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Golfinho-pintado-do-atlântico

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Como ler uma infocaixa de taxonomiaGolfinho-pintado-do-atlântico

Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Subfilo: Vertebrata
Classe: Mammalia
Ordem: Cetacea
Subordem: Odontoceti
Família: Delphinidae
Género: Stenella
Espécie: S. frontalis
Nome binomial
Stenella frontalis
(G. Cuvier, 1829)
Distribuição geográfica
Distribuição do golfinho-pintado-do-atlântico
Distribuição do golfinho-pintado-do-atlântico

O golfinho-pintado-do-atlântico (Stenella frontalis) é um cetáceo da família Delphinidae encontrado nas águas temperadas e tropicais do Oceano Atlântico.

Golfinho-pintado-do-atlântico (Stenella frontalis)

A origem do termo golfinho-pintado-do-atlântico deve-se às manchas esbranquiçadas presentes na pele do animal, somada ao fato da espécie ser endêmica do Oceano Atlântico[1]. O gênero da espécie, Stenella,  é uma palavra de origem grega, steno, sendo o diminutivo de estreito. A palavra frontalis é um termo do latim que significa testa/fronte.

A espécie apresenta inúmeros nomes populares, entre eles: golfinho-manchado, golfinho-manchado-da-corrente-do-golfo, boto-manchado e boto-de-Cuvier[1].

Taxonomia e Sistemática

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Georges Cuvier, 1769 - 1832

Em 1812 a espécie foi eventualmente reconhecida por G. Cuvier, como Delphinus dubius, contudo, a validação de sua história taxonômica se deu em 1829 com a descrição de Cuvier, baseada em uma espécie de Cabo Verde, na África Ocidental. Desse modo, nomeando-a como  Stenella frontalis[1].

A ampla variação geográfica do golfinho-pintado-do-atlântico, resultou em uma má identificação das espécies e uma confusão taxonômica[2]. Por muitos anos, a taxonomia do golfinho-manchado-do-atlântico foi confundida com a espécie Stenella attenuata (golfinho-manchado-pantropical). Embora haja semelhança entre os crânios de ambas as espécies, a partir de análise filogenética, foi constatado que não há familiaridade[3].

Stenella attenuata (golginho-manchado-pantropical)

As costas marinhas do Atlântico possuem uma grande concentração de golfinho-pintado-do-atlântico, enquanto há uma proporção bem inferior na Corrente do Golfo e no Atlântico Norte Central[4].

Pesquisas moleculares indicam que o gênero “Stenella” é parafilético, assim, a sub família Delphininae, à qual a espécie pertence atualmente, pode passar por uma reestruturação ao longo dos próximos anos, podendo ser atribuída a um gênero diferente[2].

Alguns estudos sugerem que há uma relação de proximidade com a espécie Tursiops truncatus, conhecida como golfinho-de-nariz-de-garrafa, do Oceano Indo-Pacífico[5].

Morfologia e Distribuição

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Stenella frontalis

O golfinho-pintado-do-Atlântico possui duas formas distintas, uma de corpo mais robusto e mais manchado é encontrado ao longo da costa dos dois lados do Atlântico, a outra forma, mais delicada e menos manchada ou até mesmo completamente sem manchas  é encontrada no Golfo do México e no Atlântico Norte[6].

Os filhotes nascem sem manchas, com uma coloração que varia nos tons acinzentados no dorso e com áreas esbranquiçadas no ventre. As manchas começam a aparecer entre 2 e 6 anos de vida, aumentando em tamanho e volume até os 16 anos[2].

Possui bico considerado médio, bem acentuado no melão (estrutura abaixo do orifício nasal). A nadadeira dorsal é alta e de forma falcada. Os adultos podem chegar até 229 cm de comprimento e pesar até 143 kg. Possuem de 32 até 42 dentes na mandíbula superior e de 30 a 40 na mandíbula inferior[2].

Nas Bahamas, esses animais habitam águas rasas (6 a 12 m). Sua dieta varia entre peixes  epipelágicos e mesopelágicos de pequeno a grande porte, lulas e invertebrados bênticos, como crustáceos e moluscos, sua dieta provavelmente varia entre as formas que habitam a área costeira do Atlântico e a que habita o Golfo do México. Os únicos predadores conhecidos são os tubarões, porém, provavelmente esses animais também são predados pelas orcas (Orcinus orca) e outros pequenos cetáceos dentados[7].

