Cap 3
Cap 3
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didático e a transcrição dos textos e atividades escritos na lousa pelo
professor. Ela possibilita uma sala de aula viva, que trabalha por meio
da reflexão dos sujeitos.
Reconhecendo a importância da AC para o Ensino de ciências,
levantamos dois questionamentos a saber: como reconhecer que o
trabalho desenvolvido em sala de aula pelo professor e pelos alunos está
colaborando para que os sujeitos em aprendizagem sejam alfabetizados
cientificamente? E como o livro didático pode ser utilizado, nas aulas
de ciências, como um facilitador para a ocorrência da Alfabetização
Científica?
A partir dos estudos e da reflexão sobre o tema, percebemos que
os Indicadores de Alfabetização Científica – IAC são um caminho
viável para que os professores consigam perceber-se em sua prática – e
aprofundando, mais especificamente sobre a utilização do livro didático
em sala de aula – estão sendo favorecidas aos alunos condições para
que eles possam ser alfabetizados cientificamente.
Sendo assim, demonstraremos nas próximas páginas deste
capítulo, o que são os Indicadores de Alfabetização Científica e como
eles podem ser percebidos nos livros didáticos de ciências.
Os exemplos de abordagem e atividades apresentados adiante se
referem a coleções de livros aprovadas no Plano Nacional do Livro
Didático – PNLD 2016 e as nossas análises se concentraram nos
conteúdos referentes ao tema água.
Adiante passamos a apresentar o que são os IAC, realizando
algumas considerações sobre as suas contribuições para o processo de
ensino e aprendizagem em Ciências, que tem como perspectiva a
Alfabetização Científica.
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utilizam perspectivas diferentes. De modo geral, ao elaborá-los, esses
autores pretendem demonstrar quais atitudes que os alunos apresentam
que demonstram que eles estão se alfabetizando cientificamente, seja
pelas ações realizadas pelos alunos, pela argumentação, entre outros
aspectos.
Neste trabalho escolhemos os IAC propostos por Pizarro e
Junior (2015), tendo em vista que buscamos identificar os IAC em
livros didáticos. A proposta desses autores é a que mais se adéqua para
o nosso trabalho, pois os IAC apresentados por eles buscam identificar,
na ação que os alunos realizam, se os IAC estão ocorrendo,
diferentemente, por exemplo, dos propostos por Saserron (2008) que
busca identificar seus IAC a partir da argumentação que os alunos
realizam.
Sendo assim, identificar os IAC de Pizarro e Junior nos livros
didáticos torna-se mais viável, pois os livros indicam possíveis ações
que os alunos podem realizar em sala de aula e não apresentam as
argumentações dos alunos.
Segundo Pizarro e Junior (2015)
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desenvolvam as habilidades, as quais um sujeito alfabetizado
cientificamente precisa ter.
É nesse sentido que pensamos nos IAC por meio do livro
didático. A realização da análise do conteúdo e das atividades presentes
no livro didático, em uma perspectiva a partir dos IAC, nos dá a
possibilidade de identificar nele quais os tipos de atividades presentes
que promovem a Alfabetização Científica de nossos alunos e nos ajuda
a realizar melhores escolhas do material que será adotado pela escola.
Isso é possível uma vez que os professores têm a oportunidade de
analisarem previamente as coleções que foram aprovadas no Plano
Nacional do Livro Didático – PNLD e que serão utilizadas na escola a
partir desta seleção.
Para formular os IAC, Pizarro e Junior (2015) buscaram
compreender as diferentes perspectivas de autores que discutem a
Alfabetização Científica. Para isso, os autores realizaram um
levantamento dos trabalhos produzidos no triênio de 2010-2012, no
banco de dados QUALIS3 de periódicos da capes. (p. 210).
Depois da identificação dos trabalhos, os artigos foram
divididos em 3 categorias. A primeira categoria foi as habilidades dos
alunos, a segunda a argumentação dos alunos e a terceira as implicações
sociais.
