária para que a futura colheita seja farta e abundante
Lua da Lebre – Marca o período que segue a união da Deusa e do Deus. A
Novembro terra está cheia de poder pronto para ser utilizado.
Lua dos Prados – Momento de honrarmos a Deusa e agradecer pelo
Dezembro aprendizado conquistado no decorrer do ano.
Fonte: Elaboração do próprio autor
Pode-se perceber que durante os Esbaths os Wiccanos recebem a energia da Lua para
ser usada em feitiços ou outros rituais. Essa celebração pode ser realizada em um coven ou
por um bruxo solitário. Segundo Cunningham (1998) inicialmente cria-se o círculo e chama-

29
se pela Deusa e pelo Deus, podendo ser utilizadas poesias, músicas ou danças, logo após
ocorre uma meditação seguida pelos trabalhos de magia, que ocorrem sob a luz da lua. Depois
é provado um vinho ou suco de frutas e são comidos bolos em formato de Lua crescente.
Estes rituais remetem-nos ao ritual da lua, realizado pela comunidade aquariana de Tapireí:

A respeito deste último ritual ela explica: “O ritual da lua foi iniciado por mim, hoje,
eu sou suma sacerdotisa, é um trabalho meu, não do grupo, mas o grupo participa,
porque entendem, já estão até se iniciando como guardiões, é um ritual que está
sendo resgatado no mundo inteiro. Antigamente, a bruxa era vista como uma coisa
muito feia, muito má e esse ritual ficou adormecido durante muito tempo (...)
(Rosa)” (CAVALCANTE, 2009, p. 105)

A partir das palavras da entrevistada no livro Os tribalistas da Nova Era (2009),


podemos afirmar que esse ritual da lua possui influências dos esbaths, pois ela cita a questão
das bruxas que foram perseguidas na idade média e afirma que elas praticavam esse ritual.
Além disso, percebemos que há uma semelhança de hierarquias com a Wicca, onde aparece a
questão da sacerdotisa.
2.1.3.3 Instrumentos e vestimentas nos rituais
Os praticantes dessa religião utilizam alguns instrumentos simbólicos durante suas
celebrações, tais como: o cálice18, o áthame19, o caldeirão20, pentáculo21, vassoura22, bastão23, o
sal24, o sino25 e as velas26. Durante essas atividades não é obrigatório o uso de determinadas
vestimentas, varia de acordo com a necessidade do indivíduo. A roupa que ele se sentir
confortável é válida. Existem também wiccans que não usam nenhuma roupa, ficam vestidos
de céu, como costumam falar. Há uma divisão de opiniões em relação a essa nudez ritual, que
18
“Representa o útero da Deusa.(...) Fica no ponto Oeste do altar. “ (PANZOLDO, 2013, p. 37-38)
19
“O athame é um adaga, obrigatoriamente de cabo preto, usada em algumas linhas de bruxaria. Ele é utilizado
para lançar o círculo mágico, para traçar emblemas mágicos no ar, para direcionar as energias e para controlar e
banir espíritos.” (PANZOLDO, 2013, p. 34-35)
20
“É o símbolo máximo da Deusa, representando seu útero, sua essência de feminilidade manifestada e sua
fertilidade (...) É o recipiente no qual ocorrem as transformações mágicas; tem um significado muito especial.
Está relacionado com o elemento água ficar no centro do Círculo Mágico e do Altar. “ (PANZOLDO, 2013,
p.41-42)
21
“O pentáculo é normalmente um disco, um prato de metal ou madeira com a figura de um pentagrama dentro
de um círculo. Ele é usado para consagrar várias outras ferramentas. “ (PANZOLDO, 2013, p. 32)
22
“Usados para a limpeza psíquica do espaço do ritual antes, durante e após os trabalhos mágicos.”
(PANZOLDO, 2013, p. 40)
23
“Instrumento utilizado para invocações, conjurações e direcionamento energético dos bruxos.” (PANZOLDO,
2013, p. 36-37)
24
“Simboliza o elemento terra e é usado para a purificação.” (PANZOLDO, 2013 p. 47)
25
“O sino de cristal ou de latão é frequentemente usado pelos bruxos para sinalizar o início e o fechamento de
um ritual ou sabbath, para invocar um espírito ou deidade em particular e para despertar os membros do coven
que estão em meditação. “ (PANZOLDO, 2013, p. 45-46)
26
“Representam o elemento fogo. Usadas para aumentar a energia de um feitiço ou ritual ou para influenciar um
poder em particular.” (PANZOLDO, 2013, p. 48)
30
varia de acordo com o coven. Alguns grupos acreditam que a nudez, o vestir-se de céu, facilita
a conexão com os Deuses, pois a energia provém do nosso corpo:

Muitos bruxos alegam razões mágicas para a nudez ritual, afirmando que qualquer
coisa que for usada sobre o corpo irá interferir na energia criada e projetada a partir
dele. Como na Wicca o corpo humano é considerado um dos principais geradores de
energia, esta explicação é bem razoável(...) A nudez ritual também exerce um fator
psicológico, já que isto impõe a necessidade de nos aceitarmos como somos ou
mudar a nossa condição se não estamos felizes com ela. (...) Mesmo com toda esta
controvérsia a nudez ritual ainda é utilizada por muitos praticantes da Arte e
considerada uma regra no caso de Tradições como a Gardneriana. (PRIETO, 2015,
p. 204-205)

Porém, alguns deles acreditam no poder das cores e que há uma ligação delas com o
estado de espírito. Assim, utilizam hobes de diversas cores para expressar seu estado de
espírito ou até mesmo marcar a “hierarquia” existente no coven. O significado de cada cor, de
acordo com a religião pode ser visualizado na Tabela 4, disposta abaixo:
Tabela 4 - As cores para a religião Wicca e seus respectivos significados

Cores Significado
É uma cor excelente para aqueles envolvidos com adivinhação.
Amarelo
Tranquiliza a mente e auxilia na purificação do organismo
Roxo Favorável àqueles que trabalham com o poder divino puro
É inidicada para curandeiros ou para sintonizar-se à Deusa em seu
Azul
aspecto oceano
Verde Fortalece os herbalistas
É usado por aqueles com ligações com animais ou que fazem
Marrom
feitiços por eles
Branco Simboliza a purificação e espiritualidade pura
Laranja Cor energizante, auxilia na liberação de toxinas do organismo
Utilizado para a proteção ou para sintonizar-se com o Deus em seu
Vermelho
aspecto solar
Preto Remete à noite, ao universo e ausência de falsidade.
Fonte: Elaboração do próprio autor
O corpo e suas expressões estão muito presentes na realização de um ritual Wiccano.
Um exemplo disso são algumas danças que ocorrem durantes essas festividades. Esse
movimento do corpo é uma maneira de comunicar-se com os Deuses e conectar-se com o
elemento ar.

A dança foi uma das primeiras demonstrações de reverência aos Deuses. Caracteres
rupestres representando pessoas dançando em estado de êxtase, são encontrados em
muitas cavernas antigas. Cante e dance como uma forma de conexão com este
elemento e sinta a sua harmonia e poder renovador enquanto faz isso. Se quiser, use
um tecido suave e dance com ele. Sinta a leveza do ar, medite sobre as cenas

31
encontradas na natureza que o remete a este elemento e abra-se para a comunicação
com os Deuses. (PRIETO, 2015, p. 149)

Essa questão da corporeidade27 pode ser aplicada às técnicas corporais estudadas por
Marcel Mauss, que são “as maneiras pelas quais os homens, de sociedade a sociedade, de uma
forma tradicional, sabem servir-se de seu corpo.” (MAUSS, 1974, p.401). Para ele, o corpo é
o principal instrumento do homem e também um “objeto técnico”. Pode ser observado em
muitas religiões a utilização de técnicas corporais na prática de seus rituais. Como já citado, a
dança na Wicca ilustra bem esta questão. Não só a dança, mas também o uso do corpo no
preparo de feitiços e magia. Assim:

Entendemos que a corporeidade wiccana é construída primeiro na prática dos rituais


e depois sistematizada nas crenças escritas, nos cursos dados e nos textos
divulgados. Todas as práticas wiccanas estão voltadas para o bem estar do corpo e
para a realização dos desejos do corpo. Como isso acontece? Através da
corporeificação dos elementos da natureza, na figura do casal sagrado (Deus e
Deusa), na sua sexualidade e na história vivida por eles. (ALVES, 2011 p. 255)

2.1.3.4 Ritual formal de iniciação e ritual de auto iniciação


Um ritual muito importante é o ritual de iniciação formal, que consiste em uma
apresentação do indivíduo para os deuses e para os elementos da natureza e ocorre quando um
indivíduo deseja inserir-se em um coven. Segundo o autor Cunningham (1998), esses rituais
possuem cinco estágios principais: Purificação, onde o indivíduo pratica a meditação, banho
de ervas ou dietas uma semana antes da cerimônia; Desafio, que pode ser feito em forma de
perguntas; Provação, em que é usado um açoite de forma simbólica e é praticada sem dores
físicas; Morte e Renascimento simbólicos, que “significa a morta da vida anterior do
candidato” e o renascimento na Wicca; Dedicação, onde o indivíduo deve jurar dedicação às
deidades Esse acontecimento não deve ser tratado apenas como um ritual físico e sim como
um processo de conexão entre o bruxo e os deuses:

A verdadeira iniciação wiccana é o processo pelo qual um ser humano se torna cada
vez mais ciente da presença do divino em seu interior, das fortes conexões com a
Deusa e com o Deus. Isso pode acontecer imediatamente, mas geralmente é uma
transformação gradual. (CUNNINGHAM, 1998, p. 91)

Há também o ritual de auto iniciação, que é um assunto que causa polêmicas entre os
wiccanos. Na literatura há uma divergência entre a necessidade ou não da realização desse

27
“Corporeidade passou a ser sinônimo do corpo humano e sua rede de relações na modernidade: consigo
mesmo, com outros corpos e com as questões sociais.” (ALVES, 2011 p.83)
32
ritual para se tornar um bruxo. Ele é voltado para bruxos que não possuem um coven e
desejam se iniciar na religião sem a intervenção de um sacerdote. Atualmente, como ocorreu
uma espécie de repaginada na religião, poucas tradições não aceitam a auto iniciação. O autor
Claudiney Prieto posiciona-se da seguinte forma:

Eu, particularmente, acredito que a auto iniciação (...) pode e deve ser realizada por
indivíduos que não tenham a possibilidade de ter acesso aos grupos onde ocorrem os
treinamentos tradicionais, desde elas tenham o pleno entendimento de que este ato
só é válido para elas e ninguém mais. Um auto iniciado já mais poderá treinar e
iniciar outras pessoas e isso não será reconhecido pela comunidade wiccana
estabelecida (...)A legitimidade de um autoiniciado não ocorre por meio da
realização de um ritual em si, mas da mudança interior, exterior e a capacidade
intelectual que se espera de um iniciado.” (PRIETO, 2015, p. 207-208)

2.1.3.5 Ritos de passagem


Os ritos de passagem, na religião Wicca, marcam as fases da vida do indivíduo e
englobam questões refrentes ao nascimento, vida e morte. Esses ritos marcam mudanças na
vida dessas pessoas e representam uma inserção cada vez maior. Dentre os principais ritos de
passagem da wicca estão rito de unção, wiccaning, rito de puberdade, handfasting,
handparting, croning, saging, e réquiem. Eles bem como suas principais características estão
dispostos na Tabela 5 disposta abaixo:
Tabela 5 - Ritos de passagem da religião Wicca e suas principais características
Ritos de passagem Principais características
Ocorre nos primeiros dias de nascimento de uma criança.
Neste ritual os bruxos ungem a criança através de óleos
Rito de unção
sagrados e lhe conferem dons mágicos como forma de
presente.
Ocorre logo após o rito de unção, na lua cheia seguinte.
Nele a criança é apresentada à Deusa e ao Deus, visando
Wiccaning
apenas pedir a proteção e jamais comprometer a criança
com a religião.
Para as meninas, o ritual ocorre em sua primeira
Ritos de puberdade menstruação, no rito da Menarca e para os meninos, sua
introdução à fase adulta é marcada pelo rito de transição.
É o casamento pagão. Nele os noivos fazem votos de
Handfasting fidelidade e amor um ao outro. No final suas mãos são
unidas com um laço.
Quando duas pessoas que se uniram pelo handfasting
Handparting decidem se separar, elas devem desafzer sua união perante
os Deuses através do handparting.
Marca a entrada da mulher na menopausa e no caminho da
Croning
Deusa anciã, para se tornar uma sábia.
Ritual que honra a sabedoria de um homem adquirida
Saging
através da idade.
33
Cerimônia pagã, que ocorre quando um bruxo morre. Três
cerimônias marcam o réquiem. Uma ocorre no dia do
Réquiem
enterro da pessoa, outra uma lunação após a morte e a
terceira um ano e um dia após a data do falecimento.
Fonte: Elaboração do próprio autor
Segundo Claudiney Prieto (2015), os wiccanos através do ritos de passagem podem se
“manter no curso da verdade de nossa essência e encontrar a resposta para a maior indagação
da alma humana, de forma que nosso espírito brilhe nos mostrando o caminho correto”.
Assim, podemos observar que na Wicca, os ritos de passagem são importantes acontecimentos
que fazem parte da vida de cada indivíduo e segundo Victor Turner (2005, p. 137), “ritos de
passagem existem em todas as sociedades (...) Tais ritos indicam e constituem transições entre
estados. Por “estado”, entendo aqui uma condição relativamente fixa ou estável e tenderia a
incluir, no seu significado, certas constantes sociais”. Nos ritos acima citados, entende-se que
cada um deles marca a passagem de um estado para outro. No Croning, por exemplo, a
mulher passa do estado “adulta” para “anciã”.
Van Gennep (1960), segundo Turner (2005, p. 138), “definiu ritos de passagem como
‘ritos que acompanham qualquer mudança de lugar, estado, posição social ou idade”. Além
disso, ele atribui três fases aos ritos de transição.

