Dialeto mineiro
Dialeto mineiro Mineirês | ||
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Falado(a) em: | Minas Gerais | |
Região: | Centro, leste e sudeste de Minas Gerais | |
Total de falantes: | 10,6 milhões de pessoas | |
Família: | Indo-europeia Línguas itálicas Língua portuguesa Português brasileiro Falares meridionais Dialeto mineiro | |
Estatuto oficial | ||
Língua oficial de: | sem reconhecimento oficial | |
Regulado por: | sem regulamentação oficial | |
Códigos de língua | ||
ISO 639-1: | --
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ISO 639-2: | ---
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O dialeto mineiro é o dialeto da língua portuguesa do Brasil falado nas regiões central, leste e sudeste do estado de Minas Gerais.[1] É um dos dialetos mais distinguíveis do Brasil. Dos três falares presentes no estado, é o único falar autóctone, ou seja, nativo, e endêmico, isto é, limitado a Minas Gerais, e é o falar mais comum entre os habitantes mineiros: cerca de metade da população.
Estudo linguístico
O primeiro estudo linguístico voltado especificamente para o estado de Minas Gerais foi o Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais (EALMG), realizado pela UFJF em 1977.[2][3] Teve como autores os quatro professores linguistas Mário Roberto Lobuglio Zágari, José Ribeiro, José Passio e Antônio Gaio.[4] Foi o segundo atlas linguístico realizado no Brasil.
Demografia
O dialeto mineiro ocupa as regiões central, leste e sudeste do estado de Minas Gerais. Notavelmente inclui a fala da capital, Belo Horizonte, do Vale do Aço, da Zona da Mata e das cidades históricas: Ouro Preto (capital de 1720 a 1897), Mariana (primeiro povoado significativo, em 1696), Santa Bárbara, Sabará, Diamantina, Tiradentes, São João del-Rei, Caeté, Congonhas, Serro, Itabira.
Segundo o critério dialetológico e a pesquisa de campo realizados pelo EALMG, o dialeto mineiro não é falado nas regiões Sul de Minas, Oeste de Minas, Triângulo Mineiro e norte de Minas.
É o falar mais representativo no estado: 50% da população mineira falam o dialeto mineiro.
Distribuição geográfica
Ver também: Lista de municípios de Minas Gerais por população
Segundo a classificação geográfica mais moderna do IBGE (em que há uma hierarquia de regiões intermediárias, regiões imediatas e municípios), adotada em 2017 e que substituiu a classificação adotada em 1989 (hierarquia de mesorregiões, microrregiões e municípios), e conforme o EALMG,[5][6] as regiões que falam o dialeto mineiro correspondem aproximadamente às quatro seguintes regiões geográficas intermediárias do estado mineiro.
- Região geográfica intermediária de Belo Horizonte
- Região geográfica intermediária de Barbacena
- Região geográfica intermediária de Ipatinga
- Região geográfica intermediária de Juiz de Fora
Região geográfica intermediária de Belo Horizonte (centro de MG)
Composta pelas regiões geográficas imediatas de Belo Horizonte, Sete Lagoas, Santa Bárbara-Ouro Preto, Curvelo e Itabira.[7]
Os municípios mais populosos desta região geográfica intermediária são: Belo Horizonte, Contagem, Betim, Ribeirão das Neves, Sete Lagoas, Santa Luzia, Ibirité, Sabará, Vespasiano, Itabira, Nova Lima, Curvelo, Ouro Preto, Esmeraldas, Lagoa Santa, Pedro Leopoldo, Mariana e Itabirito.
