Maycomn, Rev DESENHO TÉCNICO
Maycomn, Rev DESENHO TÉCNICO
Resumo
A mediação pedagógica da componente curricular Desenho Técnico, por vezes, é muito confundida
por alguns estudantes de engenharia com dificuldades, como algo “muito chato”, sem sentido, sem
cor, sem atrativos e sem vida. Todavia, podem-se constatar também, mediante algumas ações
pedagógicas realizadas em sala de aula, algumas oficinas interdisciplinares, mini cursos e atividades
extensionistas, justamente o contrário: beleza, sentido, cor, movimento, criatividade, arte, integrações
conceituais e muito envolvimento, pois o público envolvido participa de forma ativa na elaboração do
próprio conhecimento, estabelecendo conexões com outras áreas de atuação, com muitas percepções
singulares importantes. É possível, de forma lúdica, participativa, movimentada, dinâmica e
contextualizada, discutir, exemplificar, elaborar e criar algumas representações gráficas – desenhos
projetivos, com base em alguns conceitos e percepções prévias dos estudantes, que estão presentes na
vida cotidiana, de forma geral, baseados nos seguintes conteúdos – ponto, simetria, sólidos
geométricos, poliedros, formas regulares e irregulares, ângulos, arcos, dentre outros, por intermédio de
uma prática pedagógica amparada pela ludicidade e pela criatividade, uma vez que, as atividades se
tornam interessantes, prazerosas e articuladas com outros campos de conhecimentos. Dessa forma,
este artigo busca evidenciar alguns resultados e reflexões, fruto das experiências pedagógicas que
ocorreram com o protagonismo inicial do Desenho Técnico, ao ressaltar os benefícios tangíveis –
aprendizagens, articulações conceituais, percepções ampliadas, além de muita motivação, alegria,
disposição e reminiscências, que são declarados pelos envolvidos, por intermédio das ações citadas.
Dentre as implicações do estudo, sugere-se a necessidade de continuidade do trabalho sobre as
possibilidades do Desenho Técnico, de modo que, possam favorecer as ações pedagógicas com a
componente curricular de modo ampliado, tornando-a cada vez mais significativa, sobretudo diante de
acadêmicos de engenharia.
Palavras - chave: Aprendizagem. Desenho Técnico. Conhecimento. Interdisciplinaridade.
Abstract
The pedagogical mediation of the curricular component Drawing technique is sometimes confused by
some engineering students with the difficulties, as something "very annoying", meaningless, colorless,
unattractive and lifeless. However, some interdisciplinary workshops, mini-courses and extension
activities can be observed through some pedagogical actions in the classroom, on the contrary the
opposite: beauty, sense, color, movement, creativity, art, conceptual integrations and much
involvement, since the public participates actively in the elaboration of knowledge, establishing
connections with other areas of action, with many important singular perceptions. It is possible, in a
playful, participatory, dynamic, and contextualized way, to elaborate, to exemplify, to elaborate and to
resize some graphic representations - projective drawings, based on some concepts and previous
perceptions of students, which are present in daily life, in general , the following, content, symmetry,
geometric sound, polyhedra, regular and uniform forms, angles, arcs, among others, through a
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pedagogy supported by playfulness and creativity, since as activities become interesting, pleasurable
and articulated with other fields of knowledge. In this way, this article seeks to show results and
reflexes, the result of the pedagogical experiences that emerged with the initial protagonism of the
Technical Drawing, highlighting the tangible benefits - learning, conceptual articulations, expanded
perceptions and motivation, joy, disposition and reminiscences, which are declared by those involved,
through the aforementioned actions. Opportunities for study, it is suggested to implement curricular
tasks in a graphical way, so that, it can favor pedagogical actions with a curricular component in an
expanded way, becoming once more significant, especially in front of engineering academics.
Key - words: Learning. Technical drawing. Knowledge. Interdisciplinarity.