Van Gennep mostrou que todos os ritos de transição vem marcados por três fases:
separação, margem (ou limen) e agregação. A fase inicial de separação compreende
o comportamento simbólico de afastamento do indivíduo, ou do grupo (...) Durante
o período liminar, interveniente, o estado do sujeito ritual (o passageiro) é ambíguo;
ele percorre um reino que tem poucos ou nenhum dos atributos dos estados passado
ou vindouro; na terceira fase a passagem é consumada. (TURNER, p.139)

Porém, Victor Turner (2005), acredita que existam não três, mas quatro fases nos ritos:
Ruptura, Crise e intensificação da crise, ação reparadora e desfecho. Todavia, para ele, todos
os rituais, independente a que fase pertençam, possuem em comum a liminaridade. Seres que
possuem este atributo “não possuem status, propriedade, insígnias, roupa mundana indicativa
de elo ou papel social, posição em um sistema de parentesco”. (TURNER, 1974, p. 117). O
indivíduo que encontra-se na liminaridade está no meio das posições atribuídas pelas leis do
rito. Para ilustrar esta questão, abaixo encontra-se o rito de handfasting da religião Wicca, que
é uma espécie de casamento pagão:

Monte o altar e coloque nele tudo que será necessário para a cerimônia:
- Duas VELAS brancas;
- Um incensório;
- Um prato com sal e terra;
34
- Um SINO de latão;
- Uma vareta;
- Um punhal ou espada cerimonial;
- Um CÁLICE com água;
- Uma xícara com ÓLEO de ROSA para consagração;
- Um CRISTAL de quartzo As alianças de casamento;
- Duas cordas brancas;
- Uma VASSOURA de palha;
- Vinho;
- Bolo de Compromisso.
Supondo que você é uma Alta Sacerdotisa (ou Sacerdote), trace um círculo na
sentido horário usando um punhal ou uma espada cerimonial, e após cada convidado
ter sido abençoado com saudações e incenso, faça soar o SINO do altar para dar
início à cerimônia. O noivo e a noiva devem entrar de mãos dadas no círculo que
você confeccionou. Abençoe-os novamente com INCENSO e saudações e coloque-
os de frente para você e o altar (norte), enquanto os convidados para o casamento
estarão reunidos em torno do perímetro do círculo, dando-se as mãos para formar
uma corrente humana. De frente para o noivo e para a noiva, levante as suas mãos
para o céu e diga:"NESTE SAGRADO CÍRCULO DE LUZ REUNIMO-NOS EM
PERFEITO AMOR E PERFEITA VERDADE. OH DEUSA DO AMOR
DIVINO, EU TE PEÇO QUE ABENÇOES ESTE CASAL, O SEU AMOR E SEU
CASAMENTO PELO TEMPO EM QUE VIVEREM JUNTOS NO AMOR.
POSSA CADA UM DESFRUTAR DE UMA VIDA SAUDÁVEL, CHEIA DE
ALEGRIA, AMOR, ESTABILIDADE E FERTILIDADE." Segure o prato com sal
ou TERRA diante deles para que os dois coloquem a mão direita sobre o mesmo,
enquanto você diz:"ABENÇOADOS SEJAM PELO ANTIGO E MÍSTICO
ELEMENTO TERRA. QUE A DEUSA DO AMOR EM TODA SUA GLÓRIA
ABENÇOE-OS COM AMOR, TERNURA, FELICIDADE E COMPAIXÃO
PELO TEMPO QUE VIVEREM AMBOS." Coloque novamente o prato sobre o
altar. O casal deverá se voltar para o leste. Soe o SINO do altar três vezes e então
envolva-os com o INCENSO e diga: "ABENÇOADOS SEJAM PELA FUMAÇA
E PELO SINO SÍMBOLOS DO ANTIGO E MÍSTICO ELEMENTO AR ."
Coloque novamente o INCENSO no altar. O casal deverá agora se voltar para o sul.
Dê a cada um uma VELA branca, a qual deverão segurar com a mão direita. Acenda
as velas, pegue a vareta do altar e segure-a acima dos dois enquanto diz:
"ABENÇOADOS SEJAM PELA VARETA E PELA CHAMA, SÍMBOLOS DO
ANTIGO E MÍSTICO ELEMENTO FOGO . QUE A DEUSA DO AMOR EM
TODA SUA GLÓRIA ABENÇOE-OS COM HARMONIA, VITALIDADE ,
CRIATIVIDADE E PAIXÃO PELO TEMPO QUE VIVEREM AMBOS."
Coloque novamente as VELAS e a vareta no altar. O casal deverá se voltar para o
oeste. Tome o CÁLICE com ÁGUA e salpique algumas gotas sobre a cabeça deles,
enquanto diz: "ABENÇOADOS SEJAM PELO ANTIGO E MÍSTICO
ELEMENTO ÁGUA. QUE A DEUSA DO AMOR EM TODA A SUA GLÓRIA
ABENÇOE-OS COM A AMIZADE, A INTUIÇÃO, O CARINHO E A
COMPREENSÃO PELO TEMPO QUE VIVEREM AMBOS." Coloque o
CÁLICE com ÁGUA novamente no altar. Unte a testa deles com o ÓLEO de ROSA
e segure o CRISTAL de quartzo sobre eles, como símbolo sagrado do reino
espiritual, enquanto diz: "QUE A DEUSA DO AMOR EM TODA SUA GLÓRIA
ABENÇOE-OS COM A UNIÃO, HONESTIDADE E CRESCIMENTO
ESPIRITUAL PELO TEMPO QUE VIVEREM AMBOS. E QUE A MAGIA DO
SEU AMOR CONTINUE A CRESCER PELO TEMPO QUE
PERMANECEREM JUNTOS NO AMOR, POIS O SEU CASAMENTO É UMA
UNIÃO SAGRADA DOS ASPÉCTOS FEMININO E MASCULINO DA
DIVINDADE." Coloque o CRISTAL novamente no altar e consagre as alianças do
casamento com uma pitada de sal e gotas de água, enquanto diz: "PELO SAL E
PELA ÁGUA EU PURIFICO E LIMPO ESTES BELOS SÍMBOLOS DO
AMOR. QUE TODAS AS VIBRAÇÕES NEGATIVAS, IMPUREZAS E
OBSTÁCULOS SEJAM AFASTADOS DAQUI! E QUE PENETRE TUDO O
QUE É POSITIVO, TERNO E BOM. ABENÇOADAS SEJAM ESTAS
ALIANÇAS NO NOME DIVINO DA DEUSA. ASSIM SEJA." O noivo coloca a
35
aliança no dedo da noiva, e ela por sua vez coloca a aliança no dedo dele. Agora
podem trocar as promessas que escreveram com suas próprias palavras antes da
cerimônia. Após o casal haver proferido suas promessas de amor, consagre as cordas
brancas da mesma maneira que fez com as alianças e então segurando-as lado a
lado, faça com que o homem e a mulher segurem uma extremidade e dêem um nó
enquanto expressam seu AMOR um pelo outro. Amarre-as pelo meio e diga:
"PELOS NÓS NESTA CORDA SEJA O SEU AMOR UNIDO." Pegue a corda
com os nós e amarre juntas às mãos do noivo e da noiva. Visualize uma luz branca
de energia da Deusa e de proteção circundando o casal, enquanto suas auras se unem
em uma só e todos os presentes à cerimônia emitem energia, cantando repetidamente
com alegria. "AMOR! AMOR! AMOR!" Após haver centralizado o poder trazido
para os noivos e para o casamento deles, permaneça alguns minutos em silêncio e
depois retire a corda das mãos deles, dizendo: "PELO PODER DA DEUSA E DE
SEU CONSORTE EU OS DECLARO MARIDO E MULHER PELO TEMPO
QUE VIVEREM AMBOS. QUE VIVAM JUNTOS NO AMOR. ASSIM SEJA."
Os convidados agora podem aclamar, aplaudir e congratular-se com os recém-
casados. Agradeça à Deusa e ao Deus e desfaça o círculo. Coloque a VASSOURA
de palha horizontalmente no chão e faça com que os noivos pulem por cima dela
juntos e de mãos dadas. Termina assim o RITUAL pagão de compromisso, que deve
ser festejado por todos com vinho consagrado e bolo de compromisso, que é
tradicionalmente partido com a espada cerimonial do coven. (OLD RELIGION)

Percebe-se que no rito de passagem do handfasting, os sujeitos que encontram-se na


liminaridade são os noivos, pois eles encontram-se num processo de mudança de estado,
passarão de solteiros para casados e durante o ritual, encontram-se nessa ambiguidade, pois
não estão encaixados em nenhum dos dois estados.
2.1.4 Wicca no Brasil
No Brasil, a religião Wicca não possui uma data precisa de popularização ou
estabelecimento. Segundo o jornalista Jan Luis Duarte, a primeira publicação sobre Wicca no
país data de 1977, que foi a obra A verdade sobre a bruxaria do autor Hans Holzer. Porém, o
primeiro livro escrito por um autor brasileiro surgiu em 1992, de Márcia Frazão, uma
importante ícone da literatura Wicca no Brasil, intitulado de A cozinha Mágica. De acordo
com DUARTE (não datado):

“O que é possível afirmar é que desde 1974, havia pelo menos um alto sacerdote
gardneriano no Brasil: o Sr. Mario Martinez, iniciado no coven de Annie Tyler, em
Newcastle, na Inglaterra. (...) Martinez nunca tornou públicas as suas práticas”.(P. 5)

Segundo o historiador, não é possível afirmar quando a prática da religião tornou-se


pública no Brasil, mas o que suas pesquisas apontaram foi que a Wicca começou a ser
divulgada aqui nos primeiros anos da década de 90 por um grupo na cidade de São Paulo e
que se articulava em torno de uma loja denominada Além da lenda. Por meio deste grupo a
Wicca começou a conquistar espaço, principalmente na mídia brasileira. Assim, este
pioneirismo do grupo acabou por influenciar os moldes dessa religião em nosso país, segundo
36
Duarte (não datado): “Uma delas era o interesse por diversas práticas místicas e esotéricas
anterior à prática da Wicca. Outro era o desconforto em níveis variados, em relação às
religiosidades tradicionais, normalmente descritas como não suprindo sua busca espiritual.”
(P.8). Essas práticas esotéricas nos remetem aos moldes da Nova Era, movimento religioso de
contracultura que surgiu nos anos de 1960, que será tratado com mais densidade nos tópicos
posteriores.
Aqui no Brasil, a Wicca, como foi mostrado pelo jornalista Jan Duarte, surgiu através
de pessoas que não tinham “treinamento formal” na religião, apesar de serem todos auto-
iniciados, que acabaram adquirindo seus conhecimentos através de obras wiccanas. Através
de pesquisas realizadas em ambiente virtual podemos perceber que existe no país uma
Associação de praticantes da religião Wicca, a AbraWicca- Associação Brasileira de Arte e
Filosofia da Religião Wicca. Essa Associação surgiu em 1977 em São Paulo:

Os encontros entre bruxos brasileiros começaram a se tornar realidade no Brasil


nessa época, e no ano de 1998 houve o histórico I Encontro de Bruxaria do Brasil,
no hotel Danúbio, em São Paulo, organizado por Wagner Périco e Denise De
Santi(...) Nesse encontro, o grupo que formaria o embrião da Abra Wicca cresceu e
foram programados encontros específicos para a criação da associação. Ainda no
ano de 1998, foi escolhido presidente da nova entidade Claudiney Prieto e a Abra
Wicca começou suas atividades públicas”. (AbraWicca28)

Atualmente a associação possui sede nos seguintes Estados; Rio de Janeiro,


Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul,
Paraíba, São Paulo e Distrito Federal. A Abra Wicca interage com seus participantes através
de uma página na rede social Facebook, no dia 22 de Outubro 2016 possuía 3.854 curtidas29.
O site, segundo pesquisado no dia 24 de Outubro de 2016 às 06:30 está desativado, pois o
domínio expirou. Segundo consta na página, há 14 anos em São Paulo, é realizado anualmente
um evento denominado EAB- Encontro Anual de Bruxos. Esse evento ocorre em um sítio,
onde os participantes podem trocar experiências, sendo realizados palestras, workshops,
rituais e atividades em grupo. Este ano de 2016, o EAB aconteceu do dia 1 ao dia 3 de Abril

28
Disponível em <https://pt-br.facebook.com/abranacional> Último acesso em 04 de Janeiro de 2017 às 03:53.
29
É uma forma de interação entre os usuários na rede social denominada Facebook que caracteriza uma reação
positiva.
37
no sítio Bambuzal, em Atibaia- SP. Cada ano uma Deusa é escolhida como madrinha do
evento. Esse ano foram as Deusas Brigith30 e Grian31.
2.1.5 Influências da Nova Era e outras tradições
A New Age, ou Nova Era, como é chamado no Brasil, é um movimento caracterizado
pela contracultura e possui elementos de religiões orientais, do xamanismo e da psicologia,
além de usar terapias de cura holísticas. Suas crenças são diversas e seria uma espécie de
“repaginada” em algumas religiões mais antigas. Dessa forma, “a Nova Era não é uma
religião, no caso dos Novaeristas eles tem como propósito a busca do autoconhecimento e da
transformação, uma intensificação da espiritualidade, que faz com que estabeleçam uma
relação homem-natureza diferenciada da ideia de dominação, predominante no pensamento
iluminista. (CAVALCANTE, 2009, p. 17)
Devemos entender assim, que a Nova Era constitui-se como um movimento religioso.
Ela não diz respeito a apenas uma crença ou religião, mas engloba uma série de ideias e
conceitos acerca de espiritualidades e mostra-nos uma nova forma de lidar com o sagrado.
Constitui-se de uma mistura de religiões e culturas, nesse movimento encontramos “a
possibilidade de transformar, estilizar, desarranjar ou rearranjar elementos de tradições já
existentes e fazer desses elementos metáforas que expressem performaticamente uma
determinada visão, em destaque em determinado momento, e segundo determinados
objetivos.” (AMARAL, 2000, p.32)
Incontestavelmente podemos perceber a influência que o movimento novaerista exerce
na religião Wicca. Um exemplo disso é a questão energia, que é fundamental na Nova Era,
realizando uma conexão entre o corpo e a natureza. Na religião Wicca, a energia é utilizada
para entrar em contato com a Deusa e com o Deus Cornífero, é um elemento muito utilizado
durante os rituais. Além disso, pode-se apresentar a semelhança da existência de estados
alterados de consciência. Tanto no segmento da Nova Era como na Wicca, os praticantes
procuram entrar em um estado alterado de consciência para ter contato com suas divindades.
Isso faz com que, segundo Cunningham (2001), a Wicca recebe bastante influência do
xamanismo, pois: “Apesar da atual controvérsia acerca da antiguidade da Wicca, ela
espiritualmente descende desses ritos (xamânicos) (...)” (p. 13) Além disso, o autor afirma que

30
“É uma antiga Deusa Tripla do Fogo e foi venerada por toda Bretanha e Europa.
Ela está particularmente associada ao Imbolc, o primeiro dos 4 grandes festivais célticos do ano. Ela preside o
fogo, a beleza e todas as Artes.
Foi sugerido que o nome Brigit originalmente significasse Deusa e era conferido à todas as Deusas irlandesas e
britânicas.” (encontrado no site old religion)
31
Reconhecida como uma Deusa fada, segundo consta na própria página do evento no Faceboook
38
os estados de consciência atingidos na Wicca são semelhantes aos obtidos nos rituais
xamânicos.
Observando as descrições sobre os espaços holísticos em São Paulo feitas por
Cavalcante (2009), o espaço xamânico Paz Geia possui semelhanças com a religião wiccana
em relação ao culto a uma Grande Deusa, bem como na questão do estado alterado de
consciência, já citado no texto:

É através da técnica do som do tambor de Michael Harner que os integrantes do


espaço holístico Paz Geia entram em contato com a Grande Deusa – Madona Negra
e com seus animais, chamados de “animais de poder”, que servem de guia ao xamã,
que o protege e que, durante as viagens xamânicas lhe traz receitas enviadas pela
Madona Negra. (...) Ressalta-se que a Deusa e os animais de poder, ao se
apresentarem durante as viagens xamânicas, vão sendo ressemantizados e
adquirindo identidades muitas vezes contraditórias (...) Assim, a Madona Negra
pode ser Nossa Senhora Aparecida, pode ser Oxum, pode ser Iemanjá, pode ser a
própria Grande Deusa. (CAVALCANTE, 2009, p. 241)

Além disso, deve-se observar que a difusão da New Age no Brasil assemelhasse muito
à chegada da Wicca. Ambas possuem como principal instrumento difusor a mídia: “A Nova
Era, por sua vez, vem se apresentando e adquirindo visibilidade social através da mídia. Nessa
dinâmica, conhecimentos, práticas, vivências, técnicas, têm sido acessadas por um público
“leitor” (não por adeptos) que, por vezes, acaba incorporando alguns desses referenciais”.
(DUARTE, 2005, p.118). A Wicca no Brasil, como podemos perceber através do que será
mostrado ao longo desta pesquisa, tem como principal instrumento de divulgação a internet.
De acordo com Andréa Osório (2011, p. 52) a Wicca é considerada uma religião
pertencente ao ramo da Nova Era ”chamado por HERBAS (1996) de conhecimento da Deusa
alinhada com uma espiritualidade feminista e com fortes preocupações ecológicas”. O fato da
religião Wicca cultuar a Grande Deusa mostra também a preocupação com a preservação
ambiental. A Deusa representa a natureza. Ela está presente na lua, na água, nas árvores.
Assim, os wiccans projetam nesses elementos suas crenças. A partir daí, entra em cena um
movimento denominado ecofeminismo, que também pode ser encontrado em algumas
vertentes de xamanismo. Onde segundo Cavalcante (2009) “pode-se inferir (...) que nos
espaços holísticos Paz Geia, o ponto central de suas práticas lança mão de um discurso
protagonizado pela mulher denominado ecofeminismo” (p. 255). Esse movimento mescla
feminismo e ambientalismo. Existem três correntes principais e ele “tem contribuído
procurando aliar os debates feministas às questões de preservação e manutenção da vida
saudável e digna, em todas as suas formas.” (ANGELIN, p. 1582).

