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Pós-anarquismo

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Pós-anarquismo é o termo usado para designar as filosofias anarquistas que se desenvolveram desde a década de 1980, baseadas em abordagens pós-estruturalistas e pós-modernistas. Alguns preferem a expressão anarquismo pós-estruturalista, por não considerar o movimento uma tendência posterior ao anarquismo. O pós-anarquismo não se define a partir de uma teoria única e coerente, variando de acordo com o teórico que o descreve; de forma geral, entretanto, o pós-anarquismo é influenciado tanto pelos intelectuais pós-estruturalistas - Michel Foucault, Gilles Deleuze, Jean Baudrillard - como pelas feministas pós-modernas Judith Butler e os pós-marxistas Ernesto Laclau e Chantal Mouffe.

O prefixo "pós" não significa após o anarquismo, mas se refere ao desafio e à ruptura com uma série de conceitos bem definidos e estabelecidos que emergiram durante o Iluminismo. Tal atitude implica numa rejeição básica das fundações epistemológicas das teorias anarquistas clássicas, devido à tendência destas tanto ao essencialismo quanto ao reducionismo. Tal abordagem adquire importância na medida em que amplia a noção do que significa ter ou produzir poder, para além de simplesmente ser oprimido. Desta forma, o pós-anarquismo encoraja aqueles que agem contra as relações de dominação a se tornarem conscientes de como sua resistência pode ser manipulada pelas próprias instâncias do poder. O pós-anarquismo também defende - opondo-se à abordagem tradicional - que o capitalismo e o Estado não são as únicas fontes de dominação do momento em que vivemos, e que novas perspectivas precisam ser desenvolvidas para combater as estruturas de dominação em rede que caracterizam o fim da modernidade. Embora intelectuais como Foucault, Deleuze, Derrida, Lacan e Lyotard não se descrevam explicitamente como anarquistas, suas ideias são de grande importância para o movimento, dada a natureza antiautoritária de seu pensamento e pelo seu interesse - em diversos graus - pelos eventos de Maio de 1968.

Os conceitos mais comuns do pós-anarquismo incluem:

O termo pós-anarquismo foi cunhado pelo teórico do anarquismo pós-esquerdista Hakim Bey, em um ensaio de 1987 intitulado Post-Anarchism Anarchy.[1][2] Para Bey, o anarquismo acabou por se tornar sectário e isolado, levando a confundir as teorias com a experiência viva da anarquia.[2] Em 1994, o acadêmico Todd May funda a corrente que nomeou anarquismo pós-estruturalista,[3] baseando seu pensamento na concepção pós-estruturalista de poder, particularmente no trabalho de Michel Foucault e de Emma Goldman, ao mesmo tempo em que utilizava a concepção anarquista de ética para preencher o espaço deixado pelos pós-estruturalistas no tocante ao assunto.

O anarquismo lacaniano proposto por Saul Newman baseia-se mais solidamente nos trabalhos de Jacques Lacan e Max Stirner. Newman critica anarquistas clássicos como Mikhail Bakunin e Piotr Kropotkin, que definem uma natureza humana objetiva e uma ordem natural. Para Newman, segundo esses pressupostos os homens devem progredir e evoluir naturalmente, apenas limitados pelo establishment; isto resultaria numa visão de mundo maniqueísta, que apenas esboço o oposto daquilo que Thomas Hobbes propõe em seu Leviatã, no qual o "bom" Estado é subjugado por pessoas "más".

Lewis Call procurou desenvolver a teoria pós-anarquista através da obra de Nietzsche, rejeitando o conceito cartesiano de sujeito. A partir daí, uma forma radical de anarquismo se torna possível: o anarquismo do devir. Este anarquismo não possui um objetivo eventual, nem flui simplesmente no "ser"; não é um estágio final do desenvolvimento, nem uma forma estática de sociedade - ao invés disso, torna-se permanente: um meio sem fim. Call critica as noções liberais de linguagem, consciência e racionalidade de uma perspectiva anarquista, argumentando serem estas inerentes ao poder econômico e político da organização do Estado capitalista.[4]

Recentemente o filósofo hedonista francês Michel Onfray adotou o termo pós-anarquismo para descrever sua abordagem da política e da ética.[5] Ele advoga um anarquismo alinhado a intelectuais como Orwell, Simone Weil, Jean Grenier, Foucault, Deleuze, Bourdieu, Guattari, Lyotard e Jacques Derrida - por suas obras Politiques de l'Amitié e O Direito à Filosofia, mas também Maio de 68, que Onfray considera uma "revolta nietzscheana com o objetivo de pôr fim à verdade única, revelada, e pôr em evidência a diversidade de verdades, para que as ideias ascéticas cristãs desapareçam e novas possibilidades de existência venham a surgir".[5]

Referências

  1. Bey, Hakim (1987). «Post-Anarchism Anarchy». Deoxy.net. Consultado em 30 de dezembro de 2008. Arquivado do original em 23 de setembro de 2008 
  2. a b Adams, Jason. «Postanarchism in a Bombshell». Aporia (3). Consultado em 15 de dezembro de 2009. Arquivado do original em 13 de abril de 2004 
  3. Antliff, Allan (2007). «Anarchy, Power, and Poststructuralism». SubStance. 36 (2): 56–66 
  4. Martin, Edward J. (2003). «Call, Lewis Postmodern Anarchism». Perspectives on Political Science 
  5. a b «Michel Onfray: le post anarchisme expliqué à ma grand-mère» 
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