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Relatorio004 2009

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Equipe Ténica Equipe de Apoio

Marley Vanice Deschamps Juciano Martins Rodrigues


Coordenadora Coordenador
Paulo Roberto Delgado Arthur Felipe Molina Moreira
Marisa Sugamosto Aline Schindler
Anael Pinheiro de Ulhôa Cintra Filipe Souza Corrêa
Sergio Aparecido Ignácio Marcelo Gomes Ribeiro
Thiago Gilibert Bersot

Vulnerabilidade Socioambiental
das Regiões Metropolitanas Brasileiras
Copyright © Marley Vanice Deschamps, 2009

OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES – IPPUR/FASE

Coordenação Geral
Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro

www.observatoriodasmetropoles.ufrj.br

Projeto Gráfico e Produção

Telefax: (21) 2224-7071 / 2215-3781


www.letracapital.com.br
O
Observatório das Metrópoles é um grupo que funciona em rede, reunindo instituições e
pesquisadores dos campos universitário, governamental e não-governamental. A equipe
constituída no Observatório vem trabalhando há 17 anos, envolvendo 97 principais pes-
quisadores e 59 instituições de forma sistemática e articulada sobre os desafios metropolitanos
colocados ao desenvolvimento nacional, tendo como referência a compreensão das mudanças das
relações entre sociedade, economia, Estado e os territórios conformados pelas grandes aglomera-
ções urbanas brasileiras.

O Observatório das Metrópoles tem como uma das suas principais características reunir Pro-
gramas de Pós-graduação em estágios distintos de consolidação, o que tem permitido virtuosa prá-
tica de cooperação e intercâmbio científico através da ampla circulação de práticas e experiências
acadêmicas. Por outro lado, o Observatório das Metrópoles procura aliar suas atividades de pesquisa
e ensino com a realização de atividades que contribuam para a atuação dos atores governamentais
e da sociedade civil no campo das políticas públicas voltadas para esta área.

O Observatório das Metrópoles integrou o Programa do Milênio do CNPq e, nos próximos 5


anos, integrará o Programa instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, também do CNPq, com apoio
da FAPERJ. O objetivo do programa é desenvolver pesquisa, formar recursos humanos, desenvolver
atividades de extensão e transferência de resultados para a sociedade e para os governos envolvi-
dos, tendo como eixo a questão metropolitana. Por envolver grupos de pesquisas distribuídos em
todas as 5 Grandes Regiões do país (Norte, Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste e Sul), as atividades
de pesquisa que desenvolvemos permitem aprofundar o conhecimento da diversidade da realidade
metropolitana do país e suas relações com as desigualdades regionais.

O Observatório das Metrópoles é um programa plurinstitucional e pluridisciplinar que procura


aliar pesquisa e ensino com a missão social de realizar e promover atividades que possam influen-
ciar as decisões dos atores que intervêm no campo da política pública, tanto na esfera do governo,
como da sociedade civil. O seu Programa de Trabalho para os próximos 5 anos está organizado nas
seguintes linhas:

Linha I - Metropolização, dinâmicas intermetropolitanas e o território nacional.

Linha II - Dimensão sócio-espacial da exclusão/Integração nas metrópoles:


estudos comparativos.
Linha III - Governança urbana, cidadania e gestão das metrópoles.

Linha IV - Monitoramento da realidade metropolitana e desenvolvimento institucional.


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO________________________________________________________________ 7

1 – INTRODUÇÃO_ ______________________________________________________________ 8

1.1. Vulnerabilidade e justiça ambiental_ _________________________________________ 8

1.2. Vulnerabilidade social____________________________________________________ 11

2 – ASPECTOS METODOLÓGICOS________________________________________________ 15

2.1. Construção da Tipologia quanto ao grau de vulnerabilidade social_________________ 16

2.2. Construção da Tipologia quanto ao risco ambiental_____________________________ 18

2.3. Construção da Tipologia quanto ao grau de vulnerabilidade socioambiental_ ________ 19

3. ANÁLISE DOS RESULTADOS___________________________________________________ 20

3.1 Região Metropolitana de São Paulo_________________________________________ 20

3.2 Região Metropolitana do Rio de Janeiro_ ____________________________________ 29

3.3 Região Metropolitana de Belo Horizonte_ ____________________________________ 38

3.4 Região Metropolitana de Porto Alegre_______________________________________ 47

3.5 Região Integrada de Desenvolvimento (RIDE) de Brasília________________________ 56

3.6 Região Metropolitana de Curitiba___________________________________________ 66

3.7 Região Metropolitana de Salvador__________________________________________ 76

3.8 Região Metropolitana de Recife____________________________________________ 86

3.9 Região Metropolitana de Fortaleza__________________________________________ 95

3.10 Região Metropolitana de Campinas_______________________________________ 104

3.11 Região Metropolitana de Manaus_________________________________________ 114

3.12 Região Metropolitana de Vitória__________________________________________ 123

3.13 Região Metropolitana de Goiânia_________________________________________ 132

3.14 Região Metropolitana de Belém__________________________________________ 141

3.15 Região Metropolitana de Florianópolis_____________________________________ 150

3.16 Região Metropolitana de Natal___________________________________________ 159


3.17 Região Metropolitana de Maringá_________________________________________ 168

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS_ ___________________________________________________ 178

REFERÊNCIAS________________________________________________________________ 182
APRESENTAÇÃO

O presente trabalho integra o projeto do Observatório das Metrópoles: Território, coesão social
e governança democrática, processo CNPq nº 420.272/2005-4, sob coordenação do Professor Dr.
Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro.
As atividades aqui desenvolvidas inserem-se na linha de pesquisa II - Dimensão socioespacial
da exclusão/integração nas metrópoles: estudos comparativos, no âmbito da sublinha “Análise da
relação entre a estruturação socioespacial e as desigualdades urbanas e ambientais”.
O presente relatório apresenta os procedimentos para a construção e aplicação de tipologias
de áreas intraurbanas nas Regiões Metropolitanas brasileiras, avançando na determinação de es-
paços marcados, por abrigar grupos populacionais socialmente vulneráveis e expostos a situações
de risco. Portanto, não só identifica desigualdades sociais, mas também verifica como estas se
associam com situações de desigualdade ambiental, ou seja, trata da questão mais específica de
vulnerabilidade socioambiental.
Nesse sentido, tem-se observado um crescimento diferenciado em determinados espaços
metropolitanos que marcam o aprofundamento da segregação socioespacial. Populações de baixa
renda têm ocupado, legal ou ilegalmente, áreas ambien­talmente vulneráveis, estando, dessa forma,
expostas a um outro processo intraurbano: o da “segregação ambiental”.
Algumas indagações nortearam este estudo: a principal delas é se a degradação ambiental é
social e demograficamente seletiva ou se afeta de forma homogênea os diferentes grupos sociais;
quais seriam os elementos que mais contribuem na determinação da vulnerabilidade social; e ainda,
além da distribuição desigual dos diversos grupos sociais no espaço, se haveria uma distribuição
desigual dos danos ambientais.
O relatório está organizado em quatro seções, além desta apresentação. Na introdução são
abordadas questões específicas envolvendo aspectos conceituais acerca do termo vulnerabilidade
nas dimensões relativas ao presente estudo; a seção 2 apresenta a metodologia para a construção
das tipologias: vulnerabilidade social, risco ambiental e vulnerabilidade socioambiental, consideran-
do o conjunto de informações disponíveis para realização deste estudo.
Na terceira seção é realizada a análise dos resultados da aplicação da metodologia para cada
uma das dezessete Regiões Metropolitanas integrantes desse estudo, subdividindo cada análise em
três itens: a) vulnerabilidade social, b) risco ambiental, c) vulnerabilidade socioambiental. Finalmen-
te, a seção 4 traz uma síntese comparativa das condições de vulnerabilidade socioambiental para
as regiões estudadas.
Para a construção das tipologias, o estudo faz uso de uma base de informações organizada
por Áreas de Ponderação do Censo Demográfico de 2000 (AEDs), formadas por um agrupamento
mutuamente exclusivo de setores censitários, que permitiu a análise em um nível intraurbano, dife-
renciando assim, as populações mais ou menos afetadas dentro de cada área estudada, mostrando
que espaços supostamente homogêneos contêm em seu interior diferenças significativas.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 7


1 - INTRODUÇÃO

Em conformidade com a linha adotada no projeto do Observatório das Metrópoles, os proces-


sos socioespaciais em curso nas metrópoles brasileiras têm enorme importância na compreensão
dos mecanismos societários de exclusão e integração, através de seus efeitos sobre a estruturação
social, os mecanismos de produção/reprodução de desigualdades e as relações de interação e so-
ciabilidade entre os grupos e classes sociais. Tais processos socioespaciais são conceituados neste
projeto como diferenciação, segmentação e segregação.
Nesse sentido, o processo de concentração populacional em poucos espaços do território
nacional, que hoje conformam as Regiões Metropolitanas, implicando na chegada de grandes fluxos
de pessoas para esses espaços, e ainda a intensa mobilidade intraurbana fazem com que esses
deslocamentos atinjam, cada vez mais, áreas sujeitas a riscos ambientais. Salienta-se o fato de que
a exposição aos riscos ambientais acomete desigualmente os diversos grupos sociais.
A diferenciação socioespacial decorrente da crescente especialização de tarefas, devido ao
aumento da divisão social do trabalho, como explicitada nos relatórios da sublinha que trata da atua-
lização e expansão da análise da organização social dos territórios das metrópoles e a identificação
das tendências de transformação de longo prazo - 1980/2000, com base na classificação sócio-
ocupacional construída como variável proxy para descrever a estrutura social, gera a separação
espacial de grupos sociais, os quais tendem a buscar localizações específicas na cidade, criando
assim a divisão social do território.
A abordagem socioambiental torna-se, portanto, imprescindível, quando se trata de processos
ambientais urbanos, tendo em vista sua complexidade, como enfatiza Mendonça, F. (2002) ao ob-
servar a enorme dificuldade em apreender o termo meio ambiente em toda sua amplitude, visto estar
fortemente marcado por princípios naturalistas. Evidencia-se como desafio a inserção da perspectiva
humana nessa abordagem. Esse autor, trata o termo socioambiental como uma evolução conceitual
e enfatiza que a importância atribuída à dimensão social dos problemas ambientais:

... possibilitou o emprego da terminologia socioambiental, e este termo não explicita somente
a perspectiva de enfatizar o envolvimento da sociedade como elemento processual, mas é também
decorrente da busca de cientistas naturais a preceitos filosóficos e da ciência social para compreen-
der a realidade numa abordagem inovadora (MENDONÇA, F. 2002, p.126).

1.1. Vulnerabilidade e justiça ambiental

Na esfera científica, a noção de vulnerabilidade vem sendo moldada e utilizada em diversos


campos disciplinares, tornando-se um enfoque útil e potente para examinar diferentes aspectos da
realidade. Na economia se vincula ao desempenho macroeconômico diante de “choques” externos
e, mais recentemente, à integração econômica e, no âmbito das famílias ou domicílios, no que se
refere à redução de ingressos em tempos de crises econômicas (DESCHAMPS, 2004).
Na geografia, o termo está diretamente atrelado às probabilidades de ser afetado negativa-
mente por um fenômeno geográfico e/ou climático. Assim, as zonas ou áreas e populações vulnerá-

8 Marley Vanice Deschamps


veis são aquelas que podem ser atingidas por algum evento geográfico, como terremoto, enchente,
enxurrada e seca. Por sua estrutura geomor­fológica ou por simples localização geográfica, determi-
nadas áreas são mais propensas a experimentar tais eventos, ou seja, são áreas mais vulneráveis.
Nos últimos anos a noção de vulnerabilidade ganha força e vem sendo utilizada no campo das
ciências sociais. Seu conceito vem sendo discutido e aprimorado por diversos autores latino-ameri-
canos1. Esses autores, em distintas abordagens, adotam a noção de vulne­rabilidade estreitamente
vinculada à pobreza (reflexo da grande quantidade de movimentos de entrada e saída dessa con-
dição) e como componente de crescente importância dentro do complexo de desvantagens sociais
e demográficas que se delineiam na “modernidade tardia”. Também a noção de vulnerabilidade no
âmbito das relações entre população e desenvolvimento pode ser vista como o aspecto negativo
mais relevante do modelo de desenvolvimento baseado na liberalização da economia e na abertura
comercial e, como a manifestação mais clara da carência de poder que experimentam grupos espe-
cíficos, mas numerosos, da humanidade.
Na linguagem corrente, vulnerabilidade é “qualidade de vulnerável”, ou seja, o lado fraco de
um assunto ou questão, ou o ponto por onde alguém pode ser atacado, ferido ou lesionado, física ou
moralmente, por isso mesmo vulnerabilidade implica risco, fragilidade ou dano. Para que se produza
um dano, devem ocorrer três situações: um evento potencialmente adverso2, ou seja, um risco, que
pode ser exógeno ou endógeno; uma incapacidade de responder positivamente diante de tal contin-
gência; e uma inabilidade para adaptar-se ao novo cenário gerado pela materialização do risco.
Segundo Rodriguez (2001), uma pessoa é vulnerável porque pode ser lesionada e, por outro
lado, a invulnerabilidade está na proteção total contra forças externas causadoras de danos. Entre
esses dois polos há um gradiente determinado pelos recursos pessoais ou alternativas para que
se possa enfrentar o efeito externo, nesse caso, quanto maior a disponibilidade de recursos ou de
opções, menor é a vulnerabilidade. A noção de risco, então, torna-se relevante para o estudo da
vulnerabilidade, já que a situação de vulnerabilidade implica na possibilidade de ocorrência ou pre-
sença de um evento adverso, seja ele de qualquer natureza, para a unidade de referência. Nessa
perspectiva a noção de vulnerabilidade social se encontra diretamente relacionada a grupos social-
mente vulneráveis, quer dizer, indivíduos que, por determinadas carac­terísticas ou contingências,
são menos propensos a uma resposta positiva mediante algum evento adverso. Nesses termos, a
noção de risco torna-se fundamental para o desenvolvimento do estudo da vulnerabilidade.
A sociedade moderna enfrenta instabilidades e riscos provocados pelas novidades tecnológi-
cas e organizacionais que, na perspectiva de Beck (1986;1992), gera riquezas, distribuindo-as desi-
gualmente em uma proporção até então desconhecida. Deixa de ser exclusivamente uma sociedade
baseada no princípio da escassez, tornando-se uma sociedade cada vez mais saturada e cheia de
efeitos não visíveis. Com isso, a noção de risco na sociedade moderna está estreitamente relaciona-
da às condições de incerteza, insegurança e falta de proteção manifestadas nas esferas econômica,
ambiental, social e cultural, onde se misturam progresso e risco. É a dialética apontada por Beck,
segundo a qual, os desafios a serem enfrentados na sociedade moderna são: a globalização, a in-
dividualização, o desemprego, o subemprego, a revolução dos gêneros e os riscos globais da crise
ecológica e da turbulência dos mercados financeiros.
Um fator básico de incerteza, derivado dos progressos da ciência e tecno­logia, é o desmonte
da função estruturante que antes cumpria o mercado de trabalho, elemento organizador na vida dos

1 Entre eles destacam-se: Kaztman (1999, 2000 e 2001); Rodriguez (2000 e 2001); Pizarro (2001) e, Bustamante (2000).
2 Os eventos potencialmente danosos são distintos – fome, queda abrupta no comércio ou finanças, psicopatologias, inundações
- mas, em geral, possuem um aspecto comum: são relativamente limitados e específicos.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 9


indivíduos e de sua inserção na comunidade. Este agora contrasta com a evidência de que a huma-
nidade, também em função dos mesmos progressos, tem um maior controle sobre seu próprio fun-
cionamento e de seu entorno, possibilitando eliminar diversos riscos ou mitigar suas consequências,
como a fome e as enfermidades (CEPAL/CELADE, 2002).
Giddens (1991) aponta que, num contexto em que as práticas sociais são revistas cotidiana-
mente mediante uma profusão de informações, gerando incertezas futuras, o risco atual é “fabricado”
e depende cada vez menos das contingências naturais e cada vez mais de intervenções sociais e
culturais, que em alguns casos, desenca­deiam desastres “naturais”. Sendo a expressão mais radical
do “risco fabricado” a institucionalização da mudança vertiginosa no modo de produção e de vida
dos indivíduos, famílias, organizações e comunidades. Nesse sentido, o futuro é altamente incerto e
todos os atores, a princípio, são passíveis de danos, ou seja, vulneráveis (CEPAL/CELADE, 2002).
Assiste-se ao surgimento de uma sociedade que produz e distribui, de forma desigual, os ris-
cos ambientais e sociais. No entanto, como salienta Acselrad (2002), os teóricos da Sociedade de
Risco não incorporam em suas análises a diversidade social na construção do risco e nem a presen-
ça de uma lógica política que orienta a distribuição desigual dos danos ambientais.
Davis (2001), descreveu em seu livro, Ecologia do Medo, que, além da localização geologica-
mente desfavorável, propensa a terremotos, que tornou Los Angeles uma zona de risco, a especu-
lação imobiliária e o crescimento horizontal descontrolado tornaram a cidade vulnerável a desastres
de toda natureza: “o que é mais característico de Los Angeles não é simplesmente a conjugação de
terremotos, incêndios silvestres e enchentes, mas sua mistura explosiva, única, de perigos naturais
e contradições sociais”.
Foi nos EUA que nasceu a luta pelo reconhecimento da desigualdade ambiental, evidencian-
do a ligação entre degradação ambiental e injustiça social.3 Segundo Ascelrad (2002), a noção de
justiça ambiental remete a uma discussão distinta daquela promovida no debate ambiental corrente
– entre meio ambiente e escassez:
Neste último, o meio ambiente tende a ser visto como uno, homogêneo e quantita­tivamente
limitado. A idéia de Justiça, ao contrário, remete a uma distribuição equânime de partes e à diferen-
ciação qualitativa do meio ambiente. Nessa perspectiva, a interatividade e o inter-relacionamento
entre os diferentes elementos do ambiente não querem dizer indivisão. A denúncia da desigualdade
ambiental sugere uma distribuição desigual das partes de um meio ambiente de diferentes qualida-
des e injustamente dividido.
Na linguagem corrente, vulnerabilidade é “qualidade de vulnerável”, ou seja, o lado fraco de
um assunto ou questão, ou o ponto por onde alguém pode ser atacado, ferido ou lesionado, física ou
moralmente, por isso mesmo vulnerabilidade implica risco, fragilidade ou dano. Para que se produza
um dano, devem ocorrer três situações: um evento potencialmente adverso4, ou seja, um risco, que
pode ser exógeno ou endógeno; uma incapacidade de responder positivamente diante de tal contin-
gência; e uma inabilidade para adaptar-se ao novo cenário gerado pela materialização do risco.
Segundo Rodriguez (2001), uma pessoa é vulnerável porque pode ser lesionada –, é o mesmo
que se diz de uma aeronave que é vulnerável ao ataque inimigo ou de uma determinada espécie
que é vulnerável à voracidade de outra. Por outro lado, a invulnerabilidade está na proteção total de
forças externas causadoras de danos. Entre esses dois polos há um gradiente determinado pelos
recursos pessoais ou alternativas para que se possa enfrentar o efeito externo, nesse caso, quanto
3 O Movimento de Justiça Ambiental constituiu-se nos EUA a partir da articulação entre lutas de caráter social, territorial,
ambiental e de direitos civis. Ver, a esse respeito, Acselrad (2002).
4 Os eventos potencialmente danosos são distintos – fome, queda abrupta no comércio ou finanças, psicopatologias, inundações
- mas, em geral, possuem um aspecto comum: são relativamente limitados e específicos.

10 Marley Vanice Deschamps


maior a disponibilidade de recursos ou de opções, menor é a vulnerabilidade. A noção de risco, en-
tão, torna-se relevante para o estudo da vulnerabilidade, já que a situação de vulnerabilidade implica
na possibilidade de ocorrência ou presença de um evento adverso, seja ele de qualquer natureza,
para a unidade de referência.

1.2. Vulnerabilidade social

Um dos usos mais correntes da noção de vulnerabilidade refere-se a grupos específicos de


população, sendo utilizado para identificar grupos que se encontram em situação de “risco social”,
ou seja, compostos por indivíduos que, devido a fatores próprios de seu ambiente doméstico ou
comunitário, são mais propensos a enfrentar circunstâncias adversas para sua inserção social e de-
senvolvimento pessoal ou que exercem alguma conduta que os leva a maior exposição ao risco.
Rodriguez (2001) sugere que a noção de vulnerabilidade precede a identificação dos gru-
pos, posto que exige especificar riscos e determinar tanto a capacidade de resposta das unidades
de referência, como sua habilidade para adaptar-se ativamente. Nesse sentido, a fragilidade ins-
titucional e a falta de equidade socioeconômica podem ser consideradas riscos, pois obstruem o
desenvolvimento socioeconômico e impedem a coesão social. Numa situação específica como um
acontecimento ambiental danoso, tais fatores passam a debilitar a capacidade de resposta de alguns
segmentos da sociedade.
A idéia da possibilidade de controlar os efeitos da “materialização do risco” deve estar presente
no estudo de vulnerabilidade social, dado que esta compreende tanto a exposição a um risco como a
medida da capacidade de cada unidade de referência para enfrentá-lo, seja mediante uma resposta
endógena ou à mercê de um apoio externo (CEPAL/CELADE, 2002).
Ainda segundo Rodriguez (2001), há um estreito vínculo entre a situação microssocial (os ati-
vos de diversas naturezas das famílias, que podem contribuir para a mobilidade social ou, melhorar
as condições de vida) e a macrossocial (disponibilidade de estrutura para as famílias e seus mem-
bros) e, a vulnerabilidade social consistiria no desajuste entre essas duas dimensões.
A falta de ativos e/ou a indisponibilidade de estruturas, significam “desvantagens sociais”, ou
seja, condições sociais que afetam negativamente o desempenho de comunidades, lares e pessoas.
Implica em menos acessos (conhecimento e/ou disponibilidade) e menos capacidade de gestão dos
recursos e das oportunidades que a sociedade entrega para o desenvolvimento de seus membros.
A desvantagem social pode se expressar por meio da desigualdade socioeconômica, fazendo com
que a pobreza constitua um fator de desvantagem, justamente pelas limitações que ela impõe aos
indivíduos, considerando também, que a pobreza pode ser resultado de tais desvantagens.
Em nível de famílias, a vulnerabilidade está vinculada à capacidade de resposta e ajustes
frente às condições adversas do meio, ou seja, a capacidade que as famílias têm de mobilizar ativos,
escassos ou não, para enfrentar as adversidades. As famílias ou pessoas com pouco capital huma-
no, com ativos produtivos escassos, pouco acesso à informação e às habilidades sociais básicas,
com falta de relações pessoais e com pouca capacidade para manejar seus recursos, estão em con-
dições de vulnerabilidade diante de qualquer mudança ocorrida em seu entorno imediato.
Para Rodriguez (2001), existe um conjunto de carac­terísticas demográficas que estão ligadas
à capacidade das pessoas e/ou famílias de mobilizar ativos, tomadas, por isso, como desvantagens
sociais. A esse conjunto de características, descritas adiante, o autor denomina “vulnerabilidade
demográfica”.
A noção de vulnerabilidade demográfica é atual e flexível, à medida que permite considerações
simultâneas dos vários aspectos das famílias, que podem tomar trajetórias distintas, especialmente

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 11


com o avanço da transição demográfica e o desenvolvimento econômico e social. Alguns aspectos
demográficos devem ser considerados já que geram dificuldades, limitações ou menos opções nos
processos de aquisição e habilitação para o manejo de ativos em uma sociedade moderna. Nesse
sentido, a vulnerabilidade demográfica, medida segundo determinadas características, é apontada
como uma faceta das desvantagens sociais. Essas características podem ser agrupadas nas três
dimensões da unidade doméstica apresentadas a seguir5:

a) Estrutura familiar
No plano de formação das famílias, são assinalados dois fenômenos que tendem a acentuar
a vulnerabilidade demográfica: o incremento da uniparentalidade,6 (uma família formada por chefe
e cônjuge estaria em melhores condições para atender satisfatoriamente aos aspectos emocionais,
financeiros, de tempo, e de trabalho para a manutenção de um lar com dependentes menores); o
aumento na proporção de mulheres chefes de família7 (estas teriam maiores dificuldades para seu
desenvolvimento quotidiano).

b) Ciclo de vida
As famílias que se encontram nas etapas finais do ciclo (por restrições biológicas), e nas eta-
pas iniciais (pela falta de experiência) tenderiam a apresentar maiores dificuldade para dispor de
ativos. No caso das famílias de formação recente, as dificuldades seriam para manter e/ou manejar
os ativos e no caso das famílias nas etapas finais de seu ciclo, pelo esgotamento das reservas ou
pela perda de habilidade.
No caso dos chefes de família adolescentes ou muito jovens, o grau de vulnerabilidade pode
ser variado, dependendo do motivo da chefatura, se por paternidade, se por saída espontânea da
residência dos pais, ou ainda, por uma saída passageira, por motivos de estudo, por exemplo. Já, a
condição de chefes idosos pode estar relacionada à transição demográfica. Assim, áreas com gran-
de percentagem de idosos tendem a ter mais lares chefiados por idosos, e a renda desses chefes
pode ter níveis superiores à média, pois estariam colhendo frutos de uma trajetória laboral prévia.
Nesse sentido, Rocha (2003) afirma que no Brasil existem suficientes evidências empíricas de que
os idosos se beneficiam de uma série de mecanismos políticos que permitem que, como grupo etá-
rio, seja aquele para o qual a incidência de pobreza é baixa.

c) Aspectos demográficos tradicionais


O tamanho da família (número de membros) seria um indicativo de vulnerabilidade, pois fa-
mílias numerosas teriam desvantagens na sociedade moderna, em que o custo de sua manutenção
é maior e, portanto, menor a capacidade de acumulação. O funcionamento de uma família extensa
pressupõe um conjunto de compromissos, hábitos e regras que podem interferir na forma habitual
de fazer as coisas numa sociedade cuja norma são famílias pouco numerosas. Aqui também, as
evidências empíricas convergem para um menor rendimento em famílias maiores, ou seja, os pobres
vivem, em média, em famílias maiores.
Um número maior de crianças também implica desvantagens para a família, no sentido de que

5 Organizados por Rodriguez (2000) em seu estudo para a América Latina: “Vulnerabilidad demográfica: una faceta de las des-
ventajas sociales”.
6 Tendência que vem aumentando, em especial nos países desenvolvidos, como reflexo do aumento no índice de divórcios.
7 Este aspecto, ao mesmo tempo em que reflete um fortalecimento da posição da mulher, pode ser tomado como um risco,
dependendo do tipo de chefatura. Por exemplo, a chefatura de mulheres idosas, por circunstância da morte do marido, é bem
distinta da chefatura de mulheres em idade reprodutiva e com filhos menores provocada pela dissolução do casamento.

12 Marley Vanice Deschamps


os recursos se diluem na criação de menores. A variável número de crianças se aproxima das rela-
ções entre comportamento reprodutivo e desvantagens sociais. No Brasil, segundo Rocha (2003),
54% das crianças com menos de quatro anos possuem rendimento familiar per capita abaixo da linha
da pobreza.
Os indicadores de “dependência”, na escala de famílias, proporcionam uma aproximação da
pressão ou carga demográfica, refletindo o potencial de recursos humanos de que dispõe a família
para prover sua manutenção e enfrentar adversidades externas.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 13


2 – ASPECTOS METODOLÓGICOS

Neste estudo, as unidades de referência são famílias ou pessoas morando numa mesma área,
e o risco é abordado em seu aspecto negativo, já que, combinado com adversidade, é causador de
danos a determinado segmento da sociedade (os riscos, na sociedade atual, podem tanto causar
danos como gerar novas oportunidades).
Para fins deste estudo são utilizados somente dados secundários disponibilizados pelo IBGE
no Censo Demográfico de 2000, possibilitando trabalhar as informações numa escala espacial me-
nor que o município: Áreas de Ponderação, que são unidades geográficas formadas por um agru-
pamento mutuamente exclusivo de setores censitários. O agrupamento foi realizado obedecendo a
alguns critérios, tais como tamanho, em termos de domicílios e de população, de forma que garan-
tisse a expansão da amostra sem perder sua representatividade; contiguidade, garantindo o senti-
do geográfico; e homogeneidade, em relação a um conjunto de características populacionais e de
infraestrutura conhecidas.8 As Áreas de Ponderação, ou Áreas de Expansão (AED), são portanto,
as unidades geográficas trabalhadas neste estudo, garantindo a utilização de todas as informações
levantadas pelo recenseamento de 2000.

QUADRO 1 - INDICADORES DE DESVANTAGEM SOCIAL


INDICADOR DESCRIÇÃO
Percentagem de famílias chefiadas Razão entre chefes de família com idade entre 10 e 19 anos e
por pessoas menores (V1) o total de chefes de família
Percentagem de famílias chefiadas Razão entre chefes de família com idade superior a 64 anos e
por pessoas idosas (V2) o total de chefes de família
Percentagem de famílias chefiadas Razão entre chefes de família do sexo feminino e sem cônju-
por mulheres sem cônjuge (V3) ge e o total de chefes de família
Percentagem de famílias com alta
Razão entre famílias com 4 ou mais filhos e o total de famílias
frequência de filhos (V4)
Percentagem de famílias com alta frequência Razão entre famílias com 7 ou mais membros e o total de
de componentes (V5) famílias
Percentagem de adolescentes com Razão entre mulheres de 10 a 19 anos com um ou mais filhos
experiência reprodutiva (V6) vivos e o total de mulheres da mesma faixa etária
Razão entre o número de filhos tidos nascidos vivos das mul-
Parturição de mulheres jovens e adultas (V7) heres de 10 a 34 anos e o total de mulheres da mesma faixa
etária (filhos por mulher)
Razão entre o número de crianças de 0 a 14 anos e o total da
Percentagem de crianças de 0 a 14 anos (V8)
população
Percentagem de pessoas com idade Razão entre o número de pessoas com idade acima de 64
acima de 64 anos (V9) anos e o total da população

Razão entre o número crianças com idade de 0 a 14 anos e


Índice de dependência infantil (V10)
o total de pessoas com idade de 15 a 64 anos (expressa o
número de dependentes infantis para cada 100 independentes)

Razão entre as famílias com renda familiar mensal per capita


Percentagem de famílias com renda insuficiente (V11)
de até ½ salário mínimo e o total de famílias

8 Os detalhes sobre a conformação das Áreas de Ponderação podem ser consultados na Documentação dos Microdados da
Amostra - IBGE - nov. 2002.

14 Marley Vanice Deschamps


Percentagem de ocupados com baixo rendimento Razão entre os ocupados cuja renda do trabalho principal é
no trabalho principal (V12) igual ou inferior a 1 salário mínimo e o total de ocupados
Razão entre ocupados não inseridos no setor formal e o total
Grau de informalização do mercado de trabalho (V13)
de ocupados

Taxa de analfabetismo da população de 15 anos Razão entre o número de pessoas de 15 anos e mais que não
e mais (V14) sabem ler e o total de pessoas de 15 anos e mais de idade

Razão entre o número de pessoas de 15 anos e mais sem


Taxa de analfabetismo funcional da população
instrução ou com até três anos de estudo e o total de pessoas
de 15 anos e mais (V15)
de 15 anos e mais
Taxa de analfabetismo funcional dos chefes Razão entre o número de chefes de família sem instrução ou
de família (V16) com até 3 anos de estudo e o total de chefes de família

Razão entre o número de pessoas de 7 a 14 anos que não


Percentagem de crianças fora da escola (V17)
freqüentam escola e o total de pessoas na mesma faixa etária

Razão entre o número de pessoas de 15 a 17 anos que não


Percentagem de adolescentes fora da escola (V18)
freqüentam escola e o total de pessoas na mesma faixa etária

Razão entre o número de pessoas de 18 a 25 anos que


Percentagem de jovens adultos com nível
estudam em nível escolar que não têm o superior e o total de
de escolaridade inadequado (V19)
pessoas da mesma faixa etária que estudam

Razão entre o número de domicílios particulares permanentes


Percentagem de domicílios com densidade
com mais de duas pessoas por cômodo servindo como dormi-
por dormitório inadequada (V20)
tório e o total de domicílios particulares permanentes

A escolha das variáveis para a determinação do grau de vulnerabilidade social de cada uma
das áreas se deu em função das premissas conceituais descritas anteriormente. Nesse sentido, fo-
ram escolhidas algumas variáveis que indicam desvantagens sociais, relativas a grupos de pessoas
e unidades domésticas, que podem se referir tanto a famílias como a domicílios e, em alguns casos,
o agrupamento de pessoas. A importância dada às características sociodemográficas relativas à
unidade familiar tem por pressuposto que, na sociedade moderna, determinadas características das
famílias limitam a acumulação de recursos.
As variáveis com os componentes econômicos, sociais e demográficos, a escala de domicílios,
famílias ou grupos de pessoas foram traduzidos em vinte indicadores, apresentados no quadro 1.
Risco ambiental, para este estudo, está representado pela falta de saneamento básico ade-
quado, sendo que, quanto maior a proporção de domicílios nesta condição, dentro de cada AED,
maior o risco.
Considerou-se domicílio com inadequação geral aquele em que foi observada a ausência com-
binada dos três serviços básicos: água canalizada em pelo menos um cômodo, esgotamento sanitá-
rio por rede geral ou fossa séptica e coleta de lixo. Quanto ao abastecimento de água, considerou-se
como inadequado aquele domicílio servido por rede geral, mas canalizada só na propriedade ou
terreno, servido por poço, nascente ou outra forma. Quanto ao escoamento sanitário, considerou-se
como inadequado aquele domicílio cujo escoamento se dá em fossa rudimentar, vala, rio, lago, mar
ou outro escoadouro. Quanto à coleta de lixo, considerou-se como inadequado aquele domicílio que
não é atendido por serviço de limpeza ou caçamba.
As variáveis de saneamento constituem-se em uma boa proxy da qualidade do ambiente cons-
truído, no que se refere ao provimento de condições adequadas a uma vida humana saudável: por
um lado, sabe-se que a ausência de condições adequadas de saneamento tem importante reba-

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 15


timento sobre a saúde humana, no que se refere a algumas doenças que são evitáveis; por outro
lado, como o saneamento envolve uma importante dimensão da política urbana, sua presença ou
ausência, indica respectivamente, a ação ou inação do Estado, relativa a determinados grupos po-
pulacionais.
Ou seja, se os indicadores de vulnerabilidade social são indicativos de uma menor capacidade
de resposta por parte da população, os indicadores de saneamento permitem uma aproximação com
condições inadequadas do ambiente construído, relacionadas a déficits de atuação do poder público
junto a certos grupos sociais.
O indicador utilizado se refere à percentagem de domicílios com inadequação geral, ou seja, a
razão entre o número de domicílios particulares permanentes inadequados quanto a abastecimento
de água, escoamento sanitário, coleta de lixo e densidade por dormitório, e o total de domicílios par-
ticulares permanentes.

2.1. Construção da Tipologia quanto ao grau de vulnerabilidade social

a) Aplicação de Análise Multivariada


O objetivo da utilização de análise multivariada é identificar, a partir de uma série de variáveis
socioeconômicas e sociodemográficas previamente selecionadas, quais seriam as mais relevantes
para estabelecer uma tipologia das áreas de expansão da amostra (AEDs) dentro de cada região
metropolitana, no que se refere à vulnerabilidade social. É também construir um índice final para
hierarquizar e estabelecer grupos de áreas relati­vamente homogêneas. Optou-se por aplicar a análi-
se multivariada separadamente para cada uma das Regiões Metropolitanas (RMs) estudadas, dado
que a vulnerabilidade social, conforme visto anteriormente, tem um componente contextual, ou seja,
seu grau é determinado comparativamente no território.
A tipologia e o agrupamento das áreas das RMs foram obtidos por dois métodos estatísticos
multivariados: análise fatorial por componentes principais e análise de agrupamento.9
A análise fatorial estuda as relações internas de um conjunto de variáveis, ou seja, analisa
as intercorrelações entre as variáveis, com o objetivo de identificar um menor número de fatores que
apresentem aproximadamente o mesmo total de informações expresso pelas variáveis originais.
Esses fatores são independentes e linearmente relacionados às variáveis.
O procedimento de estimação por componentes principais calcula os autovalores e a matriz
de correlação entre as variáveis originais e os fatores comuns. Cada coluna dessa matriz contém
os coeficientes de correlação entre um fator e todas as variáveis. Assim, cada coluna identifica um
fator. A interpretação dos fatores se efetua sobre essa matriz, considerando o sinal e a intensidade
da correlação de cada fator com as variáveis originais.
Ainda, a variância de cada variável se separa em duas partes: a primeira, denominada comu-
nalidade, identifica a contribuição dos fatores comuns para explicar a variância de cada variável; a
segunda, denominada especificidade, expressa o quanto de específico conserva cada variável, o
que não é explicado pelo conjunto de fatores comuns extraídos. É importante ressaltar que o número
de variáveis deve ser de quatro a cinco vezes superior ao número de fatores retidos, sendo comum
reter fatores que tenham autovalores superiores a 1, caso contrário ele não explica o que uma vari-
ável explica sozinha.
Para essa análise foram construídas matrizes para cada Região Metropolitana estudada con-

9 A descrição exaustiva desses dois métodos encontra-se em: IGNÁCIO, Sérgio A. Tipologia dos municípios paranaenses, segun-
do indicadores socioeconômicos e sociodemográficos – uma análise estatística. Curitiba: PUCPR, 2002.

16 Marley Vanice Deschamps


tendo as AEDs correspondentes a cada uma delas e os 20 indicadores selecionados. Nesse caso,
para facilitar a interpretação e o posterior agrupamento, os valores dos indicadores foram invertidos:
ao invés de indicarem desvantagem social, estão indicando vantagem social, ou seja, como estão
em percentual, foram diminuídos de 100 –, exceto a V7, que foi diminuída de 1 para padronizar as
medidas. Assim, os maiores valores correspondem a uma melhor situação, sendo o contrário para os
menores valores. São apresentados a seguir: a análise exploratória dos dados e os resultados para
cada uma das RMs, separadamente.
A análise dos resultados será realizada para cada RM separadamente por meio da leitura dos
dados apresentados em onze tabelas descritas a seguir:
As tabelas A.1 e A.2 (anexo) apresentam, respectivamente, os indicadores demográficos e os
indicadores socioeconômicos selecionados segundo as AEDs para cada uma das RMs. A tabela A.3
mostra os valores dos indicadores invertidos, indicando vantagem social.
A tabela 1 apresenta a média aritmética, o coeficiente de variação de Pearson e a média das
demais Regiões Metropolitanas para cada variável. O coeficiente de variação de Pearson mede o
grau de variabilidade dos dados em percentagem de afastamento em relação à média.10 Cabe res-
saltar que os valores estão expressos em percentagem, com exceção da V7 (valores absolutos).
A tabela 2 apresenta a descrição preliminar das inter-relações existentes entre as variáveis
em estudo sob a forma de matriz – Matriz de correlação de Pearson, onde estarão em destaques os
valores cuja correlação é maior ou igual a 60%.
A aplicação da técnica de análise fatorial se dá com base na matriz de correlação de Pearson
podendo, dessa forma, melhor dimensionar e analisar as inter-relações entre as diversas variáveis,
destacando-se que o objetivo dessa análise é o de identificar um número menor de fatores que
representem aproximadamente o mesmo total de informação expresso pelas variáveis originais. O
processamento dos dados obedece a alguns passos:
Por meio do processamento dos dados com todas as variáveis, são eliminadas aquelas, cuja
comunalidade apresentem valores abaixo de 0,60, pois estas não estariam sendo explicadas pelo
conjunto dos fatores comuns. A comunalidade e variância específica serão expostas na tabela A 4.
Com as variáveis restantes, determina-se o número de fatores através dos autovalores11 com
valor superior a 1,0, retendo-se, assim, somente os fatores que tem uma explicação maior do que
uma variável pode explicar isoladamente. A tabela 3 exibe os autovalores obtidos, a percentagem da
variância total explicada pelos fatores comuns e a variância total acumulada.
Para identificar as variáveis componentes de cada um dos fatores, com cargas fatoriais altas
em cada fator, procede-se a rotação dos eixos de referência através do método Varimax12, a partir
da matriz de correlação das variáveis com os fatores comuns não rotacionados. As cargas fatoriais,
quando a análise fatorial parte de uma matriz de corre­lação, são coeficientes de correlação entre as
variáveis e os fatores, expressando o quanto uma variável observada está carregada em um fator.
A tabela 4 apresenta a matriz de correlação das variáveis com os fatores comuns rotacionados,
destacando-se as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que compõem
cada fator. As correlações destacadas nessa tabela indicam as variáveis mais correlacionadas com
cada fator e entre si.

10 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).
11 Valores próprios da matriz de correlação, raiz característica ou Eingevalue. (IGNÁCIO, 2002).
12 Rotação ortogonal que permite que os coeficientes de correlação entre as variáveis e os fatores comuns fiquem o mais próximo
possível de zero, 1 ou –1, facilitando, assim, sua interpretação (IGNÁCIO, 2002).

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 17


O resultado final da análise fatorial é apresentado na tabela A.5 (anexo), a qual apresenta os
valores dos escores fatoriais para cada AED estudada, estimados pelo método de regressão, bem
como o escore fatorial final e o índice final.
O índice final serve de parâmetro para classificar e hierarquizar as AEDs com base nos indica-
dores resumidos a partir da analise fatorial. Assim, o índice final informa a posição de cada uma das
áreas em relação à área com índice final máximo, ou seja, aquela que apresenta a melhor situação
em relação à vulnerabilidade ou em relação a qualquer outra área.
Para finalizar a análise multivariada procede-se ao agrupamento das áreas, identificando gru-
pos, os mais homogêneos possíveis, dentro de cada RM.
As técnicas de agrupamento podem ser utilizadas para realizar uma sumarização dos dados,
com objetivo de encontrar e separar n variáveis observa­cionais em k grupos similares. Os grupos
resultantes devem ser mutuamente exclusivos, cada um possuindo unidades observacionais cuja
similaridade, com respeito às características consideradas, seja a maior possível, ou seja, deve ha-
ver grande homogeneidade interna (dentro do grupo) e grande heterogeneidade externa (entre os
grupos) (IGNÁCIO, 2002).
O método utilizado para o agrupamento é o “método de agrupamento não-hierárquico das
k-médias” 13 e, determinou-se que o número de grupos formados deveria ser de seis, para dar se-
guimento à comparabilidade entre as duas análises adotadas para os agrupamentos. Dessa forma,
a partir do índice final, são formados seis Clusters, sendo cada qual formado por áreas segundo seu
grau de vulnerabilidade social, variando desde a pior situação, denominada de Altíssima vulnerabili-
dade social até a melhor situação denominada de Baixíssima vulnerabilidade social.
O resultado do agrupamento das áreas em seis grupos relativamente homogêneos, com base
na variável índice final e na denominação dada a cada grupo, é apresentada no Quadro 1, e a tabela
A.6 (anexo) exibe o índice final e os respectivos grupos em que foram alocadas as AEDs.

2.2. Construção da Tipologia quanto ao risco ambiental

Dadas as limitações quanto à utilização da variável “risco ambiental”, principalmente por este
estudo necessitar de uma única variável para efeitos de comparabilidade, optou-se por determinar
o maior ou menor risco, dentro de cada área, de acordo com a maior ou menor concentração de
domicílios em condições inadequadas de saneamento. A construção das categorias encontra-se no
quadro 2 abaixo:

13 Segundo Anderberg (1973), este é o método mais usual e baseia-se em duas premissas básicas: coesão interna das unidades
observacionais e isolamento externo entre os grupos. O cálculo das distâncias entre as unidades observacionais baseia-se na
distância Euclidiana. Parte-se do princípio de que a similaridade entre uma unidade observacional e outra (em um plano, por
exemplo) é dada pela distância entre essas duas unidades observacionais, segundo a posição que cada uma ocupa nos dois ei-
xos, medida por qualquer variável considerada significativa para o processo de diferenciação entre as unidades observacionais
(Apud IGNÁCIO, 2002).

18 Marley Vanice Deschamps


QUADRO 2 - CLASSES DE RISCO AMBIENTAL

GRUPO PROPORÇÃO DE DOMICÍLIOS COM INADEQUAÇÃO GERAL DENOMINAÇÃO

1 acima de 80% Altíssimo risco

2 acima de 60% até 80% Alto risco

3 acima de 45% até 60% Médio alto risco

4 acima de 30% até 45% Médio baixo risco

5 acima de 15% até 30% Baixo risco

6 até 15% Baixíssimo risco

0 Não possui domicílios particulares permanentes urbanos Sem classificação

2.3. Construção da Tipologia quanto ao grau de vulnerabilidade socioambiental

As condições preexistentes no meio ambiente - a demografia, o sistema social e a infraestru-


tura - estão entre os principais fatores de vulnerabilidade. Para a construção da tipologia quanto ao
grau de vulnerabilidade socioambiental, realiza-se uma leitura inter-relacionada desses fatores, bem
como se identificam os espaços metropolitanos onde há coincidência entre a vulnerabilidade social
e a ambiental, por meio da leitura cruzada das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e
risco ambiental. Dessa forma, podem-se determinar aqueles espaços intraurbanos, concentradores
de populações socialmente vulneráveis, residindo em áreas de risco, vinculados a processos de se-
gregação ambiental, onde se apresenta uma distribuição desigual do dano ambiental.
A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes nos quais se observam as diversas situa-
ções das áreas da região metropolitana de São Paulo em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental;

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental;

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental;

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental;

No primeiro quadrante encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnera-


bilidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante, estão
áreas de alto risco ambiental, mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão
estar mais focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, situações de baixo
risco ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com marcante concen-
tração de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deverão estar
voltadas, principalmente, para as questões sociais.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 19


3. ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.1 Região Metropolitana de São Paulo

a) Vulnerabilidade social
A RM de São Paulo é composta por 39 municípios subdivididos em 812 AEDs, das quais 456
(56%) estão no município de São Paulo. Para cada uma das áreas foram calculados os indicadores
de desvantagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A 1.1, A 1.2 e A 1.3
(anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à
RM de São Paulo aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de
cada variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM de São Paulo.
Em relação aos indicadores de desvantagens sociodemográficas e socioeconômicas, a RM de
São Paulo apresenta resultados geralmente melhores do que a média das regiões metropolitanas
onsideradas neste estudo14. Dos três indicadores em relação aos quais a RM de São Paulo apre-
senta maior valor que a média15, dois (V2 e V9) se referem à sua estrutura demográfica, que, como
outras das regiões Sul e Sudeste do país, é marcada por um processo mais intenso de envelheci-
mento da população; entretanto, trata-se de um grupo cuja capacidade de fazer frente a certos riscos
é menor, principalmente quando à condição etária, aliam-se outras desvantagens sociais. Mas é em
relação à condição domiciliar (V20) que a situação desta RM mostra-se mais precária, com cerca de
1/3 de seus domicílios sendo considerados inadequados do ponto de vista da densidade por cômo-
dos (tabela 1.1).
Por outro lado, em relação à questão da chefatura de família por menores, geralmente asso-
ciada à questão da experiência reprodutiva de adolescentes (V6), a situação da RM de São Paulo
mostra-se mais favorável. O mesmo verifica-se em relação ao analfabetismo de jovens e adultos
(V14) e, principalmente, quanto aos rendimentos do trabalho (V12); enquanto nesta RM 7,2% dos
trabalhadores ganham até 1 salário mínimo, a média das RMs é de 20,6%. Na realidade, no que se
refere às variáveis V6, V7 e V12, São Paulo apresenta a melhor situação relativa entre as 17 RMs
consideradas neste estudo.
Em relação ao significado destes indicadores, há que se ressaltar que as taxas, mesmo que
pequenas, podem envolver milhões de pessoas em situação de precariedade, fato este, que vale
para todas as RMs, principalmente para aquelas mais populosas, particularmente a de São Paulo.

