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SIST1 - Providencia Secreta - Resumo

Deus criou todas as coisas boas, mas permitiu que o homem caísse no pecado. Calvino acredita que a queda de Adão foi decretada por Deus em seu desígnio secreto, para que Sua misericórdia e justiça fossem reveladas através da salvação dos eleitos. Castellio discorda, argumentando que Deus, como pai amoroso de todos, não poderia ter criado alguém para a destruição. Calvino responde que a vontade de Deus é sábia e justa, embora misterios
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SIST1 - Providencia Secreta - Resumo

Deus criou todas as coisas boas, mas permitiu que o homem caísse no pecado. Calvino acredita que a queda de Adão foi decretada por Deus em seu desígnio secreto, para que Sua misericórdia e justiça fossem reveladas através da salvação dos eleitos. Castellio discorda, argumentando que Deus, como pai amoroso de todos, não poderia ter criado alguém para a destruição. Calvino responde que a vontade de Deus é sábia e justa, embora misterios
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Providência Secreta de Deus

Organizador: Paul Helm

INTRODUÇÃO (de Paul Helm)

- Descrição da Obra:

A obra original foi produzida por João Calvino em latim. Possui duas partes: uma carta do
“caluniador” (Castellio), com catorze artigos, e a refutação de Calvino a cada um dos artigos. A
primeira parte consiste de uma carta com catorze artigos, que alegadamente contém o ponto de vista
de Calvino, e comentários do autor anônimo (o “caluniador”) sobre cada artigo. A carta, em terceira
pessoa, apresenta os artigos (como se preparados por outros, e não pelo próprio “caluniador”) e
desafia Calvino a refutá-los, como se o “caluniador” estivesse preocupado com a compreensão do
público leigo e a reputação de Calvino.

Calvino, implicitamente, reconhece esse “caluniador” como sendo Sebastian Castellio.

- Sebastian Castellio (1515-1563):


Foi amigo de Calvino por volta de 1540.
Foi reitor da Universidade de Genebra até 1544.
Não se submetia às autoridades.
Quis traduzir a Bíblia para francês (condenava Cântico de Cânticos).
Calvino foi seu consultor com relutância → surge antipatia.
Depois de idas e vindas, permaneceu na Basileia → Bíblia em Latim e Bíblia em Francês.

Após morte de Serveto (1553), adotou pseudônimos: Martinus Bellius e Basilius Monfort
Passou a objetar Calvino publicamente espalhando textos.

A época provia pouca oportunidade para o exercício da tolerância.

Castellio, por criticar a perseguição a Serveto, é considerado precursor da moderna defesa da


tolerância religiosa.

- A resposta de Calvino a Castellio é de interesse teológico e filosófico, pois aproxima-se do método


disputatio: apresenta cada artigo original e o refuta.

- Os catorze artigos abordam temas repetidos e interligados:


