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A aula aborda a avaliação de danos ao patrimônio cultural, com base na Constituição Federal de 1988 e na NBR 14653, destacando a importância da proteção e valoração dos bens culturais. Discute-se o conceito de dano, suas classificações e a dificuldade em mensurar economicamente os danos ao patrimônio cultural. A aula é dividida em tópicos que incluem a definição de patrimônio, tipos de danos e valores admitidos, enfatizando a necessidade de uma abordagem multidimensional na avaliação.

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A aula aborda a avaliação de danos ao patrimônio cultural, com base na Constituição Federal de 1988 e na NBR 14653, destacando a importância da proteção e valoração dos bens culturais. Discute-se o conceito de dano, suas classificações e a dificuldade em mensurar economicamente os danos ao patrimônio cultural. A aula é dividida em tópicos que incluem a definição de patrimônio, tipos de danos e valores admitidos, enfatizando a necessidade de uma abordagem multidimensional na avaliação.

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AULA 2

AVALIAÇÃO DE DANOS EM
PERÍCIAS DE ENGENHARIA E
ARQUITETURA

Prof. Endi Guizzo


INTRODUÇÃO

Dano ao patrimônio cultural: parte 1

A proposta desta aula é mergulhar no conceito de dano ao ambiente no


patrimônio cultural. Iniciaremos estudando o conceito conforme a Constituição
Federal de 1988 e com a classificação, definição e designação dos bens à luz da
ABNT NBR 14653: Avaliações de bens – Parte 7: Bens de patrimônio histórico e
artístico (2005).
Uma das referências bibliográficas base para o desenvolvimento desse
conteúdo foi a publicação do Ministério Público por meio da Comissão de Meio
Ambiente do Conselho Nacional do Ministério Público (CMNP) intitulada Diretrizes
para valoração de danos ambientais (2021), a qual explora as dimensões de
danos seus valores admitidos e métodos mais aplicados no âmbito do Ministério
Público. Será possível entender as ligações e fundamentações entre os
procedimentos de valoração da norma com as utilizadas no Ministério Público;
nesta aula abordaremos o método do custo de reposição. Em razão da
profundidade do assunto, ele será discutido em duas aulas, e esta é a primeira
delas.

TEMA 1 – CONCEITO DE DANO AO PATRIMÔNIO CULTURAL

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 216 define o patrimônio cultural


brasileiro da seguinte maneira:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza


material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
• I - as formas de expressão;
• II - os modos de criar, fazer e viver;
• III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
• IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
• V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
• § 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá
e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários,
registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras
formas de acautelamento e preservação.
• § 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da
documentação governamental e as providências para franquear sua
consulta a quantos dela necessitem. (Vide Lei nº 12.527, de 2011)
• § 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento
de bens e valores culturais.

2
• § 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na
forma da lei.
• § 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de
reminiscências históricas dos antigos quilombos.
• § 6º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo
estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua
receita tributária líquida, para o financiamento de programas e
projetos culturais, vedada a aplicação desses recursos no pagamento
de: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
• I - despesas com pessoal e encargos sociais; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
• II - serviço da dívida; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de
19.12.2003)
• III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos
investimentos ou ações apoiados. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 42, de 19.12.2003) (Brasil, 1988)

Conforme as Diretrizes para a valoração de danos ambientais (CNMP,


2021), o conceito de dano ao patrimônio cultural não está definido na legislação
brasileira. Ainda segundo o CNMP (citado por Gomes, 2001), é considerado dano
ao patrimônio cultural aquele que afeta, total ou parcialmente, a integridade de um
bem cultural, corpóreo ou incorpóreo na sua dimensão de memória.

Donde, deve afetar o núcleo simbólico do bem, o que o torna


representativo para a comunidade que nele se revê. Note-se que o bem
pode valer por si, exclusivamente, ou pode estar inserido num contexto
que mantenha com ele uma relação interpretativa e informativa. Daí que
o dano possa refletir-se direta e exclusivamente sobre a coisa em que
encarna o bem cultural (mutilação de uma estátua, destruição da
fachada de um palácio, supressão de páginas de um livro único), ou
indiretamente (exclusiva ou simultaneamente) sobre o bem cultural
porque (o) afeta (e a) o seu contexto. (Gomes, 2001)