14 Vale lembrar que, além de São Paulo, 16 regiões metropolitanas são objeto deste estudo.
15 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de São Paulo e a do conjunto de RMs.

20 Marley Vanice Deschamps


TABELA 1.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS
DEMOGRÁFICAS E SOCIOECONÔMICAS - RM SÃO PAULO - 2000
SÃO PAULO
VARIÁVEL MÉDIA RMs
MÉDIA CV (%)
Percentagem de famílias chefiadas por pessoas menores V1 0,98 61,85 1,45
Percentagem de famílias chefiadas por pessoas idosas V2 11,22 57,91 10,08
Percentagem de famílias chefiadas por mulheres sem cônjuge V3 23,31 21,47 23,71
Percentagem de famílias com 4 filhos ou mais V4 6,16 52,64 6,59
Percentagem de famílias com 7 membros ou mais V5 3,01 55,00 3,66
Percentagem de adolescentes com experiência reprodutiva V6 5,67 47,12 8,00
Parturição - mulheres de 10 a 34 anos V7 0,66 31,13 0,75
Percentagem de crianças de 0 a 14 anos V8 25,77 24,47 27,79
Percentagem de pessoas com idade acima de 64 anos V9 5,85 66,36 5,13
Índice de dependência infantil V10 38,13 28,32 42,08
Percentagem de famílias com renda insuficiente V11 12,63 59,48 21,02
Percentagem de ocupados com baixo rendimento no trabalho principal V12 7,18 50,01 20,63
Percentagem de ocupados no setor informal V13 44,73 10,62 49,44
Taxa de analfabetismo da população de 15 anos e mais V14 5,09 52,89 7,34
Taxa de analfabetismo funcional da população de 15 anos e mais V15 15,48 41,02 18,83
Taxa de analfabetismo funcional dos chefes de famílias V16 18,89 44,16 21,71
Percentagem de crianças fora da escola V17 3,14 62,97 3,73
Percentagem de adolescentes fora da escola V18 14,82 43,03 17,45
Percent. de jovens e adultos com nível de escolaridade inadequado V19 71,26 26,06 75,04
Percentagem de domicílios com densidade por dormitório inadequada V20 33,47 42,28 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

É possível verificar que, para 15 das 20 variáveis, o coeficiente de variação16 é superior a


30%, indicativo de que entre as AEDs há forte variabilidade da situação social; em nove casos, o co-
eficiente supera os 50%. Essa diferenciação diz respeito principalmente à distribuição geográfica da
população idosa, das famílias numerosas e daquelas chefiadas por menores, bem como à pobreza
e às crianças fora da escola.
Por outro lado, as AEDs são mais homogêneas (menor CV) principalmente quanto à infor-
malidade das ocupações (V13), situação de mais da metade dos ocupados da RM de São Paulo, e
quanto à participação de crianças no total da população (V8).
A questão da informalidade, como será observada na maioria das regiões estudadas, apesar
de envolver contingentes expressivos de trabalhadores, não se mostrou um diferenciador importante
das áreas intraurbanas. Isso se deve, possivelmente, ao fato do indicador considerar apenas a não
formalização da relação de trabalho (registro em carteira), sem especificar o conteúdo das ocupa-
ções. Assim, se em áreas periféricas a informalidade está associada a ocupações precárias, nas
áreas de tipo superior ela aparece, geralmente, associada ao trabalho autônomo de profissionais
liberais e de prestadores de serviços especializados.
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo, des-
tacando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 1.2). Com exceção de duas variáveis
– crianças fora da escola e ocupados no setor informal –, as demais apresentaram de moderado a
alto grau de correlação entre elas.
16 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 21


TABELA 1.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS
ESTUDADAS – RM SÃO PAULO – 2000
VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10
V1 1,000 -0,574 -0,347 0,616 0,569 0,656 0,646 0,634 -0,573 0,640
V2 -0,574 1,000 0,713 -0,798 -0,725 -0,680 -0,843 -0,902 0,984 -0,867
V3 -0,347 0,713 1,000 -0,683 -0,630 -0,495 -0,717 -0,763 0,741 -0,748
V4 0,616 -0,798 -0,683 1,000 0,923 0,709 0,917 0,931 -0,824 0,939
V5 0,569 -0,725 -0,630 0,923 1,000 0,659 0,854 0,864 -0,750 0,877
V6 0,656 -0,680 -0,495 0,709 0,659 1,000 0,768 0,754 -0,698 0,750
V7 0,646 -0,843 -0,717 0,917 0,854 0,768 1,000 0,969 -0,867 0,972
V8 0,634 -0,902 -0,763 0,931 0,864 0,754 0,969 1,000 -0,922 0,995
V9 -0,573 0,984 0,741 -0,824 -0,750 -0,698 -0,867 -0,922 1,000 -0,883
V10 0,640 -0,867 -0,748 0,939 0,877 0,750 0,972 0,995 -0,883 1,000
V11 0,642 -0,774 -0,650 0,929 0,877 0,714 0,923 0,921 -0,788 0,939
V12 0,504 -0,497 -0,525 0,697 0,656 0,512 0,697 0,662 -0,527 0,686
V13 -0,096 0,413 0,156 -0,136 -0,083 -0,203 -0,206 -0,255 0,408 -0,208
V14 0,598 -0,727 -0,656 0,875 0,831 0,710 0,892 0,871 -0,749 0,885
V15 0,616 -0,762 -0,682 0,904 0,857 0,740 0,924 0,906 -0,790 0,915
V16 0,600 -0,762 -0,684 0,899 0,845 0,730 0,912 0,902 -0,798 0,906
V17 0,364 -0,377 -0,249 0,482 0,514 0,442 0,500 0,449 -0,387 0,462
V18 0,527 -0,556 -0,398 0,629 0,622 0,646 0,687 0,643 -0,571 0,649
V19 0,610 -0,826 -0,644 0,876 0,808 0,728 0,906 0,917 -0,846 0,911
V20 0,623 -0,840 -0,696 0,905 0,840 0,758 0,940 0,947 -0,866 0,943

VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,642 0,504 -0,096 0,598 0,616 0,600 0,364 0,527 0,610 0,623
V2 -0,774 -0,497 0,413 -0,727 -0,762 -0,762 -0,377 -0,556 -0,826 -0,840
V3 -0,650 -0,525 0,156 -0,656 -0,682 -0,684 -0,249 -0,398 -0,644 -0,696
V4 0,929 0,697 -0,136 0,875 0,904 0,899 0,482 0,629 0,876 0,905
V5 0,877 0,656 -0,083 0,831 0,857 0,845 0,514 0,622 0,808 0,840
V6 0,714 0,512 -0,203 0,710 0,740 0,730 0,442 0,646 0,728 0,758
V7 0,923 0,697 -0,206 0,892 0,924 0,912 0,500 0,687 0,906 0,940
V8 0,921 0,662 -0,255 0,871 0,906 0,902 0,449 0,643 0,917 0,947
V9 -0,788 -0,527 0,408 -0,749 -0,790 -0,798 -0,387 -0,571 -0,846 -0,866
V10 0,939 0,686 -0,208 0,885 0,915 0,906 0,462 0,649 0,911 0,943
V11 1,000 0,740 -0,128 0,895 0,915 0,899 0,505 0,645 0,880 0,900
V12 0,740 1,000 0,190 0,714 0,700 0,680 0,301 0,429 0,627 0,608
V13 -0,128 0,190 1,000 -0,081 -0,125 -0,144 -0,005 -0,102 -0,286 -0,276
V14 0,895 0,714 -0,081 1,000 0,958 0,939 0,510 0,675 0,833 0,868
V15 0,915 0,700 -0,125 0,958 1,000 0,986 0,529 0,695 0,882 0,920
V16 0,899 0,680 -0,144 0,939 0,986 1,000 0,499 0,670 0,879 0,922
V17 0,505 0,301 -0,005 0,510 0,529 0,499 1,000 0,575 0,433 0,466
V18 0,645 0,429 -0,102 0,675 0,695 0,670 0,575 1,000 0,618 0,650
V19 0,880 0,627 -0,286 0,833 0,882 0,879 0,433 0,618 1,000 0,931
V20 0,900 0,608 -0,276 0,868 0,920 0,922 0,466 0,650 0,931 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

22 Marley Vanice Deschamps


Algumas variáveis destacam-se pelo elevado grau de correlação (>= 0,800) que apresentam
com mais da metade das variáveis analisadas. Três delas referem-se aos componentes demográ-
ficos da vulnerabilidade social, os quais sejam: parturição de mulheres jovens e adultas, presença
de crianças de 0 a 14 anos e índice de dependência infantil; ou seja, remetem a casos de famílias
numerosas e em estágios iniciais do ciclo familiar. As outras duas variáveis com elevada correlação
são relacionadas à inadequação escolar de jovens adultos e à condição de densidade domiciliar.
Cabe destacar, ainda em relação à matriz, que para a maioria das variáveis, o sentido da cor-
relação é positivo, o que indica que a ocorrência de um elemento de vulnerabilidade, geralmente, é
acompanhada por componentes dessa condiçã9o.
Apenas para três variáveis (V2, V3 e V9) predominam as correlações negativas. Trata-se de
variáveis relacionadas à situação de idosos e de chefatura feminina sem cônjuge, indicando que
essas condições nem sempre são acompanhadas de outras desvantagens sociais.
A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que se
refere às variáveis de desvantagens demográficas e socioeconômicas, pode ser observada na tabela
1.3. Os dois fatores retidos explicaram quase 88% da variância total das 1617 variáveis originais, a
partir da diversidade encontrada nas 812 áreas internas da RM de São Paulo. O primeiro fator, que
possui um autovalor 9 vezes superior ao segundo, explica aproximadamente 80% da variância total,
enquanto o segundo explica aproximadamente 9%.

TABELA 1.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA


PELOS FATORES COMUNS, COM BASE EM 16 VARIÁVEIS – RM SÃO PAULO - 2000
FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA (%)

1 12,73 79,54 79,54

2 1,38 8,63 88,17

FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos fatores e entre si são apresentadas na
tabela 1.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que com-
põem cada fator.

17 No caso da RM de São Paulo, quatro variáveis (V1, V3, V17 e V18) não foram consideradas na determinação dos fatores devido
à sua comunalidade ser abaixo de 60% (tabela A.1.4).

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 23


TABELA 1.4 - CORRELAÇÃO DAS 16 VARIÁVEIS COM OS DOIS FATORES COMUNS ROTACIONA-
DOS PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER – RM SÃO PAULO – 2000

FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2
V2 -0,794 0,493
V4 0,952 -0,104
V5 0,908 -0,041
V6 0,762 -0,219
V7 0,955 -0,189
V8 0,947 -0,265
V9 -0,820 0,475
V10 0,959 -0,203
V11 0,956 -0,069
V12 0,797 0,333
V13 -0,036 0,936
V14 0,941 -0,013
V15 0,961 -0,072
V16 0,949 -0,096
V19 0,900 -0,275
V20 0,926 -0,272
FONTE: Dados da pesquisa

O fator 1 reúne 15 das 16 variáveis utilizadas para a determinação dos fatores, todas com
elevado grau de correlação. Com exceção das duas variáveis relacionadas à presença de idosos,
cujo sentido da correlação é negativo, as demais apontam para uma conjunção de componentes de
desvantagem social: famílias numerosas, com filhos menores e, em alguns casos, com adolescentes
com experiência reprodutiva, geralmente estão relacionadas com pobreza, déficits educacionais e
condição domiciliar inadequada.
O segundo fator isolou a variável correspondente à informalidade do trabalho, a qual, porém,
não apresenta correlação expressiva com nenhuma das demais variáveis.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 1.5, a qual apresenta os
valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão, bem
como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em relação
à área com índice final máximo (AED 3550308999016, correspondente a uma parte da Bela Vista,
localizada na área central do município de São Paulo), a qual apresenta a melhor situação em rela-
ção à vulnerabilidade. A AED 3545001001001, localizada em Salesópolis, apresenta a pior situação
em termos de vulnerabilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas, procedeu-se à análise de agrupa-
mentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis dentro da RM de São
Paulo. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 1.1 e a tabela A 1.6 exibe o índice final
e os respectivos grupos em que foram alocadas as 812 áreas.

24 Marley Vanice Deschamps


QUADRO 1.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS
HOMOGÊNEOS – RM SÃO PAULO - 2000

GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 11 Altíssima vulnerabilidade

2 48 Alta vulnerabilidade

3 153 Média para alta vulnerabilidade

4 234 Média para baixa vulnerabilidade

5 191 Baixa vulnerabilidade

6 175 Baixíssima vulnerabilidade

FONTE: Dados da pesquisa

A maioria das áreas da RM de São Paulo enquadra-se nos grupos de melhor condição social;
o grupo de média para baixa vulnerabilidade reúne o maior número de áreas, representando 28,8%
do total, e os de baixa e baixíssima, juntos, agregam 45,1%. A distribuição geográfica dos grupos
pode ser visualizada na figura 1.1, abaixo.
Apenas 59 foram classificadas como de alta ou altíssima vulnerabilidade, 7,3% do total de
áreas. Em boa medida, essas áreas se encontram em municípios que compõem o anel externo da
região metropolitana. Porém, na cidade de São Paulo estão localizadas duas áreas de altíssima
vulnerabilidade (parte da Vila Jacuí, na zona leste, e Marsilac, no extremo sul da cidade) e 10 de
alta vulnerabilidade, a maioria destas, também, nas zonas lestes (Jardim Helena, Itaim Paulista, Vila
Curuça e Cidade Tiradentes) e sul (Jardim Ângela, Parelheiros e Grajaú).

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 25


FIGURA 1.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO
AS ÁREAS DE EXPANSÃO - RM SÃO PAULO – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

As áreas classificadas como média baixa estão distribuídas por 24 municípios, sendo que
55% delas localizam-se no polo metropolitano. Em relação às áreas de baixa e baixíssima vulnera-
bilidade, sua distribuição geográfica é mais restrita, encontrando-se em apenas 14 e 9 municípios,
respectivamente. A concentração na cidade de São Paulo é ainda maior, ultrapassando 2/3 do total
das áreas desses dois grupos. Fora de São Paulo, essas áreas estão concentradas na região do
ABC paulista.
Essa distribuição espacial das áreas concentradoras de população, de acordo com sua condi-
ção em relação à vulnerabilidade social, mostra claramente um processo excludente, em que aquela
população em condições de mais alta vulnerabilidade social reside em áreas mais afastadas do
centro metropolitano ou em áreas periféricas deste.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expressa pela proporção de domicílios em condições inade-
quadas de saneamento18, implicando uma situação de risco, observa-se uma situação mais des-
favorável comparativamente àquela observada no item anterior, pois aumenta o número de áreas
classificadas nos grupos de médio alto até altíssimo risco ambiental, os quais reúnem quase 40%
do total de áreas. Verifica-se, inclusive, que mesmo em São Paulo, há um maior número de áreas
classificadas nesses grupos de maior risco ambiental. Estas estão concentradas nas zonas leste e
sul, mas também estão presentes em espaços mais centrais (quadro 1.2 e figura 1.2). Em São Paulo,
as duas áreas consideradas de altíssimo risco ambiental são o Grajaú e a Vila Jacuí.

18 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

26 Marley Vanice Deschamps


QUADRO 1.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS
EM RELAÇÃO À SITUAÇÃO DE RISCO AMBIENTAL – RM DE SÃO PAULO - 2000

GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 21 Altíssimo risco

2 95 Alto risco

3 205 Médio para alto risco

4 204 Médio para baixo risco

5 183 Baixo risco

6 94 Baixíssimo risco

0 10 Sem denominação

FONTE: Dados da pesquisa

NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

No outro extremo, quase 60% das áreas foram classificadas na condição de média baixa até
baixíssima vulnerabilidade. A grande maioria delas (327, num total de 481), localizada no município
de São Paulo. E nesse caso, também esse tipo de área, além do município polo, está concentrado
no ABC, Osasco e Guarulhos.

FIGURA 1.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS


DE EXPANSÃO – RM DE SÃO PAULO – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Na leitura espacial desse fenômeno, observa-se uma clara situação de segregação socioespa-
cial, em que, mais uma vez, são as áreas centrais do município polo que reúnem as condições de mais
baixo risco ambiental e a situação fica mais crítica à medida que as áreas se afastam desse ponto.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 27


c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 1.8, em anexo, e resumidas no quadro 1.3.

QUADRO 1.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO À


SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM DE SÃO PAULO –
2000
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima
Baixíssimo 90 1 3      
Baixo 83 3 97      
Médio baixo 2 111 85 6    
Médio alto   105 5 87 7 1
Alto   11 1 53 25 5
Altíssimo   1   3 13 4
FONTE: Dados da pesquisa

A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes nos quais se observam as diversas situa-
ções das áreas da região metropolitana de São Paulo em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnera-


bilidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante estão
áreas de alto risco ambiental, mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão
estar mais focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, estão situações de
baixo risco ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com marcante con-
centração de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deverão
estar voltadas, principalmente, para as questões sociais.
Na região metropolitana de São Paulo tem-se a maior concentração (59,2%) de áreas no pri-
meiro quadrante. São Paulo, além de concentrar as áreas deste quadrante, reúne as áreas com as
melhores situações, ou seja, baixíssima vulnerabilidade social com baixíssimo risco ambiental, dentre
as quais as melhores posicionadas são áreas situadas na Bela Vista e no Jardim Paulista. Destaca-
se, também, a área de Santa Terezinha, localizada em São Bernardo do Campo (figura 1.3).

28 Marley Vanice Deschamps


FIGURA 1.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL,
SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RM DE SÃO PAULO – 2000.

FONTE: Dados da pesquisa

As piores situações, aquelas classificadas no quarto quadrante somam a segunda maior con-
centração de áreas, 24,7% do total, sendo que das 198 áreas ali inseridas, 1/3 está em São Paulo.
As áreas em situação mais crítica, aquelas com altíssima vulnerabilidade social e altíssimo risco
ambiental, são: Vila Jacuí, em São Paulo, Salesópolis e parte de Moji das Cruzes, envolvendo sua
área rural.
Um total de 123 áreas (15,3%) estão no segundo quadrante, ou seja, famílias ou pessoas em
situação de baixa vulnerabilidade social residindo em áreas com falta de infraestrutura de saneamen-
to, a maior parte localizada no polo metropolitano. Apenas 6 áreas foram classificadas no terceiro
quadrante.

3.2 Região Metropolitana do Rio de Janeiro

a) Vulnerabilidade social
A RM do Rio de Janeiro é composta por 20 municípios subdivididos em 412 AEDs, das quais
170 (41%) estão no município do Rio de Janeiro. Para cada uma das áreas foram calculados os
indicadores de desvantagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A 2.1, A
2.2 e A 2.3 (anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de vul-
nerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à RM do
Rio de Janeiro aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de cada
variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM do Rio de Janeiro.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 29


De um modo geral, essa região metropolitana apresenta indicadores abaixo da média do con-
junto das 17 RMs. Entretanto, cabe ressaltar que nela se verifica a maior participação19, dentre todas
as regiões, de idosos na população total (V2 e V9). Percebe-se, ainda, que as duas variáveis rela-
cionadas ao tamanho das famílias (V4 e V5) têm valores abaixo da média das RMs, sinalizando para
um contexto marcado predominantemente por pequenas famílias. Por fim, a RM do Rio de Janeiro
também se destaca por situações mais favoráveis quanto à chefatura de menores, rendimento do
trabalho e analfabetismo de jovens e adultos (tabela 2.1).
É possível verificar que para 14 das 20 variáveis, o coeficiente de variação20 é superior a 30%,
indicativo de que entre as AEDs há forte variabilidade da situação social. Se, como mencionado aci-
ma, a RM do Rio do Janeiro se caracteriza pelo predomínio de famílias pequenas, os dois indicadores
afetos a essa situação apresentam alto valor do coeficiente de variação, evidenciando a presença
maior de famílias numerosas em algumas áreas da RM. O mesmo se verifica em relação à chefatura
de menores, presença de idosos, analfabetismo de jovens e adultos e crianças fora da escola.

TABELA 2.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS


E SOCIOECONÔMICAS – RM RIO DE JANEIRO – 2000
RIO DE JANEIRO
VARIÁVEL MÉDIA RMs
MÉDIA CV (%)
V1 1,06 53,67 1,45
V2 14,37 37,83 10,08
V3 27,16 17,48 23,71
V4 4,28 53,85 6,59
V5 2,19 54,32 3,66
V6 7,37 42,31 8,00
V7 0,71 25,46 0,75
V8 25,14 20,30 27,79
V9 7,33 50,14 5,13
V10 37,47 23,04 42,08
V11 17,74 49,07 21,02
V12 14,88 38,26 20,63
V13 48,06 12,05 49,44
V14 5,73 54,22 7,34
V15 17,19 42,26 18,83
V16 19,96 44,41 21,71
V17 3,82 57,24 3,73
V18 17,42 45,32 17,45
V19 75,84 21,29 75,04
V20 29,75 34,80 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

Por outro lado, as AEDs são mais homogêneas (menor CV) principalmente quanto à informa-
lidade das ocupações (V13), situação de .metade dos ocupados desta RM, chefatura feminina sem
cônjuge (V3) e participação de crianças na população total (V8).
19 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM do Rio de Janeiro e a do conjunto de RMs.
20 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

30 Marley Vanice Deschamps


A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo, desta-
cando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 2.2).

TABELA 2.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS


ESTUDADAS – RM RIO DE JANEIRO – 2000
VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7M V8 V9 V10
V1 1,000 -0,517 -0,332 0,511 0,465 0,694 0,614 0,622 -0,531 0,625
V2 -0,517 1,000 0,814 -0,664 -0,606 -0,636 -0,806 -0,869 0,979 -0,818
V3 -0,332 0,814 1,000 -0,573 -0,549 -0,480 -0,692 -0,724 0,806 -0,684
V4 0,511 -0,664 -0,573 1,000 0,903 0,644 0,849 0,891 -0,698 0,918
V5 0,465 -0,606 -0,549 0,903 1,000 0,604 0,788 0,821 -0,642 0,847
V6 0,694 -0,636 -0,480 0,644 0,604 1,000 0,768 0,756 -0,670 0,750
V7 0,614 -0,806 -0,692 0,849 0,788 0,768 1,000 0,960 -0,843 0,958
V8 0,622 -0,869 -0,724 0,891 0,821 0,756 0,960 1,000 -0,904 0,994
V9 -0,531 0,979 0,806 -0,698 -0,642 -0,670 -0,843 -0,904 1,000 -0,854
V10 0,625 -0,818 -0,684 0,918 0,847 0,750 0,958 0,994 -0,854 1,000
V11 0,589 -0,724 -0,612 0,895 0,814 0,729 0,921 0,931 -0,764 0,946
V12 0,460 -0,659 -0,648 0,740 0,675 0,606 0,849 0,816 -0,700 0,819
V13 0,253 -0,397 -0,570 0,507 0,486 0,329 0,539 0,494 -0,391 0,510
V14 0,557 -0,671 -0,657 0,823 0,781 0,700 0,874 0,851 -0,687 0,869
V15 0,564 -0,719 -0,686 0,820 0,775 0,723 0,911 0,881 -0,740 0,889
V16 0,563 -0,726 -0,687 0,815 0,770 0,722 0,916 0,890 -0,754 0,896
V17 0,407 -0,479 -0,386 0,614 0,597 0,515 0,606 0,600 -0,476 0,616
V18 0,567 -0,597 -0,524 0,692 0,640 0,656 0,759 0,738 -0,610 0,745
V19 0,538 -0,741 -0,611 0,793 0,732 0,718 0,910 0,894 -0,785 0,889
V20 0,585 -0,795 -0,612 0,849 0,779 0,739 0,922 0,940 -0,840 0,933

VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,589 0,460 0,253 0,557 0,564 0,563 0,407 0,567 0,538 0,585
V2 -0,724 -0,659 -0,397 -0,671 -0,719 -0,726 -0,479 -0,597 -0,741 -0,795
V3 -0,612 -0,648 -0,570 -0,657 -0,686 -0,687 -0,386 -0,524 -0,611 -0,612
V4 0,895 0,740 0,507 0,823 0,820 0,815 0,614 0,692 0,793 0,849
V5 0,814 0,675 0,486 0,781 0,775 0,770 0,597 0,640 0,732 0,779
V6 0,729 0,606 0,329 0,700 0,723 0,722 0,515 0,656 0,718 0,739
V7M 0,921 0,849 0,539 0,874 0,911 0,916 0,606 0,759 0,910 0,922
V8 0,931 0,816 0,494 0,851 0,881 0,890 0,600 0,738 0,894 0,940
V9 -0,764 -0,700 -0,391 -0,687 -0,740 -0,754 -0,476 -0,610 -0,785 -0,840
V10 0,946 0,819 0,510 0,869 0,889 0,896 0,616 0,745 0,889 0,933
V11 1,000 0,867 0,544 0,875 0,906 0,906 0,639 0,729 0,891 0,907
V12 0,867 1,000 0,708 0,796 0,844 0,837 0,471 0,611 0,835 0,787
V13 0,544 0,708 1,000 0,593 0,606 0,582 0,364 0,393 0,489 0,430
V14 0,875 0,796 0,593 1,000 0,966 0,952 0,647 0,773 0,797 0,791
V15 0,906 0,844 0,606 0,966 1,000 0,987 0,658 0,788 0,858 0,845
V16 0,906 0,837 0,582 0,952 0,987 1,000 0,646 0,788 0,859 0,854
V17 0,639 0,471 0,364 0,647 0,658 0,646 1,000 0,640 0,553 0,618
V18 0,729 0,611 0,393 0,773 0,788 0,788 0,640 1,000 0,687 0,728
V19 0,891 0,835 0,489 0,797 0,858 0,859 0,553 0,687 1,000 0,916
V20 0,907 0,787 0,430 0,791 0,845 0,854 0,618 0,728 0,916 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 31


A maioria das variáveis apresenta de moderado a alto grau de correlação. Em relação aos
componentes da vulnerabilidade demográfica, destacam-se os indicadores que expressam a par-
turição de mulheres jovens e adultas, a presença de crianças menores de 14 anos e o índice de
dependência infantil, todos com altíssima correlação (>= 0,800) com mais da metade das variáveis
analisadas. No que se refere às variáveis socioeconômicas, destacam-se os indicadores de insufici-
ência da renda familiar e de analfabetismo funcional.
Esse conjunto de indicadores com maior correlação aponta para a relação entre famílias em
seu ciclo inicial e desvantagens relacionadas à pobreza e déficits educacionais.
A situação de informalidade no mercado de trabalho, embora envolvendo parcela expressiva
(48%) dos ocupados da RM do Rio de Janeiro, apresentou relação moderada apenas com baixo
rendimento do trabalho e analfabetismo funcional. Outro indicador com baixa correlação com as
demais variáveis é o percentual de famílias chefiadas por menores, o qual, porém, está associado à
ocorrência de desvantagens quanto à experiência reprodutiva de adolescentes, nível de parturição
e de dependência infantil.
Como verificado em outras regiões metropolitanas, apenas para três variáveis (V2, V3 e V9)
predominam as correlações negativas. Trata-se de variáveis relacionadas à situação de idosos e de
chefatura feminina sem cônjuge, indicando que estas condições nem sempre são acompanhadas de
outras desvantagens sociais.
A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que se
refere às variáveis de desvantagem demográficas e socioeconômicas, pode ser observada na tabela
2.3. Os três fatores retidos explicaram quase 84% da variância total das 2021 variáveis originais, a
partir da diversidade encontrada nas 412 áreas internas da RM do Rio de Janeiro. O primeiro fator,
que possui um autovalor 14 vezes superior ao segundo e ao terceiro fatores, explica aproximada-
mente 74% da variância total, enquanto os demais têm uma contribuição menor, em torno de 5% da
variância entre as áreas.

TABELA 2.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA PELOS


FATORES COMUNS, COM BASE EM 20 VARIÁVEIS – RM RIO DE JANEIRO - 2000

FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA (%)

1 14,787 73,933 73,933


2 1,078 5,388 79,321
3 1,019 5,097 84,418
FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos três fatores e entre si são apresentadas
na tabela 2.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que
determinam cada fator.

21 No caso da RM do Rio de Janeiro, todas as variáveis apresentaram comunalidade acima de 60%, não havendo necessidade de
retirada de nenhuma delas para a determinação dos fatores (ver tabela A 2.4).

32 Marley Vanice Deschamps


TABELA 2.4 - CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS COM OS TRÊS FATORES COMUNS ROTACIONA-
DOS PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER – RM RIO DE JANEIRO – 2000
FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2 3
V1 0,730 0,318 -0,095
V2 -0,380 -0,867 -0,200
V3 -0,133 -0,773 -0,473
V4 0,687 0,360 0,473
V5 0,651 0,303 0,475
V6 0,747 0,422 0,077
V7M 0,670 0,562 0,420
V8 0,656 0,639 0,362
V9 -0,420 -0,865 -0,205
V10 0,693 0,562 0,396
V11 0,709 0,434 0,478
V12 0,446 0,455 0,655
V13 0,109 0,197 0,864
V14 0,674 0,343 0,564
V15 0,669 0,405 0,562
V16 0,669 0,426 0,538
V17 0,696 0,055 0,336
V18 0,739 0,267 0,300
V19 0,631 0,525 0,401
V20 0,698 0,555 0,314
FONTE: Dados da pesquisa

O fator 1 confirma que parcela expressiva da variabilidade entre as AEDs da RM do Rio de


Janeiro está relacionada a algumas condições familiares específicas, como a chefatura por menores,
a alta freqüência de membros, maior dependência infantil e precocidade da experiência reprodutiva
feminina, condições que se associam a outras desvantagens sociais relativas à insuficiência da ren-
da familiar, déficits educacionais e inadequação domiciliar.
O segundo fator particulariza situações relacionadas à presença de idosos e chefatura femi-
nina sem cônjuge e com menor presença de crianças. Como destacado anteriormente, a RM do
Rio de Janeiro possui a maior participação de idosos na população total, entre as RMs brasileiras.
Além disso, dada a maior longevidade das mulheres, é possível que este tipo de chefatura esteja
relacionado, em alguma medida, aos lares chefiados por idosas. O terceiro fator isolou a variável
correspondente à informalidade do trabalho, a qual apresentou correlação moderada apenas com a
baixa remuneração do trabalho.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 2.5, a qual apresenta os
valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão, bem
como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em relação
à área com índice final máximo (AED 3304557999039, localizada em Copacabana), a qual apresenta
a melhor situação em relação à vulnerabilidade. A AED 3302270001001, localizada em Japeri (Ba-
nanal), apresenta a pior situação em termos de vulnerabilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas, procedeu-se à análise de agrupa-
mentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis dentro da RM do Rio
de Janeiro. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 2.1 e a tabela A 2.6 exibe o índice
final e os respectivos grupos em que foram alocadas as 412 áreas.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 33


QUADRO 2.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS
– RM RIO DE JANEIRO – 2000
NÚMERO DE
GRUPO DENOMINAÇÃO DO GRUPO
ÁREAS
1 65 Altíssima vulnerabilidade
2 79 Alta vulnerabilidade
3 84 Média para alta vulnerabilidade
4 83 Média para baixa vulnerabilidade
5 64 Baixa vulnerabilidade
6 37 Baixíssima vulnerabilidade
FONTE: Dados da pesquisa

O resultado final pode ser visualizado na figura 2.1 abaixo. Antes de verificar a distribuição
geográfica desses agrupamentos, cabe uma comparação desse resultado com o verificado na RM
de São Paulo, por se tratar das duas maiores regiões metropolitanas brasileiras. Enquanto no Rio de
Janeiro 35% das áreas enquadram-se nos grupos de alta e altíssima vulnerabilidade, este percentual
foi, na RM de São Paulo, de apenas 7%; o contrário ocorre em relação às áreas de menor vulne-
rabilidade (baixa e baixíssima), respectivamente 24% e 50%. Considerando-se os componentes da
vulnerabilidade social, a principal desvantagem da RM do Rio de Janeiro relaciona-se aos dois indi-
cadores de renda (familiar e do trabalho); há que se considerar, também, a maior presença relativa,
nesta RM, de adolescentes com experiência reprodutiva e de idosos na população total, apesar de,
no caso desta última variável, os resultados da análise fatorial (ver tabela 2.3) não apontarem para a
associação com os componentes de desvantagem socioeconômica.
As 65 áreas classificadas como de altíssima vulnerabilidade social estão distribuídas em 12
dos 20 municípios da RM do Rio de Janeiro, em um arco que vai de Tanguá, a leste da região, até
Itaguaí, a oeste. Na cidade do Rio de Janeiro estão localizadas 11 dessas áreas, dentre as quais
as favelas da Rocinha, Acari, Complexo do Alemão e o da Maré. Niterói não possui nenhuma área
nesse grupo. Outras 79 áreas foram classificadas como de alta vulnerabilidade social, sendo 16 lo-
calizadas na cidade do Rio (Campo Grande, Guaratiba, Jacarepaguá/Cidade de Deus, Jacarezinho,
Vigário Geral, entre outras) e duas em Niterói (Cafuba/Cantagalo/Jacaré e Viradouro/Ititioca/Sape).

34 Marley Vanice Deschamps


FIGURA 2.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS ÁREAS
DE EXPANSÃO – RM RIO DE JANEIRO – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

No outro extremo, as áreas classificadas como de baixa ou baixíssima vulnerabilidade social,


101 no total, estão distribuídas em cinco municípios, mas concentradas na cidade do Rio de Janei-
ro, que detém mais de ¾ delas. Neste perfil destacam-se diversas áreas nos municípios de São
Gonçalo e Niterói. No caso da cidade do Rio, além dos bairros da zona sul e da área da Tijuca/Vila
Izabel, algumas áreas de baixíssima vulnerabilidade aparecem na zona norte: Penha, Vila da Penha
e Cachambi.
Essa distribuição espacial das áreas concentradoras de população de acordo com sua condi-
ção em relação à vulnerabilidade social, mostra claramente um processo excludente, em que aquela
população em condições de mais alta vulnerabilidade social reside em áreas mais afastadas do cen-
tro metropolitano. Porém, no caso da RM do Rio de Janeiro, além das áreas precárias distantes, o
que a distingue é a proximidade verificada entre os extremos, com as favelas em condições de maior
vulnerabilidade social próximas a áreas de baixíssima vulnerabilidade.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expresso pela proporção de domicílios em condições inade-
quadas de saneamento22, implicando uma situação de risco, 54% das áreas foram classificadas
como de médio baixo até baixíssimo risco ambiental (quadro 2.2), um quadro mais favorável do que
o observado em relação à vulnerabilidade social – 45% do total de áreas. Entretanto, esse melhor
desempenho deve-se basicamente aos resultados verificados na cidade do Rio de Janeiro, que pos-
suí aproximadamente 90% de suas áreas classificadas nos grupos de menor risco ambiental (tabela
A 2.7, em anexo).

22 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 35


QUADRO 2.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO
À SITUAÇÃO DE RISCO AMBIENTAL – RM DO RIO DE JANEIRO – 2000

GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO


1 57 Altíssimo risco
2 62 Alto risco
3 70 Médio para alto risco
4 106 Médio para baixo risco
5 82 Baixo risco
6 34 Baixíssimo risco
0 1 Sem denominação
FONTE: Dados da pesquisa
NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

No outro extremo, quase 46% das áreas foram classificadas na condição de médio alto até al-
tíssimo risco. Das 189 áreas nessas condições, apenas 20 estão na cidade do Rio de Janeiro, sendo
que nenhuma foi enquadrada como de altíssimo risco e apenas 4 como de alto risco ambiental: Se-
petiba, Rocinha, Jacarepaguá, Camorim/Vargem Pequena/Vargem Grande e Guaratiba (figura 2.2).

FIGURA 2.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO


– RM DO RIO DE JANEIRO – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Na leitura espacial desse fenômeno, observa-se uma clara situação de segregação socioespa-
cial, em que, mais uma vez, são as áreas centrais do município polo que reúnem as condições de mais
baixo risco ambiental e a situação fica mais crítica à medida que as áreas se afastam desse ponto.

c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 2.8 em anexo e resumidas no quadro 2.3.

36 Marley Vanice Deschamps


QUADRO 2.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO À SITUAÇÃO
DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM RIO DE JANEIRO – 2000

VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima
Baixíssimo 32 2        
Baixo 5 51 26      
Médio baixo   8 51 34 10 3
Médio alto     2 33 27 8
Alto   1 2 10 26 23
Altíssimo   2 2 7 16 30
FONTE: Dados da pesquisa

A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes nos quais se observam as diversas situações
das áreas da região metropolitana do Rio de Janeiro em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnerabi-


lidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante estão as
áreas de alto risco ambiental, mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão
estar mais focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, há situações de baixo
risco ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com marcante concen-
tração de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas as ações deverão estar
voltadas, principalmente, as questões sociais.
Na região metropolitana do Rio de Janeiro, a proporção de áreas no primeiro quadrante (me-
lhor situação) e no quarto quadrante (pior situação) são praticamente iguais, respectivamente 43%
e 44%. Dentre as 175 áreas do primeiro quadrante, a maioria está localizada na cidade do Rio de
Janeiro e apenas outros sete municípios possuem áreas deste tipo (figura 2.3). Dentre as 10 áreas
com melhor situação socioambiental, apenas uma está fora do polo: Icaraí/Orla, em Niteroí.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 37


FIGURA 2.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS
DE EXPANSÃO – RM DO RIO DE JANEIRO – 2000.

FONTE: Dados da pesquisa

Apenas 12% das 180 áreas do último quadrante localizam-se no município polo, mas dentre elas
há grandes favelas como a da Rocinha, Complexo do Alemão, Vigário Geral e Parada de Lucas.
Um aspecto importante refere-se ao enquadramento de 47 áreas no terceiro quadrante. São
áreas que foram consideradas de alta vulnerabilidade social, mas que apresentam um quadro mais
favorável quanto à infraestrutura de saneamento. Mais da metade delas (26) está no polo metro-
politano, incluindo algumas áreas do subúrbio carioca, mas também importantes favelas, como o
Complexo da Maré.

3.3 Região Metropolitana de Belo Horizonte

a) Vulnerabilidade social
A RM de Belo Horizonte é composta por 33 municípios subdivididos em 147 AEDs, das quais
58 (39,5%) estão no município de Belo Horizonte. Para cada uma das áreas foram calculados os
indicadores de desvantagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A 3.1, A
3.2 e A 3.3 (anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de vul-
nerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à RM de
Belo Horizonte aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de cada
variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM de Belo Horizonte.

38 Marley Vanice Deschamps


TABELA 3.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS
E SOCIOECONÔMICAS – RM DE BELO HORIZONTE - 2000
BELO HORIZONTE
VARIÁVEL MÉDIA RMs
MÉDIA CV (%)
V1 1,11 46,87 1,45
V2 11,07 42,78 10,08
V3 25,44 21,34 23,71
V4 8,38 38,28 6,59
V5 3,90 45,30 3,66
V6 5,68 41,18 8,00
V7 0,675 27,61 0,75
V8 27,38 18,42 27,79
V9 5,01 49,85 5,13
V10 40,92 22,48 42,08
V11 19,72 49,30 21,02
V12 19,62 45,00 20,63
V13 44,98 15,34 49,44
V14 6,53 57,18 7,34
V15 17,89 48,18 18,83
V16 22,77 49,33 21,71
V17 2,76 63,39 3,73
V18 16,23 45,20 17,45
V19 77,18 23,77 75,04
V20 24,98 39,13 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

A RM de Belo Horizonte apresenta uma situação sociodemográfica e socioeconômica relativa-


mente favorável em relação à média das demais RMs. O único indicador que apresenta valor maior
quando comparado à média das RMs23 refere-se ao percentual de famílias com quatro ou mais filhos
(V4). Destaca-se, ainda, que, em três das variáveis analisadas, a RM de Belo Horizonte apresenta
médias inferiores à média do conjunto das RMs estudadas: famílias chefiadas por menores (V1),
adolescentes com experiência reprodutiva (V6) e crianças fora da escola (V17) (tabela 3.1).
Os coeficientes de variação24 indicam que entre as AEDs da RM de Belo Horizonte existe uma
forte variabilidade da situação social, com 14 das 20 variáveis apresentando valor superior a 30%.
Essa heterogeneidade é maior para as variáveis socioeconômicas, sendo que para duas delas --
taxa de analfabetismo da população acima de 15 anos (V14) e crianças fora da escola (V17) -- , a
variabilidade é mais acentuada, com CV acima de 50%.
As AEDs da RM de Belo Horizonte apresentam maior homogeneidade apenas em relação às
variáveis participação das crianças no total da população (V8), ocupados no setor informal (V13) e
chefatura feminina sem cônjuge (V3).
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo, desta-
cando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 3.2).

23 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de Belo Horizonte e a do conjunto de RMs.
24 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 39


TABELA 3.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS
– RM DE BELO HORIZONTE – 2000
VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10
V1 1,000 -0,313 -0,055 0,522 0,420 0,658 0,556 0,546 -0,348 0,563
V2 -0,313 1,000 0,637 -0,444 -0,341 -0,471 -0,609 -0,703 0,961 -0,628
V3 -0,055 0,637 1,000 -0,554 -0,508 -0,331 -0,664 -0,707 0,695 -0,678
V4 0,522 -0,444 -0,554 1,000 0,934 0,610 0,871 0,864 -0,559 0,881
V5 0,420 -0,341 -0,508 0,934 1,000 0,535 0,813 0,794 -0,460 0,820
V6 0,658 -0,471 -0,331 0,610 0,535 1,000 0,709 0,702 -0,528 0,704
V7 0,556 -0,609 -0,664 0,871 0,813 0,709 1,000 0,975 -0,714 0,980
V8 0,546 -0,703 -0,707 0,864 0,794 0,702 0,975 1,000 -0,803 0,992
V9 -0,348 0,961 0,695 -0,559 -0,460 -0,528 -0,714 -0,803 1,000 -0,730
V10 0,563 -0,628 -0,678 0,881 0,820 0,704 0,980 0,992 -0,730 1,000
V11 0,587 -0,407 -0,555 0,912 0,874 0,658 0,906 0,884 -0,525 0,915
V12 0,340 -0,023 -0,465 0,772 0,806 0,409 0,666 0,610 -0,184 0,654
V13 -0,098 0,463 -0,085 0,171 0,270 -0,133 -0,027 -0,098 0,392 -0,041
V14 0,493 -0,251 -0,531 0,868 0,853 0,577 0,806 0,775 -0,377 0,815
V15 0,453 -0,266 -0,567 0,880 0,871 0,561 0,825 0,781 -0,395 0,816
V16 0,440 -0,268 -0,565 0,888 0,879 0,554 0,823 0,786 -0,408 0,815
V17 0,275 -0,240 -0,381 0,662 0,661 0,297 0,580 0,545 -0,313 0,565
V18 0,462 -0,308 -0,513 0,773 0,739 0,490 0,785 0,735 -0,409 0,761
V19 0,460 -0,545 -0,625 0,840 0,791 0,640 0,903 0,895 -0,667 0,891
V20 0,615 -0,653 -0,503 0,847 0,776 0,716 0,909 0,917 -0,734 0,910

VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,587 0,340 -0,098 0,493 0,453 0,440 0,275 0,462 0,460 0,615
V2 -0,407 -0,023 0,463 -0,251 -0,266 -0,268 -0,240 -0,308 -0,545 -0,653
V3 -0,555 -0,465 -0,085 -0,531 -0,567 -0,565 -0,381 -0,513 -0,625 -0,503
V4 0,912 0,772 0,171 0,868 0,880 0,888 0,662 0,773 0,840 0,847
V5 0,874 0,806 0,270 0,853 0,871 0,879 0,661 0,739 0,791 0,776
V6 0,658 0,409 -0,133 0,577 0,561 0,554 0,297 0,490 0,640 0,716
V7 0,906 0,666 -0,027 0,806 0,825 0,823 0,580 0,785 0,903 0,909
V8 0,884 0,610 -0,098 0,775 0,781 0,786 0,545 0,735 0,895 0,917
V9 -0,525 -0,184 0,392 -0,377 -0,395 -0,408 -0,313 -0,409 -0,667 -0,734
V10 0,915 0,654 -0,041 0,815 0,816 0,815 0,565 0,761 0,891 0,910
V11 1,000 0,824 0,207 0,931 0,928 0,921 0,656 0,800 0,859 0,853
V12 0,824 1,000 0,601 0,881 0,917 0,920 0,620 0,734 0,695 0,537
V13 0,207 0,601 1,000 0,366 0,415 0,401 0,333 0,279 0,006 -0,140
V14 0,931 0,881 0,366 1,000 0,964 0,960 0,615 0,767 0,780 0,730
V15 0,928 0,917 0,415 0,964 1,000 0,992 0,677 0,815 0,819 0,731
V16 0,921 0,920 0,401 0,960 0,992 1,000 0,659 0,799 0,832 0,739
V17 0,656 0,620 0,333 0,615 0,677 0,659 1,000 0,725 0,528 0,537
V18 0,800 0,734 0,279 0,767 0,815 0,799 0,725 1,000 0,693 0,678
V19 0,859 0,695 0,006 0,780 0,819 0,832 0,528 0,693 1,000 0,878
V20 0,853 0,537 -0,140 0,730 0,731 0,739 0,537 0,678 0,878 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

40 Marley Vanice Deschamps


Grande parte das variáveis apresenta de moderado a alto grau de correlação. No que se refe-
re aos componentes da vulnerabilidade demográfica destacam-se os indicadores que expressam o
elevado número de filhos e membros nas famílias (V4 e V5), parturição de mulheres jovens (V7) e o
índice de dependência infantil (V10), todos com altíssima correlação (>= 0,800) com mais da metade
das variáveis analisadas.
No que se refere às variáveis socioeconômicas, a insuficiência da renda familiar (V11), apon-
tando para situação de pobreza, é a que apresenta nível de correlação mais elevado com pratica-
mente todas as demais variáveis. Destacam-se, também, algumas variáveis relacionadas à desvan-
tagem educacional da população jovem e adulta: analfabetismo (V14, V15 e V16) e escolaridade
inadequada (V19).
A situação de informalidade no mercado de trabalho, embora envolvendo parcela expressiva
(45%) dos ocupados da RM de Belo Horizonte, apresentou correlação significativa apenas com ocu-
pados com baixo rendimento no trabalho principal (V12), possivelmente porque, como visto acima,
as AEDs não se diferenciam quanto à questão da informalidade. As três variáveis relacionadas às
chefaturas familiares (V1, V2 e V3) também apresentam baixa correlação com as demais variáveis,
principalmente com a proporção de famílias chefiadas por menores (V1).
Para explicar a variabilidade existente entre as AEDs no que se refere às variáveis de des-
vantagens demográficas e socioeconômicas, utilizou-se a análise fatorial com base na matriz de
correlação de Pearson. Após a retirada da V17 (crianças fora da escola), que apresentou comunali-
dade abaixo de 0,60, o resultado alcançado com a aplicação dessa técnica, no caso da RM de Belo
Horizonte, foi de três fatores comuns (tabela A 3.4).
A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que
se refere às variáveis de desvantagens demográficas e socioeconômicas, pode ser observada na
tabela 3.3. Os três fatores retidos explicaram 89,2% da variância total das 19 variáveis, a partir da
diversidade encontrada nas 147 áreas internas à RM de Belo Horizonte. O primeiro fator, que possui
um autovalor 6 vezes superior ao segundo e quase 10 vezes superior ao terceiro, explica 67,7% da
variância total, enquanto o segundo explica aproximadamente 15% e o terceiro somente 6,5%.