- Castellio reduz as distinções entre Providência Secreta Particular e Superintendência Geral de Deus.
- Castellio subordina Providência à “Presciência” (entre aspas pois Castellio enfraquece o conceito de
Calvino).
- Para Castellio, a “Presciência” é o conhecimento do que acontecerá em virtude das escolhas
humanas e não do que decretou.
- Para Castellio: a distinção entre vontade permissiva e decreto são apenas nominais (levando à
conclusão de que Deus deseja o mal exatamente como deseja o bem, sendo responsável por ambos).
- Para Calvino há duas vontades (decretada/secreta e ordenada/revelada).
Essas duas vontades são aspectos da vontade una de Deus.
- Castellio pensa “pura” Providência (pontuais) e “mera” Presciência (apenas saber, sem decretar) e,
assim, ignora distinções fundamentais da visão de Calvino.
- Calvino não pode demonstrar como o que não é ordenado por Deus também pode ser sua vontade.
Castellio prefere seguir a razão e resolver o assunto, enquanto Calvino segue a Palavra e aceita o
mistério.
- Paul Helm: A doutrina das duas vontades não principiam com Calvino, mas fazem parte da agenda
medieval (distinção entre o bom prazer de Deus e a vontade de sua permissão).
- Calvino: As imoralidades dos homens ⇒ Providência Particular, isto é, em cada evento do mundo
(Deus proíbe o engano, mas Jesus foi traído).
- Calvino: A Permissão de Deus é Particular/Voluntária (para cada ato) e não geral/”mera” permissão.
- Castellio sugere usar o bom senso (senso comum) e abandonar as seguintes ideias: permissão
voluntária; duas vontades; presciência divina como poder causal.
Calvino critica o uso do senso comum, dado que a Palavra ensina que nosso entendimento é
corrompido e incapaz de nos levar à verdade.
- Calvino: distinção entre permissão voluntária e simples permissão. Deus decreta uma intenção má
que não lhe é própria / a intenção de Deus no decreto do mal não é má.
- Castellio reduz a vontade de Deus como sendo apenas conhecer as escolhas das pessoas.
- Castellio tem abordagem espistemológica falha:
- Uso de analogias para interpretar as Escrituras (sentido errado: analogia → Escritura).
- Intolerância quanto ao mistério ou irresponsabilidade (não-responsabilização) dos caminhos
de Deus.
-Calvino ao responder as dúvidas sobre como Deus age:
- afirma o significado e verdade das Escrituras.
- não aplica analogias a Deus.
- afirma o mistério dos caminhos de Deus.
- Livro tréplica de Castellio (“Harpago...”) contribuiu para surgimento dos Remonstrantes.

- Castellio e Jacó Arminio:


- Presciência: simples saber todas as decisões que as pessoas tomarão.
- Deus e o mal: seguir o “bom senso” e refutar ideias calvinistas para não atribuir a Deus a
origem do mal.
- Duas Vontades: rejeitam.
- Disposição Permissiva: simples permissão.

PREFÁCIO DO CALUNIADOR (de Castellio)

Suposta preocupação com:


- haver uma só doutrina (união da igreja)
- compreensão pelo público em geral
- os livros de Calvino são insuficientes para refutar os artigos

RESPOSTA DE JOÃO CALVINO AO PREFÁCIO DO CALUNIADOR

- As divergências são preditas pelas Escrituras e Cristo mesmo as sofreu. Ninguém deve abandonar a doutrina
por causa dos ataques.
- Deus o julgará ao final, mas o sabios entenderão agora.
- Calvino sabe quem é o caluniador apesar do anonimato.
- A atitude do caluniador é infantil e viciosa, desejando reconhecimento de homens mortos.
- A doutrina é simples e compreensível a todos, mas o caluniador quer entendimento pela razão natural, sem a
ação do Espírito.
- Calvino se irrita pela zombaria do fato de que já tratou do assunto outras vezes.
- Destino Estoico (necessidade vinda labirinto causal que sujeita também a Deus) versus Predestinação
Bíblica (governo livre, soberano, sábio e justo de Deus). Calvino nunca usa o termo “destino”. A maldade e
a cegueira é que não permitem ver a distinção.
- Agostinho e Calvino: não é doutrina popular. Os escritos de ambos são torcidos e viciados para enganar.
- O caluniador é desonesto ao não citar as referências às obras de Calvino para que possam ser conferidas.
- Calvino não temperará suas respostas por se preocupar mais com a refutação plena do que com
receptividade do texto.
1º Suposto Artigo de Calvino:
“Por meio de sua pura e simples vontade, Deus criou grande parte do mundo para a destruição.”

Caluniador:
- Contrário à natureza: Deus é pai de todos, via Adão, e nenhum pai cria (ato de amor) seus filhos para
destruição, por mais mal que seja.
- Contrário às Escrituras: tudo foi criado bom, e, portanto, não para destruição; Deus não tem prazer
na destruição; é maior em misericórdia que em ira; quer que todos se salvem.