39
Percebemos que ao invés da destruição, a ânsia humana pela criação, tanto tempo
distorcida e suprimida, está novamente em ascenção, quando mulheres e homens de
todas as partes do mundo estão recuperando nossa consciência mais antiga (...)
Percebemos que os movimentos sociais mais importantes da nossa época- os
movimentos feministas, ecológicos e pela paz e todos os movimentos modernos pela
justiça social e econômica- estão profundamente enraizados em tradições muito
antigas. (CAMPBELL, Joseph, 1997, p. 31)

Ainda sobre essa questão que envolve gênero, um outro segmento que se confunde
com a Wicca é a tradição Diânica. Segundo Prieto (2015): “(...) O termo diânico se refere a
qualquer ramo da bruxaria que enfatiza o feminino na natureza, vida e espiritualidade acima
do masculino(...)”. Assim, percebe-se que a religião wiccana pode ou não fazer parte da
tradição diânica. Essa classificação só depende dos princípios e enfoques da religião. As
tradições diânicas podem ser classificadas em duas categorias. Uma das tradições dá
supremacia à Deusa, porém continuam reconhecendo o Deus em seu culto. Já a outra tradição
foca totalmente na figura feminina, sem a participação de homens ou o reconhecimento do
Deus em seus cultos. Segundo pesquisas realizadas em meio virtual, foi encontrada um site
chamado Tradição Diânica no Brasil, que apresenta alguma das propostas desta tradição no
país, enfatizando sua origem e seus preceitos. Pôde-se concluir que eles fazem da primeira
classificação, pois é deixado claro que enfatizam a Deusa em suas celebrações, mas também
invocam o Deus Cornífero. Eles acreditam que o Deus é uma parte da Deusa, que representa o
todo. Alem disso, a citada tradição aceita homens também em seu grupo.
Dessa forma, não podemos afirmar que os participantes da Wicca são feministas ou
que todos eles devem concordar com os preceitos do movimento. Porém devemos reconhecer
a influência que esse movimento possui na religião Wiccana. A partir daí, abrem-se portas
para diversas pesquisas acerca de gênero relacionadas a essa religião, mas elas perpassam
pelo objetivo aqui proposto, pois pretendo delimitar-me à ciberespaço.
2.2 Ciberespaço: Novas formas de interação social
O ciberespaço se configura como um local virtual32 onde as pessoas podem se
conectar através de dispositivos eletrônicos e usam a internet, rede mundial de computadores,
como ferramenta de acesso. Nesse espaço as informações se propagam rapidamente, de uma
forma ágil. A palavra é formada por cibernética + espaço. Segundo o dicionário online
Michaellis (2016), ela tem por definição a “área de ação da cibernética, em especial das redes

32
“A palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado por sua vez de virtus, força, potência. Na filosofia
escolástica, é virtual o que existe em potência e não em ato”. (LEVY, 2007, p.15)
40
de comunicação computadorizadas.” O primeiro autor a utilizar esse termo foi Gibson (1984)
em sua obra Neuromancer. Para ele:

Ciberespaço. Uma alucinação consensual vivenciada diariamente por bilhões de


operadores autorizados, em todas as nações, por crianças que estão aprendendo
conceitos matemáticos... uma representação gráfica de dados de todos os
computadores do sistema humano. Uma complexidade impensável. Linhas de luz
alinhadas no ar nãoespaço da mente, aglomerados e constelações de dados. Como
luzes da cidade se afastando... (GIBSON, 1984 p.69)

Outro autor estudioso do ciberespaço, mais precisamente da cibercultura é Pierre


Levy (1956). Ele aborda em suas obras as transformações que as novas tecnologias e a
digitalização da informação provocam na sociedade. O ciberespaço para ele é:

[...] o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e


das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de
comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de redes hertzianas e telefônicas
clássicas), na medida em que transmitem informações. Consiste de uma realidade
multidirecional, artificial ou virtual incorporada a uma rede global, sustentada por
computadores que funcionam como meios de geração de acesso. (LEVY, 1999,
p.92)

Os dois autores citados têm definições similares acerca do ciberespaço. Sem dúvidas a
internet trouxe para nossas vidas mais praticidade e agilidade em relação à troca de
informações. A virtualização e a digitalização tornou o tempo mais proveitoso. Além disso,
empresas podem utilizar-se dos meios virtuais para divulgar seu trabalho e conseguir novos
clientes. Cresce cada vez mais o número de pessoas que trabalham em casa através da
internet, um exemplo disso são os Youtubers, profissão em que as pessoas produzem conteúdo
em um site de vídeos denominado YouTube e recebem uma quantia financeira por isso.
Segundo informações contidas no próprio site da empresa, o número de canais que recebem
seis dígitos por ano pelo YouTube cresceu 50% ao ano. Além disso, o consumo do conteúdo
produzido no site aumenta cada vez mais, mais de 4 bilhões de vídeos são vistos por dia.
Porém, não existem apenas vantagens quanto ao uso dessa ferramenta. Há também
alguns males que ela causa à sociedade, como o vício, muitas pessoas não têm controle em
relação ao uso da internet e acabam tornando-se dependentes desses meios, passam horas no
computador e perdem a comunicação com os indivíduos mais próximos fisicamente, assim,
algo que era para facilitar a comunicação torna-se uma ferramenta de isolamento. Zygmunt
Bauman (1925), filósofo contemporâneo, possui uma crítica em relação principalmente às
redes sociais. Em uma entrevista para o jornal El país ele afirma:
41
A diferença entre a comunidade e a rede é que você pertence à comunidade, mas a
rede pertence a você. É possível adicionar e deletar amigos, e controlar as pessoas
com quem você se relaciona. Isso faz com que os indivíduos se sintam um pouco
melhor, porque a solidão é a grande ameaça nesses tempos individualistas. Mas, nas
redes, é tão fácil adicionar e deletar amigos que as habilidades sociais não são
necessárias. Elas são desenvolvidas na rua, ou no trabalho, ao encontrar gente com
quem se precisa ter uma interação razoável. Aí você tem que enfrentar as
dificuldades, se envolver em um diálogo. (...)As redes sociais não ensinam a
dialogar porque é muito fácil evitar a controvérsia… Muita gente as usa não para
unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu
chamo de zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias
vozes, onde o único que veem são os reflexos de suas próprias caras. As redes são
muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha.”
(BAUMAN, 2016)

O estudo das relações sociais no ciberespaço implica no estudo e análise das redes
sociais virtuais, que estão sendo largamente utilizadas pela população atual brasileira.
Segundo a pesquisa realizada pela secretaria de comunicação social da presidência da
república, de 2015, 83% dos brasileiros utiliza a rede social Facebook33 e 17% frequenta a
rede social YouTube. O conceito de rede na antropologia demonstra diversas roupagens:

(...) Redes podem ser pensadas em sentidos diversos: ou como sistema de integração
entre pessoas, mediante práticas de interação, em um sentido mais social; ou como
um sistema de troca de mercadorias e bens materiais, em um sentido mais
econômico; ou como trocas de informações e bens simbólicos, em um sentido mais
cultural. (ENNE, Ana Lucia S., 2004, p. 272)

As redes sociais virtuais trazem a função de troca de informações e bens simbólicos,


como mencionou a autora acima citada. A partir dessas redes virtuais, podemos tecer um
emaranhado de informações e relações entre os usuários. A comunicação entre os indivíduos
dessas redes ocorre rapidamente e de forma constante. Sem dúvida, o advento da internet
trouxe aos cientistas sociais um grande desafio, observar as relações através de textos escritos,
imagens, compartilhamentos, vídeos, etc. Estudar as redes sociais é muito mais do que apenas
transcrever o que está à sua frente, é interpretar cada vírgula, cada acento, cada “erro”
ortográfico, é observar o modo de falar, as pausas, as gírias...

A internet nos permite ver mais interações sociais do que jamais esperávamos, e
agora nos deparamos, em muitos casos, com o excesso de uma coisa boa. Que
esperança temos de fazer sentido de dados tão complexos? Esta é uma questão que

33
Rede social virtual, utilizada para compartilhar ideias através de postagens, adicionar amigos à sua rede e
avaliar as postagens das outras pessoas através de “curtidas” ou “likes”. Essa rede social virtual é hospedada em
um site mas também possui aplicativos que dão acesso através de smatphones.
42
agora atravessa todas as ciências – todos nós compartilhamos o novo mundo dos
sistemas complexos.” (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011, p.15)

2.3 A Religião Wicca no Ciberespaço


O ciberespaço tornou-se um local propício para a divulgação de informações e o
desenvolvimento das comunicações. Muitas religiões utilizam-se principalmente das redes
sociais para divulgar seu conteúdo, conquistar adeptos e marcar eventos. Além disso, a
internet pode ser um campo para a realização de rituais. Um exemplo disso é o passe
espírita34, que já pode ser realizado online.
A religião Wicca ganhou bastante espaço na rede mundial de computadores, como no
site YouTube. A partir de vídeos de curta duração, os(as) bruxos(as) podem realizar seus
rituais em casa com seus próprios instrumentos. Existem muitos canais abordando a religião.
Vários sites contém o passo a passo para o ritual de auto iniciação dos(as) bruxos(as), bem
como cursos online fornecidos pela wicca. Além disso, a Abrawicca- Associação Brasileira de
Wicca - possui uma página na rede social denominada Facebook. Através dessa página são
marcados encontros entre os bruxos através de eventos, normalmente são os sabbaths, e
discussões são levantadas. Existem muitos outros grupos no Facebook que dizem respeito à
religião. O comércio virtual também está relacionado à wicca, Há também muitas lojas online
vendendo artigos religiosos para a preparação de rituais.
Analisou-se um estudo realizado na cidade de Teresina-PI em relação ao circuito
pagão da cidade, onde foi estudada uma comunidade que viria a ser chamada “Villa pagã” Os
autores do artigo apresentaram a importância da internet para que os membros do grupo
pagão se comunicassem e se reunissem:

A internet exerceu uma contribuição fundamental para a formação e consolidação


desse grupo na cidade, uma vez que também é por meio dela que realizam
intercâmbios com outros grupos de outras cidades e realizam jornadas para a difusão
de conhecimentos e experiências. (FONTINELLE, MACEDO, OLIMPIO, DO
VALE, 2014)

2.3.1 O ensino da Religião Wicca no Ciberespaço (Ensino à distância - EAD)


Durante a pesquisa, visitando sites relacionados à religião Wicca, percebeu-se que
existem alguns cursos online para a formação de Wiccanos. Assim, a relação entre essa
religião e a internet se estreita cada vez mais, pois por meio das novas tecnologias, os alunos

34
O passe é um ritual realizado por participantes da religião espírita. Consiste em um grupo de pessoas reunido,
sentados formando um círculo. Um indivíduo, considerado passista, coloca suas mãos sobre cada pessoa que está
sentada transferindo energias positivas para elas, com a ajuda ou não de espíritos.
43
wiccan têm acesso às informações que somente seriam de seu conhecimento caso
participassem de um coven. A maioria desses cursos são pagos e são realizadas avaliações
para que recebam seu certificado.
A primeira escola voltada para Wicca e Paganismo de ensino à distância no Brasil foi
a UNILEP- Universidade Livre de Estudos Pagãos. Esta instituição foi idealizada por
Claudiney Prieto, importante autor de livros sobre essa religião no nosso país, e existem
diversos cursos para que o aluno possa escolher. Também podem ser encontradas aulas online
com uma importante autora Wiccan, que duram treze meses e são quinzenais, com a duração
de duas horas e recebimento de certificado no final do curso. Entre os assuntos abordados
estão: história da magia, alquimia, instrumentos mágicos, sabbaths, esbaths, panteões, rituais,
entre outros. Além disso, existe o site Caverna da Bruxa, que contém cursos online
ministrados pela sacerdotisa administradora do site por meio de módulos e o site SOS Wicca,
que possui em sua página inicial uma diversidade de cursos para que o aluno possa adquirir.
A existência desses cursos online torna mais facilitada a divulgação e a expansão da
religião no contexto social. Segundo a sacerdotisa que ministra aulas no site Caverna da
Bruxa, conforme publicado no site, a principal vantagem de se ter uma aula à distância é a
questão do tempo que impossibilita aulas presenciais. Dessa afirmação podemos acreditar que
vivemos em uma época de rapidez das informações, onde o indivíduo precisa de praticidade.
O ensino online da Wicca proporciona essa agilidade para pessoas que desejam iniciar-se na
religião e não possuem tempo para frequentar um coven. Porém, existem algumas
desvantagens em relação a isso, como o fato da disciplina, que alguns estudantes desistem de
estudar por não conseguirem montar uma determinada rotina. Além disso, existe o fato da
interação. Quando um bruxo frequenta um coven, ele interage com outros participantes,
realizando os rituais entre eles, no ensino online, o indivíduo torna-se um bruxo solitário e
somente interage virtualmente com o ministrante (sacerdote ou sacerdotisa) e possivelmente
com outros participantes.
2.3.2 Blessed Be
Durante o processo de navegação pelo ambiente virtual à procura de sites wiccans,
tornou-se perceptível no final de alguns textos publicados em blogs, o uso da expressão
Blessed be. Através de uma breve pesquisa, descobre-se que essas duas palavras em inglês,
traduzindo em grosso modo, significam “abençoado(a) seja”. O significado desta frase para
os wiccanos está além da tradução, ela representa um cumprimento entre eles, geralmente
realizados pelos sacerdotes, também chamado de beijo quíntuplo em que o sacerdote ajoelha-

