Iso 13528 Auxílio Ou Obstáculo
Iso 13528 Auxílio Ou Obstáculo
Resumo
Este artigo tem como objetivos: 1) evidenciar itens em que a norma ISO 13528:2015,
Statistical methods for use in proficiency testing by interlaboratory comparison, apresenta-se
mais como obstáculo do que como auxílio para um provedor de ensaios de proficiência, e 2)
desenvolver um exemplo de como deveria ser escrita. A norma afirma que provê apoio para a
implementação da ABNT NBR ISO/IEC 17043 - Versão Corrigida 2017, Avaliação da
conformidade - Requisitos gerais para ensaios de proficiência, embora não enfatize o que se
deseja saber (valor atribuído e a sua incerteza) e manter (homogeneidade e estabilidade), nem
entrega um prometido guia detalhado do que falta na ABNT NBR ISO/IEC17043.
Diversos métodos estatísticos sugeridos pela norma são complexos para o provedor,
requerendo estatísticos com uma formação avançada, contrariando o afirmado de que,
“usualmente, as necessidades ... podem ser atendidas por pessoas com conhecimento técnico
em outras áreas .... que são familiares com os conceitos estatísticos básicos...”. A norma usa a
estatística robusta e conceitos não comuns nos livros de Estatística como, por exemplo, a função
de densidade Kernel e o modelo Circle Technique.
A norma não esclarece dúvidas, como o que vem a ser um apropriado valor de referência,
porque a palavra apropriado é juízo de valor; remete o provedor para consultar a bibliografia,
algumas incompletas, como não se ter o título de um artigo, e não resolve um dos problemas
críticos nos programas de ensaios de proficiência, o pequeno número de participantes; apresenta
soluções para 2 e 3 e, se maior ou igual a 4, recomenda uma específica M-estimativa do desvio
padrão, baseada em uma função ponderada logarítmica. cuja referência estuda somente até o
tamanho 8, ficando sem orientação os tamanhos 9, 10 e 11. Nos exemplos, a norma nem sempre
apresenta um passo a passo, somente os resultados. Ademais, confunde o provedor com
notações estatísticas que induzem ao erro, como, por exemplo, a letra F, usual da distribuição
F (de Snedecor), para representar tanto essa quanto a qui-quadrado; mesmo na errata, nem
sempre conhecida pelos provedores, essa notação não é corrigida.
Por essas razões, na maioria das vezes, os provedores utilizam, nos seus relatórios, os escores
z ou z´ como estatísticas de desempenho, somente por serem de fácil utilização, ignorando todas
as demais.
Este artigo apresenta, passo a passo, o conceito de bootstrap e o seu desenvolvimento com
o Excel do Microsoft 3651, exemplo de como a norma deveria ser escrita para os provedores,
de modo claro e de fácil implementação.
Conclui-se que a norma é de pouco auxílio e de muitos obstáculos para o provedor.
1
Novo nome do Office 365.
1. INTRODUÇÃO
Uma norma para laboratórios, a ser usada por analistas que trabalham na bancada, deve
redigida de tal maneira que se torne minimamente compreensível por eles, que devem dedicar
o seu tempo para as análises das suas áreas do conhecimento e não para o estudo adicional de
avançados conceitos estatísticos. Diversos métodos sugeridos pela norma ISO 13528 [1] são
complexos para o provedor, requerendo profissionais com uma formação avançada em
Estatística, contrariando o afirmado, logo no seu início, item 0.4, que “usualmente as
necessidades por conhecimento podem ser atendidas por pessoas .... que são familiares com os
conceitos estatísticos básicos...”, o que não é verdade, conforme a ser demonstrado no decorrer
deste artigo. Por essa razão sugere-se que o provedor tenha uma pessoa capacitada e dedicada
às análises estatísticas para entender, por exemplo, a notação apresentada na nota 1 do item
4.2.1, ~ (0, ), bem como o texto “distribuição normal contaminada por outliers,
consistindo de uma mistura de uma distribuição normal com uma distribuição mais larga
representando a população de resultados errôneos.”