Comportamento

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Golfinho-de-nariz-garrafa

A espécie mergulha até, aproximadamente, 60 metros, os mais longos mergulhos duram até 6 minutos de acordo com registros, apesar da capacidade, esses animais preferem ficar em profundidades com menos de 10 metros[8]. Estudos comportamentais realizados nas Bahamas identificaram uma relação próxima da espécie com os golfinhos-de-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) durante atividades forrageiras e migrações. Os grupos possivelmente são divididos por idade e sexo, podendo chegar até 100 indivíduos. Grupos da espécie já foram vistos associados com atuns, outros cetáceos e aves marinhas em grandes grupos de caça[9].

Histórico da Espécie

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Pouco se sabe do histórico da espécie, a partir de um acompanhamento realizado no Brasil com 44 espécimes, foi possível mensurar que a espécie vive aproximadamente 23 anos, chegando a seu comprimento máximo aos 20 anos. As fêmeas atingem a maturidade sexual entre 8 e 15 anos. Possuem intervalo de gestação de 3 anos e cuidado parental próximo até 5 anos[2].

Conservação

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Stenella frontalis

Apesar de estar na categoria “pouco preocupante” na lista vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), o golfinho-pintado-do-atlântico está sujeito a diversas ameaças, sendo que a principal delas é a captura acidental em pescarias. De acordo ainda com a IUCN, apesar de no Brasil as taxas de captura acidental da espécies serem mais baixas, pode haver imprecisão dos números obtidos nas áreas de distribuição[10].

Um exemplo de como a pescaria é a principal ameaça para a espécie Stenella frontalis pode ser demonstrado em um evento documentado no país Mauritânia, na África, em 1995, quando por conta da captura acidental em uma pescaria local, 125 golfinhos-pintados-do-atlântico foram encontrados mortos ao longo da costa norte da capital do país[10].

Outra possível ameaça para a espécie é a caça, que ocorre em pequena escala e é considerada a única forma de captura direta da Stenella frontalis[10].

Desta forma, se fazem necessárias ações de conservação para a espécie. Uma delas é a investigação da abundância e captura acidental em pescarias ao largo da África Ocidental. Além disso, pesquisas sobre o tamanho da população, distribuição, tendências e ameaças, e monitoramento das tendências populacionais são importantes para ter mais informações sobre a espécie em questão[10]. Assim, será possível entender melhor as necessidades de conservação da espécie, visto que, hoje, o maior problema para conservação das espécies de pequenos cetáceos costeiros no Brasil é a escassez de supervisão e monitoramento de capturas acidentais e estimativas dos tamanhos populacionais[11]. Além disso, de acordo com Rosa, Zappes e Di Beneditto, 2012, “a insuficiência de informação sobre o esforço de pesca dificulta a estimativa de mortalidade em operações de pesca.”

Aspectos Culturais

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Barco utilizado na Pesca Artesanal

A pesca artesanal é um aspecto cultural passado de geração em geração muito recorrente nos litorais do Brasil, já que também é uma atividade que gera renda para diversas famílias. Dito isso, a utilização de redes de espera para a prática causa interações negativas entre os pescadores e os cetáceos, que acabam mortos. Com a captura acidental, os pescadores, ou descartam a carcaça dos golfinhos no mar, ou utilizam suas musculaturas e gorduras das carcaças para confeccionar iscas que são utilizadas na captura de cação. Sendo que, o consumo de golfinhos não é um aspecto presente na cultura dos pescadores pois o animal possui excesso de gordura no corpo. É importante lembrar que a captura dos golfinhos pelos pescadores artesanais ocorrem apenas de forma não intencional/acidental[12].