Ainda de acordo com as Diretrizes... do CNMP (2021), o dano é entendido


de forma ampla, dado o conceito de patrimônio cultural, pois, em razão das
diversas dimensões de um determinado cultural, com ou sem materialidade
(tridimensionalidade), seja dotado de uma aura que o torna merecedor de
proteção e capaz de transcender o presente para as futuras gerações. No que diz
respeito à dimensão cultural do meio ambiente, o dinamismo e a historicidade são
elementos essenciais a serem considerados na equação avaliativa, uma vez que
a sociedade e sua percepção sobre o patrimônio estão em constante
transformação. O CNMP (2021, p. 120) cita Steigleder (2010, p. 81), observando
que

o problema a ser superado é que, enquanto os valores culturais são


dotados de subjetividade, relatividade e mutabilidade, a depender dos
processos históricos de sua formação e afirmação, os valores
econômicos necessitam ser pragmáticos e objetivos. Ou seja,
pressupõem que os valores culturais sejam pré-selecionados e
submetidos a uma escala de prioridades, que simplifique o objeto de
investigação.
3
Esse paradoxo, sem dúvida, gera dificuldades que não permitem que os
operadores do direito ignorem ou desvalorizem os danos ao patrimônio cultural.
O CNMP, ainda na mesma publicação, cita Miranda (2020, p. 513)
apresentando exemplos de danos que recaem sobre o patrimônio. Observe:

a destruição, deterioração, inutilização de prédios e documentos


históricos, a descaracterização e o abandono de edificações tombadas,
a demolição às pressas e às ocultas de bens inventariados ou em
processo de tombamento, a pichação de sítios arqueológicos rupestres,
a extração e o comércio clandestinos de fósseis e bens de valor
arqueológico, a subtração e o comércio descontrolado de imagens
sacras coloniais, a explosão de grutas que guardam vestígios
arqueológicos e paleontológicos para exploração de recursos minerais,
a pichação de monumentos urbanos, as construções em frontal
desrespeito às normas de ordenamento urbano, a poluição visual em
cidades históricas e turísticas, o descaso com bibliotecas, museus,
teatros, cinemas e demais espaços destinados às manifestações
culturais, a arbitrariedade lesiva a formas de fazer e viver tradicionais.
(CNMP, 2021, p. 120)

TEMA 2 – CLASSIFICAÇÃO, DEFINIÇÃO E DESIGNAÇÃO DOS BENS

A definição da NBR 14653-7 (ABNT, 2005) é:

bem, móvel ou imóvel, tombado individualmente ou em conjunto,


portador de referências à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: obras,
objetos, documentos, edificações, demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais e os conjuntos urbanos e sítios de valor
histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico e científico,
cuja conservação seja do interesse público, quer por sua vinculação a
fatos memoráveis da história, quer por sua notória expressão artística ou
arquitetônica, que por sua importância arqueológica, antropológica ou
cientifica.

A NBR 14653–7 (ABNT, 2005), é específica para a avaliação de patrimônio


histórico e artístico, desenvolvendo a classificação e designação dos bens a ela
relacionada da seguinte forma:

1.Imóveis:
1.1) segundo seu aspecto físico:
- edificações (como templos, fortificações, palácios, casas de câmara e
cadeiras, residenciais e fábricas);
- monumentos (como obelisco, arcos, esculturas, memoriais e pinturas
monumentais);
- elementos de infraestrutura (como aquedutos, chafarizes e pontes);
- vestígios arqueológicos (como inscrições rupestres, cavernas
habitadas pelo homem pré-histórico).
1.2) segundo sua conservação:
- em ruínas;
- parcialmente deteriorado;
- regular;
- conservado;
1.3) segundo seu estado em relação à concepção original:
- preservado;