TABELA 3.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA PELOS


FATORES COMUNS, COM BASE EM 19 VARIÁVEIS – RM DE BELO HORIZONTE - 2000

FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA (%)

1 12,88 67,77 67,77

2 2,84 14,94 82,71

3 1,23 6,49 89,20

FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos três fatores e entre si são apresentadas
na tabela 3.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que
determinam cada fator.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 41


TABELA 3.4 - CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS COM OS TRÊS FATORES
COMUNS ROTACIONADOS PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO
DE KAISER – RM DE BELO HORIZONTE – 2000

VARIÁVEL FATOR COMUM


1 2 3
V1 0,255 0,079 0,868
V2 -0,006 -0,934 -0,212
V3 -0,501 -0,747 0,246
V4 0,782 0,386 0,362
V5 0,824 0,297 0,270
V6 0,342 0,345 0,701
V7 0,655 0,588 0,416
V8 0,594 0,682 0,398
V9 -0,151 -0,930 -0,228
V10 0,646 0,606 0,416
V11 0,815 0,340 0,413
V12 0,966 -0,001 0,094
V13 0,665 -0,500 -0,362
V14 0,896 0,193 0,291
V15 0,932 0,214 0,231
V16 0,928 0,225 0,226
V18 0,767 0,259 0,258
V19 0,666 0,546 0,337
V20 0,522 0,576 0,552
FONTE: Dados da pesquisa

O fator 1 combina fundamentalmente o tamanho da família com nove dos dez indicadores
socioeconômicos relacionados com pobreza e desvantagens educacionais. No que se refere aos
componentes demográficos, destacam-se três variáveis: famílias marcadas pelo elevado número de
filhos e de membros e a parturição entre mulheres jovens.
Os fatores 2 e 3 especificam a situação de famílias chefiadas por idosos, por mulheres sem o
cônjuge ou por menores, que não se encontram, necessariamente, em desvantagem socioeconômica.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 3.5, a qual apresenta os va-
lores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão, bem como
o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em relação à área
com índice final máximo (AED 3106200999006 localizada em Belo Horizonte, na área Centro/Barro
Preto), a qual apresenta a melhor situação em relação à vulnerabilidade. A AED 3136603001001, mu-
nicípio de Nova União, apresenta a pior situação em termos de vulnerabilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas, procedeu-se à análise de agrupa-
mentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis dentro da RM de Belo
Horizonte. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 3.1 e a tabela A 3.6 exibe o índice
final e os respectivos grupos em que foram alocadas as 147 áreas.

42 Marley Vanice Deschamps


QUADRO 3.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS
HOMOGÊNEOS – RM DE BELO HORIZONTE - 2000

GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 29 Altíssima vulnerabilidade
2 51 Alta vulnerabilidade
3 31 Média para alta vulnerabilidade
4 26 Média para baixa vulnerabilidade
5 8 Baixa vulnerabilidade
6 2 Baixíssima vulnerabilidade
FONTE: Dados da pesquisa

O resultado final pode ser visualizado na figura 3.1 abaixo. A maioria dos municípios da RM de
Belo Horizonte encontra-se em condições de média alta até altíssima vulnerabilidade social, perfa-
zendo um total de 111 áreas (75,5%).

FIGURA 3.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS ÁREAS


DE EXPANSÃO – RM DE BELO HORIOZONTE – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Os municípios de Belo Horizonte e Contagem são os únicos que apresentam áreas de média
baixa à baixíssima vulnerabilidade, perfazendo um total de apenas 36 áreas (24,5%). Das áreas em
condições de média baixa vulnerabilidade, 19 encontram-se no município de Belo Horizonte e 9,
no município de Contagem, mais especificamente na porção sudeste, limítrofe com Belo Horizonte
(Riacho Velho, Contagem-Centro/Conj. Bernardo Monteiro, Amazonas/Inconfidentes/Bairro Indus-
trial, Novo Eldorado/Industrial, Eldorado/JK, Santa Cruz/Glória, Eldorado).

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 43


Já as áreas de baixa vulnerabilidade (8) estão todas localizadas no entorno da região central
de Belo Horizonte (Sagrada Família/Instituto Agronômico, Cidade Jardim/ Luxemburgo, Carlos Pra-
tes/Padre Eustáquio, Santa Teresa/Horto/Floresta, Cruzeiro/ Anchieta/Sion, Serra/São Lucas, Gu-
tierrez/Graja/ Prado, Santo Antônio/São Pedro). Somente duas áreas encontram-se na condição de
baixíssima vulnerabilidade: Funcionários/Lourdes/Santo Agostinho e Centro/Barro Preto, ambas na
região central do município de Belo Horizonte.
A distribuição espacial da população na RM de Belo Horizonte, de acordo com sua condição
em relação à vulnerabilidade social, mostra claramente um processo excludente, em que, aquela po-
pulação em condições de mais alta vulnerabilidade social reside em áreas mais afastadas do centro
metropolitano ou em áreas periféricas a este.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expresso pela proporção de domicílios em condições inade-
quadas de saneamento25, implicando uma situação de risco, a situação da RM de Belo Horizonte é
mais favorável, pois 61% das áreas foram classificadas como de médio baixo até baixíssimo risco
ambiental, conforme quadro 3.2 e tabela A 3.7, em anexo.

QUADRO 3.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS


EM RELAÇÃO À SITUAÇÃO DE RISCO AMBIENTAL – RM DE BELO HORIZONTE – 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 9 Altíssimo risco

2 20 Alto risco

3 28 Médio para alto risco

4 37 Médio para baixo risco

5 34 Baixo risco

6 19 Baixíssimo risco

0 0 Sem denominação

FONTE: Dados da pesquisa


NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

No outro extremo, 39% das áreas foram classificadas na condição de médio alto até altíssimo
risco, a grande maioria localizada fora do município Belo Horizonte. No caso do polo, apenas seis
áreas não foram incluídas entre os grupos de menor risco, tendo sido classificadas como médio para
alto risco: Taquaril/Saudade, Vila Cafezal, Gorduras, Solimões/Jardim Felicidade, Engenho Noguei-
ra/Jardim Montanhês e Mantiqueira/Comerciários (figura 3.2).
As nove áreas consideradas de altíssimo risco ambiental, onde mais de 80% dos domicílios
apresentavam condições inadequadas de saneamento, estão distribuídas em sete municípios: Be-
tim (Alterosas/Inconfidência/Pilões), Confins, Contagem (Rural-Contagem e Nova Contagem/Retiro),
Esmeraldas, Mário Campos, Ribeirão das Neves (Rural da BR-040/Veneza e Vale das Acácias/Vale
do Ouro/Florença) e Rio Manso.

25 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

44 Marley Vanice Deschamps


FIGURA 3.2 – GRAU DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS
DE EXPANSÃO – RM DE BELO HORIZONTE – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 3.8, em anexo, e resumidas no quadro 3.3.

QUADRO 3.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO À SITUA-


ÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM DE BELO HORIZONTE – 2000
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima
Baixíssimo 2 8 8 1    

Baixo     17 15 2  

Médio baixo     1 14 19 3

Médio alto         19 9

Alto       1 10 9

Altíssimo         1 8

FONTE: Dados da pesquisa

A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes nos quais se observam as diversas
situações das áreas da região metropolitana de Belo Horizonte em relação à vulnerabilidade
socioambiental:

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 45


1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnerabi-


lidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante estão as
áreas de alto risco ambiental, mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão
estar mais focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, têm-se situações de
baixo risco ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com considerável
concentração de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deve-
rão estar voltadas, principalmente, para as questões sociais.
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, 24% das AEDs encontram-se no primeiro qua-
drante, sendo que das 36 que compõem este quadrante, 29 encontram-se no município de Belo
Horizonte e as outras 7 no município de Contagem.
No terceiro quadrante, onde predomina a combinação de alta vulnerabilidade social com bai-
xo risco ambiental, estão 37% das AEDs da RM de Belo Horizonte distribuídas em 13 municípios:
Belo Horizonte, Betim, Brumadinho, Caeté, Contagem, Florestal, Itaquara, Nova Lima, Nova União,
Raposos, Ribeirão das Neves, Sabará e Santa Luzia (figura 3.3).

FIGURA 3.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, SEGUNDO


AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RM DE BELO HORIZONTE– 2000

FONTE: Dados da pesquisa

46 Marley Vanice Deschamps


O quarto quadrante, alta vulnerabilidade socioambiental, concentra 39% das AEDs dessa re-
gião, sendo que das 57 áreas que o compõem, apenas 6 situam-se no muncípio de Belo Horiozonte:
Engenho Nogueira/JardimMontanhês, Mantiqueira/Comerciários, Taquaril/Saudade, Vila Cafezal,
Gorduras e Solimões/Jardim Felicidade. As outras 51 áreas estão distribuídas nos municípios de
Baldim, Betim, Capim Branco, Confins, Contagem, Esmeraldas, Ibirité, Igarapé, Jaboticatubas, Jua-
tuba, Lagoa Santa, Mário Campos, Mateus Leme, Matozinhos, Pedro Leopoldo, Ribeirão das Neves,
Rio Acima, Rio Manso, Sabará, Santa Luzia, São Joaquim de Bicas, São José da Lapa, Sarzedo,
Taquaraçu de Minas e Vespasiano.
Nenhuma área foi classificada no segundo quadrante, baixa vulnerabilidade social com alto
risco ambiental.

3.4 Região Metropolitana de Porto Alegre

a) Vulnerabilidade social
A RM de Porto Alegre é composta por 31 municípios subdivididos em 164 AEDs, das quais 49
(30%) estão no município de Porto Alegre. Para cada uma das áreas foram calculados os indicado-
res de desvantagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A 4.1, A 4.2 e A
4.3 (anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à RM
de Porto Alegre aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de cada
variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM de Porto Alegre.
A RM de Porto Alegre apresenta uma situação sociodemográfica e socioeconômica relati-
vamente favorável. Em relação aos indicadores demográficos, o único em que ela apresenta valor
maior comparativamente à média das RMs26 refere-se ao percentual de famílias chefiadas por idosos
(V2), característica que se relaciona, em boa medida, ao já avançado processo de envelhecimento
populacional nessa RM. Quanto às variáveis socioeconômicas, apenas no que se refere aos adoles-
centes fora da escola, a posição da RM de Porto Alegre é mais crítica, com cerca de 22 em cada 100
adolescentes encontrando-se fora da escola (tabela 4.1).

26 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de Porto Alegre e a do conjunto de RMs.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 47


TABELA 4.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS
E SOCIOECONÔMICAS – RM PORTO ALEGRE - 2000
PORTO ALEGRE
VARIÁVEL MÉDIA RMs
MÉDIA CV (%)

V1 1,46 52,26 1,45


V2 11,90 43,39 10,08
V3 24,07 28,26 23,71
V4 4,70 51,33 6,59
V5 2,06 58,87 3,66
V6 7,25 45,70 8,00
V7 0,69 31,26 0,75
V8 26,12 22,33 27,79
V9 6,38 51,93 5,13
V10 39,14 26,18 42,08
V11 12,72 53,99 21,02
V12 12,75 46,29 20,63
V13 44,87 12,61 49,44
V14 4,73 56,94 7,34
V15 14,94 44,14 18,83
V16 17,55 45,71 21,71
V17 2,88 63,64 3,73
V18 21,51 45,77 17,45
V19 67,06 26,89 75,04
V20 17,88 42,11 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

Os coeficientes de variação27 indicam que entre as AEDs da RM de Porto Alegre há forte


variabilidade da situação social, com 15 das 20 variáveis apresentando valor superior a 30%, sendo
que, sete delas ultrapassam o valor de 50%. Dentre as variáveis que apresentam maior heterogenei-
dade destacam-se as que se referem às famílias com muitos membros (V5), analfabetismo (V14) e
crianças fora da escola (V17).

27 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

48 Marley Vanice Deschamps


TABELA 4.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS
– RM PORTO ALEGRE – 2000
VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10
V1 1,000 -0,533 -0,232 0,670 0,674 0,658 0,637 0,645 -0,539 0,659
V2 -0,533 1,000 0,685 -0,704 -0,589 -0,623 -0,767 -0,864 0,973 -0,821
V3 -0,232 0,685 1,000 -0,514 -0,388 -0,521 -0,715 -0,738 0,753 -0,705
V4 0,670 -0,704 -0,514 1,000 0,915 0,742 0,873 0,901 -0,738 0,924
V5 0,674 -0,589 -0,388 0,915 1,000 0,682 0,793 0,808 -0,631 0,837
V6 0,658 -0,623 -0,521 0,742 0,682 1,000 0,833 0,791 -0,672 0,800
V7 0,637 -0,767 -0,715 0,873 0,793 0,833 1,000 0,965 -0,825 0,969
V8 0,645 -0,864 -0,738 0,901 0,808 0,791 0,965 1,000 -0,910 0,994
V9 -0,539 0,973 0,753 -0,738 -0,631 -0,672 -0,825 -0,910 1,000 -0,865
V10 0,659 -0,821 -0,705 0,924 0,837 0,800 0,969 0,994 -0,865 1,000
V11 0,635 -0,594 -0,561 0,869 0,815 0,791 0,893 0,859 -0,663 0,883
V12 0,216 -0,198 -0,546 0,443 0,427 0,478 0,590 0,490 -0,305 0,508
V13 -0,222 0,425 0,076 -0,097 -0,065 -0,047 -0,093 -0,199 0,374 -0,154
V14 0,377 -0,401 -0,642 0,624 0,574 0,633 0,761 0,686 -0,500 0,700
V15 0,435 -0,508 -0,726 0,680 0,626 0,707 0,847 0,780 -0,611 0,787
V16 0,397 -0,492 -0,745 0,652 0,589 0,683 0,823 0,763 -0,603 0,767
V17 0,448 -0,367 -0,280 0,666 0,692 0,498 0,600 0,578 -0,408 0,613
V18 0,469 -0,565 -0,661 0,683 0,608 0,680 0,801 0,764 -0,618 0,776
V19 0,544 -0,737 -0,677 0,797 0,721 0,728 0,893 0,886 -0,785 0,881
V20 0,716 -0,728 -0,500 0,929 0,893 0,777 0,904 0,916 -0,774 0,930

VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,635 0,216 -0,222 0,377 0,435 0,397 0,448 0,469 0,544 0,716
V2 -0,594 -0,198 0,425 -0,401 -0,508 -0,492 -0,367 -0,565 -0,737 -0,728
V3 -0,561 -0,546 0,076 -0,642 -0,726 -0,745 -0,280 -0,661 -0,677 -0,500
V4 0,869 0,443 -0,097 0,624 0,680 0,652 0,666 0,683 0,797 0,929
V5 0,815 0,427 -0,065 0,574 0,626 0,589 0,692 0,608 0,721 0,893
V6 0,791 0,478 -0,047 0,633 0,707 0,683 0,498 0,680 0,728 0,777
V7M 0,893 0,590 -0,093 0,761 0,847 0,823 0,600 0,801 0,893 0,904
V8 0,859 0,490 -0,199 0,686 0,780 0,763 0,578 0,764 0,886 0,916
V9 -0,663 -0,305 0,374 -0,500 -0,611 -0,603 -0,408 -0,618 -0,785 -0,774
V10 0,883 0,508 -0,154 0,700 0,787 0,767 0,613 0,776 0,881 0,930
V11 1,000 0,698 0,139 0,785 0,823 0,811 0,612 0,670 0,817 0,880
V12 0,698 1,000 0,446 0,865 0,822 0,820 0,357 0,561 0,563 0,441
V13 0,139 0,446 1,000 0,213 0,126 0,137 0,083 -0,101 -0,171 -0,128
V14 0,785 0,865 0,213 1,000 0,954 0,942 0,500 0,741 0,720 0,624
V15 0,823 0,822 0,126 0,954 1,000 0,983 0,536 0,808 0,797 0,692
V16 0,811 0,820 0,137 0,942 0,983 1,000 0,511 0,785 0,781 0,662
V17 0,612 0,357 0,083 0,500 0,536 0,511 1,000 0,560 0,490 0,635
V18 0,670 0,561 -0,101 0,741 0,808 0,785 0,560 1,000 0,711 0,652
V19 0,817 0,563 -0,171 0,720 0,797 0,781 0,490 0,711 1,000 0,814
V20 0,880 0,441 -0,128 0,624 0,692 0,662 0,635 0,652 0,814 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 49


Por outro lado, as AEDs são mais homogêneas (menor CV) principalmente quanto à infor-
malidade das ocupações (V13), situação de 45% dos ocupados da RM de Porto Alegre, e quanto à
participação de crianças no total da população (V8).
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo, desta-
cando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 4.2).
A maioria das variáveis apresenta de moderado a alto grau de correlação. Em relação aos com-
ponentes da vulnerabilidade demográfica destacam-se os indicadores que expressam a experiência
reprodutiva de adolescentes, a presença de crianças menores de 14 anos e o índice de dependência
infantil, todos com altíssima correlação (>= 0,800) com mais da metade das variáveis analisadas.
No que se refere às variáveis socioeconômicas, a insuficiência da renda familiar, apontando
para situação de pobreza, é a que apresenta nível de correlação mais elevado com praticamente
todas as demais variáveis. Destacam-se, também, o analfabetismo funcional e as condições inade-
quadas de moradia.
A situação de informalidade no mercado de trabalho, embora envolvendo parcela expressiva
(45%) dos ocupados da RM de Porto Alegre, é um indicador que não apresentou correlação signifi-
cativa com nenhuma das demais variáveis, possivelmente porque, como visto acima, as AEDs não
se diferenciam quanto a este componente. Outros dois indicadores com baixa correlação com as
demais variáveis são o baixo rendimento no trabalho principal e crianças fora da escola. Entretanto,
a primeira apresenta correlação alta com os indicadores de pobreza e de baixa escolaridade, e a
segunda, crianças fora da escola, relaciona-se positivamente com famílias numerosas, condições
domiciliares inadequadas e pobreza.
A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que se
refere às variáveis de desvantagem demográficas e socioeconômicas pode ser observada na tabela
4.3. Os três fatores retidos explicaram 86% da variância total das 2028 variáveis originais, a partir da
diversidade encontrada nas 164 áreas internas da RM de Porto Alegre. O primeiro fator, que possui
um autovalor 6 vezes superior ao segundo e, quase 10 vezes superior ao terceiro, explica 67% da
variância total, enquanto o segundo explica aproximadamente 12% e o terceiro somente 7%.

TABELA 4.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA PELOS


FATORES COMUNS, COM BASE EM 20 VARIÁVEIS - RM PORTO ALEGRE - 2000
FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA (%)

1 13,51 67,54 67,54


2 2,34 11,68 79,22
3 1,38 6,88 86,10
FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos três fatores e entre si são apresentadas
na tabela 4.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que
determinam cada fator.
Os fatores 1 e 2 combinam determinadas características da estrutura familiar e pobreza. No
primeiro fator, destacam-se aqueles componentes demográficos que correspondem a situações fa-
miliares marcadas pelo elevado número de membros, chefes menores, presença de crianças, baixa
renda e condição domiciliar inadequada. O fator 2 especifica a situação de famílias chefiadas por

28 No caso da RM Porto Alegre, todas as variáveis apresentaram comunalidade acima de 60%, não havendo necessidade da reti-
rada de nenhuma delas para a determinação dos fatores (ver tabela A 4.4).

50 Marley Vanice Deschamps


mulheres sem o cônjuge e marcadas pelo analfabetismo, com baixa renda. Por fim, o fator 3 reflete
a situação de famílias chefiadas por idosos, mas não necessariamente acompanhada de desvanta-
gens socioeconômicas.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 4.5, a qual apresenta
os valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão,
bem como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em
relação à área com índice final máximo (AED 4314902999045 localizada em Porto Alegre, na área
Bom Fim/Farroupilha), a qual apresenta a melhor situação em relação à vulnerabilidade. A AED
4300604501001, localizada em Alvorada (Distrito Estância Grande), apresenta a pior situação em
termos de vulnerabilidade social.

TABELA 4.4 - CORRELAÇÃO DAS 20 VARIÁVEIS COM OS 3 FATORES COMUNS ROTACIONADOS


PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER – RM PORTO ALEGRE – 2000
FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2 3
V1 0,788 0,050 0,244
V2 -0,444 -0,273 -0,795
V3 -0,078 -0,744 -0,552
V4 0,833 0,360 0,295
V5 0,879 0,279 0,165
V6 0,654 0,456 0,279
V7 0,658 0,599 0,404
V8 0,657 0,512 0,531
V9 -0,456 -0,384 -0,757
V10 0,703 0,512 0,463
V11 0,733 0,601 0,115
V12 0,223 0,893 -0,203
V13 -0,024 0,365 -0,777
V14 0,371 0,880 0,016
V15 0,412 0,872 0,145
V16 0,366 0,887 0,148
V17 0,738 0,265 -0,069
V18 0,442 0,644 0,311
V19 0,544 0,583 0,449
V20 0,835 0,353 0,330
FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 51


QUADRO 4.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS
– RM PORTO ALEGRE - 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 5 Altíssima vulnerabilidade

2 29 Alta vulnerabilidade

3 37 Média para alta vulnerabilidade

4 38 Média para baixa vulnerabilidade

5 32 Baixa vulnerabilidade

6 23 Baixíssima vulnerabilidade

FONTE: Dados da pesquisa


A partir do índice de classificação de cada uma das áreas, procedeu-se à análise de agrupa-
mentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis, dentro da RM de Por-
to Alegre. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 4.1 e a tabela A 4.6 exibe o índice
final e os respectivos grupos em que foram alocadas as 164 áreas.

FIGURA 4.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS ÁREAS


DE EXPANSÃO – RM PORTO ALEGRE – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

O resultado final pode ser visualizado na figura 4.1 acima. Das cinco áreas classificadas
como de altíssima vulnerabilidade social, duas se encontram no município de Alvorada, sendo uma
rural (Distrito Estância Grande) e outra de expansão urbana (Chácara do Tordilho/Formosa/Três

52 Marley Vanice Deschamps


Figueiras/Intersul). As demais áreas deste grupo se encontram em Canoas (Matias Velho/Industrial),
São Leopoldo (Santos Dumont/Rio dos Sinos) e Porto Alegre (Mario Quintana). Neste município
localizam-se, também, seis das 29 áreas classificadas como de alta vulnerabilidade.
Mas chama atenção o fato de diversas áreas em situação social favorável (baixa e baixíssima
vulnerabilidade) estarem distribuídas por um conjunto amplo de municípios, em torno do eixo Porto
Alegre/São Leopoldo, refletindo, em parte, uma particularidade desta RM que apresenta uma estrutu-
ra produtiva industrial mais dispersa por seu território. De um total de 55 áreas classificadas nos dois
grupos de menor vulnerabilidade, 25 estão fora do município polo, distribuídas em 11 municípios.
O padrão “média para baixa vulnerabilidade” reúne o maior número de áreas (38) na RM de
Porto Alegre e pode ser observado em 19 dos 31 municípios da região. Do total de áreas classifica-
das nesse grupo, apenas sete localizam-se em Porto Alegre, fato que reforça o processo menciona-
do acima, de um maior espraiamento das áreas com condição sociodemográfica favorável.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expresso pela proporção de domicílios em condições inade-
quadas de saneamento29, implicando uma situação de risco, a situação da RM de Porto Alegre é
ainda mais favorável, pois 79% das áreas foram classificadas como de médio baixo até baixíssimo
risco ambiental, conforme quadro 4.2 e tabela A 4.7, em anexo.

QUADRO 4.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO


À SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL – RM DE PORTO ALEGRE - 2000

GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 6 Altíssimo risco
2 7 Alto risco
3 21 Médio para alto risco
4 49 Médio para baixo risco
5 53 Baixo risco
6 27 Baixíssimo risco
0 1 Sem denominação

FONTE: Dados da pesquisa


NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

29 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 53


FIGURA 4.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO
– RM DE PORTO ALEGRE – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

No outro extremo, 21% das áreas foram classificadas na condição de médio alto até altíssimo
risco, a grande maioria localizada fora do município de Porto Alegre. No caso do polo, apenas três áre-
as não foram incluídas entre os grupos de menor risco, tendo sido classificadas como médio para alto
risco: Lomba do Pinheiro, Mário Quintana e Ponta Grossa/Chapéu do Sol/Lageado/Lami (figura 4.2).
As seis áreas classificadas como de altísssimo risco, ou seja, onde mais de 80% dos domicí-
lios apresentavam condições inadequadas de saneamento e densidade, estão distribuídas em cinco
municípios: Araricá, Gravataí, Nova Hartz, Nova Santa Rita e Novo Hamburgo.

c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 4.8, em anexo, e resumidas no quadro 4.3.

54 Marley Vanice Deschamps


QUADRO 4.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO À
SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM PORTO ALEGRE – 2000
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima

Baixíssimo 22 5        

Baixo 1 25 19 8    

Médio baixo   2 16 19 11 1

Médio alto     1 5 11 4

Alto     1 1 5  

Altíssimo     1 4 1  

FONTE: Dados da pesquisa

A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes nos quais se observam as diversas situa-
ções das áreas da região metropolitana de Porto Alegre em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnerabi-


lidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante estão as
áreas de alto risco ambiental, mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão
estar mais focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante estão as situações de
baixo risco ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com considerável
concentração de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deve-
rão estar voltadas, principalmente, para as questões sociais.
Na região metropolitana de Porto Alegre tem-se a maior concentração de áreas (55%) no pri-
meiro quadrante, sendo que das 90 áreas que compõem este quadrante, 53 situam-se fora de Porto
Alegre. Entretanto, nove das dez áreas com melhor situação socioambiental na RM de Porto Ale-
gre localizam-se no município polo: Bom Fim/Farroupilha, Independência, Rio Branco/Sta. Cecília,
Auxiliadora/Mont Serrat/Moinhos de Vento/Bela Vista, Centro, Petrópolis, Santana, Cidade Baixa e
Higienópolis/Boa Vista. A outra área fica na porção central de São Leopoldo (figura 4.3).
As 31 áreas classificadas no quarto quadrante, que constituem a situação de maior vulne-
rabilidade socioambiental, representam cerca de 20% das AEDS da RM de Porto Alegre. Em sua
maioria, situam-se fora do município polo, o qual possui apenas três áreas nessa condição: Lomba
do Pinheiro, Mário Quintana e Ponta Grossa/Chapéu do Sol/Lageado/Lami.
Das demais áreas, 39 (23,8%) estão no segundo quadrante, ou seja, envolvem famílias ou
pessoas em situação de baixa vulnerabilidade social, residindo em áreas com falta de infraestrutura
de saneamento, e três foram classificadas no terceiro quadrante.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 55


FIGURA 4.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, SEGUNDO
AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RM PORTO ALEGRE – 2000

3.5 Região Integrada de Desenvolvimento (RIDE) de Brasília

a) Vulnerabilidade social
A Região Integrada de Desenvolvimento (RIDE) de Brasília inclui o Distrito Federal e 21 muni-
cípios, sendo dois do estado de Minas Gerais e os demais, de Goiás. A RIDE foi subdividida em 144
AEDs, das quais 106 (74%) estão no território do Distrito Federal. Para cada uma das áreas foram
calculados os indicadores de desvantagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas ta-
belas A 5.1, A 5.2 e A 5.3 (anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à
RIDE de Brasília aos da média das 17 Regiões Metropolitanas estudadas, bem como o nível de
heterogeneidade de cada variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da
RIDE de Brasília.
Em relação aos indicadores de desvantagens sociodemográficas e socioeconômicas, a RIDE
de Brasília apresenta resultados geralmente próximos à média das regiões metropolitanas conside-
radas neste estudo. Os três indicadores em relação aos quais a RIDE de Brasília apresenta maior
distância relativa da média das regiões30 referem-se à sua estrutura demográfica: o percentual de
famílias chefiadas por menores (V1) é maior em Brasília, enquanto é menor a participação de idosos
na população total (V9) e no total de chefes de família (V2). Com relação aos indicadores socio-
econômicos (V11 a V20), nenhum apresenta diferença relativa expressiva em relação à média do
conjunto das RMs (tabela 5.1).

30 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RIDE de Brasília e a do conjunto de RMs.

56 Marley Vanice Deschamps


TABELA 5.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS
DEMOGRÁFICAS E SOCIOECONÔMICAS - RIDE BRASÍLIA - 2000
BRASÍLIA
VARIÁVEL MÉDIA RMs
MÉDIA CV (%)

V1 1,85 49,42 1,45

V2 7,18 53,18 10,08

V3 24,87 24,76 23,71

V4 7,58 46,85 6,59

V5 3,98 50,13 3,66

V6 7,86 44,94 8,00

V7 0,80 32,64 0,75

V8 29,79 20,53 27,79

V9 3,36 53,07 5,13

V10 45,46 27,26 42,08

V11 19,93 66,37 21,02

V12 17,49 63,57 20,63

V13 45,99 26,66 49,44

V14 7,73 71,77 7,34

V15 18,68 61,34 18,83

V16 22,76 63,35 21,71

V17 3,14 75,70 3,73

V18 16,66 56,45 17,45

V19 79,59 23,28 75,04

V20 26,53 46,90 27,11

FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 57


TABELA 5.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS – RIDE BRASÍLIA – 2000
VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7M V8 V9 V10
V1 1,000 -0,273 -0,228 0,639 0,578 0,727 0,591 0,619 -0,393 0,606
V2 -0,273 1,000 0,219 -0,375 -0,308 -0,335 -0,416 -0,585 0,963 -0,527
V3 -0,228 0,219 1,000 -0,470 -0,490 -0,435 -0,657 -0,553 0,279 -0,562
V4 0,639 -0,375 -0,470 1,000 0,905 0,724 0,816 0,872 -0,525 0,878
V5 0,578 -0,308 -0,490 0,905 1,000 0,629 0,730 0,777 -0,449 0,786
V6 0,727 -0,335 -0,435 0,724 0,629 1,000 0,807 0,759 -0,472 0,756
V7 0,591 -0,416 -0,657 0,816 0,730 0,807 1,000 0,937 -0,560 0,945
V8 0,619 -0,585 -0,553 0,872 0,777 0,759 0,937 1,000 -0,718 0,995
V9 -0,393 0,963 0,279 -0,525 -0,449 -0,472 -0,560 -0,718 1,000 -0,663
V10 0,606 -0,527 -0,562 0,878 0,786 0,756 0,945 0,995 -0,663 1,000
V11 0,631 -0,183 -0,565 0,856 0,763 0,786 0,892 0,831 -0,351 0,853
V12 0,575 0,026 -0,539 0,739 0,668 0,688 0,768 0,667 -0,142 0,689
V13 0,497 0,090 -0,592 0,627 0,559 0,648 0,749 0,605 -0,071 0,630
V14 0,535 0,006 -0,580 0,750 0,718 0,701 0,809 0,689 -0,164 0,714
V15 0,569 -0,047 -0,621 0,775 0,741 0,734 0,845 0,734 -0,220 0,756
V16 0,582 -0,045 -0,599 0,785 0,751 0,737 0,832 0,731 -0,224 0,749
V17 0,347 -0,128 -0,545 0,526 0,516 0,615 0,719 0,604 -0,247 0,634
V18 0,548 -0,118 -0,597 0,647 0,596 0,752 0,827 0,712 -0,275 0,733
V19 0,709 -0,442 -0,370 0,823 0,746 0,780 0,828 0,859 -0,608 0,837
V20 0,657 -0,600 -0,370 0,812 0,740 0,716 0,826 0,898 -0,729 0,886
VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,631 0,575 0,497 0,535 0,569 0,582 0,347 0,548 0,709 0,657
V2 -0,183 0,026 0,090 0,006 -0,047 -0,045 -0,128 -0,118 -0,442 -0,600
V3 -0,565 -0,539 -0,592 -0,580 -0,621 -0,599 -0,545 -0,597 -0,370 -0,370
V4 0,856 0,739 0,627 0,750 0,775 0,785 0,526 0,647 0,823 0,812
V5 0,763 0,668 0,559 0,718 0,741 0,751 0,516 0,596 0,746 0,740
V6 0,786 0,688 0,648 0,701 0,734 0,737 0,615 0,752 0,780 0,716
V7 0,892 0,768 0,749 0,809 0,845 0,832 0,719 0,827 0,828 0,826
V8 0,831 0,667 0,605 0,689 0,734 0,731 0,604 0,712 0,859 0,898
V9 -0,351 -0,142 -0,071 -0,164 -0,220 -0,224 -0,247 -0,275 -0,608 -0,729
V10 0,853 0,689 0,630 0,714 0,756 0,749 0,634 0,733 0,837 0,886
V11 1,000 0,921 0,847 0,924 0,939 0,937 0,704 0,841 0,792 0,708
V12 0,921 1,000 0,930 0,947 0,952 0,950 0,638 0,829 0,671 0,484
V13 0,847 0,930 1,000 0,896 0,905 0,892 0,656 0,822 0,618 0,433
V14 0,924 0,947 0,896 1,000 0,984 0,978 0,702 0,864 0,698 0,533
V15 0,939 0,952 0,905 0,984 1,000 0,994 0,717 0,883 0,745 0,582
V16 0,937 0,950 0,892 0,978 0,994 1,000 0,692 0,866 0,759 0,588
V17 0,704 0,638 0,656 0,702 0,717 0,692 1,000 0,777 0,483 0,501
V18 0,841 0,829 0,822 0,864 0,883 0,866 0,777 1,000 0,670 0,575
V19 0,792 0,671 0,618 0,698 0,745 0,759 0,483 0,670 1,000 0,870
V20 0,708 0,484 0,433 0,533 0,582 0,588 0,501 0,575 0,870 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

58 Marley Vanice Deschamps


É possível verificar que para 15 das 20 variáveis o coeficiente de variação31 é superior a 30%,
indicativo de que entre as AEDs há forte variabilidade da situação social; em 10 casos, o coeficiente
supera os 50%. Essa diferenciação diz respeito principalmente à distribuição geográfica da popula-
ção idosa, das famílias numerosas, bem como à pobreza, ao analfabetismo e às crianças e adoles-
centes fora da escola.
Em relação ao indicador de informalidade (V13), há que se destacar que o coeficiente de va-
riação, apesar de moderado (26,7%), é o maior dentre as 17 RMs estudadas e, como será visto mais
adiante, será um importante fator de diferenciação das AEDs.
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo, desta-
cando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 5.2). Com exceção de 4 variáveis – chefa-
turas familiares por menores (V1), por idosos (V2) e por mulheres sem cônjuge (V3) e participação
dos idosos na população total (V9) –, as demais apresentaram de moderado a alto grau de correla-
ção com mais da metade dos indicadores. Ressalta-se que a chefatura de menores ainda apresenta
correlação moderada ou forte com sete indicadores de vulnerabilidade.
Duas variáveis – índice de parturição e famílias com renda insuficiente – destacam-se pelo ele-
vado grau de correlação (>= 0,800) que apresentam com mais da metade das variáveis analisadas,
sendo que essas correlações remetem a casos de famílias numerosas que acumulam desvantagens
sociais nas três dimensões abordadas: renda, educação e condição domiciliar.
Há que se destacar as altas correlações associadas ao indicador de informalidade das ocupa-
ções (V13), pois esse resultado não é verificado na maioria das RMs estudadas. As correlações mais
altas associam esse elemento à questão da pobreza e dos déficits educacionais.
O grau de informalidade observado na RIDE de Brasília não a diferencia das demais regiões me-
tropolitanas. Mas internamente na região, há uma maior diferenciação entre as AEDs, possivelmente
associada ao modelo de organização espacial do Distrito Federal, particularmente no plano piloto.
É interessante, por exemplo, comparar a situação das AEDs, quanto a esse indicador, na RIDE
de Brasília e na RM de Belo Horizonte; não há diferença quanto ao valor máximo desse indicador nas
duas RMs, em torno de 80%, mas há diferença quanto ao valor mínimo, que é de 21%, em Brasília,
e de 33%, em Belo Horizonte32. Na realidade, em Brasília há 10 áreas em que o grau de informali-
zação é inferior a 30%, a maioria na Asa Norte e no Cruzeiro, possivelmente com uma maior parti-
cipação de funcionários públicos na sua população. Nessas áreas, o baixo grau de informalidade é
acompanhado por indicadores sociais favoráveis; mas, na RIDE de Brasília, conforme se acentua a
informalidade nas AEDs, amplia-se também a condição de precariedade social.
A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que se
refere às variáveis de desvantagem demográficas e socioeconômicas, pode ser observada na tabela
5.3. Os três fatores retidos explicam 87% da variância total das 20 variáveis originais, a partir da
diversidade encontrada nas 144 áreas internas da RIDE de Brasília. O primeiro fator, que possui um
autovalor 5 vezes superior ao segundo e 14 vezes em relação ao terceiro, explica aproximadamente
68% da variância total, enquanto o segundo e o terceiro explicam, respectivamente, 14% e 5%.

31 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).
32 Na RM de São Paulo, a taxa de informalidade, nas AEDs, varia de 30,3% a 69,5%.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 59


TABELA 5.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA PELOS FATORES
COMUNS, COM BASE EM 20 VARIÁVEIS – RIDE BRASÍLIA - 2000
FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA (%)
1 13,63 68,15 68,15
2 2,83 14,14 82,29
3 1,00 5,01 87,30
FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos fatores e entre si são apresentadas na
tabela 5.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que de-
terminam cada fator.

TABELA 5.4 - CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS COM OS 3 FATORES COMUNS ROTACIONA-


DOS PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER – RIDE BRASÍLIA – 2000
FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2 3
V1 0,182 0,819 0,213
V2 0,080 -0,070 -0,955
V3 -0,806 0,125 -0,326
V4 0,486 0,667 0,411
V5 0,478 0,597 0,357
V6 0,497 0,621 0,335
V7 0,709 0,447 0,488
V8 0,527 0,507 0,648
V9 -0,036 -0,219 -0,942
V10 0,564 0,503 0,602
V11 0,742 0,592 0,204
V12 0,788 0,552 -0,048
V13 0,834 0,428 -0,085
V14 0,829 0,513 -0,001
V15 0,835 0,521 0,060
V16 0,807 0,553 0,054
V17 0,791 0,141 0,211
V18 0,813 0,392 0,149
V19 0,389 0,725 0,454
V20 0,292 0,598 0,671
FONTE: Dados da pesquisa

O fator 1 é fundamentalmente definido pelas desvantagens socioeconômicas, no que se refere


à insuficiência de renda (V11 e V12), à informalidade no mercado de trabalho (V13) e a déficits edu-
cacionais (V14 a V18).
Os outros dois fatores são definidos pela dimensão demográfica, sendo o fator 2 determinado
principalmente pelas variáveis relacionadas à chefatura familiar por menores, à experiência repro-
dutiva de adolescentes, à escolaridade inadequada de jovens e ao número de filhos. O terceiro fator
destaca a presença de idosos, por sua participação na população total e na chefatura de famílias,
em associação negativa com o índice de dependência infantil e de densidade domiciliar. Este fator

60 Marley Vanice Deschamps


destaca algumas áreas com menor desvantagem social, e com uma população mais envelhecida.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A.5.6, a qual apresenta
os valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão,
bem como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em
relação à área com índice final máximo (AED 5300108999007, localizada na Região Administrati-
va (RA) 1, na Asa Sul), a qual apresenta a melhor situação em relação à vulnerabilidade. A AED
5300108999079, localizada no Guará - RA10 Estrutural, apresenta a pior situação em termos de
vulnerabilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas procedeu-se à análise de agrupa-
mentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis dentro da RIDE de
Brasília. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 5.1 e a tabela A.5.6 exibe o índice
final e os respectivos grupos em que foram alocadas as 144 áreas.

QUADRO 5.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS


HOMOGÊNEOS – RIDE BRASÍLIA - 2000

GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 12 Altíssima vulnerabilidade
2 23 Alta vulnerabilidade
3 35 Média para alta vulnerabilidade
4 39 Média para baixa vulnerabilidade
5 20 Baixa vulnerabilidade
6 15 Baixíssima vulnerabilidade
FONTE: Dados da pesquisa

A maioria das áreas da RIDE de Brasília enquadra-se nos dois grupos de média vulnerabili-
dade, os quais reúnem metade das áreas. As demais áreas estão igualmente repartidas entre os
grupos de maior e os de menor vulnerabilidade. A distribuição geográfica dos grupos pode ser visu-
alizada na figura 5.1, abaixo.
Apenas 12 foram classificadas como de altíssima vulnerabilidade, 8,3% do total de áreas, sen-
do que duas delas localizam no Distrito Federal: no Guará (RA10 Estrutural) e no Recanto das Emas
(RA15_C). Esta última regional foi criada nos anos 1990 para reassentar famílias que viviam em
ocupações na RA1, Brasília, e nela localiza-se, também, uma das cinco áreas do DF classificadas
como de alta vulnerabilidade; as demais estão localizadas na porção leste do DF, em Planaltina - RA
6 (Arapoanga, Vale do Amanhecer e Rural) e em Paranoá - RA 7 (Rural).

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 61


FIGURA 5.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS ÁREAS
DE EXPANSÃO - RIDE BRASÍLIA – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Em relação às 35 áreas de menor vulnerabilidade, pode-se constatar que todas estão localiza-
das no Distrito Federal, sendo que as de baixíssima vulnerabilidade estão concentradas nas Regiões
Administrativas de Brasília, Lago Sul, Cruzeiro, Guará e Taquatinga.
Essa distribuição espacial das áreas concentradoras de população, de acordo com sua condi-
ção em relação à vulnerabilidade social, mostra claramente um processo excludente, em que aquela
população em condições de mais alta vulnerabilidade social reside em áreas mais afastadas do
centro metropolitano ou em áreas periféricas a este.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expresso pela proporção de domicílios em condições inadequa-
das de saneamento33, implicando uma situação de risco, observa-se uma situação mais desfavorável
comparativamente àquela observada no item anterior, pois aumenta em muito o número de áreas
classificadas no grupo de altíssimo risco ambiental, o qual reúne 26% do total de áreas. Verifica-se,
inclusive, que mesmo em Brasília há um maior número de áreas classificadas no grupo de maior
risco ambiental, em Planaltina - RA 6 (Arapoanga, Mestre D’Armas e Rural), Taguatinga, Sobradinho
e Guará (quadro 5.2 e figura 5.2).

33 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

62 Marley Vanice Deschamps


QUADRO 5.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO
À SITUAÇÃO DE RISCO AMBIENTAL – RIDE DE BRASÍLIA - 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO
1 38 Altíssimo risco
2 9 Alto risco
3 11 Médio para alto risco
4 37 Médio para baixo risco
5 28 Baixo risco
6 20 Baixíssimo risco
0 1 Sem denominação
FONTE: Dados da pesquisa
NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

Por outro lado, houve um aumento do número de áreas nos grupos de baixo e baixíssimo risco
ambiental, todas localizadas no Distrito Federal, o qual concentra, também, as áreas de médio baixo
risco, com exceção de uma área em Unaí – MG. Na realidade, em relação à questão da vulnerabi-
lidade percebe-se certa polarização das áreas nos dois extremos do nível de risco, em detrimento
dos grupos médios.

FIGURA 5.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO


– RIDE DE BRASÍLIA – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 63


Na leitura espacial desse fenômeno observa-se uma clara situação de segregação socioespacial, em
que, mais uma vez, são as áreas centrais do município polo que reúnem as condições de mais baixo
risco ambiental e a situação fica mais crítica à medida que as áreas se afastam desse ponto.

c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A.5.8, em anexo, e resumidas no quadro 5.3.

QUADRO 5.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO À


SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RIDE DE BRASÍLIA – 2000
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima
Baixíssimo 13 7        
Baixo 2 13 12 1    
Médio baixo     19 18    
Médio alto     2 9    
Alto     3 2 3 1
Altíssimo     3 5 20 10
FONTE: Dados da pesquisa

A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes nos quais se observam as diversas situa-
ções das áreas da região metropolitana de Brasília em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnerabili-


dade socioambiental; no quarto quadrante as áreas mais críticas; no segundo quadrante estão áreas
de alto risco ambiental, mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão estar
mais focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, há situações de baixo risco
ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com considerável concentra-
ção de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deverão estar
voltadas, principalmente, para as questões sociais.
A distribuição das áreas pelos quadrantes evidencia uma clara polarização da situação so-
cioambiental na RIDE de Brasília, com 46% delas situadas no primeiro quadrante, que expressa a
situação mais favorável, e 35% no quarto quadrante, o qual reúne áreas precárias social e ambien-
talmente. A figura 5.3 permite observar que essa polarização está, em muito, associada à situação
dos municípios de Goiás e Minas Gerais inseridos na RIDE, muitos deles com baixa integração ao
que se pode considerar espaço metropolitano de Brasília.

