Saltar para o conteúdo

Lebá

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Uma representação de Legbà (Eleguá, no vodu cubano, ou Exu no candomblé).

Lebá (em fon,Legbà), Legbá,[1] Elegbá,[1] Elebá, Légua ou Eleguá (em Cuba)[2] é um vodu precursor do bem e do mal. Na mitologia iorubá e no candomblé, o orixá Exu (Èṣù-Ẹlẹ́gbára) é seu equivalente.

É invocado antes de qualquer cerimônia, para garantir a calma e o bom andamento do ritual. É sempre representado em um montinho de terra e com atributos sexuais exorbitantes.[3] Geralmente instalado na entrada da aldeia, afasta todos os maus espíritos. Entre os fons e os eué, Lebá possui um aspecto eminentemente fálico, e seus iniciados, os lebaces (Legbasi), transportam os sacra de Lebá (assentamento), composto de uma complexa parafernália - na qual predominam cabaças e pequenas esculturas fálicas - para onde quer que forem e vestem uma saieta de ráfia tingida de roxo. Carregam ainda um falo esculpido em madeira (ogo), o qual, nas festas públicas, gostam de esfregar no nariz dos turistas. Lebá pode ser encontrado em todos os templos, pois é ele quem abre o caminho para os demais vodus poderem atuar.

O Lebá, guardião dos templos, das aldeias e casas particulares, montado na forma de um montículo de barro de onde sai um enorme falo ereto, é eminentemente uma entidade coletiva (Abô-Lebá), mas se conhece ainda um Lebá feminino (Assi-Lebá ou Lebaionu) que é montado e cultuado para proteger as mulheres e as crianças da comunidade. Mas, segundo os fons, a mulher de Lebá é Auovi (cujo nome significa "filha do engano" e representa os acidentes), representada por uma estatueta de barro de aspecto feminino, sem cabeça e com os olhos no lugar dos seios, e a boca na altura da vagina. Normalmente é maior do que a representação de Lebá. Minona (representação divinizada dos poder mágico atribuído às mulheres) e Aizã são consideradas ora esposas, ora mães de Lebá.

Embora introduza desordem e confusão no plano divino, Lebá também abre caminho para uma nova ordem, mais dinâmica. Para os fons do Benim, Lebá é um desordeiro, que perturba a harmonia e semeia confusão, mas é reverenciado como um transformador e não visto como um mal.[4]

Vevê de Papa Lebá

No vodu haitiano, Papa Lebá é o protetor do mundo espiritual e o mediador entre o homem e os loás, que são os espíritos ou deuses menores. Costuma aparecer como um homem velho, com uma muleta ou uma bengala, vestindo um chapéu de palha de aba larga e fumar um cachimbo, ou aspersão da água. O cachorro é sagrado a ele. Devido à sua posição como guardião do portão entre os mundos da vida e dos mistérios ele é frequentemente identificado como São Pedro, que detém uma posição comparável na tradição Católica. Mas ele também está representado no Haiti, como São Lázaro, ou Santo Antônio o Grande.[5]

Exu, Elegbara e Legba são, entre os povos ioruba e fon-ewe situados na África Ocidental, divindades mensageiras, dinâmicas, temidas e respeitadas, que devem ser saudadas em primeiro lugar para não atrair confusão ou vingança. São deuses tricksters que questionam, invertem ou quebram regras e comportamentos. São associados aos processos de fertilidade e, sob a forma de um falo ereto, cultuados em altares públicos localizados na frente das casas, nos mercados e nas encruzilhadas. Quando seu culto foi “descoberto” pelos europeus iniciou-se um processo no qual essas divindades foram associadas ao imaginário do mal, da desordem e da repressão sexual (ao demônio cristão e muçulmano) e, posteriormente ao mundo pré-moderno (primitivo), ao imaginário das forças antagônicas da modernidade, entre as quais estava, sobretudo, o pensamento mágico presente nas religiões que não passaram pelo processo da secularização ou burocratização.[6][nota 1]

[editar | editar código-fonte]

O nome Lebá foi utilizado no filme Encruzilhada (Crossroads), de 1986, como nome do demônio para quem a personagem Willie Brown vende sua alma para se tornar um grande bluesman. O filme faz analogia à lenda que diz que o conhecido bluesman Robert Johnson havia feito o mesmo. Este também aparece no filme.[7]

Também é citado na terceira temporada da série American Horror Story: Coven, de 2013.

Notas

  1. Este trecho incorpora texto em licença CC-BY-4.0 da obra citada.

Referências

  1. a b Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Academia Brasileira de Letras.
  2. Castro, Yeda Pessoa de (2001). Falares africanos na Bahia: um vocabulário afro-brasileiro. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras. p. 227 
  3. «Animisme au Bénin. Attributs extérieurs du Vodoun». Consultado em 13 de janeiro de 2007. Arquivado do original em 2 de fevereiro de 2007 
  4. Britannica Online. Legba - Fon mythology
  5. Legba, gede.org (símbolos, incluindo estátua de Legba (Benin)
  6. Silva, Vagner Gonçalves da (19 de agosto de 2019). «Legba no Brasil - Transformações e continuidades de uma divindade». Sociologia & Antropologia: 453–468. ISSN 2238-3875. doi:10.1590/2238-38752019v925. Consultado em 9 de julho de 2021 
  7. Bhesham S. Sharma, Poetic devices in the Songs of Robert Johnson, King of the Delta Blues TRANS - Transcultural Music Review nº 3 (1997).


Ligações externas

[editar | editar código-fonte]
  • Imagens do culto a Legbasi no Benin: [1], [2],[3].
pFad - Phonifier reborn

Pfad - The Proxy pFad of © 2024 Garber Painting. All rights reserved.

Note: This service is not intended for secure transactions such as banking, social media, email, or purchasing. Use at your own risk. We assume no liability whatsoever for broken pages.


Alternative Proxies:

Alternative Proxy

pFad Proxy

pFad v3 Proxy

pFad v4 Proxy