4
- restaurado;
- reconstruído;
- adaptado;
- descaracterizado;
1.4) segundo o seu uso original:
- residencial;
- industrial;
- comercial e de serviço;
- institucional (governamental, religioso, militar e outros).
1.5) segundo a natureza do tombamento:
- imóvel isolado;
- agrupamento de edificações;
- conjunto arquitetônico, paisagístico ou urbanístico;
- sítios.
2.Bens integrados:
2.1) segundo o tipo, entre outros:
- baixo relevo e alto relevo;
- coluna e seus elementos;
- frontão, friso ou cornija;
- escultura;
- escadaria e balaústre;
- mural de azulejos ou pinturas
- parlatório, púlpito e coro;
- retábulo e altar;
- vitral e muxarábi;
2.2) segundo o material de execução e o acabamento, entre outros:
- cerâmica e azulejo;
- madeira;
- metal;
- pedra;
- óleo sobre tela ou sobre madeira;
- afresco;
- vidro e cristal.
2.3) segundo a localização no contexto do imóvel:
- em espaços intermediários (em pórticos, pátios, átrios, galerias e
escadarias externas, pilotis, entre outros);
- extrema (em fachadas, frontões, frontispícios, sacadas, jardins,
caminhos, telhados, beirais, entre outros);
- interna (em salas, tetos, naves centrais, transeptos, superfícies e
nichos de paredes internas, abóbodas entre outros).
2.4) segundo a autoria:
- anônima;
- atribuída;
- reconhecida.
2.5) segundo sua preservação e integridade:
- preservado;
- restaurado;
- descaracterizado. (ABNT, 2005)

TEMA 3 – TIPOLOGIA, DIMENSÕES DE DANOS AO PATRIMÔNIO CULTURAL


E VALORES ADMITIDOS

3.1 Tipos e dimensões de danos

Segundo Miranda (2020, p. 513, citado por CNMP, 2021), em um olhar


voltado para patrimônios dotados de corpo físico e com tridimensionalidade, os
tipos de danos passíveis de serem reparados pela via de indenização:

5
i. Danos materiais reversíveis:
Podem e devem ser restaurados. Sempre que possível, o retorno do bem
ao seu estado anterior (ou o mais próximo dele), é medida prioritária e
impositiva na reparação dos bens culturais
ii. Danos materiais irreversíveis:
Os danos materiais irreversíveis são aqueles que recaíram sobre o
conjunto de bens ou do bem não mais passível de restauração, de forma
total ou parcial, seja pelo grau de deterioração, seja pela
desproporcionalidade dessa opção. Tanto o dano parcial quanto o total,
conforme a Diretriz, a obrigação remanescente há de ser compensada por
meio da indenização ou pela assunção1 de outra obra ou ação que venha
a recuperar bem de valor análogo. Nesses casos, se fará necessária a
aplicação de uma metodologia científica capaz de aferir, da forma mais
precisa possível, o valor perdido e o valor a ser ressarcido.
iii. Danos interinos e sociais:
Os danos interinos ou sociais são aqueles que se apresentam entre o
momento da ação ou omissão gravosa ao patrimônio cultural e o pleno
restabelecimento do bem atingido. Trata-se de contemplar a comunidade
pelos danos ao bem difuso naquele lapso temporal que medeia entre a
conduta danosa e a efetiva reparação.
iv. Danos morais coletivos:
Os danos morais coletivos são reservados para os casos mais graves e
que sejam capazes de privar a coletividade das sensações espirituais
(emotivas, afetivas, hedônicas, evocativas e estéticas) desfrutadas pela
conexão com o bem cultural. (elaborado com base em CNMP, 2021, p. 122,
grifos nossos)

Dessa forma, e conforme as Diretrizes do CNMP (2021), é muito difícil


estabelecer uma metodologia cientifica para estimar o valor econômico ligado ao
patrimônio cultural imaterial e intangível, por isso, estes valores, frequentemente,
são arbitrados. A Steigleder (2010, p. 57, citado por CNMP, 2021, p. 123) ainda
aponta a dificuldade na “mensuração econômica dos danos ao patrimônio cultural
é assimilar a limitação de todas as metodologias disponíveis”. Elas são
insuficientes porque “nenhuma delas conseguirá identificar o valor do dano, mas

1 Ação ou resultado de assumir.


6
apenas valores associados ao patrimônio lesado, já que este é qualificado por
valores imateriais não mensuráveis economicamente”. Dessa forma, tendo ciência
das diferentes camadas de entendimento da questão, aqui vamos nos concentrar
somente no âmbito material, visto que se trata de uma matéria ligada a perícias
de Engenharia e Arquitetura.

