Cap 1 - Mascolell
Cap 1 - Mascolell
Capítulo 1 (Mas-Colell):
Preferências e Escolha
1) Relação de Preferência
É a abordagem mais tradicional. Impõe os axiomas de racionalidade na escolha do
consumidor, sobre as preferências dos consumidores.
2) Regras de Escolha
Trata o comportamento do indivíduo como uma característica primitiva, fazendo
pressuposições diretas em relação ao comportamento individual
Este enfoque faz uso do Axioma Fraco da Preferência Revelada (AFrPR)*
RELAÇÃO DE PREFERÊNCIA
As relações de preferências serão denotadas por ≿.
≿: é uma relação binária sobre um conjunto de alternativas X, possibilitando a comparação
de alternativas (pares) x, y ∈ X.
Observação: Nós lemos x ≿ y como “x é pelo menos tão bom quanto y” ou “x é fracamente
preferível a y”.
De ≿ podemos derivar outras relações sobre X:
a) A preferência estrita ≻, é definida por: x ≻ 𝑦𝑦 <=> x ≿ y, mas NÃO, y ≿ x.
b) A relação de indiferença ~ é definida por: x ~ y <=> x ≿ y e y ≿ x.
Notas de Aula
Para ser racional, uma relação de preferência deve ser: completa, reflexiva e transitiva
O efeito framing (ou efeito de configuração) aparece como um fator capaz de intervir no
processo lógico decisório. Ele consiste no enquadramento (frame), na forma como uma
situação é apresentada para um indivíduo e este, em um contexto de incerteza relaciona-se
com a sensação de ganhos e perdas.
Notas de Aula
A demonstração original do efeito framing pode ser observado pelo exemplo clássico de Tversky e
Kahneman (1981), no caso da doença asiática:
Problema 1 (problema apresentado com uma configuração positiva): imagine que os EUA estejam
se preparando para o ataque de uma doença asiática incomum, no qual se espera que 600 pessoas
morram. Dois programas alternativos foram propostos. Suponha que as estimativas científicas
exatas das consequências desses programas sejam as seguintes: se o programa A for adotado, 200
pessoas serão salvas; se o programa B for adotado, há a probabilidade de 1/3 de que 600 pessoas
sejam salvas e de 2/3 de que ninguém seja salvo. Qual desses programas você prefere?
Problema 2 (com uma configuração um pouco mais negativa): se o programa C for adotado, 400
pessoas irão morrer; se o programa D for adotado, existe a probabilidade de 1/3 de que ninguém
morrerá e de 2/3 de que 600 pessoas irão morrer.
Notas de Aula
Função de Utilidade: a u(x) mostra um valor numérico para cada elemento em X, ranqueando os
elementos de X de acordo com as preferências individuais
A função u: X --> R é uma função utilidade que representa ≿ se, para todo x, y ∈ X
Propriedades que são preservadas sobre transformações estritamente crescentes são chamadas
de ordinais. A relação de preferência associada com a função de utilidade possui propriedades
ordinais.
Sabe-se que a representação das preferências por meio da função de utilidade só é possível
a partir do pressuposto da racionalidade.
PROPOSIÇÃO: Uma ≿ (preferência) pode ser representada por uma função de utilidade
se esta for racional (completa, reflexiva e transitiva)
PROVA: Para provar esta proposição, mostraremos que se existe uma função de utilidade que
representa a relação de ≿ (preferência), então, ≿ deve ser completa e transitiva .
Notas de Aula
Completa: porque u(.) é uma função com um valor real definido em X, tem-se que
para qualquer x, y ∈ X , u(x) ≥ u(y) ou u(y) ≥ u(x). Mas, como u(.) é uma função
de utilidade que representa ≿, isso implica que x ≿ y ou y ≿ x. Então, a ≿ deve ser
completa.
Transitiva: sendo x ≿ y e y ≿ z. Porque u(.) representa ≿, devemos ter que u(x) ≥
u(y) e u(y) ≥ u(z) implicando que u(x) ≥ u(z). Dado que u(.) representa ≿, isso
implica que x ≿ z. Assim, x ≿ y e y ≿ z implica que x ≿ z.
PROPOSIÇÃO: Seja ≿ uma preferência contínua e monotônica sobre 𝑅𝑅+𝐿𝐿 , então, existe uma
função de utilidade contínua u: RL+ --> R que representa a ≿.
PROVA: 1) Vamos mostrar que existe u: RL+ --> R ∀ x ∈ RL+ . Para isso, vamos definir uma
função de utilidade: u(x) ꓿ ínf(t > 0/t𝒗𝒗 ≿ 𝒙𝒙). Considere que 𝑣𝑣⃗ ꓿ (1,1,.....,1) ∈ RL+ .
Para provarmos vamos considerar a relação de indiferença (~) e a estritamente preferível (≻):
CONCLUSÃO: vale a ideia de “indiferença”, o que implica que existe uma função de
utilidade que representa a relação de preferência.
Notas de Aula
2) “u” representa ≿
Eu já sei isso, pois provei anteriormente que “≿” é racional. Com ela também é
contínua, posso representar “u” por meio de uma função de utilidade. Assim, basta
aplicar o problema na função de utilidade escolhida anteriormente.