Resumen
La mediación pedagógica del componente curricular Técnica de diseño a veces es confundida por
algunos estudiantes de ingeniería con las dificultades, como algo "muy aburrido", sin sentido, sin
color, sin atractivo, sin atractivo y sin vida. Sin embargo, algunos talleres interdisciplinarios,
minicursos y actividades extensionistas pueden ser observados a través de algunas acciones
pedagógicas en el aula, al contrario de lo contrario: belleza, sentido, color, movimiento, creatividad,
arte, integraciones conceptuales y muy implicación, ya que el público participa activamente en la
elaboración del conocimiento, estableciendo conexiones con otras áreas de acción, con muchas
percepciones singulares importantes. Es posible, de forma lúdica, participativa, dinámica y
contextualizada, elaborar, ejemplificar, elaborar y redimensionar algunas representaciones gráficas -
diseños proyectivos, basados en algunos conceptos y percepciones previas de los alumnos, presentes
en el cotidiano, en general, el siguiente, contenido, simetría , sonidos geométricos, poliedros, formas
regulares y uniformes, ángulos, arcos, entre otros, a través de una pedagogía apoyada en el lúdico y en
la creatividad, pues las actividades se vuelven interesantes, agradables y articuladas con otros campos
del conocimiento. De esta forma, este artículo busca mostrar resultados y reflejos, fruto de las
experiencias pedagógicas que emergieron con el protagonismo inicial del Dibujo Técnico, destacando
los beneficios tangibles - aprendizaje, articulaciones conceptuales, percepciones y motivaciones
expandidas, alegría, disposición y reminiscencias, declarados por los involucrados, a través de las
acciones arriba mencionadas. Las oportunidades de estudio, se sugiere la implementación de tareas
curriculares de forma gráfica, para que pueda favorecer acciones pedagógicas con un componente
curricular de forma ampliada, tornándose una vez más significativa, especialmente ante los
académicos de ingeniería.
Palabras clave: Aprendizaje. Diseño técnico. Conocimiento. Interdisciplinariedad.
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INTRODUÇÃO
Por muito tempo, os estudantes foram concebidos como seres passivos e que apenas
deveriam ouvir e reproduzir o que ouviam ou viam quando solicitados. Esse perfil de
estudante cabe nos dias atuais? Faz sentido um “estudante” que não interaja com a vida
cotidiana, seja em que instância for? Então, como manter “aquele jeito” de “ensinar” Desenho
Técnico, se não reflete, não interage, não dialoga ou não articula cada vez mais com os dias
atuais?
Sabe-se que, desenvolver essas diferentes formas de mediar o conhecimento
representa um desafio para os educadores, sobretudo quando se tenta articular o que
aparentemente é impossível, tal como o Desenho Técnico com componentes curriculares
cotidianamente distintos, quando numa abordagem inicial não sejam percebidas algumas
conexões importantes para se estabelecer uma mediação pedagógica significativa.
A união do raciocínio lógico com a criatividade sempre foi responsável por grandes
avanços do homem. Desde as primeiras edificações, túmulos piramidais, objetos e variados
utensílios para o trabalho doméstico e para lavoura. Da lâmpada elétrica aos atuais
smartphones, passando pelo avião e pelo relógio de pulso, significativas inovações são e
foram alcançadas com base nessa combinação e, por conseguinte, mediante um desenho
técnico, um projeto gráfico ou um simples esboço que consistem num dos fundamentos do
Desenho Técnico, tal como conhecido na contemporaneidade.
É preciso compreender, que é necessário que os estudantes consigam responder “para
que” estão aprendendo tal conteúdo, assim como, os docentes mediadores possam responder
“para que” estão mediando, a fim de que estabeleçam vínculos entre universidade e vida e,
além disso, vejam relações entre conteúdos das diversas componentes curriculares, uma vez
que, como se sabe, o conhecimento proporcionado pelo Desenho Técnico não é estanque e
que com isso, podem aprender, percebendo, então, que há fundamentos, interdisciplinaridade,
articulações de conhecimentos, sentido, coerência e necessidades prévias para sua
compreensão.
Dessa forma, o artigo ora apresentado tem como finalidade evidenciar alguns
resultados e reflexões, fruto das experiências pedagógicas que ocorreram com o enlace
desencadeador do Desenho Técnico, ao ressaltar os benefícios tangíveis – aprendizagens,
articulações conceituais, percepções ampliadas, além de muita motivação, alegria, disposição
e colocações significativas realizadas pelos estudantes de engenharia envolvidos.