Fernando de Noronha - Mirantes dos Golfinhos

Outro aspecto cultural observado no Brasil e, mais especificamente, em Fernando de Noronha, é o turismo de observação de golfinhos. A observação dos golfinhos é muito comum na região em questão, que é conhecida como um dos melhores locais para a prática, já que há alta presença da espécie. A atividade pode ser realizada tanto através de barcos, como através do Mirante do Golfinhos, onde a trajetória é feita por trilha. Sendo que a observação através do Mirante é considerada mais informativa e educacional por manter equipes de monitoramento em pontos fixos, tornando a atividade de turismo uma aliada à conservação ambiental e à geração de renda para a população local[13].

Referências

  1. a b c PERRIN, W. F.; CALDWELL, D. K.; CALDWELL, M. C. Atlantic Spotted Dolphin Stenella frontalis (G. Cuvier, 1829). Handbook Marine Mammals, Vol. 5, 1994. Disponível em: <Atlantic-Spotted-Dolphin.pdf (researchgate.net>. Acesso em: 02 mai. 2021.
  2. a b c d e WÜRSIG, B.; PERRIN, W. F.; THEWISSEN, J. G. M. (2009). Encyclopedia of marine mammals. Academic Press (em inglês). [S.l.: s.n.] Consultado em 2 de maio de 2021 
  3. LEDUC, R. G.; PERRIN, W. F.; DIZON, A. E. Phylogenetic relationships among the delphinid cetaceans based on full cytochrome b sequences. 1999.
  4. PERRIN, W. F. Development and homologies of head stripes in the delphinid cetaceans. 1997.
  5. MORENO, I. B.; ZERBINI, A. N.; DANILEWICZ, D.; SANTOS, M. C. O.; SIMÕES-LOPES, P. C.; BRITO-JR, J. L.; AZEVEDO, A. Distribution and habitat characteristics of dolphins of the genus Stenella (Cetacea: Delphinidae) in the Southwest Atlantic Ocean. 2005.
  6. ADAMS, L. D.; ROSEL, P. E. Population differentiation of the Atlantic spotted dolphin ( Stenella frontalis ) in the western North Atlantic, including the Gulf of Mexico . 2006.
  7. DAVIS, R. W.; WORTHY, G. A. J.;  WÜRSIG, B.; LYNN, S. K. Diving behavior and at-sea movements of an Atlantic spotted dolphin in the Gulf of Mexico. 1996.
  8. MULLIN, K. D.; FULLING, G. L. Abundance of cetaceans in the southern US North Atlantic Ocean during summer 1998. 2003.
  9. JEFFERSON, T. A.; WEBBER, M. A.; PITMAN, R. L. “Marine Mammals of the World: A Comprehensive Guide to Their Identification.” Elsevier, San Diego, 2006.
  10. a b c d BRAULIK, G. & JEFFERSON, T.A (2018). «Stenella frontalis». The IUCN Red List of Threatened Species (em inglês). Consultado em 30 de abril de 2021 
  11. ROSA, G. A., ZAPPES, C. A., DI BENEDITTO, A. P. M (2012). «Etnoecologia de pequenos cetáceos: interações entre a pesca artesanal e golfinhos no norte do estado do Rio de Janeiro, Brasil.». Rio de Janeiro. Revista Biotemas. Consultado em 1 de maio de 2021 
  12. SEMINARA, C. I.; BARBOSA, M. L. V.; PENDU, Y (2019). «Interactions between cetaceans and artisanal fishermen from Ilhéus, Bahia - Brazil». Campinas. Biota Neotrop (em inglês). 19 (4). Consultado em 1 de maio de 2021 
  13. TISCHER, M. C. et al. (2018). «A historical perspective on the life cycle of a tourist activity: dolphin watching in Brazil's Fernando de Noronha archipelago». Ethnobio Conserv 7:9. Consultado em 1 de maio de 2021 
  • MEAD, J. G.; BROWNELL, R. L. (2005). Order Cetacea. In: WILSON, D. E.; REEDER, D. M. (Eds.) Mammal Species of the World: A Taxonomic and Geographic Reference. 3ª edição. Baltimore: Johns Hopkins University Press. p. 723-743.
  • Braulik, G. & Jefferson, T.A. 2018. Stenella frontalis. The IUCN Red List of Threatened Species 2018: e.T20732A50375312. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2018-2.RLTS.T20732A50375312.en
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