Calvino:
- As palavras do título do artigo foram torcidas.
- Toda vontade de Deus é sábia e justa, mas não saberemos quais são até Aquele Dia.
- Adão caiu não somente por permissão, mas pelo conselho secreto de Deus. Os descendentes são
caídos e arrastados para destruição.
- A analogia da paternidade na criação não se aplica a Deus por diversas razões (Deus é o mesmo
ainda que não tivesse criado seus filhos).
- O amor de Deus, segundo a Palavra, é especial por seus eleitos (Jacó e Esaú). Deus adota a
descendência de Abraão: ele não ama a toda raça humana igualmente. Só os regenerados
experimentarão o amor do Pai.
- Sujeitar Deus ao que se vê é considerá-lo injusto: o pecado de Adão só nos condenaria por causa do
desígnio de Deus (e não pela maldade de Adão). A culpa de nossa desgraça seria do desígnio de Deus
(e não nossa).
- Ainda que os pais terrenos amem seus filhos, não significa que Deus tenha de ser assim: como Pai,
busca com amor e graça, mas, como Juiz, rejeita.
- Deus criou tudo bom, mas o homem se torna inimigo de Deus. Todos estão em miséria por que Deus
nos lançou na culpa comum por causa do pecado de Adão.
- Deus não é injusto e nem incapaz por criar pessoas deficientes.
- O fato de Deus criar “lentos” e habilidosos deve causar terror e admiração, mas nunca murmuração
ou julgamento dos atos de Deus.
- Deus cuida de seus filhos muito melhor que os pais terrenos, mas nem todos são filhos de Deus.
- Se Deus apenas previu o mal, sem o haver decretado, por que não aplicou logo a cura? A fragilidade
do homem ao cair mostra a dependência de Deus. “Tudo muito bom” ⇒ ninguém pode reclamar da
obra de Deus (nada poderia ser melhor).
- O homem cai por seus próprios pecados e não porque Deus os criou para destruição.
- Ezequiel: Deus não quer a morte do pecador (revelado), mas não dá a salvação a todos (secreto). Em
1Tm 2.4 é a distinção de classes sociais que está em pauta.
- Em 2Pe 3.9, Deus quer o arrependimento de todos, mas é preciso a ação Dele nos corações para que
o homem vá até Ele.
- Deus mesmo opera a conversão e está preparado para receber os convertidos.
- Se Deus deseja a salvação de todos, por que não o faz? Por que não são todos atraídos, se Deus quer
que todos conheçam a verdade? Há um modo secreto pelo qual muitos estão excluídos da verdade.
- A misericórdia de Deus é grande e a causa de sua ira está no próprio homem.

2º Suposto Artigo de Calvino:


“Deus não somente predestinou Adão para a perdição, mas também predestinou as causas de sua
perdição, cuja queda ele não apenas previu, mas, por meio de seu secreto e eterno decreto, ordenou
que Adão pereceria. A fim de que tais coisas acontecessem no devido tempo, Deus providenciou a
maçã para o propósito da queda.”

Caluniador:
- Onde está isso na Palavra?

Calvino:
- Não disse que Deus pôs a árvore para a queda, mas disse que a queda veio, sim, por decreto secreto.
Tudo é governado pelo conselho secreto de Deus.
- A presciência não está separada do poder de Deus, pois, do contrário, não seria soberano.
- Se Deus não quisesse que Adão caísse, teria provido a Adão a força e a perseverança que dá aos
eleitos quando quer manter suas integridades.
- Deus fez os perversos para perdição e isso é mesmo incompreensível (Dt 29.29).
- Passagem solicitada: “Terei misericórdia de quem...”. Paulo ensina que apenas alguns recebem
a misericórdia porque essa é a vontade de Deus (Ex 33.19, Rm 9.15). Nada obriga Deus a ter a
mesma misericórdia por todos.
Permissão sem intenção ⇒ Deus perder para Satanás.
- Paulo, ao usar a analogia do oleiro, defende a causa eficiente (decretos de Deus) e não resposta ao
pecado. Tal como predestinou Cristo para a salvação dos eleitos, decretou sua glória por meio da
queda de Adão.
- Deus é a sua própria lei e age como quer, sendo justo e misericordioso.