44
se beija os pés, o joelho, a região do útero, os seios e os lábios da sacerdotisa, abençoando
cada uma dessas cinco partes do seu corpo. Logo após, a sacerdotisa ajoelha-se e beija os pés,
joelhos, falo, peito e lábios do sacerdote, abençoando-os:

Esse cumprimento é realizado entre o sacerdote e a sacerdotisa ou pelos membros do


coven entre si, mas dentro do ritual é usado somente entre homens e mulheres, pois
é uma saudação entre o feminino e o masculino e vice-versa. (...) Ele não deve ser
oferecido a qualquer um, mas usado criteriosamente, pois nem todos entendem o
significado desse ritual. (Old Religion35)

Percebe-se assim que uma expressão utilizada em rituais da wicca tornou-se um jargão
entre os wiccans no meio virtual. Isso faz parte da reinvenção da religião, de uma renovação e
adaptação à esfera moderna. O uso desta “gíria” identifica e caracteriza um determinado
grupo de pessoas, nesse caso, os bruxos.
2.3.3 Lojas Virtuais de artigos Wicca
Assim como em outras religiões, podem ser encontradas lojas online de artigos
wiccanos. Realizou-se uma pesquisa superficial por meio de ferramentas virtuais e foram
encontradas no Brasil seis lojas especializadas em venda de objetos dessa religião, retirando
assim, as lojas que comercializam produtos esotéricos em geral. Especializadas em Wicca
existem as seguintes lojas: Loja do Empório Wicca, loja Old Religion, Wicca workshop, loja
Gato Místico, Caverna da Bruxa e SOS Wicca. A maioria das lojas possuem matriz no estado
de São Paulo e vendem vários objetos que interessam praticantes da religião dos bruxos.
Como podemos perceber, a questão mercadológica permeia todas as religiões. O comércio
religioso movimenta a economia do país e fornece aos seus praticantes a possibilidade de
praticar seus rituais em casa, prezando pela praticidade e agilidade. Uma imagem de uma loja
virtual de produtos Wicca pode ser vista na Imagem 5:

35
Disponível em <http://www.oldreligion.com.br/novo/colunistas/colunas/index.asp?Qs_idColuna=80> Acesso
em: 02 de Novembro de 2016.

45
Imagem 5 - Exemplo de loja virtual de produtos Wiccanos

Fonte: Loja do Emporio Wicca36


2.3.4 Wicca no contexto do ciberespaço teresinense
A Wicca, no ciberespaço piauiense não deve ser considerada ampla, pois existem
apenas duas páginas do Facebook destinadas à religião, denominadas Wicca Friends, que
possuía em 06 de Novembro de 2016, um total de 36 curtidas. A página não possui site
próprio e não há postagens desde o dia 22 de Fevereiro de 2016. Sua primeira postagem foi no
dia 22 de Fevereiro de 2013. Também foi encontrada uma página denominada Bruxaria
Paganismo no Piauí, mas que sua última postagem data do dia 22 de Setembro de 2012. Por
meio das postagens analisadas nesta página, percebe-se que eram marcados encontros entre os
praticantes no parque da cidade no horário da manhã, onde eram levadas comidas e bebidas
para realizarem seus rituais. Esta página, diferentemente da anteriormente citada, possui 2709
curtidas. Percebe-se que além da movimentação pouca, o reduzido número de postagens e
discussões mostram-nos que a Wicca em Teresina possui poucos adeptos, visto que a internet
apresenta-se como um dos principais veículos divulgadores dessa religião. Claro que não
devemos nos prender apenas ao meio virtual, mas devemos tirar conclusões a partir dele. Um
exemplo de página de Wicca no Facebook pode ser observado abaixo na Imagem 6:
36
Disponível em: <http://www.lojadoemporiowicca.com.br> Acesso em: 29 de novembro de 2016, 19:20.
46
Imagem 6 - Página Wicca Friends

Fonte: Wicca Friends Brasil (Teresina/PI)37


Segundo dados do site Old Religion, há 107 Wiccanos do Piauí cadastrados no site,
sendo 100 de Teresina, 4 de Parnaíba, 1 de Picos, 1 de Paulistana e 1 de Floriano. Encontra-se
ainda o site da chamada teia pagã, que abrange as cidades de Teresina, Floriano, Parnaíba e
Paulistana, que apesar de abranger vários temas do paganismo, possui alguns membros que
são adeptos da Wicca. Porém a última postagem data do dia 5 de Fevereiro de 2012.

37
Disponível em: <https://www.facebook.com/Wicca-Friends-Terezina-Piau%C3%AD-534734613233192/?
fref=ts> Acesso em: 28 de novembro de 2016, 15:01.
47
3 METODOLOGIA
Nos tópicos posteriores serão explicados os métodos utilizados nesta pesquisa bem
como a função de cada método para a realização deste trabalho, pois para Malinowski (1976),
um dos principais autores que trabalharam a questão da etnografia:

Em qualquer ramo do conhecimento, os resultados de uma pesquisa científica devem


ser apresentados de maneira totalmente neutra e honesta. Não ocorreria a ninguém
fazer uma contribuição experimental no âmbito da ciência física ou química sem dar
conta detalhada de todos os passos das experiências que efectuou, uma descrição
exacta dos instrumentos utilizados, da maneira como as observações foram
conduzidas, do seu número, da quantidade de tempo que lhe foi dedicado e do grau
de aproximação com o qual cada medida foi realizada. (MALINOWSKI, 1976, p.
18)

Neste presente estudo, o principal método de pesquisa utilizado foi a etnografia


virtual, pois será feito o mapeamento de: blogs, que são sites criados com a finalidade de
apresentar textos informativos sobre determinados assuntos; páginas do Facebook, rede social
destinada à interação entre seus usuários; canais do youTube, que é um site onde os usuários
postam vídeos acerca de diversos assuntos. Percebe-se que a pesquisa que aqui será
apresentada, visto à sua ênfase no ciberespaço, traz a etnografia virtual como necessária e
indispensável. Deve ser levada em consideração que a principal característica dessa pesquisa é
de que maneira é realizada a interação entre os praticantes da religião dentro do ciberespaço,
bem como a importância deste meio para a expansão e unificação da Wicca. Também houve
uma pesquisa bibliográfica com os principais autores da Wicca e antropólogos que tratam
sobre rituais, magia, bruxaria, simbologia e etnografia. Além disso, foram vistos textos de
autores que tratam do ciberespaço e etnografia virtual.
As entrevistas foram realizadas de forma presencial, com os praticantes da Wicca que
residem em Teresina, ou por meio de chats virtuais, com os Wiccans que moram em outros
lugares do país. Foi construído um roteiro para a realização das entrevistas. Não foram
aplicados questionários, visto que não há necessidade de ocorrer uma filtragem com os
entrevistados, como ocorreu na pesquisa “Juventude, Suicídio e Religiosidades: emoções
vivenciadas por estudantes da UFPI”38, onde foram realizados questionários para
posteriormente analisarmos e selecionar as pessoas que foram entrevistadas. Na presente

38
Pesquisa realizada em 2014, coordenada pela Prof. Dra. Francisca Verônica Cavalcante, do Departamento de
ciências Sociais da UFPI em conjunto com o NUPEC-Núcleo de Pesquisa e Estudos sobre a Criança e o
Adolescente da UFPI e Prof. Dra. Lila Xavier Luz, que busca compreender as emoções enquanto categoria de
análise das Ciências Sociais.
48
pesquisa, todos os entrevistados foram escolhidos baseados em observações e pesquisas feitas
pela própria autora em meios virtuais.
Foram realizadas duas entrevistas presenciais em Teresina, com Onata Nahimana,
bruxo que reside na citada cidade e que acompanha alguns canais no YouTube e frequenta
blogs e grupos no Whatsapp39 sobre Wicca, e com um jornalista piauiense, Rashid, que
realizou um documentário sobre bruxaria e paganismo nas redes virtuais. As entrevistas
virtuais ocorreram a partir de e-mail com Kally e via Whatsapp, com a administradora de um
canal no YouTube que denomino Red e com Tito, também consumidor desse conteúdo virtual.
Ao todo foram entrevistadas 5 (cinco) pessoas. Ocorreu também a análise de dados
estatísticos elaborados pela própria autora para chegar a conclusões mais consistentes.
3.1 Netnografia ou Etnografia virtual?
Trata-se de uma pesquisa que toma como lócus de informação o campo virtual, visto
que o principal enfoque são os rituais e as interações dos adeptos da religião wicca no espaço
online. Será tomado como base os princípios da etnografia, como método e não como
resultado, pois acredita-se que ela pode ser usada tanto como método como um resultado de
uma pesquisa. Segundo Geertz (1989);

Praticar a etnografia é estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever


textos, levantar genealogias, mapear campos, manter um diário, e assim por diante.
Mas não são essas coisas, as técnicas e os processos determinados, que definem o
empreendimento. O que o define é o tipo de esforço intelectual que ele representa:
um risco elaborado para uma “descrição densa”, tomando emprestada uma noção de
Gilbert Ryle. (GEERTZ, 1989, p. 15)

Para o antropólogo Clifford Geertz (1989), a etnografia é uma espécie de interpretação


que o próprio antropólogo faz da cultura que está sendo estudada, pois só o nativo deve
exprimir algo. O que seria a etnografia senão uma interpretação? O simples fato de inserir
uma vírgula expressa a opinião do autor. Assim, Geertz (1989) fala de uma interpretação das
culturas. Malinoswski (1976) tratou acerca da etnografia em sua obra “Os Argonautas do
pacífico Ocidental” e desenvolveu a seguinte questão:

Qual é, afinal, esta magia do Etnógrafo pela qual ele é capaz de evocar o verdadeiro
espírito dos nativos, a verdadeira imagem da vida tribal? Como de costume, o
sucesso só pode ser obtido através de uma aplicação sistemática e paciente de um
determinado número de regras de bom senso e de princípios científicos bem
definidos e não através de qualquer atalho miraculoso que leve aos resultados
desejados sem esforço ou problemas. Os princí- pios do método podem ser
39
Mensageiro instantâneo utilizado para comunicar-se com as outras pessoas através de mensagens de texto em
tempo real.
49
agrupados em três items principais: em primeiro lugar, como é óbvio, o investigador
deve guiar-se por objectivos verdadeiramente científicos, e conhecer as normas e
critérios da etnografia moderna; em segundo lugar, deve providenciar boas
condições para o seu trabalho, o que significa, em termos gerais, viver efectivamente
entre os nativos, longe de outros homens brancos; finalmente, deve recorrer a um
certo número de métodos especiais de recolha, manipulando e registrando as suas
provas. (MALINOWSKI, 1976, p. 21)

Há uma controvérsia em relação às pesquisas realizadas no ciberespaço. A literatura


está dividida entre a denominar esta técnica de “etnografia virtual” ou “netnografia”. Além
disso, posteriormente foram criados os termos Webnografia e ciberantropologia:

Netnografia: Neologismo criado no final dos anos 90 (net + etnografia) para


demarcar as adaptações do método etnográfico em relação tanto à coleta e análise de
dados, quanto à ética de pesquisa. Relacionado aos estudos de comunicação com
abordagens referentes ao consumo, marketing e aos estudos das comunidades de fãs.
(...) - Etnografia digital: Explorar e expandir as possibilidades da etnografia virtual
através do constante uso das redes digitais, postando o material coletado. Outro
objetivo é a criação de narrativas audiovisuais colaborativas em uma linguagem que
sirva como material de estudo mas atinja também um público extra-acadêmico.
Webnografia: Alguns autores o utilizam enquanto um termo relacionado à pesquisa
aplicada de marketing na internet, relacionado à questão das métricas e audiências
dos sites, principalmente em ambientes de discussão (...) Assim como netnografia,
webnografia também é utilizada tanto para pesquisas acadêmicas quanto
mercadológicas.
Ciberantropologia: (...) Baseia-se nos conceitos da antropologia ciborgue de Donna
Haraway para examinar a reconstrução tecnológica do homem e preparar o
etnógrafo para lidar com uma categoria mais ampla de “ser humano” em suas
reconfigurações.” (FRAGOSO, RECUERO E AMARAL, 2011, p. 198-201)

Optou-se nesta pesquisa pelo uso do termo “etnografia virtual”, visto que o
ciberespaço é um ambiente que pertence à nossa realidade, é um campo de pesquisa criado
pelo homem e não alheio. Além disso, a etnografia virtual propõe um campo mais aberto em
relação à netnografia. A “netnografia” é um termo mais técnico, que vem sendo utilizado em
trabalhos relacionados à marketing bem como o termo “webnografia”. A ciberantropologia
diz respeito ao comportamento do homem no ciberespaço. Não é pretendido nessa pesquisa
reduzir-se ao homem e sim à tudo o que há ao seu redor e faz parte do que chamamos de
sociedade.
3.1.1 Elementos negativos
A etnografia virtual traz uma carga de polêmica. O fato de ser um método
relativamente recente faz com que muitos estudiosos prefiram não utilizá-la. Outro fator que
corrobora essa ideia é o “face a face”. Na etnografia virtual não há um contato direto do
pesquisador com seu entrevistado, o que fornece margens à informações inverídicas e farsas:

50
Os questionamentos envolvendo as interações face a face estão na origem das
desconfianças de que numa etnografia virtual “supostamente se perderiam de vista
certos modos de interação não redutíveis àquelas interações no ciberespaço (em
termos de limitação gestual, entonação de voz, entre outras, se comparadas com
espaços offline)” (SEGATA, 2008, não paginado), o que colocaria em suspeição a
confiabilidade dos dados via essa etnografia adaptada. (SANTOS, GOMES, p. 5)

Outro ponto muito criticado em relação a esse método é o “campo”. Acredita-se que a
internet é um local onde pessoas de todo o mundo estão presentes, não possuindo assim um
território fixo e desbravando limites geográficos. Alguns consideram-na como um não-lugar,
pois caracteriza-se pela transitoriedade, mas afinal, o que é constante nesse mundo? Um outro
argumento apresentado que condena a etnografia virtual é a produção de pesquisas
superficiais caso não haja cautela por parte do pesquisador. Além disso, apresenta-se o fato de
que na internet os indivíduos podem assumir a identidade que desejar, fabricando novos
sujeitos:

(..) Kozinets (1998) adverte que é necessário tomar algumas precauções na


utilização desta e de outras metodologias para a pesquisa online. A acessibilidade da
internet, que facilita a entrada do pesquisador no campo pesquisado, pode, por outro
lado, proporcionar um campo fértil para pesquisas superficiais e inconsistentes
metodologicamente. Além disso, a natureza dos contatos online pode por o
pesquisador frente a dados inverídicos provenientes de personagens fabricados.
(GUTIERREZ, 2004, p.8)

3.1.2 Elementos positivos


Apesar das críticas apontadas por alguns autores, a etnografia virtual destaca-se em
relação aos outros métodos por possuir muitos benefícios. Um deles está ligado à facilidade
de acesso do pesquisador ao seu ambiente de pesquisa, basta apenas o acesso à internet e
flexibilidade de horários. As entrevistas, por serem realizadas em meios virtuais, ficam
armazenas e não é necessário a transcrição e podem ser realizadas no horário que for
conveniente para o entrevistado. Podem ser entrevistadas pessoas de vários lugares do mundo.
Quanto ao fato do “face a face”, podemos rapidamente resolvê-lo por meio de programas de
videochamada, que nos permitem realizar a entrevista em tempo real, visualizando as reações
do entrevistado. Além disso, a escrita é um importante fator para perceber o sentimento dos
indivíduos em questão, pois todas expressões de emoção compreendem uma linguagem. Para
Mauss (1980, p. 153) “todas as expressões coletivas, simultâneas, de valor moral e de força
obrigatória dos sentimentos do indivíduo e do grupo são mais do que simples manifestações,
são sinais, expressões compreendidas, em suma, uma linguagem”. A utilização de chats para a
entrevista não configura-se como uma limitação, mas sim abre portas para uma nova
51
compreensão da realidade, pois a forma como uma pessoa escreve nos revela muito de seus
pensamentos e emoções. Quanto à noção de “campo”:

De qualquer modo, a noção de espaço, consequentemente “campo”, não pode ser


tomada em sua perspectiva objetiva e material, antes, deve-se concebe-lo como
instancias frequentadas por personas que simbólica e virtualmente constroem suas
localidades e estabelecem suas delimitações territoriais. (SANTOS; GOMES, p.5)

O ciberespaço caracteriza-se assim, como um local de pesquisa, mesmo que


transitório, dotado de significados e relacionamentos. Uma rede que interliga as pessoas em
suas mais variadas circunstâncias. A etnografia virtual auxilia no entendimento dessas
relações, na forma como as pessoas utilizam o meio virtual seja para comunicação ou
obtenção de informações.

Para Hine (2000) a etnografia virtual pode ser usada para desenvolver a percepção
do sentido da tecnologia e dos espaços sócio-culturais que são por ela estudadas. Por
isso, a etnografia virtual tem espaço assegurado nas pesquisas onde os objetivos
incluem saber ‘o que as pessoas estão realmente fazendo com a tecnologia’.
(GUTIERREZ, p.10)

3.2 Etnografando o espaço virtual: Um breve comentário sobre os sites brasileiros


analisados
A partir dos tópicos que seguem, será apresentada uma etnografia em relação aos sites
brasileiros analisados: blogs, páginas do Facebook e canais do Youtube. Todos eles
especializados em Wicca. Essa etnografia diz respeito aos elementos presentes em cada um
deles, e como a religião está inserida no conteúdo produzido, levando em consideração tanto
os elementos textuais - uso de expressões da religião wicca, imagens apresentadas,
apresentação dos autores de blogs – quanto o design apresentado nesses locais – cores
predominantes, layout do site, etc.

52
3.2.1 Mapeamento de Blogs
Durante a realização de uma pesquisa pelo buscador Google40 foram encontrados na
surface web, área superficial da internet, onde encontram-se apenas sites com acesso
facilitado, aproximadamente 22 (vinte e dois) blogs brasileiros especializados na religião
Wicca. Percebe-se que a maioria dos sites é desenvolvida na linguagem HTML, que é muito
utilizada na computação para a elaboração de sites pela sua facilidade de acesso e uso, ou está
hospedado em uma plataforma denominado Blogger, com personalização facilitada. Isso
demonstra que os elementos presentes nos blogs foram personalizados pelos seus autores,
revelando-nos um pouco da sua proposta.
O primeiro blog encontrado durante a pesquisa denomina-se Empório Wicca, que
possui uma página de apresentação preta com um texto de “boas vindas” em fonte amarela,
nos moldes de uma poesia, mostrando as propostas do site para com a religião. Logo no fim
da página, há um link para acessar todo o conteúdo do site. Isso mostra a preocupação que os
administradores do blog possuem em informar previamente os internautas acerca da religião
Wicca e de seus principais ensinamentos. Quando tem-se acesso ao site a partir do link no fim
da primeira página, vislumbra-se um site no estilo blog, onde os conteúdos são dispostos em
colunas sem uma ordem estabelecida de disposição. Logo abaixo dos temas wiccans estão os
links para seguir o site no instagram, outra rede social utilizada na modernidade, que tem
como objetivo a postagem de fotos ou vídeos, e o link para a loja virtual. Esse blog possui
página no Facebook, sua administradora encontra-se por aproximadamente dez anos na
religião, segunda a mesma menciona no site.
Outro blog especializado em Wicca denomina-se Gato Místico, que é hospedado na
plataforma blogger, possui fundo branco e disponibiliza uma série de postagens relacionadas
à Wicca, separadas por um menu no início do site, acima das postagens, contendo as seguintes
categorias: home, mais, oráculos, categorias, feitiços, artigos e YouTube. O site não possui um
administrador revelado. Porém, possui um canal no YouTube. Podemos observar na Imagem 7
um exemplo de blog relacionado à religião Wicca, neste caso o blog Gato Místico:

40
Site da Internet destinado a buscas
53
Imagem 7 - Blog Gato Místico

Fonte: Gato Místico41


O old religion possui um design baseado na cor vermelho escuro, possui uma coluna
com títulos e postagens sobre Wicca. Além disso, o site possui uma loja virtual. Apresenta um
player de música denominado rádio old religion.com.br. Seu administrador não é especificado
no site. Encontra-se também o site cantinho da magia, que possui o plano de fundo nas cores
preto e branco, hospedado na plataforma blogger e além disso, possui página no Facebook.
Outro site é o Wicca, magias, feitiços e rituais luz mística. Ele possui um player de música e
está hospedado na plataforma Blogger, tem um plano de fundo nas cores preto e branco. Sua
administradora reside em São Paulo.
Um famoso site da religião Wicca, denomina-se caverna da bruxa, ele possui plano de
fundo com rosas e menu acima das postagens. Sua administradora, possui um canal no
YouTube, Além disso, o site conta com uma escola virtual, onde vende cursos de magia e
Wicca. O blog possui também uma página no Facebook. Semelhante ao blog anterior, existe o
SOS Wicca, que possui um menu acima das postagens e um plano de fundo roxo, além de um
mural de postagens. Sua administradora vende cursos sobre wicca, tarot, runas, etc. Além
disso, são comercializados objetos e instrumentos para a realização de rituais. A
administradora também possui um blog denominado feitiço das letras, onde ela publica
artigos de sua autoria sobre a religião da Deusa e demonstra sua opinião acerca de diversos
fatos interligando com a religião. Além disso, o blog possui como cor predominante o
vermelho escuro e como plano de fundo tem uma imagem com pedras.

41
Disponível em: <https://gatomistico.blogspot.com.br/> Acesso em: 15 de dezembro de 2016, 23:40.
54
Pode-se observar uma série de blogs que habitam o ciberespaço brasileiro com
diversos temas associados à Wicca, em sua maioria, eles trazem um conteúdo que abrange
desde os iniciantes ou aspirantes à religião, a temas que interessam também
sacerdotes/sacerdotisas. Geralmente são explicados alguns fundamentos da religião da Deusa,
bem como exprimidas as opiniões dos autores dos textos (administradores dos sites) em
algumas postagens. As cores escolhidas para o layout dos blogs revelou-nos que há
preferências pelas cores mais associadas à magia, como o roxo, preto, azul e vermelho.
Apenas o site caverna da bruxa possui plano de fundo com cor rosa predominante. As
imagens dispostas nas postagens e menus são sempre relacionadas à mulheres com
vestimentas típicas da religião ou seres místicos.
3.2.2- Mapeamento de páginas do Facebook
A plataforma de interação Facebook, considerada uma rede social, resignificou a ideia
de comunidade. Atualmente, as interligações entre os indivíduos podem dar-se de maneira
virtual. Assim, o Facebook inserido na religião Wicca tem como principal objetivo reunir as
pessoas que fazem parte da comunidade wiccana, seja ela real ou virtual. Durante pesquisas
por este site, foram encontradas algumas páginas relacionadas à Wicca. Ao todo, são 36 (trinta
e seis) páginas destinadas a discutir a religião. É importante ressaltar o fato de que o número é
aproximado, pois na internet, são criadas páginas diariamente e o fluxo de informações
encontra-se em constante mudança. Não há muita diferença em relação ao design das páginas
no Facebook, todas elas possuem o mesmo layout. O que muda apenas é a frequência com
que as atividades são realizadas, ou seja, as postagens podem ser constantes ou não.
A página Wicca para todos possui 34.649 curtidas no dia 28 de Outubro de 2016. Isso
quer dizer que esse mesmo número de pessoas recebem as postagens desta página e
demonstram fazer parte ou apoiar a religião Wicca. Seguindo esse pensamento, serão
analisados os dados de outras páginas. A página SOS Wicca possuía 15.683 curtidas, a página
Wicca-A arte da Bruxa possuía 34.853 curtidas, a página Wicca Celta possuía 12.805
curtidas, a página Wicca para iniciantes possuía 2.117 curtidas, a página Wicca Brasil possuía
27.144 curtidas, a página Wicca Ensinamentos tinha 21.360 curtidas, Wicca, Bruxaria, Magia
e Paganismo Maringá, tinha 9.257 curtidas, Universo Wicca possuía 18.489 curtidas,
Wiccanos com orgulho tinha 8.987 curtidas. Já Jardim das bruxas possuía 33.874 curtidas.
Conforme observado, a página Wicca- A arte da bruxa, por possuir um maior número de
curtidas, é provavelmente a mais acessada pelos Wiccans. Nela, encontramos postagens sobre
pedras, eventos relacionados a rituais e sugestões de outras comunidades virtuais relacionadas

55
a ela. Por meio de “comentários”, os usuários podem interagir entre si e com o administrador
da página.
A página que mais chamou a atenção denomina-se Wicca Friends Brasil, esta página
possui páginas representantes em várias regiões do Brasil: Belo Horizonte, Rio de Janeiro,
Paraná, Vitória, Aracajú, Recife, Bahia, Palmas, São Luis, Fortaleza, Maceió, Belém, João
Pessoa, Manaus, Florianópolis, Porto Alegre, São Paulo, Goiania, Macapá, Campo Grande,
Rio Branco, Porto velho, Natal, Teresina e Brasília. Isso nos revela o fato de que a religião
Wicca está espalhada pelo nosso país, pois cada cidade mencionada representa as regiões
brasileiras. Porém, observando essas páginas, pode-se perceber que a publicação mais recente
pertence à página do Rio de Janeiro, que data de outubro deste ano, pois as outras páginas
datam sua última postagem no mês de Fevereiro de 2016. A pouca frequência de postagens,
indica que as páginas citadas acima não estão mais em uso, mostrando que há um abandono
das páginas pelos seus administradores.
Verificou-se também a existência da página no Facebook denominada Wicca, Magia e
Bruxaria Brasil, que foi criada por um wiccano de Teresina. Esta página possui 1.806 curtidas
e é seguida por 1.803, o que quer dizer que toda essa quantidade de pessoas deseja receber as
postagens da citada página. Dentre os membros que curtem esta página estão pessoas de
diversos lugares do Brasil. Podemos observar na figura abaixo um exemplo de página do
Faceboook referente à Wicca:
Imagem 8 - Exemplo de página no Facebook referente à religião Wicca

Fonte: Facebook42

42
Disponível em: <https://www.facebook.com/WiccaAArteDaBruxa/> Acesso em: 05 de dezembro de 2016,
21:47.
56
3.2.3 Mapeamento de canais do YouTube
O YouTube tornou-se uma importante ferramenta para compartilhar vídeos no espaço
virtual. Trata-se de um site, onde milhares de vídeos são enviados por diversos usuários do
mundo inteiro. A denominação para os usuários que enviam vídeos com frequência para o
YouTube é YouTuber, o que virou uma profissão na atualidade, pois alguns deles ganham
dinheiro através de serviços de propaganda denominados adsenses43. No caso da religião
Wicca, podem ser observados alguns canais no site YouTube, que abordam assuntos dessa
religião, bem como seus princípios e rituais.
De acordo com uma pesquisa realizada no site, foram encontrados, aproximadamente,
14 (catorze) canais brasileiros especializados ou relacionados à religião Wicca ou em
bruxaria. O primeiro deles que irei abordar é o S.O.S Wicca. Este canal é apresentado por
uma sacerdotisa, que também possui um blog denominado S.O.S Wicca e outro que se chama
feitiço das letras. Segundo a própria administradora, “O canal tem a finalidade de abordar
assuntos relacionados à Wicca e Esoterismo em geral, tirando dúvidas, trocando ideias,
ensinando e aprendendo sobre a Magia que nos eleva!” (CELTIC, Aislin, 2012). Assim,
percebe-se que o canal foi criado com o objetivo de ensinar as pessoas acerca da religião da
Deusa, abrangendo tanto um público curioso e iniciante na religião como os que já têm
conhecimento na Wicca e desejam acompanhar os ensinamentos da sacerdotisa bem como seu
estilo de vida. O canal possuía 30.756 inscritos44 no dia 24 de Novembro de 2016 e 1.667.177
visualizações. Como os números podem mostrar, é um canal bastante acessado em relação aos
demais e o de maior popularidade em relação à Wicca aqui no Brasil. O S.O.S Wicca foi
criado em 3 de Maio de 2012 e foram postados um total de 180 vídeos. Observou-se também
que este é o canal que possui uma frequência considerável no que diz respeito às postagens,
pois o último vídeo postado foi há 1 semana. Isso nos mostra que existe uma preocupação da
administradora em relação aos seus espectadores virtuais, pois quem assiste quer sempre
assistir aos vídeos atualizados e recentes. Entre os conteúdos do canal estão ensinamentos de
como consagrar instrumentos, por exemplo, como purificar amuletos, explicações acerca dos
elementais, proteções, panteão, as Deusas, rituais para não iniciados, tutoriais de como fazer
objetos que podem ser consagrados, como filtro dos sonhos, dicas de livros, orações, músicas,
bem como a vida da sacerdotisa e suas opiniões sobre algumas discussões que envolvem a
religião, como a questão da auto iniciação.
43
Serviço de publicidade em que cada clique ou visualização de vídeo acarreta em uma quantia paga ao dono do
canal do YouTube.
44
Pessoas que acompanham o canal e realizam uma espécie de cadastro para receber notificações quando um
vídeo de determinado canal estiver postado.
57
Durante a navegação pelo espaço virtual, foi encontrado também o canal chamado
TCS Wicca, que foi criado no dia 23 de Junho de 2010 e que no dia 05 de Dezembro de 2016
possuía aproximadamente 21.059 inscritos e 1.538.241 visualizações no geral. Segundo a
descrição no próprio site, o canal possui “vídeo-aulas sobre magia, wicca e relacionados”.
Foram encontrados 86 vídeos abordando a Wicca para iniciantes, que trata de assuntos como
O que é Wicca e suas tradições, como começar na Wicca, a diferença entre Wicca e bruxaria,
a Deusa e o Deus, o livro das sombras, meditação, purificação, sabbaths e esbats, etc. Outros
vídeos envolvem temas como músicas pagãs, tutoriais da fabricação de instrumentos que
podem ser utilizados em rituais, magia e seres mágicos.
Outro canal encontrado chama-se Gato Místico, que também possui um blog e página
no Facebook. Ele foi criado em 15 de Setembro de 2009 e segundo a autora, foi criado em
virtude do blog e abrange temas como Wicca, bruxaria e paganismo. Em relação ao título dos
vídeos percebe-se que há uma preocupação da administradora em ensinar de forma bastante
simples os fundamentos da religião e é vista uma interação entre ela e os espectadores
virtuais, pois são realizadas lives45 em que a apresentadora do canal tira dúvidas dos seus
inscritos. Os vídeos que mais se destacam denominam-se “Wicca de pobre”, em que são
apresentados tutoriais de como fazer objetos e instrumentos utilizados na religião com
materiais simples e sem gastar muito. Este canal possuía 9.512 inscritos no dia 24 de
Novembro de 2016, o que demonstra uma certa popularidade. Analisando as perguntas dos
inscritos pode-se perceber que a maioria gira em torno da questão da iniciação na Wicca,
muitas pessoas perguntam em relação à como tornar-se bruxo ou se há proibições para tal.
Também foi encontrado um canal denominado Naturalmente Bruxa, que aborda a
magia em relação à energia advinda da natureza. Porém, este canal não é especializado em
Wicca, apesar de tratar de alguns assuntos pertinentes à religião. Seus vídeos abordam
instrumentos mágicos, feitiços e rituais, signos, como montar e consagrar um altar, como se
conectar aos quatro elementos. Além disso, são gravados vídeos respondendo as perguntas
enviadas pelos espectadores, que permeiam em torno de dúvidas em relação à iniciação,
cultos e magia. Em 05 de Dezembro de 2016 o canal contava com 3.616 inscritos e
aproximadamente 95.026 visualização. Como pode-se perceber, ele não é tão famoso quanto
os dois canais citados anteriormente. Porém, possui um número considerável de espectadores
considerando o número de praticantes da religião em nosso país e até mesmo no mundo. Além
disso, deve ser levado em conta o fato de que o canal ainda é jovem, foi criado em 15 de Maio