3.1 Valores admitidos

As Diretrizes... do CNMP (2021) reforçam a dificuldade em definir critérios


para selecionar ou eleger os bens culturais que efetivamente mereçam ser
protegidos e valorados economicamente, conforme determinado no art. 216,
parágrafo 1º, da Constituição (Brasil, 1988). Assim, foi necessário montar os
principais valores que recaem sobre os bens culturais; após ampla análise
bibliográfica das métricas para valor, sintetizamos um plano axiológico2 como
ponto de partida:

1. valores de antiguidade: associados à data de criação e execução do


bem, os quais abarcarão um arco temporal menos avançado em direção
ao passado quanto mais jovem for a cidade ou vilarejo onde se situa o
bem;
2. valores de testemunho: associados à capacidade incorporada pelo
bem de evocar o passado, de se constituir em um texto não escrito capaz
de desempenhar uma função documental (quanto mais preservado o
bem, maior a eloquência do testemunho que ele presta por sua simples
existência);
3. valores de uso: associados às potencialidades contemporâneas de
uso, acessibilidade, conservação, praticidade, vocação turística,
funcionalidade do bem cultural;
4. valores artístico-formais: relacionados às peculiaridades estéticas,
artísticas, de forma, de ambiências aglutinados ao bem cultural;
5. valores morais ou afetivo-espirituais: relativos às relações
subjetivas das comunidades com o espaço por elas ocupado e que
implicam um sentido de pertença a determinado grupo e forte vinculação
a determinado território;
6. valores de singularidade/raridade: são aqueles que derivam da
peculiar condição do bem que, por ser único, apresente elevada
vulnerabilidade à extinção. (CNMP, 2021, p. 121)

A NBR 14653-7 (ABNT, 2005) foca o conceito de avaliação somente nos


bens, desenvolvendo o conceito de valor para três definições específicas:

2
Diz respeito a valores e princípios éticos ou morais. É um termo usado para discutir questões
relacionadas à avaliação de valores, como o que é considerado certo ou errado, ou bom ou mau,
e como esses valores influenciam comportamentos e decisões. Em contextos como filosofia,
sociologia e direito, o conceito é importante para entender como valores moldam normas e
ações.
7
1. Valor Histórico-Cultural:
Valor de bens e imóveis, tombados ou não, que possuem importância
histórica ou cultural;
2. Valor Artístico:
Valor de bens e imóveis, tombados ou não, que possuem, pela sua
concepção estética e maestria de execução, importância na história da
arquitetura e da arte.
3. Valor Excepcional:
Valor atribuído a conjunto de bens, tombados ou não, por sua notória
empatia emocional. Exemplo de bens como valor excepcional: conjunto
de construções e entono de Ouro Preto, Plano Piloto de Brasília, maciço
do Corcovado e Cristo Redentor. (ABNT, 2005)

TEMA 4 – MÉTODOS APLICADOS PARA VALORAÇÃO DO DANO AO


PATRIMÔNIO CULTURAL

A seguir analisaremos os principais métodos observados nos laudos


técnicos do Ministério Público por meio do Conselho Nacional do Ministério
Público (CNMP), bem como as definições estabelecidas nas normas da ABNT
ligadas ao assunto. Vale ressaltar que as próprias Diretrizes... do CNMP (2021)
mencionam a existência de vários métodos de valoração do dano ambiental, entre
os quais, o dano ao patrimônio cultural.
O dano ao patrimônio cultural apresenta uma dimensão ampla e de difícil
mensuração, pois “os valores tutelados pelo direito, associados a este patrimônio
vão muito além da perda financeira caracterizada pela deterioração ou destruição
do bem ou sítio cultural” (CNMP, 2021 p.131). Segundo Steigleder (2010, p. 57,
citado por CNMP, 2021), os métodos apuram em geral somente valores
associados ao dano ambiental e de origem econômica e “examinam o patrimônio
cultural como um ativo, identificando a disposição do consumidor a pagar pelo
bem-estar proporcionado por sua fruição”, sendo essa uma leitura apenas em uma
camada. Por fim, a autora apresenta uma real dissociação entre a ótica feita pela
economia e a qual o direito se propõem sugerindo uma interdisciplinaridade.
Vale aqui destacar a abordagem apresentada no item 1.2, acima, em que
foram explorados os tipos de danos passíveis de reparo pela via da indenização,
nomeadamente os danos materiais reversíveis e danos materiais irreversíveis,
pois são os diretamente ligados às perícias de Engenharia e Arquitetura.
Conforme as Diretrizes... (CNMP, 2021, p. 122), os danos materiais reversíveis
(degradação por abandono, demolição parcial, inserção de elementos
descaracterizadores etc.) podem e devem ser restaurados, reforçando que,
sempre que possível, o retorno do bem ao seu estado anterior, ou o mais próximo
deste, é a via prioritária e impositiva na reparação dos bens culturais. Entretanto,

8
no caso de perda total de um bem material, como a demolição completa de uma
edificação tombada, cuja reconstrução não seria aceitável (pois isso resultaria na
criação de um falso histórico, uma “trapalhada” sem valor cultural). Nesses casos,
a reparação deve ocorrer por meio do pagamento de uma indenização que abranja
tanto os aspectos materiais quanto os extrapatrimoniais do dano, além da
imposição de obrigações que evitem a obtenção de vantagens ilícitas decorrentes
da demolição, como a restrição de construir acima das dimensões e
características originais do bem destruído.