Em seguida, os autores apresentam as possíveis ações geradoras
de alfabetização científica, as quais os trabalhos encontrados, após o
levantamento, apresentavam. (PIZARRO e JUNIOR, 2015, p. 230).
A partir da identificação, Pizarro (2014) apresenta a sua
proposta para os indicadores de alfabetização científica. São eles:
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QUALIS se refere ao sistema de avaliações de revistas científicas que a Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) utiliza para avaliação dos
programas de pós-graduação stricto sensu no Brasil.
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atividades nas quais ele necessita apoiar-se no
conhecimento científico adquirido na escola (ou até
mesmo fora dela) para tentar responder a seus próprios
questionamentos, construindo explicações coerentes e
embasadas em pesquisas pessoais que leva para a sala de
aula e compartilha com os demais colegas e com o
professor. Argumentar – Está diretamente vinculado com
a compreensão que o aluno tem e a defesa de seus
argumentos apoiado, inicialmente, em suas próprias
ideias, para ampliar a qualidade desses argumentos a
partir dos conhecimentos adquiridos em debates em sala
de aula e valorizando a diversidade de ideias e os
diferentes argumentos apresentados no grupo. Ler em
ciências – Trata-se de realizar leituras de textos, imagens
e demais suportes reconhecendo características típicas do
gênero científico e articulando essas leituras com
conhecimentos prévios e novos, construídos em sala de
aula e fora dela. Escrever em ciências - Envolve a
produção de textos pelos alunos que leva em conta não
apenas as características típicas de um texto científico,
mas avança também no posicionamento crítico diante de
variados temas em Ciências e articulando, em sua
produção, os seus conhecimentos, argumentos e dados
das fontes de estudo. Problematizar – Surge quando é
dada ao aluno a oportunidade de questionar e buscar
informações em diferentes fontes sobre os usos e
impactos da Ciência em seu cotidiano, na sociedade em
geral e no meio ambiente. Criar - É explicitado quando o
aluno participa de atividades em que lhe é oferecida a
oportunidade de apresentar novas ideias, argumentos,
posturas e soluções para problemáticas que envolvem a
Ciência e o fazer científico discutidos em sala de aula
com colegas e professores. Atuar – Aparece quando o
aluno se compreende como um agente de mudanças
diante dos desafios impostos pela Ciência em relação à
sociedade e ao meio ambiente, sendo um multiplicador
dos debates vivenciados em sala de aula para a esfera
pública. (PIZARRO, 2014, p. 92 – 93).
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sala de aula, precisa ser a mais significativa possível, transcendendo
momentos de leitura e de resoluções de atividades. Queremos
potencializar o uso do livro didático, trazendo o professor à visão de
articulações para AC.
Nós reconhecemos que o fazer pedagógico não deve se restringir
apenas ao uso do livro didático em sala de aula. O livro deve ser
utilizado como um dos muitos recursos e possibilidades utilizadas pelos
professores como facilitador de aprendizagem, diferente do que tem
ocorrido nas escolas, pois como nos afirma Silva (2012):
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desenvolver habilidades intelectuais e estratégias
cognitivas, que são os objetivos de um ensino adequado
para o nosso tempo. (p. 126).
Como podemos perceber, a partir das considerações
apresentadas por Libâneo, o livro didático se bem utilizado, contribui
de forma positiva para a promoção da aprendizagem.
E nesse sentido de tornar os momentos de utilização do livro
didático significativos, encontramos, nos Indicadores de Alfabetização
Científica, uma possibilidade de promover, em nossa sala de aula,
momentos que correspondam aos aspectos apresentados por Libâneo e
em direção à Alfabetização Científica.
Diferente de Pizarro, nosso objeto de análise é o livro didático,
no qual buscamos encontrar a possibilidade de analisar as atividades e
a forma como o conteúdo é apresentado, o que possibilitará a ocorrência
dos IAC.