3º Suposto Artigo de Calvino:


“Os pecados não são cometidos apenas pela permissão de Deus, mas são cometidos até mesmo em
virtude da própria vontade de Deus. Pois, no que diz respeito ao pecado, é frívola coisa fazer uma
distinção entre a permissão e a vontade de Deus. Quem quer que faça tal distinção deseja agradar
a Deus por meio de louvor insincero e adulação.”

Caluniador:
- Deus determinar que um minta e outro diga a verdade é contradizer-se. Portanto, deve prevalecer a
“mera” permissão (não voluntária).
- Há exemplos bíblicos que “apontam” para a “mera” permissão.
- Zacarias 1.15 apontaria para um excedente de ação, por parte das nações, além da vontade de Deus.
Logo, “mera” permissão.
- Cristo permitiu que falsos discípulos se retirassem…
- Distinção entre permissão e vontade = bom senso. Pelo bom senso se interpreta as parábolas.

Calvino:
- Deus pode levantar antagônicos sem estar em conflito consigo mesmo.
- Deus levanta falsos profetas para provar o povo e até Satanás para enganar Acabe.
- Deus trouxe punição (pré anunciada) a Davi e tribulação a Jó. Ambos reconheceram como vindo de
Deus (não “mera” permissão).
- Deus deseja e faz. Até as bênçãos seriam arbitrárias, na visão da “mera” permissão.
- Deus usa o mal para os seus planos. Da perspectiva humana, fizeram o que era contrário à vontade
de Deus. Da perspectiva divina, nada poderiam fazer sem a Omnipotência. Até mesmo quando agem
contra Deus, estão fazendo Sua vontade.
- Deus às vezes permite, via ordens reveladas, o que condena e desaprova (p. ex.: divórcio), mas
dirige tudo conforme seus propósitos. O assunto é a providência secreta.
- Deus aplica maldades intencionalmente: nações opressoras são seus instrumentos tal como espíritos
de erro (estes não ocorrem por “mera” permissão).
- Deus, como Juiz, envia a operação do erro para examinar os ímpios (2Ts 2.11-12).
- Até Paulo foi acusado de ser espírito caluniador de Deus (Rm 3.5)
- Os povos levantados para punir Israel não se excederam além do decretado por Deus.
- Ainda que o bom senso seja aplicável nalguns casos, não serve para pesar os mistérios de Deus.
- As parábolas não são para todos compreenderem. Apenas o Espírito nos ensina. O bom senso de
nada adianta sem o Espírito.
- Exemplo de mistério: Deus não quis que o Evangelho fosse proclamado aos gentios até a vinda de
Cristo. (Ef 3.9). A Palavra ordena que nos maravilhemos com os mistérios.
4º Suposto Artigo de Calvino:
“Todos os crimes cometidos por qualquer homem são boas e justas obras de Deus.”

Caluniador:
- Pecado como obra de Deus é contradição: Deus envia Cristo para destruir sua própria obra. Se Deus
é causador do pecado, então Deus peca.
- Se Deus peca, por que rejeita os pecadores?

Calvino:
- As justas obras de Deus nunca são pecados.
- Maldades são decretadas por Deus: Jó afirma que os assaltantes vieram de Deus sem acusá-lo de
pecado. Antes, bendisse a Deus. O mesmo se dá com José ao ser vendido pelos irmãos e muitos outros
exemplos bíblicos.
- Agostinho: Deus entrega o Filho e Cristo, o seu próprio corpo para a morte. A diferença deles para o
homem é a motivação. As ações de Judas e Pilatos são atestadas pelas escrituras como vindas do
“conselho” de Deus.
- É preciso reconhecer a “profundidade” dos feitos de Deus.

5º e 6º Supostos Artigos de Calvino:


“Nenhum adultério, roubo ou assassinato é cometido sem que a vontade de Deus esteja neles
envolvida (Institutas 14.44).”

“A Escritura testifica claramente que crimes são planejados não somente por vontade de Deus, mas
pela sua autoridade.”

Caluniador:
- Se Deus determina e é autor do pecado, ele mesmo será punido. Se Deus quer pecar, então é mais
ímpio que muitos homens que não desejam pecar. Em que passagem vemos que Deus planeja atos
maus?

