Eletrônica de Potência: Felipe de Oliveira Balder
Eletrônica de Potência: Felipe de Oliveira Balder
DE POTÊNCIA
Felipe de
Oliveira Balder
DC/CA - Inversor
monofásico, inversor
trifásico; CA/CA –
cicloconversor
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste capítulo, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Uma aplicação muito comum dos dispositivos da eletrônica de potência
é na conversão de corrente alternada (CA), fornecida pela concessionária
de energia, em corrente contínua (CC), para alimentar vários circuitos ele-
trônicos presentes no nosso dia a dia. Entretanto, a eletrônica de potência
permitiu que a conversão para corrente alternada, antes praticamente
inexistente, pudesse ser desenvolvida.
A conversão para corrente alternada está presente em diversos equi-
pamentos, como os inversores de frequência, atuando nas indústrias e
nos sistemas fotovoltaicos, permitindo a geração de energia em corrente
alternada a altas potências e podendo gerar sinais com altas frequências,
de modo a permitir o controle de velocidade de motores síncronos.
Dentre outras aplicações, podemos citar os nobreaks (do inglês, UPS,
uninterruptible power supply, fonte de energia ininterrupta), compensado-
res de tensão, sistemas de transmissão flexível em corrente alternada (do
inglês, FACTS, Flexible AC Transmission System). Outro dispositivo que gera
corrente alternada em sua saída é o cicloconversor, cuja energia terá uma
frequência menor que a da entrada, cuja aplicação está no acionamento
de grandes motores em baixa velocidade.
2 DC/CA - Inversor monofásico, inversor trifásico; CA/CA – cicloconversor
Inversores monofásicos
A invenção dos motores elétricos no século XIX trouxe grandes inovações para
a indústria, alterando seus métodos de produção. No século XX, que viven-
ciou o nascimento e grande crescimento da eletrônica em geral, as formas de
acionamentos de motores foram se tornando cada vez mais eficientes, fazendo
com que os motores de corrente alternada pudessem ter um lugar de destaque
em conjunto com os inversores de frequência (SAWA; KUME, 2004). Em
todos os tipos de aplicação industrial, o controle de velocidade de um motor
é de extrema importância e as inovações que a eletrônica de potência trouxe
foram cruciais nesse ponto (BOSE, 1993).
Em termos gerais, um inversor de frequência converte energia em CC para
energia em CA. Essa energia é representada por uma forma de onda cujas
amplitude e frequência podem ser definidas de acordo com certos parâmetros
de controle para a aplicação. Tradicionalmente, a energia em CA é representada
por uma senoide e tem as seguintes características:
1. é periódica;
2. varia entre um valor positivo e um valor negativo;
3. tem valor médio nulo.
S1 S3 S1 S3
VO VO
VCC VCC
S4 S2 S4 S2
(a) (b)
Figura 1. Circuito ponte H.
S1 S3 S1 S3
VO VO
VCC VCC
S4 S2 S4 S2
VO
+ VCC S1 e S2 S1 e S2
– VCC S3 e S4 S3 e S4
{
VCC VCC –Rt/L T
+ (Imin – )e , 0<t<
R R 2
iL (t) = (1)
V V T
– CC + (I + CC ) e–R(t – T/2), <t<T
R max R 2
( )
VCC 1 – e–RT/2L
Imax = –Imin = (2)
R 1 + e–RT/2L
O valor eficaz da corrente, IRMS (RMS vem do inglês, root mean square),
pode ser obtido utilizando a equação (3), e, como a forma de onda é simétrica,
pode-se considerar apenas metade do período.
2
2 T/2 VCC V
IRMS = ∫ + (Imin – CC ) e–RT/L dt (3)
T 0 R R
PL = R ∙ IRMS2 (4)
VO
S1 D1 D3 S3
VO
t
VCC
IO
S4 D4 D2 S2 S1 e S2 S3 e S4
D1 e D2 D3 e D4
S1 S3 S1 S3
VO = 0 VO = 0
VCC VCC
S4 S2 S4 S2
VCC
T/2 T
0 t
α α α α
VCC
S1 fechada
t
S2 fechada
t
S3 fechada
t
S4 fechada
t
Para tornar a forma de onda mais próxima de uma senoide, várias pontes
H podem ser associadas, onde cada circuito terá um controle de amplitude
diferente, gerando sinais mais complexos, como pode ser visto na Figura 6.