O artigo está estruturado da seguinte maneira: introdução, protocolo metodológico,
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METODOLOGIA
Para realização do trabalho, adotou-se a pesquisa qualitativa, que segundo Godoy
(1995), tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento
fundamental na pesquisa. Esse tipo de trabalho segundo o autor tem como preocupação
fundamental o estudo e análise dos dados valorizando o contato direto entre o pesquisador e o
ambiente pesquisado. No caso do trabalho em questão, foi realizado com estudantes do Curso
de Engenharia Sanitária e Ambiental – 1º semestre de uma instituição pública estadual e do
Curso de Engenharia de Produção – 3º semestre de uma instituição particular, ambas situadas
na cidade de Alagoinhas – BA.
Entende-se que, pensar uma tomada de dados é uma ideia vinda sempre que se pensa
em pesquisa e em necessidades pedagógicas. É o que diz D’Ambrósio (2006, p. 102). Para ele
a pesquisa qualitativa está focada na pessoa, com toda sua complexidade e na sua interação
com o meio sociocultural e natural. Sendo que nesse tipo de pesquisa "o principal é um
desempenho qualitativo para se abordar uma questão” (D'AMBRÓSIO 2006, p. 103).
Dessa forma, o trabalho realizado percorreu os seguintes caminhos:
● Busca por publicações referentes ao tema - O Ensino do Desenho Técnico e
suas possibilidades;
● Observações permanentes acerca dos conhecimentos de Desenho Técnico
apresentados pelos estudantes no decorrer de 60 aulas ministradas e da prática de
exercícios gráficos complementares;
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As aulas ocorreram com os conteúdos citados, ao longo dos semestres, utilizando-os conforme
as abordagens de cada encontro em sala de aula, apoiados materialmente com - quadro amplo para
demonstrações, piloto, monitor de vídeo, slides, os instrumentos de desenho, ferramentas AutoCAD
2D e 3D, bidimensional e tridimensional respectivamente, conforme necessidades planejadas.
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uma carga horária de 03 (três) aulas (instituição particular) e de 04 (quatro) aulas (instituição
pública). As salas de aula não são equipadas com pranchetas e banquetas, possuem apenas
mesas e cadeiras convencionais do tipo escolar, que propiciam razoavelmente algum conforto
para realização das atividades. São bem iluminadas, limpas, climatizadas e amplas. As duas
turmas somadas compuseram média de 28 (vinte e oito) estudantes, com frequência regular,
durante realização dos trabalhos.
No Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental a turma é constituída por 34 (trinta e
quatro) estudantes, sendo 21 do sexo feminino e 13 do sexo masculino, com faixa etária entre
19 e 33 anos. Por se tratar de curso ofertado no turno noturno, a maioria 85% dos estudantes
são trabalhadores de distintas esferas – funcionários públicos, industriários, comerciários,
ferroviários, autônomos etc. Vale ressaltar, que dentre os 34 estudantes, apenas 08 (oito) tem
formações técnicas variadas, obtidas em escolas estaduais, particulares e/ou federais e, por
isso, apresentam algum conhecimento acerca do Desenho Técnico.
No Curso de Engenharia de Produção a turma é constituída por 24 (vinte e quatro)
estudantes, sendo 09 do sexo feminino e 15 do sexo masculino, com faixa etária entre 17 e 29
anos. Trata-se também de um curso ofertado no turno noturno e, 95% dos estudantes são
trabalhadores de variadas procedências – feirantes, ferroviários, autônomos, comerciários,
micro empresários etc. Na turma trabalhada, apenas 02 (dois) estudantes apresentaram algum
conhecimento em Desenho Técnico por terem realizado curso técnico numa escola técnica
federal.
EVIDÊNCIAS DE APRENDIZAGENS
Para efetivação das atividades pedagógicas em sala de aula, organiza-se a apresentação
inicial das ações com os estudantes, esclarecem-se os assuntos, os conteúdos e materiais
desenho necessários para o encontro por meio de diálogos sobre os objetivos e propósitos para
o ciclo de atividades.