45
Vídeos realizados ao vivo
58
de 2016. Sua administradora também interage a partir de outras redes sociais com seus
espectadores, como através do blog, Facebook e Instagram. Nesse mês de Outubro, quando é
comemorado o “dia das bruxas”, ou o sabbath Samhain, foi postada uma série de vídeos
abordando desde a realização do ritual citado, bem como os instrumentos utilizados e a função
de cada um no ritual e tutoriais de como fazer alguns objetos característicos desse período.
Além dos canais citados existem ainda no Brasil os canais: AWiccaTV, Books e
Witches, Filho dos Deuses, Wicca Ipatinga, Wiccacomercial, Wicca Hoje, TV Wicca, Oficina
da Bruxa, Na casa da bruxa e Eddie Van Feu. Torna-se necessário ressaltar que antes do
início da pesquisa, no ano de 2015, quando a pesquisa ainda era um projeto que perpassava as
ideias da autora, existia um canal, cujo blog e loja já foram citados no presente trabalho,
denominado “Caverna da Bruxa”. Porém, durante a pesquisa de campo, notou-se que os
vídeos do canal haviam sido excluídos e só restaram dois, um sobre o blog e outro é um
tutorial de como fazer uma “cruz de Brigit”. Porém, não foi encontrado em lugar algum o
motivo da exclusão dos vídeos, nem a autora repondeu o e-mail enviado solicitando a
entrevista. O “caverna da bruxa” abordava, como os outros canais já citados, assuntos de
interesse aos bruxos e aos iniciantes, fabricação de objetos sagrados e como consagrá-los.
Sem dúvida alguma, ele possuía uma significação muito grande em relação à obtenção de
informações pelos wiccanos e até mesmo pelos curiosos que gostariam de aprender algo sobre
a religião. Pode-se observar na Imagem 9, disposta abaixo, um exemplo de canal do YouTube
especializado em Wicca:

59
Imagem 9 - Exemplo de canal no Youtube especializado em Wicca

Fonte: Youtube46
3.3 Entrevistas
As seguintes entrevistas foram realizadas de duas maneiras, de forma presencial ou de
forma virtual. As entrevistas presenciais ocorreram com pessoas que moram na cidade de
Teresina e que puderam dispor de um tempo para responder às questões relacionadas à
religião Wicca ligada ao ciberespaço. Foram entrevistados presencialmente um bruxo que
reside em Teresina e não está inserido em nenhum coven, o outro entrevistado é um jornalista
que produziu um documentário sobre paganismo e internet, mas que não é da religião Wicca.
Já as entrevistas virtuais, aconteceram com wiccans que não moram na cidade e que são tanto
consumidores como produtores de conteúdo na internet e com um praticante da religião que
mora na cidade, mas que não dispunha de tempo suficiente para encontrar-nos
presencialmente. Um dos entrevistados virtualmente possui uma página no Facebook sobre
Wicca e também é consumidor do conteúdo virtual da religião. Já a outra entrevistada, possui
um canal no YouTube e relatou-me sobre sua história com a religião e sobre seu canal. Ao
todo, foram entrevistadas 4 (quatro) pessoas pertencentes à religião em questão. Os nomes
apresentados serão fictícios para respeitar as questões éticas. Para cada entrevistado foi
entregue um termo livre e esclarecido, onde eles concordavam em participar e gravar a
entrevista (Anexo 1).
46
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xDhq_TEm7fQ> Acesso em: 13 de novembro de 2016,
18:52.
60
3.3.1 Entrevistas Presenciais
Foram realizadas duas entrevistas presenciais na cidade de Teresina. As duas
entrevistas foram gravadas em um arquivo de áudio através do celular. Essas entrevistas
seguiram um roteiro, onde foram elencadas questões pertinentes em relação ao que foi
pesquisado. Cada um dos dois entrevistados possuiu um roteiro diferente de perguntas, visto
que, o jornalista entrevistado não pertece à Wicca e Onata Nahimana é praticante da religião.
A primeira entrevista ocorreu no Instituto Camillo Filho no dia 16 de Novembro de
2016 às 18:30 e foi gravada em áudio com um bruxo, que preferimos identificá-lo como
Onata Nahimana, foi seguido um roteiro para a realização desta entrevista (Anexo 2).
Encontrei-o através do Facebook, procurei entre a minha lista de amigos quem acessava
páginas de Wicca e cheguei até meu primeiro entrevistado. Inicialmente enviei uma
mensagem pelo Facebook relatando a ele meu interesse em entrevistá-lo bem como os
objetivos da pesquisa. Assim, combinamos o local e horário de forma que fosse mais
conveniente para ele. Durante a entrevista, o entrevistado ressaltou a importância da internet
para a sua descoberta da Wicca: “E aí foi, na verdade, foi pela internet que eu comecei a
realmente reunir informações suficiente pra chegar assim: Nossa, que religião legal!”
(NAHIMANA, Onata, 2016). Quando o entrevistado foi indagado acerca da frequência com
que acessava esses sites de Wicca, ele respondeu que:

Eu costumava acessar muito blog mesmo de... Ahhh, tem uma, uma mulher que...
Eu já tinha, na verdade eu já tinha vários grupos no facebook de Wicca. E... Eu
costumava conversar bastante com o pessoal lá e tal. Eu tinha assim, meio que um
coven online... O mais mesmo era, nesses grupos de Facebook, Blogs, no site oficial
da Wicca. Também tinha um canal do Youtube, que eu, gostava (...) S.O.S Wicca.
(...) Mas era, mais nesses grupos de Facebook e eu também tive grupo de Whatsapp,
que eram os meus amigos mais íntimos, que eu consegui e a gente montou meio que
um covenzinho virtual e a gente trocava muita experiência, trocava... Conhecimento.
A gente vivia basicamente nisso, na troca de conhecimento. (NAHIMANA, Onata)
Sim, muito muito mesmo, porque o pessoal que eu encontrei aqui, nem sempre eu
me dava bem com eles. Então como eu tenho internet eu tive oportunidade de me
comunicar com pessoas do outro lado do Brasil, entendeu? As vezes do mundo.
Tinh.. Eu tenho um amigo que ele... Mora na Alemanha, ele é filho de... Não, ele é
da Malásia, desculpa e ele mora na Alemanha e ele também pratica vários rituais,
várias formas de Wicca, entendeu? E... Eu me comunicava, me comunico muito com
ele, é... De vez em quando sobre isso e a gente troca muita coisa. Tipo a gente é
amigo agora, entendeu? A gente fala sobre tudo, mas a gente troca muito
conhecimento também sobre religião e tal. (NAHIMANA, Onata)

A segunda entrevista presencial, ocorreu na Universidade Federal do Piauí, no dia 18


de Novembro de 2016 às 15:22, com um jornalista piauiense que realizou um documentário
acerca da religião e comunicação, denominado “Bruxaria e Paganismo na rede virtual”. Esta

61
entrevista seguiu um roteiro (Anexo 3). Tomei conhecimento do seu trabalho através da
Primeira Jornada de Estudos das Religiões, onde ele participou de uma mesa redonda
discutindo acerca da sua religião pagã denominada Piagas. É importante ressaltar que o
segundo entrevistado não faz parte da Wicca, ele apenas a estudou como uma religião pagã.
Segundo ele, a internet é uma importante ferramenta para religiões minoritárias, como a
Wicca, onde não existe um espaço físico para o encontro de seus membros:

É... Quando se fala de religião, especialmente religiões minoritárias, que não têm
espaço de culto, físico, digamos assim, não têm espaços consolidados de culto,
igrejas, capelas, templos ou até mesmo oratórios públicos, né? É... Você tem mais
uma dificuldade em promover encontros públicos entre essas pessoas. Então a
internet surge como uma válvula de escape. Como uma ferramenta(...) No caso das
religiões pagãs em geral, porque você não vai encontrar um lugar onde as pessoas:
“Ah, eu quero encontrar pagãos, eu vou pra lugar “X”, e você diz :” Ah, eu quero
encontrar outros evangélicos, eu vou prum show evangélico, que lá eu encontro”.
Não existe um lugar assim:” “Ah, eu quero encontrar um pagão e eu vou num lugar
tal e vou achar”. Num lugar que você vai achar é na internet, nos grupos de bate
papo (...). (RASHID, 2016)

O entrevistado também ressaltou o lado positivo e negativo da internet, conforme foi


indagado. Para ele, a internet facilitou o encontro de pessoas de uma mesma religião na cidade
de Teresina e principalmente no caso das religiões pagãs:

No Piauí, foi o contrário. O que aconteceu foi que a internet facilitou. Antes existia a
comunicação através de cartas, né? As pessoas se correspondiam através de cartas e
foi assim que surgiu. Antes o Orkut e depois... A primeira comunicação entre esses
grupos ocorreu por meio do Orkut, que foi a primeira rede social mais popular, né?
Então os jovens de Teresina, seus 18, 19 anos, começaram a se comunicar pelo
Orkut e foi através dessa comunicação do Orkut que foi possibilitado encontros
físicos, né? Os primeiros encontros físicos ocorreram por volta de... 2006, 2007.
Então esses grupos físicos só foram possíveis graças à internet. Então se não
existisse a internet seria impossível você saber da existência de outros com as
mesmas afinidades religiosas. (RASHID, 2016)

Quanto ao lado negativo do ciberespaço em relação ás religiões, o jornalista aborda a


questão da superficialidade de algumas informações que encontramos no espaço virtual, pois
alguém pode encontrar informações errôneas e acabar por considerar-se de determinada
religião sem ao menos saber nada dela. Além disso, ele citou a questão da autosuficiência, em
que muitos indivíduos acabam por acreditar que as informações da internet são verdades
absolutas e que não precisam de um mestre ou líder espiritual para guiá-los no caminho de
busca da magia:

62
O lado negativo da internet é que tem muita informação, às vezes falta o foco, pras
pessoas na busca dessas informações por falta de uma orientação e além disso há
muitas informações equivocadas, muitas informações que não são colocadas de
maneira correta e por estar na internet a pessoa tem aquilo como verdade,
especialmente os neófitos, ou seja, aqueles que tão começando agora. São chamados
de neófitos, ou estudantes, ou curiosos, que estão começando agora, não tem a outra
pessoa mais experiente pra orientar, acha aquilo, tem aquilo como verdade e acaba
fazendo coisas que na verdade não são, não é pregadas, digamos assim pelo dogma
da religião. E a falta de uma convivência mais física, impede que essa pessoa vá
além daquelas informações rasas e superficiais que estão na internet. A internet
provoca também um comodismo e um conformismo, né? Porque é um conformismo
com aquelas informações que tão ali, aquela que é de forma limitada e superficial.
Você acaba se conformando e não indo mais atrás e o comodismo de achar que “ah,
eu não preciso de contato físico, eu sou autosuficiente, né? Essa autosuficiente,
autosuficiência, ás vezes prejudica muito o caminho da busca da magia, porque é um
caminho de trilha, de estudo constante, porque todas as religiões pagãs, as religiões,
é... minoritárias por não ter uma... é... é... como se diz, uma facilidade de acesso no
plano físico, o virtual tem muita informação. Então as vezes prejudica você saber
por onde começar. Vai em qualquer site e as vezes o primeiro site que você encontra
não é tão confiável, o primeiro grupo de pessoas que você encontra na internet
também não é muito confiável. E a gente vê muitos jovens, NE? A maioria que, a
maioria dessa movimento ele é composto por jovens, entre 18, ás vezes até menores
de idade, na faixa dos seus vinte e poucos anos. Então por falta de uma orientação
também, alguns acabam, é... Encontrando informações erradas.(RASHID, 2016)
3.3.2 Entrevistas Virtuais
Denomino entrevistas virtuais aquelas que foram realizadas através de meios virtuais
que pudessem me conectar aos entrevistados. A primeira entrevista realizada foi por e-mail. O
entrevistado, Kally, preferiu responder o roteiro (Anexo 2) que desenvolvi e me mandar suas
respostas através de e-mail no dia 6 de Dezembro de 2016 às 14:19. O entrevistado foi
encontrado por mim através de Rashid, que após a entrevista me orientou a contactar Kally.
Ele possui uma página sobre a Wicca no Facebook e tem projetos de fazer um canal no
YouTube e um blog denominado Wicca e Bruxaria Brasil, que é o mesmo no da página.
Quando indagado como conheceu a Wicca, ele respondeu:

Através das redes sociais, facebook e Youtube. Certa tarde, eu observei umas
publicações muito estanhas de um amigo no facebook, onde ele defendia um pouco
sobre sua crença. Curiosamente perguntei qual era sua religião, e ele me respondeu
dizendo que era a Wicca. Confesso que nunca tinha ouvido ou lido esse nome antes,
decidi pesquisar no Google mais informações. Achei estranho no começo, mas
decidi participar de grupos sobre os assuntos, e cada vez que lia e pesquisava mais
eu me apaixonava pela religião. O mais legal foi as experiências que tive dentro
dela, coisas fantásticas que não aconteciam comigo quando fui cristão. Percebi que
era aquilo que de fato me preenchia e me satisfazia. (KALLY, 2016)

Além disso, o entrevistado afirmou que utiliza sua página para auxiliar outras pessoas
que estão iniciando na Wicca e tirar dúvidas a respeito da religião.