Calvino:
- O 5º artigo é tirado fora de contexto (era uma diatribe de Calvino?).
- O 6º artigo não é de autoria de Calvino, que condena tal coisa.
- É preciso distinguir a intenção e finalidade dos atos: maltratar animais pode ser justamente
condenável assim como sentenciar homens à morte pode ser justamente louvável (ainda que animais
sejam inferiores a homens). Do mesmo modo, é preciso distinguir os propósitos de Deus e todos os
demais aspectos.
- Ladrões e assassinos são maus em suas intenções. Deus, quando age, sempre é bom e justo em seus
intentos. Deus usa os intentos maléficos para os seus bons propósitos de maneira maravilhosa.
- Quando os usa, Deus não tem a menor afinidade com os intentos maléficos do diabo e seus
seguidores e, portanto, não pode ser culpado pelos atos destes.

7º Suposto Artigo de Calvino:


“O que quer que façam quando pecam, os homens o fazem por causa da vontade de Deus, tanto
que a vontade de Deus com frequência colide com seus preceitos.”

Caluniador:
- Como pode Deus querer que seus próprios preceitos sejam quebrados? Dado que algumas pessoas
rejeitam seus preceitos por causa da sua vontade, Deus se contradiz.
- Deus é contraditório (quer coisas que se contradizem)? Deus é hipócrita (manda uma coisa mas
opera outra)? Se Deus tem vontade secreta, como Calvino a conhece?
- Deus não pode ser “dobre” (duas vontades).
- Se Deus é hipócrita, a hipocrisia não é pecado.
- Qual das duas vontades temos de cumprir quando Deus nos ordena?
- Deus revelou sua vontade publicamente. Se Cristo tem outra vontade diferente, é contraditório.
- Não são duas vontades, mas sim um engano, pois declara uma coisa ao querer outra.

Calvino:
- Nunca disse que a vontade se opõe ao preceito. A vontade de Deus é una e simples, ainda que haja
aparente discrepância entre seu conselho secreto e o que ele requer de nós. Calvino não ensina que há
duas vontades contrárias em Deus.
- Agostinho: há duas vontades em Deus, porém plenamente concordes.
- Resumo do ensino de Calvino: “aquilo que se expressa na lei de Deus é a vontade de Deus, de modo
que fique claramente demonstrado que ele aprova a retidão e odeia a iniquidade”. Mesmo assim, nada
impede que Deus cause ações contrárias aos seus preceitos, pois ele as causa com finalidades boas e
justas.
- É preciso reconhecer nossa limitação para entendimento das intenções de Deus.
- “[…] quando homens são impelidos por apetites depravados, Deus, em seu modo secreto e inefável,
realiza seus juízos”.
- O mandamento e o dom concedido (para agir) são declarações diferentes da mesma vontade de
Deus. Em seus atos, Deus não se contradiz.
- O adultério de Davi e o assassinato dos filhos de Eli são contrários aos mandamentos de Deus, mas
eles estavam em sua vontade para punir pecados.
- A Palavra (i.e., o Espírito) ensina que os caminhos de Deus são insondáveis. Reconhecer que há
conselhos secretos na vontade de Deus é ato de humildade.
- A Escritura testifica da vontade secreta de Deus (parte de sua vontade una?) ao mencionar que Ele
salva a quem quer. É preciso praticar a “sábia ignorância”.
- É preciso reconhecer que os desígnios de Deus não cabem em nosso entendimento.
- À fé, não cabe o que é dobre: tudo quanto é contra a vontade de Deus, é mau. Portanto, não se deve
ser contrário à vontade secreta de Deus.
- Deus pode chamar por sua voz e oferecimento de benefícios, mas sem operar em seus corações pela
ação secreta do Espírito para que sejam capazes de aceitar e aproximar-se. Isso não é contraditório.
- Passagens bíblicas sobre eventos que aparentam decepcionar Deus não são surpresa para Ele, mas
apenas referem-se ao acontecimento considerado em si mesmo.
- Quando Deus se “humaniza” dizendo-se ter trabalhado em vão (Jesus em “como galinha e
pintinhos”), está, na verdade, aumentando os crimes dos pecadores (exaltando sua dureza). Os que Ele
chama eficazmente, sempre atendem o chamado.
- A vontade e mandamento de Deus são revelados a todos, mas somente aos eleitos é concedido o
Espírito Santo a habilidade para cumpri-los. Alguns recebem o Espírito de obediência enquanto outros
permanecem na depravação (o Espírito é retido destes).

