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Fonologia do grego moderno

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Este artigo apresenta uma síntese da fonologia do grego moderno padrão.

O sistema consonantal do grego é difícil de descrever, já que há controvérsias sobre quais sons devem ser classificados como fonemas e quais devem ser analisados como alofones. A tabela abaixo apresenta o inventário máximo de 27 consoantes.

  Labial Dental Alveolar Palatal Velar
Nasal m n ɲ ŋ
Oclusiva surda p t c k
sonora b d ɟ ɡ
Fricativa surda f θ s ç x
sonora v ð z ʝ ɣ
Africada surda ts
sonora dz
Vibrante r
Lateral l ʎ

Destas 27 consoantes apresentadas aqui, apenas as 15 mostradas em preto são fonemas não disputados.[1] Estes 15 sons são também os únicos representados por letras únicas na ortografia grega, e correspondem diretamente a fonemas consonantais do grego antigo. Nesta análise minimalista, todos os outros sons podem ser descritos como sequências e combinações de dois fonemas ou variantes alofônicas de outro fonema:

  • As palatais [c, ɟ, ç, ʝ] podem ser considerados como alofones dos seus equivalentes velares antes de vogais anteriores. Quando estes sons ocorrem antes de vogais posteriores, uma vogal intercedente silenciosa /i/ (representada na ortografia como ⟨ι⟩, ⟨υ⟩ e ⟨ει⟩) é esperada. As velares só ocorrem antes de vogais posteriores.
  • As soantes [ɲ, ʎ] são geralmente analisadas como sequências de /ni/ e /li/, respectivamente, e assim são escritas de acordo com a ortografia grega.
  • As séries de oclusivas sonoras podem ser analisadas como sequências de nasais e oclusivas surdas, [b] = /mp/, [d] = /nt/, [ɡ] = /nk/. Outra vez, é assim que são representadas pela ortografia, usando os dígrafos <μπ, ντ, γκ>.
  • /ts/ e /dz/ podem ser analisadas como sequências bifonêmicas, e não fonemas separados.

O grego moderno padrão não possui consoantes geminadas no interior de palavras, embora nos dialetos do sudeste (notavelmente os de Chipre e de Rodes) sim.

Realização fonética

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A realização fonética das oclusivas surdas /b, d, ɡ/ (ou oclusivas pré-nasalizadas /mp, nt, nk/, dependendo da análise) é variável. No início de palavras, são pronunciados como oclusivas sonoras simples. No interior de palavras, podem ser realizados como sequências de uma nasal seguida por uma oclusiva [mb, nd, ŋɡ], ou como uma oclusiva com apenas uma leve pré-nasalização [ᵐb, ⁿd, ᵑɡ], ou inclusive como oclusivas simples [b, d, ɡ]. Isto era uma questão de variação dialetal e sociolinguística considerável, e certas variantes foram estigmatizadas; desde a segunda metade do século XX os falantes vem eliminando a pré-nasalização, pronunciando estes sons como oclusivas sonoras simples em qualquer posição. Alguns falantes, seguindo a normal prescritiva, possuem um contraste fonológico marginal no interior de palavras entre oclusivas sonoras puras e sequencias com nasais: [veˈdeta] ('celebridade', < Ital. vedetta), vs. [venˈdeta] ('rixa de sangue', < Ital. vendetta). Estas mesmas oclusivas pré-nasalizadas podem ocorrer também como um resultado de assimilação de sequências /np, nt, nk/ entre palavras diferentes (sandhi).

As nasais tendem a assimilar a próxima consoante no ponto de articulação; portanto, há a nasal velar [ŋ] (escrita ⟨γ⟩) antes de /k, ɣ, x/) e a labiodental nasal [ɱ] ⟨μ⟩ antes de /f, v/.

/r/ pode ser tanto uma vibrante múltipla [r] ou, em posição intervocálica, uma simples [ɾ].

[c] e [ɟ] são africadas para [t͡ɕ] e [d͡ʑ] em alguns dialetos, notavelmente os de Creta e na península no centro-sul do Peloponeso.

[s] e [z] podem ser apicais ([s̻], [z̻]).

[s] e [z] são laminoalveolares em muitos dialetos, e são articulados mais próximos da posição de [ɕ] e [ʑ].