4.1 Método da quantificação de custo (ABNT NBR)

É uma metodologia utilizada tanto para danos materiais reversíveis, com


foco aqui no orçamento do custo do restauro do bem atingido e em danos
materiais irreversíveis para o caso de se estabelecer o custo de uma nova
edificação similar à perdida.
A NBR 14653-1 (ABNT, 1998) utiliza, entre outras, a quantificação de custo
para avaliar bens imóveis. Esse método aborda o custo de reproduzir um bem; a
norma o define como “custo necessário para reproduzir um bem idêntico, com a
consideração dos seus insumos pertinentes, sem considerar eventual
depreciação”.
A ABNT NBR 14653-2: Avaliações de bens – Parte 2: Imóveis urbanos
(ABNR, 2011) recomenda esse método para todos os tipos de imóveis a fim de
“identificar o custo de reedição de benfeitorias. Pode ser apropriado pelo custo
unitário básico (CUB) de construção ou por orçamento, com citação das fontes
consultadas.

4.1.1 Identificação de custo pelo custo unitário básico (NBR 12721)

Os principais passos envolvem (ABNT NBR 14653, 2004, p. 13) estão


descritos no item 8.3.1.1 da referida norma sendo eles: vistoria, cálculo da área
equivalente de construção e estimativa do custo de construção.

i. Vistoria: Tem como objetivo principal examinar as especificações dos


materiais aplicados, para estimação do padrão construtivo, a tipologia, o
estado de conservação e a idade aparente.

9
ii. Cálculo da área equivalente de construção: Deve ser calculada de acordo
com a seguinte fórmula, em consonância com o previsto na NBR 12721
para os casos de prédios em condomínio:

Em que:
• S é a área equivalente de construção;
• Ap é a área construída padrão;
• Aqi é a área construída de padrão diferente;

• Pi é o percentual correspondente à razão entre o custo estimado da


área de padrão diferente e a área padrão, de acordo com os limites
estabelecidos na NBR 12721.
iii. Estimativa do custo de construção: Para estimar custo de construção pode-
se aplicar o modelo a seguir:

Em que:
• C é o custo unitário de construção por m² de área equivalente de
construção;
• CUB é o custo unitário básico;
• OE é o orçamento de elevadores;
• OI é o orçamento de instalações especiais e outras, como geradores,
sistemas de proteção contra incêndio, centrais de gás, interfones,
antenas, coletivas, urbanização, projetos etc.
• OFe é o orçamento de fundações especiais;
• OFd é o orçamento de fundações diretas;
• S é a área equivalente de construção, de acordo com a NBR 12721;
• A é a taxa de administração da obra;
• F é o percentual relativo aos custos financeiros durante o período da
construção;
• L é o percentual correspondente ao lucro ou remuneração da
construtora.

10
4.1.2 Identificação de custo pelo orçamento detalhado

Os principais passos envolvem a NBR 14653 (ABNT, 2005, p. 14), descritos


no item 8.3.1.2 da referida norma: vistoria, levantamento dos quantitativos,
pesquisa de custos e preenchimento da planilha orçamentária.

i. Vistoria: Tem como objetivo principal examinar as especificações dos


materiais aplicados, para estimação do padrão construtivo, a tipologia, o
estado de conservação e a idade aparente.
ii. Levantamento dos quantitativos: Nesta etapa, são levantados todos os
quantitativos de materiais e serviços aplicados na obra.
iii. Pesquisa de custo: De acordo com as especificações dos materiais e
serviços utilizados para execução da benfeitoria, são coletados os seus
respectivos custos em fontes de consulta especializadas.
iv. Preenchimento da planilha orçamentária: O preenchimento da planilha
deve ser feito de acordo com o modelo sugerido na NBR 12721 (ABNT,
2004), na qual são discriminados todos os serviços, indicando-se a unidade
de medida, a quantidade, o custo unitário, o custo total e a fonte de
consulta.