8º e 9º Supostos Artigos de Calvino:


“O endurecimento de Faraó e, de fato, até mesmo sua obstinação de alma e rebelião, foi obra de
Deus. Moisés testifica isso, de acordo com quem a total rebelião de Fará deve ser atribuída à
vontade de Deus.”

“A vontade de Deus é a causa suprema do endurecimento do coração dos homens.”

Caluniador:
- Quem endureceu o coração de Faraó? Deus o fez ou permitiu ser naturalmente endurecido?
- O autor de Hebreus manda não endurecer o coração. Seria possível aos homens endurecer o próprio
coração? Não é obra de Deus apenas?
Calvino:
- Moisés e Paulo: coração de Faraó endurecido por Deus. Moisés: Faraó endureceu seu próprio
coração.
- Se um homem endurece o próprio coração, ele é a causa mais imediata (Deus, a mais remota). A
causa das maldades está no homem.
- Deus governa as maldades do coração de modo que Ele endurece a quem quer usando o fato de que
cada um é autor de seu próprio endurecimento. Não é assim com os eleitos: Deus os move e é a causa
de seus arrependimentos.
- Não é Calvino que diz que Deus retirou sabedoria dos príncipes, que endureceu o coração de Faraó,
que virou o coração das nações e ou que Senaqueribe era vara na mão de Deus. É o Espírito quem diz
essas coisas (também sobre o espírito mau da parte de Deus em Saul, que não foi mera permissão).
Quando os ímpios pecam, é por eles mesmos, mas é pelo poder de Deus que fazem isso ou aquilo (Ele
divide as trevas como lhe apraz).
- Agostinho: Deus inclina os maus segundo o seu querer, que é justo.

10º Suposto Artigo de Calvino:


“Satanás é mentiroso por ordem de Deus.”

Caluniador:
- Se Satanás mente obedecendo a Deus, ele é justo e obedecer a mentira também é justo.

Calvino:
- A Escritura atesta que Satanás é enviado por Deus a enganar Acabe. Agostinho: Deus envia falsos
profetas enganadores ⇒ paciência e poder de Deus.
- Satanás, ainda que contra sua própria vontade, trabalha conforme os desígnios de Deus. Deus usa
suas maldades.

11º Suposto Artigo de Calvino:


“Deus permite a vontade para a realização do mal. Além disso, ele incentiva sentimentos
desonestos e perversos, não apenas permissivamente, mas, efetivamente, para promover sua
própria glória”

Caluniador:
- Deus seria caprichoso: estimula sentimentos perversos e ordena que os resistamos.
- Deus não poderia estimular sentimentos perversos, pois não procura sua glória por meio da mentira.
- As nações não louvariam a Deus, pois não reconheceriam como justo o homem ser punido por
sentimentos que Deus mesmo estimula. Essa doutrina não seria boa para o evangelismo.
- Deus estimular sentimentos perversos é o mesmo que odiar o seu povo antes mesmo que pequem.