64 Marley Vanice Deschamps


FIGURA 5.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL,
SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RIDE DE BRASÍLIA – 2000.

FONTE: Dados da pesquisa

No Distrito Federal, observa-se todo o gradiente de vulnerabilidade socioambiental, porém


com quase 2/3 de suas 106 áreas classificadas no quadrante 1, com destaque para a Asa Sul onde
localizam-se as quatro áreas com melhor situação socioambiental. Nele estão, também, 18 das 19
áreas do quadrante 3, as quais reúnem população em situação socialmente precária, mas com um
relativo acesso à infraestrutura de saneamento, resultante de políticas públicas nessas áreas, locali-
zadas fundamentalmente na porção oeste do Distrito Federal.
As piores situações, aquelas classificadas no quarto quadrante, envolvem 17% do total de áre-
as do Distrito Federal, sendo que as áreas mais precárias estão no Guará (Estrutural), em Planaltina
(Arapoanga e Rural) e no Recanto das Emas.
O segundo quadrante reúne o menor número (4) de áreas do Distrito Federal, onde residem
famílias ou pessoas em situação de baixa vulnerabilidade social mas com falta de infraestrutura de
saneamento. Essas áreas localizam-se em Taquatinga e Sobradinho.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 65


3.6 Região Metropolitana de Curitiba

a) Vulnerabilidade social
A RM de Curitiba em 2000 era composta por 25 municípios34 subdivididos em 112 AEDs, das
quais 59 (53%) estão no município de Curitiba. Para cada uma das áreas foram calculados os indi-
cadores de desvantagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A6.1, A6.2 e
A6.3 (anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à RM
de Curitiba aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de cada va-
riável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM de Curitiba (tabela 6.1)
De um modo geral, a RM de Curitiba apresenta situação favorável em relação à média das
RMs, ou seja, em relação à maioria das variáveis, a RM de Curitiba apresenta média inferior à média
do conjunto das RMs estudadas, destacando-se 5 delas35: V5 – famílias com elevado número de
componentes; V11 – famílias pobres; V12 – ocupados com baixo rendimento; V14 – jovens e adultos
analfabetos e, a V20 – densidade domiciliar inadequada. Entretanto, a variável com maior distância
relativa positiva, ou seja, com proporção superior à média das RMs, se refere aos adolescentes fora
da escola, cuja posição da RM de Curitiba é mais crítica, com cerca de 25 em cada 100 adolescentes
encontrando-se fora da escola (tabela 4.1).

TABELA 6.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS


DEMOGRÁFICAS E SOCIOECONÔMICAS - RM CURITIBA - 2000
CURITIBA
VARIÁVEL MÉDIA RMs
MÉDIA CV (%)

V1 1,32 53,84 1,45


V2 10,65 45,12 10,08
V3 21,49 29,00 23,71
V4 6,06 58,18 6,59
V5 2,81 67,30 3,66
V6 7,38 50,66 8,00
V7 0,75 33,58 0,75
V8 27,61 23,09 27,79
V9 5,29 52,50 5,13
V10 41,86 28,32 42,08
V11 14,82 72,87 21,02
V12 14,78 86,89 20,63
V13 48,07 21,34 49,44
V14 5,84 86,83 7,34
V15 18,37 60,48 18,83
V16 21,42 62,50 21,71
V17 4,35 76,66 3,73
v18 24,56 56,68 17,45
V19 69,68 29,45 75,04
V20 19,51 50,87 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

34 O município da Lapa foi incluído na RMC em 2001 portanto, não faz parte deste estudo.
35 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de Curitiba e a do conjunto de RMs.

66 Marley Vanice Deschamps


Verifica-se que 15 das 20 variáveis apresentam coeficiente de variação36 superior a 30%, indi-
cativo de que entre as AEDs há forte variabilidade da situação social, principalmente no que se refere
a ocupados com baixo rendimento no trabalho principal (V12), analfabetismo (V14), crianças fora
da escola (V17), famílias pobres (V11), famílias com elevado número de componentes (V5), analfa-
betismo funcional dos chefes de família e da população de 15 anos ou mais (V16 e V15), cujos CV
ultrapassam 60%. Ressalta-se que as AEDs da RMC não se apresentam homogêneas em relação a
nenhuma das variáveis em estudos, ou seja, nenhuma variável apresentou CV abaixo de 20.
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo desta-
cando-se as correlações maiores ou igual a 60% (tabela 6.2).

TABELA 6.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS - RM CURITIBA -2000


VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10
V1 1,000 -0,421 -0,368 0,501 0,409 0,686 0,571 0,568 -0,443 0,584
V2 -0,421 1,000 0,624 -0,350 -0,212 -0,648 -0,711 -0,747 0,966 -0,673
V3 -0,368 0,624 1,000 -0,805 -0,727 -0,693 -0,846 -0,878 0,746 -0,866
V4 0,501 -0,350 -0,805 1,000 0,934 0,721 0,838 0,840 -0,506 0,882
V5 0,409 -0,212 -0,727 0,934 1,000 0,596 0,732 0,737 -0,377 0,790
V6 0,686 -0,648 -0,693 0,721 0,596 1,000 0,903 0,878 -0,726 0,877
V7 0,571 -0,711 -0,846 0,838 0,732 0,903 1,000 0,975 -0,809 0,972
V8 0,568 -0,747 -0,878 0,840 0,737 0,878 0,975 1,000 -0,852 0,992
V9 -0,443 0,966 0,746 -0,506 -0,377 -0,726 -0,809 -0,852 1,000 -0,787
V10 0,584 -0,673 -0,866 0,882 0,790 0,877 0,972 0,992 -0,787 1,000
V11 0,529 -0,266 -0,730 0,930 0,910 0,696 0,779 0,790 -0,427 0,844
V12 0,288 0,072 -0,538 0,772 0,815 0,341 0,452 0,473 -0,097 0,537
V13 0,062 0,362 -0,315 0,582 0,637 0,101 0,180 0,172 0,207 0,251
V14 0,454 -0,139 -0,634 0,878 0,887 0,603 0,694 0,694 -0,314 0,758
V15 0,499 -0,306 -0,783 0,946 0,925 0,713 0,822 0,822 -0,471 0,868
V16 0,482 -0,286 -0,784 0,944 0,924 0,694 0,802 0,806 -0,456 0,850
V17 0,483 -0,267 -0,649 0,817 0,761 0,698 0,737 0,684 -0,395 0,728
V18 0,572 -0,480 -0,806 0,898 0,820 0,806 0,883 0,871 -0,600 0,898
V19 0,571 -0,649 -0,844 0,847 0,767 0,823 0,912 0,934 -0,757 0,934
V20 0,625 -0,681 -0,809 0,834 0,749 0,899 0,959 0,961 -0,775 0,965

36 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 67


VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,529 0,288 0,062 0,454 0,499 0,482 0,483 0,572 0,571 0,625
V2 -0,266 0,072 0,362 -0,139 -0,306 -0,286 -0,267 -0,480 -0,649 -0,681
V3 -0,730 -0,538 -0,315 -0,634 -0,783 -0,784 -0,649 -0,806 -0,844 -0,809
V4 0,930 0,772 0,582 0,878 0,946 0,944 0,817 0,898 0,847 0,834
V5 0,910 0,815 0,637 0,887 0,925 0,924 0,761 0,820 0,767 0,749
V6 0,696 0,341 0,101 0,603 0,713 0,694 0,698 0,806 0,823 0,899
V7M 0,779 0,452 0,180 0,694 0,822 0,802 0,737 0,883 0,912 0,959
V8 0,790 0,473 0,172 0,694 0,822 0,806 0,684 0,871 0,934 0,961
V9 -0,427 -0,097 0,207 -0,314 -0,471 -0,456 -0,395 -0,600 -0,757 -0,775
V10 0,844 0,537 0,251 0,758 0,868 0,850 0,728 0,898 0,934 0,965
V11 1,000 0,863 0,648 0,903 0,953 0,954 0,795 0,875 0,808 0,805
V12 0,863 1,000 0,885 0,779 0,806 0,830 0,628 0,659 0,526 0,477
V13 0,648 0,885 1,000 0,611 0,606 0,633 0,481 0,460 0,240 0,195
V14 0,903 0,779 0,611 1,000 0,936 0,925 0,790 0,781 0,705 0,695
V15 0,953 0,806 0,606 0,936 1,000 0,995 0,827 0,903 0,844 0,820
V16 0,954 0,830 0,633 0,925 0,995 1,000 0,819 0,895 0,833 0,802
V17 0,795 0,628 0,481 0,790 0,827 0,819 1,000 0,814 0,683 0,713
V18 0,875 0,659 0,460 0,781 0,903 0,895 0,814 1,000 0,860 0,887
V19 0,808 0,526 0,240 0,705 0,844 0,833 0,683 0,860 1,000 0,925
V20 0,805 0,477 0,195 0,695 0,820 0,802 0,713 0,887 0,925 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

Em relação aos componentes da vulnerabilidade demográfica destacam-se os indicadores


que expressam elevado número de componentes (V4), parturição de adolescentes e jovens (V7),
presença de crianças menores de 14 anos (V8) e o índice de dependência infantil (V10), todos com
altíssima correlação (>= 0,800) com mais da metade das variáveis analisadas.
No que se refere às variáveis socioeconômicas, o analfabetismo funcional (V15 e V16), ado-
lescentes fora da escola (V18), escolaridade inadequada dos jovens e adultos (V19) e a densidade
domiciliar inadequada são as que apresentam nível de correlação mais elevado com mais da metade
das variáveis.
A situação de informalidade no mercado de trabalho, embora envolvendo parcela expressiva
(48%) dos ocupados da RM de Curitiba, é um indicador que apresentou correlação significativa
somente com os ocupados com baixo rendimento no trabalho principal (V12). Outro indicador com
baixa correlação com as demais variáveis é a proporção de famílias chefiadas por menores (V1).
Na aplicação da técnica de análise fatorial com base na matriz de correlação de Pearson,
busca-se explicar a variabilidade existente entre as AEDs no que se refere às variáveis de desvan-
tagem demográficas e socioeconômicas. Para a RM de Curitiba a aplicação dessa técnica resultou
na definição de dois fatores comuns, o que indica uma forte correlação entre as variáveis escolhidas.
Para este caso foi retirada a V1 (chefes menores de idade), pois a mesma apresentou comunalidade
abaixo de 0,60, conforme tabela A 6.4, em anexo. A retirada dessa variável não alterou o resultado
final do agrupamento das áreas dentro da RM de Curitiba, tendo em vista, a baixa correlação com
as demais variáveis.
Os dois fatores retidos explicaram 90,5% da variância total das 19 variáveis originais, a partir
da diversidade encontrada nas 112 áreas internas da RM de Curitiba (tabela 6.3). O primeiro fator,
que possui um autovalor 4,4 vezes superior ao segundo, explica aproximadamente 74% da variância
total, enquanto o segundo explica aproximadamente 17%.

68 Marley Vanice Deschamps


TABELA 6.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA PELOS
FATORES COMUNS, COM BASE EM 19 VARIÁVEIS - RM CURITIBA – 2000
FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA (%)

1 14,01 73,71 73,71

2 3,19 16,77 90,48

FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos dois fatores e entre si são apresentadas
na tabela 6.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que
compõem cada fator.

TABELA 6.4 - CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS COM OS DOIS FATORES COMUNS ROTACIONADOS
PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER - RM CURITIBA - 2000
FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2
V2 0,183 -0,944
V3 -0,504 -0,732
V4 0,813 0,533
V5 0,863 0,392
V6 0,368 0,821
V7 0,461 0,865
V8 0,451 0,883
V9 0,002 -0,962
V10 0,536 0,830
V11 0,867 0,446
V12 0,942 0,043
V13 0,896 -0,266
V14 0,867 0,339
V15 0,851 0,496
V16 0,864 0,472
V17 0,721 0,447
V18 0,688 0,648
V19 0,516 0,799
V20 0,480 0,842
FONTE: Dados da pesquisa

O fator 1 agrupa praticamente todas as variáveis relacionadas aos indicadores socioeconômi-


cos, a exceção das variáveis jovens e adultos com nível escolar inadequados (V19) e domicílios com
densidade por dormitório inadequada (V20). O contrário observa-se no fator 2, onde foram agrupa-
das as variáveis demográficas, à exceção daquelas relacionadas a famílias numerosas (V4 e V5).
Quanto à divisão em fatores socioeconômicos e fatores sociodemográficos, a vantagem da
análise fatorial reside no fato de juntar em cada fator aquelas variáveis altamente correlacionadas
entre si. Nesse sentido, destaque-se que no primeiro fator, onde está a maioria das variáveis socio-
econômicas, encontram-se duas variáveis demográficas indicativas de situação de pobreza, ou seja,
famílias com alta freqüência de filhos e de membros. Assim, optou-se por denominar o fator 1 de
fator de desvantagem socioeconômica. Sendo este o fator decisivo na classificação das áreas e que

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 69


explica 74% da variância total do conjunto original. Verificou-se, dessa forma, forte vínculo entre os
aspectos sociodemográficos e os fatores geradores de desvantagem em outros planos sociais.
O fator 2, como se pode observar, é composto principalmente de variáveis demográficas, as
quais não estariam, necessariamente, relacionadas à situação de pobreza, mas que são fatores de-
mográficos de vulnerabilidade. O fator 2, denominado de fator de desvantagem demográfica, explica
17% da variância total do conjunto original.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 6.5, a qual apresenta os
valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão, bem
como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em relação
à área com índice final máximo. A AED 4106902999001, localizada na área central do município de
Curitiba apresenta a melhor situação em relação à vulnerabilidade ou em relação a qualquer outra
área e a AED 4128633001001, localizada no município de Doutor Ulysses, apresenta a pior situação
em termos de vulnerabilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas, procedeu-se à análise de agru-
pamentos das mesmas, identificando-se grupos, os mais homogêneos possíveis, dentro da RM de
Curitiba. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 6.1 e a tabela A 6.6 exibe o índice
final e os respectivos grupos em que foram alocadas as 112 áreas.

QUADRO 6.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS


HOMOGÊNEOS – RM CURITIBA – 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 13 Altíssima vulnerabilidade

2 11 Alta vulnerabilidade

3 13 Média para alta vulnerabilidade

4 25 Média para baixa vulnerabilidade

5 31 Baixa vulnerabilidade

6 19 Baixíssima vulnerabilidade

FONTE: Dados da pesquisa

O resultado final pode ser visualizado na figura 6.1 abaixo. Das 13 áreas classificadas como de
altíssima vulnerabilidade social, 10 se encontram em municípios considerados rurais (Adrianópolis,
Agudos do Sul, Bocaiúva do Sul, Cerro Azul, Doutor Ulysses, Itaperuçu, Quitandinha, Rio Branco do
Sul, Tijucas do Sul e Tunas do Paraná); também é rural a área do município de Piraquara enquadra-
da nessa categoria. As outras duas AEDs, assim classificadas, estão localizadas em Curitiba, mais
especificamente na área leste da cidade, parte do bairro de Uberaba e parte do bairro Cajuru.
Entre as 11 áreas classificadas como de alta vulnerabilidade social, destacam-se os municípios
ao norte de Curitiba com cinco áreas distribuídas nos municípios de Almirante Tamandaré (AEDs
001 e 003), Campo Largo (distritos), Campo Magro e Colombo (AED009). Além desses, aparecem
na parte sul da RM todo o município de Mandirituba, as AED 003 e 007 do município de São José
dos Pinhais, AED 002 de Araucária e o bairro do Tatuquara em Curitiba.
As áreas consideradas de média vulnerabilidade perfazem 38 AEDS, sendo que 13 são consi-
deradas de média alta vulnerabilidade e 25, de média baixa vulnerabilidade. Campina Grande do Sul,
Colombo e Almirante Tamandaré, na porção norte da RM, concentram cinco das áreas de média alta
vulnerabilidade, outras seis áreas encontram-se ao sul da região compreendendo toda extensão dos
municípios de Contenda e Fazenda Rio Grande e grande parte de Araucária (AEDS 004 e 005), além

70 Marley Vanice Deschamps


da quase totalidade da parte sul município de Curitiba (CIC Sul, - Vila Verde, Campo de Santana,
Caximba, Umbará e Ganchinho). Além dessas, duas AEDs (001 e 009) do município de São José
dos Pinhais, área fronteiriça com o município de Piraquara, encontram-se nessa condição.

FIGURA 6.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS


ÁREAS DE EXPANSÃO - RMC – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 71


Quanto às áreas classificadas como média baixa observa-se que a maioria (19) encontra-se
fora do município de Curitiba. Já em relação à baixa e baixíssima vulnerabilidade social, 50 no total,
observa-se que a grande maioria está localizada dentro do município polo. Destaca-se a existência
de áreas classificadas como de baixa vulnerabilidade localizadas nos municípios de Pinhais e São
José dos Pinhais, contíguas ao município de Curitiba. No caso de São José dos Pinhais ressalta-
se a estruturação do parque automobilístico implantado nos últimos dez anos, o que resultou numa
melhora da situação socioeconômica de muitas famílias.
Mesmo reproduzindo a situação, corrente nos grandes centros, de concentração de popula-
ção em condições de mais alta vulnerabilidade social residindo em áreas mais afastadas do centro
metropolitano ou em áreas periféricas a este, a Região Metropolitana de Curitiba apresenta somente
33% de suas áreas em condições de média alta até altíssima vulnerabilidade social.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expresso pela proporção de domicílios em condições inade-
quadas de saneamento37, implicando uma situação de risco, aproximadamente 67% das áreas foram
classificadas como de médio baixo até baixíssimo risco ambiental, conforme tabela A 6.7 em anexo.

QUADRO 6.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO


À SITUAÇÃO DE RISCO AMBIENTAL – RM CURITIBA - 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 5 Altíssimo risco
2 8 Alto risco
3 23 Médio para alto risco
4 20 Médio para baixo risco
5 29 Baixo risco
6 26 Baixíssimo risco
0 1 Sem denominação
FONTE: Dados da pesquisa
NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

As áreas com baixíssimo risco ambiental estão localizadas basicamente no município de Curi-
tiba, a exceção de uma área localizada em São José dos Pinhais. As 29 áreas de baixo risco
ambiental também estão, na sua grande maioria, concentradas no município de Curitiba (22). Os
demais municípios em que o baixo risco está presente são: São José dos Pinhais, Araucária, Pinhais
e Colombo. (tabela A 6.8).

37 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

72 Marley Vanice Deschamps


FIGURA 6.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO
– RM DE CURITIBA – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 73


No outro extremo, 32% das áreas foram classificadas na condição de médio alto até altíssimo
risco, a grande maioria localizada fora do município de Curitiba. Das 36 áreas nessas condições, seis
estão em Curitiba, todas classificadas como de médio para alto risco ambiental: Bairros de Augusta/
Riviera/Orleans/Butiatuvinha/Lamenha Pequena, Tatuquara, Moradias de Ordem, Cajuru 2, Campo
de Santana/Caximba/Umbará/Ganchinho e Uberaba 1.
Na leitura espacial deste fenômeno observa-se uma clara situação de segregação socioespa-
cial, em que, mais uma vez, são as áreas centrais do município polo que reúnem as condições de
mais baixo risco ambiental e a situação fica mais crítica à medida que as áreas se afastam desse
ponto. Ressalta-se entretanto, que alguns municípios mais distantes e rurais, como Adrianópolis e
Cerro Azul, ainda Bocaiúva do Sul e Campina Grande do Sul, foram classificados como de médio
baixo risco ambiental. Sendo que essa situação é observada somente nas áreas urbanas. Mas como
esses municípios possuem somente uma AED, não foi possível separar essas duas dimensões do
território.

a) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 6.9, em anexo, e resumidas no quadro 6.3.

QUADRO 6.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO À


SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM CURITIBA - 2000
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima
Baixíssimo 19 7        
Baixo   22 7      
Médio baixo   1 13 2 1 3
Médio alto   1 4 8 6 4
Alto     1 2 3 2
Altíssimo       1 1 3
FONTE: Dados da pesquisa

A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes nos quais se observam as diversas situa-
ções das áreas da região metropolitana de Curitiba em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnera-


bilidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante estão
áreas de alto risco ambiental, mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão
estar mais focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, estão situações de

74 Marley Vanice Deschamps


baixo risco ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com considerável
concentração de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deve-
rão estar voltadas, principalmente, para as questões sociais.
Na região metropolitana de Curitiba, 62% das áreas encontam-se no primeiro quadrante. Des-
se total, 75% no município de Curitiba. Todas as melhores situações dentro do primeiro quadran-
te, ou seja, baixíssima vulnerabilidade social com baixíssimo risco ambiental, são encontradas em
Curitiba: Centro, Rebouças, Batel, Bigorrilho, Mercês, Juvevê, Portão, Vila Izabel, Bacacheri, São
Francisco/Bom Retiro, Centro Cívico/Alto da Glória, Alto da XV/ Jardim Social/Hugo Lange, Cabral/
Ahu, Jardim das Américas/Guabirotuba, Seminário/Campinado Siqueira/Mossunguê, Boa Vista/São
Lourenço, Água Verde SE, Água Verde ZR-3, Água Verde ZR-4 (figura 6.3).

FIGURA 6.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, SEGUNDO


AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RM DE CURITIBA – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 75


As piores situações, aquelas classificadas no quarto quadrante, somam a segunda maior con-
centração de áreas, 27% do total, sendo que das 30 áreas ali inseridas, somente 5 estão em Curitiba.
A maioria está localizada em outros municípios da região. As áreas em situação mais crítica, aquelas
com altíssima vulnerabilidade social e altíssimo risco ambiental, são aquelas onde estão inseridos a
totalidade da área dos municípios. Tijucas do Sul, Tunas do Paraná e Doutor Ulysses.
As demais áreas, 12 no total (10,8%) estão dividas entre o segundo e terceiro quadrantes. No
segundo quadrante, ou seja, famílias ou pessoas em situação de baixa vulnerabilidade social, resi-
dindo em áreas com falta de infraestrutura de saneamento está a AED que compreende os bairros
da região noroeste de Curitiba - Augusta, Riviera, Orleans, Butiatuvinha e Lamenha Pequena --, o
município de Balsa Nova e Quatro Barras, a parte urbana de Piraquara e as AEDs 001 de Colombo
e 004 de Almirante Tamandaré. No terceiro quadrante, encontram-se aquelas áreas que combinam
situação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental. Somente uma das AEDs encontra-
se no município de Curitiba, as outras 5 dizem respeito à totalidade da área dos municípios de Cam-
pina Grande do Sul, Campo Magro, Adrianópolis, Bocaiúva do Sul e Cerro Azul.

3.7 Região Metropolitana de Salvador

a) Vulnerabilidade social
A Região Metropolitana de Salvador é composta por 10 municípios subdivididos em 108 AEDs,
das quais mais de 80% (88 áreas) estão no município de Salvador. Para cada uma das áreas foram
calculados os indicadores de desvantagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas ta-
belas A 7.1, A 7.2 e A 7.3 (anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à
RM de Salvador aos da média das 17 Regiões Metropolitanas estudadas, bem como o nível de hete-
rogeneidade de cada variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM
de Salvador.
De um modo geral, os indicadores referentes à RM de Salvador apresentam valores relativa-
mente próximos à média do conjunto das RMs38 exceto para cinco deles em que a situação é bem
mais desfavorável em Salvador, os quais sejam: mulheres sem cônjuge (V3), famílias numerosas
(V4 e V5) e, índice de dependência infantil (V10) e famílias pobres (V11), cuja diferença superou
os 40%. Cabe ressaltar que a RM de Salvador apresenta o maior valor médio entre as RMs para a
V3, ou seja em cada 100 famílias cerca de 30 são chefiadas por mulheres sem cônjuge. O destaque
dentre as variáveis é relativo a adolescentes fora da escola (V18), que nesse caso apresenta um
valor quase 30% menor que a média do conjunto das RMs, colocando a RM de Salvador em situação
favorável em relação a esse indicador (tabela 7.1).

38 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de Salvador e a do conjunto de RMs.

76 Marley Vanice Deschamps


TABELA 7.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS
DEMOGRÁFICAS E SOCIOECONÔMICAS – RM DE SALVADOR - 2000
SALVADOR
VARIÁVEL MÉDIA RMs
MÉDIA CV (%)
V1 1,64 45,07 1,45
V2 9,54 53,89 10,08
V3 30,27 17,25 23,71
V4 8,57 41,51 6,59
V5 4,70 41,79 3,66
V6 7,01 40,58 8,00
V7 0,66 30,09 0,75
V8 26,98 21,07 27,79
V9 4,48 61,08 5,13
V10 39,91 25,96 42,08
V11 30,51 44,51 21,02
V12 30,58 32,51 20,63
V13 48,15 13,31 49,44
V14 6,92 60,81 7,34
V15 18,79 47,17 18,83
V16 22,13 50,15 21,71
V17 3,87 55,20 3,73
V18 12,31 46,58 17,45
V19 82,64 22,44 75,04
V20 30,48 34,63 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

O coeficiente de variação39 indica que entre as AEDs da RM de Salvador há forte variabilidade


da situação social, com 15 das 20 variáveis apresentando valor superior a 30%. Sendo que para
cinco delas o valor ultrapassa 50%. Dentre as variáveis que apresentam maior heterogeneidade
destacam-se: famílias chefiadas por idosos (V2), pessoas acima de 64 anos (V9), analfabetismo da
população de 15 anos e mais (V14), analfabetismo funcional dos chefes de família (V16) e crianças
fora da escola (V17). Por outro lado, as AEDs são mais homogêneas, ou seja, com coeficiente de
variação abaixo de 20%, principalmente quanto à informalidade das ocupações (V13) e à chefatura
de família por mulheres sem cônjuge (V3).
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo, desta-
cando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 7.2).

39 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 77


TABELA 7.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS – RM DE SALVADOR – 2000

VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7M V8 V9 V10


V1 1,000 -0,408 -0,364 0,664 0,556 0,771 0,688 0,673 -0,466 0,683
V2 -0,408 1,000 0,725 -0,567 -0,433 -0,472 -0,653 -0,751 0,975 -0,677
V3 -0,364 0,725 1,000 -0,613 -0,591 -0,387 -0,685 -0,701 0,732 -0,683
V4 0,664 -0,567 -0,613 1,000 0,895 0,734 0,887 0,897 -0,669 0,904
V5 0,556 -0,433 -0,591 0,895 1,000 0,598 0,814 0,803 -0,544 0,826
V6 0,771 -0,472 -0,387 0,734 0,598 1,000 0,785 0,771 -0,549 0,774
V7M 0,688 -0,653 -0,685 0,887 0,814 0,785 1,000 0,968 -0,729 0,976
V8 0,673 -0,751 -0,701 0,897 0,803 0,771 0,968 1,000 -0,827 0,991
V9 -0,466 0,975 0,732 -0,669 -0,544 -0,549 -0,729 -0,827 1,000 -0,757
V10 0,683 -0,677 -0,683 0,904 0,826 0,774 0,976 0,991 -0,757 1,000
V11 0,695 -0,572 -0,532 0,930 0,827 0,806 0,933 0,935 -0,678 0,940
V12 0,667 -0,424 -0,445 0,850 0,784 0,798 0,873 0,843 -0,535 0,862
V13 0,483 -0,151 -0,460 0,569 0,579 0,498 0,632 0,535 -0,215 0,596
V14 0,614 -0,393 -0,596 0,849 0,842 0,703 0,880 0,830 -0,490 0,876
V15 0,664 -0,490 -0,611 0,889 0,849 0,762 0,930 0,896 -0,587 0,926
V16 0,660 -0,513 -0,607 0,908 0,852 0,771 0,926 0,902 -0,617 0,923
V17 0,489 -0,526 -0,529 0,604 0,548 0,582 0,707 0,713 -0,565 0,721
V18 0,590 -0,499 -0,620 0,746 0,742 0,676 0,844 0,811 -0,563 0,840
V19 0,627 -0,593 -0,429 0,827 0,707 0,766 0,829 0,861 -0,694 0,833
V20 0,651 -0,613 -0,478 0,875 0,758 0,819 0,900 0,921 -0,710 0,910

VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,695 0,667 0,483 0,614 0,664 0,660 0,489 0,590 0,627 0,651
V2 -0,572 -0,424 -0,151 -0,393 -0,490 -0,513 -0,526 -0,499 -0,593 -0,613
V3 -0,532 -0,445 -0,460 -0,596 -0,611 -0,607 -0,529 -0,620 -0,429 -0,478
V4 0,930 0,850 0,569 0,849 0,889 0,908 0,604 0,746 0,827 0,875
V5 0,827 0,784 0,579 0,842 0,849 0,852 0,548 0,742 0,707 0,758
V6 0,806 0,798 0,498 0,703 0,762 0,771 0,582 0,676 0,766 0,819
V7M 0,933 0,873 0,632 0,880 0,930 0,926 0,707 0,844 0,829 0,900
V8 0,935 0,843 0,535 0,830 0,896 0,902 0,713 0,811 0,861 0,921
V9 -0,678 -0,535 -0,215 -0,490 -0,587 -0,617 -0,565 -0,563 -0,694 -0,710
V10 0,940 0,862 0,596 0,876 0,926 0,923 0,721 0,840 0,833 0,910
V11 1,000 0,930 0,571 0,843 0,914 0,926 0,657 0,771 0,905 0,953
V12 0,930 1,000 0,709 0,869 0,906 0,908 0,593 0,728 0,832 0,884
V13 0,571 0,709 1,000 0,770 0,727 0,688 0,495 0,645 0,353 0,467
V14 0,843 0,869 0,770 1,000 0,971 0,956 0,656 0,837 0,672 0,758
V15 0,914 0,906 0,727 0,971 1,000 0,991 0,695 0,853 0,772 0,848
V16 0,926 0,908 0,688 0,956 0,991 1,000 0,668 0,832 0,805 0,867
V17 0,657 0,593 0,495 0,656 0,695 0,668 1,000 0,696 0,542 0,657
V18 0,771 0,728 0,645 0,837 0,853 0,832 0,696 1,000 0,608 0,721
V19 0,905 0,832 0,353 0,672 0,772 0,805 0,542 0,608 1,000 0,931
V20 0,953 0,884 0,467 0,758 0,848 0,867 0,657 0,721 0,931 1,000

FONTE: Dados da pesquisa

78 Marley Vanice Deschamps


A RM de Salvador apresenta uma matriz de correlação na qual a maioria das variáveis está re-
lacionada entre si, em um grau de moderado a elevado; são 17 variáveis que apresentam correlação
acima de 60% com pelo menos metade das variáveis analisadas. Destas, 10 apresentam correlação
altíssima (0,800 ou mais), também com pelo menos metade das variáveis.
Em relação aos componentes da vulnerabilidade demográfica, destacam-se os indicadores
que expressam a presença de famílias com elevado número de filhos (V4), parturição entre mulheres
jovens (V7), presença de crianças até 14 anos (V8) e índice de dependência infantil (V10), todos com
altíssima correlação (>= 0,800) com mais da metade das variáveis analisadas.
No que se refere às variáveis socioeconômicas, a insuficiência da renda familiar (V11) e o
analfabetismo funcional entre os chefes de família (V16) são as variáveis que apresentam níveis
de correlação mais elevados. Em seguida, também com altos níveis de correlação, destacam-se: o
analfabetismo funcional entre jovens (V15), ocupações com baixo rendimento no trabalho principal
(V12), taxa de analfabetismo entre jovens de 15 e mais anos (V 14 e V15) e domicílios com densi-
dade por dormitório (V20).
Como exceção a esse padrão, há dois indicadores com baixa correlação com as demais vari-
áveis: participação dos idosos na chefia das famílias (V2), os quais, porém, apresentam associação
com a presença de idosos (V9) e com a presença de mulheres sem cônjuge chefiando famílias (V3),
embora em menor grau, indicando que esse tipo de chefia é exercido por mulheres idosas, bem como
apresentam uma associação negativa com a participação de crianças na população das áreas (V8).
Para explicar a variabilidade existente entre as AEDs no que se refere às variáveis de desvan-
tagem demográficas e socioeconômicas, utilizou-se a análise fatorial com base na matriz de corre-
lação de Pearson. Após a retirada da V17 (crianças fora da escola), que apresentou comunalidade
abaixo de 0,60, o resultado alcançado com a aplicação dessa técnica, no caso da RM de Salvador,
foi de três fatores comuns (tabela A 7.4).
A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que se
refere às variáveis de desvantagem demográficas e sócio-econômicas, pode ser observada na ta-
bela 7.3. Os três fatores retidos explicaram pouco mais de 89% da variância total das 19 variáveis
originais, a partir da diversidade encontrada nas 108 áreas internas da RM de Salvador. O primeiro
fator, que possui um autovalor quase 9 vezes superior ao segundo e, aproximadamente, 14 vezes
superior ao terceiro, explica 75% da variância total, enquanto o segundo explica aproximadamente
9% e o terceiro somente 5,5%.

TABELA 7.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA PELOS FATORES


COMUNS, COM BASE EM 19 VARIÁVEIS – RM de SALVADOR - 2000

FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA (%)

1 14,29 75,22 75,22

2 1,64 8,65 83,87

3 1,04 5,47 89,34

FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos três fatores e entre si são apresentadas
na tabela 7.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que
determinam cada fator.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 79


TABELA 7.4 - CORRELAÇÃO DAS 19 VARIÁVEIS COM OS 3 FATORES COMUNS ROTACIONADOS
PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER – RM DE SALVADOR – 2000
FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2 3
V1 0,703 0,313 0,143
V2 -0,323 -0,038 -0,921
V3 -0,028 -0,530 -0,788
V4 0,668 0,534 0,386
V5 0,515 0,643 0,308
V6 0,812 0,318 0,187
V7 0,640 0,569 0,468
V8 0,659 0,460 0,574
V9 -0,427 -0,103 -0,880
V10 0,649 0,542 0,498
V11 0,789 0,471 0,339
V12 0,749 0,574 0,157
V13 0,214 0,883 -0,010
V14 0,508 0,802 0,216
V15 0,608 0,715 0,289
V16 0,639 0,669 0,310
V18 0,430 0,688 0,361
V19 0,857 0,199 0,362
V20 0,834 0,328 0,372
FONTE: Dados da pesquisa

Os fatores 1 e 2 combinam determinadas características da estrutura familiar e pobreza. No


primeiro fator destacam-se aqueles componentes demográficos que correspondem a situações fa-
miliares marcadas pela chefatura de menores, número elevado de filhos, presença de crianças,
adolescentes com experiência reprodutiva, parturição entre mulheres jovens e baixa renda e índice
de dependência infantil. Essas famílias combinam ainda situações de vulnerabilidade relacionadas
ao analfabetismo e inadequação escolar e, residência em domicílios com densidade inadequada por
dormitório.
O fator 2 especifica a situação de famílias com grande número de membros, juntando grande
número de variáveis que indicam situação de vulnerabilidade socioeconômica, como a inserção no
mercado informal de trabalho e o analfabetismo. Por fim, o fator 3 juntou as variáveis que expõe as
pessoas idosas, como a chefia de idosos, de mulheres sem cônjuge e a proporção de pessoas com
idade acima de 64 anos, mas que não necessariamente se encontram em situação de desvantagens
socioeconômicas.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 7.5, a qual apresenta os
valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão, bem
como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em relação
à área com índice final máximo (AED 2927408999024 localizada em Salvador, na área Graça), a
qual apresenta a melhor situação em relação à vulnerabilidade. A AED 2905701502001, localizada
em Camaçari (Monte Gordo), apresenta a pior situação em termos de vulnerabilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas procedeu-se à análise de agrupa-

80 Marley Vanice Deschamps


mentos das mesmas, identificando-se grupos, os mais homogêneos possíveis, dentro da RM de
Salvador. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 7.1 e a tabela A 7.6 exibe o índice
final e os respectivos grupos em que foram alocadas as 108 áreas.

QUADRO 7.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS


– RM DE SALVADOR - 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 3 Altíssima vulnerabilidade

2 22 Alta vulnerabilidade

3 29 Média para alta vulnerabilidade

4 28 Média para baixa vulnerabilidade

5 18 Baixa vulnerabilidade

6 8 Baixíssima vulnerabilidade

FONTE: Dados da pesquisa

O resultado final pode ser visualizado na figura 7.1 abaixo. As três áreas classificadas como de
altíssima vulnerabilidade social estão distribuídas por três municípios: porção norte do município de
Camaçari (Monte Gordo), a área rural do município de Simões Filho e Bairro da Paz em Salvador. As
áreas de alta vulnerabilidade, num total de 22, estão concentradas nos municípios de Salvador (10):
Periperi, Fazenda Coutos, Jardim das Margaridas, Praia Grande, Alagados, Valéria, Águas Claras/
Cajazeiras, São João, Mata Escura/Calabetão e São Cristóvão; de Camaçari (4): Parafuso, Abran-
tes, Parque Verde e Camaçari de Dentro; de Lauro Freitas (2): Areia Branca e Av. Gerino de Souza
Filho; área urbana de Simões Filho e ainda os municípios de Candeias, Dias D´Ávilla, Itaparica, São
Francisco do Conde e Vera Cruz. O município de Salvador concentra, aproximadamente, 89% das
áreas de média alta e média baixa vulnerabilidade e tem todas as AEDs classificadas como de baixa
e baixíssima vulnerabilidade social.
A distribuição espacial das AEDs na RM de Salvador, de acordo com sua condição de vulne-
rabilidade social, demonstra o processo excludente dos grandes centros, onde a população em con-
dições de mais alta vulnerabilidade social reside em áreas mais afastadas do centro metropolitano
ou em áreas periféricas a este.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 81


FIGURA 7.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS ÁREAS
DE EXPANSÃO – RM DE SALVADOR – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expresso pela proporção de domicílios em condições inade-
quadas de saneamento40, implicando em uma situação de risco ambiental, a RM de Salvador apre-
senta condição desfavorável na maioria das AEDs, sendo que apenas 46% das áreas foram clas-
sificadas como de médio baixo até baixíssimo risco ambiental, conforme quadro 7.2 e tabela A 7.7,
em anexo.

QUADRO 7.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO


À SITUAÇÃO DE RISCO AMBIENTAL – RM DE SALVADOR - 2000

GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 6 Altíssimo risco
2 21 Alto risco
3 30 Médio para alto risco
4 27 Médio para baixo risco
5 14 Baixo risco
6 9 Baixíssimo risco
0 1 Sem denominação
FONTE: Dados da pesquisa
NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

40 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

82 Marley Vanice Deschamps


Das seis áreas classificadas como de altíssimo risco, ou seja, em que mais de 80% dos domicí-
lios apresentavam condições inadequadas de saneamento, cinco estão em Salvador: Bairro da Paz,
Periperi, Valéria, Jardim das Margaridas e Bela Vista do Lobato; a outra se refere a Monte Gordo em
Camaçari. Juntando todas as áreas com classificação de altíssimo a médio alto risco, num total de
57, elas se localizam em todos os municípios, a exceção de Madre Deus, perfazendo 53% das áreas.
Desse total, mais da metade (56%) estão no município de Salvador (figura 7.2).
No outro extremo, ou seja, áreas com baixa proporção de domicílios com inadequação em re-
lação a saneamento, portanto, classificadas como de baixíssimo risco ambiental. Todas se localizam
no município polo, Salvador: Campo Grande/Canela, Rio Vermelho, Imbuí, Stiep/Costa Azul, Graça,
Barra Avenida, Nordeste/Amaralina, Barra e Itaigar/Caminho das Árvores.

FIGURA 7.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO


– RM DE SALVADOR – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 7.8, em anexo, e resumidas no quadro 7.3.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 83


QUADRO 7.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO À
SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM DE SALVADOR – 2000
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima

Baixíssimo 8 1        

Baixo   13 1      
Médio baixo   4 20 3    
Médio alto     6 20 4  
Alto     1 5 15  
Altíssimo       1 3 2
FONTE: Dados da pesquisa

A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes nos quais se observam as diversas situa-
ções das áreas da região metropolitana de Salvador em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnera-


bilidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante estão
áreas de alto risco ambiental, mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão
estar mais focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante estão situações de
baixo risco ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com considerável
concentração de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deve-
rão estar voltadas, principalmente, para as questões sociais.
Na região metropolitana de Salvador, 44% das AEDs encontram-se no primeiro quadrante,
sendo que das 47 que compõem este quadrante, 44 encontram-se no município de Salvador e as
outras três, nos municípios de Camaçari (1) e Lauro de Freitas (2). As melhores situações desse qua-
drante, ou seja, a combinação de baixíssima vulnerabilidade social com baixíssimo risco ambiental
se referem a áreas localizadas em Salvador: Itaigar/Caminho das Árvores, Barra, Nordeste/Amarali-
na, Barra Avenida, Graça, Stiep/Costa Azul, Imbuí e Campo Grande/Canela (figura 7.3).

84 Marley Vanice Deschamps


FIGURA 7.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, SEGUNDO AS
ÁREAS DE EXPANSÃO – RM DE SALVADOR – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

O quarto quadrante, alta vulnerabilidade socioambiental, concentra cerca de 47% das AEDs
da RM de Salvador, sendo que das 50 áreas que o compõem, 34 estão no município polo. As outras
16 áreas englobam a totalidade dos municípios de Vera Cruz, Itaparica, São Francisco do Conde,
Candeias, Dias D´Ávila e parte de Lauro de Freitas (Lauro de Freitas, Av. Gerino de Souza Filho e
Areia Branca) e Camaçari (Candeias, Alto da Cruz, Parque Verde, Camaçari de Dentro, Parafuso,
Abrantes e Monte Gordo). As piores situações socioambientais, ou seja, combinação de altíssima
vulnerabilidade social e altíssimo risco ambiental, foram encontradas em duas áreas: uma em Salva-
dor, Bairro da Paz e outra em Camaçari, Monte Gordo.
Das demais áreas, sete (6,5%) estão no segundo quadrante, ou seja, envolvem famílias ou
pessoas em situação de baixa vulnerabilidade social residindo em áreas com falta de infraestrutura
de saneamento, e três foram classificadas no terceiro quadrante.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 85


3.8 Região Metropolitana de Recife

a) Vulnerabilidade social
A RM do Recife é composta por 14 municípios subdivididos em 128 AEDs, das quais 53 (41%)
estão no município de Recife. Para cada uma das áreas foram calculados os indicadores de desvan-
tagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A 8.1, A 8.2 e A 8.3 (anexo).

TABELA 8.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS


DEMOGRÁFICAS E SOCIOECONÔMICAS – RM RECIFE – 2000
RECIFE
VARIÁVEL MÉDIA RMs
MÉDIA CV (%)
V1 1,59 47,05 1,45
V2 11,58 29,70 10,08
V3 28,44 17,26 23,71
V4 6,83 41,48 6,59
V5 3,86 48,01 3,66
V6 7,55 37,26 8,00
V7 0,77 22,52 0,75
V8 27,77 15,05 27,79
V9 5,42 35,89 5,13
V10 41,89 19,10 42,08
V11 34,41 39,42 21,02
V12 29,86 31,80 20,63
V13 49,98 11,07 49,44
V14 11,97 55,35 7,34
V15 22,49 44,42 18,83
V16 26,48 46,05 21,71
V17 4,97 58,49 3,73
V18 17,79 42,15 17,45
V19 81,92 20,15 75,04
V20 28,07 31,08 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à
RM do Recife aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de cada
variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM de Recife.
De um modo geral, essa região metropolitana apresenta indicadores acima da média do con-
junto das 17 RMs, indicativo de um nível mais elevado de desvantagens sociodemográficas (tabela
8.1). Essa condição é mais acentuada41 em relação à chefatura por mulheres sem cônjuge (V3), à
insuficiência de renda (V11 e V12) e a déficits educacionais – analfabetismo entre jovens e adultos
(V14 e V16) e crianças fora da escola (V17).
É possível verificar que para 13 das 20 variáveis o coeficiente de variação42 é superior a 30%,
indicativo de que entre as AEDs há forte variabilidade da situação social. Quanto às variáveis demo-

41 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de Recife e a do conjunto de RMs.


42 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

86 Marley Vanice Deschamps


gráficas, as áreas apresentam maior diferenciação quanto à chefatura familiar por menores e ao seu
número de membros. Na dimensão socioeconômica, a heterogeneidade das áreas mostra-se mais
acentuada para o conjunto de variáveis educacionais, particularmente em relação ao analfabetismo
de jovens e adultos (V14) e à participação de crianças fora da escola (V17).
Por outro lado, as áreas são mais homogêneas (menor CV) principalmente quanto à chefatura
por mulheres sem cônjuge (V3), à participação de crianças na população total (V8), ao índice de
dependência infantil (V10) e à informalidade das ocupações (V13),
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo, desta-
cando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 8.2).
A maioria das variáveis apresenta de moderado a alto grau de correlação. Em relação aos
componentes da vulnerabilidade demográfica, destacam-se os indicadores que expressam a par-
turição de mulheres jovens e adultas, a presença de crianças menores de 14 anos e o índice de
dependência infantil, todos com altíssima correlação (>= 0,800), com mais da metade das variáveis
analisadas. No que se refere às variáveis sócioeconômicas, destacam-se os indicadores de insufici-
ência da renda familiar e de analfabetismo funcional.
Esse conjunto de indicadores com maior correlação aponta para a relação entre famílias em
seu ciclo inicial e desvantagens relacionadas à pobreza e déficits educacionais.
A situação de informalidade no mercado de trabalho, embora envolvendo metade dos ocupa-
dos da RM, não apresentou relação mais expressiva com nenhuma outra variável. Os demais indi-
cadores com baixa correlação relacionam-se aos tipos de chefatura familiar (V1, V2, e V3). Porém,
enquanto a chefatura por menores se relaciona positivamente com maior nível de parturição e com a
experiência reprodutiva entre adolescentes, as chefaturas por idosos ou por mulheres sem cônjuge
são negativamente relacionadas com o percentual de crianças na população total e positivamente
com a participação de idosos na população total, no caso do último tipo de chefatura, com o índice
de dependência infantil.