O proposto neste artigo terá como consequências o entendimento pelos usuários de alguns
conceitos e a facilidade de implementá-los nas suas aplicações.
2. OBJETIVOS
Este artigo tem como objetivos evidenciar itens em que a norma ISO 13528:2015, Statistical
methods for use in proficiency testing by interlaboratory comparison, atualmente (setembro de
2020) sob revisão, apresenta-se mais como obstáculo do que como auxílio para um provedor
de ensaios de proficiência, e desenvolver um exemplos de como deveria ser escrita.
0,3
0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0
-3
-1,9
-0,8
0,3
1,4
2,5
3,6
4,7
5,8
6,9
8
9,1
19
10,2
11,3
12,4
13,5
14,6
15,7
16,8
17,9
20,1
21,2
22,3
23,4
24,5
25,6
3.7 BOOTSTRAP
No item E.3, p. 69, cita-se o método bootstrap e apresenta um exemplo em E.6, p. 77, com
o código do seu cálculo na linguagem R em R.3.1.1, p. 78. Como sempre, a norma não explica
esse método nem facilita o seu uso para o analista, que agora deverá aprender a linguagem de
programação R. A seguir serão esclarecidos tanto o método quanto a implementação no Excel.
3.7.1 Reamostragem
É uma abordagem não paramétrica (o nome mais adequado é estatística de distribuição livre, porque
não se conhece a distribuição dos dados na população) que atua como uma alternativa aos métodos
clássicos de inferência paramétrica, quando essa distribuição é conhecida. Se a amostra é muito pequena,
não se pode sequer tentar verificar se há alguma distribuição teórica, e então a maioria das pessoas
simplesmente assume que a população é modelada pela distribuição de Gauss, o que nem sempre pode
ser adequado.
Pode-se estimar a distribuição de uma amostra a partir de uma distribuição populacional
desconhecida? A resposta é sim. Existem vários testes de distribuição livre e, com isso, não se tem que
assumir que os dados podem ser modelados pela de Gauss ou qualquer outra. Com a chamada
reamostragem, não se precisa confiar na distribuição assumida nem ser cuidadoso quanto à violação de
uma das suposições inerentes, porque a reamostragem descarta essas e calcula uma distribuição empírica
após observar centenas ou milhares de amostras. Entretanto, retirar essas amostras aumentaria os custos
de coleta de dados e, ao longo dos anos, foram desenvolvidos diversos procedimentos para criar essas
múltiplas amostras a partir da inicial, que podem gerar um grande número de outras que resultam em
uma distribuição amostral empírica de uma determinada estatística de interesse.
Em resumo, reamostragem é o nome de um conjunto de técnicas ou métodos que se baseiam em
calcular estimativas a partir de repetidas amostragens a partir de uma única amostra, e os seus tipos são
os seguintes: testes de aleatorização, validação cruzada, jackknife e bootstrap:
1. testes de aleatorização (também chamados testes de permutação ou testes exatos): a distribuição
da estatística é obtida calculando-se todos os seus possíveis valores e rearranjando-se os valores
da amostra; seu uso mais comum é na estatística espacial.
2. validação cruzada, na qual a amostra é dividida aleatoriamente em dois subconjuntos: um de
treinamento e outro de teste (validação). Em um estudo de regressão, por exemplo, um conjunto
pode ser usado para calcular os coeficientes da equação e o outro para comparar com os valores
estimados por essa regressão.
3. jackknife. Também chamado “leave-one-out” (deixe um fora), baseia-se na remoção de 1 (uma)
observação (podendo ser mais) do conjunto total observado, recalculando-se o estimador a partir
dos valores restantes. É de fácil implementação e tem número fixo de iterações (n, caso se retire
apenas 1 amostra por vez). Foi o antecessor do bootstrap, também um método
computacionalmente intensivo de distribuição livre. Embora criado algumas dezenas de anos
antes do bootstrap, o jackknife não recebeu tanta atenção. A primeira abordagem feita do
método jackknife foi apresentada em 1949 por Maurice Quenouille [8]; em 1956, Quenouille
[9] completou o trabalho com uma generalização dele.