≿ --> x ≿ y
u(x)𝑣𝑣⃗ ~ x ≿ y ~ u(𝑦𝑦)𝑣𝑣⃗
u(x) ≥ u(y)
Notas de Aula
REGRAS DE ESCOLHA
Formalmente, a escolha é representada por medidas de estrutura de escolha. Uma estrutura de escolha
(β, C(.)) consiste em 2 ingredientes:
Os elementos de B ∈ β, sendo β o conjunto orçamentário, fazendo uma analogia com a teoria da escolha
do consumidor. O conjunto orçamentário “β” é a lista de todas as escolhas feitas. Mas β não precisa
incluir todas as possibilidades de subconjuntos de X, ele pode ser considerado como as escolhas
possíveis.
Notas de Aula
2) C(.) é uma regra de escolha que assinala um conjunto de elementos escolhidos C(B) e
C(B) ⊂ B, ∀ B ∈ β.
Quando C(B) contém um único elemento, este elemento é a escolha do indivíduo entre as alternativas em B.
Entretanto, o conjunto C(B) pode conter mais de um elemento. Se isso ocorre, os elementos de C(B) são as
alternativas em B que o indivíduo pode escolher: elas são suas alternativas aceitáveis e é como se o mesmo
estivesse repetidamente diante do problema de escolher uma alternativa do conjunto B.
C(B) ∈ B ∈ β ∈ X
Notas de Aula
Uma possível estrutura de escolha é (β, C1 (.)) em que a regra de escolha C1 (.) é:
C2 ({x, y}) ꓿ {x} Neste caso, x é escolhido para o orçamento {x, y}. Se o
orçamento for {x, y, z}, é escolhido {x, y}. O que significa
C2 ({x, y, z}) ꓿ {x, y} que x ou y podem ser escolhidos.
Notas de Aula
DEFINIÇÃO 1.C.1: A estrutura de escolha (β, C(.)) satisfaz o AFrPR se a seguinte propriedade se
mantém:
Agora podemos definir um conceito mais amplo que é a relação de preferência revelada ≿* .
Notas de Aula
DEFINIÇÃO 1.C.2: Dada uma estrutura de escolha (β, C(.)), a relação de preferência revelada
é definida por:
Não posso falar nada sobre y e z, mas posso dizer que x é SEMPRE escolhido (essa
estrutura de escolha obedece ao axioma fraco) .
Notas de Aula
1) Se o consumidor tem uma preferência racional ≿, suas decisões de acordo com o seu conjunto
orçamentário β necessariamente geram estruturas de escolhas que satisfazem o axioma fraco da
preferência revelada?
Sim
Sobre a resposta para a 1ª questão, supõe-se que o indivíduo tem preferência racional (≿) em X.
Se este indivíduo defronta-se com um subconjunto de alternativas não-vazio B ⊂ X, seu
comportamento maximizador de preferência é escolher qualquer um dos elementos no conjunto:
C*(B, ≿) ꓿ {x ϵ B: x ≿ y, ∀ y ϵ B}
C*(B, ≿) são as alternativas mais preferidas em B.
Suponha que:
Para algum Bʼ ∈ 𝛽𝛽 com x, y, 𝑧𝑧 ∈ Bʼ tem-se y ∈ C*(Bʼ, ≿) e isso implica que y ≿
z, para todo z ∈ Bʼ. Mas já sabemos que x ≿ y.
∗
Assim, pela transitividade x ≿ z, ∀ z ∈ Bʼ, e, então, x ∈ C (Bʼ, ≿ ).
CONCLUSÃO
DEFINIÇÃO 1.D.1: Dada uma estrutura de escolha (𝛽𝛽, C(.)), nós dizemos que a relação de preferência
racional racionaliza C(.) relativa a 𝛽𝛽 se:
A proposição 1.D.1 implica que o axioma fraco deve ser satisfeito se existe uma relação de preferência
racional. Desde que C*(. , ≿ ) satisfaz o axioma fraco para qualquer ≿, apenas a regra de escolha que
satisfaz o axioma fraco possui preferência racional. Assim, o axioma fraco não é suficiente para garantir a
existência de relação de preferência racional.
Em outras palavras: a relação de preferência (≿) racionaliza a regra de escolha (𝛽𝛽, C(B , ≿ )) em 𝛽𝛽 se as
escolhas ótimas geradas pelas preferências coincidem com a estrutura de escolha C(.) para todo B ∈ 𝛽𝛽.
Notas de Aula
Exemplo 1.D.1: Suponha que X ꓿ {x, y, z}, 𝛽𝛽 ꓿ {{x, y},{y, z},{x, z}}
C({x, y}) ꓿ {x} Esta estrutura de escolha satisfaz o axioma fraco, pois o indivíduo não
C({y, z}) ꓿ {y} escolheu z primeiro pelo fato do mesmo não estar disponível (não tem z em
C({x, z}) ꓿ {z} C({x, y}) ). Mas NÃO satisfaz a racionalidade, porque viola a transitividade.
OBSERVAÇÃO
Então, vai existir uma relação de preferência ≿ que racionaliza C(.) relativa a 𝛽𝛽, 𝑞𝑞𝑞𝑞𝑞𝑞 é 𝐶𝐶(𝐵𝐵) ꓿
C*(B, ≿) ∀ B ∈ 𝛽𝛽
Suponha que y ∈ C({x, y, z}), como supomos que x ≿* y, pelo axioma fraco:
x ∈ C({x, y, z})
Suponha agora que z ∈ C({x,y,z})
Já sabemos que y ≿* z
Daí temos a solução y ∈ C({x,y,z})
Mais para frente vamos considerar uma visão mais forte do axioma fraco. Essa versão impõe
mais restrições ao comportamento do consumidor. Neste caso, o axioma fraco providência
condição necessária e suficiente para se ter preferência racionais!!!!
Notas de Aula