Costumeiramente, são orientados para perceberem as imagens do ambiente imediato
da sala de aula, o corpo e formas visuais em geral de modo livre. Posteriormente, solicita-se
que observem objetos nas suas respectivas residências, locais de trabalho, na cidade, nos
percursos na cidade até a chegada nas instituições de estudo para que possam desenvolver
cada vez mais a observação, a atenção e o conhecimento geométrico que já possuem para
agregar aos propósitos dos trabalhos sugeridos no decorrer dos semestres.
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algo comentado nos encontros anteriores, para percebermos assimilações, lembranças, inter-
relações dos conteúdos, dentre outros aspectos, com o propósito de estabelecermos
aprendizagens significativas devidamente articuladas com as propostas de cada encontro, uma
vez que, consideramos tais dados como resultados qualitativos que poderão favorecer
planejamentos e projetos vindouros, assim como, com as atividades propostas em cada
encontro pedagógico.
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ABNT.
Segundo Serra (2008), os fundamentos do Desenho Técnico são universais,
independentemente da cultura e das legislações dos países, facilitando assim, a globalização
do conhecimento. Por isso, o conhecimento das normalizações que rege a componente
curricular do Desenho Técnico poderá complementar a formação do estudante de engenharia
que o tem como instrumento indispensável para sua formação.
De acordo com Trinchão (2012 p. 9), a atividade de desenhar desenvolve
possibilidades para controlar as próprias mãos e permite domar os olhos numa coordenação
mútua. Para a autora o poder educativo do desenho como recurso pedagógico é importante por
ser capaz de atuar na formação da imaginação do indivíduo.
Ainda para Trinchão (2012 p. 13) “A escrita e o desenho são meios de representação e
expressão que comportam aperfeiçoamento e progressão, por incorporação dos componentes
formal, estética, semiótica”. Tecnicamente são passíveis de transmissão por ensino e
aprendizagens sistemáticas e objeto de treino.
O Desenho é uma manifestação realizada com raciocínio, discernimento, método e
criatividade, podendo promover ao ser humano o desenvolvimento das capacidades
intelectuais e psicomotoras (TRINCHÃO, 2012, apud FIGUEIREDO 1982).
O Desenho enquanto campo de conhecimento poderá possibilitar ao educando o
domínio do controle do corpo através dos movimentos provocados pelo exercício, que
começam desde o modo de pegar no lápis, como apoiar a mão no papel, a postura do corpo
em relação à cadeira e a mesa. Trinchão, 2012, apud Figueiredo (1982) ainda justifica que a
compreensão do Desenho possibilita o desenvolvimento da motricidade criando assim
autonomia.
Para Serra (2008, p. 54), “O Desenho Técnico é a única forma eficiente e segura de
transmitir ideias e soluções para os projetos de qualquer ramo das engenharias”. Por isso, os
currículos dos cursos de engenharia possuem este componente curricular em sua programação
e é uma ferramenta imprescindível para formação profissional dos engenheiros que utilizam o
desenho para criar, transmitir, interpretar e analisar informações, é o que diz a autora, segundo
(MORAES, 2016).
Nem só as habilidades motoras são suficientes para a realização de um bom desenho, a
percepção visual é importantíssima para a execução de um desenho perfeito, assim como
aprender ler e escrever, “aprender a ver e a desenhar é um modo muito eficiente de educar o
sistema visual” (EDWARDS, 2002, p. 18), uma vez que, se utilize o desenho como meio de
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
O trabalho se iniciou, com a definição do tema - O ensino do Desenho Técnico e suas
possibilidades de articulações. Como um dos objetivos propostos, buscou-se também,
publicações acerca do assunto, para o enriquecimento da pesquisa.
Foram feitas observações no decorrer das aulas, com o propósito de adquirir
informações sobre como os estudantes das duas turmas dos cursos de engenharias citadas
detinham o conhecimento sobre o Desenho Técnico, suas implicações, dificuldades ou
facilidades, ou seja, o grau de compreensão sobre a componente curricular.