TABELA 8.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS – RM RECIFE – 2000


VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10
V1 1,000 -0,236 -0,105 0,428 0,329 0,698 0,615 0,552 -0,328 0,559
V2 -0,236 1,000 0,660 -0,374 -0,343 -0,306 -0,555 -0,645 0,939 -0,564
V3 -0,105 0,660 1,000 -0,582 -0,557 -0,189 -0,536 -0,642 0,730 -0,612
V4 0,428 -0,374 -0,582 1,000 0,908 0,548 0,812 0,856 -0,566 0,879
V5 0,329 -0,343 -0,557 0,908 1,000 0,508 0,735 0,780 -0,522 0,805
V6 0,698 -0,306 -0,189 0,548 0,508 1,000 0,771 0,689 -0,437 0,691
V7 0,615 -0,555 -0,536 0,812 0,735 0,771 1,000 0,959 -0,704 0,959
V8 0,552 -0,645 -0,642 0,856 0,780 0,689 0,959 1,000 -0,791 0,992
V9 -0,328 0,939 0,730 -0,566 -0,522 -0,437 -0,704 -0,791 1,000 -0,717
V10 0,559 -0,564 -0,612 0,879 0,805 0,691 0,959 0,992 -0,717 1,000
V11 0,562 -0,426 -0,517 0,877 0,783 0,701 0,921 0,922 -0,623 0,930
V12 0,591 -0,308 -0,356 0,805 0,720 0,699 0,840 0,820 -0,507 0,833
V13 0,407 -0,162 -0,246 0,433 0,381 0,407 0,492 0,445 -0,240 0,466
V14 0,503 -0,261 -0,502 0,898 0,837 0,597 0,825 0,835 -0,465 0,873
V15 0,512 -0,318 -0,519 0,905 0,838 0,641 0,865 0,872 -0,525 0,900
V16 0,506 -0,294 -0,502 0,899 0,821 0,639 0,853 0,863 -0,514 0,889
V17 0,374 -0,347 -0,430 0,788 0,809 0,569 0,781 0,776 -0,480 0,806
V18 0,506 -0,487 -0,439 0,696 0,690 0,697 0,818 0,809 -0,583 0,813
V19 0,442 -0,477 -0,446 0,692 0,596 0,611 0,792 0,787 -0,654 0,763

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 87


V20 0,588 -0,502 -0,410 0,779 0,706 0,752 0,912 0,893 -0,666 0,883

VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,562 0,591 0,407 0,503 0,512 0,506 0,374 0,506 0,442 0,588
V2 -0,426 -0,308 -0,162 -0,261 -0,318 -0,294 -0,347 -0,487 -0,477 -0,502
V3 -0,517 -0,356 -0,246 -0,502 -0,519 -0,502 -0,430 -0,439 -0,446 -0,410
V4 0,877 0,805 0,433 0,898 0,905 0,899 0,788 0,696 0,692 0,779
V5 0,783 0,720 0,381 0,837 0,838 0,821 0,809 0,690 0,596 0,706
V6 0,701 0,699 0,407 0,597 0,641 0,639 0,569 0,697 0,611 0,752
V7 0,921 0,840 0,492 0,825 0,865 0,853 0,781 0,818 0,792 0,912
V8 0,922 0,820 0,445 0,835 0,872 0,863 0,776 0,809 0,787 0,893
V9 -0,623 -0,507 -0,240 -0,465 -0,525 -0,514 -0,480 -0,583 -0,654 -0,666
V10 0,930 0,833 0,466 0,873 0,900 0,889 0,806 0,813 0,763 0,883
V11 1,000 0,917 0,445 0,907 0,938 0,942 0,750 0,768 0,868 0,914
V12 0,917 1,000 0,579 0,882 0,903 0,899 0,664 0,687 0,777 0,871
V13 0,445 0,579 1,000 0,492 0,511 0,467 0,441 0,470 0,256 0,447
V14 0,907 0,882 0,492 1,000 0,982 0,974 0,754 0,717 0,701 0,770
V15 0,938 0,903 0,511 0,982 1,000 0,990 0,780 0,749 0,759 0,816
V16 0,942 0,899 0,467 0,974 0,990 1,000 0,751 0,728 0,784 0,821
V17 0,750 0,664 0,441 0,754 0,780 0,751 1,000 0,770 0,550 0,691
V18 0,768 0,687 0,470 0,717 0,749 0,728 0,770 1,000 0,630 0,754
V19 0,868 0,777 0,256 0,701 0,759 0,784 0,550 0,630 1,000 0,863
V20 0,914 0,871 0,447 0,770 0,816 0,821 0,691 0,754 0,863 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que


se refere às variáveis de desvantagens demográficas e socioeconômicas, pode ser observada na
tabela 8.3. Os três fatores retidos explicaram 87,4% da variância total das 1943 variáveis originais,
a partir da diversidade encontrada nas 128 áreas internas da RM de Recife. O primeiro fator, que
possui um autovalor oito vezes superior ao segundo e 11 vezes em relação ao terceiro fator, explica
aproximadamente 72% da variância total, enquanto os demais têm uma contribuição menor:9% e
6% respectivamente.

TABELA 8.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA PELOS


FATORES COMUNS, COM BASE EM 19 VARIÁVEIS – RM RECIFE – 2000.
VARIÂNCIA ACUMULADA
FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%)
(%)
1 13,62 71,66 71,66

2 1,79 9,41 81,07

3 1,21 6,38 87,45

FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos três fatores e entre si são apresentadas
na tabela 8.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que
determinam cada fator.

43 No caso da RM do Recife, todas as variáveis apresentaram comunalidade acima de 60%, não havendo necessidade de retirada
de nenhuma delas para a determinação dos fatores (ver tabela A.2.4).

88 Marley Vanice Deschamps


TABELA 8.4 - CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS COM OS TRÊS FATORES COMUNS ROTACIONA-
DOS PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER – RM RECIFE – 2000
FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2 3
V1 0,199 0,843 0,049
V2 -0,059 -0,211 -0,952
V3 -0,468 0,155 -0,757
V4 0,885 0,227 0,280
V5 0,877 0,126 0,260
V6 0,369 0,815 0,133
V7 0,651 0,578 0,426
V8 0,679 0,464 0,538
V9 -0,274 -0,278 -0,899
V10 0,736 0,453 0,452
V11 0,779 0,498 0,301
V12 0,736 0,555 0,140
V14 0,904 0,327 0,135
V15 0,888 0,370 0,190
V16 0,882 0,378 0,172
V17 0,770 0,260 0,233
V18 0,586 0,492 0,356
V19 0,555 0,500 0,388
V20 0,605 0,627 0,359
FONTE: Dados da pesquisa

O fator 1 confirma que parcela expressiva da variabilidade entre as AEDs da RM do Recife


está relacionada a algumas condições demográficas particulares, como a presença de famílias nu-
merosas, maior nível de parturição e maior presença de crianças no conjunto da população, relacio-
nadas positivamente com as várias dimensões sociais: pobreza, déficits educacionais e densidade
domiciliar.
Os outros dois fatores estão relacionados aos tipos de chefatura familiar. O segundo particula-
riza situações relacionadas à chefatura por menores, à experiência reprodutiva das adolescentes e
à densidade domiciliar. O último fator destaca as chefias por idosos e/ou por mulheres sem cônjuge.
Nestes dois fatores, principalmente no terceiro, a correlação com variáveis socioeconômicas é bai-
xa, indicando que as situações por eles expressas não implicam, necessariamente, desvantagens
sociais.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 8.5, a qual apresenta os
valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão, bem
como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em relação
à área com índice final máximo (AED 2611606999002, envolvendo os bairros de Boa Vista, Sole-
dade, Ilha do Leite, Paissandu), a qual apresenta a melhor situação em relação à vulnerabilidade.
A AED 2613701001004, localizada em São Lourenço da Mata (Nossa Senhora da Luz, Muribara),
apresenta a pior situação em termos de vulnerabilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas procedeu-se à análise de agrupa-
mentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis dentro da RM de Re-
cife. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 8.1 e a tabela A 8.6 exibe o índice final e
os respectivos grupos em que foram alocadas as 128 áreas.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 89


QUADRO 8.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS
– RM RECIFE - 2000

GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 6 Altíssima vulnerabilidade

2 12 Alta vulnerabilidade

3 30 Média para alta vulnerabilidade

4 43 Média para baixa vulnerabilidade

5 27 Baixa vulnerabilidade

6 10 Baixíssima vulnerabilidade

FONTE: Dados da pesquisa

Pouco mais de 1/3 das áreas intraurbanas na RM do Recife foram classificadas nos grupos
de altíssima a média alta vulnerabilidade social. Das 48 áreas incluídas nesses grupos, dez estão
localizadas na cidade do Recife, sendo que este município não apresenta nenhuma área de altís-
sima vulnerabilidade social. Dentre as áreas mais críticas nesse município, destaca-se aquela que
envolve os bairros de Santo Antônio, São José, Cabanga, Coelhos e Ilha Joana Bezerra. O município
de Jaboatão dos Guararapes reúne o maior número (12) de áreas de maior vulnerabilidade social
(figura 8.1).

90 Marley Vanice Deschamps


FIGURA 8.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS ÁREAS
DE EXPANSÃO – RM RECIFE – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

No outro extremo, as áreas classificadas como de baixa ou baixíssima vulnerabilidade social,


37 no total, estão distribuídas em seis municípios, mas concentradas na cidade do Recife, que detém
metade delas. As áreas de baixíssima vulnerabilidade são localizadas apenas no Recife e em Jabo-
atão dos Guararapes, sendo que mesmo nessas áreas, no Recife, verifica-se importante polarização
social, dada a proximidade física entre áreas socialmente superiores e populações carentes, nas
zonas especiais de interesse social (ZEIS). Há que se destacar, também, os municípios de Olinda
e Paulista, onde a maioria das áreas é do tipo média baixa ou baixa vulnerabilidade, indicando uma
relativa homogeneidade da situação social, em um padrão mais favorável.
Essa distribuição espacial das áreas concentradoras de população, de acordo com sua con-
dição em relação à vulnerabilidade social, mostra claramente um processo excludente. Embora as
áreas mais afastadas do centro metropolitano sejam caracterizadas como de mais alta vulnerabilida-
de social, é no polo que se verificam as ocorrências de maior polarização social.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expresso pela proporção de domicílios em condições inade-
quadas de saneamento44, implicando uma situação de risco, apenas 18% das áreas foram classifi-
44 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofere-

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 91


cadas como de médio baixo ou baixo risco ambiental, sendo nenhuma enquadrada como baixíssimo
(quadro 8.2). Essas áreas estão distribuídas por cinco municípios: Abreu e Lima, Jaboatão dos Gua-
rarapes, Olinda, Paulista e Recife (tabela A.8.7, em anexo).

QUADRO 8.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO À SITUA-


ÇÃO DE RISCO AMBIENTAL – RM DE RECIFE – 2000

GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 50 Altíssimo risco

2 31 Alto risco

3 24 Médio para alto risco

4 13 Médio para baixo risco

5 10 Baixo risco

6 0 Baixíssimo risco

0 0 Sem denominação

FONTE: Dados da pesquisa

NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

No outro extremo, quase 2/3 das áreas foram classificadas nos dois itens de maior risco am-
biental; ou seja, são áreas onde mais de 60% dos domicílios apresentam inadequação em termos das
condições de saneamento. Das 81 áreas nessas condições, apenas 28 estão na cidade do Recife,
sendo 15 enquadradas como de altíssimo risco e as demais como alto risco ambiental (figura 8.2).

cidos somente nas áreas urbanas.

92 Marley Vanice Deschamps


FIGURA 8.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RM DE RECIFE – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Na leitura espacial desse fenômeno observa-se uma clara situação de segregação socioespa-
cial, em que, mais uma vez, são algumas áreas centrais do município polo que reúnem as condições
de mais baixo risco ambiental e, a situação fica mais crítica à medida que as áreas se afastam desse
ponto.

c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 8.8 em anexo e resumidas no quadro 8.3.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 93


QUADRO 8.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO
À SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM RECIFE – 2000
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima
Baixíssimo            
Baixo 6 4        
Médio baixo 4 8 1      
Médio alto   12 10 1 1  
Alto   2 21 6 1 1
Altíssimo   1 11 23 10 5
FONTE: Dados da pesquisa

A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes nos quais se observam as diversas situa-
ções das áreas da região metropolitana de Recife em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnera-


bilidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante, estão
áreas de alto risco ambiental, mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão
estar mais focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, há situações de baixo
risco ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com considerável con-
centração de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deverão
estar voltadas, principalmente, para as questões sociais.
Na região metropolitana do Recife, nenhuma área foi classificada no quadrante 3, no qual os
residentes, mesmo que socialmente vulneráveis, possuem acesso aos serviços básicos de sanea-
mento. O quadrante 1, onde o risco ambiental e a vulnerabilidade são baixos, envolve apenas 18%
do total de AEDs da RM do Recife, sendo que 11, dentre as 17 áreas nele enquadradas, estão no
Recife, com destaque para os bairros Boa Vista, Soledade, Ilha do Leite, Paissandu, que apresen-
tam a melhor situação em termos de vulnerabilidade socioambiental.

94 Marley Vanice Deschamps


FIGURA 8.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, SEGUNDO
AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RM DO RECIFE – 2000.

FONTE: Dados da pesquisa

Dada a precariedade da infraestrutura de saneamento, a maioria das áreas foi classificada nos
quadrantes 2 e 4, que têm em comum o maior risco ambiental. A maior concentração de áreas (45%)
se deu no quadrante 2, no qual está inserida mais da metade das áreas do Recife. Este quadrante,
como indicado acima, reúne populações que, mesmo que em condições sociais mais favoráveis, tem
seu hábitat em condição precária.
A situação socioambiental mais desfavorável é vivenciada pela população residente em áreas
incluídas no quarto quadrante, as quais representam 37% do total da RM. A maioria das áreas desse
quadrante é do município de Jaboatão dos Guararapes, enquanto a mais precária encontra-se em
São Lourenço da Mata (Nossa Senhora da Luz, Muribara). No Recife, as piores situações estão nas
áreas Guabiraba/Passarinho e Santo Antônio/São José/Cabanga/Coelhos/Ilha Joana Bezerra.

3.9 Região Metropolitana de Fortaleza

a) Vulnerabilidade social
A RM de Fortaleza é composta por 13 municípios subdivididos em 98 AEDs, das quais 71 (71%)
estão no município de Fortaleza. Para cada uma das áreas foram calculados os indicadores de desvan-
tagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A 9.1, A 9.2 e A 9.3 (anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à
RM de Fortaleza aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de
cada variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM de Fortaleza.

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 95


TABELA 9.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS
E SOCIOECONÔMICAS – RM FORTALEZA – 2000
FORTALEZA MÉDIA RMs
VARIÁVEL
MÉDIA CV (%)

V1 1,82 39,09 1,45

V2 11,32 37,61 10,08

V3 26,25 20,95 23,71

V4 10,16 40,31 6,59

V5 5,79 41,78 3,66

V6 7,28 35,84 8,00

V7 0,77 27,58 0,75

V8 30,44 18,73 27,79

V9 5,09 40,14 5,13

V10 47,97 24,41 42,08

V11 34,80 43,51 21,02

V12 33,19 36,67 20,63

V13 56,52 13,30 49,44

V14 12,81 58,13 7,34

V15 25,07 47,11 18,83

V16 30,39 48,27 21,71

V17 4,48 44,91 3,73

V18 16,44 37,97 17,45

V19 79,30 21,36 75,04

V20 32,59 30,83 27,11

FONTE: Dados da pesquisa

Essa região metropolitana apresenta diversos indicadores de desvantagem sociodemográfica


muito acima da média do conjunto das 17 RMs45, sendo que para quatro deles a RM de Fortaleza
apresenta o pior desempenho: insuficiência da renda familiar (V11), baixo rendimento do trabalho e
analfabetismo funcional (V15 e V16). A proporção de famílias numerosas (V4 e V5) também é mais
elevada nessa região (tabela 9.1).
É possível verificar que para 14 das 20 variáveis o coeficiente de variação46 é superior a 30%,
indicativo de que entre as AEDs há forte variabilidade da situação social, principalmente com relação à
distribuição geográfica das famílias numerosas, pobres, população idosa, analfabetismo e crianças fora
da escola.
Por outro lado, as AEDs são mais homogêneas (menor CV) quanto à chefatura por mulheres
sem cônjuge (V3), à pobreza (V11), à informalidade das ocupações (V13) e à escolaridade inade-
quada dos jovens (V19).
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo, desta-
cando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 9.2)

45 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de Fortaleza e a do conjunto de RMs.


46 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

96 Marley Vanice Deschamps


TABELA 9.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS – RM FORTALEZA – 2000
VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10
V1 1,000 -0,360 -0,389 0,524 0,413 0,677 0,612 0,568 -0,425 0,567
V2 -0,360 1,000 0,530 -0,376 -0,217 -0,463 -0,604 -0,674 0,967 -0,591
V3 -0,389 0,530 1,000 -0,832 -0,787 -0,576 -0,801 -0,832 0,664 -0,840
V4 0,524 -0,376 -0,832 1,000 0,936 0,660 0,879 0,888 -0,547 0,918
V5 0,413 -0,217 -0,787 0,936 1,000 0,585 0,772 0,768 -0,390 0,814
V6 0,677 -0,463 -0,576 0,660 0,585 1,000 0,793 0,736 -0,549 0,734
V7 0,612 -0,604 -0,801 0,879 0,772 0,793 1,000 0,973 -0,727 0,974
V8 0,568 -0,674 -0,832 0,888 0,768 0,736 0,973 1,000 -0,795 0,993
V9 -0,425 0,967 0,664 -0,547 -0,390 -0,549 -0,727 -0,795 1,000 -0,725
V10 0,567 -0,591 -0,840 0,918 0,814 0,734 0,974 0,993 -0,725 1,000
V11 0,580 -0,415 -0,795 0,937 0,857 0,728 0,933 0,929 -0,573 0,952
V12 0,506 -0,106 -0,682 0,862 0,836 0,621 0,770 0,747 -0,296 0,796
V13 0,379 0,065 -0,606 0,674 0,704 0,449 0,543 0,493 -0,107 0,552
V14 0,569 -0,204 -0,780 0,889 0,862 0,675 0,819 0,792 -0,376 0,837
V15 0,584 -0,244 -0,790 0,900 0,859 0,707 0,849 0,821 -0,416 0,861
V16 0,585 -0,258 -0,786 0,908 0,860 0,711 0,855 0,832 -0,433 0,867
V17 0,568 -0,402 -0,504 0,585 0,529 0,632 0,652 0,630 -0,477 0,630
V18 0,618 -0,428 -0,644 0,736 0,655 0,758 0,804 0,773 -0,545 0,780
V19 0,473 -0,539 -0,681 0,815 0,695 0,669 0,868 0,892 -0,664 0,885
V20 0,563 -0,645 -0,675 0,821 0,702 0,746 0,924 0,927 -0,752 0,911

VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,580 0,506 0,379 0,569 0,584 0,585 0,568 0,618 0,473 0,563
V2 -0,415 -0,106 0,065 -0,204 -0,244 -0,258 -0,402 -0,428 -0,539 -0,645
V3 -0,795 -0,682 -0,606 -0,780 -0,790 -0,786 -0,504 -0,644 -0,681 -0,675
V4 0,937 0,862 0,674 0,889 0,900 0,908 0,585 0,736 0,815 0,821
V5 0,857 0,836 0,704 0,862 0,859 0,860 0,529 0,655 0,695 0,702
V6 0,728 0,621 0,449 0,675 0,707 0,711 0,632 0,758 0,669 0,746
V7 0,933 0,770 0,543 0,819 0,849 0,855 0,652 0,804 0,868 0,924
V8 0,929 0,747 0,493 0,792 0,821 0,832 0,630 0,773 0,892 0,927
V9 -0,573 -0,296 -0,107 -0,376 -0,416 -0,433 -0,477 -0,545 -0,664 -0,752
V10 0,952 0,796 0,552 0,837 0,861 0,867 0,630 0,780 0,885 0,911
V11 1,000 0,918 0,660 0,927 0,942 0,949 0,606 0,776 0,891 0,881
V12 0,918 1,000 0,780 0,949 0,943 0,945 0,515 0,677 0,750 0,690
V13 0,660 0,780 1,000 0,810 0,792 0,775 0,516 0,611 0,372 0,382
V14 0,927 0,949 0,810 1,000 0,991 0,984 0,553 0,744 0,738 0,704
V15 0,942 0,943 0,792 0,991 1,000 0,994 0,589 0,765 0,773 0,744
V16 0,949 0,945 0,775 0,984 0,994 1,000 0,583 0,764 0,803 0,768
V17 0,606 0,515 0,516 0,553 0,589 0,583 1,000 0,702 0,481 0,604
V18 0,776 0,677 0,611 0,744 0,765 0,764 0,702 1,000 0,678 0,746
V19 0,891 0,750 0,372 0,738 0,773 0,803 0,481 0,678 1,000 0,897
V20 0,881 0,690 0,382 0,704 0,744 0,768 0,604 0,746 0,897 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 97


A maioria das variáveis apresenta de moderado a alto grau de correlação. Em relação aos
componentes da vulnerabilidade demográfica, destacam-se os indicadores relacionados às famílias
numerosas, à parturição de mulheres jovens e adultas e ao índice de dependência infantil, todos
com altíssima correlação (>= 0,800) com mais da metade das variáveis analisadas. No que se refere
às variáveis socioeconômicas, destacam-se os indicadores de insuficiência da renda familiar e de
analfabetismo funcional dos chefes de famílias.
Destacam-se, também, os resultados referentes aos três indicadores relacionados à chefatura
familiar. Se aqueles ligados à chefatura por menores (V1) e por idosos (V2) se caracterizam por bai-
xa correlação com as demais variáveis, sem estabelecer um padrão mais de definido com as demais
componentes da vulnerabilidade social, o indicador de chefatura feminina sem cônjuge é marcado
por alta correlação com as demais variáveis. Mas é predominantemente negativa, expressando que
esse tipo de chefatura não necessariamente corresponde a uma situação de desvantagem social.
A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que se
refere às variáveis de desvantagem demográficas e socioeconômicas, pode ser observada na tabela
9.3. Os três fatores retidos explicaram quase 88% da variância total das 2047 variáveis originais, a
partir da diversidade encontrada nas 98 áreas internas à RM de Fortaleza. O primeiro fator, que pos-
sui um autovalor superior em 6 vezes ao segundo fator e 14 vezes ao terceiro fator, explica aproxima-
damente 72% da variância total, enquanto os demais têm uma contribuição menor, respectivamente,
11% e 5% da variância entre as áreas.

TABELA 9.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA PELOS FATORES


COMUNS, COM BASE EM 20 VARIÁVEIS – RM FORTALEZA - 2000

FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA (%)

1 14,38 71,89 71,89

2 2,30 11,51 83,40

3 1,02 5,09 88,49

FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos três fatores e entre si são apresentadas
na tabela 9.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que
determinam cada fator.

47 No caso da RM do Fortaleza, todas as variáveis apresentaram comunalidade acima de 60%, não havendo necessidade de reti-
rada de nenhuma delas para a determinação dos fatores (ver tabela A.9.4).

98 Marley Vanice Deschamps


TABELA 9.4 - CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS COM OS TRÊS FATORES COMUNS ROTACIONA-
DOS PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER – RM FORTALEZA – 2000
FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2 3

V1 0,244 0,215 0,812


V2 0,063 -0,943 -0,215
V3 -0,704 -0,524 -0,130
V4 0,835 0,407 0,257
V5 0,873 0,250 0,179
V6 0,413 0,395 0,671
V7 0,641 0,611 0,409
V8 0,626 0,693 0,326
V9 -0,134 -0,930 -0,236
V10 0,695 0,617 0,322
V11 0,816 0,436 0,334
V12 0,911 0,114 0,295
V13 0,805 -0,176 0,348
V14 0,899 0,172 0,352
V15 0,883 0,218 0,376
V16 0,880 0,243 0,367
V17 0,321 0,268 0,726
V18 0,529 0,349 0,627
V19 0,628 0,628 0,206
V20 0,531 0,686 0,364
FONTE: Dados da pesquisa

O fator 1 confirma que parcela expressiva da variabilidade entre as AEDs da RM de Fortaleza


resulta da conjunção de algumas condições demográficas – presença de famílias numerosas, com
filhos menores de 14 anos, maior nível de parturição – com outras desvantagens sociais relativas
à insuficiência da renda familiar, trabalho informal e a déficits educacionais, particularmente o anal-
fabetismo e a inadequação escolar de jovens. Percebe-se que o indicador de chefatura feminina
apresenta correlação negativa com as demais componentes.
O segundo fator evidencia que parte da variabilidade está relacionada à distribuição espacial
da população idosa, em áreas com menor participação relativa de crianças e onde as condições
domiciliares são mais favoráveis, não apresentando, também, correlação expressiva com outras
variáveis socioeconômicas. Por fim, o terceiro fator particulariza a situação de certas áreas onde se
conjugam desvantagens quanto à experiência reprodutiva de adolescentes, crianças e adolescentes
fora da escola e maior participação de crianças na população dessas áreas.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 9.5, a qual apresenta os
valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão, bem
como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em relação
à área com índice final máximo (AED 2304400999015, situada na região central, correspondente aos
bairros Benfica e José Bonifácio), a qual apresenta a melhor situação em relação à vulnerabilidade.
A AED 2303709501001, no município de Caucaia, apresenta a pior situação em termos de vulnera-
bilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas, procedeu-se à análise de agru-

Vulnerabilidade socioambiental das regiões metrópolitanas brasileiras 99


pamentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis dentro da RM de
Fortaleza. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 9.1 e a tabela A 9.6 exibe o índice
final e os respectivos grupos em que foram alocadas as 98 áreas.

QUADRO 9.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS


– RM FORTALEZA - 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 7 Altíssima vulnerabilidade

2 14 Alta vulnerabilidade

3 21 Média para alta vulnerabilidade

4 19 Média para baixa vulnerabilidade

5 24 Baixa vulnerabilidade

6 13 Baixíssima vulnerabilidade

FONTE: Dados da pesquisa

FIGURA 9.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS ÁREAS


DE EXPANSÃO – RM FORTALEZA – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

100 Marley Vanice Deschamps


No outro extremo, as áreas classificadas como de baixa ou baixíssima vulnerabilidade social,
37 no total, estão concentradas em Fortaleza, com exceção de uma área localizada no município de
Caucaia. Em Fortaleza, as áreas com melhor situação – baixíssima vulnerabilidade – encontram-se
na orla, entre o Mucuripe e a Praia de Iracema, além do Centro e seu entorno - bairros que se esten-
dem do Cocó até o Alagadiço.
Essa distribuição espacial das áreas concentradoras de população de acordo com sua condi-
ção em relação à vulnerabilidade social, mostra claramente um processo excludente, em que aquela
população em condições de mais alta vulnerabilidade social reside em áreas mais afastadas do
centro metropolitano.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expresso pela proporção de domicílios em condições inadequa-
das de saneamento48, implicando uma situação de risco, a RM de Fortaleza apresenta situação bas-
tante crítica, com quase 2/3 das AEDs incluídas nos grupos de maior risco, sendo que a maior parcela
dessas áreas situa-se no município polo – 39 de um total de 61 áreas de alto e altíssimo risco.

QUADRO 9.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO


À SITUAÇÃO DE RISCO AMBIENTAL – RM DE FORTALEZA – 2000

GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 28 Altíssimo risco

2 33 Alto risco

3 15 Médio para alto risco

4 11 Médio para baixo risco

5 9 Baixo risco

6 2 Baixíssimo risco

0 0 Sem denominação

FONTE: Dados da pesquisa

NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

São poucas as áreas que apresentam condições mais adequadas de saneamento -- 11% das
AEDs da RM de Fortaleza. Sua distribuição geográfica é similar à apontada acima quanto ao quadro
social, sendo que apenas os bairros Cocó/Dionísio Torres e Meireles registraram situação de baixís-
simo risco ambiental. Chama atenção a situação dos conjuntos Ceará I e II, os quais se destacam na
porção oeste da cidade de Fortaleza por apresentar condição social e ambiental bastante diferencia-
da relativamente ao seu entorno (figura 9.2).

48 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 101


FIGURA 9.2 –RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO
– RM FORTALEZA – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Na leitura espacial desse fenômeno observa-se uma clara situação de segregação socioespa-
cial, em que, mais uma vez, são as áreas centrais do município polo que reúnem as condições de mais
baixo risco ambiental. A situação fica mais crítica à medida que as áreas se afastam desse ponto.

c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 9.8 em anexo e resumidas no quadro 9.3.

102 Marley Vanice Deschamps


QUADRO 9.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO
À SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM FORTALEZA – 2000
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima

Baixíssimo 2          
Baixo 7 2        

Médio baixo 4 5 2      

Médio alto   11 4      

Alto   4 12 13 4  
Altíssimo   2 1 8 10 7

FONTE: Dados da pesquisa

A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes nos quais se observam as diversas situa-
ções das áreas da região metropolitana de Fortaleza em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnerabi-


lidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante estão as
áreas de alto risco ambiental, mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão
estar mais focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, estão situações de
baixo risco ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com considerável
concentração de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas as ações deverão
estar voltadas, principalmente, para as questões sociais.
Observa-se que, na região metropolitana de Fortaleza, todas as áreas que apresentam maior
vulnerabilidade social, também são áreas de maior risco ambiental, classificadas no quarto qua-
drante. Nessa situação, encontram-se 43% do total das AEDs da RM, distribuídas por todos os mu-
nicípios, mas, evidentemente, concentradas em Fortaleza. (figura 9.3). A situação mais precária é
verificada em uma das AEDs do município de Caucaia.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 103


FIGURA 9.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS
DE EXPANSÃO – RM DE FORTALEZA – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

O terceiro quadrante reúne 34 AEDs e evidencia que um número expressivo das áreas social-
mente menos vulneráveis, apresentam um quadro ambiental crítico, com parcela expressiva de seus
domicílios não dispondo de condições adequadas de saneamento. Apenas duas áreas estão fora do
município polo: uma em Caucaia e outra em Maracanaú.
O primeiro quadrante, que expressa a melhor situação socioambiental, reúne apenas 22% das
AEDs da RM de Fortaleza, e, novamente, apenas duas áreas localizam-se fora do polo. Em Forta-
leza, além dos bairros da porção central/orla, apenas os conjuntos Ceará I e II foram classificados
nesse quadrante.

3.10 Região Metropolitana de Campinas

a) Vulnerabilidade social
A RM de Campinas é composta por 19 municípios subdivididos em 108 AEDs, das quais 49
(45%) estão no município de Campinas. Para cada uma das áreas, foram calculados os indicadores
de desvantagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A 10.1, A 10.2 e A 10.3
(anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à

104 Marley Vanice Deschamps


RM de Campinas aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de
cada variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM de Campinas.
A RM de Campinas apresenta uma situação sociodemográfica relativamente favorável. Em
relação aos indicadores demográficos, os valores são maiores, comparativamente à média das RMs,
no que se refere à participação de idosos (V2 e V9), característica que se relaciona, em boa medida,
ao já avançado processo de envelhecimento populacional nessa RM. Além de ser a RM com menor
participação de crianças na população total (V8), ela possui o menor índice de dependência infantil
(V10). Seus indicadores demográficos são relativamente mais favoráveis49 também em relação à
chefatura familiar por menores (V1), ao tamanho das famílias (V4 e V5) e à experiência reprodutiva
entre adolescentes (V6).
Quanto às variáveis socioeconômicas, todos os indicadores são melhores em Campinas re-
lativamente à média das RMs estudas, destacando-se situações relativas mais favoráveis quanto
ao rendimento familiar (V11) e do trabalho (V12) e ao nível de analfabetismo entre jovens e adultos
(V14). Destaque-se que a RM de Campinas apresenta a menor taxa de informalidade das ocupações
(42,1%) dentre todas as regiões (tabela 10.1).
Os coeficientes de variação50 indicam que entre as AEDs da RM de Campinas há forte varia-
bilidade da situação social, com 15 das 20 variáveis apresentando valor superior a 30%, sendo que,
para oito delas, o CV ultrapassa 50%: famílias chefiadas por menores (V1), com muitos membros
(V4 e V5), adolescentes com experiência reprodutiva (V6), participação de idosos na população das
áreas (v9), pobreza (V11) e crianças e adolescentes fora da escola (V17 e V18).

49 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de Campinas e a do conjunto de RMs.


50 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 105


TABELA 10.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS
E SOCIOECONÔMICAS – RM CAMPINAS – 2000.
CAMPINAS MÉDIA RMs
VARIÁVEL
MÉDIA CV (%)
V1 0,91 61,34 1,45
V2 11,23 47,60 10,08
V3 19,35 28,51 23,71
V4 4,95 50,99 6,59
V5 2,23 61,38 3,66
V6 5,86 51,71 8,00
V7 0,67 30,76 0,75
V8 25,06 23,19 27,79
V9 6,05 54,89 5,13
V10 36,80 27,10 42,08
V11 9,88 61,19 21,02
V12 7,95 33,38 20,63
V13 42,15 11,81 49,44
V14 5,54 48,90 7,34
V15 16,83 36,96 18,83
V16 19,58 38,10 21,71
V17 3,03 64,81 3,73
V18 15,71 50,97 17,45
V19 71,02 26,29 75,04
V20 23,74 45,33 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

Por outro lado, apenas em relação ao grau de informalização das ocupações, a distribuição
pode ser considerada mais homogênea.
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo, desta-
cando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 10.2).

106 Marley Vanice Deschamps


TABELA 10.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS – RM CAMPINAS – 2000
VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7M V8 V9 V10
V1 1,000 -0,474 -0,236 0,584 0,582 0,652 0,541 0,549 -0,506 0,557
V2 -0,474 1,000 0,637 -0,757 -0,701 -0,632 -0,821 -0,877 0,976 -0,843
V3 -0,236 0,637 1,000 -0,607 -0,546 -0,364 -0,678 -0,725 0,713 -0,693
V4 0,584 -0,757 -0,607 1,000 0,935 0,729 0,897 0,904 -0,789 0,913
V5 0,582 -0,701 -0,546 0,935 1,000 0,723 0,849 0,853 -0,730 0,865
V6 0,652 -0,632 -0,364 0,729 0,723 1,000 0,743 0,711 -0,645 0,718
V7 0,541 -0,821 -0,678 0,897 0,849 0,743 1,000 0,970 -0,858 0,970
V8 0,549 -0,877 -0,725 0,904 0,853 0,711 0,970 1,000 -0,904 0,995
V9 -0,506 0,976 0,713 -0,789 -0,730 -0,645 -0,858 -0,904 1,000 -0,866
V10 0,557 -0,843 -0,693 0,913 0,865 0,718 0,970 0,995 -0,866 1,000
V11 0,634 -0,716 -0,439 0,866 0,839 0,739 0,863 0,866 -0,728 0,890
V12 0,420 -0,484 -0,592 0,651 0,580 0,579 0,711 0,678 -0,549 0,677
V13 0,009 0,244 -0,152 0,011 -0,022 -0,055 -0,050 -0,078 0,202 -0,050
V14 0,604 -0,673 -0,629 0,874 0,821 0,756 0,876 0,856 -0,729 0,858
V15 0,627 -0,688 -0,647 0,862 0,812 0,761 0,895 0,872 -0,751 0,871
V16 0,622 -0,674 -0,646 0,837 0,800 0,746 0,876 0,855 -0,745 0,850
V17 0,473 -0,362 -0,103 0,498 0,535 0,494 0,464 0,426 -0,360 0,459
V18 0,586 -0,599 -0,486 0,810 0,769 0,734 0,824 0,783 -0,630 0,805
V19 0,564 -0,802 -0,488 0,814 0,768 0,710 0,867 0,858 -0,813 0,848
V20 0,608 -0,813 -0,609 0,907 0,871 0,746 0,953 0,944 -0,842 0,948
VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,634 0,420 0,009 0,604 0,627 0,622 0,473 0,586 0,564 0,608
V2 -0,716 -0,484 0,244 -0,673 -0,688 -0,674 -0,362 -0,599 -0,802 -0,813
V3 -0,439 -0,592 -0,152 -0,629 -0,647 -0,646 -0,103 -0,486 -0,488 -0,609
V4 0,866 0,651 0,011 0,874 0,862 0,837 0,498 0,810 0,814 0,907
V5 0,839 0,580 -0,022 0,821 0,812 0,800 0,535 0,769 0,768 0,871
V6 0,739 0,579 -0,055 0,756 0,761 0,746 0,494 0,734 0,710 0,746
V7 0,863 0,711 -0,050 0,876 0,895 0,876 0,464 0,824 0,867 0,953
V8 0,866 0,678 -0,078 0,856 0,872 0,855 0,426 0,783 0,858 0,944
V9 -0,728 -0,549 0,202 -0,729 -0,751 -0,745 -0,360 -0,630 -0,813 -0,842
V10 0,890 0,677 -0,050 0,858 0,871 0,850 0,459 0,805 0,848 0,948
V11 1,000 0,591 -0,008 0,804 0,789 0,767 0,612 0,784 0,780 0,881
V12 0,591 1,000 0,337 0,743 0,745 0,750 0,220 0,625 0,560 0,673
V13 -0,008 0,337 1,000 0,070 0,011 0,018 0,049 0,119 -0,270 -0,073
V14 0,804 0,743 0,070 1,000 0,961 0,945 0,445 0,816 0,774 0,886
V15 0,789 0,745 0,011 0,961 1,000 0,986 0,424 0,815 0,818 0,902
V16 0,767 0,750 0,018 0,945 0,986 1,000 0,395 0,780 0,799 0,885
V17 0,612 0,220 0,049 0,445 0,424 0,395 1,000 0,641 0,392 0,486
V18 0,784 0,625 0,119 0,816 0,815 0,780 0,641 1,000 0,701 0,824
V19 0,780 0,560 -0,270 0,774 0,818 0,799 0,392 0,701 1,000 0,893
V20 0,881 0,673 -0,073 0,886 0,902 0,885 0,486 0,824 0,893 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 107


A maioria das variáveis apresenta de moderado a alto grau de correlação. Em relação aos com-
ponentes da vulnerabilidade demográfica, destacam-se os indicadores que expressam a alta frequên-
cia de filhos, o nível de parturição, a presença de crianças na população total e o índice de dependên-
cia infantil, todos com altíssima correlação (>= 0,800) com mais da metade das variáveis analisadas,
e que se relacionam com a presença de famílias numerosas, em fases iniciais de constituição.
Quanto às variáveis socioeconômicas, aquelas relacionadas ao analfabetismo funcional e à
condição inadequada de moradia são as que apresentam nível de correlação mais elevado com
praticamente todas as demais variáveis.
Dois indicadores apresentam baixa correlação com a maioria das variáveis: chefatura familiar
por menores e crianças fora da escola. Esses dois indicadores, porém, aparecem associados de
modo mais intenso à pobreza, sendo que a chefatura por menores está associada, também, à expe-
riência reprodutiva de adolescentes, ao analfabetismo e a domicílios inadequados.
A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que se
refere às variáveis de desvantagem demográficas e socioeconômicas, pode ser observada na tabela
10.3. Os três fatores retidos explicaram 85% da variância total das 2051 variáveis originais, a partir da
diversidade encontrada nas 108 áreas internas a RM de Campinas. O primeiro fator, que possui um
autovalor 10 vezes superior ao segundo e terceiro fatores, explica 71% da variância total, enquanto
os outros dois explicam, cada um, em torno de 7% dessa variância.

TABELA 10.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA PELOS FATORES


COMUNS, COM BASE EM 20 VARIÁVEIS – RM CAMPINAS – 2000.
FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA (%)

1 14,15 70,73 70,73

2 1,48 7,42 78,14

3 1,33 6,66 84,81

FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos três fatores e entre si são apresentadas
na tabela 10.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que
determinam cada fator.
O fator 1 está associado à presença de famílias numerosas que vivenciam desvantagens so-
ciais ligadas à pobreza, déficits educacionais e condições domiciliares inadequadas; entretanto, tais
condições estão negativamente relacionadas com a presença de idosos, chefatura feminina sem
cônjuge e informalidade do trabalho.

51 No caso da RM de Campinas, todas as variáveis apresentaram comunalidade acima de 60%, não havendo necessidade de reti-
rada de nenhuma delas para a determinação dos fatores (ver tabela A 10.4).

108 Marley Vanice Deschamps


TABELA 10.4 - CORRELAÇÃO DAS 20 VARIÁVEIS COM OS 3 FATORES COMUNS ROTACIO-
NADOS PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER – RM CAMPINAS – 2000
FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2 3
V1 0,2876 0,7235 0,0138
V2 -0,8197 -0,3026 0,3116
V3 -0,8707 0,0727 -0,2237
V4 0,7461 0,5719 0,0381
V5 0,6659 0,6136 0,0022
V6 0,5049 0,6833 -0,0137
V7 0,8404 0,4888 -0,0041
V8 0,8787 0,4348 -0,0540
V9 -0,8655 -0,2993 0,2361
V10 0,8442 0,4815 -0,0255
V11 0,6005 0,7037 -0,0195
V12 0,6854 0,2761 0,4915
V13 -0,0696 0,0210 0,9286
V14 0,7480 0,5439 0,1827
V15 0,7755 0,5264 0,1354
V16 0,7748 0,4990 0,1465
V17 0,0398 0,8442 -0,0067
V18 0,5455 0,7067 0,1766
V19 0,7401 0,4913 -0,2549
V20 0,7934 0,5566 -0,0400
FONTE: Dados da pesquisa

De certo modo, o fator 2 reproduz a associação entre famílias numerosas e desvantagens


sociais. Porém, particulariza esta síndrome devido ao peso da chefatura familiar por menores, asso-
ciada à experiência reprodutiva entre adolescentes. Por fim, o terceiro fator destaca a contribuição do
indicador de informalidade do trabalho para explicar parcela da variabilidade entre as áreas.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 10.5, a qual apresenta
os valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão, bem
como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em relação
à área com índice final máximo (AED 3509502001043, localizada em Campinas). Esta apresenta a
melhor situação em relação à vulnerabilidade. A AED 3519071001005, localizada em Hortolândia,
apresenta a pior situação em termos de vulnerabilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas, procedeu-se à análise de agrupa-
mentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis dentro da RM de Cam-
pinas. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 10.1 e a tabela A 10.6 exibe o índice
final e os respectivos grupos em que foram alocadas as 108 áreas.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 109


QUADRO 10.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS
– RM CAMPINAS – 2000.
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 3 Altíssima vulnerabilidade

2 16 Alta vulnerabilidade

3 23 Média para alta vulnerabilidade

4 34 Média para baixa vulnerabilidade

5 21 Baixa vulnerabilidade

6 11 Baixíssima vulnerabilidade

FONTE: Dados da pesquisa


Das três áreas classificadas como de altíssima vulnerabilidade social, duas se encontram no
município de Campinas: uma na porção sudoeste, com ocupações que se estendem entre o aero-
porto e a rodovia Lix da Cunha (SP073), e outra próxima ao entroncamento das rodovias Santos
Dumont e Anhanguera. A terceira área está localizada no município de Hortolândia. Em Campinas
encontram-se, também, quatro das 16 áreas classificadas como de alta vulnerabilidade. O resultado
final pode ser visualizado na figura 10.1 abaixo.

FIGURA 10.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS ÁREAS


DE EXPANSÃO – RM CAMPINAS – 2000.

FONTE: Dados da pesquisa

110 Marley Vanice Deschamps


O padrão “média para baixa vulnerabilidade” reúne o maior número de áreas (34), com a maio-
ria delas localizada em Campinas. Porém, esse padrão é observado em 13 dos 19 municípios da
RM de Campinas, evidenciando um maior espraiamento das áreas com condição sociodemográfica
favorável. O mesmo se verifica com as áreas de baixa vulnerabilidade, as quais, além de Campinas,
são verificadas em Americana, Indaiatuba, Santa Bárbara d’Oeste, Sumaré e Valinhos.
As 11 áreas de baixíssima vulnerabilidade social estão todas localizadas em Campinas, reunin-
do diversos bairros de sua porção central. Campinas é uma das RMs com o maior número de áreas
classificadas como de média baixa até baixíssima vulnerabilidade social, mais de 60% das AEDs.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expressa pela proporção de domicílios em condições inadequa-
das de saneamento52, implicando numa situação de risco ambiental, a situação da RM de Campinas
é ainda mais favorável, pois 82% das áreas foram classificadas como de médio baixo até baixíssimo
risco ambiental, conforme quadro 10.2 e tabela A 10.7, em anexo.

QUADRO 10.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO À SITUA-


ÇÃO DE RISCO AMBIENTAL – RM CAMPINAS – 2000.
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 2 Altíssimo risco

2 4 Alto risco

3 13 Médio para alto risco

4 33 Médio para baixo risco

5 36 Baixo risco

6 20 Baixíssimo risco

0 0 Sem denominação

FONTE: Dados da pesquisa

NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

No outro extremo, 18% das áreas foram classificadas na condição de médio alto até altíssimo
risco, sendo 7 das 19 áreas localizadas no município de Campinas, inclusive as duas de altíssimo
risco: uma que compreende as ocupações entre o aeroporto e a rodovia SP073 e outra na zona oes-
te, compreendendo uma parcela rural, na divisa com Hortolândia e Monte Mor, e ocupações urbanas
no Jd. Monte Alto e Campo Grande/Florence (figura 10.2).

52 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 111


FIGURA 10.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO
– RM CAMPINAS – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 10.8, em anexo, e resumidas no quadro 10.3.

QUADRO 10.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO


À SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM CAMPINAS – 2000.
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima
Baixíssimo 10 10        
Baixo 1 11 22 2    
Médio baixo     11 16 6  
Médio alto     1 3 9  
Alto       2   2
Altíssimo         1 1
FONTE: Dados da pesquisa

112 Marley Vanice Deschamps


A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes nos quais se observam as diversas situa-
ções das áreas da região metropolitana de Campinas em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante se encontram as áreas com as melhores situações quanto à vulnerabi-


lidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante, áreas de
alto risco ambiental mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão estar mais
focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, estão situações de baixo risco
ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com considerável concentra-
ção de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deverão estar
voltadas, principalmente, para as questões sociais.
A Região Metropolitana de Campinas apresenta, dentre as 17 RMs, a segunda maior propor-
ção (60%) de áreas classificadas no quadrante 1, inferior apenas ao registrado na RM de Curitiba.
Mas diferencia-se desta por apresentar, no outro extremo, a menor proporção (17%) de áreas no
quadrante 4, aquele no qual estão as áreas de maior vulnerabilidade socioambiental. Esses resulta-
dos permitem situá-la como a RM com as melhores condições socioambientais.
Em relação às áreas com melhor situação socioambiental, as três principais estão em Campi-
nas: Centro, Cambuí e Jardim Garcia/Campos Elíseos (figura 10.3). Mas é importante registrar, tam-
bém, que pouco mais da metade das 65 áreas do quadrante 1 está no município polo, com o restante
delas distribuindo-se por outros 12 municípios. Constitui processo similar ao verificado apenas na
RM de Porto Alegre, onde parcela importante dos municípios apresenta condições socioambientais
favoráveis. Como nessa RM, esse resultado em Campinas provavelmente deriva da conjunção de
avanços sociais e de uma estrutura produtiva industrial mais dispersa por seu território.
As 18 áreas classificadas no quarto quadrante, que constituem a situação de maior vulnerabi-
lidade socioambiental, representam cerca de 17% das AEDS da RM de Campinas. Em sua maioria,
situam-se fora do município polo, o qual possuí apenas seis áreas nessa condição, concentradas nas
zona oeste e sudoeste do município.
Das demais áreas, 24 (22,2%) estão no terceiro quadrante, ou seja, envolvem famílias ou
pessoas em situação de maior vulnerabilidade social, mas que contam com condições relativamente
favoráveis no que concerne aos serviços de saneamento. Apenas uma área foi classificada no ter-
ceiro quadrante, situada em Campinas em uma região de expansão urbana ao norte da cidade, en-
volvendo tanto ocupações de renda média baixa (Jd. Myrian) como de renda mais elevada (Parque
Xangrilá e Chácara Recanto dos Dourados).