Salientamos que a adequação na definição dos IAC apresentado
por Pizzarro (2014), ocorre especificamente na mudança do objeto de
estudo, deixando de centrar a ocorrência do indicador a partir do aluno,
para observá-la no conteúdo e propostas do livro didático.
Devido a necessidade da adequação das definições dos IAC
apresentados por Pizzaro (2014), mediante nosso objeto de estudo,
apresentamos como ficou a definição dos IAC após a adequação
realizada por nós:
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argumentos, apoiado inicialmente em suas próprias
ideias, para ampliar a qualidade desses argumentos a
partir dos conhecimentos adquiridos em debates em sala
de aula, e valorizando a diversidade de ideias e os
diferentes argumentos apresentados no grupo. Ler em
ciências – Poderá ser percebido quando o livro propuser
a realização de leituras de textos, imagens e demais
suportes reconhecendo características típicas do gênero
científico e articulando essas leituras com conhecimentos
prévios e novos, construídos em sala de aula e fora dela.
Escrever em ciências – Poderá ser percebido quando o
livro apresentar atividades que envolvem a produção de
textos pelos alunos que leva em conta não apenas as
características típicas de um texto científico, mas avança
também no posicionamento crítico diante de variados
temas em Ciências e articulando, em sua produção, os
seus conhecimentos, argumentos e dados das fontes de
estudo. Problematizar – Poderá surgir quando o livro
apresentar atividades em que o aluno tenha a
oportunidade de questionar e buscar informações em
diferentes fontes sobre os usos e impactos da Ciência em
seu cotidiano, na sociedade em geral e no meio ambiente.
Criar – Possivelmente ocorra quando o livro apresentar
atividades as quais ofereçam a oportunidade de
apresentar novas ideias, argumentos, posturas e soluções
para problemáticas que envolvem a Ciência e o fazer
científico discutidos em sala de aula com colegas e
professores. Atuar – Poderá ocorrer quando o livro
apresentar atividades que o aluno possa compreender-se
como um agente de mudanças diante dos desafios
impostos pela Ciência em relação à sociedade e ao meio
ambiente, sendo um multiplicador dos debates
vivenciados em sala de aula para a esfera pública. (p. 191,
OLIVEIRA, 2019).
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No entanto, apesar de identificarmos que uma atividade tem
potencialidade para proporcionar um determinado indicador, não
podemos afirmar que ele ocorrerá, pois isso irá depender de fatores
externos ao livro, ligados, por exemplo, a forma como o professor vai
orientar o desenvolvimento da atividade.
Articular Ideias
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ARTICULAR IDEIAS:
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Apesar de favorecer a ocorrência do IAC, acreditamos que o
livro poderia ter tornado a atividade mais rica se tivesse apresentado
questões em que os alunos precisassem exercitar outras habilidades,
como por exemplo a argumentação, apresentando questões que
pudessem ser discutidas entre os alunos, contado com a mediação do
professor.
Chassot (2011, p. 62) afirma que “seria desejável que os
alfabetizados cientificamente não apenas tivessem facilidade a leitura
de mundo em que vivem, mas entendessem as necessidades de
transformá-lo, e transformá-lo para melhor”.
É nesse sentido que pensamos o indicador ARTICULAR
IDEIAS como uma possibilidade para que se alcance o objetivo
apresentado por Chassot, em relação a transformação do mundo.
Através desse indicador, o aluno consegue estabelecer reação com o
mundo real, refletindo a partir do conteúdo apresentado em sala de aula
sobre os problemas sociais que envolvem as ciências, o ambiente e
tecnologia.
É a partir dessa reflexão que os alunos podem pensar em como
esses problemas os atingem e atingem a sociedade em geral e a partir
disso possam atuar em busca de transformação.
Investigar
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importante da investigação não é seu fim, mas o caminho
trilhado.
