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ISSN : 2176-5804 VOL.
Vol.27
32 |N.Agosto/2020
1 - Jul/2022
2009 - 2022
NDIHR
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO / NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL NDIHR
RESUMO
Esse artigo tem por objetivo apresentar algumas problematizações acerca do campo do patrimônio
cultural, tendo como perspectiva de análise as categorias material e imaterial. Algumas
contribuições em âmbito historiográfico mais gerais, bem como associadas as políticas
patrimoniais no Brasil também estão presentes. Nesse sentido, adotou-se a metodologia de análise
e interpretação dos conceitos e discussões abordados por alguns autores, como por exemplo:
Choay (2006); Poulot (2009); Hartog (2014); Funari; Pelegrini (2006); Gonçalves (2009). Dessa
forma, a pesquisa indicou que os diversos significados e atribuições relacionadas aos conceitos
de patrimônio cultural não são excludentes. Eles são complementares, na medida em que revelam
os processos permanentes de recriação cultural vinculados à memória coletiva provenientes das
relações sociais e culturais contemporâneas.
ABSTRACT
This article aims to present some problematizations about the field of cultural heritage, having as
a perspective of analysis the material and immaterial categories. Some contributions in a more
general historiographical scope, as well as those associated with heritage policies in Brazil are
also present. In this sense, the methodology of analysis and interpretation of the concepts and
discussions addressed by some authors was adopted, such as: Choay (2006); Poulot (2009);
Hartog (2014); Funari; Pelegrini (2006); Goncalves (2009). Thus, the research indicated that the
different meanings and attributions related to the concepts of cultural heritage are not exclusive.
They are complementary, insofar as they reveal the permanent processes of cultural recreation
linked to collective memory arising from contemporary social and cultural relations.
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espaço e tempo. Com o passar dos anos, essa palavra assumiu diferentes conceitos e
aspectos, evoluindo de acordo com a própria evolução do ser humano em suas práticas
sociais e culturais.
O antropólogo José Reginaldo Santos Gonçalves lança reflexões sobre O
patrimônio como categoria de pensamento1. Segundo o autor, apesar de usarmos esta
palavra com frequência no cotidiano, a mesma denota inúmeras qualificações, o que
demonstra ser fundamental para os estudos sociais enquanto categoria de pensamento
humano. Dentre algumas qualificações, podem-se citar os segmentos ligados a:
economia, finanças, cultura, arquitetura, história, artes, etnografia, ecologia, genética e, o
mais recente aspecto, o caráter intangível do patrimônio (GONÇALVES, 2009, p. 25).
A escolha ou determinação do que é categorizado e/ou legitimado enquanto
patrimônio por um grupo social está relacionado principalmente à construção e atribuição
de valor simbólico ao mesmo. Reinaldo Dias (2006) utiliza os conceitos de atribuição de
valor propostos pelo historiador e professor da Universidade de Barcelona Josep Ballart2
que assim os definiu:
- valor de uso: ocorre em função de sua utilidade. Pode somar-se a esse
valor a atual visão econômica na qual o patrimônio pode ser utilizado
para o desenvolvimento das comunidades;
- valor formal: apreciados pela atração que causam sobre os sentidos.
Valor estético;
- valor simbólico-significativo: enquanto veículos que relacionam o
passado e o presente. Atuam como ponte entre pessoas separadas pelo
tempo. São símbolos que atribuem significados ao passado (DIAS,
2006, p. 77).
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Peter Burke (2008) em seu livro O que é História Cultural? aponta que há mais de
200 anos a História Cultural já era praticada na Alemanha e que “antes disso, havia
histórias separadas da filosofia, pintura, literatura, química, linguagem e assim por
diante” (BURKE, 2008, p. 15). Com uma visão contemporânea, o autor destaca que a
História Cultural
[...] foi arena em que se desenvolveram algumas discussões mais
estimulantes e esclarecedoras do método histórico. Ao mesmo tempo,
os historiadores culturais e também os historiadores sociais vêm
ampliando o território da profissão, além de tornar o assunto mais
acessível para um público mais amplo (BURKE, 2008, p. 163).
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patrimônio cultural - natural) (DIAS, 2006, p. 107). Além disso, foram introduzidas
gradativamente outras dimensões patrimoniais que contribuíram para a evolução do
conceito: patrimônios de valor local, indígenas, afrodescendentes, mulheres, grupos
religiosos, imigrantes, dentre outros. Para Funari; Pelegrini (2006),
Essa multiplicação patrimonial ocorreu em conjunto com a crescente
participação das próprias pessoas na gestão dos bens patrimoniais,
culturais e ambientais, que deixaram de ser apenas preocupação da
administração pública nacional (FUNARI; PELEGRINI, 2006, p. 23).
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NOTAS
1
Comunicação apresentada na mesa redonda Patrimônios emergentes e novos desafios: do genético ao
intangível, durante a 26ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais,
realizada em Caxambu, em 23 de outubro de 2002. Foi publicado em 2009, enquanto capítulo do livro:
Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos, organizado por Regina Abreu e Mário Chagas.
2
BALLART, Josep. El património histórico y arqueológico: valor y uso. Barcelona: Ariel, 1997.
3
Conferência Magna apresentada durante o I Fórum Nacional do Patrimônio Cultural, realizado em Ouro
Preto/MG em 2009. Os anais foram publicados foram publicados em 2012 pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. O material completo está disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/Anais2_vol1_ForumPatrimonio_m.pdf. Acesso em
14/10/2021.
4
Meneses (2009) utiliza a exemplificação do cartum da Catedral Gótica durante toda a Conferência Magna
proferida. Nesse sentido, considero relevante apresentar o contexto abordado pelo autor naquele momento,
pois nos leva a refletir sobre o sentido e a importância que direcionamos ao patrimônio cultural. Segundo
o autor, “Essa imagem me acompanha desde que comecei a me interessar pelo patrimônio cultural, pela sua
capacidade de sintetizar uma série de problemas com uma extraordinária força de convicção que só os
artistas são capazes de obter (tenho a vaga memória de que o cartunista seria Sempé). Nessa imagem, no
interior hierático, solene e penumbroso de uma catedral gótica (Chartres), aparece uma velhinha
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FONTES DOCUMENTAIS
REFERÊNCIAS
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MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. O campo do patrimônio cultural: uma revisão
de premissas. In: IPHAN. I Fórum do Patrimônio cultural: Sistema Nacional de
Patrimônio Cultural: desafios, estratégias e experiências para uma nova gestão.
Brasília/DF: IPHAN, 2012.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. 2. ed. 2. reimp. Belo
Horizonte: Autêntica, 2008.
POULOT, Dominique. Uma história do patrimônio no Ocidente, séculos XVIII-XXI: do
monumento aos valores. Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. São Paulo:
Estação Liberdade, 2009.
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