Para ajudar aqueles que precisam de apoio nas pesquisas, duvidas entre outros
assuntos sobre a Religião, decidi fundar em 3 Novembro de 2014 um grupo no
63
facebook, chamado Wicca, Magia e Bruxaria Brasil, hoje contamos com uma faixa
de dezoito mil membros e de oito administradores. Todos são bem-vindos ao grupo,
não importa a crença ou fé, porém deve-se sempre manter respeito aos demais
membros. Um ano após sua criação, o grupo também recebeu uma pagina no
Facebook que possui mesmo nome. Nosso próximo projeto para o ano de 2017 será
a inclusão de um canal no Youtube e um Blog exclusivo a Religião. (KALLY, 2016)

Sobre o espaço físico, o entrevistado falou que organiza encontros na cidade de


Teresina denominados “Open Wicca”.

Organizo e promovo em Teresina um evento chamado Open Wicca (Wicca aberta


em português), onde nele, eu e outros wiccanos realizamos debates e aulas para
quem não é Wiccano, mas que tem curiosidades sobre a religião. O evento embora
seja aberto, temo algumas restrições aos convidados, para participar do evento é
necessário ser convidado por um membro do grupo, onde é informado o local, data e
hora do evento. Os locais que escolhemos para as reuniões desse evento são Parque
Da Cidade e Parque Da Cidadania, pois como já disse, a natureza é o nosso templo
então as reuniões são realizadas em locais aberto e de contato com a natureza.
(KALLY, 2016)

A segunda entrevista virtual foi realizada através de um mensageiro instantâneo


denominado Whatsapp. A partir dele, a entrevistada, que possui um canal no YouTube
especializado em Wicca, blog e uma página no Facebook, enviaram-me por áudio suas
respostas em relação ao roteiro (Anexo 4) que elaborei para a realização da entrevista.
Encontrei-a porque já havia assistido seus vídeos no YouTube e resolvi enviar um e-mail
abordando meu interesse para entrevistá-la em minha pesquisa. A sacerdotisa prontamente
respondeu-me e escolheu como ambiente de entrevista o aplicativo Whatsapp. O roteiro foi
enviado por e-mail juntamente com o termo de consentimento para ser assinado. Alguns dias
depois foi enviado para meu e-mail o termo assinado e recebi pelo Whatsapp um arquivo de
áudio com as respostas da entrevistada. Red respondeu quando indagada sobre a existência de
um espaço físico afirma que “não possuo espaço físico. Realmente, tudo online. Meus cursos
são online, consultas esotéricas, de tarot. É tudo de forma virtual” (RED, 2016)
Ela afirma que no meio virtual já encontra-se “(...) há quase cinco anos, desde 2012. O
canal do youtube foi criado no dia 5 de Maio de 2012. Então já são aí quase cinco anos
mesmo” (RED, 2016). Sobre o motivo para a criação do canal: “O meu motivo de criar o
canal no Youtube foi realmente despretencioso. Foi pra... encontrar outros irmãos da arte, pra
encontrar outros... Wiccanianos e eu... não poderia imaginar as proporções que viriam na
sequência disso.” (RED, 2016). Sobre o número de acessos em seus sites:

64
O site onde eu ministro os cursos tem em torno de 100 a 200 acessos diários,
segundo a última base que... que a administração do site me passou. O Youtube tem
em torno de 1000 a 2000 acessos diários no canal. O vídeo de maior visualização.
Acredito que dois ou três vídeos foram os que mais tiveram visualizações. Um é o
vídeo de dicas mágicas que eu dou sobre dicas práticas do dia a dia, de proteção, de
prosperidade, o vídeo onde eu explico da impossibilidade total e absoluta de se
haver a Wicca cristã, que... muita gente acha possível existir Wicca cristã e isso é
impo... É um paradoxo já que a Wicca é pagã. Então esse vídeo também teve muitas
visualizações. (RED, 2016)

Quando pergunto sobre seu público alvo, a sacerdotisa afirma: “(...) Se for colocar em
faixa etária, deve estar entre a faixa dos 14 aos 40 anos (...) Temos muito... muitos
adolescentes inscritos no canal, mas a maioria dos meus alunos já é mais madura.” (RED,
2016) .
A última entrevista realizada ocorreu com Tito, residente da cidade de Parnaíba no
estado do Piauí. Conheci este entrevistado por indicação de uma das outras pessoas que
entrevistei, solicitei que ele me enviasse a assinatura junto ao termo de consentimento que
mandei previamente. Tito respondeu-me as perguntas através do aplicativo Whatsapp, onde
indaguei-lhe assuntos presentes no roteiro que elaborei (ANEXO 2). Ele afirmou que entrou
em contato com a Wicca através “de sites pagãs e através do tempo do Yahoo” (TITO, 2016).
Além disso, ele considera a internet como importante, pois a partir dela “nós podemos trocar
informações e também tirar dúvidas em certos assuntos sobre Wicca” (TITO, 2016). A
entrevista ocorreu de maneira rápida e não foi tão elaborada quanto às outras, foi a última
entrevista, pois por conta da profissão de Tito, tivemos que adiá-la diversas vezes, porém,
enriqueceu ainda mais o conteúdo presente no trabalho.

65
4 PRODUTORES E CONSUMIDORES DA RELIGIÃO WICCA NO CIBERESPAÇO:
ANALISANDO RESULTADOS
Diante de todos os dados coletados durante as entrevistas, deve-se tomar como base o
fato de que os entrevistados mostraram dois dados em comum em relação à sua religião “de
origem”, que é a religião à qual foram criados na infância e em relação aos estados civís
atuais. Dessa forma, será apresentado a seguir um quadro com a reunião de todos os dados
estatísticos obtidos durante estas entrevistas. É importante ressaltar que o entrevistado Rashid
não será incluído na análise de dados, pois ele não é participante da religião Wicca, ele foi
entrevistado com o propósito de abordar o ciberespaço em relação a religiões pagãs.
Tabela 6 - Comparativo entre os resultados obtidos nas entrevistas
Religião Estado
Entrevistados Idade Sexo Cidade Cor
ant. civil
Onata
21 Masc. Teresina Catolicismo Solteiro Pardo
Nahimana
Kally 21 Masc. Teresina Catolicismo Solteiro Negro
Não
Red 30 Fem. Catolicismo Solteira Caucasiana
informada
Tito 33 Masc. Parnaíba Catolicismo Solteiro Negro
Fonte: Elaboração do autor
Tomando como base os dados obtidos, pode-se afirmar que todos os entrevistados
participantes da religião Wicca são solteiros e a sua religião anterior, à qual foram criados é o
catolicismo. Segundo Kally “grandes partes dos wiccanos nasceram em lares cristãos”. Isso
corrobora com o comentário de Onata Nahimana, que afirma que “eu era católico antes, como
toda criança que nasce aqui basicamente”. Além disso, Red falou que “na infância minha
religião era o catolicismo, por conta dos meus pais”. Tito também pertencia ao catolicismo
antes de migrar para a Wicca e afirmou que não se encaixava na religião católica. Como
relatado pelos entrevistados, suas infâncias foram marcadas pela religião católica. Isso deve-
se ao fato de o Brasil ser um país predominantemente católico, cerca de 64,6%, em 2010,
segundo dados obtidos no site do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

66
Imagem 10 - Estatistica IBGE

Fonte: IBGE47
O fato dos entrevistados migrarem do catolicismo para a Wicca deve-se à causa de não
sentir-se à vontade ou não concordar com as ideias do catolicismo. Para Red, ela descobriu a
religião Wicca com 18 anos, mas ela já possuía um contato com a magia, só não sabia como
denominar esse sentimento. Segundo Kally: “Aos catorzes anos de idade parei de ir as missas,
não tinha mais desejo e não sentia mais prazer naquilo que eu praticava ali.”. Assim também
ocorreu com Onata Nahimana, ele migrou da religião católica:

(...)porque eu vi que a religião que eu estava não tinha muito a ver comigo. Eu não
me identificava. Era uma religião assim que viaaa. Ela se baseava muito assim na
culpa, na... (silêncio) Tipo no sofrimento, entendeu? Ta, e eu não via o mundo
daquela forma, eu via ele de outra forma. Eu via ela como uma coisa mais... Mais
mágica, mais... feliz, mais viva, entendeu? Sendo que a religião que eu tava antes era
mais centrada mesmo na morte e pronto! E sofrimento e tal, e aí não, eu achava,
tinha muita coisa que eu achava... hipócrita, sabe? Então eu comecei a pensar e aí eu
comecei a ter outras experiências e aí eu comecei a pesquisar sobre as coisas, ler e
me informar e aí eu achei essa religião na qual eu me encaixava, eu me sentia bem
nela e aí eu mudei. (NAHIMANA, Onata, 2016)

Seguindo outros dados da tabela, percebe-se que dois dos entrevistados possuem em
comum a idade de 21 (vinte e um) anos, já a sacerdotisa possui 30 (trinta) anos, tem-se assim
a diferença de idade de 9 anos. Essa diferença deve-se ao fato de a entrevistada possuir um
cargo considerado elevado na religião Wicca, ou seja, ela precisa possuir uma experiência
maior para tornar-se sacerdotisa. Já o entrevistado Tito, possui 33 (trinta e três) anos, na

47
Disponível em: <https://www.exame.abril.com.br> Acesso em: 30 de dezembro de 2016, 10:32.
67
entrevista que me concedeu, não me informou acerca da sua posição na hierarquia wiccana, o
que talvez iria corroborar ou contradizer com a afirmação que concluí a partir da situação de
Red. Perpassando a análise da tabela, devemos tomar também como base para traçar o perfil
da Wicca a fala de Red. Ela afirmou que seu público no YouTube é na sua maioria formado
por adolescentes. Porém, esse dado não traz à tona a informação de que todos esses
adolescentes fazem parte da religião, podem ser curiosos ou até mesmo pessoas que
inscrevem-se no canal e acabam por abandonar a prática de assisti-lo. Porém, segundo ela: “a
maioria dos meus alunos já é mais madura”. Isso ocorre também porque para ingressar na
Wicca, a pessoa precisa ser maior de idade. Quanto à cor dos entrevistados percebemos que há
uma diversidade, temos pardo, negro e caucasiano. Essa diversidade de cores deve-se pelo
fato da Wicca ser uma religião, apesar de ter originado na Europa, bastante abrangente, pois
aos olhos dos Deuses todos são iguais, não há distinção entre cores, orientação sexual ou
idade. Quanto ao gênero dos entrevistados, percebemos que 3 (três) deles são do sexo
masculino e uma delas é do sexo feminino. Na cidade de Teresina, quando fiz a busca por
participantes da Wicca, encontrei apenas homens. Porém, observando através dos canais do
YouTube percebi que a maioria das apresentadoras são mulheres. Podemos observar isso na
seguinte tabela, que mostra o nome do canal do YouTube e ao lado o sexo do(a)
apresentador(a):
Tabela 7 - Gênero correspondente aos apresentadores(as) dos canais de Wicca no Youtube.

S.O.S Wicca Feminino


Wicca TCS Feminino
Gato Místico Feminino
Naturalmente Bruxa Feminino
A Wicca TV Masculino
Books and Witches Feminino
Filho dos Deuses Masculino
Wicca Ipatinga Feminino
Wiccacomercial Feminino e Masculino
Wicca Hoje Masculino
TV Wicca (Feitiço Correto) Feminino e Masculino
Oficina da Bruxa Feminino
Na Casa da Bruxa Feminino
Eddie Van Feu Feminino
Fonte: Elaboração do próprio autor.

68
Observa-se a partir da tabela que há uma predominância de mulheres com canais no
YouTube referente à Wicca. De um total de 14 (catorze) canais, 3 (três) desses canais possuem
homens como apresentadores. Já, em contrapartida, 9 (nove) deles possuem mulheres como
apresentadoras. Desses canais apresentados, dois deles são apresentados tanto por homens
como por mulheres. A predominância do sexo feminino em canais do YouTube e na religião
Wicca em geral, deve-se ao fato da valorização do feminino pela religião, o que acaba por
atrair mais mulheres como adeptas.
Após analisar esses dados, parte-se para o fato de como esses entrevistados entraram
em contato com a Wicca. O que serviu de instrumento para tecer essa ligação entre o
indivíduo entrevistado e a religião em questão? Segundo Tito, ele entrou em contato com essa
religião “através de sites pagãs e através do tempo do Yahoo”, meio virtual no qual ele está
presente há 14 (catorze) anos. Além disso, Onata Nahimana afirmou que: “foi, na verdade, foi
pela internet que eu comecei a realmente reunir informações suficiente pra chegar assim:
Nossa, que religião legal!”. Para Kally, a religião Wicca foi descoberta por ele pelos seguintes
meios:

Através das redes sociais, facebook e Youtube. Certa tarde, eu observei umas
publicações muito estanhas de um amigo no facebook, onde ele defendia um pouco
sobre sua crença. Curiosamente perguntei qual era sua religião, e ele me respondeu
dizendo que era a Wicca. Confesso que nunca tinha ouvido ou lido esse nome antes,
decidi pesquisar no Google mais informações. Achei estranho no começo, mas
decidi participar de grupos sobre os assuntos, e cada vez que lia e pesquisava mais
eu me apaixonava pela religião. (...). (KALLY, 2016)

A entrevistada Red afirmou que já possuía contato com a religião Wicca antes de
descobri-la, pois gostava da natureza, acreditava na existência de Deuses e no Sagrado
feminino. Assim, ela não deixou claro na entrevista por quais meios passou a ingressar na
religião, se foi por livros, coven ou internet. Porém, tendo como base a resposta dos dois
entrevistados, chegamos a uma conclusão de que o espaço virtual, nesse caso, as redes sociais
virtuais, é um importante meio para a difusão da Wicca, pois foi a partir dele que a maioria
dos entrevistados descobriu a religião em questão e começou a conhecer suas práticas e
fundamentos.
Quanto à existência de um espaço físico para as práticas religiosas, Kally afirmou que:
“Para as minhas práticas, geralmente realizo todo trabalho em casa, tanto o culto aos meus
Deuses quanto as meditações, geralmente quando estou só ou quando não há barulhos ou
interrupções.” (KALLY, 2016). Além disso, ele organiza e promove “em Teresina um evento