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 113


FIGURA 10.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIEN-
TAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RM CAMPINAS – 2000.

FONTE: Dados da pesquisa

3.11 Região Metropolitana de Manaus

a) Vulnerabilidade social
A RM de Manaus é composta, neste estudo, somente por um município, Manaus, subdividido
em 39 AEDs53. Para cada uma das áreas foram calculados os indicadores de desvantagens demo-
gráficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A 11.1, A 11.2 e A 11.3 (anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à
RM de Manaus aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de cada
variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM de Manaus.
De um modo geral, esta região metropolitana apresenta indicadores acima da média do con-
junto das 17 RMs, indicativo de um nível mais elevado de desvantagens sociodemográficas (tabela
11.1). Na realidade, em 9 dos 20 indicadores analisados, a posição de Manaus é a mais desfavorável
dentre todas as RMs54: chefatura familiar por menores (V1), família numerosa (V4 e V5), nível de par-
turição (V7), participação das crianças na população total (V8), índice de dependência infantil (V10),

53 Em 2007, foi instituída a Região Metropolitana de Manaus, composta por 8 municípios: Manaus, Careiro da Várzea, Iranduba,
Itacoatiara, Manacapuru, Novo Airão, Presidente Figueiredo, Rio Preta da Eva. Entretanto, neste trabalho destaca-se apenas a
metrópole Manaus, a qual concentra aproximadamente 85% da população da atual RM.
54 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de Manaus e a do conjunto de RMs.

114 Marley Vanice Deschamps


crianças fora da escola (V17), jovens com escolaridade inadequada (V19) e inadequação domiciliar
(V20). Além disso, Manaus possui a menor participação de idosos na população total e na chefia de
famílias (tabela 11.1).
Apenas em relação aos indicadores de analfabetismo a situação de Manaus é ligeiramente
melhor do que a média observada para as 17 RMs.

TABELA 11.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS


E SOCIOECONÔMICAS – RM MANAUS – 2000
MANAUS
VARIÁVEL MÉDIA RMs
MÉDIA CV (%)

V1 2,46 37,74 1,45


V2 7,28 49,74 10,08
V3 24,69 23,16 23,71
V4 11,82 34,40 6,59
V5 7,04 33,21 3,66
V6 10,96 33,09 8,00
V7 0,97 28,02 0,75
V8 33,25 17,97 27,79
V9 3,21 49,98 5,13
V10 53,34 25,55 42,08
V11 33,37 38,12 21,02
V12 22,06 39,63 20,63
V13 54,06 14,27 49,44
V14 6,04 53,44 7,34
V15 17,82 43,30 18,83
V16 20,58 39,88 21,71
V17 7,00 53,20 3,73
V18 19,18 45,68 17,45
V19 84,66 16,21 75,04
V20 46,32 25,39 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

É possível verificar que para 13 das 20 variáveis, o coeficiente de variação55 é superior a 30%,
indicativo de que entre as AEDs há forte variabilidade da situação social. Quanto às variáveis demo-
gráficas, as áreas apresentam maior diferenciação quanto à participação de idosos (V2 e V9). Na
dimensão socioeconômica, a heterogeneidade das áreas mostra-se mais acentuada quanto à taxa
de analfabetismo (V14 e V15) e à não frequência à escola (V17 e V18).
Por outro lado, as áreas são mais homogêneas (menor CV) principalmente quanto à partici-
pação de crianças na população total (V8), à informalidade das ocupações (V13) e à inadequação
escolar entre os jovens.
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo, desta-
cando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 11.2).

55 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 115


TABELA 11.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS – RM MANAUS – 2000

VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10
V1 1,000 -0,560 -0,480 0,742 0,609 0,735 0,766 0,789 -0,613 0,784
V2 -0,560 1,000 0,680 -0,528 -0,388 -0,481 -0,655 -0,721 0,985 -0,672
V3 -0,480 0,680 1,000 -0,702 -0,699 -0,714 -0,751 -0,766 0,720 -0,756
V4 0,742 -0,528 -0,702 1,000 0,888 0,800 0,897 0,922 -0,609 0,934
V5 0,609 -0,388 -0,699 0,888 1,000 0,803 0,772 0,776 -0,461 0,790
V6 0,735 -0,481 -0,714 0,800 0,803 1,000 0,845 0,817 -0,556 0,816
V7 0,766 -0,655 -0,751 0,897 0,772 0,845 1,000 0,981 -0,729 0,984
V8 0,789 -0,721 -0,766 0,922 0,776 0,817 0,981 1,000 -0,792 0,996
V9 -0,613 0,985 0,720 -0,609 -0,461 -0,556 -0,729 -0,792 1,000 -0,744
V10 0,784 -0,672 -0,756 0,934 0,790 0,816 0,984 0,996 -0,744 1,000
V11 0,717 -0,478 -0,722 0,947 0,831 0,852 0,918 0,915 -0,573 0,925
V12 0,558 -0,292 -0,681 0,847 0,803 0,805 0,730 0,728 -0,384 0,741
V13 0,509 -0,328 -0,747 0,794 0,813 0,825 0,717 0,696 -0,400 0,710
V14 0,555 -0,322 -0,740 0,853 0,834 0,843 0,764 0,746 -0,413 0,763
V15 0,551 -0,307 -0,714 0,867 0,814 0,830 0,784 0,762 -0,399 0,782
V16 0,538 -0,266 -0,641 0,854 0,808 0,813 0,753 0,731 -0,363 0,748
V17 0,479 -0,283 -0,687 0,629 0,576 0,779 0,711 0,658 -0,349 0,676
V18 0,518 -0,365 -0,680 0,698 0,624 0,819 0,667 0,662 -0,431 0,669
V19 0,669 -0,419 -0,362 0,766 0,555 0,624 0,762 0,780 -0,510 0,769
V20 0,789 -0,564 -0,612 0,917 0,764 0,805 0,935 0,943 -0,657 0,940

VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,717 0,558 0,509 0,555 0,551 0,538 0,479 0,518 0,669 0,789
V2 -0,478 -0,292 -0,328 -0,322 -0,307 -0,266 -0,283 -0,365 -0,419 -0,564
V3 -0,722 -0,681 -0,747 -0,740 -0,714 -0,641 -0,687 -0,680 -0,362 -0,612
V4 0,947 0,847 0,794 0,853 0,867 0,854 0,629 0,698 0,766 0,917
V5 0,831 0,803 0,813 0,834 0,814 0,808 0,576 0,624 0,555 0,764
V6 0,852 0,805 0,825 0,843 0,830 0,813 0,779 0,819 0,624 0,805
V7 0,918 0,730 0,717 0,764 0,784 0,753 0,711 0,667 0,762 0,935
V8 0,915 0,728 0,696 0,746 0,762 0,731 0,658 0,662 0,780 0,943
V9 -0,573 -0,384 -0,400 -0,413 -0,399 -0,363 -0,349 -0,431 -0,510 -0,657
V10 0,925 0,741 0,710 0,763 0,782 0,748 0,676 0,669 0,769 0,940
V11 1,000 0,904 0,828 0,900 0,924 0,914 0,768 0,757 0,815 0,932
V12 0,904 1,000 0,931 0,943 0,960 0,948 0,785 0,831 0,644 0,749
V13 0,828 0,931 1,000 0,919 0,931 0,908 0,792 0,875 0,518 0,672
V14 0,900 0,943 0,919 1,000 0,986 0,970 0,779 0,822 0,600 0,729
V15 0,924 0,960 0,931 0,986 1,000 0,985 0,818 0,845 0,647 0,759
V16 0,914 0,948 0,908 0,970 0,985 1,000 0,772 0,811 0,689 0,767
V17 0,768 0,785 0,792 0,779 0,818 0,772 1,000 0,870 0,497 0,623
V18 0,757 0,831 0,875 0,822 0,845 0,811 0,870 1,000 0,490 0,615
V19 0,815 0,644 0,518 0,600 0,647 0,689 0,497 0,490 1,000 0,906
V20 0,932 0,749 0,672 0,729 0,759 0,767 0,623 0,615 0,906 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

116 Marley Vanice Deschamps


A maioria das variáveis apresenta de moderado a alto grau de correlação. Em relação aos
componentes da vulnerabilidade demográfica, destacam-se os indicadores que expressam a alta
frequência de filhos e a experiência reprodutiva entre as jovens, todos com altíssima correlação (>=
0,800) com mais da metade das variáveis analisadas. No que se refere às variáveis socioeconômi-
cas, destacam-se os indicadores de insuficiência da renda familiar e de analfabetismo funcional.
A variável chefatura familiar por idosos apresentou baixa correlação com a maioria dos ou-
tros indicadores, porém aparece positivamente associada com a chefatura familiar sem cônjuge e,
negativamente, com nível de parturição, participação das crianças na população total e índice de
dependência infantil.
A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que se
refere às variáveis de desvantagens demográficas e socioeconômicas, pode ser observada na tabela
11.3. Os três fatores retidos explicaram 90,5% da variância total das 2056 variáveis originais a partir
da diversidade encontrada nas 39 áreas internas da RM de Manaus. O primeiro fator, que possui um
autovalor sete vezes superior ao segundo e 14 vezes em relação ao terceiro fator, explica 74% da
variância total, enquanto os demais têm uma contribuição menor: 11% e 5% respectivamente.

TABELA 11.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA PELOS


FATORES COMUNS, COM BASE EM 20 VARIÁVEIS – RM MANAUS – 2000.
FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA (%)

1 14,85 74,25 74,25

2 2,17 10,83 85,08

3 1,08 5,42 90,50

FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos três fatores e entre si são apresentadas
na tabela 11.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que
determinam cada fator.

56 No caso da RM de Manaus, todas as variáveis apresentaram comunalidade acima de 60%, não havendo necessidade de retirada
de nenhuma delas para a determinação dos fatores (ver tabela A.11.4).

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 117


TABELA 11.4 - CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS COM OS TRÊS FATORES COMUNS ROTACIONA-
DOS PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER – RM MANAUS – 2000
FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2 3
V1 0,261 0,709 0,395
V2 -0,070 -0,269 -0,939
V3 -0,661 -0,101 -0,680
V4 0,601 0,679 0,322
V5 0,673 0,491 0,240
V6 0,710 0,460 0,345
V7 0,508 0,653 0,503
V8 0,466 0,668 0,561
V9 -0,139 -0,352 -0,905
V10 0,493 0,673 0,513
V11 0,683 0,658 0,271
V12 0,864 0,421 0,101
V13 0,909 0,262 0,192
V14 0,881 0,383 0,156
V15 0,883 0,422 0,125
V16 0,851 0,473 0,053
V17 0,826 0,211 0,206
V18 0,856 0,188 0,258
V19 0,285 0,877 0,135
V20 0,432 0,819 0,342
FONTE: Dados da pesquisa

O fator 1 confirma que parcela expressiva da variabilidade entre as AEDs da RM de Manaus


está relacionada a algumas condições demográficas particulares, como a presença de famílias nu-
merosas e a presença de jovens com experiência reprodutiva, relacionadas positivamente com as
dimensões sociais de pobreza e déficits educacionais.
Os outros dois fatores estão relacionados aos tipos de chefatura familiar. O segundo particu-
lariza situações relacionadas à chefatura por menores, número de filhos/presença de criança e nível
de parturição, associadas à pobreza, jovens com escolaridade inadequada e densidade domiciliar
inadequada. O último fator destaca a associação entre chefia familiar por idosos e por mulheres
sem cônjuge. Nestes dois fatores, principalmente no terceiro, a correlação com variáveis socioeco-
nômicas é baixa, indicando que as situações por eles expressas não implicam, necessariamente,
desvantagens sociais.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 11.5, a qual apresenta
os valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão,
bem como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em
relação à área com índice final máximo (AED 1302603999022, envolvendo os bairros de Nossa Se-
nhora das Graças/Adrianópolis), a qual apresenta a melhor situação em relação à vulnerabilidade. A
AED1302603999039, localizada em porção rural do município, apresenta a pior situação em termos
de vulnerabilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas, procedeu-se à análise de agru-
pamentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis dentro da RM de
Manaus. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 11.1 e a tabela A 11.6 exibe o índice
final e os respectivos grupos em que foram alocadas as 39 áreas.

118 Marley Vanice Deschamps


QUADRO 11.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS
– RM MANAUS - 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 1 Altíssima vulnerabilidade
2 8 Alta vulnerabilidade
3 7 Média para alta vulnerabilidade
4 10 Média para baixa vulnerabilidade
5 7 Baixa vulnerabilidade
6 6 Baixíssima vulnerabilidade
FONTE: Dados da pesquisa

Na RM de Manaus, os grupos de altíssima a média alta vulnerabilidade social reúnem 16 áre-


as, correspondendo a 41% do total. Além da porção rural destacada acima, as áreas mais críticas
nesse município encontram-se nos bairros Jorge Teixeira, na zona leste, e Santa Etelvina e Monte
das Oliveiras, na zona norte (figura 11.1).

FIGURA 11.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS ÁREAS


DE EXPANSÃO – RM MANAUS – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

No outro extremo, as áreas classificadas como de baixa ou baixíssima vulnerabilidade social,


23 no total, estão concentradas na porção central do município; fora desta porção, destaca-se, ao
norte, o bairro Nova Cidade, classificado como de baixa vulnerabilidade social.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 119


Essa distribuição espacial das áreas concentradoras de população, de acordo com sua condi-
ção em relação à vulnerabilidade social, mostra claramente um processo excludente, na medida em
que as áreas se distanciam da porção central.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, a situação expressa pela proporção de domicílios em condi-
ções inadequadas de saneamento57 configura-se como de risco. Nenhuma das áreas foi classificada
como de médio baixo ou baixo risco ambiental, fato único entre todas as RMs estudadas (quadro
11.2). Apenas duas áreas foram consideradas de baixo risco ambiental: Japiim e Chapada/São Ge-
raldo/Dom Pedro I (tabela A.11.7, em anexo).

QUADRO 11.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO


À SITUAÇÃO DE RISCO AMBIENTAL – RM DE MANAUS – 2000

GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 14 Altíssimo risco

2 9 Alto risco

3 14 Médio para alto risco

4 2 Médio para baixo risco

5 0 Baixo risco

6 0 Baixíssimo risco

0 0 Sem denominação

FONTE: Dados da pesquisa

NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

No outro extremo, tem-se que 23 áreas foram classificadas nos dois grupos de maior risco
ambiental; ou seja, são áreas onde mais de 60% dos domicílios apresentam inadequação em termos
das condições de saneamento. As piores situações são encontradas na Área Expansão/Zona Rural,
Jorge Teixeira/Norte, Col. Terra Nova, Tarumã/Ponta Negra, Santa Etelvina/Monte das Oliveiras e
Cidade Nova/Invasões/Leste (figura 11.2).

57 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

120 Marley Vanice Deschamps


FIGURA 11.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO
– RM DE MANAUS – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Na leitura espacial desse fenômeno, mesmo observando uma intensificação das situações
mais precárias, conforme as áreas se distanciam da porção central, o que chama atenção é a enor-
me carência de condições mínimas de infraestrutura de saneamento por toda a cidade.

11.3 Vulnerabilidade socioambiental


A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 11.8, em anexo, e resumidas no quadro 11.3.

QUADRO 11.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO


À SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM MANAUS – 2000
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima

Baixíssimo            

Baixo            

Médio baixo 2          

Médio alto 4 5 5      

Alto   2 4 3    

Altíssimo     1 4 8 1

FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 121


A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes, nos quais se observam as diversas situ-
ações das áreas da região metropolitana de Manaus em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante, encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnerabi-


lidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante, áreas de
alto risco ambiental mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão estar mais
focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, estão situações de baixo risco
ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com considerável concentra-
ção de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deverão estar
voltadas, principalmente, para as questões sociais.
A análise do quadro acima mostra que, independente da condição social, quase todas as
AEDs em Manaus estão sujeitas a riscos ambientais decorrentes da falta de infraestrutura de sanea-
mento. Apenas 2 áreas encontram-se no quadrante 1, representando 5% do total das áreas, fato que
coloca Manaus, juntamente com a RM de Belém, como as RMs em pior situação quanto à condição
socioambiental.

FIGURA 11.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS


DE EXPANSÃO – RM DE MANAUS – 2000.

FONTE: Dados da pesquisa

122 Marley Vanice Deschamps


A maior concentração de áreas se deu no quadrante 2, no qual está inserida mais da metade
das áreas de Manaus. Este quadrante, como indicado acima, reúne populações que, mesmo em
condições sociais mais favoráveis, têm seu hábitat em condição precária. Espacialmente, correspon-
de à porção central do município, estendendo-se em direção ao norte até o bairro Cidade Nova.
A situação socioambiental mais desfavorável é vivenciada pela população residente em áreas
incluídas no quarto quadrante, as quais representam 41% do total da RM. As piores situações estão
nos bairros Jorge Teixeira, na zona leste e Santa Etelvina e Monte das Oliveiras, na zona norte, e na
porção rural de Manaus.

3.12 Região Metropolitana de Vitória

a) Vulnerabilidade social
A RM de Vitória é composta por 6 municípios subdivididos em 60 AEDs, das quais 8 (13%)
estão no município de Vitória. Nesse caso é o município de Vila Velha, e não o município polo, que
contém o maior número de AEDs, quase 1/3 do total. Para cada uma das áreas foram calculados os
indicadores de desvantagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A 12.1, A
12.2 e A 12.3 (anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à
RM de Vitória aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de cada
variável, dado pelo coeficiente de variação (CV) no conjunto de AEDs da RM de Vitória.
De um modo geral, os indicadores referentes à RM de Vitória apresentam valores muito próxi-
mos da média do conjunto das RMs. Entretanto, para três deles, a situação é bem mais desfavorável
em Vitória58, que possui o maior percentual de adolescentes com experiência reprodutiva (V6) dentre
todas as RMs; além disso, o percentual de famílias com muitos membros (V5) só é inferior ao ob-
servado em Manaus. A proporção de trabalhadores com baixo rendimento é também uma das mais
elevadas (tabela 12.1).

58 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de Vitória e a do conjunto de RMs.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 123


TABELA 12.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS
E SOCIOECONÔMICAS – RM VITÓRIA – 2000.
VITÓRIA
VARIÁVEL MÉDIA RMs
MÉDIA CV (%)
V1 1,45 53,95 1,45
V2 10,11 32,81 10,08
V3 24,28 15,20 23,71
V4 6,01 49,90 6,59
V5 6,43 47,45 3,66
V6 20,50 34,09 8,00
V7 0,73 27,02 0,75
V8 27,68 17,46 27,79
V9 4,88 36,67 5,13
V10 41,54 22,85 42,08
V11 19,41 56,50 21,02
V12 29,30 40,43 20,63
V13 53,15 10,97 49,44
V14 6,78 58,21 7,34
V15 17,80 46,40 18,83
V16 21,58 46,78 21,71
V17 3,79 61,70 3,73
V18 16,99 52,68 17,45
V19 74,88 24,07 75,04
V20 23,11 44,77 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

Os coeficientes de variação59 indicam que entre as AEDs da RM de Vitória há forte variabilida-


de da situação social, com 14 das 20 variáveis apresentando valor superior a 30%, sendo que cinco
delas ultrapassam 50%. Dentre as variáveis que apresentam maior heterogeneidade destacam-se
as que se referem às famílias com chefes menores (V1), à pobreza (V11), ao analfabetismo (V14),
às crianças e adolescentes fora da escola (V17 e V18).
Por outro lado, as AEDs são mais homogêneas (menor CV) principalmente quanto à informali-
dade das ocupações (V13) que é situação de 53% dos ocupados, à participação de crianças no total
da população (V8) e à chefia familiar por mulheres sem cônjuge (V3).
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo desta-
cando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 12.2).

59 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

124 Marley Vanice Deschamps


TABELA 12.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS – RM VITÓRIA – 2000
VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10
V1 1,000 -0,363 -0,372 0,769 0,765 0,799 0,808 0,800 -0,453 0,826
V2 -0,363 1,000 0,622 -0,486 -0,483 -0,406 -0,553 -0,652 0,965 -0,592
V3 -0,372 0,622 1,000 -0,548 -0,556 -0,519 -0,611 -0,621 0,659 -0,588
V4 0,769 -0,486 -0,548 1,000 0,995 0,949 0,911 0,927 -0,605 0,937
V5 0,765 -0,483 -0,556 0,995 1,000 0,957 0,919 0,932 -0,601 0,942
V6 0,799 -0,406 -0,519 0,949 0,957 1,000 0,922 0,903 -0,521 0,910
V7 0,808 -0,553 -0,611 0,911 0,919 0,922 1,000 0,970 -0,657 0,971
V8 0,800 -0,652 -0,621 0,927 0,932 0,903 0,970 1,000 -0,757 0,995
V9 -0,453 0,965 0,659 -0,605 -0,601 -0,521 -0,657 -0,757 1,000 -0,703
V10 0,826 -0,592 -0,588 0,937 0,942 0,910 0,971 0,995 -0,703 1,000
V11 0,830 -0,483 -0,573 0,948 0,952 0,931 0,954 0,954 -0,607 0,966
V12 0,811 -0,444 -0,586 0,928 0,933 0,923 0,953 0,924 -0,561 0,935
V13 0,517 -0,112 -0,469 0,528 0,523 0,515 0,559 0,473 -0,165 0,506
V14 0,791 -0,412 -0,569 0,921 0,926 0,909 0,941 0,907 -0,538 0,922
V15 0,780 -0,425 -0,601 0,915 0,921 0,925 0,943 0,902 -0,548 0,911
V16 0,755 -0,417 -0,586 0,910 0,916 0,918 0,934 0,890 -0,540 0,898
V17 0,696 -0,322 -0,538 0,775 0,786 0,789 0,768 0,760 -0,452 0,774
V18 0,791 -0,306 -0,482 0,863 0,870 0,885 0,881 0,842 -0,428 0,864
V19 0,631 -0,532 -0,494 0,837 0,849 0,873 0,893 0,877 -0,613 0,859
V20 0,790 -0,541 -0,536 0,916 0,925 0,914 0,963 0,973 -0,660 0,975

VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,830 0,811 0,517 0,791 0,780 0,755 0,696 0,791 0,631 0,790
V2 -0,483 -0,444 -0,112 -0,412 -0,425 -0,417 -0,322 -0,306 -0,532 -0,541
V3 -0,573 -0,586 -0,469 -0,569 -0,601 -0,586 -0,538 -0,482 -0,494 -0,536
V4 0,948 0,928 0,528 0,921 0,915 0,910 0,775 0,863 0,837 0,916
V5 0,952 0,933 0,523 0,926 0,921 0,916 0,786 0,870 0,849 0,925
V6 0,931 0,923 0,515 0,909 0,925 0,918 0,789 0,885 0,873 0,914
V7 0,954 0,953 0,559 0,941 0,943 0,934 0,768 0,881 0,893 0,963
V8 0,954 0,924 0,473 0,907 0,902 0,890 0,760 0,842 0,877 0,973
V9 -0,607 -0,561 -0,165 -0,538 -0,548 -0,540 -0,452 -0,428 -0,613 -0,660
V10 0,966 0,935 0,506 0,922 0,911 0,898 0,774 0,864 0,859 0,975
V11 1,000 0,973 0,565 0,957 0,953 0,941 0,776 0,899 0,852 0,951
V12 0,973 1,000 0,648 0,962 0,968 0,958 0,796 0,910 0,856 0,927
V13 0,565 0,648 1,000 0,579 0,615 0,599 0,541 0,589 0,378 0,467
V14 0,957 0,962 0,579 1,000 0,980 0,976 0,795 0,926 0,840 0,912
V15 0,953 0,968 0,615 0,980 1,000 0,995 0,803 0,911 0,858 0,909
V16 0,941 0,958 0,599 0,976 0,995 1,000 0,778 0,901 0,859 0,899
V17 0,776 0,796 0,541 0,795 0,803 0,778 1,000 0,822 0,647 0,757
V18 0,899 0,910 0,589 0,926 0,911 0,901 0,822 1,000 0,768 0,850
V19 0,852 0,856 0,378 0,840 0,858 0,859 0,647 0,768 1,000 0,891
V20 0,951 0,927 0,467 0,912 0,909 0,899 0,757 0,850 0,891 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 125


Dentre as RMs estudadas, a de Vitória apresenta uma matriz de correlação na qual, em sua
maioria, as variáveis estão relacionadas entre si, em um grau bastante elevado; são 14 variáveis que
apresentam altíssima correlação (>= 0,800) com pelo menos metade das variáveis analisadas.
Como exceção a esse padrão, há quatro indicadores com baixa correlação com as demais vari-
áveis. Dois deles referem-se à participação dos idosos na população total das AEDs (V9) e na chefia
das famílias (V2), os quais, porém, apresentam associação com a presença de mulheres sem cônjuge
chefiando famílias, indicando que este tipo de chefia é exercida por mulheres idosas, bem como apre-
sentam uma associação negativa com a participação de crianças na população das áreas.
Os outros dois indicadores com baixa correlação com as demais variáveis referem-se à chefia
familiar por mulheres sem cônjuge (V3) e ao grau de informalização das ocupações (V13). A primeira
apresenta um padrão de associação similar ao das pessoas idosas; por sua vez, o indicador de infor-
malidade está associado ao baixo rendimento do trabalho e ao analfabetismo funcional.
A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que se
refere às variáveis de desvantagens demográficas e socioeconômicas, pode ser observada na tabela
12.3. Os três fatores retidos explicaram 91% da variância total das 1860 variáveis originais, a partir
da diversidade encontrada nas 60 áreas internas da RM de Vitória. O primeiro fator, que possui um
autovalor 10 vezes superior ao segundo, explica 83% da variância total, enquanto o segundo explica
aproximadamente 8%.

TABELA 12.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA


PELOS FATORES COMUNS, COM BASE EM 18 VARIÁVEIS – RM VITÓRIA – 2000.
FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA (%)

1 14,97 83,19 83,19

2 1,47 8,17 91,36

FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos três fatores e entre si são apresentadas
na tabela 12.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que
determinam cada fator.

60 Devido à baixa comunalidade, inferior a 60%, as variáveis V3 e V13 não foram consideradas na determinação dos fatores (ta-
bela A 12.4).

126 Marley Vanice Deschamps


TABELA 12.4 - CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS COM OS DOIS FATORES COMUNS ROTACIONA-
DOS PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER – RM VITÓRIA – 2000.
FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2
V1 0,814 0,207
V2 -0,173 -0,972
V4 0,895 0,348
V5 0,903 0,344
V6 0,929 0,255
V7 0,886 0,418
V8 0,830 0,537
V9 -0,314 -0,936
V10 0,863 0,470
V11 0,921 0,341
V12 0,936 0,286
V14 0,943 0,251
V15 0,940 0,262
V16 0,931 0,257
V17 0,824 0,159
V18 0,940 0,125
V19 0,786 0,428
V20 0,869 0,428
FONTE: Dados da pesquisa

O fator 1 reúne 16 variáveis com alta correlação e todas positivamente associadas, o que
indica que a ocorrência de cada uma é acompanhada pela ocorrência das demais componentes de
desvantagem demográfica e socioeconômica. Fundamentalmente, esse fator refere-se à conjunção
das diversas dimensões de desvantagem social (pobreza, déficits educacionais e condição domi-
ciliar inadequada) com a presença de famílias numerosas e com predominância de filhos menores
de 14 anos. Adiciona-se a isso a situação de menores que, precocemente, apresentam experiência
reprodutiva, muitas vezes com o ônus de assumir a chefia familiar. Como mencionado antes, Vitória
apresenta o maior percentual de adolescentes com experiência reprodutiva.
O fator 2 especifica a situação da população idosa, cujas correlações negativas indicam que
as áreas onde esta população tem maior presença não são, necessariamente, aquelas com maiores
desvantagens socioeconômicas.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 12.5, a qual apresenta
os valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão, bem
como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em relação
à área com índice final máximo (AED 3205200999001, localizada em Vila Velha, na Praia da Costa),
a qual apresenta a melhor situação em relação à vulnerabilidade. A AED 3201308001005, que cor-
responde à área rural de Cariacica, apresenta a pior situação em termos de vulnerabilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas, procedeu-se à análise de agru-
pamentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis dentro da RM de
Vitória. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 12.1 e a tabela A 12.6 exibe o índice
final e os respectivos grupos em que foram alocadas as 60 áreas.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 127


QUADRO 12.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS – RM VITÓRIA - 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO
1 6 Altíssima vulnerabilidade
2 6 Alta vulnerabilidade
3 11 Média para alta vulnerabilidade
4 20 Média para baixa vulnerabilidade
5 9 Baixa vulnerabilidade
6 8 Baixíssima vulnerabilidade
FONTE: Dados da pesquisa

Das 12 áreas classificadas como de alta ou altíssima vulnerabilidade social, a metade está
localizada no município de Cariacica. No município de Vitória há uma única área na condição de alta
vulnerabilidade, a qual se estende da Resistência até os bairros de São Pedro e Comdusa. Em Vila
Velha há uma área, ao sul do município, de altíssima vulnerabilidade, e outra área na bacia do Rio
Aribiri (Pedra dos Búzios/Ilha da Conceição/Primeiro de Maio/Santa Rita/Zumbi dos Palmares), de
alta vulnerabilidade (figura 12.1).

FIGURA 12.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS ÁREAS


DE EXPANSÃO – RM VITÓRIA – 2000.

FONTE: Dados da pesquisa

128 Marley Vanice Deschamps


Os dois grupos de média vulnerabilidade reúnem o maior número de áreas (31) na RM de Vi-
tória. Enquanto a maioria das áreas de média alta vulnerabilidade está concentrada no município de
Serra, aquelas classificadas de média baixa se concentram na porção territorial de conurbação dos
municípios de Vitória, Cariacica e Vila Velha.
As 17 áreas em situação social favorável (baixa e baixíssima vulnerabilidade) representam 28%
das AEDs da RM de Vitória, e estão concentradas nos municípios de Vitória e Vila Velha. Com exceção
de uma área em Serra, as outras áreas de baixíssima vulnerabilidade situam-se em um arco que inicia
no Jardim Camburi, em Vitória, e se estende para o sul até o Jockey de Itaparica, em Vila Velha.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expresso pela proporção de domicílios em condições inadequa-
das de saneamento61, implicando uma situação de risco, verifica-se que quase 2/3 das áreas foram
classificadas como de médio baixo até baixíssimo risco, conforme quadro 12.2 e tabela A 12.7, em
anexo. A principal diferença em relação ao quadro social visto no item anterior é o aumento verificado
no número de áreas classificadas como de baixo risco ambiental, mudança verificada basicamente
nos municípios de Vila Velha e Vitória.

QUADRO 12.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO


À SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL – RM DE VITÓRIA – 2000.

GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 5 Altíssimo risco

2 5 Alto risco

3 12 Médio para alto risco

4 13 Médio para baixo risco

5 16 Baixo risco

6 9 Baixíssimo risco

0 0 Sem denominação

FONTE: Dados da pesquisa

NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

No outro extremo, as áreas classificadas na condição de médio alto até altíssimo risco repre-
sentam 37% das AEDs da região metropolitana, a maioria delas localizada em Cariacica e Serra; em
Vitória, nenhuma das áreas foi classificada nesse grupo de maior risco ambiental (figura 12.2).

61 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 129


FIGURA 12.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RM DE VITÓRIA – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Na leitura espacial desse fenômeno, observa-se uma clara situação de segregação socioes-
pacial, em que, mais uma vez, as condições de mais baixo risco ambiental estão restritas a deter-
minadas porções do território metropolitano e a situação fica mais crítica à medida que as áreas se
afastam desse ponto.

c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 12.8, em anexo, e resumidas no quadro 12.3.

130 Marley Vanice Deschamps


QUADRO 12.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO
À SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM DE VITÓRIA – 2000.
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima
Baixíssimo 7 2        
Baixo 1 7 8      
Médio baixo     10 2 1  
Médio alto     2 9 1  
Alto         3 2
Altíssimo         1 4
FONTE: Dados da pesquisa

A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes nos quais se observam as diversas situa-
ções das áreas da região metropolitana de Vitória em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante, encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnerabi-


lidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante, áreas de
alto risco ambiental mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão estar mais
focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, estão situações de baixo risco
ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com considerável concentra-
ção de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deverão estar
voltadas, principalmente, para as questões sociais.
Na região metropolitana de Vitória há uma clara polarização em termos da vulnerabilidade so-
cioambiental, com as áreas concentradas nos dois quadrantes (Q1 e Q4), que caracterizam as situ-
ações extremas. O quadrante 1 concentra 58,3% das áreas, sendo que das 35 áreas que compõem
esse quadrante, 23 encontram-se em Vitória e em Vila Velha. Entretanto, com exceção do município
de Viana, todos os demais possuem alguma área na condição mais favorável (figura 12.3).
As 20 áreas classificadas no quarto quadrante, que constituem a situação de maior vulnerabi-
lidade socioambiental, representam 1/3 das AEDS da RM de Vitória e nenhuma está localizada no
município polo. Em Vila Velha há duas áreas consideradas de alta vulnerabilidade socioambiental.
Das demais áreas, duas estão no segundo quadrante, ou seja, envolvem famílias ou pessoas
em situação de baixa vulnerabilidade social, residindo em áreas com falta de infraestrutura de sane-
amento, e três foram classificadas no terceiro quadrante.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 131


FIGURA 12.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS
DE EXPANSÃO – RM DE VITÓRIA – 2000.

FONTE: Dados da pesquisa

3.13 Região Metropolitana de Goiânia

a) Vulnerabilidade social
A RM de Goiânia é composta por 11 municípios subdivididos em 66 AEDs, das quais 39
(59%) estão no município de Goiânia. Para cada uma das áreas foram calculados os indicadores de
desvantagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A 13.1, A 13.2 e A 13.3
(anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à
RM de Goiânia aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de cada
variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM de Goiânia.
De modo geral, os valores médios da RM de Goiânia são muito próximos aos valores para o
conjunto das RMs estudadas. Apenas para quatro variáveis a distância relativa62 da RM de Goiânia
é maior: famílias com elevado número de filhos (V4) e/ou com muitos membros (V5), presença de

62 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de Goiânia e a do conjunto de RMs.

132 Marley Vanice Deschamps


idosos (V9) e de crianças fora da escola (V17). Em todos esses casos, a situação dessa RM é social-
mente mais favorável do que a média das RMs estudadas. Entretanto, destaca-se que a V1- percen-
tagem de famílias chefiadas por pessoas menores, possui a maior distância relativa positiva (15%),
indicando que essa situação desfavorável é marcadamente diferente da média das RMs, mesmo
com proporções tão pequenas (tabela 13.1).

TABELA 13.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS


E SOCIOECONÔMICAS – RM GOIÂNIA – 2000
GOIÂNIA
VARIÁVEL MÉDIA RMs
MÉDIA CV (%)
V1 1,68 39,99 1,45
V2 8,68 44,69 10,08
V3 24,67 21,99 23,71
V4 4,66 48,98 6,59
V5 2,08 52,91 3,66
V6 8,03 44,48 8,00
V7 0,81 29,73 0,75
V8 27,98 18,65 27,79
V9 4,10 46,62 5,13
V10 41,73 23,74 42,08
V11 17,25 56,03 21,02
V12 20,75 37,71 20,63
V13 54,58 11,19 49,44
V14 7,25 60,59 7,34
V15 19,69 47,22 18,83
V16 23,78 46,79 21,71
V17 2,87 59,10 3,73
V18 16,07 47,27 17,45
V19 74,30 24,25 75,04
V20 22,03 39,80 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

É possível verificar que, para 14 das 20 variáveis, o coeficiente de variação63 é superior a


30%, indicativo de que entre as AEDs há forte variabilidade da situação social, principalmente no que
se refere aos itens: família com muitos membros (V5), com renda insuficiente (V11), analfabetismo
(V14) e crianças fora da escola (V17).
Por outro lado, as AEDs são mais homogêneas (menor CV) principalmente quanto à informali-
dade das ocupações (V13), situação de mais da metade dos ocupados da RM de Goiânia, e quanto
à participação de crianças no total da população (V8).
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo, desta-
cando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 13.2).

63 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 133


TABELA 13.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS – RM GOIÂNIA – 2000
VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10
V1 1,000 -0,176 -0,190 0,230 0,115 0,542 -0,268 0,291 -0,208 0,288
V2 -0,176 1,000 0,565 -0,447 -0,389 -0,434 0,601 -0,733 0,970 -0,674
V3 -0,190 0,565 1,000 -0,590 -0,576 -0,560 0,807 -0,798 0,666 -0,779
V4 0,230 -0,447 -0,590 1,000 0,861 0,548 -0,821 0,817 -0,541 0,846
V5 0,115 -0,389 -0,576 0,861 1,000 0,505 -0,699 0,689 -0,439 0,712
V6 0,542 -0,434 -0,560 0,548 0,505 1,000 -0,714 0,705 -0,497 0,706
V7 -0,268 0,601 0,807 -0,821 -0,699 -0,714 1,000 -0,968 0,709 -0,971
V8 0,291 -0,733 -0,798 0,817 0,689 0,705 -0,968 1,000 -0,823 0,994
V9 -0,208 0,970 0,666 -0,541 -0,439 -0,497 0,709 -0,823 1,000 -0,767
V10 0,288 -0,674 -0,779 0,846 0,712 0,706 -0,971 0,994 -0,767 1,000
V11 0,333 -0,401 -0,711 0,873 0,778 0,691 -0,909 0,869 -0,521 0,897
V12 0,369 -0,246 -0,660 0,724 0,624 0,654 -0,839 0,758 -0,390 0,781
V13 0,038 0,277 -0,305 0,173 0,146 0,183 -0,244 0,129 0,145 0,165
V14 0,345 -0,215 -0,699 0,761 0,703 0,685 -0,818 0,731 -0,359 0,755
V15 0,351 -0,333 -0,721 0,815 0,731 0,724 -0,901 0,833 -0,470 0,855
V16 0,364 -0,348 -0,725 0,786 0,707 0,749 -0,893 0,832 -0,488 0,847
V17 0,231 -0,332 -0,590 0,654 0,699 0,517 -0,669 0,649 -0,401 0,666
V18 0,391 -0,437 -0,755 0,706 0,634 0,732 -0,854 0,809 -0,546 0,815
V19 0,282 -0,613 -0,755 0,771 0,676 0,696 -0,946 0,934 -0,706 0,928
V20 0,357 -0,620 -0,685 0,850 0,737 0,737 -0,941 0,944 -0,705 0,953

VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,333 0,369 0,038 0,345 0,351 0,364 0,231 0,391 0,282 0,357
V2 -0,401 -0,246 0,277 -0,215 -0,333 -0,348 -0,332 -0,437 -0,613 -0,620
V3 -0,711 -0,660 -0,305 -0,699 -0,721 -0,725 -0,590 -0,755 -0,755 -0,685
V4 0,873 0,724 0,173 0,761 0,815 0,786 0,654 0,706 0,771 0,850
V5 0,778 0,624 0,146 0,703 0,731 0,707 0,699 0,634 0,676 0,737
V6 0,691 0,654 0,183 0,685 0,724 0,749 0,517 0,732 0,696 0,737
V7 -0,909 -0,839 -0,244 -0,818 -0,901 -0,893 -0,669 -0,854 -0,946 -0,941
V8 0,869 0,758 0,129 0,731 0,833 0,832 0,649 0,809 0,934 0,944
V9 -0,521 -0,390 0,145 -0,359 -0,470 -0,488 -0,401 -0,546 -0,706 -0,705
V10 0,897 0,781 0,165 0,755 0,855 0,847 0,666 0,815 0,928 0,953
V11 1,000 0,908 0,351 0,913 0,949 0,931 0,720 0,830 0,856 0,884
V12 0,908 1,000 0,528 0,925 0,925 0,928 0,577 0,810 0,803 0,783
V13 0,351 0,528 1,000 0,468 0,401 0,405 0,130 0,423 0,173 0,167
V14 0,913 0,925 0,468 1,000 0,964 0,958 0,685 0,809 0,776 0,746
V15 0,949 0,925 0,401 0,964 1,000 0,993 0,718 0,851 0,865 0,849
V16 0,931 0,928 0,405 0,958 0,993 1,000 0,697 0,846 0,868 0,840
V17 0,720 0,577 0,130 0,685 0,718 0,697 1,000 0,618 0,633 0,656
V18 0,830 0,810 0,423 0,809 0,851 0,846 0,618 1,000 0,815 0,829
V19 0,856 0,803 0,173 0,776 0,865 0,868 0,633 0,815 1,000 0,923
V20 0,884 0,783 0,167 0,746 0,849 0,840 0,656 0,829 0,923 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

134 Marley Vanice Deschamps


Com exceção de duas variáveis – famílias chefiadas por menores e ocupados no setor infor-
mal –, as demais apresentaram de moderado a alto grau de correlação entre elas. Verifica-se, dessa
forma, que os diversos componentes da vulnerabilidade demográfica têm relações significativas com
os demais fatores geradores de desvantagem social.
As variáveis que indicam vulnerabilidade demográfica – tais como famílias numerosas e com
alta frequência de filhos, adolescentes com experiência reprodutiva, parturição de adolescentes e
jovens/adultas, percentagem de crianças com até 14 anos e índice de dependência infantil –, mostra-
ram forte correlação com praticamente todas as variáveis que indicam desvantagens socioeconômi-
cas e que pressupõem pobreza, como os baixos rendimentos, analfabetismo, não freqüência escolar
e condições inadequadas de moradia.
Quanto ao tipo de chefaturas, têm-se algumas situações. A chefatura de menores, como men-
cionado anteriormente, possui baixa correlação com praticamente todas as demais variáveis. No
entanto, vale destacar que há correlação, ainda que moderadamente, com a experiência reprodutiva
de adolescentes, demonstrando que a gravidez na adolescência, em alguns casos, é seguida das
obrigações para as quais, somente os adultos estão preparados. A chefatura de idosos se correla-
ciona com a chefatura de mulheres sem cônjuge. Nesse caso, com probabilidade de ter sido oca-
sionada por viuvez, também se correlaciona com variáveis do tipo parturição de jovens e proporção
de crianças, muito provavelmente por ainda proporcionarem abrigo aos filhos, casados ou não. A
correlação mais forte, como era esperado, dá-se com a variável proporção de idosos. O terceiro tipo
de chefatura, relacionada a mulheres sem cônjuge, está correlacionada com praticamente todas as
variáveis geradoras de vulnerabilidade social.
Na aplicação da técnica de análise fatorial com base na matriz de correlação de Pearson para
a RM de Goiânia, chegou-se a um total de três fatores comuns. Para esse caso, foi retirada a V17
(crianças de 7 a 14 anos que não frequentam escola), pois a mesma apresentou comunalidade abai-
xo de 0,60, conforme tabela A13.4, em anexo. A retirada dessa variável não alterou o resultado final
do agrupamento das áreas dentro da Região Metropolitana de Goiânia, tendo em vista a obrigato-
riedade do ensino fundamental, independente da condição social da família. No entanto, ressalta-se
que essa variável faz parte das selecionadas, pois ainda se observam famílias onde crianças exer-
cem outras funções, em detrimento do estudo.
A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que se
refere às variáveis de desvantagens demográficas e socioeconômicas, pode ser observada na tabela
13.3. As 19 variáveis deram origem a somente três fatores, ou seja, há uma forte correlação entre
as 19 variáveis escolhidas para determinar e diferenciar o grau de vulnerabilidade de cada uma das
áreas estudadas.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 135


TABELA 13.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA
EXPLICADA PELOS FATORES COMUNS, COM BASE EM 19 VARIÁVEIS – RM GOIÂNIA - 2000
FATOR (%) AUTOVALOR VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA

1 13,22 69,57 69,57

2 2,17 11,41 80,99

3 1,12 5,88 86,86

FONTE: Dados da pesquisa

Os três fatores retidos explicaram quase 87% da variância total das 19 variáveis originais,
a partir da diversidade encontrada nas 66 áreas internas da RM de Goiânia. O primeiro fator, que
possui um autovalor 6 vezes superior ao primeiro e quase 12 vezes superior ao terceiro, explica
aproximadamente 70% da variância total, enquanto o segundo explica aproximadamente 11% e o
terceiro, somente 6%.
As variáveis mais correlacionadas com cada um dos três fatores e entre si são apresentadas
na tabela 13.4, destacando-se as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis
que compõem cada fator.