Análise de harmônicos
Como o objetivo é gerar um sinal mais próximo de uma senoide, a forma
de onda de corrente entregue à carga pode ser decomposta em uma série de
Fourier para análise, como mostra a equação (6). Por ser um sinal CA, seu
valor médio deve ser zero; logo, há apenas componentes senoidais na série
de Fourier (HART, 2012).
∞
iL (t) = ∑ Insen(nω0t + n) (6)
n=1
A potência dissipada na carga é dada pela equação (7), onde o valor eficaz
de corrente para o n-ésimo harmônico é dado pela equação (8), que depende da
impedância Z n, na frequência desse harmônico. A corrente eficaz total é dada
pela equação (9), sendo o somatório dos valores eficazes dos n harmônicos.
∞
PL = ∑ R ∙ In(RMS)2 (7)
n=1
In Vn
In(RMS) = = (8)
√2 √2Zn
√∑ I
∞
IRMS = n(RMS)
2
(9)
n=1
∞
√∑ n = 2 In(RMS)2
THDI = (10)
I1(RMS)
Tensão
Condição S1 S2 S3 S4
de saída
Vsen Vtri
+VCC
–VCC
+VCC
VS4
+VCC
VS2
+VCC
V0
–VCC
fportadora
mf =
freferência (11)
relação, se essa taxa for menor que 1, isso implica que a amplitude da n-ésima
frequência é linearmente proporcional ao valor da fonte de tensão VCC, como
mostra a equação (13). Assim, o parâmetro ma é utilizado para controlar a tensão
de saída do inversor caso haja variações na tensão de entrada (HART, 2012).
Vreferência
ma =
Vportadora (12)
Vn = maVCC (13)
ma
n=1 1,00 0,90 0,80 0,70 0,60 0,50 0,40 0,30 0,20 0,10
n = mf 0,60 0,71 0,82 0,92 1,01 1,08 1,15 1,20 1,24 1,27
n = mf 0,32 0,27 0,22 0,17 0,13 0,09 0,06 0,03 0,02 0,00
±2
12 DC/CA - Inversor monofásico, inversor trifásico; CA/CA – cicloconversor
ma
n=1 1,00 0,90 0,80 0,70 0,60 0,50 0,40 0,30 0,20 0,10
n = mf 0,18 0,25 0,31 0,35 0,37 0,36 0,33 0,27 0,19 0,10
n = mf 0,21 0,18 0,14 0,10 0,07 0,04 0,02 0,01 0,00 0,00
±2
Um inversor em ponte completa deve produzir uma tensão alternada em 60 Hz para
uma carga RL, com R = 10 Ω e L = 20 mH, a partir de uma fonte CC de 100 V. Como
parâmetros de projeto temos ma = 0,8 e mf = 21. A partir desses dados, temos que:
A frequência da onda portadora pode ser calculada utilizando a equação (14):
V1 80V
I1 = = ∴ I1 = 6,39A
Z1 √(10Ω)2 + [2π(60Hz)(20mH)]2
V19 22V
I19 = = ∴ I = 0,15A
Z19 √(10Ω)2 + [2π(19)(60Hz)(20mH)]2 19
V21 82V
I21 = = ∴ I = 0,52A
Z21 √(10Ω)2 + [2π(21)(60Hz)(20mH)]2 21
V23 22V
I23 = = ∴ I = 0,13A
Z23 √(10Ω)2 + [2π(23)(60Hz)(20mH)]2 23
( ) ( ) ( ) ( )
2 2 2 2
6,39A 0,15A 0,52A 0,13A
P = (10Ω) ∙ + + +
√2 √2 √2 √2
P = 205,5W
( ) ( ) ( )
2 2 2
0,15A 0,52A 0,13A
+ +
√I19(RMS)2 + I21(RMS)2 + I23(RMS)2 √2 √2 √2
THDI = =
I1(RMS) 6,39A
√2
THDI = 8,7%
Inversores trifásicos
Os inversores trifásicos têm a função de gerar as tensões alternadas de um
sistema trifásico equilibrado a partir de uma fonte CC. Uma forma de obter
um inversor trifásico seria utilizando três circuitos monofásicos, garantindo
a defasagem entre a saída em CA de cada um deles. Uma alternativa consiste
no circuito em ponte H trifásico mostrado na Figura 9.