69
chamado Open Wicca (Wicca aberta em português), onde nele, eu e outros wiccanos
realizamos debates e aulas para quem não é Wiccano, mas que tem curiosidades sobre a
religião.” (KALLY, 2016). Onata Nahimana, quando indagado se praticava sua religião em
espaços físicos respondeu que:

“Na verdade, eu não tenho um es... Tipo, eu tenho, porque eu tenho meu altar em
casa e eu pratico as minhas coisas na minha casa e tal, ás vezes, muito raramente,
mas ás vezes eu vou lá no bosque e tudo... Como é o nome do daqui? O zoobotanico
e tals, porque lá tem muita árvore, muito verde. Lá em casa também como tem muita
planta, tem muito verde, eu me sinto a vontade, entendeu? E é a minha casa, pra
fazer os meus rituais, pra fazer as minhas preces e tal.” (NAHIMANA, Onata, 2016)

A sacerdotisa entrevistada quando questionada acerca do mesmo assunto afirmou que


“não possuo espaço físico. Realmente, tudo online. Meus cursos são online, consultas
esotéricas, de tarot. É tudo de forma virtual” (RED, 2016). Assim, percebe-se que os dois
wiccanos entrevistados não restringem-se apenas ao espaço virtual, a internet é a principal
ferramenta de contato deles com a religião, porém não é a única, pois eles também realizam
seus rituais através de um espaço físico e o entrevistado Kally realiza encontros entre os
participantes da religião.
Analisando um pouco mais em relação à questão da internet relacionada à Wicca,
temos uma resposta bastante satisfatória em relação ao uso da internet para o contato
constante com essa religião. Onata Nahimana afirma que tinha o costume de acessar: “ grupos
de Facebook, Blogs, no site oficial da Wicca. Também tinha um canal do YouTube, que eu,
gostava (...) SOS Wicca”. O entrevistado também afirmou que possuía uma espécie de coven
virtual: “(...) Mas era, mais nesses grupos de Facebook e eu também tive grupo de Whatsapp,
que eram os meus amigos mais íntimos, que eu consegui e a gente montou meio que um
covenzinho virtual e a gente trocava muita experiência, trocava... Conhecimento. A gente
vivia basicamente nisso, na troca de conhecimento.”. A partir dessa afirmação, descobre-se
um novo termo proferido pelo entrevistado “coven virtual”. O coven é um espaço onde os
wiccanos encontram-se para realizar seus rituais, interagir e festejar. Nesse caso, Onata
Nahimana encontrou em seu grupo no aplicativo Whatsapp uma forma de trocar informações
sobre a Wicca e de sentir-se acolhido enquanto integrante da religião. O entrevistado Kally,
afirmou sobre a importância da internet:

A internet hoje é o maior meio de comunicação existente, sendo assim nós também
usamos ela para nos comunicar, tirar dúvidas, agendar encontro, etc. Estamos

70
sempre online em grupos no Facebook ou Whatsapp. Nós usamos e abusamos do
bom humor, então sempre dizemos que os itens indispensáveis aos wiccanos são o
caldeirão, velas, incensos, pentagramas, grimório, um celular ou computador.
(...)Desde os meus doze anos de idade, mas após ter conhecido a Wicca, passo mais
tempo em redes sociais, principalmente na pagina e grupo que eu administro. Estou
sempre online, enviando arquivos para ajudar o caminho e desenvolvimento dos
iniciantes na religião, constantemente estou recebendo e respondendo emails,
mensagens de duvidas no facebook e Whatsapp, pedidos de dicas, orientações.
(KALLY, 2016)

A sacerdotisa entrevistada afirmou, como já citado anteriormente, que “o meu motivo


de criar o canal no YouTube foi realmente despretencioso. Foi pra... encontrar outros irmãos
da arte, pra encontrar outros... Wiccanianos e eu... não poderia imaginar as proporções que
viriam na sequência disso.” (RED, 2016). Assim, Ela criou o canal com a finalidade de se
comunicar e interagir com outros participantes da religião. Isso demonstra que Red enxerga
nas redes sociais virtuais, assim como os outros entrevistados, uma forma de interação com os
outros wiccanos
Quando perguntei sobre a importância da internet, no caso dos blogs, páginas de
Facebook, canais de YouTube, para a difusão e a interação entre pessoas de uma mesma
religião, o jornalista Rashid respondeu:”É... Quando se fala de religião, especialmente
religiões minoritárias, que não têm espaço de culto, físico (...) É... Você tem mais uma
dificuldade em promover encontros públicos entre essas pessoas. Então a internet surge como
uma válvula de escape. (...)”. Porém, ele apontou algumas desvantagens da utilização do
ciberespaço para a difusão e interação entre pessoas de uma mesma religião:

O lado negativo da internet é que tem muita informação, às vezes falta o foco, pras
pessoas na busca dessas informações por falta de uma orientação e além disso há
muitas informações equivocadas, muitas informações que não são colocadas de
maneira correta e por estar na internet a pessoa tem aquilo como verdade,
especialmente os neófitos, ou seja, aqueles que tão começando agora. São chamados
de neófitos, ou estudantes, ou curiosos, que estão começando agora, não tem a outra
pessoa mais experiente pra orientar, acha aquilo, tem aquilo como verdade e acaba
fazendo coisas que na verdade não são, não é pregadas, digamos assim pelo dogma
da religião. E a falta de uma convivência mais física, impede que essa pessoa vá
além daquelas informações rasas e superficiais que estão na internet. A internet
provoca também um comodismo e um conformismo, né? Porque é um conformismo
com aquelas informações que tão ali, aquela que é de forma limitada e superficial.
Você acaba se conformando e não indo mais atrás e o comodismo de achar que “ah,
eu não preciso de contato físico, eu sou autosuficiente, né? Essa autosuficiente,
autosuficiência, ás vezes prejudica muito o caminho da busca da magia, porque é um
caminho de trilha, de estudo constante, porque todas as religiões pagãs, as religiões,
é... minoritárias por não ter uma... é... é... como se diz, uma facilidade de acesso no
plano físico, o virtual tem muita informação. Então as vezes prejudica você saber
por onde começar. Vai em qualquer site e as vezes o primeiro site que você encontra
não é tão confiável, o primeiro grupo de pessoas que você encontra na internet
também não é muito confiável. E a gente vê muitos jovens, né? A maioria que, a
maioria dessa movimento ele é composto por jovens, entre 18, ás vezes até menores
71
de idade, na faixa dos seus vinte e poucos anos. Então por falta de uma orientação
também, alguns acabam, é... Encontrando informações erradas. (RASHID, 2016)

Observa-se a partir dos dados bibliográficos e das entrevistas coletas, que a religião
Wicca está ligada diretamente ao ciberespaço. A sua divulgação faz parte do meio virtual. É
por meio de canais no YouTube, blogs, páginas no Facebook que mais pessoas descobrem a
religião e interessam-se para estudá-la ou até mesmo para adentrar um coven. Além disso,
esses sites são um importante meio para a troca de informações entre seus participantes. O
aplicativo Whatsapp também mostrou-se muito presente na vida dos entrevistados, revelando
que estes grupos estão crescendo e fazendo parte da nossa rede virtual cada vez mais.

72
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde o início da pesquisa senti-me tímida em reconhecer meu lugar em relação ao
tema proposto. O próprio fazer científico deixou-me receosa nesta questão. Nós, cientistas,
somos constantemente coagidos a não utilizar termos como “eu” ou não exprimir
acontecimentos pessoais. Porém, a atividade antropológica me fez passar por uma
transformação, pois para colocar-se no lugar do outro devemos fazer essa imersão. Deixar
“ser afetado” não é nenhum erro ou crime antropológico. Segundo Favret-Saada (1990):

(...) Quando um etnógrafo aceita ser afetado, isso não implica identificar-se com o
ponto de vista nativo, nem aproveitar-se da experiência de campo para exercitar seu
narcisismo. Aceitar ser afetado supõe, todavia, que se assuma o risco de ver seu
projeto de conhecimento se desfazer. (...) Mas se acontece alguma coisa e se o
projeto de conhecimento não se perde em meio a uma aventura, então uma
etnografia é possível. (FAVRET-SAAD, 1990, p. 160)

A citada autora, ao realizar uma pesquisa sobre feitiçaria no Bocage francês, deixou-se
afetar pela feitiçaria, ou seja, disseram-na que estava enfeitiçada. Assim, ela encontrava-se no
lugar do nativo estudado. No caso da minha pesquisa, que relaciona a religião Wicca com o
ciberespaço brasileiro, iniciei tentando tornar-me distante do assunto, olhando como uma
pesquisadora que eu acreditava que deveria ser. Porém, quando pude perceber, estava
assistindo vídeos do YouTube de um canal de Wicca pesquisado por ter me “familiarizado”
com a apresentadora do canal. Além disso, as interações que tive a oportunidade de ter com
ela fizeram-me aproximar de seu conteúdo por me proporcionar a sensação de ter por perto
alguém que podia ouvir para sanar a solidão. Dessa forma, não me tornei uma participante da
religião Wicca, mas ainda assim uma consumidora de conteúdo sobre a religião Wiccana no
ciberespaço. O próprio fato de precisar acessar páginas de Wicca no Facebook, Blogs e canais
no YouTube, tornou-me uma consumidora e participante dessa rede que compartilha
conteúdos.
A partir desta pesquisa percebo que a religião Wicca abre portas para o estudo de
diversos campos, inclusive a questão de gênero, pois percebe-se o empoderamento feminino
relacionado ao culto à grande Deusa. Reconheço a importância desses estudos para a
sociedade, bem como sua correlação. Porém preferi ater-me ao estudo da citada religião no
ambiente virtual brasileiro, que configura-se como seu principal cenário de difusão. Porém,
um fato me desapontou, apesar de ter sido bem acolhida pelos wiccanos, apenas uma
Youtuber wiccana respondeu à minha solicitação de entrevista. Isso justifica o fato do número
de administradores de canais do YouTube entrevistados ser tão pequena. Além disso, não
73
obtive resposta de administradores de sites Wiccanos também para a realização de entrevistas.
O número de entrevistados, no total, mostrou-se limitado. Ainda assim, foram postos
resultados inferidos através das respostas obtidas, que nos revelaram a internet como uma
ferramenta bastante importante e utilizada pelos wiccanos.

74
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78
Anexo 1 – Termo de consentimento
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Tel.¨(86) 3215-5780
Emails: ccsociaais@ufpi.ed.br

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Sr (ou a Sra) ________________________________________________________________

Está convidado para participar da pesquisa sobre Religião Wicca no ciberespaço:


fundamentos, rituais, símbolos e interação online.

Você foi escolhido para um importante estudo que visa compreender de que forma a
religião Wicca se comporta no ciberespaço, observando assim seus fundamentos, rituais e
símbolos.

A pesquisa tem como objetivos analisar o conteúdo religioso, em discussão, que está
disposto no espaço online, destacando seus fundamentos, rituais e interação entre os adeptos.
Além disso, Identificar e descrever no ciberespaço os blogs, sites e chats que tratam sobre a
religião wicca, analisando sua dinâmica com os usuários.

Sua forma de participar dessa pesquisa é autorizando a realização de uma ou mais


entrevistas que esclareçam sobre o site ou canal no Youtube que você administra/acessa/
participa, bem como sua experiência com a religião Existe um roteiro de entrevistas e ampla
liberdade para responder ou não a quaisquer perguntas que sejam feitas. Caso haja
consentimento, a entrevista será gravada e os dados mantidos sob sigilo. Você poderá desistir
de participar em qualquer momento, por qualquer razão, bastando para tal nos comunicar a
desistência, sem que haja nenhuma consequência agora ou no futuro. Nenhuma das
informações dadas ou das observações feitas durante a pesquisa será fornecida para outras
pessoas fora da pesquisa. Será mantido absoluto sigilo da identidade pessoal.
Nós pesquisadores do DCIES/UFPI estaremos atentos para evitar riscos, mantendo um
diálogo franco, garantindo cuidados de proteção a imagem, combinando previamente como e
quando a entrevista será feita. A pesquisa poderá produzir benefícios ao propor a divulgação
de seus sites, canais do Youtube ou lojas. Este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido é
redigido em duas vias, sendo que uma ficará com você, o entrevistado, e a outra com o
pesquisador.

Estou suficientemente esclarecido e dou consentimento para participar das entrevistas da


pesquisa
Assinatura do entrevistado ______________________________________________

79
Estou suficientemente esclarecido e dou consentimento para que as entrevistas sejam
gravadas.
Assinatura do entrevistado ______________________________________________

Local_____________________________________ Data ______________________

Assinatura do pesquisador
____________________________________________________________________

Em caso de duvida ou reclamação contatar a pesquisadora Francisca Verônica Cavalcante, na


UFPI, pelo telefone (86) 3215-5781, coordenação do curso de Ciências Sociais ou PPGAnt ,
telefone (86) 3237-2152 situado no endereço ....

CEP. / Tel e Fax - (86)

Mail :

Teresina, .... , de.... de 2014.

_______________________________________
Francisca Verônica Cavalcante
Orientadora da Pesquisa ...
Programa de Pós-Graduação em Antropologia
Departamento de Ciências Sociais
Universidade Federal do Piauí

80
Anexo 2 – Roteiro elaborado para a entrevistados que não possuem canal no Youtube
Nome
Endereço
Idade
Cor
Estado civil
Qual a Profissão?
Trabalha onde?
Que cargo ocupa?
Religião atual
Possui religião anterior? (se existiu porque mudou),
Como entrou em contato com a religião Wicca?
Acessa algum site sobre Wicca (blogs, facebook ou YouTube)? Com que frequência?
Qual a importância da internet para a comunicação entre os Wiccans?
Quanto tempo frequenta o espaço virtual?
Possui espaço físico para a prática da religião?

Anexo 3 – Roteiro elaborado para a entrevista com Rashid


Qual a importância da internet para uma religião?
Qual o lado positivo e o lado negativo da internet para as religiões pagãs?
A internet facilita a existência de um espaço físico ou atrapalha?

Anexo 4 – Roteiro elaborado para entrevistados que possuem canal no Youtube


Nome
Idade
Cor
Estado civil
Religião atual
Possui religião anterior?( se existiu porque mudou),
Como entrou em contato com a religião Wicca?
81
Qual a Profissão?
Quanto tempo frequenta o espaço virtual?
Possui espaço físico para a prática da religião (coven)?
Quando criou o blog ou canal do Youtube?
Qual o motivo para criar o canal no Youtube?
Quantos acessos diários possui o site?
Quantos acessos diários possui seu canal no Youtube?
Qual o seu vídeo que obteve mais visualizações no Youtube?
Qual o perfil do seu público?
Você está cumprindo seu objetivo inicial (o que propunha no início do canal)?

82

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