Como o enfoque da avaliação de custo é o bem de patrimônio histórico, o


orçamento detalhado com pesquisa em empresas especializadas tende a refletir
uma maior acurácia na elaboração do orçamento. Isso se dá em razão das
técnicas pretéritas de construção, com elementos de diferentes dimensões e
tecnologias construtivas de cunho mais artesanal, menos utilizadas atualmente, e
da disponibilidade no mercado corrente dos materiais construtivos.

4.1.3 Área equivalente (ABNT NBR 12721)

Conforme a NBR 14653 (ABNT, 2004, p. 17), área equivale é

uma área virtual cujo custo de construção é equivalente ao custo da


respectiva área real, utilizada quando este custo é diferente do custo
unitário básico da construção adotado como referência. Por ser,
conforme o caso, maior ou menor que a área real correspondente.

A norma recomenda que os coeficientes de equivalência de custo, perante


o custo padrão da construção, sejam calculados para cada dependência que for
empregado, respeitando três passos:

11
i: cada dependência deve ser considerada em três dimensões, tendo seu
custo real efetivo orçado ou estimado com os mesmos critérios utilizados
no orçamento-padrão, ou seja:
i’: com os acabamentos efetivamente empregados nessa dependência;
i’’: com o critério de delimitação de perímetro de áreas dessa dependência
da seguinte forma: incluir as paredes externas não confrontantes com
outra área construída, e incluir a metade da espessura da parede
confrontante com as outras áreas construídas.
ii: o custo unitário equivalente dessa dependência será obtido pela divisão do
custo orçado ou estimado conforme item i, dividindo pela respectiva área
definida no item i’’. Como esse custo é simplificado por definição, podem
ser desconsideradas neste cálculo as eventuais repercussões indiretas de
custo – nas estruturas, fundações etc.;
iii: o coeficiente para cálculo da equivalência de área é o resultado da divisão
do custo unitário dessa área dividindo pelo último custo unitário básico de
mesmo padrão divulgado oficialmente.

A norma prevê ainda que, na falta destas demonstrações, podem ser


utilizados os seguintes coeficientes médios utilizados no cálculo de equivalência
de área dos projetos-padrão, que são:

a. Garagem (subsolo): 0,50;


b. Área privativa (unidade autônoma padrão): 1,00;
c. Área privativa salas com acabamentos: 1,00;
d. Área privativa salas sem acabamento: 0,75 a 0,90;
e. Área de loja sem acabamento: 0,40 a 0,60;
f. Varandas: 0,75 a 1,00;
g. Terraços: 0,30 a 0,60;
h. Estacionamento sobre terreno: 0,05 a 0,10;
i. Área de projeção de terreno: 0,00;
j. Área de serviço – residência unifamiliar padrão baixo (aberta): 0,50;
k. Barrilete: 0,50 a 0,75;
l. Caixa d’água: 0,75;
m. Casa de máquinas: 0,50 a 0,75.

12
TEMA 5 – MÉTODO DO CUSTO DE REPOSIÇÃO

Essa metodologia é utilizada para os danos materiais irreversíveis. Sertã


Junior (2019, p. 55) aborda o conceito de reposição e reprodução, afirmando que
estes são correlacionados, visto que “o Valor de Reposição tem um Custo de
Reprodução”. O autor ainda descreve que

o Valor de Reposição traduz um valor auferível para a substituição de


um bem por outro de mercado de mesmas características ou com
similaridade satisfatória. Já o Custo de Reprodução poderia ser
considerado quando a hipótese de reposição não se mostrasse factível
numa transação, compelindo ao conceito de reprodução. Assim, o Custo
de Reprodução seria calculado com base na despesa correspondente
para se reproduzir um bem idêntico. (Sertã Junior, 2019, p. 55)

As Diretrizes... do CNMP (2021) dão relevo ao Método de Custo de


Reposição para o cálculo do dano ao patrimônio cultural. O documento ainda cita
o respaldo, a partir de 2004, para tal procedimento

por normas técnicas reconhecidas pela Associação Brasileira de Normas


Técnicas (ABNT). Esta oferece o conjunto da NBR 14.653, Avaliação de
bens, partes 1 a 7, que, por sua vez, busca amparo na NBR 12.721:2006,
avaliação de custos unitários de construção para incorporação
imobiliária e outras disposições para condomínios edifícios (CUB), para
subsidiar um de seus procedimentos.