Região geográfica intermediária de Barbacena (centro-sul de MG)
Composta pelas regiões geográficas imediatas de Barbacena, Conselheiro Lafaiete e São João del-Rei.[7]
Algumas exceções são mencionadas pelo EALMG: na região imediata de São João del-Rei, na adjacência da região geográfica intermediária de Varginha, os municípios de Nazareno, São Tiago, São Vicente de Minas e Madre de Deus de Minas falam o dialeto caipira.[carece de fontes]
Os municípios mais populosos desta região geográfica intermediária são: Barbacena, Conselheiro Lafaiete, São João del-Rei e Congonhas.[7]
Região geográfica intermediária de Juiz de Fora (sudeste de MG)
Composta pelas regiões geográficas imediatas de Juiz de Fora, Manhuaçu, Ubá, Muriaé, Cataguases, Ponte Nova, Viçosa, Carangola, São João Nepomuceno-Bicas e Além Paraíba.[7]
Algumas exceções são mencionadas pelo EALMG: na região imediata de Juiz de Fora, na adjacência da região geográfica intermediária de Pouso Alegre, os municípios de Passa Vinte, Liberdade, Arantina, Andrelândia, Santa Bárbara do Monte Verde, Bocaina de Minas e Santa Rita de Jacutinga falam o dialeto caipira.[carece de fontes]
Os municípios mais populosos desta região geográfica intermediária são: Juiz de Fora, Ubá, Muriaé, Manhuaçu, Viçosa, Cataguases, Ponte Nova e Leopoldina.[7]
Região geográfica intermediária de Ipatinga (leste de MG)
Composta pelas regiões geográficas imediatas de Ipatinga, Caratinga e João Monlevade.[7]
Os municípios mais populosos desta região geográfica intermediária são: Ipatinga, Coronel Fabriciano, Caratinga, Timóteo e João Monlevade.[7]
Municípios em outras regiões geográficas intermediárias
Além das regiões acima, o EALMG aponta municípios falantes do dialeto mineiro em outras regiões geográficas intermediárias do estado:
- municípios de Itaguara, Rio Manso, Piracema, Passa Tempo, Itatiaiuçu, Crucilândia, Carmópolis de Minas e Oliveira, localizados na região geográfica imediata de Oliveira, por sua vez na região geográfica intermediária de Divinópolis (dominada majoritariamente pelo dialeto caipira). O município mais populoso dessa região imediata, a que dá o nome, é Oliveira, às margens da rodovia Fernão Dias;
- municípios da região geográfica imediata de Diamantina, que fica na região geográfica intermediária de Teófilo Otoni (dominada majoritariamente pelo dialeto geraizeiro). O município mais populoso dessa região imediata, a que dá o nome, é Diamantina, cidade histórica;
- o município de Conselheiro Pena e outros municípios a leste (até a divisa com o estado do Espírito Santo), na região geográfica imediata de Governador Valadares e de Aimorés-Resplendor; e a região geográfica imediata de Guanhães; regiões imediatas pertencentes à região geográfica intermediária de Governador Valadares (dominada majoritariamente pelo dialeto geraizeiro).[carece de fontes]
Total de falantes
A população total das quatro regiões geográficas intermediárias onde o dialeto mineiro é predominante é de 10,5 milhões de habitantes, o equivalente a 50% da população mineira, que é de 20,5 milhões de habitantes segundo o Censo 2022. Outros 33% da população mineira falam o dialeto caipira e os 17% restantes, o dialeto geraizeiro.[carece de fontes]
História dos falares no estado de Minas Gerais
A geolinguística divide a língua portuguesa em Minas Gerais em três falares com base na fonética, não no léxico.[8][9][10]
Breve história do estado de Minas Gerais e do desenvolvimento do dialeto mineiro
Na última década do século XVII, a região savânica da Capitania de São Vicente foi afluenciada por sertanistas do Vale do Paraíba e por lusitanos vindos do Minho. Após a Guerra dos Emboabas (1707 a 1709), a presença dos paulistas no que se tornou a região aurífera da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro foi reduzida. A região mineradora para além da Serra da Mantiqueira ganhou autonomia e várias de suas aldeias foram transformadas em vilas, das quais a maior era Mariana. Em 1720, essa capitania foi dividida com a criação da Capitania das Minas dos Matos Gerais,[11] com sede em Vila Rica (nome antigo de Ouro Preto). Vila Rica era uma das maiores aglomerações humanas da América.
Em 1763, a capital da América Portuguesa passa a ser o Rio de Janeiro em vez de Salvador.
O ouro e o diamante minerados na capitania eram transportados para o litoral fluminense por um conjunto de estradas chamado Estrada Real. Quatro caminhos constituíam essa rede viária: o Caminho Velho, o Caminho Novo, o Caminho do Sabarabuçu e o Caminho dos Diamantes (esse último, até Diamantina e Serro).[12][13][14]
Por volta de 1820, a região do Sertão da Farinha Podre, então administrada por Goiás, foi incorporada à capitania.[15] É uma região até hoje falante do dialeto caipira.