14 DC/CA - Inversor monofásico, inversor trifásico; CA/CA – cicloconversor
S1 S3 S5
VA
VCC VB
VC
S4 S6 S2
+VCC
VAB
S1
–VCC
S2
S3 +VCC
VBC
S4 –VCC
S5 +VCC
VCA
S6
–VCC
4VCC
VnL =
n
cos
n
6 ( )
(22)
2VCC n 2n
VnF = 3n 2 + cos 3 – cos 3 (23)
Condição S1 S2 S3 S4 S5 S6
Cicloconversores
Com os inversores, é possível obter tensão CA a partir de uma fonte de tensão
CC. Como a alimentação da distribuidora de energia elétrica é em CA, ela
deve ser primeiro retificada, gerando tensão CC, para então ser invertida e
ter a tensão CA desejada em uma frequência múltipla daquela fornecida, em
geral 50 Hz ou 60 Hz. A tensão CA gerada por um inversor tem diversas
componentes harmônicas devido ao fato de ser uma aproximação de uma
tensão senoidal (HART, 2012).
Em máquinas elétricas de alta potência, as velocidades necessárias po-
dem ser tais que a frequência necessária seja uma fração da frequência da
tensão de entrada. Os cicloconversores são capazes de gerar esta tensão CA
em frequência inferior diretamente a partir da tensão CA de entrada, sem a
necessidade de um estágio intermediário em que a tensão é convertida para
CC (BARBI, 2005; RASHID, 1999; RASHID, 2011).
Um cicloconversor monofásico de três pulsos utiliza uma entrada senoidal
e dois circuitos de disparo em antiparalelo, onde um será responsável pelo
chaveamento dos ciclos positivos (ponte P) e outro pelos negativos (ponte N),
como pode ser visto na Figura 11. As duas pontes operam simultaneamente,
com a ponte P disparando em um ângulo αP e, em seguida, a ponte N dispa-
rando em um ângulo αN, de forma que a soma destes disparos seja sempre
igual à 180°. Cada ponte ficará estará durante um período T0, fazendo com
que a frequência da tensão de saída seja dada pela equação (16).
A tensão eficaz de saída VO é dada a partir da tensão eficaz de entrada VS,
um número de pulsos m que deve ser múltiplo de 3 e do ângulo de disparo αP,
como visto na equação (17) (BARBI, 2005).
1
f0 = (16)
T0
m
V0 = VS sen cos(αP) (17)
m
DC/CA - Inversor monofásico, inversor trifásico; CA/CA – cicloconversor 17
Grupo P Grupo N
VA
VB
VC
S1 S2 S3 S4 S5 S6
Cicloconversor trifásico
Os cicloconversores trifásicos seguem o mesmo princípio de funcionamento
que os monofásicos, com circuito de disparo de três pulsos, como pode ser
visto no circuito da Figura 12, onde o controle de cada fase de saída deve ser
feito considerando a defasagem adequada (BARBI, 2005).
VA
VB
VC
ZA ZB ZC
N
Leituras recomendadas
ERICKSON, R. W.; MAKSIMOVIC, D. Fundamentals of power electronics. 2. ed. New York:
Kluwer Academic Publishers, 2004.
SKVARENINA, T. L. The power electronics handbook. Florida: CRC Press, 2002.
TRZYNADLOWSKI, A. M. Introduction to modern power electronics. 3. ed. New Jersey:
John Wiley & Sons, 2016.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.