Uma investigação cientifica pode ocorrer de maneiras
distintas e, certamente, o modo como ocorre está ligado
as condições disponibilizadas e especificidades do que se
investiga, mas é possível dizer que toda investigação
cientifica envolve um problema, o trabalho com dados,
informações e conhecimentos já existentes, o
levantamento e o teste de hipóteses, o reconhecimento de
variáveis e o controle destas, o estabelecimento de
relações entre as informações e a construção de uma
explicação. (p. 42 – 43)
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conhecimento científico aprendido na escola ou até mesmo fora dela, é
necessário que o aluno também responda a questionamentos próprios.
É nessa particularidade que se encontra o motivo pelo qual esse
indicador não pode ser percebido durante a realização da análise das
coleções por meio do questionário, compreendendo a totalidade da
definição apresentada por Pizarro (2014).
Nesse caso específico, esse indicador apresenta um elemento
que ultrapassa a esfera do livro didático, pois coloca como condição
para que haja a sua ocorrência um aspecto que é intrínseco ao sujeito,
que seria a formulação de questionamentos próprios, e o livro não tem
como prever se, durante a realização de uma atividade, esses
questionamentos próprios dos alunos podem surgir ou não. No entanto,
no que concerne às atividades investigativas, podemos identificar ao
longo da obra.
Argumentar
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Veja a seguir um exemplo de atividade representativa do IAC
ARGUMENTAR:
Ler em Ciências
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Sendo assim, esse indicador pode ocorrer quando os livros, na
abordagem do conteúdo, apresentam essas características e propõem,
através das atividades, a leitura e interpretação por parte dos alunos, de
dados contidos em gráficos, tabelas, esquemas, infográficos, entre
outros.
Veja a seguir um exemplo de atividade representativa do IAC
LER EM CIÊNCIAS:
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apresentar dados e informações a respeito de um determinado assunto
do qual se quer tratar.
Além desses elementos, o próprio texto escrito pode se
caracterizar como pertencente ao gênero textual científico, se observado
que o texto apresenta conceitos ou teoria e que faz uso da linguagem
científica ao ser redigido.
Escrever em Ciências
ESCREVER EM CIÊNCIAS:
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verbais – oral e escrita – não são suficientes para
comunicar o conhecimento científico. Temos de integrar,
de maneira coerente, todas as linguagens, introduzindo os
alunos nos diferentes modos de comunicação que cada
disciplina utiliza, além da linguagem verbal, para
construção de seu conhecimento. (p. 7-8).
Problematizar
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Sendo assim, quando o livro apresentar momentos dedicados a
busca de informações, em outras fontes, muito provavelmente o IAC
problematizar poderá ocorrer.
Veja a seguir um exemplo de atividade representativa do IAC
PROBLEMATIZAR:
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reconhecer as fontes de informação confiáveis, contribuindo para que,
na vida adulta, os sujeitos possam também reconhecer quais são essas
fontes confiáveis, para que não depositem sua confiança em
informações falsas.
Criar
CRIAR:
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Nessa atividade, o momento que possibilita a presença do
indicador criar é o momento dedicado a formulação dos cartazes e
panfletos, pois ao produzi-los os alunos terão, a partir dos seus
conhecimentos e da pesquisa realizada, a oportunidade de sugerir e
apresentar novas ideias para a questão do desperdício de água, que é um
problema que envolve ciências.
Atuar
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Veja a seguir um exemplo de atividade representativa do IAC
ATUAR:
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sociedade para melhor é um dos resultados almejados com a
alfabetização científica da população.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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CARVALHO, M.C.V.de M. O ensino de Ciências e a proposição de
sequências de ensino investigativas. In: CARVALHO, A.M.P. (Org.).
Ensino de ciências por investigação: condições para implementação
em sala de aula. São Paulo: Cengage Learning. 2013, p.1-20.
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Faculdade de Ciências, 2014. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/110898>
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