Em 1824, o vale do rio São Francisco, então pertencente a Pernambuco e colonizado por pessoas vindas da jusante do rio, foi transferido para Minas e Bahia, como punição por uma insurreição.[16] Essa região fala o dialeto geraizeiro.
Em 1822, a Capitania de Minas Gerais passou a se chamar Província de Minas Gerais. Em 1889, com o fim da monarquia, a Província de Minas Gerais foi renomeada para Estado de Minas Gerais. Em 1897, ganhou uma nova capital, Belo Horizonte, construída no antigo arraial Curral D'El Rey.
No Censo de 1900, o Estado de Minas Gerais era o estado mais populoso da República do Brasil, com sete milhões de habitantes. No Censo de 2022, o Estado de Minas Gerais era o segundo estado mais populoso, atrás apenas do Estado de São Paulo. A região mais densamente povoada do estado é a Região Geográfica Imediata de Belo Horizonte.
A região central de Minas Gerais, detentora de grandes riquezas minerais, desenvolveu um falar autóctone e endêmico. Esse falar, mineiro, recebe o nome por ter sido a vertente da língua portuguesa do Brasil falada na região das minas de ouro, e não por ser o único falar presente no estado.
O dialeto mineiro também é chamado de montanhês.
Curiosidade
Belo Horizonte está localizada na zona oeste do falar mineiro, a oitenta quilômetros da isoglossa mineiro-caipira. A diversidade de falares percebidos na capital mineira é explicada, portanto, não somente por sua centralidade econômica, educacional e administrativa - pelo que recebe imigrantes vindos de regiões distantes -, mas também por sua localização geográfica: Florestal, na atual Região Metropolitana de Belo Horizonte, fica a somente vinte quilômetros a leste do município de Pará de Minas, falante do caipira; e Azurita, distrito de Mateus Leme, fica a apenas dez quilômetros de Itaúna.
Breve descrição do contexto de desenvolvimento do dialeto caipira em Minas Gerais
A região adjacente ao estado de São Paulo recebeu considerável migração de paulistas. O sul mineiro, o oeste mineiro e a região do Triângulo Mineiro parecem falar uma mescla entre o dialeto caipira (com o "R" retroflexo) e o dialeto mineiro. O falar caipira em Minas Gerais está em retração em certas zonas de contato com o falar mineiro.[17][8]
É predominante em seis regiões geográficas intermediárias do estado de Minas Gerais:
- Região Geográfica Intermediária de Pouso Alegre
- Região Geográfica Intermediária de Varginha
- Região Geográfica Intermediária de Uberaba
- Região Geográfica Intermediária de Uberlândia
- Região Geográfica Intermediária de Patos de Minas
- Região Geográfica Intermediária de Divinópolis
Cidades importantes, por seu tamanho populacional ou economia turística, onde se fala o dialeto caipira em Minas Gerais são: Uberlândia, Uberaba, Araguari, Ituiutaba, Delta, Frutal, Iturama, Divinópolis, Nova Serrana, Itaúna, Pará de Minas, Luz, Bom Despacho, Abaeté, Bambuí, Formiga, Patos de Minas, Araxá, Patrocínio, Sacramento, São Gotardo, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Varginha, Passos, Lavras, Campo Belo, Arcos, Três Pontas, Boa Esperança, Capitólio, Campanha, Elói Mendes, Alfenas, Três Corações, Itajubá, São Lourenço, Caxambu, Muzambinho, Extrema, Camanducaia.
O dialeto caipira também é chamado de paulista. Porém, não é idêntico ao falar do interior do estado de São Paulo.
Origem e generalidades do dialeto geraizeiro
O norte do estado é uma área extensa e pouco povoada. Recebeu imigrantes vindos principalmente da Bahia, Pernambuco e Ceará, chamados de retirantes, que migravam a montante do rio São Francisco. A partir da Guerra dos Emboabas (1707 a 1709), o fluxo de paulistas para a Capitania de Minas Gerais foi reduzido. Tais condições levaram ao surgimento do dialeto geraizeiro. Esse é o nome também dado ao povo local, povo geraizeiro.