Calvino:
- Calvino nunca disse tais coisas, sempre deixou claro que os pecadores pecam por suas próprias
impiedades, mas que Deus, de modo secreto e incompreensível, usa essas maldades para cumprir seus
justos juízos.
- Se ímpios se examinam, claramente encontram em si mesmos as causas de suas maldades, mas Deus
inclina suas ações segundo lhe apraz, para o bem. Sendo Deus o Pai das luzes, não deveríamos tentar
abrir caminho para a luz inacessível.
- O caluniador erra ao ignorar (em Tg 1.17) que os terríveis juízos de Deus descem também do Pai das
Luzes. Claramente, sentimentos viciosos não são boas dádivas. A Escritura e a experiência deixam
claro que Deus usa as ações de Satanás e dos réprobos como instrumentos para sua glória.
- Deus usa as maldades para nenhum outro fim, senão para sua glória. O orgulho de Faraó foi
ordenado para isso, tal como Josué glorificou a Deus por meio da exposição do pecado de Acã.
- A glória de Deus também brilha pela mentira dos homens, como diz Paulo (nossa injustiça, traz a
lume a justiça de Deus). Os caminhos para louvor de Deus são múltiplos (incluem as maldades).
- Calvino não disse que Deus criou a iniquidade, tal como a barba dos homens, mas que Ele a decretou
como finalidades justas e boas.
- Deus é justo mesmo em seus conselhos secretos, ainda que não entendamos.
- Há distinção bíblica entre a sabedoria de Deus que nos é revelada e a que é oculta. Deus julgará
segundo o Evangelho, mas também segundo a equidade de sua secreta providência.
- Deus recompensa os justos e castiga os imorais, que são servos de Deus (Nabucodonosor, cf
Jeremias). Deus usa a maldade dos corações para exercer seus juízos, como quando incitou Davi a
realizar o senso.

12º Suposto Artigo de Calvino:


“Os ímpios, em sua impiedade, produzem mais a obra de Deus do que as suas próprias.”

Caluniador:
- A impiedade, por ser obra de Deus, seria boa e, ao enfurecer-se contra elas, Deus seria contraditório.
A motivação para esse artigo seria a libertinagem.

Calvino:
- Calvino nunca disse tais palavras. A Palavra testifica que Deus usa a maldade dos ímpios, como
quando usou os Caldeus para punir Moabe. A impiedade não é boa, mas Deus a utiliza para seus
juízos, ainda que contra a intenção dos ímpios que são seus instrumentos.

13º e 14º Supostos Artigos de Calvino:


“Da perspectiva de Deus, nós pecamos necessariamente, quer pequemos por culpa de nosso próprio
propósito quer por acidente.”

“Quaisquer perversões que os homens perpetrem de própria vontade, essas também procedem da
vontade de Deus.”

Caluniador:
- Se assim é, então é impossível não pecar e, portanto, não poderíamos ser condenados, pois Deus
mesmo o ordenou.
- O homem é indesculpável mesmo antes dos mandamentos. São condenados antes mesmo de cometer
impiedade.
- Por condenar previamente, Deus os força a pecar para então parecer justo ao sentenciá-los no final.

A natureza do falso deus:


- Deus de Calvino tem mais ira que misericórdia e criou a maior parte das pessoas para perdição,
forçando-os a pecar para esse fim.
- Estimula sentimentos perversos, endurecendo o coração, de modo que, ao serem ímpios, fazem a
obra de Deus (impossível fazer outra). Ele é o verdadeiro pai da mentira, por fazer Satanás ser
mentiroso.

A natureza do Deus verdadeiro:


- Compaixão maior que ira. Criou o homem para vida bem-aventurada e deseja que todos sejam
salvos. Para isso enviou Seu Filho, que chama a todos. Estimula sentimentos bons e liberta do pecado.
Homens pecam porque querem.