TABELA 13.4 -CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS COM OS TRÊS FATORES COMUNS ROTACIONA-
DOS PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER – RM GOIÂNIA – 2000
FATOR COMUM
VARIÁVEL 1 2 3

V1 0,128 0,070 0,936

V2 -0,202 -0,936 -0,096

V3 -0,712 -0,405 -0,075

V4 0,813 0,349 0,016

V5 0,766 0,290 -0,099

V6 0,582 0,285 0,595

V7M -0,849 -0,460 -0,158

V8 0,757 0,611 0,169

V9 -0,349 -0,880 -0,115

V10 0,792 0,553 0,160

V11 0,921 0,227 0,190

V12 0,916 0,019 0,272

V13 0,579 -0,554 0,019

V14 0,932 0,004 0,243

V15 0,938 0,143 0,244

V16 0,923 0,150 0,273

V18 0,819 0,234 0,316

V19 0,792 0,487 0,181

V20 0,781 0,501 0,234

FONTE: Dados da pesquisa

136 Marley Vanice Deschamps


O fator 1 junta praticamente todas as variáveis, a exceção de algumas variáveis demográficas
como a chefatura de idosos e elevada proporção de população com idade de 65 anos ou mais, as
quais estão juntas no segundo fator e, chefatura de menores e elevada proporção de adolescentes
com filhos, que foram retidas pelo terceiro fator.
Quanto à divisão em fatores socioeconômicos e fatores sociodemográficos, a vantagem da
análise fatorial reside no fato de juntar em cada fator aquelas variáveis altamente correlacionadas
entre si. Nesse sentido, destaque-se que no primeiro fator, que juntou todas as variáveis socioe-
conômicas, encontram-se algumas variáveis demográficas indicativas de situação de pobreza, ou
seja, alta freqüência de filhos e de membros. Assim, optou-se por denominar o fator 1 de fator de
desvantagem socioeconômica, sendo este o fator decisivo na classificação das áreas, e que explica
70% da variância total do conjunto original. Verificou-se, dessa forma, forte vínculo entre os aspectos
sociodemo­gráficos e os fatores geradores de desvantagem em outros planos sociais, mostrando
pouca ou nenhuma ambiguidade em relação ao marco teórico adotado.
Os fatores 2 e 3, como se pode observar, juntaram somente variáveis demográ­ficas, as quais,
numa análise mais apurada, não estariam, necessariamente, relacio­nadas à situação de pobreza. Po-
dem indicar certa vulnerabilidade, mas não com a mesma ênfase do fator 1. Optou-se por denominá-los
fatores de desvantagem demográfica e, juntos, explicam 17% da variância total do conjunto original.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 13.5, a qual apresenta
os valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão, bem
como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em relação
à área com índice final máximo (AED 5208707999001 localizada na área central do município de
Goiânia). Esta apresenta a melhor situação em relação à vulnerabilidade ou em relação a qualquer
outra área. A AED 5201405999003, localizada em Aparecida de Goiânia, apresenta a pior situação
em termos de vulnerabilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas, procedeu-se à análise de agru-
pamentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis dentro da RM de
Goiânia. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 13.1 e a tabela A 13.6 exibe o índice
final e os respectivos grupos em que foram alocadas as 66 áreas.

QUADRO 13.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS


– RM GOIÂNIA - 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 4 Altíssima vulnerabilidade

2 3 Alta vulnerabilidade

3 16 Média para alta vulnerabilidade

4 14 Média para baixa vulnerabilidade

5 21 Baixa vulnerabilidade

6 8 Baixíssima vulnerabilidade

FONTE: Dados da pesquisa

O resultado final pode ser visualizado na figura 13.1 abaixo. Das 4 áreas classificadas como de
altíssima vulnerabilidade social, duas se encontram no município de Aparecida de Goiânia. Mesmo
fazendo divisa com Goiânia, encontram-se mais afastadas da área central, no entanto, aparecem
juntas com uma área ao sul desse município e classificada como de alta vulnerabilidade social. As

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 137


outras duas estão localizadas em Goianápolis e Trindade, provavelmente a área mais rural das mes-
mas. Mais 3 áreas foram classificadas como de alta vulnerabilidade social e 16 como de média alta.
Das primeiras, duas estão em Goiânia - Caravelas/Parque Santa Rita e Vila Finsocial, e uma em
Aparecida de Goiânia, que aparece junto às duas consideradas de altíssima vulnerabilidade social.

FIGURA 13.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS ÁREAS


DE EXPANSÃO - RMG – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Quanto às áreas classificadas como média baixa até baixíssima vulnerabilidade social, 43
no total, observa-se que a grande maioria da categoria média está localizada fora do município de
Goiânia e das demais, a maioria está dentro do município polo. Destaca-se a existência de áreas
classificadas como de baixa e baixíssima vulnerabilidade localizadas em Aparecida de Goiânia, con-
tíguas à área central de Goiânia.
Essa distribuição espacial das áreas concentradoras de população de acordo com sua condi-
ção em relação à vulnerabilidade social, mostra claramente um processo excludente, em que aquela
população em condições de mais alta vulnerabilidade social reside em áreas mais afastadas do
centro metropolitano ou em áreas periféricas a este. A Região Metropolitana de Goiânia apresenta
somente 35% de suas áreas em condições de média alta até altíssima vulnerabilidade social.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expresso pela proporção de domicílios em condições inade-
quadas de saneamento64, implicando uma situação de risco, tem-se situação praticamente inversa
àquela observada no item anterior, ou seja, pouco mais de 40% das áreas foram classificadas como

64 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofere-
cidos somente nas áreas urbanas.

138 Marley Vanice Deschamps


de médio baixo até baixíssimo risco ambiental, conforme tabela A 13.7, em anexo. A exceção de uma
área localizada em Aparecida de Goiânia, todas se localizam no município de Goiânia. As 6 áreas
de baixíssimo risco ambiental são as seguintes: Sudoeste, Setor Bueno/Coimbra, Central, Oeste,
Marista e Setor Bela Vista/Setor Nova Suiça. (quadro 13.2).

QUADRO 13.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO


À SITUAÇÃO DE RISCO AMBIENTAL – RM DE GOIÂNIA - 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO
1 28 Altíssimo risco
2 3 Alto risco
3 7 Médio para alto risco
4 9 Médio para baixo risco
5 13 Baixo risco
6 6 Baixíssimo risco
FONTE: Dados da pesquisa

No outro extremo, quase 60% das áreas foram classificadas na condição de médio alto até
altíssimo risco, com a grande maioria localizada fora do município de Goiânia. Das 38 áreas nessas
condições, 12 estão em Goiânia e destas, 6 foram classificadas como de altíssimo risco ambiental:
Goianira, Caravelas/Parque Santa Rita, Jardim Balneário Meia Ponte, Parque João Braz/Bom Jesus,
São Domingos/Jardim Primavera e Vila Finsocial (figura 13.2).

FIGURA 13.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO


– RM DE GOIÂNIA – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Na leitura espacial desse fenômeno, observa-se uma clara situação de segregação socioes-
pacial, em que, mais uma vez, são as áreas centrais do município polo que reúnem as condições

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 139


de mais baixo risco ambiental e a situação fica mais crítica à medida que as áreas se afastam desse
ponto.

c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 13.8, em anexo, e resumidas no quadro 13.3.

QUADRO 13.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO


À SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM DE GOIÂNIA – 2000
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima

Baixíssimo 5 1        

Baixo 3 10        

Médio baixo   8 1      

Médio alto     6 1    

Alto   2 1      

Altíssimo     6 15 3 4

FONTE: Dados da pesquisa

A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes nos quais se observam as diversas situa-
ções internas da região metropolitana de Goiânia em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante, encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnerabi-


lidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante, áreas de
alto risco ambiental mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão estar mais
focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, estão situações de baixo risco
ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com considerável concentra-
ção de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deverão estar
voltadas, principalmente, para as questões sociais.
Na região metropolitana de Goiânia tem-se a maior concentração de áreas no primeiro qua-
drante (42,4%), todas, a exceção de uma localizada em Aparecida de Goiânia, estão no município de
Goiânia. É nesse município que se encontram as áreas com as melhores situações dentro do primei-
ro quadrante, ou seja, baixíssima vulnerabilidade social com baixíssimo risco ambiental. São elas:
Central, Marista, Oeste, Setor Bela Vista/Setor Nova Suiça e Setor Bueno/Coimbra (figuara 13.3).

140 Marley Vanice Deschamps


FIGURA 13.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS
DE EXPANSÃO – RM DE GOIÂNIA – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

As piores situações, aquelas classificadas no quarto quadrante, somam a segunda maior con-
centração de áreas, 34,8% do total, sendo que das 23 áreas ali inseridas, somente 5 estão em
Goiânia. A maioria está localizada em outros municípios da região. As áreas em situação mais crí-
tica, aquelas com altíssima vulnerabilidade social e altíssimo risco ambiental, são: Aparecida de
Goiânia_002, Aparecida de Goiânia_003, Goianápolis e Trindade_003.
As demais áreas, 15 no total (22,7%) estão no segundo quadrante, ou seja, famílias ou pes-
soas em situação de baixa vulnerabilidade social residindo em áreas com falta de infraestrutura de
saneamento. Nenhuma das áreas foi classificada no terceiro quadrante.

3.14 Região Metropolitana de Belém

a) Vulnerabilidade social
A RM do Belém é composta por 5 municípios subdivididos em 56 AEDs, das quais 38 (67,9%)
estão no município de Belém. Para cada uma das áreas foram calculados os indicadores de desvan-
tagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A 14.1, A 14.2 e A 14.3 (anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à
RM do Belém aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de cada
variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM de Belém.
De um modo geral, esta região metropolitana apresenta indicadores acima da média do con-

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 141


junto das 17 RMs, indicativo de um nível mais elevado de desvantagens sociodemográficas (tabela
14.1). Essa condição é mais acentuada65 em relação à chefatura por menores (V1), às famílias com
muitos membros (V5), à insuficiência de renda (V11 e V12) e à inadequação domiciliar (V20). Na
RM de Belém registra-se o maior percentual de ocupados na informalidade (V13), dentre as RMs
estudadas. Por outro lado, a região possui indicadores melhores no que diz respeito à participação
de idosos na população total (V9) e à taxa de analfabetismo.

TABELA 14.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS


E SOCIOECONÔMICAS – RM BELÉM – 2000
BELÉM
VARIÁVEL MÉDIA RMs
MÉDIA CV (%)
V1 2,25 40,88 1,45
V2 8,80 54,19 10,08
V3 27,25 17,86 23,71
V4 8,54 34,35 6,59
V5 5,28 31,76 3,66
V6 8,66 38,85 8,00
V7 0,85 29,49 0,75
V8 30,41 19,38 27,79
V9 4,08 56,95 5,13
V10 47,10 24,80 42,08
V11 32,93 35,60 21,02
V12 29,94 26,81 20,63
V13 58,69 12,36 49,44
V14 5,45 48,56 7,34
V15 18,31 39,67 18,83
V16 20,81 40,34 21,71
V17 4,32 53,35 3,73
V18 15,42 43,86 17,45
V19 81,11 17,73 75,04
V20 43,49 27,92 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

É possível verificar que para 12 das 20 variáveis, o coeficiente de variação66 é superior a 30%,
indicativo de que entre as AEDs há forte variabilidade da situação social. Quanto às variáveis demo-
gráficas, as áreas apresentam maior diferenciação quanto à chefatura familiar por menores, além
da participação de idosos na população e na chefia das famílias. Na dimensão socioeconômica, a
heterogeneidade das áreas mostra-se mais acentuada para o conjunto de variáveis educacionais,
particularmente em relação ao analfabetismo de jovens e adultos e dos chefes de família (V14 e V16)
e à participação de crianças e adolescentes fora da escola (V17 e V18).
Por outro lado, as áreas são mais homogêneas (menor CV) principalmente quanto à chefatura
por mulheres sem cônjuge (V3), à participação de crianças na população total (V8), à informalidade
das ocupações (V13) e à escolaridade inadequada de jovens adultos (V19).
65 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de Belém e a do conjunto de RMs.
66 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

142 Marley Vanice Deschamps


A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo desta-
cando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 14.2).
Dentre as RMs estudadas, a de Belém apresenta uma matriz de correlação na qual todas as
variáveis estão relacionadas entre si, em um grau bastante elevado, sendo que 12 delas apresen-
tam altíssima correlação (>= 0,800) com pelo menos metade das variáveis analisadas; dentre elas
destacam-se o nível de parturição, a participação de crianças na população das áreas, o índice de
dependência infantil e o indicador de insuficiência da renda familiar.
Os indicadores relativos à população idosa (V2 e V9) e à chefia de famílias por mulheres sem
cônjuge (V3) destacam-se por apresentar níveis também altos de correlação com as demais variá-
veis, porém predominantemente com sinal negativo, o que indica que sua ocorrência nem sempre é
acompanhada pelas demais componentes de desvantagem social.
A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que se
refere às variáveis de desvantagens demográficas e socioeconômicas, pode ser observada na tabela
14.3. Os dois fatores retidos explicaram 86% da variância total das 2067 variáveis originais, a partir
da diversidade encontrada nas 56 áreas internas à RM de Belém. O primeiro fator, que possui um
autovalor 13 vezes superior ao segundo, explica aproximadamente 80% da variância total, enquanto
o segundo tem uma contribuição menor (6%).

67 No caso da RM de Belém, todas as variáveis apresentaram comunalidade acima de 60%, não havendo necessidade de retirada
de nenhuma delas para a determinação dos fatores (ver tabela A 14.4).

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 143


TABELA 14.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS – RM BELÉM – 2000
VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10
V1 1,000 -0,549 -0,603 0,591 0,391 0,837 0,742 0,712 -0,573 0,716
V2 -0,549 1,000 0,787 -0,646 -0,393 -0,711 -0,808 -0,853 0,987 -0,795
V3 -0,603 0,787 1,000 -0,797 -0,651 -0,826 -0,914 -0,922 0,797 -0,923
V4 0,591 -0,646 -0,797 1,000 0,831 0,761 0,828 0,858 -0,710 0,857
V5 0,391 -0,393 -0,651 0,831 1,000 0,560 0,597 0,623 -0,447 0,635
V6 0,837 -0,711 -0,826 0,761 0,560 1,000 0,922 0,904 -0,744 0,911
V7 0,742 -0,808 -0,914 0,828 0,597 0,922 1,000 0,985 -0,836 0,987
V8 0,712 -0,853 -0,922 0,858 0,623 0,904 0,985 1,000 -0,882 0,994
V9 -0,573 0,987 0,797 -0,710 -0,447 -0,744 -0,836 -0,882 1,000 -0,826
V10 0,716 -0,795 -0,923 0,857 0,635 0,911 0,987 0,994 -0,826 1,000
V11 0,733 -0,774 -0,836 0,908 0,710 0,874 0,938 0,943 -0,822 0,935
V12 0,692 -0,644 -0,757 0,861 0,695 0,820 0,881 0,865 -0,700 0,869
V13 0,639 -0,563 -0,712 0,759 0,612 0,748 0,823 0,798 -0,608 0,811
V14 0,737 -0,576 -0,777 0,857 0,715 0,859 0,877 0,851 -0,629 0,872
V15 0,717 -0,638 -0,796 0,908 0,756 0,852 0,891 0,882 -0,692 0,892
V16 0,677 -0,612 -0,766 0,915 0,773 0,820 0,852 0,852 -0,679 0,857
V17 0,702 -0,587 -0,663 0,585 0,347 0,766 0,791 0,750 -0,593 0,766
V18 0,748 -0,610 -0,763 0,695 0,519 0,881 0,858 0,836 -0,644 0,855
V19 0,662 -0,824 -0,800 0,861 0,666 0,827 0,906 0,919 -0,863 0,894
V20 0,707 -0,821 -0,766 0,832 0,637 0,837 0,893 0,903 -0,863 0,877

VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,733 0,692 0,639 0,737 0,717 0,677 0,702 0,748 0,662 0,707
V2 -0,774 -0,644 -0,563 -0,576 -0,638 -0,612 -0,587 -0,610 -0,824 -0,821
V3 -0,836 -0,757 -0,712 -0,777 -0,796 -0,766 -0,663 -0,763 -0,800 -0,766
V4 0,908 0,861 0,759 0,857 0,908 0,915 0,585 0,695 0,861 0,832
V5 0,710 0,695 0,612 0,715 0,756 0,773 0,347 0,519 0,666 0,637
V6 0,874 0,820 0,748 0,859 0,852 0,820 0,766 0,881 0,827 0,837
V7 0,938 0,881 0,823 0,877 0,891 0,852 0,791 0,858 0,906 0,893
V8 0,943 0,865 0,798 0,851 0,882 0,852 0,750 0,836 0,919 0,903
V9 -0,822 -0,700 -0,608 -0,629 -0,692 -0,679 -0,593 -0,644 -0,863 -0,863
V10 0,935 0,869 0,811 0,872 0,892 0,857 0,766 0,855 0,894 0,877
V11 1,000 0,921 0,822 0,917 0,951 0,935 0,722 0,803 0,953 0,950
V12 0,921 1,000 0,926 0,910 0,929 0,921 0,626 0,697 0,905 0,863
V13 0,822 0,926 1,000 0,839 0,846 0,833 0,625 0,669 0,804 0,773
V14 0,917 0,910 0,839 1,000 0,965 0,945 0,679 0,748 0,851 0,825
V15 0,951 0,929 0,846 0,965 1,000 0,986 0,681 0,768 0,895 0,888
V16 0,935 0,921 0,833 0,945 0,986 1,000 0,618 0,718 0,887 0,873
V17 0,722 0,626 0,625 0,679 0,681 0,618 1,000 0,847 0,639 0,700
V18 0,803 0,697 0,669 0,748 0,768 0,718 0,847 1,000 0,707 0,785
V19 0,953 0,905 0,804 0,851 0,895 0,887 0,639 0,707 1,000 0,941
V20 0,950 0,863 0,773 0,825 0,888 0,873 0,700 0,785 0,941 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

144 Marley Vanice Deschamps


TABELA 14.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA PELOS
FATORES COMUNS, COM BASE EM 20 VARIÁVEIS – RM BELÉM – 2000.
VARIÂNCIA ACUMULADA
FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%)
(%)
1 15,98 79,88 79,88

2 1,23 6,13 86,00

FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos três fatores e entre si são apresentadas
na tabela 14.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que
determinam cada fator.

TABELA 14.4 - CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS COM OS DOIS FATORES COMUNS ROTACIONA-
DOS PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER – RM BELÉM – 2000
FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2

V1 0,666 0,413

V2 -0,879 -0,226

V3 -0,723 -0,530

V4 0,472 0,816

V5 0,139 0,881

V6 0,764 0,535

V7 0,802 0,569

V8 0,806 0,563

V9 -0,860 -0,306

V10 0,774 0,594

V11 0,679 0,709

V12 0,526 0,794

V13 0,484 0,734

V14 0,508 0,809

V15 0,533 0,823

V16 0,475 0,852

V17 0,768 0,301

V18 0,749 0,443

V19 0,681 0,655

V20 0,726 0,600

FONTE: Dados da pesquisa

O fator 1 confirma que parcela expressiva da variabilidade entre as AEDs da RM de Belém


está relacionada a algumas condições demográficas particulares, relacionadas à chefia familiar por
menores, ao padrão reprodutivo (nível de parturição e gravidez entre adolescentes) e à maior pre-

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 145


sença de crianças na população das áreas. A estas condições aliam-se, positivamente, alguns com-
ponentes socioeconômicos relacionados à pobreza e à não frequência escolar. Por outro lado, esse
fator indica que tais desvantagens sociais estão negativamente associadas à presença de idosos e
de famílias chefiadas por mulheres sem cônjuge.
O segundo fator relaciona famílias numerosas com todos os componentes de desvantagem
socioeconômica. Porém, no caso dos déficits educacionais, a relação não é expressiva no que se
refere à frequência escolar.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 14.5, a qual apresenta
os valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão, bem
como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em relação
à área com índice final máximo (AED 1501402999010, que envolve parte dos bairros Nazaré e São
Brás, tendo por eixo a Avenida Gov. Magalhães Barata). Esta apresenta a melhor situação em rela-
ção à vulnerabilidade. A AED 1506351001001, correspondente ao município de Santa Bárbara do
Pará, apresenta a pior situação em termos de vulnerabilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas, procedeu-se à análise de agru-
pamentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis dentro da RM de
Belém. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 14.1 e a tabela A 14.6 exibe o índice
final e os respectivos grupos em que foram alocadas as 128 áreas.

QUADRO 14.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS – RM BELÉM – 2000


GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 6 Altíssima vulnerabilidade

2 15 Alta vulnerabilidade

3 17 Média para alta vulnerabilidade

4 13 Média para baixa vulnerabilidade

5 3 Baixa vulnerabilidade

6 2 Baixíssima vulnerabilidade

FONTE: Dados da pesquisa

A maior parcela (68%) das áreas intraurbanas na RM de Belém foi classificada nos grupos de
maior vulnerabilidade social - média alta a altíssima. Das 38 áreas incluídas nesses grupos, seis foram
consideradas de altíssima vulnerabilidade, das quais duas estão localizadas em Belém (Parque do
Guajará e Ilha do Outeiro). Em Belém, outras nove áreas foram classificadas como de alta vulnerabili-
dade, concentradas nas porções norte e leste da cidade, além da ilha do Mosqueiro (figura 14.1).

146 Marley Vanice Deschamps


FIGURA 14.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS ÁREAS
DE EXPANSÃO – RM BELÉM – 2000.

FONTE: Dados da pesquisa

No outro extremo, as áreas classificadas como de baixa ou baixíssima vulnerabilidade social,


cinco no total, estão todas em Belém e localizam-se entre a região central e o bairro Marco. Em Ana-
nindeua, duas de suas 15 áreas foram consideras de média baixa vulnerabilidade.
Essa distribuição espacial das áreas concentradoras de população, de acordo com sua con-
dição em relação à vulnerabilidade social, mostra claramente um processo excludente. Embora as
áreas mais afastadas do centro metropolitano sejam caracterizadas como de mais alta vulnerabilida-
de social, é no polo que se verificam as ocorrências de maior polarização social.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expresso pela proporção de domicílios em condições inade-
quadas de saneamento68, implicando uma situação de risco, apenas 12,5% das áreas foram classifi-
cadas como de médio baixo ou baixo risco ambiental, sendo nenhuma enquadrada como baixíssimo
(quadro 14.2). Das sete áreas classificadas nesses grupos de risco, apenas uma está fora do polo
metropolitano, em Ananindeua (tabela A.14.7, em anexo).

68 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 147


QUADRO 14.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO
À SITUAÇÃO DE RISCO AMBIENTAL – RM DE BELÉM – 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO
1 24 Altíssimo risco
2 15 Alto risco
3 10 Médio para alto risco
4 5 Médio para baixo risco
5 2 Baixo risco
6 0 Baixíssimo risco
0 0 Sem denominação
FONTE: Dados da pesquisa
NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

No outro extremo, quase 70% das áreas foram classificadas nos dois grupos de maior risco
ambiental; ou seja, são áreas onde mais de 60% dos domicílios apresentam inadequação em termos
das condições de saneamento. Das 39 áreas nessa condição, 22 estão na cidade de Belém, sendo
11 enquadradas como de altíssimo risco e as demais como alto risco ambiental (figura 14.2).

FIGURA 14.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RM DE BELÉM – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

148 Marley Vanice Deschamps


Na leitura espacial desse fenômeno, observa-se uma clara situação de segregação socioespa-
cial, em que, mais uma vez, são algumas áreas centrais do município polo que reúnem as condições
de mais baixo risco ambiental e, a situação fica mais crítica à medida que as áreas se afastam desse
ponto.

c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 14.8, em anexo, e resumidas no quadro 14.3.

QUADRO 14.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO


À SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM BELÉM – 2000
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima
Baixíssimo            
Baixo   2        
Médio baixo 2 1 2      
Médio alto     8 2    
Alto     1 11 3  
Altíssimo     2 4 12 6
FONTE: Dados da pesquisa

A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes, nos quais se observam as diversas situ-
ações das áreas da região metropolitana de Belém em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante, encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnerabi-


lidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante, áreas de
alto risco ambiental mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão estar mais
focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, estão situações de baixo risco
ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com considerável concentra-
ção de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deverão estar
voltadas, principalmente, para as questões sociais.
Na região metropolitana de Belém, nenhuma área foi classificada no terceiro quadrante, no
qual os residentes, mesmo que socialmente vulneráveis, possuem acesso aos serviços básicos de
saneamento. O quadrante 1, onde o risco ambiental e a vulnerabilidade são baixos, envolve ape-
nas 12,5% do total de AEDs da RM de Belém, sendo que apenas uma área não está localizada em
Belém. Importa ressaltar que, nas duas áreas com melhor situação em termos de vulnerabilidade

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 149


socioambiental – Batista Campos e Nazaré/São Brás, pelo menos 1/3 dos domicílios apresentava
problemas de saneamento inadequado.
Dada a precariedade da infraestrutura de saneamento, a maioria das áreas foi classificada nos
quadrantes 2 e 4, que têm em comum o maior risco ambiental. A maior concentração de áreas (68%)
se deu no quadrante 4, sendo que a área com maior vulnerabilidade socioambiental corresponde ao
município Santa Bárbara do Pará, seguida pela ilha do Outeiro, em Belém.
No quadrante 3, que reúne populações que mesmo em condições sociais mais favoráveis, têm
seu hábitat em condição precária, estão incluídas 11 áreas, duas delas em Ananindeua e as demais,
em Belém.

FIGURA 14.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS


DE EXPANSÃO – RM DE BELÉM – 2000.

FONTE: Dados da pesquisa

3.15 Região Metropolitana de Florianópolis

a) Vulnerabilidade social
A RM de Florianópolis é composta por 09 municípios subdivididos em 39 AEDs, das quais 20
(51%) estão no município de Florianópolis. Para cada uma das áreas foram calculados os indicado-
res de desvantagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A 15.1, A 15.2 e A
15.3 (anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à
RM de Florianópolis aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de

150 Marley Vanice Deschamps


cada variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM de Florianópolis.
A RM de Florianópolis apresenta uma situação sociodemográfica e socioeconômica favorá-
vel em relação à média das demais RMs, uma vez que para 18 das 20 variáveis selecionadas, os
valores médios são inferiores à média das RMs estudadas. Entre as duas únicas variáveis que
apresentaram maior valor que o alcançado pelas demais RMs, uma está relacionada com a estrutura
demográfica – pessoas idosas (V9) – e a outra relacionada às desvantagens sociais – adolescentes
fora da escola (V18). Cabe comentar que, no que diz respeito à variável pessoas idosas, a RM de
Florianópolis, assim como outras das regiões Sul e Sudeste do país, é marcada por um processo
mais intenso de envelhecimento da população; entretanto, trata-se de um grupo cuja capacidade de
fazer frente a certos riscos é menor, principalmente quando à condição etária se aliam outras des-
vantagens sociais.
Essa RM se destaca por apresentar um grupo de 13 variáveis com a melhor situação relativa69
entre as 17 RMs consideradas nesse estudo: chefatura de família por menores (V1), idosos (V2) e
mulheres sem cônjuge (V3); famílias com grande número de filhos (V4) e de membros (V5); ado-
lescentes com filhos (V6); insuficiência de renda familiar (V11) e do trabalho (V12); analfabetismo e
crianças fora da escola (V14 e V17); analfabetismo funcional (V15 e 16) e densidade inadequada por
dormitório (V20).

TABELA 15.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS


E SOCIOECONÔMICAS – RM DE FLORIANÓPOLIS - 2000
FLORIANÓPOLIS
VARIÁVEL MÉDIA RMs
MÉDIA CV (%)
V1 0,12 23,55 1,45
V2 3,30 44,30 10,08
V3 6,83 41,31 23,71
V4 1,47 36,71 6,59
V5 0,59 43,82 3,66
V6 5,75 49,65 8,00
V7 0,66 28,10 0,75
V8 25,66 17,93 27,79
V9 5,40 40,80 5,13
V10 37,60 21,90 42,08
V11 2,58 46,38 21,02
V12 11,00 63,81 20,63
V13 44,13 19,23 49,44
V14 4,73 52,31 7,34
V15 14,46 45,62 18,83
V16 5,04 45,94 21,71
V17 2,61 52,74 3,73
V18 18,51 55,86 17,45
V19 61,26 27,31 75,04
V20 13,89 40,39 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

69 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de Florianópolis e a do conjunto de RMs.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 151


Os coeficientes de variação70 indicam que entre as AEDs da RM de Florianópolis existe uma
forte variabilidade da situação social, com 14 das 20 variáveis apresentando valor superior a 30%.
Essa heterogeneidade é maior para as variáveis socioeconômicas, sendo que para quatro delas,
baixo rendimento do trabalho principal (V12), taxa de analfabetismo da população acima de 15 anos
(V14) e crianças e adolescentes fora da escola (V17 e V18), a variabilidade é mais acentuada, com
CV acima de 50%.

TABELA 15.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS


– RM DE FLORIANÓPOLIS – 2000
VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10
V1 1,000 -0,274 0,264 -0,082 -0,153 0,344 -0,107 -0,012 -0,378 -0,062
V2 -0,274 1,000 0,559 -0,487 -0,352 -0,535 -0,562 -0,683 0,981 -0,608
V3 0,264 0,559 1,000 -0,540 -0,508 -0,377 -0,766 -0,772 0,492 -0,762
V4 -0,082 -0,487 -0,540 1,000 0,823 0,648 0,792 0,794 -0,497 0,795
V5 -0,153 -0,352 -0,508 0,823 1,000 0,521 0,695 0,677 -0,325 0,696
V6 0,344 -0,535 -0,377 0,648 0,521 1,000 0,690 0,707 -0,588 0,684
V7 -0,107 -0,562 -0,766 0,792 0,695 0,690 1,000 0,969 -0,556 0,977
V8 -0,012 -0,683 -0,772 0,794 0,677 0,707 0,969 1,000 -0,680 0,994
V9 -0,378 0,981 0,492 -0,497 -0,325 -0,588 -0,556 -0,680 1,000 -0,603
V10 -0,062 -0,608 -0,762 0,795 0,696 0,684 0,977 0,994 -0,603 1,000
V11 -0,168 -0,285 -0,479 0,778 0,622 0,587 0,788 0,732 -0,303 0,758
V12 -0,713 0,157 -0,511 0,349 0,411 -0,083 0,340 0,269 0,247 0,324
V13 -0,441 0,123 -0,487 0,234 0,287 -0,117 0,268 0,208 0,174 0,251
V14 -0,343 -0,330 -0,756 0,653 0,678 0,421 0,822 0,765 -0,284 0,798
V15 -0,539 -0,184 -0,726 0,611 0,635 0,283 0,759 0,690 -0,128 0,734
V16 -0,575 -0,091 -0,688 0,515 0,526 0,179 0,675 0,597 -0,038 0,643
V17 -0,032 0,078 0,142 0,358 0,397 0,307 0,224 0,195 0,059 0,233
V18 -0,449 -0,209 -0,612 0,649 0,635 0,354 0,709 0,668 -0,151 0,711
V19 -0,135 -0,348 -0,678 0,718 0,597 0,522 0,841 0,832 -0,342 0,863
V20 0,096 -0,613 -0,533 0,826 0,746 0,722 0,854 0,884 -0,625 0,875

70 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

152 Marley Vanice Deschamps


VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 -0,168 -0,713 -0,441 -0,343 -0,539 -0,575 -0,032 -0,449 -0,135 0,096
V2 -0,285 0,157 0,123 -0,330 -0,184 -0,091 0,078 -0,209 -0,348 -0,613
V3 -0,479 -0,511 -0,487 -0,756 -0,726 -0,688 0,142 -0,612 -0,678 -0,533
V4 0,778 0,349 0,234 0,653 0,611 0,515 0,358 0,649 0,718 0,826
V5 0,622 0,411 0,287 0,678 0,635 0,526 0,397 0,635 0,597 0,746
V6 0,587 -0,083 -0,117 0,421 0,283 0,179 0,307 0,354 0,522 0,722
V7 0,788 0,340 0,268 0,822 0,759 0,675 0,224 0,709 0,841 0,854
V8 0,732 0,269 0,208 0,765 0,690 0,597 0,195 0,668 0,832 0,884
V9 -0,303 0,247 0,174 -0,284 -0,128 -0,038 0,059 -0,151 -0,342 -0,625
V10 0,758 0,324 0,251 0,798 0,734 0,643 0,233 0,711 0,863 0,875
V11 1,000 0,406 0,195 0,772 0,729 0,692 0,395 0,609 0,690 0,730
V12 0,406 1,000 0,772 0,639 0,785 0,817 0,282 0,733 0,509 0,142
V13 0,195 0,772 1,000 0,515 0,569 0,632 0,134 0,561 0,468 0,046
V14 0,772 0,639 0,515 1,000 0,919 0,883 0,256 0,809 0,774 0,609
V15 0,729 0,785 0,569 0,919 1,000 0,973 0,277 0,841 0,799 0,527
V16 0,692 0,817 0,632 0,883 0,973 1,000 0,224 0,787 0,749 0,418
V17 0,395 0,282 0,134 0,256 0,277 0,224 1,000 0,404 0,284 0,360
V18 0,609 0,733 0,561 0,809 0,841 0,787 0,404 1,000 0,773 0,561
V19 0,690 0,509 0,468 0,774 0,799 0,749 0,284 0,773 1,000 0,632
V20 0,730 0,142 0,046 0,609 0,527 0,418 0,360 0,561 0,632 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

As AEDs da RM de Florianópolis apresentam maior homogeneidade apenas em relação às


variáveis participação das crianças no total da população (V8) e ocupados no setor informal (V13),
situação de 44% dos ocupados nessa RM.
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo com
destaque para as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 15.2).
Grande parte das variáveis apresenta moderado grau de correlação. No que se refere aos
componentes da vulnerabilidade demográfica, destacam-se os indicadores que expressam a partu-
rição entre mulheres jovens (V7), número de crianças e de filhos (V8 e V4) e índice de dependência
infantil (V10), que apresentam moderada correlação (>= 0,600) com mais da metade das variáveis
analisadas.
No que se refere às variáveis socioeconômicas, a taxa de analfabetismo da população jovem
e adulta (V14) é a variável que apresenta maior número de correlações. Destacam-se, também, as
variáveis: insuficiência de renda familiar (V11), densidade inadequada por dormitório (V20) e aquelas
relacionadas à desvantagem educacional da população jovem e adulta (V15, V16, V18 e V19).
Observa-se que a variável crianças fora da escola (V17) não se relaciona com nenhuma das de-
mais e chefatura das famílias por menores (V1) se relaciona apenas com a variável baixo rendimento
no trabalho principal (V12). Destaca-se também a situação de chefatura de família por mulheres sem
cônjuge (V3), em que predominam as correlações negativas. Nesses três casos existe um indicativo
de que essas condições nem sempre são acompanhadas de outras desvantagens sociais.
Para explicar a variabilidade existente entre as AEDs, no que se refere às variáveis de des-
vantagens demográficas e socioeconômicas, utilizou-se a análise fatorial com base na matriz de
correlação de Pearson71. A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as
71 No caso da RM de Belém, todas as variáveis apresentaram comunalidade acima de 60%, não havendo necessidade de retirada

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 153


AEDs, no que se refere às variáveis de desvantagens demográficas e socioeconômicas, pode ser
observada na tabela 15.3. Os três fatores retidos explicaram 84,4% da variância total das 20 vari-
áveis, a partir da diversidade encontrada nas 39 áreas internas da RM de Florianópolis. O primeiro
fator, que possui um autovalor quase 3 vezes superior ao segundo e 7 vezes superior ao terceiro,
explica 56% da variância total, enquanto o segundo explica aproximadamente 19,6% e o terceiro,
somente 7,8%.

TABELA 15.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA PELOS


FATORES COMUNS, COM BASE EM 20 VARIÁVEIS – RM DE FLORIANÓPOLIS - 2000
FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA (%)

1 11,21 56,05 56,05

2 3,91 19,57 75,61

3 1,57 7,84 83,45

FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos três fatores e entre si são apresentadas
na tabela 15.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que
determinam cada fator.

TABELA 15.4 - CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS COM OS TRÊS FATORES COMUNS


ROTACIONADOS PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER
– RM DE FLORIANÓPOLIS – 2000
FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2 3
V1 0,255 -0,775 0,028
V2 -0,874 0,159 0,249
V3 -0,691 -0,598 0,275
V4 0,724 0,288 0,443
V5 0,576 0,359 0,470
V6 0,766 -0,151 0,395
V7 0,848 0,405 0,222
V8 0,918 0,312 0,159
V9 -0,887 0,248 0,198
V10 0,875 0,372 0,211
V11 0,590 0,396 0,501
V12 -0,032 0,931 0,172
V13 -0,025 0,799 -0,020
V14 0,574 0,708 0,208
V15 0,431 0,841 0,221
V16 0,325 0,886 0,162
V17 0,028 0,091 0,875
V18 0,421 0,725 0,337
V19 0,640 0,554 0,257
V20 0,842 0,104 0,400
FONTE: Dados da pesquisa

de nenhuma delas para a determinação dos fatores (ver tabela A 15.4).

154 Marley Vanice Deschamps


O fator 1 combina indicadores demográficos com dois dos indicadores socioeconômicos rela-
cionados com pobreza e desvantagens educacionais. No que se refere aos componentes demográ-
ficos destacam-se as variáveis: chefatura de famílias por idosos e mulheres sem cônjuge, famílias
marcadas pelo elevado número de filhos, de crianças e de idosos e índice de dependência infantil.
O fator 2 especifica a situação de famílias chefiadas por menores relacionando grande parte
dos indicadores socioeconômicos ligados à pobreza e desvantagens educacionais. Já o fator 3 rela-
ciona apenas a condição crianças fora da escola,
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A.15.5, a qual apresenta
os valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão, bem
como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em relação à
área com índice final máximo (AED 4205407999002 localizada em Florianópolis, na área Centro Sul).
Esta apresenta a melhor situação em relação à vulnerabilidade. A AED 4200606001001, representada
pelo município de Águas Mornas, apresenta a pior situação em termos de vulnerabilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas, procedeu-se à análise de agru-
pamentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis dentro da RM de
Florianópolis. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 15.1 e a tabela A.15.6 exibe o
índice final e os respectivos grupos em que foram alocadas as 39 áreas.

QUADRO 15.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS


HOMOGÊNEOS – RM DE FLORIANÓPOLIS - 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 2 Altíssima vulnerabilidade

2 5 Alta vulnerabilidade

3 9 Média para alta vulnerabilidade

4 11 Média para baixa vulnerabilidade

5 10 Baixa vulnerabilidade

6 2 Baixíssima vulnerabilidade

FONTE: Dados da pesquisa

O resultado final pode ser visualizado na figura 15.1 abaixo. A maioria das AEDs da RM de
Florianópolis, 23 (59%), encontra-se nas condições de média baixa até baixíssima vulnerabilidade
social. Contudo, os municípios de Florianópolis, com 18 áreas, e São José, com cinco, concentram
as AEDs assim classificadas. As duas únicas áreas de baixíssima vulnerabilidade situam-se no cen-
tro do município de Florianópolis.
As áreas de média alta a altíssima vulnerabilidade, perfazendo um total de 16 áreas (41%)
englobam os municípios de Águas Mornas, Antônio Carlos, Biguaçu, Governador Celso Ramos,
Santo Amaro da Imperatriz, São Pedro de Alcântara, Palhoça, São José (Skater de Distrito São
José - AED 002, Skater de Distrito Barreiros - AED 004 e AED 003) e Florianópolis (Monte Cristo/
Coloninha e João Paulo/Monte Verde/Saco Grande). As duas áreas classificadas como de altíssima
vulnerabilidade social estão localizadas nos municípios de Águas Mornas e Palhoça (Distrito Ense-
ada do Brito).
A distribuição espacial da população na RM de Florianópolis, de acordo com sua condição em
relação à vulnerabilidade social, mostra claramente um processo excludente, em que aquela popu-
lação em condições de mais alta vulnerabilidade social reside em áreas mais afastadas do centro
metropolitano ou em áreas periféricas a este.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 155


FIGURA 15.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS ÁREAS
DE EXPANSÃO – RM DE FLORIANÓPOLIS – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expresso pela proporção de domicílios em condições inade-
quadas de saneamento72, implicando uma situação de risco, a situação da RM de Florianópolis é
mais favorável, pois 82% das áreas foram classificadas como de médio baixo até baixíssimo risco
ambiental, conforme quadro 15.2 e tabela A.15.7, em anexo.

72 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

156 Marley Vanice Deschamps


QUADRO 15.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO
À SITUAÇÃO DE RISCO AMBIENTAL – RM DE FLORIANÓPOLIS - 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO
1 1 Altíssimo risco
2 2 Alto risco
3 4 Médio para alto risco
4 12 Médio para baixo risco
5 11 Baixo risco
6 9 Baixíssimo risco
0 0 Sem denominação
FONTE: Dados da pesquisa
NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

No outro extremo, apenas 18% das áreas foram classificadas na condição de médio alto até
altíssimo risco, a grande maioria localizada fora do município Florianópolis: Águas Mornas, Palhoça
(Distrito Enseada de Brito), São Pedro de Alcântara, Biguaçu, Florianópolis (João Paulo/Monte Ver-
de/Saco Grande), Governador Celso Ramos e São José (Skater de Distrito São José – AED 002)
(figura 15.2).
A única área considerada de altíssimo risco ambiental, onde mais de 80% dos domicílios apre-
sentavam condições inadequadas de saneamento, está no município de Águas Mornas.

FIGURA 15.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO


– RM DE FLORIANÓPOLIS – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 157


c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A.15.8, em anexo, e resumidas no quadro 15.3.

QUADRO 15.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO


À SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM DE FLORIANÓPOLIS – 2000
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima
Baixíssimo 2 7        
Baixo   2 5 3 1  
Médio baixo   1 6 2 3  
Médio alto       3 1  
Alto       1   1
Altíssimo           1

A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes, nos quais se observam as diversas
situações das áreas da região metropolitana de Florianópolis em relação à vulnerabilidade socioam-
biental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante, encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnerabi-


lidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante, áreas de
alto risco ambiental mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão estar mais
focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, estão situações de baixo risco
ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com considerável concentra-
ção de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deverão estar
voltadas, principalmente, para as questões sociais.
Na Região Metropolitana de Florianópolis 59% das AEDs encontram-se no primeiro quadrante,
sendo que das 23 que compõem este quadrante, 18 encontram-se no município de Florianópolis e
as outras 5 no município de São José.
No terceiro quadrante, onde predomina a combinação de alta vulnerabilidade social com baixo
risco ambiental, estão 23% das AEDs da RM de Florianópolis distribuídas em cinco municípios:
Antônio Carlos, Florianópolis (Monte Cristo/Coloninha), Palhoça (Skater de Distrito de Palhoça AEDs
001, 002, 003 e 004), Santo Amaro da Imperatriz e São José (Skater de Distrito Barreiros - AEDs
003 e 004).
O quarto quadrante, alta vulnerabilidade socioambiental, concentra 18% das AEDs dessa re-
gião, sendo que das sete áreas que o compõem, apenas uma se encontra no município de Florianó-

158 Marley Vanice Deschamps


polis (João Paulo/Monte Verde/Saco Grande) As outras seis áreas estão distribuídas nos muncípios
de Águas Mornas, Palhoça (Enseada do Brito), São José (Skater de Distrito de São José AED 002),
São Pedro de Alcântara, Biguaçu, Governador Celso Ramos (figura 15.3).

FIGURA 15.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL,


SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RM DE FLORIANÓPOLIS – 2000.

FONTE: Dados da pesquisa

Nenhuma área foi classificada no segundo quadrante, baixa vulnerabilidade social com alto
risco ambiental.

3.16 Região Metropolitana de Natal

a) Vulnerabilidade social
A RM de Natal é composta por seis municípios73 subdivididos em 33 AEDs, das quais 21 (64%)
estão no município de Natal. Para cada uma das áreas foram calculados os indicadores de desvanta-
gens demográficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A 16.1, A 16.2 e A 16.3 (anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à
RM de Natal aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de cada
variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM de Natal.
De um modo geral, essa região metropolitana apresenta indicadores acima da média do con-

73 Não foram considerados os municípios de Nísia Floresta e São José de Mipibu, incluídos na região metropolitana a partir de
2002.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 159


junto das 17 RMs, indicativo de um nível mais elevado de desvantagens sociodemográficas e socio-
econômicas. Em relação aos indicadores demográficos, a posição da RM de Natal mostra-se mais
desfavorável74 no que diz respeito à chefia de família por menores, o número de filhos e de membros
das famílias; apenas em relação à gravidez de adolescentes o indicador fica abaixo da média das
RMs estudadas. Quanto às variáveis socioeconômicas, em cinco da dez variáveis, o distanciamento
em relação à média das RMs é mais acentuado, principalmente quanto à taxa de analfabetismo, a
maior dentre todas as RMs. Além disso, os indicadores de renda (V11 e V12) e de analfabetismo
funcional (V15 e V16) apontam para um quadro mais precário na RM de Natal (tabela 16.1).

TABELA 16.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS


DEMOGRÁFICAS E SOCIOECONÔMICAS – RM NATAL – 2000
NATAL
VARIÁVEL
MÉDIA CV (%) MÉDIA RMs
V1 1,85 40,98 1,45
V2 11,86 40,77 10,08
V3 25,27 22,62 23,71
V4 8,68 52,87 6,59
V5 4,92 57,33 3,66
V6 7,19 40,73 8,00
V7 0,786 31,26 0,75
V8 29,46 20,05 27,79
V9 5,47 41,19 5,13
V10 46,14 26,45 42,08
V11 31,18 54,18 21,02
V12 31,68 42,61 20,63
V13 51,03 17,45 49,44
V14 14,24 65,13 7,34
V15 24,71 53,27 18,83
V16 29,57 55,53 21,71
V17 4,24 57,41 3,73
V18 16,86 50,79 17,45
V19 76,85 26,19 75,04
V20 29,39 37,43 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

Os coeficientes de variação75 indicam que entre as AEDs da RM de Natal há forte variabilidade


da situação social, com 15 das 20 variáveis apresentando valor superior a 30%, sendo que oito delas
ultrapassam a 50%. As variáveis que apresentam maior heterogeneidade são fundamentalmente
as mesmas mencionadas acima, em relação às quais a situação da RM de Natal é mais precária, e
dizem respeito às famílias numerosas e aos diversos aspectos das desvantagens educacionais.
Apenas em relação à participação das crianças na população (V8) e à informalidade das ocu-
pações (V13) as AEDs são mais homogêneas (menor CV).
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo, desta-
cando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 16.2).

74 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de Natal e a do conjunto de RMs.