É predominante em seis regiões geográficas intermediárias do estado de Minas Gerais:
- Região Geográfica Intermediária de Montes Claros
- Região Geográfica Intermediária de Teófilo Otoni
- Região Geográfica Intermediária de Governador Valadares
Cidades importantes onde se fala o dialeto geraizeiro em Minas Gerais são: Montes Claros, Governador Valadares, Teófilo Otoni, Paracatu, Unaí, João Pinheiro, Pirapora, Buritizeiro, São Francisco, Januária, Janaúba, Bocaiúva, Várzea da Palma, Espinosa, Salinas, Nanuque, Almenara, Capelinha, Araçuaí, Jequitinhonha, Grão Mogol, Medina, Águas Vermelhas, Itacambira, Itamarandiba, Matias Cardoso, Manga, Malacacheta, Água Boa, Jacinto.
O dialeto geraizeiro também é chamado de catrumano,[18] baianeiro e abaianado. Porém, apesar dos últimos dois termos, não é idêntico ao falar do interior do estado da Bahia.
Estudo discordante
Segundo o EALMG (1977), toda a região de divisa entre Minas Gerais e o estado do Rio de Janeiro fala o dialeto mineiro, bem como a divisa mineira com o estado do Espírito Santo. No entanto, segundo o linguista Antenor Nascentes (1886-1972),[19] num trabalho de 1953, essas duas regiões fronteiriças apresentam o dialeto fluminense. O falar fluminense também domina o interior do estado do Rio de Janeiro - não, porém, seu litoral e Região Serrana, os quais falam o dialeto carioca - e a totalidade do estado do Espírito Santo.[20][21][22][23]
Fonologia
O dialeto mineiro deve ser diferenciado dos outros dois dialetos falados no estado mas surgidos em outras unidades da federação: o dialeto caipira, que cobre áreas do interior de São Paulo, interior do Paraná[24][25], sul, sudoeste e Triângulo de Minas Gerais, sul de Goiás, e leste de Mato Grosso do Sul; e o dialeto geraizeiro, que cobre o norte de Minas Gerais e parte do leste da Bahia.[26][17]
Apresenta as seguintes particularidades fonéticas:
- Ritmo fortemente acentual (as sílabas tônicas são mais longas que as átonas)[27]
- Apócope das vogais curtas: parte é pronunciado partch ['pahtʃ] (com o "T" levemente sibilado).
- Assimilação de vogais consecutivas: o urubu passa a ser u'rubu [u ɾu'bu].
- Permutação de "E" em "I" e de "O" em "U" quando são vogais curtas: Domingo passa a ser Dumíngu [du'mĩgu].
- Aférese do "e" em palavras iniciadas por "es": esporte torna-se sportch ['spɔhtʃ].
- Alguns hiatos passam a ser vogais longas: fio converte-se em fíi.
- Perda do /u/ final. -inho converte-se em -im (exemplo: pinho = pim).
Usa-se, no montanhês, a palatalização, ou bilabização de /d/ e /t/ para [dʒ] e [tʃ] (ou [dᶾ] e [tᶴ]), respectivamente, antes do fonema /i/. A palavra "Belo Horizonte", por exemplo, é pronunciada [bɛloɾiˈzõtʃi].
A letra "R" no início de palavras, no final das sílabas (exceto quando seguidas por vogal) e no dígrafo "rr" é pronunciada como a transição glotal surda /h/ usada no Norte e Nordeste do país, diferenciando-se do "R carioca" /x/ por ser pronunciado de forma bem mais suave (/h/ em vez de /ʁ/ ou /x/). Distingue-se ainda do sotaque carioca por causa do "s" em final de sílabas realizado como /s/, em vez do /ʃ/ típico no Rio.
As regiões do triângulo e do sul do estado mineiro falam um dialeto que mescla os dialetos mineiro e caipira, utilizando "R" retroflexo e mantendo ritmo típico do montanhês.
Popularidade
Em 2023, foi eleito o sotaque mais charmoso do Brasil numa pesquisa de um aplicativo de aprendizado linguístico.[28][29][30][31][32]
Percepção de neutralidade
O sotaque neutro, variação artificial da língua portuguesa do Brasil utilizada em veículos de mídia como rádio e televisão, é fonologicamente mais próximo do socioleto de prestígio de Belo Horizonte que de outros falares do português brasileiro.[33]
Ver também
Referências
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