Os conteúdos constantes nas ementas dos cursos nas duas instituições, eram similares
e completamente voltados para as necessidades formativas dos estudantes e, com isso,
possibilitou observar no decorrer das aulas que alguns estudantes apresentavam dificuldades,
aversão, medo ou antipatia pelo Desenho Técnico, conforme manifestavam oralmente.
Tais constatações foram compreendidas posteriormente, quando se percebeu por meio
de depoimentos, que estes estudantes, em maioria, jamais tinham trabalhado na escola básica
com instrumentos de desenho e, como tal, desconheciam as propriedades da componente
curricular, além de dificuldades gritantes em manusear os instrumentos específicos de
desenho.
Todavia, com o decorrer das ações e por meio dos conteúdos ministrados, os
estudantes identificavam e construíam figuras geométricas, representando pontos, linhas e
suas configurações conforme necessidades do Desenho. Traçavam retas, semirretas,
segmentos de retas, as principais formas geométricas planas e espaciais, visualizaram alguns
sólidos, bem como os de revolução, os truncados e os vazados, construíram esboço de planta
baixa de determinado ambiente, interpretaram algumas outras plantas baixas, desmistificando-
se assim, alguns medos, dificuldades, rejeições etc.
Para tanto, aplicou-se um questionário acerca do Desenho Técnico e as relações com
alguns aspectos sociais e educacionais importantes para pesquisa – histórico, importância,
aprendizagem, estudos anteriores etc.. Os estudantes responderam individualmente e de forma
sucinta, com base na experiência pessoal, sem consultas a internet, de modo que a devolução
fosse logo posterior a aplicação.
De posse dos questionários devidamente respondidos, analisou-se mediante
abordagem qualitativa, descrevendo-se os fatos apresentados intuitivamente pelos estudantes
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Técnico; quais eram suas expectativas diante de tais conteúdos; como recebiam as atividades
propostas; se conseguiam encontrar estratégias para resolver o que era solicitado ou se
esperavam respostas prontas para apenas copiarem no momento da correção, ou seja, se
participavam ativamente das aulas ou simplesmente eram meros expectadores.
As atividades aplicadas foram relacionadas aos conteúdos da componente curricular
Desenho Técnico, sempre voltados para os cursos de engenharia conforme esclarecido
anteriormente.
Desde a parte introdutória e teórica sobre o Desenho Técnico, os estudantes
dialogaram sobre questões que articulavam o Desenho Técnico com distintas profissões e
ofícios, histórico, relações com o curso que realizavam, para que os presentes pudessem falar
a respeito de suas vivências, aprendizagens ou conhecimentos prévios sobre o assunto.
Visualizavam algumas imagens e tópicos escritos em slides, ouviam o que era explicado e
participavam oralmente comentando, perguntando ou respondendo algo sobre o assunto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando-se os questionamentos e percepções anteriores, é que se pensa na
possibilidade de articulação do Desenho Técnico enquanto campo de conhecimentos,
componente curricular e/ou área de estudos, com todos os seus desdobramentos expressivos,
como aliado pedagógico numa prática que se quer dinâmica, viva, lúdica e motivadora de
aprendizagens significativas.
Desse modo, entende-se o Desenho Técnico como linguagem universal, que poderá
promover uma visão de mundo ampliada, que incorpora mecanismos para desrobotizar a
aprendizagem, como uma atividade primária essencial da vida estudantil dos acadêmicos em
engenharia e, de preferência, integrado aos aspectos lúdicos1 e prazerosos que devem se
apresentar em tais mediações pedagógicas.
Em outras palavras, as possibilidades expressivas do Desenho Técnico, quando
adotado de forma articulada na prática pedagógica objetivando a aprendizagem dos estudantes
de engenharia poderá trazer mais conhecimentos e ser mais eficaz como portadora de
informação e sentido. Isto porque a aprendizagem deve ser também um convite ao exercício
prático de aprender a ver, observar, ouvir, tocar, atuar e refletir geometricamente. Assim, os
estudantes poderão perceber melhor as informações que lhes são apresentadas. No que diz
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Relativos a jogos, brinquedos, divertimentos, contrapartidas inspiradas nas linguagens artísticas,
comportamentos, etc...