Regras de sandhi

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Algumas das regras de assimilação mencionadas acima também acontecem entre palavras. Em particular, ocorre com um grande número de palavras gramaticais terminadas em /n/ (escrito ν), notavelmente as partículas de negação δε(ν) e μη(ν), as formas acusativas dos pronomes pessoais e os artigos definidos το(ν) e τη(ν). Se estas palavras forem seguidas por oclusivas surdas, o /n/ tende a ser assimilado de acordo com o ponto de articulação do som ou a ser omitido; contrariamente, a oclusiva tende a ser sonorizada. Isto resulta em pronúncias como τον πατέρα [to(m)baˈtera] ('o pai') ou δεν πειράζει [ðe(m)biˈrazi] ('não importa') ao invés das pronúncias esperadas [ton paˈtera] e [ðen piˈrazi]. A extensão precisa do efeito destas assimilações pode variar de acordo com o dialeto, velocidade da fala e formalidade.[2]

O grego tem um sistema simples de 5 vogais, /a e i o u/.[3] A vogal /a/ é centralizada, como em português. As vogais médias /e/ e /o/ têm a qualidade fonética entre as vogais semifechadas e semiabertas: [e̞, o̞]. As vogais fechadas /i/ e /u/ tem qualidades próximas das suas respectivas vogais cardinais. Não há uma distinção fonêmica entre vogais curtas e longas,[4] embora vogais em sílabas tônicas sejam comumente mais longas que em sílabas átonas.

  Anterior Posterior
Fechada i u
Média e o
Aberta a

O grego moderno não possui ditongos distintivos fonêmicos; entretanto, certos grupos de vogais podem ser opcionalmente tratados como um hiato ou um ditongo. Os hiatos /a.i/ e /o.i/ são comumente pronunciados como ditongos em palavras como πλάι (pláï, ao lado) ou μοιρολόι (mirolóï, hino fúnebre). Ditongos são mais facilmente encontrados em empréstimos; por exemplo, a palavra para bolo, κέικ (kéïk), possui o ditongo /ei/. Este mesmo ditongo também pode ocorrer em palavras nativas gregas, como em λέει (léï, 'diz'), onde as duas vogais eram anteriormente separadas pela consoante γ (g).

Embora escritos com sequências de vogais, ⟨ευ⟩ representa /ev/, uma vogal e a consoante /v/ (o /v/ é ensurdecido para [f] quando uma outra consoante surda o segue.) Similarmente, ⟨αυ⟩ representa /av/ (ou /af/ antes de uma consoante surda). Mais raramente, ⟨ηυ⟩ representa /iv/ (ou /if/).

Diferentemente do grego antigo que tinha quatro tons, o grego moderno possui uma tonicidade dinâmica, como o português. Ainda assim, como no grego antigo, a sílaba tônica recai em uma das três sílabas finais.

A posição da sílaba tônica pode várias entre diferentes paradigmas de flexão em casos quando uma sílaba é adicionada, como em πρόβλημα 'problema', προβλήματα 'problemas'. Em algumas classes de palavras, a tonicidade é também sensível às vogais curtas e longas presentes no grego antigo, portanto uma sílaba não pode ser tônica se for a antepenúltima caso a vogal fosse longa, ex: άνθρωπος ('homem', nom. sg., última sílaba curta), mas ανθρώπων ('de homens', gen. pl., última sílaba longa). Ambas são regras do grego antigo.

Entretanto, no grego moderno esta regra já não é automática e não se aplica a todas as palavras, uma vez que a distinção de comprimento não existe mais, ex: καλόγερος 'monge', καλόγερων 'de monges').

Os clíticos, como pronomes possessivos, formam uma unidade com a palavra a que são anexados, e portanto contam como uma das sílabas da palavra. Assim, a adição de um clítico pode forçar a sílaba tônica a mover-se para para o final.

Referências

  1. D. Holton, P. Mackridge, I. Philippaki-Warburton (1997), Greek grammar. A comprehensive grammar of the modern language. London: Routledge.
  2. Joseph, Brian, and Irene Philippaki-Warburton (1987): Modern Greek. Beckenham: Croom Helm. p. 246
  3. Browning, Robert (1983). Medieval & Modern Greek (em inglês) 2ª ed. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 56. ISBN 0-521-29978-0 
  4. Sophocles, E. A (1866). «Romaic or Modern Greek Grammar». Trübner&co. p. iii 
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