75 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

160 Marley Vanice Deschamps


BELA 16.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS – RM NATAL – 2000
VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10
V1 1,000 -0,188 -0,468 0,691 0,585 0,582 0,637 0,676 -0,322 0,690
V2 -0,188 1,000 0,584 -0,084 0,070 -0,248 -0,258 -0,376 0,965 -0,275
V3 -0,468 0,584 1,000 -0,679 -0,601 -0,549 -0,658 -0,756 0,712 -0,734
V4 0,691 -0,084 -0,679 1,000 0,939 0,737 0,839 0,868 -0,303 0,910
V5 0,585 0,070 -0,601 0,939 1,000 0,671 0,778 0,773 -0,153 0,833
V6 0,582 -0,248 -0,549 0,737 0,671 1,000 0,910 0,889 -0,419 0,883
V7 0,637 -0,258 -0,658 0,839 0,778 0,910 1,000 0,973 -0,451 0,974
V8 0,676 -0,376 -0,756 0,868 0,773 0,889 0,973 1,000 -0,567 0,992
V9 -0,322 0,965 0,712 -0,303 -0,153 -0,419 -0,451 -0,567 1,000 -0,477
V10 0,690 -0,275 -0,734 0,910 0,833 0,883 0,974 0,992 -0,477 1,000
V11 0,691 -0,082 -0,613 0,942 0,873 0,855 0,932 0,923 -0,302 0,953
V12 0,655 0,102 -0,573 0,944 0,917 0,763 0,840 0,822 -0,127 0,875
V13 0,556 0,202 -0,518 0,846 0,888 0,569 0,686 0,656 -0,005 0,726
V14 0,684 0,067 -0,594 0,953 0,923 0,783 0,859 0,840 -0,156 0,892
V15 0,702 0,016 -0,600 0,957 0,906 0,824 0,884 0,873 -0,205 0,917
V16 0,695 0,033 -0,587 0,950 0,897 0,808 0,874 0,862 -0,191 0,907
V17 0,717 -0,141 -0,560 0,828 0,820 0,776 0,861 0,855 -0,316 0,879
V18 0,677 -0,217 -0,682 0,807 0,756 0,865 0,922 0,900 -0,390 0,910
V19 0,621 -0,179 -0,518 0,809 0,714 0,891 0,908 0,903 -0,359 0,904
V20 0,666 -0,185 -0,479 0,797 0,713 0,885 0,920 0,907 -0,372 0,906

VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,691 0,655 0,556 0,684 0,702 0,695 0,717 0,677 0,621 0,666
V2 -0,082 0,102 0,202 0,067 0,016 0,033 -0,141 -0,217 -0,179 -0,185
V3 -0,613 -0,573 -0,518 -0,594 -0,600 -0,587 -0,560 -0,682 -0,518 -0,479
V4 0,942 0,944 0,846 0,953 0,957 0,950 0,828 0,807 0,809 0,797
V5 0,873 0,917 0,888 0,923 0,906 0,897 0,820 0,756 0,714 0,713
V6 0,855 0,763 0,569 0,783 0,824 0,808 0,776 0,865 0,891 0,885
V7 0,932 0,840 0,686 0,859 0,884 0,874 0,861 0,922 0,908 0,920
V8 0,923 0,822 0,656 0,840 0,873 0,862 0,855 0,900 0,903 0,907
V9 -0,302 -0,127 -0,005 -0,156 -0,205 -0,191 -0,316 -0,390 -0,359 -0,372
V10 0,953 0,875 0,726 0,892 0,917 0,907 0,879 0,910 0,904 0,906
V11 1,000 0,956 0,787 0,961 0,973 0,974 0,861 0,872 0,918 0,905
V12 0,956 1,000 0,882 0,984 0,980 0,980 0,797 0,818 0,830 0,795
V13 0,787 0,882 1,000 0,885 0,855 0,849 0,719 0,747 0,567 0,587
V14 0,961 0,984 0,885 1,000 0,994 0,991 0,820 0,852 0,820 0,802
V15 0,973 0,980 0,855 0,994 1,000 0,996 0,827 0,863 0,862 0,845
V16 0,974 0,980 0,849 0,991 0,996 1,000 0,810 0,841 0,867 0,847
V17 0,861 0,797 0,719 0,820 0,827 0,810 1,000 0,892 0,799 0,846
V18 0,872 0,818 0,747 0,852 0,863 0,841 0,892 1,000 0,796 0,822
V19 0,918 0,830 0,567 0,820 0,862 0,867 0,799 0,796 1,000 0,965
V20 0,905 0,795 0,587 0,802 0,845 0,847 0,846 0,822 0,965 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 161


A maioria das variáveis apresenta de moderado a alto grau de correlação. Em relação aos
componentes da vulnerabilidade demográfica, destacam-se os indicadores que expressam a fre-
quência de filhos, o nível de parturição, a presença de crianças menores de 14 anos e o índice de
dependência infantil, todos com altíssima correlação (>= 0,800) com mais da metade das variáveis
analisadas. Ou seja, trata-se de indicadores que relacionam tamanho da família e fase do ciclo fami-
liar, apontando para famílias numerosas, com filhos menores. Quanto às variáveis socioeconômicas,
todas apresentam alta correlação com a maioria das outras variáveis.
Apenas os dois indicadores relacionados à população idosa (V2 e V9) apresentam baixa corre-
lação com as demais variáveis, relacionando-se de modo mais intenso apenas com a condição das
mulheres sem cônjuge que chefiam famílias.
A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que se
refere às variáveis de desvantagem demográficas e socioeconômicas, pode ser observada na tabela
16.3. Os três fatores retidos explicaram 90% da variância total das 1976 variáveis originais, a partir
da diversidade encontrada nas 33 áreas internas da RM de Natal. O primeiro fator, que possui um
autovalor quase seis vezes superior ao segundo, explica 76% da variância total, enquanto o segundo
explica aproximadamente 14%.

TABELA 16.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA


PELOS FATORES COMUNS, COM BASE EM 19 VARIÁVEIS – RM NATAL - 2000
FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA (%)

1 14,50 76,29 76,29

2 2,55 13,44 89,74

FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos três fatores e entre si são apresentadas
na tabela 16.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que
determinam cada fator.

76 No caso da RM de Natal, a variável V1 não foi considerada na determinação dos fatores devido à sua comunalidade ser abaixo
de 60% (tabela A.16.4).

162 Marley Vanice Deschamps


TABELA 16.4 - CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS COM OS DOIS FATORES COMUNS
ROTACIONADOS PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER – RM NATAL – 2000
FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2
V2 0,107 -0,980
V3 -0,541 -0,645
V4 0,941 0,159
V5 0,926 0,004
V6 0,811 0,375
V7 0,885 0,385
V8 0,855 0,495
V9 -0,118 -0,973
V10 0,907 0,394
V11 0,967 0,190
V12 0,980 -0,008
V13 0,882 -0,148
V14 0,985 0,024
V15 0,985 0,080
V16 0,981 0,064
V17 0,863 0,240
V18 0,865 0,329
V19 0,858 0,303
V20 0,853 0,310
FONTE: Dados da pesquisa

O primeiro fator destaca aqueles componentes demográficos que correspondem a situações


familiares marcadas pelo elevado número de membros, adolescentes com experiência reprodutiva e
a presença de crianças, com todos os componentes socioeconômicos - baixa renda, déficits educa-
cionais e condição domiciliar inadequada. O fator 2 especifica a situação da população idosa e das
famílias chefiadas por mulheres sem o cônjuge, sem correlacioná-las com os demais componentes
de desvantagem demográfica e social.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 16.5, a qual apresenta
os valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão, bem
como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em rela-
ção à área com índice final máximo (AED 2408102999014, localizada em Natal, bairros Petrópolis e
Tirol). Esta apresenta a melhor situação em relação à vulnerabilidade. A AED 2402600001002, cor-
respondente à porção rural de Ceará-Mirim, apresenta a pior situação em termos de vulnerabilidade
social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas procedeu-se à análise de agrupa-
mentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis dentro da RM de Natal.
O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 16.1 e a tabela A 16.6 exibe o índice final e
os respectivos grupos em que foram alocadas as 33 áreas.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 163


QUADRO 16.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS – RM NATAL - 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 2 Altíssima vulnerabilidade

2 3 Alta vulnerabilidade

3 9 Média para alta vulnerabilidade

4 5 Média para baixa vulnerabilidade

5 6 Baixa vulnerabilidade

6 8 Baixíssima vulnerabilidade

FONTE: Dados da pesquisa

As duas áreas classificadas como de altíssima vulnerabilidade social são porções rurais dos
municípios de Ceará-Mirim e Macaíba. Das três áreas de alta vulnerabilidade, apenas uma está loca-
lizada em Natal (Cidade Nova, Guarapes e Planalto) e as demais estão nos municípios de Extremoz
e São Gonçalo do Amarante. Interessante observar que, neste município, é a porção urbana que se
encontra em condição de maior vulnerabilidade social (figura 16.1).

FIGURA 16.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO


AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RM NATAL – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

164 Marley Vanice Deschamps


As diversas áreas em situação social favorável (média baixa a baixíssima vulnerabilidade)
estão concentradas no polo metropolitano, mas algumas estão localizadas em Parnamirim: Cen-
tro/BR1010 (baixíssima), Centro antigo/aeroporto/CATRE (baixa) e Centro/Distrito industrial (média
baixa). Em Natal, além de Petrópolis/Tirol, destacam-se, no grupo de baixíssima vulnerabilidade, as
áreas Parque das Dunas/Capim Macio e Candelária.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expresso pela proporção de domicílios em condições inade-
quadas de saneamento77, implicando uma situação de risco, a situação da RM de Natal é mais críti-
ca, uma vez que aumenta o número de áreas classificadas nos dois grupos de maior vulnerabilidade,
representando mais de 1/3 do total de AEDs. As áreas em condição de altíssimo risco são: Cidade
Nova/Guarapes/Planalto e Felipe Camarão, no município de Natal, a porção rural de São Gonçalo do
Amarante e a parte urbana de Macaíba (quadro 16.2 e tabela A 16.7, em anexo).

QUADRO 16.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM


RELAÇÃO À SITUAÇÃO DE RISCO AMBIENTAL – RM DE NATAL - 2000
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO
1 4 Altíssimo risco
2 8 Alto risco
3 4 Médio para alto risco
4 6 Médio para baixo risco
5 7 Baixo risco
6 2 Baixíssimo risco
0 2 Sem denominação
FONTE: Dados da pesquisa
NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

No outro extremo, apenas nove áreas foram consideradas de baixo ou baixíssimo risco am-
biental, com apenas uma delas localizada em Parnamirim (Centro / BR 101). No caso do polo, ape-
nas as áreas Parque das Dunas /Capim Macio e Candelária foram consideradas de baixíssimo risco
ambiental (figura 16.2).

77 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 165


FIGURA 16.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RM DE NATAL – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 16.8, em anexo, e resumidas no quadro 16.3.

QUADRO 16.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO


À SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM DE NATAL – 2000
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima
Baixíssimo 2          
Baixo 6 1        
Médio baixo   5 1      
Médio alto     3   1  
Alto     1 6 1  
Altíssimo       3 1  
FONTE: Dados da pesquisa

166 Marley Vanice Deschamps


A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes, nos quais se observam as diversas situ-
ações das áreas da região metropolitana de Natal em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnerabi-


lidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante, áreas de
alto risco ambiental mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão estar mais
focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, estão situações de baixo risco
ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com considerável concentra-
ção de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deverão estar
voltadas, principalmente, para as questões sociais.
Na região metropolitana de Natal tem-se a maior concentração de áreas (48%) no primeiro
quadrante, sendo que das 15 áreas que compõem este quadrante, apenas duas situam-se fora de
Natal, em Paranamirim (figura 16.3).

FIGURA 16.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, SEGUNDO


AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RM DE NATAL – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 167


As 12 áreas classificadas no quarto quadrante, que constituem a situação de maior vulnerabi-
lidade socioambiental, representam 39% das AEDS da RM, sendo que cinco delas estão localizadas
em Natal.
Das demais áreas, 4 (13%) estão no segundo quadrante, ou seja, envolvem famílias ou pes-
soas em situação de menor vulnerabilidade social residindo em áreas com falta de infraestrutura de
saneamento. Uma dessas áreas está em Paranamirim (Centro/Distrito industrial) e as demais em
Natal (Salinas/Igapó, Pajuçara/Redinha e Santos Reis/Praia do Meio/Areia Preta /Mãe Luiza).

3.17 Região Metropolitana de Maringá

a) Vulnerabilidade social
A RM de Maringá é composta por oito municípios78 subdivididos em 24 AEDs, das quais 14
(58%) estão no município de Maringá. Para cada uma das áreas foram calculados os indicadores de
desvantagens demográficas e socioeconômicas apresentados nas tabelas A 17.1, A 17.2 e A 17.3
(anexo).
Antes de verificar a contribuição das variáveis selecionadas para a definição dos grupos de
vulnerabilidade social, cabe uma apreciação de ordem geral, comparando os valores referentes à
RM de Maringá aos da média das 17 RMs estudadas, bem como o nível de heterogeneidade de cada
variável, dado pelo coeficiente de variação (CV), no conjunto de AEDs da RM de Maringá.
A RM de Maringá apresenta uma situação sociodemográfica e socioeconômica relativamente
favorável. Em relação aos indicadores demográficos, os valores são maiores, comparativamente à
média das RMs79, no que se refere à participação de idosos (V2 e V9), característica que se rela-
ciona, em boa medida, ao já avançado processo de envelhecimento populacional nessa RM. Além
disso, seu quadro demográfico mostra-se mais favorável no que concerne à chefatura familiar por
menores, ao tamanho das famílias e à experiência reprodutiva entre adolescentes.
Quanto às variáveis socioeconômicas, a posição de Maringá, relativamente à média das RMs
estudadas, é muito favorável quanto ao indicador de pobreza (V11), às condições domiciliares (V20)
e ao percentual de crianças fora da escola (V17); quanto a este último indicador, a RM de Maringá
apresenta a melhor situação dentre todas as RMs estudadas. Porém, ela possui um passivo maior
no que se refere à taxa de analfabetismo funcional (V16 e V16) e ao percentual de adolescentes fora
da escola (tabela 17.1)

78 Foram considerados apenas os municípios que integravam a região no ano censitário; posteriormente, foram incluídos outros
oito municípios.
79 Consideraram-se as variações superiores a 20% entre a média da RM de Maringá e a do conjunto de RMs.

168 Marley Vanice Deschamps


TABELA 17.1 - ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS RELATIVAS ÀS VARIÁVEIS
DEMOGRÁFICAS E SOCIOECONÔMICAS – RM MARINGÁ – 2000
MARINGÁ
VARIÁVEL MÉDIA RMs
MÉDIA CV (%)
V1 1,03 45,16 1,45
V2 11,24 27,64 10,08
V3 19,39 18,83 23,71
V4 3,19 40,73 6,59
V5 1,28 62,82 3,66
V6 6,04 53,36 8,00
V7 0,73 25,48 0,75
V8 25,98 13,93 27,79
V9 5,88 28,12 5,13
V10 38,34 17,25 42,08
V11 13,50 52,41 21,02
V12 17,71 39,75 20,63
V13 51,44 11,69 49,44
V14 7,41 49,18 7,34
V15 21,59 34,38 18,83
V16 25,79 35,10 21,71
V17 2,14 67,70 3,73
V18 20,11 43,86 17,45
V19 67,21 25,86 75,04
V20 15,68 40,94 27,11
FONTE: Dados da pesquisa

Os coeficientes de variação80 indicam que entre as AEDs da RM de Maringá há forte variabi-


lidade da situação social, com 12 das 20 variáveis apresentando valor superior a 30%, sendo que
para quatro delas o CV ultrapassa a 50%: famílias com muitos membros (V5), adolescentes com ex-
periência reprodutiva (V6), pobreza (V11) e crianças e adolescentes fora da escola (V17). Observe-
se que, embora a RM de Maringá se destaque relativamente a esses indicadores, internamente na
região há forte diferenciação quanto à situação de sua população.

80 Em termos práticos, se (C.V.(%) < 20%), a distribuição é dita homogênea e os dados estão bastante concentrados em torno
da média; se (20% < C.V.(%) < 30%), a distribuição é dita mais ou menos homogênea; e finalmente, se (C.V.(%) > 30%), a
distribuição é dita heterogênea, e os dados estão bastante dispersos em torno da média. (IGNÁCIO, 2002).

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 169


TABELA 17.2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS – RM MARINGÁ – 2000
VARIÁVEIS V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10
V1 1,000 -0,136 0,008 0,392 0,362 0,618 0,422 0,405 -0,290 0,428
V2 -0,136 1,000 0,085 -0,298 -0,190 0,058 -0,322 -0,529 0,910 -0,464
V3 0,008 0,085 1,000 -0,666 -0,557 -0,468 -0,780 -0,680 0,351 -0,688
V4 0,392 -0,298 -0,666 1,000 0,789 0,502 0,749 0,824 -0,563 0,834
V5 0,362 -0,190 -0,557 0,789 1,000 0,453 0,527 0,596 -0,367 0,609
V6 0,618 0,058 -0,468 0,502 0,453 1,000 0,725 0,634 -0,224 0,672
V7 0,422 -0,322 -0,780 0,749 0,527 0,725 1,000 0,930 -0,601 0,936
V8 0,405 -0,529 -0,680 0,824 0,596 0,634 0,930 1,000 -0,781 0,996
V9 -0,290 0,910 0,351 -0,563 -0,367 -0,224 -0,601 -0,781 1,000 -0,729
V10 0,428 -0,464 -0,688 0,834 0,609 0,672 0,936 0,996 -0,729 1,000
V11 0,515 -0,176 -0,715 0,847 0,642 0,695 0,886 0,874 -0,497 0,899
V12 0,277 0,255 -0,687 0,563 0,457 0,607 0,668 0,502 -0,040 0,536
V13 0,014 0,680 -0,193 0,070 0,248 0,210 -0,048 -0,238 0,593 -0,192
V14 0,504 0,116 -0,719 0,741 0,611 0,775 0,824 0,693 -0,233 0,726
V15 0,464 0,025 -0,781 0,773 0,620 0,727 0,854 0,733 -0,298 0,760
V16 0,441 0,058 -0,789 0,754 0,587 0,727 0,835 0,710 -0,272 0,739
V17 0,656 -0,041 -0,545 0,774 0,666 0,714 0,725 0,694 -0,339 0,727
V18 0,634 -0,178 -0,646 0,818 0,695 0,805 0,898 0,862 -0,471 0,887
V19 0,301 -0,423 -0,687 0,694 0,422 0,480 0,829 0,853 -0,645 0,846
V20 0,477 -0,467 -0,596 0,720 0,500 0,540 0,868 0,912 -0,702 0,910

VARIÁVEIS V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20
V1 0,515 0,277 0,014 0,504 0,464 0,441 0,656 0,634 0,301 0,477
V2 -0,176 0,255 0,680 0,116 0,025 0,058 -0,041 -0,178 -0,423 -0,467
V3 -0,715 -0,687 -0,193 -0,719 -0,781 -0,789 -0,545 -0,646 -0,687 -0,596
V4 0,847 0,563 0,070 0,741 0,773 0,754 0,774 0,818 0,694 0,720
V5 0,642 0,457 0,248 0,611 0,620 0,587 0,666 0,695 0,422 0,500
V6 0,695 0,607 0,210 0,775 0,727 0,727 0,714 0,805 0,480 0,540
V7 0,886 0,668 -0,048 0,824 0,854 0,835 0,725 0,898 0,829 0,868
V8 0,874 0,502 -0,238 0,693 0,733 0,710 0,694 0,862 0,853 0,912
V9 -0,497 -0,040 0,593 -0,233 -0,298 -0,272 -0,339 -0,471 -0,645 -0,702
V10 0,899 0,536 -0,192 0,726 0,760 0,739 0,727 0,887 0,846 0,910
V11 1,000 0,776 0,053 0,878 0,906 0,889 0,808 0,892 0,803 0,841
V12 0,776 1,000 0,499 0,840 0,818 0,827 0,603 0,661 0,442 0,448
V13 0,053 0,499 1,000 0,301 0,238 0,241 0,212 0,101 -0,286 -0,281
V14 0,878 0,840 0,301 1,000 0,960 0,947 0,835 0,868 0,598 0,637
V15 0,906 0,818 0,238 0,960 1,000 0,991 0,804 0,877 0,746 0,729
V16 0,889 0,827 0,241 0,947 0,991 1,000 0,790 0,861 0,736 0,708
V17 0,808 0,603 0,212 0,835 0,804 0,790 1,000 0,848 0,564 0,597
V18 0,892 0,661 0,101 0,868 0,877 0,861 0,848 1,000 0,736 0,829
V19 0,803 0,442 -0,286 0,598 0,746 0,736 0,564 0,736 1,000 0,919
V20 0,841 0,448 -0,281 0,637 0,729 0,708 0,597 0,829 0,919 1,000
FONTE: Dados da pesquisa

170 Marley Vanice Deschamps


Por outro lado, há menor desigualdade espacial quanto à chefia familiar por mulheres sem
cônjuge, participação de crianças na população das áreas, índice de dependência infantil e grau de
informalidade das ocupações, todas variáveis cujo CV é inferior a 20%.
A matriz a seguir apresenta as inter-relações existentes entre as variáveis em estudo, desta-
cando-se as correlações maiores ou iguais a 60% (tabela 17.2).
A maioria das variáveis apresenta de moderado a alto grau de correlação. Em relação aos
componentes da vulnerabilidade demográfica destacam-se os indicadores que expressam o nível de
parturição, o percentual de crianças na população e o nível de dependência infantil.
Quanto às variáveis socioeconômicas, destacam-se aquelas relacionadas ao analfabetismo
funcional (V14, V15 e V16), à pobreza (V11) e adolescentes fora da escola (V18), as duas últimas
apresentando altíssima correlação (>= 0,800) com mais da metade das variáveis analisadas.
Alguns indicadores apresentam baixa correlação com a maioria das variáveis: chefatura fami-
liar por menores (V1), população idosa (V2 e V9) e informalidade das ocupações (V13). Observe-se
que a chefia por menores está em associação com gravidez na adolescência e não frequência à
escola.
A importância dos fatores na explicação da variabilidade existente entre as AEDs, no que se
refere às variáveis de desvantagens demográficas e socioeconômicas, pode ser observada na tabela
17.3. Os três fatores retidos explicaram 89% da variância total das 1981 variáveis originais, a partir da
diversidade encontrada nas 24 áreas internas à RM de Maringá. O primeiro fator, que possui um au-
tovalor quatro vezes superior ao segundo fator e 10 em relação ao terceiro, explica 64% da variância
total, enquanto os outros dois explicam, respectivamente, 17% e 7% dessa variância.

TABELA 17.3 - AUTOVALORES E PERCENTAGEM DA VARIÂNCIA EXPLICADA


PELOS FATORES COMUNS, COM BASE EM 19 VARIÁVEIS – RM MARINGÁ – 2000

FATOR AUTOVALOR (%) VARIÂNCIA (%) VARIÂNCIA ACUMULADA (%)

1 12,25 64,47 64,47

2 3,32 17,49 81,96

3 1,28 6,75 88,71

FONTE: Dados da pesquisa

As variáveis mais correlacionadas com cada um dos três fatores e entre si são apresentadas
na tabela 17.4, destacando as correlações acima de 60%, as quais correspondem às variáveis que
determinam cada fator.

81 A variável V5 não foi considerada na determinação dos fatores devido à sua comunalidade ser abaixo de 60% (tabela A
17.4).

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 171


TABELA 17.4 - CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS COM OS TRÊS FATORES COMUNS ROTACIONA-
DOS PELO MÉTODO VARIMAX COM NORMALIZAÇÃO DE KAISER – RM MARINGÁ – 2000
FATOR COMUM
VARIÁVEL
1 2 3

V1 0,132 -0,120 0,950

V2 -0,017 0,939 -0,003

V3 -0,935 0,048 0,167

V4 0,773 -0,269 0,283

V6 0,583 0,061 0,645

V7 0,857 -0,323 0,294

V8 0,761 -0,552 0,286

V9 -0,328 0,889 -0,139

V10 0,779 -0,495 0,320

V11 0,864 -0,191 0,385

V12 0,831 0,337 0,188

V13 0,242 0,844 0,074

V14 0,857 0,136 0,434

V15 0,909 0,042 0,346

V16 0,909 0,067 0,325

V17 0,662 -0,018 0,623

V18 0,778 -0,180 0,552

V19 0,756 -0,506 0,121

V20 0,700 -0,546 0,306

FONTE: Dados da pesquisa

O fator 1 está associado à presença de famílias numerosas que vivenciam desvantagens so-
ciais ligadas à pobreza, déficits educacionais e condições domiciliares inadequadas; entretanto, tais
condições estão negativamente relacionadas com a presença de chefatura feminina sem cônjuge.
O fator 2 particulariza a diferenciação espacial vinculada à presença de população idosa e
informalidade da ocupação. Por fim, o terceiro fator destaca a chefia familiar por menores associada
com gravidez na adolescência e crianças fora da escola.
O resultado final da análise fatorial encontra-se resumido na tabela A 17.5, a qual apresenta
os valores dos escores fatoriais para cada área estudada, estimados pelo método de regressão, bem
como o escore fatorial final e o índice final que informa a posição de cada uma das áreas em relação
à área com índice final máximo (AED 4115200001003, localizada em Maringá, na região da UEM).
Esta apresenta a melhor situação em relação à vulnerabilidade. A AED 4101150001001, referente ao
município de Iguaraçu, apresenta a pior situação em termos de vulnerabilidade social.
A partir do índice de classificação de cada uma das áreas, procedeu-se à análise de agru-
pamentos das mesmas, identificando-se grupos os mais homogêneos possíveis dentro da RM de
Maringá. O resultado do agrupamento é apresentado no quadro 17.1 e a tabela A 17.6 exibe o índice
final e os respectivos grupos em que foram alocadas as 24 áreas.

172 Marley Vanice Deschamps


QUADRO 17.1 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS
– RM MARINGÁ – 2000.
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 1 Altíssima vulnerabilidade
2 2 Alta vulnerabilidade
3 4 Média para alta vulnerabilidade
4 5 Média para baixa vulnerabilidade
5 11 Baixa vulnerabilidade
6 1 Baixíssima vulnerabilidade

FONTE: Dados da pesquisa

A maior parcela (71%) das AEDs foram classificadas nos três grupos de menor vulnerabilidade
social, particularmente no grupo de baixa vulnerabilidade. Na realidade, esse resultado decorre da
situação de Maringá, que possui 14 das 17 áreas desses grupos. As outras três, na condição média
baixa, estão localizadas no município de Sarandi, nas áreas Jardim Independência, Centro Norte e
Linha do Trem. Em Maringá, a única área de baixíssima vulnerabilidade corresponde à área UEM e
as duas na condição média baixa são Olímpico/Zona Norte e Jardim Alvorada (figura 17.1).

FIGURA 17.1 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIAL, SEGUNDO AS ÁREAS


DE EXPANSÃO – RM MARINGÁ – 2000.

FONTE: Dados da pesquisa

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 173


Todas as áreas classificadas como de média alta a altíssima vulnerabilidade social estão fora
do município polo. Com exceção de Paiçandu e Sarandi, estes municípios possuem baixo nível de
integração à dinâmica propriamente metropolitana nessa região.

b) Risco ambiental
Em relação ao risco ambiental, expresso pela proporção de domicílios em condições inadequa-
das de saneamento82, implicando uma situação de risco, há uma inversão, relativamente ao quadro
social, pois 2/3 das áreas são classificadas nos três grupos de maior risco, principalmente no nível
altíssimo, no qual estão enquadradas as áreas em que mais de 80% dos domicílios não possuem
condições adequadas de saneamento (quadro 17.2 e tabela A 17.7, em anexo).

QUADRO 17.2 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM


RELAÇÃO À SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL – RM MARINGÁ – 2000.
GRUPO NÚMERO DE ÁREAS DENOMINAÇÃO DO GRUPO

1 8 Altíssimo risco

2 3 Alto risco

3 5 Médio para alto risco

4 2 Médio para baixo risco

5 6 Baixo risco

6 0 Baixíssimo risco

0 0 Sem denominação

FONTE: Dados da pesquisa

NOTA: (0) Sem classificação quanto ao risco ambiental

Com exceção da área correspondente ao município de Ângulo, todas as demais, classificadas


na condição de altíssimo risco, pertencem aos três municípios que conformam a espacialidade pro-
priamente metropolitana: Paiçandu, Sarandi e Maringá. Neste último município, as duas áreas com
maior risco ambiental são Olímpico/Zona Norte e Horto Florestal (figura 17.2).

82 Relacionada à falta de acesso a esgoto adequado, água canalizada e coleta de lixo, destacando-se que esses serviços são ofereci-
dos somente nas áreas urbanas.

174 Marley Vanice Deschamps


FIGURA 17.2 – RISCO AMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EXPANSÃO – RM MARINGÁ – 2000

FONTE: Dados da pesquisa

Nenhuma área foi classificada como de baixíssima vulnerabilidade ambiental e todas que fo-
ram incluídas na condição média baixa e baixa encontram-se em Maringá, com a melhor situação
verificada na área Jardim São Jorge e Mandacaru.

c) Vulnerabilidade socioambiental
A seguir, procede-se a análise da vulnerabilidade socioambiental por meio da leitura cruzada
das duas situações anteriores: vulnerabilidade social e risco ambiental. Essas informações foram
sistematizadas na tabela A 17.8, em anexo, e resumidas no quadro 17.3.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 175


QUADRO 17.3 - NÚMERO DE ÁREAS SEGUNDO GRUPOS HOMOGÊNEOS EM RELAÇÃO
À SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL E RISCO AMBIENTAL – RM MARINGÁ – 2000
VULNERABILIDADE SOCIAL
RISCO AMBIENTAL
Baixíssima Baixa Média baixa Média alta Alta Altíssima
Baixíssimo            
Baixo 1 5        
Médio baixo   1 1      
Médio alto   4     1  
Alto       2 1  
Altíssimo   1 4 2   1
FONTE: Dados da pesquisa

A leitura do quadro acima foi dividida em quadrantes, nos quais se observam as diversas situ-
ações das áreas da região metropolitana de Maringá em relação à vulnerabilidade socioambiental:

1º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

2º quadrante: combinação de baixa vulnerabilidade social com alto risco ambiental

3º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com baixo risco ambiental

4º quadrante: combinação de alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental

No primeiro quadrante, encontram-se as áreas com as melhores situações quanto à vulnerabi-


lidade socioambiental; no quarto quadrante, as áreas mais críticas; no segundo quadrante, áreas de
alto risco ambiental mas de baixa vulnerabilidade social, indicando que as ações deverão estar mais
focadas em infraestrutura de saneamento; e no terceiro quadrante, estão situações de baixo risco
ambiental, ou seja, há provisão de infraestrutura de saneamento, mas com importante concentração
de famílias em situação de vulnerabilidade social. Para estas últimas, as ações deverão estar volta-
das, principalmente, para as questões sociais.
Apenas 1/3 das áreas foram classificadas no quadrante 1, aquele que expressa a melhor com-
binação das condições social e ambiental, sendo que todas as áreas assim classificadas pertencem
a Maringá (figura 17.3).
Mas é o quadrante 2 que possui o maior número de áreas, e é esse posicionamento que dife-
rencia Maringá de todas as demais regiões no Sul do país, as quais apresentam indicadores sociode-
mográficos não tão diferenciados relativamente aos de Maringá, mas têm a questão do saneamento
melhor resolvida, tanto que nessas outras regiões a maior parcela das áreas fica no quadrante 1
(acima de 55% das áreas).

176 Marley Vanice Deschamps


FIGURA 17.3 – GRAU DE VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, SEGUNDO AS ÁREAS DE EX-
PANSÃO – RM MARINGÁ – 2000.

FONTE: Dados da pesquisa

As sete áreas classificadas no quarto quadrante, que constituem a situação de maior vulnera-
bilidade socioambiental, representam cerca de 29% das AEDS da RM de Maringá e todas situam-se
fora do município polo. Dentre as RMs da região Sul, este é o maior percentual de áreas no quadran-
te 4, pior situação de vulnerabilidade socioambiental.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 177


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura sobre a questão da vulnerabilidade social enfatiza sua natureza multidimensional,


o que tem ensejado um esforço de precisar essas dimensões e seus relacionamentos. No presente
estudo, procurou-se operacionalizar esse conceito conjugando aspectos demográficos e sociais que
afetam a capacidade de famílias e indivíduos fazerem frente a situações de riscos. A operacionaliza-
ção desses aspectos levou à definição de um conjunto de variáveis referentes ao tipo de chefatura
familiar, padrão reprodutivo, participação de crianças e idosos na população, pobreza, educação e
condição domiciliar.
Nesse sentido, uma etapa fundamental do estudo foi a elaboração, por meio do uso de téc-
nicas de análise multivariada, de uma tipologia capaz de diferenciar a situação de vulnerabilidade
social das áreas de expansão da amostra (AEDs) dentro de cada região metropolitana. Optou-se
por aplicar a análise multivariada separadamente para cada uma das Regiões Metropolitanas (RMs)
estudadas, dado que a vulnerabilidade social, conforme visto anteriormente, tem um componente
contextual, ou seja, seu grau é determinado comparativamente no território.
Como afirmado na metodologia, para a construção da tipologia, foi aplicada, inicialmente, a
técnica de análise fatorial, a qual permite avaliar as relações internas de um conjunto de variáveis
com o objetivo de identificar um menor número de fatores que apresentem aproximadamente o mes-
mo total de informações expresso pelas variáveis originais.
Considerando-se os resultados dessa análise para as 17 regiões estudadas, é possível verifi-
car quais dimensões demográficas e sociais tiveram maior relevância na determinação dos fatores
que explicam a variabilidade existente entre as unidades espaciais em cada uma das regiões.
Em 12 das 17 RMs foram definidos três fatores síntese da variabilidade existente entre as
AEDs, sendo que em 11 casos o primeiro fator explicava mais de 70% da variância total; apenas na
RM de Florianópolis esse fator ficou abaixo de 65%.
Mais importante, porém, é verificar quais variáveis estavam envolvidas na definição desse fa-
tor principal. Em relação às variáveis demográficas, as principais componentes envolvidas estavam
relacionadas ao tamanho das famílias (número de filhos e membros), ao nível de parturição e à pre-
sença de crianças (participação na população e nível de dependência). Esse conjunto de variáveis
aponta para uma situação onde se destacam famílias numerosas, em fase inicial do ciclo familiar, no
qual o nível de dependência infantil é mais elevado. As áreas mais vulneráveis estão associadas à
maior ocorrência desse perfil demográfico.
Em relação aos indicadores socioeconômicos, as componentes com maior peso na definição
do fator principal relacionam-se à questão da pobreza, enquanto insuficiência da renda familiar e
baixo rendimento do trabalho, e ao problema do analfabetismo da população jovem e adulta.
Os demais fatores geralmente particularizavam a situação da população idosa, da chefia fa-
miliar por mulheres sem cônjuge e, em número menor de regiões, a questão da chefia familiar por
menores associada à experiência da gravidez na adolescência. Cabe ressaltar que no caso dos
idosos e mulheres chefes sem cônjuge, geralmente as variáveis correspondentes apresentavam
sinal negativo, indicando que esse tipo de chefia não estava, necessariamente, associado às demais
componentes de desvantagem sociodemográfica. Na realidade, a ocorrência desse tipo de chefia e
a presença de idosos são relativamente maiores em áreas de menor vulnerabilidade social.

178 Marley Vanice Deschamps


A tabela 1 abaixo apresenta uma síntese da questão da vulnerabilidade socioambiental nas
RMs estudadas, por meio do posicionamento das AEDs nos quadrantes que relacionam níveis de
vulnerabilidade social e de risco ambiental, este percebido enquanto condições inadequadas de sane-
amento. Cabe lembrar que, no caso do risco ambiental, os agrupamentos foram arbitrados em função
do percentual de domicílios em condição de inadequação, com classes iguais para todas as regiões.
As 17 regiões estudadas envolviam, em 2000, um total de 2.533 AEDs, sendo que quase a
metade destas áreas pertence às RMs de São Paulo e do Rio de Janeiro. Analisando-se a distribui-
ção dessas áreas pelos quatro quadrantes, verifica-se uma situação de polarização quanto à vulne-
rabilidade socioambiental, pois houve uma concentração de AEDs nas duas situações extremas. O
primeiro quadrante, combinação de baixa vulnerabilidade social com baixo risco ambiental, concen-
trou 46,8% de todas as AEDs, e o quadrante 4, alta vulnerabilidade social com alto risco ambiental,
concentrou 32,6% do total.

TABELA 1 – NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO DAS ÁREAS DE EXPANSÃO DA AMOSTRA


SEGUNDO QUADRANTES E REGIÕES METROPOLITANAS.
ÁREAS DE EXPANSÃO DA AMOSTRA
REGIÕES METROPOLITANAS Número %
Total Q1 Q2 Q3 Q4 Q1 Q2 Q3 Q4 Total
São Paulo 802 475 123 6 198 59,2 15,3 0,7 24,7 100,0
Rio de Janeiro 411 175 9 47 180 42,6 2,2 11,4 43,8 100,0
Belo Horizonte 147 36 0 54 57 24,5 0,0 36,7 38,8 100,0
Porto Alegre 163 90 3 39 31 55,2 1,8 23,9 19,0 100,0
Brasília 143 66 8 19 50 46,2 5,6 13,3 35,0 100,0
Curitiba 111 69 6 6 30 62,2 5,4 5,4 27,0 100,0
Salvador 107 47 7 3 50 43,9 6,5 2,8 46,7 100,0
Recife 128 23 57 0 48 18,0 44,5 0,0 37,5 100,0
Fortaleza 98 22 34 0 42 22,4 34,7 0,0 42,9 100,0
Campinas 108 65 1 24 18 60,2 0,9 22,2 16,7 100,0
Manaus 39 2 21 0 16 5,1 53,8 0,0 41,0 100,0
Vitória 60 35 2 3 20 58,3 3,3 5,0 33,3 100,0
Goiânia 66 28 15 0 23 42,4 22,7 0,0 34,8 100,0
Belém 56 7 11 0 38 12,5 19,6 0,0 67,9 100,0
Florianópolis 39 23 0 9 7 59,0 0,0 23,1 17,9 100,0
Natal 31 15 4 0 12 48,4 12,9 0,0 38,7 100,0
Maringá 24 8 9 0 7 33,3 37,5 0,0 29,2 100,0
TOTAL 2.533 1.186 310 210 827 46,8 12,2 8,3 32,6 100,0
Fonte: Dados da pesquisa.

Uma outra forma de verificar essa polarização é investigar em que medida, áreas de menor
ou maior vulnerabilidade social tinham acesso a infraestrutura adequada de saneamento. De um
total de 1.037 AEDs com maior vulnerabilidade social (quadrantes 3 e 4), apenas 20% tinham nível
expressivo de acesso a esse tipo de infraestrutura. No outro extremo, dentre as áreas com menor
vulnerabilidade social (quadrantes 1 e 2), quase 80% tinham acesso a infraestrutura adequada de
saneamento. Entretanto, mesmo nesse caso, havia, em 2000, 310 áreas com problemas de risco
ambiental associado à deficiência de saneamento, sendo que 40% dessas áreas estavam na RM de
São Paulo e as demais se distribuíam fundamentalmente pelas regiões metropolitanas do Norte e
Nordeste.

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 179


Quando se observam os polos metropolitanos, a situação é mais favorável, pois quase 2/3 de
suas áreas situam-se no quadrante 1 e apenas 17,8%, no quadrante 4 (tabela 2 ).

TABELA 2 – NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO DAS ÁREAS DE EXPANSÃO DA AMOSTRA


SEGUNDO QUADRANTES E CIDADES POLOS
ÁREAS DE EXPANSÃO DA AMOSTRA
POLOS Número %
Total Q1 Q2 Q3 Q4 Q1 Q2 Q3 Q4 Total
São Paulo 456 323 55 4 64 70,8 12,1 0,9 14,0 97,8
Rio de Janeiro 170 123 0 26 21 72,4 0,0 15,3 12,4 100,0
Belo Horizonte 58 29 0 23 6 50,0 0,0 39,7 10,3 100,0
Porto Alegre 49 37 0 9 3 75,5 0,0 18,4 6,1 100,0
Brasília 106 66 4 18 18 62,3 3,8 17,0 17,0 100,0
Curitiba 59 52 1 1 5 88,1 1,7 1,7 8,5 100,0
Salvador 88 44 7 2 35 50,0 8,0 2,3 39,8 100,0
Recife 53 11 32 0 10 20,8 60,4 0,0 18,9 100,0
Fortaleza 71 19 32 0 20 26,8 45,1 0,0 28,2 100,0
Campinas 49 36 1 6 6 73,5 2,0 12,2 12,2 100,0
Manaus 39 2 21 0 16 5,1 53,8 0,0 41,0 100,0
Vitória 8 7 0 1 0 87,5 0,0 12,5 0,0 100,0
Goiânia 39 27 7 0 5 69,2 17,9 0,0 12,8 100,0
Belém 38 6 9 0 23 15,8 23,7 0,0 60,5 100,0
Florianópolis 20 18 0 1 1 90,0 0,0 5,0 5,0 100,0
Natal 21 13 3 0 5 61,9 14,3 0,0 23,8 100,0
Maringá 14 8 6 0 0 57,1 42,9 0,0 0,0 100,0
TOTAL 1.338 821 178 91 238 61,4 13,3 6,8 17,8 99,3
Fonte: Dados da pesquisa.

Entretanto, considerando-se as 1.137 áreas com maior risco ambiental (quadrantes 2 e 4), per-
cebe-se que mais de 1/3 destas estão localizadas nas cidades polos das regiões metropolitanas.
Há importante diferenciação entre as regiões metropolitanas no que diz respeito à vulnerabilidade
socioambiental. Considerando-se, na tabela 1, o percentual de áreas no quadrante 1, verifica-se que em
seis regiões esse percentual é superior a 55%: Campinas, Florianópolis, Porto Alegre, que podem ser
consideradas as com melhores situações, pois além do elevado percentual no quadrante 1, têm parcela
pequena das áreas no quadrante 4. As outras RMs são: Curitiba, São Paulo e Vitória, as quais, porém,
têm pelo menos 1/3 de suas AEDs em situação de maior risco ambiental (quadrantes 2 e 4).
No outro extremo, as RMs de Manaus, Fortaleza, Rio de Janeiro, Salvador e Belém se dis-
tinguem pelo elevado percentual (mais de 40%) de áreas no quadrante 4. Adicionando-se as áreas
incluídas no quadrante 2, Manaus, Fortaleza e Belém passam a ter mais de ¾ de suas AEDs em
situação de maior risco ambiental, tornando-se as regiões com a situação mais desfavorável em
termos socioambientais.

180 Marley Vanice Deschamps


TABELA 3 – INDICADORES SOCIODEMOGRÁFICOS SEGUNDO QUADRANTES
– BELÉM E CAMPINAS - 2000.
DIFERENÇA
BELÉM CAMPINAS BELÉM/ CAM-
INDICADORES PINAS (%)
Q1 Q4 Q1 Q4 Q1 Q4
Percentagem de famílias chefiadas por pessoas menores V1 1,0 2,7 0,7 1,4 54,9 92,6
Percentagem de famílias chefiadas por pessoas idosas V2 17,2 6,6 13,7 6,6 25,0 -0,6
Percentagem de famílias chefiadas por mulheres sem cônjuge V3 34,5 24,9 21,4 15,7 61,2 58,4
Percentagem de famílias com 4 filhos ou mais V4 3,7 10,1 3,4 8,1 10,5 25,0
Percentagem de famílias com 7 membros ou mais V5 3,2 5,9 1,4 4,0 119,4 48,0
Percentagem de adolescentes com experiência reprodutiva V6 3,7 10,4 4,3 8,7 -14,6 18,4
Parturição - mulheres de 10 a 34 anos V7 0,4 1,0 0,5 0,9 -23,5 6,2
Percentagem de crianças de 0 a 14 anos V8 20,0 33,6 21,6 32,1 -7,5 4,9
Percentagem de pessoas com idade acima de 64 anos V9 8,4 3,0 7,6 3,2 10,8 -7,9
Índice de dependência infantil V10 27,9 53,4 30,7 49,7 -9,0 7,4
Percentagem de famílias com renda insuficiente V11 10,3 39,5 6,3 18,6 63,4 112,6
Percentagem de ocupados com baixo rendimento no trabalho
V12 15,9 34,1 6,6 10,3 140,6 231,7
principal
Percentagem de ocupados no setor informal V13 47,7 62,2 41,5 43,8 14,9 42,1
Taxa de analfabetismo da população de 15 anos e mais V14 1,5 6,8 3,9 8,7 -62,2 -22,0
Taxa de analfabetismo funcional da população de 15 anos e mais V15 6,1 22,2 13,1 23,7 -53,2 -6,5
Taxa de analfabetismo funcional dos chefes de famílias V16 6,2 25,1 15,2 27,3 -59,2 -8,2
Percentagem de crianças fora da escola V17 1,7 5,3 2,4 5,3 -28,4 0,2
Percentagem de adolescentes fora da escola V18 6,8 18,6 11,1 25,5 -38,8 -27,2
Percentagem de jovens e adultos com nível de escolaridade
V19 52,2 89,1 60,8 87,7 -14,0 1,6
inadequado
Percentagem de domicílios com densidade por dormitório inadequada V20 17,9 49,9 17,1 37,2 4,2 34,2

Fonte: Dados da pesquisa

Uma vez que na definição da vulnerabilidade social foi considerado o contexto de cada região
metropolitana, é importante verificar o quanto uma área situada, por exemplo, no quadrante 1 em
uma região de baixa vulnerabilidade socioambiental, difere de outra, no mesmo quadrante, em uma
região de alta vulnerabilidade.
Para este fim, tomaram-se duas regiões em posição extrema em termos de vulnerabilidade
socioambiental, Campinas e Belém, e compararam-se os valores médios das 20 variáveis sociode-
mográficas das AEDs, para os quadrantes 1 e 4 (tabela 3).
Apesar das diferenças, como esperado, serem mais acentuadas internamente nas regiões -
entre áreas do quadrante 1 e do quadrante 4 -, há algumas diferenças relevantes quanto ao perfil
sociodemográfico das áreas de um mesmo quadrante, entre as duas regiões. Observa-se que Belém
apresenta percentuais mais elevados em relação a alguns indicadores: chefia familiar por menores
ou por mulheres sem cônjuge, famílias numerosas, pobreza, informalidade das ocupações e condi-
ção do domicílio. Por sua vez, em Campinas, a situação relativa ao conjunto de indicadores educa-
cionais é bem mais favorável do que em Belém, embora a diferenciação entre regiões, neste caso,
seja mais expressiva para as áreas situadas no quadrante 1.
Por último, vale ressaltar que o estudo aqui desenvolvido é apenas o início de uma discussão
maior acerca do processo de segregação socioambiental. Cada Região Metropolitana deve utilizar

Vulnerabilidade Socioambiental das Regiões Metrópolitanas Brasileiras 181


os resultados da cartografia da vulnerabilidade social e fazer a sobreposição com eventuais cartas
sobre riscos ambientais específicos de sua região, devidamente georreferenciados. Essas cartas po-
dem conter áreas com risco de alagamento, de deslizamentos, de estarem expostas à poluição etc.
Além disso, quando da realização do censo demográfico de 2010, a análise poderá se dar em
torno dos avanços ocorridos durante a primeira década dos anos 2000, por meio da reprodução da
metodologia aqui desenvolvida.

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