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respeito às teorias enquanto alimento para prática pedagógica, vejamos o que é dito por
D’Ambrósio (2006, p. 79).
[...] Entre teoria e prática persiste uma relação dialética que leva o indivíduo a partir
para a prática equipado da teoria e a praticar de acordo com essa teoria até atingir os
resultados desejados. Toda teorização se dá em condições ideais e somente na
prática serão notados e colocados em evidencia certos pressupostos que não podem
ser identificados apenas teoricamente. Isto é, partir para a prática é um mergulho no
desconhecido.
Pelo exposto, verifica-se que ações com perfis integradores – teoria e prática poderão
contemplar os objetivos integracionistas do Desenho Técnico, uma vez que, devem ser
compreendidas em função da curiosidade, interesse e envolvimento que foram manifestados
pela maioria dos estudantes no decorrer das ações empreendidas, além, evidentemente, dos
resultados práticos evidenciados, sem prejuízo da qualidade gráfica pretendida. Isso poderá
permitir propiciar a tomada de consciência da existência de uma produção genuína, real e
concreta, em permanente elaboração acerca do conhecimento proporcionado pelo Desenho
Técnico.
Diante da limitação da oferta de conhecimentos sobre Desenho Técnico na escola
básica conforme manifestado pelos estudantes participantes da pesquisa, acredita-se que,
programas de cursos presenciais para professores, voltados para a melhor utilização dos
recursos didáticos disponíveis, que sejam também concebidos tendo como base os princípios
de uma proposta articuladora e interacionista, podem ser considerados numa formação
continuada de professores, além de cursos à distância, com web cursos, web conferências e
web atendimentos que propiciem de fato o estudo e a reflexão constante acerca daquilo que se
propõe a fazer de melhor em sala de aula, com ações desenvolvidas pelo conjunto de
professores.
Tais capacitações podem ocorrer também, para que os professores num processo
formativo permanente possam incorporar mais habilidades necessárias para o seu exercício
profissional com Desenho Técnico e, consequentemente, encontrar sentido para o que se
“ensina” e se “aprende” devidamente associado com a vida em geral, uma vez que, diante das
colocações dos estudantes, pode-se até mesmo, questionar a formação do “mediador”, de
quem se propõe a levar adiante tais mediações e, qual é de fato a formação de quem
desempenha esse papel pedagógico com Desenho Técnico.
Desse modo, a percepção atual que se tem sobre o Desenho Técnico não deve
contemplar nem um ensino dirigido e baseado em modelos prontos, nem a liberdade
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completa, sem nenhuma ação do mediador. Trabalha-se com uma visão de linguagem, de
comunicação, formada por elementos próprios, que estruturam uma forma de expressão
ampla, refinada, necessária e rica, desde que bem ministrada.
Teve-se também, durante a pesquisa, a oportunidade, de reformulação e ajustes de
alguns pontos do projeto para melhor andamento das ações, de dialogar com autores que
elegeram o Desenho Técnico como objeto de trabalho, o que nos fez enriquecer
significativamente as noções que se tinha inicialmente sobre o assunto.
O processo de conhecimento dos envolvidos esteve diretamente relacionado com a
ampliação e reformulação do conhecimento do mediador. Houve inúmeras oportunidades de
muitas aprendizagens recíprocas e, ao final, foi possível perceber que ainda há muito a
aprender. Constatou-se que não basta ter um curso superior, mas que é preciso formação
específica, capacitações regulares ao longo da vida profissional para que a mediação com o
Desenho Técnico ocorra de maneira eficaz.
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REFERÊNCIAS
ENCICLOPÉDIA BARSA. Rio de Janeiro; São Paulo: Britânica do Brasil Publicações Ltda.
v. 6, 1982.
FERREIRA, Edson Dias. Do desenho das Belas Letras à livre expressão no desenho da
escrita. Salvador: EdUFBA. v. 1, 2005. (estudos interdisciplinares em desenho)
TRINCHÃO, Gláucia Maria Costa (org). Do desenho das Belas Letras à livre expressão no
desenho da escrita. Salvador: EdUFBA. v. 3, p 09-88, 2012. (Coleção estudos
interdisciplinares em desenho).
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