3.7.2 Bootstrap
Bootstrap é uma amostragem com reposição. Como fazer isso? Suponha que sua amostra
contenha apenas 5 observações, representadas por bolas, rotuladas por A, B, C, D e E, colocadas
em uma cesta. Então, dessas 5 bolas, você tira 1 bola aleatoriamente e anota a letra; depois,
coloca a bola de volta na cesta; essa é a amostragem com reposição. Repita milhares de vezes
o trabalho de sortear outra bola aleatoriamente, anotar a letra e colocar de volta para a cesta. As
letras anotadas são chamadas de amostragem de bootstrap. A ideia é muito simples, e um dos
resultados pode ser o seguinte: D, E, E, A, B, C, B, A, E etc.
Por que é preciso uma amostragem bootstrap? Com somente de uma amostra, obtém-se
somente um valor para, por exemplo, média. Como essa ideia tão simples do bootstrap, cada
nova amostra tem uma nova média, fornece mais detalhes sobre a distribuição da média dessa
população.
Seja um exemplo no EXCEL para melhor entender o bootstrap: suponha que se tenha 30
dados da amostra original, obtidos de observações de um fenômeno. Colocamos esses dados
em várias linhas, conforme a Figura 6, por exemplo.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Conclui-se que a norma ISO 13528 é de pouco auxílio e de muitos obstáculos para um
provedor de ensaios de proficiência e mesmo para os laboratórios participantes. Evidenciou-se
que a ordem de apresentação dos assuntos técnicos não é adequada para o uso no dia a dia dos
laboratórios, bem como alguns dos métodos estatísticos são de entendimento difícil para aqueles que
realmente os irão aplicar.
Este artigo apresentou descrições detalhadas não apenas na parte conceitual, mas também no
emprego de alguns métodos com o auxílio do Excel, e ainda sugere que a solução para o
desalinhamento no modo de apresentação das informações é agrupar conceitos, exemplos e
aplicações reais em um único item, referente ao mesmo assunto.
5. CONCLUSÕES
A norma ISO 13528 afirma que provê apoio para a implementação da ABNT NBR ISO/IEC
17043 [10], todavia não entregou um prometido guia detalhado do que falta nela e,
principalmente, não enfatiza o que sempre se deseja saber, o valor atribuído e a sua incerteza, e o
que sempre se deseja manter, a homogeneidade e a estabilidade.
REFERÊNCIAS
[1] ISO 13528:2015, “Statistical methods for use in proficiency testing by interlaboratory
comparison”.
[2] Y. van Nuland. “ISO 9002 and the circle technique”. Qual. Eng. 1992, 5, pp. 269–291.
[3] Robert Marzano, Katie Rogers e Julia A. Simms. “Vocabulary for the New Science
Standards (Essentials for Principals)”, 2012, ISBN 978-0-9903458-0-0.
[4] [27] Rousseeuw P.J., & Verboven S. Comput. Stat. Data Anal. 2002, 40, pp. 741–758.
[5] [31] Thompson M. Analyst (Lond.). 2000, 125, pp. 385–386.
[6] W. J. Dixon, W. J. (1960). "Simplified Estimation from Censored Normal Samples". Annals
of Mathematical Statistics. 31 (2): 385–391. DOI:10.1214/aoms/1177705900.
[7] F. R. Hampel, “The breakdown points of the mean combined with some rejection rules,”
Technometrics, vol. 27, no. 2, pp. 95–107, 1985.
[8] M. H. Quenouille (1949).” Approximate tests of correlation in time-series”. J.R. Statist. Soc.
B 11, 68-84.
[9] M. H. Quenouille (1956).” Notes on bias in estimation”. Biometrika 43, 353-60.
[10] ABNT NBR ISO/IEC 17043 - Versão Corrigida 2017, Avaliação da conformidade -
Requisitos gerais para ensaios de proficiência.