- Cada um desses deuses gera filhos à sua semelhança: o deus falso, a homens maus, e o Deus
verdadeiro, a homens bons.
- A doutrina de Calvino gera homens maus, que se deterioram. Calvino imita o falso deus e engana os
homens.
- Os argumentos dos adversários são incontestáveis, fáceis e simples. Esta só funciona para seus
seguidores enquanto tem os livros na mão. São incapazes de convencer por si mesmos, pois Calvino é
obscuro e rude.
- Todos os argumentos devem ser provados. Calvino deve produzir provas.
Calvino:
- Não há pecado por acaso (“acidente”). Não há evento fortuito.
- Deus não é alheio ao pecado (ele o conhece), do contrário não seria Deus.
- A Escritura atesta que a Lei (instrução) é perfeita, mas que nos é impossível alcançar justiça por ela
(pecado por necessidade), mas o homem não pode apelar para a necessidade do pecado, pois ele
mesmo reconhece que há más convicções em seu coração.
- Pessoas só podem ser condenadas após cometer o crime, mas a Deus não pode ser negado o direito
de condenar toda a raça, ainda que não tenham cometido pecado (bebês morrem condenados).
- É um erro considerar Deus injusto por sentenciar pessoas à morte eterna antes mesmo de nascerem.
- Castellio é zombador da verdadeira piedade.
- Ainda que Deus deixe claro que sentenciou a maioria para a perdição por 2.500 anos, excluindo dela
apenas a raça de Abraão, isso não o torna rápido em ira, pois tolerou esses pecados por muito tempo,
mostrando sua grande misericórdia.
- Deus mesmo se defende das blasfêmias proferidas contra ele.
- Não se pode partir do senso comum para compreender as coisas de Deus. Ele mesmo nos recomenda
à “loucura” diante do mundo e que a compreender as coisas espirituais de modo espiritual. A razão
pura só faz corromper a glória de Deus e, enquanto crentes, firmar-se demasiado nela faz diminuir a
glória e de Deus reduzindo-o a mero guia e instrutor.
- Comparar a fé cristã com falsas religiões é ignorância e é devido às superstições das nações que
surge essa ideia de que Deus quer que todos se salvem. A Palavra de Deus deixa claro o conceito da
eleição (palavra muito citada na Bíblia) como sendo fruto de decreto eterno de Deus antes da
fundação do mundo.
- A Palavra mostra que a vida vem do amor gratuito de Deus somente para os eleitos. Apenas à nação
de Israel é que Deus propõe escolher entre a “vida e a morte” (Dt 30.15). Crer em Moisés é crer que
Deus ama gratuitamente os que elegeu.
- A justiça de Cristo superabunda sobre o pecado apenas onde há fé no evangelho. Deus ocultou o
mistério de Cristo a muitas nações (que foram condenadas) até a plenitude dos tempos.
- Apenas pela operação do Espírito é que se obtém fé. Paulo (Rm 10.16) cita Isaías (Is 53.1) para dizer
que apenas alguns creram. O Senhor Jesus diz que somente os que o Pai “trouxer” irão a Cristo. O
anúncio do Evangelho é para todos, mas somente os eleitos crerão.
- A Luz de Cristo é a única esperança para as pessoas em trevas (incapazes de crer). Cristo não nega
pedidos de misericórdia, mas estes só ocorrem por ação do Espírito Santo: Eleição → Fé → Oração.
- Ignorar tais princípios (necessidade da ação do Espírito) é comparar o evangelho com doutrinas
pagãs.
- Castellio é impostor e qualquer um deve ser capaz de reconhecer isso.
- A doutrina de Calvino tem produzido crentes fieis e abnegados.
- A tutoria de Calvino apenas limitou a manifestação a obtusidade de Castellio.
- Castellio não cita ninguém que tenha sido submisso à mera autoridade de Calvino.
- Não apenas cultos e engenhosos compreendem a doutrina de Calvino. E, ao mesmo tempo, a fé
cristã sempre teve membros cultos em seu meio.
- O mais sábio dos homens permanecerá na perdição se não abrir mão de seu próprio entendimento. É
preciso humildade. Castellio se firma no entendimento comum, vulgar, insubmisso ao estudo da
doutrina e rebelde ao mistério.
- Nem todos merecem ser ouvidos. Paulo mesmo nos exorta a evitar o homem faccioso. Diante de
homens contumazes, é preciso haver limite. Castellio teve muitas oportunidades para falar.
- Calvino respondeu confiante no auxílio do Espírito. Continuará orando por Castellio e recomenda-
lhe a humildade, sem a qual não será salvo. Citando a disputa entre Davi e Simei, Calvino entende que
os crentes devem olhar para a providência secreta de Deus diante dos insultos que recebem e pedir que
Deus os ajude e restrinja essas maldades. “Que Deus o restrinja, Satanás. Amém”.

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