O método Custo de Reposição, adverte Araújo (2011, p. 47),

se baseia nos custos de restauração e/ou reposição de um patrimônio


ambiental alterado por um dano existente. O conhecimento desses
custos a preços de mercado representará uma aproximação dos custos
necessários para restabelecer os benefícios que antes existiam ou que
poderiam ser proporcionados no futuro. O MCR pode ser tido como uma
medida do dano ocorrido, conforme Nogueira et al. (2000). Assim, os
custos necessários para a reposição do patrimônio em suas
características originais serão uma aproximação dos benefícios
anteriormente vigentes e proporcionados à sociedade. Sua
operacionalização é o cômputo dos gastos totais para reparação de um
dano que tenha atingido a qualidade ou a quantidade de um bem ou
serviço ambiental.

A aplicação é feita, na maioria das vezes, em edificações demolidas ou


muito degradadas e que não podem, ou não devem, ser recuperadas ou mitigadas
na totalidade, podendo também ser utilizado na valoração de dano em obras de
arte como monumentos, esculturas, lápides etc. O principal ponto aqui é que o
método traduz o valor do objeto físico (tridimensionalidade), e não o valor cultural,
visto que não capta o intangível. O resultado é um valor associado ou próximo ao
do bem cultural.

13
Conforme as Diretrizes... (CNMP, 2021, p. 132) as informações mínimas
necessárias para realizar a valoração são:

1. a área construída do imóvel antes da degradação avaliada;


2. o número de pavimentos;
3. a técnica construtiva;
4. os materiais empregados na obra;
5. o uso ao qual se destinava,

De maneira bem simples e resumida, o método consiste em fazer um


orçamento de quanto custaria para refazer o bem perdido. Para simplificar ainda
mais o trabalho a ser desenvolvido, o orçamento detalhado pode ser substituído
por uma estimativa do custo da obra. Essa estimativa é obtida por meio do custo
unitário básico (CUB) específico para cada tipo de obra (térreo ou mais
pavimentos; acabamento simples, médio ou superior; uso da obra se residencial,
comercial etc.; dado obtido na norma técnica NBR 12.721:2006, portanto, uma
informação não subjetiva. Multiplica-se a área (número de metros quadrados do
prédio) pelo valor atualizado do respectivo custo unitário básico da tipologia
correspondente à edificação perdida, e somam-se as proporções de itens não
computados no CUB (fundações, projetos e BDI), conforme o caso. O resultado
obtido seria o custo de construir um prédio similar.
O método é considerado conservador, pois traduz, em moeda corrente, um
valor mínimo para o bem; embora o bem cultural possa valer muito mais,
estabelece um piso, garantindo que não possuirá um valor inferior ao custo de
reprodução daquele bem. Como o Custo de Reposição determina um valor
mínimo para a edificação, e menos do que isso seria impossível reconstruir, não
abre margem para o investigado barganhar por valores inferiores.
Os relatos descritos nas Diretrizes... do CNMP (2021, p. 132) mostram uma
segurança jurídica do método no rito processual visto que

Outra vantagem do método é resistir por diversos anos desde 1940 em


diversos países, e no Brasil estar embasado em uma NBR, da ABNT22
havendo, portanto, uma chancela institucional. A utilização do custo de
reposição, por ser este extremamente conservador, evita ou reduz
enormemente contestações e impugnações, permitindo um grau de
certeza sobre o valor mínimo a requerer na proposta de eventual termo
de compromisso de ajustamento de conduta, ou em ação civil pública.

O próprio CNMP (2021) reconhece que o método é limitado, pois não capta
de forma abrangente o valor cultural, visto que não consegue abarcar na totalidade
o valor do dano nas esferas artístico-formal, de antiguidade, de testemunho, de
14
uso, de raridade, além de valores espirituais e afetivos. Todavia, estabelece um
valor mínimo aceitável para a indenização de um bem cultural não mais passível
de reparação física. Estabelece ainda uma relação direta e indireta entre a
degradação e a reparação por meio de uma lógica intuitiva básica ao se pensar
em prejuízo e a reparação por um dano provocado. Steigleder (2012, citada por
CNMP, 2021) defende ser um ponto de partida importante para a valoração a ser
utilizado como mecânica de cálculo em alternativa mais fundamentada aos
métodos que consideram somente o CUB ou o valor venal/cadastral.
Por fim, o método custo de reposição (MCR), conforme o CNMP (2021, p.
140) “[...] estará sob a hipótese forte que um patrimônio histórico negativamente
impactado possa ser ‘recuperado/reconstruído’. O MCR fornece o valor mínimo
(piso) desse patrimônio”.

5.1 Tabela de aplicação do método custo de reposição

Tabela 1 – Tabela de aplicação do método custo de reposição

Fonte: CNMP, 2021, p. 133.

Para exemplificar o método, a seguir será valorada uma edificação


tombada que foi demolida e cuja reconstrução não é mais possível, pois o material
de demolição foi removido. A edificação possuía 450 m² de área construída, com
características de alto padrão.
O CUB padrão alto consultado na tabela divulgada pelo Sindicato da
Indústria da Construção Civil de Grandes Estruturas (SINDUSCON) em novembro

15
de 2024, indica R$ 3.627,52/m². Assim, ao aplicarmos a metodologia, obtemos o
valor total de R$ 2.660.581,80 conforme a tabela a seguir:

A Área construída (m²): 450,00

B CUB (R$): 3.627,52

C Área x CUB AXB 4.077,52

D Fundações: 10% de C 407,75

E Projetos: 6% de C 244,65
Subtotal (CUB + fundações + projetos
F C+D+E 4.729,92
complementares):

G BDI (benefícios e despesas indiretas): 25% F 1.182,48

H Subtotal + BDI: F+G 5.912,40

TOTAL R$ 2.660.581,80

Destacamos ainda que o valor do terreno não é objeto do cálculo do dano,


visto que permanece sendo do proprietário.

16
REFERÊNCIAS

ARAUJO, R. C. de. Valoração econômica do dano ambiental em inquérito civil


público. Brasília. Escola Superior do Ministério Público da União, 2011.
Disponível em: https://escola.mpu.mp.br/publicacoes/obras-avulsas/e-books-
esmpu/valoracao-do-dano-ambiental-em-inquerito-civil-publico. Acesso em: 12
nov. 2024.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 12721:2003 Avaliação


de Custo de Construção para Incorporação Imobiliária e Outras Disposição para
Condomínio Edilícios. Rio de janeiro, ABNT, 2003.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13752: Perícias de


engenharia na construção civil. Rio de janeiro, ABNT, 1996.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14653-1: Avaliação de


bens – Parte 1: Procedimentos gerais. Rio de janeiro, ABNT, 2019.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14653-2: Avaliação de


bens – Parte 2: Imóveis Urbanos. Rio de janeiro, ABNT, 2011.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14653-7: Avaliação de


bens – Parte 7: Bens de patrimônio histórico e artístico. Rio de janeiro, ABNT,
2009.

BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. Diretrizes para valoração de


danos ambientais. Brasília: CNMP, 2021.

BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988.

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Brasília,


DF, 11 jan. 2002. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em:
12 nov. 2024.

INSTITUTO DE AVALIAÇÕES E PERÍCIAS DE SÃO PAULO. Perícias judiciais


de engenharia e arquitetura. São Paulo, 2022.

INSTITUTO DE AVALIAÇÕES E PERÍCIAS DE SÃO PAULO. Norma básica para


perícias de engenharia do IBAPE/SP. São Paulo, 2022.

17
MAGLIANO, M. M. Valoração econômica em laudos periciais de crimes
contra o meio ambiente. Dissertação (Mestrado em Perícias Criminais
Ambientais) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013.

MELLO JR, A. C. de A. O dano: responsabilidade civil. Revista da EMERJ, v. 3,


n. 9, 2000. Disponível em:
https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista09/Revista09_46.
pdf. Acesso em: 12 nov. 2024.

MICHAELIS – Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Disponível em:


https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/.
Acesso em: 12 nov. 2024.

SERTÃ JUNIOR, L. R. C. Perícia judicial: fundamentos, ferramentas, meio


ambiente. Rio de Janeiro, 2019.

STEIGLEDER, A. M. Critérios de valoração econômica dos danos a bens culturais


materiais. Revista Magister de Direito Ambiental e Urbanístico, Ano V, n. 27,
p. 57-82, 2010.

TJDFT – Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Página Dano


material dano moral e dano estético. 2021. Disponível em:
https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-
facil/edicao-semanal/dano-material-dano-moral-e-dano-estetico. Acesso em: 13
nov. 2024.

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